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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA

TECNOLOGIA DE PONTA A PONTA:


Em busca de mudanças culturais durante o Holoceno
em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil
POINT TO POINT TECHNOLOGY:
Looking for cultural changes during Holocene in lithic industries from
Southeastern and Southern Brazil

JOÃO CARLOS MORENO DE SOUSA

Orientadora no Brasil: Dra. Maria Dulce GASPAR (MN-UFRJ)


Co-orientadora no Brasil: Dra. Maria Mercedes Martinez OKUMURA (IB-USP)
Co-orientador no exterior: Dr. Bruce BRADLEY (University of Exeter)

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação


em Arqueologia (PPGArq) do Museu Nacional
(MN) da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) para obtenção do título de Doutor em
Arqueologia. Pesquisa financiada pela
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES) através dos programas
“Doutorado Pleno no País” e “Doutorado
Sanduíche no Exterior” (processo
88881.132729/2016-01) realizado na University of
Exeter (Reino Unido).
Linha de pesquisa do PPGArq: Povoamento do
Território Brasileiro.

Rio de Janeiro (Brasil) / Exeter (Reino Unido)


2019
Como citar:
MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2018. Tecnologia de Ponta a Ponta:
Em busca de mudanças culturais durante o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do
Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

How to cite:
MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2018. Point to Point Technology:
Looking for cultural changes during Holocene in lithic industries from Southeastern and Southern
Brazil. PhD Dissertation. National Museum, Federal University of Rio de Janeiro: 445 p.
João Carlos MORENO DE SOUSA

TECNOLOGIA DE PONTA A PONTA:


Em busca de mudanças culturais durante o Holoceno em indústrias
líticas do Sudeste e Sul do Brasil
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arqueologia
(PPGArq) do Museu Nacional (MN) da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ) para obtenção do título de Doutor em Arqueologia. Pesquisa
financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES) através dos programas “Doutorado Pleno no País” e
“Doutorado Sanduíche no Exterior” (processo 88881.132729/2016-01)
realizado na University of Exeter (Reino Unido).
Orientadora no Brasil: Dra. Maria Dulce GASPAR (MN-UFRJ)
Co-orientadora no Brasil: Dra. Maria Mercedes Martinez OKUMURA
(LEEH-IB-USP)
Co-orientador no exterior: Dr. Bruce BRADLEY (University of Exeter)

Aprovada em 11/03/2019

________________ _____________
Dra. Denise Cavalcante GOMES – Presidente da banca
PPGArq, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro

______________ ______________
Dra. Tania Andrade LIMA
PPGArq, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro

______________________________
Dr. Klaus Peter Kristian HILBERT
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

________________ ______________
Dr. Fabio PARENTI
Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas, Universidade Federal do Paraná

___________ __________________
Dra. Maria Mercedes Martinez OKUMURA – Co-orientadora
Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos, Instituto de Biociências, Universidade de
São Paulo
AGRADECIMENTOS

Em hipótese nenhuma eu posso deixar de começar agradecendo aqueles que de


tudo fizeram por mim e sem quem eu não teria qualquer oportunidade de ser quem eu sou
hoje: Gloria Patricia Moreno Rivera & João Gualberto de Sousa - minha mãe e meu pai.

Também tenho muito que agradecer à minha querida orientadora de fato, a Dra.
Mercedes Okumura que me deu não só orientação, mas também muito apoio e sendo
sempre muito compreensiva nos momentos que precisei. Uma das maiores inspirações
que alguém poderia ter para construir uma carreira acadêmica. Espero realmente que
possamos colaborar em diversos projetos no futuro, além daqueles que já colaboramos
atualmente.

O mesmo eu posso dizer do meu orientador no exterior, Dr. Bruce Bradley, que
não mediu esforços para que eu pudesse realizar partes dos meus estudos na University
of Exeter (Inglaterra), sempre disposto a me ajudar e me incentivando ir cada vez mais
longe.

E por falar em Exeter, não posso deixar meus agradecimentos a todos os


profissionais do departamento que me auxiliaram com todas as questões burocráticas que
permitiram os meus estudos na universidade, além daqueles com quem fiz amizade (Elise,
Lizzie, Ali e Jake) que tornaram minha estadia mais confortável em um país cujas
experiências não-acadêmicas não foram as mais felizes. Thank you, guys!

Também tenho muito que agradecer ao Dr. Astolfo Araujo. Agradeço


imensamente por ser o principal responsável pela minha não desistência da arqueologia
ao fim da minha graduação, por ser quem me recebeu de braços abertos como orientador
para o mestrado na USP, e que nunca deixou de dar os melhores ensinamentos mesmo já
não sendo mais meu orientador. Também agradeço pelas oportunidades de colaboração
conjunta em pesquisas paralelas, oportunidades de participar em atividades de campo, e
por fornecer as novas datações do sítio arqueológico Caetetuba.

Devo agradecer à Dra. Rita Scheel-Ybert pelo auxílio na resolução de todos os


problemas de ordem burocrática sucedidos durante o doutorado, incluindo o fato de ter
me recebido como orientadora oficial no início do projeto, no período o qual a Dra.
Mercedes Okumura ainda estava impedida de assinar enquanto orientador devido às
burocracias de departamento, e por garantir o acesso à coleção do sítio Alice Boer no
Museu Nacional, UFRJ.

E agradeço também à Dra. Maria Dulce Gaspar, por assumir formalmente a


orientação deste projeto desde que a Dra. Mercedes Okumura assumiu seu novo cargo no
Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos da USP.

Agradeço a todo o corpo docente do PPGArq do Museu Nacional pelos


ensinamentos dentro e fora de sala de aula durante este doutorado. E agradeço também a
Claudine, por resolver todas as burocracias do doutorado.
Agradeço ao Dr. Alex Geurds e sua orientanda Natalia Donner, da Universiteit
Leiden (Países Baixos), com quem tive oportunidade de colaborar em pesquisas de campo
e laboratório na Nicarágua, e por me receberem posteriormente em Leiden para dar
continuidade às análises. Ainda que essa colaboração não esteja relacionada com o projeto
de doutorado, a experiência obtida durante essas pesquisas foram fundamentais para saber
lidar com o que ainda viria a acontecer durante o doutorado. Muchas Gracias, Natalia!
Dank je, Alex! Que venham logo as publicações! Também devo agradecer meus amigos
Rodrigo Angeles e Elisa Van Veldhuizen, que tornaram essa experiência possível e muito
feliz! Gracias, Cabrón! Houdoe, Elisa!

Meus agradecimentos à Dra. Tania Andrade Lima, que permitiu o acesso à coleção
do sítio Alice Boer durante o período em que era responsável pelo acervo. Agradeço aos
funcionários da reserva técnica, Ângela Rabello e Leonardo Waisman de Azevedo, que
me auxiliaram com toda a logística durante a análise realizada no Museu Nacional.

Agradeço a Dra. Adriana Meinking Guimarães, da ValVerde Consultoria, por


oferecer acesso à coleção do sítio Santa Cruz.

Agradeço o Dr. Igor Chmyz, Dr. Laercio Brochier e o Dr. Fabio Parenti, do Centro
de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da UFPR, que além de me garantirem acesso à
coleção do sítio Tunas e ajudarem com a logística das análises, me deram oportunidade
para realização de um minicurso, se dispuseram a fornecer entrevistas, e permitiram o
manuseio de peças de outras coleções.

Agradeço a Dra. Claire Smith, da Flinders University (Austrália) cujos convite e


auxílios para minha participação no 8th World Archaeological Congress em Kyoto
resultou, entre outras coisas, na primeira apresentação de dados preliminares deste
projeto. Thank you, Claire!

Agradeço o Dr. Robson Rodrigues, do Museu de Arqueologia e Paleontologia de


Araraquara, por ceder o acesso ao material, e aos funcionários que nos receberam e nos
auxiliaram com a logística do material.

Agradeço o Dr. Sergio Klamt, do Centro de Ensino e Pesquisa Arqueológica da


UNISC, que além de fornecer acesso à coleção do sítio Garivaldino, nos recebeu com
muito carinho em Santa Cruz do Sul, e até nos levou para conhecer alguns sítios do Rio
Grande do Sul, incluindo uma aventura em busca do próprio sítio Garivaldino.
Agradecimentos de gaudério! E agradecimentos também à Heloísa dos Santos, que teve
grande participação na análise da mensuração das pré-formas bifaciais do sítio
Garivaldino, possibilitando a finalização daquela etapa de análises no tempo estipulado.

Agradeço também aos senhores Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio, moradores
de Iracemápolis (SP), que me procuraram, ofereceram e cederam acesso às suas coleções
particulares de pontas líticas encontradas na região, além de nos guiarem aos locais onde
essas pontas foram encontradas.
Agradeço ao Sr. André Coelho, morador de Porangaba, que também me procurou
e doou quatro pontas líticas encontradas em sua região para o projeto, além de fornecer
as informações sobre o local.

Agradeço ao Pedro Esbin Michelutti Cheliz, pelo grande auxilio na


contextualização dos dados geológicos das áreas estudadas, além da elaboração dos
mapas utilizados.

Agradeço à Letícia Correa pelo simpósio que coordenamos juntos na 9ª edição do


congresso “Hombre Temprano en América”, na Argentina, onde pude apresentar pela
primeira vez os principais resultados desta tese. E ao LEMA (Universidade Autonoma do
México), que durante o evento me ofereceu a oportunidade de datar uma amostra de
radiocarbono de graça (e que será utilizada para datar um dos sítios estudados nesta tese).

Agradeço à Gabriela Sartori Mingatos por todo o auxílio na logística das análises,
tendo participado das viagens às instituições, e aos sítios pesquisados, na ajuda na
quantificação de peças. Sem sua participação nessas etapas práticas de análise laboratorial
e visitas aos sítios a pesquisa não teria sido tão bem desenvolvida. Obrigado também por
todo amor e carinho durante esses anos. E que venham inúmeras colaborações ao longo
da nossa carreira!

Agradeço ao Dr. Ondemar Dias e à Dra. Tania Andrade Lima por participarem da
banca de qualificação, assim como aos membros da banca de defesa, que incluem
novamento a Dra. Tania Anrade Lima, assim como a Dra. Denise Gomes, Dr. Klaus
Hilbert e Dr. Fabio Parenti, além dos suplentes Dra. Rita Scheel-Ybert e Dr. Paulo Seda.

Meu sincero agradecimento à Alexandra Asanovna Elbakyan. Nunca a conheci


pessoalmente, mas a ferramenta digital por ela criada, o SCI-HUB, foi de grande auxilio
no acesso de algumas importantes referências utilizadas nesta tese, e que merece um belo
reconhecimento pelo bem que faz à ciência atualmente.

Finalmente, agradeço a CAPES pela concessão das bolsas de doutorado pleno e


doutorado sanduíche oferecidas ao longo destes quatro anos de pesquisa.
Esta obra é dedicada a todos aqueles que entendem e valorizam a
importância de estudar a humanidade e toda a sua (pré-)história,
e principalmente àqueles que não medem esforços para levar esse
conhecimento ao público.

Em memória aos 200 anos de ciência e história do palácio do


Museu Nacional e aos milhões de anos de história humana e do
planeta Terra perdidos no desastre de 02/09/2018 devido ao
descaso.

Parte das coleções arqueológicas estudadas através desta pesquisa estavam acondicionadas
na reserva técnica do palácio do Museu Nacional e foram destruídas durante o incêndio.
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS ........................................................................................ 4
RESUMO DA TESE ......................................................................................... 12
DISSERTATION’S ABSTRACT ........................................................................................... 13
1. INTRODUÇÃO: APRESENTAÇÃO DA OBRA, OBJETIVOS, HIPÓTESES
E A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA ............................................................... 14
2. UM POUT-POURRI DE EVOLUÇÃO, CULTURA E COGNIÇÃO:
CONCEITOS TEÓRICOS APLICADOS À ARQUEOLOGIA .......................... 18
2.1. Breve introdução ao conceito de evolução .................................................................. 18
2.2. Um consenso na definição de cultura, por favor? ....................................................... 19
2.3. Arqueologia Cognitiva é uma abordagem mal compreendida .................................... 23
2.4. Evolução não é progresso, é mudança! E ela pode ocorrer por vários motivos .......... 26
2.5. Evolução das espécies e evolução das culturas são coisas diferentes ......................... 31
2.6. Cuidado para não confundir cultura com tradição ...................................................... 34
3. UM EMBASAMENTO TEÓRICO PARA ESTUDOS TECNOLÓGICOS E
EXPERIMENTAIS DE INDÚSTRIAS LÍTICAS ............................................... 37
3.1. Por que estudar as indústrias líticas é importante? ...................................................... 37
3.2. Tecnologia pode se referir ao estudo ou ao conhecimento dos métodos e técnicas .... 38
3.3. É importante ter uma noção mínima dos processos físicos e mecânicos da produção
dos artefatos líticos .................................................................................................................. 40
3.4. Algumas questões podem ser respondidas através de experimentos........................... 41
3.5. A história de um artefato é uma cadeia operatória ...................................................... 46
4. AS INDÚTRIAS LÍTICAS PALEOÍNDIAS DO BRASIL E O MODELO
UMBU .............................................................................................................. 53
4.1. Paleoíndio é, ao mesmo tempo, um período e uma diversidade de povos .................. 53
4.2. Introdução ao Paleoíndio Posterior brasileiro ............................................................. 55
4.3. Uma tecnologia lítica espalhada por todo o cerrado brasileiro e além: a Indústria
Itaparica ................................................................................................................................... 57
4.4. Mais do que apenas uma indústria lítica: a cultura arqueológica Lagoassantense ...... 59
4.5. Uma variedade de pontas bifaciais pedunculadas: A Tradição Umbu ........................ 60
4.6. Uma indústria de pontas que persiste no tempo e espaço? O Modelo Umbu ............. 64
4.7. A maioria nas coleções, uma minoria nas publicações: as lascas também importam! 65
5. CARACTERIZAÇÃO E HISTÓRICO DOS SÍTIOS ESTUDADOS............ 67
5.1. A seleção dos sítios estudados .................................................................................... 67
5.2. O Sítio Arqueológico Alice Boer ................................................................................ 67
5.3. O Sítio Arqueológico Caetetuba ................................................................................. 79
5.4. Os sítios do interior paulista com pontas em superfície .............................................. 84
5.5. O Sítio Arqueológico Tunas (PR-WB-16) .................................................................. 87
5.6. O Sítio Arqueológico Garivaldino (RS-TQ-58) .......................................................... 92
5.7. Caracterização geomorfológica e as fontes de matéria-prima ..................................... 97
6. A CONSTRUÇÃO DE UM MÉTODO DE ANÁLISE LÍTICA .................. 110
6.1. Considerações sobre a construção de um protocolo de análise ................................. 110
6.2. A produção e anatomia de uma lasca ........................................................................ 111
6.3. O que vem antes e o que vem depois: a análise diacrônica ....................................... 112
6.4. A representação do lascamento com alguns traços e cores ....................................... 113
6.5. Selecionar amostras não é tão fácil quanto parece .................................................... 113
6.6. Pontas pedunculadas e pré-formas: Identificação e análise ...................................... 115
6.7. Lesmas: identificação e análise ................................................................................. 124
6.8. Núcleos: identificação e análise ................................................................................ 127
6.9. Lascas: análise e associação às etapas de produção .................................................. 128
6.10. Todo método tem suas limitações ......................................................................... 134
6.11. Replicar um artefato pode ser difícil, mas vale o esforço ..................................... 135
6.12. Números, gráficos, e tabelas em busca de tendências culturais ............................ 137
7. TECNOLOGIA LÍTICA DOS SÍTIOS ESTUDADOS ............................... 139
7.1. A coleção Alice Boer ................................................................................................ 139
7.1.1. Um desafio para quantificação e amostragem ................................................... 139
7.1.2. Um claro padrão de pontas pedunculadas ......................................................... 142
7.1.3. As pré-formas bifaciais estão quase todas quebradas........................................ 157
7.1.4. As lesmas também estão presentes .................................................................... 164
7.1.5. Identificando e analisando lascas de façonagem ............................................... 170
7.1.6. É tudo uma coisa só ........................................................................................... 176
7.2. As pontas pedunculadas e lesmas de superfície do interior paulista ......................... 187
7.2.1. A região de Iracemápolis................................................................................... 187
2.1.1. Sítio Santa Cruz e coleção André Coelho. ........................................................ 193
7.3. A coleção Caetetuba .................................................................................................. 195
7.3.1. Identificação e quantificação ............................................................................. 195
7.3.2. Arenito silicificado e um pouco de sílex: as matérias primas ........................... 197
7.3.3. As pontas pedunculadas só eram produzidas antes de 9200 cal AP.................. 198
7.3.4. Uma única pré-forma bifacial, a façonagem que deu errado............................. 202
7.3.5. Mais lesmas do que pontas ................................................................................ 203
7.3.6. Identificando e analisando lascas de façonagem ............................................... 210
7.4. A Coleção Tunas ....................................................................................................... 216
7.4.1. Identificação, quantificação, e um morto perturbador....................................... 216
7.4.2. Pontas do tipo “Estrela” durante o Holoceno Inicial ......................................... 219
7.4.3. As pré-formas bifaciais do Holoceno Inicial ..................................................... 234
7.4.4. Artefatos não formais, debitagem laminar e “lêsminas” ................................... 236
7.4.5. Identificando e analisando lascas de façonagem bifacial .................................. 240
7.5. A Coleção Garivaldino .............................................................................................. 246
7.5.1. Uma oficina de pontas ....................................................................................... 246
7.5.2. Quem disse que ponta precisa de pedúnculo? ................................................... 249
7.5.3. Pontas pedunculadas em quantidade e (limitada) variedade ............................. 256
7.5.4. Cuidado para não confundir pré-formas com pontas “foliáceas” ...................... 276
7.5.5. Identificando e analisando lascas de façonagem ............................................... 278
7.6. Definindo a indústria Rioclarense e suas pontas pedunculadas ................................ 285
7.7. Definindo as pontas Garivaldinenses ........................................................................ 291
7.8. Definindo as pontas Montenegro .............................................................................. 296
7.9. Comparando as pontas Rioclarenses, Estrela e Garivaldinenses............................... 299
7.9.1. Pontas Rioclarenses X Pontas Estrela ............................................................... 302
7.9.2. Pontas Estrela X Pontas Garivaldinenses .......................................................... 303
7.9.3. Pontas Rioclarenses X Pontas Garivaldinenses................................................. 305
8. EXPERIMENTOS REPLICANTES DE PONTAS PEDUNCULADAS ...... 307
8.1. Introdução à prática do lascamento e aos experimentos sistemáticos ....................... 307
8.2. Os materiais utilizados .............................................................................................. 311
8.3. Replicando a indústria Rioclarense ........................................................................... 313
8.3.1. Pontas de sílex Corumbataí ............................................................................... 314
8.3.2. As lascas de façonagem das réplicas de pontas Rioclarenses ........................... 316
8.3.3. Lesmas de sílex Corumbataí e arenito Botucatu silicificado............................. 321
8.3.4. As lascas de façonagem das réplicas de lesmas de sílex Corumbataí ............... 323
8.3.5. As lascas de façonagem das réplicas de lesmas de arenito Botucatu ................ 327
8.4. Replicando as pontas Garivaldinenses ...................................................................... 330
8.4.1. Pontas pedunculadas de Arenito Botucatu silicificado ..................................... 330
8.4.2. As lascas de façonagem de arenito silicificado Botucatu .................................. 333
9. AS INDÚSTRIAS LÍTICAS PALEOÍNDIAS DO SUDESTE E SUL DO
BRASIL SOB A PERSPECTIVA EVOLUTIVA E TECNOLÓGICA .............. 338
9.1. A indústria Rioclarense ............................................................................................. 338
9.1.1. Tradição tecnológica no Sítio Alice Boer apesar dos problemas de registro .... 338
9.1.2. Mudanças culturais do sítio Caetetuba .............................................................. 339
9.2. Tunas: um sítio, dois períodos de ocupação, duas indústrias .................................... 339
9.3. Sítio Garivaldino, palco de uma sociedade tradicional milenar ................................ 340
9.4. Experimentos fornecem dicas importantes................................................................ 341
9.5. A história e processos cognitivos da produção dos artefato formais ......................... 345
9.6. A evolução cultural das indústrias estudadas ............................................................ 351
9.7. Ainda falta uma delimitação geográfica e cronológica para as indústrias de pontas
pedunculadas ......................................................................................................................... 352
9.8. Se as indústrias são tão diferentes, porque foi tudo associado a uma mesma tradição
arqueológica? ........................................................................................................................ 355
9.9. Redefinir a Tradição Umbu não é uma opção ........................................................... 357
9.10. Arqueologia evolutiva e arqueologia cognitiva como abordagens teóricas que
respondem aos problemas da pesquisa .................................................................................. 359
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................... 362
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 364
ÍNDICE DE FIGURAS .............................................................................................. 399
ÍNDICE DE TABELAS ............................................................................................. 406
GLOSSÁRIO .................................................................................................. 429
RESUMO DA TESE

O modelo anteriormente proposto para entendimento da ocupação humana inicial das


regiões Sudeste e Sul do Brasil e que ainda engloba o Uruguai e áreas adjacentes da Argentina e
Paraguai partiu da hipótese de que todas as coleções arqueológicas desta área seriam
culturalmente homogêneas. Essa suposta homogeneidade cultural levou à criação da Tradição
Umbu, uma cultura arqueológica definida pela presença de pontas líticas pedunculadas. No
entanto, poucos trabalhos buscaram testar esta hipótese. O objetivo principal desta pesquisa foi
verificar a validade do que denominamos de modelo Umbu, a partir da análise das coleções líticas
de sítios localizados na suposta área de abrangência da Tradição Umbu e que apresentam pontas
pedunculadas através de um protocolo de análise tecnológica proposto na tese. Para um melhor
entendimento da evolução cultural da Tradição Umbu, ou das possíveis culturas arqueológicas
englobadas sob a alcunha de Tradição Umbu, uma discussão teórica sobre evolução cultural,
transmissão de conhecimento, cognição e tecnologia é apresentada no início da tese. Os resultados
apresentados apontam para uma heterogeneidade tecnológica entre as indústrias líticas
anteriormente associadas à Tradição Umbu e identifica três indústrias líticas contemporâneas que
surgiram durante o período paleoíndio na área geográfica estudada: a indústria Rioclarense, no
centro do Estado de São Paulo; a indústria Tunas, no leste do Estado do Paraná; e a indústria
Garivaldinense, no centro-leste do Estado do Rio Grande do Sul. A principal conclusão da
pesquisa é de que a Tradição Umbu não é um modelo válido para entendimento da ocupação
inicial da área estudada, uma vez que a região estudada apresenta diversidade cultural e que mais
pesquisas devem ser feitas a fim de identificar mais culturas arqueológicas.

PALAVRAS CHAVE: Evolução Cultural; Tecnologia lítica; Paleoíndio; Arqueologia


Experimental; Tradição Umbu.
DISSERTATION’S ABSTRACT

The previously proposed model for understanding the early settlement of the region
comprehended by Southeastern and Southern Brazilian territory, Uruguay and adjacent areas was
based on the hypothesis that all archaeological assemblages of this region were culturally
homogeneous. This allegedly cultural homogeneity guided to the Umbu Tradition creation, an
archaeological culture defined by the presence of lithic stemmed point. However, few research
was carried out in order to teste this hypothesis. The main goal on this research was to verify the
validity of what we denominate The Umbu Model by analyzing lithic assemblages from
archaeological sites located in the supposedly Umbu Tradition coverage area, and that present
stemmed points, through a proposed technological analysis protocol. For a better understanding
of cultural evolution of the Umbu Tradition, or other possibly identified archaeological cultures
that are still concealed under the Umbu Tradition denomination, a theoretical discussion on
cultural evolution, knowledge transmission, cognition and technology is presented in the
beginning of this dissertation. The presented results point to a technological homogeneity between
some sites that were previously associated to the Umbu Tradition and identify three
contemporaneous lithic industries that emerged during the paleoindian period in the studied
region: the Rioclarense industry, in Central São Paulo State; the Tunas Industry, in Eastern Paraná
State; and Garivaldinense Industry, in Central-Eastern Rio Grande do Sul State. The mains
conclusion of this research is that Umbu Tradition is not a valid model for early human settlement
understanding of the studied area, since the studied area presents cultural diversity and more
research must be done in order to identify more archaeological cultures.

KEYWORDS: Cultural evolution; lithics technology; Paleoindian; Experimental Archaeology;


Umbu Tradition.
MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

1.
INTRODUÇÃO: APRESENTAÇÃO DA OBRA, OBJETIVOS,
HIPÓTESES E A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA
As culturas das sociedades modernas atuais sofrem mudanças ao longo do tempo. E essas
mudanças vêm ocorrendo de uma maneira rápida. Você já parou para pensar em todos os aspectos
culturais da sociedade moderna que se alteraram desde o início do século 21? Passamos por
mudanças de tendências artísticas, científicas e, principalmente, tecnológicas. Ainda que estas
mudanças não tenham ocorrido sempre de uma maneira tão rápida em sociedades antigas,
sabemos que elas ocorrem desde antes do surgimento dos humanos modernos, os Homo sapiens.
Assim como a evolução biológica foi responsável pela grande diversidade de espécies no mundo,
ou pela diversidade biológica observada em humanos atualmente, a evolução cultural também é
responsável pela grande diversidade de conhecimentos e tradições que observamos nas
sociedades atuais. Se entendermos que essas mudanças acontecem, assim como as razões pelas
quais elas acontecem e como elas acontecem, podemos entender melhor a diversidade cultural
existente no mundo hoje. A compreensão da diversidade cultural e sua história tende a acabar
com preconceitos sobre as sociedades com as quais não nos identificamos, além de nos fazer
refletir sobre o contexto em que diferentes sociedades, ou diferentes grupos de uma mesma
sociedade, se encontram atualmente. Este é o ponto principal da importância desta tese.

Esta pesquisa buscou contribuir para o entendimento da diversidade cultural existente no


período das primeiras ocupações humanas em larga escala do atual território brasileiro e a
evolução de algumas destas culturas. E para entender isso foi necessário recorrer aos vestígios
que se preservaram dessas sociedades. Ou seja, esta é uma pesquisa arqueológica. Afinal, a
arqueologia é a ciência que busca compreender a humanidade a partir do estudo dos seus
vestígios. O capítulo 2 desta tese apresenta a base teórica relacionada à evolução das culturas
aplicada na pesquisa.

Nesta pesquisa buscamos entender a evolução cultural a partir do estudo de uma classe
bem específica de vestígios culturais: os vestígios líticos. Ou seja, artefatos confeccionados sob
rochas e minerais e os resíduos de sua produção. A escolha desta classe de artefato não está
relacionada apenas à maior experiência do autor de lidar com essa classe de vestígio, mas
principalmente porque é essa classe de vestígio que mais proporciona informações culturais sobre
os primeiros grupos humanos do continente americano. Afinal, são os vestígios que melhor se
preservaram e, portanto, os que existem em maior quantidade nestes contextos. E para estudá-los
foi necessário escolher uma abordagem teórico-metodológica que melhor se aplique no

14
MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

entendimento das mudanças culturais relacionada à produção destes vestígios. A tecnologia é a


abordagem que melhor parece responder a essas questões, uma vez que ela lida diretamente com
os métodos e técnicas de produção e utilização destes mesmos produtos, e tem sido aplicada com
sucesso na análise dos artefatos líticos das últimas décadas. O capítulo 3 desta tese apresenta a
base teórica sobre tecnologia aplicada aos estudos líticos e que foi utilizada nesta pesquisa.

Como objeto de estudo, foram selecionados alguns sítios arqueológicos brasileiros com
datações absolutas do período das primeiras grandes ocupações do continente, ou seja, da
transição entre o Pleistoceno e o Holoceno, há cerca de 11 mil anos atrás. Poucos estudos
tecnológicos têm sido realizados sobre esses sítios, principalmente com relação aos sítios com
presença de pontas pedunculadas localizados nas regiões Sudeste e Sul do país. Esses sítios foram
associados a uma cultura arqueológica criada a há algumas décadas atrás e que foi denominada
como “Tradição Umbu”. No entanto, muito se questiona sobre a validade desta criação e da
associação dos sítios a tal cultura arqueológica. Afinal, até poucos anos atrás, nenhum estudo
sistemático sobre essas indústrias líticas havia sido realizado a fim de verificar se existe uma
homogeneidade cultural entre elas, principalmente sob o olhar da tecnologia. Este é mais um
ponto para justificar a importância desta tese.

Aqui se faz necessário apresentar a hipótese da pesquisa, que será denominada de Modelo
Umbu. A ideia é transformar a Tradição Umbu em uma hipótese para ser verificada. O Modelo
Umbu defende que os sítios localizados no Sudeste e Sul do Brasil e que apresentam pontas
pedunculadas são culturalmente homogêneos em termos cronológicos e geográficos. O objetivo
geral desta tese é verificar se essa hipótese está correta, ou se o uso do termo “Tradição Umbu”
estaria obliterando uma variabilidade existente nessas indústrias líticas, sendo assim necessários
novos modelos para a compreensão da variedade cultural deste mesmo contexto. O capítulo 4
desta tese apresenta um histórico deste modelo e das pesquisas a ele relacionadas, além de
apresentar o seu contexto arqueológico.

Foi realizado um levantamento de coleções de vestígios líticos oriundos de sítios


arqueológicos do Sudeste e Sul do Brasil a fim de melhor caracterizar estas indústrias líticas e
explorar possíveis diferenças tecnológicas no tempo e/ou no espaço. O projeto teve acesso
concedido às coleções: do sítio arqueológico Alice Boer, localizado em Ipeúna, Estado de São
Paulo; do sítio arqueológico Caetetuba, localizado no município de São Manuel, Estado de São
Paulo; do sítio arqueológico Tunas, localizado em Arapoti, Estado do Paraná; e do sítio
arqueológico Garivaldino, localizado no município de Brochier, Rio Grande do Sul. No momento
da pesquisa, estas coleções estavam acondicionadas, respectivamente, no Museu Nacional da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN-UFRJ), no Museu de Arqueologia e Paleontologia

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

de Araraquara (MAPA), no Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da Universidade


Federal do Paraná (CEPA-UFPR) e no Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas da
Universidade de Santa Cruz do Sul (CEPA-UNISC). Também foram analisadas pontas
pedunculadas algumas provenientes de sítios do interior paulista (municípios de Monte Mor,
Iracemápolis e Porangaba) cujo material foi encontrado em superfície. O capítulo 5 desta tese
apresenta o contexto arqueológico de cada uma das coleções estudadas, em especial os históricos
de pesquisas, as cronologias absolutas e relativas e a geomorfologia dos entornos.

Para que o objetivo geral deste projeto fosse atingido foi necessário definir objetivos
específicos. Foram eles:
1. Analisar todas as pontas pedunculadas através de uma abordagem tecnológica,
sem deixar de considerar outras feições, naturais e culturais, que podem estar
presentes no material;
2. Analisar uma amostra das lascas de produção de artefatos líticos seguindo o
mesmo princípio do objetivo supracitado;
3. Replicar as pontas pedunculadas de cada coleção com base nos resultados dos
objetivos supracitados a partir de experimentos;
4. Verificar se houve mudanças tecnológicas ao longo do tempo em cada sítio
arqueológico;
5. Verificar as diferenças e similaridades entre as coleções estudadas;
6. Esquematizar a possíveis etapas de produção (vulgo: cadeias operatórias) das
indústrias líticas de cada período em cada sitio estudado;
7. Verificar se os resultados corroboram os resultados de outras pesquisas sobre
estas mesmas coleções (quando for o caso);
8. Elaborar um novo modelo para classificação das indústrias líticas que surgiram
entre o final do Pleistoceno e do Holoceno Inicial.
Um método de análise foi elaborado pensando em responder aos objetivos desta pesquisa,
que considera a análise das pontas pedunculadas e outros artefatos, além dos resíduos de produção
destes artefatos. O protocolo de análise inclui a observação de feições métricas, morfológicas e
tecnológicas, o desenho técnico de algumas peças a fim de entender sua diacronia de lascamento,
análises estatísticas dos dados coletados, e experimentos de replicação dos vestígios a fim de
traçar possíveis paralelos entre o os dados do experimento e os dados coletados na análise
tecnológica. O capítulo 6 desta tese apresenta uma proposta de método para análises tecnológicas
de indústrias de pontas pedunculadas.

Os dados coletados e analisados estatisticamente foram apresentados ao longo do capítulo


7, junto aos desenhos técnicos onde são apresentadas as análises diacrônicas de diversas peças.

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Os dados brutos da análise, o que inclui as fichas de análise preenchidas, e as fotos de todas as
peças analisadas, estão disponíveis em arquivos digitais suplementares. Os resultados dos
experimentos de replicação dos vestígios destas indústrias líticas estão todos presentes no capítulo
8. No capítulo 9 está apresentada toda a discussão dos resultados, verificando as principais
questões que a base teórica da tese ajudou a responder, as falhas teórico-metodológicas da
pesquisa, os objetivos que foram ou não atingidos e as conclusões gerais da pesquisa. O capítulo
10 apresenta brevemente algumas considerações finais sobre a pesquisa de modo geral e propostas
de continuidade a pesquisas brasileiras sob a luz das mesmas bases teóricas, além de
possibilidades de outros estudos sobre o mesmo contexto e os mesmos materiais apresentados
nesta tese. O final da tese ainda apresenta um glossário para melhor compreensão dos termos
utilizados na obra, a fim de evitar confusões relacionadas às suas definições.

As tabelas com os dados brutos de análise, assim como as fotos de todas as lesmas e
pontas líticas analisadas nesta pesquisa estão disponibilizados como arquivos suplementares
digitais, uma vez que sua anexação nesta tese acarretaria num volume desnecessariamente grande
de páginas. Todas as fotografias e ilustrações desta tese e dos arquivos suplementares são de
autoria do autor da tese, exceto pelas figuras onde outro(a) autor(a) é indicado(a).

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

2.
UM POUT-POURRI DE EVOLUÇÃO, CULTURA E COGNIÇÃO:
CONCEITOS TEÓRICOS APLICADOS À ARQUEOLOGIA

2.1. Breve introdução ao conceito de evolução


É muito comum a associação do termo evolução ao naturalista Charles Darwin e à seleção
natural das espécies. Darwin (1859), ainda que não tenha sido o primeiro a discutir mudanças em
espécies (ver: Lamarck 1809; por exemplo), foi um dos primeiros a propor um conceito que se
tornou muito popular e é base para a biologia moderna. Ainda que muitos acreditem que o autor
tenha inventado ou definido pela primeira vez o termo “evolução”, a originalidade de Darwin
estava na proposta de um conceito que ele denominou “evolução por seleção natural”. Neste caso,
ele se referia a mudanças que permitem a um organismo a se adaptar melhor a um determinado
ambiente, que o permita sobreviver e proliferar. Notemos que Darwin fala sobre um modo
específico de evolução, a evolução por seleção natural. Ele não afirma que esse é o único meio
em que a evolução pode ocorrer. O termo “evolução” naquela época era popularmente tomado
como relativo a algo que se torna melhor, mais perfeito, mais complexo. De todo modo, sua teoria
sobre evolução ia totalmente contra o pensamento recorrente em sua época, já que a teoria da
evolução das espécies por seleção natural defendia que as mudanças não resultavam em espécies
melhores, mais complexas e perfeitas. Darwin não era o único que pensava assim. De maneira
simultânea e independente, o naturalista Alfred Wallace também chegou a uma ideia muito
similar à teoria da evolução por seleção natural. Wallace (1858) injustamente esquecido por
muitos pesquisadores que trabalham com evolução, escreveu usando outros termos sobre a
tendência de as espécies derivarem de uma mesma espécie ancestral, o “tipo original”.

Pouco antes de Wallace e Darwin, o filósofo Herbert Spencer, que possuía grande
interesse tanto nas ciências naturais quanto na cultura humana, escreveu sobre o conceito de
evolução que influenciou alguns dos mais importantes pesquisadores da segunda metade do
século 19. Para Spencer (1857), a evolução seria um processo de progresso inevitável ao longo
de uma escala de crescente complexidade, desde simples micro-organismos até complexas
plantas, animais e seres humanos. Sua influência refletiu em algumas das obras antropológicas de
grande destaque da época, como as mais famosas de Tylor (1871) e Morgan (1877).

O biólogo Stephen J. Gould, dada a ideia popular construída sobre a evolução humana
durante o século 20, e que insiste ainda no início do século 21, trata de explanar que a evolução
biológica não é linear e progressiva, já que as espécies não se tornam sempre mais complexas ao
longo do tempo (Gould 1989). Elas apenas mudam, mesmo que se mantenham estáveis por um

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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longo período. Ou nas palavras de Lyman & O’Brien (1998: 616), evolução é descendência com
modificação.

É essa noção de “evolução é mudança” que o biólogo David Zeigler enfatiza, ainda que
a maioria dos cientistas, na maioria das vezes, use o termo evolução para se referir apenas à
evolução dos organismos (Zeigler 2014) e não das culturas. Se evolução se refere a mudanças que
ocorrem ao longo de gerações, este conceito também pode ser aplicado para entender culturas.
No entanto, como dito anteriormente, a ideia equivocada de que evolução implica em coisa
melhores e/ou mais complexas também foi aplicada nos estudos sobre cultura desde o século 19
e perdurou por décadas, ainda que nem mesmo o conceito de cultura estivesse bem definido.

2.2. Um consenso na definição de cultura, por favor?


Pessoalmente, compartilho da impressão de Dunnell (1971: 121, minha tradução) quando
ele afirma “cultura é a palavra mais martelada no jargão antropológico” e que “às vezes até parece
que todo iniciante em antropologia precisa inventar uma definição de cultura para ser admitido
na profissão”. Até parece estranho que não haja um consenso na definição de um termo que se
refere ao principal objeto de estudo de uma área acadêmica. No caso da cultura, o termo é
discutido pela antropologia há mais de um século e ainda hoje não parece haver um acordo entre
os autores mais influentes sobre o que de fato ela é. Mas, talvez, se analisarmos com atenção o
conceito de cultura proposto pelos antropólogos mais influentes, e até mesmo outro autores menos
influentes (mas não menos importantes) talvez seja possível encontrar algum consenso em seus
discursos e fornecer uma definição que represente esse consenso.

No final do século 19, Edward B. Tylor, antropólogo associado à escola do


evolucionismo social, introduziu o termo cultura na antropologia descrevendo-a como o
“complexo inteiro que inclui conhecimento, crenças, morais, leis, costumes e quaisquer outras
capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade” (Tylor 1871: 1). A
descrição de cultura de Tylor é válida, mas pode muito bem ser modificada em dois pontos
principais. O primeiro ponto nesta descrição é que o termo conhecimento, incluído na compilação
de sua descrição, já engloba as crenças, as leis, morais, capacidades (não físicas) e hábitos. Afinal,
elas podem todas ser entendidas como categorias de conhecimento. Neste ponto, a descrição de
cultura de Tylor poderia ser reduzida ao complexo de conhecimentos adquiridos pelo homem
como membro da sociedade. Mas ainda há um segundo ponto que vem sendo cada vez mais
reconhecido como um problema a partir do início do século 21. Refiro-me ao uso da palavra
homem para se referir aos seres humanos de forma geral, pois ainda que à sua época essa
terminologia fosse aceita, atualmente entende-se que esse uso do termo “homem” desconsidera o
papel das mulheres e abre espaço para discursos sexistas. Neste ponto, a definição de cultura de

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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Tylor, já reduzida, poderia ser mais uma vez modificada como o complexo de conhecimentos
adquiridos pelos seres humanos em uma sociedade. Um terceiro problema está relacionado ao
fato de Tylor apontar os termos cultura e civilização como sinônimos. Pouco tempo depois, Lewis
H. Morgan, antropólogo contemporâneo de Tylor, relacionou o termo civilização ao nível mais
alto de complexidade social da humanidade (Morgan 1877). O problema aqui seria relacionar
cultura apenas às sociedades complexas, em especial a sociedade ocidental moderna na qual estes
antropólogos estavam inseridos.

No início do século 20, um dos antropólogos mais influentes a discutir cultura foi Alfred
Kroeber, que sob influência de Franz Boas, via cultura como aquilo que separa os humanos dos
animais, uma característica que liberta o ser humano da natureza (Kroeber 1917). Cultura seria
aquilo que humanos têm e animais não, o que incluiria a fala, conhecimento, crenças, costumes,
artes e tecnologia (Kroeber 1923) Para o autor, cultura era uma abstração do comportamento
humano, mas não era o comportamento propriamente dito. Seu modo de descrever cultura não foi
aceito por muitos outros antropólogos que consideraram sua definição vaga e acabaram propondo
novos conceitos, como Edward Sapir, Bronisław Malinowski e Margareth Mead.

Sapir e Mead, assim como Kroeber, foram discípulos de Boas, mas suas abordagens eram
outras. Sapir trabalhava mais sob a abordagem linguística, enquanto Mead ficou famosa pelas
discussões sobre estruturas sociais e gênero em diferentes sociedades e se tornou uma figura
controversa e considerada uma das principais influências da revolução sexual e movimentos
feministas da segunda metade do século 20. Já Malinowski ficou conhecido pelas suas críticas à
teoria evolucionista sobre culturas e investigações do passado. Ainda assim, nos três casos, e sob
diferentes abordagens, estes autores ainda descreveram cultura de formas similares. Sapir (1921)
e Malinowski (1931) assim como Kroeber, realizaram compilados de atributos de conhecimento,
mas diferente de Kroeber, apontavam que estes eram herdados socialmente (Sapir 1921;
Malinowski 1931). Ou seja, o termo cultura poderia ser definido por categorias de conhecimento
e pela sua transmissão. Mas Margareth Mead, diferente de seus colegas, não realizou um
compilado de atributos para tentar definir cultura, propôs uma definição clara de cultura,
afirmando que esta, no caso dos seres humanos seria “todo o complexo de comportamento
tradicional que foi desenvolvido pela raça humana e é aprendido sucessivamente por cada
geração” (Mead 1937: 17 – minha tradução). A autora ainda nota que definir o termo “cultura” é
diferente de definir “uma cultura”, de modo que definições das culturas são mais imprecisas.

Na metade do século 20 foi vez do antropólogo Leslie White propor uma definição de
cultura. De acordo com o autor, cultura seria uma organização de fenômenos e objetos materiais,
ações corporais, ideias e sentimentos – sendo que todos os itens deste compilado dependiam do

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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uso de símbolos (L. White 1943: 335). White, como um grande apreciador do evolucionismo
cultural progressista do século 19, chegou a entender o conceito de Tylor como válido para o
termo cultura, desde que também se entenda que apenas seres humanos possuem cultura –
praticamente a mesma ideia de Kroeber. No entanto, L. White (1959a) criticou a falta de um
consenso sobre a definição de cultura entre os antropólogos, uma vez que a cultura seria o objeto
de estudo da antropologia, e criticou os antropólogos que, assim como Kroeber, entendiam cultura
como algo “abstrato”. Para L. White, definir algo como abstrato seria o mesmo que não dizer
nada, pois apenas dá uma impressão que eles entendiam o que “abstrato” quer dizer e esperavam
que todo mundo soubesse. Neste sentido, a definição não estava clara. Apesar de enxergar o
problema, L. White não o resolveu, não definiu cultura, tendo apenas compilado uma série de
itens onde existem símbolos. L. White ainda criticou quem via cultura como sinônimo de
comportamento, mas o autor também falhou em fazer esta distinção.

Durante este mesmo período uma definição clara, e não uma descrição de compilados, foi
proposta para o termo cultura. O antropólogo neozelandês Felix Keesing, seguidor da escola de
antropologia estadunidense de Boas, não era tão influente quanto os autores citados
anteriormente, mas sua definição de cultura foi reconhecida na época e referenciada por diversos
pesquisadores nos anos a seguir. Ele definiu cultura como “a totalidade de comportamentos
aprendidos, socialmente transmitidos” (Keesing 1958: 16). Mas há um problema na definição de
Keesing, e ele está no termo comportamento, pois não deixa claro se ele usa este termo para se
referir a ações realizadas com base no conhecimento adquirido. Ainda que a definição de Keesing
possa ser considerada uma das melhores para responder os problemas que os pesquisadores
tinham que resolver naquela época, a definição de Mead (1937) poderia atender tais problemas
de uma forma ainda mais clara.

O antropólogo Clifford Geertz, considerado um dos mais influentes da escola de


antropologia estadunidense da segunda metade do século 20, propõe uma nova definição do termo
cultura com base na sua escola de teoria antropológica hermenêutica (ou simbólico-
interpretativa). Definiu o termo cultura como “a fábrica de significados em termos dos quais os
seres humanos interpretam suas experiências e guiam suas ações” (Geertz 1973: 145). Esta
definição não explana como esses conhecimentos, ou significados, são construídos, além de não
apresentar alguma condição necessária ou suficiente para associação ao termo cultura, tornando-
se um conceito vago. Mas Geertz é só o exemplo mais conhecido de uma série de antropólogos
de seu tempo que propuseram definições vagas para o termo cultura e que falharam ao entrar em
um consenso para uma definição. Outro exemplo seria a nova proposta de Malinowski (1944),
que diz que cultura é a totalidade onde entram os utensílios e os bens de consumo, as cartas

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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orgânicas que regulam os diversos agrupamentos sociais, as ideias e as artes, as crenças e os


costumes. Ou Sewell (1999), que acreditava que, por um lado, cultura é, teoricamente, definida
como uma categoria ou aspecto social que deve ser abstraído do complexo da realidade da
existência humana; por outro lado, cultura se trata de um concreto e limitado mundo de crenças e
práticas. Para um exemplo na antropologia brasileira, podemos citar Laraia (1986), que se propôs
a discutir cultura, sem sequer propor um conceito, mas afirmando que a compreensão deste
conceito é o mesmo que compreender a natureza humana. Ainda no início do século 20, Murdock
(1932) já havia reconhecido o problema em torno da definição do termo, e justificou que os
antropólogos sabem de fato o que é cultura, mas divergem na maneira de transmitir este
conhecimento às pessoas. No entanto, o problema não está apenas na divergência, mas,
principalmente, na falta de um consenso. Para Cavalli-Sforza (1986) tentar definir cultura é
arriscado, uma vez que antropólogos já haviam proposto pela menos 150 definições para o termo
até o ano de 1960 e falhado. Para o autor, bastava saber que o conceito de cultura girava em torno
de aprendizado e transmissão de conhecimento.

De volta à segunda metade do século 20, outros antropólogos, assim como pesquisadores
de outras áreas do conhecimento, propuseram que cultura seria um produto de transmissão de
conhecimento. Por exemplo, o arqueólogo Robert Dunnell propôs que cultura deveria ser
entendida simplesmente como “ideias compartilhadas” (Dunnell 1971:121). O biólogo John
Bonner, sob influência da biologia evolutiva, definiu cultura como “a transferência de
informações por meios comportamentais, mais particularmente o processo de ensino e
aprendizado” (Bonner 1980: 10). O antropólogo Roy D’Andrade, sob luz das ciências cognitivas,
definiu cultura como “um corpo de aprendizados transmitido de uma geração a outra” (D’Andrade
1981: 179). O cientista cognitivo Jean-Gabriel Ganascia, mesmo sem oferecer diretamente uma
definição de cultura, defende em seu discurso que cultura está relacionada ao conhecimento
compartilhado, transmitido, entre indivíduos de uma sociedade (Ganascia 1996). Vemos então
que durante o século 20, ainda que muitas propostas do conceito de cultura tivessem sido
fornecidas, parece haver uma concordância entre alguns pesquisadores de que cultura está
relacionada, de alguma forma, à transmissão social de conhecimento.

Ainda no início do século 21, mais pesquisadores continuaram propondo definições que
fazem essa relação. Os paleoantropólogos Robert Foley e Marta Lahr comparam a cultura com os
genes, que são traços adquiridos, transmitidos, modificados e utilizados. Logo, consideram
cultura como “os traços que são aprendidos, ensinados e socialmente transmitidos” (Foley & Lahr
2003: 109 – minha tradução). Laland & Hoppitt (2003), que assim como Bonner são influenciados
pela biologia evolutiva, consideraram que a cultura é o padrão comportamental compartilhado
pelos membros de uma comunidade que dependem de informações transmitidas e aprendidas

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socialmente. O biólogo Peter Richerson em conjunto com o antropólogo Robert Boyd, com base
em seus estudos de evolução cultural definiram cultura como “a informação capaz de afetar o
comportamento dos indivíduos e que é adquirida a partir de outros membros de sua espécie através
de ensino, imitação e outras formas de transmissão social” (Richerson & Boyd 2005: 5 – minha
tradução). Mais recentemente, o psicólogo Alex Mesoudi, com base em seus estudos de evolução
cultural e aprendizado social, sendo alguns destes aplicados inclusive em estudos arqueológicos,
definiu cultura como “a informação que é adquirida de outros indivíduos via mecanismos de
transmissão social, como a imitação, ensino e linguagem” (Mesoudi 2011: 2-3 – minha tradução).
Mesoudi ainda nota que ele usa o termo informação como sinônimo de conhecimento. Neste
sentido, cultura poderia ser entendida como o conhecimento adquirido por transmissão social.

Apesar da existência de diversos conceitos de cultura fornecidos por mais de um século,


e apesar de que a maioria destes conceitos são apenas descrições de compilados, muitas vezes
genéricos e não concordantes entre si, é possível identificar certo consenso com base em alguns
dos conceitos clássicos, das definições de outros antropólogos menos influentes e das definições
fornecidas por pesquisadores de outras áreas. E esse consenso se relaciona ao conhecimento
compartilhado por uma sociedade e a sua transmissão.

Ainda que não seja pela intenção de ser admitido no meio antropológico, é com base no
consenso observado que a definição para o termo cultura é aqui proposta como a totalidade de
conhecimentos socialmente/coletivamente construídos, aplicados e transmitidos. É com base
neste conceito que foi construída a base teórica geral desta pesquisa.

2.3. Arqueologia Cognitiva é uma abordagem mal compreendida


Cultura e cognição são dois conceitos relacionados ao conhecimento, mas não são
sinônimos. O termo cognição, de uma maneira bem consensual entre cientistas cognitivos (ver:
Andler 1989, 1998; Ganascia 1996; Imbert 1998; Gardenfors 2007; para exemplos), refere-se ao
conjunto de processos de construção, aquisição e transmissão de conhecimento. Ou seja, cognição
é a construção do conhecimento, enquanto a cultura é um resultado dessa construção. Se por um
lado a cultura é o resultado em escala social, coletiva, temos a mente como resultado individual e
o corpo como um intermediador de todos os processos cognitivos. Portanto, as ciências cognitivas
lidam com os processos de construção de conhecimento a partir do estudo da mente, do corpo e
da cultura (Ganascia 1996). Esta noção também é consensual entre pesquisadores de outras áreas
focados no conhecimento humano, como na psicologia cognitiva (Neisser 1967; Penna 1999,
Sternberg 2012), neurociências (Fiori 2006, Vincent 2007), biologia cognitiva (Maturana &
Varela 1984; Samuel 1990), filosofia (Werner 1997, Oliveira 1999) antropologia (Mauss 1936) e
arqueologia cognitiva (Maestro & Collina 2009; Hodder 2012; Moreno de Sousa 2014, 2015).

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Os estudos de transmissão e construção do conhecimento, ou seja, os estudos cognitivos,


não são realizados de uma única maneira, vide as áreas de estudo supracitadas, entre outras. A
cognição não apenas pode, mas deve ser estudada por meio de uma variedade de métodos
científicos (Sternberg 1996: 26). Afinal, quanto maior a diversidade de métodos confirmando (ou
negando) hipóteses e interpretações, mais confiáveis estas se tornam. A arqueologia cognitiva é
um destes meios que, por sua vez, também usufrui de uma variedade de métodos e técnicas a
serem aplicados a fim de testar uma hipótese.

Se pensarmos que a arqueologia é a ciência que busca entender a humanidade através dos
seus vestígios, e que o conhecimento é um aspecto importante da humanidade a ser compreendido,
podemos partir do princípio que o conhecimento pode ser observado nos produtos materiais que
denominamos de vestígios arqueológicos. Dentre os vestígios de uma ocupação humana, muitos
desses carregarão indícios de conhecimentos compartilhados por todo o grupo que ali habitou e
quiçá por outros grupos. Essa cultura está expressa nos vestígios materiais e, portanto, nos
referimos a este tipo de vestígio como cultura material.

Para entender o que é a arqueologia cognitiva e a sua aplicação, partimos do básico.


Ciências cognitivas é o termo utilizado para se referir ao estudo científico multidisciplinar que
tem por objetivo entender os processos de construção e transmissão do conhecimento.
Pesquisadores das mais diversas áreas acadêmicas, como da psicologia (Ittelson 1973; Sternberg
1996; Greenspan & Benderley 1997; Penna 1999; Furnham 2018), neurociência (Banich &
Compton 1980; Imbert 1998; Fiori 2006; Vincent 2007; Gazzaniga 2009; McClelland & Ralph
2015), antropologia (Tyler 1969; D’Andrade 1981, 1995; Scubla 1998; Tomasello 1999), biologia
(Maturana & Varela 1984; Anspach & Varela 1998; Kováč 2000), filosofia (Werner 1997;
Oliveira 1999, Gärdenfors 2003), linguística (Chomsky 1986, 1988, 2004; Segui 1998;
Dabrowska & Divjak 2015; Nóbrega & Myagawa 2015; Miyagawa 2017; Nóbrega 2018),
matemática, (Andler 1998), computação e inteligência artificial (Ganascia 1996; Cummins &
Schwarz 1998; Smolensky 1998; Bach 2011), entre outros, compartilham desse mesmo objetivo,
alguns deles focando principalmente no conhecimento. A arqueologia também possui um enorme
potencial de contribuição para entendimento da cognição humana.

A abordagem cognitiva começou a ganhar destaque na arqueologia apenas nas últimas


décadas (ver: Arrizabalaga 2005; Beaune et al. 2009; Renfrew & Zubrow 1994; Nowel &
Davidson 2010; para uma revisão histórica completa). No entanto, o termo cognição tem sido
apropriado por alguns arqueólogos para tratar apenas de estudos simbólico-rituais ou outros
estudos cujas discussões fogem do conhecimento humano, sua construção, aplicação e
transmissão (ver: Bednarik 1990, 2003; Mithen 1996a, 1996b; para exemplos). Ainda que nem

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todos esses estudos evitem ou ignorem a transmissão cultural, muitos deles deveriam ser tratados
apenas como estudos de arqueologia do simbólico, pois não tem como objetivo entender os
processos de construção e transmissão de conhecimento em qualquer nível, ou nem sequer tomam
estudos das ciências cognitivas como base teórica para sua pesquisa. Alguns destes buscam
aplicar a abordagem cognitiva da mesma maneira que fazem antropólogos, biólogos, filósofos e
demais pesquisadores, que possuem objetivos e métodos que muitas vezes são distintos daqueles
da arqueologia (ver: Young 1976; Sheffy 1989; Clammer 2000; Heintz 2004; Risjord 2004;
Hodder 2012; para uma discussão mais ampla). Ou seja, tomam como base conceitos bem
definidos em um campo de estudo e tentam adaptá-lo para a arqueologia, de modo que a teoria
não é bem aplicável na prática da pesquisa. Ainda há outros pesquisadores, principalmente
aqueles voltados à tecnologia de produção de artefatos arqueológicos, que abusam do termo
cognição de forma vaga, sem saber seu real significado (veja: Maestro & Colina 2009; para uma
aprofundada revisão crítica) como se isso desse um caráter mais intelectual aos seus discursos,
mas sem buscar entender como o conhecimento tecnológico é construído, adquirido ou
transmitido. Isso é o que Service (1962) já chamava atenção como um problema que dava razão
às chacotas que as ciências sociais sofriam desde aqueles tempos: o ato de usar termos vagos para
propósitos não-intelectuais simplesmente porque tal termo está na moda1.

No entanto, alguns arqueólogos construíram e propuseram bases teóricas para aplicação


da abordagem cognitiva em estudos arqueológicos (ver: Renfrew & Zubrow 1994; Beaune 2009;
Renfrew et al. 2009; Moreno de Sousa 2015; Wynn & Coolidge 2016; para exemplos). É difícil
para a arqueologia tratar de mentes, conhecimentos individuais, com base no registro
arqueológico, especialmente quando poucas classes de vestígios arqueológicos continuam
preservados – caso majoritário de sítios mais antigos onde apenas os vestígios líticos e, mais
raramente, ósseos, estão preservados. Portanto, a arqueologia cognitiva só poderá lidar, na maioria
esmagadora das vezes, com o conhecimento social, a cultura. A arqueologia cognitiva é essa
abordagem que, independentemente do método, técnica ou objeto de estudo, tem por objetivo
específico entender aspectos relacionados à construção, transmissão e evolução da cultura de seres
humanos e hominínios.

1
Em inglês, a gíria “mouthtalk” é utilizada para se referir a esse ato. Infelizmente, não há uma tradução
para este termo em língua portuguesa.

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

2.4. Evolução não é progresso, é mudança! E ela pode ocorrer por


vários motivos
Como já foi dito no início deste capitulo, os primeiros trabalhos antropológicos a lidarem
com a ideia de evolução não adotaram a teoria de Wallace (1858) e Darwin (1859), mas seguiam
a corrente mais aceita na época, descrita e defendida por Spencer (1857) – uma visão racista,
colonialista e eurocêntrica. Isso também se refletiu nos estudos sobre a pré-história. John
Lubbock, por exemplo, o autor que introduziu os termos Paleolítico e Neolítico para a pré-história
do Velho Mundo, mesmo sendo amigo próximo de Charles Darwin, se deixou influenciar pelo
pensamento corrente e acreditava que os “selvagens” seriam “inferiores moralmente e em outros
aspectos, em relação às raças mais civilizadas” (Lubbok 1865: 465 – minha tradução). Os
conceitos de Darwin foram desconsiderados por Edward Tylor ou Lewis Morgan, que entendiam
evolução cultural como um processo progressivo, de mudanças que sempre tornam as sociedades
mais complexas, melhores. Foi no trabalho de Morgan (1877) que os conceitos de selvageria,
barbárie e civilização foram definidos e popularizados. De acordo com Morgan, selvageria seria
o estado mais primitivo da humanidade, cuja cultura evoluiria, tornando-se mais complexa, até
chegar ao nível de civilização.

Esse modelo progressista da evolução das culturas ainda perdurou na Antropologia até o
inicio do século 20. Mas Franz Boas, considerado o pai da escola antropológica estadunidense,
rebateu a visão de Spencer, Tylor, Morgan e Lubbock, observando que as evidências fornecidas
pela etnologia não confirmavam uma evolução uniforme das culturas (Boas 1920). Boas
identificou a evolução cultural uniforme e progressista como uma hipótese falsa, sugerindo que o
conceito de cultura é relativo. Ainda assim, o arqueólogo australiano Gordon Childe, um dos
primeiros a debater evolução cultural na pré-história, persistia na visão progressista de cultura
(Childe 1936, 1951).

Na segunda metade do século 20, um século depois da publicação da obra de Spencer


(1857), uma nova teoria sobre a evolução cultural passou a se popularizar entre antropólogos e
arqueólogos, uma teoria que defende que as culturas são determinadas pelo ambiente natural. Nas
décadas anteriores essa relação entre a ecologia e a evolução das culturas já era realizada por
alguns antropólogos, como Kroeber (1939). Mas quem mais ganhou atenção foi o antropólogo
Julian Steward, graças a sua série de livros sobre indígenas americanos, nos quais ele relacionava
diversos aspectos culturais ao ambiente natural em que as sociedades viviam. Observou, por
exemplo, que as sociedades indígenas das florestas tropicais eram tecnologicamente uniformes, e
se assemelhavam muito com às das sociedades das florestas pluviais (Steward 1948). A partir de
aí arqueólogos e antropólogos vieram a tratar a evolução cultural a partir do que ficou conhecido

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

como “determinismo ambiental” (ver: Phillips & Willey 1953; Meggers 1954, 1957; Hardesty
1977, Jochim 1981; Morán 1979, para exemplos). Esta nova visão ia contra a ideia de progresso,
pois as sociedades tecnologicamente simples não se modificariam até se tornarem civilizadas. As
culturas, de acordo com esta nova teoria, se desenvolveriam de acordo com o ambiente, e a cultura
material em geral seria limitada pelo que o ambiente fornece. O determinismo ambiental também
tinha problemas, pois via a cultura como um agente passivo, e nunca um agente ativo na sua
relação com os ambientes naturais.

A popularização desta nova teoria não extinguiu a visão progressista, que ainda persistia
dentre alguns membros da comunidade acadêmica. Dentre estes, se destaca o influente
antropólogo estadunidense Leslie White. O autor via a tecnologia (a indústria) como o fator
classificatório de estágios de desenvolvimento cultural, no qual o estágio primitivo era o uso dos
próprios músculos para atender suas atividades, enquanto no estágio mais avançado estaria a
energia nuclear (L. White 1943, 1959b). Inclusive, o autor expressa claramente sua indignação
com a nova visão da Antropologia do século 20, acusando seus colegas de virarem as costas e
repudiarem as visões de Tylor e Morgan sobre a evolução das culturas, a qual ele defendia como
uma visão que tornava dezenas de milhares de anos de história da cultura inteligíveis.

Elman Service foi outro antropólogo influente que persistiu no discurso progressista,
propondo uma classificação alternativa àquela proposta por Morgan (1877) dos níveis de
complexidade cultural. Service (1962) propôs classificar as sociedades em bando, tribo, cacicado
e estado, sendo esta, respectivamente a ordem crescente de complexidade cultural. Service
influenciou não apenas antropólogos, mas também arqueólogos, principalmente aqueles formados
na escola estadunidense que compreende a arqueologia como um ramo da antropologia. Foi o
caso de Flannery (1972), que usou a proposta de Service (1962) para classificar diversas culturas
arqueológicas em níveis de complexidade social, e ainda propôs uma série de regras para realizar
tal classificação.

No final do século 20, enquanto a maioria dos antropólogos e arqueólogos,


principalmente os mais influentes, ainda discutia se a evolução cultural era progressiva ou
determinada pelo ambiente, outros pesquisadores passaram discutir a variação cultural de outra
maneira. O arqueólogo estadunidense Robert Dunnell, considerado um dos pais da “arqueologia
evolutiva”, foi um dos mais influentes de uma nova geração de arqueólogos que buscavam
entender as mudanças culturais ao longo do tempo. Dunnell (1978, 1980) foi um dos primeiros a
argumentar que a variação no contexto arqueológico poderia ser explicada como um resultado da
transmissão de variantes cuja distribuição seria padronizada por seleção. Diversos pesquisadores
nos anos a seguir começaram a discutir a evolução cultural a partir de três abordagens teóricas

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

diferentes que consideravam a transmissão de conhecimento: A Teoria da Transmissão Cultural,


a Teoria da Herança Dual, e a Teoria da Construção de Nichos.

Boyd & Richerson (1982, 1983, 1985), ainda que não fossem os primeiros a discutir a
transmissão cultural (ver: Dunnell 1980; Bettinger 1991; Cavalli-Sforza & Feldman 1981; por
exemplo), apresentaram uma abordagem teórica que tinha como objetivo entender as mudanças
culturais a partir das possíveis formas que essa transmissão é realizada entre indivíduos e
sociedades. Esta teoria veio a ser conhecida como Teoria da Transmissão Cultural (ou
simplesmente pelo acrônimo TTC2), e só passou a se popularizar de fato no final dos anos de
1990. E também Boyd & Richerson (1985) que iniciaram as discussões sobre a teoria que eles
viriam a denominar Teoria da Herança Dual, que inclui nela não apenas as discussões da TTC,
mas também a herança genética. De acordo com esta teoria, tanto a transmissão de traços culturais
e de genes não pode ser discutida separadamente (Boyd & Richerson 1985; Bettinger 1991;
Durham 1991; Ames 1996). Mas os estudos de evolução cultural em arqueologia até o final dos
anos de 1990 focaram-se principalmente sobre a TTC (ver: Lyman & O’Brien 1998; O’Brien &
Lyman 2000; Eerkens & Lipo 2005, 2007; para uma revisão completa), uma vez que o foco dessas
pesquisas recai sobre os traços culturais e nas suas linhagens evolutivas (O’Brien 1996; O’Brien
et al. 2010; Shennan 2008; Cochrane 2011).

Ainda que a TTC considere que traços culturais e genéticos possuam certa analogia, suas
linhagens não estão necessariamente relacionadas. Para a TTC, a evolução cultural ocorre quando
o conhecimento tradicionalmente transmitido sofre algum erro de cópia, ou quando sofre
influências externas Richerson & Boyd (2005). Neste sentido, a persistência cultural, quando a
cultura não sofre mudanças ao longo de muito tempo, seria resultado de uma transmissão cultural
que não sofre influências externas e não possui erros de cópia. No entanto os autores não
mencionam o ato da inovação, quando algo novo surge por qualquer razão. E tampouco
esclarecem o que eles denominam de “influência externa”.

Mas podemos considerar que as influências externas sobre a cultura de uma sociedade
podem variar, desde a influência da cultura de uma sociedade sobre a outra, ou até mesmo
influência ambiental. A influência ambiental poderia estar relacionada a: [1] mudanças severas o
suficiente no ambiente natural que forçariam uma sociedade a se modificar em determinados
aspectos a fim de se adaptar; [2] quando uma sociedade passa a ocupar um novo território cujo
ambiente é diferente o suficiente para que adaptações nos modos de vida sejam necessárias. Num

2
Em publicações de língua inglesa o leitor poderá encontrar a sigla CT, que nem sempre é devidamente
apresentada, mas se refere a esta teoria.

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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exemplo arqueológico, uma sociedade antiga que permanece em um determinado ambiente após
a extinção de sua principal fonte de alimentos locais precisará inovar e será obrigada a utilizar
uma nova fonte de alimentos que poderá exigir novos meios de interação com o ambiente, novos
artefatos para extração e processamento do alimento, etc. Ou se essa mesma sociedade migra para
um novo ambiente onde existam fontes de alimentos similares, mas não existem as mesmas fontes
de matéria-prima para produção de seus artefatos, ela terá que optar por novas matérias primas, e
isso poderá resultar em produtos, artefatos, completamente diferentes, já que os mesmo métodos
e técnicas não serão, necessariamente, eficazes nestas novas matérias primas.

Desde o início dos anos 2000 a Teoria de Construção de Nicho (TCN) vem ganhando
certo destaque, sendo aplicada em diversos estudos, incluindo estudos arqueológicos (ver: Kendal
et al. 2011; Laland & O’Brien 2010, 2012; Laland et al. 2016; Quintus & Cochrane 2018; para
uma revisão sobre o assunto). “Construção de nicho” é o termo utilizado para se referir ao
processo em que organismos modificam os seus próprios nichos ambientais assim como os de
outros organismos, e a TCN enfatiza a capacidade dos organismos de modificar a seleção natural
em seu ambiente e, consequentemente, modificando indiretamente a evolução de outros
organismos (Odling-Smee et al. 2003; Laland & O’Brien 2012; Creanza et al. 2012; O’Brien &
Bentley 2018). Sua aplicação em estudos de evolução cultural considera que a herança cultural e
a herança genética estão diretamente relacionadas, assim como a Teoria da Herança Dual já
considerava, mas ainda adiciona a herança ecológica como um fator dissociável, uma vez que as
mudanças ambientais realizadas pelos seres humanos ao longo do tempo a partir de fatores
culturais implicam em mudanças genéticas ao longo do tempo nos próprios humanos e outros
seres vivos. Mas a TTC também leva em consideração que as mudanças culturais possam ocorrer
influenciadas ocorrer por fatores externos, como fatores ambientais.

A diferença principal entre a TTC e as duas outras abordagens é que ela não parece tentar
explicar todos os fatores possíveis que levam as culturas a sofrerem mudanças, se apresentando
apenas como um meio para explicar como o conhecimento social é transmitido entre indivíduos
(Eerkens et al. 2014: 14). Eerkens & Lipo (2005, 2007) e Eerkens et al. (2014) realizam um
compilado de justificativas para aplicação desta abordagem. Para os autores, a TTC seria uma
teoria para o entendimento das mudanças na cultura material ao longo do tempo e espaço; ela
busca colocar a evolução da cultura em um contexto rigoroso e cientificamente definido; ela
descreve a ampla gama de mecanismo que humanos (no caso da arqueologia) usam para adquirir,
modificar e retransmitir informação cultural; ela descreve a miríade de processos pela qual a
informação é transmitida de um transmissor para um destinatário; é aplicável a todos os humanos
de todos os tempos; e não envolve apenas seleção natural.

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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É possível notar, assim como alguns outros autores já haviam notado cada um à sua
maneira (ver: Foley & Lahr 2003; Andersson et al. 2014, para exemplos), que as abordagens
adotadas para tratar de evolução cultural focam principalmente na transmissão cultural, ainda que
considerem, em diferentes graus, os fatores genéticos e ecológicos. Mas como denominar essa
subárea da arqueologia empenhada em entender as mudanças culturais ao longo do tempo a partir
das possíveis formas como esse conhecimento é transmitido? Bem... Se estamos tratando de algo
relacionado à construção, aquisição e transmissão de conhecimento em contextos arqueológicos,
estamos falando da arqueologia cognitiva. E se estamos buscando entender as mudanças culturais
ao longo do tempo em contexto arqueológico, e que considere além da transmissão cultural
possíveis fatores genéticos e ecológicos, ou seja, traçando paralelos com a evolução biológica,
estamos tratando da arqueologia evolutiva.

Nesta tese trabalhamos com uma combinação destas duas abordagens, ao mesmo tempo
em que ela não se encaixa completamente em nenhuma das duas. E não há uma pretensão de
propor um nome para este tipo de abordagem, como se ela fosse totalmente inédita. Afinal, até
mesmo as novas propostas teóricas apresentadas nesta tese são, de certa forma, baseadas em
discussões anteriores e referenciadas. E não há problema em tomar ideias de mais de uma
abordagem teórica, desde que elas respondam ao objetivo da pesquisa. E no caso desta tese, essa
combinação entre a arqueologia cognitiva e evolutiva, adicionada a algumas propostas
apresentadas ao longo deste capítulo, provavelmente responderão aos objetivos da pesquisa.
Afinal, para tratar de evolução cultural, a arqueologia deve buscar entender os padrões temporais
de traços culturais e construir argumentos sobre como o processo evolutivo agiu na criação destes
padrões (O’Hara 1988; Szalay & Bock 1991; Jones et al. 1995; Lyman & O’Brien 1998).

No contexto brasileiro, pouco tem sido feito com estes objetivos. Apenas nos anos mais
recentes a TTC começou a ganhar espaço na arqueologia brasileira, e os trabalhos de Okumura &
Araujo (2014); Araujo (2015), Araujo et al. (2018) e Mageste (2017), são alguns exemplos onde
ela é aplicada. Mas, historicamente a arqueologia brasileira sempre acompanhou com algumas
décadas de atraso as principais discussões teóricas da sua área (T. Lima 2006). Raros foram os
autores que se atualizaram sobre a discussão de evolução cultural em arqueologia, tendo sido T.
Lima (2006, 2011) a primeira a realizar tal discussão. Em geral, o tema simplesmente não era
discutido entre os profissionais brasileiros, ou então a noção de “evolução enquanto progresso”
persistia. Esta persistência ocorreu principalmente em estudos fortemente embasados nas escolas
teóricas francesas de tecnologia e pré-história, principalmente nos discursos de Leroi-Gourhan
(1943, 1945), Simondon (1969) e Deforge (1985) - para citar alguns dos autores mais influentes
- e nos métodos de análise lítica de Boëda (1997). Por exemplo, dentre as diversas abordagens
aplicadas por Boëda em suas análises líticas, a única proposta original de fato é referente à

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identificação de núcleos, na qual estes eram classificados em cinco “níveis evolutivos”, onde os
níveis mais altos são considerados os mais complexos. Essa proposta foi posteriormente
reformulada e publicada para o público brasileiro por Fogaça & Boëda (2006), mas dessa vez sem
relacionar as classificações dos núcleos com “níveis evolutivos”, mas classificando-os em
diferentes “sistemas”. Mesmo assim, a base teórico-metodológica já havia influenciado alguns
arqueólogos e arqueólogas no Brasil a classificarem seus objetos de estudo em “escalas
evolutivas” (ver: Fogaça 2001; Hoeltz 2005; P. Mello 2005, 2006; Viana 2005, 2006; para
exemplos). Mas evolução não é uma escala progressiva, e sim o processo de inevitáveis mudanças
que ocorrem ao longo do tempo, sejam elas muito ou pouco nítidas. Se a evolução biológica já
nos provou isso, porque a evolução cultural seria diferente?

2.5. Evolução das espécies e evolução das culturas são coisas diferentes
O sucesso do conceito de evolução de Darwin (1859) não se deu apenas pela oposição ao
pensamento popular do contexto em que vivia, nem por ser inovador, já que alguns outros autores
de sua época também viam evolução como um processo de adaptação, tal como Wallace (1858).
A inovação de Darwin é a lógica aplicada com base em evidências observadas em suas viagens.
Por exemplo, de acordo com Darwin (1859), as três pré-condições biológicas para a evolução por
seleção natural das espécies ocorrer seriam: a variação, a reprodução diferencial e hereditariedade
dessa variação. A variação biológica estaria relacionada à diversidade de características entre
indivíduos de uma mesma espécie. A reprodução diferencial estaria relacionada à competição
por recursos e sobrevivência de um maior número de indivíduos de determinadas espécie que
permite uma maior reprodução. E a hereditariedade biológica estaria relacionada às
características que são transmitidas de geração a geração. Além de determinar três pré-condições
para a evolução por seleção natural ocorrer, Darwin (1859) ainda determinou três fenômenos
biológicos que resultariam dela: adaptação, maladaptação e convergência. A adaptação estaria
relacionada às mudanças biológicas das espécies que lhes permitem maior aptidão/sobrevivência
em um determinado ambiente. A maladaptação biológica estaria relacionada àquelas
características que persistem em uma espécie quando há uma mudança de ambiente, mas que não
são mais úteis. E convergência biológica estaria relacionada àquelas características similares que
surgem em diferentes espécies em ambientes semelhantes.

De acordo com Mesoudi (2011), o conceito de evolução cultural é basicamente a ideia de


que a cultura evolui e que paralelos úteis podem ser traçados entre as mudanças biológicas e
culturais. O autor ainda traça esse paralelo resgatando as ideias de Darwin sobre as três pré-
condições para que a evolução por seleção natural ocorra e as aplica nos estudos sobre evolução
cultural. Mesoudi (2011) buscou estas três pré-condições nas culturas a partir de estudos
arqueológicos, antropológicos e históricos e concluiu que elas também estão presentes. De acordo

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com o autor, a variação cultural existe na medida em que existem indivíduos ou grupos de uma
mesma sociedade que aplicam diferentes conhecimentos sociais em determinadas atividades. Ao
invés de uma reprodução diferencial, haveria uma competição cultural que existe na medida em
que sociedades humanas culturalmente distintas disputam por territórios ou quando grupos
disputam por espaço na memória coletiva da população das quais fazem parte, e as evidências
desta competição seriam a extinção de diversas práticas culturais arqueologicamente e
historicamente conhecidas. E a herança cultural existe na forma de tradição, onde é o
conhecimento, e não as características biológicas, que são transmitidos, socialmente, de geração
a geração. Mesoudi (2011) não fez uma adaptação dos três fenômenos propostos por Darwin para
tratar de cultura. Mas é possível propor essas analogias da seguinte forma: a adaptação cultural
é a gama de mudanças ocorridas em determinados aspectos culturais que favorecem uma
sociedade a permanecer em um determinado contexto; ao invés de uma maladaptação, haveria a
inércia cultural como a persistência da maioria dos traços culturais de uma sociedade, mas nunca
de todos eles, mesmo quando há mudanças no ambiente; e a convergência cultural como as
características culturais similares que surgem de forma independente em sociedades que nunca
possuíram qualquer forma de contato anterior3.

Esse paralelo entre evolução biológica e evolução cultural é o que Dunnell considerou
como arqueologia evolutiva. Uma abordagem que deveria ser entendida como “um quadro
explanatório que considera as estruturas e mudanças evidentes no registro arqueológico em
termos de processos evolutivos tanto idênticos quanto análogas a esses processos de acordo com
a teoria evolutiva neodarwiniana” Dunnell (1978: 197 – minha tradução). Os processos a que o
autor se refere seriam: a seleção natural; o fluxo gênico, ou seja, o movimento de genes de uma
população para a outra; a mutação, ou seja, o surgimento de uma nova característica; e a deriva,
ou seja, a hereditariedade maior de uma população em relação a outra por puro acaso. Mas
Cavalli-Sforza & Feldman (1981) notam que o mecanismo hereditário da cultura é o aprendizado
social, e suas rotas de hereditariedade são muito mais diversas do que aquelas identificadas nos
genes. Ou seja, o processo evolutivo sequer precisa ser análogo. Bettinger (1991) também fez
analogias entre herança cultural e herança genética. Compara as escolhas humanas com a seleção
natural, as invenções humanas com as mutações, e as mudanças de aspectos não-funcionais com
deriva gênica. Mas reconhece o mesmo ponto fundamental na qual transmissão genética e cultural
diferem. A informação genética (em humanos) é transmitida diretamente a partir de apenas dois
indivíduos, seus progenitores, enquanto que a cultura pode ser transmitida a partir de indivíduos

3
Não confundir com a Teoria da Convergência Cultural proposta por Ritzer (2010), que tem origem em
outra abordagem teórica e que pressupõe que duas culturas se tornam cada vez mais similares entre si na
medida em que a interação entre elas aumenta – como no caso da globalização do mundo moderno.

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não relacionados em termos de parentesco e para qualquer número de indivíduos. Ou seja, uma
analogia do fluxo gênico com a cultura não seria perfeita.

Considerando a discussão dos autores supracitados, é proposto que a evolução cultural


seja entendida como um resultado de uma variedade de processos que podem ser elencados da
seguinte maneira:

• A seleção cultural, que ocorre de acordo com a variação, competição e tradição;


o Variação está relacionada à gama de conhecimentos específicos
aplicados por diferentes indivíduos em uma determinada atividade;
o Competição está relacionada à disputa entre indivíduos pelos traços
culturais que se deseja manter na memória coletiva de uma sociedade;
o Tradição está relacionada à transmissão de determinados traços culturais
entre várias gerações;
• O fluxo cultural, ou seja, a transmissão do conhecimento entre indivíduos de
diferentes sociedades;
• A deriva cultural, ou seja, a persistência de determinados traços culturais sobre
outros por mero acaso;
• Inovações culturais, ou seja, traços culturais inéditos que surgem em uma
sociedade.

Shennan (2008: 76) defende que assim como a evolução biológica é caracterizada pelas
mudanças nas frequências gênicas ao longo do tempo, como resultado da seleção natural ou da
deriva, a evolução cultural se refere às mudanças de atributos culturais, sejam elas resultado de
seleção natural ou de outros fatores que não necessariamente possuem alguma analogia com a
evolução biológica. Zeigler (2014), em seus estudos biológicos, afirma que a teoria evolutiva
moderna é inseparável do conceito darwiniano de “ancestral comum”. Aplicando essa lógica à
cultura, isso também significa que houve uma cultura ancestral comum para diferentes culturas.
Portanto, tentativas de traçar a ancestralidade comum de culturas contemporâneas entre si vem
sendo realizadas, ainda que isso não signifique que transmissão cultural acompanhe,
necessariamente, a transmissão genética. Diversas pesquisas têm sido realizadas neste sentido,
realizando estudos tecnológicos em estudos sobre evolução cultural buscando as linhagens
tecnológicas, e não as linhagens genéticas humanas (ver: Cochrane 2002; Mesoudi & O’Brien
2008a, 2008b; O’Brien & Bentley 2011; Stanford & Bradley 2012; Shennan 2013; Jordan 2015;
para exemplos).

Além dos processos que levam as culturas a sofrerem mudanças ao longo do tempo,
existem alguns mecanismos de transmissão de conhecimento que podem ser elencados, como por

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exemplo: o ensino, a imitação, a emulação e o aprimoramento de estímulo (veja: Lycett 2015;


para uma discussão mais aprofundada). Em seres humanos, o ensino é o mecanismo mais comum
de qualquer sociedade, mas não é o padrão de todas as sociedades (veja: Hewlett et al. 2011; para
um exemplo). Além disso, o ensino pode ser realizado de inúmeras formas e passar por distorções
no momento da transmissão das informações. Mas nada disso pode ser verificado
arqueologicamente. De todo modo, é essa variedade de meios de transmissão cultural que resulta
no fato da evolução cultural acontecer mais rapidamente do que a evolução biológica em seres
humanos (Boyd et al. 2013). Isso acaba resultando no surgimento de uma grande variedade de
artefatos cujos padrões culturais podem se estender bastante no tempo e espaço.

2.6. Cuidado para não confundir cultura com tradição


Padrões culturais que se estendem bastante no tempo e espaço são observados no registro
arqueológico há décadas. Mas como T. Lima (2006: 128) aponta muito bem, “as coisas podem
ser semelhantes na aparência, mas terem uma origem totalmente distinta. E coisas muito
diferentes podem ter tido a mesma origem”. Neste caso, a autora chamava a atenção da
arqueologia brasileira, a qual identificou padrões culturais na pré-história e que utilizou destes
padrões para definir culturas arqueológicas, que vieram a ser chamadas por estes mesmos
arqueólogos de “tradições arqueológicas”.
O uso do termo “tradição” na arqueologia brasileira é inspirado no uso que a arqueologia
estadunidense fazia nas décadas de 1940 e 1950, no auge da escola teórica do histórico-
culturalismo. Willey (1945: 53 – minha tradução) é apontado como o autor que pela primeira vez
utilizou do termo para se referir à cultura material arqueológica, quando define que “uma tradição
cerâmica compreende uma linhagem, ou uma série de linhagens, do desenvolvimento de cerâmica
ao longo do tempo dentro dos limites de uma constante técnica ou decorativa”. Goggin (1949) foi
o primeiro a criar tradições arqueológicas com base nesta definição. É possível imaginar que essa
definição também pode ser facilmente aplicada para se referir a outros vestígios arqueológicos,
como os artefatos líticos. Na década seguinte, a definição do termo foi reformulada a fim de que
ela pudesse ser aplicável não apenas à cerâmica e tradição passou a se referir a uma continuidade
cultural no espaço-tempo em grande escala (Phillips & Willey 1953; Willey & Phillips 1955),
identificada através de “configurações tecnológicas persistentes em uma ou mais culturas
arqueológicas, e ocuparia um intervalo de tempo relativamente longo e um espaço
quantitativamente variável, mas ambientalmente significante” (Phillips & Willey 1953: 628 –
minha tradução). Não é surpresa que o ambiente seja considerado significante pelos autores nesta
obra, uma vez que o denominado “determinismo ambiental” era a grande novidade na teoria
arqueológica, tendo grande influência na posteriormente criada Nova Arqueologia (ou
Arqueologia Processual). Haury et al. (1956: 38-39 – minha tradução) propuseram aquela que

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seria a definição mais popularmente utilizada pelos arqueólogos estadunidenses nas décadas que
seguiriam, considerando tradição como “uma forma cultural socialmente transmitida que persiste
no tempo”.

Nesse mesmo período, enquanto uma “Nova Arqueologia” surgia no cenário


internacional, a arqueologia brasileira ainda começava a formar sua primeira geração de
profissionais a partir escola Histórico-Culturalista, amparada pelo Programa Nacional de
Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA). Dentre as grandes contribuições que o PRONAPA
proporcionou, como a formação de profissionais e produção de dados dos quais ainda hoje
usufruímos e discutimos, a mais importante até hoje é, sem dúvidas, a definição de “tradições
arqueológicas” baseadas, principalmente, nos vestígios cerâmicos. A tradição era entendida como
um grupo de elementos ou técnicas, com persistência temporal (Pronapa 1966: 35, 1976: 145).
No início da década de 1970, o PRONAPA foi lentamente encerrando suas atividades, mas deixou
como legado as tradições arqueológicas criadas com base em aspectos que não foram sempre bem
definidos.

Enquanto isso, na arqueologia estadunidense, Dunnell (1971) foi um dos arqueólogos que
não estava satisfeito com o corpo teórico da escola processual e propôs suas ideias em busca de
uma arqueologia que ele considerava mais sistemática, mais científica. Dentre as propostas havia
também uma definição para o termo tradição, a qual seria “uma classe cultural que apresenta uma
distribuição extensiva no tempo e limitada no espaço” (Dunnell 1971: 202 – minha tradução). Sua
definição não é muito diferente daquela que seus pares estadunidenses propuseram anteriormente,
demonstrando que havia já um consenso sobre o conceito de tradição na arqueologia
estadunidense. Ainda no século 21, novas propostas de definição do termo não fogem muito do
proposto anteriormente. O’Brien et al. (2010: 3797), por exemplo, entendem que tradições são
modos padronizados de fazer coisas que existem em formas identificáveis ao longo do tempo, e
Haidle et al. (2015) entendem que tradições são criadas quando unidades comportamentais são
transmitidas através de ensino social repetitivo a fim de se tornarem características duráveis e
identificáveis de um grupo de indivíduos.

A falta de consenso definição de cultura (ver: cap. 2.2) tornou a aplicabilidade do conceito
de tradição arqueológica e sua identificação muito confusa, já que não parecia haver uma
diferença muito clara entre o que seria uma cultura arqueológica e o que seria uma tradição
arqueológica. Isso se mostrou de forma muito clara na arqueologia brasileira nas décadas que
seguiram. Um exemplo disso (mas que não necessariamente se aplica a todos os arqueólogos
brasileiros) é o Dicionário de Arqueologia de Mendonça de Souza, que define tradição como
“uma sequência de estilos ou de culturas que se desenvolvem no tempo, partindo uns dos outros,

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

e formam uma continuidade cronológica” (Mendonça de Souza 1997: 124), e em outro admite
que o significado do termo cultura, apesar de mais complexo, foi reduzido na arqueologia, e
geralmente designa uma associação de objeto de diferentes tipos, que se repete com certa
frequência no espaço e no tempo (Mendonça de Souza 1997: 41). Ou seja, os termos cultura e
tradição seriam basicamente sinônimos, pois teriam sido utilizados pelos arqueólogos para se
referir a características observadas em vestígios materiais que existem em determinadas áreas
geográficas e que persistem no tempo.

Mas como demonstrado algumas páginas atrás, o conceito de cultura possui certo
consenso, ainda que não tão bem resolvido quanto o de tradição. Cultura é a totalidade de
conhecimentos socialmente construídos, aplicados e transmitidos. Cada sociedade tem a sua.
Culturas evoluem. Ou seja, esses conhecimentos compartilhados mudam ao longo do tempo e
espaço. Tradição é o termo utilizado para se referir a um aspecto, uma parcela dos conhecimentos
compartilhados, que persiste ao longo do tempo, e que não necessariamente se limita no espaço
ou a uma única cultura. E ainda que um arqueólogo ou uma arqueóloga tenha os conceitos de
tradição e cultura muito bem definidos, a confusão entre cultura arqueológica e tradição
arqueológica parece inevitável. Como diferenciar uma cultura arqueológica de uma tradição
arqueológica se tudo que nos resta como material para estudo é uma parcela ínfima da totalidade
da cultura de cada sociedade pré-histórica? Todo padrão identificado em uma categoria de cultura
material (ex: cerâmica, lítico, sepultamentos, registros rupestres) é minimamente suficiente para
identificar uma cultura antiga?

O conhecimento não é transmitido apenas ao longo do tempo dentro de uma sociedade


(ver cap. 2.5), mas pode ser transmitido para (e aprendido por) outras sociedades com pouco ou
nenhum contato anterior à transmissão. As tradições arqueológicas, identificadas pelas
persistências ao longo do tempo de apenas uma categoria de cultura material, também podem ser
identificadas em diferentes culturas arqueológicas, desde que determinados traços destas
diferentes culturas sejam iguais e persistam no tempo. E uma tradição por si só não define uma
cultura arqueológica. É necessário observar toda a gama de vestígios culturais de uma sociedade
e não apenas uma categoria.

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

3.
UM EMBASAMENTO TEÓRICO PARA ESTUDOS
TECNOLÓGICOS E EXPERIMENTAIS DE INDÚSTRIAS LÍTICAS

3.1. Por que estudar as indústrias líticas é importante?


Desde o surgimento da arqueologia como uma área de estudo na academia, profissionais
da área têm se debruçado sobre vestígios líticos mais do que sobre qualquer outra classe de
vestígio arqueológico. Mas isso não está, de maneira alguma, relacionado a uma subvalorização
das demais classes de cultura material por parte dos arqueólogos. O ponto em questão é que os
vestígios líticos são aqueles que, indubitavelmente, melhor se preservam no registro arqueológico
e acabam sendo, porventura, os mais numerosos (e em muitos casos, os únicos) na maioria dos
sítios arqueológicos no planeta. Isto é um fato já apontado por diversos pesquisadores, como
Crabtree (1972, 1976), Coles (1973), Inizan et al. (1995), Andrefsky (1998), Kooyman (2000),
Odell (2004), entre outros. Por estas razões, o vestígio lítico é a classe de vestígio com o maior
potencial de fornecer informações sobre o período da história humana (e hominínia) que durou
entre 3,5 milhões de anos até o Holoceno tardio.

Os vestígios líticos não são considerados importantes apenas pela sua abundância no
registro arqueológico, mas também porque por milhões de anos os seres humanos usufruíram
desses materiais para interagir com o ambiente. Collins (1975), além de apontar a preservação
como um fator de importância para o estudo dos vestígios líticos, também notou que eles
constituíram uma parte integral dos mecanismos adaptativos dos seres humanos, sendo uma das
principais evidências para o entendimento da evolução da humanidade e seus ancestrais. Afinal,
as indústrias líticas possuem mudanças ao longo da história das espécies hominínias e apresentam
diferentes padrões em diferentes períodos e áreas. Na maioria dos casos, as evidências de
produção, utilização e abandono de artefatos líticos não é apenas a mais abundante, mas também
a melhor evidência para estudo da evolução cultural (Davidson 2010).

Foley & Lahr (2003) notam que os estudos sobre indústrias líticas permitem a verificação
de padrões tecnológicos e identificação de unidades culturais, ao mesmo tempo em que nos
permite verificar a adaptação das sociedades antigas ao ambiente no qual elas estão inseridas. E
também afirmam que o ambiente é modificado de acordo com as atividades relacionadas à
indústria lítica (Foley & Lahr 2015). A diversidade de indústrias líticas ao longo da história da
humanidade é resultante de uma série de inovações, expansões e migrações humanas, adaptações
e transmissões culturais. Portanto, o estudo das indústrias líticas também tem sua importância na

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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identificação de diferentes culturas arqueológicas, assim como no entendimento de processos de


evolução cultural.

Collins (1975: 24) aponta que as indústrias líticas podem ser influenciadas por qualquer
aspecto na vida das pessoas. Se esse for o caso, então é possível tentar identificar a origem destas
influências e suas consequências nos vestígios arqueológicos. O indivíduo que produz artefatos
líticos é dependente da tecnologia de sua sociedade e terá, ao longo de sua vida, oportunidades
e/ou necessidades de desenvolver um conjunto de habilidades para aplicar sua tecnologia. Em
acordo com (Collins 1975: 24) mais uma vez, as habilidades dessas pessoas podem se limitar à
tecnologia recorrente na indústria lítica de seu grupo e a uma variedade limitada de matérias-
primas disponíveis. A produção de artefatos líticos em larga escala, a partir de uma variedade
limitada de técnicas e materiais, é o que pode ser denominado como uma indústria lítica. E
quando a persistência dessa produção também é observada ao longo do tempo passamos a nos
referir a ela como uma tradição arqueológica específica daquela cultura material.

Na arqueologia brasileira, como já foi exposto na introdução deste trabalho, diversas


pesquisas têm sido feitas a fim de identificar e caracterizar tradições arqueológicas. Mas,
infelizmente, as abordagens histórico-culturalistas, muito utilizadas durante o século 20, por si só
não se mostraram suficientes para caracterizar as indústrias líticas. As associações de indústrias
líticas localizadas em território brasileiro às tradições arqueológicas através dessas abordagens
vêm sendo questionadas e verificadas a partir de outras abordagens (ver: Fogaça 2001; Hoeltz
2005; Dias 2007; Dias & Hoeltz 2010; Fogaça & Lourdeau 2008; Lourdeau 2010; Moreno de
Sousa 2014, 2016a, 2017; Okumura & Araujo 2014, 2016, 2017; Moreno de Sousa & Okumura
2018; Moreno de Sousa & Araujo 2018; para exemplos) que, dependendo do caso, confirmam ou
refutam estas associações já realizadas. A aplicação de uma variedade de abordagens permite uma
compreensão mais completa da produção e utilização dos artefatos líticos, das indústrias líticas,
ao longo de tempo e em diferentes regiões. E dentre as abordagens mais aplicadas nas últimas
décadas está a da tecnologia.

3.2. Tecnologia pode se referir ao estudo ou ao conhecimento dos


métodos e técnicas
Etimologicamente, o termo “tecnologia” tem origem grega, e significa estudo/discurso
sobre as técnicas. No entanto, ao estudarmos técnicas, temos que considerar também os métodos
aos quais estas técnicas estão vinculadas. Afinal, várias técnicas podem ser aplicadas num mesmo
método, e as mesmas técnicas podem, em alguns casos, ser utilizadas em métodos diferentes. O
termo tecnologia é atualmente utilizado para se referir tanto ao estudo quanto ao conhecimento

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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de métodos e técnicas aplicadas na produção de artefatos. Não deve ser confundido com indústria,
que se refere à produção em larga escala.

O potencial da tecnologia para aplicação na Arqueologia foi bem recebido por diversos
arqueólogos durante o século 20 (ver: Bordes 1947; Leroi-Gourhan 1964 e 1965; Bunge 1974;
Balfet 1975; Swanson 1975; Cresswell 1976; COLLECTIF 1980; Deforge 1985; Schiffer &
Skibbo 1987; Lemonnier 1986, 1993; para exemplos). Foi na segunda metade do século 20 que a
tecnologia se firmou como uma subárea da arqueologia, tornando-se uma das principais
abordagens nos estudos de indústrias líticas e cerâmicas até hoje. A tecnologia (o estudo) teve seu
firmamento como uma abordagem de excelência na arqueologia pela sua capacidade de
caracterização das indústrias de artefatos e, por consequência, de compreensão da ampla gama de
aspectos da relação dos seres humanos com o mundo material em diferentes contextos sociais e
ambientais.

Não existe apenas uma abordagem teórica sobre a aplicação da tecnologia em estudos
arqueológicos. Dentre as mais conhecidas podemos citar as abordagens do “estilo” tecnológico
(Lechtman & Merill 1977; Lechtman 1984; Childs 1991; Pfaffenberg 1992; Hosler 1994),
etnografia (Lemonnier 1986, 1992, 1993; David & Kramer 2001), agência (Dobres 1999),
materialidade (Jones 2002), arqueometria (Sillar & Tite 2000), entre outros (veja: Dobres &
Hoffman 1999; Kilick 2004; H. Miller. 2007; Perlès 2016; para uma revisão completa sobre o
assunto). A tecnologia permite a aplicação de várias teorias e métodos científicos. Nesta pesquisa,
o nosso foco de interesse na tecnologia está [1] na identificação de mudanças ou persistências ao
longo do tempo e espaço (Boserup 1981; Epstein 1996; Sofaer Derevenski 2000; Vilhena-Vialou
2009; Moreno de Sousa 2016b; Goldstein 2018; cap. 2 desta tese); [2] na aplicação do conceito
de cadeia-operatória e seus aspectos cognitivos (ver cap. 3.5); e [3] na aplicação de uma
abordagem experimental a fim de replicar os artefatos com base nas feições observadas na análise
(ver cap. 3.4).

Um dos aspectos chave da importância da tecnologia na arqueologia é a capacidade de


identificar diferentes categorias de conhecimento, habilidades técnicas e realizar inferências sobre
transmissão cultural. Lemmonier (1986) já apontava a potencialidade de entender as escolhas dos
métodos e técnicas para associação de fronteiras e identidades sociais, e H. Miller (2007) também
chamou a atenção para o fato da tecnologia tornar possível acompanhar o desenvolvimento das
sociedades. Com base nas discussões propostas por Balfet (1991), Inizan et al. (1995), Tixier
(2012) e Moreno de Sousa (2015), uma série de processos cognitivos necessários para a
elaboração e escolha dos métodos de produção de artefatos pode ser enumerada:

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• Aprendizados geológicos, como a identificação de tipos de minerais e rochas, suas


características qualitativas de fratura, e fontes desses materiais na paisagem;
• Aprendizados sobre a qualidade física das matérias-primas para os métodos e técnicas de
produção e utilização a serem aplicados sobre elas;
• Idealização das características gerais dos artefatos, como forma, volume, massa,
dimensões, ângulos e tudo mais que possa interferir na funcionalidade dos produtos, no
seu transporte e acondicionamento;
• Aprendizado dos métodos e técnicas tradicionalmente ensinados e aplicados em sua
sociedade;
• Aquisição de habilidades relacionadas aos gestos corporais aplicados durante a produção
e a utilização do instrumento; e
• Consciência para aplicação de conhecimentos técnicos e habilidades técnicas gerais que
permitam corrigir erros de produção, ou seja, capacidade de improvisação.

Mas para que inferências sobre esses tipos de conhecimento possam ser realizadas é
necessário analisar os vestígios com base nas características gerais que estes apresentam. A
tecnologia lítica reconhece métodos e técnicas de lascamento através da identificação de feições
presentes nos vestígios. Essas feições são resultantes da ação do estresse sobre um bloco de rocha
ou mineral e da quantidade de energia propagada sobre ele.

3.3. É importante ter uma noção mínima dos processos físicos e


mecânicos da produção dos artefatos líticos
Tanto o lascamento quanto o polimento são técnicas gerais aplicadas na produção de
artefatos líticos e que partem do princípio da redução de blocos de rochas e minerais até que estes
atinjam medidas e formas que lhes permitam atender às necessidades para as quais estes foram
idealizados. A produção de artefatos líticos polidos parte do princípio de que a matéria-prima
selecionada deve entrar em atrito com outra matéria-prima de igual ou maior dureza. Essa dureza
pode ser mensurada através da Escala de Mohs (1812), por exemplo. Já a produção de artefatos
líticos lascados parte do princípio de que a matéria-prima selecionada deve ser fraturada a partir
da propagação de ondas de energia provenientes do indivíduo que produz o artefato através de
outro material mais resistente a fraturas. Esta energia pode ser criada através do choque ou pressão
(estresse) entre a matéria-prima (que será transformada em um artefato) e outro material. Para que
o artefato seja produzido, estas fraturas devem seguir alguma sequência de operações capazes de
atingir resultados decisivos sobre a matriz de lascamento e sobre as lascas recorrentes do processo
de fratura.

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As ondas de choque e pressão são a propagação de “uma descontinuidade de


termodinâmica e propriedades mecânicas do meio: pressão, massa volumétrica, energia,
temperatura, e velocidade material” (Migault 1998: 80, minha tradução). Nesse sentido, a matéria-
prima pode ser considerada como de boa ou ruim qualidade de lascamento dependendo destes
aspectos. Mas a característica mais importante para reconhecimento da qualidade de um material
para o lascamento sistemático é, de longe, a sua homogeneidade (Patten 1999). Ou seja, sua
consistência em relação à densidade e composição (Byous 2013), principalmente o tamanho dos
grãos minerais, no caso das rochas. Basicamente, quanto mais homogênea é a matéria, mais
adequada ela é ao lascamento, no sentido de que a possibilidade de controle das sequências de
lascamento para produção de artefatos é maior. Ou seja, uma matéria-prima com grande
homogeneidade propícia ao lascador uma maior capacidade de previsibilidade sobre o resultado
do lascamento.

Teoricamente, o lascamento de rochas e minerais segue princípios físico-mecânicos. Estes


princípios são muito bem apresentados em detalhes por Tsirk (2014). Mas para uma análise
tecnológica, basta entender que o estresse gerado pelo choque ou pressão entre dois corpos reage
através de uma fratura concoidal (cone hertzial), geralmente no material mais frágil, seguidos por
ondas de choque que continuam a se propagar aumentando a área de fratura no material (Crabtree
1972; Cotterell & Kamminga 1987; Whittaker 1994; Patten 1999; Kooyman 2000; Tsirk 2014).
O cone hertzial, as ondas, e outras feições resultantes do estresse entre os dois corpos são
observáveis nos produtos do lascamento. Com base nesse princípio é que métodos de análise
baseados na observação das feições tecnológicas do lascamento são elaborados. E é também com
base nesta teoria que experimentos são realizados a fim de replicar desde simples ações de
lascamento quanto produtos específicos de determinados conjuntos de métodos e técnicas de
lascamento arqueologicamente observadas.

3.4. Algumas questões podem ser respondidas através de experimentos


Esses conceitos teóricos de física e mecânica sobre o impacto das rochas são essenciais
para o entendimento do lascamento de artefatos líticos, mas não bastam para uma interpretação
completa dos métodos e técnicas aplicados em sua produção. A falta de experiência prática de
lascamento pode levar a intepretações equivocadas sobre a intencionalidade das feições
tecnológicas nos artefatos. Um exemplo disso é exposto pela arqueóloga estadunidense Lucy
Lewis Johnson. Em seus estudos tipológicos sobre a indústria lítica Valdívia, ela identificou a
retirada de pequenas lascas a partir de lascas maiores, e estas pequenas lascas haviam sido
retiradas próximas do ponto de impacto que criou a lasca maior. Lewis (1966) interpretou isso
como “retoques funcionais”. Ou seja, ela pensou que aquelas pequenas lascas tinham como

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objetivo tornar o gume da lasca apto para raspar ou cortar. Uma década depois, após ter tido a
oportunidade de realizar experimentos com lascamento, ela reconheceu seu equivoco, e entendeu
que tais pequenas lascas haviam sido retiradas com o objetivo de preparar a área que seria atingida
por um percutor (um artefato destinado a se chocar contra outro material a fim de produzir lascas)
a fim de que as lascas pudessem ser obtidas com formas e tamanhos desejados (Lewis Johnson
1975). Ainda que nem todos os autores e autoras reconheçam seus erros de interpretação após
experimentarem produzir artefatos líticos, todo especialista em estudos líticos reconhece, assim
como Lewis Johnson reconheceu, que a arqueologia experimental é uma abordagem necessária
para uma compreensão mais acurada das atividades realizadas por grupos humanos no passado.
A autora não foi a única que reconheceu a potencialidade dos experimentos em arqueologia
durante as décadas de 1950 e 1970.

A replicação dos artefatos líticos em estudos arqueológicos já era reconhecida desde a


década de 1950 como potencial para compreensão das sequências de produção, remontagem dos
resíduos e artefatos, e a tecnologia de maneira geral (Andrefsky 1998), sendo Bordes & Crabtree
(1969) os arqueólogos que mais se destacaram na popularização desta abordagem naquele
período.

Ascher (1961) foi um dos primeiros autores a tratar a arqueologia experimental de uma
maneira próxima àquela que conhecemos atualmente, ainda que usasse o termo experimentos
imitativos para se referir aos esforços de pesquisadores em replicar os artefatos que estudavam.
Semenov (1964) também propôs a replicação de artefatos, mas para entender a utilização destes
através das marcas de uso – abordagem que veio a se difundir posteriormente sob a alcunha de
traceologia. Crabtree (1975) considerou que a arqueologia experimental trata da replicação dos
artefatos, além de fornecer informações que delimitam suas possibilidades de aplicação de
métodos e técnicas de produção e utilização. Coles (1967, 1973, 1979) também propôs que a
arqueologia experimental estaria relacionada à replicação.

Neste sentido, a Arqueologia Experimental seria entendida como uma abordagem que
trataria de reproduzir condições e circunstâncias vividas por grupos humanos no passado.
Certamente, uma das mais importantes abordagens aplicadas aos estudos de produção de
artefatos, uma vez que ela permitiria o estudo não só da cultura material, mas também dos
conhecimentos e habilidades que estas pessoas possuíam, testando hipóteses sobre ações
realizadas pelos seres humanos em determinadas atividades de produção e utilização dos artefatos.

O processo de realização de um experimento imitativo em arqueologia foi proposto pela


primeira vez por Ascher (1961: 810-811, minha tradução), sumarizado da seguinte forma:

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1) Conversão da hipótese de trabalho em uma forma verificável;


2) Seleção dos materiais experimentais;
3) Operação com os materiais e com objetivo;
4) Observação dos resultados do experimento;
5) Interpretação dos resultados do experimento como uma inferência.

Coles (1967) dividiu a arqueologia experimental em duas categorias. A primeira seria


aquela que Ascher descreveu como a dos experimentos imitativos. A segunda estaria relacionada
à utilização dos artefatos produzidos na primeira categoria a fim de determinar suas capacidades
funcionais. A primeira ainda é necessária para a realização da segunda. Na verdade, como o
próprio autor a ponta, os artefatos replicados devem ser duplicatas muito acuradas para que o
experimento de utilização seja realizado. Obviamente, outros métodos científicos como a
traceologia e a análise microrresidual possibilitam inferências bastante acuradas sobre a utilização
dos artefatos. Por outro lado, os resultados obtidos pela arqueologia experimental permitem que
mais possibilidades, além daquelas confirmadas pelos métodos científicos modernos, possam ser
consideradas, uma vez que tais métodos só fornecerão informações sobre os materiais que o
artefato entrou em contato, e não sobre os seus possíveis funcionamentos. Posteriormente, Coles
(1979) retrabalhou suas ideias e definiu três níveis de experimentação de artefatos arqueológicos.
O primeiro nível, o mais baixo, seria um nível de imitação onde a replicação dos artefatos está
focada apenas nos aspectos de aparência visual geral, como a forma e tamanho, e os materiais
utilizados para reprodução destes artefatos pode ser feita com materiais modernos, como vidro ou
louça. O segundo nível considera a replicação dos métodos de produção aplicados nas indústrias
arqueológicas, utilizando as mesmas matérias primas, ou equivalentes. O terceiro e mais alto nível
da experimentação é aquele que além de considerar os mesmos pontos do segundo nível, ainda
considera a função e busca replicar a utilização dos artefatos.

Já no final do século 20, Reynolds (1999), ainda que evitasse o termo arqueologia
experimental, ampliou o conceito desta abordagem considerando que os experimentos em
arqueologia, não limitados aos líticos, poderiam ser definidos em cinco classes:

• Experimentos de construção, relacionados a atividades de construção em escala


real de estruturas arqueológica, réplicas;
• Experimentos de processo e função, relacionado à pesquisa sobre a produção e
utilização dos artefatos, ou seja, a replicação ou imitação dos artefatos e de sua
utilização;
• Experimentos de simulação, relacionados às pesquisas que buscam entender
processos de formação de sítio, do registro arqueológico e tafonomia;

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• Experimentos de julgamento de eventualidades, relacionados ao entendimento de


eventos em grande escala, de longa duração, e que podem combinar as três
categorias anteriores a fim de verificar os resultados causados por eventualidades
raras ou inesperadas;
• Experimentos de inovação tecnológica, onde métodos e técnicas da pesquisa
arqueológica são testados em cenários simulados, como um sítio arqueológico
simulado.

Neste sentido, podemos considerar que a arqueologia experimental se refere à [1]


aplicação de experimentos em arqueologia que buscam replicar atividades realizadas por grupos
humanos do passado, os experimentos replicantes; [2] à simulação dos processos naturais de
formação dos sítios e processos tafonômicos, experimentos de simulação; [3] e ao teste de técnicas
de pesquisa modernas em réplicas de sítios e/ou artefatos.

