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RESUMO: O artigo analisa os elementos que ABSTRACT: This paper analyzes the
permitem à teoria da sociedade pós-fordista – elements that make possible to the theory of
especialmente na formulação de David Harvey post-fordist society – especially in David
– construir uma interpretação consistente Harvey`s conception – build-up a consistent
acerca da chamada “condição pós-moderna”. interpretation of the “postmodern condition”.
Inicialmente, demonstra a necessidade de Initially, the paper shows the necessity of one
uma crítica modernista da pós-modernidade. modernist critic to post-modernity. Afterwards
Em seguida, discute as implicações de se the paper discuss the implications of
conceber a condição pós-moderna como uma understand the postmodern condition while
situação histórica peculiar, uma fase do one singular historical situation, a phase of the
capitalismo flexível. Ao mesmo tempo, flexible capitalism. At the same time, the article
questiona a idéia de que a pós-modernidade questions the idea of post-modernity as the
exprime a face cultural e estética do cultural and aesthetic face of the “late” or
capitalismo “tardio” ou “desorganizado”, “disorganized” capitalism, advocating the
advogando a necessidade de uma leitura necessity of a multidimensional understand,
multidimensional, capaz de abarcar able to recognize equally the economics,
igualmente os aspectos econômicos, políticos, politicians, cultural and aesthetic aspects of
culturais e estéticos. Por fim, faz uma espécie post-modernity. Finally, the paper make a
de resenha dos principais processos synopsis of most important processes involved
envolvidos na passagem do fordismo para a in the pass of fordism to flexible accumulation,
acumulação flexível, analisando como esta analyzing how this transition, with its deep
transição, com suas profundas conseqüências consequences to organization of time and
sobre a organização do tempo e espaço social, space, had conformed the postmodern
conformaram a condição da pós-modernidade. condition.
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Doutorando em Ciências Sociais (UFRRJ). Bolsista do CNPq. Contato: Av. Nossa Senhora de
Fátima, 64/401. Centro, Rio de Janeiro, RJ. 20240-051. E-mail: paulo.niederle@yahoo.com.br.
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Modernidade e Pós-Modernidade na Teoria Pós-Fordista
INTRODUÇÃO
É possível analisar a condição da pós-modernidade a partir das premissas de
uma ciência eminentemente “moderna”? Caso se anseie conhecer as origens e os
determinantes desta nova condição histórica, ou indagar sobre a validade das
afirmações acerca da sociedade contemporânea, mais do que possível esta é uma
tarefa indispensável. A começar pela própria definição do que seja pós-modernidade,
inexeqüível sem a objetividade que os teóricos pós-modernistas tanto procuram evitar.
Decerto, nada mais remoto a qualquer “teoria pós-moderna” do que delimitar categorias
de análise, mencionar conexões estruturais ou definir elementos invariantes e relações
causais entre eventos.
É isto que sugere David Harvey em seu livro A condição da pós-modernidade:2
dispor de um método moderno para analisar a nova condição histórica da sociedade
capitalista. Harvey concebe a pós-modernidade como uma circunstância histórica
peculiar condizente com a transição em curso no interior do sistema capitalista: a
mudança de um regime de acumulação e de um modo de regulamentação social e
política “fordista” para um regime de “acumulação flexível”. De fato, a ênfase do autor
sobre o regime de acumulação e regulação foi tamanha que, ao longo das duas últimas
décadas, sua obra foi referida sobretudo nas discussões a respeito da emergência do
chamado “pós-fordismo” ou “sociedade pós-fordista”. Isto não se deu, todavia, sem
prejuízo de uma leitura mais abrangente das formulações do autor sobre a condição da
pós-modernidade, mais especificamente sobre as conexões espaciais e temporais que
articulam de novos e distintos modos as dimensões culturais e estéticas sobressalentes
na discussão pós-moderna, com os reinos do econômico e do social, que predominam
no debate pós-fordista.
