Você está na página 1de 229

Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.

com
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Samai
A Arte das Curandeiras

Pilar Echeverry Zambrano

1ª Edição 2016
Porto Alegre

Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com


Samai: A Arte das Curandeiras
Claudia del Pilar Echeverry Zambrano
1ª edição. Porto Alegre, 2016
Projeto gráfico, diagramação e ilustrações digitais:
Julia Flores Mizoguchi
Capa, contra capa e ilustrações:
Ángela Barrera Muriel
Revisão:
Karla De Siqueira
Rosângela Maria da Silva (Melusina Iriarte)
Impressão:
Gráfica RJR, Porto Alegre.

ISBN: 978-85-917020-1-5
Impresso no Brasil, 2016
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Zambrano, Claudia Del Pilar Echeverry


Samai : a arte das curandeiras / Claudia Del Pilar Echeverry Zambra-
no. -- 1. ed. --Porto Alegre, RS : Ed. do Autor, 2016.

Bibliografia
ISBN 978-85-917020-1-5

1. Autocuidados de saúde 2. Curandeiras 3. Curadores (Medicina


popular) 4. Medicina alternativa 5. Medicina popular 6. Plantas medi-
cinais I. Título.

16-00396 CDD-616.024

Índices para catálogo sistemático:


1. Medicina doméstica 616.024
2. Medicina popular 616.024
Todos os direitos reservados
Pilar Echeverry Zambrano pilarez@gmail,com
www.ventressencial.blogspot.com.br

Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com


“De arriba vengo soy de la puna

Carita luna, flor de amankay

Y en mi mochila traigo esperanzas,

Flautas y quenas para bailar.

Tengo en el campo una flor un canto

Tambores lentos y un niño luz

Y en mis adentros capullo de rosas

Rumor de voces y un corazón!”

Palomitay. Fuego Sagrado

“Podia ouvir as gotas de orvalho caindo das folhas mais altas

das árvores para as mais baixas.

Foi então que Shingo ouviu o som da montanha”

Yasunari Kawabata

Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com


Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Agradecimentos
Sou muito grata as abuelas e mulheres da minha
família, inspiradoras e guardiãs desta história para
quem dedico todo meu amor e gratidão.

Todas as mulheres, que em inúmeros círculos e vi-


vências acompanharam esta trilha, são as fontes de
meu agradecimento e carinho, especialmente as
mulheres que participaram do curso Samai a arte
das curandeiras andinas, em Porto Alegre, São Paulo
e Curitiba.

Sou muito grata a Eduardo Schmitt, meu amoroso


companheiro, guerreiro dos mil fogos, quem cuida desta
caminhada com paciência e respeito. E, ao pequeno
Ilah das estrelas, alegria pura e olhos brilhantes.

Desejo muito dar um abraço grato as minhas co-


madres de jornada na senda do sagrado feminino:
Clarice D’Nejar, trovadora dos ventos. Melusina
Iriarte, parteira de muitas. Diovana dos Santos: ma-
mita guardiã de tanta cumplicidade. Lorena León,
comadre da luz cristalina dos budas. Ângela Barrera,
querida irmã com quem sonhamos esta história nos
peitos da montanha. Karla De Siqueira, curandeira

Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com


de tanto coração. Rosemar
Silva, irmã tamboreira. Luana
Bezzi, querida guerreira lu-
minosa. Michelle Doeber, da
mágica alegria sempre nova.

Soledad Bech vizinha e comadre de tantos abismos.


Camila Giulliani, que ainda conserva a esperança na
medicina do amor. Katiane Machado da Silva que faz
de sua casa um refúgio de amor e pão para as amigas.
E Lilian Andrade, daquelas comadres que ensinam
tanto em tão curto tempo.

Muito obrigada as queridas comadres Paloma Aguilar,


irmã de seda, e Ângela Barrera Muriel pela inspiração
das ilustrações e o projeto gráfico.

A todas as mamas, abuelos, mestres, kuracas, discípulos


e compadres da Nación Pachamama, pelo caminho de
ternura e a companhia sincera e resplandecente.

À preciosa senda das abuelas curandeiras de todas as


nações, de quem recebemos a inspiração e coragem
de fazer diferente e mais bonito: gracias abuelitas e
mamitas profundas, que nossos pequenos atos sejam
dignos de sua beleza.

Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com


Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
ória
Hist

Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com


Sumário
Tomamos juntas um chá? Apresentação 21

1. Amanhece nas Montanhas 31

2. A Jornada da Curandeira Solar 43

3. O Samai 59

4. A Lua e as Curandeiras 81

5. Da Pureza e da Sombra 97

6. Do Coração: A Cerimônia da Rosa 111

7. A Brasa, o Chumbe e o Manto 131

8. Princípios básicos da Medicina Feminina


Andina 143

8.1 Unidade 144

8.2 Dualidade 147

8.3 Trindade 149

8.4 A Chakana 156

9. Botica de las Abuelas 161

9.1 A dimensão quente 163

Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com


Situações, sintomas, emoções 163

Situações que geram desequilíbrio na


dimensão quente 163

Sintomas femininos físicos manifestados


no excesso da dimensão quente 164

Sintomas emocionais femininos


apresentados no excesso da dimensão
quente 165

Plantas frias para sanar o excesso de calor


no corpo e sentir feminino 165

9.2 A dimensão fria 170

Situações, sintomas, emoções 170

Situações que geram desequilíbrio na


dimensão fria 170

Sintomas femininos físicos manifestados


no excesso da dimensão fria 171

Sintomas femininos emocionais manifesta-


dos no excesso da dimensão fria 172

Plantas quentes para sanar o excesso de


frio no corpo e sentir feminino 173

Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com


BIBLIOGRAFIA 183

ANEXO 188

A menstruação, a lua e as curandeiras 188

Tradução dos poemas 209

Listagem de plantas 217

Co-inspiradoras 220

Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com


Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Poemário
Abuela 37

Curandera 50

Manzanilla 62

Los Guaduales (Jorge Villamil) 73

Luna 86

Mujer Espíritu (Maria Sabina) 100

Rosa 117

Chumbe y Manto 137

Sol 160

Maíz 182

Oração das Curandeiras 206

ma
Poe

Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com


Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Vivências
A Curandeira Interior 30

A Linhagem Materna e seus Saberes 36

Sonhos de ternura 49

A Planta de Poder 61

Um Jardim de Plantinhas Comadres 67

O Samai deste Instante 74

A Mandala Lunar 88

Sombras 102

Padrão Emocional 116

Artes manuais 138

Mapa da saúde 159

Viv
ênci
a

Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com


Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Cerimônias e Arte Ritual
O Penteo: Cerimônia da Linhagem 39

Um Elixir de Pérola 51

O Útero e o Mato: Cerimônia da Malaquita 75

Ritual da Cama de Flores para a Menarca 89

Purificação do Útero: Vaporização Vaginal 103

Sanação de Abortos e Filhos Não Nascidos 118

Tecendo uma Faixa Medicinal ou Chumbe 139

tual
Ri

Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com


Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Comadres no quintal
Remédios é o nome da alegre mocinha do jardim cria-
da pela mão da nossa ilustradora para este livro. Você vai
encontrá-la brincando e rindo entre letras e flores, pois
é uma curanderita perfumada de alecrim e flor de maio.
Ela nos guiará com doce ternura andina pelos relatos, os
rituais, as vivencia e poemas.

19
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
20
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
ória
Hist
Tomamos juntas um chá?
Apresentação
“Somos a dor e o que cura a dor.”
Rumi
Este pequeno livro de versos simples, tem um
propósito: convidar as mulheres para escrever sobre
sua linhagem materna. Descobrir no universo simples
de suas avós, mães, irmãs e tias, as medicinas que
sanam as velhas feridas ancestrais e as sabedorias
íntimas, escondidas em histórias e cantos velhos das
nossas casas e quintais.

Ressignificar nosso passado preenche de dignidade


toda aquela linhagem, a acarinha e sana; sanando
também o compromisso que temos com nossas fi-
lhas e netas e os desafios da nossa própria vida.

Este brincar no Samai, vem do amoroso desejo de


acarinhar a Grande Mãe, a terra amada para quem
dançamos e cantamos e que nos brinda tanta abun-
dância e doçura.

Uma contribuição que é feita com a consciência do


nosso próprio corpo, com a autonomia e sustentabi-

21
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
lidade, com a humanização medicinal e farmacêuti-
ca, com o trabalho solidário entre mulheres e a es-
cuta atenta e ampla dos novos ritmos e desafios do
nosso tempo.

Os manuscritos do livro foram feitos durante o


curso “Samai, A Arte das Curandeiras Andinas”, que
aconteceu entre os anos 2014 e 2105 em algumas
cidades do Brasil. Nele participaram muitas mulheres
que mobilizadas pela força do coração, chegaram
para redescobrir a beleza e efetividade de sua própria
medicina, guiadas pelas mãos das abuelas andinas e
seu conhecimento botânico e amoroso sobre a vida e
sobre a dimensão feminina.

Durante séculos, as curandeiras na América Latina,


se mantiveram ocultas ou interpretadas a partir de
códigos morais ou racionais, que não compreenderam
nunca seu verdadeiro ser e serviço invalidável à terra,
às suas famílias e comunidades. Foram vistas como
seres maléficos e seu saber medicinal reduzido à
superstição.

Porém, no tom alegre de suas vozes velhas, no seu


canto paciente e limpo, na sua certeza de matriarcas,

22
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
elas guardaram em cozinhas e jardins, em tecidos e
histórias, seu saber ardente e simples, sua revolução
silenciosa que caminhou até nós com passos firmes
e bondosos.

O saber da curandeira é uma medicina que cura no


profundo, com delicadeza e com verdade, uma me-
dicina da autonomia, uma medicina da beleza, da
intimidade, uma medicina da alma. Uma medicina
que, sobretudo, não tem medo e acaricia a doença
como um caminho de coragem e abertura ao nosso
ser superior.

O saber médico da curandeira em sua naturalidade e


ternura assusta pela sua simplicidade; pois seu código
ético, que é poético, está enraizado insistentemente
na vida, um curar que se torna arte, já que está
preenchido de coração e intuição, de agradecimento
e presentes amplos e sonhados. Mas, também, de
curas reais e fortes, de medicinas testadas ao longo
de séculos que só se mantiveram
silenciosas por questões históricas
e políticas.

Ser livre e estar além do tempo,

23
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
fazendo questões que transcendem as pequenas
experiências cotidianas, é o caminho da curandeira.
Sair do comum, olhar ao outro com iluminada com-
paixão e servir o mundo da luz que está chegando, é
o sentido da curandeira. E seu convite, enquanto ar-
quétipo do sagrado feminino, é para nos deleitar por
este amor pelo Todo, em toda sua expressividade.

Porém, não tentemos criar um personagem den-


tro de nós que se chame “curandeira”. Não se trata
disso, pois muitos egos já tem sido impostos sobre
nosso ser essencial, inventando dureza e máscaras
em nossas vidas. Quando falamos de curandeira, fa-
lamos de consciência não de papéis, não de grupos,
não de identidades.

Assim, uma mulher se torna uma curandeira, quan-


do começa a fazer menos e a amar mais. Quando
prefere a vida simples e o ritual cotidiano, que é a
celebração de cada instante como um verso sagra-
do. Quando depois de muitos intentos, o ritmo da
lua e do sol a encontram, sem força e sem pressa.
Quando prefere encontrar paz ao invés de procurar
poder, e por fim, quando cessa de acumular conhe-
cimento externo, e começa a doar sua sabedoria ín-

24
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
tima e vivida.

Desta forma, neste livro tentamos ampliar a imagem


clássica da curandeira que entre folhas, defumado-
res e magias serve só como uma médica tradicional;
e a sentimos em sua máxima expressão de mulher
amante da vida, irradiadora da luz, lutadora da liber-
dade de todas as mulheres e crianças deste reino
antigo, um reino antigo que tem nome e ventre de
mulher.

Uma curandeira é um ser


entregue ao deleite pela
doçura das coisas, e uma
parteira da comunhão total
de todos os seres com todos
os reinos da natureza.

Com este tecido, nosso ‘li-


brito’ conta algumas histórias das minhas avós, que
agora serão suas também, velhas moradoras do Val-
le Sagrado de Sibundoy no extremo sul dos Andes
Colombianos. Conta um pouco de suas jornadas de
sabedoria humilde, com plantas e tecidos, que ama-
mentaram esta minha senda como curandeira, e

25
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
ensinaram o grande valor das mulheres mais velhas
e do misterioso universo andino: coração da terra,
que hoje nos presenteia com sua volta a ocupar o
lugar de luz que lhe pertence na evolução da huma-
nidade.

Também tem pequenas histórias de outras curandeiras,


mestres, mamas e avós inspiradores e maestras nesta
trilha de serviço às mulheres.

‘Poemitas’ simples e escritos no berço de montanhas


amadas, nos presenteiam com uma visão humanizada
das flores e das plantas da nossa botânica. Bem
além de vê-las como instrumentos farmacêuticos,
as imagens poéticas nos instigam ao sentir da divina
irmandade que uma planta nos ensina.

Pequenos rituais de magia andina complementam


estas histórias. Cerimônias singelas e caseiras que
você poderá fazer em sua cozinha e jardim e que
conectarão seu ser com os anjos das flores e com a
potência da medicina solar.

E, finalmente, muitas páginas em branco para que


você mesma se converta em coautora do livro, atra-
vés do relato sobre suas velhas e amadas avós; dan-

26
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
do vida à sua curandeira interior, à força livre da me-
dicina que mora no seu ventre e que há tantas luas
espera por você.

Samai1 é uma antiga palavra em língua quíchua, a


língua dos andes profundos. Este conceito também
usado em várias regiões como samay ou sama, tra-
duz-se como “respirar”, mas, também “descansar”!
E em sua raiz significa “alento”, os indianos o cha-
maram de prana, os africanos de axé. Samai é a má-
gica presença da vida que todas as coisas possuem,
a alma de Pachamama que
dança no interno dos seres,
sejam eles rochas ou anjos.
E não qualquer tipo de pre-
sença, mas uma presença
no gozo, no deleite, no re-
pouso.

Samai é um dos princípios de cura das curandeiras


solares andinas; isto significa o reconhecimento da
alma em cada traço da existência, um reconhecimento
que nos permite trabalhar de mãos dadas com todos
1
Em nosso livro usaremos a palavra com i ao invés de y, pois é usada
e encontrada desta forma em dicionários e pesquisas sobre a região
andina que estamos considerando.

27
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
os reinos da natureza para mobilizar a vibração das
coisas; fazendo o que alguns chamam de alquimia,
que não é mais que o sagrado entendimento de que a
alma que existe no Todo nos convida a amar, e aceitar
a grandiosidade de cada instante para encher de luz o
lugar das sombras.

‘Estar Samai’, “estar no alento do coração das coisas”,


é o estado da curandeira; aquela que ama, aquela que
vê o pulsar da vida em cada pedra, em cada esquina, e
que repousa no gozo do Todo sem força, sem embate.
Esse ver nos faz ‘vivir bonito’, viver em harmonia,
bem viver, quando aceitamos nossa nobre tarefa de
respeitar a existência em todas suas manifestações e
fundir nosso alento nela.

Nesta jornada, minha querida comadre, não só a


convido para aprender se uma planta é boa para
curar insônia ou cólicas; convido-a para dar um salto
à consciência suprema do amor, onde nós mulheres
temos a bela tarefa de nos converter em curandeiras
de Pachamama, em guerreiras do Samai, do alento da
luz nesta terra abundante que nos ama e ainda espera
que nossos ventres fecundem estrelas, e vivan bonito
junto ao canto dos pássaros de todas as nações.

28
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Em algum momento da vida, toda mulher descobre
sua curandeira interna. Essa curandeira é um lugar
da nossa consciência que se mostra em sonhos e de-
vaneios como uma velha senhora de olhos brilhan-
tes e olhar tranquilo, que observa com simplicidade
a vida e que tem remédios para curar todos os males
que entristecem nossa alma.

Porto Alegre, Primavera de 2015.

29
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
A curandeira interior
Desenha ou escreve sobre tua velha senhora
de olhos brilhantes

Viv
ênci
a

30
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
ória
Hist 1. Amanhece nas
Montanhas
Como muitas mulheres da
minha geração, descobri minha
curandeira interna depois de
ser mãe, quando senti um profundo cansaço de ser
aquilo que tinha sido, e decidi, por um chamado do
coração, me dedicar a procurar um caminho mais
sábio e simples de viver.

Então, comecei a trilhar a senda do sagrado feminino,


ouvindo uma insistente voz de consciência lunar que
não compreendia muito bem, porém que estava
disposta a seguir, por pura rebeldia contra aquilo
que não sentia mais como meu.

Durante os primeiros meses e anos da infância do


meu pequeno filho, eu dei à luz essa minha velha
senhora de olhos brilhantes.

A vida me permitiu passar a temporada de parto,


quarentena e puerpério com minha mãe, Dona
Blanquita Zambrano, uma doce tecelã andina, que

31
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
tem nas mãos o poder de converter em arte as
coisas comuns. Como meu filho nasceu no Brasil, ela
intuitivamente cruzou o continente, montada num
avião, quebrando todos seus esquemas e formas de
viver para viajar a um país tão diferente
de sua vida na Colômbia, e cuidar de
mim; pois tive um parto muito difícil, que
terminou em uma cesariana inesperada e
muito dolorida para minha alma.

Hoje, compreendo que esse parto foi minha


iniciação como curandeira e sou muito grata pela
cicatriz no meu ventre, que me ensinou que o poder
da força materna é maior que as duras provas que
nós mulheres temos na vida.

Até esse momento, minha mãe era para mim uma


senhora comum. Mas nesses dias oníricos do puer-
pério onde não sabemos se é dia ou noite; onde nós
não somos o que éramos nem intuímos sequer o
que seremos, ela se apresentou na sua verdadeira
forma de curandeira e, com ternura e calma, tomou
conta da minha casa e da minha vida, guiou-me e
acompanhou-me nas sombras. Serviu-me com seu

32
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
33
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
coração aberto e abundante de mulher mayor2. Sua
presença silente e delicada me iniciou no mistério
de cuidar e permitir ser cuidada.

Com minha mãe aprendi as primeiras receitas,


curas e formas de cuidar de um ritual de passagem,
aprendi o valor da solidariedade entre as mulheres e
o respeito pelas tradições das minhas avós. Durante
o tempo que esteve comigo, ela escreveu para mim
em um dos meus diários, a listagem de plantas
medicinais que são usadas em casa e que nos curam
há décadas, e algumas receitas de sua culinária que
fazem parte também do nosso acervo de curas.

Nesses duros dias de amor misturado com mistério,


com meu leite materno vertendo-se no mundo,
minha primeira lição como curandeira foi honrar
a linhagem materna; pois o bálsamo de cura para
tantas perguntas estava em histórias e saberes
simples, nas receitas comuns e correntes, nos
olhares cúmplices de minhas velhas tias, avós e
irmãs, escondidas durante séculos nas montanhas,
em seu silêncio gostoso e delicado, que por fim tinha
sido revelado para mim.
2
Nesta região do mundo andino a palavra “mayora” é um termo para
falar com respeito das mulheres mais velhas da família e comunidade.

34
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Me descobri amando-as, sentindo admiração pela
vida sofrida e corajosa que desafiaram, inclinando-
me ante sua experiência e sanando memórias, feridas
velhas e segredos de família.

A curandeira se descobre quando olhando para si


mesma percebe as mulheres de sua família em seus
olhos, em seus erros, em suas angústias e em seu
poder; e, ao final de um longo caminho de curas,
perdoa e é perdoada por essas mães antigas que a
precedem e sustentam. Por essas mayoras.

35
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
A Linhagem Materna
e Seus Saberes
Uma página em branco para que plasmes os
nomes e a sabedoria de tuas avós.

Viv
ênci
a

36
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Abuela
S ilenciosa abuela.

Vieja hermosa

Despacito caminas en la ladera del mundo

No te pesan los siglos que convertiste en oro.

Tu sabiduría insiste en mi pecho, toca mis


puertas,

Desnuda mis ojos con carcajadas de flor.

Las lunas convirtieron tu llanto en luz de rocío


cristal.

Tan joven abuela, cruzas el umbral de la noche

Con la certeza de un niño.

Nada te calla, fruta de las hogueras,

Partera del océano,

De las musas curandera,

Alivias a Dios con tus hierbas,

ma y con el néctar humilde de tus pasos arrullas su


canto solitario.
Poe

Que mi instinto salvaje te libere

Terca viejita de pies desnudos

Untados de lama aromática.

37
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Que de tu pecho florecido bebamos la leche
del amor verdadero

Que tu vientre descomunal nos geste de nuevo

Y que desde tu vagina, cráter alado,

Misterio de azucenas y rosas

Nos des a luz para siempre

En la ternura que esperamos,

En el suave resplandor de tu primavera anti-


gua.

Abuela.

38
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
O Penteo
Cerimônia da Linhagem
Compartilho com vocês essa primeira receita de
Dona Blanquita, simples e doce como seu falar
calmo e sedoso. Uma receita para aqueles tempos
de abismo e sombra, para aqueles dias em que nada
nos consola. E também para aqueles outros em
que sentimos vontade e saudade de nossa linhagem
materna e de estar perto das velhas avós.

Desde sempre, observei minhas velhas avós se


penteando ao começar o dia ou antes de deitar
quando as estrelas anunciam o suave cair do sol
nas montanhas andinas. Gravuras e fotografias
de tempos remotos e modernos mostram velhas
mulheres andinas sendo penteadas ou penteando
suas filhas e mães.

