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ir i 1 1 i a m h S ha r o n

S C H N 0 6 B 6 1 6 N

X Jg ife R
DgêTroNadO
Tradução do original em inglês L u cifer D eth ro n ed —A tru e story
Copyright © 1993 de W illiam Schnoebelen

Todos os direitos reservados pela Danprewan Editora Ltda. Nenhuma parte deste
livro poderá ser reproduzida, gravada em qualquer sistema eletrônico de arquivamen­
to de dados, ou transm itida sob qualquer forma (seja mecânica, xerográfica, eletrôni­
ca ou qualquer outra), sem a permissão por escrito do detentor ao Copyright.
Primeira edição: janeiro de 2004
SUPERVISÃO EDITORIAL E DE PRODUÇÃO
Robson Vieira Soares
TRADUÇÃO
M ilton Azevedo Andrade
COPIDESQUE E REVISÃO
Josemar de Souza Pinto
Alexandre Emílio Silva Pires
Vicente Gesualdi
PROJETO GRÁFICO
F atim a Agra
DIAGRAMAÇÃO
FA E ditoração
CAPA
Ju lio C arvalho

Textos bíblicos conforme a versão Almeida, Revista e Atualizada, 2. ed., da Sociedade


Bíblica do Brasil ( r a ) , exceto quando for indicada outra fonte.
Nova Versão Internacional, da Sociedade Bíblica Internacional, publicada
pela Editora V ida (n v i ).
Almeida, Revista e Corrigida, da SBB ( r c ).
Nova Tradução na Linguagem de Hoje, da SBB (n t l h ).

DADOS INTERNACIONAIS PARA CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)


DO DEPARTAMENTO NACIONAL DO LIVRO

S388L Schnoebelen, W illiam J. (W illiam Jones), 1 9 4 9 -


Lúcifer destronado : confissões de um ex-satanista / W illiam e Sharon
Schnoebelen ; tradução M ilton Azevedo Andrade .
- Rio de Janeiro: Danprewan, 2003

Tradução de : Lucifer dethroned


Apêndices
ISBN 85-85685-68-9

1. Possessão diabólica . 2. Guerra espiritual .


I. Schnoebelen, Sharon. II. Título.

CDD 235.47
C D U 235.2

DANPREWAN EDITORA LTDA.


Caixa Postal 29.120 - Rio de Janeiro - RJ - CEP: 20542-970
T el: (21) 2142.7000 - Fax: (21) 2142.7001
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De di c A t ó r i a

(3ste livro é dedicado com muito amor ao pastor Bob Walker e


sua esposa, Jeannette, que têm sido para nós uma enorme bênção.
Eles nos proporcionaram uma cobertura pastoral durante todo o
tempo — tão longo e difícil — em que o estivemos escrevendo.
Juntamente com os membros da nossa igreja, a Bethel Chapei, per-
severaram em meio a numerosos ataques pessoais e inimagináveis
batalhas espirituais por amor do Reino e pela publicação deste livro.
Não temos palavras para agradecer tudo que fizeram. Oramos
para que Deus os recompense por suas orações, pelo amor que a
Ele demonstram e por sua obediência ao Senhor! Temos a consci­
ência de que esta obra não poderia vir a lume sem o que eles tive­
ram de suportar, com paciência e resignação.
Queremos também reconhecer as orações, a inspiração, a aju­
da, o incentivo e a assistência de muitos que, com dedicação, con­
tribuíram conosco nos estágios finais deste livro.
Toda vez que se faz referência a pessoas, há sempre o perigo de
se omitir o nome de alguém importante. Todavia, queremos agra­
decer ao Senhor e pedir que abençoe Marjorie Bennett, Doug Brow-
ning, Rob e Anna Gascoigne, o tenente Larry Jones, Aron Rush, e
Mary e Anya Starr. E, de um modo especial, queremos agradecer a
todos que, anonimamente, intercederam por nós.
Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na fo rça do
seu poder.

Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes f i ­


car firm es contra as ciladas do diabo; p orq u e a nossa luta
não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados
epotestades, contra os dom inadores deste m undo tenebroso,
contra as força s espirituais do mal, nas regiões celestes.

Portanto, tom ai toda a arm adura de Deus, para quepossais


resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, p erm a ­
n ecer inabaláveis.

Estai, pois, firm es, cingindo-vos com a verdade e vestindo-


vos da couraça da justiça.

C alçai os p és com a preparação do evan gelh o da p az ;


em braçando sem pre o escudo da fé, com o qual podereis
apagar todos os dardos inflam ados do M aligno.

Tomai tam bém o capacete da salvação e a espada do Espíri­


to, que é a palavra d e Deus; com toda oração e súplica,
orando em todo tem po no Espírito ep à ra isto vigiando com
toda perseverança e súplica p o r todos os santos.
- Efésios 6.10-18
SumÁrio

1 Entronização....................................................................................9

2 Caça-Fantasmas?...........................................................................19

3 Conheça o Seu Inimigo...............................................................31

4 A Cerimônia de Inocência Acabou.........................................47

g “O Vingador do Diabo” ............................................................. 59

6 Nas Entranhas da Besta.............................................................. 71

7 O Que a Noite Tem para Revelar............................................ 89

8 Lidando com a Confraria........................................................ 105

9 A Infra-Estrutura do Satanismo..............................................121

íò “A Catedral da Dor” .................................................................. 139

11 Os Saduceus de H o je................................................................153

12 “...A Maldição sem Causa Não Se Cumpre” ....................... 161

13 Respostas a Algumas Perguntas Difíceis............................... 175

14 Os Túneis de Typhon................................................................ 191

15 Desertores das Trevas................................................................ 207

16 O Profano Graal ........................................................................ 221

17 Dissipando as Trevas .................................................................233

18 Falando do Inferno ...................................................................245


içj Testemunhando a um Adorador do Diabo .......................... 257

Descendo na Contramão....... ...................................................273

21 Regenerados, Chamados e Comissionados! ......................... 289

Apêndice 1 - 0 Calendário Satânico............................................. 307

Ap’êndice 2 - Indícios de um Possível Abuso...............................313


6ní roíiiz ação

Nada mais do que a anarquia neste mundo é liberada,


E um tempo de sangue e obscuridade; e, em toda parte,
A postura de inocência é debelada.
Os bons perderam toda a convicção,
Os maus, porém, com impetuosa violência estão.
Certamente algo está para se revelar;
Certamente a Segunda Vinda não vai tardar...
Mais uma vez as frevos desvanecem; mas agora posso saber
Que vinte séculos de um sono pesado
Tornam-se em pesadelo pela ação de um berço agitado.
Epara os rudes e cruéis, sua hora p or fim chegou.
Haverá indiferentes para com Belém que ainda hão de nascer?
— A Segunda Vinda - de W. B. Yeats

ocê não faz idéia do que seja acordar com uma necessidade de
sentir gosto de sangue em sua boca.
Você não pode imaginar o que é dirigir o carro à meia-noite,
pelas ruas molhadas de chuva de uma cidade, torcendo para en­
contrar uma mulher solitária com quem possa satisfazer um forte
desejo... e, ao mesmo tempo, com outra parte sua torcendo para
que não a encontre, temendo o que realmente você possa fazer.
Sem dúvida que esse é um pensamento apavorante, até mes­
mo ofensivo, para a maioria das pessoas. Tenha paciência comigo,
porém, ao introduzi-lo num mundo por onde poucos têm andado.
Isso lhe dará condições de compreender de onde vim, a fim de
poder avaliar melhor o que Satanás pode fazer às pessoas e, o que é
mais importante, o que Jesus Cristo pode fazer p o r elas.
JEu costumava acordar com uma forte necessidade de sentir
DestronAdo

gosto de sangue em minha boca, tal como o fumante inveterado


levanta-se tateando com a mão, procurando o maço de cigarros ao
lado de sua cama. Meu despertar era diferente do da maioria das
pessoas, pois acontecia no fim da tarde. Tinha arranjado trabalho à
Lúcifer

noite — primeiro como vigia, depois como entregador da edição


matutina de um jornal.
Geralmente, eu dormia num quarto pequeno, com as janelas
totalmente revestidas com cortinas de veludo púrpura, para não
deixar entrar um raio sequer de sol. Dormia no chão, tendo ao
meu redor pinturas satânicas nas paredes e no teto, as quais
tinham o propósito de serem portas de entrada para outras di­
mensões da realidade — outros universos.
Em certas épocas do ano, quando eu enfrentava uma situação
mais difícil, dormia num caixão funerário especialmente construído
para mim, de acordo com prescrições ocultistas bem precisas, for­
rado no fundo com uma terra “sagrada”, trazida do cemitério cató­
lico da minha cidade natal. Muito desta terra ficava bem embaixo
do meu travesseiro.
Mas eu tinha necessidade de sangue! Diferentemente dos ou­
tros pecadores, interessados sexualmente no corpo de uma mulher,
meu único interesse era o seu pescoço ou as suas artérias do fêmur.
Minha vida era vivida praticamente nas trevas, e eu adorava enti­
dades espirituais que eu chamava de os “Grandes Seres da Antigui­
dade”. Lúcifer era apenas um deles, embora um dos mais
importantes. Eu acreditava que esses seres estavam me transfor­
mando num ser imortal.
Meus heróis eram homens como Nero, Hitler e Drácula, e eu
acreditava ter contato diário com eles mediante o recebimento de
espíritos. Eles me guiavam — eram espíritos destituidos de qual­
quer santidade, que serviam a um senhor também profano — , e eu
obedecia a ‘‘eles” com um prazer embriagador e sinistro.
Como é que um ser humano pode degradar-se a tal ponto?
Como pode alguém tornar-se tão pervertido e maligno, tendo de
viver à custa de sangue humano? As respostas para estas perguntas

a ç ã o
encontram-se neste livro — na história real de alguém que foi víti­
ma de uma trajetória maligna, da qual não há como escapar, exceto

i z
por meio de Jesus.

Gnt r on
3 1 de ouíubro de 1959

A véspera do Dia de Todos os Santos veio sobre aquela cidade do


interior, no Meio-Oeste dos Estados Unidos, como um grande
fantasma predador — com o som do seu esqueleto se arrastando
pela noite afora.
Era esse o segundo dia do ano preferido daquele garoto, só
perdendo para o Natal. Todo ano, no dia de Halloween, ele vestia
uma fantasia bizarra e saía para pedir doces, pipoca e chocolate,
como é costume nos Estados Unidos. Ele gostava das guloseimas
que ganhava, mas sentia que havia algo muito estranho na atmos­
fera daquele dia.
O menino gostava do ar agradável do outono, perfumado com
a fragrância das folhas secas se queimando. Apreciava também a
camaradagem de seu melhor amigo, que com ele saía em busca das
prendas por toda a cidade. E, naquela noite, havia certa sensação
de perigo no ar, suficiente para tornar a amizade que os unia algo
muito especial.
Seus pais só estavam preocupados com o fato de ele nunca ter
saído para pedir guloseimas, no Halloween, trajando algo que ti­
vesse uma aparência do mal e lembrasse um demônio ou um bru­
xo. Aquele ano não foi exceção. Ele saiu com uma roupa em farrapos
e maquiado para parecer um mendigo.
Seus pais lhe haviam ensinado, desde a idade em que pôde
começar a sair para a “brincadeira” do Dia das Bruxas, que “fantas­
mas, bruxas e demônios não existem”. Mas o clima sinistro da festa
criava uma espécie de temor seguro e cômodo, que fazia da condi­
ção de ter amigos a coisa mais desejável naquela noite.
Dez anos se passaram até o dia em que a alegria do
Halloween seria manchada como que por doces envenenados e
pipocas com agulhas escondidas no melado. O charme daquela
noite seria assim, sutilmente temperado, como se fosse uma
bebida forte contendo uma pitada de algo desconhecido. E, ain­
da, para que tudo ficasse do jeito que o menino gostava, ele fre­
qüentava um colégio católico, que guardava feriado no Dia de
Todos os Santos, o que resultava, para ele, motivo de grande
alegria, a fa lta de aula no dia seguinte.
A estratégia dos dois meninos era percorrer de cima a baixo
todas as ruas situadas na direção norte—sul daquela pequena co­
munidade e depois irem no sentido das transversais leste-oeste.
Era um vilarejo de menos de mil habitantes, de modo que aque­
les meninos, cheios de energia e bastante animados, podiam per­
feitamente passar por todas as casas, o que, para eles, era um
verdadeiro divertimento.
Quando chegaram à velha pensão da cidade, eles “faturaram”
como nunca. A gerente tinha feito com que os seus hóspedes, em
torno de dez, colocassem suas dádivas numa enorme mesa, na en­
trada da pensão, para que os meninos não precisassem subir e des­
cer as escadas para os corredores. Os meninos haviam programado
chegar lá bem cedo; mesmo assim, suas sacolas já estavam quase
pela metade! Seus pais os queriam de volta a casa por volta das
8h30 da noite; assim, contavam ainda com mais de uma hora.
Naquela noite, quando estavam indo pela Rua Três em dire­
ção à escola pública, o garoto e seu companheiro deram, então,
uma parada e, por um momento, ficaram em silêncio, contem­
plando as luzes e as lanternas feitas de abóbora moranga, como
máscaras, através de cujos “olhos” e “boca”, recortados, brilhavam
velas acesas em seu interior — iluminando as escuras calçadas co­
bertas de folhas secas do outono. Então, casualmente, o menino
olhou para cima, por entre os galhos despidos das árvores da rua, e
viu algo que transformaria para sempre a sua vida.
O brilhar das estrelas naquela noite de outubro, que até en­
tão ele podia ver muito bem, de repente desapareceu — ou foi

B n l r o n i z A ç i o
coberto por alguma coisa.
Toda a abóbada celeste agora parecia contorcer-se como algo
vivo ou, talvez, como um grupo de coisas vivas. A princípio, o
menino não conseguiu discernir o que estava vendo. Pareciam
muitos cachos de uvas que se sacudiam de dor, suspensos como
se fossem tumores obscenos, escuros, que obscureciam o
firmamento estrelado.
Assim que o menino, boquiaberto foi saindo bem devagar
de sob os galhos daquelas árvores que se espalhavam por todas as
direções, as coisas ficaram um pouco mais nítidas. Cada um da­
queles cachos começou a se abrir, aos poucos, tornando-se horri­
pilantes. Então ele percebeu o que de fato eram: um bando de
enormes criaturas que se pareciam com morcegos, furando com
suas pequenas garras ossudas o manto aveludado da escuridão
noturna!
Os olhos de tais criaturas, então, se abriram. Apesar de serem
demasiadamente horrorosas, foi desse modo que ele pôde ver, com
maior facilidade, quantas eram. O que viu, deixou-o estarrecido.
Pareciam milhares! Milhares de olhos de um vermelho acentuado
faiscavam naquela massa de seres mórbidos que dele se aproxima­
vam. Os olhos que ele via pareciam entorpecer a sua alma.
— Agora você nos pertence.
Estas palavras ressoaram em sua mente como a badalada de
um grande sino.
— Agora você nos pertence.
Um sentimento de terror, não apenas um medo desconfortá­
vel, mas um gélid o e horrendo pavor, como um calafrio, percorreu
de cima a baixo toda a sua espinha dorsal. Um estranho poder,
com uma força irresistível, despencou sobre ele, fazendo-o cair
de joelhos.
— Ei, Bill! O que você está fazendo aí?
O ansioso e amistoso grito do seu companheiro, que havia se
afastado um pouco dele, captou de volta sua atenção. Ele olhou
para o amigo, agora muitos metros à sua frente, e arreganhou os
dentes num falso sorriso, nervoso, demonstrando não saber o que
estava acontecendo. Voltou então a olhar para o céu, mas nada viu,
senão estrelas. Era evidente que o seu amigo não havia percebido
nada de anormal.
Desvencilhando-se de todo o seu deprimente terror, e recupe­
rando-se da visão assustadora que quase o matou, o garoto correu
então para alcançar seu amigo.
No ano seguinte, ele observou o céu da Rua Três e apenas uma
estrela cadente perturbou o cenário daquela noite. Desde então, a
cada noite de Halloween, com o passar dos anos e avançando em
sua adolescência, olhava para o céu para ver se aquelas horrorosas e
desagradáveis criaturas de olhos vermelhos apareceriam de novo
no céu. Mas nunca voltaram.
Quando chegou à maturidade, ele se tornou cada vez mais
fascinado pelo desconhecido. Passou a estudar a respeito de discos
voadores, fantasmas, casas mal-assombradas, parapsicologia e
Triângulo das Bermudas. Devorava todos os livros sobre esses as­
suntos que podia encontrar, para estranheza de seus pais. Todo
ano, saía fielmente a cumprir o seu ritual do Halloween, mas ja­
mais voltou a ter uma visão como aquela.
Um encontro bem diferente daquele, no entanto, o esperava,
alguns anos depois. Sua mente já havia sido preparada para encarar
o desconhecido, o extraordinário. Além disso, naquela amaldiçoa­
da noite de Halloween, uma porta se abrira totalmente na alma
do menino. Algo pernicioso, asqueroso, destrutivo e maligno vie­
ra entronizar-se nele.
Ao ser alguém tocado pelas gélidas asas do submundo, pare­
ce que a pessoa — mesmo uma criança -— fica excepcionalmente
sensibilizada por certos momentos e lugares. É quando o véu que
separa o nosso mundo “real” do Mal Supremo parece rasgar-se
levemente, e um horror sem controle penetra em nosso tempo e
espaço.

o
I
KH iíielA nder, U Jis c o n s in - 19 65

a ç
Gníroniz
Desde o início de sua adolescência, a cada dois anos, o menino ia
com seus pais a um local de veraneio junto às florestas do norte
de Wisconsin. Eles alugavam uma cabana junto a um lago. Era
um belo lugar.
Certa ocasião, quando lá chegaram, numa noite de verão, o 3-5
menino, agora um adolescente, estava no embarcadouro contem­
plando o lago. Era um local relativamente deserto, mas luminárias
brilhavam por toda a margem. O fulgor das estrelas era excepcio­
nal. Ele desfrutava da beleza daquela noite e não lhe ocorria pensa­
mento algum sobre espíritos ou coisas estranhas. De repente, algo
esquisito começou a acontecer ao seu redor.
As árvores em torno do lago passaram a agitar-se, como que
sacudidas por um forte vento — mas não estava ventando. Muito
admirado e com certo medo, ele olhou para os pinheiros que ba­
lançavam de um lado para o outro. Parecia assistir à televisão com
o som desligado! Ele chegou a tapar os ouvidos, testando-os, para
ver se não estava tendo algum problema auditivo.
Até mesmo o ruído noturno dos insetos e dos sapos havia de­
saparecido. Não fosse o suave barulho das águas roçando nos pila­
res do embarcadouro e o som ocasional de madeira contra madeira
dos barcos presos que batiam nas águas, teria julgado que estivesse
totalmente surdo! Veio-lhe, então, um pensamento de que talvez um
óvni, ou melhor, um disco voador, estivesse sobrevoando. Lera mui­
to a respeito do aparecimento desses objetos desconhecidos e sabia
que às vezes, nessas ocasiões, podem acontecer fenômenos meteoro­
lógicos estranhos. Podia ser esse o caso que estava ali presenciando,
com a cessação de todos os ruídos da natureza viva. Mas o seu receio
transformou-se rapidamente numa forte excitação quando desviou
o olhar das árvores e o fixou no céu estrelado.
Ele somente havia visto óvnis espetaculares em ilustrações e
filmes. Certa vez, chegou a observar apenas um par de luzes estra­
nhas, muito longe, que poderiam ser discos voadores, mas talvez
fossem balões meteorológicos ou algum avião fora da rota. Assim,
naquele momento, o adolescente ficou ansioso e mordeu os lábios
de nervosismo. Isso só poderia ser algo realmente fora de série!
As árvores continuavam sendo agitadas cada vez mais, sem
que se ouvisse ruído algum. Elas o fizeram lembrar-se de filmes a
que assistira cujas árvores agitavam-se com a descida de um heli­
cóptero. Continuou com os olhos fixos no céu. Finalmente, algo
como um óvni apareceu, mas diferente de tudo o que ele poderia
jamais ter imaginado.
Devagar, no longínquo horizonte, foi surgindo uma gigantes­
ca escuridão. A princípio, parecia uma enorme esfera negra que
eclipsava mais de um terço das estrelas no horizonte. Mas se movia
numa velocidade que seria impossível para algo assim tão grande.
Antes que tivesse tempo para qualquer reação, a esfera de total
escuridão foi seguida por algo ainda maior, que efetivamente veio a
obscurecer a maioria das estrelas no céu. Havia uma conexão entre
os dois fenômenos. De repente, ele se deu conta de que estava
vendo algo extraordinário, uma enorme silhueta de homem!
Mal havia percebido isso quando aquela coisa gigantesca co­
meçou a se movimentar por toda a abóbada celeste. Ele via, no
horizonte, aquela sombra vindo em direção à sua cabeça. O rapaz
sentiu-se como uma formiga que vê um homem marchando sobre
o seu formigueiro!
Depois, quase todo o céu ficou escurecido por aquela enorme
mancha negra. O rapaz teve, então, a impressão de ver um par de
olhos vermelhos, o que o fez lembrar-se dos olhos daquele bando
de seres noturnos que lhe apareceram na noite de Halloween, anos
atrás. Isso o inquietou um pouco, mas a imagem durou apenas um
segundo. A silhueta negra deu, então, um enorme passo, desapare­
cendo no horizonte atrás do rapaz.
As estrelas voltaram a brilhar da forma normal; não mais esta­
vam obscurecidas. As árvores pararam de balançar. Gradualmente,
os sons noturnos do lago voltaram à normalidade, e o rapaz ficou
embasbacado, questionando consigo mesmo a natureza do fenô­

G í i í r o n i z A ç l o
meno que acabara de presenciar. Com um arrepio e uma forte sen­
sação de náusea, ele retornou à cabana. Como era de esperar, não
comentou nada com seus pais.
Apesar do que lhe aconteceu nesse verão assombrado nas flo­
restas do Norte, o rapaz jamais teve outro Halloween como aquele
da visão na Rua Três, tempos atrás.

• • •

Três anos depois, em 31 de outubro de 1968, Bill Schnoebelen


atingira a maioridade.
Naquela noite, do pináculo de um penhasco, contemplava as luzes
de Dubuque, Iowa — olhando para o horizonte noturno do Haloween,
pela primeira vez, na condição de um iniciado em bruxaria.
C a ç a - F a H Í A S 1I 1 A S ?

Ficamos no centro e supomos que o segredo está no centro...


e o saber.

Dubuçue, I oxua - 1969

(jlra escuro como uma cripta naquele subsolo. Talvez porque esti­
véssemos sentados num lugar bem ju n to a uma cripta, no porão,
embaixo do departamento de música da faculdade que eu freqüenta­
va. Éramos cinco ou seis estudantes, sentados em círculo no chão,
com as pernas cruzadas, de mãos dadas, no escuro. Invocávamos o
espírito da mulher que estava sepultada do outro lado de duas enor­
mes portas de carvalho, naquele subsolo do departamento de música.
O líder do círculo na nossa pequena sessão espírita estava um
ano à minha frente na faculdade e, sem dúvida, havia se desenvol­
vido mais do que eu em magia negra. Era Halloween, e nada me­
lhor do que comemorá-lo invocando o espírito de alguém que
tinha sido uma das pessoas de maior destaque naquela comuni­
dade. A mulher fora sepultada no subsolo do departamento de
música porque seu marido contribuíra não só para a construção
da capela situada acima, como também para a edificação de vários
outros edifícios no campus universitário. Tal como acontecia com
os benfeitores na Idade Média, foi desejo seu que o túmulo da
esposa ficasse instalado sob o altar principal da igreja que ele ha­
via construído.
Nosso líder, Dave (não é esse o seu verdadeiro nome), clamou,
em voz grave e bem fúnebre:
— Invocamos o espírito de F... W... . Queremos penetrar o
véu do além e falar com ela.
Nada ouvimos, a não ser o nosso coração batendo um pouco
mais forte do que o normal. Dave continuou:
— O F... , nós a invocamos. Rasgue esse véu e comunique-se
conosco! Isso é tudo o que queremos. Dê-nos um sinal de que há
vida além da morte.
O silêncio que se seguiu criou um ambiente agourento: as tre­
vas eram mais tangíveis a cada minuto. De repente, as enormes
portas de carvalho que nos separavam do jazigo começaram a tre­
pidar. A princípio, um tanto pausadamente, mas, depois de alguns
segundos, nós, que nos encontrávamos sentados em círculo, ouvi­
mos um ruído alto e estrondoso.
Quase nos matamos, debandando, à toda, do porão, naquela
noite fria de Halloween. Lá fora, respiramos bem fundo e fomos a
uma pizzaria para avaliarmos nossa experiência parapsicológica. O
que não sabíamos é que estávamos prestes a receber a lição de que
“com certeza o sen p ecado vai ser descoberto'’.
Eu era encarregado, na faculdade, de atender as pessoas na
biblioteca do departamento de música; possuía, assim, uma cha­
ve do local. Foi desse modo que pudemos ir ao subsolo do depar­
tamento após o horário normal. Eu tinha de permanecer naquele
departamento boa parte do tempo depois do expediente. Os es­
tudantes de música costumavam vir a mim também com ques­
tões e problemas.
Na semana seguinte à nossa “sessão espírita”, vários alunos,
que nada sabiam da nossa tentativa de invocar o espírito de uma
pessoa morta — pois mantivemos o caso em segredo entre nós —,
vieram até mim para fazer estranhas indagações, do tipo:
— Quem está tocando piano lá na sala 4?
Tinham ouvido nitidamente o som do piano e chegaram a ir à
sala 4 para verificar quem estava tocando, mas não encontraram
ninguém. Aparentemente, tratava-se sempre da mesma melodia.
Se isso não bastasse, certa noite eu estava na sala do chefe do
departamento fazendo cópias de fitas cassetes para ele quando,
inexplicavelmente, a mesma melodia surgiu nas fitas cassetes que
eu estava copiando, sem qualquer explicação de como isso poderia
ter acontecido. O departamento de música começou, então, a ga­
nhar certa “reputação”.
Um dia, um estudante corpulento ao entrar no departa­

?
a s
mento, foi imediatamente arremessado para fora por poderosas

ín
mãos invisíveis, com uma força tal que chegou a deslocar os

í a ü í a s
seus ombros.

-
De outra feita, uma freira viu uma mulher de baixa estatura,

a ç a
mas bastante robusta, descendo pelos corredores, trajando um ves­

C
tido verde de cetim. Posteriormente, ficamos sabendo que a descri­
ção da mulher coincidira com o retrato oficial de F... W... !
Em outra ocasião, ainda, uma aparição atingiu-me em cheio.
Eu tinha o cuidado de nunca ficar nas salas com a luz apagada. Por
experiência, sabia que as pessoas que se aventurassem a entrar no
departamento de música com as luzes todas apagadas, normalmente
sairiam dali com lesões no corpo.
Mas, numa noite, tinha acabado de sair do departamento com
um casal de amigos, quando me dei conta de que havia esquecido
alguma coisa. Voltei ao recinto, estando as luzes apagadas, e nem
me lembrei de acendê-las. Mal havia dado alguns passos no h a ll de
entrada qua.ndo senti uma coisa repugnante agarrar a barriga da
minha perna esquerda, prendendo-a com garras abrasadoras.
Em toda a minha perna que latejava, senti como se a pele
estivesse queimando. Gritei e saí mancando do departamento,
quase chorando de dor. O exame médico constatou que havia
uma lesão do tipo queimadura, aproximadamente do tamanho
de uma mão, na barriga da minha perna. Por várias semanas,
depois desse incidente, tive que andar visivelmente mancando.
Por estranho que pareça, durante cerca de dez anos não cresce­
ram pêlos na região afetada.
Um dos episódios mais espantosos, com respeito a essas coisas
assombrosas, ocorreu quando a cidade de Dubuque foi atingida,
certa noite, por forte tempestade. O mau tempo causou a inter­
rupção do fornecimento de energia elétrica em todo o câmpus.
Como eu era o encarregado da biblioteca do departamento, o deão
dos alunos me pediu que ficasse vigiando as portas do departa­
mento, trancadas. Foi com relutância que acedi, pois tinha ouvido
falar de acontecimentos muito estranhos que ocorreram ali. De­
pois de algum tempo, o órgão começou a tocar dentro do departa­
mento, mas eu não estava nada disposto a ir investigar o que estava
acontecendo, pois teria de andar pelos corredores totalmente escuros.
Após alguns minutos, o deão desceu com uma lanterna e, muito
bravo, perguntou quem estava tocando o órgão. Respondi-lhe que
as portas estavam trancadas e — o que era mais espantoso — que
o único órgão que havia no departamento de música era um apare­
lho elétrico\ Ele me disse que isso era um absurdo, abriu a porta e,
soltando uma imprecação, entrou. Assim que ele penetrou a escu­
ridão do departamento, sua lanterna, misteriosamente, se fez em
pedaços em sua mão. Saímos correndo de lá, enquanto o órgão
continuava tocando.
Tal como um contágio, os acontecimentos sobrenaturais fo­
ram se espalhando para as outras faculdades locais. Uma jovem,
amiga de um dos rapazes presentes na reunião que detonara todos
esses acontecimentos, e que agora considerávamos ignóbil, teve uma
experiência e tanto. Ela sentiu a presença de (e depois viu) uma
enorme criatura, à semelhança de um lagarto, arrastando-se até a
sua cama, no seu dormitório, enquanto, paralisada, assistia à coi­
sa permanecer em cima do seu cobertor durante um período de
tempo que parecia uma eternidade. Sua companheira de quarto,
ao chegar, deparando-se com o intruso, gritou, assustada, e ele
imediatamente desapareceu.
Toda essa agitação causada pelo sobrenatural, no entanto, ser­
viu apenas para alimentar o meu interesse pelo ocultismo. Decidi
que, uma vez que eu havia contribuído para a vinda do espírito,
tinha a responsabilidade de mandá-lo de volta para o seu “descan­
so”. Comprei, então, um manual de feitiçaria, intitulado A M aior
Chave de Salomão [em Inglês, The Greater Key o f Solomon\, que
continha rituais mágicos de exorcismo. Eu me dispunha a fazer o
que fosse necessário para lançar naquele espírito tudo o que esti­
vesse no livro, a fim de fazê-lo parar de vez.
No dia do aniversário da morte da referida mulher, diversos

C a Ç A - f A n l A S H l A S ?
amigos meus reuniram-se do lado de fora do porão da capela. Ali
estavam para ver o que iria acontecer comigo! Eu abri a porta do
departamento de música e, segurando o livro, fui até as terríveis
portas de carvalho. Meu coração disparava como uma britadeira.
Abri as portas que davam para o túmulo e entrei.
O jazigo, em mármore, atingia um metro de altura do piso do
subsolo. Eu já sabia disso, pois tinha feito previamente um reco­
nhecimento do local à plena luz do dia. Agora, porém, a única
luz que havia era a da rua, que vinha de um semicírculo de jane­
las que circundavam a enorme cripta. Fazia tanto frio no local
que dava para ouvir a minha respiração ofegante. Eu sabia, de
meus estudos, que um frio sobrenatural é sinal de um elevado
grau de atividade paranormal.
Andei, então, em volta do túmulo e comecei a recitar o ritual
de exorcismo do livro, com a voz mais firme e autoritária que eu
conseguia naquelas circunstâncias. Minha voz soava de modo so­
brenatural e reverberava no espaço vazio de pedra da cripta, mas
não fui interrompido por outros sons e movimentos.
Do lado de fora, meus amigos aguardavam os acontecimentos
com ansiedade; uma grande parte deles esperava ver-me arremes­
sado para fora, pelas janelas, fragmentado em pequenos pedaços,
por ter ousado entrar no túmulo da pobre mulher. Estavam tam­
bém de guarda, pela segurança do câmpus.
Lá dentro, finalmente, concluí todo o ritual, um tanto enfa­
donho. Então, “conjurei” o espírito a que fosse embora e que nun­
ca mais retornasse. Contive minha respiração por um instante, para
ver se algo acontecia.
Nada aconteceu.
Finalmente, num ato de triunfalismo jovem, subi no túmulo e
desafiei a temível F... W... a fazer alguma coisa.
Nada.
Depois de alguns minutos, fechei o livro, deixei calmamente a
cripta, saí e tranquei a porta do departamento de música. Meus
amigos se alegraram quando me viram, mas, no fundo do meu co­
ração, eu achava que eles estivessem esperando uma manifestação
visível e espetacular, com raios e luzes saindo do lugar.
Pelo que sei, isso foi o fim das ocorrências paranormais no
departamento de música. Fiquei conhecido como o “exorcista”
da faculdade.
Toda essa minha experiência contribuiu para apoiar ainda mais
minha crença nos poderes da magia e do ocultismo. Minha carreira
como feiticeiro tinha, oficialmente, começado.

D u b u Q u e , I o x it a - 19 7 3

Minha esposa (que era grande sacerdotisa) e eu fomos chama­


dos para resolver a situação de uma casa que era muito grande e
de alto valor, mas que estava mal-assombrada. Será que as pes­
soas pedem a bruxos que as livrem de espíritos em suas casas?
Bem, elas o fazem sim, quando se encontram num estado
desesperador. O casal que morava na casa tinha visto o bastante
para quase serem levados à morte. A mulher era católica, e o
marido, completamente ateu. Mas os acontecimentos na casa
lhes causaram um enorme terror. Na verdade, o homem chegou
ao ponto de dizer que, se não conseguíssemos livrar a casa da­
quele mal, p od ería m os fic a r com ela. Já havia, inclusive começa­
do a fazer planos para a mudança.
A mulher havia telefonado para a arquidiocese católica, mas
tudo o que puderam fazer foi enviar um sacerdote para benzer a
casa. Ao terminar a benzedura, enquanto o padre saía, risos de
zombaria irrompiam por todo canto. A senhora tinha ouvido fa­
lar de nós por meio de alguém que nos conhecia (pois era um de
nossos melhores alunos da escola de bruxaria que então mantí­
nhamos) e nos chamou. Isso ocorreu há cerca de 12 anos antes do
filme Os Caça-Fantasmas.
Fazíamos parte da alta hierarquia da feitiçaria, como sacerdotes,
e éramos druidas. Fomos, então, convocados para enfrentar aquela

C a -Ç A - f A t l l A S I n A S ?
casa infestada de espíritos malignos e poderosos, situada no alto de
uma colina, de onde se descortinava toda a cidade de Dubuque.
Os proprietários nos relataram a difícil situação que estavam
vivendo, e decidimos ajudá-los. Tínhamos sido recentemente trei­
nados e chegado ao nível de alto sacerdócio; assim, achávamos es­
tar preparados para enfrentar qualquer tipo de fantasma.
O casal tinha se apavorado, principalmente porque um dos
fantasmas ameaçava as crianças. Elas se queixavam de pesadelos e 25
de verem coisas assustadoras no quarto. O pai, apático e materia­
lista, tinha sido acordado numa noite por algo que puxava as
cobertas da sua cama. Viu uma aparição branca pairando no ar,
aos pés da cama. Tinha garras afiadas, que começaram a puxar as
cobertas. Quando ele se levantou da cama para acossá-la, ela des­
lizou pelo corredor de um modo tão suave que parecia ter rola­
mentos nos pés. O homem a perseguiu passando pelos quartos
das crianças e escada abaixo. O vulto o levou pela grande sala, à
cozinha e, alcançando a porta dos fundos, passou por ela. O ho­
mem tentou alcançá-lo, mas, quando abriu a porta, teve um enor­
me choque: no lugar do seu quintal, havia um abismo infinito de
estrelas! Ele sentiu o vento da eternidade roçando seu rosto e vol­
tou correndo para dentro de casa, tomado de terror. Foi então
que fomos chamados.
Visitamos a casa, discutimos o problema e nos inteiramos do
histórico da mansão. Em seguida, pedimos aos proprietários per-
missão para ver o “coração” da casa. Os ocultistas e os parapsicó-
logos acreditam que as casas mal-assombradas, em sua maioria,
têm um “coração”, ou seja, um centro espiritual do qual provém
toda a ação sobrenatural. Geralmente é um lugar bastante frio.
No caso deles, rapidamente descobrimos que era o quarto princi­
pal, o do casal.
Esse quarto era gelado. Dava para sentir a própria respiração.
Os demais cômodos, porém, eram agradáveis e aquecidos. Um gran­
de espelho, na porta do closet daquele quarto, não tinha mais uma
ótica perfeita, tornando-se todo ondulado, como um espelho de
parque de diversões, e que tremia assustadoramente quando olhá­
vamos para ele.
Prosseguimos, então, com os procedimentos que havíamos
aprendido. Sentamo-nos e fizemos uma pesquisa espiritual naque­
le quarto principal da casa. Conseguimos determinar que havia apa­
rentemente dois espíritos: o primeiro era de um velho cruel, com
tendências para a pedofilia; o outro era um espírito de mulher bem
mais velha, que era boa. Possivelmente, ela estaria querendo infor­
mar os pais, de algum modo, sobre os propósitos daquele outro
espírito para com as crianças. Essa informação nos foi dada por
nossos “espíritos guias”, que também eram seres desencarnados,
mas bons sujeitos (assim pensávamos).
Vimos que a casa estava realmente bastante assombrada, de
modo que decidimos trazer conosco, na noite seguinte, todos os
feiticeiros do nosso grupo. Pedimos-lhes que fizessem círculos de
proteção em torno da família, para que nenhum dos familiares
fosse possuído pelos espíritos em fuga que esperávamos expulsar.
Minha esposa e eu levamos para o andar de cima os dois principais
feiticeiros do nosso grupo (uma mulher e um homem), e ali reali­
zamos nossos feitiços de forma a incrementar, por algum tempo,
o poder que achávamos que os nossos bruxos possuíam.
Mas, mesmo com a experiente liderança de minha esposa,
nada estava dando muito certo. Em determinado momento, ela
brandiu ostensivamente o seu punhal de feiticeira e perseguiu
um dos espíritos escada abaixo até a porta dos fundos. Viu-se,
também, diante da abertura de um abismo cheio de estrelas, em
vez do quintal!
Finalmente, num ato de desespero, fez uso do nome que bem
poucos feiticeiros terão coragem de até mesmo pronunciar. Ela gritou:
— Em nome de Jesus Cristo, ordeno que todos os espíritos
saiam daqui!
Foi como se um estrondo sobrenatural atingisse toda a casa, e
imediatamente a opressão desapareceu. Foi como sentir de novo o
sol no rosto depois de uma tempestade.
Como cada um de nós estava trabalhando num quarto dife­
rente da casa, eu não tinha ciência do que exatamente Sharon ti­
nha feito. Naturalmente, presumi que nossos rituais tinham tido
êxito e nem me preocupei mais com o assunto. Nós dois e os de­
mais do grupo fomos, então, para o andar térreo, e o casal proprie­
tário nos disse sentir que a casa estava ótima. Naturalmente acharam
ter sido pelos nossos “poderes místicos” altamente desenvolvidos
que a opressão desaparecera.
Mas aquela noite ainda não terminara. Sentamo-nos na sala
de estar para tomar um chá, enquanto nos deliciávamos com o
sabor da nossa vitória, quando de repente um som de um uivo,
horripilante, irrompeu naquela noite. Seguiu-se a ele o barulho de
um forte impacto, como se alguém tivesse dado um tiro de canhão
na porta de entrada. Corremos até a porta e a abrimos. Vimos à
nossa frente o gato da casa, tremendo de forma incontrolável, to­
mado de um terrível pavor. Olhando com atenção para a porta,
pareceu-nos que alguém (ou alguma coisa) tinha arremessado o
gato com uma incrível violência contra a porta.
O pobre gato estava tão aterrorizado que tinha se arranhado
todo. A dona da casa nos informou que o bichano era tão bravo
que já tinha até enfrentado cães duas vezes maiores do que ele. Ela,
então, o pegou e, quando o colocou no chão, ele disparou e foi
esconder-se debaixo do sofá, tremendo de medo, e ali permaneceu
por muitos dias.
Uma pequena camada de neve cobria o gramado lá fora, mas
não havia pegadas humanas sobre a neve em parte alguma nas pro­
ximidades da entrada da casa, tampouco pegadas do gato. Assim,
concluímos que os espíritos, ao saírem da casa, vingaram-se no
gato da família, arremessando-o contra a porta.
Não obstante esse pequeno incidente, tanto nós como a famí­
lia nos sentimos satisfeitos com o final de tudo. Os espíritos nunca
retornaram, e o casal nos enviou um cheque de valor mais que
suficiente para o pagamento de nossos serviços.

ÍIlilxxjAukee, HJisconsin - 1975

Mudamos o nosso “ministério” de Dubuque para Milwaukee, em


1974, porque mais de 80 pessoas haviam solicitado que ministrás­
semos cursos sobre feitiçaria com iniciações e estabelecêssemos no­
vos grupos de bruxos naquela cidade. Começamos, então, a dar
aulas de modo regular a candidatos à feitiçaria.
Um dia, durante o quarto semestre daquela escola de bruxa­
ria, recebemos de uma de nossas alunas do segundo ano um frené­
tico telefonema por volta da meia-noite. Ela estava num bar e tinha
bebido bastante. Sentia que demônios haviam se apoderado dela.
Julgava-se totalmente possuída por eles! Como fazia pouco tem­
po que estávamos nâ cidade, não sabíamos onde ficava o bar. As­
sim, sugerimos que ela viesse até nossa casa.
Levou uma hora para a aluna chegar. Nesse ínterim, ela foi
atormentada incessantemente. Disse-nos que mãos invisíveis fi­
cavam agarrando suas mãos no volante, tentando desviar o carro
para a contramão. Ela escapou por um triz da morte, uma ou
duas vezes.
Inicialmente, conversamos com ela do lado de fora de nossa
casa, porque tinha medo de entrar. Por fim, começou a ficar vio­
lenta, de modo que tivemos de arrastá-la até o nosso templo de
magia, onde tínhamos estabelecido um Círculo de Bruxos. Ela ia
chutando, berrando e espumando pela boca.
A mulher estava totalmente fora de si, espumando e gemen­
do lamuriante como uma banshee [bruxa que, na crença popular
irlandesa, prevê a morte de uma família]. Pegamos as nossas cor­
das de bruxaria e a amarramos, conforme prescrito pelos feiticei­
ros, para não nos atingir nem se machucar. Àquela altura, eu me

Ca ç A - f A n l A s m A S ?
sentia bastante confiante, pois, como parte do meu treinamento
ocultista, havia iniciado meus estudos de preparo para o secerdócio
da Igreja Católica Romana Antiga [Igreja existente nos Estados
Unidos — O ld Roman C atholic Church, que se declara sucessora
da Igreja Católica histórica, não sendo ligada ao Vaticano], e já
recebido o grau menor de ordenação. Significa que eu havia rece­
bido a “Santa Ordenação” de exorcista e com ela, supostamente,
o poder de expelir demônios. Considerando todo o nosso treina- 29
mento em magia, nosso poder de grande sacerdote na feitiçaria e
os manuais que consultávamos, achamos que a nossa tarefa seria
extremamente fácil.
Quatro horas depois, no entanto, nossa aluna continuava se
retorcendo, chutando e proferindo pragas malignas contra nós. T í­
nhamos colocado um “círculo mágico” em torno dela, dentro dos
limites do nosso templo, e tentado de tudo, para expelir os demô­
nios que a atormentavam. Lançamos mão dos rituais de exorcismo
do livro A M aior Chave d e Salomão e dos manuais e textos de bru­
xaria de que dispúnhamos. Cheguei até mesmo a ler todo o ritual
católico romano de exorcismo, rezando em nome de Jesus Cristo e
borrifando sobre ela um pouco de águabenta. Mas tudo isso só fez
aumentar sua fúria (dela ou deles).
O dia já ia amanhecer e nos encontrávamos exaustos, mas
não os demônios. Eu havia praticado todo o ritual de exorcismo
duas ou três vezes, assim como outros rituais e atos simbólicos —
mas tudo foi totalmente inútil. Finalmente, minha esposa, Sharon,
suspirou, desesperada, pondo para trás o cabelo que lhe caía so­
bre os olhos, e me olhou como quem dissesse: “Neste caso, nada
funciona!”
Sharon, então, pôs as mãos sobre a cabeça da mulher, depois
de já ter feito isso inúmeras vezes, mas agora dizendo:
— Em nome de Jesus Cristo, eu ordeno que todos os demôni­
os que estão nesta mulher saiam agora!
A infeliz mulher deu um berro tão forte que por pouco não
levantou o teto da casa. Seu corpo se levantou, arqueando-se, rete-
sado, mas, em seguida, ela desmaiou, caindo inerte no chão como
morta. Pela primeira vez, depois de várias horas, houve silêncio na­
quele quarto em penumbra.
Voltei-me para Sharon, um tanto ofendido. Ela sacudiu os
ombros, como que dizendo: “E daí?”, e curvou-se para ajudar a
mulher, que começava a voltar a si, recuperando a consciência.
Meia hora depois, ao nascer do sol, pudemos, então, despedi-la
advertindo-a de que deveria manter-se longe de bares do tipo
daquele que freqüentara.
Contudo, meu ego, como homem, fora atingido. Não conse­
guia entender — mesmo que houvesse alguma magia no uso do
nome de Jesus Cristo — por que esse nome funcionara de imedia­
to, sem esforço algum, quando Sharon o mencionou, mas não ti­
vera efeito algum quando eu o tinha usado, várias vezes, dentro de
um grande e bem elaborado ritual de exorcismo.
ConHe ç A o S e u Inimigo

(...) para que Satanás não alcance vantagem sobre nós;


pois não lhe ignoramos os desígnios.
— 2 Coríntios 2.10,11

C o m o o capítulo anterior demonstrou, há de fato bruxos e sata-


nistas por aí. Digo isso, porque f u i um deles! Eles apresentam-se de
muitas e diferentes formas, e nem todos se vestem de preto e têm
uma cruz invertida tatuada na testa. Nós não a tínhamos. Alguns
deles usam terno e gravata e ocupam cargos de destaque nos conse­
lhos administrativos de suas comunidades. Outros, infelizmente,
podem estar até mesmo usando vestes clericais.
Quando eu era satanista, era também sacerdote ordenado da
já citada Igreja Católica Romana Antiga. Era ministro de uma igreja
que se dizia “crista espírita”. E conscienciosamente me propus a
fazer o mestrado em Teologia em um conceituado seminário teo­
lógico católico do Meio-Oeste dos Estados Unidos. Cumpria to­
dos os meus deveres eclesiásticos, e nenhum dos meus paroquianos
sabia que eu vivia envolvido com culto ao diabo. Digo isso não
para me vangloriar, mas para ressaltar que é um erro acharmos que
pessoas “respeitáveis” não possam ser servas de Satanás. Com efei­
to, tais pessoas são as que melhor se encaixam nas sutis práticas do
diabo, para o servirem.
Num certo sentido, os satanistas são nossos inimigos, mas num
sentido bem mais amplo eles próprios são vítimas de Satanás. Creio
que posso dizer, sem receio de me contradizer, que praticamente
todos os satanistas são pessoas enganadas. Poucos são os que com­
preendem o que estão fazendo ou para onde estão indo. Foram
manipulados pelo “banqueiro do jogo”. São todos — num grau
maior ou menor — vítimas da má informação ou da pura mentira.

DescubrA a Sua ÍIleníirAl

É óbvio que somente lunáticos totais serviriam alguém tendo ple­


no conhecimento de que receberão como paga o desespero e o
horror nesta vida e tormento eterno no fogo do inferno. Assim, a
nenhum satanista é permitido crer no que a Bíblia diz quanto ao
seu destino. Satanás emprega vários artifícios para fazer com que
os que o servem não vejam a verdade. Sua estratégia mais impor­
tante é mantê-los bem longe da Bíblia.

1. Satanistas de nível inferior normalmente são ensinados de


que, na realidade, nem Deus nem o diabo existem.
Esta é a mentira promovida pela literatura da Igreja de Satanás
[Church of Satan (COS)]. Essa igreja é a primeira nos Estados
Unidos, entre todas as igrejas satânicas, a gozar de imunidade no
pagamento de impostos. Diz aos seus membros que Satanás é ape­
nas um conveniente arquétipo; que ele na verdade não existe; que
ele é apenas um símbolo tal como a estátua da liberdade, ao qual se
pode dar um significado com um conteúdo emocional.
Para eles, Satanás é como uma insígnia que usam, que lhes
permite pensar de modo diferente das “massas” e serem perverti­
dos e misantropos [os que buscam apenas os seus interesses e odeiam
a sociedade]. Para os tais, Satanás simboliza o ser interior, o verda­
deiro potencial que eles têm, o qual deve ser alcançado por todos
os meios possíveis. Ele é tudo o que poderão ser, se apenas conse­
guirem se livrar das algemas da sociedade para serem realmente
eles mesmos.
2. Satanistas de nível médio, que se situam acima do satanismo
“light” e burlesco da Igreja de Satanás, recebem o ensino de que
Satanás é real, que ele não é mau, mas apenas incompreendido.

Satanás para eles é uma variante do Deus Chifrudo da Wicca,


com uma índole bem pior. Ele é um romântico rebelde das tre­
vas, um solitário e byroniano anti-herói. Representa o lado mais
tenebroso da humanidade, sua alienação e solidão. Esse “Satanás”
não é um inimigo de Deus, mas um oposto necessário — a “leal
oposição”. Seu pensamento é que “Deus não pode ser visto como
bom sem que haja alguém que o faça parecer ser bom”; desse
modo, Satanás existe como um trágico contraste. Esse Satanás
não aflige ninguém e, por certo, não é um ser malévolo é
apenas o senhor das forças das trevas e ajuda a humanidade com
seu “lado de trevas”.

3. Satanistas de nível mais elevado alcançam o patamar se­


guinte da verdade, ou seja, crêem que Satanás é maligno, mas que
a sua malignidade é melhor do que o que Deus tem a oferecer.

Segundo essa visão, Satanás é quem, de modo injusto, recebe


toda a responsabilidade dos erros de Deus. Eles crêem que, por
ciúmes, Deus o expulsou do céu, e assim Satanás procura recupe­
rar a sua glória. Deus é apresentado como o Deus das “massas”, um
rebanho de pessoas tolas que têm mentalidade de escravo. O insano
filósofo Friedrich Nietschze teria isso em mente quando afirmou
que o cristianismo é uma religião “de escravos”.
O satanismo — dizem — é uma religião de senhores. O reino de
Satanás é para os criativos e ousados, para os que querem viver grandes
emoções. O céu é apresentado como sendo um lugar
maçante, cheio de tolos dedilhando harpas o tempo todo. O inferno,
por outro lado, é apresentado como um lugar de uma orgia eterna. O
cristianismo — dizem ainda — é bom para os que são meramente
humanos (costumávamos nos referir a eles como “me-hums”), mas,
para os que são senhores, o satanismo é a única opção. Eles crêem que,
quando alguém se alista no exército de Satanás (vendendo a alma ao
diabo), está entrando numa guerra que tem por objetivo retomar de
Deus o céu. Deus é visto como o usurpador, e Satanás como o
governante de direito do céu. Desse modo, Satanás é tido como um
grande herói libertador, lutando contra um rei imperialista.

4. Para os que estão em nível de mestrado no satanismo,


Satanás é apresentado como o deus legítimo do Universo, que
extrai poder do sofrimento, da perversão e da morte.

Este nível de satanismo é firmemente assumido, mas os que


nele se enquadram talvez não tenham participado de rituais de
sacrifício humano. Entretanto, chegaram a um ponto em que sua
ética foi incrivelmente distorcida: para eles, a dor é um prazer; e o
prazer, uma dor. Fazem cortes no seu próprio corpo (ou em outras
pessoas que sejam complacentes) para extraírem e/ou chuparem
sangue. Sacrifícios de animais para eles são necessários, porque é
dos sacrifícios que, segundo crêem, procede o real poder. O sacra­
mento mais elevado, para eles, é a destruição do inocente. Neste
nível, os ritos de dor e de perversão são tidos como necessários para
que a “porta” que trará a manifestação do reino de Satanás sobre a
terra seja aberta. Almas precisam ser “ganhas” a uma velocidade
frenética, pois acreditam que todos os que se alistarem no exército
de Satanás participarão do “bombardeio” do céu, para expulsar o
falso Deus, Jeová.

5. Os que participam do mais alto nível de satanismo nor­


malmente são totalmente possuídos por demônios.

Geralmente, leva muitos anos (a menos que a pessoa tenha


nascido numa família de satanistas) para alguém chegar a esse ní­
vel do mal. Sexo com demônios e sacrifícios humanos são necessá­
rios. Os que se acham nesse nível sabem que o inferno é uma
realidade, mas são ensinados que, mesmo que percam a batalha
contra Deus, vão “reinar” no inferno e nunca sofrerão. Eles são
vítimas do falso ensino, tão comum, de que Satanás reina no infer­
no (como se dá com o prisioneiro mais valente numa prisão de
segurança máxima) e que, assim, concederá favores a quem ele
quiser. Não há base bíblica para isso, embora filmes e até mesmo
desenhos animados promovam essa idéia.
Esses satanistas acreditam que o seu destino é fazer com que
Deus seja deposto e morto, tornando-se, assim, co-regentes do
universo com o seu senhor, Satanás. Acreditam que eles mesmos
são deuses (e deusas) e que têm o direito de determinar quem deve
viver ou morrer. Em sua lógica pervertida, se uma pessoa é deus,

Inimigo
então pode matar, destruir, roubar e estuprar quem quiser, porque
é ela quem estabelece as regras. Daí decorre a máxima satânica de
Aleister Crowley:

o Seu
Fazer o que tu queres será toda a lei; o amor é a lei, amor
submisso à vontade.1

Co í me ç A
Para eles, o amor tem de subordinar-se à vontade satânica
do senhor de todas as magias. Paradoxalmente, eles sabem, no
entanto, que Satanás é um cruel senhor que impõe tarefas a
seus subordinados. Não é mais aquele rebelde romântico; ago­
ra, ele é mais como o chefe supremo de um implacável sindica­
to cósmico do crime, que tortura e castiga sem piedade seus
servos. Ele é o Capo d i Capo,2 ao passo que eles (os satanistas
desse alto nível) são seus “afilhados”. Eles acreditam ter tam­
bém um grande poder e “prerrogativas especiais”, mas no fun­
do sabem que o seu reinado é bastante vulnerável. Um só
movimento errado, e o seu Capo se voltará contra eles e os pu­
nirá com extrema severidade.
Foi-lhes ensinada ainda a mentira de que não há alternativas
para as suas vidas, e o Deus do céu jamais os receberá, uma vez que
já praticaram atos demasiadamente perversos e malignos. E que, se
tentarem sair ou desertar para o “outro lado”, serão mortos de um
modo horrível e torturados eternamente no além. Sem dúvida, o
que já viram de torturas e sacrifícios humanos é mais do que sufi­
ciente para saberem até que ponto vão os horrendos atos maldosos
que Satanás e seus escravos humanos lhes poderiam fazer.
É muito importante para o cristão que quer ganhar almas com­
preender que tais satanistas encontram-se totalmente convencidos
de que “venderam a alma” ao diabo e que Jesus não pode fazer
nada para os salvar. Essa mentira precisa ser primeiramente desfei­
ta para que o testemunho do evangelho seja eficiente. Eles acredi­
tam que estão fora do alcance da salvação.
Esta é uma das razões pelas quais este livro foi escrito. Quere­
mos que todos saibam — os satanistas e os que nunca se envolve­
ram com o satanismo — que eu tinha vendido minha alma a
Satanás, mas uma simples oração ao Senhor Jesus Cristo quebrou
esse pacto em apenas um m inuto! Eu e minha esposa somos hoje
cristãos cheios de alegria, vivos e vitoriosos, e já se passaram cerca
de 20 anos desde o dia em que nos desligamos de Satanás e pedi­
mos a Jesus Cristo que se tornasse nosso novo Senhor.
Embora por diversas vezes os servos de Satanás tenham nos
perseguido, o Senhor Deus — o Rei de todo o Universo, Jesus
Cristo — sempre chegou um pouco antes do que eles! Temos sido
guardados por Ele o tempo todo, praticamente sem esforço algum.

Ouíro Cristo?

Quem de fato é Satanás? Sabemos pela profecia de Ezequiel que


Satanás, pelo menos antes de pecar, possuía muitos atrativos:

Filho do homem, levanta uma lamentação sobre o rei de


Tiro e dize-lhe: Assim diz o Senhor J e o v á : Tu és o aferidor
da medida, cheio de sabedoria e perfeito em formosura.
Estavas no Éden, jardim de Deus; toda pedra preciosa era
a tua cobertura: a sardônia, o topázio, o diamante, a tur­
quesa, o ônix, o jaspe, a safira, o carbúnculo, a esmeralda
e o ouro; a obra dos teus tambores e dos teus pífaros estava
em ti; no dia em que foste criado, foram preparados. Tu
eras querubim ungido para proteger, e te estabeleci; no
monte santo de Deus estavas, no meio das pedras
afogueadas andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, des­
de o dia em que foste criado, até que se achou iniqüidade
em ti. (Ez 28.12-15 - Rc)
Aqui o Senhor está falando sobre o “rei de Tiro”, um tipo de
Lúcifer, como é evidente no contexto. Vemos que Lúcifer era co­
berto de diversas pedras preciosas. Possivelmente, foi até mesmo
equipado com alguns instrumentos musicais — tambores e pífaros

Inimigo
— desde o dia em que foi criado por Deus.
Alguns comentaristas da Bíblia acreditam que ele foi incum­
bido do louvor musical aJDeus diante do trono — uma espécie de
regente do coro celestial. Isso explicaria por que hoje Satanás tem

C o n h e ç a o Seu
tanto interesse pela música e a usa com tanta eficácia.
Adicionalmente, Lúcifer é descrito como o “querubim ungido
para proteger”. Ele era o quinto querubim e, assim, parece ter sido
o que protegia o trono do Senhor. Dois pontos são reveladores
aqui. O primeiro, e mais importante, é que Satanás, uma vez ten­
do sido ungido, tem uma unção! A Bíblia nunca menciona que ele
tenha perdido essa unção. Na verdade, ele é o único querubim a
respeito de quem é dito ter sido ungido.
O termo hebraico que exprime “aquele que é ungido” é
transliterado como “messias”, cuja palavra grega correspondente
é “cristo”. A expressão “Jesus Cristo”, na verdade, significa “Jesus,
o Messias”, ou “Jesus, o Ungido”. Assim, há pelo menos “outro
cristo”, e este é o diabo! Paulo adverte-nos:

Pois, se alguém lhes vem pregando um Jesus que não é aquele


que pregamos, ou se vocês acolhem um espírito diferente
do que acolheram, ou um evangelho diferente do que acei­
taram, vocês o toleram com facilidade. (2 Co 11.4 - nvi)
E o próprio Senhor Jesus confirma:

Pois aparecerão falsos cristos e falsos profetas que realizarão


grandes sinais e maravilhas para, se possível, enganar até os
eleitos. (Mt 24.24 —n v i)
Há, então, uma perigosa armadilha em que poderemos cair,
pois há muitos que dizem haver encontrado “o Cristo”, e até al­
guns (como Maitreya, o Senhor da Nova Era) que se dizem ser “o
Cristo”. Outros, até mesmo, declaram estar ligados a um “Jesus
Cristo”. Há quem diga ter “a unção” ou meios para ensinar os crentes
a adquirir “a unção”. Entretanto, as palavras podem enganar e, em
muitos casos, o crente deverá ter discernimento suficiente para
perguntar: “Que Cristo?”, ou: “Que Jesus?”, ou ainda: “Que un­
ção?” E evidente, pelo que está na Bíblia, que Satanás pode produ­
zir “cristos” e “unçoes” diversos, à sua maneira, e que podem vir a
ser bastante convincentes.
Quando eu estava profundamente enfronhado na feitiçaria e
mesmo no satanismo, buscava entrar em transe com um tal
“Jesus”. Todo domingo, durante algum tempo, esse “Jesus” vinha,
e eu o incorporava. Ele dizia, então, coisas profundas e maravilho­
sas para aqueles que estavam ouvindo, que tomavam nota. Contu­
do, naquela época, eu não saberia distinguir o verdadeiro Jesus
Cristo de um sapo chifrudo.
Eu julgava que tudo o que tinha de fazer para certificar-me
de que aquelas entidades tratavam-se de quem diziam ser era
desafiá-las, perguntando: “Você está na luz?” Agora, na condi­
ção de um cristão que crê na Bíblia, posso apenas com tristeza
reconhecer a minha ignorância. Lúcifer significa “portador da
luz”, e muitos místicos, feiticeiros e até maçons declaram estar
buscando a “luz”. Contudo, essa “luz” é falsa, uma luz que, na
realidade, cega a pessoa e vem do abismo. Assim, desafiar um
espírito a identificar-se perguntando-lhe se ele está na luz é tão
eficaz quanto querer resistir ao ataque de um rinoceronte por
meio de cusparadas!
Não conhecíamos um método baseado na Bíblia para discernir
os espíritos, não sendo, portanto, em nada diferentes de muitos
outros místicos que pensam ter contato com Jesus. Contudo, os
ensinos e o estilo de vida dessas pessoas deixam claro que o Jesus
delas contradiz os ensinamentos do Jesus da Bíblia. Receamos que
até mesmo alguns ministros cristãos visualizem um Jesus que pode
não ser, absolutamente, o Senhor Jesus, mas tratar-se de uma inte­
ligente contrafação.
Não estamos atacando esses pregadores, pois acreditamos
que, na maioria dos casos, sejam sinceros em seu propósito de
servir a Deus. Tais ministros precisam, no entanto, submeter
suas visões e mensagens, cuidadosamente, ao escrutínio da Pa­
lavra de Deus (Is 8.20) e ao discernimento de outros homens de

Inimigo
Deus (1 Co 14.29). I
Freqüentemente, as pessoas acham que têm uma “unção de
Deus” e que “o Senhor lhes disse” tais e tais coisas, quando, na

o Seu
verdade, estão sendo enganadas por outra unção.
Em capítulo mais adiante, consideraremos o assunto de como

CoíiHeçA
podemos pôr à prova os espíritos para termos a certeza de que o
que estamos recebendo provém, de fato, do verdadeiro Deus vivo.

Sa Iaiiás e Suas LimilAções ^

Por mais sábio, poderoso e experiente que Satanás seja, ainda as­
sim, ele é limitado. E isso faz toda a diferença.

1. Satanás não pode estar em mais de um lugar ao mes­


mo tempo.

Ele depende de linhas de comunicação com suas tropas. A


experiência, tendo como base o ensino bíblico, tem demonstrado
que podemos orar e causar um grande efeito de interrupção nessas
linhas. Veja:

Pois tu és grande e realizas feitos maravilhosos; só tu és Deus!


(SI 8 6 . 1 0 - n v i)

Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra terá


sido ligado nos céus, e tudo o que desligardes na terra terá
sido desligado nos céus. (Mt 18.18)
2. Satanás não é onisciente.

Como ele depende dos demônios, seus servos, para lhe trans­
mitirem informações, essa transmissão pode ser afetada por meio
da batalha espiritual intercessória.

Assim diz o S e n h o r , que te redime, o mesmo que te for­


mou desde o ventre materno: Eu sou o Senhor, que faço
todas as coisas, que sozinho estendi os céus e sozinho es­
praiei a terra. (Is 44.24)

E Ezequias orou ao S e n h o r : “S e n h o r , Deus de Israel,


que reinas em teu trono, entre os querubins, só tu és Deus
sobre todos os reinos da terra. Tu criaste os céus e a terra.”
(2 Rs 19.15 - n v i)

3. Satanás não conhece o futuro.

Satanás conhece realm ente a Bíblia. Mas provavelmente se es­


queceu mais da profecia bíblica do que dez seminários de Teologia,
repletos de grandes conhecedores da Bíblia, a pudessem memori­
zar. Não obstante, há “profecias” que seus servos (falsos profetas,
médiuns, etc.) fazem e até se cumprem, porque estão a par dos
planos que o próprio Satanás estabeleceu. Mas Deus pode invali­
dar esses planos. E por isso que muitas prediçÕes mediúnicas fa­
lham, ao passo que as prediçÕes bíblicas são 100 % precisas.

Declarem o que deve ser, apresentem provas. Que eles jun­


tamente se aconselhem. Quem há muito predisse isto, quem
o declarou desde o passado distante? Não fui eu, o S e n h o r ?
E não h á outro Deus além de mim, um Deus justo e salva­
dor; n ã o h á outro além de mim. (Is 45.21- n v i)

Ao Deus único e sábio seja dada glória, por meio de Jesus


Cristo, pelos séculos dos séculos. Amém. (Rm 16.27)
Quem então é como eu? Que ele o anuncie, que ele declare
e exponha diante de mim o que aconteceu desde que esta­
beleci meu antigo povo, e o que ainda está para vir; que
todos eles predigam as coisas futuras e o que irá acontecer.

Não tremam, nem tenham medo. Não anunciei isto e não


o predisse muito tempo atrás? Vocês são minhas testemu­
nhas. Há outro Deus além de mim? Não, não existe nenhu­

Inimigo
ma outra Rocha; não conheço nenhuma. (Is 44.7-8 - NVl)

Assim, ao Rei eterno, imortal, invisível, Deus único, honra

o Seu
e glória pelos séculos dos séculos. Amém. (1 Tm 1.17)

Col i Heç A
4. Satanás tem, comparativamente, pouco poder.

Especialmente no que concerne aos cristãos. Embora mais po­


deroso do que qualquer ser humano, e podendo realizar falsos sinais
e maravilhas, ele quase nada p od e contra os filhos de Deus! Somente
pode tocar em nós à medida que nossos pecados lhe concedem pon­
tos de acesso ou por uma permissão especial de Deus. Até mesmo
uma simples criança, se nascida de novo, consciente de sua posição
em Cristo, poderá lançar Satanás de um lado para o outro (em nome
de Jesus) como uma bola de pingue-pongue. Veja, por exemplo:

Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autori­


dade me foi dada no céu e na terra. (Mt 28.18)

Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em meu


nome; expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão
em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não
lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre enfermos, eles
ficarão curados. (Mc 16.17-18)

Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele


fugirá de vós. (Tg 4.7)
5. Satanás não é criativo.

Deus é a fonte de toda criatividade. A maior parte das obras


de Satanás é uma distorção das boas coisas que Deus nos conce­
deu, seja espirituais, físicas, intelectuais ou emocionais. O diabo
ainda continua reciclando as mesmas velhas mentiras usadas por
ele, centenas e centenas de anos atrás, sabedor de que os homens
normalmente não estudam a história da Igreja.

Porque assim diz o SENHOR, que criou os céus, o Deus que


formou a terra, que a fez e a estabeleceu; que não a criou
para ser um caos, mas para ser habitada: Eu sou o S e n h o r ,
e não há outro. (Is 45.18)

No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com


Deus, e era Deus. Ele estava com Deus no princípio. Todas
as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do
que existe teria sido feito. (Jo 1.1-3 —NVl)

Pois, por meio dele, Deus criou tudo, no céu e na terra, tanto
o que se vê como o que não se vê, inclusive todos os poderes
espirituais, as forças, os governos e as autoridades. Por meio
dele e para ele, Deus criou todo o universo. Antes de tudo.
ele já existia, e, por estarem unidos com ele, todas as coisas
são conservadas em ordem e harmonia (Cl 1.16-17 - b lh )

6. Satanás é egomaníaco.

O orgulho do diabo o leva a intrometer-se em tudo. É por isso


que Deus se agrada em estar sempre humilhando-o por meio de
nós, Seus frágeis instrumentos humanos. Satanás, na verdade, pensa
que poderá vencer, apesar de o livro de Apocalipse proclamar seu
destino final e de suas históricas derrotas em sua oposição a Deus.
Seu orgulho, a causa de sua queda, continuará sendo ainda sua
ruína, vez após vez. Ele cometeu o seu últim o erro, o d e crer em suas
próprias mentiras!
Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estre­
las de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congrega­
ção me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima
das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo.
(Is 14.13-14)

7. Satanás não consegue compreender a compaixão, o


quebrantamento e o auto-sacrifício.

Inimigo
E por isso que essas áreas são precisamente as que Deus usa
para continuamente frustrar os planos do inimigo. Deus se utili­
za da nossa fraqueza, junto com a Sua graça, para derrotar os

o Seu
planos de Satanás. Por não conseguir compreender esses sen­

a
timentos, Satanás os considera como sendo as áreas da nature­

Co n h e ç
za humana mais difíceis de serem previstas e entendidas. Ele,
a todo momento, é surpreendido pelas obras que o Espírito
Santo tem capacitado simples cristãos a realizar, em submis­
são ao Senhor.
43
Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em
Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não
julgou como usurpaçao o ser igual a Deus; antes, a si mes­
mo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se
em semelhança de homens; e, reconhecido em figura hu­
mana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até
à morte e morte de cruz. (Fp 2.5-8)

Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens;


e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.
U Co \ .TS)

Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder


se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me
gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o po­
der de Cristo. (2 Co 12.9)
8. Satanás não é Deus!

Isto pode parecer óbvio, mas este fato expressa uma diferença
bem maior do que todos os sete fatores anteriores juntos. Há mais
poder numa só gota do sangue de Jesus Cristo do que em todas as
legiões satânicas. Isso deixa Satanás tomado de ódio.

Eu sou o S e n h o r , e não há outro; além de mim não há Deus;


eu te cingirei, ainda que não me conheces. Para que se saiba,
até ao nascente do sol e até ao poente, que além de mim não
há outro; eu sou o S e n h o r , e não há outro. (Is 45.5-6)

Ouve, Israel, o S en h o r, nosso Deus, é o único S en h o r.


(Dt 6.4)
Louvado seja o Nome de nosso Senhor Jesus Cristo!

