Você está na página 1de 10

Efeito da prática sobre as características cinemáticas do fundamento toque na inicia...

Página 1 de 10

Medidor de Vibrações Redutor planetário APEX


Instrumento portátil para medida de Redutores planetários com menor custo do
vibrações e rolamentos Brasil a pronta entrega

Efeito da prática sobre as características


cinemáticas
do fundamento toque na iniciação do voleibol
Efecto de la práctica sobre las características cinemáticas del fundamento toque en la
iniciación al voleibol

*Centro de Estudos do Movimento Humano (CEMOVH) Fábio Heitor Alves Okazaki* ** | Gerson de Oliveira Amorim*
**Instituto Compartilhar Nathalia Kopp** | Victor Hugo Alves Okazaki*
(Brasil) vhaokazaki@gmail.com

Resumo
O objetivo do estudo foi analisar o efeito da prática sobre as características cinemáticas do fundamento toque no voleibol. Três crianças
(idade 8 ± 0,1 anos; estatura 1,34 ± 0,1 m; peso 35,2 ± 3,2 kg), sem experiência com o voleibol, foram analisadas cinematicamente (2D,
plano coronal), antes e depois de um período de prática de seis meses, realizando o toque no voleibol. O período de prática não foi suficiente
para estabelecer uma simetria no perfil do deslocamento angular entre o membro direito e esquerdo. A posição inicial dos membros não
demonstrou ser o fator mais importante no desempenho do toque, mas sim os instantes próximos e durante o contato da mão com a bola. As
articulações distais pareceram ter maior influência sobre o desempenho do toque e apresentaram maiores alterações em função da prática. O
controle através de sinergia e a restrição numa das articulações (para a redução na demanda de controle) foram propostos para explicar o
comportamento ímpar entre os membros esquerdo e direito. O desempenho do fundamento toque pode ser eficaz mesmo sem a presença de
um perfil simétrico no comportamento das articulações entre os membros superiores homólogos.
Unitermos: Coordenação e controle motor. Fundamento toque. Voleibol

Abstract
This study aimed to analyze the effect of practice over the kinematic characteristics of the volleyball pass motor ability. Three children
(age 8 ± 0,1 years; height 1,34 ± 0,1 m; weight 35,2 ± 14,9kg), without experience with the volleyball, were cinematically analyzed (2D,
coronal plane), performing the volleyball pass, before and after a six month period of practice. Practice period did not show to be enough to
establish symmetry between the left and right limbs. Limbs’ initial position did not seem to be the most important factor in pass performance,
but the instants around the and during the approach of the hand with the ball. Distal joints seemed to have more influence over the pass
performance and showed greater changes with practice. Control through synergy and the constraint of one joint (to reduce control demand)
were proposed to explain the unique behavior between the right and left limbs. Pass performance may be effective even without the presence
of a symmetric profile in the joints behavior between homologous upper limbs.
Keywords: Coordination and motor control. Volleyball pass. Volleyball
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 134 - Julio de 2009

1/1

Introdução

O voleibol é um dos esportes mais praticados no mundo (SCHULTZ, 1999; BOJIKIAN,


1999). Entre os fundamentos técnicos do jogo o toque é uma das técnicas mais utilizadas
(OKAZAKI et al., 2005a; EJEM e JHONSON, 1983) e que caracteriza a função do
levantador. O desempenho de um bom levantamento, realizado através do fundamento
toque, é imprescindível para proporcionar uma melhor condição para o sucesso das ações
de ataque (DÜRRWÄCHTER, 1997; BAACKE et al., 1994). Entretanto, poucos estudos
analisaram o desempenho deste fundamento técnico no voleibol.

Em geral, apenas análises subjetivas e descrições globais do movimento são encontradas na literatura
(DÜRRWÄCHTER, 1997; BAACKE et al., 1994; EJEM e JHONSON, 1983). Aspectos quantitativos que detalhem o
desempenho do movimento têm sido pouco explorados. A análise quantitativa do fundamento toque pode
proporcionar um melhor entendimento das estratégias utilizadas na coordenação e no controle do movimento
através da identificação de variáveis que determinam seu desempenho (TEMPRADO et al., 1997).