Durante os tempos de doença ou


tual
Ri

nas épocas de quarentena que uma


mulher é acolhida e acarinhada
pelas outras, para que possa cuidar
de seu pequeno bebê e recuperar

39
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
seu ser depois do parto, longas jornadas de ‘penteo’
também acontecem, pois quando passamos o pente
em nossa cabeça, uma mágica clareza nos invade o
pensamento e nos ajeita o coração.

Esse simples ritual, quase inexistente de tão cotidia-


no, é uma meditativa dança entre várias mulheres
que sentadas em uma fileira paciente sonham, fa-
lam ou aconselham-se umas às outras. Lavam a vida
com um pente velho, preparam-se para encarar as
tarefas do destino, organizam o pensamento antes
de se entregar ao ofício dos sonos ou das decisões.

Pentear outra mulher ou ter o privilégio de sermos


penteadas com amor pelas nossas mães, comadres
ou avós em momentos de dura dificuldade e em
tempos de crise, é uma cerimônia de aconchego
para a alma, que a lava como as deusas penteadei-
ras, presentes ao longo de todas as culturas, o fize-
ram e seguem fazendo.

Com cada traço que o pente faz


em nossa cabeça, vão caindo
as falsas certezas, vão caindo
os medos sempre presentes; as

40
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
sombras são desmanchadas e diminuídas, e um res-
pirar atento e pausado aparece.

Histórias, conselhos, amor respingante vai surgindo


no percurso deste simples se permitir amar. Para
fazê-lo vai precisar de um bom pente de madeira,
um gostoso óleo essencial para colocar nos cabelos,
e a mão de uma amiga ou avó querendona.3

Muitas mulheres que não conseguiam acessar as


memórias de suas mães, ou que por muitos motivos
não tinham a coragem de falar sobre sua linhagem,
de perguntar sobre seu passado, sobre sua infância,
sobre seus partos, ou outros saberes necessários
no caminho da cura do feminino; encontraram no
‘penteo’ uma forma simples e pouco protocolar de
sentar com suas mães e se perdoar, ou se conhecer.

Convide um dia a sua mãe para que a penteie e ob-


serve o que acontece; peça para ela falar da vida,
dar conselhos e responder perguntas. Depois de-
volva este carinho penteando seu cabelo também,
acarinhando nesse ato o coração de vocês, sentindo
o respingar de endorfinas que acontece, sentindo
3
“Querendona” é uma gíria do espanhol que significa amorosa ou
que gosta de querer.

41
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
como as ideias densas e o tempo perdido se desva-
necem.

Depois de ter feito uma vez, o ‘penteo’ se impregna


em nosso ser, igual ao círculo de mulheres; pois os
dois tem o mesmo princípio que é acarinhar a vida,
ser cúmplices da jornada do nosso coração, ter um
espaço de intimidade entre mulheres, acordar a es-
cuta sensível que não julga e, sobretudo, dar amor,
que é uma maravilhosa forma de limpar nossa linha-
gem.

Penteie devagarinho, com jeitinho, com tempo, com


afeto, com doce estar presente. Depois de passar
muitas vezes o pente na cabeça e de falar, falar e
falar ou estar no silêncio gostoso de quem se ama,
pingue algumas gotas de óleo essencial de gerânio,
lavanda, laranja ou ylang ylang nas suas mãos e pas-
se nos cabelos, massageando e acarinhando.

Finalmente, faça lindas tranças e sinta como você, ou


a pessoa penteada, ficam tocadas pelo azul angelical
da luz, com as ideias claras, com a cabeça “bem feita”
e o corpo enchido do sabor luminoso da energia
Shakti.

42
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
2. A jornada da Curandeira Solar
Mesmo que a vida tenha me dado a honra de
nascer em um lugar pouco comum e preenchido de
vitalidade ancestral, segredos botânicos e saberes
profundos, durante toda minha vida eu tinha sido
uma cientista!

Embora dedicada à dança e às viagens e aos pen-


samentos libertários, minha aproximação ao mundo
tinha sido de natureza calculadora e racionalista:
estudava o corpo, sabia de muitas coisas, entendia
muito bem o que é uma curandeira, porém eu não
sentia verdadeiramente, não acreditava no sentir in-
condicional e sutil da intuição.

A educação e escolhas tinham feito de mim uma


mulher da cabeça, que falava sobre o ventre, sobre
o feminino e sobre um bocado de
coisas; mas, no fundo do seu ser, Hi
stória
vivia o mundo a partir do olhar
polarizado e restrito da razão e da
mente.

Assim, passaram-se vários anos,

43
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
44
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
nesse tentar compreender a graça dos mistérios que
são sentidos só com a ternura dos instantes, através
dos olhos de fora.

Mas, a vida percebeu minha insistência. Rezava mui-


to para que Pachamama4 me mostrasse a senda das
curandeiras, e essa mama redonda e risonha me
sentia todos os dias perguntando, inventando alqui-
mias, pedindo explicações, fazendo cursos e prepa-
ros, incomodando minhas avós que já tinham esgo-
tado seu repertório de plantas e curas com minhas
perguntas!

Até que enfim, e só quando o coração esteve pronto


para ouvir o que não é perceptível com a cabeça,
minha velha interna se manifestou em mim e me fez
reconhecer a senda dos verdadeiros curandeiros so-
lares.

Pachamama me presenteou com um sábio mestre


espiritual iniciado nos solares Andes, e nas antigas

4
Pachamama é o nome que os povos andinos dão a Mãe Terra, ao
princípio vital, feminino e sagrado da existência. Mas, também se re-
fere ao tempo e ao espaço, pois Pachamama traduz “aqui e agora”
(Estermann, 1988). E Como alguma vez me ensinou o querido irmão
da Bolívia Fernando Mamani: “Pachamama é tudo o que podemos
tocar”.

45
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
espiritualidades sutis e luminosas. Curandeiro e
brincalhão, totalmente improvável e fora do padrão,
este velho peregrino das montanhas, me ensina a
desbravar a senda que aproxima o coração de uma
mulher com o corpo sensual da terra que nos con-
tém, e com a consciência livre de qualquer limite,
com a genialidade da alma que nos espera paciente
com sua ternura inesgotável.

Devo dizer que amo muito ao


meu maestro: Lucidor Flores e
a família luminosa da Nación Pa-
chamama, um sonho coletivo de
amor pela vida e de esperança
em um mundo de “bem viver”
com todos os seres5.

Sua ternura e sensibilidade, a senda Shakti que


honra, me abriram a porta a compreender o sentir
das minhas avós andinas e não só suas receitas;
também, ao amor delicado pelas plantas e por
todos os seres que moram nesta terra. Incontáveis
ensinamentos e vivências de uma espiritualidade viva

5
Para aprofundar os ensinamentos das sendas andinas, visita a família
da Nación Pachamama: www.nacionpachamama.com

46
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
e desafiante, o caminho de seda de uma sacerdotisa
solar e o descobrir-me uma ativista sagrada a cada
vez que sinto a dor do outro e da Terra como minha.

Antes deste achado, pensava que uma curandeira é


uma mulher que cura, mas, aprendi docemente que
a curandeira é um ser que ama, com amor puro e
compassivo.

Este mel amoroso e iluminado enche seu coração de


alegria e generosidade, e como uma taça sagrada,
o ninho de amor que mora no peito se enche tanto
que se verte em tudo que toca; e esses respingos
vertidos nas personas, acarinhando-as e movimen-
tando sua energia estagnada, são o que chamamos
de curas.

Uma curandeira solar, se prepara para curar com sua


presença luminosa, seu ser mágico preenchido de
terna luz ilumina o mundo e o muda, pois o caminho
do feminino sagrado é uma forma de amor e não
de luta ou poder. O dom da cura se ganha amando,
sendo inofensiva e frugal, como um pastorzinho re-
costado na pradaria em uma manhã de sol outonal.

47
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Lucidor o expressa assim:
“E aprende a última lição do curandeiro:
só a ternura pela vida nos faz acessíveis
ao grande mar de energia preciosa que
é Pachamama”. 6

Assim, o dom de cura pertence à todas as mulheres!


Nenhuma de nós nasceu com privilégios de curar,
todas podemos sim, reconhecer e sustentar em nos-
so peito esta velinha solar que ama.

6
Escola Espiritual Mística Andina. “Viver como curandeiros”. Curso:
Peregrino do Coração. Módulo IV. Quinta Lição. www.nacionpacha-
mama.com

48
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Descobre aqui teus mais amorosos
sonhos de ternura.

Viv
ênci
a

49
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Curandera
C orazón esmeralda, curandera.
Boca en si
De tu cuerpo nacen flores
Tus pies caminan
ma

Poe
Sembrando hierbas aromáticas
Transitas entre los mundos
Tendiendo puentes
Juntando universos
Conviertes la guerra en danza
Tus alpargatas bailan
En las hornillas de maíz y pájaros
Y amas a tu amante con la certeza de la
montaña.
Curandera, blanca, azul, violeta
La luz de tus manos
Escucha el murmullo del silencio
Y te entregas al Samai
Conversando con hormigas y piedras
Confiando en el barro y en la mariposa

50
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Um Elixir de Pérola
Nesta vivência, gostaria de compartilhar com
vocês, amadas comadres, que durante o curso Samai,
que inspirou este livro, trabalhamos com alguns
cristais ou pedras preciosas que são sanadoras da
consciência feminina e suas situações de trauma.

Para saber qual pedra escolher, fazemos meditações


ou pedimos em sonhos para as abuelitas indicarem
a pedra propícia para a sanação do grupo específico.
Assim aconteceu com o elixir de pérola. Uma noite
rezei profundamente para que em sonhos me fosse
permitido reconhecer esta pedra, e uma mágica
onírica aconteceu!

Tive um precioso e brilhante sonho com vários


copos de vidro vestidos com papéis celofane cor
laranja que tinham dentro pérolas brancas. Os copos
estavam dispostos em um belo
jardim e irradiavam muita luz tual
Ri

quente.

Assim, surgiu e foi provado


este belo elixir, que pode ser

51
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
usado para curar e potencializar a relação com
nosso segundo chakra; que na sanação do feminino
representa a sensualidade, a fecundidade, a
criatividade e o prazer e disfrute pela vida em todas
as suas manifestações. Também é um elixir que
ajuda as mulheres que não conseguem engravidar
ou para aquelas outras que têm sua gravidez com
dificuldade e fortes desequilíbrios emocionais.

Um elixir é uma essência vibracional que se produz


no encontro amoroso entre um cristal limpo e usado
só para este fim, água pura e sol. Esta trindade unida
através de um ritual alquímico muito simples, produz
o remédio cristalino tão terno e gostoso de usar; e
que tem uma potência medicinal muito efetiva,
pois age sobre os corpos sutis do nosso organismo,
modificando-os.

O cristal atesoura uma infor-


mação de saúde através de
sua composição molecular
simétrica, perfeita e estável.
Um cristal é luz solidifica-
da, mas também consegue
transmitir luz e energia de

52
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
altíssima frequência vibratória, ou seja, energia re-
finada e muito pura.

Ao ser ingerido em forma de elixir, o cristal, pode


imprimir sua vibração de sabedoria e saúde às
moléculas e campos vibratórios humanos que
se encontram em estado caótico de doença
ou disfunção, reproduzindo dentro deles sua
composição perfeita e geométrica, estabilizando-os
e regenerando-os. Usamos cristais como Amazonita,
Pedra da Lua, Granada, Pérola, Quartzo Fumê, entre
outros para tratar desajustes na saúde física, etérica
e emocional feminina.

Por sua parte, a água é um ser que tem uma


memória muito ampla e capaz de armazenar,
gravar e transportar as propriedades do cristal. A
água condensa a informação da pedra e a sustenta
em uma forma material. Esta capacidade tem sido
amplamente estudada pela medicina
vibracional e os compostos florais e
homeopáticos (GERBER, 1988, p. 264).

E o sol, finalmente, atua como ativador


das propriedades do cristal para que estas

53
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
possam ser transmitidas à água. A luz solar abre a
informação contida no cristal e verte no processo a
potência criadora da luz, irradiando pureza e energia
vital.

Para fazer um elixir, você vai precisar:


♥ Uma pérola natural limpa;

♥ Uma tigela de vidro com 30 ml de água


pura;

♥ Um recipiente de vidro âmbar de 60 ml;

♥ Um recipiente de vidro âmbar de 30 ml;

♥ Um recipiente de vidro âmbar de 10 ml;

♥ Álcool de cereais;

♥ Água pura;

♥ Papel celofane cor laranja;

♥ Bastante tempo e energia para o ritual


e muita paciência;

Ritual Alquímico:
Escolha um local íntimo e especial no bosque, uma

54
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
praia ou jardim. Num dia ensolarado, de preferência
de lua cheia, entre às 10h e 13h organize um pequeno
e florido altar, elevando seus rezos e preces, cantando
ou tocando seu instrumento de poder e acalmando
sua alma como forma de preparo. Coloque no centro
deste altar a tigela embalada no papel celofane laranja
com água pura e a pérola.

Ative as propriedades da pérola e da água contando


para eles o que precisa sanar, falando com seu Samai
de forma carinhosa e amável.

Deixe a mistura durante duas ou três


horas exposta ao sol. Poderá cantar,
tocar algum instrumento ou simples-
mente meditar em quanto o tempo
passar.

Se disponha a ter paciência e silêncio, pois os pro-


cessos alquímicos têm tempos lentos e profundos.

Passado este tempo, coloque o elixir e 30 ml de álcool


de cereais no pote de vidro de 60 ml. Esta será a
tintura mãe.

Para fazer a essência estoque, no recipiente de 30 ml

55
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
pingue 03 gotinhas da tintura mãe, coloque 25 ml de
água e 10 ml de álcool de cereais.

Para o elixir de uso cotidiano, pingue 03 gotinhas da


solução estoque no vidro de 10 ml, agregue 02 ml
de álcool de cereais e complete com água pura. Bata
com vigor e neste ato coloque seu coração e magia
impregnado seu ser luminoso na medicina e permi-
tindo que ela se impregne em você.

O elixir que você usará será este último. Tome três


gotinhas do elixir três vezes ao dia, durante os 28 ou
30 dias que dura seu ciclo menstrual, iniciando no dia
que sua menstruação acabar. Os melhores horários
são ao acordar, antes de dormir e ao meio dia.

Encerre o ritual com um pequeno agradecimento


e sinta a luz e amorosidade que o processo lhe
entrega. Guarde em um local especial, em sua botica
de curandeira, protegido do sol e calor, a tintura mãe
e a tintura estoque, usando sempre que necessário.
Bem armazenados os elixires da tintura mãe e a
tintura estoque podem chegar a viver entre dois e
cinco anos. De tempos em tempos, sinta-os e cante
ou ore com eles, irradiando sua energia e amor e

56
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
agradecendo sua presença e medicina.

Mesmo que precise tomar outro tipo de medicinas


durante doenças ou crises emocionais relaciona-
das com seu feminino, vá na sua botica e aprecie a
preciosa medicina solar dos cristais e a potência do
poder de um ritual de cura com elixires. Confie em
seu poder como alquimista e no doce namoro de um
cristal, um raio de sol e uma tigela de água pura.

57
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
58
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
3. O Samai
Para ser inofensiva e entrar na frequência solar das
antigas curandeiras andinas, é necessária a maior
das coragens, a coragem de uma silenciosa guerreira
que se desconstrói todos os dias para fazer surgir
sua alma verdadeira; a que é divertida, risonha, livre
e tem uma força indomável. Aquela para quem a
liberdade verdadeira da alma é o motivo de todos
os passos.

Na jornada de descobrir essa luz interna e inteira


que nos habita, também descobrimos a beleza dos
instantes e dos seres que nos rodeiam.

Quando descobrimos a divina curandeira que mora


em nosso coração, capaz de projetar luz e ser um
cristal amoroso e presente que honra sua linhagem,
ória começamos a ouvir o sussurro
Hist das plantas, o entusiasmo das
montanhas, o canto das flores,
os versos do caminho e o néctar
que cada coisa esconde.

Começamos a perceber a beleza

59
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
em tudo o que nos rodeia e começamos, por fim, a
entrar no domínio do Samai, o estado da alma da
curandeira, que nos conduz a amar sem condições
tudo que existe.

60
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
A planta que me inspira é a
Camomila.
E, a tua planta de poder, qual é?

Viv
ênci
a

61
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Manzanilla
C anto blanco de rocío

Suavidad de las hadas

Amable pastorcita de los duendes

Aromática ternura,
ma

Poe
Te siento

Lunita de los caminos

Me cuidas desde niña

Tu remedio fue mi leche materna

Cantas para el miedo nocturno

Una canción de ovejas

Y lo conviertes en jardín

Arrullas a los recién nacidos en su luz sideral

Y perfumas los muertos en su nido telúrico

Muchachita amarilla de calor uterino

Pequeño sol del jardín, quédate en esta tierra

Fecundando mujeres y acariñando a los niños.

62
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Tudo quanto existe tem SAMAI,
alento, vida, respiração e deleite. As
velhas histórias de amor dos índios da
minha terra por todas as coisas, falam
do alento das pedras, do Samai que
as habita. As pedras, não são simples
rochas mortas, como pensamos; são seres de alma,
sutilmente acordados, que têm alento, a máxima
expressão de vida e consciência que os habitantes
desta terra têm.

Quando aceitamos nossa preciosa faísca de amor,


podemos então perceber o Samai e estar nele, o que
significa reconhecer e reverenciar “o alento no co-
ração do outro” que é o nosso igual, seja ele pedra,
animal, planta ou ser humano.

O Samai é o reconhecimento delicado de que todos


somos presença e merecemos respeito, carinho e
aconchego.

Esse “estar no alento do coração do outro”, é a mais


simples e ao mesmo tempo, a mais difícil tarefa de uma
curandeira; estar cotidianamente sentindo a alma das
coisas, o sussurro que parece quase inexistente neste

63
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
mundo de burdos olhares, onde aprendemos que só
existe o que se vê com os olhos e se calcula com as
matemáticas.

Porém, acordar ao Samai, precisa de um coração


puro de criança que sente ainda a vida pulsando em
tudo quanto existe.

Desde que aprendi a viver em Samai, já não “tenho”


mais plantas no meu jardim e quintal, “convivo” com
preciosos habitantes vegetais com personalidades e
memórias diferentes.

Conheço um Capim Limão insistente que se nega a


ser pequeno, e uma Melissa que gosta de falar com
o sol nas tardes quentinhas. A Arruda ficou muito
brava comigo quando a cortei e precisou de dois
anos para me perdoar. Vivo também com um peque-
no Alecrim sarado que tem a personalidade gorda
de um anão. Também vive um
H istória
boldo velho no canto da esqui-
na, que não fala muito, mas tem
um perfume fantástico na suas
raízes novas. As rosas chegaram
há pouco, e com sua ternura nas-

64
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
cem cada vez que uma forte transmutação precisa
ser feita em casa, como se soubessem que as preci-
samos para nos curar.

Também moro com umas orquídeas que renascem


com a primavera e se escondem com o outono,
elas ensinam sobre a generosidade a cada ano que
compartilham sem medir sua beleza e ternura. A
hierba buena ou hortelã, é muito criativa, inventou
um jeito de crescer no jardim horizontalmente, para
que eu não a podasse.

A Babosa me diz que está bem entre as pedras,


há pouco soube que na pré-história ela era uma
planta de deserto e por isto sabe guardar bem tanta
umidade no seu corpo e humildade na sua alma.

O jardim ensina sobre a vida o tempo todo, a forma


como as plantas crescem, morrem, estão tristes ou
felizes, nos diz muitas coisas sobre as mulheres, sobre
as podas que devem ser feitas na hora certa, sobre as
pragas que podem ser controladas com amor antes
que se convertam em problemas. O lugar onde mais
aprendo sobre o feminino é no meu jardim, pois é
nele onde tudo pulsa, fala, conversa e me educa.

65
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Assim, querida amiga, a curandeira não convive com
plantas ou cristais porque servem para curar como
instrumentos farmacêuticos, caminha com elas
porque as ama, porque nesta jornada de Samai, elas
são amigas doces, comadres de confiança, e colegas
de cura quando se oferendam docemente para
sanar uma mulher.

Quando sintas a necessidade louca e doce, de estar


perto de uma planta medicinal, corre atrás dela!
Tal vês teu ventre esteja anunciando que logo vai
precisar seu remédio! Quando estamos em Samai,
muito antes da doença nosso ser já começa a
preparar a cura, com suaves anúncios no corpo e na
intuição.

66
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Um Jardim de
Plantinhas Comadres
Sabias que as plantas que mais nos agradam
guardam curas maravilhosas para nossas
doenças?

Viv
ênci
a

67
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
“Plantando
borboletas
de ternura?”
Remédios

68
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Durante muito tempo, pratiquei o Samai, mas,
aprendi realmente o que é o alento, com um evento
mágico, durante a morte de uma das minhas avós e
de uma filha. Até então só sabia que morte e vida
enamoram juntas e são mestras da mesma pulsão,
mas, esses eram vagos sentires vindos de fora.

Dona Delfina era tecelã, uma velha linda e corajosa


que andava quase sempre alegre e que foi mãe do
tio Antônio, agricultor amoroso que tem o mais belo
quintal perfumado e é meditador da terra, nato
e feliz. Ela tinha 102 anos antes de morrer. Sabia
que faria a passagem na minha visita anual à família
na Colômbia, então levei por intuição um cristal
elestial para dar-lhe de presente, pois essa pedra
acompanha luminosamente a passagem do nosso
ser ao grande silêncio.