Tanto Ascher (1961) quanto Coles (1973) definem algumas regras para a realização
daquilo que vamos considerar como experimentos replicantes em arqueologia, as quais aumentam
a credibilidade de uma inferência. Com base nas propostas dos autores, podemos enumerar os
seguintes procedimentos para a realização dos experimentos:

1) Adquirir um nível mínimo de experiência na realização da atividade antes de realizá-la


enquanto um experimento sistemático;
2) Delinear o escopo do experimento antes do iniciá-lo, caso contrário ele sequer poderá ser
considerado um experimento replicante, mas apenas uma tentativa genérica de realizar
uma atividade que não possuirá qualquer expectativa sobre seu resultado e que servirá
apenas para atingir o objetivo do procedimento anterior;
3) Escolher matérias primas que estavam (ou poderiam estar) disponíveis no contexto
original que está sendo estudado, uma vez que os materiais utilizados podem limitar o
número de possíveis métodos e técnicas de produção dos artefatos;
4) Aplicar o maior número de conjuntos de métodos e técnicas alternativos possíveis, de
modo que seja possível eliminar os conjuntos que não respondem como esperado e
acrescentar outros que podem chegar a resultados similares;
5) Evitar subestimar e superestimar as capacidades das sociedades antigas na realização das
atividades a serem replicadas, uma vez que elas não dispunham do mesmo conhecimento
tecnológico que possuímos atualmente, assim como podemos estar cegos aos
conhecimentos tecnológicos destas sociedades devido à falta de um registro arqueológico
mais acurado (ou preservado);

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6) Evitar ao máximo o uso de artefatos modernos na realização da replicação, considerando


que as sociedades estudadas não dispunham dos mesmos;
7) Realizar o mesmo experimento repetitivamente quantas vezes for possível, pois uma
tentativa falha pode ser resultante de falta de experiência, problemas naturais dos
materiais (um exemplo no caso dos líticos: fraturas internas e intrusões em rochas);
8) Buscar evidências corroborativas em resultados de análises tecnológicas, uma vez que
elas irão sugerir que as operações realizadas pelo experimentador podem ter sido as
mesmas realizadas no passado.

Seguindo estes procedimentos, arqueólogos e arqueólogas poderão ser capazes de testar


hipóteses sobre as possibilidades de realizações das atividades por grupos humanos do passado
através de replicação. Mas é importante notar que, assim como Coles (1967) já havia notado,
diferente do que acontece nas ciências não-históricas, os eventos que nós, arqueólogos e
arqueólogas, observamos já aconteceram e não podem ser tão precisamente e acuradamente
mensurados e replicados. O que fazemos é testar as nossas hipóteses com relação à produção e à
utilização dos produtos arqueológicos sem necessariamente provar algo, mas validando
possibilidades.

Ainda que os lascadores dos dias atuais sejam capazes de replicar diversos tipos de
artefatos líticos, a partir de diversas tecnologias - principalmente os arqueólogos especializados
em indústrias líticas que possuem uma ampla gama de conhecimento sobre métodos e técnicas
aplicados e materiais utilizados no passado ao redor do mundo – ainda há um ponto fraco na
interpretação dos resultados: é pouco provável que os lascadores modernos possuam a mesma
vivência, experiência e intimidade com esses materiais dos grupos humanos que passaram toda
uma vida em contato com os mesmos e fazendo parte de uma tradição tecnológica que pode ter
durado desde décadas até milênios. Coles (1967) já observava que o experimentador está inserido
num contexto cultural diferente, e não se pode esperar que ele reproduza fielmente a mentalidade
ou o “cenário espiritual” das atividades realizadas. Portanto, cabe ao experimentador neutralizar,
na medida do possível, as influências modernas na realização do experimento.

A arqueologia experimental, como Coles (1967) observa muito bem, tem uma grande
importância na interpretação do registro arqueológico e, ainda que não seja necessário para que
todos os arqueólogos e arqueólogas dominem todos os detalhes dos processos científicos
envolvidos nela, é necessário que os profissionais da área entendam seus objetivos,
potencialidades e limitações. Dessa forma, é possível que os profissionais não especializados
nesta área possam discutir os resultados dos experimentos.

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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Ao tratar dos estudos líticos, Crabtree (1976) aponta a experimentação como uma
abordagem que permite ao pesquisador estudar uma variedade ilimitada de métodos e técnicas de
produção dos artefatos ao longo do tempo, além de auxiliar na identificação de padrões
consistentes e diversidades tecnológicas distribuídas geograficamente, assim como na
identificação de produtos do lascamento natural e intencionalmente feito por humanos. O autor
ainda observa muito bem que o aprendizado voltado ao lascamento consome muito tempo, e não
há atalhos. A minha experiência pessoal tem comprovado isso. É necessário planejamento para
cada lasca a ser produzida; é necessário prática para atingir um bom nível de habilidade técnica
relacionada à força (massa vezes aceleração) do percutor sobre o bloco lítico, ao volume e
densidade do percutor para cada lasca; é necessário prática para saber quando aplicar percussão
ou pressão, quais técnicas são mais eficazes para suportar a matriz de lascamento, quais técnicas
são mais eficazes para cada matéria prima, como evitar ferimentos e lesões durante qualquer
momento do processo, além de ser necessário dispensar um bom tempo observando as feições das
lascas e dos artefatos na aplicação de cada método e técnica.

O lascamento experimental não se limita à sua capacidade de testar hipóteses sobre os


métodos e técnicas que permitem a replicação de determinados artefatos arqueológicos a partir
das mesmas matérias primas. Ela também nos permite testar hipóteses sobre as possibilidades de
produzir uma variedade alternativa de artefatos que podem ser tão eficazes quanto, ou talvez mais
eficazes, no atendimento de necessidades funcionais. Tixier (2012) aponta o quanto arqueólogos
e arqueólogas podem se surpreender com os resultados de experimentos sobre determinadas
matérias primas as quais eram utilizadas para a produção de uma variedade limitada de artefatos.
Temos de concordar com o autor quando ele afirma que nunca podemos inferir que a variabilidade
artefatual e tecnológica é limitada por causa das características impeditivas da matéria prima.
Afinal, não podemos subestimar a potencialidade de aplicação de uma variedade maior de
métodos e técnicas sobre as matérias primas, quaisquer que sejam. Os experimentos sempre serão
necessários para realizar inferências deste tipo.

O lascamento experimental pode tornar possível uma elucidação muito maior em relação
ao estudo das feições tecnológicas dos vestígios líticos. Neste caso, estamos falando não só de um
lascamento genérico experimental, mas de uma tecnologia lítica experimental (Nami 2018). A
observação destas feições nos permite identificar ações de lascamento, possibilitando até
inferências sobre a etapa da cadeia operatória da qual um dado vestígio lítico é proveniente.

3.5. A história de um artefato é uma cadeia operatória


Mauss (1936) foi um dos autores mais influentes do início do século 20 e seu discurso
sobre as técnicas do corpo foi uma influência direta para o surgimento do conceito de “cadeia

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

operatória”, ainda que não usasse esse termo, pois já tratava de discutir as atividades realizadas
pelas pessoas e das técnicas aplicadas em diferentes operações. A sua influência é claramente
observada nas obras de Leroi-Gourhan (1943, 1945); Maget (1953), Lemonnier (1986, 1993) e
Dobres (1999). Mas o termo cadeia operatória veio a ser utilizado pela primeira vez apenas nos
anos de 1960 quando, pela primeira vez, este conceito foi relacionado à arqueologia por Leroi-
Gourhan (1964, 1965). No entanto, uma definição do conceito ainda não havia sido fornecida, de
modo que Leroi-Gourhan apenas deixou subentendido, ao longo de suas obras, que o termo cadeia
operatória estaria relacionado às operações técnicas de uma atividade, como a produção de
artefatos líticos e cerâmicos, por exemplo. Cresswell (1976: 26 – minha tradução) foi o primeiro
a propor uma definição, considerando cadeia operatória como “uma série de operações que
transformam uma matéria prima em um produto, seja ele objeto de consumo ou utilitário”. Esta
definição foi aceita por diversos autores franceses até o final do século 20. Ainda que o termo
cadeia operatória fosse usado de uma forma quase restrita pela academia francesa, a ideia por
trás deste conceito não era novidade na escola estadunidense de arqueologia processual da década
de 1970. Alguns autores já debatiam o assunto se referindo a ele como “sistema cultural” ou,
talvez por falta de um termo mais inteligível, a “história de vida” dos artefatos (ver: Schiffer 1972;
Collins 1975; Hassan 1976; Wheat 1976; Schiffer & Skibo 1997; para exemplos). Foi na década
de 1990 que o conceito de cadeia operatória ganhou mais atenção fora do contexto francês graças
à publicação de um compilado de artigos organizado por Balfet (1991), onde ela mesma denota a
importância de entender que uma produção é organizada numa série de etapas e operações
interligadas, indispensáveis e dependentes; de estudar uma cadeia operatória. O conceito foi tão
bem aceito fora do cenário francês que ainda hoje, nos estudos publicados em inglês, o termo é
utilizado na sua forma original em francês: chaîne operatoire.

O conceito já estava definido, mais ainda eram discutidos os limites da cadeia operatória
(Balfet 1991; Desrosiers 1991). Onde ou quando ela começa? E quando termina? Para Hassan
(1976) a “história de vida” dos artefatos começa com a seleção da matéria prima. Para Pelegrin
(1997) ela tem sua gênese antes disso, no esquema mental idealizado pelo artesão a partir de
conhecimentos técnicos aprendidos pelas tradições culturais. Para Tixier (2012), a cadeia
operatória começa junto com os problemas fundamentais de um indivíduo ou de um grupo. Mas
o autor não propõe um limite final. Por outro lado, Schiffer (1972), Collins (1975), Hassan (1976)
e Schiffer & Skibo (1997) consideraram que a história de “vida” do artefato acaba com o seu
descarte. Mas Schiffer (1987) também considerou que os artefatos, após a sua utilização, podem
ser retrabalhados. Ou seja, podem passar por mudanças que o impedem de se tornar inutilizável,
ou sua transformação em outro material.

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Na arqueologia brasileira, alguns exemplos de artefatos modificados para atenderem


outras funções já foram identificados. Symanski & Osório (1996) identificaram em sítios
históricos da cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, fragmentos de louça histórica que
passaram por etapas de lascamento e polimento a fim de dar-lhes uma forma mais arredondada e
para atenderem novas funções. Um caso similar foi registrado em Belém, Pará, em um sítio
histórico de contexto de senzala no qual fragmentos de vidros foram retocados a fim de tornar os
gumes aptos a atenderem necessidades funcionais (E. Santos Jr. 2017, 2018).

Mas a história dos artefatos arqueológicos, como Holtorf (2002) já sugeriu, não termina
com o descarte, uma vez que o material pode sofrer uma diversidade de processos tafonômicos
antes mesmo de ser encontrado novamente por outro indivíduo em algum momento no futuro e
ser absorvido dentro de outra cultura – como o caso dos artefatos arqueológicos estudados por
arqueólogos. Mas numa abordagem tecnológica a história do artefato se limita dentro da cadeia
operatória arqueológica. A cadeia operatória arqueológica de um artefato é definida pela série
de operações aplicadas na realização de uma atividade que resulta na produção do artefato e na
sua utilização. Em estudos de artefatos arqueológicos é necessário considerar que a cadeia
operatória se refere a todas as atividades realizadas desde o surgimento de necessidades a serem
atendidas até que o artefato seja descartado ou abandonado pelo individuo ou grupo que o
produziu e utilizou. Entre o início e o fim é necessário considerar as etapas de planejamento dos
artefatos que permitirão atender as necessidades daquele indivíduo/grupo, a aquisição de matéria-
prima, as etapas de produção, e a utilização. Também é necessário considerar que, para realização
de todas estas etapas, há aspectos culturais sendo aplicados. Em outras palavras, é durante a cadeia
operatória de artefatos que observamos a aplicação de uma série de conhecimentos socialmente
construídos, possibilitando abordar uma diversidade de processos cognitivos. Sellet (1993) foi o
primeiro a abordar este potencial para estudo dos aspectos cognitivos ao compreender a cadeia
operatória. Moreno de Sousa (2015) também tratou de abordar este mesmo potencial para estudos
cognitivos de cadeias operatórias, mas mais diretamente relacionado às indústrias de artefatos
arqueológicos.

A importância do conceito de cadeia operatória é justificada pela potencialidade de


compreensão da história individual e coletiva dos artefatos e do conhecimento que neles é
aplicado pelo indivíduo/grupo durante este período. O potencial da aplicação deste conceito em
estudos de indústrias líticas é ainda maior, uma vez que os vestígios líticos incluem não apenas
os artefatos, mas também os resíduos de produção dos artefatos provenientes de diferentes etapas.
Logo, o conceito de cadeia operatória considera não apenas o artefato produzido, mas também
todos os demais vestígios passíveis de observação de feições tecnológicas. Para compreender as
diferentes etapas da cadeia operatória em estudos líticos devemos considerar que as inferências

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

sobre o descarte só poderão ser realizadas a partir da identificação e análise dos artefatos
arqueológicos in situ. Já as etapas de aquisição e transporte de matéria-prima, de produção e de
utilização podem ser identificadas e analisadas tanto nos artefatos quanto nos resíduos. Com base
no que foi discutido, é sugerido que a cadeia operatória observável de artefatos líticos, ou seja, a
história tecnologicamente observável, seja compreendida em cinco estágios principais:

1. A aquisição da matéria-prima, cujas inferências são baseadas em observações e


quantificações das características naturais de todos os vestígios líticos e em análises
espaciais de fontes naturais próximas ao sítio arqueológico;
2. As etapas de produção (formatação de núcleo, debitagem, façonagem e retoque –
incluindo também qualquer uma dessas etapas aplicadas no reavivamento ou na
modificação do artefato para atender outra função), cujas inferências são baseadas nas
observações e quantificação feitas sobre os resíduos provenientes de cada etapa de
produção e nas marcas residuais de produção existentes nos artefatos e núcleos;
3. A utilização, cujas inferências são baseadas nas observações e quantificações das marcas
de uso nos artefatos, além da identificação de resíduos preservados neles;
4. O descarte, abandono ou perda, cujas inferências são baseadas na observação da
distribuição de todos os vestígios líticos e na quantificação destes, e na localização do
vestígio quando foi arqueologicamente encontrado; e
5. Os processos tafonômicos, cujas inferências são baseadas na observação de alterações
físicas e/ou químicas nos artefatos.

O quarto e quinto estágios, ainda que não forneçam informações tecnológicas, são
estágios de importante consideração, uma vez que podem interferir diretamente nas feições
tecnológicas observáveis.

Um ponto pouco discutido sobre aquisição da matéria prima, ao tratar da cadeia


operatória de uma indústria lítica, é muito bem notado por Falkenström (2006) e por Tixier (2012)
quando notam que, apesar da qualidade da matéria prima poder ser estimada pela experiência de
um lascador, ela nunca pode ser completamente antecipada. Além disso, a disponibilidade natural
das matérias primas limita até algum ponto a possibilidade de métodos e técnicas que podem ser
aplicados na produção de artefatos e, diretamente, limita as categorias de artefatos que podem ser
produzidos através destes mesmos métodos e técnicas. Mas a seleção não está condicionada
apenas à qualidade do material disponível, estando também ligada ao conjunto de métodos e
técnicas de produção conhecidos por um indivíduo ou grupo. Por exemplo, um indivíduo, ou
grupo, habituado a produzir apenas artefatos sobre grandes suportes, como machados de mão,
lesmas ou lâminas, não poderá produzir estes mesmos tipos de artefatos a partir de finas plaquetas

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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ou pequenos cristais. Este indivíduo ou grupo terá de optar entre buscar por uma nova fonte de
matéria prima que possua uma série de feições naturais que permita aplicar sua tecnologia, ou
adaptar um ou mais novos métodos e/ou técnicas, de produção dentro da gama de conhecimentos
tradicionalmente adquiridos em sua sociedade. Neste sentido, uma indústria variante ou até
mesmo uma indústria nova podem ser desenvolvidas, com a possibilidade de dar origem a novas
tradições tecnológicas (Biro et al. 2013), mas é necessário considerar também que a necessidade
não pode ser considerada como o único fator de origem das inovações.

A seleção da matéria prima, além de estar ligada à sua disponibilidade em um


determinado ambiente, e limitada ao conhecimento tecnológico de um indivíduo ou grupo,
também pode estar diretamente ligada a fatores de ordem simbólica de uma sociedade. Um raro
exemplo registrado em território brasileiro por Moreno de Sousa & Araujo (2018) é a indústria
lítica Lagoassantense, no centro leste brasileiro, na qual pequenos cristais de quartzo são quase
que exclusivamente utilizados, mesmo quando outras matérias primas com uma maior qualidade
para lascamento estão disponíveis na mesma região. Essas outras rochas possibilitariam a
produção não só de artefatos idênticos aos que foram identificados, mas também de uma variedade
maior de artefatos, incluindo os artefatos formais registrados em áreas mais ao norte e ao sul da
região. No entanto, o que é observado é uma indústria de artefatos sobre pequenas lascas de
quartzo que raramente passaram por qualquer tipo de modificação, mas que foram obtidas a partir
de um método razoavelmente complexo desenvolvido para obtenção do maior número de lascas
com gume afiados possível a partir de pequenos cristais. Apesar da limitação na aplicação de
métodos e técnicas de produção, assim como na utilização, esta é uma indústria que desenvolveu
uma tradição tecnológica que perdurou por cerca de 10 mil anos no carste da região de Lagoa
Santa, Minas Gerais.

Pode-se concluir que a seleção das matérias primas é determinante para uma sociedade,
pois pode condicionar todo o desenvolvimento de uma indústria e seus produtos, afetando, em
algum nível, o modo como uma sociedade lida com as tarefas cotidianas nas quais estes produtos
são necessários. Mas para que inferências sobre a seleção de matéria prima possam ser realizadas,
é estritamente necessário que existam dados sobre as fontes de matéria prima. Falkenström (2006)
também observou que se essas fontes são encontradas, elas oferecem muitas perspectivas em
relação à tecnologia, organização social e percepção da paisagem. Há uma variedade de fatores a
ser pensada e levada em consideração para justificar a seleção de determinadas matérias primas
por grupos humanos. Mas estes fatores só podem ser levantados quando a fonte do material é
conhecida.

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Iremos considerar quatro categorias para diferenciar as etapas de produção de artefatos.


São elas a formatação de núcleo, a debitagem, a façonagem e o retoque. Estas etapas não são
observadas, necessariamente, em todos os artefatos líticos. De fato, um artefato pode nem sequer
ser modificado de sua forma natural, mas apenas se tratar de um objeto que foi apropriado graças
a sua estrutura e volume para ser utilizado para um fim – como uma pedra arredondada usada
como percutor.

Assim como a aquisição de matéria prima, a formatação de núcleo também é uma etapa
da cadeia operatória de diversas indústrias líticas que não é muito discutida nos estudos líticos e,
portanto, não existe uma definição concreta sobre o termo. Portanto, vamos passar a definir a
formatação de núcleo como o processo de modificações realizadas em um bloco de matéria prima
para obtenção de feições específicas de estrutura e volume para uma debitagem predeterminada.

Vamos considerar como debitagem a definição de Pelegrin (1988): a etapa de produção


de suportes através do lascamento, ou seja, produção de lascas com estrutura, forma e volume
que servirão como matriz dos futuros instrumentos. A debitagem pode ser feita através da simples
retirada de lascas a partir blocos não formatados, ou a partir de núcleos formatados para
apresentarem feições de estrutura e volume específicos de um dado método (por exemplo: método
laminar, método de planos opostos, método piramidal, método discoide, método levallois, etc.).

Pelegrin (1988) também fornece uma definição para façonagem, sendo esta a etapa de
lascamento de um bloco ou fragmento de rocha por lascamentos sucessivos a fim de obter um
instrumento ou uma pré-forma. No entanto, o conceito de façonagem já possui um problema de
consenso, uma vez que alguns autores, principalmente fora da escola francesa, também utilizam
(de forma confusa) os termos redução, formatação, ou até mesmo retoque para tratar da
façonagem (ver: Andrefsky 1998, Kooyman 2000 e Odell 2004, para exemplos). O problema do
termo redução é que ele pode ser aplicado a qualquer etapa, uma vez que a produção de artefatos
líticos é realizada sempre com a redução do volume do bloco original, seja por lascamento ou
polimento. O termo formatação pode ser aplicado tanto para a formatação do núcleo quanto do
artefato, mas é sugerida a utilização deste termo apenas para fazer referência aos núcleos,
enquanto o termo façonagem para se referir aos artefatos, considerando assim o uso do termo
façonagem por demais pesquisadores brasileiros e evitando confusão terminológica.

Já o retoque se trata de outra etapa, a qual consiste apenas na modificação da região do


gume, ou seja, da área do artefato que entra em contato direto com outra matéria durante o uso.
Inizan et al. (1995) relacionam o termo retoque à etapa final de produção dos artefatos, mas sem

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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dar uma definição de fato. O retoque consiste na produção de um ou mais gumes ativos com
características específicas de ângulo e contorno para atender uma necessidade funcional.

A importância da categorização destas etapas se dá pela possibilidade da aplicação de


métodos de análise das feições tecnológicas dos resíduos, da identificação das etapas das quais
são provenientes e da identificação de tendências tecnológicas nas mesmas etapas em diferentes
coleções arqueológicas. O conceito de cadeia operatória também fornece aos estudos tecnológicos
de indústrias líticas a possibilidade de identificar os métodos e técnicas aplicadas na produção de
artefatos a partir de métodos de observação das feições tecnológicas nos próprios artefatos, além
de outras feições que permitirão identificar funcionamento, funcionalidade, e características de
ordem simbólica (quando for o caso) adotadas pelos grupos humanos estudados.

No caso dos artefatos líticos, seus vestígios podem indicar que, após uma fratura da peça
ou simples desgaste do gume, este artefato passa por novas etapas de retoque e/ou até mesmo de
façonagem, modificando mais uma vez a estrutura e o volume.

Este modelo de aplicação do conceito de cadeia operatória na tecnologia tem sido muito
bem-sucedido. E os estudos realizados a partir do século 21 na arqueologia brasileira são uma
prova disso (ver: Fogaça 2001, 2010; Hoeltz 2005, P. Mello 2005; Silva, R. 2005; Viana 2005,
Rodet 2006, 2009; Bueno & Pereira 2007, Fagundes 2007; A. Mello et al. 2007; Medeiros 2008,
Lourdeau 2010, Silva, T. 2011, 2012; Duarte-Talim 2012; Rodet et al. 2013; Moreno de Sousa
2014; Galhardo et al. 2015; Moreno de Sousa & Araujo 2018; para exemplos). Mas apenas alguns
destes trabalhos usaram este modelo de estudo para tratar, especificamente, das indústrias líticas
mais antigas registradas na arqueologia brasileira. De fato, estas indústrias foram identificadas e
associadas a determinadas culturas arqueológicas a partir de outras abordagens.

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

4.
AS INDÚTRIAS LÍTICAS PALEOÍNDIAS DO BRASIL E O
MODELO UMBU

4.1. Paleoíndio é, ao mesmo tempo, um período e uma diversidade de


povos
O período Paleoíndio contempla desde as primeiras ocupações humanas do continente
americano até o momento em que estas primeiras sociedades desapareceram, ou até o momento
em que estes mesmos grupos humanos são substituídos por novas populações, ou até o momento
em que tais culturas arqueológicas sofrem mudanças suficientes para serem caracterizadas como
uma nova cultura arqueológica. A origem do termo “paleoíndio” é da década de 1940, a partir dos
trabalhos de Roberts Jr. (1940, 1943), no quais ele uniu os termos “paleo” e “indian” para se
referir aos “índios mais antigos”, formando a palavra paleo-indian – ou, paleo-índio, em
português. Wormington (1957) redefiniu o termo para se referir aos “mais antigos habitantes” do
continente. Frison (1991) popularizou a nova versão sem hífen do termo: paleoindian – ou,
paleoíndio, em português.

Na arqueologia brasileira, o termo paleoíndio tem sido utilizado praticamente da mesma


maneira. Chamamos de paleoíndios os primeiros grupos humanos a colonizar a América. No
Brasil, as evidências arqueológicas para a presença humana de paleoíndios são, em sua maioria,
datadas entre cerca de 13 mil anos até 8 mil anos atrás – período este no qual o território sul
americano passou a ser densamente povoado pela primeira vez. Dezenas de sítios arqueológicos
deste período são conhecidos no Brasil (ver: Bueno et al. 2013; Araujo 2015, para uma
compilação). No entanto, o termo paleoíndio tem sido usado também, mesmo que de modo
informal entre arqueólogos brasileiros, para se referir aos poucos grupos humanos que chegaram
ao continente antes mesmo deste período (ver: Delibrias et al. 1988; Parenti 1993, 2001, 2014,
2015; G. Santos et al. 2003; Vilhena-Vialou 2011; Aimola et al. 2014; Boëda et al. 2014, 2016;
Lahaye et al. 2013, 2015; Vialou et al. 2017; para exemplos de sítios paleoíndios mais antigos
que 14 mil anos no Brasil).

Já para se referir às culturas arqueológicas mais recentes do continente americano,


caracterizadas pelo uso da cerâmica e pela horticultura, incluindo as sociedades indígenas ainda
existentes, o termo ameríndio é sugerido. Este termo já vinha sendo usado por arqueólogos
brasileiros (ver: Gomes 2012; Gonçalves et al. 2013; para exemplos) para se referir a quaisquer
grupos humanos nativos do continente; enquanto Neves et al. (2005, 2007) relacionaram o termo
aos grupos humanos que apresentam crânios de morfologia “mongoloide” (asiática).

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Por um lado, o termo “ameríndio” pode ser usado para se referir a um conjunto bem
delimitado cronologicamente de culturas arqueológicas, considerando que o uso de cerâmica e as
atividades horticultoras só vieram a se difundir na América do Sul durante o Holoceno Tardio,
ainda que sua origem esteja no Holoceno Médio (Roosevelt 1996). O termo paleoíndio, por outro
lado, trata de um período muito mais longo, e que poderia muito bem ser dividido entre um mais
antigo e um mais recente. Para uma melhor caracterização do período e dos grupos culturais que
serão tratados nesta tese, definiremos a cronologia da história pré-colonial das Américas da
seguinte maneira: “Paleoíndio Anterior” se refere ao período das primeiras ocupações no
continente americano, caracterizadas por uma escassez de sítios arqueológicos e com indústrias
líticas inicialmente mais simples encontradas desde o norte até o sul do continente (ver: Adovasio
et al. 1990; Parenti 2001; Waters et al. 2011; Lahaye et al. 2013; Aimola et al. 2014; Dillehay
2015; Boëda et al. 2014, 2015; Vialou et al. 2017; para exemplos) até o surgimento das primeiras
indústrias complexas há cerca de 20 mil anos atrás na América do Norte (ver: Stanford & Bradley
2012; Collins et al. 2013; Oppenheimer et al. 2014; Stanford et al. 2014; Bradley & Spiess 2017;
Williams et al. 2018; Waters et al. 2018; para exemplos); “Paleoíndio Posterior” se refere ao
período que se inicia há aproximadamente 20 mil anos, e é caracterizado por um número massivo
de sítios arqueológicos no continente a partir de 14 mil anos, ocupações mais intensas, e por
indústrias líticas bastante padronizadas que definem distintas culturas arqueológicas;
“Ameríndio” se refere ao período entre a origem da cerâmica e a chegada dos Europeus no final
do século 15.

Em meio às culturas paleoíndias e ameríndias, também estão as culturas arqueológicas


costeiras que foram responsáveis pela construção de sítios conhecidos como sambaquis. Tratam-
se de culturas arqueológicas que construíram montículos conchíferos no litoral e em algumas
áreas do interior próximos a rios (mas raramente muito distante da costa). Os sambaquis mais
antigos são contemporâneos das culturas paleoíndias, datando do Holoceno Inicial (veja:
Emperaire & Laming 1956; Kneip 1981; T. Lima et al. 2003; Figuti 2004; Neves et al. 2005;
Calippo 2004), mas grande maioria do sítios registrados datam do Holoceno Médio e Recente (T.
Lima 2000; Gaspar et al. 2008). Mas ainda não está muito claro se existem mais sítios datados do
Holoceno Inicial que possam estar submersos devido ao aumento do nível do mar durante o
Holoceno. E também não está claro se há ou não uma homogeneidade cultural tecnologicamente
identificável nas indústrias óssea e lítica dos sítios costeiros, uma vez que as pesquisas já
realizadas sobre estes sítios e coleções não costumam focar nestas indústrias e sua tecnologia.
Apesar disso, estas culturas costeiras são bem distintas das culturas paleoíndias e ameríndias, dada
a indústria lítica aparentemente pouco complexa (veja: Prous 1977, 1992; Bryan 1993; para
exemplos), a presença de zoólitos, uma indústria óssea mais expressiva, uma dieta muito mais

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

voltada à pesca do que as culturas do interior e a ausência de indústrias cerâmicas até pouco antes
do seu desaparecimento (ver: T. Lima 2000; Gaspar et al. 2008 para uma discussão mais
aprofundada sobre o assunto). Portanto, consideramos como o Período Costeiro o período
delimitado culturalmente pela presença de sítios com estruturas de montículos, como sambaquis,
em áreas litorâneas ou relativamente próximas à costa do leste sul-americano, que possui uma
indústria lítica pouco expressiva e a ausência de indústria cerâmica (exceto nos níveis mais
recentes em alguns casos).

A figura 4.1 apresenta uma proposta inicial para delimitação dos períodos culturais pré-
históricos do atual território brasileiro.

Figura 4.1 – Proposta de modelo para delimitação dos períodos culturais pré-históricos do território brasileiro.

4.2. Introdução ao Paleoíndio Posterior brasileiro


No território que atualmente conhecemos como Brasil, alguns sítios paleoíndios possuem
evidências de ocupação contínua durante o Holoceno Inicial até o Holoceno Médio (ver: Schmitz
et al. 1989, 2004; Fogaça 2001; Lourdeau 2010; Moreno de Sousa 2014, 2016a, 2016b; Ramos
2016; esta tese; para exemplos), e em alguns poucos casos, até o Holoceno final (ver: Mentz
Ribeiro & Ribeiro 1999; Moreno de Sousa 2014; Okumura & Araujo 2014; Araujo et al. 2018;
Moreno de Sousa & Araujo 2018; esta tese; para exemplos).

Até o presente momento, ao menos três distintas culturas arqueológicas do Paleoíndio


Posterior já foram identificadas em território brasileiro (figuras 4.2, 4.3), mas é muito provável
que outras sejam identificadas nos anos a seguir, e até mesmo as atualmente conhecidas devem
ser redefinidas a partir de novas pesquisas – como é o caso desta pesquisa. Grosso modo, podemos
resumir essas três culturas arqueológicas em uma que ocupa desde o Nordeste até o Centro-Oeste

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do Brasil e que se destaca pela grande presença de raspadores unifaciais conhecidos como
“lesmas”; uma que ocupa o Sudeste e Sul que se destaca pela grande presença de pontas
pedunculadas; e uma terceira cultura arqueológica, recém-definida, no centro do estado de Minas
Gerais que se destaca pelo uso de pequenas lascas de cristal de quartzo e pela mais antiga
produção de lâminas de machado polido no continente americano.

Figura 4.2 – Área aproximada de abrangência das culturas arqueológicas anteriormente definidas pela
literatura brasileira para o período Paleoíndio Posterior na América do Sul.

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Pouquíssimos sítios paleoíndios no território amazônico foram identificados e estudados


até o momento. As raras pesquisas de sítios arqueológicos tão antigos na Amazônia (Roosevelt et
al. 1996, 2002; Sevillano 1997; Magalhães 2005; Kipnis et al. 2005; Caldarelli et al. 2005; F.
Costa 2009) nunca chegaram a tratar da tecnologia das indústrias líticas de forma tão detalhada,
de modo que os dados ainda são insuficientes para uma comparação com outras indústrias líticas
paleoíndias. É possível que uma ou mais culturas paleoíndias, diferentes das já conhecidas em
outras partes do Brasil, sejam identificadas na Amazônia nos anos que estão por vir, assim como
outras culturas paleoíndias ainda não conhecidas venham a ser identificadas.

Figura 4.3 – Delimitação cronológica das culturas arqueológicas anteriormente definidas para o proposto
período Paleoíndio Posterior (barras pretas) no território brasileiro.

4.3. Uma tecnologia lítica espalhada por todo o cerrado brasileiro e


além: a Indústria Itaparica
Dentre as culturas paleoíndias já bem conhecidas em território brasileiro está aquela
conhecida como Tradição Itaparica. Ela foi definida a partir das pesquisas de Pedro Ignácio
Schmitz entre os anos 1970 e 1980 realizados na região arqueológica de Serranópolis (Schmitz
1980; Schmitz et al. 1989, 2004). Ainda que suas pesquisas não fizessem uma análise tecnológica
sistemática sobre os artefatos líticos, os autores foram capazes de identificar uma semelhança
entre as coleções arqueológicas de Serranópolis e do sítio Gruta do Padre, localizado na região de
Itaparica, em Pernambuco, anteriormente estudado por Calderón de la Vara (1969, 1973). Ambas
as coleções possuem dezenas de raspadores unifaciais plano-convexos com formas e contornos
similares. Schmitz, assim como diversos pesquisadores da década de 1970, seguia a mesma escola

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

teórico-metodológica do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA 1970),


apoiados sobre, principalmente, uma perspectiva histórico-cultural. Esses pesquisadores
acabaram associando diversos sítios à Tradição Itaparica (ver: Schmitz 1980; Calderón de la Vara
1983; Martin et al. 1986; Hurt 1989; Schmitz et al. 1989, 2004; Martin & Rocha 1990; Macedo
Neto 1996; para exemplo). Seriam sítios localizados em áreas de cerrado, no Planalto Central
Brasileiro e em áreas adjacentes do Nordeste do país, que apresentam uma abundância de
raspadores unifaciais plano-convexos, os quais viriam a ser conhecidos posteriormente como
lesmas.

A Tradição Itaparica passou a ser questionada a partir dos anos 2000, devido a uma
aparente diferença entre os artefatos de diferentes sítios associadas à mesma cultura arqueológica
(ver: Prous 2000; Fogaça 2001; Rodet 2006; Bueno 2007; Rodet et al. 2007, 2011; Isnardis 2009;
para exemplos). Para Rodet et al. (2011) o conceito de Tradição Itaparica homogeneíza as
indústrias a ela associadas simplificando sua variabilidade, de modo que uma comparação mais
plausível seria realizada a partir de descrições tecnológicas.

No entanto, recentemente, Lourdeau (2010), testando a hipótese da existência de uma


mesma tecnologia nas coleções líticas associadas à Tradição Itaparica a partir de uma abordagem
“tecnofuncional” e aplicando o conceito de cadeia operatória, confirmou a similaridade de
algumas destas coleções, se referindo a elas como “Tecnocomplexo Itaparica”. De acordo com
Lourdeau, estas cadeias operatórias de produção das lesmas da Tradição Itaparica são similares.
O autor chegou a esta conclusão ao estudar uma coleção arqueológica da região de Serranópolis
(sítio Diogo Lemes, ou GO-JA-01), no estado de Goiás, e de coleções da Serra da Capivara (sítios
Boqueirão da Pedra Furada e Toca do Pica-Pau), no estado do Piauí. A pesquisa de Moreno de
Sousa (2014, 2016a) também verificou este padrão, e ampliou a compreensão destas cadeias-
operatórias focando sua análise nos resíduos de lascamento, e não apenas nos instrumentos, tendo
usado mais um sítio arqueológico de Serranópolis (o sítio Gruta das Araras, ou GO-JA-03), em
seu estudo.

Apesar de a maioria dos sítios associados à Tradição Itaparica estarem localizados em


uma determinada área geográfica (figura 4.2), lesmas também já foram encontradas na região de
Lagoa Santa, em Minas Gerais (Angeles Flores et al. 2016; Moreno de Sousa & Araujo 2018), e
em sítios com presença de pontas bifaciais localizados na Amazônia (Roosevelt et al. 1996; F.
Costa 2009) e no interior paulista (Galhardo 2016; Araujo & Correia 2016; Troncoso et al. 2016;
mas veja também as coleções analisadas nesta tese).

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

4.4. Mais do que apenas uma indústria lítica: a cultura arqueológica


Lagoassantense
Ainda que a região de Lagoa Santa, em Minas Gerais, seja estudada desde o século 19
(ver: Da Gloria et al. 2016, 2017; para um histórico completo), a indústria lítica Lagoassantense
começou a ser definida apenas no século 21 graças às caracterizações tecnológicas nos estudos
de Pugliese Jr. (2007), Araujo & Pugliese Jr. (2010); Bueno (2010, 2012), Moreno de Sousa
(2014) e Moreno de Sousa & Araujo (2018). Alguns autores como Araujo et al. (2018) também
associam uma região maior, que vai do centro de Minas Gerais até o centro da Bahia à indústria
Lagoassantense devido a uma aparente similaridade da produção de lascas sobre cristais de
quartzo, mas que ainda precisa ser verificada. Moreno de Sousa & Araujo (2018) definem a
indústria Lagoassantense como uma indústria microlítica 4 baseada na debitagem de pequenos
nódulos de sílex e cristais de quartzo e na aplicação eventual de técnicas de polimento sobre
rochas ígneas para a produção de lâminas de machado. Ainda segundo os autores, esta indústria
não possui qualquer evidência direta da relação com qualquer outra indústria paleoíndia brasileira.

A cultura arqueológica Lagoassantense foi assim denominada em relação à localização


da maioria dos sítios associados a ela: dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) Carste de
Lagoa Santa, nas proximidades do município de Lagoa Santa, Minas Gerais. Diferente do que
ocorreu com as Tradições Umbu e Itaparica, a cultura arqueológica Lagoassantense não foi
estudada, identificada ou definida por pesquisadores que seguiam a abordagem do PRONAPA e
perspectivas histórico-culturais. Além disso, a cultura Lagoassantense não foi identificada apenas
pelas tendências tecnológicas da indústria lítica, mas por padrões que vêm sendo identificados em
todas as classes de vestígios arqueológicos, tais como os restos de alimentação, os enterramentos
humanos, e até mesmo a formação dos sítios (ver: Araujo et al. 2012, 2018; Strauss et al. 2016;
Mingatos & Okumura 2016; Mingatos 2017; Da Gloria et al. 2016, 2017; Moreno de Sousa 2014,
Araujo et al. 2018; Moreno de Sousa & Araujo 2018).

Mas foi a partir dos resultados da análise de todas as classes de vestígios líticos de um
sítio modelo da microrregião (sítio Lapa do Santo) e dos artefatos líticos de outros sítios (Lapa
das Boleiras e Lapa Grande de Taquaraçu), que Moreno de Sousa (2014) e Moreno de Sousa &
Araujo (2018) definiram a Indústria Lítica Lagoassantense, confirmando a presença de uma
cultura paleoíndia singular uma área geográfica localizada entre as áreas geográficas de maior
densidade de sítios associados à Tradição Itaparica ao norte e à Tradição Umbu ao sul. A região

4Considerando aqui o termo “microlítico” para se referir a qualquer instrumento lítico que possua menos
de 30 mm, não necessariamente produzido por debitagem laminar. Mas veja Burdukiewicz (2005) para
um histórico sobre o uso do termo e da definição aqui adotada.

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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de Lagoa Santa, ainda que seja apontada como uma área de potencial contato entre as duas
indústrias mencionadas (Bueno 2010, 2012; Bueno & Isnardis 2016, 2017), vestígios associados
a elas são raríssimos na região, e parecem ser ainda mais antigos do que a ocupação
Lagoassantense (ver: Angeles Flores et al. 2016; Moreno de Sousa & Araujo 2018; para mais
detalhes).

A indústria Lagoassantense difere da Itaparica e da Umbu, primeiramente, pela ausência


de pontas bifaciais ou lesmas devidamente contextualizadas. Quando estes mesmos artefatos
formais são encontrados, eles não estão associados aos níveis repletos de vestígios tipicamente
Lagoassantenses. Com relação aos típicos vestígios a indústria Lagoassantense, os poucos núcleos
já identificados parecem seguir um método sistemático de aproveitamento dos cristais de quartzo,
enquanto as lascas provenientes destes núcleos raramente apresentam alguma façonagem, sendo
na maioria apenas alguns retoques não padronizados. Outro fator singular na indústria
Lagoassantense é a baixa, porém marcante, presença de lâminas de machado polido, sendo talvez
a única indústria paleoíndia já conhecida com presença de machados polidos.

4.5. Uma variedade de pontas bifaciais pedunculadas: A Tradição


Umbu
Em toda região Sul do Brasil e em suas áreas vizinhas vários sítios arqueológicos com
presença de pontas bifaciais pedunculadas têm sido identificados desde a segunda metade do
século 20. A grande frequência dessas pontas, principalmente em sítios datados do Holoceno
Inicial, chamou a atenção de pesquisadores vinculados ou formados pelo PRONAPA desde a
década de 1960. Já sabemos que esses pesquisadores notaram que o Planalto Central Brasileiro,
a região Nordeste, e áreas adjacentes de Minas Gerais estavam repletas de sítios arqueológicos
com a frequente presença de lesmas e identificaram esse conjunto cultural como uma unidade
cultural, cujo nome dado foi “Tradição Itaparica”.

Essa mesma lógica veio a ser aplicada para a região Sul do Brasil e áreas adjacentes, de
maneira que todos os sítios com presença de pontas bifaciais pedunculadas, independentemente
de suas feições morfológicas ou tecnológicas, foram categorizados dentro de uma mesma unidade
cultural que veio a ser conhecida como Tradição Umbu.

A Tradição Umbu passou a ser definida a partir das pesquisas das décadas de 1960 e 1970
realizadas por Eurico Miller no Vale do Rio dos Sinos, na Serra do Umbu e na região de Maquiné
(E. Miller 1967, 1969a, 1974, 1976). Suas pesquisas resultaram na criação de três culturas
arqueológicas similares, as quais poderiam estar associadas à mesma “tradição arqueológica”: a
Fase Camuri, a Fase Umbu e a Fase Itapuí. A Fase Camurí foi associada a sítios a céu aberto,

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enquanto as outras duas fases foram associadas a abrigos, sendo a Umbu a mais antiga (em torno
de 6 mil e 4 mil anos) e Itapuí a mais recente (entre 4 mil e 1 mil anos). No entanto, os tipos de
pontas bifaciais pedunculadas, que deveriam ser utilizadas como marcadores para associação dos
sítios às respectivas fases, não seguiram critérios bem definidos. Posteriormente vários autores
realizaram tentativas de criar novas “tradições” e “fases” arqueológicas para associar os sítios
com pontas pedunculadas no sul do Brasil, mas sem necessariamente seguir qualquer padrão
tipológico ou tecnológico que pudesse ser identificado, como por exemplo: as fases Iguaçu e
Potinga (Chmyz 1969), a Tradição Bituruna (Chmyz 1981), a Fase Itaió (Piazza 1974), a Fase
Vinitu (Kern, 1981: 215-220; Schmitz 1984: 12-14; 1991), a fase Itaguajé (Chmyz & Chmyz
1986), a Fase Capivara (Schmitz, 1991), entre outras. Já outros autores associavam qualquer sítio
com presença de pontas à Tradição Umbu (ver: Mentz Ribeiro et al., 1989; Mentz Ribeiro &
Ribeiro, 1999; para exemplos). Posteriormente, devido à dificuldade de entender e relacionar esta
miríade de unidades culturais, todas elas foram agregadas à Tradição Umbu (Prous 1991, Noelli
2000).

No Estado de São Paulo, até mesmo as pontas na região central que foram originalmente
associadas à Tradição Rio Claro (T. Miller Jr. 1969, 1972) foram posteriormente associadas à
Tradição Umbu (Prous 1991: 154). O sítio Capelinha, no Vale do Ribeira de Iguape, por
apresentar pontas pedunculadas, também foi associado à Tradição Umbu (A. Lima, 2005; C.
Alves 2008; Figuti & Plens 2014), assim como o sítio Santa Cruz, na região central (Pardi et al.
2004), e o sítio Carcará na região leste (Juliani, 2012). Até mesmo sítios mais distantes localizados
em Minas Gerais (Koole, 2007; 2014) e no Mato Grosso do Sul (Kashimoto & Martins 2009a,
2009b; Martins & Kashimoto, 2012) foram associados. A tradição Umbu compreenderia toda a
região brasileira mencionada, assim como também toda a área do Uruguai e as porções mais
próximas do Paraguai e Argentina (Noelli 2000, Araujo 2015).

De acordo com Dias (2007: 33), a perspectiva histórico-cultural que definiu a Tradição
Umbu pela primeira vez, pressupunha “uma unidade tecnológica relacionada a sítios líticos que
apresentam em seus conjuntos pontas de projétil elaboradas a partir de lascas retocadas de
forma bifacial”. Nesse caso, a autora usou o termo “retoque” equivocadamente para se referir
também à redução do volume total da peça, e não apenas a modificação dos gumes. Neste caso, a
Tradição Umbu englobaria todos os sítios que apresentassem, em sua coleção, pontas lascadas
bifacialmente.

Este mesmo território ocupado pela Tradição Umbu, de acordo com os seguidores do
PRONAPA, teria sido palco da ocupação de uma segunda cultura arqueológica: a Tradição
Humaitá. No entanto, o trabalho de Dias & Hoeltz (2010) demonstrou que ela não é uma cultura

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
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arqueológica válida. As autoras concluíram que a Tradição Humaitá não possuía uma definição
de fato, sendo que ela se difere da Tradição Umbu, basicamente, pela localização dos sítios em
áreas de mata fechada. De fato, estudos sobre a cultura material de ambas as unidades culturais
nunca revelaram diferenças significantes entre elas, de modo que apenas a Tradição Umbu ainda
é considerada válida na arqueologia brasileira hoje, apesar dos seus reconhecidos problemas.

Desde o início século 21 uma nova geração de pesquisadores, alguns destes questionando
estas tradições arqueológicas, começou a aplicar abordagens tecnológicas para análise de
indústrias líticas no país, principalmente no Planalto Central Brasileiro, na região Nordeste e no
Estado de Minas Gerais. Dentre estes pesquisadores estão Fogaça (2001), P. Mello (2005), Viana
(2005), Rodet (2006), Lourdeau (2010), Duarte-Talim (2012), Machado (2013), Moreno de Sousa
(2014), entre outros. Antes disso, pesquisadores realmente preocupados em entender os aspectos
tecnológicos destas indústrias (veja: Vilhena-Vialou 1980, por exemplo), eram raros. A maioria
dos estudos líticos no Brasil era, e muitos ainda são, focados apenas na mensuração, identificações
das formas e da matéria-prima de lascas e artefatos. Ainda que autointitulados como “análises
tecnológicas”, poucos destes estudos realmente buscaram entender os métodos e técnicas de
produção e utilização dos artefatos líticos.

Também foram poucas as pesquisas neste sentido na área de abrangência da Tradição


Umbu. Dentre estes pesquisadores estão Vilhena-Vialou (1980), Hoeltz (2005), Lourdeau et al.
(2014) e Hoeltz et al. (2015), mas há de se destacar os trabalhos de Dias & Silva (2001), Dias
(2003, 2007, 2012a e 2012b), Dias & Neubauer (2010), Moreno de Sousa (2014, 2017); Carmo
Jr. (2015); Moreno de Sousa & Guimarães (2016) e Bradley & Okumura (2016) e Garcia (2017),
que têm aplicado a abordagem tecnológica mais especificamente em sítios com presença de
pontas bifaciais. No Uruguai, análises tecnológicas têm sido realizadas por Suárez (2006, 2009,
2015a, 2015b, 2017) e Suárez et al. (2018a, 2018b). Mas o foco da arqueologia uruguaia tem sido
principalmente sobre coleta de matéria prima lítica (López Mazz et al. 2009, 2011, 2015; Suárez
2011; Batalla 2013, 2016). Outros autores brasileiros como Hilbert (1994) e Milder (1999, 2000,
2013), ainda que não realizassem análises sobre as coleções associadas à Tradição Umbu,
discutiram a necessidade de uma revisão do conceito sobre esta cultura arqueológica.

Ainda que as pesquisas que considerem apenas formas e medidas das pontas persistam, a
aplicação de métodos mais sistemáticos, como a morfometria geométrica, tem demonstrado que
há diferenças morfológicas regionais nas pontas pedunculadas do Sudeste e Sul do Brasil
(Okumura & Araujo 2013, 2014, 2016, 2017; Araujo & Okumura 2017). Mas mais análises ainda
são necessárias para verificar se esses diferentes padrões também se expressam tecnologicamente
(Bradley & Okumura 2016; Okumura et al. submetido).

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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A insistência na observação de formas e medidas também é recorrente no estudo de um


único tipo morfológico de ponta pedunculada conhecida como “Ponta Fell” ou “Ponta Rabo de
Peixe”. Este tipo de ponta seria identificado pela presença de um corpo com gumes convexos,
aletas arredondadas e um pedúnculo de base côncava. O problema é que esta é uma categoria de
artefatos formais criada com base apenas na sua forma e cujos aspectos tecnológicos não são
levados em consideração (ver: Emperaire et al. 1963; Mayer-Oakes 1963; 1986; Bird 1969, 2005;
Bosch et al. 1980; Dillehay 2000; Miotti & Salemme 2005; Nami 1998, 2003, 2007, 2009, 2010,
2011a; 2011b; 2013; 2014a; 2014b, 2015a, 2015b, 2016; Suárez 2000, 2001, ; Díaz Rodrigues
2008; Castiñera et al. 2009, 2011; Flegenheimer et al. 2010, 2013; Nami & Heusser 2015;
Loponte et al. 2015, 2016; Nami et al. 2018; Weitzel et al. 2018; para exemplos), incluindo os
casos nos quais as publicações sobre tais estudos sejam equivocadamente autorretratadas como
estudos de “tecnologia lítica”. Mesmo que alguns sítios paleoíndios sul-americanos, como os da
Argentina, Chile e Uruguai, tenham uma recorrência das pontas “Rabo de Peixe”, o mesmo não
acontece nos sítios brasileiros. São raros os casos onde há mais de uma ponta seguindo este padrão
morfológico em uma mesma coleção, e sua relação com a “Tradição Umbu” segue
incompreendida (Loponte et al. 2015, 2016). Afinal o padrão entre as “pontas rabo de peixe”
encontradas no Brasil e no Uruguai parece existir apenas na forma, mas nenhum padrão foi
observado tecnologicamente, uma vez que ainda não existem estudos suficientes a respeito que
comparem as pontas classificadas nessa categoria encontradas em diferentes regiões. Mas
sabemos graças a algumas poucas publicações sobre a tecnologia das pontas Fell (Suárez 2009;
Weitzel et al. 2014; Flegenheimer et al. 2015; Flegenheimer & Weitzel 2017) que na maioria dos
casos elas são produzidas bifacialmente e acaneladas, exceto pela versões miniaturizadas, que são
apenas lascas com pouca ou nenhuma façonagem mas com retoques que delineiam o corpo e o
pedúnculo e pela produzidas por façonagem unifacial sem acanaladura identificadas no Uruguai.
Suárez (2015) já identificou ao menos três métodos de produção dessas pontas na América do Sul
e considerou a possibilidade de que algumas destas pontas não sejam pontas de fato, mas facas
bifaciais com gumes opostos e um pedúnculo para encabamento. E identificou também uma
categoria morfológica de ponta pedunculada que denominou “ponta Pay Paso” que apresentaria
corpo triangular, pedúnculo com base côncava e façonagem basal bilateral, e a “ponta Tigre”, que
não possui uma definição clara, sendo escrita como uma ponta de corpo triangular, pedúnculo
convexo e façonagem bifacial (Suárez 2003, 2015; Suárez & Gillam 2008) – sendo estas
características encontradas em diversas pontas encontradas no Brasil. Apesar da definição
proposta por Suárez para as pontas Tigre, elas já eram associadas à “fase” Tigre desde as primeiras
publicações sobre as pesquisas arqueológicas no noroeste do Uruguai (Hilbert 1985). No entanto,
Hilbert (1991) já havia notado que não havia diferenças claras entre as pontas associadas à

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Tradição Umbu e as pontas associadas à fase Tigre, e também pode ser observada a presença de
pedúnculos bifurcados nas pontas da fase Tigre e não apenas convexos.

Já em território brasileiro, nenhuma análise tecnológica verificou se existem diferenças


regionais e cronológicas entre as pontas pedunculadas, sendo toda a variedade morfológica
existente ainda associada pela maioria dos autores como parte da mesma cultura arqueológica
denominada “Tradição Umbu”.

4.6. Uma indústria de pontas que persiste no tempo e espaço? O


Modelo Umbu
O que iremos chamar de Modelo Umbu é justamente o fato de todas estas indústrias de
pontas bifaciais pedunculadas terem sido categorizadas dentro de uma mesma unidade cultural
tendo como base apenas duas características necessárias: [1] A presença de pontas bifaciais
pedunculadas, e [2] estar localizado na região Sul do Brasil ou áreas próximas. A escola
“pronapiana” que definiu estas “tradições arqueológicas” no Brasil levou em consideração apenas
um agrupamento baseado nos materiais formais encontrados sem considerar as feições
tecnológicas de produção ou uso das mesmas e não encontrou padrões tipológicos ou tecnológicos
nos demais tipos de vestígios líticos encontrados no mesmo contexto.

O Modelo Umbu pode ser resolvido a partir da verificação destes dois problemas
principais. O primeiro problema, a associação de sítios cujas coleções possuem pontas
pedunculadas bifacialmente pode ser resolvida a partir da análise tecnológica destas mesmas
pontas e dos demais vestígios líticos das mesmas coleções. Os resultados indicarão similaridades
ou diferenças tecnológicas significantes que [1] poderão corroborar a existência de uma tradição
tecnológica que ocupa esta área geográfica tão extensa ou [2] poderão derrubar a hipótese de uma
homogeneidade cultural observável nas pontas.

O segundo problema, a associação de sítios em uma área geográfica tão grande, é algo
que pode ser resolvido verificando quem foram os autores que realizaram esta associação e quais
sítios foram diretamente associados. Já entendemos que a Tradição Umbu é uma criação moderna
baseada nos estudos de arqueólogos brasileiros que atuaram nas regiões Sudeste e Sul do Brasil.
E se a área de cobertura desta cultura arqueológica compreende também todo o Uruguai e áreas
adjacentes do Paraguai e da Argentina seria esperado que as pesquisas nessa região apontassem
essa associação. No entanto, não é o que tem sido observado. Pesquisadores que atuam nessas
áreas nunca associaram esses sítios arqueológicos à Tradição Umbu. Suárez et al. (2018)
deixaram bem claro que na arqueologia uruguaia não há sequer uma publicação nas últimas duas
décadas que leve em consideração o conceito de Tradição Umbu. Também não são conhecidas

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publicações Argentinas ou Paraguaias levem a Tradição Umbu em consideração. Uma exceção


seria, talvez, López Mazz (2013: 102) o único na arqueologia estrangeira, mais especificamente
uruguaia, a considerar a existência de uma tradição arqueológica que poderia ser denominada
como “Tradição Umbu” ou “Tradição Pampeana”.

Então, a Tradição Umbu ainda é considerada uma cultura arqueológica válida? Ainda que
a discussão sobre o problema da homogeneidade da Tradição Umbu seja frequentemente discutida
durante congressos brasileiros, apenas recentemente esse problema é discutido levando em
consideração a abordagem tecnológica em publicações (ver: Garcia 2017; para um exemplo). Os
trabalhos de Okumura & Araujo (2013, 2014, 2016, 2017) e Araujo & Okumura 2017), ainda que
tenham identificado estabilidades culturais ao longo do tempo em determinadas regiões, vêm
identificando diferenças regionais na morfologia das pontas bifaciais do Sudeste e Sul do Brasil,
contradizendo a existência de uma unidade cultural nesta área tão abrangente. No entanto, poucos
estudos destas indústrias de pontas pedunculadas foram realizados com o objetivo de verificar se
existem ou não diferenças tecnológicas. Pouco tem sido feito neste mesmo sentido com relação
às demais classes de vestígios líticos, como lascas, núcleos e artefatos não formais; assim como
pouco tem sido feito no sentido de verificar se há mudanças tecnológicas ao longo do tempo
nestas indústrias líticas. Se por um lado algumas mudanças são facilmente verificadas na Tradição
Itaparica, principalmente pelo desaparecimento das lesmas na maioria dos sítios no Holoceno
Médio e Tardio (ver: Schmitz 1980, Lourdeau 2010, Moreno de Sousa 2016b para exemplos), nas
indústrias de pontas pedunculadas isto já não é tão expressivo, de modo que há sítios que ainda
apresentam estas pontas ao longo de todo o Holoceno (ver: Noelli 2000; Okumura & Araujo 2014,
para exemplos).

4.7. A maioria nas coleções, uma minoria nas publicações: as lascas


também importam!
Se por um lado a análise tecnológica é um ótimo meio para validar ou invalidar as culturas
arqueológicas identificadas em território brasileiro definidas durante o século 20, por outro lado
o foco da maioria das pesquisas continua sendo os artefatos. Obviamente, é muito mais fácil
buscar evidências e provar hipóteses a partir do produto de uma indústria. Mas negligenciar os
resíduos de lascamento, produtos indiretos de uma indústria lítica, impede um entendimento mais
completo e acurado de indústrias. É necessário considerar sempre que artefatos similares podem
ser produzidos através de tecnologias diferentes, e o estudo tecnológico dos produtos finais pode
não ser suficiente para tal averiguação em alguns casos. Além disso, coleções arqueológicas
brasileiras, principalmente as do período paleoíndio, são compostas quase que exclusivamente
por vestígios líticos nas quais a classe mais representada é a das lascas e detritos de lascamento.

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Os artefatos raramente superam as outras classes em número. Veja a quantificação das peças dos
sítios estudados nesta pesquisa, por exemplo. De fato, em muitos casos as coleções sequer
apresentam qualquer artefato finalizado ou inteiro, tendo como único vestígio passível de estudo
as lascas residuais e detritos. Em certos casos, como a da Indústria Lagoassantense, as lascas
mesmo sem retoque são os próprios artefatos funcionais finalizados, onde a maioria dos estudos
ditos “tecnológicos” realizou apenas uma identificação de matéria-prima e mensuração e
quantificação, ao invés de buscar identificar feições que realmente indicam métodos e técnicas de
lascamento (ver: Moreno de Sousa & Araujo 2018; para uma discussão sobre o caso).

O mesmo pode ser dito dos estudos realizados sobre as coleções líticas associadas às
indústrias Itaparica e Umbu, onde as lascas raramente são levadas em consideração. Uma tentativa
de realizar uma comparação tecnológica entre os resíduos de produção das indústrias paleoíndias
identificadas em território brasileiro foi realizada recentemente. Moreno de Sousa (2014) tomou
como base três sítios modelos para comparação das tecnologias Itaparica, Umbu e Lagoassantense
– respectivamente o já citado sítio Gruta das Araras no sudoeste Goiano, o sítio Laranjito no
médio rio Uruguai e o sítio Lapa do Santo na região de Lagoa Santa. O autor concluiu que a
indústria Lagoassantense não possui relação nenhuma com as demais e que a diferença entre as
indústrias Itaparica e Umbu não estariam apenas nos instrumentos formais, mas em uma
diversidade de feições tecnológicas observadas não apenas nos artefatos formais, mas também
nos resíduos de produção. Enquanto o sítio da indústria Itaparica apresenta uma tecnologia
baseada na façonagem unifacial de grandes lascas provenientes de núcleos genéricos, a indústria
Umbu apresentaria uma variedade relativamente grande de artefatos lascados bifacialmente,
sejam estes suportes naturais ou produtos de debitagem de núcleos formatados ou não-
formatados. As lascas confirmam que há uma variedade maior de aplicação de métodos e técnicas
no sítio da Indústria Umbu, enquanto a indústria Itaparica parece ser menos diversa, apresentando
menor variedade de métodos e técnicas. Seria errado dizer que enquanto os grupos associados à
Tradição Umbu produziam seus artefatos através de uma maior variedade de métodos e técnicas,
os da Tradição Itaparica encontraram uma fórmula mais simples e prática de produzir seus
artefatos líticos e atender suas necessidades? Será que um estudo mais sistemático sobre essa
variedade observada na indústria Umbu não poderia nos revelar que o conceito de Tradição Umbu
não estaria, na verdade, agrupando uma variedade de indústrias líticas independentes entre si cuja
única semelhança é a produção de pontas com pedúnculos?

Mais estudos são necessários para responder essas questões, incluindo análises que
levem em consideração também os resíduos de lascamento. Esta tese é resultado de um destes
estudos. E neste caso, nosso foco está sobre as indústrias anteriormente associadas à cultura
arqueológica conhecida como Tradição Umbu.

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

5.
CARACTERIZAÇÃO E HISTÓRICO DOS SÍTIOS ESTUDADOS

5.1. A seleção dos sítios estudados

Figura 5.1 – Localização dos principais sítios arqueológicos estudados nesta pesquisa. AB: Alice Boer. Ct:
Caetetuba. Tu: Tunas. Ga: Garivaldino. Crédito do mapa: João Carlos Moreno de Sousa.

A seleção de sítios arqueológicos para análise de seus respectivos vestígios líticos foi
realizada com base na sua localização dentro da suposta área de abrangência da Tradição Umbu,
na presença de pontas pedunculadas, e na apresentação de datas absolutas. Dentre as coleções
consideradas para análise, o acesso para análise foi obtido para quatro sítios arqueológicos: Alice
Boer, Caetetuba, Tunas e Garivaldino (figura 5.1). No decorrer do projeto, pontas e lesmas
encontradas em superfície da região central do Estado de São Paulo foram oferecidas para análise
e incluídas no projeto.

5.2. O Sítio Arqueológico Alice Boer

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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O sítio arqueológico Alice Boer está localizado no município de Ipeúna5, estado de São
Paulo (figura 5.1). O sítio encontra-se, mais especificamente na margem direita do Ribeirão
Cabeça (figura 5.2), afluente do Rio Corumbataí. Suas coordenadas em UTM são 23 K 226649 E
7514929 S.

Figura 5.2 – Foto de satélite da área onde está localizado o sítio arqueológico Alice Boer (Janeiro de 2018). A
Estrela amarela indica sua localização. Modificado do original por: Google Earth, CNES / Airbus.

O sítio foi estudado em 1961 por Tom Miller Jr., que continuou suas pesquisas de campo
em 1964. Na época, João Boer, morador local, coletava as peças encontradas no sítio e nos
arredores, e montou uma coleção de 190 pontas pedunculadas (figura 5.3) e algumas lesmas. A
análise tecnológica desta coleção foi realizada por Okumura et al. (submetido).

5
O sítio é comumente associado ao município de Rio Claro. No entanto, o Ribeirão Cabeça marca a
divisa com o município de Ipeúna. O sítio está localizado na margem pertencente à Ipeúna.

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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Figura 5.3 – Exemplares da coleção João Boer, Setembro de 2015. Foto: João Carlos Moreno de Sousa.

T. Miller Jr. acreditava que os vestígios identificados naquele momento estariam


relacionados a uma subunidade cultural denominada Fase Marcharia (T. Miller Jr. 1969), dentro
da unidade cultural denominada Tradição Rio Claro (T. Miller Jr. 1972). Posteriormente, Prous
(1991) acabou englobando a Tradição Rio Claro dentro da Tradição Umbu, mesmo que nem todos
os sítios da Tradição Rio Claro apresentassem pontas bifaciais em suas coleções. As publicações
de T. Miller Jr. não fornecem informações sobre as escavações por ele realizadas.

Novas escavações foram realizadas em 1965 por Maria Beltrão (Becker 1966) 6.

[A escavação cobria] uma extensão [?] de 6 m, atingindo uma profundidade


de 4m no lado direito de um pequeno caminho que desce da sede da fazenda
até o rio. Esse caminho está situado em uma pequena depressão que tem,
como limite de ambos os lados, as paredes de barrancos que se levantam a
uns 4 m de altura em relação à parte mais baixa (Beltrão 2000:11).

O sítio começou a ganhar atenção internacional ao ser apontado como um dos sítios
arqueológicos mais antigos das Américas, com uma datação radiocarbônica de 14.200 ± 1150 AP
para a camada 3 (nível 10), além de três outras datas variando entre 7.000 e 6.000 AP entre os
níveis 3 e 8 (Beltrão 1974; Beltrão et al.1983). De acordo com Beltrão (2000) a camada 3 teria
sido escavada em níveis artificiais de 10 cm, tendo em vista sua suposta homogeneidade.

A pesquisadora realizou uma segunda etapa de escavações que ocorreu em 1978 e 1979,
concentrando as escavações na mesma área pesquisada em 1965 (figura 5.4). Foram abertas três

6A autora originalmente assinava suas publicações como “Maria Becker”, antes de alterar o sobrenome
para “Beltrão”.

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trincheiras. A primeira teria 3 m no sentido N-S, 4 m no sentido E-W e 3,20 m de profundidade,


enquanto a segunda teria 3m de largura, com a mesma orientação da anterior e alcançou 3,09 m
de profundidade (Beltrão 2000).

A terceira etapa de escavações ocorreu em fevereiro de 1980, quando foram escavadas as


unidades SIII e SIV. Nesta oportunidade, haviam sido colocados 28 dosímetros para datação por
luminescência, mas apenas dois foram encontrados in situ posteriormente.

A quarta etapa de trabalhos ocorreu em julho de 1980, quando foi realizada a abertura de
dez “poços-teste” nas áreas próximas ao sítio, a escavação de uma trincheira (figura 4) que tinha
como objetivo localizar e explorar a Camada V (leito do rio), e prospecções de levantamento
topográfico com fins geológicos. A profundidade atingida pela trincheira teria sido de 1,50m, e
teria sido encontrado material arqueológico (Beltrão 2000).

Posteriormente, novas datações por luminescência foram divulgadas por Beltrão et al.
(1982), e uma datação por termoluminescência de 11.000 ± 1.000 AP para a camada 3 foi
divulgada por Beltrão et al.(1983). A cronologia do sítio, com base nas pesquisas de Beltrão, seria
dada de acordo com a tabela 1, onde é perceptível a incongruência entre as datas de Carbono 14
e Termoluminescência.

Tabela 5.1 - Cronologia do sítio arqueológico Alice Boer, com base em Beltrão (1974), Beltrão et al. (1982) e
Beltrão et al. (1983).
Nível Datação Método
2200 ± 280 Termoluminescência
1 2370 ± 220 Termoluminescência
2000 ± 200 Termoluminescência
2 - -
3 6050 ± 100 Carbono 14
2870 ± 450 Termoluminescência
4 3400 ± 200 Termoluminescência
3800 ± 350 Termoluminescência
5 6135 ± 160 Carbono 14
6 - -
7 6350 ± 1220 Termoluminescência
6085 ± 160 Carbono 14
8 10.970 ± 1020 Termoluminescência
10.950 ± 1020 Termoluminescência
9 - -
14.200 ± 1150 Carbono 14
10
11.000 ± 1000 Termoluminescência

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Figura 5.4 – Croqui das escavações realizadas por Maria Beltrão no sítio arqueológico Alice Boer. A seta
vermelha indica a parede na qual foram coletadas novas amostras para datação em 2011, por pesquisas
coordenadas por Astolfo Araujo (2012). Modificado do original de Poupeau et al. (1984).

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A quinta etapa ocorreu em janeiro de 1984 e tinha como objetivos [1] localizar a área
escavada em 1961/64 por Tom Miller Jr.; [2] selecionar uma nova área para ser escavada; [3]
realizar observações de sedimentologia junto à estratigrafia, a fim de verificar o ritmo de
sedimentação; [4] mensurar a espessura de todas as camadas, segundo a estratigrafia
arqueológica; e [5] coletar amostras de areia para datação através de termoluminescência (Beltrão
2000).

De acordo com a autora, uma sexta e última etapa de trabalhos teria sido realizada em
1986, mas nenhuma publicação descreve as atividades que foram realizadas. Um estudo sobre os
achados das escavações de Beltrão foi realizado por Cunha (1990), mas os resultados não estão
disponíveis7.

Meis e Beltrão (1981; 1982) caracterizam a localização do sítio estando em um domínio


de baixo terraço, cerca de 5m sobre o leito menor do ribeirão Cabeça. As mesmas autoras já
chamavam a atenção ao fato da contínua mudança do leito do rio na região. Em escavações
posteriores, Araujo (2012) chegou à mesma conclusão dadas as evidências estratigráficas, como
o deposito dos seixos e calhaus rolados de quartzo, basalto, sílex e diabásio de encontrados nas
margens e no fundo do rio.

A estratigrafia do sítio foi caracterizada da seguinte maneira (figuras 5.5 e 5.6):

• Camada I: Camada estéril, com alguns centímetros [não especificado] de profundidade,


recoberta por vegetação atual (Beltrão 2000).
• Camada II: Camada estéril, com cerca de 140 cm de espessura e corresponderia ao
colúvio, material transportado por deslizamento superficial, a partir dos pontos mais altos
da encosta (Beltrão 2000).
• Camada III: Grande presença de materiais arqueológicos, com cerca de 2m de espessura
(19 níveis). Não há uma congruência nas informações desta camada. De acordo com
Beltrão (1974) ela é composta de silte e argila. De acordo com Bryan & Beltrão (1978),
esta camada é composta de areias aluviais. Mas a publicação de Beltrão (2000) divide a
camada em duas: a camada IIIa (superior) como areia-argila vermelha compacta, e a IIIb
(inferior) como “areia vermelha-amarelada não compacta, havendo uma descontinuidade
erosiva entre as camadas. A camada IIIa teria sido a camada cuja datação mais antiga foi
obtida. Meis & Beltrão (1982) já chamavam a atenção para esta separação da camada III

7
Infelizmente, nenhum acesso ao trabalho de Cunha (1990) foi possível, de maneira que o seu conteúdo
permanece desconhecido.

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em duas camadas, e as denominaram camada 7 (que seria a IIIa) e camada 6 (que seria a
camada IIIb). De acordo com as autoras, a camada 7 (IIIa) compreenderia depósitos
arenosos finos e grosseiros, quartzosos e relativamente mal selecionados, com visível
mosqueamento pelos óxidos de ferro na sua porção basal. Haveria um predomínio de
estratos cruzados de tipo planar. Já a camada 6 (IIIb) seria composta por uma série de
materiais avermelhados, areias finas e grosseiras com eventuais enriquecimentos em
grânulos de quartzo e siltes, mostrando uma estratificação pouco nítida, e com
concentração de óxidos de ferro.
• Camada IV: Foi identificada abaixo de uma discordância erosiva que a divide da camada
III. Seria estéril, mas sua profundidade não é descrita. Seria também um depósito de areia,
semelhante ao existente nas margens do ribeirão Cabeça. Tal depósito teria sido formado
há mais de 30 mil anos de acordo com Beltrão (1974) e há mais de 130 mil anos de acordo
com Beltrão (2000).
• Camada V: Corresponderia ao antigo leito do rio, e teria abundância de seixos e calhaus
de basalto e diabásio (Meis & Beltrão 1981), e sílex. Os seixos e calhaus de sílex com
marcas de lascamento provenientes desta camada foram reconhecidos como artefatos
durantes aquelas pesquisas (Beltrão 1974; Beltrão et al., 1981, 1983, 1986, 1987, 1988).
• Camada VI: Cama estéril formada por siltito (Beltrão 1974).

Figura 5.5 – Seção estratigráfica da parede oeste da trincheira I do Sítio Alice Boer. modificado a partir do
original (acervo do Museu Nacional, UFRJ).

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Figura 5.6 - Parede oeste da trincheira I do Sítio Alice Boer em 1979. Fonte: Acervo do Museu Nacional, UFRJ.

Mesmo na época em que foram divulgadas, as datas fornecidas pelas pesquisas de Beltrão
não foram completamente aceitas pela comunidade internacional, uma vez que elas seriam mais
antigas que as datas mais antigas da cultura Clovis na América do Norte. De acordo com Dillehay
et al. (1992), se as datas do sítio Alice Boer obtidas pelas pesquisas de Beltrão estivessem corretas,
datas ainda mais antigas poderiam ser sugeridas para a camada 5. Outros autores também
apontavam o sítio como um dos mais antigos das Américas (MacNeish 1976, Hurt 1986, Gruhn
& Bryan 1991, Bezerra de Meneses 1991, Whitley & Dorn 1993). No entanto, a data mais antiga,
obtida por radiocarbono, continuou sob suspeita devido à relação indireta entre carvão e material
arqueológico, e pela abundância de evidências de bioturbação na estratigrafia do sítio (Araujo
2001).

Em 2011 novas escavações foram coordenadas por Araujo (2012) acompanhando a


trincheira I de Beltrão. Esta pesquisa teve como objetivo:

(...) a coleta de amostras na tentativa de estabelecer a idade do mesmo, haja


vista a natureza conflitante dos dados obtidos anteriormente [pelas
pesquisas de Beltrão] (Araujo 2012, pg. 93).

Novas amostras para datação foram coletadas na parede oeste (figuras 5.4, 5.9 e 5.10) e
no fundo da trincheira escavada por Beltrão em 1979. A camada V também foi escavada a partir

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do fundo das antigas escavações, mas nenhum artefato foi identificado. Ao invés disso, alguns
geofatos foram identificados (figuras 5.7 e 5.8). Neste caso, trata-se de peças com marcas claras
de lascamento, mas que passaram por um processo natural de impacto entre os blocos da
cascalheira no leito do rio durante o seu transporte pela corrente d’água. Os geofatos possuem
negativos de lascamento com lustre fluvial bastante evidente, arredondamento de nervuras e
arestas, além de diferenças na pátina de diferentes negativos que indicam que o processo de
produção natural de cada lasca ocorreu em longos intervalos de tempo.

Figura 5.7 - Exemplos de seixos e calhaus de sílex com marcas de lascamento. Todas as peças apresentam pátina
típica de ambiente fluvial, tais como lustre dos negativos e arredondamento de nervuras e arestas. Fotos: Ader
Gotardo, 2011.

As datas obtidas por Araujo (2012) também revelaram uma incongruência entre os
resultados obtidos por diferentes métodos. De acordo com as datas obtidas por luminescência o
sítio teria uma idade entre 58.000 ± 7500 e 17.000 ± 1400 AP, sendo muito mais antiga que as
datas obtidas por Beltrão. Já as datações por AMS da fração humina do solo revelaram idades
entre 2970 ± 30 e 1950 ± 30. As datas obtidas por ambos os métodos foram descartadas devido a
problemas identificados nas amostras. Duas outras datas foram obtidas com fragmentos

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milimétricos de carvão, sendo uma data de 7200 ± 40 (cal 8015 ± 35) e uma data de 7680 ± 40
(cal 8477 ± 45). No entanto, estas duas datas estão estratigraficamente invertidas. Ainda assim
Araujo aponta que “os resultados obtidos, em que pese ainda uma inversão estratigráfica, são
muito mais coerentes, tanto com os dados publicados anteriormente [por Beltrão], como do ponto
de vista geomorfológico” (Araujo 2012: 118). A cronologia radiocarbônica do sítio é apresentada
na tabela 5.2.

Tabela 5.2 – Datas radiocarbônicas do sítio Alice Boer. A data superior a 14 mil anos foi desconsiderada
devido a sua falta de associação com o material arqueológico.
Número da Calibração Curva
Nível arqueológico Data C14 Referência
Amostra CalPal_2007_HULU
Camada II de Beltrão
BETA-320199 7680 ± 40 8477 ± 45 Araujo 2012
(100-110 cm de Araujo)
Nível 2, Camada III de Beltrão
BETA-320199 7200 ± 40 8015 ± 35 Araujo 2012
(150-160 cm de Araujo)
- Nível 3, Camada III de Beltrão 6050 ± 100 6935 ± 142 Beltrão 1974
- Nível 5, Camada III de Beltrão 6135 ± 160 7014 ± 193 Beltrão 1974
- Nível 8, Camada III de Beltrão 6085 ± 160 6962 ± 194 Beltrão 1974

Figura 5.8 – Exemplo de geofato de sílex proveniente da camada V, antigo leito fluvial do Ribeirão Cabeça,
proveniente das escavações do sítio Alice Boer coordenadas por Astolfo Araujo em 2011. A peça apresenta lustre
fluvial com diferença entre pátinas opacas (mais antigas) e mais brilhosas (mais recentes). Fotos: Ader Gotardo,
2011. Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa.

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Figura 5.9 - Início dos trabalhos realizados em Julho de 2011, coordenados por Araujo, no perfil oeste da
trincheira escavada por Beltrão em 1979, considerado mais adequado para os trabalhos de retificação e coleta
de amostras para datação. Foto: Astolfo Araujo.

Figura 5.10 – Retificação perfil oeste da trincheira realizada em julho de 2011. A integrante do projeto aponta
para um vestígio lítico exposto no perfil. Foto: Astolfo Araujo.

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Outra unidade de escavação foi aberta a sudeste da trincheira por Araujo (2012), onde
foram encontrados alguns vestígios líticos, porém nenhuma ponta bifacial. As análises do material
proveniente destas escavações ainda não foram publicadas. Nesta tese, são apresentados os dados
de análise tecnológica da coleção arqueológica proveniente das escavações de Maria Beltrão entre
as décadas de 1960 e 1980.

Figura 5.11 – Exemplos de troncos fossilizados silicificados encontrados entre Rio Claro e Iracemápolis. A foto
de baixo detalha uma porção fraturada com alto grau de silicificação. Fotos: João Carlos Moreno de Sousa,
2018.

Em janeiro de 2018 uma visita ao sítio Alice Boer foi realizada a fim de proporcionar
novas imagens do sítio8 e da fonte local de matéria prima para lascamento (sílex) no Ribeirão
Cabeça. Foi possível observar o afloramento de grandes blocos de sílex de diversos tamanhos, de
seixos a matacões, na região, e não apenas no ribeirão. Foi observado que alguns dos blocos de
sílex encontrados entre os municípios de Rio Claro e Iracemápolis são, de fato, fragmentos de

8Tragicamente, as imagens originais da coleta foram perdidas durante a transferência dos arquivos da
câmera fotográfica para o computador.

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antigos troncos de madeira fossilizados e silicificados (figura 5.11). Alguns blocos fragmentados
foram coletados para a realização de experimentos de replicação das pontas pedunculadas do sítio
Alice Boer.

5.3. O Sítio Arqueológico Caetetuba


O sítio Caetetuba foi descoberto e escavado no ano de 2016 pela equipe da empresa de
licenciamento arqueológico Zanettini Arqueologia. O sítio está localizado no município de São
Manuel, Estado de São Paulo. O sítio está na margem direita do córrego Araquazinho (figura
5.12), e dista cerca de 10 km da margem esquerda do Rio Tietê. Sua coordenada UTM é 22 K
755698 E 7495536 S. É importante notar que o sítio dista 90 km a oeste do sítio Alice Boer, e 63
km a sul do sítio arqueológico Bastos, que possui datações contemporâneas ao sítio Caetetuba,
embora este último não apresente pontas pedunculadas ou lesmas em sua coleção (Araujo &
Correa 2016).

Figura 5.12 - Foto de satélite da área onde está localizado o sítio arqueológico Caetetuba (janeiro de 2018). A
Estrela amarela indica sua localização. modificado do original por: Google Earth, CNES / Airbus.

Três unidades de escavação (UE) foram abertas no local (Figura 5.13), sendo a primeira
de 3x3 m e as demais de 1x1 m (Troncoso et al. 2016; Zanettini Arqueologia 2016). A UE1
proporcionou amostras para datação (tabela 5.3).

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Tabela 5.3 - Datas radiocarbônicas do sítio Caetetuba a partir de amostras de carvão.


Calibração Curva
Número da Amostra Nível (cm) Data C14 Fonte
CalPal_2007_HULU
BETA-436336 100-110 8210 ± 30 9180 ± 62 Troncoso et al. 2016
BETA-468374 140-150 9480 ± 30 10.729 ± 33 Esta tese
BETA-469373 140-150 9520 ± 30 10.891 ± 146 Esta tese
BETA-436337 150-160 9590 ± 30 10.942 ± 115 Troncoso et al. 2016

Figura 5.13 – Croqui das intervenções no sítio Caetetuba realizadas em 2016. Fonte: Troncoso et al. (2016).

A UE1 foi subdividida em quadrantes, e sua estratigrafia (figuras 5.14 e 5.15) foi descrita
da seguinte forma (Zanettini Arqueologia 2016: 56-57):

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• Camada 1: Areno argilosa, friável, úmida, com presença de muitas raízes e radículas.
É a camada com maior presença de material orgânico. Cor marrom [7,5YR 4/3 na
escala Munsell].
• Camada 2: Areno argilosa, friável, úmida. Cor marrom escura [7,5YR 3/4 na escala
Munsell].
• Camada 3: Areno argilosa, friável, úmida. Cor marrom muito escura [7,5YR 2,5/3 na
escala Munsell].

Figura 5.14 – Seção estratigráfica sul da UE1, sítio Caetetuba. Modificado do original por Zanettini Arqueologia
(2016).

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Figura 5.15 - Seção estratigráfica sul da UE1, sítio Caetetuba. Modificado do original por Zanettini Arqueologia
(2016).

Figura 5.16 – Abertura da UE1 no sítio Caetetuba. Fonte: Troncoso et al. (2016).

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Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Nenhuma outra intervenção no sítio ou análise dos materiais encontrados foi realizada até
o momento. Apenas vestígios líticos foram encontrados no sítio, e dentre eles, alguns exemplares
de pontas bifaciais e lesmas. Troncoso et al. (2016) discutem a associação destes artefatos formais
com a Tradição Umbu e a Tradição Itaparica, e notam que o sítio está localizado numa região
intermediária da ocorrência das duas culturas arqueológicas em questão. Esta tese apresenta os
dados da análise tecnológica desta coleção.

Figura 5.17 – Sítio Caetetuba, maio de 2018. O círculo preto aponta a localização da antiga unidade de escavação
UE1. Note o plástico preto rasgado que protegia a superfície da escavação. Foto: João Carlos Moreno de Sousa.

Duas visitas foram realizadas ao sítio Caetetuba. A primeira foi realizada em janeiro de
20189, e a segunda em maio do mesmo ano (figura 5.17). Durante a primeira visita, foi identificada
a unidade de escavação (UE1) ainda preservada e diversos vestígios líticos na superfície do
terreno ao longo de dezenas de metros para sul e para oeste, em meio à área de canavial. Também
foram identificados alguns seixos e calhaus de basalto e ágata (em forma de geodo) e calhaus e
matacões de arenito silicificado. A segunda visita foi realizada a fim de tomar novas imagens. No
entanto, o canavial já havia sido arado, a delimitação da unidade de escavação foi perdida (tendo

9Infelizmente, as imagens originais da coleta foram perdidas durante a transferência dos arquivos da
câmera fotográfica para o computador.

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

sobrado apenas um plástico preto todo rasgado, que havia sido posto para proteção da área
escavada), e todos os blocos maiores de ágata e arenito desapareceram (muito provavelmente
retirados pelos trabalhadores para não danificar os tratores). Os vestígios líticos também não
foram identificados novamente. De todo modo, alguns blocos naturais de basalto, arenito e ágata
foram coletados para realização de experimentos. Nenhum afloramento de sílex foi identificado
na área, e nem seixos de sílex foram encontrados no córrego Araquazinho. Nesta visita foi
possível verificar que o maquinário pesado chega a misturar o sedimento e os vestígios relativos
de até 40 cm de profundidade da superfície atual.

5.4. Os sítios do interior paulista com pontas em superfície

Durante o decorrer desta pesquisa, outros três sítios arqueológicos do interior do estado
de São Paulo com presença de pontas pedunculadas na superfície do terreno foram estudados.

Figura 5.18 - Foto de satélite da área onde está localizado o sítio arqueológico Santa Cruz (abril de 2017). A
Estrela amarela indica sua localização. Modificado do original por: Google Earth, DigitalGlobe.

O primeiro caso é o sítio Santa Cruz (figura 5.18), localizado no município de Monte
Mor, mais especificamente na coordenada UTM 23K 260289 E 7465051 S. Dista 5,6 km da
margem direita do Rio Capivari, e 60 km a sudeste do sítio Alice Boer. O sítio Santa Cruz já havia
sido estudado por Pardi et al. (2004). Este sítio foi associado pelos mesmos autores à Tradição
Umbu, provavelmente pela presença de uma ponta bifacial encontrada em superfície. O sítio foi
revisitado entre 2014 e 2015 durante um projeto de arqueologia preventiva coordenado por

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Adriana Meinking Guimarães. Foi possível observar que parte do terreno onde o sítio está
localizado foi destruída por maquinário pesado devido ao loteamento na região e diversos
vestígios líticos foram expostos em superfície, incluindo outra ponta pedunculada (figura 5.19).
Os vestígios encontrados foram coletados e os resultados da análise já foram publicados durante
o decorrer desta pesquisa (ver: Moreno de Sousa & Guimarães 2016).

Figura 5.19 – Sítio arqueológico Santa Cruz, janeiro de 2015. A: Localização dos vestígios identificados e
coletados no sítio Santa Cruz. B: Lasca cortical de sílex. C: Lâmina de machado polido em arenito. D: Ponta
pedunculada de sílex. Crédito das imagens: ValVerde Consultoria/Adriana Meinking Guimarães.

O segundo caso é o da região de Iracemápolis, que possui uma grande área com diversos
pontos de concentração de material lítico em superfície. Atualmente toda a área é coberta de
canaviais. Nenhuma pesquisa sistemática de campo foi realizada até o momento, portanto os sítios
arqueológicos não foram oficialmente delimitados. Pesquisas sistemáticas de campo ainda serão
realizadas para que o registro oficial junto ao Centro Nacional de Arqueologia (CNA) seja
realizado. Os vestígios arqueológicos foram encontrados durante a realização de trilhas de
ciclismo por Dinan Rogério e Luiz Carlos Cláudio, ambos moradores locais, que coletaram,
juntos, mais de 70 pontas pedunculadas. Em suas coleções pessoais eles ainda possuem algumas
lesmas e pré-formas encontradas nos mesmos locais, sendo a maioria destes encontrados no local
que se convencionou denominar sítio Paineira, que dista 20 km a sudeste do sítio Alice Boer, e
12 km a sudeste do Rio Corumbataí. Dista também 43 km a noroeste do sítio Santa Cruz. Nesta
tese são apresentados os dados da análise tecnológica deste material.

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Figura 5.20 – Sítio arqueológico Paineira, fevereiro de 2018. Acima, a arqueóloga Gabriela Mingatos realizando
prospecção visual no local. Abaixo, fragmento da porção média (pescoço e aletas) de uma ponta pedunculada
feita em sílex.

Visitas guiadas ao local foram realizadas entre janeiro e fevereiro de 2018 graças ao
convite de ambos os moradores. Vestígios líticos puderam ser identificados em superfície e em
grande frequência, em alguns casos mais de 5 lascas ou fragmentos em menos de um metro

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

quadrado. Dentre as peças identificadas estavam fragmentos de lesma e pontas pedunculadas


(figura 5.20).

Por fim, algumas pontas pedunculadas foram identificadas e coletadas no município de


Porangaba. As peças eram parte da coleção pessoal de André Coelho, morador local, que doou
quatro pontas para pesquisa arqueológica e musealização em maio de 2018. As peças estão
atualmente sob guarda do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos da USP. Nenhuma
pesquisa de campo pôde ser realizada até o momento.

5.5. O Sítio Arqueológico Tunas (PR-WB-16)


O sítio arqueológico Tunas (PR-WB-16) encontra-se em um abrigo de arenito localizado
no município de Arapoti, PR (figura 5.21), cerca de mil metros da margem direita do Rio
Laranjinha. Sua coordenada UTM é 22K 581353 E 7345788 S. O sítio Tunas dista cerca de 230
km a sudoeste do sítio Caetetuba.

Figura 5.21 - Foto de satélite da área onde está localizado o sítio arqueológico Tunas (junho de 2017). A Estrela
amarela indica sua localização. modificado do original por: Google Earth, CNES / Airbus.

As únicas escavações realizadas no sítio ocorreram entre 2001 e 2006 em pesquisas


coordenadas por Igor Chmyz. Dada a presença de pontas bifaciais e a idade recuada, o sítio foi
associado à Tradição Umbu. De acordo com Chmyz et al. (2008), a escavação foi dividida em
quatro cortes-estratigráficos (figuras 5.22 e 5.23), sendo que o mais profundo atingiu 1,55m de
profundidade. De acordo com Chmyz et al. (2008), o sedimento pouco variava entre arenoso e

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

argilo-arenoso, com poucas concreções de cinzas, tornando-se mais compacto a partir dos 125 cm
de profundidade. Durante a escavação foram encontrados vestígios líticos, ósseos e
malacológicos, estruturas de combustão e até mesmo um esqueleto (de uma mulher com cerca de
60 anos de idade) em até 85 cm de profundidade dos cortes 1 e 2 (figura 5.24), além de ossos
desarticulados de outros indivíduos. Os níveis mais recentes apresentam fragmentos de cerâmica,
que foram relacionados pelos autores à Tradição Itararé. A análise tecnológica dos vestígios
líticos desta coleção é apresentada nesta tese.

Foram realizadas duas datações radiocarbônicas, ambas no Corte 4 (tabela 5.4 e figura
5.25). Chmyz et al. (2008) apontam outras três datações realizadas através no Lacivid (USP) que
variavam entre 14 mil e 3 mil AP. No entanto, devido à discrepância dos resultados, os mesmos
autores optaram por levar em consideração apenas as amostras datadas pelo Beta Analytics e que
são apresentadas na Tabela 1.

Tabela 5.4 – Cronologia absoluta do sítio arqueológico Tunas em anos antes do presente (AP), de acordo com
Chmyz et al. (2008: 241). Datações realizadas pelo LAVICID-USP foram desconsideradas. Datas consideradas
em negrito.
Calibração Curva
Número da Amostra Nível (cm) Data C14 Fonte
CalPal_2007_HULU
LACIVID-USP 65-75 3.400 ± 300 - Chmyz et al. 2008
BETA-210871 65-75 7.170 ± 60 8.003 ± 49 Chmyz et al. 2008
LACIVID-USP 85-95 8.993 ± 800 - Chmyz et al. 2008
LACIVID-USP 105-115 13.072 ± 1.100 - Chmyz et al. 2008
BETA-210872 135-145 9.630 ± 40 10.994 ± 130 Chmyz et al. 2008

Os autores ainda apontam a presença de um sítio pré-cerâmico a apenas 75 m de distância


do sítio Tunas. Trata-se do sítio Ribeirão das Tunas. Este sítio não foi escavado, mas foi possível
verificar que, em uma porção erodida do terreno, vestígios arqueológicos estavam presentes entre
80 e 90 cm de profundidade. Os autores, não deixam clara a associação entre os dois sítios, além
da obviedade de sua proximidade, mas associam este último também à Tradição Umbu.

Os únicos estudos realizados sobre esta coleção foram os de Okumura & Araujo (2013,
2014, 2016, 2017), sobre a morfometria geométrica destas pontas, e as análises
zooarqueológicas em andamento de Mingatos (2017). Uma visita ao sítio Tunas foi realizada
em maio de 2018 (figura 5.26). Durante esta visita foram identificados alguns vestígios líticos em
superfície, como lascas de sílex e arenito silicificado e seixos com marca de percussão, além de
alguns fragmentos ósseos. Foi possível observar que os primeiros centímetros do sedimento estão
em constante movimentação e sofrem bioturbação da fauna local. Pegadas de aves e pequenos
mamíferos foram identificadas próximo à área escavada. Uma breve prospecção pela área não
identificou nenhuma fonte de sílex, mas porções silicificadas de arenito puderam ser identificadas

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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na própria parede do abrigo. Uma tentativa de prospectar o rio Laranjinha não se mostrou viável,
devido às condições de acesso pela estrada de chão extremamente arenosa.

Figura 5.22 – Perfil e mapa esquemáticos do abrigo, indicando em vermelho a localização da escavação realizada
entre 2001 e 2006. Modificado do original por Chmyz et al. (2008).

Figura 5.23 – Escavação das unidades Corte 3 (mais acima na foto) e Corte 4 (mais abaixo na foto) no sítio
arqueológico Tunas em 2015. Crédito da foto: Mercedes Okumura.

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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Figura 5.24 - Croqui da exposição do sepultamento e da estrutura da combustão dos cortes 1 e 2. Imagem
adaptada de Chmyz et al. (2008).

Figura 5.25 - Estratigrafia do perfil leste da escavação do sítio Tunas. Modificado do original de Chmyz et al.
(2008).

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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Figura 5.26 – Sítio arqueológico Tunas, maio de 2018. Acima: Panorama da área abrigada do sítio. A arqueóloga
Gabriela Mingatos está posicionada no limite noroeste do antigo Corte 3 da escavação coordenada por Igor
Chmyz. Abaixo: Exemplo de lasca de sílex encontrado em superfície. Fotos: João Carlos Moreno de Sousa.

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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5.6. O Sítio Arqueológico Garivaldino (RS-TQ-58)


O sítio Garivaldino (ou sítio Afonso Garivaldino R. Rodrigues ‘A’, RS-TQ-58) está
localizado no município de Brochier10, no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil (figura 5.27). Sua
coordenada UTM é 22J 437883 E 6727078 S. O sítio é um abrigo sobre rocha de arenito com
presença abundante de vestígios líticos e faunísticos que apresenta datações absolutas entre
11.000 e 7.000 anos atrás, e parece ter sua ocupação ininterrupta até o final do Holoceno final. O
abrigo está localizado a 600 m da margem direita do Arroio Santa Cruz e a 200 m de um córrego
afluente do arroio.

Figura 5.27 - Foto de satélite da área onde está localizado o sítio arqueológico Garivaldino, julho de 2016. A
Estrela amarela indica sua localização. modificado do original por: Google Earth, DigitalGlobe.

Mentz Ribeiro & Ribeiro (1999: 10) descrevem o sítio Garivaldino da seguinte maneira:

A altitude do sítio em relação ao nível do mar é de 72m. Apresenta a


abertura [do abrigo] voltada 10° ao norte. Possui 21,40m de boca
[comprimento da área abrigada], 8,50m de profundidade, e 8,60 de altura.
O piso do abrigo se encontra a 11,20m acima do nível da margem direita

10
O sítio foi originalmente descrito como localizado no município de Montenegro, e por causa disso
publicações posteriores descrevem a mesma informação. No entanto, em 1988 o distrito de Brochier foi
emancipado e se tornou município. Desde 1988 o sítio arqueológico Garivaldino está localizado no
território do município de Brochier. Este histórico é descrito no trabalho de Motta (2011), que deixa clara
a importância que o sítio tem para o município de Montenegro ainda hoje.

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de uma sanga [um pequeno curso d’agua que seca facilmente] e 46m
distante da mesma (estaca “A” da quadrícula D/7) [o ponto mais próximo
da área de escavação].

O Arroio Santa Cruz é afluente do Rio Taquari, que dista 30 km a oeste do sítio
Garivaldino. No entanto, existem outros grandes cursos d’água próximos ao sítio como o riacho
Boa Vista (afluente do rio Taquari) a cerca de 15 km ao norte e o rio Caí cerca de 30 km a leste.
O rio Taquari deságua no rio Jacuí, que em seguida deságua na Lagoa dos Patos. O rio Caí deságua
diretamente na Lagoa dos Patos.

Além disso, o local possui outras áreas abrigadas a poucos metros de distância. O teto do
abrigo do sítio Garivaldino, por exemplo, corresponde a piso de um pequeno abrigo localizado
logo acima e que foi denominado Sítio Garivaldino B (ou sítio Afonso Garivaldino R. Rodrigues
‘B’, RS-TQ-58B).

O local foi pesquisado por Pedro Augusto Mentz Ribeiro na década de 1980. De acordo
com Mentz Ribeiro & Ribeiro (1999) o primeiro contato com o sítio Garivaldino ocorreu em
1981, mas apenas em 1987 foi realizada a primeira intervenção, sendo este um “corte
experimental” de 2x2 m. No entanto, apenas em 1989 foram realizadas as escavações, seguindo
um método de escavação de área ampla horizontal (figura 5.28) e de camadas artificiais de 10 cm
verticais. O sítio apresentou algumas datações radiocarbônicas apresentadas na tabela 5.5.

Tabela 5.5 - Datações do sítio Garivaldino (RS-TQ-58).


Número da Nível Data Calibração curva
Fonte
Amostra (cm) Absoluta CalPal_2007_HULU
Beta-226135 70-80 6.760 ± 50 7.623 ± 35 Mentz Ribeiro & Ribeiro 1999
Beta-44740 50-60 7.250 ± 350 8.097 ± 331 Mentz Ribeiro & Ribeiro 1999
Beta-33458 130-140 8.020 ± 150 8.906 ± 216 Mentz Ribeiro & Ribeiro 1999
Beta-32183 170-180 8.290 ± 130 9.260 ± 157 Mentz Ribeiro & Ribeiro 1999
Beta-44739 200-210 9.430 ± 360 10.744 ± 478 Mentz Ribeiro & Ribeiro 1999

A estratigrafia do sítio (figura 5.29) foi classificada em quatro períodos culturais (Mentz
Ribeiro & Ribeiro 1999) seguindo a classificação em “fases arqueológicas” dentro da “Tradição
Umbu”:

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Figura 5.28 – Croqui das escavações coordenadas por Pedro Mentz Ribeiro entre 1987 e 1989 no sítio
Garivaldino. Modificado do original por Mentz Ribeiro & Ribeiro (1999).

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1. O período I foi denominado de “fase Batinga”, correspondendo ao material dos níveis


131 cm até 230 cm (piso de arenito), sendo mais antigo de 9000 cal AP;
2. O período II foi denominado de “fase Umbu”, correspondendo ao material dos níveis 91
cm até 130 cm, datado relativamente entre 8000 e 9000 cal AP;
3. O período III foi denominado de “fase Itapuí”, correspondendo ao material dos níveis 21
cm ao 90 cm, datado em até 8000 AP.
4. O período IV foi classificado como uma transição entre a “Tradição Taquara” e a
“Tradição Umbu”, sendo relativo ao material da superfície até 20 cm de profundidade.
Estes níveis foram descritos como perturbados por presença recente antrópica e de
animais de fazenda (bovinos e suínos) e são os únicos com presença de vestígios
cerâmicos.

Figura 5.29 – Estratigrafia do sítio Garivaldino. Modificado do original por Mentz Ribeiro & Ribeiro (1999).

Apesar de não haver datações mais recentes de 7 mil AP, existem camadas estratigráficas
relativamente mais recentes onde há, inclusive, presença de cerâmica. A cerâmica, no sul do
Brasil, é sempre datada do Holoceno final, de modo à raramente ultrapassar 3 mil AP. Logo, a
camada com presença de cerâmica no sítio não deve ter mais do que 3 mil AP, de modo que o
sítio foi ocupado até o final do Holoceno.

Mentz Ribeiro & Ribeiro (1999) descrevem a presença de várias classes de vestígios
líticos lascados, artefatos líticos polidos, vestígios relacionados à produção de corantes (como
hematita/ocre), algumas classes de vestígios faunísticos (artefatos e restos de alimentos) e
vestígios cerâmicos. Vestígios bioantropológicos não foram reconhecidos, com exceção de um
dente humano.

Nenhuma outra intervenção no sítio jamais foi realizada, mas outros pesquisadores
analisaram a coleção do sítio Garivaldino. Queiroz (2004), Rosa (2009) e Hadler et al. (2013)

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realizaram análises detalhadas sobre a fauna local. Já sobre os vestígios líticos, apenas Okumura
& Araujo (2014) realizaram uma análise sistemática da morfometria dos artefatos líticos que
classificaram como “pontas bifaciais”. Até o momento nenhuma análise tecnológica da coleção
foi realizada.

Uma visita ao sítio foi realizada em abril de 2018 (figura 5.30). Além da simples tomada
de fotos e identificação de fontes de matéria prima próximas, esta visita também teve como
objetivo localizar o sítio para que novas coordenadas geográficas fossem tomadas, uma vez que
se percebeu que as coordenadas originais fornecidas por Mentz Ribeiro & Ribeiro (1999) estavam
equivocadas em algumas centenas de metros. Equivoco este reparado na nossa visita guiada pelo
arqueólogo Dr. Sergio Klamt (curador da coleção do sítio Garivaldino, no CEPA-UNISC).
Durante a visita foi possível observar que os primeiros centímetros do sedimento se encontram
soltos e em constante movimentação devido à perturbação da fauna local e antrópica, uma vez
que o sítio está próximo a uma trilha utilizada por moradores locais e aventureiros. Inclusive, uma
carroça quebrada está abandonada no local. Alguns poucos vestígios foram identificados na
superfície da área abrigada.

Figura 5.30 – Sítio Garivaldino, abril de 2018. Esquerda: A arqueóloga Gabriela Mingatos está posicionada no
limite sul do antigo Corte Experimental da escavação coordenada por Mentz Ribeiro. Direita: Concentração de
lascas e fragmentos de arenito silicificado, ágata e basalto na superfície próxima a área escavada. Fotos: João
Carlos Moreno de Sousa.

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Outro abrigo de tamanho similar ao do sítio Garivaldino foi localizado a apenas 100 m
de distância ao sul. No entanto, nenhum vestígio arqueológico em superfície foi identificado neste
abrigo que, naquele momento, passava por um forte processo erosivo. Neste mesmo local foi
encontrado um tatu que havia morrido há poucos dias, constatando que ali é local comum deste
tipo de animal conhecido por bagunçar o contexto arqueológico (Araujo & Marcelino 2003), uma
vez que é capaz de cavar buracos de mais de 2 m de profundidade, podendo causar movimentação
vertical das peças.

5.7. Caracterização geomorfológica e as fontes de matéria-prima11


Os quatro sítios escavados apresentam um posicionamento relativamente similar na
paisagem, em termo de unidades geomorfológicas. Todos estão localizados nos bordos areníticos
de grandes e bem delimitados planaltos regionais da Bacia Sedimentar do Paraná (Milani &
Ramos 1998; Milani 2004). Apenas o sítio Garivaldino está localizado em uma área de declive,
ainda que a área abrigada em si seja plana.

O sítio Alice Boer está localizado no limite entre os domínios morfológicos das escarpas
cuestiformes paulistas (Almeida, 1964) e a depressão periférica, tendo assim uma mescla das
potencialidades e restrições para ocupação humana antiga (Cheliz, 2013) ligadas as duas grandes
unidades geomorfológicas. O sítio inserido num contexto regional de predomínio de declives
pouco significativos - com dominância de amplas extensões de baixa inclinação do terreno ao
mesmo tempo em que apresenta uma abrangência altimétrica bastante expressiva em seu contexto
regional (figura 5.31) com altitudes mais baixas próximas aos mais rebaixados fundos de vale
regionais e cotas mais altas correspondente ao topo da Serra do Itaqueri. Essa conjunção de
características aparentemente distintas é possível devido a existência de faixas concentradas de
declives elevados, os quais costumam apresentar várias porções próximas de noventa graus –
paredões com presença de pequenos abrigos e grutas. Estes elevados correspondem ao segmento
do front das Serras cuestiformes do Itaqueri (Almeida 1964; Riccomini 1997). Os padrões de
manifestação do relevo da rede hidrográfica local se relaciona são resultantes deste contexto
geomorfológico. Nos topos das serras e extensões semi-aplainadas dispostas a partir dos sopés
das escarpas, os rios mostram-se com vales de declives bastante suavizados e desníveis verticais
de seus fundos relativamente discretos.

11
Este subcapítulo foi produzido com a coautoria do geomorfólogo Pedro Michelutti Cheliz.

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Figura 5.31 – Cartas clinográfica (acima) e altimétrica (abaixo) do entorno do sítio arqueológico Alice Boer.
Cartas produzidas através de edição de imagens Aster e mapas topográficos do IBGE. Crédito: Pedro Michelutti
Cheliz.

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Os rios dos segmentos de front por sua vez mostram significativa incisão vertical no
terreno, correndo por vales profundos com desníveis verticais expressivos cascatas com dezenas
de metros), terraços de bordos abruptos e por vezes próximos de declives semi-verticais, e
vertentes íngremes, cortando afloramentos rochosos em diversos pontos da região – como é o
caso da área do sítio Alice Boer.

A existência de tal nível de declives concentrados tem relevância significativa para sítios
arqueológicos, sobretudo no que se refere à busca de matérias-primas. Estudos de mapeamento
geológico disponíveis e compilações de dados de sondagens vinculados à perfuração de poços
para abastecimento hídrico (Almeida 1964; Ab’Saber 1998; Cheliz 2013) apontam que os solos
locais costumam ser bastante profundos no topo das Cuestas Paulistas (como a Serra do Itaqueri)
e nas extensões da Depressão Periférica, podendo chegar à casa das dezenas de metros. A
combinação de relevos semi-aplainados e um clima marcado por longos períodos de clima úmido
e quente permitiu que as águas das chuvas penetrassem profundamente e em quantidade nas
rochas, contribuindo junto ao calor dominante para potencializar reações químicas diversas que
transformação as rochas em profundos mantos de alteração superficial e solos diversificados
(Ab’Saber 1949, 1956, 1998), o que provavelmente levou os afloramentos rochosos nesses dois
segmentos (topos da serra e extensões semi-aplainadas que se dispõem a partir do sopé das
grandes escarpas locais) a se mostrarem relativamente raros. Mas no contexto marcado pelos
fronts da Serra do Itaqueri e seus altos declive essa situação se mostra diferente. Mantos de solos
se mostram menos profundos, e afloramentos - em especial, afloramentos areníticos da formação
Botucatu - se mostram mais frequentes. As maiores inclinações do terreno dificultaram a
penetração das águas das chuvas nas rochas, favorecendo no lugar disso seu escoamento
superficial na forma de grandes enxurradas escarpas abaixo. Não por acaso ao compararmos o
mapa de declives do contexto do sítio Alice Boer (figura 5.31) e a carta de afloramentos da
formação Botucatu (figura 5.32), verificamos que esses afloramentos se concentram nas faixas de
maior inclinação.

O sítio Alice Boer localiza-se próximo ao segmento terminal das escarpas do front
cuestiforme local, às margens do Rio Cabeça – que após transpor os trechos mais acidentados e
íngremes da escarpa, começa a apresentar uma suavização dos declives de suas calhas e de seus
bordos. Para discutir a localização desse local para ocupação dos grupos humanos durante o
Holoceno Médio (quiçá desde o Holoceno Inicial), convém lembrar que se trata de uma escolha
que permite potencializar um conjunto diverso de atributos do relevo regional para a ocupação
humana de antigas populações ligadas às indústrias líticas

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Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Figura 5.32 - Cartas de distribuição dos afloramentos da Formação Botucatu no entorno dos sítios arqueológicos
Alice Boer e Caetetuba. Cartas produzidas através de edição de imagens Aster e mapas topográficos do IBGE.
Crédito: Pedro Michelutti Cheliz.

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Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Figura 5.33 - Cartas clinográfica (acima) e altimétrica (abaixo) do entorno do sítio arqueológico Caetetuba.
Cartas produzidas através de edição de imagens Aster e mapas topográficos do IBGE. Crédito: Pedro Michelutti
Cheliz.

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Estando posicionados no segmento terminal ou bordos do front das escarpas cuestiforme,


os grupos humanos estabeleciam uma proximidade relativa das boas fontes de matéria-prima
presentes nas escarpas mais íngremes da Serra. Mas ao evitar ocuparem os segmentos mais
salientes da serra, ocupam terrenos de menor declive, e consequente maior estabilidade - outro
elemento que parece ser bastante visado por grupos caçadores-coletores no Brasil. Mas a
abundância de blocos rochosos de excelente qualidade para lascamento pode ter sido o ponto
fundamental na escolha deste específico local para a ocupação do sítio Alice Boer, uma vez que
o local está repleto de seixos e calhaus de sílex da formação Corumbataí (ver cap. 5.2).

