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ULTRASSONOGRAFIA
FOCADA
Editor
Reiby Caetano Mustafá
Manual de
Ultrassonografia Ecografia Aplicada na
Medicina de Urgência
Focada e Emergência
Autor
Reiby Caetano Mustafá
Todos direitos reservados a Reiby Caetano Mustafá
Autor
ECOMURGEM
Agradecimentos
CAPÍTULOS EXTRAS
11 Conclusão, 109
Reiby Caetano Mustafá
1
Princípios Físicos Básicos de
CAPÍTULO
Ultrassom Aplicado a Medicina
de Urgência e Emergência
Rarefaction Compression
1 cycle
Pressure
Amplitude
Wavelengyh
Propagation
ly
App
at
nic
ly c
cha
u
me
rren
m
t
for
De
Vibrations produce
produces current
sound waves
Shape change
As ondas de ultrassom têm certas características que são determinantes para a com-
preensão do funcionamento do aparelho de diagnóstico ultrassonográfico. São elas:
• Ciclo: composto de compressão/rarefação;
• Frequência (f ): ciclos por segundo (Hz);
• Amplitude: magnitude (tamanho) da onda. Medida em decibéis (dB);
• Comprimento (λ): distância entre ondas adjacentes, medida pico a pico (mm);
• Velocidade de propagação.
Amplitude
Alta frequência
Tabela 1.1
Tabela de impedância
Velocidade de propagação Metros/segundo Impedância (kgm-2s-1)
Ar 330 430
Água 1.480 1,5 x 106
Gordura 1.460 1,4 x 106
Músculos 1.620 1,7 x 106
Tecidos moles 1.540 1,65 x 106
Fígado 1.555 1,65 x 106
Sangue 1.560 1,61 x 106
Osso 4.080 5,3 x 106
Fonte: blog.pacientegraveuti.com.br/principios-basicos-de-ultrassonografia.
Impedância acústica
A impedância acústica de um meio está relacionada com a resistência ou dificuldade
do meio a passagem do som. Corresponde ao produto da densidade do material pela
velocidade do som no mesmo. Quando o feixe sonoro atravessa uma interface entre dois
meios com a mesma impedância acústica, não há reflexão e a onda é toda transmitida ao
segundo meio. É a diferença de impedância acústica entre dois tecidos que define a quanti-
dade de reflexão na interface, promovendo sua identificação na imagem.
Vejam que na Tabela 1.1, as velocidades de propagação do som diferentes para cada
tecido, na dependência das impedâncias acústicas.
Tipos de transdutores
Basicamente, para POCUS, são utilizados três tipos de transdutores: linear, setorial e
convexo (Figura 1.9):
• Transdutor linear (vascular) tem alta frequência e, portanto, tem um campo próximo
(área de melhor avaliação) mais superficial, entre 1 e 3 cm de distância da membrana
do transdutor.
• Transdutor setorial (cardio) tem frequências baixas e, portanto, tem um campo de
melhor avaliação, mais profundo, ao redor de 5 a 7 cm de distância da membrana do
transdutor.
• Transdutor convexo (abdominal) tem frequências baixas e, portanto, tem um campo
de melhor avaliação, mais profundo, ao redor de 5 a 7 cm de distância da membrana
do transdutor.
8 Manual de Ultrassonografia Focada – Ecografia Aplicada na Medicina de Urgência e Emergência
Modelos de ultrassom
• Modo M (movimento temporal): o feixe de US é mantido fixo em determinada di-
reção, sendo fornecido um gráfico de movimento temporal das estruturas situadas na
direção de toda extensão do feixe, ao longo do tempo.
Modo M evidenciando o
movimento de abertura da
valva mitral na diástole
Modo M evidenciando o
movimento de abertura da
valva aórtica na sístole
OBSERVAÇÃO
Para a avaliação cardíaca básica em POCUS são utilizadas três
janelas acústicas: paraesternal (eixo longo e curto), Apical 4 câmaras
(4C) e subcostal (plano 4C e da veia cava inferior (VCI).
10 Manual de Ultrassonografia Focada – Ecografia Aplicada na Medicina de Urgência e Emergência
VD
AO
VE
AE
VD
VE
VE
VD
AD AE
VD
AD VE
AE
Efeito Doppler
Uma fonte estacionária de som produz certo timbre ou frequência (f ). Se o som se
deslocar em direção a um observador, o timbre parece aumentar (mais agudo). Ao contrá-
rio, se o som se afastar de um observador, o timbre parece diminuir (grave).
Modalidades de Doppler
A modalidade mais usada em POCUS é o Doppler pulsado. Nessa modalidade, o
cristal piezoelétrico emitirá pulsos curtos e intermitentes, que serão direcionados para
uma amostra de 2-5 mm no feixe ultrassônico e retornando para o cristal. É aplicado,
principalmente, para a estimativa do fluxo sanguíneo na via de saída do ventrículo esquer-
do, servindo para cálculo do DC (débito cardíaco) o qual será demonstrando no capítulo
específico de avaliação hemodinâmica não invasiva (Figura 1.17).
Artefatos ultrassonográficos
Reverberações
Ocorre pela reflexão secundária na superfície do transdutor. Parte do sinal de retorno
sofre nova reflexão, retorna à estrutura alvo com menor sinal e assim sucessivamente. Por
exemplo: pericárdio posterior, parede aórtica.
Princípios Físicos Básicos de Ultrassom Aplicado a Medicina de Urgência e Emergência 13
Figura 1.17 – Efeito Doppler – fluxo sanguíneo se aproxima (positivo). Fluxo se afasta (negativo).
Fonte: eigierdiagnosticos.com.br/blog/tipos-de-doppler/
Sombreamento
É o oposto da reverberação. Resulta na ausência de ecos atrás da estrutura corporal
alvo. Quando o feixe de US atinge uma estrutura que é forte refletora, quase toda energia
é refletida, ocasionando uma sobra escura atrás da estrutura alvo.
Exemplos: estruturas ósseas (costelas), cálculos e estruturas metálicas (Figura 1.20).
14 Manual de Ultrassonografia Focada – Ecografia Aplicada na Medicina de Urgência e Emergência
Reforço
Ocorre quando o feixe de US atravessa uma estrutura pouco ou nada reflexiva, com
atenuação mínima, e ao encontrar estrutura mais densa (paredes) acontece reforço na
reflexão.
Líquido (bexiga
cheia) – atenuação
mínima do US
Parede da bexiga –
mais densa e reflete
o US com maior
intensidade
Pré-processamento
• Saída de força (output): regula a energia de US fornecida pelo transdutor para os
pulsos transmitidas. Regula maior ou menor amplitude das ondas (índice mecânico).
Quanto maior a potência do US, mais energia para transmissão, mais reflexão, maior
intensidade na geração de imagens.
• Profundidade: interfere na frequência de repetição de pulso e no número de quadros
de imagens por segundo (Hz). Quanto maior a profundidade da imagem, menor o
16 Manual de Ultrassonografia Focada – Ecografia Aplicada na Medicina de Urgência e Emergência
Pós-processamento
• Rampa de ganho (TGC): ajuste do ganho ao longo da profundidade do feixe de US.
O ganho no campo proximal pode ser ajustado em nível menor, por haver grande am-
plitude de sinais nessa região. Na prática, o campo próximo ao transdutor fica menos
“saturado” de ecos.
• Ganho: ajuste a intensidade global de ecos da imagem. Não interfere na amplitude e
na frequência do US. A imagem pode ficar mais ou menos “saturada” de ecos.
VE
Bibliografia
1. Solomon SD, Instrumentação ecocardiográfica e princípios físicos de ecocarddiografia doppler. In
Solomon SD, Ecocardiografia - Manual Prático. 2010. Revinter.
2. Feigenbaum - Ecocardiografia - sétima Edição 2012. Editora Guanabara Koogan SA. Rio de Ja-
neiro.
3. Mathias, W.Manual de ecocardiografia – terceira Edição 2013. Editora Manole Barueri. São Paulo.
4. Pena J et al. Ecocardiografia e Imagem Cardiovascular – primeira edição ´Rio de janeiro -RJ: Thie-
me Revinter Publicações 2021.
