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São Luís
2006
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO
CENTRO DE EDUCAÇÃO, CIENCIAS EXATAS E NATURAIS
CURSO DE HISTÓRIA
São Luís
2006
NATÉRCIA CRISTYNA FREITAS MORAIS
São Luís
2006
NATÉRCIA CRISTYNA FREITAS MORAIS
Aprovado em _____/_____/_____
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________
Prof ª Elizabeth Abrantes
Mestre - UEMA
Orientadora
___________________________________________
1º Examinador
_____________________________________________
2º Examinador
A Deus.
Aos meus pais, Aristeu Alcantara e Antonia Vieira, grandes amores da minha
vida, por minha edificação pessoal, pelo brilho nos olhos a cada conquista, por me
apoiarem em cada deslize e me ensinar que esses deslizes são as escadas para futuros
acertos. Obrigada pelo amor, dedicação e paciência em cada segundo desta jornada,
com crença constante na minha capacidade. Devo a vocês o que hoje sou.
presença constante apesar da distância, a grande amizade e paciência. Amo muito vocês.
Aos meus irmãos, Jackson, Jefferson e Maurélio, cada um a seu modo sempre
Aos meus avós maternos e paternos e aos meus tios: João Freitas, Vera, Maria
de Deus, Teresa Alcântara, Zildete, Soraia e minhas primas Acácia Helena e Jussara.
Sempre tão presentes em minha vida com seu carinho doçura e amizade. Vocês são
Aos meus primos, Paulo Geovany, Alexandre Vitor, João Eduardo, Jonatas
Júnior, Lucas, Mariana, Talita, Ketcia e Renata, por encherem minha vida de alegria
esplendor.
In Memorian à minha bisavó Adelaide, aos meus tios José Garcia, Antonio
Celso, Mary Sandra e Aldenora. Que me ensinaram a dor da perda e doce sabor da
A minha família ‘torta’, que mesmo não tendo laços consangüíneos, não consigo
imaginar minha vida sem amor de vocês: Bel, Mundo e seus filhos, Tia Terezinha, Célia
Aos meus amigos-irmãos, pelo amor, por estarem sempre presentes nas grandes
encruzilhadas da minha vida. Amo muito vocês. Alberto, Ana Leatrice, Ana Paula,
Fernanda, Guilherme, Haydna, Khory, Júlio Sá, Mauritânia, Oziel, Paula Giordania,
Vanessa e Valéria.
imaginar minha vida sem a dádiva de suas amizades: Adriana, Márcia Elaine, Yankee,
A Ernesto César por tornar meus dias mais cheios de amor, com sua forma
A Sarah, Vitória, Lorena, Júlia, Yasmin, Luís Artur, Luís Fernando e Kalil, por
e torcer por mim nessa jornada. Obrigada por seu carinho silencioso, mas sempre
presente.
A José Márcio, por me acompanhar nos primeiros momentos dessa caminhada
A Ellen e sua família, por seu carinho, torcida e pelo espaço maravilhoso que me
gratidão pelos momentos maravilhosos que vivi nesta escola que era minha segunda
casa.
A vocês que mais que professores foram mestres e me ensinaram lições valiosas
Luís Carlos, Flávio, Paulo Rios, Helidacy, João Botelho e especialmente para minha
em algum ponto da estação tivemos que nos despedir. Sinto não poder citar o nome de
Study about the meaning sybol of the building José Sarney Bridge’s in the
project about modernization and urban development in the São Luís city at government
Sarney (1966 – 1970). Connected the representations of the symbols in this speech
based in the Maranhão New’s construction, like promoter of the progress and hope,
analysing the way this speech to get onto social mind with more strength when to start
to build “José Sarney Bridge”, that Sarney called “Hope Bridge”, to being claimed for
your magnitude present in your Government that wold connect the “old city” with
posssibilities of the “new city’s promissing future”, and the symbols’s representations
of Maranhão New’s construction the bridge that would connect the pass and
Maranhão’s future.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES..................................................................................... 11
INTRODUÇÃO...................................................................................................... 13
CONCLUSÃO......................................................................................................... 53
REFERÊNCIAS...................................................................................................... 55
ANEXO................................................................................................................... 59
INTRODUÇÃO
Ítalo Calvino
poder executivo, deu-se na vigência do regime militar no Brasil, após o golpe de 1964.
Estado. Segundo Corrêa (1993), Sarney estaria apto para conduzir o processo político
estadual de acordo com os princípios preconizados pelo Golpe de 64, já que sua figura
era vista pelos militares como uma das principais lideranças em nível estadual e estava
se alastrava no país desde o governo do presidente Getúlio Vargas a partir dos anos 30 e
Contando com o apoio dos militares, Sarney construiu sua campanha ao governo
“Ponte José Sarney”, vista como símbolo da esperança no progresso, num futuro
através dos teóricos que mais se aproximam do nosso trabalho e que entendem as
cidades como palco da modernidade, das suas realizações e das suas contradições.
cenário urbano.
Representa uma memória escrita, em que o passado pode ser revivido, buscado nos seus
traçados e símbolos. Traçados que formam uma paisagem rica de informações e contam
vezes tão sutis que parecem não ter impregnados nos seus símbolos a representação
podem traduzir essa vontade latente da cidade de contar, por meio das suas inscrições
passado das urbes, sua funcionalidade e ordenamento. São também dessa época as
testemunhos sobre a cidade e seu passado, entre eles Max Weber e Georg Simmel.1
1
Não foram feitas leituras diretas sobre esses autores. As informações sobre Max Weber foram retiradas
das obras de REZENDE, Paulo. (Des)encantos modernos. Recife: Fundarte, 1997; e NASCIMENTO,
Francisco Alcides do. A Cidade sob o Fogo: modernização e violência policial em Teresina – 1937-1945.
Teresina: Fundação Monsenhor Chaves, 2002. Sobre Georg Simmel, as informações encontram-se na
obra de GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade. São Paulo: UNESP, 1991.
