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Contudo, não poderia deixar de agradecer, de modo especial, aos abaixo relacionados,
sem ordem de importância. Ao nomeá-los, os demais estão incluídos.
Ao meu filho amado, Rafael Maximus Sousa Freitas, por me permitir os melhores
sorrisos na reta final deste trabalho.
Aos meus pais, Altamir de Jesus Freitas (in memoriam) e Jailda Correia Silva, que me
deram o dom da vida e serão sempre mui queridos por mim.
Aos meus avós, Manoel de Jesus (in memorian) e Almodiz Freitas de Jesus, por serem
tão especiais e amados.
À minha esposa, Naiara Sousa da Silva, pelo apoio e compreensão, especialmente nos
momentos de ausência.
Ao meu irmão, Acimarley Correia Silva Freitas, pelo incentivo, apoio, torcida,
acompanhamento, sugestões e correções. Você é mais que um irmão.
À minha preciosa irmã, Acimarleia Correia Silva Freitas, fonte de calmaria e
serenidade, apoiadora incondicional e amiga fiel.
Aos meus colegas de turma, com os quais aprendi muito sobre ensino. Vocês foram
exímios professores na arte da vida. Com o tempo, os bons tempos transformaram-se em boas
lembranças, que jamais serão esquecidas. Todos, sem exceção, foram importantes, mas faço o
registro das melhores risadas com Marcelo Máximo, Karine Campos, Walkiria Helena,
Adelmária Ione, Edgar e Jakeline Campos.
Ao meu orientador, Prof. Dr. José Cláudio Del Pino, pela condução tranquila, serena,
respeitosa e qualificada no mundo da pesquisa. Sou muito agradecido por tudo que aprendi ao
longo desse tempo de vivências acadêmicas.
Aos estudantes que corajosamente participaram desta pesquisa, aos quais eu devo
admiração, respeito e uma gratidão imensurável.
Aos meus queridos alunos e alunas, razão da minha maior realização profissional - ser
professor. Vocês me ensinam todos os dias.
Esta tese, “Assédio Moral Pedagógico: um estudo de caso com estudantes da área da
engenharia de uma IES pública da Bahia”, tem por objetivo conhecer as percepções sobre a
presença ou ausência da prática do assédio moral no espaço acadêmico, bem como seus
danos, reflexos sociais e impactos na aprendizagem, sob o olhar dos (as) estudantes da área da
engenharia de uma Instituição de Ensino Superior Pública da Bahia, por meio da análise do
discurso do sujeito coletivo. Os objetivos específicos desta pesquisa foram delineados com o
fim de compreender a relação entre o conceito e a expressão da vivência do assédio moral;
verificar a presença ou ausência de práticas de assédio moral vivenciadas pelos (as) estudantes
na relação pedagógica nos cursos da área de engenharia; caracterizar e classificar o assédio
moral; identificar os possíveis danos do assédio moral pedagógico apresentados no discurso
dos (as) estudantes; entender a relação entre o discurso dos danos sofridos e sua
materialização na esfera midiática e jurídica; e apresentar a relação entre as consequências do
assédio moral pedagógico e os impactos na aprendizagem, sob o olhar dos (as) estudantes. Os
aportes teóricos que sustentam a pesquisa discutem as seguintes temáticas: violência; assédio;
assédio moral: classificação, causas e consequências; autoridade, autoritarismo e relações de
poder nos espaços acadêmicos; didática, afetividade, conflitos e assédio moral no ensino
superior. O subsídio teórico tem como marco: Leymann, 1997; Barreto, 2000; Miranda Neto,
2002; Zabala, 2003; Heloani, 2003; Hirigoyen, 2001, 2005; Bradaschia, 2007; Soboll, 2008;
Galindo, 2009; Campos e Pancheri, 2017; Martins, 2008, 2017; Pancheri, 2017; Freire, 1996;
Foucault, 2006; Wallon, 1986; Arendt, 2010; Libâneo, 1994; Luckesi, 2004. Utilizou-se,
ainda, para análise dos resultados, o Método do Discurso do Sujeito Coletivo, proposto pelos
pesquisadores Fernando Lefrève e Ana Maria Cavalcanti Lefrève. A pesquisa apresenta uma
abordagem qualiquantitativa exploratória. Quanto aos procedimentos, adotou-se o estudo de
caso. Os instrumentos de coleta de dados utilizados ao longo do estudo foram questionários e
entrevistas semiestruturadas. A população da pesquisa foi composta por estudantes de todos
os semestres dos cursos de engenharia e a amostragem foi constituída por 280 estudantes. A
coleta de dados foi realizada pelo pesquisador, no período de junho de 2018 a janeiro de 2020.
Como resultado, foi possível identificar que 57,9% dos (as) estudantes que participaram da
pesquisa possuem a percepção de já terem sido assediados (as) moralmente em suas relações
pedagógicas, no contexto do curso de graduação, por algum (a) docente ou outro (a)
profissional da educação. Destaca-se, ainda, a identificação de dezoito categorias (situações e
comportamentos) de assédio moral pedagógico enfrentadas pelos estudantes no dia a dia da
vida acadêmica.
Palavras-chave: Violência. Humilhação. Assédio Moral. Autoritarismo.
ABSTRACT
This thesis, “Pedagogical Moral Harassment: a case study with engineering students from a
public HEI in Bahia” aims to know the perceptions about the presence or absence of the moral
harassment practice in the academic environment and the relationship between its damages,
social reflexes, and impacts on learning, under the view of the engineering students from a
Public Higher Education Institution in Bahia, through the analysis of the collective subject’s
speech. The specific objectives of this research were outlined in order to understand the
relationship between the concept and the expression of experiencing moral harassment, to
verify the presence or absence of moral harassment practices experienced by the students in
the pedagogical relationship in the engineering courses, to characterize and classify the moral
harassment, to identify the possible damages of the pedagogical moral harassment presented
in the students’ speech, to understand the relationship between the speech of the damages
suffered and their materialization in the media and legal sphere, to present the relationship
between the consequences of the pedagogical moral harassment x impacts on learning, under
the students’ view. The theoretical contributions which support the research, discuss the
following themes: violence; harassment; moral harassment: classification, causes, and
consequences; authority, authoritarianism and power relations in academic spaces; didactics,
affectivity, conflicts and moral harassment in higher education. The theoretical framework is:
Leymann, 1997; Barreto, 2000; Miranda Neto, 2002; Piñuel y Zabala, 2003; Heloani, 2003;
Hirigoyen, 2001, 2005; Bradaschia, 2007; Soboll, 2008; Galindo, 2009; Campos e Pancheri,
2017; Martins, 2008, 2017; Pancheri, 2017. The Collective Subject Speech Method, proposed
by researchers Fernando Lefrève and Ana Maria Cavalcanti Lefrève, was also used to analyze
the results. The study presents a quali-quantitative exploratory approach. Regarding the
procedures, the case study was utilized. The data collection instruments used throughout the
study were questionnaires and semi-structured interviews. The research population was
composed of students from all terms of engineering courses. The research sample consisted of
280 students. The data collection was carried out by the researcher, from June 2018 to
January 2020. As a result, it was possible to identify that (57.9%) of the students who
participated in the research have the perception of having already been morally harassed in
their pedagogical relations, in the context of the undergraduate course, by some teacher or
other professional in education. It is also worth mentioning the identification of 18 (eighteen)
categories (situations and behaviors) of moral harassment faced by students in their daily
academic life.
Keywords: Violence. Humiliation. Moral harassment. Authoritarianism.
RESUMEN
Esta tesis, "Acoso Moral Pedagógico: un estudio de caso con estudiantes del área de la
ingeniería de una IES pública de Bahía" tiene por objetivo conocer las percepciones sobre la
presencia o ausencia de la práctica del acoso moral en el espacio académico y la relación entre
sus daños, reflejos sociales e impactos en el aprendizaje, bajo la mirada de los estudiantes del
área de la ingeniería de una Institución de Enseñanza Superior Pública de Bahía, por medio
del análisis del discurso del sujeto colectivo. Los objetivos específicos de esta investigación
fueron esbozados con el fin de comprender la relación entre el concepto y la expresión de la
vivencia del acoso moral, verificar la presencia o ausencia de prácticas de acoso moral vividas
por los estudiantes en la relación pedagógica en cursos del área de ingeniería, caracterizar y
clasificar el acoso moral, identificar los posibles daños del acoso moral pedagógico
presentados en el discurso de los estudiantes, entender la relación entre el discurso de los
daños sufridos y la materialización de los mismos en la esfera mediática y jurídica, presentar
la relación entre las consecuencias del acoso moral pedagógico X impactos en el aprendizaje,
bajo la mirada de los (as) estudiantes. Los aportes teóricos que sustentan la investigación
discuten las siguientes temáticas: violencia; acoso; acoso moral: clasificación, causas y
consecuencias; autoridad, autoritarismo y relaciones de poder en los espacios
académicos; didáctica, afectividad, conflictos y acoso moral en la educación superior. La
subvención teórica tiene como marco: Leymann, 1997; Barreto, 2000; Miranda Neto,
2002; Zabala, 2003; Heloani, 2003; Hirigoyen, 2001, 2005; Bradaschia, 2007; Soboll,
2008; Galindo, 2009; Campos e Pancheri, 2017; Martins, 2008, 2017; Pancheri, 2017. Se
utilizó, todavía, para análisis de los resultados, el Método del Discurso del Sujeto Colectivo,
propuesto por los investigadores Fernando Lefrève y Ana Maria Cavalcanti Lefrève. La
investigación presenta un enfoque cualitativo exploratorio. En cuanto a los procedimientos se
adoptó el estudio de caso. Los instrumentos de recopilación de datos utilizados a lo largo del
estudio fueron cuestionarios y entrevistas semiestructuradas. La población de la investigación
fue compuesta por estudiantes de todos los semestres de los cursos de ingeniería. La encuesta
fue tomada por 280 estudiantes. La recolección de datos fue realizada por el investigador, en
el período de junio de 2018 a enero de 2020. Como resultado fue posible identificar que
(57,9%) de los estudiantes que participaron de la investigación poseen la percepción de que ya
han sido acosados moralmente en sus relaciones pedagógicas, en el contexto del curso de
graduación, por algún docente u otro profesional de la educación. Se destaca además la
identificación de 18 (dieciocho) categorías (situaciones y comportamientos) de acoso moral
pedagógico que enfrentan los estudiantes en el día a día de la vida académica.
Palabras clave: Violencia. Humillación. Acoso Moral. Autoritarismo.
LISTA DE FIGURAS
AC Ancoragens
CC Código Civil
CF Constituição Federal
CP Código Penal
ECH Expressões-chave
GT Grupos de Trabalho
IC Ideias Centrais
“Como a violência reaparece a cada época sob novas formas, é necessário retomar
permanentemente a luta contra ela”.
(STEPHEN ZWEIG)
Esta pesquisa propôs conhecer as percepções dos (as) estudantes da área da engenharia
em relação ao assédio moral no espaço acadêmico, cometido por docentes e demais
profissionais da educação, tendo como unidade de pesquisa uma Instituição de Ensino
Superior – IES, pública, localizada na Bahia.
O assédio moral no espaço acadêmico, enquanto fato social, precisa ser conhecido,
prevenido e combatido. Diante disso, esta tese apresenta um panorama crítico das situações
vivenciadas por estudantes em uma instituição de ensino superior e desnuda realidades pouco
conhecidas do grande público, sob a perspectiva e narrativa das próprias vítimas.
Do ponto de vista científico, enquanto primeira tese sobre assédio moral pedagógico, a
pesquisa, por ser pioneira e adentrar um campo do conhecimento pouco explorado, justificou-
se pela potencialidade de produzir conhecimento e ser embrião e fonte de consulta e debate
sobre tema de tão grande valor para a comunidade acadêmica. Isso porque aborda aspectos do
assédio moral no espaço acadêmico, propõe uma nova nomenclatura e classificação e
relaciona diferentes saberes e informações das áreas da educação, do direito, da psicologia, da
comunicação, da filosofia, da sociologia e da administração.
fenômeno social do assédio moral no espaço acadêmico, bem como servir como base
estatística para futuras intervenções. Outrossim, possibilita aos gestores e docentes um
aprofundamento teórico e a análise da realidade vivenciada pelos estudantes consultados.
Caracterizar o assédio moral no espaço acadêmico por parte dos (as) docentes, a
partir do discurso dos (as) estudantes;
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Entender a relação entre o discurso dos danos sofridos com a materialização dos
mesmos na esfera midiática e jurídica;
Outrossim, ainda se indaga: Quais são os danos percebidos pelos (as) estudantes em
decorrência de um possível assédio moral pedagógico no espaço acadêmico? Qual a relação
entre o dano sofrido com o assédio moral pedagógico no espaço acadêmico e a expressão na
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esfera social, por parte dos (as) estudantes? O assédio moral pedagógico sofrido pelos (as)
estudantes na relação acadêmica impacta na aprendizagem? De que forma?
1.3.2 Hipóteses
Segundo Baptista e Sousa (2011, p. 26), "as hipóteses são uma resposta prévia ao
problema proposto e, habitualmente, são desenvolvidas com base em estudos anteriormente
realizados de acordo com o tema escolhido". Nesse sentido, as hipóteses são asserções
provisórias que, longe de serem proposições evidentes por si mesmas, podem ou não ser
verdadeiras. Assim, em uma investigação científica, devem necessariamente ser submetidas a
cuidadosos procedimentos de verificação e demonstração (BARROS, 2008).
H01) No discurso dos (as) estudantes, o assédio moral é um tipo de violência real no
espaço acadêmico da IES onde estudam e possui especificidades, características perversas,
devendo ser combatido;
H03) O assédio moral no espaço acadêmico, por ter características próprias, pode ser
denominado como um subtipo de assédio e ser classificado como vertical (ascendente e
descendente), horizontal e misto;
H04) Existe uma estruturação do assédio moral no espaço acadêmico, ou seja, ele
possui modalidades, categorias, fases e formas de manifestação;
assimétricas e autoritárias e os (as) estudantes percebem que os (as) agressores (as) utilizam
instrumentos pedagógicos de forma inadequada, com o objetivo de constrangê-los (as),
humilhá-los (as) e causar-lhes dor;
H06) O assédio moral causa danos e reflexos à aprendizagem e vida dos (as)
estudantes, sendo os principais: dificuldade de relacionamento com o (a) docente e, por
conseguinte, baixo rendimento nos componentes curriculares; desencadeamento de estresse e
ansiedade; problemas emocionais; desânimo; e desistência do curso;
H07) Estudantes assediados (as) buscam as instâncias competentes na IES para fazer
denúncias, procuram seus direitos junto ao poder judiciário e publicitam o assédio moral que
sofreram no espaço acadêmico por meio da mídia, seja em sites, blogs, jornais, rádio e/ou TV;
H09) O (a) estudante assediado (a) tem queda em seu rendimento acadêmico, enfrenta
dificuldades para aprender e se sente desmotivado para estudar;
tornou possível identificar os melhores autores e textos que abordam a temática e aqueles que
mais se aproximavam do problema da pesquisa. Para tanto, foi necessário um verdadeiro filtro
no universo científico das publicações sobre o tema. Essa revisão permitiu estabelecer
conceitos e conhecer em qual momento histórico e do estado da arte se encontram as
pesquisas sobre o desenvolvimento do assédio moral no espaço acadêmico, por meio do
conhecimento e reconhecimento de estudos já realizados no Brasil e fora dele.
Ainda nesta fase conceitual, foram definidos os objetivos. De acordo com Freixo
(2011, p. 164), o objetivo "constitui um enunciado declarativo que precisa as variáveis-chave,
a população alvo e a orientação da investigação, indicando, consequentemente, o que o
investigador tem intenção de fazer no decurso do estudo". Do mesmo modo, estabeleceu-se a
questão da pesquisa, constituíram-se as hipóteses, as palavras-chave, bem como os descritores
que seria necessário pesquisar - todos com o propósito de introduzir o porquê da investigação.
O mais importante desta fase foi a análise dos possíveis benefícios que a pesquisa
poderia trazer para a sociedade e, de forma mais específica, para o grupo de estudantes nela
envolvidos e para a comunidade acadêmica de forma geral, sobretudo pelo seu potencial de
apresentar resultados norteadores para uma mudança de comportamento por parte dos (as)
profissionais da educação.
Para atingir os objetivos propostos nesta pesquisa, optou-se por estruturar a tese em 05
(cinco) capítulos. No Capítulo I - UMA INTRODUÇÃO À PESQUISA SOBRE ASSÉDIO
MORAL - apresenta-se o tema e a relevância da pesquisa para a sociedade, para o
pesquisador e para a IES, o objetivo geral e os específicos, bem como a questão de
investigação ou problema, as possíveis hipóteses, as etapas do processo de investigação e a
estrutura da tese.
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Mesmo o espaço acadêmico sendo um lugar que deveria formar para uma educação
em direitos humanos, ele não está imune à violência, visto que essa se apresenta por meio de
diferentes facetas, podendo ser pelo uso da força física, do poder real ou da ameaça contra si
próprio, contra outra pessoa, contra um grupo ou até uma comunidade, de modo a resultar ou
ter a possibilidade de resultar em lesão, morte ou dano psicológico, deficiência de
desenvolvimento ou privação.
Embora a violência física seja a forma mais comum e conhecida, ela se apresenta de
outros modos: violência psicológica, sexual, moral, conjugal, familiar, intrafamiliar, social,
emocional, institucional, patrimonial, religiosa, acadêmica, dentre tantas outras. O assédio
moral é uma das formas como a violência mais se manifesta na sociedade, de modo que o (a)
agressor (a) cerca e sitia a sua vítima com uma extensa gama de comportamentos de natureza
ofensiva.
Assim, por mais que as pesquisas sobre assédio moral no espaço acadêmico estejam
aumentando, ainda é diminuta a produção bibliográfica no Brasil, com enfoque específico no
assédio moral sofrido por estudantes em instituições de ensino. Por essa razão, neste capítulo
a pesquisa utiliza estudos relacionados ao assédio moral nas instituições de ensino envolvendo
diferentes segmentos, apenas como suporte teórico.
Este capítulo apresenta diferentes narrativas de assédio moral cometido por docentes,
o modus operandi deles atuarem. Traz também os desdobramentos do assédio na esfera
administrativa das instituições, as respostas e os procedimentos adotados pelas IES, os
processos, as decisões e condenações judiciais em favor dos (as) estudantes e, finalmente, as
consequências jurídicas para os (as) profissionais e para as instituições.
Destaca-se, ainda, neste capítulo, a diferenciação entre assédio moral e dano moral e,
por conseguinte, o dever de indenizar e o que a justiça considera ao estipular o quantum
indenizatório a que a vítima tem direito em casos de ações de danos morais e materiais por
assédio moral.
Neste capítulo busca-se realizar uma genealogia sobre a discussão em torno do assédio
moral no Brasil e no mundo e procede-se à definição de conceitos fundamentais relacionados
ao tema. Começa-se com uma reflexão sobre o princípio da dignidade humana insculpido na
Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), que aponta que todos os seres
humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Da mesma sorte, aponta-se a
educação enquanto direito fundamental de natureza social estabelecido na Constituição
Federal. Além disso, apresenta-se que o espaço acadêmico, como lugar de formação, não está
imune à violência, a qual se manifesta de diferentes facetas, sendo o assédio moral
pedagógico uma delas.
Apresentam-se, ainda, diferentes estudos por meio dos quais se verificou que
estudantes têm seus direitos mutilados e que o assédio moral no espaço acadêmico acaba por
ferir a dignidade humana e o direito à educação. Isso porque questões pedagógicas são
utilizadas para cercar e sitiar estudantes em diferentes situações de constrangimento,
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Falar sobre assédio moral no espaço acadêmico ou sobre qualquer outro tipo de
violência exige, primeiramente, entender em que momento do desenvolvimento dos direitos e
garantias fundamentais o Brasil se encontra. Para tanto, faz-se necessário remontar ao
estabelecimento do marco ético-jurídico-político da Declaração Universal dos Direitos
Humanos (DUDH), que implicou na responsabilidade dos Estados-Membros da Organização
das Nações Unidas (ONU) de assumir o encargo de implementar medidas de promoção e
defesa dos direitos humanos.
Destarte, o Art. I da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) estatui que
“todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos” (ONU, 1948, p.
1). Assim, os seres humanos criaram a ideia de dignidade e a normatizaram, ou seja, esse
conceito de dignidade surgiu da própria reflexão humana sobre a sua existência no tempo e na
história.
Deste modo, dignidade é aquele valor – sem preço! - que está encarnado em todo ser
humano. Por isso, é o direito que lhe confere garantia de respeito e de segurança – contra a
opressão, o medo e a necessidade – com todas as exigências que, na atual etapa da
humanidade, são cruciais para sua constante humanização.
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Por conseguinte, a dignidade da pessoa humana é um valor supremo que faz gravitar
em torno de si, além dos direitos e garantias fundamentais do homem, todo e qualquer outro
direito, não sendo suscetível de qualquer relativização normativo-jurídica ou redução legal
para harmonizar com qualquer que seja o direito fundamental. Assim, não se pode outra vez
estabelecer campos minados pela barbárie, no terreno arenoso do desdém pela condição
humana, como ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial.
Além desse importante passo, destaca-se o esforço do país na defesa dos Direitos
Humanos ao adotar internamente diferentes dispositivos legais que conferem proteção aos
seus cidadãos e estrangeiros em solo brasileiro. São exemplos desses marcos legislativos: a
Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial,
Decreto nº 65.810 de 1969); a Convenção sobre os Direitos da Criança – 1989, Decreto nº
99.710 de 1990); a Convenção contra a Tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos ou
degradantes – 1984, por meio do Decreto nº 40 de 1991; o Protocolo de San Salvador - 1988,
ratificado pelo Brasil e que promulgou o Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre
Direitos Humanos em Matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, Decreto nº 3.321
de 1999; além da Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência, por meio do Decreto nº 3.956 de
2001; e da Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a
Mulher – 1979, promulgada por meio do Decreto nº 4.377 de 2002, dentre outros.
Nessa esteira de ampliação e defesa dos Direitos Humanos, o país vem se cercando de
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Desse modo, pode-se dizer que a dignidade da pessoa humana é um valor supremo,
que atrai e faz gravitar em torno de si o conteúdo de todos os direitos fundamentais do homem
e o acompanha do seu nascimento com vida até a morte.
Nesse sentido, o texto Magno é taxativo ao insculpir em seu Título I - Dos Princípios
Fundamentais, a dignidade da pessoa humana como fundamento da República Federativa do
Brasil:
Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos
nos graus elementares e fundamentais. […]
A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da
personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e
pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a
tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e
coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz
(ORGANIZAÇÃO DAS NAÇṌES UNIDAS, 1948, grifo nosso).
Assim, torna-se fundamental falar nos Direitos Humanos quando se trata da temática
educação, uma vez que o acesso aos graus elementares e fundamentais deve ser gratuito e
promover o pleno desenvolvimento da personalidade humana.
A instrução deve, ainda, corroborar para que cada cidadão em formação possa
respeitar os direitos humanos e ter compreensão, tolerância e amizade com cidadãos de
diferentes nações, grupos raciais ou religiosos. Somente dessa forma haverá uma cultura de
paz e não se repetirão os horrores do desrespeito à humanidade, por meio de atos bárbaros e
ultrajantes conforme os vistos nas Grandes Guerras Mundiais. Enfim, a história não pode ser
esquecida.
Deste modo, não resta qualquer dúvida de que a educação é reconhecida como um
direito público social subjetivo, fundante da cidadania e garantido em nossa Carta Maior. A
Lei Magna garante o incentivo e a promoção de uma educação que, além de formar para o
pleno desenvolvimento da pessoa, a prepare para o exercício da cidadania e a qualifique para
o trabalho. Somente por meio de um Estado democrático de direito, que promova a educação
de forma plena é que será possível a efetividade dos demais direitos, de modo a dignificar o
homem e revelar o seu valor supremo, que é a sua própria humanidade, erigindo a dignidade
da pessoa humana em maior monta.
Nesse contexto, é possível afirmar que não existe cidadania, nem respeito aos Direitos
Humanos sem a oferta, por parte do Estado, de uma educação emancipadora, com a
participação da família e da sociedade.
Por essa razão, quando o (a) estudante em formação não encontra no espaço
educacional o respeito e a consideração merecida, ele (a) sofre os dissabores de uma educação
sem afetividade, autoritária e que não respeita seus sentimentos e emoções. Sob o mesmo
ponto de vista, o (a) estudante que é violentado (a), agredido (a), assediado (a) e aviltado (a)
em seus direitos mais elementares, sofre as consequências em sua própria formação ética e
moral, o que gera grande prejuízo para o indivíduo e, sobretudo, para a própria sociedade.
Destarte, não se pode falar sobre educação de forma isolada, visto que decorre,
sobretudo, de decisões políticas e que a política se manifesta visceralmente por meio dos
instrumentos normativos. A chamada Constituição Cidadã de 1988 define a educação como
um direito social, conforme estabelecido em seu art. 6º:
É conveniente recordar que esses direitos sociais são cedidos a todos pelo Estado e
visam garantir aos indivíduos o exercício dos direitos fundamentais em condições de
dignidade e igualdade, de modo a usufruírem do mínimo existencial. Observa-se que esse
mínimo existencial é o conjunto de prestações mínimas que o Estado deve prover ao cidadão;
do contrário, este se encontrará em situação de indignidade
Não obstante, Gallindo (2014) apresenta a transição que a educação sofreu no âmbito
do Direito Constitucional brasileiro, por meio da mudança histórica do texto magno de
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"direito de educação" para o "direito à educação", mostrando, assim, que esta enfrentou uma
alteração no eixo dos deveres e direitos. Desta forma, o indivíduo deixou de ter a obrigação de
ser educado pelo Estado e passou a ter o direito a receber educação.
Sendo assim, o Estado deixou de ter o poder de impor a educação que lhe convinha e
passou à condição de garantidor do direito do cidadão a uma educação para a liberdade, visto
que o ensino é um serviço público. Ainda que delegado a particulares, esses não deixam de se
submeter ao mesmo regramento jurídico de direito público que disciplina a matéria.
De forma ampla, os direitos sociais são os direitos que visam garantir aos indivíduos o
exercício de direitos fundamentais, sobretudo em condições de igualdade, de modo a
assegurar a plena dignidade da pessoa humana. Esses direitos sociais pertencem à segunda
dimensão de Direitos Fundamentais e estão relacionados com a igualdade material.
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e
o saber;
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de
instituições públicas e privadas de ensino;
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei,
planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e
títulos, aos das redes públicas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de
2006);
VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei;
VII - garantia de padrão de qualidade.
VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar
pública, nos termos de lei federal (BRASIL, 1988, grifo nosso).
deve ser ministrado de forma a promover igualdade de condições para que os (as) estudantes
não apenas tenham acesso às instituições de ensino, mas também permaneçam nelas. Esses
princípios visam fortalecer o exercício da cidadania e o ensino é o instrumento para que o
processo educacional se realize. Então, não há como se falar em exercício de cidadania sem a
educação, a qual tem o condão de assegurar o desenvolvimento ético e moral a cada cidadão
(GALLINDO, 2009).
O grande problema do educador não é discutir se a educação pode ou não pode, mas
é discutir onde pode, como pode, com quem pode, quando pode; é reconhecer os
limites que sua prática impõe. É perceber que o seu trabalho não é individual, é
social e se dá na prática social de que ele faz parte. É reconhecer que a educação,
não sendo a chave, a alavanca da transformação social, como tanto se vem
afirmando, é, porém, indispensável à transformação social. É reconhecer que há
espaços possíveis que são políticos, há espaços institucionais e extras institucionais a
serem ocupados pelas educadoras e pelos educadores cujo sonho é transformar a
realidade injusta que aí está, para que os direitos possam começar a ser conquistados
e não doados (FREIRE, 2001, p. 98-99).
da cidadania.
Com efeito, Gallindo (2014) defende que a cidadania é um legado e reflete a evolução
da sociedade, pois, para sua real efetivação, é necessário que o homem desenvolva suas
habilidades internas para adquirir bons hábitos. Compreende-se, então, que são necessários
dois entes: um disposto a apreender e adquirir bons hábitos e outro, chamado de facilitador,
que será aquele que irá instigar o desejo de aprender, apreender e adquirir bons hábitos que
certamente desembocarão na arte da cidadania.
Essa tarefa, porém, não parece fácil e para isso é mister que um terceiro elemento
assegure o resultado esperado. Assim, o Estado tem o dever de se fazer presente, por meio das
redes de ensino, sejam elas públicas ou privadas, para regular e garantir que todos se tornem
cidadãos.
A palavra violência possui muitos significados e vem sendo utilizada para nomear
desde as formas mais cruéis de tortura até as mais sutis. Essa violência que tanto assusta as
grandes metrópoles também se faz presente nas pequenas cidades e alcança o cotidiano
familiar, o ambiente profissional, acadêmico e os diferentes espaços de ensino.
Nesse sentido, percebe-se que a violência é um fenômeno social e cultural que pode se
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manifestar de diferentes formas dentro das estruturas sociais. Ainda de acordo com a OMS,
ela pode ser dirigida a si mesmo (autoinfligida), interpessoal e coletiva. A violência
autoinfligida é subdividida em comportamento suicida e autoabuso; a interpessoal é dividida
em duas subcategorias: violência da família e de parceiro (a) íntimo (a) e violência
comunitária; já a violência coletiva é subdividida em violência social, política e econômica.
Os atos de natureza violenta manifestam-se por meio de agressões que podem ser físicas,
sexuais, psicológicas ou de privação e negligência (KRUG, et al., 2002).
Assim, o evento representado por ações de indivíduos, grupos ou nações que causem
diferentes tipos de danos será considerado como violência. Corroborando a definição da
OMS, Marziale (2004) aponta que a violência é um problema social e de saúde pública que
ameaça o desenvolvimento dos povos, pois afeta a qualidade de vida e causa erosão no tecido
social. Pode-se falar na violência, então, como um fenômeno mundial que atravessa todas as
fronteiras e independe de raça, idade, condição socioeconômica, educação, credo ou religião,
orientação sexual e local de trabalho.
Sob essa perspectiva, ética e violência são opostas, uma vez que violência significa:
1) tudo o que age usando a força para ir contra a natureza de algum ser (é
desnaturar); 2) todo ato de força contra a espontaneidade, a vontade e a liberdade de
alguém (é coagir, constranger, torturar, brutalizar); 3) todo ato de violação da
natureza de alguém ou de alguma coisa valorizada positivamente por uma sociedade
(é violar); 4) todo ato de transgressão contra o que alguém ou uma sociedade define
como justo e como um direito. Consequentemente, violência é um ato de
brutalidade, sevícia e abuso físico e/ou psíquico contra alguém e caracteriza relações
intersubjetivas e sociais definidas pela opressão e intimidação, pelo medo e o terror
(CHAUÍ, 1999, n.p.).
Portanto, a violência é o uso da força para ir contra e violar a natureza de outrem, para
transgredir o que é definido como justo e direito alheio - é um ato brutal, de opressão e
intimidação.
Por certo, não é simples definir precisamente o que é violência e como ela se
desenvolve no seio da sociedade, visto que se reveste de diferentes facetas, apresentando-se
ora por meio das relações de poder, da força física ou da ameaça e coerção, e também de
todas essas formas ao mesmo tempo. Entretanto, qualquer que seja a forma como esse
fenômeno social, dinâmico e mutável se apresente, pode trazer diferentes agravos à saúde
física, mental e/ou psicológica, sejam eles imediatos, mediatos ou futuros. Em regra, costuma
causar sérios danos às suas vítimas.
latim ad sedere, significando “sentar-se em frente de”. Outros apontam como origem o latim
“obsidium” - cerco, cilada -, consolidado no latim vulgar “adsedium”, usado em vez de
“obsidium”, do verbo “obsidere” – pôr-se à frente, cercar, não se afastar. Parece que o termo
tem relação com as operações militares em frente ou ao redor de um local determinado -
cerco, sítio a cidades e fortalezas - e envolve uma extensa gama de comportamentos de
natureza ofensiva. É compreendido como um comportamento que importuna, perturba ou
desestabiliza (CAMPOS; PANCHERI, 2017; ARRAIS, 2017; FERREIRA, 1999; MARTINS,
2017).
Assim, pode-se identificar que o assédio é uma forma de violência que se manifesta
por diferentes condutas e comportamentos, de modo a ferir a dignidade da vítima. Seu
exercício configura-se com o (a) agressor (a) perseguindo, humilhando, constrangendo,
irritando, aborrecendo, incomodando, importunando ou molestando uma pessoa ou um
determinado grupo de forma direta e explícita, ou por condutas indiretas e veladas.
Verifica-se que o significado de assédio aponta em direção para ações como: agredir,
molestar, insistir, cercar, perseguir e violar. Na literatura especializada encontram-se relatos
de diferentes e várias formas de assédio: assédio moral, bullying, cyberbullying, assédio
sexual, assédio imobiliário, assédio ambiental, grooming. Pancheri e Campos (2018)
apresentaram significativa pesquisa sobre o tema assédio no livro “Assédio Laboral:
Significações. Caracteres. Políticas Públicas de enfrentamento”.
à mente é a do assédio sexual” (HELOANI, 2003, p. 57). No entanto, tanto a violência física
como o assédio sexual são apenas facetas da violência, que, infelizmente, se manifesta na
sociedade de variadas formas.
O assédio escolar, muito conhecido como “bullying”, compõe, entre outras formas de
violência, uma das manifestações da violência mais ignorada. Trata-se da intimidação
sistemática no espaço escolar ou fora dele, praticada por colegas, geralmente crianças,
adolescentes ou jovens, acompanhada de violência física ou psicológica e atos de humilhação
ou discriminação. Existe tênue distância entre a agressão e as brincadeiras em que o
consentimento do outro é essencial. A gravidade do bullying não decorre do ato propriamente
dito, mas, sobretudo, dos seus efeitos nefastos sobre a vítima, visto que o medo ocasionado
por esses comportamentos pode ter consequências trágicas sobre o futuro psicológico dos
jovens (GALLINDO, 2009; RIBEIRO; CALIMAN, 2019).
existe a presença da vítima, do (a) assediador (a) e também dos (as) espectadores (as). No
cyberbullying, com a possibilidade do “pseudo” anonimato, os comentários, as ameaças e os
xingamentos podem ser tão graves, cruéis ou piores do que os do bullying. A Lei Federal nº
13.185, de 2015, instituiu o Programa de Combate à Intimidação Sistemática como forma de
tentar minimizar os efeitos dessa nefasta faceta da vida escolar. De acordo com pesquisa
divulgada pelo UNICEF, um em cada três jovens em 30 países declarou já ter sido vítima de
bullying online, com um em cada cinco relatando ter saído da escola devido a cyberbullying e
violência (ALCÂNTARA, 2019).
Outra forma comum de violência por meio de assédio é o assédio sexual, que se
caracteriza pelo ato do (a) agressor (a) constranger alguém com o intuito de obter vantagem
ou favorecimento sexual. No Brasil, esse ato passou recentemente a ser considerado crime,
quando realizado por agente que se utiliza da sua condição de superior hierárquico ou
ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função (FREIRE, 2011;
PANCHERI, 2017). No ano de 2001, foi incluído o art. 216-A no Código Penal, por meio da
Lei Federal n° 10.224/01, que preconiza:
fundamentais, sobretudo aqueles considerados em seu art. 6º como direitos sociais, nos
seguintes termos:
Tem-se ainda o assédio ambiental, que é uma forma de ameaçar pessoas que defendem
o ecossistema ou reivindicam direitos transindividuais concernentes ao meio ambiente e à
equilibrada e sadia qualidade de vida (PANCHERI, 2017). Esse ato não é tipificado como
crime, mas suas práticas são ilícitas e podem gerar indenizações na esfera cível. Exemplo
desse tipo de assédio ambiental ocorreu com o massacre de cerca de dez membros de uma
tribo isolada na Amazônia, conhecidos como flecheiros. Além de inúmeros casos no Brasil,
ganharam grande repercussão na mídia internacional os casos dos ativistas ambientais mortos
- Chico Mendes e Dorothy Mae Stang.
