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Copyright © 2021 por Editora Trinitas LTDA

1ª edição 2021
ISBN: 978-65-89129-16-5
Impresso no Brasil
 
Editor: Mauricio Fonseca
Revisão e Preparação de Texto: Cesare Turazzi
Capa: Bárbara Lima
Diagramação: Marcos Jundurian
Versão eBook: Tiago Dias
 
 
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_______________
 
V297p
Vargens, Renato
Paternidade em crise / Renato Vargens. – São Paulo: Trinitas, 2021.
126 p. ; 21cm
Inclui referências bibliográficas.   
ISBN 978-65-89129-16-5

1. Paternidade – Aspectos religiosos – Cristianismo. I. Título.


CDD: 248.8421
_______________
 
Catalogação na publicação: Mariana C. de Melo Pedrosa – CRB07/6477
 
Todos os direitos reservados à:
 
Editora Trinitas LTDA
São Paulo, SP
www.editoratrinitas.com.br
 
“Com a experiência acumulada de anos de ministério pastoral e de aconselhamento, Renato Vargens
nos conduz pelos caminhos da Bíblia na direção de uma paternidade responsável, tão necessária nos
dias atuais. Aqui o leitor encontrará a sequência lógica da sua obra anterior Masculinidade em Crise.
Recomendo com muita alegria.”
— Augustus Nicodemus, pastor auxiliar da Primeira Igreja Presbiteriana de Recife e vice-presidente
do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil
 

“A família tradicional corre o sério risco de ir à falência. A ausência e a omissão do homem nos
lares, bem como os ataques deliberados contra a figura masculina atestam isso. Diante deste cenário
crítico, Renato Vargens sai em  defesa da paternidade bíblica, com maestria e objetividade singulares.
Vargens toca o ponto nevrálgico, definindo o papel e a responsabilidade dos pais na liderança
familiar. Trata-se de um livro indispensável num tempo em que o conceito de masculinidade bíblica
encontra-se distorcido. Recomendo sua leitura de todo o meu coração.”
— Paulo Junior, pastor titular da igreja Aliança do Calvário e presidente da Sociedade Missionária
Defesa do Evangelho
 

“A sociedade moderna quer aviltar, a todo custo, a figura paterna em todas as suas dimensões. Ao
longo do livro Paternidade em Crise, Renato Vargens, com sua pena fluida e precisa, nos presenteia
com uma importante ferramenta, dando-nos um alerta e ajudando-nos a combater a tendência atual (e
que tanto mal tem causado às famílias) de ser contra a masculinidade bíblica.”
— Valter Reggiani, advogado, pastor da Igreja Batista Reformada de São Paulo e membro do
conselho do Seminário Martin Bucer
 

“Esta nova obra de Renato Vargens é muito bem-vinda. Num momento de intensa pressão para se
redefinir o que vem a ser a família, além da rejeição dos valores cristãos que formaram nosso mundo,
este livro destaca a importância da paternidade a partir da Bíblia, servindo de guia seguro em meio à
cacofonia de vozes presentes no debate público — sobretudo num momento em que agentes políticos
afirmam que os filhos pertencem ao Estado.”
— Franklin Ferreira, diretor do Seminário Martin Bucer, onde leciona História da Igreja e Teologia
Sistemática, e pastor da Igreja da Trindade, em São José dos Campos (SP). Autor de várias obras,
incluindo Teologia Sistemática (em coautoria com Alan Myatt), publicada por Edições Vida Nova, e
Servos de Deus, publicada por Editora Fiel

 
As Escrituras afirmam que os filhos são herança do Senhor (Sl 127.3). Penso que ter
filhos, bem como exercer a paternidade, é uma grande bênção de Deus. Lembro-me até
hoje do dia do nascimento de cada um dos meus filhos, de sua infância, dos desafios
vencidos, das alegrias, de tê-los como amigos, bem como o privilégio de vê-los crescer,
tornando-se homens de caráter e, acima de tudo, tementes a Deus.
 
Claro que não fui nem sou um pai perfeito, mesmo porque a perfeição é uma virtude que
os filhos de Adão não possuem. Contudo, ainda que com erros e falhas, o Senhor me
permitiu educá-los e ensiná-los a respeito do maravilhoso Evangelho de Cristo. Assim,
com o coração grato a Deus pelo privilégio da paternidade, dedico este livro aos meus
queridos filhos João Pedro e Luiz Filipe, rogando ao Senhor que os abençoe
graciosamente a fim de que, quando se tornarem pais, sejam melhores do que eu,
ensinando àqueles que o Senhor lhes confiar tudo que aprenderam de Deus em sua
Palavra.
 
“Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome.
Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum de seus benefícios.”
(Sl 103.1, 2)
 
Renato Vargens
 
SUMÁRIO
 
prefácio
introdução
um|Tempos Difíceis
dois|Filhos Órfãos de Pais Vivos
três|Pais que Terceirizaram a Relação com seus Filhos
quatro|Uma Revolta Oriunda do Distanciamento Relacional
cinco|Problemas com as Autoridades Constituídas
seis|O Conflito de Gerações
sete|Aprendendo a Paternidade por meio da Relação entre Cristo e o Pai
oito|Os Deveres dos Pais para com os seus Filhos
nove|Uma Palavra de Esperança
conclusão
apêndice|Sugestão de filmes que tratam de aspectos de uma paternidade
saudável
 
PREFÁCIO
 
 
Abordar assuntos complexos exige coragem, conhecimento e uma vida
coerente com os valores defendidos. Neste livro munido desses atributos, o
leitor será conduzido pelo brilhante Pr. Renato Vargens, cuja forma de
apresentar este tema complexo é um convite à reflexão, pois o autor tem
como característica nata a capacidade de retirar seus leitores da zona de
conforto.
Nas primeiras páginas desta obra percebe-se de maneira clara que o
autor não tem receio algum de expor sua opinião, e o faz de maneira
precisa, cirúrgica, deixando o assunto que será abordado completamente
transparente. Como um lapidador eficiente que com cuidado e precisão
trabalha o diamante, olhando cada lado da pedra que lapida com atenção e
excelência, o Pr. Renato Vargens apresenta ao leitor cada faceta lapidada
deste diamante que é a paternidade.
A família é algo extremamente importante para o nosso Deus, e o leitor
perceberá que, depois de apresentar uma análise da sociedade atual e dos
desafios que a família enfrenta, o autor inicia uma nova caminhada
propositiva, indicando uma relação de harmonia familiar em um mundo em
conflito.
O tema da paternidade é apresentado com conhecimento situacional e
bíblico, e o enfoque pastoral é percebido pelo caminho límpido do amor,
dos relacionamentos saudáveis e da unidade familiar. Ser pai é tudo isso e
muito mais: ser pai é uma enorme bênção de Deus! O misto entre amor e
responsabilidade é o grande segredo desta vida magnífica que Deus nos deu
o privilégio de viver. Além disso, o autor coloca sobre a mesa vários pratos
para a degustação do leitor. Como um jantar servido com maestria, temos a
entrada, o prato principal e a sobremesa. O problema, porém, acontece
quando alguns pais deixam a celebração da mesa pelo fast-food
materialista, terceirizando a criação de seus filhos em busca da realização
financeira. E porque ama a Cristo e sua Igreja, Renato Vargens escreve
como um pastor que se preocupa. Não se trata de uma simples defesa
apologética, mas é também uma proposta para que o leitor reflita sobre sua
própria caminhada como pai, como família.
Avançando na escrita, embora o Pr. Renato Vargens cite vários homens
que foram exemplo na vida cristã e que souberam equilibrar sua vida
familiar com o trabalho, a verdadeira base de sua argumentação são os
textos da Escritura Sagrada, da qual ele não se distancia. O autor, contudo,
também escreve como pai, e nesta perspectiva, a sua experiência, seu
caráter cristão e seu amor pela família exalam o bom perfume de Cristo. É
fácil perceber que ele escreve sobre aquilo em que realmente acredita, que
de fato conhece e vive. A paternidade sábia é aquela que busca na Escritura
Sagrada seus valores e sua visão para os transmitir aos seus filhos.
Ao final do livro, há também uma leitura sobre a beleza do amor, do
perdão e da atenção de quem sabe que a paternidade deve ser traduzida
acima de tudo em amar a Deus de todo o nosso coração, de toda a nossa
alma e de todo o nosso entendimento, e o nosso próximo como a nós
mesmos (Mt 22.37–39).

Rev. Dr. Leonardo Sahium


Pastor da Igreja Presbiteriana da Gávea. Presidente da Junta de
Educação Teológica da Igreja Presbiteriana do Brasil. Membro do TGC
Brasil.
 
