Hábeas Corpus - Contra Decreto de Prisão Preventiva para Assegurar A Aplicação Da Lei Penal

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Hábeas Corpus – Contra Decreto de Prisão Preventiva para Assegurar a

Aplicação da Lei Penal

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR


DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE
JUSTIÇA DE .....................

RÉU PRESO

"HABEAS CORPUS”
CÓDIGO TJ...........

Colenda Câmara,
Eminente Relator,

.............................., brasileiro, divorciado,


advogado regularmente inscrito na OAB..... sob o nº ........, permissa
máxima vênia vem perante a esta Egrégia Corte, com fundamento no
artigo 5º, LXVIII, da Constituição Federal, combinado com artigo 647 e
seguinte do Código de Processo Penal, impetrar uma ordem de

"HABEAS CORPUS"

em favor do Paciente, ............................., brasileiro, casado, comerciante,


RG ............................ (SSP-.....), residente na Av. .....................,
Vila ................., .............., contra decisão exarada pelo doutor Juiz de
Direito da Segunda Vara Criminal da comarca de ................, que
decretou sua prisão preventiva (doc. ....), bem como a decisão que negou
o pedido de revogação da prisão questionada (doc....), sob a suposta
justificativa para suprimir o status libertatis do Paciente por “como
garantia da ordem pública, conveniência instrução criminal e para
assegurar a aplicação da lei penal,” sem que tenha havido qualquer
prova, mesmo que indiciária, de que poderia fugir ou atentar contra o
bom andamento da persecução, constituindo, assim, notório e
indisfarçável constrangimento ilegal, sanável com o presente remédio
heróico de habeas corpus.

Tanto a representação pela decretação da


prisão preventiva, quanto a decisão que a decretou, não estão ancoradas
em qualquer prova ou fato concreto que levasse a ilação de que a medida
extrema fosse necessária, pois a decisão abjurada foi editada com
singelos e perfunctórios argumentos, assim aduzidos in verbis:

“A Ordem Pública, traduz-se na paz e


tranqüilidade do meio social. A medida cautelar,
fundamentada na garantia da ordem pública visa
impedir que o acusado cometa novos crimes;
acautelar o meio social em razão da repercussão
do fato e dar credibilidade à justiça face a
gravidade do delito.
Por meio do depoimento da mãe de uma das
supostas menores que estariam sendo envolvidas
no meio da prostituição, pelo acusado, e, ainda, os
documentos jungidos aos autos, vislumbra-se,
claramente a gravidade dos fatos imputados,
precipuamente, tratando-se de adolescentes.”
(Grifei)

Vê-se que a o decreto de prisão


preventiva é no mínimo contraditório diante da postulação exercitada
pela autoridade policial, que explicitamente requereu a medida cautelar
por conveniência da instrução criminal, mesmo sem mencionar de modo
claro e direto em que fatos se ancorava, conforme texto da representação
(doc. ....) adiante colado:
“Veja-se que a Prisão preventiva está sendo
postulada por conveniência da instrução criminal,
posto que sc o investigado for meramente ouvido,
certamente empreenderá fuga do distrito da culpa
e ocultará provas e testemunhas.” (Grifei)

Foi no mesmo ritmo o parecer do


ministério público que deu guarida a postulação da prisão preventiva.
Vejamos:

“Assim, a prisão do representado é medida que se


impõe por conveniência da instrução criminal e
para assegurar a aplicação da lei penal, uma vez
que existe fundado temor de que este, se for
cientificado da investigação,. que é sigilosa,
poderá ocultar provas, persuadir testemunhas ou
empreender fuga.”

Desfigurada de qualquer sustentação


fática foi também a decisão que indeferiu o pedido de revogação, que
assim proclamou:

“Razão assiste a ilustre Dra. Promotora de Justiça,


ao se manifestar contrariamente ao pedido
formulado pelo acusado, .................................,
haja vista que a prisão deste foi decretada com
alicerce nas circunstâncias contidas no artIgo
312, do Código de Processo Penal, ou seja, "por
conveniência d.a instrução criminal e para
assegurar a aplicação da lei penal", que ali se
faziam satisfatoriamente presentes.”

Sem embargo do elevado conhecimento


jurídico do prolator da decisão conspurcada e com a devida vênia,
verifica-se que a custódia cautelar, antes da sentença condenatória, tida
como medida excepcional “mal necessário” é uma ficção jurídica, uma
ilusão meramente acadêmica, vez que no dia a dia forense já se tornou
regra, quando deveria ser exceção. É o que está ocorrendo no caso
vertente, onde os obreiros do direito que manipularam a famigerada
medida coercitiva, o fizeram sem qualquer parcimônia e respaldo nos
fatos concretos, violando os direitos e garantias individuais e
fundamentais do Paciente, mormente o da presunção de inocência e do
devido processo legal.