Outros dois tipos de assédio são o midiático, que é a intromissão ilícita e abusiva na
intimidade de uma pessoa feita por profissionais ou veículos de imprensa, e o grooming, que é
o domínio emocional estabelecido por um adulto na relação com uma criança, com intenção
de abuso sexual - geralmente uma forma de assédio sexual pela internet, com o uso de
ferramentas como redes sociais, mensageiros instantâneos, aplicativos e e-mails (PANCHERI,
2017).
Assim, pode-se dizer que a mídia acaba ocupando um grande espaço no sistema de
poder da sociedade e que geralmente vai além das decisões de consumo. O poder midiático
acaba por interferir nos padrões de conduta a ponto de invadir a privacidade do cidadão.
Nesse sentido, Kellner (2001) aponta que a cultura da mídia trava batalhas pelo controle da
sociedade, seja entre feministas e antifeministas, liberais e conservadores, radicais e
defensores do status quo - todos lutam pelo poder cultural não só nos meios de notícias e
informações, mas também no domínio do entretenimento. Assim, ainda de acordo com
Kellner (2001), ela está intimamente vinculada ao poder e abre o estudo da cultura para as
vicissitudes da política e para o matadouro da história.
52
Esse artigo tem por objetivo censurar o assédio à criança como ato preparatório dos
delitos de estupro e atentado violento ao pudor. Assim, considerando essas condutas descritas
no ECA, é possível tipificar o grooming como vários crimes.
Além dessas formas de assédio, pode-se citar o stalking, que é o ato de seguir a presa
ou caminhar sigilosamente, perseguindo-a. O assediador, obsessivamente invade a intimidade
da vítima, incluindo contato insistente por telefone e pela internet, acercando-se até do seu
espaço vital. Esse tipo de assédio causa uma perturbação espiritual na pessoa e atinge também
o seu sentimento de segurança, seja pessoal, seja em face de pessoas com as quais se
relaciona, como também o campo da intimidade (PANCHERI, 2017).
Dentre outras formas de assédio, Pancheri (2017) ainda destaca: o straining, que se
caracteriza pelo estresse forçado imposto a trabalhadores por meio de comportamentos
humilhantes e ameaçadores; o scratching, que é a pressão de um grupo de pessoas que se
reúnem em frente ao domicílio da vítima com o objetivo de denunciar injustiças cometidas; e
o spam, uma forma de assédio que se utiliza da insistente e desautorizada comunicação
publicitária realizada por meio de telefonemas e e-mails (PANCHERI, 2017).
Por sua vez, o assédio virtual ocorre por meio de plataformas digitais e geralmente de
forma online, sendo praticado por indivíduos que usam a tecnologia para humilhar, ofender,
intimidar, discriminar, hostilizar, amedrontar ou importunar a vítima. Desse modo,
enquadram-se em ações de assédio virtual, ameaças, comentários depreciativos, calúnias,
injúrias, difamações, piadas de cunho sexual, comentários pejorativos, divulgação de dados,
fotos, vídeos ou informações pessoais e a propagação de discursos de ódio feitos por meios de
dispositivos eletrônicos e com uso da internet.
O assédio psicológico caracteriza-se por ser uma das formas mais veladas de assédio,
pois as vítimas desse tipo de violência, em sua grande maioria, demoram a perceber que estão
53
sendo abusadas e assediadas e/ou como são muito próximas ao agressor, sentem-se
intimidadas a denunciar. Essa forma de assédio também pode ter diferentes facetas: o (a)
assediador (a) comporta-se como se estivesse brincando, mas, na verdade, suas ações e
comportamentos são abusivos, tóxicos, ofensivos e persistentes.
Embora sem consenso entre os pesquisadores quanto à sua classificação como assédio,
tem-se o assédio verbal, que se caracteriza por ocorrer em diferentes contextos, envolvendo
pessoas conhecidas ou distantes e tendo, como marca maior, as expressões verbais agressivas.
Manifesta-se por meio de xingamentos, vaias, ameaças, ridicularizações, calúnias, insultos,
provocações, difamações e ameaças contra uma pessoa.
Por fim, de forma bastante sutil e inconfessável, existe o assédio moral. Essa forma de
agressão, segundo Martins (2008), é caracterizada por uma conduta ilícita, repetitiva, de
natureza psicológica, que causa ofensa à dignidade, à personalidade e à integridade do
trabalhador perseguido, causando-lhe humilhação e constrangimento e implicando em
conflitos com o empregador.
Em conformidade com essa posição, Silva (2005) aponta que assédio moral:
poderiam levar ao isolamento da vítima e até mesmo ao suicídio. Como exemplo, em uma
classe, um grupo de alunos, normalmente, partia para uma ação violenta contra um aluno em
particular - aquele que se diferenciava do grupo em função de algum aspecto atípico
(AGUIAR, 2015; HIRIGOYEN, 2005; REZENDE, 2006).
Insta esclarecer que a ideia de assédio moral surge de estudos realizados pelo
psiquiatra americano Carroll Brodsky sobre a hostilidade no ambiente de trabalho. Ele
publicou um estudo pioneiro denominado “The harassed worker”, cuja tradução livre é “o
trabalhador assediado”, no qual relata uma pesquisa realizada com pessoas que alegavam
maus tratos no ambiente laboral. O autor utilizou o termo harassment emprestado do conceito
de assédio sexual (sexual harassment), eliminando o caráter sexual e utilizando apenas o
conceito de harassment, que, em português, traduzimos por assédio (AGUIAR, 2015;
FREITAS; RODRIGUES, 2014; PELLEGRINI, 2016; SOARES, 2012;). Nesse estudo,
Brodsky define o assédio moral como sendo:
Em seu estudo, ele analisou o assédio em situações de trabalho e os seus efeitos sobre
o trabalhador, sua família, ambiente de trabalho e sociedade. Despertavam a atenção de
Brodsky principalmente os trabalhadores que ofereciam queixas e reclamações sobre o
tratamento cruel aplicado, de forma intencional ou não, no ambiente de trabalho, com
capacidade de gerar lesões tanto de natureza física quanto mental, resultando em limitações
para lidar com o trabalho e com a vida (AGUIAR, 2015).
Impende destacar que, a partir desse momento, surgiram dois nomes fundamentais
para o desenvolvimento das pesquisas nessa área: Heinz Leymann e Marie France Hirigoyen.
Com base em suas pesquisas e publicações, o assédio moral passou a ser debatido e
pesquisado com maior profundidade e a repercutir com mais intensidade na sociedade.
Mais tarde surgiram outros importantes pesquisadores, mas Leymann foi o primeiro a
identificar a temática do assédio moral, de modo a lhe dar contornos científicos, bem como a
distinguiu como um problema com características específicas, modo de evolução, causas e
consequências próprias. Identificou como psicoterror o longo processo de uma pessoa
atormentar, assediar ou aterrorizar psicologicamente outra pessoa no ambiente de trabalho.
(AGUIAR, 2015; BRADASCHIA, 2007; GUIMARÃE; RIMOLLI, 2006; HIRIGOYEN,
2001).
De acordo com Leymann (1997), o uso dos dois termos deu-se em virtude das
investigações de dois grupos distintos de pesquisas:
A discussão mais intensa é entre dois grupos de pesquisa, aqueles que estudam a
violência entre crianças em idade escolar (a primeira publicação sobre ‘bullying’
ocorreu no início dos anos 70 na Escandinávia) e aqueles que estudam a violência
entre funcionários nos locais de trabalho (as primeiras publicações sobre ‘Mobbing’
surgiu no início dos anos 80, também na Escandinávia). Esses dois grupos de
pesquisa atraíram colegas de diferentes países para cooperação. Logo, acadêmicos
da Inglaterra, Austrália e Japão cooperaram com o grupo de pesquisa original na
Noruega para investigar o ‘bullying’ nas escolas, enquanto pesquisadores da
Alemanha, França, Itália, Hungria, EUA e Austrália colaboraram com o grupo de
pesquisa original da Suécia para estudar o ‘mobbing’ nos locais de
trabalho. Atualmente, a discussão é sobre a escolha de uma terminologia unificadora
para ambas as áreas, por exemplo, ‘bullying’ ou ‘mobbing’ ou se um terceiro termo
deve ser escolhido, por exemplo, ‘violência horizontal’ ou ‘assédio psicológico’ ou
‘terror psicológico’ (LEYMANN, 1997).
Em 1989, Leymann escreveu seu primeiro livro - em sueco, sem tradução - utilizando
a palavra mobbing (LEYMANN, 1989). Em 1993, ele publicou, originalmente em alemão, o
livro Mobbing: psychoterror am arbeitsplatz, que, em 1996, foi traduzido e publicado para o
francês como Mobbing: La persécution au travail (Mobbing: a perseguição no trabalho)
(SOARES, 2012).
Desse modo, o autor definiu esse termo para distinguir a forma de violência
psicológica entre pessoas adultas (mobbing) e escolheu o termo (bullying) para definir o
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assédio entre adolescentes. Nesse sentido, o autor nos sugere "guardar a palavra bullying para
atividades entre crianças e adolescentes na escola e reservar a palavra mobbing para o
comportamento adulto" (LEYMANN, 1996, p. 167).
Com esse mesmo condão, Martins apresenta que o termo mobbing é usado na Itália, na
Alemanha e nos países escandinavos. To mob, em inglês, quer dizer cercar, agredir, assediar,
atacar, traduzindo a ideia de uma agressão praticada por um animal que cerca um membro do
grupo e visa à fuga do assediado pelo pavor de ser atacado ou morto (MARTINS, 2008).
publicado, em 2000, no Brasil, sob o título Assédio Moral: a violência perversa no cotidiano.
O livro ganhou grande destaque e acabou por ter uma importância política
significativa, visto que favoreceu o surgimento de um movimento social determinante em
torno dessa forma de violência no ambiente de trabalho. A autora partiu de casos clínicos
acompanhados em seu consultório. Hirigoyen (1998) identificou situações que ocorrem nos
relacionamentos interpessoais e resultam em consequências negativas para o trabalhador.
Assim, como consequência da história de vida de seus pacientes, começou a fazer análises e
denominou esse sofrimento de assédio moral.
A versão francesa do livro superou as 550 mil cópias logo após sua publicação, sendo
posteriormente traduzida para mais de 27 idiomas. Deste modo, um ano depois, a França
publicou uma lei que passou a criminalizar essa forma de violência. Com suporte nesse fato, o
debate sobre as questões referentes ao assédio moral ganhou evidência em escolas,
universidades, sindicatos e empresas, entre outros locais. Em 1999, Hirigoyen participou do
grupo de reflexão sobre uma proposta, na Assembleia Nacional, que levou à votação, em 11
de janeiro de 2001, de uma emenda que introduziu a noção de assédio psicológico no código
do trabalho e no Código Penal (HIRIGOYEN, 2009; FREITAS; RODRIGUES, 2014;
PELLEGRINI, 2016; SOARES, 2012).
De acordo com Aguiar (2015), no Brasil, uma das primeiras discussões sobre assédio
moral, a partir das ideias de Marie-France Hirigoyen, foi relatada em uma reportagem da
Revista Isto é, em 14 de julho de 1999, denominada “O império do mal”, de Eduardo Ferraz e
Marta Góes, com histórias de vida de vários trabalhadores assediados (AGUIAR, 2015).
Ainda segundo Aguiar (2015), um dos primeiros artigos acadêmicos publicados no Brasil
sobre o tema foi: “Assédio moral e assédio sexual: faces do poder perverso nas organizações”,
de autoria de Maria Ester de Freitas, no ano de 2001.
Assim, qualquer forma de conduta abusiva que atente, por sua repetição ou
sistematização, contra a dignidade ou integridade psíquica ou física de uma pessoa,
ameaçando seu emprego ou degradando o clima do seu trabalho, será considerada assédio
moral.
O assédio moral caracteriza-se como uma conduta ilícita e muitas vezes silenciosa,
com consequências desastrosas para o vitimizado e para a sociedade, sendo tão antigo quanto
59
Analogamente, Silva (2005) entende que o assédio moral consiste no ato de expor os
trabalhadores, de maneira recorrente e bastante prolongada, a circunstâncias demasiadamente
constrangedoras e humilhantes, ao longo da jornada laboral e durante o desempenhar das
funções do trabalhador. De acordo com esse autor, o assédio moral ocorre, de forma mais
comum, em relações hierárquicas no trabalho, nas quais prevalecem comportamentos
negativos, carentes de ética e de humanidade. Tem duração prolongada e é realizado por um
ou mais superiores hierárquicos.
Ainda segundo esse mesmo autor, o assédio moral, conhecido como a violência
perversa e silenciosa do cotidiano, ou psicoterror, nada mais é do que a submissão do
trabalhador a situações humilhantes, de maneira reiterada e prolongada, durante a jornada de
trabalho ou mesmo fora dela, em razão das funções que exerce. Seguindo com o autor, tal
prática determina um verdadeiro terror psicológico que resultará na degradação do ambiente
de trabalho, na vulnerabilidade e desequilíbrio da vítima, estabelecendo sérios riscos à saúde
física e psicológica do trabalhador e às estruturas da empresa e do Estado. Cabe a ressalva de
que o assédio moral poderá se caracterizar em outras relações, que não as trabalhistas
(SILVA, 2005).
A pesquisa realizada por Bradaschia (2007) sobre o assédio moral detalha, de forma
minuciosa, por meio de um quadro, distintos termos utilizados por diferentes autores (as) para
designar o assédio moral:
(Continua...)
61
(Conclusão)
Com base nos diferentes conceitos apresentados, é possível afirmar que definir assédio
moral é uma tarefa permeada por subjetividades, mas diferentes pesquisadores (as)
apresentam características em comum: repetição, frequência e duração; atitudes hostis e
intencionalidade; relações de poder e hierarquia; consequências perversas para o (a) assediado
(a).
Entretanto, Hirigoyen adverte que não se deve confundir a ideia de assédio moral com
outras situações típicas relacionadas ao trabalho, de modo a não se deturpar a palavra. Deve
haver cuidado com as falsas alegações de assédio moral, uma vez que o termo passou a fazer
parte da linguagem corrente e, por essa razão, acaba sendo utilizado de forma perversa e
62
Assim, situações de estresse, gestão por injúria, agressões pontuais, más condições de
trabalho e algumas imposições profissionais não podem ser consideradas sempre como
assédio moral (Hirigoyen,2002). Sob o mesmo ponto de vista, é possível afirmar que
situações de mero desentendimento, conflitos velados, excesso de trabalho, mudanças de
ordem, más condições de trabalho e imposições profissionais, necessariamente não são
assédio moral.
No mesmo sentido, Soboll (2008) alerta que agressões pontuais são atos ou omissões
hostis que ofendem e podem ser praticadas de forma descontínua e momentânea em
decorrência, geralmente, de uma reação de impulsividade, mas sem o propósito de prejudicar
a outra pessoa. Desta forma, falar uma palavra grosseira ou aumentar a voz numa discussão
não caracteriza assédio moral (e também assédio organizacional), porque essas agressões
pontuais são eventos isolados, situacionais e normalmente sem a intencionalidade de
prejudicar.
Gallindo (2009), de forma semelhante, entende que o assédio moral não é privilégio de
uma ou outra sociedade, de uma ou outra instituição, seja familiar, escolar, etc. O homem é
um ser relacional e onde ele está inserido existe a possibilidade de relacionamentos tóxicos.
Assim sendo, é possível se deparar com as mais diversas atitudes, tanto positivas quanto
negativas, inclusive o assédio moral, nos distintos espaços de convivência.
Nos estudos e pesquisas sobre assédio moral, observa-se, também, que as abordagens
psicológicas são mais centradas sobre o indivíduo, enquanto as abordagens sociológicas são
mais voltadas para as relações sociais e o seu contexto. No entanto, essa distinção nem sempre
é fácil de se perceber. O melhor exemplo é a obra de Leymann, na qual o autor, ao utilizar
uma abordagem psicológica, incorpora o contexto organizacional e a organização do trabalho,
de modo a não individualizar a questão (SOARES, 2012).
A partir das observações empíricas, dos relatos obtidos por meio da aplicação de
questionários e da realização de entrevistas, esta tese propõe a apresentação de uma forma
distinta de assédio moral, qual seja, o assédio moral pedagógico, próprio do espaço acadêmico
e dos processos de ensino e aprendizagem. Difere-se tanto do bullying (assédio moral
escolar), como do cyberbullying (assédio moral escolar por meio da internet e de outros
dispositivos tecnológicos).
Por outro lado, o assédio moral, termo genérico, caracteriza-se por ser uma conduta
ilícita, repetitiva, de natureza psicológica, que ofende a dignidade, a personalidade e a
integridade do trabalhador ou pessoa perseguida, causando-lhe humilhação e
constrangimento. Geralmente se refere a fatos ocorridos no ambiente laboral e tem relação
direta com a pessoa do (a) empregador (a) e o exercício de funções no trabalho, embora possa
64
estender seu alcance a outros âmbitos e diferentes formas de relação, o que não se aplica
necessariamente a todos os casos relacionados aos processos de ensino e aprendizagem.
De modo diverso, mas com uma linha de separação bastante tênue entre o bullying, o
cyberbullying e o típico assédio moral genérico, tem-se observado a existência de um tipo
peculiar de assédio moral nas relações entre quem ensina e quem aprende, sobretudo no
desenvolvimento dos processos de ensino e aprendizagem. Surge então a figura do assédio
moral pedagógico, principalmente no espaço acadêmico, embora possa ocorrer em outros
espaços de ensino e aprendizagem, inclusive em espaços não formais de aprendizagem.
Isso porque o assédio moral pedagógico, que ocorre, sobretudo, no espaço acadêmico,
é um tipo de violência que se manifesta por meio de condutas abusivas nas relações
pedagógicas e processos de ensino e aprendizagem, por razões relacionadas com a práxis
desse ambiente. Acontece principalmente por meio de comportamentos, palavras, atos, gestos,
escritos e omissões, utilizados de diferentes modos para constranger, depreciar, humilhar,
subjugar e agredir uma outra pessoa ou grupo, de forma intencional, sistemática e repetitiva,
de modo a causar dor e trazer dano à personalidade, à dignidade, à integridade física ou
psíquica.
ordenamento jurídico.
Nesse sentido, o assédio moral pedagógico pode ser ocasionado sem necessariamente
haver intenção dolosa, mas revestir-se de culpa, que é caracterizada seja pela falta de
diligência e cautela, pela omissão, pela falta de técnica, pelo desvio na observância das
normas de conduta e até mesmo pela vontade inconsciente de produzir o resultado ilícito.
O fundamento do assédio moral pedagógico assenta-se nas condutas abusivas que são
empreendidas nas relações pedagógicas e nos processos de ensino e aprendizagem, por razões
relacionadas com a práxis do ensino-aprendizagem no ambiente acadêmico ou em espaços
não formais e informais de educação. Não se trata apenas de um ato de assédio moral, mas do
assédio moral pedagógico, prática que possui sua própria engenharia e tem relação direta com
o ambiente acadêmico e espaços não formais e informais de educação, sempre permeado por
sutilezas e deturpações nas relações entre profissionais da educação (professores (as), gestores
(as), profissionais de apoio ao ensino) e estudantes. Ressalta-se que o núcleo central do
assédio moral pedagógico é o dolo ou a culpa ao violar o direito do outro por razões ligadas às
relações pedagógicas e à práxis do ensino e da aprendizagem.
dentre outros.
De igual modo, ambos podem ser sujeitos ativos, figurando como os (as) agressores
(as). Em determinadas situações, professores (as) e estudantes são simultaneamente sujeitos
ativos e passivos e escolhem determinada vítima, que tanto pode ser um (a) estudante ou um
(a) profissional da educação, ou ainda, um grupo destes. Em outros momentos, o (a) mesmo
(a) estudante pode ser vítima e agressor (a) ao mesmo tempo, quando se trata de assédio moral
pedagógico recíproco.
Na mesma direção, Sérgio Pinto Martins (2008) apresenta a seguinte classificação para
o assédio moral: vertical, que é subdividido em descendente e ascendente; horizontal e misto.
O assédio moral vertical é aquele praticado por superior hierárquico, subdividindo-se em duas
espécies: a) Assédio moral vertical descendente, que é aquele por meio do qual um superior
hierárquico humilha, persegue, isola e cerca um subordinado (nessas situações, às vezes o
superior objetiva afirmar-se perante os subordinados, mostrando que detém poder na
organização); b) Assédio moral vertical ascendente, que é o que pode ocorrer quando um
indivíduo, ou um grupo de subordinados se insurge contra o chefe em razão de seus métodos,
de sua forma de chefiar ou de outras motivações e as ordens de serviço não são cumpridas,
havendo hostilidades em relação ao chefe. Mesmo não sendo a forma mais comum, pode
também ocorrer assédio com vistas a ocupar o cargo do chefe. Na Inglaterra, é chamado de
bossing (de boss, chefe) ou bullying, quando praticado por colega ou subordinado.
Martins (2008) aponta também o assédio moral horizontal que tem como maior
característica a hostilização realizada por colegas de trabalho de um mesmo nível, os quais,
por diferentes razões, não aceitam uma pessoa no ambiente de trabalho. E por fim, o assédio
moral misto, que ocorre quando o cerco é feito pelo superior ao subordinado e também entre
pessoas que estão no mesmo grau de hierarquia na empresa, geralmente ao mesmo tempo
(MARTINS, 2008).
Segundo a autora, por ter relação com o fator hierárquico, esse tipo de assédio é o que causa
consequências mais graves sobre a saúde do assediado, podendo se subdividir em diversos
subgrupos: a) o assédio perverso, cometido gratuitamente, com o objetivo de eliminar a outra
pessoa ou autovalorizar o próprio poder; b) o assédio estratégico, que é praticado com o
objetivo de forçar o funcionário a pedir demissão de modo a reduzir custos para a empresa; e
c) o assédio institucional, utilizado como instrumento da política de gestão de pessoas
(HIRIGOYEN, 2017).
Essa mesma classificação costuma ser adotada pelos (as) pesquisadores (as) quando o
assunto é assédio moral em sala de aula (assédio moral vertical – descendente e ascendente;
assédio moral horizontal; e assédio moral misto). Gallindo (2009) descreve que o assédio
moral pode ocorrer no seio das instituições de ensino de diferentes formas, tanto nas relações
entre professores e alunos, quanto nas relações entre alunos e alunos. Aponta ainda a carência
de pesquisas específicas sobre o tema e apresenta classes de assédio moral identificadas a
partir de sua reflexão e observação pessoal.
das avaliações; acusações infundadas de preguiça, “cola”, “pesca” e pouco estudo; tratamento
por meio de termos depreciativos e pejorativos; aumento do nível de dificuldade das
avaliações como forma de retaliação; constrangimento na frente dos (as) colegas; intimidação;
exposição de alunos (as) considerados (as) mais fracos (as); comparações vexatórias de notas
em público; ofensas e rebaixamento da capacidade cognitiva do (a) estudante; respostas
agressivas; ameaça de suspensão e desligamento; comentários de cunho pessoal e
relacionados com a intimidade dos (as) estudantes; assédio sexual; tratamento vulgar e
obsceno; divulgação de situações apresentadas pelo estudante à coordenação do curso;
discriminação e preconceito em relação à condição de deficiência, gênero, questão étnico-
racial; brincadeiras de mau gosto, abandono da sala de aula; declínio de realizar as atividades
docentes adequadamente.
Por outro lado, no assédio moral pedagógico vertical ascendente, verifica-se que
determinados (as) estudantes utilizam de um arsenal diversificado de características pessoais,
comportamentos, habilidades e competências, por meio de uma relação de poder assimétrica,
anômala e circunstancial, para direcionar ataques de diferentes formas aos profissionais da
educação. Esse tipo de assédio consiste em depreciar, constranger, humilhar, subjugar e
agredir um (a) docente, ou um grupo de docentes, ou demais profissionais da educação, de
forma intencional, sistemática e repetitiva, em decorrência de situações ligadas às relações
pedagógicas e à práxis de ensino-aprendizagem e gestão pedagógica no ambiente acadêmico,
de modo a prejudicar os processos de ensino e aprendizagem.
para imunizar o (a) profissional do cerco empreendido pelo (a) estudante agressor (a). De
outro modo, as investidas para assediar um (a) docente mais experiente nem sempre é bem
sucedida, o que leva o (a) estudante, muitas vezes, a recuar em sua empreitada de agressão.
O assédio moral pedagógico vertical ascendente por parte dos (as) estudantes
caracteriza-se pela apresentação inicial de comportamentos sutis, como falta de atenção
intencional, desrespeito, saídas repentinas da sala de aula e sarcasmo com o (a) docente. A
conduta se agrava para a falta de civilidade, provocações, perturbações da ordem na sala de
aula e no ambiente acadêmico em geral, tratamento discriminatório, comentários
depreciativos, recusa em fazer atividades propostas, abandono da sala de aula, busca por
vantagens indevidas. Por fim, culmina com atitudes hostis e agressivas, atingindo o seu ápice
em ameaças e agressões à integridade física e psicológica dos (as) professores (as) ou demais
profissionais da educação.
O assédio moral pedagógico vertical ascendente existe tanto nas relações de ensino na
esfera pública quanto na privada, mas é mais comum ou aberto em instituições privadas, em
virtude da mercantilização da educação, da precarização das relações trabalhistas e da
vulnerabilidade a que estão submetidos (as) os (as) professores (as) contratados (as) em
regime celetista. Além disso, acrescenta-se, ainda, o abuso por parte dos (as) estudantes em
função do seu poder econômico, frente à fragilidade social da profissão docente e o caráter
precário dos contratos de trabalho. Em instituições públicas os (as) estudantes também
assediam seus professores (as), contudo, as medidas adotadas pela gestão costumam ser mais
enérgicas e raramente essas situações passam impunes.
Na grande maioria das vezes, para justificar o assédio moral, os (as) estudantes alegam
situações relacionadas à baixa capacidade e competência técnica dos (as) professores (as), ao
pouco tato nas relações interpessoais, à debilidade no domínio dos conteúdos, ao despreparo e
à insegurança na condução das aulas.
(a) para a coordenação ou direção da instituição por alguma falha que ele (a) tenha cometido;
e, ainda, submeter os (as) docentes à calúnia, injúria e difamação, por meio de boatos e
fofocas, de modo a atingir sua dignidade e decoro e prejudicar o seu vínculo laboral.
Existe ainda o assédio moral pedagógico misto, que se caracteriza pela ação ou
omissão de professores (as), demais profissionais da educação e estudantes, que, de forma
orquestrada ou espelhada, se unem e utilizam de múltiplas formas para constranger, depreciar,
humilhar, subjugar e agredir determinado (a) estudante, professor (a) ou outro profissional da
educação ou, até mesmo, um grupo. Esse tipo de assédio é realizado de forma intencional,
sistemática e repetitiva, em decorrência das relações entre os envolvidos e por razões conexas
com a práxis de ensino e aprendizagem e gestão pedagógica, no ambiente acadêmico, de
modo a prejudicar os processos de ensino e aprendizagem.
Nessa modalidade de assédio se faz necessária a presença de, no mínimo, três sujeitos,
sendo que dois deles precisam estar em diferentes níveis hierárquicos, sociais ou de poder: um
(a) agressor (a) vertical, um (a) agressor (a) horizontal e a vítima. Desse modo, a vítima é
atingida por um de seus pares e também por um superior ou subordinado. São inúmeras as
73
possibilidades desse tipo de assédio ocorrer: professor (a) e colega de sala assediam aluno (a);
professores (as) e colegas de sala assediam aluno (a); professores (as) e colegas de sala
assediam alunos (as); profissionais da educação e colegas de sala assediam aluno (a);
profissionais da educação e colegas de sala assediam alunos (as); gestores (as) e colegas de
sala assediam aluno (a); gestores (as) e colegas de sala assediam alunos (as); estudantes e
gestores (as) assediam professor (a); estudantes e gestores (as) assediam professores (as); e
professores (as) e estudantes assediam gestores (as).
Em regra, no assédio moral pedagógico misto, os ataques são iniciados pelo (a)
professor (a) ou outro profissional da educação, que ocupa o espaço de poder e autoridade,
mas se propaga de forma espelhada entre os demais integrantes da turma. É possível que
tenha origem em um colega ou um (a) profissional da educação que não seja um (a) professor
(a), embora essa possibilidade seja menos comum. O assédio começar do sujeito que possui
menos autoridade, poder ou posição hierárquica é sempre uma anomalia.
Muitas vezes, os (as) colegas nem desejam assediar a vítima, mas acabam assediando
para também não ficarem à mercê dos ataques do (a) professor (a) ou do (a) profissional da
educação que deu início ao ato. Destaca-se, também, que é possível que a vítima seja um (a)
docente ou outro (a) profissional da educação e os (as) agressores(as) sejam outros (as)
professores (as) e estudantes. Não é incomum que determinados (as) professores (as), de
forma antiética, se aliem a grupos de estudantes para criticar colegas de profissão, gestores
(as), outros (as) alunos (as) ou demais profissionais da educação.
Por fim, há o assédio moral pedagógico recíproco, que, embora não seja comum,
representa uma anomalia nas relações pedagógicas e nos processos de ensino e aprendizagem,
visto que ocorre quando simultaneamente estudantes e professores (as), por ação ou omissão,
reciprocamente (a) utilizam diferentes artifícios para constranger, depreciar, constranger,
humilhar, subjugar e agredir um (a) ao outro (a), de forma intencional, simultânea, sistemática
e repetitiva, por razões meramente ligadas ao ambiente acadêmico, relacionadas com a práxis
de ensino e aprendizagem e gestão acadêmica no ambiente de ensino, de modo a prejudicar os
processos de ensino e aprendizagem.
Destaca-se que esse tipo de assédio, de todos apresentados anteriormente, pode ser
considerado como uma espécie atípica, visto que ocorre quando docentes e estudantes
decidem se enfrentar, medir forças e causar sofrimento uns aos outros. Ou ainda, quando os
demais profissionais da educação e estudantes promovem um estado de sítio mútuo e cercam-
se uns aos outros com o objetivo de ofender, humilhar, causar sofrimento e dor.
Não se pode considerar mais ou menos relevante a posição de cada indivíduo dentro
da esfera do espaço acadêmico ou qualquer outro espaço de ensino, seja por questão de
hierarquia, cargo/função, posição socioeconômica, questão circunstancial ou de idade ou
qualquer outra razão. Todos os envolvidos são culpados pelas agressões e pela violência e não
podem ficar incólumes.
situações de importunação assediosa; 4ª) retração da vítima e expansão dos ideais de assédio -
o (a) estudante vai se tornando refém do (a) agressor (a) e passa a se afastar e a temer a ação
do oponente; 5) exposição cruel e silenciamento da vítima - o algoz fortalecido (a) e em busca
de reafirmação para sua personalidade narcísica passa a agir com mais sadismo e crueldade,
criando situações e estereótipos para classificar diante da sala de aula a vítima como fraca e
para culpabilizá-la pelo sofrimento que ela está enfrentando; 6) esgotamento e ferida aguda no
(a) assediado (a) - nesta etapa, como o (a) estudante não encontra mais forças para reagir,
cede ao abalo emocional, sente-se combalido e desiste dos componentes curriculares,
perdendo o interesse pelos estudos.
Hirigoyen (2017) aponta que, o tempo de duração do assédio moral pedagógico tende
a ser relativamente inferior ao identificado por outros (as) pesquisadores (as) em relação ao
assédio moral e relata pesquisas empreendidas por Leymann, 1996, Einarsen e Skogstad, 1996
e Zapf em 1999. Segundo os teóricos, o assédio pode durar de 15 (quinze) a 18 (dezoito)
meses; pode ter um período superior a 03 (três) anos, ou ir um pouco além de 40 (quarenta)
meses. Destaca-se que as relações laborais tendem a ser mais duradouras que os períodos em
que estudantes e professores (as) mantêm relações pedagógicas nos processos de ensino e
aprendizagem. Esses períodos de duração do assédio moral são estabelecidos, mormente, a
partir da análise da conduta empreendida entre empregadores e empregados.
Assim, para parte da doutrina, um único episódio não implica em assédio moral. Há
necessidade de repetição do ato do empregador ou de seus prepostos para a caracterização do
assédio. Heinz Leymann afirma que o psicoterror ocorre se a humilhação é feita pelo menos
uma vez na semana, com a duração mínima de seis meses (LEYMANN, 1996).
Rezende (2006) apresenta o que ele denomina de pilares conceituais do assédio moral,
apontando que não há uma visão uníssona sobre o assunto, mas que isso não impede que se
proceda a um estudo mais profundo sobre os caracteres que compõem o núcleo temático do
assédio moral. A partir daí, ele delimita como caracteres: a habitualidade, o local, a intenção
de causar prejuízo ao assediado e a violência psicológica (REZENDE, 2006).
É consenso que, para a configuração do assédio moral, ele precisa ser reiterado, mas
não se pode estabelecer cartesianamente quantas vezes por semana ou mês ele deva ocorrer.
Ressalta-se que a própria legislação assim não o faz. Um único ato assedioso ou conduta
inoportuna não é assédio moral - assim entende a doutrina majoritária. Entende-se que um
único fato episódico não tenha influência sobre o aspecto psicológico do (a) assediado (a), ou
seja, é preciso que os atos assediosos ocorram mais de uma vez. No entanto, há que se
considerar a situação e o contexto em que alguém sofreu constrangimento, humilhação e dor,
bem como as consequências advindas desse ato, visto que o assédio tem relação estreita com a
subjetividade de cada indivíduo.
No mesmo sentido, vincular o dano psíquico ao assédio moral colabora para que a
caracterização da atitude assediante fique condicionada à sensibilidade da vítima, razão pela
qual, mesmo sendo assediada, se a pessoa não for dobrada psicologicamente, o agressor não
pode ser condenado. Enfim, não cabe exigir que, para a configuração do assédio, seja
confirmada a violência psicológica, visto que ela é de difícil conceituação (REZENDE, 2006).
Hirigoyen (2002) apresenta sete formas de o assediador agir sobre a vítima: a) recusar-
se a se comunicar diretamente com o assediado; b) desqualificar; c) desacreditar; d) isolar; e)
79
Nessa direção, Einarsen, Hoel e Notelaers (2009) apontam que situações hostis de
assédio podem ser classificadas em três grupos, quais sejam: a) assédio relacionado ao
trabalho - consiste em perseguições relacionadas às atividades e ao desempenho do alvo -
prazos impossíveis, metas inatingíveis, excesso de supervisão, atribuição de tarefas muito
abaixo do seu nível de competência, sobrecarga de trabalho, ou outros comportamentos que
dificultem as condições de realização do trabalho; b) assédio pessoal - implica em agressões
dirigidas a situações ou características particulares do alvo - provocação excessiva, fofocas e
rumores, isolamento ou exclusão, boatos, críticas persistentes, humilhação e outras ações; c)
assédio por intimidações físicas - gritos e demonstrações de raiva para com a vítima,
empurrões, bloqueio do caminho e ameaça de violência. Praticamente todas essas condutas,
se retiradas do contexto laboral, podem ser repetidas no ambiente acadêmico ou em qualquer
espaço de ensino.