INTRODUÇÃO
 
 
Afirmar que o mundo está em crise parece ser uma expressão simplista,
até porque, desde a queda de Adão, a humanidade experimenta as mais
variadas desordens e tensões. Todavia, por fatores distintos, acredito que os
dias atuais são marcados por situações em que os conflitos existenciais,
relacionais, familiares e sociais têm se avolumado de forma significativa.
Nessa perspectiva, além de observarmos uma severa crise de
masculinidade, feminilidade e, obviamente, uma severa ruptura familiar,
temos sido testemunhas de uma grave crise de paternidade.
Lamentavelmente, convivemos com um aumento assustador de crianças
abandonadas (em boa parte dos casos, sem que os pais sequer tenham saído
de casa), isto sem falar do distanciamento relacional e afetivo entre
genitores e filhos.
Ouso afirmar que a falta da figura paterna em muitas famílias deixa o
caminho livre para que crianças, adolescentes e jovens sejam influenciados
de forma negativa por conceitos, valores e pressupostos absolutamente
anticristãos.
Digo mais: a ausência paterna não só repercute na formação emocional
de meninos e meninas, mas também fomenta uma supervalorização de uma
estrutura sociopolítica que, mediante o avanço do Estado ou mesmo de uma
sociedade desprovida de valores cristãos, busca a todo custo substituir a
presença do pai, interiorizando na mente e no coração de nossos filhos a
ideia de que algo ou mesmo alguém pode cumprir esse papel. 
Para piorar a situação, na cultura ocidental, infelizmente, o conceito de
paternidade foi paulatinamente relativizado. No início dessa relativização,
promulgou-se uma libertação do conceito pai-patrão, considerado por
muitos, nesses termos, um ser autoritário e censor da felicidade dos filhos.
E agora, com o passar dos anos, a chamada ação “libertadora” tirou os pais
da vida de sua própria família, tornando-os evasivos, foragidos e
ensimesmados, contribuindo assim com que essa nova geração, além de
viver um tipo de “abandono”, buscasse fora de casa referências que a
ajudassem a lidar com os conflitos por ela vivenciada.
Para a nossa tristeza, mesmo morando com seus filhos, inúmeros pais,
incluindo os cristãos, em nome do bem-estar, fizeram-se ausentes do lar,
nutrindo assim uma nova classe familiar cujas características são a solidão e
a orfandade. Na verdade, boa parte das crianças de nossos tempos são
órfãos em família, pelo simples fato de que seus pais estão distantes, ainda
que morando na mesma casa, não dialogando com os seus filhos, não
cumprindo o seu papel educativo, não lhes ensinando princípios e valores.
Sem sombra de dúvidas, vivemos um tempo diferenciado, em que os
valores judaico-cristãos são atacados de forma acintosa por aqueles que
desejam a prevalência do relativo sobre o absoluto. Nesse contexto, entendo
por que o Ocidente não só considera normal a ausência paterna, mas
também observa passivamente a retirada da figura masculina na formação e
educação dos filhos — fator que muito contribui com o adoecimento da
sociedade em si. Aliás, mesmo alguns estudiosos têm se preocupado com
este fenômeno, visto que a ausência do pai pode ser considerada a principal
causa da crise de autoridade no lar. Na verdade, num mundo relativista,
egoísta e hedonista, onde a figura do pai é atacada a todo momento e por
todos os lados, é indispensável que tratemos em nossas igrejas sobre a
relevância e importância da presença paterna no contexto familiar, ajudando
assim os homens a lidar com essa crise paternal e a redescobrir não só a
beleza da paternidade, mas sua essencialidade à saúde dos filhos e ao bem-
estar da família.
Assim, o livro Paternidade em Crise foi escrito com o propósito de
ajudar homens a resgatar os conceitos bíblicos e absolutos de paternidade,
bem como oferecer, à luz das Escrituras, reflexões e respostas a questões
relacionadas à ausência paterna e seus desdobramentos.
Diante do exposto, rogo ao Senhor, o nosso Pai, que o abençoe
ricamente levando-o a não somente entender, mas a aplicar as palavras lidas
nesta obra.
Boa leitura!
Renato Vargens
 