Outro fator importante é conhecer a forma como o movimento é coordenado durante o processo de
aprendizagem. Temprado e colaboradores (1997) demonstraram que jogadores novatos tendem a desempenhar o
saque por cima através de uma seqüência de movimento em fase. Isto permite aos jogadores novatos uma
diminuição na demanda de controle da habilidade, uma vez que os segmentos são controlados em conjunto
simultaneamente (OKAZAKI & RODACKI, 2005; TEMPRADO, 1997). Por outro, os jogadores de voleibol
experientes tendem a realizar um movimento anti-fase (TEMPRADO et al., 1997), permitindo maior proveito na
transferência de energia das entre as articulações para maximizar a performance (OKAZAKI et al., 2005;
ANDERSON & SIDAWAY, 1994; PUTNAN, 1993). Contudo, Temprado e colaboradores (1997) não analisaram as
alterações da aprendizagem dos jogadores de forma longitudinal. Desta forma, as alterações na coordenação do
movimento, em função da aprendizagem, ainda não são conhecidas.

http://www.efdeportes.com/efd134/fundamento-toque-na-iniciacao-do-voleibol.htm 09/08/2009
Efeito da prática sobre as características cinemáticas do fundamento toque na inicia... Página 2 de 10

Sendo a análise quantitativa do desempenho e da aprendizagem um aspecto promissor para otimização no


processo ensino-aprendizagem e no treinamento, este estudo objetivou analisar o efeito da aprendizagem sobre
as características cinemáticas do fundamento toque no voleibol.

Metodologia

Amostra

A amostra foi constituída por 3 sujeitos praticantes de voleibol (idade 8,0 ± 0,1 anos; estatura 1,34 ± 0,1 m;
peso 35,2 ± 3,2 kg) sem experiência com a prática sistemática do voleibol. Foram selecionadas crianças que não
reportaram nenhum tipo de lesão ou qualquer problema que pudesse interferir no andamento da pesquisa. Antes
do início da avaliação, todos os participantes foram informados dos procedimentos de avaliação, e os
responsáveis pelas crianças assinaram um termo de consentimento de participação livre e esclarecido.

Procedimentos experimentais

Os participantes foram analisados antes (Pré-teste) e após (Pós-teste) seis meses de um programa de prática
sistemática de voleibol (pré-teste) que foi conduzido com duas sessões semanais com uma hora de prática por
sessão. O programa foi conduzido por profissionais de Educação Física em um centro de treinamento
especializado em voleibol.

Antes do início da filmagem, um aquecimento de 15 minutos, composto por vários exercícios generalizados, foi
conduzido pelo professor das crianças. Após, foram afixados nos sujeitos marcadores do modelo biomecânico
enquanto estes foram informados dos procedimentos experimentais. Em seguida, um aquecimento específico foi
conduzido através de um o professor lançava a bola com ambas as mãos e o sujeito realizava o toque devolvendo
a bola para o professor, que se encontravam a uma distância aproximada de 4 m (figura 1). Foram realizados
aproximadamente 15 movimentos.

Após uma breve pausa (3 a 5 minutos), os participantes desempenharam um conjunto de 10 toques de


maneira similar aquela utilizada no aquecimento. Apesar da regularidade dos lançamentos do professor em
relação à criança, apenas três lançamentos em que a bola foi lançada precisamente sobre a cabeça (na direção da
testa) da criança foram selecionados para análise. Em todos os lançamentos a bola descreveu uma parábola e os
participantes não necessitaram realizar deslocamentos laterais e frontais para interceptar a bola. Três movimentos
foram agrupados em média para representar o padrão do movimento de cada sujeito. Para que a média agrupada
fosse calculada, o movimento foi normalizado em valores percentuais, ou seja, a escala de tempo absoluto
(segundos) foi transformada em porcentagem (100%). Este procedimento foi realizado através de uma função
spline, calculado através do software Biomechanics Toolbox (Manchester Metropolitan University, UK).