2
Ultrassonografia Focada
CAPÍTULO
na Avaliação do Trauma –
Protocolos Fast e E-Fast
Protocolo FAST/E-FAST
O exame FAST foi idealizado para ser um exame rápido, de fácil execução e com a
função de identificar líquido livre na cavidade abdominal, pelve ou pericárdio. Levando
em conta a anatomia dessas regiões, podemos esperar o maior acúmulo de líquido na
parte posterior do abdômen superior, pelve e calhas pericólicas direita e esquerda.
Figura 2.1 – Corte transversal na tomografia de abdômen mostrando os locais de maior acú-
mulo de líquido.
Fonte: Atlas Oral Maxillofacial Surg Clin N Am - 2015 - http://dx.doi.org/10.1016/j.cxom.2015.05.006.
Por essa razão, os quatro locais avaliados pelo ultrassom, no estudo FAST para procu-
ra de líquido livre são, o espaço hepatorrenal (também chamado de espaço de Morison)
(Figura 2.3), espaço esplenorrenal (Figura 2.4), pelve (Figura 2.5) e pericárdio (Figura
2.6). Já o E-FAST identifica o ar, ao invés de líquido. Nessa situação deve-se procurar
os artefatos sonoros gerados pelo deslizamento das duas pleuras (parietal e visceral) uma
contra a outra, conhecidos como artefatos em cauda de cometa (Figura 2.7). Quando o
ar está presente, esses artefatos desaparecem. Essa extensão do exame FAST é particular-
mente útil na área de trauma, pois, a radiografia de tórax portátil tem baixa sensibilidade
e especificidade para identificar um pneumotórax pequeno a moderado.
Ultrassonografia Focada na Avaliação do Trauma – Protocolos Fast e E-Fas 21
Figura 2.2 – Corte sagital na tomografia de abdômen mostrando os locais de maior acúmulo
de líquido.
Fonte: Atlas Oral Maxillofacial Surg Clin N Am - 2015 - http://dx.doi.org/10.1016/j.cxom.2015.05.006.
Figura 2.7 – A seta demonstra o artefato gerado pelo atrito das duas pleuras (parietal e visce-
ral) – linha pleural.
Fonte: Acervo pessoal.
24 Manual de Ultrassonografia Focada – Ecografia Aplicada na Medicina de Urgência e Emergência
Quadro 2.1
Indicações de E-FAST – extended focused assessment with sonography for trauma
Trauma cardíaco penetrante
Trauma cardíaco fechado
Trauma abdominal fechado
Trauma torácico
Pneumotórax
Hemotórax
Hipotensão de causa não definida
Fonte: Rev Bras Ter Intensiva. 2010; 22(3):291-299.
Como acontece com todos os exames de ultrassom, as áreas de interesse devem ser
avaliadas em mais de um plano ortogonal (planos transversal, longitudinal e coronal) e
devem ser digitalizadas usando movimento de varredura em cada plano. Com a prática e
aumento da experiência do examinador, a técnica tende a melhorar.
A sequência de imagens não é obrigatória e pode variar de acordo com a apresentação
clínica do paciente, mas, geralmente, a sequência de aquisição das imagens primárias do
E-FAST incluem (Figura 2.8):
Figura 2.8 – Visualizações padrão E-FAST: 1 = bolsa de Morison e ângulo costofrênico direito, 2
= visualização periesplênica e ângulo costofrênico esquerdo, 3 = bexiga transversal, 4 = Bexiga
longitudinal, 5 = Pericárdio, 6 = tórax anterior direito, 7 = tórax anterior esquerdo.
Fonte: Osterwalder J et al. New Perspectives for Modern Trauma Management - Lessons Learned from 25 Years FAST and 15
Years E-FAST. Ultraschall Med. 2019 Oct;40(5):560-583.
Ultrassonografia Focada na Avaliação do Trauma – Protocolos Fast e E-Fas 25
1. Quadrante superior direito (bolsa de Morison) – é o ponto mais sensível para o acú-
mulo de líquido no peritônio superior no paciente em decúbito dorsal. Para obter essa
visão, coloque a sonda de ultrassom no plano coronal, nos espaços intercostais 8º-11º,
na linha axilar média para axilar posterior, com o marcador de orientação direcionado
no sentido cefálico, proporcionando a avaliação do fígado e do espaço hepatorrenal
em busca de fluido livre. O ligeiro movimento cefálico do transdutor permite a ob-
tenção de imagens do espaço pleural direito. O movimento da sonda caudal permite a
visualização do polo inferior do rim direito, bem como, da calha paracólica direita em
busca de líquido livre.
2. Quadrante superior esquerdo (periesplênica) – para obter essa imagem no plano
coronal, coloque a sonda com o indicador direcionado em sentido cefálico, nos espa-
ços intercostais 6º-9º e uma localização mais posterior, na linha axilar posterior, pro-
porcionando a análise do baço e do espaço periesplênico, entre o baço e o diafragma, e
no recesso esplenorrenal. A varredura cefálica permite a visualização do espaço pleural
esquerdo. A varredura caudal permite a visualização do polo inferior do rim esquerdo
e da goteira paracólica esquerda.
3. Pelve (retrovesical) – posicione a sonda de ultrassom diretamente acima da sínfise
púbica, com o marcador de orientação direcionado no sentido cefálico. Com essa
visão longitudinal, direcione o feixe de ultrassom caudalmente na pelve basculando
a sonda. A bexiga está cefálica ao osso púbico. Para obter a vista transversal, basta
girar a sonda 90°no sentido anti-horário, com o marcador de orientação apontando
para a direita. Esse é o espaço mais dependente do peritônio para o fluido livre. A
bexiga cheia auxilia na análise de fluido (pode ser preenchida por fluido colocado
por meio de cateter de Foley) que pode se acumular em qualquer lugar da pelve,
mas, é mais frequentemente visualizado posterior ou superior a bexiga e o útero. A
bexiga deve ser escaneada em sua totalidade, nos planos sagital e transverso. Bas-
cular é importante na avaliação de qualquer região por ultrassom e é essencial na
avaliação da área suprapúbica.
4. Pericárdio (subxifoide) – para obter a visão subxifoide, a sonda é segurada imedia-
tamente caudal ao esterno e é girada de 10° a 15° no sentido anti-horário, apontando
para o ombro esquerdo. O coração e o espaço potencial do pericárdio são analisados
para a presença de qualquer líquido livre em localizações anteriores ou posteriores.
Uma ligeira angulação posterior ou inferior nessa vista permite a visualização da VCI
e das veias hepáticas, incluindo sua variabilidade respiratória normal.
5. A visão torácica anterior – as pleuras deslizam facilmente uma contra a outra e isso
pode ser visto pelo ultrassom. Já a ausência desse deslizamento e a potencial separação
da pleura por um pneumotórax pode ser diagnosticado, quando presente, no segundo
ou terceiro espaço intercostal, melhor analisadas com transdutores de maior frequên-
cia, embora transdutores de frequência inferior também possam ser usados, para evitar
26 Manual de Ultrassonografia Focada – Ecografia Aplicada na Medicina de Urgência e Emergência
Abdominal trauma
FAST FAST
Figura 2.9 – Algoritmo de diagnóstico para o uso do FAST na triagem de pacientes com trauma.
CEUS = ultrassom com contraste de microbolhas; CT = tomografia computadorizada.
me rápido e que pode ser realizado à beira do leito, ele não requer a presença do especia-
lista em diagnóstico por imagem e pode ser conduzido pelo próprio médico emergencista
devidamente treinado.
Por essa razão, sua utilização na sala de emergência se tornou indispensável, pois abre-
via o tempo de diagnóstico e orienta a conduta terapêutica.
Bibliografia
1. Gregory JS. Focused Assessment with Sonography for Trauma Ultrasound for Abdominal Trau-
ma Evaluation. Atlas Oral Maxillofacial Surg Clin N Am - (2015) - http://dx.doi.org/10.1016/j.
cxom.2015.05.006.
