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XVII COBREAP – CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA DE

AVALIAÇÕES E PERÍCIAS – IBAPE/SC - 2013

NATUREZA DO TRABALHO: PERÍCIAS

PERÍCIAS RELACIONADAS A INCÊNDIOS

Resumo
Trata-se da análise e constatação, por meio de diversos casos, de problemas nas edificações
oriundos de incêndios. A análise pericial abrange o estudo e impacto das chamas na estrutura e a
verificação das patologias que aparecem nessas situações. Serão apresentados alguns casos que
servem como parâmetro para estudo, com demonstração das patologias identificadas.

PALAVRAS CHAVE: Incêndio – Concreto – Danos Estruturais


INTRODUÇÃO

O objetivo do presente trabalho é apresentar um roteiro de atividades e


observações que devem ser desenvolvidas na análise de uma edificação que sofreu
um incêndio, para verificar sua situação de estabilidade e identificar os impactos que
o incêndio ocorrido possam ter provocado na sua estrutura, eventualmente afetando
sua estabilidade, ainda que de forma localizada, e propor as providências de caráter
técnico necessárias para resolver a situação da edificação.
Essa preocupação na análise do impacto do incêndio na edificação nasceu de
vários casos ocorridos nos quais houve necessidade de vistorias apuradas para
verificação da extensão dos danos ocorridos. Muitas dessas situações levam a
processos judiciais para determinação dos fatos e responsabilidades.

DA ANÁLISE TÉCNICA

Quando ocorre um incêndio numa edificação a preocupação principal com a


mesma é a garantia de que sua estabilidade esteja preservada. Nesses casos, sabe-
se que a temperatura interna depende da duração do incêndio. Assim, é importante
se obter a informação de quando iniciou a ignição e quando houve a extinção do
fogo em cada um dos locais onde ele ocorreu, pois o fogo se alastra, e seu combate
não é necessariamente simultâneo, o que faz com que partes da estrutura fiquem
expostas a altas temperaturas por períodos diferentes de outras, função de seu
tempo efetivo de exposição ao fogo.
Assim, as informações iniciais ao se fazer a análise são:
 Tempo de duração do fogo a que ficou submetida cada uma das partes da
estrutura.
 Se havia revestimento (argamassa ou outro tipo de acabamento ou forro)
protegendo a estrutura.

Na análise de casos de incêndio é importante ter o conhecimento de que o


mesmo só ocorre por meio da combinação de três fatores distintos: combustível
mais comburente e fonte de calor, que deflagram todo o processo.
Verificando-se o tempo de incêndio e da exposição às chamas, pode-se
considerar a que temperaturas a edificação fica submetida e assim realizar uma
análise mais apurada pelo gráfico das curvas de temperatura x tempo.

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Figura 1: Curvas temperatura-tempo padronizadas pelas principais normas internacionais

DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO

Sabe-se que as estruturas de concreto são bastante resistentes ao fogo tendo


em vista as características térmicas do material, que tem baixa condutividade
térmica e é praticamente incombustível, não exalando gases tóxicos ao ser
aquecido.
No entanto, o aumento da temperatura nos elementos de concreto causa
redução de sua resistência e de seu módulo de elasticidade, levando a uma redução
da rigidez da estrutura.
Outro ponto importante a ser observado é que o concreto é composto de brita
e areia (materiais inertes), colados por uma pasta à base de cimento, que é o
aglutinante. O concreto armado tem também, ferragem adicionada ao conjunto, que
participa dos elementos resistentes aos esforços oriundos dos carregamentos.
A heterogeneidade dos materiais constituintes do concreto armado (pasta,
agregados e aço) quando submetida a altas temperaturas, leva a uma degradação
progressiva do material, que pode, em alguns casos, levar a estrutura à ruína.
A desagregação do concreto pode ser antecipada dependendo das
características da própria pasta, como o teor de umidade e as adições para melhorar
a resistência. Outro fato importante de se observar é que a utilização de concretos
com resistências cada vez maiores (mais modernamente) conduz a
dimensionamentos de peças estruturais cada vez mais esbeltas.
A reação usual do concreto exposto a altas temperaturas é o pipocamento
(“pop out”) e o lascamento (“spalling”), levando posteriormente à expulsão do
cobrimento por dilatação térmica do aço, expondo as armaduras à ação direta do
fogo. Isto pode ser extremamente nocivo ao funcionamento estrutural.

