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SUMARIO UNIDADE 4 - INTRODUGAO.. UNIDADE 2 — SURGIMENTO E EVOLUCAO DO DIREITO PROCESSUAL.. 2.1 Periodo romano... 2.2 Periodo medieval 2.3 Processo Civil MOdErNO ......csssessssseussesenstsensetienstissseesneeensseieenseennettenseteeseeee) 2.4 Atualidades € perspectivas fUtUras...........eccssseccsssesesssneesssneessnneesanneeessnnees 12 14 2.5 O processo civil no Brasil . seo UNIDADE 3 - CONCEITOS QUE PERPASSAM O DIREITO DE PROCESSO CIVIL 18 UNIDADE 4 - FUNCAO JURISDICIONA! 26 4.1 JUTSdiga0 € AGO w.sccssessnieneneenentntentntienentnintnnsntnennnsnn DT 4.2 Dos limites da jurisdi¢ao nacional... 29 4.3 Da cooperacdio internacional....s.ssnsssnsentstnenetnenentntnnstatnennnnsne2 233 4.4 Cooperagao nacional .. se UNIDADE 5 — PECULIARIDADES DO NOVO CPC E " ALTERAGOES MAIS VISIVEIS . 5.1 Peculiaridades do Novo CPC 5.2 Allteragdes para as partes litigantes UNIDADE 6 - A COOPERACAO NO NOVO CPC REFERENCIAS. Todos os direitos sao reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convengaio internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utlizada, seja por meios eletténicos ou mec&nicos, inclusive fotocépias ou gravagses, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem 0 consentimento por escrito do Grupo Prominas. UNIDADE 1 - INTRODUGAO Aumentar a velocidade de resolugées e diminuir 0 grande volume de recursos demandados podem ser considerados os dois principais objetivos de se elaborar um Novo Cédigo de Proceso Civil. Nos dizeres de DIORGENES ANDRE DELLANI (2014), a malcria dos cidadaos percebe que 0 judiciério & muito moroso, 0 que leva este drgao a0 desprestigio © a insatistacdo de toda a nacao. Todas as pessoas clamam por uma justica que seja mais oélere e eficaz, uma vez que com a demora na prestacao jurisdicional nem sempre a justice ¢ feita, ois chega tarde demais. © resgate ao prestigio do judiciario, bem como a modemizacéo e atendimento as demandas com mais eficiéncia so os principais objetivos do novo Cédigo de Processo Civil. Para aqueles que defenderam a produgdo de um novo Cédigo, o seu principal argumento realmente foi a morosidade da justiga bra: © atual diploma legislative néo era capaz de atender as necessidades da ira, acreditando que comunidade com eficiéncia, pois ndo atendiam ou resolviam os conflitos em um tempo adequado. Outro ponto é que o atual sistema era recheado de formalisms e recursos, necessitando de uma grande reforma para 0 atendimento & promessa constitucional de uma justica célere e eficaz. Usamos 0 passado porque 4 estamos a poucos passos da entrada em vigor do novo CPC, porém, é bom advertir que Nao se quis, com 0 novo Cédigo, ‘zerar’ o direito processual, fazer ‘tébula rasa’ de tudo 0 que existe. Quis-se, sim, inovar, a partir do que ja existe, respeitando as conquistas. Dando-se passos a frente. Assim @ que devem ocorrer as mudangas das ciéncias ditas sociais, da lei, da jurisprudéncia: devagar. Porque ‘também devagar mudam as sociedades. Nada de mudangas bruscas, que nao correspondem aquilo que se quer, que assustam, atordoam @ normalments nao sao satisfatoriamente assimilacas. Nao hé razao para nao se manter tudo 0 que de positive jé tinhamos concebido. Nada como se engendrar um novo sistema, de forma equilibrada, entre conservagao e inovagao (WAMBIER et al., 2015) Mas a que ver o Direito Processual Civil? Todos 0s direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com @ convengao internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser repreduzida ou utlizada seja por moios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines. CASSIO SCARPINELLA BUENO (2015) nos explica com muita propriedade que o direito processual ci Poder Judicidrio (Estado-juiz) exercer a sua atividade-fim, isto é, prestar a tutela I 6 0 ramo do direito que se volta a estudar a forma de o jurisdicional a partir do conflito de interesse (potencial ou ja existente) que exista entre duas ou mais pessoas. Como ¢ vedada que as pessoas envolvidas nesse conflito imponham umas as outras dada solugdo, elas devem dirigit-se a0 Judiciario para tanto. Esse caminho de ida (ao Judiciario), de permanéncia (no Judiciario) e de chegada (pelo Judicidrio) & solugao do conflito e sua concretizagao pratica — impositiva se for 0 caso — é © que ocupa o estudante e 0 estudioso do direito processual civil. Pois bem, iniciamos este médulo especifico contando um pouco de historia: © surgimento e evolugéo do direito processual; passaremos para conceitos que perpassam 0 direito de processo civil, @ funcao jurisdicional envolvendo jurisdigao e ago, os limites da jurisdic nacional, a cooperagao internacional, a competéncia, os deveres das partes e dos procuradores; peculiaridades do novo CPC e alteragdes mais visiveis como para as partes litigantes focando a cooperagao no novo CPC. Ressaltamos em primeiro lugar que embora a escrita académica tenha como premissa ser cientifica, baseada em normas e padrées da academia, fugiremos um pouco as regras para nos aproximarmos de vocés e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas ndo menos cientificos. Em segundo lugar, deixamos claro que este modulo é uma compilagao das ideias de varios autores, incluindo aqueles que consideramos classicos, nao se tratando, portanto, de uma redacdo original e tendo em vista o cardter didatico da obra, ndo sero expressas opinides pessoais. Ao final do médulo, além da lista de referéncias basicas, encontram-se muitas outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas e que podem servir para sanar lacunas que por ventura surgirem ao longo dos estudos. Todos 0s direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com @ convengao internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser repreduzida ou utlizada seja por moios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines. UNIDADE 2 - SURGIMENTO E EVOLUGAO DO DIREITO PROCESSUAL 2.4 Periodo romano Segundo MARCUS VINICIUS RIOS GONGALVES (2011), 0 estudo do desenvolvimento do processo civil na antiguidade e na época medieval, apés as invasées barbaras, tem relevancia puramente historica ja que, a rigor, nao se podia, entao, falar no processo como ciéncia auténoma, © que havia nesse periodo era uma assimilagao entre os conceitos de processo e ago, em que nao se fazia a distingdo entre o direito material e 0 processual. Nao havia a ciéncia auténoma do proceso, cujos institutos fundamentais ndo se distinguiam daqueles do direito material. O direito processual integrava 0 material, era como uma espécie de ramo deste. Mas, foi a partir dessa ralz romano-germédnica que ele evoluiu. Inimeros institutos se desenvolveram nesse periodo, e tornaram-se profundamente teis ao processo, mas sem que tivessem por matriz uma ciéncia auténoma. Eram estudados como pertences do direito material. O direito processual surgiu na Roma antiga e muito de seus fundamentos ¢ organizagées sdo a base dos procedimentos usados por paises de direito Romano- Germénico (ALMEIDA, 2015). O direito processual romano é comumente dividide em trés fases, através das quais, pode-se acompanhar sua evolugao através dos séculos. A primeira fase 6 chamada de periodo primitive ou arcaico, ou ainda de Agées da Lei (legis actiones) @ vai da fundagao de Roma (754 a.C.) até o ano de 149 a.C.; a segunda fase 6 0 periodo formulario que se estende até o sec, Ill da era crista. Por fim, tem-se a fase da cognitio extraordinaria ou pés-classica. © periodo arcaico foi marcado por seu procedimento extremamente formal ¢ solene no qual era necessaria uma perfeita aderéncia ao ritual, a falta de uma palavra ou sua substituicdo implicava na anulagdo do proceso. O processo era oral e dividido em duas etapas: in iure na qual se julgava entre o cabimento ou ndo da ago, realizada diante de um magistrado, e a in iudicio que seria na qual eram produzidas as provas, principalmente testemunhals e documentais, bem como o Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convengao internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser repreduzida ou utlizada seja por moios életrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravacées, ou, por sistemas de armazenagem e Tecuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. proferimento da sentenga por um arbitro ou grupo de jurados no vinculados ao Estado. Nesse periodo, as formulas ja comegam a apresentar as bases dos procedimentos atuais sendo que trés seriam antecedentes do atual processo cognitive (sacramentum, iudicis postulatio, condictio) e duas o de execugao (manus iniectio, pignoris capio). Vale atentar ainda que nesse periodo, a execugao pessoal ainda era a regra, podendo o devedor ser morto e ter seu corpo dividido entre os credores, ou ainda ser feito escravo. periodo formulario recebe seu nome da adogéo de formulas escritas no processo anteriormente oral. Com essa adocdo veio um aumento do poder dos magistrados e do Estado, 0 que criou um ambiente mais favoravel ao desenvolvimento processual © processo ainda se encontrava dividido na forma outrora mencionada Deve-se atentar que na formula do processo de carater ordinario deveria conter a questo do caso, uma explicagdo dos fatos, uma atribuigao de direitos e 0 pedido de decisdo do Juiz. No procedimento extraordinario, concedia-se a solugao da causa em favor do autor ou réu conforme seu entendimento, criando uma nova férmula que compunha o direito material. Nesse periodo, 0 processo passa a se iniciar com uma intimagao privada do autor ao réu que, caso desrespeitada, poderia se converter em uma condugdo a forga ao juizo perante testemunhas. Diante do magistrado, as partes, com auxilio cognitores ou procuratores, que seriam os advogados de hoje, o réu nessa fase poderia aceitar 0 pedido do autor, reconhecendo-o como verdadeiro, 0 que encerraria 0 processo. Havia ainda a possibilidade de o réu contestar o pedido. Nesse caso, o magistrado deveria verificar a presenga dos requisitos processuais, sob pena de indeferimento. Por outro lado, caso os requisitos processuais estivessem presentes, o magistrado emitiia um mandato de juizo a um arbitro por ele nominado, autorizando