2. Flato UA, Guimarães HP, Lopes RD, Valiatti JL, Flato EMS, Lorenzo RG. Utilização do FAS-
T-Estendido (E-FAST-Extended Focused Assessment with Sonography for Trauma) em terapia
intensiva. Rev Bras Ter Intensiva. 2010; 22(3):291-299.
3. Osterwalder J, Mathis G, Hoffmann B. New Perspectives for Modern Trauma Management – Les-
sons Learned from 25 Years FAST and 15 Years E-FAST. Ultraschall in Med 2019; 40: 560–583.
4. Richards JR, McGahan, JP. Focused assessment with sonography in Trauma (FasT) in 2017: What
Radiologists Can Learn. Radiology: Volume 283: Number 1—April 2017. radiology.rsna.org.
5. Bell CR, Holden MS. Wanted: automated objective proficiency assessment metrics for the FAST
exam (and other POCUS studies). Letter to the editor. European Journal of Trauma and Emergen-
cy Surgery (2019) 45:763–764 https://doi.org/10.1007/s00068-019-01156-8.
6. AIUM Practice Parameter for the Performance of the Focused Assessment With Sonography for
Trauma (FAST) Examination. ©2014 by the American Institute of Ultrasound in Medicine. www.
aium.org
3
CAPÍTULO
Ultrassonografia
Pulmonar Focada (USP)
Ar
Figura 3.2
Fonte: Lung ultrasound made easy. Pocus101.
Disponível em: < https://www.pocus101.com/
lung-ultrasound-made-easy-step-by-step-
-guide/ >. Acessado em: 18/01/2021.
Figura 3.3
Fonte: Lung ultrasound made easy. Pocus101.
Disponível em: < https://www.pocus101.com/
lung-ultrasound-made-easy-step-by-step-
-guide/ >. Acessado em: 18/01/2021.
Figura 3.4
Fonte: Lung ultrasound made easy. Pocus101.
Disponível em: < https://www.pocus101.com/
lung-ultrasound-made-easy-step-by-step-
-guide/ >. Acessado em: 18/01/2021.
32 Manual de Ultrassonografia Focada – Ecografia Aplicada na Medicina de Urgência e Emergência
Figura 3.5 – Sinal da praia significando presença de deslizamento pleural pelo modo M.
Fonte: Roseman, Eric. Kings Country Emergency Medicine. thepocusatlas.com. Disponível em: < https://www.thepocusatlas.
com/trauma-1 > Acessado em: 17/01/2021.
Linhas A
São linhas horizontais, paralelas ao eco pleural, equidistantes, presentes em condições
normais, que podem ser apagadas pelas linhas B ou reforçadas em caso de pneumotórax.
Representam o artefato de reverberação.
Figura 3.7 – P: linha pleural; c: costelas; A: linhas A; 1: aeração pulmonar normal – perfil A
(linhas A): linhas horizontais brancas (hiperecogênicas) que são estáticas e aparecem em in-
tervalos regulares.
Fonte: Dexheimer F, de Andrade J, Raupp AC, Townsend R, Beltrami F, Brisson H, et al. Acurácia diagnóstica do protocolo de
ultrassom pulmonar à beira do leito em situações de emergência para diagnóstico de insuficiência respiratória aguda em
pacientes com ventilação espontânea. J Bras Pneumol. 2015;41(1):58-64.
Figura 3.9 – Distância entre a linha pleural e o transdutor é a mesma entre a linha pleural e a
linha A1 e entre A1 e A2. Representam artefatos de reverberação.
Fonte: Lung ultrasound made easy. Pocus101. Disponível em: < https://www.pocus101.com/lung-ultrasound-made-easy-s-
tep-by-step-guide/ >. Acessado em: 18/01/2021.
Achados patológicos
Derrame pleural
Uma sonda setorial (preferencialmente) é aplicada no ponto PLAPS, uma área pos-
terior acessível em pacientes em decúbito dorsal, localizando efusões livres, independen-
temente de seu volume.
Esta abordagem direta gera sinais padronizados: o sinal do sustento e o sinal sinusoide.
O limite profundo da coleção é regular, quase paralelo à linha pleural, e é chamado de
linha pulmonar (pleura visceral). Isso desenha o sinal do sustento.
Ultrassonografia Pulmonar Focada (USP) 35
Figura 3.12 – Derrame pleural diminuto no ponto PLAPS. Abaixo da linha pleural, uma
linha regular e quase paralela à linha pleural pode ser vista: a linha pulmonar, indicando a
pleura visceral (setas). Essa linha, junto com a linha pleural e a sombra das costelas formam
sinal do sustento.
Fonte: Lichtenstein D. Lung ultrasound in the critically ill. Curr Opin Crit Care. 2014;20(3):315-22.
Figura 3.13 – Modo M mostra um movimento da linha pulmonar (setas brancas) em direção à linha
pleural (setas pretas) na inspiração – o sinal sinusoide, indicando também um derrame pleural livre
e uma viscosidade que permite o uso de agulha de pequeno calibre em caso de toracocentese.
Fonte: Lichtenstein D. Lung ultrasound in the critically ill. Curr Opin Crit Care. 2014;20(3):315-22.
Ultrassonografia Pulmonar Focada (USP) 37
Pneumotórax
Ausência de deslizamento pulmonar ocorre quando a pleura visceral não desliza sob a
pleura parietal (aderências inflamatórias, perda de expansão pulmonar, atelectasia, apneia,
intubação seletiva) ou é separada (pneumotórax).
Na ausência de deslizamento pulmonar e tivermos um padrão de linhas A associado,
devemos pensar em pneumotórax.
O ponto pulmonar é um sinal patognomônico de pneumotórax, alternando área de
deslizamento pulmonar normal, com áreas de deslizamento pulmonar abolido associado
às linhas A no mesmo local.
No modo M, o sinal da praia é substituído pelo sinal do código de barras, conforme
visto na Figura 3.15.
Figura 3.15 – Modo M – sinal de código de barras à esquerda e sinal de beira-mar (praia) à direita.
Fonte: Raheja R, Brahmavar M, Joshi D, Raman D. Application of Lung Ultrasound in Critical Care Setting: A Review. Cureus.
2019;11(7):1-15.
38 Manual de Ultrassonografia Focada – Ecografia Aplicada na Medicina de Urgência e Emergência
Figura 3.16 – À direita da tela lung sliding presente e à esquerda ausente, o ponto de junção é
ponto pulmonar.
Fonte: Raheja R, Brahmavar M, Joshi D, Raman D. Application of Lung Ultrasound in Critical Care Setting: A Review. Cureus.
2019;11(7):1-15.
Figura 3.17 – Pneumotórax e o sinal da estratosfera. Esquerda: linha pleural com linhas A, indi-
cando gás abaixo da linha pleural. Não visível na imagem à esquerda, o deslizamento do pulmão
está totalmente ausente. À direita: aqui, no modo M, a abolição do deslizamento do pulmão é
visível por intermédio do sinal da estratosfera (que substitui o sinal da praia) e indica ausência
total de movimento. Isso sugere pneumotórax como uma causa possível (veja outros no texto).
Fonte: Lichtenstein D. Lung ultrasound in the critically ill. Curr Opin Crit Care. 2014;20(3):315-22.
Ultrassonografia Pulmonar Focada (USP) 39
Figura 3.18 – Pneumotórax e ponto pulmonar. A imagem à esquerda mostra a linha pleural
imediatamente antes do aparecimento da pleura visceral. A imagem da direita mostra (seta)
o momento exato em que a pleura visceral tocou a pleural parietal. Esse sinal foi chamado de
ponto pulmonar, muito sugestivo de pneumotórax.
Fonte: Lichtenstein D. Lung ultrasound in the critically ill. Curr Opin Crit Care. 2014;20(3):315-22.
Consolidações
As consolidações pulmonares são distúrbios de fluidos e, portanto, são facilmente
visualizadas pelo ultrassom.
São imagens hipoecogênicas subpleurais que não apagam o eco pleural. São chamadas
de linhas C.
As consolidações pulmonares tocam a parede em 98% dos casos, surgem em qualquer
local, tornando a sensibilidade do ultrassom dependente do local, tamanho e tempo gas-
to. A maioria dos casos (90%) localiza-se, entretanto, no ponto PLAPS.