O Paciente, é pessoa radicada na cidade


de ................... desde seu nascimento, (doc. .....) possui família
regularmente constituída (doc. .....), a qual é sustentada, exclusivamente,
com os frutos de seu labor, exerce atividade lícita com endereço certo e
sabido, (......), gozando no meio social em que vive de respeito e
consideração (doc .....), além de ser possuidor de bons antecedentes e
primariedade, oferecendo, assim, amplas garantias ao Juízo, inclusive,
possui bem de raiz no distrito da culpa (....) o que demonstra que não há
motivos para evadir-se com a intenção de fugir a eventual aplicação da
lei penal.

Verifica-se que o Magistrado motivou


suas decisões de forma presumida, sem, contudo fundamentar de modo
preciso e objetivo quanto aos fatos determinantes da necessariedade da
medida extrema, configurando notório e indisfarçável constrangimento
ilegal sanável pelo presente instituto do habeas corpus.

DO DIREITO
Consoante a doutrina mais abalizada, a
prisão preventiva, como instituto de exceção, deve ser aplicada
parcimoniosamente. Com a devida vênia, não há como concordar com
aqueles que considerando a estupidez ou a gravidade do delito como
fundamento e usam como justificativa do decreto preventivo; a
repercussão do crime, como se este fosse, por si mesmo, causa e razão da
custódia cautelar. Um crime grave sempre provoca uma perturbação, um
abalo social. Se esse abalo fosse motivo ou requisito da prisão
preventiva, esta seria obrigatória para determinadas infrações,
especialmente para os crime desta ordem, como acontecia antigamente,
nos delitos punidos, no máximo, com pena superior a dez anos de
reclusão.

Assim sendo prisão preventiva, não sendo


obrigatória, só se decreta nas situações previstas em lei, quando é
indeclinável a sua necessidade.
A custódia provisória, desta sorte, na
espécie ora em foco, esteia-se, fundamentalmente, na necessidade e
interesses sociais. Daí a correta observação de Viveiros de Castro, trazido
à colação por Aderson Perdigão Nogueira:

“o juiz, ao decretar a prisão preventiva, "há de


estar por completo dominado não tanto pela
idéia da culpabilidade do acusado, o que só o
julgamento posterior pode com segurança
demonstrar, mas, principalmente, pela
indeclinabilidade da providência, para
afastar, desfazer ou impedir certos atos que
ameaçam ou perturbam a ordem pública, a
instrução do processo ou a aplicação da pena"

No caso em apreço, pelo que se


depreende dos documentos em apenso, a sentença que instituiu a custódia
preventiva do Paciente procurou agasalho nas hipóteses previstas no art.
312 do CPP da “garantia da ordem pública” e para “assegurar a
aplicação da lei penal” sem, contudo indicar de modo preciso quais fatos
propiciaram esta conclusão, se limitando a repetir a fórmula lega, método
este, repudiado pelos nossos Superiores Sodalícios.

O STF assim vem decidindo: "Prisão


preventiva - Inadmissibilidade se ausente a demonstração, em concreto,
do periculum libertatis do acusado. Irrelevância da gravidade abstrata
do crime imputado, ainda que qualificado de hediondo, da
reprovabilidade do fato e do conseqüente clamor público"."Do voto do
Ministro-relator, porque relevante para a presente discussão, extrai-se:
"Tal como fundamentada, a prisão preventiva, data vênia, é
insustentável. Tanto o decreto impugnado quanto as decisões que o
avalizaram e, agora, o parecer da Procuradoria-Geral da República
traem maldisfarçada nostalgia da velha prisão preventiva obrigatória e
o vezo que lhe era inerente de abuso da detenção cautelar como forma
de antecipação de sanção penal. São vícios freqüentes nas prisões
preventivas decretadas com base unicamente na invocação de garantia
da ordem pública, confundida com a autorização para utilizar a medida
com fins, não apenas de prevenção especial, já em si discutível, mas
sobretudo de prevenção geral, de todo incompatíveis com a presunção
constitucional de não culpabilidade. A jurisprudência do tribunal - com
raras exceções - tem sido rigorosamente avessa a expedientes do gênero:
assim, por exemplo, tem proclamado que nem a gravidade abstrata do
crime, ainda quando qualificado de hediondo (v.g., HC 65.950, Rezek,
RTJ 128/147; HC 67.850, Pertence, RTJ 131/667; HC 76.730, Galvão,
10.03.1998; HC 79.204, Pertence, 1.°.06.1999), nem a reprovabilidade
do fato, nem o conseqüente clamor público (HC 71.289, Galvão, 09.08.
1994) justificam por si sós a prisão preventiva, se não se demonstra em
concreto a ocorrência do periculum libertatis, que é medida da
necessidade cautelar que a legitima".1

