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FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
Salvador-Ba
2021
SÁTILA SOUZA RIBEIRO
Salvador-Ba
2021
SIBI/UFBA/Faculdade de Educação – Biblioteca Anísio Teixeira
Banca examinadora
Aos surdos, grandes companheiros e amigos de longas
datas. Sempre estiveram ao meu lado compartilhando suas
experiências e conhecimentos de forma construtiva e tão
especial. Vocês embelezam a minha existência!
AGRADECIMENTOS
RESUMO
O uso de recursos tecnológicos no ensino da Libras traz avanços pedagógicos para os docentes,
estimulando-os no processo de ensino, uma vez que possibilita maior interação com o conteúdo
ministrado. Nessa perspectiva, esta pesquisa tem como objeto de estudo a análise da influência
das tecnologias digitais no processo de ensino da Língua Brasileira de Sinais (Libras), na
perspectiva de docentes surdos, na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Tal
investigação foi desenvolvida junto aos docentes surdos (usuários da Libras) da UFRB, nos
Centros de Ensino nas cidades: Cachoeira e Amargosa-Bahia. A escolha metodológica, de
natureza qualitativa, define o estudo de caso, com uso da entrevista semiestruturada como
instrumento de investigação. Com vistas a atender as normativas da ética na pesquisa com seres
humanos, este estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética da UFRB e da UFBA. A
concepção teórica que norteia este estudo fundamenta-se na Teoria Sociointeracionista de
Vygotsky (1988) e na Teoria da Ação Mediada abordada por Wertsch (1998), por trazerem a
compreensão de que o ensino da Libras, mediado por recursos tecnológicos, pode ser
desenvolvido como processo de interação entre o ser humano e o mundo social em que está
inserido. Tais abordagens teóricas concebem a relação entre o ensino e a aprendizagem como
fenômenos que se realizam na interação com o outro. Os resultados demonstram que os
docentes surdos utilizam recursos tecnológicos, tais como: notebook, softwares adaptados e
acessíveis, videoconferência, fórum de discussão, slides com imagens, ambiente virtual de
aprendizagem (AVA), videoaulas, glossários, tradutor virtual, dicionário digital, dentre outros,
como influenciadores no processo de ensino da Libras, trazendo inovações em sala de aula.
Esperamos, com esta tese, contribuir para o compartilhamento e reflexão acerca dos recursos
tecnológicos para o ensino da Libras utilizados na instituição pesquisada, na expectativa da
inclusão das tecnologias aqui apresentadas, na composição de um caderno de orientações, como
um Produto de Tecnologia, disponibilizado pela Editora UFRB, em formato acessível.
ABSTRACT
The use of technological resources in the teaching of Libras brings pedagogical advances for
teachers, stimulating them in the teaching process, since it allows greater interaction with the
content taught. In this perspective, this research has as its object of study the analysis of the
influence of digital technologies in the teaching process of the Brazilian Sign Language
(Libras), from the perspective of deaf teachers, at the Federal University of Recôncavo da Bahia
(UFRB). This investigation was carried out with the deaf teachers (users of Libras) at UFRB,
in the Teaching Centers in the cities: Cachoeira and Amargosa-Bahia. The qualitative
methodological choice defines the case study, using semi-structured interviews as a research
tool. In order to meet the standards of ethics in research with human beings, this study was
submitted and approved by the Ethics Committee of UFRB and UFBA. The theoretical
conception that guides this study is based on Vygotsky's Sociointeractionist Theory (1988) and
the Theory of Mediated Action approached by Wertsch (1998), for bringing the understanding
that the teaching of Libras, mediated by technological resources, can be developed as a process
of interaction between human beings and the social world in which they are inserted. Such
theoretical approaches conceive the relationship between teaching and learning as phenomena
that take place in the interaction with the other. The results demonstrate that deaf teachers use
technological resources, such as: notebook, adapted and accessible software, videoconference,
discussion forum, slides with images, virtual learning environment (VLE), video classes,
glossaries, virtual translator, digital dictionary, among others, as influencers in the Libras
teaching process, bringing innovations in the classroom. We hope, with this thesis, to contribute
to the sharing and reflection about the technological resources for teaching Libras used in the
researched institution, in the expectation of the inclusion of the technologies presented here, in
the composition of a guidance book, as a Technology Product, made available by Editora
UFRB, in accessible format.
Keywords: Brazilian Sign Language. Deaf teachers. Higher education. Technological resource.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Lista de quadros
Lista de figuras
Figura 1 - Captura de telas de vídeos: “Como falar com o surdo?”; “Libras é uma comunicação
inclusiva?” ................................................................................................................................ 31
Fonte: https://binged.it/2ZWJirI
Figura 3 - Captura de tela do vídeo: “Minha audição não funciona como a sociedade quer”. 33
Fonte: https://binged.it/2WKCU4L
Figura 4 - Registro da língua de sinais produzido por Flausino José da Gama, em 1875 ....... 34
Fonte: Santos, Ferreira e Ledebeff (2019, p. 3).
Figura 8 - Aula de Escrita de Sinais pela professora Marianne Stumpf em Instituição privada de
ensino superior de Santa Catarina (Uniasselvi) .......................................................................... 38
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=IMaAp6fvbTA.
Figura 24 - Nível Básico – Seleção de temas em Libras e associação entre escrita de sinais e
escrita do português .................................................................................................................. 73
Fonte: (NÓBREGA, 2016, p. 55-56).
Figura 25 - Nível Intermediário – História sinalizada pelo avatar em Libras e jogo das frases
memória .................................................................................................................................... 73
Fonte: (NÓBREGA, 2016, p. 57-58).
Figura 27 - Captura de tela de Nelson pimenta apresentando Fábulas de Esôpo em Libras ... 98
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=8URZE-NmtV4
Figura 28 - Demonstração de movimento facial a ser incorporado em um avatar ................ 103
Fonte: De Martino, et al. (2017, p. 799, apud, PAIVA, 2019, p. 58).
Figura 30 - Sinais “por que”; “como”; “que”; da esquerda para direita ................................ 104
Fonte: Paiva (2019, p. 59)
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 17
2 O SURDO E A TECNOLOGIA ......................................................................................... 28
2.1 Concepção sobre a pessoa surda ..................................................................................... 29
2.2 A Língua Brasileira de Sinais (Libras) ........................................................................... 33
2.3 Recursos tecnológicos como ferramentas auxiliares na comunicação em Libras ...... 39
3 O DOCENTE SURDO NA EDUCAÇÃO SUPERIOR .................................................... 51
3.1 Perfil profissional do docente surdo ............................................................................... 54
3.2 A atuação do docente surdo no contexto pedagógico .................................................... 56
3.3 O ensino da Libras mediado por recursos tecnológicos na Educação Superior ......... 60
4 O PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA...................................................... 76
4.1 Lócus da pesquisa e sua caracterização .......................................................................... 76
4.2 Características dos sujeitos da pesquisa ......................................................................... 80
4.3 Instrumentos para levantamento dos dados da pesquisa ............................................. 82
4.4 Procedimento para a coleta e análise dos dados ............................................................ 84
5 A PERCEPÇÃO DE DOCENTES SURDOS SOBRE O USO DE RECURSOS
TECNOLÓGICOS NO ENSINO DA LIBRAS ................................................................... 87
5.1 Tecnologias digitais como estratégias pedagógicas no ensino de Libras ..................... 87
5.1.1 Recursos tecnológicos utilizados pelos docentes surdos ................................................ 89
5.1.2 Relevância dos recursos tecnológicos para o ensino de Libras ....................................... 92
5.2 Finalidade dos recursos tecnológicos pelos docentes
surdos.......................................................................................................................................95
5.2.1 Possibilidades e dificuldades no acesso e utilização dos recursos tecnológicos..............97
5.2.2 Sugestão para melhoria no funcionamento das ferramentas tecnológicas .................... 101
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 107
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 113
ANEXOS ............................................................................................................................. 123
17
1 INTRODUÇÃO
Esta pesquisa tem como objeto de estudo a análise sobre a influência das tecnologias
digitais no processo de ensino da Libras, na perspectiva de docentes surdos, na Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Entendemos, pois, que a escolha definida para este
estudo inclui os surdos usuários da Língua Brasileira de Sinais (Libras) como primeira língua
(L1) e Língua Portuguesa como segunda língua (L2), na modalidade escrita, tendo em vista ser
essa a realidade dos docentes participantes da presente pesquisa, pertencentes a uma
comunidade linguística que os apresenta como pessoas que se comunicam, interagem e se
posicionam a partir da experiência visual.
A Libras possui natureza visual-espacial-motora e estrutura gramatical própria, e foi
reconhecida pela Lei nº 10.436/2002 como meio legal de comunicação e expressão de um grupo
que possui sujeitos ouvintes, que são familiares de pessoas surdas, intérpretes, docentes, amigos
e outros que compartilham os mesmos interesses em comum, em um determinado local, que
pode ser uma associação de surdos, shopping, igreja, dentre outros (BRASIL, 2002).
É importante salientarmos que a Libras, historicamente, ficou conhecida de forma
limitada pela sociedade. Porém, atualmente, há uma transformação, no que se refere a sua
valorização social, pois cada vez mais pessoas estão interessadas em aprenderem a utilizar a
Libras, aumentando, assim, a sua difusão. Isso também se dá através dos avanços tecnológicos,
a exemplo da construção de glossários e da criação de agentes animados tridimensionais (3D)
que possam captar sinais da Libras como formas de aprender a língua.
Tendo em vista que o Decreto nº 5.296/2004, em seu Art. 47 afirma a obrigatoriedade
do acesso linguístico nos portais e sites eletrônicos, constatamos que, a UFRB possui
informações veiculadas no site nas versões em Libras, garantindo o acesso para pessoas surdas
(usuárias da Libras) nos ambientes digitais1. Esse portal foi lançado, em setembro de 2014,
como serviços voltados para os estudantes e docentes surdos que fazem parte da comunidade
acadêmica e profissional, é alimentado por um grupo de profissionais tradutores/intérpretes de
Libras que atendem as solicitações dessa comunidade acadêmica.
1
Através do link: <https://www.ufrb.edu.br/portal/noticias/3710-ufrb-lanca-servicos-para-
comunidade-surda-durante-setembro-azul>.
18
Adotamos, nesta pesquisa, o termo pessoa surda, como aquela que possui uma história
de vida peculiar e diferença linguística, além de perceber o mundo por meio de experiências
visuais. Porém, destacamos que podem aparecer, neste trabalho, termos como: pessoas com
deficiência e com necessidades especiais; com vistas a fidedignidade às citações de
documentos, considerando a época em que foram elaborados.
A educação superior se constitui um direito da pessoa, e possui como proposição a
formação profissional dos cidadãos brasileiros, preparando-os para prestarem serviços no
ambiente em que estão inseridos. Diante disso, compreendemos que as universidades, ao
atenderem as legislações vigentes, tornam-se ambientes inclusivos, desempenhando um papel
importante no que se refere a valorização da capacidade humana, buscando criar mecanismos
de igualdade e democratização do acesso para todos.
Em uma instituição de educação superior, as pessoas surdas estão em busca de um perfil
profissional de qualidade, dessa forma, as universidades, ao mesmo tempo que inserem a
disciplina Libras nos cursos de licenciatura e bacharelado, formam profissionais da educação
para atuarem nesse ambiente de ensino. Nesse contexto, a vida cotidiana do docente surdo é
afetada pelas tecnologias digitais, que influenciam no seu comportamento e, consequentemente,
transformam o espaço em que está inserido. Assim, o docente surdo na educação superior
adquire, ainda, o comprometimento da interação entre o ensino e os recursos tecnológicos
disponibilizados na sociedade da informação.
A presente pesquisa considera recurso tecnológico como ferramenta suportada pela
tecnologia, a exemplos de produtos, recursos, estratégias didáticas e ferramentas, a fim de
atender a uma necessidade pedagógica em sala de aula. Sendo assim, no texto pode aparecer
expressões como tecnologias, ferramentas tecnológicas e tecnologias digitais para referirmos
aos recursos tecnológicos.
Neste momento, opto, pela 1ª pessoa do singular, por estar narrando a trajetória que
justifica a minha implicação com a temática. Quero retornar a caminhada que me fez chegar
até o presente momento, mesmo que de forma resumida. Meu primeiro contato com a Língua
Brasileira de Sinais (Libras) se deu em fevereiro de 1994, quando estudava na 5ª Série, atual 6º
Ano. Primeira semana de aula, a colega de sala, Alana Moura, gesticulava, e eu imaginava,
“essa menina fala através das mãos”, e também pensava: “tenho de me comunicar com ela
também”. Ao aproximar, ela disse: “Eu surda, oralizar pouco, gosto também Libras”.
A partir daí, minha vida não foi mais a mesma. Auxiliava Alana na realização das
atividades em classe e a convivência diária com ela fez toda a diferença. Tornamo-nos amigas,
e Alana me apresentou o alfabeto em Libras, dentre outros sinais. Fui e sou encantada por essa
19
língua, haja vista os surdos e a Libras serem inspiradores deste estudo também.
Em junho de 1995, participei de um curso básico de Libras, na cidade em que nasci,
Jequié-Bahia, e conheci outros surdos, Fábio (surdo que me deu o sinal de “batismo”- é o sinal
na Libras que objetiva representar a pessoa). Meu sinal é configuração da mão em letra “S”
tocando na bochecha, Fábio escolheu esse sinal por que meu nome começa com a letra “S” e,
na época, a minha bochecha era saliente.
A partir desse momento, queria conhecer ainda mais esse universo, ter contato com eles,
alguns oralizavam, outros utilizavam a Libras, e eu sempre buscava frequentar os mesmos
espaços que eles, a exemplo da Praça Rui Barbosa, realizávamos passeios, e a igreja, a qual já
frequentava desde criança. No mesmo ano, e, com o contato quase todos os dias com os surdos,
fui avançando no aprendizado da língua e já estava interpretando na igreja. Pesquisava em
muitos materiais impressos, pois naquela época era pouco acessível a internet, por isso,
estudava também com a presença dos surdos.
Participei de vários congressos, oficinas, encontros e seminários, principalmente no
âmbito religioso, dentre outros eventos em que a temática era voltada para a pessoa surda, e,
assim, tive contato também com Intérpretes de Libras de vários estados do País, e cada vez mais
reafirmava a minha definição profissional pela área da educação.