Max Weber, em “Conceitos e Categorias de Cidade”, de 1921, relaciona a
labirinto de relações sociais. Para este sociólogo havia uma tentativa dos indivíduos em
herança histórica, ao mesmo tempo em que o homem era obrigado a realizar contratos,
marcados pela rigidez, como garantia para sua sobrevivência, do contrário conheceria o
caos. Enquanto nas pequenas cidades e no campo leva-se uma vida simples, o ritmo
imposto ainda não era o da modernidade, a idéia de tempo no cotidiano era o oposto do
desejos e de frustrações.
século XIX, “a cidade como lugar de fabricação da utopia e do espaço possível da sua
realização aparecera como uma imagem forte da modernidade, no século XIX”. (Apud.
obra de Ítalo Calvino, “As cidades Invisíveis” (2001) o foco norteador da nossa
determinados aspectos. Percebe-se, portanto, que a cidade existe enquanto relação entre
os diferentes grupos que interagem em um dado sistema produtivo. Cada grupo com seu
modernizante em São Luís nos anos 60, e que trataremos em páginas posteriores.
com nomes como Sidney Chalhoub, Cidade Febril (1996); Sandra Jatahy Pesavento,
“Uma Outra Cidade: o mundo dos excluídos no final do século XIX” (2001); e, no
constrói o seu cotidiano segundo uma ordem que relaciona a forma e a essência, onde a
escondem seu real significado, e, sendo assim, apropriadas pelas elites políticas e
Luís na década de 60, a partir dos discursos de Sarney presentes na obra Governo e
‘destino’, arquitetam-na em seus grandes projetos, acreditam que podem traçar as trilhas
que redefinirão as suas relações sociais. É nos seus traçados que as novidades ganham
forma e espaço. Esse novo é parte integrante do discurso dos governantes, ele traduz a
mudanças que acontecem no cotidiano dos indivíduos. A cidade é assim o espaço pleno
da modernização.
inicialmente de algumas idéias contidas nas análises dos principais teóricos sobre a
modernidade, depois de ter traçado essas tênues linhas dos múltiplos significados de
cidade.
O termo modernidade é polissêmico, indicando múltiplas possibilidades que
são constituídas a partir de visões que comportam tempos e observações diferentes, por
isso mesmo, a modernidade pode ser vista sob novos olhares. Modernidade é um
as pessoas reivindicam, pois todos querem ser ‘modernos’, implicando uma condição
para acelerar seus passos no contexto histórico. Enfim, é uma ideologia que implica em
(1998, p.13) nos últimos cem anos, o “moderno” serve-nos para diferenciar tudo o que
trabalho em certos teóricos que se aproximaram mais da discussão que faremos nos
capítulos seguintes, entre eles citaremos a concepção teórica de Berman (1994, p.15)
Berman acredita que ser moderno é viver em meio às experiências que a vida
determinar de moderno e a partir daí reinventá-lo. Partindo dessa concepção ele faz
menção a três fases da modernidade, apresentando cada fase com uma tradição própria
terceira fase, que se apresenta com uma maior abrangência, que buscaremos uma
inerente à racionalidade, apesar dessa evolução trazer risco a própria humanidade, uma
vez que a construção do conhecimento é feita com base na razão, e por isso mesmo, na
seleção e eliminação daquilo que não se considera ser moderno. Pensando nessa
concepção de modernidade é possível entender que o homem vive esse momento, tão
complexo, produzindo novas relações que se definem à medida que ele projeta-se nesse
contexto histórico.
concepção de que a razão e o sujeito possuem uma relação intrínseca de ligação. Com
influenciaram o seu tempo-espaço. Com isso, torna-se viável definir, que a modernidade
não é um processo estático, pois prima pela constante reciclagem das coisas e esse
termo nos permite uma infinidade de significados, pois, estes são construídos partindo
vários enfoques que temos sobre o ponto a ser analisado. A concepção de Bobbio (1994,
social também vivem esse processo, interagindo conjuntamente, pois é essa interação
de um modo geral constrói grandes êxitos tanto na arte, quanto no pensamento. Esse
aspecto formador da modernidade pode ser entendido como seu fomentador ideológico,
intelectual, podendo ser apresentado como nessa concepção de Le Goff (1994, p.190) :
fora construída a produção cultural na forma de uma arte essencialmente brasileira, que
moderno no Brasil, a partir dessa visão de ‘brasilidade’ significava ser “nacional”, pois
quanto mais nacional, mais moderna seria a estrutura intelectual da produção cultural
brasileira.
A partir deste discurso da “brasilidade”, afloraram no Brasil derivações
de bases intelectuais, podemos destacar a ‘Geração de 45’, no Maranhão, que tinha José
São esses elementos que contribuem para que certos intelectuais e políticos,
modernidade no Brasil suscitou muitas opiniões e significados e que estes são criados a
influências e experiências.
de sua materialização como elo integrante desse momento é que partiremos para o seu
homem, não poderia deixar de ser o grande palco dessa modernização, com suas
transformações significativas, para atender aos ideais progressistas. Estes ideais serão
vivenciados nas mudanças urbanas que influem no traçado das cidades, porque são eles
que representariam a “concretude” do discurso de modernização que contagia o poder
comparação com o Brasil porque também aqui as reformas urbanas mais significativas
periferias da cidade.
nesse tipo de modernização que criou conflitos, destruiu valores, indo para além da
governar imposta pela elite. O projeto articulado a partir dos governos civis da
do regime autoritário, através do golpe militar de 1964, que colocou em prática uma
conservador.
São Luís, a partir de uma modernização que criou conflitos e contradições, pois colocou
provocou expulsão das classes menos privilegiadas a partir da prioridade aos anseios
– as mudanças no cenário.
A capital maranhense deu seus primeiros passos para se tornar uma cidade
Mesquita, uma traça para São Luís, que se constituiria no núcleo urbano original.
feitura e com o traçado da cidade, alinhamento e limpeza das ruas, manutenção das
ocupada, fazendo surgir uma nova freguesia, a de Nossa Senhora da Conceição, que
segundo GAIOSO (1970, p. 113) tinha com uma população menor que a freguesia de
2
Conforme Lacroix (2002, p. 39), “(...) o curto espaço de três anos que os franceses ficaram no
Maranhão – 26 de julho de 1612 a 31 de julho de 1615 – os impossibilitou de deixar grandes marcas. Os
únicos sinais da ocupação francesa são: o local onde aportaram e posteriormente escolhido pelos
lusitanos para construir a cidade de São Luís; as improvisadas capelas, continuadas pelos missionários
portugueses e tornadas núcleos religiosos que perduraram até nossos dias; e o nome do Forte de São
Luís, mantido pelos portugueses para nominar a capital do Estado do Maranhão.”
