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Diagnóstico psicopedagógico no

âmbito clínico

Aula 1
Abril/2023
DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICO NO ÂMBITO CLÍNICO

Início : 03/04/2023
Término: 28/04/2023
Carga horária: 36h
Dias e Horários: Segundas, quartas e sextas feiras das 19h30 às 22h00
Intervalo: 15 à 20 minutos
Dúvidas: combinar o melhor momento

Representante de sala:Jessica

Sistema de avaliação: 1 estudo de caso (6 pontos) e 1 avaliação de múltipla escolha (4 pontos)


Betina Luisa Saccomani Barone Miranda

Mãe de uma filha linda de 11 anos.

Pedagoga, Psicopedagoga Clínica


e Institucional, Advogada.

Prof.ª e Supervisora de Práticas


Psicopedagógicas

Graduanda em Psicologia e ex-


aluna da Uninove em
Psicopedagogia

Email: betinabarone@hotmail.com
professorconvidado813512@uni9.p
ro.br
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Sugestões de livros
Diagnóstico psicopedagógica no âmbito clínico

“ A tarefa psicopedagógica começa


justamente aqui, na medida em que se
trata de ensinar o diagnóstico, no
sentido de tomar consciência da
situação e providenciar sua
transformação.”

Sara Pain ( 1985, p72)


Avaliação psicopedagógica

A avaliação psicopedagógica é uma investigação, uma pesquisa do que não vai bem com o
sujeito em relação a uma conduta esperada. É um processo complexo de investigação sobre
a aprendizagem de uma pessoa ou um grupo.

É um estudo cuidadoso e sistematizado do processo de aprender, que se utiliza de


instrumentos próprios, que permitem ao psicopedagogo levantar hipóteses provisórias
acerca de um determinado sintoma, a fim de responder a uma queixa e fazer o
encaminhamento adequado.

É a tentativa de captar a forma individual de aprender e produzir de um ser cognoscente.


Objetivo da avaliação psicopedagógica

Identificar os desvios e obstáculos básicos


no modelo de aprendizagem do sujeito que
impedem de crescer na aprendizagem
dentro do esperado pelo meio social.

(Weiss, 2003:32)
Segundo Sampaio (2014)

“Realizar um diagnóstico é como


montar um grande quebra-
cabeças, pois à medida que se
encaixam as peças, vai se
descobrindo o que está por trás
destes sintomas. As peças serão
oferecidas pela família, pela escola
e pelo próprio sujeito, entretanto a
maneira de montá-las só depende
do psicopedagogo e, para que este
tenha um bom resultado, precisa
levar em conta todos os aspectos
objetivos e subjetivos observados
nos diversos âmbitos: cognitivo,
familiar, pedagógico e social”.
Metodologia

• A metodologia do trabalho, ou seja, a forma de


atuação (abordagem e tratamento) vai se tecendo em
cada caso na medida que a problemática aparece.
Cada situação é única e requer do profissional
atitudes específicas em relação à cada situação.
Cabe aos psicopedagogos levantar hipóteses, por
meio de aportes teóricos que fundamentam a
investigação.

• Hipótese diagnóstica: com origem no vocábulo


grego “hypóthesis”, significa suposição ou conjetura.
A hipótese é como uma proposição antecipadora à
comprovação da realidade existente, ou uma
pressuposição acerca da constatação dos fatos.

• O olhar psicopedagógico não deve se prender aos


sintomas, mas sim as reais causas do problema de
aprendizagem.
“O psicopedagogo recorrerá aos conhecimentos teóricos e práticos, elaborando hipóteses provisórias que irão
sendo confirmadas, ou não, no decorrer da investigação”.

(Weiss, 2012)
Segundo Claro (2020), o papel do
psicopedagogo deve ser bem definido
como:

“ Lembre-se de que ao psicopedagogo


que não tem formação em psicologia
não é permitido recorrer a instrumentos
que sejam de uso exclusivo do
psicólogo. Quando for preciso verificar
a existência de distúrbios de outra
ordem que não seja alçada da
psicopedagogia, deve-se solicitar apoio
de outros profissionais, como
psicólogo, neurologista, fonoaudiólogo
e psiquiatra”
Maior qualidade e validade da Avaliação Psicopedagógica
dependerá da relação entre o terapeuta e o paciente.
(Weiss, 2003)
Transferência e Contra Transferência

São formas de projeção, inconscientes e emocionais, que emergem e


interferem positivamente (empatia, admiração, afetividade) ou negativamente
(medo, ameaça, resistência) nas relações entre terapeuta e aprendente.
O aprendente deve saber que:

✓Pode falar de seus medos, angústias, alegrias e tudo que o incomoda ou agrada;

✓ Pode perguntar tudo o que ele quiser saber;

✓ Pode dizer tudo o que pensa, inclusive se não gosta do Psicopedagogo;

✓ Precisa cooperar com o Psicopedagogo;

✓ Que deve evitar faltar ou se atrasar nas sessões marcadas.