Lembro-me que naquela época não existia cursos de graduação específicos para o ensino
da Libras ou para área de tradução e interpretação da mesma, apenas cursos de formação e
qualificação profissional ministrados pela Federação Nacional de Educação e Integração dos
Surdos (Feneis) com sede no Rio de Janeiro e algumas filiais em estados pela federação. Aqui
na Bahia não eram oferecidos tais cursos, o que inviabilizou minha qualificação naquele
momento, em Jequié.
Com a vinda para Feira de Santana, juntamente com o meu esposo, em 2005, a fim de
cursar o Seminário Teológico Batista do Nordeste, também iniciei a Graduação em Pedagogia.
Nesse mesmo período, a rede estadual de ensino começou a contratar Intérpretes de Libras para
atuar nas salas com alunos surdos, foi quando aceitei o desafio. Fui aprovada na entrevista e
comecei a atuar em uma turma do ensino médio. Foi desafiador, um início agitado, pois além
de cursar 02 (duas) graduações (Teologia e Pedagogia), estava também trabalhando, e,
pesquisando sinais para melhor atuar, como Intérprete/Tradutora em todas as disciplinas.
Percebia nos olhos dos surdos a alegria por ter uma profissional Intérprete em sala de aula, que
conseguia transmitir o conteúdo através da Libras.
Surgiu, então, o 1º concurso para Intérprete de Libras da Bahia, realizado pela prefeitura
de Feira de Santana, em 2007, realizei as provas e fui aprovada em todas as fases. Trabalhei
20
alguns anos como intérprete educacional na educação básica, na rede pública de ensino. E, com
a criação do curso Letras/Libras no Brasil, em 2006, ofertado pela Universidade Federal de
Santana Catarina (UFSC), com polo na Universidade Federal da Bahia (UFBA), tive o prazer
em ser discente, e, assim, realizar o sonho da Graduação em Letras/Libras na segunda turma,
em 2008, assim como nas Especializações em Educação Inclusiva e em Libras.
Tive acesso a várias temáticas acerca do Ensino da Libras e as Tecnologias, nas quais
um estudo me chamou a atenção: “Desenvolvimento de software para o ensino da Libras” da
pesquisadora e docente Mariane Stumpf2. Nesse estudo, a autora aborda aspectos sobre o ensino
da Libras, além do uso de recursos tecnológicos como potencializadores no processo de ensino,
apresentando o computador e a Internet como possibilidades de comunicação e informação.
Um destaque é que, a graduação em Letras/Libras era totalmente acessível aos surdos
usuários da Libras, tornando-os protagonistas das ações educativas. A língua de sinais era
utilizada na mediação de todas as aprendizagens através das videoconferências, das aulas
presenciais, as apresentações dos trabalhos dos estudantes, as avaliações, enfim, tudo era
realizado em Libras. Além disso, o material acadêmico era disponibilizado em língua
portuguesa e na Libras.
Nesse período, desisti de cursar Pedagogia, pois com a terceira graduação e o meu
emprego, estava me sentindo sobregarregada. Assim, a sonhada graduação em Letras/Libras
despertou, ainda mais, a minha vocação pela área da educação e para pesquisas voltadas à
pessoa surda e Libras.
Mais tarde, ingressei na educação superior enquanto docente de Libras, iniciando pelas
Instituições particulares, como a Faculdade Zacarias de Góes (Fazag), nas cidades: Santo
Antonio de Jesus, Muniz Ferreira e Nazaré-Ba; Faculdade de Ciencias Educacionais (Face) nas
cidades: Aratuipe e em Sapeaçú-Ba. Em seguida atuei em universidade pública, como a
Universidade do Estado da Bahia (Uneb), nas cidades: Valença e Santo Antonio de Jesus,
através do Programa de Formação de Professores da Educação Básica-Plataforma Freire
(PARFOR), ministrando a disciplina Libras nos cursos de História, Pedagogia, Biologia e
Letras dessas instituições.
Ao lado de estudantes/educadores, sempre em minhas aulas discutia a respeito da
Inclusão e da Educação Bilíngue, pois essas temáticas ainda eram pouco mencionadas na
2
É surda e atua como coordenadora geral do curso de Letras-Libras da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC); Professora adjunta da UFSC; como fruto de sua pesquisa intitulada “Aprendizagem da escrita de língua
de sinais no papel e no computador”, recebeu o prêmio Capes de 2006. Desenvolveu pesquisas relacionadas a
softwares para a escrita de sinais. Dados disponíveis em:
https://www.youtube.com/watch?time_continue=282&v=kM1rjb3sjWg&feature=emb_title.
21
Educação Superior e a pessoa surda quase não tinha acesso a esse nível de ensino, devido as
barreiras linguísticas, tecnológicas e atitudinais.
Nesse período, também, atuei como docente com estudantes surdos, usuários da Libras,
no município baiano de Nazaré3, no período de 2012 a 2014. Essa foi a minha primeira
experiência em trabalhar com estudantes surdos, onde ministrava a disciplina: “Português como
segunda língua para surdos”, nas modalidades: escrita e leitura, no ensino fundamental 2. A
sala de aula possuía 07 (sete) estudantes surdos, com faixa etária de 18 (dezoito) a 41 (quarenta
e um) anos, e com histórias de vida peculiares.
A motivação em desenvolver o tema da Tese “O uso de recursos tecnológicos por
docentes surdos no ensino da língua brasileira de sinais na Educação Superior”, deu-se também
nessa ocasião, onde preparava as aulas com jogos adaptados para Libras, jogos dinâmicos para
o ensino da Língua Portuguesa escrita, a utilização de filmes e documentários sobre surdos,
aplicativos, a exemplo do Aplicativo Hand Talk, que realiza tradução digital e automática para
a Língua de Sinais, utilizando um intérprete virtual 3D. O Hand Talk trouxe acesso digital em
Libras para esses estudantes na época, em Nazaré, além de dinâmicas com recursos visuais que
os motivaram para a aprendizagem e interação.
Em 2014 fui aprovada no concurso público federal, no cargo de Intérprete/Tradutora de
Libras, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), no campus de Cruz das
Almas, exercendo atividades de tradução/interpretação na Pró-Reitoria de Graduação
(PROGRAD), traduzindo as notícias postadas no site oficial da UFRB para a versão em Libras.
Nessa época, morava em Nazaré, e, com a nomeação do concurso da UFRB, retornei
para Feira de Santana e continuei estudando para os concursos que a instituição promovia, pois
meu desejo maior era exercer a docência. Meu percurso, nesse período, era Feira de Santana -
Cruz das Almas (71 km/distância) todos os dias, e, com o coração “apertado” “afastava” dos
meus filhos Heitor (2) e Lídia (1) idades a época. Para trabalhar nessa referida cidade saía
6h10m e chegava em casa 19h20m.
Em 2015 fui aprovada no concurso para docente substituto da UFRB também no campus
de Cruz das Almas, com muita alegria exercia a docência naquele Centro de ensino, mas ainda
não me sentia realizada profissionalmente, pois queria mesmo ser docente efetiva. Ainda assim,
atuei em duas funções: docente substituta e intérprete de Libras na instituição.
3
Município localizado no centro sul do Recôncavo Baiano, às margens do Rio Jaguaripe, com população estimada
em 29.450 habitantes no ano de 2016. no Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Nazar%C3%A9_(Bahia).
Acesso em: 15 set. 2020.
22
No final de 2015 surgiu concurso para Docente Efetivo de Libras para atuar no Centro
de Feira de Santana. Nem acreditei! Que sonho! Me dediquei, com todas as forças, aos estudos
e me preparei para as fases das provas. Fui aprovada em primeiro lugar no referido concurso:
Docente Efetivo em Regime Dedicação Exclusiva, em Feira de Santana. Como eu chorei de
tanta alegria! Mas, o cansaço físico e mental era tão grande que não consegui comemorar a
aprovação como gostaria naquele exato momento.
Me sentia exausta, e também radiante de felicidade (mistura de sentimentos). Com o
coração grato, trilhei mais um novo caminho, dessa vez, como docente na cidade em que resido
com a minha família, aí sim, me senti realizada. Obrigada, Senhor, pois reconheço que tudo
vem de Ti!
Ao ingressar novamente na UFRB, porém como docente efetiva, em 2016, lecionando
a disciplina Libras, busquei nos grupos de pesquisas da área de educação um programa de Pós-
Graduação stricto senso que dispusesse de orientadores para o aprofundamento na área de
educação/ pessoa surda/ Libras. Essas vertentes encontrei na Universidade Federal da Bahia
(UFBA/FACED), especificamente na Faculdade de Educação, que dispunha de orientador (a)
na linha de pesquisa em Educação e Diversidade.
Ingressei no programa como aluna especial, tendo cursado uma disciplina, quando
foram abertas as inscrições para aluno regular do Mestrado com oferta de vagas para esta linha.
Dessa forma, participei da seleção e fui aprovada e orientada pela Professora Drª Susana Couto
Pimentel. A partir daí, deu-se início a outra fase da minha caminhada na elaboração do projeto
e pesquisa de Mestrado, com a temática “Estratégias pedagógicas para a permanência de
estudantes surdos na Educação Superior”.
Reforçada pelos resultados da pesquisa de Mestrado que evidenciaram, através de
relatos dos acadêmicos surdos, a carência de recursos tecnológicos e visuais em sala de aula, a
exemplos de slides, filmes com legendas, uso de imagens, recursos visuais e didáticos,
glossários, dentre outros, surgiu também a curiosidade de pesquisar sobre a influência das
tecnologias digitais no processo de ensino da Libras (foco da presente pesquisa).
Mais uma experiência em desenvolver pesquisa voltada para o uso dos recursos
tecnológicos por docentes surdos surgiu também quando ingressei, desde a sua implantação e
funcionamento, no Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Tecnologia Assistiva e
Acessibilidade (NETAA), em 2016, cujas atividades se desenvolvem no Centro de Ciência e
Tecnologia em Energia e Sustentabilidade (CETENS), principalmente no seu Laboratório de
Tecnologia Assistiva. No núcleo, aconteceram momentos de estudos, com levantamento de
23
4
Lev Semynovich Vygotsky nasceu em 1896 na cidade de Orsha, morreu em 1934. Buscou compreender a origem
e o desenvolvimento dos processos psicológicos ao longo da história da espécie humana, através da cultura,
24
da Ação Mediada abordada por Wertsch5 (1998), por trazerem a compreensão de que o ensino
da Libras, mediado por recursos tecnológicos, pode ser desenvolvido como processo de
interação entre o ser humano e o mundo social em que está inserido.
A principal contribuição da Teoria da Ação Mediada (WERTSCH, 1998), apresentada
na obra intitulada “Estudos socioculturais da mente” e da Teoria Sociointeracionista
(VYGOTSKY, 1988), para a presente Tese é a ideia da aproximação sobre a ação humana
mediada por recursos tecnológicos, na qual a pessoa e o contexto sociocultural não são
elementos diferentes para se compreender o desenvolvimento intelectual humano, e sim
elementos associados um ao outro.
Wertsch (1998) e Vygotsky (1988) sustentam que os meios mediacionais não devem ser
concebidos como se fossem únicos, e sim como diversos itens de um “kit de ferramentas”
(PAULA; ARAÚJO, 2013, p. 2). Para Paula e Araújo, essa metáfora trazida por Werstch
(1998), é também proposta por Vygotsky (1988) entre ferramentas técnicas e a mediação, as
quais o homem tem acesso e escolhe qual ferramenta utilizar para uma atividade específica. É
importante destacarmos que o nosso objetivo aqui não é fornecer uma descrição completa das
teorias de Vygotsky e Wertsch, mas sim de apresentar alguns pontos que consideramos
relevantes no processo de ensino da Libras, por isso, a nossa abordagem serve-se dessa teoria
como referência no que ilumina e se relaciona com o uso de tecnologias por docentes surdos.
Sendo assim, a questão direcionadora desta investigação busca compreender: como as
tecnologias digitais influenciam no processo de ensino da Libras para estudantes surdos e
ouvintes na Educação Superior? Para subsidiar essa questão central, o estudo foi desenvolvido
considerando também as seguintes questões secundárias: quais os tipos de recursos
tecnológicos utilizados pelos docentes surdos no ensino da Libras? A partir das perspectivas
dos docentes surdos, qual a finalidade dos recursos tecnológicos no ensino da Libras?
Para encontrar respostas viáveis ao problema da pesquisa, traçamos o seguinte objetivo
geral: analisar a influência das tecnologias digitais no processo de ensino da Libras na Educação
Superior, na perspectiva de docentes surdos. Nessa direção, foram traçados os objetivos
específicos a seguir: 1. Caracterizar os tipos de recursos tecnológicos utilizados pelos docentes
surdos para o ensino da Libras; 2. Discutir a finalidade dos recursos tecnológicos utilizados
pelos docentes surdos no ensino da Libras.
convívio social e do ambiente em que está inserido (MARTINS; TACCA; KELMAN, 2009).
5
James Wertsch é pesquisador norte-americano da área de Psicologia e Educação. Após formação nos EUA, fez
seus estudos de pós-doutorado em Moscou, onde trabalhou com Luria e Leontiev, parceiros de Vygotsky na
concepção do sócio-interacionismo (PAULA; ARAÚJO, 2013).
25
Nessa perspectiva, a tese que defendemos é que o uso de recursos tecnológicos, como:
os softwares adaptados, aplicativos, tradutor virtual, dicionário digital, glossário, videoaulas,
power point, ambiente virtual de aprendizagem, Moodle, entre outros, pode influenciar, de
forma positiva, no processo de ensino da Libras na Educação Superior, considerando que tais
recursos podem ser disponibilizados de forma acessível.
Ressaltamos que a UFRB foi escolhida como lócus da pesquisa em virtude de existir,
no âmbito dessa universidade, o Curso de Licenciatura em Letras-Libras-Língua Estrangeira e
a existência de docentes surdos, através de concurso público. Os concursos públicos para área
de Libras são conquistas recentes para os surdos.
Para o desenvolvimento deste estudo, optamos por uma abordagem qualitativa de
pesquisa, na modalidade Estudo de Caso, no intuito de investigarmos os mais diferentes
aspectos que envolvem e influenciam o uso dos recursos tecnológicos por docentes surdos da
UFRB. Para tanto, selecionamos 02 (dois) Centros de ensino da UFRB, devido a sua
multicampia: Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL), localizado na cidade de
Cachoeira e Centro de Formação de Professores (CFP), situado na cidade de Amargosa. Esse
recorte deveu-se ao fato de serem, atualmente, os Centros que dispõem de docentes surdos
usuários da Libras.