Not AS

1 Aleister Crowley (1875-1947) foi o filósofo satânico e ocultista que mais


se destacou até agora em nossa época. Suas idéias e escritos tiveram uma
grande influência tanto em partidários da Wicca como em satanistas de
todo tipo. A citação é do seu livro LiberAl ver Legis [O Livro da Lei], e é
a regra áurea da sua religião, que é conhecida como Thelema (segundo a
palavra grega que corresponde a “vontade”) ou crowleyanismo.
2 Uma expressão italiana para “o chefão supremo” de uma quadrilha, “o
poderoso chefão”.
Co n h eç a o Seu Inimigo
45
R C erimônÍA de
InocênciA RcAbou

Você pôs os pés no Caminho do Relâmpago. Uma


vez feito isto, jam ais poderá deixá-lo.
— Alex Sanders, Rei dos Bruxos

G stivem os envolvidos no Sumo Sacerdócio da W icca por


muitos anos, e tivemos de preparar turmas e mais turmas de estu­
dantes para os nossos grupos, ou “covens”. Todavia, decepciona-
mo-nos com a Wicca. Sharon e eu tínhamos uma idéia da Wicca
como sendo uma fé elementar, pura e edênica em sua inocência.
Sabemos agora que ela é cheia de calúnias, traições, brigas doutri­
nárias e politicagem.
Outras mudanças significativas ocorreram. Um de meus ami­
gos e mentores, de quem recebi grande influência na Wicca antes
de eu ter conhecido Sharon, sugeriu-me que eu lesse A B íblia
Satânica, de Anton LaVey. Eu era ainda bastante ingênuo, pensan­
do que, embora os bruxos cultuassem Lúcifer, o Deus Chifrudo,
não fossem satanistas. Perguntei, então, por que deveria ler um
livro escrito por um satanista declarado.
Meu amigo explicou-me que LaVey tinha algumas percepções
muito interessantes, especialmente com respeito à magia de Aleister
Crowley, e que sua obra tinha alguns pontos muito bem aborda­
dos. Li, então, o livro e fiquei um tanto desconcertado diante da
violenta crítica anticrista que se encontra logo no início. No en­
tanto, muitas coisas que LaVey dizia fazia sentido para mim.
Há três tipos básicos de rituais na Bíblia Satânica: por Com­
paixão, por Luxúria e por Destruição (maldição). Ponderei comigo
mesmo que jamais iria amaldiçoar alguém, mas cheguei a me en­
volver com os outros dois rituais. Fizemos um “Ritual de Luxú­
ria” para um casal numa de nossas reuniões a fim de resolver o
problema de frigidez da esposa, e que realmente funcionou. Ti­
vemos de igual modo sucesso com o “Ritual de Compaixão”, para
a obtenção de curas.
Aos poucos, fui sendo seduzido pelo satanismo. Sharon e eu
começamos a questionar — já que o satanismo é considerado
muito maligno para os bruxos — por que o símbolo do Segun­
do Grau da Wicca, o do Sumo Sacerdócio, é um pentagrama
invertido? Esse pentagrama tem sido associado, há vários sécu­
los, ao satanismo! E mais:

Sinal do Terceiro Grau


Árvore da Vida ou Mago
na Feitiçaria
Por que o nom e supersecreto do Deus Chifrudo deriva-se, pelo
notarikon,1 exatamente do símbolo da Igreja de Satanás — a cabeça
de bode Baphomet com as cinco letras hebraicas que há ao seu
redor (lâmed, vave, iode, tau e nune)?
Por que tínhamos sido instruídos de que o mais poderoso de
todos os círculos de magia na feitiçaria somente é construído com
pentagramas invertidos?
Tais questões ficaram todas no ar, sem respostas. Ninguém
conseguia nos dar uma explicação. Discutimos o assunto com nos­
sos colegas e mestres e procuramos obter o conselho de nossos ve­
nerados “espíritos guias”. Acreditávamos que esses guias fossem
homens que haviam se aperfeiçoado e se livrado do “ciclo do
carma” ,2 e que, sendo espíritos desencarnados, falavam conosco,
seres humanos, por meio da incorporação, possibilitando que evo­
luíssemos espiritualmente.
Quase que diariamente incorporávamos essas entidades e bus­
cávamos seus conselhos. Elas nos davam a entender que seria bom
nos envolvermos com a Igreja de Satanás. Diziam que a Wicca nos
ensinava o domínio da Deusa (ramo feminino da magia), mas que
o satanismo nos ensinaria todos os mistérios do Deus Chifrudo, o
ramo masculino.
A Wicca e o ocultismo moderno foram muito influenciados
pelo psicólogo Carl Jung. A idéia de polaridades opostas em recon­
ciliação é um dogma central. Os espíritos guias e muitos feiticei­
ros, seguindo os escritos de Jung, quiseram fazer-nos entrar em
contato com nossos “lados tenebrosos”, nossas “sombras” (um ter­
mo jungiano). Para que tivéssemos domínio sobre o Caminho da
magia, tínhamos de abraçar nossos lados tenebrosos, reconhecendo
os espíritos carnais que em nós habitavam.
Éramos ensinados de que a maior parte -— se não a totalidade
— do mal existente no mundo tinha sido criada pelo judaísmo e
pelo cristianismo, pela supressão de nossas paixões carnais. Este é
um tema freqüente na psicologia secular. Assim, para o bem da
nossa saúde psicológica, e para o nosso desenvolvimento na magia,
seria necessário fazer uso dos ensinamentos da Igreja de Satanás, a
fim de que pudéssemos abraçar nossas sombras e liberarmos os
incipientes poderes da magia que supostamente nelas habitavam.
Desse modo, tendo apenas uma pequena dor de consciência,
filiei-me à Igreja de Satanás. Afinal, tanto meus amigos e mestres
deste mundo como todos os meus sábios espíritos guias vinham me
encorajando nesse sentido. Como isso poderia ser, então, um erro?

O Í I I a I p o r R e e m b o l s o P o s I a I?

Fiquei um tanto desapontado ao descobrir que não havia de fato


uma igreja de Satanás em nossa comunidade. Os grupos locais des­
sa Igreja eram chamados de “grutas”, em vez de “covens” ou “paró­
quias”; mas não havia nenhum deles em Milwaukee. Escrevi para a
sede internacional da Igreja, que ainda se localizava na fabulosa
casa negra da Rua Califórnia, em San Francisco. Eles enviaram-me
algumas informações e um formulário para associar-me como mem­
bro. Cobravam uma taxa de ingresso de 20 dólares. Paguei-a com
prazer e, depois de algumas semanas, comecei a receber seu maldo­
samente e cínico boletim The Cloven H o o f[ 0 Casco Fendido] e,
por fim, um cartão de membresia.
Assinei o cartão e passei a levá-lo comigo, com muito orgulho,
em minha carteira. Tornei-me satanista “de carteirinha”. Isso mes­
mo! E não tive que matar bebês, nem cuspir na cruz, nem dizer o
Pai-Nosso de trás para a frente. Apenas dei meus 20 dólares e me
filiei. Era como ter-me filiado ao Rotary Club!
Mas Sharon e eu não dissemos coisa alguma aos membros
iniciantes de nossos grupos sobre-essa nossa decisão. O que dizía­
mos, na verdade, é que bruxos e satanistas estavam em pólos opos­
tos, e que não se poderia ser um bruxo da Wicca e um satanista
ao mesmo tempo. Alguns membros dos níveis mais elevados do
nosso grupo, no entanto, ficaram intrigados com nossas explana­
ções da filosofia de LaVey sobre a magia e acabaram se filiando
também.
Considerei a possibilidade de começar alguma coisa da Igreja
de Satanás na região de Milwaukee e escrevi à sede da organização
sobre o assunto. Logo, eles nos enviaram um formulário de reque­
rimento que eu deveria encaminhar-lhes devidamente preenchido,
solicitando acesso ao segundo grau na Igreja de Satanás, o grau de
Feiticeiro. Era um formulário bem mais amedrontador que aquele
do primeiro grau. Continha um extenso questionário, que reque­
ria uma pequena dissertação analítica em resposta a diversos assuntos
filosóficos. Tinha também um custo maior. Contudo, preenchi-o
totalmente e o enviei.
Nunca foi do meu estilo ficar esperando muito por alguma
coisa, de modo que comecei a buscar outras possibilidades. Entrei
em contato com dois ramos distintos da irmandade oculta. O pri­
meiro foi a O.T.O. (Ordo Templi Orientis — Ordem dos
Templários do Oriente). A O.T.O. é uma respeitável ordem alemã,
mágico-maçônica, fundada no século 19 por Chefes Secretos (mes­
tres elevados). Aleister Crowley, ao que se supõe, descobriu o se­
gredo dela — o verdadeiro segredo de toda a Maçonaria — e
rapidamente foi feito seu membro.3
Sharon e eu estávamos realmente bastante intrigados com
Crowley e achamos a abordagem da O.T.O. mais completa e exi­
gente. Assim, começamos a estudar com eles, embora continuan­
do a pesquisar ainda os outros materiais de LaVey.
Entramos em contato também com um grupo satânico inde­
pendente, a Ordem do Carneiro Negro, com o qual começamos a
nos corresponder.

G n ire lA Ç A n d o G n e r g iA s
Comecei a celebrar missas satânicas em caráter regular. Sharon e
eu praticávamos muitos dos rituais de Crowley. Tanto meus ami­
gos deste mundo como meus espíritos guias diziam que, para que
eu pudesse entrar num satanismo mais sério (além do nível da
Igreja de Satanás), seria necessário realizar duas tarefas aparente­
mente paradoxais.
Be: ) t Knouin
TThat baftnd, cow m ítici te ro m o r^ an 4 piwfóUd
Hifficicnt a?í4encc of a tuorfanc^ knouikck,e of
JaU níc T W lo c u j, <mà am U ftlecl tuíttjom of ú )c
JJIaeHArb, CÁnsèopk s r CP. tdy f a _»on
t e -Z l^ of 72£o,ro L In &« JZ t^ ear of
Oar LoM $fttcm 7ta * Bem $ r a n t « l D eciree
of t)je 2 ^ -i 6V>at cuJ-jicVj fo ca11c4 tb í naw
of '7 $ a rL qg ÍÍl.., a n 4 í f 4 a h , Ik e n w d to perforn:
an4 Htttaíu Chat tabícb falb m íibm rcalm
of tbb Dc$ree a> m accord wítb tb* U n e t i ■
on4 |bí]o^ophícv of
C ? < C h c d iu rc h of (ÍD^t2a x í > 0
hoftng jxi*ted fcfore the Councj] of IJíne,
Q rder of Í\k Trapezoid, ali Uk
jwuwr* of HÊÜ, 5c \í \S Don£«

Híjh Pricifc of fcfwIMack Order


Seja do Conhecimento de Todos

f l c A b o u
Que, tendo memorizado e dado suficientes

InocêncÍA
evidências de um conhecimento prático da
Teologia Satânica, e uma imaculada sabedoria da
Magia Negra, Christopher P. Syn * neste

de
dia 21 de março, no ano de Nosso Senhor

Ce r i m ô n Í A
Satanás, foi agraciado com o Grau 2-, referido
com o nome de Feiticeiro , e acha-se
devidamente licenciado para realizar e manter
tudo o que se enquadre no âmbito deste Grau,
de acordo com os princípios e filosofias de 53
A Igreja de Satanás
tendo passado perante o Conselho dos Nove,
pela Ordem do Trapezóide, com todos os
poderes do inferno, assim seja feito.

Anton Szandor LaVey


Sumo Sacerdote da Ordem Negra

* W illiam Schnoebelen legalmente m udou o seu nome para Christopher


P. Syn. Quando deixou o satanismo, voltou a mudá-lo, passando a ter
novamente seu nome original.
A primeira era entrar para a Maçonaria, tornar-me um Mestre
Maçom e depois ascender aos graus mais elevados. A segunda, por
incrível que pareça, era ordenar-me como sacerdote católico! Isso
foi uma surpresa total para mim, pois eu tinha sido criado como
católico. Na verdade, cheguei a freqüentar um seminário nos meus
tempos de faculdade, quando comecei a me envolver com o ocul­
tismo, enquanto estudava para o sacerdócio. Conhecia o catolicis­
mo muito bem e sabia que os católicos são estritamente proibidos
de se tornarem maçons. Agora, por que motivo me instruíam a
fazer essas duas coisas em contradição?
Explicaram-me que certas “correntes” do poder ocultista fluem
através dos séculos, principalmente, por meio de linhas humanas
de sucessão. Isso fazia sentido, desde que era doutrina fundamen­
tal tanto do catolicismo quanto da Wicca que havia uma sucessão
entre seus respectivos sacerdócios.
A Igreja Católica — diziam-me — era o repositório da petrina,
uma corrente de energia mágica de São Pedro. Já os maçons tinham
a custódia da corrente joanina (de São João). E que parte da dinâmi­
ca que faz com que uma magia cerimonial realmente funcione é
haver a conjugação dessas duas diferentes correntes de energia.
A oposição entre católicos e maçons é apenas superficial —
explicavam-me. Nos níveis mais elevados, ambos convergem para
um mesmo ponto. Claro que as pessoas comuns não sabem disso,
porque essas coisas são mantidas em segredo. Todas as seitas, natu­
ralmente, operam na base de “só revelar o necessário”.
Por sorte (ou por a l g u m m o t i v o ) , Sharon e eu fomos
contatados por um sacerdote, alguns dias depois de tomarmos co­
nhecimento de tudo isso. Era um sacerdote da Igreja Católica Ro­
mana Antiga (I.C.R.A ).4 Esta Igreja, nascida de uma dissidência
com o Vaticano, tem Ordens Sagradas válidas e celebra a missa em
língua vernácula já há vários séculos, mesmo antes do Concilio
Vaticano II, como também permite que o clero se case. Este sacer­
dote que nos contatou ficou sabendo que tínhamos um curso que
aj

Ce r i m ô n Í A de InocêncÍA
55

£1 c a b o u
ensinava feitiçaria e quis estudar conosco. Ele disse que, em retri­
buição, poderia conseguir que eu estudasse para o sacerdócio na
I.C.R.A. Isso me parecia algo que “tinha caído do céu”, ou ainda,
“do inferno”, e prontamente aceitei a oferta.
Dois anos depois, fui ordenado sacerdote nessa seita, numa missa
muito solene, na Paróquia de São Paulo, em Plainfield, Illinois.5
Além disso, alguns meses depois, um rapaz quis entrar em
nosso “coven”, cujo pai era oficial na Loja Maçônica. Ele pôde,
então, me apoiar em todo o processo de entrar na Maçonaria e
avançar em seus graus.6
Com essas duas conquistas, parecia que só me restava mesmo
“ascender” cada vez mais na hierarquia do Reino das Trevas.

N oI as

1 Notarikon é uma forma de codificação cabalística em que letras do alfa­


beto hebraico são transpostas, tanto num sentido como no outro, para
ocultar um nome ou um feitiço. Neste caso, as letras foram transpostas
para a frente, formando o nome transliterado de Sa-A-Ka-Zay-M, ou
“Sakazayim”.
2 O carma é um conceito ocultista e hindu relativo à reencarnação. Segun­
do o que se crê, por meio de um processo de sucessivas reencarnações, o
espírito pode vir a evoluir e superar tal ciclo; quando isso acontece, a
pessoa torna-se um “Mestre” ou “Bodhisatva”. Mas um exame mais
acurado desse processo de carma e reencarnação revela que se trata de um
conceito totalmente errôneo. Ninguém jamais consegue aprimorar-se.
Para mais informações a respeito, veja o livro de minha autoria Wicca:
Satarís Little White Lie [Wicca: Mentirinha Branca de Satanás].
3 O que Crowley teria descoberto seria o segredo supremo do cerne de
toda a maçonaria: escondido na alegoria do ritual de Mestre Maçom
estaria o segredo da vida eterna! Os alquimistas falavam a respeito dele
como sendo o Elixir da Vida e, reservadamente, referiam-se a ele como
A mrita . Os maçons o chamam de “O Real Segredo”. Relaciona-se com o
desconhecido nome de Deus, supostamente revelado no Real Arco no
sétimo grau do rito de York. Este segredo é que o nome de Deus, YHVH,
nada mais é do que o gemido orgásmico da suprema criação, e que o
segredo da vida eterna acha-se na consumação sacramental de certos fluidos
envolvidos no ato da reprodução humana. Crê-se que esse segredo tem
condições de possibilitar a alguém viver eternamente. Afirma-se que al­
guns alquimistas maçônicos, tais como Fulcanelli e o conde de Saint
Germain, têm centenas de anos de idade, estando ainda vivos sobre a
terra nos dias de hoje! Mas os cristãos têm um plano bem melhor de
aposentadoria. E bem mais fácil de se conseguir! Basta aceitar Jesus como
Salvador e Senhor e você terá vida eterna — não neste velho e debilitado
corpo humano, mas num corpo glorificado que poderá fazer coisas
inimagináveis (1 Co 15.35-52).
A Igreja Católica Romana Antiga (I.C.R.A.) é um assunto meio bizarro e
complicado. Para uma análise completa de sua estranha história, veja
Bishops at Large [Bispos à Vontade], de Peter Anson.
Uma narrativa cronológica de todos os estranhos percalços por que passei
em meu envolvimento com a I.C.R.A. está, infelizmente, fora do escopo
e do tema deste livro. Basta dizer que é uma dissidência bastante excêntri­
ca de uma seita extremamente excêntrica — o Vaticano em si.
Para informações mais detalhadas sobre a Maçonaria, e por que motivo
um crente não deve ter relacionamento algum com essa sociedade secreta
anticristã, veja meu livro M açonaria: Do Outro Lado da Luz. Curitiba:
Editora Luz e Vida.
w 0 V i n g A d o r do D Í A b o ”

O que você vai ver nem sempre lhe agradará, mas


que você vai ver, vai.
— Anton LaVey, A Bíblia Satânica

arei aqui uma pausa para esclarecer um pouco acerca da


subcultura para a qual estávamos nos dirigindo. Queremos falar a res­
peito dos satanistas que se constituíram em igrejas legais, com todos os
direitos e com a situação privilegiada de ter imunidade de impostos.
Nos Estados Unidos, como em muitos outros países, temos liberdade
religiosa. Isto é um fato, e, contanto que os satanistas não transgridam
nenhuma lei, têm o direito ao seu rito religioso como queiram. Não
estamos negando a ninguém o direito a liberdade religiosa.
Contudo, simplesmente por ser uma atividade legal, isso não
dim inui em nada o risco espiritual envolvido. Um membro da Igreja
de Satanás corre o risco de perder a sua alma tanto quanto o mais
determinado satanista. Não nos esqueçamos de que mentir é pró­
prio da natureza de Satanás. Ele é chamado de o p a i da m entira
(Jo 8.44) e o enganador (2 Jo 1.7). Assim, seria uma ingenuidade
total darmos crédito à palavra dos mais dedicados seguidores de
Satanás, ao dizerem que não fazem nada que seja ilegal.
Outro problema é que essas igrejas normalmente sao portas
de entrada para formas mais profundas de satanismo. Como você
pôde ver nos capítulos anteriores, esse foi o caso em minha vida, e
sei de muitos outros que têm histórias semelhantes. Desse modo,
tal como ocorre com muitas outras formas de comportamento que
sao “inofensivas” e “protegidas pela própria Constituição”, como,
por exemplo, o jogo de RPG denominado D ungeons a n d Dragons
[Calabouços e Dragões], esses grupos satânicos são portas de
entrada para variedades avançadas e sangrentas do satanismo.
Também a história dessas igrejas satanistas não é aquela mara­
vilha, como logo iremos ver. Já mencionamos a infame Igreja de
Satanás, de Anton LaVey. Nao há um número muito grande de
igrejas satanistas legais nos Estados Unidos, porque a maioria dos
satanistas considera o exame minucioso feito pelo governo ameri­
cano um tanto restritivo. Não obstante, só nesse país há pelo me­
nos 450 grupos identificados como satânicos!1
Na sua maioria, são pequenos grupos, mas influentes numa
escala muito superior ao seu número de membros. A Igreja de Sa­
tanás, pelo que se sabe, alcançou um elevado número de membros
no ano de 1973, algo entre cinco e dez m il.2 Em meados de 1980,
esse número cresceu extraordinariamente, segundo LaVey.3

Um A I g r e j A S a í â í i í c a s e m o DÍAbo?

LaVey deu início às atividades de sua Igreja em 1966, depois de


uma vida de múltiplas atividades, pois fora antes domador de
leões, organista e fotógrafo policial. Era, além disso, faixa preta em
judô. O relato “oficial” da razão pela qual ele concebeu a Igreja de
Satanás diz que havia se desiludido com o cristianismo. Via na
igreja aos domingos os mesmos homens que, no dia anterior, ele
tinha visto em shows de striptease, em boates onde tocava órgão.
Depois de certo tempo atuando como fotógrafo policial,
LaVey ficou “farto” de Deus por ver, em função do seu trabalho,
tanta brutalidade e tantas mulheres e crianças mortas. Ele não
podia compreender como Deus, supostamente o bom Deus dos
cristãos, pudesse valer alguma coisa, já que permitia que todo
esse mal acontecesse.
Na noite de 1- de maio de 1966, rapou a cabeça, imitando o
famoso e genial satanista Aleister Crowley, os homens fortes do
circo e os sacerdotes egípcios. Nesse dia, proclamou o início do
primeiro ano da Era de Satanás. Até o dia de hoje, a Igreja de
Satanás estabelece as datas a partir daquele dia. Assim, 1993 seria
XXVII A.S. (ano de Satanás)!

d o D i A I) o "
A combinação inicial de um desprezível profissional dos pra-
zeres da carne com sua genialidade incomum e sua condição de
alguém que buscava a magia com seriedade é o que veio caracteri­
zar, em grande parte, o desenvolvimento da Igreja de Satanás.

O Vi ngAdor
LaVey começou com um grupo de estudos de magia negra, e
desse grupo foi que se desenvolveu o núcleo central do início da
Igreja de Satanás. Logo depois, escreveu A Bíblia Satânica, não
propriamente como uma “revelação satânica”, mas como uma com­
binação bem montada de uma filosofia, um psicodrama e um de­
testável equívoco. Com a publicação dessa “Bíblia”, a sua reputação 6i
e a membresia da sua Igreja decolaram como um rojão.
A certa altura, ele fez o circuito das boates com uma apresentação
intitulada “Anton LaVey e suas bruxas topless”. Comprou uma casa na
Rua Califórnia, em San Francisco, e a pintou de preto. Sua decoração
foi feita com o que no mínimo seria considerado de tenebroso mau
gosto. Mesas para café na forma de túmulos, múmias pelos cantos, e
um leão da Núbia, negro, vivo, adulto, que vivia no porão.
LaVey promoveu o primeiro batismo satânico do mundo aberto
ao público, o de sua filha Zeena, que então tinha três anos de ida­
de, diante de um altar com uma figura de nu feminino. Dirigiu
também o primeiro funeral satânico, com todas as honras milita­
res, no cemitério de Arlington. Serviu ainda como assessor técnico
do filme O B ebê de Rosemary, e chegou mesmo a aparecer no filme,
fazendo o papel do diabo na cena em que Satanás violenta a heroína.
Ele se deu muito bem com os manda-chuvas de Hollywood, o que
em nada nos deve surpreender.
ÍH a s O n d e GslÁ o DÍAbo ?

Talvez surpreenda os cristãos o fato de a linha “oficial” da Igreja de


Satanás não acreditar na existência de Satanás! Para LaVey, Satanás
seria apenas o que o psicólogo ocultista Carl Jung4 chamou de “arqué­
tipo”, um símbolo do desejo de Prometeu, da humanidade, de roubar
fogo dos deuses e reinarem, os seres humanos, como deuses e deusas
sobre a terra. O diabo não teria existência a nao ser como uma metáfo­
ra para os livres desejos e potencialidades da humanidade.
O valor de Satanás para LaVey foi que, invocando o nome
dele, com todo o simbolismo e tudo o que o diabo lembra, ele
podia causar um enorme impacto, psicológico e emocional. Antes
de mais nada, podia amedrontar os “ingênuos”, mas também po­
dia usar Satanás como uma alavanca para afrouxar as “restrições de
ordem moral” e as “prisões” daqueles que viessem até ele.
LaVey percebeu que aqueles que o procuravam poderiam ser
mais bem ajudados por meio da realização de um psicodrama ri­
tual, em que fossem forçados a fazer coisas que consideravam re­
pugnantes. Por exemplo, sua “prescrição” psíquica poderia incluir,
de imediato, levar um católico a se envolver com a magia negra, ou
um judeu, num ritual de preconceitos nazistas.
A destruição de qualquer coisa que pudesse ser considerada
sagrada foi o que ele considerou como sendo essencial. Certa vez,
gracejou dizendo que a “magia negra” perfeita para a década de
1960, cheia de filosofia hippie, seria ter a foto de Maharisha Mahesh
Yogi (que fundou a MT — Meditação Transcendental) de cabeça
para baixo, fazer derreter um disco dos Beatles e jogar um quilo de
maconha na privada dando a descarga.
LaVey viu a si mesmo não tanto como um verdadeiro adorador
do diabo, mas como o “Vingador do Diabo” (título de sua biogra­
fia oficial, escrita por Burton Wolfe). Ele defende não o diabo, mas
o que o diabo representa. Fala contra as injustas “difamações” em
relação ao diabo, ao longo dos séculos. Assim, uma análise mais
criteriosa pode revelar que o sistema de crenças da Igreja de
Satanás é constituído de conceitos bastante diversos:
1. Ateísmo:
A negação de qualquer tipo de divindade.

2. Ética Objetiva:
Baseada nos ensinos do filósofo ateu Ayn Rand de que o ego­
ísmo é o maior bem.

3. Salvação por Si Mesmo:

DÍAbo”
O homem não necessita de ninguém mais, a não ser de si
mesmo, para salvar-se; e a necessidade de salvação no sentido cris­

do
tão é negada: “Eu sou meu próprio redentor!”3

Vi ngAdor
4. Psicoterapia de Reich:
A forma de freudianismo um tanto bizarra de Wilhelm Reich
é baseada na crença do “orgônio”, ou unidade de energia orgásmica
e na idéia de que toda enfermidade é causada pela repressão da
energia sexual. Envolve ainda o uso de “caixas orgônio” especiais e
a liberação de toda inibição sexual. As idéias de Reich estão no
cerne de grande parte dos ensinos e da metodologia de LaVey.

5. Psicodrama Ritual:
A idéia é a de que rituais blasfemos podem ser usados para
fazer com que as pessoas percam as suas inibições e fiquem “liber­
tas”, ao escarnecerem, justamente, de tudo o que creiam ser sagra­
do. Este era o princípio de LaVey quanto a Satanás ser “adversário”.
Um folheto da Igreja de Satanás, publicado em 1966, ensina
conceitos de Reich:
O homem tem de aprender a fazer a própria vontade por quais­
quer meios que ache necessário (...) somente deste modo é que
podemos nos aliviar de frustrações prejudiciais, que, se não
forem aliviadas poderão crescer e causar muitas doenças reais.6
Em seguida ao tremendo sucesso do seu primeiro livro,
LaVey escreveu The C om pleat Witch — or W hat to Do When
Virtue Fails [A Bruxa Completa — ou O Que Fazer Quando a
Virtude Falha], uma espécie de guia do tipo “faça você mesmo”
para a mulher interessada em se tornar uma fatal satanista, e
The Satanic Rituais [Os Rituais Satânicos], um livro que apre­
senta, entre outras coisas, uma versão francesa original da Missa
Negra, rituais nazistas, rituais dos Cavaleiros Templários, e até
mesmo rituais baseados nos escritos de horror de H. P. Lovecraft.
Contudo, nenhum desses livros chegou perto do sucesso ou im­
pacto da sua B íblia Satânica.
Muito embora LaVey defenda a liberdade sexual e tenha feito
da blasfêmia um ritual, tanto ele como sua filha Zeena nao sao
coerentes, negando as acusações de que promovem o ódio, a vio­
lência e a crueldade a animais e a seres humanos. Negam ainda
qualquer envolvimento ou promoção ao uso ilegal de drogas.
Apesar de suas tentativas de garantir uma “boa imagem”, o
maior sucesso de LaVey deixa transparecer alguns de seus mais te­
nebrosos segredos. Que a própria Bíblia Satânica, sua obra-prima,
fale por si mesma. Esse livro é bastante popular, chegando até a
ganhar em vendas, durante certo tempo, da própria Bíblia Sagra­
da, em vários cam pi universitários, por todos os Estados Unidos. A
“bíblia de Lavey” tem sido encontrada nas mãos de inúmeros “de­
linqüentes satanistas” adolescentes e marginais satanistas logo após
haverem cometido crimes hediondos, incluisive assassinatos em
massa. O livro é provavelmente o que mais se aproxima de um
pronunciamento oficial do que é o satanismo, feito por um
satanista contemporâneo. Veja a seguir algumas citações extraí­
das de suas “Nove Declarações Satânicas”: uma espécie de “M a­
nifesto Satanista” :7
• Satanás representaperm issividade, em vez de abstinência...
• Satanás representa “bondade para aqueles que a merecem”,
em vez de “am or desperdiçado com pessoas ingratas”.
• Satanás representa vingança, em vez de dar a outra face...
• Satanás representa o hom em com o sendo apenas outro anim al,
às vezes melhor, mas muito mais vezes pior em relação aos
que andam com quatro patas, tendo se tornado o mais p ern i­
cioso de todos os animais, por causa de seu “divino desenvol­
vimento espiritual e intelectual”.
• Satanás representa tudo o que se diz ser pecado, pois todos os peca­
dos levam a uma satisfação, seja física, emocional ou mental...

Diabo
UmA R e l i g i à o d e V i o l ê n c Í A e f ü o r l e !

do
Embora LaVey negue que seus satanistas pratiquem sacrifícios de
animais e humanos, a “bíblia” que ele escreveu pinta um quadro

O VingAdor
totalmente diferente. Ali são ensinados ataques por meios espiri­
tuais —- assassinatos por meio de maldições. No Ritual de Destrui­
ção,8 as palavras não deixam dúvida quanto às suas intenções:

Peço aos mensageiros da destruição que golpeiem com


prazerosa severidade sua vítima que eu haja escolhido. Si­
lencioso seja o pássaro mudo que se alimenta da massa
encefálica daquele que me atormentou... arranque aquela
língua palradora e feche a sua garganta. Ó Káli! Perfura os
pulmões dessa pessoa com ferrões de escorpião. O
Sekhmet! Derrama tua substância no sinistro vazio! Ó po­
deroso Dagom! Eu lanço para o ar o aguilhão de duas pon­
tas do Inferno, nas quais, resplendentemente empalado,
meu sacrifício de vingança há de ficar!
Essas ordens têm, evidentemente, a finalidade de, se executa­
das, levar a pessoa amaldiçoada a uma morte terrível. LaVey até
mesmo recomenda:

“Não se preocupe se a almejada vítima vai viver ou morrer, ao


lançar a sua maldição. E, se conseguir que seja destruída, fes­
teje, em vez de sentir remorso. Preste bastante atenção a estas
regras, pois, do contrário, você terá o reverso dos seus dese­
jos, causando-lhe dano, em vez de o favorecer.”9
Embora LaVey se mostre, oficialmente, contra a mutilação
intencional de pessoas, sua B íblia S atânica promove a violên­
cia. Para a maioria de nós, fica um tanto difícil separar etica­
mente a intenção de matar alguém do ato de amaldiçoá-lo para
que morra. Se se acredita que o feitiço que se está fazendo de
fato funciona, não deixa de ser uma tentativa de assassinato, tal
como se se usasse uma arma de brinquedo pensando estar usan­
do uma arma de verdade.
Isso se vê com mais clareza no relato do que aconteceu quan­
do um “sumo sacerdote da Igreja de Satanás” pessoalmente amal­
diçoou alguém com terríveis resultados.

U iiia D e u s A do A m o r A m A l d i ç o A d A

Estamos agora falando do caso de uma discípula de LaVey, a famo­


sa “deusa do sexo” Jayne Mansfield. Essa conhecida atriz de cine­
ma, tornou-se membro da Igreja de Satanás em 1965. Ela pregava
as idéias do satanismo, proclamando que a castidade é “realmente
uma perversão que causa doenças, um verdadeiro mal” .10 Apare­
ceu em fotos de propaganda bebendo do enorme cálice cerimonial
de LaVey, junto com ele, vestido de todos os seus aparatos satâni­
cos: um terno preto, um manto acetinado preto e um boné preto
com chifres do diabo. O envolvimento de Jayne Mansfield com
LaVey alarmou um amigo dela de nome Sam Brody, que a advertiu
de que esse relacionamento poderia tornar-se para ela um enorme
desastre em sua imagem pública como atriz.
Brody ameaçou LaVey de expô-lo como charlatão e vigarista.
LaVey, em resposta, amaldiçoou ritualmente Brody e advertiu Jayne
que se mantivesse bem longe dele, para que a maldição lançada
sobre ele não a atingisse também. Jayne achou melhor ignorar a
advertência de LaVey. Em cerca de apenas um ano, a 29 de junho
de 1 967, Brody sofreu uma violenta batida de frente com seu car­
ro, na qual Jayne estava também, ao lado dele. Nesse terrível aci­
dente, ambos foram instantaneamente decapitados!11
Problemática é também a glorificação do ódio e do terrorismo
no livro de LaVey:

Odeie seus inimigos de todo o coração, e se alguém lhe


bater no rosto, quebre a cara dele! Bata nele sem dó nem
piedade, pois a lei maior é a da autopreservação. Quem ofe­
rece a outra face é um cão covarde. Revide golpe p or golpe,
desprezo p or desprezo, destruição p or destruição — com uma
desforra bem aumentada, form ada pelos seus interesses. Olho
p or olho, dente p or dente, sempre quadruplicado, e até multi­
plicado p or cem ! Torne-se um terror para o seu adversário,
que, quando cair fora, terá muito no que refletir.12
E como poderíamos deixar de lado as “Bem-aventuranças Sa­
tânicas”? Observe a glorificação da violência e do assassinato a quem
não tiver escape:13
• Bem-aventurados sao os fortes, pois possuirão a terra —
amaldiçoados sao os fracos, pois herdarão o jugo.
• Bem-aventurados são os poderosos, pois serão reverencia­
dos entre os homens — amaldiçoados são os frágeis, pois se­
rão arrasados.
• Bem-aventurados sao os ousados, pois serão senhores do
mundo — amaldiçoados são os íntegros e humildes, pois se­
rão pisoteados pelas patas do diabo.
• Bem-aventurados sao os vitoriosos, pois a vitória é a base
do direito — amaldiçoados são os derrotados, pois serão
vassalos para sempre...
• Bem-aventurados os implacáveis, pois os incompetentes
fugirão diante deles — amaldiçoados são os pobres de espí­
rito, pois serão menosprezados.
• Bem-aventurados são aqueles que crêem naquilo que é me­
lhor para si, pois jamais sua mente ficará apavorada — amaldi­
çoados são os “cordeiros de Deus”, pois serão totalmente espoliados.
• Três vezes sao amaldiçoados os fracos cuja insegurança os
torna desprezíveis, pois servirão e sofrerão.
Isso soa como se fosse uma homilia feita por Hitler! Veja como
há um total contraste com os ensinos do Senhor Jesus Cristo:

Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o


reino dos céus. Bem-aventurados os que choram, porque
serão consolados. Bem-aventurados os mansos, porque
herdarão a terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede
de justiça, porque serão fartos. (Mt 5.3-6)
Com um ensino satanista como aquele, qual será a norma éti­
ca que impedirá que um de seus seguidores roube, mate ou estupre
quem quer que ele desejar? Embora sua Igreja oficialmente nao
advogue o assassinato, os princípios da Bíblia Satânica incitam a
“lei da selva”. Nao é de admirar que nao haja orfanatos ou hospi­
tais mantidos por satanistas.
O livro de LaVey nao é propriamente uma “escritura sagrada”
para os satanistas, mas sua influência não pode ser subestimada!
Suas provocantes declarações também não devem ser ignoradas,
principalmente quando vemos que, na maior parte dos casos de
violência satânica, é sempre encontrado um exemplar desse livro,
bastante usado, em meio aos pertences do envolvido.
Mais trágico ainda é o fato de que fui informado quando me
achava ainda, na fraternidade satânica: que a igreja de LaVey é mera­
mente uma organização de linha de frente, montada pelos grupos
satânicos mais avançados, como seu instrumento de sustentação. Ela
tem de fato servido a esse propósito muito bem. Embora LaVey já
tenha falecido [ele morreu na década de 1990], A Bíblia Satânica
continua vendendo muito, já faz mais de três décadas!
Não obstante, de quando em quando até as melhores másca­
ras caem, como aconteceu em 1989 no programa de entrevistas
da televisão americana Sally Jesse R a p h a el. Zeena LaVey, que é a
filha mais nova dele, estava falando sobre o lado satânico do tea­
tro com um colega, Nicolas Schreck. Este homem, que lidera um
grupo chamado Werewolf Order [Ordem dos Lobisomens], passou
a se revelar nitidamente hitlerista. Advogou a destruição dos de­
ficientes e dos que nao se desenvolvam de um modo normal. O
mesmo programa mostrou que Schreck e Zeena LaVey haviam par­
ticipado de um “evento satânico” num teatro em 8 de agosto de
1988 (8- 8- 88) em comemoração aos infames assassinatos ligados a
Charles Manson .14 Eles exibiram, entre outras coisas, cenas com­
pletas dos assassinatos, rufaram tambores e ovacionaram a cena da
atriz Sharon Tate sendo esfaqueada até à morte, grávida.

DÍAbo”
Esse programa de televisão, com Zeena tendo a seu lado
Schreck, que com tudo concordava, balançando a cabeça, trouxe à
luz, de modo espantoso, o tenebroso niilismo e desespero que es­

do
tão por trás desse satanismo metido a burlesco, de LaVey. O resul­

O VingAdor
tado foram tremendas vaias do auditório, que geralmente é bastante
liberal.
LaVey e sua Igreja não devem ser, porém, subestimados. Ele é
um homem muito inteligente e, não há dúvida, um dos feiticeiros
mais talentosos da sua geração. Quanto ao fato de se ele crê ou não
no diabo, isso não se sabe ao certo. Mas não é necessário acreditar 69
num deus ou diabo para ser praticante da magia negra. Basta ter
uma firme disposição de abrir a alma às tenebrosas e gélidas atra­
ções malignas de Lúcifer.
Se LaVey já tem como causar tanto dano a uma geração, sem
nem mesmo professar sua crença em Satanás, im agine quão p io r
não seria alguém que realm ente adorasse 0 Velho D emônio...

Noí AS

1 F r e d e r ic k s o n , Bruce G. How to Respond to Satanism [Como Responder


ao Satanismo]. Concordia, 1988. p. 18.
2 L y o n s , Arthur Satan Wants You [Satanás o Quer], Mysterious Press,
1988. p. 115.
3 Ibid., p. 123.
4 Para uma visão mais profunda do impacto que os ensinamentos de Jung
causaram sobre a bruxaria e o ocultismo moderno, veja meu livro Wicca,
Satarís Little White Lie [Wicca, a M entirinha Branca de Satanás],
ChickPub., 1990. p. 27-36.
5 L aV ey, A. S. The Satanic Bible [A Bíblia Satânica], Avon, 1969. p. 33.
6 C a v e n d is h , Richard. (Ed.) Man, Myth andM agic [Homem, Mito e Ma­
gia], Marshall Cavendish Corp. 1970. v. 23, p. 3204.
7 L aV ey, p. 25.
8 Ibid., p. 149-150.
DeslronAdo

9 Ibid.
10C a v e n d is h , op. cit., p. 3.205.
h L y o n s, op. cit., p. 108-109.
12La V ey, op. cit., p. 33.
13 Ibid., p. 34.
Lúcifer

14 R a s c h k e , C. A., Painted Black [Pintado de Preto], Harper Paperbacks,


1992. p.391.


N as G n t r A í i H A s d.A B e s l A

Eu sou a Serpente q u e dá C onhecim ento, Prazer e


um a esplendorosa glória, e em briago o coração dos
hom ens. Para m e adorar, tom e o vin h o e as estra­
nhas drogas que eu venha a m en cion a r a m eu p r o ­
feta, e assim fiq u e em briagado.
— Aleister Crowley, L iber A l v e l L egis 2 .2 2

"V"oltando ao relato do meu “progresso” dentro da confraria satâ­


nica, com o passar dos anos a constituição dos “covens” também
foi sofrendo alterações. Muitos dos alunos mudaram-se para ou­
tros estados, e alguns casamentos e relacionamentos se deteriora­
ram rapidamente.
Tínhamos ainda uma razoável base de fiéis seguidores que eram
a “prata da casa”. Assim, contávamos com pessoas no terceiro grau
em número suficiente para ministrarem os estudos de magia avan­
çada, preparatórios para o quarto grau.
Para essas classes, muito nos valemos da nossa associação com
a O.T.O. Tanto Sharon como eu éramos membros do quinto grau
daquele grupo, e começamos a dar treinamento para os nossos sumo
sacerdotes em práticas avançadas, tais como magia de Crowley,
ciências herméticas, magia gnóstica e maçonaria.
É importante compreender que Aleister Crowley havia conven­
cido finalmente o dirigente da O.T.O., Theodore Reuss, de que a
era crista tinha sido superada e que um Novo Eon começara em
1904, sob o reinado do Filho Divino — Hórus (um deus egípcio
com cabeça de falcão). Afirmava que a religião da Nova Era era ba­
seada na palavra grega Thelema, que significa “vontade”. Ensinava
também que a “superada” fé crista baseava-se numa outra palavra
grega, Ágape, cujo significado é o de um amor espiritual, não egoísta.

O J ü e s s i A S d.A Nova 6 t a

Crowley, com a ajuda de sua primeira esposa, Rose Kelly, suposta­


mente foi o portador de uma mensagem dada por um ser “sobre­
humano” (um espírito guia) chamado Aiwass (pronuncia-se
“ai-Uás”). Seu livro, LiberAl velL egis [O Livro da Lei], passou a ser
considerado pelos seguidores de Crowley como o livro que veio
substituir todas as outras escrituras, inclusive a Bíblia Sagrada.
Observa-se que Crowley subordina o princípio cristão do amor
Agape (o amor não egoísta) ao princípio gnóstico da Thelema (von­
tade). Ele convenceu o cabeça da O.T.O. quanto à validade dessa
nova religião, e Reuss fez do ramo da O.T.O. na Inglaterra, dirigi­
do por Crowley, a primeira ordem “thelêmica” do mundo. Desse
modo, Crowley recebeu o pretensioso título maçônico de “Supre­
mo e M ais Sagrado Rei da Grã-Bretanha, Irlanda, lon a e todas as
ilhas que estão no Santuário da Gnose”.
Sharon e eu, e o principal núcleo dos sumos sacerdotes do
nosso grupo, nos considerávamos thelemitas, acreditando na reli­
gião de Crowley como sendo a evolução lógica do cristianismo no
século 20. E, como membros da O.T.O., ensinávamos aos nossos
alunos em estágio avançado a forma de magia praticada por Crowley.
Em nossa associação com a O.T.O., fomos a um suposto Mes­
tre de Vama M a rg— um caminho à esquerda, ou seja, de ocultis­
mo tântrico, sendo a Tantra, a ioga do sexo. Os termos “caminho à
direita e à esquerda” originam-se do ocultismo, procedendo da ín ­
dia a ioga tântrica, a ioga da magia sexual.
O caminho à direita é tido como masculino (ou Yang, em
Chinês) e geralmente considerado como bom por todos os
ocultistas. Assim, aTantra da direita é predominantemente mascu­
lina, envolvendo formas de castidade. Seu ponto principal é tam­
bém a deliberada contenção da consumação do ato sexual por parte
do homem, o que é chamado de maithuna. Acreditam que isso

B e s l A
contribui para adquirir união (ioga) com o deus Shiva e com a
deusa Shakti.

da
O caminho da esquerda é predominantemente feminino

a s
h
(Yin), sendo considerado mau por alguns ocultistas, exceto pe­

na
los bruxos e satanistas, que consideram tais distinções como

J r
d
cristãs e sexistas. A Tranta da esquerda permite a consumação

6
total do ato sexual pelo homem fazendo uso de outros métodos

Nas
extremamente perversos para, supostamente, alcançar os mes­
mos objetivos da ioga.
Acredita-se que, por meio de certos exercícios e treinamento 73
de ordem sexual, pode se alcançar a imortalidade humana, e que
alguns canais do corpo humano podem ser desenvolvidos como
portas de entrada para outras dimensões do tempo e do espaço.
A ioga tântrica é considerada blasfema e maligna pela maioria
dos praticantes da ioga, mas desde o surgimento de Crowley está
sendo ensinada no Ocidente.
O “Mestre” com quem iríamos nos relacionar era ao que su­
púnhamos, verdadeiro pioneiro no desenvolvimento da tecnologia
mágica que tinha a ver com aTantra da esquerda. Vamos chamá-lo
de Aquarius. Ele'era, por certo, o homem mais esquisito que eu já
conheci e, possivelm ente, o mais perigoso. Aquarius foi
grandemente recomendado pelo Chefe Exterior da O.T.O. (algo
assim como o seu papa), de modo que fomos assistir a um de seus
seminários em Chicago. Não era como o havíamos imaginado. Era
um sujeito bem forte, meio calvo, de estatura mediana, com uma
barba preta e branca bem cerrada e olhos bastante expressivos.
Sua palestra foi sobre a Arquitetura da Magia e sobre a teoria
da Arqueometria Transespacial. Ele era, usando uma expressão
popular, “da pesada”. Aprendi com ele, naquelas duas horas, mais
do que tinha aprendido em cinco anos de um intensivo estudo do
ocultismo, acho eu. Simpatizou comigo, mas Sharon não gostou
nada dele! Durante os intervalos das várias palestras, ele me procu­
rou. Disse que queria me matricular no Mosteiro dos Sete Raios, a
fim de me tornar o arcebispo de Milwaukee.
Naturalmente que a minha atenção voltou-se para isso.
Aquarius era o arcebispo metropolitano da América do Norte da
Igreja Católica Gnóstica. Era também o Mestre do Rito da Maço­
naria Egípcia (Mênfis-Mitzraim) e um hierofante do vodu!1
Disse-lhe que eu era sacerdote da Igreja Católica Antiga, e
ele ficou mais impressionado ainda comigo. Explicou-me que os
católicos gnósticos tinham vindo da França para a América via
Haiti e que a sucessão apostólica deles vinha do arcebispo de
Babilônia; já no caso da Igreja Católica Antiga, essa sucessão pro­
vinha de Utrecht.
A doutrina de Aquarius era tão complexa que seria necessá­
rio um livro inteiro para abordá-la. Grande parte era semelhante
aos ensinos da O.T.O.; às crenças tântricas (sexo, normal e per­
vertido, como um ato de adoração e de união com Deus); ao
anglo-catolicismo, à Maçonaria e ao vodu. Basta dizer que eu
aprendi com ele muito mais sobre magia negra do que tudo o
que eu já tinha aprendido da maioria dos outros mestres da feiti­
çaria e do ocultismo juntos.
Convidou-me a ir visitá-lo e passar o fim de semana em seu
apartamento, que tinha uma bela vista do lago Michigan. Acei­
tei. Sharon, porém, não ficou muito satisfeita com isso! Mas, por
fim, eu disse a ela:
— Para crescer no conhecimento da magia e do poder, eu
sempre quis fazer tudo o que fosse necessário.
Ela sabia disso; e era exatamente isso que não lhe agradava.
VÍA gem de T r e m a o “ U n iv e rs o B"

Semanas depois, tomei um trem para Chicago, a fim de passar


o fim de semana com Aquarius. Sharon disse-me que iria rezar por
mim e estaria fazendo rituais de proteção a cada minuto, em todo
o tempo da minha ausência. Ela me amava e confiava em mim o
suficiente para me deixar viajar, mas estava bastante preocupada

B e s l A
quanto ao perigo que aquele homem poderia representar.
Aquarius veio buscar-me na estação ferroviária, e tomamos
um ônibus para chegarmos até sua residência. Ele não tinha carro

dA
e recusava-se a dirigir em Chicago, o que me fez pensar que era

GntrAtiHAS
bem mais inteligente do que eu havia suposto.
Seu apartamento era ímpar; ficava no trigésimo andar de um
prédio bem alto e moderno e era totalmente extravagante. Sua de­
coração era a mistura de uma mansão de Playboy, H. P. Lovecraft,

Nas
Igreja Ortodoxa Russa e hinduísmo.
Dominando a sala de estar havia uma enorme mesa coberta
com um brocado de cetim. Explicou-me que ali era o altar de sua
celebração da Liturgia Divina, tendo ainda um pano de altar
litúrgico grego, um brocado com relíquias de um santo tecidas so­
bre ele. Debaixo achava-se o que me disse ser uma “relíquia santa”
ainda mais importante, alguns metros de um tecido de algodão
que tinha sido da casa de Madame Blavatsky, a matriarca do movi­
mento da Nova Era, fundadora da Sociedade Teosófica.
As paredes estavam literalmente cheias de uma arte muito es­
tranha, como eu nunca tinha visto. Aquarius sorriu chamando-a
de “pornografia pré-cambriana”. Eu não tinha razão alguma para
duvidar do, que ele dizia. Era de um aspecto rude, primitivo, como
se fora uma pintura a dedo feita por um predador sexual demente.
Havia ainda figuras mais convencionais, como de deuses, de­
mônios, extraterrestres e shaktis2 com quem ele trabalhava. Ou­
tras eram de furiosos dervixes [religiosos muçulmanos] rodopiando
com um ar totalmente misterioso.
Aquarius me disse acreditar firmemente nos princípios da en­
genharia mágica, ensinados pela Igreja Ortodoxa Russa. Eram como
ícones, explicou. Cada um representava um deus ou demônio ou
poder e tudo o que se tinha de fazer para invocar a força ou o
demônio era meditar em frente à pintura. Esclareceu que era como
uma máquina de magia, como se fosse um aparelho para poupar
nosso esforço, e que, sendo ele do signo de Capricórnio, adorava
tudo o que lhe poupasse as energias.
A janela da sua enorme sala de estar estava cheia de plantas,
sendo que nenhuma delas parecia ser..., bem, nenhuma delas pare­
cia normal! Mais da metade das espécies eram-me totalmente des­
conhecidas, e algumas delas estavam como que querendo saltar do
vaso para atacar as pessoas! Outras tinham uma aparência um tan­
to obscena, que nao dá para descrever.
Aquarius preparou o jantar e então trouxe uma garrafa do uís­
que Wild Turkey. Agradeci, mas disse-lhe que não bebia. Ele sorriu
com um ar de velhaco e me disse que, se eu quisesse chegar a ser
um patriarca gnóstico e arcebispo, teria que me acostumar com a
bebida.
Eu não estava mentindo. Nunca bebi muito em minha vida.
Qualquer vinho ou licor tinha o mesmo sabor para mim: horrível.
Sentia uma forte aversão sempre que tinha de tomar o vinho da
eucaristia durante a missa, mas, como cria que era o sangue de
Jesus, conseguia suportá-lo. No entanto, meu gentil anfitrião in­
sistiu em que eu colaborasse com ele para acabar totalmente com o
conteúdo de sua garrafa de Wild Turkey. Tinha gosto de fluido de
isqueiro, e eu quase vomitei. Resolvi, então, ir bebericando peque­
nos goles do uísque, aos poucos, durante algumas horas, enquanto
o ouvia com atenção falar de sua magia bizarra e incomum.
Para Aquarius, a chave do poder de um cientista mágico esta­
va na compreensão de todos os ramos da ciência e da filosofia.
Sentia-se satisfeito com os cursos que eu fizera, mas insistiu em
que eu tinha de levar para casa comigo uma cópia da série filosófi­
ca de Coppleton e dos Principia M athem atica de Bertrand Russell.
Disse-me que eu teria de me submeter a um teste completo sobre
esse material antes da minha consagração como bispo.
Ele conseguiu acabar com dois terços do conteúdo da garrafa
de uísque, e mesmo assim permaneceu lúcido. Percebendo meu
espanto, explicou que o segredo era ter tantas entidades (espíritos
do vodu) dentro da gente que, ao beber, elas é que ficavam bêba­
das, não nós. A maioria das entidades do vodu — assegurou-me
ele — adora a bebida alcoólica, principalmente uísque e rum. Ex­
plicou-me ainda que era necessário aplacar a ira das entidades, de
diversas maneiras, se pretendesse ter acesso ao universo B. Eram as

B e s l A
guardiãs da entrada a esse universo.
De acordo com Aquarius, o universo B é um universo alterna­

da
tivo em que se aplicam leis totalmente diferentes da física quântica

GnlrAíiHAS
e da matemática. Seria um universo governado por magos mestres
da Atlântida, que haviam fugido da terra para escapar da destrui­
ção do “continente perdido”, há milhares de anos.3
A partir do universo B, o praticante da magia que saiba o que

Nas
está fazendo pode ter acesso a outros universos alternativos. E pos­
sível ainda trazer energias e até mesmo criaturas do universo B
para o nosso universo, para que (espera-se) nos sirvam. No entan­
to, sabe-se que uma parte dessas criaturas é muito perversa, e que
somente fazem alguma coisa quando se lhe dão copiosas doses de
uísque ou rum, sexo e sangue. O objetivo final seria descobrirmos
nosso “próprio” universo, em alguma parte desse intercâmbio
cósmico, para nele reinar como se fôssemos um deus. Tais conceitos
estavam entre os elementos mais elevados do seu sistema de magia.
Então ele me perguntou quando eu estaria disposto a receber
o sacerdócio luciferiano. Eu quase vomitei o que estava bebendo...
e pedi-lhe que me desculpasse, pois não havia entendido.
Ele me explicou, então, que eu teria de me tornar sacerdote de
Lúcifer antes de poder tornar-me bispo católico. Referindo-se à
estrutura, normalmente aceita no ocultismo, que representa a
cabalística árvore da vida, Aquarius mostrou-me que o quinto grau
de sacerdócio era consagrado ao Sol e ao deus que havia sido morto
e que ressuscitou, Osíris ou Jesus. Pertencia ao mundo cabalístico,
ou esfera, de Tiferet. Isso era uma cerimônia elementar de magia
com a qual eu estava bem familiarizado. Pedi-lhe que prosseguisse.
A ÁRVORE DA VIDA:
CAMINHOS ASTRAIS E TARÔ
DestroíiAdo

Coroa
de Kether

“Conhecimen­ “Sabedoria”
1 3-AImperatriz de Hokmah
to” de cC/á5
Lúcifer

\ Binah > O /
"p
11-Força § /
oo 5-Hierofante
7 -Carruagem «v f X \ cá / £§? /
d / J? /
CO
V .M - 03
‘Força” de Misericórdia’
Geburah de Hesed
78

12-Enforcado

‘Vitória” de
Netzach

“Fundamen­
to” de Yesod

21-universo
Explicou, então, que o grau sexto (Adeptus Major) pertencia ao
mundo de Geburah, governado por Marte. Seu sacerdócio era o sa­
cerdócio de Lúcifer, seu metal era o ferro, sua pedra preciosa o rubi.
Isto encaixava-se muito bem no que eu já sabia. Se Tiferet
pertencia ao sacerdócio católico, era uma combinação perfeita! O
metal de Tiferet era o ouro, e o seu perfume era o do incenso olíbano.
Tanto o ouro como o olíbano participam de modo predominante

a
na missa e no simbolismo cristão.

B es 1
Quando eu recebesse o grau luciferiano, declarou Aquarius,

a
estaria em condições de ir para o sétimo. Este seria o grau Adeptus

d
Exemptus, ou seja, o episcopado, ou bispado católico romano! Essa

f i n l r A i i B A S
esfera na Árvore da Vida, Hesed, é governada por Júpiter, na
Cabala. Sua ferramenta de magia é o báculo (o bastão episcopal), e
sua pedra, a ametista.

N a s
Eu sabia que, por séculos, a pedra do anel usado pelos bispos
de Roma sempre foi a ametista! Acho que essa tradição vem dos
antigos pontífices pagãos romanos, que usavam um anel de ametista
na mão direita, como talismã, para lhes dar juízo e sobriedade (evi­
tando, assim, que se embriagassem).
Sem poder esconder a excitação em que me encontrava, per­
guntei-lhe o que implicaria tornar-me um sacerdote luciferiano.
Aquarius sorriu benignamente, com um ar presunçoso de quem
tudo sabe, e disse:
— Você precisa vir para a Luz!
De algum modo eu sabia que algo não estava certo naquela
afirmação.
— Como vou fazer isso? — perguntei, com a voz um tanto
rouca pelo efeito do uísque.
Ele exibiu um sedutor sorriso amarelo e tentou cativar-me,
explicando que eu teria de passar por um arcaico ritual dos
Templários.4 Tive que passar por esse ritual naquela mesma noite.
E melhor não descrever como foi; apenas vou dizer que está rela­
cionado com a cúpula clerical e envolvendo vampirismo sexual.
“ H osped A riA I n fe r n o ?

Concluídos, finalmente, os ritos e blasfêmias naquela noite,


houve, ao encerramento, um certo toque de ironia. Antes de
Aquarius recolher-se, pegou cópias do Santo Ofício do Breviário e
me conduziu na recitação da sua última parte, o Completório ,5
dirigindo-se depois para o quarto de rituais, que era ao mesmo
tempo o seu dormitório.
Com um sorriso um tanto traiçoeiro, perguntou se eu não
gostaria de passar a noite no seu quarto, o qual me pareceu ser
mais terrível do que sua sala de estar. Eu já tinha chegado ao nível
máximo de perversidade para aquele fim de semana, de modo que
polidamente declinei do convite.
No entanto, dormir em sua sala, no seu sofá de veludo, nao
me traria descanso.
Passado o efeito confortador da recitação do Breviário, tive
uma das piores noites da minha vida no sofá de Aquarius. Eu me
sentia grato por estar ali, mas parecia que eu não estava só. Aquelas
horrorosas pinturas pareciam estar vivas. Os olhos delas brilhavam
na escuridão com um fogo impetuoso. Apeguei-me então ao meu
escapulário franciscano, que eu sempre usava preso a meu pescoço,
e rezei tantos rosários que perdi a conta. Na verdade, acabei dor­
mindo numa casula católica (uma veste sacerdotal) acreditando
que ela me daria algum conforto (mas disso eu não tinha muita
certeza). Afinal, Aquarius era hierofante vodu, diácono da Igreja
Episcopal e arcebispo da Igreja Católica Gnóstica. Eu não estava
convencido de que um pedaço de pano, como o daquela sua
vestimenta, iria amenizar a situação.
Muitas vezes, naquela noite, fui acordado por pesadelos, cala­
frios e ensopado em suor, ao ouvir ruídos como que de ratos pas­
sando por vidros quebrados. Ao abrir os olhos, achava que as pinturas
tinham se m ovido na p arede!
Ao conseguir conciliar o sono, estranhos seres sexuais vinham
e deitavam-se sobre as minhas cobertas. Dava para sentir o seu
peso e sentir seu fétido hálito. Não sei se eu estava tendo terríveis
pesadelos ou se estava acordado. Tudo aquilo não fazia sentido. Ali
estava eu, sumo sacerdote bruxo e recém-ordenado sacerdote de
Lúcifer, sendo amedrontado, a ponto de me apavorar, por umas
extravagantes e inocentes pinturas. Era como se o Anton LaVey
dormisse de luz acesa.
Foi como passar a noite na “Hospedaria Inferno”. Ainda bem

BeslA
que ele tinha deixado comigo uma cópia do Breviário, porque acabei
lendo os Salmos que nele estão, valendo-me da luz da lua, procurando
manter minha mente afastada daquelas figuras arrepiantes e rastejantes,

dA
como também das plantas, que pareciam sussurrar de um modo bas­

G n l r A n H A S
tante estranho, na escuridão. As sombras daquela vegetação nao ter­
restre, projetadas pelo luar, moviam-se sobre as páginas do meu Breviário
de um modo lascivo que jamais seria efeito de uma brisa, pois era
inverno, e as janelas estavam completamente fechadas!

N as
Nenhum alvorecer foi mais bem-vindo do que aquele. Aquarius
levantou-se cerca de uma hora após raiar o dia e parecia mais estra­
nho ainda à luz solar do que quando o vi à noite. Sua pele era 81
pálida, como o ventre de um peixe. Formava um total contraste
com seu cabelo preto e sua barba grisalha.
Sorriu e me perguntou se eu tinha dormido bem.
— Muito bem! — respondi-lhe.
— Ótimo, isso é muito bom! Vou preparar para nós um café e
em seguida vamos cantar laudes [recitativos do Breviário], tomar
uns coquetéis e depois trabalhar no nosso vodu.
O “café da manhã”, para ele, era na verdade um mingau que
parecia ser feito de aveia, mas que tinha um gosto estranho, como
se tivesse pelo menos dois ou três vegetais entorpecentes.
O restante do fim de semana transcorreu daquele mesmo modo
agitado e estranho. Aquarius transbordava de gentileza e hospitali­
dade tipicamente européias, para não falar de sua religiosidade con­
vencional. Tinha sempre consigo um rosário e insistia em rezarmos
todo o Ofício Divino; contudo, narrava-me histórias de magia e
perversão sexuais com divertido prazer.
Para Aquarius, o vodu não era um sincretismo religioso da
feitiçaria africana com o catolicismo, como a maioria das pessoas
“pensa”, mas sim, uma forma sofisticada de magia que fazia uso da
Matemática e da Física e que ele acreditava ter sua origem no con­
tinente perdido da Atlântida. Sugeriu que eu entrasse no primeiro
nível de sua escola de vodu, chamada Culto à Serpente Negra. Tudo
o que eu teria que fazer para receber as lições era enviar-lhe preen­
chido um formulário, juntamente com dez dólares por mês. Poste­
riormente, quando recebi as lições, fiquei pasmado ao ver que
continham assuntos como magia por masturbação, comer carne
de cadáveres e ter sexo com demônios!
Aquarius observou que eu teria um progresso bem mais rápi­
do se tivesse pós-graduação em Matemática. Disse que o propósito
final da magia era metamatemático. Requeria que o seu praticante
viajasse através do tempo e do espaço de modo a produzir e con­
trolar universos inteiros.
Finalmente, marcamos o dia em que me tornaria bispo, e pe­
guei meu trem de volta para casa.
Quando cheguei, alegrei-me em me encontrar com Sharon, e
ela, em me ver. Contei-lhe tudo o que acontecera naquele fim de
semana, e ela me fez prometer que nunca mais voltaria lá sozinho.
Fui consagrado semanas depois, de acordo com o rito da
Pontificai Romana. Aquarius trajava uma veste ortodoxa russa que
valia cerca de 800 dólares, e eu usava todos os paramentos de um
prelado. Em vez de jurar sujeição ao papa (pelo qual eu não ali­
mentava grande entusiasmo), tive que jurar obediência ao papa do
vodu, Hector François Jean-Maine, do Haiti.
Foi necessário que eu fosse a Chicago mais algumas vezes.
Cada vez, era mais estranho que da vez anterior. Tinha que levar
um de meus amigos como segurança. A cada viagem, meu acom­
panhante era alvo de vibrações tão estranhas que se recusava a ir
na vez seguinte.
> •.* r t i’f I-. C .\ .4 t **.»i« * . í I*.' *f »*« * '■■+

RiTI AKCIEN ET PRUrflIlF DE MEHPHlS-KtSRAlM


E o c le s l a G n o a tlca Sp j r l t u a l l a <
do l a au cccaalo n «ipoa to liq u e de 1» cc
í-rtlise d» In tlo c h a aux tVí.qUtfl -
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Au Norn d© 1» JLu'M%/.?,, Dl.tU ‘fOUT - PUISSANT Exiatr-nt en 3 0 1 . A to « n.
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K tch o l Berti;-.ux (T«u O^dostí© - O rfeo IV ) D<*>1 G r a tla P a tr ia r c h a da 1» E3 XÍM <
v i « l l l e - c c tb o liq u e du S a in t - SI ego h ie ro g ly p h iq u e d#--5 q u a tre - c r o lx ou X
S c c le s ia gnoatir.a a p l r i t u a l i a du r i t a a n c le n ot p r l m i t l f de Mernphia - £
K ls r a lm , a tous ceux qui c e s p r e s e n te s l l r o n t : <
L ir.ile re cfc p a íx e t se^osaa e t a a lu t ata non du. CKRIáTOS SOTER
e t au st:Ín du Blv^.n P]U roroe. A m « n« tí

}\’ous fa is o n a s a v o ir a toua quo notr© b ie n c h e r f r c r a Kon»fci&ncur Chriatoph» cc
P . Syn, na 1 2 Novenbre, 19i|9, a a c ra au sous - d iacc.T at, d ia e o n a t, a t a X* <
p r e t r i a e dana l a S a ln te F g li s » v l e i l l e • c a t h o liq u a , «t s a c r a a 1» eplacopat
e t au t i t r o du Gr&nd - H a ítr e do 1» O rd rt du Ta^ple* dana n o tr* S a in te
z*
E ftlis * e t v e n c re b le H.t© p * r T o n s«ign eu r M ichfil B e rtia u x * in t r a Hiaiarura
ao leran ia, e a t par nous rocvrnu tít d esig n e colune Ereque da 1* £ £ l ia « -vleU a «
c a th o liq u e da l r A lexan d ria ( E ò c lú s ia G n o a tlc a S p i r i t u a l i s ) pour l a Ju r is •*
d ic t io n l i b r e des pays d» Aifierlque du tford.
Vous ín p lo ro n s l a D ivln PNFÜ1ÍA HAOÍÒN d© !\ui bi.wir e t } u i • 's l i,t e r ©n cct 83
ô f f i c e a tlô n Sa M istrie o ^ d e , ©t de r t.p t / i^ e su r lu j. s e s Iw il» rea coitme I I
fu t Jü d is pour le s Douze A p o tres,
Au C hicago, I l l i n o i s , au S a in t - S íe g e h ia ro g ly p h iq u e das q u atra - c r o ix
( E c c l t s i a G n patica S p i r i t u a l i s ) du r i t e an cie n e t p r i m i t i r da Hi^rphla -
JU a r a in , 23 J u i l l e t , &vec l o s o l e l l en l e L lo n e t l a lu n a en l a Sco rp io n ,
e t 1» *>n du Grand - 5&1 gnuur 1© jo ll - n eu f • c en t • a o lx a n ta d ix - a ep t.

Certificado de Consagração como Bispo da Igreja Católica (Ritos da


Igreja Católica Romana Antiga). Também mostra William Schnoebelen
tornando-se Mestre do Templo. Naquele tempo, seu nome legal era
Christopher P. Syn. (Veja a segunda ilustração do Capítulo 4.)
Por fim, meu relacionamento com Aquarius ficou um tanto
abalado, quando determinou que eu não deveria deixar Sharon
tornar-se uma discípula sua. Aquarius era bissexual, se não total­
mente homossexual. Envolvia-se mais com homens do que com
mulheres, e parecia mostrar-se um tanto preocupado quanto a
Sharon, recusando-se a realizar qualquer cerimônia em que ela es­
tivesse presente.
Sharon vinha desenvolvendo seu próprio e complexo sistema
de arquitetura mágica, e evidentemente Aquarius havia ficado com
inveja dela. Mas o que o deixara furioso era não conseguir manipulá-
la. Ele tentou, certa noite, entrar no “universo” mágico dela. Sharon
achou que ele estava ficando um tanto pomposo, e precisava apren­
der uma lição quanto a ter respeito diante dos segredos da Deusa.
Ela não se sentia ameaçada por ele, absolutamente, mas sabia que
as informações que possuía seriam desastrosas nas mãos dele. En­
traram em conflito quando ela defendeu o seu território da invasão
dele. Sharon decidiu ser misericordiosa e dar-lhe apenas uma ad­
vertência. Naquela mesma semana, viemos a saber que ele tivera
de se hospitalizar, naquela noite, por causa de um ataque cardíaco.
Foi uma das poucas vezes em que Sharon, em toda a sua vida, fez
uso de seus poderes de magia.
Algumas semanas depois, quando eu estava cursando aulas de
Aquarius sobre Arqueometria Indutiva (uma forma mágica e ma-
çônica da construção universal), recebi uma carta dele informan­
do-me que eu havia sido excomungado do Mosteiro dos Sete Raios
pela heresia de “Ginecolatria” (adoração de mulheres?).
Sinceramente, senti-me feliz por ficar fora do seu alcance! Toda
vez que eu passava um fim de semana com ele, sentia-me como se
tivesse nadado num vaso sanitário.
As incongruências que havia em m inha vida começavam
a me incomodar! Ali estava eu, celebrando a missa (agora como
bispo) ao Deus cristão e, ao mesmo tempo, adorando em altares
pagãos porque, ao que se supunha, Jesus também tinha adora­
do neles.
Havia me tornado sacerdote de Lúcifer numa cerimônia que
escarnecia do papado e da moral cristã; contudo quem me iniciara
como sacerdote luciferiano era um devoto arcebispo católico que
diariamente rezava rosários em seu gabinete e ia à missa todos os
domingos numa catedral!

