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FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E
EDAFOLOGIA

Belo Horizonte - MG
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FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

Sumário
1 A CIÊNCIA DO SOLO E SUA IMPORTANCIA PARA A GEOGRAFIA .... 5
1.1 Conceito de Solo ..................................................................................... 7
1.2 Funções do solo em nosso ambiente ...................................................... 8
1.3 Solo como meio para nutrição das plantas ............................................. 9
2 ESTUDOS E FATORES DA FORMAÇÃO DO SOLO ............................. 9
3 FATORES PARA A FORMAÇÃO DOS SOLOS .................................... 11
3.1 O clima na formação do solo ................................................................. 12
3.2 O relevo na formação do solo ............................................................... 12
3.3 Os organismos na formação do solo ..................................................... 13
3.4 O tempo na formação do clima ............................................................. 13
3.5 Processo de formação do ..................................................................... 14
Solo Adições ............................................................................................ 14
Perdas ..................................................................................................... 14
Transformações ....................................................................................... 14
Transportes ............................................................................................. 14
3.6 Formação do perfil do solo .................................................................... 15
3.7 Estrutura do Solo................................................................................... 15
3.8 Porosidade do Solo ............................................................................... 16
3.9 Fluxo de energia e massa e formação do solo ..................................... 16
4 GÊNESE ................................................................................................ 17
4.1 Intemperismo e composição do solo ..................................................... 17
4.2 Intemperismo Físico .............................................................................. 18
4.3 Intemperismo química ........................................................................... 19
4.4 Controles do intemperismo ................................................................... 19
5 MORFOLOGIA DO SOLO ..................................................................... 20
5.1 Perfil dos solos e horizontes ................................................................. 21
5.2 Espessura e transição entre horizontes ................................................ 21
5.3 Perfil do solo.......................................................................................... 22
5.4 Textura do Solo ..................................................................................... 22
5.5 Estrutura do Solo................................................................................... 22
5.6 Cor do solo ............................................................................................ 23
5.7 Consistência do Solo............................................................................. 23
5.8 Porosidade do solo................................................................................ 24
5.9 Levantamento de solos ......................................................................... 24
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6 CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS NO BRASIL ........................................ 25


6.1 Cambissolos .......................................................................................... 26
6.2 Latossolos ............................................................................................. 27
6.3 Argissolos .............................................................................................. 28
Argissolos de textura arenosa/média ....................................................... 29
Argissolos de textura média/argilosa e argilosa ...................................... 29
6.4 Chernossolos ........................................................................................ 29
6.5 Espodossolos ........................................................................................ 30
6.6 Gleissolos .............................................................................................. 30
6.7 Luvissolos ............................................................................................. 31
6.8 Neossolos ............................................................................................. 31
6.9 Nitossolos.............................................................................................. 31
6.10 Platossolos .......................................................................................... 32
6.11 Plintossolos ......................................................................................... 32
6.12 Organossolos ...................................................................................... 33
6.13 Vertissolos ........................................................................................... 33
7 MANEJO DO SOLO .............................................................................. 34
7.1 Manejo correto no preparo do solo........................................................ 34
7.2 Conceito de erosão ............................................................................... 35
7.3 Importância ........................................................................................... 36
7.4 Formas de erosão hídrica ..................................................................... 36
7.5 Queimadas na Agricultura ..................................................................... 37
7.6 Desmatamento ...................................................................................... 38
7.7 Uso inadequado de fertilizantes ............................................................ 38
8 MONOFATURA ..................................................................................... 39
8.1 Como é feita a monocultura? ................................................................ 39
8.2 Principais características da monocultura ............................................. 39
8.3 Consequências da monocultura ............................................................ 39
9 SALIZINAÇÃO ....................................................................................... 40
9.1 Uso excessivo de Agrotóxicos............................................................... 41
Consequências ........................................................................................ 41
10 COMPACTAÇÃO DO SOLO ..................................................................... 42
10.1 Causas da Compactação do Solo ....................................................... 43
10.2 Fatores envolvidos na Compactação do Solo ..................................... 44
10.3 Técnicas para diminuir a compactação do solo................................... 44
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10.4 Desertificação...................................................................................... 45
10.5 Práticas conservacionistas .................................................................. 46
11 PLANTIO DIRETO ..................................................................................... 46
12 CULTIVO CONSORCIADO ....................................................................... 48
12.1 Proteção do solo com filme plástico .................................................... 49
12.2 Cobertura morta na Agricultura ........................................................... 49
12.3 Acidez do solo e colagem ................................................................... 50
13 REFERÊNCIAS ......................................................................................... 51
Bibliografia básicas ..................................................................................... 51
Bibliografia complementar ....................................................................... 51

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1 A CIÊNCIA DO SOLO E SUA IMPORTANCIA PARA A GEOGRAFIA

O solo é o componente fundamental dos ecossistemas terrestres, afetando o


balanço de energia, o ciclo da água, a ciclagem de nutrientes e a produtividade de
cada ecossistema. Solos são corpos naturais, ocupando porções na superfície
terrestre, suportando plantas e as edificações do homem e que apresentam
propriedades resultantes da atuação integrada do clima e dos organismos, atuando
sobre o material de origem, condicionado pelo relevo, durante um período de tempo.
Além da produção de alimentos, o solo tem grande importância ecológica e ambiental.
A sobrevivência do homem na Terra depende, em boa medida, da sua capacidade em
harmonizar produção agrosilvo pastoril com preservação ecológica e ambiental.
A terra é muitas coisas para muitas pessoas. O seu uso é repartido por vários
tipos de interesses e a gestão desse mesmo uso está geralmente na mão de
interesses políticos, os quais, deveriam ser sempre aconselhados por técnicos. A(s)
Ciência(s) do Solo têm tipicamente um carácter pluridisciplinar. Entre essas ciências
são tradicionalmente relevantes a Física, Química, Biologia e Mineralogia do Solo.
São igualmente importante áreas mais aplicadas como a Mecânica do Solo,
Fertilidade do Solo e Nutrição Vegetal, Conservação do Solo e da Água ou Solos, e
Geomedicina.
A Ciência do Solo desenvolveu-se através da contribuição de profissionais das
mais diversas áreas (Química, Física, Geologia, Biologia, Geografia, Agronomia e
outras). Mas em função da grande ênfase no estudo do solo para a produção de
alimentos, ela passou quase que integralmente ao âmbito das instituições de ensino
e pesquisa ligadas ao desenvolvimento agrícola. Como ciência, entretanto, o
conhecimento e o estudo do solo transcendem o modelo agrícola, sendo de
importância à todas as atividades humanas. Além de ser um meio insubstituível para
a agricultura, o solo é também um componente vital de processos e ciclos ecológicos,
é um depósito para acomodar os nossos resíduos, é um melhorador da qualidade da
água, é um meio para a recuperação biológica, é um suporte das infraestruturas
urbanas e é um meio onde os arqueólogos e pedólogos leem a nossa história cultural
(Miller, 1993). Entre os diversos conceitos de solo destacamos os seguintes:
• o solo como meio para o desenvolvimento das plantas: Este é o
conceito mais antigo de solo, provavelmente desenvolvido a partir do
momento em que a humanidade passou a cultivar plantas para sua
subsistência. Evidências arqueológicas indicam o início da agricultura
há cerca de 7000 anos AC na Mesopotâmia e há 6500 anos AP no
México. Neste contexto, o objetivo final do solo é a produção de
alimentos e fibras, o que geralmente é desenvolvido nas instituições
de ensino e pesquisa agrícola.
• o solo como regolito: O solo compreende a porção superior da crosta
terrestre (litosfera), mais precisamente a porção superior do regolito. O
regolito é o material solto, constituído de rocha alterada e solo, que
ocorre acima da rocha consolidada. A rocha alterada constitui o
material de origem do solo. Daí se origina a designação do solo
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conforme a rocha que lhe deu origem: solo de granito, solo de basalto,
solo de arenito, etc. O solo é visualizado como sinônimo de regolito ou
rocha alterada pela maioria dos geólogos e engenheiros civis, sendo
caracterizado de acordo com sua adequação ou não para mineração,
material de construção ou suporte para edificações.
• o solo como corpo natural organizado: O reconhecimento de que o solo
não é apenas o resultado da alteração das rochas, mas sim o produto
das interações entre a Litosfera, atmosfera, hidrosfera e a biosfera
(Figura 1.2), surgiu no final do século XIX, através dos estudos do
geólogo russo V.V. Dokuchaev (1846-1903), e pode ser resumido na
seguinte equação:
S = f (mo, cl, r, o, t) a qual expressa "o solo (S) como função das
interações entre os fatores ambientais material de origem (mo), clima
(cl), relevo (r), organismos vivos (o), atuando ao longo do tempo (t)".
Neste contexto, os solos são corpos naturais com características
próprias desenvolvidas durante seu processo de formação, o qual é
condicionado pelos fatores ambientais. Essas características podem
ser visualizadas no perfil de solo, que consiste numa seção vertical que
se estende da superfície até uma determinada profundidade do solo.
Ao conjunto de fatores ambientais naturais (mo, cl, r, o) deve ser
acrescentada a ação humana como fator: antropogênico (a) atuante na
alteração, degradação e construção do solo. Isto significa que qualquer
material (natural ou artificial), depositado pela ação humana (por
exemplo, um aterro), que seja capaz de suportar o desenvolvimento de
plantas, também é considerado como solo. As inúmeras possibilidades
combinatórias dos fatores ambientais (mo, cl, r, o) implicam numa
grande diversidade de tipos de solos. Daí a necessidade de agrupá-los
em um sistema de classificação, que possibilite sua identificação no
terreno e o mapeamento da sua distribuição geográfica. O conceito de
solo como corpo natural organizado tem uma importância prática muito
grande, pois estabelece relações entre os fatores ambientais e os
diferentes tipos de solos, o que permite mapear a sua distribuição
geográfica, avaliar o potencial de uso das terras para diversos fins e
predizer os efeitos da intervenção humana.
o solo como sistema aberto: O compartimento terrestre onde se dão as
interações entre o solo, os organismos que nele vivem, o relevo, a
atmosfera, a hidrosfera e a litosfera é definido como geoecossistema.
De acordo com a concepção holística (do Grego, holos = totalidade),
um sistema consiste num todo organizado, constituído por um conjunto
de componentes interdependentes que atuam integradamente, de
maneira que a alteração de um componente afeta os demais. Ou seja,
a maneira como as partes estão integradas no todo é mais importante
do que as partes isoladas. Geoecossistemas e solos são sistemas
abertos, porque trocam energia e matéria com sua circunvizinhança.
No solo, fluxos de matéria e energia são continuamente transferidos
entre minerais, plantas, microrganismos, compostos orgânicos e o
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ambiente externo (Figura 1.3). Isto significa que o solo é um sistema


dinâmico, constantemente perturbado por forças internas e externas.
Ocorrem adições (energia, partículas sólidas, água, O2, MO, sais,
etc.), remoções (energia, partículas sólidas, água, nutrientes, etc.),
transferências (água, nutrientes, minerais, etc.) e transformações
(minerais, MO, etc.). Como sistema aberto, o solo é umcorpo natural
que se organiza dissipando entropia para o ambiente circunvizinho.1

O solo é um componente fundamental do ecossistema terrestre pois, além de


ser a base de sustentação utilizado pelas plantas para o seu crescimento e
disseminação, fornecendo água, ar e nutrientes, exerce, também, multiplicidade de
funções como regulação da distribuição, escoamento e infiltração da água da chuva e
de irrigação, armazenamento e ciclagem de nutrientes para as plantas e outros
elementos, ação filtrante e protetora da qualidade da água e do ar.
Como recurso natural dinâmico, o solo é passível de ser degradado em função
do uso inadequado pelo homem, condição em que o desempenho de suas funções
básicas fica severamente prejudicado, o que acarreta interferências negativas no
equilíbrio ambiental, diminuindo drasticamente a qualidade vida nos ecossistemas,
principalmente naqueles que sofrem mais diretamente a interferência humana como
os sistemas agrícolas e urbanos.
O estudo científico do solo, a aquisição e disseminação de informações do
papel que o mesmo exerce na natureza e sua importância na vida do homem, são
condições primordiais para sua proteção e conservação, e uma garantia da
manutenção de meio ambiente sadio e autossustentável. A população em geral
desconhece a importância do solo, o que contribui para ampliar processos que levam
à sua alteração e degradação.

1.1 Conceito de Solo

O termo solo origina-se do Latim solum = suporte, superfície, base. A


concepção de solo depende do conhecimento adquirido a seu respeito, de acordo
com o modelo conceptual que ele representa nas diferentes atividades humanas.
Para Lepsch (2002) solo pode ser definido como uma massa natural, que
compõe a superfície da terra e dá suporte ao desenvolvimento de plantas, contém
matéria viva e é resultante da ação do clima e da biosfera sobre a rocha, cuja
transformação em solo se realiza durante certo tempo e é influenciada pelo tipo de
relevo.
A primeira associação que muitas pessoas farão quando se fala em solo, será
ao desconforto de ter que limpar a lama ou “terra” dos sapatos para entrar em casa,
ou no carro, depois de fazer uma caminhada por um terreno “não devidamente”

1
Texto extraído dehttps://chasqueweb.ufrgs.br/~elviogiasson/SOL00200%20-
%20G%C3%AAnese%20e%20Classifica%C3%A7%C3%A3o%20dos%20Solos/Textos/Apostila-
_Genese_e_Classificacao_do_Solo_graduacao.pdf.
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alcatroado ou cimentado. Outros, poderão estabelecer a associação com o mais


mediático conceito de ‘política de solos’, ou seja, com as regras (ou interesses) que
definem onde se pode acabar com o inconveniente de ter “terra” agarrada aos
sapatos, normalmente acabando com o solo.

Fonte:www4.esalq.usp.br/node/101615

Numa perspectiva geológica, ao falar de solo, poderemos pensar no conceito


de rególito, o manto de alteração existente à superfície da terra resultante do
processo de meteorização das rochas. De facto, no máximo, o solo pode corresponder
à totalidade do rególito, mas em muitos locais é apenas a parte superficial dele.
Solo, também chamado terra, tem grande importância na vida de todos os seres
vivos do nosso planeta, assim como o ar, a água, o fogo e o vento. É do solo que
retiramos parte dos nossos alimentos e que sobre ele, na maioria das vezes,
construímos as nossas casas.
Num sentido mais estrito o solo pode ser entendido como “material não
consolidado, mineral ou orgânico, existente à superfície da terra e que serve de meio
natural para o crescimento das plantas”.
O solo serve para dar sustentação às plantas, age como armazenador de água
e é um filtro natural de poluentes, além de ser um meio de vida para o homem, onde
são produzidos os alimentos, constroem-se casas, estradas, enfim, é a base de
sustentação da vida.