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O EFEITO DA TEMPERATURA SOBRE O CONCRETO

Para um entendimento mais simples dos fenômenos que ocorrem em


situações de incêndio, é preciso entender que (para não especialistas), o concreto é
um conjunto de materiais inertes (brita e areia) ligados por um aglutinante, que é o
cimento (que “cola” esses materiais inertes), transformando o conjunto num material
monolítico.
Isto se dá quando a água, que é o catalisador da reação de aglutinamento,
entra na mistura dos materiais.
Com a exposição do concreto a temperaturas acima dos 100º C, a água livre
evapora.
Esta evaporação se dá tanto com a água existente nos poros quanto com a
água associada ao próprio silicato de cálcio, que se desprende.
Inicialmente, o aumento da temperatura provoca o “cozimento” superficial do
concreto, alterando sua coloração.
Com a porosidade do concreto não permitindo a liberação dos vapores
criados, criam-se pequenas “bolsas de pressão”, que provocam um aumento da
pressão interna no concreto, que tendem a “explodir”. A este fenômeno dá-se o
nome de lascamento (“spalling”).
Nos concretos antigos, o teor de umidade é mais baixo.

Fo tos – P O NTO S CO M L AS C AM E N TO (―s pa l l i ng ‖)

Outro efeito nocivo ao concreto, é que por sua baixa condutividade térmica,
criam-se no seu interior “camadas” com temperaturas diferenciadas, principalmente
em relação à camada superficial, em contato direto com o fogo. Entre essas
camadas surgem tensões térmicas, que podem, em alguns casos, ser superiores à
tensão de tração da matriz cimentícia, provocando fissuração e, isto provoca o
aparecimento de “camadas independentes” no interior do concreto, comprometendo
sua monoliticidade.
Quando isto se torna intenso e a duração do fogo é longa (algumas horas),
isto pode provocar o desprendimento de camadas (normalmente as superficiais) do
concreto, sem estilhaçamento de grande magnitude, mas ocorrem nos primeiros
momentos de um incêndio, expondo as armaduras à ação direta do fogo
(“sloughing”).

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Fo tos - a l g uns do s l oc a i s on de ho u ve a pa re nte ―s l ou ghi ng ‖

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O concreto que ultrapassa a fase do “spalling”, no início do aumento da
temperatura, sofre uma retração volumétrica pela perda de umidade contida.
Simultaneamente os agregados e a ferragem sofrem expansão volumétrica devido
ao aumento da temperatura.
Isto começa a acontecer quando a temperatura ultrapassa os 300ºC. Quando
ela chega aos 400ºC, inicia-se a decomposição dos hidróxidos de cálcio, resultando
em óxido de cálcio puro e água (que vaporiza).
Quando a temperatura chega a cerca de 550ºC a desidratação dos hidróxidos
de cálcio, responsáveis pela passivação das armaduras, é completa.
De modo geral, 2/3 do volume dos concretos é composto por agregados. No
Rio de Janeiro muitos dos agregados usados são ricos em sílica.
Este tipo de agregado, quando submetido a aumentos significativos de
temperatura, provoca no concreto um fenômeno chamado de pipocamento (“pop
out”), que nada mais é do que um “spalling” localizado, e ocorre quando a
temperatura aproxima-se de 600ºC. Isto é consequência do aquecimento dos
agregados que chegam a ter aumento de volume de cerca de 1%.