Os participantes desta pesquisa foram 06 (seis) docentes surdos que ministram a
disciplina Libras no Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL) e Centro de Formação de
Professores (CFP). Como procedimento foi realizado entrevista semiestruturada, porque
permite a utilização de perguntas abertas, além de obter informações objetivas e possibilitar o
ajuste das perguntas de acordo com o contexto. A entrevista foi realizada em Libras, pois os
docentes a utilizam como primeira língua e como forma de comunicação e expressão.
Em decorrência da Pandemia do novo Coronavírus6, a entrevista foi realizada a
distância, por meio do programa Skype, previamente agendada com cada um dos participantes7.
Diante desse novo cenário, a metodologia desta pequisa foi resignificada e informada
ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), visando atender as normativas da ética
6
Melo et al. (2020, p. 1), colocam que esse novo Coronavírus, é uma “família de vírus que causam infecções
respiratórias e foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China”. Provoca a doença chamada de
coronavírus (COVID-19). Com isso, as Secretarias Municipais de Saúde adotaram, dentre as medidas de
prevenção, o isolamento domiciliar (quarentena), “o objetivo de interromper a cadeia de transmissão da doença
COVID-19” (Idem: 2) por um período.
7
Skype é um software que permite a realização de chamadas de voz/vídeo/mensagem de texto, de forma gratuita,
entre computadores ligados à internet.
26
na pesquisa com seres humanos, que envolvem a dignidade dos sujeitos participantes. A
presente pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética da UFBA, obtendo a aprovação do referido
comitê através do parecer de nº 4.013.444 e ao Comitê de Ética da UFRB com aprovação através
do parecer nº 4.082.562 (ANEXOS 1 e 2).
Utilizamos para a análise das entrevistas, a análise de conteúdo de Bardin (2014),
definida como um conjunto de métodos de análise das comunicações, objetivando descrever, a
partir de procedimentos organizados, os conteúdos das informações encontradas, possibilitando
a dedução de conhecimentos relativos às condições de recepção de tais informações, através
das entrevistas.
Diante do exposto, compreendemos que a relevância deste estudo está em apresentar
referenciais teórico-metodológicos, a partir de análises de situações pedagógicas mediadas por
recursos tecnológicos que podem influenciar no processo de ensino da Libras. Para uma melhor
compreensão do trabalho desenvolvido, esta tese está dividida em sete capítulos, já
considerando esta discussão introdutória da pesquisa desenvolvida como sendo sua primeira
parte. No capítulo II, discutimos acerca da pessoa surda e a tecnologia, trazendo algumas
concepções sobre o surdo e a Libras, além dos recursos tecnológicos como ferramentas
auxiliares na comunicação em Libras.
Em seguida, no capítulo III, tratamos da discussão sobre o docente surdo e o perfil
profissional, a fim de destacarmos a sua atuação no contexto pedagógico e o ensino da Libras
mediado por recursos tecnológicos na Educação Superior. No capítulo IV apresentamos todo o
percurso metodológico da pesquisa, contextualizando o estudo, o tipo, a multicampia da UFRB,
os procedimentos e instrumentos para análise dos dados, aspectos éticos da pesquisa, entre
outros elementos.
No capítulo V abordamos todo o processo da pesquisa referente às entrevistas, desde o
contato com os docentes surdos via Skype e e-mail, a coleta, reflexão e análise dos dados, a fim
de responder as questões de pesquisa e atingir os objetivos. Nas considerações finais,
retomamos os objetivos da pesquisa, considerando tê-los alcançado, ao tempo em que
apontamos desdobramentos que a pesquisa possa gerar sob a forma de sugestões de recursos
tecnológicos no processo de ensino da Libras na Educação Superior. Por fim, trazemos também
as contribuições, relevância da pesquisa para a educação e trabalhos futuros.
Os resultados deste estudo demonstram que, os docentes surdos utilizam recursos
tecnológicos, como notebook, softwares adaptados e acessíveis, videoconferência, fórum de
discussão, slides com imagens, videoaulas, glossários, tradutor virtual, dicionário digital, dentre
outras tecnologias que influenciam no processo de ensino da Libras, trazendo avanços em sala
27
de aula.
Esperamos, com esta tese, contribuir para o compartilhamento e reflexão acerca dos
recursos tecnológicos para o ensino da Libras utilizados na instituição pesquisada, na
expectativa da inclusão das tecnologias apresentadas nesta pesquisa, na composição de um
caderno de orientações, como um Produto de Tecnologia, disponibilizado pela Editora UFRB,
em formato acessível.
28
2 O SURDO E A TECNOLOGIA
Tais definições revestem-se de um caráter político por entender que não é possível
compreender um aspecto da realidade das pessoas surdas, sem considerar o seu meio ambiente
e as variáveis que nele interferem.
Estatisticamente, Silva (2015) aborda que entre as crianças surdas, 95% têm pais
ouvintes que não se comunicam com elas através da língua de sinais. Muito embora a família
30
seja presente na educação do (a) filho (a), a falta de comunicação, constitui o principal
empecilho no relacionamento entre os filhos surdos e seus pais ouvintes. Essa dificuldade de
comunicação resulta na falta de identificação com a língua, assim, o aprendizado da Libras pela
família e/ou o treino da leitura labial para os surdos que optam pela oralização são de extrema
importância para a relação se tornar mais efetiva.
Trazemos um outro viés para essa subseção: a concepção que mães ouvintes com filhos
surdos têm sobre a surdez, por Silva e seus et al. (2007) que entrevistaram 10 mães de crianças
surdas. Sabemos que o conhecimento da surdez em uma criança supõe longos processos, tanto
no estabelecimento do diagnóstico, como para que os pais elaborem sua aceitação e/ou
comemoração (BEHARES, 1993).
Ao se referir à concepção da pessoa surda, algumas mães entrevistadas por Silva et al.
(2007), declaram: “Eu acredito que, na inteligência, até supera os ouvintes, eu acho que eles
são, no caso meu, a G, eu acho ela muito inteligente, eu acho ela mais inteligente que o R
(irmão)” (SILVA, et al., 2007, p. 3). “Não sei se é porque tiveram mais incentivo, mais
estímulo, eles se viram melhor, (...), então depende muito do que a família oferece, do que a
família incentiva (...) (Ibid.: 4).
A partir dos relatos dos próprios surdos e de mães com filhos surdos, mencionados nas
pesquisas acima, entendemos que cada surdo passa por um processo distinto em seu
desenvolvimento de interação familiar e social, pois alguns utilizam a língua de sinais, outros
oralizam, outros optam pelo uso do implante coclear, a exemplo das autoras surdas Lobato
(2014) e Pfeifer (2015).
O implante coclear se constitui em um aparelho eletrônico que, por meio cirúrgico, é
colocado dentro do ouvido que capta o som, capaz de estimular diretamente o nervo auditivo,
causando sensações sonoras com a função de restabelecer a audição nos pacientes com surdez
profunda que não têm benefício com aparelhos auditivos convencionais. Esse público, em
comento, também utiliza recursos tecnológicos em seu cotidiano, a exemplo dos aparelhos
auditivos.
Nessa direção, Pfeifer (2015) e Lobato (2014) argumentam que existem vários tipos de
pessoas que convivem com a limitação auditiva. Lobato cita quatro grupos de surdos:
Existem os que utilizam aparelhos auditivos comuns. Existem os surdos que usam a
Libras, mas há também os surdos que oralizam normalmente (ainda que com o sotaque
típico) e se comunicam valendo-se da leitura labial, acompanhada ou não de próteses
e implantes auditivos. E também existem os surdos que falam o português oral e Libras
(LOBATO, 2014, p. 181).
31
As autoras citadas acima utilizam a tecnologia (implante coclear) com o objetivo único
de voltarem a ouvir (essa é a expressão que ambas utilizam). Elas destacam que é importante o
respeito à individualidade de cada grupo de surdos e à diversidade.
Castro Júnior (2015), utiliza em sua tese de doutorado o termo Surdo “com S
maiúsculo” ao referir a sua própria concepção enquanto pessoa surda, como estratégia que
demonstra a valorização e uso da língua de sinais, além do respeito ao reconhecimento da
diferença linguística. Moura (1996) reafirma essa concepção quando justifica em sua pesquisa
o uso dos termos “surdo” e “Surdo”.
Quando uso “Surdo” me refiro ao indivíduo que, tendo perda auditiva, não
está sendo caracterizado pela sua “deficiência”, mas pela sua condição de
pertencer a um grupo minoritário com direito a uma cultura própria a ser
respeitada na sua diferença. Quando da utilização de “surdo”, por sua vez, me
refiro a condição audiológica de não ouvir (MOURA, 1996, p. 126).
Fonte: https://binged.it/2ZWJirI
O youtuber surdo Léo Viturino, traz, com humor, concepções sobre a pessoa surda, entre
temas diversos, além de apoiar a campanha #YoutuberPõeLegenda para incentivar que outros
produtores de conteúdo se preocupem com quem não consegue ouvir, mas apenas ler os vídeos.
Léo dá dicas de como se comportar frente a uma pessoa surda, alertando que “nem todos os
surdos sabem ler os lábios, (...), mas não fiquem nervosos, se ele souber, se posicione em frente,
face a face para ele acompanhar os lábios (...)”8. O youtuber enuncia, ao longo do vídeo, que a
Libras é sua primeira língua (L1) e a língua portuguesa é sua segunda língua (L2), mas diz que
também oraliza e tem orgulho em ser surdo e utilizar a Libras, pois através dela se comunica e
tem autonomia.
Figura 2 - Captura de tela do vídeo: “como é ser surdo?”
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=nWPi4H_fiTw
A youtuber surda Tainá traz o vídeo “Como é ser surdo?”, o mesmo é produzido em
Libras e possui legenda em língua portuguesa; foi construído para falar sobre a concepção de
pessoa surda, e relata “achei que não era capaz, eu tinha vergonha de ser surda. Mas agora não
tenho mais. Amo ser assim. (...). Eu estou muito feliz de ser surda!”9.
8
Disponível em: <https://binged.it/2ZWJirI>.
9
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=nWPi4H_fiTw>.
33
Figura 3 - Captura de tela do vídeo: “Minha audição não funciona como a sociedade
quer”
Fonte: https://binged.it/2WKCU4L
10
Disponível em: <https://binged.it/2WKCU4L>
34
A Libras é uma língua visual espacial que se realiza no corpo do sinalizante, ou seja,
usa as mãos, a face e o corpo como articuladores ao compor os sinais e as proposições.
A gramática dessa língua se constitui a partir do corpo e no espaço de sinalização. O
espaço apresenta uma função importante, pois a língua acontece usando diferentes
espaços de forma altamente complexa, compondo a fonologia, a morfologia, a sintaxe,
a semântica e a pragmática para estabelecer os sentidos do discurso (QUADROS,
2019, p. 18).
Cabe aqui destacarmos que as línguas de sinais foram consideradas, por muito tempo,
línguas ágrafas. Seu registro, inicialmente, era feito por meio de desenhos de sinais, e na
oportunidade, trazemos aqui, o primeiro registro feito no Brasil da língua de sinais, produzido
por Flausino José da Gama, no livro “Iconografia dos signaes dos surdos-mudos”, em 1875, na
imagem seguinte.
Figura 4 - Registro da língua de sinais produzido por Flausino José da Gama, em
1875
Em 1974, de acordo com Quadros (1999), Valerie Sutton criou um sistema de escrita
para descrever as danças, chamando a atenção de linguistas e pesquisadores da língua de sinais
dinamarquesa. Esse sistema ficou conhecido como Dancewriting. A partir dele, então, surgiu
o Signwriting, um sistema de escrita de línguas de sinais (Imagem 05). “Os primeiros registros
35
escritos da língua de sinais foram, dessa forma, da língua de sinais dinamarquesa” (QUADROS,
1999, p. 4).
Figura 5 - Registro da escrita de sinais
11
Disponível em: <http://editora-arara-azul.com.br/site/edicao/66>
36
reconhecida pela sociedade. A Libras tem fundamentação linguística, por possuir um nível
sintático quando se refere à estrutura; semântica, quando se refere ao significado; morfológica,
quanto à formação da palavra; fonológica, quanto às unidades mínimas que constituem uma
língua; e, por fim, pragmática, por se referir ao contexto de conversação na língua de sinais,
aspectos encontrados em outras línguas orais.
As informações linguísticas são recebidas pelos olhos e produzidas no espaço pelas
mãos, movimento do corpo e por meio das expressões faciais. Quadros e Karnopp (2004), Skliar
(2013), Gesser (2009), Corrêa e Cruz (2019), Quadros (2019) e Santos (2015) abordam que a
Libras é uma língua que possui as mesmas características de qualquer língua desenvolvida
naturalmente pelo ser humano. Desta forma, é considerada como uma língua natural, sendo
possível expressar conceitos abstratos e invalidando a ideia de que seja uma língua com limites.
Nessa direção, os estudos linguísticos das línguas de sinais começaram com Stokoe no
ano de 1960. Willian Stokoe (1920-2000) “foi um dos primeiros linguistas a estudar uma língua
de sinais com tratamento linguístico. Considerado o pai da linguística da língua de sinais
americana” (QUADROS; PIZZIO; REZENDE, 2009. p. 18).
Para maior compreensão, Quadros, Pizzio e Rezende (2009, p. 21) trazem um exemplo
na Lígua de Sinais Americana (ASL): o sinal composto BELIEVE (acreditar) é feito de dois
outros sinais THINK (pensar) e MARRY (casar). Nessa composição, o sinal THINK toma
emprestado uma das características do sinal seguinte da composição (MARRY), a orientação.
Assim, ao invés de ser orientado em direção à cabeça, o sinal THINK será orientado em direção
à palma da outra mão, de acordo com o sinal MARRY (Imagem 06):
Figura 6 - Representação em Língua de Sinais Americana
linguísticos de uma língua de sinais” (QUADROS; PIZZIO; REZENDE, 2009. p. 18). Assim,
as línguas de sinais passaram a ser vistas como língua.