1.2 Funções do solo em nosso ambiente

Os solos têm cinco papéis básicos ou funções no nosso ambiente. Primeiro, o


solo sustenta o crescimento das plantas, principalmente fornecendo suporte
mecânico, água e nutrientes para as raízes que posteriormente distribuem para a
planta inteira e são essenciais para sua existência. As características dos solos podem
determinar os tipos de vegetação ou de plantas que neles se desenvolvem, sua

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produtividade e, de maneira indireta, determinam o número e tipos de animais


(incluindo pessoas) que podem ser sustentados por essa vegetação.
Em segundo lugar, as características dos solos determinam o destino da água
na superfície da terra, essencial para a sobrevivência. A perda de água, sua utilização,
contaminação e purificação são todas afetadas pelo solo. Se pensarmos que grande
parte da água doce existente no planeta (rios, lagos e aquíferos) ou já escorreu na
superfície do solo ou viajou através dele, percebemos a importância dos solos na
distribuição, manutenção e qualidade da água dos nossos reservatórios naturais e
para a manutenção da vida na terra. As terríveis e devastadoras enchentes, comuns
nos grandes centros urbanos, são consequências da impermeabilização dos seus
solos, favorecendo o escorrimento na superfície e acúmulo de grandes quantidades
de água após uma chuva pesada.
Em terceiro lugar, o solo desempenha um papel essencial na reciclagem de
nutrientes e destino que se dá aos corpos de animais (incluindo o homem) e restos de
plantas que morreram na superfície da terra. Se esses corpos e resíduos não tivessem
sido assimilados pelo solo, reincorporados e convertidos em matéria orgânica ou
húmus do solo (reciclagem), plantas e animais teriam esgotado seus alimentos anos
atrás.
Em quarto lugar, o solo é o hábitat, a casa de muitos organismos. Um punhado
de solo pode conter bilhões de organismos vivos e mortos, que influenciam as
características do solo, como a porosidade, que é responsável pelo movimento e
manutenção de água e ar no solo. Também os organismos são de alguma forma
influenciados por essas características do solo.
Em quinto lugar, os solos não fornecem apenas o material (tijolos, madeira)
para a construção de nossas casas e edifícios, mas proporcionam a fundação, a base
para todas as estradas, aeroportos, casas e edifícios que construímos. 2

1.3 Solo como meio para nutrição das plantas

A função do solo está relacionada com a sua capacidade em nutrir as plantas.


Aristóteles considerava o solo em relação à nutrição das plantas, ou seja, a
qualificação das terras segundo sua produtividade. Os avanços dos conhecimentos
de química e fisiologia vegetal levaram Liebig a propor, em 1843, a teoria segundo a
qual as plantas necessitavam elementos químicos, que eram absorvidos juntamente
com a água. Esse conceito deu origem à área de conhecimento de fertilidade do solo
e nutrição de plantas.

2 ESTUDOS E FATORES DA FORMAÇÃO DO SOLO

2
Texto extraído de https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/94212/1/Ecossistema-
cap3C.pdf
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O solo é um sistema dinâmico e complexo. Constitui o substrato que abriga


diversas formas de vida, ocasionadas por um processo gradual de evolução que
acompanha as transformações geoambientais.
Tais modificações processam-se por mecanismos naturais de intemperismo
físico e químico, desencadeadas há aproximadamente 4,5 bilhões de anos, com o
surgimento do planeta Terra. Esses fatores que produzem as alterações na superfície
da crosta terrestre são chamados de agentes de meteorização, responsáveis pela
desintegração e decomposição das rochas submetidas ao transporte, sedimentação
e compactação de partículas que compõem o perfil de horizonte do solo.
Cada nível estratigráfico possui características distintas, diferenciando-se por
aspectos dimensionais e estruturais através do padrão granulométrico, composição
mineralógica, hidratação e coesão, conferida por substâncias húmicas provenientes
de restos de vegetais e animais.
Essa harmonia vigorou até o surgimento dos humanos modernos, principiando
a progressiva exploração dos recursos naturais em detrimento da manutenção do
equilíbrio ambiental. Tal comportamento pode ser observado por meio da mudança do
hábito nômade pelo sedentário, que desenvolve um sistema de produção primitiva,
com mecanismos e técnicas que atendam às necessidades de consumo dos grupos,
em progressiva densidade demográfica.
O aumento da população ao longo da História exigiu áreas cada vez maiores
para a produção de alimentos e técnicas de cultivo que aumentassem a produtividade
da terra. Hoje, vemos que quanto mais rápido o desenvolvimento tecnológico, maior
o ritmo de alterações provocadas no meio, em especial no solo, fonte de matéria
prima.
A falta de preocupação com o solo ocorre principalmente devido a conceitos e
pontos de vista diversos em relação a esse importante produto da natureza. O
proprietário comum de uma casa emite conceitos sobre solos. O conceito é favorável
quando diz “o terreno é bom e poroso ou de boa textura”. O ponto de vista é o oposto
quando o terreno está associado em “argila pura”, que resiste à preparação de uma
boa sementeira para ajardinamento. O construtor pode se dar conta das variações do
solo, especialmente daquelas relacionadas com a sua viscosidade ou tendência de
aderir às solas dos sapatos e eventualmente aos tapetes.
As rochas que se dispõem em camadas, respondem ao intemperismo de forma
diferente para cada camada, resultando numa alteração diferencial. O material
decomposto pode ser transportado pela água, pelo vento, etc.
Os solos são misturas complexas de materiais inorgânicos e resíduos
orgânicos parcialmente decompostos. Para o homem em geral, a formação do solo é
um dos mais importantes produtos do intemperismo. Os solos diferem grandemente
de área para área, não só em quantidade (espessura de camada), mais também
qualitativamente.
O solo é formado, num processo contínuo, pela desagregação e decomposição
das rochas. Quando expostas à atmosfera, as rochas sofrem a ação direta do calor
do Sol e da água da chuva, entre outros fatores, que modificam seus aspectos físicos
e a composição química dos minerais que as compõem. Em outras palavras, sofrem
a ação do intemperismo físico e químico.
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Os agentes de intemperismo estão continuamente em atividade, alterando os


solos e transformando as partículas em outras cada vez menores. O solo propriamente
dito é a parte superior do manto de intemperismo, assim, as partículas diminuem de
tamanho conforme se aproximam da superfície.
O processo de formação dos solos é chamado de pedogênese e ocorre
principalmente em razão da ação do intemperismo (desagregação e a decomposição
das rochas). Sendo assim, é importante observar que as características dos solos,
como tempo de constituição, sua estrutura e sua profundidade estão relacionadas com
os elementos influentes nesse processo, chamados de fatores de formação dos solos.

3 FATORES PARA A FORMAÇÃO DOS SOLOS

Os solos são formados pela decomposição da rocha. Como existem diferentes


tipos de rochas na crosta terrestre, é fácil entender por que existem diferentes tipos
de solos. No entanto, existem outros fatores de formação dos solos, além da rocha,
que são responsáveis pelos diferentes tipos de solos que vemos hoje nos locais por
onde passamos.
O solo é formado a partir da rocha (material duro que também conhecemos
como pedra), através da participação dos elementos do clima (chuva, gelo, vento e
temperatura), que com o tempo, e a ajuda dos organismos vivos (fungos, liquens e
outros) vão transformando as rochas, diminuindo o seu tamanho, até transformá-la em
um material mais ou menos solto e macio, também chamado de parte mineral.
O relevo, com suas diferentes formas, proporciona desigual distribuição de
água da chuva, de luz e calor além de favorecer ou não os processos de erosão.
Dependendo do tipo de relevo (plano, inclinado ou abaciado), a água da chuva pode
entrar no solo (infiltração), escoar pela superfície (ocasionando erosão) ou se
acumular (formando banhados).
A chuva, a princípio, é igual em uma área relativamente pequena, mas as
diferenças da topografia facilitam o acúmulo de água em áreas mais baixas e
côncavas.
As vertentes mais expostas à luz do sol tornam-se mais quentes e secas que
outras faces menos iluminadas, que, no Hemisfério Sul, volta-se predominantemente
para a direção sul.
O tempo, período de exposição da superfície terrestre às condições da
atmosfera, é um fator que determina, por exemplo, a profundidade dos solos. Solos
jovens são normalmente mais rasos que os velhos. Para a formação do solo, é
necessário determinado tempo para atuação dos processos que levam à sua
formação. O tempo que um solo leva para se formar depende do tipo de rocha, do
clima e do relevo. Solos desenvolvidos a partir de rochas mais fáceis de ser
intemperizadas formam-se mais rapidamente, em comparação com aqueles cujo
material de origem é uma rocha de difícil alteração.

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A medida em que o tempo passa, vai sendo acrescentado ao solo jovem restos
de plantas e animais mortos. Estes restos, também chamados matéria orgânica.

3.1 O clima na formação do solo

O clima constitui um dos mais ativos e importantes fatores de formação do solo.


De seus elementos, destacam-se, em nosso país, pela ação direta na
pedogênese:
a) a temperatura;
b) a precipitação pluvial;
c) a deficiência e o excedente hídrico.

A latitude influi diretamente nos regimes térmicos regionais. É muito importante


no desenvolvimento dos solos, pois a velocidade das reações químicas que neles se
processam é (+) e diretamente proporcional ao aumento da temperatura.
Além da temperatura, a quantidade de água de chuva que atinja a superfície,
nela penetre, seja mantida ou percole, é fator igualmente importante no processo de
formação do solo.
Regiões com farta disponibilidade de água excedente apresentam,
normalmente, solos mais evoluídos do que regiões secas.
O enorme volume de água que percola através dos solos nas regiões úmidas
promove a hidratação de constituintes e favorece a remoção dos cátions liberados dos
minerais pela hidrólise, acelerando as transformações de constituintes e,
consequentemente, o processo evolutivo do solo.

3.2 O relevo na formação do solo

A ação do relevo reflete diretamente sobre a dinâmica da água, tanto no


sentido vertical (infiltração) como lateral (escorrimentos superficiais – enxurradas –
e dentro do perfil); e indiretamente sobre o clima dos solos (temperatura e umidade),
através da incidência diferenciada da radiação solar, do decréscimo da temperatura
com o aumento das altitudes, e sobre os seres vivos – os tipos de vegetação natural
importantes na formação dos solos.
Dependendo do tipo de relevo (plano, inclinado ou abaciado), a água da
chuva pode entrar no solo (infiltração), escoar pela superfície (ocasionando erosão)
ou se acumular (formando banhados).
A água que cai sobre um terreno e não evapora tem apenas dois caminhos:
ou penetra no solo ou escorre pela superfície.

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Geralmente, segue concomitantemente ambos os caminhos, com maior ou


menor participação de um ou outro, dependendo das condições do relevo
(declividade e comprimento da vertente); da cobertura vegetal; e de fatores
intrínsecos do solo.
Os solos de relevo íngreme são submetidos ao rejuvenescimento, através
dos processos erosivos naturais e, em geral, apresentam clima mais seco do que
aqueles de relevo mais suaves.
Os solos rasos e pouco profundos das vertentes declivosas são
naturalmente coabitados por matas mais secas do que as dos terrenos contíguos
menos íngremes.
Disso resultam solos menos profundos e evoluídos do que os situados em
condições de relevo mais suave, onde as condições hídricas determinam ambiente
úmido mais duradouro.

3.3 Os organismos na formação do solo

Os organismos – microflora e macroflora, microfauna e macrofauna – pelas


suas manifestações de vida, quer na superfície quer no interior dos solos, atuam como
agentes de sua formação.
Os organismos que vivem no solo (vegetais, minhocas, insetos, fungos,
bactérias, etc.) exercem papel muito importante na sua formação, visto que, além de
seus corpos serem fonte de matéria orgânica, atuam também na transformação dos
constituintes orgânicos e minerais.
Os fungos e as bactérias realizam o ataque microbiano, transformando a
matéria orgânica fresca em húmus, o qual apresenta grande capacidade de retenção
de água e nutrientes, o que é muito importante para o desenvolvimento das plantas
que habitam o solo. Maiores detalhes são encontrados nos capítulos sobre biologia e
composição do solo.

3.4 O tempo na formação do clima

Dos fatores de formação, o tempo é o mais passivo: não adiciona, não exporta
material nem gera energia que possa acelerar os fenômenos de intemperismo
mecânico e químico, necessário à formação de um solo.
Para a formação do solo, é necessário determinado tempo para atuação dos
processos que levam à sua formação. O tempo que um solo leva para se formar
depende do tipo de rocha, do clima e do relevo. Solos desenvolvidos a partir de rochas
mais fáceis de ser intemperizadas formam-se mais rapidamente, em comparação com
aqueles cujo material de origem é uma rocha de difícil alteração. Por exemplo, os
solos derivados de quartzito (rocha rica em quartzo) demoram mais tempo para se

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formarem do que os solos originados de diabásio (rocha rica em ferro), por ser o
mineral quartzo muito resistente ao intemperismo (alteração).
Percebe-se, ainda, que os solos mais velhos têm maior quantidade de argila
que os jovens, isto porque, no transcorrer do tempo de formação, os minerais
primários, herdados da rocha e que fazem parte das frações mais grosseiras do solo
(areia e silte), vão-se transformando em argila (fração mais fina do solo).

3.5 Processo de formação do

Solo Adições
Tudo que é incorporado ao solo em desenvolvimento é considerado como
adição. O principal constituinte adicionado é a matéria orgânica proveniente da morte
dos organismos que vivem no solo, principalmente a vegetação. Por serem ricos no
elemento carbono, esses compostos orgânicos imprimem cores escuras à porção
superior do solo.

Perdas
A água da chuva solubiliza os minerais do solo os quais liberam elementos
químicos (principalmente cálcio, magnésio, potássio e sódio) que são levados para as
águas subterrâneas. Esse é um processo de perda denominado lixiviação. Em regiões
com pouca chuva, as perdas desses elementos químicos são menos intensas,
comparativamente àquelas com maior precipitação. Essas perdas por lixiviação
explicam a ocorrência de solos muito pobres (baixa fertilidade) mesmo sendo
originados a partir de rochas que contêm grande quantidade de elementos nutrientes
de plantas.

Transformações
As transformações ocorridas durante todos os estádios de desenvolvimento
dos solos são mais intensas em regiões úmidas e quentes (zonas tropicais). A água é
necessária para hidratar e dissolver minerais, processo que é acelerado em
temperaturas mais elevadas. Na porção tropical úmida do Brasil, ocorrem solos
considerados muito velhos e intemperizados por terem sido submetidos durante muito
tempo a esses processos de transformação e perda, sendo, como resultado, muito
profundos e muito pobres em nutrientes.

Transportes
Em decorrência da ação da gravidade e da evapotranspiração (perda de água
das plantas e do solo pela ação do calor), pode ocorrer translocação de materiais
orgânicos e minerais dentro do próprio solo. Essa movimentação pode se dar nos
dois sentidos, ou, seja, de cima para baixo ou de baixo para cima. Em condições de
clima com poucas chuvas, elementos químicos, como, por exemplo, o sódio, podem
ser levados em solução para a superfície do solo e depositados na forma de sal. Em
climas úmidos, ácidos orgânicos e partículas minerais de tamanho reduzido (argila)
podem ser transportados pela água para os horizontes mais profundos do solo.