Nossa Senhora da Vitória, a primeira e mais antiga, mas possuía bastante terrenos para
O bairro da Praia Grande que já era considerado o centro comercial ampliou seu
número de armazéns, enquanto a região do atual Desterro sofreu seus primeiros aterros,
Na opinião dos viajantes Spix e Martius que estiveram em São Luís em 1817,
São Luís era a quarta maior e mais próspera cidade do Brasil, perdendo apenas para o
transporte e no disciplinamento dos espaços e uso dos serviços coletivos urbanos, o que
No início do século XX, a cidade de São Luís crescia apesar da difícil situação
populacional da cidade uma vez que representava uma das poucas possibilidades de
emprego para os pobres urbanos e do campo, vítimas do êxodo rural. Essa situação de
da cidade, surgindo bairros ligados ao entorno das fábricas, como Fabril, Cambôa e
Anil.3
pois devido à falta de recursos São Luís não passou pelas grandes reformas urbanas de
exemplo da capital federal, o Rio de Janeiro. Por outro lado, isso possibilitou a
para reforçar em vários momentos o culto ao passado, com suas marcas materiais ainda
arquitetônico até então preservado, passava a ser visto como comprovação do atraso
sócio-econômico da capital.
3
Essa explicação é resultante de uma análise baseada na leitura de várias obras da historiografia
maranhense, o que dificulta uma referência mais específica.
4
- Cf. BARBOSA (2005) ; BARROS (2001).
Para mudar o quadro o governo implementou várias obras. Foi nesse sentido
o alargamento de vias centrais, entre elas a Avenida Magalhães de Almeida, que cortou
a cidade pelo Largo do Carmo, destruindo vários quarteirões antigos, a partir de 1940.
Sobre essa obra que daria uma nova fisionomia ao centro da cidade, consta do relatório
nas décadas de 30 e 40, tendo como fonte os jornais e falas dos governantes da época,
Juliana Barbosa (2005, p. 23) mostra como a “ preocupação primordial do governo era
com o enquadramento de São Luís no molde das cidades modernas, daí a elaboração
de um plano de reformas urbanísticas que visava dar uma nova fisionomia para a
cidade”.
engenheiro Rui Mesquita, traçou o “Plano Rodoviário da Ilha de São Luís” que previa a
seguir alguns dados apresentados por RIBEIRO (2001, p. 18) referentes aos serviços
públicos.
São Luís era uma cidade com uma pequena oferta de serviços
públicos, haja vista que no setor de transporte em 31.12.1950 havia
apenas 18 km de linhas de ferro-carris de uso público que
transportaram 6. 699 passageiros naquele ano. (...) O oferecimento de
serviços de telefonia se resumia à capital, que detinha em 1950, 1.004
linhas (...) o sistema de iluminação pública foi inaugurado em 1924,
era mantido pelo Estado e servia a 170 logradouros públicos e 242
domicílios (...) Quanto à instalações sanitárias e rede de esgotos, estas
existiam apenas na capital, através do sistema de separador, que
servia a 129 logradouros públicos. O abastecimento d’água era
canalizado, em apenas 4 cidades possuíam tal sistema com
domiciliar, sendo que na capital haviam 226 logradouros servidos.
Newton Bello (1961-1966) apresentavam uma situação do Estado mais favorável, o que
produtoras’, saindo exclusivamente do meio político e por isso não tendo, como os
governadores que os precederam, “olhos de ver a real e difícil conjuntura então vivida e
5
Este seria o primeiro projeto para a construção da ponte ligando o centro de São Luís à Ponta do São
Francisco, o qual só viria a se efetivar na administração do governador José Sarney.
da produção de arroz e a colheita do coco babaçu. O algodão que ocupava a terceira
p. 137).
passado por várias mudanças em sua malha urbana, embora mantivesse os traços
originais daquela traçada por Frias de Mesquita ainda no século XVII. No entanto, o
balanço apresentado por José Sarney no início do seu mandato, como pode ser
observado em seu discurso de posse (anexo 01), destaca uma “herança desoladora”,
1964, com projetos que pretendiam colocar em prática partindo de uma construção
A conjuntura política representada pelo regime militar seria um terreno fértil para esse
p.14).
administrações anteriores.
participante, para respaldar o seu discurso que era também o ideal daquela geração 6.
de 45”, que se dizia preconizadora desse projeto e da qual José Sarney fazia parte. Foi
desde a década de 30, com o advento da Era Vargas, com a expansão acelerada do
6
A “Geração de 1945”, era formada por intelectuais como José Sarney, Ferreira Gullar, Bello Parga,
Carlos Madeira, Reginaldo Telles, Antônio Luís Oliveira, Domingos Vieira Filho, Bandeira Tribuzzi,
Lucy Teixeira. Cf. Sarney, José. Governo e Povo. Rio de Janeiro: Artenova, 1970; Moraes, Fátima. José
Sarney. 70 anos – um perfil da sua história. São Luís: Editora Alcântara, 2000.
levando a bandeira do Progresso com Justiça Social, haveria de
destroçar a velha e corrupta máquina administrativa e, com a penas 35
anos chegar ao Poder para nele consumar aquele mesmo idealismo
realista que comungava há tantos anos com seus companheiros de
geração que integraria em sua equipe para produzir no seu Estado uma
administração de novo tipo que tanta gente já tem apontado como
“milagre maranhense’. (Prefácio. In. SARNEY, 1970)7
modernização do Maranhão, José Sarney afirmou que seu governo promoveria a justiça
ao poder com seu projeto “Maranhão Novo”, que vislumbrava a preocupação com o
estadual, essa idéia tinha suas raízes fincadas na ideologia nacional desenvolvimentista
brasileiro.
7
Os membros da Geração de 45 que participaram do governo foram: Bello Parga (diretor do Banco do
Nordeste); Carlos Madeira (Juiz Federal); Reginaldo Telles (diretor da Imprensa Oficial); Antônio Luís
Oliveira ( secretário de governo); Domingos Vieira Filho (diretor do Departamento de Cultura); Bandeira
Tribuzzi (membro do GTPA e da SUDEMA); José Sarney (Governador). Sarney, José. Governo e Povo.
R.J: Arttenova, 1970.
Dessa forma, Sarney, além de propor que seu governo simbolizava um
Sarney como promotor da modernidade, conquistada para atender aos anseios do povo e
seu governo viria em primeiro lugar para promover o bem estar social de todos os
carismático. Com o titulo “ A última esperança tinha 35 anos”, Edson Vidigal (In.
MORAES, 2000, p.50) assim se refere à ascensão de José Sarney ao governo do Estado:
de Sarney foi um governo do povo, pelo povo e para o povo em que estabeleceu a
longínquo, porém próspero, e cujo esplendor foi apagado em parte pela violência e
p.108)
que pertencia ao Estado. Diferente desse passado próspero que era um referencial para o
8
O período áureo a que se refere é o final do século XVIII e o século XIX, sempre destacado pela
historiografia como de crescimento econômico resultante da agro-exportação, propiciando ainda o
desenvolvimento cultural, especialmente da elite de São Luís, levando a cidade a receber o título de
Atenas Brasileira, com destaque para a plêiade de escritores do Grupo Maranhense.
executivo do Estado, teria o diferencial da modernidade, com o crescimento econômico
e social.