Nesse sentido, Nunes, Tolfo e Nunes (2014) pontuam que o assédio moral no trabalho
é uma violência que pode acarretar danos ao desempenho, à vida pessoal e à integridade física
e psíquica da vítima. Também os observadores da violência podem sofrer danos, na medida
em que visualizam as agressões.
Martins (2008) faz referência a cinco fases distintas do processo de assédio moral no
espaço laboral: a primeira fase caracteriza-se pela decisão do (a) agressor (a) sobre quem será
o (a) assediado (a); no segundo momento, ocorre o assédio efetivo à vítima; na terceira fase,
aparecem os sintomas no (a) assediado (a), a exemplo de depressão, insônia, problemas
digestivos, dentre outros; na quarta fase, o (a) assediado (a) pode começar a faltar ao trabalho
em decorrência de problemas psicológicos; na quinta fase, momento mais crítico do processo
do assédio, o (a) assediado (a) pede para sair da empresa ou abandona o posto de trabalho.
Destaca-se que, em alguns casos, o (a) assediado (a) tenta se vingar de quem o (a)
assedia e que em muitas situações pode ocorrer de o (a) assediado (a) não ligar para o assédio,
em razão da sua estrutura emocional ser muito forte. Nesses casos, muitas vezes o agente
passa a dirigir o assédio a outra pessoa (MARTINS, 2008).
Para Leymann (1996), são quatro as fases da dinâmica da efetivação de uma situação
80
de assédio moral: (1) incidente crítico; (2) assédio e estigmatização; (3) intervenção dos
supervisores; (4) exclusão.
Gallindo ainda destaca que, dentre os segmentos da sociedade que mais têm se
ocupado com o tema do assédio moral, está o setor do trabalho. O assédio moral no âmbito
laboral tem sido protegido por inúmeras legislações específicas, deixando o trabalhador
instrumentalizado e motivado para se proteger e se defender. A divulgação do tema é feita
pelos sindicatos, mediante palestras e outros canais (GALLINDO, 2009).
Verifica-se, assim, que essa forma de violência, que se manifesta nos espaços de
trabalho, também ocorre nas instituições de ensino, que, em tese, deveriam ser menos
propensas à prática do assédio moral, dada sua vocação e missão de serem locais abertos para
a discussão, o crescimento, a autonomia, o livre pensamento, a defesa da dignidade da pessoa
humana, a liberdade de expressão, a exaltação dos direitos humanos e a formação de cidadãos
autônomos e livres.
É oportuno consignar que Gallindo (2009, p, 46) conclui sua pesquisa identificando
consequências do assédio e pontuando que “o assédio moral é fator de grave
comprometimento bio-psíquico-social e exerce influência direta no desenvolvimento da
sociedade como um todo, determinando a violência e a pobreza”.
Nesse mesmo condão, por vezes o assédio é tão grave, que gera problemas de
hipertensão arterial, distúrbios gastrointestinais, falta de ar e de apetite na vítima. O assediado
é transformado totalmente, podendo tornar-se uma pessoa agressiva, vingativa, alcoólatra e
com pensamento suicida (LEMOS, 2017).
O (a) estudante que sofre atos de violência contra sua integridade, seja por conta de
condutas autoritárias ou agressivas, de atos de assédio, de importunação assediosa ou de
assédio moral pedagógico propriamente dito, na grande maioria das vezes não sabe que essas
condutas possuem traços próximos ao bullying ou, a depender da situação, do próprio assédio
moral. De igual modo, muitos não sabem que o assédio moral pedagógico possui elementos
dessas duas formas de violência, mas impacta em especial nas relações pedagógicas e nos
82
Santos (2016) relata que, enquanto forma de violência, o assédio moral, também
denominado bullying e cyberbullying, traz consequências para os atores nele envolvidos,
comprometendo principalmente o rendimento acadêmico das vítimas. Assim, nesse diapasão
infere-se, de forma extensiva, que esses danos também podem ocorrer com as vítimas do
assédio moral pedagógico no espaço acadêmico ou em outros espaços de ensino. Por isso é
importante que pais, educadores (as) e instituições de ensino estejam atentos para o problema
do assédio moral pedagógico, visto que, de forma semelhante ao bullying e ao cyberbullying,
essa forma de violência prejudica a aprendizagem dos (as) educandos (as), o que se reflete em
suas vidas.
segundo momento, passa a desqualificar a pessoa assediada - insinua coisas para outras
pessoas e direciona indiretas, utilizando estratégias degradadoras. Na sequência, passa a
desacreditar a vítima, de modo a criar dúvidas sobre as atividades executadas - isso com forte
tendência sarcástica, de maneira a desmotivá-la. Em seguida, o agressor busca isolar a pessoa,
de modo a deixá-la mais vulnerável e menos capaz de se proteger - nesta fase faz de tudo para
colocar todos contra a vítima. Busca também vexar a vítima, atribuindo-lhe tarefas inúteis,
degradantes, sem sentido ou sem importância. Também é possível vexar a vítima,
sobrecarregando-a de tarefas de modo que não possa cumpri-las e passe a se sentir
incompetente ou desnecessária. A indução ao erro por meio de críticas, pressão desnecessária
ou omissão de informações ainda é uma das etapas empreendidas por quem assedia, de forma
a fazer com que a pessoa agredida questione sua própria capacidade. E, por fim, embora não
ocorra em todos os casos, o assédio sexual: ocorre como degradação do ambiente de trabalho
e o agressor vê a vítima como alguém à sua inteira disposição, que, por isso, deve prestar-lhe
favores sexuais. Para o assediador, a vítima é privilegiada por ter sido escolhida por ele.
(Continua...)
85
(Conclusão)
Como consequência dessa pesquisa, constatou-se que 57% das mulheres e 50% dos
homens afirmaram se calar e ignorar qualquer tipo de assédio, por medo de serem julgados
(as); 58% das mulheres e 45% dos homens temiam ser demitidos (as); e 61% das mulheres e
63% dos homens tinham receio de represálias (HOSTILIDADE, 2017).
Ainda segundo essa pesquisa, além do assédio moral, é muito comum, entre esses (as)
profissionais, a prática do assédio sexual que se manifesta em tentativas frustradas de obter
vantagem sexual por meio de encontros, em toques físicos sem consentimento, tentativas de
alisar as coxas, apertões nas cinturas, tapas nas nádegas e até toques nas partes íntimas
(HOSTILIDADE, 2017).
Com efeito, em outra pesquisa, ainda no Rio de Janeiro, foram levantados dados por
meio de um inquérito confidencial, com questionário padronizado, e que foi respondido por
1.569 profissionais de saúde. Para o cálculo e a distribuição da amostra, utilizaram-se dados
da pesquisa sobre Assistência Médico-Sanitária (AMS) de 1999, realizada pelo IBGE no ano
de 1999 (XAVIER, 2008).
Em relação ao quesito sexo/gênero, dos 1.425 (um mil e quatrocentos e vinte e cinco)
trabalhadores que responderam à subdivisão CII do questionário sobre o assédio moral, 963
(novecentos e sessenta e três) eram mulheres e 462 (quatrocentos e sessenta e dois) eram
homens. Acresce que, desse total, 16,2% das mulheres responderam já terem sido vítimas de
assédio moral, enquanto 18,0% dos homens responderam afirmativamente a essa questão
(XAVIER, 2008).
Entre as pessoas sujeitas ao assédio moral, 47% declararam que possuem um trabalho
muito estressante, enquanto que a percentagem entre todos os questionados é de 28%. De
igual forma, em relação às ausências causadas por motivo de saúde, essas são mais frequentes
entre as pessoas sujeitas a assédio moral (34%) do que no conjunto total (23%) (UNIÃO
EUROPEIA, 2001).
O conjunto de estudos e a experiência apontam para uma clara relação entre o assédio
moral no trabalho e o stress ou o trabalho sob forte tensão, uma concorrência acrescida, uma
segurança profissional reduzida e, ainda, uma situação laboral precária (UNIÃO EUROPEIA,
2002). Assim, os efeitos do assédio moral na saúde são devastadores, pois, além de a vítima
sofrer de stress, de nervosismo, de cefaleias, de depressão, desenvolve doenças
psicossomáticas como úlceras do estômago, colites, problemas de tireoide, insônia,
hipertensão arterial, doenças de pele, etc. (UNIÃO EUROPEIA, 2001).
moral na saúde física e psíquica daqueles que dele são alvo e, por conseguinte, das suas
famílias, visto que frequentemente necessitam de assistência médica e psicoterapêutica, o que,
de forma geral, os induz a ausentar-se do trabalho por razões de doença ou por se sentirem
incitados a se demitirem. A resolução sublinha ainda a importância de alargar e clarificar a
responsabilidade dos (as) empregadores (as) no que diz respeito ao desenvolvimento de ações
sistemáticas que conduzam a um ambiente de trabalho satisfatório (UNIÃO EUROPEIA,
2002).
No entanto, muitas vezes, o (a) estudante tem esses direitos mutilados e suprimidos
por práticas autoritárias e o assédio moral pedagógico acaba ferindo os princípios da
igualdade, justiça e equidade em questões de diferentes nuances, sejam pedagógicas, étnico-
raciais, religiosas, culturais, territoriais, físico-individuais, geracionais, de gênero, de
orientação sexual, de opção política ou de nacionalidade.
Gallindo (2009), no ano de 2006, já apontava em seus estudos que, por mais que se
tivessem alargado as fontes de pesquisa, ainda havia pouca produção bibliográfica no Brasil
com enfoque específico no assédio moral sofrido por estudantes em instituições de ensino.
Nesse passo, ela detectou apenas uma dissertação de mestrado de autoria de Henrique
Carivaldo de Miranda Neto, produzida no Centro Universitário do Triângulo, na cidade de
Uberlândia, realizada em 2002.
Desse período, até os dias atuais, pouca coisa mudou, visto que a quantidade de
pesquisas na área continua diminuta. Esse número exíguo de pesquisas sobre um tema de
tamanha relevância pode ter múltiplas razões O desinteresse da academia, passando pela
pouca visibilidade dada aos pesquisadores do tema, o pouco financiamento das agências de
fomento e até a descrença na prática do assédio moral são algumas das justificativas
encontradas para a baixa produção sobre o assunto.
90
Esses termos indicam a direção nefasta que tem sido percebida por estudantes,
docentes e sindicatos, uma vez que a centralidade da educação está cada vez mais vinculada
às virtudes e vícios do mercado, nos quais se incluem a lógica de expansão e de acumulação
(MINTO, 2006; FREITAS; RODRIGUES, 2014), deixando-se de lado, muitas vezes, as
concepções pedagógicas, filosóficas e sociológicas da educação.
É forçoso constatar que não existem maiores preocupações com o assédio moral no
espaço acadêmico, dada a mercantilização da educação que se tem vivenciado. No entanto,
esse ambiente de competitividade não se restringe ao Brasil. A Directiva 2002/73/CE do
Parlamento Europeu e do seu Conselho relativa à concretização do princípio da igualdade de
tratamento entre homens e mulheres no que se refere ao acesso ao emprego, à formação e
promoção profissionais e às condições de trabalho prevê, no item 3 do art. 2º, que o assédio
moral e o assédio sexual, possuem natureza jurídica de ato discriminatório (EUR, 2002).
Assim, percebe-se que esse ambiente marcado por um imediatismo de uma economia
globalizada torna-se palco para atos discriminatórios dos mais diferentes vieses, não apenas
no Brasil. Na própria Europa, assédio moral e assédio sexual durante a formação são
considerados como atos de natureza jurídica de ato discriminatório.
seu trabalho ou seu profissionalismo não são compatíveis com o que era esperado; 5)
atividades que impactam a saúde da vítima - o conjunto das ações descritas acima, ou seja,
isolar, ameaçar, espalhar boatos falsos.
Considerando que o assédio moral é uma realidade e que existe em diferentes esferas e
espaços sociais, com suporte nas informações de Gallindo (2009), é possível afirmar sobre a
diminuta quantidade de pesquisas a respeito do tema assédio moral relacionado com a sala de
aula. A partir desse entendimento, apresentam-se algumas das pesquisas mais relevantes
desenvolvidas sobre esse tema de 2006 até o presente momento.
Em uma busca nos principais portais de periódicos, foi possível encontrar uma
imensidão de teses, dissertações e artigos sobre assédio moral. No entanto, a quase totalidade
dessa produção científica aborda o assédio moral enquanto relação de trabalho, seja sob o
enfoque do professor como vítima, assediado na iniciativa pública ou privada, seja o assédio
moral sendo praticado em face de outros profissionais da educação. De igual modo, foi
possível encontrar algumas poucas pesquisas sobre assédio moral, no qual docentes figuram
como vítimas e os alunos como agressores. Entretanto, embora essa seja uma temática
gravíssima e que precise ser estudada com maior profundidade, esse não é o foco desta
pesquisa.
Em suas conclusões, ele aponta que o assédio moral é real nas IES e que os (as) alunos
(as) são vitimizados. Ele faz essas considerações a partir dos relatos dos (as) alunos (as)
92
entrevistados (as), destacando que não foi possível aferir a intencionalidade dos (as)
professores (as), visto que não pesquisou os (as) agressores (as). Assim, constatou que os (as)
discentes sofreram em sua autoestima a partir das ações dos (as) docentes que, usando da
relação hierárquica, constrangeram e humilharam os (as) educandos (as). Esse tipo de assédio
moral descendente, de professor (a) para estudante, pode não ser facilmente identificado,
particularmente com estudantes mais novos. Ainda de acordo com o autor, os docentes, se
fossem investigados, provavelmente apresentariam justificativas para suas atitudes
(MIRANDA NETO, 2002).
Os pais ou responsáveis costumam não dar muita credibilidade às reclamações dos (as)
estudantes sobre condutas de professores (as). Nesse sentido, Gallindo (2009) aponta que os
primeiros sinais podem ser queixas explícitas das vítimas, tipicamente aos seus pais ou
responsáveis. Entretanto, o senso comum de que disciplina na escola é um aspecto importante
na educação acaba por levar os pais a não devotarem a devida atenção às tais queixas dos seus
filhos (as), dispensando-as como reclames improcedentes dos (as) estudantes, antes mesmo da
devida diligência junto à instituição de ensino.
Tal dificuldade decorre não somente pela negligência dos pais em considerar
seriamente as queixas de seus/suas filhos (as), mas também pela timidez incutida nos (as)
alunos (as) mais jovens, como consequência de uma formação educacional milenar de
respeito aos (às) mestres. É também mais difícil a obtenção de testemunhos entre os (as)
demais estudantes (GALLINDO, 2009).
Nessa mesma linha, só que com espectro mais amplo, uma pesquisa realizada pelo
Escritório USP Mulheres, entre dezembro de 2017 e fevereiro de 2018, denominada Pesquisa
Interações na USP, sob a direção da professora Eva Blay e coordenação do professor Gustavo
Venturi Jr, aplicou um questionário on-line com 120 (cento e vinte) perguntas
(ESCRITÓRIO, 2018). De acordo com a apresentação, sob a direção de Blay (2018), o
questionário foi encaminhado por e-mail para 78 (setenta e oito) mil estudantes com matrícula
ativa na Universidade de São Paulo e foram obtidas 13.377 (treze mil, trezentas e setenta e
93
sete) respostas. Entre o universo da amostra da pesquisa estão estudantes de graduação e pós-
graduação de todos os cursos da USP, seja nos campi da capital ou do interior.
Segundo a pesquisa, 14% dos (as) estudantes já sofreram assédio ou exposição uma ou
mais vezes e 11% afirmaram já ter sofrido ameaça ou perseguição uma ou mais vezes. Da
mesma forma, 51% dos (as) estudantes afirmaram já terem sido constrangidos ao manifestar
opiniões. Quase metade da amostra relatou já ter deixado de fazer algo por temer julgamento
moral ou político e cerca de 18% dos estudantes afirmaram já ter sofrido humilhação de
professor (a) uma ou mais vezes (ESCRITÓRIO, 2018).
Da mesma forma, 21% dos (as) estudantes sentem-se fisicamente inseguros, mesmo
em espaços acadêmicos como salas de aula, laboratórios e bibliotecas. Além disso, um em
cada quatro, ou seja, 25% dos estudantes já sofreram ao menos uma forma de violência moral
e 7% uma ou mais modalidades de violência sexual (BLAY, 2018).
Na mesma linha de pesquisas sobre assédio na área da educação, mas com o objetivo
de conhecer a opinião dos docentes, Paixão, Melo e Silva (2011) realizaram uma pesquisa
sobre a compreensão do constructo assédio moral na relação aluno (a) / professor (a), a partir
da visão dos (as) docentes, sendo o (a) estudante o (a) protagonista do assédio. Participaram
da pesquisa 51 (cinquenta e um) professores (as) respondentes, sendo analisados 42 (quarenta
e dois) questionários. O assédio moral vertical ascendente na relação aluno (a) – professor (a)
acontece principalmente quando a concepção do aluno (a) - cliente é enfatizada e quando os
valores essenciais que permeiam a educação são esquecidos e desvalorizados.
94
Nunes, Tolfo e Nunes (2014) realizaram outra pesquisa por meio de um questionário
on-line, em uma universidade localizada na Região Sul do Brasil, especificamente com
funcionários (as) docentes e técnico-administrativos (as), compreendendo aproximadamente
4.865 (quatro mil, oitocentos e sessenta e cinco) servidores (as), dentre os quais 2.057 (dois
mil e cinquenta e sete) eram docentes e 2.808 (dois mil, oitocentos e oito) eram técnico-
administrativos, obtendo como resultado o retorno de 279 (duzentos e setenta e nove)
respondentes do questionário. A esses servidores perguntaram se tinham conhecimento de
casos de assédio moral na IES e seus desdobramentos. Com a pesquisa, visaram descrever a
percepção dos (as) funcionários (as) sobre as políticas e práticas de prevenção e combate ao
assédio moral no trabalho na universidade.
Igualmente, 80,6% dos (as) entrevistados (as) não identificaram a existência de uma
política de prevenção e combate ao assédio desenvolvida pela instituição, tendo a maioria
(52,7%) demonstrado conhecimento de casos de assédio moral no setor e/ou na instituição de
forma geral. Cerca de 24 (vinte e quatro) respondentes desconheciam os encaminhamentos
dados aos casos de assédio moral. Em proporção similar, 20 (vinte) pesquisados (as)
informaram que não havia sido feito nenhum encaminhamento às denúncias realizadas
(NUNES; TOLFO; NUNES, 2014).
nº 28 e outros são esquecidos sem que ocorra uma busca por solução - resposta do (a)
pesquisado (a) nº 214 (NUNES; TOLFO; NUNES, 2014).
Verifica-se que, nas diferentes pesquisas, os números apontam para a triste realidade
da abusividade e do autoritarismo nas relações pedagógicas e nos processos de ensino e
aprendizagem, de modo a tornar claro que o assédio moral, enquanto forma de agressão por
meio de relações de poder assimétricas, existe dentro e fora do espaço acadêmico, sendo
perpetrado por diferentes atores.
Praxe, trote estudantil, hazing , bizutage , novatada , etc., são termos que se referem
a práticas rituais de iniciação num agregado ou coletivo, caracterizadas por uma
dinâmica de “poder-submissão” entre dois grupos: de um lado os veteranos e de
outro os candidatos a ingressar no grupo [...] Este tipo de práticas formam parte da
vida académica de muitos países, com destaque para as universidades norte-
americanas, onde são frequentes nas associações de estudantes chamadas
fraternidades e irmandades, mas estão também presentes em outros grupos, como
equipas desportivas, instituições militares, gangues, […] Em Portugal, a praxe
académica consiste num conjunto de discursos (ideologias, representações, etc.) e
práticas que visam legalmente a recepção e integração dos novos e das novas
estudantes (designados caloiros e caloiras ) nas instituições de ensino superior em
que ingressam. Tais práticas ficam a cargo dos e das estudantes que já frequentam a
instituição (designados veteranos e veteranas) e incluem ações de dominância,
humilhação e pressão, que em circunstâncias normais, fora do contexto de interação
da praxe, são consideradas inaceitáveis. A praxe académica sempre foi alvo de
96
críticas, mas a partir dos anos 90 do século XX passou a ser alvo de maior polémica
e contestação pela opinião pública e por parte de estudantes que se opõem,
declarando-se antipraxe (OLIVEIRA; VILLAS-BOAS; HERAS, 2016, p. 50).
Essa “praxe académica” que ocorre em Portugal, também conhecida como trote no
ambiente acadêmico brasileiro, em regra, é a exposição de estudantes novatos (as), na
universidade ou colégios de ensino médio, a situações de constrangimento, vergonha e
humilhação. De acordo com as pesquisadoras, essas práticas são pouco estudadas em
Portugal, consistindo, principalmente, em os calouros serem proibidos (as) de falar com
outros (as) estudantes e serem submetidos à vontade dos (as) veteranos (as), com o objetivo
de simbolizar uma ruptura com a sua identidade anterior. Nessa prática, os (as) estudantes
neófitos ainda são confrontados (as) com desafios, testes de resistência e iniciações, até que
consigam chegar finalmente à fase de incorporação ao grupo (OLIVEIRA; VILLAS-BOAS;
HERAS, 2016).
No que diz respeito à composição por cursos, os mais representados foram Psicologia
(18,9%), Economia (18,9%) e Sociologia (18,5%), seguidos por Marketing (13,1%) e Ciência
Política e Relações Internacionais (12,6%). Os resultados obtidos com a amostra indicaram
que as situações de assédio moral são relativamente frequentes na prática: apenas 7,2% dos
(as) discentes referiram não ter experimentado nenhuma das situações da listagem; quase
metade (44,6%) referiu ter experimentado entre uma e dez situações; pouco mais de um terço
(35,6%) mencionou entre 11 (onze) e 20 (vinte) situações e, finalmente, 12,6% identificaram
entre 21 (vinte e uma) e 32 (trinta e duas) condutas características do processo de assédio
moral (OLIVEIRA; VILLAS-BOAS; HERAS, 2016, p. 56-57).
Deste modo, percebe-se, a partir dessas pesquisas, que o assédio moral pedagógico,
mormente em espaços acadêmicos, não se restringe a países subdesenvolvidos ou em
desenvolvimento, ocorrendo também em países desenvolvidos. De igual sorte, o assédio
97
moral não se restringe à relação professor (a)/estudante, estudante/professor (a) - ele ocorre
entre os (as) próprios (as) estudantes nas relações pedagógicas estudantes/estudantes.
No ambiente acadêmico, seja nas séries iniciais, ensino médio, graduação ou pós-
graduação, tratando-se exclusivamente do vínculo entre professores (as) e estudantes, pode-se
verificar a ocorrência de assédio moral por ambos os grupos: o assédio moral do (a) estudante
para com o (a) professor (a), ou seja, quando aquele assume o papel do (a) agressor (a), sendo
o (a) professor (a) a vítima; e o assédio moral do (a) professor (a) para com o (a) aluno (a),
quando o (a) estudante é a vítima e o (a) professor o (a) assediador (a). O assédio moral
vertical descendente (professor (a) – aluno (a)) é bastante comum, em função das
características particulares do sistema de ensino do país (PAIXÃO; MELO; SILVA, 2011).
Estudos realizados por Dela Coleta e Miranda Neto (2003) em instituições de ensino
superior públicas e privadas no Estado de Minas Gerais, por meio do Método dos Incidentes
Críticos, apontaram os principais tipos de assédio moral sofridos nas universidades e
faculdades (MIRANDA NETO, 2002). Os pesquisadores recolheram um total de 1.014 relatos
de casos de constrangimento e humilhação envolvendo alunos e professores de instituições de
educação superior, sendo que alguns sujeitos relataram mais de uma situação
constrangedora/humilhante. Situações de assédio do estudante para com o professor e
ocorridas no ensino médio não foram consideradas nesse estudo (DELA COLETA;
MIRANDA NETO, 2003).
esse tipo de comportamento pode ser reflexo de questionamentos por parte dos (as) alunos
(as), ou seja, um ato de defesa dos (as) professores (as), ainda que não justificável.
Nesse passo, Caran (2007) ainda prescreve que, guardadas as devidas diferenças, tal
situação pode ser semelhante a que aconteceu com os sujeitos do seu estudo, em que, de
alguma forma, em algum momento, ao questionarem seus chefes/superiores/colegas mais
titulados, na condição de se sentirem professores (as) como eles (as), foram percebidos (as)
como ameaçadores (as) e, por isso, como forma de revide, agredidos (as).
De acordo com Wallon (1986), a vida psíquica conta com três dimensões em sua
formação: motora (o movimento - ato motor), afetiva e cognitiva. Essas três áreas coexistem e
constituem a formação do eu como pessoa, de forma integrada - esse quarto campo funcional
foi denominado por ele de pessoa. Assim, a construção do “eu” depende essencialmente do
“outro” (WALLON, 1986).
A partir dessa ideia, considera-se que toda pessoa é afetada tanto por elementos
externos - o olhar do outro, um objeto que chama a atenção, uma informação que recebe do
meio -, como por sensações internas - medo, alegria, fome -, respondendo a eles. A essa
condição humana dá-se o nome de afetividade, fundamental para o desenvolvimento humano
(SALLA, 2011). Assim, pode-se afirmar que a afetividade “refere-se à capacidade, à
disposição do ser humano de ser afetado pelo mundo externo e interno por sensações ligadas a
tonalidades agradáveis ou desagradáveis” (MAHONEY; ALMEIDA; 2007, p. 17). Wallon
apresenta que a afetividade se desenvolve e é expressa de três maneiras marcantes e
sucessivas: por meio da emoção, do sentimento e da paixão. Essas manifestações surgem
durante toda a vida do indivíduo (WALLON, 1986).
O (a) professor (a) em sala de aula precisa estar atento aos sentimentos dos (as)
estudantes, reconhecendo que nos processos de ensino aprendizagem o outro é um ser e não
um objeto. Nessa práxis, o (a) educador (a) precisa enfrentar a problemática pessoal que
envolve cada ser. Freire já alertava para essa necessidade:
Lido com gente e não com coisas. E porque lido com gente, não posso, por mais
que, inclusive, me dê prazer, entregar-me à reflexão teórica e crítica em torno da
própria prática docente e discente, recusar a minha atenção dedicada e amorosa à
problemática mais pessoal deste ou daquele aluno ou aluna (FREIRE, 1996, p. 53).
Por certo, sentimentos como raiva, amor, amizade e admiração, tanto de professores
(as) quanto de estudantes, serão manifestados durante as aulas, visto que unidades complexas,
como o ser humano ou a sociedade, são multidimensionais. Isto é, o ser humano é ao mesmo
tempo biológico, psíquico, social, afetivo e racional e há uma estreita relação entre
inteligência e afetividade. Destaca-se, assim, que:
Um professor realmente ciente das responsabilidades que lhe são confiadas deve tomar
partido dos problemas de sua época. Ele deve fazê-lo não cegamente, mas à luz do que sua
educação e sua instrução lhe permitam fazer. Ele deve tomar partido para conhecer
verdadeiramente quais são as relações sociais, quais são os valores morais de sua época. Deve
engajar-se não somente com seu trabalho de escritório e não apenas para a análise das
situações econômicas ou sociais de seu tempo e de seu país.
É dever do professor ser solidário com seus estudantes, aprendendo com eles quais são
as suas condições de vida, por exemplo. Ele deve constantemente buscar novas ideias e
modificar a si próprio para um contato permanente com uma realidade em evolução constante,
feita da existência de todos e que deve atender aos interesses de todos (WALLON, 1985). Isso
posto, nas relações de poder estabelecidas entre professor (a) e aluno (a), a autoridade
pedagógica não pode ser considerada como um dogma incontestável.
Deste modo, a expectativa que se tem é que o professor, como o adulto do processo de
ensino-aprendizagem, tenha atitudes cordializadas, sensatas e solidárias para com os alunos
com os quais convive, valendo-se das várias ciências da educação como suporte para sua
trajetória profissional (CALIL, 2007). O sistema educacional autoritário exalta a razão e a
autoridade do (a) professor (a) em detrimento do afeto, da mediação, da troca e do querer bem
o (a) estudante. Isso posto, Freire salienta que cabe ao professor fazer a mediação e essa
precisa, por sua vez, ser transformadora:
105
Outrossim, para Freire, o (a) professor (a) tem essa função mediadora, de construtor de
sentido entre o conhecimento acumulado historicamente e os estudantes. O que esperar do
professor, se não se acha tomado por esse outro saber, ou seja, o de que precisa estar aberto ao
gosto de querer bem aos educandos e à própria prática educativa. Querer bem não significa se
obrigar a querer bem a todos os alunos de maneira igual. Significa que a afetividade não
assusta e que não existe medo de expressá-la. Significa autenticamente selar um compromisso
com os educandos, numa prática específica do ser humano.
É preciso rejeitar como falsa a separação radical entre seriedade docente e afetividade.
Não é certo, democraticamente, que alguém seja tão melhor professor, se para isso precisa ser
quanto mais severo, mais frio, mais distante e "cinzento” nas relações com os alunos e no
trato dos objetos cognoscíveis que deva ensinar. A afetividade não se acha excluída da
cognoscibilidade. O que não se pode permitir é que a afetividade interfira no cumprimento
ético do dever de professor, no exercício da sua autoridade. Não se pode condicionar a
avaliação do trabalho de um aluno ao maior ou menor bem querer que se tenha por ele
(FREIRE, 1996).
O assédio moral pedagógico ocorre, dentre outras razões, por conta da confusão
existente nas relações de poder, em especial naquelas que envolvem situações que versem
sobre autoridade e autoritarismo, disciplina e indisciplina. Existe uma crença arraigada entre
alguns grupos de que a crise de autoridade que o mundo moderno tem enfrentado e o modo
como o (a) professor (a) exerce a sua autoridade no espaço acadêmico são, em parte, causas
da indisciplina e do fracasso acadêmico dos (as) estudantes.
Por outro lado, em decorrência da forte indisciplina existente em sala de aula nos dias
atuais, muitos (as) professores (as) recorrem ao autoritarismo para conseguir ordem e
disciplina nas turmas e as culpam por toda sorte de fracassos acadêmicos. Parte do assédio
moral pedagógico existente atualmente decorre de práticas autoritárias e tirânicas.
Existe uma relação entre autoridade e autoritarismo e ambos os conceitos são conexos
com as relações de poder estabelecidas no ambiente acadêmico e nos espaços de ensino. A
autoridade dos (as) profissionais da educação, em especial dos (as) professores (as), tem sido
confundida com práticas autoritárias no espaço acadêmico, o que acaba levando professores
(as) a assediarem seus alunos (as). Assim, embora relacionados, não se pode conceber os
termos autoridade e autoritarismo como sinônimos, visto que são radicalmente distintos.
Essa crise, por sua vez, tem natureza e origem no campo político, a partir do momento
em que novas formas totalitárias de governo tomaram proveito de uma atmosfera política e
social na qual a autoridade do governo não mais era reconhecida. Arendt afirma, ainda, que o
sintoma mais significativo da crise “é ter ela se espalhado em áreas pré-políticas tais como a
criação dos filhos e a educação, onde a autoridade no sentido mais lato sempre fora aceita
como uma necessidade natural” (ARENDT, 2016, p. 78).
Para Morais (2001), a autoridade que o professor recebeu da instituição e por meio da
qual se encontra designado, em nada se relaciona com traços autoritários. Ela surge do próprio
processo educacional, não sendo compatível com uma atividade policial de vigilância, mas
sim com a conquista de uma disciplina de vida, que, conjuntamente com esforço, possibilita o
equilíbrio, que não pode ter vínculo com o sofrimento e a dor.
Essa autoridade de que o (a) docente pode fazer uso decorre do poder ou das relações
de poder ou ainda das relações de força, se considerado o pensamento foucaultiano. Parte
também da concepção de que poder é a capacidade do homem dominar outro homem para
produzir determinados efeitos e fins, em virtude de relações sociais assimétricas - sejam elas
entre indivíduos, grupos ou organizações -, de modo a possibilitar que um dos entes exerça
sobre o outro, de forma impositiva, voluntária ou permissiva, o seu controle.
Esse elemento de desequilíbrio que é próprio das relações de poder e faz um ente
prevalecer sobre outro pode ser modificado ou até invertido. As relações de poder “são,
portanto, relações que se podem encontrar em diferentes níveis, sob diferentes formas; essas
relações de poder são móveis, ou seja, podem se modificar, não são dadas de uma vez por
todas” (FOUCAULT, 2006, p. 276).
Foucault compreende que o poder traz a ideia de força, visto que é exercido por meio
de aparato ideológico, burocrático e bélico, coagindo e fazendo com que os indivíduos se
submetam. Para Foucault, as demonstrações de força são amostras do poder soberano, embora
ele também compreenda que o poder assume outras formas, como o biopoder e o poder
disciplinar. Assim, por meio do poder disciplinar se impõe a disciplina, para fazer com que as
pessoas se adequem a uma determinada norma, mas isso de forma sutil, para produzir pessoas
obedientes – dóceis. Assim, para Foucault:
Para Foucault, toda relação social é atravessada por relações de poder, inclusive a
existente entre professores (as) e alunos (as), ou seja, essas relações são permeadas por ações
para conduzir condutas, de forma a governar o outro, de modo totalizante e individualizante.
Assim, existe uma relação de poder entre professor (a) e aluno (a), na qual o poder disciplinar
é constantemente utilizado. Entretanto, Foucault preconiza que, para haver relação de poder,
faz-se necessária a existência de sujeitos livres:
Isso posto, quando se verifica que um dos sujeitos da relação se encontra amputado de
sua liberdade, objetificado em sua subjetividade, não há que se falar em relação de poder,
ainda que assimétrica, visto que esse sujeito encontra-se exposto a uma violência infinita e
ilimitada.
Para que haja uma relação de poder entre professor (a) e estudante, é preciso que
exista alguma liberdade, do contrário, um (a) ou outro (a) será tratado (as) como objeto,
sujeito a toda forma de violência. No mesmo sentido, para Tayle (1999), os atos de obediência
que têm como base relações de autoridade (por meio do exercício da força e da hierarquia)
são legitimados por quem detém o poder, mas não por quem é submetido a elas. Desse modo,
não se pode falar em relações de autoridade e poder quando o outro não reconhece a
legitimidade do interlocutor.
liderança, de modo que quem exerce o poder não precisa se impor de forma autoritária para
obter obediência e submissão, visto alcançá-las de modo voluntário. Essa autoridade, do ponto
de vista político, favorece o desenvolvimento democrático, o equilíbrio da sociedade, a
homeostase necessária para que a coletividade alcance o bem comum.
Nas palavras de Bedene e Dias (2010, p. 8), “trata-se, portanto, de uma autoridade
delegada entre as partes envolvidas diretamente no trabalho.” Ainda de acordo com Bedene e
Dias, essa autoridade deve ser a linha que orienta a constituição da autoridade pedagógica, no
espaço acadêmico público. O termo público apresenta-se, nesse caso, como sinônimo de
democrático, uma vez que esse espaço deve estar sob o controle da sociedade que é, em
última instância, aquela responsável por financiar os sistemas de ensino (BEDENE; DIAS,
2010).