O psicopedagogo deverá deixar claro ao aprendente que irá ajudá-lo


a aliviar a dor que talvez esteja sentindo, mas deve enfatizar que não
poderá fazer isso sozinho e que ele tem suas responsabilidades.
“Em alguns momentos o paciente pode não querer comparecer aos atendimentos, por não querer enfrentar

suas dificuldades”. (BOSSA,1999)


O QUE É O SETTING?

É um espaço seguro onde o aprendente


é acolhido em sua forma de ser.

É o ambiente em que pode elaborar sua


dor, viver suas frustrações e angústias
com suporte.

É o espaço que poderá se revelar, se


descobrir, desenvolver suas
potencialidades e o seu auto suporte
para lidar com novas questões.
Consultório

A sala de atendimento deve ter um piso com um material lavável que não junte poeira e seja de
fácil limpeza. É importante ter uma sala de espera e uma sala de trabalho. A sala de espera é para
a família poder aguardar, se necessário. A decoração não deve ser exagerada para que não
provoque dispersão do sujeito e deve ter um lavatório com água corrente.
Consultório

De acordo com modelo de consultório de Weiss (2004) alguns materiais que devem constar na sala são:

• Mobiliário: mesa, quadro de giz ou quadro branco, armários ou locais fechados para guardar material sigiloso, caixas ou
cestos para materiais comum, painel, prateleira ou bancada para uso constante, relógio, calendário e computador
(tablet, celular).

• Caixa de trabalho: caixas de papelão com tampa, em que se possa guardar todo o material de uso e os produtos dos
aprendentes.
Consultório

• Material de consumo: papel de tamanho ofício branco


liso e colorido, pautado e quadriculado, folhas grandes
de papel branco ou pardo para construção de painéis,
colagens, cola, tesoura, massinha, canetas
hidrográficas de diferentes cores, giz de cera, lápis de
cor , entre outros.

• Jogos de vitória, com uso de dados e roletas, jogos


espaciais com estratégias, por exemplo, Damas, Trilha,
Xadrez, jogos pedagógicos com conteúdos escolares,
por exemplo, palavras cruzadas, caça letras,
cruzadinhas, jogos que exigem percepção, por
exemplo, Memória, Lince, Jogos de cartas , como
baralhos com figuras, entre outros.
ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO CLÍNICO
O psicopedagogo clínico trabalha as condições
adversas de aprendizagem da criança,
adolescente e adulto, a fim de recuperar a
autoestima perdida no percurso escolar,
levando-os a perceber suas potencialidades e
capacidades.

O trabalho do psicopedagogo clínico acontece


em dois momentos:

• Avaliação Psicopedagógica no âmbito


clínico

• Intervenção Psicopedagógica no âmbito


clínico
Em linhas gerais podemos considerar que incumbência profissional do psicopedagogo
clínico é:

1. Avaliar as dificuldades de aprendizagem, de diferentes causas, e em todas as fases da


vida.

2. Implementar estratégias específicas de intervenção.

3. Favorecer processos de inclusão e mudanças na família e nas instituições educativas.

Bossa (1999) esclarece que o trabalho psicopedagógico termina


quando o aprendente, sozinho consegue enfrentar os desafios que
surgirem e quando a escola for um espaço agradável para ele.
Linhas Teóricas

A maneira de realizar a avaliação clínica varia


entre os profissionais, dependendo da postura
teórica adotada.

A seguir, apresentaremos a linha teórica de


trabalho inspirada em Jorge Visca, buscando
alicerçar o trabalho de investigação da
dificuldade de aprendizagem baseada em
uma perspectiva vinculadora e abrangente.
Jorge Pedro Luiz Visca

Jorge Pedro Luiz Visca (1935-2000) foi


um psicólogo social argentino.
Graduou-se, também, em Ciências da
Educação.