Fo to - a l g uns dos l oc a i s on de ho u v e a pa r e nte pi poc a me n to (― p op


ou ts ‖ )

ALTERAÇÃO DA COR
O concreto dependendo da natureza dos agregados pode mudar de cor em
função da temperatura. Pequenas quantidades de óxido de ferro, hidróxidos ou
óxidos de ferro hidratados são responsáveis por essas alterações na coloração
principalmente dos agregados oriundos de rochas sedimentares, metamórficas e
ígneas. Quando a mudança de cor ocorre, se dá devido, principalmente à presença
de rochas calcárias, que normalmente apresentam uma coloração rósea entre 230

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°C e 300 °C. A tonalidade vai escurecendo gradualmente com a elevação da
temperatura, quando a mesma chega próximo aos 600 °C os agregados podem se
tornar vermelhos amarronzados. Em temperaturas próximas aos 900°C, a coloração
se torna cinza e por último, amarelo-claro.

NORMA BRASILEIRA – NBR 15.200 de 2004

A Norma Brasileira que trata do assunto, a NBR 15.200/2004 – “Projeto de


estruturas de concreto em situação de incêndio” prevê uma série de situações para
as estruturas em caso de incêndio, com objetivo de limitar riscos, principalmente da
edificação exposta ao fogo, com as seguintes funções estabelecidas no item 4.3, a
seguir apresentado.

“4.3 Considera-se que os objetivos estabelecidos em 4.2 são atingidos se for


demonstrado que a estrutura mantém as seguintes funções:
― função corta-fogo – a estrutura não permite que o fogo a ultrapasse ou que
o calor a atravesse em quantidade suficiente para gerar combustão no lado oposto
ao incêndio inicial. A função corta-fogo compreende o isolamento térmico e a
estanqueidade à passagem de chamas
― função de suporte – a estrutura mantém sua capacidade de suporte da
construção como um todo ou de cada uma de suas partes, evitando o colapso global
ou o colapso local progressivo;”

Dentro dos objetivos da Norma, constam: reduzir o risco de casos de


incêndio, que são medidas passivas, a seguir apresentadas e quando não for
possível, controlar o fogo nos estágios iniciais, criando rotas de fugas e facilitando a
operação de combate a incêndio.

No item 5 da referida Norma, há todo um estudo sobre a alteração das


propriedades dos materiais, incluindo o estudo da resistência e rigidez do concreto
quando submetido à altas temperaturas. O item 5.1.2 prescreve que o concreto tem
uma diminuição progressiva de sua resistência em função da temperatura a que é
submetido (diminuição percentual).

“5 . 1 . 2 Re si st ê n c ia à co mp r e ssã o d o co n c re t o n a t e mp e ra t u ra ”

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Fi g ura 2 — Fa t or de r e duç ã o da re s i s tê nc i a do c onc re t o e m
fu nç ã o da te m pe r a tu ra – fo n te N B R 1 5 . 2 0 0
No mesmo item é tratada a perda de resistência da ferragem quando
submetida a aumentos significativos de temperatura.

CORROSÃO
Os metais quando submetidos à ação do fogo podem sofrer corrosão. Esse
material raramente é encontrado no estado puro, possui uma combinação de um ou
mais elementos não-metálicos, tais como minérios, que de modo geral possuem
formas oxidadas do metal.
A corrosão é um processo de deterioração de propriedades que ocorre
quando um material reage ao ambiente. Grande parte das ocorrências de corrosão
envolvem reações eletroquímicas
A ação do combate ao incêndio pode ser tão destrutiva ao concreto quanto à
própria ação do fogo. Os resfriamentos e contrações abruptas provocam gretas
(CÁNOVAS (1988)). Em uma estrutura de concreto aquecida próximo a 500 °C, a
ação da água produz uma grande elevação de temperatura em virtude da reação de
reidratação do óxido de cálcio livre no concreto. O aumento da temperatura incide a
novas expansões térmicas, gerando fissuras.

MEDIDAS DE PROTEÇÃO

PASSIVAS – Medidas que devem ser tomadas na elaboração de projetos, visando


evitar a ocorrência de um foco de incêndio, e prevendo a redução de seus efeitos

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em casos de ocorrência. Algumas medidas que podem ser observadas são: escolha
do material de revestimento e acabamento, instalação de escadas de fuga, muitas
vezes são inseridas na fachada da edificação, controle da fumaça e segurança
estrutural
Um projeto completo preventivo contra incêndio, compreende:
- Extintores;
- Preventivo hidráulico;
- Instalações de gás combustível;
- Saídas de emergência com escadas de escape.
- Proteção contra descargas atmosféricas;
- Iluminação de emergência;
- Sistema de alarme e detecção.