BeslA
Mas seria a sua hipocrisia menor do que a do padre da univer­
sidade onde eu havia estudado, que professava santidade mas bus­

dA
cava meios de seduzir estudantes e distorcia os ensinos morais do
cristianismo para adequá-los às necessidades do momento? Aquarius

G nlrA iiH A s
era exatamente o oposto dele. Embora secretamente piedoso, era
publicamente um advogado de Lúcifer!
Para mim, Lúcifer era a chave para todo o problema. Cresci

N as
acreditando que ele era mau, mas, praticamente, todo o sistema de
crenças que eu passei a conhecer desde meus tempos do ensino
médio dizia que, de um modo ou de outro, ele era tão importante,
ou mais até, para a minha salvação, do que Jesus!
Eu tinha que descobrir qual era a minha real posição com
respeito a Jesus e a Lúcifer. Havia em mim um senso bem forte
de que eu queria estar com Jesus. Será que Jesus aprovava Lúcifer,
ou não? Será que Lúcifer era seu pai, ou um irmão mais velho
(como me ensinaram diversas vezes)? Ou será que ele é seu
eterno inimigo?
Se eu tivesse tido condições de acreditar na Bíblia, estaria muito
bem. Mas, àquela altura, eu achava que a Bíblia era menos confiável
do que O Livro da Lei, de Crowley!
Eu nao sabia que o Senhor Deus tinha todo o poder do
universo, e que Satanás já tinha sido vencido. Eu não sabia que
poderia ser totalmente liberto pelo sangue de Cristo. Assim,
tomei duas atitudes.
Em primeiro lugar, lancei-me totalmente no meu sacerdócio.
Isso me deu a ilusão de santidade. Comecei a celebrar a missa
diariamente, sendo bastante zeloso com meu encargo divino. Co­
mecei a sentir-me melhor com toda essa “santidade”. Muita coisa
começou a acontecer em minha vida na Igreja Católica Antiga, o
que me foi bastante positivo. Fui designado chanceler da arquidiocese
e consegui, também, uma capela num bairro elegante de Milwaukee.
Era num convento de frades franciscanos, chamado Nossa Senhora
do Perpétuo Socorro, dirigido pelo padre Daniel, O. F. M. (Daniel
nao é o seu verdadeiro nome).1’ Ele tinha dois irmãos leigos e dirigia
um lar para homens retardados. Começamos a ter a missa dominical
lá; às terças-feiras à noite, tínhamos novena; e nas noites de sextas-
feiras, a Bênção do Sagrado Sacramento.
Tínhamos atraído um grupo relativamente grande de fiéis das
vizinhanças, chegando a 25 ou 30 pessoas, em sua maioria católi­
cos confusos ou desiludidos, que gostavam do estilo antigo (ante­
rior ao Concilio Vaticano II). Poder ministrar a tais pessoas era
uma fonte de grande satisfação para mim. Eu estava fazendo o que
sempre tinha sonhado fazer desde minha infância!
Achando estar tendo grande desenvolvimento espiritual,
levei minhas preocupações a Deus, pedindo-lhe que me desse
um sinal quanto ao modo como deveria proceder com respeito
a Jesus e a Lúcifer. Ainda mantínhamos nossos “covens” de fei­
ticeiros e dávamos aulas em nossos cursos de magia thelêmica;
mas eu realmente queria saber qual era a vontade do Senhor
para mim. Então me pus de joelhos e orei para receber a respos­
ta certa.
Não sei o que eu esperava receber: se um raio de luz do céu, ou
se uma voz em meus ouvidos, ou a visita de um mensageiro angelical.
Nada disso aconteceu. O que de fato recebi foi pelo correio, no dia
seguinte. Meu nome estava em muitas listas de correspondência,
por causa da minha participação em numerosos grupos do ocultis­
mo. Naquele dia, o carteiro me trouxe uma revista num envelope
marrom. Esse envelope iria levar-me a direções ainda mais profun­
das das trevas.
Noí AS

1 Supõe-se que os Ritos de Mênfis-Mitzraim, da Maçonaria, tenham sido


restaurados pelo conde de Saint Germain no século 18, na Europa (ten­
do Saint Germain, supostamente, se mantido vivo desde o antigo Egito).
Essa corrente de magia egípcia emigrou para as colônias francesas no
Novo Mundo, onde sincretizou-se com crenças africanas e o catolicismo
francês, produzindo o vodu. O vodu é uma das formas de feitiçaria

B e s l A
mais perigosas e perversas, envolvendo endemoninhamento da pessoa,
alcoolismo, necromancia e bestialidade. Por trás da fachada de algo

cIa
aparentemente primitivo, esconde-se, na verdade, um terrível e sofisti­

Ê B l r A í i H i s
cado sistema de magia que implica o ingresso em outros universos e faz
com que a pessoa se renda à possessão satânica da pior espécie.
Embora originalmente praticado apenas por negros e hispânicos, hoje

N as
em dia muita gente está se envolvendo com ele. Fique longe de qualquer
coisa que tenha a ver com vodu! É a forma mais poderosa de magia negra
e, provavelmente, a mais ousada. Somente Jesus pode libertá-lo dela, se
você recebê-lo em seu coração e fizer dele seu Senhor. 87
2 Shakti é um termo hindu para uma das deusas consortes do deus Shiva.
Usa-se também para descrever suas sacerdotisas, que atuam como prosti­
tutas no templo. Este termo significa ainda um ser totalmente demonía­
co, do tipo súcubo, essencialmente uma personificação do órgão sexual
feminino e invocado para se fazer sexo astral/demoníaco.
3 A crença em Atlântida é uma doutrina comum do ocultismo. Supõe-se
ter sido um continente que existiu em alguma parte do que é hoje o
Oceano Atlântico, com elevado grau de civilização e tecnologia, tanto do
modo convencional quanto relativamente a magia. Julga-se ter sido
destruída por um cataclismo (um dilúvio ou terremoto) milhares de anos
antes de Cristo, por motivos misteriosos — possivelmente por causa da
sua maldade e ou seu envolvimento com coisas ocultas tão perigosas que
nem se poderia imaginar. E mais um exemplo de um mito pagão que
reflete a verdade do dilúvio de Noé. Muitos dos mestres da Nova Era e
dos espíritos guias de hoje dizem ter vindo da Atlântida, e grande parte
dos ocultistas acredita ter tido pelo menos uma ou duas encarnações
naquele continente — evidentemente!
Para abordar de modo adequado o tema dos Cavaleiros Templários e a
Maçonaria, seria necessário um livro inteiro. Veja meu livro Maçonaria,
do Outro Lado da Luz [Editora Luz e Vida], especialmente o capítulo 15.
Embora haja muita controvérsia sobre sua história, os Templários foram
adotados, de um modo correto ou não, como símbolo tanto da Maçona­
ria como do culto a Lúcifer — sendo grande parte desse culto orientado
para o homossexualismo e a blasfêmia. Isso porque os Templários foram
acusados pelo rei da França, Filipe o Belo, e pelo papa (talvez injusta­
mente) de pisarem crucifixos, de sodomia, de pederastia e de adorarem
um ídolo chamado Baphomet. Desde 1700, os Templários têm servido
de pretexto para os satanistas, os feiticeiros e (num grau menor) os maçons
desenvolverem o seu simbolismo ritual. Todo tipo de rituais de blasfêmia
tem sido atribuído a eles, e sua reputação de “ocultistas” vem sendo, de
todo modo, ampliada pelos séculos. Muitas sociedades, tanto do culto
luciferiano como da Maçonaria, declaram descender dos Templários e
seguir os “rituais secretos” deles. Tais declarações são altamente suspeitas.
“Completório” ou “Completas” é uma das oito partes devocionais do
Breviário Romano, geralmente cantado ou recitado às 9 horas da noite.
O clero católico e anglicano normalmente eram solicitados a recitar to­
das as partes devocionais do Breviário: Matinal, Louvores, Primeiro, Ter­
ço, Sexto, Nono, Vesperal e Completas.
O.F.M., que significa Ordem dos Frades Menores, ou Ordem dos Pe­
quenos Irmãos, é a ordem franciscana original.
0 Qu e a N o i t e Te m
pa ra BeveUr

O satanismo não deve ser considerado com o sim­


plesm ente mais uma religião; deve ser considerado,
sim, com o uma não-religião.
— Michael Aquino

a história do satanismo moderno, é interessante observar que a


primeira e mais séria divisão que houve na Igreja de Satanás foi
com respeito à questão de haver ou não um ser real como Satanás,
que de algum modo devesse ser adorado; ou se se tratava apenas de
um símbolo disponível.
Em decorrência dessa divisão, em 1975, foi fundado o Templo
de Set, do Dr. Michael Aquino, que não é menos inteligente do que
o seu ex-colega precursor LaVey. Exibindo uma mancha negra de
cabelos no centro da testa que seria invejada por personagens de
horror cômico do cinema, e sobrancelhas satânicas como as do “Dr.
Spock” (características que ele jura serem naturais), Aquino parece
ser realmente um feiticeiro. Sua mulher, Lilith Sinclair, é uma bela
morena, muito magra e de rosto muito pálido, que usa vestes pretas
de cetim, parecendo-se com a “Mortícia” da “Família Addams”.
Embora o casal possa parecer divertido, eles são tudo!, m enos
isso! Diferentemente de LaVey, mais excêntrico e gênio autodidata,
Aquino tem doutorado em Ciência Política e é tenente-coronel da
Inteligência [serviço secreto, ou de segurança] do exército americano,
contando, assim, com elevado grau d e segurança (que pensamento
confortador!). Diz-se que é perito em guerra psicológica e em guerra
psicotrônica (o que no exército americano é chamado de “Psyop”).
Nos anos de consolidação da Igreja de Satanás, Aquino era o
braço direito de LaVey, e Lilith Sinclair era uma proeminente líder
de uma das maiores “cavernas”(como são chamados os grupos des­
sa Igreja) na costa leste americana. Aquino chegou até mesmo a
escrever o prefácio para o livro de LaVey Satanic Rituais [Rituais
Satânicos]. Não sabemos ao certo quanto do conteúdo dos ensinos
da Igreja de Satanás foi influenciado por Aquino, mas parece ter
sido considerável a sua influência.
Os motivos pelos quais eles romperam com a Igreja de Satanás
são controvertidos. Aparentemente, uma forte razão pode ter sido
o fato de que Aquino achou que LaVey não estava levando o
satanismo tão a sério como deveria. Aquino discordou do ateísmo
pragmático de LaVey e também da sua festiva forma de se exibir
em público. Deve ter achado que LaVey estava “no negócio” ape­
nas para ganhar dinheiro — o que descaradamente LaVey acabou
admitindo. Por incrível que pareça, Aquino sentiu que o certo se­
ria uma abordagem mais “altruísta” (desculpem-nos o termo).
Em vez de criar um satanismo prêt-à-porter, para uso imedia­
to, ao qual qualquer um poderia filiar-se, bastando pagar uma taxa
de inscrição, Aquino vislumbrou uma elite, quase paramilitar de
intelectuais que realmente acreditassem no “lado das trevas” e que
ali não estariam somente em troca de algumas emoções baratas e
fora de série ou para ganhar dinheiro fácil.
Em seus escritos, Aquino deu a entender que a tocha havia
sido passada de LaVey para ele, um homem mais sério, mais inteli­
gente e mais dedicado. Estava implícito que LaVey havia sujado o
ninho do inferno com um materialismo crasso e humor de baixo
nível. Aquino vinha para ser o novo messias das trevas, após o “João
Batista” LaVey. Este teria que diminuir, para que Aquino e seu
“novo” deus, Set, pudessem crescer. LaVey manteve-se calado so­
bre essa cisão, e cada vez mais isolado nestes últimos anos.

O T em plo de Sei

Desde seu início, em 1975, o Templo de Set tem refletido os dese­


jos do seu fundador. Tem sido mais elitista e com menor mentali­
dade de publicidade do que a Igreja de Satanás. Assim, sua
membresia nao tem passado de algumas centenas de pessoas, ten­
do talvez alcançado o máximo de mil membros,1 ao passo que a
Igreja de LaVey tinha milhares de membros, muitos dos quais pes­
soas simples que enviaram dinheiro para se filiarem à organização
e receberam seu cartão de membro.
Aquino preferiu deixar de lado o nome de “Satanás”, que mexe
com as pessoas. Para ele, essa palavra tinha adquirido uma conotação
demasiadamente negativa. Por isso, sua divindade é chamada “Set”.
Os membros do Templo de Set chamam-se a si mesmos “setianos”,
e não “satanistas”. Aquino considera Set como sendo uma forma
mais antiga e mais pura do arquétipo ou imagem de Satanás.
Set era um deus egípcio (cerca de 3400 a.C.), considerado
um deus do mal por faraós posteriores, que chegaram a alterar
seus templos e monumentos visando a erradicar sua memória e
seu culto .2 Estava ligado aos cultos sumerianos e à estrela Sirius.
Seu símbolo é o pentagrama invertido, que os setianos usam com
muito orgulho .3
Pode-se falar muita coisa sobre uma Igreja simplesmente ana­
lisando o seu deus, e Set não é exceção. E o equivalente egípcio
de Caim, que os ocultistas acreditam não ter sido filho de Adão
com Eva, mas com uma hipotética mulher, anterior a Eva, cha­
mada Lílite .4
Segundo alguns comentários rabínicos (não conforme o Anti­
go Testamento), Adão teve uma mulher que havia sido feita, como
ele, do barro. Era Lílite. Ela, no entanto, não era a mulher mansa,
submissa e humilde ajudadora de que Adão necessitava. Ela não se
submetia, diz essa história, à autoridade dele, fosse no ato conjugal
ou em qualquer outra coisa. Assim, Adão foi à presença de Deus e
queixou-se, na verdade pedindo-lhe o divórcio.
As lendas rabínicas dizem que Deus ficou do lado de Adão e
expulsou Lílite do Jardim do Éden, ocorrendo assim o primeiro
divórcio. Deus fez então Eva a partir da costela de Adão, para que
desse modo ela fosse mais dócil para com ele. Todavia, como ocor­
re em qualquer divórcio, restou o problema do que fazer com os
filhos. Lílite estava grávida de um filho de Adão ao ser expulsa do
Éden. Supostamente ela estava com tanto ódio que, ao nascer a
criança, despedaçou-lhe a cabeça, jogando-a num rochedo às mar­
gens do rio Eufrates.
Dependendo de qual versão dessa lenda se queira adotar, todos
os demônios do mundo provieram da caveira que restou daquela
criança morta, e esta seria a origem de todos os demônios; ou então
foi Set quem proveio daquela caveira. De qualquer modo, Lílite é
assim considerada a mãe de todo mal e de todas as abominações.
Por causa desse terrível ato, os judeus mais supersticiosos de
todos os tempos têm acreditado que Lílite é a causadora da chama­
da “morte do berço” e do infanticídio. De fato, em alguns lares
judeus, até o dia de hoje, coloca-se um talismã sobre o berço, invo­
cando a proteção de três anjos sobre a criança: Sanvi, Sansanvi e
Samengalef. Estes anjos são tidos como arquiinimigos de Lílite.
Pena que não sejam citados na Bíblia!
Lembre-se de que a grande sacerdotisa do Templo de Set, a
esposa de Aquino, mudou o nome, para “Lilith” [Lílite].- Isto mos­
tra a reverência do casal para com essa odiosa divindade. Os egíp­
cios da Antiguidade acreditavam que Set era o deus responsável
por todo o mal, e sua “mãe”, Lílite, a feiticeira da noite e “padroei­
ra” do aborto (uma prática tradicional da bruxaria). No antigo Egito,
Set originalmente era adorado com rituais obscenos e homossexuais,
antes de acabarem com o seu culto.
Aquino, não obstante, ensina que a Igreja Cristã fez de Satanás
“o responsável”para justificar o erro que foi a expulsão do Jardim
do Éden, e a separação do homem do mundo carnal e do restante
do Universo. Set (que seria a verdadeira identidade de Satanás)
representaria, na verdade, esse sentimento de alienação e solidão
em relação ao resto do cosmo.6
A escolha de Set como principal figura sagrada do templo de
Aquino é bastante sintomática, pois o culto a Set, como agora res­
taurado, gira em torno do livro LiberA l velL egis [O Livro da Lei],
anteriormente mencionado. Este livro foi “revelado” em 1904 a
Aleister Crowley, e supostamente “psicografado” pela primeira es­
posa de Crowley, Rose Kelly, de um ser supostamente super-hu-
mano, extraterrestre, de nome Aiwass, que seria o próprio Set ou
um seu precursor.

“ To Í I l e g A T i i e r i o n ”

Para que uma parte do que se segue possa fazer sentido, temos que
fazer nova pausa no nosso assunto, para explicar melhor o que disse­
mos até agora acerca da posição de Aleister Crowley em tudo isso.
Edward Alexander Crowley nasceu na Inglaterra em 1875.
Seu pai era um próspero fabricante de cerveja que, um dia, teve
um encontro com Cristo e tornou-se uma nova criatura, passando
a fazer parte da membresia de uma denominação austera, a dos
Irmãos de Plymouth. Em decorrência de sua conversão, vendeu o
seu pecaminoso negócio de cervejas, aplicando os proventos no
sustento do seu ministério. A mãe de Edward era também uma
mulher muito piedosa e austera, mas o tanto que ela tinha em fé,
infelizmente, compensou com sua total inabilidade como mãe.
Papai Crowley viajava pelo interior do país como medíocre
pregador de rua, enquanto a mãe ficava com a responsabilidade de
criar o pequeno Edward, que cresceu e acabou tornando-se um
pesadelo chamado “o filho do pregador”.
Ele era, sem dúvida, um menino brilhante e muito precoce,
mas, como acontece com muitas crianças, cheio de demônios
(Pv 22.15). Certa vez, quando tinha seis anos, sua mãe lhe disse,
num ímpeto de raiva, que ele era tão maligno que só podia ser a
“Grande Besta” do livro de Apocalipse. Infelizmente, o pequeno
Crowley tomou aquilo como um reconhecimento de mérito. Re­
belou-se violentamente contra toda forma de religião e posterior­
mente, quando adulto, batizou um sapo com o nome de “Jesus
Cristo” e crucificou o infeliz batráquio de cabeça para baixo.
Ao concluir seu curso universitário, Edward ligou-se à socie­
dade ocultista e maçônica chamada Antiga e Hermética Ordem
do Dourado Alvorecer. Foi nessa época que ele começou a assumir
o modo de se vestir e os maneirismos de um latifundiário escocês
e mudou o seu nome para “Aleister”, que soava melhor entre os
escoceses. E achou muito bom que o seu nome Aleister Crowley
resultasse no número 666 , na numerologia, fosse em língua
hebraica, inglesa ou grega.
Em pouco tempo, Crowley sobressaiu-se totalmente em relação
aos que eram da sua confraria. Acabaram expulsando-o de lá quan­
do quis assumir a liderança do grupo. De muitos modos, era o que
se poderia chamar de um homem da Renascença: um sofrível poe­
ta, extraordinário alpinista e grande caçador de feras, além de um
jogador de xadrez que disputava ao mesmo tempo oito partidas
com os olhos vendados. Era ainda um disciplinado praticante de
ioga e meditação transcendental. Também tentou escalar o segun­
do monte mais alto do mundo, o K-2, e por pouco não foi acusado
de haver causado a morte da maior parte da expedição.
Crowley era dotado de uma personalidade sarcástica e sagaz, e
era viciado em cocaína e heroína. Era um homem extremamente
fanático e anti-semita. Mas, acima de tudo, tornou-se um dos
ocultistas que mais se destacaram no século 19 e, certamente, o
mais influente satanista de sua época. Um proeminente ocultista
descreveu Crowley como “a fina flor (...) de todo o corpo do ocul­
tismo no Ocidente e sua literatura” .8 Tudo indica que ele era total­
mente endemoninhado, da cabeça aos pés!
Crowley acreditava ter feito o que bem poucos ocultistas ti­
nham feito — ter atravessado o “Grande Abismo”, um “buraco
negro” espiritual existente entre o 7a e o 8a graus da magia. Ao
atingir esse ponto, tornou-se um M agister Templi (Mestre do Tem­
plo), assumindo o principal título de sua carreira na magia — To
M ega Therion — que em Grego significa “A Grande Besta”.

U m N o vo É o n ?

Crowley achava que o evento mais importante da sua vida tinha


sido o contato, já mencionado, que ele tivera com Aiwass, um ser
dotado de “inteligência super-humana”. Isso ocorreu em 1904,
quando ele visitava o Museu do Cairo com a primeira das muitas
mulheres que teve, Rose, durante a lua-de-mel. Ela foi tomada por
uma força sobrenatural, levando Crowley a seguir um corredor até
determinado objeto em exposição. Era uma esteia egípcia, uma
laje, mais ou menos quadrada, entalhada tal como uma das tábuas
dos Dez Mandamentos, que exibia uma arte egípcia com hieróglifos.
Essa esteia pertencera a um sacerdote egípcio chamado
Ankh-af-na-Khonsu, e o número da peça, na exposição, era 666 .
Para alguém tão versado em magia, como era Aleister, isso só pode­
ria ser um presságio de imensas proporções, uma vez que ele tinha
feito desse número o tema cabalístico de sua carreira. Dias depois,
no início de abril, sua esposa “incorporou”9 aquela entidade, Aiwass.
Por três dias, esse espírito ditou, por meio dela, todo o texto do
Livro da Lei [Liber Al v el Legis].
Crowley chegou a acreditar que era a reencarnação de
Ankh-af-na-Khonsu, e que aquele livro não muito extenso que ele
havia recebido era a “Bíblia” para um novo éon da história da hu­
manidade. Julgava que o reino de Jesus (a Era de Osíris, o deus
morto e ressuscitado) tinha terminado e que um novo deus, o “Fi­
lho Coroado e Vencedor”, havia assumido o trono do céu. Esse
novo deus manifestava-se de duas formas: Heru-Par-Kraat, uma
entidade benigna que curava enfermidades, e Ra-FIoor-Khuit, um
deus da guerra e da morte, com cabeça de falcão. Eram as duas
divindades gêmeas egípcias, Hórus e Set.
Essa experiência foi o que basicamente deu as linhas para o
resto da vida de Crowley. Ele quis então fundar uma religião, à
qual chamou de Thelema (segundo a palavra grega que significa
“vontade”) ou crowleyanismo, e escreveu um grande número de
livros de poesia, de rituais e de ensino de magia. A regra básica da
sua religião, que consta no seu livro LiberAl, é: “Fazer o que queres
deve ser toda a lei; o amor é a lei, o amor submisso à vontade.”
Achava que a era de Jesus fora governada pelo amor (agape,
em Grego), mas que na Nova Era de Hórus e Set esse amor seria
subordinado à vontade de ferro (thelem a) do mestre da magia.
Diz-se que Crowley manifestou certa simpatia pelo surgimento
e ascensão de Hitler, e alguns dos seus discípulos chegaram a decla­
rar que Hitler era o resultado dos esforços que Crowley fizera, por
meio da magia, para que aparecesse o “senhor da guerra dos anos
quarenta” (uma frase profética contida no Liber Al).10 Se Hitler
conhecia ou não Crowley, não existe evidência histórica alguma a
respeito, embora ambos tivessem em comum o ódio pelos judeus e
fascinação pela magia negra.
Crowley teve muitos casos com mulheres e com alguns ho­
mens também (era um bissexual assumido), e arruinou a vida de
quase todos eles. Sua primeira esposa, Rose, acabou internada
como alcoólatra.
Além de racista e an ti-sem ita, C row ley era tam bém
discriminatório contra as mulheres. Ensinava que as melhores
mulheres eram as prostitutas, e que a maior experiência religiosa
que uma mulher poderia ambicionar era ter sexo com “a Besta”.
Assim, costumava zombar do movimento Wicca, de seu amigo e
colega Gerald Gardner, quando no início 11 recusava-se a tornar-se
um bruxo, dizendo que não queria submeter-se às ordens de um
bando de mulheres.
Crowley quis estabelecer uma abadia dedicada à sua religião
na ilha da Sicília, na Itália, mas foi expulso daquele país pelo regime
de Mussolini por causa do incrível grau de imoralidade, suspeita
de morte e rumores de prática de sacrifício humano. Passou seus
últimos anos na condição de viciado em heroína, morando ao lado
de um cemitério, na Inglaterra. Quando morreu, em 1947, até
mesmo seu enterro escandalizou a imprensa britânica. Seu mais
famoso poema, “Hino ao Deus Pa”, foi lido ao ser enterrado, e os
jornais disseram ter sido uma missa negra.
Ironicamente, Crowley, assim como Aquino uma geração de­
pois, não se considerava satanista. Para ele, os satanistas eram heré­
ticos. Ele era thelemita e luciferiano, adorador da “imaculada” luz
de Lúcifer. Contudo, alegrava-se quando os jornais o chamavam
de “o homem mais maligno do mundo” e “a Grande Besta”.

UmA V i s l o S a I â i i í c a

Michael Aquino parecia aspirar ser tal como Aleister Crowley. En­
quanto LaVey fez uso de alguns conceitos e ensinos de Crowley à
medida que se adequavam aos seus interesses, Aquino levou bem a
sério Crowley e sua “pregação”. Com efeito, ele via sua missão como:
(...) destruir a influência da religião convencional sobre as
atividades humanas (...) não no sentido de que queremos
que todos se convertam ao satanismo como religião institu­
cional, mas de que queremos acabar com todo esse emara­
nhado de medo e superstição que tem-se perpetuado em
todas as crenças formais. O satanismo não deve ser conside­
rado como simplesmente mais uma religião; deve ser consi­
derado, sim, como uma não-religião.12
Logo a questão quanto a Satanás/Set ser ou não uma entidade
real tornou-se uma discussão fervorosa entre os dois mestres da
magia. Como não entrassem num acordo, Aquino buscou orienta­
ção com o próprio Satanás, em 2 1 de junho de 1975. SupÕe-se que
Set se manifestou para Aquino e lhe trouxe uma revelação, que ele
intitulou The Book o fth e Corning Forth by N ight [O Livro do Que
a Noite Tem para Revelar].13 Aquino afirma que um novo tempo
de Set — que teve início em 1904 com o trabalho de Aleister
Crowley — estava próximo de se consumar. Seu livro seria a conti­
nuação de Liber Al e prenunciava a “Era de Set” .14 Desse modo,
Aquino declara ter sido ungido por Set para ser o verdadeiro suces­
sor de Aleister Crowley, ou seja, a “Segunda Besta”, tanto quanto a
Grande Besta profetizada na Bíblia .15
Aquino procurou desassociar-se de algumas das afirmações mais
sórdidas que há na Bíblia Satânica. Isso foi necessário, especial­
mente, no final da década de 1980, quando acusações de abuso
sexual satânico começaram a pipocar por toda parte nos Estados
Unidos. Uma boa política de relações públicas exigia que o Tem­
plo de Set fosse desvinculado dessas coisas. Apesar de todos os pro­
testos, no entanto, é necessário deixar bem claro que o deus e a
“forma de magia” com os quais Aquino se identifica nao exercem
uma influência nada boa! Ainda neste capítulo será demonstrado
que, na verdade, o Templo de Set é uma instituição bem mais peri­
gosa e fatal do que a igreja de LaVey.

U m A I i i v o c a ç ã o a o s D e u s e s dAs T r e v A s

Ao examinarmos a verdadeira ideologia do Templo de Aquino,


convém observar o que ele mesmo considera como suas mais im­
portantes realizações na magia. Um dos ritos a respeito do qual
Aquino se orgulha é bastante sugestivo. Tal como LaVey, ele parece
ter grande fascínio pelo ocultismo nazista. Não se sabe ao certo se
ele se deixou seduzir pelas técnicas nazistas da magia cerimonial de
LaVey, ou se foi LaVey que as obteve de Aquino. O importante é
que esses dois homens demonstram ter uma grande obsessão pelas
práticas de magia da elite de Hitler.
Embora isto não seja amplamente conhecido, Hitler (aparen­
temente católico devoto) concebeu a sua SS combinando os prin­
cípios, exercícios e ensinos espirituais contemporâneos da ordem
dos jesuítas com as práticas de sociedades místicas alemãs, como
a Sociedade Vril e a Thule Gesellschaft. O próprio Hitler era um
iniciado na feitiçaria e desejava substituir o cristianismo pela ado­
ração aos deuses do paganismo germânico .16
Com esse objetivo, Hitler construiu um templo secreto no
castelo de Wewelsburg. Não se sabe o que acontecia naquele tem­
plo; contudo líderes da confraria satânica americana nos disseram
que, além de todo o anti-semitismo de Hitler, havia uma razão
mais terrível pela qual ele construiu os campos do holocausto.
Hitler acreditava estar trabalhando para alcançar o sacrifício hu­
mano de 7.777.777 — o povo escolhido por Deus (sete setes —
uma combinação numérica consagrada à “Mulher de Escarlata”,
consorte da Nova Era). Se ele tivesse conseguido alcançar aquele
número — assim nos disseram — , o judaísmo e o cristianismo
teriam sido destruídos para sempre, e os deuses pagãos estariam
reinando soberanamente.
As “energias” captadas com aquelas mortes seriam canaliza­
das, através de Wewelsburg, como uma espécie de raio laser mági­
co, para abrir “a porta” e desencadear a G ôtterdam m erung, mediante
a convergência especial de linhas de poder, que supostamente se
dirigiam para o lugar daquele castelo.
Assim, o castelo de Wewelsburg era o coração espiritual da
Alemanha nazista! Ali, Himmler e seu quadro de elite da SS reali­
zaram rituais na “Sala da Morte” para invocar a G ôtterdam m erung
— a destruição de Deus e a reentronização dos sangrentos deuses
nórdicos da morte. Felizmente, Deus tinha outros planos, e esse
castelo foi bombardeado, até a sua ruína quase total, pelos aliados,
durante a Segunda Guerra Mundial.
Em outubro de 1984, Aquino viajou para Wewelsburg a fim
de invocar “energias”, tendo supostamente experimentado outra
“epifania” de Satanás nas ruínas do coração espiritual do nazismo!
Na torre norte do castelo, “Walhalla”, ele fez um “trabalho” de
magia e teve uma profunda revelação mística .16
Foi ali que ele concebeu a idéia da autoconsciência humana
e sua separação das demais criaturas. Aquino agora ensina que
Set representa essa alienação fundamental que separa o homem
do restante do Universo. Eis uma definição de pecado bastante
adequada, embora secular! Aquino optou por fazer da personifi­
cação do pecado o seu deus! Não é de admirar que ele ache que
invocar “energias” no baluarte metafísico da ordem nazista seja
um ato profundamente religioso. Não há como não questionar­
mos a moral — para não dizer a sanidade mental — de alguém
que escolhe um lugar como esse para absorver quanto possa de
suas fontes espirituais!

D e i x A r S e i F a I a t p o r Si H l e s m o ?

Para se ter uma compreensão ainda melhor do terreno sobre o


qual Aquino firmou seus pés, talvez seja interessante examinar­
mos com um pouco mais de atenção o livro de seu herói, Aleister
Crowley. Se Aquino acredita ser o sucessor de Crowley, então um
pouco da cosmovisão que ele tem deve evidenciar-se com a leitu­
ra do livro que, supõe-se, foi comunicado por Set por meio de
seu porta-voz, Aiwass!
A esta altura, o leitor poderá não se surpreender com o fato de
que o livro transmitido por Set, Liber Al velL egis, é mais maligno
que a B íblia Satânica de LaVey. Mas há uma significativa diferença
entre os dois. O livro de LaVey não reivindica nada mais do que ser
um simples livro (embora muitos satanistas o considerem como
quase sendo uma “escritura nao sagrada”). Liber Al, no entanto,
proclama conter oráculos de um deus, comunicados por um espí­
rito, que suplantam a Bíblia crista. Assim, presumivelmente, a maio­
ria dos adeptos de Set — e Aquino, com certeza — o considera
uma revelação “divina”.
Bem, mas o que, afinal, o L iber Al ensina em sua “teologia”?
Veja alguns exemplos, selecionados:

No Capítulo 1:

Esses sãotolos que os homens adoram; tanto seus Deuses como


seus homens são tolos ( 1 . 1 1 ).
Agora vós sabereis que o sacerdote escolhido e apóstolo do espa­
ço infinito é o príncipe-sacerdote, a Besta; e na sua mulher, cujo
nome é Mulher de Escarlata, está todo o poder concedido (E14).
O vocábulo Pecado significa Restrição (1.41).

No Capítulo 2:

Observe que os rituais dos velhos tempos são negros.


Que os maus caiam fora; que os bons sejam purgados pelo
profeta (2 .6).
Eu sou a Seypente que deu Conhecimento e Prazer e esplendo­
rosa glória, e que excito os corações humanos com a embria­
guez. Para m e adorar, tomai vinho e estranhas drogas, a respeito
das quais falarei a meu profeta, e fica i embriagados (2 .22 ).
Estou só: não há Deus onde estou (2.23).
Há um perigo maior em mim, pois quem não compreende estes
mistérios sofrerá uma grande perda. Cairá na cova chamada
“Porque” e nela perecerá junto com os cães da Razão (2.27).
Sou im par e vencedor. Não sou um dos escravos que perecem .
Que eles sejam condenados e morram! (2.49).

No Capítulo 3:

Agora compreenda-se, antes de mais nada, que eu sou um


deus de Guerra e Vingança. Vou tratar todos com severida­
de. Escolhei uma ilha! Fortificai-a! Adubai a ilha, por toda
parte, com maquinário de guerra. Com ele, derrotareis as
pessoas e ninguém vos resistirá (3.3-8).
Pisoteai os infiés: ficai sobre eles, ó guerreiros, e vos darei a
carne deles para com er! Sacrificai o gado, ?niúdo e graúdo;
depois, uma criança (3 . 1 1 , 12 ).
Nada de misericórdia; danem-se os que se compadecerem! Matai
e torturai; não tenhais dó; fica i em cim a deles! (3.18).
Para perfumar, misturai farinha com mel e bastante sobras de
vinho tinto; depois, óleo de Abramelin e azeite de oliva; em
seguida, tornai tudo macio e suave com rico sangue fresco. O
melhor sangue é o da lua mensal; depois, o sangue fresco d e uma
criança, ou o que cai das hostes do céu; depois, o dos inimi­
gos; depois, o do sacerdote ou dos adoradores; por fim, o de
algum animal, nao importa qual (3.23-24).
D e s l r o n A d o

Eu sou o Senhor gu erreiro dos Quarentões; os da idade d e Oitenta


agacham -se dian te d e m im e são humilhados. Eu vou levar-vos à
vitória e à alegria: estarei em vossos braços na batalha, e vós
tereis o maior prazer em matar (3.46).
L ú c i f e r

Amaldiçoai-os! Amaldiçoai-os! Com a minha cabeça de Falcão


eu bico os olhos de Jesus enquanto ele está dependurado na cruz. Eu
bato minhas asas na face de Maomé e o torno cego. Com mi­
nhas garras, rasgo a carne dos hindus e dos budistas (...) Que
Maria Imaculada seja atropelada: no amor dela todas as virgens
sejam totalmente menosprezadas por vós! (3.50-55).
ió2
Nao há outra lei além de: “Fazei o que quiserdes” (3.60).1'

Estes ensinos resumem perfeitamente tudo de que os sata­


nistas mais assumidos têm sido acusados de praticar. Drogas, mu­
tilação de animais e sacrifício de crianças são neles glorificados.
Embora Aquino negue que o seu grupo pratique ou ensine tais
coisas, é este o evidente legado de Set que Aquino adotou. Assas­
sinato, tortura, fanatismo e ódio a Deus são emitidos aos berros,
do livro L iber Al.
Ao mexer com essas “energias”, Aquino arrisca-se que isso possa
vir a explodir em sua face. Constantes acusações de possíveis abu­
sos de crianças o têm perseguido desde 1987 na justiça de San
Francisco. Embora nenhuma das acusações tenha prevalecido e
Aquino tenha aberto um processo contra seus acusadores oficiais,
nao têm cessado.18 De um ponto de vista espiritual, seria de admi­
rar que aquele que literalmente se banha no manancial do mal não
fosse tentado pelos seus aspectos mais desprezíveis.
N oI as

1 Office o f Criminal Justice Planning Research Update [Atualização de Pes­


quisa de Planejamento do Gabinete de Justiça Criminal], vol. 1, ns. 6.
inverno de 1989/90 — Occult Crime, a Law Enforcement Primer 'Crime
Místico, um Princípio de Coação Legal], Sacramento, Califórnia, p. 1^.
2 Kenneth Grant. The M agical Revival [O Reavivamento da Magia]. Weiser.
1972, p. 7 1.
3 Kenneth Grant. Aleister Crowley and the Hidden God [Aleister Crowlev e
o Deus Oculto], Weiser, 1973, p. 71.
4 Ibid., p. 155.
I Arthur Lyons. Satan Wants You [Satanás o Quer], Mysterious Press. 1988,
p. 119.
6 O ffice o f Criminal Justice P lanning Research Update, ibid.
7 Ibid.
8 Kenneth Grant. Outside the Circles ofT im e [Por Fora dos Ciclos do Tem­
po], Frederick Muller, 1980, p. 39.
9 Ela funcionou, basicamente, como médium, em transe, com um demô­
nio falando por seu intermédio.
Iü Liber Al vel Legis [O Livro da Lei]. Thelema Pub., (1909) 19~6. 3:46.
II Veja o livro Wicca, de Schnoebelen p. 14-42.
12 Lyons, ibid., p. 126.
13 Ibid., p. 126-127.
14 Ibid.
11 Veja Trevor Ravenscroft, The Spear ofD estiny [O Avanço do Destino].
Bantam, 1973. Também, Hitler: The O ccult Messiah [Hider. o Messias
Oculto], de Gerald Schuster, St. Martins Press, 1981.
16 Michael A. Aquino. The Wewelsburg Working [A Obra de Wewelsburg],
(10/19/84).
17 Citações do Liber Al vel Legis [The Book o f the Law] [O Livro da Lei],
Thelema Publications, (1909), 1976, p. 25-36.
18 Lyons, p. 131.
L i d A i i d o com a C onf t a t í a

Era com o se, naqueles últimos minutos, ele estivesse


recapitulando as lições que este longo aprendizado
em m alignidade humana nos havia ensinado — a
lição da terrível, da desafiante banalidade, p o r p a ­
lavras e pensam entos do mal.
— Hannah Arendt

Procurava obter uma resposta de quem eu pensava ser Deus. No


auge da minha procura, recebi pelo correio um grande envelope de
papel manilha, que aparentemente era uma resposta à minha bus­
ca por um presságio ou sinal. Dentro dele, encontrei um jornal de
um grupo ocultista chamado A Ordem do Carneiro Negro. Era muito
bem diagramado, e isso me despertou a curiosidade. Era um grupo
satanista que crescia rapidamente em número, que considerava
LaVey um vigarista que estava levando Satanás e o satanismo a
adquirirem mau nome.
Referiam -se aos com panheiros de LaVey como sendo
“satanistas bufões” e falavam da necessidade de se adotar um
Satanismo mais sério. A qualidade dos textos e a apresentação
editorial estavam bem acima da maioria dos boletins editados
pelos movimentos do ocultismo. Não havia nem m esm o in corre­
ções na grafita das palavras!
O que chamou minha atenção, mais do que qualquer outra
coisa, foi um artigo cujo autor era: “Orion: Ipsissimus, Sumo Sa­
cerdote e Rei da Estrela da Manhã”. O nível de Ipsissimus (que
significa “O Próprio Eu no Máximo do Seu Ego”) é o nível mais
elevado de toda a magia. É o décimo grau, e significa que a pessoa
literalmente se tornou um deus encarnado.
Para alguém se proclamar um Ipsissimus ou é um insano ou
D e s l r o n A d o

é, de fato, um mestre. O artigo que li era ainda mais interessante


do que a própria declaração do autor. Era muito bem escrito e
abordava a história da guerra entre Deus e o diabo do ponto de
vista de Satanás.
O artigo dava a entender que Lúcifer tinha deixado Deus
L ú c i f e r

vencer por motivos ocultos. Dizia haver um pacto secreto entre


Deus e Lúcifer, pelo qual estariam fingindo ser inimigos, para
dar aos seres criados, que estavam sob a ação deles, a possibilidade
de escolha. Nesse contexto, o inferno não era um lugar de casti­
go, mas um lugar para onde iriam aqueles que eram rebeldes,
ió6 individualistas e artistas.
O céu era para os tranqüilos, do tipo dos que nada fazem —
de personalidade reprimida, que consideram como um grande di­
vertimento coisas tais como um piquenique de igreja ou um
joguinho de tiro ao alvo num parque de diversões. O inferno era
um lugar de grande desafio e agitação, com música rock, sexo sem
parar, drogas e total liberdade de expressão artística.
Todo esse arranjo foi feito porque Deus não queria que seus
cidadãos celestiais se aborrecessem com os rebeldes. Precisava de
um lugar para colocá-los e de um motivo justo para fazer isso. Des­
se modo, o diabo e o inferno foram criados como treinamento de
recrutas para se tornarem deuses.
Algo sacudiu o meu interior. Isso explicava muitas ques­
tões filosóficas, que todos têm, sobre a natureza do mal e do
livre-arbítrio! Fiquei realmente muito impressionado, e, imediata­
mente, escrevi a esse tal de Orion (não é este o seu nome verdadei­
ro), dizendo-lhe exatamente isso.
Será que o que ele dizia era a resposta às minhas orações?
Poderia eu servir tanto a Jesus como a Lúcifer? Então, eu estava
enganado ... e isso era exatam ente a resposta q u e esperava! Aparen­
temente, no que se refere a Satanás, aquilo que você pede é o que
você recebe! Fazia sentido. Eu poderia ser um pastor, para os pios
católicos, levando-os aos portões de pérolas do céu! E aos anár­
quicos feiticeiros de nossos grupos, poderia oferecer um êxtase
intenso no reino de Satanás.
A carta que recebi desse tal Orion em resposta foi um pouco
estranha. Veio junto com um boletim, também escrito por ele, que
era um tanto lúgubre. A capa mostrava o Bode de Mendez à frente
de uma orgia de pessoas nuas, em prazer umas com as outras. No
seu interior, havia artigos sobre a perspectiva de Lúcifer sobre as
coisas, cada um mais intrigante que o outro. Havia também uma
denúncia à magia branca. O jornal declarava ser a máxima fonte
do satanismo de primeira linha.
A carta estava escrita com uma grafia de garranchos, do tipo
infantil, em tinta preta, num papel escarlate de alta qualidade, com
uma exagerada figura de cabeça de bode satânico impressa no seu
cabeçalho. Expressava uma ironia reles, dizendo que tínhamos que
marcar um encontro, uma vez que Orion morava em Wheaton,
Illinois. Era assinada por Orion — Ipsissimus, Sumo Sacerdote e
Rei da Estrela da Manhã.
Minha reação imediata foi observar que a grafia de Orion não
era sua melhor qualidade, e que deveria investir numa máquina de
escrever ou numa secretária. Na verdade, parecia a escrita de alguém
destro usando a mão esquerda! Por outro lado, porém, a filosofia
dele era intrigante. Talvez fosse por ali que eu devesse seguir.
Ele me pediu uma foto, e então enviei-lhe uma fotografia
em que eu usava as vestes de bispo católico, mas portando um
medalhão satânico que mostrava uma enorme espada, que rece­
bera de LaVey. Ele, por sua vez, me enviou uma foto sua que o
mostrava vestido com um manto escarlate com capuz que es­
condia tudo, exceto seu cavanhaque e sua mão esquerda erguida
com o sinal dos chifres,1 a tradicional saudação dos satanistas
por todo o mundo.
Ficou apenas pendente o nosso encontro. Ele sugeriu vir
encontrar-se com o nosso grupo, que estava envolvido “nas tre­
vas”, conforme disse. Assim, certo dia ele veio de carro, e che­
DeslronAdo

gou com três horas de atraso. De certo modo, não correspondeu


às nossas expectativas!

R C o n v e rs A com um Ip s is s im u s
I , ú c i í e i'

Era um sujeito baixinho e magro e vestia-se como um ciclista, com


um chapéu de feltro de cor marrom, um tanto desgastado, que
mais se parecia com algo que o Indiana Jones tinha jogado fora.
Com ele, veio seu motorista, um jovem robusto, de poucas pala­
vras, portando uma camiseta de grife, acompanhado de uma jo­
vem loura, que quase nada falou o tempo todo. Sua principal
função parecia ser a de ficar constantemente com os olhos fixos
em Orion, em venerável adoração.
Orion era até simpático, em sua maneira maliciosa de ser,
embora sua fisionomia e seu comportamento fossem do tipo que
tudo investiga em detalhes. Obviamente, não havia freqüentado
nenhuma escola complementar, nem algumas elementares. Seria
realmente ele quem teria produzido todos aqueles pensamentos
tão profundos?
Conosco estavam quatro feiticeiros de nossos “covens” que ha­
viam se envolvido intensamente com Crowley e não receavam es­
tar diante de um “satanista de verdade”. Sentamo-nos em círculo
por algum tempo, conversando, mas então, pouco a pouco, nossos
feiticeiros foram ficando mais à vontade. Tal como Aquarius, meu
último “mentor”, Orion gostava de consumir bebidas alcoólicas
em demasia, mas o veneno líquido de sua preferência era a cerveja.
Quanto mais bebia, mais eloqüente ficava, ao falar de sua partici­
pação na confraria satânica.
Disse ter perdido os pais em sua primeira infância, tendo sido
criado por um padrasto envolvido com a maçonaria. Quando ain­
da bem jovem, fugiu de casa e foi para a Califórnia, capital satânica
dos Estados Unidos. Ali procurou a Igreja de Satanás, mas achou-
a fraca demais. Envolveu-se então com ciclistas satanistas e, duran­
te algum tempo, percorreu toda a costa da Califórnia com o grupo
satânico Hells Angels [Anjos do Inferno] dilacerando gatos e mu­
lheres e promovendo o mal. Ele me mostrou seus braços, cheios de
tatuagens de demônios, cabeças e caveiras.
Então me disse, num tom de voz bem baixo, da existência de
um centro de controle, um Pentágono ou Comando de Defesa do
poderio satânico, nas proximidades de Los Angeles. Seu chefe su­
premo, um sujeito que adotara o codinome de “Adrian”, o tinha
tomado sob seus cuidados. Esse homem era tão rico e poderoso
que ninguém do sul da Califórnia e Hollywood ousaria interpor-se
em seu caminho.
Orion me contou que o ator e diretor de cinema Roman
Polanski ousara fazer um filme (O B ebê de Rosemary) que continha
uma simples alusão à existência de Adrian, e veja só o que havia
acontecido à sua família (como se sabe, a esposa de Polanski, a atriz
Sharon Tate, e vários amigos seus foram massacrados por uma qua­
drilha satânica, de Charles Manson).
Com um olhar tenebroso, Orion me disse que conhecia
Manson pessoalmente e que, por algum tempo, pertencera ao
grupo que havia iniciado Manson na magia, a “Igreja do Pro­
cesso do Juízo Final”.
Adrian, ao que parece, vira em Orion o cumprimento de uma
profecia satânica e, com rituais de magia, adotou-o como filho.
Isso foi feito na encosta de uma colina, num ambiente cercado de
relâmpagos, ao mesmo tempo em que três moças virgens eram
crucificadas de cabeça para baixo, para aumentar o poder.
HIERARQUIA DO SATANISMO

Ele me olhou atentamente, para ver se eu ficara chocado com


essa informação (eu fiquei, sim, mas não deixei transparecer). E
parece ter ficado satisfeito por eu não ter olhado para ele horroriza­
do. Explicou-me que nos graus mais elevados de magia, para se ter
poder, o derramamento de sangue é essencial. Nos graus inferiores,
um gato ou um ham ster, por exemplo, são suficientes, mas a Alta
Magia exige que sangue humano seja derramado sobre o chão.
— Bom até a última gota! — ele riu com sarcasmo. — Foi por
isso que Lúcifer teve que matar Jesus, para libertar a humanidade
— Orion me informou com conhecimento.
Por causa desse ato, disse-me ele, as pessoas passaram a ser

C o n f r A r Í A
livres para irem para o céu ou para o inferno, antes disso éramos
todos forçados a ir para o céu, um lugar terrivelmente enfado­
nho!

a
Informou-me, ainda, que o cristianismo fora criado por Sata­

com
nás como uma contrapartida de simbiose com o satanismo.
— Os cristãos são as ovelhas, e nós somos os lobos — disse.

L i d A n d o
— Para os cristãos, o ato mais sagrado que podem realizar é morrer
pela fé, como mártires. Vão, então, diretamente para o céu. Para o
satanista, o ato mais sagrado que se pode fazer é assassinar um
cristão; de preferência, jovem e virgem!
Assegurou-me que isso invalidava toda “conversa mole” escri­
ta sobre o diabo.
Se o diabo realmente quisesse almas, argumentou, por que
faria com que seus seguidores matassem virgens e bebês, quando
esses são os únicos que certamente vão diretamente para o céu? Se
a intenção do diabo fosse roubar almas de Deus, não seria mais
lógico matar pecadores, velhos, não arrependidos?
Tive de admitir que sim. Era estranho, mas, à medida que eu
ouvia Orion falando, observava sua personalidade se desvanecen­
do, e algo escuro, bruto, complexo e incrivelmente poderoso ia
surgindo nele. Era muito mais do que o simples efeito da cerveja.
Ele começava a falar com uma inteligência sobrenatural.
Orion, sem dúvida, estava possesso, e eu quis, então, en­
tender o ser que estava falando por meio dele! Senti mais poder
emanando dele do que jamais poderia imaginar. O que estava
dentro de Orion sabia que eu queria obter conhecimento e
sabedoria, mais do que qualquer outra coisa, e isso me atraía
pelo valor que representava.
Estava, porém, chocado com a possibilidade de ter um dia
que lidar com sacrifício humano. Isso ia contra tudo o que eu sem­
pre acreditara em minha vida. Mas muito do que agora eu acre­
ditava era contrário ao que tinha acreditado antes! Lembrava-me
ainda de que fora derramado sangue na minha iniciação na feiti­
çaria: meu próprio sangue! Sabia também que, segundo os costu­
mes da Wicca, havia ocasiões especiais em que os próprios bruxos
se ofereciam como sacrifícios voluntários para uma causa maior.
Isso provavelmente acontecera no tempo da Armada Espanhola,
quando a Inglaterra se encontrava em perigo de ser invadida,
assim como durante a batalha da Bretanha, na Segunda Guerra
Mundial.
As afirmações de Orion davam um estranho sentido ao uni­
verso distorcido de estilo Crowley que eu havia construído para
mim mesmo. Orion dizia que cristãos e satanistas eram feitos uns
para os outros, tal como ovelhas e lobos. Que muitos cristãos não
teriam outro propósito a não ser oferecer a sua vida num altar a
Satanás! Se não fosse assim, como é que o cristianismo poderia ter
permanecido por tanto tempo? E me perguntou:
— É mau o ato de o lobo matar o carneiro, ao fazer exatamen­
te o que ele foi criado para fazer?
Tive que concordar com ele que não. Disse-me, então, que a
cada três meses o corpo de uma jovem — geralmente, uma menina
cristã — aparecia no leito de um rio próximo de sua casa, morta
por meios visivelmente satânicos. E, no entanto, nenhuma provi­
dência séria era tomada a esse respeito. Ele me disse que as autori­
dades sabiam quem cometia esses crimes, mas não ousavam tocar
nessas pessoas por estarem a par de quão poderosas eram elas. De
fato, muitas das autoridades sao satanistas secretos. E de que outra
forma poderiam chegar à posição de autoridades?
— Encare a realidade, meu irmãozinho — disse-me Orion,
com os olhos brilhando de uma lascívia carnal que tocou muito
além do que seria razoável. — Lúcifer é o Deus deste mundo. Todo
poder e autoridade são dele, para os dar e tomar. Até mesmo o
Nazareno admitiu isso. Se você quiser poder ou dinheiro, tem que
tratar disso com “o Dono” das riquezas e do poder!
Então ele arrotou, enchendo o ar da noite de um cheiro de
cerveja. Era algo bastante ilógico estar falando com aquele ciclis­
ta semi-alfabetizado sobre questões tão profundas, vendo-o argu­
mentar com uma malignidade tão inspirada. Ele me disse que
tinha todo o dinheiro de que necessitava. Adrian o sustentava
com milhares de dólares, depositados numa conta bancária que
tinha em Wheaton.
— Você tem que parar de bancar o bobo com esse lixo da
Wicca e começar a fazer a vontade do verdadeiro Senhor da Luz!
— disse-me, então. — Você precisa tocar na Fonte da Sabedoria
Imaculada, uma sabedoria que não foi atingida pelas almas huma­
nas. Você tem muito potencial para ser desperdiçado com esses
trouxas! Eles estão, de qualquer modo, adorando Satanás, só que
são inocentes demais para perceber isso!
Perguntei-lhe, então, o que esperava que eu fizesse.
Ele riu de mim, já fora de si pela bebida, mas, quando falou,
suas palavras foram muito claras. LTma chama escarlate escura co­
meçou a tremular por trás de seus óculos escuros — ou será que era
apenas o reflexo dos faróis de carros distantes?
— Faça um pacto, irmãozinho. Prometa servi-lo, dando-lhe o
seu corpo, a sua alma e o seu espírito para sempre, e tudo o que
você quiser, terá!
Continuou ainda, dizendo:
— Por sete anos, você será escravo de Satanás. Ele tomará
conta de você, com todo o cuidado. Depois desse tempo, nosso
Mestre o matará e o levará para o inferno, para gozar uma eterni­
dade de êxtase pleno. Se você for realmente um escravo dedicado,
no entanto, talvez ele o deixe viver, para servi-lo por mais sete anos.
Quem sabe? Isso aconteceu comigo.
Senti-me preso a um gélido horror. De algum modo, eu sabia
que ia dar naquilo. Mas, mesmo assim, tive que perguntar-lhe:
— E o que você me diz de Jesus?
Orion sorriu, ou algo sorriu dentro dele.
— Você ainda não percebeu? Ele próprio teve que passar por
isso. Isso acontece com todos para chegarem a Ipsissimus. Lembre-
se do que ele disse: “Não seja a minha vontade, mas seja feita a tua
vontade.” Com quem você acha que ele estava falando?
— Com o Pai — aventurei-me.
— Certo, mas o pai dele é Satanás! O livro deles até mesmo
diz, em 2 Coríntios 4.4, que Satanás é o deus deste mundo. O
próprio Nazareno disse, em João 12.31, que o nosso Mestre é o
príncipe deste mundo. Você não vê?
Vendo-o citar a Bíblia para mim era ainda mais enervante do que
a sua sagacidade sobrenatural. Disse-lhe que iria pensar seriamente no
assunto, e esse estranho diálogo chegou ao fim, naquela noite.
Depois de ter ele saído, com aqueles seus dois acompanhantes
tão diferentes entre si, analisei nosso diálogo com Sharon. Ela não
gostara de Orion. Nem eu, para ser sincero. Ele jamais seria a mi­
nha escolha se tivesse que convidar alguém para lanchar.
Ela observou que, de fato, nosso trabalho na magia não nos
havia proporcionado nenhuma prosperidade material. Eu estava
ainda me desgastando num cansativo emprego que tinha, num
ferro-velho, reciclando peças de motor feitas de alumínio, e ela
trabalhava num hospital, fazendo de tudo para conseguir pagar
nossas contas. Mas a idéia de se fazer um pacto a deixava um tanto
intranqüila. Insisti, porém, em que, se Crowley estava certo, então
Satanás (ou Hórus, ou Lúcifer) seria de fato o verdadeiro Senhor
desta era e deste Universo. Jesus o teve como regente, nos 2.000
anos da Era de Osíris.2 Se esse deus de vingança com cabeça de
falcão é quem governava o Universo, fazia sentido estabelecer com
ele um pacto fundamental.
Tudo dependia de decidir em que acreditaríamos: se na
Bíblia ou no Livro da Lei. A Bíblia tinha sido tão distorcida e
pervertida em minha mente — por causa dos nove anos de inter­
pretação ocultista e à “alta crítica da Bíblia” — que me era relati­
vamente fácil ver como as Escrituras podiam perfeitamente estar
de acordo com a obra de Crowley.

ÍX1 A n i f e s l a - s e o í l n j o d e L u z

Então eu fiz o que sempre fizera quando confrontado com uma


grande decisão espiritual. Fui até o mosteiro e celebrei uma missa
para mim mesmo, a Missa do Espírito Santo. Esta missa é reali­
zada, na tradição católica, com a intenção de dar uma forte
direção espiritual ou força a quem esteja passando por um mo­
mento de necessidade ou de decisão. Eu estava me valendo de
tudo o que podia!
Naquela missa, o padre Daniel, que estava comigo, acen­
deu todas as velas e regulou o órgão para tocar “fortíssimo” na­
quela hora. Ele cantou “Vem, Espírito Santo” valorosamente,
em seu barítono solene, e mais uma vez fui tocado pela singele­
za de sua piedade.
Voltei para casa e peguei meus estudos bíblicos sobre
numerologia. Deparei-me com a passagem de Apocalipse 13, e meus
olhos pousaram no versículo 18, o mais famoso desse livro:

Aqui está a sabedoria. Aquele que tem entendimento calcu­


le o número da besta, pois é número de homem. Ora, esse
número é seiscentos e sessenta e seis.
Comecei a somar os números na Cabala Grega,-' cruzando os
dados com os de outras passagens. De repente, mediante uma per­
cepção que me veio, e que até hoje me deixa intrigado sobre como
foi que aconteceu, “concluí” com uma ofuscante convicção, ao mes­
mo tempo horripilante e tranqüilizadora, que Aleister Crowley era
uma reencarnação de Jesus Cristo!
Eu não tinha tomado droga alguma (a não ser o vinho da
eucaristia), mas perdi o equilíbrio e caí para trás, contra a parede.
O quarto, ao meu redor, desapareceu, e me senti banhado por uma
luz tão intensa que parecia estar derretendo e fundindo o lóbulo
frontal do meu cérebro. Caí de joelhos pelo poder do seu brilho,
diáfano e fulgurante.
Não tenho a menor idéia de quanto tempo permaneci sob
aquela cascata de fogo, que ardia em meus olhos, literalmente, como
a chama de um maçarico de gás acetileno. Pareciam estar cheios de
areia. Finalmente consegui voltar, cambaleando, para a minha ca­
deira, à medida que o quarto voltava ao normal.
Meu cérebro começou a trabalhar de novo, mas com uma
estranha e sensível lucidez. Senti-me como se estivesse saindo da
ação de um ácido extremamente poderoso, e talvez isso fosse a
memória repentina de algo do passado. Dava até para sentir os
neurônios agitando-se em meu cérebro em fogo, como as velas
de ignição de um carro há muito tempo parado ao ser posto no­
vamente em movimento.
Vejamos, se Crowley era Jesus, então, de acordo com a doutri­
na do ocultismo, Crowley teria de estar ainda mais evoluído agora,
depois de cerca de 2.000 anos, em relação ao que ele era na pessoa
de Cristo. Portanto, a doutrina thelêmica de Hórus (Satanás) de­
via ser a verdadeira doutrina cristã para a época atual!
Senti-me bastante aliviado! Não importava que não hou­
vesse uma base bíblica para a minha percepção. Não importava
que fugisse de tudo o que dizia o bom senso. D entro d e m im ,
sen tia q u e a m inha p ercep çã o era verd a d eira , com um poder que
me fizera cair de joelhos, tremendo de medo! Na verdade, era
uma progressão lógica que a minha mente percorria para o enga­
no, a gradual revelação da Luz de Lúcifer. Era o que realmente
estava acontecendo.

O P a c I o e o “Í I l i l A g r e "

Desse modo, estava dando uma nova largada em minha vida.


Telefonei para Orion e marcamos a cerimônia para a próxima lua
nova. Compartilhei minha experiência com Sharon, e ela acei­
tou, mas com muita relutância. Não quis ir à cerimônia comigo,
em parte porque não apreciava nada daquilo que Orion repre­
sentava e, em parte, por causa de profundas apreensões que sen­
tia quanto à situação.
Foi num ambiente dramático que fiz minha “profissão de fé”
para o diabo. Fui levado com os olhos vendados a um enorme
parque em alguma parte dos subúrbios de Chicago. Era um lugar
cheio de esculturas e altares egípcios. Orion assegurou-me que aque­
la propriedade fora adquirida secretamente por satanistas e que
ninguém nos ousaria incomodar.
Orion ficou por trás do altar de cimento, em forma trapezoidal,
vestido com uma toga escarlate. Tirei um manto branco, que sim­
bolizava minha inocência anterior, e ajoelhei-me diante dele decla­
rando minha total lealdade a Satanás. Do processo, fazia parte a
assinatura de um pacto com o meu próprio sangue, entregando
meu corpo, minha alma e meu espírito a ele.
Orion invocou o poder de Lúcifer, e chamas de fogo surgiram
sobre o altar. Meu “contrato” foi arremetido às chamas, sendo con­
sumido instantaneamente, com uma lufada de fogo escarlate. Por
fim, vestiram-me com uma veste preta de satanista e me foi dado
um novo nome.
Como um gesto final de desafio, eu teria de pisar num cruci­
fixo. Essa prova, que constava ter vindo da tradição dos Templários.
incomodava-me um pouco. Explicaram-me que era para mostrar
desprezo por aquilo que o cristianismo acredita que a cruz simbo­
liza, nao um ato propriamente contra a crucificação de Jesus, que,
a nosso ver, tinha contribuído para que ficássemos livres para ser­
vir melhor a Satanás.
No dia seguinte, voltei para Milwaukee, sentindo-me um tan­
to impuro. Falei sobre isso com Sharon, e ela sugeriu que eu cele­
brasse uma missa.
Tínhamos uma pequena capela particular num de nossos quar­
tos, completa, com uma mesa e uma pedra de altar (esta, com uma
relíquia de São Francisco), que o padre Daniel tinha gentilmente
nos doado. Rezei, então, outra missa do Espírito Santo — em bus­
ca de alguma confirmação para o que eu estava fazendo — , mas
encontrava-me totalmente despreparado para o que aconteceu!
No momento da consagração do vinho, assim que falei as pa­
lavras de costume, aconteceu com o vinho o que supostamente
teria que sempre acontecer, mas nunca tinha acontecido: ele se
transformou em sangue! Em sangue de verdade\
Fiquei, para dizer o mínimo, inteiramente perplexo! Tanto
Sharon como o coroinha que estava ajudando a missa viram o
cálice cheio de sangue! Sem saber o que fazer com ele, terminei a
missa, mas tomei somente uma quantidade mínima possível do
sangue, somente para concluir a liturgia. O restante coloquei num
frasco de ouro especial, que tinha em meio aos meus objetos reli­
giosos ortodoxos russos, destinado a levar o vinho sacramental
para os enfermos.
Levei o frasco ao meu bispo, e ele fez com que o material fosse
analisado no laboratório do hospital em que sua esposa, Peg, tra­
balhava. A análise deu como resultado sangue humano, mas um
tipo de sangue hum ano totalm ente desconhecido! Rapidamente, che­
gamos à conclusão de que somente poderia ser o sangue de Cristo!
Considerei o fato realmente um milagre e me voltei para o
exercício do meu novo sistema de magia. Tínhamos missas negras
em nossa capela, “batizando” vários dos feiticeiros dos nossos
“covens” da Igreja de Satanás. Agora, eu teria que ganhar sete al­
mas para ele. Em poucas semanas, consegui que três dos nossos
bruxos assinassem pactos com o diabo em troca de maiores ganhos
monetários ou sexuais ou mais poder na magia.
Comecei infelizmente a ter, em especial, grande prazer em
corromper a inocência, ficando muito excitado com a sexta pes­
soa que recrutara, que tinha sido uma mulher católica muito de­
vota, a própria alma da inocência e confiança! Eu estava me
perdendo completamente, do ponto de vista moral, mas sentia-me
cheio de um vil e malicioso poder, que toldava meus sentimen­
tos. Quando ela finalmente assinou o pacto, senti um triunfo
blasfemo total! Pude vê-la tornando-se espiritualmente suja dian­
te de meus olhos, como se uma sombra obscura e trêmula estives­
se passando por todo o seu corpo e por sua face. Ri junto com ela
no momento em que as luzes escuras de Lúcifer refletiram-se de
seus olhos sobre mim. Foi um momento especialmente agradável
porque, então, tive que cometer adultério com ela como parte do
ritual. Muito mais do que sexo, tive prazer na experiência por
achar que, por intermédio dela, estaria ferindo o “falso Deus”,
inimigo de Satanás!
O sétimo candidato foi fácil. Era um feiticeiro quase lunático,
ansioso por assinar o pacto. Achava-se bastante envolvido com
Lovecraft e com Satanás, e buscava apenas quem pudesse fazê-lo
ingressar oficialmente nessa.
Depois disso, tive o direito de receber uma cópia de um do­
cumento satânico, A Grande M ãe, para aprender algumas das ceri­
mônias ultra-secretas que me seriam necessárias para progredir.
Passei então a ir atrás de estudantes da U niversidade
Marquette, próxima de casa, para corrompê-los. (Só que eu pen­
sava que não os estava corrompendo, mas, sim, ilu m in a n d o-oí!)
Valendo-me do meu próprio passado, descobri que os estudantes
daquela universidade católica eram campos particularmente fér­
teis para as sementes de Satanás. Num período relativamente curto
em que me empenhei por conseguir convertidos a Satanás, con­
segui atrair vários dos estudantes ao culto satânico — todos, com
exceção de apenas um, eram praticantes entusiastas do jogo de
RPG C alabouços e Dragões.
Os adeptos da “alta crítica” da Bíblia tinham feito o seu traba­
lho muito bem na Universidade Marquette. Aqueles pobres jovens
não sabiam mais no que crer e sentiam muita fome espiritual. Que
Deus me perdoe, pois fui eu quem acabou levando a eles o pão
envenenado que o diabo amassou para “alimentá-los”.
A saudação do corno, ou sinal dos chifres, é a mais amplamente reconhe­
cida saudação satânica. Tradicionalmente é feita com a mão esquerda
erguida, com o indicador e o mínimo dirigidos para cima e o polegar e os
outros dois dedos virados para baixo. Representa a negação da Trindade
e a exaltação dos dois chifres de Satanás.
Os ocultistas acreditam que as religiões se movem em ciclos (ou eras) de
aproximadamente 2.000 a 2 6.000 anos. Crowley ensinou que a Era de
fsis (a deusa Mãe) foi de 2 .0 00 a.C. até o ano 1 d.C. Então chegou a Era
de Osíris (o deus do Egito que morreu), de 1 a 19 0 4 d.C. A partir de
então, acreditava ele, tinha-se iniciado a Era de Hórus (o Coroado Filho
Conquistador).
Embora a Cabala seja judaica em sua origem, e construída sobre o fato
de que as letras hebraicas também são números, os ocultistas, através dos
séculos, a têm aplicado a outras línguas. O Grego é um dos idiomas
ideais para esse propósito, por fazer também uso da permuta de letras e
números.
R I n f r a - e sIr u Iu r a
do S A t A í i i s m o

Jesus, porém , conhecendo-lhes os pensamentos, dis­


se: Todo reino dividido contra si mesmo fica rá de­
serto, e toda cidade ou casa d ividida contra si
mesma não subsistirá. Se Satanás expele a Sata­
nás, dividido está contra si mesmo; como, pois,
subsistirá o seu reino?
— Mateus 12.25,26

J á vimos o que a Bíblia nos diz sobre o diabo, e discutimos algu­


mas das questões mais amplas relativas à existência de cultos satâ­
nicos. Agora vamos abordar, especificamente, o que é o satanismo.
Quando há muito pouco, ou nada, à nossa disposição para ser es­
tudado, geralmente nao se fazem investigações. E por isso que muito
pouco tem sido escrito a respeito dos expoentes do satanismo antes
deste século, ou melhor, até antes desta geração.
O satanismo tem-se alastrado, hoje em dia, por toda parte e
com muito ímpeto. Artistas populares e personalidades públicas nos
Estados Unidos lhe dão o maior apoio.1 Cantores de rock exibem
abertamente seus símbolos e pregam sua “mensagem”. Satanistas de
destaque, como Zeena LaVey e Michael Aquino, aparecem em pro­
gramas de entrevistas [na televisão americana], defendendo sua fé
diante de acusações de assassinatos e abuso de crianças.
Não é uma história do satanismo que vamos abordar neste
capítulo. Um bom livro sobre o assunto, de fácil leitura, embora de
alto nível, é o do professor Carl Raschke: P ainted Black [Pintado
de Preto]. Seremos mais práticos, examinando o satanismo como
uma instituição que opera no mundo de hoje e de que modo nos
atinge e às nossas famílias.
Eis aqui uma definição necessariamente extensiva, pois abran­
D e s l r o n A d o

ge todos os grupos do satanismo.


O satanismo envolve a adoração a um deus que representa o
lado das trevas de todo o cosmo. Esse deus é conhecido por vários
nomes e, geralmente, personifica, pelo menos, as partes anima­
L ú c i f e r

lescas e carnais do homem: se não o próprio mal e as piores carac­


terísticas da natureza humana. O satanismo quase sempre envolve
o uso de drogas e o transe, isto é, a possessão demoníaca. A ética
do satanismo é, na melhor das hipóteses, “uma lei da selva”, de
sobrevivência do mais capaz, e geralmente constitui uma inver­
são consciente da moralidade. O satanismo tem obsessão pela
morte, e seus rituais normalmente implicam atos de amaldiçoar, der­
ramamento de sangue e sacrifícios de animais ou seres humanos.
Esta definição é de uma amplitude bastante grande para po­
der abrigar até mesmo os assim chamados satanistas religiosos ou
organizados, como Anton LaVey, embora eles neguem categorica­
mente qualquer envolvimento com drogas ou com sacrifícios de
sangue. Mas têm de negar, por serem legalmente constituídos como
igrejas, não podendo, assim, admitir que violam a lei!