Fundador do Centro de Estudos


Psicopedagógicos em Buenos Aires,
Rio de Janeiro, Curitiba, São Paulo e
Salvador.

1º Livro – Clínica Psicopedagógica


(1985)

Considerado o “Pai da
Psicopedagogia”

Criador da Epistemologia Convergente


EPISTEMOLOGIA CONVERGENTE

Integração de três concepções (escola) teóricas:

▪ Escola de Genebra - Psicogenética de Jean Piaget –


ninguém pode aprender o que está além da sua
estrutura cognitiva.

▪ Escola Psicanalítica de Sigmund Freud – caso haja


dois indivíduos com igual nível cognitivo, (intelectual) e
diferentes investimentos afetivos em relação a um objeto,
estes aprenderão de forma diferente.

▪ Escola de Psicologia Social de Enrique Pichón-


Rivière - propõem uma paridade entre o cognitivo e
afetivo em dois sujeitos de culturas diferentes, onde as
aprendizagens serão diferentes em função do meio sócio
cultural que se encontram.
EPISTEMOLOGIA CONVERGENTE

UMA TEORIA SOCIOINTERACIONISTA?


TEORIA SOCIOINTERACIONISTA
Interdependência entre o sujeito e o meio cultural
4 conceitos básicos que permitem flexibilidade operativa da avaliação
psicopedagógicas: (Pichon Rivière utiliza na psicologia social)

Estratégia/ arte de dirigir as


operações durante as sessões de
avaliação requer disposição
categoriais conceituais (tempo,
lugar, duração, frequência, caixa Logística –
de trabalho) . postura de levar
em conta os
déficits e as
TEORIA SOCIOINTERACIONISTA
capacidades do
Integração de diferentes concepções teóricas. indivíduo ou
Tática: atitude Modelo evolutivo que concentra seus interesses grupo que está
de colocar em nas sucessivas etapas de aprendizagem, integra e sendo avaliado
prática o plano
articula as relações entre os aspectos cognitivos, em função das
traçado para cada aptidões do
caso. afetivos, sócio-histórico-culturais no
desenvolvimento do indivíduo. psicopedagogo.

Técnica :estilo particular que


cada psicopedagogo utiliza para
avaliação.
Essa base citada anteriormente dá o psicopedagogo
segundo Leal e Nogueira, (2018), a capacidade de
analisar e compreender as capacidades e
incapacidades individuais ou grupais, utilizar as
categorias conceituais no momento adequado, tratar e
pôr em prática um plano de ação que se encontra ligado
ao estilo único de cada um.
Como se aprende?

Auguste Rodin (1904)


APRENDIZAGEM

“É o resultado de uma construção (princípio construtivista) dada em virtude de uma interação


(princípio interacionista) que coloca em jogo a pessoa total (princípio estruturalista)”. Jorge Visca
(1987)

“A aprendizagem é um processo contínuo e dinâmico que ocorre durante toda a vida do ser humano
e é por meio dela que o indivíduo se apropria de algo novo, apreende um novo conhecimento, de
modo que esse conhecimento passa a fazer parte dele.
Esse processo é resultado da interação entre o indivíduo e o meio sociocultural em que ele vive, ou
seja, para que o ser humano aprenda, é necessário que ele interaja com os outros seres humanos.
A partir dessas interações, ao longo do desenvolvimento da espécie humana, o homem foi se
apropriando de conhecimentos, habilidades, estratégias, valores, crenças e aptidões. (Leal
Nogueira, 2009)

Segundo Visca existe um ESQUEMA EVOLUTIVO DA APRENDIZAGEM ( nascimento até a


morte) .
ESQUEMA EVOLUTIVO DA APRENDIZAGEM
proposto por JORGE VISCA ( 1987)

❖ Existência de quatro níveis de aprendizagem:

1. Protoaprendizagem ou 1°nível de aprendizagem: é a aprendizagem


das primeiras relações vinculares, interação entre a mãe (cuidador) e
a criança.
2. Deuteroaprendizagem ou 2°nível de aprendizagem: caracterizada
pela cosmovisão ( visão do mundo) do grupo familiar que se constrói
em função das relações entre si.
3. Aprendizagem assistemática ou 3°nível de aprendizagem:
aquisição instrumental das técnicas e dos recursos que permitem o
desempenho do sujeito em uma comunidade restrita. Exemplos:
clubes, igrejas, grupo de estudos, entre outros.
4. Aprendizagem sistemática ou 4° nível de aprendizagem: produto
da interação do sujeito com o objeto de conhecimento por meio da
instituição escola ou seja, as intuições escolares que a sociedade
veicula por meio das escolas de educação infantil, ensino
fundamental, médio e superior.
ESQUEMA EVOLUTIVO DA APRENDIZAGEM
J. VISCA (1987)

NÍVEIS
Segundo Leal e Nogueira( 2018) “ O vínculo inadequado do indivíduo ao objeto em qualquer uma
dessas etapas de sua vida afetará seu desenvolvimento de forma parcial ou total, o que produzirá
parada em uma etapa ou o não desenvolvimento da aprendizagem da criança (déficit ou obstáculos
à aprendizagem)”.
OBSTÁCULOS DA APRENDIZAGEM
J. VISCA (2008)

Obstáculos Epistemofílicos ou Emocionais: utilizado para


designar o vínculo afetivo que o aprendiz estabelece com objetos e
as situações de aprendizagem. Consiste na dificuldade em aceitar
todo conhecimento novo por medo da indiscriminação, do ataque ou
da perda, ou seja, são “as causas emocionais” que podem gerar
dificuldades de aprendizagem (Visca, 2008, p. 19).

Obstáculos Epistêmicos ou Cognitivos: refere-se a estrutura


cognitiva do aprendiz, à estrutura do pensamento que se apresenta,
ou seja, cada sujeito epistêmico possui uma determinada estrutura
cognitiva que delimita o nível de conhecimento que este pode
adquirir em função das operações de que dispõe. As provas
piagetianas são fundamentais para identificação desse obstáculo.

Obstáculo Epistemológico: resistência em aceitar todo o


conhecimento que se encontre em contradição com a concepção de
mundo e da vida.

Obstáculos Funcionais: são as formas como o pensamento do


sujeito se dá, que, segundo Visca (1987), sofrem uma evolução que
permite ao examinador das dificuldades de aprendizagem utilizá-las
como hipótese auxiliar sempre que precise se valer de recursos
diagnósticos que não possuam na sua organização os princípios
construtivistas, estruturalistas e interacionistas , os quais
fundamentam essa visão. Pode ter ligação, por exemplo, com a
psicomotricidade.
Diagnóstico Psicopedagógico

Segundo Nogueira e Leal (2018) o diagnóstico psicopedagógico deve ocorrer em um local apropriado, com recursos e
materiais próprios, previamente selecionados. Há todo um planejamento do psicopedagogo que, em geral, segue um roteiro
que varia de acordo com a linha teórica com a qual trabalha.
“ O processo diagnóstico, assim como o tratamento, requer procedimentos específicos que constituem o que chamo de
metodologia ou modus operandi do trabalho clínico. Ao falar da forma de se operar na clínica psicopedagógica, vale
recordar que ela varia entre os profissionais, a depender, por exemplo, da postura teórica adotada, além de se contar com o
fato de que, como já foi dito, cada caso é um caso, com suas variantes, suas nuances, que diferenciam o sujeito, seu
histórico, seu distúrbio. (Bossa, 2000, p. 96)”
Sara Paín (1985) Jorge Visca (1987) Alicia Fernández (1990) Maria Lucia Weiss (1992) Simone Carlberg (2012)

Passos

1º Entrevista Contratual/ Entrevista Contratual Motivo consulta – família DIFAJ Entrevista Contratual/ Quadro Auxiliar –Entrevista
Motivo da (diagnóstico familiar de Motivo da Queixa Inicial /motivos da consulta
consulta/queixa aprendizagem numa jornada) /enquadramento

1º Hora do Jogo Entrevista Operativa Motivo consulta – paciente/ Hora Entrevista Familiar Entrevista Operativa Centrada
Centrada na Aprendizagem- do jogo Exploratória Situacional- na Aprendizagem-EOCA
EOCA EFES Dimensão cognitiva

2º P. Psicométricas P. Operatórias Dimensão Intelectual Anamnese P. Operatórias

3º História Vital P. Projetivas Dimensão Corpo Sessões Lúdicas Testes padronizados