O início do movimento de toque foi determinado 0,33 s antes do instante de contato com a bola, e o final do
movimento 0,16 s após a bola perder contato com a mão. O fundamento do toque foi analisado a partir dos
movimentos relativos às articulações do ombro e do cotovelo dos membros esquerdo e direito. Os movimentos
destas articulações foram quantificados através de uma análise cinemática conduzida a partir de filmagem. Para
tal, foi utilizada uma filmadora (JVC Japão - 60Hz - Shutter Speed de 1/250) posicionada perpendicularmente ao
plano de movimento com o centro focal direcionado sobre a articulação do ombro. A filmadora foi posicionada a
frente do sujeito, a uma distância de 3 metros do plano de movimento. Como a habilidade do toque no voleibol
foi predominantemente desempenhado em um único plano (coronal), uma análise em 2 dimensões foi adequada.
O local de filmagem encontra-se representado na figura 1.

http://www.efdeportes.com/efd134/fundamento-toque-na-iniciacao-do-voleibol.htm 09/08/2009
Efeito da prática sobre as características cinemáticas do fundamento toque na inicia... Página 3 de 10

Figura 1. Local de filmagem

Modelo biomecânico

Para a determinação dos movimentos, uma série de marcas (15mm de diâmetro) foi aderida à pele sobre os
seguintes pontos anatômicos:

1. quadril – crista ilíaca;

2. ombro - acrômio;

3. cotovelo - epicôndilo medial do úmero;

4. punho - processo estilóide da úlna.

Este conjunto de pontos anatômicos foi utilizado para definir os segmentos do tronco (1-2), braço (2-3) e
antebraço (3-4). A junção formada por dois segmentos adjacentes forneceu os ângulos articulares do modelo
biomecânico de quatro pontos e três segmentos proposto: articulação do ombro (tronco+braço) e cotovelo
(braço+antebraço) (figura 2).

Figura 2. Modelo biomecânico

As imagens foram armazenadas em fita e posteriormente transferidas para um computador. As imagens foram
digitalizadas manualmente por um único avaliador através de um software específico de análise de movimento
(SIMI Motion ®) e um conjunto de variáveis foi obtido.

O efeito da prática do fundamento toque no voleibol foi analisado através das características cinemáticas do
deslocamento e da velocidade angulares nas articulações do ombro e do cotovelo.

http://www.efdeportes.com/efd134/fundamento-toque-na-iniciacao-do-voleibol.htm 09/08/2009
Efeito da prática sobre as características cinemáticas do fundamento toque na inicia... Página 4 de 10

Análise estatística

Os dados foram analisados a partir de estatística descritiva de médias e desvios-padrão. Como tentativa de
eliminar o efeito de ruído incluso nas análises cinemáticas, devido ao processo de coleta e de digitalização dos
dados (OKAZAKI et al., 2004a; WOOD, 1982), foi aplicado um filtro recursivo do tipo Buterworth de 4ª ordem
com uma freqüência de corte de 10Hz (OKAZAKI & RODACKI, 2005; RODACKI et al., 2005).

A raiz quadrada média do erro médio (para mais detalhes ver SIDAWAY et al., 1995) foi calculada para
representar um índice de variabilidade de movimento do deslocamento e da velocidade angular, no membro
esquerdo e direito, durante o pré-teste e o pós-teste. As análises estatísticas foram realizadas através do software
STATISTICA® (STATSOFT Inc., versão 6.0). O nível de significância adotado foi de p<0,05.

Resultados

A figura 3 apresenta o deslocamento e a velocidade angular das articulações (ombro e cotovelo) no pré-teste e
no pós-teste. O ombro esquerdo no pré-teste iniciou o movimento com menor flexão antes do contato com a
bola. Todavia, após o período de prática, perfil do deslocamento angular no ombro esquerdo apresentou valores
próximos ao do lado direito. A velocidade angular do ombro esquerdo apresentou maiores valores em instantes
próximos ao contato com a bola. Ao passo que, as velocidades angulares do ombro direito (pré-teste e pós-teste)
e do ombro esquerdo no pós-teste foram desempenhadas após o instante de toque com a bola.