CAPÍTULO
UM
 

Tempos Difíceis
 
 
Vivemos num tempo em que a iniquidade tem se multiplicado de forma
significativa. Ouso afirmar que essa geração é marcada por valores e
conceitos absolutamente antagônicos àqueles revelados pela Palavra de
Deus. Nessa perspectiva, bom é chamado de mau, luz de trevas e doce de
amargo, o que, com certeza, nos traz a nítida compreensão de que vivemos
num tempo extremamente difícil, em que os valores relacionados à família,
à vida comum do lar e, claro, aos conceitos bíblicos sobre paternidade têm
sido desconstruídos.
Claro que cada geração tem suas crises e peculiaridades. De forma
alguma desejo supervalorizar os conflitos e problemas do nosso tempo em
detrimento das anormalidades das décadas ou mesmo dos séculos passados.
É inegável, contudo, o fato de que passamos por um dos momentos mais
turbulentos da história moderna, cujas características se mostram presentes
em quatro situações. A seguir, atenho-me brevemente a cada uma delas.

Ódio ao patriarcado
O movimento feminista afirma que o patriarcado é um inimigo antigo
das mulheres e que as aterrorizam há séculos.
Para constatar essa crença não é preciso ir muito longe. Basta olharmos
para as redes sociais, sites na internet ou mesmo universidades que nos
deparamos com o discurso de que um dos males da humanidade é a
estrutura patriarcal sobre a qual a sociedade foi edificada.
Para piorar a situação, não são poucos aqueles que defendem a ideia de
que o judaísmo e o cristianismo ortodoxo conservador, por serem a base do
patriarcado, precisam ser eliminados. Na verdade, o movimento feminista
tem, ao longo dos anos, relativizado a Palavra de Deus, ideologizando as
Escrituras, afirmando assim que a Bíblia é tão sexista quanto misógina.
Com isso em mente, algumas “feministas cristãs”, no afã de a todo custo
aniquilar a ideia da relevância e importância de uma sociedade patriarcal,
deixaram-se influenciar por teólogos liberais cuja teologia desconstrói a
ideia de que Deus é Pai.
A Igreja da Suécia, por exemplo, entidade oficial derivada do
luteranismo, já determinou que a fé cristã não pode se basear em uma
teologia patriarcal, o que mostra de forma efetiva os malefícios deste
ensino.
Segundo o feminismo, a visão de Deus como Pai reflete uma ideologia
arcaica e que precisa ser rejeitada. Essa ideologia entende que o patriarcado
se caracteriza pelo domínio dos homens sobre as mulheres por meio das
mais variadas estruturas sociais. Além disso, o movimento feminista
acredita que a violência sofrida pelas mulheres, especificamente em países
influenciados pela cultura judaico-cristã, é causada pela ideia de um deus
masculino — o que é um grave equívoco, até porque as Escrituras não
definem Deus como uma pessoa com gênero.*
Agora, a questão é que boa parte daqueles que defendem o ódio ao
patriarcado não sabem nem mesmo dizer o porquê, quanto menos explicar à
luz da Palavra de Deus o que significa o termo.
O patriarcado como encontrado na Bíblia, especialmente no Antigo
Testamento, não é uma afirmação de superioridade do homem sobre a
mulher, tampouco um sinônimo de domínio masculino ou de um sistema de
valores no qual o homem trata a mulher com descaso, desvalorizando-a ou
mesmo oprimindo-a. Na verdade, na visão protestante — que em muito
diverge do ensino feminista, bem como do conceito de masculinidade e
feminilidade defendido por  pastores liberais em sua teologia —, o
patriarcado é o sistema em que o homem, sob seu papel de marido e pai,
cuida de sua família, provendo e protegendo o lar de qualquer ameaça. 
Ademais, o Antigo Testamento também nos mostra que o patriarcado é um
“lugar” de amor, de laços pactuais de bondade e compaixão.
Tratando desse assunto, o teólogo Augustus Nicodemus1 afirma com
clareza e propriedade que somente a Escritura cristã revela um Deus Pai,
Senhor Todo-Poderoso. Na verdade, os patriarcas, por mais que refletissem
o cuidado, o amor e a paternidade de Deus, o faziam muito pobremente.
Nicodemus afirma, e eu concordo com ele, que o Deus dos hebreus não é
como os “deuses masculinos” irresponsáveis das culturas pagãs que
cercavam Israel, mas o Deus revelado nas Escrituras mostra-se como um
Pai que cuida, provê, ama e protege. Portanto, aqueles que afirmam que a
Bíblia é machista e que as Escrituras refletem um tipo de patriarcado que
precisa ser desconstruído e, ao mesmo tempo, odiado estão em grave
engano e colocam em xeque a autoridade e inerrância da Palavra de Deus. 