O contexto morfométrico do sítio Caetetuba é caracterizado também por uma abrangência


altimétrica bastante expressiva, que varia cerca de 600 metros entre suas altitudes mais reduzidas
(proximais a 350 metros, correspondente a trechos dos fundos de vale do rio Tietê) e as mais
elevadas (proximais a 950 metros, correspondente ao topo dos reversos das serras cuestiformes
locais). As declividades se mostram heterogêneas, alternando entre segmentos de faixas continuas
de declives elevados (figura 5.33), superiores a 30° e relacionados aos trechos mais salientes dos
fronts cuestiformes locais; e segmentos de declives atenuada, relacionados aos topos das serras
locais (reversos cuestiformes) e de pontuais morros testemunhos dispersos em meio aos fronts. O
padrão de declive que exige maior extensão é caracterizado por vastos segmentos de inclinações
intermediários - entre 8° e 25º - que se distribuem principalmente a leste e a oeste do rio Tietê.
Estes padrões morfométricos se correlacionam ao contexto geomorfológico do Sítio Caetetuba
que está inserido em uma das rupturas (percées) 12 das escarpas cuestiformes da Bacia do Paraná.
Neste caso específico, é uma ruptura criada pelo rio Tietê, cuja nascentes se encontram algumas
centenas de quilômetros a leste, interrompe a continuidade das escarpas cuestiformes paulistas
(dispostas usualmente em direção geral próxima da norte-sul), atravessando-as num traçado
próximo do perpendicular à sua orientação geral, e sendo bordejado por um profundo e amplo
vale disposto ao longo de um eixo similar ao Leste-Oeste, reduzido localmente as altimetrias do
relevo a um extenso fundo de vale com altimetrias inferiores a 400 metros – em contraste com os
topos da serra algumas dezenas de quilômetros ao norte e ao sul que podem facilmente encontrar
área amplas com altitudes acima de 800 metros (figura 5.33). Inúmeros pequenos rios e córregos
seccionam esse grande vale que quebra a continuidade das escarpas cuestiformes paulistas,
cruzando-as em direção proximal da N-S e desaguando no rio Tietê que marca o eixo central desse
grande vale local. O sítio Caetetuba está localizado próximo às nascentes de um desses pequenos

12 Percée, termo derivado da geomorfologia francesa, se refere ao conjunto de formas ligado a um profundo
e amplo vale fluvial que quebra a continuidade de uma serra cuestiforme, a seccionando transversalmente.
Aqui o termo foi traduzido como “ruptura”.

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tributários locais, o córrego Araquazinho, que se dirige ao eixo central da grande depressão que
cerca o Tietê em sua margem esquerda.

As últimas fases da evolução dos sistemas fluviais locais se deram entre a transição
Pleistoceno-Holoceno e Holoceno Médio (Ab’Saber 1998), com oscilações dos níveis de base
próximas a umas dezenas de metros localizadas em segmentos proximais (Região de Araraquara)
(Cheliz 2016). No entanto, conhece-se pouco da trajetória geomorfogenética (elaboração e gênese
do relevo) imediatamente anterior. De qualquer maneira, a abertura de um vale tão grande e
extenso teve como consequências expor porções significativamente amplas dos arenitos da
formação Botucatu (figura 5.32), que na área não estariam restritas apenas aos fronts de escarpas
mais salientes como em outros segmentos das cuestas, mas se mostrariam com distribuição maior
em trechos de terreno de menor declividade – e consequente maior estabilidade relativa do
terreno. Este processo tornou a área propensa a movimentos de remobilização superficial e
transporte de materiais diversos e fragmentos rochosos ao longo das amplas vertentes locais
originados de cotas mais elevadas, o que explica a presença de matacões de arenito da formação
Botucatu e calhaus de basalto da formação Serra Geral espalhados na área (ver cap.5.3).

A distribuição dos matacões de arenito, muitas vezes silicificado, por ter sido um atrativo
para a ocupação do sítio Caetetuba. Simultaneamente, a proximidade do próprio rio Tietê pode
ter sido um fator de atração por si só, já que naquela localidade é rico em seixos rolados de sílex,
possivelmente originários da formação Corumbataí, uma vez que tanto o Rio Corumbataí e o Rio
Piracicaba desaguam no rio Tietê algumas dezenas de quilômetros rio acima.

Mais pesquisas e visitas de campo aos sítios Tunas e Garivaldino são necessários para
uma maior discussão sobre as razões que levaram os locais a serem ocupados, além da obviedade
de se apresentarem como abrigos. Mas a presença de afloramentos areníticos silicificados e a
proximidade com grandes cursos d’agua apresentam outros materiais de alta qualidade para o
lascamento podem ser apontados. Mas também é necessário notar que ambos os sítios se
apresentam com contextos altimétricos e de declividade similares aos dos sítios do interior
paulista (figuras 5.34 e 5.35). Além disso, ambos também apresentam grandes áreas de
afloramento de arenito Botucatu e, consequentemente, do basalto Serra Geral que se sobrepõe ao
arenito. Os arenitos bem estudados pela literatura do ponto de vista de sua petrografia, mostram-
se compostos majoritariamente de grãos de quartzo - que chegam a compor usualmente cerca de
90% do conjunto dos minerais que integram a rocha (Meaulo 2007). O quartzo por sua vez é um
material composto por associação de elementos químicos de sílica, oxigênio em proporção de 2
para 1, e impurezas minoritárias diversificadas, num arranjo cristalino trigonal (A. Costa 2013).

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O fato dos arenitos da formação Botucatu terem usualmente uma dominância bastante
clara de um mineral específico, o quartzo, dá ao conjunto da rocha uma certa homogeneidade no
seu conjunto no que se refere à propagação da energia dos impactos ligados ao lascamento de um
artefato lítico (ver cap. 3.3). Diferente do que ocorre com rochas que apresentam diversidade
mineral bastante significativa, como algumas das rochas básicas disponíveis próximas os sítios
estudados, como o basalto. Rochas que apresentam uma variedade interna de minerais com
elementos químicos e/ou arranjos cristalinos bastante diversos entre si, possuem uma tendência a
apresentar uma maior heterogeneidade de propagação da energia ao longo da rocha dos impactos
associados às atividades de lascamento. Essa prevalência mineralógica do quartzo na Formação
Botucatu, por consequência sua homogeneidade, ajuda a explicar a sua frequente escolha como
matéria-prima para indústrias líticas em território brasileiro. O mesmo pode ser dito do sílex, que
por se tratar de uma rocha ainda mais rica em sílica, tende a apresentar uma homogeneidade ainda
maior em relação ao arenito, tornando-a ainda mais apta ao lascamento (Araujo 1991).

Outros atributos do arenito e do sílex contribuem também para essas escolhas. Além de
apresentarem uma certa homogeneidade mineralógica, os arenitos também apresentam uma certa
homogeneidade interna no que se refere à organização dos grãos, apresentando alta seleção dos
grãos ou pouca variação interna no que se refere ao tamanho dos grãos de quartzo. Apresentam
também grande homogeneidade referente ao grau de arredondamento e formato dos grãos, sendo
caracterizados por um bom grau de arredondamento e formato esférico ou semiesférico (Araujo
1992). Ou seja, caracterizam-se por grãos de contornos lisos, sem rugosidades ou saliências
significativos e de formatos próximos do de esferas. Mais do que isso, a organização e disposição
deles ao longo das rochas não apresenta alterações bruscas. Eles tendem a possuir um arranjo grão
suportado e com uma porosidade em torno de 30% - com os diversos grãos lisos e esféricos de
quartzo tocando uns ao outro, e deixando pequenos espaços vazios e interconectados entre si.
Simultaneamente, apresenta uma boa cimentação - mostrando uma ligação coesa entre as
superfícies de contato entre os diversos grãos (Tucker 2014).

Numa comparação mais próxima do cotidiano geral, a organização interna da Formação


Botucatu em nível microscópico seria relativamente similar ao que observamos em nível
macroscópico nos pequenos potes usados pelas crianças para guardar uma grande quantidade de
bolas de gude. Um espaço delimitado tomado por pequenas esferas pouco ou nada
arestadas/angulosas em sua borda, com cada uma delas tocando-se e apoiando-se umas nas outras.
Com a diferença de que a superfície de contato de uma bola de gude com outra estaria recoberta
por uma cola de excelente qualidade (equivalente à cimentação entre os grãos de areia na rocha),
fazendo com que o arranjo permanecesse coeso e não se modificasse com eventuais oscilações na
posição do pote que guarda as esferas.

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Figura 5.34 - Cartas clinográfica (acima) e altimétrica (abaixo) do entorno do sítio arqueológico Tunas. Cartas
produzidas através de edição de imagens Aster e mapas topográficos do IBGE. Crédito: Pedro Michelutti Cheliz.

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Figura 5.35 - Cartas clinográfica (acima) e altimétrica (abaixo) do entorno do sítio arqueológico Garivaldino.
Cartas produzidas através de edição de imagens Aster e mapas topográficos do IBGE. Crédito: Pedro Michelutti
Cheliz.

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Essa visualização da organização interna da Formação Botucatu ao mesmo tempo que


ajuda a entender os seus atrativos como matéria-prima para industrias líticas, também contribui
para compreender algumas de suas limitações - quando comparadas a materiais amorfos como
sílex e vidro vulcânico (que apresentam resposta mais precisas aos impactos de um lascamento).
Ainda que tenha uma organização interna coesa, e uma certa homogeneidade na sua composição,
elas não formam um todo completamente homogêneo. Particularmente, pode-se citar nessa
direção a presença de expressiva porosidade interna previamente citada (os espaços não
preenchidos por minerais de quartzo, equivalente a vãos tomados por ar que ficam entre as várias
bolas de gude no esquema comparativo). Embora essa porosidade usualmente se distribua de
forma dispersa e relativamente uniforme ao longo do conjunto das rochas, ela apresenta uma
heterogeneidade interna significativa. Ou seja, ainda que esses dois padrões internos (segmentos
predominantes tomados por minerais bem arredondado e majoritariamente de quartzo, e
segmentos minoritários caracterizados pelos poros que se formam entre os grãos) se distribuam
de forma relativamente uniforme ao longo da rocha, isso não muda o fato de serem dois conjuntos
internos diversos. Trata-se daí de uma diferença central em relação, por exemplo, ao vidro
vulcânico, que é caracterizado por um conjunto interno homogêneo e que não apresenta poros ou
materiais diversos internos significativos.

Cabe nesse sentido lembrar que os poros, originados dos processos de deposição eólica
originais da rocha podem, após a deposição e formação da rocha, serem preenchidos por materiais
diversos, modificando a caracterização inicial da rocha. É importante também notar que os
diversos processos que podem vir a preencher os referidos poros com sílica, reduzindo (ou mesmo
anulando) a porosidade original dos arenitos. Assim, originam-se os denominados arenitos
silicificados, muito valorizados em diversos registros conhecidos de lascamento no Brasil (Araujo
& Pugliese Jr. 2009). Seu valor ao lascamento, em relação ao arenito não-silicificado, se dá
justamente por ao preencher os espaços antes ocupados por ar, diminuir a heterogeneidade da
propagação de energia dos impactos ao longo da rocha. Sobretudo pelo preenchimento dos poros
se dar majoritariamente por um elemento químico que também corresponde a uma parcela
importante da composição do mineral majoritário (o quartzo, composto essencialmente por sílica
e oxigênio).

Mas também é necessário lembrar que os arenitos silicificados da Formação Botucatu


(figura 5.36), embora frequentemente lembrados, quando se discutem indústrias líticas da Bacia
do Paraná, não são os únicos arenitos da unidade geotectônica em questão. Cabem, dentre outros,
lembrar dos arenitos da Formação Piramboia (Assine et al. 2004; Carneiro 2008) e de algumas
das formações do Grupo Itararé (Melo & Guimarães 2012), unidade geológica sobre a qual se
instala o Sítio Tunas. Concentrações de sílex e quartzo por sua vez podem ser encontradas

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dispersas e alojadas em fraturas ao longo de vastas extensões da Bacia Sedimentar do Paraná,


especialmente nos seus segmentos pré-Cretáceos. Tal concentração temporal dessas ocorrências
associadas a fraturas, se devem aos intensos fluxos hidrotermais associados aos episódios de
intrusões magmáticas ligadas a Formação Serra Geral (Jurássico-Cretáceo) (Melo & Guimarães
2012). Registros de intrusões da Formação Serra Geral notam-se ao menos no contexto regional
dos sítios Alice Boer, Caetetuba e Garivaldino. Com relação ao sítio Tunas, a visita ao local não
identificou estas intrusões, ainda que elas provavelmente ocorram.

Figura 5.36 - Cartas de distribuição dos alforamentos da Formação Botucatu no entorno do sítio arqueológico
Tunas. Cartas produzidas através de edição de imagens Aster e mapas topográficos do IBGE. Crédito: Pedro
Michelutti Cheliz.

O sítio Garivaldino aparece como uma exceção em meio ao uso quase exclusivo de sílex
e arenito silicificado dentre os sítios estudados. Apesar da abundância de arenito silicificado e sua
localização sobre a formação Botucatu (figura 5.37), na coleção também é registrada a produção
de artefatos em ágata e basalto (ver cap. 7.5), sendo um fato pouco comum nas indústrias
paleoíndias do leste sul-americano, devido a tendências destas mesmas rochas a se apresentarem

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heterogêneas e de má qualidade para o lascamento. Tanto o basalto quanto a ágata são,


provavelmente, originários da formação Serra Geral, sendo a ágata mais especificamente
encontrada em geodos dessa formação. Ainda que incomum, tanto o basalto quanto a ágata
encontrados na região se mostram razoavelmente homogêneos. O basalto pode chegar a ser tão
homogêneo quanto um arenito pouco silicificado, o que permitiu, inclusive a produção de pontas
bifaciais pedunculadas. O mesmo ocorre com relação à ágata, com uma qualidade de lascamento
próxima ao sílex (veja o cap. 8, para uma discussão sobre os experimentos com materiais locais).

Figura 5.37 - Cartas de distribuição dos alforamentos da Formação Botucatu no entorno do sítio arqueológico
Garivaldino. Cartas produzidas através de edição de imagens Aster e mapas topográficos do IBGE. Crédito:
Pedro Michelutti Cheliz.

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6.
A CONSTRUÇÃO DE UM MÉTODO DE ANÁLISE LÍTICA

6.1. Considerações sobre a construção de um protocolo de análise


Considerando que os principais objetivos deste projeto é verificar se há uma
homogeneidade cultural verificada na tecnologia de indústrias líticas associadas à Tradição
Umbu, é necessário que uma série de feições das pontas líticas seja analisada através de um
método sistemático. Além da análise das pontas, também é necessário considerar as feições de
outros artefatos formais associados a outras culturas arqueológicas presentes nas coleções. Além
disso, os resíduos de produção destes artefatos, que tendem a ser a maior parte dos vestígios de
qualquer indústria lítica, possuem feições que nos informam sobre aspectos tecnológicos que os
produtos não revelam. Também devem ser considerados os artefatos que, por alguma razão, não
foram finalizados e nos informam sobre os aspectos de diferentes etapas da produção dos artefatos
formais. A análise dos demais artefatos líticos presentes nos sítios podem fornecer dados mais
completos sobre as necessidades funcionais dos grupos humanos.

O método de análise construído para este projeto considerou aspectos visuais, naturais,
tecnológicos e funcionais, a fim de fornecer dados para a discussão sobre as possíveis
necessidades atendidas com uso dos artefatos, sobre os possíveis conhecimentos técnicos de
lascamento, e sobre o aproveitamento de recursos naturais disponíveis para cada grupo.

O protocolo de análise divide os vestígios líticos em quatro principais categorias: Pontas


pedunculadas; pré-formas de pontas; lesmas; núcleos; e resíduos de lascamento. Artefatos não-
formais, apesar de sua importância, não foram o foco de uma análise sistemática, por questões de
logística (tempo e verba disponíveis para análise das coleções).

Apesar desta separação em categorias, algumas feições serão analisadas em todos os


vestígios selecionados, como as mensurações e feições relacionadas às matérias primas. As
mensurações são tomadas diferentemente para cada tipo de vestígio, mas a análise das feições
relacionadas à matéria prima é comum para todos os artefatos. São estes:

• Tipo de rocha ou mineral (ex: sílex, arenito, quartzo, etc.);


• Cor (ex: vermelho, preto, branco);
• Translucidez (sim ou não);
• Imperfeições (ex: veios de minerais, trincas naturais, intrusões, etc.);
• Presença e natureza de córtex (ex: afloramento, rolamento fluvial, cristal, geodo,
etc.);

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• Presença e natureza de pátina (ex: lustre fluvial, lustre arenoso, alteração


química, concreção, etc.).

O reconhecimento de aspectos naturais como esses não se mostrará profícuo sem antes
reconhecer que o objeto em questão foi lascado intencionalmente a fim de ser transformado em
um produto funcional ou se trata de um resíduo da produção.

6.2. A produção e anatomia de uma lasca

“Lasca” é uma palavra popularmente utilizada para se referir a um fragmento de um


material que se destacou de um bloco maior deste mesmo material, como uma lasca de dente
quebrado, ou uma lasca de uma madeira entalhada, ou até mesmo uma lasca de unha recém-
cortada. Mas em termos arqueológicos, o termo “lasca” é utilizado para se referir especificamente
a um tipo de fragmento que apresenta uma série de feições anatômicas específicas (figura 6.1).

Figura 6.1 – Partes anatômicas de uma lasca. Peça utilizada: Lasca de obsidiana produzida em atividade
experimental. Desenho: João Carlos Moreno de Sousa.

O lascamento de uma rocha ou mineral acontece quando certa quantidade de energia é


propagada em materiais sólidos, causando fraturas. E estas fraturas podem ser controladas de
acordo com [1] o modo como a energia é criada, [2] a quantidade de energia criada e propagada,
[3] o volume e estrutura do objeto e [4] a homogeneidade e elasticidade do objeto.

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Algumas marcas dessa propagação de energia podem ser identificadas tanto na lasca
quanto no material lascado. Existe um campo de estudo da mecânica interessada nos detalhes
destas marcas de fratura, a fractografia (Hull 1999), que pode ser muito bem aplicada nos estudos
arqueológicos de vestígios líticos lascados (Tsirk 2014). Na fractografia, a superfície criada na
peça é denominada base negativa. A superfície da lasca que remonta na base negativa é
denominada de base positiva. Nos estudos líticos, convencionou-se ao longo de décadas
denominar as bases negativas como “negativos” e base positiva de “face inferior” ou “face
interna” das lascas.

Uma das marcas observáveis na face inferior das lascas é o Cone de Hertz. Este cone é o
primeiro resultado da criação de energia a partir do contato entre dois corpos a partir de um único
ponto, seguido por ondas que dissipam a energia deste ponto. Para que o contato gere uma energia
grande o suficiente para que o cone de hertz seja criado é necessário que este contato seja causado
por pressão ou choque entre os dois corpos. O choque intencional é o que em estudos líticos
convencionou-se chamar de percussão.

O Cone de Hertz, que nos estudos líticos convencionou-se chamar de bulbo, se trata de
um domo de massa formada logo abaixo do ponto de contato entre os dois corpos (Byous 2013).
Nas peças lascadas pode ser observada a porção espelhada dos bulbos: os contra-bulbos. Tanto
nos negativos quanto nas faces inferiores das lascas podem ser observadas as ondas de propagação
de energia responsáveis por fraturar a rocha, as estrias próximas ao bulbo e as lancetas propagadas
do ponto de impacto, assim como a porção remanescente da área de contato (talão) e a linha que
divide o talão da face inferior da lasca (cornija). A expressividade destas marcas no material varia
de acordo com a qualidade da rocha ou mineral, principalmente com relação à homogeneidade; e
pode variar também de acordo com o material utilizado para criar a fratura (Crabtree 1972,
Cotterell & Kamminga 1987, Inizan et al. 1995, Andrefsky 1998, Kooyman 2000). Em diversos
casos, apenas o talão e o bulbo são observados, sendo o suficiente para classificar algumas peças
dentro da categoria arqueológica que se convencionou denominar como lasca.

A identificação das feições de uma lasca e dos negativos de uma lasca permite identificar,
além dos métodos e técnicas de lascamento, a diacronia do lascamento.

6.3. O que vem antes e o que vem depois: a análise diacrônica


O termo “diacronia” é utilizado para se referir a processos cronológicos. Na linguística,
por exemplo, se refere a mudanças que a linguagem sofre ao longo do tempo (Bybee 2010). Já na
antropologia social, o termo se refere a fenômenos sociais que se desenvolvem ao longo do tempo
(Chrisomalis 2006). Em estudos líticos, quando nos referimos à diacronia de uma peça, nos

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referimos na ordem cronológica de retirada de lascas que resultou naquele núcleo, lasca ou
artefato. A análise diacrônica 13 é justamente a identificação dessa cronologia de lascamento
através da identificação de feições em negativos sobrepostos. O registro mais eficaz da diacronia
de um artefato lítico está no desenho técnico, onde são representados os negativos de lascamento
através de contornos geométricos, a orientação dos negativos através de sombras e símbolos, e a
ordenação dos negativos através de cores, números ou símbolos.

6.4. A representação do lascamento com alguns traços e cores


O desenho técnico permite uma representação mais minuciosa das feições tecnológicas e
da análise diacrítica destas peças. Ou seja, permite observar a distribuição e ordenação dos
negativos de lascamento que permitem e suas sequências no processo de produção. Neste
trabalho, os desenhos técnicos foram realizados seguindo, a princípio, as convenções propostas
por Dauvois (1976) e Inizan et al. (1995), como a orientação do sombreamento e os símbolos. A
principal exceção aqui está em relação ao traço utilizado na representação de matéria primas.
Neste trabalho priorizou-se o uso de traços do sombreamento para representar a granulometria e
homogeneidade dos materiais lascados acima do tipo de matéria-prima (quartzo, arenito, sílex),
uma vez que, tecnologicamente, é a qualidade da rocha, e não sua constituição natural, que
possuem uma importância maior para o lascamento. Outras exceções são apresentadas na forma
de legendas. Cada artefato desenhado possui uma versão sombreada, e em uma versão em cores
e/ou escalas de cinza para representação da diacronia. O foco da análise diacrônica recai sobre os
artefatos formais, e apenas eles, portanto foram desenhados. A amostra de peças desenhadas foi
selecionada de acordo com o tempo disponível para produção dos desenhos, e de modo que todas
as categorias tecnológicas de cada artefato formal fossem representadas.

6.5. Selecionar amostras não é tão fácil quanto parece


Amostrar o material da coleção a ser analisada é uma opção recorrente em estudos de
coleções arqueológicas assim como em outras áreas da ciência. Afinal, nem sempre há
oportunidade de verba e tempo disponíveis para se realizar uma análise de todos os espécimes de
uma coleção. No caso da arqueologia, é praticamente impossível realizar uma “amostragem total”,
ou seja, a análise de todos os espécimes arqueológicos de um sítio ou cultura arqueológica. Isso
se dá por conta da baixa preservação de certos tipos de vestígios, além do fato de que apenas
alguns destes sítios são conhecidos e já foram parcialmente escavados – afinal, raramente um

13
O termo “analise diacrítica” também pode ser encontrado em publicações brasileiras para se referir, na
verdade, à análise diacrônica. O uso deste termo, apesar de equivocado, é recorrente até entre aqueles que
reconhecem tal equívoco e usam os dois termos em suas publicações. A similaridade das palavras
diacrônico e diacrítico, ainda que suas definições sejam diferentes, é a possível causa deste uso equivocado.

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mesmo sítio é escavado até o seu esgotamento. Além disso, os materiais escavados podem
apresentar problemas durante seu transporte para a reserva técnica, além de problemas que podem
acarretar desde a perda de informações sobre o contexto das peças até o sumiço das mesmas.

Na maioria dos casos selecionamos uma amostra de vestígios que acreditamos serem
representativos das coleções arqueológicas dentro dos objetivos do projeto. Esta foi a lógica
aplicada na seleção das amostras analisadas das coleções líticas provenientes dos sítios
arqueológicos selecionados neste projeto. Parece simples, mas é um pouco mais complexa do que
aparenta ser. Afinal, as peças selecionadas devem representar a indústria lítica estudada, ao
mesmo tempo em que não se sabe quais peças são, de fato, representativas. Portanto, para cada
coleção a amostra é selecionada seguindo diferentes métodos, que variam de acordo com a
quantificação total de peças, do numero de categorias líticas identificadas, e do numero total de
peças em cada uma dessas categorias. Além disso, é necessário levar em consideração quais
categorias respondem aos objetivos do projeto. O material amostrado para cada coleção será
descrito e especificado no capitulo 7, mas a amostragem seguiu o mesmo procedimento em todos
os casos.

A primeira etapa foi a seleção dos artefatos formais, pontas e lesmas, e das pré-formas.
Em todos os casos estudados, estas categorias líticas são as menos representativas em termos
quantitativos. Afinal, para cada produto singular dezenas de resíduos são produzidos, lascas e
detritos. Considerando o aparente padrão morfológico, e possivelmente tecnológico, das pontas e
lesmas presentes nas coleções, 100% destas peças foram selecionadas para análise. Até mesmo
peças fragmentadas foram incluídas. Exceções são as peças que representam apenas um
fragmento muito pequeno de uma ponta ou de uma lesma na qual não se pode obter nenhuma
informação sobre sua produção. As pré-formas foram também analisadas em sua totalidade.

A segunda etapa foi a seleção dos resíduos de produção. Em alguns casos, a quantidade
de detritos representa mais da metade dos resíduos. No entanto, os detritos raramente fornecem
informações suficientes para a análise tecnológica, uma vez que as feições com maior número de
variáveis tecnológicas estão presentes nas lascas, principalmente nas não fragmentadas. Os
detritos foram, portanto, apenas quantificados (contados).

Já as lascas foram analisadas, mas não em sua totalidade. Três princípios regiram a
seleção das lascas. O primeiro está relacionado à sua proveniência de coleta. Foram analisadas as
lascas de apenas uma unidade de escavação, de preferência aquela com melhor registro
estratigráfico e cronológico, a fim de proporcionar uma maior acurácia contextual.

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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O segundo princípio está relacionado à identificação das lascas provenientes da etapa de


façonagem de pontas e lesmas. Apenas foram analisadas lascas que seguem os mesmos padrões
mensuráveis dos negativos de façonagem das pontas e lesmas. Lascas que possuíam tamanhos
que não ultrapassavam o tamanho dos negativos de retoques de pontas e lesmas foram excluídas,
uma vez que a análise destes artefatos aponta que os padrões tecnológicos de retoque são
suficientemente compreendidos a partir dos artefatos em si, enquanto que sua façonagem não
pode ser totalmente compreendida apenas a partir do produto final.

O terceiro princípio que se seguiu foi o da aleatoriedade. Dentre as lascas selecionadas na


aplicação do primeiro princípio, foi selecionada uma amostra de pelo menos 30% de peças de
cada período cronológico pré-determinado com base em absolutamente nenhuma característica,
de modo que a escolha das lascas não fosse tendenciosa em relação a quaisquer aspectos que o
autor desta pesquisa pudesse ter preferência em analisar, tornando os dados mais próximos da sua
representação real.

Já os raros núcleos identificados, por representarem uma etapa importante da produção


de alguns artefatos, e por serem quantitativamente pouco representados nas coleções, foram
analisados em sua totalidade.

Por fim, os artefatos não-formais, sem aparente padrão tecnológico não foram analisados
sistematicamente como os demais vestígios, uma vez que não foi possível criar um protocolo de
análise para uma categoria de artefatos tão variada e que não apresenta nenhum aparente padrão
tecnológico, de modo que apenas algumas observações foram realizadas.

6.6. Pontas pedunculadas e pré-formas: Identificação e análise


A importância do estudo de pontas líticas repousa no seu potencial enquanto marcadores
culturais em variados contextos arqueológicos (ver: Buchanan et al. 2007; Buchanan & Collard
2007, 2010; Castiñera et al. 2007; Lycett 2007; Lycett et al. 2010; Cardillo 2009, 2010; Franco et
al. 2009, Okumura & Araujo 2013, 2014 e 2016). As pontas pedunculadas, como já discutido
nesta tese, serviram, inclusive, como “fóssil-guia” da associação de sítios brasileiros à famigerada
Tradição Umbu.

As pontas não foram classificadas em subcategorias tais quais pontas de lança, ponta de
flecha, ponta de projétil, ou qualquer outra subcategoria que infira funcionalidade, mas apenas
sua função enquanto um instrumento de perfuração. Afinal, não é possível determinar
funcionalidade para uma ponta lítica apenas com base em aspectos formais ou tecnológicos.
Wilson (2007), por exemplo, descreve o que seria uma lança, uma flecha, um dardo, um arpão,
entre outros, mas conclui que, arqueologicamente, estas pontas e até mesmo algumas facas podem

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ser muito similares e praticamente indistinguíveis sem a presença do cabo. Ainda que alguns
autores proponham a mensuração de determinados atributos métricos e aplicação e fórmulas para
identificação das função das pontas entre flechas e dardos (Ames et al. 2010, Bradbury 1998,
Browne 1938, Corliss 1972, Evans 1957, Fawcett & Kornfield 1980, Fenenga 1953, Hildebrandt
& King 2012, Hughes 1998, Ratto 1992, 1994, Shott 1997, Thomas 1978; Okumura 2015;
Okumura & Araujo 2015), apenas estudos experimentais e, principalmente, traceológicos poderão
indicar a função mais provável de uma ponta lítica arqueológica.

As pontas pedunculadas podem apresentar uma grande diversidade de volumes, formas,


contornos e tipos de organização tecnológica. Mas seu reconhecimento é possível através da
identificação de duas partes anatômicas essenciais: [1] uma extremidade relativamente
pontiaguda formada por dois gumes ativos, o ápice, e [2] uma extremidade oposta formada por
uma área de encabamento. Sua identificação é ainda mais precisa quando sua base possui algum
delineamento particular ou um pedúnculo. Pontas pedunculadas, no entanto, permitem uma
análise de uma maior variedade de feições, uma vez que possuem mais partes anatômicas (figura
6.2), como as aletas, que definem a extremidade oposta do ápice no gume ativo, e o pescoço,
formado pela linha que divide o corpo do pedúnculo. É importante notar que a análise de pontas
sem pedúnculo pode ser realizada seguindo o mesmo protocolo, mas desconsiderando as feições
relacionadas às aletas, pescoço e pedúnculo. As pré-formas, pontas não finalizadas, são
identificados pela similaridade de feições tecnológicas com as pontas finalizadas da coleção à
qual pertencem, principalmente com relação à forma, medidas e negativos de façonagem.

A primeira feição a ser observada nas pontas é a fratura. Pontas podem apresentar uma
grande frequência de fraturas devido à fragilidade de seus gumes. São observadas as localidades
das fraturas nas pontas e se a fratura é causada por:

• Possíveis acidentes de produção ou reavivamento, identificados pela localização


e organização dos negativos (Towner & Warburton 1990, Kooyman 2000);
• Impacto contra um alvo duro, identificado pela presença de um ou mais negativos
com contra-bulbo partindo do ápice com ordenação posterior aos negativos de
produção (Hranicky 2013);
• Quebra intencional por um indivíduo, identificada pela marca de impacto no
centro da peça (Bradley 1982);
• Ou provável quebra tafonômica, identificada pela ausência de pátina na
localização da fratura (Inizan et al. 1995; Hranicky 2013), e que pode ocorrer em
qualquer parte da peça, em especial nas áreas proporcionalmente mais finas.

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Figura 6.2 - Partes principais de uma ponta bifacial pedunculada. Desenho: João Carlos Moreno de Sousa. Ponta
utilizada para o desenho: Coleção particular João Boer, proveniente do sítio Alice Boer (Ipeúna, SP).

Análise métricas e morfológicas das pontas, como originalmente sugeridas por Binford
(1963) (mas veja: Mentz Ribeiro & Hentschke 1976; Okumura & Araujo 2014; para propostas
metodológicas brasileiras anteriores) podem, e devem, ser realizadas em conjunto com a análise
tecnológica, uma vez que os métodos e técnicas tem por objetivo formatar os artefatos em suas
determinadas formas e tamanhos.

As mensurações tomadas são: de distância entre pontos de referência (em milímetros);


massa total da peça (em gramas) e ângulos dos gumes (em graus). As mensurações de distância
são tomadas com uso de paquímetro analógico. A mensuração de massa é tomada com uso de
balança digital de precisão. A mensuração de ângulo é tomada com uso de goniômetro (para
gumes das peças). Peças cujas fraturas são relevantes não foram tomadas medidas de massa. As
mensurações em peças onde apenas um lado foi fraturado foram medidas partindo do princípio
da simetria das pontas, uma vez que em todas as coleções estudadas é perceptível que as pontas

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inteiras apresentam perceptível simetria. Por exemplo, a distância da aleta esquerda até o pescoço
deve ser equivalente no lado direito da ponta.

As mensurações de distância (figura 6.3) propostas nesta tese são:

• Comprimento total (CT);


• Largura máxima (LM);
• Espessura máxima (EM);
• Comprimento do corpo (CC);
• Comprimento do pedúnculo (CP);
• Comprimento médio dos gumes ativos (CG)
• Largura das aletas (LA);
• Largura do pescoço (LPc);
• Largura máxima do pedúnculo (LPd);
• Espessura do corpo (EC);
• Espessura do Pescoço (EPc);
• Espessura do Pedúnculo (EPd)

É importante notar que em muitos casos, como é da grande maioria das pontas de corpo
triangular, a largura máxima e a largura das aletas são exatamente as mesmas. Mas alguns casos,
a maior largura pode estar na porção média do corpo da ponta. Também é aplicada a fórmula
LM/EM = χ/1, na qual o valor de χ corresponde à sua “fineza”. Quanto maior o valor de χ,
mais fina é a ponta. Em peças façonadas bifacialmente, quanto maior o valor de χ maior é o nível
de conhecimento técnico e habilidade aplicadas na produção do artefato.

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Figura 6.3 – Mensurações de distância entre os principais pontos anatômicos de uma ponta pedunculada.
Desenho: João Carlos Moreno de Sousa.

A análise morfológica leva em consideração o contorno do corpo (figura 6.4), o


delineamento dos gumes ativos (figura 6.5), o contorno das aletas (figura 6.6), o delineamento do
pescoço (figura 6.7), o contorno do pedúnculo (figura 6.8) e a seção do corpo e do pedúnculo
(figura 6.9). Os tipos morfológicos sugeridos são propostos com base nos padrões observados em
pontas pedunculadas encontradas no Brasil pelo autor e naqueles sugeridos por Binford (1963) e
Mentz Ribeiro & Hentschke (1976).

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Figura 6.4 – Exemplos de categorias de contorno de pontas pedunculadas encontradas no Brasil. Desenho: João
Carlos Moreno de Sousa.

Figura 6.5 – Exemplos de categorias de delineamento de gumes ativos em pontas pedunculadas encontradas no
Brasil. Desenho: João Carlos Moreno de Sousa.

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Figura 6.6 – Exemplos de categorias de contorno de aletas de pontas pedunculadas encontradas no Brasil.
Desenho: João Carlos Moreno de Sousa.

Figura 6.7 - Exemplos de categorias de delineamento do pescoço de pontas pedunculadas encontradas no Brasil.
Desenho: João Carlos Moreno de Sousa.

Figura 6.8 - Exemplos de categorias de contorno de pedúnculos de pontas encontradas no Brasil. Desenho: João
Carlos Moreno de Sousa.

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Figura 6.9 - Exemplos de categorias de contorno de seções transversais do corpo e dos pedúnculos de pontas
encontradas no Brasil. Desenho: João Carlos Moreno de Sousa.

A análise tecnológica leva em consideração o suporte original da ponta, ou seja, a matriz


inicial de façonagem e retoque (ex: bloco natural, lasca); os métodos de façonagem e retoque (ex:
bifacial, alterno, unifacial); as técnicas de façonagem e retoque (ex: percussão, pressão); a
organização dos negativos do corpo e do pedúnculo (veja a figura 6.10 para exemplos). É comum
que peças que não possuem sequências sistemáticas de retoque apresentem alguns poucos
negativos de retoque espalhados ao longo de um ou outro bordo. Nestes casos, a análise considera
que as peças não possuem uma sequência de retoque, e o método e a técnica de retoque entram
como “ausentes”. O método e a técnica são observados apenas em peças onde o retoque se
apresenta como uma sequência de retiradas sistemáticas, que ocupam, pelo menos, a totalidade
de um gume em algum bordo.

Figura 6.10 - Exemplos de categorias de orientação dos negativos de façonagem de pontas pedunculadas
encontradas no Brasil. Desenho: João Carlos Moreno de Sousa.

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O termo “seletivo” é utilizado aqui para se referir aos negativos organizados sem uma
ordenação padrão, que aparenta ser aleatória. Geralmente as pontas façonadas através deste
método bifacial também necessitam de retoque para delineamento dos gumes e do pedúnculo. O
termo “negativos convergentes” se refere à organização de negativos sempre direcionados ao
centro da peça, inclusive ultrapassando-o frequentemente. Também é importante notar que peças
cuja façonagem tem como objetivo formar uma nervura central através de retiradas paralelas
frequentemente podem não suceder em remover totalmente a espessura da área do pescoço devido
a problemas relacionados à espessura já muito grande da peça, ou aspectos naturais da matéria
que resultam em lascas refletidas, ou até mesmo erros comuns do lascamento por pressão. Por
fim, também é importante notar que nem toda ponta pedunculada é façonada, seja bifacialmente
ou unifacialmente, tendo apenas retoque nos bordos a fim de delinear os gumes do corpo e do
pedúnculo. Denominamos as pontas sem negativos de façonagem de pontas afaçonadas.

Ainda que as mesmas categorias de organização de negativos no corpo possam ser


observadas no pedúnculo, também é importante identificar categorias específicas de façonagem
de pedúnculos, principalmente a acanaladura (figura 6.11). Esse é o processo de remoção de uma
lasca longa a partir da base ou pedúnculo de uma ponta. Os casos mais conhecidos de indústrias
paleoíndias com pontas acaneladas são as indústrias Clovis, da América do Norte, cujas pontas
apedunculadas costumavam ser finalizadas com uma acanaladura (Hranicky 2009; Bradley et al.
2010), e as indústrias na América do Sul que possuem pontas com pedúnculos côncavos
finalizados com uma acanaladura seguida de retoques que não se sobrepõem ao negativo da
acanaladura (ver: Morrow & Morrow 1999; Jackson 2006; para exemplos).

Figura 6.11 – Tipos de acanaladuras encontradas em pontas paleoíndias sul-americanas. Desenho: João Carlos
Moreno de Sousa.

As sequências de produção foram identificadas a partir da análise diacrônica, que permite


identificar a ordenação da remoção de cada lasca, e o direcionamento das sequências de
lascamento. Além da ficha de análise que conta com uma série de feições métricas, morfológicas

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e tecnológicas, o protocolo de análise também conta com desenhos técnicos de alguns exemplares
de modelos representativos dos conjuntos tecnológicos identificados em cada coleção.

As pré-formas não foram analisadas da mesma forma sistemática das pontas, justamente
por não representarem produtos finalizados, mas uma etapa de produção. Pré-formas são suportes
que já passaram por uma ou mais etapas de façonagem e possuem forma, volume e contorno
próximos ao do produto final, mas que ainda precisa de mais etapas de façonagem e/ou retoque
para ser finalizado (Bradley 1975). São importantes de algum nível de análise tecnológica, no
entanto, pois fornecem indicativos sobre a estrutura original do suporte, sobre as primeiras
sequencias de façonagem e sobre os motivos que levaram ao abandono da peça antes de sua
finalização. Para as pré-formas foram tomadas as medidas de comprimento, largura e espessura
total, fraturas, presença de um pedúnculo já finalizado, e problemas estruturais que podem ter
levado os lascadores a desistirem da peça.

6.7. Lesmas: identificação e análise


As lesmas são assim denominadas a partir de uma tradução literal do termo francês limace.
Limace seria uma categoria tipológica de artefatos criada originalmente por Henri-Martin (1923:
111-112) em seus estudos sobre a indústria Musteriense. Trata-se de um tipo de “biponta”
fusiforme, de seção plano-convexa, lascado unifacialmente, e sujo suporte é uma lasca. Henri-
Martin acreditava que as peças que denominou como limaces deveriam ter sido utilizadas como
pontas de lanças.

Posteriormente, Bordes (1961: 23) sugeriu que estas peças eram na verdade raspadores,
e propôs que para que um artefato fosse chamado de limace ela deveria ser simétrica, o artefato
deveria ser pelo menos 3 vezes mais largo do que espesso, possuir uma extremidade pontiaguda,
bordos laterais biconvexos, e retoques ininterruptos em todos os bordos. O termo e a definição de
Bordes se popularizaram entre arqueólogos que trabalhavam sobre indústrias do Paleolítico
Médio da Europa e do Oriente Médio.

No Brasil, como já discutido anteriormente, os primeiros arqueólogos a notarem uma


grande presença de artefatos muito similares às limaces associaram estas peças e as coleções
líticas a elas relacionadas à Tradição Itaparica. Estes artefatos foram chamados de diversas
maneiras, desde “raspadores plano-convexos” (Rodet et al. 2011) até “lâminas unifaciais”
(Schmitz 1980; Barbosa 1992; Dias 2004), mas nenhum destes nomes descreve corretamente
estas peças. Afinal, nem todas estas peças podem ser consideradas raspadores, uma vez que alguns
dos gumes retocados também podem servir para ações de corte. E o termo “lâmina” é utilizado
em estudos líticos unicamente para se referir a lascas que são duas vezes mais compridas do que

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largas, ou a peças polidas alongadas. A versão traduzida do termo limace, “lesma”, foi o termo
utilizado para se referir aos artefatos formais associados à Indústria Itaparica, uma vez que
apresentam feições que são, ainda que não exatamente iguais, bastante similares às limaces do
Paleolítico Médio. Apesar de várias publicações discutirem a Tradição Itaparica (ver: cap. 4.3),
existem poucos trabalhos que discutem, especificamente, a tecnologia das lesmas (ver: Fogaça &
Lourdeau 2008; Lourdeau 2010; Angeles et al. 2016; Moreno de Sousa 2016a, 2016b, para
exemplos). Considerando estes autores, o termo lesma passou a ser utilizado para se referir apenas
aos artefatos que apresentam uma série de feições específicas que até o momento, parecem ser
comuns a todas as peças desta categoria (figura 6.12). Seriam elas:
• Suporte sobre lasca;
• Façonagem unifacial;
• Presença de múltiplos gumes ativos com feições individuais (geralmente um deles
localizado em uma das extremidades da peça);
• Seção plano-convexa cuja espessura é menor ou igual à largura;
• Comprimento maior do que a largura.

Figura 6.12 - Partes principais de uma lesma. Desenho modificado do original por João Carlos Moreno de Sousa.
Peça utilizada para base do desenho: Coleção do sítio arqueológico Córrego do Ouro 19 (GO-CP-17) (Palestina
de Goiás, GO).

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É necessário notar que, ainda que a façonagem bifacial não esteja presente na produção
de lesmas, é possível identificar ocasionais retiradas na face inferior de modo a corrigir sua
superfície, tornando-a mais plana. Geralmente estas retiradas estão associadas à remoção do bulbo
(figura 6.12) e, menos frequentemente, de ondas extremamente salientes. Atividades
experimentais de replicação de lesmas (ver: cap. 8) revelam que há um segundo tipo de retirada
na face inferior, o qual está relacionado à facetagem dos talões das lascas de façonagem unifacial.
Ou seja, pequenas lascas são retiradas da face inferior a fim de moldar o talão e torná-lo menos
agudo, permitindo assim a façonagem unifacial com lascas longas o suficiente para ultrapassar as
áreas mais espessas do artefato. No entanto, a facetagem raramente deixa vestígios nas lesmas,
uma vez que os negativos da facetagem acabam sendo removidos durante a etapa de retoque da
peça. Desta forma, o único meio de verificação de processos de facetagem durante a façonagem
das lesmas é através da análise das lascas relacionadas à sua produção, as quais devem apresentar
talões facetados, ou seja, com presença de contra bulbos.

Outras feições tecnológicas, como o delineamento do gume, tipo de matéria-prima, forma


e contorno da peça, não parecem seguir um padrão muito claro entre as lesmas. Estudos que
foquem nos demais vestígios líticos, e não apenas nas lesmas, ainda são necessários para uma
caracterização melhor da indústria Itaparica. De fato, isso é necessário para entendimento de todas
as outras culturas arqueológicas conhecidas no Brasil, já que apenas os artefatos finalizados são
alvos recorrentes de estudo, enquanto a potencialidade tecnológica dos resíduos de produção
ainda é negligenciada na maioria dos estudos líticos, inclusive na arqueologia brasileira.

Assim como no caso das pontas, a análise das lesmas seguiu um protocolo sistemático.
Aspecto naturais das peças, assim como a suas possíveis fraturas, foram analisadas seguindo o
mesmo procedimento aplicado às pontas. Também foram tomadas a massa e as medidas máximas
de comprimento largura e espessura, além de identificar a organização dos negativos de
façonagem (figura 6.13).

Os gumes ativos (sensu P. White & Thomas 1972) foram identificados, quantificados e
analisados tomando como base os ângulos e perfis do plano de bico (área representada pelos
negativos de retoque) e do plano de corte (área representada pelos negativos de façonagem), seus
comprimentos, delineamentos, dimensões máximas dos negativos, e organização dos negativos
de retoque.

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Figura 6.13 - Exemplos de categorias de organização dos negativos de façonagem de lesmas. Desenho: João
Carlos Moreno de Sousa.

6.8. Núcleos: identificação e análise


A identificação de núcleos inicia-se pela observação de pelo menos uma superfície de
lascamento adjacente a um plano de percussão (Inizan et al. 1995; Fogaça 2017). Apenas estas
características não são suficientes para identificar um vestígio lítico como um núcleo, afinal,
qualquer artefato lascado também apresenta estas feições. Os núcleos, no entanto, podem ser
identificados com base na estrutura dos negativos de debitagem. Os negativos devem
corresponder a suportes de artefatos presentes naquela coleção, ou em coleções arqueológicas do
mesmo contexto. Por exemplo, em uma indústria onde a maioria dos artefatos são lascas pouco
modificadas espera-se que os negativos de debitagem dos núcleos apresentem as mesmas feições
das lascas pouco modificadas. Em casos onde os artefatos são bastante façonados, a ponto de não
ser possível observar a estrutura original da lasca-suporte, espera-se que os núcleos relativos a
esta debitagem apresentem negativos maiores do que ao artefato finalizado. Este método de
identificação de núcleos onde é necessário, primeiramente, obter dados sobre os suportes, é viável
para os casos de indústrias cujos núcleos não apresentam padrões formais conhecidos.

Núcleos formais são mais facilmente identificáveis, uma vez que se apresentam com
grande frequência em determinadas indústria arqueológicas, como é o caso dos núcleos levallois
da indústria Musteriense na Europa (Inizan et al. 1995; Fogaça 2017), ou dos núcleos laminares
plano-convexos (em inglês: flat back blade cores) da indústria Clovis na América do Norte
(Collins 1999; Bradley et al. 2010), entre outros. Trata-se de núcleos debitados através de métodos
específicos. Tanto o método quanto o núcleo recebem o mesmo nome.

Nas indústrias líticas encontradas no Brasil, os núcleos formais mais conhecidos são os
núcleos piramidais (ver: P. Mello 2005; Viana 2005; Moreno de Sousa 2014, 2017; para

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exemplos), os núcleos discoides (ver: P. Mello 2005; Viana 2005; para exemplos), os núcleos de
fatiagem (ver: Prous 1996; Macedo Neto 1996; Rodet 2006; Viana 2005; Rodet et al. 2007; T.
Alves 2010; Moreno de Sousa & Araujo 2018), os núcleos de planos-opostos (ver: Moreno de
Sousa 2017; Moreno de Sousa & Araujo 2018) e os raros núcleos laminares (Lourdeau et al.
2017).

Os núcleos são analisados com base nas mensurações de comprimento, largura, espessura,
massa; classificados dentro de suas categorias formais (quando é o caso); e nas mensurações de
comprimento e largura máxima dos negativos; ângulo médio das lascas retiradas dos núcleos.

6.9. Lascas: análise e associação às etapas de produção


Dentre todas as classes de vestígios líticos passíveis de análise tecnológica, as lascas são
as que tiveram o menor aproveitamento de seu potencial informativo na história dos estudos
líticos. Afinal, os artefatos, principalmente os formais, tem um apelo visual mais expressivo do
que pequenas lascas de formas variadas. Além disso, a maioria delas não é o produto final, mas
apenas um resíduo de alguma etapa de produção. Mas é exatamente aí que repousa a importância
tecnológica das lascas. Se por um lado os artefatos apresentam informações dos métodos e
técnicas aplicados no final de sua produção, as lascas têm o potencial de nos informar sobre o que
aconteceu nas etapas anteriores. São as feições das lascas, observadas em conjunto, que permitem
identificar as possíveis técnicas de lascamento para cada etapa da produção de um artefato. A
maioria dessas feições está relacionada ao talão e ao bulbo. Não por acaso, a porção proximal de
uma lasca é aquela que tecnolitólogos mais se debruçam em observações, uma vez que essas são
justamente as feições que geralmente não são identificáveis nos artefatos, principalmente aqueles
bastante retocados, já que os negativos mais recentes eliminam os negativos anteriores. São os
talões e os bulbos que poderão nos dizer se a lasca foi removida por percussão dura, percussão
macia, pressão, etc. É por esse mesmo motivo que as lascas fragmentadas, ainda são consideradas
como potencialmente informativas, enquanto que os fragmentos de lascas muitas vezes são
classificados como detritos. Neste sentido, utilizamos o termo “lasca fragmentada” para referir às
lascas onde a porção distal está ausente; enquanto que o termo “fragmento de lasca” é utilizado
para referir às lascas em que a porção proximal está ausente (figura 6.14).

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Figura 6.14 – A diferença entre uma lasca fragmentada e um fragmento de lasca.

Assim como qualquer outro vestígio lítico, as lascas seguem um protocolo de análise que
considera seus aspectos naturais, e as dimensões de massa, comprimento, largura e espessura. Em
seguida são consideradas as dimensões de largura, espessura e ângulo do talão (figura 6.15); além
do seu contorno (figura 6.16); sua superfície (figura 6.17) e se ele foi preparado (figura 6.18) a
proeminência de um lábio na cornija (figura 6.19) e do bulbo (figura 6.20); o contorno geral da
lasca (figura 6.21); o perfil geral da lasca (figura 6.22); a quantidade de negativos, a quantidade
de córtex e a organização da face superior (figura 6.23); e a presença de outras características que
podem ou não ser acidentais (figuras 6.24).

Figura 6.15 – Mensurações realizadas no talão.

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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Figura 6.16 – Exemplos de categorias de contorno de talão.

Figura 6.17 - Exemplos de categorias de superfície de talão.

Figura 6.18 – Identificação de preparação nas lascas.

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Figura 6.19 – Categorias de delineamento de cornija.

Figura 6.20 – Categorias de bulbo.

Figura 6.21 – Categorias de contorno geral da lasca.

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Figura 6.22 – Categoria de perfil de lasca.

Figura 6.23 – Exemplos de categorias de organização da face superior das lascas.

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Figura 6.24 – Exemplos de lascas com feições que podem ou não ser acidentais.

Considerando a cadeia operatória de um artefato lítico e as etapas de produção (ver:


capítulo 3.5), as lascas podem ser associadas às etapas de produção identificadas nos artefatos e
nos núcleos. Neste sentido, a análise tecnológica dos artefatos e dos núcleos deve ser realizada
anteriormente à análise das lascas. Afinal, de que outra maneira poderíamos associar as lascas às
etapas de produção sem antes identificar as feições de produção nos próprios produtos? A
associação direta, através da remontagem das lascas nos artefato e núcleos parece ser um método
mais fácil e eficaz. No entanto, as lascas só poderão remontar nos negativos ainda presentes nos
núcleos e artefatos, que geralmente são os últimos a serem produzidos. Além disso, a tentativa de
remontar cada uma das milhares de lascas em cada uma das dezenas ou centenas de artefatos pode
se mostrar infrutífera, uma vez que as lascas respectivas à produção de um determinado artefato
podem ter sido descartadas em uma área não escavada de um sítio, ou até mesmo em outro sítio
arqueológico. E mesmo quando o pesquisador tem os resíduos de toda a produção de um
determinado artefato em sua coleção, o tempo necessário para montar esse quebra-cabeça
tridimensional é incalculável, especialmente em coleções com milhares de peças e com pouca
variabilidade de matérias-primas.

O método aqui proposto considera analisar os artefatos e núcleos antes das lascas, de
modo que as feições observadas nos artefatos fornecerão indícios de feições tecnológicas que as

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lascas resultantes de cada etapa podem apresentar. Por exemplo, espera-se que as lascas de
façonagem de uma ponta produzida pelo método bifacial e paralelo possuam talões diedros ou
facetados e negativos paralelos na face externa. Se a ponta não possui retoques, o ângulo
aproximado do talão das lascas de façonagem pode ser predeterminado medindo o ângulo do
gume das pontas. Por exemplo, se as pontas não retocadas apresentam gumes com ângulos que
variam entre 55º e 65º graus, é esperado que as lascas de façonagem possuam talões com ângulos
que variam entre 115º e 125º, ou ângulos ainda mais próximos de 90º caso o talão seja facetado.
Negativos de façonagem e retoque são bem mais visíveis, podendo dar informações sobre o
tamanho máximo das lascas de façonagem e retoque e, principalmente no caso dos retoques, uma
noção das formas do talão através da observação do delineamento dos gumes dos instrumentos.

Uma vez que as lascas foram associadas às suas respectivas etapas de produção através
de uma pequena série de feições específicas, as demais feições presentes nestas mesmas lascas
complementam os dados sobre os métodos e técnicas de produção de cada etapa. Mas,
infelizmente, nem todas as lascas poderão ser associadas a uma etapa de produção. Ainda que os
negativos forneçam uma base para identificação da etapa de qual a lasca é proveniente, esta base
pode não ser suficiente para identificar se uma lasca é, por exemplo, proveniente da etapa de
retoque ou de alguma preparação de talão de uma etapa anterior.

6.10. Todo método tem suas limitações


Algumas lascas podem ser tão incomuns àquilo observado nos artefatos, que não poderão
ser associadas a uma determinada etapa de produção. Os motivos da anomalia aparente de uma
lasca podem estar relacionados à sua real proveniência da formatação inicial de um núcleo, ou
façonagem inicial de um artefato, em que em ambos os casos o suporte original é natural e pode
apresentar formas variadas. Ou essa lasca incomum pode ser, na verdade, uma lasca muito comum
relativa à produção de outro tipo de artefato que nunca foi descartado na mesma área do sítio ou
no mesmo sítio – nesse caso teríamos apenas os resíduos de produção, mas não o produto em si.

Devemos aceitar que nenhum método é perfeito... Pois se fosse, nem sequer definiríamos
uma categoria denominada “detrito”. Este é o termo utilizado para nos referir aos fragmentos de
lascas e outros vestígios líticos lascados cuja origem não pode ser identificada. Aí se encontram
todos os vestígios que não apresentam talões, bulbos e contra-bulbos. É importante notar que
estilhas não são considerados detritos, pois se tratam de lascas que apresentam talões e bulbos
assim como qualquer outra lasca. O fato destas pequenas lascas serem geralmente classificadas
como “estilhas” em diversos estudos líticos se dá, provavelmente, pela maior dificuldade de se
observar os atributos tecnológicos em peças tão pequenas (menores que 1 cm) e são, portanto,
ignoradas da análise de lascas. No entanto é necessário lembrar que as lascas classificadas como

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“estilhas” unicamente com base em seu tamanho podem ser provenientes de processos
importantes na cadeia operatória de um artefato, como retoques e preparações de talão.

Outra limitação está no fato de que nenhum método de análise tecnológica permite a
identificação dos materiais nos quais os artefatos líticos foram utilizados, sendo necessárias
análises microrresiduais e traceológicas (Odell 2004), e até mesmo realização de experimentos de
replicação da produção e utilização de artefatos. Vale lembrar que experimentos de replicação
também podem auxiliar na resolução de questões estritamente tecnológicas (veja cap. 8).

6.11. Replicar um artefato pode ser difícil, mas vale o esforço


Outra incerteza muito comum entre os tecnolitólogos, principalmente aqueles com pouca
ou nenhuma experiência prática de aplicação de métodos e técnicas de lascamento, recai
justamente sobre as técnicas de obtenção das lascas. Como é possível identificar se uma lasca ou
um negativo de lascamento é resultado de uma percussão dura, uma percussão macia, uma
pressão, ou até mesmo uma percussão indireta? Onde estão as publicações que especificam as
feições de uma lasca que determinam precisamente a técnica aplicada? Nenhum tecnolitólogo
jamais ditou essas regras por uma razão que só é bem compreendida por quem já um nível básico
de experiência de lascamento: diferentes materiais respondem de maneiras diferentes ao
lascamento e, porventura, a cada técnica aplicada. No Brasil, A única discussão realizada sobre
este assunto é o trabalho de Rodet & Alonso (2004) no qual os autores tentaram identificar as
mesmas feições observadas em experimentos da tecnologia do paleolítico europeu para associá-
las às técnicas de percussão macia ou dura. Mas como bem apontado por Tixier (2012), não
existem métodos universais de identificação de técnicas de percussão que sejam acurados, sendo
necessário um lascamento experimental com a mesma matéria-prima da coleção analisada e uma
variedade de percutores duros e macios. O mesmo vale para as técnicas de pressão. As feições
específicas do bulbo e da cornija resultantes das técnicas de percussão macia (como bulbo pouco
proeminente e/ou presença de lábio na cornija) também podem ser confundidas com alguma
técnica de pressão.

Por outro lado, algumas feições podem ser indicativas de determinadas técnicas.
Lascamentos serrilhados e paralelos, por exemplo, podem ser indicativos de pressão ou percussão
indireta, uma vez que a percussão direta não permite tamanha precisão. E a técnica de pressão
dificilmente será capaz de produzir lascas largas ou espessas, pois exigem uma quantidade de
energia que apenas a percussão pode produzir. A verificação da variabilidade entre os bulbos e
cornijas de lascas da mesma matéria-prima pode ser indicativa da variação de técnicas aplicadas,
mas que precisam ser verificados através de experimentos de replicação.

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Também são necessárias experimentações com as mesmas matérias-primas da coleção a


fim de entender se houve ou não tratamento térmico nas peças anterior ao seu lascamento. O
tratamento térmico é um método que consiste em aquecer as matérias-primas com o objetivo de
melhorar a qualidade do lascamento do material. Uma regra geral para identificação do tratamento
térmico é sugerida por Crabtree (1975) e Domanski & Webb (1992, 2007), mas apenas para
rochas silicosas. Nestes casos, as peças tendem a sofrer alteração da cor e textura, mas que só
poderão ser notadas dentro da peça após o lascamento, uma vez que a parte externa da peça não
apresenta nenhuma alteração visualmente identificável. A porção interna da rocha apresenta um
brilho maior em relação à área externa, e pode ser observada uma certa vitrificação da rocha
silicosa. De todo modo, para a maioria das rochas encontradas no Brasil, estudos experimentais
ainda são necessários, uma vez que as feições do tratamento térmico variam de acordo com a
composição das rochas de cada região, mesmo que elas façam parte da mesma categoria (arenito,
quartzo, sílex, etc.).

A interpretação tratamento térmico não pode ser justificada com base na identificação de
feições de queima, como presença de negativos de cúpulas térmicas e alteração na cor, no brilho
e na textura de algumas lascas e artefatos. As cúpulas térmicas são feições que surgem apenas a
partir do momento em que a peça é aquecida em temperaturas acima daquelas da vitrificação de
uma rocha silicosa. Produzir cúpulas intencionalmente, além de ser perigoso para aqueles
próximos à fogueira (experiência pessoal14), causa fraturas na rocha que impedem a sua utilização
como suporte de lascamento. Além disso, marcas e enrugamento de superfícies nunca estarão
presentes na face inferior de uma lasca ou em qualquer porção de um artefato que sofreu
tratamento térmico. Afinal, o tratamento térmico deve ocorrer antes do lascamento, uma vez que
o objetivo do método é justamente torna-lo mais apto ao lascamento. Os casos em que as cúpulas
e enrugamentos na face inferior das lascas são notados são casos onde altas temperaturas
atingiram as peças devido a eventos tafonômicos, como a proximidade com fogueiras ou eventos
de queimadas (naturais ou antrópicas). Sendo assim, o tratamento térmico de matérias-primas
líticas nunca foi, de fato, registrado em território brasileiro, exceto por Parenti (2001: 177, 191-
193) em algumas peças, incluídas três lesmas, datadas em 10.000 AP no sítio Boqueirão da Pedra
Furada, no Piauí, onde o autor identificou a diferença entre os negativos anteriores e posteriores
ao tratamento. Mas sendo a única coleção brasileira paleoíndia a apresentar evidências de
tratamento térmico, este é um caso atípico.

14
As cúpulas são resultantes da explosão de partes da rocha que podem atingir e ferir gravemente qualquer
pessoa (ou animal). Experimentos desse tipo devem ser realizados apenas quando medidas de segurança
são tomadas e sob supervisão de pesquisadores experiente no assunto.

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6.12. Números, gráficos, e tabelas em busca de tendências culturais


Em estatística, são considerados valores atípicos aqueles que fogem demasiadamente da
tendência de um determinado atributo. No método proposto para análise estatística dos resultantes
da análise lítica, os valores atípicos de atributo quantitativos foram excluídos da análise, uma vez
que eles podem alterar os valores de tendência central de forma considerável. A análise descritiva
é apresentada em forma de tabelas de frequência no caso de atributos métrico. No caso dos
atributos qualitativos são apresentadas a variância, média, e desvio padrão.

A identificação de padrões entre e diferenças estatisticamente significantes entre as áreas


e períodos estudados pode ser importante para indicar mudanças culturais. Nesta tese, os testes
aplicados para verificação de significância nas diferenças de atributos qualitativos (não-métricos)
entre coleções foram o teste de Chi Quadrado e o teste de Fisher, sendo o segundo aplicado apenas
nos casos onde os dados de pelo menos uma das coleções não estavam em conformidade com as
normas do uso de chi quadrado. Uma vez que o teste de Chi Quadrado não permite valores iguais
à zero, nesta pesquisa foi adotado o procedimento de considerar apenas as variáveis com
frequência maior de 25%. As variáveis com frequência menor que 25% nas duas coleções foram
somados.

Para observação da diferenças e similaridades de cada atributo da mesma classe de


vestígio lítico entre duas distintas amostras, tabelas com os valores de tendência foram
apresentados, considerando como tendência métrica a média e o desvio padrão e como tendência
qualitativa os atributos com frequência maior de 25% (exceto no caso das lascas, onde foi
considerado 20%, devido a maior variabilidade dos atributos).

Para verificação de significância nas diferenças dos atributos métricos, um teste de


normalidade foi realizado primeiro, uma vez que o teste de significância utilizado irá depender da
distribuição do atributo ser ou não ser normal. O teste de normalidade aplicado foi o teste Shapiro-
Wilk. No caso de atributos com distribuição normal nas duas amostras, os testes de significância
de diferenças aplicados foram o Teste T de Student, em caso de comparação entre duas amostras,
e o teste ANOVA, em casos de comparações entre mais de duas amostras. Em casos de
distribuições não normais ente as duas amostras, foi usado o teste de Mann-Whitney (em caso de
comparação entre duas amostras) e o teste Kruskall-Wallis (em casos de comparações entre mais
de duas amostras).

Para comparação entre mais de duas amostras, nenhum dos testes mencionados aponta
onde estão as diferenças – ou seja quais amostras são similares ou diferentes entre si. Uma vez
que o único teste multivariável possível para atributos não métricos é o teste de Chi-quadrado, e

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considerando que ele não aponta entre quais pares de amostras estão as diferenças, novos testes
para os atributos qualitativos foram realizados comparando as amostras separadamente em pares.
Ou seja, comparando a amostra 1 com a amostra 2, depois a amostra 2 com a amostra 3, e por fim
a amostra 1 com a amostra 3. Em estatística, considera-se que as comparações entre pares
aumentam a possibilidade do Erro do Tipo 1 – ou seja, caso diferenças sejam apontadas, elas
seriam frutos do acaso. No entanto, não há outra possibilidade de realização deste teste em
atributos qualitativos em que se possa verificar onde essas diferenças podem estar (caso elas
existam).

No caso dos atributos quantitativos, o teste de Tukey foi aplicado nos raros casos em que
os atributos possuam distribuição normal em todas as amostras comparadas. O teste de Dunn-
Bonferroni foi realizado nos casos nos quais o teste de Kruskall-Wallis apontou diferença
significativas, a fim de identificar entre quais pares de amostras as diferenças foram apontadas.

Os únicos gráficos apresentados foram aqueles considerados necessários para uma melhor
visualização da intensidade de ocupação dos sítios ao longo do tempo, apresentando a quantidade
de vestígios líticos em cada nível arqueológico.

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7.
TECNOLOGIA LÍTICA DOS SÍTIOS ESTUDADOS

Uma vez que um dos objetivos deste projeto é verificar mudanças e continuidades ao
longo do tempo, as coleções dos sítios escavados foram divididas em pelo menos dois períodos
cronologicamente e/ou culturalmente distinguíveis. Neste último caso, essa distinção foi realizada
com base na presença ou ausência de artefatos formais em determinados níveis estratigráficos,
aumento ou diminuição na frequência de vestígios em determinados níveis, ou outros fatores
anteriormente registrados nas publicações relacionadas às escavações arqueológicas. As coleções
provenientes de coleta de superfície foram divididas apenas por sítio, já que não é possível saber
suas idades.

As fotos de todos os artefatos formais, pré-formas e núcleos analisados encontram-se no


catálogo de artefatos líticos anexo à tese, incluindo todas as peças citadas neste capítulo.

7.1. A coleção Alice Boer

7.1.1. Um desafio para quantificação e amostragem


A coleção do sítio Alice Boer, escavada durante as pesquisas de Beltrão (ver cap. 5.2.),
está acondicionada atualmente no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(MN-UFRJ). O acesso ao material foi gentilmente cedido pela professora Dra. Tânia Andrade
Lima, curadora do acervo até a data de início das atividades, e pela Dra. Rita Scheel-Ybert, após
aposentadoria da Dra. Lima.

De acordo com as fichas de catálogo, etiquetas e numerações nas peças, o material


arqueológico se encontra distribuído entre níveis arqueológicos de profundidades arbitrárias não
padronizadas (tabela 7.1). Uma quantificação total das peças da coleção foi realizada,
contabilizando 3.023 peças escavadas, mais 24 encontradas em superfície. A coleção apresenta
diversos problemas, resultante das décadas de pesquisa pouco sistemáticas anteriores. Os
problemas estão relacionados à falta de informações e documentação sobre algumas peças, além
de falta de padrão de numeração entre as peças. Alguns destes problemas foram solucionados
graças à ajuda dos profissionais que trabalham atualmente na reserva técnica do Museu Nacional.
Apesar dos mútuos esforços, mais de 500 peças foram descartadas da quantificação e análise
devido à ausência de informações sobre sua proveniência, incluindo pontas pedunculadas, lesmas,
núcleos e machados polidos, os quais possivelmente não pertencem ao sítio. Mas um dos maiores
problemas foi a falta de sistematização na separação de todo o material com base nos níveis
escavados, o que dificultou a quantificação das classes de vestígio lítico por nível arqueológico.

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Dessa forma todas as classes foram quantificadas juntas e apresentadas na tabela 7.1. Não é
possível verificar com precisão a distribuição do material por níveis arbitrários, dados os
problemas de registro do material e da clara perturbação.

Tabela 7.1 – Quantificação de vestígios líticos da coleção do sítio Alice Boer acondicionada na reserva técnica
do Museu Nacional, UFRJ. As datas são as mesmas apresentadas no capítulo 5.2 desta tese.

Data cal.
Nível (cm) I II III IV A A1 A2 A3 B1 B2 B3 B4 B5 ? Data AP
AP

Superfície 24
Camada 2 Estéril 7680 ± 40 8477 ± 45
0-10 - 10 - - -
30 2 3 2 7 3 2 7
10-20 - 13 - - - 7200 ± 40 8015 ± 35
20-30 - 18 1 - - 1 - - - - 6050 ± 100 6935 ± 142
15 7 25
30-40 - - - - - 2 - - - -
40-50 - 2 - - 6 - - - - 6135 ± 160 7014 ± 193
25 9 1 48
50-60 - - - - 5 - - - -
60-70 - - - - 17 - - - -
107 96 16 1 47
70-80 - - 1 - 9 4 - - - 6085 ± 160 6962 ± 194
80-90 - 1 - - 22 8 - - -
135 71 37 49
90-100 - - - - 13 17 - - -
100-110 69 - - - 3 19 5 1 - - -
216 84
110-120 63 - - - - 4 - - - - -
120-130 24 36 - - - - - 7 - - - -
203
130-140 32 2 - - - - - - - - - -
140-150 - - - - - - - - - -
1 25 253 5
150-160 - - - - - - 6 - - -
160-180 145 23 45 6 - - - - - - - - - 1
180-200 189 44 20 1 - - - - - - - - - -
200-220 241 1 11 - - - - - - - - - - -
220-240 253 - 1 - - - - - - - - - - -
240-260 77 - 1 - - - - - - - - - - -
260-280 111 - - - - - - - - - - - - -
280-300 3 - 1 - - - - - - - - - - -
300-320 - - - - - - - - - - - - - -
320-330 - - 3 - - - - - - - - - - -
330-400 Estéril
A partir de
400 (Leito Geofatos
do Rio)

O setor III apresentou material do período histórico (figura 7.1), incluindo metais e vidro,
até os 120 cm de profundidade na camada 3, sugerindo uma perturbação de, no mínimo, 260 cm

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na estratigrafia original do sítio. Uma perturbação nestes níveis também explica a inversão das
datas na estratigrafia. Sendo assim, a análise da coleção foi dividida entre os níveis acima de 120
cm, cuja perturbação foi identificada, e os níveis abaixo de 120 cm, os quais não foram
identificados nenhuma evidência de perturbação. Infelizmente, nenhuma escavação conseguiu
fornecer boas amostras para datação do pacote inferior a 120 cm. Neste ponto duas hipóteses
podem ser sugeridas para explicar essa inversão de datas e perturbação estratigráfica. A primeira
hipótese é a de que o pacote estratigráfico até os 120 cm de profundidade foi apenas parcialmente
perturbado durante o período histórico, o que não altera o fato deste mesmo pacote ser
relativamente mais recente do que o material abaixo dos 120 cm de profundidade, o qual
possivelmente dataria do Holoceno inicial. A segunda hipótese é de que todo o pacote acima de
120 cm, não está horizontalmente contextualizado, tendo sido retirado de outra área do sítio
séculos atrás por moradores locais, e redepositada no local que foi escavado, posteriormente, por
Beltrão. A segunda hipótese é reforçada pela inversão das datas, uma vez que a movimentação
horizontal de grandes pacotes sedimentares por ação antrópica tende a trazer o material mais
profundo para a superfície e vice-e-versa. A segunda hipótese também é reforçada pelas
observações realizadas por Meis & Beltrão (1982) e Beltrão (2000), que sugeriram que a camada
3 poderia ser dividida em duas subcamadas, uma superior e uma inferior. A camada 2, que de
acordo com Beltrão (2000) teria 140 cm de espessura e seria estéril, pode ter sido depositada em
um segundo momento, e seu sedimento teria sido trazido de uma área onde a ocupação pelos
grupos pré-coloniais não ocorreu ou não deixou vestígios.

Figura 7.1 – Vestígios materiais de presença humana em períodos históricos. As peças aparecem em até 120 cm
de profundidade da camada III, indicando perturbação estratigráfica provavelmente antrópica.

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Caso diferenças tecnológicas entre os pacotes inferior e superior a 120 cm forem


identificadas, a primeira hipótese é reforçada, indicando mudanças culturais ao longo do tempo.
Caso nenhuma diferença seja identificada, isso pode reforçar a segunda hipótese sobre a
estratigrafia, indicando que ambos os pacotes devem possuir as mesmas datas. Mas também
poderia indicar apenas que o sítio não passou por mudanças culturais desde antes do Holoceno
Médio, provavelmente desde o Holoceno Inicial.

Devido à alta perturbação registrada estratigraficamente, além da diferença na definição


de níveis arqueológicos para cada unidade de escavação (setor), não foi possível produzir uma
quantificação por níveis, a fim de verificar mudanças na frequência de peças ao longo do tempo.
O que pode ser afirmado, é que o pacote 0-120 cm contabiliza um total de 1359 peças, enquanto
o pacote inferior a 120 cm contabiliza um total de 1764 peças (tabela 7.2).

Tabela 7.2 – Frequência de classes de vestígios líticos da coleção do sítio Alice Boer.

Classe de vestígio 0-120 cm 120-330 cm


lítico n % n %
Lasca ou detrito 1325 97,5 1746 99
Ponta pedunculada 18 1,3 11 0,6
Pré-forma bifacial 12 0,9 5 0,3
Lesma 4 0,3 2 0,1
Núcleo - - - -
Total 1359 100 1764 100

As pontas, pré-formas bifaciais e lesmas foram analisadas em sua totalidade. As lascas


foram amostradas e são provenientes apenas do Setor III, por se tratar de uma unidade de
escavação com maior distribuição vertical de vestígios líticos. Dos 859 vestígios dessa unidade,
todas as 347 lascas foram analisadas. Separando por períodos, o pacote 0-120 cm totaliza 321
peças das quais 246 correspondem a lascas, enquanto o pacote 120-330 cm totaliza 538 peças,
das quais apenas 75 peças são lascas.

7.1.2. Um claro padrão de pontas pedunculadas


A coleção do sítio Alice Boer totaliza 23 pontas (figuras 7.2 até 7.6; arquivo suplementar
“sítio Alice Boer”), das quais 14 são provenientes do pacote 0-120 cm, e 9 do pacote 120-130 cm.
A tabela 7.3 apresenta as frequências de matérias-primas das pontas pedunculadas neste sítio. O
sílex abunda na região, inclusive na forma de plaquetas com córtex fluvial. Sua alta qualidade
para o lascamento não foi ignorada pelos grupos que ocuparam a região. Ainda que a presença de
outros materiais seja rara, a escolha do sílex pode ser entendida como uma seleção relacionada
também às suas propriedades qualitativas para o lascamento. Os experimentos com as peças
coletadas (ver cap. 8) revelaram que o sílex da região tem certa variabilidade de cores, na qual a

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Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

preta, a branca e a cinza predominam, o que explica a variabilidade de cores observada nas pontas
(tabela 7.4). A tabela 7.5 apresenta a frequência dos atributos naturais das pontas pedunculadas
sem os valores atípicos.

Figura 7.2 – Pontas pedunculadas do pacote 0-120 cm da coleção do sítio Alice Boer. Desenhos: João Carlos
Moreno de Sousa. Peças com número de tombo 64194 até 64205.

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Figura 7.3 - Pontas pedunculadas do pacote 0-120 cm da coleção do sítio Alice Boer. Desenhos: João Carlos
Moreno de Sousa. Peças com número de tombo 64268 até 66470.

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Figura 7.4 - Pontas pedunculadas do pacote 0-120 cm da coleção do sítio Alice Boer. Desenhos: João Carlos
Moreno de Sousa. Peças com número de tombo 68312 até 72092.

Figura 7.5 - Pontas pedunculadas do pacote 120-130 cm da coleção do sítio Alice Boer. Desenhos: João Carlos
Moreno de Sousa. Peças com número de tombo 64316 até 68702.

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Figura 7.6 - Pontas pedunculadas do pacote 120-130 cm da coleção do sítio Alice Boer. Desenhos: João Carlos
Moreno de Sousa. Peças com número de tombo 64196 até 64203.

Tabela 7.3 - Frequência das matérias-primas em pontas pedunculadas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice
Boer.
0-120 cm 120-330 cm
Matéria-Prima
n % n %
Sílex 11 78,6 8 88,9
Quartzo leitoso 3 21,4 1 11,1
Total 14 100 9 100

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Tabela 7.4 - Frequência das cores das pontas pedunculadas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
0-120 cm 120-330 cm
Cor
n % n %
Preta 6 42,9 6 66,7
Branca 3 21,4 1 11,1
Marrom 3 21,4 - -
Cinza 1 7,1 1 11,1
Cinza e roxo - - 1 11,1
Preto e Roxo 1 7,1 - -
Total 14 100 9 100

Tabela 7.5 – Frequência (contagens e porcentagens) dos atributos naturais das matérias primas de pontas
pedunculadas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
Variável mais frequente, n (%)
Atributos observados
0-120 cm 120-330 cm
Translucidez Ausente, 11 (78,6 %) Ausente, 8 (88,9%)
Ausente, 13 (92,9 %) Ausente, 7 (77,8 %)
Tipo de córtex
Fluvial, 1 (7,1 %) Fluvial, 2 (22,2 %)
Intrusões Ausente, 14 (100 %) Ausente, 9 (100 %)
Ausente, 13 (92,9 %) Ausente, 7 (77,8 %)
Alteração térmica
Cúpulas, 1 (7,1 %) Cúpulas, 2 (22,2 %)
Fraturas Ausente, 8 (57,1%) Presente, 6 (66,7%)

As tabelas 7.6 e 7.7 apresentam a estatística descritiva das pontas pedunculadas do sítio
Alice Boer.
Tabela 7.6 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas pedunculadas do pacote
estratigráfico 0-120 cm do sítio Alice Boer.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa (g) 10 3 15 6,7 3,9
Comprimento Total (mm) 11 33 67 47 11
Largura máxima (mm) 13 17 35 27 5
Espessura máxima (mm) 13 5 11 7 2
Proporção Largura/Espessura (x/1) 13 2,4 5,6 4,1 1,1
Comprimento do Corpo (mm) 13 17 44 28 8
Comprimento do Pedúnculo (mm) 12 16 23 19 3
Comprimento dos Gumes (mm) 13 18 45 30 8
Largura das Aletas (mm) 14 16 35 26 6
Largura do Pescoço (mm) 14 11 19 15 2
Largura do Pedúnculo (mm) 14 10 18 14 2
Espessura do Corpo (mm) 11 4 8 5 1
Espessura do Pescoço (mm) 13 5 11 7 2
Espessura do Pedúnculo (mm) 12 4 7 6 1
Ângulo Médio dos Gumes (graus) 13 35 65 51 10

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Tabela 7.7 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas pedunculadas do pacote
estratigráfico 0-120 cm do sítio Alice Boer.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa (g) 7 1 7 4 1,7
Comprimento Total (mm) 8 30 45 41 6
Largura máxima (mm) 8 16 32 24 5
Espessura máxima (mm) 6 5 9 6 1
Proporção Largura/Espessura (x/1) 8 2,4 4,8 3,9 0,7
Comprimento do Corpo (mm) 7 21 32 25 4
Comprimento do Pedúnculo (mm) 8 8 24 17 5
Comprimento dos Gumes (mm) 8 19 30 26 4
Largura das Aletas (mm) 8 16 32 24 5
Largura do Pescoço (mm) 8 11 18 14 3
Largura do Pedúnculo (mm) 8 9 17 13 3
Espessura do Corpo (mm) 9 3 8 5 1
Espessura do Pescoço (mm) 7 4 9 6 2
Espessura do Pedúnculo (mm) 7 5 7 6 1
Ângulo Médio dos Gumes (graus) 9 40 70 51 11

As tabelas 7.8 até 7.21 apresentam as frequências dos atributos morfológicos e


tecnológicos das pontas pedunculadas do sítio Alice Boer.
Tabela 7.8 – Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do corpo em pontas
pedunculadas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
0-120 cm 120-330 cm
Variáveis n % n %
Triangular 12 85,7 8 88,9
Espadas 1 7,1 - -
Indefinido 1 7,1 1 11,1
Total 14 100 9 100

Tabela 7.9 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento dos gumes em pontas
pedunculadas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
0-120 cm 120-330 cm
Variáveis n % n %
Retilíneo 8 57,1 7 77,8
Convexo 2 14,3 - -
Indefinido 2 14,3 - -
Côncavo 1 7,1 1 11,1
Irregular 1 7,1 1 11,1
Total 14 100 9 100

Tabela 7.10 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno das aletas em pontas
pedunculadas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
0-120 cm 120-330 cm
Variáveis n % n %
Retilíneo 12 85,7 7 77,8
Expandido 2 14,3 1 11,1
Indefinido - - 1 11,1
Total 14 100 9 100

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Tabela 7.11 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento do pescoço em


pontas pedunculadas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
0-120 cm 120-330 cm
Variáveis n % n %
Obtuso 12 85,7 5 55,6
Reto 2 14,3 2 22,2
Agudo - - 1 11,1
Indefinido - - 1 11,1
Total 14 100 9 100

Tabela 7.12 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do pedúnculo em


pontas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
0-120 cm 120-330 cm
Variáveis n % n %
Ovalado 11 78,6 8 88,9
Indefinido 2 14,3 1 11,1
Forma de 8 1 7,1 - -
Total 14 100 9 100

Tabela 7.13 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do corpo em pontas dos
pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
0-120 cm 120-330 cm
Variáveis n % n %
Elíptico 10 71,4 8 88,9
Plano-convexo 2 14,3 - -
Indefinido 1 7,1 - -
Romboide 1 7,1 1 11,1
Total 14 100 9 100

Tabela 7.14 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do pedúnculo em pontas
pedunculadas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
0-120 cm 120-330 cm
Variáveis n % n %
Elíptico 12 85,7 8 88,9
Indefinido 1 7,1 1 11,1
Plano-convexo 1 7,1 - -
Total 14 100 9 100

Tabela 7.15 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de suporte em pontas pedunculadas
dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
0-120 cm 120-330 cm
Variáveis n % n %
Indefinido 13 92,9 6 66,7
Natural 1 7,1 3 33,3
Total 14 100 9 100

Tabela 7.16 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de façonagem em pontas
pedunculadas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
0-120 cm 120-330 cm
Variáveis n % n %
Bifacial 14 100,0 8 88,9
Alterno à direita - - 1 11,1
Total 14 100 9 100

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Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.17 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de façonagem em pontas
pedunculadas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.

0-120 cm 120-330 cm
Variáveis
n % n %
Percussão + Pressão 6 42,9 1 11,1
Apenas percussão 6 42,9 1 11,1
Apenas pressão 2 14,3 7 77,8
Total 14 100 9 100

Tabela 7.18 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de retoque em pontas
pedunculadas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
0-120 cm 120-330 cm
Variáveis n % n %
Bifacial 8 57,1 3 33,3
Ausente 5 35,7 4 44,4
Alterno à direita 1 7,1 2 22,2
Total 14 100 9 100

Tabela 7.19 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de retoque em pontas
pedunculadas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
0-120 cm 120-330 cm
Variáveis
n % n %
Pressão 9 64,3 6 66,7
Ausente 5 35,7 3 33,3
Total 14 100 9 100

Tabela 7.20 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos de
façonagem do corpo em pontas pedunculadas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
0-120 cm 120-330 cm
Variáveis
n % n %
Largos e seletivos 9 64,3 2 22,2
Paralelos c/ uma nervura vertical 4 28,6 5 55,6
Convergentes 1 7,1 2 22,2
Total 14 100 9 100

Tabela 7.21 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos de
façonagem do pedúnculo em pontas pedunculadas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
0-120 cm 120-330 cm
Variáveis n % n %
Paralelos c/ uma nervura vertical 7 50 5 55,6
Convergentes 4 28,6 2 22,2
Indefinido 2 14,3 1 11,1
Largos seletivos 1 7,1 1 11,1
Total 14 100 9 100

A tabela 7.22 apresenta os valores de tendência central e maiores frequências dos


principais atributos das pontas pedunculadas, comparando os dois pacotes estratigráficos do sítio
Alice Boer.

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Tabela 7.22 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 25%) em pontas pedunculadas
dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. A amplitude considerada para os valores foi o desvio padrão.
Valores de tendência central e variáveis mais frequentes
Atributos observados
0-120 cm 120-330 cm
Matéria prima Sílex (79 %) Sílex (89%)
Cor Preta (42,9 %) Preta (66 %)
Massa 2,8 – 10,6 g 2,3 – 5,7
Comprimento total 36 – 58 mm 35 – 47 mm
Largura máxima 22 – 32 mm 19 – 29 mm
Espessura máxima 5 – 9 mm 5 – 7 mm
Proporção
2,9 – 5,1 /1 3,2 – 4,6 /1
Largura/Espessura
Comprimento do corpo 20 – 36 mm 21 – 29 mm
Comprimento do
16 – 21 mm 12 – 22 mm
pedúnculo
Comprimento médio dos
22 – 38 mm 22 – 30 mm
gumes
Largura das aletas 20 – 32 mm 19 – 29 mm
Largura do pescoço 13 – 17 mm 11 – 17 mm
Largura do pedúnculo 12 – 16 mm 10 – 16 mm
Espessura do corpo 4 – 6 mm 4 – 6 mm
Espessura do pescoço 5 – 9 mm 4 – 8 mm
Espessura do pedúnculo 5 – 7 mm 5 – 7 mm
Ângulo médio dos gumes 40 – 60º 40 – 62º
Contorno do corpo Triangular (86 %) Triangular (89 %)
Delineamento dos gumes Retilíneo (57 %) Retilíneo (78 %)
Contorno das aletas Retilíneo (85 %) Retilíneo (78 %)
Delineamento do pescoço Obtuso (86 %) Obtuso (56 %)
Contorno do pedúnculo Ovalado (79 %) Ovalado (89 %)
Seção do corpo Elíptico (71 %) Elíptico (89 %)
Seção do pedúnculo Elíptico (86 %) Elíptico (89 %)
Indefinido (67 %)
Suporte Indefinido (93 %)
Natural (33 %)
Método de façonagem Bifacial (100 %) Bifacial (89 %)
Percussão + pressão (43 %)
Técnica de façonagem Apenas pressão (78 %)
Apenas percussão (43 %)
Bifacial (57 %) Bifacial (33 %)
Método de retoque
Ausente (36 %) Ausente (44 %)
Pressão (64 %) Pressão (67 %)
Técnica de retoque
Ausente (36%) Ausente (33%)
Organização dos negativos Largos e seletivos (64 %)
Paralelos com nervura central (56 %)
e façonagem do corpo Paralelos com nervura central (27 %)
Organização dos negativos Paralelos com nervura central (50 %)
Paralelos com nervura central (56 %)
do pedúnculo Convergentes (29%)

Os dados apresentados dão indícios de que os pacotes são homogêneos. A técnica de


façonagem e a organização dos negativos de façonagem do corpo são os únicos atributos que
parecem ter diferenças marcantes. Em geral, as similaridades são bastante notáveis, e mesmo as
poucas diferenças podem estar relacionadas ao tamanho pequeno de cada amostra. As tabelas 7.23
e 7.24 apresentam os resultados dos testes estatísticos que verificaram se as diferenças são
significantes, enquanto a tabela 7.25 apresenta os resultados do teste de distribuição normal para
cada atributo em ambos os pacotes estratigráficos da coleção Alice Boer.

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Não surpreendentemente, os dois conjuntos de pontas pedunculadas do sítio se


apresentaram estatisticamente homogêneos, tendo como única diferença significativa a aplicação
da técnica de façonagem. A análise diacrônica das pontas foi realizada a partir da observação das
sequências dos negativos presentes nas pontas e apresentado em desenhos técnicos e esquemas
(figuras 7.7 até 7.11). Apenas três pontas do pacote 0-120 cm (64194-1; 64268; 66470) não
apresentam negativos relacionados a uma segunda sequência de façonagem, enquanto o pacote
120-330 cm apenas duas seguem o mesmo padrão. Em ambos os pacotes cinco 5 pontas
apresentam alguma sequência de lascamento com retiradas organizadas direccionalmente.

Tabela 7.23 – Valores dos testes de significância entre os dois pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer para
atributos não-métricos. Nível de significância = 0,05. Diferenças significantes marcadas em negrito.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Matéria prima Chi quadrado 0,4059 0,524052 Não significante
Contorno do corpo Fisher 1 - Não significante
Delineamento dos gumes Chi quadrado 1,0283 0,310557 Não significante
Contorno das aletas Chi quadrado 0,2728 0,601448 Não significante
Delineamento do pescoço Chi quadrado 0,107936 2,5842 Não significante
Contorno do pedúnculo Chi quadrado 0,524052 0,4059 Não significante
Seção do corpo Chi quadrado 0,47433 0,5119 Não significante
Seção do pedúnculo Fisher 1 - Não significante
Suporte Fisher 1 - Não significante
Método de façonagem Fisher 0,3913 - Não significante
Técnica de façonagem Chi quadrado 9,2719 0,009697 Significante
Método de retoque Chi quadrado 1,7111 0,425054 Não significante
Técnica de retoque Chi quadrado 0,0137 0,906855 Não significante
Organização dos
Chi quadrado 4,0011 0,135259 Não significante
negativos do corpo
Organização dos
Chi quadrado 0,2083 0,901075 Não significante
negativos do pedúnculo

Tabela 7.24 – Resultados do teste Shapiro-Wilk de normalidade para os dois pacotes estratigráficos do sítio Alice
Boer para atributos métricos. Valores de significância menor que 0,05 são considerados não normais.
0-120 120-330
Atributos observados
Significância Distribuição Significância Distribuição
Massa 0,059 Normal 0,796 Normal
Comprimento total 0,183 Normal 0,008 Não normal
Largura máxima 0,598 Normal 0,907 Normal
Espessura máxima 0,040 Não normal 0,237 Normal
Prop. Largura/Espessura 0,288 Normal 0,067 Normal
Comprimento do corpo 0,347 Normal 0,892 Normal
Comp. do pedúnculo 0,079 Normal 0,469 Normal
Comprimento dos gumes 0,659 Normal 0,668 Normal
Largura das aletas 0,757 Normal 0,907 Normal
Largura do pescoço 0,475 Normal 0,744 Normal
Largura do pedúnculo 0,510 Normal 0,944 Normal
Espessura do corpo 0,157 Normal 0,020 Não normal
Espessura do pescoço 0,040 Não normal 0,429 Normal
Espessura do pedúnculo 0,142 Normal 0,006 Não normal
Ângulo médio dos gumes 0,111 Normal 0,064 Normal

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Tabela 7.25 - Valores dos testes de significância entre os dois pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer para
atributos métricos. Nível de significância = 0,05 (two-tailed). Valor do teste apresentado é o valor crítico de U,
no caso dos testes Mann-Whitney.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Massa Teste T 1,67634 0,114384 Não significante
Comprimento total Mann-Whitney 19 0,14706 Não significante
Largura máxima Teste T -0,9537 0,351623 Não significante
Espessura máxima Mann-Whitney 24 0,40654 Não significante
Prop. Largura/Espessura Teste T 0,31075 0,759374 Não significante
Comprimento do corpo Teste T 1,04934 0,307907 Não significante
Comp. do pedúnculo Teste T -1,30282 0,209057 Não significante
Comprimento dos gumes Teste T 1,43042 0,168836 Não significante
Largura das aletas Teste T -0,85694 0,40163 Não significante
Largura do pescoço Teste T 0,62107 0,541569 Não significante
Largura do pedúnculo Teste T -1,08501 0,290824 Não significante
Espessura do corpo Mann-Whitney 26 0,33706 Não significante
Espessura do pescoço Mann-Whitney 24 0,36282 Não significante
Espessura do pedúnculo Mann-Whitney 24 0,5892 Não significante
Ângulo médio dos gumes Teste T -0,0755 0,94057 Não significante

Figura 7.7 - Diacronia das pontas pedunculadas do pacote 0-120 cm da coleção do sítio Alice Boer. As setas
indicam direcionamento das sequências de lascamento nos casos onde as retiradas organizadas
direccionalmente. Áreas vermelhas representam áreas fraturadas. Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa.
Peças com número de tombo 68312 até 72092.

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Figura 7.8 – Diacronia das pontas pedunculadas do pacote 0-120 cm da coleção do sítio Alice Boer. As setas
indicam direcionamento das sequências de lascamento nos casos onde as retiradas organizadas
direccionalmente. Áreas vermelhas representam áreas fraturadas. Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa.
Peças com número de tombo 64194 até 64205.

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Figura 7.9 - Diacronia das pontas pedunculadas do pacote 0-120 cm da coleção do sítio Alice Boer. As setas
indicam direcionamento das sequências de lascamento nos casos onde as retiradas organizadas
direccionalmente. Áreas vermelhas representam áreas fraturadas. Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa.
Peças com número de tombo 64268 até 66470.

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Figura 7.10 - Diacronia das pontas pedunculadas do pacote 120-130 cm da coleção do sítio Alice Boer. As setas
indicam direcionamento das sequências de lascamento nos casos onde as retiradas organizadas
direccionalmente. Áreas vermelhas representam áreas fraturadas. Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa.
Peças com número de tombo 64196 até 64203.

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Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Figura 7.11 - Diacronia das pontas pedunculadas do pacote 120-130 cm da coleção do sítio Alice Boer. As setas
indicam direcionamento das sequências de lascamento nos casos onde as retiradas organizadas
direccionalmente. Áreas vermelhas representam áreas fraturadas. Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa.
Peças com número de tombo 64316 até 68702.

7.1.3. As pré-formas bifaciais estão quase todas quebradas


Foram identificadas doze pré-formas bifaciais no pacote 0-120 cm, e cinco no pacote 120-
330 cm (tabela 7.26), sendo que todas as peças são constituídas do mesmo sílex identificado nas
pontas pedunculadas, exceto a peça 79412 que é constituída de arenito silicificado e apresenta
corte fluvial. Apenas metade das peças do pacote 0-120 cm não apresentam fraturas que
provavelmente resultaram no abandono da produção da ponta pedunculada.

Tabela 7.26 – Frequência (contagens e porcentagens) de pré-formas bifaciais fraturadas e inteiras em ambos
os pacotes estratigráfico do Sítio Alice Boer.
Condição da 0-120 cm 120-330 cm
pré-forma n % n %
Fraturada 6 50 5 100
Inteira 6 50 - -
Total 12 100 5 100

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Uma análise métrica foi realizada nas pré-formas inteiras a fim de verificar se o motivo
do abandono da produção está relacionado à perda da proporção entre a largura e a espessura,
considerando que as pontas do pacote 0-120 cm tem uma proporção que varia, em média, entre
2,9/1 e 5,1/1. A tabela 7.27 apresenta a frequência de pré-formas cuja proporção entre largura e
espessura está dentro da média das pontas pedunculadas

Tabela 7.27 - Frequência de pré-formas bifaciais inteiras do sítio Alice Boer e sua relação e com a proporção
de largura/espessura das pontas finalizadas.
Proporção em 0-120 cm 120-330 cm
relação às
n % n %
pontas
Maior 1 16,7 - -
Igual 2 33,3 - -
Menor 3 50 - -
Total 6 100 0 0

Metade das peças apresenta uma proporção menor, o que significa que elas eram muito
espessas, o que dificultaria a finalização de uma ponta que segue o padrão tecnológico observado.
Duas peças (66451 e 66452) apresentam uma proporção que está dentro da média. Inclusive, seus
aspectos morfológicos e tecnológicos (figura 7.12 até 7.16) são bastante similares ao das pontas
finalizadas. Não foi possível chegar a qualquer conclusão sobreas razões que podem ter levado
ao abandono destas duas peças. Já a única peça (66449) que tem uma proporção menor, ou seja,
que é mais fina do que as pontas, pode ter uma explicação de caráter funcional para fugir do
padrão tecnológico. A peça não apresenta um caráter morfológico ou tecnológico similar ao das
pontas pedunculadas, sendo relativamente maior em comprimento e largura em relação às pontas.
Uma hipótese é a de que a peça 66449 não é uma pré-forma bifacial, mas um artefato finalizado
com funcionalidade de corte, uma faca. Mas apenas uma análise funcional poderá responder a
esta hipótese, preferencialmente através de um método traceológico.

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Figura 7.12 – Pré-formas bifaciais fraturadas do pacote 0-120 cm da coleção do sítio Alice Boer. Desenhos:
João Carlos Moreno de Sousa. Peças com número de tombo 64221 até 64500.

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Figura 7.13 - Pré-formas bifaciais fraturadas do pacote 0-120 cm da coleção do sítio Alice Boer. Desenhos:
João Carlos Moreno de Sousa. Peças com número de tombo 66445 até 72115.

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Figura 7.14 - Pré-formas bifaciais inteiras fraturadas do pacote 0-120 cm da coleção do sítio Alice Boer.
Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa. Peças com número de tombo 66449 até 66452.

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Figura 7.15 - Pré-formas bifaciais inteiras fraturadas do pacote 0-120cm da coleção do sítio Alice Boer.
Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa. Peças com número de tombo 66458 até 79412.

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Figura 7.16 - Pré-formas bifaciais do pacote 120-130 cm da coleção do sítio Alice Boer. Todas estão fraturadas.
Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa.

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7.1.4. As lesmas também estão presentes


Apesar da prévia associação do sítio Alice Boer à Tradição Umbu (ver cap. 5.2), a coleção
do sítio Alice Boer também possui lesmas (figura 7.17, arquivo suplementar “sítio Alice Boer”).
Quatro delas estão no pacote 0-120 cm, enquanto apenas duas estão no pacote 120-330 cm. A
amostra é muito pequena para realizar uma comparação estatística dos atributos a fim de
identificar diferenças significativas. As tabelas 7.28 até 7.30 apresentam as tendências centrais
dos atributos naturais das peças.

Figura 7.17 – Exemplo de lesma identificada no pacote 120-130 cm da coleção do sítio Alice Boer. Desenhos:
João Carlos Moreno de Sousa.

Tabela 7.28 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas nas lesmas dos pacotes
estratigráficos do sítio Alice Boer.
0-120 cm 120-330 cm
Matéria Prima
n % n %
Sílex 3 75 2 100
Arenito Silicificado 1 25 - -
Total 4 100 2 100

Tabela 7.29 - Frequência das cores das lesmas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
0-120 cm 120-330 cm
Cor
n % n %
Preta 1 25 - -
Amarela 1 25 - -
Cinza 1 25 - -
Branca e preta 1 25 2 100
Total 4 100 2 100

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Tabela 7.30 - Frequência (contagens e porcentagens) dos atributos naturais das matérias primas de lesmas dos
pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
Variável mais frequente, n (%)
Atributos observados
0-120 cm 120-330 cm
Translucidez Ausente, 4 (100 %) Ausente, 2 (100 %)
Ausente, 3 (75 %)
Tipo de córtex Ausente, 2 (100 %)
Fluvial, 1 (25 %)
Intrusões Ausente, 4 (100 %) Ausente, 2 (100 %)
Alteração térmica Ausente, 4 (100 %) Ausente, 2 (100 %)
Fraturas Ausente, 4 (100 %) Ausente, 2 (100 %)

As tabelas 7.31 até 7.38 apresentam os valores de tendência central para os atributos
quantitativos das lesmas em ambos os pacotes do sítio Alice Boer. Os únicos valores atípicos
identificados estão relacionados ao ângulo da área retocada e o comprimento total do gume de
uma única peça (64126), possivelmente um caso de gume para cuja funcionalidade está
relacionada à ação de cortar, e não de raspar.

Tabela 7.31 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lesmas do pacote estratigráfico 0-120 cm
do sítio Alice Boer.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa (g) 4 52,7 157,7 120,8 46,5
Comprimento Total (mm) 4 84 127 104 19
Largura máxima (mm) 4 39 68 51 12
Espessura máxima (mm) 4 15 32 22 8
Proporção Largura/Espessura (x/1) 4 1,4 4,3 2,6 1,2
Comp. máx. façonagem 4 18 65 35 21
Número de gumes ativos 4 3 6 4 1
Ângulo da área de façonagem do gume 10 50 75 62 9
Ângulo da área de retoque do gume 18 50 85 65 10
Comprimento do gume ativo 18 15 60 37 12
Comp. máx. retoque 19 4 15 8 4

Tabela 7.32 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lesmas do pacote estratigráfico 0-120 cm
do sítio Alice Boer.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa (g) 1 121,3 121,3 121,3 -
Comprimento Total (mm) 2 104 120 112 11
Largura máxima (mm) 2 48 49 48 1
Espessura máxima (mm) 2 25 29 27 3
Proporção Largura/Espessura (x/1) 2 1,69 1,92 1,8 0,2
Comp. máx. façonagem 2 30 48 39 13
Número de gumes ativos 2 1 4 2 2
Ângulo da área de façonagem 2 65 65 65 0
Ângulo da área de retoque 2 65 65 65 0
Comprimento do gume ativo 6 21 100 60 31
Comp. máx. retoque 6 3 15 9 5

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Tabela 7.33 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos de façonagem
nas lesmas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
0-120 cm 120-330 cm
Organização dos negativos de façonagem
n % n %
Seletivos transpassantes 3 75 1 50
Paralelos transpassantes centro-direcionados 1 25 1 50
Total 4 100 2 100

Tabela 7.34 - Frequência (contagens e porcentagens) de localização dos gumes ativos nas lesmas dos pacotes
estratigráficos do sítio Alice Boer.
0-120 cm 120-330 cm
Delineamento do gume ativo
n % n %
Bordo direito, porção distal - - 1 16,7
Bordo direito, porção média 3 15,8 - -
Bordo direito, porção médio-distal 1 5,3 - -
Bordo direito, porção médio-proximal 1 5,3 1 16,7
Bordo direito, porção proximal 1 5,3 - -
Bordo distal completo 2 10,5 2 33,3
Bordo distal, porção esquerda 1 5,3 - -
Bordo esquerdo completo - - 2 33,3
Bordo esquerdo, porção distal 3 15,8 - -
Bordo esquerdo, porção média 2 10,5 - -
Bordo esquerdo, porção médio-proximal 1 5,3 - -
Bordo esquerdo, Porção médio-proximal 1 5,3 - -
Bordo esquerdo, porção proximal 1 5,3 - -
Bordo proximal completo 2 10,6 - -
Total 19 100 6 100

Tabela 7.35 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos de retoque
do gume ativo nas lesmas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
Organização dos negativos de retoque do 0-120 cm 120-330 cm
gume ativo n % n %
Seletivos 19 100 6 100
Total 19 100 6 100

Tabela 7.36 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de perfil da área de façonagem do gume
ativo nas lesmas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
Perfil da área de façonagem do gume 0-120 cm 120-330 cm
ativo n % n %
Convexo 12 63,2 5 83,3
Retilíneo 4 21,1 1 16,7
Total 19 100 6 100

Tabela 7.37 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de perfil da área de retoque do gume ativo
nas lesmas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
0-120 cm 120-330 cm
Perfil da área de retoque do gume ativo
n % n %
Retilíneo 19 100 6 100
Total 19 100 6 100

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Tabela 7.38 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento do gume ativo nas lesmas
dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
0-120 cm 120-330 cm
Delineamento do gume ativo
n % n %
Coche 2 10,5 - -
Côncavo 1 5,3 - -
Convexo 6 31,6 3 50
Denticulado reto 1 5,3 - -
Pontiagudo 1 5,3 - -
Retilíneo 3 15,8 1 16,7
Serrilhado convexo 1 5,3 1 16,7
Serrilhado retilíneo 1 5,3 - -
Serrilhado suave retilíneo 1 5,3 - -
Sinuoso 2 10,5 1 16,7
Total 19 100 6 100

Não é possível realizar uma comparação com amostras tão pequenas, mas os dados
mostram variáveis bastante similares entre os atributos qualitativos, assim como as médias dos
atributos quantitativos são bastante similares. A tabela 7.38 apresenta uma comparação entre os
valores de tendência central.

A diacronia das lesmas (figuras 7.18 e 7.19) dos dois pacotes estratigráficos do sítio Alice
Boer também se mostrou bastante similar. Alguns negativos de debitagem ainda são observáveis
em algumas peças e apresentam no máximo duas sequências de façonagem. Apenas uma peça
(64124, figura 7.19) apresenta façonagem na face inferior, sendo uma caraterística incomum em
lesmas de modo geral (e a única nesta coleção). Ainda que retiradas na face inferior de lesmas
não sejam tão raras, elas são relacionadas apenas à remoção de um bulbo proeminente, a fim de
manter a superfície plana na face inferior. No caso da peça 64124, as retiradas se apresentam
como duas sequências de façonagem, em áreas afastadas do bulbo. A primeira delas pode estar
relacionada à remoção de ondas proeminentes que eventualmente se formam em lascas onde a
matéria prima apresenta alguma heterogeneidade interna. Mas a segunda sequência está
diretamente relacionada à produção do plano de corte do gume ativo.

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Tabela 7.39 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 25%) em lesmas dos pacotes
estratigráficos do sítio Alice Boer. A amplitude considerada para os valores foi o desvio padrão.
Atributos Valores de tendência central e variáveis mais frequentes
observados 0-120 cm 120-330 cm
Matéria prima Sílex (75%) Sílex (100%)
Cor Nenhuma preferência Branca e preta (100%)
Massa 74,3 – 167,3 g 121,3 g
Comprimento total 85 – 123 mm 101- 121 mm
Largura máxima 39 – 63 mm 47-49 mm
Espessura máxima 16 – 30 mm 24 – 30 mm
Prop. Larg./Esp. 1,4 – 3,8/1 1,6 – 2/1
Seletivos transpassantes (50%)
Org. façonagem Seletivos transpassantes (75%)
Paralelos transpassantes centro-direcionados (50%)
Com. mx. façonagem 14 – 56 mm 26 – 52 mm
Nº de gumes ativos 3–5 1 – 4 mm
Bordo distal completo (33,3 %)
Local dos gumes Nenhuma preferência
Bordo esquerdo completo (33,3 %)
Org. Retoque Seletivos (100%) Seletivos (100%)
Ângulo façonagem 53 – 71° 65°
Ângulo retoque 55 – 75° 65°
Perfil façonagem Convexo (63,2%) Convexo (83,3%)
Perfil retoque Retilíneo (100%) Retilíneo (100%)
Delineamento gume Convexo (31,6%) Convexo (50%)
Comp. gume 25 – 49 mm 29 – 91 mm
Comp. máx. retoque 4 – 12 mm 4 – 14 mm

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Figura 7.18 - Diacronia da face superior de duas lesmas identificadas no pacote 0-120 cm da coleção do sítio
Alice Boer. Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa.

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Figura 7.19 - Diacronia de lesma identificada no pacote 120-130 cm da coleção do sítio Alice Boer. Desenhos:
João Carlos Moreno de Sousa.

7.1.5. Identificando e analisando lascas de façonagem


A análise das pontas e das lesmas revelou que os negativos de façonagem destes artefatos
possuem até 58 mm de comprimento. As lascas foram selecionadas para análise com base neste
único atributo. Com relação a sua proveniência, apenas o Setor III da escavação foi selecionado
para a análise das lascas, uma vez que se trata da unidade de escavação com o segundo maior
número de peças, atrás apenas do Setor I que possui um registro estratigráfico muito pobre. Todas
as lascas de 58 mm ou menores do Setor III foram selecionadas para análise. O pacote 0-120 cm
totalizou 185 lascas amostradas, enquanto o pacote 120-330 cm totalizou 89 lascas amostradas.
Em ambos os pacotes o sílex é quase exclusivo dentre as matérias-primas das lascas (tabela 7.40).
As cores possuem certa variabilidade, mas parecem ser todas variantes do mesmo tipo de sílex,
nas quais a cor preta predomina se apresentando isoladamente ou misturada com outras cores na

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mesma peça (tabela 4.1). Isso também foi identificado nos artefatos formais e pré-formas. A
frequência dos atributos naturais é apresentada na tabela 7.42.

Tabela 7.40 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas nas lascas de façonagem dos pacotes
estratigráficos do sítio Alice Boer.
0-120 cm 120-330 cm
Matéria Prima
n % n %
Sílex 180 97,3 88 98,9
Arenito Silicificado 4 2,2 - -
Óxido de Ferro 1 0,5 - -
Calcário silicificado - - 1 1,1
Total 185 100 89 100

Tabela 7.41 - Frequência (contagens e porcentagens) das cores das lascas de façonagem dos pacotes
estratigráficos do sítio Alice Boer. * Peças cuja cor não pode ser definida com precisão, devido a maior
presença de córtex.
0-120 cm 120-330 cm
Cor
n % n %
Preta 66 35,7 30 33,7
Cinza 45 24,3 31 34,8
Marrom 20 10,8 7 7,9
Vermelha 10 5,4 5 5,6
Branca 9 4,9 3 3,4
Rosa 8 4,3 1 1,1
Preta e branca 7 3,8 4 4,5
Indefinida * 5 2,7 1 1,1
Branca e cinza 3 1,6 - -
Amarela 2 1,1 1 1,1
Preta e cinza 3 1,6 1 1,1
Vermelha e amarela 2 1,1 - -
Cinza e rosa 1 0,5 1 1,1
Cinza e vermelha 1 0,5 - -
Preta e marrom 1 0,5 2 2,2
Preto e rosa 1 0,5 - -
Preta e vermelha 1 0,5 2 2,2
Total 185 100 89 100

Tabela 7.42 - Frequência (contagens e porcentagens) dos atributos naturais das matérias primas de lasca de
façonagem dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
Variável mais frequente, n (%)
Atributos observados
0-120 cm 120-330 cm
Translucidez Ausente, 185 (100 %) Ausente, 89 (100 %)
Ausente, 138 (74,6 %) Ausente, 68 (76,4 %)
Tipo de córtex
Fluvial, 46 (24,9 %) Fluvial, 18 (20,2 %)
Intrusões Ausente, 167 (90,3 %) Ausente, 82 (92,1 %)
Lustre fluvial Ausente, 185 (100%) Ausente, 89 (100 %)
Alteração térmica Ausente, 177 (95,7 %) Ausente, 84 (94,4 %)

A busca por valores atípicos resultou na descoberta de diversos valores excedentes em


todos os atributos quantitativos em ambo os pacotes, exceto no comprimento, o que já seria
esperado uma vez que o comprimento foi o atributo utilizado na seleção das lascas a serem
consideradas como possivelmente provenientes da etapa de façonagem.