Seguindo a mesma perspectiva da relação entre a Libras e a tecnologia, averiguamos em
Santos, Pereira e Lebedeff (2019) um estudo sobre as contribuições da tecnologia para o registro
e a divulgação das línguas de sinais a partir do desenvolvimento do projeto SpreadTheSign no
Brasil. ‟O SpreadTheSign (STS) é um dicionário multilíngue de línguas de sinais. Trata-se de
uma ferramenta on-line que possibilita a divulgação e o aprendizado de línguas de sinais
nacionais, por meio da tradução de palavras escritas para várias línguas de sinais” (SANTOS;
PEREIRA; LEBEDEFF, 2019, p. 179 ).
O projeto STS é gerenciado pelo European Sign Language Center, uma organização
não governamental e sem fins lucrativos. Entre 2015 e 2018, novas funções foram inseridas
para a melhoria na qualidade do trabalho, como o serviço mapa, conforme Imagem 07, a seguir.
O dicionário pode ser acessado a partir de diferentes dispositivos, como
computadores, tablets e smartphones, podendo ser acessado pelo navegador disponível em:
https://www.spreadthesign.com/.
Figura 7 - Sinal “Espanha” – dicionário multilíngue SpreadTheSign (STS)
Fonte: https://www.spreadthesign.com/pt.br/about/.
como artigo, literatura, trabalho de conclusão de curso, cursos de língua portuguesa on-line,
jornais em Libras na web, entre outros.
Vejamos a seguir, na Imagem 08, uma demonstração de videoaula intitulada “Escrita de
Sinais”, em que a docente Marianne Stumpf apresenta, através dessa ferramenta, as experiências
desenvolvidas para a aquisição da Libras na modalidade escrita por estudantes surdos e a
importância das estratégias pedagógicas para o ensino da escrita de sinais. Essa aula é ministrada
para os estudantes do curso de Pós-Graduação em Educação a Distância da Universidade Leonardo
da Vinci (Uniasselvi), em Santa Catarina.
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=IMaAp6fvbTA.
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=xdFIwgaPdEo
39
Tais ferramentas tecnológicas são disponíveis para mostrar a relação entre a Libras e a
tecnologia; e no que se refere às questões de acessibilidade, os recursos devem ser selecionados
considerando as especificidades linguísticas, tendo em vista apoiar a formação e motivar a
construção de conhecimentos.
Alguns pesquisadores também discutem sobre a usabilidade dessas ferramentas
tecnológicas, a exemplo de Sofiato (2019) que aboarda a necessidade de garantir o uso com
qualidade de um site ou de qualquer recurso tecnológico, em outras palavras, os sistemas devem
ser criados, levando em consideração as necessidades e perspectivas dos usuários, e esses
elementos não podem ser descuidados pela engenharia de software.
Entretanto, nesta tese, buscamos compreender não somente como as tecnologias digitais
são utilizadas pelos docentes surdos, mas também como elas influenciam no processo de ensino
da Libras, na perspectiva de docentes surdos da Educação Superior.
Por isso trazemos, propositalmente, mais um suplemento para essa discussão, recursos
tecnológicos como ferramentas auxiliares na comunicação em Libras. Para essa abordagem,
buscamos apoio nas reflexões de Stumpf (2010), Corrêa e Cruz (2019), Quadros (2019), Reis,
Corrêa e Ferreira (2019), dentre outros autores que discutem sobre o surdo e o uso da tecnologia,
em busca de condições de igualdade na comunicação e interlocuções, apresentando a tecnologia
como um recurso de acessibilidade, com foco no ensino da Libras.
A abordagem wertschiana da Ação Mediada nos faz reconhecer que um novo texto de
apoio, uma estratégia didática, uma ferramenta tecnológica, uma tarefa em grupo, um
experimento metodológico, entre outras inovações pedagógicas, têm o potencial de causar
mudanças significativas no processo de ensino da Libras, e, ainda propiciar aos estudantes uma
forma de realizar certas atividades mentais que não poderiam ser realizadas sem o auxílio dos
recursos em comento.
Nessa direção, um exemplo de recurso tecnológico utilizado pelo docente na Educação
Superior, é quando eles usam programas para a construção de slides e edição de texto; celular
com a internet para pesquisar sinônimos e/ou significados de palavras desconhecidas; conceitos
e conteúdos; tradutor virtual para pesquisar o significado de um sinal na Libras, entre outros.
Tais recursos otimizam processos tanto para a organização da aula, quanto para o momento da
apresentação dela. Assim, utilizamos neste estudo a terminologia Recurso Tecnológico
abarcando processos de ensino na Educação Superior.
Para o desenvolvimento desta subseção, também partimos de uma revisão de literatura
com foco em pesquisas brasileiras já realizadas acerca do uso de recursos tecnológicos como
ferramentas que podem favorecer a comunicação e o ensino da Libras. Esse levantamento sobre
recursos tecnológicos como ferramentas auxiliares na comunicação em Libras, não tem a
pretensão de direcionar qual o recurso “idealizado”, e sim indicar caminhos de reflexão sobre
a existência dos mesmos e sua aplicabilidade no ensino da Libras na Educação Superior.
Iniciamos, então, esse levantamento, pela pesquisa de Reis, Corrêa e Ferreira (2019),
intitulada “Surdos e Whatsapp: uma análise da comunicação digital entre sujeitos bilíngues”,
por analisarem de que maneira um grupo de 23 sujeitos surdos bilíngues (usuários de Libras
como primeira língua e Língua Portuguesa, como segunda língua) utiliza o aplicativo
Whatsapp.
A citação de Stumpf nos faz perceber que, para as pessoas surdas, celulares com
tecnologia Ipod ou Android representam muito mais do que status social. Eles dizem respeito à
busca de condições de igualdade na comunicação; além de representar ferramentas de
acessibilidade. A comunicação com apoio de tecnologias não favorece apenas os contatos de
quem está distante, mas também o compartilhamento de informações entre surdos e ouvintes.
Stumpf (2010) e Cônsolo (2014), destacam a importância dos recursos tecnológicos para
a acessibilidade comunicacional das pessoas surdas. Cônsolo (2014), afirma, de forma exitosa,
que a tecnologia é um recurso, hoje, muito útil na vida do docente surdo, pois, além de enviar
e receber vídeos em Libras, o mesmo “tem o contato com a língua portuguesa e a comunicação
escrita” (CÔNSOLO, 2014, p. 108).
Visando conhecermos outras pesquisas referentes ao tema que estamos abordando,
identificamos 21 (vinte e um) trabalhos que discutem acerca de recursos tecnológicos, conforme
o quadro abaixo.
A tabela capturada na obra de Corrêa e Cruz (2019) nos faz perceber as diferenças de
um aplicativo para o outro no que se refere as suas características e modo de funcionalidade.
12
O skype é um software que permite comunicação pela Internet através de conexões de voz e vídeo, lançado no
ano de 2003, e pertence, desde maio de 2011, à Microsoft.
48
13
O letramento é “entendido como um conjunto de atividades sociais que envolvem a língua escrita e as exigências
do uso desta língua” (GIORDANI, 2015, p. 149).
49
surdos, “a partir da adoção da Libras como primeira língua e como língua de instrução,
comunicação, interação e ensino, e da língua portuguesa na modalidade escrita como segunda
língua” (BRASIL, 2020).
Com relação ao bilinguismo e os estudos da tecnologia, trazemos também um
documento que estabelece e regulamenta os direitos das pessoas surdas, destacando acerca dos
recursos tecnológicos, mencionado no Artigo 4 a seguir, que determina quais são as
responsabilidades do Estado brasileiro para assegurar e promover o pleno exercício de todos os
direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas, sem discriminação, conforme
o Decreto nº 6.495/2008, Art. 4:
Fonte: https://www.instagram.com/asfsfeiradesantana/
14
A quarentena é uma das formas de saúde pública que devem ser respeitada no período de uma epidemia
ou pandemia, a fim de evitar a transmissão de doenças infecciosas. A recomendação é que as pessoas fiquem o
máximo de tempo em casa.
51
Cabe aqui destacarmos a educação superior como aquela que está previsto o grau de
estudos que se segue à conclusão do ensino médio, além de compreender, naturalmente,
pesquisas de graduação e pós-graduação, bem como estudos e formação profissional.
Souza (2009), aborda acerca da Educação Superior, em sua pesquisa intitulada
“Educação especial em Sergipe do século XIX ao início do século XX: cuidar e educar para
civilizar”, destacando que no Brasil, a Educação Superior deu início em 1808, quando
construiu-se, a primeira Escola Médica do Brasil, devido a “ampliação das necessidades sociais
e desenvolvimento do ensino médico, várias reformas verificaram-se, sempre acompanhadas
da mudança de nome da Escola Máster Brasileira” (SOUZA, 2009, p. 123). Segundo a autora,
em 1891 nominou-se Faculdade de Medicina, Farmácia e Odontologia e, somente, no ano de
1946, foi denominado Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia.
Nessa direção, cabe aqui salientarmos sobre o III Congresso Latino Americano de
Educação Bilíngue para surdos em parceria com a Federação Nacional de Educação de Surdos
(FENEIS) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), realizado em abril de
1999, em Porto Alegre, no qual foi destinado um espaço para o debate coordenado por quatro
profissionais surdos, que discutiram o tema “Profissionais Surdos”.
Como resultado dessa discussão, elaboraram o artigo: “Que educação nós surdos
queremos?” (FENEIS, 1999), respeitando os seus direitos linguísticos, culturais, educacionais
e sociais. O documento destaca a necessidade de garantir o ingresso dos docentes surdos na
Educação Superior em igualdade de condições com os ouvintes.
Quadros et al. (2018) apresentam um registro histórico da vida dos surdos, objetivando
promover a divulgação linguística desses, além de políticas relacionadas à Libras no Brasil e o
ingresso dos surdos na Educação Superior, a partir de um formulário, fruto do Inventário
Nacional da Libras (INDL). Os resultados da pesquisa de Quadros et al. (2018), através do
preenchimento desse formulário, se configuram pelo protagonismo dos docentes surdos e seu
perfil profissional por meio da conquista do seu espaço nas universidades, demonstrando que,
52% dos participantes surdos são formados no ensino superior – graduação e pós-
graduação e 20% dos surdos estão cursando a graduação. Dos 52% participantes
surdos mencionados anteriormente, 18% possuem ensino superior completo, 25% têm
especialização, 7% são mestres e 2% são doutores (QUADROS, et al., 2018, p. 118).
De acordo com Quadros (2009) e Stumpf (2010), em 2002, 344 estudantes surdos estavam
52
Os concursos públicos para a área de Libras são conquistas inovadoras para os surdos.
Reis (2015) enfatiza a valorização do ingresso do docente surdo na Educação Superior como
um direito humano, além de salientar que, atualmente, vários docentes surdos são efetivos nas
universidades federais. De acordo com o mapeamento que Reis (2015) realizou, constavam 174
(cento e setenta e quatro) docentes surdos nas universidades federais no Brasil, em 2015.
Esse quantitativo aumentou para 385 (trezentos e oitenta e cinco) docentes surdos nas
universidades federais, em 2020. Esses dados são disponibilizados e atualizados pela
pesquisadora Flaviane Reis e demais pesquisadores surdos, através da Tabela intitulada: relação
de docentes surdos na esfera federal do Brasil.
Dessa forma, o crescimento quantitativo de docentes surdos na Educação Superior, teve
grande evolução também com o Curso Letras-Libras, desenvolvido através de parceria entre o
53
Uma parcela dos participantes declarou que ainda está cursando o ensino superior e
outros 17% afirmaram ter se formado em outros cursos, como: Biologia,
Administração, Direito, História, Serviço Social, Jornalismo, Enfermagem,
Matemática, Geografia, Educação Física, Sistemas de Informação, entre outros (Ibid.:
125).
surdo no contexto pedagógico como aquele que exerce a função de sistematizar informações
sobre um determinado tema e analisá-las, haja vista que ensinar vai além de transmitir
conteúdos, é como utilizar estratégias pedagógicas diversas envolvendo: interações de
mediação dialógica, atividades diversificadas, recursos tecnológicos e visuais, maneiras de
propiciar ao estudante problematizar, investigar, e, assim, internalizar o conhecimento
adquirido.
Outro aspecto importante nesse contexto pedagógico é a presença do intérprete de Libras15 nas
aulas do docente surdo:
15
“Na legislação, a referência a esse profissional como tradutor intérprete de Libras/português aparece, pela
primeira vez, no Decreto 5.626/05. Em documentos anteriores, a referência usada é intérprete de Libras ou
intérprete de língua de sinais” (NASCIMENTO, 2017, p. 5).
59
Morato, Souza e Medeiros (2014) trazem para a academia a história de um docente surdo
que ministra aulas de Libras para estudantes universitários, “o professor, em sua prática
docente, tem a preocupação de não produzir uma prática desprovida de princípios e de teoria,
sem fundamentação” (MORATO; SOUZA; MEDEIROS, 2014, p. 5), nesse contexto, o
professor consulta materiais didáticos e cria as próprias apostilas de Libras adaptando outros
materiais já existentes, bem como faz uso de diversos recursos tecnológicos.
Nesse contexto, Stumpf (2010), pautada na concepção vygotskyana sobre o papel do
docente mediador, salienta que “o professor que atua em uma perspectiva mediadora na sala de
aula também se transforma no decorrer do processo de ensino” (STUMPF, 2010, p. 4). Em
outras palavras, os recursos tecnológicos vêm transformando a realidade da pessoa surda a cada
momento em que lhe são acrescentadas possibilidades de acesso à tecnologia, a exemplo de
receber e enviar e-mail, participar de grupos virtuais de amigos de uma mesma cidade ou até
de outros países, “porque para a maioria deles essa atividade permite fazer contatos com seus
pares, coisa que a maioria não teve oportunidade de fazer durante todo o dia” (Ibid.: 5).
60
Por esse prisma, Stumpf (2010) também destaca que Vygotsky criou uma analogia
considerada crucial na teoria da mediação, os signos, ao dizer que “assim como o homem utiliza
ferramentas físicas no seu trabalho (um martelo, uma agulha), ele também utiliza ferramentas
psicológicas para o trabalho de natureza mental (o desenho, o mapa, a língua de sinais, a escrita,
a linguagem oral, os números)” (Ibid.: 4).
