Você está na página 1de 60

PSICOLOGIA

AMBIENTAL
PROF. ME. EDUARDO CHIERRITO-ARRUDA
Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira
REITOR

Reitor:
Prof. Me. Ricardo Benedito de
Oliveira
Pró-Reitoria Acadêmica
Maria Albertina Ferreira do
Nascimento
Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo Diretoria EAD:
(a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá.
Prof.a Dra. Gisele Caroline
Primeiramente, deixo uma frase de Novakowski
Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios
não vale a pena ser vivida.” PRODUÇÃO DE MATERIAIS
Cada um de nós tem uma grande Diagramação:
responsabilidade sobre as escolhas que Alan Michel Bariani
fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida Thiago Bruno Peraro
acadêmica e profissional, refletindo diretamente
em nossa vida pessoal e em nossas relações Revisão Textual:
com a sociedade. Hoje em dia, essa sociedade
é exigente e busca por tecnologia, informação
Camila Cristiane Moreschi
e conhecimento advindos de profissionais que Fernando Sachetti Bomfim
possuam novas habilidades para liderança e Patrícia Garcia Costa
sobrevivência no mercado de trabalho. Renata Oliveira
De fato, a tecnologia e a comunicação Produção Audiovisual:
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, Adriano Vieira Marques
diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e
nos proporcionando momentos inesquecíveis.
Márcio Alexandre Júnior Lara
Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Osmar da Conceição Calisto
Distância, a proporcionar um ensino de qualidade,
capaz de formar cidadãos integrantes de uma Gestão de Produção:
sociedade justa, preparados para o mercado de Cristiane Alves
trabalho, como planejadores e líderes atuantes.

Que esta nova caminhada lhes traga


muita experiência, conhecimento e sucesso.

© Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114
UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA

01
DISCIPLINA:
PSICOLOGIA AMBIENTAL

PSICOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE


PROF. ME. EDUARDO CHIERRITO-ARRUDA

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................................................4
1. NATUREZA, CULTURA E SOCIEDADE.......................................................................................................................5
1.1 A HISTORICIDADE DA INTERDEPENDÊNCIA PESSOA-AMBIENTE.....................................................................5
1.2 EQUILIBRAÇÕES E OS SINTOMAS SOCIAIS E AMBIENTAIS..............................................................................8
1.3. MUDANÇAS E TRANSFORMAÇÕES POSSÍVEIS................................................................................................. 13
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................................................ 16

WWW.UNINGA.BR 3
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

No começo pensei que estivesse lutando para salvar seringueiras, depois pensei
que estava lutando para salvar a Floresta Amazônica. Agora, percebo que estou
lutando pela humanidade - Chico Mendes.

INTRODUÇÃO

Psicologia Ambiental? Sim é isso mesmo! Muito provavelmente, o primeiro contato com
esse campo pode ser marcado pela impressão de que você está em um terreno novo e inexplorado,
afinal, do que se trata essa perspectiva? Quais caminhos teóricos e práticos a compõem? Em
certo, responder a essas e outras questões são os objetivos dessa disciplina, que se faz urgente
frente às demandas sociais e ambientais na atualidade. Quais demandas são essas? Ora, vamos
considerar alguns aspectos de nossa realidade social e ambiental, como a desigualdade social,
a exclusão, a miséria e a fome, assim como a destruição ambiental, as mudanças climáticas e a
extinção de fauna e flora.
Frente a isso, se faz necessário uma pergunta fundamental: será que nos “acostumamos”
com esses cenários? E se a resposta evidentemente for “sim”, perceba como a ausência de
sensibilidade frente a esses temas marcam, pouco a pouco, a dicotomia na relação pessoa ambiente
e consequentemente a falta de um compromisso ético com a vida, a desumanização.

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 1


Em que ponto as nossas relações sociais e ambientais se tornam frágeis e qual é o papel
da psicologia frente a tais cenários? Nesse campo você poderá discernir como o conhecimento
psicológico pode contribuir para um desenvolvimento social harmonioso. A psicologia em
sua busca de promover a vida e os valores humanitários deve necessariamente se debruçar
nas questões sociais e ambientais, assim, lhe convido a explorar tais temas, em nossa primeira
unidade. Vamos juntos?

WWW.UNINGA.BR 4
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1. NATUREZA, CULTURA E SOCIEDADE


Há tantas coisas que me repletam: as plantas, os animais, as nuvens, o dia, a
noite e o eterno presente nos homens. Quanto mais me sinto incerto sobre mim
mesmo, mais cresce em mim o sentimento de meu parentesco com o todo - Carl
Gustav Jung

1.1 A Historicidade da Interdependência Pessoa-ambiente


A vida se manifesta em inúmeras formas e processos, sua dinâmica ativa é manifestada
nas dualidades e nas suas manifestações de pluralidades. Desde que o mundo se constituiu ele se
mantém na vivacidade do processo evolutivo, o que permite e impulsiona para amplos processos
de equilibrações. Na produção e interação com o ambiente, nós, seres humanos, criamos,
modificamos e ampliamos nossos entornos, uma lógica sistêmica e de interdependência.

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 1

Figura 1 - Projeto Génesis. Fonte: Sebastião Salgado (2015).

Nesse caminho, nota-se que ao analisar o processo histórico e social, a comunidade humana
mediatizada por instrumentos pouco a pouco aprendeu a interagir, construir criar cenários que
somam-se ao processo de mudanças nas operações mentais, ou seja, o resgate mnemônico dos
processos de aprendizagem e consequentemente a possibilidade de construir novos repertórios.
A oralidade e a transmissão do saber caracterizam a manifestação e a síntese da ideia de
cultura. Ideia essa que se inicia na apropriação simbólica e imagética do meio em que se vive.
Nesse caso, o ambiente exerce a função de produzir um diálogo para com a pessoa, que outrora
consegue se perceber e compor seus processos identitários. O que nos humaniza é a relação
pessoa-ambiente e consequentemente pessoa-ambiente-pessoa, assim como seus desdobramentos
relacionais.

WWW.UNINGA.BR 5
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Figura 2 - Projeto Génesis. Fonte: Sebastião Salgado (2015).

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 1


As comunidades humanas ganharam mudanças significativas, não apenas no próprio
processo civilizatório, em que vamos aprendendo a ser humanos e deixando o repertório
ancestral e primitivo, mas também no modelo de sociedades, cidades e no manejo da natureza
em harmonia com as necessidades e no respeito imagético e poético que cria os primeiros mitos
e lendas, norteados nas figuras anímicas do próprio ambiente, ou seja, os deuses e deusas que são
o sol, a lua, a terra, a água, os ventos e assim por diante.
Tais representações imagéticas, que no decorrer da historicidade, ganharam dinamismo
simbólico, sendo atualizados de acordo com a cultura e o imagético coletivo do espírito do tempo,
isso quer, os valores, princípios e cenários que explicitam como uma sociedade se organiza.
É assim que contemplamos que essas divindades nunca perderam sua potência de imagem,
mas compunham novas aquisições e processos criativos, como o deus do trovão, a deusa da
fertilidade e assim por diante, com faces humanas, mas ainda destrutivos e imprevisíveis, como
as forças da natureza o são. E é interessante perceber, que na arte, literatura ou nos processos de
organização social, são evidentes a maneira como uma sociedade se organiza e quais princípios
regem sua percepção de mundo, ou seja, ainda primitivas, rudes e violentas ou com valores mais
humanizados.
Neste ponto é curioso lembrar que algumas dinâmicas se fazem presentes na busca de
conectividade e contribuindo para o processo evolutivo e humanitário. Não obstante, apesar da
relação do cuidado se fazer diferente nos dias atuais, o desejo e a busca pelo cuidar se apresenta
no seio social, como lembra Leonardo Boff (2014), o próprio tamagochi ou aplicativos virtuais
que simulam a relação de cuidar, do tempo e da dedicação necessária para que se estabeleça a
dinâmica do cuidado. Dessa forma, a ética do cuidado e o respeito profundo a natureza e a vida
jaz em todos os seres, mas como potência, ou seja, precisam ser despertados. No decorrer desse
processo, muitas pessoas e comunidades cultivaram essa relação, porém chega um momento em
que os pontos de desequilíbrio ficam mais evidentes.

WWW.UNINGA.BR 6
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 1


Figura 3. Projeto Génesis, Fonte: Sebastião Salgado (2015).

Aqui se constata que na medida em que a dominação, a conquista ,o controle de território


e de pessoas passa a ser o modo operante, grandes impérios e imagens marcadas por processos
bárbaros se manifestam. Domesticar o animal, munir-se do arado, forjar e mudar o aço, assim
como o titubear das velas e a expansão marítima são reflexos da ação da pessoa frente ao
seu contexto espacial, social e geográfico. É em meio a esse caldo histórico que chegamos
aos processos que levaram às mudanças nas relações entre pessoas e ambientes, sobretudo na
apropriação das técnicas, ainda primitivas, de agricultura e agropecuária (WATANABE, 2011).
No decorrer do desenvolvimento histórico, cidades, comércios e tecnologias se tornam
cada vez mais sofisticadas e marcam cenários de grandes mudanças sociais, como a transição entre
os períodos da antiguidade, medievalismo e a sociedade moderna. E é exatamente nesse contexto,
entre o êxodo rural a busca desenvolvimentista, que as aspirações por uma nova estrutura e vida
pública começam a emergir, marcadas pela constante busca da razão, da cientificidade e dos
valores burgueses que emergiram na tessitura ideológica dominante. A religiosidade, a ciência e
a sociedade não seriam mais as mesmas.
No cerne do desenvolvimento do capitalismo, a exploração dos recursos naturais e a
apropriação da natureza alcançam ritmos que até então não eram os mesmos que nas civilizações
anteriores. Aqui, a lógica do consumo supera a necessidade de regeneração ambiental, o equilíbrio
não seria mais possível. Em 1700, marco da primeira grande revolução industrial, fica evidente
que meio ambiente e as questões sociais são meros meios para que a grande máquina social
funcione. Aliás, máquina é o cerne do pensamento, inclusive filosófico que começa a emergir, o
mecanicismo.

WWW.UNINGA.BR 7
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Nessa concepção, a realidade social é cada vez mais próxima a de uma grande máquina
em que a fragmentação é um dos caminhos para conhecer mais sobre o mundo e sociedade. Não
obstante que esse modelo percorre as noções racionalistas e de certa forma impacta no positivismo.
Sim, o mesmo positivismo que inspira a bandeira brasileira com “ordem e progresso”, marca os
valores e caminhos técnico e científico entre a primeira e segunda grande revolução industrial.
Essa visão de mundo, com certeza, trouxe um impacto significativo para o desenvolvimento
da humanidade, veja, estamos distante de um infantil desejo de voltar às camadas anteriores da
sociedade, uma involução do ponto de vista histórico. Ainda bem que avançamos, contudo, esse
avanço distanciou as pessoas de suas matrizes e de seus processos criativos, nesse caso, o retorno
ao originário pode levar a novas compreensões da vida em sociedade e na interação com o meio
ambiente. Nesse sentido, evidencia-se que a sociedade alcança seu potencial antrópico, isso quer
dizer que o humano se posiciona acima dos demais seres em busca do progresso e bem-estar, mas
a que custo?

Figura 4 - Projeto Gênesis. Fonte: Sebastião Salgado(2015). PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 1

1.2 Equilibrações e os Sintomas Sociais e Ambientais


Como bem sabemos na psicologia, os processos de desequilibração geralmente levam
a sintomas, e não seria diferente nas manifestações não sadias que se fazem no tecido social e
ambiental. A constatação dessa dinâmica permite um questionamento, afinal, como se faz e se
estabelece o vínculo na sociedade atual? Se a relação socioambiental se encontra ferida, como se
cria um espaço para a composição do eu e do outro? Lembrando que é a ética da alteridade que
faz desabrochar a flor da amorosidade e do cuidado (BOFF, 2014).

WWW.UNINGA.BR 8
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Observa-se em praticamente todos os lugares do mundo uma preocupação


social, independentemente de seus tons políticos e ideológicos, pelos problemas
ambientais. Se lembrarmos também que são os comportamentos das pessoas
que agravam (e provocam) os “problemas ambientais”, e que as alterações
ambientais, por sua vez, irão interferir na qualidade de vida dessas mesmas
pessoas (PINHEIRO, 1997).

Entre o manifesto, ou seja, sintomas visíveis, destaca-se os problemas com o território,


o acúmulo de resíduos sólidos e orgânicos, a desertificação e poluição de ares e águas. Outros
temas a serem considerados são as crises sociais, a desigualdade, a violência e a fome. Nesse
sentido, considerando primeiramente os aspectos ambientais, as mudanças climáticas demarcam
o principal debate sobre o impacto ambiental vigente no mundo.
Como exemplo pode-se interpretar o Gráfico 1 representa que se os países não agirem
para reduzir as emissões de CO2 o aumento da temperatura é evidente e mesmo com ações
específicas não será possível “reverter” mas fazer uma manutenção para não agravar o cenário
(STYLIANOU et al. 2019).

Gráfico 1. Ações políticas e governamentais. Fonte: Climate Action Tracker e BBC PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 1

Outro ponto para ilustrar é a quantidade de resíduos sólidos e o impacto ambiental


que percorre o solo, lençol freático e oceanos. Nesse sentido tem-se que de 2% a 5% do plástico
produzido no mundo chega aos oceanos e consequentemente retorna para a vida das pessoas em
sua alimentação. Isso mesmo que você leu, muito provavelmente você ingere entre 74 mil a 121
mil micropartículas de plástico por ano (VEIGA, 2019).
Já o quadro não manifesto é mais difícil de ser observado, pois está nas entrelinhas da vida
social, mas acredito que você conseguirá descrever, ora, essa constância leva a internalização dos
valores competitivos e individualistas que emergem, a busca constante por sucesso e poder, assim
como a ausência de significado existencial, temas que se agravam na sociedade contemporânea
(HEES, 2011; LEFF, 2012; BOFF, 2014).

WWW.UNINGA.BR 9
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

O sistema atual de reprodução das relações de produção e manutenção da vida


desde que tomara força esteve envolvido em situações de majoração da pobreza,
e do auferimento de lucros, ainda que isso tenha custado boa parte dos recursos
naturais, destruindo ecossistemas inteiros (FLORES, 2020).

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 1


Figura 5 - Projeto Gold, mineradores. Fonte: Sebastião Salgado (2017).