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Uma vez que os valores atípicos foram retirados da análise estatística, a análise descritiva
foi realizada, e seus resultados são apresentados nas tabelas 7.43 e 7.44. A análise descritiva dos
atributos qualitativos é apresentada nas tabelas 7.45 até 7.53.

Tabela 7.43 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem do pacote
estratigráfico 0-120 cm do sítio Alice Boer.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa 176 0,3 50,0 7,9 7,1
Comprimento 185 15 57 38 10
Largura 181 6 69 31 10
Espessura 180 2 22 7 4
Largura do talão 164 1 36 12 7
Espessura do talão 172 0 22 5 4
Ângulo talão/ face interna 175 90 145 117 11
Número de negativos na face superior 176 0 10 5 2

Tabela 7.44 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem do pacote
estratigráfico 120-330 cm do sítio Alice Boer.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa 82 0,3 16,8 3,0 2,5
Comprimento 89 14 56 31 10
Largura 86 11 41 25 7
Espessura 84 2 11 5 2
Largura do talão 82 2 23 10 5
Espessura do talão 79 0 14 3 2
Ângulo talão/ face interna 80 95 145 118 11
Número de negativos na face superior 86 1 10 5 2

Tabela 7.45 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno de talão das lascas de
façonagem dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
0-120 cm 120-330 cm
Variáveis
n % n %
Triangular 39 21,1 9 10,1
Circular 38 20,5 24 27,0
Retilíneo 37 20,0 19 21,3
Vírgula 21 11,4 17 19,1
Quadrilátero 19 10,3 3 3,4
Asa 14 7,6 7 7,9
Indefinido 15 7,0 6 6,7
Linear 3 1,6 2 2,2
Losangular - - 1 1,1
Total 185 100 89 100

Tabela 7.46 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de superfície de talão das lascas de
façonagem dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
0-120 cm 120-330 cm
Variáveis
n % n %
Liso 134 72,4 65 73,0
Facetado 31 16,8 15 16,9
Cortical 9 4,9 1 1,1
Indefinido 7 3,8 2 2,2
Diedro 4 2,2 6 6,7
Total 185 100 89 100

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Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.47 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de cornija das lascas de façonagem
dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
0-120 cm 120-330 cm
Variáveis
n % n %
Sem Lábio 166 89,7 64 71,9
Lábio Pouco Proeminente 9 4,9 16 18,0
Indefinido 6 3,2 5 5,6
Lábio Muito Proeminente 4 2,2 4 4,5
Total 185 100 89 100

Tabela 7.48 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de bulbo das lascas de façonagem
dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
0-120 cm 120-330 cm
Variáveis
n % n %
Um bulbo Proeminente 129 69,7 53 59,6
Lascamento bulbar 23 12,4 11 12,4
Bulbo não Proeminente 19 10,3 19 21,3
Bulbo duplo 9 4,9 4 4,5
Indefinido 5 2,7 2 2,2
Total 185 100 89 100

Tabela 7.49 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno geral das lascas de
façonagem dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
0-120 cm 120-330 cm
Variáveis
n % n %
Quadrilátera 71 38,4 34 38,2
Laminar vertical 32 17,3 16 18,0
Circular 16 8,6 13 14,6
Triangular invertido 16 8,6 8 9,0
Pentagonal 15 8,1 5 5,6
Losangular 12 6,5 4 4,5
Indefinido 8 4,3 2 2,2
Triangular 7 3,8 6 6,7
Hexagonal 5 2,7 1 1,1
Laminar horizontal 3 1,6 - -
Total 185 100 89 100

Tabela 7.50 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de perfil das lascas de façonagem
dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
0-120 cm 120-330 cm
Variáveis
n % n %
Retilíneo 91 49,2 24 27,0
Côncavo 77 41,6 53 59,6
Indefinido 6 3,2 1 1,1
Helicoidal 6 3,2 6 6,7
Convexo 5 2,7 5 5,6
Total 185 100 89 100

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Tabela 7.51 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias organização da face superior das
lascas de façonagem dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
0-120 cm 120-330 cm
Variáveis
n % n %
Negativos convergentes 42 22,7 25 28,1
Duas nervuras verticais 42 22,7 13 14,6
Uma nervura vertical 35 18,9 21 23,6
Indefinido 15 7,2 5 5,6
Forma de Y 13 7,0 3 3,4
Lisa 7 3,8 2 2,2
Forma de T 6 3,2 1 1,1
Forma de Y invertido 6 3,2 1 1,1
Uma nervura horizontal 4 2,2 4 4,5
Uma nervura vertical e uma horizontal 4 2,2 3 3,4
Duas nervuras verticais e uma horizontal 3 1,6 3 3,4
Três nervuras verticais 3 1,6 5 5,6
Forma de X 2 1,1 2 2,2
Duas nervuras horizontais 1 0,5 - -
Forma de H 1 0,5 - -
Três nervuras verticais e uma horizontal 1 0,5 - -
Três nervuras horizontais - - 1 1,1
Total 185 100 89 100

Tabela 7.52 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de quantidade de córtex nas lascas
de façonagem dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
0-120 cm 120-330 cm
Variáveis
n % n %
Ausente 134 72,4 65 73,0
< 50% 32 17,3 17 19,1
> 50% 13 7,0 5 5,6
50% 3 1,6 2 2,2
Completo 3 1,6 - -
Total 185 100 89 100

Tabela 7.53 – Predominância de categorias de lascas a partir de determinados atributos tecnológicos


nos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
Variável mais frequente, n (%)
Atributos observados
0-120 cm 120-330 cm
Lasca de talão preparado Sim, 106 (57,3 %) Sim, 70 (78,7 %)
Lasca refletida Não, 159 (85,9 %) Não, 76 (85,4 %)
Lasca lingueta Não, 184 (99,5%) Não, 89 (100%)
Lasca ultrapassante Não, 177 (95,7 %) Não, 88 (98,9 %)
Lasca transbordante Não, 185 (100%) Não, 89 (100%)
Lasca sirét Não, 185 (100%) Não, 89 (100%)

A tabela 7.54 compara os dados de tendência central dos atributos analisados nas lascas
de façonagem de ambos os pacotes estratigráficos do sítio arqueológico Alice Boer.

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Tabela 7.54 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 20%) em lascas de façonagem
dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. A amplitude considerada para os valores foi o desvio padrão.
Valores de tendência central e variáveis mais frequentes
Atributos observados
0-120 cm 120-330 cm
Matéria prima Sílex (97 %) Sílex (99 %)
Cinza (35 %)
Cor Preta (36 %)
Preta (34 %)
Massa 0,8 – 15,0 g 0,5 – 5,5 g
Comprimento total 28 – 42 mm 21 – 41 mm
Largura máxima 21 – 41 mm 18 – 32 mm
Espessura máxima 3 – 11 mm 3 – 7 mm
Triangular (21 %)
Circular (27 %)
Contorno do talão Circular (20 %)
Retilíneo (21 %)
Retilíneo (20 %)
Superfície do talão Liso (72 %) Liso (73 %)
Largura do talão 5 – 19 mm 5 – 15 mm
Espessura do talão 1 – 9 mm 1 – 5 mm
Ângulo talão/ face interna 106 – 128° 107 – 129°
Cornija Sem lábio (90 %) Sem lábio (72 %)
Proeminência do bulbo Um bulbo Proeminente (70%) Um bulbo Proeminente (60%)
Contorno da lasca Quadrilátera (35 %) Quadrilátera (38 %)
Retilíneo (49 %) Côncavo (60 %)
Perfil da lasca
Côncavo (42 %) Retilíneo (27 %)
N° de negativos 3–7 3–7
Negativos convergentes (23 %) Negativos convergentes (28 %)
Organização da face superior
Duas nervuras verticais (23 %) Uma nervura vertical (24 %)
Quantidade de córtex Ausente (72 %) Ausente (73 %)
Preparação no talão Presente (57 %) Presente (79 %)

Assim como aconteceu com a comparação entre os artefatos formais entre os dois pacotes
estratigráficos, as lascas de façonagem do sítio Alice Boer não parecem apresentar grandes
diferenças nas variáveis dos atributos qualitativos. Já os atributos quantitativos parecem ter uma
diferença na qual as lascas do pacote 0-120 parecem ser maiores. Para verificar se as diferenças
são estatisticamente significantes, alguns testes foram realizados (tabelas 7.56 e 7.58), mas não
sem antes realizar o teste de distribuição normal dos atributos quantitativos (tabela 7.57).
Tabela 7.55 – Valores dos testes de significância entre os dois pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer para
atributos não-métricos. Nível de significância = 0,05. Diferenças significantes marcadas em negrito.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Matéria prima Chi quadrado 0,6996 0,402918 Não significante
Cor Chi quadrado 3,6353 0,16241 Não significante
Contorno do talão Chi quadrado 8,3673 0,079013 Não significante
Superfície do talão Chi quadrado 6,1928 0,185206 Não significante
Cornija Chi quadrado 15,5608 0,001395 Significante
Proeminência do bulbo Chi quadrado 6,3213 0,176405 Não significante
Contorno da lasca Chi quadrado 3,1602 0,531391 Não significante
Perfil da lasca Chi quadrado 15,2773 0,004159 Significante
Org. da face superior Chi quadrado 3,8348 0,428827 Não significante
Quantidade de córtex Chi quadrado 0,4981 0,919303 Não significante
Preparação no talão Chi quadrado 11,9275 0,000553 Significante

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Tabela 7.56 – Resultados do teste Shapiro-Wilk de normalidade para os dois pacotes estratigráficos do sítio Alice
Boer para atributos métricos. Valores de significância menor que 0,05 são considerados não normais.
0-120 120-330
Atributos observados
Significância Distribuição Significância Distribuição
Massa 0,000 Não normal 0,001 Não normal
Comprimento total 0,011 Não normal 0,067 Normal
Largura máxima 0,038 Não normal 0,466 Normal
Espessura máxima 0,000 Não normal 0,008 Não normal
Largura do talão 0,000 Não normal 0,000 Não normal
Espessura do talão 0,000 Não normal 0,000 Não normal
Ângulo talão/ face interna 0,001 Não normal 0,007 Não normal
N° de negativos 0,000 Não normal 0,040 Não normal

Tabela 7.57 - Valores dos testes de significância entre os dois pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer para
atributos métricos. Nível de significância = 0,05 (two-tailed). Valor do teste apresentado é o valor crítico de U,
no caso dos testes Mann-Whitney.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Massa Mann-Whitney 4101,5 < 0,00001 Significante
Comprimento total Mann-Whitney 5074 < 0,00001 Significante
Largura máxima Mann-Whitney 4696 < 0,00001 Significante
Espessura máxima Mann-Whitney 5153,5 < 0,00001 Significante
Largura do talão Mann-Whitney 6008 0,17384 Não significante
Espessura do talão Mann-Whitney 5235,5 0,0035 Significante
Ângulo talão/face interna Mann-Whitney 6624 0,4902 Não significante
N° de negativos Mann-Whitney 4602,5 0,15854 Significante

Os testes mostram diferenças em quase todos os atributos quantitativos, sendo exceções


apenas a largura do talão e o ângulo do talão com a face interna. De modo geral, os atributos
métricos parecem ter valores máximos mais altos no pacote 0-120. Já nos atributos qualitativos a
cornija, o perfil da lasca e a preparação de talão apresentaram diferenças estatisticamente
significantes. Dos dezenove atributos analisados e comparados, nove apresentaram diferenças
estatisticamente significantes (47 % de atributos com diferenças significantes).

7.1.6. É tudo uma coisa só


De forma geral, apesar das diferenças significantes encontradas nas lascas, a maioria delas
está relacionada ao seu tamanho, e não aos atributos tecnológicos. Mesmo os atributos
tecnológicos que apontam diferenças de frequência (cornija e perfil), suas variáveis mais
frequentes ainda são as mesmas.

Essa diferença de tamanho pode estar relacionada a diferenças no tamanho das retiradas
durante a produção dos artefatos entre os dois pacotes, na qual o pacote 0-120 apresentaria mais
lascas com maiores tamanhos. Essa diferença de tamanho pode estar relacionada à pouca
significante diferença no tamanho das pontas, maiores no pacote 0-120, e à diferença no tamanho
dos negativos de façonagem das lesmas, aparentemente maiores também no pacote 0-120. Mas
em termos gerais, os dois pacotes apresentam muito mais similaridades do que diferenças. Disso,

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podemos concluir que os dois pacotes são homogêneos e, portanto, podemos caracterizar esta
indústria lítica somando os dados dos dois pacotes.

As tabelas 7.58, 7.59 e 7.61 até 7.74 apresentam as frequências dos atributos qualitativos
das pontas pedunculadas do sítio Alice Boer somando todas as relativas ao pacote 0-120 e do
pacote 120-330, enquanto a tabela 7.60 apresenta os atributos quantitativos.

Tabela 7.58 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas em pontas pedunculadas do sítio
Alice Boer.
Matéria Prima n %
Sílex 19 82,6
Quartzo leitoso 4 17,4
Total 23 100

Tabela 7.59 - Frequência (contagens e porcentagens) das cores das pontas pedunculadas do sítio Alice Boer.
Cor n %
Preta 12 52,2
Branca 4 17,4
Marrom 3 13,0
Cinza 2 8,7
Cinza e roxo 1 4,3
Preto e Roxo 1 4,3
Total 23 100

Tabela 7.60 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas pedunculadas do sítio Alice Boer.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa (g) 17 1 15 5,6 3,4
Comprimento Total (mm) 19 30 67 45 9
Largura máxima (mm) 22 16 35 25 5
Espessura máxima (mm) 21 4 11 7 2
Proporção Largura/Espessura (x/1) 21 2,4 5,6 4,0 1,0
Comprimento do Corpo (mm) 21 17 44 27 7
Comprimento do Pedúnculo (mm) 20 8 24 18 4
Comprimento dos Gumes (mm) 21 18 45 29 7
Largura das Aletas (mm) 22 16 35 25 5
Largura do Pescoço (mm) 22 11 19 15 2
Largura do Pedúnculo (mm) 22 9 18 14 2
Espessura do Corpo (mm) 21 3 8 5 1
Espessura do Pescoço (mm) 21 4 11 7 2
Espessura do Pedúnculo (mm) 21 3 9 6 1
Ângulo Médio dos Gumes (graus) 22 35 70 51 10

As tabelas x até z apresentam as frequências dos atributos morfológicos e tecnológicos


das pontas pedunculadas do sítio Alice Boer.

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Tabela 7.61 – Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do corpo em pontas
pedunculadas do sítio Alice Boer.
Variáveis n %
Triangular 20 87,0
Espadas 1 4,3
Indefinido 2 8,7
Total 23 100

Tabela 7.62 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento dos gumes em
pontas pedunculadas do sítio Alice Boer.
Variáveis n %
Retilíneo 15 65,2
Côncavo 2 8,7
Convexo 2 8,7
Irregular 2 8,7
Indefinido 2 8,7
Total 23 100

Tabela 7.63 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno das aletas em pontas
pedunculadas do sítio Alice Boer.
Variáveis n %
Retilíneo 19 82,7
Expandido 3 13,0
Indefinido 1 4,3
Total 23 100

Tabela 7.64 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento do pescoço em


pontas pedunculadas do sítio Alice Boer.
Variáveis n %
Obtuso 17 73,9
Reto 4 17,4
Agudo 1 4,3
Indefinido 1 4,3
Total 23 100

Tabela 7.65 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do pedúnculo em


pontas do sítio Alice Boer.
Variáveis n %
Ovalado 19 82,6
Forma de 8 1 4,3
Indefinido 3 13,0
Total 23 100

Tabela 7.66 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do corpo em pontas do sítio
Alice Boer.
Variáveis n %
Elíptico 18 78,3
Plano-convexo 2 8,7
Romboide 2 8,7
Indefinido 1 4,3
Total 23 100

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Tabela 7.67 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do pedúnculo em pontas
pedunculadas do sítio Alice Boer.
Variáveis n %
Elíptico 20 87,0
Plano-convexo 1 4,3
Indefinido 2 8,6
Total 23 100

Tabela 7.68 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de suporte em pontas pedunculadas
do sítio Alice Boer.
Variáveis n %
Indefinido 19 82,6
Natural 4 17,4
Total 23 100

Tabela 7.69 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de façonagem em pontas
pedunculadas do sítio Alice Boer.
Variáveis n %
Bifacial 22 95,7
Alterno à direita 1 4,3
Total 23 100

Tabela 7.70 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de façonagem em pontas
pedunculadas do sítio Alice Boer.
Variáveis n %
Apenas pressão 9 39,1
Apenas percussão 7 30,4
Percussão + Pressão 7 30,4
Total 23 100

Tabela 7.71 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de retoque em pontas
pedunculadas do sítio Alice Boer.
Variáveis n %
Bifacial 11 47,8
Ausente 9 39,1
Alterno à direita 3 13,0
Total 23 100

Tabela 7.72 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de retoque em pontas do sítio
Alice Boer.
Variáveis n %
Pressão 15 65,2
Ausente 8 34,8
Total 23 100

Tabela 7.73 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos de
façonagem do corpo em pontas pedunculadas do sítio Alice Boer.
Variáveis n %
Largos e seletivos 11 47,8
Paralelos com uma Nervura vertical 9 39,1
Convergentes 3 13,0
Total 23 100

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Tabela 7.74 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos de
façonagem do pedúnculo em pontas pedunculadas sítio Alice Boer.
Variáveis n %
Paralelos com uma nervura vertical 12 52,2
Convergentes 6 26,1
Largos seletivos 2 8,7
Indefinido 3 13,0
Total 23 100

As tabelas 7.75 até 7.83 apresentam as frequências dos atributos qualitativos e


quantitativos das lesmas do sítio Alice Boer.

Tabela 7.75 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas nas lesmas do sítio Alice Boer.
Matéria Prima n %
Sílex 5 83,3
Arenito Silicificado 1 16,7
Total 6 100

Tabela 7.76 - Frequência (contagens e porcentagens) das cores das lesmas dos pacotes estratigráficos do sítio
Alice Boer.
Cor n %
Branca e Preta 3 50,0
Amarelo 1 16,7
Cinza 1 16,7
Preta 1 16,7
Total 6 100

Tabela 7.77 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lesmas do sítio Alice Boer.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa (g) 5 52,7 1213,0 339,2 490,1
Comprimento Total (mm) 6 84 127 106 16
Largura máxima (mm) 6 39 68 50 10
Espessura máxima (mm) 6 15 32 24 7
Proporção Largura/Espessura (x/1) 6 1,4 4,3 2,3 1
Comp. máx. façonagem 6 18 65 36 17
Nº de gumes ativos 6 1 6 4 2
Ângulo da área de façonagem 12 50 75 62 9
Ângulo da área de retoque 20 50 85 65 9
Comprimento do gume ativo 24 15 100 42 21
Comp. máx. retoque 25 3 15 9 4

Tabela 7.78 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos de façonagem
nas lesmas do sítio Alice Boer.
Organização dos negativos de façonagem n %
Seletivos transpassantes 4 66,7
Paralelos transpassantes centro-direcionados 2 33,3
Total 6 100

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Tabela 7.79 - Frequência (contagens e porcentagens) de localização dos gumes ativos nas lesmas dos pacotes
estratigráficos do sítio Alice Boer.
Delineamento do gume ativo n %
Bordo direito, porção distal 3 12,0
Bordo direito, porção média 3 12,0
Bordo direito, porção médio-proximal 2 8,0
Bordo distal completo 2 8,0
Bordo esquerdo completo 2 8,0
Bordo esquerdo, porção média 2 8,0
Bordo direito, porção médio-distal 1 4,0
Bordo direito, porção proximal 1 4,0
Bordo distal, porção esquerda 1 4,0
Bordo esquerdo, porção distal 1 4,0
Bordo esquerdo, porção médio-proximal 1 4,0
Bordo esquerdo, Porção médio-proximal 1 4,0
Bordo esquerdo, porção proximal 1 4,0
Bordo proximal completo 1 4,0
Total 25 100

Tabela 7.80 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos de retoque
do gume ativo nas lesmas do sítio Alice Boer.
Organização dos negativos de retoque do
n %
gume ativo
Seletivos 25 100
Total 25 100

Tabela 7.81 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de perfil da área de façonagem do gume
ativo nas lesmas do sítio Alice Boer.
Perfil da área de façonagem do gume
n %
ativo
Convexo 17 68,0
Retilíneo 5 20,0
Indefinido 3 12,0
Total 25 100

Tabela 7.82 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de perfil da área de retoque do gume ativo
nas lesmas do sítio Alice Boer.
Perfil da área de retoque do gume ativo n %
Retilíneo 25 100
Total 25 100

Tabela 7.83 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento do gume ativo nas lesmas
do sítio Alice Boer.
Delineamento do gume ativo n %
Convexo 9 36,0
Reto 4 16,0
Sinuoso 3 12,0
Coche 2 8,0
Serrilhado convexo 2 8,0
Côncavo 1 4,0
Serrilhado reto 1 4,0
Serrilhado suave reto 1 4,0
Denticulado Reto 1 4,0
Pontiagudo 1 4,0
Total 25 100

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As tabelas 7.84 até 7.95 apresentam as frequências dos atributos qualitativos e


quantitativos das lascas de façonagem do sítio Alice Boer.

Tabela 7.84 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas nas lascas de façonagem do sítio
Alice Boer.
Matéria Prima n %
Sílex 268 97,8
Arenito Silicificado 4 1,5
Óxido de Ferro 1 0,4
Calcário silicificado 1 0,4
Total 274 100

Tabela 7.85 - Frequência (contagens e porcentagens) das cores das lascas de façonagem do sítio Alice Boer. *
Peças cuja cor não pode ser definida com precisão, devido a maior presença de córtex.
Cor n %
Preta 96 35,0
Cinza 76 27,7
Marrom 27 9,9
Vermelha 15 5,5
Branca 12 4,4
Preta e branca 11 4,0
Rosa 9 3,3
Indefinida * 6 2,2
Preta e cinza 4 1,5
Preta e vermelha 3 1,1
Preta e marrom 3 1,1
Branca e cinza 3 1,1
Amarela 3 1,1
Vermelha e amarela 2 0,7
Cinza e rosa 2 0,7
Cinza e vermelha 1 0,4
Preto e rosa 1 0,4
Total 274 100

Tabela 7.86 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem do sítio Alice Boer.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa 256 0,3 25,8 6,1 5,5
Comprimento 274 14 57 35 11
Largura 267 6 69 29 10
Espessura 264 2 22 7 4
Largura do talão 246 1 36 11 7
Espessura do talão 251 0 22 4 3
Ângulo talão/ face interna 255 90 145 117 11
Número de negativos na face superior 262 0 10 5 2

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.87 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno de talão das lascas de
façonagem do sítio Alice Boer.
Variáveis n %
Circular 62 22,6
Retilíneo 57 20,5
Triangular 48 17,5
Vírgula 38 13,9
Quadrilátero 22 8,0
Asa 21 7,7
Linear 5 1,8
Losangular 1 0,4
Indefinido 20 7,3
Total 274 100

Tabela 7.88 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de superfície de talão das lascas de
façonagem do sítio Alice Boer.
Variáveis n %
Liso 199 72,6
Facetado 46 16,8
Cortical 10 3,6
Diedro 10 3,6
Indefinido 9 3,3
Total 274 100

Tabela 7.89 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de cornija das lascas de façonagem
do sítio Alice Boer.
Variáveis n %
Sem Lábio 230 83,9
Lábio Pouco Proeminente 25 9,1
Lábio Muito Proeminente 8 2,9
Indefinido 11 4,0
Total 274 100

Tabela 7.90 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de proeminência do bulbo das
lascas de façonagem do sítio Alice Boer.
Variáveis n %
Um bulbo Proeminente 182 66,4
Bulbo não Proeminente 38 13,9
Lascamento bulbar 34 12,4
Bulbo duplo 13 4,7
Indefinido 7 2,6
Total 274 100

Tabela 7.91 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno geral das lascas de
façonagem do sítio Alice Boer.
Variáveis n %
Quadrilátera 105 38,3
Laminar Vertical 48 17,5
Circular 29 10,6
Triangular Invertido 24 8,8
Pentagonal 20 7,3
Losangular 16 5,8
Triangular 13 4,7
Indefinido 10 3,6
Hexagonal 6 2,2
Laminar horizontal 3 1,1
Total 274 100

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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Tabela 7.92 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de perfil das lascas de façonagem do
sítio Alice Boer.
Variáveis n %
Côncavo 130 47,4
Retilíneo 115 42,0
Helicoidal 12 4,4
Convexo 10 3,6
Indefinido 7 2,6
Total 274 100

Tabela 7.93 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias organização da face superior das
lascas de façonagem do sítio Alice Boer.
Variáveis n %
Negativos convergentes 67 24,5
Uma nervura vertical 56 20,4
Duas nervuras verticais 55 20,1
Indefinido 20 7,3
Forma de Y 16 5,8
Lisa 9 3,3
Três nervuras verticais 8 2,9
Uma nervura horizontal 8 2,9
Forma de T 7 2,6
Forma de Y Invertido 7 2,6
Uma nervura vertical e uma horizontal 7 2,6
Duas nervuras verticais e uma horizontal 6 2,2
Forma de X 4 1,5
Duas nervuras horizontais 1 0,4
Forma de H 1 0,4
Três nervuras horizontais 1 0,4
Três nervuras verticais e uma horizontal 1 0,4
Total 274 100

Tabela 7.94 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de quantidade de córtex nas lascas
de façonagem do sítio Alice Boer.
Variáveis n %
Ausente 199 72,6
< 50% 49 17,9
> 50% 18 6,6
50% 5 1,8
Completo 3 1,1
Total 274 100

Tabela 7.95 – Predominância de categorias de lascas a partir de determinados atributos tecnológicos


do sítio Alice Boer.
Atributos observados 0-120 cm
Lasca de talão preparado Sim, 176 (64,2 %)
Lasca refletida Não, 235 (85,8 %)
Lasca lingueta Não, 273 (99,6 %)
Lasca ultrapassante Não, 265 (96,7 %)
Lasca transbordante Não, 274 (100 %)
Lasca sirét Não, 274 (100 %)

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Os valores de tendência central de cada atributo das pontas, lesmas e lascas do sítio Alice
Boer são apresentados nas tabelas 7.96 até 7.98.

Tabela 7.96 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 25%) em pontas pedunculadas
dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. A amplitude considerada para os valores foi o desvio padrão.
Valores de tendência central e
Atributos observados
variáveis mais frequentes
Matéria prima Sílex (82 %)
Cor Preta (52 %)
Massa 2,2 – 9,0 g
Comprimento total 36 – 54 mm
Largura máxima 20 – 30 mm
Espessura máxima 5 – 9 mm
Proporção Largura/Espessura 3,0 – 5,0 /1
Comprimento do corpo 20 – 34 mm
Comprimento do pedúnculo 14 – 22 mm
Comprimento médio dos gumes 22 – 36 mm
Largura das aletas 20 – 30 mm
Largura do pescoço 13 – 17 mm
Largura do pedúnculo 12 – 16 mm
Espessura do corpo 4 – 6 mm
Espessura do pescoço 5 – 9 mm
Espessura do pedúnculo 5 – 7 mm
Ângulo médio dos gumes 41 – 61°
Contorno do corpo Triangular (87 %)
Delineamento dos gumes Retilíneo (65 %)
Contorno das aletas Retilíneo (83 %)
Delineamento do pescoço Obtuso (74 %)
Contorno do pedúnculo Ovalado (83 %)
Seção do corpo Elíptico (78 %)
Seção do pedúnculo Elíptico (87 %)
Suporte Indefinido (83 %)
Método de façonagem Bifacial (96 %)
Apenas pressão (39 %)
Técnica de façonagem Apenas percussão (30 %)
Percussão + pressão 30 %
Bifacial (48 %)
Método de retoque
Ausente (39 %)
Apenas pressão (65 %)
Técnica de retoque
Ausente (35 %)
Organização dos negativos e Largos e seletivos (48 %)
façonagem do corpo Paralelos c/ uma nerv. vertical (39 %)
Organização dos negativos do Paralelos c/ uma nerv. vertical (52 %)
pedúnculo Convergentes (26 %)

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Tabela 7.97 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 25%) em lesmas dos pacotes
estratigráficos do sítio Alice Boer. A amplitude considerada para os valores foi o desvio padrão.
Atributos Valores de tendência central e variáveis mais
observados frequentes
Matéria prima Sílex (83,3 %)
Cor Branca e preta (50 %)
Massa Indefinido
Comprimento total 90 – 122 mm
Largura máxima 40 – 60 mm
Espessura máxima 17 – 31 mm
Prop. Larg./Esp. 1,3 – 3,3 /1
Seletivos transpassantes (66,7 %)
Org. façonagem
Paralelos transpassantes centro-direcionados (33,3 %)
Com. mx. façonagem 19 – 53 mm
Nº de gumes ativos 2–6
Local dos gumes Não há padrão
Org. Retoque Seletivos (100 %)
Ângulo façonagem 53 – 71°
Ângulo retoque 56 – 74°
Perfil façonagem Convexo (68 %)
Perfil retoque Retilíneo (100 %)
Delineamento gume Convexo (36 %)
Comp. gume ativo 21 – 63 mm
Comp. máx. retoque 5 – 13 mm

Tabela 7.98 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 20%) em lascas de façonagem do
sítio Alice Boer. A amplitude considerada para os valores foi o desvio padrão.
Valores de tendência central e
Atributos observados
variáveis mais frequentes
Matéria prima Sílex (98 %)
Preta (35 %)
Cor
Cinza (28 %)
Massa 0,6 – 11,6 g
Comprimento total 24 – 46 mm
Largura máxima 19 – 39 mm
Espessura máxima 3 – 11 mm
Circular (23 %)
Contorno do talão
Retilíneo (20 %)
Superfície do talão Liso (73 %)
Largura do talão 4 – 18 mm
Espessura do talão 1 – 7 mm
Ângulo talão/ face interna 106 – 128°
Cornija Sem lábio (84 %)
Proeminência do bulbo Um bulbo Proeminente (66%)
Contorno da lasca Quadrilátera (38 %)
Côncavo (47 %)
Perfil da lasca
Retilíneo (42 %)
N° de negativos 3–7
Negativos convergentes (24 %)
Organização da face superior Uma nervura vertical (20 %)
Duas nervuras verticais (20 %)
Quantidade de córtex Ausente (73 %)
Preparação no talão Presente (64 %)

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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As tabelas deixam claro quais são as caraterísticas padrão da coleção lítica do sítio Alice
Boer. Outras coleções com características similares, cujas diferenças não são estatisticamente
significantes podem estar, muito provavelmente, associadas à mesma indústria lítica.

7.2. As pontas pedunculadas e lesmas de superfície do interior paulista

7.2.1. A região de Iracemápolis


As coleções particulares das pontas pedunculadas do Sr. Dinan Rogério e do Sr. Luís
Carlos Cláudio totalizam 76 peças (arquivo suplementar “Coleções de pontas e lesmas de
superfície do centro de São Paulo”). Elas foram analisadas todas em conjunto devido a
proveniência do mesmo contexto. O sílex é a matéria prima mais frequente nas peças, mas
algumas variedades de quartzo e quartzito também aparecem (tabela 7.99). É importante notar
que o local é relativamente próximo ao sítio Alice Boer (ver cap. 5), numa área onde o mesmo
tipo de sílex abunda.

Tabela 7.99 – Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas em pontas pedunculadas das
coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio.
Matéria Prima n %
Sílex 66 86,8
Quartzo leitoso 5 6,6
Quartzo hialino 3 3,9
Quartzito 1 2,6
Total 76 100

A cor das pontas de sílex varia desde a preta, cinza, branca, roxa e vermelha, com uma
predominância de peças pretas (35,5 %) e cinzas (21,1%) (tabela 7.100). O córtex foi identificado
em apenas 13 % das peças. Em alguns casos, o córtex identificado é de origem fluvial, os demais
não puderam ser identificados. Apenas 13 % das peças apresentaram algum tipo de intrusão que
poderia acarretar em problema na produção da peça, mas que aparentemente não influenciaram
no produto final. Apenas 35% das peças possuíam algum tipo de alteração térmica, e 68% das
peças apresentava algum tipo de fratura, mas poucas destas quebras prejudicaram a análise da
maioria dos atributos métricos, morfológicos e tecnológico. Os atributos relacionados às
propriedades naturais da matéria prima e suas frequências são apresentados na tabela 7.101.

Tabela 7.100 - Frequência (contagens e porcentagens) das cores das pontas pedunculadas das coleções Dinan
Rogério e Luís Carlos Cláudio.
Cor n %
Preta 27 35,5
Cinza 16 21,1
Branca 9 11,9
Vermelha 6 7,9
Roxa 4 5,3
Transparente 3 3,9
Branca e Preta 2 2,6

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Laranja 2 2,6
Marrom 2 2,6
Amarela e rosa 1 1,3
Rosa 2 2,6
Roxa e cinza 1 1,3
Verde 1 1,3
Total 76 100,0

Tabela 7.101 - Frequência (contagens e porcentagens) dos atributos naturais das matérias primas de pontas
pedunculadas das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio. n = 76.
Atributos observados Frequência das variáveis
Translucidez Ausente, 63 (82,9 %)
Ausente, 66 (86,8 %)
Tipo de córtex Fluvial, 6 (7,9 %)
Córtex indefinido, 4 (5,3 %)
Intrusões Ausente, 66 (86,8%)
Ausente, 49 (64,5 %)
Alteração térmica
Cúpulas, 27 (35,5 %)
Fraturas Presente, 51 (68%)

Das peças com atributos considerados atípicos, a peça DR23 parece ser resultado de uma
façonagem cuja redução de espessura foi malsucedida, possivelmente pela qualidade do quartzo
em que ela foi produzida, ou talvez da própria estrutura original do suporte. As demais peças
possuem valores atípicos relacionados apenas ao comprimento do corpo da ponta. Este fato
poderia ser explicado pelo fato de que estas pontas não possuem seus gumes reavivados, o que
necessariamente diminui o comprimento original do corpo. É possível que as demais pontas
tivessem, originalmente, corpos maiores. Inclusive, algumas poucas peças apresentam uma
diacronia na qual o pedúnculo é claramente finalizado antes do corpo (ex: peças LCC 02, LCC
03, LCC 09, LCC 17, LCC 39, DR 05, DR 07, DR 08, DR 12, DR 15, DR 19, DR 24, DR 26,).
No entanto, a maioria das peças não possui informações sobre diacronia que mostrem essa relação
de ordem entre produção de corpo e pedúnculo tão clara. Na verdade, não parece haver qualquer
hierarquia sobre qual parte anatômica das pontas pedunculadas era produzida primeiro. A tabela
7.102 apresenta os valores de tendência central das medidas das pontas.

Tabela 7.102 – Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas pedunculadas das coleções
Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio

Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa (g) 52 1,2 7,9 3,3 1,8
Comprimento Total (mm) 54 25 65 36,3 8
Largura máxima (mm) 76 13 50 21,2 6
Espessura máxima (mm) 74 4 9 6,1 1
Proporção Largura/Espessura (x/1) 71 2,2 5,0 3,4 0,7
Comprimento do Corpo (mm) 58 13 43 23,2 6
Comprimento do Pedúnculo (mm) 68 7 26 14,3 5
Comprimento dos Gumes (mm) 59 15 50 24,7 6
Largura das Aletas (mm) 75 13 50 20,9 5

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Largura do Pescoço (mm) 75 7 20 12,9 3


Largura do Pedúnculo (mm) 68 7 19 11,1 3
Espessura do Corpo (mm) 71 2 9 5 1
Espessura do Pescoço (mm) 73 4 9 5,9 1
Espessura do Pedúnculo (mm) 68 2 8 4,8 1
Ângulo Médio dos Gumes (graus) 76 30 75 52,6 10

Em seguida, foi realizada análise descritiva dos atributos morfológicos e tecnológicos, a


fim de observar as variáveis mais frequentes de cada atributo. As tabelas 7.103 até 7.116
apresentam estas frequências.

Tabela 7.103 – Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do corpo em pontas
pedunculadas das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio
Variáveis n %
Triangular 69 90,8
Indefinido 5 6,6
Afunilado 1 1,3
Lâmino-triangular 1 1,3
Total 76 100,0

Tabela 7.104 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento dos gumes em
pontas pedunculadas das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio
Variáveis n %
Retilíneo 59 77,6
Indefinido 7 9,2
Côncavo 4 5,3
Convexo 2 2,6
Irregulares 2 2,6
Sinuoso 2 2,6
Total 76 100,0

Tabela 7.105 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno das aletas em pontas
pedunculadas das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio
Variáveis n %
Retilíneo 51 67,1
Expandidas 12 15,8
Obtuso 6 7,9
Incurvada 3 3,9
Indefinido 2 2,6
Chanfrado 1 1,3
Excurvada 1 1,3
Total 76 100,0

Tabela 7.106 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento do pescoço em


pontas pedunculadas das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio
Variáveis n %
Obtuso 31 40,8
Reto 29 38,2
Agudo 13 17,1
Indefinido 2 2,6
Arredondado 1 1,3
Total 76 100,0

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Tabela 7.107 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do pedúnculo em


pontas das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio
Variáveis n %
Ovalado 72 94,7
Indefinido 3 3,9
Quadrangular 1 1,3
Total 76 100,0

Tabela 7.108 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do corpo em pontas
pedunculadas das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio
Variáveis n %
Elíptica 38 50,0
Plano-convexa 11 14,5
Achatado 9 11,8
Losangular 7 9,2
Romboide 6 7,9
Indefinido 2 2,6
Sinuoso 2 2,6
Circular 1 1,3
Total 76 100,0

Tabela 7.109 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do pedúnculo em pontas
das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio
Variáveis n %
Elíptica 44 57,9
Losangular 9 11,8
Achatado 6 7,9
Circular 6 7,9
Indefinido 6 7,9
Plano-convexa 5 6,6
Total 76 100,0

Tabela 7.110 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de suporte em pontas


pedunculadas das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio
Variáveis n %
Não identificado 44 57,9
Lasca 24 31,6
Natural 4 5,3
Pré-forma bifacial 4 5,3
Total 76 100,0

Tabela 7.111 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de façonagem em


pontas pedunculadas das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio
Variáveis n %
Lascamento bifacial 70 92,1
Lascamento unifacial 3 3,9
Ausente 3 3,9
Total 76 100,0

Tabela 7.112 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de façonagem em


pontas pedunculadas das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio
Variáveis n %
Percussão e Pressão 31 40,8
Apenas pressão 30 39,5

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Apenas percussão 12 15,8


Ausente 3 3,9
Total 76 100,0

Tabela 7.113 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de retoque em pontas
pedunculadas das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio
Variáveis n %
Ausente 36 47,4
Lascamento bifacial 26 34,2
Lascamento alterno à
12 15,8
direita
Lascamento unifacial 2 2,6
Total 76 100,0

Tabela 7.114 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de retoque em pontas
pedunculadas das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio
Variáveis n %
Pressão 39 51,3
Ausente 36 47,4
Percussão + Pressão 1 1,3
Total 76 100,0

Tabela 7.115 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos de
façonagem do corpo em pontas pedunculadas das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio
Variáveis n %
Paralelos c/ uma nervura vertical 56 73,7
Largos e seletivos 15 19,7
Apenas bordos retocados 2 2,6
Ausentes 1 1,3
Convergentes 1 1,3
Indefinido 1 1,3
Total 76 100,0

Tabela 7.116 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos de
façonagem do pedúnculo em pontas das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio
Variáveis n %
Paralelos c/ uma nerv. vertical 63 82,9
Indefinido 6 7,9
Largos e seletivos 5 6,6
Ausentes 1 1,3
Paralelos c/ uma nerv. vertical + uma face acanelada 1 1,3
Total 76 100,0

Considerando os resultados da estatística descritiva, as pontas da região de Iracemápolis


tendem a possuir uma série bem definida de características. A tabela 7.117 descreve tais feições
levando em consideração a média e desvio padrão dos atributos métricos e as frequências mais
altas dos atributos morfológico e tecnológicos comparando com os mesmos atributos observados
nas pontas pedunculadas do sítio Alice Boer, localizado a poucos quilômetros de distância.

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Tabela 7.117 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 25%) das pontas pedunculadas
das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio. A amplitude considerada para os valores foi o desvio padrão.

Valores de tendência central e variáveis mais frequentes em %


Atributos observados
Região de Iracemápolis Sítio Alice Boer
Matéria prima Sílex (86 %) Sílex (82 %)
Cor Preta (35%) Preta (52 %)
Massa 1,5 - 5,1 g 2,2 – 9,0 g
Comprimento total 28 – 45 mm 36 – 54 mm
Largura máxima 16 – 27 mm 20 – 30 mm
Espessura máxima 5 – 7 mm 5 – 9 mm
Proporção
2,7 – 4,1 /1 3,0 – 5,0 /1
Largura/Espessura
Comprimento do corpo 17 – 29 mm 20 – 34 mm
Comp. do pedúnculo 11 – 19 mm 14 – 22 mm
Comp. médio dos gumes 19 – 31 mm 22 – 36 mm
Largura das aletas 16 – 26 mm 20 – 30 mm
Largura do pescoço 10 – 16 mm 13 – 17 mm
Largura do pedúnculo 8 – 14 mm 12 – 16 mm
Espessura do corpo 4 – 6 mm 4 – 6 mm
Espessura do pescoço 5 – 7 mm 5 – 9 mm
Espessura do pedúnculo 4 – 6 mm 5 – 7 mm
Ângulo dos gumes 43 – 63 º 41 – 61°
Contorno do corpo Triangular (90%) Triangular (87 %)
Delin. dos gumes Retilíneo (77%) Retilíneo (65 %)
Contorno das aletas Retilíneo (67%) Retilíneo (83 %)
Obtuso (41%)
Delin. do pescoço Obtuso (74 %)
Reto (38%)
Contorno do pedúnculo Ovalado (95%) Ovalado (83 %)
Seção do corpo Elíptica (50%) Elíptico (78 %)
Seção do pedúnculo Elíptica (58%) Elíptico (87 %)
Suporte Lasca (31%) Indefinido (83 %)
Método de façonagem Bifacial (92%) Bifacial (96 %)
Apenas pressão (39 %)
Percussão + pressão (41%)
Técnica de façonagem Apenas percussão (30 %)
Apenas pressão (40 %)
Percussão + pressão 30 %
Ausente (47 %) Bifacial (48 %)
Método de retoque
Bifacial (34%) Ausente (39 %)
Apenas pressão (51%) Apenas pressão (65 %)
Técnica de retoque
Ausente (47%) Ausente (35 %)
Largos e seletivos (48 %)
Org. dos negativos e Paralelos c/ uma nervura central
Paralelos c/ uma nerv. vertical (39
façonagem do corpo (73%)
%)
Paralelos c/ uma nerv. vertic. (52
Org. dos negativos do
Paralelos c/ uma nerv. vertic. (83 %) %)
pedúnculo
Convergentes (26 %)

Comparando as pontas pedunculadas da região de Iracemápolis com aquelas do sítio


Alice Boer é possível notar diversas similaridades morfológicas e tecnológicas. A única diferença
morfológica parece ser as frequências nas variáveis do delineamento do pescoço, uma vez que o
sítio Alice Boer não tende a ter pontas com pescoços retos. Com relação à tecnologia, as pontas
do Alice Boer parecem ser feitas através de percussão, pressão, ou ambas as técnicas em conjunto,
enquanto as de Iracemápolis raramente eram produzidas com base apenas na percussão. Mas a

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

diferença tecnológica que mais chama atenção é, definitivamente, a organização dos negativos do
corpo das pontas. Com relação aos atributos métricos, as pontas do sítio Alice Boer tendem a ser
maiores do que as de Iracemápolis. Ainda assim, é necessário realizar testes de estatísticos a fim
de verificar se as duas coleções são significativamente diferentes, ou se estamos tratando de duas
indústrias diferentes de pontas pedunculadas.

Também foram identificadas três lesmas na região de Iracemápolis, no mesmo local onde
foram encontradas as pontas. Uma delas, de sílex, está fraturada e só a porção proximal foi
identificada. Como a amostra é muito pequena, as feições das duas lesmas são apresentadas na
tabela 7.118.

Tabela 7.118 - Feições das lesmas encontradas em superfície na região de Iracemápolis, da coleções Dinan
Rogério e Luis Carlos Claudio. As medidas dos gumes são apresentadas correspondem à sua variância ou a sua
maior frequência.
Atributos
DR 38 LCC 40
observados
Matéria prima Arenito Silicificado Sílex
Cor Bege Bege
Massa 180,6 g 140,9 g
Comprimento total 139 mm 115 mm
Largura máxima 42 mm 48 mm
Espessura máxima 25 mm 27 mm
Prop. Larg./Esp. 1,7/1 1,8/1
Org. façonagem Seletivos não transpassantes Paralelos com uma nervura vertical
Com. mx.
25 mm 35 mm
façonagem
Nº de gumes ativos 4 4
Org. Retoque Seletivos Seletivos
Ângulo façonagem 50 – 70° 50 – 65°
Ângulo retoque 60 – 75° 65 – 80°
Perfil façonagem Convexo (75 %) Convexo (75 %)
Perfil retoque Reto (100 %) Reto (100%)
Delineamento
Nenhum padrão Nenhum padrão
gume
Comp. gume ativo 33 – 75 mm 27 – 59 mm
Comp. máx.
11 mm 9 mm
retoque

2.1.1. Sítio Santa Cruz e coleção André Coelho.


As pontas da coleção doada pelo Sr. André Coelho e a ponta encontrada no sítio Santa
Cruz pela ValVerde Consultoria somam, juntas, apenas cinco peças (arquivo suplementar
“Coleções de pontas de superfície do centro de São Paulo”) e não é possível realizar uma análise
estatística precisa de amostras tão pequenas. Portanto, os atributos destas pontas são apresentados
para cada peça individualmente na tabela 7.119. É importante notar que, assim como as pontas
do sítio Caetetuba, estas pontas também apresentam atributos bastante similares com aqueles das
pontas do sítio Alice Boer e da região de Iracemápolis.

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Tabela 7.119 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas das pontas pedunculadas da coleção André Coelho
(peças AC1-4) e do sítio Santa Cruz (SC III.6). ¹Aponta variáveis que são tendências nas pontas pedunculadas
do sítio Alice Boer. ²Aponta variáveis que são tendências nas pontas pedunculadas de Iracemápolis.
Atributos
SC III.6 AC1 AC2 AC3 AC4
observados
Matéria prima Sílex¹² Sílex¹² Sílex¹² Sílex¹² Sílex¹²
Cor Sílex¹² Sílex¹² Cinza Cinza Cinza
Massa (g) - 5,2¹² 3,8¹² - 8,6¹
Comprimento
- 58 45¹² - 65
total (mm)
Largura máxima
24¹² 24¹² 22¹² 38 23¹²
(mm)
Espessura
6¹² 5¹² 6¹² 6¹² 7¹²
máxima (mm)
Prop. Larg./Esp.
4¹² 4,8¹ 3,7¹² 6,3 3,3¹²
(/1)
Comprimento do
- 46 31¹ 34¹ 46
corpo (mm)
Comprimento do
18¹² 11² 14¹² - 19¹²
pedúnculo (mm)
Comp. médio dos
- 48 33¹ 39 47
gumes (mm)
Largura das aletas
26¹² 24¹² 22¹² 38 23¹²
(mm)
Largura do
13¹² 10² 13¹² 14¹² 13¹²
pescoço (mm)
Largura do
12¹² 9² 12¹² - 12¹²
pedúnculo (mm)
Espessura do
6¹² 4¹² 5¹² 5¹² 7
corpo (mm)
Espessura do
6¹² 5¹² 6¹² 6¹² 7¹²
pescoço (mm)
Espessura do
6¹² 4² 4² - 6¹²
pedúnculo (mm)
Ângulo médio
45¹² 45¹² 55¹² 50¹² 65
dos gumes (°)
Contorno do
Triangular¹² Triangular¹² Triangular¹² Triangular¹² Triangular¹²
corpo
Delineamento dos
Retilíneo¹² Retilíneo¹² Retilíneo¹² Retilíneo¹² Retilíneo¹²
gumes
Contorno das
Retilíneo¹² Retilíneo¹² Expandidas Expandidas Retilíneo¹²
aletas
Delineamento do
Obtuso¹² Reto² Reto² Reto² Reto²
pescoço
Contorno do
Ovalado¹² Ovalado¹² Ovalado¹² Indefinido Ovalado¹²
pedúnculo
Seção do corpo Elíptica¹² Elíptica¹² Elíptica¹² Achatada Romboide
Seção do
Elíptica¹² Elíptica¹² Elíptica¹² Elíptica¹² Elíptica¹²
pedúnculo
Suporte Indefinido¹ Indefinido¹ Natural Indefinido¹ Indefinido¹
Método de
Bifacial¹² Bifacial¹² Bifacial¹² Bifacial¹² Bifacial¹²
façonagem
Técnica de Apenas Apenas Apenas Apenas Apenas
façonagem percussão¹ pressão¹² pressão¹² percussão¹ percussão¹
Método de Alterno à Alterno à
Ausente¹² Ausente¹² Ausente¹²
retoque direita direita
Técnica de Apenas Apenas Apenas
Ausente¹² Ausente¹²
retoque pressão¹² pressão¹² pressão¹²

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Org. dos
Paralelos c/ Paralelos c/ Paralelos c/
negativos e Largos e Largos e
uma nerv. uma nerv. uma nerv.
façonagem do seletivos¹ seletivos¹
vertical¹² vertical¹² vertical¹²
corpo
Org. dos Paralelos c/ Paralelos c/ Paralelos c/ Paralelos c/
negativos do uma nerv. uma nerv. uma nerv. Indefinido uma nerv.
pedúnculo vertical¹² vertical¹² vertical¹² vertical¹²

7.3. A coleção Caetetuba


7.3.1. Identificação e quantificação
A coleção do sítio Caetetuba que foi escavada pela empresa Zanettini Arqueologia está
acondicionada atualmente no Museu de Arqueologia e Paleontologia de Araraquara. O acesso ao
material foi gentilmente cedido pelo Dr. Robson Rodrigues, diretor do museu.

Apenas uma unidade de escavação (UE1) foi escavada, e o material se encontra


distribuído em até 190 cm de profundidade, divididos em níveis arbitrários de 10 cm. A coleção
totaliza 3170 peças. A figura 7.20 apresenta a distribuição total dos vestígios líticos na
estratigrafia da UE1. A quantidade total de cada classe e sua distribuição estratigráfica é
apresentada na tabela 7.120.

1000
900
800
700
600
500
400
300
200
100
0

Figura 7.20 – Gráfico de barras, distribuição do material arqueológico por níveis de 10 cm no sítio Caetetuba.

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Tabela 7.120 - Quantificação de vestígios líticos da coleção do sítio Caetetuba. As datas são as mesmas
apresentadas no capítulo 5 desta tese.
Pré-
Ponta Artefato não Data
Nível forma Lesma Núcleo Lasca Detrito Total
pedunculada formal calibrada
bifacial
Superfície - - 1 - - - - - -
0-10 - - - 1 - 11 14 26 -
10-20 - - - - - 9 38 47 -
20-30 - - - 1 - 12 97 110 -
30-40 - - - - - 7 21 28 -
40-50 - - 2 2 - 5 6 15 -
50-60 - - - - - 4 6 10 -
60-70 - - - - - 7 18 25 -
70-80 - - - - - 11 3 14 -
80-90 - - - - - 14 24 38 -
90-100 - - - 3 1 27 30 61 -
100-110 - - - - 1 68 49 118 9180 ± 62
110-120 - 1 1 1 - 156 168 327 -
120-130 - - 2 6 - 302 262 573 -
130-140 1 - 2 - - 487 397 888 -
- 10.729 ± 33
140-150 - 1 2 - 218 251 472
10.891 ± 146
150-160 2 - 1 - - 200 116 318 10.942 ± 115
160-170 2 - - - - 51 33 86 -
170-180 - - - - - 6 4 10 -
180-190 - - - 1 - 1 0 2 -
S/ registro 1 - - - - - - 1 -
Total 7 - 10 17 2 1596 1537 3170 -

Com base nas datas absolutas obtidas por radiocarbono e pela clara diferença observada
na intensidade da ocupação do sítio, a coleção foi dividida em duas amostras, sendo uma referente
ao material do mais antigo que 9200 cal AP (100-190 cm) e uma referente ao material mais recente
e com ocupação humana menos intensa (0-100 cm). Sendo assim, a quantificação por classes de
vestígio lítico entre os dois períodos se dá conforme a tabela 7.121.

Tabela 7.121 – Frequência (contagens e porcentagens) de classes de vestígios líticos nos dois períodos do sítio
Caetetuba.
Classe de vestígio > 9200 cal AP < 9200 cal AP
lítico n % n %
Ponta pedunculada 5 0,2 - -
Pré-forma bifacial 1 > 0,1 - -
Lesma 7 0,2 3 0,8
Artefato não formal 10 0,4 7 1,9
Núcleo 1 > 0,1 1 0,3
Lasca 1489 53,3 107 28,5
Detrito 1281 45,8 257 68,5
Total 2794 100 375 100

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Além das peças informadas na tabela, há uma ponta pedunculada cujo nível proveniente
não foi registrado. Todas as pontas pedunculadas foram analisadas, assim como todas as pré-
formas bifaciais e lesmas (arquivo suplementar “sítio Caetetuba”). Nenhum núcleo foi
identificado. As lascas, devido a sua grande quantidade, foram amostradas. Os detritos foram
apenas quantificados e sua matéria prima foi identificada, a fim de buscar diferenças ao longo do
tempo no uso de matéria prima em toda a coleção.

7.3.2. Arenito silicificado e um pouco de sílex: as matérias primas


Todas as peças líticas da coleção foram identificadas a partir do tipo de rocha ou mineral
e mineral do qual são constituídas a fim de verificar a frequência de uso ao longo do tempo. A
tabela 7.122 apresenta a quantificação de todas as matérias primas identificadas por níveis de 10
cm. O arenito silicificado e o sílex são as rochas mais frequentes, e a frequência de cada uma por
níveis de 10 cm é apresentada na figura 7.21. O arenito é sempre mais abundante que o sílex, mas
ambos possuem uma frequência muito maior entre 120 e 150 cm de profundidade, e ambas
diminuem drasticamente nos níveis mais recentes. A tabela 7.23 mostra a similaridade na
frequência de cada matéria prima para cada um dos dois períodos amostrados.

Tabela 7.122 - Quantificação de vestígios líticos da coleção do sítio Caetetuba acondicionada na reserva técnica
do Museu de Arqueologia e Paleontologia de Araraquara. As datas são as mesmas apresentadas no capítulo 5
desta tese.
Arenito Quartzo Quartzo Data
Nível Sílex Quartzito Ágata Total
silicificado hialino variado calibrada
0-10 19 4 - 1 - 2 26 -
10-20 41 5 - - - 1 47 -
20-30 104 5 - 1 - - 110 -
30-40 24 3 - 1 - - 28 -
40-50 12 2 - - 2 - 16 -
50-60 8 2 - - - - 10 -
60-70 20 5 - - - - 25 -
70-80 9 5 - - - - 14 -
80-90 25 12 1 - - - 38 -
90-100 42 17 - 1 - - 61 -
100-110 72 39 7 - - - 118 9180 ± 62
110-120 266 50 5 4 - - 327 -
120-130 428 125 - 16 - - 573 -
130-140 757 117 4 3 5 5 888 -
10.729 ± 33
140-150 351 115 - 3 1 1 472
10.891 ± 146
150-160 271 43 2 2 - - 318 10.942 ± 115
160-170 65 20 - 1 1 - 86 -
170-180 8 1 - - - 1 10 -
180-190 - 2 - - - - 2 -
Total 2522 572 19 33 9 14 3169 -

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800
700
600
500
400
Arenito silicificado
300
Silex
200
100
0
10-20
20-30
30-40
40-50
50-60
60-70
70-80
80-90
0-10

100-110
110-120
120-130
130-140
140-150
150-160
160-170
170-180
180-190
90-100

Figura 7.21 – Gráfico de barras, frequência no uso de arenito silicificado e sílex por níveis de 10 cm no sítio
Caetetuba, para todos os vestígios líticos.

Tabela 7.123 – Frequência (contagens e porcentagens) de matéria prima nos dois períodos do sítio Caetetuba.
Classe de vestígio > 9200 cal AP < 9200 cal AP
lítico n % n %
Arenito silicificado 2218 79,4 304 81,1
Sílex 512 18,3 60 16,0
Quartzo variado 29 1,0 4 1,1
Quartzo hialino 18 0,6 1 0,3
Ágata 10 0,4 4 1,1
Quartzito 7 0,3 2 0,5
Total 2794 100 375 100

O teste de chi quadrado resultou no valor de 1,6848, no qual o valor de p é 0,430678. Ou


seja, as diferenças relacionadas à matéria prima entre os dois períodos são estatisticamente
insignificantes.

Durante a visita ao sítio (ver cap. 5) foram observados diversos calhaus e matacões de
arenito silicificado amarelo nos arredores do sítio, do mesmo tipo identificado nos vestígios líticos
da coleção. Mas nenhuma fonte de sílex foi observada na área. É provável que o sílex venha de
outros locais, muito provavelmente do rio Tietê.

7.3.3. As pontas pedunculadas só eram produzidas antes de 9200 cal AP


Apenas cinco pontas pedunculadas estão associadas ao período mais antigo que 9200 cal
AP, e nenhuma foi identificada nos níveis mais recentes. Isso por si só já parece demonstrar uma
diferença na produção de artefatos no sítio. Mas é necessário levar em consideração a diferença
na frequência de peça entre os dois períodos antes de considerar esta ausência como algo

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determinante para dizer que os períodos são tecnologicamente diferentes. Ainda há uma sexta
ponta pedunculada a qual não teve seu nível arqueológico registrado (peça 668). Das pontas cujo
contexto estratigráfico está registrado (figura 7.22), apenas uma está inteira, e outras duas estão
pouco fragmentadas. A peça 367/381, que se trata de apenas um fragmento, o ápice, de uma ponta
de sílex, foi excluída da análise. Não é possível realizar uma análise estatística de amostras tão
pequenas. Portanto, os atributos destas pontas são apresentados para cada peça individualmente
na tabela 7.124. As pontas do sítio Caetetuba parecem similares com aquelas encontradas no sítio
Alice Boer e na região de Iracemápolis.

Figura 7.22 - Pontas pedunculadas do sítio Caetetuba datadas do Holoceno Inicial. Desenhos: João Carlos
Moreno de Sousa.

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Tabela 7.124 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas das pontas pedunculadas do sítio Caetetuba. A¹
Aponta variáveis que são tendências nas pontas pedunculadas do sítio Alice Boer. ² Aponta variáveis que são
tendências nas pontas pedunculadas de Iracemápolis.
Atributos
95 124/125 303 393 668
observados
Matéria prima Sílex¹² Sílex¹² Sílex¹² Sílex¹² Sílex¹²
Cor Marrom Cinza Cinza Cinza Laranja
Massa (g) 5,5¹ - - 13,6 6¹
Comp. total
52¹ - 52¹ 54¹ 49¹
(mm)
Larg. máx. (mm) 22¹² 36 - 41 29
Esp. máx. (mm) 6¹² 5¹² 9¹ 7¹² 5¹²
Prop. Larg./Esp.
3,7¹² 7,2 - 5,8 5,8
(/1)
Comp. corpo
29¹² - 30¹ 38 28¹²
(mm)
Comprimento do
23 21¹ 22¹ 16¹² 21¹
pedúnculo (mm)
Comp. gumes
33¹ - - 47 31¹²
(mm)
Larg. aletas
22¹² 36¹ - 41 29¹
(mm)
Largura do
14¹² 18¹ 18¹ 13¹² 13¹²
pescoço (mm)
Largura do
13¹² 17 17 14¹² 13¹²
pedúnculo (mm)
Esp. corpo (mm) 4¹² 5¹² 9 7 4¹²
Espessura do
6¹² 5¹² 9¹ 7¹² 5¹²
pescoço (mm)
Espessura do
6¹² 5¹² 7¹ 6¹² 5¹²
pedúnculo (mm)
Ângulo gumes
60¹² 50¹² 65 60¹² 50¹²
(°)
Contorno do
Triangular¹² Triangular¹² - Triangular¹² Triangular¹²
corpo
Delin. dos gumes Retilíneo¹² Retilíneo¹² - Retilíneo¹² Retilíneo¹²
Contorno das
- Retilíneo¹² - Retilíneo¹² Retilíneo¹²
aletas
Delin. do
- Obtuso¹ - Agudas Agudas
pescoço
Contorno do
Ovalado¹² Ovalado¹² Ovalado¹² Convexo Ovalado¹²
pedúnculo
Seção do corpo Elíptica¹² Elíptica¹² Plano-convexa Achatada Elíptica¹²
Seção do
Elíptica¹² Elíptica¹² Plano-convexa Achatada Elíptica¹²
pedúnculo
Suporte Indefinido¹² Indefinido¹² Indefinido¹² Indefinido¹² Indefinido¹²
Método de
Bifacial¹² Bifacial¹² Bifacial¹² Bifacial¹² Bifacial¹²
façonagem
Técnica de Percussão + Apenas Apenas Apenas Apenas
façonagem pressão¹² percussão¹ percussão¹ percussão¹ percussão¹
Mét. de retoque Bifacial¹² - Bifacial¹² Bifacial¹² Bifacial¹²
Técnica de Apenas Apenas Apenas Apenas Apenas
retoque pressão¹² pressão¹² pressão¹² pressão¹² pressão¹²
Org. negativos Largos e Largos e Largos e Largos e Largos e
corpo seletivos¹ seletivos¹ seletivos¹ seletivos¹ seletivos¹
Paralelos c/
Org. negativos Bordos
Convergentes¹ Convergentes¹ uma nerv. Convergentes¹
do pedúnculo retocados
vertical¹²

200
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A análise diacrônica das pontas foi realizada a partir da observação das sequências dos
negativos presentes nas pontas e apresentado em desenhos esquemáticos (figura 7.23). Apenas
duas pontas apresentam negativos relacionados a uma segunda sequência de façonagem (95 e
303), enquanto as demais apresentam apenas uma, seguida de uma sequência de retoques. A peça
367-381 não possui integridade suficiente para este tipo de análise. Nenhum padrão foi observado
em relação à organização direcional das retiradas, exceto que apenas a sequência de retoque, em
todos os casos, parece apresentá-la.

Figura 7.23 - Diacronia das pontas pedunculadas do sítio Alice Boer. As setas indicam direcionamento das
sequências de lascamento nos casos onde as retiradas são organizadas direccionalmente. Áreas vermelhas
representam áreas fraturadas. Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa. As peças 124-125 e 367-381 não foram
desenhadas.

201
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7.3.4. Uma única pré-forma bifacial, a façonagem que deu errado


Apenas um pré-forma bifacial foi identificada na coleção, e assim como as pontas
pedunculadas, ela também está associada ao período mais antigo que 9200 cal AP. A constituição
do material é duvidosa. Ainda que a matéria prima tenha sido classificada como sílex nesta
análise, ela aparenta ser, mais especificamente, uma ágata silicificada. É possível observar que a
peça tem bandas circulares, e que a porção central tem uma constituição menos homogênea, como
um geodo. Inclusive, justamente essa porção é a mais espessa da pré-forma (figura 7.24). É
provável que a ponta não tenha sido finalizada pela dificuldade em remover a espessura desta
área.

Figura 7.24 – Detalhe da pré-forma bifacial associada ao Holoceno Inicial no sítio Caetetuba, a única na
coleção. Peça 227. Foto: João Carlos Moreno de Sousa.

A peça apresenta as seguintes medidas: 54 mm de comprimento, 28 mm de largura e 12


mm de espessura. Ou seja, o comprimento e a largura estão dentro dos padrões observados nas
pontas pedunculadas, exceto pela espessura. Ainda que fosse possível remover a área mais espessa
e menos homogênea a fim de atingir a espessura média das pontas desta indústria, isso também
exigiria certa diminuição da largura, diminuindo também a proporção largura/espessura padrão.
Este é, provavelmente, o fator que causou o abandono da produção da peça.

202
MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

7.3.5. Mais lesmas do que pontas


Foram identificadas 10 lesmas na coleção do sítio Caetetuba. Algumas delas são apenas
fragmentos, alguns remontáveis entre si. Duas lesmas estão associadas ao período mais recente,
e uma terceira foi encontrada em superfície, possivelmente trazida de alguns centímetros de
profundidade pelo maquinário agrícola que atua no local nos dias atuais. Considerando que o
maquinário não atinge uma profundidade tão grande quanto 100 cm, a lesma encontrada em
superfície está, muito provavelmente, associada ao período mais recente. Todas as outras lesmas
estão associadas ao período mais antigo que 9200 cal AP (figuras 7.25 e 7.26).

Figura 7.25 - Exemplo de lesmas de arenito silicificado e sílex com superfície superior apresentando partes
originais da lasca suporte associadas ao Holoceno Inicial do sítio Caetetuba. Desenhos: João Carlos Moreno de
Sousa.

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Figura 7.26 - Exemplo de lesmas de arenito silicificado com superfície totalmente façonada associadas ao
Holoceno Inicial do sítio Caetetuba. Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa.

Os resultados da estatística descritiva sobre os atributos das lesmas dos dois períodos são
apresentados nas tabelas 7.125 até 7.135. Não foram buscados valores atípicos de uma amostra
tão pequena.

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.125 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas nas lesmas nos dois períodos de
ocupação do sítio Caetetuba.
> 9200 cal AP < 9200 cal AP
Matéria Prima
n % n %
Arenito Silicificado 6 85,7 2 66,7
Sílex 1 14,3 1 33,3
Total 7 100 3 100

Tabela 7.126 - Frequência (contagens e porcentagens) das cores das lesmas nos dois períodos de ocupação do
sítio Caetetuba.
Cor > 9200 cal AP < 9200 cal AP
n % n %
Amarela 6 85,7 2 66,7
Branca e preta 1 14,3 1 33,3
Total 7 100 3 100

Tabela 7.127 - Frequência (contagens e porcentagens) dos atributos naturais das matérias primas de lesmas
dos pacotes estratigráficos do sítio Caetetuba.

Variável mais frequente, n (%)


Atributos observados
> 9200 cal AP < 9200 cal AP
Translucidez Ausente, 7 (100 %) Ausente, 3 (100 %)
Ausente, 5 (71,4 %)
Tipo de córtex Ausente, 3 (100 %)
Fluvial, 2 (28,6 %)
Intrusões Ausente, 7 (100 %) Ausente, 3 (100 %)
Alteração térmica Ausente, 7 (100 %) Ausente, 3 (100 %)
Fraturas Ausente, 7 (100 %) Ausente, 3 (100 %)

Tabela 7.128 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lesmas do período mais antigo que 9200
cal AP do sítio Caetetuba.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa (g) 5 71,7 301,1 178,6 96,0
Comprimento Total (mm) 5 92 171 128 36
Largura máxima (mm) 6 35 58 44 8
Espessura máxima (mm) 6 11 41 25 11
Proporção Largura/Espessura (x/1) 6 1,1 3,2 2,0 0,8
Comp. máx. façonagem 6 10 41 28 12
Número de gumes ativos 5 2 6 4 2
Ângulo da área de façonagem do gume 18 40 80 55 12
Ângulo da área de retoque do gume 24 50 75 65 8
Comprimento do gume ativo 19 7 99 52 25
Comp. máx. retoque 24 3 17 8 4

Tabela 7.129 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lesmas do período mais recente que
9200 cal AP do sítio Caetetuba.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa (g) 1 105,9 105,9 105,9 .
Comprimento Total (mm) 1 136 136 136 .
Largura máxima (mm) 1 42 42 42 .
Espessura máxima (mm) 2 12 15 14 2
Proporção Largura/Espessura (x/1) 1 2,8 2,80 2,8 .
Comp. máx. façonagem 2 18 21 20 2
Número de gumes ativos 1 4 4 4 .
Ângulo da área de façonagem 7 40 60 51 9
Ângulo da área de retoque 7 40 80 60 13

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Comprimento do gume ativo 5 22 120 58 39


Comp. máx. retoque 7 3 8 5 2

Tabela 7.130 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos de façonagem
nas lesmas dos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba.
> 9200 cal AP < 9200 cal AP
Organização dos negativos de façonagem
n % n %
Paralelos transpassantes centro-direcionados 3 42,9 1 33,3
Ausente 2 28,6 - -
Seletivos transpassantes 1 14,3 1 33,3
Indefinido 1 14,3 1 33,3
Total 7 100 3 100

Tabela 7.131 - Frequência (contagens e porcentagens) de localização dos gumes ativos nas lesmas dos dois
períodos de ocupação do sítio Caetetuba.
> 9200 cal AP < 9200 cal AP
Delineamento do gume ativo
n % n %
Bordo distal completo 5 20,8 2 28,6
Bordo esquerdo, porção médio-proximal 3 12,5 1 14,3
Bordo direito, porção distal 2 8,3 - -
Bordo direito, porção médio-distal 2 8,3 - -
Bordo direito, porção médio-proximal 2 8,3 - -
Bordo esquerdo, porção média 2 8,3 - -
Bordo direito, porção proximal 2 8,3 - -
Bordo esquerdo completo 2 8,3 1 14,3
Bordo direito completo 1 4,2 2 28,6
Bordo direito, porção média 1 4,2 - -
Bordo esquerdo, porção médio-distal 1 4,2 1 14,3
Bordo esquerdo, porção proximal 1 4,2 - -
Total 24 100 7 100

Tabela 7.132 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos de retoque
do gume ativo nas lesmas dos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba.
Organização dos negativos de retoque do > 9200 cal AP < 9200 cal AP
gume ativo n % n %
Seletivos 24 100 7 100
Total 24 100 7 100

Tabela 7.133 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de perfil da área de façonagem do gume
ativo nas lesmas dos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba.
Perfil da área de façonagem do gume > 9200 cal AP < 9200 cal AP
ativo n % n %
Convexo 15 62,5 5 71,4
Retilíneo 5 20,8 2 28,6
Indefinido 4 16,7 - -
Total 24 100 7 100

Tabela 7.134 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de perfil da área de retoque do gume ativo
nas lesmas dos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba.
> 9200 cal AP < 9200 cal AP
Perfil da área de retoque do gume ativo
n % n %
Retilíneo 16 66,7 6 85,7
Convexo 6 25,0 1 14,3
Côncavo 2 8,3 - -
Total 24 100 7 100

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Tabela 7.135 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento do gume ativo nas lesmas
dos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba.
> 9200 cal AP < 9200 cal AP
Delineamento do gume ativo
n % n %
Convexo 4 16,7 1 14,3
Denticulado 4 16,7 - -
Indefinido 3 12,5 2 28,6
Convexo expressivo 2 8,3 2 28,6
Convexo suave 2 8,3 2 28,6
Denticulado expressivo 2 8,3 - -
Retilíneo 2 8,3 - -
Côncavo 1 4,2 - -
Convexo microdenticulado 1 4,2 - -
Denticulado suave 1 4,2 - -
Denticulado-convexo 1 4,2 - -
Quadrado 1 4,2 - -
Total 24 100 7 100

Não é possível realizar uma comparação entre as lesmas dos dois períodos, uma vez que
a amostra do período mais recente é muito pequena: apenas três peças, sendo que uma delas
apenas a extremidade distal se faz presente. Mas os dados não mostram variáveis distintas entre
os atributos qualitativos, assim como as médias dos atributos quantitativos são bastante similares.
A diacronia das lesmas (figuras 7.27 até 7.29) nos dois períodos do sítio Caetetuba também se
mostrou bastante similar. Alguns negativos de debitagem ainda são observáveis em algumas
peças, apresentam no máximo duas sequências de façonagem. A tabela 7.136 apresenta uma
comparação entre os valores de tendência central.

Tabela 7.136 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 25%) em lesmas dos dois
períodos de ocupação do sítio Caetetuba. A amplitude considerada para os valores foi o desvio padrão.
*Considerados apenas os valores maiores de 50% devido ao tamanho amostral (n = 3).
Valores de tendência central e variáveis mais frequentes
Atributos observados
> 9200 cal AP < 9200 cal AP
Matéria prima Arenito silicificado (86 %) Arenito silicificado (67 %) *
Cor Amarela (86 %) Amarela (67 %) *
Massa 83 - 275 g 106 g
Comprimento total 92 – 164 mm 136 mm
Largura máxima 36 – 52 mm 42 mm
Espessura máxima 14 – 36 mm 12 – 16 mm
Prop. Larg./Esp. 1,3 - 2,8 /1 2,8 /1
Org. façonagem Paralelos transp. (43 %) Nenhuma tendência*
Com. máx. façonagem 16 – 40 mm 18 – 22 mm
Nº de gumes ativos 2–6 4
Local dos gumes Nenhuma tendência Bordo distal completo (29 %)
Org. Retoque Seletivos (100 %) Seletivos (100 %)
Ângulo façonagem 43 – 67° 42 – 60º
Ângulo retoque 57 – 72º 47 – 73º
Convexo (71 %)
Perfil façonagem Convexo (62 %)
Retilíneo (28,6 %)
Perfil retoque Retilíneo (67 %) Retilíneo (86 %)
Convexo expressivo (29 %)
Delineamento gume Nenhuma tendência
Convexo suave (29 %)
Comp. gume 27 – 77 mm 19 – 97 mm
Comp. máx. retoque 4 – 12 mm 3 – 8 mm

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Figura 7.27 - Diacronia de lesmas associadas ao Holoceno Inicial da coleção do sítio Caetetuba. Peças 98/99/101,
159 & 353. Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa.

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Figura 7.28 - Diacronia de lesmas associadas ao Holoceno Inicial da coleção do sítio Caetetuba. Peças 321 &
407. Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa.

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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Figura 7.29 - Diacronia de lesma associada ao período mais recente que 9200 cal AP (achada em superfície) da
coleção do sítio Caetetuba. Peça 30. Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa.

7.3.6. Identificando e analisando lascas de façonagem


A análise das pontas e das lesmas revelou que os negativos de façonagem destes artefatos
possuem até 41 mm de comprimento. As lascas foram selecionadas para análise com base neste
único atributo. As lascas associadas ao período mais antigo que 9200 cal AP totalizaram 109
lascas amostradas (7,3 % do total de peças da coleção), enquanto o período mais recente totalizou
91 lascas amostradas (85 % do total).

Em ambos os pacotes, o arenito silicificado e o sílex são quase exclusivos dentre as


matérias-primas das lascas, sendo o primeiro o mais frequente (tabela 7.137). As cores possuem
certa variabilidade, mas no caso do arenito elas parecem ser todas variantes do mesmo tipo de
matéria prima local (tabela 7.138). A frequência dos atributos naturais é apresentada na tabela
7.139).

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Tabela 7.137 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas nas lascas de façonagem dos
pacotes estratigráficos do sítio Caetetuba.
> 9200 cal AP < 9200 cal AP
Matéria Prima
n % n %
Arenito Silicificado 67 61,5 63 69,2
Sílex 42 38,5 26 28,6
Ágata - - 1 1,1
Quartzo hialino - - 1 1,1
Total 109 100 91 100

Tabela 7.138 - Frequência (contagens e porcentagens) das cores das lascas de façonagem dos pacotes
estratigráficos do sítio Caetetuba.
> 9200 cal AP < 9200 cal AP
Cor
n % n %
Amarela 57 52,7 41 44,1
Rosa 17 15,6 11 12,1
Cinza 10 9,2 7 7,7
Vermelha 9 8,3 14 15,4
Marrom 6 5,5 8 8,8
Preta 5 4,6 2 2,2
Vermelha e amarela 2 1,8 - -
Branca e cinza 1 0,9 - -
Marrom e rosa 1 0,9 - -
Rosa e branca 1 0,9 - -
Branca e marrom - - 2 2,2
Branca e preta - - 1 1,1
Cinza e amarela - - 1 1,1
Laranja - - 1 1,1
Transparente - - 1 1,1
Verde - - 1 1,1
Vermelha e preta - - 1 1,1
Total 109 100 91 100

Tabela 7.139 - Frequência (contagens e porcentagens) dos atributos naturais das matérias primas de lasca de
façonagem dos pacotes estratigráficos do sítio Caetetuba.
Variável mais frequente, n (%)
Atributos observados
> 9200 cal AP < 9200 cal AP
Translucidez Ausente, 109 (100 %) Ausente, 88 (96,7 %)
Ausente, 94 (85,3 %) Ausente, 75 (82,4 %)
Tipo de córtex
Fluvial, 15 (13,8 %) Fluvial, 14 (15,4 %)
Intrusões Ausente, 106 (97,2 %) Ausente, 90 (98,9 %)
Lustre fluvial Ausente, 109 (100 %) Ausente, 91 (100 %)
Alteração térmica Ausente, 107 (98,2 %) Ausente, 83 (91,2 %)

A busca por valores atípicos resultou na descoberta de diversos valores excedentes em


todos os atributos quantitativos em ambos os pacotes, exceto no comprimento, o que já seria
esperado uma vez que o comprimento foi o atributo utilizado na seleção das lascas a serem
consideradas como possivelmente provenientes da etapa de façonagem. O ângulo das lascas
também não apresentou valores atípicos.

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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Uma vez que os valores atípicos foram retirados da análise estatística, a análise descritiva
foi realizada, e seus resultados são apresentados nas tabelas 7.140 e 7.141. A análise descritiva
dos atributos qualitativos é apresentada nas tabelas 7.142 até 7.150.

Tabela 7.140 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem associadas período
mais antigo que 9200 cal AP do sítio Caetetuba.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa 102 1 34,0 8,6 8,0
Comprimento 109 5 35 18 7
Largura 107 6 37 18 7
Espessura 106 1 7 3 1
Largura do talão 100 2 14 7 3
Espessura do talão 101 0,1 5 2 1
Ângulo talão/ face interna 103 100 150 122 11
Número de negativos na face superior 108 1 8 4 1

Tabela 7.141 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem do período mais
recente que 9200 cal AP do sítio Caetetuba.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa 77 0,1 11,0 2,6 2,6
Comprimento 87 5 38 14 7
Largura 87 5 30 14 6
Espessura 81 1 5 2 1
Largura do talão 78 0,1 15 6 4
Espessura do talão 73 0,1 3 1 1
Ângulo talão/ face interna 68 95 140 119 10
Número de negativos na face superior 85 0 6 3 1

Tabela 7.142 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno de talão das lascas de
façonagem dos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba.
> 9200 cal AP < 9200 cal AP
Variáveis
n % n %
Circular 74 67,9 38 41,8
Vírgula 11 10,1 8 8,8
Asa 8 7,3 11 12,1
Triangular 8 7,3 6 6,6
Indefinido 4 3,7 9 9,9
Linear 3 2,8 11 12,1
Quadrilátero 1 0,9 1 1,1
Puntiforme - - 6 6,6
Talões opostos (bigorna) - - 1 1,1
Total 109 100 91 100

Tabela 7.143 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de superfície de talão das lascas de
façonagem dos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba.
> 9200 cal AP < 9200 cal AP
Variáveis
n % n %
Liso 74 67,9 64 70,3
Facetado 23 21,1 3 3,3
Ausente 4 3,7 6 6,6
Indefinido 4 3,7 15 14,3
Cortical 2 1,8 2 2,2
Diedro 2 1,8 3 3,3
Total 109 100 91 100

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Tabela 7.144 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de cornija das lascas de façonagem
dos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba.
> 9200 cal AP < 9200 cal AP
Variáveis
n % n %
Sem Lábio 46 42,2 56 61,5
Lábio Pouco Proeminente 39 35,8 16 17,6
Lábio Muito Proeminente 19 17,4 12 13,2
Indefinido 5 4,6 7 7,7
Total 109 100 91 100

Tabela 7.145 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de bulbo das lascas de façonagem
dos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba.
> 9200 cal AP < 9200 cal AP
Variáveis
n % n %
Um Bulbo 69 63,3 58 63,7
Bulbo não Proeminente 24 22,0 24 26,4
Bulbo Duplo 8 7,3 1 1,1
Lascamento Bulbar 7 6,4 8 8,8
Total 109 100 91 100

Tabela 7.146 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno geral das lascas de
façonagem dos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba.
> 9200 cal AP < 9200 cal AP
Variáveis
n % n %
Quadrilátera 51 46,8 33 36,3
Circular 32 29,4 26 28,6
Triangular Invertido 14 12,8 12 13,2
Laminar Vertical 6 5,5 8 8,8
Pentagonal 4 3,7 - -
Laminar horizontal 1 0,9 - -
Triangular 1 0,9 9 9,9
Indefinido - - 3 3,3
Total 109 100 91 100

Tabela 7.147 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de perfil das lascas de façonagem
dos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba.
> 9200 cal AP < 9200 cal AP
Variáveis
n % n %
Côncavo 69 63,3 34 37,4
Retilíneo 38 34,9 46 50,5
Convexo 1 0,9 7 7,7
Helicoidal 1 0,9 1 1,1
Indefinido - - 3 3,3
Total 109 100 91 100

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Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.148 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias organização da face superior das
lascas de façonagem dos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba.
> 9200 cal AP < 9200 cal AP
Variáveis
n % n %
Duas Nervuras Verticais 20 18,3 24 26,4
Convergente 18 16,5 - -
Uma Nervura Vertical 14 12,8 24 26,4
Uma Nervura Vertical e Uma Horizontal 13 11,9 4 4,4
Forma de Y 11 10,1 6 6,6
Forma de Y Invertido 9 8,3 5 5,5
Uma Nervura Horizontal 8 7,3 8 8,8
Duas Nervuras Verticais e Uma Horizontal 4 3,7 2 2,2
Três Nervuras Verticais e Uma Horizontal 4 3,7 1 1,1
Três Nervuras Verticais 3 2,8 - -
Duas Nervuras Horizontais 2 1,8 - -
Lisa 2 1,8 7 7,7
Forma de X 1 0,9 - -
Forma de H - - 2 2,2
Duas Nervuras Horizontais e Uma Vertical - - 1 1,1
Forma de V invertido - - 1 1,1
Indefinido - - 6 6,6
Total 109 100 91 100

Tabela 7.149 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de quantidade de córtex nas lascas
de façonagem dos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba.
> 9200 cal AP < 9200 cal AP
Variáveis
n % n %
Ausente 93 85,3 75 82,4
< 50% 12 11,0 10 11,0
> 50% 2 1,8 5 5,5
50% 2 1,8 - -
Completo - - 1 1,1
Total 109 100 91 100

Tabela 7.150 – Predominância de categorias de lascas a partir de determinados atributos tecnológicos


nos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba.
Variável mais frequente, n (%)
Atributos observados
> 9200 cal AP < 9200 cal AP
Lasca de talão preparado Não, 78 (71,6 %) Sim, 69 (75,8 %)
Lasca refletida Não, 109 (100 %) Não, 64 (70,3 %)
Lasca lingueta Não, 109 (100 %) Não, 88 (96,7 %)
Lasca ultrapassante Não, 109 (100 %) Não, 89 (97,8 %)
Lasca transbordante Não, 109 (100 %) Não, 89 (97,8 %)
Lasca sirét Não, 109 (100 %) Não, 88 (96,7 %)

A tabela 7.151 compara os dados de tendência central dos atributos analisados nas lascas
de façonagem de ambos os pacotes estratigráficos do sítio arqueológico Caetetuba.

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.151 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 20%) em lascas de façonagem
dos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba. A amplitude considerada para os valores foi o desvio padrão.
Valores de tendência central e variáveis mais frequentes
Atributos observados
> 9200 cal AP < 9200 cal AP
Arenito silicificado (62 %) Arenito silicificado (69 %)
Matéria prima
Sílex (38 %) Sílex (29 %)
Cor Amarelo (53 %) Amarelo (44 %)
Massa 1 – 16,6 g 0,1 – 2,6 g
Comprimento total 11 – 25 mm 7 – 21 mm
Largura máxima 11 – 25 mm 8 – 20 mm
Espessura máxima 2 – 4 mm 1 – 3 mm
Contorno do talão Circular (68 %) Circular (42 %)
Superfície do talão Liso (68 %) Liso (70 %)
Largura do talão 4 – 10 mm 2 – 10 mm
Espessura do talão 1 – 3 mm 0,1 – 2 mm
Ângulo talão/ face interna 111 – 133º 109 – 129º
Sem Lábio (42 %)
Cornija Sem Lábio (62 %)
Lábio Pouco Proeminente (36 %)
Um bulbo proeminente (64 %)
Proeminência do bulbo Um bulbo proeminente (63 %)
Bulbo não Proeminente (27 %)
Quadrilátera (47 %) Quadrilátera (36 %)
Contorno da lasca
Circular (29 %) Circular (29 %)
Côncavo (63 %) Côncavo (37 %)
Perfil da lasca
Retilíneo (35 %) Retilíneo (50 %)
N° de negativos 3–5 2–4
Duas nervuras verticais (27 %)
Organização da face superior Nenhuma tendência
Uma nervura vertical (27 %)
Quantidade de córtex Ausente (85 %) Ausente (82 %)
Preparação no talão Ausente (72 %) Presente (76 %)

As lascas de façonagem do sítio Caetetuba parecem apresentar poucas diferenças nas


variáveis dos atributos qualitativos, sendo a única diferença mais expressiva com relação à massa,
à preparação no talão, ao perfil da lasca e à organização da face superior. Mas para verificar se as
diferenças são estatisticamente significantes, os testes de significância foram realizados (tabelas
7.152 e 7.154), mas não sem antes realizar o teste de distribuição normal dos atributos
quantitativos (tabela 7.153).

Tabela 7.152 – Valores dos testes de significância entre os dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba
para atributos não-métricos. Nível de significância = 0,05. Diferenças estatisticamente significantes marcadas
em negrito.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Matéria prima Chi quadrado 1,8868 0,16956 Não significante
Cor Chi quadrado 1,0399 0,307849 Não significante
Contorno do talão Chi quadrado 13,7446 0,000209 Significante
Superfície do talão Chi quadrado 0,138 0,710264 Não significante
Cornija Chi quadrado 10,9815 0,011826 Significante
Proeminência do bulbo Chi quadrado 1,0078 0,604155 Não significante
Contorno da lasca Chi quadrado 5,0526 0,167985 Não significante
Perfil da lasca Chi quadrado 17,4069 0,000166 Significante
Org. da face superior Chi quadrado 10,1353 0,006297 Significante
Quantidade de córtex Chi quadrado 0,3111 0,577011 Não significante
Preparação do talão Chi quadrado 44,5408 0 Significante

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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Tabela 7.153 – Resultados do teste Shapiro-Wilk de normalidade para os dois períodos de ocupação do sítio
Caetetuba para atributos métricos. Valores de significância menor que 0,05 são considerados não normais.
> 9200 cal AP < 9200 cal AP
Atributos observados
Significância Distribuição Significância Distribuição
Massa 0,000 Não normal 0,000 Não normal
Comprimento total 0,050 Normal 0,000 Não normal
Largura máxima 0,105 Normal 0,007 Não normal
Espessura máxima 0,000 Não normal 0,000 Não normal
Largura do talão 0,000 Não normal 0,084 Normal
Espessura do talão 0,000 Não normal 0,000 Não normal
Ângulo talão/ face interna 0,093 Normal 0,041 Não normal
N° de negativos 0,000 Não normal 0,000 Não normal

Tabela 7.154 - Valores dos testes de significância entre os dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba
para atributos métricos. Nível de significância = 0,05 (two-tailed). Valor do teste apresentado é o valor crítico de
U, no caso dos testes Mann-Whitney.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Massa Mann-Whitney 1833,5 < 0,00001 Significante
Comprimento total Mann-Whitney 2871,5 < 0,00001 Significante
Largura máxima Mann-Whitney 2834,5 < 0,00001 Significante
Espessura máxima Mann-Whitney 3181 0,00244 Significante
Largura do talão Mann-Whitney 3531,5 0,28014 Não significante
Espessura do talão Mann-Whitney 2686,5 0,00228 Significante
Ângulo talão/face interna Mann-Whitney 2952,5 0,08364 Não significante
N° de negativos Mann-Whitney 2342,5 < 0,00001 Significante

Os testes mostram diferenças em quase todos os atributos quantitativos, sendo exceções


apenas a largura do talão e o ângulo do talão com a face interna15. Já nos atributos qualitativos,
cinco atributos apresentaram diferenças estatisticamente significantes. Dos dezenove atributos
analisados e comparados, doze apresentaram diferenças estatisticamente significantes (63 % de
atributos com diferenças significantes).

7.4. A Coleção Tunas


7.4.1. Identificação, quantificação, e um morto perturbador
A coleção arqueológica do sítio Tunas encontra-se no acervo do Centro de Estudos e
Pesquisas Arqueológicas (CEPA) da Universidade Federal do Paraná (UFPR). O acesso à coleção
foi gentilmente cedido pelo diretor do CEPA-UFPR em 2016, Dr. Laércio Brochier; pelo diretor
atual, Dr. Fabio Parenti; e pelo organizador da coleção e coordenador das escavações, Dr. Igor
Chmyz.

Quatro unidades de escavação (cortes 1 ao 4) foram realizadas no sítio e o material


arqueológico coletado estava distribuído na superfície e entre 15 níveis arqueológicos de 10 cm

15
Curiosamente, este mesmo resultado foi observado nas lascas de façonagem da coleção Alice Boer, mas
nenhuma explicação lógica além de simples coincidência parece responder a esta questão.

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cada, exceto pelo nível 1 que possuiu 15 cm. A coleção totaliza 14.655 peças líticas. Dentre os
artefatos formais, apenas pontas pedunculadas foram encontradas. Alguns pequenos raspadores
alongado e retocados unifacialmente também foram identificados, mas não apresentam outras
feições similares com lesmas tradicionais da indústria Itaparica (ver: cap. 4.3). Apenas uma peça
apresenta façonagem unifacial similar à das lesmas (3637 B). A quantificação das peças por níveis
foi dividida entre dois conjuntos: Cortes 1 e 2; e Cortes 3 e 4. Esta separação, na quantificação
apresentada pelas tabelas se dá pelo fato de que os cortes 1 e 2 possuem uma perturbação
estratigráfica gerada pelo sepultamento cuja base atinge os 85 cm de profundidade, além de uma
diferença nos níveis arbitrários. Devido estes problemas, o material encontrado até essa
profundidade foi quantificado dentro de um único pacote, uma vez que há indícios de
movimentação vertical do material até pelos menos 85 cm. A tabela 7.155 e a figura 7.30
apresentam a distribuição do material dos níveis estratigráficos dos cortes 3 e 4 e a tabela 7.156
apresenta a distribuição dos cortes 1 e 2.

Tabela 7.155 - Quantificação de vestígios líticos da coleção do sítio Tunas, Cortes 3 e 4, acondicionada na reserva
técnica do Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas, Universidade Federal do Paraná. As datas são as
mesmas apresentadas no capítulo 5 desta tese.

Ponta Pré-forma Outros Lascas e Data


Nível Núcleo Total
pedunculada bifacial artefatos detritos calibrada
0-15 - - - - 205 205 -
15-25 - - 1 1 648 650 -
25-35 - - 2 3 641 646 -
35-45 - - 1 4 693 698 -
45-55 - - 1 1 422 424 -
55-65 1 - 1 9 947 958 -
65-75 - - 2 - 600 602 8.003 ± 49
75-85 - - - - 1108 1108 -
85-95 - - 2 13 1228 1243 -
95-105 4 - 5 5 908 922 -
105-115 1 1 - 1 716 719 -
115-125 4 - 2 7 616 629 -
125-135 3 - 1 10 661 675 -
135-145 - - 1 7 600 608 10.994 ± 130
145-155 - - - 4 292 296 -
Total 13 1 19 65 10285 10383 -

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1400

1200

1000

800

600

400

200

Figura 7.30 - Gráfico de barras, distribuição do material lítico por níveis de 10 cm (exceto o primeiro nível) no
sítio Tunas.

Tabela 7.156 - Quantificação de vestígios líticos da coleção do sítio Tunas, provenientes da superfície e dos Cortes
1 e 2, acondicionada na reserva técnica do Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas, Universidade Federal
do Paraná. *Inclui todas as peças de hematita (ocre).

Ponta Pré-forma Outros Lascas e Data


Nível Núcleo Total
pedunculada bifacial artefatos detritos* associada
Superfície 18 5 - 2 291 316 -
0-85 4 3 1 11 2792 2811 -
85-105 2 2 - 7 405 418 -
105-115 1 1 1 3 421 427 -
115-125 1 - - 2 297 300 -
Total 26 11 2 25 4206 4272 -

A separação da coleção entre duas amostras foi definida com base na cronologia absoluta
(datações radiocarbônicas), nas diferenças de intensidade de ocupação do sítio (quantidade de
vestígios por nível) e na presença ou ausência de determinadas classes de vestígio arqueológico.
Assim foi definida a amostra relativa ao Holoceno Inicial, onde estão presentes quase todas as
pontas pedunculadas e a maior intensidade de ocupação do local (65 – 155 cm); e a amostra do
período mais recente, onde pontas pedunculadas são raras, a intensidade de ocupação diminui e
há presença inédita de cerâmica no local (0 – 65 cm). Esta divisão leva em consideração apenas
o material apresentado nas escavações dos Cortes 3 e 4, uma vez que os Cortes 1 e 2 contém
material dos dois períodos misturados devido à intervenção no solo para sepultamento de um
esqueleto ameríndio. O material da superfície também foi desconsiderado na divisão, uma vez
que se trata de material descontextualizado. O fato de pontas pedunculadas se apresentarem na
superfície do sítio não indica um retorno da tecnologia de pontas, mas muito provavelmente que
parte do material associado ao Holoceno Inicial foi trazida para a superfície durante as

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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intervenções realizadas por conta dos sepultamentos dos grupos ameríndios associados à indústria
cerâmica Itararé.

Sendo assim, a quantificação por classes de vestígio lítico entre os dois períodos se dá
conforme a tabela 7.157. Além das peças informadas na tabela, há uma ponta pedunculada cujo
nível proveniente não foi registrado.

Tabela 7.157 – Frequência (contagens e porcentagens) de classes de vestígios líticos nos dois períodos do sítio
Tunas, considerando as unidades de escavação Corte 3 e Corte 4.
Classe de vestígio Holoceno Inicial < 8000 cal AP
lítico n % n %
Ponta pedunculada 12 0,2 1 0,03
Pré-forma bifacial 1 0,01 - -
Artefato não formal 47 0,7 18 0,5
Núcleo 8 0,1 6 0,2
Lascas e detritos 6729 98,9 3556 99,3
Total 6802 100 3581 100

Todas as pontas pedunculadas foram analisadas, assim como todas as pré-formas


bifaciais. As lascas, devido a sua grande quantidade foram amostradas. Devido ao grande tamanho
da coleção, não foi possível analisar e identificar a matéria prima das demais classes de vestígio
lítico.

7.4.2. Pontas do tipo “Estrela” durante o Holoceno Inicial


Um total de 39 pontas pedunculadas foram identificadas na coleção do sítio Tunas
(arquivo suplementar “sítio Tunas, ou PR-WB-16”). Apenas quatorze delas estão diretamente
associadas ao Holoceno Inicial (figura 7.31 e 7.32), devido ao seu registro estratigráfico em níveis
não perturbados. Outras quatro pontas (peças 3634 A, 3634 B, 3632 A & 3632 B) foram
encontradas em níveis menos profundos do Corte 1 (55-85 cm) e estão, provavelmente, fora do
seu contexto original, devido à perturbação do solo em razão do sepultamento ameríndio. Estas
mesmas quatro pontas foram associadas à mesma indústria de pontas do Holoceno Inicial, devido
a terem sido muito provavelmente trazidas dos níveis mais profundos. Uma única ponta do Corte
4 foi identificada em níveis associados ao período mais recente, entre 55 e 65 cm (peça 4337 A),
mas devido a sua localização próxima ao nível arbitrário estabelecido de divisão entre os dois
períodos, considerando um nível arqueológico como margem de erro, ela também foi associada
ao Holoceno Inicial. Mais dezoito pontas pedunculadas foram encontradas em superfície, e não é
possível ter certeza do seu contexto original, ainda que sejam, muito provavelmente, provenientes
do mesmo contexto de todas as demais pontas. Uma breve comparação visual revela traços
semelhantes de tamanho e forma das pontas. Ficou claro que não se tratam de pontas resultantes
de uma persistência cultural desde o Holoceno Inicial, uma vez que nenhuma ponta pedunculada

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foi identificada em níveis mais recentes que 7100 AP. Obviamente, a aparente similaridade não
foi o suficiente para associá-las à mesma indústria de pontas do Holoceno Inicial. Portanto, após
a análise tecnológica dos dois conjuntos de pontas (Holoceno Inicial e superfície) ainda seria
necessário realizar uma análise estatística a fim de verificar se existem diferenças significativas
que verifiquem a hipótese de que os dois conjuntos são resultantes da mesma indústria lítica. As
tabelas 7.158 até 7.160 apresentam os atributos naturais das pontas pedunculadas provenientes
dos dois conjuntos da coleção do sítio Tunas.

Tabela 7.158 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas em pontas pedunculadas dos dois
conjuntos do sítio Tunas.
Holoceno Inicial Superfície
Matéria Prima
n % n %
Sílex 20 95,2 17 94,4
Arenito silicificado 1 4,8 1 5,6
Total 21 100 18 100

Tabela 7.159 - Frequência (contagens e porcentagens) das cores das pontas pedunculadas dos dois conjuntos
do sítio Tunas.
0-120 cm 120-330 cm
Cor
n % n %
Cinza 8 38,1 9 50,0
Preta 6 28,6 2 11,1
Bege 2 9,5 2 11,1
Branca 2 9,5 1 5,6
Amarela 1 4,8 1 5,6
Preta e vermelha 1 4,8 - -
Marrom 1 4,8 - -
Vermelha - - 2 11,1
Rosa - - 1 5,6
Total 21 100 18 100

Tabela 7.160 - Frequência (contagens e porcentagens) dos atributos naturais das matérias primas de pontas
pedunculadas dos dois conjuntos do sítio Tunas
Variável mais frequente, n (%)
Atributos observados
Holoceno Inicial Superfície
Translucidez Ausente, 21 (100 %) Ausente, 16 (88,9 %)
Ausente, 20 (95,2 %)
Tipo de córtex Ausente, 18 (100 %)
Fluvial, 1 (4,8 %)
Intrusões Ausente, 21 (100 %) Ausente, 17 (94,4 %)
Ausente, 13 (61,9 %) Ausente, 13 (72,2 %)
Alteração térmica
Cúpulas, 8 (38,1 %) Cúpulas, 5 (27,8 %)
Fraturas Presente, 13 (61,9%) Presente, 10 (53,6%)

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Figura 7.31 - Pontas pedunculadas provenientes do sítio Tunas, níveis 55 – 105 cm, associadas ao Holoceno
Inicial. Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa.

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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Figura 7.32 - Pontas pedunculadas provenientes do sítio Tunas, níveis 105 – 155 cm, associadas ao Holoceno
Inicial. Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa.

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Valores atípicos foram identificados em apenas seis peças associadas ao Holoceno Inicial.
Três peças apresentaram pedúnculos pouco largos e espessos em relação às demais, e outras três
peças se apresentaram com espessura muito acima do padrão observado nas demais. Quatro peças
da superfície apresentaram valores atípicos.

As tabelas 7.161 e 7.162 apresentam a estatística descritiva das pontas pedunculadas do


sítio Tunas, sem os valores atípicos identificados.

Tabela 7.161 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas pedunculadas diretamente
associadas ao Holoceno Inicial do sítio Tunas.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa (g) 13 0,6 3,6 1,9 0,9
Comprimento Total (mm) 16 14 40 29 8
Largura máxima (mm) 21 11 28 19 4
Espessura máxima (mm) 18 4 7 5 1
Proporção Largura/Espessura (x/1) 18 2,4 5,6 3,4 0,8
Comprimento do Corpo (mm) 16 6 29 19 7
Comprimento do Pedúnculo (mm) 21 4 14 10 3
Comprimento dos Gumes (mm) 16 8 30 21 7
Largura das Aletas (mm) 21 10 28 19 5
Largura do Pescoço (mm) 19 7 13 10 2
Largura do Pedúnculo (mm) 16 8 18 12 2
Espessura do Corpo (mm) 17 2 5 3 1
Espessura do Pescoço (mm) 15 5 6 5 1
Espessura do Pedúnculo (mm) 19 3 5 4 1
Ângulo Médio dos Gumes (graus) 21 40 70 51 8

Tabela 7.162 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas pedunculadas encontradas na
superfície do sítio Tunas
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa (g) 11 0,8 3,0 1,7 0,6
Comprimento Total (mm) 12 18 34 26 4
Largura máxima (mm) 18 12 27 20 4
Espessura máxima (mm) 16 4 6 5 1
Proporção Largura/Espessura (x/1) 16 2,40 5,00 4 0,6
Comprimento do Corpo (mm) 13 10 26 16 4
Comprimento do Pedúnculo (mm) 17 7 13 9 2
Comprimento dos Gumes (mm) 13 13 28 19 4
Largura das Aletas (mm) 18 12 27 20 4
Largura do Pescoço (mm) 18 6 13 10 2
Largura do Pedúnculo (mm) 16 10 16 12 2
Espessura do Corpo (mm) 17 3 5 4 1
Espessura do Pescoço (mm) 18 4 8 5 1
Espessura do Pedúnculo (mm) 17 3 5 4 1
Ângulo Médio dos Gumes (graus) 17 40 65 47 5

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As tabelas 7.163 até 7.176 apresentam as frequências dos atributos morfológicos e


tecnológicos das pontas pedunculadas do sítio Tunas.
Tabela 7.163 – Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do corpo em pontas
pedunculadas dos dois conjuntos do sítio Tunas.
Holoceno Inicial Superfície
Variáveis n % n %
Triangular 19 90,5 17 94,4
Indefinido 2 9,5 1 5,6
Total 21 100 18 100

Tabela 7.164 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento dos gumes em
pontas pedunculadas dos dois conjuntos do sítio Tunas.
Holoceno Inicial Superfície
Variáveis n % n %
Côncavo 8 38,1 7 38,9
Retilíneo 7 33,3 7 38,9
Indefinido 5 23,8 4 22,2
Irregular 1 4,8 - -
Total 21 100 18 100

Tabela 7.165 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno das aletas em pontas
pedunculadas dos dois conjuntos do sítio Tunas.
Holoceno Inicial Superfície
Variáveis n % n %
Retilíneo 10 47,6 18 100,0
Expandido 11 52,4 - -
Total 21 100 18 100

Tabela 7.166 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento do pescoço em


pontas pedunculadas dos dois conjuntos do sítio Tunas.
Holoceno Inicial Superfície
Variáveis n % n %
Obtuso 18 85,7 13 72,2
Reto 3 14,3 5 27,8
Total 21 100 18 100

Tabela 7.167 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do pedúnculo em


pontas dos dois conjuntos do sítio Tunas.
Holoceno Inicial Superfície
Variáveis n % n %
Bifurcado 13 61,9 15 83,3
Reto 4 19,0 - -
Convexo 2 9,5 - -
Côncavo - - 2 11,1
Indefinido 2 9,5 1 5,6
Total 21 100 18 100

Tabela 7.168 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do corpo em pontas dos
dois conjuntos do sítio Tunas.
Holoceno Inicial Superfície
Variáveis n % n %
Elíptica 17 81,0 18 100
Indefinido 2 9,5 - -
Achatada 2 9,5 - -
Total 21 100 18 100

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Tabela 7.169 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do pedúnculo em pontas
pedunculadas dos dois conjuntos do sítio Tunas.
Holoceno Inicial Superfície
Variáveis n % n %
Bielíptica 12 57,1 10 55,6
Elíptica 8 38,1 6 33,3
Circular - - 1 5,6
Indefinida 1 4,8 1 5,6
Total 21 100 18 100

Tabela 7.170 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de suporte em pontas pedunculadas
dos dois conjuntos do sítio Tunas.
Holoceno Inicial Superfície
Variáveis n % n %
Indefinido 14 66,7 12 66,7
Lasca 7 33,3 6 33,3
Total 21 100 18 100

Tabela 7.171 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de façonagem em pontas
pedunculadas dos dois conjuntos do sítio Tunas.
Holoceno Inicial Superfície
Variáveis n % n %
Bifacial 18 85,7 15 83,3
Unifacial 2 9,5 2 11,1
Ausente 1 4,8 1 5,6
Total 21 100 18 100

Tabela 7.172 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de façonagem em pontas
pedunculadas dos dois conjuntos do sítio Tunas.
Holoceno Inicial Superfície
Variáveis
n % n %
Pressão 16 76,2 14 77,8
Ambas 3 14,3 3 16,7
Ausente 1 4,8 1 5,6
Indefinido 1 4,8 - -
Total 21 100 18 100

Tabela 7.173 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de retoque em pontas
pedunculadas dos dois conjuntos do sítio Tunas.
Holoceno Inicial Superfície
Variáveis n % n %
Ausente 14 66,7 17 94,4
Bifacial 6 28,6 1 5,6
Alterno à esquerda 1 4,8 - -
Total 21 100 18 100

Tabela 7.174 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de retoque em pontas
pedunculadas dos dois conjuntos do sítio Tunas.
Holoceno Inicial Superfície
Variáveis
n % n %
Ausente 14 66,7 17 94,4
Pressão 7 33,3 1 5,6
Total 21 100 18 100

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.175 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos de façonagem
do corpo em pontas pedunculadas dos dois conjuntos do sítio Tunas.
Holoceno Inicial Superfície
Variáveis
n % n %
Convergente 18 85,7 14 77,8
Paralelos com uma nervura vertical 1 4,8 3 16,7
Bordos retocados 1 4,8 1 5,6
Indefinido 1 4,8 - -
Total 21 100 18 100

Tabela 7.176 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos de façonagem
do pedúnculo em pontas pedunculadas dos dois conjuntos do sítio Tunas.
Holoceno Inicial Superfície
Variáveis n % n %
Convergente 21 100 16 88,9
Bordos retocados - - 1 5,6
Indefinido - - 1 5,6
Total 21 100 18 100

A tabela 7.177 apresenta os valores de tendência central e maiores frequências dos


principais atributos das pontas pedunculadas, comparando os dois conjuntos de pontas do sítio
Tunas. Os dados apresentados dão indícios de que os dois conjuntos são homogêneos.
Absolutamente nenhum atributo parece apresentar diferenças marcantes, com exceção do
contorno das aletas. Em geral, as similaridades são bastante notáveis, As tabelas 7.178 e 7.120
apresentam os resultados dos testes estatísticos que verificaram se as diferenças são significantes,
enquanto a tabela 7.119 apresenta os resultados do teste de distribuição normal para cada atributo
nos dois conjuntos.