A articulação do cotovelo apresentou as maiores modificações no lado direito, entre o pré-teste e o pós-teste.
No pré-teste, o cotovelo direito demonstrou menor extensão antes do toque com a bola, apesar do maior valor
verificado após o toque. Após o período de prática, o cotovelo direito tendeu a aproximar o valor de extensão
verificado entre o segmento esquerdo e direito. A velocidade angular do cotovelo após o período de aprendizagem
foi diminuída no segmento direito, enquanto no segmento esquerdo a velocidade angular permaneceu com
valores próximos.

A raiz quadrada do erro médio foi utilizada para representar o índice de variabilidade do movimento para
analisar a simetria entre os comportamentos das articulações. A prática apenas demonstrou a redução da
assimetria no comportamento da articulação do ombro. Pois, a prática aumentou a variabilidade entre os
membros homólogos no deslocamento do cotovelo e velocidades angulares do ombro e do cotovelo (tabela 1).

http://www.efdeportes.com/efd134/fundamento-toque-na-iniciacao-do-voleibol.htm 09/08/2009
Efeito da prática sobre as características cinemáticas do fundamento toque na inicia... Página 5 de 10

Figura 3. Deslocamento e velocidade angular do ombro e cotovelo

Tabela 1. Índice de variabilidade entre as articulações homólogas, em função da prática

Raiz Quadrada do Erro Médio


do Lado Esquerdo x Lado Direito

Pré-teste Pós-teste

Deslocamento Angular do Ombro 10.26 6.31

Deslocamento Angular do Cotovelo 20.94 22.26

Velocidade Angular do Ombro 65.06 80.77

Velocidade Angular do Cotovelo 20.94 170.44

O índice de variabilidade apresentado entre o pré-teste e o pós-teste foi maior no lado esquerdo do ombro e
direito do cotovelo, ambos para deslocamento e velocidade angulares (tabela 2).

http://www.efdeportes.com/efd134/fundamento-toque-na-iniciacao-do-voleibol.htm 09/08/2009
Efeito da prática sobre as características cinemáticas do fundamento toque na inicia... Página 6 de 10

Tabela 2. Índice de variabilidade de cada articulação, em função da prática

Raiz quadrada do erro médio


do Pré-teste x Pós-teste

Lado Esquerdo Lado Direito

Deslocamento Angular do Ombro 14.63 1.58

Deslocamento Angular do Cotovelo 1.31 17.74

Velocidade Angular do Ombro 113.67 13.76

Velocidade Angular do Cotovelo 18.43 120.60

O gráfico ângulo-ângulo foi utilizado para representar a relação entre as articulações adjacentes do ombro e do
cotovelo. O pré-teste demonstrou um perfil de comportamento mais recíproco entre os lados esquerdo e direito,
quando comparado ao pós-teste. Ou seja, o aumento no deslocamento angular do cotovelo foi acompanhado por
um aumento no deslocamento angular do ombro. Contudo, no pré-teste, os valores de deslocamento angular das
articulações foram muito próximos nos instantes de contato com a bola (figura 4).

Figura 4. Deslocamento angular do ombro x cotovelo

Discussão

O fundamento de toque no voleibol não apresentou simetria no perfil do deslocamento angular entre os
membros homólogos, tanto no pré-teste quanto no pós-teste. Os membros direito e esquerdo iniciaram o
movimento de toque a partir de posições não coincidentes. Todavia, nos instantes próximos ao toque da mão com
a bola, o deslocamento angular tendeu a convergir para um valor próximo (figura 3 e 4). Esta estratégia de
controle também foi verificada por Bootsma e Van Wieringen (1990). Estes autores demonstraram no tênis de
mesa que, independente da posição inicial da raquete, a rebatida da bola era convergida para uma mesma
posição de contato raquete-bola. Assim, foi sugerido que a organização dos princípios de percepção e ação

http://www.efdeportes.com/efd134/fundamento-toque-na-iniciacao-do-voleibol.htm 09/08/2009
Efeito da prática sobre as características cinemáticas do fundamento toque na inicia... Página 7 de 10

proporcionou um acoplamento espaço-temporal entre as articulações, nos instantes críticos do desempenho, para
garantir um movimento mais simétrico. Esta estratégia foi ainda mais evidente no pós-teste, em função da
prática.