Dessa maneira, os valores individuais, já citados, se sobressaem frente ao bem-estar da


comunidade. A sociedade passa a não mais ser construída com base nas virtudes e no processo
de humanização, mas sim, na dicotomia presente entre o eu e o outro, onde o outro não mais
humaniza, mas é suprimido em sua potência de existir. A domesticação da pessoa, a exploração e
a degradação dos valores sociais conduzem a ausência de responsabilidade e consequentemente
afetam o desenvolvimento de uma consciência crítica frente à realidade.
A pobreza, a fome e a miséria são condições marcantes em processos de construção da
subjetividade, sobretudo em países latino-americanos que demarcam de um profundo processo
de desapropriação de si mesmo, seja da sua natureza, fauna e flora, ou de seus povos originários,
ou ainda de sua cultura. À medida que isso acontece, a manifestação dos complexos culturais ao
longo do desenvolvimento histórico de uma sociedade permeiam a matriz de desenvolvimentos
de seus citadinos. No Brasil, o que chamamos costumeiramente de complexo de vira-latas, não
pode ser explicado apenas em um fator, mas evidencia a falta de recurso simbólico e concreto da
apropriação da própria história e de outros fatores que culminam na libertação e na autenticidade
da manifestação cultural.

WWW.UNINGA.BR 10
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

É interessante considerar que quando me refiro ao termo


complexo, destaco em uma leitura da psicologia analítica, não
apenas no termo usado comumente, mas sim na representação
cultural de um complexo, com base no inconsciente cultural
brasileiro. Para uma leitura que considere a explicação desse
tema, assim como a análise em níveis individuais, culturais e
coletivas, sugiro o artigo de Camila Novaes: Corrupção no Brasil:
uma visão da Psicologia Analítica. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-08252016000200002&lng=pt&nrm=i
so.

A esse ponto, Alschuler (2011), analista junguiano inglês, incita a pensar em como as
pessoas, outrora oprimidas em sua vida social e ambiental reproduzem marcas de violência e
se distanciam da responsabilização, como se fosse uma consciência mágica, em que tudo o que
acontece ao redor, acontece por que deveria ser assim, porque os deuses assim o quiserem, ou
porque a humanidade não tem jeito mesmo.

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 1


A reprodução e repetição são discutidas pelo autor com base nas contribuições de Paulo
Freire e destaca que as pessoas se “acostumam”, pois não se percebem como sujeitos ativos de
sua própria jornada histórica. Nesse campo, a pessoa sobrevive e não vive. As projeções de suas
narrativas são sempre do outro, seja uma figura sagrada, um político ou o destino.
De fato, a consciência mágica faz um prelúdio ao próximo evento que é a capacidade de
adquirir uma consciência ingênua (ALSCHULER, 2011). Por exemplo, no Brasil, políticas sociais
ou de saúde são vistas como “migalhas”, pois a ausência de uma responsabilidade cidadã e ética
cria a ilusão de que políticos norteiam as benesses ao seu povo, assim como empresários e outros
de ordem hierárquica. Nesse caso, as próprias pessoas que são oprimidas demarcam contra si
mesmos, por exemplo, como se não contribuíssem via impostos para a seguridade social em
diferentes níveis. Na consciência ingênua, a pessoa se identifica com a narrativa vigente e se auto
pune para se adequar a norma.
Tais cenários levam a uma vida social com ausência de significado e possibilidades
de mudança, os vínculos permanecem frágeis, pois a competitividade, o hedonismo e outros
valores são colocados como objetivos centrais da vida em comunidade. Vida que cada vez mais é
marcada por experiências virtuais, ou seja, o espaço social que se sobrepõe para construir novas
possibilidades de subjetivação.

O psicólogo terá que antecipar os problemas que surgirão com a finalidade de


facilitar e humanizar a passagem à nova sociedade. No curto prazo, terá que
atender os “traumas” do conflito e da desintegração social. A médio e longos
prazos, deverá colaborar na edificação social de um homem novo, baseado
em necessidades menos individualistas e em objetivos que partem da justa
solidariedade. (MARTÍN-BARÓ, 2017).

WWW.UNINGA.BR 11
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Nesse sentido, na sociedade atual, demarca-se também sobre o espaço virtual e


consequentemente o impacto dele na construção das relações sociais e subjetivas. Como já vimos,
a mediação humana é fundamental para que se forme o eu e que se estabeleça o compromisso
ético para com o outro seja pessoa ou ambiente. Contudo a tecnologia enquanto potência de
conectividade muda sua dinâmica ao diluir-se na lógica do hiperconsumo, como argumenta
Flores 2020:

O tempo da tecnologia, mesmo com potencial altíssimo de unir, desbravar


e reorientar é marcado pelo surgimento de pensamentos totalitários e pelo
esvaziamento dos sentimentos, a sociedade do consumo é nociva para a o
meio ambiente, para os indivíduos e principalmente para as comunidades, que
vão deixando de sê-lo para amoldar-se aos grupos e identidades de nichos de
consumidores que continuam a surgir para ela.

Hiperconsumo é o nome dado ao modo de vida em sociedade na atualidade, permeado


pela lógica do consumir para ser, ou seja, não se sobrevive, se compra e consequentemente você
é, à medida que você tem. Com esse jogo, o consumo fica no nível do desejo e consequentemente
na associação entre aquilo que não se esgota (necessidades de aceitação e felicidade) e o que está
disponível para suprir essa necessidade no mercado.
Você já deve ter ouvido falar que a máxima no momento é vender experiência e status, não
necessariamente o produto em si. Quando Aristóteles argumentava sobre o sentido existencial

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 1


estar atrelado ao caminho da felicidade, dificilmente ele estava dizendo sobre uma dose de
refrigerante. A maneira que consumimos norteia nossa capacidade de compor com o tecido
social, no entanto, o consumo em ritmos tão acelerados evidencia também sua lógica perversa,
como é o caso da obsolescência programada.
Em uma pesquisa que eu realizei com jovens na cidade de Maringá (CHIERRITO-
ARRUDA, et al., 2016), foi evidente o impacto desse processo, sobretudo no descarte de
tecnologias, mas antes de explorar um pouco sobre isso, vale a pena delimitar o conceito.
Obsolescência programada é a predição de tempo de vida que nossos produtos possuem, lembra
a geladeira marrom de sua avó ou avô que praticamente sobreviveu por gerações, sim, a sua não
irá durar muito, não por não haver tecnologias suficiente, mas por que não é interessante ao
mercado que seu produto dure.
Aparelhos celulares, por exemplo, dificilmente não são trocados a cada três a quatro anos,
sem comentar as mudanças de software. Isso faz com o que o descarte aumente, mas também
outro fenômeno que está comum nos tempos atuais, que é o ato de acumular coisas; logicamente,
a conduta de acumuladores é muito mais complexa do que isso e deve ser analisada por fatores
multideterminantes, isso quer dizer, aspectos subjetivos, como com outros transtornos e afins.
Mas não se pode negligenciar que na ausência de tempo para o uso e sua simbolização, muitas
pessoas “guardam” seus dispositivos.
Nesse campo, o agravo também se dá pela quantidade de resíduo eletrônico descartado
e principalmente o manejo irregular, já que esse tipo não poderia ir direto para o “lixo comum”,
principalmente por conter elementos que são prejudiciais ao lençol freático, como metais pesados.
Como bioacumuladores, esse tipo de resíduo permanece nos animais que consomem e impactam
a cadeia produtiva, por exemplo, você já se alimentou do peixe chamado popularmente de Panga?
A produção desse peixe, principalmente no norte asiático possui alta quantidade de metais
pesados que pode impactar a saúde humana.

WWW.UNINGA.BR 12
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Nada é descartado na natureza, não existe fora quando se fala da vida e da manutenção da
vida, esse conceito é meramente uma sugestão humana que não faz sentido na lógica planetária.
Apesar do esforço pela equilibração, nem sempre ela é possível e temos que ter muito cuidado
com expressões como: a natureza está se vingando, estamos colhendo o que plantamos. Um termo
para esse tipo de expressão é o ecofascismo que facilmente vilaniza a ação humana, projetando
as responsabilidades individuais e coletivas. Coexistimos com a natureza e com a sociedade, não
somos rivais, muito menos pragas sociais, somos sobretudo humanos em processo de constante
aprendizagem, mudança e talvez, nesses momentos, se faça necessário o resgate de valores
coletivos e solidários.
Dessa maneira, após considerar os ambientes físico, social e virtual, é possível tecer um
panorama de que as coisas não andam bem e que apesar de tudo ainda há potencialidades de
transformação. É nesse campo que vamos estudar os demais temas dessa disciplina e que serão
comentados na próxima sessão, afinal, a psicologia deve trabalhar com a esperança que gera o
movimento necessário para mudanças reais no cotidiano.

1.3. Mudanças e Transformações Possíveis


Agora, quando falamos da psicologia e sua busca por mudanças sociais, destaca-se o
campo da psicologia social, campo esse que possibilitou o surgimento da psicologia ambiental

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 1


e comunitária. Em meados da década de 70 essa perspectiva chega ao Brasil, principalmente
na busca de superar os modelos hegemônicos e tradicionais que se distanciam da realidade
latinoamericana. Provavelmente o principal nome a ser referenciado é Silvia Lane e sua ampla
busca de uma psicologia brasileira crítica e com compromisso sociopolítico. Temas que se
aproximam da consequente construção da psicologia histórica e cultural no Brasil, assim como o
construcionismo (CORDEIRO; SPINK, 2018).

A Psicologia social busca desvelar a constituição da atividade humana tal como


ela é forjada em uma história, em uma situação e relacionada com o ser e fazer
das pessoas. Assim, sua pergunta central buscaria analisar em que medida uma
determinada ação foi configurada pela influência de outros sujeitos, de que
maneira o seu sentido integral resulta de sua relação essencial com o ser e fazer
dos outros (MARTÍN-BARÓ, 2017).

Retomando, quando a psicologia se insere na vida ambiental e social das pessoas,


alguns caminhos são possíveis, mas como vimos anteriormente é necessário demarcar alguns
cenários. Inicialmente a Psicologia Social Crítica construída no Brasil busca elucidar as relações
e processos de subjetivação. Afinal, a mera “importação” de modelos teóricos não respondiam
a realidade social brasileira e gera uma crise de referência, que historicamente repete modelos
hegemônicos sobre a produção e a possibilidade do saber (CORDEIRO; SPINK, 2018). A respeito
das mudanças, uma das necessidades eminentes é o processo de descolonizar o pensamento
psicológico e contribuir significativamente para o cenário socioambiental em que se vive.
Pouco a pouco a psicologia social comprometida com a transformação social incide
em garantir a liberdade e a autonomia das pessoas, o resgate de sua potencialidade humana nas
relações culturais e coletivas, assim como a ênfase em uma visão de pessoa cada vez mais solidária
e atenta para construir pontes em prol da humanização. Já sobre os temas socioambientais, uma
das possibilidades de começar a gerar mudança é pelo caminho de uma criticidade frente ao
modelo social de vida contemporâneo, atravessado sobretudo pelo capitalismo. Incrementando a
possibilidade de ir além da consciência mágica e ingênua, como discutido anteriormente.

WWW.UNINGA.BR 13
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Isso permite a construção de uma nova consciência, que vamos denominar com base em
Alschuler (2011) de consciência crítica. Essa possibilidade é mencionada por muitos autores e
a escolha se dá pela proximidade de uma leitura analítica/junguiana sobre o tema, no entanto o
emergir desse tipo de postura no mundo é semelhante ao processo de individuação descrito por
Carl Gustav Jung, em que a pessoa pode percorrer um caminho em prol de si e dos outros, uma
ética de vida em sociedade e de contemplar a vida como um todo.
Nesse campo, de acordo com Alschuler (2011) e Freire (2014) as pessoas compreendem
o funcionamento do sistema sociopolítico e suas consequências para a vida em sociedade. Não
mais projetam ou introjetam discursos dominantes, mas podem, outrora livres, construir suas
próprias linhas de subjetividade. Nesse momento, as pessoas começam a perceber os entornos e
seus problemas sociais, assim como passam a agir para modificar tais estruturas, com soluções
criativas e com impacto político relevante. “Em resumo, a conscientização descreve o movimento
de tomada de consciência política, da desumanização à humanização” (ALSCHULER, 2015.).
Nesse sentido, quando a humanização volta para o cerne da discussão, rompem-se barreiras
criadas anteriormente.

Nesse estado crítico, a ação assume duas formas: a autorrealização e a


transformação do sistema. A colaboração, a cooperação e a confiança mútua
substituem a agressão contra os companheiros (ALSCHULER, 2015,).

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 1


Somando a essa visão crítica de mudança social, a Psicologia Ambiental se posiciona de
forma ativa em prol da revisão que inclui o sujeito ambiental, ou seja, uma ética de somar para
a visão do ambiente. Entre seus estudos e a busca de uma Psicologia Ambiental Brasileira se
destaca a busca do resgate dos valores populares de preservação e conectividade com o ambiente.
Assim como a superação de modelos antropocêntricos para uma visão ecocêntrica da vida em
sociedade e com os demais seres. Desse modo, cria-se espaços para que a Psicologia responda e
crie cenários novos para a promoção da humanização.

Figura 06. Dicotomia entre pessoa e ambiente. Fonte: ecodebate.com (2012).

WWW.UNINGA.BR 14
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Se você ficou curioso sobre as fotografias usadas na


primeira unidade, vale a pena conferir o filme “O Sal da
Terra” de Wim Wenders e Juliano Salgado. Neste filme
você poderá conhecer um pouco mais sobre a trajetória
do fotógrafo Sebastião Salgado e a busca de elucidar
como as mudanças planetárias são atravessadas pela
relação pessoa-ambiente.

Fonte: Adoro Cinema (2021)

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 1

WWW.UNINGA.BR 15
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade foi possível contemplar alguns aspectos históricos e sociais da construção
da dinâmica pessoa-ambiente, assim como as narrativas que englobam a vida em sociedade.
Você pode conhecer um pouco mais dos cenários e contextos que viabilizam o surgimento da
Psicologia Ambiental enquanto campo de intervenção e também refletir, qual é o nosso papel
da crise pessoas-nos-ambientes e como podemos repensar a proposta de cuidado e o resgate de
vínculos socioambientais.

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 1

WWW.UNINGA.BR 16
UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA

02
DISCIPLINA:
PSICOLOGIA AMBIENTAL

PSICOLOGIA AMBIENTAL:
HISTÓRIA E PRESSUPOSTOS BÁSICOS
PROF. ME. EDUARDO CHIERRITO-ARRUDA

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................... 18
1.UMA BREVE COMPREENSÃO DOS PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DA PSICOLOGIA
AMBIENTAL................................................................................................................................................................. 19
1.1 AS INFLUÊNCIAS EXTERNAS................................................................................................................................ 20
1.2 AS INFLUÊNCIAS INTERNAS............................................................................................................................... 21
2. A PSICOLOGIA AMBIENTAL E SEUS CONCEITOS-CHAVE.................................................................................. 24
2.1 A PSICOLOGIA AMBIENTAL.................................................................................................................................. 24
2.2 A PESQUISA E OS MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO............................................................................................. 25
2.3 A PSICOLOGIA AMBIENTAL NO BRASIL: UM BREVE PANORAMA.................................................................. 26
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................................................................... 29

WWW.UNINGA.BR 17
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

“O mundo não é aquilo que pensamos, mas o que vivemos, pois não o
possuímos, apenas nos comunicamos com ele” (KUHNEN, 2011, p. 252).