ATIVAS – Medidas a serem tomadas no caso em que o fogo ocorra, também


conhecidas como medidas de combate, tais como a existência de sistemas de
detecção e alarme, sistema de sinalização e iluminação de emergência, sistema de
hidrantes e chuveiros automáticos (sprinklers).

CASO ESPECÍFICO 1: INCÊNDIO EM CLÍNICA DE OLHOS EM EDIFICAÇÃO


COMERCIAL NA ZONA SUL DO RIO DE JANEIRO.

DESCRIÇÃO DA EDIFICAÇÃO

O imóvel em análise localiza-se na Rua Visconde de Pirajá 623, Ipanema, VI


Região Administrativa do Município do Rio de Janeiro

Trata-se de uma edificação comercial, “PhD´s Ipanema Center”, colada nas


divisas, com dois subsolos, loja no pavimento térreo e 9 pavimentos tipo
subdivididos em salas. No térreo encontram-se o hall social e o acesso aos
pavimentos garagem.
No 8º e 9º pavimentos da edificação encontra-se instalada uma clínica médica
oftalmológica, em espaço integrado, possuindo recepção, sala de estar, depósito e
salas de consulta no 8º pavimento, e centro cirúrgico no 9º pavimento.

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Fo to: V i s ta ge ra l da e di fi c a ç ã o
Foi realizada a vistoria logo após o incêndio e pode-se verificar que o foco
ocorreu no depósito localizado na sala do 8º andar, visto ser um ambiente fechado,
com muito material inflamável estocado. Por posicionamento inadequado de material
inflamável, este ficou próximo e exposto ao calor de uma luminária e o incêndio se
iniciou. Este compartimento foi o mais afetado.
Os danos identificados na vistoria foram:
No depósito, o rebaixo em gesso estava totalmente danificado assim como o
sistema de ar condicionado central. As esquadrias estavam danificadas e com vidros
quebrados. Algumas paredes, principalmente a de divisa com a sala contígua
apresentava fissuras capilares oriundas do gradiente térmico. A pintura estava
danificada em diversos compartimentos e instalações necessitando de reparos. No
teto do depósito havia um ponto com armadura aparente.
Na sala vizinha do lado interno verificou-se uma fissura inclinada, percorrendo
toda a parede de divisa com a sala onde houve o incêndio.

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Fo to – V i s ta de pa rte da s a l a o nde oc or re u o i nc ê n di o,
i ns t a l a ç õe s da ni f i c a da s .

Fo tos – Ba nhe i ro , re ba i x o e m ge s s o d o te t o e i ns ta l a ç õe s
da ni fi c a da s .

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Fo to – C om pa r ti m e nt o c om s i na i s d o i nc ê n di o.

Fo tos – V i s ta da p a re de de d i vi s a e nt re a s s a l a s

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Fo tos – V i s ta da p a re de de d i vi s a d a s s a l a s , pe l o l a d o i n te rn o da
s a l a f oc o d o i nc ê ndi o. Fi s s u ra s na a l ve na r i a e pi n t u ra t o ta l me nt e
da ni fi c a da .

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Fo tos – Te to da s a l a , re ba i x o de g e s s o da ni fi c a do e i ns ta l a ç õ e s
a fe ta da s .

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No pavimento imediatamente acima da sala onde se iniciou o incêndio,
verificaram-se fissuras horizontais nas paredes e o desprendimento do piso
cerâmico em porcelanato. As esquadrias tiveram os vidros quebrados e sua
estrutura em alumínio anodizado necessitou substituição de algumas peças
danificadas.

Fo to - E s q ua dr i a da ni fi c a da e re t or c i da .

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Fo tos – E s q ua d ri a da ni fi c a da , c om vi dr os q ue b ra d os .
ne c e s s i ta n do s ub s ti tui ç ã o de a l gu ma s pe ç a s .