14
FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

3.6 Formação do perfil do solo

À medida que se intemperiza, a rocha vai desagregando e ficando mais porosa,


passando a reter água e elementos químicos (cálcio, magnésio, potássio, sódio, ferro,
etc.) e oferecendo condições de colonização por organismos pioneiros, como musgos,
liquens, algas, etc. Com o passar do tempo, o tempo solo vai ficando mais espesso,
permitindo a instalação de plantas de maior porte. Ao morrerem, esses organismos
fornecem matéria orgânica (adição), adição que passa a ser incorporada
continuamente ao solo, além de fornecer ácidos orgânicos, que aceleram o
intemperismo.
Os minerais primários (oriundos da rocha) sofrem transformações,
transformações alterando-se química e fisicamente e dando origem a novos minerais
(minerais secundários), tais como: minerais silicatados e óxidos de ferro e
alumínio. Abaixo da camada superficial mais escura do solo, a rocha continua se
intemperizando e apresenta coloração vermelha graças à presença do ferro. Parte dos
nutrientes (cálcio, magnésio, potássio, etc.), liberados desses minerais, também são
"lavados" do solo (perdas). Pela ação da gravidade, partículas de argila suspensas
em água e compostos orgânicos podem deslocar-se pelos poros do solo,
possibilitando algum acúmulo em profundidade (transporte descendente). Em climas
secos, alguns sais são trazidos à superfície do solo (transporte ascendente), graças à
evaporação da água.

3.7 Estrutura do Solo

O conjunto de agregados do solo (que popularmente poderia ser chamado de


“torrões do solo”), em seu estado natural, forma a estrutura do solo. Estes
agregados possuem tamanho e formato variados e nada mais são que o agrupamento
das partículas primárias, ou seja, areia, silte, argila e outros componentes como a
matéria orgânica.
Estes grupamentos formam as partículas secundárias ou agregados. Os tipos
de estrutura dos tipos de estrutura solo são as formas que as estruturas assumem no
solo. São quatro os principais tipos de estrutura do solo:
a) em forma de esferoide: granular; grumosa (este tipo de estrutura
normalmente favorece a ocorrência de muitos poros, sendo mais comum no
horizonte
A);
b) em forma de bloco (é muito comum no horizonte B);
c) em forma de prisma: prismático e colunar; d) em forma de placa:
laminar... No solo, ocorre um processo semelhante, visto que as partículas do solo
(areia, silte, argila) formam uma estrutura (granular, blocos, prismática, laminar), que
permite a existência de espaços vazios (poros do solo), nos quais se encontra a

15
FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

fração líquida do solo (solução do solo) e a fração gasosa do solo. Quando há


estrutura, as partículas individuais (areia, silte, argila) estão unidas, dificultando a
perda do solo pela erosão hídrica ou eólica (ver o capítulo sobre conservação do
solo).

3.8 Porosidade do Solo

A porosidade dos solos é importante para o armazenamento e movimento da


solução do solo (fase líquida) e do ar do solo (fase gasosa) e para o desenvolvimento
das raízes das plantas. Deve ser claramente indicado aos alunos que as raízes
crescem ocupando o espaço poroso do solo, e não “comendo” a fração sólida
(minerais e matéria orgânica).
A porosidade do solo é fator importante na aeração, garantindo um fluxo de
entrada de oxigênio e saída do gás carbônico e outros gases produzidos pelas raízes
e microrganismos.
Em solos alagados, praticamente todos os poros são ocupados pela água, e
em solos completamente secos, os poros são ocupados pelo ar.3

3.9 Fluxo de energia e massa e formação do solo

O solo é um sistema aberto, que troca matéria e energia (oxigênio, gás


carbônico, água, vapor, metano, outros gases) com a atmosfera. Materiais solúveis
(nitrato, matéria orgânica solúvel) são lixiviados do corpo do solo. Processos físicos,
químicos e biológicos no solo resultam numa distribuição desuniforme de materiais
nos horizontes e solos. Erosão, transporte e deposição de materiais causam
redistribuição de partículas na paisagem. Esses mecanismos operam numa escala de
tempo de centenas, milhares ou milhões de anos.
Processos similares àqueles operam numa escala de tempo bem menor, como
durante um ano agrícola. A atividade agrícola manipula fluxos de energia, dinâmica
de nutrientes e ciclo hidrológico nos agros ecossistemas. Grandes perturbações do
solo incluem o preparo do solo, o manejo de resíduos, a fertilização, o cultivo, o
controle de plantas espontâneas e a irrigação. Processos como evaporação,
transpiração, decomposição de materiais orgânicos, ciclagem de nutrientes,
translocações e transformações ocorrem em todos os solos. Todos esses processos
afetam a estrutura ecológica e a funcionalidade dos agros ecossistemas e seu
entendimento contribui para o manejo mais adequado dos sistemas (Juma, 1999). Os
solos sempre estarão sujeitos à ação do homem. 4

3
Texto extraído http://www.escola.agrarias.ufpr.br/arquivospdf/livro.pdf
4
Texto extraído de http://www.gpcs.com.br/file/222078/apostila-completa-de-genese-e-propriedades-
do- solo.pdf
16
FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

4 GÊNESE

Ao longo da história da humanidade, o homem sempre conviveu intimamente


com o solo. Inicialmente, colhendo da terra seus produtos através do extrativismo e,
com o passar dos tempos, aprendendo a cultivá-lo, cada vez mais racionalmente, para
a produção de bens de consumo; a utilizá-lo como matéria-prima na fabricação de
cerâmica e vidraria e como material de construção e substrato para obras de
engenharia civil e sanitária.
Os solos podem ser definidos como uma “coleção de corpos naturais,
constituídos por partes sólidas, líquidas e gasosas, tridimensionais, dinâmicos,
formados por materiais minerais e orgânicos que ocupam a maior parte do manto
superficial das extensões continentais do planeta, contém matéria viva e podem ser
vegetados na natureza onde ocorrem e, eventualmente, terem sido modificados por
interferências antrópicas” (EMBRAPA, 2006, p.31).
Na transformação de um material original em um solo, ocorrem modificações
morfológicas, químicas, físicas e mineralógicas. Estas modificações resultam da
atuação do intemperismo e dos processos de formação do solo, também denominados
processos pedogenéticos. A ação dos processos pedogenéticos é condicionada pelos
fatores ambientais denominados de fatores pedogenéticos, que compreendem o
material de origem, o clima, o relevo, os organismos vivos, além do tempo de atuação
dos processos pedogenéticos.
A intensidade da intemperização varia de acordo com as condições de
equilíbrio prevalecentes nas diferentes regiões do globo terrestre. Este equilíbrio
depende da constituição mineralógica do material de origem e das condições
ambientais (representada pelos demais fatores pedogenéticos) que regulam a ação
dos processos pedogenéticos.

4.1 Intemperismo e composição do solo

O intemperismo desagrega os minerais das rochas e os fragmenta, além de


modificar sua composição, decompondo os minerais mais frágeis e formando novos
minerais. As transformações podem ser apenas físicas (intemperismo físico), apenas
químicas (intemperismo químico), e também podem combinar as duas variedades,
com ou sem a contribuição dos seres vivos (intemperismo físico-biológico ou químico-
biológico).
Os processos intempéricos são a quebra das rochas, e o seu deslocamento é
dado pela erosão. Com isso, todos os produtos do intemperismo podem vir a formar
os solos.
O intemperismo é o conjunto de modificações de ordens física (desagregação)
e química (decomposição) que as rochas sofrem ao aflorarem na superfície da Terra.

17
FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

Os produtos do intemperismo (rocha alterada e solo) estão sujeitos a outros


processos, como erosão/transporte e sedimentação, os quais acabam levando à
denudação continental, com o consequente aplainamento.
Os fatores que controlam a ação do intemperismo são:
• clima – que se expressa na variação sazonal da temperatura e na
distribuição das chuvas;
• relevo – que influência no regime de infiltração e drenagem das águas
pluviais;
• flora e a fauna – que fornecem matéria orgânica (M.O.) para reações
químicas e remobilizam materiais;
• rocha – que, segundo sua natureza, apresenta resistência diferenciada
aos processos de alteração intempérica;
• tempo – que a rocha fica exposta aos agentes intempéricos.

Os processos intempéricos atuam através de mecanismos modificadores das


propriedades físicas dos minerais e rochas (morfologia, resistência, textura etc.) e de
suas características químicas (composição química e estrutura cristalina).
Em função dos mecanismos predominantes de atuação, são normalmente
classificados em intemperismo físico ou intemperismo químico.
O intemperismo pode ser físico, isto é, as rochas são fragmentadas ou
desintegradas por processos físicos; ou, pode ser químico, isto é, os constituintes da
rocha sofrem reações químicas que os decompõem.
O intemperismo físico consiste na fragmentação das rochas sem mudança
significativa na composição química.
O intemperismo químico consiste no conjunto de reações que alteram
quimicamente (transformação, dissolução/neoformação) a estrutura dos minerais que
compõem a rocha, formando novos minerais.

4.2 Intemperismo Físico

O intemperismo é físico quando as rochas sofrem desintegração por ação


mecânica. Uma estrutura rochosa exposta a variação de temperatura – calor e frio –
sofrerá expansão e retração nos seus constituintes minerais. Após um período relativo
de exposição, começará a desagregação da rocha.
As transformações simplesmente mecânicas (fragmentação das rochas e dos
grãos minerais) são denominadas intemperismo físico e ocorrem basicamente por
adaptações a variações de temperatura e de pressão. Entre os mecanismos mais
comuns de intemperismo físico está a variação diuturna e sazonal da temperatura,
que provoca contração e expansão diferencial dos grãos; essa variação provoca
tensões entre os grãos, que acabam por se descolar e se fragmentar, transformando
a rocha dura num conjunto de grãos desagregados e fraturados, ou seja,
transformando um material coeso num material friável.
Exemplos de Intemperismos Físicos:
• variação de temperatura ao longo dos dias e noites;
18
FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

• mudança cíclica de umidade. Por exemplo: desertos;


• congelamento da água nas fissuras das rochas;
cristalização de sais nas fissuras das rochas.

4.3 Intemperismo química

Todos os mecanismos descritos de fragmentação e desagregação do


intemperismo físico concorrem para a entrada da água da chuva na rocha; a presença
da água no estado líquido, em contato com as rochas promove reações químicas, a
cujo conjunto se dá o nome de intemperismo químico.
Assim, em contato com a água da chuva, considerada neste contexto como
uma “solução de alteração” ou “de intemperismo”, carregada de substâncias
dissolvidas ao longo de sua trajetória pela atmosfera e pelo contato com a biosfera,
os minerais das rochas duras (minerais primários) sofrem reações químicas diversas,
que dependem dos reagentes (minerais originais da rocha e soluções de alteração) e
das condições em que as reações se processam (clima, relevo, presença de
organismos e tempo). O resultado das reações será o conjunto de minerais
secundários (ou supérgenos, pois são gerados na superfície), que constituem as
formações superficiais.
O intemperismo é químico quando a desagregação das rochas ocorre por
reações químicas, o que altera suas estruturas e provoca modificações nos seus
constituintes minerais. A água é o seu principal agente, pois penetra por capilaridade
nas rochas e reage com os componentes da estrutura mineral. Por isso, afirma-se que
as regiões sujeitas a grande pluviosidade estão mais expostas ao intemperismo
químico, como é o caso das regiões tropicais do planeta.

4.4 Controles do intemperismo

O clima e relevo, por determinarem os produtos formados nas reações


químicas do intemperismo, como foi visto no item anterior, são chamados de controles
do intemperismo, assim como, o material original (ou seja, o tipo de rocha), a
vegetação (cujo papel é fundamental na produção de ácidos orgânicos da
decomposição de suas diversas partes) e o tempo.
O clima é o fator preponderante, já que, havendo tempo suficiente, diferentes
tipos de rochas podem dar origem a um mesmo produto supérgeno se submetidos a
climas semelhantes. Isto ocorre, pois, os elementos químicos principais são
basicamente os mesmos para as rochas mais comuns (Si, Fe, Al, Ca, Mg, Na e K,
além do O). Como esses elementos têm comportamentos característicos, se houver
tempo para que os processos ocorram, somente aqueles elementos químicos com
características de menor mobilidade ficarão no local, formando minerais

19
FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

característicos, e permitindo, então, que alteritas e solos formados a partir de rochas


diferentes (mas silicáticas, como a imensa maioria), mas num mesmo tipo de clima,
sejam semelhantes em composição, não sendo possível determinar a rocha original
com facilidade.
Dois outros controles determinantes do intemperismo são o tempo e o material
original. O tempo age permitindo que o progresso do intemperismo aprofunde os perfis
e que os materiais intemperizados evoluam, em sua organização, rumo à adaptação
às condições de superfície.
A influência do material original estende-se não apenas à composição das
rochas em vias de intemperismo, mas também à sua textura e estrutura. Quanto à
composição das rochas, deve ser levado em conta que os minerais respondem de
maneira diversa à alteração intempérica, sendo uns minerais mais frágeis que outros
perante esse processo natural. Os minerais formados em temperaturas e pressões
maiores serão os primeiros a serem desestabilizados, como, por exemplo, olivina,
plagioclásio cálcico, piroxênio, que cristalizam no ambiente magmático a temperaturas
próximas ou maiores que 1.000° C. Já os minerais formados a temperaturas menores
têm arranjo cristaloquímico mais resistente às condições de superfície.
Além disso, o arranjo original dos grãos pode determinar características de
porosidade e permeabilidade, que podem acelerar ou retardar as reações, lembrando
que porosidade é o conjunto de vazios num sólido, numa rocha neste caso, e que
permeabilidade é a comunicação entre os poros, permitindo a circulação de fluidos.

5 MORFOLOGIA DO SOLO

Morfologia é o estudo das formas de um objeto ou de um corpo natural. Na


Ciência do Solo seu objetivo é a descrição, através de metodologia padronizada, da
aparência que o solo apresenta no campo, segundo características visíveis a olho nú,
ou perceptíveis por manipulação. A descrição morfológica do solo é o primeiro passo
para a identificação e a caracterização do mesmo, constituindo pressuposto
fundamental para estudos de gênese, levantamento, classificação e planejamento do
uso dos solos.
Quando se fala em morfologia do solo, essa se refere à descrição das
características do solo diagnosticadas geralmente em um perfil de solo. A morfologia
do solo é avaliada através da descrição detalhada e padronizada do solo em seu meio
e em condições naturais, sendo a unidade de estudo denominada perfil do solo ou
pedon.
No perfil do solo faz-se a descrição das características internas do solo, como
espessura, cor, textura, estrutura, consistência, porosidade, transição e horizontes,
presença de raízes e demais características, além de características ambientais do
local onde ocorre o perfil.
Às vezes, a distinção dos horizontes não é clara, podendo existir horizontes
com características intermediárias entre dois horizontes principais. Um solo pode ter

20
FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

apenas um horizonte sobre a rocha ou ter inúmeros horizontes. Isso vai depender do
tipo e do grau de desenvolvimento do solo.
São partes de um perfil do solo, mais ou menos paralelas à superfície do
terreno, resultando da atuação dos processos pedogenéticos.
Os horizontes são geneticamente relacionados entre si dentro de um perfil e
indicam modificações dominantes a partir do material de origem do solo.