a criagdo da norma de solugao da lide. A execugao passa a ser regida por ato separado e nao mais se tratava de responsabilidade pessoal, embora o réu respondesse com todo o patriménio. Todos 0s direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com @ convengao internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser repreduzida ou utlizada seja por moios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines. Foi instituida também a execugao especial, mediante a qual o credor poderia tomar posse de um bem do devedor e, caso a divida nao fosse paga, o bem iria a venda, em procedimento que seria a origem da venda em hasta publica. Na fase cognitio extraordinaria ou pés-classica tem-se a consolidagao da jurisdigdo nas maos do poder piblico e seus funcionarios, com o fim da divisdo do processo. O processo perde boa parte da oralidade e se aumenta a formalidade. Aparece também a citagao por escrito e, embora haja meios de se punir 0 réu caso ele no aparecesse, com fiangas e medidas executivas, a revelia néo mais constituia em obrigatéria derrota do réu. Além disso, a auséncia do réu depois da contestagéo n&o impedia o julgamento em seu favor com base nas provas. A decisdo final (sententia), nunca confundida com as decis6es instrumentais do processo (interlocutiones), era, gragas @ organizacao hierarquica da jurisdigao, passivel de uma apellatio, que encaminhava a lide, em ultima instancia, até o imperador, e de recursos extraordinarios como a supplicatio e a antiga restitutio in integrum (GONGALVES, 2011; ALMEIDA, 2015). 2.2 Periodo medieval A queda do Império Romano do Ocidente no século V trouxe severas mudangas no direito processual anteriormente existente. Parte delas se deve & descentralizacao do poder ocorrida nesse periodo. Como cada uma das tribos que invadiram 0 Império tinha seu préprio direito, baseado em seus proprios costumes, mostrou-se, portanto, inevitavel que ocorressem modificagdes no processo (ALMEIDA, 2015). O direito medieval tem a peculiaridade de ser dividido em tipos: 0 Direito germénico, 0 Direito canénico, 0 Direito feudal € 0 Direito romano. Essa organizacéo configura 0 conjunto de sistemas juridicos que conviveram entre si por séculos e serviram para a criagao do direito moderno. © Direito germénico era um direito baseado nos costumes das tribos, posteriormente das comunidades medievais, possuindo uma tradigao predominantemente oral. Seu processo nao consistia excegao. De fato, era também conduzido e organizado oralmente. Todos 0s direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com @ convengao internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser repreduzida ou utlizada seja por moios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines. E necessario entender que a civilizagao medieval buscava uma proximidade maior com Deus, sendo fortemente religiosa, 0 que influenciou seu direito e processo. Acreditando que Deus deve ser 0 Unico a julgar um individuo, 0 juiz tem seu poder severamente reduzido se comparado ao Direito romano. Sua fungdo é a de coordenar as partes e conduzir as provas antes de reconhecer e declarar a sentenga divina, As provas usadas também sofreram mudangas. O énus da prova passou a caber ao acusado, que devia provar sua inocéncia. A prépria natureza das provas se modifica, jé que elas passaram a ser um modo de propiciar a intervengao divina para a resolugao do conflito entre as partes, no se destinando a convencer o juiz. As ordalias eram verdadeiros testes de fé e compunham sacrificios, como caminhar em brasas. Os duelos e juramentos também eram provas cabiveis no processo, O duelo, segundo a tradigao, daria vitéria a verdade pela graga de Deus. Os juramentos tinham valor diferenciado entre aqueles cuja palavra tinha valor especial — 0 juramento de um lorde ou de um sacerdote tinha valor especial, mas no o de um camponés comum (ALMEIDA, 2015). O direito canénico por outro lado era inteiramente escrito e processualmente bem organizado e estruturado. As fases do processo, assemelhavam-se as do periodo pds-classico romano e incluiam investigagdes buscando a verdade e provas que tinham como objetivo 0 convencimento do juiz. Ha também a criacdo de um sistema de recursos e uma estruturagao de tribunais. Devido ao fato de existir concorrentemente com os outros direitos medievais, 0 direito canénico estabeleceu regras hermenéuticas para solugdo de antinomia, so elas: a) Ratione significationis. b) Ratione temporis (lei posterior revoga lei anterior). ©) Ratione loci (lei local revoga lei geral). 4) Ratione dispensationis (lei especial revoga lei geral). Foi necessario também o estabelecimento de regras de competéncia para determinar a quem e em quais casos se aplicara o direito candnico. Essa competéncia era relativa a pessoa (ratione personae), entao tinhamos Todos 0s direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com @ convengao internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser repreduzida ou utlizada seja por moios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines. + eclesidsticos, tanto clérigos regulares como seculares (privilegium fori absoluto — os clérigos ndo podiam renunciar a ele); + cruzados (aqueles que tomaram a cruz, que partem em cruzada: privilegium orucis); + membros das universidades (professores e estudantes); + 08 miserabiles personae (viuvas e orfaos) quando pediam a protecdo da Igreja. Havia ainda a competéncia material (ratione materiae), em questdes penais: + infragdes contra a religiéo (heresia, apostasia, simonia, sacrilégio, feiticaria, entre outras); e, + infragdes que atentassem contra regras canénicas (adultério, usura), com competéncia concorrente da jurisdigao laica. Quanto & matéria civil: beneficios eclesiasticos; casamento. E, as matérias conexas: esponsais, divércio, separagao, legitimidade dos filhos; testamentos; execugdio de promessa feita sob juramento. A excecdo a essa racionalizacao foi 0 Tribunal do Santo Oficio, um tribunal de excecdo no qual se visava acusar e condenar hereges e sendo que no procedimento secreto ocorreu uma valorizagéo da prova_testemunhal, principalmente da confissdo que era buscada a todo custo, inclusive sobre tortura Eis que o Direito feudal surge no século X e assume a posigao de um direito laico, devendo atender pelo menos a tudo 0 que o direito canénico nao cobria. Sua delimitagao € territorial, isto é, s6 se aplicava a um feudo especifico e a seus vassalos, 0 que podia incluir outros senhores feudais, Isso se deve ao desaparecimento do principio da pessoalidade. As provas sdo as mesmas do direito germanico e muito de seu funcionamento também. © Direito romano, embora mantido para os povos Italianos e até certo ponto 0s povos Ibéricos, passa no séoulo XII por um renascimento, devido, em parte, & aproximagao dos direitos canénicos e laicos, pois se via como sendo comum a todos € seu estudo baseado na busca de objetividade e a ciéncia considerada um saber aberto (ALMEIDA, 2015) Isso fez com que © Direito romano e sua racionalidade voltassem a se difundir pela Europa, assimilando as criagdes dos outros direitos existentes. Isso Todos 0s direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com @ convengao internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser repreduzida ou utlizada seja por moios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines. resulta em diversas mudangas. Passa-se de um sistema irracional para um racional, estabelecendo-se a verdade por meios racionais de prova, com o arbitrio dando lugar a justiga; desaparece a multiplicidade do regime feudal, formando-se os embrides dos Estados modemos; o desenvolvimento econémico faz surgir um direito urbano, caracterizado pela igualdade juridica; além de um processo de emergéncia da lei frente ao costume. Pode-se dizer, portanto, que ressurgimento do direito romano com todo o seu valor histérico foi fundamental para a formagao do direito processual moderno como nés 0 conhecemos (ALMEIDA, 2015). Resumindo: No periodo medieval, o proceso ainda ndo goza de autonomia e persiste a confusao entre direito material e agdo. Com a queda do império e as invasées barbaras, o direito altamente desenvolvido dos romanos sofreu o impacto de uma cultura muito inferior, que utilizava métodos completamente diferentes. O sistema processual dos barbaros era fundado em superstigdes e ritos sacramentais, que ndo se compatibilizavam com o sistema romano. Os invasores procuraram impor a sua forma de solugao de conflitos aos vencidos, que nao se compatibilizava com 0 sistema romano. Neste, por exemplo, as provas destinavam-se a formar a conviegéo do juiz, que exercia a fungo estatal de dirimir um conflto de interesses. No direito germénico, 0 papel do juiz era mais reduzido, pois a sua decisao no era dada com base na prdpria convicgao, mas no resultado mecanico da soma dos valores das provas. Cada uma tinha o seu valor, e aqueles que as apresentassem mais valiosas venceria a demanda, independentemente da convicgéo do juiz (prova legal e ordalias). O processo medieval foi caracterizado por essa simbiose entre o antigo direito romano e 0 dos barbaros (GONCALVES, 2011). 