Essa contradição ainda se explica pelo fato de a autoridade permitir que o outro seja
autônomo em seu pensamento e em suas ações, assumindo a autoria de sua própria vida e
consciência, mas comprometido com a autonomia das demais consciências. Davis e Luna
(1991, p. 68) apontam que “este é de fato, o objeto último e maior da autoridade na relação
pedagógica: propiciar a construção de uma consciência que a um só tempo é autônoma e
compromissada com a autonomia das demais consciências”. Por meio do uso da sua
autoridade, o (a) professor (a) trabalha para emancipar o (a) estudante; com autoritarismo só
consegue sonegar uma formação autônoma e promover a subserviência da alma.
tapume atrás do qual alguma incompetência se esconde. A autoridade do professor nada tem a
ver com autoritarismo que é o uso do poder de forma imposta e tirânica, seja de maneira
implícita ou explícita, por meio da força, do medo, da chantagem, da coação ou ameaça,
independente do assentimento do outro. Isso para obter controle, obediência, submissão,
fazendo uso, se necessário, de castigos, insultos, desaprovação e atos que provoquem dor e
sofrimento (SCRIPTORI, 2007).
Segundo Vasconcellos (200?), não se faz educação sem uso da autoridade, pois é fato
que o aluno precisa dela, seja para se orientar seja para poder se opor a ela, conflitando com
quem a exerce. Assim, “a crítica que se faz é em relação ao autoritarismo, que é a negação da
verdadeira autoridade, pois se baseia na coisificação, na domesticação do outro”
(VASCONCELLOS, 1997, p.248).
As práticas autoritárias são empreendidas de forma complexa e fazem com que os (as)
educandos (as), em virtude de múltiplas relações, apresentem comportamentos hostis,
vingativos, agressivos, mentirosos, alienados, rebeldes, sarcásticos, o que influencia na
construção de sociedade competitiva, egoísta, violenta e injusta.
Não se faz aqui a defesa da não imposição de limites para os (as) estudantes, nem que
professores (as) aceitem a desobediência e o desrespeito. A tolerância excessiva e a liberdade
ilimitada são inimigas da aprendizagem quando o assunto é espaço acadêmico, entretanto, não
se pode compactuar que atos de autoritarismo sejam travestidos de atos de disciplinamento.
Assim, destaca-se que a “indisciplina parece ser mais frequentemente gerada em duas
situações: como último recurso contra a autoridade autoritária – ou o autoritarismo – do
professor ou como expressão de sua falta de autoridade” (DAVIS; LUNA, 1991, p. 69).
Ao impor disciplina e estabelecer limites, o (a) educador (a) está ensinando, ao (a)
educando (a), ter autocontrole, a ter responsabilidade, a conter o seu ego, a subordinar suas
necessidades individuais aos interesses do grupo e a impor limites aos seus impulsos. Exige-
se do educador uma postura de comprometimento com a promoção da liberdade do educando,
ou seja, reconhecimento pleno de que a sua autoridade está a serviço da formação de um
cidadão lúcido, apto a regular sua própria conduta e se posicionar de forma independente e
consequente diante das normas constituídas pelo sistema social (DAVIS; LUNA, 1991).
chantagem afetiva – consiste em cativar a amizade do (a) estudante ou da turma para alcançar
a disciplina, que leva o (a) aluno (a) a ter apenas o objetivo de agradar o (a) professor (a); o
uso da responsabilidade – busca desenvolver a responsabilidade do (a) estudante, mas exige,
do (a) professor (a), capacidade para acompanhar o amadurecimento do (a) educando, dentro
dos limites da sua maturidade e inteligência, por meio de situações e oportunidades para a
autodireção (PILETTI, 1986).
São considerados por docentes como atos de indisciplina dos (as) estudantes em sala
de aula: conversar com colegas enquanto o (a) professor (a) está fazendo uso da palavra; usar
fone de ouvido, celular e notebook durante a aula; permitir que o telefone toque ou atender o
telefone em sala de aula com a presença do (a) professor (a); interromper a fala do (a)
professor (a); questionar o (a) professor (a) antes que conclua seu raciocínio; não manter o
silêncio; mudar a disposição das carteiras; entregar atividades atrasadas; recusar-se a sair da
sala; fazer brincadeiras com colegas. Essas são situações entendidas como de indisciplina, que
geram desentendimentos e conflitos e, por conseguinte, podem se transformar em situações
propícias a atos de assédio moral.
Nas relações de poder estabelecidas entre professores (as) e alunos (as), o uso
inadequado do poder e da autoridade pedagógica favorece a manifestação da indisciplina, a
qual possibilita a geração de conflitos. Esses, por sua vez, provocam ações autoritárias do (a)
professor (a), que busca impor disciplina e ordem, e acabam transmutando-se em atos de
114
assédio, situações de importunação assediosa e até em assédio moral pedagógico, que é uma
forma clara de violência, mas que, por sua engenharia, é sutilmente empregada. E em um
círculo vicioso, a imposição autoritária da ordem e da disciplina causa medo e gera conflito,
os quais, por sua vez, comprometem e deslegitimam o poder e a autoridade pedagógica do (a)
professor (a) nas relações de poder com os (as) estudantes, o que o leva a condutas assediosas,
que são uma forma de violência.
De acordo com Arendt (2010), tanto nas relações internacionais quanto nos assuntos
domésticos, a violência aparece como o último recurso para conservar intacta a estrutura de
poder contra os contestadores individuais – o inimigo externo, o criminoso nativo. Segundo
Arendt (2010, p. 64), “de fato é como se a violência fosse o pré-requisito do poder, e o poder
nada mais é do que uma fachada, a luva de pelica que ou esconde a mão de ferro ou mostrará
ser um tigre de papel.
A dominação por meio da violência é pré-requisito do poder, nos termos utilizados por
Arendt e exerce influência sobre a autoridade. O assédio moral pedagógico, principalmente no
espaço acadêmico, tem relação direta com as formas com que são estabelecidas as relações de
poder entre docentes e alunos (as), bem como com o modo pelo qual a autoridade pedagógica
é exercida e a disciplina acadêmica é estabelecida. O autoritarismo é a porta de entrada para
uma prática docente permeada por condutas assediosas e permite a prática de diferentes atos
de assédio, os quais acabam culminando em situações de importunação assediosa e, por fim,
na prática do assédio moral pedagógico.
“O importante não é tanto o que fizeram comigo, mas o que faço com o que fizeram
comigo.”
(JEAN PAUL SARTRE)
O capítulo ainda trata da natureza jurídica do assédio moral, do atual estágio em que se
encontra a legislação sobre o tema no ordenamento jurídico pátrio, das punições que
professores (as) da rede pública e privada podem receber por conta de práticas de assédio
moral pedagógico, do conceito de dano moral e sua natureza jurídica, da previsão legal do (a)
agressor (a) indenizar a vítima, e dos critérios que o poder judiciário utiliza para definir o
quantum indenizatório que a vítima do assédio moral receberá.
A maioria das decisões judiciais no Brasil sobre assédio moral no espaço acadêmico
116
utiliza como fundamento os seguintes dispositivos legais: art. 1º, inciso III, que aborda a
dignidade da pessoa humana como fundamento do Estado Democrático de Direito; o art. 5º,
inciso X, que assegura o direito à indenização pelo dano moral, ambos previstos na
Constituição Federal Brasileira; os artigos 186 e 187 do Código Civil, que tratam dos atos
ilícitos; o art. 927, que impõe, a quem causar dano, o dever de repará-lo; os artigos 932 e 933,
que estabelecem os responsáveis pela reparação civil; e os artigos 482 e 483 da Consolidação
das Leis do Trabalho, que abordam, respectivamente, as razões para a justa causa para
rescisão do contrato de trabalho pelo empregador e a rescisão indireta, quando o empregado
poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a devida indenização. De igual modo, no
âmbito público ainda é utilizada a Lei nº 8.112/90, em especial os artigos 116 e 117.
[...] mesmo ainda não existindo um crime de Assédio Moral, tal comportamento
pode perfeitamente enquadrar-se em outros tipos penais à medida que ofender bens
jurídicos tutelados pelo Direito Penal. Portanto, recorde-se, pode haver crime contra
a honra (injúria, difamação ou mesmo, calúnia), crime de periclitação da vida e da
117
Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
[...]
Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: [...]
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: [...]
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de
lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer
o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda: [...] (BRASIL, 1940).
Embora esses tipos penais sejam utilizados para enquadrar os (as) agressores (as), o
que se busca efetivamente hoje é a tipificação do assédio moral como crime, de modo a tornar
as punições mais efetivas. Com a tipificação penal do assédio moral, as vítimas poderão se
valer com mais segurança da legislação para se proteger dessa prática nociva à sociedade.
O fato de o assédio moral ainda não ser tipificado como crime dificulta, do ponto de
vista legal, a definição e abrangência do termo. Essa é uma das razões para que a sua
definição fique na esfera doutrinária com os (as) pesquisadores (as). Nesse sentido, pesquisa
realizada pela Anamatra (associação que reúne os juízes trabalhistas do país) aponta que 79%
dos juízes indicam a necessidade de que o assédio moral seja devidamente regulamentado em
lei (ROLLI; FERNANDES, 2009).
Dessa forma, com a regulamentação, limites mais claros e critérios objetivos do que é
ou não assédio seriam estabelecidos. De igual modo, facilitaria a análise da forma como
ocorreu o assédio moral e do modo como deve ser indenizado, não ficando essa incumbência
restrita à interpretação meramente subjetiva dos magistrados.
Conforme visto anteriormente, a legislação penal brasileira prevê punição apenas para
casos de assédio sexual quando esse ocorrer no âmbito da relação laboral, necessitando que o
superior se valha de sua posição hierárquica (de poder) para obter favores sexuais de seus
(suas) subordinados (as). Na maioria das vezes, para que o agressor não fique impune, o
118
assédio moral, que afeta a saúde de milhares de trabalhadores e trabalhadoras brasileiros (as),
é tipificado apenas como crime de injúria e/ou difamação. Nas ações ajuizadas na justiça do
trabalho, os magistrados, como punições em suas sentenças, costumam condenar os (as)
empregadores (as) a indenizarem os (as) trabalhadores (as) por danos morais.
No Brasil não há nenhuma lei federal específica que tipifique o assédio moral como
crime. O que existe são algumas leis municipais e estaduais que tratam do tema em relação a
servidores públicos, não alcançando a esfera coletiva, em nível nacional. De acordo com Rolli
e Fernandes (2009), há 21 (vinte e um) projetos de lei sobre assédio moral em tramitação no
Congresso Nacional, no entanto não há nenhuma previsão quanto à análise e aprovação.
Tal insuficiência de legislação pátria sobre o assédio moral contribui para que muitas
das vítimas de assédio não saibam que o são, o que impede que recorram ao poder Judiciário
contra seus/suas agressores (as). Esse fato contribui para que haja uma proliferação de casos
de prática de assédio moral (LEMOS, 2017).
De acordo com Batalha (2006), existem algumas iniciativas que foram tomadas no
âmbito municipal e estadual, relacionadas com assédio moral aos (às) servidores (as) públicos
(as). O município de Iracemápolis, em São Paulo, publicou a primeira lei municipal sobre o
assédio moral (Lei n° 1.163/2000), que se constituiu em um importante passo na direção do
combate ao assédio moral. A publicação da primeira lei no Brasil sobre assédio moral, no ano
de 2000, foi uma resposta à proposição do ex-vereador João Renato Alves Pereira, que
objetivava impor limites à expansão das práticas de assédio moral nas organizações públicas
brasileiras (SOUZA, 2008).
Ainda sobre iniciativas legislativas, Souza (2008, p. 51) aponta que “apesar de a
história da legislação brasileira sobre o assédio moral ser recente, há em vigor mais de 50
projetos de lei aprovados, no âmbito municipal e estadual”.
O texto ainda estabelece que o processo por assédio moral se dará por representação
da vítima, sendo que, após a denúncia, será irretratável, podendo ocorrer transação penal para
que o acusado assuma o crime em troca de redução da pena (BRASIL, 2001). Nesses casos, a
pena deverá ter caráter pedagógico e conscientizador.
No entanto, esse projeto de lei ainda precisa ser votado no Senado Federal e
posteriormente ir à sanção presidencial. Embora seja um avanço, a matéria aborda apenas o
assédio moral no âmbito das relações de trabalho. Sendo assim, perderá o legislador
infraconstitucional uma grande oportunidade de tipificar o assédio moral de forma ampla, de
modo a abarcar todas as esferas da vida em sociedade.
Na esfera federal, uma das poucas legislações que aborda o assédio moral é Lei nº
11.948/2009, que, em seu artigo 4º, veda a concessão ou renovação de quaisquer empréstimos
ou financiamentos pelo BNDES a empresas da iniciativa privada cujos dirigentes tenham sido
condenados por assédio moral:
Esse é um dos poucos textos legislativos que aborda o tema do assédio moral em uma
lei federal. De mais a mais, aguarda-se que o legislador infraconstitucional seja mais célere e
atente para os anseios e demandas sociais.
120
A CLT aborda a figura do assédio moral explicitamente, no entanto o (a) docente que
atua na iniciativa privada, na qualidade de empregado (a) celetista, em caso de cometimento
de assédio moral a um (uma) estudante, poderá ser punido pela empresa empregadora. Em
decorrência do descumprimento de suas obrigações, as penalidades podem variar de uma
advertência até uma demissão por justa causa, além de o professor poder responder
regressivamente por possíveis condenações na esfera cível, caso a empresa seja condenada a
indenizar a vítima.
A instituição de ensino, ao receber denúncia por parte do (a) estudante, poderá aplicar
sanções ao (a) professor (a), que vão desde advertência até demissão por justa causa, caso
fique comprovada sua infração. De igual modo, se o (a) estudante acionar a justiça e a
instituição for condenada a indenizá-lo (a) por danos morais, a empresa poderá, em ação
regressiva, exigir ressarcimento ao profissional por todas as despesas que ele tiver
ocasionado.
A depender da gravidade do assédio moral cometido pelo (a) docente, ele poderá
sofrer uma penalidade intermediária, sendo suspenso por até 30 dias, com desconto no salário
pelos dias não trabalhados, em virtude do descumprimento de deveres previstos no contrato
de trabalho. Empregadores (as) costumam aplicá-la após o empregado (a) já ser reincidente
nas advertências. Entre as penas aplicáveis ao obreiro, a suspensão disciplinar aparece como a
segunda em proporção de severidade. Tal penalidade encontra-se expressamente acolhida pela
CLT, que a menciona em seu art. 474 (DELGADO, 2017).
Apesar dessas duas possibilidades de punição, muitas IES são pouco tolerantes e nada
coniventes com situações de assédio moral. O artigo 482 da CLT permite a rescisão do
contrato de trabalho por justa causa do empregado. Essa é a mais grave de todas as penas que
121
o ordenamento jurídico autoriza, sempre que o empregado cometer ato faltoso, capaz de fazer
desaparecer a confiança e a boa-fé existentes entre as partes, de modo a tornar indesejável o
prosseguimento da relação de emprego.
Ao punir o (a) docente assediador (a) com a demissão por justa causa, o (a)
empregador (a) precisa considerar quatro elementos essenciais para configurá-la: a) imediação
– tanto a falta do empregado (a) como a punição por parte do (a) empregador (a) devem ser
atuais, ou seja, assim que o (a) empregador (a) tomar conhecimento da falta, deve agir para
evitar que se configure a renúncia ou o perdão tácito; b) non bis in idem — não é permitido ao
(à) empregador (a) punir a mesma falta com mais de uma sanção, ou seja, o direito de punir
que lhe é assegurado esgota-se em relação a cada falta; c) proporcionalidade - as penalidades,
ao serem aplicadas, precisam ser compatíveis com a gravidade da falta; d) legalidade —
somente são consideradas justas causas as condutas expressamente indicadas em lei
(ROMAR, 2018).
Pelo exposto, antes de aplicar uma demissão por justa causa a um (a) profissional da
educação, o (a) empregador (a) deve avaliar cada situação concreta, considerando também os
aspectos subjetivos. Faz-se necessário considerar o histórico funcional do (a) docente, quais
as circunstâncias que levaram o (a) empregado (a) à prática do ato, sua personalidade e as
situações que ele (a) tem vivido. Por outro lado, não se pode olvidar de que existe uma vítima
122
3.3 Punição ao servidor (a) público por assédio moral na esfera administrativa
Acredita-se que um dos fatores que colaboram para a existência do assédio moral por
parte dos servidores (as) públicos, e de modo específico, professores (as) e profissionais da
educação na administração pública, é a falsa ideia a que muitos (as) se apegam de que, por
serem estáveis em seus cargos públicos efetivos, estão imunes a penalidades. Esse raciocínio,
porém, não subsiste a uma simples análise da legislação.
A Lei nº. 8.112/90, denominada de estatuto do servidor público federal, não aborda de
forma clara e direta a questão do assédio moral. No entanto, isso não quer dizer que esse tipo
de conduta assediosa seja permitida aos servidores ocupantes do cargo público de docente, ou
de qualquer outro cargo.
Segundo Mello (2015), a Lei nº 8.112, em seu art. 116, enumera um conjunto de
123
deveres do servidor público e apresenta, no art. 117, um extenso rol de proibições. Dessa
feita, a transgressão de um deles dá margem para que o (a) servidor (a) seja responsabilizado
(a) administrativamente. Esse último dispositivo citado é de suma relevância, visto que as
penalidades disciplinares estão, em grande parte, reportadas à sua violação. Portanto, qualquer
conduta abusiva do (a) docente assediador (a), ou de qualquer outro profissional da educação,
pode ser punida, pois, ao assediar o (a) estudante, o (a) docente estará afrontando o dever de
respeito à moralidade administrativa, conforme art. 116, inciso IX (BRASIL, 1990).
Assim, é imperioso que todo (a) servidor (a) público, inclusive os docentes, observem
o elemento ético de sua conduta, tendo em mente que, no seu exercício profissional, não terão
124
Ainda segundo a Lei n° 8.112, em seu art. 127, são estas as possíveis penalidades
administrativas apresentadas ao servidor que deixar de cumprir com seus deveres funcionais:
I - advertência; II - suspensão; III - demissão; IV - cassação de aposentadoria ou
disponibilidade; V - destituição de cargo em comissão; VI - destituição de função
comissionada. Ressalta-se que, na aplicação das penalidades, serão consideradas a natureza e
a gravidade da infração cometida, os danos que dela provierem para o serviço público, as
circunstâncias agravantes ou atenuantes e os antecedentes funcionais (BRASIL, 1990).
Assim, nessas situações, há que se observar que, sendo o (a) assediador (a) servidor (a)
público (a), o Estado (União Federal, Distrito Federal, estados ou municípios) será
responsabilizado pelos danos materiais e morais sofridos pela vítima, em face da
responsabilidade objetiva, atribuída por lei, independentemente de haver ou não prova da sua
culpa. Se comprovado o fato e o dano, o Estado deve indenizar a vítima, podendo processar o
(a) assediador (a) para reparar seus prejuízos (SOUZA, 2008).
autoria da ex-Deputada Federal Rita Camata, que tratava da aplicação de penalidades à prática
de "assédio moral" por parte de servidores públicos da União, das autarquias e das fundações
públicas federais a seus subordinados, alterando a Lei nº 8.112. O PL propunha acrescentar o
artigo 117-A, que preconizava:
117-A É proibido aos servidores públicos praticarem assédio moral contra seus
subordinados, estando esses sujeitos às seguintes penalidades disciplinares:
I – Advertência;
II – Suspensão;
III – Destituição do Cargo ou comissão;
IV – Destituição de função comissionada;
V – Demissão.”
No entanto, essa importante proposta legislativa (PL nº 4.591/2001), que poderia ser
um marco no avanço ao combate do assédio moral no serviço público, foi arquivada no ano de
2007.
Delgado (2017) aponta que o assédio moral não mereceu, no Brasil, a necessária
análise e ênfase antes da Constituição de 1988. Ele define assédio moral como
Nesse sentido, Coelho (2018) descreve que o direito trata conjuntamente o assédio
moral e o dano moral, fazendo uma breve distinção entre os dois institutos. O autor aponta
que, enquanto o assédio moral se configura por meio de condutas ofensivas realizadas
contínua e reiteradamente, o dano moral pode se materializar com a prática de um único ato.
Assim, o assédio moral consiste na prática de atos que visam à exclusão e atacam,
injustificadamente, o rendimento pessoal da vítima, que manipulam sua reputação pessoal e
profissional mediante rumores e ridicularizações, abuso do poder, atitudes de menosprezo e
controle desmedido (FIGUEIREDO; FIGUEIREDO, 2015). Por essa razão, o assédio moral
126
traz consequências à saúde física e psicológica da vítima e os sintomas podem ser percebidos
por um bom profissional da saúde (médico ou psicólogo). Destarte, quem comete assédio
moral tem o dever legal de reparar o dano.
Dias (1995, p.737) define que “o conceito de dano é único, e corresponde a lesão de
um direito”. De tal modo, o dano consiste em um mal, um prejuízo, a diminuição de
patrimônio sofrido por alguém, seja em seus bens materiais ou imateriais, alma ou corpo.
Considera-se que um (a) estudante sofreu dano moral quando se achar lesionado (a) em seus
direitos da personalidade (arts. 11 a 21 do CC).
O dano moral, então, é resultado de uma ofensa à honra da vítima, à sua privacidade, à
intimidade, à imagem, ao nome, ao corpo físico, ao seu pudor, a suas afeições, ao seu amor
próprio, estético, de modo a afetar seu ânimo psíquico, moral e intelectual, não causado por
uma perda pecuniária. Na reparação, não requer a determinação de um preço para pagar a dor
ou o sofrimento, por consistir em violação de natureza não econômica.
Os danos morais sofridos pela vítima do assédio moral tornam possível que ela venha
requerer a reparação do dano, o que pode lhe gerar direito a indenizações por danos de caráter
material e moral. O Código Civil (CC) de 2002 determina a responsabilização civil do agente
que causar dano a outrem, a saber:
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de
culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de
outrem.
art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imperícia,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete
ato ilícito.
art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé
ou pelos bons costumes (BRASIL, 2002, grifo nosso).
127
Nesse sentido, aquele que agride outra pessoa cometendo assédio moral, causa-lhe um
dano e, por conseguinte, passa a ter o dever de indenizá-la, não importando se o dano ocorreu
por imperícia ou negligência, ação ou omissão; se foi cometido por empregado (a) ou
empregador (a), estudante ou professor (a).
O art. 2º da CLT confere ao (à) empregador (a) poder de direção – também chamado
de poder de comando ou poder hierárquico, que é a faculdade a ele atribuída de determinar
como a atividade do empregado deve ser exercida. No entanto, esse poder não lhe permite
extrapolar os limites da boa-fé e dos bons costumes. É preciso cautela para não confundir
poder diretivo com abuso de poder ou abuso de autoridade.
Enquanto superior hierárquico, o (a) chefe pode exercer poder de mando por meio de
atos praticados no exercício regular de um direito, entretanto, mesmo sendo titular de um
direito, não pode usar dele para cometer exageros e extrapolar os limites legais, porque, dessa
forma, poderá cometer assédio moral (art. 188, I, do CC).
Conforme art. 187 do Código Civil brasileiro, será considerado ilícito o ato praticado
pelo titular de um direito que, ao exercê-lo, exceda manifestamente os limites impostos pelo
seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes (BRASIL, 2002). Sendo
assim, a conduta lesiva, causada pelo agressor, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, que gere a alguém dano patrimonial ou moral, acarreta o dever de indenizar,
quando praticado em desacordo com a ordem jurídica.
De igual modo, haverá dano moral decorrente do assédio moral todas as vezes em que
essa agressão ocasionar danos à saúde emocional da vítima, em decorrência de um ato
causado por um agente dotado de suma maldade e crueldade. Destaca-se, mais uma vez, que o
dano moral indenizável não implica necessariamente a constatação de sentimentos humanos
desagradáveis como dor, humilhação ou sofrimento. Para que o agente seja responsabilizado,
128
À vista do exposto, é preciso que haja ato ilícito (que, nesse caso, é o ato doloso de
maldade do autor); o dano (que é o prejuízo de ordem emocional da vítima); e o nexo causal.
Os citados requisitos são indispensáveis para que a vítima do assédio moral no ambiente de
trabalho consiga perceber uma indenização por conta do assédio moral por ela sofrido,
conforme sentido extraído do art. 927 do Código Civil (DALLEGRAVE NETO, 2007).
Destarte, a ação ou a omissão podem ser dolosas, desde que comprovada, no caso
concreto, a intenção inequívoca de agir ou de não agir. Quanto à culpa, essa se constitui tema
claramente relacionado à ideia de descuido, decorrente de negligência (descuido e omissão),
imprudência (descuido e ação) ou imperícia (descuido técnico com ação ou omissão).
O assédio moral é um fato gerador de dano moral e, como tal, é equiparável a outros
fatos congêneres que podem gerar o dever de indenizar, conforme previsto no Código Civil.
Práticas como injúria, calúnia e assédio moral ocorrem no espaço acadêmico, sendo
consequência da visão de mundo e de homem que ainda prevalece no inconsciente coletivo, a
partir da qual não somos iguais enquanto cidadãos, sendo a desigualdade de direitos
considerada natural.
espaço de ensino. Dentro dessa concepção, é dever do Estado punir e reparar os danos
causados pelo assédio moral nas instituições de ensino públicas e é dever da sociedade cuidar
para que o Estado cumpra o seu papel, garantindo que os direitos fundamentais dos cidadãos
sejam respeitados pelos agentes públicos.
A população encontra-se numa era em que a atenção do mundo se volta para o meio
ambiente, direito difuso, e é preciso que, enquanto sociedade, se garanta que futuras gerações
encontrem um lugar de liberdade, fraternidade, igualdade e tolerância (GALLINDO, 2009). O
assédio moral e, por consequência, o dano moral e o dever de indenizar são frutos também de
uma sociedade desigual, intolerante e pouco plural. Nesse diapasão, o espaço acadêmico tem
papel determinante na construção de uma educação em direitos humanos que favoreça a
pluralidade de pensamentos e o respeito à dignidade da pessoa humana.
Para Ferreira, Zenaide e Dias (2010), a natureza dialógica da educação requer uma
cultura de respeito e de promoção de atitudes, hábitos, comportamentos, raciocínios e
julgamentos inspirados nos valores positivados nos direitos humanos, cuja efetividade
depende da ação humana desenvolvida por intermédio da educação formal ou não. Destarte,
sem uma cultura de respeito entre docentes e estudantes, o resultado será sempre os litígios
administrativos ou a judicialização das situações de assédio moral.
Cabe, então, reiterar que o (a) estudante de uma instituição de ensino pública, ao ser
assediado (a) moralmente por um (a) docente no exercício de suas atividades profissionais,
130
pode ajuizar uma ação de reparação por danos morais em face da instituição. Isso porque, o
funcionário público lato sensu não responde perante o particular por atos danosos praticados,
devendo o (a) estudante demandar contra o Estado. Do ponto de vista constitucional, pertence
ao Estado o dever de indenizar o (a) lesado (a) e não ao (a) servidor (a), que é parte ilegítima
nessa demanda. Poderá o Estado responsabilizar o agente público por meio de ação
reparatória, a ser apurada sob a óptica da teoria subjetiva, exigindo-se a comprovação de que
o (a) professor (a) agiu de forma dolosa ou culposa.
Nesse sentido, uma vez assumida determinada atitude pelo agente, a qual tenha
causado dano, injustamente, a outrem, cabe-lhe sofrer os ônus relativos, a fim de que se possa
recompor a posição do lesado, ou mitigar os efeitos do dano. Ao mesmo tempo em que se faça
sentir ao lesante o peso da resposta compatível prevista na ordem jurídica (BITTAR, 1993).
Embora se possa dizer que o ilícito civil é considerado de menor gravidade em relação ao
ilícito penal e que o interesse de reparação do dano civil é privado – do (a) ofendido (a), o (a)
causador (a) do dano deverá indenizar, em caso de condenação.
vítima do assédio, ainda que (a) possa de alguma forma mitigar sua angústia, jamais vai
representar a completa reparação. Isso porque, o que se consegue indenizar não são os
dissabores vivenciados por quem sofreu a agressão; consegue-se, sim, a punição pela violação
de direitos protegidos, que degrada a honra e a dignidade humana, causando danos.
A justiça, ao estabelecer o valor da indenização a ser paga para o (a) estudante que
sofreu assédio moral no espaço acadêmico, deverá considerar: a extensão e a gravidade do
dano causado; as singularidades do caso; a situação do (a) docente agressor (a) e o seu grau de
culpa; a condição do (a) estudante lesado (a), sua boa-fé e a culpa concorrente; a intensidade
do sofrimento acarretado; a repercussão da ofensa; a situação patrimonial das partes; a
razoabilidade e a proporcionalidade entre o ato e a condenação; a punição e exemplaridade; e
o proveito obtido pelo lesante com a prática do ato ilícito.
A partir da constatação do dano moral, por meio de situações que causem dor,
vexame, sofrimento, humilhação e interferências no comportamento psicológico e na saúde do
(a) estudante, impõe-se ao (à) agressor (a) o dever de reparar o dano. Ferreira (2018) entende
que, em relação à indenização por danos morais, “é certo que nenhum valor, por mais alto que
seja, é capaz de reparar completamente as sequelas psíquicas causadas pelo assédio moral”.
Por fim, os tribunais têm decidido que o mero aborrecimento, dissabor, mágoa,
irritação ou sensibilidade exacerbada do (a) estudante não pode ser considerado como dano
moral.
3.6 Casos de assédio moral no espaço acadêmico e sua repercussão na justiça e mídia
Ainda que não seja divulgada com a relevância que merece, a jornada de humilhação e
dor, enfrentada por estudantes frente o assédio moral pedagógico nas instituições de ensino,
133
dificuldade em obter das instituições a imediata apuração dos fatos, logo que surgem as
primeiras denúncias.
As histórias de vida e as denúncias desses (as) estudantes, muitas vezes permeadas por
relatos de sofrimento, medo, exclusão, dor, vergonha, humilhação e adoecimento, confirmam
e reforçam os dados obtidos nesta pesquisa sobre o assédio moral pedagógico.
Segundo relatado nos autos do processo, em certa ocasião, durante aula prática, o
professor acertou um caderno na cabeça da autora, que se defendeu. Não achando pouco, ele
135
ainda deu um “cascudo”. De igual forma, em outra oportunidade, em outra aula prática, o
servidor público chegou próximo à autora e perguntou: “Para onde vão as mulheres boas?”.
Respondendo, a autora afirmou que não sabia, então ele prosseguiu: “Para o céu. E para onde
vão as mulheres más?”. Novamente, ela disse que não sabia e ele continuou: “Para minha
cama”. Sem entender o objetivo do professor e a pertinência dessa fala na aula, a autora
contestou: “Então se sua filha for uma mulher má ela estará em sua cama? Isso é pedofilia e
incesto”. Tal reação o deixou desconcertado e ele então afirmou que a aluna estava doida
(BRASIL, 2017).
Tais atitudes foram se tornando cada vez mais frequentes e passaram a extrapolar os
limites da sala de aula. Sempre que via a aluna, o professor a cumprimentava da seguinte
forma: “oi, coisa do meu ódio”. Em uma ocasião, no refeitório, o servidor agarrou a autora
dizendo: “tu me odeia, mas te amo porra”. A estudante, altamente constrangida, pediu
insistentemente que ele a largasse. Na saída do refeitório, o servidor ainda a chamou de
“bocó” na frente dos demais presentes (BANANA, 2018).
De acordo com os registros no site do TRF5, as aulas já não eram mais produtivas para
os estudantes, pois o professor as interrompia diversas vezes para realizar brincadeiras de mau
gosto com a aluna. Mesmo sem nunca ter dado cabimento para tais atitudes, o professor a
assediava moral e sexualmente, abraçando-a em sala de aula, apesar da resistência da autora.
Ademais, há de se ressaltar que o professor passou a persegui-la, negando-se a responder suas
dúvidas acadêmicas, enquanto os colegas eram atendidos sem nenhum problema,
constrangendo e humilhando claramente a autora na frente dos demais alunos (BRASIL,
2017).
Em outra circunstância, a autora e uma colega estavam estourando plástico bolha, algo
que o professor também estava fazendo. Então, o servidor mandou as alunas levarem o
plástico bolha à caixa, com semblante ameaçador, e ela obedeceu prontamente. Então, o
professor, em tom agressivo e em direção à autora, ordenou que ela saísse da sala. Sem
entender, a requerente afirmou que ‘não havia razão para ela ser posta para fora de sala, pois
não havia feito nada que desabonasse sua conduta de aluna’ (BRASIL, 2017).
ele a constrangesse de tal forma e a humilhasse diante de 25 colegas de turma, pois apenas
estalara o plástico, assim como a outra aluna. Novamente, ainda mais alto, mesmo estando a
cerca de meio metro da autora, o professor gritou tão alto que quem estava fora da sala de aula
ouviu: “Saia de minha sala agora”. De acordo com o processo, a autora ficou tão nervosa, sem
reação, totalmente perplexa com a atitude, que congelou, sem saber se ele iria bater nela ou
arrastá-la para fora da sala de laboratório, pois não conseguia mais reagir às humilhações e
agressões verbais feitas pelo professor (TRF5, 2017).
3.6.2 Ministério Público Federal move ação civil pública em face de professores
De acordo com o Extra (2017), o Ministério Público Federal (MPF) no Rio de Janeiro
moveu uma ação civil pública em face de professores e coordenadores de uma das unidades
do Cefet-RJ por assédio moral contra alunos de um curso técnico. De acordo com o MPF, as
investigações conseguiram comprovar a habitual ausência às aulas e a falta de urbanidade por
parte dos professores para com os estudantes, bem como a omissão dos coordenadores.
Vale destacar que não bastasse a inobservância aos preceitos das Leis nº 9.294, de
1996 e 12.546, de 2011, ao acender um cigarro dentro de laboratório com produtos
inflamáveis, como foi o caso, o professor expôs a vida dos alunos - alguns ainda adolescentes
- e a sua própria a perigo (EXTRA, 2017).
eu respondi que ´não`. Ela fez a seguinte declaração: ´vai saber tudo de CTI e nada do M6`
(ASSÉDIO, 2018).
Os fatos narrados na notícia “Assédio Moral de Professora” (2018) apontam que, para
evitar conflito, a estudante ignorou a colocação assediosa da professora diante da turma.
Segue a declaração da estudante: “ela não satisfeita, começou a passar um caso clínico e
perguntou o que poderia causar murmúrio vesicular abolido, diante do silêncio dos colegas de
turma, respondi que ´uma atelectasia`.” A estudante continua seu relato: “a professora no
mesmo momento me ridicularizou, com ar de deboche e disse que ´isso que dá, fazer estágio
em CTI, e responder à pergunta de forma errada`” (ASSÉDIO, 2018).
No relato da estudante, ela foi exposta, julgada e assediada moralmente por uma
docente na frente de toda turma, sem motivo nenhum que ao menos justificasse tamanha falta
de ética, profissionalismo e empatia da professora (ASSÉDIO, 2018).
139
Mas logo após fazer a denúncia, a vítima começou a ser procurada por outros alunos
que teriam relatado o mesmo tipo de conduta do professor. “Resolvi fazer a denúncia depois
de saber que não estudaria mais com ele e que não sofreria mais nenhuma retaliação, mas
depois que fiz a denúncia vi que a PUC parecia estar tentando abafar... Mas logo depois
comecei a ser procurado por outros alunos e ficou claro que muita gente tinha passado por
aquilo. Tenho diversos prints de conversas de outros alunos com conversas com o professor”.
Além dele, outro aluno resolveu levar o caso adiante e ambos fizeram boletins de ocorrência
sobre o caso (FAVERO, 2015).