5.1 Perfil dos solos e horizontes

A Pedologia é a ciência que estuda o solo, mas para fazer isso utiliza o perfil
do solo, que é uma pequena porção da superfície da terra que possui horizontes ou
camadas.
Esses horizontes e camadas são nomeados com letras, nesse caso podemos
dividir aproximadamente os horizontes e camadas do perfil assim
O horizonte A possui cor mais escura, pois existe mais matéria orgânica que
são os restos animais e vegetais decompostos. Porém o horizonte A não é um solo
orgânico, pois predomina matéria mineral em sua composição.
O horizonte B normalmente tem cor avermelhada ou amarelada (existem
exceções), devido a presença de ferro. Observe um prego enferrujado: o prego
também tem ferro e quando está enferrujado apresenta cor avermelhada ou
amarelada. Nem sempre o solo tem horizonte B. Solos muito jovens não tem horizonte
B, tendo somente o horizonte A sobre o horizonte C ou o horizonte A sobre a rocha
(camada R).
O horizonte C possui cores variadas, isso porque o material de origem, a rocha,
possui essa coloração. Abaixo do horizonte C existe a rocha (camada R) que deu
origem a esse solo.

5.2 Espessura e transição entre horizontes

A espessura e a profundidade dos horizontes são determinadas com fita


métrica colocada em posição vertical, ajustando-se o zero com a superfície do solo,
quando o mesmo não tiver horizontes orgânicos, ou com a transição entre os
horizontes orgânicos e os minerais. A espessura dos horizontes minerais é medida de
cima para baixo, enquanto que as espessuras dos horizontes orgânicos são medidas
de baixo para cima, a partir do contato do horizonte orgânico com o mineral. As
características morfológicas, que definem um horizonte de um solo, podem não mudar
abruptamente nas linhas traçadas para separá-lo de horizontes adjacentes.
Normalmente estas mudanças se fazem em faixas de espessura variáve1 nas quais
as características morfológicas graduam de um horizonte para outro. Esta faixa é
utilizada para determinar a transição entre os horizontes. Na determinação da
transição, utilizam-se dados de espessura ou nitidez da faixa e a topografia da mesma.
21
FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

5.3 Perfil do solo

Perfil do solo é uma seção vertical, através do solo, englobando a sucessão de


horizontes ou de camadas transformados pelos processos pedogenéticos e o manto
superficial de resíduos orgânicos; assim como também é a seção vertical do solo
encontrado no terreno que revela a presença de horizontes ou camadas, na posição
predominantemente horizontal, mais ou menos distintos.
Horizontes são seções horizontais isoladas encontradas no perfil do solo que
sofreram a pedogênese. Esses horizontes superpostos ao material originário recebem
o nome de solum, do latim solo.
Determinado solo é conhecido através da individualização de seus horizontes
e/ou camadas. É discriminado dos demais, segundo a sequência e a natureza de seus
horizontes, organização dos constituintes e manifestação de atributos decorrentes.
Em campo, os horizontes são identificados pela constatação de atributos
morfológicos.

5.4 Textura do Solo

O conhecimento das proporções dos diferentes tamanhos de partículas em um


solo (ou seja, a textura do solo) é importante para o entendimento do comportamento
e manejo do solo. Durante a classificação do solo em um determinado local, a textura
dos diferentes horizontes é, em muitas vezes, a primeira e mais importante
propriedade a ser determinada e, portanto, a partir desta informação, um cientista do
solo pode tirar muitas conclusões importantes. Além disso, a textura de um solo não
é prontamente sujeita a mudanças, por isso é considerada uma propriedade básica
do solo.
Desagregando uma porção de solo seco na palma da mão, pode-se observar
que ele é composto por partículas sólidas de diferentes tamanhos. A Proporção
relativa destas partículas com diversos tamanhos que compõem a massa do solo
denomina-se textura do solo. Quanto ao tamanho, estas partículas são agrupadas
entre limites definidos de diâmetro, formando as frações texturais ou granulométricas,
denominadas areia, silte e argila

5.5 Estrutura do Solo

Em condições naturais, na maioria dos solos, as partículas sólidas (areia, silte


argila e matéria orgânica) estão ligadas entre si formando agregados. As forças que
tendem a manter estas partículas ligadas entre si, dentro de um mesmo agregado,
são mais intensas do que as forças de ligação entre agregados adjacentes, definindo,
assim, planos de fraqueza onde os agregados podem ser separados. O conjunto
22
FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

destes agregados forma a estrutura do solo. Agregados naturais individuais também


são denominados peds, ou unidades estruturais.
A estrutura do solo é uma característica morfológica que varia de um solo para
outro e também entre os horizontes de um mesmo solo, constituindo um critério usado
para separação de horizontes do perfil do solo. Para a descrição da estrutura são
levados em conta o grau de desenvolvimento das unidades estruturais, a classe e o
tipo de estrutura.
O grau expressa a intensidade das ligações dentro e entre os agregados e é
determinado pela nitidez com a qual os agregados se apresentam no perfil e pela
resistência que oferecem à desagregação quando são removidos e manipulados. A
classe refere-se ao tamanho dos agregados. O tipo refere-se a forma dos agregados.

5.6 Cor do solo

A cor é uma característica morfológica de fácil visualização e identificação. A


importância da cor do solo está ligada à inferência sobre a ocorrência de processos
pedogenéticos ou à avaliação de características importantes no solo. Além disso, os
sistemas de classificação de solos consideram a cor para distinção de classes.
Uma análise superficial poderia considerar que a cor do solo apresenta pouca
relevância do ponto de vista prático. As plantas, de modo geral, não terão seu
desenvolvimento afetado exclusivamente pela cor do solo, embora os solos mais
escuros possam se aquecer mais rapidamente, favorecendo o desenvolvimento das
raízes em regiões mais frias.
A cor tem grande importância no momento de diferenciar os horizontes dentro
de um perfil e auxiliar a classificação dos solos.

5.7 Consistência do Solo

Entende-se por consistência a influência que as forças de coesão e de adesão


exercem sobre os constituintes do solo, de acordo com suas variáveis estadas de
umidade. A força de coesão refere-se à atração de partículas sólidas por partículas
sólidas. A força de coesão refere-se à atração das moléculas de água pela superfície
das partículas sólidas. Aspectos práticos da consistência, que são facilmente
observados pelos alunos, são a dureza que certos solos apresentam quando secos,
ou a pegajosidade que alguns apresentam quando molhados. A consistência pode
variar ao longo do perfil do solo, nos seus diferentes horizontes.
A resistência do solo à desagregação e à moldagem e sua tendência a aderir a
outros objetos correspondem à consistência do solo. Ela é condicionada pelas forças
de coesão e adesão que atuam na massa do solo, em diversos teores de umidade.
A força de coesão resulta da atração de partículas da mesma fase. Por
exemplo: atração entre si de partículas de argila. A força de adesão resulta da atração

23
FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

de moléculas de água por superfícies sólidas do solo. Ambas as forças variam com o
teor de água do solo. A manifestação e intensidade destas forças determinam as
diferentes formas de consistência, cujo grau de intensidade é descrito quando o solo
está seco, úmido e molhado.
A consistência é determinada em três estados de umidade:
a) em solo seco, avaliando-se a dureza, estimada pela resistência do torrão
seco à ruptura ou fragmentação, quando comprimido;
b) em solo úmido, avaliando-se a friabilidade, a qual é estimada quando o
solo está úmido e consiste em comprimir um torrão, fragmentando-o e,
posteriormente, tentar reconstruí-lo por nova compressão;
c) em solo molhado, avaliando-se a plasticidade e a pegajosidade, em que a
plasticidade se refere à moldabilidade do solo e é feita pela formação de
um fino cilindro de solo e posterior tentativa de formar um círculo com o
cilindro, enquanto a pegajosidade é estimada pela sensação de aderência
que o solo produz entre os dedos.

5.8 Porosidade do solo

A porosidade dos solos é importante para o armazenamento e movimento da


solução do solo (fase líquida) e do ar do solo (fase gasosa) e para o desenvolvimento
das raízes das plantas. Deve ser claramente indicado aos alunos que as raízes
crescem ocupando o espaço poroso do solo, e não “comendo” a fração sólida
(minerais e matéria orgânica).
A porosidade do solo é fator importante na aeração, garantindo um fluxo de
entrada de oxigênio e saída do gás carbônico e outros gases produzidos pelas raízes
e microrganismos. Em solos alagados, praticamente todos os poros são ocupados
pela água, e em solos completamente secos, os poros são ocupados pelo ar.
A compactação do solo apresenta, como efeito direto, a redução dos poros,
principalmente daqueles maiores, responsáveis pela infiltração de água e penetração
de oxigênio. A compactação pode ser causada pelo tráfego de máquinas e animais
sobre o solo. Um exemplo típico de compactação são as ruas de terra (urbanas ou
rurais), as quais apresentam elevada compactação, não permitindo a infiltração da
água da chuva e favorecendo o escorrimento.5

5.9 Levantamento de solos

O levantamento de solos consiste na identificação e no mapeamento dos solos


de uma área, na análise e interpretação dos dados referentes às suas características,

5
http://www.escola.agrarias.ufpr.br/arquivospdf/livro.pdf
24
FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

na sua classificação conforme um sistema taxonômico e na confecção de um relatório


que compreende um texto descritivo e um mapa de solos.
O seu objetivo é disponibilizar informações sobre as características e a
distribuição dos solos de uma área. O levantamento de solos é produzido para atender
à uma determinada finalidade ou à um conjunto de finalidades, como por exemplo:
a) equacionamento de problemas agrícolas regionais ou locais;
b) planejamento de propriedades rurais;
c) planejamento de programas de reflorestamento, colonização e
desenvolvimento, irrigação e drenagem, taxação de impostos, avaliação
ambiental e outros;
d) confecção de mapas interpretativos para objetivos específicos: aptidão
para culturas específicas, programas conservacionistas, descarte de
resíduos, urbanização, localização de estradas, reservas ambientais e
outros.
e) ensino, pesquisa e extensão agrícola.
Dependendo da finalidade para o qual foi produzido, o levantamento de solos
terá diferentes características. Assim, por exemplo, o planejamento de uma
propriedade rural exige um levantamento mais detalhado de solos, enquanto que um
planejamento regional pode ser efetuado com base em mapas mais genéricos de
solos. Portanto, para um uso mais eficiente das informações contidas nos relatórios é
necessário conhecer a finalidade para a qual o levantamento foi produzido (veja
adiante: tipos de levantamentos de solos). 6

6 CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS NO BRASIL 7

Desde 1999 está disponível o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos


(SiBCS) (SANTOS et al., 2013a), no qual os solos são agrupados em categorias,
segundo propriedades em comum, e recebem denominações próprias e condizentes
com o estágio atual do conhecimento científico. No SiBCS, os solos são classificados
com base em propriedades que resultam dos processos de gênese do solo, ou seja,
do modo como foram formados.
No Brasil há grande diversidade dos fatores de formação dos solos (material de
origem, clima, relevo, organismos vivos e tempo cronológico), de modo que isto se
reflete também em grande variedade dos processos que irão originar os solos em
nosso território.

6
https://www.cpt.com.br/noticias/levantamento-das-caracteristicas-do-solo-planejamento-estrategico-
propriedades-rurais
7
https://www.embrapa.br/solos/sibcs/classificacao-de-solos/ordens/vertissolos
25
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Este sistema é dividido em 13 ordens: Argissolos, Cambissolos, Chernossolos,


Espodossolos, Gleissolos, Latossolos, Luvissolos, Neossolos, Nitossolos,
Planossolos, Plintos solos, Organossolos e Verti solos
As classes que possuem maior ocorrência no Brasil são os Latossolos e
Argissolos, seguidos pelos Neossolos, Plintos solos, Cambissolos e Gleissolos.
Algumas classes de solos possuem menor ocorrência no Brasil, como é o caso
dos Luvissolos, Espodossolos, Planossolos, Nitossolos, Chernossolos, verti solos e
Organossolos. Porém não significa que não sejam importantes. Os Luvissolos, por
exemplo, são muito relevantes na região semiárida brasileira. Os Nitossolos são muito
comuns nas áreas de solos formados de basaltos no centro-sul do Brasil. Os
Planossolos são abundantes no Pantanal, em áreas do semiárido e nas regiões
produtoras de arroz irrigado do Rio Grande do Sul. Já os solos com elevada
concentração de matéria orgânica, denominados de Organossolos, são muito raros
no Brasil, pois os climas predominantes no país não favorecem a acumulação da
matéria orgânica.
A maioria dos solos do Brasil são de baixa fertilidade, tendo como uma das
principais razões as condições de clima tropical, de elevada pluviosidade e
temperaturas altas, agentes aceleradores do “envelhecimento” dos solos. Desde os
seus primórdios têm sido relegados à Silvicultura os solos menos férteis e geralmente,
de grande susceptibilidade à erosão. Podem ser colocadas como razões, o menor
valor econômico de aquisição desses solos, aliado a suposições técnicas de que as
essências florestais possuem pequenas exigências nutricionais, bem inferior à das
culturas agrícolas, por conseguinte, com bom desenvolvimento em solos pouco
férteis.