Visitei esse amado ser antes da sua morte por vários


dias, mas ela já não falava, nem reconhecia ninguém.
Estava deitada e muito doente, porém respirava
frondosamente. Sua respiração, seu alento, me
surpreendeu muito, parecia a de um recém-nascido,
ampla e prazerosamente se entregava em cada

69
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
segundo. Também não tinha perdido seu perfume
de primavera, e suas bochechas tinham um suave
vermelho pintado.

De todas formas, morreu discretamente numa tarde


ensolarada de Janeiro. Como o sacerdote não vinha
para dar-lhe os óleos, meu tio, o cristal elestial e eu
estávamos perto dela. E justo no momento de sua
morte, entre o último alento e o segundo depois, eu
percebi o que significa o Samai. Toquei sua fronte
para ver se tinha partido e nesse toque senti a morte,
senti um corpo seco e ausente, um corpo sem Samai.

Entender a grandiosidade da vida através da


presença da morte é também uma iniciação no
mistério do amor, pois na presença do grande silêncio
esquecemos definitivamente qualquer dúvida sobre a
majestuosidade da vida e seu mistério, e enxergamos
com clareza o deserto que acontece quando ela nos
falta.

Um ano depois, na mesma data em que Delfina


morreu soube da minha segunda gravidez, a
gestação de uma bela mujercita estelar e misteriosa.
Inquieta com tamanha notícia pedi, como muitas

70
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
vezes, que as avós me falassem nos sonhos e
me dessem conselhos e notícias. Então, a avó se
apresentou essa noite e quando a encontrei silente
ao pé de uma janela iluminada falou para mim
com os olhos no infinito: “Sonhei que um bando
de mulheres nuas, vêm dançando dos céus, mas,
dentre elas uma estrela resplandecente, é Vênus!, a
estrela luminosa”.

Quis responder para ela “sim, avó você sonhou


que estou grávida”, porém ela tinha voltado ao
silêncio eterno e ausente donde há tempos já se
encontrava. Com o passo dos dias compreendi que
a avó não anunciava o nascimento da minha filha,
e sim sua morte, que, em sincronia com a edição
deste livro, morreu pequena e silente no meu útero
na mesma semana que eu sonhei com Delfina.
Sem saber do fato, carreguei
a pequena morta durante
várias semanas no meu útero.
Nesses tempos minha vida
parou, toda tristeza morou no
meu peito, e o Samai parecia
detido, ausente e seco!

71
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Duas estrelas no infinito céu do amor me ensinando
o espinhoso e iluminado caminho da morte, tão pró-
xima dos nossos úteros, tão viva em nós quanto viva
está nossa vida. Mas, delas falarei em um capítulo
posterior, sobre os filhos perdidos e as tristezas do
ventre.

A velhinha Delfina tinha uma canção favorita chamada


“Los Guaduales”, música velha sobre os campos de
um tipo de bambu grande que cresce na Colômbia.
Este canto antigo e campesino é um poema ao Samai,
ao ensinamento da doce Delfina, que com o último
alento de sua vida, anunciou o fértil manancial que é
a morte e seu fecundo mistério gestacional.

72
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Los Guaduales
(Jorge Villamil)

L loran, lloran los guaduales


porque también tienen alma;
y los he visto llorando,
y los he visto llorando
cuando en las tardes
los estremece el viento en los valles.

También los he visto alegres


entrelazados mirarse al río;
danzar al agreste canto
que dan las mirlas y las cigarras.
Envueltos en polvaredas
que se levantan en los caminos;
caminos que azota el viento
al paso alegre del campesino

ma
Poe

73
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Sente um pouco este instante único
e fugaz e retrata seu Samai...

Viv
ênci
a

74
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
O Útero e o Mato
Cerimônia da Malaquita
Ah, comadrita! Como é bom tirar o útero do as-
falto e levá-lo a morar no mato. Assim, tão simples,
sem protocolos, nem receitas, nem livros, nem cur-
sos.

Mato, para dores da alma. Mato, para intuição ne-


voada. Mato, para partos difíceis. Mato, para sanar
perdas. Mato, para umedecer o desejo. Mato, para
aninhar perfeccionismos. Mato, para cicatrizar e
mato, para florescer.

Venha! Vamos para o mato, vamos no jardim, vamos


no quintal. Estão cheios de amor de Pachamama
e falam nossa língua, curam todas as feridas e não
cobram nada. Se unte de terra, de lama, faça amor

tual
com a floresta, entre em
comunhão no templo onde
Ri

nosso útero se vivifica e dança,


e nossa curandeira respira
nua e dá gargalhadas de pura
loucura estelar!

75
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Com a seguinte meditação você poderá estabelecer
um íntimo encontro com sua curandeira interior e
com o mistério da floresta, entrando em uma bela
paisagem verde e luminosa que a levará a descobrir
detalhes desta parte de sua consciência e com quem
poderá dialogar em um estado seguro e tranquilo7.

Prefira fazer este ritual em um local da floresta,


um bosque ou um jardim, e tenha com você uma
MALAQUITA, um cristal maravilhoso que possui
uma alma de curandeira e abuela sábia, que tem
o dom de curar muitas dores físicas e emocionais
e nos reconectar com a fonte verde dos bosques
medicinais e profundos.

Antes de começar, respire rítmica e profundamente


por alguns minutos e harmonize seus corpos físico,
emocional e mental.
Comece a sentir seus pés descalços
caminhando sobre um tapete macio de
folhas e musgos (...) sinta a brisa acariciando
seu corpo. Entre mais profundamente em
seu mundo interno e ouça os barulhos
7
A presente meditação foi tomada do livro: “O caminho das Pedras”,
de Antonio Duncan. No subtítulo “A Mata: Quarto Chakra”. Algumas
adaptações foram feitas para a presente edição deste Livro. Os dados
completos da obra se encontram na bibliografia.

76
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
característicos de uma floresta, como o
vento batendo nas folhas, sons de pássaros,
insetos e outros animais (...). Perceba
o cheiro da mata, das plantas, da terra
molhada (...) Você pode começar a ver a
luz do sol filtrada pelas folhas das árvores
(...) Continue caminhando cada vez mais ao
fundo e perceba toda a paisagem ao seu
redor. É dia, o sol brilha, o céu está azul,
e você está caminhando por uma trilha
dentro da floresta bem densa, de vegetação
verde exuberante (...) Sinta toda a energia
dessa mata, as cores, os sons e os cheiros.
Caminhe lentamente pela trilha, procurando
perceber o que se passa ao seu redor.
Veja os pássaros nas árvores, as folhas, os
arbustos, e pouco a pouco outras presenças
começam a ser notadas (...)
De repente, você se encontra diante de
uma enorme clareira circular, rodeada por
grandes e majestosas árvores e por um
riacho de águas cristalinas. Do lado oposto
ao de sua entrada nessa clareira está a
maior de todas essas árvores, com o tronco
largo e poderoso,
raízes protuberantes
e folhagem rica e
exuberante.
Sentada ao pé dessa
grande árvore está

77
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
uma índia velha8, de porte nobre, com o pei-
to nu e um cordão em volta do pescoço, de
onde pende uma linda e grande Malaquita,
pousada bem no centro de seu peito.
Você se aproxima dela e a saúda com
respeito e reverência. Olhe nos olhos dela
e sinta sua energia. Ela pede que você
se dirija ao centro da clareira e que seus
amigos invisíveis, seres da floresta formem
um semicírculo atrás de você, sentados
no chão. Alguns animais e outros seres da
floresta também se aproximam, ajudando a
formar um semicírculo.
Você se senta bem no centro e começa a
observar para a mulher. Ela levanta os braços
com as palmas para cima, e nesse momento
todas as folhas das árvores e dos arbustos
começam a emitir uma forte e brilhante luz
verde. Essa luz começa a se dirigir em raios
para as mãos da velha índia, fazendo com
que seu corpo brilhe e formem um globo
transparente de luz verde em torno dela.
Pouco a pouco essa luz vai entrando pelas
palmas das mãos e se concentrando na
Malaquita que está em seu peito. Quando
ela estiver bem concentrada e brilhante
estenda as palmas para a velha e ela fará o
mesmo em sua direção. A luz verde começa
a sair do centro das mãos da índia dirigindo-
8
No texto original o autor fala de um homem índio.

78
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
se para o centro de suas mãos e ao mesmo
tempo outro jato de luz sai da Malaquita
para o centro de seu peito, exatamente em
seu chakra cardíaco.
Receba esta energia, sinta a luz preenchen-
do todas as células até formar um globo a
sua volta. Sinta a força que começa a ema-
nar das palmas de suas mãos (...)
Neste momento seu Eu superior aparece
por trás da árvore perto da velha índia, e
você pode se levantar e dirigir até eles, sob
a copa frondosa da árvore circular.
Abrace seu Eu superior, reconhecendo-o e
recebendo-o e abrace a velha senhora índia
agradecendo por essa dádiva.
A índia tira um pedaço de Malaquita
e o entrega a seu Eu superior, que
imediatamente se dirige a você colocando
a pedra em seu chakra cardíaco. Deixe que
essa pedra penetre profundamente, girando
e se fundindo com seu chakra, emitindo
mais luz verde, que se expande fazendo
você sentir a energia da vida, da saúde da
abundância, da atividade e do amor. Sinta
seu coração pulsando forte e vigoroso.
Abrace novamente seu Eu superior e a
velhinha índia amorosa.
Cante, dance, abrace as árvores e comemore!
Terminada a celebração despeça-se

79
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
desse lugar de força, e comece a voltar
tranquilamente pelo mesmo caminho da
vinda, sentindo-se mais e mais possuidora
de paz, saúde e vitalidade. Volte ao plano
físico trazendo toda a energia da mata
(DUNCAN, 2006, p. 63-66)

80
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
4. A lua e as Curandeiras
Para falar da lua, primeiro tenho que falar da Tia
Maty, Dona velha e misteriosa Maria del Sol. A terceira
abuela desta história. Ela é um ser pequeníssimo e
risonho, um miúdo duende do mato, que nasceu
pintada com a cor preta da bisavó Agripina que era
índia e gostava de rir.

A Maty é surda, foi ficando sem sua audição aos


poucos e hoje só escuta o zumbido lento de seu co-
ração que cozinha, reza e cuida do quintal enquanto
fala sozinha. Pela surdez, ela desenvolveu um jeito
bem próprio de viver, ouvindo só o que precisa e se
recolhendo internamente quase todo o tempo do
seu dia.

Ela me criou e eu tenho por esta mulher tanto amor


e agradecimento! Pois sua vida dedicada à minha e
ória
Hist seu coração explodindo de amor e
sofrimento me ajudou a entender
o que significa ser humilde, e acei-
tar de coração aberto os frutos da
vida, mesmo que eles sejam algu-
mas vezes amargos e doloridos.

81
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
A preciosa abuela, tem uma fé e um amor puro pela
lua. Anda com um Bristol o ano todo. O Bristol é um
calendário lunar que só os mais velhos agricultores
andinos ainda conservam. Dela herdei a sabedoria de
saber “o tempo bom” para curar, semear, descansar
ou empreender viagens. E a sabedoria de acreditar
no quintal como uma farmácia, de acreditar nas
plantas e de usá-las nesses momentos em que a vida
parece obscurecer.

Ah! Viejita das violetas e das ameixeiras em


flor, como te sinto branca e limpa neste ca-
minho alado de amor pela vida. Amada, tão
amada! Me ensinaste a não ter medo de curar-me,
de usar este saber simples para recuperar a saúde.

Tempo depois eu aprendi muitas coisas sobre a


lua, a menstruação e as mulheres, porém, honro e
venero o saber de jardim desta tia e suas receitas,
a ancestralidade que ela encarna, sua força e saúde
feita só de alimento bom e boas plantas.

Ela é uma curandeira pois guarda a pureza no seu


ventre, nos seus olhos e sua bondade é infinita e
amorosa para cuidar dos outros sem pedir nada em
troca.

82
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
“Uma estrela
no horizonte!
É a brasa do
meu coração!”
Remédios

83
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Conectar com a lua, como a tia Maty, nos permite
ter consciência do tempo maior, aquele que não
está inventado no relógio, mas, sobrevive puro nas
estações, nas épocas de coleta e plantio, nas chuvas
ou secas, na chegada dos pássaros, nos sinais das
flores.

Os quatro tempos lunares (Nova, Crescente, Cheia e


Minguante), que marcam os quatro ciclos femininos
da menstruação (tempo de sair o sangue menstrual
ou sangrado, pós-menstruação, ovulação e pré-
menstruação), estão intrinsecamente relacionados
com as quatro estações (primavera, verão, outono e
inverno), com as quatro direções (Leste, Sul, Oeste,
Norte), com os quatro arquétipos femininos maiores
(Mãe, Anciã, Donzela e Guerreira), com os quatro
elementos (Terra, Água, Ar e Fogo) e com os quatro
tempos da agricultura (Colher, Plantar, Limpar e
Descansar).

Assim, a curandeira quando conecta com sua lua


interna, com seu sangue, honrando e reverenciando
seus mistérios, conecta, realmente com o tempo
do cosmos, com a sincronia maior, com o relógio
da Deusa. E o faz, aceitando que nosso corpo é um

84
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
fractal do tempo cósmico, ou seja, uma pequena
manifestação do corpo do Todo.

Honramos a lua, pois ela marca o passo do tempo


sensível, do tempo bom e propício para as questões
da vida acontecerem com harmonia. Quem abre as
portas de sua curandeira interna, precisa se entregar
ao tempo lento e cíclico, surpreendente do útero de
Pachamama, onde tudo acontece no tempo preciso,
nem antes nem depois. Um tempo longe do ego e
perto da alma.

Lentas e silenciosas como a Tia Maty, as curandeiras


sabem o tempo certo de amar ou se retirar, o tempo
certo de fecundar ou minguar, o tempo certo de
morrer e renascer, o tempo certo de curar ou
abandonar. Ao final do livro, na página 188, tem
um relato bem especial sobre a lua e as curandeiras,
convido-a para submergir nele!

85
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Luna
C orazón de plata

Libre seductora de gitanos

Sagrada concubina de los mares

Por siglos te olvidé

Y de repente con los hilos de mi sangre

Te presentaste entera,

Me mostraste tu misterio

Me devolviste mi desnudes dorada

Te hiciste mi espejo

Inundaste de leche plateada mis pechos

Y pariste niños en mi vientre.

Te amo luna

Te celebro

Mi habitación se ilumina con tu sombra


centellante
ma El latido de tu boca frondosa devolvió a mis
Poe

hermanas muertas

Haciendo fecundos sus úteros secos...

Me dibujaste alrededor de una hoguera de


cantos antiguos

86
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Me recordaste la insistencia de mi sexo

Sagradamente sediento del fuego masculino

Luna

En tu plenitud soy el fuego que danza,

Derramando agua de mi pubis y fertilizando la


tierra

En tu viaje conocí los dientes de la muerte


suave

Y en ella vivo complacida

Y en cada final te canto de nuevo

Abuela cristal

Pájaro plateado

Comadre mía

Luna mía.

87
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Mandala Lunar
Desenha aqui teu ciclo menstrual.
Relaciona-o com as dimensões: fases da lua, estações,
elementos, direções, arquétipos e tempos agrícolas.

Fogo Dia 1
Menstruação Lua Nova
Outono
Inverno

Minguante Água

Dias 27 a 29 Dias 7 a 9
Óvulo se dissolve Óvulo amadurecendo

Terra Lua Crescente

Verão
Primavera

Lua cheia
Ar
Dias 13 a 15
Ovulação

88
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Ritual da cama de flores para a
Menarca
Variações deste ritual têm sido usadas por algumas
comunidades andinas para comemorar a menarca,
ou primeiro sangue das mulheres. Geralmente se
faz durante as três noites que dura o primeiro ciclo
lunar feminino e é oferecido pelas mulheres mais
velhas da família ou por uma curandeira experiente.

tual Este ritual serve para que o


útero seja preparado e for-
Ri

talecido para a vida adulta


e fértil das mulheres. Tam-
bém é um oráculo revela-
dor de sonhos e insights,
sanando velhas feridas
relacionadas com a feminilidade, a ancestralidade
e com a conexão lunar. Dentro do curso do Samai
o usamos para sanar algum aspecto sombrio que
precisa ser manifestado em sonhos e transmutado,
também para mulheres que sofreram traumas du-
rante a época de sua menarca, ou querem reconci-
liar e sanar com este belo ciclo de sua vida.

89
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Também, pode ser usado pelas mulheres que so-
frem de cólicas frequentes por excesso de frio no
seu corpo, que tem uma relação difícil com sua
menstruação e que não conseguem engravidar.
Nestes casos pode ser feito durante três ciclos de
sangrado (menstruação) contínuos. Pode ser usado
também após um aborto, como ritual de sanação e
encerramento desta situação.

Recomendações:
Este ritual precisa ser feito com cuidado e carinho,
pois é muito poderoso e quente, e muda nossa
temperatura radicalmente. Quando a mulher está
grávida recomendamos que faça o ritual sem usar
a terra, a lã de ovelha, e a artemísia, escolhendo
flores adequadas para sua etapa e muito sutis como
camomila e rosas.

Ingredientes:
♥ Um quilo de terra limpa e fresca (prefe-
rimos terras de locais sagrados ou muito
especiais e limpos energeticamente);

♥ Um punhado de lã de ovelha cardada;

90
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
♥ Flores frescas de sua preferência e in-
tuitivamente escolhidas;

♥ Óleos essenciais de sua preferência;

♥ Dois lençóis ou tecidos limpos para


cada noite que fará o ritual. (Podem ser
descartáveis);

♥ Uma vela;

♥ Caderno de anotações;

♥ Um incenso de sua preferência;

♥ Um ramo de artemísia fresca;

♥ Uma rosa (para purificação: branca;


para harmonização: rosa; e vermelha;
para fecundidade);

♥ Uma sacolinha de flores secas ou frescas


de camomila;

Preparação:
Durante a noite do primeiro dia de sua menstruação,
ou na menarca de filhas ou netas, escolha um local
confortável e limpo para dormir sem ser interrompida.

91
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Coloque um colchão ou colchonete sobre o chão,
com a cabeceira orientada ao leste, e coloque o in-
censo nesta orientação. Limpe e abençoe todos os
ingredientes, integrando-se como eles e sendo grata
e sincera. Peça para as plantas, flores e demais seres
ali presentes, o que deseja visualizar em seus sonhos
e a resposta que precisa ter, sempre com palavras
simples e diretas.

Coloque um dos lençóis sobre o colchão, e sobre ele


faça um círculo de terra justo no local onde seu ventre
ou o ventre da mocinha homenageada vai deitar,
mais o menos no centro da superfície do colchão.
A terra serve para sugar energia e registros densos
do seu ventre, assim como memórias acumuladas e
pesadas.

Uma vez feito o círculo coloque sobre ele a camomila,


formando uma mandala, e comece a colocar as flores,
as folhas de Artemísia fazendo uma simetria bonita
e inspiradora, permitindo que seu ser manifeste
através da Mandala, seu sentir e desejos. Por último,
coloque as pétalas de rosa e observe a Mandala que
se formou. É uma bela obra de arte ritual. Com a lã
de ovelha cardada, vá cobrindo a Mandala até ela

92
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
ficar completamente coberta e protegida por uma
camada de lã circular e fofinha. Sobre a Mandala
coloque o lençol restante cobrindo todo o colchão
com ele.

Uma vez feita sua caminha sente sobre ela para


meditar e realizar seus pedidos. Durma
nesta cama e aprecie a variedade de
sonhos, recomendações e insights que
durante a noite vai ter. Recomendamos
que a mulher ou mocinha em sua me-
narca que está fazendo o ritual, ou que
está sendo conduzida, durma nua ou
com roupas muito leves, e permita que
seu sangue seja vertido sobre a cama,
como uma bela oferenda à terra.

Provavelmente você sentirá cólicas, sensações


corporais e emocionais, ou muito calor; porém,
tente manter sua temperatura sempre estável e
agradável, permitindo que o suor se manifeste como
forma de cura e limpeza.

No dia seguinte, acorde devagarinho sem se mexer e


recapitule os sonhos e visões, fique deitada um bom

93
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
tempo meditando e relaxando. Depois, e muito de-
vagar, levante e escreva a pergunta que fez e o que
sentiu ou sonhou durante a noite como resposta.

Abrindo a cama:
Lentamente, retire o lençol e a lã de ovelha que
estará grudada e formando um círculo compacto
sobre a Mandala. Observe o desenho que foi feito na
terra e flores e perceba o que ele lhe diz, sem muita
interpretação, e escreva também no seu caderno de
anotações esse símbolo ou imagem.

Durante este dia, tome um café da manhã agradável


e saudável e permaneça em casa descansando
e cuidando de você, pois, muitos insights virão.
Mantenha sua temperatura quente e seu útero
coberto. De preferência, não tome banho. A Mandala
precisa ser retirada e jogada fora ou enterrada.

Na segunda e terceira noites de sangrado, pode ser


realizada novamente com os mesmos ingredientes
e cuidados.

Quando o ritual foi feito como celebração da menarca,


faça uma pequena oferenda para a mocinha ao final

94
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
da cerimônia, que nasceu das flores, oferendou seu
sangue e que receberá os mais belos ensinamentos
de seu ventre através dos sonhos. Fale docemente
sobre a menstruação para ela, ensine a beleza do
nosso ciclo lunar, conte sobre os mistérios da lua
e a presenteie com histórias de amor e luz sobre o
sagrado feminino.