Compreendemos, então, que o uso de signos como ferramentas auxiliares psicológicas
podem ajudar o homem a lembrar, refletir, relacionar coisas, entre outros. E como exemplos de
ferramentas psicológicas, Vygotsky (1988, p. 93) destacou “a linguagem, as diferentes formas
de numeração e cálculo, o simbolismo algébrico, as obras de arte, a escrita, os diagramas, os
mapas, os desenhos, etc.”.
Essas citações nos levam ao entendimento de que a tecnologia não é apenas utilizada no
contexto educacional, social e trabalhista, mas, sobretudo, de “inserção comunicativa em muitas
das atividades de vida diária antes inacessíveis, pois a distância e o tempo se encurtam pela
Internet e surgem novas maneiras de se relacionar” (STUMPF, 2010, p. 5).
É no contexto pedagógico intelectual que os docentes surdos se situam: existem
docentes surdos se politizando para conquistarem o espaço universitário como surdos e,
consequentemente, intelectuais. Isso demanda entender-se na reflexão de si mesmo, de ser
surdo diante da sociedade.
Veremos na próxima seção alguns aspectos sobre o ensino da Libras mediado por
recursos tecnológicos, objetivando responder à questão de pesquisa: de que forma os recursos
tecnológicos influenciam o processo de ensino da Libras na Educação Superior? E, para dar
conta também do objetivo de pesquisa, recorreremos mais uma vez à Teoria vygotskyana
sociointeracionista e à Teoria da Ação Mediada por Wertsch (1998), além de autores como
Pimentel (2007), Galvão Filho e Miranda (2012), por darem notoriedade às questões relativas
ao ensino mediado pelas tecnologias, como estratégias pedagógicas que podem potencializar a
aprendizagem do outro.
Não temos a pretensão de direcionar qual recurso o docente surdo deve utilizar em sala
de aula, e sim indicar caminhos de reflexão sobre a sua aplicabilidade no processo de ensino da
Libras na Educação Superior, tema central da tese.
vista que a principal contribuição da teoria da Ação Mediada para Werstch é a ideia da
aproximação sociocultural à mente. Neste cenário, o autor tenta compreender o fenômeno da
mente humana a partir de uma abordagem que leva em conta o meio social e material onde esse
fenômeno se manifesta.
Nesse sentido, Vygotsky (1997) assegura que a relação do homem com o mundo não é
direta, mas mediada por instrumentos ou signos. Assim, o uso de instrumentos (objetos
orientados externamente, visando ao domínio da natureza) e de signos (representações
orientadas internamente) implica numa relação mediada com o mundo.
Paula e Araújo (2013, p. 3) destacam que, da obra de Vygotsky, James Wertsch ressaltou
a ideia de que “a ação humana, tanto no plano individual como no social, é mediada por
instrumentos e signos”.
Cabe-nos aqui explicitar, detalhadamente, os elementos mediadores: instrumentos e
signos. Os primeiros alargam as possibilidades de transformações entre o homem e o mundo.
Por exemplo: o uso da faca que corta a maçã com precisão ou uma mamadeira que facilita o
armazenamento do leite para o bebê, além do computador que auxilia o sujeito a interagir com
a informação. O segundo elemento mediador para Vygotsky (1991) se constitui o signo,
considerado estritamente humano.
Com isso, podemos dizer que a linguagem é composta de signos que envolvem
significado e significante. Enquanto o primeiro diz respeito ao conceito instituído para
determinada coisa, o segundo remete ao objeto concretamente.
Diante desses pressupostos, compreendemos que o processo de ensinar envolve a
mediação do conhecimento através de signos (linguagem, conceitos) e instrumentos (materiais
que mediam a aprendizagem). Por sua vez, quando a “prática pedagógica se dá de modo
planejado e intencional é chamado de mediação” (PIMENTEL, 2007, p. 66).
Embora, a maior parte das referências sobre estratégias pedagógicas no processo de
inclusão esteja voltada à escolarização básica, consideramos, nessa tese, que a sua importância
também se aplica à Educação Superior, principalmente de modo a dar condições para o ensino
da Libras.
A importância dessa discussão é, pois, ampliada pelo fato de que as instituições de
Educação Superior têm recebido, atualmente, um contingente significativo de docentes surdos,
como apresentado na seção introdutória desse texto. Assim, a mediação neste nível de ensino
também precisa ser realizada considerando-se as especificidades e potencialidades de cada
estudante.
Galvão Filho e Miranda (2012) também trazem reflexões sobre os benefícios que os
63
Fonte: https://www.ufrb.edu.br/cetens/cursos-e-eventos/231-cursos-de-extensao-de-libras.
pedagógica.
No solo dessa mesma discussão, é importante realçarmos que, na Educação Superior, o
docente surdo pode utilizar filmes, documentários ou outro recurso que dê subsídios ao
estudante para compreender o conteúdo veiculado através da Libras ou de textos escritos em
Língua Portuguesa.
Nessa direção, destacamos um produto tecnológico, a saber, o SIGNSIM (imagem 15)
é uma ferramenta que pode mediar o ensino da Libras pelo docente surdo ou ouvinte. É um
sistema para tradução entre a escrita da Língua Portuguesa e a escrita da Libras, sendo o sistema
de escrita de língua de sinais utilizado o SignWriting. Destacamos que o sistema foi conduzido
no Brasil pela pesquisadora Profa. Dra. Marianne Rossi Stumpf, com a contribuição dos
docentes doutores Antônio Carlos da Rocha Costa e Ronice Muller de Quadros, no período de
1996. ‘“Um dos primeiros trabalhos publicados no Brasil com o objetivo de uso desse sistema
foi o material ‘Lições sobre o SignWriting: Um Sistema de Escrita para Língua de Sinais’ de
Valerie Sutton, traduzido por Marianne Rossi Stumpf”’ (QUADROS et al., 2018, p. 94). O
sistema da escrita de sinais apresenta o contato e o espaço em que se realiza os sinais, a
orientação e a configuração das mãos, além dos movimentos dos sinais.
Figura 15 - Módulo de escrita em Língua Portuguesa do SIGNSIM
UFRB (2011):
Fonte: http://www.design-educacao-tecnologia.com/hipermidia/tecnologia/multi.html.
Fonte: https://www.google.com.br/search?q=vlibras&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwjM-9S
Retomamos a Teoria da Ação Mediada abordada por Wertsch (1998), para destacarmos
que essa ação, segundo o autor, envolve os meios mediacionais e os sujeitos que as utilizam,
“em vez de presumir que os indivíduos, ao agirem sozinhos, são os agentes das ações, a
designação apropriada de agente é indivíduo-que-opera-com-meios-mediacionais”
(WERTSCH, 1998, p. 62). O autor amplia a noção de Ação Mediada como ferramentas que
fornecem um caminho para o conhecimento entre o desenvolvimento mental e os contextos
sociais, trazendo como ilustração da ação mediada, o salto com vara16, em que “o meio
mediacional em questão é muito concreto e claro” (Ibid.: 63).
A ilustração “salto com vara”, destacado por Wertsch, exemplifica que a vara por si só
não consegue impulsionar os competidores (saltadores), a mesma deve ser utilizada de forma
habilidosa pelo competidor, e por outro lado, o saltador sem vara ou com vara imprópria terá
dificuldade de participar da competição, ou seja, os meios mediacionais e os indivíduos que os
16
O salto com vara é uma prova de campo pista, objetivando saltar pelos córregos com a ajuda de um pau/vara,
“cravando em um encaixe no final da pista, e usando a vara e seu ímpeto para se erguer do chão e cruzar sobre
uma barra que é suspensa por dois pilares (WERSTCH, 1998, p. 63).
68
Nesse sentido, o trabalho docente requer uma interação com o educando surdo e/ou
ouvinte, a fim de conhecê-lo e entendê-lo em sua subjetividade e potencialidade próprios da sua
existência, haja vista que todo ser humano passa pela construção e aprimoramento do
conhecimento na interação com o outro, considerando as peculiaridades de cada um (a).
69
Nessa discussão sobre o ensino da libras mediado por recursos tecnológicos, destacamos
a TV Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). A TV INES é uma ferramenta
tecnológica (canal de TV) com conteúdo pioneiro no Brasil. Ao veicular jornais e programas
com Libras, legenda descritiva e locução, a emissora é pioneira em atender a pessoa
surda. Nesse recurso tecnológico, o docente surdo pode encontrar vários tipos de textos e vários
gêneros discursivos na versão em Libras. A imagem 20 demonstra a apresentadora surda
realizando o sinal “nervoso”.
Figura 20 - Demonstração de função emotiva em Libras para o sinal “nervoso”
Souza (2018) destaca que o site da Universidade de São Paulo (USP) disponibiliza
conteúdos pedagógicos para ensino de Libras, como recurso tecnológico, e o exemplo acima
foi abstraído de um dicionário digital em Libras.
Esse portal de vídeo representado pela TV INES pode ser um recurso também utilizado
pelo docente surdo na Educação Superior como estratégia tecnológica por apresentar, através
do site, aspectos linguísticos, a exemplo da expressão enfática do corpo e face, da mesma forma
que acontece com tom de voz na língua oral. Na Imagem 21, a seguir, encontra-se um exemplo
de uso da função conativa17 na versão em Libras. A função conativa acontece quando o
sinalizante (emissor) quer influenciar o receptor, dessa forma, são sinalizados verbos no
imperativo com uso de exclamação para dar ênfase a palavra/sinal. Essa é a função de
linguagem que predomina em mensagens publicitárias. Observemos a performance do
publicitário (imagem 21).
17
Disponível em: <https://www.stoodi.com.br/blog/portugues/funcoes-da-linguagem/>
70
Souza (2018) buscou o exemplo acima no canal Youtube da empresa Signa, que trabalha
com ensino da Libras por perceber que é uma técnica inovadora em Libras e nasce da
necessidade de oferta de produtos e serviços tecnológicos ao público-alvo: usuários da Libras.
Nesta presente tese, defendemos que na Educação Superior sejam disponibilizados
recursos tecnológicos para os docentes surdos, pois, oferecer essa possibilidade de usufruir
novas oportunidades de interação, contribui também para que os surdos sejam mais
participativos na sociedade.
Ante ao exposto, consideramos que o ensino da Libras pode ser mediado através de
recursos tecnológicos utilizados como parte das estratégias pedagógicas, com vistas a promover
um trabalho docente de qualidade, pautado na valorização e respeito à língua. A aprendizagem
mediada é, então, consequência de um ensino mediado por signos ou por instrumentos
(VYGOTSKY, 1997) que possibilitem aos educandos serem sujeitos da construção do saber,
ao lado dos educadores, igualmente sujeitos do processo. Assim, na perspectiva do ensino
mediado, consideramos que a tarefa do docente surdo não somente é constituída por meio do
ensino de conteúdos, mas também na busca de alternativas de aprendizagem e
compartilhamento.
No campo dos processos de ensino e aprendizagem, a mediação por recursos
tecnológicos visa ajudar o estudante a compreender algo, de modo que seja capaz de realizar
sozinho, posteriormente, aquilo que só conseguia mediante ajuda do outro (VYGOTSKY,
1997). Para isso, o docente adquire o importante papel de mediador, criando condições para a
aprendizagem da Libras e desenvolvimento dos estudantes. Assim, “numa relação de ensino e
aprendizagem, mediar significa fornecer níveis de ajuda, planejados de forma intencional e que
se ajustem às necessidades dos educandos” (PIMENTEL, 2007, p. 64).
71
Destacamos, ainda, que, o docente surdo atua num processo de Ação Mediada
(WERTSCH, 1998) entre o conteúdo e os recursos tecnológicos, possibilitando a reflexão e a
relação com o contexto educacional. E nesse processo de mediação, o docente deve saber lidar
com as diferenças em sala de aula, levando em conta que as mudanças proporcionadas pelo
aprendizado do estudante acontecem a cada momento. Por isso, é necessário o docente estar
atento e envolvido no processo da aprendizagem desse educando.
Essa discussão pode ser o ponto mais desafiador na nossa pesquisa, que se constitui em
atender ao último objetivo da tese, a saber: discutir a finalidade dos recursos tecnológicos
utilizados pelos docentes surdos no ensino da Libras, assim, recorremos, novamente, aos
estudos de Stumpf (2010) e Galvão Filho (2009) por salientarem a relevância do uso do
computador, incorporado às tecnologias, que pode oferecer um ambiente de cooperação e
compartilhamento de conhecimentos.
Para esses autores, os recursos tecnológicos podem ter a finalidade de trazer benefícios
reais à vida das pessoas, a exemplo do “desenvolvimento da socialização através de trabalhos
coletivos e grupais, a utilização de softwares educativos e aplicativos” (STUMPF, 2010, p. 5),
“(...), para a execução de atividades e tarefas, com a ideia de ferramentas ou produtos úteis”
(GALVÃO FILHO, 2009, p. 37).
Nesse sentido, a partir do ensino da Libras mediado pelos recursos tecnológicos, os
estudantes podem adquirir habilidades, como: consultar aplicativo virtual para a aprendizagem
da Libras; compreender os sinais apresentados pelo docente; anotar dúvidas; sintetizar as
informações obtidas em sala de aula; fomentar discussões; perceber as sinalizações de palavras
e/ou frases na Libras; além de realizar conversações em Libras.
Nesse processo de mediação e interrelação, a afetividade demonstrada através do
comprometimento com a aprendizagem do outro desempenha um papel fundamental, pois
evidencia que o ensino se dá num processo relacional entre pessoas (PIMENTEL, 2012).
Demonstrar-se acessível ao esclarecimento de dúvidas e se pautar na compreensão de que cada
estudante é diferente um do outro e, portanto, necessita de diferentes formas de mediação, são
posturas indispensáveis a cada docente mediador. Essas posturas contribuem para a
desconstrução de barreiras atitudinais e linguísticas, e fazem com que o estudante se sinta
partícipe nesse processo de ensinar e aprender.
Apresentamos, agora, um outro Dicionário Digital (Imagem 22) das configurações de
mãos em Libras, construído em outubro de 2019 pelo professor surdo da UFRB Charles Ferraz,
em formato e-book, cujo modo de acesso é pelo site: www.ufrb.edu.br/editora/
titulos-publicados. “Facilitar: acredito ser a palavra-chave que Charles pensou ao criar o
72
Dicionário, afinal são poucos materiais que temos em nosso país que auxiliam um professor de
Libras em suas aulas” (FERRAZ, 2019, p. 13).