140
O professor pediu que ela mudasse de lugar, para evitar a comunicação com outros
alunos. A estudante recusou-se, alegando que era descabido ser a única pessoa na sala
ordenada a trocar de lugar. Em resposta à recusa da estudante, com tom de deboche, o docente
pronunciou as ofensas em frente de cerca de 60 alunos, chamando-a de: “chata, baixinha,
pobre e feia” (BRASIL, 2015; BRINCADEIRA, 2015).
A atitude gerou efeitos imediatos na conduta dos outros colegas, que riram, gritaram e
fizeram provocações, alguns lançando objetos na aluna. O fato deu ensejo a diversas situações
constrangedoras nos meses que se seguiram. Além de ajuizar a ação em face da universidade,
a aluna trancou a matrícula e procurou acompanhamento psicológico (BRASIL, 2015;
BRINCADEIRA, 2015).
Informa a revista eletrônica da área do direito Conjur, que a aluna teve seu pedido
negado em primeira instância. A Justiça Federal em Pelotas (RS) entendeu que foi a estudante
quem deu início a uma discussão e o professor só reagiu de “forma jocosa, em tom de
brincadeira”. No entanto, vencida em primeira instância, a aluna, então, recorreu ao TRF-4.
Assim, a 4ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região fixou em R$10.000,00 mil reais
a indenização por danos morais. O fato de o professor gostar de ‘‘brincar com os alunos’’ não
o isenta de responsabilidade pela humilhação a que eventualmente submeta um estudante
(BRINCADEIRA, 2015; BRASIL, 2015).
Assim, em seu relato, a desembargadora afirmou que, com esse episódio, o professor
reforçou sua própria popularidade diante dos demais alunos e estimulou a continuidade da
ofensa, tendo em vista que os estudantes não cessaram a prática do assédio moral contra a
autora durante os meses seguintes: “Por isso, o teor de brincadeira é nocivo: tivesse o
professor simplesmente dito as ofensas à autora, sem disfarçá-las de piada, teria causado
indignação dos alunos prontamente”, concluiu (BRINCADEIRA, 2015).
Por fim, o voto da eminente desembargadora pontua que o fato de “o professor ter
‘personalidade jocosa’ e gostar de ‘brincar com os alunos’ não o isenta da responsabilidade
pela humilhação a que eventualmente submeta um estudante” (BRASIL, 2015).
Uma ex-aluna, que preferiu não se identificar, relatou outro caso de um suposto
assédio cometido pelo mesmo professor. De acordo com ela, o docente agia de forma antiética
durante as aulas e os assédios morais eram praticados regularmente por ele. “Foi por causa de
professores como ele, que eu desisti completamente de seguir carreira acadêmica. Ele não tem
ética ou responsabilidade com o que fala”, contou a ex-aluna (AMARAL, 2017).
Ainda segundo Amaral (2017), de acordo com a delegada, aquele era o quarto caso
envolvendo assédio moral de professores contra alunas, registrado na Delegacia da Mulher.
Nas palavras da autoridade policial: “Esse é um caso muito comum. Os machistas que estão
em posição privilegiada exercem o poder, maltratando, subjugando e massacrando as
mulheres.” No mesmo sentido, pontuou a delegada: “Por isso, é importante que as mulheres
procurem a delegacia especializada e denunciem, não podemos ficar caladas”.
O professor afirmou não saber do que a denúncia se tratava, mas alegou que o teor da
queixa não era verdadeiro. Em mensagem divulgada nas redes sociais, o professor também se
defendeu das acusações e reiterou: "Se peco é por ser apaixonado demais e engajado demais
no que faço" (AMARAL, 2017).
De acordo com Viegas e Camilo (2016), percebendo que não estava conseguindo lidar
bem com a situação, o aluno procurou uma psicóloga na instituição, que o orientou a
denunciar os abusos, após constatar que ele estava passando por um processo de ansiedade
aguda. "Para eu não tomar a atitude de trancar o curso, eu tomei coragem e fiz a denúncia.
Procurei as instâncias na universidade e o Ministério Público Federal (MPF), mesmo com os
meus colegas dizendo para eu não fazer isso, que não ia dar em nada.
143
Ainda segundo Viegas e Camilo (2016), essa era a segunda disciplina obrigatória que
o estudante cursava com o profissional e as cenas de constrangimento foram se tornando cada
vez mais frequentes. Frases e expressões como: "Quer moleza!? Vai sentar no colo do
Damásio"; "Se vocês quiserem pular pela janela e se suicidar, para mim... Não, aqui não,
porque se não vai vir a polícia. Vocês podem pular lá no prédio da Escola de Minas que, aí,
não é problema meu"; "O cara parece que tomou todas. Tomou todas e não foi pela boca".
Viegas e Camilo (2016) seguem apresentando que o universitário afirmou que vinha
sendo perseguido por esse professor, que o humilhava com frases desagradáveis, muitas com
conotação sexual, diante dos colegas. "Ele (o professor) tem essa fama de marcar aluno pela
cara. Muitos alunos falam que ele escolhe os alunos que serão crucificados, que vão ser alvo
dele. Eu não sei porque ele faz isso comigo", disse o estudante (VIEGAS E CAMILO, 2016).
Destaca-se que todos os casos apresentados representam uma pequena parcela das
situações de assédio moral que vêm ganhando destaque na mídia e enchendo as pautas dos
tribunais. Esses casos conseguem expressar algumas das consequências do assédio moral
pedagógico e pequenas nuances dos seus impactos na aprendizagem, bem como o modo como
acaba por se refletir na vida dos (as) estudantes.
Alguns dos casos descritos já se encontram transitados em julgado, não cabendo mais
recursos às partes. Outros ainda são passíveis de contestação ou não se encontram
devidamente formalizados na esfera jurídica. Os nomes das instituições são citados e não
foram omitidos por conta dessas notícias terem sido amplamente divulgadas em diferentes
meios de comunicação e estarem ainda hoje disponíveis na internet para acesso de qualquer
pessoa.
144
“No final, não nos lembraremos das palavras dos nossos inimigos, mas do silêncio
dos nossos amigos”.
(MARTIN LUTHER KING)
A discussão sobre o assédio moral nas relações pedagógicas e nos processos de ensino
e aprendizagem precisa ser empreendida por meio de pesquisas, como forma de ajudar a
combater uma prática arraigada em muitas instituições de ensino e que acaba por gerar
instabilidade nas relações entre docentes e estudantes. E, no que concerne a esses (as) últimos
(as), pode contribuir para a diminuição do rendimento acadêmico do (a) estudante, gerando
impactos em sua vida social, judicialização das relações acadêmicas, repercussão midiática e
violência no espaço acadêmico.
Pode-se definir pesquisa como o procedimento racional e sistemático que tem como
objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos. A pesquisa é
requerida quando não se dispõe de informação suficiente para responder ao
problema, ou então quando a informação disponível se encontra em tal estado de
desordem que não possa ser adequadamente relacionada ao problema (GIL, 2002,
p.17).
145
Buscou-se assim, perceber, nos relatos, nas memórias e nos sentimentos expressados
por estudantes, a existência de possíveis práticas pedagógicas questionáveis por parte dos (as)
docentes. De igual modo, esperou-se identificar as expectativas dos (as) estudantes em relação
aos (as) docentes em sala de aula. Outrossim, objetivou-se identificar na pesquisa o perfil do
(a) profissional assediador (a) e quais as consequências acadêmicas e jurídicas do assédio
moral efetivado em sala de aula, mormente os impactos desse assédio moral sobre o
aprendizado dos (as) estudantes, bem como as medidas que podem ser empreendidas para
prevenir ou minimizar os seus efeitos.
Para tanto, considerando que toda e qualquer classificação se faz mediante algum
critério, para esta pesquisa optou-se, quanto aos objetivos, por uma pesquisa exploratória.
Sabe-se que esse tipo de pesquisa é pouco ou nada estruturada em procedimentos, e seus
objetivos podem ou não ser pouco definidos. Tem como propósitos, então, adquirir maior
conhecimento sobre um tema, desenvolvendo hipóteses para serem testadas e aprofundar
questões a serem estudadas. Nas palavras de Gil (2002):
Diante disso, quanto ao procedimento, foi escolhido o estudo de caso como estratégia
de pesquisa. De acordo com Yin (2001, p.32), “um estudo de caso é uma investigação que
investiga um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto da vida real, especialmente
quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos”.
146
De acordo com o sistema CEP/CONEP, que avalia os aspectos éticos das pesquisas
que envolvam seres humanos, a coleta e a utilização de dados diretamente obtidos com os
participantes, ou informações que possam ser identificáveis, ou que possam acarretar riscos
maiores do que os existentes na vida cotidiana, devem ser realizadas dentro de parâmetros
éticos e submetidos aos comitês. Assim, atendendo às exigências da Comissão Nacional de
Ética em Pesquisa (CONEP), o projeto de pesquisa, após o aval do docente orientador, foi
submetido por meio da Plataforma Brasil ao Comitê de Ética em Pesquisa da Univates,
instituído pela Portaria nº 049/Reitoria/Univates.
Destarte, esta pesquisa foi desenvolvida de acordo com os critérios éticos e científicos
exigidos pela Resolução nº 466/12 e nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde, que, dentre
outros pontos relevantes, considera como singular o respeito pela dignidade humana e pela
especial proteção devida a todos os participantes das pesquisas científicas envolvendo seres
humanos.
148
De acordo com Guerriero e Minayo (2013), existem várias questões éticas envolvidas
na realização de pesquisas, podendo ser destacadas o financiamento, a relação entre os
pesquisadores e os participantes e a publicação dos resultados produzidos:
[...] estabelecem que a pesquisa deve gerar benefícios à humanidade (caso contrário
não precisaria ser realizada), e que os procedimentos escolhidos para coleta dos
dados relevantes devem evitar danos aos participantes ou à sociedade em geral. Isto
significa que os benefícios que eventualmente possam decorrer da pesquisa devem
ser maximizados, e os eventuais danos minimizados. O pesquisador deve ter
especial atenção aos riscos que a pesquisa possa acarretar aos participantes, e
elaborar previamente o que deve ser feito para minimizá-los, ou mesmo compensá-
los, caso sejam inevitáveis (CAMPOS, 2020, p. 9).
Buscou-se atentar para esses princípios durante toda a pesquisa, bem como para os
princípios da justiça e da equidade, segundo os quais devem ser evitados procedimentos que
possam colocar os participantes em diferentes situações de desigualdade, sejam elas de ordem
psíquica, psicossocial ou social, diante do pesquisador, das instituições ou de seus pares. Para
Campos (2020, p. 9), “estes princípios implicam que sejam evitadas situações que provoquem
discriminação ou estigmatização dos participantes ou de grupos sociais”.
Desse modo, nos TCLE´s foi assegurado, aos participantes, o direito de receber
informações e esclarecimentos, bem como o direito de desistir de participar da pesquisa em
qualquer uma das suas fases. De igual forma, foram apresentados os riscos previsíveis e os
benefícios decorrentes da pesquisa, incluindo o retorno dos resultados. Outrossim, foram
apresentados os benefícios para os (as) pesquisados (as), para a comunidade acadêmica
envolvida e para a sociedade de forma geral.
A pesquisa foi realizada em uma IES pública do Estado da Bahia, após a análise do
Projeto de Pesquisa e posterior autorização da sua diretoria. Foi autorizado o acesso a IES e a
visita às salas de aulas para divulgação e convite aos (às) estudantes.
O período limite estabelecido como lapso temporal para poder participar da pesquisa
ficou limitado aos (às) estudantes ingressantes, com matrícula ativa entre os períodos letivos
de 2013.1 até 2020.2.
Assim, ficou estipulado, ainda, que em caso de haver mais estudantes interessados (as)
em participar, do que o mínimo esperado, seria atribuído um número a cada candidato (a) e
realizado sorteio eletrônico para escolha dos (as) participantes, por meio do aplicativo
eletrônico “Sorteador”.
150
O quantitativo amostral inicial de 266 estudantes foi definido com base nos estudos de
Barbetta (2012), que aponta no sentido de que, para se realizar uma pesquisa consistente e
encontrar uma amostragem necessária que reflita de forma fidedigna o que se está
pesquisando, é preciso verificar o total da população que se pretende pesquisar e calcular uma
primeira aproximação com o tamanho da amostra.
Definiu-se como uma margem de erro tolerável para esta pesquisa a casa dos 5%. Com
essa margem de erro, a pesquisa passa a ter uma significância e confiabilidade em torno de
95% (BARBETTA, 2012, p. 58-59). Deste modo, tem-se a seguinte fórmula:
Para encontrar a amostra necessária para esta pesquisa, foi utilizada também a
ferramenta denominada “Calculadora On-line” para cálculo amostral, elaborada por Santos
(2011).
151
Essa calculadora apontou para um número muito próximo ao apresentado por Barbetta
(2012) para uma margem de erro tolerável na casa dos 5%, sendo que a pesquisa
permaneceria com uma significância e confiabilidade em torno de 95%.
números, para menos ou para mais, em decorrência da disponibilidade e aceitação dos (as)
estudantes em participar da pesquisa e da quantidade diminuta de estudantes matriculados (as)
nos semestres finais dos cursos de engenharia.
Assim, optou-se por uma amostra aleatória simples, que é aquela na qual todos os
elementos têm a mesma probabilidade de serem selecionados. Esse quantitativo equilibrado
de estudantes por semestre contribuiu para a aquisição de uma amostra crítica da população,
visto que essa possui potencial efetivo de representatividade e que, por conseguinte, caso
necessário, esses dados possam ser generalizados para aquele grupo.
estudantes foram entrevistados em uma sala reservada, de fácil acesso, disponibilizada pela
IES. Durante as entrevistas, somente o pesquisador e o (a) estudante entrevistado (a) tinham
acesso ao espaço, com o objetivo de resguardar a confidencialidade das informações.
A análise, transcrição e revisão dos arquivos de áudio das entrevistas foram realizadas
no escritório do pesquisador, com o propósito de manter o caráter sigiloso das informações.
Para a realização da pesquisa durante a primeira fase, foi utilizado o TCLE – Primeira
Fase (APÊNDICE B), o Questionário Investigativo (APÊNDICE C), notebook, papel e
caneta. Durante a segunda fase foi utilizado o TCLE – Segunda Fase (APÊNDICE D), o
Roteiro de Entrevista Semiestruturada (APÊNDICE E), gravador de voz, notebook, papel e
caneta.
A pesquisa foi realizada em duas fases distintas e complementares, sendo que a coleta
dos dados da primeira fase ocorreu entre junho de 2018 e agosto de 2019 e a coleta de dados
da segunda fase ocorreu entre setembro de 2019 e janeiro de 2020.
Na primeira fase da pesquisa, com enfoque quantitativo, foi utilizado, para a coleta de
dados, um questionário em formato online e uma versão alternativa impressa. Gil (2012, p.
121) define questionário como a “técnica de investigação composta por um conjunto de
questões que são submetidas a pessoas com o propósito de obter informações sobre
conhecimentos, crenças, sentimentos, valores, interesses, expectativas, aspirações [...]”.
Essa predefinição faz-se necessária, uma vez que, nesse tipo de pesquisa busca-se
estudar um fenômeno que está acontecendo ou que aconteceu recentemente. De igual modo, é
possível ao pesquisador presumir uma série de premissas e hipóteses, as quais por meio do
questionário, ele pode confirmar, ou inferir outras situações válidas para a pesquisa.
O resultado encontrado, uma vez que o grupo seja representativo da população, pode
vir a ser aplicado para todo o universo em estudo (PINSONNEAULT; KRAEMER, 1993;
SILVA; LÓS; LÓS, 2011). Desta forma, todas as perguntas inseridas no questionário devem
ter uma razão de ser, sejam as hipóteses que orientam a pesquisa ou os assuntos nelas
tratados, os quais necessitam ser pertinentes aos entrevistados. Assim, cuidou-se para que o
questionário não passasse a ideia de ser um exame ou um interrogatório, a ponto de deixar, no
(a) entrevistado (a), a sensação de ser ignorante ou induzi-lo (a) a respostas insinceras.
Tecendo comentários acerca dessa matéria, Gil (2002) aponta alguns cuidados e
estabelece algumas regras básicas para a elaboração desse tipo de questionário:
Nessa direção, com o objetivo de evitar interferências, Barbetta (2004, p. 33) assinala
que “um questionário propriamente dito é respondido pelo próprio elemento da população,
sem que algum encarregado da pesquisa observe o respondente no momento do
preenchimento”. Destarte, foram tomados os cuidados necessários para que os estudantes
tivessem o máximo de liberdade ao responderem o questionário.
Nesse passo, o questionário foi elaborado após cuidadoso planejamento do que seria
mensurado, ou seja, foram formuladas as perguntas necessárias para se aproximar ao máximo
do objetivo pretendido, bem como foram definidos o texto e a ordem das perguntas.
Atentou-se para que nenhum (a) estudante respondesse o formulário mais de uma vez.
De igual sorte, para garantir respostas fidedignas e minimizar a devolução de questionários
em branco, durante a aplicação dos questionários nos laboratórios de informática da
instituição e dos questionários impressos em sala de aula, o pesquisador explicava aos
respondentes da pesquisa os pontos mais relevantes. Igualmente não se ausentou das
imediações, considerando a possibilidade de eventualmente alguém solicitar explicações
extras. No mesmo sentido, no e-mail enviado aos (às) estudantes com o questionário
eletrônico, era facultado que dúvidas fossem sanadas por e-mail antes do envio das respostas.
Partindo dessas premissas, cada estudante que foi convidado (a) a participar da
pesquisa, após o aceite, assinou o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE),
conforme exigência normativa. Todos receberam uma cópia digital e/ou impressa do referido
termo, o qual apresentava a justificativa, os objetivos e os procedimentos que utilizados na
pesquisa, assim como o detalhamento dos métodos utilizados, as informações essenciais da
pesquisa e o contato dos pesquisadores.
Cabe destacar que, caso, eventualmente, um (a) estudante tenha citado ou identificado
algum (a) docente ao responder o questionário, ou qualquer outro (a) profissional ou colega,
essas informações foram omitidas dos resultados da pesquisa e dos relatórios. Visando
resguardar qualquer dano ou lesão ao nome, imagem ou dignidade da pessoa humana dos (as)
sujeitos, objetos da pesquisa, de docentes, outros (as) profissionais da educação ou mesmo
dos (as) estudantes, nenhum nome foi identificado, em nenhuma hipótese, seja por
características pessoais, componentes curriculares que tenham ministrado, cursado, ou iniciais
dos seus nomes.
seu consentimento, a qualquer momento, sem sofrer qualquer tipo de pena ou prejuízo.
Como elemento basilar do consentimento para participar desta pesquisa, foi dada
garantia da manutenção do sigilo e da privacidade dos (as) participantes, durante todas as suas
fases e de que não haveria qualquer custo ou ônus pela sua participação, nem recebimento de
qualquer valor, ou benefício, a qualquer título, salvo os benefícios oriundos dos próprios
resultados da pesquisa, que poderiam vir a contribuir com a sociedade.
O banco de dados deste estudo foi construído com base na ferramenta da Web 2.0, o
Google Docs, selecionada para elaboração, disponibilização e avaliação dos questionários.
Esses continham informações sobre a pesquisa, estavam em linguagem acessível de modo a
minimizar possíveis interpretações dúbias, bem como continham informações sobre o seu
correto preenchimento, prazo e meios para devolução.
pesquisa, foram solicitadas respostas de múltipla escolha. Por questões éticas e visando
preservar a dignidade da pessoa humana, bem como evitar possíveis represálias aos (às)
estudantes, os formulários não possuíam espaços destinados a citar nome ou características
pessoais, nem dos (as) estudantes nem de eventuais docentes assediadores (as).
Em relação à segunda fase, a coleta dos dados deu-se por meio da realização de
entrevistas. Destaca-se a relevância desse instrumento, uma vez que possui um alto potencial
informativo. Para Yin (2001):
As entrevistas são uma das mais importantes fontes de informação para um estudo
de caso, muito embora se possa ficar surpreso com essa conclusão, por causa da
associação usual que se faz das entrevistas com método de levantamento de dados.
Mas, as entrevistas, não obstante, também são fontes essenciais de informação para
o estudo de caso e podem assumir diferentes formas (YIN, 2001, p. 112).
Como se constitui fonte essencial de informação para o estudo de caso, optou-se por
esse instrumento. Ainda considerando o método de coleta de dados escolhido para a segunda
fase, destaca-se que, para conhecer os discursos dos (as) estudantes, optou-se pela realização
de entrevista semiestruturada. Segundo Gil (2009), a entrevista é uma das propostas mais
utilizadas para a coleta de dados quando se trata de um estudo de caso.
Assim, dos (as) 48 (quarenta e oito) estudantes que se dispuseram a contribuir com a
pesquisa em sua segunda fase, foram sorteados (as) 14 (quatorze) para participarem das
entrevistas. Esses se disponibilizaram a apresentar suas memórias, sentimentos e relatos e
suas contribuições constituíram-se em importantes fontes de informação para o estudo de
caso, para a elaboração e análise dos Discursos do Sujeito Coletivo (DSC).
O restante dos (as) estudantes que não foram sorteados (as) para participar das
entrevistas compuseram um cadastro de reserva, caso houvesse desistência de alguém, o que
não ocorreu.
Deste modo, os (as) educandos (as) sorteados (as) precisaram assinar o Termo de
Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) para participar das entrevistas semiestruturadas. No
termo foi solicitada a autorização para gravação em áudio das respostas da entrevista,
conforme o roteiro previamente apresentado ao (a) educando (a) para o seu aceite e
162
aprovação.
Em relação à elaboração das perguntas para as entrevistas, não se pode perder de vista
as orientações de Gil (2002), segundo as quais para se escolher as perguntas se deve
considerar alguns pressupostos: as perguntas devem ser realmente importantes; que as
pessoas possuam conhecimentos suficientes para respondê-las; que as palavras empregadas
apresentem significação clara e precisa; que as perguntas não estejam ordenadas de maneira
tal que os pesquisados sejam obrigados a grandes esforços mentais (GIL, 2002, p. 118).
Registre-se a pesquisa não teve como objetivo conhecer, nem identificar, nem divulgar
o nome de possíveis professores (as) assediadores (as), nem de qualquer outro (a) profissional
ou estudante. Esperava-se, ao final da pesquisa, identificar as percepções dos (as) estudantes
em relação às memórias do assédio moral ocorrido no ambiente acadêmico e quais as
consequências e interferências desse tipo de violência na dinâmica da aprendizagem.
Cabe relatar que, caso, eventualmente, algum (a) estudante tenha citado ou
identificado algum (a) docente ou outro (a) profissional da educação na segunda fase da
pesquisa, essas informações foram omitidas dos resultados da pesquisa, conforme os mesmos
procedimentos descritos na primeira fase, visando resguardar qualquer lesão ao nome,
imagem ou dignidade da pessoa humana dos (as) professores (as) e demais profissionais.
Eles/elas não foram identificados (as) em nenhuma hipótese por seus nomes ou características
pessoais, sendo que, durante as entrevistas, quando algum (a) era citado (a), utilizava-se o
código: P-1; P-2; P-3; P-4; P-5 e P-6... para identificação. Na transcrição das entrevistas, os
nomes foram substituídos pela letra P, seguidos do sequencial numérico.
Com base nessas considerações, teve-se o máximo de cautela para que os registros
fossem fidedignos. Insta ainda observar que características como habilidade, cautela,
fidedignidade e sensibilidade são fundamentais para registrar as nuances de uma entrevista.
Como bem orienta Yin (2001), são pontos positivos da entrevista, a possibilidade de
focar diretamente no tópico do estudo de caso e facilitar a inferência de causas. Por outro
lado, o autor aponta como pontos negativos a possibilidade de uma visão tendenciosa devido
a questões mal formuladas; a existência de imprecisões devido à memória fraca do
entrevistado; a reflexibilidade – o entrevistado respondendo o que o pesquisador quer ouvir; e
respostas tendenciosas.
A escolha dos (as) estudantes entrevistados (as) se deu por meio de sorteio. Dos 48
(quarenta e oito) que haviam se disponibilizado a participar da segunda fase da pesquisa, foi
definida uma amostragem de (5%) do total de participantes, ou seja, 5% dos 280 (duzentos e
oitenta) estudantes que participaram da primeira fase.
seja, ao final da análise das falas individuais, tem-se, como resultado, depoimentos coletivos
confeccionados a partir de extratos de distintos depoimentos individuais. Esses depoimentos
coletivos escritos na primeira pessoa do singular objetivam produzir, no receptor, o efeito de
um posicionamento coletivo (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2003, 2006; PAIXÃO et al., 2013).
Assim, do ponto de vista metodológico, o DSC pode ser entendido como um meio de
organizar e tabular dados qualitativos verbais, obtidos por meio de coleta de dados, seja
utilizando como instrumento a entrevista, o questionário, ou informações obtidas de
declarações em jornais, revistas ou reportagens. Daí, passa-se a utilizar as figuras
metodológicas: expressões-chave, ideias centrais e ancoragens. Com base nos excertos
retirados dessas fontes são realizadas descrições literais dos depoimentos (LEFÈVRE;
LEFÈVRE, 2005). A análise das entrevistas e construção dos DSC deu-se por meio do
seguinte fluxo (FIGURA 7):
escrito, que contêm a essência do que foi apresentado. Esses trechos e excertos devem ser
devidamente destacados pelo pesquisador. A partir das expressões-chave é examinada a Ideia
Central (IC) do texto ou fala, reduzida a uma expressão linguística ou termo, cuja função é
discriminar e classificar cada sentido ou posição, sendo que deve caracterizar, revelar,
nomear.
Tanto uma como a outra remetem explicitamente a uma afirmação que se denomina
Ancoragem (AC), que é a expressão de uma dada teoria ou ideologia que o autor do discurso
professa e que está diluída no seu discurso como se fosse uma afirmação qualquer. Só haverá
ancoragem no depoimento se houver marcas discursivas explícitas dela.
Isso posto, após análise detalhada das expressões-chave, das ideias centrais e, quando
necessário, das ancoragens, utilizou-se a seguinte estrutura para a apresentação dos DSC:
Quanto à abordagem, esta pesquisa teve caráter qualiquantitativo, visto que integrou
dados qualitativos e quantitativos numa mesma investigação. Nesse tipo de pesquisa faz-se
uso de métodos quantitativos e qualitativos, de modo a superar a pseudo dualidade das
abordagens, o que permite uma maior compreensão do tema pesquisado.
169
Diante do pensamento coletivo que se configura como uma variável quantitativa e dos
discursos que se apresentam como variável qualitativa, considerando os aspectos qualitativos
e quantitativos que se objetivava ter, esses nortearam a idealização e elaboração do discurso
do sujeito coletivo, na execução desta pesquisa. Sem esquecer que esse tipo de abordagem se
preocupa menos com a generalização e mais com o aprofundamento e a abrangência da
compreensão do grupo estudado.
Essa pessoa coletiva, representada pelos diversos discursos dos (as) estudantes, esteve,
assim, falando como se fosse um indivíduo, isto é, como um sujeito de discurso 'natural`, mas
que está veiculando uma representação de vários indivíduos, o que permite a emergência,
tanto qualitativa, quanto quantitativa, de uma opinião coletiva. Qualitativa porque se trata de
um discurso com conteúdo ampliado e diversificado, e quantitativa porque representa doze ou
mais sujeitos que contribuíram para a construção dos DSC (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2006).
Outrossim, faz-se necessário ressaltar que foi possível redigir um discurso na primeira
pessoa do singular, mas representando o pensamento coletivo. Neste ponto:
Para a reconstituição do Discurso do Sujeito Coletivo por meio da análise dos dados
das entrevistas de forma mais eficiente, principalmente no levantamento, nas falas
170
individuais, das Expressões-Chave (ECH) que tinham a mesma Ideia Central (IC) ou
Ancoragem (AC), foi utilizado o DSCsoft. Trata-se de um software projetado para o
desenvolvimento e análise de pesquisas qualiquantitativas por meio do método do Discurso
do Sujeito Coletivo - DSC.
Por meio do programa foi possível criar um banco de dados com as respostas
coletadas, classificá-las e posteriormente agrupá-las para a construção do discurso final. Além
disso, foi possível fornecer diversos resultados qualiquantitativos baseados nas respostas e nos
perfis dos (as) entrevistados (as). Os desenvolvedores do DSCsoft já realizaram outros
trabalhos em parceria com o Instituto de Pesquisa do Discurso do Sujeito Coletivo, desde o
ano de 2005, quando foi lançado o primeiro software de análise do Discurso do Sujeito
Coletivo, o Qualiquantisoft.
Por conseguinte, tratando-se esta pesquisa de estudo descritivo que se deu também por
meio de revisão sistematizada de literatura, a busca de fontes de informações foi realizada
entre julho de 2018 e junho de 2019. A investigação aconteceu nas bases de dados
acadêmicos - Banco de Periódicos da Capes e Scielo Brasil -, usando, como critério de busca,
textos completos no idioma português. Foram utilizados os descritores: assédio moral,
universidade, estudantes, ensino superior, faculdades, professores. A pesquisa foi realizada
com a leitura das obras disponíveis e produzidas entre os anos de 2000 a 2019.
Diante do exposto, inicialmente foram encontrados mais de 7.000 (sete) mil textos
relacionados com o tema assédio moral. Em princípio foram utilizados como critério de
exclusão, artigos, monografias, dissertações e teses que fossem exclusivamente sobre assédio
moral no âmbito laboral. Após chegar a uma quantidade de cerca de 100 (cem) documentos,
também foram excluídos: aqueles cuja temática apresentada nos resumos não era compatível
com os objetivos da pesquisa; aqueles cujos títulos divergiam do tema; e aqueles que se
repetiam nas diferentes bases pesquisadas. Foi empregado ainda, como critério de exclusão, o
ano de publicação, de modo que foram eliminados artigos anteriores ao ano 2000, bem como
aqueles que tratavam do assédio moral apenas de forma transversal.
Para o descritor assédio moral, foram utilizados, como critério de escolha, artigos,
monografias, dissertações e teses que tivessem como assunto principal o assédio moral
173
(Continua...)
174
(Continuação)
(Continua...)
175
(Conclusão)
Nesse sentido, para uma avaliação inicial dos instrumentos de coleta, foi realizado um
projeto piloto, considerado uma estratégia metodológica que auxilia o pesquisador a validar o
instrumento de pesquisa desenhado, uma vez que é aplicado e analisado antes de o
pesquisador entrar efetivamente em contato com os sujeitos delimitados para o estudo.
Por seu turno, Yin (2005, p. 104) denomina essa estratégia de estudo de “caso piloto”,
explicando que: “O estudo de caso piloto auxilia-o na hora de aprimorar os planos para a
coleta de dados tanto em relação ao conteúdo dos dados quanto aos procedimentos que devem
176
“O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o
mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer.”
(ALBERT EINSTEIN)
A primeira fase da pesquisa sobre assédio moral no espaço acadêmico foi realizada
com 280 (duzentos e oitenta) estudantes de 03 (três) cursos superiores da área de engenharia.
Os cursos escolhidos foram: engenharia elétrica, engenharia ambiental e engenharia civil. No
primeiro momento foi aplicado um questionário com trinta (30) questões, das quais 27 (vinte
e sete) eram objetivas e 03 (três) subjetivas (GRÁFICO 1).
178
Esses dados representam que pouco mais de um quarto dos (as) estudantes estão
regulares em relação ao fluxo normal do curso. No contexto da educação superior, isso indica
que cerca de 70% dos (as) estudantes ficarão tempo adicional para completar a sua formação,
se considerado como referência o tempo médio estipulado institucionalmente para a conclusão
do curso.
A razão para essa retenção pode sinalizar diferentes dificuldades enfrentadas pelos (as)
estudantes para seguir a sequência ordinária do curso. Essa situação é um fenômeno complexo
e multifatorial que precisa ser cuidadosamente analisado, visto que pode ter relação também
com as situações de assédio moral pedagógico no espaço acadêmico, vivenciadas pelos (as)
estudantes.
(setenta e sete) informaram que se encontram com matrícula regular no curso, ou seja, que
estão seguindo o fluxograma previsto para a integralização dentro do prazo, sem pedidos de
quebra de pré-requisito, retenção, ou cursando disciplinas de outros semestres.
Evasão é o termo técnico utilizado para tratar do desligamento do (a) aluno (a) daquele
curso no qual ingressou. Uma das causas da evasão é a formação básica deficitária dos (as)
estudantes, sobretudo, em matemática e ciências. Os (as) estudantes se encontram irregulares
nos cursos por diferentes razões, dentre as quais, questões acadêmicas, problemas pessoais e
familiares, questões socioeconômicas.
Isso implica considerar que essas palavras representam como o assédio moral é
expressado e percebido no discurso dos (as) estudantes, a partir da sua visão de mundo e de
suas vivências. Ao todo, eles (as) apresentaram 19 (dezenove) termos para descrever assédio
moral. Evidenciam-se as palavras desrespeito, constrangimento, humilhação e abuso, que
apresentaram maior frequência na percepção dos (as) estudantes.
Todas essas palavras são carregadas de simbolismo forte. A significação delas gravita
em torno de situações de constrangimento e que configuram a prática do assédio moral
pedagógico: desconsiderar, desprezar, menosprezar, causar vergonha, desagradar, abater,
rebaixar, reduzir o outro por meio de pressão, intimidar, exercer violência contra alguém,
diminuir a posição ou prestígio, ferir o ego e a dignidade, levar ao chão, usar excessivamente
o poder, comportar-se inadequadamente, exorbitar as atribuições e usar ilegitimamente suas
prerrogativas. A representação completa do discurso dos (as) estudantes pode ser verificada a
seguir (FIGURA 9):
(Continua...)
184
(Conclusão)
Considera-se ainda, nesse mesmo contexto, que aparecem em menor quantidade, mas
não com menos importância e simbolismo, termos como: “rebaixamento”; “ofensa”;
“opressão”; “crime”; “covardia”; “intimidação”; “autoritarismo; “injustiça”; “rebaixamento”;
“abuso de autoridade; “idiotice” e “imoralidade”. Todas essas expressões afetam as
identidades individuais dos (as) estudantes, bem como ferem a dignidade da coletividade,
afrontando os direitos humanos. É por meio da desvalorização do (a) outro (a) que se vai
estabelecendo as estruturas do assédio moral pedagógico no espaço acadêmico.
Verifica-se que o discurso dos (as) entrevistados (as) expõe o assédio moral como uma
prática que ultrapassa as regras sociais, fugindo dos bons costumes e ultrapassando limites
éticos e morais. A partir do relato dos (as) estudantes e de suas memórias, foi possível
construir o DSC e identificar um conceito que relaciona o abuso de poder, a humilhação e o
constrangimento.
Considerando que os (as) estudantes já dispunham de uma ideia inicial sobre o tema,
apresentou-se um conceito de assédio moral, definindo-o como: “um tipo de violência por
meio da qual determinada pessoa humilha, constrange, ofende e ataca a dignidade de outra a
partir de sua posição social, hierárquica ou de poder, de forma intencional e repetitiva”. Em
seguida, perguntou-se: Nas relações de ensino, no contexto do seu curso de graduação,
alguma vez você teve a percepção de ser assediado (a) moralmente por algum (a)
docente?