Este ritual é tão doce e amoroso que qualquer


mulher vai se sentir amada e acolhida, vai sentir o
doce aquecimento do ventre, a temperatura ideal e
uterina da nossa sabedoria e um contato com sua
intuição e sua capacidade de sonhar e conectar com
sua ancestralidade e feminilidade.

Sempre faça com muito amor e agradecendo as


abuelas andinas que com carinho o inspiraram.

95
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
96
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
5. Da pureza e da sombra
Maria Sabina, uma preciosa curandeira mexicana,
desde criança foi uma mestra na cura com cogumelos
sagrados, “meninos santos” como ela os chamava.

Soube dela há muitos anos, quando já tinha falecido,


e conheci o livro que foi escrito sobre sua vida de
sábia e santa, mas só nos caminhos do curso de
Samai senti um amor forte pela sua poesia, pelo seu
canto profundo, pela sua bondade de velhinha da
montanha, pequena de corpo e grande de alma.

Nos visitamos em inúmeros sonhos, nos quais ela


dançou adocicando os lugares tristes da minha
infância. Mulher santa, hoje honramos tua vida
de luta pela verdade pulsando no coração do que
nunca desistiu, mesmo com todos os infortúnios e
dores de ser índia e curandeira
H istória
nesta América esquecida.

Quando sinto Maria Sabina, penso


na pureza, de coração e corpo. Ser
pura, quer dizer, ter um útero cris-
tal e abundante, é uma das tarefas
mais importantes da curandeira.

97
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Pureza, a bendita pureza é um estado da alma de
inocência, de não querer mais do que nosso corpo
pode absorver realmente. A pureza é ter intenção
de orvalho em nossos atos, isto nos dá liberdade
e humildade, pois muitas pessoas pensam que
saber de plantas, curar outros e ser uma mulher
Espírito como Maria Sabina foi, nos coloca em
uma hierarquia, porém, a pureza de coração das
curandeiras sábias, nos lembra que uma curandeira
é uma simples servidora da luz de Pachamama,
uma menina brincando com flores, amando a luz,
escrevendo poemas para a lua, e abraçando suas
avós.

O único poder que tem é o poder dos inofensivos,


de estar sempre se curando, limpando, sanando,
enxergando sua sombra e abraçando-a com luz e
humildade.

Nestes tempos, onde cresce a cada dia o “shopping


terapêutico”, e muitas mulheres sentem um cha-
mado de “curar”, precisamos aprender das velhas
curandeiras, que ninguém pode ter o dom da cura,
sem antes ter sido curado, e sem estar em uma cons-
tante e eterna limpeza energética, mental e emocio-
nal COM SUA SOMBRA.

98
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Barbara Ann Brennan, escritora do livro Mãos que
curam (1987), escreve uma linda frase sobre este
assunto: “O outro lado da cura se chama controle”.
Quando a pureza nos falta, e a humildade de nos
reconhecer precisadas de guia e sanação interna não
é ouvida, nos convertemos em supostas curadoras
que desejam curar outras mulheres pelo medo de se
curar a si mesmas.

É preciso compreender que uma curandeira não é


uma terapeuta, no sentido em que se dedica a curar
os outros. Uma curandeira dedica-se, antes de tudo,
a sanar-se a si mesma, purifica-se infinitamente e
com isto já sana os outros e ajuda a Terra.

Desta forma, saber curar é uma consequência de


saber amar e estar pura, sana de corpo e de espírito.
Saber curar os outros nunca é o principal objetivo de
uma curandeira, é só uma ferramenta, um delicioso
momento de compaixão infinita, que é uma forma de
amor profundo por aquele que sofre, para quem as
plantas se entregam com carinho como um bálsamo
amoroso nas feridas.

Esta sobriedade, este servir silencioso é uma marca

99
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
das curandeiras andinas mais antigas, das Collas, das
Virgens do Sol, simples e ocultas em seu mistério
maravilhoso.

Do outro lado do continente sul americano, Maria


Sabina foi uma mulher muito famosa e procurada,
mas sua pobreza e sua pureza a mantiveram em
sua montanha, humilde e longe de tudo quanto é
interesse do mundo.

Aqui, alguns dos seus cantos preciosos, para sentir


sua alma velha e pura, como água de montanha cris-
talina:

Mujer espíritu
Maria Sabina9

S oy la mujer luna
Soy la mujer que vuela

Soy la mujer Aerolito


Soy la mujer Constelación Huarache
Soy la mujer constelación bastón
Soy la Mujer estrella

9
Textos completos em: ESTRADA, Álvaro. Vida de Maria Sabina. La
sabia de los hongos. México. Século XIX Editores, 2005.

100
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Dios
Porque vengo recorriendo los lugares desde su
origen
Soy la mujer de la brisa
Soy la mujer rocío fresco
Soy la mujer del alba
Soy la mujer del crepúsculo
Soy la mujer que brota
Soy la mujer arrancada
Soy la mujer que llora
Soy la mujer que chifla
Soy la mujer que hace sonar
Soy la mujer tamborista, soy la mujer
trompetista
Soy la mujer violinista, soy la mujer que alegra
Porque soy la payasa sagrada

ma
Poe

101
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Desenha e descreve tuas sombras

Viv
ênci
a

102
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Purificação do Útero
Vaporização Vaginal
Receber o vapor de plantas e óleos essenciais em
nossa vagina é uma magnífica experiência de cura e
limpeza energética e física e, também, um delicioso
mimo para nosso corpo e ser.

A vaporização tem tantas bondades! Ela é usada para


aliviar cólicas, harmonizar a menstruação, fortalecer
o assoalho pélvico, aumentar a libido e facilitar a
fertilidade feminina. Também pode ser usada para
limpezas e purificações do útero e sanação depois
de abortos e perdas de filhos recém nascidos ou de
abusos sexuais.

Durante o trabalho de parto é usada para aprimorar

tual
a dilatação do colo do
útero e para relaxar o
Ri

corpo da mulher durante


as contrações. Serve para
fechar o útero e a região
pélvica após o parto, e
para acalentar e revigorar

103
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
nosso útero. Durante a gestação não deve ser usada
pois o calor do vapor dilata o colo do útero e pode
gerar contrações.

Lembremos que uma vaporização não é um banho de


assento, pois neste tipo de banho você literalmente
se senta em uma bacia com água medicinal. Durante
a vaporização a mulher precisa ficar de cócoras
sobre uma bacia com água quente que desprende
um vapor de folhas ou óleos essenciais.

Este vapor quente entra em contato com as paredes


e mucosas do colo do útero intensificando sua umi-
dade, dilatando-as, e aumentando o fluxo sanguíneo
na região. Por meio da pele membranosa do colo; o
vapor entra diretamente no fluxo sanguíneo levando
a informação medicinal das folhas, o calor e o vapor
para todo o corpo, especialmente para nossa região
uterina.

Durante a vaporização, podemos sentir a descida de


um liquido esbranquiçado da nossa vagina, ou maior
quantidade de sangue e coágulos se estivermos
menstruando. Estes corrimentos indicam que está
se efetuando uma limpeza e são resíduos de muco

104
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
ou toxinas físicas e emocionais acumu-
ladas.

Também podemos sentir uma leve cóli-


ca, ou excitação, pois o vapor toca do-
cemente nossa vagina. Em alguns casos
podemos ter lembranças, imagens ou
insights, todos relacionados com a in-
tenção que firmamos antes de começar
o ritual.

A postura de cócoras que é a usada durante a va-


porização, tonifica nosso assoalho pélvico, revigoriza
nossas pernas e coloca nosso chakra raiz em contato
direto com a terra. Também, nos instala emocional-
mente em uma postura ancestral de muito poder,
que pode gerar em nosso ser uma conexão muito
forte com nosso eu feminino mais instintivo e selva-
gem, no sentido de verdadeiro e primordial.

A postura de cócoras nos possibilita também ter con-


tato com emoções primárias e muito densas como
raiva acumulada, ciúme, ira e inveja, permitindo que
estas sejam transmutadas ou expressadas.

105
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Ingredientes:
♥ Uma bacia de argila10

♥ Dois litros de água fervendo

♥ Folhas frescas ou óleos essenciais de


sua preferência11

♥ Estar vestindo uma saia

Preparação:
Reserve um momento tranquilo e íntimo para o
preparo e a vaporização. Durante a menstruação ou
ciclo pré-menstrual são momentos propícios que
incrementam o efeito.

Nos casos de parto e pós-parto, faça a vaporização


com a guia e acompanhamento de sua doula,
parteira ou curandeira experiente, pois a bacia terá
que estar longe do contato direto com a vagina. Pelo
calor e a rapidez com que age o vapor, nestes casos
10
Sugiro usar uma bacia só para suas vaporizações, mantendo ela lim-
pa e bem guardada. Se vai trabalhar com uma bacia já usada precisa
limpar ela muito bem.
11
Para infertilidade, frigidez e cólicas menstruais: canela, artemísia,
camomila e hibisco. Para trabalho de parto: sálvia e camomila. Para
pós-parto: camomila e manjericão. Para limpeza de útero: artemísia,
manjericão, alecrim e arruda.

106
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
se faz com água menos quente e com a mulher em
pé de pernas abertas para o preparo em intervalos
breves de 5 minutos.

Na bacia de argila bem lavada e preparada, coloque


as folhas ou óleos, intencionando a vaporização,
pedindo para seu eu superior a manifestação e
sanação dos aspectos que deseja curar. Permita que
estes se manifestem intuitivamente e não intente
controlar ou reger a partir da racionalidade este
ritual.

Coloque a ferver dois litros de água e quando este-


jam prontos coloque-os na bacia onde esperam as
flores ou óleos. Tampe bem a bacia e coloque-a no
local onde fará a vaporização.

Fique em pé sobre a bacia e com sua saia crie


uma pequena sauna para proteger a saída do
vapor fora dela, permitindo que este entre em sua
vagina. A medida que vá tomando confiança e se
acostumando a temperatura quente, vá descendo
seu corpo até ficar de cócoras, tomando cuidado
para não se queimar. Pode se apoiar em uma cadeira
ou pequeno banco para poder manter a postura.

107
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Fique na sua vaporização até a água ficar morna.
Durante este tempo, que será de uns 15 a 20
minutos, pode rezar e cantar intuitivamente,
entrando em contato com o sagrado saber de sua
vagina, falando com ela, cantando e permitindo uma
preciosa relação de escuta, observando as emoções,
reações, insights e lembranças que vão chegar.

Se vier cólica ou desconforto físico ou emocional,


respire com confiança e segurança até passarem,
permitindo que se manifestem e transformem.
Igualmente, se sentir excitação, permita que esta
chegue e se manifeste, algumas mulheres também
sentem orgasmos durante a vaporização ou muito
desejo sexual.

Uma vez esfriada a água, retire seu corpo com cui-


dado e levante devagar, vai se sentir super relaxa-
da e com sono. Pode esvaziar a água e deitar para
descansar e dormir, ou tomar um banho morno e
delicioso.

A vaporização pode ser repetida durante os 3


primeiros dias da menstruação ou pré-menstruação.
Para casos de limpeza do útero, infertilidade ou falta

108
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
de apetite sexual é necessário repetir o processo
entre 3 e 9 luas consecutivas, dependendo de cada
mulher.

Nos casos em que a mulher sofre de pressão alta,


problemas do coração ou está na menopausa e sofre de
excesso de calor, recomendo não fazer as vaporizações
ou procurar a orientação de uma curandeira ou
terapeuta para avaliar o caso.

Também não pode ser feita em caso de infecção


vaginal, candidíase e vaginites, HPV (Vírus do Papi-
loma Humano) ou qualquer tipo de doença que oca-
sione coceira ou erupções na vagina. Nestes casos,
sempre é melhor um banho de assento morno ou
frio, ou duchas vaginais adequadas.

109
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
110
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
ória
Hist 6. No Coração
A Cerimônia da Rosa
Conheci várias curandeiras, mas,
poucas como a Mama Melusina
Iriarte, uma preciosa herdeira dos
ventos que vive com a consciência
coração muito acordada e que pertence a senda
dos curandeiros andinos solares e a linhagem das
parteiras por vocação, essas mulheres que são
chamadas por outras nas horas em que a vida e a
morte se juntam para ver nascer o alento.

Com ela aprendi muitas coisas, especialmente


abraçar sem condição e receber o todo sem medida.
Aprendi sobre a maior liberdade de uma mulher
que é não acreditar nos limites, nos conceitos pre
fabricados, nos saberes incorporados, pelos que
lutamos, sem permitirmos fluir no instante que é
novo e brincalhão. Nessa consciência da liberdade
verdadeira, a mulher se converte em curandeira e os
mistérios da vida e da morte lê são revelados.

Quando a sinto, aprendo que existem mulheres que

111
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
marcam nossa vida sem marcas, sem cicatrizes, sem
abruptos acordares, Melusina é uma dessas mu-
lheres, de quem aprendo sem dor e sem esforço
as mais nobres verdades da senda espiritual, lições
alinhadas com a energia Shakti que se manifesta na
realidade sem dureza ou fadiga.

Há um saber nesta Mama que na senda


da curandeira é fundamental: curar,
viver e perceber com a energia do
coração. Isto é centrar todo processo
de cura além da energia do plexo solar,
que pode em muitos casos abordar a
existência a partir da emoção, dimensão passageira
e ultra variável, diferente da compaixão e o amor
absoluto, que são níveis eternos e fundamentais
da nossa experiência, e manifestos a partir da
inteligência do coração.

Quando abordamos um saber terapêutico desde


o plexo caímos na ilusão do poder, na ilusão da
emoção desbordada e naquele amor emocional e
imaturo que doa para receber de volta e que está
em constante desequilíbrio.

112
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Conseguimos a força pura do curar com o coração,
concentrando nossa vivência no cardíaco, na
rosa dormida do nosso peito, sempre presente e
respingando energia cristal inesgotável e amorosa.
O coração é sóbrio, atemporal, desinteressado e tem
a capacidade de fazer diagnósticos profundos e viver
os conflitos com neutralidade estelar e compassiva.

Na sociedade atual, a maior parte de estímulos,


publicidades, curas e vivências estimulam de forma
inadequada nosso plexo solar, oferecendo-nos
emoções e sensações que nutrem nosso vício de
sofrer, e de ter poder, ou de desejar a felicidade, e
alimentam o sentir a partir da emoção e não da
compaixão na consciência livre, para quem não
existem hierarquias, categorias ou separatividade.

Na procura de sentir a partir da consciência, o Sagrado


Samai da Rosa desde tempos antigos traz uma fala
maravilhosa que alimenta o sentir compassivo e sana
de forma doce e sem atritos nossa capacidade de ser
curandeiras com o coração. A Mama Melusina e as
rosas tem esse poder de ajudar com gentileza, e de
fazer de uma cura uma experiência de beleza e prazer.

113
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Todas as curas que são sentidas com o coração são
de seda, limpas e puras, brilhantes e delicadas, que
acarinham nosso ser e o ser dos outros com o pulsar
da vida.

A rosa, esse ser que sem medida é fantástico e


amoroso, tem uma capacidade infinita de fechar
as feridas do feminino, de abrir o coração e limpar
o ventre. Sua ternura irresistível misturada com a
sensualidade plena e simples, é tão profunda que
contem chaves maravilhosas para o acordar na nossa
consciência-ventre o espírito que cura, espírito da
“Mulher espírito”.

Entrar no domínio da rosa, significa estarmos


dispostas a permitir que floresça nossa curandeira
além da emocionalidade infantil, da ilusão de poder,
das modas, e do desejo de ter poderes mágicos para
dominar ou modificar a energia das situações ou
as pessoas. Curar a partir da ilusão e a emoção, só
mostra que nossa autoestima ainda é fraca, e que
nossos atos de cura só existem para seduzir aos
outros em uma busca cega por ser amadas.

O domínio da rosa nos exige total sinceridade, total

114
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
consciência perante qualquer ilusão, e total humildade
de reconhecer que não somos nós quem cura, que a
cura não tem um propósito ou final pré-estabelecido,
e que nosso serviço é totalmente dedicado a sanação
desta Santa Terra a quem amamos sem interesses.

Eu aceito, sim, curar como as rosas curam, com beleza


e ternura, com sutil inteligência cristal.

115
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Padrão emocional.
Escreve um pouco sobre tuas emoções
repetidas e seu padrão de comportamento.

Viv
ênci
a

116
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Rosa
S ou a rosa

Existo na plenitude do tempo.

Respiro,

Simplesmente respiro.

E me ofereço ao dia, inteira e alegre, chamas


isso de pétalas.

Chamo agradecimento ao que tu chamas de


perfume,

E presença, ao que chamas de beleza.

O orvalho me banha, o sol penteia meus


cabelos, a terra abraça minha alma.

Curo, de tanto ser feliz.

ma
Poe

117
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Sanação de Abortos
e Filhos Não Nascidos
tual
Ri

“Porque a vida só se dá
Pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou
Pra quem sofreu. Ai! (...)
Vinicius de Moraes

“Quando as flores secas caem alimentam a terra”

Sim querida, há momentos da vida em que nosso


útero é tocado pela morte. Ela é fria e densa, um
obscuro bosque de silêncio. Filhos morrem dentro
de nós, caminhos se fecham, amores se vão, e nosso
ser é colocado de frente com o animal selvagem do
sofrimento.

Mas, a morte também nos faz abundantes, misterio-


samente nos regenera, e nos revela o renascimento. A
presença da morte em nosso útero é como a vida de
Frida Kahlo: uma caveira adornada de flores abundan-
tes, de frutos generosos, de folhas húmidas do mato.

Nos tempos de edição deste livro eu perdi uma


pequena e breve filha, com a interrupção natural
de uma gravidez dolorida e misteriosa. No mistério

118
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
grandioso desta terra, não temos como evitar o
sofrimento. Só podemos vê-lo com coragem e aceitá-
lo como vem, sem a luta do controle racional.

Uma mulher comum se entrega ao sofrimento e


ao show que as emoções lhe propõem, se vitimiza,
culpa e sente culpada. Uma curandeira, porém,
compreende que o mistério da morte traz uma bela
mansidão. A humildade de saber-nos pequenas, e
a aceitação plena ao inevitável: a fase esquelética
da Grande Mãe, que em sua sabedoria infinita
às vezes nos rouba os filhos, e coloca túmulos em
nosso ventre, e com isto nos presenteia com uma
pele nova e uma lição sobre a temperança, coragem
justa, a entrega sem condições ao canto da vida
onde a morte também é possível.

Uma das experiências marcantes na vida de uma


mulher é a passagem por uma interrupção
da gravidez ou a perda de um filho durante
seu nascimento ou antes dele.

Esta experiência é diferente em cada corpo


e situação. Por exemplo, perante ao aborto
induzido, assim, como ao abuso sexual

119
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
existe muito silêncio e desinformação, devido ao fato
de ser uma prática não legalizada ainda em muitos
países, como o Brasil ou a Colômbia, ou legalizada em
processos específicos de mal formação, abuso sexual
ou risco de morte para a mãe.

Este silêncio e moralização de um problema que é da


ordem da saúde pública, contribui com que o risco
de morte seja muito alto, e que as consequências
psicológicas não sejam tratadas. Nos casos mais
simples, que as experiências se enterrem no oculto
do ventre de uma mulher, e sejam guardadas
de forma densa e agressiva, causando muitos
desconfortos emocionais, falta de fecundidade e
problemas psíquicos colaterais.

Por outro lado, os abortos espontâneos tem um perfil


diferente. Mesmo quando os filhos são esperados
ou desejados, o amoroso intento da vida por
conservar-se em harmonia, faz com que o processo
não continue e provoque as perdas naturais. É
difícil de compreender e o corpo tarda um tempo
em fazer esta aceitação, mas, o caso de um aborto
espontâneo é uma proteção que Pachamama nos
brinda, e a possibilidade de termos maternidades

120
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
tranquilas e filhos saudáveis.

Os abortos por perdas violentas, acidentes ou algum


tipo de traumas inesperados são também diferentes
e tem outros pesos e consequências na vida feminina.
Mas, nestes casos ou nos abortos espontâneos os
processos mesmo sendo dolorosos são amparados
pelo sistema de saúde, e nós mulheres corremos
menos riscos de morte e recebemos atenção e apoio
familiar e social que nos permite uma recuperação
mais adequada e humanizada.

No mundo, uma de cada três mulheres já teve


um aborto, seja espontâneo ou induzido. Por
isto, um dos objetivos do Samai, encomendado
especialmente pelas abuelitas que o guardam, é
curar este registro em nosso ser, trazer luz, perdão e
oferendas para estes pequenos seres que não foram
encarnados, e sanações simples porém profundas
para as mulheres.

Se na nossa vida tivemos uma


experiência como esta, tomemos
coragem de sanar nos círculos
femininos ou nas tendas de mulheres,

121
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
e quebrar o silêncio que muitas mulheres guardam
sobre o assunto. O silêncio parece uma forma
de culpa, um véu que nos impede ter a partilha
amorosa e bem orientada de ressignificar nossa
própria história. É necessário lembrar que não
estamos sozinhas neste caminho de sanar a vibração
do nosso ventre, que é também parte do ventre da
Terra, que sente nossa dor e que como mulher, tem
vivenciado inúmeras perdas de pequenos filhos
amados, o que a converte, mais uma vez, em nossa
parceira e comadre.