O sinal do retalho, representa consolidação que não ultrapassa um lobo pulmonar
(maioria dos casos), é a fronteira entre o pulmão consolidado e o aerado. Imagem irregu-
lar, desenhando uma linha fragmentada, totalmente oposta à linha do pulmão.
Hepatização pulmonar, pulmão fica ultrassonograficamente semelhante ao fígado, re-
presenta consolidação translobar.
Ambos os sinais permitem 90% de sensibilidade e 98% de especificidade.
40 Manual de Ultrassonografia Focada – Ecografia Aplicada na Medicina de Urgência e Emergência
Figura 3.19 – Hepatização pulmonar: consolidação maciça (sonda no ponto PLAPS) invade
todo o lobo inferior esquerdo. Nenhum tecido pulmonar aerado está presente e nenhum sinal
fragmentado pode ser gerado. A borda profunda está na linha mediastinal (setas). O padrão é
semelhante ao de um tecido, semelhante ao do baço (S).
Fonte: Lichtenstein D. Lung ultrasound in the critically ill. Curr Opin Crit Care. 2014;20(3):315-22.
Figura 3.20 – Consolidação do lobo médio, que não invade todo o lobo, sinal do retalho. Isso gera
um limite fragmentado entre a consolidação e o pulmão aerado subjacente (setas): sinal bastante
específico de consolidação. Essa consolidação anterior gera o perfil C no protocolo BLUE.
Fonte: Lichtenstein D. Lung ultrasound in the critically ill. Curr Opin Crit Care. 2014;20(3):315-22.
Ultrassonografia Pulmonar Focada (USP) 41
Bibliografia
1. Raheja R, Brahmavar M, Joshi D, Raman D. Application of Lung Ultrasound in Critical Care Set-
ting: A Review. Cureus. 2019;11(7):e5233. Published 2019 Jul 25. doi:10.7759/cureus.5233.
2. Mozzini C, Fratta Pasini AM, Garbin U, Cominacini L. Lung ultrasound in internal medicine:
training and clinical practice. Crit Ultrasound J. 2016;8(1):10. doi:10.1186/s13089-016-0048-6.
3. Francisco Neto MJ, Rahal Junior A, Vieira FAC, Silva PSD, Funari MBG. Advances in lung ultra-
sound. einstein (São Paulo). 2016;14(3):443-8. https://doi.org/10.1590/S1679-45082016MD3557.
4. Gargani, L. Lung ultrasound: a new tool for the cardiologist. Cardiovasc Ultrasound 9, 6 (2011).
https://doi.org/10.1186/1476-7120-9-6.
4
Ultrassonografia Focada na
CAPÍTULO
Insuficiência Respiratória
Aguda – Protocolo BLUE
Figura 4.1 – Ilustração demonstrando a localização correta dos 3 pontos do protocolo Blue em
ambos hemitórax.
Fonte: Lichtenstein D. Lung ultrasound in the critically ill. Curr Opin Crit Care. 2014;20(3):315-22.
44 Manual de Ultrassonografia Focada – Ecografia Aplicada na Medicina de Urgência e Emergência
Deslizamento pulmonar
Perfil
Perfil B Perfil A Perfil B’ Linhas A
A/B ou C
Perfil A
Figura 4.3 – O perfil A é definido como linhas A predominantes, mais o deslizamento do pul-
mão na superfície anterior, em pacientes em decúbito dorsal ou meio sentado. Esse perfil suge-
re DPOC, embolia e alguma pneumonia posterior. O edema pulmonar está quase descartado.
46 Manual de Ultrassonografia Focada – Ecografia Aplicada na Medicina de Urgência e Emergência
Perfil B
Figura 4.4 – O perfil B é definido como padrão B predominante. Esse perfil sugere edema pul-
monar cardiogênico e quase descarta DPOC, embolia pulmonar e pneumotórax.
Perfil A/B
Figura 4.5 – O perfil A/B: grandes linhas B no pulmão esquerdo, linhas A no pulmão direito.
Esse perfil geralmente está associado à pneumonia.
Ultrassonografia Focada na Insuficiência Respiratória Aguda – Protocolo BL 47
Bibliografia
1. Lichtenstein, D.A., Mezière, G.A. The blue-points: three standardized points used in the BLUE-
-protocol for ultrasound assessment of the lung in acute respiratory failure. Crit Ultrasound
J 3, 109-110 (2011). https://doi.org/10.1007/s13089-011-0066-3
2. Lichtenstein DA. Lung ultrasound in the critically ill. Ann Intensive Care. 2014;4(1):1. Published
2014 Jan 9. doi:10.1186/2110-5820-4-1.
3. Lichtenstein DA, Mezière GA. Relevance of lung ultrasound in the diagnosis of acute respiratory
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4. Dexheimer Neto Felippe Leopoldo, Andrade Juliana Mara Stormovski de, Raupp Ana Caroli-
na Tabajara, Townsend Raquel da Silva, Beltrami Fabiana Gabe, Brisson Hélène et al. Acurácia
diagnóstica do protocolo de ultrassom pulmonar à beira do leito em situações de emergência para
diagnóstico de insuficiência respiratória aguda em pacientes com ventilação espontânea. J. bras.
pneumol. [Internet]. 2015 Feb [citado 2021 Feb 24]; 41(1): 58-64. Disponible en: http://www.
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-37132015000100058&lng=es. http://dx.doi.
org/10.1590/s1806-37132015000100008.
5. Lichtenstein DA. Lung Ultrasound (in the Critically Ill) Superior to CT: the Example of Lung
Sliding. Korean J Crit Care Med. 2017;32(1):1-8. doi:10.4266/kjccm.2016.00955.
5
Ultrassonografia Focada na
CAPÍTULO
Avaliação Cardíaca (FOCUS) –
Protocolo FATE e Aplicabilidade
na Prática Clínica
Janaína Frigeri de Souza Freitas Rezende
Por sua vez, esse protocolo oferece uma abordagem sistemática e focada do exame
ecocardiográfico e propõe um conjunto de habilidades que podem ser rapidamente
aprendidas por médicos não ecocardiografistas, tais como: emergencistas, intensivistas e
anestesistas; diferindo da ecocardiografia no que diz respeito ao local onde é realizada,
aos profissionais que realizam o exame, aos dispositivos utilizados e, o mais importante,
ao escopo do exame.
Sendo assim, o primeiro passo é saber escolher adequadamente o transdutor para a
realização do exame ecocardiográfico. Nesse caso, o transdutor setorial é o mais utilizado,
pois possui um footprint pequeno e direcionamento do feixe que permite uma imagem
ideal entre as costelas; além disso, possui baixa frequência (~2.5MHz) e, portanto, alta
penetração.
Janela paraesternal
Na janela paraesternal é realizado o corte longitudinal e transversal ou eixo curto.
VD
AO
VE
AE
Figura 5.2 – Janela paraesternal eixo longo obtido com transdutor fazendo um ângulo de 90º
com o esterno, posicionado entre o 3º-4º espaço intercostal à esquerda, com o índex direcio-
nado para o ombro direito do paciente ( 11h).
52 Manual de Ultrassonografia Focada – Ecografia Aplicada na Medicina de Urgência e Emergência
Nessa janela podemos estimar o tamanho do ventrículo esquerdo, sua função sistólica
qualitativa e quantitativa, tamanho do ventrículo direito e sua função qualitativa, refluxos
valvares patológicos, além de obter o diâmetro da via de saída do ventrículo esquerdo
(VSVE), fundamental para a o cálculo do volume sistólico (VS) e consequentemente, o
débito cardíaco (DC).
Também, pode-se avaliar a presença de derrame pericárdico e pleural. O derrame
pericárdico pode ser diferenciado do derrame pleural pela sua localização em relação à
posição da aorta descendente: O primeiro é mais anterior à aorta descendente, enquanto
o derrame pleural é visto posteriormente à mesma.
VE
Figura 5.4 – Janela paraesternal eixo curto obtida após rotação horária de 90º com o índex
apontado para o ombro direito a 2h.
