Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
Engo Agro, M.Sc., Pesq. Embrapa Solos, CEP 22460-000 Rio de Janeiro-RJ. Correio eletrônico: aortega@cnps.embrapa.br
2
Técn. Meio Ambiente, CEFET Química, Rua Senador Furtado, 121 – Maracanã, CEP 20270-021 Rio de Janeiro-RJ. Correio eletrônico:
monteiro@cefetq.br
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 2 8 , n . 2 3 7 , p . 3 9 - 4 3 , m a r. / a b r. 2 0 0 7
traram seu potencial de produção em re- tudes de até 910 metros, no Triângu- Almeida et al. (1987) e Macedo et al.
giões ecologicamente aptas porém não lo Mineiro, onde a cultura apresen- (2002) apontam para a necessidade do plan-
tradicionais (áreas escape), como os esta- ta bom desenvolvimento (CARMO tio de seringais em áreas escape, com vis-
dos de Mato Grosso, Bahia, Goiás, Mato et al., 2004); tas a evitar o problema do mal-das-folhas.
Grosso do Sul, Pernambuco, Maranhão, Segundo Cecílio et al. (2006), essas
Espírito Santo, Rio de Janeiro, Paraná, São c) fatores hídricos áreas escape são identificadas com relati-
Paulo e Minas Gerais. Para o sucesso da atividade, o serin- va segurança por meio de conhecimentos
gal deve estar implantado em região sobre o clima da região, o que torna de extre-
EXIGÊNCIAS CLIMÁTICAS que apresente os seguintes fatores: ma importância os estudos de zoneamento
DA SERINGUEIRA – evapotranspiração real anual (ER) agroclimático para a definição de locais para
> 900 mm; implantação de novos seringais. Em plan-
Temperatura e umidade relativa do ar
tas novas, provoca desfolhamento e afeta
são os elementos do clima que mais exer- – deficiência hídrica anual (DA)
o crescimento. Nas árvores adultas, menor
cem influência nos diversos estádios de < 50 mm, distribuídos em quatro a
produção de látex e mortalidade. A doen-
desenvolvimento da planta. Assim, a serin- seis meses no máximo;
ça não afeta regiões produtoras do Mato
gueira cresce e produz bem em regiões com
– precipitação anual > 1.200 mm. Grosso e do Planalto Paulista, devido ao
temperatura média anual igual ou superior
clima seco (ROCHA, 2006).
a 20oC (CAMARGO et al., 1975), princi- Regiões com umidade relativa do
Camargo (1976 apud CAMARGO et al.,
palmente em latitudes elevadas, como as mês mais seco (URs) situada entre
2003) verificaram que, quando as tempe-
áreas continentais do Brasil e da China 50% e 75%, ER superior a 900 mm e
DA entre 0 e 200 mm são considera- raturas médias do mês mais frio (Tf) caem
(ORTOLANI, 1985).
dos preferenciais para o desenvolvi- abaixo de 20oC, as pústulas do fungo causa-
Para se considerar a aptidão climática
mento da seringueira; dor da doença deixam de esporular. Dessa
de um determinado local para o cultivo da
forma, as epífitas não têm condições de
seringueira podem-se destacar os seguin-
d) radiação solar manifestar, pelo baixo potencial de inóculo
tes aspectos:
Como fonte essencial para a fo- verificado na fase de lançamento dos pri-
a) temperatura tossíntese e produção de assimila- meiros fluxos foliares da primavera.
A seringueira desenvolve-se me- dos, a radiação solar é condicionan- Nos trabalhos de zoneamento de apti-
lhor em locais onde a temperatura mé- te importante da produtividade da dão climática da heveicultura, estipula-se
dia do ar anual é ≥ 20oC, sendo que os seringueira. No estado de São Paulo, que regiões com Tf inferior a 20oC como
limites térmicos mais favoráveis à especialmente no planalto, as con- sendo livre de epifitias do mal-das-folhas,
fotossíntese estão entre 27oC e 30oC. dições de brilho e radiação solar são sendo possível cultivar os clones mais fi-
Para o fluxo do látex, o intervalo entre favoráveis à fotossíntese. Os totais nos sem problemas com a manifestação
18oC e 28oC é o mais indicado. A se- anuais e mensais, dentro dos padrões grave da enfermidade, especialmente se
ringueira é suscetível a temperaturas normais de clima, não se apresen- estiverem em terrenos elevados, bem dre-
baixas, principalmente na fase jovem, tam como limitantes à produtividade nados, livres de orvalhamento prolongado
e aos dois anos apresenta suscetibi- (ORTOLANI, 1999). (CAMARGO, 1976; CAMARGO et al., 2003).
lidade à geada. Os primeiros danos Essa variável, em conjunto com as
letais ocorrem nas folhas em tempe- condições térmicas e hídricas, define ESTUDOS DE APTIDÃO CLIMÁTICA
ratura de 0oC a -1oC. Temperatura os potenciais de produtividade.
Estudos recentes de zoneamentos agro-
menor que -3oC é letal à maioria dos
climáticos foram realizados para se esta-
clones. Em regiões onde a tempera- SUSCETIBILIDADE AO belecer a aptidão da cultura em determi-
tura é ≤ 16oC, o crescimento é nulo MAL-DAS-FOLHAS nados estados da federação. Dentre eles,
(GASPAROTTO, 1988);
Um problema grave enfrentado pela podem-se destacar os estados de Minas
b) altitude heveicultura em zonas tropicais equatoriais Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, São Paulo,
A seringueira é pouco tolerante brasileiras é a incidência da praga conhe- Bahia (parte leste).
