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ESTUDO DE CASO
BELAS ARTES 2023
PAULO CASTRO
Copyright © 2022 by Belas Artes Editora. Todos os direitos reservados.
Internet e no telemóvel, gerando uma enorme base de dados que depois é depurada em termos de
perfis e que acaba por ser reutilizada para reforçar os nossos comportamentos. Entramos assim num
“loop” cibernético, que é um espelho da nossa cultura. O problema é que os espelhos devolvem aquilo
que somos, e a seguir só vemos o que queremos. Gera-se um imobilismo cultural, sem lugar para a
novidade. Ora, o Chat-GPT ou um “chatterbot” que utilize linguagem natural acentua esta tendência,
pois é mais fácil para nós estabelecermos relações de empatia e de confiança, reforçando a forma como
pensamos e sentimos. Tendo acesso a quantidades de informação inimagináveis, o Chat-GPT é com-
parável a um oráculo. Ele leu quase tudo. E capturou uma certa ordem da linguagem humana, que é
algo extraordinário, e por isso é tão credível. Quanto mais se aproximam dos nossos modos de estar e
de ser, mais poderosas serão estas tecnologias. E isso torna-nos mais manipuláveis e vulneráveis.
A inteligência artificial pode retirar-nos inteligência “natural”?
Pode esvaziar-nos – estamos a ser esvaziados de capacidades comportamentais e mentais. Estes sis-
temas criam uma interação dinâmica que nos leva a acreditar ainda mais naquilo em que acre-
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muitos robôs, e os robôs, supostamente, devem obedecer a ordens, o que implica a ideia de um certo
pensamento esclavagista – porque um robô, por definição, será qualquer coisa que utilizamos para
fazer o trabalho forçado e, então, é um escravo. Isso é também um problema. O filme mostra o que
acontece se os robôs adquirirem consciência, mas estamos longe disso. O maior problema para mim
é a ideia de que os sistemas atuais de inteligência artificial podem manipular os modos de ser huma-
nos, de pensar e de sentir.
Qual é o papel do direito e da jurisprudência digital?
É mesmo importante regulamentar fortemente a aplicação da inteligência artificial. Existe o Artificial
Intelligence Act (AI ACT), proposta europeia para regulamentar o setor. Estão também a decorrer
reuniões sindicais ao nível europeu para regular o uso da inteligência artificial no trabalho, reivindi-
cando por exemplo que os candidatos a emprego tenham o direito de exigir que o processo de seleção
seja feito por humanos e não por máquinas… Não sabemos muito bem o que vai acontecer, mas cada
vez mais a nossa atividade vai ser feita por máquinas, e isso cria um outro esvaziamento dos postos de
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CRESPO, Lúcia; DUARTE, Roriz. Entrevista com Paulo Castro. Weekend Negócios, São Paulo. 14
abr 2023. Entrevista.
CONSTRUINDO
CRIATIVOS