Maranhão não com o governador José Sarney, mas ainda no período de mando de
Victorino Freire.
planos e metas do Governo Federal, formando uma crescente ideologia que fortalecia o
que caminha para o “progresso” com ares do “moderno”, do “novo”, para o “bem-estar
cidade de São Luís, com o crescimento demográfico e ampliação de sua malha urbana,
além dos símbolos da modernização que deveriam servir também para o embelezamento
da cidade.
A estagnação econômica do Estado era exemplificada através as situação de
sua capital, que no início da década de 1960 destacava-se mais pela sua função
federação, por conta da ocupação agrária desordenada, servindo esta cidade como um
da terra, fazendo crescer (ou inchar) sua população à taxas relativamente significativas.9
De acordo com o IBGE, São Luís entre 1960 e 1970 apresentou o maior
Sacavém , encurtando o caminho pela Vila do Anil”. Esse crescimento também levava a
9
A política agrária do governo de José Sarney, através da Lei de Terras nº 2979/69, reforçou essa
exclusão social do campesinato maranhense e o êxodo rural.
conjuntos habitacionais (COHAB) faziam parte do atendimento ao crescimento
(RIBEIRO Jr., 1999, p.94). Em São Luís temos a construção do Residencial Caratatiua
(1967), Cohab Anil I (1968), Cohab Anil II (1969), Cohab Anil III (1970), Maranhão
integração das áreas já ocupadas e viabilizar o acesso a outras áreas para a habitação. A
Caratatiua, sendo importante para apontar a direção das praias e ligar a COHAB aos
bairros do Caratatiua e Ivar Saldanha, transformando aos poucos estas áreas com
cidade foi transformada em um canteiro de obras, dando a ela tratamento urbano, com a
construção de novos bairros, a exemplo dos que foram citados acima, e utilizando
construções faraônicas para promover o seu governo, com grande poder propagandístico
cidade, com os bairros: Anjo da Guarda, Vila Nova, Fumacê, Vila Embratel e Sá Viana.
O desenvolvimento de São Luís durante o Governo Sarney pode ser visto
como ação e comunicação simbólicas, concebido e executado não apenas para atender
sociedade tudo que seu projeto modernizante podia realizar. Pois, “os símbolos são
estadual. A Ponte José Sarney tornou-se esse símbolo de alusão ao moderno e, desde a
grande vitrine do Estado, em que havia a realização dessas grandes obras. A ponte sobre
o rio Anil, idealizada desde a década de 1950, pelo engenheiro Rui Mesquita (então
Ilha de São Luis, só foi concretizada no governo de Jose Sarney. Essa construção foi
divulgação pela imprensa. “A Ponte de São Francisco deixará de ser apenas sonhos,
para dentro em breve ser uma grande realidade”. (Jornal do Dia, 11 de maio de 1968).
Jornal do Dia), que acompanhavam passo a passo o andamento das obras, a ponte do
São Francisco, como inicialmente era chamada, teve início em junho de 196810, sendo
10
A primeira informação nos jornais sobre o início das obras da ponte São Francisco é do dia 13 de junho
de 1968. (Jornal O Imparcial)
estimada a sua conclusão no prazo de 24 meses . O projeto previa uma extensão de
958.040 metros11, sendo inteiramente de concreto. O valor estimado da obra foi de Cr$
poderia se apropriar dos novos espaços e redimensioná-los. “Será uma das obras mais
comercial da cidade com um dos mais populosos núcleos residenciais, além de facilitar
Cada passo da construção da ponte era noticiado com uma crescente expectativa
ao elo que ligaria a cidade antiga à cidade nova e às possibilidades que essa construção
da última estaca da ponte do São Francisco, obra iniciada pelo atual Governo e que
administração estadual.
11
Os dados sobre a extensão da ponte, fornecidos pelos jornais, não são precisos, pois falavam também
de 820, 889 e 900 metros. Quanto ao tempo de execução, o objetivo era reduzir ao máximo, se possível
para 18 meses. Ao final, a construção da ponte levou 19 meses.
Um outro aspecto que pode ser analisado, além da figura do governador estando
representação da obra, batizada com o nome de “Ponte Governador José Sarney”. Isso
pode ser entendido como a criação de um ‘arquivo’, no que Pierre Nora (1981)
celebrações”. Sendo assim, até o nome da ponte poderia ser utilizado como propaganda
Sarney”,12 à ponte sobre o Rio Anil, a qual ligaria a cidade de São Luís ao Distrito de
Enfim, a tão esperada ponte sobre o Rio Anil foi concluída. A cerimônia do ato
de inauguração da ponte José Sarney ficaria por muito tempo na memória da cidade, no
governos anteriores (ligados ao vitorinismo), na medida que estes governos não tinham
sido capazes de realizar uma obra tão importante para o’ bem do povo’.13
12
Apesar de ser denominada de ponte “governador José Sarney” , a população até hoje continua
chamando de ponte do “São Francisco”.
13
Até mesmo as primeiras fundações da ponte, que foram feitas no governo anterior ao de Sarney, foram
destruídas (dinamitadas), sob a alegação de que não havia possibilidade de seu aproveitamento.
Mas essa não é a primeira e nem a maior ponte desse Governo.
(Imparcial, 14 de fevereiro de 1970). Grifo nosso.
Como se pode observar na última frase da citação acima, a construção e
tom laudatório, destacou esse elemento simbólico da ponte para expressar o significado
político do atual governo, colocando o seu representante como aquele que estava tirando
como a última esperança do Maranhão pode ser respaldada nas obras que eram
Esperança e da Ponte José Sarney, denominada nos jornais como a ponte da esperança.
Isso mostra uma tentativa de associar sua imagem com os anseios da população que
agora teria na figura do seu jovem governante o promotor da esperança. Além disso, o
Maranhão voltaria a “merecer o respeito dos que nos visitam e descobrem em cada obra
1970).