O empoderamento feminino e a ausência paterna


De acordo com o pensamento pós-moderno, a mulher no decorrer da
História sempre foi vítima do patriarcado, fator este que, segundo os
adeptos do feminismo, a tornou serva de costumes religiosos e
comportamentais de opressão.
Além disso, o movimento feminista costuma alegar que um dos
principais responsáveis pela inferiorização da mulher na família e na
sociedade é a religião, e que esta não deixa outra alternativa senão a de
quebrar paradigmas, conceitos e valores no mundo contemporâneo.
Ademais, o movimento feminista incita com veemência o ódio contra os
homens, espalhando a ideia de que são seres machistas, abusivos e
desprezíveis. Não bastasse isso, o feminismo, bem como a sua ênfase no
empoderamento da mulher, tem furtado dela sua capacidade de relacionar-
se com intimidade e manifestar doçura, ternura maternal, meiguice e beleza
interior. 
Sem contar que, no intuito de conquistar espaço no mercado de trabalho,
ou mesmo competir diretamente com os homens, não são poucas as
mulheres que “machificaram” a vida, tornando-se amargas e de difícil
relacionamento.
Ouso afirmar que o feminismo é uma grande artimanha do adversário
das nossas almas, que, visando enganar e ludibriar a mulher, incutiu em sua
mente e coração valores absolutamente antagônicos à Palavra de Deus e a
fez acreditar que liberdade é libertinagem, causando caos na família.
Caro leitor, ao contrário daquilo que alguns pensam e defendem,
feminilidade é bem diferente de feminismo. A feminilidade é um
comportamento projetado e criado por Deus, um presente do Senhor à
humanidade. 
Por favor, entenda que a mulher feminina não apenas se cuida, se veste
ou se maquia como uma mulher.  Feminilidade é bem mais que isso: trata-
se de um conjunto de atitudes e comportamentos, um estilo de vida pelo
qual a família e a sociedade experimentam doçura, amabilidade, afetividade
e outros atributos mais.  Contudo, lamentavelmente, em nossos dias, a
mulher não tem se preocupado com o ser feminina, mas sim feminista.
Nessa perspectiva, se uma mulher tem pensamentos e comportamentos
diferentes dos defendidos pelo feminismo, desejando, assim, obedecer aos
ensinamentos bíblicos, ela é execrada e rotulada como ultrapassada,
subserviente. A sociedade como um todo tem incentivado a mulher a
competir com o homem, induzindo-a a abandonar qualquer possibilidade de
constituir família e criar filhos.
Isto posto, posso afirmar, sem titubeios, que o feminismo tem
desconstruído conceitos, princípios e valores cristãos numa mulher, como
decência, pudor, doçura e submissão. A consequência disso é que tanto de
forma direta quanto indireta o movimento feminista tem logrado êxito na
missão de inverter os papeis designados por Deus na família, empoderando
a mulher, diminuindo o homem e confundindo as relações.
Ora, antes que alguém diga que sou misógino, é preciso deixar claro que
não considero o homem superior à mulher, uma vez que a Palavra de Deus é
clara ao demonstrar que, embora tenham papéis distintos e complementares,
homens e mulheres são iguais em dignidade diante do Criador.
Do ponto de vista da Bíblia, a mulher é companheira e parceira do
homem, aquela que o completa e o auxilia na caminhada, recíproca à
parceria masculina. Contudo, devido ao feminismo e à desconstrução do
papel do homem na sociedade, o conceito de parceria e complementarismo
vem cedendo espaço a uma beligerância feminina cujo propósito tem sido
empoderar a mulher, desconstruir a liderança do homem e, com isso,
derrubar os princípios judaico-cristãos que até então têm norteado a
sociedade ocidental.
Enquanto o mundo e suas ideologias desvirtuam tudo aquilo que Deus
diz em sua Palavra — nesse caso, incutindo nas mulheres a ideia distorcida
do propósito de Deus na Criação —, precisamos nos lembrar da advertência
de Paulo em sua epístola aos Romanos, que nos orienta a não “tomarmos a
forma do mundo”, (Rm 12.1–2), ou seja, a não nos adaptarmos às
“ideologias de um sistema maligno absorto em valores anticristãos”, mas
sim, mediante a Palavra de Deus, a aprender os princípios, verdades e
conceitos divinos, a fim de servi-lo de forma que o seu nome seja
glorificado. Entretanto, para a nossa tristeza, e até mesmo vergonha, as
ideias do italiano Antonio Gramsci2 têm logrado êxito em nossa sociedade,
incluindo a Igreja, visto que os valores, comportamentos e papéis tanto do
homem como da mulher foram relativizados. Por essa razão, encontramos
homens omissos, que, “oprimidos” pelo empoderamento da cultura
feminista, abandonaram a liderança de seus lares delegando às mulheres a
liderança espiritual de suas famílias, bem como a responsabilidade única e
exclusiva de educar os filhos.
Permita-me, contudo, mais uma vez colocar os “pingos nos is”.  Em
hipótese alguma eu desmereço o valor da mulher. Na verdade, entendo que
Jesus foi quem mais valorizou a mulher, e disso trato especificamente em
meu livro “Masculinidade em Crise”.3 Entretanto, a Palavra de Deus deixa
claro que cabe ao marido e pai a liderança espiritual da família. Os
pressupostos bíblicos nos ensinam que a responsabilidade do pai é criar os
filhos na disciplina e admoestação do Senhor. Deus colocou o homem como
cabeça do lar (Ef 5.23–24) e a mulher como sua auxiliadora (Gn 2.18);
portanto, quando se omite ou delega essa responsabilidade à esposa, o
homem falha em sua missão. 
Talvez alguns, ao lerem este capítulo, estejam pensando: “Que texto
machista!”. Ora, a estes respondo dizendo que de forma alguma o texto é
machista, mesmo porque não estou defendendo a ideia de que os homens
são melhores que suas esposas, mas que possuem papéis diferentes.
A Palavra de Deus é clara quanto à instrução de que os homens
auxiliados por suas esposas devem conduzir seus lares, e não o inverso.
Assim, entenda que homens receberam da parte do Criador a missão de
liderar a casa, o que deve ser feito com amor, sacrifício e respeito. Portanto,
conclamo os homens salvos por Cristo para que se levantem e conduzam
suas famílias no temor do Senhor, para a glória de Deus.

