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2º Workshop de Tecnologia de Processos e Sistemas Construtivos

28 e 29 de agosto de 2019

COMPORTAMENTO DE PAREDES EM BLOCOS DE GESSO QUANTO A


ESTANQUEIDADE-resposta aos tratamentos realizados
SOBRINHO, Carlos Welligton Azevedo Pires(1)
RAMOS, Nuno Manoel Monteiro Ramos(2)
(1) MSc,Engº Civil, ITEP-BR, carlos@itep.br
(2) Dr. Engº Civil, FEUP-PT , nmmr@fe.up.pt

Resumo: O principal agente de degradação dos elementos em alvenaria de blocos de gesso é a ação direta
das águas, principalmente as águas renovadas, como ocorre com a ação de chuvas sobre as paredes
externas, sendo potencializadas pela ação de ventos direcionais e micro clima localizados. Ensaios de
estanqueidade realizados em câmaras normalizadas, com controle de pressão de ar e vazão de água,
reproduzem as ações de chuvas dirigidas com correspondência as com regiões bioclimáticas definidas nas
Normas. Este artigo apresenta resultados de ensaios de estanqueidade realizados em paredes em alvenaria
de blocos de gesso, simples e hidrofugado, maciços, com e sem tratamentos superficiais, segundo a ABNT
NBR 15575-4/20013.
Palavras-chave: Estanqueidade paredes; Alvenaria blocos de gesso; Tratamentos superficiais; Ensaios de
estanqueidade.
Área do Conhecimento: Qualidade e desempenho de produtos e sistemas construtivos

1 INTRODUÇÃO
Construções em alvenaria de blocos de gesso não é recente, Nolhier, em seu livro Construire em plâtre
(Nolhier, 1986), apresenta vários casos de construções em produtos e sistemas de gesso, construídas em
diversos países da África, tais como Gâmbia, Senegal e Mauritânia. Na Argélia já se construía edificações em
alvenaria de blocos industrializados desde 1962. Como característica comuns dessas regiões relatadas é a
baixa precipitação pluviométrica, inferior a 1000mm/ano.
Na região do sertão de Pernambuco, nas cidades como Araripina, Trindade e Moraes, onde o índice de
pluviometria anual também não ultrapassa 720 mm/ano, existem mais de 300 casas térreas construídas em
alvenaria de blocos de gesso. Em Gravatá, cidade do agreste de Pernambuco, também com precipitação
pluviométrica inferior a 750 mm/ano, são encontradas casas de alto padrão construídas com este sistema
construtivo. (CLIMATEMPO, 2017).
Investigações realizadas em casas construídas, tanto na região do Araripe quanto em um protótipo
construído no campus experimental do ITEP por mais de 20 anos, foram observadas comportamento
diferenciado entre alvenarias construídas com blocos standard(sem aditivos hidrofugantes) e com blocos
hidrofugados(fabricados com adição de silicone), no tocante as infiltrações e degradação superficial.
Tratamentos superficiais aplicados sobre esse tipo de alvenaria são utilizados para prolongar a vida útil, neste
propósito foram realizados estudos com diversos tipos de tintas e preparadores de superfície visando analisar
o comportamento quanto a estanqueidade, segundo a metodologia normativa prescrita na NBR 15575-4
anexo C.

2 MATERIAIS E METODOS
2.1 Tipos de blocos e tratamentos superficiais
Na construção das alvenarias foram utilizados blocos de gesso maciço nas dimensões nominais
(666,7x500,0x10,0)mm, média densidade, nas cores branco para blocos standard e azul para os blocos
hidrofufagos, atendendo aos requisitos da norma NBR 16497/17, bem como o gesso cola simples atendendo
aos requisitos da norma NBR 16575/17.
Para os tratamentos superficiais foram utilizados fundo preparador de parede e selador acrílico, as
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principais tintas utilizadas foram tintas látex específica para gesso, tinta látex para exteriores e tinta acrílica.