C o rtA íid o em FaIías o B o lo de Saíaiiás

Partindo desta ampla definição, faremos uma decomposição em


algumas categorias básicas, para então examinarmos cada uma de­
las. Desde que se começou a analisar com seriedade o fenômeno
do culto ao demônio, no final do século 20 , os estudiosos de vários
graus de competência têm procurado classificar seus diferentes
tipos. Seus sistemas de classificação são provavelmente tão bons
quanto qualquer outra espécie de sistema.
É importante para o cristão compreender que, embora algu­
mas dessas variedades de satanismo nem mesmo professem a cren­
ça num diabo real e pessoal, e muitos até mesmo digam que não
estão fazendo nada de ilegal, todos eles estão, com certeza absoluta,
totalm ente perdidos e destinados a passar a eternidade no inferno. E
fazem parte do exército de Satanás, não importando se nele crêem
ou não.
A classificação dos satanistas mais comumente mencionada
baseia-se numa versão ampliada de um esquema estabelecido pelo
Dr. Dale Griffis, capitão de polícia de Tiffin, Ohio, um dos pio­
neiros na investigação científica e criminológica das infrações pe­
nais no ocultismo :2
1 ) Inteiramente envolvidos
2) Satanistas religiosos ou organizados
3) Satanistas dissimulados ou isolados
4) Espíritas culturais
5) Satanistas tradicionais (geralmente hereditários, de várias
gerações).
Eis uma breve descrição de cada um desses tipos:

1) Inteiramente envolvidos

Geralmente sao adolescentes, embora haja cada vez mais meni­


nos e meninas de 1 2 anos ou menos de algum modo envolvidos
com o ocultismo. Nós e outros fazemos certa restrição ao uso do
termo “envolvido”, uma vez que dá a idéia de que a pessoa não
chegou a ser prejudicada, o que não é verdade. Assim, este termo
é um tanto inapropriado. Como diz Raschke, pode-se ter um
envolvimento com o satanismo com tanta facilidade quanto se
pode “entrar numa turma” de consumo de heroína .3 Estas duas
experiências levam o praticante quase que instantaneamente a
um nível irresistível de compulsão, e de ambas é extremamente
difícil escapar sem a ajuda do Senhor.
Usa-se o termo “envolvido”, no entanto, porque o envolvi­
mento geralmente é desorganizado, nao premeditado e casual.
Geralmente ninguém é envolvido de imediato com grupos de
feitiçaria maiores.
O interesse de jovens pelo satanismo poderá surpreender mui­
tos dos leitores. Isso, porém, não é, absolutamente, uma novidade.
Houve época em que o infame de Anton LaVey, A B íblia Satânica,
era um dos livros mais vendidos em muitas universidades dos Esta­
dos Unidos. E, infelizmente, sucesso total entre alunos das últimas
séries do ensino médio! Qualquer que tenha sido a intenção de
LaVey ao escrever sua obra, o fato é que ela acabou tornando-se
uma proclamação do niilismo e do desespero para muitos jovens.
Os adolescentes são difíceis de entender, mas uma coisa com
que todos concordam é que uma característica fundamental da ado­
lescência é a afirmação de sua individualidade. Isso significa que,
neste mundo decaído, eles tendem a ser rebeldes. Um pouco de
rebeldia é normal, bem como desentendimentos com os pais; mui­
tos adolescentes, porém, por alguma razão, têm um gênio muito
forte, e a Bíblia nos adverte que “a rebelião é com o o p eca d o d e fe it i­
çaria” (1 Sm 15-23).
Se um adolescente tornar-se rebelde de modo extremado,
poderá ser levado a ver em Satanás o maior modelo de rebeldia
para os seus anseios. Os roqueiros do tipo hea vy m etal exploram
essa “qualidade” de Satanás! Para o adolescente que luta contra
tudo o que representa autoridade, Satanás poderá tornar-se o
“deus” da sua rebeldia.
A famosa exclamação de Satanás que se encontra no Paraíso
P erdido, de John Milton — “É melhor reinar no inferno do que
servir no céu” — poderá parecer boa demais para um jovem que
esteja em atrito com situações que considere restritivas e regras que
o aborreçam. O adolescente rebelde, criado no seio da igreja, mui­
tas vezes considera os cultos como cheios de hipocrisia e sem bri­
lho algum. Buscam-se exemplos na sua igreja que confirmem seus
preconceitos e acaba-se concebendo o céu como uma eternidade
insípida e sem atrativos.
A mentira dos satanistas e dos “metaleiros” de cabelo arrepi­
ado é que o inferno vive numa orgia desenfreada em drogas “ro­
lando” e promiscuidade total — um lugar em que Satanás oferece
tudo o que os pais proíbem. Ou, então, os adolescentes são infor­
mados de que o inferno não existe — não passa de história da
carochinha, de uma invenção, como Papai Noel, para fazê-los obe­
decer. E passam a considerar o inferno como não sendo um pro­
blema. Também, assim como muitos adolescentes deliberadamente
se vestem ou falam de um modo que aborreça seus pais, os mais
rebeldes poderão fazer opções de natureza espiritual, ou religiosa,
somente com o propósito de atingi-los.
Uma vez atraído para essa cultura de rebeldia, o modo mais
comum pelo qual um jovem é levado a aprofundar-se no satanismo
é o “pacto”. De modo geral, fazer um pacto com Satanás é, hoje,
bastante conhecido. Embora os termos de tal acordo possam variar,
as principais cláusulas são de que a pessoa vende a sua alma ao diabo
e, em troca, Satanás lhe promete dar poder (na magia, ou sob qual­
quer outra forma), ou fama, favores sexuais ou riquezas.
O jovem que faz esse pacto, “vende” a Satanás, na verdade, o
que Satanás já possui. Observe a malvada sutileza da armadilha
que o diabo coloca, aqui! Ele trabalha em cima da maior carência
da vida de um adolescente: o poder. Os adolescentes, em sua maio­
ria, sentem-se desprovidos de poder. São jo v en s dem ais para serem
adultos, mas o seu corpo rapidam ente está se tornando maduro, d e
m odo que são velhos dem ais para serem crianças. Também não ajuda
nada o fato de receberem orientação, um tanto confusa, de seus
pais. Por um lado, dizem-lhes que devem agir com maturidade e
esperam que procedam como adultos; por outro lado, dizem-lhes
que nao são ainda suficientemente adultos para fazerem certas coi­
sas de adultos. Satanás conhece esta situação e explora o desejo
natural do jovem de ter poder e controle sobre o meio em que se
encontra e sobre o seu destino.
Com o pacto, Satanás promete a esses adolescentes que terão
poder para dominar aqueles que, com autoridade, os estejam per­
turbando. Terão como “dobrar” as pessoas — até mesmo seus pais
— como quiserem. E receberão doses ilimitadas de dinheiro, sexo,
drogas e poder. Basta assinar na linha em branco — com o próprio
sangue\
É, realmente, uma oferta bastante sedutora para um jovem
que se acha totalmente perdido, vagando pelos mares da adoles­
cência. A não ser que haja alguém de confiança, compassivo e
bem informado dessa situação para lhe falar sobre tudo isso, de
forma que o adolescente fique sabendo a verdade quanto às pro­
messas ardilosas de Satanás, é bem possível que venha a acreditar
nessas mentiras.
Em muitas livrarias, ele irá encontrar diversos livros satanistas.
Nas bancas de jornais, revistas de quadrinhos satanistas pulu­
lam. Para uma mente sugestionável, as odiosas polêmicas da
B íblia Satânica e similares tornam-se imagens expressivas de uma
espiritualidade dolorosa e em trevas, despertando os piores com­
ponentes da fúria que há no interior do jovem. Assim, ele logo
se envolve.
Geralmente os que se envolvem não se ligam a nenhum grupo
satânico organizado, embora uma minoria não desprezível deles
seja trazida, por satanistas adultos, para um desses grupos. Os adul­
tos se valem de vários métodos para seduzir os jovens, entre os
quais drogas, sexo e o infame jogo de RPG Calabouços e Dragões. É
triste dizer, mas às vezes até mesmo professores e parentes satanistas
fazem uso de sua influência para seduzi-los. Este autor foi professor
durante dois anos, na época em que era feiticeiro.4 Fiz de tudo o que
pude para atrair para o ocultismo os estudantes dos dois últimos
anos do ensino médio que estavam sob meus cuidados.
A maioria dos grupos satânicos usam drogas e têm o maior
prazer em fornecê-las aos adolescentes — às vezes até de graça •—
em troca de uma visita deles ao seu grupo. Bruxas e bruxos sexual­
mente refinados atraem muitas vezes rapazes e moças solitários que
se sentem lisonjeados por pensarem que uma pessoa mais velha e
poderosa os considera atraentes. O sexo é, então, usado, de modo
trágico, para o acesso do demônio à vida dos jovens (veja 1 Co
6.15-17). Também o jogo C alabouços e D ragões é usado com fre­
qüência por professores e lojistas feiticeiros para selecionar jo­
vens que tenham “aptidão” para a feitiçaria. As personagens que
os disputantes assumem no jogo são um excelente treinamento
para o feiticeiro noviço.
Temos de ter certo cuidado para com aqueles que tenham se
envolvido com o ocultismo, isoladamente ou não. Embora esses
jovens e adolescentes, em sua maioria, não sejam perigosos, exceto
para si mesmos, muitos deles são levados, quer por poderes demo­
níacos ou pelos feiticeiros que os recrutaram, a realizar atos de
violência e anti-sociais, inclusive assassinatos. Todavia, mesmo
que nunca venham a causar dano a alguém, os males que fazem a
si mesmos, tanto emocionais como espirituais, são incalculáveis.
O satanismo lhes dá uma cosmovisão anarquista, niilista, segun­
do a qual todas as emoções de afeição e carinho ficam bloquea­
das, e os piores aspectos da natureza humana carnal predominam.
A violência e a magia tornam-se a única solução para qualquer
problema, e um sentimento de amor real de sua parte torna-se
praticamente impossível.

2) Satanistas religiosos ou organizados

Estes (LaVey, Aquino, etc.) estão voltados para si mesmos e já fo­


ram abordados nos capítulos anteriores.

3) Satanistas dissimulados ou isolados

Os satanistas isolados geralmente são adultos não ligados a nenhu­


ma seita satânica, mas que se valem do satanismo para a prática de
crimes — principalmente abuso de crianças, estupro, tortura, as­
sassinato e tudo mais.
Geralmente são pessoas solitárias, que não conseguem relacio-
nar-se com os outros de maneira normal e saudável. Optam,
entao, por se identificar com Satanás: o m aior d e todos os marginais.
Deixam-se também corromper, com freqüência, pelo rock heavy
m etal e por apavorantes filmes de terror.
Há quem se preocupe em definir se tais pessoas são satanistas
que sofrem de insanidade mental, ou se são psicopatas também
satanistas. Tais discussões não fazem sentido. O fato de alguém
envolver-se com o satanismo, qualquer que tenha sido a causa,
abre portas em sua vida para que irrompa a sua natureza pecami­
nosa. O fato é que tais pessoas, em sua maioria, sao produtos emo­
cionalmente deficientes de uma família desconcertada e, muitas
vezes, vítimas de abusos. Isso lhes confere um sentimento de ira
em seu interior que Satanás tem todo o prazer em fazer explodir.
São matéria-prima de primeira linha para ser trabalhada por Sata­
nás e acabam se tornando fantoches em suas mãos, soldados rasos
que ele usa em sua guerra de terrorismo espiritual.
Se foi o satanismo ou a loucura que entrou primeiro na vida
dessas pessoas, isso não importa. O importante é entender que
livros tais como A Bíblia Satânica e artistas de música popular como
Ozzy Osbourne, AC/DC ou Motley Crue as fazem cair totalmente
nessa situação maligna e ainda lhes dão um apoio para continua­
rem a praticar o mal. São pessoas de carne e osso que, quer tenham
consciência ou não, fazem parte de um plano mestre de Satanás.
São, terroristas espirituais seus, que saem por aí espalhando horror,
morte e paranóia.

4) Espíritas culturais

Estes são um pouco mais difíceis de classificar. São integrantes de


culturas geralmente latinas e africanas, cujas crenças são uma mis­
tura de feitiçaria africana com o catolicismo romano. Um estudo
afirma o seguinte:

As religiões espíritas culturais sincretizam, com harmonia,


rituais da magia ou sobrenaturais, específicos de determina­
da cultura, com certas tradições religiosas próprias de outra
cultura, diferente. (...) Estima-se que existem, atualmente,
um milhão a um milhão e meio de pessoas, nos Estados Uni­
dos, que praticam algum tipo de espiritismo afro-antilhano.
A grande maioria desses praticantes está envolvida com as
crenças denominadas santeria e paio mayombe.1
As principais formas do espiritismo cultural são:

a. Vodu
O vodu, ou voodoo, também conhecido como obeah ou hoodoo, é
praticado principalmente no Haiti e em outros países do Caribe,
na Louisiana e em outros estados do Sul dos Estados Unidos. Este
culto desenvolveu-se como resultado do tráfico de escravos proce­
dentes da África Ocidental, levados para o Caribe. Origina-se da
religião ocultista africana conhecida como Juju, que data de mi­
lhares de anos atrás, praticada pela tribo achanti, que era adoradora
de serpentes.
A religião Juju foi então sincretizada com o catolicismo, pro­
duzindo o culto a toda uma gama de entidades ou divindades
demoníacas. Essas entidades, em sua maioria, são identificadas
com santos católicos. Por exemplo, imagens de São Patrício sao
usadas para personificar Danballah, o principal deus-serpente,
porque as gravuras católicas geralmente mostram São Patrício ex­
pulsando serpentes da Irlanda. Os rituais do vodu geralmente
são executados pelo ogã (sacerdote) ou pela mambo (sacerdoti­
sa). Grande parte dos rituais é para que os praticantes sejam in­
corporados pela entidade.

b. Candomblé e Umbanda
São praticadas no Brasil. São também um sincretismo do catolicis­
mo com as religiões africanas, principalmente de tribos da Nigéria
e do Congo (Nossurubi, Nagê e Malei). Tal como no vodu, os
pais-de-santo (sacerdotes) sincretizaram as entidades africanas
(orixás) com os santos católicos. São quatro os principais compo­
nentes do ritual candomblista: adivinhação, sacrifícios (geralmente
de animais), incorporação de espíritos e iniciação. Há uma linha
que é mais voltada para o mal, a quimbanda.

c. Santeria (ou Lucúmi)

A santeria é essencialmente a forma cubana de candomblé, sendo


assim também um sincretismo de religiões africanas com o catoli­
cismo. Provém principalmente da tradição ioruba, da Nigéria. Seus
D e s l r o n A d o

sacerdotes são os santeros. Desde que em 1980 o barco de Mariel


saiu de Cuba, muitos dos praticantes da santeria foram parar em
cidades americanas, tendo atualmente chegado ao número de dois
milhões de adeptos nos Estados Unidos, principalmente entre os
cubanos e demais hispânicos.
L ú c i f e r

Em Trinidad, a santeria tem o nome de “xangô”.

d. Paio Mayombe

É uma prática mexicana e do Caribe. Representa uma linha mais


“pesada” da santeria. Os m ayom beros (seus praticantes) geralmente
se concentram no espírito da morte e usam a sua magia para infli­
gir desgraças, torturas ou a morte de um adversário. Por incrível
que pareça, há m ayom beros que se dedicam à prática de uma magia
para o bem, ou neutra, e que são chamados de “m ayom beros cris­
tãos”. Os que a praticam para o mal são chamados de “m ayom beros
judeus”.
O paio mayombe provém também da mistura de crenças afri­
canas (ioruba e congalesa) com o catolicismo, mas é visivelmente
uma feitiçaria mais maligna e perigosa. Sacrifícios humanos são
nele praticados. Esse culto serviu de modelo à seita ocultista fictí­
cia vista no filme The Believers.
Muitos dos praticantes dessas formas de espiritismo afirmam
(naturalmente) que elas não causam dano a ninguém e que apenas
fazem sacrifícios de animais. Contudo, há uma suspeita cada vez
maior de que esses grupos usam das magias para levar drogas para
os Estados Unidos. E infames assassinatos ocorridos em Matamoros
[cidade do México na fronteira com os Estados Unidos] foram
cometidos por uma seita que parece ser uma mistura de candom­
blé com paio mayombe .6
Assim como acontece com todos os satanistas, os espíritas cul­
turais estão perdidos, carecendo da salvação mediante Jesus Cristo.
Eles tendem a espalhar-se com as mesmas promessas de poder, ri­
queza e sexo, que fazem os mais propriamente chamados satanistas.
São grupos extremamente poderosos e perigosos, e os feitiços que
empregam são, surpreendentemente, muito eficazes. Mas, felizmen­
te, podem ser vencidos pelo sangue de Jesus.

5) Satanistas tradicionais ou “fiéis” (de várias gerações)

Se os satanistas isolados são os soldados rasos de Satanás, os tra­


dicionais são seus oficiais de elite, de “batalhões especiais”. Tal
como aqueles, dedicam-se a infligir terror ao coração da socieda­
de, mas são mais conscientes de sua posição e função. São cha­
mados, nos círculos de feitiçaria, de “hereditários”. Isto significa
que já nasceram no satanismo, da mesma forma como há pessoas
nascidas em famílias presbiterianas, batistas, católicas ou judias.
Tais satanistas foram, portanto, criados dentro da ideologia do
seu grupo de feitiçaria, e muitas vezes pertencem a um mundo
tão diferente do nosso que bem poderiam ser considerados
alienígenas. Em seus grupos, há famílias nas quais a feitiçaria e o
satanismo vêm sendo praticados por muitas gerações, talvez até
durante vários séculos.
(E importante compreender que, embora todos os satanistas
sejam feiticeiros, nem todo feiticeiro é satanista, no sentido estrito
da palavra. Os feiticeiros da magia “branca”, ou participantes da
Wicca, como são muitas vezes chamados, não acreditam num
diabo e adoram uma deusa mãe e um deus chifrudo. Na verdade,
eles estão adorando Satanás por trás das máscaras de suas divinda­
des supostamente do bem, mas muitos deles não têm consciência
disso. Pela minha experiência, sei que os wiccanos dos níveis mais
elevados realmente conhecem a verdade, mas ela é mantida desco­
nhecida do público em geral e dos iniciantes dessa magia.)
As famílias satanistas hereditárias geralmente têm suas origens
na Europa e muitas vezes se sustentam de heranças. Para alguém
que nasce numa dessas famílias, há duas alternativas à sua frente:
ou a criança é mimada, treinada em magia e ensinada a considerar-
se um deus vivo sobre a terra, ou é horrivelmente vitimada com
abusos na infância, tornando-se basicamente um ninho ambulan­
te de ódio e temores. Em ambos os casos, a criança nao é ensinada
a aprender a confiar nem a amar. A razão pela qual algumas dessas
crianças sao vitimadas e outras, não, tem a ver com toda sorte de
obscuras doutrinas ocultistas, como, por exemplo, a ordem de nas­
cimento, mapa astral, sexo, cor do cabelo ou constituição física.
As famílias satanistas tradicionais, com freqüência, deixam seus
costumes próprios, assumindo uma aparência normal e respeitá­
vel. Não se vestem de preto, não raspam a cabeça nem vivem numa
casa esquisita, como a “Família Addams”. Quase sempre, se pas­
sam por crentes e chegam até a ocupar cargos importantes em sua
igreja e na comunidade. Assim, é bem possível que um bom cristão
se case com uma mulher que na verdade é uma satanista tradicio­
nal, sem saber de sua real condição. A maioria dos cristãos costuma
ser muito inocente e geralmente acredita em todo mundo. Se al­
guém diz ser cristão, isso normalmente é aceito, de imediato. (Va­
mos abordar o discernimento de espíritos e outros tópicos correlatos
mais à frente, neste livro.)
Por vezes, nessas famílias, um dos irmãos tem uma infância
razoavelmente normal e outro pode ser vítima de um terrível abu­
so. Outra variável é que, às vezes, um dos pais é satanista, e o ou­
tro, nao, mas desconhece a verdadeira fé de seu cônjuge. Neste
caso, pelo menos um dos filhos será vitimado, ficando os demais
livres para terem uma infância normal. E no contexto dessas famí­
lias que o abuso ritual satânico (ARS) geralmente ocorre. O abuso
ritual de crianças ou ARS é definido por uma autoridade no assun­
to da seguinte forma:
O abuso ritualizado sao repetidas agressões físicas, emocio­
nais, mentais e espirituais, combinadas com um sistemáti­
co uso de símbolos, cerimônias e maquinações para que
efeitos maléficos sejam alcançados. Tais abusos podem ser
repetidos de 100 a 1.000 vezes! Primeiro, as agressões pro­
curam atingir o nível físico; depois, os níveis emocional,
mental e espiritual. Constituem um programa detalhado e
planejado para fazer com que a criança volte-se contra si
mesma, contra a sociedade e contra Deus.
Nosso ministério, With One Accord, tem um setor de aconse­
lhamento e oração que já ministrou a muitas vítimas de ARS. O
Senhor tem-se disposto a abençoar nossos esforços. Mais adiante,
falo de nossas estratégias ministeriais quanto à oração. Por ora, o
importante é compreendermos que o abuso ritual satânico geral­
mente ocorre numa família de satanistas e, em ocasiões mais raras,
no contexto de escolas, creches e (infelizmente) igrejas.
Aqueles que falam a respeito desses grupos de satanistas tradi­
cionais e do abuso ritual satânico muitas vezes são acusados de
lunáticos — a mesma atitude adversa aos que protestavam, déca­
das atrás, nos Estados Unidos, contra o flúor na água potável, acu­
sados de participar de uma trama comunista para arruinar a saúde
dos americanos. Agora, as revistas publicam reportagens sobre o
efeito cancerígeno do flúor na água! O problema com teorias apon­
tadas como “conspiração’ é que muitas vezes acabam sendo reco­
nhecidas como verdadeiras.
Pessoas que sobreviveram ao ritual de abusos na infância
declaram ser de famílias em que o satanismo já era praticado por
muitas gerações. Embora nao seja fácil provar a veracidade dessas
histórias, elas são em número considerável para que sejam total­
mente desprezadas.
Um enorme império secreto de drogas, pornografia infantil e
satanismo tem sido exposto por pessoas. Será esse fenômeno uma
novidade? Há claras evidências bíblicas de que, nos dias dos israelitas
em Canaã, havia civilizações que em sua totalidade adoravam o
diabo sob os nomes de Baal e Moloque. A adoração a esses deuses
envolvia o sacrifício de animais (Jz 6.25), prostituição e perversão
sexual (Êx. 34.15). Envolvia, também, queimar “a seus filhos e
suas filhas em sacrifício” (2 Rs 17.16,17). Isto significava queimar
bebês vivos nos braços incandescentes de um ídolo de ferro! Vemos
que, praticamente, todos os elementos do satanismo estavam pre­
sentes muito tempo antes dos dias de Jesus.
Depois dos apóstolos de Cristo, outro fator satânico surgiu,
com a “Missa Negra”, ou “Missa pelos Mortos”, feita com símbo­
los blasfemos, zombando da liturgia católica. Eram rituais realiza­
dos com o propósito de amaldiçoar pessoas! Isto não é difícil de
compreender quando se sabe que a liturgia católica da missa, ou
eucaristia, é basicamente uma cerimônia ocultista. É o que pode
ser chamado de “magia branca”. Assim, foi fácil aos satanistas
adaptarem-na um pouco, transformando-a num completo ritual
de magia negra.
Tais missas foram condenadas pelo Concilio de Toledo em
681. O satanismo alcançou popularidade nos séculos 18 e 19, quan­
do a Missa Negra ficou na moda, com a decadente aristocracia da
Europa.s
No entanto, alegações de abuso infantil em rituais satânicos
nunca foram tão freqüentes como agora. Isso não acontecia antes!
As famílias de satanistas tradicionais são grupos isolados de
pessoas perigosas ou ligados entre si de algum modo? Esta é
uma questão controvertida. Poucos são os que negam que há
famílias que por gerações têm sido satanistas. Mas será que tais
famílias fazem parte de uma rede? No sentido absoluto da pala­
vra, a resposta é um categórico “sim !”. Jesus falou de uma cons­
piração, d irigid a p elo con su m a d o terrorista d e con sp ira ções! O
Senhor advertiu-nos de que Satanás vem para roubar, matar e
destruir (Jo 10.10). Observou, também, que o reino de Satanás
não se divide contra si mesmo (M t 12.25,26). Satanás é um
brilhante tático, que distribui suas tropas, tanto demoníacas
como humanas, com muito cuidado! E como um jogador de
xadrez, que planeja com dezenas de lances de antecipação! Seria
uma tolice pensar de outra forma.
Portanto, é difícil imaginar que Satanás permitiria que milha­
res de seres humanos se pusessem em movimento se não tivessem
um plano mestre por trás. Toda energia consumida ao acaso é uma
energia perdida, e, louvado seja o Senhor, a energia de Satanás é
limitada. Assim, não pode desperdiçá-la com um bando de ex­
cêntricos desorganizados, retalhando gatos e pessoas e tropeçan­
do uns sobre os outros. Faz sentido pela lógica (e pela Bíblia)
haver um plano mestre, uma conspiração, por trás do que fazem
todas essas diversas famílias de satanistas tradicionais. Carl
Raschke, em seu excelente livro, mencionado anteriormente, apre­
senta um mal adicional (embora mundano) que pode estar
alimentando essa conspiração:

Com certeza, grupos amplamente separados uns dos outros


podem muito bem ler a Bíblia Satânica, de LaVey, e fazer
feitiços do clássico do ocultismo O Necronomicon. Mas eles
não se associam entre si, nem “conspiram” de um modo
claro e regimental. O que geralmente não se percebe, po­
rém, é que o elo de ligação entre as diversas células na sua
organização cultuai pode nada ter a ver com religião. Pelo
contrário, a ligação pode ser bastante mundana e comer­
cial... drogas.9
Talvez nunca venhamos a saber se esses vários grupos secre­
tos estão ligados fisicamente, mas podemos aceitar o fato de que
há profundas ligações espirituais e que quase nada acontece em
qualquer um deles sem o controle de Satanás. Os demônios que
estão no controle dos líderes de cada grupo acham-se em cons­
tante comunicação entre si, de modo que o conjunto de todos
eles vai sendo conduzido, em escala continental (e quem sabe até
em escala mundial), como se fosse uma orquestra regida por um
bastão invisível.
Esses satanistas exultam na destruição da inocência! Regozi-
jam-se em fazer obras más, não porque o mal seja divertido
(geralmente nao é!), mas porque sabem que tais obras são pecados
e ofensas a um Deus santo. Sabem que, uma vez que Jesus ama as
crianças, então, para atingi-lo, eles as afligem com malignidades
inexprimíveis. O que eles portam é bem mais do que uma simples
“doença mental” ou uma “patologia social”. São máquinas infer­
nais, movidas por forças que a maioria das pessoas não pode nem
mesmo imaçinar. Assim como costumamos falar de cristãos total-
mente entregues ao Senhor Jesus, que verdadeiramente são seus
servos, de igual modo Satanás tem seus “santos satânicos” — pes­
soas que farão de tudo para servir ao seu senhor. Será que há pes­
soas assim? Infelizmente, a resposta é afirmativa. Eu fui uma delas.
Os que me treinaram eram pessoas totalmente entregues ao mal, e
essa iniqüidade passou para mim por contágio espiritual. D e um
m odo bem claro, solicitei que dem ônios m e possuíssem. Felizmente, an­
tes de Satanás ter condições de trazer à realidade os impulsos de ódio
e matar o que havia de bom em mim, fui retirado como um tição da
fogueira pelo poder de Jesus, e Satanás perdeu um de seus peões.

• • •

Aquele a quem o Filho libertar verdadeiramente será livre (cf.


Jo 8.36). Se o conteúdo deste capítulo o incomodou, isso é com­
preensível. Mas entenda que nenhum desses males é uma surpresa
para Deus. Tudo foi profetizado séculos atrás na Bíblia Sagrada. O
Senhor ainda está, de fato, no trono.
Deus está continuamente penetrando na imundície e no la­
maçal de todas as formas de satanismo e libertando os do Seu povo
— e usando experiências por eles vividas para a Sua glória, para
melhor poderem ministrar aos outros. Satanás pode ser um mestre
em conspiração, mas o Senhor Deus tem o poder de prevalecer
sobre os planos dele com um estalar de dedos. Muitos pensam que
este conflito cósmico é um jogo de xadrez entre Deus e Satanás.
Mas, não haja engano a este respeito. Satanás foi derrotado há 2.000
anos, e vem até nós tomado de grande ira, sabendo que pouco
tempo lhe resta (Ap 12.12). Estamos assistindo, hoje, a milhares
de anos de profecia se cumprindo. Essas coisas terríveis que acabo
de descrever não são senão os estertores finais da velha serpente,
com a cabeça esmagada pela cruz de Cristo.

N oI as

1 Pessoas famosas, como Jayne Mansfield e o cantor e ator Sammy Davis


Jr., foram reconhecidas publicamente como pertencentes à Igreja de Sa­
tanás, de Anton LaVey. Outras, como o ator e diretor Roman Polansky e
sua falecida esposa, Sharon Tate, andaram bem próximo dela. A confra­
ria satânica [nos Estados Unidos] tem uma poderosa base em Hollywood
e na indústria do entretenimento.
2 R aschke, Painted Black, p. 1 2 9 - 1 3 1 .
3 Ibid., p. 4 0 4 .
4 Veja o livro do autor Wicca: Sataris Little White Lie [Wicca: a Mentirinha
Branca de Satanás], Chick Pub., 19 9 0 , p. 14 -4 9 , para um conhecimento
mais amplo de sua carreira na feitiçaria.
Nota do Editor — No Brasil, estatísticas correspondentes são, sem dúvi­
da, incomparavelmente maiores.
5 Office o f Criminal Justice Planning Research Update [Atualização de Pes­
quisa Planejada do Gabinete de Justiça Criminal], v. 1, n. 6, inverno de
1989/90; Occult Crime, a Law Enforcement Primer, Sacramento, CA, p. 10.
6 R aschke, op. cit., p. 35.
7 Dr. Lawrence Pazdur. Notas de uma palestra (sem data).
s F re d e r ic k s o n , B. G. Hou> to Respond to Satanism [Como Responder ao
Satanismo ]. Concordia, 19 8 8 . p. 14.
9 R aschke, p. 3 1 .
“R C A í e d r A l d a D o r ”

Na casa da dor, há dez m il santuários.


— Aleister Crowley

€ ! u nada sabia a respeito da grande batalha cósmica entre Aquino


e LaVey para ter o controle do que o público pudesse pensar acerca
do satanismo. Isto porque me achava profundamente envolvido
no que chamávamos de “a coisa profunda”, ou “a coisa preta”. O
que, definitivamente, não era “a Coisa Certa”!
Do que ouvíamos dizer, por pessoas ligadas ao ocultismo, achá­
vamos que tanto Aquino como LaVey ou estavam passando de leve
sobre a superfície do satanismo, ou então estariam agindo como
“promotores de venda” de uma mercadoria, alardeando suas quali­
dades para o público, a fim de atraí-lo para “a coisa profunda”. De
qualquer modo, não eram objeto da nossa preocupação. Estáva­
mos nos desenvolvendo sobre os fundamentos do que havíamos
aprendido em nossos vários encontros satânicos e prosseguindo até
além da bizarra metafísica de Aquarius.
O poder da magia fluía através de mim como nunca antes.
Detesto dizer isto, mas o satanismo assumido é algo muito pareci­
do com um sistema de “marketing de rede”. Ou seja, eu me senti
“arremessado para cima” para vir a me tornar um distribuidor de
“produtos”. Desde que conseguira os meus “sete” adeptos, que
assinaram o pacto com o diabo, fiquei em condições de ser ordena­
do no sacerdócio satânico e nos níveis mais elevados — europeus
— da Maçonaria. Satanás, de fato, “honra” seus escravos enquanto
estiverem lhe dando resultados.
Ele começou a me conceder pequenas “gratificações adicio­
nais”, especialmente depois de ter me tornado sacerdote satânico.
Narcóticos fluíam como água pelos nossos grupos. Eu tinha tudo
de que necessitava e nunca pagava um centavo sequer. As coisas
simplesmente apareciam, de algum modo. Pequenos “milagres”, e
às vezes nao tão pequenos assim, aconteciam.
Descobrimos, por meio de nossa cristalomancia (arte de visão
física através de relances de olhar em espelhos, cristais ou vidros con­
vexos) que um grupo satânico rival tinha surgido, não muito distan­
te de nós, proveniente de uma igreja jesuíta. Percebemos que estavam
até mesmo envolvidos com o sacrifício de crianças — uma prática
que, pelo menos até então, eu considerava repreensível.
Nossos grupos declararam guerra espiritual a eles por meio da
magia, e maldições fluíram de nós para eles e deles para nós com
enorme rapidez. Uma noite, um ataque astral entrou em nosso
quarto na forma de enorme e obscura figura, toda paramentada,
com um punhal na mão. Enviamos nossos demônios para atacá-la,
e dela não sobrou nada. Em uma semana, o grupo rival fez as ma­
las e mudou-se da cidade; declaramos então a vitória, promovendo
uma grande festa.
Como sacerdote de Satanás, eu podia, agora, ministrar ceri­
mônias de pacto. Nunca me esquecerei de uma delas em particu­
lar. Havíamos estabelecido o nosso “sério” templo satânico no sótão
de uma enorme casa que alugáramos, próximo da Universidade
Marquette, em Milwaukee. Havíamos pintado a parede do fundo
do sótao totalmente de preto e colocado um enorme círculo mági­
co sobre o chão. Este era o local onde fazíamos nossos rituais “mais
pesados”, por ser o ponto mais secreto da casa. Naturalmente, não
permitíamos que nenhum de nossos alunos de “feitiçaria branca”
entrasse ali.
Nesse local, eu me sentava num trono e ministrava como sa­
cerdote do Desolado — “o Poderosíssimo Príncipe Lúcifer” — com
as pessoas ajoelhadas diante de mim, despindo-se de seu corpo e
alma e entregando-os a ele, por meu intermédio. Enquanto cum­
pria-se esse antigo ritual, eu sentia a presença de Lúcifer em todo o
m eu ser. Era como estar envolto num lençol de fogo intenso, que
queimava, e às vezes, meu cérebro parecia estar derretendo. Quan­
do eu falava, acreditava que era Lúcifer que estava falando por meu
intermédio, embora não tenha como confirmar que era isso mes­
mo. Como já foi dito, Lúcifer — diferentemente de Deus — não
pode estar em mais de um lugar ao mesmo tempo, e, portanto,
poderia ser um dos príncipes do inferno — como os chamávamos.
Contudo, fosse quem fosse, dizia ser Lúcifer.
Por vezes, a voz que falava fazia vibrar as vigas daquele velho
porão, e pequenas porções de poeira, de teias de aranha e de pó de
madeira caíam sobre nós. Eventualmente, a pessoa que estava fa­
zendo o pacto encolhia-se para trás com medo daquela voz, e eu
me sentia profundamente satisfeito em meu interior.
Certa noite, uma mulher não se encolheu de medo. Sem ne­
nhum constrangimento, sem receio algum, ajoelhou-se diante de
seu novo “dono” no centro do círculo mágico, dentro de um triân­
gulo de manifestação.
Isto não é o que normalmente ocorre. O círculo é usado pe­
los praticantes da magia e pelos feiticeiros, de modo geral, para
protegê-los de ataques demoníacos (ou, no caso da Wicca, para
reprimir o cone de poder que se eleva de dentro do corpo dos
bruxos). O triângulo de manifestação geralmente é colocado fora
do círculo, e é onde o demônio tem permissão de aparecer, nas
nuvens da fumaça do incenso. Assim, o feiticeiro fica dentro do
círculo mágico e a energia do demônio é retida e concentrada
dentro do triângulo. Naquele tempo, entretanto, achávamos que
não precisávamos de proteção alguma em relação aos demônios.
Na verdade, dávamos boas-vindas à presença deles e até à posses­
são do nosso corpo.
Assim, aquela mulher ajoelhou-se bem no meio do que consi­
derávamos o “ponto de impacto” dos demônios e prostrou-se, ro­
gando que todo demônio do inferno viesse para ela. Ela jurou
pertencer a Lúcifer de corpo, alma e espírito.
No encerramento da cerimônia, depois de ter vestido o manto
de adoradora do diabo e escrito o seu nome no pacto, o poder
ficou muito mais intenso ao meu redor. As muralhas tremeluzentes
de ofuscante energia branca ao meu redor penetraram, queiman­
do, na mente dela também. Então formou-se uma pirâmide de
poder que se arremeteu até as vigas do teto como um rojão, e o
lugar voltou a ficar escuro e em silêncio, exceto... pelo ruído ca­
racterístico de algo como uma moeda de prata de um dólar caindo
no piso de madeira negra, ali onde estávamos.
Nós dois abrimos os olhos e... veja! Uma medalha dourada
(talvez de bronze ou latão), não muito pequena, ainda rodopiando
no chão, até que parou. Ficou então com sua face voltada para
cima, e nela estava estampada um dos selos de Lúcifer. Tudo o que
podemos dizer é que aquela medalha surgiu do ar, pois não havia
mais ninguém no templo do porão!
Naturalmente, a candidata ficou emocionada, pegou o me­
dalhão e depois passou a usá-lo como um pendente, levando-o
para onde quer que fosse. Ela olhou para mim com temor, pois
“eu” tinha feito algo aparecer do nada (se bem que eu nem sabia
como aquilo tinha acontecido). Claro que eu não mencionei nada
a ela de que tudo acontecera sem meu conhecimento e participação
alguma de minha parte. O que acontecera é nas áreas do espiri­
tismo, como sendo obra de um médium físico, um fenômeno
bastante raro de ocorrer. Assim, ambos nos sentimos bem satis­
feitos com nós mesmos. Era mais um “ossinho” que Satanás lan­
çava para o seu cachorro (eu) a fim de mantê-lo interessado na
“brincadeira”.
R Rod.A-vivA de S a Ia iiá s!

O que o astuto leitor por certo já observou na vida de pessoas


como eu, praticantes do ocultismo, é que elas se encontram numa
constante busca para obter mais conhecimentos ocultos, pois “apren­
dem sempre e jamais podem chegar ao conhecimento da verdade”
(2 Tm 3.7). Isto quer dizer que eu passei minha vida indo de um
lugar para outro, atrás de novas iniciações, novas ordens secretas,
novos princípios do conhecimento ocultista. É verdade.
Aleister Crowley, meu ídolo de então (provavelmente no sen- q
tido mais literal possível), observou certa vez que o caminho de ^
quem conhece a magia (daquele que já está num estágio avançado) -
é bastante semelhante ao alpinismo — esporte que ele conhecia ^
muito bem. Disse ele que na magia, assim como acontece no es­
porte de escalar montanhas, é tudo uma questão de permanente ^
esforço para subir, com pouco tempo para descanso.
O alpinista praticamente não tem tempo para descansar quan­
do se encontra na parte íngreme de uma grande montanha, segu- 14:
rando-se com os dedos ou pinos encravados na rocha.
E uma situação em que ocorre um desgaste contínuo de energias
até a exaustão muscular e que exige muita força de vontade. E
muito raro o alpinista chegar a uma parte plana ou a um ponto sem
declive em que possa finalmente descansar. E é isso que o praticante
da magia vive. Se relaxar, se “afrouxar” por um pouco mais de tem­
po, corre o risco de se soltar do seu gancho e cair no “abismo”, que é,
como já foi dito, o equivalente ao inferno no ocultismo, onde se
acaba morrendo de “acidente” causado pela magia.
Isso acontece, em parte, porque na magia há sempre quem
queira ou arruinar ou acabar com a vida de outros praticantes.
É tal como ser um atirador. Há sempre alguém querendo provar
ser melhor do que outros. As compensações por esse tipo de
interação selvagem são muitas, pois há uma crença de que quem
mata outro participante da magia recebe todo o poder de que o
morto era dotado, e ainda os seus demônios e a sua sabedoria,
em herança. Deste modo, aquele que mata vários outros bem
desenvolvidos na magia acaba ficando com um enorme poder.
Por exemplo, quando, numa determinada ocasião, o avião em
que estava LaVey desapareceu no radar , os boatos na confraria
eram de que ele fora assassinado secretamente por sua filha Zeena,
que assim se "beneficiaria”, recebendo toda a sabedoria do seu pai,
todo o seu poder mágico e os seus poderosos demoníacos. Aparen­
temente, esses boatos não correspondiam a verdade, mas esse tipo
de coisa de fato ocorre com certa freqüência com satanistas menos
conhecidos. E por que não?... O que, nessa sua ética totalmente
distorcida, impediria de ocorrer tais guerras para obterem mais
poder? É a sobrevivência do mais forte, não é?
Outra razão para dedicarmos um permanente esforço em bus­
car novas iniciações, mais conhecimentos e maior poder é que
Satanás fica empurrando seus adeptos para a frente. E a velha
técnica de se conseguir alguma coisa com incentivos e, depois,
com ameaças, se a pessoa fraquejar. Nessa “roda-viva” de Satanás,
não dá para saber nunca o que a gente está para obter. Ele é um
capataz demasiadamente cruel, que espera 1 1 0 % de seus escra­
vos. Assim, o satanismo tem suas estranhas formas de legalismo,
tal como ocorre em qualquer religião que Satanás tenha criado,
por todos os séculos.
Fica-se permanentemente sob uma forte tensão, pois, se di­
minuir um pouco que seja o ritmo do nosso progresso, então, de
duas, uma: ou isso fará com que a gente caia no seu desagrado
total (condição em que ele nos expulsa, com a perda de todos os
seus favores, podendo ate nos matar), ou um outro adepto da
magia, em ascensão, nos ultrapassará, recebendo de Satanás um
“poder extra” de magia que o capacitará a matar-nos ou, pelo
menos, nos reduzir à condição de um debilóide total. E tal como
no jogo C alabouços e D ragões, exceto que os riscos são inimagina-
velmente mais elevados.
Essa situação leva o adepto da magia a ser um superempreen-
dedor. Isso o torna extremamente ocupado, sem condições de dar
um passo para trás e não tendo tempo para considerar, de um modo
crítico, o que realmente está fazendo na vida. E desse modo que
Satanás gosta de ver seus servos! E no contexto dessa desesperada,
quase desvairada busca por obter “mais luz, mais sabedoria, mais
verdade” que o estranho episódio narrado a seguir deve ser
entendido.

R V in d A dos I l u m i n ó i d e s

Eu nao tinha compreendido muito bem o fenômeno dessa luz ofus­


cante que experimentara quando da evidente presença de Lúcifer
(ou, pelo menos, diante de energias luciferianas). De quando em
quando, Orion deixava escapar um riso de escárnio alusivo à “luz”,
mas ele se mantinha irredutivelmente calado a esse respeito. Eu
nunca lhe disse que, por vezes, havia passado por estranhas expe­
riências de “fundir a cuca”, e não sei se ele dispunha de outros
meios para saber disso.
Por vezes, ele fazia veladas referências aos Illu m in a ti (vocá­
bulo latino que significa “Iluminados”). Fora-me dito, alguns
anos antes, por um grão-mestre druida, que Illu m in a ti era um
termo que se referia aos níveis mais elevados da magia e do
druidismo, também conhecido como “A Grande Irmandade
Branca”, ou a A... A... (que significa A rgentinium A strum , ou
“Ordem da Estrela de Prata”).
Eu já tinha também ouvido dizer que os Illu m in a ti eram lí­
deres de uma conspiração internacional de judeus, de anciãos de
Sião, de jesuítas, extraterrestres malignos, comunistas ou ban­
queiros (ou de todos eles), que procurariam destruir os Estados
Unidos. Como eu me mantinha demasiadamente ocupado, não
dava tempo para sequer investigar e assim descobrir se quaisquer
das explicações acima tinham algo a ver com a verdade. Nos me­
ses que se seguiram à minha experiência inicial de “epifania”
daquela luz branca, quente e ardente, Orion fez obscuras refe­
rências aos Illum inatti.
Então, numa noite, passei por uma experiência bastante fora
do comum. Não posso dizer se foi um sonho ou se foi real, mas foi
uma viagem para fora do meu corpo físico (que se chama de proje­
ção astral). O fato é que as conseqüências do que aconteceu foram
definitivamente reais.
Aquela altura, eu já era um “viajante astral” freqüente. Saía
do meu corpo repetidas vezes, por várias razões. Eu vinha prati­
cando a projeção astral por quase dez anos. No entanto, naquele
dia em particular, foi muito diferente. Fui arrancado do meu cor­
po antes que pudesse me dar conta do que estava acontecendo. A
imagem que eu tinha era a de ter sido puxado para cima, indo
pelos “caminhos” da Árvore da Vida em direção à região de Binah,
ou Saturno .1
Essa estranha e involuntária viagem levou-me a um enorme
templo escuro, em meio a estrelas que giravam próximas do que
parecia ser o anelado planeta Saturno. O templo era completa­
mente escuro, sem reflexo algum em sua superfície. Era angular,
estranho e diferente de qualquer estrutura que eu tivesse já visto,
exceto que o motivo arquitetônico predominante era o trapézio.
(O trapézio é uma das formas mais sagradas para Satanás, por
motivos por demais complexos para relatar aqui.)
As torres do templo inclinavam-se o suficiente para deixar
qualquer um apreensivo, e, até mesmo do exterior, os ângulos e a
geometria do lugar pareciam fora de padrão. Fui levado a uma
porta trapezoidal, que era ainda mais escura do que o próprio tem­
plo, se é que isso seria possível.
Uma vez dentro daquele templo negro, observei haver salas
externas cheias de uma misteriosa luz esverdeada. O lugar parecia
ser de fato real, e dei uns beliscões em mim mesmo para ver se eu
não estava dormindo, mas não senti nada. O que eu sentia era a
lisura do piso, gelado e negro, sob os meus pés descalços, e a pele
arrepiada em todo o meu corpo como uma realidade.
A ÁRVORE DA VIDA:
REGIÕES PLANETÁRIAS E “DEUSES”

Turbilhões Primordiais
(Centro Galáctico)

Saturno
“Kerridwen
“Cronos”

Dor
d a
C iledril
"3
Mercúrio Vênus
M7
“Thoth” “Afrodite"
“Hermes” Rhiannon

Terra
“Gaia'’
Deméter'

Alguém se aproximou, vestido com um simples manto bran­


co. Era um senhor honrado e de certa idade, com uma bela cabeça
de cabelos brancos e ondulados, tendo um delicado bigode bem
aparado. Ele nao era, absolutamente, quem eu esperaria encontrar
num lugar como aquele. Com uma voz amável e ressonante, ele
cumprimentou-me e apresentou-se como sendo “Mestre H ”.
Disse-me que seria o meu mentor e guia e me convidou a
segui-lo, dirigindo-se às partes interiores daquela soturna cidadela
negra. Nada poderia ter-me preparado para o que me esperava.

A C A t e d r A l dA D o r

O salão ao qual entrei assemelhava-se a um templo, talvez tão am­


plo quanto o de uma igreja de bom tamanho. Não havia em que
sentar-se, apenas um altar em forma trapezoidal numa plataforma
um pouco elevada, no centro. O altar era feito de um concreto
aparente e rústico. Nele havia vigas de ferro retorcido projetando-
se em todas as direções e estavam visivelmente manchadas de san­
gue. Uma dessas vigas levantava-se atrás do altar formando uma
rude cruz de cabeça para baixo. Por trás do altar, havia um trono,
num plano mais elevado, que chamava a atenção de um modo
impressionante. Era preto, absolutamente liso, e estava vago. Sen­
ti-me um pouco aliviado por não haver ninguém nele sentado.
Contudo, era a única coisa naquele lugar que tinha uma aparência
tranqüilizante.
Meu distinto guia voltou-se para mim e começou a gesticular
com muito entusiasmo, mais ou menos como se fosse o maestro de
uma orquestra. E disse, então, sem alardes:
— Bem-vindo à Catedral da Dor.
Com estas palavras, luzes com um brilho obscuro surgiram
silenciosamente por trás das paredes daquele amplo lugar, e eu fi­
quei tão assustado com o que vi que senti-me tomado de forte
aflição. As paredes, que antes pareciam pedras pretas lisas e incli­
nadas, revelaram-se como sendo totalmente de vidro transparente,
retendo em seu interior um fluido também transparente. Flutuan­
do dentro daquele fluido, havia dezenas, se não centenas, de cor­
pos humanos, nus! Estavam todos mortos, a maioria deles com a
expressão de um intenso terror, demonstrado por uma contração
em sua face congelada. Muitos estavam mutilados, de modo tal
que me causaram asco.
Na sua maior parte, aquela grotesca vitrina, semelhante a
um aquário, continha corpos de pessoas jovens. Quase todos pa­
reciam estar entrando na fase adulta, mas entristeci-me ao ver
que havia ainda muitos meninos e meninas, e até criancinhas
de menos de três anos, flutuando junto com os demais. Era como
se estivessem preservados, flutuando num formaldeído ou em
alguma funesta substância, tal como uma coleção de borboletas
do inferno.
Aquele cenário demoníaco circundava-me de todos os lados,
exceto de um, daquele salão que agora dava para ver que tinha
nove lados. Nove é um dos números mais apreciados pelos
satanistas, pois é o único número que se reduz a si mesmo, sem­
pre .2 Somente a parede atrás do trono se mostrava ainda como
sendo de pedra preta.
— Esses aí são os filhos do Mestre — proclamou meu guia,
com um estranho orgulho em sua voz. — Não são belos?
Minha garganta ficou tão seca que eu nem conseguia dar-lhe
uma resposta. É incrível, mas de um modo sinistro muitos deles
eram belos. Envergonho-me de ter reagido com certa lascívia à
vista de muitas das mulheres que flutuavam à minha frente. Era
como se eu estivesse tendo o pesadelo mais desagradável que se
possa imaginar, mas tudo me parecia ser muito real.
— Todos os que morrem desta maneira são privilegiados de
pertencerem ao Mestre — explicou-me H. — E agora você perren-
ce a ele também, para sempre!
Sua última afirmação foi como um mau agouro já consu­
mado, fazendo sentir-me atingido por dolorosa punhalada de
terror, já me vendo flutuando atrás das paredes de vidro daque­
le maldito lugar.
Antes que tivesse condições de falar ou de fazer qualquer coi­
sa, um raio de luz caiu do teto, trovejando, vindo de cavernas não
vistas, atingindo o trono escuro com uma luz tão intensa e brilhan­
te que fez com que eu nao conseguisse mais ver aquelas horríveis
imagens dos corpos flutuantes ao meu redor.
Saindo daquele feixe de luz, surgiu um enorme ser, difícil de
descrever. Vestia também um manto branco e tinha cabelos bran­
cos que caíam sobre seus ombros, dos quais saíam poderosas asas.
Todavia, tudo nele se alterava a cada segundo. Num momento,
parecia um homem normal, mas extremamente bonito, vistoso.
L ü ci fe r DeslronAdo

No momento seguinte, a cabeça de um touro; e depois, a face de


uma bela mulher. O brilho da luz e as rápidas alterações na aparên­
cia do a;Í2:antesco ser diante de mim fizeram com que meus olhos
ardessem e lacrimejassem, a ponto de ter que coçá-los. Sentia uma
forte disposição de mantê-los abertos e estava totalmente atônito
diante da realidade daquela experiência. Meu guia, H., me fez dar
uns passos para a frente e ajudou-me a deitar no piso daquele frio
altar de concreto. Até me senti aliviado por ele não haver-me
acorrentado ou coisa similar.
Perguntava a mim mesmo como fugir dali. Eu não tinha idéia
alguma de onde estava, ou se não estava em algum lugar que não
fosse na minha cabeça insana. Não podia imaginar, no entanto,
como a minha mente poderia ter concebido um lugar tão horrível
como aquele, mesmo num pesadelo.
Senti-me estranhamente estimulado enquanto deitado no al­
tar. Era como se o meu medo tivesse sido entorpecido pelo poder
que fluía daquele ser cintilante no trono. De repente, surgiram
dezenas de pessoas. Homens e mulheres vestidos tal como o meu
guia, exceto que portavam um capuz na cabeça. Por estranho que
pareça, eu ouvia o fraco som dos seus passos de pés descalços sobre
o piso do templo.
Começou então um cântico em Latim: “Ave, Satanas; rege,
Satanas” (Salve, Satanás; reina, Satanás) em tons profundos de bai­
xo — como cantos gregorianos, mas em tons muito estranhos.
— Você experimentou da iluminação do nosso Mestre, o Por­
tador da Luz, e foi achado digno de receber a Luz — disse-me o
meu guia. — Você se rende à Luz?
Minha cabeça parecia estar zumbindo, mas mesmo assim sen-
ti-me calmo e relaxado. Consegui dizer “sim”, e a cantoria cresceu
em intensidade. Repentinamente, o ser sobre o trono levantou-se.
Fiquei impressionado ao ver como era alto. Procurou esforçada­
mente firmar-se de pé, com as pernas abertas, sobre o altar, do
mesmo modo que um adulto tentasse montar num velocípede.
Estendeu, então, sua mão esquerda e a colocou sobre a minha tes­
ta. Tive que fechar os olhos por causa da luz fortemente brilhante.
Parecia que meus olhos estavam se transformando em ferro
derretido. Minha fronte estava prestes a explodir. Senti o rasgo de
uma garra no centro da minha testa, um pouco acima das sobran­
celhas, entrando até o meu cérebro, como se fosse uma barra metá­
lica incandescente. Quis gritar, mas não consegui. Todo o meu
corpo sentia-se como se fosse estourar, por ter-se enchido de uma
extraordinária luz ardente.
Outra garra tocou em mim, e senti a dor de uma forte ferroada.
Então, as duas mãos se afastaram, e uma voz falou; era a mesma
voz que eu já tinha ouvido e que surgira dentro de mim várias
vezes em que estava celebrando um ritual.
— “A gora você m e p erten ce para sem pre!”
O som de uma centena de vozes de repente ressoou por todo o
salão, cantando:
— “Glória e am or a L úcifer! Ódio!, ódio!, ódio! a Deus, am aldi­
çoado!, am aldiçoado!, a m aldiçoado!”
Parecia que a garra ardia dentro da minha mente. Meu corpo
estremecia-se todo, estendido sobre o altar, com o poder daquele
cântico. Sentia-me como um peixe preso num anzol, sendo arras­
tado para fora d’água pelo meu próprio cérebro. Quis soltar um
grito de dor, mas o que saiu foi:
— “Glória e am or a L úcifer! Odio!, ódio!, ódio! a Deus, am aldi­
çoado!, am aldiçoado!, am ald içoa do!”
O ensurdecedor estrondo de um trovão atingiu a catedral. Fui
arrastado para fora do altar a uma incrível velocidade e levado para
aquele terrível aquário de cadáveres. Por um segundo, pensei que
fosse ser colocado no meio deles. Por fim, consegui dar um gri­
to. Mas, antes que o grito terminasse, eu já havia ultrapassado o
aquário e viajava no que parecia ser o relâmpago de um raio pas­
sando pelas nuvens e movendo-se rapidamente em direção à terra.
Em menos de um segundo, achei-me deitado, de barriga para
baixo, sobre a relva molhada pela chuva do quintal da minha casa,
envolvido pelo inconfundível aroma do ozônio. A grama ao meu
redor parecia estar estranhamente chamuscada, e uma fumaça su­
bia do sramado como se estivesse sendo assado ao calor do sol da
tarde de um dia de verão.
Foi tudo um sonho? Não dá para dizer. Mas, se foi, eu vim, em
sonambulismo, do meu quarto para o lado de fora da casa, até o meio
do jardim, debaixo de uma forte chuva, sem acordar ninguém. Nunca
fui sonâmbulo. E Sharon, por sua vez, desperta ao menor ruído.
Minha vida mudou profundamente a partir daquele dia. Se
aquele ser com quem me defrontei era de fato Satanás, ele me dera
uma marca que eu levaria por muitos anos, a partir de então. Essa
marca era um sinal de que eu era propriedade dele e me fazia nun­
ca esquecer-me disso. Pode ter sido um pesadelo, mas um pesadelo
do qual eu poderia ter nunca mais acordado.

Not AS

1 Na Cabala, a Árvore da Vida é composta de dez esferas, oito das quais


têm o nome de um planeta. Essas esferas são ligadas por 22 caminhos,
correspondendo cada um a uma letra do alfabeto hebraico. Para os ma­
gos cerimoniais, é comum a projeção astral, por meio de cartas de Tarô
— que se relacionam com os caminhos — , usando-as para viajar por eles
a diferentes esferas planetárias. Esta técnica avançada é chamada de “ope­
ração caminho”.
2 Na numerologia, ou gematria, do ocultismo, com o número 9 ocorre o
seguinte: 27 é múltiplo de 9; 2+7=9. 63 é múltiplo de 9; 6+3=9. 9x62=558;
5+5+8=18 e 1+8=9. E muito curioso, mas este esquema funciona sempre
com qualquer múltiplo de 9.
Os S A d u c e u s de H o j e

Não ameis o mundo nem as coisas que há no m un­


do. Se alguém am ar o mundo, o am or do Pai não
está nele.
— 1 João 2.15

f X lu ita s vezes, quando estou falando a respeito do satanismo em


igrejas, surge a seguinte questão: “Por que estamos vendo todas
essas coisas acontecerem atualmente? Meus pais nunca ouviram
falar de adoradores de Satanás, nem de pessoas sendo possuídas
pelo diabo. Se tudo isso é verdade, por que a Igreja não vem tratan­
do dessas questões há mais tempo?”
É uma importante questão e que merece uma resposta séria.
Isso em parte acontece porque há pessoas, tanto incrédulos como
crentes sinceros, que gostariam que acreditássemos que tudo o que
temos ouvido sobre satanismo e opressão demoníaca é apenas o
produto de mentes perturbadas, de sensacionalismo por parte de
jornalistas ou, até mesmo, de ministros do evangelho.
Alguns líderes cristãos não conseguem imaginar que toda essa
situação é uma realidade há vários séculos, bem debaixo do nariz
da Igreja, e que ninguém tinha descoberto isso a não ser há cerca
de algumas décadas. Eles questionam por que o discernimento do
Espírito não teria detectado tudo isso. Também fazem perguntas
do tipo: “Onde estão os corpos e outras evidências físicas que com­
provem todos esses supostos rituais?” Ou, ainda: “Como é que es­
ses satanistas conseguem pessoas para serem sacrificadas?”
Essas perguntas refletem um ingênuo entendimento tanto da
história da Igreja com o dã natureza hum ana. Tais pessoas desconhe­
cem o impacto de duas heresias que andam de braços dados — o
racionalismo e o cientifismo. ou cientismo — sobre a cultura oci­
dental, atingindo até mesmo a Igreja.
Somos, hoje em dia, pressionados por duas cosmovisÕes: uma
que vê o mundo com uma base bíblica, e outra, modernista e
secular. E triste, mas são muitos os líderes da Igreja que procu­
ram ser bons servos do Senhor e que, ao mesmo tempo, ainda
dobram os joelhos a Baal diante dos altares da ciência e do
secularismo. E bem possível que eles se regozijem diante da res­
peitabilidade que o cristianismo tem alcançado em certas áreas
da sociedade, mas ficam com um pé atrás diante das palavras de
quem esteja falando sobre Satanás ou demônios, tornando-se,
assim, confusos a esse respeito.
Muitos desses cristãos são totalmente sinceros. Infelizmente,
são tal como um peixe em relação à água em que vive: nem a per­
cebe. Não têm percepção alguma da influência negativa que a cul­
tura ocidental lhes tem impingido. Nossa cultura é contagiante e
tem sido ainda mais influente com a onipresença da televisão e do
rádio. A aceitação inocente, sem qualquer avaliação, de pressupos­
tos culturais pode ser a causa de sérios problemas quando a pessoa
estiver face a face com as garras sanguinárias de Satanás.

Os S A d u c e u s G s t l o d e V oI í a

A maioria dos cristãos, até mesmo líderes e instrutores, não leva


muito em consideração a esfera espiritual. Este é o fenômeno que
um missiólogo, Dr. Paul Hiebert, chamou de “o meio excluí­
do” .1 O que isto significa é, simplesmente, que a maior parte das
pessoas das nações industrializadas do Ocidente acredita no mun­
do racional de todos os dias, que inclui carros, telefones e tudo o
mais, mas dão muito pouca (ou nenhuma) atenção às coisas da
realidade espiritual.
É certo que os cristãos do mundo ocidental acreditam em Deus
e em Jesus Cristo. Reconhecem, de fato, a existência da Trindade
do Pai, Filho e Espírito Santo. Crêem (assim espero) na Bíblia e
nos registros históricos que ela contém. Todavia, normalmente con­
seguem ver apenas duas dimensões:
1) A do mundo “real” do dia-a-dia da vida.
2) A dimensão de Deus.
Deste modo, detêm uma mentalidade essencialmente ociden­
tal, pós-racionalista (isto é, científica, empírica), que não é real­
mente bíblica. Esquecem-se de que a Bíblia é um livro oriental,
escrito por homens inspirados pelo Espírito Santo (2 Pe 1 .2 1 ). A
visão bíblica (ou seja, a visão do Senhor) não é particularmente,
ocidental ou racionalista. É uma cosmovisão pela qual, quase todo
dia, acontecem encontros do divino, angélico e humano. E é esta a
mentalidade que permanece pela maior parte do mundo afora, uma
mentalidade que inclui um mundo acima das atividades humanas
diárias, com as quais nos ocupamos em todo o tempo, mas abaixo
do mundo de Deus. E a região dos anjos (tanto eleitos como ma­
lignos) e demônios. E a região do meio, que está faltando, e que foi
“excluída” do pensamento da maioria dos cristãos ocidentais.
Já conversei com crentes, que são sinceros e inteligentes, mas
que acham que a esfera espiritual tem muito pouco, ou nenhum,
efeito sobre a vida deles. Admitem que talvez haja um demônio
que por vezes atue, por exemplo, na China, e que pode acontecer
que alguém, ao passar por uma grande dificuldade, possa ter a
visão de um anjo. No entanto, em sua quase totalidade, rejeitam
a possibilidade de uma interação diária com a esfera sobrenatu­
ral. Alguns deles a té m esm o estão totalm en te con ven cid os d e que tal
interação é im possível.
De certo modo, podemos comparar tais pessoas com a antiga
seita judaica dos saduceus, do tempo de Jesus. A aristocracia teoló­
gica judaica naqueles dias estava essencialmente dividida em dois
grupos: os fariseus e os saduceus. O ponto que mais diferenciava a
seita dos saduceus é que eles não acreditavam na ressurreição, nos
anjos e nos espíritos.- (Veja Mateus 22.23; Atos 23.8.)
Os saduceus eram religiosos muito devotos. Ninguém ja­
mais duvidaria da sua condição de judeus religiosos de primeira
ordem. No enranto, n egavam a esfera espiritual e a ressurreição
dos mortos.
Embora grande parte dos cristãos de que estamos falando, que
negam ou ignoram a esfera espiritual, realmente creia na ressurrei­
ção dos mortos (assim espero!), é, porém, sob vários aspectos, se­
melhante aos saduceus. São piedosos, religiosos, certamente
verdadeiros crentes no Senhor Jesus Cristo. Apesar, no entanto, de
seu zelo e de se apegarem à “sã doutrina”, passam por cima de tudo
o que se refere à esfera de anjos e demônios, pois isso os levaria
para longe da região em que se sentem confortáveis. Isso faria com
que o que é divino e sobrenatural afetasse o prazer que sentem na
vida, no dia-a-dia. Eles têm procurado confinar Deus dentro de
uma caixa. Tal como os saduceus, erram “não conhecendo as Escri­
turas nem o poder de Deus” (Mt 22.29).
Contudo, para os cristãos das nações assim chamadas do “Ter­
ceiro Mundo”, cristãos que atuam na linha de frente da batalha espi­
ritual, ter encontros com agentes espirituais de Deus ou do diabo é
algo comum, corriqueiro, tal como lhes é trivial, diariamente, faze­
rem uso de um fogão ou uma geladeira. E tudo uma questão de qual
é o “filtro” através do qual processamos as informações de que dispo­
mos. Esses cristãos buscam evidências do poder de Deus nos aconte­
cimentos de cada dia, dando-lhe glória e louvor pelos “pequenos”
milagres que Ele faz, tanto quanto pelos grandes.
Os cristãos que não encontram lugar para as questões demo­
níacas e angelicais em sua vida acham-se, infelizmente, fora da re­
alidade apresentada pela B íblia e, em especial, pelo Novo
Testamento. Sem que o tenham percebido, assimilaram da menta­
lidade secular e da cultura ao seu redor. Acabaram, inocentemente,
caindo na mentira de Satanás. Sua mente e seu espírito foram trei­
nados a ver qualquer evidência de uma intervenção divina em sua
vida como mera e feliz coincidência. Sao eles os saduceus moder­
nos, que, em sua forma de pensar, dão toda a primazia à ciência.

V e n d o o DÍAbo em T u d o ?

No que se refere à ação demoníaca dentro da esfera espiritual, há


sempre o perigo de se cair no extremo oposto. C. S. Lewis faz uma
conhecida observação, em seu livro The Screw tape Letters [Cartas
do Inferno], de que há duas mentiras que Satanás promove de um
modo especial: a plena negação da existência do diabo, ou, então,
uma ênfase exagerada a Satanás e seus servos, desenvolvendo assim
uma obsessão doentia. Quero dizer que não estamos promovendo
a segunda alternativa, de jeito nenhum.
Freqüentemente aqueles que ministram nesta difícil área são
acusados de “ver demônios em tudo”. Chegam a dizer que eles
vêem demônios até na própria sombra. Eu, em particular, posso
dizer com segurança que nunca vi demônio algum desse jeito. Tam­
bém não quero negar que alguns dos que oram para a libertação de
pessoas sob opressão demoníaca acabam deixando de ter uma po­
sição equilibrada. Não obstante, não é pelo exagero de alguns que
devemos ignorar a esfera espiritual e abrir mão do nosso dever de
enfrentar batalhas espirituais. Há quem exagere em suas orações
por aqueles que se acham enfermos. E isso significa que não deve­
mos orar pelos doentes? Creio que bem poucos o recomendariam.
No entanto, a libertação espiritual é tão importante quanto as de­
mais áreas do nosso ministério na igreja; mas tem sido negligenci­
ada, para prejuízo do rebanho.
Há, porém, realmente, aqueles que atribuem tudo como sendo
da esfera demoníaca. Expulsam demônios das mínimas coisas;
até mesmo das frieiras nos pés. Ou culpam os demônios por
qualquer pecado da carne. Obviamente, isso não é razoável nem
bíblico. Mas não podemos permitir que os abusos de alguns ve­
nham a destruir as bênçãos que são alcançadas por aqueles que
realmente estejam querendo praticar o discernimento e a oração
segundo a Bíblia.
A verdade, porém, é que aqueles que optam por ignorar a es­
fera dos anjos e demônios — esse “meio excluído” — também
tendem a negar a existência de qualquer ameaça por parte do
satanismo. Evidentemente que o fato de que existe, de fato, grupos
satânicos que praticam o mal constitui uma ameaça à sua
cosmovisão. Abala a sua confortável e acanhada percepção do modo
pelo qual a realidade funciona.

í H a I C o m " 111 “ Ü I a í ú l s c u I o

Os relatórios que sao divulgados sobre abusos rituais e satanismo


mostram um tipo de mal praticado que vai além da esfera natural.
Revelam um m al sobrenatural, que chega a abalar a estrutura das
pessoas, até mesmo das mais equilibradas. Uma evidência dessas
indica que o diabo ainda está, de fato, vivo, e passando muito bem,
intrometendo-se dia a dia nas atividades humanas.
Nao é um conceito que agrade os cristãos que estão procuran­
do teologizar o diabo e seus demônios, considerando-os inexistentes
ou colocando-os em alguma “prisão espiritual” até a chegada da
Tribulação. Lembro-me de alguns professores meus, do Seminário
Católico, que nos ensinaram que não existe algum mal com “M ”
maiúsculo. Segundo eles, todo o mal que existe é um mal social
(pobreza, guerra, racismo, injustiça) e humano.
Um Mal nítido, puro, cósmico, seria uma concepção por de­
mais assustadora para um pensamento teológico liberal. E a ra­
zão disso, de certo modo, é que um Mal assim necessitaria da
existência de uma divindade pura e cósmica — conceito do qual
não têm muita certeza.
Não obstante, quando começamos a nos deparar com a ma-
lignidade dos atos praticados em crianças (e até mesmo em adul­
tos) que o satanismo apresenta, não temos como aceitar que
isso seja decorrente de um mal ou neurose social. O fato é que
homens como Jeffrey Daumer 3 e Adolf Hitler 4 não podem ser
explicados simplesmente por má criação ou necessidades não
supridas na infância. A única explicação plausível é que eles
foram atingidos por uma satânica blitzk rieg [palavra alemã que
significa ata q u e rep en tin o , o qual era, justamente, o que o exér­
cito de Hitler mais praticava], e esse ataque os contaminou de
uma malignidade transcendental — que a mente humana nem
pode imaginar.
Contudo, este é um conceito que não entra na mente da nossa
cultura, por estar muito próximo daquelas duas malfadadas pala­
vras “tabus”, quais sejam, “pecado” e “inferno”. Vem de encontro
aos conceitos teológicos de muitos cristãos, cujo entendimento do
cristianismo é que se trata de uma instituição em que se entra para
ser salvo, passando a integrar o clube do “Deus Me Abençoe” e
ouvir sermões e participar de eventos sobre como ser melhor pai
ou mãe, como ser próspero e como melhorar a auto-estima.
Esquecem-se tais cristãos de que o exemplo mais notável d e auto-
estim a é o d e Satanás. Esquecem-se de que o cristianismo deve ter
uma voz profética na cultura, e não render-se aos valores da cultu­
ra. É muito certo e bom que os pregadores cristãos se voltem con­
tra o aborto ou contra o movimento pelos direitos dos homossexuais.
No entanto, muitos desses pregadores têm-se deixado levar por
valores bem mais sutis e perigosos da cultura, em aspectos bem
mais insidiosos. São afetados por uma mentalidade mundana, ori­
entada por marketing, centralizado na mídia, tendo uma visão da
Igreja e sua função baseada na Psicologia moderna. Tal concep­
ção não os protegerá, nem às suas ovelhas, quando os ventos de
enxofre de Satanás começarem a soprar fortemente em seu santu­
ário acarpetado e provido de ar condicionado, levando o rebanho
ao desespero.
Assim, precisamos estar atentos de que a nossa cosmovisão e as
nossas expectativas sejam baseadas na Bíblia. Temos de reexaminar
nossos pressupostos de como o universo funciona. E, acima de tudo,
precisamos parar de nos ajoelharmos diante dos falsos deuses do
secularismo e “da falsamente chamada ciência” (1 Tm 6.20 — Rc).
Tendo estas considerações em mente, fica fácil compreender
por que tais questões são levantadas sobre o satanismo. Procurare­
mos responder a estas questões, em espírito de oração.

N oías

Quebrando as Correntes. Ed. Mundo Cristão, 1994. p. 33.