Destaca-se que o assédio moral foi conceituado como violência empreendida a partir
da posição social, hierárquica ou de poder, por meio da qual o (a) agressor (a) humilha,
constrange e ataca a dignidade alheia, de forma intencional e repetitiva. A partir dessas
186
Com base nesses dados, é possível fazer algumas inferências. O número de pessoas do
sexo feminino que tiveram a percepção de assédio moral é maior do que o número de pessoas
do sexo masculino, o que acompanha a maioria das pesquisas realizadas no Brasil e no
mundo. Entretanto, o que se nota é que esses percentuais de pessoas que já tiveram a
187
percepção de serem assediadas são altos tanto entre mulheres, como entre homens. De igual
modo, chama a atenção o fato de a diferença entre os dois sexos ser pequena - de apenas 3,9%
-, sendo 59% masculino, contra 62,9% feminino.
Outro ponto a destacar foi o fato de o percentual de pessoas que já tiveram a percepção
de serem assediadas ser maior entre aqueles (as) que preferiram não declarar o seu sexo 66%.
Esse dado pode representar uma série de questões. Ressalta-se que a pergunta sobre sexo,
nesta pesquisa, foi utilizada enquanto identificação biológica. Sabe-se que o gênero é uma
construção social e vai para além do sexo, tendo relação com a autopercepção (social,
cultural). É plenamente possível que uma pessoa que tenha se identificado como do sexo
masculino (biológico), adote uma vivência de gênero discordante do sexo que lhe foi
atribuído. Trata-se de uma questão de identidade, e não um transtorno. Identidade de gênero e
orientação sexual são dimensões diferentes e que não se confundem (JESUS, 2012).
Pode ser que no expressivo e doloroso percentual 66% de pessoas que preferiram não
declarar o seu sexo encontrem-se lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e
transgêneros. Até porque, o número de relatos sobre situações e comportamentos relacionados
a preconceito, discriminação e a piadas homofóbicas, sexistas e de cunho sexual foi altíssimo.
Como já apresentado nesta pesquisa, o assédio moral não é um fato novo na história da
humanidade, embora alguns o considerem como tipicamente contemporâneo. Nesse sentido, a
partir dos dados coletados, foi possível identificar que 57,9% dos (as) estudantes que
participaram da pesquisa possuem a percepção de já terem sido assediados (as) moralmente
em suas relações pedagógicas, no contexto do curso de graduação, por algum (a) docente ou
outro (a) profissional da educação. Dessa forma, praticamente seis em cada dez estudantes já
sofreram assédio moral pedagógico na IES pesquisada. Foram exatamente 162 (cento sessenta
e dois) estudantes que responderam afirmativamente que já haviam tido a percepção de serem
assediados (as). Do montante pesquisado, 35,4% declararam nunca terem sido assediados (as)
e 6,7% deixaram a questão em branco (GRÁFICO 5).
188
Diante desse quadro, foi possível identificar outras informações complementares por
meio do instrumento de coleta. Ao se comparar os dados, identificou-se que, entre os (as)
participantes que já haviam se sentido assediados (as), 41 (quarenta e um) estudantes
informaram ter conversado com algum (a) servidor (a) da instituição sobre o fato ocorrido,
mesmo sem formalizar oficialmente uma denúncia. Além disso, no levantamento, constatou-
se que 13 (treze) estudantes disseram já ter efetuado algum tipo de denúncia formal para
algum órgão/setor da instituição. A pesquisa apresentou, ainda, que 25 (vinte e cinco)
estudantes relataram que algum órgão da IES foi omisso ou partícipe do(s) fato(s)
relacionados ao assédio moral pedagógico. Destaca-se, que apenas 06 (seis) estudantes, dentre
os (as) que conversaram com algum (a) servidor (a) ou oficializaram a denúncia, relataram
que a resposta e as medidas adotadas pela instituição foram satisfatórias.
dos demais profissionais da educação e que podem ser consideradas como assédio moral
pedagógico no espaço acadêmico ou em qualquer outro espaço de ensino.
A partir dos relatos e do discurso dos (as) estudantes, por meio de suas memórias e
lembranças, foram identificadas 18 (dezoito) categorias (situações e comportamentos)
(QUADRO 6), a saber:
01 Abandono do trabalho em sala de aula Abandonar o espaço de trabalho. Deixar os (as) alunos
(as) sem acompanhamento. Afastar-se da sala de aula ou
espaço acadêmico por um longo período, sem
justificativa e sem comunicação prévia.
02 Acusação agressiva e sem provas Acusar de forma agressiva os (as) estudantes. Imputar
uma falta, um erro, censurar um comportamento do (a)
estudante de forma agressiva. Realçar e destacar alguma
coisa sem que o (a) aluno (a) tenha realizado. Acusar o
(a) estudante de: fraude/cola na prova; falsa doença;
mentira para não fazer a avaliação.
03 Agressão Física Agredir a integridade física dos (as) estudantes. Atentar
contra a integridade física do (a) estudante. Causar lesão
corporal, seja empurrando, lançando objetos, impedindo
o (a) aluno (a) de entrar em sala de aula à força. Tomar
objetos ou avaliações abruptamente, de modo a
machucar fisicamente o (a) estudante.
04 Agressão verbal Agredir verbalmente os (as) estudantes. Pronunciar
palavras ofensivas, de baixo calão; insultar; xingar; ser
agressivo (a); proferir palavras danosas, com a intenção
de ridicularizar, humilhar, rebaixar, manipular e
intimidar o (a) estudante.
05 Ameaça aos alunos Ameaçar outra pessoa. Fato, ação, gesto ou palavra do
(a) docente ou profissional da educação cuja promessa
possa causar intimidação, medo e/ou terror. É o sinal, a
promessa ou indício de que fará acontecer algo
desfavorável ao (à) estudante, seja ameaça de uma
reprovação, de colocar para fora da sala, de dificultar o
nível da avaliação.
06 Assédio sexual Assediar sexualmente os (as) estudantes. Constranger o
(a) discente com o intuito de obter vantagem ou
favorecimento sexual, sem o seu consentimento. Praticar
contra o (a) estudante e sem a sua anuência, ato
libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia
ou de outrem. Prometer tratamento diferenciado em caso
de aceitação de forma clara ou sutil, falada ou insinuada,
com gestos ou por escrito. Pressionar o (a) aluno (a) para
participar de encontros e saídas. Ameaçar de forma
velada ou explícita, de represálias, como a de reprovação
se o (a) educando (a) não aceitar manter contato.
(Continua...)
190
(Continuação)
(Continua...)
191
(Continuação)
13 Rebaixamento da capacidade cognitiva do é afirmar que determinado (a) estudante não pode cursar
(a) estudante esta ou aquela graduação por falta de capacidade; é
exibir e mostrar que, enquanto professor (a), está em um
nível muito superior de conhecimento em relação ao
estudante. É fazer-se inalcançável para um (a) estudante
e não aceitar argumentos, opiniões e os conhecimentos
deste (a), pelo fato de o (a) mesmo (a) estar em um nível
inferior de escolaridade. É mostrar publicamente que o
(a) estudante não teve competência para alcançar uma
nota ou realizar uma atividade. Abater o ânimo do (a)
estudante em relação às suas realizações acadêmicas.
14 Recusa em realizar o trabalho docente Recusar-se a manter comportamento compatível com a
adequadamente dignidade e a ética profissional. Negar-se a ministrar
aula, sanar dúvidas, explicar novamente o assunto,
realizar avaliação em segunda chamada. É atentar contra
a dignidade e grandeza da profissão docente.
15 Tratamento com parcialidade Tratar com parcialidade determinados (as) estudantes.
Não agir em sala de aula com a devida equidade e
imparcialidade. Demonstrações de apreço, carinho,
indiferença e repulsa por diferentes estudantes. É quando
o (a) professor (a) privilegia um (a) aluno (a) em
detrimento do (a) outro (a). Deferir pedidos de
aproveitamento, revisão de prova, estender prazos de
avaliações, oferecer segunda chance a apenas
alguns/algumas alunos (as).
16 Tratamento discriminatório e Tratar de forma preconceituosa e discriminatória. É o ato
preconceituoso de diferenciar pessoas por meio do tratamento
dispensado em sala de aula. São todas formas de tratar as
pessoas como se elas não fossem iguais em direitos e
deveres perante a lei. É o ato de não aceitar o diferente,
é uma opinião desfavorável sobre o (a) estudante,
baseada em dados subjetivos e generalizações, sobretudo
por questões de intolerância. A discriminação e o
preconceito podem ser por questões étnico-raciais, de
gênero, relacionadas a questões sexuais, de faixa etária,
deficiência física, de peso, de aparência, religiosas,
socioeconômicas, linguísticas ou contra grupos
minoritários. Toda vez que o (a) docente marginaliza,
trata com diferenciação, aplica tratamento distinto a
determinado (a) estudante, ele (a) pode estar
discriminando e sendo preconceituoso (a).
17 Cyber assédio moral pedagógico por meio Usar diferentes tecnologias da informação e
do uso das Tecnologias da Informação e comunicação (aparelhos eletroeletrônicos, redes sociais,
Comunicação – TICs novas mídias, aplicativos, celulares) para agredir,
constranger, intimidar, humilhar, insultar, amedrontar e
expor o (a) estudante.
18 Uso inadequado de instrumentos Usar de forma inadequada os instrumentos pedagógicos
pedagógicos com a finalidade de prejudicar os (as) estudantes.
Realizar qualquer atividade acadêmica fora dos padrões
pedagógicos usuais, razoáveis e proporcionais às séries,
habilidades, competências e conhecimentos do (a)
estudante, de modo a causar-lhe prejuízo à aprendizagem
e ao seu desempenho acadêmico e cognitivo se configura
como assédio moral. Cobrar mais conteúdo do que o
(Continua...)
192
(Conclusão)
Assim, com base nos depoimentos recolhidos por meio das entrevistas e questionários,
foi possível construir o Discurso do Sujeito Coletivo – DSC, que representa os pensamentos e
sentimentos do grupo de estudantes em relação às categorias (situações e comportamentos)
identificados no quadro acima e que se repetiram nos discursos individuais. Cada categoria
(situações e comportamentos) de assédio moral pedagógico foi identificada nos discursos
individuais como uma Ideia Central e os discursos foram agrupados (discursos-síntese) de
modo a possibilitar a construção dos DSC. Destaca-se que o discurso dos (as) estudantes foi
mantido, sem mudanças no sentido, acréscimos de ideias ou correções gramaticais.
Uma das ideias centrais abordadas pelos (as) estudantes foi o abandono do trabalho em
sala de aula (QUADRO 7). Do ponto de vista quantitativo, parece que essa é uma prática que
ocorre algumas vezes, mas não com tanta frequência como outras apontadas pelos (as)
estudantes. No entanto, qualitativamente, ela é apontada como extremamente prejudicial ao
aprendizado e considerada como nociva ao ambiente acadêmico pelos (as) entrevistados (as).
De acordo com a LDB, em seu art. 13, o (a) docente deve ministrar os dias letivos e
horas-aula estabelecidos de forma integral. Qualquer ação que fuja desse padrão pode ser
devidamente questionada junto às instâncias superiores da IES.
193
Nesse mesmo sentido, foi relatado como forma de assédio moral no espaço acadêmico,
o fato de os (as) docentes acusarem os (as) estudantes de forma agressiva e sem provas
(QUADRO 8). O DSC construído conseguiu identificar que muitas vezes os atestados
médicos apresentados por estudantes são ignorados. Da mesma forma, os (as) alunos (as) são
acusados (as) de estarem tentando burlar as normas para não realizar as atividades avaliativas.
De acordo com o discurso dos (as) estudantes, eles (as) são acusados de serem
mentirosos (as) e apresentarem desculpas para não realizar as atividades avaliativas. Ainda de
acordo com os relatos, são acusados (as) por professores (as) de não terem responsabilidade.
194
Acusar alguém publicamente de fato tipificado como crime, sem provas, é calúnia. Por
sua vez, ainda que o (a) profissional da educação esteja falando a verdade, se estiver
imputando ao estudante um ato desonroso, que lhe prejudique a reputação, poderá responder
pelo crime de difamação. O espaço acadêmico não é ambiente salutar para acusações,
sobretudo sem provas. Quem assim agir, poderá lhe ser imputado, além dos crimes acima
descritos, a acusação de assédio moral pedagógico ou, no mínimo, de ter cometido atos
assediosos.
Ainda sobre possíveis faltas dos (as) estudantes por conta de questões de saúde, o
Decreto-lei nº 1.044, de 1969, devidamente recepcionado pela Constituição Federal de 1988,
em seu art. 205, assegura “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família” e
dispõe sobre tratamento excepcional para os (as) alunos (as) enfermos (as):
Deste modo, o (a) estudante que apresentar a IES o laudo médico correspondente à
enfermidade de que estiver acometido, terá direito a tratamento excepcional e, como forma de
compensar suas ausências às aulas, o docente deve atribuir exercícios domiciliares, com
acompanhamento da escola. Nesse sentido, deve o (a) docente ter maior cautela e cuidado ao
se manifestar sem as devidas provas, sob pena de incorrer na prática do assédio moral.
Esses são direitos assegurados aos estudantes e toda forma de impedi-los, por meio de
acusação agressiva e sem provas, configura-se nitidamente como uma forma episódica de
assédio moral pedagógico.
Embora tenham havido relatos de situações em que os (as) educandos (as) já ouviram
ou tomaram conhecimento, por meio de colegas, que profissionais da educação lançaram
objetos em estudantes e até mesmo apertaram braços ou empurraram alunos (as), tais atos não
foram identificados como ocorridos nesta IES.
(Continua...)
197
(Conclusão)
Mais uma vez, esse tipo de comportamento destoa totalmente do que se espera de uma
atuação ética e profissional de um (a) docente em sala de aula. Não se pode aceitar que ações
desse cunho sejam albergadas institucionalmente, sem que ocorra nenhum tipo de apuração
e/ou punição aos (às) agressores (as). Nesse sentido, cumpre destacar que a IES responde
objetivamente pela incolumidade física e moral dos (as) estudantes nela matriculados(as) e
que tem o dever institucional de fiscalizar a atuação de seus (as) profissionais.
Assim, o (a) estudante, enquanto parte mais frágil e vulnerável nas relações
pedagógicas e nos processos de ensino e aprendizagem, não pode ser vitimado (a) e agredido
(a) com um arsenal de palavras odiosas diante dos (as) seus colegas e até de pessoas
estranhas. Atos isolados de assédio ou importunação assediosa ferem a dignidade da pessoa
humana dos (as) estudantes e tornam o ambiente acadêmico tóxico e hostil.
Em diferentes pesquisas foi constatado que existe um alto nível de dificuldade para
que as pessoas se revelem como vítimas de assédio moral. Por essa razão, foram tomados
todos os cuidados para resguardar o sigilo das fontes e evitar quaisquer formas de
identificação tanto das vítimas, como dos (as) agressores (as). Em todas as situações de
aplicação dos questionários ou de realização das entrevistas, os (as) participantes foram
alertados (as) sobre o tripé que compõe o assédio moral: o dano que é gerado para a vítima, a
repetição no tempo e o direcionamento a um alvo específico (pessoa ou grupo).
A partir dessas considerações, de igual sorte, compete registrar que não foram poucos
(as) os (as) estudantes que relataram ter sofrido algum tipo de ameaça por parte de um (a)
docente ou outro (a) profissional da educação (QUADRO 10). Ainda que em tom jocoso, as
falas dos (as) docentes na memória e nos relatos dos (as) estudantes aparecem como forma de
agressão, sendo classificadas por eles (as) como situações de assédio moral. Sobre ameaça, foi
198
Nesse contexto, duas vertentes dessas declarações podem ser verificadas. Em primeiro
lugar, no que diz respeito ao argumento empreendido por alguns (as) docentes, segundo
relatado pelos (as) estudantes, de que as ameaças são meramente motivacionais. Considera-se
descabido esse tipo de tentativa de motivar os (as) estudantes, visto que a ameaça, por si só, já
constitui um fato gravíssimo contra a dignidade dos (as) estudantes. Por outro lado, caso essa
ameaça de fato seja consumada, haverá a efetivação do assédio moral e do dano moral aos
estudantes.
(Continua...)
199
(Conclusão)
A partir do DSC apresentado, verifica-se que não se trata apenas de agressão verbal ou
uso de linguagem abusiva. Os relatos remetem a situações de assédio sexual, que é uma das
formas mais humilhantes de assédio, visto que fere e agride frontalmente a dignidade e a
intimidade da vítima.
O assédio sexual pode ser direto, com solicitações de caráter sexual ou envio de
material pornográfico, no entanto, costuma vir travestido de: convites insistentes para ir a
locais sem relação com o ambiente acadêmico; toques indesejados no ombro, nos braços e
mãos; comentários constrangedores sobre a figura do gênero e sexo oposto; comentários
ousados sobre traços da beleza; brincadeiras tipicamente sexistas; elogios sobre dotes físicos;
piadas pejorativas à sexualidade; perguntas embaraçosas sobre a vida pessoal, sobretudo
relacionadas a parceiros (as); insinuações sobre vestimentas; contato físico para além do
200
Esse tem sido o entendimento recente dos tribunais, visto que o vínculo de confiança e
admiração entre professor (a) e aluno (a) pressupõe inegável nível de superioridade,
equiparado à subordinação hierárquica, com capacidade para alterar o ânimo da pessoa
perseguida. Em recentes julgados, a fundamentação tem sido no sentido de que se revela
patente a aludida ascendência do (a) docente assediador (a) sobre o (a) estudante, em virtude
do seu cargo ou 'função', dada a atribuição que tem a cátedra de interferir diretamente no
desempenho acadêmico do (a) estudante, situação que gera o receio da reprovação.
Faço lembrar que o professor está presente na vida de crianças, jovens e também
adultos durante considerável quantidade de tempo, torna-se exemplo de conduta e os
guia para a formação cidadã e profissional, motivo pelo qual a 'ascendência'
constante do tipo penal, objeto deste recurso, não pode se limitar à ideia de relação
empregatícia entre as partes (SUPERIORIDADE, 2019, n.p.).
A partir das entrevistas foi possível encontrar, ainda, outros relatos de atos de assédio
moral pedagógico. Um grupo de estudantes apresentou considerações sobre a reiteração de
comentários depreciativos (QUADRO 12) que sofreram em sala de aula. O DSC ficou
organizado do seguinte modo:
201
A esse respeito, com base no discurso do sujeito coletivo, pode-se concluir que os (as)
estudantes não tinham seus direitos como cidadãos respeitados e que a educação pública,
gratuita, de qualidade e referenciada socialmente estava lhes sendo negada.
Os (as) participantes, com se pode ler no DSC, queixam-se de situações em que são
expostos a constrangimentos em sala de aula. Observa-se, assim, que esses dados demonstram
o desafio que a IES tem de enfrentar para combater todas as formas de assédio moral. A
exposição a situações vexatórias ultrapassa a tóxica linguagem abusiva ou o humilhante
rebaixamento da capacidade cognitiva do (a) estudante. Esse tipo de exposição contribui para
o abalo da autoestima dos (as) estudantes e para o isolamento social.
autorizados. A intimidade, por sua vez, está ligada ao direito de se preservar do conhecimento
alheio, evitando o acesso a informações de trato íntimo, ligadas às relações subjetivas e a um
círculo restrito de pessoas. O DSC que foi construído sobre invasão de privacidade e
intimidade apresenta o seguinte relato (QUADRO 15):
Não muito diferente é o DCS apresentado a seguir, no qual os (as) estudantes relatam
isolamento, exclusão e recusa de comunicação por parte dos (as) docentes (QUADRO 16),
itens que são reconhecidamente marcas distintivas da prática de assédio moral.
205
A presença desse relato no discurso dos (as) estudantes é causa para que a IES
investigue e apure com maior rigor os fatos. Essa prática se aproxima do que Hirigoyen
(2017) enquadra como subgrupo de assédio relacionado com a hierarquia, denominado de
assédio perverso, visto que tem, como objetivos meramente gratuitos, eliminar o outro ou
valorizar o próprio poder.
Outra categoria que ganhou relevância nos relatos e precisa ser destacada é a do uso da
linguagem abusiva por parte dos (as) docentes. Observa-se que a maioria dos (as) estudantes,
quando questionados (as) sobre esse tema, respondeu que já havia sofrido assédio moral em
206
O DSC construído a partir dos relatos e memórias dos (as) estudantes sobre a categoria
linguagem abusiva (QUADRO 17) representa um ponto importante no levantamento das
formas como o assédio moral pedagógico se apresenta no espaço acadêmico. Isso porque a
comunicação entre professores (as) e estudantes é algo intrínseco às relações pedagógicas e
aos processos de ensino e aprendizagem.
Cabe registrar também que esse DSC sobre linguagem abusiva foi minerado a partir de
depoimentos individuais, os quais foram abstraídos e investigados pelo crivo analítico do
pesquisador, com o objetivo de serem transformados em produtos cientificamente tratados. A
partir do relato apresentado, pode-se afirmar que é nesse contexto de falas, expressões,
sentimentos e memórias afetivas que os (as) estudantes, sujeitos da pesquisa, conseguem
mostrar que foram afetados (as) por comportamentos que caracterizam a prática do assédio
moral pedagógico. Ainda de acordo com esse DSC, um (a) mesmo (a) estudante enfrentou
diferentes atos de assédio.
Nesse sentido, o DSC sobre rebaixamento da capacidade cognitiva (QUADRO 18) foi
construído a partir dos relatos e memórias dos (as) estudantes e apresenta expressões fortes
como “burros” e “meninas não são criadas para pensar”.
O (a) docente, em seu fazer pedagógico, também tem um papel motivador e essa
motivação tem o sentido de estimular os (as) estudantes para fazê-los (as) mudar de direção,
alcançar um objetivo, atingir um alvo, que deve ser sempre melhorar a sua formação
(BZUNECK, 2001). O ato motivador estimula a outra pessoa e a põe em posição de ação, a
ponto de fazê-la mudar o curso de seus propósitos.
(a) estudante frente à sua própria capacidade. Ignorar essa condição pode provocar
expectativas negativas para o (a) aluno (a) sobre sua própria aptidão.
Guimarães (2001, p. 50) aponta que os (as) alunos (as) se interessam pelos conteúdos,
a partir de três fatores: “motivação intrínseca, motivação extrínseca e uso de recompensas na
sala de aula”. Essa motivação extrínseca está diretamente relacionada com a ação do (a)
professor (a), que pode se apresentar como esse agente externo nos processos de ensino e
aprendizagem. O (a) professor (a), considerando sua posição de poder, credibilidade e de
superioridade hierárquica, pode persuadir verbalmente o (a) estudante sobre sua capacidade,
de modo a ajudá-lo (a) a obter êxito (BANDURA, 1986).
Diante dessa realidade, outro ponto abordado pelos (as) estudantes tem relação com o
profissionalismo dos (as) educadores (as). A partir dos dados colhidos nas entrevistas com
(as) estudantes, foi possível identificar que a recusa dos docentes em realizar seu trabalho
adequadamente também é uma categoria que se destaca entre as práticas comuns adotadas e
que são percebidas pelos (as) estudantes como forma de assédio moral. Essas muitas falas são
variáveis quantitativas da pesquisa, na medida em que expressam as opiniões compartilhadas
por um quantitativo de indivíduos, que configura a coletividade pesquisada.
O DSC a seguir apresenta a síntese dos relatos, sob a perspectiva dos (as) estudantes,
da conduta dos (as) docentes em sala de aula, relacionada principalmente à recusa em realizar
adequadamente o trabalho docente:
210
As condutas elencadas pelos (as) estudantes afrontam o estabelecido na LDB, que, por
seu turno, preconiza que os (as) docentes, no seu fazer profissional, estão incumbidos dos
seguintes deveres: participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de
ensino; elaborar e cumprir o seu plano de trabalho; zelar pela aprendizagem dos (as) alunos
(as); estabelecer estratégias de recuperação para aqueles (as) que obtiverem menor
rendimento; ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos no calendários acadêmico e na
legislação vigente; participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à
avaliação; e ainda, colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a
comunidade (BRASIL, 1996).
Percebe-se, a partir dos relatos, que saídas da sala de aula, uso inadequado do tempo,
recusa em sanar dúvidas, cobrança de conteúdos não previstos e não ministrados e despreparo
pedagógico são situações que afrontam os deveres dos (as) docentes, conforme previsto no
art. 13 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB, que define e regulariza a organização
da educação brasileira com base em princípios constitucionais. Esse tipo de conduta é
antiética e fere os deveres funcionais do (a) docente, podendo ser devidamente investigada e
punida pela IES (BRASIL, 1996).
Outrossim, no material coletado foi possível identificar, como forma de assédio por
211
parte dos (as) docentes, o tratamento com parcialidade dispensado a determinados (as)
estudantes (QUADRO 20). Nas entrevistas, os (as) participantes da pesquisa deixaram claro
que não são todos (as) os (as) docentes que se comportam dessa forma. Segundo as
descrições, trata-se de um grupo diminuto de professores (as), mas essa minoria acaba por
gerar instabilidade e medo, deixando o ambiente de aprendizado e convivência prejudicados.
Diante disso, parte dos (as) estudantes se sentem injustiçados (as). O DSC foi delineado do
seguinte modo:
Assim, essa narrativa apresenta uma breve contextualização de como, muitas vezes,
ocorre o tratamento não isonômico por parte dos (as) docentes. Práticas como receber
trabalhos e avaliações fora do prazo de apenas alguns/algumas alunos (as), privilegiar um (a)
estudante em detrimento de outro (a), oferecer tratamento diferente para estudantes do sexo
feminino, dedicar tratamento diferenciado a estudantes que se encontram nas mesmas
condições, por preferências pessoais, tratar com sexismo, ser rigoroso com um grupo por
questão de gênero – essas são práticas percebidas e criticadas pelos (as) educandos (as).
Acrescente-se que o (a) docente não deve favorecer nem prejudicar os (as) educandos
(as) em virtude de convicções políticas, sexuais, de gênero, ideológicas, de idade, religiosas,
físicas, mentais ou geográficas. São exemplos de tratamento diferenciado que é permitido pela
legislação: a) reserva de vagas por meio da política de cotas raciais, com reserva legal de 50%
de vagas nas instituições de ensino superior para os (as) estudantes do ensino médio em
instituições pública, estabelecida na Lei nº 12.711 (BRASIL, 2012); b) atendimento
educacional especializado às pessoas deficientes, devendo ocorrer, de preferência, na rede
regular de ensino, conforme previsto no Art. 208, inciso III da Constituição Federal
(BRASIL, 1988); c) reserva aos negros de 20% das vagas oferecidas nos concursos públicos
para provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração pública
federal, das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de
economia mista controladas pela União, previsto na Lei nº 12.990 (BRASIL, 2014).
Percebe-se nos relatos dos (as) estudantes entrevistados que, em sala de aula, eles
214
Nesse sentido, Bandeira e Batista (2002, p. 127) apontam que, pela sua “sutileza,
caráter difuso e capilaridade de intromissão nas relações sociais, a eficácia e a ubiquidade do
preconceito são máximas, tanto em relação às práticas de controle, como às de dominação e
subordinação”. Essa capilaridade é extensiva a todas as categorias sociais, produzindo e
reproduzindo diferentes situações de controle, intimidação, menosprezo, fracasso e exclusão
(BANDEIRA; BATISTA, 2002).
comunicação – TICs, tendo em vista que as novas tecnologias estão cada vez mais disponíveis
nas IES e o acesso à internet mais democrático. Assim, professores (as) e estudantes possuem,
à sua disposição, as tecnologias da informação e comunicação, que podem contribuir e muito
para encurtar distâncias e facilitar a comunicação e a difusão do conhecimento. Smartphones,
tablets, computadores, milhares de conexões, hipertextualidade, redes sociais e os mais
diferentes aplicativos de comunicação são ferramentas informatizadas que adentraram a sala
de aula e hoje permeiam as relações pedagógicas e os processos de ensino e aprendizagem.
planejamento curricular e de ensino, bem como as ferramentas pedagógicas que serão usadas
devem manter relação de coerência, consonância e adequação ao projeto político pedagógico
da IES e com o projeto pedagógico do curso. Ferramentas pedagógicas que serão usadas,
período de avaliações, atividades extraclasse, visitas técnicas, atividades integrativas, forma
de abordagem de temas transversais, estratégias de ensino e formas de avaliar devem ser
planejadas, mas também debatidas com os (as) estudantes.
Dessa forma, segundo Martins (2011), a escolha adequada das estratégias de ensino
tem um importante papel nos processos de ensino e aprendizagem. No entanto, é importante
também considerar, além do conteúdo a ser ministrado, as experiências de vida dos (as)
alunos (as) e outras variáveis, a exemplo do curso, turma e características da unidade escolar.
Não se pode entender, por exemplo, a avaliação dos (as) estudantes apenas como um
meio seletivo, classificatório ou de escolha e separação entre bons e ruins, fortes e fracos,
competentes e incompetentes, habilitados e inabilitados. Para Bloom et. al. (1983), a avaliação
no processo ensino-aprendizagem, apresenta as conhecidas três funções: diagnóstica
(analítica), formativa (controladora) e somativa (classificatória).
A LDB preconiza, em seu art. 24, que o rendimento escolar deve ser aferido de forma
contínua e cumulativa e com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e
dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais (BRASIL, 1996).
Entretanto, quando os (as) estudantes apontam o uso inadequado dos instrumentos
pedagógicos, eles (as) não só questionam os critérios técnicos pouco claros para definir as
notas atribuídas aos exames, mas também a sua forma, sua duração e seu nível de dificuldade.
Eles (as) igualmente discutem o uso arbitrário da liberdade de cátedra, que
constitucionalmente assegura, ao professor (a), que possa exteriorizar e comunicar seus
219
Deste modo, ainda que outras categorias possam ser acrescentadas, levando-se em
conta que as 18 (dezoito) categorias identificadas não consigam sistematizar, tipificar e
classificar todas as condutas percebidas pelos (as) estudantes como condutas reprováveis e
formas de assédio moral pedagógico no espaço acadêmico, o que se buscou foi apresentar, de
forma organizada, as principais características desse tipo de violência, a partir dos relatos,
memórias e sentimentos dos (as) estudantes.
Isso posto, apresenta-se a pergunta que foi feita aos (às) estudantes: Em sua
percepção, algum (a) docente costuma utilizar os instrumentos pedagógicos (provas,
trabalhos, seminários, relatórios, material didático, visitas técnicas) de forma
inadequada (muito difícil, com assuntos não abordados em sala de aula, sem explicar o
que deseja com a atividade) com o propósito de prejudicar o seu rendimento? A resposta
para essa pergunta foi a seguinte:
220
Examinando os dados apresentados, percebe-se que mais de 50% dos (as) participantes
da pesquisa afirmaram que os (as) docentes costumam utilizar os instrumentos pedagógicos
de forma inadequada (GRÁFICO 6). Sabe-se que provas, testes, trabalhos, seminários,
artigos, visitas técnicas e outras atividades de avaliação da aprendizagem são importantes
recursos pedagógicos, úteis e necessários ao trabalho docente, ao ensino e à aprendizagem.
Nesse sentido, 37,8% dos (as) estudantes informaram que o (a) docente utilizou no
semestre os instrumentos pedagógicos de forma inadequada algumas vezes e 18,2%
afirmaram que isso ocorreu muitas vezes. Verificando o gráfico, percebe-se que apenas 10,7%
dos (as) estudantes afirmaram que essa prática nunca ocorreu e que os (as) professores (as)
221
Com base nesse contexto, pode-se afirmar que os instrumentos pedagógicos, sobretudo
os avaliativos (provas, trabalhos, seminários, relatórios, visitas técnicas), sob a perspectiva
dos (as) educandos (as), são utilizados muitas vezes pelos (as) docentes, sem considerar as
funções diagnóstica (analítica), formativa (controladora) e somativa (classificatória). Da
mesma forma, não são usados como instrumentos a serviço da docência para aumentar a
capacidade de observação do nível de qualidade da aprendizagem dos (as) estudantes e se
estão atingindo os objetivos do ensino conforme planejado.
Os (as) mesmos (as) estudantes foram questionados (as), ainda, sobre o tempo de
duração, a extensão e nível dos exames: O tamanho e o grau de dificuldade das avaliações
são compatíveis com o tempo para realizá-las? As respostas foram as seguintes:
Ressalta-se que, na percepção de apenas 6,1% dos (as) estudantes, a extensão e o grau
de dificuldade das avaliações são sempre compatíveis com o tempo disponível para realizá-
las, enquanto 47,9%, ou seja, 134 (cento e trinta e quatro) estudantes apontaram que essa
compatibilidade ocorre apenas às vezes. Há, ainda, o relato de 3,9% dos (as) estudantes de
que nunca é compatível o tripé: tamanho da avaliação, grau de dificuldade e tempo de duração
(GRÁFICO 8). Esses são números representativos do discurso dos (as) estudantes em relação
a um tema importante relacionado com os processos de ensino e aprendizagem e que precisam
ser analisados cautelosamente e à luz de outros elementos.
223
Os números obtidos apontam que 43,9% dos (as) estudantes entendem que os (as)
professores (as) às vezes estabelecem prazos impossíveis de serem cumpridos nas atividades
acadêmicas avaliativas e 16,1%, que esse fato ocorre muitas vezes. Apenas 4,3% têm a
percepção de que esse fato jamais ocorre (GRÁFICO 9).
tempo de estudo, o ideal é realizar o planejamento e dividi-la em partes, ofertando aos (às)
estudantes um prazo mais dilatado.
Destarte, percebe-se que apenas um quarto dos (as) estudantes não sofreram qualquer
tipo de pressão para não gozarem de direitos garantidos na LDB e na Organização Didática do
Ensino Superior da IES, o que pode configurar um meio de coação, intimidação e
cerceamento de direitos. Todas essas práticas, se empreendidas de forma repetitiva, podem ser
tipificadas como assédio moral pedagógico.
Dessa forma, é pouco provável que algum projeto pedagógico ou uma proposta
pedagógica permita, ao (a) docente, utilizar instrumentos pedagógicos, sobretudo os
avaliativos, com a intencionalidade de prejudicar o (a) estudante, suprimindo seus direitos. É
imperioso que o (a) docente saiba manejar os instrumentos pedagógicos de forma adequada e
saiba definir a melhor forma de aplicá-los, orientando os (as) discentes sobre as avaliações no
decorrer do processo.
Resta claro que esse tipo de conduta e que essas ações são passíveis de serem
questionadas e afrontam a dignidade dos (as) estudantes. Ao (a) docente compete auxiliar
cada educando (a) na busca e na construção de si mesmo. Por isso, seja por conta de cumprir
os prazos do calendário acadêmico ou pela ânsia de cumprir com suas obrigações, o (a)
professor (a) não deve avaliar os (as) alunos (as) apenas sob uma perspectiva somativa e
automática, considerando que o nível de aprendizado dos (as) estudantes (as) não é
homogêneo.
Destarte, a avaliação exige um ritual de procedimentos, que, segundo Luckesi (2004, p. 4),
inclui desde “o estabelecimento de momentos no tempo, construção, aplicação e contestação
dos resultados expressos nos instrumentos; devolução e reorientação das aprendizagens ainda
não efetuadas”. Assim, a devolução das avaliações é um dos passos importantes na
consecução dos objetivos da avaliação.
O (a) professor (a) não se pode, em sala de aula, preocupar-se unicamente com o
resultado final. As ferramentas pedagógicas não existem apenas para medir notas e conceitos,
nem podem ser compreendidas, de forma autoritária, como mecanismos para gerar
reprovação, retenção e evasão. Nesse sentido, para Trojan e Rocha (2014), ainda há
professores (as) que utilizam a avaliação como instrumento de punição e manutenção de
controle sobre os aprendizes, numa clara expressão de poder, em detrimento da aprendizagem.