INTRODUÇÃO

Agora que você conheceu um pouco mais das trajetórias sociais e ambientais, assim
como a busca por uma sociedade que promova o cuidado socioambiental, podemos iniciar um
caminho de aprofundamento em relação à Psicologia Ambiental, seus caminhos metodológicos e
aplicações. Para começo de conversa, a Psicologia Ambiental, também conhecida como PA, é um
campo de estudos da psicologia que está em constante desenvolvimento e ampliação.
Apesar de “soar” como uma novidade, os estudos desse campo acontecem desde a
década de 70 e curiosamente eles não acontecem como uma necessidade da própria psicologia,
afinal, a psicologia antes desse período, tanto a europeia, quanto a americana se posiciona muito
mais preocupada com adaptação social das pessoas ou a medição e descrição dos fenômenos
psicológicos. Nesse contexto, a psicologia enquanto ciência e profissão ainda apresenta marcas de
uma narrativa científica distante de uma crítica social e que atendia às necessidades de grupos ou
interesses sociais, um toque de higienismo e um pouco distante de uma prática emancipatória.
Desse modo, é fácil compreender como a necessidade de olhar para as demandas sociais

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 2


e ambientais “passam longe” da psicologia tradicional e se tornam cada vez mais urgentes,
principalmente após os impactos sociais de uma sociedade pós-guerra e com novos olhares
para seu processo de humanização. Como mencionado, os questionamentos que irão compor a
Psicologia Ambiental surgem de outros campos, como a ecologia, a arquitetura e o urbanismo,
assim como a geografia humanista, escolas e áreas que começam a questionar:
“Ei! O que a psicologia pode nos ensinar sobre um ambiente melhor para o bem-
viver das pessoas?” ou “Ei! Como o ambiente pode somar para potencializar a humanização e
consequentemente construir espaços sociais transformadores?”, e também teve uma que foi mais
ou menos assim: “Ah! Como a psicologia pode responder aos problemas de comportamentos que
não são pró-ambientais?”.
E será seguindo esse caminho que você, na segunda unidade, irá trilhar e aprender sobre
as bases que fundam a Psicologia Ambiental. Espera-se que seja uma boa aventura e que esses
temas venham a agregar, não apenas em sua formação na Psicologia, mas também em sua vida
pessoal e seu desenvolvimento.

WWW.UNINGA.BR 18
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1. UMA BREVE COMPREENSÃO DOS PRESSUPOSTOS HISTÓRICOS E


CONCEITUAIS DA PSICOLOGIA AMBIENTAL
Quando, recorrendo aos diferentes conceitos da Psicologia Ambiental,
explicitamos as consequências que os ambientes exercem sobre as pessoas, não
só os estudiosos se beneficiam, mas também os leigos se entusiasmam com a
força que daí emana (ELALI, CAVALCANTE, 2018).

A Psicologia Ambiental pode ser definida como um campo de estudos interdisciplinar


que possui interesse em compreender as inter-relações entre pessoas e o ambiente físico, seja
natural ou construído. Desse modo, pode-se representar conceitualmente que a Psicologia
Ambiental investiga a relação pessoa-ambiente, com ênfase no hífen, desse modo, pessoa e
ambiente são participantes ativos da dinâmica a ser construída (GÜNTHER; ROZESTRATEN,
1993; PINHEIRO, 1997).
Esse ponto pode levar a alguns questionamentos, ora, seria toda psicologia, uma psicologia
ambiental? Muito provavelmente você já entrou em contato com teorias que também dão ênfase
ao ambiente e como ele pode criar, modificar e eliciar comportamentos. Contudo, uma das
diferenças teóricas e epistemológicas que abrange a Psicologia Ambiental é que o Ambiente deixa
de ser visto como um mero background (cenário) para a interação humana, ele é um espaço ativo

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 2


que interage e é modificado pela relação, assim como a pessoa é modificada ao interagir com ele.
Desse modo, pessoa e ambiente ocupam uma relação não mais vertical, mas sim horizontal.

A mudança paradigmática de uma leitura horizontal da relação pessoa-ambiente


produz necessariamente um comportamento e consequentemente valores éticos
para compreender, investigar e interagir com o ambiente que estamos estudando
ou compartilhando. Já considerou que ao realizar investigações a ética com seres
humanos é uma premissa básica, mas como seria a necessidade de se criar um
comitê de ética socioambiental ou ambiental? Como os estudos e intervenções
em psicologia podem impactar no ambiente e de certa forma contribuir para a
promoção do cuidado socioambiental, ou ainda, impactar negativamente o espaço
em que compartilha. Neste ponto, não se refere apenas ao uso de papéis, economia
de energia ou se os pesquisadores evitam impactos ambientais significativos,
mas incluem fatores como a visão e a compreensão dos ambientes e exigem
uma postura ativa de aproximação, de cuidado na investigação. Quando você está
no bairro, na comunidade ou na casa de alguém, como você a respeita e interage
com ela? O que esse ambiente desperta e acorda em sua compreensão subjetiva,
isso também pode ser parte de seu diário de campo.

WWW.UNINGA.BR 19
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1.1 AS INFLUÊNCIAS EXTERNAS


Como descrito anteriormente, a leitura pessoa-ambiente é a chave de compreensão
para os temas e métodos que são empregados em Psicologia Ambiental. Desse modo, um tema
tão complexo exige um esforço de aproximação também diferenciado, o que conduz a pensar
como se deu o esboço dessa disciplina e suas influências teóricas e metodológicas. Em seu texto
clássico de 1997, José Q. Pinheiro, argumentou que há três campos teóricos externos à psicologia
que contribuem diretamente para a construção da PA, são eles: a arquitetura e o urbanismo, a
geografia humanista e as ciências ambientais que começam a emergir na década de 70.

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 2


Figura 1 - Canadá, 2008, Fort McMurray. Fonte: Yann Arthus-Bertrand.

Ao contemplar cada uma dessas influências, elas traziam perguntas que até então, a
psicologia vigente não conseguia responder, por exemplo, como o ambiente construído influencia
no bem-estar das pessoas? O que há entre a relação sócioespacial e o comportamento? Como
compreender o comportamento pró-ambiental e a busca por uma sociedade mais verde? Destes
três questionamentos, emergem os temas de interesse da PA e sua busca por uma identidade de
pesquisa e contribuição teórica, que desde seu começo se mostrou interdisciplinar, inserindo-se
no campo das ciências naturais e humanas.
Isso corrobora para a leitura de Ferreira e Pontes (2020) que argumentam sobre a
característica interdisciplinar deste campo. Assim, uma das perguntas frequentes é quem poderá
contribuir para as leituras e estudos da PA. Pois bem, a resposta está exatamente em quem desejar
e puder somar com a construção teórica-prática das relações pessoa-ambiente, ou seja, pessoas da
arquitetura, do urbanismo, da geografia, da educação, das ciências biológicas e ecologia.

WWW.UNINGA.BR 20
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 2


Figura 2 - Mongólia, 2013. Rio sinuoso Tuul, na província de Tov, Fonte: Yann Arthus-Bertrand (2013).

1.2 AS INFLUÊNCIAS INTERNAS


Adiante, não foram apenas influências externas que marcam as primeiras iniciativas da
Psicologia Ambiental, mas também leituras internas a Psicologia, como a psicologia da Gestalt.
As teorias da percepção e sua concepção holística somam como uma característica presente na
PA. Desse modo: “o efeito do ambiente no organismo não é analisado isolado do seu contexto,
nem de maneira unidirecional” (GÜNTHER; ROZESTRATEN, 1993, p.1).
A visão holística ou sistêmica permite uma releitura das concepções sobre pessoa-
ambiente. Tal concepção, ao ser integrada e revisada pelos pesquisadores em PA, aponta uma
revisão de modelos teóricos e o avanço em novas posições para entender as dinâmicas pessoa-
ambiente tal como acontece na revisão de conceitos da psicologia positiva proposta no estudo de
Corral-Verdugo (2014), pesquisador em PA no México. Para ele, a teoria clássica dos ambientes
positivos possuem limitações teóricas específicas que são observadas pela ausência das leituras
pessoa-ambiente na teoria psicológica. Desse modo, convido você a contemplar o seguinte modelo
teórico, em que o recurso natural é transformado pela interação humana e seu uso pode gerar o
bem-estar. Veja, a partir de um olhar crítico, o que falta nessa concepção? (não veja spoiler, não
mude de página antes de refletir).

WWW.UNINGA.BR 21
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Figura - 03. Modelo tradicional de ambientes positivos. (Adaptado). Fonte: O Autor

A teoria chamada ambientes positivos advém da da psicologia positiva e busca elucidar


como o bem-estar subjetivo pode estar atrelado aos fatores ambientais e sociais, como ilustrado
na figura 03, contudo, a análise de Corral-Verdugo (2014) sugere que outras variáveis devem ser
consideradas nesse campo, pois o modelo teórico da figura acima, apesar de promover o bem-
estar, possui uma noção limitada da concepção de ambiente, nesse caso, uma leitura unidirecional

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 2


e antropocêntrica (isso quer dizer, uma visão vertical da dinâmica pessoa-ambiente).
Logo, convido para que você veja a nova concepção teórica e identifique os fatores de
mudança. Ao fazer isso é possível sintetizar aspectos renovados da questão ambiental e de como o
olhar da Psicologia Ambiental poderá somar, não apenas com a construção histórica e conceitual
desse campo, mas também com revisões e outras perspectivas para áreas já consolidadas.

Figura 04. Modelo tradicional de ambientes positivo. (Adaptado). Fonte: O Autor

WWW.UNINGA.BR 22
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Nessa concepção fica evidente o impacto que a concepção metodológica e a visão de


mundo da PA podem produzir para uma leitura multidimensional e holística, com ênfase na visão
ecocêntrica e não mais antropocêntrica. Desse modo, ao incluir o cuidado ambiental, expressos
na qualidade ambiental, e consequentemente, na busca de comportamentos pró sociais e pró-
ambientais, tem-se que os recursos humanos e ambientais são renováveis, uma nova ética passa
a surgir. Em unidades futuras, você poderá aprofundar um pouco mais nos conceitos citados, no
momento, vamos retornar aos pontos sobre o surgimento da PA.
Outro campo interno a psicologia que possui relação direta com o surgimento da
Psicologia Ambiental é o da Psicologia Social, sobretudo a leitura crítica promovida na elucidação
de uma psicologia social/comunitária na América Latina. A proximidade com as duas disciplinas
estão para além do campo metodológico e também abrange conceitos, como sugere Günther e
Rozestraten (1993 “temas da psicologia ambiental, tais como espaço pessoal, superpopulação,
bem como procedimentos metodológicos são da psicologia social”.)
A proximidade desses campos de estudos no Brasil permite constatar que a Psicologia
Ambiental surge como um campo independente a partir da Psicologia Social. E essa narrativa
traz fortes contribuições para leitura crítica da PA no Brasil e na América Latina, conforme
destacado anteriormente. Essa aproximação permite a aproximação da realidade socioambiental
latinoamericana, atravessada pela sua historicidade e cultura.

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 2

Figura - 5. Vacas pastando no pantanal no Brasil. Fonte: Yann Arthus-Bertrand (2015).

Agora que você já conhece um pouco dos pressupostos básicos da Psicologia Ambiental,
desse modo, vamos seguir com mais um questionamento, afinal, o que é Psicologia Ambiental?
Como ela se constitui nesse campo teórico e quais seus pressupostos científicos?

WWW.UNINGA.BR 23
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

2. A PSICOLOGIA AMBIENTAL E SEUS CONCEITOS-CHAVE


De fato, a consciência desses processos pode levar a uma mudança de atitude
que transformem positivamente e a qualidade de vida tantos dos indivíduos
diretamente implicados quanto da sociedade em seu conjunto (ELALI,
CAVALCANTE, 2018, p. 10).

2.1 A PSICOLOGIA AMBIENTAL


Quando se pensa na Psicologia e suas possíveis contribuições com as questões ambientais,
resta claro que foi apenas em 1977 que Bronfenbrenner, influenciado por Kurt Lewin, introduz
uma compreensão de ambiente para além da dicotomia, ou seja, uma narrativa psicológica que
enfatiza a interdependência e a relação sistêmica (CAMPOS-DE-CARVALHO et al, 2011). Como
vimos anteriormente, na busca de responder a questionamentos de outras áreas, assim como
nas influências internas da Psicologia, culminou com o desenvolvimento da PA, sobretudo na
Europa e nos Estados Unidos, a partir da metade do Séc. XX.
Dessa maneira, pode-se definir a Psicologia Ambiental como:

[...] um campo da psicologia voltado para o estudo das relações recíprocas entre
a pessoa e o ambiente, e cuja meta é compreender a construção de significados

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 2


e os comportamentos relativos ao diversos espaços de vida, bem como as
modificações e influências suscitadas por nossa subjetividade nesses ambientes
(CAVALCANTE; ELALI, 2011, p. 14).

Desse modo, segundo Cavalcante e Elali (2011, p.13-14) a PA se organiza com base em
três compreensões básicas:

1. Percepção da díade pessoa-ambiente, como intrinsecamente relacionada e caracterizada


pelo intercâmbio dinâmico de mútuas influências, denotando não só que a pessoa
é influenciada pelo meio ambiente, mas também que o entorno em que vive (ou se
encontra) é fruto de sua ação.
2. A constatação de que a ação humana se reflete diretamente em seu entorno, embora
muitas vezes suas consequências não sejam temporal ou espacialmente perceptíveis de
imediato.
3. A investigação das motivações humanas em relação ao meio ambiente, evidenciando
valores e crenças que fundamentam a conduta.
Entre os conceitos-chave que foram elaborados, destaca-se: a identidade de lugar, o espaço
pessoal, affordance, ambientes restauradores, comportamento pró-ambiental, crenças ambientais,
afetividade pessoa-ambiente e vínculo ao lugar (FERREIRA; PONTES, 2020). Outros conceitos
também são estudados pela Psicologia Ambiental e marcam sua intersecção com outros campos,
nesse sentido, destaca-se o interesse da PA em se aproximar do campo da Psicologia da Saúde, da
Psicologia Social e da Psicologia Comunitária. Um pouco mais adiante, pode-se dizer que a PA
não se faz sem a lógica interdisciplinar, uma vez que também contempla conceitos da geografia,
da arquitetura, do urbanismo, da ecologia e áreas que dialogam para entender a relação pessoa-
ambiente.

WWW.UNINGA.BR 24
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Em sua vocação interdisciplinar, a PA se faz presente na grande área de estudos pessoa-


ambiente, possui conceitos próprios e compartilhados e pode ser estudada e analisada sob
diferentes óticas. Para que isso aconteça ela possui um caráter metodológico específico, uma
rigorosidade de pesquisa que acontece em diferentes níveis.

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 2


Figura 5. Inserção multilateral de diferentes sub-áreas. Fonte: Günther (2003).