1 A x d e rs o n . Neil T.
: E lw e ll, Walter A. (Ed.) The Shaw Pocket Bible Handbook [Manual Shaw
Bíblico de Bolso]. Wheaton, USA: Harold Shaw Publishers, 1984. p. 378.
3 Jeffrey Daumer foi condenado, em Milwaukee, por atos terríveis de tor­
tura homossexual, assassinato e possível canibalismo de jovens e meni­
nos. É apenas um dos muitos casos, ocorridos recentemente, de criminosos
que cometeram “assassinatos em série”, levados, certamente, pelo Mal
sobrenatural. O claro envolvimento de Daumer com o satanismo foi,
evidentemente, desprezado.
4 A par dos inúmeros crimes de Hitler, e do seu pseudocatolicismo, ele era
também profundamente envolvido no ocultismo. Era iniciado num gru­
po teosófico chamado Thule Gesellschafi e fez com que sua organização
SS desenvolvesse uma agência para o estudo da magia e do satanismo
chamado Annerbe. Para mais informações sobre o conteúdo ocultista e
satânico da filosofia nazista, veja a obra de LaVey The Satanic Rituais
[Rituais Satânicos]; Hitler: the Ocidt Messiah [Hitler, o Messias Ocultista],
de Gerald Schuster; e ainda The Twisted Cross [A Cruz Quebrada], de
Joseph Carr (autor cristão).
4’ . . . R Í I l A l d i ç Ã o s e m Causa
n l o se C u m p r e ”

T orn ei-m e um a m on stru osa m á q u in a d e


aniquilação...
— Ritual de Destruição, Bíblia Satânica,
Anton LaVey

elizmente, para o bem da minha sanidade mental, somente fui


chamado a voltar à “Catedral da Dor” umas poucas vezes. Não
consegui, em nenhuma das vezes, descobrir se se tratava de um
lugar real, um templo astral ou um local de encontro criado pelos
satanistas. Contudo, as lembranças dessa experiência perseguiram-
me por muitos anos.
Discuti com Sharon o que eu conseguia lembrar-me dessas
viagens, e ela ficou um tanto perturbada. Por incrível que pareça,
eu sentia que meu cérebro estava diferente. A impressão que me
dava é que estava carregando uma peça m etálica em torno
da minha cabeça. Era como se alguma coisa, de uma tecnologia
alienígena, tivesse sido inserida no meu lobo frontal. Mas, não
importa o que fosse, eu não havia ficado com cicatriz alguma
— exceto na cabeça. Assim, como eu poderia saber o que tinha
acontecido?
Uma parte do meu ser e'stava temerosa, e outra parte, excita­
da. Teria sido admitido no misterioso e augusto corpo dos
IlluminatP. Se fora, o que isso significava para a minha busca de
conhecimento e de poder do ocultismo?
De um modo bastante estranho, essa pergunta foi respondi­
da num dia em que Orion entrou em contato comigo inespera­
dam ente. Disse-me estar vindo a M ilw aukee a negócios e
perguntou se não nos importávamos se aparecesse em nossa casa.
Embora nem Sharon nem eu nos entusiasmássemos muito com
ele e seus acompanhantes, sentimo-nos mais ou menos obrigados
a convidá-lo.
Ao chegar, irrompeu portas adentro de nossa casa com sua
característica risadinha sem graça, que me lembrava uma hiena.
Além daqueles que normalmente trazia consigo, veio ainda um
sujeito que eu não conhecia, que era de pele bem morena e de
pequena estatura, com um bigode bem aparado e uma careca apa­
recendo à frente de um ondulado cabelo bem preto. Orion me
chamou para ficar a sós comigo num quarto à parte, levantou as
mãos e as agitou à moda daqueles antigos pregadores negros
avivalistas, e disse:
— Ouvi dizer que você viu a Luz!
Para meu espanto, sacou de dentro do seu bolso um papel,
ou melhor, um pergaminho, que declarava ser eu um membro
de primeiro grau dos Illu m in a ti. Não me deu o pergaminho,
mas deixou-me vê-lo. Explicou-me que iria mantê-lo consigo
até que eu atingisse níveis mais elevados e provasse, assim, ser
“digno” de ficar com o papel. Observei que o documento estava
assinado com um estranho selo sob a forma de uma folha com
letras escritas à mão. Perguntei-lhe então que assinatura era aque­
la. Seus olhos saltaram para fora, e ele deu aquele seu sorrisinho,
dizendo:
— E a assinatura do Mestre, meu irmão. Da mão do Mestre!
Ele estava quase fora de si, de alegria. Dava até para eu imagi­
nar uma cauda batendo, saindo do traseiro dele, bastante agitada,
talvez até mesmo com uma seta na ponta!
Explicou-me Orion que essa minha nova ‘ promoção” por parte
das altas patentes dava-me condições de copiar e estudar mais pá­
ginas dos livros sinistros de Satanás e que teríamos de ter rituais de
sangue com maior freqüência.
— Você tem que se preparar para o Maior de Todos! — riu
ele, com uma gargalhada casquinada.
Eu sabia, por minha experiência passada, o que Orion queria
dizer com “o Maior de Todos”. Referia-se ao sacrifício do que é
chamado, entre os praticantes do ocultismo, de le cab rit sans cornu
— em Francês, “o bode sem chifres”, ou seja, um ser humano.
Embora isso fosse um elemento do satanismo e do vodu que eu
sempre tivesse procurado desconsiderar em minha mente, sabia ser
uma terrível realidade. As assombrosas experiências por que passa­
ra naquela apavorante “catedral”, porém, haviam-me marcado de
um modo tremendo, como eu jamais poderia ter imaginado. Ti­
nha me esquivado até então de pensar no assunto e cheguei até
mesmo a admitir que nunca consideraria o sacrifício humano
como uma possibilidade em minha vida. Mas é impressionante
como a mente humana consegue racionalizar as coisas para que
possam ser aceitáveis.
Um sentimento abrasador, que em mim nunca houve senti­
do, brotou, então, dentro de mim. Meu interior foi quase todo
tomado por uma excitação ante a perspectiva de dar uma vida hu­
mana em culto a Satanás.
Orion pôde ver, evidentemente, algo em meus olhos, pois sor­
riu tal como um gato que acaba de engolir um passarinho.
— Não dá para esperar, hein? Você tem razão. É, talvez, me­
lhor até do que sexo! — disse ele, mais uma vez com o seu sorriso
característico.
Sentou-se ao meu lado no sofá.
— Não se preocupe, meu irmãozinho, vamos iniciá-lo nisso
com a maior facilidade! — prometeu.
Não sei se ele sabia quanto me irritava ser chamado de
“irmãozinho”, especialmente por ele, aquele sujeitinho com cara
de rato, mas com certeza essa expressão tornou-se uma coisa terrí­
vel para mim. E ele chamar-se desse modo era, também, um tanto
incongruente, já que eu era uns 25 centímetros mais alto e pesava
uns 30 quilos a mais do que ele. Além disso, acho que era também
mais velho.
Mas consegui esconder minha irritação. Pelo que sabia, podia
ser um dos demônios dentro dele que falava, e esse demônio talvez
fosse bem maior do que eu, ou até uma casa, e com milhares de
anos de idade. De modo que aquilo me aborreceu mais do que nas
vezes anteriores, mas senti não ter deixado que ele percebesse.
Orion reclinou-se no sofá, demonstrando sentir-se magnâni­
mo, o que o impediu de ver qualquer problema em mim.
— Não se preocupe. Muitos irmãos ficam nervosos na sua
primeira vez. E mais ou menos como sexo; a primeira vez é a mais
complicada. Mas temos nossos métodos.
De novo sorriu ele, e parecia estar pronto para uma nova série
de risadinhas, quando prosseguiu:
— E necessário que você tenha um candidato para a oblação
que esteja mais que disposto, quem sabe uma pessoa jovem, mas que
tenha idade suficiente, ou esteja dopada, a ponto de não gritar mui­
to, que se ofereça de bom grado como uma dádiva ao Mestre. Desse
jeito, fica bem mais fácil. A pessoa se dá morrendo, irmãozinho!
Você nao vê a hora de fincar o punhal no coração dela!
Orion sorriu de um modo que poderia parecer angelical na
face de qualquer outra pessoa. E concluiu:
— É como dizem: a morte é a última viagem. É por isso que
as pessoas a evitam até o último momento!
Fiquei conturbadamente incitado com as imagens que esse
monólogo absurdo fez surgir em minha mente. Minha boca estava
um tanto estranha, como que querendo alguma coisa — mas o
quê? Senti um gosto metálico na boca, como se tivesse acabado de
tomar uma dose de LSD. Morte? Querendo matar? Seria isso que
eu estava sentindo? Uma parte do meu ser sentia uma aversão, mas

C u m p re
era praticamente vencida pela excitação dos impulsos que agita­
vam meu interior.
Orion, com um gesto de camaradagem, bateu de leve no meu

se
joelho e disse:

í i ão
— Não se preocupe, não será de imediato. Temos de fazer
certas coisas antes. Quem sabe começando com algumas oblações

a us a
menores...

C
— De que tipo? — consegui perguntar, mesmo com a boca

sem
totalmente seca.
— Bem, em parte é por isso que estou aqui. Você viu esse cara

íllAldiçÃo
que eu trouxe comigo?
Meneci a cabeça em sinal de assentimento.
— Seu nome não é importante agora. Esse sujeito é um m ehum
[nossa desdenhosa palavra em código significando “mero hum ano”,
isto é, um simples ser humano que me procurou em Chicago. Ele
quer dar um jeito na sua ex-mulher. Pagou-me em “dinheiro vivo”
para fazer um trabalho psíquico contra ela. Parece que ela está lhe 165
causando muitos problemas; tem a custódia dos filhos, mas é um
tanto desequilibrada. Você conhece esse tipo de história.
Ele prosseguiu com a sua trama:
— Disse-me que daria sua alma ao Mestre se conseguíssemos
uma maldadezinha feita à distância. Entende o que eu quero dizer?
— Sim. E qual é o meu papel, nesse caso?
Orion encolheu os ombros.
— Bem, achei que você gostaria de colaborar com suas energias
para essa maldição. Vamos ter que fazer um ritual bem caprichado
de destruição, incluindo o sacrifício de um animal. Então, quando
a “ex” dele apagar, você terá parte do crédito.
— “Crédito”?
— Você sabe como é, irmãozinho. Todo mundo que você ma­
tar a serviço de Satanás torna-se um sacrifício para o Mestre. Não
importa se for um esquartejamento num belo acidente de carro a
150 quilômetros de distância daqui, ou alguém levado amarrado a
um altar, se retorcendo todo, com um punhal apontado no pesco­
ço. Torna-se carne morta e passa a pertencer ao Mestre para sem­
pre. E eu vou permitir que você tenha uma parte da recompensa!
— ele me observou com muito interesse para ver como eu reagia.
— Você já fez trabalhos de maldição antes, nao é mesmo? — apres-
sou-se, então, a perguntar.
— Claro! — respondi.
Num certo sentido, era verdade. Eu tinha me envolvido com
“guerras" de magia, muito freqüentes entre os feiticeiros da nossa
região. Até mesmo os bruxos da linha “branca”, como os da Wicca,
crêem que têm o direito de se defender por meio de magia, quando
atacados. Há uma doutrina bem difundida entre os participantes
da Wicca, conhecida como Lei do Tríplice Retorno. Como feiticei­
ro, a pessoa tem o direito (e até o dever) de retornar de modo triplicado
qualquer bem ou mal que lhe tenha sido feito. E a sua forma parti­
cular de concepção da doutrina do carma. Assim, nos sentíamos no
direito de nos defender, quando atacados. Se o que fazíamos era ou
nao, realmente, uma maldição, isso era outro assunto.
Além disso, uma ou duas vezes, em meus primeiros anos como
feiticeiro, eu tinha amaldiçoado algumas pessoas que achei que
mereciam isso, sem que tivessem me atacado antes. Uma delas
foi um homem que conheci em Dubuque. Era um hippie, adepto
do uso de drogas e do amor livre. Tinha alcançado grande repu­
tação de conseguir muitas garotas, mesmo bem jovens, para fazer
sexo com elas, descartando-as, em seguida, de maneira rude. Di­
zia a cada uma delas que as amava e gostaria de casar com elas,
seduzindo-as, para logo em seguida despachá-las como algo des­
prezível. Fez isso à irmãzinha de um amigo meu, que freqüentava
um de nossos cursos na W icca. A chei que aquele
“bestalhão”merecia ser punido. Para mim, ele estava pervertendo
mulheres que eram imagens da Deusa-mãe que eu adorava. As­
sim, lancei uma maldição sobre ele, tornando-o incapaz de prati­
car o sexo.
Pelo que sei, ele ficou daquele jeito pelo menos durante o tempo

p r e
em que moramos em Iowa, ou seja, por alguns anos. Presumo que

C u m
o feitiço já se tenha, a esta altura, desgastado. Mas não é preciso
dizer que lhe causei um grande dano.

se
De outra vez, foi quando ainda estava radiante com o êxito da

n l o
minha magia sobre esse hippie. Antes de eu ter conhecido minha
esposa, havia uma moça que estava treinando para sacerdotisa da

a u s a
Wicca. Tinha conseguido para ela algumas jóias de bruxaria, com­

C
pradas numa livraria ocultista de Milwaukee. Era um bem adorna­

sem
do colar, um anel e uma pulseira, todos de prata. Seriam suas bigghes,
ou “jóias oficiais” da bruxaria, como se fossem as “jóias da coroa”

i T l A l d i ç A o
do grupo de bruxaria local. Não era nada de muito caro ou requin­
tado, mas tinha para mim um grande significado espiritual. Aque­
las jóias tinham sido consagradas num Círculo de Deusas da Wicca,
segundo as tradições.
Durante um evento, as jóias foram roubadas da sua pentea­
deira, por uma amiga. Tanto ela como eu ficamos muito aborreci­
dos e lançamos uma bruxaria. Invocamos a Deusa, para que 167
amaldiçoasse a ladra ou a forçasse a nos devolver as jóias. Dias
depois, a moça, que certamente não tinha mais do que 18 anos,
caiu e rolou pela escada do seu apartamento e ficou paralítica da
cintura para baixo.
Nao nos sentimos nada bem com isso. Então, tomei a resolu­
ção de que, dali em diante, não me envolveria mais com maldi­
ções. Agora, como satanista, estavam me pedindo para começar a
fazer isso de novo. Desta vez, a vítima seria uma mulher, possivel­
mente inocente, cujo único crime era o de ter sido a esposa daque­
le cidadão. Isso me incomodou muito, mas eu não tinha como
recusar.

ApOSl ASÍ A?

Orion pediu-nos que o deixássemos usar nossa capela de missa


gnóstica e thelêmica, para o ritual de maldição. Sharon concor-
dou, com alguma insistência minha, mas com certa relutância.
No entanto, decidiu não participar do ritual.
Orion me pediu, então, que eu fosse conhecer melhor nosso
“cliente”, enquanto ele iria preparar o lugar para o ritual. Estava
até curioso, de modo que fui para a sala e me sentei ao lado do
sujeito. Ele parecia estar sob uma forte tensão, fumando um cigar­
ro após outro. Apresentei-me, e ele tossiu, um tanto nervoso, di­
zendo chamar-se “Andy” (não é este seu verdadeiro nome).
Tratava-se de um sujeito gentil. Sua aparência física fazia-me
lembrar de algum artista de ópera italiana — tive a impressão de
que, a qualquer momento, ele começaria a cantar D olce Far N iente.
Mas ele não tinha nada a ver com o “bel canto”. Explicou-me sua
situação, como se quisesse justificar o que estava nos pedindo que
fizéssemos. O que ficou claro é que tinha filhos do seu primeiro
casamento e que a ex-mulher (que descreveu era uma mistura da
Lady MacBeth com Lucrécia Bórgia) tinha a custódia deles e os
ensinava a odiar o pai.
Andy me disse, quase com lágrimas nos olhos, que já tinha
feito de tudo, mediante todos os meios legais, para obter a guarda
dos filhos, mas a mulher continuava detendo esse direito. Ele havia
se casado de novo, era feliz com sua nova esposa, mas o fato de
poder ver seus filhos apenas por algumas horas a cada duas sema­
nas estava acabando com ele. Tinha até mesmo considerado a pos­
sibilidade de contratar uma gangue e pagar aos bandidos para acabar
com ela, mas teve medo dos riscos e possíveis conseqüências. En­
tão, num dia em que estava visitando a Livraria do Ocultismo, no
centro de Chicago, ouviu falar sobre certo Orion, que tinha a
habilidade de amaldiçoar pessoas até a morte. Aquilo lhe pareceu
ser o modo mais seguro de resolver o seu problema de voltar a ter a
posse das crianças, sem nunca ser descoberto.
Foi assim que veio a se achar ali, sentado em nossa sala de estar,
esperando vender a sua alma a Satanás, fazendo sua parte na maldi­
ção de morte da sua ex-esposa, para poder retomar as crianças. Isso
tudo o deixava bastante preocupado. Mas, enquanto conversávamos,
descobri mais algumas coisas que causavam todo o seu nervosismo.
Ele era fdho de um pastor adventista do sétimo dia! Sem dúvi­
da, se considerava cristão. Sabia que o que estava por fazer seria
considerado uma apostasia de sua fé, mas, para ele, não havia alter­
nativa. Segundo alegava, havia se decepcionado com sua igreja por
causa do legalismo e por causa da hipocrisia que nela havia (foi esta
a expressão que usou). Se eu, na época, conhecesse melhor aquela
igreja, teria percebido que ele não era um adventista que levasse
sua fé a sério, pois fumar é algo totalmente proibido aos adventistas.
Andy parecia arrasado e cheio de conflitos. Senti pena dele. Per­
guntei-lhe quanto havia pago a Orion pelos “nossos serviços”, e ele
disse que tinham sido 500 dólares. Surpreso, pensei comigo: “Nada
mau para uma hora de trabalho num ritual.”
Mesmo não me sentindo totalmente à vontade, preparei Andy
para a cerimônia em que ele faria o seu pacto, depois da qual par­
ticiparia do ritual da destruição. Mais uma vez, senti aquela estra­
nha am bivalência dentro de mim. Uma parte do meu ser
entristecia-se por causa desse trágico homem e seu desespero por
ter seus filhos de volta, sujeitando-se a um processo pelo qual, achava
eu, conforme sua própria crença, iria lhe custar uma grande dor
por toda a eternidade. Ele não acreditava, como nós, que o inferno
fosse um lugar de “gloriosas” orgias e rolar de drogas. Para ele,
certamente, o inferno era um lugar de tormento.1
Mas, ao mesmo tempo, no meu íntimo, um ativo homem-
máquina satânico, brilhante como a prata, e movido por uma
incandescente caldeira de ira em meu cérebro, regozijava-se por
mais uma alma ganha para o diabo e pela morte de uma mulher.

O K í I u a I de D esI r u i ç Ã o

A cerimônia do pacto transcorreu, como sempre, sem nenhuma


manifestação extraordinária. Em seguida, passamos diretamente
para o ritual de amaldiçoamento. Andy tinha trazido uma foto da
sua ex-mulher, e dela Orion havia feito uma boneca de barro. Ti­
nha também conseguido alguns fios de cabelo da infeliz, retirados
de uma velha escova. Estas duas coisas formavam o que os ocultistas
chamam de “objetos de ligação”.
E uma doutrina não só do satanismo, mas da maioria dos gru­
pos de feitiçaria e ocultismo, que é muito mais fácil amaldiçoar
alguém quando se tem alguma coisa dessa pessoa que dê condição
ao feiticeiro de fazer uma ligação com ela. Geralmente é algo per­
tencente à pessoa ou, melhor ainda, uma parte do seu corpo, como
um fio de cabelo, uma lasca de unha. E por isso que a maioria dos
praticantes da magia guardam com zelo o seu cabelo cortado e as
aparas de suas unhas, assegurando-se de que não venham a cair em
mãos estranhas.
Orion pegou os fios de cabelo trazidos por Andy e os prendeu
na cabeça da boneca, enquanto cantava, em voz baixa, em
“Enoquiano”. O Enoquiano é a língua mágica do satanismo, sen­
do o Latim sua linguagem cerimonial. O Enoquiano é uma língua
estranha, tipicamente satanista, restaurada pelo feiticeiro Dr. John
Dee, o primeiro astrólogo da corte da rainha Elizabeth I, com a
colaboração do seu médium, Edward Kelly. A última parte da
B íblia Satânica contém todas as chaves enoquianas ou invocações,
com a tradução feita por LaVey de cada uma delas.
Os verdadeiros praticantes da magia sabem que o Enoquiano
tem de ser falado de trás para a frente, para produzir o seu maior
efeito. Isto é muito difícil de ser feito sem a assistência de um de­
mônio. Eu tinha demônios que me davam condições de falar em
várias línguas diferentes (Grego, Hebraico, Alemão e Latim), lín­
guas que eu desconhecia (exceto algumas reminiscências do Latim
escolar). Eles também me capacitavam a falar ou a cantar de trás
para a frente, tanto em Inglês como em Enoquiano, com bem pouca
dificuldade.
Então Orion começou a purificar a câmara do ritual, fazendo
o sino soar nove vezes, borrifando os quatro quadrantes com “água
benta” de um borrifador cheio de urina, e traçando pentagramas
invertidos. Invocou a presença e o poder de Lúcifer para testemu­
nhar a cerimônia. Senti o poder de ferro dentro de mim aquecen­
do-se com um fogo negro.
De uma caixa num dos cantos da câmara, Orion retirou um
porquinho-da-índia que ele tinha comprado numa loja de animais
em Chicago. Consagrou então o bichinho, que se contorcia todo,
a Lúcifer e em seguida cortou sua garganta. Enquanto os jatos de
sangue saíam do animalzinho, ele “batizou” a boneca com sangue,
conforme o ritual de batismo católico romano, dando a ela o nome
da ex-mulher de Andy. A foto dela estava fixada sobre a “face” de
barro da boneca.
Orion tinha instruído Andy a ficar irado quanto pudesse, lan­
çando toda a sua ira e todo o seu ódio contra a sua esposa anterior.
Nós estávamos ali para reforçar o poder do seu ódio, mas, uma vez
que ele a conhecia melhor, era ele quem poderia externar melhor
todo o seu ódio naquela hora.
Enquanto fazíamos a reza enoquiana para abrir toda desola­
ção e destruição, Andy pôs para fora toda a sua raiva e frustração
que os anos passados tinham trazido à sua vida. Senti, então, que
toda aquela ira se erigia em meu interior como se fosse um peque­
no punhal apontado para a cabeça daquela boneca manchada de
sangue que estava sobre o altar. O calor foi aumentando naquela
câmara, de modo que vi gotas de suor escorrerem em meu corpo e
ensoparem o meu manto. Minha mente havia se tornado uma
máquina de malignidade. Era como se um aço em brasa, derretido,
fluísse pelas minhas veias, chegando até minhas mãos. Uma parte
de mim estava amedrontada pelo que estava acontecendo, mas era
uma parte bem pequena e que ficava cada vez menor. Todo o res­
tante do meu ser estava excitado diante do poder de uma raiva
frenética! Eu estava me tornando o que LaVey chamava de “mons­
truosa máquina de aniquilaçao”, e isso me dava um enorme prazer!
Meus dedos fecharam-se sobre a invisível garganta daquela mulher
e, com um incrível poder, esmaguei sua traquéia como se fosse o
talo de uma flor! Eu podia ouvir minha respiração ofegante, com
uma fúria que crescia num delírio cada vez maior. Se ela estivesse
ali presente, eu bem que poderia tê-la estrangulado até a morte,
naquela hora.
Orion soltou, então, um grito agudo, cheio de ódio. Deviam
ser os demônios, pois acho que ele não tinha, por si mesmo, como
fazer isso. Atravessou a boneca de barro com a ponta da sua espada
mágica e a ergueu diante do gigantesco símbolo de Baphomet co­
locado acima do altar, que contemplava tudo o que ali se passava.
Proclamou, então, em alta voz a maldição, junto com Andy (que
repetia com ele as palavras do ritual, conforme o livro).
Por causa da natureza maligna daquela maldição, e por não
querer ensiná-la desnecessariamente, nao vou transcrevê-la aqui.
Basta dizer que Andy repetiu palavra por palavra.
Orion num ato informal derrubou então a “boneca” de barro
sobre o altar rugindo e grunhindo, pedindo a Andy que tomasse
conta dela. Andy prosseguiu externando sua ira e frustração sobre
a boneca. Pegou um punhal que estava no altar e golpeou, cheio de
maldade e com toda a ira e frustração, a cabeça e o corpo da bone-
quinha, chorando com muita revolta, como se estivesse fora de si.
Por fim, o que restou dela parecia mais um hambúrguer de barro
do que uma forma humana. Andy parou, então, quase sem forças,
totalmente exausto.
— Shem ham forasch! — berrou Orion.
— Shem ham forasch! — repetimos.
Esta palavra é tida como sendo de grande poder no satanismo.
Dizem que é a “palavra” por meio da qual o Senhor criou os céus e a
terra, e Satanás a roubou. Agora ela é tradicionalmente usada para
selar muitos dos rituais satânicos, mais ou menos como um “amém”.
Naquela noite, Orion e sua comitiva foram embora, certos de
que a ex-esposa de Andy morreria em breve, e de um modo bem
terrível. No meu caso, sentia-me totalmente exausto e com náuseas
de tudo que tínhamos feito, embora houvesse forças dentro de mim
que reagiam com incrível entusiasmo.
O interessante é que durante todo o ano que se seguiu não

Cumpre"
houve evidência alguma de que a maldição tivesse tido sucesso; a
pior coisa que aconteceu com a mulher foi um resfriado. Aparente­
mente, era o primeiro fracasso de Orion (e, num grau menor, meu

se
também). Fizemos ainda vários rituais adicionais, mas a ex-mulher

n Ao
de Andy demonstrou ser inatingível!
Claro que Andy nunca recebeu seu dinheiro de volta.

Causa
Alguma coisa estava impedindo que as maldições funcionas­
sem. Foi nessa época que comecei a ter uma premonição de que

sem
havia poderes que ultrapassavam o poder de Lúcifer. Apenas não
conseguia imaginar que poderes seriam esses.

ç Ao
i
1da
Nol AS

fll
1 Naquela ocasião, eu ainda não sabia que os adventistas não acreditam num
inferno eterno, mas na aniquilação total dos maus. Neste, e em diversos
outros pontos importantes, carecem de uma base bíblica doutrinária. To­
davia, pessoalmente, não os considero uma seita, no mesmo sentido dos *73
mórmons ou das testemunhas de Jeová. Muitos dos adventistas que conhe­
ci parecem-me novas criaturas em Cristo, apesar de se encontrarem presos
ao seu estranho sistema legalista, que é quase um judaísmo.
R e s p o s l A s a RlguniAs
PergunlAs Difíceis

Todas as perguntas são verdadeiras; todas as respos­


tas são falsas.
— Provérbio satânico anônimo

C o m o mencionei alguns capítulos atrás, podemos nos referir a


certas pessoas, por exemplo, os saduceus dos dias de hoje. Sao
cristãos sinceros, em sua maioria, acho eu, e não aceitam o fato
de que existe um satanismo espalhado por toda parte e vastas
redes de satanistas de diversas gerações que torturam crianças.
Essas pessoas costumam fazer determinadas perguntas que preci­
sam ser respondidas, e queremos respondê-las da melhor forma
possível.
O fato é que muitos membros da comunidade acadêmica e
até mesmo da Igreja têm assumido uma postura de interesse cultu­
ral (e, por vezes, financeiro) de bastante ceticismo quanto a uma
epidemia de satanismo. Como observa o conhecido estudioso Carl
Raschke:

E difícil, geralmente, avaliar incidentes e casos de satanismo,


por causa dos ventos, que se cruzam, de histeria, ansiedade e
do que se poderia chamar de “síndrome da negação”, de deter­
minados profissionais ligados à área de ciências sociais, que
rejeitam aprioristicamente, mesmo sem um bom motivo, to­
das as sugestões — até mesmo onde somente um comporta­
mento sobrenatural é a questão — de ação do ocultismo.1
Assim, somos forçados a considerar como suspeito o ceticis­
mo dos chamados especialistas no assunto, que, em sua maioria,
preferem perder a mão direita a admitir que Satanás (ou Deus)
realmente exista. Temos que manter um ceticismo saudável, verifi­
cando se as suas respostas fazem sentido.

• Por Que um Tal “Avivamento Satânico” Estaria Acontecendo


Justamente Agora?
Esta é uma boa pergunta, mas reflete uma falta de perspectiva
histórica e, possivelmente também, bíblica. Antes de mais nada,
temos de admitir a possibilidade de que isso tem acontecido sem­
pre, mas, ou ninguém tomou conhecimento maior do assunto ou
nunca se preocupou antes suficientemente com essas coisas. Uma
das maiores enfermidades da nossa sociedade hoje é que tendemos
a ver a história com os olhos dos dias atuais. Por exemplo, no mo­
mento, todos nós reconhecemos existir sérios problemas de pedofilia
e de violência para com as mulheres; no entanto, há 20 anos, o
“bom senso comum” entre psiquiatras e religiosos era de que tais
coisas raram ente aconteciam. E, se acaso acontecessem, seriam por
obra e graça de algum excêntrico, pervertido e barbudo que teria
pego alguém eventualmente num beco.
Agora as estatísticas mostram que mais do que uma entre qua­
tro mulheres sofreu abuso sexual antes de atingir a idade adulta, e
que nao há diferença significativa, nessas estatísticas, quanto a jo­
vens criadas em lares evangélicos e as de lares não-cristãos.
O defloramento de uma jovem não é um pecado tão terrível
quanto o satanismo? Então, por que os líderes cristãos não o ti­
nham detectado antes? Seria o caso de se argumentar que não exis­
te abuso de crianças nem maridos que agridem as esposas nos dias
de hoje só porque os líderes de igrejas não discerniram tais coisas
um século atrás.
O problema, de certo modo, é que a sociedade (cristã e não-
cristã) simplesmente não havia se sensibilizado, antes, com a ques­

D i f í c e i s
tão desses abusos. Por outro lado, também, até mesmo nós, os
cristãos, temos a tendência de negar a ocorrência de coisas malig­
nas em nossa sociedade. O nosso coração é enganoso, mais do que

P e r g u n l A s
todas as coisas, mais do que a nossa possibilidade d e com preendê-lo
(ver Jr 17.9). Preferimos pensar que as pessoas, em princípio, são
amáveis, boas e íntegras. Infelizmente, porém, afirma a Bíblia, não

as
é nada disso (cf. Rm 3.10,23)

11 lg um
Prevalece, assim, a possibilidade de que o abuso de crianças, a
violência contra mulheres e o satanismo organizado vêm existindo

a
há vários séculos, sem que ninguém estivesse m uito interessado em

R e s p o s l A s
ou vir fa la r a respeito. Não faz muitos anos, se uma jovem viesse a
seu pastor e lhe contasse, por exemplo, que seu pai a tinha molesta­
do sexualmente — sendo o pai alguém da liderança da igreja — , a
jovem seria severamente repreendida como mentirosa. Agora, sa­
bemos que não há praticamente diferença alguma entre a ocorrên­
cia de um incesto em lares cristãos e não-cristãos. Se a Igreja pôde
“perder o trem” nos casos de abuso infantil, por que não poderia
tê-lo perdido no caso do satanismo?
Outra possibilidade, ainda, é que Satanás está realmente p o n ­
do lenha na fogu eira nos dias de hoje, porque estamos provavel­
mente nos últimos dias. Pessoalmente, creio que o Senhor Jesus
Cristo está voltando muito em breve. É uma ocasião, portanto, em
que Satanás se mostra disposto a aumentar o seu ataque sobre as
pessoas, individualmente, sobre as famílias e a sociedade em geral.
Vale observar que, comparativamente, há bem poucas men­
ções da atividade demoníaca no Antigo Testamento. Além de inci­
dentes isolados com pessoas, como Saul, é uma ocorrência extremamente
rara. No entanto, nos relatos dos evangelhos e no livro de Atos, a
atividade demoníaca literalmente explode em cena. Literalmente
legiões de demônios parece que são liberadas na Judéia e na Galiléia.
Isso tem sido destacado por estudiosos da Bíblia, que especulam
haver Satanás intensificado sua atividade, a partir do momento em
que tomou conhecimento de que Jesus se encontrava na terra.
Pois bem, se esse “ativismo total” satânico ocorreu durante a
primeira vinda do Senhor, não é de esperar que também ocorra
antes e durante a sua segunda vinda? Sabemos que a Bíblia diz que
a atividade demoníaca aumentará nos dias que antecederem o
Arrebatamento e durante o período da Grande Tribulação (lTm
4.1-3; Ap 9.2-11; 16.13). Não será, portanto, esse visível aumento
no satanismo, nos endemoninhamentos e nos rituais satânicos uma
parte de tal fenômeno profético? Em outras palavras, tudo pode
ser, até, algo novo que Satanás esteja fazendo para conseguir o maior
número possível de pessoas, antes da Segunda Vinda do Senhor.
Observemos, também, que as duas explicações podem ser vá­
lidas, e uma não exclui a outra. Ambas podem estar corretas. Tanto
o satanismo pode existir há vários séculos (o que é demonstrado
historicamente) quanto, ao mesmo tempo, o diabo pode estar ace­
lerando o seu ataque, por entender que pouco tempo lhe resta.
É importante saber, ainda, que, já por alguns anos, cristãos
com discernimento têm estado em oração, pedindo que essas obras
das trevas venham à luz à vista de todos. O pecado precisa ser ex­
posto para que o arrependimento possa ocorrer. Esses guerreiros da
oração têm bombardeado os céus com intercessões no sentido de
que as tramas de Satanás sejam reveladas ao mundo, para que as
pessoas tenham conhecimento disso tudo, arrependam-se e vol­
tem-se para o Deus vivo.
Por mais contristadores que sejam esses relatos sobre as ativi­
dades do satanismo, bem podem significar que o Senhor está le­
vantando uma grande e tremenda fervura embaixo da sociedade.
A ironia em tudo isso é que, ao mesmo tempo em que alguns
cristãos têm lutado com muito empenho, fazendo poderosas ora-
■>ções para que sejam expostas as infrutíferas obras das trevas (Ef 5.11),
outros cristãos (nominais e verdadeiros) têm respondido a essas
revelações de dois modos: enterrando a cabeça na areia acadêmica
ou da Psicologia, ou, até mesmo, atacando aqueles que estão ex­
pondo à luz os pecados e os crimes dos servos de Satanás.
• Por Que a Igreja Não Tem Discernido Espiritualmente Esse
Problema?
Esta é uma pergunta que se relaciona, em grande parte, com
o conflito cultural a que acabamos de nos referir. O motivo pelo
qual tudo isso passou despercebido no passado é a Igreja ter sido
contaminada por uma atitude racionalista e contrária ao sobre­
natural.
Além disso, em termos de posição política, temos que consi­
derar que, em dois milênios de cristianismo, por cerca de 1.600
anos a “Igreja” foi unicamente a Igreja Católica Romana, uma ins­
tituição não muito dada a ter discernimento espiritual.
Falemos de História por um momento. Do ano de 350 d.C.,
aproximadamente, até os anos de 1500, a Igreja Católica perse­
guiu e martirizou autênticos cristãos, que realmente criam na
Bíblia. Assim, a única Igreja que teria alguma condição de agir
contra o satanismo e o abuso ritual estava muito ocupada em quei­
mar bruxas (fossem de fato ou tomadas como tais) e em matar
cristãos verdadeiros, crentes na Bíblia.2
Os verdadeiros cristãos formavam um movimento clandesti­
no praticamente sem poder político algum. Mesmo que tivessem
discernimento dos perigos do satanismo, eles estavam muito ocu­
pados em sobreviver, sem condições de fazer qualquer coisa a res­
peito, a nao ser orar.
Sob outro enfoque, a Igreja Católica criou, talvez não inten­
cionalmente, um problema. Como muitos sabem, transformou a
questão de caçar adoradores de Satanás numa brincadeira sem
graça, trágica, antibíblica e supersticiosa. Em vez de se guiarem
por meio das Escrituras, os líderes da Igreja Católica (dominicanos,
em sua maioria) apoiavam-se em superstições e em seus próprios
esforços para descobrir os obreiros do diabo. Você era canhoto?
Então, devia ser bruxo! (O termo “sinistro” provém de vocábulo
latino que significa “mão esquerda”!) Você tinha um olho defei­
tuoso? Era outro indício! No caso de mulher, se tivesse marcas es­
tranhas no corpo, seriam por causa de seus “espíritos familiares”!
Você sofria de epilepsia? Então era bruxo, ou bruxa, com toda a
certeza!
Todo esse lixo supersticioso (e antibíblico) levou a cultura eu­
ropéia para os braços do racionalismo e trouxe ao cristianismo (ou
melhor, ao catolicismo) uma péssima imagem! Isso favoreceu to­
talmente o jogo do diabo.
Por volta do século 19, a maioria das pessoas do Ocidente,
de qualquer nível de instrução, já tinha visto o suficiente em ma­
téria de caça às bruxas e aos endemoninhados. Então, os demô­
nios passaram a ser relegados à África, por “estar ainda em grandes
trevas”, e a outros lugares de “nativos supersticio so s e
incivilizados”, que não tinham sido expostos “à maravilhosa luz
da ciência moderna”. As pessoas civilizadas com problemas de­
moníacos eram, na m aior parte dos casos, rotuladas como
dementes ou com insanidade mental (apesar de que é difícil com­
preender, cientificamente, como a mente — q u e p erten ce a esfera
espiritual, e não física — p o d e fic a r doente!).
Por ter a Igreja Católica Romana dado à Bíblia uma imagem
negativa, as pessoas passaram também a ignorar o testemunho bí­
blico sobre a realidade da ação demoníaca. Deste modo, o motivo
por que a Igreja não discerniu e não agiu contra aquelas atrocida­
des não se aplica ao período após a Reforma Protestante.
Ainda assim, um cuidadoso estudo da Bíblia mostra-nos que
em nenhuma parte das Escrituras o Senhor promete revelar à sua
Igreja tais obras de iniqüidade. A missão primordial da Igreja é
pregar o evangelho aos perdidos (Mt 28.18-20). Sua missão secun­
dária é ministrar as necessidades dos santos, ajudando-os a crescer
até a plenitude de Jesus. Isso, às vezes, implica ministrar a pessoas
na área de libertação da opressão demoníaca.
A Igreja não foi designada para ser uma força policial do tipo
que faz “busca e destruição”. Toda vez que a Igreja saiu em busca
de ímpios e criminosos, e os puniu, os resultados, a longo termo,
foram desastrosos. Como não há evidência bíblica alguma de que
o Senhor deseja que a sua Igreja saia por aí descobrindo grupos
satânicos, como esperar que Ele possa estar conduzindo líderes da
Igreja, de maneira sobrenatural, a expor esses grupos?

D i f í c e i s
Certamente que temos o direito de buscar o discernimento
espiritual para detectar falsos irmãos em nosso meio (1 Co 12.10;
1 Jo 2.18,19; 4.1-4), ou identificar grupos satânicos que pos­

P e r g u n l A s
sam estar ameaçando os membros das igrejas locais. Infelizmente,
até hoje, muitas vezes, não se buscou esse discernimento. Na
verdade, o discernimento espiritual total tem sido uma parte,

as
negligenciada do ministério do Espírito Santo na Igreja até os

Al cjum
dias atuais.
Agora que pastores e obreiros cristãos aprenderam a orar e a bus­

a
car esse tipo de direção do Espírito, tais coisas vêm sendo expostas!

R e s p o s l A s
Louvado seja o Senhor! Antes, quando os cristãos ignoravam festi­
vamente tais perigos, ninguém orava por ajuda ao Espírito Santo.

• Onde Foram Parar os Corpos?


Esta é uma pergunta relativamente mais fácil de responder.
Os satanistas, como todo bom feiticeiro, gostam de reciclar as coi­
sas. Sei que isso soa como uma terrível piada de mau gosto, mas,
realmente, quase nada é desperdiçado dos corpos humanos dos
que foram sacrificados.
Sem entrar em detalhes horripilantes, uma grande parte da
cultura do xamanismo (ancestral paleolítico do satanismo) gira em
torno do consumo de partes de um corpo para fins de magia. M ui­
to pouco, ou talvez nada, é perdido. Isto é uma verdade na maioria
das “denominações” satanistas.'1 Até mesmo os ossos humanos são
mercadorias de alto valor para fins de magia. Muitas vezes, os ossos
são usados, ou portados pelas pessoas, consigo, de modo seme­
lhante ao que faziam os índios americanos, que carregavam consi­
go os ossos de animais que consideravam como totens sagrados.
Fomos informados por nossos superiores da confraria satânica
que, em muitas comunidades, os satanistas procuram alcançar e
“converter” (isto é, corromper) os agentes funerários oficiais, o que
irá facilitar-lhes o livre acesso aos crematórios, para dar sumiço a
um corpo ou a ossos humanos.
Infelizmente, não é difícil para eles praticar tal corrupção.
Embora a atividade funerária seja regulamentada por lei, e a
maioria dos agentes funerários seja honesta, pessoas que pres­
tam um serviço de utilidade pública estão sujeitos ao pecado.
Satanás conhece nossas fraquezas melhor do que nós, e é com
facilidade que, por meio de seus servos, pode apresentar uma tenta­
ção que o agente funerário considere irresistível. Isto acontece não
somente com não-cristãos. Pelo que podemos observar, até mesmo
“poderosos homens de Deus”, do Corpo de Cristo, podem cair em
abomináveis pecados ao serem tentados. Não temos que ficar tão
surpresos, assim, ao sermos informados de que um agente funerário
não-cristão (ou até mesmo salvo por Cristo) foi corrompido por Sa­
tanás. Digamos que o cidadão tenha uma fraqueza pelo jogo ou pelo
sexo ilícito. O grupo de satanistas, sob a direção de seus mestres
demoníacos, providencia tudo o que a pessoa almeja e ainda faz fei­
tiços para torná-lo mais suscetível e vulnerável à tentação.
Sabemos que isso é realmente possível de ser feito, pois no
passado lançamos tais feitiços, com eficácia. Tínhamos rituais com
os quais podíamos fazer com que a pessoa ficasse irresistivelmente
atraída em lascívia por alguém. Era uma força com tamanho poder
de compulsão que quase ninguém teria como resistir. A menos que
a pessoa fosse cristã e estivesse vivendo bem próxima de Jesus, teria
bem poucas defesas contra as manipulações desse tipo.
O agente funerário é levado a ficar com uma enorme dívida
no jogo, ou então a ter encontros sexuais comprometedores com
uma moça atraente (e talvez de menor idade) do grupo satânico.
Isso é filmado em videoteipe. Então chantagens e ofertas de pagar
a dívida lhe são apresentadas, em troca de sua membresia e lealda­
de ao grupo. Tendo tal pessoa entrado no grupo satânico, ela é
filmada em situações ainda mais agravantes (geralmente sem ter
conhecimento disso), e assim a armadilha fica completa. A pessoa
fica amarrada e compelida a fazer tudo que o grupo lhe peça e não
tem como recusar nada, pois do contrário, cairá em total desgraça
(e talvez até mesmo seja objeto de uma ação judicial) em sua co­
munidade.
Assim, levando-se em conta que partes do corpo humano
(tanto de adultos como de crianças) são usadas na magia, e que
para isso há “colaboradores” da atividade funerária, não é difícil
saber por que, normalmente, não são encontrados os corpos dos
sacrificados.
Falemos agora dos corpos que são encontrados mutilados ou
com sinais satânicos pintados ou marcados sobre eles. É trágico,
mas são em grande número, como afirma um destacado pesquisa­
dor dessa matéria.4
Todavia, esses atos geralmente não são obra de satanistas
sérios, mas sim de fanáticos, praticantes de ocultismo isolados ou
satanistas adolescentes, que estão apenas começando e não se liga­
ram ainda a um grupo. Estes são apenas a ponta de um grande e
hediondo iceberg.
De vez em quando, a confraria satânica permite que um cor­
po seja encontrado, apenas para lançar medo na comunidade. Isso
é feito de tal modo que não seja possível ligar qualquer membro do
grupo ao crime. Chamo isso de terrorismo espiritual, e está se tor­
nando cada vez mais freqüente.

• Como E Que os Satanistas Obtêm as Vítimas?


Sinto muito ter que dizer isto: esta pergunta é muito fácil de
ser respondida. Em primeiro lugar, obviamente, depende de que
tipo de vítimas estejamos falando. Os sacrifícios de crianças, que
estão entre os mais “apreciados”, são muito simples de realizar.
Como meu próprio mentor satânico observou, “bem poucos bens
de consumo no mundo são tão fáceis, tão baratos e tão prazerosos
de se produzir como um bebê”.
Apesar de que esta observação possa criar calafrios na coluna
de qualquer pessoa de bem, reflete a mentalidade satânica p o r
excelência. Bebês são adquiridos de diversas fontes:
1. Comprados de pais dependentes de drogas, pagos com drogas.
2. Concebidos e nascidos dentro do grupo satânico; não che­
gando nem mesmo a existir legalmente, por não serem registrados
em cartório.
3. Raramente, ainda, raptados.
Por exemplo, 20 anos atrás recebemos um treinamento inten­
sivo em partos, para que pudéssemos dar assistência ao nascimento
de crianças sem a ajuda de médico, fora de hospital e sem registros.
Diziam-nos que isso era para manter quaisquer crianças que tivés­
semos fora do controle governamental, escolas comuns e de suas
“más influências cristãs”.
Conhecemos e temos ministrado Cristo a muitas mulheres
que, no passado, foram forçadas a dar o seu bebê para uma abomi-
nação desse tipo. Muitas tinham sido criadas dentro de um grupo
hereditário de satanistas. Felizmente, o Senhor Jesus Cristo tem
poder para trazer cura e integridade a elas.
O tão afamado sacrifício de “virgens”, geralmente meninas
nem bem chegadas à puberdade, ou (mais raramente) de um me­
nino, é o segundo tipo de sacrifício mais utilizado. Esses jovens
são mortos porque os satanistas (e muitos outros adeptos de ou­
tras seitas ocultistas) são convencidos de que o sangue de alguém
na puberdade é especialmente carregado de “virtudes” mágicas.
Isso vale, principalmente, para as moças. Esses sacrifícios são
obtidos com:
1. Crianças criadas dentro do grupo até a adolescência, não
registradas.
2. Crianças de rua, ou que fugiram de casa, cujo número acha-
se na escala de milhares.
3. Jovens e crianças pegos nos muitos círculos de pornografia
infantil. Tais círculos muitas vezes acham-se ligados a grupos
satanistas. As crianças que “não se comportam direitinho” por ve­
zes sao usadas nos sacrifícios para ensinar os outros a se comporta­
rem — e tais sacrifícios eventualmente são filmados em filmes
pornográficos infantis “pesados”.5
4. Jovens e crianças raptados. Tais casos só sao mais raros por­
que despertam a atenção das autoridades.

D i f í c e i s
A condição física da vítima de ser realmente virgem nem sem­
pre é requerida, pela impossibilidade de se garantir a virgindade
nestes dias de licenciosidade sexual (especialmente nas hipóteses 2

P e r g u n l A s
e 3 acima). Mas, quando é de fato virgem, é tida como uma oferenda
com atributos excepcionais para a magia, pois Satanás e seus escra­
vos têm o maior prazer na profanação da inocência. Com freqüên­
cia, há crianças que, criadas dentro do grupo satanista, são mantidas

fllgu m A s
virgens, no sentido técnico da palavra. São sim plesm ente
brutalizadas de outros modos.
Em seguida, na lista dos possíveis candidatos ao sacrifício, acham-

a
se os cristãos, de qualquer idade, especialmente aqueles que no pas­

R e s p o s l A s
sado foram servos de Satanás. São mais difíceis de serem obtidos e,
geralmente, requeridos somente nos mais elevados níveis de
satanismo. Tais pessoas — quase sempre adultas — têm de ser se­
qüestradas, o que torna esse tipo de sacrifício relativamente raro. E o
que contribui neste sentido é que o Senhor protege seus filhos, e de igs
modo geral os servos de Satanás não podem tocar neles, exceto em
casos bem raros quando o Senhor permite que crentes sejam marti-
rizados para cumprirem seus propósitos, em prol de sua glória.
A última classe de vítimas são adolescentes e adultos que não
se enquadram em nenhuma das categorias anteriores. São os sacri­
fícios tidos como de “menor valor”, mas constituem uma solução
melhor do que a de não haver sacrifício algum. E importante com­
preender que, em certos rituais, os satanistas acreditam que neces­
sitam ter a “energia mágica” de um sacrifício de sangue para
apaziguar a ira do seu m estre. P ortanto, num a situação
desesperadora, podem lançar mão de qualquer ser humano. As pes­
soas escolhidas poderão ser:
1. Satanistas do próprio grupo, que tenham deixado de cum­
prir, de algum modo, e em grau maior, a vontade do diabo.
2. Aqueles que não têm familiares, ou pessoas de rua, cujo
desaparecimento não deixe pistas para investigação.
3. Pessoas (geralmente mulheres) seqüestradas. Mais uma vez,
isto é pouco freqüente, por causa dos riscos perante as autoridades.
As mulheres são consideradas mais valiosas do que os homens
como vítimas, e os adultos mais jovens são de maior valor do que
os da terceira idade.
Do exposto, então, pode-se concluir que não faltam lugares e
modos pelos quais vítimas de todas as idades possam ser obtidas
para os sacrifícios.

• Por Que Esses Criminosos Não São Pegos e Condenados?


Em grande parte, a resposta já foi dada em algumas das expla­
nações anteriores. A falta de evidências físicas (corpos, etc.) geral­
mente é suficiente para assegurar que ninguém seja indiciado.
Satanistas que atuam com seriedade não são tolos a ponto de reali­
zar rituais desse tipo em suas casas. Geralmente os rituais que en­
volvem crimes graves são executados em lugares isolados e
longínguos, ao ar livre ou em templos totalmente escondidos e
secretos.
Mesmo que um satanista seja acusado de um crime desses,
numa investigação policial geralmente nada será encontrado que
possa incriminá-lo, pois, a menos que haja orações de intercessão,
muitas vezes os espíritos familiares dos satanistas (isto é, os demô­
nios) os informam com antecedência sobre qualquer ação das au­
toridades contra eles.
Por exemplo, uma mulher a quem ministrei o evangelho tinha
acusado seu sogro das mais pavorosas atrocidades sobre seus três
filhos num ambiente satânico, e com a cumplicidade do marido
dela, pai das crianças. Esses horrorosos rituais tinham se dado no
porão de uma ampla casa de campo, dos parentes do marido. A
polícia foi chamada, mas não encontrou prova alguma. “Por coin­
cidência”, o porão daquela mansão estava “em reforma”, para tor­
nar-se uma sala de gravações.
Além disso, os satanistas sérios (como o mencionado no pará­
grafo anterior) freqüentemente são “colunas” (gente importante)
da comunidade local — médicos, advogados, juizes, clérigos, policiais.
São pessoas contra as quais a maioria dos policiais nao terá muita

D i f í c e i s
condição de se envolver, a não ser contando com provas muito
boas e evidentes. Tais provas geralmente não existem. E, se eventu­
almente descobertas, o grupo satanista pode enviar elementais de

P e r g u íilA s
fogo (demônios) para queimá-las completamente ou consumi-las
de outro modo no local em que se encontrem, antes que o caso
chegue à Justiça.
Além disso, as primeiras pessoas que, numa cidade, os satanis­

t l l g u m A S
tas procuram atrair são oficiais de justiça e outros que atuam no
judiciário. Tais pessoas são “convertidas” à confraria pelos mesmos
métodos mencionados anteriormente com respeito aos agentes fu­

a
nerários, bem como por meio de ramos inferiores do satanismo,

R e s p o n l A S
como, por exemplo, a Maçonaria.6 A presença dessas pessoas pra­
ticamente assegura que aqueles casos jamais sejam julgados.

F a I I a de Sisíem A ?

Enfim, mesmo quando esses casos são levados à Justiça, seja de


abuso de crianças e rapto, seja homicídio, o conteúdo satânico ge­
ralmente é encoberto do conhecimento público. Em parte, porque
a maioria dos promotores receia que, se trouxer material de rituais
satânicos para dentro dos processos, isso irá desmoralizar a sua cre­
dibilidade. Por outro lado, prevalece uma situação de “negação”
entre a maioria dos delegados de polícia e promotores, que acredi­
tam que tais coisas não existam.
Como destaca o tenente de polícia Larry Jones, do estado de
Idaho, Estados Unidos, que passou grande parte da última década
investigando este fenômeno, não há legislação penal específica em
que tais crimes possam ser enquadrados.7 Nos relatórios de cri­
mes, para fins estatísticos, não há campos em branco a serem pre­
enchidos com respeito a aspectos que indiquem um ato de natureza
satânica. Os delegados de polícia e promotores públicos, além dis­
so, geralmente estão sobrecarregados e não têm interesse algum em
se empenhar no sentido de que aspectos do ocultismo e de rituais
criminosos sejam inseridos na legislação penal.
Ora, se não se possui um esquema adequado para facilitar o
indiciamento de crimes relacionados a práticas satanistas, então tais
crimes nunca serão considerados como tais. Poderá ser instaurado
um processo criminal, e até mesmo pessoas poderão vir a ser conde­
nadas. Mas, como já aconteceu com diversos réus de múltiplos cri­
D e s l r o n A d o

mes, os elementos de satanismo nesses crimes nunca virão à tona.


Enfim, a polícia não estaria, de todo modo, preparada para reconhe­
cer esses elementos e, por isso, não lhe convém tocar nesse assunto.
Além do aspecto legal, há outro muito importante: qual é a
cidade que está disposta a tornar-se conhecida como um lugar que
L ú c i f e r

acolhe satanistas e pedófilos? Pense em como tais notícias seriam


desastrosas para a imagem pública de uma localidade! Até as pro­
priedades naquela cidade poderiam sofrer depreciações; para não
falar da indústria do turismo... Portanto, o fato é que a maioria dos
governantes locais está coberta de razões para manter esses assun-
188 tos escabrosos fora das manchetes dos jornais com relação às suas
comunidades.
Nós mesmos tivemos a oportunidade de conversar com vários
funcionários das áreas de polícia e justiça, cristãos, frustrados com
seus superiores, que tudo fizeram para dificultar investigações e
esconder elementos de ocultismo em crimes, ou que simplesmente
não deram atenção alguma a esse assunto. Por todas essas razões,
nada é reportado a esse respeito, e os indícios do ocultismo não
constam nos processos.

N oI as

1 R a sc h k e . PaintedBlack, op. cit., p. 105.


2 Para obter uma exposição mais detalhada sobre este assunto triste e difí­
cil, veja o livro do autor, Wicca\ Sataris Little White Lie [Wicca: a
Mentirinha Branca de Satanás]. Chick Pub., 1990, (especialmente o ca­
pítulo 4).
3 É importante entender que os satanistas não constituem uma seita
unificada, tal como acontece com os mórmons ou as testemunhas de

D i f í c e i s
Jeová. Sua única unidade se dá em nível espiritual, uma vez que todos
recebem ordens da mesma fonte — de Satanás e seus demônios. Há
bem poucas ligações entre os vários ramos e muita diversidade no

P e r g u n l A s
modo como alguns dos rituais são feitos, havendo, assim, também,
diferentes formas pelas quais os restos mortais são eliminados, nos di­
ferentes grupos.
4 R a sc h k e , p. 1 0 5 .

fllgu m A s
5 Tais filmes “pesados”, produzidos clandestinamente, são vídeos de por­
nografia explícita em que pessoas, geralmente mulheres ou crianças, são
sexualmente brutalizadas e em seguida mortas realmente diante das

a
câmeras. Esses filmes são difíceis de serem produzidos e adquiridos, mas

K e s p o s l A S
existem em grande número. Algumas lojas e certos serviços especializa­
dos da Internet são usados por pessoas pervertidas para a compra ou
permuta de tais filmes.
6 Veja M açonaria — Do Outro Lado da Luz, op. cit, para mais informa­
ções sobre as ligações do satanismo com a Maçonaria. 189
Ten. Larry Jones. Arquivo 18, Boletim #91-3, p. 7-8. CCIN, Inc. P.O.
Box 3696, Boise, ID, USA — 83703-0696.
Os T ú n e i s de Ti j p Ho n

Os h u m an os são um a p resa fá cil.


— Frase de um filme de terror baseado numa
obra de H. P. Lovecraft

C o m o já disse, comecei a ter consciência de que Lúcifer não era o


ser mais poderoso existente. Assim, dei início a uma busca na ma­
gia, para descobrir que seres seriam mais poderosos do que o meu
“Mestre”. Imaginei, então, que teria de pagar alguma coisa para
estabelecer alianças também com eles.
Mesmo diante do insucesso da maldição lançada sobre a ex-
esposa de Andy, eu não me deixara abalar e continuava meus estu­
dos de satanismo e magia. Tinha uma postura um tanto filosófica
diante dos questionamentos e, muitas vezes, gostava de repetir uma
frase do filme Little B igM a n [Pequeno Grande Homem]: “As ve­
zes, a magia funciona; às vezes, não.”
Convenci-me de que, quando as coisas não davam certo, era
porque cometera algum erro ou, então, por causa de alguma coisa
que não me fora ensinada ainda. Acreditava que a magia era uma
verdadeira ciência. Deste modo, continuei procurando obter a sabe­
doria oculta.
Com a minha promoção, tive acesso a mais informações de
iniciação, especialmente nos campos da M açonaria e magia
interespacial.
Há duas áreas de magia principais nos níveis mais elevados da
Maçonaria européia. Uma é a busca de uma suposta imortalidade,
por meio da alquimia e da ioga tântrica. A outra encontra-se em
duas ciências irmãs: a megapolissomancia e a arqueometria.
Antes que você corra atrás do seu dicionário, apresso-me a
informar que provavelmente você não encontrará estas duas pala­
vras em dicionário algum. Suas definições são as seguintes:
Megapolissomancia (Megapolis é a palavra grega para uma gran­
de cidade; o m a n cia significa magia, como em necromancia,
cristalomancia [uso da bola de cristal], quiromancia [leitura de mãos],
etc.) Assim, a palavra significa “magia na construção de uma cidade”.
Arqueometria (que significa “medições ou medidas antigas”).
Esta é a ciência da magia do que também é chamado de medidas
proporcionais à Terra. Há uma crença de que construir templos,
túmulos, círculos de pedra, etc. em dimensões baseadas nas di­
mensões da própria Terra é algo extremamente poderoso.
Os maçons eram construtores de cidades, e a megapolisso­
mancia é a suposta arte esotérica maçônica de construir cidades e
edificar templos com dimensões espaciais corretas, para que me­
lhor atraiam espíritos demoníacos. Tais construções seriam assim
os mais eficientes repositórios de energias da magia. A construção
de certos espaços e determinados ângulos nos aposentos criaria por­
tas de acesso a outros universos. Esses universos poderiam, então,
ser penetrados e conquistados pelo mago, de modo bastante seme­
lhante ao de Colombo quando conquistou o Novo Mundo. Assim,
sob a direção de meus guias (tanto humanos como espirituais de­
moníacos), dediquei-me a esses tipos de magia com que meu anti­
go mentor, Aquarius, tinha-se envolvido.
Outra abordagem à mesma “ciência” pode ser feita por meio
da criação de ícones. Os “icones” (do grego eikon, que significa
“imagem”) são bem conhecidos na Igreja Ortodoxa. Sao pinturas
de Jesus, de M aria e dos santos, consideradas sagradas. São tidos
como verdadeiras “janelas para o céu”. Os ortodoxos crêem que
um ícone de Jesus pode trazer sua presença real à igreja onde se
encontra.
Os fiéis ortodoxos levam muito a sério os ícones. Seus pinto­
res dos ícones são considerados poderosos homens de Deus. Em
algumas casas, o marido e a esposa cobrem o ícone ou o viram para
a parede quando têm relações sexuais, porque se sentem embaraça­
dos diante do que o ícone possa “ver”. E conta-se a história de um
ladrão que, ao entrar numa casa, virou os ícones de frente para a
parede, para que não pudessem vê-los roubando. A concepção que
se tem é que o ícone é uma porta aberta para uma realidade celestial.
Ensinaram-me a fazer diferentes tipos de ícones. Além de ícones
ortodoxos típicos que fiz, de São Pedro, São Paulo e da Virgem
(lembre-se de que eu era consagrado bispo da Igreja Ortodoxa
Russa), fiz também ícones que representariam portas de acesso a
universos alternativos, assim como outros que retratavam seres sa­
grados da magia. Então eu me projetava de modo astral naquelas
pinturas e procurava explorar outros universos.

Os T e r r í v e i s S e n H o r e s d o G s p A ç o C ó s m i c o

Foi aqui que a magia, a ficção científica e a fantasia começaram a


interligar-se. Um dos objetivos dessas visitas a outras dimensões do
tempo e do espaço era o de contatar as entidades que mandavam
por lá. Fora-nos explicado que o nosso universo é relativamente
jovem em relação a outros. Assim, os seres supremos do nosso uni­
verso (Deus e Lúcifer)1 estavam ultrapassados por “seres supre­
mos” de outros universos.
Isto, pensava eu, poderia ser a solução do dilema sobre quem seria
mais poderoso do que Lúcifer. Meus mentores diziam haver seres nesses
outros universos anteriores aos tempos em que o nosso Deus e Satanás
estavam ainda de fraldas. Eram os assim chamados “Terríveis Senhores”
dos espaços exteriores: o espaço que existiria além do espaço.
Comunicando-me com uma entidade que dizia ser Aleister
Crowley falando do além — por meio de uma incorporação — ,
fiquei sabendo que isso era uma parte substancial dos segredos
arcanos contidos em sua obra The Book o f the Laiu [O Livro da
Lei].2 Isso se confirmou posteriormente nos escritos de Kenneth
Grant, um dos sucessores de Crowley como dirigente para assun­
tos externos da O.T.O.3
Grant demonstrou que a religião de Crowley era um reavivamento
do culto, feito na Antigüidade, à estrela Sirius (isto é, Set, o deus-
demônio egípcio). Uma característica singular de Sirius é que ela é
uma estrela binária, sendo Sirius A a brilhante estrela avermelhada que
se vê na constelação Canis Major (Cão Maior), e Sirius B, uma estrela
escura, totalmente invisível da Terra, exceto através de modernos
radiotelescópios. Assim, Sirius A representa o deus “bom” no sistema
de Crowley, Heru-Paar-Kraat. Sirius B, o deus da guerra, Ra-Hoor-
Khuit. Além disso, no entanto, Sirius B é uma espécie de buraco ne­
gro, sendo assim a melhor porta de acesso a outras dimensões —
especialmente para o celebrado universo B. Os deuses de Crowley
supostamente acham-se fora do nosso universo. Usando uma palavra
do autor ocultista H. E Lovecraft, eles são “transyuggothianos” (ou
seja, estão além de Yuggoth, um nome ocultista para o planeta Plutão).
Nosso universo não “pára” na órbita de Plutão, mas os pratican­
tes da magia solar e lunar, que operam segundo esses ritos, acreditam
que além daquele planeta cessa o poder mágico de influência do Sol,
e os poderes dos deuses celestiais (ou seja, Jesus, Satanás, etc.) come­
çam a diminuir substancialmente. Um novo tipo de “espaço” e de
reino da magia passa a prevalecer. Meu objetivo era ir até o espaço
“transyuggothiano” e manter contato com aqueles terríveis senho­
res, os “Grandes Seres da Antigüidade”, como eram chamados.

0 C 1 a m o 1- a C í h u Ihu

Howard Phillips Lovecraft tornou-se um escritor famoso entre os


aficionados de livros de terror e ficção fantástica. Ele viveu cerca de
50 anos atrás e escreveu livros marcantes, com um enfoque de dé­
cadas à frente do seu tempo. Suas histórias— , por exemplo, The
D u n w ich H orror [O Terror de Dunwich], The D iveller on the
Threshold [O Habitante Primitivo] e The Color O ut ofS p a ce [A Cor
Fora do Espaço] — eram de horror mescladas com a ficção cientí­
fica, de um modo estranhamente discreto e sóbrio, mas, mesmo
assim, muito amedrontador.
AL f i D G A D L 'U

Baphometis Sanctum SanctoriumiO.T.B.

By the Order of the Most Wise Sovereign Grand


Inspector General,33?&nd in accordance with the
By-Laws of the Supreme Grand Council.and the R*C,
of the Supreme Grand Lodge of the luciferian Cube
of the Temple of Baphomet,the Brotherhood of the
Blazing Star of the Falladium.the undersigned Ills,
Brother has been raised from the 18? of the honored
Sovereign Princess of the Rose-Croix,to the sublime
honorary degree of Grand Ancient Inspectress General
and the Bride of Astaroth.This is under authority of
the inner Order of the French European Grand Lodge of
Co-Masonry,la Grande Loge Symbolique De France.ánd is
following the tradition of the late Albert Pike,33,
Grand Inspector General,of the original Grand Lodge
of the Palladiura Brotherhood of Freemâsonry.

Alexandria Pendragon,33°
d 33 c July.13,1980

This is official notice of the confering of the


Thirty-Third Degreerthrough the time honored bond
of Brotherhood,La Chaine De Union,of the French
Co-MaBonic Lodge,and is in accordance with the
will of the Supreme Hierophant 97? of the inner
Esoteric Orders,listed below.of the Grand Lodge
of ali European Co-Freemasonic Orders.and the
Brotherhood of the Illuminati.

All-Seeing Eye Lodge No.13


Ordo Templi Baphomet
Rose-Croix of Heredom
Gnostic Brotherhood of Light
Ordre Du Palladium
Fraternitatis Rosae et Aureae Crucis
Ancient Order of Knights of the Temple

July,13.1980
Sovereign Grand Inspector Gen.,33°
Illuminatis Primus,
Societe Des Illumines
Northern,U.S.A.

Certificado [tradução na página seguinte] que mostra Sharon Schnoebelen,


com o nome de Alexandria Pendragon, tornando-se Grau 33 da Maçonaria
e maçom na Irmandade Paládio. Nota: Todas as honras mais elevadas sao
conferidas oralmente; nenhum certificado é conferido.
ALGDGADL’U

Baphometis Sanctum Sanctorium; O. T. B.

Pela ordem do Mais Sábio Soberano Grande Inspetor Geral, 33°, e


de acordo com o Regimento Interno do Supremo Grande Conci­
lio, e o R*C, da Suprema Grande Loja do Cubo Luciferiano do
Templo de Baphomet, a Irmandade da Estrela Brilhante do Paládio,
o abaixo-assinado e ilustríssimo Irmão foi elevado do 1 8o da honra­
da Soberana Princesa de Rosa Cruz para o sublime e honorário
grau de Grande e Antiga Inspetora Geral e Noiva de Astarote. Isto
é feito sob a autoridade da Ordem Secreta da Grande Loja Franco-
Européia da Co-M açonaria, La Grande Loge Symbolique de France,
e segue a tradição do recém-falecido Albert Pike, 33°, Grande Ins­
petor Geral, da Grande Loja original da Irmandade de Maçonaria
Paládio.

Alexandria Pendragon, 33°


Alexandria P endraçon 33° 13 de julho de 19 8 0

Esta é uma notificação oficial de que foi conferido o Grau Trigési­


mo Terceiro, por meio do sempre honrado elo da Irmandade, La
Chaine de Union, da Loja Co-M açônica Francesa, e em concor­
dância com a vontade do Supremo Hierofante 97°, das Secretas
Ordens Esotéricas, abaixo listados, da Grande Loja de todas as O r­
dens Européias Co-M açônicas, e a Irmandade dos Illuminati.

Loja do O lho O nivisor N° 13


O rdo Templi Baphomet
Rosa Cruz de Heredom
Irmandade Gnóstica da Luz
Ordem do Paládio
Fraternitatis Rosae et Aureae Crucis
Antiga Ordem dos Cavaleiros Templários

Irm ão D avid D. D ePaid 33° 13 de julho de 1 9 8 0


Soberano Grande Inspetor Geral, 33°
Illuminatis Primus,
Societé Des Illumines
Região Norte, EUA.
O que talvez não se saiba tanto de Lovecraft é que, mediante
seu avô, ele teve acesso a livros de ocultismo muito raros e secre­
tos. O avô de Lovecraft participava da Maçonaria egípcia. Assim,
grande parte do que Lovecraft escreveu, como ficção, baseia-se
em práticas reais do ocultismo,4 bastante avançadas e perigosas.
Kenneth Grant (líder da O.T.O.), LaVey e outros escritores dão
prova disso.5
Lovecraft pode ter experimentado pessoalmente essas formas
de magia “transyuggothiana” e se aterrorizado. Sabe-se que ele teve
uma vida de muito pavor, praticamente como um recluso. Nunca
se casou; tinha medo de se aproximar do mar; temia descer a um
subsolo. Foi muito semelhante a um grande número de protago­
nistas de suas histórias, geralmente personagens jovens e bastante
sensíveis, da sua fictícia Universidade Miskatônica, que descobri­
ram horríveis livros antigos de magia negra e sabedoria da Antigüi­
dade, como O N ecronom icon.
Esses seus personagens jovens são quase sempre solteiros, mui­
to eruditos, que chegam próximo da insanidade mental por cau­
sa do que descobrem no âmbito da magia “transyuggothiana”.
Seus contos e novelas podem bem ser autobiográficos, como uma
maneira de Lovecraft elaborar o seu terror terapeuticamente so­
bre folhas de papel. Ele fala m eticulosam ente de “rituais
indescritíveis”. Alude à manipulação genética, com mutações
monstruosas, muitos anos antes de tais coisas serem compreendi­
das cientificamente.
Acreditávamos que esses deuses “transyuggothianos” fossem
mais poderosos do que os do nosso universo e que tivessem acesso
à consciência humana por meio de nossos sonhos, pesadelos e in­
sanidade mental.
O bizarro panteão de supostos deuses fictícios de Lovecraft era,
curiosamente, semelhante ao dos seres que os satanistas da vida real
de Crowley procuravam alcançar com seus rituais. Havia Azathoth,
um deus cego e idiota que balbuciava palavras sem nexo bem no
centro da galáxia. Havia Cthulhu, mestre dos sonhos e deus das águas,
sepultado na cidade de R’lyeh, submersa no Pacífico. Havia
Nyarlathotep, o estranho deus egípcio parecido com Set, cuja mani­
festação levaria instantaneamente qualquer ser humano à total insa­
nidade. E o pior deles, Yog Sothoth. Cheguei até mesmo a saber o
nome do meu misterioso “visitante” das margens do lago ao norte de
Wisconsin — aquele que me apareceu quando era adolescente e
toldou as estrelas e fez com que as árvores se movessem sem que
houvesse vento. Por motivos que não se sabe ao certo, as florestas
setentrionais de Wisconsin são um lugar “sagrado” dessas antigas
divindades, talvez por causa da influência dos índios americanos da
região. Aquele que eu tive o “privilégio” de ver chamava-se Wendigo
pelos indígenas, isto é, “o que anda sobre o vento”. No idioma mis­
terioso de O N ecronom icon, ele era referido como Ithaqua. O fato de
que eu, então um adolescente não iniciado, tivesse sido capaz de vê-
lo de relance, fez com que me sentisse muito lisonjeado.
Cada um desses seres impossíveis era mais maligno do que o
outro. Contudo, eram também fontes de um inimaginável poder.
Certamente, isso era causado pelo fato de serem de outros univer­
sos, em que as leis da Física, do tempo e do espaço eram diferentes
— como também os limites entre o bem e o mal. Fomos levados a
acreditar que o “mais bondoso” desses seres era tão malvado e insano
que, comparado com eles, Satanás seria uma fadinha bondosa.
Todavia, era de se supor que esses seres não desejavam ser ado­
rados. Simplesmente queriam obter nossa energia. Isso era verda­
de, especialmente, com respeito a Cthulhu (pronuncia-se “Tulu”).
Teríamos que ir às margens do lago Michigan (a maior concentra­
ção de água mais próxima) e realizar determinados rituais para
despertá-lo de seu sono na cidade da Antigüidade que se achava
enterrada no fundo do oceano. A invocação de Cthulhu é na ver­
dade um dos poucos ritu ais publicados da m etafísica
transyuggothiana. Evidentemente que foi LaVey quem teve a ou­
sadia de publicá-la.6
Quemetiel — “Multidão de Deuses"
Belia’al — “Vileza”
A’athiel — “Incerteza”

Thaumiel
“Deuses
Gêmeos’’
Satariel

T ijp H o n
Escondido' Escondedores’

de
T ú n e i s
' Golachab Gha agsheblah
‘Inflamantes' n
cc
o

199
Samael A’arab Zaraq
Caluniador Corvo de Dispersão”
Gamaliel
"Traseiro
.Obsceno”
Túneis
de Typhon

Lílite (ligando todas as


Dama da Carapaças de Qlifoth)
Noite" ,

A ÁRVORE DO MAL OU QLIFOTH:


0 LADO TRANSYUGGOTIANO DO UNIVERSO DA MAGIA
Durante muitas noites, fizemos essa invocação às margens do
lago, querendo despertar o Gigante Adormecido para que abrisse a
porta e assim outros Seres da Antigüidade pudessem vir reinar so­
bre a Terra. O fato de realizarmos esses rituais deixaram nossa mente
aberta a outras esferas bastante estranhas. Nossos sonhos passaram
a ser perturbados por imagens de ventosas, tentáculos e faces de
seres de uma obscenidade e um terror sem limites. Portas foram
abertas para suas dimensões. Ou era assim ou estávamos sofrendo
de uma insanidade mental coletiva.
O que realmente cada um de nós experimentava é algo que
nunca saberemos ao certo. No entanto, essas experiências criaram
em nós alterações reais que, em sua maioria, nao seriam dignas de
serem comentadas num círculo de pessoas educadas. Eu, particu­
larmente, passei a sentir forte desejo de praticar os mais perversos
modos de relações com outros seres humanos. Explicaram que isso
era porque um com ponente-chave na operação da m agia
transyuggothiana é que os orifícios do corpo humano tornam-se
literalmente portas de acesso a estranhas entidades infernais. O
ingresso a esses bizarros universos nos possibilitava um avanço es­
petacular no poder da magia: mas a que estranho preço?