Os papéis sociais e a intervenção do Estado na família


A família sempre foi a instituição mais importante de todas. Do ponto de
vista da Palavra de Deus, sempre coube à liderança familiar a condução,
ensino e educação de seus membros. Em nossos dias, contudo, vemos o
Estado tentando usurpar esse papel, interferindo assim na educação de
crianças e adolescentes.
Ouso afirmar que, num passado recente, não só a família, mas a escola e
a igreja também possuíam seus papéis bem definidos. A escola, por
exemplo, tinha a responsabilidade de ensinar ou mesmo promover a
sociabilização da criança, mas nunca educar. Da mesma forma a igreja,
onde a Palavra de Deus era ensinada, sem, contudo, a necessidade de
instruir as crianças quanto a princípios, visto que os pais entendiam muito
bem os seus papéis. No entanto, num mundo em que os princípios são
liquidificados, o que se percebe é a relativização da família, como também
a inversão de papéis entre homens e mulheres.
Outro dia, uma procuradora federal da República4 disse que “não se
pode aceitar essa percepção equivocada de que a criança pertence à família,
que a família tem o poder absoluto sobre a criança”. Ou seja, para a
procuradora, a criança pertence ao Estado e o Estado, portanto, tem
legitimidade para legislar sobre seus rumos e futuro.
Infelizmente, a percepção de que o Estado pode intervir na família já se
faz presente em alguns lugares do mundo. Na Alemanha,5 por exemplo,
pais foram condenados à prisão por impedirem os próprios filhos de
assistirem a aulas de educação sexual na escola. Na Noruega,6 filhos foram
retirados dos pais por estes serem “cristãos demais”. Mais recentemente,
um pai cristão russo7 e residente da Suécia pediu asilo para sua família na
Polônia, após o Estado sueco entregar as suas filhas a uma família
muçulmana libanesa. Em resumo, alguns países do Ocidente simplesmente
desejam implantar leis para que filhos sejam propriedade do Estado, e não
da família.
Karl Marx afirmou que a Família é uma estrutura social opressora, na
qual o homem representa o papel de “proprietário”, quer da sua mulher,
quer dos seus filhos.8 Além disso, Marx9 e Friedrich Engels10 defendiam a
ideia de que a família precisa ser abolida.11 Portanto, à luz dessa premissa,
fica fácil entender por que muitos defendem a ideia de que o Estado é quem
deve cuidar das crianças, e não a família.
Prezado leitor, embora o empoderamento feminino aliado à omissão
masculina tenha tornado fértil o terreno para que esse tipo de ideia ganhe
espaço na cabeça de muitos, as Escrituras claramente se opõem ao ensino
marxista, visto que a responsabilidade de ensinar e educar a criança
pertence à família, e não ao Estado.
A Palavra de Deus declara que homens e mulheres são os responsáveis
por criar os seus filhos e, para tanto, precisam obedecer de forma saudável
às ordenanças de Deus. E, mesmo sendo dificílimo nadar contra a
correnteza deste mundo, em que princípios e papéis sociais são
relativizados, a Palavra de Deus continua sendo lâmpada para os nossos pés
e luz para os nossos caminhos (Sl 119.105), o que nos faz entender que,
sobretudo em tempos de densas trevas, é essencial que usemos a Bíblia
como referência para as nossas vidas e famílias.