2.2 A PESQUISA E OS MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO


Logo, a pesquisa em PA é caracterizada como a Pesquisa-Ação, que irá acontecer
na consideração do espaço geográfico, na dimensão temporal e na atribuição de sentidos e
significados. Essa modalidade de investigação permite diminuir a distância entre teoria e prática
e consequentemente propiciar resolubilidade de problemas reais nas comunidades e nos espaços
investigados, com base no entendimento teórico facilitador (ZELABRIDA, 2011).
A pesquisa-ação foi criada por Kurt Lewin e para ele, representa a possibilidade de ir além
da literatura e modelos teóricos, para um campo prático de mudança e transformação no tecido
social. Desse modo, segundo Zenith Delabrida (2011, p. 283):

A psicologia ambiental, ao trabalhar com os problemas da inter-relação


comportamento humano e ambiente físico, beneficia-se claramente dessa
abordagem entendendo os problemas de uma perspectiva teórica para apresentar
soluções práticas que possam retroalimentar o desenvolvimento da teoria. Os
psicólogos sociais, ao saírem do laboratório, fundaram a psicologia ambiental
como uma possibilidade de estabelecer outra relação com os eventos sociais. Ao
se pensar em pesquisa ação, continuasse no processo em direção a uma maior
proximidade do cientista com o que acontece à sua volta. Essa é a proposta de
Lewin e daqueles que optam pela Psicologia Ambiental quanto pela pesquisa-
ação.

Dificilmente os estudos em PA acontecem no laboratório, ou seja, em quatro paredes e


distante da realidade social, eles acontecem na praça, na comunidade e nos vilarejos; na praia; no
bosque ou nas fazendas. Se o ambiente é um participante do estudo e não mais um cenário para
interatividade humana, se faz fundamental pensar em uma ética ambiental para os estudos.

WWW.UNINGA.BR 25
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Ora, muito provavelmente você já está familiarizado com a ética em pesquisa com seres
humanos, mas também é necessário pensar na ética em pesquisa ambiental, afinal, qual é o
impacto ecológico de nossas pesquisas? Como chegamos ao local de estudos? Quais materiais
usamos para coleta de dados? Respeitamos verdadeiramente a cultura e as comunidades locais?
Enfim, a tessitura da pesquisa em Psicologia Ambiental deve incluir ambiente físico e social como
participantes ativos fundantes da pesquisa e logicamente na relação de promover ambos em prol
do bem-estar.
Outra característica metodológica fundamental para as intervenções e pesquisas nesse
campo é a abordagem multimétodos. Também chamada de triangulação metodológica, é
amplamente usada desde 1930 e representa a possibilidade de uma leitura tanto quantitativa,
quanto qualitativa da realidade (GÜNTHER; et al 2011).
Essa necessidade de uma orientação complexa para a pesquisa se faz nos próprios
participantes da investigação, ora, o interesse de estudos da PA é Pessoa-Ambiente e essas duas
dimensões com ênfase na inter-relação, para ser mais claro, queremos entender o “hífen” entre
pessoa e ambiente e para esse fim, é necessário uma abordagem de pesquisa que contemple sua
amplitude.

2.3 A PSICOLOGIA AMBIENTAL NO BRASIL: UM BREVE PANORAMA

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 2


No Brasil a Psicologia Ambiental começa a ser desenvolvida já em 1970, com traduções
de bibliografia, contudo ela só ganharia corpo teórico em 1990 (CAVALCANTE; ELALI, 2011).
Pode-se dizer que a PA começa pela colaboração entre o Dr. Hartmut e a Dra. Isolda Günther,
inicialmente na Pós-Graduação em Psicologia na cidade de João Pessoa. Outro nome a ser
considerado é o Dr. José Q. Pinheiro, sendo que ambos, Hartmut e Pinheiro propuseram o 1º
Encontro Brasileiro de Psicologia Ambiental em São Paulo, no ano de 1999.

Alguns nomes citados nesta unidade fazem parte da história da Psicologia


Ambiental brasileira e merecem o destaque e a homenagem. Entre eles: Dr.
Hartmut Günther e Dra. Isolda Güther. Hart, como carinhosamente é chamada por
seus amigos e pesquisadores no bastidores, e sua esposa Isolda Günther são os
pioneiros ou responsáveis diretos pelo início de uma PA brasileira. Isso acontece
em meio a uma história de amor, quando ele (Alemão) chega ao Brasil, em João
Pessoa e se apaixona, tanto pelo País, mas também por Isolda.

WWW.UNINGA.BR 26
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 2


Figura 03 - Hart e Isolda Günther (2019). Fonte: O autor

Hart já pesquisava a Psicologia Ambiental na Alemanha, contudo ao se mudar para o


Brasil, a necessidade de uma leitura Latino-Americana e seus entornos socioambientais ficaram
evidentes, ele compôs uma ampla leitura metodológica e investigações, principalmente na
cidade de Brasília onde é Professor na UNB. Isolda também trouxe leituras até então inéditas
na composição da PA, principalmente voltada ao desenvolvimento humano nas fases: criança,
juventude, adultez e velhice. Suas pesquisas impactam uma leitura dinâmica e construtiva
da realidade socioambiental e desse modo, não há como se referir a construção da Psicologia
Ambiental, sem um espaço para demarcar esse legado. No decorrer das aulas você poderá
conhecer outras histórias da PA brasileira.
Um marco para o desenvolvimento da PA no Brasil foi a criação do Grupo de Trabalho
de Psicologia Ambiental na Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia
(GT-PSI-Ambiental/ANPEPP) em 2000. Desde este período inicia-se um projeto de expansão
e consolidação de uma Psicologia Ambiental Brasileira, que fortalece seus laços com a América
Latina com a criação da Rede de Psicologia Ambiental Latino Americana (REPALA), por José
Pinheiro.
Ao dar continuidade, destaca-se que em 2018 temos a fundação da Associação Brasileira
de Psicologia Ambiental e Relação Pessoa-Ambiente (ABRAPA), atualmente presidida pela
Dra. Zenith Zelabrida (UFS). A associação visa apoiar a produção e divulgação científica e
tecnológica da Psicologia Ambiental e dos estudos pessoa-ambiente, assim como contribuir
com aprimoramento profissional da área, facilitar a troca de informação e de experiência dos
membros, com o intercâmbio e parceria entre instituições, associações e entidades científicas
nacionais e internacionais. Desse modo, logo em 2019 aconteceu o I Congresso Brasileira de
Psicologia Ambiental e Relação Pessoa-Ambiente em João Pessoa, (Paraíba).

WWW.UNINGA.BR 27
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Em Maringá, a Psicologia Ambiental teve seu prelúdio com o Dr. Eduardo Tomanik
(UEM) na década de 1990 e depois teve seu espaço consolidado pela Dra. Rute Grossi Milani
(UNICESUMAR) e seus alunos, em que eu (o autor) tive a honra de contribuir desde o início
na Pós-Graduação em Tecnologias Limpas da UNICESUMAR, assim como na Pós-Graduação
em Promoção da Saúde, na mesma instituição. Em que os marcos foram a criação do Grupo de
Pesquisas em Saúde Mental & contextos Socioambientais de Desenvolvimento no Ciclo da Vida/
CNPq e do Laboratório de Práticas Interdisciplinares em Promoção da Saúde, Subjetividade e
Cuidado Socioambiental.

Se você reparou bem, aqui também temos uma série


de fotografias, com uma estética única, o Francês Yann
Arthus-Bertrand, produz um forte diálogo entre a percepção
humana e a beleza ambiental. Não distante, também vale
conferir o filme Home (2009), em que discute a falsa ideia
de fronteiras e limites na dinâmica da vida planetária.
Afinal, o que são fronteiras? Como esse limite cria a ilusão
da ausência de conectividade. Talvez você mesmo já se

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 2


pegou dizendo coisas simples, mas que marcam a leitura
dicotômica nesse campo, um exemplo? jogar o lixo fora,
quantas vezes dizemos isso, mas fora é exatamente onde?
Nada é jogado fora, só é direcionado para outro campo
e se soubermos disso, iremos cuidar melhor do resíduo
que produzimos, pois ele ainda não acabou, irá passar
pelo manuseio de pessoas e posteriormente na possível Fonte: Adoro Cinema
destinação, que pode ser o começo de um novo ciclo na (2021).
cadeia produtiva.

WWW.UNINGA.BR 28
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade você aprendeu um pouco sobre os pressupostos básicos da Psicologia


Ambiental. Foi possível descrever como a PA se estrutura dentro da Psicologia e suas três
principais influências externas e internas, revelando a necessidade de uma psicologia crítica e
com compromisso social, exigência que foi feita pela sociedade e por outras áreas e que ajudaram
a criar uma nova leitura das relações pessoa-ambiente. Logo você também conheceu um pouco
da Psicologia Ambiental no Brasil e alguns nomes importantes para sua construção.
Ainda foi possível delimitar a dinâmica interdisciplinar dos estudos pessoa-ambiente e
como isso criar cenários e possibilidades de investigação científica e de aplicações dos conceitos
que serão desdobrados, conceitos esses que serão discutidos nas próximas duas unidades.
Tais temas só são possíveis de serem contemplados pela lógica metodológica da Psicologia
Ambiental, uma leitura complexa e dinâmica da realidade Pessoa-Ambiente e a busca por uma
conectividade que contemple a ética ambiental e a inserção da lógica da vida planetária nas suas
pesquisas e aplicações.

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 2

WWW.UNINGA.BR 29
UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA

03
DISCIPLINA:
PSICOLOGIA AMBIENTAL

A RELAÇÃO PESSOA-AMBIENTE E A BUSCA


PELO CUIDADO SOCIOAMBIENTAL
PROF. ME. EDUARDO CHIERRITO-ARRUDA

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO................................................................................................................................................................ 31
1. O CUIDADO AMBIENTAL..........................................................................................................................................32
1.1 VALORES E CRENÇAS AMBIENTAIS/ECOLÓGICAS.............................................................................................34
1.2 A AFETIVIDADE PESSOA-AMBIENTE...................................................................................................................36
1.3 O COMPORTAMENTO PRÓ-AMBIENTAL.............................................................................................................38
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................................................ 41

WWW.UNINGA.BR 30
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos.


Tenho abundância de ser feliz por isso
Manuel Barros

INTRODUÇÃO

Nas unidades anteriores você pôde entender como se dá o desenvolvimento das áreas
científicas sobre a relação pessoa-ambiente e os pressupostos básicos da Psicologia Ambiental.
Agora já é possível mergulhar em alguns temas da área, sobretudo, em relação às suas investigações
e o impacto social que se busca com a inserção e aplicação da PA no território e dia-a-dia das
pessoas.
Entre os diferentes caminhos para entender as aplicações da PA, considerou-se uma
análise do cuidado ambiental e a busca por um ambiente em harmonia e que facilite a promoção
de vida. Nesse caminho, entende-se que ao contribuir com ambientes saudáveis, a dinâmica
dialética, permite a construção de relações humanas e ambientais mais potentes. Nesse sentido, o
resgate e a busca por valores humanizadores permite a potência de vir a ser em sociedade.
Considerar a busca por um ambiente melhor e saudável. São esses tópicos que iremos
estudar nesta unidade. Nesse campo você poderá entender um pouco mais sobre as aplicações da

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 3


Psicologia Ambiental, seus conceitos e a possibilidade de trilhar caminhos em prol de políticas
públicas, instituições e outros cenários. Vamos juntos?

WWW.UNINGA.BR 31
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1. O CUIDADO AMBIENTAL
O sintoma mais doloroso, já constatado há décadas por sérios analistas e
pensadores contemporâneos, é um difuso mal-estar da civilização. Aparece sob
o fenômeno do descuido, do descaso e do abandono, numa palavra, da falta de
cuidado (BOFF, 2014, p. 18).

Ao falar sobre meio ambiente, uma das primeiras coisas que se remete é a busca pelo
cuidado ambiental, assim como os questionamentos sobre o aquecimento global, as mudanças
climáticas e a sustentabilidade real. É claro, muito provavelmente esses temas são contemplados
em vários espaços, talvez, a novidade que se apresenta é que na ótica da Psicologia Ambiental, a
crise ambiental é uma crise de pessoas-nos-ambientes (PINHEIRO, 1997). Parece simples, mas
essa formulação permite incluir as pessoas na lógica e reduz o distanciamento das vida cotidiana
com a ética ambiental.
Para começo de conversa, pode-se resgatar o tema do cuidado. Algo inerente aos
mamíferos e suas diferentes espécies, algo que se assemelha aos humanos na conduta da empatia
e na vida. Seja na leitura dos neurônios espelhos ou na lógica social, o que se pode mensurar é
que o cuidado nascente em cada pessoa é uma potência que precisa ser estimulada e facilitada no
encontro entre pessoa, ambiente, história e cultura.
Leonardo Boff em sua obra “Saber Cuidar” (2014) irá discorrer sobre o mito do cuidado

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 3


e como ele se atualiza em cada pessoa. Entre os diferentes contos que existem sobre o cuidar, o
autor revela que ele é tão antigo quanto os mitos e deuses. Contudo, como algo construído nas
relações, deve ser mediatizado e que na sociedade atual, parece “adormecido”, mas não distante.
Um tema que o autor evoca para ilustrar é o famoso tamagotchi, sim, se você for uma criança da
década de 90 e começo dos anos 2000, provavelmente já viu ou teve esse brinquedo.
Esse jogo, por mais simples que seja, virou uma verdadeira “febre”, com vendas, comentários
na mídia e uma situação inusitada, crianças preocupadas em cuidar de seu bichinho virtual. Entre
atividades como brincar e alimentar, muitas não desgrudaram deles, um terror para professores,
que talvez não enxergaram a potencialidade pedagógica e simbólica do brinquedo. Como
mencionado, por mais simples, esse brinquedo revela a potência do cuidado, a interatividade, a
alegria, a esperança e tantos outros sentimentos que jazem da vivacidade com o zelo.
A experiência continua presente em vários outros formatos, porém a pergunta que
podemos fazer é: quando perdemos ou não desenvolvemos a capacidade de cuidar? Como
podemos resgatar essa dimensão? De que forma nos acostumamos com a barbárie e perdemos
nosso potencial humano? Faça esses questionamentos por alguns minutos e verá que não
são simples de serem solucionados, mas são necessários. Quando dizemos do cuidar social e
ambiental, muitas vezes se percebe um distanciamento, uma ausência de sentido e significação.

WWW.UNINGA.BR 32
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Segundo clássicos dicionários de filologia, alguns estudiosos derivam a palavra


cuidado do latim cura. Esta palavra é um sinônimo erudito de cuidado, usada na
tradução de Ser e tempo de Martin Heidegger. Em sua forma mais antiga, cura
em latim se escrevia coera e era usada num contexto de relações de amor e
de amizade. Expressava a atitude de cuidado, de desvelo, de preocupação e de
inquietação pela pessoa amada ou por um objeto de estimação. Outros derivam
cuidado de cogitare-cogitatus e deusa corruptela coydear, coidar, cuidar. O sentido
de cogitare-cogitatus é o mesmo de cura: cogitar, pensar, colocar atenção, mostrar
interesse, revelar uma atitude de desvelo e preocupação. O cuidado somente surge
quando a existência de alguém tem importância pra mim (BOFF, 2014, p. 102).