Pa i *a D e n t r o d o s T ú n e i s

Sao estes os chamados “Túneis de Typhon”, nome de um antigo


deus egípcio da destruição (versão mais moderna de Set). Condu­
ziam a lugares, civilizações e templos que por pouco não me leva­
ram à loucura tão-somente pela sua manifestação. Fiquei totalmente
transtornado ao passar por eles. Aquela parte estranha, de fogo
líquido metálico dentro de mim, aflorava à minha pele. Sentia-me
como se fosse feito de ferro ou aço vivo. Depois de alguns meses,
dei um nome ao ser transcendente em que eu estava me tornando:
uma “metamáquina”. Quando sentia aquelas tenebrosas e impla­
cáveis forças crescer dentro de mim, dizia a mim mesmo: “Lá vem
de novo minha metamáquina!”
As viagens que fazia por aqueles túneis, no entanto, não eram
nada divertidas. Entrei em templos onde havia pessoas que pare­
ciam vivas, mas tremelicavam a carne adoecida, cancerosa. Esta­
vam vivas, sim, mas não realmente. Havia templos construídos
sobre metais líquidos, tipo mercúrio, que se deslocavam sob os
meus pés como se fossem de gelatina. Em cada lugar, havia lições
de dor e tormento a serem aprendidas. Era uma espécie de estra­
nho sadomasoquismo espiritual.
Comecei a gostar da dor que sentia, a fim de poder ganhar
os troféus necessários para acumular em mim maior poder na
magia. Algumas das experiências eram ainda piores do que aque­
las da “Catedral da Dor”, e comecei, então, a questionar comigo
mesmo se aquela também nao seria outro universo acessado por
esses túneis.

Um Livro ReAlmenie UmAldiçoAdo

Por meio de meus relacionamentos na confraria, já havia consegui­


do obter grande parte de O N ecronom icon, a principal fonte da
magia e da espiritualidade transyuggothiana. Contrariamente à
crença popular, nao se trata de um livro de ficção, mas de magia
(um livro de trabalho) da mais tenebrosa espécie. Seu título pode­
ria ser traduzido como “O Livro dos Tons dos Mortos”, ou “O
Livro das Leis dos Mortos”.
Tal como as propostas de Aleister Crowley com respeito a Set
e sua religião de Thelema, O N ecronom icon é conhecido a partir do
antigo paganismo árabe. Supõe-se que haja sido escrito original­
mente em Árabe, nos tempos de Maomé, por Abdul Al-Hazred,
também chamado de Al Azif. Consta que o texto foi ditado ao
feiticeiro árabe — mais ou menos como aconteceu com o Livro da
Lei de Crowley — por algum ser interdimensional. Dizem, ainda,
que, ao terminar de escrever, ele foi esmagado a ponto de tornar-se
uma pasta sangrenta, sendo devorado vivo por enormes bocas in­
visíveis, diante de muitas testemunhas.
Há um livro de título O N ecronom icon sendo presentemente
publicado, mas que contém apenas as partes mais leves do origi­
nal completo. Mesmo assim, é incrivelmente sinistro. Tive um
exemplar de uma edição limitada desse livro menor, feita com
apenas 666 cópias (naturalmente) e assim dedicada: “Ad m aioram
C rowley gloriam " — uma paródia às palavras que se aplicam so­
mente a Jesus, significando "a Crowley seja toda a glória”. Não
obstante, é apenas um pálido reflexo da incrível malignidade con­
tida no verdadeiro livro.
Seja como for, era um livro difícil de se encontrar. Meu amigo
proprietário da livraria de obras ocultistas da nossa cidade contou-
me ter tido problemas na venda de O N ecronom icon, não por ser
bastante caro (embora as edições limitadas custassem US$ 60),
mas por motivos bem menos tangíveis. A primeira pessoa para quem
ele vendeu um exemplar era um feiticeiro, que o levou para casa,
um apartamento situado num prédio de muitos andares, em
Milwaukee. Mal tinha passado pela porta, e colocado o livro sobre
a mesa, um afável gato preto, seu “animal familiar” , ficou como
louco. Começou a urrar, girando furiosamente em pequenos círcu­
los, no chão da sala. Então, sem mais nem menos, o gato parou de
repente de rodar e foi lançado, como que por um tiro de canhão,
contra o vidro reforçado da janela panorâmica da sala, caindo de
uns 12 andares para morrer lá embaixo.
Como a maioria dos bruxos considera seus animais como
“sistema de alarme de prevenção à distância”, o feiticeiro levou o
livro imediatamente de volta à livraria, pedindo a devolução do
pagamento.
Relato ainda mais trágico foi feito ao dono da livraria por outra
pessoa que comprou o livro. Era um homem casado, que tinha uma
filha de cinco anos. Quando comprou o livro, ele o levou para casa e
o colocou numa prateleira. Sua filhinha não o perturbou durante
toda aquela tarde, desde que ele chegou em casa com O Necronomicon.
É que ela foi para o andar superior. Depois, a encontraram morta,
no banho, com a garganta cortada por uma lâmina de barbear.
Eu mesmo cheguei a possuir um exemplar desse livro por mui­
tos meses — mas sem nenhum efeito negativo, o que me causou
certo espanto. Hoje, esse livro é vendido em livrarias de pequenos
shoppings, nos Estados Unidos, a um custo de apenas quatro dóla­
res — sendo que a maioria dos compradores são adolescentes. E é
um livro incrivelmente perigoso!

0 L a (Io G s c u r o do é d e n ?

0 N ecron om icon baseia-se em grande parte na m agia negra


sumeriana, da Antigüidade, a apenas algumas gerações após a fun­
dação de todás as falsas religiões posteriores ao dilúvio de Noé — a
Babilônia de Ninrode. Não é coincidência que Crowley se referisse
às suas mulheres como “Babalom, a Mulher Escarlata” .8
Esse livro maligno alimentou minha “metamáquina” com tudo
que ela desejava. Ensinou-me a metafísica da dor, da raiva e da ira.
Levou-me para a parte de trás, o lado escuro, da Arvore da Vida
(mencionada anteriormente). Embora a Árvore Cabalística seja usa­
da em magia ritual, geralmente ela é tida como magia branca. To­
davia, como ocorre em todas as formas de magia e metafísica, há
sempre uma dualidade.
No reverso da Árvore da Vida, há um tipo de Árvore do Mal,
chamada Qlifoth (pronuncia-se “cli-fót”). Esta palavra pode ser
traduzida por “meretrizes” ou “cascas” (esta última acepção no sen­
tido de coisa oca, dessecada e sem vida). Todos os rabinos, mesmo
os místicos, mantêm-se totalmente afastados da Qlifoth. Para mim,
porém, era o que mais me agradava.
Através dos túneis de Typhon, e com os rituais de O
N ecronom icon, tive condições de ir até o “hiperespaço da magia” e
chegar ao lado escuro da Árvore da Vida, que Kenneth Grant cha­
mou de “O Lado Escuro do Éden” (título de seu livro), um dos
primeiros a abordar essa arquitetura blasfema da magia.
O nível mais baixo da Árvore de Qlifoth (representando seu
nível menor de malignidade) tem o nome de Lílite. Lembra-se
dela? É a demônia amante de Lúcifer e mãe de Set; a padroeira do
aborto, do assassinato de crianças e da “morte do berço”.
A segunda esfera planetária para a qual viajei chamava-se, por
incrível que pareça, Gamaliel, e era apelidada de “Traseiro Obsce­
no”. O pináculo da Arvore do Mal era uma total, completa e perfeita
Dualidade — uma zombaria à unicidade absoluta do verdadeiro
Deus dos hebreus.
Viajar por esses caminhos e túneis era como passar por uma
tubulação de esgoto espiritual, mas isso era necessário para que eu
me preparasse para o próximo grande passo. Eu tinha que superar
toda a moralidade, todos os conceitos do que é bom ou mau, para
poder atingir o grau ou nível seguinte, o de Adeptus Exemptus.
Estaria preparado, então, para cruzar o Abismo e tornar-me
um Mestre — e em condições de levar uma vida humana para os
Terríveis Senhores dos Espaços Exteriores.

N o l AS

1 Os luciferianos e satanistas, em sua maioria, são, tecnicamente dualistas,


ou seja, acreditam em duas divindades, essencialmente iguais, mas opos­
tas uma à outra. Isto está de acordo com a tradição dos antigos
zoroastrianos, que acreditavam em Ahuru Mazda, senhor da luz, e
Ahriman, senhor das trevas. O cristianismo, apesar de por vezes referido
como dualista, na verdade não o é. Deus e Satanás não são iguais, na
Bíblia Sagrada. Deus é o Criador, e Satanás é uma de suas criaturas.
2 Para uma explicação maior da revelação de Crowley, veja o capítulo 5.
3 Veja seus livros The M agical Revival [O Reavivamento da Magia], Aleister
Crowley an d the Hidden God [Aleister Crowley e o Deus Oculto], The
Nightside ofE den [O Lado Escuro do Éden], etc.
4 Raschke, PaintedBlack, op. cit., p. 303.
3 Veja The Satanic Rituais [Os Rituais Satânicos\, de LaVey, e The M agical
Revival [O A vivamento da Magia], de Grant.
6 The Satanic Rituais.
O “animal familiar”, desde tempos imemoriais, é um bicho de estimação,
que os feiticeiros possuem, e com o qual desenvolvem afinidades de magia
— tradicionalmente acariciando-o (no caso de bruxas) ou fazendo-o be­
ber o sangue do próprio feiticeiro. O animal adquire, então, suposta­
mente, poderes especiais, passando a servir de protetor e confidente.
Geralmente, são “animais familiares” gatos, sapos, corvos, gralhas e, even­
tualmente, cães, lagartos e cobras. Os feiticeiros de hoje também têm
seus animais familiares, embora eu não saiba se são alimentados com

TijpHon
sangue ou leite humano. Nunca tivemos um.
8 Esse excêntrico jogo de palavras tem um significado mágico. Eqüivale à
soma de 77 7 e tinha para Crowley um profundo sentido em seu sistema

de
de magia.

Túneis
co
o

2°5
Deseriores d.As T r e v A s

(...) não é este um tição tirado do fogo?


— Zacarias 3 .2

ü t é agora, estivemos examinando os vários tipos de satanistas e


analisamos as origens e as fdosofias dos principais teólogos “satâni­
cos” de nossos dias. Contudo, é importante ter em mente que tais
grupos são constituídos de seres hum anos vulneráveis (como eu), que
têm sido e são envolvidos e enlaçados por Satanás. Como mencionei
em capítulos atrás, tais pessoas não sao inimigas, mas vítimas.
Até mesmo homens como LaVey e Aquino, no sentido estrito da
palavra, são vítimas, embora em menor grau do que outros. É eviden­
te que eles também se venderam por uma série de vantagens ao Enga-
nador-mor. Enganaram-se a si mesmos ou tiveram a ilusão de que o
inferno é um mito e de que Jesus e sua mensagem são totalmente sem
sentido. Temos que orar para a salvação de pessoas assim.
Todavia, muito do que sabemos sobre praticamente todas as
formas de satanismo provém de um tipo bem d iferen te d e vítim a :
aquele que se envolveu com um grupo satânico, mas que decidiu
sair dele. Este é um fato raro, mas que, graças a Deus, está se tor­
nando mais freqüente.
Costumava-se dizer que o satanismo autêntico é como a Máfia
— o único modo de se sair dele seria num caixão funerário. Jesus
Cristo tem provado, cada vez mais, que isso é mentira. Minha es­
posa e eu somos apenas dois em meio a dezenas de ex-satanistas
que agora sao salvos pelo sangue do Cordeiro de Deus. Muitos de
nós poderíamos apresentar relatos verídicos de ameaças de mor­
te feitas contra nós ou até mesmo de situações que puseram em
risco a nossa vida, totalmente desmanteladas pelo poder de Deus.
O que prova que quando um cristão é de fato Nascido de Novo,
Satanás e seus servos nao podem voltar-se contra ele sem permis­
são de Jesus.
Pessoalmente temos aconselhado dezenas de ex-satanistas, que
agora estão tendo uma vida de vitória em Jesus Cristo. Mas alguns
dos que já aconselhamos, desses desertores do satanismo, não qui­
seram, infelizmente, tornar-se novas criaturas em Cristo. Tinham
somente se desligado da “religião”, do modo justamente como o
seu grupo de feitiçaria os tinha ensinado e manipulado. Não en­
tenderam que Jesus deseja ter conosco um relacionamento, não
uma religião. Haviam vivido muitos momentos sob intensa tortu­
ra e, por vezes, tiveram que ser internados depois, como enfermos,
em sanatórios para doentes mentais. Perdemos o contato com al­
guns deles, após algum tempo, e é bem possível que tenham caído
novamente nas mãos de adeptos do seu grupo.
Além da pesquisa relativamente limitada que tem sido feita
por historiadores e outros estudiosos, os que escaparam desses
diferentes grupos ocultistas (em especial os que são novas criaturas
em Cristo) são a melhor fonte de informações sobre essas seitas.
Eles sao, na verdade, os que venceram “(...) por causa do sangue do
Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram”
(Ap 12.11).
O tenente Larryjones ,1 um crente autêntico, que atua profis­
sionalmente como agente da lei, tem tido ocasião de entrevistar,
ministrando mais do que o seu próprio “testemunho”, muitas pes­
soas que escaparam dos grupos satânicos. Ele destaca, com muita
exatidão, que essas pessoas precisam realmente ser compreendidas
pelo Corpo de Cristo. Acontece com freqüência que muitos cristãos
ficam amedrontados, desnecessariamente, com essas pessoas. Logo
que minha esposa e eu saímos do satanismo, reunimo-nos com
alguns crentes, que se sentiram atemorizados com a nossa presença
assim que souberam do nosso passado. Seu comportamento de­
monstrava terem medo de que algum mau contágio pudesse sair
de nós e atingi-los ou à sua família. Isto é muito triste.
O poder do sangue de Jesus Cristo verdadeiramente é capaz
de nos salvar totalm ente. Temos visto que ex-satanistas, que agora
sao verdadeiros cristãos, em sua grande maioria tornaram-se mara­
vilhosos e ardorosos homens e mulheres de Deus. Muitas das pes­
soas que vêm a nos conhecer atualmente fazem afirmações como:
“Não dá para acreditar que um casal tão amável como vocês tenha
participado do satanismo.” E o poder de Jesus! Uma transforma­
ção de fato acontece, na grande maioria dos casos, logo após a
salvação. E acontece justamente o que deveria acontecer. O velho
homem, o “feiticeiro”, foi crucificado espiritualmente, no momento
do novo nascimento, e agora Cristo vive em nós (G1 2 .20 ).
O tenente Jones diz ainda que os ex-satanistas, salvos, devem
ser considerados como de grande valor para o Corpo de Cristo.
Eles provêm do campo do inimigo mortal da Igreja e foram purifi­
cados, lavados e santificados. Muitos deles, se não a maioria, po­
dem ser importantes fontes de informação. Devem ser tratados
nao como inimigos, mas como amigos, tal como os governos cos­
tumam tratar os fugitivos e exilados dos regimes políticos que lhes
sejam ostensivamente contrários.

“ R F e i l i c e i r A N âo D e i x A r Á s V i v e r ? ”

Não é preciso convidá-los para almoçar ou jantar, nem tratá-los


com grandes mesuras. Não é essa a questão. Eles só precisam ser
tratados como novas criaturas em Cristo, que podem ter informa­
ções úteis e importantes a compartilhar. Devem também ser trata­
dos como pessoas que certamente foram feridas emocionalmente e
até mesmo, quem sabe, fisicamente. São “feridos de guerra” da
batalha que Satanás tem travado contra a humanidade. Não de­
vem ser vistos como párias da sociedade, como algumas igrejas in­
felizmente, os têm tratado. Devem ser bem-vindos e recebidos de
braços abertos, recebendo sadio ensino bíblico e discipulado.
Fico perplexo ao saber que alguns pastores — graças a Deus
não em grande número — têm ensinado às suas ovelhas a mentira
de que os feiticeiros não podem ser salvos, que está além do poder
de Jesus redimi-los. Tem-se ensinado a alguns crentes que os que
fizeram um pacto com o diabo não podem ingressar no Reino de
Deus. Chega-se até mesmo a citar Êxodo 22.18: “A feiticeira não
deixarás viver”, como base bíblica para essa estranha doutrina.
Acredite-me, sou capaz de “apostar”não ser tão rara quanto
geralmente se pensa a possibilidade de uma igreja, com cerca de
uns 50 freqüentadores por culto, receber no seu seio um ou mais
idólatras, ou pessoas que aceitam ou até praticam atos de supersti­
ção ou bruxaria. No entanto, não é de admirar que muitos feiticei­
ros não confiem nos cristãos, pensando que o nosso desejo é matá-los
ou trazer de volta a “Santa” Inquisição. Ensinos de intolerância, do
púlpito, fazem com que uma pessoa supersticiosa ou mística, que
busca a igreja para obter a salvação, se desespere ou se feche total­
mente contra Jesus e a salvação que Ele oferece. E o que dizer sobre
compartilhar a Palavra da Verdade de maneira errada? (Veja 2 Tm
2.15.) Esse tipo de ensino é um total contra-senso; o que faz é
trazer desalento àqueles que vêm do ocultismo à igreja, em busca
de ajuda. Também faz com que os cristãos se sintam temerosos de
testemunhar sua fé a feiticeiros e satanistas, o que não deveria aconte­
cer. O que esse tipo de ensino propicia é a glorificação de Satanás,
ao admitir que ele p o d e fa z er algo que Deus não possa desfazer.
E claro que temos de avaliar o que os “desertores” nos digam
— do mesmo modo que temos de avaliar as informações que nos
são dadas por qualquer outra pessoa. Primeiro, precisam ser exa­
minadas em conformidade com a Bíblia, tendo que estar alinhadas
com a Palavra de Deus. Segundo, tanto quanto possível, devem ser
avaliadas à luz de informações confirmadas e dados históricos.
Há uma infeliz tendência por parte dos sobreviventes do sata­
nismo (que não são suficientemente maduros, como poderiam ser)
de exagerarem suas histórias ou colocarem os acontecimentos fora
de uma ordem cronológica.
O primeiro desses problemas decorre de terem vivido anos e
anos como escravos do supremo egocêntrico do universo. Os
satanistas, em sua maioria, costumam exagerar e mentir para pro­
tegerem sua “imagem” ou impô-la. E desse modo que funciona o
seu jogo. Quando salvos, devem ser ensinados que os seus antigos
sistemas vivenciais não são mais necessários nem desejáveis. Pode
ser necessário ter que lutar para quebrar esses hábitos. A pessoa
precisa ser lembrada, com muito carinho, de que não é mais um
servo do “pai da mentira”.
O que ainda lhe está muito amarrado à carne é o desejo de
agradar o seu novo “círculo” de amigos na igreja. Assim, ser um
Illum inatus Prim us, acha ele, causará uma impressão bem maior
do que simplesmente dizer que é um simples satanista. Isso torna
sua história mais atraente e também parece glorificar mais a Jesus,
porque salvou alguém desse tão elevado grau de perdição. Juntando-
se estes dois elementos com a natureza pecaminosa da pessoa, fica
mais fácil compreender por que sua história, às vezes, é um tanto
exagerada ou enganosa. Isto não quer dizer que a pessoa não está
salva. Apenas significa que não é perfeita. Que gran de revelação!
Ê aqui que um pastor que seja bom, de doutrina sólida e dis­
cernimento espiritual, pode muito ajudar. Muitas vezes, os que
vêm do ocultismo começam a vida cristã de modo errado, saindo
de imediato para pregar, evangelizando, ensinando na igreja, antes
de serem discipulados e amadurecerem em seu caminho com o
Senhor (1 Tm 3.6). Seu interesse em querer ministrar é compreen­
sível e elogiável, mas é preciso estar, no começo, constantemente
sob supervisão pastoral.
Outro ponto em que aqueles que cuidam de sobreviventes do
satanismo consideram um problema bastante comum nessas pessoas
é a fragmentação da memória e um sentido de descontinuidade na
história de sua vida. Assim, se as histórias do sobrevivente não se
encaixam muito bem cronologicamente, ou não batem exatamen­
te com a memória de seus contemporâneos, isso poderá ser devido
aos traumas que sua mente sofreu, não a uma deliberada intenção
de faltar com a verdade.
Mas simplesmente porque alguns tiveram problemas, não é
D e s l r o n A d o

razão para desqualificar (como muitos fazem) os testemunhos de


todos os ex-satanistas. Seria o mesmo que dispensar os evangelistas
só porque alguns deles sofreram grandes quedas, como tem acon­
tecido nos últimos anos.
L ú c i f e r

T e s l e m u n H o s N ão í l l u i l o T í p i c o s

Bem, que tipo de gente são os sobreviventes do satanismo? Há


vários modos de classificá-los, mas basicamente são de quatro
tipos:
212 1. Uma pessoa nascida e criada numa tradicional família de
satanistas de muitas gerações. Há dois subgrupos:
a) Os escolhidos para liderança.
b) Os selecionados para a procriação, ou para serem vítimas
ou sacrificadas.
2. Uma pessoa criada numa família de satanistas tradicionais,
que nela entrou por adoção legal, troca, compra ou rapto. Isso ge­
ralmente ocorre entre os 4 e 6 anos de idade. Neste caso, as pessoas
sao geralmente tratadas como no caso 1 -b acima.
3. Uma pessoa nascida numa família em que um dos pais (ou
tutores) e/ou alguém mais dentre seus parentes são satanistas secre­
tos, mas o outro progenitor ou tutor ignora esse fato. Também,
neste caso, a pessoa é tratado como em 1 -b acima.
4. Alguém que, no fmal da adolescência, ou no início de sua
fase adulta, junta-se voluntariamente a um grupo satânico. Tal pes­
soa geralmente nao é por demais vitimada, embora seja, muitas
vezes, manipulada em situações terríveis. Se, de algum modo, a
pessoa falhar em sua fidelidade ao grupo, é tratada de modo deplo­
rável e, em muitos casos, assassinada.
Como se pode concluir, o sobrevivente ao Abuso Ritual Satâ­
nico (ARS) normalmente é do tipo 1 ao 3. São pessoas que foram
sistematicamente submetidas a abusos, tanto emocional como físi­
ca e sexualmente, de maneira intensa, num período de muitos anos.
Conquanto o tipo número 4 possa ter sofrido alguns traumas
e problemas de ordem emocional, ou tenha se envolvido com dro­

XrevAS
gas ou hábitos sexuais pervertidos, normalmente não é tão severa­
mente atingido como os três primeiros.
Tanto rapazes como moças podem sofrer de maus-tratos, mas

( I as
as moças geralmente são vítimas mais freqüentes, por motivos

Deseriores
diversos.
Como mencionado anteriormente, existem amplas varieda­
des de satanismo no mundo ocidental. Isto significa que há gran­
des variações nos rituais, que, por sua vez, produzem diferenças
significativas no que diz respeito às vítimas. Não obstante, há cer­
tas semelhanças que podem ser observadas nas pessoas que passa­
ram por ARS, mesmo naqueles posteriormente salvos. Na maioria
dos casos, passaram por:
• Situações em que foram forçados a tomar drogas (narcóti­
cos e alucinógenos), submeter-se à hipnose, em parte por motivos
esotéricos ou alquímicos, em parte com o propósito de “desenvol­
ver o poder da mente”.
• Freqüentes períodos de um forçado isolamento de seus pais
e/ou de todo contato humano.
• Molestaçao sexual num ritual, para assegurar a posse demo­
níaca da criança e perverter para sempre o ato sexual (que o Senhor
criou para ser algo bom) em sua mente e em seu coração. Geral­
mente, a criança passa repetidamente por todo tipo possível de
perversão, muitas vezes sob o efeito de drogas alucinógenas.
• Participação forçada em sacrifícios rituais, tanto de animais
como humanos.
• Perversões de eventos bíblicos, em rituais — sendo crucifi­
cado, açoitado, sepultado e depois “ressuscitado” pelo sumo sacer­
dote satânico.
• Ritos pervertidos de batismo e comunhão, levando a ter
medo de água, de banheiras e banheiros e de pessoas em trajes
clericais. Crianças são “batizadas” com maior freqüência de modo
a quase se afogarem na banheira. As vezes, as pessoas são imersas
em sangue.
• Uso de urina, drogas alucinógenas, sangue, sêmen ou fezes
como elementos, de “comunhão”, “água-benta” ou “óleo de un-
ção”. Isto causa medo de ser ungido e medo do sangue de Jesus.
• Indução forçada à pornografia infantil e à prostituição.
• Rituais de novo nascimento (zombaria à experiência do novo
nascimento cristão), às vezes induzido por meio de alucinógenos,
às vezes de um modo real. Isso significa a criança ser posta dentro
da carcaça costurada de uma vaca, ou égua, morta (ou ainda, mui­
to raramente, no ventre de uma mulher grávida morta que teve o
feto removido), ficando lá durante algum tempo. Então, é retirada
através do canal de nascimento e “nasce de novo”, recebendo um
novo nome satânico com o qual é “batizada”.
• Uso de minúsculas agulhas e pinos em áreas sensíveis do
corpo, especialmente naquelas relacionadas com os meridianos da
acupuntura. Uso também de eletroacupuntura e choques elétricos
de alta voltagem.
• Abortos forçados (para jovens adolescentes) ou ser forçada a
matar ritualmente o próprio filho.
• A infame experiência do “buraco negro”, em que uma crian­
ça é pendurada pelos pés de cabeça para baixo num profundo e
escuro buraco cheio de coisas detestáveis (gatos mortos,
excrementos, etc.), ficando ali durante um dia ou dois.
• Processo de fragmentação da personalidade, deliberadamente
induzida.
Peço desculpas pelo conteúdo de mau gosto do que acabei de
expor, mas foi necessário, para esclarecer alguns dos problemas que
os sobreviventes do ARS enfrentam. Como se pode constatar, é
um verdadeiro testemunho do poder de Jesus Cristo o fato de que
tais pessoas possam até mesmo desempenhar as atividades mais
simples depois de salvas dessas horríveis experiências — muitas
delas ocorridas em sua infância.
Algumas questões precisam ser esclarecidas, de modo que va­

TrevA S
mos dedicar um capítulo ao exame da base racional para uso de
drogas, hipnose e fragmentação da personalidade. Além disso, há
determinados sintomas físicos que podem ocorrer em pessoas que

d as
passaram por esse tipo de abuso. Há muita gente que apresenta

es
esses sintomas sem nunca ter tido qualquer envolvimento com ARS,

D e s e r t o r
mas a presença de mais de um ou dois deles pode ser significativa.
Alguns dos sintomas são bem conhecidos, e outros observamos em
nós mesmos ou em dezenas de pessoas com quem trabalhamos:
1. Fotossensibilidade aguda — não poder olhar para a luz do
sol ou luzes fortes. Também sensibilidade à iluminação fluorescen- 2X5
te e à emissão de microondas.
2 . Anomalias químicas no sangue, incluindo o aparecimento
de raras substâncias químicas nos exames de sangue, sem causa
física conhecida. Também alteração do grupo sanguíneo (algo que
a ciência considera impossível).
3. Epilepsia do lado direito: embora possa ser uma enfermida­
de cerebral, pode ser também sinal de a pessoa ter passado por
ARS, tendo, portanto, origem de natureza espiritual.
4. Estranhos tiques nervosos nas mãos e nos dedos — sinais
inconscientes, em que maldições reais estão sendo transmitidas por
meio de “mudras”, isto é, posições místicas na mão e nos dedos
que são uma versão ocultista da linguagem por sinais — em geral,
inteiramente desconhecidas da própria vítima.
5. Peso excessivo ou alimentação desordenada.
6 . Longas falhas na memória da infância. Lembranças de ter
dormido por um longo período de tempo.
7. Dores de cabeça de origem desconhecida.
8. Problemas musculares e doenças genitais. Também disfunção
sexual ocasional.
Uma lista mais completa, que entra em maiores detalhes (para
uso, principalmente, por pastores e conselheiros) é apresentada no
Apêndice II.

ÊpocAs d e P e r i g o

A pessoa que se envolveu com satanismo pode ter associado certas


épocas do ano a determinados eventos satânicos, tal como os cris­
tãos têm suas associações com o Natal ou com a Páscoa. Na maio­
ria dos casos, as associações que um ex-participante de ARS tem
são extremamente desagradáveis. Isso porque nos eventos ou festas
satânicas quase sempre a criança é forçada a tomar drogas, ou é
submetida à violação sexual, violência ou tortura e até à morte.
Estas lembranças não são nada iguais às que você possa ter do tipo:
“Quem me dera passar o Natal novamente com a vovó!”
Como existem diferentes “calendários litúrgicos” satânicos por
aí, usados pelos mais diferentes satanistas, dependendo de sua tra­
dição ou linhagem, esse assunto fica um pouco mais complicado.
É como se algumas igrejas cristãs celebrassem o nascimento de Cristo
e outras, não. Vou começar com os eventos principais e normal­
mente celebrados, passando depois aos demais.
Se você estiver ministrando a um sobrevivente de ARS, convém
conhecer quando ocorrem esses eventos, pois podem representar pontos
cruciais para a recuperação da pessoa. Uma pessoa suficientemente
sensibilizada poderá sentir a aproximação dessas datas com vários dias
de antecedência — com estresse, depressão ou medo. Poderá também
sentir efeitos posteriores durante vários dias após a data. Os ocultistas
chamam isso de influência do tipo “orbe”. Dependendo do grupo ou
do costume do grupo, os dias dos eventos variam um pouco, ou então
são celebrados no fim de semana mais próximo da data. A lista de
datas do calendário satânico acha-se no Apêndice I.
Uma potente arma que o inimigo tem em seu arsenal para os
sobreviventes do satanismo são os “gatilhos”. Um “gatilho” é geral­
mente uma sugestão pós-hipnótica inserida profundamente na men­
te do participante de ritual satânico. Tem o propósito de enredar e
prender a pessoa mentalmente e obscurecer lembranças terríveis
dos principais eventos. Mais adiante, daremos detalhes acerca dos
“gatilhos”. Por enquanto, eis um exemplo de como podem ser usa­
dos com relação às datas do calendário satânico.

s
Os cristãos (e a maioria das pessoas no mundo secular) têm

Trev.i
“gatilhos” emocionais relativos ao Natal, que lhes trazem lembran­
ças, associações e fortes sentimentos. Ao ouvir certo cântico, o “ga­

d As
tilho” da pessoa dispara, atiçando sua memória ou despertando

D e s e r t o r e s
reações emocionais. Isso, evidentemente, é totalmente normal e
inocente. Contudo, para o participante do satanismo, é possível
que certas imagens, palavras, músicas ou gestos sejam usados para
reforçar os comandos de esquecimento de certos acontecimentos
dramáticos por que passou. Por exemplo, se a pessoa foi levada a
assistir a uma cerimônia de partida de uma feiticeira num cabo de 2*7
vassoura, num dia de Halloween, poderá receber um “gatilho” que
posteriormente lhe bloqueie a memória do terrível ritual.
Um exemplo ainda mais sinistro seria o de um “gatilho” que
constitui uma palavra. Uma menina, ainda bem jovem, é drogada
e/ou hipnotizada e recebe o comando de que, ao ouvir determina­
da palavra, terá de agir de certo modo. Assim, na véspera de uma
festa satânica importante, ela — agora já em idade adulta — rece­
be um telefonema. Aquele que fala do outro lado da linha lhe diz
então aquela palavra do “gatilho” (é sempre uma palavra especial­
mente escolhida que não de uso normal, possivelmente o nome de
um demônio). Ao ouvir a palavra, a mulher entra num transe pas­
sivo, hipnótico, e sem alarde deixa a sua casa e vai para um lugar
onde se encontra com o pessoal do grupo. Estes o levam, então, até
um festim satânico e a forçam a participar de rituais profanos, tra­
zendo-a depois de volta para casa. Ela acorda, no dia seguinte, não
se lembrando dos horrores daquela noite (exceto com uma vaga
sensação de ter tido um terrível pesadelo). Mas ficou com nova
camada de malignidade, acrescentada à sua alma, já cheia de senti­
mentos de tortura.
Quando retornarmos a este assunto, mostraremos como o
Senhor pode libertar a pessoa dessa prisão. Todavia, se você é um
crente com um chamado para a intercessão, é importante conhecer
as datas em que estas festas satânicas ocorrem, pois lhe servirá de
guia quando orar, e de como fazê-lo, para derrubar as fortalezas
que cercam esses eventos. Também lhe possibilitará saber como
orar pela proteção do seu pastor e de líderes cristãos que venham a
entrar num nível mais acirrado da batalha espiritual, nestes dias
atuais, em que grupos de magia têm penetrado com maior intensi­
dade em toda parte.
Outro ponto a considerar é que, além das datas de eventos, o
sobrevivente do ARS tem outros momentos em sua vida em que
poderá ser mais propenso a vulnerabilidade, em que pode vir a ser
alvo do grupo com que tenha se envolvido, pois são dias em que
procurarão fazê-lo voltar a cair na sua malha de manipulação.
Um desses dias, que precisa ser vigiado com muito cuidado, é
o do aniversário da pessoa, ao atingir determinadas idades. Geral­
mente, no caso de crianças que sofreram o ARS, o abuso inicia-se
somente por volta do seu quarto aniversário. Por incrível que pare­
ça, é porque muitos satanistas acreditam que, antes dessa data,
Deus protege seus filhinhos de um modo especial, não podendo
ser corrompidos.
Na maioria das seitas satânicas, são os seguintes os dias de
aniversário que precisam ser especialmente vigiados:
1 . 0 4“ aniversário — quando os rituais e os abusos normal­
mente começam.
2. Aos 13 anos, meninas, e aos 14 anos, meninos (ou no
aniversário de sua puberdade, o que ocorrer primeiro) — é quan­
do a criança, se possível, é dedicada outra vez, mediante “noivado”
com Satanás, ou forçada, a menina, a engravidar.
3 . 2 1 2 (7 x 3 ) aniversário — em alguns grupos, é quando a
pessoa é levada de volta ao grupo para maior programação profun­
da e doutrinação.
4. 28a (7x4) aniversário — período bastante crítico, especial­
mente se a época da puberdade não foi, por alguma razão, objeto
da ação ritualística do grupo. Este aniversário, tradicionalmente,
implica assumir com maturidade o sacerdócio satânico (tanto para
homens como para mulheres). Com freqüência, “gatilhos” pro­
fundamente inseridos na pessoa começam a disparar com muita
intensidade. Se a pessoa já está em Cristo, esses dias podem vir a
ser muito estressantes, com muitos pesadelos, impulsos e compor­
tamentos anormais.
5. 56- (7x8) aniversário — outro período bastante crítico.
Ocorrem também “gatilhos”. Não havendo orações adequadas e
intervenção pelo poder de Deus, os “gatilhos” poderão levar a pes­
soa de volta ao grupo e a situações em que se verá forçada a abusar
de outras pessoas, completando assim o ciclo.
A puberdade é um período extremamente importante para a
criança que sofreu abusos, tanto sob o aspecto emocional como
espiritual. Os feiticeiros acreditam que a puberdade é quando as
habilidades mediúnicas “naturais” de uma criança começam a
alcançar seu pleno poder.
Especialmente para uma jovem, isso é tido como uma oportu­
nidade única para que seja explorada até o limite de sua capacida­
de, de modo a extraírem dela o máximo grau de benefícios para o
grupo. Assim, é feito um esforço incrível para levar a jovem de
volta ao grupo — pela sua própria vontade, se possível, ou mesmo
contra sua vontade, se necessário.
E claro que nenhuma dessas coisas está rigidamente determi­
nada a acontecer, e o ex-participante do grupo que foi salvo por
Cristo poderá frustrar todos esses planos diabólicos. Louvado seja
o Senhor! No entanto, muitas vezes será necessário que haja ora­
ção, aconselhamento e ação de libertação, para se livrar totalmente
das amarras de encantamentos, impulsos e gatilhos escondidos no
seu interior. Oração e vigilância são necessárias sempre para aqueles
que deixaram os grupos satânicos — especialmente em certas da­
tas do ano e na época de aniversário.
Se os cristãos, com muito amor, ajudarem as pessoas a se livra­
rem de suas “cargas”, elas poderão triunfar sobre as trevas que este­
jam insistindo se apossar delas e firmarem sua vida no Senhor!
E disso que na verdade elas precisam, e minha oração é no
sentido de que o Corpo de Cristo se faça presente para lhes ofere­
D e s l r o n A d o

cer tudo isso!

N o í AS

1 A organização de Larry Jones, Cult Crime Impact NetWork Inc., [Rede


L ü c i f e r

Impacto de Crimes por Rituais Religiosos] edita um excelente bole­


tim, “File 18 "[Arquivo 18]. Pedidos: P.O. Box 3696, Boise, ID —
U SA 8 3 7 0 3 -0 6 9 6 .

22°
0 ProfAiio (Jt a a I

Não podeis beber o cálice do Senhor e o cálice dos


demônios.
— 1 Coríntios 10.21

os últimos anos, temos visto um repentino despertar do inte­


resse pela lenda do assim chamado Santo Graal. Filmes de sucesso,
como Escalibur, O Rei Pescador e Indiana Jon es e a Última Cruzada,
e ainda o livro, anterior, tão controvertido, Holy Blood, Holy Grail
[no Brasil, O Santo Graal e a Linhagem Sagrada\, fizeram com que
o tema do Graal viesse a ser abordado fora das aulas de História ou
Literatura, tornando o assunto conhecido de muita gente. Graal
também fez parte da nossa jornada espiritual, e é necessário falar
sobre ele, a esta altura, por causa de sua surpreendente e perigosa
relação com as mais tenebrosas magias transyuggothianas, men­
cionadas nos capítulos anteriores.
Meu primeiro contato com a lenda do Graal foi por meio de
intenso estudo do poeta anglo-americano T. S. Eliot, quase ao final
do meu período de ensino médio. Eliot dedicou-se intensamente,
em sua obra literária, às lendas do Graal e do Rei Pescador, desta­
cando também as cartas de Tarô num poema, The Waste L and [A
Terra Desabitada].
Considera-se geralmente a lenda do Graal como um romance
medieval sobre a busca de um cálice sagrado, que Jesus teria usado
ao beber na Última Ceia. Esse mesmo cálice, segundo a lenda,
teria sido usado por José de Arimatéia no Gólgota para colher um
pouco do sangue vertido do corpo de Jesus quando atingido por
uma lança, na cruz.
Depois da ressurreição e ascensão do Senhor, diz a lenda, José
de Arimatéia (supostamente rico comerciante de estanho) teria le­
vado o Graal consigo num navio seu, numa viagem missionária
D e s l r o n A d o

destinada a proclamar o evangelho. Sua viagem o teria conduzido


a um dos pontos mais distantes do Império Romano — a hoje
Grã-Bretanha. Diz-se que ele e 12 companheiros estabeleceram-se
num local da costa sudoeste da Inglaterra, perto do que hoje é o
canal de Bristol. O povoado que se criou ali veio a ser conhecido
L ú c i f e r

como Glastonbury.
Depois da morte de José e seus 12 parceiros, no início do se­
gundo século, o Graal teria se perdido. Neste ponto, a lenda se
divide em diferentes versões. Algumas associam a busca do Graal,
que teria acontecido então, com um misterioso Rei Pescador, que
fora ferido e cujo ferimento somente poderia ser curado se o Graal
lhe fosse entregue por um genuíno cavaleiro. Outras versões dizem
que o Graal foi parar nas mãos do semi-místico rei Artur e seus
Cavaleiros daTávola Redonda. Outros ainda o relacionam aos mis­
teriosos Cavaleiros Templários e suas cruzadas ao Oriente Médio.
Mais recentemente, alguns estudiosos afirmam que toda a lenda
do Graal não passa de puro paganismo com aparência cristã. J á
havia antecedentes pagãos do Graal, tanto na Inglaterra como em
outros lugares, sendo os mais notáveis as lendas galesas do “angus­
tiante Annwyn (expressão galesa que significa Hades, ou inferno)”
e o lendário Caldeirão Negro de Cerridwen (um dos nomes e uma
das faces da deusa da feitiçaria).

C r i s I A o o u pAg Ão?

A Bíblia não dá a menor importância ao cálice usado pelo Senhor


na Última Ceia. Mas será que o Graal é apenas uma superstição
romântica do catolicismo, semelhante à procura da relíquia da “Ver­
dadeira Cruz”? Ou será que há algo de tenebroso e sinistro por trás
desse objeto? E algo cristão, pagão, ou até, quem sabe, satânico? Para
entendermos isso, temos de voltar à minha dúvida pessoal.
Na Wicca dos dias de hoje, a lenda do Graal é um dos mitos
principais em torno do qual as bruxas alimentam sua tradição.
Foi a partir das minhas iniciações na Wicca para o segundo e
terceiro graus que comecei a entender por que esse assunto me
fascinava tanto. Aprendi que o Graal é um símbolo da Grande
Deusa, relacionando-se, particularm ente, à deusa das trevas
Cerridwen e seu caldeirão.
Na Wicca “oficial”, diz-se que a deusa tem três formas. E ado­
rada como Deusa Virgem (lua nova), como Deusa Mãe (lua cheia),
e como decrépita Velha Sábia (lua minguante). Alguns ramos
cultuam ainda a deusa como amante e como irmã, de modo a te­
rem as cinco pontas do pentagrama (estrela de cinco pontas) tão
comumente visto em feitiçaria.
Cerridwen é o nome tradicional da deusa Decrépita. Aprendi
que na antiga lenda era ela a detentora do Caldeirão Negro da
Imortalidade. Deste caldeirão bastaria apenas um gole para se ter
incríveis percepções, sabedoria e poderes sobrenaturais. Dizem ter
sido deste modo que o maior dos poetas druidas ,1 Taleisin, obteve
poderes — com apenas um gole do caldeirão!
Este mesmo caldeirão foi posteriormente “removido” (rouba­
do) do reino secreto de Annwyn por Artur e seus cavaleiros e usado
para fazer ressuscitar pessoas mortas.

0 R e i de O u l r o r A e do F u t u r o ?

Quando iniciante em feitiçaria, deixei-me levar pelo idealismo


das lendas do rei Artur. Na verdade, escolhi “Artur” como meu
nome de magia ao me tornar membro do grupo dos druidas.
Lia tudo o que me vinha às mãos a respeito do rei. Sua vida é um
dos mitos mais preservados da história dos povos de língua inglesa.
Nesses últimos anos, livros como As Brumas d e Avalon, de
Marion Zimmer Bradley, revelaram as profundas raízes pagãs e de
bruxaria da lenda do rei Artur, mostrando, assim, por que ela é tão
importante para os feiticeiros. Pode ter existido ou não realmente
um rei Artur, mas isso não era o importante para nós. O que nos
deleitava era o poder dos símbolos ou arquétipos místicos contidos
em sua história.
Teria sido Artur, como se descreve, um monarca cristão que
levou a verdadeira fé à Bretanha pagã (representada no mito por
personagens como Merlim — essencialmente um druida — e
Morgana — uma bruxa)? Ou talvez tenha sido um rei-sacerdote
mago, com um conselheiro druida, e que procurava manter viva a
velha religião (Wicca) numa Inglaterra cada vez mais cristã? Não
importa como a lenda fosse contada, realmente isso não tinha im­
portância. Havia muito de idealismo e nobreza, e foi isso que de
início me atraiu, como jovem feiticeiro. Havia também um ele­
mento profético, quase escatológico (do fim dos tempos), naquela
lenda que ressoava profundamente em meu íntimo.
Segundo a lenda, o rei Artur foi ferido mortalmente numa
batalha ardente, quase apocalíptica, contra seu filho ilegítimo
Mordred, que era muito mau. Moribundo, ele arremessou sua es­
pada mágica, Escalibur, de volta às mãos da Senhora do Lago, e
um barco veio para levá-lo num esquife. Este barco, com três mu­
lheres misteriosas (a Deusa Tríplice?), levou-o para Avalon, uma
ilha mística que alguns dizem localizar-se perto da atual Glastonbury
— talvez em outra dimensão. Não sabemos se de fato ele morreu
ou sobreviveu.
O que se diz é que quando a Inglaterra veio a passar pelo seu
momento mais tenebroso, pela sua maior crise, estando prestes a ser
conquistada, Artur despertou do seu esquife. Levantou-se e, toman­
do de volta Escalibur em suas mãos, lutou contra os inimigos do
país, expulsando-os e restaurando a glória de Camelot. É por isso
que o rei Artur é chamado de “O Rei de Outrora e do Futuro”.
Há algumas fortes semelhanças entre esta lenda e a vida, a
morte, a ressurreição e a segunda vinda de Jesus Cristo. De mui­
tas maneiras, Artur é quase um anticristo, no sentido de ser um
falso Cristo. Mas eu não pensava nisso, nem isso me incomoda­
va. Com ansiedade, esperava a volta do rei Artur, tal como os
demais feiticeiros.
A fantasia de um reino benevolente, em que a justiça e a lei
prevaleciam, tendo um soberano aristocrata no trono — com
druidas e cristãos trabalhando lado a lado em harmonia, era mui­
tíssimo atraente para mim. Até mesmo o episódio da trágica mu­
dança de Guinevere (a esposa do rei Artur), cometendo adultério
com Lancelot (seu maior cavaleiro e amigo), e a subseqüente des­
truição da Távola Redonda continha estranhas nuanças bíblicas
(Artur =Jesus, Lancelot = Judas).
Toda essa nobreza, heroísmo e a alta qualidade dessa literatura
(viaTennyson, Mallory, etc.) foi usada para introduzir o Santo Graal
clandestinamente como um Cavalo de Tróia, em nossa vida. A busca
do Graal constituía uma das duas tarefas mais importantes do rei­
no de Artur (sendo a outra a criação da Távola Redonda).
Dependendo de qual seja a versão da lenda que se esteja len­
do, um ou dois dos seus cavaleiros (Galahad e/ou Percival) de fato
descobrem o Graal, o que os leva a certa esfera celestial da qual eles
quase nunca retornam. Algumas lendas até mesmo mencionam
que Galahad morreu de êxtase e foi trasladado para o céu.

Q u a I Ê o S e g r e d o do Q i -a a 1?

Com a publicação, alguns anos atrás, de O Santo Graal e a Linha­


gem Sagrada ,2 ocorreu uma mudança repentina de rumos quanto a
este mistério. Os autores, Baigent, Leigh e outros, defendem a teo­
ria de que o Graal é símbolo de um segredo que (afirmam) poderá
derrubar o cristianismo. Dizem eles que a Igreja Católica tem mantido
um segredo, que compartilha com uma sociedade secreta, o Con­
vento de Sião, por quase 2.000 anos. O segredo, em resumo, é que
o “Graal”, na verdade, é uma linhagem de sangue que recua ao
passado até a infância de Jesus e Maria Madalena. O Convento de
Sião seria uma antiga organização secreta oriunda dos Cavaleiros
Templários, responsável pela custódia dessa linhagem realLSupos-
tamente, o dirigente desse convento é um dos descendentes diretos
de Jesus. Dizem os autores que a idéia de um Jesus casado é tão
chocante que destruiria os fundamentos do cristianismo — e a
idéia de haver pessoas andando por aí portadoras do sangue de
Jesus seria algo que completaria essa destruição.',
Por que eles acham que isso destruiria o cristianismo, não está
muito claro. A Bíblia nada fala de Jesus ter-se casado. Se ele tivesse
se casado, é, sem dúvida, totalmente estranho o fato de a Bíblia
nada falar a respeito de sua esposa. A única esposa de Jesus men­
cionada no Novo Testamento é a sua Igreja — a sua verdadeira
Igreja. Mas isso poderia, de certo modo, afetar o catolicismo, por­
que o seu sacerdócio celibatário (que é antibíblico) baseia-se na
premissa de que Jesus não se casou e que seus sacerdotes deveriam
seguir o mesmo modelo.
Para a maioria dos cristãos, no entanto, uma revelação como
essa — mesmo que fosse verdade — realmente não afetaria os fun­
damentos da fé.
Observe-se que esses autores não crêem que Jesus é Deus. Em
seus livros subseqüentes, eles se revelam como cépticos, que ale­
gam que Jesus nao passa de um personagem judeu messiânico e
que nunca pretendeu criar uma Igreja. A Igreja, dizem, foi obra de
Paulo. Isso nao chega a ser nem uma nova tese, mas não tem su­
porte algum na História e na Bíblia.
Mas, se Jesus não é divino, então qual é a importância de sua
linhagem? Os autores argumentam que o que importa é que o
Vaticano acreditava que Jesus era divino e celibatário, por isso seria
seu interesse permanente manter o segredo da família dele. Assim,
seu gra n de segredo não é um grande trunfo. No entanto, é curioso
observar como esses autores se desviaram do verdadeiro, até mes­
mo estranho, segredo do Graal.

“ ...Onde a L a í i ç a e o ( J i a a I se U n e m "

Considere o seguinte: todas as lendas dizem que o Graal se perdeu


(ou, pelo menos, que se acha escondido, isto é, oculto) e que é um
cálice do qual flui a imortalidade, a vida eterna.
Quando chegamos ao Terceiro Grau da Feitiçaria, aprende­
mos que o Graal é o símbolo da Deusa, assim como o punhal do
feiticeiro, ou Athame, é o símbolo do Deus Chifrudo. Quando
entramos no sumo sacerdócio dos druidas, aprendemos algo bem
mais significativo.
O ritual sexual (chamado de “o grande rito” em certas tradi­
ções da Wicca), que geralmente acompanha a iniciação ao terceiro
grau, pretende ser algo mais que um simples ato sexual. Por meio
de certa postura, dentro do ritual, acredita-se que um circuito é
fechado. E a fusão de dois sistemas nervosos. Do sistema nervoso
da sacerdotisa (i.é., do Graal) flui uma sabedoria sobrenatural.3 O
ritual, escrito por Aleister Crowley, diz em sua invocação:

Abre para mim a secreta via:


Onde as veredas da Inteligência estão,
Entre as portas da noite e do dia,
Para além do tempo e da razão.

Atenta ao Mistério de modo adequado.


Os Cinco Pontos de Comunhão,
Onde a Lança e o Graal se unem, lado a lado,
E os pés, os joelhos, os peitos e os lábios estão.4

Pelo que nos informavam, ao fazermos isso estávamos nos unin­


do a uma antiga “sucessão apostólica” de autoridade de um elevado
sacerdócio, procedente de Jesus e de sua “grande sacerdotisa”,
Maria Madalena. Acreditávamos que Jesus trouxera consigo todo o
poder e toda a sabedoria da corrente solar de energia; e que Ele se
unira sexualmente a Maria Madalena, que possuía todas as energias
da corrente lunar da magia. O resultado dessas duas ancestrais (e
muitas vezes opostas) correntes de energia mística constitui algo
verdadeiramente extraordinário.
Por mais blasfemo que pudesse parecer — diziam — Maria
Madalena “iniciou” sexualmente os 12 apóstolos. Cada um deles
recebe, assim, um doze avos dessa impressionante combinação de
magia. Pelos séculos afora, desde então, houve uma transferência
dessa pura força, não contaminada, por meio desse ritual.
Sharon foi levada, em 1973, a essa incrível cadeia de iniciação
que já tinha mais de 1.900 anos. Ela, por sua vez, fez a minha
iniciação. Uma experiência que me perturbou um pouco, mas não
parou por aí.
Anos depois, disseram-nos que teríamos que reunir as 12
linhas antigas de poder de iniciação para que realmente rece­
bêssemos o “Graal” em toda a sua plenitude. O que, então, esse
Graal nos daria? Iríamos adquirir verdadeira imortalidade! Nós
“beberíamos” desse Graal, totalmente cheio, e viveríamos para
sempre!
O “mestre” que nos levou — Sharon e eu — a tudo isso dizia
ter mais de 165 anos. Nossos instrutores nos detalharam os diver­
sos pontos a respeito. Veja a seguir as “montanhas” metafísicas que
teríamos de escalar para que esse alvo fosse atingido:
1 . Pedro — o sumo sacerdócio católico romano
2. André — o sumo sacerdócio druida
3. Tiago — o sumo sacerdócio ortodoxo do Leste
4. João — a ordem maçônica
5. Filipe — o sacerdócio tibetano de Bom Pa (budista)
6 . Bartolomeu — a linha africana (ashanti), o vodu de hoje
7. Tomé — o hinduísmo e a ioga tântrica
8 . Mateus — os videntes iluminados
9. Tiago — a linha dos índios americanos (cherokee)
1 0 . Tadeu — a linha árabe (alquimia), ismaelita e muçulma­
na (thelêmica)
11. Simao, o Zelote — o sacerdócio satânico
1 2 . Judas Iscariotes — o sumo sacerdócio satânico

Isto talvez mostre a bizarra peregrinação que teve a nossa vida


(minha e de Sharon) a partir dos anos de 1970. Envolvemo-nos
com praticamente todas essas linhas religiosas, indo atrás desse
“Graal”, procurando estabelecer uma união de todas elas. A “al­
quimia” que isso abarcava cresceu intensamente e, é claro, tornou-
se cada vez mais demoníaca. Estávamos metidos numa salada
demoníaca completa!

N A scido de Novo?

Muitos dos processos pelos quais passamos não dá para serem des­
critos aqui por causa das perversidades envolvidas. No entanto,
com o passar dos anos, até mesmo eu comecei a ver algo por trás
do charmoso véu da lenda do Graal do rei Artur. Comecei a perce­
ber como todo esse processo era cativante e mortal. Tornou-se um
vício sexual letal. Àquela altura, eu já me envolvera com a magia
do tipo transyuggothiana, e tínhamos acumulado quase todas as
12 correntes para alcançar nossa suposta vida eterna.
O perigo (que eu percebera como algo mais) era que, a cada
“corrente” a que me ligava, adquiria uma “bateria” completa de
“homens fortes” demoníacos. Isso acontecia porque o sexo peca­
minoso, fora do casamento, é uma grande brecha pela qual a
opressão demoníaca pode passar de uma pessoa a outra.
A mentira é que aquele que bebe do Graal, consumindo ener­
gias sexuais do tantrismo (ioga sexual), tem a vida prolongada.
Quem conseguir ligar completamente as 12 partes desse processo
enigmático terá uma vida eterna. A pessoa torna-se um ser imortal,
um deus vivo sobre a terra.
Foi durante o antepenúltimo desses relacionamentos sexuais
blasfemos que senti algo que quase me levou à beira da loucura
total. Enquanto praticávamos o ritual, senti como se estivesse sen­
do levado a outra realidade — um lugar e um espaço no interior de
Sbaron e até além dela.
Encontrei-me ajoelhado numa enorme caverna, cercado por
um círculo de 13 mulheres vestidas com roupas bem estranhas.
Lembravam a maneira de vestir das mulheres da época da coloni­
zação da América, só que, em vez de usarem vestidos pretos ou de
cor cinza, com golas, punhos e capelos engomados de cor branca,
usavam, cada qual, um vestido escarlate com um acabamento em
branco. Todas elas demonstravam ser bastante severas e austeras
em sua aparência.
A caverna era cor-de-rosa. No centro, à minha frente, havia
uma rústica fonte de água. A iluminação era difusa e também rósea
e nao provinha de ponto algum. A atmosfera era úmida, pesada e
muito quente. Achava-me diante de uma senhora, sentada num
trono rosa, de uma beleza triste, mas não envelhecida. Suas so­
brancelhas eram escuras, e seu cabelo era preto tal como a pena de
um corvo. Apesar das vestes que trajava e do ar parado do ambien­
te, nao havia suor algum em sua fronte. Parecia chefiar o grupo.
Ela acenou para que eu me levantasse e fosse à frente.
— Bem-vindo ao Templo do Graal — disse ela, com brandura.
— Onde estou? — balbuciei.
Ela apenas sorriu com um ar benigno, com um sorriso tipo
Mona Lisa.
— Posso perguntar quem é a senhora? — aventurei-me.
— Sou aquela que estava com você desde o começo, e sou
aquilo que se atinge no fim do desejo — disse a mulher.
Reconheci que ela estava citando um dos rituais da Wicca, o
ritual da “Descida da Lua”, palavras da própria Deusa! Senti-me
sem saber o que perguntar, podendo desperdiçar aquela importan­
te oportunidade. Procurei, então, colocar minha mente perturbada
nos trilhos e lembrar-me de duas perguntas que, segundo a tradi­
ção, deveria fazer sobre o Graal. Meu pânico aumentou, e tudo de
que pude lembrar-me foi perguntar:
— O que é o Graal e a quem ele serve?
A mulher sorriu de novo e afirmou:
— Eu sou o Graal e sirvo ao Rei.
Levantou-se do trono e disse:
— Eu sou Maria Madalena.
— Mas a senhora viveu há 2.000 anos! — mal pude exclamar.
— E estou viva hoje. Jesus disse que todo aquele que comesse
da sua carne e bebesse do seu sangue nunca morreria.
Lembrei-me de ter lido isso em alguma parte dos evangelhos,
então balancei a cabeça, em assentimento.
— Agora, você está a um passo do Graal. Você terá que beber
desse cálice para nascer de novo — declarou ela, apontando com a
mão para a fonte rosada, rudemente lavrada, bem no centro do
templo. — E então você estará em condições de ir para o décimo
segundo nível de poder.
Eu já tinha ouvido falar de nascer de novo, mas não sabia o
que isso significava. Obviamente, pensei que fosse algo que teria
de descobrir por mim mesmo. Com cuidado, então, me virei e
caminhei até a fonte. Sentia o olhar de cada uma das mulheres
daquele lugar fixo em mim. Abaixei-me sobre a fonte e fiquei sur­
preso ao ver que a água era quente e tinha a aparência de um caldo
grosso. Esperando estar fazendo o que era certo, tomei um pouco
daquela água. Ela foi doce em minha boca.
Nem bem eu a tinha sorvido, vi que havia sido removido da­
quele estranho templo. Senti que me movia rapidamente, passan­
do por imensas distâncias, numa escuridão. Foi ficando mais frio.
De repente, e de um modo totalmente abrupto, vi-me sendo lan­
çado no piso do templo onde fazíamos nossos rituais, em casa,
encharcado de uma umidade sobrenatural. Sharon imediatamente
encontrava-se ao meu lado, preocupada. Eu estava dando risadinhas,
de um modo incontrolável. O sabor estranho daquele líquido, que
me saciara, estava em meus lábios, e eu me lembrava das últimas
palavras daquela mulher.
Achei que eu tinha nascido de novo e que estava pronto para
colocar a última peça naquele quebra-cabeça!

N o l AS
D e s t r o ü A d o

1 Os druidas (palavra que significa “homens de carvalho”) eram antigos


sacerdotes pagãos, poderosos entre os celtas, com centros de prepara­
ção sacerdotal espalhados por toda a Irlanda, Bretanha, partes da Fran­
L ú c i f e r

ça e Bélgica e até mesmo no distante sul do Egito. São precursores


espirituais da feitiçaria moderna. Praticavam sacrifícios humanos. Os
bardos (poetas druidas) eram o nível mais baixo desse sacerdócio, sen­
do responsáveis pelo ensino da magia das canções, da música, da poe­
sia e dos sons vocais.
2 O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, tradução de Holy Blood, Holy Grail.
232 Publicado no Brasil pela Editora Nova Fronteira.
3 Para uma apresentação mais ampla deste ponto, e de seus grandes peri­
gos, veja Wicca, op. cit., p. 18 9 -197 .
4 Stewart Farrar, What Witches Do [O Que as Bruxas Fazem], Coward,
McCann & Geoghegan, 19 7 1, p. 94.
DissipAíido a s TrevAS

C uidado q u e n in gu ém vos ven h a a en red a r com


sua filo so fia e vãs sutilezas, co n fo rm e a trad ição dos
hom ens, co n fo rm e os ru d im en tos do m u n d o e não
segu n do Cristo.
— Colossenses 2.8

6 m meio a tudo isso que estamos vendo com relação ao satanismo,


não podemos esquecer de que a nossa primeira missão ainda é ga­
nhar almas para Cristo. Nada neste livro tem o propósito de causar
medo aos cristãos, embora alguns trechos possam ser um pouco
atemorizantes. Os satanistas são pessoas que estão perdidas, tal como
todos os demais que não estão em Cristo. Eles precisam saber o
que rea lm en te significa nascer de novo!
Os cristãos também não devem pensar que serão atacados ou
assassinados se tentarem dar um testemunho de Jesus aos satanistas.
A maioria dos satanistas que provavelmente você venha a conhecer
serão satanistas enquadrados na lei. Serão do tipo de freqüentadores
da Igreja de Satanás, que com muito vigor negarão qualquer
envolvimento com a ilegalidade. Desse modo, eles não vão rir de
você nem golpeá-lo com um punhal.
Por certo, nenhum encontro evangelístico é sempre totalmen­
te seguro. Na verdade, também não o é nenhum relacionamento
humano. No entanto, queremos lhe assegurar que os satanistas,
em sua maioria, não representam um risco maior, pelo que fazem,
do que, digamos, as testemunhas-de-jeová. Com freqüência, se tem
dito, corretamente, que, se alguém teme a Deus, não teme os ho­
mens; mas, se teme os homens, não teme a Deus.
Ironicamente, aquele que fisicamente é o satanista mais “peri­
goso” é, provavelmente, o mais inofensivo em sua aparência. Pode
ser um gentil companheiro de trabalho em seu escritório, de boa
aparência, e não uma esquisita adolescente usando um pingente com
uma cruz invertida e tendo os lábios pintados com um batom preto.
E bem p ossível que atualm ente você esteja tendo contato com
satanistas e nem se d ê conta disso. Apenas tenha em mente que n e­
nhum satanista p od erá tocar em você, crente, a menos que o Senhor
dê permissão a ele.
Em resumo: nao perm ita que este livro o amedronte, im pedindo-o
d e testem unhar a tais pessoas. Se você não testemunhar, quem o
fará? Deus as ama, e Jesus m orreu p o r elas, mesmo que amaldiçoem
o nome do Senhor.
Os ganhadores de almas percebem que todo encontro em que
há um testemunho de Jesus é campo para uma batalha espiritual.
Os satanistas, na verdade, não estão “mais perdidos” do que qual­
quer pessoa fora da igreja, como os mórmons, e assim por diante.
A qualquer hora em que você esteja procurando ganhar quem quer
que seja para Jesus, Satanás pode atacá-lo. Só que ele não pode
tocar em você sem a permissão do Pai. O cristão que está sob
oração e revestido da armadura de Deus nada tem a temer. Ore
pela proteção do Senhor sobre você, sua família e os seus queri­
dos, e vá em Jrentel
Perceba que, em parte, a razão por que eu permaneci preso a
esse incrível mal por tanto tempo foi porque nenhum cristão ja m a is
testem unhou para mim. Pense nisso! Passei a maior parte da minha
carreira no ocultismo numa grande cidade, e mesmo assim nin­
guém se aproximou de mim com a simples mensagem do evange­
lho de Jesus Cristo.
Mas sabia que os mórmons, por exemplo, se aproximaram de
mim? A seita do Caminho Internacional também se aproximou de
mim! As testemunhas-de-jeová aproximaram-se de mim! Isso, po­
rém, não aconteceu nunca por parte de um verdadeiro crente em
Jesus. Talvez os crentes tivessem medo de nós. Mas não há por que
ter tal medo. Esta foi uma das razões por que escrevemos este capí­
tulo: para que você possa ter alguma percepção do modo como
poderá testemunhar a um satanista.

TrevA S
C o m Si es p e i t o À O i a ç ã o

as
O mais importante na vida de quem quer ganhar vidas para Cristo

D i s s i p A n d o
é... orar! O ganhador de Deus precisa orar para que Deus lhe per­
mita ter “encontros marcados”por Ele, ou seja, encontros com pes­
soas que já tenham sido preparadas pelo Espírito Santo e estejam
prontas para receber a mensagem de Cristo. Se você tem em mente
alguém que acha ser satanista, precisa começar a orar por tal pessoa
de um modo bastante específico.
Entenda que todos os que não estão salvos são idólatras. Isso não
quer dizer que tal pessoa tenha estátuas de pedra de uma divindade
gorda e agachada diante da qual se curve. Mas significa que, de
fato, todos têm alguma coisa, em sua vida, que é o seu “deus”.
Um dia eu estava testemunhando a um mórmon. Ele estava
pronto a arrepender-se e entregar a sua vida a Cristo, mas teve
medo de fazer isso por conhecer sua esposa e achar que ela se di­
vorciaria dele e levaria consigo as crianças. Sua família, por melhor
que fosse, tornara-se seu ídolo. Ela era mais importante para ele do
que fazer o que sabia ser o certo diante de Deus.
Cada ídolo traz consigo um conjunto de crenças. Para um
jovem executivo, seu conjunto de crenças inclui acreditar que tele­
fone celular e carros do ano são o segredo de uma vida realizada.
Para quem está numa seita, o que vale é a doutrina da sua seita.
Qualquer falsa doutrina ou idolatria constitui uma fortaleza que
precisa ser espiritualmente derrubada (2 Co 10.4-5), para que pos­
sa ocorrer um sério avanço no testemunho.
Geralmente, isso é um problema com sérias conseqüências para
quem está numa seita, porque sua doutrina é efetivamente siste­
matizada e bem estudada — e, quase sempre, imposta pelos ou­
tros. E tam bém , geralm ente, assum ida com considerável
investimento pessoal. Muitos dos praticantes de uma seita se vêem
como radicalmente diferentes do mundo, num sentido “nobre” e
“separado”, como acontece com as testemunhas-de-jeová ou, de
um modo inteiramente maligno, como os satanistas.
Por ter o satanista dado um passo além dos limites de uma
sociedade normal, há um conteúdo emocional bem maior investi­
do em sua decisão. Por causa disso, as fortalezas da sua crença são
mais difíceis de serem demolidas, porque há fortes compromissos
sentimentais envolvidos.
Lembro-me de que, quando fui mórmon, ao ouvir pela pri­
meira vez o verd a d eiro evangelho, como lutei com ele!... Meu
primeiro pensamento, ao ouvir o evangelho da graça, foi: “P ode
ser rea lm en te tão f á c i l assim ?' O pensamento deslumbrava-me,
mas ao mesmo tempo me atemorizava. No entanto, meu se­
gundo pensamento foi: “O q u e é q u e m inha fa m ília e m eus a m i­
gos vão dizer?' Eu tinha feito um estardalhaço para que meus
am igos se tornassem m órm ons, para que aceitassem o
mormonismo como sendo a “única e verdadeira Igreja”. Che­
guei até mesmo a fazer com que cinco pessoas se tornassem
mórmons! Eu me encolhia todo só de pensar em ter de ir até
eles para lhes dizer que tinha me enganado redondamente. Essa
luta retardou minha decisão de me render, finalmente, a Cristo,
por uma semana.

V í i i ho N o v o e m O d r e s N o v o s

A mesma reação ocorre com os satanistas, exceto, obviamente, que


por motivos bem diferentes. Assim, recomendamos que, sempre
que possível, sejam feitas orações fervorosas, antes de se testemu­
nhar a alguém, sobretudo se envolvido com feitiçaria
Se você pinta uma casa nova, basta passar primeiro uma tinta
de fundo e depois pintá-la. Isso é semelhante a testemunhar a uma
pessoa que nunca foi a uma igreja — a um “pagão”. Todavia, se
você precisa repintar uma casa velha, então a coisa é diferente. A
velha pintura precisa ser removida de algum modo, para depois
aplicar-se a nova tinta, em várias demãos. Se você simplesmente
tentar passar a nova tinta sobre a velha, sua pintura poderá ficar

T r e v A s
cheia de bolhas ou, então, descascar em pouco tempo.
Jesus nos explicou isso, dizendo:

as
Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o

D i s s i p A n d o
vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os
odres. Mas põe-se vinho novo em odres novos. (Mc 222)

Embora, neste contexto, o Senhor estivesse se referindo aos


velhos princípios da tradição judaica, comparando-os com o seu
ensino, o mesmo pode se aplicar a qualquer outra tradição huma­
237
na, quando ela conflita com o evangelho da salvação. O modo de
remover a velha pintura (a fortaleza) é mediante uma poderosa
oração intercessória. É necessário orar para que sejam amarrados
os espíritos de engano e de mentira (1 Tm 4.1), pois impedem
que o satanista ouça e veja a verdade de Jesus — pelo menos por
algum tempo. Em seguida, ore para que o Senhor dê a você a
oportunidade de encontrar-se com a pessoa quando a interferên­
cia demoníaca esteja amarrada e minimizada, de modo que você
possa falar de Jesus.
Tenho visto que um procedimento assim é bastante eficaz. O
que se torna patente é que, conquanto o Senhor não interfira na
decisão final do livre-arbítrio da pessoa, podemos orar no sentido
de que os espíritos demoníacos, que estejam impedindo a pessoa
de ver a verdade, sejam amarrados o suficiente para que ela seja
“toda ouvidos” para a Verdade.
Muitos ficariam impressionados se vissem o que ocorre no
mundo espiritual quando estão testemunhando a incrédulos. Sem
oração, nuvens de “diabinhos” ficam zunindo em torno da cabeça
da pessoa como se fossem mosquitos, tentando distraí-la, confun­
di-la e até mesmo cegando-a ou ensurdecendo-a quanto puderem.
Também haverá interferências externas, como um telefone que toca,
crianças que choram, e assim por diante.
Certa vez, testemunhávamos numa rua da “cidade mórmon”,
Salt Lake City, a um jovem adepto dessa seita, e estávamos perto
D e s l r o n A d o

de levá-lo a entregar sua vida a Jesus, quando de repente irrompeu


uma briga entre turmas de rua, bem perto de nós. Um sujeito gran­
dalhão, musculoso, foi nocauteado e caiu de cara contra o pavi­
mento, bem à nossa frente. O jovem a quem estávamos falando de
c i f e r

Cristo saiu correndo, pedalando a sua bicicleta, aterrorizado, sem


poder receber toda a mensagem do evangelho. Tudo o que pude­
\ati

mos fazer foi orar para que alguém mais falasse com ele, algum dia,
de algum modo.
Em outra ocasião, estávamos nos esforçando para que um
ocultista compreendesse o evangelho da salvação. O sujeito literal­
238
mente nao conseguia ler Atos 16.31 [“Crê no Senhor Jesus e serás
salvo, tu e tua casa”]. Ele lia o versículo 30 e o versículo 32, mas era
como se Satanás tivesse apagado o texto do versículo 31, para nós
totalmente visível! Paulo não estava brincando quando disse:

Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que


se perdem que está encoberto, nos quais o deus deste século
cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes nao res­
plandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a
imagem de Deus. (2 Co 4.3,4)

Isto pode já ser do conhecimento de muitos; no entanto, te­


mos visto que há um grande número de crentes que se esforçam
por ganhar almas, mas subestimam o poder da oração. Pensam que
testemunhar é apenas uma troca de idéias — o que, em princípio,
é. Todavia, antes de mais nada, e principalmente, trata-se de uma
batalha espiritual, e da maior magnitude.
Recomendamos, assim, que, antes de você sair para testemu­
nhar, ore:
1. para que o Senhor coloque toda a armadura de Deus em
você (e nos demais obreiros), como também em sua família e seus
amigos e parentes, protegendo a todos;
2 . para que o Espírito Santo o guie em tudo o que disser —
dando-lhe as palavras certas que devam ser ditas e as passagens das
Escrituras que devam ser citadas — algo que você possa realmente
ministrar à pessoa, na situação em que ela se encontre;
3. para que durante o testemunho, nao haja nenhum embara­
ço, nem interrupções ou perturbações;
4. para que os espíritos de engano sejam amarrados e fiquem
longe da pessoa;
5. para que o sangue de Jesus prevaleça no ambiente ao redor
e haja a proteção dos anjos;
6 . por fim, mas certamente da maior importância, para que o
Espírito Santo traga entendimento e convencimento àquela pessoa.