2.3 Proceso civil moderno Conquanto o surgimento do processo como ciéncia auténoma seja fruto de uma época, de uma evolugdo prolongada e permanente, resultado da contribuigdo de inmeros estudiosos, costuma-se fixar uma data para o seu nascimento, E 0 ano de 1868 (0 que 0 torna um dos ramos auténomos mais recentes do direito), quando Todos 0s direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com @ convengao internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser repreduzida ou utlizada seja por moios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines. 10 Oskar von Bullow publicou, na Alemanha, a sua “Teoria dos pressupostos processuais e das excecées dilatoria MARCUS VINICIUS RIOS GONGALVES (2011) explica que essa obra é tida como 0 marco inicial porque nela se evidencia, com maior clareza, que 0 proceso nao podia mais ser confundido com o simples exercicio do direito privado; e que a ago ndo era o direito material em movimento, ou armado. Do que resulta que a relacdo que deriva do processo, néio se confunde com a relacao material que nele se discute. Foi o momento em que 0 processo ganhou autonomia, em que se deu inicio & superagao do pensamento imanentista, que nao distinguia entre a ago e o direito material. Dai, foi um passo para o estabelecimento dos principios e para a enumeragao dos institutos fundamentais, que qualficam uma ciéncia como tal. Desde entao, a ciéncia processual teve um notavel desenvolvimento, em especial a partir dos estudos de grandes juristas alemaes (Wach, Degenkolb, Goldschmidt, Rosemberg, Lent e Schwab) e italianos (Chiovenda, Camelutti, Calamandrei, Liebman e Capeletti). DIOGO ASSUMPGAO REZENDE DE ALMEIDA (2015) explica que até o século XIX, 0 processo permanecia atrelado ao direito material, sem autonomia como ciéncia. Entretanto, com o trabalho dos juristas citados acima, séo desenvolvidos conceitos e estruturas proprias que resultam na autonomia do processo, Dessa maneira, a Teoria Geral do Processo ganha conotagao cientifica é fortalecida por primorosos estudos sobre 0 proceso, aga e jurisdicao que, por fim, conduzem a independéncia deste ramo do Direito. Durante © final do século XIX € 0 inicio do século XX houve grande desenvolvimento do processo pela doutrina, com destaque para Giuseppe Chiovenda, Francesco Carnelutti e Piero Calamandrei, que figuram entre os mais importantes para o direito processual. Porém, © modo como o processo se desenvolveu na época levou ao seu afastamento demasiado em relagao ao direito material. Isso fez com que a ciéncia processual se visse despreocupada com as pretensdes para as quais servia. Em 1950, durante 0 ato inaugural do Congresso Internacional de Direito Processual Civil de Florenca, 0 consagrado professor italiano Piero Calamandrei Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convengo internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines. ul realiza profundas criticas a essa visio demasiadamente abstrata e dogmatica da ciéncia processual, visdo esta que ndo atentava para as verdadeiras finalidades da atividade jurisdicional, Nao buscava dar materialidade ao direito e possibilitar que esse sirva sua fungao social Foi, entretanto, na década de 1970 que o processo passou por uma grande transformagao, enfrentando os problemas percebidos anos antes. Essa evolugao foi liderada pelo jurista Mauro Cappelletti, que baseado em profundo trabalho de pesquisa do Instituto de Pesquisas de Florenga, e de diversas escolas ao redor do mundo, escreveu a magistral obra de quatro volumes denominada Access to Justice Essa obra, contendo relatérios e conclusées de anos de pesquisa, apontava os problemas do sistema juridico e propunha varias possiveis sugestées. A obra de Cappelletti é 0 momento em que o processo entra em seu atual estagi instrumentalista ou teleolégica da ciéncia processual. a fase No trabalho de Cappelletti, so expostos os diversos problemas encontrados em varios paises do mundo que impediam a existéncia de uma justica efetiva e so sugeridas possiveis solugdes para o problema Cappelletti se referiu a trés momentos a serem superados, aos quais chamou de “ondas renovatérias” do acesso a justiga que seriam: a) Assisténcia judiciaria para os pobres. b) Representagao dos interesses coletivos e difusos. c) Um novo enfoque de acesso a justiga amplo, efetivo, justo e adequado (CAPPELLETTI; GARTH, 1988). Isso gerou um novo conceito de processo como algo a servico do direito material e da justiga (ALMEIDA, 2015) Assim deve ser entendido que essa fase busca ampliar 0 aceso efetivo a justica, O Judiciario, conforme idealizado por Cappelletti, é acessivel a todos e deve responder a todas as espécies de demandas, individuais e coletivas, contemplando o titular de um direito com a totalidade do que o ordenamento juridico Ihe assegura A atividade jurisdicional deve, além disso, buscar e prover resultados individuais e socialmente justos. Desse modo, 0 direito processual em sua concepgao atual tem uma valorizagao maior com a justica da decisao e os reflexos desta na sociedade, do que Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convengo internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines. com os ritos € procedimento ou a forma de um processo. Tem-se, portanto como objetivo a criagao de um processo e de um sistema de justica aptos a realizacéio dos objetivos politicos e sécias da sociedade na qual esta inserido. 2.4 Atualidades e perspectivas futuras Verdade seja dita, o proceso civil tem passado por grandes alterages. A par das teorias e fundamentos classicos, assiste-se ao surgimento de novos movimentos e tendéncias, cujos instrumentos prestam-se a atender as necessidades das sociedades contemporaneas (GONGALVES, 2011), Ha, hoje em dia, uma priorizagao de certos aspectos do processo, para os quais 0 sistema tradicional nao dava solugdo. Os casos mais evidentes sdo os relacionados 20 acesso a justiga e 2 lentiddo dos processos, bem como a distribuigao dos nus decorrentes da demora na solugao dos conflitos. Ha ainda a questo da socializagao da justica, relacionada ao fato de que muitos conflitos de interesses deixam de ser levados a juizo, seja em virtude do custo que isso demanda, seja porque 0 interesse ndo tem lesado direito, pois 0 dano pulveriza-se entre toda a sociedade (interesses difusos e coletivos). Entre outros instrumentos que apontam as novas tendéncias do processo, podem ser mencionados: + 08 juizados especiais civeis, cujo objetivo é facllitar 0 acesso a |ustiga, tornando consumidores dela pessoas que possivelmente nao levariam a juizo seus litigios de menor extensao; + as tutelas de urgéncia, que servem para reduzir os danos decorrentes da demora do processo; + atutela de interesses difusos e coletivos, atribuida a determinados entes, A busca atual e os novos rumos do proceso dirigem-se para a universalizagao da justiga, com facilitagdo do acesso de todos, melhor distribuigéo dos nus da demora do proceso, ¢ a tutela de interesses que, por fragmentados entre os membros da coletividade, no eram adequadamente protegidos. Asso, deve-se acrescentar a tendéncia de constitucionalizagao do direito. O ordenamento juridico ¢ composto de normas estabelecidas de forma hierarquica. O topo da pirdmide é ocupado pela Constituico Federal, e todas as normas Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convengo internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines. infraconstitucionais devem haurir dela a sua validade. Os principios fundamentals do processo civil estéo na Constituigdo, e as normas processuais devem ser interpretadas sob a ctica constitucionalista, respeitando as diretrizes por ela estabelecidas (GONGALVES, 2011). Para © autor acima, processo de hoje e do futuro busca os seguintes valores: > FACILITAGAO DO ACESSO A JUSTIGA ~ a lei deve adotar mecanismos que permitam que todos possam levar ao Judiciario os seus conflitos, reduzindo- se a possibilidade da chamada litigiosidade contida, em que a insatisfago no ¢ levada a julzo, e permanece latente; > DURAGAO RAZOAVEL DO PROCESSO - a demora na solucao dos conflitos traz dnus gravosos aquele que ingressa em juizo, o que estimula o adversario a tentar prolongar indefinidamente 0 proceso. Dever-se buscar mecanismos que repartam esses 6nus; > INSTRUMENTALIDADE — 0 processo ¢ instrumento que deve ser sempre o mais adequado possivel para fazer valer 0 direito material subjacente. Assim, deve-se buscar amolda-lo sempre, de modo a que sirva da melhor forma a solugdo da questao discutida > TUTELA DE INTERESSES COLETIVOS E DIFUSOS ~ é decorréncia direta da exigéncia de garantia de acesso a justica. Ha direitos que estdo pulverizados entre os membros da sociedade, o que traz risco 4 sua protegao, se esta nao for atribuida a determinados entes; > UNIVERSALIZAGAO - democratizar e universalizar so os valores que resumem todos os demais, pois seré a Unica situagéo em que o Judiciério cumprira idealmente 0 seu papel, que é 0 de assegurar a todos a integral protegao de seus direitos; > CONSTITUCIONALIZAGAO DO DIREITO PROCESSUAL - os principios do processo civil esto, em grande parte, na Constituigo, e as normas devem ser interpretadas sob a ética constitucional, o que permite falar em um direito constitucional processual; > EFETIVIDADE DO PROCESSO - relacionada a todos os principios anteriores. O processo tem de ser instrumento eficaz de solucao dos conflitos, Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convengo internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines. 14 consumidor do servico judiciatio deve recebé-lo de forma adequada, pronta e eficiente. A técnica nado deve ser um fim Ultimo, mas estar a servico de uma finalidade, qual seja, a obtengao de resultado que atenda ao que se espera do processo, do ponto de vista ético, politico e social. 