(sondagem leitura e escrita,
motricidade) Dimensão
funcional

4º P. Projetivas T. Específicos Dimensão Afetiva Provas e Testes Provas Projetivas Dimensão


Específicos afetiva

5º P. Específicas Reconstrução Historia Vital Testes Específicos Síntese Diagnóstica Entrevistas, observação e
análise material escolar
Dimensão social

6º Hip. Diagnóstica Informe Pp Reconstrução da Historia Vital Devolutiva e Anamnese


Encaminhamento

7º Devolutiva e Devolutiva e Informe Psicopedagógico xxxxxxxx Informe Psicopedagógico


Encaminhameno Encaminhamento

8º xxxxxxxx xxxxxxxx Devolutiva e Encaminhamento xxxxxxxxx Devolutiva e Encaminhamento


Resumo esquemático do diagnóstico psicopedagógico ( Sampaio,
2014, p 20)

1ª sessão
3ª sessão 4ª sessão
Entrevista de 2ª sessão
Aplicação de Provas Aplicação de Provas
contrato com pais ou E.O.C.A com sujeito
Operatórias Operatórias
responsáveis

7ª sessão
8ª sessão 6ª sessão 5ª sessão
Aplicação das Provas
Anamnese com os Aplicação das Aplicação das
pedagógicas, se
pais ou responsáveis Técnicas Projetivas Técnicas Projetivas
necessário, ou outras

9ª sessão ou até 10ª


Devolução com os
pais e o sujeito
Fluxograma do diagnóstico psicopedagógico
(Sampaio, 2014)
CONTATO

ENTREVISTA INICIAL DE QUEIXA E


CONTRATO

PRIMEIRA SESSÃO COM O SUJEITO

E.O.C.A. ANÁLISE 1º SISTEMA DE HIPÓTESES

LINHA DE PESQUISA

TESTES

PROVAS OPERATÓRIAS / TÉCNICAS PROJETIVAS

OUTROS TESTES

2º SISTEMA DE HIPÓTESES

LINHA DE PESQUISA

ANÁLISE DO MATERIAL ANAMNESE

3º SISTEMA DE HIPÓTESES

INFORME DIAGNÓSTICO /
DEVOLUÇÃO
INFORME PSICOPEDAGÓGICO
Nome:
Data de Nascimento:
Idade: 8 anos e 11 meses
Escolaridade: 3º ano- Fundamental I - Colégio XXX
Encaminhamento:
O encaminhamento para a avaliação psicopedagógica partiu da mãe.
Queixa da mãe: Revela distração, dificuldade na leitura e interpretação de texto. Faz uso de
respostas simples e incompletas. Demonstra falta de interesse para realizar as tarefas escolares,
necessitando e requisitando a presença da mãe.
Do aprendente: “Quando eu escrevo muito a minha mão dói.” (Sic XXX)
Da escola: Dificuldade de compreensão de texto, dispersão e falta de maturidade.
Período de avaliação e número de sessões:
A avaliação foi realizada no período de xx de xx a xx de xx de xxxx, perfazendo um total de dez
sessões, com duração de 50 minutos cada.
Instrumentos utilizados para a investigação diagnóstica:
Entrevista inicial com a mãe
Entrevista operativa centrada na aprendizagem (EOCA)
Provas operatórias
Provas projetivas
Prova pedagógica lectoescrita
Prova pedagógica matemática
Avaliação psicomotora
Reconstrução da história vital com os pais
Visita à escola
Devolutivas: aprendente, pais e escola