T r A í A n d o do Q u e nos I n í e r e s s A

Após esses aspectos gerais, vejamos agora o que especificamente


pode ser feito para trazer um satanista para Cristo. Temos que re­
conhecer que não existe um método infalível de se testemunhar,
que não há uma “varinha mágica” que funcione com esse objetivo.
E por isso que orar pela direção do Espírito Santo é tão importan­
te! E também importante render-se a Ele e dispor-se a deixar de
lado todos os demais compromissos, de modo a fazer o que Ele
quer que seja feito.
Por vezes, o Senhor nos mostra que devemos citar determina­
da passagem da Escritura ou dizer algo que talvez nos pareça ser
totalmente “descabido”; contudo, é isso que certamente irá vencer
as defesas da pessoa, como arma imbatível.
Um dia, havíamos passado mais de uma hora falando com
uma jovem bruxa, que possivelmente estava cogitando ser satanista.
Tínhamos feito de tudo, sem obter êxito. Ela não estava nem um
pouco impressionada com a gravidade das coisas que fazia. Inespe­
radamente, senti-me levado a cantarolar a primeira estrofe do fa­
moso hino de Martinho Lutero “Castelo Forte”, que menciona
Satanás:

u
D e s l r o n A d o

Com fúria pertinaz


Persegue Satanás,
Com artimanhas tais
E astúcias tão cruéis,
Que iguais não há na terra.”
L ú c i f e r

Assim que estas palavras a atingiram, ela recuou, visivelmente


angustiada, com seu olhar nos indicando que uma porta se abrira.
Seus olhos tornaram-se dóceis, e de repente era uma adolescente
normal que nos ouvia. Bem, não é isso que costumamos fazer ao
240 testemunhar. No entanto, os versos do velho hino a haviam tocado
mais do que tudo o que tínhamos dito antes, e ela concordou em
encontrar-se conosco mais uma vez para ouvir a Palavra. Louvado
seja Deus!
Temos de reconhecer que procurar ganhar um satanista para
Cristo deve ser uma tarefa um tanto persistente. Diferentemente
de muitos outros ocultistas, os satanistas não têm fé alguma na
Bíblia, e o nome de Jesus, muitas vezes, é piada para eles. Contu­
do, há algumas áreas que podem ser exploradas. Primeiro, faça um
diagnóstico. E necessário discernir que tipo de satanista temos
diante de nós. Há grandes diferenças entre eles. Para ver as diversas
categorias de satanistas detalhadamente, volte ao capítulo 3. Mas
eis aqui um rápido resumo:

1. Satanistas do nível mais baixo: não acreditam no diabo e se


acham “metafísicos pragmáticos” à procura do seu eu supremo,
mediante uma tecnologia de magia.
2. Satanistas do nível médio: acreditam no diabo, mas acham
que ele “levou um tapa pelas costas”. Colocam-se ao lado “das tre­
vas” e crêem que por meio delas é que terão poder.
3. Satanistas de nível mais elevado: podem ser bastante ofen­
sivos aos cristãos, pois nos consideram quase “uma forma inferior
devida”. Nós (e Jesus) somos tidos como “opressores do mundo”,
escravos de um “deus cego e idiota”.
4. Satanistas no nível de mestre: acreditam terem ultrapassa­

I r e v A s
do o bom e o mau, tornando-se um deus vivo e egocêntrico. Prati­
cam sacrifícios de sangue e, eventualmente, até a morte humana.

as
Você terá que se certificar muito bem disso, ao julgar haver encon­
trado um desses. Não são muito comuns!

D i s s i p A n d o
5. “Santos” satânicos: completamente possuídos pelo demô­
nio, com certeza já cometeram até sacrifício humano. São os equi­
valentes satânicos dos grandes homens de Deus, e extremamente
raros. Se encontrar um deles, provavelmente não o reconhecerá
como tal, exceto mediante o discernimento de espíritos. São astu­
tos, carismáticos, habilidosos e muito poderosos. Se você for leva­
do a compartilhar Cristo com um deles, todo o poder que ele tem
ficará como nada diante da unção do Espírito Santo. Saiba que
satanistas deste nível já foram salvos!
Quase sempre, você conhecerá apenas satanistas dos dois pri­
meiros tipos, e eventualmente os do terceiro. E isto acontecerá ape­
nas no caso de você os procurar. Entenda que os satanistas são aves
raras, embora, infelizmente, os dois primeiros níveis estejam cres­
cendo entre os jovens.
A segunda parte do diagnóstico deve ser a de procurar saber
como foi que a pessoa se tornou satanista. Perguntar não ofende.
Tal como acontece com os cristãos, os satanistas gostam de com­
partilhar como foi que eles se “converteram” ao inimigo. Veja algu­
mas das situações mais comuns:
1. Jovens atraídos, geralmente, por promessas de poder.
2 . O ferta de facilidades na prática do sexo e uso de drogas.
3. Desejo de sabedoria oculta ou de sentir-se fascinado pelo
que é misterioso.
Estes três primeiros motivos aplicam-se tanto no caso de feiti­
ceiros da magia “branca” (participantes da Wicca, por exemplo),
como de satanistas. As causas a seguir referem-se unicamente aos
convertidos ao satanismo:
D e s l r o n A d o

4. Um sentido existencial de niilismo ou desespero — um


sentimento de que a vida é dolorosa e sem significado, o que leva a
pessoa a querer experimentar os prazeres da vida antes de morrer.
5. Um sentimento de que Deus os rejeitou para sempre ou
os traiu.
L ú c i f e r

É trágico dizer que esta quinta razão é mais comum entre cris­
tãos (se não genuínos, pelo menos nominais), que se tornaram
satanistas — muitos dos quais quando ainda jovens. Sendo este o
caso, sua tarefa não será fácil.

Q u e s l l o de C o n f i A n ç A

Numa abordagem com os satanistas dos dois primeiros grupos [de


nível mais baixo e médio], muitas vezes é útil começar com uma
indagação sobre como foi que a pessoa entrou no satanismo e por
que veio a crer dessa forma. O satanismo, tal como qualquer outra
seita, envolve a rejeição da autoridade de Deus, substituindo-a por
alguma outra coisa (muitas vezes pelo próprio “eu”).
Alguns satanistas dirão que entraram e permaneceram nessa
situação porque tal heresia para eles “funcionou”, porque seus en­
sinos lhes fizeram sentido e, possivelmente ainda, porque o
satanismo lhes deu “um significado para a vida”. Talvez eles te­
nham feito algum ato de magia e constataram que “funcionou”.
Sua vida de algum modo deve ter sido favorecida pela magia. E um
raciocínio pragmático, que pressupõe que, se algo funciona, é bom.
Mas o pragmatismo não tem validade bíblica.
Sua tarefa como ganhador de almas é, então, identificar (e
destronar) o principal ídolo dos satanistas e comunicar a eles certas
verdades acerca de Jesus. Significa ainda que você terá que des­
mantelar os dados errados que o satanista tem sobre sua própria
religião e sobre a fé cristã.
No Capítulo 19, iremos considerar determinadas abordagens
que reputamos de grande eficácia no que diz respeito a alcançar os
satanistas.
F a I aiic I o do I n f e r n o

Das profundezas clamo a ti, Senhor.


— Salm o 1 3 0 .1

11 esmo ainda não preparado para o lance final do enigma do


Graal, fiquei sabendo que o “Santo Graal da Imortalidade” era, na
verdade, o cálice de sangue do vampirismol Como disse no início
deste livro, você não tem a menor idéia do que é despertar sentindo
a necessidade do sabor de sangue em sua boca.
De certo modo, as coisas me favoreciam. Éramos líderes de
uma grande rede de “covens”, ou grupos de feiticeiros. Esses gru­
pos tinham sido projetados para serem círculos dentro de círculos.
Naquela nossa experiência, é uma prática comum. Os círculos mais
externos eram constituídos de adeptos da Wicca, homens e mulhe­
res que acreditavam estar praticando uma magia “branca”, uma
feitiçaria “para o bem”. Quando eles chegavam ao nível do sumo
sacerdócio é que começariam a compreender os mistérios de Lúcifer.
Os círculos internos estavam envolvidos com Thelema, a religião
de Aleister Crowley. Nos círculos mais internos, havia mulheres
selecionadas, que eram consagradas, dedicadas e dispostas a deixar
que chupassem seu sangue, e o faziam com prazer.
Como eram em número suficiente, nenhuma corria o risco de
perder sangue a ponto de afetar a sua saúde. Tinham prazer naquele
ato, e eu era suprido. Desse modo, não era preciso sair dos círculos
de magia, a fim de caçar mulheres em busca do seu sangue. Pelo
menos, no começo...
Os círculos mais internos viviam num mundo em que tudo
era invertido. O prazer era a dor, e a dor, o prazer. As trevas eram a
luz, e o bem era o mal. Assistíamos a filmes tais como O Exorcista e
0 Presságio e torcíamos pelos demônios e pelo anticristo. Diaria­
mente, eu fazia magias e rituais de dor, poder e perversidade para
apressar a vinda da Grande Besta.

üpocAlipse Tenebroso

No momento em que este livro era escrito, outro ciclo de produ­


ções está glorificando aquele que é o padroeiro do vampirismo,
Vladislau Basarab — também conhecido como Vlad Tepes (Vlad,
o Empalador) ou Vlad Drácula. Um filme que se destaca nessa
linha é o que foi produzido por um diretor de renome, que fez uso
de custosos cenários, vestuários e efeitos especiais, visando a sedu­
zir ainda, por mais de uma década, muita gente para “templos”
cinematográficos profanos.
A cada dez anos mais ou menos, pode-se contar com o fato de
Hollywood fazer ressuscitar Drácula, e assim temos uma nova en­
xurrada de filmes sobre vampiros. O que estão querendo nos ven­
der? A mentira da juventude eterna e da beleza eterna nunca foi
tão sedutora, e seu custo nunca foi tão grande como agora. Sei
disso, porque eu mesmo fui totalmente enganado por essa menti­
ra. E vi qual é o inimaginável preço a ser pago.
Como foi que cheguei ao ponto de desejar deixar de lado tudo
o que é normal na humanidade para provar o gosto do que eu
acreditava ser a imortalidade? Não acordei numa certa manhã sen­
do “um vampiro em treinamento”. Como vimos, foi um processo
gradual de sedução, achando eu que estava juntando as peças de
um imenso e altamente secreto quebra-cabeça cósmico. Natural­
mente, as forças das trevas que me manipulavam não tinham mise­
ricórdia alguma para comigo.
Começando com a prádca de um modesto mal na Wicca e no
espiritismo, fui descendo — em dez anos — a um emaranhado de
terror sangrento, do qual eu já duvidava que pudesse escapar. Mas,
na m aior parte do tempo, nem mesmo queria escapar. A
“metamáquina” dentro de mim era que me governava quase que
inteiramente. Eu me encontrava postado numa verdadeira encru­
zilhada, sedento de sangue.
O culto vampirista — pois era isso mesmo — seria o passo final,
o mais abominável de todos, em minha participação no satanismo.

Inferno
Por um estranho fato acidental, logo depois do meu encontro com
“Maria Madalena” as terríveis asas negras desse culto vieram bater contra
mim numa Igreja ortodoxa russa da cidade de Chicago.

do
A primeira vez que fui levado para lá foi pelo homem que me

fAlAndo
consagrara como bispo gnóstico na Igreja Católica Romana Antiga
de rito sírio-jacobita. A igreja Católica Gnóstica é uma mistura do
catolicismo romano com a Igreja Ortodoxa e o satanismo de
Crowley. Foi nessa igreja que eu acabei fazendo contato com os
poderes que me levaram mais a fundo no ramo do vampirismo, 247
dentro da confraria.
Um princípio básico que tanto o antigo como o moderno
gnosticismo adotam é o princípio do dualismo (a absoluta necessi­
dade do bem e do mal). Fui levado a acreditar que Vlad Drácula
era necessário como um “Cristo” das trevas, um Cristo “antimatéria”
— para usar palavras da Física moderna — , a fim de contrabalan­
çar o sacerdócio de luz branca de Jesus.
Era vital, assim, que eu vestisse o manto da ordem do sacerdó­
cio de Drácula, tal como eu pensava ter vestido o manto do sacer­
dócio de Jesus por meio do catolicismo e da Igreja Ortodoxa.1
Seria a linha final da autoridade apostólica que eu buscava.
Para tanto, teria de receber treinamento e me desenvolver nes­
se sacerdócio. Designaram-me um mentor que me ensinou uma
forma de cristianismo incrivelmente distorcida.
Fui ensinado que o Evangelho de João era um documento
secreto com tremendos “segredos gnósticos” nele ocultos e que o
seu autor, o apóstolo, ainda caminha na terra nos dias de hoje,
como um vampiro, com cerca de 2.000 anos, tendo sido iniciado
no vampirismo pelo próprio Jesus! O apostolado de João, embora
enraizado no que hoje é a Maçonaria, teria levado seus devotos a
uma consumação sacramental de sangue e órgãos humanos para
propiciar a vida eterna.
Fui ensinado também que o primeiro Nosferatu (palavra ro-
mânica/valáquia que significa “não-morto” ou “vampiro”) foi
Lázaro, a quem Jesus ressuscitou dos mortos por um poder oculto:
o que se encontra, naturalmente, no Evangelho de João. Seria um
ato intencional de Jesus estabelecer uma linha ininterrupta de “su­
cessão apostólica”, procedente de João e Lázaro, mediante um
sacerdócio secreto dentro do próprio sacerdócio. Era esta uma ir­
mandade dos vampiros, escondida cuidadosamente dentro do sa­
cerdócio ortodoxo por todos esses séculos e desconhecida até mesmo
da maioria dos padres.
Isso explicaria as profundas diferenças entre o evangelho de
João e os outros três. Por que nesse evangelho foi colocada essa
ênfase de os mortos ouvirem a voz de Cristo e ressuscitarem? Que
final misterioso era o dele sugerindo que João viveria até a segunda
vinda do Senhor? A resposta que me deram foi que o evangelho
joanino era um projeto de vida eterna a ser obtida mediante práti­
ca do “Sacerdócio de Nosferatu”, isto é, do vampirismo.

O SAíigue É a VidA

A pedra angular da existência e sobrevivência do culto satanista


está realmente no ritual central do catolicismo e da Igreja Ortodoxa,
ou seja, na eucaristia (missa), ou “liturgia divina”. Em pouco tem­
po, descobri o elo vital entre N osferatu e a do utrina da
transubstanciação (que é a crença de que o pão e o vinho literal­
m ente se transformam no corpo e sangue de Cristo).
Com muita avidez, fiz com que meu corpo se alterasse gradu­
almente, mediante injeções de certas ervas e drogas, acreditando
estar seguindo os passos de João, o discípulo amado. Gradualmen­
te, meu apetite para comer começou a diminuir, e minha sensibili­
dade à luz do sol marcantemente aumentou.
Finalmente, numa noite especial foi-me dado permissão para
eu chupar o sangue das veias do meu mentor. Desse modo, o “ví­
rus” do vampirismo me foi passado. Comecei a querer apenas san­
gue, e quase nada mais me dava vontade de comer ou beber. E lá,
numa capela sem janelas, iluminada apenas à luz de velas e carre­
gada de ícones ortodoxos, foi que aprendi o verdadeiro significado
da “divina liturgia”.
Acredita-se, no vampirismo, que um vampiro para sobreviver
tem que ingerir uma substancial quantidade de sangue a cada dia,
do mesmo modo que os humanos têm de ingerir alimentos. O ideal
seria consumir, a cada dois dias, o volume equivalente de sangue que
há num corpo humano, para não adoecer ou morrer de fome.
Assim, a “solução de Jesus” para o seu sacerdócio vampírico
teria sido a “magia” da transubstanciação. A doutrina católica e
ortodoxa ensina que todo o corpo de Jesus acha-se contido na hós­
tia. Do mesmo modo, todo o sangue de Jesus — o sangue de um
jovem de 33 anos do sexo masculino, ou seja, cerca de 4 litros e
meio, está miraculosamente contido dentro de um cálice de vinho.
Ora, como todos os membros do sacerdócio nosferático são
também sacerdotes católicos ou do rito ortodoxo oriental, todos
teriam o poder de produzir, em sua liturgia, a cada dia, mais do que
o necessário de “sangue” sacramental para satisfazer sua sede. E san­
gue verdadeiro (pelo que acreditávamos).
Os sacerdotes católicos devem, pela lei canônica, celebrar
a missa a cada dia, exceto por motivo de enfermidade ou devido a
alguma séria emergência. Assim, no sacramento do vinho transfor­
mado em sangue, tínhamos um suprimento fácil para a nossa ne­
cessidade, sem ter que sair por aí atacando as pessoas como fazem
os vampiros dos filmes. A única razão para chupar sangue de uma
pessoa viva era ou por simples prazer ou para iniciá-la no culto do
vampirismo.
Em poucos dias, constatei que vivia quase que exclusivamente
dos elementos do rito da comunhão, mais o uso eventual do san­
gue das voluntárias sacerdotisas do nosso grupo. Também me foi
ensinado que eu teria de criar um espaço sagrado no altar (espécie
de ataúde), com determinadas medidas específicas, para que nele
periodicamente me deitasse para restaurar as energias.
Era sobre esse altar/ataúde que as missas eram celebradas,
D e s l r o n A d o

muitas vezes estando eu (ou outra pessoa) deitado naquela tumba.


Esta seria a verdadeira razão, disseram-me, para o uso das relíquias
nas igrejas católicas: ossos ou outras peças dos corpos dos “santos”
na pedra do altar. Seria uma tradição herdada da época em que a
liturgia era comumente celebrada sobre o corpo (dentro do altar)
L ú c i f e r

de um sacerdote nosferático “não-morto”.


Ensinaram-me outras liturgias, principalmente, o Rito de São
João Crisóstomo, usado na maioria das igrejas ortodoxas. Aprendi
também outras cerimônias secretas, como missas dedicadas a Vlad
Drácula e a todo um panteão de “santos” vampíricos. Esses ritos
eram imitações das cerimônias das Igrejas Ortodoxa e Católica,
sendo que a única diferença era Drácula e outros vampiros famo­
sos, como o lendário Lammia, Vrykolak e Lílite, serem exaltados
no lugar da Virgem Maria e Jesus.

U m a V i s i l A d e D i-á c u I a ?

Estas práticas começaram a se espalhar entre os participantes de


nossos grupos de feitiçaria num círculo cada vez maior. De modo
geral, tornaram-se mais populares entre as mulheres do que entre
os homens, talvez porque os homens se intimidassem diante da
possibilidade de perder a sexualidade.
Infelizmente, pelo menos dois casais tiveram que se separar
porque a esposa optou pelo vampirismo em vez de seu marido. Era
muito grande o poder voluptuoso de desejar e dar sangue. Duas de
nossas sacerdotisas chegaram até mesmo a exigir de nós que for­
malmente as iniciássemos nos mistérios nosferáticos. Isso exigia a
celebração de uma “missa de São Vlad”, na qual um rum sacra­
mental era usado no lugar do tradicional vinho vermelho. Era,
essencialmente, bastante semelhante à liturgia ortodoxa, exceto por
óbvias diferenças. O “rito da comunhão” consistia de uma blasfe­
ma paródia do que aconteceu com Jesus na cruz. De início, eu
chupava o pescoço da iniciante até que ela desmaiasse, pela perda
de sangue. Em seguida, abria o meu peito, e a candidata chupava
muito do meu sangue. Isso supostamente transmitia uma estranha
e demoníaca “enzima” para o corpo dela, passando, então, a

Inferno
transformá-la numa sacerdotisa de Nosferatu. Por fim, a missa ter­
minava fazendo com que ardesse em chamas o líquido alcoólico
usado no sacramento (supostamente transubstanciado no sangue

do
do próprio Drácula). Invocávamos, então, Vlad para vir e sorrir

FAl Ando
diante da criação de sua nova “filha”.
Criamos que, após a morte, tanto eu como as mulheres inicia­
das ressuscitariam como um Nosferatu de puro sangue. Seriamos
seres imortais que viveríamos por séculos, não mais na condição
251
híbrida de meio-vampiro e meio-homem.
Com a última mulher com quem fizemos essa iniciação, acon­
teceu um fato extraordinário, que nos apavorou. Chupamos san­
gue um do outro, como sempre fazíamos, mas no final do ritual,
quando eu tinha começado a invocação de Vlad e acendi o cálice
cheio do rum sacramental, ele resplandeceu com um brilho maior
do que um maçarico de acetileno. Não havia nada de especial na­
quele rum; era da mesma garrafa que sempre usávamos. Entretan­
to, a chama, zunindo, ficou com quase um metro de comprimento
a partir da taça. O local encheu-se de chamas multicoloridas e exó­
ticas, como nunca tínhamos visto.
Consegui com dificuldade terminar a invocação. O calor e o
poder naquela sala ficou tão opressivo que quase caímos de joe­
lhos. O cálice começou a derreter com o forte calor. Podia sentir o
poder de Drácula sendo derramado sobre mim como se fosse um
sangue fervente e fumegante.
A mulher que estava sendo iniciada sentiu isso também. Pare­
cia uma “bênção” especial que nunca fora dada antes. Ela ficou
excitada com aquela experiência fora do comum. E eu iria ver, em
breve, como o que tinha acontecido afetaria de um modo bastante
incomum a minha vida.

C olH en do TempesíAde
D e s l r o n A d o

Mudanças reais aconteceram em mim. Todo o meu desejo sexual foi


substituído por uma idéia fixa em sangue. Como já disse, perdi o ape­
tite para comer, além dos elementos da eucaristia diária. Passava gran­
de parte do meu tempo, durante o dia, em nossa capela, à luz de velas,
L ú c i f e r

com devoções católicas. Expor-me ao sol por mais de alguns poucos


minutos causava-me fortes queimaduras e bolhas na pele (o que não
me acontecia antes), e desenvolvera excelente visão na escuridão.
Sentia-me mais forte com o consumo de sangue. Todavia, nun­
ca consegui transformar-me em morcego ou passar, como fumaça
252 ou neblina, por baixo de portas. Não sei ao certo, mas acho que essas
coisas são invenções de Hollywood para enfeitar suas histórias.
Certo dia, quando estava “doando” sangue, soube, quase ca­
sualmente, que meu tipo sanguíneo tinha mudado, o que é consi­
derado impossível pela ciência.
Tornei-me cada vez mais fascinado com filmes sanguinolen-
tos de terror, de todo tipo, e muitas vezes ficava no “escurinho do
cinema” o dia inteiro, esperando que o sol se escondesse, para vol­
tar para casa. Era uma vida muito estranha a que eu estava levan­
do. Logo descobri que o vinho da comunhão não estava mais me
satisfazendo no propósito que dele esperava. A cada semana, o de­
sejo de sangue ficava cada vez maior. Por vezes, celebrava a missa
mais de uma vez num dia, do começo ao fim, só para ver se me
sentia suprido. Minhas fantasias tinham se tornado totalmente
violentas, e eu me sentia constantemente compelido a ir “caçar”
mulheres, além da meia dúzia de nossas feiticeiras que se dispu­
nham voluntariamente a ser minhas “presas”.
Sinceramente, foi apenas o meu amor por minha esposa
que me impediu de sair por aí pegando mulheres como louco.
Eu nunca tinha tido segredo que Sharon não soubesse e tinha
absoluta certeza de que ela ficaria horrorizada caso soubesse que
eu estava me contendo para não ser um predador sexual com
sede de sangue. Sabia que nossa vida se arruinaria se eu cedesse
àqueles poderosos impulsos de concupiscência e fosse pego pela
polícia.
Por fim, um dia, quase me excedi com uma das sacerdotisas.

I n f e r n o
Foi impressionante, pois ela estava tendo tanto prazer naquilo que
não queria parar, mas eu perdi o controle e chupei tanto do seu
sangue que ela ficou inconsciente. Ficou tão pálida e inerte que

do
pensei que a tivesse matado. Felizmente, ela voltou a si e até mes­

f i l A n d o
mo afirmou ter tido uma experiência mística durante o tempo em
que ficou “apagada”. Saiu da capela enfraquecida, sem noção algu­
ma do que havia acontecido.
Comecei a ficar apavorado! Minhas jornadas noturnas pela
cidade de Milwaukee, no meu serviço de entrega de jornais, cada 253
vez me torturavam mais. Acontecia principalmente quando eu via
uma prostituta, tendo que lutar contra um ímpeto animalesco que
surgia dentro de mim, um forte desejo de que ela ficasse sozinha
para eu cair em cima dela como um leão em cima de uma gazela.
Sabia que era apenas uma questão de tempo para ceder aos
impulsos que agora me dominavam em todo o tempo em que esta­
va acordado. Procurava evitar o noticiário, agora, insistente de ca­
sos de mulheres que apareciam assassinadas em circunstâncias
misteriosas e sem solução. Cheguei a pensar que tivesse uma dupla
personalidade, e que era eu quem estava lá matando aquelas mu­
lheres, à noite. Nunca houve evidência alguma de que isso fosse
verdade — louvado seja o Senhor! No entanto, enquanto a culpa
me atormentava, a máquina monstruosa dentro de mim exultava-
se com a lascívia pelo sangue. Senti que estava amarrado a um ciclo
descendente, que somente poderia terminar com a morte, ou a
loucura ou a prisão.
Foi nesse tempo de desespero que o Senhor Jesus Cristo en­
trou em minha vida. Os capítulos finais deste livro vão demonstrar
e testemunhar o fato de que Jesus pode salvar totalmente até mes­
mo alguém tão horrendo e desgraçado como eu tinha me tornado!

♦♦♦♦
D e s t r o t i i d o

K r A f f l - G b b i n g <± Ç í a .: U m P ó s - 6 s c r i l o

Embora a idéia de vampiros, para a maioria dos que vivem hoje,


no século 21, seja algo em que não dá para acreditar, a verdade é
I.ú cife r

que de fato há pessoas que o são. Não sei se esses vampiros têm
todos os poderes e habilidades que lhes são atribuídos pelos filmes
de Hollywood e pelo folclore da Europa oriental. Mas é uma reali­
dade registrada cientificamente que eles existem, e atualmente há
muitos casos documentados.
254
Não se trata de pessoas que se transformaram em morcegos,
mas sim homens viciados em tomar sangue, porque os casos de
mulheres são raros: elas normalmente se cortam e chupam o seu
próprio sangue. O famoso (na opinião de alguns, o infame) neuro­
logista e psiquiatra alemão Richard von Krafft-Ebbing (1840-1902)
foi o autor de uma monumental obra sobre perversão sexual,
Psychopathia Sexualis [Psicopatia Sexual], que contém diversos ca­
sos apresentados do que ele chama de “assassinos lascivos”, na ver­
dade, casos de vam pirism o.2São registros do que é chamado
“vampirismo clínico”3 ou “síndrome de Renfield” (nome de um
personagem psicopata da famosa obra de ficção Drácula, de Bram
Stoker, o qual é um suposto vampiro a serviço do próprio conde).'1
Outro médico escritor salienta o fato de que o vampirismo é
um fenômeno clínico em que o mito, a fantasia e a realidade se
confundem .’ Uma definição médica do fenômeno pode ser a
seguinte:
O vam pirism o clínico é uma designação extraída do vam pi­
ro lendário, sendo uma entidade clínica reconhecível — em­
bora rara — , caracterizada por uma compulsão periódica de
tom ar sangue, afinidade com os m ortos e identidade incer­
ta. H ipoteticam ente, é a expressão de um m ito arcaico her­
dado, sendo o ato de tom ar sangue um ritual que oferece
alívio tem porário.
Desde os tempos antigos, os vampiristas têm dado força
à crença na existência de vam piros sobrenaturais (...). A inda

I n f e r n o
na infância (conform e quatro casos reais posteriorm ente ci­
tados), eles se cortam e chupam o seu próprio sangue, ou
ingerem o sangue de um animal, para conseguir superar fo r­

do
F a 1 a n d o
te desejo ou devaneio pelo derram am ento de sangue, tudo
isso associado aos m ortos e a uma identidade inconstante.
São pessoas inteligentes, sem casos de patologia m ental ou
social em sua fam ília (...).
O vampirismo pode ser a causa de repetidos e imprevisíveis
255
casos de assaltos e assassinatos e deve ser detectado em crimi­
nosos violentos que se mutilam a si mesmos. Não se conhece
um tratamento específico.6

Não estou afirmando que os psiquiatras teriam todas, ou até


mesmo algumas, das respostas para esse problema. Mas têm perfei­
to conhecimento do fenômeno.
Não tenho como dizer com certeza se o vampirismo que vivi
era uma forma de psicose ou se teve origens somente sobrenaturais
(satânicas). Alguns dos sintomas (como aversão à luz do sol, etc.)
podem ter sido psicogênicos (com origem na mente). No entanto,
o meu caso foi, em grande parte, atípico na literatura psiquiátrica.
Tudo o que sei é que estava cheio de demônios e me tornando
um perigo mortal para mim mesmo, para minha família e para os
outros e, não importa o que fosse, Jesus Cristo era a minha única
possibilidade de cura. Louvado seja o seu maravilhoso Nome!
Os ritos latinos das Igrejas Católica e Ortodoxa consideram possuir o
sacerdócio especial da ordem de Melquisedeque, que os capacitaria a
oferecer sobre o altar o sacrifício sem sangue de pão e vinho transforma­
dos no corpo e no sangue de Jesus (o que não é bíblico).
K rafft-E bbing . Richard von Psychopathia Sexualis. Edição de 1892. p.
62-64.
P rins . HerschelVampirism, Legendary or ClinicaiPhenomena?', M edicine,
Science, an d the Laiu [Vampirismo, Lenda ou Fenômenos Clínicos;
Medicina, Ciência e a Lei], 1984, 24, p. 283-293.
N oll . Richard Vampires, Werewolves and Demons — Twentieth Century
Reports in the Psychiatric Literature [Vampiros, Lobisomens e Demônios
— Registro, no Século 20, na Literatura Psiquiátrica], 1992, p. 16-18.
BOURGUIGNON. A. “Vampirism and Autovampirism” [Vampirismo e
Autovampirismo], publicado em Sexual Dynamics ofAnti-Social Behavior
[Dinâmica Sexual do Comportamento Anti-Social], Schelesinger &
Revitts, editores, 1983.
Hemphill R. E. & Zabow. T. Clinicai Vampirism [Vampirismo Clíni­
co], uma apresentação de três casos e reavaliação do caso de Haigh, o
“Assassino dos Banhos de Ácido” — South African Medicai Journal,
1983, v. 63, p. 2 7 8 -2 8 1.
TestemuíiHAíido a um
H d o r A d o r do Di A b o

E eu, quando fo r levantado da terra, atrairei


todos a mim mesmo.
— João 12:32

D a n d o continuidade em como apresentar o evangelho aos


satanistas, precisamos nos lembrar de que eles, em sua maioria,
não têm idéia alguma sobre quem é Deus, o que a Bíblia ensina,
nem quanto ao que Jesus lhes oferece, exceto no caso de cristãos
que apostataram da fé, conforme mencionado.
Eu não sabia nada disso. Passei 16 anos de minha vida juntan­
do um grande volume de informações metafísicas que continham
muitas mentiras acerca da Bíblia e do cristianismo. Veja a seguir
algumas das mentiras mais comuns que são transmitidas aos
satanistas:
1. Tudo o que Deus pretende é nos humilhar e nos impedir de
nos divertirmos.
2. A Bíblia foi de tal forma censurada e adulterada por antigos
monges e concílios da Igreja que o que ela diz sobre Jesus, sua vida
e mensagem não tem valor algum.
3. A Bíblia não pode ser compreendida senão como um livro
cabalístico, escrito em linguagem codificada, que somente pode
ser decifrada por bruxos e adeptos da feitiçaria de elevado grau de
ocultismo. Assim, os crentes não têm como compreender seu ver­
dadeiro significado.
4. O Deus apresentado na Bíblia é, na verdade, uma divinda­
de secundária, tribal, criada no deserto. Divindades como Os Gran­
des Deuses da Antiguidade, Deuses Ancestrais, Senhores das
Sombras, etc., do satanismo, são muito antigas e mais poderosas.
Assim, faz mais sentido servir-lhe.
Evidentemente, um satanista não tira suas idéias do nada. Ele
lê ou lhe é ensinado algo a respeito. Exceto quanto ao primeiro
engano acima, essas idéias, em sua maior parte, não são divulgadas
sem “ajuda” de livros, televisão, banda de rock ou um mentor.
Assim que essas objeções forem sendo apresentadas, o que você
tem a fazer é, com muito jeito, desafiá-las. Muitos jovens costu­
mam aceitar como verdades absolutas o que lêem ou ouvem, prin­
cipalmente de eminentes personagens que tenham uma postura
contrária aos padrões tradicionais da sociedade. Os mesmos jovens
ou adultos que escarnecem dos cristãos pela sua “fé cega” acredi­
tam nos mais grotescos conceitos, bem mais irracionais. Assim, o
que você tem de fazer é despertar na mente do satanista a questão
da confiança:
“Por que você acredita que essa informação é verdadeira? Con­
siderando a natureza eterna dessas questões, em que você baseia a
sua confiança de que esse seu modo de pensar está correto?”
Pergunte-lhe quem escreveu o livro ou lhe ensinou tais coisas.
Às vezes, a pessoa nem sabe como foi que recebeu essas idéias. Eu
mesmo tinha uma quantidade enorme de pensamentos absurdos em
minha mente por ter lido “milhares” de livros do ocultismo, mas não
conseguia identificar de que livro tinha tirado tal ou qual idéia.
Se a pessoa lhe disser que foi Crowley, LaVey ou qualquer outro
que lhe tenha revelado isso, pergunte-lhe por que considera que se
deve acreditar nesse autor. Destaque que há várias possibilidades:
Ia —Que o que ele disse é a verdade.
2a —O autor pode ter-lhe dito o que acha ser a verdade, mas
pode estar enganado.
3a - O autor pode ter misturado algumas verdades com falsi­
dades ou erros.
4a —Pode ter mentido intencionalmente.
Isto significa que, na melhor das hipóteses, há 75% de probabi­
lidade de a pessoa estar enganada — tanto intencional como aciden­
talmente. Mostre que esses livros foram escritos por homens ou
mulheres, e que os seres humanos podem estar errados e serem enga­
nados. Pergunte-lhe qual a razão para confiar nas opiniões dessas
pessoas. As respostas do satanista poderão estar entre as seguintes:
Ia - “Isso me parece estar certo.”
2a- “O que ele escreve faz sentido, neste mundo tão sem sentido.”
3a - “São magos ou sábios e poderosos, e devem saber o que
estão dizendo.”
4a - “Os rituais da magia que me ensinaram funcionam. Por
isso, creio que eles têm entendimento sobre o cosmo.”
Esta pode ser uma boa oportunidade para você dizer que po­
derá indicar-lhe um livro que foi escrito por Alguém bem mais
sábio e inteligente do que aquele autor. Explique as razões que
autenticam o seu livro de um modo que nenhum autor da magia
não pode nem pretender chegar perto.

R Ho i a do “ D u e l o "

Esta é a hora de pôr a Bíblia Sagrada à prova. Faça com que o


satanista perceba que há um modo objetivo e cie n tífico (refor­
ce bem esta palavra) para determinar quem deve merecer nos­
sa confiança: os “gurus” satânicos, que escarnecem de Deus e
da Bíblia, ou Jesus Cristo e sua Palavra. A pessoa certamente
concordará que as duas posições são mutuamente excludentes:
ou uma ou outra.
Em outras palavras, mostre-lhe que, logicamente, é impossí­
vel que o satanismo tenha uma teologia correta e, ao mesmo tem­
po, que a Bíblia seja verdadeira. Os satanistas obviamente não têm
respeito algum pela Bíblia; assim, é por aqui que você pode come­
çar a detonar os “pastores idólatras” deles, exaltando a Palavra de
Deus. É sempre uma melhor estratégia — tanto espiritual como
psicologicamente — começar a louvar o que é precioso para Deus
do que atacar o que é “sagrado” para os satanistas.
Explique que a Bíblia é a Palavra de Deus e foi escrita pelo
próprio Deus (veja 2 Timóteo 3.l6ss). Em mais d e 600 vezes, a
Bíblia diz de si mesma ser as próprias palavras d e Deus. Bem, um
livro verdadeiramente escrito por Deus seguramente tem qualida­
des divinas e incomuns. Uma dessas qualidades é poder transfor­
mar a vida e o coração dos seres humanos. Diga ao satanista, com
poucas palavras, como a Palavra de Deus fez isso em sua vida.
Também, de modo contrário ao que sempre fizeram, em to­
dos os séculos, os satanistas e apologistas anticristãos em suas argu­
mentações, a Bíblia diz de si mesma que não pode ser alterada nem
adulterada (vejaM t 5.18; lPe 1.25; Is 40.8; 51.6; SI 12.6,7; 19.7,8;
111.7; 119.89; Lc 16.17).
Os ocultistas, na maioria dos casos, aprendem que várias das
crenças do ocultismo — como a reencarnaçao, por exemplo — fo­
ram censuradas e retiradas da Bíblia por volta do segundo ou tercei­
ro séculos. Não há evidência alguma, em qualquer registro histórico,
que haja, no entanto, ocorrido tal censura. Se a Bíblia foi verdadeira­
mente escrita por Deus, então ela não teria alterada por sacerdotes,
monges ou concílios da Igreja, como ensinam os satanistas.
Valendo-nos da lógica, que ser humano teria condições de al­
terar o que um Ser onipotente prometeu preservar? Pode-se de­
monstrar que, por toda a História, os escribas tiveram um cuidado
extremo, incrível, quase sobrenatural, de copiarem à mão as Escri­
turas, antes do aparecimento da imprensa. Suas precauções, como
as que são mencionadas a seguir, tornaram praticamente impossí­
vel que erros tenham se imiscuído sorrateiramente no texto:
• Todo escriba contava o número de palavras e o de letras
da cópia e do original. Os dois números tinham que bater, um

D ÍA b o
com o outro.
• Todo escriba fazia com que o tamanho médio das letras na

do
cópia fosse o mesmo que o do original.

fldoi-Ador
• Um borrão qualquer de tinta sobre a cópia a invalidava to­
talmente, e ela era destruída no fogo. Isso por causa, sobretudo, da
natureza da grafia do hebraico, que consiste de pequenos traços
com a pena, que poderiam ser confundidos com pequenas man­

um
chas de tinta.

a
• Não era permitido que o escriba copiasse mais do que

T e s t e m u n H i n d o
uma única palavra por vez; a cada palavra, ele tinha que olhar
para o original.
• O escriba obtinha, também, o valor total numérico da pági­
na, somando o valor de cada letra, pois as letras hebraicas represen­
tam também números. A soma da página original tinha que ser
igual à da cópia.
Outra prova de que foi Deus quem escreveu a Bíblia é que ela 261
prevê o futuro com 100% de precisão. Diga a seu amigo satanista
que, diferentemente dos médiuns e feiticeiros, como se vê na im­
prensa secular, a Bíblia tem centenas de profecias, e o cumprimen­
to de cada uma delas já ocorreu, sem falha alguma.
O próprio Deus nos pede que usemos suas profecias como
teste, comparando-O com outros “deuses”:

Declarai e apresentai as vossas razões. Que tom em conselho


uns com os outros. Quem fez ouvir isto desde a antiguidade?
Quem desde aquele tempo o anunciou? Porventura, não o fiz
eu, o Senhor? Pois não há outro Deus, senão eu, Deus justo e
Salvador não há além de mim. (Is 4 5 .2 1 )

Uma apresentação completa das profecias da Bíblia e de sua


impressionante precisão constituiria um outro livro. O evangelizado
interessado pode consultar obras como E vidence That D em ands a
Verdict [Evidência Que Exige uma Decisão], de Josh MacDowell1,
para ter mais informações sobre o modo vital e científico de esta­
belecer a autoridade da Bíblia. Mas aqui estão algumas dessas “pe­
pitas” tão valiosas:
1 . O nascimento, a vida, a morte e a ressurreição de Jesus são o
cumprimento de 322 profecias diferentes do Antigo Testamento. Ape­
nas considere 48 das profecias, que seriam as mais difíceis de serem
fraudadas: aquelas que Jesus e seus discípulos não tiveram controle
algum sobre seu cumprimento. Dentre elas, vejam-se, por exemplo:
• Jesus ter nascido na cidade de Belém (Miquéias 5.2);
• Reis do Oriente terem ido adorá-lo (Salmo 72.10);
• A crucificação deu-se entre dois ladrões (Isaías 53.12);
• As mãos de Jesus foram feridas por aqueles que deveriam ter
sido seus amigos (Zacarias 13.6);
• Trinta moedas de prata foi o preço de sua traição (Zacarias 11.12);
• A repartição de suas vestes e o sorteio de sua capa (Salmo 22.18).
A chance de pessoas humanas cumprirem essas profecias é de
1 para 10 iy7 (isto é, 10 seguido de 157 zeros)!2 Este é um número
astronômico. A probabilidade de você acertar na loteria ou ser atin­
gido por um raio é muito maior do que essa. Para se poder ainda
comparar a chance daquelas profecias se cumprirem ao acaso, sai­
ba que há milhões de elétrons — que são partículas subatômicas
— no corpo humano. Entretanto, em toda a vastidão do universo
conhecido, não haveria espaço para 1 0 l3 elétrons!
2. Ezequiel 26.3.21 faz uma profecia (em cerca de 592 — 570
a.C.), sobre a cidade de Tiro. Tudo se cumpriu nos mínimos deta­
lhes. Apesar disso, os estudiosos determinaram que apenas uma
profecia (em meio a outras centenas), por ser tão precisa pela sabe­
doria humana, tinha uma enorme probabilidade de não se cum­
prir: 1 em 75.000 .0 00 !3 Ezequiel fez muitas outras profecias
semelhantes sobre a destruição de cidades. Todas elas foram literal­
mente cumpridas.
Se o satanista procurar alegar que essas profecias foram escri­
tas após os fatos ou falsificadas de algum modo, você poderá destacar
que, graças aos pergaminhos do mar Morto, temos prova de que
todas as profecias em Isaías sobre Jesus (por exemplo) foram feitas

D Í A b o
centenas de anos antes de Ele ter nascido. Assim, as profecias não
foram escritas posteriormente aos fatos. Destaque ainda para o

do
satanista que a Bíblia é o manuscrito antigo mais bem examinado

d o i- a d o r
e atestado. Isto significa que o número de cópias antigas que temos
das Escrituras para fazer comparações cruzadas são substanciais (mi­
lhares, na verdade), e de datas relativamente bem próximas do tempo

ll
em que os eventos foram escritos. Por exemplo, a precisão histórica

um
e a verdade da Bíblia têm uma comprovação muito maior do que,

a
digamos, as obras de Homero (A Ilíada ou A Odisséia). Assim, são

T e s l e m u n H A n d o
os satanistas que têm de apresentar provas, para refutar a veracida­
de da Bíblia.
Por outro lado, destaque que os “heróis” deles (LaVey,
Crowley, Aquino, etc.) e os seus “livros sagrados” fizeram bem
poucas profecias, para não dizer nenhuma, e que os registros de
cumprimento delas são absolutamente desanimadores. Por exem­
plo, LaVey escreveu em seu livro The S atanic Rituais [Rituais Sa­
tânicos] (1972)4 a respeito do avanço da idéia de Jesus Cristo na
cultura ocidental. De acordo com sua predição, no final da déca­
da de 1980 Jesus seria apenas uma memória desvanecente de um
conto de fadas na mente da sociedade. Evidentemente, isso não
aconteceu. A Igreja cristã está viva, e muito bem viva, e dezenas
de milhares de novos crentes estão surgindo a cada dia. Jesus não
é apenas uma saudosa lembrança ultrapassada. É a força mais
vital na sociedade de hoje.
Se Satanás fosse esse grande deus, como dizem, por que nem
ele nem seus “profetas” são capazes de predizer com precisão o fu­
turo? Por que não dão ao seu povo senão vagos pronunciamentos
públicos de descontentamento, batendo no peito como um
decrépito gorila de idade avançada tentando impressionar alguém?
Por que não lhes dá algo em termos científicos e com números que
possam ser examinados?
O satanista precisa encarar essa questão, se está disposto a exa­
minar os fatos com honestidade. Nosso Deus pode predizer o futu­
ro com uma precisão absoluta e impressionante. O deus deles não
pode fazer isso. Um a zero para o Deus da Bíblia!

füostre-lH es o SenHor

Uma segunda área que descobrimos ser muito importante é exal­


tar e glorificar o nome de Jesus Cristo. Como já mencionado, a
maioria dos satanistas quase nada sabe sobre a real personalidade
de Jesus. Infelizmente, até muitos satanistas recrutados de lares
de cristãos nominais (e até mesmo autênticos) têm uma distor­
cida versão do verdadeiro Cristo. Apenas 1 0 % dos satanistas
com quem temos nos relacionado vieram de famílias cristãs. A
maioria deles foi criada em lares ex trem am en te legalistas. Assim,
infelizmente, têm uma imagem de Jesus como um capataz seve­
ro esperando a primeira oportunidade para castigá-los diante
do menor deslize — estrondeando juízos desde os céus por eles
cortarem o cabelo de modo supostamente errado ou enfeitar-se
com jóias.
Agora, por favor... não estou dizendo que os pais não devem
criar seus filhos na educação e na admoestação do Senhor. Nem
estou condenando a verdadeira santidade e uma vida genuinamen­
te cristã. Para os cristãos, a paternidade não é nada fácil e está fi­
cando cada vez mais difícil. Contudo, muitos jovens estão recebendo
a mensagem distorcida de que Jesus não lhes oferece alegria algu­
ma, apenas uma rígida disciplina, e que irá castigá-los por qual­
quer desvio do caminho certo. Os pais precisam procurar, com
muita oração, um equilíbrio entre a disciplina e a graça! Como
João nos lembra no seu evangelho:

Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a


verdade vieram por meio de Jesus Cristo. (Jo 1.17 )
Se for apresentada à criança apenas uma severa disciplina e
julgamento, sem a liberdade e a alegria de Jesus, a adolescência

D ÍA b o
poderá tornar-se um tempo bastante turbulento •— especialmente
quando as crises surgirem — , abalando a fé juvenil. É importante

do
lembrarmos o que temos de fazer:

fldoi-Ador
Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quan­
do for velho, não se desviará dele. (Pv 22.6)

Observe que a palavra é para ensinar a criança no caminho em

um
que ela d eve andar, não no caminho em que você quer que ela ande.

a
Seu filho pode estar num caminho que lhe foi aberto pelo Espírito

T e s l e m u n H A n d o
Santo, e pode ser que não seja o que você planejou para ele. Como
pais, temos que ter cuidado para não desempenharmos o papel
que compete ao Espírito Santo, com nossos filhos. Com isso, não
estou dizendo que, se um fdho envolver-se com o que, segundo a
Bíblia, é claramente pecaminoso, temos de deixá-lo desviar-se para
a perdição. No entanto, muitas vezes não é bom usarmos de seve­
ridade e ficarmos inflexíveis com coisas relativamente de menor 265
importância sob a perspectiva divina.
Tendo dito tudo isso, e voltando para os satanistas, é importan­
te transmitirmos a eles uma autêntica e vital imagem de Jesus Cristo.
Não é preciso “adoçar” a nossa apresentação, porque os satanistas
estão num iminente perigo de irem para o fogo do inferno, e preci­
sam conhecer a verdade. É necessário, porém, ter o cuidado de não
enfatizarmos a graça mais do que a lei. Foi o que Paulo fez.
E extremamente importante comunicarmos aos satanistas cinco
aspectos centrais sobre Jesus Cristo:

1. Jesus E o Deus Todo-Poderoso Que Encarnou


Muito satanistas não sabem disso, ou, se o sabem, não com­
preendem direito. Explique ao satanista, da melhor maneira que
puder, que Jesus é Deus feito carne (Jo 1 . 1 ,2 ; At 20.28; Cl 1.15;
2.9; 1 Tm 3.16). Jesus é o Ser que literalmente criou todo o univer­
so (Jo 1.1,14; Cl 1.16). Ele é aquele que mantém o universo unido.
Todas as forças da gravidade, da atração e da repulsão de polarida­
des estão sob o seu controle (Cl 1.17). Explique ainda a ele que,
sendo grandioso e onipotente, Cristo esvaziou-se de sua glória di­
vina e tornou-se como um de nós — para comunicar-se conosco e
nos redimir (Fp 2.6,8). Às vezes, uma conhecida historinha, das
formigas, ajuda-nos a mostrar a grandeza do que o Senhor fez por
nós, tornando-se homem:
Um pai e seu fdho olhavam para um formigueiro, que alguém
tinha pisado em cima. O fdho estava pesaroso, vendo aquelas pe­
quenas criaturas dispersando-se por todos os lados, e o seu desejo
foi o de poder comunicar-se com elas. Seu pai explicou-lhe que as
formigas não podiam compreender a fala humana, nem havia como
escrever a elas. A simples presença de um ser humano no formi­
gueiro lhes traria um grande terror, inimaginável. Juntos chega­
ram, então, à conclusão de que o único meio de se comunicarem
com elas seria o fdho transformar-se numa formiga, indo para o
meio delas como tal. Somente desse modo, elas confiariam nele e
ouviriam a sua palavra. Foi isto que Jesus fez por nós, ao tornar-se
um ser humano.
Não se pode ficar em cima do muro com respeito à divindade
de Jesus de Nazaré. Ele disse ser Deus (Jo 8.58); recebeu adoração
como Deus (Mt 8.2; 9.18; 14.33; Jo 9.38); declarou ser o único
caminho para se chegar a Deus (Jo 14.6).
Quando alguém diz ser Deus, há pela lógica apenas três alter­
nativas:
1 ) É um lunático, tal como aquele que diz ser Napoleão ou
um ovo quente.
2 ) E um mentiroso.
3) É realmente Deus.
A maioria das pessoas, até mesmo os ocultistas e muitos
satanistas, impressionam-se com o carisma e o poder da personali­
dade e das obras de Jesus. Há um consenso geral de que é total­
mente improvável ter sido ele mentiroso e enganador, embora
muitos satanistas o caracterizem desse modo. Também a tendência
é admitir que é bastante improvável que um homem que agiu e
ensinou como Ele o fez fosse um desequilibrado, conquanto al­

D ÍA b o
guns satanistas acreditem que ele fosse demente.
Assim, para muitas pessoas, a alternativa é que Jesus foi, e é,

do
quem Ele declarou ser: o Deus Todo-Poderoso!

â d o r A d o r
2. Jesus Deve Ser Glorificado como a Fonte de Todo o Poder
A maioria dos satanistas tem uma imagem de Jesus como um
palerma sem importância, efeminado, que se veste com saias e abraça

um
e acaricia o tempo todo suas ovelhas. Infelizmente, algumas obras

a
de arte cristãs — especialmente as de estilo antiquado e as pinturas

T e s l e m u n H A n d o
católicas — de modo geral reforçam esse pretenso caráter efeminado
do Senhor. É necessário destacar que Jesus trabalhou como carpin­
teiro na maior parte da sua vida adulta. Ninguém fica com um
físico delicado lidando com grandes vigas e troncos de madeira e
trabalhando com ferramentas de carpintaria o dia todo.
Outro aspecto que precisa ser enfatizado é o poder sobrenatu­
ral de Jesus. Ele acalmou uma forte tempestade num lago, com
uma só palavra. Fez com que demônios ficassem cheios de abjeto
terror, só em entrar num povoado. Ressuscitou mortos! Será que
Satanás (ou um de seus subordinados) pode fazer o mesmo?
Os satanistas, em sua maioria, respeitam o poder, mas apren­
deram que Satanás é que é a fonte do poder. Assim, o poder de
Jesus precisa ser enfatizado. Ele disse:
É-me dado todo o poder no céu e na terra. (M t 2 8 .1 8 — rc)

Pois bem, se Jesus tem 100% do poder do universo, que por­


centagem restou para Satanás? Zero! O que você diz sobre isso?
Gosto de explicar aos satanistas que o diabo é como um ca­
chorro que late muito, preso numa coleira de guia bem curta. Pode
latir estridentemente e incomodar bastante, mas Jesus o mantém
com rédeas curtas. Todo dano que ele realiza é sob a permissão do
Senhor, e normalmente, de algum modo, acaba revertendo para
servir aos propósitos de Deus, especialmente quando procura ata­
car os crentes (cf. Gn 50.20; Rm 8.28).
Diga aos satanistas que o poder que eles talvez tenham visto
proceder do diabo é principalmente porque Satanás fica com uma
correia maior quando se trata de nao-cristaos. Se o satanista esti­
ver com medo do que o diabo lhe possa vir a fazer, afirme que ele
pode ser salvo e ficar sob a cobertura do manto de Jesus Cristo,
que tem realm ente todo o poder (veja tam bém Jo 3 .35;
Ef 1.10,11).

3. Jesus Deve Ser Glorificado como a Fonte de Toda a Sabedoria


Como já disse, a maioria dos satanistas que não está muito inte­
ressada em ter poder está interessada em ter sabedoria. Assim, preci­
sa ouvir de você que Jesus Cristo tem mais sabedoria a oferecer do
que Satanás e suas bolorentas e antiquadas revelações das trevas.
Um dos problemas que enfrenta quem compartilha o evan­
gelho é que a sabedoria bíblica não tem a mesma fascinação e o
mesmo ar misterioso da sabedoria ocultista. A percepção que a
maioria dos satanistas tem é considerar que os cristãos não pas­
sam de “mehuns”, não distinguindo os verdadeiros cristãos dos
apenas nominais e achando que o cristianismo nada tem a ofere­
cer de significativo.
Primeiro, explique, com toda a gentileza, o que é um verda­
deiro cristão, e que os verdadeiros cristãos são em número bem
menor. O verdadeiro cristão não é alguém que simplesmente per­
tença a alguma igreja ou tenha sido batizado quando criança. Ex­
plique que esta sabedoria sobrenatural provém de se estudar a Bíblia
Sagrada, a Palavra de Deus. Diga aos satanistas que assim como
alguns deles se esforçam em seus estudos mais do que outros, tam­
bém alguns cristãos esforçam-se mais em seus estudos da Bíblia.
Desse modo, não é justo julgar Jesus e o cristianismo olhando só
para determinados cristãos ou igrejas.
Mostre ainda que muitas vezes o que é considerado sabedoria
pelos homens, na verdade é loucura para Deus, e vice-versa (1 Co
3.19; Is 55.8,9). Explique que, por Deus ser quem é, não dá para
compreender tudo o que Ele tenha para nos ensinar. Usando de
novo a história das formigas, é como se pudéssemos perguntar a

D ÍA b o
uma delas o que pensa a respeito de cálculo integral!
Se o satanista não foi muito longe pela estrada da rebeldia,

do
pode-se mencionar ainda que muitas das leis feitas pelos homens

A d o r A d o r
baseiam-se na sabedoria da Bíblia (veja ainda 1 Co 1.24; Cl 2.2,3;
Pv 8.22-36).

um
4. Jesus Deve Ser Glorificado como Aquele Que nos Amou a

a
Ponto de Morrer por Nós (Rm 5.8)

T e s l e m u n H A n d o
Aqui chegamos a um ponto em que as pessoas não se sentem
bem à vontade, e muitos não querem falar a respeito disso, especi­
almente no caso de um satanista. Ele é geralmente agressivo e ego­
ísta, considerando isso uma virtude. E por isso que, em muitos
casos, os satanistas nunca viram o amor ágape, altruísta, em ação.
Esclareça que Cristo não rejeita ninguém que vem a Ele, nem
mesmo quem o tenha rejeitado, como no caso do satanista. Ele
sofreu uma terrível e pavorosa execução, morrendo por todos, in­
clusive pelos satanistas. Muitos satanistas não receberão esta pala­
vra ou até mesmo zombarão dela. No entanto, alguns serão
realmente tocados por ela, e outros serão influenciados, embora
não o demonstrem de imediato.
Diga ao satanista que mesmo que fosse ele a única pessoa no
mundo que necessitasse de salvação, Jesus teria morrido por ele. E
que Ele deu a sua vida mesmo sendo Deus. Mostre que a morte de
Jesus não foi um sacrifício humano para Lúcifer coisa alguma, mas
foi o modo pelo qual Deus nos mostrou quanto Ele nos amou e,
assim, satisfez as exigências de sua perfeita justiça.
Todos esses pontos são praticamente iguais aos que seriam
abordados em qualquer diálogo em que se esteja buscando ganhar
almas. Apenas é preciso enfatizar que os satanistas (como qualquer
outra pessoa) são muito carentes de amor, de um amor não egoísta.
Estão acostumados a não serem amados, e sim manipulados e abu­
sados. Este assunto de fato os impressiona. Não tenha medo de
falar com eles sobre isso!

5. Jesus Deve Ser Glorificado como o Unico Diante de Quem


Satanás um Dia Vai Se Dobrar (Fp 2 .9,10 , Isaías 45.23)
Faça o satanista lembrar-se da incrível precisão dos escritos
proféticos de Deus. Explique-lhe que, contrariamente ao que lhe
disseram, Satanás não vai ganhar esta batalha. Pergunte-lhe se tem
uma evidência concreta que seja para mostrar que o Livro de Deus
está errado e por que Satanás triunfará. Onde estão os grandes
profetas de Satanás? Onde está a evidência de que ele realmente
pode controlar o futuro, e não o que ele é, isto é, um pobre vira-
lata na coleira, com guia curta?
Diga ao satanista, amavelmente mas com firmeza, que a
Bíblia deixa claro que um dia ele, assim como também Satanás,
terá de dobrar os joelhos e confessar que Jesus é o Senhor do uni­
verso. Satanás não tem saída; não lhe resta opção. Mas o satanista,
enquanto estiver vivo, tem uma opção. Pode escolher inclinar-se
diante de Jesus e confessá-lo como seu Senhor e Salvador agora
mesmo, escapando assim das conseqüências do eterno fogo do in­
ferno. Isso nos leva a um desafio...

Quer RposlAr?

Embora esta não seja a única maneira de fazer com que um satanista
ou feiticeiro “se renda” a Jesus Cristo, a abordagem descrita a se­
guir costuma ser bastante eficaz. E uma abordagem clássica e ba­
seia-se na obra de Blaise Pascal, o grande filósofo, cientista e
matemático cristão. A linguagem de programação chamada Pascal
tem esse nome por causa dele. Esta abordagem é chamada de “Aposta
de Pascal”, porque basicamente ela reduz a eternidade a um jogo.
Em última análise, todo mundo faz o jogo de Pascal, quer
saiba disso ou não. Todos nós escolhemos “apostar” em um dentre
dois concorrentes: o disputante chamado “o cristianismo é verdadei­
ro” ou seu adversário, “o cristianismo é falso”. Eis como se procede.

D ÍA b o
Diga ao satanista:
“Se o cristianismo for falso, não sendo o único caminho’, e se

do
você seguir seus ensinos e Senhor, o que tem a perder? Seus princí­

fldorAdor
pios éticos são admiráveis. Por observar os Dez Mandamentos e as
Bem-Aventuranças, isso não prejudica em nada o seu “carma”, não
é? Você terá uma vida pacífica e alegre, e por fim partirá, até a sua
(suposta) próxima reencarnação. Na pior das hipóteses, o cristia­

um
nismo e seus ensinos melhorariam, até, o seu carma.

a
T e s l e m u n H A n d o
“Por outro lado, se o satanismo for falso, e a declaração de
Jesus — que ninguém vai ao Pai a não ser por Ele (Jo 14.6) — é
verdadeira, e você seguir o satanismo, então estará num tremendo
perigo espiritual! Você estará fora da vontade de Deus e adorando
falsos deuses. Então, estará correndo um grande risco!
Enfim, se você seguir o cristianismo e tiver sido enganado,
não perderá quase nada. Mas, se seguir o satanismo, e estiver enga­
nado, perderá tudo!”
É um lance que só possui duas alternativas. Mas essas alterna­
tivas são, na verdade, a vida ou morte eternas. Se o satanista estiver
errado, passará a eternidade no inferno.
Alguns satanistas poderão querer negar a existência do inferno
ou então dizer que o inferno é uma festa. Apresente-lhe de novo a
pergunta: “Por que você acredita nisso? Qual é a evidência mate­
mática e científica de que você dispõe para descartar o que Jesus e
a Bíblia dizem com tanta clareza?”
Outros satanistas vão querer discutir sobre como um Deus
supostamente tão bom pode fazer um lugar assim como o inferno
e mandar pessoas para lá. Mostre que Deus não fez o inferno para
os seres humanos, mas para o diabo e seus anjos (Mt 25.41). Além
disso, deixe claro que as pessoas é que se deixam ir para lá, pois
rejeitam a oferta de vida eterna que Deus lhes oferece de um modo
incrivelmente fácil e de graça. Se Jesus tivesse tornado a salvação
algo muito difícil de alcançar, então as pessoas teriam argumentos
e questionamentos válidos. Mas Ele fez com que a salvação seja tão
fácil que até mesmo uma criancinha do jardim da infância pode
entendê-la. Mostre que, diferentemente de Satanás, Deus não é
esnobe. Ele aceita as pessoas como estão e as salva de seus pecados:
— basta que lhe dêem o seu consentimento.
Esta escolha, quem tem de fazer é o satanista.
Concluindo, esse pode ser um longo processo. A oração con­
tribuirá para facilitar a decisão, mas não são muitos os satanistas
que são salvos no primeiro contato. Pelo que me lembro, levei seis
anos, desde o dia em que pela primeira vez fui tocado pela graça e
0 poder de Deus até o dia em que finalmente cheguei à cruz.
E disso que estaremos tratando nos próximos capítulos.

No í AS

1 M a c D o w e ll Josh. E vidence ThatD emands a Verdict, v. I e II. Heres Life


Publishers, 1989.
2 Ibid., p. 167.
3 S t o n e r Peter. Science Speaks, An Evaluation ofC ertain Christian Evidences
[A Ciência Fala, Uma Avaliação de Certas Evidências Cristãs], Moody
Press, 1963, p. 80.
4 L aV ey Anton. The Satanic Rituais. Avon Book, 1972.
Descendo ü a
Co n t r a m à o

... dura coisa é recalcitrares contra os aguilhões.


— Atos 26.14

ü s coisas estavam se complicando cada vez mais em minha


vida. Nossos grupos de feiticeiros estavam crescendo, e o meu
próprio poder na magia também aumentava. Sharon e eu está-
vamos sendo convidados cada vez mais para outras reuniões de
feitiçaria. Os espíritos guias nos fizeram escrever a Gavin e
Yvonne Frost, da Igreja da W icca, e chegamos a conhecê-los.
Eles nos convidaram a fazer uma avaliação crítica do meu curso
de feitiçaria.
Eu me sentia mais saudável como nunca! Contudo, via mi­
nhas energias se esgotarem por causa da luta diária contra a
compulsão para começar a assassinar mulheres à noite. Eu sabia,
com um misto de terror e satisfação, que era apenas uma questão
de tempo para que a lascívia por sangue vencesse a prudência. Fi­
caria, então, do jeito sangrento que a “metamáquina” dentro de
mim queria.
Além disso, Orion não via a hora de cumprir sua promessa de
me dar (usando suas palavras) “um azinha preparada” para eu sacri­
ficar no seu altar. Eu não teria como escapar. Satanás estava cui­
dando para que isso acontecesse. Mas escapar para onde?
Pelo que eu sabia, havia apenas três escolhas: católicos, protes­
tantes e ortodoxos. A Igreja Católica Romana, tanto quanto mi­
nha experiência me mostrava, estava envolvida com a magia negra,
assassinato e vampirismo. A Igreja Ortodoxa não estava muito lon­
ge disso (pelo menos o seu ramo russo). Meu conhecimento acerca
dos protestantes era muito pequeno; para mim, pareciam uns tolos
chatos que negligenciavam todos os esmerados rituais, as vestes
clericais e os vitrais coloridos, para ficarem apenas com um monó­
tono e constante estudo bíblico.
Tinham-me dito — tanto os católicos como os irmãos da con­
fraria de Satanás — que nunca pusesse os pés numa igreja de pro­
testantes. Por isso nunca os procurei. Eles nem mesmo eram
cogitados como solução para meus problemas. Além disso, pensa­
va que Jesus fosse um rei-vampiro, fdho do próprio Satanás! Para
escapar de meu dilema, por que iria me voltar para uma pessoa
assim? Ele era a pessoa que tinha dado início a muitas das práticas
nas quais eu estava enredado; era o que eu pensava.

“R e A l m e n i e N e A í i d e r t A Ü ”

Quando eu estava enfrentando esse dilema, recebi um bilhete que


mudaria para sempre o curso da minha vida. Por mais curioso que
possa ser, o que veio mudar minha vida era uma simples corres­
pondência bancária. Dentro dela, estavam os meus cheques já com­
pensados, que sistematicamente o banco me devolvia. Quando os
peguei para conferir com os meus controles pessoais, um deles cha­
mou a minha atenção.
Era um cheque que eu havia enviado para a Igreja de Satanás.
No cheque, escrito com uma letra de mulher, havia a frase: “Vou
orar por você, em nome de Jesus.” Presumi que deveria ser uma
pessoa cristã achando que eu estaria enfrentando problemas e que,
por essa razão, tinha enviado dinheiro para a Igreja de Satanás.
Deveria ser um “mehum” totalmente “por fora”, pensei eu, não
entendendo que Jesus na realidade era um feiticeiro. Apenas dei
uma risada e coloquei o cheque em meus arquivos. Mas meu riso
não durou muito. Nos dias seguintes, senti como se alguém tivesse
desligado todo o meu poder por meio da magia. Senti-me doente,
fraco e desolado! Como o tipo de magia com o qual estava envolvi­
do era extremamente poderoso e compulsivo, eu estava sob uma
forte aflição! Imagine o que deve um viciado em drogas sentir
quando é forçado a interromper seu vício, e multiplique isso vá­

C onlrABiio
rias vezes.
Então, perdi meu segundo emprego em tempo parcial, que
tinha arrumado, como guarda-noturno. Por incrível que pareça,
eu não sentia mais aqueles opressivos desejos da “metamáquina”

nA
em meu interior, e isso me preocupava também. No fundo, sentia

Descendo
também certo alívio por causa disso. Que conflito!
As contas não pagas começaram a se avolumar, e eu achava
que se tratava de alguma coisa que os demônios tinham feito co­
migo, pois a situação piorava a cada dia. Não conseguia, porém,
entender o que estava acontecendo. Assim, como todo bom feiti­
275
ceiro, busquei presságios e sinais. Fui ao meu templo e caí de rosto
no chão, clamando a Lúcifer por um sinal. O que tinha feito de
errado? Eu havia assinado o Pacto! Eu tinha levado tantos outros
— muitos, na verdade — a assinarem o Pacto! Eu me esforçara o
máximo para crescer e ser um digno escravo de Satanás. Eu tinha
de saber o que fazer.
Embora tivesse orado a Satanás, quem me respondeu, porém,
foi Deus!
No dia seguinte, veja quem aparece em minha casa: duas mo­
ças, discípulas de Orion, muito envolvidas no satanismo e com
discos voadores. Tinham ouvido falar que estávamos interessados
em discos voadores e ligados à magia sexual e quiseram nos conhe­
cer. Mas trouxeram consigo algo muito estranho e incomodativo:
três revistas cristãs de histórias em quadrinhos: Anjo d e Luz, En­
cantam ento e Sabotagem}. Duas delas abordavam especificamente
Satanás e a Irmandade.
Elas as tinham encontrado em algum lugar e as traziam só
para se divertir. A mais velha das moças passou-me, rindo, as revis­
tas dizendo:
— Você precisa ver isso, rapaz. Eles são do tempo de
Neandertal!
Dei uma rápida olhada nas revistas e vi que ela tinha feito uns
sórdidos acréscimos nos desenhos. Eram palavrões e outras anota­
ções satíricas nas margens, dentes pintados de preto em algumas
das personagens e também chifres do diabo desenhados em algu­
mas figuras de pregadores. Observei brevemente que uma das re­
vistas dizia, na última página:
“É: ou Cristo ou Satanás... e somente um tolo escolheria Satanás!”
'‘Deus o ama e deseja que você tenha paz e vida eterna no céu.”
Estas frases eram seguidas por um quadro que continha ins­
truções sobre “como receber Jesus Cristo como seu Salvador pesso­
al”. Eu simplesmente dei um sorriso de escárnio. Aqueles “bobos”,
que tinham escrito aquelas coisas, nada sabiam quanto a eu j á ter
nascido d e novo p elo m odo verdadeiro e secreto, p o r m eio d e M aria
M adalena:! Que ousadia quererem me atingir com aquele estúpido
“papo-furado”!
Eu não tinha percebido que Deus tinha estendido sua mão do
céu usando devotos discípulos de Satanás para trazerem à minha
vida, justamente, a informação de que necessitava para escapar
daquela terrível espiral pela qual eu caía vertiginosamente. Peguei
as revistas e as joguei dentro de uma gaveta. Eu estava muito ocu­
pado — impressionando e entretendo aquelas “fãs” satanistas —
para me preocupar com histórias em quadrinhos do tipo
“Neandertal”.
Então, como se já não tivesse problemas suficientes, recebi
um telefonema, por meio do qual fui informado que o meu
“Ipsissimus — Sumo Sacerdote e Rei da Estrela da Manhã”, da
alta esfera satânica, tinha sofrido um sério acidente num caminhão
e estava em condições críticas. (Ele foi tirado de minha vida por
quase um ano.) O que estava acontecendo comigo?
U toA V oIía GspiriluAl

Naturalmente, Satanás (tal como a natureza) detesta o vácuo. Nem


bem um dia tinha se passado, desde a hora em que joguei as revis­
tas dentro daquela gaveta, e alguém bateu à minha porta. Sharon e
eu estávamos prestes a sair de casa para fazer compras numa mer­
cearia. Ela abriu a porta e deparou com dois jovens de rostos forte­

C onlrimlo
mente rosados, bem apresentados e saudáveis, com camisas brancas,
gravatas e calças escuras. Tinham um distintivo na lapela que os
identificava com o nome e uma posição. Sharon disse:
— Vocês são mórmons, não são?

nA
Eles deram um passo para trás, quase assustados com sua
saudação.