2.5 O processo civil no Brasil Logo apés 0 descobrimento do Brasil e por todo periodo colonial, destacava- se no Brasil o municipio que era a base da organizagao da populagdo. Nele, o exercicio da jurisdigao era desempenhado através dos juizes ordinarios ou da terra, cuja nomeagao se dava por escolha de “homens bons", numa eleigao desvinculada dos interesses da Coroa, que, buscando sua representagao, nomeava os chamados juizes de fora” (ALMEIDA, 2015; GONGALVES, 2011). A criagao das capitanias hereditarias colocava aos donatarios a obrigagao de criar e aplicar as leis de seus dominios dentro dos limites estabelecidos na carta foral e nas leis portuguesas. Deviam ainda observar os comandos do ouvidor-geral que era a autoridade jurisdicional mais elevada da colénia Vigoravam, nesta época, as Ordenacées Filipinas, que dispunham de forma quase completa sobre a administragao publica. © processo civil foi regulado em seu livro Ill, composto por 128 capitulos, abrangendo os procedimentos de cognigao, execugao, bem como os recursos. Apesar da vigéncia das Ordenagées Filipinas, que permaneceram em vigor mesmo apés a independéncia, 0 Brasil também era regido, nesta época, pelas cartas dos donatarios, dos governadores e ouvidores e, ainda, pelo poder dos senhores de engenho, que faziam sua prépria justi¢a ou influenciavam a justiga oficial, ora pelo prestigio que ostentavam, ora pelo parentesco com os magistrados. Com a proclamacao da independéncia em 7 de setembro de 1822, tornou-se necessdria uma reestruturagéo da ordem juridica interna, o que foi alcangado através da Carta Constitucional de 1824, com a introdugao em nosso ordenamento de inovagées e principios fundamentais, principalmente no campo criminal, em que a necessidade de mudangas se fazia mais evidente, tais como a aboligao da tortura e de todas as penas crueis. Todos 0s direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com @ convengao internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser repreduzida ou utlizada seja por moios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines. As leis portuguesas preservaram-se no Brasil com o Decreto de 20 de outubro de 1823, adotando-as como lei brasileira, determinou que sé seriam revogadas as disposigdes contrarias a soberania nacional e ao regime brasileiro. Logo, para atender a determinagao da Constituigao, houve a promulgagao do Cédigo de Processo Criminal em 1832, que, rompendo com a tradigéo portuguesa, inspirou-se nos modelos inglés (acusatério) e francés (inquisitério), possibilitando ao legislador brasileiro elementos @ elaboragao de um sistema processual penal misto. © novo Cédigo possuia um titulo Unico composto por vinte e sete artigos, a “disposigao proviséria acerca da administragao da justiga civil’, que simplificava o processo civil regulado pelas Ordenagées Filipinas. Em 1850, entraram em vigor os Regulamentos n° 737, que € considerado o primeiro diploma processual brasileiro, ¢ on? 738, que disciplinavam, respectivamente, 0 processo das causas comerciais e 0 funcionamento dos tribunais e juizes do comércio. O direito processual civil, no entanto, continuou sendo regulado pelas Ordenagées Filipinas e suas posteriores modificages, até 0 governo promover, em 1876, uma Consolidagéo das Leis do Processo Civil, com forga de lei, conhecida como Consolidagao Ribas. A proclamagao da Repibblica, fez com que o Regulamento 737 fosse estendido as causas civeis, mantendo-se a aplicagéio das Ordenagées modificadas aos casos de jurisdicdo voluntaria e de processos especiais. Com o advento da Constituigo de 1891, foi conferida aos Estados a capacidade de legislar sobre matéria processual, competéncia que antes pertencia somente @ Unido Federal, 0 que fez com que varias leis foram promulgadas, regulamentando as mais diversas questées processuais. Em 1° de janeiro de 1916, foi editado o Codigo Civil Brasileiro, tratando néo 86 das questées de direito material, mas também de algumas processuais. No Rio de Janeiro, entéo Distrito Federal, veio a luz 0 Cédigo Judiciario de 1919, promulgado pela Lei n° 1.580 de 20 de janeiro, seguido pelo Cédigo de Processo Civil do Distrito Federal, de 31 de dezembro de 1924, e devidamente promulgado pelo Decreto n° 16.751. A constituigéo de 1934 trouxe a chamada unificagao do direito processual, isto é, tornou a competéncia pra legislar sobre matéria processual exclusiva da Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convengo internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines. 16 Unido federal, 0 que foi preservado pelas constituigées posteriores. Isso. foi necessario porque as leis ndo conseguiam servir aos fins politicos da época, sendo uma normatizagao uniforme, ante o grande numero de leis existentes em cada Estado, algo fundamental para o desenvolvimento do pais, © Cédigo de 1939 se inspirou nas mais modemas doutrinas europeias da época, introduzindo em nosso ordenamento processual, o principio da oralidade e a combinagao do principio dispositivo e do principio do juiz ativo, permitindo uma maior agilidade nos procedimentos. O artigo 1° do Cédigo deixou a apreciagao de lei especial a regulamentacdo de algumas matérias especificas, tais como as desapropriagées, as ages trabalhistas e os litigios entre empregados e empregadores, Prossegue-se entéo 20 Codigo de Processo Civil de 1973, baseado no anteprojeto de autoria de Alfredo Buzaid. Permaneceu em vigor até 2015, embora tenha sofrido inumeras alteragées, sobretudo a partir do inicio da década de noventa do século XX. Teve inicio ai, a chamada Reforma Processual, proceso fragmentado em dezenas de pequenas leis que se destinam a fazer mudangas pontuais e ajustes “cirrgicos” (ALMEIDA, 2015). Um novo Cédigo de Processo Civil é entéo aprovade em 2015, trazendo diversas modificagdes para o ordenamento brasileiro. Uma das modificagdes mais aparentes é a obrigatoriedade de uma audiéncia de mediacao ou de conciliagao, visando uma resolugao mais rapida e sem necessitar da sentenga. Uma das consequéncias disso ¢ 0 aumento do prazo de contestagao do réu, que embora ainda seja formalmente, 15 dias sao contados da audiéncia e ndo da citagao. Outra modificacao foi a extingéo do prazo computado em quadruplo para contestagao pela Fazenda Publica e pelo Ministério Publico (art. 188 do CPC/73), que foi reduzido para o dobro para suas manifestagdes. Ocorre também a consolidagao das alegagdes de defesa em um Unico ato, contestaga0, ao invés de atos diferenciados. Foi criado ainda o Incidente de Resolugdo de Demandas Repetitivas (IRDR), que visa unificar a jurisprudéncia de Estados e Regides, pois permite aos tribunais Todos 0s direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com @ convengao internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser repreduzida ou utlizada seja por moios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines. 7 de segunda instancia solucionar miltiplos casos que versem sobre a mesma questo de direito. Por fim, 0 novo CPC restringe a liberdade do juiz. Isso se deve a necessaria observancia nas decisées judiciais de precedentes vinculantes, cujo rol foi majorado pela nova lei (GONGALVES, 2011; ALMEIDA, 2015). Vale a pena guardar 0 quadro-resumo abaixo: MOMENTO HISTORICO CARACTERISTICA MARCANTE Antiguidade Confusio entre aco e direito. Trés fases: predominantemente oral (legis actiones), Base esorita (periodo formulatio). Escrita (extraordindria cognitio) Idade Média Persiste a confusao entre acao e direito Invasoes barbaras (prova legal e ordalias). Fusao entre direito romano e barbaro Processo modemo Hans Von Bullow, 1888. ‘Autonomia do proceso civil Distingao entre direito material ¢ processual Criagao de principios @ institutes préprios. Proceso atual 6 novas Universalizagao do acesso perspectivas Duracdo razoavel do proceso. Instrumentalidade das formas, Tutelas diferenciadas. Constitucionalizagao do processo civil Fonte: Gongalves (2011, p. 42). Todos 0s direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com @ convengao internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utiizada seja por meios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines. 18, UNIDADE 3 —- CONCEITOS QUE PERPASSAM O DIREITO DE PROCESSO CIVIL Na introducdo usamos os conhecimentos de CASSIO SCARPINELLA BUENO (2015) para defi Relembremos que é 0 ramo do direito que se volta a estudar a forma de o ir 0 Direito Processual Civil. Poder Judiciario (Estado-juiz) exercer a sua atividade-fim, isto 6, prestar a tutela jurisdicional a partir do conflito de interesse (potencial ou ja existente) que exista entre duas ou mais pessoas. Como ¢ vedada que as pessoas envolvidas nesse conflito imponham umas as outras dada soluco, elas devem dirigit-se ao Judiciario para tanto. Esse caminho de ida (ao Judiciario), de permanéncia (no Judiciario) e de chegada (pelo Judicidrio) & solugéo do conflito e sua concretizagao pratica — impositiva, se for 0 caso — é 0 que ocupa 0 estudante e o estudioso do direito processual civil. Trata-se, por isso, de ramo do direito public, porque se volta, em primeiro plano, ao estude da prépria atuacéo do Estado (0 exercicio de sua fungéo jurisdicional). E esta analise merece ser feita tanto na perspectiva organizacional, ou ario no Brasil, como na perspectiva funcional, isto 6, como ele deve atuar para atingir aquela finalidade. Ainda é correto dizer que o direito processual civil vai um pouco mais longe. Ele também abrange 0 estudo de outros meios de resolugao de conflitos, que nao seja, da estrutura do Poder Judic aqueles que envolvem a atuagdo (tipica) do Poder Judiciatio, Sdo os chamados “meios alternativos de solugao de conflitos", que buscam a solugao de conflitos pela aplicagao do direito a espécie por outros meios, que nao a prestacao da tutela jurisdicional pelo Estado-juiz com todas as suas tradicionais caracteristicas, a principal delas e, para os fins para ca pertinentes, a coercitividade, isto 6, a imposigao do resultado para uma das partes, Nesse contexto, temas como a conciliagdo, a mediacao e a arbitragem merecem também ser estudados no ambito do direito processual civil como sera visto ao longo do curso. Como os especialistas desses meios “altemativos” buscam identificar meios mais ou menos apropriados para solugao dos diversos confltos, variando as técnicas consoante a vicissitude do conflito, ou, até mesmo, Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convengao internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser repreduzida ou utlizada seja por moios életrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravacées, ou, por sistemas de armazenagem e Tecuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 19 combinando-as, parece ser mais correto tratar deles como meios adequados para solugao de conflitos (BUENO, 2015). Esta bem expresso no NCPC, nos trés paragrafos de seu art, 3° respectivamente, que: > épemmitida a arbitragem na forma da lei; > 0 Estado promovera, sempre que possivel, a solugao consensual de conflitos; e, > a conciliagéo, a mediagdo e outros métodos de solugdo consensual de conflitos deverao ser estimulados por juizes, advogados, defensores pibblicos e membros do Ministério Publico, inclusive no curso do proceso judicial. © CPC de 2015 vai além ao trazer — e esta é uma importante novidade quando comparado com 0 CPC de 1973 — disciplina extensa sobre a conciliagao e a