Tabela 7.177 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 25%) em pontas pedunculadas
dos dois conjuntos do sítio Tunas. A amplitude considerada para os valores foi o desvio padrão.
Valores de tendência central e variáveis mais frequentes
Atributos observados
Holoceno Inicial Superfície
Matéria prima Sílex (95 %) Sílex (95 %)
Cinza (38 %)
Cor Cinza (50 %)
Preta (29 %)
Massa 1 – 2,8 g 1,1 – 2,3 g
Comprimento total 21 – 37 mm 22 – 30 mm
Largura máxima 15 – 23 mm 16 – 24 mm
Espessura máxima 4 – 6 mm 4 – 6 mm
Proporção
2,6 – 4,2 /1 3,4 – 4,6 /1
Largura/Espessura
Comprimento do corpo 12 – 27 mm 12 – 20 mm
Comp. do pedúnculo 7 – 13 mm 7 – 11 mm
Comp. médio dos gumes 14 – 28 mm 15 – 23 mm
Largura das aletas 14 – 24 mm 16 – 24 mm
Largura do pescoço 8 – 12 mm 8 – 12 mm
Largura do pedúnculo 10 – 14 mm 10 – 14 mm
Espessura do corpo 2 – 4 mm 3 – 5 mm
Espessura do pescoço 4 – 6 mm 4 – 6 mm

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Espessura do pedúnculo 3 – 5 mm 3 – 5 mm
Ângulo médio dos gumes 43 – 59 º 42 – 52 º
Contorno do corpo Triangular (90 %) Triangular (94 %)
Côncavo (38 %) Côncavo (39 %)
Delineamento dos gumes
Retilíneo (33 %) Retilíneo (39 %)
Expandido (52 %)
Contorno das aletas Retilíneo (100 %)
Retilíneo (48 %)
Delineamento do pescoço Obtuso (86 %) Obtuso (72 %)
Contorno do pedúnculo Bifurcado (62 %) Bifurcado (83 %)
Seção do corpo Elíptica (81 %) Elíptica (100 %)
Bielíptica (57 %) Bielíptica (56 %)
Seção do pedúnculo
Elíptica (38 %) Elíptica (33 %)
Indefinido (67 %) Indefinido (67 %)
Suporte
Lasca (33 %) Lasca (33 %)
Método de façonagem Bifacial (86 %) Bifacial (83 %)
Técnica de façonagem Pressão (76 %) Pressão (78 %)
Ausente (67 %)
Método de retoque Ausente (94 %)
Bifacial (29 %)
Técnica de retoque Ausente (67 %) Ausente (94 %)
Organização dos negativos
Convergente (86 %) Convergente (78 %)
e façonagem do corpo
Organização dos negativos
Convergente (100 %) Convergente (89 %)
do pedúnculo

Tabela 7.178 – Valores dos testes de significância entre os dois conjuntos de pontas pedunculadas do sítio Tunas
para atributos não-métricos. Nível de significância = 0,05. Diferenças significantes marcadas em negrito.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Matéria prima Chi quadrado 0,0125 0,910808 Não significante
Contorno do corpo Chi quadrado 0,2149 0.642917 Não significante
Delineamento dos gumes Chi quadrado 0,2373 0,888118 Não significante
Contorno das aletas Fisher 0,0002 - Significante
Delineamento do pescoço Chi quadrado 1,0821 0,298232 Não significante
Contorno do pedúnculo Chi quadrado 2,1978 0,138206 Não significante
Seção do corpo Fisher 0,11 - Não significante
Seção do pedúnculo Chi quadrado 0,5735 0,750703 Não significante
Suporte Chi quadrado 0 1 Não significante
Método de façonagem Chi quadrado 0,0422 0,837224 Não significante
Técnica de façonagem Chi quadrado 0,0138 0,906631 Não significante
Método de retoque Chi quadrado 4,5867 0,032221 Significante
Técnica de retoque Chi quadrado 4,5867 0,032221 Significante
Organização dos
Chi quadrado 0,4145 0,519674 Não significante
negativos do corpo
Organização dos
Fisher 0,2065 - Não significante
negativos do pedúnculo

Tabela 7.179 – Resultados do teste Shapiro-Wilk de normalidade para os dois conjuntos de pontas pedunculadas
do sítio Tunas para atributos métricos. Valores de significância menor que 0,05 são considerados não normais.
Holoceno Inicial Superfície
Atributos observados
Significância Distribuição Significância Distribuição
Massa 0,896 Normal 0,111 Normal
Comprimento total 0,253 Normal 0,665 Normal
Largura máxima 0,680 Normal 0,324 Normal
Espessura máxima 0,000 Não normal 0,024 Não normal
Prop. Largura/Espessura 0,329 Normal 0,503 Normal

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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Comprimento do corpo 0,524 Normal 0,879 Normal


Comp. do pedúnculo 0,957 Normal 0,086 Normal
Comprimento dos gumes 0,361 Normal 0,321 Normal
Largura das aletas 0,680 Normal 0,324 Normal
Largura do pescoço 0,099 Normal 0,432 Normal
Largura do pedúnculo 0,000 Não normal 0,263 Normal
Espessura do corpo 0,020 Não normal 0,086 Normal
Espessura do pescoço 0,000 Não normal 0,099 Normal
Espessura do pedúnculo 0,020 Não normal 0,000 Não normal
Ângulo médio dos gumes 0,876 Normal 0,000 Não normal

Tabela 7.180 - Valores dos testes de significância entre os dois conjuntos de pontas pedunculadas do sítio
Tunas para atributos métricos. Nível de significância = 0,05 (two-tailed). Valor do teste apresentado é o valor
crítico de U, no caso dos testes Mann-Whitney.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Massa Teste T 0,68395 0,50115 Não significante
Comprimento total Teste T -1,18782 0,245642 Não significante
Largura máxima Teste T 0,51018 0,612957 Não significante
Espessura máxima Mann-Whitney 103 0,16152 Não significante
Prop. Largura/Espessura Teste T -1,40107 0,170818 Não significante
Comprimento do corpo Teste T -0,8708 0,39154 Não significante
Comp. do pedúnculo Teste T -0,93521 0,355914 Não significante
Comprimento dos gumes Teste T -0,81395 0,4227968 Não significante
Largura das aletas Teste T 0,65391 0,517212 Não significante
Largura do pescoço Teste T -0,5458 0,588667 Não significante
Largura do pedúnculo Mann-Whitney 123,5 0,88076 Não significante
Espessura do corpo Mann-Whitney 122 0,44726 Não significante
Espessura do pescoço Mann-Whitney 91,5 0,12114 Não significante
Espessura do pedúnculo Mann-Whitney 127,5 0,28914 Não significante
Ângulo médio dos gumes Mann-Whitney 1,40918 0,15854 Não significante

Não surpreendentemente, os dois conjuntos de pontas pedunculadas do sítio se


apresentaram estatisticamente homogêneos, tendo como únicas diferenças significativas o
contorno das aletas, e o método e técnica de retoque. Dos trinta e um atributos comparados, apenas
três apresentam diferenças significativas, indicando que os dois conjuntos de pontas são produtos
da mesma indústria de pontas pedunculadas. Estes dados corroboram a hipótese de que as pontas
encontradas em superfície foram remanejadas dos seu contexto original, os níveis estratigráficos
datados do Holoceno Inicial.

Uma vez que todas as pontas foram identificadas como produtos de uma única indústria
lítica, novas análises estatísticas foram realizadas somando os dois conjuntos anteriormente
definidos a fim de descrever as peças dentro de uma única unidade cultural. Os resultados são
apresentados nas tabelas 7.181 até 7.197. A tabela 7.198 apresenta o padrão tecnológico do que
sugerimos denominar de “ponta estrela”, devido a sua simpática aparência em forma de estrela
pentagonal.

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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Tabela 7.181 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas em pontas pedunculadas do sítio
Tunas.
Matéria Prima n %
Sílex 37 94,9
Arenito silicificado 2 5,1
Total 39 100

Tabela 7.182 - Frequência (contagens e porcentagens) das cores das pontas pedunculadas do sítio Tunas.
Cor n %
Cinza 17 43,6
Preta 8 20,5
Bege 4 10,3
Branca 3 7,7
Amarela 2 5,1
Vermelha 2 5,1
Preta e vermelha 1 2,6
Marrom 1 2,6
Rosa 1 2,6
Total 39 100

Tabela 7.183 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas pedunculadas do sítio Tunas.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa (g) 24 0,6 3,6 1,8 0,8
Comprimento Total (mm) 28 14 40 28 7
Largura máxima (mm) 39 11 28 19 5
Espessura máxima (mm) 35 4 8 5 1
Proporção Largura/Espessura (x/1) 34 2,4 5,6 3,5 1
Comprimento do Corpo (mm) 29 6 29 18 6
Comprimento do Pedúnculo (mm) 38 4 14 10 2
Comprimento dos Gumes (mm) 30 8 33 20 6
Largura das Aletas (mm) 39 10 28 19 5
Largura do Pescoço (mm) 38 6 15 10 2
Largura do Pedúnculo (mm) 31 10 16 12 2
Espessura do Corpo (mm) 34 2 5 4 1
Espessura do Pescoço (mm) 34 4 6 5 1
Espessura do Pedúnculo (mm) 36 3 5 4 1
Ângulo Médio dos Gumes (graus) 36 40 60 48 6

Tabela 7.184 – Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do corpo em pontas
pedunculadas do sítio Tunas.
Variáveis n %
Triangular 36 92,3
Indefinido 3 7,7
Total 39 100

Tabela 7.185 - Frequência (contagens e porcentagens) as categorias de delineamento dos gumes em pontas
pedunculadas do sítio Tunas.
Variáveis n %
Côncavo 15 38,5
Retilíneo 14 35,9
Indefinido 9 23,1
Irregular 1 2,6
Total 39 100

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Tabela 7.186 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno das aletas em pontas
pedunculadas do sítio Tunas.
Variáveis n %
Retilíneas 28 71,8
Expandidas 11 28,2
Total 39 100

Tabela 7.187 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento do pescoço em


pontas pedunculadas do sítio Tunas.
Variáveis n %
Obtuso 31 79,5
Retas 8 20,5
Total 39 100

Tabela 7.188 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do pedúnculo em


pontas do sítio Tunas.
Variáveis n %
Bifurcado 28 71,8
Reto 4 10,3
Indefinido 3 7,7
Côncavo 2 5,1
Convexo 2 5,1
Total 39 100

Tabela 7.189 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do corpo em pontas do
sítio Tunas.
Variáveis n %
Elíptica 35 89,7
Achatada 2 5,1
Indefinida 2 5,1
Total 39 100

Tabela 7.190 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do pedúnculo em pontas
pedunculadas do sítio Tunas.
Variáveis n %
Bielíptica 22 56,4
Elíptica 14 35,9
Indefinida 2 5,1
Circular 1 2,6
Total 39 100

Tabela 7.191 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de suporte em pontas pedunculadas
do sítio Tunas.
Variáveis n %
Indefinido 26 66,7
Lasca 13 33,3
Total 39 100

Tabela 7.192 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de façonagem em pontas
pedunculadas do sítio Tunas.
Variáveis n %
Bifacial 33 84,6
Unifacial 4 10,3
Ausente 2 5,1
Total 39 100

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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Tabela 7.193 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de façonagem em pontas
pedunculadas do sítio Tunas.
Variáveis n %
Pressão 30 76,9
Ambas 6 15,4
Ausente 2 5,1
Indefinida 1 2,6
Total 39 100

Tabela 7.194 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de retoque em pontas
pedunculadas do sítio Tunas.
Variáveis n %
Ausente 31 79,5
Bifacial 7 17,9
Alterno à esquerda 1 2,6
Total 39 100

Tabela 7.195 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de retoque em pontas do sítio
Tunas.
Variáveis n %
Ausente 31 79,5
Pressão 8 20,5
Total 39 100

Tabela 7.196 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos de
façonagem do corpo em pontas pedunculadas do sítio Tunas.
Variáveis n %
Convergente 32 82,1
Paralelos com uma nervura central 4 10,3
Bordos retocados 2 5,1
Indefinida 1 2,6
Total 39 100

Tabela 7.197 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos de façonagem
do pedúnculo em pontas pedunculadas sítio Tunas.
Variáveis n %
Convergente 37 94,9
Bordos retocados 1 2,6
Indefinida 1 2,6
Total 39 100

Tabela 7.198 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 25%) em pontas pedunculadas
do sítio Tunas. A amplitude considerada para os valores foi o desvio padrão.
Valores de tendência central e
Atributos observados
variáveis mais frequentes
Matéria prima Sílex (95 %)
Cor Cinza (44 %)
Massa 1 – 2,6 g
Comprimento total 21 – 36 mm
Largura máxima 14 – 24 mm
Espessura máxima 4 – 6 mm
Proporção Largura/Espessura 2,5 – 4,5 /1
Comprimento do corpo 12 – 24 mm
Comprimento do pedúnculo 8 – 12 mm

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Comprimento médio dos gumes 14 – 28 mm


Largura das aletas 14 – 26 mm
Largura do pescoço 8 – 12 mm
Largura do pedúnculo 10 – 14 mm
Espessura do corpo 3 – 5 mm
Espessura do pescoço 4 – 6 mm
Espessura do pedúnculo 3 – 5 mm
Ângulo médio dos gumes 42 – 54 º
Contorno do corpo Triangular (92 %)
Côncavo (38 %)
Delineamento dos gumes
Retilíneo (36 %)
Retilíneo (72 %)
Contorno das aletas
Expandido (28 %)
Delineamento do pescoço Obtuso (80 %)
Contorno do pedúnculo Bifurcado (72 %)
Seção do corpo Elíptica (90 %)
Bielíptica (57 %)
Seção do pedúnculo
Elíptica (36 %)
Indefinido (67 %)
Suporte
Lasca (33 %)
Método de façonagem Bifacial (85 %)
Técnica de façonagem Pressão (77 %)
Método de retoque Ausente (80 %)
Técnica de retoque Ausente (80 %)
Organização dos negativos e
Convergente (82 %)
façonagem do corpo
Organização dos negativos do
Convergente (95 %)
pedúnculo

A análise diacrônica das pontas foi realizada a partir da observação das sequências dos
negativos e apresentado em desenhos técnicos e esquemas (figuras 7.33 e 7.34). As peças nunca
apresentam mais do que duas sequências de façonagem, e o suporte, quando identificado, tende a
ser resultante de debitagem. A ordenação das retiradas de façonagem e retoque jamais seguem
um direcionamento, se mostrando sempre seletivos.

As ponta pedunculadas do sítio Tunas chamaram atenção desde o início das análises,
devido a sua aparente diferença em relação às pontas previamente analisadas do interior paulista.
De maneira informal, denominamos as pontas desta coleção de pontas Estrela. Mas ainda é
necessário comparar os dados estatisticamente antes de assumir que as pontas da coleção Tunas
e as ponta do interior paulista são significativamente diferentes.

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Figura 7.33 - Diacronia das pontas pedunculadas provenientes dos níveis 55-105 cm do sítio Tunas. Desenhos:
João Carlos Moreno de Sousa.

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Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Figura 7.34 - Diacronia das pontas pedunculadas provenientes dos níveis 105-155 cm do sítio Tunas. Desenhos:
João Carlos Moreno de Sousa.

7.4.3. As pré-formas bifaciais do Holoceno Inicial


Foram identificadas doze pré-formas bifaciais na coleção (figura 7.35), das quais cinco
foram encontradas em superfície, três foram encontradas nos níveis perturbados pelo
sepultamento ameríndio e quatro foram encontradas em níveis não perturbados relacionados ao
Holoceno Inicial. O fato das únicas pré-formas bifaciais encontradas em contextos estarem em

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

níveis relativos ao Holoceno Inicial corrobora a hipótese de que a tecnologia bifacial não persistiu
em períodos mais recentes que 8000 cal AP.

Dentre as doze pré-formas, apenas quatro apresentam fraturas (peças 3628 A; 3635 A;
3636 C & 4347 A) que impossibilitaram a finalização da peça. Apenas uma peça foi abandonada
devido à perda do plano bifacial (peça 3644 T), ou seja, o(a) lascador(a) não conseguiu manter a
simetria entre as duas faces da peça e ela se tornou muito pequena para que o erro fosse corrigido.

Figura 7.35 – Exemplos de pré-formas bifaciais provenientes da unidade de escavação “Corte 1” e “Corte 2” do
sítio Tunas. As duas peças à esquerda são de quartzo leitoso, enquanto a peça à direita é de sílex. Desenhos: João
Carlos Moreno de Sousa.

Considerando as peças que não estão fraturadas e que o plano bifacial foi mantido com
sucesso, uma estatística descritiva dos principais atributos métricos das pré-formas foi realizada
(tabela 7.199) a fim de identificar as possíveis causas de abandono da produção das pontas,
comparando as medidas padrão das pontas finalizadas (tabela 7.200).

Tabela 7.199 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pré-formas bifaciais do sítio Tunas
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Comprimento Total (mm) 7 23 39 33 6
Largura máxima (mm) 7 17 25 21 3
Espessura máxima (mm) 7 5 11 8 2
Proporção Largura/Espessura (x/1) 7 2,0 4,4 2,6 0,8

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Tabela 7.200 – Principais atributos métricos em pré-formas bifaciais do sítio Tunas. A amplitude considerada
para os valores foi o desvio padrão.
Valores de tendências das Valores de tendências das pré-
Medidas
pontas pedunculadas formas bifaciais
Comprimento total 21 – 36 mm 26 – 39 mm
Largura máxima 14 – 24 mm 18 – 24 mm
Espessura máxima 4 – 6 mm 6 – 10 mm
Proporção
2,5 – 4,5 /1 1,8 – 3,2 /1
Largura/Espessura

É interessante notar que as pré-formas tendem a apresentar medidas de comprimento,


largura e espessura maiores do que a das pontas finalizadas e que a proporção largura/espessura
é menor, ou seja, as peças são proporcionalmente mais espessas do que as pontas finalizadas.
Também foi verificado que apenas duas peças possuem comprimento maior do que a tendência
das pontas (3634 C & 3641 A), e apenas uma peça é levemente mais larga do que a tendência das
pontas observadas (3641 A). De modo geral, as pré-formas já possuem os padrões de
comprimento e largura máximos das pontas finalizadas. Mas apenas uma peça está dentro do
padrão de espessura das pontas (3637 B). Estes resultados indicam que as peças foram
abandonadas, muito provavelmente, porque já não era mais possível aumentar a proporção
largura/espessura, ou seja, não era mais possível reduzir a espessura sem reduzir as demais
medidas da peça através dos métodos e técnicas tradicionais da indústria local durante o Holoceno
Inicial. Apenas a peça 3637 B apresenta todas as medidas dentro do padrão das pontas, e não há
um motivo claro do seu abandono, uma vez que os gumes não estão finalizados e não se trata de
uma ponta apedunculada.

7.4.4. Artefatos não formais, debitagem laminar e “lêsminas”


Um total de 90 artefatos não formais foram identificados. Também foram identificados
21 núcleos, sendo que apenas dois foram identificados como núcleos formais, sendo um de
debitagem piramidal (peça 3632 B), encontrado nos níveis perturbados do Corte 1, e um de
debitagem microlaminar (peça 3637 C) (figura 7.36), encontrados nos níveis relacionados ao
Holoceno Inicial. Uma vez que o foco da pesquisa eram os artefatos formais e os resíduos de
produção, estes artefatos não foram analisados sistematicamente. No entanto, algumas
observações preliminares podem ser realizadas com relação a estas peças.

Com relação ao núcleo laminar, é uma surpresa que esta peça tenha surgido no registro
arqueológico, uma vez que a debitagem laminar jamais foi registrada em sítios arqueológicos do
atual território brasileiro, com exceção dos sítios datados do Holoceno Inicial no alto Rio Uruguai,
na região de Chapecó, divisa entre os estado de Santa Catarina e Rio Grande do Sul (Lourdeau et
al. 2014, 2016, 2017) e no sítio Picão, no centro do estado de São Paulo (Batalla et al. 2018). No
entanto, o método laminar identificado naqueles sítios é o de núcleos plano-convexos.

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Basicamente, os núcleos são formatados bifacialmente para adquirir uma seção mais ou menos
plano-convexa, sendo que a face convexa é aquela que servirá para realização da debitagem
laminar. No caso do núcleo microlaminar identificado no sítio Tunas, a peça possui uma seção
triangular aproveitada de sua estrutura natural.

Figura 7.36 – Núcleo microlaminar encontrado no nível 105-115 cm, relacionado ao Holoceno Inicial, do Corte
1 no sítio Tunas. Desenho: João Carlos Moreno de Sousa.

Com relação aos artefatos, a maioria se trata de simples lascas com gumes retocados.
Poucas peças apresentam façonagem. Algumas das lascas parecem ser provenientes de debitagem
laminar, e são retocadas ao ponto de apresentarem uma estrutura similar à das lesmas associadas
à indústria lítica Itaparica, mas diferem em tamanho e na ausência total de façonagem. Ainda
assim, possuem um formato alongado ou laminar, uma seção plano-convexa, os retoques são
sempre unifaciais, e são sempre produzidas em sílex. Estas peças foram denominadas “lêsminas”
(figura 7.37), devido a sua aparência morfológica similar ao das lesmas e pela seu suporte sobre
lâminas. Apenas uma destas peças apresenta façonagem unifacial, e difere das lesmas Itaparica
apenas devido ao seu pequeno tamanho, apenas 5 cm de comprimento, 1,5 cm de largura e
espessura (peça 3637 C). Importante notar que esta peça está associada ao núcleo laminar
identificado, uma vez que foram encontradas na mesma unidade de escavação e no mesmo nível
arqueológico. Na verdade, é importante salientar que todas estas lêsminas só foram registradas
nos mesmos níveis em que foram registradas as pontas pedunculadas. Ou seja, nos níveis
diretamente datados do Holoceno Inicial, nos níveis perturbados pelo sepultamento, e na
superfície. Também foram registrados, nos níveis do Holoceno Inicial, artefatos e fragmentos de
artefatos produzidos em basalto a partir de técnicas de polimento, incluindo uma peça em formato

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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de lâmina de faca com uma área de encabamento produzida por lascamento (peça 4351 B) (figura
7.38), mas cuja funcionalidade real não pôde ser identificada.

Também foram identificados alguns artefatos de hematita/ocre em diversos níveis do


sítio, mas chamam a atenção um artefato fraturado de ocre em formato cilíndrico e outros quatro
pequenas esferas de óxidos de ferro perfeitamente arredondadas com pequenas saliências
encontrados em níveis relacionados ao Holoceno Inicial (figura 7.39). Importante notar que não
foram encontradas pinturas no abrigo, de modo que o ocre deve ter sido utilizado para outros fins.

Figura 7.37 – Exemplos de lêsminas (raspadores sobre lascas laminares retocados unifacialmente) provenientes
dos níveis associados ao Holoceno Inicial no sítio arqueológico Tunas. Fotos: João Carlos Moreno de Sousa,
2018.

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Figura 7.38 – Artefato de basalto produzido a partir de polimento seguido de lascamento unifacial na porção
proximal. Peça encontrada no nível 125-135 cm do Corte 4. Desenho: João Carlos Moreno de Sousa.

Figura 7.39 – Exemplos de artefatos produzidos sobre ocre/óxido de ferro provenientes de níveis associados ao
Holoceno Inicial no sítio arqueológico Tunas. Fotos: João Carlos Moreno de Sousa, 2018.

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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Já com relação aos artefatos encontrados nos níveis mais recentes que 8000 cal AP, ainda
aparecem lascas retocadas, mas parece haver um aumento no tamanho dos artefatos e a utilização
de outras matérias primas mais granulosas na produção de artefatos, como basalto e quartzito.
Uma vez que uma análise sistemática não foi realizada, é sugerido que um estudo seja conduzido
a fim de verificar as diferenças dos artefatos não formais entre os dois períodos determinados para
o sítio.

7.4.5. Identificando e analisando lascas de façonagem bifacial


A análise das pontas revelou que estas peças possuem até 36 mm de comprimento e 24
mm de largura. Considerando que as lascas de façonagem destas pontas dificilmente ultrapassam
o tamanho do produto final, apenas lascas de até 36 mm foram selecionadas para análise. Apenas
as lascas do Corte 4 foram analisadas, uma vez que é a unidade de escavação que apresenta o
melhor registro estratigráfico e as datações absolutas. Infelizmente, o nível 75-85 não foi
analisado, uma vez que as peças referentes a este nível não foram localizadas no acervo do CEPA-
UFPR. Deste modo, foram identificadas 1007 lascas nos níveis do Holoceno Inicial e 508 lascas
nos níveis mais recentes que 8000 AP.

As lascas associadas ao Holoceno Inicial totalizaram 127 lascas amostradas (12,6 % do


total), enquanto o período mais recente que 8000 cal AP totalizou 60 lascas amostradas (11,9 %
do total).

O sílex é, definitivamente, a rocha mais utilizada durante o Holoceno Inicial. É possível


notar uma diminuição do uso do sílex e um aumento no uso de basalto como matéria prima para
produção dos artefatos no período mais recente que 8000 cal AP (tabela 7.201). Em ambos os
período, as cores preta e cinza tem uma leve predominância, mas não parece haver,
necessariamente, uma preferência por estas cores (tabela 7.202). A tabela 7.203 apresenta os
dados de frequência dos atributos naturais das matérias primas das lascas.

Tabela 7.201 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas nas lascas de façonagem dos dois
períodos do sítio Tunas.
Holoceno Inicial < 8000 cal AP
Matéria Prima
n % n %
Sílex 100 78,7 32 53,3
Quartzo 8 6,3 3 5,0
Siltito 6 4,7 1 1,7
Basalto 5 3,9 17 28,3
Quartzito 4 3,1 3 5,0
Arenito silicificado 3 2,4 4 6,7
Ágata 1 0,8 - -
Total 127 100 60 100

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Tabela 7.202 - Frequência (contagens e porcentagens) das cores das lascas de façonagem dos dois períodos do
sítio Tunas.
Holoceno Inicial < 8000 cal AP
Cor
n % n %
Preta 30 23,6 16 26,7
Cinza 28 22,0 21 35,0
Branca 19 15,0 5 8,3
Marrom 18 14,2 2 3,3
Bege 9 7,1 2 3,3
Vermelha 8 6,3 6 10,0
Amarela 6 4,7 2 3,3
Rosa 3 2,4 4 6,7
Cortical 2 1,6 - -
Laranja 2 1,6 - -
Marrom e vermelha 1 0,8 - -
Verde 1 0,8 - -
Branca e preta - - 2 3,3
Total 127 100 60 100

Tabela 7.203 - Frequência (contagens e porcentagens) dos atributos naturais das matérias primas de lasca de
façonagem dos pacotes estratigráficos do sítio Tunas.
Variável mais frequente, n (%)
Atributos observados
Holoceno Inicial < 8000 cal AP
Translucidez Ausente, 96 (75,6 %) Ausente, 51 (85,0 %)
Ausente, 109 (85,8 %) Ausente, 45 (75,0 %)
Tipo de córtex
Fluvial, 18 (14,2 %) Fluvial, 15 (25,0 %)
Intrusões Ausente, 113 (89,0 %) Ausente, 55 (91,7 %)
Lustre fluvial Ausente, 127 (100 %) Ausente, 60 (100 %)
Alteração térmica Ausente, 113 (89,0 %) Ausente, 51 (85,0 %)

A busca por valores atípicos resultou na descoberta de diversos valores excedentes em


vários atributos quantitativos em ambo os pacotes. Uma vez que os valores atípicos foram
retirados da análise estatística, a análise descritiva foi realizada, e seus resultados são apresentados
nas tabelas 7.204 e 7.205. A análise descritiva dos atributos qualitativos é apresentada nas tabelas
7.206 até 7.214.

Tabela 7.204 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem associadas ao
Holoceno Médio do sítio Tunas.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa 113 0,1 8,2 1,5 1,5
Comprimento 127 6 35 19 6
Largura 123 6 51 19 7
Espessura 115 1 9 4 2
Largura do talão 111 1 22 8 5
Espessura do talão 109 0,1 8 3 2
Ângulo talão/ face interna 112 95 135 114 9
Número de negativos na face superior 112 0 9 4 2

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Tabela 7.205 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem associadas ao período
mais recente que 8000 cal AP do sítio Tunas.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa 58 0,2 9,2 2,5 2,2
Comprimento 60 10 36 22 7
Largura 60 11 41 21 7
Espessura 58 2 12 6 2
Largura do talão 54 4 25 11 5
Espessura do talão 57 0,1 10 4 2
Ângulo talão/ face interna 56 95 130 112 9
Número de negativos na face superior 54 1 8 4 2

Tabela 7.206 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno de talão das lascas de
façonagem dos dois períodos de ocupação do sítio Tunas.
Holoceno Inicial < 8000 cal AP
Variáveis
n % n %
Circular 48 37,8 29 48,3
Triangular 21 16,5 7 11,7
Vírgula 19 15,0 2 3,3
Asa 16 12,6 11 18,3
Indefinido 10 7,9 4 6,6
Quadrilátero 7 5,5 6 10,0
Linear 4 3,1 1 1,7
Diedro 1 0,8 - -
Puntiforme 1 0,8 - -
Total 127 100 60 100

Tabela 7.207 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de superfície de talão das lascas de
façonagem dos dois períodos de ocupação do sítio Tunas.
Holoceno Inicial < 8000 cal AP
Variáveis
n % n %
Lisa 107 84,3 46 76,7
Facetada 7 5,5 5 8,3
Totalmente cortical 6 4,7 5 8,3
Diedro 6 4,7 4 6,7
Parcialmente cortical 1 0,8 - -
Total 127 100 60 100

Tabela 7.208 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de cornija das lascas de façonagem
dos dois períodos de ocupação do sítio Tunas.
Holoceno Inicial < 8000 cal AP
Variáveis
n % n %
Sem Lábio 110 86,6 55 91,7
Indefinido 9 7,1 3 5,0
Lábio Pouco Proeminente 5 3,9 2 3,3
Lábio Muito Proeminente 3 2,4 - -
Total 127 100 60 100

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Tabela 7.209 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de bulbo das lascas de façonagem
dos dois períodos de ocupação do sítio Tunas.
Holoceno Inicial < 8000 cal AP
Variáveis
n % n %
Um bulbo proeminente 93 73,2 53 88,3
Lascamento bulbar 16 12,6 4 6,7
Bulbo não Proeminente 7 5,5 - -
Indefinido 7 5,5 3 5,0
Bulbo duplo 3 2,4 - -
Bulbo triplo 1 0,8 - -
Total 127 100 60 100

Tabela 7.210 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno geral das lascas de
façonagem dos dois períodos de ocupação do sítio Tunas.
Holoceno Inicial < 8000 cal AP
Variáveis
n % n %
Quadrilátera 46 36,2 32 53,3
Circular 20 15,7 9 15,0
Laminar Vertical 17 13,4 7 11,7
Indefinido 13 10,2 5 8,3
Triangular Invertido 12 9,4 1 1,7
Pentagonal 7 5,5 3 5,0
Triangular 7 5,5 2 3,3
Losangular 4 3,1 1 1,7
Laminar horizontal 1 0,8 - -
Total 127 100 60 100

Tabela 7.211 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de perfil das lascas de façonagem
dos dois períodos de ocupação do sítio Tunas.
Holoceno Inicial < 8000 cal AP
Variáveis
n % n %
Retilíneo 64 50,4 44 73,3
Côncavo 43 33,9 8 13,3
Convexo 10 7,9 5 8,3
Indefinido 7 5,5 3 5,0
Helicoidal 3 2,4 - -
Total 127 100 60 100

Tabela 7.212 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias organização da face superior das
lascas de façonagem dos dois períodos de ocupação do sítio Tunas.
Holoceno Inicial < 8000 cal AP
Variáveis
n % n %
Uma Nervura Vertical 23 18,1 15 25,0
Indefinido 19 15,0 7 11,7
Convergente 16 12,6 1 1,7
Uma Nervura Horizontal 14 11,0 4 6,7
Uma Nervura Vertical e Uma Horizontal 12 9,4 6 10,0
Duas Nervuras Verticais 11 8,7 15 25,0
Forma de Y 9 7,1 3 5,0
Forma de Y Invertido 8 6,3 2 3,3
Duas Nervuras Verticais e Uma Horizontal 7 5,5 2 3,3
Três Nervuras Verticais 3 2,4 2 3,3
Duas Nervuras Horizontais 2 1,6 - -
Forma de T 2 1,6 - -
Forma de cruz 1 0,8 - -
Lisa - - 3 5,0
Total 127 100 60 100

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Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.213 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de quantidade de córtex nas lascas
de façonagem dos dois períodos de ocupação do sítio Tunas.
Holoceno Inicial < 8000 cal AP
Variáveis
n % n %
Ausente 107 84,3 45 75,0
< 50% 17 13,4 12 20,0
> 50% 3 2,4 3 5,0
Total 127 100 60 100

Tabela 7.214 – Predominância de categorias de lascas a partir de determinados atributos tecnológicos


nos dois períodos de ocupação do sítio Tunas.
Variável mais frequente, n (%)
Atributos observados
Holoceno Inicial < 8000 cal AP
Lasca de talão preparado Sim, 94 (74,0 %) Sim, 34 (56,7 %)
Lasca refletida Não, 107 (84,3 %) Não, 46 (76,7 %)
Lasca lingueta Não, 127 (100 %) Não, 60 (100 %)
Lasca ultrapassante Não, 126 (99,2 %) Não, 58 (96,7 %)
Lasca transbordante Não, 127 (100 %) Não, 60 (100 %)
Lasca sirét Não, 127 (100 %) Não, 60 (100 %)

A tabela 7.215 compara os dados de tendência central dos atributos analisados nas lascas
de façonagem de ambos os períodos do sítio arqueológico Tunas.
Tabela 7.215 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 20%) em lascas de façonagem
dos dois períodos de ocupação do sítio Tunas. A amplitude considerada para os valores foi o desvio padrão.
Valores de tendência central e variáveis mais frequentes
Atributos observados
Holoceno Inicial < 8000 cal AP
Sílex (53 %)
Matéria prima Sílex (79 %)
Basalto (28 %)
Cinza (35 %)
Cor Nenhuma tendência
Preta (27 %)
Massa 0,1 – 3,0 g 0,3 – 4,7 g
Comprimento total 13 – 25 mm 15 – 29 mm
Largura máxima 12 – 26 mm 14 – 28 mm
Espessura máxima 2 – 6 mm 4 – 8 mm
Contorno do talão Circular (38 %) Circular (48 %)
Superfície do talão Lisa (84 %) Lisa (77 %)
Largura do talão 3 – 13 mm 6 – 16 mm
Espessura do talão 1 – 5 mm 2 – 6 mm
Ângulo talão/ face interna 105 – 123 º 103 – 121 º
Cornija Sem lábio (87 %) Sem lábio (92 %)
Proeminência do bulbo Um bulbo proeminente (73 %) Um bulbo proeminente (88 %)
Contorno da lasca Quadrilátera (36 %) Quadrilátera (53 %)
Retilíneo (50 %)
Perfil da lasca Retilíneo (73 %)
Côncavo (34 %)
N° de negativos 2-6 2-6
Uma nervura vertical (25 %)
Organização da face superior Nenhuma tendência
Duas nervuras verticais (25 %)
Quantidade de córtex Ausente (84 %) Ausente (75 %)
Preparação no talão Sim (74 %) Sim (57 %)

Os atributos métricos indicam que as lascas tendem a ser levemente menores no Holoceno
Inicial. Com relação aos atributos qualitativos, as mesmas variáveis são tendências nas duas

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Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

amostras, mas a sua frequência parece diferente. Testes para verificação de diferenças
estatisticamente significativas foram realizados e são apresentados nas tabelas 7.216 e 7.218,
considerando a normalidade da distribuição dos atributos quantitativos (tabela 7.217).

Tabela 7.216 – Valores dos testes de significância entre os dois períodos de ocupação do sítio Tunas para
atributos não-métricos. Nível de significância = 0,05. Diferenças estatisticamente significantes marcadas em
negrito.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Matéria prima Chi quadrado 24,3648 < 0,00001 Significante
Cor Chi quadrado 4,8823 0,087062 Não significante
Contorno do talão Chi quadrado 1,8682 0,171676 Não significante
Superfície do talão Chi quadrado 1,5761 0.20933 Não significante
Cornija Chi quadrado 1,0021 0,316808 Não significante
Proeminência do bulbo Chi quadrado 5,4313 0,019779 Significante
Contorno da lasca Chi quadrado 4,9082 0,02673 Significante
Perfil da lasca Chi quadrado 10,1658 0,006202 Significante
Org. da face superior Chi quadrado 12,1182 0,002337 Significante
Quantidade de córtex Chi quadrado 2,2927 0,129981 Não significante
Preparação do talão Chi quadrado 5,6792 0,017167 Significante

Tabela 7.217 – Resultados do teste Shapiro-Wilk de normalidade para os dois períodos de ocupação do sítio
Tunas para atributos métricos. Valores de significância menor que 0,05 são considerados não normais.
Holoceno Inicial < 8000 cal AP
Atributos observados
Significância Distribuição Significância Distribuição
Massa Não normal 0,000 Não normal 0,000
Comprimento total Normal 0,415 Normal 0,193
Largura máxima Normal 0,121 Normal 0,055
Espessura máxima Não normal 0,000 Não normal 0,005
Largura do talão Não normal 0,002 Não normal 0,031
Espessura do talão Não normal 0,000 Não normal 0,000
Ângulo talão/ face interna Não normal 0,002 Não normal 0,040
N° de negativos Não normal 0,001 Não normal 0,019

Tabela 7.218 - Valores dos testes de significância entre os dois períodos de ocupação do sítio Tunas para
atributos métricos. Nível de significância = 0,05 (two-tailed). Valor do teste apresentado é o valor crítico de U,
no caso dos testes Mann-Whitney.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Massa Mann-Whitney 2338.5 .00222 Não significante
Comprimento total Teste t -3,35658 0,000958 Significante
Largura máxima Teste t -2,06465 0,040383 Significante
Espessura máxima Mann-Whitney 2309,5 0,00096 Significante
Largura do talão Mann-Whitney 2073 0,00132 Significante
Espessura do talão Mann-Whitney 1921 < 0,00001 Significante
Ângulo talão/face interna Mann-Whitney 2725,5 0,16758 Não significante
N° de negativos Mann-Whitney 2525 0,08544 Não significante

Os testes mostram diferenças na maioria dos atributos qualitativos e quantitativos. Dos


dezenove atributos analisados e comparados, doze apresentaram diferenças estatisticamente
significantes.

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7.5. A Coleção Garivaldino

7.5.1. Uma oficina de pontas


A coleção arqueológica do sítio Garivaldino encontra-se no acervo do Centro de Ensino
e Pesquisa Arqueológica (CEPA) da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). O acesso à
coleção foi gentilmente cedido pelo diretor do CEPA-UNISC em 2018, Dr. Sérgio Klamt. Treze
unidades de escavação (um corte experimental e doze quadras) foram realizadas no sítio e o
material arqueológico coletado estava distribuído desde a superfície por 21 níveis arqueológicos
de 10 cm cada, exceto pelo nível mais profundo que possuiu 30 cm. A coleção totaliza 8742 peças
líticas (Mentz Ribeiro & Ribeiro 1999), das quais 941 consistem em pontas pedunculadas, pontas
apedunculadas, pré-formas bifaciais, e fragmentos de pontas ou pré-formas (tabela 7.219).
Núcleos e outros artefatos não foram quantificados, uma vez que a prioridade da pesquisa era a
análise das pontas, pré-formas e lascas. Dada a proporção de pontas finalizadas e pré-formas no
sítio com relação ao total de vestígios líticos (10,8%) é muito provável que este local fosse uma
oficina para produção destas pontas.

A identificação e remontagem de pré-formas fraturadas permitiu verificar que o sítio está


estratigraficamente perturbado. Fragmentos de uma mesma peça foram encontrados em até 40 cm
de profundidade distante um do outro. Essa perturbação não é surpresa, uma vez que o local é
frequentemente alvo de ações de tatus, como registrado em visita ao sítio (ver cap. 5). No entanto,
uma vez que não foram identificados vestígios de perturbação maiores do que 40 cm assumimos
que a distribuição de vestígios líticos ao longo da estratigrafia corresponda de maneira similar à
sua distribuição ao longo do tempo. A cronologia estratigráfica corrobora esta hipótese. Peças
remontadas de níveis diferentes foram consideradas como uma peça só, e sua proveniência foi
considerada o nível menos profundo, considerando que as peças movidas peça ação dos tatus
foram levadas para o fundo dos buracos pela ação gravitacional. O mesmo pode fator pode
explicar a aparente inversão estratigráfica das datas mais recentes. Os gráficos de distribuição
foram realizados considerando o total de peças líticas (figura 7.40), o total de pontas e pré-formas
inteiras (peças inteiras ou fragmentos) (figura 7.41) e o total de pontas apedunculadas e
pedunculadas (figura 7.42).

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.219 - Quantificação de vestígios líticos da coleção do sítio Garivaldino, acondicionada na reserva
técnica do Centro de Ensino e Pesquisa Arqueológica, Universidade de Santa Cruz do Sul. As datas são as
mesmas apresentadas no capítulo 5 desta tese.
Fragmento Outros
Ponta Ponta Pré-forma Data
Nível de ponta ou vestígios Total
apedunculada pedunculada bifacial calibrada
pré-forma líticos
Superfície - - 2 1 - 3 -
0-10 3 2 1 8 106 120 -
10-20 2 3 7 7 345 364 -
20-30 2 6 8 12 158 186 -
30-40 1 3 3 5 185 197 -
40-50 5 11 7 5 338 366 -
50-60 1 6 2 7 295 311 8.097 ± 331
60-70 5 18 15 23 380 441 -
70-80 3 20 15 28 430 496 7.623 ± 35
80-90 15 18 15 36 384 468 -
90-100 18 19 6 35 750 828 -
100-110 20 14 6 26 891 957 -
110-120 16 13 7 23 561 620 -
120-130 6 17 6 26 330 385 -
130-140 1 12 8 21 327 369 8.906 ± 216
140-150 5 20 21 46 373 465 -
150-160 4 17 10 43 444 518 -
160-170 1 14 11 26 515 567 -
170-180 2 10 6 20 529 567 9.260 ± 157
180-190 1 8 4 6 319 338 -
190-200 - 6 2 12 64 84 -
200-210 - 2 2 6 42 52 10.744 ± 478
210-240 - 1 2 1 17 21 -
Total 111 240 166 423 7783 8723

1000
900
800
700
600
500
400
300
200
100
0

Figura 7.40 - Gráfico de barras, distribuição do material lítico por níveis de 10 cm (exceto o nível mais profundo)
no sítio Garivaldino.

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0

Figura 7.41 - Gráfico de barras, distribuição de pontas e pré-formas (inteiras ou fragmentadas) por níveis de
10 cm (exceto o nível mais profundo) no sítio Garivaldino.

Ponta apedunculada Ponta pedunculada


25

20

15

10

Figura 7.42 - Gráfico de barras, distribuição de pontas pedunculada e apedunculadas por níveis de 10 cm (exceto
o nível mais profundo) no sítio Garivaldino.

Não há uma clara distinção cultural que possa ser realizada com base apenas na presença
ou ausência de artefatos (ou núcleos) formais na coleção, mas parece haver uma distinção de
intensidade de ocupação do sítio entre três diferentes períodos. Os três gráficos apresentados
mostram que os níveis mais antigos, que começaram a ser ocupados há cerca de 11.000 cal AP,
pontas e outros artefatos líticos foram produzidos cada vez mais intensamente até haver uma
queda há cerca de 9000 cal AP. Este primeiro período se refere aos níveis 140 até 240 cm. O
segundo período (60-140 cm) é definido por um aumento súbito na produção que se manteve
razoavelmente estável até cerca de há 8000 cal AP. O terceiro período (superfície – 60 cm), sem
datação absoluta, é representado por uma intensidade de produção extremamente baixa, se
comparada com as anteriores, que perdura até, pelo menos, o período Ameríndio, dada a presença
de fragmentos associados à indústria cerâmica Taquara entre 0 e 20 cm de profundidade (Mentz

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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Ribeiro & Ribeiro 1999). Considerando essa divisão de períodos, nenhuma peça remontada é
proveniente de dois períodos distintos.

Sendo assim, a quantificação por classes de vestígio lítico entre os três períodos se dá
conforme a tabela 7.220. Verificando as porcentagens de cada classe de material, parece haver
uma constância na produção das pontas líticas.

Tabela 7.220 – Frequência (contagens e porcentagens) de classes de vestígios líticos nos três períodos de
ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Classe de vestígio lítico
n % n % % %
Ponta apedunculada 13 0,5 84 1,8 14 0,9
Ponta pedunculada 78 3,0 131 2,9 31 2,0
Pré-forma bifacial 58 2,2 78 1,7 30 1,9
Frag. pontas e pré-formas 160 6,1 218 4,8 45 2,9
Outros vestígios líticos 2303 88,2 4053 88,8 1427 92,2
Total 2612 100 4564 100 1547 100

Todas as pontas pedunculadas foram analisadas, assim como todas as pré-formas


bifaciais. As lascas, devido a sua grande quantidade foram amostradas. Devido ao grande tamanho
da coleção, não foi possível analisar e identificar a matéria prima das demais classes de vestígio
lítico.

7.5.2. Quem disse que ponta precisa de pedúnculo?


Um total de 111 pontas apedunculadas (figura 7.43; arquivo suplementar “Sítio
Garivaldino, ou RS-Tq-58”) foram identificadas na coleção do sítio Garivaldino. O primeiro
período possui 13 pontas, enquanto o segundo período possui 84 pontas (duas delas em osso) e o
terceiro período 14 pontas (uma delas em osso). As três pontas feitas em osso foram adicionadas
à amostra devido à sua produção por métodos e técnicas de lascamento. Pontas ósseas produzidas
por polimento não foram consideras. As tabelas 7.21 até 7.23 apresentam os atributos naturais das
pontas apedunculadas provenientes dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.

Tabela 7.221 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas em pontas apedunculadas dos três
períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Matéria Prima
n % n % n %
Ágata 12 92,3 74 88,1 10 71,4
Arenito Silicificado 1 7,7 8 9,5 3 21,4
Osso - - 2 2,4 1 7,1
Total 13 100 84 100 14 100

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Tabela 7.222 - Frequência (contagens e porcentagens) das cores das pontas apedunculadas dos três períodos de
ocupação do sítio Garivaldino. *Se refere às pontas ósseas.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Cor
n % n % n %
Laranja 5 38,5 6 7,1 - -
Amarela translúcida 2 15,4 29 34,5 9 64,3
Cinza e branca 2 15,4 3 3,6 - -
Vermelha 2 15,4 9 10,7 3 21,4
Branca 1 7,7 14 16,7 1 7,1
Cinza 1 7,7 6 7,2 - -
Cinza translúcido - - 7 8,3 - -
Vermelha e amarela - - 2 2,4 - -
Laranja e amarela - - 2 2,4 - -
Branca e vermelha - - 1 1,2 - -
Marrom - - 1 1,2 - -
Preta - - 1 1,2 - -
Rosa - - 1 1,2 - -
Indefinido* - - 2 2,4 1 7,1
Total 13 100 84 100 14 100

Tabela 7.223 - Frequência (contagens e porcentagens) dos atributos naturais das matérias primas de pontas
apedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
Atributos Variável mais frequente, n (%)
observados 11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Translucidez Presente, 8 (61,5 %) Presente, 48 (57,1 %) Presente, 9 (64,3 %)
Ausente, 12 (92,3 %) Ausente, 83 (98,8 %)
Tipo de córtex Ausente, 14 (100 %)
Geodo, 1 (7,7 %) Fluvial, 1 (1,2 %)
Intrusões Ausente, 13 (100 %) Ausente, 84 (100 %) Ausente, 14 (100 %)
Ausente, 10 (76,9 %) Ausente, 69 (82,1 %)
Alteração térmica Ausente, 14 (100 %)
Cúpulas, 3 (23,1 %) Cúpulas, 15 (17,9 %)
Fraturas Ausente, 12 (92,3 %) Ausente, 72 (85,7 %) Ausente, 13 (92,9 %)

Figura 7.43 – Exemplos de pontas apedunculadas provenientes do sítio Garivaldino. 1651 A = Terceiro período
(< 8000 cal AP). 1511 A = Segundo período (9000 – 8000 cal AP). 1741 A = Primeiro período (11.000 – 9000 cal
AP). Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa.

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As tabelas 7.224 até 7.26 apresentam a estatística descritiva das pontas apedunculadas do
sítio Garivaldino. Valores atípicos foram identificados para o segundo período apenas. Não foi
possível medir o ângulo do gume de onze das treze peças devido suas irregularidades.

Tabela 7.224 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas pedunculadas do primeiro período
de ocupação (11-9 mil cal AP) do sítio Garivaldino.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa (g) 13 0,7 4,1 1,8 1,1
Comprimento Total (mm) 13 18 40 28 7
Largura máxima (mm) 13 9 16 12 2
Espessura máxima (mm) 13 4 7 5 1
Proporção Largura/Espessura (x/1) 13 2,0 4,0 2,4 0,6
Comprimento médio dos gumes (mm) 13 11 28 16 6
Ângulo Médio dos Gumes (graus) 2 60 60 60 0

Tabela 7.225 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas pedunculadas do segundo período
de ocupação (9-8 mil cal AP) do sítio Garivaldino.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa (g) 72 0,2 3,6 1,6 0,7
Comprimento Total (mm) 79 17 39 28 5
Largura máxima (mm) 83 5 19 12 3
Espessura máxima (mm) 79 2 9 5 2
Proporção Largura/Espessura (x/1) 75 0,4 3,7 2,3 0,6
Comprimento médio dos gumes (mm) 80 7 24 15 4
Ângulo Médio dos Gumes (graus) 81 25 75 51 11

Tabela 7.226 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas pedunculadas do terceiro período
de ocupação (< 8 mil cal AP) do sítio Garivaldino.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa (g) 12 0,4 2,0 1,3 0,5
Comprimento Total (mm) 13 19 45 29 7
Largura máxima (mm) 9 10 12 11 1
Espessura máxima (mm) 12 3 7 5 1
Proporção Largura/Espessura (x/1) 12 1 3 2,1 0,5
Comprimento médio dos gumes (mm) 12 11 19 13 2
Ângulo Médio dos Gumes (graus) 12 30 60 45 9

As tabelas 7.227 até 7.35 apresentam as frequências dos atributos morfológicos e


tecnológicos das pontas apedunculadas dos três períodos do sítio Garivaldino.
Tabela 7.227 – Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno das pontas
apedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Variáveis
n % n % n %
Afunilado 5 38,5 19 22,6 5 35,7
Irregular 5 38,5 - - - -
Lanceolado 2 15,4 61 72,6 9 64,3
Triangular 1 7,7 2 2,4 - -
Espadas - - 1 1,2 - -
Lâmino-triangular - - 1 1,2 - -
Total 13 100 84 100 14 100

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Tabela 7.228 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento dos gumes em
pontas apedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Variáveis
n % n % n %
Irregulares 12 92,3 59 70,2 10 71,4
Retilíneo 1 7,7 9 10,7 - -
Convexo - - 12 14,3 4 28,6
Côncavo - - 2 2,4 - -
Indefinido - - 2 2,4 - -
Total 13 100 84 100 14 100

Tabela 7.229 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção de seção das pontas
apedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Variáveis
n % n % n %
Plano-Convexa 9 69,2 43 51,2 4 28,6
Elipse 2 15,4 32 38,1 4 28,6
Losangular 1 7,7 - - - -
Meia Lua 1 7,7 - - - -
Romboide - - 3 3,6 2 14,3
Circular - - 3 3,6 - -
Meia Lua - - 2 2,4 1 7,1
Achatada - - 1 1,2 1 7,1
Triangulo-retangular - - - - - -
Indefinida - - - - 2 14,3
Total 13 100 84 100 14 100

Tabela 7.230 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de suporte em pontas


apedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Variáveis
n % n % n %
Detrito bipolar 7 53,8 70 83,3 10 71,4
Lasca 4 30,8 9 10,7 2 14,3
Osso longo - - 2 2,4 1 7,1
Indefinido 2 15,4 3 3,6 1 7,1
Total 13 100 84 100 14 100

Tabela 7.231 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de façonagem em pontas
apedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Variáveis
n % n % n %
Ausente 12 92,3 75 89,3 7 50,0
Bifacial 1 7,7 5 6,0 5 35,7
Unifacial - - 4 4,8 2 14,3
Total 13 100 84 100 14 100

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Tabela 7.232 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de façonagem em pontas
apedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Variáveis
n % n % n %
Ausente 12 92,3 75 89,3 7 50,0
Pressão - - 5 6,0 4 28,6
Percussão + Pressão 1 7,7 1 1,2 2 14,3
Percussão - - 1 1,2 - -
Polimento - - 1 1,2 1 7,1
Indefinido - - 1 1,2 - -
Total 13 100 84 100 14 100

Tabela 7.233 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de retoque em pontas
apedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Variáveis
n % n % n %
Bifacial 8 61,6 55 65,5 2 14,3
Unifacial 4 30,8 21 25,0 5 35,7
Alterno à esquerda - - 5 6,0 - -
Alterno à direita - - - - 1 7,1
Ausente 1 7,7 3 3,6 6 42,9
Total 13 100 84 100 14 100

Tabela 7.234 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de retoque em pontas
apedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Variáveis
n % n % n %
Pressão 12 92,3 80 95,2 8 57,1
Ausente 1 7,7 3 3,6 6 42,9
Percussão + Pressão - - 1 1,2 - -
Total 13 100 84 100 14 100

Tabela 7.235 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos de pontas
apedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Variáveis
n % n % n %
Apenas no ápice 7 53,8 17 20,2 - -
Bordos retocados 5 38,5 55 65,5 6 42,9
Apenas um bordo retocado - - 6 7,1 2 14,3
Seletivos convergentes - - 4 4,8 5 35,7
Paralelos convergentes - - 1 1,2 1 7,1
Largos e seletivos 1 7,7 - - - -
Total 13 100 84 100 14 100

A tabela 7.236 apresenta os valores de tendência central e maiores frequências dos


principais atributos das pontas apedunculadas, comparando os três períodos de ocupação do sítio
Garivaldino. Os dados apresentados dão indícios de que os três períodos são bastante
homogêneos. Em geral, todos os atributos observados (exceto cor e ângulo dos gumes)
apresentam as mesmas tendências, sendo que as únicas diferenças são relacionadas às suas
frequências. As cores laranja e amarela, apesar de indicarem diferença entre os mais antigos e o
mais recentes, parecem ser na verdade apenas uma variação comum da mesma coloração das
ágatas. Já os ângulos dos gumes parecem se tornar mais afiados (agudos) ao longo do tempo.

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Tabela 7.236 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 25%) em pontas pedunculadas
dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. A amplitude considerada para os valores foi o desvio padrão.
Valores de tendência central e variáveis mais frequentes
Atributos observados
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Matéria prima Ágata (92 %) Ágata (88 %) Ágata (71 %)
Cor Laranja (38 %) Amarela transl. (34 %) Amarela transl. (64 %)
Massa 0,7 – 2,9 g 0,9 – 2,5 g 0,8 – 1,8 g
Comprimento total 21 – 35 mm 23 – 33 mm 22 – 36 mm
Largura máxima 10 – 14 mm 9 – 15 mm 10 – 12 mm
Espessura máxima 4 – 6 mm 3 – 7 mm 4 – 6 mm
Prop. Largura/Espessura 1,8 – 3,0 /1 1,7 – 2,9 /1 1,6 – 2,6 /1
Âng. médio dos gumes 60 º 40 – 62 º 36 – 54 º
Afunilado (38 %) Lanceolado (64 %)
Contorno Lanceolado (73 %)
Irregular (38 %) Afunilado (36%)
Irregulares (71 %)
Delin. dos gumes Irregulares (92 %) Irregulares (70 %)
Convexo (29 %)
Plano-convexa (51 %) Plano-convexa (28 %)
Seção Plano-convexa (69 %)
Elipse (38 %) Elipse (28 %)
Detrito bipolar (54 %)
Suporte Detrito bipolar (83 %) Detrito bipolar (71 %)
Lasca (31 %)
Ausente (50 %)
Método de façonagem Ausente (92 %) Ausente (89 %)
Bifacial (36 %)
Ausente (50 %)
Técnica de façonagem Ausente (92 %) Ausente (89 %)
Pressão (29 %)
Bifacial (61 %) Bifacial (66 %) Ausente (43 %)
Método de retoque
Unifacial (31 %) Unifacial (25 %) Unifacial (36 %)
Pressão (57 %)
Técnica de retoque Pressão (92 %) Pressão (95 %)
Ausente (43 %)
Ap. no ápice (54 %) Bordos retoc. (43 %)
Org. dos negativos Bordos retoc. (66 %)
Bordos retoc. (38 %) Selet. Converg. (36 %)

No entanto, uma análise estatística ainda não havia sido realizada a fim de verificar se
existem diferenças significantes entre os atributos. As tabelas 7.237 até 7.239 apresentam os
resultados desta estatística. Estes resultados apontaram, surpreendentemente, que existem
diferenças morfológicas e tecnológicas. Mas nenhum um atributo métrico foi considerado
significativamente diferente.

Tabela 7.237 – Valores dos testes de significância entre as pontas apedunculadas dos três períodos de ocupação
do sítio Garivaldino para atributos não-métricos. Nível de significância = 0,05. Diferenças significantes
marcadas em negrito.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Matéria prima Chi quadrado 3,279 0,194076 Não significante
Contorno Chi quadrado 16,1837 0,000306 Significante
Delineamento dos gumes Chi quadrado 2,7996 0,246647 Não significante
Seção Chi quadrado 12,1877 0,016009 Significante
Suporte Chi quadrado 6,6946 0,152934 Não significante
Método de façonagem Chi quadrado 14,9394 0,00057 Significante
Técnica de façonagem Chi quadrado 14,9394 0,00057 Significante
Método de retoque Chi quadrado 20,0789 0,000482 Significante
Técnica de retoque Chi quadrado 19,5875 0,000056 Significante
Org. dos negativos Chi quadrado 3,7984 0,149685 Não significante

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.238 – Resultados do teste Shapiro-Wilk de normalidade para entre as pontas apedunculadas entre os
três períodos de ocupação do sítio Garivaldino para atributos métricos. Valores de significância menor que 0,05
são considerados não normais.
Atributos 11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
observados Significância Distribuição Significância Distribuição Significância Distribuição
Massa 0,049 Não normal 0,010 Não normal 0,463 Normal
Comprimento total 0,208 Normal 0,752 Normal 1,000 Normal
Largura máxima 0,114 Normal 0,120 Normal 0,000 Não normal
Espessura máxima 0,016 Não normal 0,000 Não normal - Constante
Prop. Larg./Esp. 0,243 Normal 0,004 Não normal 0,000 Não normal
Comp. dos gumes 0,031 Não normal 0,032 Não normal 0,000 Não normal
Âng. mé. dos gumes - Constante 0,312 Não normal 0,637 Normal

Tabela 7.239 - Valores dos testes de significância entre as pontas apedunculadas entre os três períodos de
ocupação do sítio Garivaldino para atributos métricos. Nível de significância = 0,05 (two-tailed). * A amostra do
primeiro período não foi considerada, devido ao tamanho amostral muito pequeno (n = 2), e o valor apresentado,
neste caso, é o valor crítico de U.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Massa Kruskall-Wallis 1,083 0,582 Não significante
Comprimento total Anova 0,0912 0,912905 Não significante
Largura máxima Kruskall-Wallis 1,340 0,512 Não significante
Espessura máxima Kruskall-Wallis 0,185 0,911 Não significante
Prop. Largura/Espessura Kruskall-Wallis 2,049 0,359 Não significante
Comprimento dos gumes Kruskall-Wallis 1,981 0,371 Não significante
Ângulo médio dos gumes Mann-Whitney* 327,5 0,0703 Não significante

Ainda que diferenças tenham sido identificadas, os testes não identificam quais são os
períodos que apresentam diferença um do outro. Seriam os três diferentes um do outro? Será que
as diferenças só ocorrem entre o primeiro e o segundo período? Ou apenas entre o segundo e o
terceiro? Novos testes foram realizados buscando diferenças entre o primeiro e o segundo período
e entre o segundo e o terceiro período. As tabelas apresentam os resultados desta análise.

Tabela 7.240 – Valores dos testes de significância entre as pontas apedunculadas do primeiro e do segundo
período de ocupação do sítio Garivaldino para atributos não-métricos que apresentaram diferença significantes
entre todos três períodos. Nível de significância = 0,05. Diferenças significantes marcadas em negrito.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Contorno Chi quadrado 28,5683 < 0,00001 Significante
Seção Chi quadrado 2,5565 0,278521 Não significante
Método de façonagem Chi quadrado 0,1112 0,738796 Não significante
Técnica de façonagem Chi quadrado 0,1112 0,738796 Não significante
Método de retoque Chi quadrado 0,213 0,898992 Não significante
Técnica de retoque Chi quadrado 0,1977 0,656552 Não significante

Tabela 7.241 – Valores dos testes de significância entre as pontas apedunculadas do primeiro e do segundo
período de ocupação do sítio Garivaldino para atributos não-métricos que apresentaram diferença significantes
entre todos três períodos. Nível de significância = 0,05. Diferenças significantes marcadas em negrito.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Contorno Chi quadrado 0,4083 0,522817 Não significante
Seção Chi quadrado 9,6764 0,007921 Significante
Método de façonagem Chi quadrado 14,4079 0,000744 Significante
Técnica de façonagem Chi quadrado 13,5653 0,001133 Significante
Método de retoque Chi quadrado 27,1913 < 0,00001 Significante
Técnica de retoque Chi quadrado 19,0061 0,000013 Significante

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Ainda que nenhuma diferença significante tenha sido apontada pelos atributos
quantitativos, os dados dos atributos morfológicos e tecnológicos deixam claro que o contorno
das pontas apedunculadas sofre mudanças entre o primeiro e o segundo período, ou seja, durante
o Holoceno Inicial. Os outros atributos apenas sofrem alterações apenas entre o segundo e o
terceiro período.

A análise diacrônica (figura 7.44) não revelou nenhum padrão de organização dos
negativos de façonagem e retoque em qualquer um dos três períodos. As peças raramente são
façonadas, e quando são, possuem apenas uma sequência de façonagem e muitos dos retoques
são apenas para criar um gume afiado, não necessariamente dando um contorno específico.
Sugere-se a denominação Ponta Brochier às pontas apedunculadas desta indústria, em
homenagem ao município onde o sítio está localizado.

Figura 7.44 - Diacronia de exemplares de pontas apedunculadas provenientes do sítio Garivaldino. Setas indicam
direcionamento das sequências de retirada. 1651 A = Terceiro período (< 8000 cal AP). 1511 A = Segundo
período (9000 – 8000 cal AP). 1741 A = Primeiro período (11.000 – 9000 cal AP). Desenhos: João Carlos Moreno
de Sousa.

7.5.3. Pontas pedunculadas em quantidade e (limitada) variedade


Um total de 241 pontas pedunculadas foram identificadas na coleção do sítio Garivaldino
(arquivo suplementar “Sítio Garivaldino, ou RS-Tq-58”). O primeiro período possui 78 pontas
(figura 7.45), enquanto o segundo período possui 131 pontas (figura 7.46) e o terceiro período 32
pontas (figura 7.47). As tabelas 7.42 até 7.46 apresentam os atributos naturais das pontas
pedunculadas provenientes dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.

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Figura 7.45 - Exemplos de pontas pedunculadas provenientes do primeiro período de ocupação do sítio
Garivaldino (11.000 – 9000 cal AP). Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa.

Figura 7.46 - Exemplos de pontas pedunculadas provenientes do segundo período de ocupação do sítio
Garivaldino (9000 – 8000 cal AP). Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa.

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Figura 7.47 - Exemplos de pontas pedunculadas provenientes do segundo período de ocupação do sítio
Garivaldino (mais recente que 8000 cal AP). João Carlos Moreno de Sousa.

Tabela 7.242 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas em pontas pedunculadas dos três
períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Matéria Prima
n % n % n %
Arenito Silicificado 59 75,6 72 55,0 23 71,9
Ágata 14 17,9 43 32,8 5 15,6
Basalto 2 2,6 11 8,4 1 3,1
Sílex - - 4 3,1 2 6,3
Quartzo Leitoso 2 2,6 1 0,8 - -
Quartzo Hialino 1 1,3 - - 1 3,1
Total 78 100 131 100 32 100

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Tabela 7.243 - Frequência (contagens e porcentagens) das cores das pontas pedunculadas dos três períodos de
ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Cor
n % n % n %
Vermelha 58 74,4 73 55,7 23 71,9
Branca 11 14,1 14 10,7 3 9,4
Amarela transl. 2 2,6 16 12,2 2 6,3
Laranja 2 2,6 2 1,5 - -
Preta 2 2,6 11 8,4 2 6,3
Verm. e amar. tra. 1 1,3 4 3,1 - -
Cinza e vermelha 1 1,3 - - - -
Branca e verm. - - 2 1,5 - -
Cinza - - 3 2,2 1 3,1
Cinza translúcida - - 1 0,8 - -
Cinza e amar. tra. - - 1 0,8 - -
Cinza e branca - - 1 0,8 - -
Bege - - 1 0,8 - -
Marrom - - 1 - - -
Rosa - - 1 - - -
Transparente 1 1,3 - - 1 3,1
Total 78 100 131 100 32 100

Tabela 7.244 - Frequência (contagens e porcentagens) dos atributos naturais das matérias primas de pontas
pedunculadas dos dois conjuntos do sítio Tunas
Atributos Variável mais frequente, n (%)
observados 11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Translucidez Ausente, 65 (83,3 %) Ausente, 103 (78,6 %) Ausente, 25 (78,1 %)
Ausente, 30 (93,8 %)
Ausente, 129 (98,5 %)
Ausente, 76 (97,4 %) Afloramento, 1 (3,1
Tipo de córtex Afloramento, 1 (0,8 %)
Afloramento, 2 (2,6 %) %)
Fluvial, 1 (0,8 %)
Fluvial, 1 (3,1 %)
Intrusões Ausente, 78 (100 %) Ausente, 131 (100 %) Ausente, 32 (100 %)
Ausente, 76 (97,4 %) Ausente, 116 (88,5 %) Ausente, 31 (96,9 %)
Alteração térmica
Cúpulas, 2 (2,6 %) Cúpulas, 15 (11,5 %) Cúpulas, 1 (3,1 %)
Fraturas Ausente, 61 (78,2 %) Ausente, 89 (67,9 %) Ausente, 19 (59,4 %)

Valores atípicos foram identificadas em diversas peças de todo os períodos de ocupação


do sítio. Estes valores foram excluídos da estatística descritiva. As tabelas 7.245 até 7.261
apresentam a estatística descritiva das pontas pedunculadas do sítio Garivaldino, sem os valores
atípicos identificados.

Tabela 7.245 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas pedunculadas do primeiro período
de ocupação (11-9 mil cal AP) do sítio Garivaldino.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa (g) 68 0,8 8,5 4,5 2,0
Comprimento Total (mm) 66 19 48 35 7
Largura máxima (mm) 74 11 30 20 4
Espessura máxima (mm) 74 3 11 7 2
Proporção Largura/Espessura (x/1) 69 1,8 4,0 2,8 0,5
Comprimento do Corpo (mm) 69 6 44 23 7
Comprimento do Pedúnculo (mm) 75 5 21 13 4
Comprimento dos Gumes (mm) 69 11 40 25 6
Largura das Aletas (mm) 78 11 30 20 4

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Largura do Pescoço (mm) 77 7 19 13 2


Largura do Pedúnculo (mm) 74 8 18 14 2
Espessura do Corpo (mm) 68 2 9 6 2
Espessura do Pescoço (mm) 74 2 9 7 1
Espessura do Pedúnculo (mm) 67 3 9 6 1
Ângulo Médio dos Gumes (graus) 74 40 80 60 8

Tabela 7.246 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas pedunculadas do segundo período
de ocupação (9-8 mil cal AP) do sítio Garivaldino.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa (g) 115 0,6 11,0 3,8 2,5
Comprimento Total (mm) 117 17 58 34 9
Largura máxima (mm) 128 8 29 17 5
Espessura máxima (mm) 121 3 12 7 2
Proporção Largura/Espessura (x/1) 115 1,2 3,8 2,4 0,5
Comprimento do Corpo (mm) 117 2 44 22 8
Comprimento do Pedúnculo (mm) 127 6 19 12 3
Comprimento dos Gumes (mm) 117 11 45 23 8
Largura das Aletas (mm) 130 8 34 17 5
Largura do Pescoço (mm) 131 4 18 12 3
Largura do Pedúnculo (mm) 130 4 21 12 4
Espessura do Corpo (mm) 121 2 10 6 2
Espessura do Pescoço (mm) 126 2 10 7 2
Espessura do Pedúnculo (mm) 127 2 9 5 1
Ângulo Médio dos Gumes (graus) 126 40 85 61 10

Tabela 7.247 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas pedunculadas do terceiro período
de ocupação (< 8 mil cal AP) do sítio Garivaldino.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa (g) 26 0,7 14,1 4,8 3,5
Comprimento Total (mm) 24 14 55 33 11
Largura máxima (mm) 32 8 27 17 5
Espessura máxima (mm) 32 4 11 7 2
Proporção Largura/Espessura (x/1) 27 1,7 3,0 2,3 0,3
Comprimento do Corpo (mm) 26 4 49 23 10
Comprimento do Pedúnculo (mm) 30 5 19 11 4
Comprimento dos Gumes (mm) 26 11 50 24 10
Largura das Aletas (mm) 32 8 27 17 5
Largura do Pescoço (mm) 32 7 20 12 4
Largura do Pedúnculo (mm) 30 6 20 13 4
Espessura do Corpo (mm) 29 3 9 6 2
Espessura do Pescoço (mm) 32 4 10 7 2
Espessura do Pedúnculo (mm) 32 2 8 5 2
Ângulo Médio dos Gumes (graus) 32 50 80 64 8

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Tabela 7.248 – Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do corpo em pontas
pedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. *Refere-se às pontas reapropriadas como
raspadores.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Variáveis
n % n % n %
Triangular 64 82,1 87 66,4 23 71,9
Lâmino-triangular - - 15 11,5 6 18,8
Indefinido 6 7,7 8 6,1 - -
Circular 2 2,6 2 1,5 - -
Espadas 2 2,6 2 1,5 1 3,1
Afunilado 1 1,3 2 1,5 - -
Lanceolado 1 1,3 12 9,2 1 3,1
Irregular 1 1,3 - - - -
Semilunar* 1 1,3 2 1,5 1 3,1
Retilíneo Horizontal* - - - - - -
Total 78 100 131 100 32 100

Tabela 7.249 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento dos gumes em
pontas pedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Variáveis
n % n % n %
Retilíneo 24 30,8 36 27,5 11 34,4
Irregulares 22 28,2 53 40,5 10 31,3
Convexo 16 20,5 18 13,7 4 12,5
Indefinido 14 18,0 11 8,4 5 15,6
Côncavo 1 1,3 13 9,9 2 6,3
Dentic. sinuoso 1 1,3 - - - -
Total 78 100 131 100 32 100

Tabela 7.250 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno das aletas em pontas
pedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Variáveis
n % n % n %
Retilíneo 74 94,9 129 98,5 32 100
Expandida 4 5,1 2 1,5 - -
Total 78 100 131 100 32 100

Tabela 7.251 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento do pescoço em


pontas pedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Variáveis
n % n % n %
Obtuso 65 83,3 112 85,5 30 93,8
Reto 12 15,4 19 14,5 2 6,3
Aguda 1 1,3 - - - -
Total 78 100 131 100 32 100

Tabela 7.252 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do pedúnculo em pontas
dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Variáveis
n % n % n %
Convexo 25 32,1 24 18,3 3 9,4
Reto 23 29,5 48 36,6 11 34,4
Bifurcado 20 25,6 44 33,6 15 46,9
Circular 5 6,4 4 3,1 - -
Indefinido 4 5,2 7 5,4 3 9,4
Ovalado 1 1,3 4 3,1 - -
Total 78 100 131 100 32 100

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Tabela 7.253 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do corpo em pontas dos
três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. * Refere-se às peça reapropriadas como raspadores cujo corpo
foi modificado.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Variáveis
n % n % n %
Elipse 36 46,2 50 38,2 16 50,0
Plano-Convexa 20 25,6 44 33,6 9 28,1
Romboide 10 12,8 20 15,3 2 6,3
Achatada 4 5,1 2 1,5 1 3,1
Circular 3 3,8 7 5,3 4 12,5
Losangular 2 2,6 2 1,5 - -
Indefinido 2 2,6 3 2,3 - -
Meia Lua 1 1,3 1 0,8 - -
Reapropriada* - - 2 1,5 - -
Total 78 100 131 100 32 100

Tabela 7.254 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do pedúnculo em pontas
pedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Variáveis
n % n % n %
Elipse 55 70,5 84 64,1 20 62,5
Plano-Convexa 13 16,7 24 18,3 6 18,8
Achatada 3 3,8 1 0,8 - -
Meia lua 3 3,8 4 3,1 - -
Romboide 2 2,6 8 6,1 - -
Circular 1 1,3 2 1,5 - -
Bielíptica - - 3 2,3 5 15,6
Triangulo-retangular - - 1 0,8 - -
Indefinido 1 1,3 4 3,1 1 3,1
Total 78 100 131 100 32 100

Tabela 7.255 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de suporte em pontas pedunculadas
dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Variáveis
n % n % n %
Lasca 54 69,2 49 37,4 14 43,8
Indefinido 23 29,5 55 42,0 17 53,1
Detrito bipolar 1 1,3 27 20,6 1 3,1
Total 78 100 131 100 32 100

Tabela 7.256 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de façonagem em pontas
pedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Variáveis
n % n % n %
Bifacial 46 59,0 73 55,7 22 68,8
Ausente 20 25,6 40 30,5 4 12,5
Unifacial 11 14,1 17 13,0 6 18,8
Indefinido 1 1,3 1 0,8 - -
Total 78 100 131 100 32 100

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.257 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de façonagem em pontas
pedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Variáveis
n % n % n %
Pressão 23 29,5 37 28,2 13 40,6
Percussão 22 28,2 36 27,5 13 40,6
Ausente 20 25,6 40 30,5 4 12,5
Percussão + Pressão 12 15,4 18 13,7 2 6,3
Indefinido 1 1,3 - - - -
Total 78 100 131 100 32 100

Tabela 7.258 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de retoque em pontas
pedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Variáveis
n % n % n %
Bifacial 44 56,4 73 55,7 14 43,8
Alterno à esquerda 15 19,2 16 12,2 3 9,4
Ausente 15 19,2 28 21,4 13 40,6
Unifacial 3 3,8 13 9,9 2 6,3
Alterno à direita - - 1 0,8 - -
Indefinido 1 1,3 - - - -
Total 78 100 131 100 32 100

Tabela 7.259 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de retoque em pontas
pedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Variáveis
n % n % n %
Pressão 60 76,9 104 79,4 19 59,4
Ausente 15 19,2 25 19,1 13 40,6
Percussão + Pressão - - 2 1,5 - -
Indefinido 3 3,8 - - - -
Total 78 100 131 100 32 100

Tabela 7.260 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos de façonagem
do corpo em pontas pedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Variáveis
n % n % n %
Seletivos Convergentes 20 25,6 28 21,4 8 25,0
Largos e seletivos 19 24,4 36 27,5 7 21,9
Paralelos convergentes 17 21,8 20 15,3 10 31,3
Bordos retocados 16 20,5 40 30,5 5 15,6
Retoques no ápice - - 3 2,3 - -
Indefinido 4 5,1 2 1,5 - -
Ret. bordos esquerdos 1 1,3 - - - -
Paralelos c/ ner. central 1 1,3 2 1,5 2 6,3
Total 78 100 131 100 32 100

Tabela 7.261 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos de façonagem
do pedúnculo em pontas pedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Variáveis
n % n % n %
Bordos retocados 40 51,3 97 74,0 21 65,6
Seletivos Convergentes 23 29,5 16 12,2 3 9,4
Acanaladura unifacial + bordos 11 14,1 10 7,6 5 15,6
Acanaladura bifacial - - 5 3,8 2 6,3

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Acanaladura unifacial - - 1 0,8 - -


Indefinido 2 2,6 1 0,8 1 3,1
Acanaladura bifacial + bordos 1 1,3 - - - -
Bordos esq. + Acanaladura unifacial 1 1,3 - - - -
Sem negativos - - - - - -
Total 78 100 131 100 32 100

A tabela 7.262 apresenta os valores de tendência central e maiores frequências dos


principais atributos das pontas pedunculadas, comparando os três períodos de ocupação do sítio
Garivaldino. Os dados apresentados dão indícios de que existe uma forte persistência tecnológica
de pontas pedunculadas ao longo de todo o Holoceno. Absolutamente nenhum atributo qualitativo
parece apresentar diferenças marcantes, e os atributos métricos parecem bastante similares.

Tabela 7.262 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 25%) em pontas pedunculadas
dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. A amplitude considerada para os valores foi o desvio padrão.
Valores de tendência central e variáveis mais frequentes
Atributos observados
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Arenito silic. (55 %)
Matéria prima Arenito silic. (76 %) Arenito silic. (72 %)
Ágata (33 %)
Cor Vermelha (74 %) Vermelha (56 %) Vermelha (72 %)
Massa 2,5 – 6,5 g 1,3 – 6,3 g 1,3 – 8,3 g
Comprimento total 28 – 42 mm 25 – 43 mm 22 – 44 mm
Largura máxima 16 – 24 mm 12 – 22 mm 12 – 22 mm
Espessura máxima 5 – 9 mm 5 – 9 mm 5 – 9 mm
Proporção
2,3 – 3,3 /1 1,9 – 2,9 /1 2,0 – 2,6 /1
Largura/Espessura
Comprimento do corpo 16 – 30 mm 14 – 30 mm 13 – 33 mm
Comp. do pedúnculo 9 – 17 mm 9 – 15 mm 7 – 15 mm
Comp. médio dos gumes 19 – 31 mm 15 – 31 mm 14 – 34 mm
Largura das aletas 16 – 24 mm 12 – 22 mm 12 – 22 mm
Largura do pescoço 11 – 15 mm 9 – 15 mm 8 – 16 mm
Largura do pedúnculo 12 – 16 mm 8 – 16 mm 9 – 17 mm
Espessura do corpo 4 – 8 mm 4 – 8 mm 4 – 8 mm
Espessura do pescoço 6 – 8 mm 5 – 9 mm 5 – 9 mm
Espessura do pedúnculo 5 – 7 mm 4 – 6 mm 3 – 7 mm
Ângulo mé. dos gumes 52 – 68 º 51 – 71 º 56 – 72 º
Contorno do corpo Triangular (82 %) Triangular (66 %) Triangular (72 %)
Retilíneo (31 %) Irregulares (40 %) Retilíneo (34 %)
Delin. dos gumes
Irregulares (28 %) Retilíneo (28 %) Irregulares (31 %)
Contorno das aletas Retilíneo (95 %) Retilíneo (98 %) Retilíneo (100 %)
Delin. do pescoço Obtuso (83 %) Obtuso (86 %) Obtuso (94 %)
Convexo (32 %)
Reto (37 %) Bifurcada (47 %)
Contorno do pedúnculo Reto (30 %)
Bifurcada (34 %) Reto (34 %)
Bifurcada (26 %)
Elipse (46 %) Elipse (38 %) Elipse (50 %)
Seção do corpo
Plano-convexa (26%) Plano-convexa (34%) Plano-convexa (28%)
Seção do pedúnculo Elipse (70 %) Elipse (64 %) Elipse (62 %)
Lasca (69 %) Indefinido (42 %) Indefinido (53 %)
Suporte
Indefinido (30 %) Lasca (37 %) Lasca (44 %)
Bifacial (59 %) Bifacial (56 %)
Método de façonagem Bifacial (69 %)
Ausente (26 %) Ausente (30 %)
Pressão (30 %) Ausente (30 %) Pressão (41 %)
Técnica de façonagem
Percussão (28 %) Pressão (28 %) Percussão (41 %)

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Ausente (26 %) Percussão (28 %)


Bifacial (44 %)
Método de retoque Bifacial (57 %) Bifacial (56 %)
Ausente (41 %)
Pressão (59 %)
Técnica de retoque Pressão (77 %) Pressão (79 %)
Ausente (41 %)
Organização dos Bordos retoc. (30 %) Paral. conver. (31 %)
Sel. conver. (26 %)
negativos do corpo Largos e sel. (28 %) Sel. conver. (25 %)
Organização dos
Bordos retoc. (51 %) Bordos retoc. (74 %) Bordos retoc. (66 %)
negativos do pedúnculo

As tabelas 7.263 e 7.265 apresentam os resultados dos testes estatísticos que verificaram
se as diferenças são significantes, enquanto a tabela 7.264 apresenta os resultados do teste de
distribuição normal para cada atributo nos dois conjuntos.

Tabela 7.263 – Valores dos testes de significância entre as pontas pedunculadas dos três períodos de ocupação
do sítio Garivaldino para atributos não-métricos. Nível de significância = 0,05. Diferenças significantes
marcadas em negrito. * Neste caso, os testes foram realizados separadamente, sendo o chi quadrado para
verificação entre primeiro e segundo períodos, e Fisher para segundo e terceiro períodos devido as regras para
uso de chi quadrado.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Matéria prima Chi quadrado 11,056 0,025941 Significante
Contorno Chi quadrado 5,9593 0,050812 Não significante
Delineamento dos gumes Chi quadrado 3,8545 0,426062 Não significante
Chi quadrado 2,2742 0,131543
Contorno das aletas* Não significante
Fisher 1 -
Delineamento do pescoço Chi quadrado 2,069 0,355405 Não significante
Contorno do pedúnculo Chi quadrado 10,9717 0,089254 Não significante
Seção do corpo Chi quadrado 2,7361 0,602918 Não significante
Seção do pedúnculo Chi quadrado 1,088 0,580425 Não significante
Suporte Chi quadrado 31,6834 < 0,00001 Significante
Método de façonagem Chi quadrado 4,3836 0,356575 Não significante
Técnica de façonagem Chi quadrado 7,8805 0,246988 Não significante
Método de retoque Chi quadrado 6,4698 0,166701 Não significante
Técnica de retoque Chi quadrado 5,6991 0,057871 Não significante
Org. negativos do corpo Chi quadrado 8,251 0,409343 Não significante
Org. negativos do pedúnculo Chi quadrado 16,2925 0,002651 Significante

Tabela 7.264 – Resultados do teste Shapiro-Wilk de normalidade para entre as pontas pedunculadas entre os
três períodos de ocupação do sítio Garivaldino para atributos métricos. Valores de significância menor que 0,05
são considerados não normais.
Atributos 11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
observados Significância Distribuição Significância Distribuição Significância Distribuição
Massa 0,094 Normal 0,000 Não normal 0,049 Não normal
Comprimento total 0,315 Normal 0,082 Normal 0,897 Normal
Largura máxima 0,031 Não normal 0,054 Normal 0,088 Não normal
Espessura máxima 0,000 Não normal 0,001 Não normal 0,168 Normal
Prop.
0,035 Não normal 0,007 Não normal 0,490 Normal
Largura/Espessura
Comp. do corpo 0,698 Normal 0,000 Não normal 0,513 Normal
Comp. do pedúnculo 0,194 Normal 0,017 Não normal 0,697 Normal
Comp. dos gumes 0,603 Normal 0,001 Não normal 0,402 Normal
Largura das aletas 0,019 Não normal 0,108 Normal 0,048 Não normal
Largura do pescoço 0,081 Normal 0,331 Normal 0,050 Normal
Larg. do pedúnculo 0,061 Normal 0,016 Não normal 0,510 Normal
Espessura do corpo 0,003 Não normal 0,009 Não normal 0,153 Normal

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Esp. do pescoço 0,001 Não normal 0,000 Não normal 0,247 Normal
Esp. do pedúnculo 0,000 Não normal 0,000 Não normal 0,056 Normal
Ângulo dos gumes 0,111 Normal 0,021 Não normal 0,293 Normal

Tabela 7.265 - Valores dos testes de significância entre as pontas pedunculadas entre os três períodos de
ocupação do sítio Garivaldino para atributos métricos. Nível de significância = 0,05 (two-tailed). Diferenças
significantes marcadas em negrito.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Massa Kruskall-Wallis 5,101 0,078 Não significante
Comprimento total Anova 0,58248 0,55944 Não significante
Largura máxima Kruskall-Wallis 20,068 0,00005 Significante
Espessura máxima Kruskall-Wallis 1,130 0,568 Não significante
Prop. Largura/Espessura Kruskall-Wallis 28,513 < 0,001 Significante
Comp. do corpo Kruskall-Wallis 1,494 0,474 Não significante
Comp. do pedúnculo Kruskall-Wallis 8,120 0,017 Significante
Comp. dos gumes Kruskall-Wallis 3,208 0,201 Não significante
Largura das aletas Kruskall-Wallis 22,519 < 0,001 Significante
Largura do pescoço Anova 2,05004 0,131007 Não significante
Larg. do pedúnculo Kruskall-Wallis 6,603 0,037 Significante
Espessura do corpo Kruskall-Wallis 2,407 0,300 Não significante
Esp. do pescoço Kruskall-Wallis 0,278 0,870 Não significante
Esp. do pedúnculo Kruskall-Wallis 6,36 0,05 Não significante
Ângulo dos gumes Kruskall-Wallis 3,542 0,170 Não significante

Os resultados dos testes estatísticos indicaram diferenças significativas em três atributos


qualitativos: matéria prima, suporte e organização dos negativos do pedúnculo. Dentre os
atributos quantitativos, seis atributos apresentaram diferenças significativas. No caso dos
atributos quantitativos, as diferenças em quatro deles parecem estar diretamente condicionadas a
um único atributo: a largura total da ponta. A alteração na largura condiciona diretamente a
proporção largura/espessura, massa e a largura das aletas (sendo neste caso a largura máxima e a
largura das aletas é sempre a mesma medida). Ainda que a largura do pedúnculo não esteja
necessariamente condicionada à largura total da peça, é possível que a alteração de uma tenha
condicionada a outra em termos de manter a proporção entre elas. Já o comprimento do pedúnculo
parece ser uma diferença não relacionada.

Apesar dos testes indicarem que existem algumas diferenças, eles não indicam entre quais
períodos, especificamente, essas mudanças ocorreram. Logo, novos testes foram realizados a fim
de verificar em quais períodos estes atributos se tornaram diferentes. Apesar de a maioria das
diferenças identificadas nas pontas apedunculadas ocorreram apenas entre o segundo e o terceiro
período, os atributos das pontas pedunculadas sofrem as diferença logo entre o primeiro e o
segundo período. As tabelas 7.266 até 7.270 apresentam os resultados dos testes que verificam
onde estão as diferenças significantes.

Tabela 7.266 – Valores dos testes de significância entre as pontas pedunculadas do primeiro e do segundo período
de ocupação do sítio Garivaldino para atributos não-métricos. Nível de significância = 0,05. Diferenças

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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significantes marcadas em negrito. * Neste caso, os testes foram realizados separadamente, sendo o chi quadrado
para verificação entre primeiro e segundo períodos, e Fisher para segundo e terceiro períodos.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Matéria prima Chi quadrado 8,9412 0,011441 Significante
Suporte Chi quadrado 25,7281 < 0,00001 Significante
Org. negativos do pedúnculo Chi quadrado 12,9032 0,001578 Significante

Tabela 7.267 - Valores dos testes de significância entre as pontas pedunculadas primeiro e do segundo período
de ocupação do sítio Garivaldino para atributos métricos. Nível de significância = 0,05 (two-tailed). Valor do
teste apresentado é o valor crítico de U. Diferenças significantes marcadas em negrito.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Largura máxima Dunn-Bonferroni 4,105 < 0,001 Significante
Prop. Largura/Espessura Dunn-Bonferroni 4,54 < 0,001 Significante
Comp. do pedúnculo Dunn-Bonferroni 2,256 0,072 Não significante
Largura das aletas Dunn-Bonferroni 4,371 < 0,001 Significante
Larg. do pedúnculo Dunn-Bonferroni 2,531 0,034 Significante

Tabela 7.268 – Valores dos testes de significância entre as pontas pedunculadas do segundo e do terceiro período
de ocupação do sítio Garivaldino para atributos não-métricos. Nível de significância = 0,05. Diferenças
significantes marcadas em negrito.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Matéria prima Chi quadrado 3,8475 0,14606 Não significante
Suporte Chi quadrado 5,568 0,061791 Não significante
Org. negativos do pedúnculo Chi quadrado 0,9125 0,339458 Não significante

Tabela 7.269 - Valores dos testes de significância entre as pontas pedunculadas do segundo e do terceiro período
de ocupação do sítio Garivaldino para atributos métricos. Nível de significância = 0,05 (two-tailed). Diferenças
significantes marcadas em negrito.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Largura máxima Dunn-Bonferroni 0,616 1 Não significante
Prop. Largura/Espessura Dunn-Bonferroni 1,496 0,404 Não significante
Comp. do pedúnculo Dunn-Bonferroni 1,077 0,845 Não significante
Largura das aletas Dunn-Bonferroni 0,588 1 Não significante
Larg. do pedúnculo Dunn-Bonferroni -0,228 1 Não significante

Tabela 7.270 - Valores dos testes que resultaram em diferenças significativas apenas entre o primeiro e o terceiro
períodos de ocupação do sítio Garivaldino para atributos métricos. Nível de significância = 0,05 (two-tailed).
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Comp. do pedúnculo Dunn-Bonferroni 2,533 0,034 Significante

Os testes apontam que as mudanças ocorreram ainda durante o Holoceno Inicial, entre o
primeiro e o segundo período de ocupação. Desta forma percebe-se que existem apenas dois
conjuntos similares de pontas pedunculadas ao longo do Holoceno no sítio Garivaldino, sendo
que as diferenças apontadas são quase todas métricas, relacionadas à largura máxima do corpo e
do pedúnculo e ao comprimento do pedúnculo. Novas estatísticas descritivas foram realizadas
somando os dados das pontas do segundo e do terceiro período (tabelas 7.271 até 7.287), ou seja,
de todas as pontas pedunculadas mais recentes que 9000 cal AP. A tabela 7.288 compara os

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

valores de tendência métrica, morfológica e tecnológica dos dois conjuntos de pontas


pedunculadas.

Tabela 7.271 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas em pontas pedunculadas mais
antigas e mais recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP < 9000 cal AP
Matéria Prima
n % n %
Arenito Silicificado 59 75,6 95 58,3
Ágata 14 17,9 48 29,4
Basalto 2 2,6 12 7,4
Sílex - - 6 3,7
Quartzo Leitoso 2 2,6 1 0,6
Quartzo Hialino 1 1,3 1 0,6
Total 78 100 163 100

Tabela 7.272 - Frequência (contagens e porcentagens) das cores das pontas pedunculadas mais antigas e mais
recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP < 9000 cal AP
Cor
n % n %
Vermelha 58 74,4 96 58,9
Branca 11 14,1 17 10,4
Amarela transl. 2 2,6 18 11,0
Laranja 2 2,6 2 1,2
Preta 2 2,6 13 8,0
Verm. e amar. tra. 1 1,3 4 2,5
Cinza e vermelha 1 1,3 - -
Branca e verm. - - 2 1,2
Cinza - - 4 2,5
Cinza translúcida - - 1 0,6
Cinza e amar. tra. - - 1 0,6
Cinza e branca - - 1 0,6
Bege - - 1 0,6
Marrom - - 1 0,6
Rosa - - 1 0,6
Transparente 1 1,3 1 0,6
Total 78 100 163 100

Tabela 7.273 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas pedunculadas mais recentes que
9000 cal AP do sítio Garivaldino.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa (g) 141 0,6 14,1 4,0 2,7
Comprimento Total (mm) 141 14 58 34 10
Largura máxima (mm) 160 8 29 17 5
Espessura máxima (mm) 153 3 12 7 2
Proporção Largura/Espessura (x/1) 142 1,2 3,8 2,4 0,5
Comprimento do Corpo (mm) 143 2 49 22 9
Comprimento do Pedúnculo (mm) 157 5 19 12 3
Comprimento dos Gumes (mm) 143 11 50 24 8
Largura das Aletas (mm) 162 8 34 17 5
Largura do Pescoço (mm) 163 4 20 12 3
Largura do Pedúnculo (mm) 160 4 21 13 4
Espessura do Corpo (mm) 150 2 10 6 2
Espessura do Pescoço (mm) 158 2 10 7 2
Espessura do Pedúnculo (mm) 159 2 9 5 1
Ângulo Médio dos Gumes (graus) 158 40 85 61 10

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.274 – Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do corpo em pontas
pedunculadas mais antigas e mais recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino. *Refere-se às pontas
reapropriadas como raspadores.
11.000 – 9000 cal AP < 9000 cal AP
Variáveis
n % n %
Triangular 64 82,1 110 67,5
Lâmino-triangular - - 21 12,9
Indefinido 6 7,7 8 4,9
Circular 2 2,6 2 1,2
Espadas 2 2,6 3 1,8
Afunilado 1 1,3 2 1,2
Lanceolado 1 1,3 13 8,0
Irregular 1 1,3 - -
Semilunar* 1 1,3 3 1,8
Retilíneo Horizontal* - - 1 0,6
Total 78 100 163 100

Tabela 7.275 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento dos gumes em
pontas pedunculadas mais antigas e mais recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP < 9000 cal AP
Variáveis
n % n %
Retilíneo 24 30,8 47 28,8
Irregulares 22 28,2 63 38,7
Convexo 16 20,5 22 13,5
Indefinido 14 18,0 16 9,8
Côncavo 1 1,3 15 9,2
Dentic. sinuoso 1 1,3 - -
Total 78 100 163 100

Tabela 7.276 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno das aletas em pontas
pedunculadas mais antigas e mais recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP < 9000 cal AP
Variáveis
n % n %
Retilíneo 74 94,9 161 98,8
Expandida 4 5,1 2 1,2
Total 78 100 163 100

Tabela 7.277 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento do pescoço em


pontas pedunculadas mais antigas e mais recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP < 9000 cal AP
Variáveis
n % n %
Obtuso 65 83,3 142 87,1
Reto 12 15,4 21 12,9
Aguda 1 1,3 - -
Total 78 100 163 100

Tabela 7.278 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do pedúnculo em pontas
mais antigas e mais recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP < 9000 cal AP
Variáveis
n % n %
Convexo 25 32,1 27 16,6
Reto 23 29,5 59 36,2
Bifurcado 20 25,6 59 36,2
Circular 5 6,4 4 2,5
Indefinido 4 5,2 10 6,1
Ovalado 1 1,3 4 2,5
Total 78 100 163 100

269
MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.279 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do corpo em pontas mais
antigas e mais recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino. * Refere-se às peça reapropriadas como raspadores
cujo corpo foi modificado.
11.000 – 9000 cal AP < 9000 cal AP
Variáveis
n % n %
Elipse 36 46,2 66 40,5
Plano-Convexa 20 25,6 53 32,5
Romboide 10 12,8 22 13,5
Achatada 4 5,1 3 1,8
Circular 3 3,8 11 6,7
Losangular 2 2,6 2 1,2
Indefinido 2 2,6 3 1,8
Meia Lua 1 1,3 1 0,6
Reapropriada* - - 2 1,2
Total 78 100 163 100

Tabela 7.280 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do pedúnculo em pontas
pedunculadas mais antigas e mais recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP < 9000 cal AP
Variáveis
n % n %
Elipse 55 70,5 104 63,8
Plano-Convexa 13 16,7 30 18,4
Achatada 3 3,8 1 0,6
Meia lua 3 3,8 4 2,5
Romboide 2 2,6 8 4,9
Circular 1 1,3 2 1,2
Bielíptica - - 8 4,9
Triangulo-retangular - - 1 0,6
Indefinido 1 1,3 5 3,1
Total 78 100 163 100

Tabela 7.281 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de suporte em pontas pedunculadas
mais antigas e mais recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP < 9000 cal AP
Variáveis
n % n %
Lasca 54 69,2 63 38,7
Indefinido 23 29,5 72 44,2
Detrito bipolar 1 1,3 28 17,2
Total 78 100 163 100

Tabela 7.282 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de façonagem em pontas
pedunculadas mais antigas e mais recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP < 9000 cal AP
Variáveis
n % n %
Bifacial 46 59,0 95 58,3
Ausente 20 25,6 44 27,0
Unifacial 11 14,1 23 14,1
Indefinido 1 1,3 1 0,6
Total 78 100 163 100

270
MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.283 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de façonagem em pontas
pedunculadas mais antigas e mais recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP < 9000 cal AP
Variáveis
n % n %
Pressão 23 29,5 50 30,7
Percussão 22 28,2 49 30,1
Ausente 20 25,6 44 27,0
Percussão + Pressão 12 15,4 20 12,3
Indefinido 1 1,3 - -
Total 78 100 163 100

Tabela 7.284 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de retoque em pontas
pedunculadas mais antigas e mais recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP < 9000 cal AP
Variáveis
n % n %
Bifacial 44 56,4 87 53,4
Alterno à esquerda 15 19,2 19 11,7
Ausente 15 19,2 41 25,2
Unifacial 3 3,8 15 9,2
Alterno à direita - - 1 ,6
Indefinido 1 1,3 - -
Total 78 100 163 100

Tabela 7.285 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de retoque em pontas
pedunculadas mais antigas e mais recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP < 9000 cal AP
Variáveis
n % n %
Pressão 60 76,9 123 75,5
Ausente 15 19,2 38 23,3
Percussão + Pressão - - 2 1,2
Indefinido 3 3,8 - -
Total 78 100 163 100

Tabela 7.286 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos de façonagem
do corpo em pontas pedunculadas mais antigas e mais recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP < 9000 cal AP
Variáveis
n % n %
Seletivos Convergentes 20 25,6 36 22,1
Largos e seletivos 19 24,4 43 26,4
Paralelos convergentes 17 21,8 30 18,4
Bordos retocados 16 20,5 45 27,6
Retoques no ápice - - - -
Indefinido 4 5,1 - -
Ret. bordos esquerdos 1 1,3 - -
Paralelos c/ ner. central 1 1,3 - -
Total 78 100 163 100

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.287 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos de façonagem
do pedúnculo em pontas pedunculadas mais antigas e mais recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP < 9000 cal AP
Variáveis
n % n %
Bordos retocados 40 51,3 118 72,4
Seletivos Convergentes 23 29,5 19 11,7
Acanaladura unifacial + bordos 11 14,1 15 9,2
Acanaladura bifacial - - 7 4,3
Acanaladura unifacial - - 1 ,6
Indefinido 2 2,6 2 1,2
Acanaladura bifacial + bordos 1 1,3 - -
Bordos esq. + acanaladura unifacial 1 1,3 - -
Sem negativos - - 1 ,6
Total 78 100 163 100

Tabela 7.288 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 25%) em pontas pedunculadas
mais antigas e mais recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino. A amplitude considerada para os valores foi
o desvio padrão. * Neste caso são mostradas as quatro principais variáveis, uma vez que as frequências são todas
menores que 30%.
Valores de tendência central e variáveis mais
Atributos observados frequentes
11.000 – 9000 cal AP < 9000 cal AP
Arenito silic. (58 %)
Matéria prima Arenito silic. (76 %)
Ágata (29 %)
Cor Vermelha (74 %) Vermelha (56 %)
Massa 2,5 – 6,5 g 1,3 – 6,7 g
Comprimento total 28 – 42 mm 24 – 44 mm
Largura máxima 16 – 24 mm 12 – 22 mm
Espessura máxima 5 – 9 mm 5 – 9 mm
Proporção
2,3 – 3,3 /1 1,9 – 2,9 /1
Largura/Espessura
Comprimento do corpo 16 – 30 mm 13 – 31 mm
Comp. do pedúnculo 9 – 17 mm 9 – 15 mm
Comp. médio dos gumes 19 – 31 mm 16 – 32 mm
Largura das aletas 16 – 24 mm 12 – 22 mm
Largura do pescoço 11 – 15 mm 9 – 15 mm
Largura do pedúnculo 12 – 16 mm 9 – 17 mm
Espessura do corpo 4 – 8 mm 4 – 8 mm
Espessura do pescoço 6 – 8 mm 5 – 9 mm
Espessura do pedúnculo 5 – 7 mm 4 – 6 mm
Ângulo mé. dos gumes 52 – 68 º 51 – 71 º
Contorno do corpo Triangular (82 %) Triangular (68 %)
Retilíneo (31 %) Irregulares (39 %)
Delin. dos gumes
Irregulares (28 %) Retilíneo (29 %)
Contorno das aletas Retilíneo (95 %) Retilíneo (99 %)
Delin. do pescoço Obtuso (83 %) Obtuso (87 %)
Convexo (32 %)
Reto (36 %)
Contorno do pedúnculo Reto (30 %)
Bifurcada (36 %)
Bifurcada (26 %)
Elipse (46 %) Elipse (40 %)
Seção do corpo
Plano-convexa (26%) Plano-convexa (32%)
Seção do pedúnculo Elipse (70 %) Elipse (64 %)
Lasca (69 %) Indefinido (44 %)
Suporte
Indefinido (30 %) Lasca (39 %)
Bifacial (59 %) Bifacial (58 %)
Método de façonagem
Ausente (26 %) Ausente (27 %)
Técnica de façonagem Pressão (30 %) Pressão (31 %)

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Percussão (28 %) Ausente (30 %)


Ausente (26 %) Percussão (27 %)
Bifacial (53 %)
Método de retoque Bifacial (57 %)
Ausente (25 %)
Técnica de retoque Pressão (77 %) Pressão (76 %)
Sel. conver. (26 %) Bordos retoc. (28 %)
Organização dos Largos e sel. (24 %) Largos e sel. (26 %)
negativos do corpo* Paral. conver. (22 %) Sel. conver. (22 %)
Bordos retoc. (20 %) Paral. conver. (18 %)
Organização dos Bordos retoc. (51 %)
Bordos retoc. (72 %)
negativos do pedúnculo Sel. conver. (30 %)

Desde o início das análises foi possível notar que as pontas pedunculadas do sítio
Garivaldino não se assemelham morfologicamente com as pontas pedunculada dos demais sítios
estudados neste projeto. De todo modo, testes estatísticos ainda seriam necessários para verificar
diferenças nas pontas pedunculadas de todos estes sítios. Em homenagem ao sítio estudado, e
dada a clara ancestralidade de um conjunto em relação ao outro, é sugerida a denominação Ponta
Garivaldinense para as pontas de qualquer um dos dois conjuntos apresentados na tabela 7.288,
considerando que existem leves diferenças métricas entre as mais antigas e as mais recentes que
9000 cal BP. Uma tentativa de identificação de padrões de ordenação e direcionamento das
sequências de façonagem e retoque foi realizada, mas nenhum padrão foi identificado.
Aparentemente, os lascadores da indústria local não pareciam seguir um padrão diacrônico nas
pontas Garivaldinenses (figuras 7.48 até 7.50).

Figura 7.48 – Exemplos de diacronia de pontas pedunculadas provenientes do primeiro período de ocupação do
sítio Garivaldino (11.000 – 9000 cal AP). Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa.

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Figura 7.49 - Exemplos de diacronia de pontas pedunculadas provenientes do segundo período de ocupação do
sítio Garivaldino (9000 – 8000 cal AP). Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa.

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Figura 7.50 - Exemplos de diacronia de pontas pedunculadas provenientes do terceiro período de ocupação do
sítio Garivaldino (mais recente que 8000 cal AP). Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa.

Mas também é preciso notar que há uma categoria de ponta pedunculada que só foi
identificada nos níveis arqueológicos mais recentes que 9000 cal BP. Trata-se de pontas de corpo

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
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lâmino-triangular e seção plano-convexa formado por negativos paralelos com uma nervura
central, gumes serrilhados, e pedúnculo bifurcado formado por negativos convergentes (ver figura
7.47, peça 1716 C, para um exemplo). Apesar de não ser uma padrão muito frequente na indústria
Garivaldinense, trata-se de um padrão bem específico de pontas pedunculadas que foge às
tendências observadas nas pontas Garivaldinenses. Dado este fator, sugere-se a denominação
Ponta Montenegro (em homenagem à região onde o sítio está localizado), às pontas que seguem
este padrão específico de feições morfológicas e tecnológicas. É importante apontar que as pontas
Montenegro, diferente das pontas Garivaldinenses, apresentam um claro padrão diacrônico, no
qual o corpo da ponta é produzido por uma sequência bifacial de façonagem na qual as retiradas
de ambas a faces são realizadas iniciando-se nas extremidades e finalizando na porção média (ver
figura 7.50, peça 1716 C, para um exemplo).

7.5.4. Cuidado para não confundir pré-formas com pontas “foliáceas”


Foram identificadas 167 pré-formas bifaciais na coleção do sítio Garivaldino, das quais
17 só puderam ser identificadas graças às remontagens. Estas 17 peças foram desconsideradas da
análise métrica, uma vez que a razão do abandono de sua produção foi, claramente, uma ou mais
fraturas acidentais durante o lascamento.

Dentre as pré-formas bifaciais não fraturadas, 54 peças foram encontradas nos níveis
datados entre 11.000 e 9000 cal AP, e 96 peças nos níveis mais recentes que 9000 cal AP.
Considerando que nenhuma das peças inteiras foi abandonada devido à perda do plano bifacial (a
simetria entre as duas faces lascadas), a análise métrica de todas estas pontas foi realizada a fim
de verificar as possíveis razões do abandono da peça antes de sua finalização enquanto uma ponta
pedunculada. A estatística descritiva dos principais atributos métricos das pré-formas foi realizada
(tabelas 7.289 até 7.291) e seus dados foram comparados com os das pontas pedunculadas de seus
respectivos períodos (tabelas 7.92).

Tabela 7.289 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pré-formas bifaciais mais antigas que
9000 cal AP do sítio Garivaldino.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Comprimento Total (mm) 54 20 69 42 11
Largura máxima (mm) 54 12 41 23 5
Espessura máxima (mm) 54 3 18 9 3
Proporção Largura/Espessura (x/1) 54 1,6 7,8 3,0 1,2

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Tabela 7.290 – Principais atributos métricos em pré-formas bifaciais mais antigas que 9000 cal AP do sítio
Garivaldino. A amplitude considerada para os valores foi o desvio padrão.
Valores de tendências das Valores de tendências das pré-
Medidas
pontas pedunculadas formas bifaciais
Comprimento total 28 – 42 mm 31 – 53 mm
Largura máxima 16 – 24 mm 18 – 28 mm
Espessura máxima 5 – 9 mm 6 – 12 mm
Proporção
2,3 – 3,3 /1 1,8 – 4,2 /1
Largura/Espessura

Tabela 7.291 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pré-formas bifaciais mais recentes que
9000 cal AP do sítio Garivaldino.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Comprimento Total (mm) 95 18 75 41 12
Largura máxima (mm) 96 9 38 23 7
Espessura máxima (mm) 96 2 20 8 3
Proporção Largura/Espessura (x/1) 96 1,3 9,5 3,3 1,5

Tabela 7.292 – Principais atributos métricos em pré-formas bifaciais mais recentes que 9000 cal AP do sítio
Garivaldino. A amplitude considerada para os valores foi o desvio padrão.
Valores de tendências das Valores de tendências das pré-
Medidas
pontas pedunculadas formas bifaciais
Comprimento total 24 – 44 mm 29 – 53 mm
Largura máxima 12 – 22 mm 16 – 30 mm
Espessura máxima 5 – 9 mm 5 – 11 mm
Proporção
1,9 – 2,9 /1 1,8 – 4,8 mm
Largura/Espessura

É interessante notar a partir destes dados que as pré-formas, em ambos os casos, tendem
a apresentar medidas de comprimento, largura e espessura maiores do que das pontas finalizadas,
e que a proporção largura/espessura é igual ou maior, ou seja, as peças são proporcionalmente
mais ou igualmente finas em relação às pontas finalizadas. Na verdade, apenas 13 peças (24,1%)
do período mais antigo que 9000 cal AP, e 10 peças (10,4%) do período mais recente que 9000
cal AP são proporcionalmente mais espessas do que as pontas pedunculadas. Estas peças muito
provavelmente foram abandonadas devido à dificuldade de torna-las proporcionalmente mais
finas, principalmente em se tratando de matérias primas razoavelmente duras (se comparadas aos
sílex das outras indústrias de pontas pedunculadas analisadas neste projeto). Com relação às peças
cuja proporção é igual ou maior, nota-se que não se tratam de pontas apedunculadas de contorno
lanceolado ou de bifaces foliáceos, uma vez que os gumes são bastante irregulares, e as peças não
possuem simetria bifacial ou entre os bordos laterais. Em alguns casos as peças foram
abandonadas durante a produção do pedúnculo, enquanto em outros casos foram abandonadas
durante as primeira retirada da façonagem, deixando uma grande parte do suporte original à
mostra e bordos não lascados, e em outros casos a porção média da peça apresentava uma
espessura rodeada de negativos refletidos – os quais impedem a retirada de uma lasca que remova
tal porção.

