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Filosofia Da Informação
Filosofia Da Informação
ARTIGO
R E S U M O
ABSTRACT
Philosophy cannot restrict itself solely to the search for truth. Information Science
is not only a support. In the 21st. Century, thought finds itself before dilemmas
which had been ignored or unknown up to now. Subjection and testing of “new”
thoughts, occur through crises and ruptures. The processes of “getting to know”
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Mestre em Biblioteconomia e Ciência da Informação, PUC–Campinas. Docente, Departamento de Direito e Departamento
Economia e Administração, Anhanguera Ensino Superior, Faculdades de Valinhos. Av. Invernada, 595, Vera Cruz,
13271-450, Valinhos, SP, Brasil. Correspondência para/Correspondence to: M.M. FRANCELIM. E-mail: mfrancelin@yahoo.com.br
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Matemático, Analista de Sistemas Senior – BIBNET (Bibliotecas Digitais). Mestrando, Curso de Biblioteconomia e Ciência da
Informação, PUC–Campinas. E-mail: caio@aleph-exlibris.com.br
Recebido em 29/9/2004 e aceito para publicação em 10/9/2004.
the knowledge or “of thinking” the thought, undoubtedly have been, and are,
important stages in the development of what we understand as being the total
human knowledge. Seeking to understand and to insert the very information
related to those processes, the present article proposes a philosophy that will
reflect upon such information, namely, a Philosophy of Information.
Key words: information, philosophy, philosophy of information, information
science, knowledge, complexity.
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Lembrar porém, que Ilharco (2003) publicou, em português, o livro Filosofia da Informação e Mostafa (1985) já havia dito que
a “[...] Ciência da Informação não pode prescindir de uma filosofia da informação, todavia a filosofia da informação não pode
ficar acima da ciência da informação porque aí estaríamos na dicotomia kantiana entre razão teorética e razão prática”
(MOSTAFA, 1985, p.117).
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O que se está tentando abordar, neste momento, não é a Filosofia, mas, a Filosofia da. Este ponto é importante, pois, segundo
Ferrater Mora (1982), “[...] cada sistema filosófico pode valer uma resposta à pergunta acerca do que é a filosofia e também
acerca do que representa a actividade filosófica para a vida humana” (FERRATER MORA, 1982, p.160). Isto conduz a
supor-se que a Filosofia da Informação pode compor-se como uma dessas respostas.
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Ressalta-se que o sentido utilizado para o termo transgressão tenta caracterizar algo que está além do tradicionalmente aceito,
que transforma não pela violência nem pela força, mas pela abertura ao diálogo entre campos distintos do conhecimento.
Informação é a informação “liberta”. O que poderia França e Perez (1996). Mais longa ainda é a
ser uma informação liberta? É aquela que não verbalização sobre a necessidade de identifi-
está presa a um domínio, que não é dominada. cação e definição de “paradigmas”. Isso não
E o que é uma informação dominada? Seria significa que seja um modismo. Talvez, haja
aquilo que se sabe que é uma informação em realmente a necessidade de um encontro
condições de ser manipulada. A informação paradigmático em informação. Mas, como fazer
“liberta” seria o oposto, estaria fora do controle para localizar essa referência? Sabe-se que a
humano, mas não de sua percepção. Analoga- informação é um rico objeto de estudo, não
mente, Bourdieu (2004, p.21) diz que: podendo, por outro lado, ser reduzida a um único
Em outras palavras, é preciso escapar paradigma.
à alternativa da ‘ciência pura’, total- A informação é em si ambivalente, tanto
mente livre de qualquer necessidade em quem a pronuncia quanto em
social, e da ‘ciência escrava’, sujeita a quem a recebe. Em todos os momen-
todas as demandas políticos-econô- tos passa pelo filtro da subjetividade,
micas. O campo científico é um mundo além de sua dimensão estar limitada
social e, como tal, faz imposições, pelo aparato perceptor e conceituali-
solicitações etc., que são, no entanto, zador. Mas é esta ambivalência que
relativamente independentes das resgata sempre a possibilidade de
pressões do mundo social global que criar, inventar. Se tudo fosse apenas
o envolve. lógico, seria apenas repetitivo. O mun-
do da informação é agitado, conturba-
É nesse ambiente que a Filosofia da
do, porque é, ao mesmo tempo, intrin-
Informação irá estudar e pensar a informação6.
secamente manipulado e impossível
Um universo de representação, além do para- de ser totalmente manipulado (DEMO,
digma, no qual se justifica os conceitos de 2000, p.41).
informação, pois, como já o disse Foskett (1980,
Assim, ao invés de um único paradigma,
p.20), “Um paradigma se baseia, de fato, em
encontrar-se-iam vários paradigmas relacionados
informação [...]”.
como eventos constitutivos da própria informa-
De certa maneira, porém, o conceito de ção. Essa informação não poderia passar por
paradigma parece se fechar em si mesmo no nenhum tipo de processo determinista, visto que
momento em que diz o que é um paradigma. seria o seu inverso que proporcionaria o desen-
Essa estrutura fechada não ajuda muito ao se volvimento dessa estrutura paradigmática
discutir qual o paradigma necessário ao plurifacetada.
desenvolvimento do conhecimento. A informação A previsão de irracionalismos reinantes
encontra-se no centro de uma discussão ou há levando ao aniquilamento do homem biológico
uma discussão em seu centro em torno de uma dotado de sentimentos e o transformando em
suposta necessidade paradigmática. A desmisti- uma máquina insensível e despersonalizada não
ficação desse paradigma seria a porta de entrada é recente e já não espanta. O ser humano
para o desenvolvimento do pensamento em incorporou ao seu cotidiano o fundamento
Filosofia da Informação. informacional. Consciente ou inconscientemente
Parecem ser longas as revisões sobre a transita pelo espaço da informação.
teoria kuhniana nesse sentido (por exemplo, em Pode ser que o entendimento desvela-se
Ciência da Informação, Nehmy (1996) e Eugênio, a partir de um conjunto de eventos cotidianos
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O objetivo de “pensar a informação” não compartilha o interesse de se tentar corrigir supostos “desvios” conceituais,
importações de termos inoportunos ou algo parecido.
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