6.1 Cambissolos

São solos pouco desenvolvidos, com horizonte B do tipo incipiente ou câmbico


(em formação), nos quais, os processos genéticos não se aprofundaram
suficientemente para produzir um horizonte B com estrutura, cor e outras propriedades
desenvolvidas que caracterizam um horizonte diagnóstico das outras classes de
solos. Na Região Semiárida, esses processos ainda não destruíram as principais
reservas minerais oriundas do material de origem, o que permite uma distinção dos
Latos solos, pois estes não apresentam materiais primários na massa do solo. Quanto
a textura, são solos que não apresentam variações de textura entre o horizonte A e o
B, característica esta, que permite uma distinção com a classe dos Argissolos. Quanto
a profundidade, encontramos desde solos rasos até profundos. A textura dos
Cambissolos varia de média a argilosa.
Os Cambissolos da área de estudo estão situados em relevo ondulado.
Apresentam restrições ao uso agrícola, pois possuem elevada erodibilidade, forte
risco de degradação, forte limitação à trafegabilidade, à qual é aumentada com a
pedregosidade e afloramentos de rocha. São solos pobres em nutrientes e ácidos,
apresentando elevados teores de alumínio trocável, condição difícil de ser corrigida

26
FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

pelas limitações de trafegabilidade. É comum a presença de solos apresentando


horizonte Cr (saprolito) constituído por rocha parcialmente intemperizada a
profundidades inferiores a 1,5m. Geralmente, tais saprolitos apresentam significativo
estádio de intemperismo, sendo, portanto, de consistência branda, não oferecendo
limitações ao sistema radicular das plantas. Devido aos solos serem relativamente
pouco evoluídos, os Cambissolos apresentam, em geral, significativos teores de
minerais primários facilmente intemperizáveis, os quais podem constituir apreciável
reserva de nutrientes para as plantas, particularmente deK+lábil.8

6.2 Latossolos

Fonte: www.rascunhosoumapas.blogspot.com

São solos geralmente profundos (1 a 2 m) ou muito profundos (mais de 2 m),


bastante intemperizados (velhos e alterados em relação à rocha) e normalmente de
baixa fertilidade. Ocupam, usualmente, relevos mais planos. De maneira geral, são
muito porosos, permeáveis, com boa drenagem (não tem problemas de excesso de
água). As cores são muito variadas (vermelho, amarelo, vermelho amarelado, etc.).
É a uma classe de solo encontrada principalmente nas áreas mais planas e
bem drenadas (sem excesso de água), distribuídos em todos os estados do país. De
acordo com Santos et al. (2011), são predominantes em 31,6 % das unidades de
mapeamento no Mapa de Solos do Brasil, sendo o principal solo existente no país.
Porém, paradoxalmente, é raramente citado nos livros didáticos da educação básica.
Seus atributos físicos, tais como 12 boa profundidade, relevo quase plano,
ausência de pedras, grande porosidade, boa drenagem e permeabilidade fazem com
que sejam os mais utilizados na produção rural. Embora geralmente sejam de baixa
fertilidade química, as práticas de adubação e correção do solo, realizadas pelos
produtores rurais, os tornam mais produtivos.

8
Texto extraído de https://pt.scribd.com/doc/96945551/O-Cambissolo-e-um-solo-pouco-desenvolvido
27
FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

O relevo plano e os atributos físicos adequados já destacados anteriormente


determinam que os Latossolos apresentem usualmente alta estabilidade, baixo risco
de erosão (exceto aqueles com maior teor de areia). Por isso, tem boa capacidade
para suportar estradas, ferrovias, aeroportos, indústrias, habitações, etc., além de ser
usualmente favorável para instalação aterros sanitários. Por este motivo, muitas áreas
de Latossolos, previamente existentes nas proximidades das áreas urbanas, foram e
estão sendo incorporadas à malha urbana e/ou áreas industriais dos municípios
brasileiros. Os Latossolos que apresentam maior teor de areia (embora não cheguem
a ser arenosos), no entanto, são mais susceptíveis à erosão.

6.3 Argissolos

O segundo tipo de solo mais comum no Brasil são os Argissolos, ocupando


cerca de 19,98% do território brasileiro. Este tipo de solo está bem distribuído no
Brasil, com uma leve predominância na região Norte. São solos constituídos por
material mineral, onde a principal característica é um horizonte de solo B textural, o
qual ocorre após algum horizonte superficial. Este tipo de solo apresenta um
incremento de argila em profundidade, justamente pela perda de argila na parte mais
superficial dele.
Apresentam acúmulo de argila no horizonte B, ou seja, o horizonte mais
superficial do solo possui mais areia que o horizonte subsuperficial. As cores são muito
variáveis, podem ser amarelos, cinzentos, vermelhos, vermelho amarelados, etc.
Normalmente ocupam relevos moderadamente declivosos, e são distribuídos
em todos os estados do país. De acordo com Santos et al. (2011), são predominantes
em 26,9 % das unidades de mapeamento no Mapa de Solos do
Brasil.
Normalmente apresentam reduzida capacidade de reter nutrientes para as
plantas, e maior risco de erosão, devido ao menor teor de argila.
São solos bastante susceptíveis à erosão, principalmente em relevos mais
declivosos.
Argissolos são solos minerais com nítida diferenciação entre as camadas ou
horizontes, reconhecida em campo especialmente pelo aumento, por vezes abrupto,
nos teores de argila em profundidade. Podem ser arenosos, de textura média ou
argilosos no horizonte mais superficial. E apresentam cor mais forte (amarelada,
brunada ou avermelhada), maior coesão e maior plasticidade e pegajosidade em
profundidade, devido ao maior teor de argila. A fertilidade dos Argissolos é variável,
dependente principalmente de seu material de origem. Sua retenção de água é maior
nos horizontes abaixo da superfície (subsuperficiais), que podem se constituir em um
reservatório de água para as plantas.
Entre os Argissolos destacamos os de textura arenosa/média e os de textura
média/argilosa e argilosa.

28
FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

Argissolos de textura arenosa/média


Os Argissolos Vermelhos e Vermelho-Amarelos de textura arenosa/média são
encontrados em todo o estado de São Paulo, desenvolvidos de materiais de origem
diversos, exceto de rochas básicas e de rochas sedimentares finas (e.g. folhelhos).
Suportando originalmente vegetação de florestas e ocorrendo em condições de relevo
desde relativamente suavizado a mais ondulado, por sua natureza pouco coesa em
superfície e menor permeabilidade nos horizontes subsuperficiais, apresentam
elevada susceptibilidade à erosão, o que exige práticas intensivas de controle de
erosão quando sob manejo agrícola. Sua fertilidade química é predominantemente
baixa, podendo ser pouco mais elevada nestes solos quando desenvolvidos dos
arenitos com contribuição carbonática no oeste do estado.

Argissolos de textura média/argilosa e argilosa


Argissolos de textura média/argilosa e argilosa são desenvolvidos mais
frequentemente de rochas ígneas e metamórficas, quando no Planalto Atlântico, ou
de rochas sedimentares finas (pelitos) em outras regiões. Originalmente suportando
florestas, as condições de relevo em que ocorrem são bastante variáveis. Apesar da
elevada capacidade de água disponível, esses solos podem apresentar limitações
ligeiras sob o aspecto físico relacionadas à pouca profundidade e presença de
cascalhos ou calhaus em superfície, especialmente naqueles de relevo mais
íngreme do Planalto Atlântico. Por serem mais argilosos e, quando de perfil menos
desenvolvido (pouco profundos), com maior reserva de minerais, os Argissolos de
textura argilosa possuem características mais favoráveis à exploração agrícola que
aqueles de textura média.9

6.4 Chernossolos

Solos constituídos por material mineral que tem como características


diferenciais: alta saturação por bases e horizonte A chernozêmico sobrejacente a
horizonte B textural ou B incipiente com argila de atividade alta, ou sobre horizonte
C carbonático ou horizonte cálcico, ou ainda sobre a rocha, quando o horizonte A
apresentar concentração de carbonato de cálcio. O horizonte A chernozêmico pode
ser menos espesso (com 10 cm ou mais) de espessura quando seguido de horizonte
B com caráter ebânico.

9
Texto extraído de http://www.iac.sp.gov.br/solossp/pdf/Argissolos.pdf
29
FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

6.5 Espodossolos

Solos constituídos por material mineral com horizonte B espódico subjacente a


horizonte eluvial E (álbico ou não), ou subjacente a horizonte A, que pode ser de
qualquer tipo, ou ainda, subjacente a horizonte hístico com espessura insuficiente para
definir a classe dos Organossolos. Apresentam, usualmente, sequência de horizontes
A, E, B espódico, C, com nítida diferenciação de horizontes.

6.6 Gleissolos

Fonte: www.embrapa.br/solos/sibcs/solos-do-brasil

Solos hidro mórficos, constituídos por material mineral, que apresentam


horizonte glei dentro de 150cm da superfície do solo, imediatamente abaixo de
horizontes A ou E (com ou sem gleização), ou de horizonte hístico com espessura
insuficiente para definir a classe dos Organossolos; não apresentam textura
exclusivamente areia ou areia franca em todos os horizontes dentro dos primeiros
150cm da superfície do solo ou até um contato lítico, tampouco horizonte vértico, ou
horizonte B textural com mudança textural abrupta acima ou coincidente com
horizonte glei ou qualquer outro tipo de horizonte B diagnóstico acima do horizonte
glei. Horizonte plíntico, se presente, deve estar a profundidade superior a 200cm da
superfície do solo.

30
FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

6.7 Luvissolos

São solos constituídos por material mineral, apresentando horizonte B textural


com argila de atividade alta e saturação por bases alta na maior parte dos primeiros
100 cm do horizonte B (inclusive BA), imediatamente abaixo de qualquer tipo de
horizonte A (exceto A chernozêmico) ou sob horizonte E, e satisfazendo o seguinte
requisito: Horizontes plíntico, vértico e plânico, se presentes, não satisfazem os
critérios para Plintossolos, Vertisolos e Planossolos, respectivamente, ou seja, não
são coincidentes com a parte superficial do horizonte B textural.
Símbolo T
Algumas características dos Luvissolos:
• solos rasos
• cores vivas e argila de atividade alta
• pouco espesso,
• maciço ou com estrutura fracamente desenvolvida
• moderadamente ácido a neutros, com elevada saturação por bases
• altos teores de silte
• Rico em potássio.

6.8 Neossolos

Neossolos são solos pouco evoluídos constituídos por material mineral ou por
material orgânico com menos de 20 cm de espessura, não apresentando qualquer tipo
de horizonte B diagnóstico. Horizontes glei, plíntico, vértico e A chernozêmico, quando
presentes, não ocorrem em condição diagnóstica para as classes Gleissolos,
Plintossolos, Vertissolos e Chernossolos, respectivamente.
Neossolos são solos com pequeno desenvolvimento pedogenético,
caracterizado ou por pequena profundidade (rasos) ou por predomínio de areias
quartzosas ou pela presença de camadas distinta herdadas dos materiais
de origem. Símbolo: R

6.9 Nitossolos

Nitossolos são solos constituídos por material mineral, com 350 g kg-1 ou mais
de argila, inclusive no horizonte A que apresentam horizonte B nítico abaixo do
horizonte A. O horizonte B nítico apresenta argila de atividade baixa ou atividade alta

31
FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

conjugada com caráter alumínico, ambos na maior parte dos primeiros 100 cm do
horizonte B (inclusive BA).
A policromia (variação de cor dentro de 150 cm a partir da superfície do solo),
conforme descrita abaixo, deve ser utilizada como critério adicional na distinção entre
Nitossolos e Argissolos Vermelhos ou Vermelho-Amarelos nas situações em que
forem coincidentes as demais características.
Os Nitossolos praticamente não apresentam policromia acentuada no perfil e
devem satisfazer aos seguintes critérios de cores:
• Para solos com todas as cores dos horizontes A e B, exceto BC, dentro
de uma mesma página de matiz, admitem-se variações de, no máximo,
2 unidades para valor e/ou 3 unidades para croma;
• Para solos apresentando cores dos horizontes A e B, exceto BC, em
duas páginas de matiz, admite-se variação de ≤ 1 unidade de valor e ≤
2 unidades de croma9;
• Para solos apresentando cores dos horizontes A e B, exceto BC, em
mais de duas páginas de matiz, não se admite variação para valor e
admite-se variação de ≤ 1 unidade de croma.

6.10 Platossolos

Planossolos são solos constituídos por material mineral com horizonte A ou E


seguido de horizonte B plânico. Horizonte plânico sem caráter sódico perde em
precedência taxonômica para o horizonte plíntico.

6.11 Plintossolos

Plintossolos são solos constituídos por material mineral, apresentando


horizonte plíntico, litoplíntico ou concrecionário em uma das seguintes condições:
a) Iniciando dentro de 40 cm da superfície; ou
b) Iniciando dentro de 200 cm da superfície quando precedidos de horizonte
glei ou imediatamente abaixo do horizonte A, E ou de outro horizonte que
apresente cores pálidas, variegadas ou com mosqueados em quantidade
abundante.
Quando precedidos de horizonte ou camada de coloração pálida (acinzentada
ou amarelado-clara), estes deverão ter cores centradas nos matizes e cromas
conforme os itens (a) e (b) definidos abaixo, podendo ocorrer ou não mosqueados de
coloração desde avermelhada até amarelada.
Quando precedidos de horizontes ou camadas de coloração variegada, pelo
menos uma das cores deve satisfazer às condições dos itens (a) e (b) definidos
abaixo.
Quando precedidos de horizontes ou camadas com matriz de coloração
avermelhada ou amarelada, mosqueados deverão ocorrer em quantidade abundante
32
FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

(> 20% em volume) e apresentar matizes e cromas conforme itens (a) e (b) definidos
abaixo.
a) Matiz 5Y; ou
b) Matizes 7,5YR, 10YR ou 2,5Y com croma menor ou igual a 4.

6.12 Organossolos

Organossolos são solos constituídos por material orgânico e que apresentam


horizonte hístico, satisfazendo aos seguintes critérios:
a) 60 cm ou mais de espessura se 75% (expresso em volume) ou mais do
material orgânico consiste em tecido vegetal na forma de restos de ramos
finos, raízes finas, cascas de árvores, etc., excluindo as partes vivas; ou
b) Saturação com água no máximo por 30 dias consecutivos por ano, durante
o período mais chuvoso, com horizonte O hístico apresentando as
seguintes espessuras:

1. 20 cm ou mais, quando sobrejacente a um contato lítico ou lítico


fragmentário ou a um horizonte e/ou camada constituído por 90% ou mais
(em volume) de material mineral com diâmetro maior que 2 mm
(cascalhos, calhaus e matacões); ou

2. 40 cm ou mais quando sobrejacente a horizontes A, B e/ou C; ou

c) Saturação com água durante a maior parte do ano, na maioria dos anos, a
menos que artificialmente drenados, apresentando horizonte H hístico
com espessura de 40 cm ou mais, quer se estendendo em seção única a
partir da superfície do solo, quer tomados cumulativamente dentro dos 80
cm a partir da superfície.