Quando o foco do questionário mudou para as ações dos (as) docentes em relação aos
(às) educandos (as), suas formas de tratamento e comportamentos, as informações obtidas
também não foram animadoras. Perguntou-se aos (às) estudantes: Já ocorreu de algum(a)
docente recusar-se a explicar novamente um assunto ou tirar dúvidas sobre o mesmo?
Os relatos dos (as) estudantes apontam que eles (as) aprendem mais com professores
(as) que não se incomodam em reexplicar o conteúdo. Os (as) estudantes esperam que o (a)
docente crie um espaço democrático, no qual a turma possa ficar à vontade para expor suas
dúvidas e incompreensões. A partir dos relatos dos (as) alunos (as) nas entrevistas, verificou-
se que, para eles (as), essa conduta caracteriza assédio moral pedagógico no espaço
acadêmico, visto que as recusas e omissões refletem uma postura autoritária de alguns
docentes. Por essa razão, muitos (as) estudantes sentem-se desmotivados (as), perdem o
interesse em permanecer no curso e acabam por evadir.
Outra pergunta relevante realizada aos (às) estudantes foi: Você já se sentiu
humilhado (a), desprezado (a) ou ignorado (a) por algum (a) docente em sala de aula?
Destarte, é necessário saber diferenciar, em uma sala de aula, uma situação de conflito
de uma brincadeira saudável ou de um ato de assédio moral. De acordo com Cristina (2015):
Devido a essas situações vivenciadas, o ato de estudar começa a perder o sentido para
muitos (as) estudantes. Ser colocado (a) à margem, ser humilhado (a), desprezado (a) e
maltratado (a) no ambiente acadêmico ou espaço de ensino torna-se um fardo. O ambiente que
deveria ser propício ao aprendizado, à formação e ao crescimento, torna-se um espaço
perigoso e hostil para a saúde física, mental e social dos (as) estudantes. Não foram poucos os
relatos de estudantes que, diante das situações de humilhação e desprezo a que foram
submetidos (as), sucumbiram a crises de ansiedade, pânico, insônia, medo, infelicidade,
depressão, chegando a alimentar pensamentos suicidas.
231
Verifica-se, pelos relatos, que essa forma de tratamento dispensada por professores
(as) aos (as) educandos contribui para gerar neles (as) uma série de sentimentos e emoções
prejudiciais aos processos de aprendizagem a saber: angústia, tristeza, insegurança, irritação,
impotência, rancor, raiva, revolta, insuficiência, incapacidade, medo, decepção e choro. A
instituição de ensino é responsável não só pelo desenvolvimento intelectual do (a) educando
(a), mas também pelo seu bem-estar social e emocional.
De acordo com Fonseca (2016), para que a aprendizagem ocorra, é preciso que se crie,
à volta das situações ou desafios (tarefas, propostas, atividades, etc.) de aprendizagem, um
clima de segurança, de cuidado e de conforto, visto a importância que tem a emoção na
cognição (como sinônimo de razão). Problemas de saúde mental no ambiente acadêmico
podem desenrolar-se a partir de estressores crônicos e de sofrimento emocional. Isso porque
muitos estudantes com dificuldades de aprendizagem não conseguem corresponder às
expectativas sociais devido a sua neurodiversidade, que nem sempre é respeitada ou
compatibilizada com as exigências das aprendizagens escolares.
Portanto, não resta dúvidas de que os sentimentos que os (as) estudantes alegam ter
experienciado atuam como estressores crônicos e causam sofrimento emocional, o que explica
que muitos estudantes tenham relatado problemas de saúde mental.
Nessa mesma linha, foi realizada a seguinte arguição aos participantes: Algum(a)
docente já expôs o seu trabalho acadêmico ou notas de forma a você se sentir
ridicularizado (a) ou envergonhado (a)? Os dados obtidos foram os seguintes (GRÁFICO
13):
233
Verifica-se que 46,4% dos (as) estudantes nunca tiveram seus trabalhos acadêmicos ou
notas expostas de forma a se sentirem ridicularizados (as) ou envergonhados (as), contudo
28,9% já passaram por esse tipo de constrangimento no mínimo uma vez, enquanto 13,6%
afirmaram já ter se sentido ridicularizados (as) e/ou constrangidos (as) algumas vezes e 6,8%
afirmaram ter sido vítima desse tipo de ação muitas vezes.
Sabe-se que é comum docentes divulgarem notas de forma coletiva em sala de aula ou
em quadros de avisos das IES, no entanto é preciso ter cautela e prudência com essa prática.
Cobrar resultados, exigir um bom desempenho e desejar o sucesso dos (as) estudantes é parte
integrante da atividade docente, mas tornar a sala de aula um ambiente hostil e vexatório não
é saudável. Muitas ações têm sido propostas no poder judiciário com fulcro no art. 232 do
ECA, que estabelece que “submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou
vigilância a vexame ou a constrangimento: Pena - detenção de seis meses a dois anos”
(BRASIL, 1990).
O insucesso de um (a) estudante em uma avaliação não pode ser o suporte para a
conduta de assédio moral pedagógico por parte do (a) docente, nem lhe faculta estabelecer
rótulos e tecer comentários pejorativos em sala de aula. A exposição dos resultados de uma
avaliação, do desempenho ou da qualidade dos trabalhos acadêmicos deve ser circunscrita à
análise da pessoa do (a) docente responsável pelo componente curricular, da equipe
psicopedagógica, do (a) estudante avaliado (a) e de sua família. Nenhum tipo de publicidade
234
O profissional da educação jamais conseguirá que seus (as) alunos (as) obtenham bons
resultados e excelência acadêmica por meio de comparações. Portanto, não se pode albergar o
cometimento de atos ilícitos no espaço acadêmico, seja por meio de supostos estímulos,
comparações, exigências, xingamentos ou humilhações. As cobranças não podem servir como
fundamento para ferir a autoestima e a dignidade dos (as) estudantes.
Em sala de aula, compete ao docente manter relação de cordialidade com todos os (as)
estudantes, pois respeito e consideração são deveres basilares para quem escolheu a docência
como profissão. Preferências, apreços, simpatias ou antipatias não podem e não devem
suplantar o senso de justiça e retidão. Cabe ao (a) docente saber separar suas preferências
pessoais, dos resultados obtidos pelos (as) estudantes.
A justiça tem entendido como crime as situações em que o (a) estudante é assediado
(a) moralmente por docentes no âmbito acadêmico, visto que, para o poder judiciário, a
relação entre o (a) docente e o (a) estudante agredido (a) é de hierarquia. De igual sorte,
inúmeras decisões dos tribunais têm imposto, aos (às) agressores, condenações indenizatórias
na esfera civil.
Assim, no espaço acadêmico, os (as) alunos devem respeito ao (a) professor (a), e este
(a), além do respeito àqueles (as), possui a imensa responsabilidade de ser um (a) profissional
exemplar, ético (a) e técnico (a). Por isso, o (a) estudante, em especial aquele (a) que ainda é
criança ou adolescente, tem direito à confidencialidade sobre suas informações pessoais.
Portanto, quem divulga dados do (a) educando de forma afrontosa, acaba por violar o
Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. De acordo com a Lei nº 8.069 de 1990, em seu
artigo 17: “O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e
moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da
autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais”. Esse respeito, então,
precisa assegurar a inviolabilidade da integridade do (a) estudante e da confidencialidade dos
seus dados. O ECA considera como criança a pessoa com até doze anos de idade incompletos
e como adolescente aquela com idade entre doze e dezoito anos. Diante disso, é necessário ter
cautela, visto que muitos (as) estudantes chegam ao ensino superior com idade inferior aos
dezoito anos completos.
235
Jamais se deve divulgar notas de forma vexatória em sala de aula, sob o risco de
responder processo judicial por danos morais, considerando que essa prática pode ser
enquadrada como assédio moral pedagógico. Uma alternativa adotada pelas IES é
disponibilizar, por meio de aplicativos ou sites da internet, os resultados das atividades
acadêmicas, exigindo, para o acesso, a realização de login, com senha e usuário.
Sem discorrer detalhadamente sobre esses dados (GRÁFICO 14), é possível averiguar
um número positivo, ou seja, 50% dos (as) estudantes relataram nunca ter sofrido
comparações do desempenho acadêmico e cognitivo com relação a outros (as) alunos (as), de
modo a se sentirem inferiorizados (as), porém, 20,7% dos (as) participantes disseram tê-las
sofrido uma única vez, de modo a se sentirem inferiorizados (as) e, ainda, outros (as) 18,6%
acusaram que essa prática se repetiu algumas vezes. De igual modo, 4,3% dos (as) estudantes
alertaram que essa é uma das formas de agressão que eles (as) enfrentaram muitas vezes. De
forma diminuta, mas não menos importante, 05 (cinco) estudantes relataram que esse tipo de
ação sempre ocorre.
Na maioria dos casos, os (as) estudantes apontam que essas comparações soam como
ameaças. Segundo a percepção dos (as) estudantes, os (as) educadores (as) já fizeram
comparações do desempenho acadêmico, cognitivo e dos resultados das avaliações, exames e
demais atividades sob o pretexto de motivá-los (as). A lógica dos (as) docentes, a qual os (as)
estudantes verbalizam, é de que seria uma forma de comparar um (a) estudante que não teve
um bom resultado com outro (a) que teve melhor sucesso, para ajudar o (a) primeiro a
melhorar. Fonseca (2016) aponta que:
Por alguma razão, a espécie humana é a única que ensina intencionalmente, algo só
possível com uma cognição social e uma inteligência emocional transcendentes.
Perante ameaças, o indivíduo em situação de aprendizagem reage inconscientemente
antes de reagir conscientemente. Em apenas décimos de segundo, o ritmo cardíaco
acelera, a pressão sanguínea altera-se, os suores emergem nas palmas da mão, a
resposta galvânica da pele pode ser estimada, a respiração torna-se ofegante e
ansiosa e os estados corporais ou somáticos, interoceptivos e proprioceptivos, de
ansiedade, medo, impotência ou vulnerabilidade, disparam sinais do sistema nervoso
automático para a mente que algo está mal. Vários pesquisadores nesta área também
reportam que as ameaças provocam alterações nos fluxos dos hormônios e dos
neurotransmissores (serotonina, dopamina, etc.), pois afetam os estados emocionais
e de humor (FONSECA, 2016, P. 368).
Assim, os dados apresentados revelam que a IES precisa agir de forma efetiva,
mobilizando os (as) docentes, os (as) estudantes, os (as) servidores (as) técnico-
administrativos (as), os pais e a comunidade. Não basta a prevenção - após orientar e
informar, ações também precisam ser implementadas no sentido de efetivamente punir os (as)
culpados (as). O (a) docente que causou a agressão precisa ser ouvido (a) e a IES deve adotar
uma postura de responsabilização após identificar, analisar e compreender as razões e a
gravidade da situação. Em caso de penalidade, deve ser necessária e suficiente, com caráter
pedagógico e preventivo, mas sem perder o potencial punitivo, de modo a reprovar o mal
produzido pela conduta assediosa, prevenir futuras infrações e servir de exemplo para os
demais atores institucionais.
Deve haver, no âmbito interno da instituição de ensino, uma política de promoção dos
direitos humanos, uma reflexão séria sobre o papel dos (as) profissionais da educação e uma
239
O discurso do sujeito coletivo obtido por meio dos relatos apresentados atesta que é
importante que essa discussão seja levada para a sala de aula e haja um acompanhamento
pedagógico e psicológico, tanto dos (as) alunos assediados (as), como daqueles que
presenciaram tais ações. Muitos (as) alunos (as), embora apenas testemunhem os fatos, são
por eles também impactados (as). Isso ocorre, na maioria das vezes, por causa da diferença
hierárquica, de forma que o assédio moral pedagógico no espaço acadêmico passa a ser quase
esperado e aceito, quando proveniente de algum (a) docente.
Em virtude do medo que muitos (as) sentem do (a) docente assediador (a), é comum
que colegas se juntem ao agressor (a) para também assediar (a) vítima. O (a) docente, que
abusa do seu poder, consegue arregimentar outros (as) alunos (as) para também assediar, os
(as) quais, por sua vez, acabam por acreditar que, ao apoiar e ficar ao lado do (a) assediador
(a), eles (as) próprios (as) estarão seguros (as) e livres de se tornarem vítimas. Nesse
momento, surge a figura do coautor do assédio moral pedagógico.
No que tange aos dados iniciais obtidos, esse resultado seria positivo se essa prática
não fosse considerada como um processo sistemático de hostilização, uma vez que 28,9% dos
(as) respondentes informaram que já passaram por esse tipo de situação ao menos uma única
vez. De forma também preocupante, 13,6% dos (as) estudantes relataram que vivenciaram
essa experiência negativa por algumas vezes. Ainda há o relato de 1,4% de que essa situação
já lhes ocorreu muitas vezes.
Destaca-se que comportamentos intimidativos por parte dos (as) docentes possuem o
condão de gerar dano moral. O tratamento depreciativo provoca medo, tormento e ansiedade
nos estudantes. A posição de poder que o (a) professor (a) ocupa, se utilizada indevidamente,
anula qualquer esforço do (a) estudante em aprender.
De igual modo, quando o (a) aluno (a) encontra um ambiente hostil, cheio de
241
preconceitos, sua autoimagem é afetada a ponto de ele (a) se sentir aniquilado (a). A
socialização com professores (as) e colegas no espaço acadêmico e nos processos de ensino e
aprendizagem são desafiadores para os (as) educandos (as) e, nesse passo, enfrentar situações
de discriminação por questões de gênero, sexo, idade, condição socioeconômica, étnico-racial
e outras, pode tornar as relações pedagógicas traumáticas.
Pode parecer estranho, mas esses números mostram que o respeito à diversidade, à
compreensão da heterogeneidade e das diferenças existentes entre os (as) estudantes é um
tema que ainda precisa ser mais bem compreendido pelos (as) educadores (as). A gestão da
IES, docentes, técnico-administrativos e estudantes precisam trabalhar por ações que
estimulem a equidade, a igualdade, a solidariedade, o respeito, a promoção e a garantia dos
243
Não se trata apenas de abordar este ou aquele tema - as ações precisam combater toda
forma de preconceito e discriminação, desde questões relacionadas à diversidade sexual, a
preconceitos sociais, sexuais, étnico-raciais e de gênero. Toda forma de discriminação, seja
com estudantes deficientes, afrodescendentes, adeptos dos diferentes credos e religiões,
homossexuais, mulheres e outros grupos discriminados e minoritários deve ser combatida.
com o sofrimento, a humilhação e a dor, conforme expresso nesse último DSC. Os princípios
de liberdade e os ideais de solidariedade humana são esquecidos e, por conseguinte, o pleno
desenvolvimento dos (as) educandos (as) fica comprometido.
Cabe destacar algumas das consequências que o (a) estudante leva em seu corpo e em
sua alma: depressão; angústia; estresse; crises de competência, de insônia e de choro; mal-
estar físico e mental; sentimento de culpa e pensamentos suicidas; tentativa de suicídio;
sensação negativa em relação aos estudos e ao futuro; tristeza; ataques de pânico;
incapacidade crônica de experimentar a alegria em eventos comuns da vida cotidiana;
alienação quanto a fazer parte dos grupos sociais; medo; angústia; raiva reprimida; irritação
constante; agressividade; cansaço exagerado; indisposição constante; alterações no sono;
pesadelos constantes; falta de interesse pelas aulas; dificuldade e diminuição da capacidade
de se relacionar com colegas e fazer amizades; isolamento; pouca capacidade de concentração
e memorização; aumento de peso; emagrecimento exagerado; mudanças repentinas de humor;
conduta violenta; redução da libido; aumento da pressão arterial; tremores e palpitações;
problemas digestivos; transtornos graves e até uso e abuso de álcool e outras drogas lícitas e
ilícitas.
É enganosa a ideia de que as vítimas de assédio moral são pessoas tímidas, frágeis,
247
fracas ou doentes, quadro que os (as) assediadores (as) tentam desenhar. Ao desqualificar o
(a) estudante, vítima de assédio, e atribuir-lhe características de hipersensível, inseguro (a) ou
ansioso (a), o (a) autor (a) da violência está fazendo uso da sua posição, cargo, função e poder
para impor mais humilhação ao (a) assediado (a) e até retirar-lhe as poucas forças que ainda
lhe restam.
De acordo com Zanetti (2000), não existe um perfil único de vítimas de assédio moral,
e não há nenhum estudo científico que comprove que determinadas características do
indivíduo possam levá-lo a se tornar uma vítima. O máximo que se encontra na literatura são
traços de personalidade que tornam determinadas pessoas mais suscetíveis ou vulneráveis aos
ataques e ao cerco do (a) assediador (a).
Em determinados casos, esse perfil de pessoa fraca, insegura, frágil, ansiosa, débil,
passiva e doente é adquirido justamente em decorrência da ação do (a) agressor (a). O assédio
moral, na maioria das vezes, é a causa da patologia, dos transtornos e sentimentos vivenciados
pela vítima. Por estar em situação de maior vulnerabilidade, cabe à instituição de ensino
cuidar para que seus agentes se abstenham de práticas tão retrógradas.
Com base nos discursos dos (as) estudantes vítimas de assédio moral pedagógico nesta
IES, resta comprovado que essa prática se mostra lesiva, ou potencialmente lesiva ao
desenvolvimento cognitivo, acadêmico e ao aprendizado dos (as) alunos (as), visto que
248
Aos (às) estudantes também foi perguntado: Quais os piores danos que o assédio
moral de um (a) professor (a) pode causar ao aprendizado de um (a) estudante? As
respostas permitiram construir o DSC que segue:
Os (as) estudantes apontaram que, entre os piores danos que o assédio moral
pedagógico pode causar ao aprendizado de um (a) estudante, está afetar a sua saúde
emocional, física e psicológica. O conceito de saúde adotado nesta pesquisa é o que a
Organização Mundial da Saúde (OMS) elaborou em 1947: “um estado de completo bem-estar
físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”. Assim, de acordo
com a OMS, estar saudável é gozar de saúde física (condições gerais do corpo e do
metabolismo), saúde mental (qualidade de vida emocional, psicológica, cognitiva) e saúde
social (capacidade de se relacionar com outras pessoas e viver bem em sociedade).
Esse estado de pleno bem-estar físico, mental e social é criticado por algumas
correntes da saúde, sendo que os críticos apontam seu caráter utópico e inalcançável. No
entanto, ele foi adotado nesta pesquisa por estar alinhado ao modelo holístico, que reforça a
conotação positiva da saúde.
Diante dessas informações, é possível afirmar que o assédio moral pedagógico afeta as
três esferas da saúde dos (as) estudantes. O corpo físico começa a apresentar sinais de que está
sendo afetado, passando a sofrer com tremores e palpitações cardíacas, dores musculares e nas
articulações, aumento na pressão arterial, taquicardia, falta de apetite, dores diversas no corpo,
aumento de peso, emagrecimento exagerado, problemas digestivos, cansaço exagerado,
insônia.
De igual modo, a saúde mental também passa a sofrer as consequências, seja por meio
de crises de choro, tristeza, ataques de pânico, reações de medo, incapacidade crônica de
experimentar a alegria em eventos comuns da vida cotidiana, falta de iniciativa, melancolia,
confusão mental, sentimento de culpa e pensamentos suicidas, sensação negativa em relação
aos estudos e ao futuro, insegurança e mudanças repentinas de humor.
Por consequência, a saúde social do (a) estudante acaba por ser comprometida e ele (a)
passa a ter dificuldade para relacionar-se com colegas e professores (as), muitas vezes
isolando-se do convívio com o grupo. Outro ponto importante é que muitas vezes os
resultados ruins decorrentes do assédio acabam por influenciar a relação do (a) estudante com
sua própria família e pessoas que, em regra, costumam apoiá-lo, como colegas, amigos (a),
namorados (as) e noivos (as). Isso acaba sendo muito perigoso porque o (a) estudante, que já
se encontra fragilizado (a), muitas vezes morando distante de pais e familiares, por conta de
seus fracassos acadêmicos acaba tendo problemas com aquelas pessoas que poderiam lhe dar
250
Definir um perfil para o (a) assediador (a) é uma tarefa complexa, dada sua
multicausalidade. Hirigoyen (2017) entende que o assédio moral se caracteriza por uma
agressão e não conflito, visto que na agressão existe a vontade de ferir o outro e dominá-lo.
Embora qualquer pessoa possa se tornar um (a) assediador, certos perfis psicológicos estão
mais predispostos. Registre-se que qualquer docente ou outro (a) profissional da educação,
independentemente da idade, gênero, escolaridade, nível hierárquico ou econômico pode ser o
sujeito ativo do assédio moral pedagógico. No entanto, existem traços psicológicos que são
comuns aos agressores (as): perverso narcisista, tirano sádico e algoz autoritário.
Algumas posturas típicas do (a) assediador (a): ter fantasias de sucesso e poder
ilimitado; ter excessiva necessidade de ser admirado; não se envolver afetiva e
emocionalmente; pensar que tudo lhe é devido; explorar outras pessoas nas relações
interpessoais; invejar os outros e acreditar que é invejado; considerar-se especial e único; ter
atitudes e comportamentos prepotentes e arrogantes; carecer de empatia; possuir uma
percepção da realidade orientada para si mesmo; oscilar na linguagem e no pensamento;
quando decepcionado ou abandonado, sentir raiva e buscar vingança (BACH, 1977;
HIRIGOYEN, 2001; ZABALA, 2003).
É fato que o (a) docente que assedia moralmente o (a) estudante consegue atingir a
integridade psíquica, física e moral dele. No assédio moral pedagógico, o (a) agressor (a)
geralmente se sente confortável, livre e intocável, pois essa conduta se caracteriza por ser
insidiosa e quase invisível. Infelizmente, ações desse tipo são vivenciadas com uma
constância maior do que se imagina na IES pesquisada.
Em regra, o (a) assediador (a) começa de forma tímida a praticar atos assediosos e
tende a intensificá-los, de modo a gerar situações de importunação assediosa até culminar no
assédio moral pedagógico. Passa de supostas brincadeiras inofensivas a ataques sádicos. O (a)
professor (a), importante figura no processo educacional emancipatório, acaba sendo
identificado (a) e apontado (a) pelos (as) estudantes como possuidor (a) de características que
delineiam um ego distorcido e inflado que o (a) transforma em algoz, tirano (a) sádico (a) e
em um (a) perverso (a) narcisista. Por certo, os termos apresentados pelos (as) estudantes são
bastante incisivos e refletem condutas desumanas, abomináveis e com a conotação de que,
quem as pratica, é o ser responsável por executar punições e castigos.
Nesses casos, conforme relatado nas entrevistas e demonstrado no DSC, o (a) docente
252
assediador (a) é um (a) perverso (a) narcisista, que assedia moralmente um (a) aluno (a), para
sentir-se valorizado (a). Isso porque a ideia de perversão narcísica, conforme Guimarães et al.
(2016), reflete a necessidade, a capacidade e o prazer do indivíduo em valorizar a si mesmo à
custa do outro.
O (a) professor (a), ao impor o seu poder e demonstrar a sua superioridade hierárquica
por meio de diferentes situações (constrangimento, humilhação, inferiorização, estipulação de
metas inalcançáveis, cobrança de conteúdos não ministrados, elaboração de questões difíceis
de serem resolvidas, gritos e ameaças), apresenta-se como um (a) tirano (a) sádico (a) que,
para se sentir valorizado (a) e reconhecido (a), necessita rebaixar os (as) estudantes, sentindo
prazer no sofrimento deles (as).
Como um (a) algoz autoritário (a) que se sente poderoso (a) frente à sua vítima, o (a)
assediador (a), quando diante de uma plateia, utiliza seu poder para submeter, manipular e
fazer valer a sua vontade, sempre buscando a admiração, o reconhecimento e a aprovação da
vítima e da plateia, ainda que seja por meio do medo. Sendo assim, de acordo com os relatos,
por conta do medo do indivíduo cruel e de maus instintos, fica difícil, para a vítima assediada,
tomar alguma atitude sobre o assunto.
Indivíduos que sofreram com o autoritarismo de seus pais e/ou professores (as), e que
se tornaram vítimas de seus castigos e punições, possuem uma forte tendência de durante a
vida adulta precisarem dominar outras pessoas para se sentirem felizes. Essas pessoas também
têm grande dificuldade em admitir suas falhas e erros e em aceitar que outras pessoas estejam
certas, em detrimento de suas posições e opiniões.
Não é objeto deste estudo, mas é necessário um aprofundamento das causas que levam
um (a) docente a agredir um (a) estudante por meio do assédio moral. Cabe destacar que
indivíduos (as) que sejam diagnosticados (as) com alguma patologia precisam de tratamento e
acompanhamento.
Outro ponto relevante apresentado pelos (as) entrevistados (as) é que o (a) docente
agressor (a) mantém o mesmo comportamento de assédio em diferentes turmas, o que
comprova ser essa uma característica dele (a), e não um comportamento esporádico, que
aflora, a depender do grupo com o qual ele (a) trabalha.
Nesse sentido, faz-se necessário um maior diálogo em sala de aula para se resolver
253
desde os pequenos conflitos até situações mais complexas. De acordo com Tognetta (2005),
uma relação de confiança precisa ser estabelecida em sala de aula ou mesmo em âmbito
familiar, pois, para superar essa condição de violência, é preciso diálogo no momento da
crise. Uma relação de confiança é baseada no respeito mútuo e em pessoas que se constituem
autoridade, que utilizam linguagens que não ameaçam, que não humilham por castigos,
sarcasmos ou quaisquer que sejam as atitudes relacionadas às punições.
Algumas das características próprias dos (as) assediadores (as), identificadas a partir
dos relatos dos (as) estudantes foram: egocêntricos (as), inflexíveis, agressivos (as),
autoritários (as), narcisistas, sádicos (as), arrogantes, grosseiros (as), brutos (as). Ressalta-se
que, socialmente, certos grupos muitas vezes valorizam e enaltecem características como
coragem, virilidade, força, valentia, determinação e ousadia, identificando-as como marcas de
profissionais bem sucedidos (as), em detrimento de outras como humildade, empatia,
tolerância, cordialidade, simplicidade, que, para eles, representam fraqueza e pouco poder em
sala de aula.
Há que se ter um cuidado especial para não haver generalizações, ou seja, nem todos
os (as) docentes cometem assédio moral pedagógico, nem essas características descritas
podem ser tomadas isoladamente. Assim, é possível compreender que o (a) docente
assediador (a) também precisa de ajuda, visto que a sua formação profissional, os seus valores
e princípios éticos e morais, bem como seu desenvolvimento afetivo, provavelmente sofreram
uma grave deterioração ou estão abaixo do razoável numa escala de valores aceitável
socialmente.
Outrossim, os (as) estudantes foram interpelados sobre: Quais ações poderiam ser
realizadas para combater o assédio moral por parte dos (as) docentes? Os DSC
produzidos apresentam os seguintes relatos (QUADRO 31 e 32):
254
Quadro 32 – Ações que podem ser adotadas para combater o assédio (cont.)
O primeiro ponto abordado pelos (as) estudantes foi a necessidade de os (as) próprios
(as) profissionais reconhecerem que o assédio moral é uma prática abusiva e ilegal e que eles
(as) precisam respeitar a vontade dos (as) alunos (as). O processo de conscientização
almejado pelos (as) estudantes visa que o (a) docente reflita sobre os seus atos e tenha a real
percepção das suas consequências. Para isso, é necessário que o (a) educador (a) tenha seus
sentidos funcionando perfeitamente, no nível mais elevado do seu aparelho psíquico. Ou seja,
essa conduta abusiva não pode ser inconsciente ou irrefletida.
palestras com essa temática. Ainda de acordo com o discurso dos estudantes os professores
(as) precisam passar por avaliações.
Outrossim, os (as) estudantes sugerem uma fiscalização dos atos dos (as) professores
(as) e que a instituição não seja conivente, analisando os indicadores de reprovação dos (as)
professores (as) denunciados (as). No mesmo sentido, esperam que as punições
administrativas sejam incisivas e rigorosas, incluindo afastamentos dos (as) profissionais
assediadores (as), não devendo haver, por parte da gestão, corporativismo nem engavetamento
de denúncias e processos. E que, quando necessário, as medidas judiciais cabíveis sejam
adotadas.
Semelhantemente, os (as) estudantes desejam que a gestão seja mais democrática, com
a participação deles (as) nas investigações dos casos de assédio moral, e que a educação na
instituição seja mais humanizada, com respeito à dignidade humana. Por fim, esperam que
sejam realizadas ações preventivas de combate ao assédio moral e que os resultados desta
pesquisa possam ser divulgados e usados no processo de promoção dos valores dos direitos
humanos.
Deste modo, a IES precisa discutir estratégias para evitar a cultura do assédio e o
adoecimento dos (as) educandos (as), sendo fundamental envolver professores (as), técnico-
administrativos (as), pais e comunidade no sentido de buscar soluções para propiciar um
ambiente de respeito às diferenças e singularidades e que seja eficiente e efetivo em sua
missão de formar cidadãos e assegurar uma verdadeira cultura de satisfação dos direitos
humanos.
Por fim, os (as) estudantes foram questionados (as): Ao se sentir assediado (a),
alguma vez você já procurou algum meio de comunicação para denunciar? Você
conhece seus direitos em relação ao assédio moral? Você já recorreu à justiça?
257
Com essa pergunta final, buscou-se entender a relação entre o discurso dos (as)
estudantes sobre o dano e sua materialização na esfera midiática e jurídica. Apesar de os
relatos apresentarem as consequências do assédio moral pedagógico e seus impactos na
aprendizagem, o que se observou é que existe uma falta de crença na possível punição dos
(as) culpados (as).
Chrispino (2008)
Essa judicialização cada vez mais comum ocorre por conta da formação deficitária dos
(as) profissionais da educação, que pouco conhecem a legislação e os direitos que os (as)
estudantes têm garantidos. Espera-se, de profissionais, profissionalismo; de educadores, que
sejam educados e amantes da educação. Para Freire (2002), “A prática docente
especificamente humana, é profundamente formadora, por isso, ética. Se não se pode esperar
de seus agentes que sejam santos ou anjos, pode-se e deve-se deles exigir seriedade e retidão”
(FREIRE, 2002, p. 65).
259
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
“Como vocês querem que os outros lhes façam, façam também vocês a eles”.
(LUCAS 6:31)
Ressalta-se que este foi um caminho arenoso, porque, desde a definição do tema,
passando pela elaboração da pesquisa, pela coleta e tratamento dos dados até a redação final
da tese, muitos percalços ocorreram – descobertas, surpresas, novas hipóteses, refutações,
referencial teórico geral diverso e referencial específico diminuto. O movimento dialético do
conhecimento tornou a viagem, embora desafiadora, também prazerosa.
A análise dos relatos deu-se a partir da interpretação dos discursos individuais dos (as)
estudantes, o que possibilitou a construção do discurso do sujeito coletivo. O exame dos
relatos e memórias dos (as) estudantes ocorreu fundamentado na revisão bibliográfica
analisada, destacando-se o pensamento de Hirigoyen e Leymann e tendo como ponto de
partida as questões de estudo e as hipóteses estabelecidas inicialmente.
A partir dessa questão e por meio da análise do discurso do sujeito coletivo, foi
possível verificar que os (as) estudantes já possuíam, antes da pesquisa, um conceito próprio
sobre assédio moral, o qual se aproximava muito das experiências vivenciadas por eles (as)
em sala de aula ou no espaço acadêmico de modo geral. Alguns estudantes figuraram e
desempenharam o papel de vítimas do assédio; outros (as) foram apenas espectadores (as);
enquanto outros (as), além de vítimas, foram espectadores (as).
Em relação às práticas de assédio moral pedagógico por parte dos (as) docentes ou de
outros (as) profissionais da educação, os (as) educandos (as), por meio do discurso do sujeito
coletivo, representando o eu coletivo, identificaram assédio moral como: “quando o (a)
docente foge dos bons costumes e ultrapassa os limites da moral e da ética, abusa do seu
poder enquanto professor (a), usando da sua posição de autoridade, sem consentimento, para
constranger, humilhar, faltar com respeito, causar sentimentos de medo, inferioridade e abalar
a integridade, o psicológico, o físico e o emocional do (a) aluno (a), seja por gestos, palavras
ou ações, sobretudo, por considerar que o (a) aluno (a) é subordinado (a) a ele (a)”. Percebe-
se, assim, que existe uma aproximação entre o discurso dos (as) estudantes e suas vivências
no espaço acadêmico. Essa análise foi possível por meio dos relatos descritos nos Quadros 24
e 25.
Como segunda questão norteadora, foi formulada a seguinte pergunta: Nas relações
de ensino, no contexto do seu curso de graduação, alguma vez você teve a percepção de
ser assediado (a) moralmente por algum (a) docente?
Destaca-se que a esta pergunta, 57,9 dos (as) estudantes responderam com um
retumbante e bombástico sim. Na percepção da maioria dos (as) estudantes, eles já foram
assediados moralmente por algum (a) docente ou outro (a) profissional da educação.
Dos 280 (duzentos e oitenta) estudantes que participaram da pesquisa, 162 (cento e
sessenta e dois), ou seja, mais da metade declararam possuir a percepção de já terem sido
assediados (as) moralmente em suas relações pedagógicas, no contexto do curso de
graduação, por algum (a) docente ou outro (a) profissional da educação. Infere-se, aqui, que
se trata de uma margem substancial de falas e relatos que expressam a percepção de um
coletivo de estudantes que sofreram danos em sua dignidade. Talvez no sinuoso caminho da
pesquisa, esta tenha sido a surpresa mais impactante e desagradável. Esperava-se a percepção
262
Para responder a estas perguntas, foi necessário identificar, a partir das observações
empíricas, dos relatos obtidos por meio da aplicação dos questionários e da realização das
entrevistas, que existe uma forma distinta de assédio moral praticada nas relações pedagógicas
e que interfere nos processos de ensino e aprendizagem - o assédio moral pedagógico.
O assédio moral pedagógico não é a mesma coisa de bullying (assédio moral escolar),
nem pode ser considerado apenas como assédio moral, termo genérico relacionado ao
ambiente laboral. Isso porque, quando se trata de assediar moralmente o outro nos espaços de
263
ensino, tem-se observado a existência de uma engenharia específica nas relações entre quem
ensina e quem aprende, especificamente, no desenvolvimento dos processos de ensino e
aprendizagem.
Outra pergunta norteadora da pesquisa foi: Qual a relação entre o dano sofrido com o
assédio moral pedagógico no espaço acadêmico e a expressão na esfera social, por parte dos
264
(as) estudantes?
Os danos causados à saúde psicológica, emocional e física dos (as) estudantes afetam e
comprometem a vida social dos (as) estudantes. O assédio moral pedagógico, enquanto forma
de violência, tem ligação direta com o bem-estar dos (as) alunos (as) e traz implicações
diretas no relacionamento destes (as) com seus familiares e amigos (as), comprometendo toda
a vida social da vítima. Tanto o assédio moral pedagógico, quanto as investidas assediosas ou
atos de assédio fazem com que estudantes oriundos de outras cidades e regiões passem a se
sentir sozinhos (as) e desprotegidos (as), o que contribui para o aumento do sentimento de
medo e do isolamento social.