mediacao, modificando profundamente, e por causa delas, a estrutura do procedimento comum. Confirme-se a importancia e relevancia dos meios alternativos para solugéo de conflitos no NCPC, no qual também no art. 4° encontramos que “As partes tém o direito de obter em prazo razoavel a solugao integral do mérito, incluida a atividade satisfativa’. Segundo CASSIO SCARPINELLA BUENO (2015), 0 dispositivo merece ser entendido na atualidade: foi-se o tempo em que 0 direito processual civil podia se dedicar mais — quiga, exclusivamente — ao conhecimento do direito aplicavel ao caso pelo magistrado. Tao importante quanto conhecer o direito a ser aplicado ao caso é criar condigées concretas de aplicd-lo ou, para empregar a nomenclatura do CPC de 2015, de cumprir a decisdo, satisfazendo o direito tal qual conhecido e isso ainda que contra a vontade das partes. Essa combinagdo de conhecer e cumprir, no sentido de satisfazer, ¢ que justifica 0 precitado art. 4° do CPC de 2016 e, superiormente, a prépria nogao de acesso a Justiga prevista no inciso XXXV do art. 5° da CF. Também ¢ a razao de o CPC de 2015 valer-se da expressao “processo de conhecimento e do cumprimento de sentenca” (Livro | da Parte Especial) no lugar do consagradissimo, preservada pelo CPC de 1973, mesmo depois das profundas Reformas pelas quais passou nos seus tltimos vintes anos de existéncia (e ja sob a égide da Constituigdo de 1988), Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convengo internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines. “Processo de conhecimento", que, ndo por acaso, em fungdo das convicgées e das ideologias sobre o direito processual civil da época, ocupava praticamente a metade dos artigos do CPC de 1973, isto 6, todo o seu Livro |. Com muita propriedade, CASSIO SCARPINELLA BUENO (2015) nos alerta que foi-se 0 tempo em que o estudo do direito processual civil poderia se limitar ou, quando menos, concentrar seus maiores esforgos e tempo no chamado “processo de conhecimento isto é, na analise dos atos processuais produzidos desde a petigao inicial até o proferimento da sentenga, quigé com alguma indagagdo sobre os recursos cabiveis das decisdes proferidas naquele interregno, com especial destaque ao recurso interponivel da prépria sentenga, a apelagao, 0 “recurso por exceléncia’. Hoje — e 0 NCPC so confirma essa tendéncia doutrinaria -, tao importante quanto 0 estudo daqueles atos e do procedimento que os une € 0 estudo dos atos relativos ao cumprimento do que foi decidido em busca da satisfacao do direito, tal qual reconhecido, Também é fundamental estudar os atos que visam assegurar o resultado util do que vier a ser ou foi decidido, na perspectiva, até mesmo, de antecipar o instante em que a satisfacao do direito sera alcangada. Ja nao é de hoje que 0 “proceso de sentenga” (o “processo de conhecimento”) nao pode mais ser 0 foco da atengdo, consciente ou inconsciente, do estudo do direito processual civil Sentenca nao é (2, bem entendida, nunca foi) sindnimo de satisfacao do direito. Os efeitos colaterais dessa compreensao limitada e anacrénica sao terriveis e em nada, absolutamente nada, contribuem para um mais efetivo acesso a Justiga no sentido amplo que colaco em relevo (BUENO, 2015). Consideragées feitas, vamos ser um pouco mais didaticos? Pois bem, a doutrina classifica o Direito em dois grandes ramos: direito pitblico e direito privado. Enquanto no ramo privado subsistiria uma relacdo de coordenagao entre os sujeitos integrantes da relagao juridica, como no direito civil, no direito comercial no direito do trabalho, no direito publico prevaleceria a supremacia estatal face aos demais sujeitos. Nessa linha de raciocinio, 0 direito processual, assim como o constitucional, © administrativo, 0 penal ¢ 0 tributario, constituiriam ramos do direito puiblico, visto que suas normas, ditadas pelo Estado, sao de ordem piiblica e de observacéo Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convengo internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines. cogente pelos particulates, marcando uma relagdo de poder e sujel¢do dos interesses dos litigantes ao interesse publico. Observem o quadro abaixo: Internacional Comum DiritoProcessual Dieters Go Especial Dito Processual Beitoral Interno Comum DireitoProcessual Dreier Penal Especial Direito Processual Beitoal Todavia, essa dicotomia entre piiblico e privado é apenas utilizada para sistematizagao do estudo, pois, modemamente, entende-se que esta superada a denominada summa divisio, tendo em vista que ambos os ramos tendem a se fundir em prol da fungao social perseguida pelo Direito. Assim sendo, fala-se hoje em constitucionalizagao do direito. Dessa forma, abandonada a visao dicotémica ultrapassada, podemos definir © direito processual como o ramo da ciéncia juridica que trata do conjunto de regras € principios que regulamentam o exercicio da fungéo jurisdicional do Estado (PINHO, 2008). A expresso Direito Processual pode-se referir primeira dessas acepgées, temos o ramo da ciéncia juridica que estuda e regulamenta o exercicio, através do Estado, da fungao jurisdicional e, no segundo sentido (norma, direito objetivo), 0 complexo de normas e principios que regem o exercicio conjugado da jurisdigao pelo Estado-juiz, da ago pelo demandante e da defesa pelo demandado (GRINOVER; DINAMARCO; CINTRA, 2008, p. 40). Segundo CANDIDO RANGEL DINAMARCO (2001), no sistema brasileiro, 0 direito processual civil é o responsavel pelo exercicio da jurisdigao com referéncia a Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convengao internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines. pretensées fundadas em normas de direito privado (civil, comercial) e também piiblico (administrativo, tributario, constitucional). Nisso, 0 processo civil brasileiro diferencia-se de importantes modelos europeus e latino-americanos em que ha certas limitagdes relacionadas com o Estado em juizo. Nosso sistema ¢ 0 da chamada jurisdicéo una e também o Estado se sujeita aos juizes integrantes do Poder Judiciario e as regras do direito processual civil. Aqui inexiste 0 contencioso administrative e 0 processo diferenciado para certas causas regidas pelo direito piiblico, Excluem-se do Ambito do processo civil brasileiro, exclusivamente, as causas de natureza penal O direito processual no dita normas para adequar a atribuigdo de bens da vida aos individuos, nem de disciplinar 0 convivio em sociedade, mas de organizar a realizagao do processo em si mesmo. O direito processual nao se presta a protegdo dos bens da vida, mas, téo somente disciplina a atividade jurisdicional, impondo regras de condugao do processo como meio de garantir a aplicabilidade e realizacdo do direito material (bens da vida humana) (DINAMARCO, 2001). E exatamente por isso que € possivel afirmar que 0 direito processual néo encontra fim em si mesmo, sendo 0 verdadeiro meio de realizagéo do direito material. © processo é 0 meio para a efetivagao do direito material, que é o fim. As normas processuais ndo disciplinam as relagdes entre as pessoas na vida comum, consequentemente, no criam, ndo modificam nem extinguem direitos ou obrigagdes no plano material (bens da vida), elas apenas regulam a atividade da jurisdigao. Esses contornos do direito processual civil tornam dificil delimitar de modo positivo 0 Ambito de sua incidéncia, sendo usual a afirmagao de que ele é 0 ramo do direito processual destinado a dirimir conflitos em matéria no penal. Enquanto o processo civil traduz-se numa técnica de solugao imperativa de conflitos, © monopdlio estatal em dirimir controvérsias por meio do exercicio da jurisdigdo, capitaneada pelo Estado-Juiz, que é quem decide, seguida dos auxiliares da Justiga, em que todos exercem o poder estatal, 0 Direito Processual Civil, por sua vez, cuidara de estabelecer as regras destinadas a reger como se operara este exercicio da jurisdicdo na solugao dos conflitos sociais (PINHO, 2008, p. 14), Todos 0s direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com @ convengao internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser repreduzida ou utlizada seja por moios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines. Simultaneamente ao nascimento do direito, que tem, por fim, a solugao justa dos conflitos ou convergéncias de interesses, surgem os mecanismos, previstos pelo proprio direito, de efetivagdo das solugées por ele dispostas. Costuma-se dividir 0 sistema de efetivagéo de direitos em trés fases distintas: a autotutela, a autocomposigao e a jurisdicao. Na primeira, em virtude da inexisténcia de um Estado suficientemente forte para superar as vontades individuais, os litigios eram solucionados pelas préprias forgas, imperando a lei do mais forte. Na segunda, as partes abririam mao de seu interesse ou de parte dele, de forma que, por meio de concessées reciprocas, seria possivel chegar a solugdo dos conflitos. No terceiro, propria de um estado de direito, o Estado manteria orgaos distintos e independents, desvinculados e livres da vontade das partes, os quais, imparcialmente, deteriam o poder de dizer o direito e constranger o inconformado a submeter-se a vontade da lei VICENTE GRECCO FILHO (2007) admite que essas trés fases, que podemos aceitar como logicamente existentes, ndo existiram em termos cronolégicos, isto é, nao sao fases historicas propriamente ditas, mas principios logicos e de justiga que se digladiaram em todos os momentos histéricos e ainda hoje se digladiam, prevalecendo ora um, ora outro, em determinada época, Interessa-nos, em mais profundidade, a jurisdig&o, que constitui a forma estatal, por exceléncia, de composigao de litigios, embora nao seja a unica. A sociedade, desde os tempos longinquos, convive com divergéncias que geram os conflitos, os juridicamente chamados de lides'. Para solucionar esta resisténcia a negociagao, 0 Estado, que veda a autotutela, manifesta-se por meio da jurisdicao, cuja regéncia se operara por meio dos ritos estabelecidos pelo legislador Importante destacar que a partir do século XIV, a jurisdigao tornou-se a forma predominante de resolugéo de conflitos monopolizada