Figura 22 - Dicionário Digital em Libras
Esse recurso digital criado pelo docente surdo da UFRB, lócus da pesquisa, tem como
objetivo ajudar o “professor a se preparar melhor para ministrar suas aulas em Libras com
excelência” (Ibid.: 16). No Dicionário Digital, as imagens e as configurações de mãos em Libras
estão legíveis, auxiliando, assim, os docentes surdos, e agregando conhecimentos relacionados
ao ensino da língua.
O docente surdo, durante o processo de mediação pedagógica, deve, pois, proporcionar
situações motivadoras e incentivadoras da aprendizagem da Libras, disponibilizando, sempre
que necessário, meios que auxiliem o estudante no alcance dos objetivos propostos, através da
utilização de estratégias tecnológicas, métodos, técnicas e recursos que favoreçam a
aprendizagem dos acadêmicos.
Trazemos, para essa discussão, o recurso tecnológico denominado “Objeto Digital de
Aprendizagem” (ODA), que utiliza avatar 3D em contextos pedagógicos. Esse objeto foi
desenvolvido por Nóbrega (2016) como parte de uma pesquisa de mestrado concluída no ano
de 2016, e em processo de qualificação do Objeto Digital como parte da sua pesquisa de
doutorado. Propositalmente, apresentamos esse ODA, por ter em sua construção a estratégia de
ensino e aprendizagem configurada em três níveis: Básico, Intermediário e Avançado, pois, em
cada nível, o docente poderá proporcionar ao estudante experiências diferentes de
aprendizagem, apresentando conteúdos e tarefas diversas, através das ferramentas automáticas
(Imagens 23, 24 e 25).
Figura 23 - Seleção de Níveis
73
Figura 25 - Nível Intermediário – História sinalizada pelo avatar em Libras e jogo das
frases memória
O objetivo dos níveis apresentados nas imgens é possibilitar a aquisição dos sinais de
acordo com cada fase, de modo que o aprendente tenha o seu primeiro contato com a Libras e,
posteriormente, possa formular nomes, frases e aprender outros sinais. No nível básico, o
docente pode solicitar que os estudantes façam a relação entre um sinal e uma imagem ou entre
o que está em escrita de sinais e a imagem. No nível intermediário, por sua vez, o docente pode
74
passar de fase, apresentando aos estudantes as histórias contadas em Libras pelo avatar. Na
imagem 26 encontra-se representado o nível avançado.
Figura 26 - Captura de tela Nível Avançado- Atividade em Libras
18
Dados registrados pela Superintendência de Regulação e Registros Acadêmicos (SURRAC) da UFRB (2020.1).
77
19
Guia-intérprete é o profissional que domina diversas formas de comunicação utilizadas pelas pessoas com
surdocegueira, porém usa uma forma de comunicação diferente acessível ao surdocego, por exemplo: o guia-
intérprete ouve a mensagem em língua portuguesa e transmite em Braille. Interpretação é quando o guia-intérprete
recebe a mensagem em uma língua e deve transmiti-la em outra língua, por exemplo, o guia-intérprete ouve a
mensagem em língua portuguesa e transmite em Libras Tátil (GALVÃO, 2010).
78
DA PROGRAD/UFRB, 2011-2015)20.
Essas informações constam nos documentos normativos da instituição pesquisada e
deram suporte ao percurso metodológico da pesquisa. Segundo Martins (2008, p. 19) “à medida
que o caso vai sendo revelado, poderá haver necessidade de outros conhecimentos e teorias que
possam suportar interpretações e conclusões”.
O Núcleo Políticas de Inclusão (NUPI) realiza algumas ações na UFRB com vistas ao
apoio de profissionais com formação pedagógica para auxiliar no processo de qualificação do
corpo docente, considerando as necessidades dos estudantes com algum tipo de deficiência
matriculados na graduação. De acordo com a análise do Relatório de gestão setorial da Pró
Reitoria de Graduação (UFRB/PROGRAD, 2018),
Nesse sentido o NUPI tem promovido e participado de ações que visam qualificar a
comunidade acadêmica. Promovemos o simpósio “Faces e Interfaces da Cultura e das
Identidades Surdas” com a presença de cinco professores surdos da UFRB e com a
participação de 140 pessoas. Além disso, o NUPI esteve presente como convidado da
semana de formação pedagógica do Cetens, momento importante de diálogo com os
professores e estudantes daquele centro. Ocasião em que os docentes trocaram ideia
sobre processos pedagógicos, adaptações metodológicas e avaliativas com o objetivo
de potencializar o percurso formativo de nossos estudantes (UFRB/PROGRAD, 2018,
p. 135).
20
Disponível em: <file:///C:/Users/Fam%C3%ADlia/Downloads/planejamento-estrat%C3%A9gico-da-
prograd%20(1).pdf>
79
Relatórios da Comissão Própria de Avaliação (CPA) da UFRB, com foco nas questões ligadas
ao acesso e permanência de estudantes com deficiência na instituição, constatam que embora a
UFRB tenha se organizado para “implementar ações de fomento à inclusão com
disponibilização de recursos tecnológicos para favorecer acessibilidade ao currículo”
(PIMENTEL et al., 2012, p. 1), os Relatórios de Avaliação daquele período abordavam somente
as necessidades de acesso arquitetônico, sem tocar ainda nas questões relativas às estratégias
de ações pedagógicas.
(...) para atender ao desafio da inclusão nos seus cursos a UFRB precisa tornar
acessível todos seus espaços físicos e edificações, fomentar políticas de acesso de
pessoas com necessidades especiais aos seus cursos e assegurar políticas de
permanência de pessoas com necessidade especiais, tendo em vista que uma meta para
os cursos de graduação é garantir o acesso de estudante com deficiência à UFRB
(PIMENTEL et al., 2012, p. 10).
Quanto à participação dos docentes por Centro de Ensino, destacamos que o Centro de
Formação de Professores (CFP), em Amargosa-Bahia, teve quatro docentes surdos como
respondentes na entrevista. Este Centro de Ensino na época do levantamento de dados era o que
possuía maior quantidade de docentes surdos e o Centro de Artes, Humanidades e
Letras (CAHL) possui apenas dois docentes surdos. Os demais centros não possuem docentes
surdos, até o presente momento.
O critério utilizado para selecionar os participantes da pesquisa, foi que o docente tivesse
atuando com a disciplina Libras junto aos estudantes matriculados na UFRB. Assim,
encontramos 06 (seis) docentes aptos a participarem desta presente pesquisa, os quais foram
convidados através de e-mail.
Com relação ao tempo de experiência como docente na UFRB, identificamos três
docentes com experiência de 2 anos e meio, um docente com 7 anos e dois docentes com 1 ano
e meio.
Esses dados revelam que os docentes estão a caminho do conhecimento profissional e
de busca por práticas pedagógicas cada vez mais diversificadas. Para isso, a UFRB pontuam em
seu Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI/UFRB, 2019-2030), ações de extensão
universitária como critério de promoção na carreira docente, onde quanto mais o docente segue
nos anos de atuação, mais alcançará experiência profissional.
Após termos acesso as informações sobre proficiência para o ensino da Libras, optamos
como relevante, compreender também se o docente teve ou não acesso a curso de tecnologia,
sendo que, a maioria dos participantes teve acesso a curso sobre tecnologias (DS2, DS3, DS4 e
DS5), enquanto 2 participantes não tiveram acesso a curso sobre tecnologias.
A UFRB teve um semestre letivo suplementar de atividades acadêmicas online, a partir
de setembro de 2020, a fim de preparar os docentes, técnicos administrativos e discentes para o
retorno das atividades acadêmicas por meio de plataformas digitais. Para isso, a UFRB, através
da Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD), a Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação,
Criação e Inovação (PPGCI) e a Superintendência de Educação Aberta e a Distância (SEAD)
82
21
Disponível em: <https://www2.ufrb.edu.br/ead/>
83
controle sobre os eventos e as expressões do fenômeno. Esse percurso pode ser também
designado como fases exploratórias, em que se faz necessário um estudo aprofundado.
Ressaltamos que, na investigação aqui proposta, nos inclinamos de maneira árdua para
o desvelamento de uma temática ainda pouco investigada: o uso de recursos tecnológicos por
docentes surdos no ensino da Língua Brasileira de Sinais na Educação Superior. Para o
desenvolvimento deste estudo, optamos por um cenário social delimitado: a Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), e destacamos a importância de um protocolo de
pesquisa (APÊNDICE A) na construção do caminho metodológico que norteou o
desenvolvimento do estudo de caso, no qual buscamos elencar os procedimentos do presente
estudo.
As entrevistas foram realizadas com 06 (seis) docentes surdos, onde foi explicado que
as entrevistas seriam via Skype e não mais presencial, e assim foi agendado o dia e horário pelos
próprios docentes surdos, de modo a não interromper a atividade acadêmica. No dia da
realização de cada entrevista alguns cuidados foram tomados, a saber: foi certificado de que o
notebook estava devidamente carregado ou conectado na tomada; escolhido um local com uma
boa conexão de internet, e providenciado uma boa iluminação evitando sombras, bem como
usar uma roupa lisa, pois a comunicação seria realizada em Libras, a fim de trazer a atenção
nos sinais.
Foi organizado um local quieto, sem distrações para que o entrevistador fosse o único
foco da entrevista. É relevante destacarmos que, momentos antes da entrevista foram realizados
os sinais; verificado a postura frente a câmera para certificar que os participantes sejam capazes
de ver a expressão facial e corporal, portanto, sem estar muito perto ou muito longe da câmera.
Optamos por não interromper as entrevistas fazendo notas das respostas dos
participantes, para não perder os diversos conteúdos, por isso deixamos as entrevistas
gravadas no próprio Skype e arquivadas no notebook, para analisá-las, posteriormente. A
tecnologia foi uma grande aliada nesses momentos.
Ao final de cada entrevista foi enviado um e-mail de agradecimento pela
oportunidade de conhecer cada experiência docente e pela colaboração deles na
investigação. Segundo Minayo (2009) “a entrevista, é a estratégia mais usada no processo de
trabalho de campo. (...), é uma conversa a dois, ou entre vários interlocutores. Ela tem o objetivo
de construir informações pertinentes para um objeto de pesquisa (MINAYO, 2009, p. 64).
Após as entrevistas gravadas, foram transcritas para a Língua Portuguesa escrita, as
respostas foram sistematizadas e o seu conteúdo submetido à análise de conteúdo (BARDIN,
2014), conforme as etapas definidas no protocolo do estudo (APÊNDICE A), entendemos que
84
dados obtidos, mantendo uma estrutura que representa uma escrita mais próxima da Libras.
A análise de conteúdo, no momento em que realizamos as entrevistas, seguiu as três
etapas de organização mencionadas acima, conforme proposta por Bardin (2014). Partimos das
falas dos docentes surdos como unidade de registro para melhor compreensão do conteúdo,
considerando tanto o contexto específico em que surge como resposta à pergunta, quanto ao
contexto mais amplo.
Após obtenção dos dados das entrevistas, de acordo com roteiro, no Apêndice D, demos
início ao processo de construção dos quadros divididos em categorias e subcategorias, além da
interpretação e comentários. Foi necessário observarmos a coleta em busca de atingirmos a
representação fiel do conteúdo, a partir dos relatos dos docentes surdos quanto ao uso dos
recursos tecnológicos para o ensino da Libras na UFRB.
Assim, através da utilização dos instrumentos da pesquisa e reconhecendo a relevância
da interação entre o objeto de pesquisa e o cenário histórico/social do docente surdo é que
buscamos, por meio deste estudo, analisar como ocorre a influência sobre as tecnologias digitais
no processo de ensino da Libras, na perspectiva de docentes surdos da UFRB, objetivando
contribuir para a reflexão das potencialidades de cada recurso tecnológico.
87
As tecnologias digitais citadas nos relatos transcritos no Quadro acima, indicam que os
docentes surdos usam a tecnologia, efetivamente, como ferramenta de apoio na ministração das
aulas, a exemplo dos docentes surdos 1, 2, 3 e 4 ao relatarem a utilização de slides, vídeos no
youtube, dvd e dicionário digital, desses, os docentes 3 e 5 colocaram o uso dos aplicativos
prodeafl e hand talk.
O docente 4 relatou que ministra os conteúdos da disciplina Libras com o apoio de
ferramenta tecnológica, ao afirmar que “tenho alunos surdos que tem dificuldade para entender
muitos textos dos livros que eu disponibilizo no ambiente virtual, para facilitar eu utilizo o
dicionário digital e power point com imagens e resumos (...)”.
Essa narrativa nos faz compreender que o docente contextualiza a sua aula à realidade
dos estudantes, de forma que as estratégias pedagógicas possibilitem aos educandos
participarem das atividades propostas, sendo estas: utilização de recursos tecnológicos
diversificados.
Galvão Filho (2009) conceitua as Tecnologias Educacionais como sendo sistemas
digitais ou aplicativos concebidos para serem utilizados no processo de ensino e aprendizagem
de disciplinas que constam também na Educação Superior, e que agregadas às estratégias
didáticas podem auxiliar na ministração das aulas.
Sabemos que há diversas formas de aperfeiçoar a transmissão do conhecimento, como
relatou o docente surdo 6 pesquiso no Houaiss, dicionário eletrônico, tem muitos sinais e
palavras e também acabo disponibilizando para meus alunos” (DS6). O dicionário eletrônico
Houaiss se refere ao docente crítico e tradutor Antônio Houaiss, diplomata brasileiro, e
disponibiliza milhares de verbetes, sendo a sua atualização contínua. O relato que o DS6 fez
pela escolha tecnológica do dicionário em suas aulas, é que o mesmo é apresentado com
conjugação em todos os tempos verbais, dentre outros aspectos, para DS6 é um dicionário útil
89
e completo.
Percebemos também que, o uso de recursos tecnológicos, pelos docentes, a saber: slides
com o uso de imagens, vídeos, youtube, dicionário digital, aplicativos, dentre outros, DS5
acrescenta, ainda, que “utilizo, power point, slides com imagens e peço alunos para usarem
aplicativo hand talk”, nos fazendo compreender que, essas tecnologias auxiliam tanto o docente
quanto o estudante durante o processo de ensino-aprendizagem, possibilitando ao docente,
condições, para ministrar aulas de forma mais criativa, exercendo sua autonomia na seleção de
qual recurso aplicar.