Lembrar que, em pacientes sob ventilação mecânica com altas pressões em vias aéreas,
o melhor local para obtenção da janela paraesternal (longitudinal ou transversal) pode
estar deslocado inferiormente, ao longo do espaço paraesternal esquerdo em direção ao
apêndice xifoide.
Figura 5.5 – Janela apical 4C obtida com o transdutor posicionado na altura do íctus cordis,
com o índex apontado para o braço esquerdo do paciente em 2-3h.
Figura 5.6 – Janela apical 5 câmaras (5C) obtida após sutil movimento basculante da ponta do
transdutor para cima até a visualização da via de saída do ventrículo esquerdo.
Ultrassonografia Focada na Avaliação Cardíaca (FOCUS) – Protocolo FATE e Aplicabilidade na Prática Clínic 55
Janela subcostal
A janela subcostal é obtida posicionando o paciente em posição supina com o trans-
dutor abaixo do apêndice xifoide e com o index apontando para o ombro esquerdo do
paciente.
VD
AD
VE
AE
Figura 5.7 – A esquerda, imagem da posição do transdutor e direção do índex para a obtenção
da janela subcostal – plano 4C (imagem a direita).
VCI
Figura 5.8 – À esquerda demonstrando a relação da veia cava inferior (VCI) com o átrio direito
e fígado. À direita demonstrando o padrão venoso da VCI por intermédio do Doppler pulsátil.
Figura 5.9 – À esquerda, imagem da aorta abdominal pelo 2D. Reparem que sua posição é
mais posterior, em relação à veia cava inferior, e na dúvida (figura à direita), pode-se utilizar o
Doppler pulsátil revelando padrão de fluxo tipicamente arterial (pico sistólico - onda positiva).
Varredura da pleura
O protocolo FATE também compreende a varredura da pleura, já detalhado no Ca-
pítulo 4 deste manual. O transdutor é colocado na parede torácica lateral na altura da
10ª costela, aproximadamente, com o marcador de orientação direcionado para cima, e a
varredura é iniciada, posteriormente, na parte superior do abdômen e progride na direção
cranial até que o diafragma seja visível. Derrame pleural, colapso pulmonar ou atelectasia
podem ser identificados.
Ultrassonografia Focada na Avaliação Cardíaca (FOCUS) – Protocolo FATE e Aplicabilidade na Prática Clínic 57
A avaliação da função sistólica do ventrículo esquerdo que pode ser estimada qualita-
tivamente, é conhecida como eye-balling ou traduzindo: “olhômetro”, sendo bastante útil,
principalmente nas situações em que não há uma janela acústica ecocardiográfica ade-
quada, sobretudo quando há limitação na visualização das bordas endocárdicas. É impor-
tante salientar aqui que está comprovado que, quanto maior for o grau de experiência do
examinador durante uma avaliação subjetiva, maior será a concordância com os métodos
quantitativos, tais como avaliação da função sistólica global do ventrículo esquerdo pelos
métodos de Teicholz e biplanar ou Simpson, os quais não serão abordados neste manual.
Sendo assim, na maioria das vezes, para o manejo adequado de um paciente em cho-
que circulatório na sala de emergência e/ou unidade de terapia intensiva, é fundamental
avaliar a função sistólica global ventricular; e para isso a avaliação de dois componentes
durante a sístole ventricular:
• Presença de encurtamento sistólico.
• Presença de mobilidade das paredes com simétrica em relação à parede contra-lateral
do ventrículo esquerdo.
VE
A despeito de serem parâmetros simples de execução, tanto TAPSE, como onda S´,
utilizam o movimento de apenas um segmento do VD (segmento basal) e por isso ava-
liação semiquantitativa. Se houver um comprometimento mais acentuado médio e apical
essa função provavelmente estará superestimada.
Outro parâmetro é a retificação do septo interventricular avaliada no eixo curto ou
paraesternal transversal. O desvio do septo interventricular em direção ao VE é conse-
quência de sobrecarga sistólica ou diastólica do VD. Quando há retificação do septo por
sobrecarga de pressão (TEP, por exemplo), aparece tipicamente no final da sístole ventri-
cular – VE em formato de “D”. Já quando decorre de sobrecarga de volume (insuficiência
tricúspide, por exemplo), há tipicamente um deslocamento durante a meso e telediastóle.
Em pacientes com hipertensão pulmonar e dilatação importante do VD, a retificação do
septo pode ser vista em ambas fases do ciclo cardíaco.
Uma maneira rápida de se avaliar e quantificar a retificação do septo é pela estima-
tiva da excentricidade do VE, obtida pela relação do diâmetro anteroposterior sobre o
septo-lateral, obtido pelo eixo curto, sendo sinais de sobrecarga quando a relação for
maior que 1.
62 Manual de Ultrassonografia Focada – Ecografia Aplicada na Medicina de Urgência e Emergência
Figura 5.15 – Figura demonstrando pelas setas em vermelho a retificação do septo interven-
tricular secundário a sobrecarga do ventrículo direito.
INVAGINAÇÃO
DA PONTA DO VD
Figura 5.16 – Visualização do ventrículo direito com suas dimensões aumentadas e movimen-
to sistólico apical do VD aumentado e representado na imagem estática por um abaulamento
para seu interior (Sinal de McConnell).
Ultrassonografia Focada na Avaliação Cardíaca (FOCUS) – Protocolo FATE e Aplicabilidade na Prática Clínic 63
Figura 5.18 – Imagem demonstrando a estimativa da pressão sistólica da artéria pulmonar por
meio da equação simplificada de Bernouli.
Figura 5.19 – Figura demonstrando a desembocadura da VCI no átrio direito e a correta posi-
ção para a avaliação de seu diâmetro.
66 Manual de Ultrassonografia Focada – Ecografia Aplicada na Medicina de Urgência e Emergência
Tabela 5.1
Achados ecocardiográficos de derrame pericárdico com repercussão hemodinâmica
Colapso do átrio direito (+ sensível)
Colapso diastólico do ventrículo direito (+ específico)
Variação respiratória acentuadas nas velocidades de fluxo por meio das valvas tricúspide e mitral
Dilatação da veia cava inferior
Compressão atrial e ventricular esquerda
Swinging Heart
Fonte: Adaptado de Santucci M et al. Ecocografia em terapia intensiva e na medicina de urgência, 1º Ed - Rio de
Janeiro: Atheneu, 2019.
Figura 5.20 – Janela paraesternal longitudinal revelando presença de lâmina de derrame peri-
cárdico posteriormente ao ventrículo esquerdo e anteriormente ao ventrículo direito.
o qual ocorre na sístole ventricular, e por isso, chamado de colapso sistólico do AD. O
colapso mais prolongado, o qual tem início no final da sístole atrial e se prolonga por mais
1/3 da sua diástole é altamente sugestivo de repercussão hemodinâmica pelo derrame. Já
o colapso do ventrículo direito (VD) ocorre quando a pressão intrapericárdica vence a
pressão interna do ventrículo direito causando um colapso diastólico do mesmo.
O colapso do AD é um indicador mais sensível de tamponamento, mas, o colapso do
VD é mais específico. Importante não confundir com colapso sistólico do VD, que pode
ocorrer em situações de hipovolemia e estados hiperdinâmicos.
Figura 5.22 – Fluxo pela valva mitral avaliado pelo Doppler pulsátil demonstrando redução >
30% na velocidade durante a inspiração.
Figura 5.23 – Fluxo pela valva tricúspide avaliado pelo Doppler pulsátil demonstrando au-
mento > 40% na velocidade durante a inspiração.
Ultrassonografia Focada na Avaliação Cardíaca (FOCUS) – Protocolo FATE e Aplicabilidade na Prática Clínic 71
VCI
Figura 5.24 – Veia cava inferior ingurgitada e sem variabilidade respiratória – em Pletora.
Figura 5.25 – Imagem de derrame pericárdico volumoso envolvendo toda topografia cardíaca.
72 Manual de Ultrassonografia Focada – Ecografia Aplicada na Medicina de Urgência e Emergência
Tabela 5.2
Colapso inspiratório > 50% < 50% > 50% < 50%
A B
Índice colabamento Diâmetro máximo VCI - Diâmetro mínimo
veia cava inferior (ICVCI %) =
estimar PAD Diâmetro máximo VCI
C
Figura 5.26 – Fórmula para o cálculo do índice da colapsibilidade da veia cava inferior (icVCI).