Como percebemos nas alusões feitas pela imprensa local, a ponte assumia um
crônica intitulada “Ao povo de São Luís”, escrita pelo próprio governador José Sarney
Para coroar de êxito seu projeto, no momento em que encerrava o seu mandato,
14
General Itiberê Gouveia do Amaral (Comandante da 3ª Região Milita,r em Juiz de Fora-MG); General
Luiz Serff Sellman (comandante da 10ª Região Militar – Fortaleza-CE); Coronel Tôrres de Melo
(Comandante do CPOR – Ceará); o representante do presidente do Banco do Nordeste; Sr. João Castelo,
populares. A solenidade de inauguração contou com a participação de blocos e escolas
de samba ao longo da ponte, com o objetivo de promover uma grande festa popular,
seria o novo elo entre a cidade antiga e a área que se transformaria em uma nova faixa
Itapoá, responsável pela construção da ponte, fez a entrega oficial da obra. Seguiram-se
do Banco da Amazônia; General Bandeira Coelho (Superintendente da SUDAM); Sr. Luiz Carlos Bello
Parga ( Diretor do Canteiro de Crédito Geral do Banco do Nordeste); Sra. Ilza Castelo Branco; Industrial
Edson Queiroz. Compareceram também secretários de Estado, diretores e chefes de Repartições
parlamentares, jornalistas de vários Estados e muitas outras “pessoas de relevo”.
15
O Chefe da Casa Civil do Governo do Estado fez um apelo aos proprietários de linha de transportes
coletivos para que estes aumentassem a circulação dos seus veículos para o bairro de São Francisco, com
passagens a preços populares. (Jornal O Imparcial, 14 de fevereiro de 1970).
16
Segundo o jornalista Cordeiro Filho, “Quem chega a Ponta do são Francisco v~e que ela tem tudo para
ser uma grande cidade. A sua integração vai ser já! Isso agradeça ao Governador José Sarney e ao prefeito
Vicente Fialho.” (Jornal Imparcial, 17 de fevereiro de 1970).
Comandante da Guarnição Federal, Coronel Alberto Braga; Prefeito Vicente Fialho;
significado do seu governo, no momento que este chegava ao fim e que a ponte que
estava sendo inaugurada era uma representação da esperança no futuro, que só estava
Aqui estou, e é bem certo que cada um possa avaliar a minha emoção,
neste instante em que quatro anos, depois de Governador, quando
chego ao poente do meu mandato e vejo ao meu lado, solidário e coeso
comigo, na dificuldade e nas boas horas, o povo da minha terra. Debuto
a mim mesmo porque esta aliança não se dissolveu, porque esta união
não pôde ser rompida ou porque eu não falhei as esperanças do Povo e
o Povo passou a acreditar no Governo. Só pude não falhar às
esperanças porque o Governo não prometeu nada, mas prometeu o que
era mais difícil para os maranhenses, a tantos anos acostumados à
desilusão e a desesperança. Nós prometemos fazer um Governo de paz,
Governo de trabalho.
(...)
Nós sabemos o que foi o passado; nós sabemos o que é o presente e nós
temos confiança do que será o futuro. Aqui, àqueles que nos visitam;
a ponte parece apenas uma ponte. Embora, não seja a maior ponte
de concreto do Brasil, para nós do Maranhão essa ponte é muito
mais, porque ela é a afirmação de todos nós, quando nós
julgávamos que não podíamos ser mais afirmados, porque quando
a maré enchia e quando a maré vazava a ponte do passado vazava.
Hoje, nós maranhenses temos confiança e sabemos que o progresso é
fruto do trabalho e que progresso começa dentro de cada um de nós,
com o nosso trabalho e a nossa determinação de vencer. Nós já
sabemos o que é Governo sério, o que é governo honesto e o que é
Governo de trabalho e de paz.
(...)
Eu não preciso ser mais nada, porque tudo que eu fui e o que eu sou é
aquilo que desejo ser, aquilo que os senhores me cercam, porque a
minha alegria é a alegria do Povo da nossa terra, nós juntos, hoje; aqui.
(...)
Assim, neste instante em que nos despedimos; nesta noite, que eu
acredito tenha sido, até hoje, a maior concentração popular que já fez
no Maranhão, em que o Povo se derrama desde as fraldas da rua do
Egito e da gloriosa e Tradicional praça João Lisboa, até as beiras das
areias da Ponta d’ Areia e que todos nós aqui estamos, Governo e Povo
unidos, Governo Federal; todos porque todos aqui sabem que nós nunca
separamos a unidade de nosso trabalho. Todos nós aqui estamos
unidos; e o que eu peço; ao me despedir nesta noite; ao Povo é que esta
união jamais possa ser dissolvida, porque ela fez a Ponte de São
Francisco: ela fez a ponte da esperança do Maranhão no seu grande
futuro. (Jornal O Imparcial, 17 de fevereiro de 1970). Grifos nossos.
São Luís, agora estava dotada de um ‘cartão postal’ que poderia ser visto como
forma diferente pelos segmentos sociais. Isso pode observado no caso dos moradores da
vila de pescadores do São Francisco, localidade situada do lado oposto do rio, e que
também não era atendida com os serviços de assistência social, escola, hospital. “Quem
conhece o bairro do São Francisco já deve ter sentido os problemas que o cercam. O
seu povo vive uma vida um tanto precária e precisa, por isso, de uma vida melhor. E a
construção de uma ponte que liga São Luís a esse bairro, equacionará de qualquer
A única forma de haver contato com a cidade e os recursos advindos dela era
outro lado da cidade, criava uma grande expectativa. Além de melhorar a condição de
vida desses moradores, esperava-se que esta obra promovesse uma reorganização do
Além desses benefícios, a ponte também serviria como atrativo, com seu valor
estético, “ por isso a construção da Ponte do São Francisco como um grande presente a
um povo que, pelo menos precisa de algo para os olhos também”. (Jornal do Dia, 07 de
setembro de 1968).
quais ficaram sem trabalho. Ficaram dependendo das promessas do governo para ajudá-
17
Féerie - expressão em francês que significa magia.
pensamento do Governo do Estado, através dos órgãos competentes ajudar a todos os
canoeiros, de modo a que eles não fiquem entregues à ociosidade, mas, pelo contrário
fevereiro de 1970).
vantagens diretas e indiretas eram a maior arrecadação de tributos, já que haveria mais
servidores do Banco da Amazônia que haviam adquirido casa nesse conjunto residencial
infraestrutura, com a pavimentação das ruas desse conjunto, o que, segundo a matéria
jornalística, foram prontamente atendidos com a promessa do prefeito José Libério que
que a Trisidela, ou seja, área que margeava o rio pelo lado da Ponta do São Francisco
era vista como destituída de qualquer beleza, fazia-se necessário oferecer atrações que
político José Sarney, com forte enraizamento no imaginário social maranhense até os
dias atuais, como aquele que promoveu as condições para um futuro mais promissor
para o Maranhão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
maranhense a idéia de que esse governo seria o divisor de águas entre o Maranhão
capital, o desenvolvimento dessas ações foi percebido através da ampliação nos traçados
do Itaqui e a Ponte José Sarney, que abrigaram em si, além de elementos faraônicos, a
passado e o futuro, personificando a imagem do político Sarney nas obras que seu
governo construía.