2 1
Isso, por sua vez, pode se configurar como uma nova proposta de emprego de
sistemas computacionais (softwares), (...), de relevância para fins de
aprendizagem em sala de aula, trazendo-as do cotidiano tecnológico para o
cenário educacional (CORREA; CRUZ, 2019, p. 108).
Outro critério que deve ser observado não somente nos softwares, mas em qualquer
ferramenta tecnológica, a saber: jogos virtuais, filmes legendados e/ou em Libras, vídeos em
Libras, citados pelos participantes da pesquisa, segundo o gráfico 2, é se essas tecnologias
possuem uma boa visibilidade, favorecendo a utilização dos mesmos.
É importante realçarmos a necessidade de capacitação docente para a utilização das
tecnologias, haja vista a crescente concordância quanto à relevância do uso do
computador/notebook para o planejamento e ministração da aula. Tajra (2012) afirma que, “para
que os professores tomem posse dos softwares educativos, é necessário que estejam capacitados
para a utilização do computador como instrumento pedagógico”.
Por exemplo, a partir do momento em que a Instituição de Educação Superior
disponibiliza, para o docente, softwares e outras ferramentas tecnológicas que podem ser
auxiliares e influenciadores no processo de ensino em qualquer disciplina, se faz necessário o
docente avaliar a forma adequada, segundo as suas necessidades. Com base nos estudos de
Sanches (2008) “o professor não pode fechar os olhos para essa realidade, mas deve agregar
esse recurso à sua didática de ensino, pois deve ser o mediador entre ambientes tecnológicos e
alunos” (Ibid.:11).
Por esse prisma, fica evidente a necessidade da formação continuada acerca do uso de
recursos tecnológicos no contexto da Educação Superior, sabendo que, as ferramentas
tecnológicas unidas a proposta didática do docente, contribuirá também para a construção de
novos conhecimentos.
Nesse mesmo quadro discussivo, acerca dos recursos tecnológicos como alternativas
influenciadoras no processo de ensino da Libras, destacamos novamente a pesquisa de Ribeiro
(2017) por questionar os estudantes surdos acerca das Estratégias pedagógicas que contribuem
para a permanência na Educação superior, três estudantes surdos destacaram que “filmes
legendados ou em Libras, slides com imagens, vídeos em Libras, oferta de textos de forma
prévia e disponibilização de dicionário para a pesquisa de palavras desconhecidas, favorecem
a apredizagem” (RIBEIRO, 2017, p. 112).
Essas estratégias pedagógicas relatadas pelos estudantes surdos, através da pesquisa de
Ribeiro (2017) são reafirmadas nas falas dos docentes participantes dessa presente pesquisa,
como vimos nas categorias anteriores. Entendemos, nesse processo de escolhas de recursos
tecnológicos, a necessidade de formação continuada acerca do uso das tecnologias, de modo a
possibilitar uma atuação cada vez mais satisfatória. A pesquisa de Ribeiro também traz essa
necessidade por parte dos estudantes, tanto em relação às estratégias pedagógicas, quanto com
relação ao conhecimento acerca da especificidade de cada estudante.
92
Acho Regular, percebo que precisa melhorar tecnologia, exemplo, as vezes internet
lenta e não consigo apresentar videoaula do youtube para os alunos,(...), não gosto
muito do aplicativo hand talk, por que quando traduz do português para a Libras, acho
que falta algumas vezes conexão e ligação entre palavras e frases (DS6).
O relato acima aponta para a necessidade de aprimoramento no que se refere a rede Wi-
fi no ambiente de ensino, o docente refere que as vezes a internet fica lenta e não consegue
processar, dificultando a apresentação de uma videoaula, por exemplo. Significa dizermos que
Wi-fi, é uma tecnologia de comunicação transmitida, geralmente, através de frequências de
rádio, e para acessar com êxito, se faz necessário estar na área de abrangência de um ponto de
acesso. Talvez essa seja a dificuldade de utilização com eficácia, pois o uso da internet, através
do computador, tablet ou celular pode estar sendo em local distante da rede wi-fi.
O grau de importância das ferramentas tecnológicas para o ensino da Libras se deu como
Regular também em virtude de, segundo relato do docente surdo 6 (DS6), o aplicativo utilizado
em sala de aula, hand talk, precisa de melhoria no que se refere a tradução de palavras e/ou
frases, referindo que muitas palavras divergem dos sinais. Essa também é uma preocupação de
autores, como Oliveira et al. (2020), Quadros, Pizzio e Rezende (2008), Quadros (2018), Correa
e Cruz (2019) por argumentarem que um fator primordial que deve ser aprimorado nos
aplicativos de tradução virtual é a questão da estrutura de frases na Libras.
Quadros (2018) menciona duas pesquisas que trazem a flexibilidade da ordem da
estrutura de palavras e/ou frases na Libras: Felipe (1989) e Ferreira-Brito (1995), pois essas
citadas autoras indicam que a Libras tem possibilidades diferentes para a ordenação das palavras
na sentença, mas mesmo com esta flexibilidade, parece existir a ordem básica Sujeito Verbo
Objeto (SVO), a exemplo de “João comprou carro. (...). As sentenças SVO são muito naturais
93
em Libras e exemplos que usam esta ordem são considerados sempre gramaticais”
(QUADROS; PIZZIO; REZENDE, 2008, p. 15 e 21).
Outro fator que podemos considerar, nessa discussão, são as marcações não manuais,
também chamadas de expressões faciais que podem ser utilizadas nas frases e palavras em
Libras como marcas do discurso, indicando conversação. Com relação a variação lexical, o DS6
também sinalizou que essa variação se faz presente nos tradutores virtuais. Denominamos de
variação linguística, levando em consideração o contexto que cada região possui, por exemplo,
na variação linguística da Libras são “identificados sinais completamente diferentes que são
usados em uma região ou noutra do país, por exemplo, os sinais para MÃE e PAI que
apresentaram três formas diferentes que são difundidas em diferentes estados” (QUADROS,
2018, p.71).
Por outro lado, dois dos participantes atribuíram o grau Excelente quanto aos recursos
tecnológicos existentes para o uso no ensino da Libras, os quais relataram,
Acho excelente, pois antes não tinha muitas opções de recursos tecnológicos, agora
podemos acessar vários, como chat, fórum, videoconferência, WattsApp, vejo como
aspectos positivos e negativos. Negativos por entender que o ensino da Libras deve
ser melhor presencial com a presença do professor perto dos alunos em sala de aula.
Acho excelente, pois no geral a tecnologia contribui, sim, para o aprimoramento do
ensino e aprendizagem da Libras (DS4).
Os recursos tecnológicos são muito bons, por que ajudam no contato com os alunos
surdos e ouvintes. Tenho alunos surdos também, e peço para eles acessarem o
dicionário digital e olharem o significado de palavras desconhecidas. Gosto de usar
slides com apresentação de conteúdo em formato de tópicos, (...), muitos surdos tem
dificuldade de entender os textos grandes, eu acho importante facilitar com slides e
imagens e frases mais curtas para eles compreenderem a aula. (DS2)
ouvintes, talvez isso seja explicado pelo fato das pessoas em geral participarem, efetivamente,
do universo tecnológico, a exemplos da internet, celular, grupos de Watsapp, videochamada,
bate-papo, entre outros. Galvão Filho e Miranda (2012); Stumpf (2000) e Galvão Filho (2002;
2009), discutem acerca das contribuições das tecnologias para o trabalho pedagógico, a partir
de um paradigma que valoriza a potencialidade individual. Esses autores destacam em seus
estudos que as tecnologias digitais incorporadas no processo pedagógico possibilitam a
interação entre o docente e o estudante.
Podemos dizer, então, que as tecnologias na Educação Superior possuem diversas
finalidades, mas precisamos refletir que seu uso deve ser democrático e participativo, a fim de
favorecer o crescimento educacional dos estudantes, em conjunto com a metodologia
pedagógica, conforme discutimos na última categoria a seguir.
A sala de aula já não é mais a mesma, desde que o computador passou a fazer parte da
lista de instrumentos tecnológicos de que os docentes dispõem para tornar o processo de ensino
mais proveitoso. Após realizarmos, através dos relatos dos docentes surdos, o levantamento de
recursos tecnológicos por eles utilizados no ensino da Libras, conforme a categoria anterior,
nessa subcategoria mostraremos as possibilidades e dificuldades no acesso e na utilização das
tecnologias digitais.
Os tradutores virtuais ProDeaf e Hand Talk, (recursos construídos a fim de auxiliar na
comunicação, ensino e aprendizagem da Libras), além do dicionário digital em Libras, foram
mencionados como escolhas tecnológicas pelo DS3 e DS4 por possibilitar a compreensão dos
sinais pelos estudantes e a prática da língua, em contexto de conversação.
A escolha pelo DVD com fábulas em Libras foi mencionado pelo DS3, referindo a
importância do docente relacionar a Libras com a criação de imagens. O ator e poeta surdo
98
brasileiro, Nelson Pimenta de Castro, em seu estudo intitulado “A tradução de fábulas seguindo
aspectos imagéticos da linguagem cinematográfica e da língua de sinais”, também aborda a
importância da escolha de fábulas em Libras, no processo de ensino e aprendizagem da língua.
Seus estudos em Libras começaram na década de 1990 na Califórnia-EUA, com a ‘“descoberta’
da existência do gênero literário fábulas que, no Brasil, só existia em língua portuguesa e era
totalmente desconhecido pelas pessoas surdas”’ (CASTRO, 2012, p. 22). De volta ao Brasil,
como instrutor de Libras, “comecei a trabalhar com fábulas com os meus alunos surdos, e me
surpreendi com a enorme aceitação de sua parte” (Ibid. 23), conforme mostra a imagem a seguir.
Figura 27 - Captura de tela de Nelson pimenta apresentando Fábulas de Esôpo em
Libras
Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=8URZE-NmtV4
Essa é uma estratégia viável, haja vista que na pesquisa de Mestrado de Ribeiro (2017),
titulada “Estratégias pedagógicas para a permanência de estudantes surdos na Educação
Superior”, a investigação foi desenvolvida junto a estudantes surdos (usuários da Libras e da
Língua Portuguesa Oral) da UFRB. Concernente às estratégias pedagógicas, Ribeiro (2017)
evidenciou, a partir das percepções dos estudantes surdos, que os docentes, em sua maioria,
utilizam estratégias que atendem as suas especificidades.
Identificamos que, de igual modo, os estudantes surdos da UFRB participantes da
pesquisa de Ribeiro (2017), os docentes surdos participantes da presente pesquisa narram que
os recursos didáticos de natureza visual; a interlocução pausada do docente para favorecer a
compreensão do surdo oralizado; a interpretação do conteúdo da aula para Libras; a utilização
de dicionário digital na aula e a disponibilização de tempo para busca de novos vocabulários,
devem ser práticas adotadas por todos.
Os participantes da presente pesquisa também ressaltam que existem entraves ao
99
Alguns sites não são acessíveis para nós surdos, exemplo, precisa janela de Libras nas
informações disponilizadas na internet. Para ouvintes não há dificuldade, mas para
surdos, sim, pois nem todos tem o conhecimento da língua portuguesa de forma
fluente. Temos várias possibilidades no youtube, mas de maneira geral, os sites não
são acessíveis para surdos que usam a Libras. (DS1)
Tenho sempre plano “A” e plano “B”, pois não confio 100% na internet, porque às
vezes a internet falha ou fica muito lenta, é ruim, não gosto. Eu guardo o vídeo que eu
separei para a aula, ou material tecnológico para depois, porque não consigo
apresentar e uso outra estratégia de ensino. Não posso depender somente da tecnologia
para ensinar a Libras, por que se estiver chovendo, fica ainda pior o acesso a internet
e vídeos do youtube. (DS2)
É possível identificar nas falas dos participantes acima que, embora seja possível o
acesso as tecnologias, existem também dificuldades para que a utilização seja realizada com
êxito, a exemplo do notebook que, conectado à internet, facilita o acesso às informações e
ferramentas pesquisadas pelo docente para a ministração da aula, porém a conexão Wi-Fi
precisa estar em seu funcionamento normal, oferecendo relativa segurança e autonomia.
Outra observação que fizemos, trata-se do docente surdo 2 (DS2) ao relatar que reserva
sempre planos “A” e “B” na organização de sua aula, tendo em conta que os recursos
tecnológicos ligados à internet podem falhar, esse discurso também é proferido pelo DS3,
porém destaca que “salva” todos os slides, as imagens e vídeo em um arquivo no notebook, e
cita que tal estratégia favorece a ministração da aula. Percebemos também nos relatos dos
participantes o uso constante do notebook, com ou sem auxílio da internet, uma vez que ela
pode falhar.
O importante, segundo os docentes surdos entrevistados, é que tais recursos, como:
vídeos do youtube, dicionário digital, slides com imagens e os aplicativos vituais, objetivam
estimular o interesse pela comunicação e aprendizagem da Libras.
Nesse contexto, Abreu (2010) destaca que para romper com as barreiras enfrentadas no
acesso e na utilização de recursos tecnológicos, se faz necessário uma Avaliação de Exploração,
ou seja, antes de utilizar qualquer ferramenta tecnológica, é importante avaliar se o produto será
aplicado, eficazmente, no momento da aula. Essa avaliação se dá como parte do processo de
planejamento da aula.
Verificando a potencialidade, ou não, que a tecnologia trará no processo de ensino da
100
Não vejo dificuldade, pois eu levo o meu notebook com as aulas preparadas nele e
com vídeos que baixo em casa. Assim, fica fácil eu dar aula. Antes dependia somente
da internet e às vezes falhava ou ficava fraca e eu não conseguia usar os materiais.
Agora aprendi e já levo tudo pronto (DS4).
Tenho dificuldade quando envio arquivos para o email da turma, pois tem problema
de limite de arquivo. Também tenho dificuldade para baixar vídeos do youtube para
o notebook (DS6).
Não encontro dificuldade, pois levo o pendrive com vídeos já baixados da internet
(DS5).