Síntese dos resultados – Hipótese Diagnóstica

Durante a avaliação, XXX. manteve-se disposto e respondia tudo com educação e seriedade. Aos poucos foi se
sentindo mais confiante durante as sessões. Sempre perguntava quando tinha dúvida e, frente a uma dificuldade
rapidamente expressava os seus sentimentos, dizendo não gostar de realizar as atividades, mas em nenhum
momento deixou de fazê-las. Verbalizou bem as palavras, sua fala revelou lógica e sequência. Apresentou iniciativa,
boa postura e realizou a maioria das atividades propostas com tranquilidade, menos as que envolviam o movimento,
leitura e escrita, que rapidamente indagava se teria que escrever muito. Foi possível notar que o vínculo de confiança
com a psicopedagoga, aos poucos, foi sendo estabelecido. Falou que sua matéria favorita é Matemática: “Eu sempre
gostei de Matemática e de fazer contas (Sic XXX.). Quando indagado se pudesse fazer algo para um aluno que se
parecesse com ele em sala de aula o que aconselharia, verbalizou: “Ia dizer pra ele que escrever é bom, que precisa
treinar mais para não ter dificuldade”
Por meio da observação da entrevista operativa centrada na aprendizagem (EOCA), demonstrou
características de aprendizagem em que prefere observar, quase não fala, revela timidez, não explora
muito os materiais e costuma ficar mais tempo numa mesma atividade, frente a um desafio, desiste
facilmente, repete o que aprendeu sem questionar, demonstrando uma obediência acrítica às normas,
realizando apenas o que lhe é pedido. XXX., cumpriu com as instruções, buscou a aprovação da
psicopedagoga por meio de um olhar preocupado. Durante a sessão revelou ser organizado, devolvendo
para o lugar tudo o que pegava, pedia permissão inclusive para usar a borracha.

Nas provas operatórias que têm o objetivo de compreender o nível de estrutura no qual o aprendente é
capaz de operar de acordo com a sua faixa etária, foram selecionadas: Classificação (inclusão e
intersecção de classes); Conservação (comprimento e peso) e Seriação. O desempenho de XXX, em
algumas provas como, inclusão e intersecção de classes e seriação encontra-se no nível II intermediário.
Nas provas de conservação de quantidade de matéria e de peso encontra-se no nível I, não conserva. Na
quantidade de comprimento no nível III, conserva. Apresenta-se em transição entre o estágio pré-
operatório intuitivo articulado e o operatório concreto. Ainda prevalece o pensamento rígido onde
considera apenas o estado da matéria e não as suas transformações, o que torna compreensível a
defasagem e dificuldade para entender um conteúdo e interpretar textos.
Durante a realização das provas projetivas realizada com a intenção de investigar a rede de vínculos que o sujeito pode
estabelecer entre três grandes dimensões: família, escola e consigo mesmo, foi observado que XXX embora goste da sua
escola, da professora e dos colegas e reconheça a importância da aprendizagem formal, possui um vínculo negativo com
a aprendizagem, com dificuldade para buscar o conhecimento, dependência do outro, timidez e sentimento de
inferioridade. Verbalizou que é quieto e obediente comparado com alguns colegas de sala de aula e, também, que é mais
difícil para ouvir e enxergar quando não fica bem de frente para a lousa e para a professora. Sente-se importante e
acolhido no contexto familiar, com segurança nos pais, principalmente na figura materna, entretanto faz questão de
trazer assuntos relacionadas aos seus medos e inseguranças.

Quanto à leitura, leu em voz alta palavras isoladas com pouca dificuldade. Apresentou resistência e indagou se teria que
ler uma história longa, escolheu um texto curto, leu rapidamente, sem observar a pontuação correta e dar a entonação
adequada. Em relação à escrita, ao escrever apresentou omissão de letras, ausência de acentos, uso inadequado de
letras maiúsculas, erros decorrentes da possibilidade de representações múltiplas como: s, ss, c, ç, x, z, alterações
ortográficas decorrentes de apoio na oralidade (escrevendo do modo como pronuncia a palavra) e apresentou pequenos
erros de segmentação. Ao contar histórias apoiado em gravuras, revelou resistência, pouco envolvimento e descreveu
rapidamente o que estava vendo em cada imagem. Ao escrever a história relacionada a gravura escolhida por ele,
demonstrou resistência, falta de vínculo com novas aprendizagens, insegurança e ansiedade, foi logo dizendo: “Ah, vou
ter que escrever.” (Sic XXX.). Produziu uma narrativa simples, com começo, meio e fim, restringindo-se a descrição da
figura, com pouca criatividade e com escassa percepção de estímulos apresentados pela gravura escolhida, houve
coerência entre o título e o conteúdo narrado. Houve também dificuldade de expressão do pensamento e elaboração de
histórias mais elaboradas.
Em Matemática durante o jogo “pega varetas”, XXX. sentiu-se confortável pelo fato de conhecer o jogo, analisou
possibilidades, organizou ações e estratégias, respeitou as regras, foi gentil e lidou bem com as frustrações. Estava muito
focado em pegar a vareta preta de maior valor e deixou passar outras oportunidades de pontos. No momento de somar
pediu que a psicopedagoga somasse por ele, entretanto foi estimulado a somar os pontos. XXX optou por classificar as
varetas pelas cores utilizando cálculo mental para realizar a soma, no entanto não obteve êxito no resultado. Na
resolução de problemas respondeu verbalmente algumas questões corretamente, entretanto errou outras, ora por não
entender a consigna, ora por distração. Ao resolver operações de soma e subtração, multiplicação e divisão, apresentou
um resultado de baixo acertos, apresar de não ser uma dificuldade apresentada na queixa.

