Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Os que chamamos de acordistas são as comunidades, os padres e os fieis que, inicialmente, decidiram
defender a Tradição, mas depois das Sagrações de 1988 e da “excomunhão” fulminada contra Dom
Marcel Lefebvre, Dom Antônio de Castro Mayer e os quatro bispos sagrados, decidiram pôr-se sob a
dependência efetiva da hierarquia atual, conservando a liturgia tradicional. Eles, portanto, fizeram um
Por extensão, o vocábulo de “acordistas” designa as comunidades, os padres e fieis que conservam a
liturgia tradicional, mas aceitam os principais erros conciliares, assim como a plena validade e
legitimidade da missa nova de Paulo VI e dos sacramentos promulgados e editados por esse Papa.
“Dom Gérard, em sua declaração, baseia-se nas concessões que lhe fizeram e aceita pôr-se sob a
“Eles nos traem. Dão a mão agora àqueles que demolem a Igreja, aos liberais, aos modernistas” 2.
erros conciliares (nocividade da Missa Nova, do Novo Código de Direito Canônico, do diálogo inter-
“Eles dizem que não abandonaram nada, mas é falso. Deixaram para trás a possibilidade de contrariar
Roma. Não podem dizer mais nada. Devem calar-se por causa dos favores que lhes foram acordados. Para
reserva a legitimidade e a validade do rito da missa nova, defendendo a doutrina da liberdade religiosa,
como fez o Pe. Basile, do Mosteiro do Barroux, que a advogou numa obra em seis volumes; legitimando
a reunião de Assis e o diálogo inter-religioso, como o fez o superior da Fraternidade São Pedro,
aceitando serem regidos pelo Novo Código de Direito Canônico; não recusando as reformas recentes dos
papas sobre a anulação de casamentos; aceitando a canonização de João Paulo II, que pôs em prática as
reformas conciliares, ou concelebrando a missa nova como Dom Gérard (+), Mons. Gilles Wach ou
“Eles mudaram de ideia devagarinho e terminaram por admitir as ideias falsas do Concílio porque Roma
fez alguns favores para eles e para a Tradição. É uma situação muito perigosa” 5 .
6) Em que os acordistas condenaram a Tradição e seus defensores?
Os acordistas condenaram a Tradição de três maneiras: primeiro, defendendo posições contrárias a essa
Tradição; segundo, servindo de isca para atrair os verdadeiros fieis da Tradição a uma posição de
serem excomungados e cismáticos 6. Vários casamentos celebrados na FSSPX foram anulados por falta de
“As concessões acordadas tinham a única finalidade de que todos os que aderem ou são ligados à FSSPX se
elas se apresentam oficialmente como tradicionais, apesar de não o serem de fato e enganarem assim seus
fieis e a Tradição.
Só Deus julga as intenções dos corações e há certamente muitos padres zelosos e piedosos nessas
comunidades. Mas, aderindo a essas comunidades, eles assumem a responsabilidade das posições doutrinais
Os acordistas defendem a missa de sempre, mas a defendem mal, pois para a defender bem, é preciso:
primeiro, celebrá-la e honrá-la – o que eles fazem; segundo, recusar e denunciar a missa nova que se
opõe à missa de sempre – o que não fazem; terceiro, unir a missa tradicional à plena e completa doutrina
Enfim “a questão da liturgia e dos sacramentos é muito importante, mas não é a mais importante. A mais
“Roma agora parece acessível à [idéia de] permitir que se diga a missa antiga, a missa católica e por
conseguinte não deveria mais haver problema para nós. Mas é aí que entraríamos em contradição,
porque ao mesmo tempo que Roma dá, por exemplo, à Fraternidade São Pedro (...) a autorização de
dizer a missa de sempre, ao mesmo tempo, fazem-na assinar uma profissão de fé em que se inscreve o
Concílio, em que é preciso admitir o espírito do Concílio (...) Como querer agora a missa de sempre,
aceitando o espírito que destrói essa missa de sempre? É uma contradição completa” 11.