De igual modo, estudantes que sofrem com retenção no fluxo do curso, sobretudo por
conta de reprovação em decorrência de assédio moral pedagógico ou de situações de
importunação assediosa, passam a enfrentar problemas familiares. A reprovação afeta as
relações familiares, principalmente por conta de questões econômicas, visto que existe uma
pressão por parte dos pais e responsáveis pelo sustento dos (as) estudantes para que estes (as)
concluam seus cursos dentro do tempo regular. Um maior tempo de permanência do estudante
na graduação implica maiores custos para os (as) responsáveis, o que acaba por gerar atrito.
Da mesma forma, a partir dos danos sofridos em sua saúde, uma parcela dos (as)
estudantes relataram ter perdido o interesse em continuar frequentando a instituição de ensino,
o que refletiu diretamente em sua esfera de convívio social, levando-os ao afastamento de
colegas e amigos (a) e afetando sua autoestima e desempenho acadêmico. Parte dos (as)
estudantes relataram um afloramento do sentimento de isolamento e inferioridade em relação
aos colegas.
O assédio moral ainda apresentou reflexos nas relações sociais do (a) estudante
assediado (a) com o (a) docente ou profissional da educação responsável pelo assédio. Isso
265
porque, para a vítima, existe um medo iminente de que tudo ocorra novamente, ou que ele (a),
estudante, possa ser jubilado (a) e/ou não consiga realizar seu sonho de se tornar um (a)
engenheiro (a). Foi quase unânime o discurso de que após o assédio eles (as) passaram a ter
dificuldades em conviver com a figura do (a) agressor (a) no espaço acadêmico.
Um fator que merece destaque é a forma como o assédio moral pedagógico afeta a
relação do (a) estudante com o espaço acadêmico e, por conseguinte, com sua própria
aprendizagem. O sofrimento, o medo e a insegurança mudam a forma como o (a) estudante se
266
relaciona com o espaço de ensino, fazendo com que se distancie de professores (as), demais
profissionais da educação, colegas e até familiares. Esse quadro impacta significativamente no
desenvolvimento cognitivo do (a) estudante.
O assédio moral pedagógico pode tornar um (a) estudante com bom desempenho
acadêmico em uma pessoa mais retraída, insegura e com diferentes problemas de
aprendizagem. Uns reprimem a agressividade sofrida; outros tendem a reproduzi-la.
Esta seção tem como objetivo analisar as hipóteses que foram testadas durante a
pesquisa e validadas ou não, à luz da análise do método do Discurso do Sujeito Coletivo.
Deste modo, buscou-se apresentar a perspectiva dos (as) estudantes frente a situações de
assédio moral no espaço acadêmico.
H01) No discurso dos (as) estudantes, o assédio moral é um tipo de violência real
no espaço acadêmico da IES onde estudam e possui especificidades, características
perversas, devendo ser combatido.
Esta hipótese foi plenamente confirmada pelo discurso do sujeito coletivo e os (as)
estudantes apontaram que existe uma série de especificidades que são empregadas para
assediá-los (comportamento intimidativo; comentários indecorosos, preconceituosos ou
depreciativos; comparações do desempenho acadêmico e cognitivo com relação a outros (as)
estudantes; exposição de trabalho acadêmico ou notas de forma a fazer o (a) estudante sentir-
se ridicularizado (a) ou envergonhado (a); recusa em explicar novamente um assunto ou sanar
dúvidas; pressão para que os (as) estudantes não façam uso de direitos assegurados na
267
só atentaram que determinadas condutas dos (as) profissionais da educação eram abusivas
após começarem a participar da pesquisa.
H03) O assédio moral no espaço acadêmico, por ter características próprias, pode
ser denominado como um subtipo de assédio e ser classificado como vertical (ascendente
e descendente), horizontal e misto.
A hipótese H03 foi parcialmente validada, visto que, de fato, o assédio moral
pedagógico foi identificado como uma espécie do gênero assédio moral, mas, quanto à
classificação, chegou-se a uma ampliação da ideia inicial. O assédio moral pedagógico foi
classificado como: assédio moral pedagógico vertical (ascendente e descendente), assédio
moral pedagógico horizontal, assédio moral pedagógico misto; assédio moral pedagógico
institucional e assédio moral pedagógico recíproco, sendo que este último tipo é uma
anomalia.
H04) Existe uma estruturação do assédio moral no espaço acadêmico, ou seja, ele
possui modalidades, categorias, fases, tempo de duração e formas de manifestação.
Esta também foi uma hipótese validade durante a pesquisa, visto que, por equiparação,
identificaram-se semelhanças e simetrias com diferentes teóricos que pesquisam sobre assédio
moral (categorias, fases e formas de manifestação). Concluiu-se que o assédio moral
pedagógico possui 6 (seis) fases: 1ª) ocorrência de um incidente e escolha da vítima; 2ª)
prática de atos isolados de assédio; 3ª) acirramento do ânimo do (a) agressor (a) com
implementação de situações de importunação assediosa; 4ª) retração da vítima e expansão dos
ideais de assédio; 5) exposição cruel e silenciamento da vítima; 6) esgotamento e ferida aguda
no (a) assediado.
Esta hipótese também foi parcialmente validada, visto que se constatou que as relações
pedagógicas nos processos de ensino e aprendizagem estabelecidas entre assediadores (as) e
assediados (as) possuem como sinal distintivo a posição hierarquicamente superior do (a)
docente e sua patente ascendência sobre os (as) estudantes, em virtude do seu cargo ou
'função', dada a atribuição que tem a cátedra de interferir diretamente no desempenho
acadêmico do (a) estudante.
De igual modo, foram inúmeras as variáveis que apontaram para o uso inadequado dos
instrumentos pedagógicos, ainda que em muitos casos possa haver incompetência do (a)
profissional em relação ao domínio técnico da didática, metodologias e estratégias de ensino.
De modo geral, os relatos apontaram que esses instrumentos são usados com o objetivo de
constranger, humilhar e causar dor na vida das vítimas.
H06) O assédio moral causa danos e reflexos à aprendizagem e vida dos (as)
estudantes, sendo os principais deles: dificuldade de relacionamento com o (a) docente e,
por conseguinte, baixo rendimento nos componentes curriculares; desencadeamento de
estresse e ansiedade; problemas emocionais; desânimo e desistência do curso.
Esta foi outra hipótese parcialmente validada. Constatou-se que o assédio moral
pedagógico causa danos e reflexos à aprendizagem e vida dos (as) estudantes das mais
diferentes formas, desde o modo como eles (as) passam a encarar a figura do (a) docente
assediador (a) até o desencadeamento de sintomas psicopatológicos, psicossomáticos e
comportamentais (tremores e palpitações cardíacas; dores musculares e nas articulações;
aumento na pressão arterial; taquicardia; falta de apetite; dores diversas no corpo; aumento de
peso; emagrecimento exagerado; problemas digestivos; cansaço excessivo; insônia; crises de
270
Esta hipótese foi confirmada apenas parcialmente. A grande maioria dos (as)
estudantes não denunciam aos setores competentes da IES, nem buscam fazer valer seus
direitos junto ao poder judiciário. São raros os casos de alguma manifestação na mídia,
sobretudo pelo medo de exposição e represálias. Há apenas relatos de uso das mídias sociais
para manifestar a insatisfação com o assédio. Nenhum caso relatado chegou ao conhecimento
da mídia, pelo medo expressado pelos (as) estudantes. Houve relato de uma procura ao
Ministério Público e de uma consulta a um advogado, mas em ambos os casos não houve
ajuizamento de ações.
Identificou-se que a maioria dos (as) educandos (as) conhecem os seus direitos, mas
temem fazer uso deles, por acreditarem que a burocracia e o corporativismo manterão os (as)
agressores (as) sem punição.
Esta hipótese também foi parcialmente validada. Confirmou-se que os (as) estudantes
temem represálias e sentem vergonha de denunciar, no entanto, não ficou comprovado que
eles (as) desconhecem a legislação e os seus direitos. A difusão da internet e o maior acesso
às tecnologias da informação e comunicação por parte de estudantes do ensino superior tornou
o conhecimento sobre os direitos destes mais acessível. No entanto, parece que o medo e a
vergonha intimidam os (as) estudantes, que, mesmo conhecendo a legislação e sendo
sabedores dos seus direitos, optam por sofrer calados (as). O ambiente acadêmico não tem-se
mostrado favorável a uma postura de denúncia por parte dos (as) estudantes, visto que falta
acolhimento.
H09) O (a) estudante assediado (a) tem queda em seu rendimento acadêmico,
enfrenta dificuldades para aprender e se sente desmotivado (a) para estudar.
A hipótese H09 foi plenamente validada, visto que o discurso do sujeito coletivo
apontou queda no rendimento acadêmico, dificuldades para aprender e desmotivação para
estudar como algumas das consequências do assédio moral pedagógico. Para além dessas
consequências, foi possível identificar, ainda, por conta dos comportamentos abusivos e
humilhantes, falta de atenção e concentração, ausência às aulas, desejo de desistir do curso e
perda do sentido da vida.
Esta última hipótese também foi validada, visto que o assédio moral pedagógico no
espaço acadêmico causa danos muitas vezes irreparáveis para a vida e saúde dos (as)
estudantes, suas famílias, o espaço de ensino e a sociedade. Ameaças constantes;
autoritarismo; intolerância; atitudes de desprezo; constrangimento; humilhação pública;
272
A forma como cada estudante sente, reage e se sujeita ao assédio moral pedagógico
depende do ambiente, da figura do (a) agressor (a) e da própria estrutura emocional da vítima.
A percepção dos (as) estudantes quanto ao assédio moral pedagógico, no espaço acadêmico,
permite concluir que são altos os percentuais de atos de assédio moral praticados pelos (as)
docentes.
Por sua vez, uma conduta atípica pode ser configurada como um ato de assédio,
enquanto um conjunto de atos de assédio, iguais ou diferentes, tipificam uma situação de
importunação assediosa. Esta, por sua vez, se repetida de forma intencional e sistemática, de
modo a causar dor e trazer dano à personalidade, à dignidade, à integridade física ou psíquica
caracteriza o assédio moral pedagógico.
Sabe-se que o mundo do trabalho está cada vez mais competitivo e que as frustrações
pessoais, a pouca valorização social da profissão docente, a precariedade dos contratos de
trabalho, a redução de direitos trabalhistas, a reforma previdenciária, o aumento no volume de
trabalho e o estresse laboral são algumas das situações que contribuem para que o ambiente
acadêmico seja propício à prática do assédio moral pedagógico. No entanto, essas situações
não podem ser usadas pelos (as) docentes como justificativas e escudo para essa prática que é
uma forma de violência.
De igual sorte, essas ações podem ser extensivas aos outros cursos ofertados na
instituição, visto que muitos (as) dos (as) possíveis agressores (as) ministram componentes
274
curriculares não apenas nas engenharias. O problema então, pode ser generalizado, uma vez
que a cultura organizacional se apresentou favorável a esse tipo de comportamento.
Em vista disso, destaca-se que assédio moral pedagógico não é um mero problema de
convivência entre profissionais da educação e estudantes, mas uma forma cruel, desprezível e
vergonhosa de violência, que torna as relações pedagógicas, os espaços de ensino e os
processos de ensino e aprendizagem em instrumentos, mecanismos e ambientes de tortura
psicológica.
Exige-se, daqueles (as) que escolheram ser educadores (as), uma postura que favoreça,
promova, incentive e se fundamente nos valores da liberdade, da justiça, da igualdade, da
solidariedade, da cooperação, da tolerância e da paz, essenciais e imprescindíveis à vida em
sociedade. Somente com uma educação emancipadora, autônoma e cidadã será possível
formar indivíduos livres, independentes e despidos de toda forma de intolerância.
275
O assédio moral pedagógico será banido das relações pedagógicas e dos processos de
ensino e aprendizagem quando os (as) profissionais da educação acreditarem nas
potencialidades e capacidades dos seus alunos (as) e estimularem seu desenvolvimento
cognitivo, afetivo e social. De igual modo, os (as) estudantes precisam respeitar, valorizar e
reconhecer a importância da figura do (a) docente nas relações pedagógicas e nos processos
de ensino e aprendizagem.
6.4 Como cada grupo pode prevenir e combater o assédio moral pedagógico
Não existe uma fórmula perfeita ou mágica para prevenção e combate ao assédio
moral pedagógico, visto tratar-se de um fato social que se apresenta em forma de violência.
Além de estar arraigado nas práticas sociais, está incorporado na cultura organizacional de
muitas instituições e na conduta profissional e acadêmica de muitas pessoas. No entanto,
existe um conjunto de medidas que, se forem adotadas de forma concomitante pela sociedade
civil, pelos governos, pelos (as) estudantes e demais vítimas e, sobretudo, pelas instituições de
ensino que pode pôr fim a esse flagelo social.
6.4.1 Sociedade
Organizar grupos de apoio mútuo para pessoas que já foram vítimas de assédio
moral pedagógico, com o objetivo de promover o acolhimento, a escuta e o
compartilhamento de experiências.
276
Apurar e punir com a devida equidade os casos de assédio moral pedagógico que
chegarem em forma de denúncia às diferentes instâncias da IES, seja por meio de
sindicâncias ou processos administrativos disciplinares, nos quais sejam
assegurados o contraditório e a ampla defesa;
6.4.3 Vítimas
Evitar confronto com o (a) agressor (a) e ficar a sós com ele (a);
Buscar a mediação de uma terceira pessoa, que seja imparcial e esteja disposta a
ajudar na solução problema, de modo a confrontar as diferentes versões do
278
6.4.4 Governos
Utilizar esta pesquisa para elaborar indicadores sobre o assédio moral pedagógico
de modo a tornar possível a averiguação dos níveis de assédio nas instituições de
ensino;
Este é um estudo pioneiro e inovador na área do assédio moral, principalmente por ser
a primeira tese sobre assédio moral pedagógico elaborada a partir da análise do discurso de
estudantes da área da engenharia, utilizando o método do Discurso do Sujeito Coletivo para
análise dos dados. Entretanto, considera-se que a presente pesquisa apresentou diversas
limitações. Diante dos dados obtidos e da sua análise, surgiram mais perguntas e outras
dúvidas sobre o assunto. No entanto, desbravar o caminho arenoso desta pesquisa ajudou a
aprofundar a compreensão sobre tema tão relevante para milhares de jovens estudantes.
Espera-se que este trabalho seja uma primeira porta para novas investigações e
281
De igual modo, que dois ou três grupos de estudantes sejam acompanhados desde o
ingresso na IES até a conclusão dos seus estudos e que, ao longo dos semestres, possam
colaborar com suas impressões, relatos e memórias sobre a prática do assédio moral
pedagógico durante sua permanência no curso.
Sugere-se que, em pesquisas futuras, seja identificado de forma mais completa o perfil
das vítimas do assédio moral pedagógico, sobretudo buscando identificar indicadores
relacionados a questões de gênero, etnia/cor e condição socioeconômica.
Por último, que estes dados primários sejam utilizados em futuras pesquisas sobre o
assédio moral pedagógico.
Enfim, são inesgotáveis as possibilidades de pesquisas futuras sobre este tema, caro à
sociedade, abordado nesta tese.
6.7 Desdobramentos
e estimular o exercício da docência no mais alto nível de dignidade que a profissão requer.
Por último, que nunca seja esquecido que só é possível matar um homem uma única
vez, mas quando ele é assediado, ele é morto pouco a pouco.
283
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ZANETTI, Robson. Assédio moral no trabalho. São Paulo: Editora Juruá, 2000.
APÊNDICES
302
Você está sendo convidado (a) a participar da pesquisa Assédio moral acadêmico: as
percepções dos estudantes no discurso do sujeito coletivo, desenvolvida por Acimarney
Correia Silva Freitas, discente do Programa de Pós-Graduação em Ensino – Doutorado em
Ensino (Conceito Capes 4) da Universidade do Vale do Taquari - UNIVATES, sob orientação
do Professor do Mestrado e Doutorado em Ensino, Prof. Dr. José Cláudio Del Pino.
O objetivo central da pesquisa é verificar quais as percepções dos estudantes das engenharias
relacionadas à prática do assédio moral nas relações de ensino por parte dos (as) professores
(as), identificando as expressões, características e repercussões do assédio, bem como formas
de combatê-lo a partir das memórias, relatos e sentimentos por meio da análise do discurso do
sujeito coletivo.
O convite a sua participação se deve ao fato de estar matriculado em uma das engenharias
ofertadas pelo (a) NOME DA INSTITUIÇÃO, cujo público é o objeto desta pesquisa.
Sua participação é voluntária, isto é, ela não é obrigatória, e você tem plena autonomia para
decidir se quer ou não participar, bem como retirar sua participação a qualquer momento.
Você não será penalizado (a) de nenhuma maneira, caso decida não consentir sua participação,
ou desistir da mesma após começar. Contudo, ela é muito importante para a execução desta
pesquisa. Serão garantidas a confidencialidade e a privacidade das informações por você
prestadas, não sendo divulgado em nenhuma hipótese o seu nome ou de algum (a) “professor
(a) assediador (a) ou profissional da educação”.
Registra-se que qualquer dado que possa identificá-lo (a) ou identificar um (a) “professor (a)
assediador (a) ou profissional da educação” será omitido na divulgação dos resultados da
pesquisa, e o material será armazenado em local seguro.
A qualquer momento, durante a pesquisa, ou posteriormente, você poderá solicitar do
pesquisador informações sobre sua participação e/ou sobre o andamento e resultados dela, o
que poderá ser feito através dos meios de contato explicitados neste Termo.
304
O objetivo da pesquisa não é conhecer, nem identificar o nome de possíveis “professores (as)
assediadores (as), nem de profissionais da educação, nem dos (as) estudantes que sofreram
assédio”. Espera-se ao final da pesquisa identificar as percepções dos (as) estudantes em
relação às memórias do assédio moral ocorrido no ambiente acadêmico. Caso, eventualmente,
algum (a) estudante cite ou identifique algum (a) docente, estas informações serão omitidas
dos resultados da pesquisa, bem como, dos relatórios. Visando resguardar qualquer lesão ao
nome, imagem ou dignidade da pessoa humana dos (as) professores (as) e demais
profissionais da educação, os (as) mesmos (as) não serão identificados (as) em nenhuma
hipótese por seus nomes ou características pessoais, sendo que, na hipótese de algum
estudante citar o nome de docentes, os mesmos serão identificados como P-1; P-2; P-3; P-4 e
P-5.
Toda pesquisa possui riscos potenciais, maiores ou menores, de acordo com o objeto de
pesquisa, seus objetivos e a metodologia escolhida. Ressalta-se que ao participar desta
pesquisa você se sujeita a trazer a memória lembranças e recordações de situações em que
você tenha se sentido assediado (a), agredido (a), constrangido (a) ou humilhado (a) e isto
pode lhe causar dor e sofrimento.
Os dados individuais serão estritamente confidenciais e não haverá identificação dos (as)
colaboradores (as). No entanto, caso queiram, podemos enviar, ao final da pesquisa, um
relatório sobre os resultados gerais da pesquisa (sem que esta ação comprometa a
confidencialidade dos dados individuais).
305
Em caso de dúvida quanto à condução ética do estudo, entre em contato com o Comitê de
Ética em Pesquisa da Univates (Coep/Univates). O Comitê de Ética é a instância que tem por
objetivo defender os interesses dos (as) participantes da pesquisa em sua integridade e
dignidade e para contribuir no desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões éticos. Dessa
forma o comitê tem o papel de avaliar e monitorar o andamento do projeto de modo que a
pesquisa respeite os princípios éticos de proteção aos direitos humanos, da dignidade, da
autonomia, da não maleficência, da confidencialidade e da privacidade.
Contatos: (51) 3714.7000, ramal 5339 e coep@univates.br.
_________________________________________
(Assinatura do (a) participante da pesquisa)
Nome do (a) participante:
Orientações: Todas as páginas estão numeradas. O aceite e autorização para participar serão
dados no formulário impresso mediante assinatura do termo e no formulário online mediante
devolução respondida. Não serão identificados os e-mails dos (as) participantes.
306
QUESTIONÁRIO INVESTIGATIVO
Este é um questionário parte integrante da pesquisa sobre assédio moral nas relações de
ensino, sob a responsabilidade do pesquisador Acimarney C. S. Freitas, Doutorando em
Ensino pela Univates e sob a orientação do Prof. Dr. José Cláudio Del Pino.
__________________
_______________________________________________
5 - Considerando a definição de que “assédio moral é um tipo de violência por meio da qual
determinada pessoa humilha, constrange, ofende e ataca à dignidade de outra, a partir de sua
posição social, hierárquica ou de poder, de forma intencional e repetitiva”, nas relações de
ensino, no contexto do seu curso de graduação, alguma vez você teve a percepção de ser
assediado (a) moralmente por algum (a) docente?
( ) SIM
( ) NÃO
( ) NÃO SE APLICA
307
6 - Você conversou com algum (a) servidor (a) da instituição sobre este possível assédio
moral?
( ) SIM
( ) NÃO
( ) NÃO SE APLICA
7 - Você já realizou alguma denúncia formal sobre assédio moral para algum órgão/setor da
instituição?
( ) SIM
( ) NÃO
( ) NÃO SE APLICA
8 - Algum órgão/setor da instituição foi omisso ou coparticipe do (s) fato (s) relacionados ao
assédio moral?
( ) SIM
( ) NÃO
( ) NÃO SE APLICA
11 - Em sua percepção, sua presença já foi ignorada por algum (a) docente?
1( ) – Jamais / Nunca
2( ) – Uma única vez
3( ) – Às vezes
4( ) – Muitas vezes
5( ) – Sempre
6( ) – Não se aplica
12 – Em sua percepção, algum (a) docente costuma estabelecer prazos impossíveis de serem
cumpridos nas atividades acadêmicas avaliativas?
1( ) – Jamais / Nunca
2( ) – Uma única vez
3( ) – Às vezes
4( ) – Muitas vezes
5( ) – Sempre
6( ) – Não se aplica
308
13 - O tamanho e o grau de dificuldade das avaliações são compatíveis com o tempo para
realizá-las?
1( ) – Jamais / Nunca
2( ) – Raramente
3( ) – Às vezes
4( ) – Muitas vezes
5( ) – Sempre
6( ) – Não se aplica
14 - Os conteúdos cobrados nas avaliações são compatíveis com o que foi ensinado em sala
de aula?
1( ) – Jamais / Nunca
2( ) – Raramente
3( ) – Às vezes
4( ) – Muitas vezes
5( ) – Sempre
6( ) – Não se aplica
15 - Você já foi pressionado (a) a não fazer uso de direitos que você tinha enquanto estudante
(acesso à prova, revisão de prova, segunda chamada)?
1( ) – Jamais / Nunca
2( ) – Uma única vez
3( ) – Às vezes
4( ) – Muitas vezes
5( ) – Sempre
6( ) – Não se aplica
16 - Você já recebeu críticas sarcásticas, respostas evasivas ou apelidos em sala de aula por
parte de algum(a) docente?
1( ) – Jamais / Nunca
2( ) – Uma única vez
3( ) – Às vezes
4( ) – Muitas vezes
5( ) – Sempre
6( ) – Não se aplica
17 – Algum(a) docente já gritou, destratou ou teceu comentários ofensivos sobre sua pessoa?
1( ) – Jamais / Nunca
2( ) – Uma única vez
3( ) – Às vezes
4( ) – Muitas vezes
5( ) – Sempre
6( ) – Não se aplica
309
18 – Algum (a) docente já teve algum comportamento intimidativo com você em sala de aula
ou fez comentários indecorosos, preconceituosos ou depreciativos?
1( ) – Jamais / Nunca
2( ) – Uma única vez
3( ) – Às vezes
4( ) – Muitas vezes
5( ) – Sempre
6( ) – Não se aplica
19 – Algum (a) docente já expôs o seu trabalho acadêmico ou notas, de forma a você sentir-se
ridicularizado (a) ou envergonhado (a)?
1( ) – Jamais / Nunca
2( ) – Uma única vez
3( ) – Às vezes
4( ) – Muitas vezes
5( ) – Sempre
6( ) – Não se aplica
20 - Você já se sentiu humilhado (a), desprezado (a) ou ignorado (a) por algum (a) docente
em sala de aula?
1( ) – Jamais / Nunca
2( ) – Uma única vez
3( ) – Às vezes
4( ) – Muitas vezes
5( ) – Sempre
6( ) – Não se aplica
21 - Você já sofreu por parte de algum (a) docente comparações do seu desempenho
acadêmico e cognitivo com relação a outros (as) estudantes de modo a se sentir inferiorizado
(a)?
1( ) – Jamais / Nunca
2( ) – Uma única vez
3( ) – Às vezes
4( ) – Muitas vezes
5( ) – Sempre
6( ) – Não se aplica
23 - Em sua percepção, os (as) docentes costumam respeitar as questões individuais dos (as)
estudantes, relacionadas com condição econômica, gênero, etnia, orientação sexual,
necessidades educativas específicas e credo religioso?
1( ) – Jamais / Nunca
2( ) – Raramente
3( ) – Às vezes
4( ) – Muitas vezes
5( ) – Sempre
6( ) – Não se aplica
26 - Você já foi vítima de calúnia, difamação, boato ou fofoca por parte de algum (a) docente?
1( ) – Jamais / Nunca
2( ) – Uma única vez
3( ) – Às vezes
4( ) – Muitas vezes
5( ) – Sempre
6( ) – Não se aplica
27 - Você já se sentiu assediado (a) sexualmente por parte de algum (a) docente?
1( ) – Jamais / Nunca
2( ) – Uma única vez
3( ) – Às vezes
4( ) – Muitas vezes
5( ) – Sempre
6( ) – Não se aplica
O objetivo central da pesquisa é verificar quais as percepções dos (as) estudantes das
engenharias relacionadas à prática do assédio moral nas relações de ensino por parte dos (as)
professores (as) e demais profissionais da educação, identificando as expressões,
características e repercussões do assédio, bem como formas de combatê-lo a partir das
memórias, relatos e sentimentos por meio da análise do discurso do sujeito coletivo.
O convite a sua participação se deve ao fato de estar matriculado (a) em uma das engenharias
ofertadas pela instituição, cujo público é o objeto desta pesquisa e ter se disponibilizado
voluntariamente a contribuir mais com a pesquisa.
Sua participação é voluntária, isto é, ela não é obrigatória, e você tem plena autonomia para
decidir se quer ou não participar, bem como retirar sua participação a qualquer momento.
Você não será penalizado (a) de nenhuma maneira caso decida não consentir sua participação,
ou desistir da mesma após o início. Contudo, sua participação é muito importante para a
execução da pesquisa. Serão garantidas a confidencialidade e a privacidade das informações
por você prestadas.
Registra-se que qualquer dado que possa identificá-lo (a) será omitido na divulgação dos
resultados da pesquisa, e o material será armazenado em local seguro. Em nenhuma hipótese
será divulgado o nome ou características pessoais de qualquer “professor (a) assediador (a) ou
demais profissionais da educação”.
313
O objetivo da pesquisa não é conhecer, nem identificar o nome de possíveis “professores (as)
assediadores (as) ou qualquer outro (a) profissional da educação”. Espera-se ao final da
pesquisa identificar as percepções dos (as) estudantes em relação às memórias do assédio
moral ocorrido no ambiente acadêmico. Caso, eventualmente, algum (a) estudante cite ou
identifique algum (a) docente, estas informações serão omitidas dos resultados da pesquisa,
bem como, dos relatórios. Visando resguardar qualquer lesão ao nome, imagem ou dignidade
da pessoa humana dos (as) professores (as) ou qualquer outro (a) profissional da educação,
objeto da pesquisa, os (as) mesmos (as) não serão identificados (as) em nenhuma hipótese por
seus nomes ou características pessoais, sendo que para as entrevistas os (as) mesmos (as)
serão identificados (as) como P-1; P-2; P-3; P-4 e P-5.
Toda pesquisa possui riscos potenciais, maiores ou menores, de acordo com o objeto de
pesquisa, seus objetivos e a metodologia escolhida. Ressalta-se que ao participar desta
pesquisa você se sujeita a trazer a memória lembranças e recordações de situações em que
você tenha se sentido assediado (a), agredido (a), constrangido (a) e/ou humilhado (a), o que
poderá gerar dor, sofrimento e tristeza novamente.
Em caso de dúvida quanto à condução ética do estudo, entre em contato com o Comitê de
Ética em Pesquisa da Univates (Coep/Univates). O Comitê de Ética é a instância que tem por
objetivo defender os interesses dos (as) participantes da pesquisa em sua integridade e
dignidade e para contribuir no desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões éticos. Dessa
forma o comitê tem o papel de avaliar e monitorar o andamento do projeto de modo que a
pesquisa respeite os princípios éticos de proteção aos direitos humanos, da dignidade, da
autonomia, da não maleficência, da confidencialidade e da privacidade.
Contatos: (51) 3714.7000, ramal 5339 e coep@univates.br.
_________________________________________
(Assinatura do (a) participante da pesquisa)
Nome do (a) participante:
315
5 – Relate em uma frase como foi o assédio moral que você sofreu:
7 - Qual a memória mais marcante que você tem do assédio moral sofrido e os sentimentos
que ele despertou?
8 - Como você se sente hoje ao lembrar do assédio moral e do (a) docente assediador (a)?
10 - Quais ações poderiam ser realizadas para combater o assédio moral por parte dos (a)
docentes?
316
11 - Ao se sentir assediado (a), alguma vez você já procurou algum meio de comunicação
para denunciar? Você conhece seus direitos em relação ao assédio moral? Você já recorreu à
justiça?
ANEXOS
318
Considerando o respeito pela dignidade humana e pela especial proteção devida aos
participantes das pesquisas científicas envolvendo seres humanos;
[...] Projetos de pesquisa envolvendo seres humanos deverão atender a esta Resolução.
320
II.7 - indenização - cobertura material para reparação a dano, causado pela pesquisa ao
participante da pesquisa;
321
c) ser realizada somente quando o conhecimento que se pretende obter não possa ser
obtido por outro meio;
O respeito devido à dignidade humana exige que toda pesquisa se processe com
consentimento livre e esclarecido dos participantes, indivíduos ou grupos que, por si e/ou por
seus representantes legais, manifestem a sua anuência à participação na pesquisa.
a) buscar o momento, condição e local mais adequados para que o esclarecimento seja
efetuado, considerando, para isso, as peculiaridades do convidado a participar da pesquisa e
sua privacidade;
c) ser aprovado pelo CEP perante o qual o projeto foi apresentado e pela CONEP,
quando pertinente; e
d) ser elaborado em duas vias, rubricadas em todas as suas páginas e assinadas, ao seu
término, pelo convidado a participar da pesquisa, ou por seu representante legal, assim como
pelo pesquisador responsável, ou pela (s) pessoa (s) por ele delegada (s), devendo as páginas
de assinaturas estar na mesma folha. Em ambas as vias deverão constar o endereço e contato
telefônico ou outro, dos responsáveis pela pesquisa e do CEP local e da CONEP, quando
pertinente.
c.6) possibilidade de obter conhecimento científico relevante, ou novo, que não possa
ser obtido de outra maneira;
IV.7 - Na pesquisa que dependa de restrição de informações aos seus participantes, tal
fato deverá ser devidamente explicitado e justificado pelo pesquisador responsável ao Sistema
CEP/CONEP. Os dados obtidos a partir dos participantes da pesquisa não poderão ser usados
para outros fins além dos previstos no protocolo e/ou no consentimento livre e esclarecido.
IV.8 - Nos casos em que seja inviável a obtenção do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido ou que esta obtenção signifique riscos substanciais à privacidade e
confidencialidade dos dados do participante ou aos vínculos de confiança entre pesquisador e
pesquisado, a dispensa do TCLE deve ser justificadamente solicitada pelo pesquisador
responsável ao Sistema CEP/CONEP, para apreciação, sem prejuízo do posterior processo de
esclarecimento.
Toda pesquisa com seres humanos envolve risco em tipos e gradações variados.
Quanto maiores e mais evidentes os riscos, maiores devem ser os cuidados para minimizá-los
331
e a proteção oferecida pelo Sistema CEP/CONEP aos participantes. Devem ser analisadas
possibilidades de danos imediatos ou posteriores, no plano individual ou coletivo. A análise
de risco é componente imprescindível à análise ética, dela decorrendo o plano de
monitoramento que deve ser oferecido pelo Sistema CEP/CONEP em cada caso específico.
V.4 - Nas pesquisas na área da saúde, tão logo constatada a superioridade significativa
de uma intervenção sobre outra(s) comparativa(s), o pesquisador deverá avaliar a necessidade
de adequar ou suspender o estudo em curso, visando oferecer a todos os benefícios do melhor
regime.
V.5 - O Sistema CEP/CONEP deverá ser informado de todos os fatos relevantes que
alterem o curso normal dos estudos por ele aprovados e, especificamente, nas pesquisas na
área da saúde, dos efeitos adversos e da superioridade significativa de uma intervenção sobre
outra ou outras comparativas.
V.7 - Os participantes da pesquisa que vierem a sofrer qualquer tipo de dano resultante
de sua participação na pesquisa, previsto ou não no Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, têm direito à indenização, por parte do pesquisador, do patrocinador e das
instituições envolvidas nas diferentes fases da pesquisa.
VI - DO PROTOCOLO DE PESQUISA
O protocolo a ser submetido à revisão ética somente será apreciado se for apresentada
toda documentação solicitada pelo Sistema CEP/CONEP, considerada a natureza e as
especificidades de cada pesquisa. A Plataforma BRASIL é o sistema oficial de lançamento de
pesquisas para análise e monitoramento do Sistema C E P / C O N E P.
VII.4 - A revisão ética dos projetos de pesquisa envolvendo seres humanos deverá ser
associada à sua análise científica.
VIII.1 - avaliar protocolos de pesquisa envolvendo seres humanos, com prioridade nos
temas de relevância pública e de interesse estratégico da agenda de prioridades do SUS, com
base nos indicadores epidemiológicos, emitindo parecer, devidamente justificado, sempre
orientado, dentre outros, pelos princípios da impessoalidade, transparência, razoabilidade,
proporcionalidade e eficiência, dentro dos prazos estabelecidos em norma operacional,
evitando redundâncias que resultem em morosidade na análise;
AT R I B U I Ç Õ E S :
1.1. envio para o exterior de material genético ou qualquer material biológico humano
para obtenção de material genético, salvo nos casos em que houver cooperação com o
Governo Brasileiro;
1.6. pesquisas nas quais esteja prevista a dissociação irreversível dos dados dos
participantes de pesquisa;
DAS COMPETÊNCIAS:
d) receber denúncias de abusos ou notificação sobre fatos adversos que possam alterar
o curso normal do estudo, decidindo pela continuidade, modificação ou suspensão da
pesquisa, devendo, se necessário, solicitar a adequação do Termo de Consentimento;
3. aplica-se à CONEP, nas hipóteses em que funciona como CEP, as disposições sobre
Procedimentos de Análise Ética dos CEP.
3. pesquisa que não se faça acompanhar do respectivo protocolo não deve ser
analisada;
a) aprovado;
c) não aprovado;
7. das decisões de não aprovação caberá recurso ao próprio CEP e/ou à CONEP, no
prazo de 30 dias, sempre que algum fato novo for apresentado para fundamentar a
necessidade de uma reanálise;
9. uma vez aprovado o projeto, o CEP, ou a CONEP, nas hipóteses em que atua como
CEP ou no exercício de sua competência originária, passa a ser corresponsável no que se
refere aos aspectos éticos da pesquisa; e
XI - DO PESQUISADOR RESPONSÁVEL
XII.3 - A presente Resolução, por sua própria natureza, demanda revisões periódicas,
conforme necessidades das áreas ética, científica e tecnológica.
Presidente do Conselho