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 3


Figura 1- Resíduos no mar e o impacto ambiental da COVID-19 (2021). Fonte: Sebnem Coskun.

Um dos caminhos é olhar o quanto a alienação e os caminhos estruturantes da sociedade


impactam na capacidade de discernir e de sentir das pessoas. Algo que se remete desde a primeira
infância, onde vivências e sentidos são duramente reprimidos (MINATEL, 2017). Nesse campo,
cuidar do outro como se fosse a nós mesmos, não parece um caminho egoísta de cuidado? Tal
provocação é de Isabela Minatel (2017) e ainda segundo a autora, é necessário pensar no outro,
como ele é, na diferença e na amorosidade, não na medida de si mesmo ou do próprio umbigo.
É difícil constatar como se dá o processo da ausência do cuidado, uma vez que permeia
um campo de diferentes constatações. Um caminho que a Psicologia Ambiental possibilita é a
análise das crenças ambientais. Nesse campo, crenças significam um conjunto de pensamentos
e valores que influenciam na tomada de decisão e nos comportamentos das pessoas. Todas
pessoas possuem crenças que afetam seu cotidiano, algumas são funcionais, outras nem tanto.
Por exemplo:

WWW.UNINGA.BR 33
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Se uma pessoa acredita, por exemplo, que jogar papel na rua é inofensivo ao
meio ambiente ou , ainda, que esse tipo de ação contribuiu para a manutenção do
emprego de funcionários do serviço de limpeza urbana, ao receber um panfleto
que não lhe interessa há grande probabilidade de jogá-lo no chão, sobretudo se
não visualizar facilmente uma lixeira por perto (PATO; HIGUCHI, 2018, p.37).

1.1 VALORES E CRENÇAS AMBIENTAIS/ECOLÓGICAS


Um caminho para ampliar a leitura sobre as crenças são os valores, nesse caso, a Psicologia
Ambiental, também se debruça sobre valores ambientais ou ecológicos, uma vez que:

Valores podem ser definidos como um sistema de referência, uma orientação ou


atitude humana preferencial, positiva e desejada em relação a objetos, pessoas
ou situações. Os valores ecológicos, como parte dos valores humanos, são
aqueles que visam o equilíbrio e a sustentabilidade das relações entre os diversos
ecossistemas ou ambientes e estão diretamente relacionados a crenças, atitudes e
comportamentos ecologicamente responsáveis (PATO, 2011, p. 296).

Estimular valores ambientais ou ecológicos são caminhos possíveis para mudanças


comportamentais em favor do cuidado social e ambiental. Isso acontece com base nos três tipos
de exigências humanas que são necessidades individuais, de interação social e de convívio em

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 3


grupo. A primeira, das relações individuais representa um conjunto de valores como o poder,
a realização, o hedonismo, a estimulação e a autodireção, temas que servem para interesses
individuais (PATO, 2011). Apesar de serem direcionados ao indivíduo, também podem permear
aspectos da coletividade.
O segundo tipo, diz respeito ao movimento em sociedade e aos conflitos que podem
surgir frente ao primeiro, pois são temas que se confrontam a lógica do poder e do hedonismo,
por um espaço para a cooperação e a satisfação em comum. Já o terceiro, evidencia-se a busca
por uma possível mudança para o que Pato (2011) chamou de autotranscendência, pois os
valores ambientais ou ecológicos, necessariamente superam a lógica do eu individual e relacional
para uma nova concepção de vida. Em que a convivência, a cooperação e coexistência exigem a
capacidade empática, a virtude da tolerância e o cuidado para além da satisfação de si e dos pares,
ou seja, incluindo as gerações vindouras.

WWW.UNINGA.BR 34
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 3


Figura 2 - Resíduos no mar. Fonte: Sebnem Coskun (2019).

Nesse caso, as crenças ambientais se sustentam em dois caminhos:

1. Crenças antropocêntricas, representam um conjunto de valores e percepções sobre


o mundo e a sociedade com base em narrativas hierárquicas do domínio do homem
sobre outras criaturas. Aqui o homem é o centro da criação e da vida social, modelo de
uma sociedade marcada pela conquista e pelo patriarcado.
2. Crenças ecocêntricas, consistem em uma compreensão do mundo como um local
de coexistência e cooperação, uma lógica horizontal de vida em sociedade. Aqui o
humano compartilha sua existência e busca uma harmonia para a vida social e
ambiental. A qualidade de existir é atravessada por valores de cooperação, equidade e
sustentabilidade.
Nesse caminho uma das perguntas que se pode fazer é: como avaliar e somar para a
construção de valores e crenças ambientais? Nesse sentido, Pato e Higuchi (2018) afirmam que
crenças são construídas em três níveis de componentes básicos: o aspecto cognitivo, o afetivo e
o comportamental. Desse modo, impactar para mudanças em um desses níveis pode contribuir
para a valoração de novos modelos de crenças ou a ressignificação de modelos já construídos que
não são funcionais.
Não é à toa que a educação ambiental transformadora, ou seja, aquela que vai além
do aspecto informacional, busca atuar nesses três níveis. Porém, antes de explorar esse tema é
fundamental destacar que a educação ambiental é um caminho para mudanças sociais profundas
frente ao paradigma social em que vivemos. É por meio dela que é possível estabelecer um
repertório renovado e ela deve acontecer em diferentes espaços, não apenas nas escolas, mas nas
empresas, instituições e no contexto público. A educação ambiental transformadora deve estar
nos bosques, praças e outros locais e estimular uma narrativa de sensibilização ambiental.

WWW.UNINGA.BR 35
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 3


Figura 3 - Mar em perspectiva (2020). Fonte: Sebnem Coskun.

A sensibilização consiste em trabalhar nas três dimensões das crenças ambientais, citadas
acima, ou seja, sua ênfase não apenas na divulgação de informações, como um mero folheto que
muitas pessoas descartam, ou decorar cores de lixeiras, a proposta transformadora incide em
criar um espaço para experiências. A vivência possibilita o contato com o ambiente, um diálogo
e consequentemente a troca afetiva com o mesmo.
É interessante que esse caminho possibilita uma nova dimensão para o entendimento das
relações entre pessoa e ambiente. “Ao contrário do que postulou Descartes, nós existimos não
porque pensamos, mas porque sentimos (BOMFIM; DELABRIDA; FERREIRA, 2018, p.61)”. E
aqui temos um espaço para mais um conceito: a afetividade pessoa-ambiente.

1.2 A AFETIVIDADE PESSOA-AMBIENTE


A afetividade é um caminho que mobiliza os sentidos e os sentimentos, consiste na
capacidade de perceber o mundo e as pessoas. Somos rodeados de estímulos e vivências, alguns
possuem mais significados conforme nossas disposições gerais de atitudes. Todos temos emoções
básicas que reagem frente a diferentes estímulos ambientais e também os sentimentos mais
específicos que são construídos nas relações sociais e de aprendizagem.
Apesar de dizer que há emoções básicas, entende-se que sua expressão também é resultado
da cultura e das interações socioambientais. O fato é que muitas decisões, escolhas ou maneiras
de interagir são permeadas pelas emoções e elas devem ser investigadas e contempladas. Nesse
caminho, o mesmo exemplo de alguém que joga um papel no chão, caso tivesse um contato real
com o seu sentido e vivência no lugar em que está, criando laços de afetividade com a praça ou
local em que habita, poderia ter atitudes que não trariam um impacto ambiental negativo, ou
até mesmo na lógica social, caso se aproximasse das pessoas da limpeza, conhecesse sua rotina e
realidade, se permitisse criar vínculos ambientais e humanos e ser sensibilizado por estes.

WWW.UNINGA.BR 36
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Quantas vezes você já se pegou contemplando a beleza de um lugar, sentindo alegria ao


sentar ao ar livre com seus amigos/as? Quando aprendeu a contemplar uma flor, uma folha ou
as estrelas. Se sentiu conectado com o mundo e a vida e esse sentimento lhe despertou emoções
profundas que modificaram seu dia? Esse efeito é chamado pela analista junguiana Verena Kast
(2015) de “ressonância”. É a ressonância que evoca um espaço entre eu e o outro e que esse espaço
passa a ser repleto de uma vivência e atribuição de sentido.
Para a autora é necessário tempo para se estabelecer ressonância e é fundamental ter esse
contato para nutrir a vida de sentido. Segundo ela:

Às vezes a alegria pequena se transforma em alegria abrangente. Fazemos uma


caminhada porque precisamos de movimento - em primeira linha não porque
temos o desejo de contemplar o mundo. E, de repente, nos vemos diante de uma
cerejeira em flor, e a beleza dessas flores nos cativa. Dentro de nós surge uma
abundância de sentimentos e lembranças ligadas a cerejeiras -- e então paramos
de pensar: de repente, somos um com a árvore, um com a vida, um com o todo
- por uns instantes. Acolhidos por um maravilhoso sentimento (KAST, 2015, p.
146).

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 3

Figura 4 - Estátua. Fonte: Sebnem Coskun (2020).

Esse tipo de vínculo e relação pode ser um caminho facilitador para nutrir um vínculo
ético com o ambiente em que estamos. Destaca-se aqui que o lugar deixa de ser apenas uma
dimensão e passa a ter um valor simbólico. Nesse campo, as pessoas se identificam, partilham e
criam laços cooperativos. Dessa maneira, lugares com valoração positiva podem contribuir para
percepções e interações positivas e potentes.
A afetividade é um caminho para medir atitudes renovadas e com um compromisso na
lógica do cuidado. Contudo, vale destacar, conforme (BOMFIM; DELABRIDA; FERREIRA,
2018) que ambientes com valorações negativas, ou seja, um local com pouca infraestrutura ou
ausência de cuidado e manutenção pode eliciar e ser visto de diferentes maneiras.

WWW.UNINGA.BR 37
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Para um grupo tais dimensões impactam nos sentimentos de vergonha, opressão e baixa
autoestima, impactando na ausência da força de viver e estimular sentimentos de impotência e
passividade. Uma lógica de opressão e de ausência do cuidar. Já para outro grupo, em mesmas
condições, pode-se perceber um desejo de mudança, pois elas tinham em sua base sentimentos
de pertencimento ou apego ao lugar e o descaso leva ao desejo de transformação. Esse sentimento
faz com que as pessoas lutem por seus direitos e atuem na dimensão ético-política da afetividade
com o lugar (BOMFIM; DELABRIDA; FERREIRA, 2018).
Desse modo, se pode concluir que há dois elementos importantes nessa lógica: a potência
de padecimento e a potência de ação, ambas estimuladas pelos vínculos socioambientais e que
podem ser modificados ou transformados na relação pessoa-ambiente. Isso acontece uma vez
que:

[...] o lugar como mediação é tão essencial para os seres humanos quanto são
as emoções para o pensamento. O processo de apropriação do espaço mostra
que o ambiente físico é palco para as ações, mas também para a atribuição
de significados, o que torna o ambiente/lugar extensão da subjetividade dos
indivíduos, dando um sentido especial à existência e impactando a evolução
humana (BOMFIM; DELABRIDA; FERREIRA, 2018, p. 69).

Esses caminhos destacam a capacidade de criar e contribuir com o bem-estar humano


e ambiental. A dimensão afetiva é também um facilitador da dimensão ética e política do

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 3


comportamento humano e contribui diretamente para mudanças positivas frente ao contexto
socioambiental em que se vive. O conceito que explicita a capacidade de comportamentos
adaptativos e responsáveis frente ao ambiente é chamado de comportamento pró-ambiental.

1.3 O COMPORTAMENTO PRÓ-AMBIENTAL


O comportamento pró-ambiental é caracterizado por uma conduta que incide em atos
ambientalmente responsáveis e com a capacidade de entender e agir em prol do ambiente. Para
entender as categorias que se incluem no comportamento pró-ambiental, pode-se destacar: a
limpeza e atitudes sustentáveis, a preservação e economia de água e energia, o ativismo ambiental
e o consumo responsável (PATO; TAMAYO, 2006).
A limpeza e as atitudes sustentáveis giram em torno da capacidade de cuidar e zelar pelo
ambiente. Pode-se incluir comportamentos como o uso adequado de lixeiras, a reciclagem e
a logística reversa. Nesse caminho, destaca-se a busca de soluções ecológicas para os resíduos
sólidos.
A preservação de economia e água são atitudes que muitas vezes são atravessadas pelas
necessidades econômicas e não necessariamente ambientais. A busca de diminuir o consumo
elétrico e encontrar fontes renováveis de energia são consideradas boas práticas, assim como a
preservação de água e o incentivo de estratégias que minimizem o desperdício.
O ativismo ambiental é considerado atitudes que se direcionam para a sensibilização e
educação de outras pessoas, seja na família e comunidade. São palavras, orientações e experiências
que estimulam o sentimento de comunidade e de transformação local. São comportamentos
expressivos, ativos e que impactam a sociedade em prol do bem-estar ambiental.
O consumo é um movimento natural. Ora, precisamos consumir, assim como iremos
descartar coisas, mas há uma diferença gritante entre o consumo responsável e o consumismo.
Desse modo, Flores (2020) nos lembra que é necessário ressignificar o consumo, para uma
experiência não apenas individual, mas coletiva.

WWW.UNINGA.BR 38
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Na sociedade de consumidores, ninguém pode se tornar sujeito sem primeiro


virar mercadoria, e ninguém pode manter segura sua subjetividade sem reanimar,
ressuscitar e recarregar de maneira perpétua as capacidades esperadas e exigidas
de uma mercadoria vendável. A “subjetividade” do sujeito, e a maior parte daquilo
que essa subjetividade possibilita ao sujeito atingir, concentra-se num esforço
sem fim para ela própria se tornar, e permanecer, uma mercadoria vendável. A
característica mais proeminente da sociedade de consumidores - ainda que
cuidadosamente disfarçada e encoberta - é a transformação dos consumidores
em mercadorias; ou antes, sua dissolução no mar de mercadorias” (BAUMAN,
2008, p.20-21).