Um misto de surpresa e apreensão caracterizou a entrada da Condição Pós-
moderna nos círculos acadêmicos, notadamente, entre os intelectuais de esquerda
com quem Harvey dialoga. Marxistas ortodoxos logo questionaram o crédito de alguém
que se considerava marxista, mas 'propagandeava' a emergência de uma condição
pós-moderna, algo até então só concebível entre críticos fervorosos do Capital. De
outro lado, teóricos pós-modernos que à primeira vista podem ter se empolgado com o
título do livro, logo perceberam que ali estava uma análise que pouco se associava à
idéia de pós-modernidade que vislumbravam e, para além disso, poderia constituir
inclusive a base de uma consistente contraposição às suas formulações. Fiel ao
materialismo histórico, Harvey construiu um arcabouço teórico suficientemente amplo e
coerente para servir de suporte a pensadores heterodoxos que viram na sua obra uma
alternativa tanto ao otimismo das teorias que advogavam a emergência de uma
“sociedade pós-industrial”, quanto ao pessimismo agonizante das teorias pós-
modernas.
Mas, qual é precisamente a peculiaridade da análise de Harvey acerca da pós-
modernidade? No que segue, argumenta-se que sua perspectiva tornou-se
particularmente importante porque difere de outras teorias em dois sentidos principais.
Primeiro, ao falar de pós-modernidade como uma situação histórica, uma fase do
capitalismo contemporâneo (flexível, global, tardio etc.), o autor afasta-se da idéia de
pós-modernidade como uma condição humana a-histórica, uma situação do
conhecimento humano, a qual está presente nas interpretações de intelectuais como
Lyotard (2004). Em segundo lugar, diferentemente de autores como Jameson (1996) e
Lash & Urry (1994) que definem o pós-modernismo somente como a face cultural e
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O livro de Harvey foi publicado no Brasil sob o título “Condição Pós-moderna”, uma tradução infeliz do original
em inglês The Condition of Posmodernity (1989) onde o autor faz uma espécie de “jogo de palavras” com o título
da obra de Jean-François Lyotard La Condition Posmoderne (1979), o qual também foi traduzido para o leitor
brasileiro como “A Condição Pós-moderna”.
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“Os filósofos pós-modernos nos dizem que não apenas aceitemos, mas até nos
entreguemos às fragmentações e à cacofonia de vozes por meio das quais os dilemas
do mundo serão compreendidos” (HARVEY, 2007, p. 112).
As críticas dos movimentos pós-modernistas atacaram preceitos
fundamentais da modernidade presentes em todos os seus períodos históricos, como
os ideais de emancipação humana baseados na ciência e na razão e a imagem de uma
realidade externa à representação social sobre a qual se buscavam verdades
irrepreensíveis. Outras críticas, como a que exclui da modernidade a diversidade e
heterogeneidade de projetos e as contradições do seu desenvolvimento não podem ser
dirigidas a todos os períodos. De fato, o pós-modernismo consiste numa ofensiva ao
projeto de modernização vinculado à alta modernidade. O motivo de suas críticas
poderem ser dirigidas a concepções presentes em outras fases históricas deve-se,
obviamente, ao fato de que a alta modernidade incorpora elementos de outros
períodos, em especial do projeto iluminista inicial.
Não há dúvidas de que o pensamento pós-moderno esclarece aspectos
diversos da dinâmica do mundo contemporâneo. Como alude Kumar (1997, p. 188), a
idéia de pós-modernidade “[...] nos alerta para aspectos da modernidade tardia que, de
outra maneira, poderiam escapar de nossa atenção. Somos então capacitados a ver
novas coisas ou coisas antes não notadas, ou fenômenos que podem ter parecido
pouco promissores em fases mais antigas da modernização e que, inesperadamente,
sobreviveram ou renasceram”. A preocupação com a diversidade, as diferenças
culturais, a fragmentação das identidades e a proliferação dos movimentos de minorias
sociais seguramente estão entre aquelas contribuições incontestáveis. A crítica dos
benefícios da “razão” e da ciência como instrumentos libertadores e a consciência da
incerteza e relatividade do conhecimento perante o mundo também merecem ser
destacados. Neste caso, contudo, é preciso ter cuidado para que o “irracionalismo” pós-
moderno não resulte na desqualificação da ciência ou na sua indistinção em relação a
outras formas de saber.
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Harvey (2007, p. 100) acentua, sobretudo, como a lógica do dinheiro se tornou universal no capitalismo
contemporâneo: “As linguagens materiais comuns do dinheiro e da mercadoria fornecem uma base universal no
capitalismo de mercado para ligar todos a um sistema idêntico de avaliação do mercado e, assim, promover a
reprodução da vida social através de um sistema objetivo de ligação social.”