O toque no voleibol apresentou os picos de velocidade angulares do ombro e do cotovelo (lados esquerdo e
direito), no pré-teste e pós-teste, ocorrendo em instantes muito próximos. Alguns estudos têm demonstrado
consistência no tempo relativo do pico da velocidade angular no salto vertical (SOEST et al., 1994) e salto de
rebote em pêndulo pliométrico (RODACKI et al., 2001) iniciados com diferentes graus de flexão de joelho. Estes
estudos sugeriram que o pico da velocidade angular invariável seria essencial para o desempenho nas tarefas de
propulsão (RODACKI et al., 2001; SOEST et al., 1994). Esta característica invariável do tempo em que os picos de
velocidade ocorreram no toque do voleibol também pareceu ser papel ímpar na organização temporal do
movimento. Contudo, diferente do que acontece no desempenho do salto vertical, os picos de velocidade no
toque ocorreram após o contato da mão com a bola. Este atraso no pico de velocidade pode ter sido utilizado
como estratégia para a manutenção da precisão no movimento (TEIXEIRA, 2000).

Alguns estudos demonstraram que o pico de velocidade angular do punho no arremesso do basquetebol
(OKAZAKI et al., 2006b; RODACKI et al., 2005), e da velocidade linear da raquete no beisebol (CALJOW et al.,
2005), não ocorrem no instante de lançamento da bola. Tais estratégias foram relacionadas ao aumento ou à
manutenção da precisão do movimento, pois a velocidade tem sido diretamente relacionada à variabilidade de
movimento (SCHMIDT et al., 1978; TEIXEIRA, 1999, 1997). Assim, um movimento com maior consistência e
precisão pode ser produzido em detrimento da velocidade no instante crítico do desempenho (OKAZAKI et al.,
2006a; TEIXEIRA, 2000; FITTS, 1954). Possivelmente, se esta estratégia de manutenção da precisão não fosse
utilizada, haveria maior variabilidade das posições lineares das mãos no contato com a bola. Contudo, mais
estudos que manipulem a precisão do movimento são necessários para firmar tais suposições.

Menor variabilidade entre as articulações homólogas foi verificada no ombro em comparação ao cotovelo, após
o período de prática. Isto sugere estratégias de controle diferenciadas entre ombro e cotovelo, em função de sua
especificidade (quanto ao número de graus de liberdade a serem controlados: dinâmica interna) e da tarefa
(quanto a demanda na amplitude do movimento: dinâmica externa). Os maiores ajustes nas articulações distais
(cotovelo) sugerem que, em tarefas de lançamento de implementos, as articulações distais possuem maior
influencia sobre o produto final do desempenho. Tais inferências estão em consonância com outros estudos que
analisaram o arremesso do basquetebol entre adultos e crianças (OKAZAKI et al., 2005), e em função do aumento
da distância (RODACKI et al., 2005).

A análise da velocidade angular do ombro e do cotovelo, entretanto, apresentou maior variabilidade após a
prática. Em geral, alguns estudos têm demonstrado que novatos tendem a congelar os graus de liberdade do
movimento para reduzir a demanda de controle no início da aprendizagem (OKAZAKI et al., 2004b; NEWELL e
VAILLANCOURT, 2001; VEREIJKEN et al., 1992). Posteriormente, com a prática, estes graus de liberdade são
liberados até que o sujeito consiga tirar proveito da energia reativa do movimento, ou seja, aproveitar as
propriedades visco-elásticas do sistema (TEMPRADO et al., 1997; SIDAWAY et al., 1995; HUDSON, 1986). A
análise do índice de variabilidade entre o lado esquerdo e direito, após a prática, sugere esta estratégia de
liberação nos graus de liberdade ao redor das articulações. Tal estratégia, ajustando os parâmetros de controle do
movimento, permitiu o aumento da simetria nos instantes próximos ao contato com a bola.