pertencer à Igreja visível13, a possibilidade de trabalhar melhor pela Tradição no interior da Igreja
A mão estendida de Roma não era oferecida pelo bem real da Tradição na Igreja, mas para conduzir
“Refletindo bem, parece-nos claramente que o fim dos colóquios e da reconciliação é reintegrar-nos na
Igreja conciliar, a única Igreja a que os senhores faziam menção nos catecismos. Pensávamos que os
“O que Roma concede atualmente em favor da Tradição é um gesto puramente político, diplomático, para
Todo católico é obrigado a obedecer às leis e autoridades legítimas da Igreja precisamente enquanto essas
Em contrário, todo católico é obrigado a se opor a leis e a ordens ilegítimas mesmo prescritas por
autoridades legítimas. Ora, a FSSPX não põe em questão a legitimidade das autoridades eclesiásticas, mas
recusa a legitimidade das leis e das ordens de inspiração conciliar, como o conjunto (não a integralidade)
“Há aqueles que se afligem muito ao pensar que devemos nos opor a Roma. Eles não estão de acordo com
isso. É que eles não viram verdadeiramente o problema da invasão liberal em Roma (...) Talvez tenham
apenas uma fé sentimental, esses que hesitam. Não têm o senso doutrinal do Magistério, da Igreja de
sempre, da Tradição, da fé católica. Dizem: ‘Não estamos de acordo de jeito nenhum [com as novidades],
mas não podemos nos separar do papa. Preferimos uma união legal, canônica, regular com as autoridades
eclesiásticas. Não podemos permanecer assim indefinidamente separados das autoridades romanas e dos
bispos. Não é possível. Mas os senhores verão, guardaremos a Tradição. Faremos isso, faremos aquilo.
Não vamos nos deixar levar’. Todos os que se separaram de nós e disseram isso, falharam. Não podiam
12) A Fraternidade São Pio X e as comunidades amigas estão fora da Igreja visível ?
“Essa história de Igreja visível de Dom Gérad e de J. Madiran é pueril. É incrível que se possa falar de Igreja
visível para a Igreja conciliar em oposição à Igreja Católica que tentamos representar e continuar” 16.Onde está a
Igreja visível? A Igreja visível se reconhece pelos sinais que sempre deu de sua visibilidade: ela é una, santa,
católica e apostólica (...) onde estão as verdadeiras marcas da Igreja? Estão na Igreja oficial (trata-se de Igreja
oficial e não da visível) ou conosco, com o que representamos, com o que somos?“Se há ainda uma visibilidade
da Igreja de hoje, é graças aos senhores. Esses sinais não se acham nas outras. Não há mais unidade de fé, ora, é a
tempo e a santidade é o fruto da fé, que se concretiza nas almas pela graça do bom Deus, pela graça dos
sacramentos.“É totalmente falso não nos considerar parte da Igreja visível (…) é enganar-se confundindo Igreja
13) É verdade que é mais fácil de trabalhar pela Tradição desde o interior da Igreja?
Não é verdade; primeiro, porque os tradicionalistas não estão fora da Igreja; segundo, porque a defesa da
Tradição supõe precaver-se contra o contágio conciliar modernista; terceiro porque a profissão da fé supõe
uma distinção clara das posições que uma colaboração oficial diminuiria.
“Não estaria (...) no plano da Providência, que a Tradição católica da Igreja não estivesse integrada ao
pluralismo da Igreja conciliar, enquanto a Igreja conciliar manchar a honra da Igreja Católica e lhe ofuscar a
unidade e a visibilidade?” 18
“São coisas fáceis de dizer. Colocar-se no interior da Igreja… que quer dizer isso? E antes, de que Igreja se
fala? Se é da Igreja Conciliar, seria preciso que nós, que lutamos contra ela por vinte anos porque queremos a
Igreja Católica, ingressássemos nessa Igreja conciliar para, por assim dizer, torná-la católica. É uma ilusão
total” 19.
“A renovação só pode agora se realizar por bispos livres para fazer reviver a fé e a virtude cristã pelos meios
que Nosso Senhor confiou a Sua Igreja para a santificação dos padres e dos fiéis. Só um ambiente
inteiramente desprendido dos erros modernos e dos costumes modernos pode permitir essa renovação. Esse
ambiente é o ambiente que o Cardeal Gagnon e o Mons. Perl visitaram, ambiente formado por famílias
profundamente cristãs, que têm muitos filhos, e de onde provêm numerosas e excelentes vocações » 20.