Fonte: Adaptada de Rev Bras Ter Intensiva. 2009; 21(4):437-445.
Bibliografia
1. Andrus, P.; Dean, A. Focused Cardiac Ultrasound. Global Heart, Volume 8, Issue 4, December
2013, Pages 299-303.
2. Annals of Cardiac Anaesthesia. Focus-Assessed Transthoracic Echocardiography: Implications in
Perioperative and Intensive Care. 2019 Jul-Sep; 22(3): 302–308.
3. Spencer et al. Focused Cardiac Ultrasound: Recommendations from the American Society of
Echocardiography. Journal of the American Society of Echocardiography, June 2013, 26:567-81.
4. A.N. Neskovic et al. Focus cardiac ultrasound: the European Association of Cardiovascular Imaging
viewpoint. European Heart Journal – Cardiovascular Imaging (2014) 15, 956–960.
5. Santucci M et al.Ecocografia em terapia intensiva e na medicina de urgência, 1º ed- Rio de Janei-
ro:Atheneu, 2019.
6. Diretrizes para Avaliação Ecocardiográfica do Coração Direito em Adultos: um Informe da Socie-
dade Americana de Ecocardiografia( J Am Soc Echocardiogr 2015; 23:685-713.).
7. Muller L, Bobbia X, Toumi M, et al. Respiratory variations of inferior vena cava diameter to predict
fluid responsiveness in spontaneously breathing patients with acute circulatory failure: need for a
cautious use. Crit Care. 2012 Oct 8;16(5):R188.
8. Labovitz et al. Focused Cardiac Ultrasound in the Emergent Setting: A Consensus Statement of
the American Society of Echocardiography and American College of Emergency Physicians. Jour-
nal of the American Society of Echocardiography: official publication of the American Society of
Echocardiography 1 December 2010 (volume 23 issue 12 Pages 1225-1230.
6
Ultrassonografia Focada
CAPÍTULO
na Avaliação do Estado de
Choque – Protocolo RUSH
Tabela 6.1
O protocolo RUSH é muito utilizado em vários serviços que realizam o POCUS para
a complementação diagnóstica em emergências pela sua praticidade na abordagem diante
de um quadro de choque circulatório. A seguir as principais janelas acústicas utilizadas
no protocolo (Figura 6.1).
Bibliografia
1. Flato UA, Campos AL, Trindade MR, Guimarães HP, Vieira MLC, Brunori F. Ecocardiografia à
beira do leito em terapia intensiva. Rev Bras Ter Intensiva. 2009; 21(4):437-445.
2. McLean, A.S. Echocardiography in shock management. Crit Care 20, 275 (2016).
3. Perera P et al. The RUSH Exam: Rapid Ultrasound in Shock in the Evaluation of the Critically Ill.
Emerg Med Clin N Am 2010; 28: 29-56.
4. Santucci M et al. Ecocografia em terapia intensiva e na medicina de urgência, 1º Ed - Rio de Ja-
neiro: Atheneu, 2019.
7
Ultrassonografia Focada na
CAPÍTULO
Parada Cardiorrespiratória
(PCR) – Protocolo CASA
De maneira consensual, a utilização do POCUS durante uma PCR deve ser rápida
e objetiva, usualmente durante os períodos de checagem de pulso central, de modo a
nunca prejudicar uma RCP.
Além de avaliar as possíveis causas reversíveis de PCR, o POCUS pode ajudar a dife-
renciar uma atividade elétrica sem pulso (AESP) de uma pseudo-AESP. Nesse cenário,
muitos médicos bem treinados podem ter dificuldades de obter pulso central (carotídeo
ou femoral) e acabam retardando o atendimento; sendo assim, a utilização do POCUS
pode fornecer dados como contratilidade global do VE, demonstrando nesse caso, não se
tratar de AESP e sim de pseudo-AESP (atividade elétrica sem pulso, ausência de pulso
central, porém, com ecocardiograma revelando contratilidade cardíaca).
A AESP verdadeira tem probabilidade de retorno a circulação espontânea com a
RCP em torno de 2%, enquanto a pseudo-AESP, de 52%, o que já justifica a utilização do
ecocardiograma dirigido para tomada de decisões quanto ao momento de interrupção das
manobras de RCP. Nesse contexto é fundamental que seja feito diagnóstico diferencial
das possíveis causas da parada.
O diagnóstico de tamponamento cardíaco, por exemplo, é muito difícil de ser feito em
um cenário de PCR, visto que nesse caso, o POCUS é um exame de extrema relevância,
pois permite visualizar de maneira direta, a presença de derrame pericárdico, que nestse
cenário, leva ao diagnóstico de tamponamento cardíaco.
Outra situação é no tromboembolismo pulmonar maciço. Em um cenário de PCR em
AESP pode-se visualizar dilatação das câmaras direitas e nesse caso, do ventrículo direito
(VD), quando comparado às dimensões do ventrículo esquerdo. Uma relação VD/VE >
0,60 é altamente sugestiva de dilatação do VD.
É importante lembrar que, em pacientes em PCR, caso não seja visualizado dilatação
das câmaras direitas pelo POCUS, é extremamente improvável que a causa da PCR seja
secundária a um quadro de TEP.
Nesse contexto, alguns protocolos de POCUS foram desenvolvidos para serem apli-
cados durante uma PCR, porém, até o momento, muitos deles, como já dito, não modi-
ficaram os desfechos clínicos e até aumentaram o tempo de checagem de pulso, o que é
inadmissível nesse tipo de cenário.
Em 2018, Gardner e colaboradores publicaram o protocolo CASA (Cardiac Arrest
Sonography) visando padronizar uma sequência de avaliação mais simplificada das causas
reversíveis, priorizando RCP de alta qualidade. O mesmo estudo demonstrou uma redu-
ção de 4 segundos na checagem de pulso durante a RCP e uma leve queda, não significa-
tiva em relação ao desfecho clínico duro, da recuperação da circulação espontânea (RCE).
A técnica se baseia resumidamente em três etapas principais e utiliza o transdutor
setorial ou cardíaco com o probe posicionado na janela subxifoide, como mostra a
Figura 7.1.
Ultrassonografia Focada na Parada Cardiorrespiratória (PCR) – Protocolo CAS 81
Derrame pericárdico
3. Cardiac activity?
≤ 10 seconds
O POCUS, no cenário de PCR, deve ser utilizado de maneira padronizada para mi-
nimizar erros e interrupções desnecessárias, visando tanto, o diagnóstico de causas rever-
síveis, quanto a definição prognóstica.
Ainda não há evidências científicas robustas que comprovem sua eficácia em desfe-
chos primários, como mortalidade ou taxa reversão de ritmos não chocáveis, porém, ve-
mos uma tendência crescente de seu uso no atendimento das paradas cardiorrespiratórias.
Bibliografia
1. Gardner KF et al. The Cardiac Arrest Sonographic Assessment (CASA) exam – A standardized
approach to the use of ultrasound in PEA. American Journal of Emergency Medicine.
2. Rebel EM website – acessado em 08/03/2018 http://rebelem.com/rebel-cast-ep57-cardiac-arrest-
-sonographic-assessment-casa-with-lead-author-kevin-gardner-md/.
3. Santucci M et al. Ecocografia em terapia intensiva e na medicina de urgência, 1º Ed - Rio de Ja-
neiro: Atheneu, 2019.
4. Vicki Noble et al. Manual of Emergency and Critical Care Ultrasound, 2º Ed. 2011.
8
Ultrassonografia Focada e
CAPÍTULO
Covid-19 – Como Aplicar Pocus
Nesse Tipo de Cenário?
Neste capítulo, realizaremos uma breve revisão dos principais tópicos a serem uti-
lizados de poin-of-care (POCUS) no Sars-Cov-2 (os detalhes sobre janelas acústicas e
alterações comuns, encontradas em outras patologias, serão apenas citadas, pois já foram
descritas em capítulos anteriores).