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CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS
Segundo publicado nos jornais, suspeita-se que o incêndio foi oriundo
de um curto circuito no compartimento utilizado como depósito, tal como a seguir
transcrito da reportagem no Jornal “O Globo”
“B om be i ro s s us p e i ta m de c ur to -c i rc ui to e m s a l a
P a p é is, p ro d u t o s q u í mico s e ma t e r ia i s u sa d o s e m c iru rg ia s
f a ci l it a r a m a p ro p a g a çã o d o f o g o . O s b o mb e i ro s d is se ra m su sp e i t a r
q u e u m cu rt o -c i r cu it o n u ma sa la q u e g u a rd a va r e mé d i o s t e n h a
p ro vo ca d o o in cê n d io . ”

Foto do incêndio - fonte: ―O Globo‖.

A análise dos danos edilícios inicia-se pela verificação das peças estruturais.
Uma vez que as peças são revestidas de argamassa e existia, em boa parte
do imóvel, forro falso, o concreto da estrutura não sofreu agressão que modificasse
de maneira significativa suas características, principalmente sua resistência.
O fogo durou cerca de 20 min, isto elevou a temperatura interna nos
locais atingidos a cerca de 800ºC em seu ápice, mas o tempo de atuação foi muito
pequeno, não se apresentando nenhuma das características que indicariam a perda
de resistência ou a modificação significativa em seu módulo de elasticidade, como o
esfarelamento da superfície sob a ação direta do fogo, que calcinaria o concreto, ou
o lascamento (spalling), que ocorre quando o concreto (no caso a laje) fica
submetido à exposição do gradiente térmico de forma contínua, como já
apresentado. Não foram observados nem o esfarinhamento da superfície do
concreto, nem sua laminação progressiva. Outra ocorrência comum nas situações
de incêndio a temperaturas altas é o chamado lascamento explosivo, que também
não foi observado em nenhum dos pontos vistoriados.
Considerando-se que o tempo efetivo de exposição ao fogo direto sobre o
concreto não provocou nenhuma das situações clássicas de início de deterioração,

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considerando-se que, para o sinistro ocorrido, indícios iniciais de lascamento
progressivo ou explosivo seriam identificados, caso, efetivamente, tivessem causado
danos sérios às características e à resistência do concreto, e considerando-se que o
não desprendimento do cobrimento das peças estruturais, o que induz à certeza de
preservação das características físicas das armaduras, pode-se afirmar que não
ocorreram danos estruturais importantes.
As alvenarias existentes no pavimento, imediatamente acima do trecho de
maior incidência de fogo, sofreram os efeitos de carga térmica intensa e
apresentaram fraturas em sua face superior e vertical junto à fachada.
A esquadria de fachada, em alumínio anodizado bronze, foi parcialmente
atingida pelas labaredas e apresenta danos irreversíveis em alguns perfis, que
deverão ser substituídos. Os vidros deste trecho da fachada, que apresentem
trincas, também deverão ser substituídos. Deverá ser feita uma revisão de vedações
e caixilharia em todo o trecho da fachada que sofreu incidência do fogo.
Os demais danos construtivos verificados se constituem de desprendimento
de revestimento cerâmico e destruição parcial de forros nos tetos. A instalação
elétrica, devido à variação de temperatura ocorrida, ficou danificada e necessitou ser
integralmente revista e substituída.

CASO ESPECÍFICO 2: INCÊNDIO NO ESCRITÓRIO EM EDIFICAÇÃO


COMERCIAL NO CENTRO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO.

Neste caso específico, pelas informações obtidas nas notícias veiculadas


sobre o assunto, o tempo de incêndio foi de algumas horas. Assim, a estrutura em
questão – teto do 15º pavimento, que serve de piso ao 16º, esteve submetida a
temperaturas de até 1.000º C. Isto explica a coloração avermelhada do concreto,
que pode ter sofrido redução sensível de resistência.

Notícias veiculadas no dia do incêndio comprovam que o fogo teve duração


variando entre 2 e 3 horas, no mínimo.