22
Disponível em: <https://www.ufrb.edu.br/engenhariaTA/>
101
Hand Talk é o aplicativo que gosto muito, mas precisa melhorar o contexto de frases,
pois não contextualiza. Os aplicativos precisam ter temas específicos na Libras para
auxiliar e traduzir frases que atendam aos parâmetros da Libras. (DS2)
O aplicativo Hand Talk, eu acho o melhor porque pode utilizar em qualquer lugar sem
a internet, mas as vezes não abre ou demora muito e tem palavra que não aparece o
sinal e somente a datilologia, (...), também precisa melhorar no aumento de
vocabulário, pois ele não possui os sinais de muitas palavras. (DS4)
Acho que precisa melhorar nos aplicativos a variação linguística, mas sei que é normal
em toda língua. Antes aviso aos alunos e eles já ficam sabendo sobre os sinais
diferentes, exemplo sinal de “pai” é diferente de acordo com a região. Mas, as demais
ferramentas disponíveis acho muito bom. (DS5)
Podemos perceber, a partir das narrativas da maioria dos docentes surdos, a necessidade
de uma tradução automática na modalidade gestual, visual e espacial para a Libras de forma
satisfatória, considerando que a Libras possui léxico formado por sinais constituídos de
parâmetros, tais como configuração das mãos, localização, movimento das mãos, orientação da
palma e expressões faciais e corporais. Nesse contexto, apresentamos a pesquisa de Paiva
(2019) intitulada “Tradução automática de português brasileiro para Libras e análise de
processos de intensificação” por destacar que “os tradutores de Português Brasileiro-Libras
102
23
Segundo Paiva (2019), esse avatar está em fase de desenvolvimento por De Martino et al. (2017). A ferramenta
é composta de traduções realizadas por participantes surdos usuários da Libras como língua materna e habilidade
na escrita da Língua Portuguesa. O avatar está sendo concluído para ser utilizado como suporte de tradutores
automáticos para o ensino e aprendizagem da Libras. Por esse motivo, “esse corpus foi analisado e utilizado para
a implementação do sistema-piloto desenvolvido neste trabalho” (PAIVA, 2019, p. 15).
103
Para Paiva, a expressão facial de interrogação, por exemplo, é importante no avatar para
que a sinalização se torne mais próxima do humano. Na imagem a seguir, o autor traz uma
ilustração, onde no final da frase interrogativa “João comprou um carro?” há um levantamento
de cabeça no avatar.
Figura 29 - Frase interrogativa sinalizada por um avatar
Consideramos que a aplicação do avatar em questão pode contrubuir para o avanço das
pesquisas em línguas de sinais, servindo de modelo para avatares expressivos sinalizadores de
Libras, atendendo as regras de tradução, como “inclinação do tronco; franzimento de testa e
apertar de olhos e alterações na boca” (Ibid.: 59); dentre outros parâmetros.
O docente 3, por sua vez, sugeriu como melhoria a ampliação de temas diversos
apresentados em vídeos no youtube, haja vista não encontrar temas específicos de algumas
disciplinas em formato de vídeos, e assim, continuou sugerindo que as instituições produzam
vídeos em Libras com temáticas que abordem cursos e disciplinas, proporcionando mais
acessibilidade às informações, conforme relato a seguir.
Quanto aos vídeos no youtube, acho bem resumido os temas. Acho que as
universidades poderiam, através de projetos de extensão, produzir mais vídeos em
Libras com temas de diversos cursos e disciplinas. (DS3)
24
Disponível em:< https://ufrb.edu.br/cecult/extensao/atividades-desenvolvidas>
105
Fonte: https://www.ufrb.edu.br/portal/noticias/3710-ufrb-lanca-servicos-para-comunidade-surda-
durante-setembro-azul
Word do meu notebook que uso para aula de Libras é de 2003 muito antigo, internet
fraca, falta o sistema SIGAA com mais memória para eu colocar vídeos, (...), acho
melhor ter um ambiente de gravação de vídeos em cada Centro da UFRB para gravar
vários vídeos em Libras para a disciplina. (DS3)
25
Disponível em: <https://www1.ufrb.edu.br/portal/noticias/5801-ufrb-produz-videos-com-informacoes-em-
libras-sobre-o-novo-coronavirus>
106
O DS3 sugere uma internet ágil com software mais atualizado, além do sistema
Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (SIGAA) com capacidade ampla de
arquivamento de videoaulas, dentre outros materiais, garantindo a qualidade do ensino. Em
outras palavras, a UFRB precisa se propor, cada vez mais, possibilitar ao docente surdo
experienciar situações que facilitem suas potencialidades de maneira estratégica. Stumpf (2000,
p. 7), analisando alguns softwares considerados relevantes para a educação de surdos, observou
que “alguns sequer respeitam as especificidades de seu público alvo e nem fazem uso de
recursos que poderiam diminuir as dificuldades da interface homem-máquina”.
Os docentes participantes desta pesquisa, também pontuam a necessidade de orientação
para o uso de alguns softwares instalados nos notebooks das salas de aula, para que possam
explanar melhor os conteúdos ministrados aos estudantes de forma efetiva. Segundo o Plano de
Desenvolvimento Institucional da UFRB (PDI/2019-2030), a Resolução CONAC/UFRB no
038/2017 asseguram a implantação de serviços através de instrumentos e ambientes virtuais
próprios, gerando condições de registro e sistematização de dados, de forma que o usuário fique
satisfeito ao utilizá-lo, contribuindo para uma elevação da qualidade no processo de ensino e
do compartilhamento de informações diversas (UFRB, 2017).
Até aqui percebemos, segundo os relatos dos participantes docentes, que a inserção das
tecnologias na Educação Superior oferece possibilidades e desafios no processo de ensino da
Libras, mas também favorece as condições de acesso à informação e às inovações na prática
docente, pois o uso das tecnologias pode ser considerado como alternativas no processo de
ensino da Libras.
107
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
apesar dessas fragilidades, são bastante utilizados para o ensino e aprendizado da Libras.
Foi atribuído Grau Excelente, em virtude dos recursos tecnológicos aprimorarem a aula,
exemplo do glossário de Libras, também denominado Sinalário, slides com imagens, dentre
outros recursos que, segundo relatos dos participantes, devem ser utilizados, conforme o
interesse e a necessidade do docente.
Para os participantes da pesquisa, no processo de ensino da Libras, o docente deve
considerar a especificidade e o ritmo de cada educando, seja surdo ou ouvinte, favorecendo a
aprendizagem de ambos.
Os docentes surdos trazem como exemplo a construção de slides com tópicos e imagens,
como um guia que facilita a organização e a conexão das principais informações, através de
imagens abordando temas centrais que serão apresentados na sala de aula, pois textos densos
na Língua Portuguesa, segundo os relatos dos participantes, são dificultosos para a compreensão
de alguns estudantes surdos.
Compreendemos, então, que a utilização de qualquer recurso tecnológico, pelos
docentes surdos da instituição pesquisada, está diretamente ligada com o planejamento didático
da aula, baseado na especificidade de cada estudante.
Visando responder ao terceiro objetivo desta tese: discutir a finalidade dos recursos
tecnológicos utilizados pelos docentes surdos no ensino da Libras, questionamos os docentes
surdos acerca dos recursos tecnológicos como alternativas no ensino da Libras, e os mesmos
afirmaram que as ferramentas tecnológicas auxiliam não somente o docente, mas também o
estudante na relação ensino-aprendizagem, favorecendo a ministração das aulas de Libras com
criatividade e autonomia.
Ao serem também questionados sobre sugestão para melhoria no desempenho das
ferramentas tecnológicas, foi evidenciada a necessidade dos recursos serem compatíveis com a
condição individual dos seus usuários, sejam docentes ou estudantes, de maneira a contemplar
a complexidade da Libras, enquanto língua com estrutura gramatical própria e que, segundo os
relatos dos participantes, o docente tem liberdade para aceitar ou não as tecnologias, avaliar e
interagir com elas no processo de ensino da Libras.
Ressaltamos, mais uma vez, que não temos a pretensão de direcionar qual recurso
tecnológico o docente surdo deve utilizar em sala de aula, e sim indicarmos caminhos de
reflexão sobre a sua aplicabilidade no processo de ensino da Libras na Educação Superior.
Dessa forma, a tese que defendemos é que o uso das tecnologias digitais pode influenciar,
positivamente, no processo de ensino da Libras na Educação Superior, considerando que tais
recursos podem ser adaptados pela ação humana, a fim de se tornarem acessíveis aos usuários
111
da Libras.
Muitos foram os conhecimentos construídos no processo de elaboração deste trabalho
até o presente momento, os quais beneficiaram e direcionaram a escrita deste texto. Diante
disso, esperamos que os dados analisados tragam contribuições para as discussões acerca da
influência das tecnologias digitais no processo de ensino da Libras na UFRB, na perspectiva de
docentes surdos.
A relevância do desenvolvimento deste estudo no Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), na Linha de Pesquisa: “Educação e
Diversidade”, reside na busca de conhecermos referenciais teórico-metodológicos, a partir de
análises de situações concretas no processo educativo. Nesse texto, o objetivo não é apenas
apresentar os softwares, tradutores virtuais, dicionários digitais, exemplos de videoaulas, entre
outros recursos tecnológicos, mas também demonstrar, através dos dados analisados nas
entrevistas, possibilidades de discussões acerca do uso de recursos tecnológicos por docentes
surdos, e potencializar reflexões concernentes ao uso dessas tecnologias no processo de ensino
da Libras, principal foco deste estudo.
A partir dos relatos dos 06 (seis) docentes surdos, podemos revelar, por um lado, a
importância e a necessidade do ensino da Libras mediado por recursos tecnológicos que
assegurem a aprendizagem dos estudantes na Educação Superior; e, por outro lado,
evidenciamos a satisfação desses docentes em serem partícipes da experiência acadêmica,
ampliando suas perspectivas e oportunidades na vida pessoal, profissional e social.
Em relação às contribuições derivadas dos estudos realizados até aqui, podemos citar o
mapeamento de tecnologias passíveis de utilização por docentes surdos, no intuito de responder
às questões de pesquisa, possibilitando que o leitor conheça e compreenda, a partir das figuras
e capturas de telas, o contexto de uso pretendido de tecnologias, considerando as pessoas surdas.
Declaramos não ter encontrado um trabalho que apresenta essa sistematização e organização de
ferramentas tecnológicas para o ensino da Libras na Educação Superior, por isso exploramos
essa área temática ainda inexistente.
A revisão sistemática de literatura a respeito de modelos de recursos tecnológicos e seu
uso por pessoas surdas se constituiu em uma metodologia útil no que se refere ao ensino da
Libras, pois favorece a identificação das pesquisas e sua melhor síntese, a fim de fundamentar
propostas de uso, considerando as especifidades linguísticas da Libras.
Para estimular o uso de tecnologias como auxílio aos docentes surdos nas universidades,
sugerimos algumas ações:
Ministrar cursos de tecnologias, em que sejam abordados conceitos, legislação,
112
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YIN, R. K. Estudo de caso, planejamento e métodos. 4 ed. Porto Alegre: Bookman, 2010.
123
QUESTÕES SECUNDÁRIAS:
OBJETIVO GERAL:
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
PALAVRAS-CHAVE:
124
LOCAL DA PESQUISA:
DOCUMENTOS ANALISADOS:
ENTREVISTAS:
que, nos riscos referentes ao desconforto, será oferecido apoio: além de uma conversa atenta e
sensível ao desconforto do participante, viabilizar-se-á um atendimento emocional, bem como
será resguardado o tempo que for necessário até que tais questões sejam sanadas, considerando
a experiência profissional e acadêmica na área. Ao identificar possíveis desconfortos dos
participantes, sejam emocionais ou físicos, bem como constrangimentos que o entrevistado
poderá sentir por compartilhar informações pessoais ou confidenciais ou em alguns tópicos que
possam sentir incômodo em falar, destacamos que o participante não precisa responder a
qualquer pergunta ou parte de informações obtidas na entrevista. Portanto, serão tomadas essas
ações/atitudes práticas descritas acima, a fim de minimizar esses possíveis riscos (desconforto,
constrangimento - se houver).
Entretanto, como forma de minimizar/evitar tais riscos, algumas providências serão
tomadas, a exemplo de: possibilidade de escolha de um ambiente privativo para respostas às
entrevistas via skype; definição de um tempo que não altere significativamente a sua rotina de
trabalho ou estudo e de um horário que lhe seja mais conveniente para agendamento da
entrevista, que durará 25 (vinte e cinco) minutos com cada participante. Será assegurado pelo
pesquisador o pleiteio de indenização em caso de danos decorrentes de sua participação na
pesquisa.
Os benefícios que a presente pesquisa também trará para os participantes são: a
visibilidade da percepção de docentes surdos da UFRB acerca do uso de recursos tecnológicos
no processo de ensino da Libras; disseminação da Língua Brasileira de Sinais (Libras) em seus
aspectos linguísticos; valorização identitária da pessoa surda no âmbito educacional e social.
Consideramos, assim, o respeito pela dignidade humana, a proteção da imagem da
instituição e do participante, a não estigmatização, a garantia da não utilização das informações
em prejuízo, inclusive em termos de autoestima, além do desenvolvimento e o engajamento
ético, consoante a Resolução Nº 466/2012.
Os resultados serão transcritos, analisados e apresentados sem qualquer menção dos
nomes dos(as) participantes, sendo garantido o seu anonimato. Comprometo-me, como
pesquisadora, com o mínimo de danos e riscos, por ponderar que os participantes da pesquisa,
segundo a Resolução 466/2012, II.25, também integram aos grupos de estudo considerados
vulneráveis.
É importante destacar que os Senhores Diretores dos Centros em que será realizada a
pesquisa estão cientes das corresponsabilidades como instituição coparticipante do presente
projeto de pesquisa, do compromisso de garantir a segurança e o bem-estar dos participantes
envolvidos na Instituição. Além de autorizarem o desenvolvimento da presente pesquisa na
128
___________________________ ________________________
Pesquisadora Orientadora
129
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
GABINETE DO REITOR
___________________________________________
Reitor
130
12. Você considera que os recursos tecnológicos são importantes para os surdos? Por quê?
13. Você tem conhecimento necessário para o uso dos recursos tecnológicos?
14. Em sua opinião, qual é o grau de importância do uso das ferramentas tecnológicas, para
o ensino de Libras?
15. O que você sugere para melhorar nas ferramentas tecnológicas utilizadas?
16. Quais recursos tecnológicos você sugere como alternativas que podem influenciar o
ensino da Libras?
132