O marxismo cultural e a destruição das famílias


O relativismo é uma das características do nosso tempo. Na verdade,
vivemos numa época em que os princípios absolutos extremamente caros ao
Ocidente estão sendo desconstruídos. O casamento, o divórcio, a
depravação moral, uniões livres entre pessoas do mesmo sexo, a relação
entre pais e filhos, e mesmo a paternidade e a maternidade têm sido
ressignificados em nome do progressismo.
Toda essa realidade é, em parte, consequência de um movimento
ideológico denominado marxismo cultural, cujo objetivo é nada mais que
desconstruir os valores relacionados à família e à sociedade. Deixe-me
ressaltar que o termo marxismo, embora tenha relação terminológica com
Karl Marx, não foi cunhado pelo filósofo alemão. Na verdade, a palavra
designa uma série de percepções e estratégias que, lenta e paulatinamente,
deveriam desconstruir os valores do capitalismo. Para tanto, Antonio
Gramsci, filósofo italiano, entendeu a necessidade de elaborar aquilo que
ficou conhecido mais tarde como revolução cultural, isto é, uma série de
mudanças que deveria acontecer de forma gradativa na cultura ocidental por
meio da opressão dos dogmas da esquerda sobre indivíduos, os quais
contribuiriam para uma transformação social e comportamental da
população e pavimentariam o caminho para a instauração do comunismo.
Nesse sentido, questões como a ideologia de gênero, a cultura do
politicamente correto, a defesa dos direitos dos LGBTQIA+, o feminismo, a
liberdade sexual, o multiculturalismo, a desconstrução do patriarcado, o
aborto e o subjetivismo fazem parte de uma estratégia de naturalização de
costumes antagônicos aos princípios judaico-cristãos.
Interessante notar que Karl Marx e Friedrich Engels afirmaram que o
comunismo eliminaria toda religião e toda moralidade,12 o que de certa
forma coaduna com aquilo que Gramsci dizia quanto à necessidade de
desconstruir valores, preceitos e princípios da religião.
Agora, é triste perceber que as ideias do gramscismo são reais não
somente no Brasil, mas em todo o Ocidente, cujas consequências
contribuem para o caos familiar e social, uma vez que os princípios
relacionados à família foram e ainda são drasticamente metamorfoseados.
Uma forma de constatar toda essa tragédia é olhar para a figura de pai.
Veja, por exemplo, quantos pais estão desorientados, perdidos e sem
referência. Quantos não entraram em colapso devido ao empoderamento
feminino e à desconstrução do papel bíblico quanto à masculinidade e
paternidade?
O marxismo cultural foi certeiro em suas ações, até porque, ao
desconstruir o casamento e os princípios relacionados à masculinidade e
paternidade, deu um tiro letal na principal célula da sociedade ocidental,
colocando em xeque princípios e pressupostos indispensáveis à saúde da
família.
Sim! O raciocínio é claro: qualquer movimento desmorona os pilares do
Ocidente ao destruir os homens, relativizando seu papel, importância e
relevância, tirando-os de casa, tornando-os ausentes, entregando seus filhos
a uma cultura desprovida de Deus e absorta em malignidade.
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
1. Quais são as características que demonstram a decadência da
história moderna?
2. O que cada uma destas características tem ensinado, e o que
todas têm em comum?
CAPÍTULO
DOIS
 