6.13 Vertissolos

Vertissolos são solos constituídos por material mineral com horizonte vértico
iniciando dentro de 100 cm a partir da superfície e relação textural insuficiente para
caracterizar um horizonte B textural. Além disso, devem atender aos seguintes
requisitos:
a) Teor de argila, após mistura e homogeneização do material de solo, nos
20 cm superficiais, de no mínimo 300 g kg-1 de solo;
b) Fendas verticais no período seco com pelo menos 1 cm de largura,
iniciando na superfície e atingindo, no mínimo, 50 cm de profundidade,

33
FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

exceto no caso de solos rasos, onde o limite mínimo é de 30 cm de


profundidade;
c) Ausência de material com contato lítico ou lítico fragmentário, horizonte
petrocálcico ou duripã dentro dos primeiros 30 cm a partir da superfície;
d) Em áreas irrigadas ou mal drenadas (sem fendas aparentes), o coeficiente
de expansão linear (COLE) deve ser igual ou superior a 0,06 ou a
expansibilidade linear é de 6 cm ou mais; e
e) Ausência de qualquer tipo de horizonte B diagnóstico acima do horizonte
vértico.10

7 MANEJO DO SOLO11

7.1 Manejo correto no preparo do solo

Uma das formas de maior utilização da mecanização é no preparo do solo, que


tem como objetivo oferecer ambiente adequado para o crescimento e
desenvolvimento das plantas, permitindo produção econômica e evitando a
degradação do solo. É definido como a manipulação física, química ou biológica do
solo para otimizar as condições para a germinação e emergência das sementes, assim
como o estabelecimento das plântulas. A escolha de determinado sistema de preparo
deve levar em consideração as respostas da cultura e do solo, visando diminuir perdas
do solo por erosão, controle de plantas invasoras, capacidade de retenção e
movimentação de água e também a recuperação física do solo. O preparo periódico
do solo diz respeito a diversas operações agrícolas de mobilização do solo, realizadas
antes da implantação periódica de culturas. Esse tipo de preparo pode ser feito em 3
sistemas principais:
- Convencional (aração, gradeações em toda a área a ser cultivada. É o
tradicional);
- Cultivo mínimo (as operações mecanizadas são realizadas, porém
reduzidas ao mínimo necessário);
- Plantio direto (onde a mobilização do terreno só ocorre
localizadamente, ou seja, apenas na fileira de semeadura).
Desde os mais remotos tempos, essas operações têm sido realizadas com a
finalidade de oferecer às sementes que serão colocadas no solo as condições que
teoricamente seriam as melhores para o seu desenvolvimento. Não se deve esquecer,
todavia, que as modernas técnicas de semeadura direta têm demonstrado que, para
determinadas condições de solo, clima e culturas, são possíveis se obter uma

10
Texto extraído de https://www.embrapa.br/solos/sibcs/classificacao-de-solos/ordens/vertissolos
11
Texto extraído de Apostila para a Disciplina: Manejo e Conservação do Solo Recomendação: Prof.
Ednei de Souza Pireshttp://www.ifcursos.com.br/sistema/admin/arquivos/09-02-49-
apostilaparaadisciplinamcs.pdf
34
FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

produtividade tão boa ou, em alguns casos, até melhor que com os métodos
tradicionais de preparo do solo e semeadura. De qualquer forma, o preparo periódico
do solo continuará a ser feito para as culturas ou condições onde não existe a
possibilidade de utilização de técnicas de semeadura direta.
O preparo do solo compreende um conjunto de técnicas que, quando usadas
racionalmente, podem permitir uma alta produtividade das culturas a baixo custo.
Irracionalmente utilizadas, as técnicas de preparo podem levar à destruição do solo
em poucos anos de uso intensivo ou conduzir à degradação física, biológica ou
química em forma paulatina, diminuindo, em maior ou menor grau, seu potencial
produtivo.
A agricultura atual depende da tecnologia disponível no mercado, para atingir
bons resultados produtivos e econômicos. Neste processo, a escolha dos
implementos a serem utilizados é da maior importância. Máquinas e implementos
utilizados, na medida do possível, devem exigir o mínimo esforço, com máximo
rendimento das operações. Isto é influenciado pela escolha do equipamento
apropriado, seu projeto, regulagem, manutenção, trabalho dentro da faixa apropriada
de umidade, velocidade compatível com a operação e profundidade e largura de
trabalho que otimizem a operação.

7.2 Conceito de erosão

A erosão é um fenômeno natural provocado pela desagregação de materiais


da crosta terrestre pela ação dos agentes exógenos, tais como as chuvas, os ventos,
as águas dos rios, entre outros. Essas partículas que compõem o solo são deslocadas
de seu local de origem, sendo transportadas para as áreas mais baixas do terreno. De
acordo com sua origem, o processo erosivo pode ser classificado em erosão pluvial
(ação das chuvas), erosão fluvial (ação das águas dos rios), erosão por gravidade
(movimentação de rochas pela força da gravidade), erosão eólica (ação dos ventos),
erosão glacial (ação das geleiras), erosão química (alterações químicas no solo) e
erosão antrópica (ação do homem).A erosão tem se intensificado em virtude das
ações antrópicas, pois o homem tem modificado o meio natural de forma desastrosa,
e uma das consequências é essa erosão acelerada. Os fatores que contribuem para
esse cenário são: desmatamentos, queimadas, urbanização, impermeabilização do
solo, drenagem de estradas, linhas de plantio, etc. O avanço da erosão desencadeia
uma série de problemas socioambientais: deslizamentos, enchentes (através do
preenchimento de lagos e rios), assoreamento dos rios, morte de espécies da fauna
e da flora, redução da biodiversidade, perda de nutrientes do solo, redução da área
de plantio, danos econômicos, entre tantos outros. Dentre as possíveis formas de
proteger o solo contra a erosão estão: preservar a cobertura vegetal do solo, técnicas
agrícolas menos agressivas ao solo, curvas de nível no terreno, planejamento de
construções, sistemas de drenagem e reflorestamento.

35
FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

7.3 Importância

Degradação de solos agrícolas; Perda de produtividade dos solos agrícolas;


Assoreamento de cursos de água e reservatórios; Degradação da qualidade da água.
Tipos de erosão: Quanto a origem: Geológica; Acelerada ou antrópica. Quanto
ao agente: Água; Vento; T° C; Biológica.
Água: É o mais importante agente de erosão atuando através das chuvas,
riachos e rios pelo impacto ou carreamento do solo. As ondas também atuam erodindo
as margens de da costa litorânea, de lagos e rios.
Ventos: A ação dos ventos ocorre pela abrasão de partículas de rochas e solo
em suspensão.
Mudanças de temperatura: Quando considerado como agente de erosão
geológica é perceptível somente quando se considera longo período de tempo, como
por exemplo, as fraturas geradas nas rochas. Estas fraturas tendem a ser superficiais
nas variações de temperatura entre o dia e noite, enquanto são mais profundas
quando originadas das alternâncias entre o verão e inverno.
Biológico: Alguma destruição pode ser causada por organismos tais como
liquens e musgos sobre as rochas. A erosão hídrica é constitui uma das principais
formas de degradação dos recursos naturais solo e água, constituindo-se em uma
grande fonte de sedimentos de uma bacia hidrográfica. Os impactos gerados por este
processo ocorrem tanto na bacia onde os sedimentos são gerados, quanto na rede de
drenagem, onde os sedimentos são depositados. A ocorrência da erosão implica em
maiores custos de produção para o agricultor, pois os nutrientes, aplicados ao solo na
forma de fertilizantes, são transportados adsorvidos no sedimento. Além disso, a
camada superficial do solo, considerada a mais fértil, é removida por meio da ação
dos agentes erosivos, ocorrendo uma redução nos teores de matéria orgânica do solo.
A perda de matéria orgânica, associada às perdas de nutrientes minerais e do próprio
solo, causam redução de sua capacidade produtiva, refletindo assim em diversas
consequências de ordem social e econômica para a comunidade local.

7.4 Formas de erosão hídrica

As formas de erosão hídrica mais comuns são a laminar, em sulcos e


voçorocas, todas definidas a partir da progressiva concentração de enxurrada na
superfície.
Erosão laminar: finas camadas de solo são removidas em toda uma área, sendo
a menos notada visualmente. Pode ser percebida a partir da exposição de raízes de
plantas perenes.
Erosão em sulcos: resultante da concentração da enxurrada em alguns pontos
do terreno, atingindo volume e velocidades suficientes para formar sulcos mais ou
menos profundos. Na sua fase inicial, os sulcos podem ser desfeitos com as

36
FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

operações normais de preparo do solo, porém em estádio mais avançado, podem


atingir profundidades que interrompem o trabalho de máquinas.
Erosão em voçorocas: ocasionada por grandes concentrações de enxurrada
que passam, ano após ano, no mesmo sulco, o qual vai se ampliando pelo
deslocamento de grandes massas de solo, formando grandes cavidades em extensão
e profundidade.
Fatores que afetam a erosão: Erosividade (capacidade da chuva);
Erodibilidade (vulnerabilidade do solo); Clima (quantidade e distribuição das
chuvas);
Relevo
(declividade, comprimento de rampa); Forma e natureza da vertente; Tipo de
solo; Tipo de cobertura vegetal; Propriedades químicas e físicas do solo; A ação do
homem, como uso e manejo da terra.

7.5 Queimadas na Agricultura

As queimadas e incêndios florestais no Brasil alcançam todos os anos


dimensões gigantescas. São mais de 300 mil focos de queimadas por ano. Deste total,
85% acontecem em áreas da Amazônia Legal. Na sua grande maioria, as queimadas
constituem-se em prática agrícola usual, utilizadas para controla de pragas, limpeza
de áreas para plantio, renovação de pastagens e colheita da canade-açúcar. Se de
um lado a queimada facilita a vida de parte dos agricultores trazendo benefícios a
curto prazo, de outro, ela afeta negativamente a biodiversidade, a dinâmica dos
ecossistemas, aumenta o processo de erosão do solo, deteriora a qualidade do ar e
provoca danos ao patrimônio público e privado, prejudicando a sociedade como um
todo.
A queimada controlada raramente é maléfica, por não roubar do solo sua
cobertura morta, mas somente eliminar o excesso de vegetação. Entretanto, quando
feita de forma descontrolada, torna-se maléfica por: Eliminar, pelo calor excessivo, os
microrganismos presentes no solo, os quais são responsáveis por sua fertilidade;
destruir, pelo calor, as sementes, caules e raízes de plantas que voltariam a se
desenvolver, reconstituindo a cobertura vegetal original; promover a volatilização de
substâncias coloidais responsáveis pela textura granular e bem arejada do solo,
resultando no seu adensamento; promover a volatilização de substâncias nutritivas,
causando o empobrecimento do solo; eliminar a cobertura vegetal, expondo o solo ao
impacto das chuvas, favorecendo os fenômenos de erosão e lixiviação; criar uma
vegetação pastoril, ou de invasoras, próprias do fogo.

37
FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

7.6 Desmatamento

O desmatamento é um processo que ocorre no mundo todo, resultado do


crescimento das atividades produtivas e econômicas e, principalmente, pelo aumento
da densidade demográfica em escala mundial, pois isso coloca em risco as regiões
compostas por florestas. A exploração que naturalmente propicia devastação através
das atividades humanas já dizimou, em cerca de 300 anos, mais de 50% de toda área
de vegetação natural em todo mundo. A atividade de extrativismo vegetal é
extremamente importante em vários países como o Brasil, com predomínio de
florestas tropicais, assim como a Indonésia e o Canadá com florestas temperadas, e
essa extração coloca em risco diversos tipos de vegetações distribuídas no mundo.
Entre as principais causas do desmatamento estão:
• Extração ilegal de madeira;
• Criação ou ampliação de áreas para agricultura ou pecuária;
• Incêndios criminosos ou causados por ação da natureza como, por
exemplo, queda de raios em locais de vegetação seca;
• Utilização da queimada de vegetação como técnica agrícola.
Instalação e projetos voltados para a exploração de minérios;
• Abertura de garimpos de pedras e metais preciosos.

7.7 Uso inadequado de fertilizantes

A fertilização dos solos consiste no uso de adubos, geralmente minerais,


substituindo-se assim os elementos retirados pelas colheitas e levados para longe. A
agricultura moderna utiliza doses cada vez maiores de adubos sintéticos em troca dos
adubos tradicionais, como o esterco. A consequência é a redução no teor de húmus
e a degradação da estrutura do solo. Quando utilizado sem excesso, ocorre verdadeiro
desperdício de nitratos: alguns são arrastados pelas chuvas e eutrofizam as águas;
outros acumulam-se em vegetais, como o espinafre, que no intestino humano é
transformado em nitritos tóxicos e em nitrosamidas cancerígenas.
O excesso de adubos no solo perturba a fisiologia dos vegetais, que acabam
florescendo mal e produzindo menos frutos e menos sementes. O excesso de
fertilizantes perturba o ciclo do nitrogênio na biosfera: o nitrogênio atmosférico, quando
transformado em nitratos pela indústria e lançado no solo, em grande quantidade,
rompe o equilíbrio natural entre fixação e desnitrificação, em benefício da fixação.
Mesmo a adubação natural com o uso de estercos, principalmente o de pocilgas, tem
gerado poluição. Os estercos são ricos em nitratos, fosfatos, potássio, cálcio e
magnésio, e, ainda, em cobre e zinco acrescentados à ração alimentar. Em virtude
desta riqueza não podem ser lançados ao solo em grande quantidade, pois as plantas
não podem absorver tudo o que recebem e o solo acaba poluído.

38
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8 MONOFATURA

Entende-se por monocultura o cultivo extensivo de um único tipo de vegetal em


uma dada área. Tal prática é incompatível com a noção de ecossistema, pois trata-se
de um sistema instável, onde um único vegetal nutre poucos animais, reduzindo a
competição interespecífica, permitindo o surgimento de espécies oportunistas de
plantas, animais e insetos, que se transformam em pragas.
Por outro lado, a simplificação dos ecossistemas pela monocultura deixa o solo
debilitado, isto porque explora a terra sempre da mesma forma e não permite que os
ciclos de materiais se completem. O restabelecimento do equilíbrio biológico dos solos
debilitados ou destruídos pela monocultura, tem sido feito pelo método da rotação de
culturas adequadas, uma vez que, a cada nova cultura, as plantas exploram o solo de
maneira diferente e também o enriquecem com diferentes substâncias orgânicas,
possibilitando uma micro vida mais diversificada, pois cada plantio agrícola não é
somente composto de plantas diferentes mas sim de ecossistemas diferentes.

8.1 Como é feita a monocultura?

A monocultura é caracterizada por um espaço de terra, muitas vezes em


grandes propriedades agrícolas de baixa produção, que é destinado para o plantio de
um único produto. O primeiro passo da criação de uma monocultura consiste em
remover a cobertura vegetal original, deixando espaço apenas para a espécie que
será cultivada. A prática é adotada por proprietários de terra que tem interesse em
investir em produtos que estão em alta para a exportação, como é o caso da soja.

8.2 Principais características da monocultura

• Substituição da cobertura vegetal original;


• Preparo do solo;
• Plantio de um único produto, por um longo tempo;
• Alto uso de agrotóxicos.