pelo Estado, por intermédio do Poder Judiciario, ao lado das fungées legislativa e administrativa. Palavra que vem do latim jurisdictio’, a jurisdigéo tem como fim timo a pacificagao social e consiste em um poder e dever do Estado, pois, se por um lado corresponde a uma manifestagéo do poder soberano do Estado, impondo suas Conflito de interesse qualificado por uma pretensao resistida 2 Etimologicamente significa dizer 0 direito ou aplicar a norma ao caso concreto Todos 0s direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convengao internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser repreduzida ou utlizada seja por moios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines. decisdes de forma imperativa aos particulares, por outro, corresponde a um dever que o Estado assume de dirimir qualquer conflito que Ihe venha a ser apresentado. No Ambito do processo civil, jurisdigao é a fungao que consiste em resolver 0s conflitos que a ela sejam apresentados pelas pessoas, naturais ou juridicas (também pelos entes despersonalizados, tais como o espélio, a massa falida e o condominio), em lugar dos interessados, por meio da aplicagéo de uma solugéo prevista pelo sistema juridico (WANBIER; ALMEIDA; TALAMINI, 2007). Por solugéo do sistema, entende-se aquela prevista pela fungdo normatizadora do direito, consistente em regular a apropriagéo dos bens da vida pelas pessoas, mediante 0 uso de um sistema de comandos coativos ou de medidas de incentivo, de sorte que seja possivel alcancar solugdes compativeis com a necessidade de manutengao da paz social, Isso nao significa que a jutisdigao atue apenas aplicando sangdes. Por vezes, bastam decis6es meramente declaratorias ou outras providéncias que no constituem propriamente sangdo (WAMBIER, ALMEIDA, TALAMINI, 2007). No Brasil, a atividade jurisdicional é exclusiva do Estado, e exercida através dos drgaos do Poder Judiciario (arts. 92 a 135 da CF), sendo, absolutamente, repudiada a atividade de justica privada, uma vez que a prépria Carta Maior, ao organizar a atividade do poder, instituiu o principio do juiz natural (art. 5°, Lill — ninguém sera processado nem sentenciado sendo pela autoridade competente). Ressalte-se que a manutengao de um Estado Demooratico de Direito - cujas obrigagées e direitos estao previstos em instrumentos normativos, elaborados por representantes eleitos pelos préprios cidadaos — pressupe a existéncia de um 61940 estatal dotado de poder para garantir a aplicabilidade do Direito as situagdes reais da vida em sociedade (BARROSO, 2002). Assim, nos antecipando a préxima unidade que trataraé da fungdo jurisdicional, adiantamos as caracteristicas da jurisdigao: a) Substituigdo — a jurisdigao tem como caracteristica substituir a vontade dos litigantes pela vontade da lei pronunciada pelo Estado-juiz. A resolugao do conflito é exercida pelo Estado e nao pelas partes, independentemente da vontade destas. Todos 0s direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com @ convengao internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser repreduzida ou utlizada seja por moios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines. b) Imparcialidade — a jurisdigao € desinteressada e 0 exercicio de sua atividade mantém-se equi estranho & pretenséo dos demandantes, néo guardando qualquer vinculo com o objeto da lide. istante da vontade das partes. O interesse do Estado é c) Instrumentalidade — a jurisdigo tem por finalidade viabilizar a atuagdo pratica do Direito, caracterizando o verdadeiro instrumento publico para a administragao de interesses privados. d) Existéncia de lide — como regra, a atividade jurisdicional apenas se justifica quando existem conflitos de interesses a serem solucionados. e) Definitividade — 0 produto da atividade jurisdicional tem natureza de definitivo, ou seja, a matéria decidida pela jurisdicdo, como regra, gera coisa julgada € impede a repeticao da jurisdigéo no mesmo conflito, f) Atividade publica — no Estado brasileiro, por mandamento constitucional, a jurisdigao ¢ exercida, exclusivamente, pelo Poder Judiciario, nao se admitindo, salvo excegées, a atividade privada de aplicagao do Direito (BARROSO, 2002). Todos 0s direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com @ convengao internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser repreduzida ou utlizada seja por moios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines. UNIDADE 4 - FUNGAO JURISDICIONAL ‘Sao quatro os institutes fundamentais do processo civil: a jurisdicao, a agao, a defesa (ou excegao) e 0 proceso. Sao fundamentais, porque formam a estrutura © arcabougo sobre os quais a ciéncia do processo civil foi construida. Todos os demais institutos do processo guerdam relacao, imediata ou mediata, com um deles. Funcionam como uma espécie de niicleo, em tomo do qual gira toda a ciéncia do proceso. > A jurisdigdo € a atividade do Estado, exercida por intermédio do juiz, que busca a pacificagdo dos conflitos em sociedade pela aplicagao das leis aos casos concretos. > Aagao é 0 poder de dar inicio a um processo, e dele participar, com o intuito de obter do Poder Judiciario uma resposta ao pleito formulado. > A defesa é 0 poder de contrapor-se a pretensdo formulada. > O processo € um conjunto de atos destinados a um fim, que é a obtengo de um pronunciamento judicial a respeito dos pedidos formulados (GONGALVES, 2011). © Livro Il da Parte Geral do CPC de 2015 é intitulado “Da fungao jurisdicional”. Seus trés Titulos disciplinam, respectivamente, a “jurisdigao e a agao” (arts. 16 a 20); 0s “limites da jurisdigao nacional e a cooperacdo internacional” (arts. 21 a 41) — dividido em dois Capitulos, “Dos limites da jurisdigéo nacional” e “Da cooperagao internacional” - e a “competéncia interna” (arts. 42 a 69), titulo também dividido em dois Capitulos, “Da competéncia” e “Da cooperacao nacional’. © CPC de 2015 poderia ter dedicado livros diversos ao tratamento da “ago, distinguindo-a da “jurisdigéo” e da “competéncia’, considerando a diversidade dos assuntos, inclusive na perspectiva tedrica, a despeito de ambos relacionarem-se, quanto a isso no ha do que duvidar, da “fungdo jurisdicional’. Para CASSIO SCARPINELLA BUENO (2015), é muito pouco para justificar seu tratamento conjunto. Até porque, com a ressalva de algum meio néo estatal de resolugdo de conflitos mencionado pelo CPC de 2015 (como ocorre com a arbitragem e com algumas hipdteses de atuagao cartoraria), todos os demais temas do direito processual civil so diretamente relacionados a fungao jurisdicional. Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convengao internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser repreduzida ou utlizada seja por moios életrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravacées, ou, por sistemas de armazenagem e Tecuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 4.4 Jurisdicao e aco A jurisdigdo pode ser entendida como pega fundamental para a atuagdo estatal, dentro do objetivo de aplicar o direito material ao caso conoreto apresentado, resolvendo situagéo de crise juridica e obtendo, por conseguinte, a pacificagao social (ALMEIDA, 2015, p. 48). Palavra que vem do latim jurisdictio (que etimologicamente significa “dizer 0 direito”), a jurisdigao tem como fim ultimo a pacificagao social e consiste em um poder-dever do Estado, pois, se por um lado corresponde a uma manifestagao do poder soberano do Estado, impondo suas decisées de forma imperativa, por outro corresponde a um dever que o Estado assume de dirimir qualquer conflito que Ihe venha a ser apresentado, A jurisdigao tem: > poder de policia e documentagao, uma vez que no seu exercicio, 0 Estado- juiz tem forga institucional para presidir todo o proceso, inclusive documentar a realizagao dos atos processuais; > poder de decisdo, de formar e impor um juizo de mérito, fungao tipica do magistrado de emitir juizo de razo sobre 0 objeto central da lide ou questées incidentes; > poder de coeredo, ou seja, tem forga capaz de impor respeito 4 ordem judicial, poder de obrigar o cumprimento contra a vontade da parte ou de terceiro. De maneira simples e, ao mesmo tempo, para maior eficiéncia da tutela, a CF ao criar e organizar 0 Poder Judiciario classificou a jurisdigao em especializada e comum; voluntatia e contenciosa; individual e coletiva. A jurisdigéo pode ser especializada em matéria trabalhista, eleitoral ou militar e comum utilizando-se 0 critério residual, isto é, quando a matéria nao for especializada (civil e penal) ou o critério de exclusdo, 0 que nao for matéria penal sera objeto da jurisdicao civil (inclusive direito comercial, administrativo, constitucional, direito do consumidor, entre outros). Embora a jurisdicdo atue sobre a lide, em algumas hipsteses decorrentes da natureza e importancia do bem juridico, 0 Estado reclamou para si o poder de administra-los, por isso ela € contenciosa (para solugdo de um litigio) e voluntaria (para a administracao estatal de um determinado bem juridico) Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convengo internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines. Na jurisdigéo voluntaria hd administragao publica de interesses privados; auséncia de lide; ha interessados, atende requerentes ou interessados; a sentenca é meramente homologatéria. A jurisdigéo contenciosa busca solugao de conflitos de interesses, portanto existe lide; ha partes, ou seja, as partes litigantes so autor e réu @ acontece sentenga de mérito. Quando se fala em Jurisdicao individual e coletiva, estamos nos reportando as necessidades decorrentes da evolugao das relagdes sociais que gerou conflitos envolvendo coletividade ou grupo de individuos, diferente da concepeao tradicional de lide singular. Portanto, para acompanhar essa evolugao, o Estado criou instrumentos processuais para a prestagdo de tutelas coletivas e para a defesa de bens coletivos, difusos ou individuais homogéneos. Sao exemplos de interesses transindividuais, ou seja, de importancia para toda a sociedade, que extrapola um interesse individual, 0 patriménio piblico, © meio ambiente, o