Nota-se nas normativas e legislações que ela é compartilhada, dessa maneira os caminhos
da coleta seletiva e o compromisso de gerar um impacto social e ambiental deve ser um percurso
comum para o bem-viver em sociedade. Dessa maneira, podemos pensar em alguns percursos
para facilitar e promover esse tema com base nos seis itens de Cibotto et al. (2017, p.109):

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 3


1) Criar uma sede central que representa as cooperativas, com o objetivo de
facilitar: a gestão burocrática; os empréstimos; a negociação do que se produz
com o mercado e a profissionalização dos recursos humanos, com o objetivo de
desenvolver adequada competência de gestão para toda a cadeia produtiva do
setor;
2) Estruturar de maneira adequada as cooperativas, em parcerias com o poder
público ou empresas privadas, oferecendo financiamento a custo zero, de
máquinas e equipamentos, assim como a parceria com instituições de ensino e
pesquisa em novas tecnologias;
3) Facilitar a voz política do cooperado no desenvolvimento de campanhas
ou políticas públicas, juntamente com o poder municipal, estadual e federal,
sociedade local e regional, ONG’s e outras instituições;
4) Promover a logística reversa de modo que a população possa levar esses
resíduos, devidamente limpos e selecionados, para locais previamente escolhidos,
e receba bônus pela devolução dos materiais;
5) Integrar toda a população no esforço comum de diminuição dos resíduos e
sua correta gestão;
6) Investir na educação ambiental transformadora, ou seja, integrar uma
perspectiva social e emancipatória na reflexão escolar, por meio de revelar
as causas e consequências no trato com resíduos sólidos, no ensino infantil,
fundamental, médio e superior, e consequentemente promover atitudes de
cidadania e ética.

Ao continuar nesse percurso, a logística reversa, o incentivo público e a tomada de


consciência crítica na hora do consumo também são caminhos importantes para mudanças, a
seguir vejamos algumas perguntas que podemos refletir:
1. Você sabe a origem do produto que você adquire? Seria possível substituir por produtos
regionais e locais?
2. Você conhece qual o destino que eles dão aos resíduos? Existe uma cadeia sustentável
de produção?
3. As empresas possuem modelos assertivos e sérios de compromisso social e ambiental?

WWW.UNINGA.BR 39
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Sobretudo, há esperança! Flores (2020, p. 146) ensina que “pode-se perceber que desde
o início da tratativa da sociedade do hiperconsumo já houve avanços no sentido de denunciar
a degradação humana e a degradação ambiental decorrentes de processo ilusório de busca da
felicidade”.

O filme descarte é uma obra nacional


que abrange o drama da questão
ambiental no Brasil. A ênfase é nas
dimensões socioambientais em
torno dos resíduos sólidos e seus
atravessamentos em contextos
políticos, econômicos e sociais.
Com a direção de Leonardo Brant o
filme possui previsão de estreia em
2021. Resíduos sólidos ou orgânicos
são responsáveis por grande parte
dos impactos ambientais presentes

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 3


nos solos e oceanos. Nesse sentido
são necessárias alternativas para
lidar com a questão dos resíduos e
ampliar as estratégias para revigorar
e criar cenários sustentáveis. Fonte: Eccaplan (2021)

WWW.UNINGA.BR 40
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta Unidade você pode estudar um pouco mais sobre a psicologia ambiental em seus
conceitos e aplicações, com ênfase nas questões socioambientais e nas contribuições sobre a
leitura pessoa-ambiente. Aqui foram contemplados temas como o cuidado ambiental, os valores
ambientais, crenças ecológicas ou ambientais, assim como a afetividade pessoa-ambiente e o
comportamento pró-ambiental.
A aplicação de tais conceitos na educação ambiental transformadora, assim como nas
práticas coletivas, seja em escolas, instituições ou organizações permitem guiar ações mais
assertivas. A partir desses temas é possível elucidar como a psicologia ambiental se posiciona
em vanguarda na busca de entender os comportamentos que podem promover o bem-estar
ambiental e consequente caminhos para uma sociedade mais justa e ecologicamente sustentável.
Na próxima e última unidade você irá estudar outros conceitos sobre a aplicação da
psicologia ambiental, principalmente na ênfase sobre vínculos e identidade de lugar, ou seja,
o que o ambiente pode dialogar com a pessoa na formação e construção de sua personalidade?
Quais fatores ambientais podem promover a interação e a promoção de ambientes saudáveis e

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 3


pessoas em sua potencialidade? Para essas respostas, vamos ao próximo tema!

WWW.UNINGA.BR 41
UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA

04
DISCIPLINA:
PSICOLOGIA AMBIENTAL

PESSOA-AMBIENTE E A PROMOÇÃO DE
SAÚDE E QUALIDADE AMBIENTAL
PROF. ME. EDUARDO CHIERRITO-ARRUDA

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO................................................................................................................................................................43
1. ASPECTOS DA RELAÇÃO PESSOA-AMBIENTE......................................................................................................44
1.1 ENRAIZAMENTO......................................................................................................................................................44
1.2 IDENTIDADE DE LUGAR.........................................................................................................................................46
1.3 APROPRIAÇÃO E VÍNCULO AO LUGAR.................................................................................................................47
2. AMBIENTES E A PROMOÇÃO DE SAÚDE E QUALIDADE AMBIENTAL...............................................................50
2.1 A PROMOÇÃO DE SAÚDE.......................................................................................................................................50
2.2 TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE........................................................................................................................52
2.3 AMBIENTES RESTAURADORES...........................................................................................................................53
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................................................55

WWW.UNINGA.BR 42
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada.


Caminhando e semeando, no fim terás o que colher.
Cora Coralina

INTRODUÇÃO

Na última unidade você irá aprender sobre os conceitos da psicologia ambiental que
representam os temas da interação pessoa-ambiente, enquanto dimensões sociais e espaciais, assim
como a construção e reconstrução dos processos de enraizamento, identidade e apropriação do
lugar. Desse modo, podemos aprender como o ambiente contribui ativamente para a construção
dos processos identitários, de vínculo e de afetividade.
Como podemos chamar um espaço de lar e de casa? Como se dá o vínculo com o ambiente
em que estamos? Nosso bairro, nossa vila, nosso prédio… São várias maneiras de perceber e
de se relacionar com o ambiente em que estamos. Criar e compartilhar os espaços, permeiam
processos vinculares e de afetividade. Nesse sentido, construímos relações e criamos condições
de partilhar e estimular cenários de bem-estar e qualidade de vida. Para explorar mais sobre esses
temas, vamos para os estudos!

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 4

WWW.UNINGA.BR 43
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1. ASPECTOS DA RELAÇÃO PESSOA-AMBIENTE


1.1 ENRAIZAMENTO
O conceito de enraizamento para a Psicologia Ambiental representa a sugestão de um
vínculo forte entre pessoa e ambiente, sendo comum o uso do termo sociambiente, na tentativa
de não mais separar ou dicotomizar as questões entre aspectos sociais, culturais, espaciais e
territoriais (MASSOLA; SVARTMAN, 2018). Nesse sentido, temos uma leitura que irá incluir
toda narrativa histórica e cultural, assim como a memória coletiva, o espaço, o tempo e mais
dimensões que incluem e abrangem a noção de pessoa-ambiente.

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 4


Figura 1 - Exposição Moradores de Rua e seus Cães. Fonte: Edu Laporo (2012).

É curioso perceber como esse conceito parece ser um salto de significado e representação
que pode resolver certos problemas conceituais que a Psicologia Ambiental possui, sobretudo, a
ideia de como analisar a dimensão socioespacial sem perder a narrativa histórica e cultural de
um povo ou comunidade. Apesar de sempre buscar incluir tais aspectos, a PA ainda permanece
com dificuldades metodológicas frente à complexidade de estudar algo multidimensional. Ora,
a ênfase em pessoas e outrora no ambiente ainda é um desafio a ser considerado e tal conceito
representa um novo campo possível.

WWW.UNINGA.BR 44
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Entre os sentidos associados ao termo, os autores Gustavo Massola e Bernardo Svartman


(2018, p.75):
1. habitação por longo tempo em um lugar;

2. sentimento de estar “em casa” em um lugar;

3. familiaridade que provém da frequência recorrente a um lugar;

4. forma não consciente de vínculo com um lugar que é sentido como a “casa” ou
o “lar”;

5. relação com o passado e com a tradição do grupo ou do povo que fundamenta o


sentido de identidade pessoal.

Nesse campo, o oposto ao enraizamento é considerado o desenraizamento, um fenômeno


cada vez mais comum na sociedade globalizada, uma vez que há uma ausência da significação
do tempo e do lugar, da casa e do lar. Nesse campo, como bem argumenta Massola e Svartman
(2018, p. 78):

A experiência de um lugar como lar deriva de relações com outras pessoas


com as quais essas experiências foram vividas e abrigadas em um determinado
espaço: a casa simboliza a experiência primeira e fundamental de um colo inicial
no outro, progredindo gradualmente para formas mais complexas de vínculo,
acolhimento e segurança.

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 4


Tais aspectos mostram que a casa possui um significado mais amplo que se conecta com
a identidade ou personalidade de uma pessoa. Nesse campo, o vínculo primevo da experiência
de um lar pode contribuir com relações e com o desenvolvimento psicológico. Vale lembrar que
esse aspecto nem sempre é consciente e pode ser vivenciado como um fenômeno inconsciente
de significação ou de campo simbólico (MASSOLA; SVARTMAN, 2018). Outro campo a ser
contemplado pelos autores é que o passado e a temporalidade é uma sensação que pode representar
as raízes ou as bases que permite um sentido de continuidade, muitas vezes presentes nos valores
e virtudes familiares, locais e/ou culturais.
É interessante discutir sobre o momento em que a casa se transforma no sentimento de
um lar ou que um local se configura como um lugar. Geralmente essa representação gira em
torno de variáveis como a afetividade, o tempo e as relações de vínculo e permanência. Nesse
sentido, outro conceito amplamente usado na PA é a Identidade de Lugar. Contudo, antes de
contemplar esse aspecto, vale considerar quando o enraizamento não é suficiente ou efetivo, ou
seja, quando acontece o desenraizamento.
Segundo Massola e Svartman (2018) o desenraizamento não é algo positivo ou funcional
e demonstra a perda abrupta e violenta das raízes e das bases seguras que a constituíram enquanto
pessoa. Esse fenômeno pode marcar uma série de eventos, como a desapropriação de terra, a
perda da casa e da comunidade de forma abrupta, seja por um desastre coletivo ou um evento de
crise específica, como a perda de emprego, a mudança repentina e outros.

WWW.UNINGA.BR 45
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 4


Figura 2 - Exposição Moradores de Rua e seus Cães. Fonte: Edu Laporo (2012).

1.2 IDENTIDADE DE LUGAR


O conceito de identidade de lugar é considerado uma subestrutura da identidade pessoal
(MOURÃO; CAVALCANTE, 2011). Esse tema pode ser analisado do ponto de vista da percepção
e da possibilidade cognitiva de entender a dinâmica pessoa-ambiente, um tema que se conecta ao
enraizamento. Ora vale lembrar que o conceito de identidade significa:

Conjunto de elementos - biológicos, psicológicos, sociais etc. - próprios de uma


pessoa e a representação que ela tem de si mesma. Estes dois aspectos estão em
contínua interação e se modificam permanentemente . A identidade, portanto,
não é um estado fixo, mas se constitui em um processo dinâmico e mutável
que ocorre ao longo da vida dos sujeitos, a partir de suas vivências, envolvendo
comportamentos cognitivos, materiais e atos de investimento emocional, tendo
em vista a satisfação de suas necessidades e desejos (MOURÃO; CAVALCANTE,
2011, p. 208).

Desse modo, você pode imaginar que o conceito abrange a ideia de lugar em que as
pessoas convivem e vivem. Trata-se da casa, do lar, do bairro, da escola, da cidade e os demais
espaços que representam uma dimensão de identificação e de compartilhamento ao longo do
tempo. Essa definição permite sugerir a diferença entre um local e um lugar, como a dimensão
afetiva e identitária que preenche a noção de apropriação ou vínculo. Desse modo: “a identidade
de lugar tem como função principal a criação de um cenário interno que sirva de sustento e
proteção à auto-identidade’’ (MOURÃO; CAVALCANTE, 2011, p. 210).

WWW.UNINGA.BR 46
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Você já parou para imaginar como se dá sua relação com seu ambiente? Quais processos
vinculares e afetivos estão presentes e como isso contribuiu para sua formação enquanto pessoa?
Isso acontece na medida em que a identidade de lugar é uma somatória das vivências e dos
compartilhamentos que temos em em seu nível espaço-temporal. Outro tema que pode ser
contemplado é a Identidade Social Urbana, caracterizada pela maneira como os grupos sociais
são representados de acordo com sua territorialidade ou região de vivência. Quanto dizemos “de
onde você é?” carregamos uma série de discursos simbólicos sobre a região e seus estereótipos ou
narrativas de grupo e comunidade. Esse conceito é uma extensão da identidade de lugar, sendo
que contempla os aspectos de grupo, enquanto o primeiro, os aspectos individuais (MOURÃO;
BOMFIM, 2011).

1.3 APROPRIAÇÃO E VÍNCULO AO LUGAR


Os conceitos iniciais de enraizamento e de identidade de lugar podem gerar o seguinte
questionamento, afinal, como nos relacionamos com o ambiente em que estamos? Como criar e
facilitar a integridade entre pessoa e ambiente? Tais questionamentos, são estudos na dimensão
de apropriação de vínculo ao lugar.
A apropriação consiste em um processo psicossocial de interação entre pessoa e ambiente
que permite analisar a capacidade de transformar um espaço um lugar, nesse sentido, a pessoa

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 4


passa a incorporar aspectos do território e da região em seu repertório de afetividade de
símbolos de identidade (CAVALCANTE; ELIAS, 2011). Quanto mais a pessoa possui interações
socioambientais e permite sua dinâmica temporal, cria e estabelece laços com o ambiente.
Um lugar para chamar de seu, essa expressão imprime a ideia de apropriação de lugar,
assim como o que vamos chamar de lar e a necessidade que temos de criar espaços que permitam
a síntese entre a pessoa e seu contexto. Nesse caminho, podemos associar a ideia de apropriação
com ambientes como o quarto, a casa, o escritório ou lugar de trabalho, assim como os espaços
no bairro e na comunidade.

Figura 3 - Exposição Moradores de Rua e seus Cães. Fonte: Edu Laporo (2012).

WWW.UNINGA.BR 47
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Ao permitir o enraizamento e a identidade de lugar, a apropriação se refere a um tema


fundamental que permite a capacidade de interação e de busca do bem-estar. A partir de
Cavalcante e Elias (2011, p. 66) temos:

A apropriação por identificação compreende processos simbólicos, cognitivos,


afetivos e interativos que transformam o espaço (extensão) em lugar reconhecível
e pleno de significado para o sujeito ou grupo social. Para exemplificar esses
processos, podemos evocar as representações mentais que orientam a conduta
espacial do sujeito (processo cognitivo); a busca intencional de bem-estar que
acarreta modificações para a adequação dos espaços a um ideal representado
(processo afetivo) e, ainda, a personalização que dota o entorno de significado
para a pessoa e para os outros (processo interativo).