Amostras construídas em alvenaria nas dimensões de 1200 mm x 1200 mm, com blocos
hidrofugados sem tratamento na sua face de exposição;
Uma série de amostras construídas em alvenaria nas dimensões de 1200 mm x 1200 mm com blocos
standard, submetida a tratamentos na sua face de exposição com os seguintes procedimentos de pintura:
 Sem qualquer tipo de tratamento e pintura;
 Preparado com selador acrílico (1ª diluída 50% e 2ª diluída 10%) e posteriormente pintada com tinta
látex específica para gesso em duas demãos(1ª diluída 50% e 2ª diluída 10%);
 Preparado com selador acrílico (1ª diluída 50% e 2ª diluída 10%) e posteriormente pintada com tinta
PVA látex de linha em duas demãos(1ª diluída 50% e 2ª diluída 10%);
 Preparado com selador acrílico (1ª diluída 50% e 2ª diluída 10%) e posteriormente pintada com tinta
acrílica de linha em duas demãos(1ª diluída 50% e 2ª diluída 10%);
 Preparado com fundo preparador de paredes (1ª diluída 50% e 2ª diluída 10%) e posteriormente
pintada com tinta acrílica de linha em duas demãos(1ª diluída 50% e 2ª diluída 10%);
 Preparado com fundo preparador (1ª diluída 50% e 2ª diluída 10%) e posteriormente pintada com
tinta PVA látex de linha em duas demãos(1ª diluída 50% e 2ª diluída 10%);

2.2 Aparelhagem
A aparelhagem para a realização dos ensaios é constituída de uma câmara de estanqueidade com as
seguintes características:
a. Abertura em uma das faces para fixação do corpo-de-prova;
b. Canalização com registros reguladores de água no interior da câmara possibilitando molhagem
contínua em toda face de exposição com vazão controlada de 3l/min;
c. Sistema de pressão de ar, constituído de ventoinha, tubulação e registros reguladores de pressão que
possibilite a aplicação de pressão pneumática uniforme até 50 Pa(50mmca) no interior da câmara.
A figura 1 mostra o esquema de funcionamento da câmara de ensaio.

Figura 1- Aspectos da câmara de estanquiedade

3 RESULTADOS
O Quadro 1 apresenta as características das amostras ensaiadas, considerando o tipo de bloco e o
tipo de tratamento superficial aplicado, bem como os resultados obtidos com a realização dos
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ensaios
Quadro 1- Caracterização das amostras e resultados dos ensaios
% de manchas na face Observações
Amostra Tratamento
posterior complementares
Bloco Sem manchas após 7
Sem tratamento Fotos 01 e 02
hidro h de ensaio
30 min 10%
Sem tratamento 5 min, 1ª mancha
manchas;
Fotos 03 e 04
1,0 h infiltração
Preparação:Selador acrílico 1 2,0 h  4% manchas;
em 2 demãos; 3,0 h  18% manchas; 1:20 h. 1ª mancha
Pintura:tinta latex específica 3 5,0 h  infiltração; Fotos 05 e 06
Em 2 demãos 7.0 h  90% manchas

Preparação:Selador acrílico1
1,0 h  8% manchas; 45 min, 1ª mancha
em 2 demãos;
1:30 h  50% formação de bolha na
Pintura:tinta latex a base
manchas pintura.
água4
Fotos 07 e 08
Em 2 demãos

Bloco Preparação:Selador acrílico1 2,0 h  3% manchas; 1:15 h, 1ª mancha


standard em 2 demãos; 3,0 h 5% manchas; pequenas falhas na
Pintura:tinta acrílica a base 4,0 h  15% manchas; pintura;
de água5 6,0 h  30% manchas
Fotos 09 e 10
Em 2 demãos
Preparação:Fundo
preparador 2 em 2 demãos; Sem apresentar
Pintura: :tinta acrílica a base manchas após 7,0 h de Fotos 11 e 12
de água5 ensaio
Em 2 demãos