Quanto à psicomotricidade, nos aspectos sensoriais, motores, cognitivos, psicoafetivos e sociais, foi possível observar
que XXX. realizou as atividades de coordenação dinâmica das mãos, global e equilíbrio com algumas dificuldades e com
pequena tensão e rigidez. Na prova de coordenação espacial apresentou pequenas falhas na reprodução de movimentos
de figuras desenhadas. Nas provas de estrutura espaço-temporal: reprodução som-som, grafia-audição demonstrou
algumas dificuldades, reprodução grafia-visual, som-visual realizou com êxito. Apresentou dominância manual direita,
dominância pedal direita e esquerda, dominância ocular esquerda que pode revelar indefinição da dominância lateral
dos membros. Verbalizou durante a avaliação: “Eu só gosto de jogar futebol com meu pai.”(Sic XXX).
Durante o processo avaliativo foi possível identificar questões relacionadas a problemas com a visão e
audição. Foi pedido para os pais que levassem XXX. para uma avaliação oftalmológica e auditiva, onde foi
concluído hipermetropia + 2,50 para longe e déficit no processamento auditivo central (DPAC). XXX. já
está fazendo uso dos óculos e terapia de cabine com a fonoaudióloga, com o objetivo de superar as
dificuldades orgânicas. Para o seu sucesso escolar, será necessário que a escola compreenda o estilo de
aprendizagem para conseguirmos avançar no seu processo de aquisição do conhecimento. Recomendo
atividades em que ele aprenda fazendo, tocando, manipulando e sentindo, envolvendo-se diretamente
com o processo de aprendizagem. Neste período é importante que as instruções sejam claras e diretas,
sempre de frente para ele e com checagem se o conceito ou instrução foi compreendido, além disso, se
faz necessário uma atenção especial em relação à leitura das consignas e um tempo maior para execução
das provas avaliativas e que elas sejam feitas em local de poucas interferências. Sugiro ainda, que XXX dê
continuidade ao atendimento psicopedagógico clínico a fim de restaurar a sua motivação e desejo para
aprender, com um trabalho de intervenção direcionado para aprendizagem da leitura, escrita e
matemática.
Considerando, juntamente, que crianças com dificuldade no seu processo de lateralização podem
apresentar dificuldade na leitura e cálculos matemáticos, desmotivação, cansaço, falta de atenção,
entre outros fatores que podem causar fracasso escolar, recomendo uma avaliação psicomotora com o
objetivo de investigar mais profundamente e excluir qualquer questão neurofuncional que esteja
interferindo na sua aprendizagem. Se faz necessário observar o comportamento emocional e se XXX.
continuar com sintomas relacionados, medo e insegurança que faça uma avaliação psicológica para o
gerenciamento de sua ansiedade e fortalecimento da autoestima e autoconfiança. Por fim, é proposto
aos pais que definam limites claros, façam reuniões de família para encorajá-lo a resolver problemas,
ser autônomo, atribuindo pequenas tarefas no seu dia a dia envolvendo-o em atividades simples
como: organização do seu material escolar, elaboração de sua rotina de atividades, lição de casa, servir
a mesa, participar do café da manhã, fazer lista de supermercado, organizar dispensa de mantimentos,
gavetas de roupa, classificar e seriar brinquedos e objetos, entre outras que ajudarão na compreensão
de habilidades matemáticas e resolução de conflitos, para que ele sinta-se capaz e confiante. Sugiro
ainda, que XXX seja incentivado a fazer esportes que desenvolvam outras habilidades além do
futebol. Este documento tem a validade de informar sobre as hipóteses das dificuldades de
aprendizagem aqui apresentadas, e suas informações são de uso estritamente educacional.

________________________________________
Psicopedagoga Clínica e Institucional e Pedagoga
São Paulo, de xx de 20XX
Agradecemos e desejamos bons estudos

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