Neste prisma de entendimento, é


imperiosa a conclusão de que a prisão preventiva em razão da
periculosidade do agente é incompatível com o estado atual de nosso
sistema penal, fundado na culpabilidade, consoante a iluminada lição de
TOURINHO FILHO: "Não se pode, sob pena de resvalar-se para o
arbítrio e prepotência, presumir que os fins do processo não serão
alcançados sem a prisão do réu. Por outro lado, sua maior ou menor
periculosidade não pode exercer qualquer influência no campo da
prisão provisória. Justificá-la, pois, em face da periculosidade do réu
seria uma forma de burlar a lei, que, às expressas, impede a aplicação
da medida de segurança provisória, mesmo para as pessoas
inimputáveis referidas no art. 26 do CP".2

Inexiste, até o presente momento


qualquer fato concreto de leve a ilação de que em liberdade o Paciente
poderá atentar contra a ordem pública, a conveniência da instrução
criminal ou burlar a aplicação da lei penal ou que justifiquem a
manutenção da prisão preventiva imposta ao Paciente.

Com muita propriedade, acentua o


festejado Heleno Fragoso:

“Não bastam simples temores subjetivos do


julgador. É necessário que os fatos seja
objetivamente determinados para que possam
existir os fundamentos da prisão preventiva.”

1
STF, RO. Em HC 79.200-6-BA, 1a. Turma, j. 22.06.1999, rel. Min. Spúlveda Pertence, RT 770/510.
2
TOURINHO FILHO, “Código de Processo Penal Comentado”, 2ª Ed., Saraiva, 1997, Vol I, p. 492;
(in “Jurisprudência Criminal – Ed. Borsoi –
pag. 392).

Da mesma forma são os pronunciamentos


de nossos Tribunais de teto:

“PROCESSUAL PENAL – HABEAS-CORPUS –


PRISÃO PREVENTIVA – PRESSUPOSTOS –
FUNDAMENTAÇÃO INSUFICIENTE – A prisão
preventiva, medida extrema que implica
sacrifício à liberdade individual, concebida com
cautela à luz do princípio constitucional da
inocência presumida, deve fundar-se em razões
objetivas, demonstrativas da existência de
motivos concretos susceptíveis de autorizar sua
imposição. – Meras considerações sobre a
gravidade do delito, bem como a possibilidade de
fuga não autorizam nem justificam a decretação
de custódia cautelar. – Habeas-corpus
concedido.” (STJ – HC – 16553 – SP – 6ª T. – Rel.
Min. Vicente Leal – DJU 17.09.2001 – p. 00198)

Mais despropositada e inoportuna, é


presença da hipótese de “assegurar a aplicação da lei penal” nas
decisões conspurcadas, haja vista que em nenhum momento o Paciente
esboçou qualquer intenção e evadir-se para burlar ou tornar impossível a
aplicação de eventual reprimenda penal, alienando ou vendendo bens de
raiz ou se ausentando da cidade de Anápolis, onde fora preso no seu local
de trabalho sem esboçar qualquer resistência ao milicianos que
cumpriram o mandado de prisão.

Após a decretação de sua custódia


processual o Paciente instruiu seu pedido de revogação com vasta
documentação, dando conta que não se tratava daquela caricatura
humana, monstruosa, desenhada de forma distorcida, pela autoridade
policial em sua representação pela decretação da prisão, e sim, uma
pessoa de bem, trabalhadora, pai de família sem qualquer mácula judicial
pretérita, preenchendo todos requisitos para aguardar o persecutio
criminis in judici em liberdade. Mesmo assim, o Juiz, aqui tido como
autoridade coatora, se portou de forma indiferente, desconsiderando
aquele material probatório, indeferindo o pedido de revogação
inobstante a robusta prova trazida a colação de que as informações
prestadas pela autoridade policial eram improcedentes e fundadas em
meras suposições.

Deste modo, a manutenção da custódia


processual do Paciente, constituiu franca e luminosa coação ilegal,
devendo ser sanada por Este Egrégio Sodalício.

EX POSITIS
espera o Impetrante, seja a presente ordem de HABEAS CORPUS,
conhecida e deferida, para fazer cessar a coação ilegal de que está sendo
vítima, o Paciente, mandando que se expeça, o competente ALVARÁ DE
SOLTURA, cassando e revogando a prisão cautelar de natureza
processual contra ele exarada, pelos fatos e fundamentos ut retro
perfilados, oficiando-se o Juiz, aqui nominado autoridade coatora, para
prestar suas informações em caráter de urgência, pois desta forma esse
Egrégio Sodalício, estará como de costume restabelecendo o império da
Lei, do Direito e da Excelsa JUSTIÇA.

LOCAL E DATA

_________________________________________
OAB

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