Com o advento da atual pandemia do COVID-19, novos desafios foram criados para
a medicina e todo o sistema de saúde; nesse contexto, o POCUS vem sendo uma ferra-
menta amplamente utilizada como exame complementar, por equipes de terapia inten-
siva e emergencistas em prontos-socorros, principalmente devido sua disponibilidade,
praticidade, baixo custo, não ser invasivo e auxiliar no manejo e diagnósticos.
Indicação de POCUS
Para todas as modalidades, devemos sempre questionar se o POCUS irá de fato acres-
centar algo na conduta do seu paciente ou o auxiliará no diagnóstico clínico. Caso a
resposta seja positiva para sua pergunta, o exame deverá ser realizado em 100% dos casos.
Portanto, devemos correlacionar o POCUS com o contexto clínico do paciente, tentando
sempre realizar a melhor imagem e com os possíveis diagnósticos em mente.
Com esse pensamento, podemos pontuar alguns itens nos quais o exame à beira leito
pode nos auxiliar:
• Acometimento pulmonar?
• Veia cava inferior colapsada ou túrgida? Variando ou não? (avaliar pré-carga do ven-
trículo direito).
86 Manual de Ultrassonografia Focada – Ecografia Aplicada na Medicina de Urgência e Emergência
A B
C D
Figura 8.1 – Principais alterações de lesão por COVID-19. A) Irregularidades em linha pleural;
B) Consolidações subpleurais; C) Consolidações translobares; D) Linhas B.
Ultrassonografia Focada e Covid-19 – Como Aplicar Pocus Nesse Tipo de Cenário? 87
Tabela 8.1
Estimativa da pressão do átrio direito (PAD) através do diâmetro da VCI e da sua variabilidade.
Colapso inspiratório > 50% < 50% > 50% < 50%
VD
VD
VCI
COVID-19. Portanto, a tomada de decisão clínica nem sempre é fácil e o POCUS pode
auxiliar nas condutas a serem tomadas de maneira mais assertiva e muitas vezes decisivas.
VE
VD
AD AE
Figura 8.5 – Imagens acima demonstrando as principais janelas acústicas de FOCUS na avalia-
ção de pacientes com COVID-19 não pronados. Imagens abaixo demonstrando os principais
achados de USP nos paciente com COVID-19.
Ultrassonografia Focada e Covid-19 – Como Aplicar Pocus Nesse Tipo de Cenário? 91
O algoritmo (Figura 8.6) mostra uma linha de raciocínio rápida e que irá auxiliar nas
dúvidas diagnósticas.
Paciente com Sars-Cov-2 sendo necessário POCUS para auxílio do manejo e diagnóstico
Hipocinesia difusa?
Disfunção segmentar nova em
Cavidades aumentadas?
ventrículo esquerdo?
Derrame pericárdico?
Miocardite IAM
Bibliografia
1. Wu Z, McGoogan JM. Características e lições importantes do surto da doença coronavírus em
2019 (COVID-19) na China: resumo de um relatório de 72 314 casos do Centro Chinês para
Controle e Prevenção de Doenças. JAMA 2020; doi: 10.1001 / jama.2020.2648.
2. Volpicelli G, Elbarbary M, Blaivas M, Lichtenstein DA, Mathis G, Kirkpatrick AW, et al: Inter-
national evidence-based recommendations for point-of-care lung ultrasound. Intensive Care Med.
2012;38(4):577-91.
3. Neskovic UM, et al. Esse documento foi revisado por membros do Comitê de Documentos Cientí-
ficos da EACVI 2016-2018. Foco no currículo principal de ultrassom cardíaco e currículo básico da
European Association of Cardiovascular Imaging. Eur Heart J Cardiovasc Imaging 2018;19:475-481.
92 Manual de Ultrassonografia Focada – Ecografia Aplicada na Medicina de Urgência e Emergência
4. Cardiovascular Point-of-Care Imaging for the Medical Student and Novice User. American So-
ciety of Echocardiography. https://aseuniversity.org/ase/lessons/47. Accessed: Mar 25, 2020.
5. Ultrasound Machine Cleaning Process for COVID-19. American College of Emergency Physi-
cians. www.acep.org/globalassets/images/acep-us-machine-cleaning-covid-19.pdf. Accessed: Mar
25, 2020.
6. Gibson LE et al. Transthoracic Echocardiography in Prone Patients With Acute Respiratory Dis-
tress Syndrome: A Feasibility Study. Crit Care Expl 2020.
9
CAPÍTULO – EXTRA 1
Ultrassonografia Focada na
Avaliação Hemodinâmica
Básica – Débito Cardíaco e
Fluido-Responsividade
Reiby Caetano Mustafá
Para calcular a AST (vsve) deve-se medir o diâmetro (D) da VSVE na incidência
paraesternal longitudinal, a 1 cm abaixo do anel valvar aórtico.
Uma vez obtida a AST (vsve), calcula-se a medida da VTI, utilizando a curva espec-
tral do Doppler pulsátil do fluxo sanguíneo na VSVE, pela incidência apical 5 câmaras
(5C). Posiciona-se então, a caixa de amostragem do Doppler pulsátil ao nível da VSVE
imediatamente antes da valva aórtica. Ao se ativar o Doppler pulsátil aparece a curva
espectral da velocidade do fluxo sanguíneo ao longo do tempo nesse local, sendo medida
em centímetros.
Um conceito simples para entender melhor a VTI é imaginar que a cada batimento
cardíaco, passará na VSVE um volume de sangue em forma de um cilindro, que repre-
senta o VS. Sendo assim, para se calcular do volume desse cilindro deve-se multiplicar
a área da base pela altura do cilindro. A área da base é a ASTvsve e a altura do cilindro
é a distância que o sangue avança para diante em cada batimento sistólico, sendo essa
distância considerada a VTIvsve.
Em indivíduos normais os diâmetros da VSVE encontram-se entre 1,7 e 2,4 cm.
Resumindo a fórmula do cálculo do DC pelo ecocardiograma:
Usando-se a fórmula
AST = (D)² π/4, ou AST = (D)² 0,785 (mais prático!)
Ultrassonografia Focada na Avaliação Hemodinâmica Básica – Débito Cardíaco e Fluido-Responsividad 95
Figura 9.1 – Estimativa do débito cardíaco (DC), índice cardíaco (IC) e resistência vascular peri-
férica (RVP) através do ecocardiograma.
VolEj = volume sistólico ou ejetado; tsve/2 = diâmetro da VSVE; ITV = ou VTI da VSVE; IC = índice cardíaco; SupCorp = superfí-
cie corpórea; RVP = resistência vascular periférica ou sistêmica; PAM = pressão arterial média; PVC = pressão venosa central.
Fonte: Adaptada de Avaliação hemodinâmica não invasiva por ecocardiograma Doppler/Non-invasive hemodynamic
evaluation by Doppler echocardiography. Gaspar, António et AL. Rev. bras. ter. intensiva 2018.
Figura 9.2 – Demonstração da relação entre pré-carga e débito cardíaco: na fase inicial ou
pré-carga dependente, um aumento da volemia ou retorno venoso tem relação diretamente
proporcional ao aumento do débito cardíaco.
Fonte: https://pebmed.com.br/paciente-hemodinamicamente-instavel-cabe-mais-volume/
Ultrassonografia Focada na Avaliação Hemodinâmica Básica – Débito Cardíaco e Fluido-Responsividad 97
Por meio do POCUS pode-se estimar diretamente diversos parâmetros que refletem
o volume sistólico, porém, é preciso ressaltar que a dependência de pré-carga é um estado
fisiológico, que só deve ser lembrado e pesquisado na vigência de instabilidade hemodi-
nâmica e que os índices aqui descritos não devem ser “normalizados” por si.
Além disso, a maioria das variáveis dinâmicas previsoras de resposta positiva à infu-
são de fluidos foi validada apenas em pacientes ventilados artificialmente, perfeitamente
adaptados ao ventilador. Lembrar que em pacientes intubados, sob ventilação mecânica
controlada, é mais fácil determinar o volume corrente e outros parâmetros, favorecendo a
validação de medidas de variação de VCI.