30 de junho de 1988 não contêm essa vontade. As sagrações manifestam, ao contrário, a fidelidade
da FSSPX à Sé apostólica apesar de seus desvios de poder. Uma das maiores marcas da fidelidade
ao papa não consiste em segui-lo nos seus erros por uma falsa obediência mas a afastá-lo deles o
quanto possível.
“Haveria perigo de cisma se os bispos sagrados por Mons. Lefebvre se constituíssem chefes de igrejas
autônomas (ou autocéfalas, como o dizem os ortodoxos” 21. O que não é o caso aqui.
No entanto, esse perigo é bem menor do que o de assimilar os erros conciliares inoculados pelas
autoridades eclesiásticas.
“Para nós, é absolutamente necessário convencer os fieis (...) de que é um perigo colocar-se nas mãos
dos bispos conciliares e da Roma modernista. É o maior perigo que os ameaça. Se lutamos durante 20
anos para evitar os erros conciliares, não é para nos colocarmos agora nas mãos dos que os professam”
22.
“Parece-me oportuno analisar a ação do demônio para enfraquecer ou reduzir a nada a nossa obra. A
primeira tentação é manter boas relações com o papa ou os bispos atuais. Evidentemente é mais
normal estar em harmonia com as autoridades que estar em conflito com elas.
A Fraternidade será então acusada de exagerar os erros do Concílio Vaticano II, de criticar
abusivamente os escritos e os atos do papa e dos bispos, de se apegar com rigidez excessiva aos ritos
cisma. Uma vez mencionada a palavra cisma, servir-se-ão dela como de um espantalho para amedrontar
os seminaristas e suas famílias, conduzindo-os a abandonar a Fraternidade tanto mais facilmente quanto
os padres, os bispos e Roma mesma finjam oferecer garantias em favor de uma certa Tradição” 23.
A posição dos acordistas conduz ao cisma. Pois o cisma consiste não apenas na recusa ao primado do
Papa, mas também na recusa da Tradição. Ora, participar na demolição da Tradição é participar duma
atitude cismática.
“Essa Igreja conciliar é uma igreja cismática, porque ela rompe com a Igreja Católica de sempre. Essa
Igreja conciliar é cismática porque ela assumiu como base de seu aggiornamento princípios contrários
aos da Igreja Católica. A Igreja que afirma erros tão grandes é, a um só tempo, cismática e herética.
“Na medida em que o papa se afastasse dessa tradição, ele se tornaria cismático, romperia com a
Igreja (...) Todos os que cooperam na instauração dessa bagunça aceitam e aderem a essa nova igreja
(para os sacramentos que requeiram o sacerdócio do ministro). Ora, pode-se haver dúvida sobre o
sacerdócio de padres acordistas ordenados por bispos cuja sagração seja ela mesma duvidosa em razão
Quanto às crismas dadas nas comunidades acordistas, a dúvida da validade é mais forte no que se refere
à matéria utilizada para o Santo Crisma. Se o óleo não é o de oliva, como é hoje autorizado e praticado,
há uma dúvida.
“Todos esses seminaristas que estão aqui presentes, se amanhã o Bom Deus me chamar, e será sem
dúvida logo, e então, esses seminaristas de quem receberão o sacramento da Ordem? Dos bispos
conciliares, cujos sacramentos são todos duvidosos, porque não se sabe exatamente quais são suas
Não, não podemos; primeiro, porque a assistência à missa é uma profissão pública de fé e porque essa profissão
está alterada pelos acordistas; segundo, porque a assistência à missa deles leva a uma relativização das
“Eles dizem também: a missa é boa, [por isso] vamos lá. Sim, há a missa. Ela é boa, mas também há o sermão,
o ambiente, as conversas, os contatos antes e depois da missa, que fazem devagarinho com que mudemos
nossas idéias. Trata-se de um perigo, portanto, e é por isso que, de modo geral, estimo que isso constituiu um
voltou a haver a missa de sempre. Eles se encontram num clima de ambiguidade que, no meu
pensamento, é perigoso. A partir do momento em que nos encontrarmos naquele ambiente submisso
19) Qual deve ser nossa atitude com relação aos acordistas?