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Apenas duas peças poderiam ser interpretadas com pontas apedunculadas, e não como
pré-formas bifaciais. Uma peça encontrada no nível 10-20 cm (peça 1761), parece uma ponta
bifacial apedunculada de contorno triangular, e uma peça encontrada no nível 150-160 cm (peça
1497), parece uma ponta bifacial apedunculada de contorno lanceolado. No entanto, sendo as
únicas que apresentam feições de uma ponta finalizada, é muito mais provável que se tratem de
pré-formas abandonadas, por um motivo desconhecido, antes da produção do pedúnculo.

7.5.5. Identificando e analisando lascas de façonagem


Apenas as lascas do Corte Experimental foram analisadas, uma vez que é a unidade de
escavação que apresenta a maior concentração de material arqueológico. Foram identificadas
2056 lascas nos níveis relacionados ao primeiro período de ocupação, 3671 lascas nos níveis
relacionados ao segundo período, e 1187 lascas nos níveis mais recentes que 8000 cal AP. A
análise das pontas e pré-formas revelou que estas peças possuem até 30 mm de largura.
Considerando que as lascas de façonagem destas pontas dificilmente ultrapassam a largura do
produto final, apenas lascas de até 30 mm de comprimento foram selecionadas para análise.

Para análise tecnológica, foram amostradas 35 lascas (1,7%) do primeiro período, 45


lascas (1,2%) do segundo período e 40 lascas (3,4%) do terceiro período de ocupação.

O arenito silicificado é, definitivamente, a rocha mais utilizada durante o Holoceno


Inicial. É possível notar uma diminuição do uso do arenito silicificado e um aumento no uso de
basalto como matéria prima para produção dos artefatos no período mais recente que 8000 cal AP
(tabela 7.293). Em ambos os período, as cores preta e cinza tem uma leve predominância (tabela
7.294), mas não parece haver, necessariamente, uma preferência por estas cores. A tabela 7.295
apresenta as frequências dos demais atributos naturais das lascas.

Tabela 7.293 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas nas lascas de façonagem dos três
períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Matéria Prima
n % n % n %
Arenito Silic. 34 97,1 43 95,6 32 80,0
Basalto 1 2,9 2 4,4 8 20,0
Total 35 100 45 100 40 100

Tabela 7.294 - Frequência (contagens e porcentagens) das cores das lascas de façonagem dos três períodos de
ocupação do sítio Garivaldino.
Cor 11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
n % n % n %
Vermelho 34 97,1 43 95,6 32 80,0
Preto 1 2,9 2 4,4 8 20,0
Total 35 100 45 100 40 100

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Tabela 7.295 - Frequência (contagens e porcentagens) dos atributos naturais das matérias primas de lasca de
façonagem dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
Atributos Variável mais frequente, n (%)
observados 11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Translucidez Ausente, 35 (100 %) Ausente, 45 (100 %) Ausente, 40 (100 %)
Ausente, 39 (86,7 %)
Ausente, 33 (94,3 %) Ausente, 39 (86,7 %)
Tipo de córtex Afloramento, 3 (6,7 %)
Afloramento, 2 (5,7 %) Fluvial, 1 (2,5 %)
Fluvial, 3 (6,7 %)
Intrusões Ausente, 35 (100 %) Ausente, 45 (100 %) Ausente, 40 (100 %)
Lustre fluvial Ausente, 35 (100 %) Ausente, 45 (100 %) Ausente, 40 (100 %)
Alteração térmica Ausente, 35 (100 %) Ausente, 45 (100 %) Ausente, 40 (100 %)

A busca por valores atípicos em diagramas de caixa resultou na descoberta de diversos


valores excedentes em vários atributos quantitativos em ambos os pacotes. Uma vez que os
valores atípicos foram retirados da análise estatística, a análise descritiva foi realizada, e seus
resultados são apresentados nas tabelas 7.296 até 7.307.

Tabela 7.296 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem associadas ao
primeiro período de ocupação do sítio Garivaldino.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa 34 0,1 3,0 1,4 0,8
Comprimento 31 13 29 20 4
Largura 29 14 23 19 2
Espessura 34 2 5 3 1
Largura do talão 35 4 16 10 3
Espessura do talão 33 1 4 3 1
Ângulo talão/ face interna 35 90 130 112 10
Número de negativos na face superior 35 2 5 4 1

Tabela 7.297 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem associadas ao
segundo período de ocupação do sítio Garivaldino.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa 39 0,1 3,0 1,6 0,7
Comprimento 44 10 33 21 5
Largura 44 12 32 22 5
Espessura 39 2 5 4 1
Largura do talão 42 4 18 9 4
Espessura do talão 45 0,1 6 3 2
Ângulo talão/ face interna 42 90 140 115 12
Número de negativos na face superior 45 2 8 4 1

Tabela 7.298 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem associadas ao terceiro
período de ocupação do sítio Garivaldino.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa 39 0,1 8,0 2,8 1,8
Comprimento 40 12 36 23 6
Largura 40 11 40 26 6
Espessura 31 3 6 4 1
Largura do talão 38 0,1 22,0 10 5
Espessura do talão 37 0,1 8 2 2
Ângulo talão/ face interna 34 100 135 117 8
Número de negativos na face superior 39 1 8 4 1

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.299 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno de talão das lascas de
façonagem dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Variáveis
n % n % n %
Retilíneo 16 45,7 20 44,4 12 30,0
Vírgula 9 25,7 5 11,1 6 15,0
Asa 4 11,4 7 15,6 7 17,5
Circular 3 8,6 7 15,6 5 12,5
Triangular 3 8,6 3 6,7 4 10,0
Linear - - 3 6,7 4 10,0
Total 35 100 45 100 40 100

Tabela 7.300 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de superfície de talão das lascas de
façonagem três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Variáveis
n % n % n %
Facetada 27 77,1 31 68,9 13 32,5
Lisa 6 17,1 10 22,2 23 57,5
Cortical 2 5,7 1 2,2 - -
Diedra - - 2 4,4 - -
Fragmentada - - - - 4 10,0
Total 35 100 45 100 40 100

Tabela 7.301 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de cornija das lascas de façonagem
dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Variáveis
n % n % n %
Lábio Pouco expr. 19 54,3 6 13,3 5 12,5
Sem Lábio 15 42,9 37 82,2 34 85,0
Lábio Muito expr. 1 2,9 2 4,4 1 2,5
Total 35 100 45 100 40 100

Tabela 7.302 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de bulbo das lascas de façonagem
dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Variáveis
n % n %
Um Bulbo expr. 25 71,4 38 84,4 30 75,0
Bulbo não expr. 10 28,6 6 13,3 7 17,5
Lascamento bulbar - - 1 2,2 - -
Bulbo duplo - - - - 1 2,5
Total 35 100 45 100 40 100

Tabela 7.303 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno geral das lascas de
façonagem dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Variáveis
n % n %
Quadrilátero 12 34,3 19 42,2 25 62,5
Triangular
10 28,6 2 4,4 1 2,5
invertido
Circular 7 20,0 11 24,4 11 27,5
Laminar vertical 2 5,7 4 8,9 1 2,5
Losangular vertical 2 5,7 - - - -
Pentagonal 1 2,9 6 13,3 1 2,5
Forma de Y 1 2,9 1 2,2 - -
Triangular - - 2 4,4 - -
Losangular horiz. - - - - 1 2,5
Total 35 100 45 100 40 100

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.304 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de perfil das lascas de façonagem
dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Variáveis
n % n %
Côncavo 26 74,3 37 82,2 20 50,0
Retilíneo 9 25,7 7 15,6 19 47,5
Convexo - - 1 2,2 1 2,5
Total 35 100 45 100 40 100

Tabela 7.305 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias organização da face superior das
lascas de façonagem dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Variáveis
n % n % n %
Convergente 16 45,7 17 37,8 11 27,5
Forma de Y Invert. 4 11,4 2 4,4 1 2,5
Uma Nerv. Horiz. 4 11,4 6 13,3 3 7,5
Uma Nerv. Vertic. 4 11,4 5 11,1 6 15,0
Duas Nerv. Vertic. 2 5,7 2 4,4 5 12,5
Duas Nerv. Horiz. 1 2,9 - - - -
Forma de Y 1 2,9 3 6,7 4 10,0
Lisa 1 2,9 1 2,2 4 10,0
Três Nerv. Horiz. 1 2,9 - - - -
Três Nerv. Vertic. - - 2 4,4 - -
Forma de T 1 2,9 5 11,1 - -
Forma de π - - 2 4,4 6 15,0
Total 35 100 45 100 40 100

Tabela 7.306 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de quantidade de córtex nas lascas
de façonagem dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Variáveis
n % n % n %
Ausente 33 94,3 39 86,7 39 97,5
< 50% 2 5,7 4 8,9 1 2,5
> 50% - - 1 2,2 - -
50% - - 1 2,2 - -
Total 35 100 45 100 40 100

Tabela 7.307 – Predominância de categorias de lascas a partir de determinados atributos tecnológicos


nos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.
Atributos Variável mais frequente, n (%)
observados 11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Lasca de talão
Sim, 21 (60,0 %) Sim, 26 (57,8 %) Sim, 31 (77,5 %)
preparado
Lasca refletida Não, 26 (74,3 %) Não, 37 (82,2 %) Não, 29 (72,5 %)
Lasca lingueta Não, 35 (100 %) Não, 45 (100 %) Não, 40 (100 %)
Lasca ultrapassante Não, 33 (94,3 %) Não, 35 (100 %) Não, 40 (100 %)
Lasca transbordante Não, 35 (100 %) Não, 35 (100 %) Não, 40 (100 %)
Lasca sirét Não, 35 (100 %) Não, 35 (100 %) Não, 40 (100 %)

A tabela 7.308 compara os dados de tendência central dos atributos analisados nas lascas
de façonagem dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.308 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 20%) em lascas de façonagem
dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. A amplitude considerada para os valores foi o desvio padrão.
Valores de tendência central e variáveis mais frequentes
Atributos observados
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Arenito silic. (80 %)
Matéria prima Arenito silic. (97 %) Arenito silic. (96 %)
Basalto (20 %)
Vermelho (80 %)
Cor Vermelho (97 %) Vermelho (96 %)
Preto (20 %)
Massa 0,6 – 2,2 g 0,9 – 2,3 g 1,0 – 4,6 g
Comprimento total 16 – 24 mm 16 – 26 mm 17 – 29 mm
Largura máxima 17 – 21 mm 17 – 27 mm 20 – 32 mm
Espessura máxima 2 – 4 mm 3 – 5 mm 3 – 5 mm
Retilíneo (46 %)
Contorno do talão Retilíneo (44 %) Retilíneo (30 %)
Vírgula (26 %)
Facetada (69 %) Lisa (58 %)
Superfície do talão Facetada (77 %)
Lisa (22 %) Facetada (32 %)
Largura do talão 7 – 13 mm 5 – 13 mm 5 – 15 mm
Espessura do talão 2 – 4 mm 1 – 5 mm 0,1 – 4 mm
Ângulo talão/ face
102 – 122 º 103 – 127 º 109 – 125 º
interna
Lábio pouco exp. (54 %)
Cornija Sem lábio (82 %) Sem lábio (85 %)
Sem lábio (43 %)
Um bulbo exp. (71 %)
Proeminência do bulbo Um bulbo exp. (84 %) Um bulbo exp. (75 %)
Bulbo não exp. (29 %)
Quadrilátero (34 %)
Quadrilátero (42 %) Quadrilátero (62 %)
Contorno da lasca Triangular inv. (29 %)
Circular (24 %) Circular (28 %)
Circular (20 %)
Côncavo (74 %) Côncavo (50 %)
Perfil da lasca Côncavo (82 %)
Retilíneo (26 %) Retilíneo (47 %)
N° de negativos 3-5 3-5 3–5
Organização da face
Convergente (46 %) Convergente (38 %) Convergente (28 %)
superior
Quantidade de córtex Ausente (94 %) Ausente (87 %) Ausente (98 %)
Preparação no talão Sim (60 %) Sim (58 %) Sim (78 %)

Os atributos métricos indicam que as lascas tendem a ser levemente maiores no terceiro
período. Com relação aos atributos qualitativos, parecem haver mudanças entre o primeiro e o
segundo período relacionados à matéria prima superfície do talão, cornija, bulbo e contorno das
lascas. Testes para verificação de diferenças estatisticamente significativas foram realizados e são
apresentados nas tabelas 7.309 e 7.311, considerando a normalidade da distribuição dos atributos
quantitativos (tabela 7.310).

Tabela 7.309 – Valores dos testes de significância entre três períodos de ocupação do sítio Garivaldino para
atributos não-métricos. Nível de significância = 0,05. Diferenças estatisticamente significantes marcadas em
negrito.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Matéria prima Chi quadrado 8,5166 0,014146 Significante
Cor Chi quadrado 8,5166 0,014146 Significante
Contorno do talão Chi quadrado 7,1563 0,127856 Não significante
Superfície do talão Chi quadrado 19,5287 0,000619 Significante
Cornija Chi quadrado 22,9762 0,000128 Significante
Proeminência do bulbo Chi quadrado 2,1299 0,344748 Não significante
Contorno da lasca Chi quadrado 2,6731 0,0006 Significante

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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Perfil da lasca Chi quadrado 11,0384 0,004009 Significante


Org. da face superior Chi quadrado 2,7051 0,258585 Não significante
Quantidade de córtex Chi quadrado 3,8095 0,148858 Não significante
Preparação do talão Chi quadrado 4,1636 0,124705 Não significante

Tabela 7.310 – Resultados do teste Shapiro-Wilk de normalidade para os três períodos de ocupação do sítio
Garivaldino para atributos métricos. Valores de significância menor que 0,05 são considerados não normais.
11.000 – 9000 cal AP 9000 – 8000 cal AP < 8000 cal AP
Atributos observados
Significância Distribuição Significância Distribuição Significância Distribuição
Massa 0,001 Não normal 0,000 Não normal 0,006 Não normal
Comprimento total 0,580 Normal 0,078 Normal 0,254 Normal
Largura máxima 0,212 Normal 0,660 Normal 0,534 Normal
Espessura máxima 0,004 Não normal 0,000 Não normal 0,003 Não normal
Largura do talão 0,506 Normal 0,011 Não normal 0,048 Não normal
Espessura do talão 0,003 Não normal 0,001 Não normal 0,001 Não normal
Ângulo talão / f. interna 0,082 Normal 0,308 Normal 0,187 Normal
N° de negativos 0,005 Não normal 0,023 Não normal 0,146 Normal

Tabela 7.311 - Valores dos testes de significância entre os três períodos de ocupação do sítio Garivaldino para
atributos métricos. Nível de significância = 0,05 (two-tailed).
Valor do
Atributo Teste Valor de p Significância
teste
Massa Kruskall-Wallis 18,082 < 0,001 Significante
Comprimento total Anova 2,01715 0,137839 Não significante
Largura máxima Anova 14,26051 < 0,00001 Significante
Espessura máxima Kruskall-Wallis 22,017 < 0,001 Significante
Largura do talão Kruskall-Wallis 1,176 0,555 Não significante
Espessura do talão Kruskall-Wallis 2,309 0,315 Não significante
Ângulo talão/face interna Anova 2,45238 0,09087 Não significante
N° de negativos Kruskall-Wallis 2,448 0,294 Não significante

Como esperado, as lascas apresentaram poucas diferenças significantes em atributos


métricos, morfológico e tecnológicos. No entanto, os testes não indicam se essas diferenças são
entre o primeiro e o segundo período, ou entre o segundo e o terceiro. Novos testes comparando
estes períodos mencionados foram realizados e os resultados são apresentados nas tabelas 7.312
até 7.315.

Tabela 7.312 – Valores dos testes de significância entre o primeiro e o segundo período de ocupação do sítio
Garivaldino para atributos não-métricos. Nível de significância = 0,05. Diferenças estatisticamente significantes
marcadas em negrito.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Matéria prima Chi quadrado 0,1374 0,710851 Não significante
Cor Chi quadrado 0,1374 0,710851 Não significante
Superfície do talão Chi quadrado 0,4565 0,795937 Não significante
Cornija Chi quadrado 15,3915 0,000455 Significante
Contorno da lasca Chi quadrado 9,2768 0,025829 Significante
Perfil da lasca Chi quadrado 0,741 0,389329 Não significante

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.313 - Valores dos testes de significância entre o primeiro e o segundo período de ocupação do sítio
Garivaldino para atributos métricos. Nível de significância = 0,05 (two-tailed). Nos casos de teste de Mann-
Whitney o valor apresentado é o valor de U.
Valor do
Atributo Teste Valor de p Significância
teste
Massa Dunn-Bonferroni -7,330 0,928 Não significante
Largura máxima Teste T -2,3741 0,020299 Significante
Espessura máxima Dunn-Bonferroni -12,337 0,193 Não significante

Tabela 7.314 – Valores dos testes de significância entre o segundo período e o terceiro período de ocupação do
sítio Garivaldino para atributos não-métricos. Nível de significância = 0,05. Diferenças estatisticamente
significantes marcadas em negrito.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Matéria prima Chi quadrado 4,9363 0,026298 Significante
Cor Chi quadrado 4,9363 0,026298 Significante
Superfície do talão Chi quadrado 4,1311 0,126751 Não significante
Cornija Chi quadrado 0,1188 0,730374 Não significante
Contorno da lasca Chi quadrado 6,9164 0,031486 Significante
Perfil da lasca Chi quadrado 10,3503 0,005655 Significante

Tabela 7.315 - Valores dos testes de significância entre o segundo período e o terceiro período de ocupação do
sítio Garivaldino para atributos métricos. Nível de significância = 0,05 (two-tailed).
Valor do
Atributo Teste Valor de p Significância
teste
Massa Dunn-Bonferroni -21,744 0,005 Significante
Largura máxima Teste T -3,25535 0,001647 Significante
Espessura máxima Dunn-Bonferroni -20,541 0,008 Significante

De acordo com os dados apresentados, a maioria das diferenças apontadas equivalem a


mudanças que ocorreram entre o segundo e o terceiro período de ocupação. É necessário entender
que o tamanho das lascas de façonagem não está diretamente ligado ao tamanho de todas as
pontas, uma vez que os métodos de façonagem, ou sequer a sua aplicação, são comuns para todas
as pontas. Portanto, é totalmente plausível que as pontas sofram alterações métricas em um
momento e a lascas em outro, considerando que a tecnologia pode mudar sem que as pontas se
alterem na sua dimensão final.

Com relação aos atributos qualitativos, a matéria prima e a cor estão diretamente ligados,
uma vez que o arenito é sempre vermelho e o basalto é sempre preto. Não é possível explicar essa
mudança relacionada ao aumento do basalto no terceiro período sem verificar os artefatos não
formais do sítio, uma vez que as pontas de basalto no terceiro período são raras. Já sobre os outros
atributos, o padrão das cornijas se altera entre o primeiro e o segundo período, o contorno das
lascas muda a cada período de ocupação, e o perfil muda apenas no terceiro período. Mas a
superfície do talão não apontou diferenças significativas nos novos testes realizados, indicando
que as mudanças foram graduais, a ponto de a diferença ser notada apenas se comparando o
primeiro e o terceiro períodos de ocupação.

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7.6. Definindo a indústria Rioclarense e suas pontas pedunculadas


Já foi verificado que as coleções de pontas do interior paulista cujas amostras são
pequenas seguem as tendências métricas, morfológicas e tecnológicas da coleção do sítio Alice
Boer e do sítio de Iracemápolis. Para confirmar que estas coleções são resultantes da mesma
indústria lítica, foi verificado se as duas coleções citadas são significativamente diferentes. As
tabelas 7.316 até 7.318. apresentam os resultados dos testes.

Tabela 7.316 – Valores dos testes de significância entre as pontas pedunculadas do sítio Alice Boer e das coleções
Dinan Rogério e Luis Carlos Claudio (Iracemápolis) para atributos não-métricos. Nível de significância = 0,05.
Diferenças significantes marcadas em negrito.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Matéria prima Chi quadrado 0,2606 0,609693 Não significante
Contorno do corpo Chi quadrado 0,2857 0,593014 Não significante
Delineamento dos gumes Chi quadrado 1,4416 0,229882 Não significante
Contorno das aletas Chi quadrado 2,049 0,152309 Não significante
Delineamento do pescoço Chi quadrado 7,7627 0,020623 Significante
Contorno do pedúnculo Chi quadrado 3,4965 0,061498 Não significante
Seção do corpo Chi quadrado 5,7397 0,016585 Significante
Seção do pedúnculo Chi quadrado 6,5249 0,010638 Significante
Suporte Chi quadrado 3,0537 0,080553 Não significante
Método de façonagem Chi quadrado 0,3381 0,560952 Não significante
Técnica de façonagem Chi quadrado 1,3073 0,520134 Não significante
Método de retoque Chi quadrado 1,4368 0,487538 Não significante
Técnica de retoque Chi quadrado 1,1327 0,287195 Não significante
Org. negativos do corpo Chi quadrado 9,4285 0,008967 Significante
Org. neg. do pedúnculo Chi quadrado 9,0734 0,002594 Significante

Tabela 7.317 – Resultados do teste Shapiro-Wilk de normalidade para as pontas do sítio Alice Boer e das coleções
Dinan Rogério e Luis Carlos Claudio (Iracemápolis) para atributos métricos. Valores de significância menor
que 0,05 são considerados não normais.
Alice Boer Iracemápolis
Atributos observados
Significância Distribuição Significância Distribuição
Massa 0,006 Não normal 0,002 Não normal
Comprimento total 0,173 Normal 0,024 Não normal
Largura máxima 0,423 Normal 0,009 Não normal
Espessura máxima 0,008 Não normal 0,001 Não normal
Prop. Largura/Espessura 0,733 Normal 0,296 Normal
Comprimento do corpo 0,030 Não normal 0,316 Normal
Comp. do pedúnculo 0,083 Normal 0,000 Não normal
Comprimento dos gumes 0,197 Normal 0,272 Normal
Largura das aletas 0,482 Normal 0,009 Não normal
Largura do pescoço 0,454 Normal 0,129 Normal
Largura do pedúnculo 0,498 Normal 0,015 Não normal
Espessura do corpo 0,076 Normal 0,006 Não normal
Espessura do pescoço 0,010 Não normal 0,001 Não normal
Espessura do pedúnculo 0,024 Não normal 0,024 Não normal
Ângulo médio dos gumes 0,036 Não normal 0,091 Normal

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Tabela 7.318 - Valores dos testes de significância as pontas pedunculadas do sítio Alice Boer e das coleções Dinan
Rogério e Luis Carlos Claudio (Iracemápolis) para atributos métricos. Nível de significância = 0,05 (two-tailed).
Valor do teste apresentado é o valor crítico de U, no caso dos testes Mann-Whitney.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Massa Mann-Whitney 234,5 0,00398 Significante
Comprimento total Mann-Whitney 237,5 0,00054 Significante
Largura máxima Mann-Whitney 437 0,0007 Significante
Espessura máxima Mann-Whitney 630 0,1902 Não significante
Prop. Largura/Espessura Teste T 3,15225 0,002201 Significante
Comprimento do corpo Mann-Whitney 431,5 0,05 Não significante
Comp. do pedúnculo Mann-Whitney 358,5 0,00138 Significante
Comprimento dos gumes Teste T 2,54159 0,013018 Significante
Largura das aletas Mann-Whitney 421 0,0005 Significante
Largura do pescoço Teste T 2,65473 0,009307 Significante
Largura do pedúnculo Mann-Whitney 342 0,00014 Significante
Espessura do corpo Mann-Whitney 639,5 0,32708 Não significante
Espessura do pescoço Mann-Whitney 594,5 0,11876 Não significante
Espessura do pedúnculo Mann-Whitney 391,5 0,00188 Significante
Ângulo médio dos gumes Mann-Whitney 756 0,4965 Não significante

Com relação à morfologia, três atributos apresentaram diferenças significantes. O


primeiro deles foi o delineamento do pescoço. Enquanto as pontas do sítio Alice Boer tendem a
ter apenas pescoços obtusos, as pontas de Iracemápolis também têm uma frequência alta de
pescoços retos, além dos obtusos. Os outros dois atributos estão relacionados à seção transversal
do corpo e do pedúnculo. Em ambas as amostras a seção elíptica é a única grande tendência tanto
no corpo quanto no pedúnculo, ainda que as frequências de Iracemápolis sejam menores.

Com relação à tecnologia, os únicos atributos com diferenças significantes são a


organização dos negativos do corpo e do pedúnculo. Enquanto as ponta do sítio Alice Boer
tendem a ter em seu corpo negativos largos e seletivos ou (em menor frequência) negativos
paralelos com uma nervura vertical, nas pontas de Iracemápolis a única grande tendência ao
corpos formado por negativos paralelos com uma nervura central. Praticamente a mesma situação
acontece com os pedúnculos. As pontas do Alice Boer têm pedúnculos formados,
majoritariamente, por negativos paralelos com uma nervura vertical ou (em uma frequência
menor) por negativos convergentes, enquanto em Iracemápolis os negativos paralelos com uma
nervura vertical também são a única grande tendência.

Tanto os atributos morfológicos quanto os tecnológicos, possuem basicamente as mesmas


categorias, sendo que as únicas diferenças significativa estão relacionadas à frequência. Já os
dados relativos aos atributos métricos apontam algumas diferenças significantes. De um modo
geral, as pontas de Iracemápolis são mais largas que as do Alice Boer. E apesar do comprimento
do corpo não ser muito diferente, a diferença da largura é suficiente para causar uma diferença
também no comprimento dos gumes, na proporção entre a largura e a espessura, e na massa. Os
pedúnculos também são mais compridos, largos e espessos que os do sítio Alice Boer, tornado a

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ponta mais comprida de modo geral. Mas é interessante notar que, apesar da diferença na largura
total, a diferença na largura das aletas não chega a ser significante. Ou seja, as únicas diferenças
métricas realmente significantes estão relacionadas aos pedúnculos que são, em média, 3 mm
mais compridos, 2 mm mais largos e 1 mm mais espessos na região de Iracemápolis em relação
ao sítio Alice Boer. Uma hipótese para essa diferença métrica do pedúnculo pode estar relacionada
ao material que era utilizado como cabo para flechas, lanças, ou dardos em cada local,
considerando que as fontes de matéria prima dos cabos podem ser diferentes plantas. Obviamente,
isto é apenas uma possibilidade. De qualquer forma, é notável que ao tratar desta duas coleções
de pontas, assim como aquelas do sítio Caetetuba, do sítio Santa Cruz e da coleção André Coelho,
estamos tratando de pontas extremamente similares resultante de uma mesma indústria lítica de
pontas pedunculadas, além da produção eventual de lesmas. Para descrever o padrão cultural das
pontas pedunculadas destas indústria foram somados os dados de todas as pontas do interior
paulista e a estatística descritiva é apresentada nas tabelas 7.139 até 7.134.

Tabela 7.319 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas em pontas pedunculadas do sítio
Alice Boer, coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio (Iracemápolis), sítio Santa Cruz, coleção André
Coelho (Porangaba) e sítio Caetetuba.
Matéria Prima n %
Sílex 95 87,2
Quartzo leitoso 9 8,3
Quartzo Hialino 3 2,8
Quartzito 2 1,8
Total 109 100

Tabela 7.320 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas pedunculadas do sítio Alice Boer,
coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio (Iracemápolis), sítio Santa Cruz, coleção André Coelho
(Porangaba) e sítio Caetetuba.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa (g) 71 1 9 3,7 1,8
Comprimento Total (mm) 79 25 65 39 10
Largura máxima (mm) 106 13 50 23 6
Espessura máxima (mm) 104 4 10 6 1
Proporção Largura/Espessura (x/1) 99 1,8 5,8 3,6 0,8
Comprimento do Corpo (mm) 86 13 43 25 7
Comprimento do Pedúnculo (mm) 98 7 31 16 5
Comprimento dos Gumes (mm) 85 15 50 26 7
Largura das Aletas (mm) 105 13 50 22 6
Largura do Pescoço (mm) 107 7 20 13 3
Largura do Pedúnculo (mm) 99 7 19 12 3
Espessura do Corpo (mm) 102 2 9 5 1
Espessura do Pescoço (mm) 103 4 10 6 1
Espessura do Pedúnculo (mm) 98 2 9 5 1
Ângulo Médio dos Gumes (graus) 108 30 75 52 10

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.321 – Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do corpo em pontas
pedunculadas do sítio Alice Boer, coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio (Iracemápolis), sítio Santa
Cruz, coleção André Coelho (Porangaba) e sítio Caetetuba.
Variáveis n %
Triangular 98 89,9
Indefinido 8 7,4
Afunilado 1 0,9
Espadas 1 0,9
Lâmino-triangular 1 0,9
Total 109 100

Tabela 7.322 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento dos gumes em
pontas pedunculadas do sítio Alice Boer, coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio (Iracemápolis), sítio
Santa Cruz, coleção André Coelho (Porangaba) e sítio Caetetuba.
Variáveis n %
Retilíneo 83 76,2
Indefinido 10 9,2
Côncavo 6 5,5
Convexo 4 3,7
Irregular 4 3,7
Sinuoso 2 1,8
Total 109 100

Tabela 7.323 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno das aletas em pontas
pedunculadas do sítio Alice Boer, coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio (Iracemápolis), sítio Santa
Cruz, coleção André Coelho (Porangaba) e sítio Caetetuba.
Variáveis n %
Retilíneo 83 76,2
Expandidas 17 15,6
Indefinido 5 4,6
Incurvada 3 2,8
Excurvada 1 0,9
Total 109 100

Tabela 7.324 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento do pescoço em


pontas pedunculadas do sítio Alice Boer, coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio (Iracemápolis), sítio
Santa Cruz, coleção André Coelho (Porangaba) e sítio Caetetuba.
Variáveis n %
Obtuso 55 50,5
Reto 37 33,9
Agudo 14 12,8
Indefinido 2 1,8
Total 109 100

Tabela 7.325 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do pedúnculo em


pontas do sítio Alice Boer, coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio (Iracemápolis), sítio Santa Cruz,
coleção André Coelho (Porangaba) e sítio Caetetuba.
Variáveis n %
Ovalado 99 90,8
Indefinido 7 6,4
Convexo 1 0,9
Forma de 8 1 0,9
Quadrangular 1 0,9
Total 109 100
Tabela 7.326 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do corpo em pontas do sítio
Alice Boer, coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio (Iracemápolis), sítio Santa Cruz, coleção André Coelho
(Porangaba) e sítio Caetetuba.
Variáveis n %
Elíptica 62 56,7

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Plano-convexa 14 12,8
Romboide 11 10,1
Achatado 11 10,1
Losangular 7 6,4
Indefinido 3 2,8
Circular 1 0,9
Total 109 100

Tabela 7.327 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do pedúnculo em pontas
pedunculadas do sítio Alice Boer, coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio (Iracemápolis), sítio Santa
Cruz, coleção André Coelho (Porangaba) e sítio Caetetuba.
Variáveis n %
Elíptica 72 66,1
Losangular 9 8,3
Achatado 7 6,4
Circular 6 5,5
Plano-convexa 7 6,4
Indefinido 1 0,9
Total 109 100

Tabela 7.328 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de suporte em pontas pedunculadas
do sítio Alice Boer, coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio (Iracemápolis), sítio Santa Cruz, coleção
André Coelho (Porangaba) e sítio Caetetuba.
Variáveis n %
Indefinido 76 69,7
Lasca 24 22,0
Natural 9 8,3
Total 109 100

Tabela 7.329 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de façonagem em pontas
pedunculadas do sítio Alice Boer, coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio (Iracemápolis), sítio Santa
Cruz, coleção André Coelho (Porangaba) e sítio Caetetuba.
Variáveis n %
Bifacial 102 93,6
Unifacial 3 2,8
Ausente 2 1,8
Alterno à direita 1 0,9
Apenas no ápice 1 0,9
Total 109 100

Tabela 7.330 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de façonagem em pontas
pedunculadas do sítio Alice Boer, coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio (Iracemápolis), sítio Santa
Cruz, coleção André Coelho (Porangaba) e sítio Caetetuba.
Variáveis n %
Apenas percussão 57 52,3
Apenas pressão 41 37,6
Percussão + Pressão 8 7,3
Ausente 2 1,8
Indefinido 1 0,9
Total 109 100
Tabela 7.331 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de retoque em pontas
pedunculadas do sítio Alice Boer, coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio (Iracemápolis), sítio Santa
Cruz, coleção André Coelho (Porangaba) e sítio Caetetuba.
Variáveis n %
Ausente 48 44,0

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Bifacial 41 37,6
Alterno à direita 17 15,6
Unifacial 2 1,8
Indefinido 1 0,9
Total 109 100

Tabela 7.332 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de retoque em pontas do sítio
Alice Boer, coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio (Iracemápolis), sítio Santa Cruz, coleção André Coelho
(Porangaba) e sítio Caetetuba.
Variáveis n %
Apenas pressão 60 56,9
Ausente 48 42,2
Apenas percussão 1 0,9
Total 109 100

Tabela 7.333 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos de façonagem
do corpo das pontas pedunculadas do sítio Alice Boer, coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio
(Iracemápolis), sítio Santa Cruz, coleção André Coelho (Porangaba) e sítio Caetetuba.
Variáveis n %
Paralelos c/ uma nervura vertical 68 62,4
Largos e seletivos 33 30,3
Convergentes 4 3,7
Apenas bordos retocados 2 1,8
Indefinido 1 0,9
Ausentes 1 0,9
Total 109 100

Tabela 7.334 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos de façonagem
do pedúnculo em pontas pedunculadas do sítio Alice Boer, coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio
(Iracemápolis), sítio Santa Cruz, coleção André Coelho (Porangaba) e sítio Caetetuba.
Variáveis n %
Paralelos c/ uma nervura vertical 81 74,3
Indefinido 10 9,2
Convergentes 9 8,3
Largos e seletivos 7 6,4
Ausentes 1 0,9
Bordos retocados 1 0,9
Total 109 100

É sugerida a denominação indústria lítica Rioclarense para essa cultura arqueológica


identificada na região central do estado de São Paulo. Este denominação se dá não só pela região
onde a indústria parece estar concentrada, mas também é a denominação da Tradição
Arqueológica que T. Miller Jr. (1969) originalmente sugeriu para a Tradição Arqueológica dos
sítios da região, incluindo o sítio Alice Boer. Não é possível associar sítios que apresentam apenas
lesmas a esta indústria, uma vez que as lesmas são mais comumente associadas à indústria
Itaparica. Mas as pontas pedunculadas podem ser tomadas como a classe de cultura material mais
representativa da cultura arqueológica Rioclarense, desde que o padrão de atributos e variáveis
apresentado pela tabela 7.335 seja identificado. E as lascas de façonagem complementarão os

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

dados apresentados pelas pontas, ou então podem elas mesmas serem a classe representativa desta
indústria na ausência das pontas.

Tabela 7.335 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 25%) em pontas pedunculadas
do sítio Alice Boer, coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio (Iracemápolis), sítio Santa Cruz, coleção
André Coelho (Porangaba) e sítio Caetetuba. A amplitude considerada para os valores foi o desvio padrão.
Valores de tendência central e
Atributos observados
variáveis mais frequentes
Matéria prima Sílex (87 %)
Massa 1,9 – 5,5 g
Comprimento total 29 – 49 mm
Largura máxima 17 – 29 mm
Espessura máxima 5 – 7 mm
Proporção Largura/Espessura 2,8 – 4,4 /1
Comprimento do corpo 18 – 32 mm
Comprimento do pedúnculo 11 – 21 mm
Comprimento médio dos gumes 19 – 33 mm
Largura das aletas 16 – 28 mm
Largura do pescoço 10 – 16 mm
Largura do pedúnculo 9 – 15 mm
Espessura do corpo 4 – 6 mm
Espessura do pescoço 5 – 7 mm
Espessura do pedúnculo 4 – 6 mm
Ângulo médio dos gumes 42 – 62 º
Contorno do corpo Triangular (90 %)
Delineamento dos gumes Retilíneo (76 %)
Contorno das aletas Retilíneo (69 %)
Obtuso (50 %)
Delineamento do pescoço
Reto (34 %)
Contorno do pedúnculo Ovalado (90 %)
Seção do corpo Elíptica (57 %)
Seção do pedúnculo Elíptica (66 %)
Suporte Indefinido (70 %)
Método de façonagem Bifacial (94 %)
Apenas percussão (52 %)
Técnica de façonagem
Apenas pressão (38 %)
Ausente (44 %)
Método de retoque
Bifacial (38 %)
Apenas pressão (55 %)
Técnica de retoque
Ausente (44 %)
Organização dos negativos e Paralelos c/ uma nervura central (62 %)
façonagem do corpo Largos e seletivos (30 %)
Organização dos negativos do
Paralelos c/ uma nervura central (74 %)
pedúnculo

7.7. Definindo as pontas Garivaldinenses


Já foi verificado que tanto as pontas pedunculadas quanto as apedunculadas do sítio
Garivaldino apresentam mudanças ao longo do Holoceno, e que estas mudanças ocorrem em
diferentes momentos. Apesar das mudanças, as pontas mais antigas ainda são bastante similares
com as mais recentes, sendo que as diferenças mais significantes estão relacionadas aos atributos
métricos. Sendo assim, os dados de todas as pontas pedunculadas do sítio Garivaldino foram

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

somadas a fim de proporcionar valores de tendência para aquilo que denominamos como ponta
Garivaldinense. As tabelas 7.336 até 7.351 apresentam os resultados da estatística descritiva desta
análise.

Tabela 7.336 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas em pontas Garivaldinenses do sítio
Garivaldino.
Matéria Prima n %
Arenito Silicificado 141 63,2
Ágata 61 27,5
Basalto 11 5,0
Sílex 5 2,3
Quartzo Leitoso 3 1,4
Quartzo Hialino 1 0,5
Total 222 100

Tabela 7.337 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas Garivaldinenses do sítio
Garivaldino.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa (g) 196 0,6 11,7 4,4 2,5
Comprimento Total (mm) 194 14 58 35 9
Largura máxima (mm) 214 8 30 19 5
Espessura máxima (mm) 208 3 12 7 2
Proporção Largura/Espessura (x/1) 200 1,0 4,0 2,6 0,5
Comprimento do Corpo (mm) 198 2 49 23 8
Comprimento do Pedúnculo (mm) 212 5 20 12 3
Comprimento dos Gumes (mm) 198 11 50 24 8
Largura das Aletas (mm) 220 8 34 19 5
Largura do Pescoço (mm) 220 4 20 12 3
Largura do Pedúnculo (mm) 216 5 21 13 3
Espessura do Corpo (mm) 200 2 10 6 2
Espessura do Pescoço (mm) 209 2 10 7 1
Espessura do Pedúnculo (mm) 209 2 10 5 1
Ângulo Médio dos Gumes (graus) 212 40 85 61 10

Tabela 7.338 – Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do corpo em pontas
Garivaldinenses do sítio Garivaldino.
Variáveis n %
Triangular 166 74,8
Indefinida 15 6,8
Lanceolada 15 6,8
Lamino-triangular 8 3,6
Espadas 5 2,3
Circular 5 2,3
Semilunar 5 2.3
Afunilado 3 1,4
Total 222 100

Tabela 7.339 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento dos gumes em
pontas Garivaldinenses do sítio Garivaldino.
Variáveis n %
Irregulares 77 39,2
Retilíneo 64 28,8
Convexo 39 17,6
Indefinido 27 12,2
Côncavo 15 6,8

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Total 222 100

Tabela 7.340 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno das aletas em pontas
Garivaldinenses do sítio Garivaldino.
Variáveis n %
Retilíneo 215 96,8
Expandida 6 2,7
Indefinida 1 0,5
Total 222 100

Tabela 7.341 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento do pescoço em


pontas Garivaldinenses do sítio Garivaldino.
Variáveis n %
Obtuso 194 87,4
Reto 27 12,2
Aguda 1 0,5
Total 222 100

Tabela 7.342 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do pedúnculo em


pontas Garivaldinenses do sítio Garivaldino.
Variáveis n %
Reto 84 37,8
Bifurcada 60 27,0
Convexo 52 23,4
Indefinido 12 5,4
Circular 9 4,1
Ovalado 5 2,3
Total 222 100

Tabela 7.343 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do corpo em pontas
Garivaldinenses do sítio Garivaldino.
Variáveis n %
Elíptica 96 43,2
Plano-Convexa 69 31,1
Romboide 31 14,0
Circular 7 3,2
Achatada 7 3,2
Indefinido 4 1,8
Losangular 3 1,4
Reapropriada 3 1,4
Meia Lua 2 0,9
Total 222 100

Tabela 7.344 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do pedúnculo em pontas
pedunculadas Garivaldinenses do sítio Garivaldino.
Variáveis n %
Elíptica 143 64,4
Plano-Convexa 46 20,7
Romboide 10 4,5
Bielíptica 7 3,2
Meia lua 5 2,3
Indefinido 4 1,8
Achatada 3 1,4
Circular 3 1,4
Triangulo-retangular 1 0,5

293
MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Total 222 100

Tabela 7.345 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de suporte em pontas Garivaldinenses
do sítio Garivaldino.
Variáveis n %
Lasca 145 65,3
Indefinido 77 34,7
Total 222 100

Tabela 7.346 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de façonagem em pontas
Garivaldinenses do sítio Garivaldino.
Variáveis n %
Bifacial 121 54,5
Ausente 65 29,3
Unifacial 34 15,3
Indefinido 2 0,9
Total 222 100

Tabela 7.347 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de façonagem em pontas
Garivaldinenses do sítio Garivaldino.
Variáveis n %
Percussão 70 31,5
Ausente 64 28,8
Pressão 54 24,3
Percussão + Pressão 32 14,4
Indefinido 2 1,0
Total 222 100

Tabela 7.348 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de retoque em pontas
Garivaldinenses do sítio Garivaldino.
Variáveis n %
Bifacial 131 59,0
Ausente 37 16,7
Alterno à esquerda 34 15,3
Unifacial 18 8,1
Alterno à direita 1 0,5
Indefinido 1 0,5
Total 222 100

Tabela 7.349 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de retoque em pontas
Garivaldinenses do sítio Garivaldino.
Variáveis n %
Pressão 183 82,4
Ausente 34 15,3
Indefinido 3 1,4
Percussão + Pressão 2 0,9
Total 222 100

Tabela 7.350 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos de façonagem
do corpo das pontas Garivaldinenses do sítio Garivaldino.
Variáveis n %
Bordos retocados 67 30,2
Largos e seletivos 62 27,9

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Convergentes 55 24,8
Paralelos 32 14,4
Indefinido 6 2,7
Total 222 100

Tabela 7.351 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos de façonagem
do pedúnculo em pontas Garivaldinenses do sítio Garivaldino.
Variáveis n %
Bordos retocados 149 67,2
Seletivos Convergentes 41 18,5
Acanelada unifacialmente + bordos retocados 25 11,3
Acanelada bifacialmente 3 1,4
Indefinido 1 0,5
Acanelada bifacialmente +bordos retocados 1 0,5
Acanelada unifacialmente 1 0,5
Não lascado 1 0,5
Total 222 100

A tabela 7.352 apresentam os atributos comuns das pontas pedunculadas Garivaldinenses.


Tabela 7.352 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 25%) em pontas
Garivaldinenses do sítio Garivaldino. A amplitude considerada para os valores foi o desvio padrão.
Valores de tendência central e
Atributos observados
variáveis mais frequentes
Arenito silic. (63 %)
Matéria prima
Ágata (28 %)
Massa 1,9 – 6,9 g
Comprimento total 26 – 44 mm
Largura máxima 14 – 24 mm
Espessura máxima 5 – 9 mm
Proporção Largura/Espessura 2,1 – 3,1 / 1
Comprimento do corpo 15 – 31 mm
Comprimento do pedúnculo 9 – 15 mm
Comprimento médio dos gumes 16 – 32 mm
Largura das aletas 14 – 24 mm
Largura do pescoço 9 – 15 mm
Largura do pedúnculo 10 – 16 mm
Espessura do corpo 4 – 8 mm
Espessura do pescoço 6 – 8 mm
Espessura do pedúnculo 4 – 6 mm
Ângulo médio dos gumes 51 – 71º
Contorno do corpo Triangular (75 %)
Irregulares (39 %)
Delineamento dos gumes
Retilíneo (29 %)
Contorno das aletas Retilíneo (97 %)
Delineamento do pescoço Obtuso (87 %)
Reto (38 %)
Contorno do pedúnculo Bifurcada (27 %)
Convexo (23 %)
Elíptica (43 %)
Seção do corpo
Plano-convexa (31 %)
Elíptica (64 %)
Seção do pedúnculo
Plano-convexa (31 %)
Lasca (65 %)
Suporte
Indefinido (35 %)
Método de façonagem Bifacial (54 %)

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Ausente (29 %)
Pressão (32 %)
Técnica de façonagem Ausente (28 %)
Percussão (24 %)
Método de retoque Bifacial (59 %)
Técnica de retoque Pressão (82 %)
Bordos retocados (30 %)
Organização dos negativos e
Largos e seletivos (28 %)
façonagem do corpo
Seletivos convergentes (25 %)
Org. negativos do pedúnculo Bordos retocados (67 %)

7.8. Definindo as pontas Montenegro


Apenas 17 pontas foram classificadas como tipo Montenegro na coleção do sítio
Garivaldino. As tabelas 7.353 até Y apresentam os resultados da estatística descritiva.

Tabela 7.353 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas em pontas Montenegro do sítio
Garivaldino.
Matérias primas n %
Arenito Silicificado 9 52,9
Basalto 3 17,6
Ágata 2 11,8
Sílex 2 11,8
Quartzo hialino 1 5,9
Total 17 100

Tabela 7.354 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do corpo em pontas
Garivaldinenses do sítio Garivaldino.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa (g) 12 0,7 2,9 1,5 0,8
Comprimento Total (mm) 11 17 43 28 8
Largura máxima (mm) 17 8 18 13 3
Espessura máxima (mm) 15 4 7 6 1
Proporção Largura/Espessura (x/1) 14 1,7 2,6 2,3 0,2
Comprimento do Corpo (mm) 11 11 35 20 8
Comprimento do Pedúnculo (mm) 16 6 12 8 2
Comprimento dos Gumes (mm) 11 11 36 21 8
Largura das Aletas (mm) 17 8 18 13 3
Largura do Pescoço (mm) 17 7 10 8 1
Largura do Pedúnculo (mm) 16 6 10 9 1
Espessura do Corpo (mm) 14 3 6 5 1
Espessura do Pescoço (mm) 16 4 7 6 1
Espessura do Pedúnculo (mm) 16 2 5 4 1
Ângulo Médio dos Gumes (graus) 17 55 70 64 4

Tabela 7.355– Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do corpo em pontas
Montenegro do sítio Garivaldino
Variáveis n %
Triangulo-laminar 12 70,6
Triangular 5 29,4
Total 17 100

296
MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.356 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento dos gumes em
pontas Montenegro do sítio Garivaldino.
Variáveis n %
Irregulares-serrilhados 9 52,9
Retilíneos-serrilhados 4 23,5
Indefinido 3 17,6
Côncavo-serrilhado 1 5,9
Total 17 100

Tabela 7.357 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno das aletas em pontas
Montenegro do sítio Garivaldino.
Variáveis n %
Retilíneo 17 100
Total 17 100

Tabela 7.358 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento do pescoço em pontas
Montenegro do sítio Garivaldino.
Variáveis n %
Obtuso 12 70,6
Retilíneo 5 29,4
Total 17 100

Tabela 7.359 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do pedúnculo em pontas
Montenegro do sítio Garivaldino.
Variáveis n %
Bifurcado 15 88,2
Indefinido 2 11,8
Total 17 100

Tabela 7.360 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do corpo em pontas
Montenegro do sítio Garivaldino.
Variáveis n %
Circular 7 41,2
Plano-Convexo 5 29,4
Elíptico 4 23,5
Indefinido 1 5,9
Total 17 100

Tabela 7.361 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do pedúnculo em pontas
Montenegro do sítio Garivaldino.
Variáveis n %
Elíptico 11 64,7
Bielíptico 5 29,4
Indefinido 1 5,9
Total 17 100

Tabela 7.362 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de suporte em pontas pedunculadas do
sítio Garivaldino.
Variáveis n %
Indefinido 15 88,2
Lasca 2 11,8
Total 17 100

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.363 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de façonagem em pontas
Montenegro do sítio Garivaldino.
Variáveis n %
Bifacial 17 100,0
Total 17 100

Tabela 7.364 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de façonagem em pontas
Montenegro do sítio Garivaldino.
Variáveis n %
Pressão 17 100,0
Total 17 100

Tabela 7.365 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de retoque em pontas
Montenegro do sítio Garivaldino.
Variáveis n %
Ausente 17 100,0
Total 17 100

Tabela 7.366 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de retoque em pontas
Montenegro do sítio Garivaldino.
Variáveis n %
Ausente 17 100,0
Total 17 100

Tabela 7.367 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos de
façonagem do corpo das pontas Montenegro do sítio Garivaldino.
Variáveis n %
Paralelos formando uma nervura central 17 100,0
Total 17 100

Tabela 7.368 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos de
façonagem do pedúnculo em pontas pedunculadas do sítio Garivaldino.
Variáveis n %
Bordos retocados 11 64,7
Acanaladura unifacial 3 17,6
Convergente 1 5,9
Acanaladura unifacial + retoque unifacial 1 5,9
Indefinido 1 5,9
Total 17 100

A tabela 7.369 apresenta os principais atributos das pontas Montenegro encontradas no


sítio Garivaldino.

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.369 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do corpo em pontas
Montenegro do sítio Garivaldino.
Valores de tendência central e variáveis mais
Atributos observados
frequentes
Matéria prima Arenito silicificado (53%)
Massa 0,7 – 2,3 g
Comprimento total 20 – 36 mm
Largura máxima 10 – 16 mm
Espessura máxima 5 – 7 mm
Proporção Largura/Espessura 2,1 – 2,5 /1
Comprimento do corpo 12 – 28 mm
Comprimento do pedúnculo 6 – 10 mm
Comprimento médio dos gumes 13 – 29 mm
Largura das aletas 10 – 16 mm
Largura do pescoço 7 – 9 mm
Largura do pedúnculo 8 – 10 mm
Espessura do corpo 4 – 6 mm
Espessura do pescoço 5 – 7 mm
Espessura do pedúnculo 3 – 5 mm
Ângulo médio dos gumes 60 – 68º
Triângulo-laminar (71%)
Contorno do corpo
Triângulo (29%)
Irregular (53%)
Delineamento dos gumes
Retilíneo (24%)
Contorno das aletas Retilíneo (100%)
Obtuso (71%)
Delineamento do pescoço
Retilíneo (29%)
Contorno do pedúnculo Bifurcado (88%)
Circular (41%)
Seção do corpo Plano-convexo (29%)
Elíptico (24%)
Elíptico (65%)
Seção do pedúnculo
Bielíptico (29%)
Suporte Indefinida (88%)
Método de façonagem Bifacial (100%)
Técnica de façonagem Apenas pressão (100%)
Método de retoque Ausente (100%)
Técnica de retoque Ausente (100%)
Organização dos negativos e
Paralelos formando uma nervura central (100%)
façonagem do corpo
Org. negativos do pedúnculo Bordos retocado (65%)

7.9. Comparando as pontas Rioclarenses, Estrela e Garivaldinenses


Até aqui os dados apresentados parecem apontar para três indústrias diferentes. A
primeiras seria uma que parece ter durado desde o Holoceno Inicial até, pelo menos, o Holoceno
Médio no atual centro paulista. Esta indústria produzia lesmas e pontas pedunculadas bifaciais de
pedúnculo ovalado. Não é possível realizar uma boa comparação das lesmas em termos
estatísticos, já que as amostras são pequenas em todas as coleções. A segunda indústria seria uma
indústria no leste paranaense que durou apenas até o Holoceno Inicial, antes de ser substituída
por outra. Aí teríamos pequenas pontas bifaciais com pedúnculos bifurcados, debitagem laminar
e lêsminas. Por fim, a terceira seria uma indústria de pontas pedunculadas e a apedunculadas com

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

uma pequena variedade de formas e métodos de produção. Mas testes estatísticos podem auxiliar
a fortalecer esta conclusão. As pontas Brochier não foram comparadas estatisticamente com as
demais, uma vez que são o único tipo de ponta apedunculada identificado. As pontas Montenegro
também foram mantidas de fora da comparação, uma vez que o tamanho da amostra foi
considerado muito pequeno para comparar com os demais tipos de pontas pedunculadas –
considerando neste caso que as pontas Garivaldinenses representam o tipo principal da indústria
homônima.

A ausência e presença de certos artefatos e núcleos em cada coleção por si só já indica


que estas indústrias líticas são culturalmente diferentes. Mas o único meio de compara-las
tecnologicamente é a partir de uma classe de artefato lítico comum em todas as coleções. Neste
caso, as pontas pedunculadas. Como base para comparação, a tabela 7.370 apresenta os valores
de tendência para cada atributo métrico, morfológico e tecnológico já apresentados para os grupos
de pontas já identificados nesta pesquisa.

Tabela 7.370 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 25%) em pontas Rioclarenses,
pontas Estrela, e pontas Garivaldinenses estudadas neste projeto. * Neste caso estão apresentados os valores de
frequência superior a 20 %, devido a variabilidade.
Valores de tendência central e variáveis mais frequentes
Atributos
Rioclarenses Estrela Garivaldinenses
Arenito silic. (63 %)
Matéria prima Sílex (87 %) Sílex (95 %)
Ágata (28 %)
Massa 1,9 – 5,5 g 1 – 2,6 g 1,9 – 6,9 g
Comprimento total 29 – 49 mm 21 – 36 mm 26 – 44 mm
Largura máxima 17 – 29 mm 14 – 24 mm 14 – 24 mm
Espessura máxima 5 – 7 mm 4 – 6 mm 5 – 9 mm
Proporção
2,8 – 4,4 /1 2,5 – 4,5 /1 2,1 – 3,1 / 1
Largura/Espessura
Comprimento do corpo 18 – 32 mm 12 – 24 mm 15 – 31 mm
Comp. do pedúnculo 11 – 21 mm 8 – 12 mm 9 – 15 mm
Comp. dos gumes 19 – 33 mm 14 – 28 mm 16 – 32 mm
Largura das aletas 16 – 28 mm 14 – 26 mm 14 – 24 mm
Largura do pescoço 10 – 16 mm 8 – 12 mm 9 – 15 mm
Largura do pedúnculo 9 – 15 mm 10 – 14 mm 10 – 16 mm
Espessura do corpo 4 – 6 mm 3 – 5 mm 4 – 8 mm
Espessura do pescoço 5 – 7 mm 4 – 6 mm 6 – 8 mm
Espessura do pedúnculo 4 – 6 mm 3 – 5 mm 4 – 6 mm
Ângulo mé. dos gumes 42 – 62 º 42 – 54 º 51 – 71º
Contorno do corpo Triangular (90 %) Triangular (92 %) Triangular (75 %)
Côncavo (38 %) Irregulares (39 %)
Delin. dos gumes Retilíneo (72 %)
Retilíneo (36 %) Retilíneo (29 %)
Retilíneo (72 %)
Contorno das aletas Retilíneo (66 %) Retilíneo (97 %)
Expandido (28 %)
Obtuso (50 %)
Delin. do pescoço Obtuso (80 %) Obtuso (87 %)
Reto (34 %)
Reto (38 %)
Contorno do pedúnculo Ovalado (90 %) Bifurcado (72 %) Bifurcada (27 %)
Convexo (23 %)
Elíptica (43 %)
Seção do corpo Elíptica (57 %) Elíptica (90 %)
Plano-convexa (31 %)

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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Bielíptica (57 %) Elíptica (64 %)


Seção do pedúnculo Elíptica (66 %)
Elíptica (36 %) Plano-convexa (31 %)
Indefinido (67 %) Lasca (65 %)
Suporte Indefinido (70 %)
Lasca (33 %) Indefinido (35 %)
Bifacial (54 %)
Método de façonagem Bifacial (94 %) Bifacial (85 %)
Ausente (29 %)
Pressão (32 %)
Percussão (52 %)
Técnica de façonagem Pressão (77 %) Ausente (28 %)
Pressão (38 %)
Percussão (24 %)
Ausente (44 %)
Método de retoque Ausente (80 %) Bifacial (59 %)
Bifacial (38 %)
Pressão (55 %)
Técnica de retoque Ausente (80 %) Pressão (82 %)
Ausente (44 %)
Bordos retocados (30 %)
Organização dos Paral. c/ nerv. (62 %)
Sel. converg. (82 %) Largos e seletivos (28 %)
negativos do corpo Largos e sel. (30 %)
Seletivos convergentes (25 %)
Organização dos
Paral. c/ nerv. (62 %) Sel. converg. (95 %) Bordos retocados (67 %)
negativos do pedúnculo

O único atributo natural apresentado é a matéria prima. A cor é desconsiderada, uma vez
que as cores identificadas nas pontas de todas as coleções não parecem ter feito diferença na
escolha das matérias primas, sendo que as cores mais frequentes nas pontas são simplesmente as
mais frequentes nas rochas locais (exceto talvez, no caso da coleção Tunas, uma vez que não
foram identificadas fontes de sílex na região). Percebe-se que poucos são os atributos que
possuem valores de tendência similares entre as três ou entre quaisquer duas categorias de pontas.

Apesar da clara diferença entre as três indústrias de pontas, testes estatísticos foram
realizados a fim de confirmar que a maioria dos atributos apresentam diferenças significantes.
Foram realizadas três séries de testes, comparando duas coleções de pontas de cada vez. A análise
multivariada dos atributos qualitativos não é possível, de modo que elas foram realizadas entre
pares de amostras – cada indústria corresponde a uma amostra. No caso dos atributos quantitativos
o teste não paramétrico aplicado foi o Kruskall-Wallis. Este teste só não foi aplicado no caso da
largura do pescoço, pois é o único atributo que apresenta distribuição normal nas três indústrias
simultaneamente (tabela 7.371). O teste de Kruskall-Wallis apontou diferenças em todos os
atributos quando comparados entre as três indústrias simultaneamente (tabela 7.372).

Tabela 7.371 – Resultados do teste Shapiro-Wilk de normalidade para as pontas Rioclarense, Estrela e
Garivaldino para atributos métricos. Valores de significância menor que 0,05 são considerados não normais.
Em negrito estão destacados os atributos que possuem distribuição normal em todas as indústrias.
Atributos Pontas Rioclarenses Pontas Estrela Pontas Garivaldinenses
observados Sig. Distribuição Sig. Distribuição Sig. Distribuição
Massa 0,005 Não normal 0,677 Normal 0,000 Não normal
Comprimento total 0,032 Não normal 0,562 Normal 0,360 Normal
Largura máxima 0,012 Não normal 0,306 Normal 0,014 Não normal
Espessura máxima 0,000 Não normal 0,003 Não normal 0,000 Não normal
Prop. Larg./Espessura 0,264 Normal 0,323 Normal 0,000 Não normal
Comprim. do corpo 0,052 Normal 0,981 Normal 0,001 Não normal
Comp. do pedúnculo 0,001 Não normal 0,538 Normal 0,033 Não normal

301
MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Comprim. dos gumes 0,089 Não normal 0,980 Normal 0,003 Não normal
Largura das aletas 0,012 Não normal 0,462 Normal 0,023 Não normal
Largura do pescoço 0,129 Normal 0,368 Normal 0,116 Normal
Larg. do pedúnculo 0,030 Não normal 0,078 Normal 0,006 Não normal
Espessura do corpo 0,001 Não normal 0,065 Normal 0,000 Não normal
Espessura do pescoço 0,000 Não normal 0,001 Não normal 0,000 Não normal
Espes. pedúnculo 0,005 Não normal 0,006 Não normal 0,000 Não normal
Ângulo dos gumes 0,057 Normal 0,038 Normal 0,001 Não normal

Tabela 7.372 - Resultados dos testes Anova Kruskall-Wallis para as pontas Rioclarenses, Estrela e Garivaldino
para atributos métricos. Valores de significância menor que 0,05 são considerados não normais. Em negrito
estão destacados os atributos que possuem diferenças significativas.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Massa Kruskall-Wallis 24,968 < 0,001 Significante
Comprimento total Kruskall-Wallis 33,096 < 0,001 Significante
Largura máxima Kruskall-Wallis 38,872 < 0,001 Significante
Espessura máxima Kruskall-Wallis 50,755 < 0,001 Significante
Prop. Largura/Espessura Kruskall-Wallis 133,327 < 0,001 Significante
Comprimento do corpo Kruskall-Wallis 19,161 < 0,001 Significante
Comp. do pedúnculo Kruskall-Wallis 55,043 < 0,001 Significante
Comprimento dos gumes Kruskall-Wallis 15,292 < 0,001 Significante
Largura das aletas Kruskall-Wallis 35,480 < 0,001 Significante
Largura do pescoço ANOVA 197, 334 < 0,001 Significante
Largura do pedúnculo Kruskall-Wallis 10,446 0,005 Significante
Espessura do corpo Kruskall-Wallis 70,026 < 0,001 Significante
Espessura do pescoço Kruskall-Wallis 45,725 < 0,001 Significante
Espessura do pedúnculo Kruskall-Wallis 44,368 < 0,001 Significante
Ângulo médio dos gumes Kruskall-Wallis 87,182 < 0,001 Significante

Uma vez que os testes não apontam se apenas uma ou todas as três indústrias diferem
uma da outra, a comparação entre pares de amostras é apresentada nos subcapítulos a seguir.

7.9.1. Pontas Rioclarenses X Pontas Estrela


As tabelas 7.373 e 7.374 apresentam os resultados dos testes estatísticos a fim de verificar
diferenças significantes entre os mesmos atributos de pontas Rioclarenses e pontas Estrela
analisada neste projeto, além dos testes de normalidade para atributos métricos.

Tabela 7.373 – Valores dos testes de significância entre as pontas Rioclarenses e Estrela para atributos não-
métricos. Nível de significância = 0,05. Diferenças significantes marcadas em negrito. Atributos os quais não é
possível aplicar nenhum teste são aqueles cujas variáveis com valores de tendência (> 25 %) em uma coleção
não existem na outra, impossibilitando aplicação dos testes, resultantes de diferenças extremamente
significativas.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Matéria prima Chi quadrado 1,7735 0,182953 Não significante
Contorno do corpo Chi quadrado 0,1931 0,660365 Não significante
Delineamento dos gumes Chi quadrado 28,2674 < 0,00001 Significante
Contorno das aletas Não aplicável - - Significante
Delineamento do pescoço Não aplicável - - Significante
Contorno do pedúnculo Não aplicável - - Significante
Seção do corpo Chi quadrado 13,7348 0,000211 Significante
Seção do pedúnculo Não aplicável - - Significante
Suporte Não aplicável - - Significante
Método de façonagem Chi quadrado 2,8797 0,089704 Não significante

302
MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
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Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Técnica de façonagem Não aplicável - - Significante


Método de retoque Chi quadrado 15,2312 0,000493 Significante
Técnica de retoque Chi quadrado 30,5449 < 0,00001 Significante
Org. negativos do corpo Não aplicável - - Significante
Org. neg. do pedúnculo Não aplicável - - Significante

Tabela 7.374 - Valores dos testes de significância as pontas Rioclarenses e Estrela para atributos métricos. Nível
de significância = 0,05 (two-tailed). Valor do teste apresentado é o valor crítico de U, no caso dos testes Mann-
Whitney.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Mann-Whitney 308
Massa <0,001 Significante
Dunn-Bonferroni 4,087
Mann-Whitney 342
Comprimento total <0,001 Significante
Dunn-Bonferroni 5,576
Mann-Whitney 1465 0,00736
Largura máxima Significante
Dunn-Bonferroni 2.714 0,02
Mann-Whitney 1048 0,00018
Espessura máxima Significante
Dunn-Bonferroni 3,226 0,004
Teste T 0,19173 0,848248
Prop. Largura/Espessura Não significante
Dunn-Bonferroni -0,81 1
Teste T 4,97275
Comprimento do corpo < 0,001 Significante
Dunn-Bonferroni 4,432
Mann-Whitney 592
Comp. do pedúnculo <0,001 Significante
Dunn-Bonferroni 6,742
Mann-Whitney 660,5
Comprimento dos gumes <0,001 Significante
Dunn-Bonferroni 3,77
Mann-Whitney 1459 0,0083
Largura das aletas Significante
Dunn-Bonferroni 2,706 <0,001
Teste T 7,1358
Largura do pescoço < 0,00001 Significante
Tukey 3,31
Mann-Whitney 1366 0,35758
Largura do pedúnculo Não significante
Dunn-Bonferroni -0,562 1
Mann-Whitney 641,5
Espessura do corpo <0,001 Significante
Dunn-Bonferroni 4,386
Mann-Whitney 993,5 0,00016
Espessura do pescoço Significante
Dunn-Bonferroni 3,47 0,002
Mann-Whitney 750,5
Espessura do pedúnculo <0,001 Significante
Dunn-Bonferroni 5,226
Ângulo médio dos gumes Teste T 2,59202 0,010539 Significante

Não surpreendentemente, os resultados dos testes confirmam que as pontas Rioclarenses


e as pontas Estrela do sítio Tunas são metricamente, morfologicamente e tecnologicamente
diferentes. As únicas similaridades estão relacionadas ao uso do sílex com matéria prima, ao
contorno triangular do corpo das pontas, à façonagem bifacial, à largura do pedúnculo, e à
proporção largura/espessura das pontas. Com relação a todos os demais atributos analisados, as
diferenças são estatisticamente significativas ou mesmo incomparáveis, dada a presença e
ausência de determinadas variáveis qualitativas.

7.9.2. Pontas Estrela X Pontas Garivaldinenses

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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As tabelas 7.375 7.376 apresentam os resultados dos testes estatísticos a fim de verificar
diferenças significantes entre os mesmos atributos de pontas Rioclarenses e pontas Estrela
analisada neste projeto, além dos testes de normalidade para atributos métricos.

Tabela 7.375 – Valores dos testes de significância entre as pontas Garivaldinenses e Estrela para atributos não-
métricos. Nível de significância = 0,05. Diferenças significantes marcadas em negrito. Atributos os quais não é
possível aplicar nenhum teste são aqueles cujas variáveis com valores de tendência (> 25 %) em uma coleção
não existem na outra, impossibilitando aplicação dos testes, resultantes de diferenças extremamente
significativas.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Matéria prima Não aplicável - - Significante
Contorno do corpo Chi quadrado 7,2391 0,007133 Significante
Delineamento dos gumes Chi quadrado 43,2238 < 0,00001 Significante
Contorno das aletas Chi quadrado 38,9247 < 0,00001 Significante
Delineamento do pescoço Chi quadrado 1,08 0,298687 Não significante
Contorno do pedúnculo Chi quadrado 22,0563 0,000016 Significante
Seção do corpo Não aplicável - - Significante
Seção do pedúnculo Chi quadrado 144,5683 < 0,00001 Significante
Suporte Chi quadrado 10,1558 0,001438 Significante
Método de façonagem Chi quadrado 10,736 0,004664 Significante
Técnica de façonagem Não aplicável - - Significante
Método de retoque Chi quadrado 49,9402 < 0,00001 Significante
Técnica de retoque Não aplicável - - Significante
Org. negativos do corpo Não aplicável - - Significante
Org. neg. do pedúnculo Não aplicável - - Significante

Tabela 7.376 - Valores dos testes de significância pontas Garivaldinenses e Estrela para atributos métricos. Nível
de significância = 0,05 (two-tailed). Valor do teste apresentado é o valor crítico de U, no caso dos testes Mann-
Whitney.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Mann-Whitney 1021
Massa < 0,001 Significante
Dunn-Bonferroni 4,997
Mann-Whitney 1644,5
Comprimento total < 0,001 Significante
Dunn-Bonferroni 3,658
Mann-Whitney 3983,5 0,20408
Largura máxima Não significante
Dunn-Bonferroni -1,282 0,2
Mann-Whitney 1484,5
Espessura máxima < 0,001 Significante
Dunn-Bonferroni 6,365
Mann-Whitney 865,5
Prop. Largura/Espessura < 0,001 Significante
Dunn-Bonferroni -6,983
Mann-Whitney 1968 0,00168
Comprimento do corpo Significante
Dunn-Bonferroni 3,195 0,004
Mann-Whitney 2785,5 0,00028
Comp. do pedúnculo Significante
Dunn-Bonferroni 3,395 0,002
Mann-Whitney 2338,5 0,01928
Comprimento dos gumes Significante
Dunn-Bonferroni 2,418 0,047
Mann-Whitney 4180 0,28462
Largura das aletas Não significante
Dunn-Bonferroni -1,096 0,819
Teste T -3,89528
Largura do pescoço < 0,001 Significante
Tukey -1,97
Mann-Whitney 3018 0,12852
Largura do pedúnculo Não significante
Dunn-Bonferroni 1,36 0,521
Mann-Whitney 916
Espessura do corpo < 0,001 Significante
Dunn-Bonferroni 7,756
Espessura do pescoço Mann-Whitney 1470,5 < 0,001 Significante

304
MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Dunn-Bonferroni 6,216
Mann-Whitney 1333
Espessura do pedúnculo < 0,001 Significante
Dunn-Bonferroni 6,66
Mann-Whitney 1056,5
Ângulo médio dos gumes < 0,001 Significante
Dunn-Bonferroni 7,344

Não surpreendentemente, os resultados dos testes confirmam que as pontas


Garivaldinenses e as pontas Estrela do sítio Tunas são metricamente, morfologicamente e
tecnologicamente diferentes. Não há uma similaridade tecnológica sequer e há apenas uma única
pequena similaridade relacionada ao delineamento do pescoço das pontas. Em abas as categorias
de pontas pedunculadas, o pescoço tende a ser obtuso. Com relação aos atributos métricos, as
únicas similaridades estão relacionadas à largura das aletas (equivalente à largura máxima em
quase todas as peças) e à largura do pedúnculo.

7.9.3. Pontas Rioclarenses X Pontas Garivaldinenses


As tabelas 7.377 e 7.378 apresentam os resultados dos testes estatísticos a fim de verificar
diferenças significantes entre os mesmos atributos de pontas Rioclarenses e pontas Estrela
analisada neste projeto, além dos testes de normalidade para atributos métricos. Como esperado,
os resultados dos testes confirmam que as pontas Rioclarenses e as Garivaldinenses são
metricamente, morfologicamente e tecnologicamente diferentes. As únicas similaridades estão
relacionadas à massa, à largura do pescoço, e à espessura e à seção do pedúnculo.

Tabela 7.377 – Valores dos testes de significância entre as pontas pedunculadas da indústria Garivaldinense e
da indústria Rioclarense para atributos não-métricos. Nível de significância = 0,05. Diferenças significantes
marcadas em negrito. Atributos os quais não é possível aplicar nenhum teste são aqueles cujas variáveis com
valores de tendência (> 25 %) em uma coleção não existem na outra, impossibilitando aplicação dos testes,
resultantes de diferenças extremamente significativas.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Matéria prima Não aplicável - - Significante
Contorno do corpo Chi quadrado 13,5907 0,000227 Significante
Delineamento dos gumes Chi quadrado 48,5569 < 0,00001 Significante
Contorno das aletas Chi quadrado 68,9117 < 0,00001 Significante
Delineamento do pescoço Chi quadrado 59,6209 < 0,00001 Significante
Contorno do pedúnculo Não aplicável - - Significante
Seção do corpo Chi quadrado 12,8063 0,001656 Significante
Seção do pedúnculo Chi quadrado 0,0002 0,988335 Não significante
Suporte Chi quadrado 28,2071 < 0,00001 Significante
Método de façonagem Chi quadrado 44,4853 < 0,00001 Significante
Técnica de façonagem Chi quadrado 38,1079 < 0,00001 Significante
Método de retoque Chi quadrado 15,7936 0,000372 Significante
Técnica de retoque Chi quadrado 17,9427 0,000127 Significante
Org. negativos do corpo Chi quadrado 192,3983 < 0,00001 Significante
Org. neg. do pedúnculo Não aplicável - - Significante

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.378 - Valores dos testes de significância as pontas pedunculadas da indústria Garivaldinense e da
indústria Rioclarense para atributos métricos. Nível de significância = 0,05 (two-tailed). Valor do teste
apresentado é o valor crítico de U, no caso dos testes Mann-Whitney.
Atributo Teste Valor do teste Valor de p Significância
Mann-Whitney 7069,5 0,5157
Massa Não significante
Dunn-Bonferroni 0,815 1
Mann-Whitney 5843 0,0002
Comprimento total Significante
Dunn-Bonferroni -3,703 0,001
Mann-Whitney 7173,5
Largura máxima < 0,001 Significante
Dunn-Bonferroni -6,235
Mann-Whitney 8161
Espessura máxima < 0,001 Significante
Dunn-Bonferroni 4,437
Mann-Whitney 2822
Prop. Largura/Espessura < 0,001 Significante
Dunn-Bonferroni -10,460
Mann-Whitney 7555,5 0,02088 Significante
Comprimento do corpo
Dunn-Bonferroni -2,344 0,057 Não significante
Mann-Whitney 6705
Comp. do pedúnculo < 0,001 Significante
Dunn-Bonferroni -5,5763
Mann-Whitney 7322,5 0,01174
Comprimento dos gumes Significante
Dunn-Bonferroni -2,563 0,031
Mann-Whitney 7522,5
Largura das aletas < 0,001 Significante
Dunn-Bonferroni -5,955
Teste T -4,00552
Largura do pescoço < 0,001 Significante
Tukey -1,34
Mann-Whitney 9144,5 0,00236
Largura do pedúnculo Significante
Dunn-Bonferroni 3,134 0,005
Mann-Whitney 7323
Espessura do corpo < 0,001 Significante
Dunn-Bonferroni 4,681
Mann-Whitney 8792
Espessura do pescoço < 0,001 Significante
Dunn-Bonferroni 3,843
Mann-Whitney 9970,5 0,1556
Espessura do pedúnculo Não significante
Dunn-Bonferroni 1,461 0,422
Mann-Whitney 6526,5
Ângulo médio dos gumes < 0,001 Significante
Dunn-Bonferroni 7,158

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Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

8. EXPERIMENTOS REPLICANTES DE PONTAS


PEDUNCULADAS

8.1. Introdução à prática do lascamento e aos experimentos


sistemáticos
Já discutimos anteriormente a importância de um pesquisador interessado no estudo dos
métodos e técnicas de produção de artefatos possuir alguma experiência prática na replicação dos
mesmos (ver cap. 3.4). Aqui é necessário descrever resumidamente a minha experiência pessoal
com relação ao lascamento experimental. As minhas primeiras experiências ocorreram durante a
minha graduação em arqueologia, no final dos anos 2010. Naquela época o meu maior interesse
era simplesmente verificar como o lascamento funcionava na prática, e desde então nunca foi um
grande desafio produzir um simples raspador unifacial a partir da retiradas de menos de uma
dezenas de lascas de retoque a partir de uma lasca ou seixo fluvial. Até o início desta tese nunca
houve muitas oportunidades nas quais eu pudesse ter acesso aos materiais necessários para a
prática de lascamento. Com a elaboração deste projeto, e já pensando na oportunidade de realizar
um estágio sanduíche sob a orientação do professor Dr. Bruce Bradley (co-orientador desta
pesquisa), o interesse em adquirir mais experiência prática no lascamento me levou a buscar por
materiais e a realizar algumas tentativas de produção de artefatos.

Foi apenas durante a realização desta tese que essa prática se tornou mais frequente,
começando por um curso realizado pelo professor Bradley no Brasil em 2015 (ver: Van
Veldhuizen & Moreno de Sousa 2016, para uma revisão sobre o evento) onde, pela primeira vez,
os procedimentos básicos de lascamento unifacial e bifacial foram aprendidos. Posteriormente
tentativas de produzir peças unifaciais e bifaciais mais complexas foram realizadas em minha
oficina lítica particular, mas ainda sem acesso a boas fontes de matéria prima e sem boas matérias
de lascamento.

Foi apenas no ano de 2017, durante o estágio de doutorado-sanduíche na University of


Exeter, na Inglaterra, em que atividades sistemáticas passaram a acontecer com orientação e
supervisão do professor Bradley. As atividades práticas eram realizadas quase que diariamente ao
longo de 5 meses no Laboratório de Arqueologia Experimental. Durante este estágio fui
introduzido às técnicas de percussão macia e pressão, além de outras particularidades tecnológicas
que me auxiliaram a obter uma gama de conhecimentos tecnológicos e habilidades físicas para
produzir diversos tipos de artefatos líticos.

Uma das atividades básicas mais interessantes foi a aplicação de diferentes técnicas de
lascamento a fim de obter lascas com feições similares. Foi durante essas atividades que o

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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entendimento sobre o reconhecimento da técnica de pressão surgiu. As matérias primas mais


resistentes e granulosas, como alguns arenitos e basaltos, não permitem que a façonagem de peças
finas seja realizada por pressão, já que elas exigem uma aplicação de energia muito maior do que
a pressão é capaz de realizar. Também foi notado que, mesmo em matérias primas bem vítreas,
as lascas de pressão raramente são, ao mesmo tempo, compridas e largas, sendo esta característica
mais comum na percussão. Ainda sobre a pressão, apenas ela permite que gumes serrilhados de
negativos paralelos sejam realizados, e apenas a pressão ou a percussão indireta permitem que o
pescoço de uma ponta pedunculada possa ser reto ou agudo, uma vez que a área de contato dos
percutores é demasiadamente grande para produzir tais delineamentos.

Sobre a percussão, foi possível perceber que tanto a percussão macia quanto a dura podem
causar o mesmo resultado de lascamento dependendo da matéria prima utilizada e da lasca que se
tenta obter. Mas o ponto mais interessante relacionado ao afinamento de peças, sejam elas
unifaciais ou bifaciais, é que apenas a retirada de lascas longas com talões finos e ângulos
próximos a 90º permitem a aplicação de um método de façonagem de redução de espessura.
Afinal, quanto mais próximo de 90º é o ângulo entre o plano de percussão e a superfície de
lascamento, mais longa tende a ser a lasca. Desse modo, sendo a façonagem unifacial ou bifacial,
a facetagem dos talões é essencial para um ajuste deste mesmo ângulo.

Foi notável que, ainda que em algumas matérias primas o lascamento tanto por percussão
dura quanto macia seja aplicável para quase qualquer objetivo, algumas matérias primas não
permitem a retirada de lascas compridas com percussão dura nos gumes mais finos, uma vez que
a dureza do percutor muitas vezes esmigalha o gume atingido, enquanto que um percutor macio
é capaz de atingir o gume e retirar a lasca sem esmigalhar o talão. Também foi perceptível que,
assim como Tixier (2012), já havia observado, o reconhecimento dessas técnica de percussão não
é tão óbvia nas lascas e nos artefatos, uma vez que feições como lábio na cornija e a pouca
proeminência do bulbo podem ser comuns em ambas as técnicas em algumas matéria primas, e
exclusivas de alguma técnicas em outras.

Durante o estágio de doutorado sanduíche na University of Exeter diversas tentativas de


produzir imitações de pontas pedunculadas paleoíndias encontradas em território brasileiro foram
realizadas e, ainda que o objetivo tenha sido atingido, tal atividade não foi interrompida. De volta
ao Brasil, as atividades práticas, mas dessa vez menos sistemáticas, continuaram sendo realizadas,
com uma frequência de pelo menos três vezes por semana, buscando replicar diversos tipos de
pontas paleoíndias com o máximo de acurácia possível. Antes de experimentos controlados serem
realizados, diversas tentativas de produzir lesmas e pontas Rioclarenses, Estrela e Garivaldinenses
foram realizadas a partir da aplicação de variados métodos e técnicas e sem muita preocupação

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em utilizar as matérias-primas originais, mas sim, matéria primas cuja qualidade para lascamento
fosse similar. Apenas após a produção sucedida de algumas destas peças (figuras 8.1 e 8.2) os
experimentos sistemáticos foram realizados, uma vez que a habilidade e o conhecimento técnico
suficientes para tais atividades já haviam sido adquiridos.

Figura 8.1 –Pontas pedunculadas resultantes das primeiras tentativas do autor de replicar tecnologia paleoíndias
do sudeste e sul do Brasil. A-D: Pontas Rioclarenses. E-F: Pontas Estrela. G-J: Pontas Garivaldinenses. A, B e
F: Sílex Corumbataí da região de Rio Claro, SP. C: Arenito silicificado tratado termicamente da região da “costa
jurássica” de Devon (Inglaterra). D: Opala Itaqueri da região de São Pedro, SP. E: Opala de origem
desconhecida. G: Arenito Botucatu silicificado da região de Santa Cruz do Sul, RS. H-I: Arenito Botucatu
silicificado da região de São Pedro, SP. Ágata Serra Geral da região de São Pedro, SP.

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Figura 8.2 - Lesmas resultantes das primeiras tentativas do autor de replicar a tecnologia Rioclarense. A: Sílex
Corumbataí. B: Arenito Botucatu silicificado dos arredores sítio arqueológico Caetetuba. C: Arenito Botucatu
silicificado dos arredores do sítio arqueológico Bastos (Dourado, SP). D-F: Arenito Botucatu silicificado da
região de São Pedro, SP.

Os experimentos controlados seguiram o segundo nível de experimentação proposto por


Coles (1979), uma vez que o objetivo está limitado em compreender a produção dos artefatos
líticos a partir da utilização dos materiais originais que aqueles grupos paleoíndios utilizavam.
Ainda que na literatura brasileira não exista nenhum estudo publicado sobre os artefatos utilizados
como lascadores, sejam eles percutores duros, macios ou pressores, nas coleções estudadas por
este projeto também foram identificados percutores e pressores feitos sob chifres16.

Para fim de verificar o padrão tecnológico apresentado nas lascas de façonagem de pontas
paleoíndias, o experimento se limitou à produção de até cinco pontas pedunculadas bem-
sucedidas, uma vez que o número de lascas obtidas nesta produção seria o suficiente para obter
dados de suas feições e compará-los com os das lascas provenientes das indústrias arqueológicas.
Infelizmente, não foi possível realizar um experimento controlado de replicação das pontas
estrela, uma vez que a fonte de sílex das pontas da indústria Tunas não foi identificada. Portanto,
a coleta deste material não foi realizada. No caso de replicação de lesmas, as peças foram
façonadas, mas não foram retocadas a fim de produzir gume com delineamentos e ângulos
específicos, uma vez que o objetivo esteve em compreender aspectos tecnológicos da façonagem
unifacial.

Uma análise de uma pequenas amostra das lascas foi realizada objetivando comparar os
atributos das lascas produzidas por diferentes técnicas, e averiguar se as lascas provenientes da

16
Uma análise destes artefatos está sendo conduzida por Mingatos (2017) em sua pesquisa de doutorado,
e uma descrição completa destes será publicada em breve.

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produção e réplicas se assemelham com as Rioclarenses originais. Uma análise completa com
comparações estatísticas não foi realizada durante esta pesquisa, uma vez que o objetivo no
momento é produzir dados preliminares que podem guiar futuros experimentos controlados.

8.2. Os materiais utilizados


Uma vez observadas as tendências de cada atributo analisado nas pontas, experimentos
replicantes foram realizados a fim de verificar quais são os atributos observados nas lascas de
façonagem e compará-los com os das lascas analisadas. Os experimentos levaram em
consideração não só a aplicação das técnicas de percussão e pressão identificadas nas diferentes
indústrias, como também levaram em consideração a aplicação de técnicas ainda mais especificas
de percussão – com percutores macios e duros. Os experimentos seguiram a abordagem teórico-
metodológica já apresentada na tese (ver cap. 3.4 e 6.11).

Ainda que houvesse uma preocupação em minimizar o uso de materiais modernos, alguns
foram utilizados a fim de minimizar o risco de acidentes, como óculos de proteção e, vez ou outra,
um pedaço de couro para proteger a mão de cortes. Também foi utilizada uma lona para coleta
dos resíduos de lascamento. Para a prática do lascamento em si, os materiais utilizados como
percutores e pressores e seus principais atributos são apresentados nas tabelas 8.1 e 8.2 e figuras
8.3 e 8.4. Uma vez que não podemos ter certeza sobre a taxonomia dos animais cujos chifres eram
usados como matéria prima de pressores e percutores, e o acesso aos chifres de cervídeos
brasileiros foi bastante limitada, foram utilizados percutores e pressores feitos sob chifres
similares aos dos cervídeos brasileiros. Nenhuma tentativa de produzir percutor com madeira
nativa brasileira foi realizada, uma vez que um estudo mais aprofundado com experimentos seria
necessário a fim de identificar tipos de madeira que são aptos para tal uso

Tabela 8.1 – Atributos principais dos percutores macios (M) e duros (D) utilizados nos experimentos.
Código da peça Massa (g) Dimensões (mm) Tipo de percutor Matéria-prima
M1 114,9 179 x 26 x 26 Macio Chifre de Cariacu
M2 184,6 117 x 49 x 34 Macio Chifre de Alce
M3 172,4 147 x 44 x 30 Macio Chifre de Alce
D1 63,6 61 x 45 x 16 Duro Seixo de quartzito
D2 103,9 64 x 34 x 33 Duro Seixo de arenito
D3 119,7 49 x 49 x 36 Duro Seixo de arenito
D4 116,7 53 x 48 x 33 Duro Seixo de arenito
D5 109,8 55 x 53 x 25 Duro Seixo de quartzito

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Figura 8.3 – Percutores macios (M) e duros (D) usados nos experimentos.

Figura 8.4 – Pressores (P) utilizados nos experimentos.

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Tabela 8.2 - Atributos principais dos pressores (P) utilizados nos experimentos.
Espessura
Código da Espessura da área Tipo de
da ponta Matéria-prima
peça preensivel (mm) pressor
(mm)
P1 22 3~4 Simples Chifre de Cervo
P2 14 4 Simples Chifre de Veado
P3 21 5 Simples Chifre de Cervo
P4 24 7 Bicomposto Madeira + Chifre de Cervo
P5 22 8 Simples Chifre de Cariacu
P6 22 3 Bicomposto Chifre de Cervo + osso

Os materiais utilizados como matéria prima foram os mesmos identificados nas coleções
analisadas e coletados em visitas aos sítios estudados. A única exceção está relacionada ao sítio
Tunas, cuja fonte de sílex não foi identificada. Portanto, foram selecionadas peças de sílex com
qualidade similar ao das peças originais.

8.3. Replicando a indústria Rioclarense


Antes de iniciar a replicação das pontas Rioclarenses, alguns testes com percutores duros
e macios foram realizado a fim de produzir lascas longas e finas, e foi perceptível que o sílex
preto da formação Corumbataí responde melhor à percussão macia. Também foi notável o forte
odor de óleo que exala de cada lasca retirada. Inclusive, alguns bolsões de óleo ainda são
eventualmente encontrados em pontos com formação de microcristais de quartzo (figura 8.5).

Figura 8.5 – Lasca de sílex proveniente da formação Corumbataí. Trata-se de um sílex formado a partir de
troncos de madeira cuja matéria orgânica se decompôs e se transformou em óleo e que foi, posteriormente,
preenchido com sílica e fossilizado. A área bulbar da lasca ainda apresenta um bolso de óleo líquido e exala um
odor forte bastante característico. Foto: João Carlos Moreno de Sousa.

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8.3.1. Pontas de sílex Corumbataí


Devido à melhor resposta do sílex Corumbataí à percussão macia, esta técnica foi
priorizada na façonagem bifacial das pontas Rioclarenses. A tabela 8.3 apresenta as feições
iniciais de cada suporte utilizado (figura 8.7). A tabela 8.4 apresenta todos os atributos das pontas
pedunculadas que resultaram do experimento (figura 8.8). Nos casos das peças não finalizadas
foram apenas descritos os fatores da interrupção da produção.

Tabela 8.3 – Feições principais dos suportes de sílex utilizados no experimento de replicação de pontas
Rioclarenses e seu resultado.
Código do Dimensões
Suporte Massa inicial (g) Resultado
experimento iniciais (mm)
RC.Si.1 Frag. de lasca 28,8 69 x 43 x 12 Ponta
RC.Si.2 Lasca 173,6 96 x 95 x 15 Ponta
RC.Si.3 Natural 145,9 90 x 46 x 23 Pré-forma fraturada
RC.Si.4 Lasca 194,9 86 x 112 x 30 Ponta
RC.Si.5 Natural 69,1 66 x 47 x 14 Ponta
RC.Si.6 Natural 89,5 73 x 55 x 15 Pré-forma fraturada
RC.Si.7 Natural 137,6 95 x 70 x 14 Ponta

Tabela 8.4 – Feições métricas, morfológicas e tecnológicas das pontas resultantes do experimento de replicação
de pontas Rioclarenses. Em negrito estão destacadas as variáveis cuja replicação não está dentro do padrão
desejado – o padrão tecnológico das pontas Rioclarenses observado no capítulo 7.
Valores dos atributos das réplicas Rioclarenses
Atributos
RC.Si.1 RC.Si.2 RC.Si.4 RC.Si.5 RC.Si.7
Massa 6,1 g 7,9 g 5,3 g 5,1 g 4,4 g
Comprimento total 39 mm 50 mm 41 mm 43 mm 46 mm
Largura máxima 22 mm 28 mm 23 mm 23 mm 19 mm
Espessura máxima 8 mm 8 mm 7 mm 7 mm 6 mm
Proporção
2,7/1 3,5/1 3,3/1 3,3/1 3,2/1
Largura/Espessura
Comprimento do
22 mm 31 mm 30 mm 33 mm 26 mm
corpo
Comp. do pedúnculo 17 mm 19 mm 11 mm 10 mm 20 mm
Comp. dos gumes 25 mm 33 mm 32 mm 35 mm 29 mm
Largura das aletas 22 mm 28 mm 23 mm 23 mm 28 mm
Largura do pescoço 15 mm 14 mm 11 mm 12 mm 11 mm
Largura do
14 mm 13 mm 10 mm 11 mm 10 mm
pedúnculo
Espessura do corpo 6 mm 5 mm 7 mm 5 mm 6 mm
Espessura do pescoço 8 mm 8 mm 7 mm 7 mm 6 mm
Espessura do
6 mm 6 mm 5 mm 5 mm 5 mm
pedúnculo
Ângulo dos gumes 60 º 60 º 60º 45º 60º
Contorno do corpo Triangular Triangular Triangular Triangular Triangular
Delin. dos gumes Retilíneo Retilíneo Retilíneo Retilíneo Retilíneo
Contorno das aletas Retilíneo Retilíneo Retilíneo Retilíneo Retilíneo
Delin. do pescoço Obtuso Obtuso Obtuso Obtuso Obtuso
Contorno do
Ovalado Ovalado Ovalado Ovalado Ovalado
pedúnculo
Seção do corpo Elíptica Elíptica Elíptica Elíptica Elíptica
Seção do pedúnculo Elíptica Elíptica Elíptica Elíptica Elíptica

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Não Não
Suporte Não definível Não definível Não definível
definível definível
Mét. façonagem Bifacial Bifacial Bifacial Bifacial Bifacial
Téc. façonagem Percussão Percussão Percussão Percussão Perc. + pres.
Método de retoque Bifacial Bifacial Bifacial Bifacial Bifacial
Técnica de retoque Pressão Pressão Pressão Pressão Pressão
Organização dos Paral. c/
Largos e sel. Largos e sel. Paral. c/ nerv. Largos e sel.
negativos do corpo nerv.
Organização dos
Paral. c/ Paral. c/
negativos do Paral. c/ nerv. Paral. c/ nerv. Paral. c/ nerv.
nerv. nerv.
pedúnculo

Figura 8.6 – Suportes utilizados para produção das réplicas de pontas Rioclarenses.

Figura 8.7 – Réplicas de pontas Rioclarenses produzidas pelo autor desta tese.

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A peça RC.Si.1 foi produzida a partir de um fragmento de lasca e foi façonada


diretamente até se tornar uma ponta. As peças RC.Si.2 e RC.Si.4 partiram de lascas de
debitagem e foram primeiramente façonadas bifacialmente até obter as pré-formas. No
caso da última peça, uma intrusão obrigou uma alteração na façonagem da peça, de modo
que a área que iria se tornar o pedúnculo acabou se tornando o corpo da ponta. As demais
peças partiram de suportes naturais em forma de plaqueta. Curiosamente, o sílex
apresentou-se mais homogêneo e vítreo nestes casos em relação aos das lascas debitadas
de troncos fossilizados, facilitando a redução de sua espessura e a aplicação de pressão
na etapa de retoque. A produção das peças RC.Si.3 e RC.Si.6 foi interrompida devida à
quebra causada por uma fratura interna que se expandiu após uma percussão. A peça
RC.Si.5 se rompeu logo no início da façonagem, e o suporte utilizado foi o fragmento
maior. A peça RC.Si.7 precisou ser intencionalmente fraturada no meio em determinado
momento da façonagem, uma vez que se percebeu que ela ainda detinha o dobro do
comprimento máximo das pontas Rioclarenses.

Nota-se que as poucas diferenças entre as pontas arqueológicas e as réplicas são métricas,
nas quais as dimensões das réplicas são apenas 1 mm maiores do que a tendência das pontas
Rioclarenses. Essas diferenças não são consideradas importantes. Apenas a peça Rc.Si.7
apresenta uma diferença tecnológica, na qual a percussão foi utilizada junto com a pressão durante
a façonagem. Ainda que não seja uma característica comum identificada nas pontas Rioclarenses
de forma geral, o uso das duas técnicas, mesmo que separadamente, durante a façonagem é
bastante comum nas pontas do sítio Alice Boer. Sendo assim, as pontas se apresentam como
réplicas bem reproduzidas, cujas lascas podem servir como referência para análise de lascas
arqueológicas.

8.3.2. As lascas de façonagem das réplicas de pontas Rioclarenses


As lascas provenientes do experimento foram coletadas na medida em que eram
produzidas e separadas de acordo com a técnica aplicada em sua produção. Infelizmente, diversas
lascas acabaram por cair junto aos detritos, fraturaram ou simplesmente foram projetadas para
longe, de modo que não puderam ser devidamente separadas de acordo com a sua técnica. A
tabela 8.5 apresenta a quantificação de lascas de façonagem e de retoque de pontas Rioclarenses
recuperadas e analisadas e a técnica de sua proveniência. Lascas cujo talão está ausente devido à
quebra durante o lascamento foram excluídas da contagem e descartadas devido à impossibilidade
de análise do talão, da cornija e do bulbo.

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Tabela 8.5 - Total de lascas recuperadas dos experimentos de replicação de pontas Rioclarenses.
Percussão Percussão Técnica
Pressão Total de lascas
dura macia indefinida
113 176 59 23 371

Figura 8.8 - Detritos provenientes das sete tentativas de replicação de pontas Rioclarenses.

Ainda que o volume das lascas supere o de detritos devido ao seu tamanho, a quantidade
de detritos (figura 8.8) supera a de lascas em quantidade. O número exato não é acurado, uma vez
que cada a maioria dos detritos é muito pequena para controla-los individualmente.

A amostragem das lascas seguiu o mesmo princípio utilizado para análise das lascas do
sítio Alice Boer. Ou seja, foram analisadas apenas as lascas inteiras de até 58 mm de
comprimento, uma vez que essa era a dimensão máxima de negativos de façonagem dos artefatos
do sítio. No entanto, nenhuma das lascas replicadas chegou a este tamanho. Na verdade, foi
possível notar que que a lasca mais longa era 1,5 vezes maior do que a largura máxima das pontas.
Foram excluídas da análise as lascas menores de 15 mm de comprimento, uma vez que essa foi a
medida mínima das lascas Rioclarenses analisadas. Nenhuma lasca de pressão foi analisada, uma
vez que a maior delas atingia apenas 7 mm de comprimento. E foram também excluídas as lascas
da peça RC.Si.3, que não resultou em nenhuma ponta, além de ter sido abandonada logo no início
da produção e não era o mesmo tipo de sílex dos demais (óleo fossilizado silicificado). Destas,
15 lascas de cada técnica de percussão foram selecionadas aleatoriamente e analisadas. As tabelas
8.6 até 8.16 apresentam os dados das lascas provenientes do experimento de replicação de pontas
Rioclarenses. A tabela 8.17 compara os dados das lascas arqueológicas com as réplicas.

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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Tabela 8.6 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem por percussão dura
das réplicas de pontas Rioclarenses.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa 13 0,6 5,4 2,1 1,4
Comprimento 15 17 42 25 8
Largura 15 18 50 29 10
Espessura 13 2 8 4 2
Largura do talão 15 0,1 26,0 13 8
Espessura do talão 15 0,1 7,0 4 2
Ângulo talão/ face interna 14 95 125 107 10
Número de negativos na face superior 15 0 6 3 2

Tabela 8.7 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem por percussão macia
das réplicas de pontas Rioclarenses.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa 14 0,6 6,5 2,1 1,5
Comprimento 14 19 43 27 7
Largura 15 19 41 27 7
Espessura 14 2 7 4 1
Largura do talão 14 5 17 9 3
Espessura do talão 14 1 5 2 1
Ângulo talão/ face interna 15 100 125 112 8
Número de negativos na face superior 15 0 8 4 2

Tabela 8.8 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem por percussão dura e
macia das réplicas de pontas Rioclarenses.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa 27 0,6 6,5 2,1 1,4
Comprimento 29 17 43 26 7
Largura 30 18 50 28 8
Espessura 27 2 8 4 1
Largura do talão 29 0,1 26 11 7
Espessura do talão 29 0,1 7 3 2
Ângulo talão/ face interna 29 95 125 110 9
Número de negativos na face superior 30 0 8 4 2

Tabela 8.9 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno de talão das lascas de
façonagem das réplicas de pontas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Retilíneo 4 26,7 6 40,0 10 33,3
Asa 5 33,3 3 20,0 8 26,7
Vírgula 2 13,3 4 26,7 6 20,0
Triangular 2 13,3 1 6,7 3 10,0
Circular 1 6,7 1 6,7 2 6,7
Puntiforme 1 6,7 - - 1 3,3
Total 15 100 15 100 30 100

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Tabela 8.10 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de superfície de talão das lascas de
façonagem das réplicas de pontas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Facetado 3 20,0 12 80,0 15 50,0
Liso 4 26,7 3 20,0 7 23,3
Cortical 5 33,3 - - 5 16,7
Diedro 2 13,3 - - 2 6,7
Indefinido 1 6,7 - - 1 3,3
Total 15 100 15 100 30 100

Tabela 8.11 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de cornija das lascas de façonagem
das réplicas de pontas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Sem lábio 14 93,3 7 46,7 21 70,0
Lábio pouco Proeminente 1 6,7 8 53,3 9 30,0
Total 15 100 15 100 30 100

Tabela 8.12 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de bulbo das lascas de façonagem
das réplicas de pontas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Um bulbo Proeminente 13 86,7 10 66,7 23 76,7
Bulbo não Proeminente 1 6,7 3 20,0 4 13,3
Lascamento bulbar 1 6,7 1 6,7 2 6,7
Bulbo duplo - - 1 6,7 1 3,3
Total 15 100 15 100 30 100

Tabela 8.13 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno geral das lascas de
façonagem das réplicas de pontas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Quadrilátera 6 40,0 7 46,7 13 43,3
Triangular
5 33,3 3 20,0 8 26,7
invertida
Losangular 1 6,7 2 13,3 3 10,0
Triangular 1 6,7 2 13,3 3 10,0
Circular 1 6,7 1 6,7 2 6,7
Indefinido 1 6,7 - - 1 6,7
Total 15 100 15 100 30 100

Tabela 8.14 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de perfil das lascas de façonagem
das réplicas de pontas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Côncavo 9 60,0 12 80,0 21 70,0
Retilíneo 6 40,0 3 20,0 9 30,0
Total 15 100 15 100 30 100

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Tabela 8.15 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias organização da face superior das
lascas de façonagem das réplicas de pontas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Convergente 4 26,7 6 40,0 10 33,3
Duas nervuras verticais 3 20,0 - - 3 10,0
Uma nervura horizontal 2 13,3 3 20,0 5 16,7
Uma nervura vertical 2 13,3 2 13,3 4 13,3
Duas nervuras horizontais - - 1 6,7 1 3,3
Três Nervuras Horizontais - - 1 6,7 1 3,3
Duas nerv. vert. e uma hor. 1 6,7 - - 1 3,3
Forma de V 1 6,7 - - 1 3,3
Forma de Y 1 6,7 1 6,7 2 6,7
Forma de Y invertido - - 1 6,7 1 3,3
Lisa 1 6,7 - - 1 3,3
Total 15 100 15 100 30 100

Tabela 8.16 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de quantidade de córtex nas lascas
de façonagem das réplicas de pontas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Ausente 10 66,7 10 66,7 20 66,7
> 50 % 3 20,0 1 6,7 4 13,3
< 50 % 1 6,7 4 26,7 5 16,7
Completo 1 6,7 - - 1 3,3
Total 15 100 15 100 30 100

Tabela 8.17 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 20%) em lascas de façonagem
das réplicas de pontas Rioclarenses. A amplitude considerada para os valores foi o desvio padrão. Em negrito
estão representadas as variáveis que estão em acordo com as lascas de façonagem do sítio Alice Boer.
Atributos Valores de tendência central e variáveis mais frequentes
observados Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Massa 0,7 – 3,5 g 0,6 – 3,6 mm 0,7 – 3,5 mm
Comprimento total 17 – 33 mm 20 – 34 mm 19 – 33 mm
Largura máxima 19 – 39 mm 20 – 34 mm 20 – 36 mm
Espessura máxima 2 – 6 mm 3 – 5 mm 3 – 5 mm
Retilíneo (40 %) Retilíneo (33 %)
Asa (33 %)
Contorno do talão Vírgula (27 %) Asa (27 %)
Retilíneo (27 %)
Asa (20 %) Vírgula (20 %)
Cortical (33 %)
Facetado (80 %) Facetado (50 %)
Superfície do talão Liso (27 %)
Liso (20 %) Liso (23 %)
Facetado (20 %)
Largura do talão 5 – 21 mm 6 – 12 mm 4 – 18 mm
Espessura do talão 2 – 6 mm 1 – 3 mm 1 – 5 mm
Ângulo talão/ f. int. 97 – 117º 104 – 120º 101 – 119º
Lábio pouco exp. (53 %) Sem Lábio (70 %)
Cornija Sem Lábio (93 %)
Sem Lábio (47 %) Lábio pouco exp. (30 %)
Proeminência do Um bulbo exp. (67 %)
Um bulbo exp. (87 %) Um bulbo exp. (77 %)
bulbo Bulbo não expr. (20 %)
Quadrilátera (40 %) Quadrilátera (47 %) Quadrilátera (43 %)
Contorno da lasca
Triangular inv. (33 %) Triangular inv. (20 %) Triangular inv. (27 %)
Côncavo (60 %) Côncavo (80 %) Côncavo (70 %)
Perfil da lasca
Retilíneo (40 %) Retilíneo (20 %) Retilíneo (30 %)
N° de negativos 1–5 2–6 2–6
Organização da face Convergentes (27 %) Convergentes (40 %)
Convergentes (33 %)
superior Duas nerv. vert. (20 %) Uma nerv. vert (20 %)
Ausente (67 %) Ausente (67 %)
Quantidade de córtex Ausente (67 %)
> 50 % (20 %) < 50 % (27 %)

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Em comparação com as lascas analisadas da coleção do sítio Alice Boer, as lascas das
réplicas possuem diversas diferenças, tendendo a serem menos compridas, por exemplo. Ainda
que nas duas coleções as lascas mais finas possuam a mesma espessura, as lascas da coleção Alice
Boer podem ser muito mais espessas também.

Os talões do sítio Alice Boer tendem a ser retilíneos e circulares, porém, nas réplicas o
talão circular não foi apresentado como uma tendência, enquanto o talão retilíneo foi. Mas
também foram comuns nas réplicas os talões em asa e virgula, que originalmente não são tão
comuns. A superfície dos talões tende a variar entre lisos, facetados e corticais nas réplicas,
enquanto os originais tendem a ser apenas lisos. Os ângulos dos talões com a face interna também
se mostraram mais abrupta nas réplicas do que nas lascas originais.

Enquanto as lascas arqueológicas tendem a possuir cornijas sem lábio e um bulbo


proeminente, isso só foi notado em maior expressão nas lascas de percussão dura, ou na amostra
que mistura as lascas das duas técnicas. As lascas arqueológicas tendem a apresentar formas
quadriláteras. Isto também foi notado nas réplicas, mas por alguma razão que não está clara, lascas
com contorno triangular invertido também se apresentaram com certa tendência. O número de
negativos também tende a ser menor nas réplicas em relação às arqueológicas. Ainda que a
organização dos negativos se apresente similar entre as réplicas e as lascas arqueológicas, nas
réplicas a tendência da organização e negativos convergente é maior. A quantidade de córtex na
face superior das lascas apresenta-se de uma forma surpreendentemente similar.

8.3.3. Lesmas de sílex Corumbataí e arenito Botucatu silicificado


Não foi necessária a debitagem dos suportes de sílex para produção de lesmas. Os
suportes selecionados se tratam de lascas naturais (figura 8.9), ou seja, geofatos, encontrados no
ribeirão Cabeça, ao lado do sítio Alice Boer. As tabelas 8.18 e 8.19 apresentam as feições iniciais
e finais de cada peça transformada em lesma (figura 8.10).

Tabela 8.18 - Feições principais dos suportes de sílex utilizados no experimento de replicação de lesmas
Rioclarenses e seu resultado.
Código do Dimensões
Suporte Massa inicial (g) Resultado
experimento iniciais (mm)
RC.Si.8 Lasca > 500 135 x 75 x 56 Lesma
RC.Si.9 Lasca > 500 112 x 93 x 45 Lesma

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Figura 8.9 - Suportes utilizados para produção das réplicas de lesmas Rioclarenses.

Figura 8.10 - Réplicas de lesmas Rioclarenses produzidas pelo autor desta tese.

Tabela 8.19 - Feições métricas e tecnológicas das lesmas de sílex resultantes do experimento.
Variáveis
Atributos observados
RC.Si.8 RC.Si.9
Massa 114,3 g 209,8 g
Comprimento total 110 97
Largura máxima 49 63
Espessura máxima 24 37
Prop. Larg./Esp. 2/1 1,7/1
Org. negat. façonagem Transpassantes seletivos Paralelos c. nerv. vertical
Com. máx. façonagem 36 43

Para produção de uma lesma de arenito, foi selecionado o arenito amarelo, que possui
pouca presença de ferro em sua constituição. Esta escolha se deu uma vez que as lesmas analisadas

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neste projeto, quando feitas sob arenito silicificado, eram sempre os arenitos amarelos e brancos.
Infelizmente, no momento da realização do experimento controlado, apenas uma lasca detinha
estrutura, volume, e grau de silicificação adequados para replicação das lesmas Rioclarenses. De
todo modo, mais blocos de arenitos silicificado amarelo poderão ser coletados para futuros
experimentos controlados em um estudo mais completo. As tabelas 8.20 e 8.21 apresentam as
feições iniciais e finais da peça transformada em lesma.

Tabela 8.20 - Feições principais dos suportes de arenito silicificado utilizados no experimento de replicação de
lesmas Rioclarenses e seu resultado.
Código do Dimensões
Suporte Massa inicial (g) Resultado
experimento iniciais (mm)
RC.Ar.1 Lasca > 500 143 x 122 x 50 Lesma

Tabela 8.21 - Feições métricas e tecnológicas da lesma de arenito silicificado resultantes do experimento.
Variáveis da peça
Atributos observados
RC.Ar.1
Massa 257,1 g
Comprimento total 135
Largura máxima 60
Espessura máxima 35
Prop. Larg./Esp. 1,7/1
Org. façonagem Paralelos c. nerv. vertical
Com. máx. façonagem 48

Todas as peças apresentam atributos que as peças arqueológicas Rioclarenses também


apresentam, de modo que as lascas possuem potencial de referência para identificação de lascas
arqueológicas provenientes de façonagem de lesmas.

8.3.4. As lascas de façonagem das réplicas de lesmas de sílex Corumbataí


Felizmente, todas as lascas da produção das duas lesmas de sílex foram recuperadas e
separadas pela técnica de lascamento. O total de lascas é apresentado na tabela 8.22.
Curiosamente, a quantidade de lascas produzidas por cada técnica foi exatamente a mesma. Este
fato não foi notado durante a produção, na qual houve uma falsa percepção de que a percussão
macia era mais aplicada.