1 0 / 0 6 à s 0 9 h 3 5 - A t u a l i za d a e m 1 0 / 0 6 à s 0 9 h 4 1
I n cê n d io e m p ré d i o d a A v. R io B ra n c o já e st á qu a se co n t ro la d o
Jo rn a l d o B ra si l

V á r ia s e qu ip e s d o Co r p o d e B o m b e iro s p e rm a n e ce m n a
A ve n id a R io B ra n c o , 9 9 , n o Ce n t ro d o R io , o n d e u m p r é d io co m e rc ia l
p e go u f o go p o r vo lt a d a s 7 h d e s t e d o m in go . A s ch a m a s já e st ã o
m e n o re s.

Segundo a Rádio CBN, o incêndio começou em um escritório de advocacia


que funciona no 15º andar. As chamas se espalharam para os 13º, 14º e 16º
andares, que estava vazio.
Um dos sócios do escritório, que não quis se identificar, disse que no 15º
pavimento estavam todos os arquivos.
A escada magirus dos bombeiros não conseguiu alcançar esse andar. Por

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isso, o combate ao incêndio foi feito por dentro do edifício.

1 0 / 0 6 / 2 0 1 2 0 9 h 0 2 - A t u a l i za d o e m 1 0 / 0 6 / 2 0 1 2 1 0 h 2 6
I n cê n d io e m p ré d io in t e rd it a t re ch o d a A v. Rio B r a n co , d i z
p re f e it u ra
T râ n si t o é d e s via d o p e la A ve n id a P a sso s , se gu n d o Ce n t ro d e
O p e ra çõ e s.
B o m b e iro s co m b a t e m f o go e m e d if íc i o n a A v. R io B ra n c o 9 9 .
Do G 1 R io

A A ve n id a R io B ra n co , n o Ce n t r o d o Rio , e st á i n t e r d it a d a e n t r e
a A ve n i d a P re s id e n t e V a r ga s e a Ru a d o Ro s á r io , d e vid o a u m
in cê n d io e m p ré d i o co m e r c ia l n o im ó ve l d e n ú m e ro 9 9 qu e a co n t e ce
n a m a n h ã d e st e d o m in g o (1 0 ). O t r â n sit o e st á se n d o d e s via d o p e la
A ve n id a P a sso s, se g u n d o in f o rm o u o Ce n t ro d e O p e ra çõ e s d a
P re f e it u ra .
B o m b e iro s d o Q u a rt e l Ce n t ra l co m b a t e m o in cê n d io n o p ré d io
d e sd e a s 6 h 4 5 d e st e d o m in go (1 0 ), co m se i s via t u r a s, se gu n d o a
a sse s so ria d o Co r p o d e B o m b e i ro s .

No t í cia s ve icu la d a s p e lo Jo rn a l d o B ra s il e p e lo G 1

19
No p re se n t e ca so , a s p e ça s e st ru t u r a i s t e m d im e n sõ e s m a io re s
qu e a s a t u a is, e m f u n çã o d o s crit é r io s d e d im e n sio n a m e n t o a d o t a d o s
à é p o ca d a co n st r u çã o , o qu e t ra z b e n e f íc io e m re la çã o a o ca so e m
e p í g ra f e .
Um p o n t o a d ic io n a l f a vo rá ve l a o e d if í cio e m a n á l ise é o f a t o d e
qu e n ã o d e ve m t e re m s id o u sa d o s a d it i vo s qu e p e rm i t e m a re d u çã o
d o f a t o r á gu a / ci m e n t o , p ro m o ve n d o co n c re t o s m a i s co m p a c t o s e
m e n o s p e rm e á ve i s (o qu e a u m e n t a a d u ra b i lid a d e d o m a t e ria l a
t e m p e ra t u ra a m b ie n t e ), m a s qu e e m sit u a çõ e s d e in cê n d io a n t e c ip a m
a d e g ra d a çã o d o m a t e ria l.
Co m o o co n c re t o , n o p re se n t e c a so , é a n t i go , o t e o r d e
u m id a d e é m a is b a i xo , n ã o t e n d o s i d o o b se r va d o s m u i t o s lo ca i s o n d e
t e n h a o co rr id o la s ca m e n t o ( “sp a l lin g ”) , p o ré m e xi st e m a l gu n s p o n t o s
o n d e o f e n ô m e n o p a re ce t e r a co n t e c id o .
E m vist a d o qu e s e e n co n t ro u a o lo n go d a s vi st o ria s e f e t u a d a s,
e f u n çã o d a s re c o m e n d a çõ e s t é cn i ca s so b re o a ssu n t o , t a n t o a s
n a cio n a is co m o a s in t e rn a cio n a i s, a va l io u -se o d a n o e st ru t u ra l
o co r r id o p a ra se e st a b e le ce r o m e lh o r p ro ce d im e n t o d e re f o rço .
A a n á l ise d o s e ve n t u a is d a n o s e st r u t u ra is f i co u ci rcu n sc rit a a o
o co r r id o n o 1 5 º p a vim e n t o .