A prática de seis meses apresentou modificações ímpares no lado direito e esquerdo, nas articulações
analisadas. Maior variabilidade de movimento após a prática foi encontrada no ombro do lado esquerdo e no
cotovelo do lado direito. Existem evidências de que o controle do movimento não é realizado individualmente por
cada músculo ou articulação, mas ao invés disso, através de sinergias em forma cooperativa como uma unidade

http://www.efdeportes.com/efd134/fundamento-toque-na-iniciacao-do-voleibol.htm 09/08/2009
Efeito da prática sobre as características cinemáticas do fundamento toque na inicia... Página 8 de 10

(COSTA & VIEIRA, 2000; JARIC & LATASH, 1998; SIDAWAY et al., 1995). Por conseguinte, o sistema nervoso
controlaria a redundância/abundancia dos graus de liberdade (TURVEY, 1990; STELMACH & DIGGLES, 1982),
através da distribuição da ativação de níveis superiores do sistema nervoso para níveis inferiores, constituindo as
sinergias funcionais (ou estruturas coordenativas) (COSTA & VIEIRA, 2000; KELSO e SCHÖNER, 1988). Esta
forma de controle foi proposta para explicar esta característica diferenciada (não-linear e não-simétrica) entre as
articulações após a prática. Além disso, as alterações de apenas uma das articulações (ombro no lado esquerdo e
cotovelo no lado direito) podem permitir a redução na demanda de controle durante o desempenho no
movimento. Esta estratégia tem sido verificada em outros estudos que analisaram o saque no voleibol
(TEMPRADO et al., 1997), o chute no futebol (ANDERSON & SIDAWAY) e o arremesso no basquetebol (OKAZAKI
et al., 2005).

Conclusão

O período de seis meses de prática não foi suficiente para estabelecer uma simetria no deslocamento angular
(ombro e cotovelo) entre o membro direito e esquerdo. Contudo, modificações nos parâmetros de controle foram
verificadas nas articulações ombro e cotovelo. A posição inicial dos membros não demonstrou ser o fator mais
importante no desempenho do toque, mas sim os instantes próximos e durante o contato da mão com a bola. Foi
sugerido que a consistência no tempo relativo em que o pico de velocidade angular acontece no ombro e no
cotovelo é essencial para o desempenho do toque no voleibol. As articulações distais pareceram ter maior
influência sobre o desempenho do toque e apresentaram maiores alterações em função da prática. O controle
através de sinergia e a restrição numa das articulações (para a redução na demanda de controle) foram propostos
para explicar o comportamento ímpar entre os membros esquerdo e direito. O desempenho do toque pode ser
eficaz mesmo sem a presença de um perfil simétrico no comportamento das articulações entre os membros
homólogos superiores.

Para futuros estudos, recomenda-se a análise do fundamento toque no voleibol em função de variáveis como:
o nível de experiência dos jogadores, a distância do lançamento, bolas com diferentes pesos e tamanhos, etc.
Também é aconselhada a análise tridimensional e que contemple os membros inferiores.

Referências bibliográficas

 ANDERSON, D.I. e SIDAWAY, B. (1994). Coordination Changes Associated With Practice of a Soccer Kick.
Research Quarterly for Exercise and Sport, 65(02), 93-99.

 BAACKE, H.; ZHU, J.; NEVILLE, W.; ENGLISH, M.; JINOCH, J.; EJEM, M.; SAITO, M.; VANEK, M.;
CHEREBETIU, G.; FRÖHNER, B.; ZIMMERMANN, B. (1994). FIVB Textbook Coaches Course Level II.
Lausanne: Feration Internationale de Volleyball.