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Isto significa, todavia, que o conhecimento produzido pelos ditos teóricos pós-
modernos não possui valor algum? Ora, quem ousaria negar a vasta contribuição de
Foulcaut em suas discussões sobre micro-política, vigilância, autoridade, bio-poder
etc.? Quem refutaria a contribuição do desconstrucionismo de Derrida para o
desenvolvimento da lingüística e da teoria literária? Não é essa a questão. A questão é
que os processos e fenômenos que estes teóricos desvendaram necessitam ser
considerados à luz de outra perspectiva. É preciso compreender a lógica das
transformações deste mundo cada vez mais heterogêneo e complexo dentro de sua
realidade histórica e para além dos fenômenos despedaçados que os intelectuais pós-
modernistas expõem (TOURAINE, 1994). Arriscamos inclusive afirmar, e seguramente
não estamos sozinhos nesta percepção, que as contribuições positivas do discurso
pós-moderno somente possuem sentido no interior de uma ciência eminentemente
moderna. Nos termos de Featherstone (1994), ao invés de advogar uma sociologia pós-
moderna (que se apresentaria propriamente como uma anti-sociologia), devemos ter
como objetivo criar uma sociologia do pós-modernismo ou da cultura da pós-
modernidade. É justamente esta perspectiva que assume Harvey (2007), além de
outros autores como Jameson (1996) e Lash & Urry (1994), os quais constroem uma
espécie de crítica modernista do discurso da pós-modernidade.
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Harvey discorda da idéia de “capitalismo desorganizado”. Para o autor, o capitalismo está se mostrando cada
vez mais organizado e é justamente isso que lhe permite dispersão, mobilidade e flexibilidade, tudo
“acompanhado por pesadas doses de inovação tecnológica, de produto e institucional” (HARVEY, 2007, p. 151).
Lash & Urry (1994) reagiram a estas críticas advogando que o termo tem uma conotação muito específica
associada à crise de regulação dos Estados-nacionais: “O Fim do Capitalismo Organizado foi criticado por
sugerir que as sociedades contemporâneas são desorganizadas ao invés de reorganizadas. Neste livro nós
demonstramos, com sorte mais convincentemente, que o capitalismo contemporâneo é, enfim, desorganizado.
Por isto nós compreendemos que o fluxo de pessoas e objetos está progressivamente menos sincronizado
dentro das fronteiras nacionais.” (LASH; URRY, 1994, p. 10).
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“Neste sentido, da crescente profusão e velocidade de circulação de artefatos culturais, o pós-modernismo não
é exatamente uma crítica ou recusa radical do modernismo, mas sua radical exageração. Ele é mais moderno
que o modernismo.” (LASH; URRY, 1994, p. 3).
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Ainda que próximos à discussão de Giddens e Beck acerca do tema, Lash e Urry estão tratando basicamente do
que chamam de “reflexividade estética” em contraposição à dimensão mais cognitiva discutida pelos outros dois
autores. Não temos condições de adentrar neste debate aqui. Para uma síntese das diferentes posições veja
Giddens; Beck; Lash (1997).
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A consolidação do fordismo envolveu uma serie de “compromissos” e “reposicionamentos” por parte do Estado,
do capital corporativo e dos trabalhadores organizados (sindicatos), onde cada parte assumiu um papel chave.
Dados os limites deste estudo não teremos condições de analisar esta questão (veja Harvey, 2007, p. 125-134 e
Bonano, 1999).
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Paradoxalmente, este movimento foi acompanhado pelo ressurgimento das localidades, algo que a discussão
da pós-modernidade vinha salientando. A especialização flexível levou muitas corporações transnacionais a
adotarem estratégias de localização, atuando como “verdadeiras federações de pequenas empresas”
(HARVEY, 2007). Ao mesmo tempo, a crise dos “grandes” (os grandes Estados-nacionais, as grandes
corporações, os grandes sindicatos, os grandes movimentos sociais) e a flexibilização do trabalho e da produção
possibilitaram a proliferação de pequenos empreendimentos localizados baseados em sistemas de trabalho
doméstico, artesanal, familiar etc. A experiência da Terça Itália demonstrou a consolidação de distritos industriais
integrados tanto na lógica dos mercados globais quando nas convenções e instituições locais, tornando-se uma
espécie de tipo ideal do modelo pós-fordista (PIORE; SAIBEL, 1984).