direito do consumidor. Dentre os instrumentos processuais existentes para efetivar essa atividade jurisdicional coletiva, temos aco civil publica, agao popular e mandado de seguranga coletivo, dentre outros. Barroso (2002) faz a seguinte observagéo em relagdo a diferenga entre jurisdicdo individual e coletiva: enquanto na primeira os efeitos do processo apenas serao percebidos pelas partes envolvidas, na outra podera ocorrer o efeito erga omnes, ou seja, 0s efeitos do proceso serao percebidos e deverdo ser respeitados por todos (mesmo por pessoas que nao foram parte do processo). Sobre 0 interesse de agir, ocupam-se os arts. 19 e 20. O art, 19 trata da chamada “aco declaratoria’, assim entendido o pedido de tutela jurisdicional que se resume a obter certeza do Estado-juiz, certeza essa consistente na existéncia, inexisténcia ou modo de ser de uma relagao juridica (inciso |) ou, ainda, no reconhecimento de autenticidade ou de falsidade de documento (inciso II). Tal qual o art. 42 do CPC de 1973, o art. 19, abandonando a técnica do art, 17, refere-se a interesse do autor, o que € correto na compreensdo de representar a necessidade e a utilidade da e na intervencdo do Estado-juiz para solucionar lesdo Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convengo internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines. ou ameaga a direito. Por causa da eliminagao da “possibilidade juridica do pedido”, no ha mais espaco para duvidar de que a tematica merece ser enfrentada na perspectiva do interesse de agir do autor; e nao sobre os pedidos voltados aquelas situagdes serem possiveis ou impossiveis juridicamente. Afirmar existente ou inexistente que se quer declarar como tal ou, ainda, auténtico ou falso um documento, ¢ questao relativa ao meérito cujo enfrentamento pressupée, insisto na ideia, a existéncia do interesse de agir (BUENO, 2015). art. 19, outrossim, acabou por acolher expressamente 0 entendimento de que cabe a “agao declaratéria” para definir o “modo de ser de uma relagdo juridica’, diretriz que encontra eco na Stimula 181 do STJ: “E admissivel ado declaratéria, visando a obter certeza quanto a exata interpretacdo de cldusula contratual’. O art, 20, por sua vez, admite a “agao declaratoria’ ainda que tenha ocorrido a violagéo ao direito. E possivel, assim, pedir tutela jurisdicional “meramente declaratéria” quando a hipétese, em rigor — porque de lesdo se trata -, ja autorizaria a tutela jurisdicional “condenatéria", querendo compelir ao réu a fazer, nao fazer, entregar algo diverso de dinheiro ou a pagar. O tema, em rigor, € polémico na perspectiva historica e despreocupado com a necessaria indispensavel revisitago dos institutos fundamentais do direito processual civil 4 luz do “modelo constitucional do direito processual civil": diante do art. 5°, XXXV, da CF é inimaginavel que a lei pudesse querer excluir lesdo ou ameaca da apreciagao jurisdicional, mesmo na hipstese pressuposta pelo dispositive em questo. De qualquer sorte, preso a tradigao e predisposto a evitar discussées que certamente aflorariam no siléncio, o art. 20 justifica-se. 4.2 Dos limites da jurisdicdo nacional © Titulo II do Livro Il da Parte Geral do CPC de 2015 trata dos “limites da jurisdigao nacional e da cooperagao internacional’, dividindo cada um dos assuntos em seus dois Capitulos. Vamos falar do primeiro deles: O art. 21 indica os casos em que o Poder Judiciario brasileiro tem jurisdigdo (no sentido adequado da palavra) para o processo. Por isso, € correta a nomenclatura dada ao capitulo: “Dos limites da jurisdigéo nacional’, a serem Todos 0s direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com @ convengao internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser repreduzida ou utlizada seja por moios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines. exercidos ao lado da cooperagao internacional, objeto de nova e interessantissima disciplina constante dos arts. 26 a 41. Esses casos séo os seguintes: quando o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil (considerada domiciliada no Brasil a pessoa juridica estrangeira que aqui tiver agéncia, filial ou sucursal, como preceitua © paragrafo Unico); quando no Brasil tiver de ser cumprida a obrigagao; ou, ainda, quando 0 fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil Em todas essas situagées, a lei brasileira ndo nega (e nem teria como negar) a existéncia de processos perante érgaos jurisdicionais estrangeiros envolvendo as mesmas partes, com o mesmo pedido e mesma causa de pedir. A litispendéncia e/ou a coisa julgada, nesses casos, pressupde a homologagao da decisdo estrangeira para surtir no Brasil seus efeitos, disciplina que é dada pelos arts. 960 a 965 (art. 24). © art. 22 complementa a prescricao do art. 21. Também aqui, 0 objeto da norma ¢ indicar hipéteses em que a autoridade judiciéria brasileira pode exercer sua jurisdi¢ao ou, como quer o dispositivo, tem competéncia. Cabe, com base naquele dispositivo, ao Estado-juiz brasileiro processar e julgar agées de alimentos quando o credor tiver domicilio ou residéncia no Brasil ou quando o réu mantiver vinculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens, recebimento de renda ou obtengao de beneficios econémicos (inciso |). Também sera competente para julgar ages decorrentes de relagdes de consumo, quando o consumidor tiver domicilio ou residéncia no Brasil (inciso II). Por fim, 0 inciso Ill do art. 22 reconhece a jurisdicao da autoridade judiciaria brasileira quando as partes, expressa ou tacitamente, submeterem-se a jurisdigao nacional, previséo que é nova e merece destaque diante da sempre crescente globalizagao. Trata-se de verdadeira cldusula de eleigao de foro com opgao pelo Judiciario nacional, hipdtese em que sera necessario discernir até que ponto 0 ajuste entre as partes — mesmo que celebrado sob as vestes de “negécio processual" (art. 190) - pode querer definir 0 juizo competent, levando em conta, inclusive, o Judiciario brasileiro. E correto, por isso mesmo, entender que a liberdade contratual prevista no dispositive encontra ébice no art. 23 e que seu questionamento pode se Todos 0s direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com @ convengao internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser repreduzida ou utlizada seja por moios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines. dar, inclusive de oficio pelo magistrado, nos moldes dos §§ 3° e 4° do art. 63 (BUENO, 2015). © art, 23 trata dos casos em que 0 direito brasileiro afirma-se competente com carater de exclusividade para o processamento e julgamento das causas. Eventual decisao estrangeira entre as mesmas partes, com a mesma causa de pedir e 0 mesmo pedido nao ¢ idénea para ser homologada (art. 964, caput) e, por isso, no tera aptidao de produzir seus efeitos em territorio brasileiro. A primeira referencia é as agées relativas a iméveis situados no Brasil (inciso 1). © inciso I inclui, em matéria de sucesso hereditéria, a confirmago de testamento particular, além (e coerentemente com o inciso |) do inventario e da partiha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da heranca seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicilio fora do territorio nacional. O inciso Ill, por seu tumo, reserva expressamente a exclusividade da autoridade judiciaria brasileira, em divércio, separagao judicial ou dissolugdo de unido estavel, realizar a partiiha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionelidade estrangeira ou tenha domicilio fora do territério nacional. © art. 24 apresenta a disciplina que deve ser dada a concomitancia de postulagées idénticas perante 0 Judiciario brasileiro e o estrangeiro (litispendéncia), Segundo ele, nao ha impedimento para que a auttoridade judicidria brasileira processe e julgue 0 caso, a despeito da identidade com o processo no exterior. Tampouco para as causas conexas. A Unica excegao, constante do caput do dispositive, é a existéncia de tratados internacionais e acordos bilaterais em vigor no Brasil que enunciem diferentemente (BUENO, 2015). paragrafo Unico do art. 24, ao confirmar a regra do caput, permite a homologacao da sentenga estrangeira, a despeito de seu similar nacional. Trata-se de solugdo que deve limitar-se, contudo, aos casos em que o direito brasileiro admite (ou reconhece) concorréncia de jurisdigdes. Ela refere-se, portant, as situagdes albergadas pelos arts. 21 e 22 e ndo as do art. 23. Do mesmo modo que o art. 22, Ill, permite as partes, consensualmente, optarem pela sua submisséo @ jurisdigao brasileira, o art. 25 permite a elas ajustarem a sua exclusdo. Para tanto, devera haver clausula especifica de eleicao de foro em contrato internacional e a questao dever ser arguida pelo réu em Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convengo internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines. contestagdo. Caso nao 0 faga, competente seré, ao menos concorrentemente, também a justica brasileira. Quando se tratar de hipdteses em que a jurisdigdo brasileira for exclusiva (art. 23), afasta-se a possibilidade da eleigao de foro no estrangeiro (art. 25, § 1°). A remissao ao art. 63, feita pelo § 2° do art. 25, permite que as regras relativas a eleigdo de foro sejam aplicadas a hipstese. Assim, a eleigdo de foro so produz efeito quando constar de instrumento escrito e aludir expressamente a determinado negécio juridico. Cabe acrescentar diante do caput do dispositive que se deve tratar de contrato internacional. © foro contratual obriga os herdeiros e sucessores das partes. Antes da citagao, a cléusula de eleigao de foro pode ser reputada ineficaz de oficio pelo juizo se abusiva, determinando a remessa dos autos a0 juizo do foro de domicilio do réu. Cabe ao réu, citado, alegar a abusividade da clausula de elei¢do de foro na contestagao. Se nao 0 fizer, perde o direito de suscitar a questo (preclusao). 