Preparação:Selador acrílico3 1,0 h  2% manchas; 1,0 h, 1ª mancha


em 2 demãos; 2,0 h  5% manchas; Falhas na região da junta
Pintura:tinta látex a base de 4,0 h  10% manchas; entre blocos.
água4 7,0 h  20% manchas
Fotos 13 e 14
Em 2 demãos
(1) Fundo Preparador: Resina vinílica modificada, aditivos, (3) Tinta Latex à base de água(marca 1)
microbicidas não metálicos e água.
(2) Selador acrílico: Resina acrílica estirenada, pigmentos ativos e (4) Tinta Látex à base d'água(marca 2)
inertes, coalescentes, espessantes, surfactantes, microbicidas não (5) Tinta acrílica à base de agua.
metálicos e água.
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Fotos 1 e 2 – Alvenaria de blocos hidrofugados sem manchas após 7 horas de exposição

Fotos 3 e 4 – Alvenaria de blocos simples, sem tratamentos, 1ª mancha aos 5 min e infiltrações
após 1 hora de exposição
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Fotos 5 e 6 – Alvenaria de blocos simples, selador acrílico tinta CORALGESSO , 1ª mancha a


1:20 h e após 7 h mais de 90% de manchas de umidade

Fotos 7 e 8 – Alvenaria de blocos simples, selador acrílico tinta CORALMUR , 1ª mancha aos 40
min e após 7 h mais de 90% de manchas de umidade
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Fotos 9 e 10 – Alvenaria de blocos simples, selador acrílico tinta CORALPLUS, detalhe formação
de bolhas , 1ª mancha a 1:15 h e após 6 h mais de 30% de manchas de umidade.

Fotos 11 e 12 – Alvenaria de blocos simples, fundo preparador, tinta CORALPLUS, sem


apresentar manchas após 7 horas de exposição, detalhe da face interna a câmara após ensaio.

Fotos 13 e 14 – Alvenaria de blocos simples, fundo preparador, tinta CORALMUR, , 1ª mancha a


1 h e após 7 h apresentou 20% de manchas de umidade. Detalhe fragilidade em regiões de junta
entre blocos.
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4 ANÁLISES E CONSIDERAÇÕES
As paredes de alvenaria construídas com blocos de gesso hidrofugados apresentaram nível de
desempenho intermediário de Norma, satisfazendo plenamente os critérios de desempenho quanto a
estanqueidade de elemento de fachada.
As paredes de alvenaria construídas com blocos de gesso simples, sem tratamento, não atenderam os
critérios mínimos de desempenho.
As pinturas com tinta látex PVA ou acrílica a base de água, mesmo as especificamente desenvolvidas
para aplicação em gesso, com ou sem tratamento com selador acrílico, não são suficientes garantir o
atendimento ao requisito de estanqueidade para paredes de fachada.
O tratamento a base de fundo preparador de paredes quando aplicado em duas demãos e sobre esta
aplicado tinta acrílica a base da água apresentou nível de desempenho intermediário, satisfazendo o requisito
de desempenho para estanqueidade de fachada..

5 REFERÊNCIAS
[1] ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR 15575-4: Edificações habitacionais —
Desempenho Parte 4: Sistemas de vedações verticais internas e externas – SVVIE. Rio de Janeiro,
2013.
[2] CLIMATEMPO- www.climatempoconsultoria.com.br/historico-de-dados-meteorologicos, acesso
out.2017.
[3] CORAL- www.coral.com.br/pt/produtos, visita em abril 2017.
[4] ITEP-Instituto de tecnologia de Pernambuco, Relatório Técnico nº 021.626- Ensaios de
desempenho de estanqueidade de paredes externas. Recife, 2007.
[5] NOHIER Marc- Construire en plâtre. – ed. L' Harmattan, 1986.

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