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Foto - Incêndio controlado

21
18

19
1
14
20

15
12 13
21
16
17
11 22
6
10

7 4

8 8
9
24
3 23
5
2 6
3

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LEGENDA
Fissura ou dano

laje

pilar

viga

Croqui indicativo dos danos estruturais mais relevantes no 15º pavimento

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Fotos - Pavimento após o incêndio

23
Fotos 15º pavimento – Cerca de 30 dias após o incêndio

Ne st e ca so lo go a p ó s o in cê n d io f o i a d o t a d a a so l u çã o d e

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re f o rço e st ru t u ra l p o r m e io d e e st ru t u ra m e t á l ica d e s u st e n t a çã o d a
la je d e t e t o , n a re g iã o e f e t i va m e n t e a t in g id a p o r a lt a s t e m p e ra t u ra s.
A lé m d e se re f o rça re m t o d a s a s la je s co m u m a so b re ca p a d e
f e rra ge m e co n c re t o , e xe cu t o u - se u m a m a lh a d e vi ga s m e t á l ica s d e
g ra n d e p o rt e , e m t o d o o p a vim e n t o .

Foto: Pilar encamisado e vigamento de reforço

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Fotos: Reforço nas peças estruturais

DANOS ADICIONAIS

Em função do aumento de temperatura por período razoável, a laje


imediatamente acima do incêndio sofreu dilatação no sentido horizontal,
escorando-se no conjunto de grande inércia (escada/elevadores, ―empurrando
os pilares da fachada frontal provocando uma ruptura parcial na ligação viga X
pilar em diversos pilares de fachada, que para serem restaurados passaram
por procedimento de justaposição de fibras de carbono.

Fotos: Ruptura parcial de ligação

26
Foto: Procedimento de justaposição por fibras de carbono

CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS
Em vista do que se encontrou ao longo da vistoria efetuada e das
providências que foram tomadas, pode-se afirmar que os eventuais riscos estruturais
estavam afastados.

CASO ESPECÍFICO 3: INCÊNDIO EM GALPÃO NA ZONA OESTE DO RIO DE


JANEIRO.

E sse ca so e sp e c íf ico re f e re -s e a u m ga lp ã o o cu p a d o p o r u m a
E m p re sa d e Co m b u st í ve is e L u b rif ic a n t e s, s it u a d o n a E st r a d a P a d r e
G u i lh e rm e De ca m in a d a , 2 . 7 0 0 – S a n t a C ru z, à s m a r ge n s d a A v.
B ra s i l – R io d e J a n e ir o . O in cê n d i o d e s t ru iu p ra t ica m e n t e t o d o o
ga lp ã o .

Foto: Vista aérea do local.

27
Av
Brasil

Localização do Galpão

Fotos – Incêndio.

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Fotos – Incêndio.

Foto – Vista do depósito, tanques verticais e terreno após o incêndio.

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Anexo em
obras

Fotos – Vistas do depósito após


o incêndio.

Portão automático

30
Fotos – Vistas internas do
depósito após o incêndio.

31
Cilindro de gás da
empilhadeira

Fotos – Empilhadeira.

32
Fotos– Instalações elétricas após incêndio.

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Foto – Extintores de incêndio encontrados no galpão.

Foto – Tubulação, aparentemente de combate a incêndio.