Neste campo, percebe-se as complexidades presentes na interações entre pessoa e


ambiente e pode-se questionar, para além das dimensões subjetivas e objetivas que constituem a
capacidade de construção mútua, seria possível criar cenários e estimular aspectos de bem-estar
e qualidade de vida para as pessoas e ambientes, ou seja, como os ambientes podem favorecer
aspectos positivos para a promoção e o cuidado de saúde?
Um exemplo desse caminho foi um estudo respondido por crianças de dez a onze anos
da educação fundamental de Cascavel, Paraná, que revelou o quanto o ambiente é um facilitador
da saúde e também da própria construção de uma afetividade e ética ambiental. A pesquisa foi

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 4


feita com escalas próprias da Psicologia Ambiental e de bem-estar. Nesse caso, Fabrício Rufato e
Eveline Favero (2020, p.59) revelaram que as “variáveis como a limpeza das escolas, o convívio
com os animais, a relação afetiva com o bairro onde vivem e o contato com a natureza, estão
relacionadas com o aumento do bem-estar na amostra estudada”.
Um caminho semelhante foi analisado na pesquisa que eu realizei em hortas comunitárias
na cidade de Maringá, Paraná, com pessoas entre a meia idade e a velhice. A exploração foi feita
através de mapas afetivos, em que o desenho e o uso de escalas de satisfação de vida e afetos
positivos foram aplicadas com o intuito de levantar informações. Nesse item foi possível perceber
que:

As afetividades e as vivências neste jardim abrangem a saúde mental e a qualidade


de vida, as interações socioambientais, a produtividade, a economia familiar, e a
alimentação saudável. Entre os principais resultados, constatou-se a percepção
de um ambiente que promove distração e relaxamento, ou seja, um ambiente
restaurador e positivo. Nestes contextos, existe a possibilidade de intervenções
que promovam a sustentabilidade e os comportamentos pró-sociais, pois são
constructos necessários para a ética ambiental (CHIERRITO-ARRUDA, et al.,
2018, p. 11).

Avaliar e entender as dimensões socioambientais na promoção e cuidado em saúde


revelam, cada vez mais, aspectos que impactam na comunidade e também no ambiente. A
proposta de promover a qualidade ambiental é uma resposta ética-afetiva frente a percepção
de um ambiente que comunica boas vivências, como no caso das crianças que destacam um
aspecto como limpeza e também nas pessoas de meia idade ou em velhice que narram o cuidado
ambiental (RUFATO; FAVERO, et al., 2018).
Esse campo é importante para criar a discussão de que os benefícios que o ambiente
proporciona não podem sucumbir a uma lógica utilitarista, como destacado na terceira unidade,
deve-se possibilitar uma relação positiva com o ambiente. Essa resposta é permeada pelo desejo
de cuidado e zelo, assim como a promoção de ambientes saudáveis e que possam nutrir um
equilíbrio satisfatório entre as necessidades humanas e as ambientais.

WWW.UNINGA.BR 48
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Vamos à prática? Uma maneira de identificar e avaliar a identidade de lugar e a


afetividade pessoa-ambiente são os mapas e as representações do lugar. Existem
muitas maneiras de explorar esse tema, porém a mais interessante que contempla
esses itens são os instrumentos geradores de mapas afetivos, criados por Zulmira
Bomfim (2010). Esse material consiste em uma adaptação dos mapas cognitivos
do urbanista e arquiteto Kevin Lynch. Desse modo, a autora buscou contemplar
as dimensões afetivas e de vínculo, além da descrição socioespacial e cognitiva
como a proposta original.
Nesta proposta, através de um desenho da região a ser contemplada, a pessoa é
convidada a representar, como em um mapa, temas que envolvem a região, como
lugares, locais, espaços de ir e vir e outros itens que ela deseja apresentar, de
forma livre. Dessa maneira, a pessoa pode trazer elementos concretos e abstratos,
aspectos de direção e localização, assim como itens simbólicos e afetivos. A
análise permite compreender como as pessoas se vinculam e qual elemento
socioespacial se faz presente na lógica afetiva-simbólica na vida das pessoas.
Para saber mais, recomendo a consulta de meu artigo intitulado
“Percepção Ambiental e Afetividade: vivências em uma horta

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 4


comunitária’’, publicado na Revista Ambiente e Sociedade em
2018. Link para consulta:
https://www.scielo.br/j/asoc/a/rjLkyX7dsrW9Q5mXP7m3HJ-
D/?lang=pt#.

WWW.UNINGA.BR 49
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

2. AMBIENTES E A PROMOÇÃO DE SAÚDE E QUALIDADE AMBIENTAL


2.1 A PROMOÇÃO DE SAÚDE
No Brasil, a saúde é um direito básico e constitucional. A proteção da saúde, da segurança
social e outras virtudes acontecem na medida em que nosso país busca alcançar patamares de
bem estar social para as pessoas em suas diferentes estruturas. Nesse campo, saúde, educação e
direitos sociais começam a ser organizados em diferentes eixos de políticas públicas.

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 4


Figura 4 - Existe beleza em SP. Fonte: Rogério Narita (2021).

Ao se referir especificamente à saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS) é uma conquista das
pessoas, organizadas em movimentos sociais, que conseguiram garantir trechos constituintes que
garantem um sistema universal, integral e com equidade. Nesse cenário o SUS é considerado uma
referência internacional na atenção à saúde, sendo estudado por diferentes modelos assistenciais
no Canadá, Reino Unido e outros países do norte europeu.
A abrangência da atenção à saúde acontece muito além da manutenção, ou seja, para
tornar o doente saudável, ela segue para a prevenção e também para a promoção de saúde. Trata-
se de um dos países com maior abrangência de uma saúde preventiva, interdisciplinar e com
participação popular. Você conhece a abrangência do SUS em sua comunidade? Já participou das
decisões públicas sobre a destinação de recursos e atividades em saúde?
Muito bem, esse tema ainda é pouco contemplado no cotidiano de muitas pessoas e precisa
ser considerado em diferentes níveis de acesso. Sabe-se as limitações do sistema, no entanto, sua
efetividade e abrangência continuam sendo modelos assistenciais mais eficazes, inclusive quanto
comparado a países desenvolvidos. Como já mencionado, entre as estratégias de assistência,
destaca-se a possibilidade de promover saúde.

WWW.UNINGA.BR 50
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Promoção de saúde é um conceito usado para explicar a possibilidade de nutrir aspectos de


bem-estar e qualidade de vida das pessoas. Entre os temas de estudos da Psicologia Ambiental que
podem contribuir para esse aspecto, destacam-se alguns temas como os ambientes restauradores,
a territorialização e os outros conceitos transversais que já estudamos.
Sobre os ambientes restauradores, podemos considerar como um lugar favorável para a
manutenção dos níveis de estresse de atenção, que reduzem tais aspectos que podem ser nocivos
para as pessoas. Considera-se que alguns contextos podem trazer alívio e o sentimento de
restauração psicológica e são esses que a PA possui interesse de compreender, estimular e analisar
sua eficácia para o bem-estar e qualidade ambiental.
Mas afinal, o que vem a ser a promoção de saúde e a prática de ambientes restauradores?
Quando se fala de saúde, buscamos uma compreensão holística ou sistêmica, que vai além
da dualidade saúde e doença. Nesse sentido, a ideia de saúde vai para um aspecto que busca
propiciar melhor qualidade de vida e bem-estar para as pessoas. Compreende-se a saúde como um
fenômeno multidimensional e que deve ser lido a partir das diferentes premissas socioambientais
que a contemplam como: moradia, empregabilidade; educação; acesso aos serviços, saneamento
básico, alimentos e outros temas.

[...]o entendimento da integralidade passou a abranger outras dimensões,


aumentando a responsabilidade do sistema de saúde com a qualidade da atenção
e do cuidado. A integralidade implica, além da articulação e sintonia entre as

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 4


estratégias de produção da saúde, na ampliação da escuta dos trabalhadores e
serviços de saúde na relação com os usuários, quer individual e/ou coletivamente,
de modo a deslocar a atenção da perspectiva estrita do seu adoecimento e dos
seus sintomas para o acolhimento de sua história, de suas condições de vida e
de suas necessidades em saúde, respeitando e considerando suas especificidades
e suas potencialidades na construção dos projetos e da organização do trabalho
sanitário (BRASIL, 2010, p. 11).

Figura 4 - Existe beleza em SP. Fonte: Tomás Castelo (2021).

WWW.UNINGA.BR 51
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Entende-se que quanto mais as pessoas promovem sua saúde, mais elas buscam a
possibilidade de se sentir bem e ter uma qualidade de vida em diferentes níveis, isso acontece
uma vez que a promoção de saúde não é necessariamente a prevenção, a intenção não é não ficar
doente, mas continuar bem e promover essa continuidade. Nesse sentido, a Política Nacional de
Promoção de Saúde (BRASIL, 2010, p.11) apresenta que:

A ampliação do comprometimento e da co-responsabilidade entre trabalhadores


da Saúde, usuários e território em que se localizam altera os modos de atenção
e de gestão dos serviços de saúde, uma vez que a produção de saúde torna-se
indissociável da produção de subjetividades mais ativas, críticas, envolvidas
e solidárias e, simultaneamente, exige a mobilização de recursos políticos,
humanos e financeiros que extrapolam o âmbito da saúde.

Nesse caminho, interessa a possibilidade de somar com vivências e experiências de vínculo


comunitário e de identidade, pessoas mais críticas e envolvidas com a sua própria produção de
saúde, capazes e autônomas frente a suas necessidades e a das pessoas ao seu redor. Nesse sentido,
vamos ao conceito de território e como ele pode ajudar nas práticas de saúde.

2.2 TERRITORIALIZAÇÃO EM SAÚDE

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 4


A territorialização em saúde não é um conceito novo ou exclusivo da psicologia ambiental,
ele já acontece na prática em saúde coletiva no Brasil, desde o começo dos movimentos sociais
de saúde, principalmente entre as décadas de 70 e 80. A visão e a prática de saúde aconteciam nas
comunidades e nas vilas, a atenção era horizontal e buscava compreender uma lógica de cuidado
em diferentes níveis de atuação.
Nesse ponto, destaca-se os princípios de autonomia e da garantia de saúde para além da
intervenção ou manutenção. Aqui, a ênfase ainda é preventiva, mas já temos ações de educação
em saúde, via educação popular e o compartilhamento de saberes locais e originais, sobre plantas,
ervas e atitudes medicinais. Destaca-se que o território em saúde consiste na busca de criar
espaços de saúde e distanciar a ideia hospitalocêntrica, ou seja, a saúde está em nossas casas, ruas
e bairros e não pertence ao hospital ou unidade de saúde. Esse caminho busca ampliar a ideia de
saúde, para além do adoecimento e a ênfase de relações de vizinhança e vínculos comunitários e
socioespaciais saudáveis.
A composição das políticas públicas de saúde em redes já sugere a ideia da lógica de
território e a necessidade de compreender os espaços e contornos dos lugares em que iremos
atuar. Gosto de pensar nesse processo para além da narrativa de saúde também, ou seja, quando
sou convidado a ir em uma escola e propor intervenções, prefiro ouvir o lugar antes, andar pelos
espaços ao redor, externos e internos, preciso ver as coisas e sentir o lugar, assim como ouvir e
acolher as pessoas e suas perspectivas sobre o ambiente em que estão.
Essa prática abrange um certo cuidado em entender que eu sou um corpo estranho no
local em que estou indo e que preciso me posicionar com respeito ao lugar em que vou estar
compartilhando com as pessoas. Como já estudamos, a noção de lugar abrange uma significação
subjetiva e objetiva da realidade. A territorialidade, logo, é um conceito de diálogo constante com
a arquitetura e a etologia (RABINOVICH, apud HIGUCHI; THEODOROVITZ, 2018).

Ao produzir um espaço para se viver e expressar suas socialidades, as pessoas


ou grupos controlam o acesso entre os “de dentro” e os “de fora” a uma área
(ambiente físico) por eles ocupada. Ao mesmo tempo em que se delimitam
os usos sociais ali possíveis, o senso de apropriação e o apego ao lugar vão se
constituindo (RABINOVICH, apud HIGUCHI; THEODOROVITZ, 2018, p.
229).

WWW.UNINGA.BR 52
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Os territórios podem ter diferentes usos e tipologias, como privados, públicos, de


uso comum ou ampliado. Nesse campo, vários conceitos da Psicologia Ambiental podem ser
aplicados, como a privacidade, a segurança, o espaço pessoal, o apinhamento e outros (HIGUCHI;
THEODOROVITZ, 2018). Desse modo, a noção de território e dos cuidados em saúde também
podem ser ampliadas e aprofundadas.
Em um lugar de saúde temos a presença de diferentes meios e vetores que promovem ou
são nocivos para o bem-estar, fatores ambientais como fundos de rio/vale, terrenos abandonados
e/ou acúmulo de resíduos sólidos. Isso implica que na dialética pessoa-ambiente, o que pode
afetar um, terá uma contraparte no outro. Garantir espaço saudáveis, também é buscar promover
vínculos e sociabilidades potentes.

2.3 AMBIENTES RESTAURADORES


Ambientes restauradores podem ser definidos como um lugar que irá reduzir os níveis de
estresse e de ansiedade de uma pessoa, geralmente com a capacidade de promover a restauração
psicológica. Para entender esse fenômeno destaca-se a teoria de Kaplan e Kaplan (1989 e 1995)
sobre a restauração psicológica (ALVES, 2011).
Para que a experiência restauradora acontece, Kaplan apud Silveira, Felippe e Shültz
(2019) apresenta quatro eixos de interação:

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 4


1. O primeiro é considerado a qualidade de afastamento, que consiste na capacidade da
pessoa estar longe da situação geradora de estresse ou demandantes de atenção. Assim,
ela pode descansar e se retirar do ambiente estressor.
2. O segundo consiste no atributo de fascinação, uma proposta que permite a atenção
sem esforço, ou seja, uma atenção contínua e não necessariamente a atenção focada,
como seria olhar para um rio ou para um ambiente calmo. Já percebeu como a atenção
entra em um estado de relaxamento? Essa sensação precisa de um cenário de fascínio.
3. O terceiro chama-se extensão e é representado pelo engajamento criado entre pessoa e
ambiente, mediado pela percepção e pela cognição. Trata-se da capacidade da pessoa
ter coerência com o ambiente.
4. Por fim, citamos a compatibilidade como a condição de adaptação entre pessoa e o
ambiente, ou seja, a relação entre as dimensões afetivas e a satisfação. Trata-se de uma
dimensão mais individual e pode acontecer variações entre pessoas.

WWW.UNINGA.BR 53
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

É interessante perceber que um ambiente restaurador pode ser um lugar criado para este
fim ou um ambiente natural. A proposta pode contribuir para criar cenários saudáveis para as
pessoas, imagine um ambiente restaurador, como um jardim de inverno criado em uma ala de
internação no hospital ou em uma empresa. O potencial de cuidado e de melhoria do ambiente
é significativo. O mesmo pode acontecer em escolas, ambientes institucionais ou públicos
(SILVEIRA; FELIPPE, 2019a).