8.3 Consequências da monocultura

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A monocultura gera uma série de consequências não apenas para o solo, mas
para os animais e para as pessoas que habitam o local. Entre as principais
consequências da monocultura, podemos destacar:
 Dificuldade para encontrar alimento por parte dos animais típicos da região,
levando- os a invadir centros urbanos e outras áreas em busca de comida, se
tornando presas fáceis;
 Redução da fauna natural do local, já que a falta de alimento faz com que os
animais tenham dificuldade de se reproduzir;
 Aumento das pragas, que não encontram predadores naturais e exigem que
sejam utilizados ainda mais agrotóxicos;
 Aumento da população de insetos, contribuindo para a propagação de doenças;
 Redução no uso da mão de obra, contribuindo para o aumento do êxodo rural;
 Interrupção do processo natural de reciclagem dos nutrientes do solo, tornando-
o pobre e diminuindo sua produtividade;
 Compactação do solo;
 Desmatamento;
 Assoreamento de rios e nascentes;
 Aumento do uso de agrotóxicos, prejudicando ainda mais o solo;  Diminuição
da vazão de córregos e nascentes;
 Perda total do solo.

9 SALIZINAÇÃO

Salinização é um processo que conduz ao aumento da concentração da


solução do solo em sais solúveis (Na +, Ca 2+, Mg 2+, K +) para níveis prejudiciais às
plantas. Sodização é o processo pelo qual os íons Na +, ganha preponderância no
complexo de troca do solo, podendo causar a perda de uma ou mais funções do solo.
A sodização é a maior ameaça da salinização. Muitas vezes é erradamente
considerada como um sinônimo de salinização. A irrigação é um tipo de prática comum
nas zonas áridas e semiáridas, onde é necessário suprir a falta de água de chuva.
Uma irrigação conduzida de forma incorreta tem como resultado a poluição do solo
por sais, a salinização.
A salinização resulta de dois fenômenos que muitas vezes agem
simultaneamente:
a) a água de irrigação não penetra em profundidade nos solos pouco
permeáveis, a maior parte da água evapora e os sais nela contidos
depositam-se nas camadas superficiais;
b) a irrigação não acompanhada de uma drenagem eficaz, provoca a
subida do lençol freático, que leva à superfície cloretos provenientes
das camadas profundas.

40
FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

Como consequência, há a formação do “salino negro”, associação de carbonato


de sódio, sulfato de sódio e cloreto de cálcio, tornando o solo impróprio para a vida
vegetal.

9.1 Uso excessivo de Agrotóxicos

Os efeitos tóxicos dos defensivos agrícolas variam de acordo com a sua


categoria química. No homem, a penetração pode ser por via dermal, oral ou
respiratória, podem provocar sudorese, visão turva, intensa secreção nasal, dor de
cabeça, tonturas, vômitos, fortes cólicas abdominais, diarreias, confusão mental,
febre, perda de peso, debilitação geral, angústias, dificuldades respiratórias,
problemas cardíacos, choque e morte. Dentre os químicos naturais, destacam-se os
piretróides (derivado da flor do Crisântemo) que têm elevada toxicidade aguda para
mamíferos que os absorvem por todas as vias. Têm baixa persistência e são os
inseticidas mais usados nas residências na forma de sprays ou em aparelhos ligados
à tomada elétrica. Exemplos: Aletrina, Permetrina, Cismetrina e Bioresmetrina.
Os organoclorados têm toxicidade crônica e são absorvidos por via oral,
respiratória e dérmica, e sendo lipossolúveis, são persistentes e depositam-se na
gordura animal, inclusive humana, sendo consequentemente cumulativos. Sua ação
residual pode determinar o aparecimento de tumores malignos. Exemplos: BHC, DDT,
DDD, Aldrin, Endrin e Lindane.
Os fosforados, embora sejam eficientes para matar insetos, também são
venenosos para aves e mamíferos, incluindo-se o homem. São absorvidos pelas vias
dérmica, digestiva e respiratória. Esses inseticidas são tóxicos agudos, mas de vida
breve. Exemplos: Parathion, Malathion, TEPP, Diclorvos e Endothion. Considerados
menos tóxicos que os fosforados e menos persistentes que os organoclorados, os
carbamatos são frequentemente usados em residências no combate a traças, baratas
e formigas. São absorvidos pelas três vias, mas rapidamente metabolizados (2 a 3
dias) e eliminados pelas fezes e urina.

Consequências
A ação nefasta dos agrotóxicos pode ser resumida nos seguintes tópicos:
♦ destroem a microflora e microfauna dos solos;
♦ acumulam-se nos ecossistemas, podendo perdurar por vários anos;
♦ armazenam-se nos alimentos e, em certas quantidades, podem produzir
efeitos danosos à saúde;
♦ provocam o aparecimento de espécies resistentes que se tornam mais
difíceis de serem eliminadas;
♦ formam resíduos tóxicos que, em certas doses, provocam a mortandade de
peixes e outros animais aquáticos quando lançados em corpos d’água;

41
FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

♦ contaminam os alimentos, através de resíduos remanescentes no solo


(originários de culturas anteriores e absorvidos pelas novas culturas) ou através de
doses excessivas;
♦ interferem no tratamento das águas nas estações;
♦ causam distúrbios a curto e longo prazo à saúde humana;
♦ poluem indistintamente a água, o ar e o solo.
O uso dos agrotóxicos tem inúmeros benefícios como: aumento das colheitas;
aumento da produção de leite e de carne; diminuição das perdas de alimentos em
armazéns; diminuição da mão-de-obra nas atividades agrícolas; erradicação de
epidemias perigosas; melhor higiene pessoal; desinfecção de instalações e
equipamentos. Tais usos justificam a sua aplicação, desde que seja observada a
legislação oficial sobre o assunto (Lei Federal n o 7.602/89).

10 COMPACTAÇÃO DO SOLO12

O termo compactação do solo refere-se ao processo que descreve o


decréscimo de volume de solos não saturados quando uma determinada pressão
externa é aplicada, a qual pode ser causada pelo tráfego de máquinas agrícolas,
equipamentos de transporte ou animais. Para a Pedologia, a compactação do solo é
definida como uma alteração no arranjo de suas partículas constituintes do solo.
Alguns autores afirmam que a compactação do solo tem se destacado em nível
mundial como sendo um dos fatores limitantes da qualidade física das terras agrícolas,
prejudicando a obtenção de maiores índices de produtividade. Pesquisas apontam a
compactação dos solos como sendo um dos principais causadores da degradação
dos solos agrícolas.
Atualmente, no Brasil há uma tendência de se avaliar a susceptibilidade do solo
à compactação causada pelo tráfego de máquinas agrícolas conjuntamente com o
momento ideal para executar as operações mecanizadas no campo, por considerar
racional o uso de medidas preditivas e preventivas da compactação, o que minimizaria
os problemas de degradação dos solos agrícolas. Em solos compactados, o
desenvolvimento das plantas é menor e isto tem sido atribuído ao impedimento
mecânico ao crescimento radicular, o qual resulta em menor volume de solo
explorado, menor absorção de água e nutrientes e, consequentemente, menor
produção das culturas.
Segundo Smucker e Erickson (1989), a compactação do solo pode ter efeitos
benéficos ou adversos. Os efeitos benéficos têm sido atribuídos à melhoria do contato
solo-semente e ao aumento da disponibilidade de água em anos secos. Por outro
lado, a compactação excessiva pode limitar a adsorção e/ou absorção de nutrientes,
infiltração e redistribuição de água, trocas gasosas e desenvolvimento do sistema
radicular, resultando em decréscimo da produção, aumento da erosão e da potência

12
Texto extraído de http://www.infobibos.com/artigos/compsolo/c3/comp3.htm
42
FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

necessária para o preparo do solo. O processo de compactação depende de fatores


externos e internos. Os fatores externos são caracterizados pelo tipo, intensidade e
frequência de carga aplicada enquanto que os fatores internos são históricos da
tensão, umidade, textura, estrutura, densidade inicial do solo e teor de carbono.

10.1 Causas da Compactação do Solo

As forças que atuam no solo podem ser classificadas em externas e


internas. Forças externas resultam do tráfego de veículos, animais ou pessoas, assim
como do crescimento de raízes grandes que empurram as partículas do solo para
forçar sua passagem, podendo até causar compactação. As forças internas resultam
de ciclos, como congelamento e de gelo, umedecimento e secamento, e expansão e
contração da massa do solo.
Quando expressas como pressão, essas forças provavelmente têm a mesma
ação no sistema, não sendo necessária distinção entre elas. Cabe ressaltaração de
fatores pedogenéticos derivados da evolução do solo, os quais podem causar
adensamento em camadas subsuperficiais. Materiais muito finos são arrastados
dasuperfície do solo, preenchendo partes dos poros das camadas inferiores.
O processo de translocação de argila ocorre quando a chuva e/ou a água de
irrigação caem sobre um solo seco, dispersando parte do material fino que,
permanecendo em suspensão, é arrastado conforme a água caminhe perfil abaixo,
através dos vazios do solo.
Se o subsolo estiver seco, a água que desce será absorvida pela massa do
solo, e a argila em suspensão, filtrada depositada preenchendo os espaços porosos.
Graças ao mecanismo de dispersão, alguns fatores adicionais favorecem a
translocação de argila, como: ausência de agentes cimentantes, como óxidos e
carbonatos; valores de pH entre 4,5 e 6,5, sem excesso de cálcio e magnésio, com
baixo teor de alumínio trocável (que é um cátion floculante nas concentrações mais
comuns); pH alto, associado a níveis elevados de sódio trocável e ponto de carga zero
(PCZ) pelo menos de meia a uma unidade mais baixo que o pH do solo. Se os valores
de pH e PCZ estiverem muito próximos, ocorrerá diminuição da repulsão entre as
partículas de argila carregadas negativamente, resultando em rápida floculação. O
rearranjamento de partículas primárias e de agregados por implementos de tração e
cultivo, principalmente a compressão causada por tráfego de veículos, processa-se
em fases que, em condições de campo, ocorrem separadamente:
Fase 1 - Preparo do solo: nesta fase, grande parte da é consumida para
destruir os agregados, sendo os implementos de cultivo especificamente
desenhados com esta finalidade, desagregando o solo em diferentes graus.
Fase 2 - Tráfego posterior de máquinas e implementos: os veículos e
implementos que trafegam sobre um solo preparado aplicam quase a totalidade de
sua energia no sentido de empurrar as partículas do solo umas contra as ou gerando
um arranjamento compacto. Quanto maior a pulverização do solo por ocasião do
preparo, maior será o potencial da compactação posterior.

43
FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

Segundo Jorge (1983), até 1940, um trator pesava, em média, menos que três
toneladas, enquanto as máquinas trafegam atualmente pelos solos cultivados podem
pesar mais que quinze, como acontece com colhedoras e caminhões carregados. Na
cultura de citros, a mecanização é muito intensa, havendo pomares que acumulam,
ao longo de sua existência, trezentas passadas de máquinas por entrelinha (Stolf,
1987). Quando o solo encontra-se úmido, há uma tendência de os valores de
densidade do solo serem cada vez maiores com o aumento do número de passadas.
Além disso, o efeito se manifesta em camadas mais profundas do solo, à medida que
o número aumenta.
Em culturas perenes ou semiperenes, como a cana-de-açúcar, um preparo
inadequado do solo pode ocasionar decréscimos na produção que serão extensivos
a todo o ciclo de cultura, já que, via de regra, a produção das soqueiras é intimamente
ligada à produção de corte anterior. O decréscimo na produção de cana-de-açúcar
num campo de demo tração foi obtido por Fernandes et al. (1983). Após o primeiro
corte, um latossolo vermelho-escuro argiloso com 0,32 m3.m-3 (32%) de água foi
compactado em diferentes níveis uma, duas e três passadas de um caminhão com
apenas eixo traseiro e 16.000 kg de massa. Quando as condições de umidade
são ótimas e a pressão de contato é elevada, uma única passada de determinado
veículo pode ser suficiente para dificultar, ou até impedir, o crescimento das raízes
(Trouse Jr., 1978).
A gota de chuva é considerada uma fonte natural de compactação, pois quando
cai sobre o solo descoberto, poderão compactá-lo e desagregá-lo aos poucos. Para
saber qual a amplitude dos efeitos causados pela gota de chuva, devese primeiro
conhecer algumas de suas características, tais como: intensidade, diâmetro médio e
a velocidade final das gotas médias.

10.2 Fatores envolvidos na Compactação do Solo

A magnitude dos efeitos do manejo sobre as propriedades físicas do solo é


determinada por condições climáticas, classe de solo, sistemas de rotação de culturas
utilizados, tempo de uso dos diferentes sistemas de manejo e condição de umidade
do solo em que são realizadas as operações de campo.

10.3 Técnicas para diminuir a compactação do solo

- Diminuir a movimentação de máquinas e equipamentos pesados sobre o


solo, principalmente quando este se apresentar saturado;
– Confinar a execução das operações de preparo do solo, semeadura,
tratos culturais e colheita às épocas em que o solo estiver menos sensível à
compactação, ou seja, com menor conteúdo de água;

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FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

– Em sistema de preparo do solo convencional, deve se alternar os níveis


de profundidade alcançado pelas operações de aração e gradagem, evitando a
formação da camada compactada, ou retardando a sua ocorrência;
– Realizar periodicamente a descompactação do solo com auxílio de
subsoladores e escarificadores, tanto em sistema de preparo mínimo do solo como
em sistema de plantio direto;
– Utilizar pneus de máquinas agrícolas com carcaça flexível, baixa
pressão de inflação, diâmetro largo e uma pequena largura de secção;

10.4 Desertificação

A desertificação é caracterizada como o processo de degradação da terra nas


zonas áridas, semiáridas e sub úmidas secas, resultantes das atividades humanas ou
de fatores naturais (variações climáticas). Esse conceito foi elaborado durante a
Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação. Esse fenômeno afeta,
aproximadamente, 60.000 quilômetros quadrados de terras por ano em diversas
partes do planeta. As diversas atividades humanas, realizadas de forma insustentável,
têm provocado drásticas reduções da vegetação e da capacidade produtiva do solo.
Entre as principais causas responsáveis pela desertificação estão:
- Desmatamento de áreas com vegetação nativa;
- Uso intenso do solo, tanto na agricultura quanto na pecuária;
-Práticas inadequadas de irrigação;
- Mineração.

As principais consequências da desertificação são:


- Eliminação da cobertura vegetal;
- Redução da biodiversidade;
- Salinização e alcalinização do solo;
- Intensificação do processo erosivo;
- Redução da disponibilidade e da qualidade dos recursos hídricos;
- Diminuição na fertilidade e produtividade do solo;
- Redução das terras agricultáveis;
- Redução da produção agrícola;
- Desenvolvimento de fluxos migratórios.