Tabela 8.22 - Total de lascas de sílex recuperadas dos experimentos de replicação de lesmas.
Percussão Percussão
Total de lascas
dura macia
32 32 64

A amostragem das lascas seguiu o mesmo princípio utilizado para análise das lascas
arqueológicas do sítio Alice Boer e Caetetuba. Ou seja, foram selecionadas para análise apenas
lascas que detinham no máximo o mesmo comprimento dos negativos de façonagem dos artefatos.
No caso das réplicas de lesmas de sílex, o comprimento máximo dos negativos atinge 43 mm.

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Doze lascas de façonagem (19% do total) superam o comprimento dos negativos, sendo que
apenas duas são relativas à percussão dura. As lascas mais compridas atingiam até 65 mm de
comprimento. Este dado demonstra que, ainda que o comprimento máximo dos negativos de uma
lesma possa dar base para identificar lascas de façonagem de lesmas, as lascas mais compridas
são ignoradas. Nesta análise, 30 lascas, sendo 15 de cada técnica, foram selecionadas
aleatoriamente para análise. As tabelas 8.23 até 8.33 apresentam os dados destas lascas. A tabela
8.34 compara os dados das lascas arqueológicas do sítio Alice Boer, onde há uma frequência
maior de lesmas e lascas de sílex dentre os sítios estudados neste projeto, com as réplicas.

Tabela 8.23 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem de sílex por percussão
dura das réplicas de lesmas.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa 15 1,1 23,4 8,0 7,0
Comprimento 15 18 43 31 8
Largura 15 16 61 35 13
Espessura 14 4 16 8 4
Largura do talão 14 5,0 27,0 14 7
Espessura do talão 15 1,0 10,0 5 3
Ângulo talão/ face interna 15 95 125 110 8
Número de negativos na face superior 15 0 7 4 2

Tabela 8.24 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem de sílex por percussão
macia das réplicas de lesmas.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa 15 1,5 20,8 8,8 6,6
Comprimento 12 24 50 35 7
Largura 15 20 49 34 10
Espessura 15 3 14 7 3
Largura do talão 14 3,0 17 12 4
Espessura do talão 15 0,1 9 4 2
Ângulo talão/ face interna 13 100 130 117 10
Número de negativos na face superior 15 3 10 6 2

Tabela 8.25 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem de sílex por percussão
dura e macia das réplicas de lesmas.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa 30 1,1 23,4 8,4 6,7
Comprimento 27 18 50 33 8
Largura 30 16 61 34 12
Espessura 29 3 16 8 3
Largura do talão 28 3 27 13 6
Espessura do talão 30 0,1 10 5 3
Ângulo talão/ face interna 28 95 130 113 10
Número de negativos na face superior 30 0 10 5 2

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Tabela 8.26 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno de talão das lascas de
façonagem de sílex das réplicas de lesmas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Circular 5 33,3 3 20,0 8 26,7
Retilíneo 4 26,7 3 20,0 7 23,3
Triangular 2 13,3 4 26,7 6 20,0
Asa 2 13,3 3 20,0 5 16,7
Vírgula 2 13,3 1 6,7 3 10,0
Linear - - 1 6,7 1 3,3
Total 15 100 15 100 30 100

Tabela 8.27 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de superfície de talão das lascas de
façonagem de sílex das réplicas de lesmas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Facetado 5 33,3 11 73,3 16 53,3
Liso 8 53,3 3 20,0 11 36,7
Cortical macio 1 6,7 - - 1 3,3
Diedro 1 6,7 - - 1 3,3
Indefinido - - 1 6,7 1 3,3
Total 15 100 15 100 30 100

Tabela 8.28 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de cornija das lascas de façonagem
de sílex das réplicas de lesmas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Sem lábio 13 86,7 5 33,3 18 60,0
Lábio pouco Proeminente 2 13,3 7 46,7 9 30,0
Lábio muito Proeminente - - 3 20,0 3 10,0
Total 15 100 15 100 30 100

Tabela 8.29 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de bulbo das lascas de façonagem
de sílex das réplicas de lesmas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Um bulbo Proeminente 11 73,3 8 53,3 19 63,3
Bulbo não Proeminente 2 13,3 5 33,3 7 23,3
Lascamento bulbar 2 13,3 2 13,3 4 13,3
Total 15 100 15 100 30 100

Tabela 8.30 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno geral das lascas de
façonagem de sílex das réplicas de lesmas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Quadrilátero 6 40,0 6 40,0 12 40,0
Circular 3 20,0 2 13,3 5 16,7
Indefinido 1 6,7 3 20,0 4 13,3
Laminar - - 3 20,0 3 10,0
Pentagonal 1 6,7 1 6,7 2 6,7
Triangular 2 13,3 - - 2 6,7
Triangular
2 13,3 - - 2 6,7
invertida
Total 15 100 15 100 30 100

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 8.31 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de perfil das lascas de façonagem de
sílex das réplicas de lesmas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Côncavo 9 60,0 11 73,3 20 66,7
Retilíneo 5 33,3 3 20,0 8 26,7
Convexo 1 6,7 1 6,7 2 6,7
Total 15 100 15 100 30 100

Tabela 8.32 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias organização da face superior das
lascas de façonagem de sílex das réplicas de lesmas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Convergente 2 13,3 7 46,7 9 30,0
Uma nervura vertical 5 33,3 4 26,7 9 30,0
Y 2 13,3 1 6,7 3 10,0
Lisa 2 13,3 - - 2 6,7
Duas nervuras verticais 1 6,7 1 6,7 2 6,7
Duas ner. vert. e uma hor. 1 6,7 1 6,7 2 6,7
Y invertido 1 6,7 1 6,7 2 6,7
V 1 6,7 - - 1 3,3
Total 15 100 15 100 30 100

Tabela 8.33 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de quantidade de córtex nas lascas
de façonagem de sílex das réplicas de lesmas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Ausente 14 93,3 14 93,3 28 93,3
Menos de 50 % 1 6,7 1 6,7 2 6,7
Total 15 100 15 100 30 100

Tabela 8.34 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 20%) em lascas de façonagem de
sílex das réplicas de lesmas Rioclarenses. A amplitude considerada para os valores foi o desvio padrão. Em
negrito estão representadas as variáveis que estão em acordo com as lascas de façonagem do sítio Alice Boer.
Atributos Valores de tendência central e variáveis mais frequentes
observados Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Massa 1,0 – 15,0 g 2,2 – 15,4 1,7 – 15,1 g
Comprimento total 23 – 39 mm 28 – 32 mm 25 – 41 mm
Largura máxima 27 – 48 mm 24 – 44 mm 22 – 46 mm
Espessura máxima 4 – 12 mm 4 – 10 mm 5 – 11 mm
Triangular (27 %)
Circular (27 %)
Circular (33 %) Circular (20 %)
Contorno do talão Retilíneo (23 %)
Retilíneo (27 %) Retilíneo (20 %)
Triangular (20 %)
Asa (20 %)
Liso (53 %) Facetado (53 %)
Superfície do talão Facetado (73 %)
Facetado (33 %) Liso (37 %)
Largura do talão 7 – 21 mm 8 – 16 mm 7 – 19 mm
Espessura do talão 2 – 8 mm 2 – 6 mm 2 – 8 mm
Ângulo talão/ face
102 – 118º 107 – 128º 103 – 123º
interna
Lábio pouco exp. (47 %)
Sem lábio (63 %)
Cornija Sem lábio (87 %) Sem lábio (33 %)
Lábio pouco exp. (23 %)
Lábio muito exp. (20 %)
Proeminência do Um bulbo exp. (73 %) Um bulbo exp. (63 %)
Um bulbo exp. (73 %)
bulbo Bulbo não exp. (33 %) Bulbo não exp. (23 %)
Quadrilátero (40 %) Quadrilátero (40 %)
Contorno da lasca Quadrilátero (40 %)
Circular (20 %) Indefinido (20 %)

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Côncavo (60 %) Côncavo (73 %) Côncavo (67 %)


Perfil da lasca
Retilíneo (33 %) Retilíneo (20 %) Retilíneo (27 %)
N° de negativos 2–6 4–8 3–7
Organização da face Uma nerv. vert. (33 Neg. converg. (47 %) Neg. converg. (30 %)
superior %) Uma nerv. vert. (27 %) Uma nerv. vert. (30 %)
Quantidade de córtex Ausente (93 %) Ausente (93 %) Ausente (93 %)

Em comparação com as lascas da coleção do sítio Alice Boer, que possui a maior
frequência de lesmas de sílex entre o sítios estudados, as lascas de façonagem das lesmas
replicadas possuem diversas similaridades de feições morfológicas e tecnológicas.

8.3.5. As lascas de façonagem das réplicas de lesmas de arenito Botucatu


Todas as lascas referentes à produção da lesma de arenito foram recuperadas e
devidamente separadas por técnica de lascamento. O total de lascas é apresentado na tabela 8.35.

Tabela 8.35 - Total de lascas de arenito silicificado recuperadas dos experimentos de replicação de lesmas.
Percussão Percussão
Total de lascas
dura macia
8 31 39

Diferente do que ocorreu com a produção de lesma de sílex, na produção da lesma de


arenito a percussão macia foi muito mais utilizada do que a percussão dura, e isso fica muito claro
na contagem de lascas de cada técnica.

No caso da réplica de lesma de arenito, os negativos de façonagem chegam a 48 mm de


comprimento, e 7 das 31 lascas de façonagem (18 % do total), sendo todas elas de percussão
macia, ultrapassam essa medida, atingindo até 70 mm de comprimento. A frequência de lascas
maiores do que o esperado é muito similar ao caso das réplicas de lesma de sílex. Das 31 lascas
de percussão macia, 15 foram analisadas. Todas as 8 lascas de percussão dura também foram
analisadas. As tabelas 8.36 até 8.46 apresentam os dados destas lascas. A tabela 8.47 compara os
dados das lascas arqueológicas do sítio Caetetuba, onde há uma frequência maior de lesmas e
lascas de arenito silicificado dentre os sítios estudados neste projeto, com as réplicas.

Tabela 8.36 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem de arenito silicificado
por percussão dura das réplicas de lesmas.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa 8 1,9 7,1 3,9 1,9
Comprimento 8 16 36 26 6
Largura 8 20 35 27 5
Espessura 8 6 12 8 2
Largura do talão 8 0,1 27 17 8
Espessura do talão 7 0,1 7 5 2
Ângulo talão/ face interna 6 100 115 108 5
Número de negativos na face superior 8 2 6 3 1

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Tabela 8.37 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem de arenito silicificado
por percussão macia das réplicas de lesmas.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa 12 1,1 11,5 4,9 3,4
Comprimento 13 16 48 30 9
Largura 12 18 42 30 6
Espessura 15 3 13 8 3
Largura do talão 15 7 25 13 6
Espessura do talão 15 2 7 4 2
Ângulo talão/ face interna 15 100 135 119 9
Número de negativos na face superior 14 3 7 4 1

Tabela 8.38 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem de arenito silicificado
por percussão dura e macia das réplicas de lesmas.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa 20 1,1 11,5 4,5 2,9
Comprimento 21 16 48 29 8
Largura 20 18 42 29 6
Espessura 23 3 13 8 3
Largura do talão 23 0,1 27 14 7
Espessura do talão 22 0,1 7 4 2
Ângulo talão/ face interna 21 100 135 115 10
Número de negativos na face superior 22 2 7 4 1

Tabela 8.39 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno de talão das lascas de
façonagem de arenito silicificado das réplicas de lesmas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Retilíneo 1 12,5 6 40,0 7 30,4
Circular 3 37,5 2 13,3 5 21,7
Vírgula 1 12,5 3 20,0 4 17,4
Asa - - 3 20,0 3 13,0
Triangular 1 12,5 1 6,7 2 8,7
Linear 1 12,5 - - 1 4,3
Puntiforme 1 12,5 - - 1 4,3
Total 8 100 15 100 23 100

Tabela 8.40 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de superfície de talão das lascas de
façonagem de arenito silicificado das réplicas de lesmas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Facetado 3 37,5 8 53,3 11 47,8
Liso 3 37,5 7 46,7 10 43,5
Diedro 2 25,0 - - 2 8,7
Total 8 100 15 100 23 100

Tabela 8.41 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de cornija das lascas de façonagem
de arenito silicificado das réplicas de lesmas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Sem lábio 7 87,5 12 80,0 19 82,6
Lábio muito proeminente 1 12,5 1 6,7 2 8,7
Lábio pouco proeminente - - 2 13,3 2 8,7
Total 8 100 15 100 23 100

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Tabela 8.42 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de bulbo das lascas de façonagem
de arenito silicificado das réplicas de lesmas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Um bulbo Proeminente 6 75,0 11 73,3 17 73,9
Bulbo não Proeminente 1 12,5 3 20,0 4 17,4
Bulbo duplo - - 1 6,7 1 4,3
Lascamento bulbar 1 12,5 1 4,3
Total 8 100 15 100 23 100

Tabela 8.43 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno geral das lascas de
façonagem de arenito silicificado das réplicas de lesmas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Quadrilátero 1 12,5 7 46,7 8 34,8
Pentagonal - - 7 46,7 7 30,4
Circular 5 62,5 - - 5 21,7
Triangular
1 12,5 - - 2 8,7
invertida
Triangular 1 12,5 1 6,7 1 4,3
Total 8 100 15 100 23 100

Tabela 8.44 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de perfil das lascas de
façonagem de arenito silicificado das réplicas de lesmas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Côncavo 6 75,0 11 73,3 17 73,9
Convexo 1 12,5 2 13,3 3 13,0
Retilíneo 1 12,5 2 13,3 3 13,0
Total 8 100 15 100 23 100

Tabela 8.45 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias organização da face superior das
lascas de façonagem de arenito silicificado das réplicas de lesmas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Duas nervuras verticais 2 25,0 3 20,0 5 21,7
Y invertido 2 25,0 3 20,0 5 21,7
Uma nervura vertical 1 12,5 3 20,0 4 17,4
Y 1 12,5 2 13,3 3 13,0
Convergente - - 2 13,3 2 8,7
Duas Nervura Horizontais - - 1 6,7 1 4,3
Lisa 1 12,5 - - 1 4,3
T - - 1 6,7 1 4,3
X 1 12,5 - - 1 4,3
Total 8 100 15 100 23 100

Tabela 8.46 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de quantidade de córtex nas lascas
de façonagem de arenito silicificado das réplicas de lesmas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Ausente 8 100,0 15 100,0 23 100,0
Total 8 100 15 100 23 100

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Tabela 8.47 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 20%) em lascas de façonagem de
arenito silicificado das réplicas de lesmas Rioclarenses. A amplitude considerada para os valores foi o desvio
padrão. Em negrito estão representadas as variáveis que estão em acordo com as lascas de façonagem do sítio
Caetetuba.
Atributos Valores de tendência central e variáveis mais frequentes
observados Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Massa 2,0 – 5,8 g 1,5 – 8,3 g 1,6 – 7,4 g
Comprimento total 20 – 32 mm 21 – 39 mm 21 – 37 mm
Largura máxima 22 – 32 mm 24 – 36 mm 23 – 35 mm
Espessura máxima 6 – 10 mm 5 – 12 mm 5 – 11 mm
Retilíneo (40 %)
Retilíneo (20 %)
Contorno do talão Circular (38 %) Vírgula (20 %)
Circular (22 %)
Asa (20 %)
Facetado (38 %)
Facetado (53 %) Facetado (48 %)
Superfície do talão Liso (38 %)
Liso (47 %) Liso (44 %)
Diedro (25 %)
Largura do talão 9 – 25 mm 7 – 19 mm 7 – 21 mm
Espessura do talão 3 – 7 mm 2–6 2 – 6 mm
Ângulo talão/ face
103 – 113º 110 – 128º 105 – 125 º
interna
Cornija Sem lábio (88 %) Sem lábio (80 %) Sem lábio (83 %)
Proeminência do Um bulbo proe. (74 %)
Um bulbo proe. (75 %) Um bulbo proe. (74 %)
bulbo Bulbo não proe. (20 %)
Quadrilátero (35 %)
Quadrilátero (47 %)
Contorno da lasca Circular (62 %) Pentagonal (30 %)
Pentagonal (47 %)
Circular (22 %)
Perfil da lasca Côncavo (75 %) Côncavo (73 %) Côncavo (74 %)
N° de negativos 2–3 3–5 3–5
Duas nerv. vert. (20 %)
Organização da face Duas nerv. vert. (25 %) Duas nerv. vert. (22 %)
Y invertido (20 %)
superior Y invertido (25 %) Y invertido (22 %)
Uma ner. vert. (20 %)
Quantidade de córtex Ausente (100 %) Ausente (100 %) Ausente (100 %)

Os resultados apontam que as tendências dos atributos das lascas de façonagem não se
assemelham com aqueles observados na coleção do sítio Caetetuba, ainda que a lesma replicada
possua feições bastante similares a de lesmas deste mesmo sítio. Na verdade, os atributos
apresentados são os mesmos, mas sua frequência se apresenta de modo diferente. A produção de
mais réplicas talvez ajude a responder este problema.

8.4. Replicando as pontas Garivaldinenses

8.4.1. Pontas pedunculadas de Arenito Botucatu silicificado


Devido à melhor resposta do arenito Botucatu silicificado à percussão macia, esta técnica
também foi priorizada na façonagem bifacial das pontas Garivaldinenses. A tabela 8.48 apresenta
as feições iniciais de cada suporte utilizado. A tabela 8.49 apresenta todos os atributos das pontas
pedunculadas que resultaram do experimento. Nos casos das peças não finalizadas foram apenas
descritos os fatores da interrupção da produção.

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Tabela 8.48 - Feições principais dos suportes de sílex utilizados no experimento de replicação de pontas
Garivaldinenses e seu resultado.
Código do Massa Dimensões
Suporte Resultado
experimento inicial (g) iniciais (mm)
Ga.Ar.1 Lasca 51,9 55 x 66 x 17 Ponta
Ga.Ar.2 Lasca 41,2 49 x 72 x 14 Pré-forma fraturada
Ga.Ar.3 Lasca 73,7 77 x 64 x 14 Pré-forma
Ga.Ar.4 Lasca 39,7 42 x 61 x 15 Ponta
Ga.Ar.5 Lasca 16,2 37 x 52 x 06 Ponta

Tabela 8.49 – Feições métricas, morfológicas e tecnológicas das pontas resultantes do experimento de replicação
de pontas Garivaldinenses. Em negrito estão destacadas as variáveis cuja replicação não está dentro do padrão
desejado – o padrão tecnológico das pontas Rioclarenses observado no capítulo 7.
Valores dos atributos das réplicas
Atributos Garivaldinenses
Ga.Ar.1 Ga.Ar.4 Ga.Ar.5
Massa 6,4 g 7,2 g 5,3 g
Comprimento total 44 mm 44 mm 35 mm
Largura máxima 24 mm 25 mm 21 mm
Espessura máxima 7 mm 7 mm 8 mm
Proporção
3,4/1 3,6/1 2,6/1
Largura/Espessura
Comprimento do
27 mm 28 mm 21 mm
corpo
Comp. do pedúnculo 17 mm 16 mm 14 mm
Comp. dos gumes 29 mm 30 mm 24 mm
Largura das aletas 24 mm 25 mm 21 mm
Largura do pescoço 15 mm 17 mm 12 mm
Largura do pedúnculo 15 mm 16 mm 14 mm
Espessura do corpo 5 mm 6 mm 7 mm
Espessura do pescoço 6 mm 7 mm 8 mm
Espessura do
7 mm 5 mm 6 mm
pedúnculo
Ângulo dos gumes 55º 60º 65 º
Contorno do corpo Triangular Triangular Triangular
Delin. dos gumes Retilíneo Retilíneo Retilíneo
Contorno das aletas Retilíneo Retilíneo Retilíneo
Delin. do pescoço Obtuso Obtuso Obtuso
Contorno do
Reto Bifurcado Reto
pedúnculo
Seção do corpo Elíptica Elíptica Elíptica
Seção do pedúnculo Elíptica Bielíptica Elíptica
Suporte Lasca Indefinido Lasca
Mét. façonagem Bifacial Bifacial Ausente
Téc. façonagem Percussão Percussão Ausente
Método de retoque Bifacial Bifacial Bifacial
Técnica de retoque Pressão Pressão Pressão
Organização dos Largos e Largos e Bordos
negativos do corpo seletivos seletivos retocados
Organização dos
Bordos Bordos Bordos
negativos do
retocados retocados retocados
pedúnculo

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Figura 8.11 - Suportes utilizados para produção das réplicas de pontas Rioclarenses.

Figura 8.12 - Réplicas de pontas Rioclarenses produzidas pelo autor desta tese.

Todas as peças foram produzidas sobre lascas debitadas de dois núcleos diferentes
(figura 8.11). As peças Ga.Ar.1 e Ga.Ar.4 foram façonadas bifacialmente e finalizadas
com retoques bifaciais por pressão (figura 8.12). Apesar da aparente resistência do
material e da grande frequência de lascas refletidas, sua qualidade para lascamento
superou as expectativas. A peça Ga.Ar.2 não foi finalizada, uma vez que a peça fraturou
durante a façonagem bifacial e nenhum do fragmentos apresentava estrutura ou volume
propícios para continuação. Já a peça Ga.Ar.3 foi abandonada durante a última etapa de
façonagem, pois não foi possível reduzir a espessura do centro da peça devido à grande

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quantidade de negativos refletido e perda do ângulo para lascamento. A peça Ga.Ar.5 não
passou por etapas de façonagem, uma vez que a lasca já possuía uma espessura dentro da
média Garivaldinense. Portanto, essa peça foi apenas retocada por pressão, de modo que
a espessura da peça só foi reduzida próxima ao ápice. No entanto, um dos bordos do
pedúnculo e pescoço da peça não foi finalizada, uma vez que não foi possível aplicar a
técnica de pressão devido à perda do ângulo para lascamento. Mesmo assim, algumas
pontas arqueológicas também apresentam características similares.

As únicas diferenças apontadas são métricas. Duas réplicas acabaram ficando


relativamente mais finas do que as pontas Garivaldinenses arqueológicas, e todas as demais
diferenças são milimétricas, e poderiam ser corrigidas com a aplicação de alguns retoques – o que
por sua vez diminuiria a proporção largura/espessura da peça, deixando-as ainda mais próximas
das arqueológicas. De todo modo, as lascas de façonagem apresentam grande potencial como
referência para identificação de lascas de façonagem de pontas Garivaldinenses.

8.4.2. As lascas de façonagem de arenito silicificado Botucatu


Assim como no experimento de pontas Rioclarenses, as lascas provenientes do
experimento foram coletadas na medida em que eram produzidas e separadas de acordo com a
técnica aplicada em sua produção. Infelizmente, diversas lascas acabaram por fraturar em várias
partes no momento da percussão, formando diversos detritos (figura 8.13), de forma que mesmo
uma remontagem fosse impossibilitada. Ainda não está clara a razão para que as lascas não saiam
tão inteiras quanto as lascas de sílex Rioclarenses, ou mesmo as lascas de façonagem da lesma de
arenito. Ainda que ambos os arenitos sejam originários da formação Botucatu, existem diferenças
regionais bastante expressivas na constituição dessas rochas. A tabela 8.50 apresenta a
quantificação de lascas de façonagem e retoque de pontas Rioclarenses recuperadas e analisadas
e a técnica de sua proveniência. Lascas cujo talão está ausente devido à quebra durante o
lascamento foram excluídas da contagem e descartadas devido à impossibilidade de análise do
talão, da cornija e do bulbo.

Tabela 8.50 - Total de lascas recuperadas dos experimentos de replicação de pontas Garivaldinenses.
Percussão Percussão
Pressão Total de lascas
dura macia
15 63 58 136

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Figura 8.13 - Detritos provenientes das cinco tentativas de replicação de pontas Garivaldinenses.

A amostragem das lascas seguiu o mesmo princípio utilizado para análise das lascas do
sítio Garivaldino. Ou seja, foram analisadas apenas as lascas inteiras de até 30 mm de
comprimento, uma vez que essa era a largura máxima das pontas e pré-formas do sítio. No
entanto, apenas uma lasca ultrapassou essa medida. Foram excluídas da análise as lascas menores
de 10 mm de comprimento, uma vez que essa foi a medida mínima das lascas Garivaldinenses
analisadas. Nenhuma lasca de pressão foi analisada, uma vez que nenhuma atingiu 10 mm de
comprimento. Das lascas que se enquadram nestas medidas, 15 lascas de cada técnica de
percussão foram selecionadas aleatoriamente e analisadas. Uma vez que quatro lascas de
percussão dura obtiveram menos de 10 mm, apenas 11 foram analisadas. As tabelas 8.51 até 8.61
apresentam os dados das lascas provenientes do experimento de replicação de pontas
Garivaldinenses. A tabela 8.62 compara os dados das lascas arqueológicas com as réplicas.

Tabela 8.51 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem por percussão dura
das réplicas de pontas Rioclarenses.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa 11 0,1 1,2 0,6 0,3
Comprimento 11 8 15 12 2
Largura 11 11 24 17 4
Espessura 11 1 7 4 2
Largura do talão 10 3 15 9 4
Espessura do talão 11 1 7 3 2
Ângulo talão/ face interna 11 90 125 109 11
Número de negativos na face superior 11 1 3 2 1

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Tabela 8.52 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem por percussão macia
das réplicas de pontas Rioclarenses.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa 13 0,3 1,4 0,8 0,4
Comprimento 14 13 27 18 4
Largura 15 10 26 17 4
Espessura 15 2 5 4 1
Largura do talão 15 4 15 10 3
Espessura do talão 15 1 5 3 1
Ângulo talão/ face interna 15 95 135 119 15
Número de negativos na face superior 15 1 4 3 1

Tabela 8.53 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem por percussão dura e
macia das réplicas de pontas Rioclarenses.
Desvio
Atributos métricos n Mínimo Máximo Média
padrão
Massa 24 0,1 1,4 0,7 0,4
Comprimento 25 8 27 16 5
Largura 26 10 26 17 4
Espessura 26 1 7 4 1
Largura do talão 25 3 15 9 4
Espessura do talão 26 1 7 3 2
Ângulo talão/ face interna 26 90 135 114 14
Número de negativos na face superior 26 1 4 3 1

Tabela 8.54 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno de talão das lascas de
façonagem das réplicas de pontas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Retilíneo 4 36,4 6 40,0 10 38,5
Circular 3 27,3 5 33,3 8 30,8
Triangular 2 18,2 1 6,7 3 11,5
Asa - - 2 13,3 2 7,7
Vírgula 2 18,2 - - 2 7,7
Pentagonal - - 1 6,7 1 3,8
Total 11 100 15 100 26 100

Tabela 8.55 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de superfície de talão das lascas de
façonagem das réplicas de pontas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Facetado - - 13 86,7 13 50,0
Cortical 6 54,5 1 6,7 7 26,9
Lisa 4 36,4 1 6,7 5 19,2
Diedro 1 9,1 - - 1 3,8
Total 11 100 15 100 26 100

Tabela 8.56 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de cornija das lascas de façonagem
das réplicas de pontas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Sem lábio 10 90,9 6 40,0 16 61,5
Lábio muito proeminente 1 9,1 6 40,0 7 26,9
Lábio pouco proeminente - - 3 20,0 3 11,5
Total 11 100 15 100 26 100

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 8.57 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de bulbo das lascas de façonagem
das réplicas de pontas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Bulbo não proeminente 6 54,5 10 66,7 13 50,0
Um bulbo proeminente 4 36,4 5 33,3 12 45,2
Lascamento bulbar 1 9,1 - - 1 3,8
Total 11 100 15 100 26 100

Tabela 8.58 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno geral das lascas de
façonagem das réplicas de pontas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Quadrilátero 5 45,5 6 40,0 11 42,3
Circular 4 36,4 1 6,7 5 19,2
Triangular - - 4 26,7 4 15,4
Irregular - - 2 13,3 2 7,7
Laminar horizontal 1 9,1 - - 1 3,8
Losangular - - 1 6,7 1 3,8
Pentagonal - - 1 6,7 1 3,8
Triangular invertido 1 9,1 - - 1 3,8
Total 11 100 15 100 26 100

Tabela 8.59 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de perfil das lascas de façonagem
das réplicas de pontas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Côncavo 4 36,4 11 73,3 15 57,7
Retilíneo 6 54,5 4 26,7 10 38,5
Convexo 1 9,1 - - 1 3,8
Total 11 100 15 100 26 100

Tabela 8.60 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias organização da face superior das
lascas de façonagem das réplicas de pontas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Lisa 5 45,5 - - 5 19,2
Uma nervura vertical 1 9,1 4 26,7 5 19,2
Duas nervuras verticais - - 4 26,7 4 15,4
Uma nervura horizontal 3 27,3 - - 3 11,5
Forma Y invertido - - 3 20,0 3 11,5
Convergente - - 2 13,3 2 7,7
Forma de Y 1 9,1 1 6,7 2 7,7
Duas nerv. vert. e uma hor. - - 1 6,7 1 3,8
Forma de T 1 9,1 - - 1 3,8
Total 11 100 15 100 26 100

Tabela 8.61 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de quantidade de córtex nas lascas
de façonagem das réplicas de pontas Rioclarenses.
Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Variáveis
n % n % n %
Ausente 5 45,5 14 93,3 19 73,1
Menos de 50 % 5 45,5 1 6,7 5 19,2
Mais de 50 % 1 9,1 - - 2 7,7
Total 11 100 15 100 26 100

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 8.62 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 20%) em lascas de façonagem
das réplicas de pontas Rioclarenses. A amplitude considerada para os valores foi o desvio padrão. Em negrito
estão representadas as variáveis que estão em acordo com as lascas de façonagem do sítio Garivaldino.
Atributos Valores de tendência central e variáveis mais frequentes
observados Percussão Dura Percussão Macia Ambas as Técnicas
Massa 0,3 – 0,9 g 0,4 – 1,2 g 0,3 – 1,1 g
Comprimento total 10 – 14 mm 14 – 22 mm 11 – 19 mm
Largura máxima 13 – 21 mm 13 – 21 mm 13 – 21 mm
Espessura máxima 2 – 6 mm 3 – 5 mm 3 – 5 mm
Retilíneo (36 %) Retilíneo (40 %) Retilíneo (38 %)
Contorno do talão
Circular (27 %) Circular (33 %) Circular (31 %)
Cortical (54 %) Facetada (50 %)
Superfície do talão Facetada (87 %)
Lisa (36 %) Cortical (27 %)
Largura do talão 5 – 13 mm 7 – 13 mm 5 – 13 mm
Espessura do talão 1 – 5 mm 2 – 4 mm 1 – 5 mm
Ângulo talão/ face
98 – 120 º 104 – 134º 100 – 128º
interna
Sem lábio (40 %)
Sem lábio (61 %)
Cornija Sem lábio (91 %) Lábio muito proe. (40 %)
Lábio muito proe. (27 %)
Lábio pouco proe. (20 %)
Proeminência do Bulbo não proe. (54 %) Bulbo não proe. (67 %) Bulbo não proe. (50 %)
bulbo Um bulbo proe. (36 %) Um bulbo proe. (33 %) Um bulbo proe. (45 %)
Quadrilátero (45 %) Quadrilátero (40 %)
Contorno da lasca Quadrilátero (42 %)
Circular (36 %) Circular (27 %)
Retilíneo (54 %) Côncavo (73 %) Côncavo (58 %)
Perfil da lasca
Côncavo (36 %) Retilíneo (27 %) Retilíneo (38 %)
N° de negativos 1–3 1–3 1–3
Uma nerv. vert. (27 %)
Organização da Lisa (45 %)
Duas nerv. vert. (27 %) Nenhuma tendência
face superior Uma nerv. hori. (27 %)
Forma de Y invert. (20 %)
Quantidade de Ausente (45 %)
Ausente (93 %) Ausente (73 %)
córtex Menos de 50% (45 %)

Em geral, as lascas replicadas tendem a ser menores em comprimento e largura e,


consecutivamente, a massa também é menor. Dentre as características tecnológicas, as diferenças
estão na proeminência do bulbo e na quantidade e organização dos negativos na face superior da
lasca. É possível que a diferença na proeminência do bulbo esteja relacionada a diferenças nas
constituição dos arenitos, que apresentam certa variedade local. Mas os demais atributos
diferentes, ainda que sejam poucos, implicam em diferenças significativas no planejamento da
sequência de façonagem entre pontas Garivaldinenses e suas réplicas.

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

9.
AS INDÚSTRIAS LÍTICAS PALEOÍNDIAS DO SUDESTE E SUL
DO BRASIL SOB A PERSPECTIVA EVOLUTIVA E
TECNOLÓGICA

9.1. A indústria Rioclarense


De maneira geral, a indústria Rioclarense é bem definida pela presença de pontas
pedunculadas e lesmas. As pontas Rioclarenses possuem um padrão cultural bastante definido por
atributos bem padronizados tais como o pedúnculo ovalado e uma tecnologia de façonagem
bifacial com negativos paralelos formando uma nervura vertical ou com negativos largos e
seletivos. Já no caso das lesmas, infelizmente, o seu tamanho amostral não é suficiente para
afirmar qualquer padrão tecnológico regional que permita verificar similaridades ou diferenças
das mesmas comumente associadas à Tradição Itaparica. A coleção do sítio Caetetuba nos permite
confirmar que a indústria Rioclarense surge no centro paulista há cerca de 11 mil anos, enquanto
a coleção do sítio Alice Boer nos permite afirmar que a longevidade desta indústria perdura até,
pelo menos, o Holoceno Médio. As outras coleções associadas a esta indústria não possuem datas
absolutas e nenhuma datação relativa foi possível até o momento, uma vez que intervenções nos
sítios nunca foram realizadas.

9.1.1. Tradição tecnológica no Sítio Alice Boer apesar dos problemas de


registro
Dada a conclusão de que ambos os pacotes estratigráficos definidos para o sítio Alice
Boer são homogêneos, duas possíveis interpretações para a sua ocupação vêm à tona. A primeira
hipótese é a de que o sítio foi ocupado desde antes do Holoceno Médio (possivelmente a partir do
Holoceno Inicial), e sua indústria lítica persiste tecnologicamente igual até o fim da ocupação. A
segunda hipótese é a de que ambos os pacotes estratigráficos comparados são contemporâneos,
sendo que o pacote superior (0-120 cm) está fora do contexto original, tendo sido removida do
seu contexto atual e depositada inversamente sobre o pacote inferior (120-330 cm), o que
explicaria a presença de material arqueológico do período histórico além da clara inversão das
datas absolutas.

Para responder a essas questões, mais pesquisas interventivas são necessárias a fim de
coletar boas amostras para datação do pacote inferior e verificar se as datas são mais antigas ou
contemporâneas ao pacote superior. Infelizmente, já foi verificado que o sítio possui um histórico
de problemas para coleta de boas amostras para datação, provavelmente devido à perturbação
estratigráfica (Araujo 2012). Apesar das inúmeras tentativas, apenas a datações de carvão

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

forneceram bons resultados, ainda que não nos permita ter certeza absoluta da organização
estratigráfica do sítio. Independente da hipótese verdadeira sobre sua estratigrafia, é observado
que os dois pacotes são tecnologicamente homogêneos.

Com relação à matéria prima utilizada, o rio Cabeça apresenta uma diversidade de seixos
e calhaus de sílex, além dos afloramentos de sílex da formação Corumbataí conhecidos na região
– sendo os qualitativamente melhores para lascamento aqueles provenientes de troncos
fossilizados a partir da silicificação de óleo.

9.1.2. Mudanças culturais do sítio Caetetuba


De modo geral, a indústria do sítio Caetetuba se apresenta diferente entre os dois períodos
identificados, a começar pela presença dos artefatos formais. Todas as pontas pedunculadas e a
maioria das lesmas estão presentes apenas durante o primeiro período de ocupação. No entanto,
as lesmas que ainda surgem no período mais recente parecem seguir o mesmo padrão tecnológico,
ainda que a amostra não seja suficiente para tornar isso mais claro. A diferenças nos atributos das
lascas de façonagem indicam uma mudança tecnológica na produção dos artefatos líticos do
Holoceno Inicial para os períodos mais recentes, mas ainda há uma persistência de certos
atributos. Essa diferença pode estar apenas relacionada à intensidade de produção de artefatos
entre os dois períodos, uma vez que o primeiro período apresenta cerca de 10 vezes mais peças
que no período mais recente que 9200 cal AP. A princípio, a amostra mais antiga que 9200 cal
AP do sítio Caetetuba parece similar àquela do sítio Alice Boer e da região de Iracemápolis,
considerando o padrão tecnológico das pontas e a presença das lesmas. Já a amostra mais recente
parece resultante de uma mudança nas atividades culturais dos grupos que ali ocupavam.

Sobre as fontes de matéria prima, foi verificado que o arenito silicificado na produção das
lesmas e observado na maioria das lascas é o mesmo que aflora nos arredores do sítio. Enquanto
a fonte de sílex mais próxima está no rio Tietê, há cerca de 10 km ao norte do sítio.

9.2. Tunas: um sítio, dois períodos de ocupação, duas indústrias


As diferenças tecnológicas no material lítico em ambos os períodos definidos para o sítio
Tunas é bem marcada pelos artefatos. A presença de pontas pedunculadas e das peças aqui
denominadas “lêsminas” durante o Holoceno Inicial e suas completas ausências em níveis mais
recentes que 8000 cal AP marcam uma diferença clara na indústria. O mesmo vale para o método
de debitagem laminar observado apenas durante o Holoceno Inicial. Os resíduos da façonagem
também apresentam diferenças métricas e tecnológicas marcantes.

De modo geral, o sítio Tunas, durante o Holoceno Inicial, foi palco de uma indústria lítica
marcada pela produção de pontas Estrela de sílex, lêsminas (pequenos raspadores sobre lâminas

339
MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

retocadas unifacialmente) de sílex, debitagem laminar sobre sílex, e grandes artefatos polidos de
basalto. Já o período mais recente apresenta apenas artefatos não formais de sílex e basalto, além
de introduzir a cerâmica.

As pontas Estrela são definidas pelo seu corpo triangular com gumes retos ou côncavos e
pedúnculo bifurcado, muitas vezes lembrando o formato de uma estrela de cinco pontas. Seu
tamanho é pequeno se comparado ao das pontas de outras indústrias, raramente ultrapassando 35
mm de comprimento. Seus negativos são bifaciais e organizados de forma seletiva convergente e
produzidos por pressão.

Ainda que o abrigo seja constituído de arenito, poucas peças de arenito silicificado foram
identificadas, sendo o sílex o material mais presente na coleção. É importante notar que esse sílex
é de uma qualidade de lascamento muito alta, tão vítreo como uma opala ou um sílex tratado
termicamente, e não se parece com o sílex normalmente encontrado no interior paulista. No
entanto, nenhuma fonte desse material é conhecida próxima ao abrigo.

Já com relação ao período mais recente que 8000 cal AP, várias diferenças significantes
na indústria podem ser notadas, sendo as principais a ausência de pontas, lêsminas e debitagem
laminar. Neste segundo período os artefatos são tecnologicamente mais simples, além de haver
uma mudança nas frequências do uso de matéria prima. As lascas apresentam diversas diferenças
significantes, sendo que os poucos traços tecnológicos delas que persistem podem ser resultantes
de deriva cultural. Afinal, indústrias diferentes podem produzir lascas com alguns poucos traços
similares. Não está claro se essa indústria mais recente está relacionada a alguma cultura
ameríndia, já que a cerâmica Itararé surge apenas em 40 cm de profundidade enquanto a indústria
lítica simples surge próximo aos 60 cm de profundidade, sendo relativamente mais antiga. Mas
sem datações absolutas isso não está claro.

9.3. Sítio Garivaldino, palco de uma sociedade tradicional milenar


Observando os principais tributos das pontas e lascas de façonagem do sítio Garivaldino
é possível perceber uma clara diferença de intensidade de ocupação do sítio, que se pode dividir
em três períodos. Apesar de cada período ter um nível de intensidade diferente, é possível verificar
uma continuidade cultural na indústria lítica do sítio, ainda que algumas mudanças possam ser
apontadas para cada período. Este resultado corrobora com os resultados previamente
apresentados por Okumura & Araujo (2014) provenientes da análise morfométrica.

Apesar da identificação de diferenças estatisticamente significantes na tecnologia, elas


não ocorrem todas ao mesmo tempo, mas gradualmente ao longo do Holoceno. Essas diferenças
não são significativas a ponto de identificarmos diferentes tecnologias de ponta no local, mas uma

340
MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

mesma indústria que sofre algumas alterações ao longo de milhares de anos. Considerando que o
sítio foi ocupado por esta mesma indústria desde há pelo menos 11.000 cal AP até o surgimento
da indústria cerâmica Taquara na região, a indústria lítica Garivaldinense é uma das maiores
tradições culturais já registradas em território americano e em um mesmo sítio. A indústria lítica
é marcada pela presença de centenas de peças bifaciais e pontas pedunculadas e apedunculadas
que apresentam uma limitada variabilidade morfológica e tecnológica.

As pontas foram denominadas de pontas Garivaldinenses e são definidas pelos seus


corpos formados por façonagem bifacial a partir de pressão ou percussão com negativos largos e
seletivos ou seletivos e convergentes ou paralelos convergentes, ou apenas por retoques, sem
façonagem, a partir de pressão, formando gumes irregulares ou retilíneos. Os pedúnculos em sua
maioria são retos ou bifurcados e formados a partir do retoque dos bordos.

Também está presente nesta indústria a Ponta Montenegro, definida pela sua façonagem
bifacial cujo corpo apresenta um contorno lamino-triangular, negativos paralelos formando uma
nervura vertical e gumes serrilhado produzidos por pressão e um pedúnculo de contorno bifurcado
formado por negativos convergentes a partir de pressão. É importante notar que a ponta
Montenegro já havia sido reconhecida como um tipo morfológico por Okumura & Araujo (2014)
e que foi denominado de “tipo 1”, sendo a única categoria tipológica dos autores a ter uma
correlação direta com a tecnologia de produção.

Existem também algumas pontas apedunculadas, geralmente feitas sobre ágata e que
raramente possuem algum tipo de façonagem, sendo a sua maioria formada por negativos de
retoque por pressão e possuem um contorno lanceolado ou afunilado. Essas pontas foram
denominadas de pontas Brochier.

As fontes de matéria prima para produção destas pontas são os afloramentos de arenito e
basalto das formações Botucatu e Serra Geral que estão presentes por toda a região ao redor do
sítio, sendo o próprio abrigo constituído de arenito. Já as fontes de ágata são os grandes rios da
região, sendo o rio Taquari o mais próximo do sitio Garivaldino, localizado a cerca de 30 km ao
leste. As margens do Taquari estão repletas de seixos e calhaus de ágata, fato este verificado em
visita de campo.

9.4. Experimentos fornecem dicas importantes


A arqueologia experimental ainda não é uma linha de pesquisa consolidada no Brasil.
Ainda não há nenhuma pesquisa brasileira já publicada que trate de buscar entender a tecnologia
lítica das culturas arqueológicas através de experimentos de replicação. Justamente por esta
pesquisa se sustentar, em parte, sobre uma abordagem pouco comum na arqueologia brasileira,

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

espera-se que o método utilizado na análise que combina tecnologia e experimentação torne-se
mais sistemática num futuro próximo. Mas ainda que esta seja apenas uma primeira tentativa de
aplicar tal abordagem, os resultados obtidos auxiliaram a compreender algumas questões e a
apontar outras.

Por exemplo, um pensamento equivocado que pode se fazer presente entre pesquisadores
com pouca ou nenhuma experiência no lascamento está relacionado à relação direta da forma com
a tecnologia de um artefato lítico. Na verdade, essa relação direta é rara. Uma mesma combinação
de métodos e técnicas pode dar origem a pontas pedunculadas de várias formas de corpo, aletas e
pedúnculos. Do mesmo modo, diferentes conjuntos de métodos e técnicas podem ser aplicados
na produção de lesmas bastante similares. Os resultados apresentados no capítulo 8 mostraram
como as lesmas replicadas, ainda que sejam bastante similares às arqueológicas, resultaram em
lascas de façonagem que são bastante similares às arqueológicas em alguns casos e bastante
diferentes em outros. A indústria Garivaldinense é uma evidência arqueológica de que forma,
método e técnica não estão necessariamente relacionadas, dada a variedade tecnológica e
morfológica das pontas, considerando que pontas de formas similares foram produzidas por
métodos e técnicas diferentes, e que um mesmo conjunto de métodos e técnicas foi utilizado para
ponta com formas diferentes. Até mesmo as pontas Estrela e Rioclarenses, que possuem forma e
tecnologia bastante consistentes, com pouca ou nenhuma variedade, poderiam ter as mesmas
formas se fossem produzidas a partir de outros métodos e técnica. A ponta Montenegro, presente
na indústria Garivaldinense, parece ser um dos raros tipos de artefatos onde há uma relação muito
maior entre forma e tecnologia. Afinal, o corpo laminar com gumes serrilhados e um pedúnculo
pequeno e bifurcado só pode ser produzido através de lascamento por pressão, e deixando a
porção média do corpo por último, uma vez que iniciar o lascamento neste local torna a ponta
mais delgada naquele local, fragilizando-a e tornando a possibilidade de fratura durante a
produção bastante alta.

De fato, um fato que o autor da tese pôde comprovar durante suas primeiras tentativas de
lascar peças alongadas ou laminares, é que peças com a porção média mais delgada ou fina em
relação às porções distais e proximais é que elas tendem a fraturar exatamente no meio em algum
momento de sua produção, uma vez que sua estrutura está comprometida. Portanto, é
aconselhável que peça alongadas e laminares sejam lascadas partindo de suas extremidades e
finalizando no meio da peça. E isso pôde ser notado em lesmas analisadas nesta pesquisa, assim
como na ponta Montenegro.

Uma relação direta mais coerente é aquela entre a tecnologia e a qualidade da matéria
prima, principalmente em termos de volume, estrutura e homogeneidade. Ainda que 90% das

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

coleções líticas provenientes de contextos paleoíndios brasileiros sejam caracterizadas pelo uso
do arenito silicificado (Morais 1983; Araujo e Pugliese Jr. 2009), dada a sua qualidade para
lascamento e abundância em território nacional, nota-se que para a produção de pontas
pedunculadas o sílex é preferível na maioria dos contextos, mesmo onde ele não é abundante –
sendo o sítio Tunas uma prova disso. Foi bastante perceptível, graças aos experimentos, que a
produção de pontas finas de façonagem bifacial é mais facilmente realizada sobre o sílex do que
nas peças de arenito, basalto ou ágata. Talvez isso explique a razão das pontas pedunculadas
Garivaldinenses não serem tão finas quanto às das outras indústrias. Não há nenhuma boa fonte
de sílex conhecida na região estudada, e a presença do sílex na coleção do sítio Garivaldino é
bastante rara. Logo, a espessura relativa das pontas bifaciais pode estar diretamente relacionada
à matéria-prima e não necessariamente à uma norma cultural de pontas espessas. Ainda que a
técnica de lascamento por pressão seja mais difícil sobre o arenito silicificado e ágata em relação
ao sílex, isso não impediu que a indústria Garivaldinense apresente pontas onde essa técnica é
comum, em especial nas pontas Montenegro e nas apedunculadas. Obviamente, a estrutura e o
volume do suporte da peça podem limitar a aplicação de métodos e técnicas, além de limitar a
variedade de produtos finais. Por exemplo, não se pode produzir uma lesma espessa a partir de
uma plaqueta muito fina. Afinal, no caso dos líticos, a produção só permite a redução do volume
de uma peça e nunca seu crescimento. Mas a estrutura original dos suportes nas três indústrias
não parece ter sido fatores que influenciaram na aplicação dos métodos e técnicas de lascamento.

Durante essa pesquisa também foi possível perceber que, em alguns casos, lascas de
façonagem de réplicas possuem grande potencial de utilização como coleção de referência para
identificação de lascas de façonagem de determinados artefatos arqueológicas dentre uma coleção
arqueológica composta por lascas provenientes de uma determinada diversidade de artefatos. Os
experimentos realizados neste projeto demonstraram similaridades entre lascas arqueológicas e
experimentais em alguns casos e diferenças em outros. É bastante provável que uma maior
quantidade de repetições do experimento, com um número maior de artefatos e lascas produzidas
e analisadas tornem os resultados mais acurados. O cenário ideal seria aquele que fosse possível
a análise dos artefatos de uma coleção arqueológica num primeiro momento, a replicação
sistemática através de experimentos controlados num segundo momento, a análise das lascas
replicadas num terceiro momento e, só aí então, a identificação e análise das lascas arqueológicas
deveria ser realizada. Obviamente, é possível que as lascas da coleção não apresentem as mesmas
tendências tecnológicas que as lascas provenientes dos experimentos, de modo que o/a
pesquisador(a) deverá buscar entender a razão desta diferença.

Também é bastante notável que, ainda que a percussão macia tenha uma tendência maior
a produzir lábios nas cornijas de lascas de sílex Corumbataí e arenito Botucatu silicificado do

343
MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

centro do Rio Grande do sul, apenas em metade dos casos este lábio é formado, seja ele bastante
ou pouco proeminente. Além disso, a percussão macia, assim como a percussão dura, também
tem um tendência muito alta de produzir lascas com bulbos proeminentes no sílex Corumbataí.
Já no caso do arenito gaúcho, tanto a percussão dura quanto a percussão macia produziram mais
lascas com bulbos discretos do que proeminentes. Estes resultados deixam claro que não há uma
regra geral de identificação de técnica de percussão através das feições apresentadas nas lascas,
uma vez que tais feições também dependem da matéria prima utilizada.

A replicação de pontas Rioclarenses ainda que tenha fornecido respostas importantes


sobre as feições deixadas por diferentes técnicas de percussão, não deixa claro se há uma
preferência por alguma dessas técnicas nas coleções arqueológicas. O mesmo pode ser dito em
relação à indústria Garivaldinense. Ainda que a coleção de lascas produzidas nos experimentos
possa servir como base para reconhecimento das lascas em coleções arqueológicas, é preciso
aceitar que a técnica de percussão ainda não pode ser devidamente identificada nestes dois casos.
Talvez mais experimentos possam resolver essa questão futuramente.

Um último ponto interessante de ser mencionado e que deve ser olhado mais atentamente,
está relacionado à similaridade de certos atributos entre lascas de façonagem de bifaces e lesmas.
Por exemplo, as lascas de façonagem de réplicas de lesmas e pontas Rioclarenses se mostraram
bastante similares com relação ao talão, ao perfil da lasca e à organização dos negativos na face
superior. Ainda que pareça lógica a tendência de bifaces a possuírem talões facetados, perfis
côncavos e negativos convergentes, estas mesmas tendências se apresentaram nas lascas de
façonagem de lesmas. Afinal, estas feições serão comuns quando a façonagem das lesmas é
caracterizada por retiradas que ultrapassam o meio da peça a fim de torná-la mais fina. Afinal, as
lascas devem possuir um ângulo mais abrupto e este ângulo só pode ser produzido a partir da
facetagem. Uma vez que a lasca é facetada para este fim, ela tende a ser mais comprida,
ultrapassando o meio da peça e removendo parte do negativos de lascas do outro lado da peça. E
obviamente, a face lascada das lesmas, plano-convexas, é a face convexa, formada por lascas
côncavas. É importante deixar claro que o fato de lesmas serem caracterizadas como artefatos
unifaciais, a “unifacialidade” em questão é referente à façonagem da peça. Também é necessário
atentar que os pequenos negativos na face plana da peça podem não estar relacionados a um
retoque bifacial, mas sim a negativos de facetagem do talão que não foram totalmente removidos
durante as últimas etapas de façonagem e retoque unifacial. E talvez ainda mais importante de se
discutir, seja a associação de lascas com essas feições apenas à produção de peças façonadas
bifacialmente. Fogaça (1995, 2001) realizou justamente essa associação, em um contexto onde
apenas um único aparente fragmento de ponta bifacial, o ápice, foi encontrado em meio a milhares
de peças provenientes do sítio Lapa do Boquete (norte de Minas Gerais), associado à Indústria

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Itaparica devida a numerosa presença de lesmas. No entanto, o autor não considerou a


possibilidade de que estas feições poderiam também estar associadas à produção das lesmas, e
desconsiderou o fato daquele fragmento bifacial é uma peça atípica e não necessariamente se trata
de uma fragmento de “ponta de projétil”. No sítio Caetetuba, por exemplo, onde o arenito é
exclusivamente utilizado para produção de peças unifaciais, mais de 20 % das lascas analisadas
possuem talão facetado e mais de 15% apresentam negativos convergentes na face superior. Ainda
que não sejam feições necessariamente comuns na produção de lesmas, elas existem, e não podem
ser associadas à produção de peças bifaciais sem evidências diretas. Este é apenas um exemplo
que pode ser apresentado para justificar a importância não só das análises das lascas, mas também
de buscar replicar os artefatos arqueológicos pensando além do produto final, ou seja, incluindo
feições que as lascas replicadas devem possuir.

Ainda que o principal foco desta pesquisa tenham sido os artefatos formais das indústrias
estudadas, principalmente das pontas pedunculadas que são as mais numerosas, a análise das
lascas paleoíndias também foi realizada. Já foi discutido nesta tese a importância de analisar não
apenas os produtos finais da indústria lítica, mas também os resíduos de lascamento. Ainda que
pareça redundante discutir isso novamente, é necessário enfatizar que é apenas a partir dos
resíduos de lascamento, como lascas e pré-formas abandonadas, que podemos ter alguma noção
sobre as etapas inicias de lascamento dos artefatos. E a existência de bancos de dados de lascas
que possam ser consultados, como os dados das lascas analisadas nesta tese, podem ser utilizados
para comparação com sítios das mesmas regiões estudadas e que não possuem produtos
finalizados nas coleções. Dessa forma é possível verificar se há similaridades tecnológicas entre
os resíduos de produção de uma coleção sem artefatos finalizados com uma coleção já associada
a uma indústria lítica. Há de considerar também os casos onde as lascas podem ser os artefatos
finalizado em si, como é o caso da Indústria Lagoassantense (Moreno de Sousa & Araujo 2018)
Em alguns casos, os resíduos de produção também podem apontar para a produção de artefatos
que não foram descartados no sítio estudado – como Fogaça (2001) buscou fazer. E os
experimentos demonstraram que produtos muito similares tecnologicamente também podem
apresentar resíduos distintos, resultantes de aspectos tecnológicos que nunca serão observados
apenas a partir da análise dos artefatos finalizados.

9.5. A história e processos cognitivos da produção dos artefato formais


Partindo do princípio que as coleções líticas estudadas nesta pesquisa correspondem a
sociedades caçadoras-coletoras, o início da cadeia operatória de todas as pontas líticas está no
objetivo de atender necessidades funcionais relacionadas a ela a partir da produção de artefatos
perfurantes, como lanças, dardos ou flechas. No caso das três indústrias analisadas, os artefatos
foram pensados para serem multicompostos. Ou seja, formados por várias partes, com pontas

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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líticas e cabos feitos de algum outro material, muito provavelmente de origem vegetal (ex:
madeira, bambu, taboa). Ainda que até mesmo uma simples lasca com algum bordo pontiagudo
ou bem afiado seja suficiente para servir como uma ponta, ou mesmo um fragmento ósseo afiado,
ou que a extremidade do cabo possa ser afiada, no caso das três indústrias estudadas a norma
cultural era a produção de pontas líticas. E é possível notar a diferença na cadeia-operatória dos
artefatos de cada indústria e os aspecto cognitivos que as guiaram.

No caso da indústria Rioclarense, foram produzidas apenas as pontas que foram


denominadas de Rioclarenses. Os grupos Rioclarenses claramente detinham conhecimentos da
geografia local com relação às melhores fontes de sílex para a produção das pontas e algumas
lesmas, assim como detinham conhecimento sobre fontes de arenito altamente silicificado para
produção de lesmas. Ainda que fosse possível produzir pontas Rioclarenses a partir de lascas de
arenito silicificado, abundante nos afloramento da Formação Botucatu do centro de São Paulo, a
preferência pelo sílex é bastante clara, principalmente as variedades de sílex mais homogêneas.

Ainda que a produção de raspadores possa ser realizada a partir de uma grande variedade
de métodos e técnicas, a Indústria Rioclarense claramente possui uma preferência cultural pelas
lesmas, assim como faz a Indústria Itaparica. Este é um traço cultural comum entre ambas as
indústrias. Mas diferem com relação à produção de pontas líticas. Se por um lado houve uma
transmissão de conhecimento sobre a produção de ponta bifaciais pedunculadas em grupos
Rioclarenses, isso não ocorreu em grupos Itaparica.

Não se pode ter certeza de qual era o suporte para a façonagem das pontas Rioclarenses.
Tanto a debitagem quanto o aproveitamento de seixos em forma de plaqueta são possibilidades
claras, devido ao reconhecimento das fontes de matéria prima da região. Mas com relação à
debitagem, ainda não há dados para relacionar a debitagem a algum método específico. Os
suportes das pontas costumam ser quase que exclusivamente façonados bifacialmente através da
percussão dura e/ou macia ou da pressão. Em alguns casos, a façonagem é realizada de modo que
uma pré-forma fina seja produzida a partir da retiradas largas e seletivas – ou seja, sem uma
orientação padronizada, retiradas selecionadas a fim de remover as porções mais espessas de cada
face – e o contorno da peça é produzido através e retoques. Este caso se mostrou o mais comum
no sítio Alice Boer. Em outros casos, especialmente, quando a pré-forma bifacial ainda está
espessa, retiradas paralelas em ambos os bordos e nas duas faces são realizadas, de modo que as
lascas não transpassem demasiadamente o meio da peça, formando assim uma nervura vertical
desde o ápice até o pedúnculo. Essa nervura as vezes é interrompida na área mais espessa da peça,
geralmente o pescoço, quando as lascas de façonagem, por alguma razão, não são longas o
suficientes para a remoção desta área. Estas peças não costumam apresentar uma etapa de retoque

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para dar um contorno à peça, mas apenas retiradas isoladas de retoque a fim de corrigir o
delineamento dos gumes. Este caso foi o mais observado nas pontas da região de Iracemápolis. A
figura 9.1 apresenta o esquema geral da produção das pontas Rioclarenses.

Não há evidências que permitem a associação direta do uso dessas pontas para uma
função específica e não existem motivos claros para o abandono dessas peças em cada um dos
locais onde elas foram encontradas. No caso do sítio de Iracemápolis no sítio Alice Boer, dada a
grande quantidade de pontas e lascas, é possível que estes locais fossem oficinas líticas. No caso
do sítio Caetetuba, devido à baixa quantidade de pontas e resíduos de sua produção, além da
distribuição em uma área tão pequena, é possível que o local fosse apenas um acampamento.

Figura 9.1 – Esquema de produção das pontas Rioclarenses. a: Negativos de façonagem com organização do tipo
“largos e seletivos”. b: Negativos de façonagem com organização do tipo “paralelos com uma nervura vertical”.
Pré-formas e produtos são modelos do sítio Alice Boer.

No caso da indústria Tunas, a preferência pelo sílex na produção de pontas e lêsminas


também é bem demarcada. Esse fator pode estar relacionado ao conhecimento que os grupos
Tunas tinham com relação à maior facilidade de aplicação da técnica de pressão sobre o sílex em
relação às outras matérias primas da região. E, claramente, estes grupos detinham o conhecimento
das fontes de sílex de alta qualidade para lascamento – conhecimento este que ainda falta ao autor
da tese. O suporte das pontas Estrela parece ser proveniente de debitagem. A debitagem laminar

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parece ser responsável pelo suporte das lêsminas, mas não se pode ter certeza se poderiam ser
responsáveis também pelos suportes das pontas. De todo modo, a cadeia operatória dessas pontas
pode ser descrita da seguinte forma: os suportes são façonados bifacialmente a partir do
lascamento por pressão com retiradas orientadas ao centro da peça, ao mesmo tempo em que o
contorno da peça é delineado. Sequências de retoques não são comuns, sendo o retoque realizado
apenas como retiradas isoladas e apenas necessárias para correção do delineamento de algum
gume. O esquema geral de produção dessas pontas é apresentado na figura 9.2.

Figura 9.2 - Esquema de produção das pontas Estrela identificadas na indústria Tunas. Pré-forma e produtos
são modelos do sítio Tunas.

Ainda que os pedúnculos não sejam exclusivamente bifurcados, a alta preferência deste
contorno sobre outros é bem clara. O fato de as pontas Tunas serem as menores e mais leves das
indústrias estudadas leva a associação destas ao encabamento de flechas, uma vez que pontas de
flecha não podem ser muito grandes e pesadas, como é o caso das maiores pontas Rioclarenses e
Garivaldinenses analisadas. O abandono das pontas no abrigo Tunas parece ser devido ao fato de
que as peças eram produzidas ali mesmo, onde outras atividades também ocorriam, dada a
presença de uma grande variedade de classes de vestígios líticos durante o Holoceno Inicial, como
raspadores, facas, fragmentos de ocre, etc.

No caso da indústria Garivaldinense, há uma variabilidade de matéria primas que não


existe nas demais indústria, ainda que esta seja pequena. Ainda que a variedade de matérias-
primas exista, ela se limita apenas ao uso do basalto de alta qualidade, à ágata e, principalmente,
ao arenito silicificado vermelho, rico em ferro – o mais abundante e de melhor qualidade dentre
os materiais existentes na região. Os métodos e técnicas aplicados na produção das pontas
Garivaldinenses e Montenegro tornam claro que estes grupos detinham dos mesmos aspectos
cognitivos necessários para a produção de pontas bifaciais pedunculadas de outras indústrias
líticas, mas não se limitavam a apenas uma ou duas variedades de pontas líticas. Ainda que seja
possível perceber um certa preferência métrica e morfológica para essas pontas que já sejam

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suficientes para distingui-las culturalmente das outras indústrias estudadas, com os pedúnculos
variando principalmente entre pedúnculos retos e bifurcados, a variabilidade tecnológica pode ser
explicada pela qualidade das matérias primas utilizadas. Diferente do sílex das indústrias Tunas
e Rioclarense, as matérias primas usadas na indústria Garivaldinense dificultam a aplicação
sistemática de apenas um ou dois conjuntos de métodos para a produção de pontas pedunculadas
dada a sua menor qualidade para lascamento. Logo, os aspectos cognitivos desses grupos
relacionados à tecnologia lítica nesses grupos possibilitaram a variedade de modos como se pode
produzir essas pontas.

O suporte das pontas Garivaldinenses parece ser exclusivamente proveniente de


debitagem, mas não foi possível identificar nenhum método de debitagem específico nesta
pesquisa, uma vez que os núcleos não puderam ser identificados e analisados. Além de nenhuma
peça apontar, mesmo que indiretamente, a suportes naturais, diversas pontas ainda apresentam a
área correspondente à debitagem preservadas, principalmente as afaçonadas, além das pré-formas
identificadas. Também é necessário apontar o fato de que os blocos de arenito que afloram na
região não apresentam estrutura e volume que sejam adequados à façonagem de pontas bifaciais.
O mesmo parece ocorrer para as pontas apedunculadas de ágata, uma vez que todas elas têm
suporte sobre lasca ou algum tipo de detrito de percussão sobre bigorna.

A cadeia operatória das pontas Garivaldinenses pode ser descrita da seguinte maneira:
debitagem a partir de método(s) ainda não definido(s); façonagem bifacial a partir do lascamento
por pressão ou percussão com retiradas de lascas [a] orientadas de forma convergente, as vezes
transpassantes ou [b] largas e seletivas, sem orientação padronizada ou [c] contorno produzido
apenas pelos retoques por pressão, sem façonagem. O esquema geral de produção de pontas
Garivaldinenses da indústria Garivaldinense é apresentada na figura 9.3.

Apesar das dificuldades apresentadas pelas matérias-primas, a ponta Montenegro é


produzida a partir de uma cadeia operatória bastante sistemática. As lascas, ou fragmentos de
lascas, são lascadas bifacialmente a fim de produzir uma lâmina de seção triangular. Toda a
produção da peça é realizada por pressão, afim de delinear gumes serrilhados. As retiradas são
sempre paralelas formando uma nervura vertical e diacronia das retiradas inicia nas extremidades
da peça e terminam no meio do corpo laminar – uma sequência que torna a fratura da peça durante
a produção menos provável de ocorrer. O esquema geral de produção de pontas Montenegro da
indústria Garivaldinense é apresentada na figura 9.4.

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Figura 9.3 - Esquema de produção das pontas Garivaldinenses identificadas na indústria Garivaldinense. a:
Negativos de façonagem com organização do tipo “largos e seletivos”. b: Negativos de façonagem com
organização do tipo “convergentes”. c: Não há façonagem, apenas retoques.

Figura 9.4 – Esquema geral de produção das pontas Montenegro identificadas na indústria Garivaldinense.

A produção das pontas Brochier não é complexa como a das pontas Garivaldinenses e
Montenegro. Lascas ou detritos finos de ágata são usados como suporte, os quais são retocados
unifacialmente ou bifacialmente até formarem um ápice afunilado, ou um corpo lanceolado. A
façonagem só é um traço comum em pontas apedunculadas no terceiro período de ocupação, e
quando ocorre é bifacial a partir do lascamento por pressão. O abandono das pontas no local
parece estar relacionado ao fato de que o sítio era uma oficina de pontas, dada a enorme

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quantidade de ponta finalizadas, pré-formas, e resíduos de produção. O esquema geral de


produção de pontas Montenegro da indústria Garivaldinense é apresentada na figura 9.5.

Figura 9.5 – Esquema geral de produção das pontas Brochier identificadas na indústria Garivaldinense.

É importante notar que, ainda que as matérias-primas e os suportes identificados nestas


indústrias não fossem fatores impeditivos para a produção de pontas com outras formas ou com
outras tecnologias, as preferências morfológicas e tecnológicas existiam para cada uma delas.
Nenhum fator explica diretamente essa diferença na cadeia operatória de cada indústria, além do
fato de que cada indústria lítica parece seguir diferentes tradições tecnológicas e morfológicas,
resultantes dos diferentes modos como os processos cognitivos eram realizados.

9.6. A evolução cultural das indústrias estudadas


Foi possível observar que todas as indústrias estudadas coexistiram por pelo menos alguns
milhares de anos, desde há pelo menos 11 até 9 mil anos cal AP. Depois disso a indústria
Rioclarense parece ter persistido sem claras modificações até meados do Holoceno Médio. A
indústria Tunas parece ter desaparecido ao fim do Holoceno Inicial e a indústria Garivaldinense
parece ter persistido até o surgimento da cerâmica (datações absolutas são necessárias para
confirmar esta hipótese). As mudanças culturais nas indústrias de pontas pedunculadas do Sul do
Brasil, com base no estudo destas coleções, não parecem ter sido tão velozes como em outras
indústrias que coexistiram durante o Holoceno Inicial no continente americano. A partir do
momento que as indústrias de pontas pedunculadas no Sudeste e Sul do Brasil surgiram, elas se
mantiveram praticamente estáveis até o seu desaparecimento completo e traços de ancestralidade
nas indústrias que seguiram posteriormente não são bem claros. Essa ausência de traços de
ancestralidade parece ser característica, também, das indústrias paleoíndias encontradas no Brasil,
já que não existem traços claros de uma relação com indústrias mais antigas na América do Norte
ou em outros continentes. As indústrias líticas paleoíndias surgem em território brasileiro como
inovações culturais bem definidas e assim persistem como tradições culturais por todo o Holoceno
Inicial até desaparecerem completamente cada uma em algum momento do Holoceno Médio e

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Final. No caso das pontas Garivaldinenses, além da tradição cultural, é possível observar a
variação cultural expressa pela variabilidade tecnológica das pontas.

Esta pesquisa demonstra essa persistência cultural a partir de uma abordagem tecnológica.
Okumura & Araujo (2014) já haviam demonstrado uma persistência cultural no sítio Garivaldino
a partir de uma abordagem morfogeométrica. A persistência das indústrias paleoíndias também
já havia sido notada na indústria Lagoassantense (Araujo 2015; Araujo et al. 2018; Moreno de
Sousa & Araujo 2018) e na indústria Itaparica (Rodet et al. 2011; Moreno de Sousa 2016a,
2016b). Essa persistência cultural, ou seja, a longa duração de uma série de aspectos culturais
com poucas modificações significantes parece ser um fator comum a todas essas indústrias líticas.
Portanto, ainda que a ideia de uma homogeneidade cultural em sítios de pontas pedunculadas no
Sudeste e Sul do Brasil (ou seja, o Modelo Umbu), possa ser descartada, a ideia de persistência
ao longo do tempo, de tradição, continua válida. E tradições tecnológicas que persistem ao longo
de milênios são resultados de processos de transmissão de conhecimento que ocorrem de maneiras
bastante sistemáticas. Em outras palavras, o ensino sobre como os artefatos devem ser produzidos
não parece sofrer alterações ao longo do tempo. Mesmo a tecnologia Garivaldinense, que é a mais
duradoura e, portanto, a que teria mais chances de sofrer mudanças significantes entre o início e
o fim de sua história, possui poucas diferenças significantes.

As culturas do paleoíndio posterior brasileiro são evidências de que a evolução cultural


das primeiras sociedades americanas não se deu de uma forma tão rápida em todas as partes do
continente. É importante notar que muitas das primeiras sociedades humanas no território
brasileiro ocupavam áreas com ambientes similares (ver cap.5.7), e mesmo assim elas eram
diferentes entre si. E ainda que algumas mudanças ambientais tenham ocorrido ao longo do
Holoceno em território brasileiro (Suguio 2010), isso não impediu que as tradições tecnológicas
persistissem.

9.7. Ainda falta uma delimitação geográfica e cronológica para as


indústrias de pontas pedunculadas
Os resultados da análise das coleções nesta pesquisa apontam claramente para três
indústrias tecnologicamente distintas no Brasil meridional que, de acordo com pesquisas
anteriores (ver cap. 4.5) teria sido palco de uma única tradição arqueológica. No centro de São
Paulo foi identificado em alguns sítios um padrão tecnológico que foi denominado de indústria
Rioclarense. Mas mais análises de coleções com presença simultânea de pontas e lesmas nas
regiões Sudeste e Sul são necessárias a fim de verificar a abrangência geográfica e cronológica
da indústria Rioclarense. Ainda que todos os sítios analisados e associados a esta indústria nesta
pesquisa estejam localizados no centro paulista, outros sítios mais distantes podem apontar

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padrões tecnológicos similares. O sítio Ribeirão (Chmyz 1975), localizado no município de


Paranaguá, litoral paranaense, é um exemplo de sítio com presença de lesmas e pontas que
aparentam ser tecnologicamente similares às Rioclarenses. Mas nenhum estudo tecnológico foi
conduzido até o momento a fim de verificar o padrão tecnológico daquela coleção.

O sítio Tunas apresenta um padrão tecnológico distinto daquele identificado no centro


paulista, e foi denominado de Indústria Tunas. Essa distinção já havia sido verificada também por
Okumura & Araujo (2016) a partir dos estudos morfométricos. Ainda que apenas um dos sítios
estudados tenha sido associado a esta indústria, não será nenhuma surpresa se em pesquisas
futuras mais sítios do leste paranaense possam ser associados devido à observação do mesmo
padrão tecnológico. Ainda que análises tecnológicas das coleções líticas de sítios desta região
ainda não tenham sido realizadas, algumas hipóteses apontam para a corroboração da hipótese da
existência de uma indústria tecnologicamente padronizada. Carmo Jr. (2015), reconhecendo este
problema, realizou uma análise tecnológica da coleção do sítio arqueológico Arroio do André
(PR-CT-65), localizado no município de São José dos Pinhais. Ainda que o autor não tenha
reconhecido a coleção com parte de uma indústria tecnologicamente distinta de outras
anteriormente associadas à Tradição Umbu devido à ausência de outras pesquisas tecnológicas,
as pontas do tipo Estrela, os raspadores sobre lascas laminares retocadas unifacialmente
(lêsminas) e os núcleos laminares analisados pelo autor (Carmo Jr. 2015: 72-102) apresentam o
mesmo padrão tecnológico observado no sítio Tunas. Portanto, a coleção do sítio Arroio do André
também pode estar associada à Indústria Tunas. Outros sítios do leste paranaense, como o sítio
Córrego Aterradinho (CEPA-UFPR 2009), sítio Kavales (Chmyz 1963), sítio Colonia 4 (Chmyz
1968), sítio Cambiju (Chmyz 1976) também apresentam pontas que parecem estar dentro do
padrões das ponta Estrela, assim como o sítio Rio Iguaçu 5 (Chmyz 1981), no oeste paranaense.
Infelizmente, ainda faltam datações absolutas para um melhor entendimento da distribuição
cronológica desta indústria, ou da distribuição de pontas do tipo Estrela em sítios que podem não
apresentar os mesmos padrões da indústria Tunas. Mas principalmente, faltam análises
tecnológicas que possibilitem responder a estas questões.

O sítio Garivaldino também apresentou um padrão tecnológico distinto da indústria Tunas


e da Rioclarense, e foi denominado de indústria Garivaldinense. A variabilidade tecnológica das
pontas líticas nesta indústria é maior do em qualquer outra coleção analisada nesta pesquisa. De
todo modo, ainda que apenas um sítio analisado nesta pesquisa tenha sido associado a indústria
Garivaldinense, é possível que mais sítios do centro-leste gaúcho sejam associados a ela após a

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realização de análises tecnológicas sistemáticas. O sítio Amanda Barth17, localizado no município


de Santa Cruz do Sul, é mais um exemplo de sítio arqueológico na região com centenas de pontas
bifaciais pedunculadas que apresentam o mesmo padrão de variabilidade tecnológica observada
no sítio Garivaldino e que pode ser associada à indústria Garivaldinense. Se observarmos as
figuras apresentadas em publicações sobre outros sítios do centro-leste gaúcho, o mesmo padrão
tecnológico de pontas do tipo Garivaldinense e Montenegro, assim como o padrão para pontas
apedunculadas, parece estar presente. Alguns exemplos que podemos citar como sítios
potencialmente associados à indústria Garivaldinense são: o sítio Cerrito Dalpiaz (E. Miller
1969a) Pedro Frigolino Schmitz (Schmitz 2006, 2010), sítio Toca Grande 2 (Dias 2003), sítio
Capivara (Dias 2012a), sítio Adelar Pilger (Dias & Neubauer 2010) e sítio Pororó (Garcia 2017).
Mas até mesmo sítios no Estado do Paraná apresentam pontas que aparentam ter similaridades
tecnológicas às Garivaldinenses, como o sítio Olaria Pelanda 1 (Chmyz 1995), sítio Rio Xagu 1
(Chmyz et al. 1981); sítio Rio Pequeno (Sganzerla et al. 1996). Mas análises tecnológicas ainda
são necessárias a fim de verificar essa possível associação e a distribuição geográfica da indústria
Garivaldinense.

E novas análises tecnológicas também são necessárias em coleções paleoíndias que não
foram estudadas nesta pesquisa (figura 9.4). É esperado que futuras pesquisas definam novas
indústrias líticas dada a presença de pontas pedunculadas que não parecem estar associadas às
indústrias definida nesta pesquisa. Podemos mencionar as pontas já conhecidas no oeste do Rio
Grande do Sul (veja: E. Miller 1969b, 1974, 1976; B. Silva 2014; Moreno de Sousa 2017; para
exemplos), do sul de Minas Gerais (veja: Koole 2014; para exemplos) do leste do Mato Grosso
do Sul (Kashimoto & Martins 2009a, 2009b) e até mesmo aquelas encontradas em sítios
paleoíndios da Amazônia (ver: Roosevelt 1996; Costa 2009; para exemplos).

17 Esta coleção ainda está em processo de análise pelo projeto de pesquisa de doutorado de Barth (2015) e
os seus resultados serão publicados em breve. Mas veja a dissertação de Barth (2013) para uma apresentação
das pontas da coleção do sítio que leva o nome de sua avó. Tive a oportunidade de verificar a coleção no
CEPA-UNISC, graças ao aceso cedido pelo Dr. Sérgio Klamt.

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Figura 9.6 – Área de abrangência das indústrias líticas apresentadas nesta pesquisa. Pontos de interrogação
representam locais conhecidos pela presença de sítios paleoíndios com indústrias de pontas pedunculadas em
território brasileiro e que nunca foram estudadas tecnologicamente.

9.8. Se as indústrias são tão diferentes, porque foi tudo associado a


uma mesma tradição arqueológica?
Nenhuma publicação realmente explana os motivos de tanto sítios e coleções
arqueológicas terem sido associados à Tradição Umbu. Ou pelo menos nenhuma vai além de
apenas justificar a presença de “pontas de projéteis”. Se pontas de projéteis fossem uma boa
justificativa para tal associação, porque não associar à Tradição Umbu todas as outras indústrias
sul americanas a ela também? Mas nenhum pesquisador estrangeiro o faz, ainda que os
pesquisadores brasileiros tivessem incluído todo o Uruguai e áreas próximas dos demais países
com os quais o Brasil faz fronteira. A resposta para essa associação é, talvez, mais óbvia do que
parece. Os pesquisadores brasileiros, ainda que não tenham admito isso em suas publicações,
muito provavelmente fizeram essa associação porque entendiam que a variabilidade cultural das
pontas líticas seria uma das principais características desta cultura arqueológica. Afinal, se
observarmos a variabilidade morfológica e tecnológica das primeiras pontas paleoíndias

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estudadas no Rio Grande do Sul, por exemplo, elas realmente apresentam certa variabilidade. O
sítio Garivaldino, estudado nesta pesquisa, é um exemplo bem claro disso. E logo mais os
pesquisadores entenderiam que isso se aplicaria a todas as outras indústrias líticas mais ao norte
do país. Aqui está o engano. Ao analisarmos com cuidado a tecnologia das pontas líticas do
interior paulista e do leste do Paraná vemos padrões tecnológicos bastante delimitados, não
apresentam uma variedade morfológica e tecnológica tão grande quanto as pontas do extremo Sul
do Brasil. Mas mesmo o sítio Garivaldino demonstrou que tal variabilidade é limitada até um
certo ponto. Nas pontas Rioclarense e Estrela, por exemplo apenas uma ou duas categorias de
organização de negativos e apenas uma categoria de contorno de pedúnculo são comuns, o que
torna a combinação tecnológica e morfológica bastante delimitada. O mesmo não ocorre nas
pontas da indústria Garivaldinense, exceto pela ponta do tipo Montenegro, que é um tipo
morfológico e tecnológico bastante específico. As pontas Garivaldinenses possuem pelo menos
duas categorias comuns de contorno de pedúnculo, e quatro categorias de organização dos
negativos de façonagem (quando existem). Essa variedade de tendências nos atributos das pontas
Garivaldinenses permite uma combinação muito maior de formas e técnicas, considerando que
morfologia e tecnologia em pontas pedunculadas não estão necessariamente relacionadas.
Portanto, é compreensível que, nos primórdios das pesquisas paleoíndias no Sul do Brasil, essa
variabilidade não fosse muito bem compreendida. Afinal, houve uma falta de sistematização nas
análises e, principalmente, faltou a preocupação em buscar entender os métodos e técnicas de
produção destas pontas.

Uma justificativa que pode ter feito sentido para os primeiros pesquisadores, é que
durante as primeiras ocupações a porção setentrional brasileira se caracterizou fortemente pela
presença abundante de raspadores unifaciais (as lesmas), enquanto o brasil meridional se
caracterizou pela ausência destes, e uma abundância de “pontas de projétil”. No entanto, esse fato
deveria ter sido observado por um outro ângulo, considerando que pontas líticas são comuns nas
primeiras grandes ocupações de todos os lugares do continente, exceto na área que hoje
compreendemos como ocupada pela indústria Itaparica. Partindo deste ponto de vista, faria
sentido buscar entender a variedade de pontas no Brasil meridional e compará-las com aquelas
em outras regiões do continente, além de buscar entender sua ausência no Brasil setentrional.

Apesar de em outros lugares do continente americano a classificação de culturas através


da presença de pontas basearem-se em abordagens tipológicas e tecnológicas – como, por
exemplo, as pontas Fell/Rabo-de-Peixe e Pay Paso na América do Sul e as pontas Clóvis e Folson
na América do Norte –, no Brasil, a Tradição Umbu englobou toda a variedade de pontas líticas,
principalmente as pedunculadas, dentro da mesma unidade cultural. Pesquisas recentes já vêm
demonstrando que há diferenças de formas e dimensões entre as pontas anteriormente associadas

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

à Tradição Umbu (ver: Okumura & Araujo 2013, 2014, 2016, 2017; Araujo & Okumura 2017;
para uma discussão completa). Mas nenhum outro trabalho jamais buscou verificar diferenças
culturais ao longo do tempo e espaço em indústrias associadas à Tradição Umbu a partir de uma
abordagem tecnológica.

9.9. Redefinir a Tradição Umbu não é uma opção


Ainda que faça sentido tentarmos redefinir a Tradição Umbu delimitando-a, talvez,
àquela variabilidade cultural de pontas líticas observadas no Rio Grande do Sul, o simples fato de
utilizarmos o termo “Umbu”, seja para chama-la de tradição, indústria ou cultura, a persistência
na associação de qualquer ponta lítica a ela, independente dos seus atributos tecnológicos, parece
anunciada. E essa associação já vem sendo questionada nos últimos anos (veja: Hilbert 1994;
Milder 1999, 2000, 2013, Dias & Hoeltz 2010; Okumura & Araujo 2013, 2016, 2017; Araujo &
Okumura 2017; Garcia 2017; Suárez et al. 2018; Moreno de Sousa & Okumura 2018; para
exemplos).

Uma vez que a Tradição Umbu foi tomada nesta pesquisa como uma hipótese a ser testada
e essa hipótese mostrou-se falsa, é proposto que se abandone o conceito de Tradição Umbu para
compreensão das indústrias de pontas líticas encontradas no Brasil. Ao invés disso, é proposto
que novos modelos de compreensão das primeiras indústrias líticas brasileiras sejam definidos a
partir de análises tecnológicas de coleções anteriormente associadas à Tradição Umbu,
verificando seus padrões culturais e as distribuições geográficas e cronológicas dos mesmos.
Neste sentido, é necessário considerar que duas indústrias diferentes podem abranger uma mesma
área geográfica, sejam em períodos diferentes o simultaneamente. Também é necessário
considerar que a presença de peças de uma indústria numa coleção cujos padrões remetem a outra
devem ser consideradas peças atípicas. Por exemplo, o fato de uma ponta Estrela estar presente
no meio de dezenas ou centenas de pontas Garivaldinenses não deve ser usado como justificativa
para englobar as pontas Estrela dentro da indústria Garivaldinense, uma vez que pontas Estrela
são uma característica cultural muito forte da indústria Tunas. Assim como o fato de a produção
de lesmas ser recorrente em sítios como Alice Boer e Caetetuba não significa que estas coleções
estejam relacionadas à indústria Itaparica. Apenas significa que a indústria Rioclarense
compartilha de uma mesma tradição tecnológica que a indústria Itaparica – ambas produzem
lesmas, mas apenas a indústria Rioclarense produz, além das lesmas, pontas com um padrão bem
definido de atributos tecnológicos. A produção de lesmas em ambas as indústrias pode ser
resultante de um fluxo cultural entre estas sociedades.

Espera-se que as próximas pesquisas sobre indústrias de pontas líticas encontradas no


Brasil entendam a Tradição Umbu como uma hipótese refutada, e que busquem identificar

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

indústrias com base nos aspectos tecnológicos de maior tendência dos vestígios líticos estudados
em suas coleções. E caso esse padrão se assemelhe fortemente com os das indústrias definidas
nesta pesquisa, que a elas sejam associadas tais coleções. Também é necessário atentar às
indústrias de pontas pedunculadas identificadas por Suárez (2017) no noroeste do Uruguai, como
a indústria Fell (ou Rabo-de-Peixe) e a indústria Pay Paso, uma vez que estas podem ter alguma
relação com aquelas existentes extremo sul do Brasil e que ainda não foram bem definidas. Já as
pontas Tigre parecem bastante similares às pontas que foram definidas neste trabalho sob a
alcunha de “ponta Garivaldinense”. Mas é necessário notar que a cronologia absoluta para as
pontas Tigre no Uruguai está entre 12.000 e 11.000 cal AP, enquanto a Indústria Garivaldinense
tem seu início em 11.000 cal AP – mesmo momento em que surgem as pontas Pay Paso no
Uruguai.

O modelo geral para divisão dos períodos de ocupação do continente americano propostos
nesta tese (figura 4.1) continua válido. Mas o modelo para entendimento específico do período
paleoíndio posterior brasileiro precisa ser redefinido. O Modelo Umbu não é válido para a
ocupação do Sudeste e Sul do Brasil, de modo que a cronologia destas culturas arqueológicas
precisa ser redefinida ao longo das próximas pesquisas sobre elas. A figura 9.5 apresenta um
modelo inicial para continuar sendo construído e modificado dado o resultado de novas pesquisas.

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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Figura 9.7 - Modelo para delimitação cronológica das culturas arqueológicas anteriormente definidas para o
período Paleoíndio Posterior (barras pretas) no território brasileiro.

9.10. Arqueologia evolutiva e arqueologia cognitiva como abordagens


teóricas que respondem aos problemas da pesquisa
Está bem claro que muitos dos conceitos discutidos e propostos nos capítulos teóricos
desta tese (cap. 2 e 3) formaram base para construção do protocolo de análise e interpretação dos
dados. O conceito de evolução cultural como o processo de mudanças culturais que sociedades
sofrem ao longo do tempo é a base para o entendimento da história das indústrias paleoíndias
estudadas. Observamos que nenhuma delas resultou em sociedade mais complexas, como seria o
esperado por ideologias progressistas. Observamos também que o conceito de cultura proposto,
“o conjunto de conhecimentos gerais coletivamente construídos, aplicados e transmitidos em uma
sociedade”, é totalmente aplicável para entendermos as culturas arqueológicas e distingui-las
umas das outras. Ou ao menos identificar diferentes indústrias líticas.

Em parte, essa pesquisa se debruçou sobre a arqueologia cognitiva, uma vez que buscou
entender alguns aspectos relacionados à construção, transmissão e evolução do conhecimento
relacionados à produção dos artefatos líticos pelos grupos paleoíndios, tendo discutido os

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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conhecimentos necessários para a produção de cada categoria de artefato analisado. Mas para
entender mais especificamente a evolução dessas indústrias, esta pesquisa se debruçou sobre a
arqueologia cognitiva, traçando paralelos entre a evolução biológica e a evolução cultural a partir
de conceitos adotados de outros autores, assim como propondo novos conceitos sobre evolução
cultural que traçam paralelos com a evolução biológica, os quais também se provaram bastante
eficazes para entender os resultados das análises e as diferenças e similaridades no tempo e espaço
identificadas.

É preciso admitir que há limitações ao tratar de evolução cultural quando as culturas


arqueológicas estudadas possuem poucos dados cronológicos que permitam dividir as coleções
em mais de dois ou três períodos, ou quando a amostra de espécimes para cada um destes períodos
é muito pequena. para contornar este problema, esta tese adota a teoria de que paralelos podem
ser traçados entre a evolução biológica e a evolução cultural, propondo que a evolução cultural
pode ocorrer por processos de seleção, fluxo, deriva e/ou inovação (cap. 2.5). Observamos todos
os processos de seleção cultural nos grupos paleoíndios. Por exemplo, observamos a variação
cultural na indústria Rioclarense e, principalmente, na Garivaldinense, uma vez que os
conhecimentos aplicados na produção de pontas pedunculadas não é sempre a mesma. A
competição cultural parece ter resultado no desaparecimento da indústria Tunas no sítio estudado,
uma vez que ela foi totalmente substituída por uma cultura arqueológica totalmente distinta,
menos complexa, em algum momento entre o Holoceno Inicial e Médio. E a herança cultural é
claramente marcada pelas tradições tecnológicas de todas as indústrias que perduraram por alguns
milênios.

Também verificamos o fluxo cultural entre diferentes culturas paleoíndias, como a


presença da tradição tecnológica de produção de lesmas na Indústria Rioclarense, geralmente
associada apenas à Indústria Itaparica. Também verificamos a deriva cultural ao observarmos que
as lascas persistem com uma tendência a apresentarem contornos quadriláteros e talões lisos e
circulares, mesmo quando há uma mudança abrupta da Indústria Tunas para uma indústria menos
complexa. E a inovação cultural é verificada, principalmente, ao observarmos as datas iniciais de
cada indústria e não identificarmos nenhuma clara ancestralidade para qualquer uma delas em
culturas arqueológicas mais antigas no continente.

Com relação aos fenômenos que podem resultar da evolução cultural propostos nesta tese,
observamos a persistência cultural, a tradição, na indústria Garivaldinense. Percebemos que ela
sofre algumas mudanças ao longo dos milênios, mas a maioria dos traços culturais ainda persiste
até que a indústria desaparece. Okumura & Araujo (2014) já haviam sugerido que as mudanças
registradas pela análise morfométrica seriam resultantes de possíveis erros de transmissão de

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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conhecimento. Observamos convergência cultural nestas indústrias quando percebemos alguns


dos mesmos traços culturais em indústrias que são, no aspecto geral, bastante distintas. Por
exemplo, pontas Estrela e algumas Garivaldinenses compartilham dos pedúnculos de contorno
bifurcado. Pontas Rioclarenses e Garivaldinenses possuem comprimentos bastante similares,
principalmente em relação ao corpo das pontas, e compartilham da mesma categoria de
organização dos negativos de façonagem do corpo em algumas pontas. Já a adaptação cultural
não foi um fator observável. Não há nenhuma mudança identificada pelo método de análise que
se seguiu em qualquer um dos aspectos culturais destas indústrias que possam estar relacionadas
a uma adaptação ao contexto em que estão inseridas. Uma forma que estudos de tecnologia tem
de verificar adaptação cultural foi demonstrada por Moreno de Sousa & Araujo (2018), ainda que
os autores não usassem desse conceito, com relação à Indústria Lagoassantense. Os autores
demonstraram que os métodos aplicados para a produção das pequenas lascas de quartzo são uma
adaptação à uma outra norma cultural daquela sociedade que fizeram esses grupos ignorarem
fontes de boas matérias primas mais abundantes e próximas dos locais ocupados. Ou seja, a
estrutura e volume dos pequenos cristais de quartzo limitaram a variabilidade tecnológica que
poderia ser aplicada, e os métodos de debitagem permite uma maior exaustão da matéria prima.
No caso das indústrias estudadas nesta tese nada semelhante foi observado.

Com relação à discussão sobre culturas arqueológicas e tradições arqueológicas e sua


relação com os resultados da análise, há de considerar que: similaridades de um único traço da
cultura material (ex: tecnológico, morfológico) podem não ser suficientes para associar uma
coleção de vestígios arqueológicos a uma única cultura arqueológica; padrões em traços culturais
não podem ser identificados enquanto tradições arqueológicas se elas não persistem ao longo do
tempo, e; culturas arqueológicas e tradições arqueológicas são construções modernas que nós,
arqueólogos e arqueólogas, realizamos sobre sociedades antigas com base em evidências
arqueológicas. No caso do contexto paleoíndio, as indústrias líticas tem sido a principal base para
identificação e associação de culturas arqueológicas, uma vez que muito pouco das outras
evidências culturais desses grupos ainda estejam preservadas se comparadas aos vestígios líticos,
como registro rupestres, indústria óssea, sepultamentos humanos, restos alimentares, etc. Mas o
pouco que existe, também deve ser considerado antes de usar as indústrias líticas como
marcadores absolutos de culturas arqueológicas paleoíndias.

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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10. CONSIDERAÇÕES FINAIS


Este trabalho realizou uma discussão sobre como as culturas se modificam ao longo do
tempo e espaço, dando origem à diversidade cultural em períodos contemporâneos de
determinadas área geográficas. Entendemos que essas mudanças espaço-temporais é o que
chamamos de evolução e que diversos traços equivalentes podem ser traçados entre a evolução
biológica e cultural. Também discutimos os problemas nas diversas propostas de definição de
cultura ao longo de mais de um século, concluímos que existe um certo consenso entre muitas
dessas definições e que ela deve ser esclarecida antes de se propor a analisar culturas humanas. E
principalmente, a necessidade de esclarecer o que se entende por cultura arqueológica e tradição
arqueológica. Também vimos como a arqueologia pode se beneficiar da abordagem cognitiva
para estudos de transmissão cultural em sociedades humanas antigas.

Entendemos a importância, especificamente, do estudo dos vestígios líticos para o estudo


das sociedades humanas antigas e a contribuição da abordagem tecnológica no estudos dos
mesmos. Vimos que o entendimento do conceito de cadeia operatória contribui para o estudo dos
processos que levam à existência dos artefatos arqueológicos e que experimentos de replicação
destes a partir da aplicação da mesma tecnologia reconhecida em culturas arqueológicas, é
essencial para um entendimento mais completo desta mesma tecnologia. Esta tese ainda propôs
uma protocolo de análise sistemática para vestígios líticos, considerando principalmente seus
atributos tecnológicos, que funciona perfeitamente para o estudo de indústrias paleoíndias, mas
que ainda pode ser revisto e aperfeiçoado. E vimos que a realização de experimentos possui um
grande potencial para auxiliar no reconhecimento e análise de determinados vestígios de diferente
indústrias líticas.

Todas estas discussões e propostas foram colocadas em prática no estudo de algumas


coleções paleoíndias localizadas no Sudeste e Sul do Brasil, especialmente naquelas onde é
registrada a presença de pontas pedunculadas, a fim de verificar a hipótese de que todas estas
coleções possuem significante homogeneidade cultural. Verificamos que esta hipótese é falsa e
que novos modelos para compreensão do período paleoíndio brasileiro devem ser pensados e
propostos. Nesta tese verificamos a existência de pelo menos três indústrias líticas
tecnologicamente distintas e que podem ser indicativos de que não existiu uma única cultura
arqueológica nesta área que possa ser chamada de Tradição Umbu, mas de uma diversidade
destas. E também verificamos que as mudanças culturais ocorrem em diferentes momentos em
cada uma das áreas estudadas, e que estas mesmas mudanças podem ser mais ou menos
significativas em diferentes indústrias líticas.

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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Ainda que consideremos que a Tradição Umbu não seja uma cultura arqueológica válida,
muitas pesquisas ainda precisam ser realizadas antes de se definir acuradamente a diversidade
cultural presente nos grupos paleoíndios sul-americanos. As indústrias Rioclarense, Tunas e
Garivaldinense são apenas algumas das indústrias líticas identificadas nesta pesquisa nesse
território antes associado à Tradição Umbu. E sua relação com indústrias ainda mais antigas ainda
não está clara. Ainda não sabemos qual é a origem destas indústrias e se há uma ancestralidade
comum a todas elas. Uma análise das pontas identificadas como Tigre, por exemplo, a partir dos
métodos propostos neste trabalho podem auxiliar num melhor entendimento desta questão.

Também notamos que a arqueologia brasileira ainda é carente em relação à aplicação das
abordagens teórico-metodológicas apresentadas nesta pesquisa. Ainda que possamos considerar
que a tecnologia lítica venha, paulatinamente, se tornando mais sistemática nos últimos anos, sua
aplicação junto à arqueologia experimental ainda é uma abordagem inédita. Espera-se que estudos
experimentais na arqueologia brasileira passem a ser mais frequentes, sistemáticos e controlados
nos próximos anos, uma vez que experimentos apresentam uma potencialidade que precisa ser
bastante explorada. Observamos também que são poucos os trabalhos que buscaram entender a
evolução cultural das sociedades que habitaram o continente por mais de 20 mil anos antes da
chegada de colonizadores e invasores vindos do Velho Mundo. Ainda que poucos trabalhos
tenham sido realizados neste sentido, os dados advindos da maioria das pesquisas arqueológicas
brasileiras possibilitam a aplicação destas abordagens a partir da análise de milhares de coleções
arqueológicas presentes nos museus brasileiros.

Já sabemos que existiu no atual território brasileiro uma enorme diversidade cultural em
termos geográficos e cronológicos. E como já foi dito no início desta tese, a compreensão da
diversidade cultural e sua história tende a acabar com preconceitos sobre as sociedades com as
quais não nos identificamos. Afinal, o preconceito (ou pré-conceito) sobre um determinado grupo
de pessoas é justamente o conceito que temos sobre esse grupo sem antes possuir um
conhecimento básico sobre ele. Por um lado, os estudos arqueológicos demonstram o quanto a
humanidade foi culturalmente diversa ao longo do tempo e espaço. Por outro, os estudos que
buscam entender a evolução das culturas humanas demonstram os fatores que podem ter levado
a essa diversidade que culmina na diversidade cultural registrada arqueologicamente e a que existe
atualmente. E, talvez, o mais importante a se considerar é que uma vez que entendemos, através
de evidências bem fundamentadas, os fatores que levaram à diversidade cultural da humanidade,
é provável que a discriminação, o medo e o ódio que muitos de nós possuímos de grupos com os
quais não nos reconhecemos tenda a diminuir. E não é apenas a realização de alguns poucos
trabalhos que resultarão nessa tendência. Muito mais precisa ser feito.

