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28 de março de 2023

Carta aberta a S. Exa. Reverendíssima Senhor D. Manuel Linda, Bispo do Porto


Na sequência do Relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais
de Crianças na Igreja Católica Portuguesa – Comissão criada pela Conferência Episcopal
Portuguesa – temos vivido, como fiéis e como filhos da própria Igreja, preocupados e
vigilantes, na ânsia de orientações e decisões do Bispo da nossa Diocese.
Preocupam-nos, acima de tudo, as vítimas de abusos – as crianças e demais frágeis: o seu
passado doloroso, o respeito pela sua dor presente e o acolhimento que lhes é devido. E
queremos que saibam que existe uma Igreja disponível e preocupada com sua dor – e
está aqui.
Preocupam-nos, também, todos os membros da Igreja, em especial os sacerdotes,
porque sabemos (conhecemos bem!) como são maioritariamente portadores da verdade,
da justiça e da bondade de Cristo.
Preocupa-nos, ainda, o Bem da Igreja: a urgência da purificação a que todos somos
chamados e a certeza de que a Igreja, designadamente na nossa Diocese do Porto, deve
ser portadora firme e segura dessa predisposição.
Temos rezado pelas vítimas, pelos sacerdotes, pelo nosso Bispo. Pedimos, em concreto,
que ao nosso Bispo lhe assista, nas decisões que lhe cabe tomar, o discernimento e o
critério do próprio Cristo.
Nas limitadas circunstâncias que são as nossas – de comuns, mas empenhados fiéis da
Diocese do Porto – filial e lealmente fizemos questão de estar próximos do nosso Bispo
nestas longas e dolorosas semanas.
Conhecemos as orientações da Santa Sé. Soubemos das conclusões e dos alegados
suspeitos de abuso no seio da Diocese do Porto. Tomámos conhecimento do afastamento
cautelar de 3 sacerdotes. E, na semana passada, ficámos a saber que o nosso Bispo optou
por remeter ao Vaticano e ao Ministério Público 4 processos a respeito de outros
sacerdotes, sem tomar qualquer decisão cautelar no plano pastoral (seja em que sentido
for) e sem partilha de qualquer fundamentação.
Interpretamos este momento em absoluta urgência e, sobretudo, como um grito de
clareza e transparência dirigido ao nosso Bispo. Não podemos calar a nossa dor e
comunhão com o sofrimento das vítimas dos abusos sexuais. E não podemos calar,
também, o desconforto pelos sinais que não confirmam a sintonia, nem com a urgência,
nem com o consolo da clareza.
Com a mesma lealdade filial com que, pessoalmente, nos dirigimos ao nosso Bispo no
decurso destas longas semanas, sentimos agora a necessidade de dar nota pública de
como não nos animam as não decisões, a falta de sentido de urgência e de clareza.
Pelas vítimas, pela Igreja, pelos seus sacerdotes e fiéis, exortamos V. Exa. Reverendíssima
a retomar a firmeza do caminho de purificação que, com justiça, se impõe.
PS. Somos um grupo de leigos, empenhados, sem organização formal, constituído em
comunhão de fé, residentes no Diocese do Porto e que, em unidade com o seu Bispo e
com o Papa, se sentem genuinamente preocupados com o tema dos abusos sexuais de
crianças e frágeis no seio da Igreja.
Contacto: leigosdioceseporto@gmail.com

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