4.3 Da cooperagao internacional O CPC de 2015 inova ao tratar da “cooperacdo internacional’, dedicado todo um Capitulo ao tema, que vem dividido em quatro segées. Por “cooperagao internacional’ deve ser entendido 0 conjunto de técnicas que permite a dois Estados colaborarem entre si em prol do cumprimento fora de seus territérios com medidas jurisdicionais requeridas por um deles (BUENO, 2015). O art. 26 do NCPC estabelece que a cooperagao internacional sera regida por Tratado de que o Brasil faca parte — e, ndo havendo Tratado, com base em reciprocidade manifestada por via diplomatica (§ 1°), salvo no caso de homologagéo de sentenca estrangeira (§ 2°) -, observando os principios enumerados em seus incisos: respeito as garantias do devido processo legal no Estado requerente; igualdade de tratamento entre nacionais e estrangeiros, residentes ou no no Brasil, em relagdo ao acesso @ justiga e a tramitagdo dos processos, assegurando assisténcia judiciaria aos necessitados; publicidade processual, exceto nas hipdteses de sigilo previstas na legislagao brasileira ou na do Estado requerente; existéncia de autoridade central para a recepgao e transmissao dos pedidos de Todos 0s direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com @ convengao internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser repreduzida ou utlizada seja por moios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines. cooperagao e espontaneidade na transmisséo de informagées a autoridades estrangeiras. De acordo com 0 § 3°, nenhum ato praticado no ambito da cooperagao internacional pode contrariar ou produzir resultados incompativeis com as normas fundamentais que regem o Estado brasileiro O Ministerio da Justiga exercera as fungdes de autoridade central (art. 26, IV) na auséncia de designagao especifica, consoante se extrai do § 4° do art. 26. © art. 27 trata dos possiveis objetos da cooperagao juridica internacional citagao, intimagao e notificagao judicial e extrajudicial; colheita de provas e obtengéo de informagdes; homologagéo e cumprimento de deciséio; concesséo de medida judicial de urgéncia; assisténcia juridica intemacional e qualquer outra medida judicial ou extrajudicial nao proibida pela lei brasileira, Das diversas formas pelas quais a cooperagao juridica intemacional pode se dar no Ambito civel — e, com isso, fica excluida qualquer consideragéo sobre a extradigaéo — 0 CPC de 2015 vai além do de 1973 e, além de trazer novas regras relativas as “cartas rogatorias” (art. 36) e a "homologagao de sentenga estrangeira” (arts. 960 a 965), inova ao disciplinar expressamente também o auxilio direto (arts. 28 a 35). 4.4 Cooperagao nacional © Titulo Ill do Livro Il da Parte Geral do CPC de 2015 traz um Ultimo Capitulo dedicado a cooperacao nacional. Novidade em relagao ao CPC de 1973, os arts. 67 e 68 estabelecem o “dever de reciproca cooperagao por meio de seus magistrados e servidores" em todas as instancias e graus de jurisdicao, inclusive perante os Tribunais Superiores, para a pratica de qualquer ato processual. © § 3° do art. 69, em complement, estabelece que 0 pedido de cooperagéo judicidria pode ser realizado entre drgaos jurisdicionais de diferentes ramos do Poder Judiciério, 0 que também é providéncia louvavel e necessaria diante das peculiaridades da organizacdo judiciaria brasileira. Trata-se de criar, no ambito do Judiciario Nacional, condigdes otimas de cooperagao judicial, a exemplo do que, no contexto intemacional, € disciplinado pelos arts. 26 a 41, Nao ha por que negar que a iniciativa é meio de concretizar Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convengo internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines. também 0 modelo de “processo cooperative", derivado do art. 6°, analisado na perspectiva de relacao entre os prdprios érgaos do Judiciario e seus personagens. Os pedidos de cooperagéo podem envolver a pratica de qualquer ato processual, independe de forma especifica e deve ser prontamente atendido (arts. 68 69, caput). De acordo com 0 caput do art, 69, 0 pedido pode ser executado como: auxilio direto; reuniao ou apensamento de processos; prestacao de informagdes ou atos concertados entre os juizes cooperantes. E 0 § 2° quem indica o que, dentre outros, podem consistir 0s atos concertados entre os juizes cooperantes: pratica de citagao, intimago ou notificagao de ato; obtengao e apresentago de provas e a coleta de depoimentos; efetivacdo de tutela proviséria; efetivagdo de medidas e providéncias para recuperagdo e preservagao de empresas; facilitagao de habilitagao de créditos na faléncia e na recuperagao judicial; centralizagéo de processos repetitivos e o cumprimento (execugao) de decisao jurisdicional. As cartas de ordem, precatéria e arbitral deverao observar o regime previsto nos arts. 260 a 268, de acordo com o § 1° do art. 69. Sua expedicao, todavia, tende a diminuir diante da abrangéncia que o CPC de 2015 deu & cooperacao nacional e @ desformalizagao admitida nesse tipo de comunicagao. Todos 0s direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com @ convengao internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser repreduzida ou utlizada seja por moios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines. UNIDADE 5 - PECULIARIDADES DO NOVO CPC E ALTERAGOES MAIS VISIVEIS 5.1 Peculiaridades do Novo CPC O Novo Cédigo de Proceso Ci I° 6 dotado de uma parte geral de acordo com as mais modemnas legislagdes, porquanto o proceso assenta-se no trindmio agao-jurisdigao-processo, cujos aspectos sdo gerais e incidentes sobre todas as formas de prestagao judicial (FUX, 2015). Assim @ que tanto no processo cujo escopo seja a definigdo de direitos (Processo de Conhecimento) quanto naquele em que se pretende a satisfagao do direito (Processo de Execucdo), ha regras gerais e institutos comuns. Sob esse Angulo, 0 Cédigo ficou assim enumerado: > as disposigées gerais no Livro |, relativo & Parte Geral, mercé da criagdo de um livro; > 0 Livro de numero Il, referente ao Processo de Conhecimento, no qual foram encartados os procedimentos especiais de jurisdigao contenciosa e voluntaria conquanto processos de sentenga; > © Livro de numero Ill, relativo ao Processo de Execugéo de Titulo Extrajudicial; > 0 Livro de numero IV, acerca do Processo nos Tribunais e dos Meios de Impugnagao das Decisées Judiciais, constando neste, regras gerais sobre os. recursos @ os meios de impugnagdo em espécie, bem como as agées auténomas de impugnago (ago resciséria e agdo anulatéria de atos judiciais); e, por ultimo, Teresa Wambier na Exposigao de Motivos, calcada na doutrina de Egas Moniz de Aragao, explica que a auséncia de uma parte geral, no Cédigo de 1973, ao tempo em que promulgado, era compativel com a auséncia de sistematizagao, no plano doutrinério, de uma teoria geral do proceso. E advertiu 0 autor: "Nao se recomendaria que 0 legisledor precedesse aos doutrinadores, aconselhando a prudéncia que se aguarde o desenvolvimento do assunto por estes para, colhendo- Ihes os frutos, atuar aquele” (Aragao, Egas Moniz. Comentarios do Cédigo de Proceso Civil. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1991. v. Il. p. 8). © profundo amadurecimento do tema que hoje se observa nna doutrina processuslista brasileira justfica, nesse oportunidade, a sistematizagao da teoria geral do processo, no nove CPC (WAMBIER, 2010). Todos 0s direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com @ convengao internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser repreduzida ou utlizada seja por moios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines. > O Livro V, das disposigées finals ¢ transitérias, contendo as regras de direito intertemporal diante da vacatio legis eleita e a absorgéo dos procedimentos até entéo remanescentes do vetusto Cédigo de 1939 nao encampados. Sobre a principiologia do Codigo, LUIZ FUX (2015) expde que o estagio atual da Ciéncia Brasileira insere-se na era do pés-positivismo antecedida do jusnaturalismo que pregava um direito natural e imutavel e do positivismo, cuja ética enxergava 0 justo na prépria lei. exsurgimento dos principios maiores, inseridos na CF de 1988, introduziu © sistema juridico brasileiro no positivismo modemo que nao mais se reduz a regras legais, sendo, e, principalmente, compée-se de principios maiores que representam © centro de gravidade de todo o sistema juridico. Nesse segmento, destacam-se os principios da dignidade humana’, da razoabilidade, da impessoalidade, da eficiéncia, da duracao razoavel dos processos, do devido proceso legal, do contraditério, da ampla defesa, da efetividade, da tutela especifica e tempestiva, do acesso @ ordem juridica justa, dentre outros, & luz da concepcao jusfiloséfica que os acompanham. O novel cédigo, seguindo a trilha exegética da Constituicéo Federal, erigiu normas jin procedendo destinadas aos juizes, sinalizando que toda e qualquer decisao judicial deve perpasser pelos principios plasmados no tecido constitucional e insitos ao sistema processual como forma de aproximar a decisao da ética e da legitimidade. Em outras palavras, a Comissao preocupou-se em fazer do processo um instrumento de participagao democratica, em que o juiz ouvindo e dialogando com partes e interessados promova uma decisdo efetivamente apaziguadora Assim é que, v.g., na solugo de uma questéo humana deve assumir relevo regra infraconstitucional a luz do principio da dignidade da pessoa humana; na solugéo de uma ago de improbidade, é mister que a atividade de concrecéo da regra de direito ad razoabilidade, e assim por diante (FUX, 2015). Quanto as inovagées processuais, a formataco final do NCPC com 1.072 artigos impede que seja possivel enumerar todas as inovagdes em uma nistrativo venha coadjuvada pelos principios da moralidade e da 4A dignidade humana passou @ ser o centro de gravidade do ordenamento juridico, um superprincipio pelo qual perpassa todo o sistema de normas. Todos 0s direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com @ convengao internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser repreduzida ou utlizada seja por moios eletrénicos ou mecénicos, inclusive fotocépias ou gravagées, ou, por sistemas de armazenagem e recuperagao de dados — sem o consentimento por escrito do Grupo Promines.

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