 BOJIKIAN, J. C. M. (1999). Ensinando Voleibol. Guarulhos – SP: Phorte.

 BOOTSMA, R.J. e VAN WIERINGEN, P.C.W. (1990). Timing an Attacking Forehand Drive in Table Tennis.
Journal of Experimental Psychology: Human Perception and Performance, 16, 21-29.

 CALJOUW, S.R.; KAMP, J.V.D.; SAVELSBERGH, G.J.P. (2005). Bi-phasic hitting with constraints on impact
velocity and temporal precision. Human Movement Studies, 24, 206-217.

 COSTA, P.H.L. e VIEIRA, M.F. (2000). Revisando Bernstein: Uma Linguagem para o Estudo da
Coordenação de Movimentos. Revista Brasileira de Biomecânica, 01, 55-63.

http://www.efdeportes.com/efd134/fundamento-toque-na-iniciacao-do-voleibol.htm 09/08/2009
Efeito da prática sobre as características cinemáticas do fundamento toque na inicia... Página 9 de 10

 DÜRRWÄCHTER, G. (1997). Voleibol Treinar Jogando. São Paulo – SP. Livro Técnico.

 FITTS, P.M. (2000). The Information Capacity of the Human Motor System in Controlling the Amplitude of
Movement. Journal of Experimental Psychology, 47(6), 381-391.

 EJEM, M.; BUCHTEL, J.; JOHNSON, K. M. (1983). Contemporary Volleyball. Volleyball One.

 HUDSON, J.L. (1986). Co-Ordination of Segments in Vertical Jump. Medicine in Science in Sport and
Exercise, 18, 242-251.

 JARIC, S. e LATASH, M L. (1998). Learning a Motor Task Involving Obstacles By a Multi-Joint, Redundant
Limb: Two Synergies Within One Movement. Journal of Electromyographyand Kinesiology, 08, 169-176.

 KELSO, J.A.S. & SCHÖNER, G. (1988). Self-Organization of Coordinative Movement Patterns. Human
Movement Science, 07, 27-46.

 NEWELL, K.M. e VAILLANCOURT, D.E. (2001). Dimensional Change in Motor Learning. Human Movement
Science, 20, 695-715.

 OKAZAKI, F.H.A.; CAÇOLA, P.M.; OKAZAKI, V.H.A.; COELHO, R.W. (2005a). Metodologias de Ensino
Sintética e Analítica Aplicada aos Fundamentos Técnicos do Toque e Saque no Voleibol. In.: I Congresso
Internacional de Pedagogia do Esporte, Maringá – PR.

 OKAZAKI, V.H.A. & RODACKI, A.L.F. (2005). Changes in Basketball Shooting Coordination in Children
Performing With Diferent Balls. Fédération Internationale D'éducation Physique, 75(02), 368-371.

 OKAZAKI, V.H.A.; OLIVEIRA, G.O.; FERREIRA JÚNIOR, R.; RODACKI, A.L.F. (2006a). Coordenação do
Arremesso de Jump no Basquetebol de Crianças. Fédération Internationale D'éducation Physique, 76(02),
523-526.

 OKAZAKI, V.H.A.; RODACKI, A.L.F.; OKAZAKI, F.H.A. (2006b). O Efeito do Aumento da Distância na
Coordenação do Arremesso de Jump no Basquetebol e a Relação Velocidade-Precisão. Lecturas: Educación
Física y Deportes, 11(97).

 OKAZAKI, V.H.A.; RODACKI, A.L.F.; DEZAN, V.H.; SARRAF, T.A. (2005). Coordenação do Arremesso de
Jump no Basquetebol de Crianças e Adultos. Revista Brasileira de Biomecânica, in press.

 OKAZAKI, V. H. A.; RODACKI, A. L. F.; OKAZAKI, F. H. A. (2004a). O Efeito da Freqüência da Amostragem


e da Intensidade do Filtro na Análise Cinemática. In: XVI Simpósio de Educação Física e Desportos do Sul
do Brasil. Ponta-Grossa - PR, 127-133.