“Dom Gérard queria ao mesmo tempo guardar a amizade e o apoio dos tradicionalistas, o que é inconcebível.
“Não teremos mais nenhuma relação com o Barroux, e nós advertiremos todos os fiéis para que deixem de
apoiar uma obra que agora está nas mãos dos nossos inimigos, inimigos de Nosso Senhor e de seu Reino
universal” 29.
“Está claro que não podemos mais ter relações com todos os que nos abandonam ou que nos abandonaram
por sedevacantismo ou porque querem estar submissos à hierarquia atual da Igreja esperando guardar a
Tradição. Não é possível. Dizemos que não é possível estar submisso à autoridade eclesiástica e guardar a
Tradição. Eles afirmam o contrário. É enganar os fieis.(...) nós queremos ser absolutamente indenes desse
compromisso tanto com os sedevacantistas quanto com os que querem estar submissos à autoridade
eclesiástica” 30.
“Ter contatos com eles para conduzi-los à Tradição, para convertê-los, é o bom ecumenismo. Mas agir como
se estivéssemos errados, como se, depois de tudo falaríamos normalmente com eles, isso não é possível” 31.
“O pacto de aliança estava em vigor há 15 anos. Bastava renová-lo no dia 30 de junho em unanimidade
doutrinal e prudencial: era indispensável para continuar o combate por Cristo Rei (...) Aquele [Dom
Gérard] que rompeu a aliança sagrada clama agora por uma aliança nova” 32.
“Eu acredito que o que contribuiu para a perda de Dom Gérard foi sua preocupação de ‘se abrir a todos
os que não estão conosco e que podem assim tirar proveito da liturgia tradicional’. Queremos tentar,
dizia ele, não ter mais essa atitude crítica, estéril, negativa. Nós vamos nos esforçar para abrir nossas
portas a todos os que eventualmente não tenham as nossas ideias, mas que amam a liturgia, a fim de os
fazer aproveitar também dos bens da vida monástica. Desde essa época me inquietei com o que
considerava uma operação muito perigosa. Era a abertura da Igreja ao mundo e bem se constatou que foi
o mundo que converteu a Igreja. Dom Gérard se deixou contaminar por esse ambiente que recebeu no
“De jeito nenhum (...) Não é com alegria de coração que temos dificuldades com Roma. Não é por
prazer que lutamos. Nós o fazemos por princípios, para guardar a fé católica. E eles estavam de
combate para se aliar aos demolidores sob pretexto de que lhes dão alguns privilégios. É
inadmissível. Na prática eles abandonaram o combate da fé. Não podem mais atacar Roma” 34.
Notas:
1.Mons Lefebvre, carta de 18/08/1988 ao padre Tomás de Aquino
3.Para mais informações, podemos nos reportar ao Combat de la foi nº 176, "Eccesia Dei? Danger!", março de 2016 e ao último capítu
6.Na sua carta ao papa de 08/07/1988, Dom Gérard solicitava para seus monges "a graça de terem levantadas todas as censuras e
irregularidades que se tenha podido incorrer do fato de que a maior parte de nossos padres foram ordenados por Dom Lefebvre, então
suspenso" Fideliter nº 67 jan/fev 1989, p.10 "É uma razão suplementar para não aceitar um cisma e eu o disse publicamente desde as p
ameaças feitas em Ecône, já há um ano" (R.P Bruno de Blignières, Famille chrétienne, 21/07/1988).
7.OBS: Falamos da Roma modernista e não da saudável submissão à Roma de São Pedro.
9.Sob a dependência da comissão romana fundada pelo Motu Próprio de mesmo nome condenando as Sagrações Episcopais de 1988.
11.Dom Lefebvre, sermão por ocasião dos 20 anos da FSSPX, Fideliter nº 76, jul/ago 1990, p. 11.
12.“Todas as coisas estando iguais, isto é, a fé e os sacramentos estando salvos, é melhor estar em acordo com as leis da Igreja do que
13.“É prejudicial que a Tradição mesma da Igreja seja relegada para fora de seu perímetro oficial visível. (...) A visibilidade da Igreja
suas características essenciais" Declaração de Dom Gérard, Fideliter nº 65 set/out 1988, p. 18.