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Fotos – Tambores de óleo

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Foto – Estrutura deteriorada pelo calor.
CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS
Tendo em vista o estado de destruição, a intensidade do fogo e a duração
do incêndio (foram necessárias mais de quatro horas para a extinção inicial do fogo),
os indícios que poderiam conduzir a uma conclusão sobre as possíveis causas para
o ocorrido não estão disponíveis.
Desta forma, é inconclusiva a origem do fogo, o que está corroborado
pela Certidão de Ocorrência emitida pelo Corpo de Bombeiros Militar do Estado do
Rio de Janeiro – 13º GBM Campo Grande.
A duração do incêndio e a temperatura alcançada são fundamentais para
se determinar a capacidade da estrutura de permanecer em condições de
estabilidade.
Os danos estruturais oriundos de um incêndio são determinados por
expressões que relacionam o crescimento da temperatura dos gases quentes do
compartimento, com o tempo de duração do incêndio. A curva-padrão de materiais
celulósicos (ISO 834 e ASTM E 119) é mundialmente difundida por meio de códigos
normativos.
Os compartimentos com predominância de materiais inflamáveis são
avaliados adotando curvas padronizadas para materiais hidrocarbonetos tais como
UL 1709 (E.U.A.), “H” – hydrocarbon curve (União Europeia), RWS (Países Baixos) e
RABT (Alemanha e Japão).
A relação temperatura X tempo de duração pode ser inferida, para
incêndios como o ocorrido tanto na fase de aquecimento, como na fase do
resfriamento, com ventilação limitada e sem dispositivos de combate automático ao
fogo, pela Norma ASTM E119-00a, indicando que a temperatura no local chegou a
cerca de 1.100º C. Esta temperatura atuando pelo tempo de duração do incêndio
leva a resistência do concreto a ficar desprezível.

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Em decorrência da intensidade do fogo e da duração do incêndio (os
bombeiros levaram mais de quatro horas para conter as chamas), a estrutura do
galpão ficou totalmente comprometida, irrecuperável, com risco de colapso dos
pilares e vigas remanescentes, razão pela qual terá que ser integralmente
reconstruída, conforme se observa das fotos a seguir:

Foto – Vista interna do galpão após incêndio com as peças estruturais


danificadas.

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Fotos– Deterioração de um dos pilares e do funcionamento estrutural com
perda da ligação viga x pilar

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Em casos de incêndio recomenda-se a verificação do tempo de exposição e
da temperatura, visto que até 100 °C o concreto armado mantém suas
características. Entre 300 e 400 °C as fissuras superficiais tornam-se visíveis, porém
internamente a integridade fica mantida.
Acima dos 600 °C há perda total de resistência do concreto, perdendo sua
atividade estrutural.
Aquecimentos de longa duração podem comprometer permanentemente as
armaduras, principalmente em temperaturas acima de 500 °C.
Recomenda-se que medidas de proteção sejam adotadas, tanto passivas
quanto ativas, com estudo da prevenção de casos de incêndio desde o projeto até a
execução e principalmente na manutenção das edificações.

BIBLIOGRAFIA

 ALMEIDA, Dirceu Francisco de. As Estruturas de Concreto Armado e o Fogo


- Comportamento - Consequências - Restauração. EPUSP. São Paulo, 1984.
[Dissertação de Mestrado em Engenharia – PCC-EPUSP]
 BAUER, Luiz Alfredo Falcão. Materiais de Construção Civil 1. Vol. 1. 5ª Ed.
Livros Técnicos e Científicos Editora Ltda. São Paulo, 1994.
 Moreira de Souza, Vicente C. & Ripper, Thomaz – Patologia, Recuperação e
Reforço de Estruturas de Concreto – Pini - 1998.
 NBR 15200 – 2004 - “Projeto de estruturas de concreto em situação de
incêndio”

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 Couri, Gilberto Adib – Patologia das Edificações – Apostila – Pós Graduação
em Engenharia Civil – Universidade Federal Fluminense - 2006
 Verçoza, Ênio José – Patologia das Edificações – Editora Sabra, 1991
 CÁNOVAS, Manuel Fernández. Patologia e Terapia do Concreto Armado. Ed.
PINI. São Paulo, 1988

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