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Agora, podemos concordar com Kumar (1997) de que, para Harvey a nova
fase histórica correspondente à condição da pós-modernidade não está associada
exclusivamente a mudanças nas práticas produtivas ou mesmo à emergência de
formas culturais e estéticas pós-modernas, mas a uma transformação mais ampla que
ocorre no conjunto das instituições sociais, econômicas, culturais e políticas da
modernidade, onde se alteraram desde as práticas, os sistemas de representação, as
formas estéticas e as estruturas de sentimento.
No fulcro da teoria construída por Harvey está a percepção de que a
compreensão do tempo e espaço está enraizada na aceleração do rimo da vida e na
redução das barreiras espaciais que limitam as relações humanas. As qualidades
transitórias, efêmeras, fugidias, particularistas, caóticas e estetizadas da pós-
modernidade, para as quais os intelectuais pós-modernos chamaram a atenção,
possuem uma explicação coerente com as mudanças temporais e espaciais
decorrentes da transição para um regime de acumulação flexível. A passagem do
consumo de bens para o consumo de serviços está na base da estratégia de aceleração
do tempo de reprodução do capital. O mesmo argumenta-se em relação à volatilidade e
efemeridade dos novos mercados culturais que comercializam imagens e signos que
rapidamente se desfazem. No domínio da produção e do consumo pode-se notar ainda
a ênfase nas virtudes da instantaneidade e descartabilidade dos produtos. No mundo
do trabalho o que conta é a velocidade de adaptação dos trabalhadores às contínuas
mudanças tecnológicas e organizacionais, além do grau até o qual os empresários
conseguem suportar a esquizofrenia de um estilo de vida frenético. Por sua vez, a
valorização das identidades culturais e tradições associadas ao local têm sido cada vez
mais possíveis à medida que a revolução informacional aproxima o local do global, ao
ponto de que são produzidas identidades e tradições híbridas a partir do novo nexo que
se estabelece entre estas duas dimensões (HALL, 2006).
Harvey conclui apontando para a relação entre as transformações que levam
ao novo contexto experiencial do tempo-espaço correspondente à condição da pós-
modernidade e a perspectiva materialista histórica que construiu:
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A problemática apresentada neste ensaio pode ter soado ultrapassada para
muitos leitores. As discussões sobre modernidade e pós-modernidade tiveram um
desenvolvimento substancial desde a publicação de Condição Pós-moderna, muito
embora o livro continue sendo uma das principais referências do debate hodierno.
Também o contexto social já não é o mesmo de outrora. Se, por um lado, a lógica
mercantil penetrou ainda mais profundamente em todas as dimensões da vida social,
por outro, a cultura se enraizou mais profundamente no mercado. Ademais, assistimos
atualmente uma espécie de retorno dos sujeitos como agentes da mudança social e a
re-emergência da sociedade civil e das esferas públicas enquanto arenas do debate
democrático e emancipatório (TOURAINE, 1994; HABERMAS, 1992). Igualmente,
pode-se assumir que estamos outra vez diante do ressurgimento do universalismo e
das energias utópicas, agora intimamente associados às possibilidades da democracia
e do mercado. Neste sentido, Jeffrey Alexander (1995) chega a falar da emergência de
uma fase de neo-modernização e da entrada em cena de teorizações “pós-pós-
modernas”.
De certo modo, tais mudanças estão relacionadas à oportuna compreensão
das ciências sociais de que seu desafio atual é combinar argumentos presentes nas
narrativas modernistas e pós-modernistas, aprendendo a fazer dos dualismos
(universal-particular, transitório-duradouro, homogêneo-heterogêneo, etc.) pares
simbióticos que potencializem o conhecimento do mundo social. Para concluir,
queremos argumentar que a obra de Harvey, mesmo estando mais próxima de uma
formulação “pré-pós-moderna” do que “pós-pós-moderna” (ARAMBURU, 1994),
caminha ao encontro desta perspectiva, do que provém grande parte de sua relevância
para o debate social contemporâneo.
A teorização proposta por Harvey possui claramente uma dimensão
universalista e totalizante. O autor busca na lógica do capital (mercantilização,
financeirização) os elementos “eternos e invariantes” do desenvolvimento histórico e
geográfico da sociedade capitalista tardia. Não obstante, sua interpretação também é
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