Cuidados após um aborto


A abuela Blanca, de quem falamos no primeiro
capítulo, chama os abortos de “partos chiquitos”, em
português esta suave expressão se traduziria como
“pequenos partos” ou “partinhos”. Isto porque no
mundo andino das nossas avós se acredita que a
recuperação do aborto é tão importante e delicada
como a recuperação de um parto.

Assim, a mulher é convidada a tomar alguns cuidados,


como estar acompanhada e rodeada de um grupo de
amigas ou familiares que a acolham e recebam em

122
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
seu colo e também acolham ao esposo e aos filhos
vivos.

Precisa permanecer aquecida (pés, ventre e peito) e


quieta, as avós incluso falam de fazer uma pequena
quarentena até o útero se recuperar em sua
totalidade, acompanhada de alimentos vivos e ricos
em energia abundante e sutil, como sopas e caldos
revigorantes, e também chás ultra energéticos
que misturem folhas com rapaduras e alimentos
calóricos.

Banhos de folhas e uso de cristais e pedras


também são altamente recomendados nesta face,
especialmente da crisocola, que pode ser colocada
assim: uma no ventre, dois nos ovários, outra no
coração e uma mais no terceiro olho. A companhia
de um terapeuta ou guia espiritual experiente,
é muito importante, para que nos oriente e nos
permita falar sobre o acontecido e fazer o luto pelo
pequeno perdido.

No capítulo chamado “A brasa, o Chumbe e o man-


to”, deste livro, você aprenderá a fazer uma faixa me-
dicinal para embalar o ventre, esta é o instrumento

123
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
mais precioso para a recuperação de um aborto, pois
aquece o corpo e permite que o ventre tenha um es-
paço de contenção que o acolha amorosamente. É
recomendado usar ele durante os próximos 40 dias
até que o corpo tome de novo sua antiga forma, e o
útero se restabeleça por completo.

O sangue menstrual que é derramado após o aborto


é muito importante, é um choro que limpa o corpo
e quando cessa, uns 15 ou 20 dias depois, a nossa
lua interna muda, e de novo nosso útero se prepara
para rejuvenescer e continuar.

Os mantos quentes dos que também falaremos


mais a frente, são peças muito queridas para esta
sanação, pois trazem proteção e conforto maternal e
tranquilidade.

Durante o capítulo da “botica de las abuelas” poderá


encontrar algumas referências a plantas, banhos e
curas para sanar este episódio.

No momento em que a mulher sinta que é impor-


tante pode ser feito um pequeno ritual, dentro das
crenças de cada uma e sua devoção.

124
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Preparemos juntas esta oferenda simples e bela
para informar ao nosso ser interno e aos pequenos
não nascidos, que estamos dispostas a abrir a ferida,
saná-la com doçura e fechá-la depois com bálsamos
de amor e perdão, sempre dispostas a recomeçar no
mistério cíclico que Pachamama nos oferece.

Ingredientes:
♥ Rosas rosas (sinta intuitivamente o nú-
mero);

♥ Uma oferenda natural (sinta intuitiva-


mente o que gostaria de oferendar a
criança e a terra, permitindo que seu
coração escolha);

♥ Artemísia para chá;

♥ Um pequeno e simples altar com uma


imagem de uma deusa, santa ou orixá que
sinta intuitivamente pode acompanhá-la
na jornada de oferenda e sanação. São
muito bem vindas Oxúm, Iemanjá, Santa
Teresinha ou a Mãe Maria, entre outras;

♥ Uma vela rosa de 7 dias;

125
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Preparação:
Escolha um lindo e especial lugar no meio da natu-
reza com um riacho ou rio para realizar a oferenda
e limpeza. Sugiro que esteja acompanhada de uma
boa comadre ou curandeira, e compartilhar com ela
as intuições e reflexões.

Também pode escolher a lua nova como marco para


o ritual ou seu primeiro dia da menstruação, épocas
em que seu poder de transmutação está em alta.

Tome um banho nua no rio com total presença,


pedindo para que a água doce a limpe e a purifique,
demore um tempo e sinta profundamente o contato
com o rio e seu fluxo de movimento suave e uniforme.

Em seguida, entregue as rosas para o rio, tirando


as pétalas do caule devagar e deixando que sua
experiência vá sendo revivida, pode falar frases ou
palavras que venham ao seu coração, orações ou
cantigas, libertando o perdão para Pachamama, para
o pequeno ser e para você mesma, e sentindo como
as pétalas são levadas pelo rio e vão ficando longe
de você, dançando com as ondas, elas vão indo sem

126
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
parar e sem retornar.

Quando tiver na mão a última rosa, e deixando ela


inteira, com carinho, faça um mimo nela, que repre-
senta o pequeno ser não encarnado ou não nascido,
e com todo seu poder de transmutação reze para
ele, faça saber de seu amor e compaixão, e entregue
a rosa para o rio, observe nela que o pequeno ser
vai sendo docemente levado pela água, dançando se
entrega ao fluxo, até encontrar um mar de luz e de
amor que o recebe e acolhe maternalmente.

Permita que ele vá embora e não sinta apego pela dor


e pelas experiências que este ser veio a lhe ensinar.
Permita que se libere e que você seja libertada,
assim, como toda sua linhagem.

Quando acabar, tome a oferenda que


preparou, e entregue-a também no
rio, como presente a terra e a água
pelo seu carinho e abundância.

De volta em casa, monte seu altar


e acenda a velinha durante sete dias, entrando
em contato com suas guias e guardiãs. Neste dia
comece a tomar o chá de artemísia, e siga tomando

127
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
três xícaras diárias durante os 7 dias que a velinha
ficará acesa (a medida é uma colherinha de chá em
uma xícara de água fervendo). Este preparo tem
propriedades de limpar o ventre de registros densos
e histórias antigas, e é preciso tomá-lo para que a
limpeza seja feita em sua totalidade.

Se estiver grávida pode simplesmente colocar a arte-


mísia no altar, pois neste caso não pode bebê-la.

A artemísia é uma planta mestra, uma velha


curandeira em forma de folha, que acompanha o
caminhar das mulheres neste mundo desde tempos
muito antigos, e que vai abrir feridas antigas e
emoções ocultas, fique aberta e atenta e não desista
até o dia 7 acabar, e se vierem crises, medite em seu
altar e peça a guia das suas protetoras que estarão
amorosas assistindo-a e acolhendo sua sanação.

Depois deste ritual, vai sentir a leveza e a doçura da


vida, um grande peso vai ser tirado de você, peso
energético carregado em seus corpos, durante tanto
tempo.

Também, vão ser trazidas sincronias e pessoas que


vão ajudá-la a sanar questões relacionadas com a

128
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
experiência. E ao se libertar deste peso, também
sanará sua linhagem, preparando seu ventre
para novas gestações e maternidades, e também
ajudando a Pachamama a se limpar e sanar.

Que o amor das Rosas e a potência sagrada da arte-


mísia a acompanhem nesta trilha, e que seu ventre,
minha querida comadre, seja limpo pelo poder das
águas fluídas e douradas, e que nele durmam cal-
mas as estrelas e os passarinhos cantores. Que cada
passo deste ritual a harmonize com o verde frescor
da Mamita Grande e seu inesgotável candor de seda
pura e ninho de rosas.

129
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
ória
Hist

130
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
7. A Brasa, o Chumbe
e o Manto
Me lembrei de Dona Victoria Arciniegas, uma
velhinha sábia e agradecida amiga de vizinhança,
mulher simples e bondosa que sempre me deu
muitos presentes, especialmente o presente de sua
ternura. Eu a conheço e ela me conhece desde a
infância, e costurou para mim um precioso manto
ritual azul que me acompanha nos momentos de dor
e alegria e nos círculos de mulheres. Este manto está
inspirado nas belas roupas das mulheres da nação
Kamsã no Valle de Sibundoy, sábias e guerreiras que
tem guardado para nós sua sabedoria de teares e
contas.

Vi muitas vezes Dona querida Victoria chorando em


minhas inúmeras partidas, solidária com a dor da
minha mãe, por ter uma filha nômade, que pertence
ao mundo. Também a vi se contentando com meus
retornos esporádicos e cada vez mais espaçados,
recebendo-me com abraços fortes e sorvetes de leite.

Vejo, através de seus cabelos brancos e trançados,

131
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
o quanto pertenço ao local onde nasci, aquele po-
voadinho esquecido e montanhoso, aquele bairro
velho compartido pelas mesmas famílias há dezenas
de anos, observando umas e outras gerações nascer
e ir embora na inclemência do tempo.

Ah! Dona Victoria! Este manto que partilhamos tem o


azul eterno de minha raiz, aquela que vim descobrir a
tantos quilômetros longe de você e de minhas mulheres,
perto de desconhecidas que se converteram em irmãs.
No final do mundo, longe da casa materna e da terra
onde nossas mortas foram enterradas, aprendemos
que nenhuma geografia nos separa, pois pertencemos
ao corpo grávido de Pachamama em qualquer latitude,
e enquanto peregrinas, entregamo-nos a pertencer a
todas as terras e costumes. Comemos tudo, amamos
tudo, especialmente isso que é tão desconhecido
quanto distante para nossa alma.

Nesta pátria viajeira, esse manto se conver-


teu em minha lareira, no fogo que me aque-
ce nestes frios invernos, longe do trópico e
do sol radiante dos Andes amados.

Dona Victoria, este manto se converteu no

132
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
meu casulo, testemunha das minhas incontáveis
mortes e ressureições. E suas mãos estão nele, seus
fios e sua velha máquina de costura.

O manto me lembra que é uma extensão do corpo da


curandeira, sua casa e espaço sagrado, seu laboratório
de alquimia. No manto nos aquecemos e consolamos
nas mortes do caminho, abrigamos nossos filhos,
brincamos com os oráculos e nos sentamos nas
cerimônias. Adentro do manto nos preparamos
para parir e para sonhar com cantos novos e mais
humanos.

O manto e as faixas rituais da curandeira andina são


feitas uma vez na vida, e vivem até que morrem,
acompanhando com carinho e boa vontade a senda
de amor pela terra e o despertar espiritual. Estas
prendas medicinais são varinhas mágicas, que nos
servem em silêncio e que cuidamos com o carinho
com que uma velha cuida da filha de sua comadre e
vizinha.

Um manto é uma proteção, pois o trabalho de cura


requer anjos em nosso caminho, doces cobertas
que nos ninam e acompanham. Fazer ou tecer um

133
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
manto é uma experiência de reencontro com nosso
feminino perdido, o manto é um útero, e pode ser
usado no passo das nossas estações entre a menarca
e a menopausa, como uma pequena casa, que nos
envolve e acolhe e onde a lareira do nosso útero
está sempre acesa e luminosa.

Agradeço esse delicado presente que recebi desta


abuela, a quem honro com grande amor, com a certeza
que sua humilde verdade mora em meu ventre e no
ventre das minhas filhas e netas.

E mais uma abuelita vem chegando com passinhos


lentos e caminhar de índia baixando uma montanha.
É a bela Emerenciana Chicunque, uma curandeira da
mais nobre estirpe de artesãs Kamsã, que me lembra
das antigas guerreiras tecelãs, do Império. Esta
abuela anda a vida liderando sonhos impossíveis e
belas utopias de amor pelas mulheres, as meninas e
as avós. Conheço-a há muito tempo, porém, sentei
há pouco em um círculo com ela no meu país, onde
as mulheres se juntam para chorar a guerra, para
protestar contra o absurdo das armas e da pobreza,
e para celebrar o grande talento de semear juntas
no meio de tantos infortúnios e esquecimentos.

134
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Dela, ganhei um chumbe, uma faixa tecida, que a
maior parte de mulheres andinas usam no ventre
como proteção e como honra ao sagrado presente
de ter um útero.

O chumbe é a metáfora do “quente”, a temperatura


na que o ventre precisa ser aquecido e ninado, e a
metáfora do tecer, que é um ato de guardar com
fios o fluir da memória, um espaço de sanação das
mulheres, um lar de encontro, de suavidade para as
durezas cotidianas.

O chumbe contém o mistério da temperatura uterina


da Pachamama, seu nobre e milenar serviço nos
lembra o equilíbrio que a fertilidade de uma mulher
precisa, viver na dimensão quente e na dimensão
úmida ao mesmo tempo, pois o ventre que é nosso
coração complementar, precisa estar
sempre no ponto de equilíbrio de emoções
e estados mentais.

A curandeira retorna amorosamente o


chumbe às mulheres, devolve para elas a
consciência do aquecimento, da brasa nas
fogueiras das tecelãs, devolve a sabedoria

135
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
do tecer, do juntar com fios a trama solta da vida. A
curandeira conhece os mistérios de embalar o ventre,
do enchumbar12, tirar o frio polar que entristece os
ovários, que seca nossa úmida sexualidade, nosso
ardor de flama e rio.

Esta abuela tecelã com sua amistosa ternura


colorida, ensinou-me aquele dever da curandeira
mayor, o dever de sentir dor pelo mundo, de sair
do pequeno espaço de conforto do ego, e juntar
aos outros nos próprios sonhos, de servir nos atos
pequenos e nos atos grandes da nossa vida, e de
entender que o trabalho com mulheres é um longo
caminho de resgate da dignidade e da voz em toda
a terra.

Emereciana e seus teares justos e belos, é uma servidora


do universo, para quem o mundo tem sentido quando
ajudamos, no delicado amor a esperança, mesmo no
meio da guerra.

12
Esta palavra se refere ao ato de embalar o ventre ou uma criança
recém nascida com uma faixa medicinal tecida.

136
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Chumbe y Manto
Á ngel cariñoso
Cálida mano de abuela
que enciende la brasa interna de la suavidad.
Tu piel me devuelve
a la ternura frugal del útero materno
Cierras las heridas y arrullas mi ombligo
arrullando la fuerza volcánica del vientre,
que educas para que sea libre y cálido.

Una tejedora te forjó


con los hilos de sus sueños
al pie de una hoguera india.
Las hojas de albahaca

ma y el olor del maíz enamorado


Poe

te vieron nascer en su casita del monte.


Un canto andino de montaña
te arrulló en tu verso
Hasta que llegaste a mí,
para regalarme la visión
Para recordarme

137
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Artes manuais
Um pouco sobre teus feitos e teares

Viv
ênci
a

138
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Tecendo uma faixa medicinal ou
Chumbe
Mmmm, amadas comadres, como gosto de
tecidos e lãs! De fios e agulhas! Como tenho dias
de ficar quietinha fazendo algum tecido ou peça
que nunca consigo acabar. Sobretudo no outono,
onde as forças vitais nos convidam naturalmente
ao recolhimento, permito-me tecer, feltrar e bordar,
preparando feitos para passar um gostoso inverno
quentinho!

Como é bom na vida de uma curandeira o tear e


o crochê. Como as velhas da floresta nos visitam
quando nos sentamos juntas a criar com as mãos,
que são extensões do nosso coração! Como tenho
visto mulheres se curarem quando constroem
bonecas terapêuticas, mandalas lunares de feltro e
mantos rituais!

Que gostinho lindo tenho no meu ser desses rituais


que como o penteo ou a cama de flores, só nos pre-
senteiam com paz e bondade, e nos permitem sentir
o jeito mimoso de Pachamama.

139
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Assim, nesta cerimônia, vamos fazer um chumbe,
uma faixa ritual para embalar e sanar o ventre e usar
em nossos momentos de maior poder e de maior
fragilidade. Quem é boa no tear pode fazer seu
chumbe nele ou em croché, mas, quem não conhe-
ce estas técnicas pode fazer do seguinte jeito sim-
ples e gostoso.

Ingredientes:
♥ Duas faixas de tecido fofinho e de pre-
tual ferência natural, como feltro não indus-
Ri

trializado ou algodão, com as seguintes


medidas: 2 metros de comprimento por
15 centímetros de largura. Sinta intuiti-
vamente a cor;

♥ Lã fiada da cor de sua eleição, ou fio de


algodão;

♥ Agulha;

♥ Tecidos para enfeites;

♥ Algumas flores ou folhas medicinais se-


cas de sua preferência;

140
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Preparação:
Esta elaboração pode levar vários dias ou semanas,
dependendo de sua disponibilidade e entrega.

Intencione o trabalho e peça que a cura chegue


durante a elaboração e nas ocasiões em que esteja
usando o chumbe. Prepare um cantinho gostoso
em casa e um cesto lindo com todos os materiais.
Lembre suas avós e tias, aquelas artistas das mãos
que andam cantando ainda nas esquinas de sua
orelha. Cante aquelas canções velhas que sua avó
cantava, as de vitrolas e rádios antigas, e vá cortando
o tecido bem direitinho para que tenha duas faixas
iguais, prontas para costurar.

Quando as faixas estiverem prontas, junte-as e faça


um ponto caseado ou de outro tipo para uni-las,
assim o chumbe ficará construído com um tecido
duplo que no meio levará as folhas ou
flores secas.

Vá lembrando e cantando, e quando


acabe de costurar um dos lados vai
colocando dentro da faixa dupla as
folhas e flores. Sinta que imagens e

141
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
símbolos vem, todos eles poderão ser costurados,
desenhados ou colados sobre o chumbe antes dele
ser fechado completamente.

Ao final terá um linda faixa medicinal com cheiros e


símbolos costurados e muitas intenções de sanação.

Para usá-lo, envolva sua barriga nos dias de cólicas,


tristezas ou rituais e cerimônias, observando como
aquece e aconchega seu ser trazendo muito conforto
e alegria. Pode usar depois dos partos e/ou abortos;
enfim, depois de eventos dolorosos ou momentos
de desafios e renascimentos.

Guarde seu chumbe com carinho e evite emprestá-


lo, pois é uma prenda própria que contem sua energia
única e preciosa.

É maravilhoso ouvir de todas as mulheres que já


usaram o chumbe, ou que estiveram em círculos de
preparação, o quanto elas sentiram uma mudança
profunda na percepção de seu corpo e sua temperatura
uterina. Sentiram aquele gostinho bom de ser nanadas
por elas mesmas, ou de terem a coragem de sanar
histórias e colocar flores em seu ventre, cheirinhos de
camomila e anjos de rosas e canela.

142
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
8. Princípios básicos da
Medicina Feminina Andina
Já no finalzinho, como fusão de histórias e vozes,
seguindo as inspirações das velhas e das flores,
este breve capítulo nos entrega alguns aspectos
da terapêutica feminina andina. Esta ginecologia
tradicional é bastante antiga e popular, e tem como
propósito que as mulheres compreendam e sintam
que o uso de plantas e curas tem um fundamento
médico e cultural, que é importante conhecer para
não cair no uso inconsciente e instrumentalista das
plantas e curas.

Como poderá observar, cada planta das que


mencionamos no capítulo “La botica de las abuelas”
tem um motivo e uma finalidade, e corresponde a
uma forma filosófica e medicinal. Estas plantas foram
ória
Hist escolhidas, porque são populares no
Brasil e na América Andina, pois na
botânica original das avós existem
inúmeras plantas, porém, as que
aqui trataremos são de fácil acesso e
conhecimento nas duas geografias.

143
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
As listagens originais foram recolhidas da sabedoria
das abuelas Blanca e Marina e alimentadas com
inúmeros tratados botânicos e antropológicos que
poderão ser consultados na bibliografia. As análises
e interpretações filosóficas e ginecológicas são
o resultado de pesquisas, entrevistas, múltiplas
experiências e testes. Também de intuições e vivências
na minha trilha como curandeira e mulher, pois
grande parte das artes terapêuticas femininas, é
transmitida e resgatada em sonhos, sincronias e
insights ou visões, o qual faz deste conhecimento
uma mistura de ciência, tradição e intuição.

Portanto, este saber é a somatória de saberes de


várias gerações e fontes, conservando sempre a
beleza e magnitude do saber andino e sua poética
e potente forma de enxergar a saúde e o mistério
feminino de forma simples e caseira.

8.1 A Unidade
Uma curandeira possui conhecimento e habilidades
para acompanhar as pessoas na manutenção ou
recuperação do equilíbrio das forças vitais, geradoras
da saúde e o bem estar físico e emocional.

144
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Cuida também do equilíbrio entre as forças vitais
do ser e as forças vitais da natureza e o cosmos,
pois, sem essa interação; a saúde não seria
possível, nem para o indivíduo nem para o
cosmos, pois, uma rede de relações de um
grande ecossistema vivo e amoroso chamado
Pachamama, são tecidas entre os níveis mais
sutis, pequenos e individuais, e os grandes e
complexos níveis maiores.

A curandeira ensina como transitar entre as forças


que comandam nosso ser (luz e sombra), e as
forças do cosmos e da natureza, lembrando com
sua arte terapêutica a sabedoria do equilíbrio, pois
as forças opostas que regem nossa vida e a vida da
natureza, são complementárias e indispensáveis
para nossa saúde, embora nossa educação cristã e
capitalista nos faça perceber elas como opostas ou
em contradição.

A unidade do ser consigo mesmo e com PACHAMAMA


seria, então, o belo resultado chamado de saúde.
Uma forma de unidade e de comunhão com o Todo
e não só um resultado físico de boas condições
corporais.

145
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
“Só faltava um
pinguinho de luz!”
Remédios

146
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
8.2 A Dualidade
Na tradição terapêutica andina, a saúde feminina é
um estado de equilíbrio e unidade a través do balanço
da dualidade entre as forças vitais quentes e frias:
solares Tayta Inti (pai sol) e telúricas Pachamama
(mãe terra). Este aspecto é similar na maior parte
de medicinas tradicionais na América Latina rural.13

Também encontramos as forças leves, sutis e luminosas;


e, as pesadas, densas ou obscuras. Estas dimensões
garantem que a vida seja vivida dentro da unidade do
ser, uma unidade que incorpora o espírito, o corpo e o
planeta, e que, como já observamos, podemos chamar
de saúde.