 OKAZAKI, V. H. A.; RODACKI, A. L. F.; OKAZAKI, F. H. A. Coordenação Motora: Conceitos Gerais. (2004-b).
In: XVI Simpósio de Educação Física e Desportos do Sul do Brasil, Ponta-Grossa -PR, p. 121-126.

 PUTNAN, C.A. (1993). Sequential motions of Body Segments in Striking and Throwing Skills: Descriptions
and Explanations. Journal of Biomechanics, 26(1), 125-135.

 RODACKI, A.LF.; OKAZAKI, V.H.A.; SARRAF, T.A.; DEZAN, V.H. (2005). O Efeito da Distância Sobre a
Coordenação do Arremesso de Jump no Basquetebol. In: XI Congresso Brasileiro de Biomecânica, João
Pessoa – PB.

http://www.efdeportes.com/efd134/fundamento-toque-na-iniciacao-do-voleibol.htm 09/08/2009
Efeito da prática sobre as características cinemáticas do fundamento toque na inic... Página 10 de 10

 RODACKI, A.L.F.; FOWLER, N.E.; BENNET, S. (2001). The Effect of Postural Variations in Movement Co-
Ordination During Plyometric Rebound Exercises. Journal of Applied Biomechanics, 17, 14-27.

 Schmidt, R.A.; Zelaznik, H.N.; Frank, J.S. (1978). Sources of Inaccuracy in Rapid Movement. In: G.E.
Stelmach (Ed.), Information Processing in Motor Control and Learning. New York, Academic Press, p.183-
203.

 SCHULTZ, L.K. Volleyball. Physical Medicine Rehabilitation Clinic North American, 10(01), 19-34, 1999.

 SIDAWAY, B.; HEISE, G.; SCHOENFELDER-ZOHDI, B. (1995). Quantifying the Variability of Angle-Angle
Plots. Journal of Human Movement Studies, 29, 181-197.

 SOEST, A.J.; BOBBERT, M.F.; VAN INGEN SCHENAU, G.J. (1994). A Control Strategy for the Execution of
Explosive Movements From Varying Starting Positions. Journal of Neurophysiology, 71(04), 1390-1402.

 STELMACH, G.E. & DIGGGLES, V. (1982). Control Theories in Motor Behavior. Acta Psychologica, 50, 83-
105.

 TEIXEIRA, L.A. (2000). Sobre a Generalidade de Estratégias de Controle Sensório Motor. Revista Paulista
de Educação Física, 03, 89-96.

 TEIXEIRA, L.A. (1999). Kinematics of Kicking as a Function of Different Sources of Constraint on Accurancy.
Perceptuals and Motor Skills, 88, 785-789.

 TEIXEIRA, L.A. (1997). Coordenação Intersegmentar em Arremessos com Diferentes Demandas de


Precisão. Revista Paulista de Educação Física, 11(01), 5-14.

 TEMPRADO, J.; DELLA-GRASTA, M.; FARREL, M.; LAURENT, M. (1997). A Novice-Expert Comparison of
(Intra-Limb) Coordination Subserving the Volleyball Serve. Human Movement Science, 16, 653-676.

 TURVEY, M.T. (1990). Coordination. American Psychologist, 45(08), 938-953.

 VEREIJKEN, B; VAN EMMERIK, R.E.A.; WHITING, H.T.A.; NEWELL, K.M. (1992). Free(z)ing Degrees of
Freedom in Skil Acquisition. Journal of Motor Behavior, 24(01), 133-142.

 Wood, G. A. (1982). Data Smoothing and Differentiation Procedures in Biomechanics. Exercise and Sport
Science Review. 10, 308-362.

Outros artigos em Portugués

Recomienda este sitio

Buscar

revista digital · Año 14 · N° 134 | Buenos Aires, Julio de 2009


© 1997-2009 Derechos reservados

http://www.efdeportes.com/efd134/fundamento-toque-na-iniciacao-do-voleibol.htm 09/08/2009

Você também pode gostar