A Ponte Governador José Sarney, criada para fazer a ligação de duas áreas da
ilha afastadas pelo rio Anil e promover a integração e melhoria das condições de vida
moradores do São Francisco, foram marcadas por contradições, uma vez que esta nova
situação contribuía para uma reapropriação do espaço com largas vantagens para as
imobiliária, levando à desapropriação dos antigos moradores das áreas mais valorizadas,
são aspectos que expressam as contradições desse projeto modernizador, uma vez que
também comum em outras capitais do Brasil, onde uma das principais características da
urbanização foi e continua sendo a segregação das classes sociais menos favorecidas.
forma como tem sido tratado ao longo desses 40 anos por seus idealizadores, a ponto de
tentar continuar mantendo no imaginário social maranhense a idéia de que esse projeto,
revitalizado mais recentemente pelo governo de Roseana Sarney (Um Novo Tempo) é a
Novo”.
REFERÊNCIAS
FONTES PRIMÁRIAS
BARROS, Valdenira. Imagens do moderno em São Luís. São Luís: Unigraf, 2001.
BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. 2 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
CALVINO, Ítalo. As Cidades Invisíveis. São Paulo: Cia das Letras, 1990.
CHAUÍ, Marilena. Notas sobre Cultura Popular. São Paulo: Kairós, 1980.
LIMA, Carlos. Caminhos de São Luís: ruas, logradouros e prédios históricos. São
Luís: Siciliano, 2000.
MORAES, Eduardo Jardim de. Modernismo Revisado. Rio de Janeiro: Graal, 1998.
V.. 1,
MORAES, Fátima. José Sarney, 70 anos: um perfil da sua história. São Luís: Editora
Alcântara, 2000.
REINALDO JR., José. Formação do espaço urbano de São Luís: 1612 – 1991. São
Luís: Edições FUNC, 1999.
RIBEIRO, Paulo Roberto Rios. “A Revolução deu Marcha à Ré”. A Greve de 51:
ruptura e continuidade do poder político oligárquico no Maranhão. 2001. (Dissertação
de Mestrado). UFPE, Recife.
SILVA, Cliscyane Souza. São Luís dos Viajantes: a cidade sob o olhar dos viajantes na
primeira metade do século XIX. 2004 (Monografia de Graduação) UEMA, São Luís.
Aqui estamos, qualificados pelo povo, para uma ato que se manifesta a própria
essência do regime democrático: a legitimação do poder pela substituição do Governo.
Aqui, neste instante, um novo Governo do Estado do Maranhão é constituído. Esse o
compromisso que, sob a forma de juramento, este novo governo assume para com o
Povo e as instituições democráticas do Estado e do Brasil. Bem sei que este juramento,
à força de se repetir a cada período, com as mesmas palavras e no mesmo recinto, tem
muito do seu significado e pela impotência desta cerimônia.
Não quero, entretanto que, nem a emoção, que é legítima, nem a imponência,
que é natural, sejam pretexto para o obscurecimento das palavras com as quais jurei
respeitar as instituições e promover o bem-estar do povo maranhense. Porque este não é
um juramento protocolar que termine nesta solenidade, nem um compromisso que se
esgota neste instante.
Consciência de juramento
E a consciência de que este compromisso se prolonga dia a dia, por cinco anos
de mandato, deve ser daqui por diante (já que não foi até hoje) o divisor de águas entre
duas concepções do dever governamental e da responsabilidade administrativa. Estou
convencido de que somente a deliberada e consciente fuga aos compromissos que um
Governo assume num momento como este pode explicar a desídia em relação aos
interesses do Povo e a má fé na aplicação dos recursos públicos e as sucessivas
violentações do comportamento político institucional. E porque muitos juraram para
trair, e porque muitos assumiram compromissos sabendo que eles iriam fugir, é preciso
que fique marcado, neste instante, que o juramento do meu Governo foi feito para ser
cumprido. A palavra de um governo não pode ser menos honrada que a palavra de um
homem de bem, e a palavra do meu governo é o compromisso que acabo de assumir
diante desta augusta Assembléia Legislativa. Respeitar e fazer respeitar a Constituição;
não erro ao dizer que esta constitui a primeira grande exigência do Povo maranhense
decidida nas urnas. Não farei mais que o meu dever e a minha vontade ao atender o
Povo nesta que é também uma exigência minha, pois que outros não respeitaram nem
fizeram respeitar o exercício do Poder e é necessário que se devolva aos maranhenses a
confiança perdida na ação governamental, a segurança contra os critérios pessoais na
gestão da causa pública e da coisa pública. Se uma palavra existe que possa definir o
caráter democrático do Governo, essa palavra é confiança. Confiança do povo nos
homens a quem o Poder foi delegado, e esforço destes homens para não trair essa
confiança, sob pena de romperem unilateralmente o vínculo de uma representatividade
que só existe se o comportamento corresponde, de fato, ao que dos eleitos esperava o
Povo que os elegeu.
Ruptura e reencontro
Sob este aspecto nada temos a continuar, tudo temos a inovar, em nosso estado.
Paradoxalmente, o Governo que hoje se inicia tem o caráter de uma ruptura e de um
reencontro. Ruptura com o passado recente, no que ele tem de aviltamento do exercício
governamental e do comportamento dos desmandos; reencontro do Governo com o
Povo e do povo consigo mesmo, nessa comunhão de esperanças que se abrem e de
responsabilidades que se afirmam.
De fato, nesta hora de festa e de alegria para o povo maranhense, estamos
sepultando um passado embrutecido pela ausência, pelas carências de toda a ordem. Um
passado em que as instituições foram empobrecidas e deformadas, quando não
corrompidas ou viciadas. Um passado que nos encheu de vergonha, de pobreza e de
mistificação; um passado que por tudo isso deve ser sepultado para sempre.
O Governo que ora se institui será solidário com o Poder Legislativo e com o
Poder Judiciário, na pesada tarefa de reconstruir os padrões de moralidade e de
eficiência da vida pública do Estado do Maranhão. Não será mais o Executivo, podeis
estar certos, o grande criminoso, o grande corrupto na relação entre os Três Poderes. E
isso está implícito no juramento que acabo de fazer: o Executivo será o grande empenho
na harmonia e na pureza dessas relações com o Poder Judiciário e o Poder legislativo.