Desta vez, só falaremos da dualidade quente e frio,


que tem relação direta com a saúde feminina.

As forças quentes se relacionam com a energia solar,


quente, masculina, seca, celeste e luminosa. Estas
forças regem os estados corporais e emocionais de
vitalidade, exteriorização, comunicação, atividade,
13
Este aspecto foi bem estudado pelo professor Franz Faust. Uma bre-
ve parte de sua pesquisa pode ser encontrada no texto: “Apuntes al
Sistema medico de los campesinos de la sierra nevada del Cocuy”.
Bogotá Boletín del Museo del Oro, No 26. 1990.

147
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
determinação, decisão, força, fortaleza, conexão
espiritual e empreendimento.

Em desequilíbrio estas forças podem gerar uma série


de doenças e sintomas relacionadas com excesso ou
falta do estado “quente” da energia vital feminina.
Estas forças estão expressadas também em plantas
específicas que regem a dimensão “quente” e
que proporcionam as curas necessárias quando
este princípio se encontra em desequilíbrio. Pode
encontrar uma listagem destas plantas e doenças no
capítulo chamado “Botica de las Abuelas”.

As forças frias se relacionam com a energia telúrica,


feminina, úmida, terrestre e obscura, e comandam
os estados corporais e emocionais de interiorização,
serenidade, tranquilidade, sossego, relaxamento,
silêncio, ancoramento, transmutação, recolhimento,
fecundidade, sexualidade, maternidade.

Em desequilíbrio estas forças podem gerar uma


série de doenças e sintomas relacionadas com
excesso ou falta do estado “frio” da energia vital
feminina. Como no estado quente, estas forças
também se expressam em plantas específicas que

148
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
regem a dimensão fria, e que proporcionam as curas
necessárias quando este princípio se encontra em
desequilíbrio. Veremos uma listagem destas plantas
ou doenças no capítulo “Botica de las Abuelas”.

O “quente” e o “frio” não se referem


exclusivamente à temperatura,
mas, sim às qualidades acima
enumeradas, que são dimensões
da existência, lugares pelos quais
as mulheres transitam para
compreender o caminho, a beleza e majestosidade
do nosso ninho chamado Pachamama, que é o nosso
planeta e nosso ventre ao mesmo tempo.

8. 3 A Trindade
Desta forma, a medicina andina feminina se rege
por um princípio: as mulheres pertencem à natureza
“fria”, “telúrica”, “feminina”, nossa experiência
sensorial e corporal deu para nós essa característica
fantástica: habitamos “o mundo de embaixo”, o “mundo
caverna”, o mundo sagrado e maternal da terra, o que
significa que teremos uma tendência nata a nos
desequilibrar inclinando-nos a esta natureza.

149
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Segundo o sábio conhecimento das curan-
deiras, os momentos em que especialmen-
te podemos perder o equilíbrio das duas
forças vitais é durante os ciclos femininos
(menarca, menstruação, gestação, parto,
pôs parto e menopausa). Por quê?

Nestes momentos nossa natureza está centrada nas


forças telúricas frias relacionadas com nossos centros
energéticos e físicos básicos (pés, pernas, púbis,
útero, colo do útero, ovários e vagina).

Emocionalmente estamos também habitando a


dimensão fria (necessidade de intimidade, relação
profunda com sonhos e intuições, necessidade de
descanso, silêncio e obscuridade, desejo de sabe-
res espirituais e místicos, desejo de estar perto de
outras mulheres e desejo de estar perto das nossas
ancestrais).

Durante nossos ciclos, o ser feminino, se concentra


energeticamente nesta dimensão para que,
fisiológica e energeticamente, aconteça o livre fluxo
da vida (parir, sangrar, gestar, amamentar, etc.).
Neste mergulho maravilhoso na terra santa do nosso

150
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
ser, nossa existência se “esfria”, entra no mundo das
águas (dimensão do frio para o saber andino), ao
nível da temperatura e ao nível das emoções que
percebemos.

Por tanto, a curandeira, parteira ou médica tradicio-


nal andina disponibiliza meios naturais de equilibrar
nosso ser e mantê-lo em um estado perfeito, em um
clima perfeito, nem frio demais, nem quente de-
mais, no clima amoroso do útero da Pachamama, no
clima do chumbe e do manto que é o clima natural
do nosso útero (ver capítulo 7 pag. 131).

O saber das curandeiras andinas, nos lembra um


mistério maravilhoso, todos os nossos ciclos femini-
nos partem do mesmo princípio: são um parto, um
mergulho intenso e sem volta ao universo telúrico, e
as forças dos mistérios femininos das águas. O par-
to é o símbolo da morte e do
renascimento, o momento em
que estamos mais próximas da
vida e da morte, da unidade
ou do desequilíbrio, e por isto,
as curandeiras andinas tra-
tam todos os ciclos femininos

151
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
como se fossem o mesmo: plantas similares, trata-
mentos análogos, ambientes e sanações parecidas.

E observam e reverenciam os ciclos naturais femininos


como um Todo, nenhum deles se encontra separado,
um vai nos levando ao seguinte na roda cíclica da vida,
uma e outra vez. Pensar e viver estes momentos por
separado, como comumente acontece na sociedade
contemporânea, nos fragmenta, nos faz adoecer,
tira de nós a oportunidade de ver nossa vida como
um todo, como seres completos e privilegiados com
a mesma qualidade de Pachamama: saber parir, dar
vida, VIDA o tempo todo, de todas as formas, em
cada instante.

E também nesse ciclo, saber morrer, pois a cada


parto uma morte acontece e o mistério fantástico
da mãe poderosa se apresenta, no ciclo infinito da
irmandade dos opostos: a vida e a morte, o quente
e o frio, o solar e o telúrico, a luz e a sombra, o mas-
culino e o feminino.

Em resumo, o oficio terapêutico da curandeira andi-


na se centra no equilíbrio das forças frias e quentes
durante os ciclos femininos, permitindo que a mu-

152
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
lher transite em sua natureza fria e telúrica, mas,
sem esquecer sua contraparte solar e quente.

Observando a listagem no capítulo Botica de las


Abuelas, perceberá que a maior parte das plantas,
usadas nos tratamentos femininos curam doenças
do frio, portanto, a botânica da ginecologia andina
é primordialmente quente. Sendo seres telúricos
inclinadas ao frio, Pachamama nos presenteou com
muitas curas quentes que nos equilibram em nossa
mais pura natureza!

Então, podemos dizer que a saúde existe quando


as mulheres apresentam uma natureza corporal e
emocional balanceada entre o frio e o quente, e a
doença aparece quando uma das dualidades é prio-
rizada e outra esquecida.

O ofício da curandeira é realizado através


de três dimensões:

1. Plantas medicinais que tem as qualida-


des frias e quentes;

2. Alimentação que tem qualidades frias


e quentes;

153
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
3. Rituais (cerimônias de harmonização entre as
forças internas do ser e as forças cósmicas que
regem os estados frios ou quentes);

Para compreender melhor, vamos dar um exemplo.

Uma mulher não consegue engravidar, segundo a


terapêutica das curandeiras esta mulher tem um
excesso de frio no ventre, que secou e polarizou seu
corpo até enrijecê-lo tanto que passou de ser um rio
fluente a um seco deserto.

O tratamento será com plantas e rituais que devol-


vam seu calor interno uterino, não só no nível físico,
mas, no nível emocional, etérico e mental.

Como o mostra a “Botica de las Abuelas”, o frio co-


manda a falta de autoestima, o excesso de controle,
o perfeccionismo, a ausência de uma sexualidade
prazerosa e plena, uma alimentação morta e pouco
saudável, e todos os estados da alma em
que o prazer de viver neste corpo humano,
e seu fluxo de ser não são experimentados.

154
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Sanar um útero seco requer de um tempo longo de
voltar ao espírito da lareira, do chumbe, do man-
to, da rosa e da sombra. E impregnar novamente o
ventre com a suavidade do rio, a umidade luminosa
das conchas, e a abertura ao que não pode ser con-
trolado pela razão e sua polar força sobre o corpo
feminino.

Uma mulher que não consegue engravidar precisa


mudar sua dieta morta, iniciar um longo tratamento
com plantas quentes que renovem sua vitalidade e
tonifiquem seu útero. E fazer alguns rituais que lem-
brem sua natureza úmida e luxuriosa, sua capacida-
de de sentir.

Pode acontecer que uma planta quente sirva para


sanar uma mulher, pelas suas caraterísticas físicas e
energéticas, mas, com certeza não servirá para outra.
Por exemplo, uma mulher que não consegue engravidar
(dimensão fria) porém tem todo o tempo infeções
urinárias e cândidas (dimensão quente), nestes
casos, terá que receber um tratamento cuidadoso e
adequado com plantas que complementem seus dois
estados, e sanem aos poucos os desequilíbrios.

155
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Muitos casos como estes, podem acontecer, por
isto, recomendo as mulheres usarem a “botica de las
abuelas” para elas mesmas, identificando suas ten-
dências e plantas que as ajudem, e pedindo orien-
tação as curandeiras ou ginecologistas naturais para
tratar outras pessoas. Lembrando sempre que cada
caso é particular e precisa de um estudo cauteloso
para que esta preciosa medicina não se desvirtue,
e para que o poder das plantas seja usado em sua
máxima expressão.

8.4 A chakana
ória
Hist
A chakana, este mágico símbolo an-
dino milenar, resume o jogo da uni-
dade, dualidade e trindade, e o sentir
que fazemos dela neste livro é só em
função da terapêutica que apresenta-
mos. É importante lembrar que a Chakana contém
uma complexa e maravilhosa linguagem sagrada,
muito delicada. Não é nosso trabalho nesta peque-
na obra desvendar seus mistérios. Só é trazida aqui
pelo precioso ensinamento que nos deu no curso
Samai e sua bela companhia e inspiração.

156
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Seu centro vazio, representa o equilíbrio da saúde
com o Todo. Seu extremo superior representa as
forças solares quentes, celestes,
luminosas, masculinas e secas, e seu
extremo inferior representa as forças
telúricas, lunares, femininas e úmidas.

A chakana é a representação do universo em seus


múltiplos níveis, mas, é também nosso corpo de
braços abertos ao mundo, onde o círculo vazio
é nosso coração e nosso ventre adentro do
aquecimento gostoso com o amor da unidade, onde
a vida feminina flui com graça e amorosidade, quer
dizer, com saúde.

A chakana é uma cruz escalonada, isso nos fala


da possibilidade de caminhar entre os mundos
de cima, embaixo e intermediário, de ir andando e
aprendendo a estabelecer ligações “Chak-hanam”,
pontes ao supremo, a unidade com o todo. E suas
quatro pontas nos lembram o mistério do ciclonário
feminino, das quatro luas, estações, direções e
arquétipos maiores.

157
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Recolhemos aqui uma pequena parte deste saber
milenar, para mostrar o profundo saber das curan-
deiras, e a ligação de sua terapêutica com os princí-
pios cósmicos e da vida de Pachamama.

158
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Um mapa de tua saúde segundo a
terapêutica feminina andina.
N esta Chakana desenha teus estados corporais e emocionais
mais comuns. Na parte de cima os estados quentes e solares e
na parte de embaixo os estados frios e telúricos. O centro vazio
da chakana representa teu coração e ventre.

159
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Sol
S ol, mis ojos se cierran

En tu estampida de unicornio dorado.

Gota de oro eterno que insistes en amarme

Redondo ángel del tiempo

Tu aurora envuelve con ternura

El abismo de la sombra.

Me curas de la noche

Compasivo caminante,

Recado de los dioses.

Vieja estrella de mi alma.

ma
Poe

160
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
9. Botica de las Abuelas

“A avó me abraça.
Minha terra resplandece.”
Remédios

161
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
A Botica de las Abuelas contém listagens de sin-
tomas e plantas das dimensões quentes e frias da
terapêutica feminina andina. Esta informação pode
ser usada para observar quais são suas tendências e
desequilíbrios energéticos e as plantas que podem
ser usadas para curar.

Para realizar esta compreensão, recomendo ler o ca-


pítulo sobre princípios básicos da medicina feminina
andina, pois nele encontrará as conexões entre as
listagens de emoções, sintomas e plantas deste ca-
pítulo.

ória
Hist

162
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
9.1 A dimensão quente
Situações, sintomas, emoções
Situações que geram desequilíbrio na dimensão
quente

♥ Excesso de energia sexual acumulada;

♥ Excesso de exercício físico durante os ciclos femi-


ninos;

♥ Alimentação centrada em alimentos quentes e


pesados;

♥ Sono desequilibrado e escasso;

♥ Falta de cuidado com a temperatura corporal


(pés, ventre, costas, cabeça);

♥ Choques de temperatura;

♥ Pós-parto e quarentena não cuidados;

♥ Menstruação não cuidada;

♥ Menopausa não cuidada (excesso de calor);

♥ Consumo excessivo de gorduras e proteína animal,


comidas pesadas e fartas durante os ciclos femininos.

163
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Sintomas femininos físicos manifestados no
excesso da dimensão quente

♥ Corrimentos vaginais (infecção);

♥ Candidíase;

♥ Problemas urinários;

♥ Tensão pré-menstrual (quando causada por qua-


dros emocionais);

♥ Gastrites e azias;

♥ Hemorroidas;

♥ Dor de cabeça;

♥ Insônia;

♥ Inflamação do útero;

♥ Infecção pélvica;

♥ Coágulos menstruais e fluxo menstrual excessivo;

♥ Lubrificação da vagina escassa ou nula.

164
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Sintomas emocionais femininos apresentados no
excesso da dimensão quente

♥ Raiva;

♥ Inveja;

♥ Exteriorização desequilibrada das emoções;

♥ Autoritarismo;

♥ Estresse;

♥ Impulsividade;

♥ Medo (associado as infecções);

♥ Impaciência;

♥ Competitividade;

♥ Individualismo.

Plantas frias para sanar o excesso de calor no corpo


e sentir feminino.

HAMAMELIS (Hamamelis virginiana) Na menopausa


é usada para regular transtornos circulatórios. Em
banhos mornos de assento é útil nas hemorróidas,

165
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
especialmente nas relacionadas ao puerpério, mas,
é preciso evitar seu consumo como chá durante a
amamentação. Tonifica os músculos uterinos após
os abortos espontâneos e o parto (McIntyre, 2011,
p. 136).

LINHAÇA (Linum usitatissimum) Esta sementinha é


um excelente digestivo em casos de acidez e dores
de barriga por ansiedade e estresse. É usada para
acalmar assaduras na pele e febre nas crianças.

CALÊNDULA (Calêndula) Embora tenha um aspecto


ensolarado que possa confundi-la com uma planta
de natureza quente, a calêndula é fria. Ela pode se
usar nas hemorróidas, azia, queimaduras, infecções
vaginais e dentárias e nas dores de ouvido. Também
alivia as cólicas menstruais e alguns casos de mens-
truação excessiva.

CABELO DE MILHO FRESCO (Zea Mays)


Simples e candoroso, o cabelo de milho
quando tomado em chá frio cura as cistites
e infecção urinárias femininas, e é um exce-
lente limpador dos rins e do fígado, órgãos
associados a saúde feminina. Auxilia na eli-

166
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
minação do excesso de coágulos no sangre mens-
trual e nas hemorragias durante o parto. Também
tem efeito diurético na retenção de líquidos no ciclo
pré-menstrual.

BABOSA (Aloe barbadensis) Grande curadora de


ferimentos e secura da pele e cabelos, pode ser
usada para limpezas do útero, seus cristais podem
ser colocados em pequenas peças dentro da vagina
em casos de desequilíbrios com a dimensão quente,
quando outras plantas não poderiam ser usadas para
o mesmo fim14. Também ajuda nas ondas de calor da
menopausa e auxilia nos tratamentos da TPM.

VERBENA (Verbena Officinalis) é usada para curar


febres e regula a menstruação e ciclo pré-menstrual
em casos de desarmonia com a dimensão quente.

ÁGUAS FLORIDAS São compostos de flores e


óleos essenciais, usadas desde tempos remotos
na terapêutica andina caseira e também pelos
curandeiros e médicos tradicionais. Seus efeitos são
14
A receita de babosa como limpeza uterina foi ensinada pela obstetra
argentina Liliana Pogliani, no curso Ginecologia natural ao alcance de
todas (Porto Alegre, 2015). Esta cura não pertence a tradição andi-
na, porém, é citada aqui pela sua relação com as curas da dimensão
quente.

167
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
a proteção e limpeza espiritual e energética, a recu-
peração em traumas e abatimentos ou crises. São
usadas como um “rescue remedi” caseiro.

VALERIANA (Valeriana officinalis) Usada em chá em


situações de estresse, insônia, nervosismo ou medo.
Pode ser tomada no puerpério como relaxante natu-
ral ou em doses pequenas e durante as fases do ciclo
pré-menstrual. Também pode ser usada diariamen-
te durante épocas de dificuldade emocional. É muito
útil para regular as emoções na menopausa.

ROSA BRANCA (Rosa spp) Usada em problemas uri-


nários com crianças como infecção ou retenção.
Menstruação intensa e irregular é também acalma-
da pelas rosas, assim como os calores da menopau-
sa, as alterações de humor e o suor excessivo. A
rosa ajuda em situações de estresse, ansiedade, e na
maior parte dos sintomas emocionais acima enume-
rados. Contribui na cura dos traumas femininos mais
profundos como abortos, abusos sexuais, depressão
pós-parto, cesarianas e histerectomias.

MELISSA (Melissa Officinalis) Como chá auxilia nos


problemas de tristeza, desânimo e estresse, relacio-

168
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
nados com câmbios hormonais na gravidez, puerpé-
rio e durante a menopausa.

VIOLETA DE CHEIRO (Viola odorata) Usada para tos-


se e dores no peito das crianças e na gravidez ou
pós-parto. É uma planta morna que pode ser usada
também para refrescar inflamações e cistites ou in-
feções urinárias. Pode ser usada para momentos de
luto (Mc Intire, 2011. p. 171).

LAVANDA (Lavandula spp)


Esta preciosa planta não é
usada na botânica medicinal
da região andina. Porém suas
propriedades medicinais no
tratamento das vivências
femininas é muito grande e por isto tem sido adotada
no texto. A lavanda tem uma natureza tranquila e
suave e pode ser usada em curas tanto frias quanto
quentes. Os banhos com suas folhas proporcionam
relaxamento e cicatrização de feridas das cesarianas
ou limpezas energéticas após abortos. Pode ser
usada depois do parto em banhos de assento como
cicatrizante e como relaxante. Também é muito
usada para aliviar a insônia, a ansiedade e o estresse.

169
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
OBS: A valeriana, a violeta, a lavanda e a melissa são
do tipo de plantas que as avós andinas chamam de
“mornas”, ou seja, tem uma propriedade curativa
que não é nem fria nem quente, porém, podem au-
xiliar os sintomas das duas dimensões, e nos casos
enumerados, especialmente do excesso das pro-
priedades quentes.

9.2 A dimensão fria


Situações, sintomas, emoções
Situações que geram desequilíbrio na dimensão fria

♥ Esvaziamento da energia sexual;

♥ Falta de exercício físico e contato com a natureza;

♥ Alimentação centrada em alimentos frios;

♥ Sono desequilibrado;

♥ Falta de cuidado com a temperatura corporal


(pés, ventre, costas, cabeça);

♥ Choques intensos de temperatura;

♥ Contato com energias mortas, densas ou pesadas;

170
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Sintomas femininos físicos manifestados no
excesso da dimensão fria

♥ Falta de desejo sexual;

♥ Infertilidade;

♥ Câncer de mama;

♥ Endometriose;

♥ Dores menstruais intensas;

♥ Cólicas;

♥ Dores de barriga;

♥ Intoxicações alimentares;

♥ Dor de garganta e problemas respiratórios;

♥ Reumatismo e problemas nos ossos;

♥ Falta de energia física e vigor;

♥ Inflamação do útero;

♥ Ausência de menstruação;

♥ Amamentação dolorosa e escassa.

171
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Sintomas femininos emocionais manifestados no
excesso da dimensão fria

♥ Falta de autoestima;

♥ Inconsciência do feminino (dores menstruais);

♥ Sexualidade não assumida (dores menstruais);

♥ Controle e perfeccionismo;

♥ Tristeza;

♥ Pena, lástima;

♥ Ausência de perdão;

♥ Falta de entrega;

♥ Medo;

♥ Pânico;

♥ Depressão;

♥ Sentimento de insatisfação;

♥ Dificuldade em expressar os sentimentos próprios;

♥ Autoestima baixa;

♥ Ódio ao corpo ou excessivas críticas sobre si mesma.

172
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Plantas quentes para sanar o excesso de frio no
corpo e sentir feminino

As plantas que tem o símbolo (∞) não podem ser usadas


durante a gravidez.

ALECRIM (Rosmarinus officinalis) Usado em banhos


e chás de limpeza, purificação e revitalização da
energia. Durante a menopausa, pode ser usado
para a congestão no ventre baixo. No pós-parto, em
pequenas doses mantém a força e energia da mãe
para cuidar do bebê.

ARNICA (Arnica montana) Cura golpes e dores mus-


culares, contusões e lesões que não
tenham feridas.