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 4


Figura 5 - Existe beleza em SP. Fonte: Rafael L. Ventura (2021).

Nesse campo é interessante perceber como a arquitetura pode usufruir desse conceito e
explorar soluções criativas e que são pertinentes para as necessidades psicológicas humanas. Tais
aspectos buscam nutrir cenários de bem-estar e qualidade de vida, sem esquecer a dimensão do
cuidado ambiental, uma variável fundamental para a inter-relação pessoa-ambiente (SILVEIRA;
FELIPPE, 2019b).

Aqui, para concluir os estudos e como última sugestão


de filme, um caminho diferente. Até o momento você
pode ver filmes com lentes fotográficas, com ênfase na
natureza, nas pessoas e no mundo que compartilhamos.
Agora deixo como sugestão um caminho de fantasia e
subjetividade, sem perder a dimensão da natureza, do
belo e da busca por conectividade.
Meu Amigo Totoro é considerado uma obra prima Hayao
Myazaki, do famoso estúdio Ghibli de animações. Nesta
aventura você poderá acompanhar uma jornada entre
fantasias e realidades, um resgate da natureza, da
solidariedade e da resiliência. Um filme grato e cheio de
propostas ousadas para pensar a conectividade entre
pessoas, seu ambiente e seu contexto familiar e cultural.
Fonte: Wikipedia(1988).

WWW.UNINGA.BR 54
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade foi possível contemplar aspectos sobre a relação pessoa-ambiente em seus
processos de vínculo e de identidade. Temas que revelam como o ambiente faz parte da nossa
dimensão objetiva e subjetiva. Analisar esses eventos permite criar estratégias para o bem-viver
e garantir a qualidade de vida e o cuidado ambiental. Foi possível contemplar as estratégias de
promoção de saúde e a possibilidade de aplicação da Psicologia Ambiental em alguns contextos,
como a própria saúde coletiva, escolas ou políticas públicas.
Até aqui você aprendeu temas básicos sobre a Psicologia Ambiental e poderá aplicar esses
estudos em diferentes campos de atuação profissional. Desejo que esse tema venha a agregar em
sua carreira e que suas ações venham a promover a ética e o cuidado ambiental. Uma alegria
entregar este material é compartilhar algo que move percursos e estruturas dentro da psicologia
enquanto ciência e profissão.

PSICOLOGIA AMBIENTAL | UNIDADE 4

WWW.UNINGA.BR 55
ENSINO A DISTÂNCIA

REFERÊNCIAS
ALSCHULER, L. R.. Jung e a Política. In: YOUNG-EISENDRATH, Polly; DAWSON, Terence
(org.). Compêndio da Cambridge sobre Jung. São Paulo: Madras, 2011. p. 397-414.

ALVES, S. M. Ambientes Restauradores In: CAVALCANTE, Sylvia; ELALI, Gleice A. (Org.).


Temas Básicos em Psicologia Ambiental. Petrópolis: Vozes, 2011.

ARTHUS-BERTRAND, Y. HOME. Nosso Planeta, nossa casa. 2021. Disponível em: https://
www.adorocinema.com/filmes/filme-128179/. Acesso em: 11 jun. 2021.

BAUMAN, Z. Vida para consumo: a transformação de pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro:


Zahar, 2008.

BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde Brasília: MS: 2010.

BOFF, L. Saber Cuidar: ética do humano - compaixão pela terra. Petrópolis: Vozes, 2014.

BOMFIM, Z. Á. C; DELABRIDA, Z. N.C; FERREIRA, K. P. M. . Emoções e Afetividade Ambiental.


In: CAVALCANTE, S; ELALI, G, A. (org.). Psicologia Ambiental: conceitos para a leitura da
relação pessoa-ambiente. Petrópolis: Vozes, 2018.

CAMPOS-DE-CARVALHO, M. I; CAVALCANTE, S.; NÓBREGA, L. M. de A.. Ambiente in


CAVALCANTE, S.; ELALI, G. A.Temas Básicos em Psicologia Ambiental. 2. ed. Rio de Janeiro:
Vozes, 2011.

CAVALCANTE, S.; ELALI, G. A.Temas Básicos em Psicologia Ambiental. 2. ed. Rio de Janeiro:
Vozes, 2011.

CAVALCANTE, S; ELIAS, T. F. Identidade de Lugar. In: CAVALCANTE, S; ELALI, G. A. (Org.).


Temas Básicos em Psicologia Ambiental. Petrópolis: Vozes, 2011.

CHIERRITO-ARRUDA, E.; BESCOROVAINE, W. F; R. A. L. M; MARTINS, A. B. T.; M. R. G.


Estudo exploratório sobre o comportamento de consumo e de descarte das tecnologias digitais
por jovens. Desenvolvimento e Meio Ambiente, [S.L.], v. 38, p. 1-1, 31 ago. 2016. Universidade
Federal do Paraná. Disponível em:http://dx.doi.org/10.5380/dma.v38i0.44619. Acesso em: 26
apr. 2021.

CIBOTTO, B. et al.. Caracterização do Ambiente de Trabalho em uma Reciclagem. Revista da


Universidade Vale do Rio Verde, [S.L.], v. 15, n. 2, p. 110-111, 2017. Universidade Vale do Rio
Verde (UninCor). Disponível em http:// dx.doi.org/10.5892/ruver.v15i2.3895. Acesso em: 26 apr.
2021.

CORDEIRO, M. P; SPINK, Mary J. P. Apontamentos sobre a História da Psicologia Social no


Brasil. Estudos e Pesquisas em Psicologia, v. 18, n. 4, 2018.

CORRAL-VERDUGO, V. et al. Ambientes positivos: ideando entornos sostenibles para el


bienestar humano y la calidad ambiental. Pearson Education, México, 2014.

WWW.UNINGA.BR 56
ENSINO A DISTÂNCIA

REFERÊNCIAS
COSKUN, S. Estátua. 2019. Disponível em: https://www.facebook.com/%C5%9Eebnem-
Co%C5%9Fkun-416715905491199/photos/707764183053035. Acesso em: 29 maio 2021.

COSKUN, S. Fotografia. 2020. Disponível em: https://www.facebook.com/%C5%9Eebnem-


Co%C5%9Fkun-416715905491199/photos/924659638030154. Acesso em: 29 maio 2021.

COSKUN, S. Nature & Environment. 2021. Disponível em: https://poyasia.org/competitions/


poyasia2021/awards/nature-environment/sebnem-coskun/. Acesso em: 29 maio 2021.

COSKUN, S. Striking Images Show the Effects of Climate Change. 2019. Disponível em:
http://www.fubiz.net/2019/10/01/striking-images-show-the-effects-of-climate-change/sebnem-
coskun/. Acesso em: 29 maio 2021.

DELABRIDA, Z. Pesquisa-ação. in CAVALCANTE, S; ELALI, G. A.Temas Básicos em Psicologia


Ambiental. 2. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2011.

ECCAPLAN. Filme documentário Descarte estreia dia 28.01.2021! 2021. Disponível em: https://
eccaplan.com.br/blog/2021/01/27/filme-documentario-descarte/#:~:text=DESCARTE%20
%C3%A9%20um%20document%C3%A1rio%20sobre,recicl%C3%A1veis%20com%20
inova%C3%A7%C3%A3o%20e%20sensibilidade.. Acesso em: 29 maio 2021.

ALVES, J.E.D; ECODEBATE. Sociedade Ego-hierárquica versus Globo Eco-cêntrico, 2012.


Disponível em: https://www.ecodebate.com.br/2012/04/25/sociedade-ego-hierarquica-versus-
globo-eco-centrico-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/. Acesso em: 29 maio 2021.

FERREIRA, A. C.; PONTES, A. N. Interdisciplinarity in Environmental Psychology in human


nature interrelation. Research, Society and Development, [S. l.], v. 9, n. 11, p. e979119669, 2020.
DOI: 10.33448/rsd-v9i11.9669. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/
view/9669. Acesso em: 26 apr. 2021.

FLORES, D. F.. A Sociedade do Hiperconsumo: a felicidade e meio ambiente in CHAVES, Marcelo


Pinto, et al. Interdisciplinaridade e direitos humanos. Rio de Janeiro: Pembroke Collins, 2020.

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 57. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014.

FUKS, R. Sebastião Salgado: 13 fotos impactantes que resumem a obra do fotógrafo. 2017.
Disponível em: https://www.culturagenial.com/fotos-sebastiao-salgado/. Acesso em: 17 abr. 2021.

GUNTHER, H.. ELALI, G. C., S. Multimétodos. in CAVALCANTE, S; ELALI, G. A.Temas


Básicos em Psicologia Ambiental. 2. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2011.

GUNTHER, H.. Mobilidade e affordance como cerne dos Estudos Pessoa-Ambiente. Estud. psicol.
(Natal), v. 8, n. 2, p. 273-280, 2003 Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1413-294X2003000200009&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 25 Apr. 2021. https://
doi.org/10.1590/S1413-294X2003000200009.

WWW.UNINGA.BR 57
ENSINO A DISTÂNCIA

REFERÊNCIAS
GUNTHER, H; ROZESTRATEN, R. J. A. Psicol. teor. pesqui ; 9(1): 107-22, jan.-abr. 1993

HESS, A. F. Psicologia Ambiental. Rio de Janeiro, Interciência, 2011.

HIGUCHI, M. I. G; THEODOROVITZ, I. J. Territoralidade(s). In: CAVALCANTE, S; ELALI, G.


A. (org.). Psicologia Ambiental: conceitos para a leitura da relação pessoa-ambiente. Petrópolis:
Vozes, 2018.

KAST, V.. A alma precisa de tempo. Trad. Markus A. Hediger. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes,
2015.

KUHNEN, A. Percepção Ambiental. In: CAVALCANTE, S; ELALI, G. A. (Org.). Temas Básicos


em Psicologia Ambiental. Petrópolis: Vozes, 2011.

LEFF, E.. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. Petrópolis,


Vozes, 2012.

MARTÍN-BARÓ, I. Crítica e libertação na psicologia: estudos psicossociais. Petrópolis: Vozes,


2017.

MASSOLA, G. M; SVARTMAN, B. P. Enraizamento. In: CAVALCANTE, S; ELALI, G. A. (org.).


Psicologia Ambiental: conceitos para a leitura da relação pessoa-ambiente. Petrópolis: Vozes,
2018.

MINATEL, I. O Mundo Sob A Perspectiva da Criança. 2017. Disponível em: https://www.youtube.


com/watch?v=VW87Oa14tMQ&t=58s&ab_channel=BiscoitoFinoBiscoitoFinoVerificado.
Acesso em: 22 maio 2021.

MOURÃO, A R. T; CAVALCANTE, S. Identidade de Lugar. In: CAVALCANTE, S; ELALI, G. A.


(Org.). Temas Básicos em Psicologia Ambiental. Petrópolis: Vozes, 2011.

MOURÃO, A. R. T.; BOMFIM, Z. À. C. Identidade social urbana. In: CAVALCANTE, S.; ELALI,
G.A. (Org.). Temas Básicos em Psicologia Ambiental. Petrópolis: Vozes, 2011.

PATO, C. M. L; TAMAYO, A. A Escala de Comportamento Ecológico: desenvolvimento e


validação de um instrumento de medida. Estudos de Psicologia, 11(3), p.289, 2006. doi: 10.1590/
S1413-294X2006000300006

PATO, C. M. L. Valores Ecológicos. in CAVALCANTE, S; ELALI, G. A.Temas Básicos em


Psicologia Ambiental. 2. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2011.

PATO, C. M. L; HIGUCHI, M. I. G. Crenças e atitudes ambientais. In: CAVALCANTE, S;


ELALI, G. A. (org.). Psicologia Ambiental: conceitos para a leitura da relação pessoa-ambiente.
Petrópolis: Vozes, 2018.

WWW.UNINGA.BR 58
ENSINO A DISTÂNCIA

REFERÊNCIAS
PINHEIRO, J.Q. Psicologia Ambiental: A busca de um ambiente melhor. Estudos de Psicologia,
Natal, v. 2, n. 2, p.377-398, 1997. Disponível em: . Acesso em: 23 ago. 2017.

REDAÇÃO CATRACA LIVRE. Exposição em SP revela amizade entre moradores de rua e


seus cães. 2012. Disponível em: https://catracalivre.com.br/agenda/exposicao-moradores-de-
rua-e-seus-caes-parque-da-cidade-sp/. Acesso em: 20 jun. 2021.

RUFATO, F. D; FAVERO, E.. Apego ao lugar e satisfação ambiental como preditores de bem-estar
pessoal em crianças de 10-11 anos. Bol. - Acad. Paul. Psicol., São Paulo , v. 40, n. 98, p. 50-62,
jun. 2020 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-
711X2020000100006&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 21 jun. 2021.

SALGADO, S. Projeto Génesis. 2015. Disponível em: https://www.snpcultura.org/. Acesso em:


29 maio 2021.

SALGADO, S. Sebastião Salgado: 13 fotos impactantes que resumem a obra do fotógrafo.


2017. Disponível em: https://www.culturagenial.com/fotos-sebastiao-salgado/. Acesso em: 29
maio 2021.

SALGADO, S. WENDES, W; SALGADO, J. R . O sal da terra. 2015. Disponível em: https://www.


adorocinema.com/filmes/filme-220717/. Acesso em: 29 maio 2021.

SILVEIRA, B. B.;FELIPPE, M. L. Ambientes Restauradores: conceitos e pesquisas em contextos


de saúde. Florianópolis: Ufsc, 2019.

SILVEIRA, B. B; FELIPPE, M. L. Diálogos entre a Psicologia Ambiental e a Arquitetura para o


Cuidado da Saúde in Ambientes Restauradores: conceitos e pesquisas em contextos de saúde.
Florianópolis: Ufsc, 2019a.

SILVEIRA, B. B.; FELIPPE, M. L; SCHÜTZ, Natanna Taynara. Ambientes Restauradores


Conceitos e Definições in Ambientes Restauradores: conceitos e pesquisas em contextos de
saúde. Florianópolis: Ufsc, 2019b.

STYALINOU, N. et. al.. Aquecimento global: sete gráficos que mostram em que ponto estamos.
2019. Disponível em: https://www.uol.com.br/tilt/ultimas-noticias/bbc/2018/12/06/mudanca-
climatica-7-graficos-que-mostram-em-que-ponto-estamos.htm. Acesso em: 29 maio 2021.

VEIGA, E. Cada pessoa come até 121 mil partículas de plástico por ano, diz estudo. 2019.
Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-48518601. Acesso em: 17 abr. 2021.

WATANABE, C. B. Fundamentos teóricos e práticas da educação ambiental. Instituto Federal


Paraná, Curitiba, 2011.

WIKIPEDIA (ed.). Tonari no Totoro. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Tonari_no_


Totoro. Acesso em: 28 jun. 2021.

WWW.UNINGA.BR 59

Você também pode gostar