à geada, logo, o plantio não deve ser cida como mal-das-folhas, causada pelo No estado do Rio de Janeiro, Gonçalves
feito em altitude muito elevada, onde fungo Microcylus ulei, que constitui sério et al. (2005) evidenciaram que cerca de
o fenômeno ocorre com freqüência. obstáculo à implantação de culturas co- 24,83%, isto é, 10.836,86 km² da sua área
Existem plantios comerciais em alti- merciais (CECÍLIO et al., 2006). apresentam-se aptos, sem restrições para
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 2 8 , n . 2 3 7 , p . 3 9 - 4 3 , m a r. / a b r. 2 0 0 7
a instalação de seringais de cultivo. As áreas o estabelecimento de cultivos. Assim, áreas Estado, dispõe de zonas de aptidão ade-
que são ligeira e moderadamente restrita, de clima mais quente da metade norte do quadas à expansão da heveicultura carac-
17,46% e 7,79%, respectivamente, cor- Estado, entre as latitudes -22,5 e 25, quan- terizadas como áreas escape ao mal-das-
respondem a um total de 11.024,47 km² de do ocorre, no máximo, uma geada a cada folhas, sendo estas localizadas em sua par-
área do Estado, cuja implantação de se- 10 anos, são as consideradas aptas, assim te leste e dispostas, predominantemente,
ringais necessita de cuidados especiais como na faixa litorânea, ao utilizar clones no sentido norte-sul; áreas da parte oeste
no que se refere ao manejo da cultura, de- amazônicos. da região estudada apresentaram-se inap-
vido à vulnerabilidade de relevo e ao ris- No estado de Goiás, a heveicultura é tas ao cultivo da seringueira, devido à
co de doenças foliares. As áreas inaptas ainda incipiente e conta apenas com cerca carência hídrica; a área próxima ao Recôn-
representam 30,89%, correspondendo a de 4 mil hectares na região de Goianésia e cavo Baiano apresentou-se inapta à he-
13.630,90 km². Barro Alto. No entanto, a maior parte do veicultura, devido à alta umidade relativa
Já Marin e Barreto Júnior (2005), ao Estado é considerada como área prefe- do ar, sendo muito suscetível ao mal-das-
realizarem o zoneamento agroclimático da rencial para o plantio da seringueira de folhas.
seringueira no estado de São Paulo, de- acordo com o zoneamento agroclimático Em Minas Gerais, Ortolani (1985) apre-
monstraram haver coerência entre as áreas para essa cultura. Resta apenas o conhe- senta mapa de aptidão climática para a
aptas e aquelas onde, efetivamente, são cimento desse potencial, por parte das cultura da seringueira (Fig. 1). Considera
conduzidos cultivos comerciais. Os autores instituições responsáveis pelo desenvol- como áreas aptas ou classificadas como
ainda afirmam que, atualmente, há cerca de vimento agrícola da região e a elaboração preferenciais para a cultura, as regiões com
80 mil hectares plantados com seringueira de programas de fomento da cultura e de evapotranspiração real (ER) > 900 mm
no Estado, dos quais mais de 50% estão na apoio aos agricultores interessados nesse e deficiência hídrica anual (DA) de até
mesorregião geográfica de São José do Rio agronegócio (AGENCIARURAL, 2006). 300 mm. O Geominas (1996) apresenta ma-
Preto, classificada como área ótima. Na Bahia, pelos resultados obtidos por pa de aptidão agrícola com base em zo-
Caramori et al. (2006) destacaram zo- Cecílio et al. (2006), pôde-se concluir que a neamento agroclimático realizado pela Se-
nas do estado do Paraná, onde é possível região estudada, referente à faixa leste do cretaria de Estado de Agricultura, Pecuária
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 2 8 , n . 2 3 7 , p . 3 9 - 4 3 , m a r. / a b r. 2 0 0 7
e Abastecimento (Seapa-MG) (MINAS cultura. Nesse trabalho, os autores utiliza- esses fatores, elaborou-se uma carta de
GERAIS, 1980), que se comparados mostram- ram dados de temperatura média anual do aptidão climática da heveicultura no Brasil,
se coerentes apesar do tempo decorrido ar, a deficiência hídrica no solo e a tem- com base em isolinhas de temperatura, pre-
entre as duas publicações. peratura média do mês mais frio, como cipitação e de outros fatores de interesse,
Camargo et al. (2003) realizaram o condicionantes do desempenho da cultura estabelecendo-se, assim, as regiões brasi-
zoneamento da aptidão climática da hevei- e da ocorrência de surtos epidêmicos do leiras em condições climáticas aptas, res-
cultura no Brasil, onde se consideraram Microcyclus ulei (P. Henn.) v. Arx, prin- tritas, marginais e inaptas para o cultivo
as exigências climáticas da espécie a ser cipal patógeno da seringueira no Brasil e comercial da seringueira, conforme se veri-
cultivada e da principal doença que afeta a causador do mal-das-folhas. Considerando fica na Figura 2.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 2 8 , n . 2 3 7 , p . 3 9 - 4 3 , m a r. / a b r. 2 0 0 7
CONSIDERAÇÕES FINAIS _______; SCHMIDT, N.C.; CARDOSO, R.M.G. brasiliensis) no estado do Rio de Janeiro. In:
O zoneamento climático do estado de South American leaf blight epidemics and rubber CONGRESSO BRASILEIRO DE AGROMETEO-
Minas Gerais para a cultura da seringuei- phenology in São Paulo. In: INTERNATIONAL ROLOGIA, 14., 2005, Campinas. Anais... Cam-
ra identifica grande extensão de áreas con- RUBBER CONFERENCE, 1975, Kuala Lumpur, pinas: SBAGRO, 2005. 1 CD-ROM.
I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 2 8 , n . 2 3 7 , p . 3 9 - 4 3 , m a r. / a b r. 2 0 0 7