45
FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

De acordo com o Worldwatch Institute, cerca de 15% da superfície terrestre


sofre algum tipo de desertificação. Esse fenômeno afeta mais de 110 países,
prejudicando a vida de mais de 250 milhões de pessoas. As regiões mais atingidas
pela desertificação são: Oeste da América do Sul, Norte e Sul da África, Oriente
Médio, Ásia Central, Noroeste da China, Austrália e Sudoeste dos Estados Unidos. O
Brasil também apresenta áreas afetadas pela desertificação. De acordo com dados
do Ministério do Meio Ambiente, cerca de 13% do território brasileiro é vulnerável à
desertificação, pois é formado por áreas semiáridas. O processo de desertificação
atinge porções da Região Nordeste, o cerrado tocantinense, o norte de Mato Grosso
e os pampas gaúchos. Com o intuito de reduzir o processo de desertificação, a
Organização das Nações Unidas (ONU) criou, em 1994, a Comissão contra a
Desertificação, cujo principal objetivo é elaborar projetos eficazes que possam deter
a expansão desse fenômeno, principalmente nos países da África.

10.5 Práticas conservacionistas

- Plantio em curva de nível


Tirar o nível do terreno ou fazer a curva de alinhamento de plantas: é uma linha
que tem seus pontos na mesma altura, ou seja, que quando você vai caminhando por
essa curva você não sobe e nem desce no terreno porque os pontos estão todos no
mesmo nível. Por isso a água em uma área de plantio que tem curvas de alinhamento
de plantas não corre para nenhum lado e sim vai infiltrar no solo. Por isso as curvas
de alinhamento de plantas, ou linha de nível do terreno, são inimigas da erosão e boas
amigas do/a agricultor/a.
Para tirar o nível do terreno pode-se usar:
- Vara de bambu para determinar o espaço entre as ruas e depois pode
usar uma corda para definir o local por onde vai passar o nível do terreno.
- cavalete com nível de pedreiro para marcar a curva: trata-se de 3
réguas de madeira firme e leve, sendo duas menores medindo 1,20m que serão os
pés do aparelho e uma maior medindo 2,0m com o nível de pedreiro encaixado no
meio. As peças devem ser encaixadas nas pontas podendo ser utilizados parafusos
ou pregos para firmar. Colocar dois pedaços de madeira entre os pés e a madeira
onde está o nível de pedreiro para firmar o aparelho. Assim basta ir colocando o
aparelho no solo, ao longo da lavoura e vendo se está nivelado ou não. Ao final está
tirado o nível do terreno naquela parte da lavoura.

11 PLANTIO DIRETO

Em algumas regiões do Brasil o plantio direto é conhecido há muito tempo, pois


essa técnica foi introduzida no nosso país no início dos anos 1970 na Região Sul.
Desde então, a adoção por parte dos agricultores tem sido cada vez mais crescente,
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FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

alastrando- se até a Região dos Cerrados. Hoje, a área agrícola sob Plantio Direto no
Brasil é de aproximadamente 9 milhões de hectares.
O Plantio Direto é a semeadura, na qual a semente é colocada no solo não
revolvido (sem prévia aração ou gradagem leve niveladora), usando-se semeadeiras
especiais. Um pequeno sulco ou cova é aberto com profundidades e larguras
suficientes para garantir a adequada cobertura e contato da semente com o solo. Note
que no Plantio Direto não se usa os implementos denominados de arado e grade leve
niveladora que são comuns na agricultura brasileira e no preparo do solo antes da
semeadura. Aliás, uma vez adotado o Plantio Direto, ele não deve ser utilizado
intercalado com arado, grade niveladora, grade aradora (ou grade Rome). Devemos
entender que a manutenção de restos de culturas comerciais (ex. trigo, milho) ou
adubos verdes (ex. aveia, milheto) na superfície do solo é importantíssimo para o
sucesso do plantio direto. Ou seja, a superfície do solo deve ficar grande parte coberta
com palha. Esse requisito estando atendido, implementos sulcadores (ex.
escarificador) podem ser utilizados para quebrar eventuais camadas de solo
compactadas. Assim, o termo plantio direto ("direct drill" ou "siembra directa") é mais
apropriado que o preparo zero ("no tillage" ou "cero labranza").
Visando diferenciar do Plantio Direto, para o solo onde se passa o arado e
depois passa-se várias vezes a grade leve niveladora, diz-se que o solo está sob
Plantio Convencional. Para entendermos o aparecimento do Plantio Direto é preciso
resgatar a História do Plantio Convencional, que é o preparo do solo para a semeadura
e, basicamente, se trata de aração e gradagem. Um dos maiores benefícios do arado
é o controle de plantas daninhas, onde, por possibilitar o revolvimento do solo, ele
permite a eliminação de plantas que cobrem uma área e, assim, possibilitar a
semeadura e o crescimento de uma determinada planta de interesse para o cultivo
(ex. milho, trigo), livre de concorrência por água e nutrientes com outra planta não
desejável (normalmente denominada planta daninha, erva daninha, inço ou mato).
O solo arado fica livre de plantas daninhas, mas, ao mesmo tempo, ele fica livre
de qualquer cobertura vegetal. Numa região tropical, onde se tem chuvas fortes e
concentradas num período do ano, essa situação é ideal para a ocorrência da erosão,
pois o impacto da gota da chuva num solo descoberto resulta num encrostamento ou
selamento da superfície do solo. A fina crosta que se forma é suficiente para diminuir
a infiltração de água no solo. Assim, a água da chuva se acumula e forma a enxurrada
que carrega solo, semente e adubo para rios e lagos.
No Plantio Direto o uso de herbicidas e uma semeadora específica, é possível
semear milho, soja, feijão, trigo e aveia sem necessidade de preparar o solo, ou seja,
sem aração e gradagem. Para se ter uma ideia do procedimento, na época de plantio,
o agricultor aplica um herbicida e espera as plantas que ocupam a área sequem. Com
o auxílio de um trator passa-se um rolo-faca ou uma roçadeira para espalhar a palha
seca. Em seguida, com uma semeadora de Plantio Direto, semease determinada
cultura (ex. soja) "rasgando-se" em linha a palha que cobre o terreno e depositando a
semente e adubo no pequeno sulco. Grande parte do terreno fica coberto de palha
(cobertura morta ou "mulch") e protegido da erosão, pois, se houver uma chuva forte,
o impacto da gota da chuva será amortecido pela palha antes de atingir a superfície
do solo.

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FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

Muitos agricultores que plantam milho, soja, trigo, feijão e arroz estão adotando
o Plantio Direto, não apenas por isso, mas também, por ser um pouco mais rentável
que o Plantio Convencional, porque:
• devido à existência de palha cobrindo o solo, há melhor retenção de
umidade havendo maiores rendimentos em anos secos.
• não ocorre erosão e, assim, não há necessidade de replantio, que
implica em novo preparo de solo com consequente maior gasto de combustível,
sementes e adubos. Isto levará a um aumento considerável nos custos de produção
e não livrará o agricultor de fracasso na safra devido ao plantio fora de época.
• enquanto no Plantio Convencional é possível semear 3 a 6 dias após
uma chuva forte, no Plantio Direto é possível semear 6 a 12 dias após uma chuva,
resultando no aproveitamento de melhores épocas de plantio e no plantio de maior
área no mesmo espaço de tempo, principalmente quando ocorrem chuvas esparsas .
Importante mencionar que o sucesso que o Plantio Direto vem obtendo se deve
à intensa colaboração entre agricultores, pesquisadores, extensionistas e
representantes de empresas privadas (ex. fabricantes de semeadeiras, herbicidas).
Devido aos aspectos de implantação, o Plantio Direto é de maior custo a curto prazo
(até quatro anos), onde os custos resultantes do maior consumo de herbicidas podem
superar a economia obtida pelo menor consumo de combustíveis e uso de horas
máquina.
Entretanto, grande parte dos estudos comparativos não consideram fatores que
poderiam reverter esse quadro, onde, no Plantio Convencional, normalmente há
operações de replantio: novo preparo de solo, gastos em combustíveis, sementes,
adubos, assim como também a perda de produção devido ao plantio fora da época.
Embora seja de custo relativamente mais alto nos primeiros quatro anos de
implantação, é possível administrar este alto custo sem levar o empreendimento rural
à bancarrota. O segredo reside na forma como o Plantio Direto é adotado. Outro
aspecto importante é o fato de o Plantio Direto diminuir o consumo de herbicida com
o passar dos anos, principalmente combinando Plantio Direto com rotação de culturas.

12 CULTIVO CONSORCIADO

O cultivo irrigado e consorciado de goiaba, maracujá, mamão, milho, feijão


verde e melancia mostra-se viável e impulsiona a agricultura, principalmente nos
estados nordestinos. O sistema utiliza a irrigação localizada, por micro aspersão. Para
o melhor rendimento deve-se fazer a análise do solo e o uso correto de nutrientes e
agrotóxicos, que sejam classificados como limpos, não agridam ao meio ambiente e
utilizados em quantidade mínima. A agricultura familiar enquadra-se bem nesse
modelo e, a partir da diversificação das culturas, ocorre um aumento na renda. O
objetivo do cultivo consorciado é aproveitar o melhor período de plantio e safra de
cada alimento. Isso permite uma maior produção e evita que a terra fique inutilizada
na fruticultura, as culturas de ciclo rápido são de 70 dias.
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FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

O mamoeiro apresenta um ciclo de vida relativamente curto, e pode ser usado


como cultura intercalar em plantios de diversas fruteiras de ciclo mais longo. Um
exemplo de cultivo consorciado nessa estratégia é a utilização de mamão por um ano,
de maracujá por dois e a fruteira permanente de goiaba, com produção de 20 anos.
Segundo o professor José Stanley, especialistas e consultor do FRUPEX - Programa
de Apoio à Produção e Exportação de Frutas, Hortaliças, Flores e Plantas
Ornamentais, nos estados da Bahia e do Espírito Santo, os produtores vêm utilizando
o mamoeiro como cultura intercalar de outros plantios comerciais, como macadâmia,
café, abacate, manga, citros, coco e goiaba. “O mamoeiro pode também ser utilizado
como cultura principal, sendo intercalado com outras que tenham ciclo mais curto, a
exemplo de milho, arroz, feijão, batata-doce, amendoim e leguminosas para adubação
verde”, explica o professor no curso Produção de Mamão, elaborado pelo CPT –
Centro de Produções Técnicas. Com esse processo é possível utilizar um menor
espaçamento para um maior número de plantas. Essa metodologia teve o projeto
pioneiro praticado no Vale do Rio São Francisco, na cidade de Petrolina (PE) e já é
seguida por muitos agricultores da região.

12.1 Proteção do solo com filme plástico

Também pode ser usado com irrigação por gotejamento ou por aspersão. Neste
segundo caso, deve-se irrigar bem o solo antes de aplicar o mulching. Em qualquer
uma das situações, o mulching vai manter a umidade do solo bem distribuída e por
mais tempo, diminuindo a perda de umidade por evaporação. Diminui a perda de
adubo por lixiviação (lavagem do adubo por excesso de chuva). Evita o contato de
frutos e folhas com o solo, obtendo-se produtos mais limpos e de melhor padrão
comercial. Em algumas situações permite a antecipação da época de plantio, pois
proteger o solo de variações de temperatura. É utilizado em culturas de morango,
alface, melão e pimentão, em campo aberto e melão “net” e todas as outras culturas
cultivadas em estufas. É utilizado para cobertura do solo em canteiro de diversas
culturas, porém, o seu uso é mais comum nas culturas de morango, alface, melão,
pimentão e tomate, em campo aberto, e melão “net” e todas as outras culturas
cultivadas em estufas.

12.2 Cobertura morta na Agricultura

A cobertura do solo proporciona diversos efeitos, como na infiltração e retenção


de água, estabilização de temperaturas, controle de erosão. A cobertura do solo
proporciona diversos efeitos, como na infiltração e retenção de água, estabilização de
temperaturas, controle de erosão. O principal fator que permite a redução da erosão
é a proteção contra os impactos causados pelo impacto da água na superfície do solo.
Além disso, a cobertura reduz a velocidade de escoamento superficial da água e
contribui para o aumento da umidade em decorrência da diminuição da evaporação
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FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

de água da superfície do solo e do aumento da quantidade de água infiltrada. Solos


com cobertura conservam mais umidade no período de seca do que solos
descobertos.
Alguns autores relatam que a cobertura do solo além de aumentar o teor de
matéria orgânica, aumenta a disponibilidade de P e K trocável e o teor de C orgânico
e Mg. Do ponto de vista ecológico, a utilização de cobertura morta ou compostos vem
se mostrando muito importante. Com o aumento do chamado cultivo orgânico, a
cobertura pode-se tornar uma fonte de matéria orgânica e de nutriente muito eficiente.
Entretanto, alguns problemas de excesso de umidade podem ocorrer com cobertura,
principalmente em solos de péssima drenagem, o que pode causar anaerobiose e
perda de N. Em áreas com alto índices pluviométricos, uma camada grossa de
cobertura pode favorecer o desenvolvimento de doenças. A má aplicação de cobertura
também pode trazer efeitos negativos, tanto para a planta quanto para o solo e esses
efeitos podem afetar direta ou indiretamente na produção.

12.3 Acidez do solo e colagem

A calagem é considerada como uma das práticas que mais contribui para o
aumento da eficiência dos adubos e consequentemente, da produtividade e da
rentabilidade agropecuária. Apesar deste fato, ela ainda é subutilizada, tendo em vista
a pouca informação recebida a nível de campo, pelos lavradores. Este manual tem
como objetivo proporcionar um meio prático de calcular a dose de calcário a aplicar,
trazendo também informações gerais que ajudam a compreender melhor a
importância do assunto.
Esperamos que tais informações contribuam para o desenvolvimento das
atividades profissionais de todos aqueles envolvidos no processo produtivo, seja
lavrador ou técnico, difundindo o uso adequado de corretivos e fertilizantes.

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FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA E EDAFOLOGIA

13 REFERÊNCIAS

Bibliografia básicas

CLAESSEN, M. E. Manual de métodos de análise de solos. 2. ed. Rio de Janeiro:


EMBRAPA, 1997. Disponível em:
<http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Repositorio/Manual+de+Metodos_000fzvhot
qk02wx5ok0q43a0ram31wtr.pdf>.

KER, J. C.; CURI, N.; SCHAEFER, C. E.; TORRADO, P. V. Pedologia: fundamentos.


SBCS: Viçosa, 2012.

RESENDE, M. C. N.; REZENDE, S. B.; CORRÊA G. F. Pedologia: base para distinção


de ambientes. 5. ed. Viçosa: UFLA, 2007.

Bibliografia complementar

CAMARGO, M. N.; KLAMT, E.; KAUFFMAN, J. H. Classificação dos solos usada em


levantamentos pedológicos no Brasil. Separata do Boletim Informativo da Soc.
Brasileira de Ciência do Solo, v, 12, n. 1, p. 11-33, Campinas, 1987.

FITZ, P. R. Geoprocessamento sem complicação. Oficina de Textos. Canoas, 2008.

GUERRA, A. T. Novo dicionário geológico geomorfológico. Rio de Janeiro: IBGE,


1997.

POPP, J. H. Geologia geral. Rio de Janeiro: LTC,


1998.
TEIXEIRA, W. (Org). Decifrando a Terra. Salvador: IBEP Nacional, 2008.

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