Vindo de um mandato legislativo na Câmara Federal para a chefia do Poder
Executivo deste Estado; podeis bem compreender a imagem e a vivência que tenho de
vosso trabalho e responsabilidade. Por isso mesmo saberei ser cuidadoso e
permanentemente interessado na colaboração e no respeito mútuo que devem fazer dos
três Poderes um perfeito sistema de vasos comunicantes.
Daí o sentido que preciso realçar da segunda parte do meu juramento, qual seja o
de promover o bem-estar do povo do Maranhão.
Herança desoladora
A herança política e administrativa que nos legam as administrações anteriores,
a paisagem econômica e social com que nos deparamos não convidariam, por certo, ao
otimismo; sem exagero podemos afirmar: essa herança essa paisagem têm muito de
desolador e chega a estarrecer ver como puderam a imprevidência e a falta de
compreensão dos deveres políticos, e tantos outros vícios, conduzir Terra tão
promissora e tão magnífico povo às vésperas do desastre. Mas a verdade deve ser dita
por um dever de responsabilidade. Que é hoje o Maranhão, a que estado reduziram o
segundo Estado do Nordeste em extensão territorial, com população de mais de 3
milhões de habitantes, privilegiadamente compreendido entre as desolações da região
sem água e as devastações da encharcada terra amazônica, cortado de rios perenes e
com imensas áreas ainda virgens e férteis?
Pois está o Maranhão reduzido a campeão de analfabetismo, com apenas 30%
das crianças em idade escolar freqüentando as escolas. Um leito hospitalar para quase
3.000 habitantes, contra 1 para 500 no Pará e em Goiás; 1 leito para 2000.000 habitantes
no interior do Estado; apenas 8 municípios com abastecimento de água e apenas 2 com
instalações sanitárias, num total de 128 municípios.
A educação média e superior são permitidas a faixas infinitas da juventude;
apenas 1 em 200 habitantes chega ao ensino médio, contra 1 em 50 no Pará, 1 em 80 em
Goiás, 1 em 100 no Piauí.
Números trágicos no que tange ás endemias, com áreas a verminose atinge cerca
de 90% a, esquistossomose a mais de 50% e o tracoma a mais de 40% da população.
A situação não é menos dramática no setor de infra-estrutura, como transporte e
energia: a rede rodoviária com extensão de apenas 4.980 Km, dos quais somente 514 de
construção pelo Estado, contra 21.554 Km no nosso vizinho e pobre Estado do
Piauí,com 12.098 no Ceará e mais de 28.000 no Estado de Goiás. Um total de potência
instalada de 7.784 Kw, contra 28.000 no Amazonas, mais de 40.000 no Pará e quase
30.000 Kw no Ceará. Um só edifício do rio de Janeiro, o Avenida Central, dispõe de
quase o dobro da energia que se consome em todo o Estado do Maranhão.
A produção agropecuária, em termos rotineiros e de baixa rentabilidade por
hectare, a produção industrial ínfima e numerosas chaminés de fábricas se apagando,
levando ao desemprego milhares de trabalhadores.
O porto de Itaqui deixando o lendário para o anedotário; grandes regiões do
Estado inteiramente isoladas e tendo como centro de integração so estados vizinhos.
A renda per capita em último lugar da escala nacional: cerca de 1/3 da renda per
capita média do Brasil.
E, sobretudo, fruto e raiz de tudo isso, o subdesenvolvimento político: a imagem
dos calamitosos dias da grilagem oficialmente patrocinada, dos enriquecimentos
vertiginosos à sombra do Poder, das negociatas oficializadas, das violências policias, da
corrupção e das coações, dos vilipêndios que fizeram do Governo alguma coisa de
sombrio.
Paixão e determinação
A alguém poderia parecer que tal herança e tal paisagem serviriam de
desestímulo a que se propusera recuperar e ampliar numa dimensão de grandeza a
imagem que o Maranhão projetou, no passado, para todo o Brasil. Tais destroços
administrativos, tão desalentadora realidade econômica e social, não são por certo
estimulantes para ninguém ou não o seriam para quem não tivesse, como nós, a paixão
de restaurar a grandeza da terra-berço, a determinação de ser fiel à multidão
desencadeada no coração do povo em tantos anos de lutas e de sofrimentos, de
amarguras decepções e indestrutível bravura de milhões de maranhenses.
Chegamos ao poder, porque pudemos unir e despertar, compreender e
proclamar, e não tivemos medo de afirmar, protestar e condenar.
Chegamos ao Poder, porque o Povo nos fez canditado estava conosco, como
estávamos com ele, e nosso diálogo de esperança e decisão teria de conduzir, como
estávamos com ele, e nosso diálogo de esperança e de decisão teria de conduzir como
conduziu à vitória. Chegamos ao Poder, porque tínhamos do nosso lado as forças
políticas mais vivas deste Estado.
Chegamos ao Poder sem compromissos inconfessáveis, mas apenas com claro, o
manifesto compromisso de servir ao Poço, de trabalhar pelo Povo, com o Povo por um
Maranhão de dignidade, de liberdade e progresso e de grandeza, que, sob a imagem de
um passado glorioso, há de projetar-se ainda mais num futuro magnífico. Sabem todos
quantos nos conhecem que a dignidade, da liberdade, do progresso e da grandeza, não é
apenas uma figura lendária: é a realidade que deve ser construída e, com a ajuda do
Povo, havemos de construí-lo.
Sabemos que nossa voz está sendo agora escutada não apenas nesta alta Casa do
Poder Legislativo, mas em todos os rincões do Estado; está sendo atentamente
acompanhada por aquelas mesmas centenas de milhares que nos escutaram em
memoráveis comícios de campanha e cujas mãos tivemos a ventura de apertar
calorosamente e cuja expressão de alegria jamais poderemos apagar de nossa
lembrança. Também estamos aqui sentido a sua presença e queremos afirmar
solenemente todos os compromissos afirmados no pacto da comunhão de vontades.
Acabou o tempo da prepotência e da violência, das aviltações e das perseguições, das
coações, dos abusos e das corrupções.
A garantia do futuro
A partir de hoje reinaugura-se Estado a Democracia, com todos os seus
prodigiosos frutos. A dignidade e a competência como pressupostos do exercício da
administração, o empenho para promover o bem-estar coletivo, era a da
responsabilidade, do planejamento, da efetiva sintonia entre o Povo e O Governo.