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 4.1 – Proposta de modelo para delimitação dos períodos culturais pré-históricos do
território brasileiro. ..................................................................................................................... 55
Figura 4.2 – Área aproximada de abrangência das culturas arqueológicas anteriormente definidas
pela literatura brasileira para o período Paleoíndio Posterior na América do Sul. ...................... 56
Figura 4.3 – Delimitação cronológica das culturas arqueológicas anteriormente definidas para o
proposto período Paleoíndio Posterior (barras pretas) no território brasileiro. ........................... 57
Figura 5.1 – Localização dos principais sítios arqueológicos estudados nesta pesquisa. AB: Alice
Boer. Ct: Caetetuba. Tu: Tunas. Ga: Garivaldino. Crédito do mapa: João Carlos Moreno de Sousa.
..................................................................................................................................................... 67
Figura 5.2 – Foto de satélite da área onde está localizado o sítio arqueológico Alice Boer (Janeiro
de 2018). A Estrela amarela indica sua localização. Modificado do original por: Google Earth,
CNES / Airbus............................................................................................................................. 68
Figura 5.3 – Exemplares da coleção João Boer, Setembro de 2015. Foto: João Carlos Moreno de
Sousa. .......................................................................................................................................... 69
Figura 5.4 – Croqui das escavações realizadas por Maria Beltrão no sítio arqueológico Alice Boer.
A seta vermelha indica a parede na qual foram coletadas novas amostras para datação em 2011,
por pesquisas coordenadas por Astolfo Araujo (2012). Modificado do original de Poupeau et al.
(1984). ......................................................................................................................................... 71
Figura 5.5 – Seção estratigráfica da parede oeste da trincheira I do Sítio Alice Boer. modificado
a partir do original (acervo do Museu Nacional, UFRJ). ............................................................ 73
Figura 5.6 - Parede oeste da trincheira I do Sítio Alice Boer em 1979. Fonte: Acervo do Museu
Nacional, UFRJ. .......................................................................................................................... 74
Figura 5.7 - Exemplos de seixos e calhaus de sílex com marcas de lascamento. Todas as peças
apresentam pátina típica de ambiente fluvial, tais como lustre dos negativos e arredondamento de
nervuras e arestas. Fotos: Ader Gotardo, 2011. .......................................................................... 75
Figura 5.8 – Exemplo de geofato de sílex proveniente da camada V, antigo leito fluvial do
Ribeirão Cabeça, proveniente das escavações do sítio Alice Boer coordenadas por Astolfo Araujo
em 2011. A peça apresenta lustre fluvial com diferença entre pátinas opacas (mais antigas) e mais
brilhosas (mais recentes). Fotos: Ader Gotardo, 2011. Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa.
..................................................................................................................................................... 76
Figura 5.9 - Início dos trabalhos realizados em Julho de 2011, coordenados por Araujo, no perfil
oeste da trincheira escavada por Beltrão em 1979, considerado mais adequado para os trabalhos
de retificação e coleta de amostras para datação. Foto: Astolfo Araujo. .................................... 77
Figura 5.10 – Retificação perfil oeste da trincheira realizada em julho de 2011. A integrante do
projeto aponta para um vestígio lítico exposto no perfil. Foto: Astolfo Araujo.......................... 77
Figura 5.11 – Exemplos de troncos fossilizados silicificados encontrados entre Rio Claro e
Iracemápolis. A foto de baixo detalha uma porção fraturada com alto grau de silicificação. Fotos:
João Carlos Moreno de Sousa, 2018. .......................................................................................... 78
Figura 5.12 - Foto de satélite da área onde está localizado o sítio arqueológico Caetetuba (janeiro
de 2018). A Estrela amarela indica sua localização. modificado do original por: Google Earth,
CNES / Airbus............................................................................................................................. 79
Figura 5.13 – Croqui das intervenções no sítio Caetetuba realizadas em 2016. Fonte: Troncoso et
al. (2016). .................................................................................................................................... 80
Figura 5.14 – Seção estratigráfica sul da UE1, sítio Caetetuba. Modificado do original por
Zanettini Arqueologia (2016). ..................................................................................................... 81

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Figura 5.15 - Seção estratigráfica sul da UE1, sítio Caetetuba. Modificado do original por
Zanettini Arqueologia (2016). ..................................................................................................... 82
Figura 5.16 – Abertura da UE1 no sítio Caetetuba. Fonte: Troncoso et al. (2016). ................... 82
Figura 5.17 – Sítio Caetetuba, maio de 2018. O círculo preto aponta a localização da antiga
unidade de escavação UE1. Note o plástico preto rasgado que protegia a superfície da escavação.
Foto: João Carlos Moreno de Sousa. ........................................................................................... 83
Figura 5.18 - Foto de satélite da área onde está localizado o sítio arqueológico Santa Cruz (abril
de 2017). A Estrela amarela indica sua localização. Modificado do original por: Google Earth,
DigitalGlobe. ............................................................................................................................... 84
Figura 5.19 – Sítio arqueológico Santa Cruz, janeiro de 2015. A: Localização dos vestígios
identificados e coletados no sítio Santa Cruz. B: Lasca cortical de sílex. C: Lâmina de machado
polido em arenito. D: Ponta pedunculada de sílex. Crédito das imagens: ValVerde
Consultoria/Adriana Meinking Guimarães. ................................................................................ 85
Figura 5.20 – Sítio arqueológico Paineira, fevereiro de 2018. Acima, a arqueóloga Gabriela
Mingatos realizando prospecção visual no local. Abaixo, fragmento da porção média (pescoço e
aletas) de uma ponta pedunculada feita em sílex. ....................................................................... 86
Figura 5.21 - Foto de satélite da área onde está localizado o sítio arqueológico Tunas (junho de
2017). A Estrela amarela indica sua localização. modificado do original por: Google Earth, CNES
/ Airbus. ....................................................................................................................................... 87
Figura 5.22 – Perfil e mapa esquemáticos do abrigo, indicando em vermelho a localização da
escavação realizada entre 2001 e 2006. Modificado do original por Chmyz et al. (2008). ........ 89
Figura 5.23 – Escavação das unidades Corte 3 (mais acima na foto) e Corte 4 (mais abaixo na
foto) no sítio arqueológico Tunas em 2015. Crédito da foto: Mercedes Okumura. .................... 89
Figura 5.24 - Croqui da exposição do sepultamento e da estrutura da combustão dos cortes 1 e 2.
Imagem adaptada de Chmyz et al. (2008)................................................................................... 90
Figura 5.25 - Estratigrafia do perfil leste da escavação do sítio Tunas. Modificado do original de
Chmyz et al. (2008)..................................................................................................................... 90
Figura 5.26 – Sítio arqueológico Tunas, maio de 2018. Acima: Panorama da área abrigada do
sítio. A arqueóloga Gabriela Mingatos está posicionada no limite noroeste do antigo Corte 3 da
escavação coordenada por Igor Chmyz. Abaixo: Exemplo de lasca de sílex encontrado em
superfície. Fotos: João Carlos Moreno de Sousa. ....................................................................... 91
Figura 5.27 - Foto de satélite da área onde está localizado o sítio arqueológico Garivaldino, julho
de 2016. A Estrela amarela indica sua localização. modificado do original por: Google Earth,
DigitalGlobe. ............................................................................................................................... 92
Figura 5.28 – Croqui das escavações coordenadas por Pedro Mentz Ribeiro entre 1987 e 1989 no
sítio Garivaldino. Modificado do original por Mentz Ribeiro & Ribeiro (1999). ....................... 94
Figura 5.29 – Estratigrafia do sítio Garivaldino. Modificado do original por Mentz Ribeiro &
Ribeiro (1999). ............................................................................................................................ 95
Figura 5.30 – Sítio Garivaldino, abril de 2018. Esquerda: A arqueóloga Gabriela Mingatos está
posicionada no limite sul do antigo Corte Experimental da escavação coordenada por Mentz
Ribeiro. Direita: Concentração de lascas e fragmentos de arenito silicificado, ágata e basalto na
superfície próxima a área escavada. Fotos: João Carlos Moreno de Sousa. ............................... 96
Figura 5.31 – Cartas clinográfica (acima) e altimétrica (abaixo) do entorno do sítio arqueológico
Alice Boer. Cartas produzidas através de edição de imagens Aster e mapas topográficos do IBGE.
Crédito: Pedro Michelutti Cheliz. ............................................................................................... 98

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Figura 5.32 - Cartas de distribuição dos afloramentos da Formação Botucatu no entorno dos sítios
arqueológicos Alice Boer e Caetetuba. Cartas produzidas através de edição de imagens Aster e
mapas topográficos do IBGE. Crédito: Pedro Michelutti Cheliz. ............................................. 100
Figura 5.33 - Cartas clinográfica (acima) e altimétrica (abaixo) do entorno do sítio arqueológico
Caetetuba. Cartas produzidas através de edição de imagens Aster e mapas topográficos do IBGE.
Crédito: Pedro Michelutti Cheliz. ............................................................................................. 101
Figura 5.34 - Cartas clinográfica (acima) e altimétrica (abaixo) do entorno do sítio arqueológico
Tunas. Cartas produzidas através de edição de imagens Aster e mapas topográficos do IBGE.
Crédito: Pedro Michelutti Cheliz. ............................................................................................. 105
Figura 5.35 - Cartas clinográfica (acima) e altimétrica (abaixo) do entorno do sítio arqueológico
Garivaldino. Cartas produzidas através de edição de imagens Aster e mapas topográficos do
IBGE. Crédito: Pedro Michelutti Cheliz. .................................................................................. 106
Figura 5.36 - Cartas de distribuição dos alforamentos da Formação Botucatu no entorno do sítio
arqueológico Tunas. Cartas produzidas através de edição de imagens Aster e mapas topográficos
do IBGE. Crédito: Pedro Michelutti Cheliz. ............................................................................. 108
Figura 5.37 - Cartas de distribuição dos alforamentos da Formação Botucatu no entorno do sítio
arqueológico Garivaldino. Cartas produzidas através de edição de imagens Aster e mapas
topográficos do IBGE. Crédito: Pedro Michelutti Cheliz. ........................................................ 109
Figura 6.1 – Partes anatômicas de uma lasca. Peça utilizada: Lasca de obsidiana produzida em
atividade experimental. Desenho: João Carlos Moreno de Sousa. ............................................ 111
Figura 6.2 - Partes principais de uma ponta bifacial pedunculada. Desenho: João Carlos Moreno
de Sousa. Ponta utilizada para o desenho: Coleção particular João Boer, proveniente do sítio Alice
Boer (Ipeúna, SP). ..................................................................................................................... 117
Figura 6.3 – Mensurações de distância entre os principais pontos anatômicos de uma ponta
pedunculada. Desenho: João Carlos Moreno de Sousa. ............................................................ 119
Figura 6.4 – Exemplos de categorias de contorno de pontas pedunculadas encontradas no Brasil.
Desenho: João Carlos Moreno de Sousa. .................................................................................. 120
Figura 6.5 – Exemplos de categorias de delineamento de gumes ativos em pontas pedunculadas
encontradas no Brasil. Desenho: João Carlos Moreno de Sousa............................................... 120
Figura 6.6 – Exemplos de categorias de contorno de aletas de pontas pedunculadas encontradas
no Brasil. Desenho: João Carlos Moreno de Sousa................................................................... 121
Figura 6.7 - Exemplos de categorias de delineamento do pescoço de pontas pedunculadas
encontradas no Brasil. Desenho: João Carlos Moreno de Sousa............................................... 121
Figura 6.8 - Exemplos de categorias de contorno de pedúnculos de pontas encontradas no Brasil.
Desenho: João Carlos Moreno de Sousa. .................................................................................. 121
Figura 6.9 - Exemplos de categorias de contorno de seções transversais do corpo e dos pedúnculos
de pontas encontradas no Brasil. Desenho: João Carlos Moreno de Sousa. ............................. 122
Figura 6.10 - Exemplos de categorias de orientação dos negativos de façonagem de pontas
pedunculadas encontradas no Brasil. Desenho: João Carlos Moreno de Sousa. ....................... 122
Figura 6.11 – Tipos de acanaladuras encontradas em pontas paleoíndias sul-americanas. Desenho:
João Carlos Moreno de Sousa. .................................................................................................. 123
Figura 6.12 - Partes principais de uma lesma. Desenho modificado do original por João Carlos
Moreno de Sousa. Peça utilizada para base do desenho: Coleção do sítio arqueológico Córrego
do Ouro 19 (GO-CP-17) (Palestina de Goiás, GO). .................................................................. 125
Figura 6.13 - Exemplos de categorias de organização dos negativos de façonagem de lesmas.
Desenho: João Carlos Moreno de Sousa. .................................................................................. 127
Figura 6.14 – A diferença entre uma lasca fragmentada e um fragmento de lasca. .................. 129

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Figura 6.15 – Mensurações realizadas no talão. ........................................................................ 129


Figura 6.16 – Exemplos de categorias de contorno de talão. .................................................... 130
Figura 6.17 - Exemplos de categorias de superfície de talão. ................................................... 130
Figura 6.18 – Identificação de preparação nas lascas. .............................................................. 130
Figura 6.19 – Categorias de delineamento de cornija. .............................................................. 131
Figura 6.20 – Categorias de bulbo. ........................................................................................... 131
Figura 6.21 – Categorias de contorno geral da lasca. ................................................................ 131
Figura 6.22 – Categoria de perfil de lasca. ................................................................................ 132
Figura 6.23 – Exemplos de categorias de organização da face superior das lascas. ................. 132
Figura 6.24 – Exemplos de lascas com feições que podem ou não ser acidentais. ................... 133
Figura 7.1 – Vestígios materiais de presença humana em períodos históricos. As peças aparecem
em até 120 cm de profundidade da camada III, indicando perturbação estratigráfica
provavelmente antrópica. .......................................................................................................... 141
Figura 7.2 – Pontas pedunculadas do pacote 0-120 cm da coleção do sítio Alice Boer. Desenhos:
João Carlos Moreno de Sousa. Peças com número de tombo 64194 até 64205........................ 143
Figura 7.3 - Pontas pedunculadas do pacote 0-120 cm da coleção do sítio Alice Boer. Desenhos:
João Carlos Moreno de Sousa. Peças com número de tombo 64268 até 66470........................ 144
Figura 7.4 - Pontas pedunculadas do pacote 0-120 cm da coleção do sítio Alice Boer. Desenhos:
João Carlos Moreno de Sousa. Peças com número de tombo 68312 até 72092........................ 145
Figura 7.5 - Pontas pedunculadas do pacote 120-130 cm da coleção do sítio Alice Boer. Desenhos:
João Carlos Moreno de Sousa. Peças com número de tombo 64316 até 68702........................ 145
Figura 7.6 - Pontas pedunculadas do pacote 120-130 cm da coleção do sítio Alice Boer. Desenhos:
João Carlos Moreno de Sousa. Peças com número de tombo 64196 até 64203........................ 146
Figura 7.7 - Diacronia das pontas pedunculadas do pacote 0-120 cm da coleção do sítio Alice
Boer. As setas indicam direcionamento das sequências de lascamento nos casos onde as retiradas
organizadas direccionalmente. Áreas vermelhas representam áreas fraturadas. Desenhos: João
Carlos Moreno de Sousa. Peças com número de tombo 68312 até 72092. ............................... 153
Figura 7.8 – Diacronia das pontas pedunculadas do pacote 0-120 cm da coleção do sítio Alice
Boer. As setas indicam direcionamento das sequências de lascamento nos casos onde as retiradas
organizadas direccionalmente. Áreas vermelhas representam áreas fraturadas. Desenhos: João
Carlos Moreno de Sousa. Peças com número de tombo 64194 até 64205. ............................... 154
Figura 7.9 - Diacronia das pontas pedunculadas do pacote 0-120 cm da coleção do sítio Alice
Boer. As setas indicam direcionamento das sequências de lascamento nos casos onde as retiradas
organizadas direccionalmente. Áreas vermelhas representam áreas fraturadas. Desenhos: João
Carlos Moreno de Sousa. Peças com número de tombo 64268 até 66470. ............................... 155
Figura 7.10 - Diacronia das pontas pedunculadas do pacote 120-130 cm da coleção do sítio Alice
Boer. As setas indicam direcionamento das sequências de lascamento nos casos onde as retiradas
organizadas direccionalmente. Áreas vermelhas representam áreas fraturadas. Desenhos: João
Carlos Moreno de Sousa. Peças com número de tombo 64196 até 64203. ............................... 156
Figura 7.11 - Diacronia das pontas pedunculadas do pacote 120-130 cm da coleção do sítio Alice
Boer. As setas indicam direcionamento das sequências de lascamento nos casos onde as retiradas
organizadas direccionalmente. Áreas vermelhas representam áreas fraturadas. Desenhos: João
Carlos Moreno de Sousa. Peças com número de tombo 64316 até 68702. ............................... 157
Figura 7.12 – Pré-formas bifaciais fraturadas do pacote 0-120 cm da coleção do sítio Alice Boer.
Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa. Peças com número de tombo 64221 até 64500. ..... 159
Figura 7.13 - Pré-formas bifaciais fraturadas do pacote 0-120 cm da coleção do sítio Alice Boer.
Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa. Peças com número de tombo 66445 até 72115. ..... 160

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Figura 7.14 - Pré-formas bifaciais inteiras fraturadas do pacote 0-120 cm da coleção do sítio Alice
Boer. Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa. Peças com número de tombo 66449 até 66452.
................................................................................................................................................... 161
Figura 7.15 - Pré-formas bifaciais inteiras fraturadas do pacote 0-120cm da coleção do sítio Alice
Boer. Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa. Peças com número de tombo 66458 até 79412.
................................................................................................................................................... 162
Figura 7.16 - Pré-formas bifaciais do pacote 120-130 cm da coleção do sítio Alice Boer. Todas
estão fraturadas. Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa. ..................................................... 163
Figura 7.17 – Exemplo de lesma identificada no pacote 120-130 cm da coleção do sítio Alice
Boer. Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa. ....................................................................... 164
Figura 7.18 - Diacronia da face superior de duas lesmas identificadas no pacote 0-120 cm da
coleção do sítio Alice Boer. Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa. ................................... 169
Figura 7.19 - Diacronia de lesma identificada no pacote 120-130 cm da coleção do sítio Alice
Boer. Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa. ....................................................................... 170
Figura 7.20 – Gráfico de barras, distribuição do material arqueológico por níveis de 10 cm no
sítio Caetetuba. .......................................................................................................................... 195
Figura 7.21 – Gráfico de barras, frequência no uso de arenito silicificado e sílex por níveis de 10
cm no sítio Caetetuba, para todos os vestígios líticos. .............................................................. 198
Figura 7.22 - Pontas pedunculadas do sítio Caetetuba datadas do Holoceno Inicial. Desenhos:
João Carlos Moreno de Sousa. .................................................................................................. 199
Figura 7.23 - Diacronia das pontas pedunculadas do sítio Alice Boer. As setas indicam
direcionamento das sequências de lascamento nos casos onde as retiradas são organizadas
direccionalmente. Áreas vermelhas representam áreas fraturadas. Desenhos: João Carlos Moreno
de Sousa. As peças 124-125 e 367-381 não foram desenhadas. ............................................... 201
Figura 7.24 – Detalhe da pré-forma bifacial associada ao Holoceno Inicial no sítio Caetetuba, a
única na coleção. Peça 227. Foto: João Carlos Moreno de Sousa. ............................................ 202
Figura 7.25 - Exemplo de lesmas de arenito silicificado e sílex com superfície superior
apresentando partes originais da lasca suporte associadas ao Holoceno Inicial do sítio Caetetuba.
Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa. ................................................................................ 203
Figura 7.26 - Exemplo de lesmas de arenito silicificado com superfície totalmente façonada
associadas ao Holoceno Inicial do sítio Caetetuba. Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa. 204
Figura 7.27 - Diacronia de lesmas associadas ao Holoceno Inicial da coleção do sítio Caetetuba.
Peças 98/99/101, 159 & 353. Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa. ................................. 208
Figura 7.28 - Diacronia de lesmas associadas ao Holoceno Inicial da coleção do sítio Caetetuba.
Peças 321 & 407. Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa. ................................................... 209
Figura 7.29 - Diacronia de lesma associada ao período mais recente que 9200 cal AP (achada em
superfície) da coleção do sítio Caetetuba. Peça 30. Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa. 210
Figura 7.30 - Gráfico de barras, distribuição do material lítico por níveis de 10 cm (exceto o
primeiro nível) no sítio Tunas. .................................................................................................. 218
Figura 7.31 - Pontas pedunculadas provenientes do sítio Tunas, níveis 55 – 105 cm, associadas
ao Holoceno Inicial. Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa. ............................................... 221
Figura 7.32 - Pontas pedunculadas provenientes do sítio Tunas, níveis 105 – 155 cm, associadas
ao Holoceno Inicial. Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa. ............................................... 222
Figura 7.33 - Diacronia das pontas pedunculadas provenientes dos níveis 55-105 cm do sítio
Tunas. Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa. ..................................................................... 233
Figura 7.34 - Diacronia das pontas pedunculadas provenientes dos níveis 105-155 cm do sítio
Tunas. Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa. ..................................................................... 234

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Figura 7.35 – Exemplos de pré-formas bifaciais provenientes da unidade de escavação “Corte 1”


e “Corte 2” do sítio Tunas. As duas peças à esquerda são de quartzo leitoso, enquanto a peça à
direita é de sílex. Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa. .................................................... 235
Figura 7.36 – Núcleo microlaminar encontrado no nível 105-115 cm, relacionado ao Holoceno
Inicial, do Corte 1 no sítio Tunas. Desenho: João Carlos Moreno de Sousa. ........................... 237
Figura 7.37 – Exemplos de lêsminas (raspadores sobre lascas laminares retocados unifacialmente)
provenientes dos níveis associados ao Holoceno Inicial no sítio arqueológico Tunas. Fotos: João
Carlos Moreno de Sousa, 2018. ................................................................................................ 238
Figura 7.38 – Artefato de basalto produzido a partir de polimento seguido de lascamento unifacial
na porção proximal. Peça encontrada no nível 125-135 cm do Corte 4. Desenho: João Carlos
Moreno de Sousa. ...................................................................................................................... 239
Figura 7.39 – Exemplos de artefatos produzidos sobre ocre/óxido de ferro provenientes de níveis
associados ao Holoceno Inicial no sítio arqueológico Tunas. Fotos: João Carlos Moreno de Sousa,
2018. .......................................................................................................................................... 239
Figura 7.40 - Gráfico de barras, distribuição do material lítico por níveis de 10 cm (exceto o nível
mais profundo) no sítio Garivaldino. ........................................................................................ 247
Figura 7.41 - Gráfico de barras, distribuição de pontas e pré-formas (inteiras ou fragmentadas)
por níveis de 10 cm (exceto o nível mais profundo) no sítio Garivaldino. ............................... 248
Figura 7.42 - Gráfico de barras, distribuição de pontas pedunculada e apedunculadas por níveis
de 10 cm (exceto o nível mais profundo) no sítio Garivaldino. ................................................ 248
Figura 7.43 – Exemplos de pontas apedunculadas provenientes do sítio Garivaldino. 1651 A =
Terceiro período (< 8000 cal AP). 1511 A = Segundo período (9000 – 8000 cal AP). 1741 A =
Primeiro período (11.000 – 9000 cal AP). Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa. ............. 250
Figura 7.44 - Diacronia de exemplares de pontas apedunculadas provenientes do sítio
Garivaldino. Setas indicam direcionamento das sequências de retirada. 1651 A = Terceiro período
(< 8000 cal AP). 1511 A = Segundo período (9000 – 8000 cal AP). 1741 A = Primeiro período
(11.000 – 9000 cal AP). Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa. ......................................... 256
Figura 7.45 - Exemplos de pontas pedunculadas provenientes do primeiro período de ocupação
do sítio Garivaldino (11.000 – 9000 cal AP). Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa. ........ 257
Figura 7.46 - Exemplos de pontas pedunculadas provenientes do segundo período de ocupação
do sítio Garivaldino (9000 – 8000 cal AP). Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa. ........... 257
Figura 7.47 - Exemplos de pontas pedunculadas provenientes do segundo período de ocupação
do sítio Garivaldino (mais recente que 8000 cal AP). João Carlos Moreno de Sousa. ............. 258
Figura 7.48 – Exemplos de diacronia de pontas pedunculadas provenientes do primeiro período
de ocupação do sítio Garivaldino (11.000 – 9000 cal AP). Desenhos: João Carlos Moreno de
Sousa. ........................................................................................................................................ 273
Figura 7.49 - Exemplos de diacronia de pontas pedunculadas provenientes do segundo período de
ocupação do sítio Garivaldino (9000 – 8000 cal AP). Desenhos: João Carlos Moreno de Sousa.
................................................................................................................................................... 274
Figura 7.50 - Exemplos de diacronia de pontas pedunculadas provenientes do terceiro período de
ocupação do sítio Garivaldino (mais recente que 8000 cal AP). Desenhos: João Carlos Moreno de
Sousa. ........................................................................................................................................ 275
Figura 8.1 –Pontas pedunculadas resultantes das primeiras tentativas do autor de replicar
tecnologia paleoíndias do sudeste e sul do Brasil. A-D: Pontas Rioclarenses. E-F: Pontas Estrela.
G-J: Pontas Garivaldinenses. A, B e F: Sílex Corumbataí da região de Rio Claro, SP. C: Arenito
silicificado tratado termicamente da região da “costa jurássica” de Devon (Inglaterra). D: Opala
Itaqueri da região de São Pedro, SP. E: Opala de origem desconhecida. G: Arenito Botucatu

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

silicificado da região de Santa Cruz do Sul, RS. H-I: Arenito Botucatu silicificado da região de
São Pedro, SP. Ágata Serra Geral da região de São Pedro, SP. ................................................ 309
Figura 8.2 - Lesmas resultantes das primeiras tentativas do autor de replicar a tecnologia
Rioclarense. A: Sílex Corumbataí. B: Arenito Botucatu silicificado dos arredores sítio
arqueológico Caetetuba. C: Arenito Botucatu silicificado dos arredores do sítio arqueológico
Bastos (Dourado, SP). D-F: Arenito Botucatu silicificado da região de São Pedro, SP. .......... 310
Figura 8.3 – Percutores macios (M) e duros (D) usados nos experimentos. ............................. 312
Figura 8.4 – Pressores (P) utilizados nos experimentos. ........................................................... 312
Figura 8.5 – Lasca de sílex proveniente da formação Corumbataí. Trata-se de um sílex formado
a partir de troncos de madeira cuja matéria orgânica se decompôs e se transformou em óleo e que
foi, posteriormente, preenchido com sílica e fossilizado. A área bulbar da lasca ainda apresenta
um bolso de óleo líquido e exala um odor forte bastante característico. Foto: João Carlos Moreno
de Sousa. ................................................................................................................................... 313
Figura 8.6 – Suportes utilizados para produção das réplicas de pontas Rioclarenses. .............. 315
Figura 8.7 – Réplicas de pontas Rioclarenses produzidas pelo autor desta tese. ...................... 315
Figura 8.8 - Detritos provenientes das sete tentativas de replicação de pontas Rioclarenses. .. 317
Figura 8.9 - Suportes utilizados para produção das réplicas de lesmas Rioclarenses. .............. 322
Figura 8.10 - Réplicas de lesmas Rioclarenses produzidas pelo autor desta tese. .................... 322
Figura 8.11 - Suportes utilizados para produção das réplicas de pontas Rioclarenses.............. 332
Figura 8.12 - Réplicas de pontas Rioclarenses produzidas pelo autor desta tese. ..................... 332
Figura 8.13 - Detritos provenientes das cinco tentativas de replicação de pontas Garivaldinenses.
................................................................................................................................................... 334
Figura 9.1 – Esquema de produção das pontas Rioclarenses. a: Negativos de façonagem com
organização do tipo “largos e seletivos”. b: Negativos de façonagem com organização do tipo
“paralelos com uma nervura vertical”. Pré-formas e produtos são modelos do sítio Alice Boer.
................................................................................................................................................... 347
Figura 9.2 - Esquema de produção das pontas Estrela identificadas na indústria Tunas. Pré-forma
e produtos são modelos do sítio Tunas...................................................................................... 348
Figura 9.3 - Esquema de produção das pontas Garivaldinenses identificadas na indústria
Garivaldinense. a: Negativos de façonagem com organização do tipo “largos e seletivos”. b:
Negativos de façonagem com organização do tipo “convergentes”. c: Não há façonagem, apenas
retoques. .................................................................................................................................... 350
Figura 9.4 – Esquema geral de produção das pontas Montenegro identificadas na indústria
Garivaldinense........................................................................................................................... 350
Figura 9.5 – Esquema geral de produção das pontas Brochier identificadas na indústria
Garivaldinense........................................................................................................................... 351
Figura 9.6 – Área de abrangência das indústrias líticas apresentadas nesta pesquisa. Pontos de
interrogação representam locais conhecidos pela presença de sítios paleoíndios com indústrias de
pontas pedunculadas em território brasileiro e que nunca foram estudadas tecnologicamente. 355
Figura 9.7 - Modelo para delimitação cronológica das culturas arqueológicas anteriormente
definidas para o período Paleoíndio Posterior (barras pretas) no território brasileiro............... 359

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 5.1 - Cronologia do sítio arqueológico Alice Boer, com base em Beltrão (1974), Beltrão
et al. (1982) e Beltrão et al. (1983). ............................................................................................ 70
Tabela 5.2 – Datas radiocarbônicas do sítio Alice Boer. A data superior a 14 mil anos foi
desconsiderada devido a sua falta de associação com o material arqueológico. ......................... 76
Tabela 5.3 - Datas radiocarbônicas do sítio Caetetuba a partir de amostras de carvão. .............. 80
Tabela 5.4 – Cronologia absoluta do sítio arqueológico Tunas em anos antes do presente (AP), de
acordo com Chmyz et al. (2008: 241). Datações realizadas pelo LAVICID-USP foram
desconsideradas. Datas consideradas em negrito. ....................................................................... 88
Tabela 5.5 - Datações do sítio Garivaldino (RS-TQ-58)............................................................. 93
Tabela 7.1 – Quantificação de vestígios líticos da coleção do sítio Alice Boer acondicionada na
reserva técnica do Museu Nacional, UFRJ. As datas são as mesmas apresentadas no capítulo 5.2
desta tese. .................................................................................................................................. 140
Tabela 7.2 – Frequência de classes de vestígios líticos da coleção do sítio Alice Boer............ 142
Tabela 7.3 - Frequência das matérias-primas em pontas pedunculadas dos pacotes estratigráficos
do sítio Alice Boer. ................................................................................................................... 146
Tabela 7.4 - Frequência das cores das pontas pedunculadas dos pacotes estratigráficos do sítio
Alice Boer. ................................................................................................................................ 147
Tabela 7.5 – Frequência (contagens e porcentagens) dos atributos naturais das matérias primas de
pontas pedunculadas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. ...................................... 147
Tabela 7.6 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas pedunculadas do
pacote estratigráfico 0-120 cm do sítio Alice Boer. .................................................................. 147
Tabela 7.7 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas pedunculadas do
pacote estratigráfico 0-120 cm do sítio Alice Boer. .................................................................. 148
Tabela 7.8 – Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do corpo em
pontas pedunculadas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. ...................................... 148
Tabela 7.9 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento dos gumes
em pontas pedunculadas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. ................................ 148
Tabela 7.10 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno das aletas em
pontas pedunculadas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. ...................................... 148
Tabela 7.11 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento do pescoço
em pontas pedunculadas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. ................................ 149
Tabela 7.12 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do pedúnculo em
pontas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. ............................................................. 149
Tabela 7.13 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do corpo em pontas
dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. ........................................................................ 149
Tabela 7.14 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do pedúnculo em
pontas pedunculadas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. ...................................... 149
Tabela 7.15 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de suporte em pontas
pedunculadas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. .................................................. 149
Tabela 7.16 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de façonagem em
pontas pedunculadas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. ...................................... 149
Tabela 7.17 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de façonagem em
pontas pedunculadas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. ...................................... 150
Tabela 7.18 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de retoque em
pontas pedunculadas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. ...................................... 150

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.19 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de retoque em


pontas pedunculadas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. ...................................... 150
Tabela 7.20 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos
de façonagem do corpo em pontas pedunculadas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
................................................................................................................................................... 150
Tabela 7.21 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos
de façonagem do pedúnculo em pontas pedunculadas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice
Boer. .......................................................................................................................................... 150
Tabela 7.22 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 25%) em pontas
pedunculadas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. A amplitude considerada para os
valores foi o desvio padrão........................................................................................................ 151
Tabela 7.23 – Valores dos testes de significância entre os dois pacotes estratigráficos do sítio
Alice Boer para atributos não-métricos. Nível de significância = 0,05. Diferenças significantes
marcadas em negrito. ................................................................................................................ 152
Tabela 7.24 – Resultados do teste Shapiro-Wilk de normalidade para os dois pacotes
estratigráficos do sítio Alice Boer para atributos métricos. Valores de significância menor que
0,05 são considerados não normais. .......................................................................................... 152
Tabela 7.25 - Valores dos testes de significância entre os dois pacotes estratigráficos do sítio Alice
Boer para atributos métricos. Nível de significância = 0,05 (two-tailed). Valor do teste
apresentado é o valor crítico de U, no caso dos testes Mann-Whitney. .................................... 153
Tabela 7.26 – Frequência (contagens e porcentagens) de pré-formas bifaciais fraturadas e inteiras
em ambos os pacotes estratigráfico do Sítio Alice Boer. .......................................................... 157
Tabela 7.27 - Frequência de pré-formas bifaciais inteiras do sítio Alice Boer e sua relação e com
a proporção de largura/espessura das pontas finalizadas. ......................................................... 158
Tabela 7.28 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas nas lesmas dos pacotes
estratigráficos do sítio Alice Boer. ............................................................................................ 164
Tabela 7.29 - Frequência das cores das lesmas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer.
................................................................................................................................................... 164
Tabela 7.30 - Frequência (contagens e porcentagens) dos atributos naturais das matérias primas
de lesmas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. ........................................................ 165
Tabela 7.31 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lesmas do pacote
estratigráfico 0-120 cm do sítio Alice Boer. ............................................................................. 165
Tabela 7.32 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lesmas do pacote
estratigráfico 0-120 cm do sítio Alice Boer. ............................................................................. 165
Tabela 7.33 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos
de façonagem nas lesmas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. ............................... 166
Tabela 7.34 - Frequência (contagens e porcentagens) de localização dos gumes ativos nas lesmas
dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. ........................................................................ 166
Tabela 7.35 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos
de retoque do gume ativo nas lesmas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. ............. 166
Tabela 7.36 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de perfil da área de
façonagem do gume ativo nas lesmas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. ............ 166
Tabela 7.37 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de perfil da área de retoque
do gume ativo nas lesmas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. .............................. 166
Tabela 7.38 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento do gume
ativo nas lesmas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. ............................................. 167

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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Tabela 7.39 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 25%) em lesmas
dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. A amplitude considerada para os valores foi o
desvio padrão. ........................................................................................................................... 168
Tabela 7.40 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas nas lascas de façonagem
dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. ........................................................................ 171
Tabela 7.41 - Frequência (contagens e porcentagens) das cores das lascas de façonagem dos
pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. * Peças cuja cor não pode ser definida com precisão,
devido a maior presença de córtex. ........................................................................................... 171
Tabela 7.42 - Frequência (contagens e porcentagens) dos atributos naturais das matérias primas
de lasca de façonagem dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. ................................... 171
Tabela 7.43 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem do
pacote estratigráfico 0-120 cm do sítio Alice Boer. .................................................................. 172
Tabela 7.44 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem do
pacote estratigráfico 120-330 cm do sítio Alice Boer. .............................................................. 172
Tabela 7.45 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno de talão das
lascas de façonagem dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. ....................................... 172
Tabela 7.46 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de superfície de talão das
lascas de façonagem dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. ....................................... 172
Tabela 7.47 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de cornija das lascas de
façonagem dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. ...................................................... 173
Tabela 7.48 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de bulbo das lascas de
façonagem dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. ...................................................... 173
Tabela 7.49 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno geral das lascas
de façonagem dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. ................................................. 173
Tabela 7.50 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de perfil das lascas de
façonagem dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. ...................................................... 173
Tabela 7.51 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias organização da face superior
das lascas de façonagem dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. ................................ 174
Tabela 7.52 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de quantidade de córtex nas
lascas de façonagem dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. ....................................... 174
Tabela 7.53 – Predominância de categorias de lascas a partir de determinados atributos
tecnológicos nos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. ................................................... 174
Tabela 7.54 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 20%) em lascas
de façonagem dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. A amplitude considerada para os
valores foi o desvio padrão........................................................................................................ 175
Tabela 7.55 – Valores dos testes de significância entre os dois pacotes estratigráficos do sítio
Alice Boer para atributos não-métricos. Nível de significância = 0,05. Diferenças significantes
marcadas em negrito. ................................................................................................................ 175
Tabela 7.56 – Resultados do teste Shapiro-Wilk de normalidade para os dois pacotes
estratigráficos do sítio Alice Boer para atributos métricos. Valores de significância menor que
0,05 são considerados não normais. .......................................................................................... 176
Tabela 7.57 - Valores dos testes de significância entre os dois pacotes estratigráficos do sítio Alice
Boer para atributos métricos. Nível de significância = 0,05 (two-tailed). Valor do teste
apresentado é o valor crítico de U, no caso dos testes Mann-Whitney. .................................... 176
Tabela 7.58 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas em pontas pedunculadas
do sítio Alice Boer. ................................................................................................................... 177

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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Tabela 7.59 - Frequência (contagens e porcentagens) das cores das pontas pedunculadas do sítio
Alice Boer. ................................................................................................................................ 177
Tabela 7.60 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas pedunculadas do
sítio Alice Boer. ........................................................................................................................ 177
Tabela 7.61 – Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do corpo em
pontas pedunculadas do sítio Alice Boer. ................................................................................. 178
Tabela 7.62 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento dos gumes
em pontas pedunculadas do sítio Alice Boer............................................................................. 178
Tabela 7.63 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno das aletas em
pontas pedunculadas do sítio Alice Boer. ................................................................................. 178
Tabela 7.64 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento do pescoço
em pontas pedunculadas do sítio Alice Boer............................................................................. 178
Tabela 7.65 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do pedúnculo em
pontas do sítio Alice Boer. ........................................................................................................ 178
Tabela 7.66 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do corpo em pontas
do sítio Alice Boer. ................................................................................................................... 178
Tabela 7.67 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do pedúnculo em
pontas pedunculadas do sítio Alice Boer. ................................................................................. 179
Tabela 7.68 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de suporte em pontas
pedunculadas do sítio Alice Boer. ............................................................................................. 179
Tabela 7.69 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de façonagem em
pontas pedunculadas do sítio Alice Boer. ................................................................................. 179
Tabela 7.70 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de façonagem em
pontas pedunculadas do sítio Alice Boer. ................................................................................. 179
Tabela 7.71 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de retoque em
pontas pedunculadas do sítio Alice Boer. ................................................................................. 179
Tabela 7.72 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de retoque em
pontas do sítio Alice Boer. ........................................................................................................ 179
Tabela 7.73 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos
de façonagem do corpo em pontas pedunculadas do sítio Alice Boer. ..................................... 179
Tabela 7.74 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos
de façonagem do pedúnculo em pontas pedunculadas sítio Alice Boer. ................................... 180
Tabela 7.75 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas nas lesmas do sítio
Alice Boer. ................................................................................................................................ 180
Tabela 7.76 - Frequência (contagens e porcentagens) das cores das lesmas dos pacotes
estratigráficos do sítio Alice Boer. ............................................................................................ 180
Tabela 7.77 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lesmas do sítio Alice Boer.
................................................................................................................................................... 180
Tabela 7.78 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos
de façonagem nas lesmas do sítio Alice Boer. .......................................................................... 180
Tabela 7.79 - Frequência (contagens e porcentagens) de localização dos gumes ativos nas lesmas
dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. ........................................................................ 181
Tabela 7.80 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos negativos
de retoque do gume ativo nas lesmas do sítio Alice Boer. ........................................................ 181
Tabela 7.81 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de perfil da área de
façonagem do gume ativo nas lesmas do sítio Alice Boer. ....................................................... 181

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.82 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de perfil da área de retoque
do gume ativo nas lesmas do sítio Alice Boer........................................................................... 181
Tabela 7.83 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento do gume
ativo nas lesmas do sítio Alice Boer. ........................................................................................ 181
Tabela 7.84 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas nas lascas de façonagem
do sítio Alice Boer. ................................................................................................................... 182
Tabela 7.85 - Frequência (contagens e porcentagens) das cores das lascas de façonagem do sítio
Alice Boer. * Peças cuja cor não pode ser definida com precisão, devido a maior presença de
córtex. ........................................................................................................................................ 182
Tabela 7.86 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem do sítio
Alice Boer. ................................................................................................................................ 182
Tabela 7.87 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno de talão das
lascas de façonagem do sítio Alice Boer. .................................................................................. 183
Tabela 7.88 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de superfície de talão das
lascas de façonagem do sítio Alice Boer. .................................................................................. 183
Tabela 7.89 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de cornija das lascas de
façonagem do sítio Alice Boer. ................................................................................................. 183
Tabela 7.90 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de proeminência do bulbo
das lascas de façonagem do sítio Alice Boer. ........................................................................... 183
Tabela 7.91 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno geral das lascas
de façonagem do sítio Alice Boer. ............................................................................................ 183
Tabela 7.92 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de perfil das lascas de
façonagem do sítio Alice Boer. ................................................................................................. 184
Tabela 7.93 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias organização da face superior
das lascas de façonagem do sítio Alice Boer. ........................................................................... 184
Tabela 7.94 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de quantidade de córtex nas
lascas de façonagem do sítio Alice Boer. .................................................................................. 184
Tabela 7.95 – Predominância de categorias de lascas a partir de determinados atributos
tecnológicos do sítio Alice Boer. .............................................................................................. 184
Tabela 7.96 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 25%) em pontas
pedunculadas dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. A amplitude considerada para os
valores foi o desvio padrão........................................................................................................ 185
Tabela 7.97 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 25%) em lesmas
dos pacotes estratigráficos do sítio Alice Boer. A amplitude considerada para os valores foi o
desvio padrão. ........................................................................................................................... 186
Tabela 7.98 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 20%) em lascas
de façonagem do sítio Alice Boer. A amplitude considerada para os valores foi o desvio padrão.
................................................................................................................................................... 186
Tabela 7.99 – Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas em pontas
pedunculadas das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio............................................ 187
Tabela 7.100 - Frequência (contagens e porcentagens) das cores das pontas pedunculadas das
coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio......................................................................... 187
Tabela 7.101 - Frequência (contagens e porcentagens) dos atributos naturais das matérias primas
de pontas pedunculadas das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio. n = 76. .............. 188
Tabela 7.102 – Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas pedunculadas das
coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio......................................................................... 188

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.103 – Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do corpo em


pontas pedunculadas das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio ................................ 189
Tabela 7.104 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento dos gumes
em pontas pedunculadas das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio .......................... 189
Tabela 7.105 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno das aletas em
pontas pedunculadas das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio ................................ 189
Tabela 7.106 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento do pescoço
em pontas pedunculadas das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio .......................... 189
Tabela 7.107 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do pedúnculo
em pontas das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio ................................................. 190
Tabela 7.108 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do corpo em pontas
pedunculadas das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio............................................ 190
Tabela 7.109 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do pedúnculo em
pontas das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio ....................................................... 190
Tabela 7.110 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de suporte em pontas
pedunculadas das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio............................................ 190
Tabela 7.111 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de façonagem
em pontas pedunculadas das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio .......................... 190
Tabela 7.112 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de façonagem em
pontas pedunculadas das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio ................................ 190
Tabela 7.113 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de retoque em
pontas pedunculadas das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio ................................ 191
Tabela 7.114 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de retoque em
pontas pedunculadas das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio ................................ 191
Tabela 7.115 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos
negativos de façonagem do corpo em pontas pedunculadas das coleções Dinan Rogério e Luís
Carlos Cláudio........................................................................................................................... 191
Tabela 7.116 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos
negativos de façonagem do pedúnculo em pontas das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos
Cláudio ...................................................................................................................................... 191
Tabela 7.117 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 25%) das pontas
pedunculadas das coleções Dinan Rogério e Luís Carlos Cláudio. A amplitude considerada para
os valores foi o desvio padrão. .................................................................................................. 192
Tabela 7.118 - Feições das lesmas encontradas em superfície na região de Iracemápolis, da
coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Claudio. As medidas dos gumes são apresentadas
correspondem à sua variância ou a sua maior frequência. ........................................................ 193
Tabela 7.119 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas das pontas pedunculadas da coleção
André Coelho (peças AC1-4) e do sítio Santa Cruz (SC III.6). ¹Aponta variáveis que são
tendências nas pontas pedunculadas do sítio Alice Boer. ²Aponta variáveis que são tendências nas
pontas pedunculadas de Iracemápolis. ...................................................................................... 194
Tabela 7.120 - Quantificação de vestígios líticos da coleção do sítio Caetetuba. As datas são as
mesmas apresentadas no capítulo 5 desta tese. ......................................................................... 196
Tabela 7.121 – Frequência (contagens e porcentagens) de classes de vestígios líticos nos dois
períodos do sítio Caetetuba. ...................................................................................................... 196
Tabela 7.122 - Quantificação de vestígios líticos da coleção do sítio Caetetuba acondicionada na
reserva técnica do Museu de Arqueologia e Paleontologia de Araraquara. As datas são as mesmas
apresentadas no capítulo 5 desta tese. ....................................................................................... 197

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.123 – Frequência (contagens e porcentagens) de matéria prima nos dois períodos do sítio
Caetetuba. .................................................................................................................................. 198
Tabela 7.124 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas das pontas pedunculadas do sítio
Caetetuba. A¹ Aponta variáveis que são tendências nas pontas pedunculadas do sítio Alice Boer.
² Aponta variáveis que são tendências nas pontas pedunculadas de Iracemápolis. ................... 200
Tabela 7.125 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas nas lesmas nos dois
períodos de ocupação do sítio Caetetuba. ................................................................................. 205
Tabela 7.126 - Frequência (contagens e porcentagens) das cores das lesmas nos dois períodos de
ocupação do sítio Caetetuba. ..................................................................................................... 205
Tabela 7.127 - Frequência (contagens e porcentagens) dos atributos naturais das matérias primas
de lesmas dos pacotes estratigráficos do sítio Caetetuba. ......................................................... 205
Tabela 7.128 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lesmas do período mais
antigo que 9200 cal AP do sítio Caetetuba................................................................................ 205
Tabela 7.129 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lesmas do período mais
recente que 9200 cal AP do sítio Caetetuba. ............................................................................. 205
Tabela 7.130 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos
negativos de façonagem nas lesmas dos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba........... 206
Tabela 7.131 - Frequência (contagens e porcentagens) de localização dos gumes ativos nas lesmas
dos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba. ................................................................... 206
Tabela 7.132 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos
negativos de retoque do gume ativo nas lesmas dos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba.
................................................................................................................................................... 206
Tabela 7.133 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de perfil da área de
façonagem do gume ativo nas lesmas dos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba. ....... 206
Tabela 7.134 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de perfil da área de retoque
do gume ativo nas lesmas dos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba. ......................... 206
Tabela 7.135 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento do gume
ativo nas lesmas dos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba. ........................................ 207
Tabela 7.136 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 25%) em lesmas
dos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba. A amplitude considerada para os valores foi o
desvio padrão. *Considerados apenas os valores maiores de 50% devido ao tamanho amostral (n
= 3). ........................................................................................................................................... 207
Tabela 7.137 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas nas lascas de
façonagem dos pacotes estratigráficos do sítio Caetetuba. ....................................................... 211
Tabela 7.138 - Frequência (contagens e porcentagens) das cores das lascas de façonagem dos
pacotes estratigráficos do sítio Caetetuba. ................................................................................ 211
Tabela 7.139 - Frequência (contagens e porcentagens) dos atributos naturais das matérias primas
de lasca de façonagem dos pacotes estratigráficos do sítio Caetetuba. ..................................... 211
Tabela 7.140 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem
associadas período mais antigo que 9200 cal AP do sítio Caetetuba. ....................................... 212
Tabela 7.141 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem do
período mais recente que 9200 cal AP do sítio Caetetuba. ....................................................... 212
Tabela 7.142 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno de talão das
lascas de façonagem dos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba. ................................. 212
Tabela 7.143 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de superfície de talão das
lascas de façonagem dos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba. ................................. 212

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.144 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de cornija das lascas de
façonagem dos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba. ................................................. 213
Tabela 7.145 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de bulbo das lascas de
façonagem dos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba. ................................................. 213
Tabela 7.146 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno geral das lascas
de façonagem dos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba. ............................................ 213
Tabela 7.147 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de perfil das lascas de
façonagem dos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba. ................................................. 213
Tabela 7.148 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias organização da face superior
das lascas de façonagem dos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba. ........................... 214
Tabela 7.149 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de quantidade de córtex nas
lascas de façonagem dos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba. ................................. 214
Tabela 7.150 – Predominância de categorias de lascas a partir de determinados atributos
tecnológicos nos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba. .............................................. 214
Tabela 7.151 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 20%) em lascas
de façonagem dos dois períodos de ocupação do sítio Caetetuba. A amplitude considerada para
os valores foi o desvio padrão. .................................................................................................. 215
Tabela 7.152 – Valores dos testes de significância entre os dois períodos de ocupação do sítio
Caetetuba para atributos não-métricos. Nível de significância = 0,05. Diferenças estatisticamente
significantes marcadas em negrito. ........................................................................................... 215
Tabela 7.153 – Resultados do teste Shapiro-Wilk de normalidade para os dois períodos de
ocupação do sítio Caetetuba para atributos métricos. Valores de significância menor que 0,05 são
considerados não normais. ........................................................................................................ 216
Tabela 7.154 - Valores dos testes de significância entre os dois períodos de ocupação do sítio
Caetetuba para atributos métricos. Nível de significância = 0,05 (two-tailed). Valor do teste
apresentado é o valor crítico de U, no caso dos testes Mann-Whitney. .................................... 216
Tabela 7.155 - Quantificação de vestígios líticos da coleção do sítio Tunas, Cortes 3 e 4,
acondicionada na reserva técnica do Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas, Universidade
Federal do Paraná. As datas são as mesmas apresentadas no capítulo 5 desta tese. ................. 217
Tabela 7.156 - Quantificação de vestígios líticos da coleção do sítio Tunas, provenientes da
superfície e dos Cortes 1 e 2, acondicionada na reserva técnica do Centro de Estudos e Pesquisas
Arqueológicas, Universidade Federal do Paraná. *Inclui todas as peças de hematita (ocre).... 218
Tabela 7.157 – Frequência (contagens e porcentagens) de classes de vestígios líticos nos dois
períodos do sítio Tunas, considerando as unidades de escavação Corte 3 e Corte 4. ............... 219
Tabela 7.158 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas em pontas
pedunculadas dos dois conjuntos do sítio Tunas. ...................................................................... 220
Tabela 7.159 - Frequência (contagens e porcentagens) das cores das pontas pedunculadas dos dois
conjuntos do sítio Tunas............................................................................................................ 220
Tabela 7.160 - Frequência (contagens e porcentagens) dos atributos naturais das matérias primas
de pontas pedunculadas dos dois conjuntos do sítio Tunas....................................................... 220
Tabela 7.161 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas pedunculadas
diretamente associadas ao Holoceno Inicial do sítio Tunas. ..................................................... 223
Tabela 7.162 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas pedunculadas
encontradas na superfície do sítio Tunas................................................................................... 223
Tabela 7.163 – Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do corpo em
pontas pedunculadas dos dois conjuntos do sítio Tunas. .......................................................... 224

413
MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.164 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento dos gumes
em pontas pedunculadas dos dois conjuntos do sítio Tunas. .................................................... 224
Tabela 7.165 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno das aletas em
pontas pedunculadas dos dois conjuntos do sítio Tunas. .......................................................... 224
Tabela 7.166 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento do pescoço
em pontas pedunculadas dos dois conjuntos do sítio Tunas. .................................................... 224
Tabela 7.167 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do pedúnculo
em pontas dos dois conjuntos do sítio Tunas. ........................................................................... 224
Tabela 7.168 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do corpo em pontas
dos dois conjuntos do sítio Tunas. ............................................................................................ 224
Tabela 7.169 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do pedúnculo em
pontas pedunculadas dos dois conjuntos do sítio Tunas. .......................................................... 225
Tabela 7.170 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de suporte em pontas
pedunculadas dos dois conjuntos do sítio Tunas. ...................................................................... 225
Tabela 7.171 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de façonagem
em pontas pedunculadas dos dois conjuntos do sítio Tunas. .................................................... 225
Tabela 7.172 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de façonagem em
pontas pedunculadas dos dois conjuntos do sítio Tunas. .......................................................... 225
Tabela 7.173 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de retoque em
pontas pedunculadas dos dois conjuntos do sítio Tunas. .......................................................... 225
Tabela 7.174 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de retoque em
pontas pedunculadas dos dois conjuntos do sítio Tunas. .......................................................... 225
Tabela 7.175 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos
negativos de façonagem do corpo em pontas pedunculadas dos dois conjuntos do sítio Tunas.
................................................................................................................................................... 226
Tabela 7.176 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos
negativos de façonagem do pedúnculo em pontas pedunculadas dos dois conjuntos do sítio Tunas.
................................................................................................................................................... 226
Tabela 7.177 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 25%) em pontas
pedunculadas dos dois conjuntos do sítio Tunas. A amplitude considerada para os valores foi o
desvio padrão. ........................................................................................................................... 226
Tabela 7.178 – Valores dos testes de significância entre os dois conjuntos de pontas pedunculadas
do sítio Tunas para atributos não-métricos. Nível de significância = 0,05. Diferenças significantes
marcadas em negrito. ................................................................................................................ 227
Tabela 7.179 – Resultados do teste Shapiro-Wilk de normalidade para os dois conjuntos de pontas
pedunculadas do sítio Tunas para atributos métricos. Valores de significância menor que 0,05 são
considerados não normais. ........................................................................................................ 227
Tabela 7.180 - Valores dos testes de significância entre os dois conjuntos de pontas pedunculadas
do sítio Tunas para atributos métricos. Nível de significância = 0,05 (two-tailed). Valor do teste
apresentado é o valor crítico de U, no caso dos testes Mann-Whitney. .................................... 228
Tabela 7.181 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas em pontas
pedunculadas do sítio Tunas. .................................................................................................... 229
Tabela 7.182 - Frequência (contagens e porcentagens) das cores das pontas pedunculadas do sítio
Tunas. ........................................................................................................................................ 229
Tabela 7.183 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas pedunculadas do
sítio Tunas. ................................................................................................................................ 229

414
MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.184 – Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do corpo em


pontas pedunculadas do sítio Tunas. ......................................................................................... 229
Tabela 7.185 - Frequência (contagens e porcentagens) as categorias de delineamento dos gumes
em pontas pedunculadas do sítio Tunas. ................................................................................... 229
Tabela 7.186 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno das aletas em
pontas pedunculadas do sítio Tunas. ......................................................................................... 230
Tabela 7.187 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento do pescoço
em pontas pedunculadas do sítio Tunas. ................................................................................... 230
Tabela 7.188 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do pedúnculo
em pontas do sítio Tunas. .......................................................................................................... 230
Tabela 7.189 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do corpo em pontas
do sítio Tunas. ........................................................................................................................... 230
Tabela 7.190 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do pedúnculo em
pontas pedunculadas do sítio Tunas. ......................................................................................... 230
Tabela 7.191 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de suporte em pontas
pedunculadas do sítio Tunas. .................................................................................................... 230
Tabela 7.192 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de façonagem
em pontas pedunculadas do sítio Tunas. ................................................................................... 230
Tabela 7.193 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de façonagem em
pontas pedunculadas do sítio Tunas. ......................................................................................... 231
Tabela 7.194 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de retoque em
pontas pedunculadas do sítio Tunas. ......................................................................................... 231
Tabela 7.195 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de retoque em
pontas do sítio Tunas. ................................................................................................................ 231
Tabela 7.196 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos
negativos de façonagem do corpo em pontas pedunculadas do sítio Tunas.............................. 231
Tabela 7.197 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos
negativos de façonagem do pedúnculo em pontas pedunculadas sítio Tunas. .......................... 231
Tabela 7.198 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 25%) em pontas
pedunculadas do sítio Tunas. A amplitude considerada para os valores foi o desvio padrão. .. 231
Tabela 7.199 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pré-formas bifaciais do
sítio Tunas ................................................................................................................................. 235
Tabela 7.200 – Principais atributos métricos em pré-formas bifaciais do sítio Tunas. A amplitude
considerada para os valores foi o desvio padrão. ...................................................................... 236
Tabela 7.201 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas nas lascas de
façonagem dos dois períodos do sítio Tunas. ............................................................................ 240
Tabela 7.202 - Frequência (contagens e porcentagens) das cores das lascas de façonagem dos dois
períodos do sítio Tunas. ............................................................................................................ 241
Tabela 7.203 - Frequência (contagens e porcentagens) dos atributos naturais das matérias primas
de lasca de façonagem dos pacotes estratigráficos do sítio Tunas. ........................................... 241
Tabela 7.204 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem
associadas ao Holoceno Médio do sítio Tunas. ......................................................................... 241
Tabela 7.205 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem
associadas ao período mais recente que 8000 cal AP do sítio Tunas. ....................................... 242
Tabela 7.206 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno de talão das
lascas de façonagem dos dois períodos de ocupação do sítio Tunas......................................... 242

415
MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.207 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de superfície de talão das
lascas de façonagem dos dois períodos de ocupação do sítio Tunas......................................... 242
Tabela 7.208 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de cornija das lascas de
façonagem dos dois períodos de ocupação do sítio Tunas. ....................................................... 242
Tabela 7.209 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de bulbo das lascas de
façonagem dos dois períodos de ocupação do sítio Tunas. ....................................................... 243
Tabela 7.210 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno geral das lascas
de façonagem dos dois períodos de ocupação do sítio Tunas. .................................................. 243
Tabela 7.211 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de perfil das lascas de
façonagem dos dois períodos de ocupação do sítio Tunas. ....................................................... 243
Tabela 7.212 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias organização da face superior
das lascas de façonagem dos dois períodos de ocupação do sítio Tunas. ................................. 243
Tabela 7.213 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de quantidade de córtex nas
lascas de façonagem dos dois períodos de ocupação do sítio Tunas......................................... 244
Tabela 7.214 – Predominância de categorias de lascas a partir de determinados atributos
tecnológicos nos dois períodos de ocupação do sítio Tunas. .................................................... 244
Tabela 7.215 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 20%) em lascas
de façonagem dos dois períodos de ocupação do sítio Tunas. A amplitude considerada para os
valores foi o desvio padrão........................................................................................................ 244
Tabela 7.216 – Valores dos testes de significância entre os dois períodos de ocupação do sítio
Tunas para atributos não-métricos. Nível de significância = 0,05. Diferenças estatisticamente
significantes marcadas em negrito. ........................................................................................... 245
Tabela 7.217 – Resultados do teste Shapiro-Wilk de normalidade para os dois períodos de
ocupação do sítio Tunas para atributos métricos. Valores de significância menor que 0,05 são
considerados não normais. ........................................................................................................ 245
Tabela 7.218 - Valores dos testes de significância entre os dois períodos de ocupação do sítio
Tunas para atributos métricos. Nível de significância = 0,05 (two-tailed). Valor do teste
apresentado é o valor crítico de U, no caso dos testes Mann-Whitney. .................................... 245
Tabela 7.219 - Quantificação de vestígios líticos da coleção do sítio Garivaldino, acondicionada
na reserva técnica do Centro de Ensino e Pesquisa Arqueológica, Universidade de Santa Cruz do
Sul. As datas são as mesmas apresentadas no capítulo 5 desta tese. ......................................... 247
Tabela 7.220 – Frequência (contagens e porcentagens) de classes de vestígios líticos nos três
períodos de ocupação do sítio Garivaldino. .............................................................................. 249
Tabela 7.221 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas em pontas
apedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.......................................... 249
Tabela 7.222 - Frequência (contagens e porcentagens) das cores das pontas apedunculadas dos
três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. *Se refere às pontas ósseas. .......................... 250
Tabela 7.223 - Frequência (contagens e porcentagens) dos atributos naturais das matérias primas
de pontas apedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. ........................ 250
Tabela 7.224 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas pedunculadas do
primeiro período de ocupação (11-9 mil cal AP) do sítio Garivaldino. .................................... 251
Tabela 7.225 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas pedunculadas do
segundo período de ocupação (9-8 mil cal AP) do sítio Garivaldino........................................ 251
Tabela 7.226 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas pedunculadas do
terceiro período de ocupação (< 8 mil cal AP) do sítio Garivaldino. ........................................ 251
Tabela 7.227 – Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno das pontas
apedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.......................................... 251

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.228 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento dos gumes
em pontas apedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. ....................... 252
Tabela 7.229 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção de seção das pontas
apedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.......................................... 252
Tabela 7.230 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de suporte em pontas
apedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino.......................................... 252
Tabela 7.231 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de façonagem
em pontas apedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. ....................... 252
Tabela 7.232 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de façonagem em
pontas apedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. ............................. 253
Tabela 7.233 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de retoque em
pontas apedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. ............................. 253
Tabela 7.234 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de retoque em
pontas apedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. ............................. 253
Tabela 7.235 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos
negativos de pontas apedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. ........ 253
Tabela 7.236 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 25%) em pontas
pedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. A amplitude considerada para
os valores foi o desvio padrão. .................................................................................................. 254
Tabela 7.237 – Valores dos testes de significância entre as pontas apedunculadas dos três períodos
de ocupação do sítio Garivaldino para atributos não-métricos. Nível de significância = 0,05.
Diferenças significantes marcadas em negrito. ......................................................................... 254
Tabela 7.238 – Resultados do teste Shapiro-Wilk de normalidade para entre as pontas
apedunculadas entre os três períodos de ocupação do sítio Garivaldino para atributos métricos.
Valores de significância menor que 0,05 são considerados não normais.................................. 255
Tabela 7.239 - Valores dos testes de significância entre as pontas apedunculadas entre os três
períodos de ocupação do sítio Garivaldino para atributos métricos. Nível de significância = 0,05
(two-tailed). * A amostra do primeiro período não foi considerada, devido ao tamanho amostral
muito pequeno (n = 2), e o valor apresentado, neste caso, é o valor crítico de U. .................... 255
Tabela 7.240 – Valores dos testes de significância entre as pontas apedunculadas do primeiro e
do segundo período de ocupação do sítio Garivaldino para atributos não-métricos que
apresentaram diferença significantes entre todos três períodos. Nível de significância = 0,05.
Diferenças significantes marcadas em negrito. ......................................................................... 255
Tabela 7.241 – Valores dos testes de significância entre as pontas apedunculadas do primeiro e
do segundo período de ocupação do sítio Garivaldino para atributos não-métricos que
apresentaram diferença significantes entre todos três períodos. Nível de significância = 0,05.
Diferenças significantes marcadas em negrito. ......................................................................... 255
Tabela 7.242 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas em pontas
pedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. .......................................... 258
Tabela 7.243 - Frequência (contagens e porcentagens) das cores das pontas pedunculadas dos três
períodos de ocupação do sítio Garivaldino. .............................................................................. 259
Tabela 7.244 - Frequência (contagens e porcentagens) dos atributos naturais das matérias primas
de pontas pedunculadas dos dois conjuntos do sítio Tunas....................................................... 259
Tabela 7.245 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas pedunculadas do
primeiro período de ocupação (11-9 mil cal AP) do sítio Garivaldino. .................................... 259
Tabela 7.246 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas pedunculadas do
segundo período de ocupação (9-8 mil cal AP) do sítio Garivaldino........................................ 260

417
MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.247 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas pedunculadas do
terceiro período de ocupação (< 8 mil cal AP) do sítio Garivaldino. ........................................ 260
Tabela 7.248 – Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do corpo em
pontas pedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. *Refere-se às pontas
reapropriadas como raspadores. ................................................................................................ 261
Tabela 7.249 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento dos gumes
em pontas pedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. ......................... 261
Tabela 7.250 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno das aletas em
pontas pedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. ............................... 261
Tabela 7.251 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento do pescoço
em pontas pedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. ......................... 261
Tabela 7.252 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do pedúnculo
em pontas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. ................................................ 261
Tabela 7.253 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do corpo em pontas
dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. * Refere-se às peça reapropriadas como
raspadores cujo corpo foi modificado. ...................................................................................... 262
Tabela 7.254 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do pedúnculo em
pontas pedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. ............................... 262
Tabela 7.255 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de suporte em pontas
pedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. .......................................... 262
Tabela 7.256 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de façonagem
em pontas pedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. ......................... 262
Tabela 7.257 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de façonagem em
pontas pedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. ............................... 263
Tabela 7.258 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de retoque em
pontas pedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. ............................... 263
Tabela 7.259 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de retoque em
pontas pedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. ............................... 263
Tabela 7.260 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos
negativos de façonagem do corpo em pontas pedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio
Garivaldino................................................................................................................................ 263
Tabela 7.261 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos
negativos de façonagem do pedúnculo em pontas pedunculadas dos três períodos de ocupação do
sítio Garivaldino. ....................................................................................................................... 263
Tabela 7.262 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 25%) em pontas
pedunculadas dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. A amplitude considerada para
os valores foi o desvio padrão. .................................................................................................. 264
Tabela 7.263 – Valores dos testes de significância entre as pontas pedunculadas dos três períodos
de ocupação do sítio Garivaldino para atributos não-métricos. Nível de significância = 0,05.
Diferenças significantes marcadas em negrito. * Neste caso, os testes foram realizados
separadamente, sendo o chi quadrado para verificação entre primeiro e segundo períodos, e Fisher
para segundo e terceiro períodos devido as regras para uso de chi quadrado. .......................... 265
Tabela 7.264 – Resultados do teste Shapiro-Wilk de normalidade para entre as pontas
pedunculadas entre os três períodos de ocupação do sítio Garivaldino para atributos métricos.
Valores de significância menor que 0,05 são considerados não normais.................................. 265

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.265 - Valores dos testes de significância entre as pontas pedunculadas entre os três
períodos de ocupação do sítio Garivaldino para atributos métricos. Nível de significância = 0,05
(two-tailed). Diferenças significantes marcadas em negrito. .................................................... 266
Tabela 7.266 – Valores dos testes de significância entre as pontas pedunculadas do primeiro e do
segundo período de ocupação do sítio Garivaldino para atributos não-métricos. Nível de
significância = 0,05. Diferenças significantes marcadas em negrito. * Neste caso, os testes foram
realizados separadamente, sendo o chi quadrado para verificação entre primeiro e segundo
períodos, e Fisher para segundo e terceiro períodos. ................................................................ 266
Tabela 7.267 - Valores dos testes de significância entre as pontas pedunculadas primeiro e do
segundo período de ocupação do sítio Garivaldino para atributos métricos. Nível de significância
= 0,05 (two-tailed). Valor do teste apresentado é o valor crítico de U. Diferenças significantes
marcadas em negrito. ................................................................................................................ 267
Tabela 7.268 – Valores dos testes de significância entre as pontas pedunculadas do segundo e do
terceiro período de ocupação do sítio Garivaldino para atributos não-métricos. Nível de
significância = 0,05. Diferenças significantes marcadas em negrito......................................... 267
Tabela 7.269 - Valores dos testes de significância entre as pontas pedunculadas do segundo e do
terceiro período de ocupação do sítio Garivaldino para atributos métricos. Nível de significância
= 0,05 (two-tailed). Diferenças significantes marcadas em negrito. ......................................... 267
Tabela 7.270 - Valores dos testes que resultaram em diferenças significativas apenas entre o
primeiro e o terceiro períodos de ocupação do sítio Garivaldino para atributos métricos. Nível de
significância = 0,05 (two-tailed). .............................................................................................. 267
Tabela 7.271 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas em pontas
pedunculadas mais antigas e mais recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino. .................. 268
Tabela 7.272 - Frequência (contagens e porcentagens) das cores das pontas pedunculadas mais
antigas e mais recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino. ................................................. 268
Tabela 7.273 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas pedunculadas mais
recentes que 9000 cal AP do sítio Garivaldino. ........................................................................ 268
Tabela 7.274 – Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do corpo em
pontas pedunculadas mais antigas e mais recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino. *Refere-
se às pontas reapropriadas como raspadores. ............................................................................ 269
Tabela 7.275 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento dos gumes
em pontas pedunculadas mais antigas e mais recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino. 269
Tabela 7.276 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno das aletas em
pontas pedunculadas mais antigas e mais recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino. ...... 269
Tabela 7.277 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento do pescoço
em pontas pedunculadas mais antigas e mais recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino. 269
Tabela 7.278 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do pedúnculo
em pontas mais antigas e mais recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino. ....................... 269
Tabela 7.279 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do corpo em pontas
mais antigas e mais recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino. * Refere-se às peça
reapropriadas como raspadores cujo corpo foi modificado....................................................... 270
Tabela 7.280 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do pedúnculo em
pontas pedunculadas mais antigas e mais recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino. ...... 270
Tabela 7.281 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de suporte em pontas
pedunculadas mais antigas e mais recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino. .................. 270
Tabela 7.282 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de façonagem
em pontas pedunculadas mais antigas e mais recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino. 270

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.283 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de façonagem em


pontas pedunculadas mais antigas e mais recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino. ...... 271
Tabela 7.284 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de retoque em
pontas pedunculadas mais antigas e mais recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino. ...... 271
Tabela 7.285 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de retoque em
pontas pedunculadas mais antigas e mais recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino. ...... 271
Tabela 7.286 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos
negativos de façonagem do corpo em pontas pedunculadas mais antigas e mais recentes que 9000
cal BP no sítio Garivaldino. ...................................................................................................... 271
Tabela 7.287 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos
negativos de façonagem do pedúnculo em pontas pedunculadas mais antigas e mais recentes que
9000 cal BP no sítio Garivaldino. ............................................................................................. 272
Tabela 7.288 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 25%) em pontas
pedunculadas mais antigas e mais recentes que 9000 cal BP no sítio Garivaldino. A amplitude
considerada para os valores foi o desvio padrão. * Neste caso são mostradas as quatro principais
variáveis, uma vez que as frequências são todas menores que 30%. ........................................ 272
Tabela 7.289 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pré-formas bifaciais mais
antigas que 9000 cal AP do sítio Garivaldino. .......................................................................... 276
Tabela 7.290 – Principais atributos métricos em pré-formas bifaciais mais antigas que 9000 cal
AP do sítio Garivaldino. A amplitude considerada para os valores foi o desvio padrão. ......... 277
Tabela 7.291 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pré-formas bifaciais mais
recentes que 9000 cal AP do sítio Garivaldino. ........................................................................ 277
Tabela 7.292 – Principais atributos métricos em pré-formas bifaciais mais recentes que 9000 cal
AP do sítio Garivaldino. A amplitude considerada para os valores foi o desvio padrão. ......... 277
Tabela 7.293 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas nas lascas de
façonagem dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino................................................ 278
Tabela 7.294 - Frequência (contagens e porcentagens) das cores das lascas de façonagem dos três
períodos de ocupação do sítio Garivaldino. .............................................................................. 278
Tabela 7.295 - Frequência (contagens e porcentagens) dos atributos naturais das matérias primas
de lasca de façonagem dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. ............................ 279
Tabela 7.296 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem
associadas ao primeiro período de ocupação do sítio Garivaldino............................................ 279
Tabela 7.297 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem
associadas ao segundo período de ocupação do sítio Garivaldino. ........................................... 279
Tabela 7.298 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem
associadas ao terceiro período de ocupação do sítio Garivaldino. ............................................ 279
Tabela 7.299 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno de talão das
lascas de façonagem dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. ............................... 280
Tabela 7.300 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de superfície de talão das
lascas de façonagem três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. ...................................... 280
Tabela 7.301 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de cornija das lascas de
façonagem dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino................................................ 280
Tabela 7.302 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de bulbo das lascas de
façonagem dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino................................................ 280
Tabela 7.303 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno geral das lascas
de façonagem dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. .......................................... 280

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.304 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de perfil das lascas de
façonagem dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino................................................ 281
Tabela 7.305 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias organização da face superior
das lascas de façonagem dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. ......................... 281
Tabela 7.306 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de quantidade de córtex nas
lascas de façonagem dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. ............................... 281
Tabela 7.307 – Predominância de categorias de lascas a partir de determinados atributos
tecnológicos nos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. ............................................ 281
Tabela 7.308 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 20%) em lascas
de façonagem dos três períodos de ocupação do sítio Garivaldino. A amplitude considerada para
os valores foi o desvio padrão. .................................................................................................. 282
Tabela 7.309 – Valores dos testes de significância entre três períodos de ocupação do sítio
Garivaldino para atributos não-métricos. Nível de significância = 0,05. Diferenças
estatisticamente significantes marcadas em negrito. ................................................................. 282
Tabela 7.310 – Resultados do teste Shapiro-Wilk de normalidade para os três períodos de
ocupação do sítio Garivaldino para atributos métricos. Valores de significância menor que 0,05
são considerados não normais. .................................................................................................. 283
Tabela 7.311 - Valores dos testes de significância entre os três períodos de ocupação do sítio
Garivaldino para atributos métricos. Nível de significância = 0,05 (two-tailed). ..................... 283
Tabela 7.312 – Valores dos testes de significância entre o primeiro e o segundo período de
ocupação do sítio Garivaldino para atributos não-métricos. Nível de significância = 0,05.
Diferenças estatisticamente significantes marcadas em negrito. ............................................... 283
Tabela 7.313 - Valores dos testes de significância entre o primeiro e o segundo período de
ocupação do sítio Garivaldino para atributos métricos. Nível de significância = 0,05 (two-tailed).
Nos casos de teste de Mann-Whitney o valor apresentado é o valor de U. ............................... 284
Tabela 7.314 – Valores dos testes de significância entre o segundo período e o terceiro período
de ocupação do sítio Garivaldino para atributos não-métricos. Nível de significância = 0,05.
Diferenças estatisticamente significantes marcadas em negrito. ............................................... 284
Tabela 7.315 - Valores dos testes de significância entre o segundo período e o terceiro período de
ocupação do sítio Garivaldino para atributos métricos. Nível de significância = 0,05 (two-tailed).
................................................................................................................................................... 284
Tabela 7.316 – Valores dos testes de significância entre as pontas pedunculadas do sítio Alice
Boer e das coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Claudio (Iracemápolis) para atributos não-
métricos. Nível de significância = 0,05. Diferenças significantes marcadas em negrito. ......... 285
Tabela 7.317 – Resultados do teste Shapiro-Wilk de normalidade para as pontas do sítio Alice
Boer e das coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Claudio (Iracemápolis) para atributos métricos.
Valores de significância menor que 0,05 são considerados não normais.................................. 285
Tabela 7.318 - Valores dos testes de significância as pontas pedunculadas do sítio Alice Boer e
das coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Claudio (Iracemápolis) para atributos métricos. Nível
de significância = 0,05 (two-tailed). Valor do teste apresentado é o valor crítico de U, no caso dos
testes Mann-Whitney. ............................................................................................................... 286
Tabela 7.319 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas em pontas
pedunculadas do sítio Alice Boer, coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio (Iracemápolis),
sítio Santa Cruz, coleção André Coelho (Porangaba) e sítio Caetetuba.................................... 287
Tabela 7.320 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas pedunculadas do
sítio Alice Boer, coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio (Iracemápolis), sítio Santa Cruz,
coleção André Coelho (Porangaba) e sítio Caetetuba. .............................................................. 287

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.321 – Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do corpo em


pontas pedunculadas do sítio Alice Boer, coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio
(Iracemápolis), sítio Santa Cruz, coleção André Coelho (Porangaba) e sítio Caetetuba. ......... 288
Tabela 7.322 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento dos gumes
em pontas pedunculadas do sítio Alice Boer, coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio
(Iracemápolis), sítio Santa Cruz, coleção André Coelho (Porangaba) e sítio Caetetuba. ......... 288
Tabela 7.323 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno das aletas em
pontas pedunculadas do sítio Alice Boer, coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio
(Iracemápolis), sítio Santa Cruz, coleção André Coelho (Porangaba) e sítio Caetetuba. ......... 288
Tabela 7.324 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento do pescoço
em pontas pedunculadas do sítio Alice Boer, coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio
(Iracemápolis), sítio Santa Cruz, coleção André Coelho (Porangaba) e sítio Caetetuba. ......... 288
Tabela 7.325 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do pedúnculo
em pontas do sítio Alice Boer, coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio (Iracemápolis), sítio
Santa Cruz, coleção André Coelho (Porangaba) e sítio Caetetuba. .......................................... 288
Tabela 7.326 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do corpo em pontas
do sítio Alice Boer, coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio (Iracemápolis), sítio Santa
Cruz, coleção André Coelho (Porangaba) e sítio Caetetuba. .................................................... 288
Tabela 7.327 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do pedúnculo em
pontas pedunculadas do sítio Alice Boer, coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio
(Iracemápolis), sítio Santa Cruz, coleção André Coelho (Porangaba) e sítio Caetetuba. ......... 289
Tabela 7.328 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de suporte em pontas
pedunculadas do sítio Alice Boer, coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio (Iracemápolis),
sítio Santa Cruz, coleção André Coelho (Porangaba) e sítio Caetetuba.................................... 289
Tabela 7.329 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de façonagem
em pontas pedunculadas do sítio Alice Boer, coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio
(Iracemápolis), sítio Santa Cruz, coleção André Coelho (Porangaba) e sítio Caetetuba. ......... 289
Tabela 7.330 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de façonagem em
pontas pedunculadas do sítio Alice Boer, coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio
(Iracemápolis), sítio Santa Cruz, coleção André Coelho (Porangaba) e sítio Caetetuba. ......... 289
Tabela 7.331 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de retoque em
pontas pedunculadas do sítio Alice Boer, coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio
(Iracemápolis), sítio Santa Cruz, coleção André Coelho (Porangaba) e sítio Caetetuba. ......... 289
Tabela 7.332 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de retoque em
pontas do sítio Alice Boer, coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio (Iracemápolis), sítio
Santa Cruz, coleção André Coelho (Porangaba) e sítio Caetetuba. .......................................... 290
Tabela 7.333 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos
negativos de façonagem do corpo das pontas pedunculadas do sítio Alice Boer, coleções Dinan
Rogério e Luis Carlos Cláudio (Iracemápolis), sítio Santa Cruz, coleção André Coelho
(Porangaba) e sítio Caetetuba. ................................................................................................... 290
Tabela 7.334 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos
negativos de façonagem do pedúnculo em pontas pedunculadas do sítio Alice Boer, coleções
Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio (Iracemápolis), sítio Santa Cruz, coleção André Coelho
(Porangaba) e sítio Caetetuba. ................................................................................................... 290
Tabela 7.335 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 25%) em pontas
pedunculadas do sítio Alice Boer, coleções Dinan Rogério e Luis Carlos Cláudio (Iracemápolis),

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

sítio Santa Cruz, coleção André Coelho (Porangaba) e sítio Caetetuba. A amplitude considerada
para os valores foi o desvio padrão. .......................................................................................... 291
Tabela 7.336 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas em pontas
Garivaldinenses do sítio Garivaldino. ....................................................................................... 292
Tabela 7.337 - Valores de tendência central dos atributos métricos das pontas Garivaldinenses do
sítio Garivaldino. ....................................................................................................................... 292
Tabela 7.338 – Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do corpo em
pontas Garivaldinenses do sítio Garivaldino. ............................................................................ 292
Tabela 7.339 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento dos gumes
em pontas Garivaldinenses do sítio Garivaldino. ...................................................................... 292
Tabela 7.340 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno das aletas em
pontas Garivaldinenses do sítio Garivaldino. ............................................................................ 293
Tabela 7.341 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento do pescoço
em pontas Garivaldinenses do sítio Garivaldino. ...................................................................... 293
Tabela 7.342 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do pedúnculo
em pontas Garivaldinenses do sítio Garivaldino. ...................................................................... 293
Tabela 7.343 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do corpo em pontas
Garivaldinenses do sítio Garivaldino. ....................................................................................... 293
Tabela 7.344 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do pedúnculo em
pontas pedunculadas Garivaldinenses do sítio Garivaldino. ..................................................... 293
Tabela 7.345 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de suporte em pontas
Garivaldinenses do sítio Garivaldino. ....................................................................................... 294
Tabela 7.346 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de façonagem
em pontas Garivaldinenses do sítio Garivaldino. ...................................................................... 294
Tabela 7.347 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de façonagem em
pontas Garivaldinenses do sítio Garivaldino. ............................................................................ 294
Tabela 7.348 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de retoque em
pontas Garivaldinenses do sítio Garivaldino. ............................................................................ 294
Tabela 7.349 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de retoque em
pontas Garivaldinenses do sítio Garivaldino. ............................................................................ 294
Tabela 7.350 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos
negativos de façonagem do corpo das pontas Garivaldinenses do sítio Garivaldino. ............... 294
Tabela 7.351 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos
negativos de façonagem do pedúnculo em pontas Garivaldinenses do sítio Garivaldino. ........ 295
Tabela 7.352 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 25%) em pontas
Garivaldinenses do sítio Garivaldino. A amplitude considerada para os valores foi o desvio
padrão. ....................................................................................................................................... 295
Tabela 7.353 - Frequência (contagens e porcentagens) das matérias primas em pontas Montenegro
do sítio Garivaldino. .................................................................................................................. 296
Tabela 7.354 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do corpo em
pontas Garivaldinenses do sítio Garivaldino. ............................................................................ 296
Tabela 7.355– Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do corpo em
pontas Montenegro do sítio Garivaldino ................................................................................... 296
Tabela 7.356 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento dos gumes
em pontas Montenegro do sítio Garivaldino. ............................................................................ 297
Tabela 7.357 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno das aletas em
pontas Montenegro do sítio Garivaldino. .................................................................................. 297

423
MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 7.358 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de delineamento do pescoço


em pontas Montenegro do sítio Garivaldino. ............................................................................ 297
Tabela 7.359 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do pedúnculo
em pontas Montenegro do sítio Garivaldino. ............................................................................ 297
Tabela 7.360 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do corpo em pontas
Montenegro do sítio Garivaldino. ............................................................................................. 297
Tabela 7.361 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de seção do pedúnculo em
pontas Montenegro do sítio Garivaldino. .................................................................................. 297
Tabela 7.362 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de suporte em pontas
pedunculadas do sítio Garivaldino. ........................................................................................... 297
Tabela 7.363 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de façonagem
em pontas Montenegro do sítio Garivaldino. ............................................................................ 298
Tabela 7.364 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de façonagem em
pontas Montenegro do sítio Garivaldino. .................................................................................. 298
Tabela 7.365 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de método de retoque em
pontas Montenegro do sítio Garivaldino. .................................................................................. 298
Tabela 7.366 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de técnica de retoque em
pontas Montenegro do sítio Garivaldino. .................................................................................. 298
Tabela 7.367 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos
negativos de façonagem do corpo das pontas Montenegro do sítio Garivaldino. ..................... 298
Tabela 7.368 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de organização dos
negativos de façonagem do pedúnculo em pontas pedunculadas do sítio Garivaldino. ............ 298
Tabela 7.369 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno do corpo em
pontas Montenegro do sítio Garivaldino. .................................................................................. 299
Tabela 7.370 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 25%) em pontas
Rioclarenses, pontas Estrela, e pontas Garivaldinenses estudadas neste projeto. * Neste caso estão
apresentados os valores de frequência superior a 20 %, devido a variabilidade. ...................... 300
Tabela 7.371 – Resultados do teste Shapiro-Wilk de normalidade para as pontas Rioclarense,
Estrela e Garivaldino para atributos métricos. Valores de significância menor que 0,05 são
considerados não normais. Em negrito estão destacados os atributos que possuem distribuição
normal em todas as indústrias. .................................................................................................. 301
Tabela 7.372 - Resultados dos testes Anova Kruskall-Wallis para as pontas Rioclarenses, Estrela
e Garivaldino para atributos métricos. Valores de significância menor que 0,05 são considerados
não normais. Em negrito estão destacados os atributos que possuem diferenças significativas.
................................................................................................................................................... 302
Tabela 7.373 – Valores dos testes de significância entre as pontas Rioclarenses e Estrela para
atributos não-métricos. Nível de significância = 0,05. Diferenças significantes marcadas em
negrito. Atributos os quais não é possível aplicar nenhum teste são aqueles cujas variáveis com
valores de tendência (> 25 %) em uma coleção não existem na outra, impossibilitando aplicação
dos testes, resultantes de diferenças extremamente significativas. ........................................... 302
Tabela 7.374 - Valores dos testes de significância as pontas Rioclarenses e Estrela para atributos
métricos. Nível de significância = 0,05 (two-tailed). Valor do teste apresentado é o valor crítico
de U, no caso dos testes Mann-Whitney. .................................................................................. 303
Tabela 7.375 – Valores dos testes de significância entre as pontas Garivaldinenses e Estrela para
atributos não-métricos. Nível de significância = 0,05. Diferenças significantes marcadas em
negrito. Atributos os quais não é possível aplicar nenhum teste são aqueles cujas variáveis com

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

valores de tendência (> 25 %) em uma coleção não existem na outra, impossibilitando aplicação
dos testes, resultantes de diferenças extremamente significativas. ........................................... 304
Tabela 7.376 - Valores dos testes de significância pontas Garivaldinenses e Estrela para atributos
métricos. Nível de significância = 0,05 (two-tailed). Valor do teste apresentado é o valor crítico
de U, no caso dos testes Mann-Whitney. .................................................................................. 304
Tabela 7.377 – Valores dos testes de significância entre as pontas pedunculadas da indústria
Garivaldinense e da indústria Rioclarense para atributos não-métricos. Nível de significância =
0,05. Diferenças significantes marcadas em negrito. Atributos os quais não é possível aplicar
nenhum teste são aqueles cujas variáveis com valores de tendência (> 25 %) em uma coleção não
existem na outra, impossibilitando aplicação dos testes, resultantes de diferenças extremamente
significativas. ............................................................................................................................ 305
Tabela 7.378 - Valores dos testes de significância as pontas pedunculadas da indústria
Garivaldinense e da indústria Rioclarense para atributos métricos. Nível de significância = 0,05
(two-tailed). Valor do teste apresentado é o valor crítico de U, no caso dos testes Mann-Whitney.
................................................................................................................................................... 306
Tabela 8.1 – Atributos principais dos percutores macios (M) e duros (D) utilizados nos
experimentos. ............................................................................................................................ 311
Tabela 8.2 - Atributos principais dos pressores (P) utilizados nos experimentos. .................... 313
Tabela 8.3 – Feições principais dos suportes de sílex utilizados no experimento de replicação de
pontas Rioclarenses e seu resultado. ......................................................................................... 314
Tabela 8.4 – Feições métricas, morfológicas e tecnológicas das pontas resultantes do experimento
de replicação de pontas Rioclarenses. Em negrito estão destacadas as variáveis cuja replicação
não está dentro do padrão desejado – o padrão tecnológico das pontas Rioclarenses observado no
capítulo 7. .................................................................................................................................. 314
Tabela 8.5 - Total de lascas recuperadas dos experimentos de replicação de pontas Rioclarenses.
................................................................................................................................................... 317
Tabela 8.6 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem por
percussão dura das réplicas de pontas Rioclarenses. ................................................................. 318
Tabela 8.7 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem por
percussão macia das réplicas de pontas Rioclarenses. .............................................................. 318
Tabela 8.8 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem por
percussão dura e macia das réplicas de pontas Rioclarenses. ................................................... 318
Tabela 8.9 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno de talão das lascas
de façonagem das réplicas de pontas Rioclarenses. .................................................................. 318
Tabela 8.10 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de superfície de talão das
lascas de façonagem das réplicas de pontas Rioclarenses. ........................................................ 319
Tabela 8.11 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de cornija das lascas de
façonagem das réplicas de pontas Rioclarenses. ....................................................................... 319
Tabela 8.12 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de bulbo das lascas de
façonagem das réplicas de pontas Rioclarenses. ....................................................................... 319
Tabela 8.13 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno geral das lascas
de façonagem das réplicas de pontas Rioclarenses. .................................................................. 319
Tabela 8.14 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de perfil das lascas de
façonagem das réplicas de pontas Rioclarenses. ....................................................................... 319
Tabela 8.15 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias organização da face superior
das lascas de façonagem das réplicas de pontas Rioclarenses. ................................................. 320

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 8.16 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de quantidade de córtex nas
lascas de façonagem das réplicas de pontas Rioclarenses. ........................................................ 320
Tabela 8.17 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 20%) em lascas
de façonagem das réplicas de pontas Rioclarenses. A amplitude considerada para os valores foi o
desvio padrão. Em negrito estão representadas as variáveis que estão em acordo com as lascas de
façonagem do sítio Alice Boer. ................................................................................................. 320
Tabela 8.18 - Feições principais dos suportes de sílex utilizados no experimento de replicação de
lesmas Rioclarenses e seu resultado. ......................................................................................... 321
Tabela 8.19 - Feições métricas e tecnológicas das lesmas de sílex resultantes do experimento.
................................................................................................................................................... 322
Tabela 8.20 - Feições principais dos suportes de arenito silicificado utilizados no experimento de
replicação de lesmas Rioclarenses e seu resultado.................................................................... 323
Tabela 8.21 - Feições métricas e tecnológicas da lesma de arenito silicificado resultantes do
experimento. .............................................................................................................................. 323
Tabela 8.22 - Total de lascas de sílex recuperadas dos experimentos de replicação de lesmas.323
Tabela 8.23 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem de sílex
por percussão dura das réplicas de lesmas. ............................................................................... 324
Tabela 8.24 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem de sílex
por percussão macia das réplicas de lesmas. ............................................................................. 324
Tabela 8.25 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem de sílex
por percussão dura e macia das réplicas de lesmas. .................................................................. 324
Tabela 8.26 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno de talão das
lascas de façonagem de sílex das réplicas de lesmas Rioclarenses. .......................................... 325
Tabela 8.27 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de superfície de talão das
lascas de façonagem de sílex das réplicas de lesmas Rioclarenses. .......................................... 325
Tabela 8.28 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de cornija das lascas de
façonagem de sílex das réplicas de lesmas Rioclarenses. ......................................................... 325
Tabela 8.29 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de bulbo das lascas de
façonagem de sílex das réplicas de lesmas Rioclarenses. ......................................................... 325
Tabela 8.30 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno geral das lascas
de façonagem de sílex das réplicas de lesmas Rioclarenses. .................................................... 325
Tabela 8.31 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de perfil das lascas de
façonagem de sílex das réplicas de lesmas Rioclarenses. ......................................................... 326
Tabela 8.32 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias organização da face superior
das lascas de façonagem de sílex das réplicas de lesmas Rioclarenses. .................................... 326
Tabela 8.33 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de quantidade de córtex nas
lascas de façonagem de sílex das réplicas de lesmas Rioclarenses. .......................................... 326
Tabela 8.34 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 20%) em lascas
de façonagem de sílex das réplicas de lesmas Rioclarenses. A amplitude considerada para os
valores foi o desvio padrão. Em negrito estão representadas as variáveis que estão em acordo com
as lascas de façonagem do sítio Alice Boer. ............................................................................. 326
Tabela 8.35 - Total de lascas de arenito silicificado recuperadas dos experimentos de replicação
de lesmas. .................................................................................................................................. 327
Tabela 8.36 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem de
arenito silicificado por percussão dura das réplicas de lesmas.................................................. 327
Tabela 8.37 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem de
arenito silicificado por percussão macia das réplicas de lesmas. .............................................. 328

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 8.38 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem de
arenito silicificado por percussão dura e macia das réplicas de lesmas. ................................... 328
Tabela 8.39 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno de talão das
lascas de façonagem de arenito silicificado das réplicas de lesmas Rioclarenses. .................... 328
Tabela 8.40 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de superfície de talão das
lascas de façonagem de arenito silicificado das réplicas de lesmas Rioclarenses. .................... 328
Tabela 8.41 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de cornija das lascas de
façonagem de arenito silicificado das réplicas de lesmas Rioclarenses. ................................... 328
Tabela 8.42 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de bulbo das lascas de
façonagem de arenito silicificado das réplicas de lesmas Rioclarenses. ................................... 329
Tabela 8.43 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno geral das lascas
de façonagem de arenito silicificado das réplicas de lesmas Rioclarenses. .............................. 329
Tabela 8.44 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de perfil das lascas de
façonagem de arenito silicificado das réplicas de lesmas Rioclarenses. ................................... 329
Tabela 8.45 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias organização da face superior
das lascas de façonagem de arenito silicificado das réplicas de lesmas Rioclarenses. ............. 329
Tabela 8.46 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de quantidade de córtex nas
lascas de façonagem de arenito silicificado das réplicas de lesmas Rioclarenses. .................... 329
Tabela 8.47 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 20%) em lascas
de façonagem de arenito silicificado das réplicas de lesmas Rioclarenses. A amplitude
considerada para os valores foi o desvio padrão. Em negrito estão representadas as variáveis que
estão em acordo com as lascas de façonagem do sítio Caetetuba. ............................................ 330
Tabela 8.48 - Feições principais dos suportes de sílex utilizados no experimento de replicação de
pontas Garivaldinenses e seu resultado. .................................................................................... 331
Tabela 8.49 – Feições métricas, morfológicas e tecnológicas das pontas resultantes do
experimento de replicação de pontas Garivaldinenses. Em negrito estão destacadas as variáveis
cuja replicação não está dentro do padrão desejado – o padrão tecnológico das pontas Rioclarenses
observado no capítulo 7............................................................................................................. 331
Tabela 8.50 - Total de lascas recuperadas dos experimentos de replicação de pontas
Garivaldinenses. ........................................................................................................................ 333
Tabela 8.51 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem por
percussão dura das réplicas de pontas Rioclarenses. ................................................................. 334
Tabela 8.52 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem por
percussão macia das réplicas de pontas Rioclarenses. .............................................................. 335
Tabela 8.53 - Valores de tendência central dos atributos métricos das lascas de façonagem por
percussão dura e macia das réplicas de pontas Rioclarenses. ................................................... 335
Tabela 8.54 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno de talão das
lascas de façonagem das réplicas de pontas Rioclarenses. ........................................................ 335
Tabela 8.55 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de superfície de talão das
lascas de façonagem das réplicas de pontas Rioclarenses. ........................................................ 335
Tabela 8.56 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de cornija das lascas de
façonagem das réplicas de pontas Rioclarenses. ....................................................................... 335
Tabela 8.57 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de bulbo das lascas de
façonagem das réplicas de pontas Rioclarenses. ....................................................................... 336
Tabela 8.58 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de contorno geral das lascas
de façonagem das réplicas de pontas Rioclarenses. .................................................................. 336

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Tabela 8.59 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de perfil das lascas de
façonagem das réplicas de pontas Rioclarenses. ....................................................................... 336
Tabela 8.60 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias organização da face superior
das lascas de façonagem das réplicas de pontas Rioclarenses. ................................................. 336
Tabela 8.61 - Frequência (contagens e porcentagens) das categorias de quantidade de córtex nas
lascas de façonagem das réplicas de pontas Rioclarenses. ........................................................ 336
Tabela 8.62 - Feições métricas, morfológicas e tecnológicas comuns (superior a 20%) em lascas
de façonagem das réplicas de pontas Rioclarenses. A amplitude considerada para os valores foi o
desvio padrão. Em negrito estão representadas as variáveis que estão em acordo com as lascas de
façonagem do sítio Garivaldino. ............................................................................................... 337

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

GLOSSÁRIO

Os termos e definições a seguir são baseados nas discussões apresentadas ao longo da


tese. Ainda que todos os termos abaixo tenham sido apresentados em algum momento da tese, a
definição proposta pelo autor para estes termos é apresentada apenas neste glossário.

Acanelada
Peça que passou pelo processo de acanaladura.

Acanaladura (em inglês: fluting)


Última retirada da etapa de façonagem de uma ponta que consiste obrigatoriamente em
retirar uma lasca comprida orientada a partir da base da peça.

Adaptação cultural
Conjunto de mudanças ocorridas em determinados aspectos culturais que favorecem uma
sociedade a permanecer em um determinado contexto

Ágata
Rocha constituída, principalmente, por bandas ou aglomerados de cristais de calcedônia
e quartzo. No Brasil é geralmente encontrada em formações basálticas, dentro de geodos.

[Também é usualmente, porém equivocadamente, chamada de calcedônia por diversos


arqueólogos brasileiros. No entanto, calcedônia é o nome de um mineral que nunca
ultrapassa 2 mm de dimensão e é, portanto, fisicamente impossível de ser utilizado para
produção de artefatos líticos.]

Aleta(s) (lítico)
Extremidade(s) oposta(s) ao ápice de uma ponta pedunculada.

Alteração térmica (lítico)


Processo de cozimento não intencional de um vestígio lítico, que pode ser causado por
queimadas naturais ou proximidade a fogueiras, e que é reconhecido pela modificação da
cor, brilho, textura e destacamento de cúpulas na superfície do vestígio.

[Não confundir com “tratamento térmico”.]

Ameríndio(a)
1. Termo utilizado para se referir ao período relativo às ocupações humanas do que se
iniciaram entre o Holoceno Médio e Tardio e que é caracterizado pelo surgimento das
indústrias cerâmicas.

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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2. Termo utilizado para se referir a uma cultura arqueológica americana definida pela
sua indústria cerâmica.

Análise diacrônica
Método de identificação da cronologia do lascamento de um núcleo, pré-forma ou artefato
lítico.

[Também é usualmente, porém equivocadamente, chamada de “análise diacrítica” por


alguns arqueólogos brasileiros.]

Antropologia
Ciência que tem por objetivo compreender a diversidade cultural das sociedades humanas
viventes.

Ápice (lítico)
Extremidade distal de uma ponta lítica.

Arenito
Rocha sedimentar majoritariamente constituída por areia.

Arenito silicificado
Arenito rico em sílica. Possui melhor qualidade para lascamento.

Artefato
Qualquer objeto, seja ele natural ou culturalmente modificado, obtido para atender uma
necessidade.

Artefato formal
Qualquer artefato que apresente uma série de características morfológicas que se repetem
sistematicamente em determinadas indústrias arqueológicas.

Arqueologia
Ciência que tem por objetivo buscar conhecimentos sobre todos os aspectos da
humanidade a partir do estudo de vestígios materiais.

Arqueologia Cognitiva
Subárea da arqueologia que busca compreender a cognição humana.

Arqueologia Evolutiva
Subárea da arqueologia que busca traçar paralelos entre a evolução biológica e a evolução
cultural.

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Arqueologia Experimental
Subárea da arqueologia que realiza experimentações das atividades realizadas por
sociedades arqueológicas a fim de testar hipóteses sobre os métodos, técnicas e processos
tafonômicos que produziram o registro arqueológico.

Basalto
Tipo de rocha ígnea.

Bifacial (lítico)
Relativo às duas faces de um objeto. Geralmente usado como adjetivo para peças
façonadas bifacialmente.

Biponta (lítico)
Peça que possui duas extremidades opostas pontiagudas.

Bioturbação
Perturbação estratigráfica causada por fatores naturais (plantas, animais, erosões) que
misturam os vestígios de diferentes períodos arqueológicos.

Bordo (lítico)
Linha equivalente ao contorno do artefato, que pode ou não apresentar um gume.

Bulbo
Feição da face interna de uma lasca resultante da percussão com superfície geralmente
arredondada e com forma de cone partindo do ponto de impacto. Trata-se do nome dado
ao Cone Hertzial nos estudos líticos.

Cadeia operatória
Descrição ou esquema que explana todos os processos pelos quais um artefato, ou um
conjunto de artefatos, passou desde a sua concepção teórica até o seu descarte.

Calhau
Refere-se ao grão de rocha que possui entre 64 e 256 mm de tamanho máximo, de acordo
com a escala de Wentworth.

Ciência cognitiva
Ciência multidisciplinar que busca entender a cognição.

Clovis
Nome dado a uma específica cultura arqueológica datada entre 15 e 13,5 mil anos que
ocupou parte da América do Norte.

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Cognição
Conjunto de processos relacionados à construção e à transmissão de conhecimento, seja
ele individual ou social.

Coleção (arqueologia)
Todos os vestígios de um determinado contexto arqueológico.

Competição Cultural
Disputa realizada entre grupos humanos por território ou espaço na memória coletiva.

Contra-bulbo
Negativo do bulbo.

Convergência cultural
Processo no qual características culturais similares surgem de forma independente em
sociedades que nunca possuíram qualquer forma de contato anterior.

Convergente (lítico)
Negativos direcionados ao centro da peça, mas que podem transpassá-lo.

Cornija
Nervura localizada entre o talão e a face interna de uma lasca, ou entre a plataforma e a
superfície de lascamento.

Córtex
Porção externa da rocha que não apresenta as mesmas feições naturais que a rocha em si.
Apresenta-se em diversas formas, dependendo do contexto em que a rocha está localizada
(ex: terrestre, fluvial).

Cultura
O conjunto de conhecimentos gerais coletivamente construídos, aplicados e transmitidos
em uma sociedade.

Cultura Arqueológica
Cultura identificada a partir da análise de todas as classes de cultura material de um grupo
humano.

Cultura Lagoassantense
Cultura arqueológica que existiu no centro de Minas Gerais entre cerca de 12,5 mil anos
atrás e 1 mil anos atrás. É caracterizada pela indústria lítica Lagoassantense, indústria

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

óssea, variação cultural de enterramentos humanos, produção de registros rupestres e uma


dieta bastante diversificada.

Cultura Material
Qualquer material, ou conjunto de materiais, que possua traços culturais de um
determinado grupo humano.

Datação
Processo de identificação da idade de materiais através de algum método científico.

Debitagem
Aquisição de suportes líticos através da produção de lascas com forma e volume
predeterminados a partir de núcleos.

Delgado (lítico)
Oposto de largo, ou seja, cuja largura é pequena em relação ao comprimento ou à
espessura. Não confundir com fino, de pouca espessura.

Deriva cultural
Persistência ou aumento da frequência de determinados traços culturais sobre outros por
mero acaso.

Detrito (lítico)
Vestígio lítico originado de processos de lascamento que não é passível de análise
tecnológica.

Evolução
Processo de mudanças ao longo do tempo.

Evolução Cultural
Processo de mudanças culturais ao longo do tempo em uma determinada sociedade.

Estilha
Termo utilizado para se referir às lascas de tamanho muito reduzido, geralmente menores
que 10 mm, que raramente são levadas em consideração em análises líticas.

Estratigrafia
Método geológico de análise das camadas de rocha e sedimento de um determinado local.

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Facetagem (lítico)
Método que consiste na modificação do ângulo da cornija, tornando-o menos agudo, a
partir da retirada de pequenas lascas na face oposta à lasca de façonagem que se deseja
produzir.

Façonagem
Modificação realizada em um suporte lítico a fim de transformá-lo em um artefato
predeterminado através da redução de seu volume.

Fluxo cultural
Transmissão de conhecimento entre indivíduos de diferentes sociedades.

Formatação de núcleo
Processo de retirada de lascas de um núcleo a fim alterar sua estrutura e volume tornando-
o apto à um determinado método de debitagem.

Fragmento de lasca
Lasca cuja porção proximal, incluindo o talão e o bulbo, estão ausentes devido à quebra.

Formação Botucatu
Formação geológica sul-americana do período Jurássico sucedida pela formação Serra
Geral. É caracterizada pelo arenito com alta variedade de sua constituição de região para
região.

Formação Corumbataí
Formação geológica da era Paleozoica identificada na região de Rio Claro, Estado de São
Paulo. É caracterizada pelos siltito, argilito, e sílex formado da decomposição e
fossilização de matérias orgânicas silicificadas.

Formação Serra Geral


Formação geológica sul-americana do período Cretáceo precedida pela formação
Botucatu. É caracterizada pelo basalto e geodos com presença de quartzo cristalino e
ágata.
Função
Necessidade que um instrumento atende (ex: simbólica, funcional, etc.).

Funcionalidade
Necessidade que um instrumento atende através de um funcionamento (ex: cortar, raspar,
bater, furar, etc.)

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Funcionamento
Modo como uma necessidade deve ser atendida (ex: pressionando, batendo, segurando
com duas mãos, segurando na ponta dos dedos, etc.).

Geofato
Objeto natural que foi, ou pode ser, confundido com um artefato arqueológico, e cuja
origem pode ser explicada por fatores ambientais.

Goniômetro
Instrumento de encaixe para mensuração de ângulos em objetos.

Gume
Bordo afiado de um artefato.

Gume ativo
Gume utilizado para atender uma função.

Herança cultural
Ver: Tradição

História do artefato
Descrição ou esquema que explana todos os processos pelos quais um artefato, ou um
conjunto de artefatos, passou, incluindo aquele da cadeia operatória, além dos processos
tafonômicos e arqueológicos que levaram à sua situação atual.

Holoceno
Época geologicamente definida que compreende a cronologia do planeta Terra desde
cerca de 12,5 mil anos calibrados atrás até os dias atuais.
Hominínio
Termo atualmente utilizado por arqueólogos e paleoantropólogos para se referir às
espécies ancestrais dos humanos modernos, mas que não são ancestrais dos chimpanzés
e dos bonobos.

Hipótese
Ideia sobre um acontecimento que precisa ser testada antes de ser considerada uma
possibilidade.

Humina (sedimento)
Fração do solo composta de substâncias orgânicas insolúveis em qualquer condição de
pH.

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Indústria
Produção em larga escala de um determinado conjunto de artefatos.

Indústria Fell (ou Rabo-de-Peixe – Cola-de-Pescado, em espanhol – Fishtail, em inglês)


Indústria lítica paleoíndia identificada desde o Uruguai até o extremo sul da Patagônia
(Chile e Argentina) que surgiu há cerca de 13 mil anos atrás. É identificada pela presença
recorrente de pontas bifaciais com gumes convexos e pedúnculos de base côncava
produzida por acanaladura e retoques laterais.

Indústria Garivaldinense
Indústria lítica paleoíndia identificada no centro-leste do Estado do Rio Grande do Sul
que surgiu há cerca de 11 mil anos atrás e existiu até pelo menos o Holoceno Médio. É
identificada pela presença recorrente de pontas Garivaldinenses e Montenegro.

Indústria Itaparica
Indústria lítica paleoíndia identificada em partes das regiões Nordeste, Sudeste e Centro-
Oeste do Brasil que surgiu há cerca de 13 mil anos atrás e existiu até o Holoceno Médio.
É identificada pela presença recorrente de artefatos conhecidos como lesmas.

Indústria Lagoassantense
Indústria lítica paleoíndia identificada no centro do Estado de Minas Gerais que surgiu há
cerca de 12,5 mil anos atrás e existiu até pelo menos 1 mil anos atrás. É identificada pela
debitagem de fatiagem e planos opostos em pequenos cristais de quartzo-hialino não-
locais, instrumentos sobre lascas pouco retocadas e baixa presença de lâminas de
machado polido. Junto a outros traços culturais do mesmo contexto espaço-temporal,
compõe a cultura arqueológica Lagoassantense.

Indústria lítica
Indústria de artefatos líticos definida pelo seu padrão tecnológico identificado
arqueologicamente e que se limita a alguma escala de tempo.

Indústria Rioclarense
Indústria lítica paleoíndia identificada no centro do Estado de São Paulo que surgiu há
cerca de 11 mil anos atrás e existiu até o Holoceno Médio. É identificada pela presença
recorrente de pontas Rioclarenses e Lesmas.

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Indústria Tunas
Indústria lítica paleoíndia identificada principalmente no leste do Estado do Paraná que
surgiu há cerca de 11 mil anos atrás e que persistiu durante o Holoceno Inicial. É
identificada pela presença recorrente de pontas Estrela e lêsminas.

Inércia cultural
Persistência da maioria dos traços culturais de uma sociedade ao longo do tempo.

Inovações culturais
Traços culturais inéditos que surgem em uma sociedade.

Instrumento
Artefato, ou parte de um artefato, que atende alguma funcionalidade.

Intrusão (lítico)
Porção da rocha que apresenta constituição diferente, heterogênea.

Itaparica
ver: Indústria Itaparica

Lâmina (lítico)
1. Lasca que possui o comprimento pelo menos duas vezes maior do que a largura ou vice-
e-versa.
2. Artefato polido que constitui a parte ativa de um machado.

Lancetas (lítico)
Estrias retilíneas e perpendiculares ao ponto de impacto, e que são formadas nas bordas
laterais das lascas de matérias primas homogêneas.

Lasca (lítico)
Fragmento removido de um núcleo ou suporte através de percussão ou pressão, e
identificável a partir da observação de, pelo menos, um talão e um bulbo.

Lasca fragmentada
Lasca cuja porção distal é ausente devido à quebra.

Lascamento
Remoção de lascas de uma rocha ou mineral.

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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Lesma (lítico)
Artefato produzido sobre lasca, possui seção plano-convexa cuja espessura é menor ou
igual à largura, comprimento maior do que a largura, façonado unifacialmente, mais de
um gume ativo. Geralmente apresenta um gume ativo em pelo menos uma das
extremidades (distal ou proximal). Foi assim denominado devido a sua similaridade com
as limaces do Paleolítico da Eurásia. É identificado em sítios associados à indústria
Itaparica e à indústria Rioclarense.

Lêsmina (lítico)
Artefato de seção plano-convexa, alongado, retocado unifacialmente, produzido sobre
lasca laminar espessa. Assemelha-se morfologicamente com a lesma, mas difere
metricamente e tecnologicamente.

Limace
Artefato façonado unifacialmente, lateralmente simétrico, pelo menos três vezes mais
largo do que espesso, bordos convexos, possui pelo menos um gume pontiagudo nas
extremidades (distal ou proximal) e retoques unifaciais ininterruptos por todos os bordos.
É identificado em indústrias do paleolítico da Eurásia.

Lítico
Qualquer artefato, ou resíduo de produção, constituído de rocha ou mineral.

Matacão
Refere-se ao bloco de rocha maior do que 25 cm, de acordo com a escala de Wentworth.

Matéria prima
Qualquer tipo de material cujas feições são minimamente apropriadas para produção de
artefatos.

Matriz de lascamento
Qualquer material de onde lascas são intencionalmente retiradas, como núcleos e suportes
líticos.

Método
Conjunto de ideias ou esquemas de realização de uma determinada atividade.

Método de percussão sobre bigorna


Método de debitagem no qual o núcleo é posicionado sobre uma bigorna e a percussão é
realizada no ponto oposto à bigorna produzindo suportes cujas feições se têm pouca ou
nenhuma previsibilidade.

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[Normalmente referido na literatura brasileira como método de “percussão bipolar”. Não


confundir com método de planos opostos.]

Método discoide
Método de debitagem no qual o núcleo é lascado bifacialmente, com negativos
organizados de modo convergente, e possui forma arredondada.

Método fatiagem
Método de debitagem aplicado sobre seixos ou calhaus alongados, incluindo cristais, na
qual as lascas são retiradas em fatias.

Método laminar
Método de debitagem que produz lâminas de maneira sistemática.

Método levallois
Método de debitagem tradicional da indústria lítica Musteriense. Este método jamais foi
registrado em território brasileiro.

Método planos opostos


Método de debitagem que consiste na retirada de lascas de uma mesma superfície de
lascamento, porém de plataformas de percussão opostas.

[Não confundir com “método de percussão sobre bigorna”.]

Método piramidal
Método de debitagem que consiste na retirada de lascas a partir de uma única plataforma
de lascamento em um núcleo de estrutura similar a uma pirâmide.

Metodologia
Estudo dos métodos.

[Termo usualmente, porém equivocadamente, utilizado por diversos autores para se


referir ao método propriamente dito.]

Microlítico (ou micrólito)


Artefatos líticos (instrumentos) menores que 30 mm.

Morfologia
Estudo das formas, contornos e delineamentos de objetos.

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o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
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[Termo usualmente, porém equivocadamente, utilizado por diversos autores para se


referir à forma ou ao contorno propriamente dito.]

Mouthtalk
Gíria do idioma inglês que se refere ao ato de usar termos vagos para propósitos não-
intelectuais simplesmente porque o termo está na moda.

Musteriense
Indústria lítica que surgiu no Velho Mundo há cerca de 325 mil anos.

Núcleo (lítico)

Bloco de matéria-prima, natural ou modificado, com estrutura e volume que permitem a


obtenção de suportes predeterminados.

Paleolítico
Termo utilizado para se referir ao período histórico da humanidade anterior ao advento
da agricultura na África, Europa e Ásia.

Paleoíndio(a)
1. Termo utilizado para se referir ao período relativo às ocupações humanas que se
iniciaram no continente americano durante o Holoceno, ou anteriormente, e que
termina com o desaparecimento destas mesmas ocupações ou com a substituição por
outros grupos culturais. Não há uma idade definida para o fim do período Paleoíndio,
uma vez que as primeiras ocupações possuem durações distintas em cada região ou
sítio arqueológico.
2. Termo utilizado para se referir a uma cultura arqueológica ou a vestígios
arqueológicos referentes às primeiras ocupações humanas no continente americano.

Paleoíndio Anterior
Período relativo às primeiras ocupações do continente americano caracterizadas por
indústrias líticas simples que duraram até pelo menos 20 mil anos.

Paleoíndio Posterior
Período relativo às primeiras ocupações em larga escala do continente americano
caracterizadas por indústrias líticas relativamente mais complexas do que as anteriores e
que surgiram há cerca de 20 mil anos.

Paquímetro

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Instrumento de precisão para mensuração de medidas lineares.

Pedúnculo (lítico)
Porção proeminente delineada na base de uma ponta lítica produzida a fim de ser
encabada.

Percutor (lítico)
Instrumento usado para golpear uma rocha ou mineral a fim de remover lascas.

Percussão (lítico)
Golpe aplicado em uma rocha ou mineral a fim de remover lascas.

Percussão dura (lítico)


Técnica de lascamento por percussão com materiais que possuem dureza similar ou maior
que a do material a ser lascado.

Percussão macia (lítico)


Técnica de lascamento por percussão com materiais que possuem dureza menor que a do
material a ser lascado. Geralmente se refere à percussão onde se utiliza chifre, madeira
ou rochas friáveis.

Plano bifacial (lítico)


Plano bidimensional imaginário que divide um artefato lítico em duas faces
razoavelmente simétricas.

Pleistoceno
Época geologicamente definida que compreende a cronologia do planeta Terra desde 2,5
Milhões de anos atrás até cerca de 12,5 mil anos calibrados atrás.

Ponta bifacial (lítico)


Ponta de flecha, dardo, ou lança, produzida por façonagem bifacial.

Ponta de projétil
Ponta lítica ou óssea produzida a fim de ser inserida num artefato que funciona de forma
a ser projetado no ar.

Ponta pedunculada

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Ponta lítica ou óssea que apresenta um pedúnculo.

Pré-forma (lítico)
Suporte que já passou por uma ou mais etapas de façonagem e possui forma, volume e
contorno próximos ao do produto final, mas que ainda precisa de mais etapas de
façonagem e/ou retoque para ser finalizado.

Pressor (lítico)
Instrumento usado para pressionar uma rocha ou mineral a fim de remover lascas.

Quartzito
Arenito silicificado metamorfizado.

Quartzo
Nome dado à forma cristalina da sílica.

Quartzo hialino
Quartzo incolor, transparente.

Réplica (arqueologia)
Artefato que reproduz as mesmas feições de um artefato identificado arqueologicamente.

Retoque (lítico)
Modificação realizada em um artefato a fim de delinear seus bordos e/ou torna-los
funcionais a partir da modificação de seus ângulos.

Ruptura (geologia)
Conjunto de formas ligado a um profundo e amplo vale fluvial que quebra a continuidade
de uma serra cuestiforme, a seccionando transversalmente.

Sambaqui
Categoria de sítio arqueológico monticular formado principalmente por níveis de
sedimento e conchas, geralmente localizados no litoral oriental sul-americano, ou e áreas
do interior não muito afastadas da costa.

Seção (lítico)
Corte imaginário realizado em alguma porção de um artefato.

Seixo
Refere-se ao grão de rocha que possui entre 40 e 64 mm de tamanho máximo, de acordo
com a escala de Wentworth.

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Seleção cultural
Processo de evolução cultural que ocorre de acordo com a variação cultural, a competição
cultural e a tradição.

Seletivo(a) (lítico)
Relativo à organização dos negativos de façonagem ou retoque de um objeto, quando eles
se apresentam sem uma ordenação anatomicamente direcionada.

Sílex
Rocha constituída majoritariamente por sílica e que pode ter sido originada por
sedimentação ou substituição de outra matéria por sílica. No Brasil é geralmente
encontrado em formações calcárias, ou material orgânico fossilizado (principalmente
troncos de árvores).

Sítio Arqueológico
Local com presença de vestígios de ocupação humana identificado e delimitado por um(a)
arqueólogo(a).

Suporte (lítico)
Bloco de matéria prima natural, ou obtida de um núcleo, que será modificada a fim de se
tornar um artefato.

Talão
Porção observável da plataforma de percussão em uma lasca.

Técnica
Conjunto de gestos e instrumentos utilizados na aplicação de um método.

Tecnolitólogo(a)
Profissional de arqueologia especializado(a) no campo da tecnologia lítica.

Tecnologia
Estudo OU conjunto de conhecimento que envolve métodos e técnicas.

Tecnologia lítica
Estudo OU conjunto de conhecimento que envolve métodos e técnicas de produção e
utilização de artefatos líticos.

Teoria

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Ideia tomada como base inicial de um estudo.

Tradição
Conjunto de ideias ou ações culturais transmitidas de geração a geração.

Tradição Arqueológica
Conjunto de vestígios arqueológicos com feições culturais iguais ou similares que
perduram ao longo do tempo.

Tradição Itaparica
ver: Indústria Itaparica

Tradição Umbu
Nome utilizado para se referir às indústrias líticas do período Paleoíndio marcada pela
presença frequente de ponta pedunculadas localizadas em parte da região Sudeste do
Brasil, em toda a região Sul do Brasil, todo o Uruguai, e áreas adjacentes de Argentina e
Paraguai. Trata-se de uma hipótese refutada nesta tese.

Transmissão Cultural
Refere-se aos modos como os conhecimentos sociais são ensinados e aprendidos.

Transpassante (lítico)
Lasca que remove a porção mais espessa de uma pré-forma ou artefato.

Tratamento térmico (lítico)


Processo de alteração intencional das propriedades física de um suporte através do
aquecimento ou resfriamento por um determinado número de horas e que é reconhecido
pela diferença no brilho e textura na parte interna do suporte e, eventualmente, mudança
na cor do suporte.

[Não confundir com “alteração térmica”.]

Ultrapassante (lítico)
Lasca que remove o bordo oposto, em relação ao seu talão, de uma pré-forma ou artefato.

Umbu
ver: Tradição Umbu

Unifacial (lítico)

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MORENO DE SOUSA, João Carlos. 2019. Tecnologia de Ponta a Ponta: Em busca de mudanças culturais durante
o Holoceno em indústrias líticas do Sudeste e Sul do Brasil. Tese de Doutorado. Museu Nacional, Universidade
Federal do Rio de Janeiro: 445 p.

Relativo a apenas uma face de um objeto. Geralmente usado como adjetivo para peças
façonadas unifacialmente.

Variação Cultural
Variedade de conhecimento sociais aplicados numa mesma atividade.

Veio (lítico)
Intrusão identificada em uma rocha e que possui outro tipo de constituição.

Vestígio (arqueológico)
Evidência material de alguma atividade humana.

Zoólito
Artefato lítico zoomorfo produzido por polimento.

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