ARRUDA (Ruta graveolens) Planta


para a proteção de outras plantas
no quintal, e na casa. Como banho
é usado para limpeza energética.
No pós-parto pode ser usado como banho quente
para revigorar e fechar o corpo da mãe após o
parto. Quando formos levar as crianças a lugares de
energias densas, é interessante colocar um ramo de
arruda no bolso. ∞

173
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
CAPIM CIDREIRA (Cymbopogon citratus) Pode ser
usado em chás para amenizar o estresse e a insônia.

CIDRÓ (Aloysia Citrodora) Pode ser tomado em chá


com limão e rapadura para dor de barriga e cólicas.
Também é usado como chá para recuperar a energia
da mãe durante o pós-parto, para melhorar os casos
de insônia, e como relaxante natural.

CANELA (Cinnamomun verum) No parto é


usada para incrementar as contrações e a
abertura do canal vaginal. Também para
auxiliar no momento de expulsão da placenta,
neste caso se cozinha com camomila e rapadura e
se toma em chá. No pós-parto, como banho para
encerramento do parto e para trazer energia quente
e vibrante para a mãe. Durante a menstruação é
usada para amenizar as cólicas, neste caso se cozinha
com folha de laranja, capim cidró e cravos da índia.∞

FOLHA DE EUCALIPTO (Eucaliptus) É usada em


vaporização nasal para amenizar os problemas
respiratórios, sinusites e gripes. Depois do parto é
usado com arruda para banhos de encerramento do
momento e revitalização materna.

174
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
FOLHA DE LARANJEIRA (Citrus Sinensis) É usada para
problemas nos ossos como artrites, dores e contu-
sões. Durante a menstruação e o puerpério é usada
para restabelecer a temperatura emocional e corpo-
ral da mãe, trazendo aconchego e equilíbrio.

FOLHA DE CIPRESTE (Cupressus lusitânica) É usada


nos banhos quentes no puerpério e menstruação com
dor. Durante a menopausa é efetiva para melhorar a
elasticidade vaginal.

TABACO (Nicotiana Tabacum) É usado para limpeza


espiritual e energética e para massagear as mãos e
o ventre das parteiras depois do atendimento do
parto15.∞

MAÇÃ (Fruto) (Malus domestica) Usada em banhos


doces e quentes depois do parto junto de mel e
canela, anis estrelado ou cravo. Em momentos
de dificuldade dos ciclos femininos este banho é
reconfortante e um maravilhoso harmonizador. É
um banho para acordar a deusa adormecida do
nosso interior.
15
Esta dica se encontra no artigo MEDICINA FEMININA INGA,
de Clara Giraldo Tafur (2000). Os dados completos são apre-
sentados na bibliografia.

175
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
MEL Usada em banhos quentes de purificação e
harmonização. O banho de mel é uma experiência
sensual e belíssima, que aporta harmonia e limpeza
energética ao corpo da mulher. Pode ser usado em
qualquer ciclo feminino.

ARTEMISIA (Artemisia Vulgaris) Na menopausa é


usada como companheira de sonhos e visões sobre a
sabedoria da fase da avó. Também pode ser tomada
na ausência de menstruação por anemia e desânimo.
Nas limpezas de registros densos, violentos e
antigos no útero é usada com muito sucesso em
chás e banhos. Também pode acompanhar os rituais
associados a menarca. ∞

AMORA (Folha e frutos) (Morus Nigra) Usada durante


a menopausa para amenizar sintomas desagradáveis
e abrir a mulher na compreensão da nova fase de
sabedoria.

COPAL (Protium Copal) é uma resina natural de


alto poder que serve para defumações e limpezas
energéticas. Seu aroma agradável e profundo
acompanha os processos de cura e abre as portas
para a recepção de energia sutil e fina.

176
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
PALO SANTO (Bursera Graveolens) é uma árvore que
tem uma madeira perfumada com altas qualidades
energéticas que permitem defumar ambientes e
pessoas com força e tranquilidade ao mesmo tempo.
O palo santo é útil em qualquer situação prévia a
uma cura, um ritual ou a abertura de um círculo de
sanação. Tem sido usado desde tempos milenares
pelas culturas andinas para harmonizar o corpo
físico, emocional e energético. Um fato interessante
é que no mundo andino os galhos só são colhidos
depois de secos, quando caem por eventos naturais
ao solo. Os ávidos mercantilistas se surpreenderam
quando cortaram troncos e galhos para levar as
cidades, porém secos não exalaram seu perfume
medicinal característico.

ÓLEO DE AMÊNDOAS (Prunus dulcis) Este delicioso


azeite pode ser usado em massagens para o cuidado
do ventre após os partos, durante a gravidez e
depois de um aborto. Também é saudável durante
a menstruação ou no ciclo pré-menstrual. Prefira
o óleo natural e use-o misturado com folhas secas
de camomila ou jasmim, ou com óleos de canela e
gerânio.

177
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
ÓLEO DE COCO (Cocos nucifera) Não
é uma planta usada na terapêutica
andina, porém foi adotada neste tex-
to pois é um azeite quente e rico em
propriedades afrodisíacas e relaxan-
tes. Igual que o óleo de amêndoas serve como base
de pomadas e óleos de massagem para os sintomas
anteriormente mencionados. E pode ser comido ou
usado no interior da vagina. No universo andino são
usados óleos quentes de gordura animal, para o tra-
tamento de ventres muito frios, frigidez ou inferti-
lidade. O óleo de coco é uma boa opção para estes
tratamentos.

HORTELÃ (Mentha Villosa) é uma excelente planta


digestiva em casos de intoxicação alimentar, dores
e cólicas nas crianças. Durante o parto é usada para
auxiliar em infusão com capim cidró e camomila. As
avós a consideram também uma planta “morna”.

GENGIBRE (Zingiber officinale) Usada para dores de


barriga. E em compressas para contusões, golpes ou
lesões musculares. Também pode ser bebida para
harmonizar os enjoos do primeiro trimestre da gra-
videz.

178
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
ENDRO (Anethum graveolens) Ameniza cólicas e
dor de barriga nos bebés recém-nascidos. Auxilia na
amamentação e no sono do bebê e da mãe puérpera.

CENOURA (Daucus carota) Usada para amenizar


dores menstruais, excesso de fluxo durante o ciclo
menstrual e presença de coágulos.

SAL MARINHO Purificador natural usado em banhos.


Podem ser colocadas compressas quentes sobre o
sacro para amenizar dores menstruais intensas.

SÁLVIA (Sálvia) Usada nas dores menstruais como


chá e como regulador hormonal para menstruações
não reguladas. Excelente companheira de visão du-
rante a menopausa. Em alguns casos é receitada para
esterilidade. Durante o parto é usada para amenizar
as contrações e em vaporização com camomila para
ajudar na dilatação do colo do útero. ∞

FRAMBOESA (Rubus idaeus) Os frutos são usados


para equilibrar os ciclos menstruais não regulares.
Previnem as infeções urinárias relacionadas com
problemas femininos.

179
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
As seguintes plantas tem um especial tratamento
dentro da terapêutica das avós andinas. Seus prin-
cípios ativos não são frios nem quentes, portanto,
podem ser usados dependendo do caso para quase
todos os tratamentos relacionados com o universo
feminino. Se existem dois compadres da nossa saú-
de, casal de curandeiros solares andinos, esses são a
camomila e o milho:

CAMOMILA (Chamaemelum nobile) Serve para me-


lhorar as cólicas menstruais em infusão com folhas
de laranjeira. Um chá pra lá de delicioso! Melhora a
diarreia de crianças e evita abortos usada em chás
durante a gravidez. Comadre das grávidas para a
maior parte de sintomas associados aos câmbios
emocionais e desafios. Auxilia no descenso da pla-
centa em cocção com canela e rapadura16. Ajuda nas
dores do parto e evita hemorragias quando usada
com infusão de cidró e camomila. Serve para insônia
bebida com maçã e alface.

MILHO (Zea mays) O milho pode ser usado cozido

16
Esta dica e algumas das seguintes se encontram no artigo MEDICI-
NA FEMININA INGA, de Clara Giraldo Tafur (2000) Os dados comple-
tos são apresentados na bibliografia.

180
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
durante a gravidez para fortalecimento do útero e
também melhora as menstruações irregulares. Tor-
rado e moído em sopa (mmmh...) é indicado no
pós-parto para fortalecer a mãe e aumentar o leite.
Sopa de milho torrado durante o parto é usada para
ajudar como alimento calórico e fortificante. Tam-
bém é oferecido à mãe por algumas parteiras em
possíveis complicações durante o processo de parto.

É muito antiga a dieta do milho durante a menstruação


como forma de purificação e limpeza do feminino.
Seco, como oferenda, pode ser usado no altar
pessoal para conexão com a feminilidade andina, a
maternidade e rituais de abundância. Em disfunções
alimentares pode ser usado para tratar questões
associadas com a autoestima feminina.

181
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Maíz
T e levantas

Guerrero de mil brazos

Tu espíritu se eleva buscando el beso de los


vientos

Sagrado Falo de los andes

Tu fruto coronario se asoma entre los siglos

Dándonos la certeza del pan

La alegría del almuerzo

Hijo del sol, maíz.

ma
Poe

182
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Bibliografia
ALBERTI, Aurelia. El despertar de las curandeiras.
Lulu Enterprises Incorporated, 2009. ria ó
Hist

DIAMANT. Anita. A tenda vermelha. Rio


de Janeiro, Sextante. 2001.

DUNCAN. Antônio. O caminho das pedras. Rio de Janeiro.


Nova Era. 2006.

ECHEVERRY ZAMBRANO. Pilar. Pedagogía do ventre.


Uma proposta de educação do corpo. In: Pedagogias
do corpo nas danças de matriz africana em Salvador
Brasil. Perspectivas e desafios do projeto emancipatório.
Tese (doutorado em educação). Universidade federal da
Bahia, Salvador, 2013.

ECHEVARRIA, Nicolás. Maria Sabina. Mujer espíritu.


Documental. Centro de producción de cortometrajes.
Estudios Churubusco Azteca, S.A. 1978. Disponivel em:
https://www.youtube.com/watch?v=LMYmvCjp_x8

183
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
ESTERMANN, Josef. Filosofía Andina. Estudio intercultu-
ral de la sabiduría autóctona andina. Quito. Abya-yala.
1998.

ESTRADA, Alvaro. Vida de Maria Sabina. La sabia de los


hongos. México. Siglo XIX editores, 2005

FAUST. Franz Xavier. Apuntes al Sistema medico de los


campesinos de la sierra nevada del Cocuy. Bogotá Bole-
tín del Museo del Oro, No 26. 1990.

FLORES PÁES, Ana Lucía. Piedras vivas: manifestaciones


rupestres y memoria oral en el valle de Sibundoy, corredor
milenario entre Andes y selva. [S. l.], 2009. Disponível
em: <http://www.rupestreweb.info/piedrasvivas.html>.
Acesso em: 03 ago. 2012.

FLORES, Lucidor e Mestres andinos. O chamado


de Maitreya. A comunidade do coração.
Prática dos 21 dias. Brasil. Editorial Pachamama,
setembro de 2014. 23 Edição.

184
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
_______________. Curso Sacerdotisa andina. Escola
Espiritual Mística Andina. Outubro de 2015- Novembro
de 2016. Editorial Pachamama. www.nacionpachamama.
org

________________. Curso Peregrino do coração. Escola


Espiritual Mística Andina. Abril de 2014- Abril de 2016.
Editorial Pachamama. www.nacionpachamama.org

GERBER. Richard. Medicina vibracional. Uma medicina


para o futuro. São Paulo. Cultrix. 1997.

GIRALDO-TAFUR, Clara. Medicina tradicional de la mu-


jer inga. Revista Academia colombiana ciencias. No 24.
(90) pgs. 5-23. 2000.

GÓMEZ, Marta. Manos de mujeres. Intérprete: Marta


Gómez. In: ______. Musiquita. [S. l.]: Aluna Records,
2009. 1 CD. Faixa 4.

GRAY, Miranda. Luna roja: los dones del ciclo menstrual.


Madrid: Gaia, 2010.

185
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
JACANAMIJOY TISOY, Benjamín. Chumbe: arte inga. Bo-
gotá: Ministerio del Interior, 2000.

KELEMAN, Stanley. Anatomia emocional. São Paulo:


Summus, 1992.

McINTYRE, Anne. Guia completo de fitoterapia. São


Paulo. Pensamento, 2011.

McGREGOR, Jim. O tao da cura. O caminho para a


harmonização interior. Rio de Janeiro, Record, 1993.

NISSIM, Rina. Manual de ginecologia natural para mu-


lheres. Barcelona. Icaria, 1994.

RAPHAEL, Katrina. As propriedade curativas dos cristais


e das pedras preciosas. São Paulo. Pensamento. 1997.

186
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
“As águas doces
gostam de mim!”
187
Remédios
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Anexo
A menstruação, a lua e as curandeiras
O presente texto é uma profunda reflexão sobre a
menstruação e sua relação com o tempo e o espaço
ória
cósmico e agrícola. Hist
A menstruação
O ciclo lunar-menstrual, inicia com a
lua nova, ou carinhosamente chama-
da lua “tierna” no Vale de Sibundoy,
“lua da ternura”, por ser ela jovem ou menina. Esse
ciclo traz a oportunidade para o renascimento da
terra e da vida. Plantar sementes, sejam emocionais
ou físicas, é um ato abençoado por essa fase. O mi-
lho, a planta representativa das sociedades andinas
é plantado durante a “tierna”, e, como uma criança
no ventre, esperará nove luas para ser coletado. Essa
lua é uma possibilidade de florescimento, a promes-
sa de uma terra fecunda que recebe as sementes e
as nana com certeza e fortaleza.

Essa lua traz a vontade de mudança, purificação


e decisão. Após o ciclo completo da semeadura,

188
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
cuidado, coleta e queima da nossa terra profunda,
essa estação traz novamente o início de um ciclo
interminável de vida e morte infinitas, uma outra vez
para começar.

Muitas mulheres têm sua menstruação durante a


fase lunar nova, outras têm sua fase criativa ou fér-
til. Com o correr das águas internas, o ventre enflora
na obscura luz da virada lunar, e uma estrela no céu
da noite marca um caminho interno a ser percorri-
do. Choro, sangue, rios ocultos fluindo, limpando,
semeando montanhas e vales do corpo.

Durante a lua nova do corpo, a mulher se localiza


dentro de uma profunda e luminosa obscuridade,
e se encontra disponível para localizar assuntos re-
lacionados às transformações, permitindo a com-
preensão da destruição e a mudança como benéfi-
cos.

Nessa lua começa uma purificação, uma belíssima


limpeza por meio do fluxo de sangue saindo do
corpo. A menstruação é o tempo de localização
da mulher no mundo da sua interioridade, de sua
introspecção, de seus instintos primários e sinceros,

189
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
de sua percepção e clarividência. O fluxo do sangue
gera um parto próprio, um portal, uma mutação.
A barreira entre o consciente e o inconsciente é
quebrada e a mulher pode transitar entre os dois
mundos, achando que o entendimento instintivo
e premonitório é expressado com facilidade em
sonhos, lembranças e insights, permitindo o fluxo das
mudanças, das curas, das purificações. Ao contrário
do que as religiões convencionais acreditam, a
menstruação é um estado de purificação do corpo,
um banho transcendental (GRAY, 2010).

Nos aspectos físicos, a menstruação preenche o


corpo de água, perdendo e gerando uma quantidade
significativa de líquidos, por isso, a mulher
experimenta um inchaço no ventre e peitos,
com dificuldade para movimentações rápidas ou
excessivas, desejando quietude, silêncio, sintonia,
harmonia, vontade de auto toques no corpo, de
carícias e abraços dengosos.

Emocionalmente, o choro, que é a expressão das


águas internas, expressa as emoções hipersensíveis
deste ciclo, e o desejo de simpleza, de uma vida
simples onde comer bem, dormir bem e meditar são

190
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
suficientes.

Também se experimenta o desejo de estar perto


de outras mulheres e receber delas carinho e com-
preensão.

Durante este fluxo de limpeza e transformação, a


mulher encontra-se vivenciando o princípio “Água”
da existência, quer dizer, a corporalização do arqué-
tipo do “rio que corre”, da procura da beleza, do
cuidado próprio, da auto-observação, e da possibi-
lidade de portar o feitiço, o mistério da vida-morte-
-vida que é vivido com profundidade durante a fase
do sangramento.

Com relação ao universo andino, esse ciclo pode ser


associado ao princípio da tecelã, ao arquétipo da
Mama Ollco, princípio mítico da feminilidade que
lega para o mundo o saber do tecido como possibi-
lidade de reencontro, de memó-
ria, de transmutação das linhas
em objeto e conselho da velha
tecelã, que recria o saber duran-
te suas jornadas meditativas.

Segundo a mitologia, Mama

191
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Ollco é um princípio fundador associado à lua e à
fertilidade. Ela funda, junto com seu irmão e esposo
Manco Capac, a civilização inca e, os dois, como em
muitos mitos da região andina, vêm da água, chegam
navegando ou emergem das lagoas e rios trazendo
para os povos o início da vida.

A pós-menstruação
Depois da lua nova, o ciclo continua com a lua cres-
cente, fase da energia que começa a ser exteriori-
zada, a ação é manifestada de forma espontânea,
pois inicia uma elevação dos fluidos tanto das águas
oceânicas quanto dos líquidos do corpo.

Plantas e cabelos crescem rapidamente, sendo a lua


aproveitada na agricultura e no cuidado e alimento
da terra, pois tanto os organismos vivos quanto os
órgãos internos do corpo armazenam níveis impor-
tantes de energia, absorvendo nutrientes e cargas
suficientes de alimento energético e físico.

Durante essa fase, a seiva das plantas começa a su-


bir, por isso, os tipos de vegetação e alimentos que
são plantados são os que crescem por cima da terra
como as flores. Por esse motivo, tudo que for usado

192
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
para fortalecer o processo ambiental ou corporal é
bem-vindo nesta fase lunar revitalizadora.

A mulher que transitou até o descenso corporal durante


a menstruação, e que ficou na obscuridade do útero
purificando-se, mudando, morrendo, agora renasce
nova e poderosa. Como uma guerreira cheirosa e feliz
se entrega ao mundo vestida como um ser renovado e
juvenil.

O descenso ao útero, a tomada de decisões e as mu-


danças agora serão realizadas no nível prático da ação
(GRAY, 2010). O ser da mulher começa mobilizando
energia para realizar ideias e levar ao mundo dos fa-
tos os eventos reflexivos e intuitivos. O universo femi-
nino começa a entrar no princípio yang da existência,
ou seja, no princípio masculino. Como reflexo desta
disposição nos aspectos físicos, o corpo se encontra
experimentando uma fase de vigor físico,
potência, rapidez, concentração, flexibili-
dade e memória corporal amplificadas. O
mundo yang privilegia a ação e a interação
com o universo externo dos estímulos e das
relações. Nessa etapa, as águas do corpo
experimentam baixas marés, permitindo a

193
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
concentração e determinação nas tarefas da vida co-
tidiana, que são retomadas com a maior facilidade.

Emocionalmente, o corpo feminino se encontra se-


guro, capaz de organizar mobilizações, comunicação
e sociabilidades, desenvolvimento de projetos, e uso
dos aspectos da racionalidade e da abstração, que
acordam e tiram do plano emocional os projetos de
vida. A sexualidade se converte em jogo de novida-
des, e o corpo se disponibiliza para a experimenta-
ção e a inovação.

Durante a fase pós-menstrual, de lua crescente o


corpo da mulher experimenta o princípio “Ar” da
existência. Um dos mais belos arquétipos relaciona-
dos com a parte guerreira do feminino, que possui o
fundamento do movimento direto, da sensualidade
livre, da independência dos atos econômicos e das
ideias, e encarna um saber orientado ao fazer, à luta,
à decisão de correr atrás dos objetivos, mesmo sen-
do estes problemáticos e dificultosos.

No universo andino, especialmente nos vestígios


do Império Inca, a “Mama Huaco”, e as “curande-
ras” representam arquétipos de mulheres que,

194
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
ocupando papéis tradicionalmente
masculinos na política e na medicina,
enfrentaram e vivenciaram caminhos
políticos e postos governamentais, e
exploraram suas capacidades de lua
crescente na tomada de importantes
decisões coletivas e próprias dos prin-
cípios da ação, da racionalidade e da exterioridade
(OLIVEIRA, 2006).

A ovulação
Continuando com as fases, com a lua no seu ápice,
começa a mítica lua cheia, usada em muitas culturas
como cenário de cura e de aplicação de medicinas,
oferendas, festas, rituais e terapias. Alcançando a
luminosidade máxima, a lua cheia é um período de
exteriorização dos processos corporais e de muita
intensidade dos percursos mentais. Os momentos
de coleta e fertilidade, a ovulação dentro do ventre
feminino, a grande abundância de partos, reuniões,
encontros e todo tipo de produtividade física e emo-
cional, encontram dentro dessa lua um cenário de
luz e abertura.

195
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
A espontaneidade de sentimentos e desejos aumen-
ta de forma acelerada e os frutos da terra são abun-
dantes nas árvores e plantas. Os sonhos e os proces-
sos de exposição das partes inconscientes da mente
começam a aparecer. Evocações, intuições, imagina-
ções e lembranças são apresentadas e vividas pelo
corpo de forma clara, por essa razão, muitas das
medicinas usadas pelas sobanderas, médicas, xamãs
andinas são vivenciadas dentro dessa fase.