De s c e n d o
— Sim, se-senhora — gaguejou um deles. — Somos missio­
nários da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. A
senhora pode nos dar alguns minutos?
Dissemos-lhes que estávamos para sair, mas que eles pode­
riam voltar outra hora, e teríamos prazer em conversar com eles. 277
Os rapazes concordaram conosco de voltarem no dia seguinte, à
tarde. Sharon fechou a porta e, quando eles foram embora, ela
olhou para mim com um estranho olhar. Por que teríamos nós,
ferrenhos feiticeiros, tão prontamente acedido aos missionários
mórmons, que são o cúmulo da retidão e da chatice? Por que Sharon
e eu tão facilmente concordamos em recebê-los no dia seguinte?
Sharon sabia da resistente crise espiritual que eu vinha enfren­
tando nas últimas semanas. Ela sabia — como eu também — que
nos fora dito, cerca de seis anos antes, pelo “Grão-Mestre Druida”
(a quem já nos referimos), que se, por acaso, um dia, entrássemos
em séria crise espiritual, nos filiássemos à Igreja Mórmon! Embora
Sharon não simpatizasse muito com os mórmons, aventamos a
possibilidade de que eles teriam a chave para solucionar o nosso
problema.
Esse hierarca druida, de nome Enoque (não é seu verdadeiro
nome), era ligado a membros de alto nível dessa Igreja. Chegou
mesmo a nos mostrar fotografias suas em reuniões com o entáo
profeta da organização, Harold B. Lee. Garantiu-nos que a Igreja
Mórmon fora fundada por feiticeiros como um lugar em que bru­
xos como nós poderíamos encontrar abrigo quando estivéssemos
sob ataque .1
Ele nos tinha ensinado que muitas das doutrinas da Wicca e
dos druidas são totalmente idênticas às dos mórmons. Por exem­
plo, tanto os referidos feiticeiros quanto os mórmons crêem:
• numa divindade masculina e feminina (deus e deusa);
• na preexistência como filhos espirituais;
• que a pessoa pode evoluir para tornar-se um deus ou uma deusa;
• no casamento para agora e a eternidade;
• em rituais iniciatórios secretos.2
Assim, Enoque explicou-me que poderíamos tornar-nos
mórmons e, ao mesmo tempo, mantermos praticamente todas as
nossas crenças como feiticeiros. Além disso, revelou-nos que os
rituais secretos dessa Igreja seriam uma incrível fonte de poder do
ocultismo. Portanto, parecia que a chegada daqueles missionários
era uma resposta às nossas orações... a Satanás.
Assim, quando os missionários voltaram, sentamo-nos e pa­
cientemente prestamos atenção à apresentação que eles fizeram,
com muita encenação, e diversos diagramas ilustrativos. Nós os
surpreendemos por verem quanto já sabíamos da doutrina da Igre­
ja dos Santos dos Últimos Dias e, dentro de uma semana, já tínha­
mos submetido a eles o nosso pedido para sermos batizados e nos
tornarmos membros de uma igreja mórmon.
Fomos entrevistados e aprovados por um “líder regional”, e
depois informaram-nos por telefone que seriamos batizados den­
tro de algumas semanas. Senti uma forte e rara emoção ao receber
aquela notícia, ao desligar o telefone. Parecia-me uma chance de
começar tudo de novo. Os mórmons ensinam que o batismo libera
a pessoa de todos os pecados. Isso significava para nós uma oportu­
nidade de limpar tudo e recomeçar zero-quilômetro!
Eu vinha me sentindo muito sujo e ainda me via sendo usado
em minhas experiências com os vampiros e minhas atividades sa­
tânicas. Tive para mim que algum tipo de milagre havia aconteci­
do, uma vez que minha vontade de tomar sangue tinha acabado
totalmente e meu apetite normal estava retornando. Seria esta, real­
mente, a chance para começar tudo de novo?
A impressão que eu tinha era que não havia nada a perder! Se
Enoque estava certo, então eu alcançaria um novo marco em meu
poder luciferiano ao passar pelos rituais no templo mórmon. Isso
seria uma solução para o misterioso esvaziamento que eu vinha
sentindo ultimamente em minhas reservas de poder por meio da
magia. Se Enoque estava enganado, então eu estaria me unindo à
verdadeira Igreja cristã! Aquela altura, eu acreditava que as duas
alternativas seriam possíveis ao mesmo tempo.
Parecia bom demais para ser verdade! Será que de fato, por
meio dos rituais mórmons, eu iria me encontrar com o Jesus que
vinha procurando durante todos aqueles anos? Os rostos sorriden­
tes e saudáveis dos missionários comunicaram-me uma paz que eu
não conhecera nos últimos dez anos, uma paz firmada no entendi­
mento de que eu estava fazendo a vontade de Deus. Desde que
meus professores universitários detonaram as bases da minha fé na
Bíblia, passara a ter dificuldade em crer, e procurei Jesus nos luga­
res mais improváveis de encontrá-lo.
O lugar mais óbvio de todos seria o lugar certo? A instituição
que se chama Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias
teria como me dar este Jesus? Naquela noite, quando fui dormir,
orei para que isso acontecesse. Com lágrimas de esperança, orei
com todo o meu coração que assim fosse.

Um So 11 h o IIIaI G niendido

O Senhor não desiste nunca, este crédito eu lhe dou! Enquanto eu


dormia naquela noite, tive um sonho bem agitado. Ele falava co­
migo, mesmo estando eu prestes a me ligar a um culto religioso.
Chamava-me de volta, da beira de um precipício.
O sonho começou estando eu na parte mais alta de uma mon­
tanha. Era noite, e havia nuvens movimentando-se rapidamente,
com estrondos de trovões. De quando em quando, eu era ilumina­
do naquele íngreme pico pelos clarões de relâmpagos sobre os quais
nao conseguia ter quase nenhum controle com a minha magia.
Estava frio e ventava naquele lugar elevado, todo tomado pela tem­
pestade; contudo, eu sentia prazer pelo poder que tinha.
Durante um rápido momento em que a tempestade se acal­
mou, ouvi o som de um cântico vindo do sopé da montanha. Vol­
tei, então, o meu olhar para o vale lá embaixo e vislumbrei algumas
luzes. Assim que as nuvens que circundavam o pico se dispersa­
ram, pude ver claramente de onde vinham as luzes e o som daque­
les cânticos. Eram de uma pequena igreja evangélica naquele vale
escuro, com suas despretensiosas janelas lançando nas trevas calo­
rosos raios de uma iluminação amiga. Ela estava repleta de pessoas,
e senti uma pontada de solidão. Estavam cantando um dos poucos
hinos evangélicos que eu já tinha ouvido “Amazing Grace” “Mara­
vilhosa Graça”, de John Newton, um dos hinos mais conhecidos e
cantados nos Estados Unidos]. De todo o coração, minha vontade
era sair do lugar onde me encontrava e ir até lá misturar-me com
aquela gente. A cruz que havia sobre a porta da igreja parecia estar
acenando para mim. Mas uma parte dentro de mim me puxava
para trás:
— Não seja tolo! Você é um feiticeiro, um p ra tica n te da m agia!
Faz p a rte da sua condição d e feiticeiro estar isolado, afastado das m ul­
tidões. Seu d ever é trazer relâm pagos dos céus para que a hum anidade
não p erca o seu senso d e m agia!
Em meu sonho, protestei:
— Mas estou cansado de tudo isso! Já “dei duro” por muitos
anos. Não tenho direito a um descanso?
De algum modo, finalmente reconheci o timbre da voz do
meu interlocutor no sonho como sendo a voz de Aleister Crowley:
— A m agia é com o subir num a m ontanha. Você nao p o d e parar
para descansar nunca, ou você despencará e se destruirá todo.
— Nunca? — lamentei, chorando, com muita tristeza.
— Não, a té que você alca n ce o p on to mais alto e se torne um
Ipsissimus, com o eu — um deus encarnado!
— Mas estou cansado e sinto-me só. Quero descer e juntar-
me àquelas pessoas naquele lugar tão caloroso e acolhedor.
— Esses a í são os tolos que os hom ens adoram ser, tanto seus deuses
com o eles mesmos são tolos!...
Em meu sonho, Crowley sorria com descaso e citou seu Livro
da Lei:
— Vá a té lá, ju n te-se a eles e p erca tudo que você conquistou.
Torne-se um deles, e eles o amarão. Então você p od erá “m orrer nas
covas com os cães da razão’’'.
Senti como se estivesse tremendo de frio, e os raios dos trovões
caíam cada vez mais perto de mim.
“Se eu ficar aqui, vou morrer” — pensei.
Crowley proclamou:
— Se você descer a té lá, hom enzinho, sua m en te será a d e um
otário total em m enos d e 15 dias.
Os relâmpagos caíam mais perto ainda. De algum modo, o
som do hino começou a extinguir a sarcástica fúria de “Crowley”
em meu sonho.
O hino parecia falar comigo e dizer: “Você não precisa ficar aí
como uma vara de condão humana, lançando relâmpagos, a fim
de salvar a humanidade. Jesus já fez tudo por você. Desça e junte-
se a nós, na família de Deus.”
Tremendo de frio, comecei a descer. Indo para baixo aos tro­
peços, naquele precipício, em direção às convidativas luzes daque­
la igreja, ouvi ainda a voz crítica de Crowley ecoando às minhas
costas:
— Você vai se arrepender! Você está com etendo um gra n d e erro.
Vai cair no abism o!— advertiu-me ele, referindo-se à versão ocultista
do inferno, o “abismo”, onde caíram aqueles que não conseguiram
tornar-se um deus. Ora, como praticante da magia, as únicas pes­
soas que eu tinha ouvido falar terem caído no abismo eram aquelas
que tinham ousado tornarem-se crentes em Jesus. Foi com esse
triste pensamento que acordei.
Infelizmente, minha ignorância sobre hinos evangélicos era
quase tão grande quanto de Teologia. Interpretei mal o meu so­
nho, achando que havia uma bênção sobre minha decisão de ficar
ao lado daqueles jovens mórmons de rostos tão ardentes, ingres­
sando em sua Igreja. Naquela época, não sabia que os mórmons
não cantam o hino com que eu havia sonhado, tampouco em suas
igrejas se encontra o símbolo da cruz!
Minha falta de conhecimento bíblico também fez com que a
advertência de Deus passasse por mim sem que a entendesse. Sen­
tia-me muito feliz pensando que, por ter encontrado o Cristo
dos mórmons, tinha encontrado o Jesus de meus mais devotados
sonhos. Nem imaginava que, na realidade, estava prestes a parti­
cipar de uma das contrafacções mais bem engendradas e cruéis
de Satanás!
Assim, em 8 de agosto de 1980, fui batizado numa igreja
mórmon por dois missionários anciãos, que ensinaram a Sharon e
a mim as “discussões” (lições missionárias). Ela e eu havíamos con­
versado sobre isso, e Sharon concordara em ser batizada também;
todavia, estipulou a condição de que deixaríamos aquela seita se os
rituais do templo não fossem o que estávamos esperando, ou se
nada resolvessem por mais de um ano.

BeirA (Ia L uz

Não há tempo nem espaço neste livro para narrar tudo o que acon­
teceu nos meus estranhos cinco anos de aventuras como mórmon.
No entanto, uma vez mais, embora Satanás tenha tentado usar o
mormonismo como nova artimanha espiritual para me enganar e
armar cilada contra mim — , Deus fez uso desse tempo para um
propósito muito mais nobre. Ele o usou para mostrar-me que eu
era pecador.
Os mórmons, como toda gente sabe, não são más pessoas.
Eles, afinal, se esforçam por viver vidas íntegras. Como feiticeiro e
satanista, isso realmente não estava entre os primeiros pontos da
minha lista de prioridades. Como satanista, eu não tinha consci­
ência alguma quanto a ser pecador. Com efeito, no dia em que não
cometia um gra n de pecado, achava que tinha sido um mau dia.
Naquele tempo, eu vivia praticando adultério, bebendo sangue e
usando entorpecentes como um demônio, ano após ano!
Quando, porém, me filiei à Igreja dos Santos dos Últimos
Dias, percebi que havia um esquema de regras bem diferente que
eu tinha de observar. Para me qualificar de poder ir ao templo
supersecreto — a que tinham direito apenas alguns poucos
mórmons pertencentes à elite, portadores de cartões de recomen­
dação para entrar no templo — , eu sabia que seria entrevistado
sobre a minha guarda de todos os mandamentos.
Tomei a resolução, então, de “entrar na linha”, na minha nova
religião. Uma misteriosa força havia retirado de mim a dependên­
cia de sangue. (Agora, olhando para o passado, entendo que deve
ter sido pelas orações daquela moça do banco, a que escrevera no
cheque, por mim.) Paralelamente, meu desejo por maconha e co­
caína diminuíra substancialmente. Isso era bom, pois o código
dietético mórmon proíbe toda bebida alcoólica e também drogas,
café, chá e cigarro. Eu nunca fumei, raramente bebia uma bebida
forte e quase nunca tomávamos café ou chá preto (éramos vegeta­
rianos, consumindo apenas alimentos naturais).
Com m uita força de vontade (e certamente a ajuda daquela
moça do banco, que orava por mim), consegui largar o vício das
drogas em poucas semanas, após o meu batismo mórmon. Alguns
dos meus outros hábitos pecaminosos eram um pouco mais difí­
ceis de vencer. Pela primeira vez na vida, tive que enfrentar o desa­
fio de não mentir, não ver pornografia (isso não era nada fácil para
quem havia passado 12 anos cultuando em plena nudez com deze­
nas de moças formosas!), não perder as estribeiras, nem tomar o
nome do Senhor em vão.
Pela primeira vez em 12 anos, tive que enfrentar o pecado, em
minha vida, como um inimigo a ser vencido, em vez de tê-lo como
um companheiro com quem “festejar com muita alegria”. Isso não
era nada divertido! Ficar lá com os mórmons ajudava um pouco.
Eram pessoas admiráveis, que não liam revistas do tipo Playboy e
costumavam alertar-me para ter cuidado com o meu linguajar.
Não obstante, por acreditarmos que a Igreja Mórmon era
dirigida por druidas do grau mais elevado, não tínhamos deixado
de praticar a feitiçaria. Com efeito, em 1981, Sharon e eu tivemos
uma entrevista em Salt Lake City com um “apóstolo” da Igreja
(um dos 15 homens de sua cúpula mundial). Por termos podido
dar-lhe algumas “chaves” e “sinais” especiais, que nos tinham sido
passados pelo Mestre Druida, ele se abriu para nós. Solenemente,
assegurou-nos que nossas intuições e informações estavam certas.
Lúcifer é, de fato, o deus adorado no templo mórmon .3
Ele nos advertiu que corríamos certo perigo. Fomos “aconse­
lhados”, sob p en a d e m orte, a nunca falar do que fora tratado na­
quela reunião com nenhum oficial da Igreja de nível inferior ao de
apóstolo. Também nos deu a entender que, se mudássemos para o
estado de Utah, onde fica a sede da Igreja Mórmon, teríamos, cer­
tamente, um lugar na hierarquia. Concluímos, assim, que o
mormonismo não passa de uma feitiçaria “cristianizada”.
Então o que fizemos foi “mormonizar” um pouco nossos gru­
pos de feitiçaria e deixamos de nos considerar satanistas. Assumi­
mos, porém, que agora éramos luciferianos. Como fazíamos parte
dos poucos mórmons que pertenciam à “elite” do templo ,4 tínha­
mos que usar uma veste especial sagrada debaixo da nossa roupa
(na verdade uma veste secreta). Sharon e eu começamos a realizar
nossas reuniões do grupo vestidos com mantos, e não, como fa­
zíamos antes, com “vestes celestes” (o termo Wicca para estarmos
nus). Em pouco tempo, sem que disséssemos nada a respeito, o
uso de mantos tornou-se um símbolo de status, tal é o poder de
uma liderança.
Deixamos de beber vinho em nossos sabás. No lugar do vi­
nho, passamos a tomar suco de uva. (Isso nos alegrou bastante,
pois, na verdade, detestávamos vinho e outras bebidas alcoólicas...)
Chegamos até a levar alguns de nossos melhores participantes de
nossos grupos a ingressarem na Igreja Mórmon! Outras mudanças
menores também ocorreram.
Quando Sharon e eu nos conhecemos, tínhamos feito um acor­

onlrAUiio
do entre nós de que cada um buscaria desenvolver-se na magia à
sua maneira, da forma como se sentisse dirigido para isso. Respei­
távamos os princípios um do outro e contávamos com a integrida­
de pessoal um do outro para perseverarmos em nossos objetivos e

C
nA
ideais. Desde que entrei no satanismo, por exemplo, Sharon parti­
cipou apenas daquelas atividades consideradas absolutamente ne­

Descendo
cessárias. Era o caso de rituais em que havia algumas outras
sacerdotisas nos grupos, que invejavam sua posição. Percebeu que
tinha de se envolver um pouco ou ficaria para trás.
Nosso pessoal a considerava quase uma segunda mãe, e havia
entre nós uma união como de uma família. Achavam, porém, que 285
mesmo que ela não demonstrasse interesse por determinada “prá­
tica das trevas”, teriam a porta aberta para pessoalmente ingressa­
rem naquela corrente de magia. No entanto, ela trabalhava em
outras áreas da feitiçaria e continuamente procurava “trazer luz” às
nossas atividades. Em vez de rituais satânicos, incentivava a pes­
quisa na alquimia e em ciências tais como a cristalografia e sua
matemática. Em vez de drogas (um dos oito maiores raios da roda
dos bruxos), instruía a respeito de vegetarianismo, saúde e ioga.
Em vez de dispor os círculos de magia branca com os quatro deu­
ses pagãos, como fazíamos, ela passou a invocar os vigias do grupo
com os nomes dos evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João. Fa­
zendo agora uma retrospectiva do passado, na verdade sua tênue
oposição tornou-se a cada nível sutilmente visível.
Logo depois que isso começou, Sharon passou por uma expe­
riência fora do comum. A reunião do círculo do sabá desenvolvia-
se normalmente. O círculo havia sido feito, os vigias estabelecidos,
e, como era uma noite de lua cheia, começamos a fazer a invocação
para trazer até nós a essência da deusa à grande sacerdotisa: “Fa­
zendo Descer a Lua”. Não era algo raro de acontecer, mas também
não era comum Sharon “entrar em transe” e incorporar a deusa,
como aconteceu naquela noite. Então, um espírito totalmente novo
veio sobre ela, e ela começou a falar numa linguagem desconheci­
da. Tinha assumido o que se chama a “posição de deusa” (uma
postura em pentagrama) para a invocação. De repente, caiu de
joelhos, chorando e falando sobre o quê, não sabíamos! Estávamos
acostumados a esperar que qualquer coisa pudesse acontecer, mas
não foi “qualquer coisa” que aconteceu. Ela (a deusa, pelo que cri­
amos) impôs as mãos sobre cada um de nós, abençoando, e em
seguida passou a lavar nossos pés com a água consagrada que tí­
nhamos usado para fazer o círculo.
Isso perturbou muitos de nossos iniciantes, porque se tratava
de algo muito próximo de lembranças que eles procuravam esque­
cer! Mais da metade deles tinha sido criada no catolicismo e teste­
munhado a cerimônia do lava-pés na quinta-feira santa.
Algum tempo depois, Sharon começou a falar de sair total­
mente do grupo, tornando-se uma pessoa “normal”: talvez voltan­
do a estudar, arranjando um emprego, fazendo uma reviravolta
total em sua vida. Nenhum de nós percebeu que algo muito
incomum havia acontecido. Era agora uma mulher diferente. Es­
tava muito confusa, mas, certamente, tinha mudado.
Embora as mudanças parecessem ser para melhor, eu nem
suspeitava que um novo desafio, vindo do céu, em pouco tempo
nos alcançaria.

N oI as

1 Numa pesquisa posterior, feita tanto por mórmons, como D. Michael


Quinn, que foi professor numa universidade dessa Igreja, como por cris­
tãos ex-mórmons, como Ed Decker, Chuck Sackett e eu, foi constatado
que Josepli Smith (18 0 4 -18 4 4 ), o fundador, envolvera-se com o ocultis-
mo desde muito jovem. Ele era uma espécie de mago popular, que pra­
ticava astrologia, adivinhação, sacrifício de animais e necromancia. Os
ritos secretos da Igreja Mórmon estão cheios de feitiçaria e simbolismos
maçônicos e satânicos. Veja o monumental trabalho de Quinn: Early
M ormonism an d the M agic World View [O Mormonismo em Seu Início e
a Cosmovisão Mágica], Signature Books, 1987; assim como: The God
Makers [Os Que Fabricam Deus], por Ed Decker e Dave Hunt, Harvest
House, 1984; M ormonisms Temple ofD oom [O Templo Mórmon da Per­
dição] e W hited Sepulchers [Sepulcros Caiados], por Jim Spencer e eu,
Triple J Books, 19 8 7 ,19 9 0 .
Para mais informações a respeito, veja o livro, já citado, M ormonisms
Temple ofD oom [O Templo Mórmon da Perdição].
Esta entrevista com o “apóstolo” mórmon causou uma controvérsia.
Veja “ The L úcifer-G od D octrine, Shadow or R eality ’ [A Doutrina de
Lúcifer como Deus, Som bra ou Realidade], de Ed Decker e Bill
Schnoebelen, disponível em: Saints Alive in Jesus, Box 10 7 6 , Issaquah,
WA. 9 8 0 2 7 , U S A
Registros oficiais da Igreja Mórmon do final da década de 1980 (pois
depois desse ano passaram a não mais divulgar os dados da Igreja) mos­
tram que somente cerca de 25% de toda a membresia vão ao templo,
ao menos uma vez! Dos que vão, a metade nunca mais retorna. E a ida
ao templo da igreja é tida como a principal experiência espiritual e o
dever de um mórmon fiel, sendo considerada absolutamente essencial
para a sua salvação. Desses, 13% , apenas a metade, possuem as creden­
ciais para entrar no templo e o freqüentam conforme seus líderes dese­
jam. Isto significa que 93 a 94% dos membros estão condenados. Nunca
serão considerados dignos da “vida eterna”, segundo a própria doutri­
na mórmon.
f i e g e n e r A d o s , C HAi r i Ados
e C omissionAdos!

Estas coisas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes


a vida eterna, a vós outros que credes em o nom e do
Filho de Deus.
— João 5.13

IT X eu único problema (além da minha natureza pecaminosa) era


que Sharon desde o início não gostou muito do mormonismo, e
sua aversão crescia a cada dia. A grande diferença (exterior) entre a
Wicca e o mormonismo é que, enquanto a Wicca era militante­
mente feminista e matriarcal, a Igreja dos Santos dos Últimos Dias
era, cinicamente, patriarcal. Ignorante das coisas espirituais como
eu era, presumi que Sharon não gostasse da Igreja Mórmon por ser
discriminatória em relação ao sexo feminino, tratando as mulheres
como tolas e dominadas.
Tornado cego, pelo meu próprio espírito religioso, não perce­
bi que Sharon divisava além da falsidade do mormonismo e queria
para si o verdadeiro cristianismo. Em sua infância, ela tivera um
encontro de fé salvadora com o verdadeiro Jesus Cristo. No entan­
to, como fora educada em escolas católicas, as freiras forçaram-na,
sob terríveis ameaças, a crer que o catolicismo era o único modo de
seguir a Jesus, a Quem ela cultuava e adorava.
Sem discipulado, sem estudos bíblicos, Sharon foi intimidada
assim a acreditar que o catolicismo era o verdadeiro caminho para
Deus. Então, quando adolescente, começou a ver, por meio das
falácias e hipocrisias do Vaticano, que isso não era verdade; não
tinha idéia alguma para onde ir. Morava em Dubuque, Iowa, cida­
de 90% católica. Desiludida, foi alcançada pela onda cultural do
movimento hippie e do ocultismo. Saiu do catolicismo para a fei­
tiçaria e, depois de alguns anos, me conheceu. Todavia, a grande
diferença entre nós era que eu nunca tinha nascido de novo em
Cristo, mas ela tinha! Era por isso que podia expulsar demônios de
pessoas, quando todos os meus rituais e todas as minhas “santas
ordens" católicas falhavam.

S a I vo p e l A “Í I l o c i n H A ”!

Depois de ter passado alguns anos como mórmon, Sharon, arrasa­


da, viu-se mais perto ainda do seu relacionamento inicial com Jesus,
mas estava ainda a anos-luz de distância. Lendo a Bíblia, embora
na versão mórmon, passou a se prover de um conhecimento cada
vez maior do verdadeiro cristianismo. Diferentemente de mim, ela
havia se desligado quase que inteiramente das obras de feitiçaria,
por ver tais práticas como contrárias ao que a Bíblia ensina. Passou
a delegar a outros, cada vez mais, suas responsabilidades no ocul­
tismo e a falar sobre acabar com todos os nossos elos com a magia,
todas as iniciações e relacionamentos com grupos de feitiçaria, até
mesmo sobre nos desligarmos do mormonismo!
Falava comigo com muito empenho sobre deixarmos a Igreja,
Mórmon, mas eu não lhe dava ouvidos. Estava encantado com o
meu chamado especial para o sacerdócio da ordem de Melquisedeque
e com o recém-descoberto senso de retidão própria.
Sharon percebeu que o único modo pelo qual poderia fazer
alguma coisa para me ajudar a me libertar do mormonismo seria
forçar-me a perder o meu sistema de apoio. Ela tomou, então,
todas as providências para mudar-se de Milwaukee, onde morá­
vamos, voltando para Dubuque, de forma a continuar seus estu­

C o m i s s i o n A d o s !
dos. Convidou-me a tomar a decisão de mudar-me também, indo
com ela. O tempo todo, ela estava confiando no Senhor e orava
secretamente para que, uma vez longe dos meus companheiros
do sacerdócio mórmon, pudesse falar seriamente comigo. Sharon
estava “abalando os céus” por minha causa, para que eu percebesse

e
quão distante da verdade o mormonismo realmente se encontrava.

HAlHAdos
Protestei com ela quanto à mudança, dizendo-lhe que eu ti­
nha assumido a responsabilidade de ensinar Novo Testamento no
instituto da Igreja Mórmon, mas não teve jeito! Já estava decidida,

C
de modo que eu acabei concordando, embora isso significasse per­

R e g e n e r A d o s .
der meu emprego e mudar-me para uma área de Iowa onde pode­
ria não ser fácil achar um trabalho.
O que Sharon não sabia é que eu também tinha encontrado
algumas contradições dentro do próprio mormonismo, mas temia
discutir esse assunto com ela. Sabia que ela já via a Igreja Mórmon
com certo descrédito e eu não queria afastá-la ainda mais da Igreja.
Em meu ministério nessa Igreja, conheci muita gente que não
estava sendo ajudada pelo mormonismo e vi que muitos ainda es­
tavam vivendo uma vida muito aquém do padrão, não cumprindo
os 4.000 mandamentos ali preceituados.
Além disso, eu fora chamado a ensinar Novo Testamento na
instituição de ensino da Igreja,1 mas havia muitas passagens —
especialmente em Romanos e Gálatas — que me atormentavam.
Todavia, eu não sabia para onde me dirigir. Quando o primeiro
semestre letivo do meu contrato terminou, também me mudei
para Dubuque.

P o d e S e r T ão F á c í I f l s s i m ?

Nossa mudança deve ter sido o que o Espírito Santo estava plane­
jando no segundo dia após minha chegada a Dubuque. Coloca­
ram um folheto à nossa porta, anunciando um Seminário sobre
Profecias, que seria realizado num parque da cidade. Sabia que não
era um evento mórmon, mas eu havia dedicado muito tempo estu­
dando o livro de Apocalipse, principalmente por causa do curso de
Novo Testamento que teria de ministrar. Achei, também, que pos­
sivelmente teria ali uma oportunidade de ganhar algumas pessoas
para a Igreja Mórmon. Afinal, eu pertencia a uma Igreja dirigida
por um “profeta vivo”!
Depois de assistir às reuniões algumas noites, comecei a sentir
D e s l r o n A d o

estranha excitação no meu coração. O pregador era alguém que


citava passagens e mais passagens da Bíblia, e algo me atingiu quan­
do ele falou sobre o sangue de Jesus. Finalmente, abordei o mais
jovem dentre os dois pregadores que estavam dando o seminário e
procurei convencê-lo da doutrina mórmon. Eu queria convencê-lo
de que, para alguém receber o batismo, era necessária uma autori­
dade sacerdotal para ministrá-lo. Essa questão da autoridade, se­
gundo os mórmons, era vital, argumentando eles que os protestantes
e toda a sua “laia” ficariam numa terrível situação, que os levaria à
morte, por não terem sacerdócio. Finalmente, perguntei-lhe como
2 92 tinha recebido autoridade para batizar. Com um bondoso sorriso,
ele simplesmente me respondeu:
— Recebi de Jesus Cristo, como todo cristão a recebe.
Então, citou Atos 16.31, dizendo que nem mesmo o batismo
era necessário para ser salvo:
Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa. (At 16.31)
Esta passagem bíblica penetrou a fortaleza do meu testemu­
nho mórmon como um foguete Exocet, detonando todas as mi­
nhas defesas. Aquilo nao saía da minha cabeça durante todo o tempo
em que voltava para casa naquela noite:
“E se ele estiver certo?... É tão fá c il assim ? Era um pensamento
que me incitava.
Senti-me como um condenado que apenas ouve o rumor de
que pode vir a ser perdoado. Meu coração não ousava se arriscar. E se
aquela palavra nao fosse verdadeira e os mórmons estivessem com a
razão? Eu poderia crer naquela palavra, ou teria de descartá-la?
Como precisava garantir meu sustento, comecei a procurar

C o m i s s i o n A d o s !
emprego. Tive pouco sucesso, de modo que em todo o meu tempo
livre voltei a trabalhar com um livro que resolvera escrever para
provar a verdade do mormonismo. Essa minha ocupação me fazia
esquecer temporariamente do testemunho que eu tinha acabado
de receber. A palavra, porém, aninhou-se silenciosamente em meu
coração, como uma semente.

e
Concluí vários capítulos do meu livro e dei início a um capí­

H A H u d o s
tulo sobre os antecedentes pagãos da Igreja Católica. Então, num
lampejo, lembrei-me daquelas revistas em quadrinhos cristãs, pois

C
mencionavam a Igreja Católica. Eu as li e observei, com grande

R e g e n e r A d o s .
interesse, todas as questões que me seriam úteis ao escrever o capí­
tulo sobre o catolicismo. Uma vez mais, porém, senti uma palpita­
ção de esperança ao ler a “versão protestante” do evangelho. Parecia
fácil demais! Boa demais para ser verdade!
Verifiquei que poderia fazer um pedido de publicações diver­
sas àquela editora, e assim fiz. Quando chegaram os livros, revistas
e folhetos que encomendara, os “devorei” com avidez. Constatei, 293
então, que despertavam certas percepções nada agradáveis em meu
coração. Aqueles livros apresentavam uma doutrina que eu nunca
ouvira antes, exceto com conotação totalm ente depreciativa. O que
eu li foi que uma pessoa pode ser salva apenas por confiar em Jesus
Cristo, e que sacramentos, templos, rituais ocultistas, sacerdócios,
tudo isso é totalmente desnecessário — e até mesmo pernicioso —
para você ter a vida eterna.
Fiquei meditando sobre isso por um bom tempo, mas tive que
parar um pouco com a minha pesquisa. Consegui um trabalho de
vendedor de aspiradores de pó, como autônomo. Durante sema­
nas, eu me excedi nesse trabalho, mas não conseguia vender nada,
e estava gastando um bom dinheiro com gasolina, indo por toda
parte da cidade. Enquanto dirigia, porém, tive bastante tempo para
pensar e orar. Passei por zonas rurais, locais de uma natureza fasci­
nante naquele início de verão, e orei pedindo por orientação. Pas­
sei também em frente de pequenas igrejas do interior e, em vez de
um condescendente escárnio de outrora, olhei atentamente para
elas, como se fossem um tesouro raro que, de algum modo, eu
tinha necessidade.
Secretamente, em meu coração, era aquilo que eu queria. O
sonho que eu tinha tido, quando desci a montanha em direção
àquela igrejinha que cantava o hino evangélico, estava o tempo
todo em minha mente.
Li, então, Romanos com muita ansiedade, comparando-o com
o que os folhetos e os livros me diziam. Vi como tudo era tão
simples. Li e reli várias vezes, e comecei a jejuar e orar para ter
certeza de que esta era, de fato, a verdade.
Quatro dias depois, decidi tentar uma abordagem diferente.
Peguei uma daquelas revistas cristãs em quadrinhos. É que me lem­
brei de que, na última página, havia uma oração específica para
receber Jesus como Salvador e Senhor.
Dobrei-me e, ajoelhado ao lado de minha cama, fiz aquela
oração com todo o meu coração. Inclusive dei uma paradinha e
retirei, naquela hora, a vestimenta mórmon que usava por baixo
da roupa, para que nao houvesse nenhuma “interferência espiri­
tual” em minha oração. Confessei ao Senhor que eu era de fato
um pecador, talvez o principal dos pecadores (veja Romanos 3.23).
E com sinceridade renunciei os meus pecados e me arrependi
(Lc 13.5), confessando que Jesus Cristo morreu na cruz por meus
pecados e ressuscitou dos mortos para que eu pudesse ter vida
eterna (Rm 10.9,10). Pedi a Jesus que me salvasse de meus peca­
dos (Rm 10.13) e passasse a ser o Senhor absoluto da minha vida
(Rm 12.1,2).
Não ouvi nenhum coro celestial cantar naquele momento. Mas
senti, de fato, uma tranqüilidade e uma paz extraordinária vindo
sobre mim; uma paz que até agora flui de meu interior quando
escrevo estas linhas, anos depois! Era uma paz como nunca, mas
nunca mesmo, eu tinha experimentado, em mais de 30 anos de
vida. Antes eu nem mesmo sabia quão vazio estava, até o momen­
to em que me enchi desta paz.
Senti-me, então, muito melhor, mas ainda tinha algumas dú­

h a m ad os e ComissionAdos!
vidas. Decidi que iria “testar” tudo isso. Primeiro, deixei de lado a
vestimenta de magia mórmon. Sharon estava ainda na Escola de
Enfermagem, de modo que fiquei sozinho com meus pensamen­
tos. Senti que precisava conversar com alguém, mas não me veio à
mente o nome de quem quer que fosse que pudesse me compreen­
der, a não ser o nome dela.
Naquela noite, conversamos bastante. Sharon estava exultante
de alegria pelo fato de eu ter finalmente encontrado o caminho cer­
to. Eu tinha sido salvo pela graça e liberto pelo sangue do Cordeiro.

C
Ao explicar-lhe o que tinha descoberto na Bíblia, nos folhetos e nas

RegenerAdos.
revistas, ela sorriu, demonstrando que se sentia muito feliz. Expli­
cou-me, então, que fora desse modo que ela acreditara no princípio,
e que sua experiência, naquele tempo, tinha sido igual à minha. Dis­
se-me que vinha em busca dessa fé que ela havia perdido desde que
viu a hipocrisia que há na Igreja Católica, tantos anos atrás.
Ficamos exultantes ao vermos que nós dois, por caminhos in­
dependentes, tínhamos chegado às mesmas conclusões. Depois 295
disso, passaram ainda alguns meses para nos desembaraçarmos da
Igreja Mórmon. Mas havia ainda algumas medidas que precisariam
ser tomadas.

D e s í r o n A í i d o o DÍAbo

Eu estava ainda pensando sobre que tipo de igreja deveríamos ago­


ra freqüentar, uma vez que os mórmons estavam errados. Sabia
que queria uma igreja em que a Bíblia, e apenas a Bíblia, fosse
usada como autoridade para estabelecer o que é a verdade. Além
disso, meu novo Amigo, o Espírito Santo, incomodava-me com
respeito ao enorme volume de livros ocultos, e de toda a parafernália
do ocultismo que ainda permaneciam num armário, fechado à cha­
ve, em nosso depósito, no andar de cima.
Milagrosamente, o Espírito levou-me (pela primeira vez) a uma
livraria evangélica. Meus líderes mórmons sempre me diziam que
eu nao deveria entrar nessas livrarias, pois estavam cheias de lixo,
com materiais renegados e sectários. Assim, fiquei por algum tem­
po do lado de fora e dei uma volta naquele quarteirão, até certifi-
car-me de que ninguém conhecido estava por perto; então, entrei
apressadamente na loja.
Lá dentro, fui andando por entre as estantes de livros, quando
de repente um livro literalmente caiu da prateleira em minhas mãos.
Era o livro The B eau tifu l Side ofE vil,2 de Joanna Michaelsen [pu­
blicado no Brasil sob o título A Face A traente do Mal, pela Editora
Candeia]. Com um pouco de nervosismo, folheei rapidamente o
livro e vi que continha exatamente os ensinamentos de que estava
precisando. Ainda com algum receio de que poderia estar sendo
visto por um mórmon, fui ao caixa, sentindo-me como se estivesse
comprando uma obra pornográfica da pesada. Assim que ele em­
brulhou o livro e eu o paguei, lancei-me para fora da loja como se
o diabo estivesse correndo atrás de mim.
Quando cheguei a casa, tive ainda algum receio quanto ao que
Sharon poderia dizer; assim, disfarcei e procurei esconder minha com­
pra. Mas ela é muito observadora e perguntou o que eu tinha compra­
do para ler. Mostrei-lhe, então, o livro, e ela sorriu e disse:
— Ótimo! Quem sabe ele não irá colocar algum juízo em sua
cabeça?
Aquele livro ajudou-me bastante. Explicou-me que o “Jesus”
do ocultismo e do espiritismo é um falso Jesus, assim como o
“Jesus” do mormonismo. Também me ensinou que eu deveria orar
e renunciar aos meus poderes do ocultismo e que eu teria de quei­
mar todo o meu material de magia que estava escondido.
Decidi, entao, telefonar para várias igrejas da cidade, que
achei que seriam bíblicas. Disse-lhes: “Sou um ex-satanista e
mórmon e tenho um montão de livros do ocultismo. Gostaria
que vocês me ajudassem a queimá-los.” Como seria de esperar,
muitos deles desligaram o telefone na minha cara. Outros me
disseram que o pastor não se encontrava ou que não poderia aten­
der-me naquela hora. Finalmente, consegui encontrar um pastor
que realmente cria na Bíblia, num bairro afastado do centro da

C o m i s s i o n A d o s !
cidade. Ao me ouvir, ele disse:
— Louvado seja o Senhor! Traga-os com você, que vamos quei­
mar tudo!
Sentindo-me de repente atemorizado, sem que houvesse razão
para isso, enchi todo o porta-malas não só com caixas de livros,
mas também punhais, espadas, mantos e incensórios. Dava para

e
C HAi n Ado s
eu quase ouvir sedutores sussurros daquelas caixas, dizendo: “Não
nos queim e. Você não p o d e viver sem nós?1Engolindo um nó na gar­
ganta do tamanho de uma bola de golfe, fechei rapidamente o
porta-malas e me pus a caminho.

R e g e n e r A d o s ,
Enquanto me dirigia para a igreja, pude quase sentir terremo­
tos acontecendo ao meu redor e a estrada abrindo-se para a minha
passagem. Parecia que um raio poderia cair sobre o carro a qual­
quer momento. Fiquei encharcado com o suor frio de um terror
apavorante quando nem mesmo três quadras tinha percorrido. Não
percebi na hora, mas o fato é que estava sob um ataque demonía­
co. Felizmente, o pastor estava em seu gabinete orando por mim! 297
Foi com um alívio tão grande, para o qual não tenho palavras,
que finalmente entrei na área de estacionamento da igreja. O pre­
gador veio, então, cumprimentar-me. Surpreendi-me ao ver que
ele era um jovem robusto, cheio de entusiasmo, de camisa esporte
e barbado. A idéia que eu tinha feito era a de um fanático vestido
de terno preto, cabelos grisalhos e austero. O jeito de ele se com­
portar me foi uma agradável surpresa. Ele realmente estava satisfei­
to consigo mesmo. Eu nao sabia que os cristãos tinham permissão
para serem daquele jeito...
Ele me ajudou a tirar tudo aquilo do porta-malas e, em segui­
da, levou-me para o seu gabinete e me pediu que sentasse. Depois
de algumas perguntas para certificar-se de que eu de fato tinha
nascido de novo em Cristo, ele começou a responder às minhas
perguntas. Finalmente, senti que estava no caminho certo. Eu ha­
via destronado Lúcifer da minha vida e tinha entronizado o
Senhor Jesus Cristo em seu lugar!
Depois de um ano freqüentando aquela igreja, circunstâncias
nos levaram a nos transferir para outra congregação. Lá, o rebanho
era pastoreado por um casal, o pastor e sua esposa, que tinha uma
considerável experiência em aconselhamento espiritual. Discerniram
corretamente que, embora estivéssemos salvos e a caminho da gló­
ria, havia ainda algumas fortalezas demoníacas em nós por causa
de todo o mal que havíamos praticado no ocultismo, e com o qual
D e s t r o í i A d o

nos tínhamos deleitado.


Louvado seja o Senhor, pois eles investiram tempo conosco,
discipulando-nos e ajudando-nos realmente a entender a Bíblia.
Além disso, sentaram-se conosco por várias horas, numa noite, em
nosso apartamento, e nos ministraram a renunciar ao satanismo, à
feitiçaria, ao mormonismo, ao espiritismo, à mediunidade e, até
mesmo, ao catolicismo. Expulsaram, em nome de Jesus, espíritos
imundos que ainda estavam em nós. Eles realmente nos ajudaram,
dando-nos condições para que pudéssemos andar com nossas pró­
prias pernas.
Um ano depois de termos sido assim ministrados, o Senhor
nos chamou para o ministério, e desde 1986 temos trabalhado para
levar o verdadeiro evangelho de Jesus Cristo aos ocultistas e adeptos
das seitas..
Nos últimos anos, o Senhor nos mostrou como é necessário o
segundo passo, a libertação da escravidão ainda mantida pelos es­
píritos das trevas nas pessoas que se convertem. É a destronização
final de Satanás! Isto é especialmente necessário para aqueles que
vêm do ocultismo, da feitiçaria, ou que tenham ascendentes prati­
cantes da magia (Êx 20.5).
Cremos que Jesus Cristo nos libertou das incríveis trevas e do
mal, de modo que agora podemos testemunhar a quem queira ouvir
que Ele pode salvar, de fato, até o pior pecador e libertar sua alma
da luta contra toda opressão espiritual.
S eu p o d e r é m a is d o q u e s u f ic ie n t e !

C o m i s s i o n A d o s !
S ua s a b e d o r ia é perfeita e c o n s o l a d o r a !

S eu a m o r e n c h e r á até m e s m o o c o r a ç ã o m a is v a z io !

J e su s C r is t o é o Senhor!

e
ConclusÃo

s
o
a m a d
Oramos para que este livro seja, antes de tudo, um testemunho do
poder totalmente suficiente e capaz do amor do Senhor Jesus Cristo

h
C
para salvar! E evidente, pela nossa narrativa, que estivemos envol­

R e g e n e r A d o s .
vidos com os poderes das trevas num grau bastante elevado. Entre­
gamos totalmente a nossa vida ao estudo da “magia negra” por
quase 16 anos.
Mas, por meio de simples orações, o céu desenredou tudo que
o inferno tinha tentado fazer. Se você, leitor, está envolvido com
satanismo, feitiçaria, candomblé ou qualquer tipo de ocultismo ou
espiritismo, tem um desafio à sua frente. 299
O testemunho da Bíblia contra as práticas de feitiçaria e ma­
gia é definitivo e bem claro:
Q uanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abominá­
veis, aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e
a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que
arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte. (Ap 2 1.8 ).

Queira compreender o que estamos dizendo! Estas palavras


são de um livro que até hoje ninguém provou estar errado, nem
jamais o fará! Se a Bíblia estava certa ao predizer a vinda de Jesus
Cristo milhares de anos antes de isso acontecer, e...
Se a Bíblia estava certa na previsão do aparecimento de um rei
chamado Ciro, que libertaria o povo hebreu do seu cativeiro na
Babilônia, ocorrido há mais de cem anos antes do nascimento des­
se rei, então por que erraria quanto ao destino daqueles que prati­
cam feitiçaria e satanismo?
É por isso que Satanás treme cada vez que o Senhor Jesus en­
tra em cena, pois sabe que, independentemente das suas artima­
nhas, o Senhor sairá plenamente bem-sucedido. Satanás não é
estúpido. Sabe muito bem qual é o destino que o aguarda! Ele só
quer fazer com que você ignore qual é o seu.
Se você quiser deixar de lado suas obras de feitiçaria e tornar-
se servo do verdadeiro Deus, Jesus Cristo, nada mais simples:
D e s l r o n A d o

1. Confesse a Deus que você é pecador.

Pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus. (Rm


3.23 — n v i ) .
L ú c i f e r

2. A rrependa-se (literalmente, repense) por haver cometido to­


dos os seus pecados — especialmente o pecado da feitiçaria, do
ocultismo, do satanismo — e disponha-se a renunciar a eles e rejeitá-
los, totalmente.
3ÒÒ (...) mas, se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis.
(Lc 13.5)
3. Creia de todo o coração que o Senhor Jesus Cristo morreu
na cruz, derramou seu sangue para pagar o preço pelos seus peca­
dos e ressuscitou dos mortos para dar-lhe vida eterna.

Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu


coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás
salvo. Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se
confessa a respeito da salvação. (Rm 10.9,10)

4. Peça ao Senhor que o salve de seus pecados.

Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será sal­


vo. (Rm 10.13)
5. Peça a fesu s Cristo que assuma o controle total da sua vida e
seja 0 seu Senhor\
Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apre­

e ComissionAdos!
senteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a
Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com
este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa men­
te, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita
vontade de Deus. (Rm 12 .1,2 )

Como você acabou de ler, se possui livros ocultistas, artefatos,

C HAi nAdos
mantos, imagens e outras quinquilharias, deve destruir tudo isso
no fogo, tão logo seja possível. (Veja Atos 19.19.) Não apenas os
jogue fora, pois outras pessoas poderão encontrar esses objetos e

egenerAdos,
serem enganadas por eles. Se você não tiver como queimá-los, peça
a um pastor da sua localidade que o ajude. Como você viu nesta
narrativa, precisa ser persistente, telefonando para diversas igrejas.
Se você seguiu estes cinco passos, tão simples, para receber
Cristo, é agora um nascido de novo, em Cristo, um fdho de Deus,
tendo a certeza de que Satanás não poderá nunca mais arrebatá-lo
das mãos de Jesus! Você está nas mãos de Alguém infinitamente 3Ó:|
mais poderoso do que o diabo!
Para crescer como cristão, é importante ler a Bíblia Sagrada e
orar. Orar é apenas falar com Deus. É também vital que você en­
contre uma igreja em que Jesus Cristo seja exaltado como Senhor e
Deus. Como mencionamos anteriormente, nem todas as igrejas
que se declaram cristãs são verdadeiramente cristãs. Portanto, pro­
cure encontrar uma igreja que se enquadre nos seguintes pontos:
1. Creia em um só Deus, eterno e triúno — o Pai, o Filho e o
Espírito Santo — três distintas Pessoas em um só Deus. (Veja
1 João 5.13; Mateus 28.19; Deuteronômio 6.4).
2. Creia que Jesus Cristo é Deus Todo-Poderoso, verdadei­
ro Deus e verdadeiro homem, que morreu na cruz para nos sal­
var dos nossos pecados e ressuscitou literalmente dos mortos,
no terceiro dia. (Veja 1 Timóteo 3.16; Romanos 10.9-13;
1 Coríntios 15.1-5.)
3. Creia que a salvação não é alcançada por qualquer coisa que
possamos fazer, mas, sim — e apenas — , por pedir a Jesus que
aplique em nós o que já fez na cruz. Para ser verdadeiramente cren­
te, uma nova criatura em Cristo, não são necessárias “boas obras”,
nem “ser simplesmente membro de uma igreja”, nem mesmo o
batismo. (Veja Efésios 2.8,9; Gálatas 2.16; 3.10.)
4. Creia que a Bíblia Sagrada nos foi dada pela inspiração de
Deus, e portanto ela não é maculada, mas inteiramente perfeita e
singularmente sem erros. E que ela deve ser o único padrão pelo
qual a conduta, a doutrina e os princípios da igreja sejam aferidos.
(Veja 2 Timóteo 3.16,17; Mateus 5.18; 24.35; Lucas 9.26;
João 6.63.)
Estes são os pontos fundamentais da fé cristã que “não são ne­
gociáveis”, e que toda igreja cristã firmada na Bíblia tem de aceitar.
Agora, para todos os crentes, salvos pelo sangue do Cordeiro,
que tiveram uma origem de práticas pecaminosas no ocultismo, na
feitiçaria, no candomblé ou na umbanda, no espiritismo, esoterismo
ou satanismo, o que se segue é especialmente para vocês.
Muitos, mas não todos, os crentes egressos do ocultismo têm
problemas que os impedem de ter um caminhar pleno e vitorioso
com Jesus Cristo. Talvez você tenha problemas em ler a Bíblia ou
orar regularmente. Talvez haja certos pecados que ainda estejam
sendo constantemente praticados, e que você tenha dificuldade
em vencê-los. Ou, quem sabe, há enfermidades ou depressões em
sua vida?
Descobrimos, orando por centenas de pessoas — todos cris­
tãos — , que, se você teve ancestrais que participaram de seitas ou
do ocultismo, ou se você mesmo praticou tais coisas, romper com
elas, formalmente, perante o Senhor para ser totalmente liberto
de envolvimentos carnais. Isto não significa que você não seja
salvo e que não esteja a caminho do céu. E claro que você é salvo!
Apenas significa que Satanás está procurando atingi-lo na carne.
Se você achar que esta parte do livro está falando com você —
especialmente se tem uma origem no ocultismo ou na feitiçaria — ,

e ComissionAdos!
o que precisa fazer é dobrar os joelhos diante de nosso Pai e fazer
esta simples oração:

Em nome do Senhor Jesus Cristo, e com a autoridade que me


foi dada por crer nele, declaro que sou remido das mãos do
diabo. Mediante o sangue de Jesus, todos os meus pecados
estão perdoados. O sangue de Jesus Cristo, o Filho de Deus,

HAi nAdos
está me purificando agora de todo pecado. Mediante esse san­
gue, sou justificado, como se nunca tivesse pecado.

CRegenerAdos.
Mediante o sangue de Jesus, sou santificado, tornado santo,
separado para Deus, pois sou membro de uma raça eleita, de
um sacerdócio real, de uma nação santa, de um povo de pro­
priedade exclusiva de Deus. Que eu proclame as tuas virtudes,
Senhor Deus, pois tu me chamaste das trevas para a tua mara­
vilhosa luz! (1 Pe 2.9). Meu corpo é templo do Espírito Santo,
remido e purificado pelo sangue de Jesus.

Eu pertenço ao Senhor Jesus Cristo — corpo, alma e espí­


rito. Seu sangue me protege de todo mal. Em nome de Je­
sus, repreendo agora todos os mentirosos e enganadores
espíritos de... (mencione, conforme o seu caso: ocultismo,
astrologia, Nova Era, cartas de tarô, artes marciais, adivinha­
ção, quiromancia, trabalhos de magia, operações espirituais,
espiritismo de mesa ou de terreiro, esoterismo, maçonaria, seitas
heréticas, incorporação, mediunidade, feitiçaria, satanismo...)

...os quais podem achar que ainda têm algum direito sobre
mim ou minha família. Em nome de Jesus, renuncio a esses
espíritos de Satanás e declaro que não têm mais poder algum
sobre mim, pois fui comprado e pago pelo sangue de Jesus
derramado no Calvário.
você foi feiticeiro, bruxo, pai-de-santo ou satanista, ore ainda

“Renuncio a todos e quaisquer juramentos (se houve) feitos


por mim ou em meu favor no altar de Satanás — conhecidos
ou desconhecidos por mim —, no santo nome de Jesus e pelo
poder do seu sangue derramado. Peço ao Senhor Jesus Cristo
que quebre todos os pactos, contratos, dedicações, encargos,
trabalhos e consagrações que tenham sido feitos por mim ou
para mim, por outros, nos altares do satanismo e da feitiçaria
— conhecidos ou desconhecidos — e que use de todo o poder
da Cruz, da Ressurreição, da Ascensão, da Glorificação e da
Segunda Vinda para destruir o poder de tais coisas sobre mim.

Renuncio também a todo pecado e às amarras das gerações ante­


riores que ainda estejam me oprimindo por causa de juramentos
feitos por meus pais e ancestrais, e peço que o Senhor Jesus Cristo
purifique minha linhagem familiar com o seu sangue derramado.
Cravo todas essas coisas na cruz de Cristo.

Por causa do sangue de Jesus, Satanás não tem mais poder


sobre mim, nem sobre minha família, e nao tem mais lugar
em nós. Renuncio inteiramente a Satanás e a suas hostes e
declaro que eles são meus inimigos. Em nome de Jesus, exerço
a autoridade que me foi dada, expulso todos os espíritos ma­
lignos, e resisto a todos os inimigos de Jesus Cristo que este­
jam operando contra mim (e contra meus filhos). Eu corto
toda relação com vocês, espíritos de Satanás, e quebro todo
poder que vocês têm sobre a minha vida.

Pelo poder do nome de Jesus Cristo de Nazaré, retiro o direito


de afligirem a mim e a meus filhos e proclamo o juízo de Deus
sobre vocês. Com a autoridade de Cristo, amarro agora todos
os espíritos malignos presentes, num laço só, e ordeno que vocês

C o m i s s i o n A d o s !
vão para o lugar que Jesus Cristo os enviar, pela voz do Espírito
Santo. Ordeno que todos vocês saiam de mim agora, de acor­
do com a Palavra de Deus e em nome de Jesus.

Também peço a ti, ó Pai, que feches todas as brechas pelas quais

e
os demônios tiveram acesso a mim, por quaisquer pecados, de

H A m A d o s
todos os modos, e peço-te que seles estas brechas para sempre
com o sangue do Cordeiro, derramado na cruz do Calvário.
Agradeço-te por fazeres isto, no poderoso nome de Jesus.

Cg e n e r A d o s .
(...) esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando
para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o
prêmio da soberana vocação de Deus em Cristojesus. (Fp 3.13,14)

Nol AS
305
1 O Instituto de Religião Mórmon é um programa educacional religioso
para adultos mantido pela Igreja. Eu fora contratado para lecionar dois
semestres de Novo Testamento em Milwaukee.
O Ca l e n d Á r i o
SaIãíiíco

_GLs principais festas (chamadas sabás), comuns à Wicca e ao sata­


nismo, são as que se seguem. Nos grupos satânicos, as festas que
envolvem pelo menos sacrifícios de animais são identificadas com
o símbolo (t). As que envolvem sacrifício humano e que são parti­
cularmente perigosas são identificadas com o símbolo ($ í). O sím­
bolo ( t t t ) indica a necessidade de se ter extremo cuidado:

1. Imbolc (ou da Candelária):


Em 2 de fevereiro ($). Nos grupos satanistas, geralmente é
requerido um sacrifício sexual (pessoa do sexo feminino, entre 7 e
17 anos) e sacrifício de animal.

2. Equinócio do Outono (no hemisfério norte, da Primavera):


Em 21 de março. Nos grupos satanistas, geralmente são
requeridas orgias.

3. Beltano (ou W alpurgisnacht):


Em Ia de maio ($$). Os grupos satanistas exigem sacrifício
humano (do sexo feminino, entre 1 e 25 anos).
4. Do Inverno (no hemisfério norte, do Verão):
Em 22 de junho. Geralmente são requeridas orgias.
5. Lammas:
Entre 29 de julho e l 2 de agosto (t). Os grupos satanistas
geralmente exigem sacrifício sexual (pessoa do sexo feminino, en­
tre 7 e 17 anos) e sacrifício de animal.

6. Equinócio da Primavera (no hemisfério norte, do Outono):


Em 22 de setembro (?t). Nos grupos satanistas, requerem um
sacrifício humano (homem, sexualmente maduro) e orgias.

7. Samhain (Véspera do Dia de Todos os Santos):


Em 31 de outubro ( í t t ) . Os grupos satanistas requerem sa­
crifício humano (qualquer pessoa) e um sacrifício sexual para os
demônios.

8. Yule (Época do Natal — Solstício):


Em 23 de dezembro ( t t t ) . Os grupos satanistas requerem um
sacrifício humano (homem ou mulher, preferivelmente um cristão
ou fdho de um cristão). Também há orgias.

Adicionalmente, tanto para os grupos satanistas como para os


de feiticeiros, há as festas lunares, que são em número de 26 por
ano. São os “esbás”, celebrados nos dias de lua nova e lua cheia.
Geralmente é feita magia negra (isto é, para o mal) em datas próxi­
mas ou no dia da lua nova, e magia branca (curas, feitiços para
finanças, empregos, fertilidade) em data próxima ou no dia da lua
cheia.

P esíA S S a í Ai i Í cas 6 s p e c Í A Í s - p A r l e í :

Sao as seguintes as festas crowleyanas (thelêmicas) e as que se rela­


cionam com o culto a Set:
1. Equinócio dos Deuses:
Entre 8 e 10 de abril. Aniversário do lançamento do Liber Al.
Às vezes celebrado com drogas e orgias.

2. Festa de Sothis (A estrela Sirius em seu apogeu):


Em 23 de julho. Alguns grupos celebram com sacrifício de
animal (cão), mas isso é raro.

3. Festa do Profeta e Sua Noiva:


Em 12 de agosto. No dia do aniversário de casamento de
Crowley com Rose Kelly. Celebrado com magia sexual.

4. Festa de Tahuti:
Em 7 de setembro. Veja também a festa da Besta, abaixo. Ce­
lebrada com magia sexual de natureza homossexual.

5. “Crowleyana”:
12 de outubro. Festa do aniversário de Crowley. Forma de
celebração não estabelecida.

F e s í A s S a Iâ i i í c a s 6 s p e c Í A Í s - p A r t e 2 :

Festas satânicas diversas. São celebradas por alguns grupos, não


todos.

1. Dia de Nascimento do Próprio Satanista

2. Principais Festas do Catolicismo Romano


Em especial, Páscoa (festa de Ishtar), Sexta-Feira Santa, Natal
(festa do Sol Invicto) e noite de São João ($$$)> normalmente re­
querendo um sacrifício humano (de qualquer sexo), de preferência
um ministro cristão, ou cristão ex-satanista ou um fdho de cristão.
Também há orgias.
3. O dia 13 e o dia 31 (quando ocorrer) do mês:
Também em toda sexta-feira 13. E feita magia, mas não ne­
cessariamente perigosa fisicamente.

4. Dia de São Winebald:


Entre 1 e 7 de janeiro (t±). Os grupos requerem sacrifício
animal ou humano (do sexo masculino, tendo entre 15 e 33 anos).
O sacrifício é no dia 7.

5. Festim Satânico:
Em 17 de janeiro ($$)• Requer um sacrifício (do sexo femini­
no, entre 7 e 17 anos).

6. São Eischstadt:
Em Ia de março ($). Um animal (geralmente um cachorro) é
esquartejado e sacrificado. Sua carne é consumida como sacramento.

7. Grande Clímax:
Preparação entre 19 e 26 de abril, festa entre 26 e 30 ($$$).
Sacrifícios humano e sexual são requeridos (do sexo feminino, cris­
tã, entre 1 e 25 anos).

8. Festim Demoníaco:
Em l 2 de julho. Sacrifícios humano e sexual (moça, entre 7 e
17 anos). Também magia sexual com espíritos demoníacos.

9. Festa da Besta:
Em 7 de setembro, mas apenas a cada 27 anos. O último foi
em 1982; o próximo será em 2009 ( t t ) .1 Sacrifícios humano e
sexual e desmembramento (moça com menos de 21 anos, devendo
ser virgem).

10. O Hospedeiro da Meia-Noite


E m 2 0 de setem b ro ( t $ ) . S acrifício h u m an o e am putação
(m oça, com m enos de 2 1 anos). As m ãos sao cortadas com a pes­
soa ain d a v iv a e enterradas ritu alm en te.
11. Festim Satânico:
Em 4 de novembro ($). E requerido sacrifício sexual (pessoa
do sexo feminino, entre 7 e 17 anos).

SAtAnico
12. Grande e Alto Clímax:

Em 24 de dezembro ($M ). E requerido sacrifício humano

C A le n d A r io
(qualquer sexo, qualquer idade, desde que seja cristão).

N oIa

O
-
1 Véja M ichelle Remembers [Memórias de Michelle] — Michelle Smith &

I
Lawrence Pazdur, M .D., Congdon & Lattés, 19 8 0 (edição de livro de

êndice
bolso), p. 266. Embora este livro contenha erros, não tendo uma pers­
pectiva bíblica adequada (os “rapazes” são todos clérigos e leigos católi- ^
cos), é um livro histórico, o primeiro publicado narrando a história do
sobrevivente de um ARS.
I n d í c i o s de um
Possível Rbu s o

Eis, a seguir, a maioria dos sintomas de sobreviventes do ARS (Abuso


Ritual Satânico), tao pouco conhecidos e muitas vezes ignorados, ou­
tros sintomas relativamente bem conhecidos da comunidade média.
Obviamente, apenas um ou dois dos sintomas não são sufici­
entes para despertar uma suspeita, mas, se ocorrerem vários deles,
convém investigar. (Podem tornar-se mais fortes durante os prin­
cipais períodos de rituais.)

1. Sintomas Fisiológicos (no Corpo)


1) Forte sensibilidade à luz.
2) Anomalias na química sanguínea (mudanças no tipo sanguí­
neo). Isto é supostamente impossível, mas acontece.
3) Epilepsia do lado direito. P ode (e não necessariamente é!) ser
indicativa de uma séria opressão demoníaca.
4) Estranhos tiques nas mãos e nos dedos (sinalizações incons­
cientes de maldições).
5) Peso excessivo ou anormalidades na alimentação.
6) Estranhos comportamentos compulsivos: desejo de tomar san­
gue; masturbação compulsiva, etc.
7) Dores de cabeça de origem desconhecida.
8) Enfermidades musculares ou genitais.

2. Sinais a Observar na Anatomia


1) Cicatrizes incomuns, exóticas ou inexplicáveis:
• Cicatrizes muito finas no osso chamado esterno.
• Cicatriz no períneo (de pessoa do sexo masculino).
• Cicatrizes no abdome, muitas vezes com formas do
ocultismo.
• Cicatrizes no pulso ou antebraço esquerdo.
• Grandes lábios cirurgicamente perfurados, em pes­
soa do sexo feminino.
• Cicatrizes no interior das coxas, especialmente em
pessoas do sexo masculino.
• Cortes e puncturas no pescoço, especialmente na re­
gião da artéria carótida.
• Sangue ou trauma em partes íntimas, perda da vir­
gindade em moça, irritabilidade fora do comum em
rapaz.
• Exame físico pediátrico revelando esfíncter anal muito
relaxado ou cicatrizes no local (em rapaz ou moça).

2) Perda de partes do corpo, em especial, partes de dedos.


• Falta de mamilos ou existência de mamilos a mais.
• Num rapaz, perda da primeira falange do polegar
e do indicador.
• Numa moça, perda do dedo anelar da mão esquerda.
• Falta do dedo mínimo, na mão esquerda (ambos
os sexos).

3) Pequenas e obscuras tatuagens em lugares fora do comum.


• Na parte superior da cabeça.
• Na palma da mão.
• No plexo solar ou no osso esterno.
• Na região pubiana.
• Acima do cóccix.

3. Sinais de Comportamento em Crianças entre 4 e 9 anos.


1) Com respeito à sexualidade:
• Fala sobre sexo ou faz uso de palavras não apropria­
das à idade; entendimento da atividade ou da anato­
mia sexual (por meio de desenhos, etc.).
• Toca os outros sexualmente; age de modo provocativo
ou sedutor.
• Medo de alguém segurar ou lavar suas partes íntimas.
• Uso de palavras para as partes do corpo normalmen­
te não usadas no âmbito familiar.
• Medo de se despir na hora do banho ou de ir para a
cama.
• Masturbação compulsiva, até mesmo em público.
• A menina dizer que está casada, noiva, ou esperando
um bebê.

2) Comportamento no banheiro:
• Queixa-se de que está queimando ou que sente dor
em partes íntimas quando está tomando banho.
• Diz aos pais que alguém o(a) despiu ou se mostrou
nu para ele ou ela.
• Diz aos pais que alguém passou a mão em suas partes
íntimas.
• Descreve com precisão atos sexuais com outras pes­
soas, ou entre outros adultos, outras crianças, entre
animais.
• Tem medo do banheiro e não quer usar o vaso. Re­
cusa-se a tomar banho na frente do pai ou da mãe.
• Preocupação em ter o corpo superlimpo. Troca as
peças íntimas desnecessariamente.
• Medo fora do comum de se afogar no banho de ba­
nheira, aceitando só o chuveiro.
• Recusa práticas usuais: não quer ir ao banheiro, não
quer enxugar-se, não quer sair de casa, não quer ir
para a sala.
• Fala de comer excrementos humanos ou faz isso.

3) Problemas no consultório médico ou odontológico:


• Tem medo anormal de médicos ou enfermeiras.
• Fala de médicos “maus” mexendo com ele (ou ela),
dando-lhe más “injeções”, etc.
• Fala de dentistas “maus” passando o motor ou fazen­
do o seu dente doer, sem anestesia.
• Temores fora do normal quanto a se despir diante do
médico, ou temores de que vai ter que desfilar em
frente de pessoas nuas.
• Comportamentos sexualmente provocantes com o
médico ou com a enfermeira durante o exame, ou
demonstra estar na expectativa de ter um contato
sexual com eles.
• Fala de “maus” médicos (cirurgiões) terem feito aber­
turas no seu corpo e colocando coisas (bombas, bi­
chos, aranhas, agulhas ou pinos, etc.) em seu interior.

4) Problemas emocionais e mentais:


• Hiperativo ou violento.
• Emoções instáveis ou, estranhamente, sem m ani­
festação.
• Dislexia ou outras perturbações na aprendizagem, es­
pecialmente lendo letras ou palavras de trás para a
frente.
• Demonstra um comportamento excessivamente an­
sioso (ralhando dentes, roendo unhas, tremedeiras,
choro incontrolado).
• Rebeldia.
• Temeroso, pegajoso (nao larga da mãe ou do pai); se
faz de bebê, tendo um comportamento anormal para
a sua idade.
• Terrores noturnos, suores, pesadelos freqüentes ou
horríveis.
• Tem um comportamento agressivo para consigo mes­
mo (bate a cabeça contra a parede, fere-se a si mes­
mo; propenso a sofrer acidentes, etc.)
• Acha que é uma pessoa má, maligna, estúpida e que
merece ser punida sempre.

5) Problemas na alimentação da criança:


• Fala de comer ou beber sangue, partes de animais,
partes do corpo humano ou excrementos.
• Problemas ao se alimentar: vômitos, bebe demais, etc.
• Recusa-se a comer certos alimentos, especialmente
carnes malpassadas e sangrentas.
• Recusa-se a comer ou beber certos alimentos colori­
dos (vermelho [sangue] ou marrom ou amarelo).
• Obsessão com a idéia de que a comida está ou enve­
nenada ou com drogas. Age como se os pais quises­
sem envenená-lo (a) ou drogá-lo(a).

6) Problemas na associação de cores:


• Expressa desgosto por certas cores, especialmente pelo
preto, vermelho e verde.
• Quer vestir-se de preto, sem uma razão plausível.
• Diz ter estado em salas pintadas totalmente de verme­
lho, ou preto, ou verde, ou uma outra cor estranha,
quando tais salas não são do conhecimento dos pais.
• Diz ter “visto” cores ou luzes coloridas flutuando em
torno das pessoas.
• Fala de um uso litúrgico do preto, do vermelho ou do verde
quando em sua igreja não são usadas essas cores e rituais.

7) P ersonalidade m ú ltip la ou desordem de disfunção


desassociativa:
• Momentos em que dá “um branco” na memória.
• P roced im entos sexuais com pu lsivos, em especial a
D e s l r o n A d o

m asturbação.
• Pouca ou nenhuma lembrança da infância.
• C o m p o rta m e n to s de a u to m u tila ç ã o ; p e n sa m en to s
de su ic íd io .
L ii c i f e r

• Medo extremado de autoridades (policiais, clérigos,


médicos, etc.).
• Fortes pesadelos, insônia.
• Narcolepsia: sono fora de hora ou incontrolável.
• Alterações repentinas no comportamento ou no hu­
mor, muitas vezes diagnosticado como bipolar, mas
que pode ser causado por “gatilhos”.
61e foi s a ía & ís Ia d u x A U le m u it o s a iio s . A íé se
d e fro n tA r com um poder m A Ío r que o de
S a Ia u á s.

William Schnoebelen foi um sacerdote satanista e


conheceu de perto o que está por trás do ocultismo.
Porém, a sua maior experiência foi ser transformado,
profundamente, pelo poder de Cristo Jesus.

Lúcifer Destronado revela os segredos do mais


profundo satanismo. Você vai entender a grande
rede de ligações entre as sociedades secretas, a
mídia, o poder político-econômico e as seitas
envolvidas com o satanismo.

Ç .s t e l i v r o I r A z r e v e t a ç ó e s Nestas páginas você conhecerá o relato de um


fo r te s , d if e r e n t e d e iu d o o
"sobrevivente" do engano das trevas e a verdadeira
história de um financiador do movimento satanista
( j u e \o < ‘ ê j í l e u . 6 1 e é a
na Terra.
provA < ju e n i n g u é m e stl

l o n g e o li \ s t , \ n l e . c ju e n l o Um homem cego pela escuridão, possuidor de poder


e riqueza, cuja vida era encharcada pelo sangue dos
possA s e r A lc A n ç A d o p e t a
rituais macabros, pôde abrir os braços, se ajoelhar,
íjrA Ç A d e D e u .» .
pedir perdão e se reconciliar com o Pai.

Sobre os Autores

Em resposta à crescente necessidade de um trabalho de oração e aconselhamento com


pessoas envolvidas com o satanismo, ocultismo e outras seitas, oriundas deles, William e
Sharon Schnoebelen fundaram o With One A ccord Ministries, em 1992. Um ministério
dedicado a treinar os cristãos na evangelização de adeptos das mais diversas seitas, os
ensinando a defenderem a Bíblia como a perfeita autoridade em todas as questões de fé e
prática cristã.

Como ex-praticantes do ocultismo, Bill e Sharon têm autoridade para aconselhar os


seguidores do mundo das trevas. Junto com a equipe de oração têm atendido centenas de
pessoas todos os dias, levando mensagens de fé e trazendo a esperança na transformação de
tantas vidas que pareciam perdidas. William Schnoebelen também é autor do livro
M açonaria do Outro Lado da Luz publicado pela Editora Luz e Vida.

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