Muita coisa contaminou aqueles que exerceram o Poder em nossa terra, mas não
puderam e nem poderiam viciar a riqueza natural e distorcer a vocação dos maranhenses
para os grandes ideais. Se, portanto, a herança que recebemos chega a ser maldita de
ação e omissão, a riqueza da terra e a grandeza do Povo são a melhor garantia de que
sobre as ruínas poderemos erguer um grande futuro. Esse grandioso projeto do
Maranhão do futuro que delineamos na campanha é a base do programa do governo, e
inspirado na filosofia cristã, de quem tem o Poder por instrumento da promoção do
bem-estar geral, que pressupõe entendimento das exigências do ser humano no que diz
respeito à conveniência material e à satisfação espiritual. Temos portanto de trilhar um
duro caminho das realizações ordenadas pelo sentido prioritário. Esse plano de governo,
confiado à elaboração de técnicos maranhenses de elevado gabarito, visa a implantar a
condição de infra-estrutura e realizar investimentos sociais que possibilitem no
Maranhão a grande arrancada de desenvolvimento que resumiremos nos seguintes itens:
Reforma Administrativa, visando a moralização e eficiência da máquina do governo;
Energia e Transportes, Educação e Saúde, Fomento Agropecuário e Industrialização.
Para tornar este plano realidade, escolhemos uma equipe de Governo que a opinião
pública já conhece e que é toda integrada de nomes que impõe ao respeito e à
admiração, pela extraordinária capacidade moral e competência.
Um Governo que se instala assim constituído, com a cooperação dos Poderes
Legislativo e Judiciário e com o apoio decisivo e entusiasta do Povo, há de realizar as
grandes tarefas que não apenas do Governador nem do Governo, nem de cada um dos
Poderes: são de todos nós. De todos os maranhenses que querem viver numa Terra de
dignidade e liberdade, de progresso e de grandeza. Já se disse que a crise da Democracia
em nosso tempo não era uma crise de valores, mas de realizações perfeitas. É na medida
que os governos deixam de realizar os seus objetivos, os objetivos da coletividade, os
objetivos do desenvolvimento econômico e da justiça social que entram em conflito
com o regime democrático.
Mas a Democracia não é uma atitude ultrapassada, nem uma impostação teórica
para adiar ou sonegar permanentemente o diálogo do Povo com seus na verdade é esse
diálogo e ação, a colocação desses valores na agenda diária dos governantes. È,
portanto, em termos de eficiência e não de retórica que um regime deve ser julgado,
aprovado e condenado. E o regime democrático, sobretudo no Maranhão, não pode ser
julgado pelos o que traíram, pelos que o malsinaram para negar a ação que o povo
espera no regime que é desenvolvimento econômico e de justiça social.
Democracia
A nossa tarefa, portanto, é a de responder aos inimigos da Democracia e aos
desesperados, que o Governo que emana do Povo, em seu nome e em seu benefício será
exercido. E assim será para que se instalem no Maranhão a Democracia das
oportunidades, a Democracia do respeito à pessoa humana, a Democracia do trabalho, a
Democracia das conversas impossíveis, a verdadeira Democracia e não esse triste
arremedo de Democracia que aqui vinha se exercendo.
Este compromisso resulta dos ensinamentos que recolhemos junto ao Povo,
durante a nossa própria jornada. Esse conceito de Democracia não recebemos agora,
mas se fez mais nítido na campanha que empreendemos. Não recebemos o Governo
como um dádiva de um grão-senhor, nem o exerceremos como um condomínio de
privilegiados. Sabemos exatamente a natureza da luta que foi a nossa, da maioria
absoluta do povo maranhense. Este governo é uma conquista trabalhada dia e noite na
angústia, na perseguição sofrida, nos insultos recebidos. Não houve minutos em que o
escárnio e a violência adversários não alimentassem, não fortalecessem a nossa decisão
e ânimo.
Uma decisão assim tão firme, assim tão castigada, tinha necessariamente que
fazer vingar os valores pelos quais ela foi tomada. E esses valores são
inquestionavelmente os que reclamam a implantação, no Maranhão, de uma autêntica
Democracia e de um Governo de autêntica inspiração democrática. Um governo, repito,
que seja honesto para trabalhar, que trabalhe para realizar e que realize para melhorar a
sorte do Povo.
O historiador Arnold Tonybee, inglês e católico, afirmou certa ocasião que “a
nossa época será lembrada por crimes ou por suas dimensões, mas também por ser a
primeira, desde o início da História, em que a humanidade ousa acreditar ser possível o
benefício a civilização colocado ao alcance de todos os homens.” Pois que assim seja
para todos ns. Que o crime até ontem praticados sejam apenas a marca do passado,
menos que isso, dos homens que passaram. E a crença nos benefícios da civilização seja
reforçada dia a dia, pela distribuição desses benefícios do Criador, nosso Juiz e também
nosso fiador.
Agradeço a presença, neste recinto, das autoridades que honraram esta
solenidade, e ao povo do Maranhão, aos nossos Deputados, aos nossos amigos, devo
neste instante dizer que peçam a Deus que me inspire para um governo com Justiça e
que para sempre esta solenidade seja lembrada nos nossos corações realmente como um
marco para uma grande jornada.
ANEXO 2 – DISCURSO DE INAUGURAÇÃO DA “PONTE JOSÉ SARNEY”
Tenho uma cisma com os anos terminado em zero. Eles são sempre difíceis.
Afinal, nasci em ano terminado em zero, os anos trinta. Mas, nada na vida é fácil e estes
anos, embora amargados, encerraram vitórias acentuadas. Não foi fácil que o meu
companheiro de 30 anos, nascido também neste signo, James Lowell pisou pela
1970 também não foi fácil. Cheguei aos quarenta anos. Conheci o travo dos
nunca imaginara. Vi a mão que “afaga e apedreja” e senti profundamente, em todo o seu
- Um galho de amendoeira.
sol quente da mocidade, das tempestades de energia, para o início do calor permanente
Conheci o poder e “o prover”, como dizia Summer Wells. Sei hoje olha-lo dos
dois lados do Rio. Senti e agradeci a Deus, como verdade, daquele poder que Ele deu de
dizer:
“- Faça-se a Ponte de São Francisco”: E ela se fez caminhões e gentes,
Boa Esperança, que brilharam nos meus olhos em noites que eu não dormia, serem
acesas. Senti que no seu calor havia um pouco do meu suor. (...)
ANEXO 4 – SÃO LUÍS ANTES DA CONSTRUÇÃO DA PONTE
SÃO FRANCISCO