Para algumas mulheres, a lua cheia é a fase da fer-


tilidade e da ovulação, da possibilidade de criação
tanto de um novo ser quanto de uma nova ideia ou
projeto, para outras, é a lua da sua menstruação.

Essa lua tem a força de movimentar o mar, e nossas


marés internas, mover a água de dentro e levá-la até
o topo das cabeças, expressando com sinceridade
e muito choro os sentimentos mais profundamen-
te escondidos e necessitados de palavras diretas e
claras.

É interessante perceber que a lua cheia é, na


agricultura, uma fase em que as plantas absorvem
muita água e sua seiva está na máxima expressão,

196
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
e, nas mulheres, o choro os fluidos internos, e a ne-
cessidade de contato com fontes naturais de água
é também nessa fase um ato natural e espontâneo.

Sendo uma fase de fertilidade no contexto ambiental


e corporal, a lua cheia tem um efeito específico sobre
a libido, fazendo com que os níveis de sensualidade
e erotismo do corpo aumentem consideravelmente,
nesse caso, os processos criativos são intensificados
e a sexualidade se descobre de forma profunda e
intensa.

Por esse motivo, durante o trabalho com as mulheres,


descobrimos como é fácil e proveitoso dançar
durante a lua cheia, pois a dança parece replicar
o movimento oceânico do ser interno e o ritmo se
apresenta de forma prazerosa e espontânea.

Mas, também na clareza da lua cheia muitas som-


bras são reveladas, sombras sobre nossa condição
materna, sombras sobre nossa fecundidade, sobre a
relação com nossas mães e com nossos filhos, sejam
eles humanos ou ideias. Esta lua nos presenteia com
o poder de nos visualizar nesta dimensão.

O corpo, preparado para fecundar, arredonda-se

197
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
com força e energia, amor, harmonia, abertura para
o outro, compaixão, compreensão e criação. Com os
lábios mais vermelhos, desejo de nudez, satisfação
pelo corpo, sentimentos de beleza e sensualidade,
vontade de se ajeitar, usar joias, perfumes e roupas
especiais, as mulheres experimentam sensações
corporais e emocionais muito ativas e externaliza-
das. Experimenta-se uma fácil recepção do outro e
às suas ideias, aos projetos conjuntos, à resolução
de brigas, e à elaboração de planos.

Durante essa fase, o corpo feminino experimenta o


princípio TERRA da existência: maternidade, beleza
iluminadora, proteção, relação de abertura ao outro,
acolhimento, cuidado, vida em potencial, criativida-
de, sensualidade, abundância, alimento.

Dentro do universo andino, a figura de Pachamama


(mãe terra) encarna o saber da lua cheia, um arqué-
tipo bastante similar ao princípio de Iemanjá, pois
representa a vida e o alimento criador do universo.
Acredita-se que do ventre e dos seios de Pachama-
ma nasceram e ainda se alimentam todas as criatu-
ras. Pachamama é o arquétipo do feminino ligado à
terra, que é o princípio portador do impulso vital da

198
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
existência, do samai.

O ciclo pré-menstrual
Finalmente, chega o tempo da lua minguante, com-
pletando um ciclo de 28 dias e quatro fases. O des-
censo da energia começa a acontecer, o magnetis-
mo da lua iluminada decresce e a obscuridade da
noite convida ao recolhimento. As células cerebrais
e os processos cardíacos e sanguíneos sofrem uma
drástica desaceleração, fazendo com que o organis-
mo seja induzido à interiorização (GRAY, 2010).

O hemisfério direito do cérebro está mais ativo e


os processos instintivos que explodem durante a lua
cheia, nessa fase se concretizam ficando mais cla-
ros. Na agricultura, as plantas que crescem para o
interior da terra são plantadas, como, por exemplo,
as raízes e hortaliças, e a terra é queimada para pre-
parar um novo plantio. As podas são propícias, pois
a seiva decresce, assim como todos os
processos de traslados de mudas.

A lua minguante anuncia a morte, com-


preendida como a fase de trânsito entre
o ápice da luz e o retorno da obscuridade

199
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
fecunda da lua nova. É uma lua em que
o corpo precisa de repouso, silêncio e
tranquilidade, ajudando aos processos
meditativos e reflexivos, uma lua que
convoca para as avaliações do caminho e, como na
terra, as podas dos aspectos negativos ou velhos.
Nessa lua ressurgem as energias da velhice, os pro-
cessos de compreensão de antigas sabedorias e a
conexão com os ancestrais, com o passado, com as
forças que nos precedem.

Para dançar, é uma lua que aproveita melhor a com-


preensão da respiração, do trabalho de consciência
corporal e introspecção do movimento, mais do que
processos de movimentação ou rapidez. Na lua min-
guante, os processos criativos são temporariamente
esfriados, e experimentamos pouca concentração
e muito peso na massa muscular, por isso, durante
nossa experiência com mulheres, aproveitamos esse
tempo para avaliar os percursos de aprendizado e
refletir sobre o trabalho próprio.

No tempo da lua minguante, se inicia o descenso à


obscuridade da mulher e aos aspectos inconscien-
tes que geralmente permanecem escondidos ou

200
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
esquecidos. O descenso à obscuridade não é fácil,
pois está lotado de vários aspectos, mas tem como
objetivo fazer uma transformação, gerar um câm-
bio, uma troca, uma nova transmutação. O corpo, o
processo hormonal, por meio dos sintomas físicos e
emocionais, está puxando a feminidade para entrar
em um estado profundo de sinceridade, onde algu-
ma mudança deve ser feita, uma pequena morte
tem que começar e para isso o corpo deseja solidão,
silêncio e consciência. A morte e a destruição são
aspectos necessários para o surgimento da vida.

Por isto, durante nossa lua minguante são


abertamente reveladas nossas verdades. Aquilo
que tentamos manter oculto de nós mesmas é
abruptamente exposto. Um coquetel hormonal e
espiritual relaxa nossas duras portas, e ficamos nuas
perante a nossa própria vida, e sobretudo perante
aquilo que tentamos não olhar, ou manter nos
arquivos da memória.

Esta sinceridade corporal é bastante incômoda e


gera em nós sintomas variados. Podemos afirmar
que nos ciclos pré-menstruais complexos, a mulher
se nega radicalmente a observar e transmutar esses

201
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
aspectos que tenta durante o resto do ciclo insisten-
temente ocultar. Eles voltam cíclica e infinitamente
até estarmos dispostas a nos enxergar e mudar.

Desta forma, o ciclo pré-menstrual é uma benção,


pois é um momento em que nossas sombras emer-
gem na superfície e podemos olhar para elas de
frente e encará-las. Simples assim! Mas, nesta so-
ciedade onde somos educadas a ter medo de olhar
para os fundos, sustentando uma utópica ideia de
beleza eterna e felicidade fácil, um tema como o ci-
clo pré-menstrual precisa ser evitado e medicado.

Por questões como estas, dentro do universo médico e


farmacêutico convencional este ciclo lunar-menstrual
tem sido chamado grosseiramente como TPM
(Transtorno pré-menstrual), sendo compreendido
de forma limitada como uma etapa problemática e
estritamente fisiológica, tirando dela seu conteúdo
espiritual e transcendente e evitando ao máximo sua
expressão.

Por esse motivo, dentro dos discursos cotidianos, a


mulher é rejeitada ou punida, sendo chamada de
louca ou neurótica, por apresentar durante essa fase

202
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
comportamentos agressivos ou solitários.
Segundo os estudos de Gray (2010), Faur
(2011) e Penna (1993), esses transtornos
têm como marco histórico o incremento do
tempo de trabalho para as mulheres soma-
do aos deveres cotidianos do cuidado dos filhos, da
casa e da vida pessoal, contexto histórico aumenta-
do durante os últimos trinta anos, em que a mulher
conseguiu entrar no mercado laboral, porém, con-
tinuou dando conta dos deveres maternos e conju-
gais, ao mesmo tempo, e com a mesma intensidade.

A chamada TPM é um dos típicos sintomas do sis-


tema laboral capitalista que homogeneizou o tempo
de trabalho fora do tempo cósmico e corporal, em
benefício do crescimento econômico e industrial e
em detrimento do crescimento ambiental e emocio-
nal.

Sob o ponto de vista da humanização dos ciclos


femininos, o incremento nos sintomas desse período
acontece pela falta de tempo e espaço para as
mulheres entrarem em momentos de interiorização
e recolhimento interno, que suas fases naturais
requerem.

203
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
O problema dos excessivos níveis de “TPM”, assim
como o número indiscriminado de cesarianas, doen-
ças e sintomas associados à menopausa, à gestação
e ao puerpério, tem a ver com a ausência de uma
consciência ativa e propositiva sobre o próprio cor-
po da mulher e seus ciclos vitais, compreendidos de
forma complexa, e com a ausência de um empode-
ramento maior sobre os processos corporais inter-
nos que viraram propriedade, dentro das socieda-
des industrializadas, dos discursos ginecológicos e
obstétricos.

Durante a fase minguante do ciclo menstrual,


acontece o descenso do óvulo não fecundado,
o acontecimento da “morte” dentro do corpo
feminino. O corpo, então, entra em um desejo de
silêncio e falta de concentração. Acontece a dor, os
sintomas desagradáveis como a raiva de si mesma e
dos outros, os estados de hipercrítica e autocrítica
destrutiva, a falta de vigor físico e o cansaço. Com
esse panorama o corpo é naturalmente convidado
ao descanso e à solidão, à experiência lenta e suave
do acontecer do tempo.

No nível intuitivo, muitos sonhos, intuições, percep-

204
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
ções profundas, visualizações, lembranças, explo-
sões criativas são experimentadas, fortes desejos de
mudança, e pensamento pouco lógico.

Nessa fase, o corpo da mulher vivencia o princípio


FOGO da existência. O elemento transmutador, que
pode criar alimentos ou incendiar, segundo seja
usado e compreendido.

No universo andino, encontramos Amaru, a serpen-


te criadora e destruidora que morre se converten-
do em água e dá a vida aos novos povos. Este é um
princípios de descenso da energia e conhecimento
da morte como possibilidade de renascimento, que
vai trazer novamente uma “luna tierna” e o princípio
da vida nova e da transmutação, que depois desta
minguante aparecerá de novo uma e outra, e outra
vez, infinita e ciclicamente.

205
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Oração das curandeiras
D ANÇAMOS PELA TERRA!

Pelo amanhecer de Dona Blanca


Pelo último alento de Delfina ma

Poe
Pela fé de Maria del Sol
Pela pureza de Maria Sabina
Pela ternura agradecida de Victoria
E pela avó Emerenciana, e sua luta de tear e
memória.

Por todas as abuelas de todas as nações, por


todas as curandeiras esquecidas, pela mulher
pássaro, pela mulher espírito, pela mulher
água, pela mulher pedra, pela mulher sol, pela
mulher alecrim, pela mulher girassol, pela
mulher sombra, pela mulher manto,
pela mulher caminho.
Por essas verdadeiras heroínas!!!
Curandeira, curandeira, curandeira
Eu sou
Curandeira com os pássaros
Curandeira com as folhas
Curandeira com as pedras

Curandeira Eu sou

206
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
207
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
208
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Poemas traduzidos para o português
Avó
Silenciosa avó.
Velha formosa
Devagarinho caminhas na ladeira do mundo
Não te pesam os séculos que converteste em ouro.
Tua sabedoria insiste em meu peito, toca minhas portas,
Despe meus olhos com gargalhadas de flor.
As luas converteram teu pranto em luz de rocio cristal.
Tão jovem avó, cruzas o umbral da noite
Com a certeza de um menino.
Nada te cala, fruta das fogueiras,
Parteira do oceano,
Das musas, curandeira,
Alivias a Deus com tuas ervas,
e com o néctar humilde de teus passos,
embalas seu canto solitário.
Que meu instinto selvagem te liberte
Insistente velhinha de pés nus
Untados de lama aromática.
Que de teu peito florescido
bebamos o leite do amor verdadeiro

209
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Que teu ventre descomunal nos geste de novo
E que desde tua vagina, cratera alada,
mistério de açucenas e rosas,
nos dê a luz para sempre
na ternura que esperamos,
no suave resplendor de tua primavera antiga,
Avó!

Curandeira
Coração esmeralda, curandeira.
Boca do sim
De teu corpo nascem flores
Teus pés caminham
Semeando ervas aromáticas
Transitas entre os mundos
Tecendo pontes
Juntando universos
Convertes a guerra em dança
Porque tuas alpargatas bailam
Nos fogões de milho e pássaros
Amando teu amante com a clareza da montanha.
Curandeira branca, azul, violeta
A luz de tuas mãos
Escuta o murmúrio do silêncio

210
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
E te entregas ao Samai
Conversando com formigas e pedras
Confiando no barro e na borboleta.

Camomila
Canto branco de orvalho
Suavidade das fadas
Amável pastorzinha dos duendes
Aromática ternura,
Te sinto
Luazinha dos caminhos
Me cuidas desde criança
Teu remédio foi meu leite materno.
Cantas para o medo noturno
Uma canção de ovelhas,
E o convertes em jardim,
Acalentas os recém nascidos em sua luz sideral
E perfumas os mortos em seu ninho telúrico
Mocinha amarela de calor uterino,
Pequeno sol de jardim, fica nesta terra
Fecundando mulheres e acarinhando meninas.

211
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Os Bambuzais
(Jorge Villamil)

Choram, choram os bambuzais


porque também tem alma;
eu os hei visto chorando,
quando nas tardes
os estremece o vento nos vales.
Também os hei visto alegres
entrelaçados se olhar no rio;
dançar o agreste canto
que dão os merlos e as cigarras.
Envolvidos em poeiradas
que se levantam nos caminhos;
caminhos que bate o vento
ao passo alegre do campesino.

Lua
Coração de prata
Livre sedutora de ciganos
Sagrada concubina dos mares
Durante séculos, te esqueci.
E, de repente, com os fios do meu sangue

212
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Te apresentaste inteira,
Me mostraste teu mistério
Me devolveste minha nudez dourada
Te fizeste espelho
Inundaste de leite prateada meus peitos
E pariste crianças no meu ventre.
Te amo lua
Te celebro
Minha habitação se ilumina com tua sombra cintilante
O latido de tua boca frondosa devolveu as minhas irmãs
mortas
Fecundando seus úteros secos...
Me desenhaste ao redor de uma fogueira de cantos
antigos
Me recordaste a insistência do meu sexo
Sagradamente sedento do fogo masculino
Lua
Na plenitude sou o fogo que dança,
Derramando água do meu púbis e fertilizando a terra.
Em tua viagem conheci os dentes da morte suave
E nela vivo com prazer.
E em cada final te canto de novo
Avó cristal
Pássaro prateado

213
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Comadre minha
Lua minha.

Mulher espírito
Maria Sabina17
Sou a mulher lua
Sou a mulher que voa
Sou a mulher Aerólito
Sou a mulher Constelação Huarache
Sou a mulher constelação bastão
Sou a Mulher estrela
Deus
Porque venho percorrendo os lugares desde sua origem
Sou a mulher da brisa
Sou a mulher orvalho fresco
Sou a mulher da aurora
Sou a mulher do crepúsculo
Sou a mulher que brota
Sou a mulher arrancada
Sou a mulher que chora
Sou a mulher que assobia
Sou a mulher que faz soar

17
Textos completos em: ESTRADA, Álvaro. Vida de Maria Sabina. La
sabia de los hongos. México. Siglo XIX editores, 2005

214
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Sou a mulher tamboeira
Sou a mulher trompetista
Sou a mulher violinista
Sou a mulher que alegra
Porque sou a palhaça sagrada.

Chumbe e Manto
Anjo carinhoso
Calorosa mão de avó
que acende a brasa interna da suavidade.
Tua pele me devolve a ternura frugal do útero materno
Fechas as feridas e embalas meu umbigo
nanando a força vulcânica do ventre,
que educas para que seja livre e quente.
Uma tecelã te forjou com os fios de seus sonhos ao pé
de uma fogueira índia.
As folhas de manjericão e o cheiro do milho apaixonado
te viram nascer em sua casinha do mato.
Um canto andino de montanha te nanou em seu verso.
Até que chegaste para mim, doando a visão
Me permitindo rememorar.

215
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Sol
Sol, meus olhos se fecham
Em teu estampido de unicórnio dourado.
Gota de ouro eterno que insistes em amar-me
Redondo anjo do tempo
Tua aurora envolve com ternura
O abismo da sombra
Me curas da noite
Compassivo caminhante,
Recado dos deuses.
Velha estrela da minha alma.

Milho
Te levantas
Guerreiro de mil braços
Teu espírito se eleva buscando o beijo dos ventos
Sagrado Falo dos Andes
Teu fruto coronário se assoma entre os séculos
Doando a certeza do pão
A alegria do almoço
Filho do sol, milho.

216
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Listagem de plantas
(Consulte nas páginas 165 a 170 e 173 a 181.)

ÁGUAS FLORIDAS

ALECRIM (Rosmarinus officinalis)

AMORA (Morus Nigra)

AMENDOAS (óleo) (Prunus dulcis)

ARNICA (Arnica montana)

ARRUDA (Ruta graveolens)

ARTEMISIA (Artemisia Vulgaris)

BABOSA (Aloe Barbadensis)

CABELO DE MILHO FRESCO (Zea Mays)

CALÊNDULA (Calêndula)

CAMOMILA (Chamaemelum nobile)

CANELA (Cinnamomun verum)

CAPIM CIDREIRA (Cymbopogon citratus)

CENOURA (Daucus carota)

217
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
CIDRÓ (Aloysia Citrodora)

COCO (óleo) (cocos nucifera)

COPAL (Protium Copal)

ENDRO (Anethum graveolens)

FOLHA DE EUCALIPTO (Eucaliptus)

FOLHA DE LARANJEIRA (Citrus Sinensis)

FOLHA DE CIPRESTE (Cupressus lusitânica)

GENGIBRE (Zingiber officinale)

HAMAMELIS (Hamamelis virginiana)

HORTELÃ (Mentha Villosa)

LAVANDA (Lavandula spp)

LINHAÇA (Linum usitatissimum)

MAÇÃ (Fruto) (Malus domestica)

MELISSA (Melissa Officinalis)

MILHO (Zea mays)

MEL

PALO SANTO (Bursera Graveolens)

218
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
ROSA BRANCA (rosa spp)

SAL MARINHO

SÁLVIA (Sálvia)

FRAMBOESA (Rubus idaeus)

TABACO (Nicotiana Tabacum)

VALERIANA (Valeriana officinalis)

VERBENA (Verbena Officinalis)

VIOLETA DE CHEIRO (Viola odorata)

219
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
220
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Co-inspiradoras
Ilustrações das capas e desenhos manuais:

Meu nome é Ángela Lizbeth Barrera Muriel ,


tenho 27 anos, moro na Colômbia e gosto de
desenhar... Quando descobri que gostava mais
do desenho do que da pintura, sentia que um elo
invisível conectava minha mão com o umbigo e este
se conectava com todos os cordões umbilicais dos
meus antepassados. Sentia que minha mão era o
canal que observava o obscuro, o escondido, o não
imaginado das minhas entranhas. Minha mão viaja
as profundezas obscuras e traz ao papel seres para
limpá-los.

Projeto gráfico, diagramação e ilustrações digitais:

Sou Julia Mizoguchi (Paloma Shakti Aguilar),


ilustradora e muralista latino-americana, ativista do
movimento Nación Pachamama o que significa, acima
de tudo, ser uma sonhadora. Moro na Comunidade
Campesina Espiritual Casamama, em San Marcos
Sierras, Argentina. Ilustro com a inspiração de reviver
os saberes ancestrais na vida cotidiana, onde vivemos
em tribo e caminhamos no ritmo da terra.

221
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Essencial, plenitude feminina natural
Cursos e vivências com Pilar Echeverry Z.
Samai a arte das curandeiras andinas
Uma profunda e sanadora imersão na natureza,
para a reconciliação com nossa linhagem materna, a
exploração da consciência interna da curandeira e o
aprendizado da ginecologia natural andina.

Sanação do ventre com mandalas lunares


Esta bela experiência, explora as particularidades
emocionais, sexuais, espirituais e físicas do ciclo
menstrual feminino. E ensina o uso de plantas, óleos
essenciais e cristais para a sanação de sintomas e
desconfortos relacionados.

Bonecas terapêuticas
Esta vivência é uma jornada pela ternura e a resig-
nifcação de episódios da nossa infância, a través da
elaboração de uma boneca em lã feltrada que reno-
va nossa memória emocional e corporal.

Essencial. Danças femininas


Experiências de prazer e deleite pela vida a través do

222
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
movimento. São profundas danças femininas de vá-
rios lugares do mundo, que retornam nossa alegria,
o contato com a intuição, a sensualidade e nossa ca-
pacidade de ser felizes, superando padrões emocio-
nais repetitivos e doentios.

Cuidados naturais no pôs parto e quarentena


Um curso para apoiar naturalmente os desafios do
pôs parto, trazendo uma visão humanizada e lumi-
nosa desta preciosa fase na vida de uma mulher e
sua família.
Blog: www.ventressencial.blogspot.com.br
E-mail: pilarez@gmail.com
Telefone: 51 95927059 Porto Alegre, Brasil.
Facebook: https://www.facebook.com/pilar.echeverry
https://www.facebook.com/9artedascurandeiras/

223
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Licensed to Liliane Almeida - Email: lilipatricia@gmail.com
Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)

Você também pode gostar