Existem diversos trabalhos na literatura sobre o tema, o método de avaliação somente
é validado para pacientes que estejam em ventilação mecânica controlada, com perfeita
sincronia paciente-ventilador, com volumes corrente entre 7-10 mL/kg, PEEP ideal-
mente menor que 10 cmH2O, pressão de platô menor que 30 cmH2O, sem presença de
arritmias, disfunção do VD ou hipertensão intra-abdominal.
As maneiras mais estudadas e validadas de avaliação de fluido-responsividade é por
meio da avaliação do débito cardíaco (DC) e do índice de distensibilidade da veia cava
inferior (idVCI).
Diferente da ventilação espontânea, o ventilador oferta uma pressão positiva no tórax
e essa pressão dificulta o retorno venoso, fazendo com que a VCI aumente de volume se
houver ainda complacência venosa para tolerar esse aumento volumétrico. Segundo Bar-
bier, é possível estimar se existe fluido-responsividade calculando-se a diferença entre o
diâmetro máximo (Dmáx) e o diâmetro mínimo (Dmín) da VCI, dividido pelo Dmín no
mesmo ciclo respiratório, já que valores maiores que 18% indicam fluido-responsividade
com (sensibilidade de 90% e especificidade de 90%).
(Dmáx - Dmín)
IDVCI = > 18%
Dmín
Figura 9.3 – Equação sugerida por Barbier para estimar resposta a fluidos.
Fonte: Furtado S. Avaliação da veia cava inferior na decisão de fluidoterapia em cuidados intensivos: implicações práticas
Rev Bras Ter Intensiva. 2019;31(2):240-247.
-Starling, estima-se que essa mobilização momentânea de fluidos seja suficiente para
aumentar o DC. Deve-se tomar muito cuidado em realizar essa manobra em pacientes
com disfunção ventricular grave com suspeita de choque cardiogênico.
A seguir o passo a passo da técnica:
• Deve-se sensibilizar a manobra deixando inicialmente o paciente em decúbito de 45º
e com as pernas estendidas sobre o leito (Figura 9.4A).
• Medir o DC por meio do cálculo da VTI da VSVE
• Abaixar a cabeceira para 0º e elevar os membros inferiores em 45º medindo nova-
mente a VTI em cerca de 1-2 minutos após a manobra (Figura 9.4B).
Um aumento de de 15% do VTI da VSVE ou VS ou DC possui uma capacidade
de prever um incremento no DC de 12%-15% com a infusão de 500 mL de cristaloide
com sensibilidade de 86% e especificidade de 92%.
Figura 9.4 – Demonstração de como realizar a manobra de elevação passiva dos membros
inferiores.
Fonte: Lamia B et al. Echocardiographic prediction of volume responsiveness in critically ill patients with spontaneously
breathing activity. Intensive Care. July 2007, Volume 33, Issue 7, pp 1125-1132 Medicine.
Bibliografia
1. Flato UA, Campos AL, Trindade MR, Guimarães HP, Vieira MLC, Brunori F. Ecocardiografia à
beira do leito em terapia intensiva. Rev Bras Ter Intensiva. 2009; 21(4):437-445.
2. Santucci M et al. Ecocografia em terapia intensiva e na medicina de urgência, 1º Ed - Rio de Ja-
neiro:Atheneu, 2019.
Ultrassonografia Focada na Avaliação Hemodinâmica Básica – Débito Cardíaco e Fluido-Responsividad 99
3. Barbier C, Loubières Y, et al. Respiratory changes in inferior vena cava diameter are helpful in pre-
dicting fluid responsiveness in ventilated septic patients. Intensive Care Med. 2004 Sep;30(9):1740-6.
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10
CAPÍTULO – EXTRA 2
Ultrassom Focado para Guiar
Punção Venosa Central –
Técnica Dinâmica Transversal
Via Jugular Interna
Reiby Caetano Mustafá
O primeiro passo para quem irá realizar a CVC-US é averiguar a melhor região a ser pun-
cionada, isso porque é de conhecimento que, em muitas ocasiões, a posição dos vasos sofre varia-
ções anatômicas e reconhecer essas variações possibilitam minimizar os riscos de complicações.
Nesse tipo de procedimento é recomendado utilizar transdutores lineares – de maior
frequência (7-12MHZ) – pois tem menor poder de penetração e consequentemente me-
nor dispersão sonora, aumentando a resolução da imagem (fundamental para uma maior
definição de imagens superficiais) como os vasos na região de interesse (Figura 10.1).
Figura 10.2 – À esquerda: veia jugular interna (VJI) antes da manobra de colabamento. À direi-
ta: VJI colabada após a manobra compressiva externa. ACI: artéria carótida interna.
Fonte: Emergências Clínicas – Abordagem Prática. Herlon Saraiva Martins et al. 10 ed. Manole 2015.
104 Manual de Ultrassonografia Focada – Ecografia Aplicada na Medicina de Urgência e Emergência
Figura 10.3 – Visualização da veia jugular interna direita com trombo em seu interior.
Fonte: https://doi.org/10.1590/1677-5449.000418
O procedimento
A primeira medida é visualizar o vaso e centralizá-lo com o monitor do US, o máximo
possível, de modo que esteja abaixo do ponto médio do índex do transdutor.
O ângulo entre a agulha e a pele do paciente tem que ser o mais obtuso possível; (±
45º), a fim de permitir a visualização da ponta da agulha perfurando o vaso, exatamente
abaixo do plano de ultrassom (Figura 10.4). Aqui é importante ressaltar que se deve
observar a que profundidade se encontra a veia e, para isso, utiliza-se a régua disposta ao
lado direito do monitor. A distância entre o centro do vaso e a pele deve ser a mesma en-
tre a ponta da agulha e o transdutor (técnica da triangulação) (Figura 10.5). Por exemplo,
caso a veia diste 1.5 cm da pele, a punção deverá ser realizada a 1.5 cm do transdutor.
Quando o operador visualizar a ponta da agulha (geralmente, representada na tela do
aparelho como um ponto hiperecogênico acompanhado por sombra acústica posterior)
perfurando o vaso apropriado deve-se deixar o transdutor de lado para a inserção do fio
guia (Figura 10.6).
106 Manual de Ultrassonografia Focada – Ecografia Aplicada na Medicina de Urgência e Emergência
A2 + B2 = C2 Agulha
Transdutor
A
C
Veia jugular
Artéria
carótida
Figura 10.7 – Plano longitudinal da veia jugular interna extremamente utilizado para verifica-
ção da posição de fio guia e cateter após punção.
Fonte: Rev bras ecocardiogr imagem cardiovasc. 2013;26(3):228-235.
Limitações do método
Apesar de amplamente conhecida e praticada, essa técnica apresenta o viés de não
permitir que seja visualizado a agulha durante todo o trajeto abaixo da pele, o que pode
ocasionar lesões inadvertidas de estruturas adjacentes ao vaso e/ou que estejam em seu
trajeto, sendo possível até transfixar a parede posterior da veia com risco iminente de
puncionar carótida. Para amenizar esses riscos pode-se utilizar a técnica da triangulação,
já descrita anteriormente.
Outras técnicas, como a punção da veia jugular interna, por meio do plano longitudi-
nal e, mais recentemente, oblíquo são descritas na literatura, mas que exigem um maior
treinamento e experiência do operador não sendo, portanto, citadas neste capítulo.
Além das técnicas de CVC da VJI, pode-se também, optar por puncionar a veia sub-
clávia guiada por US, porém, ainda não é uma técnica amplamente difundida nos serviços
de emergência. Em relação à veia femoral, a quantidade de estudos realizados é extrema-
mente menor, do que em relação as descritas na técnica da VJI.
Sendo assim, a CVC -US principalmente pela VJI pela técnica dinâmica transversal
se mostrou extremamente benéfica, de rápido aprendizado, pouco invasiva, com grande
potencial no incremento das taxas de sucesso da punção, em conjunto com a redução dos
riscos iminentes dos procedimentos às cegas, sendo uma realidade amplamente pratica-
das nos hospitais no Brasil e no mundo.
108 Manual de Ultrassonografia Focada – Ecografia Aplicada na Medicina de Urgência e Emergência
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11
CAPÍTULO
Conclusão