Filhos Órfãos de Pais Vivos


 
 
“Sucedeu, pois, que, chegando Davi e os seus homens, ao terceiro dia, a
Ziclague, já os amalequitas tinham dado com ímpeto contra o Sul e
Ziclague e a esta, ferido e queimado; tinham levado cativas as mulheres
que lá se achavam, porém a ninguém mataram, nem pequenos nem
grandes; tão somente os levaram consigo e foram seu caminho. Davi e
os seus homens vieram à cidade, e ei-la queimada, e suas mulheres, seus
filhos e suas filhas eram levados cativos. Então, Davi e o povo que se
achava com ele ergueram a voz e choraram, até não terem mais forças
para chorar. Também as duas mulheres de Davi foram levadas cativas:
Ainoã, a jezreelita, e Abigail, a viúva de Nabal, o carmelita. Davi muito
se angustiou, pois o povo falava de apedrejá-lo, porque todos estavam
em amargura, cada um por causa de seus filhos e de suas filhas; porém
Davi se reanimou no SENHOR, seu Deus. Disse Davi a Abiatar, o
sacerdote, filho de Aimeleque: Traze-me aqui a estola sacerdotal. E
Abiatar a trouxe a Davi.
Então, consultou Davi ao Senhor, dizendo: Perseguirei eu o bando?
Alcançá-lo-ei? Respondeu-lhe o Senhor: Persegue-o, porque, de fato, o
alcançarás e tudo libertarás.” (1Sm 30.1–8)
As Escrituras trazem o relato de que Davi e seus homens chegaram a
Ziclague, onde já estavam acampados com suas famílias. Porém, ao
entrarem na cidade, o autor sagrado nos conta que os amalequitas tinham
atacado com ímpeto aquela localidade, queimando-a a fogo, levando cativas
as mulheres e as crianças, incluindo Ainoã e Abigail, as duas mulheres de
Davi.
A Bíblia afirma que, diante de tamanho infortúnio, Davi e o povo que se
achava com ele alçaram a sua voz e choraram até que neles não houvesse
mais forças para chorar. Na verdade, aqueles homens ficaram desesperados
por perceberem que aqueles que tanto amavam haviam sido capturados
pelos amalequitas. O texto bíblico vai além e afirma que, por causa dos seus
filhos e de suas filhas, todo o povo ficou com o coração amargurado,
achando que Davi era o culpado de tão grande tragédia.
Ora, claro que Davi como líder poderia ser taxado de responsável pela
desproteção da cidade, uma vez que a deixara desguarnecida. Contudo, por
mais que como líder tivesse cometido um erro estratégico, ele não podia ser
considerado o único culpado desse imbróglio, pois os seus soldados não o
haviam aconselhado a deixar algumas sentinelas na cidade. Entende-se,
portanto, que a ausência masculina em Ziclague causou a sua desproteção e,
por consequência, a captura de seus filhos e filhas.
Caro leitor, mantendo-se as proporções, por acaso você já se deu conta
de que, devido à ausência masculina em nossas casas, o adversário de
nossas almas tem atacado com ímpeto os nossos lares, levando cativos
aqueles que mais amamos? Quantos pais não abandonam os filhos em nome
do trabalho, esquecendo-se de que a paternidade é muito mais que prover
ou mesmo sustentar financeiramente aqueles que gerou? Este é um engano
bastante pungente em nossos tempos, dias em que muitos homens acreditam
que a sua função primordial é somente sustentar a casa, passando, portanto,
a desenvolver o comportamento de alguém que vive para o trabalho.
Um estudo de 199913 descobriu que os divórcios são duas vezes mais
comuns em casais nos quais um dos parceiros é “workaholic”.14 Para
piorar a situação, os filhos de “workaholics” geralmente sofrem níveis
maiores de depressão e ansiedade que os filhos de alcoólatras. Ademais,
uma pessoa viciada em trabalho pode causar problemas sérios no âmbito da
relação familiar, promovendo mesmo crises substantivas no casamento.
Alguns, por exemplo, afirmam que a compulsão por trabalhar pode ser vista
como análoga à dependência de álcool ou mesmo de drogas, o que por si só
já deixa claro que trabalho em excesso é extremamente prejudicial.
Vale ressaltar que, no mundo pós-moderno, a pessoa não precisa sair de
casa para abandonar os filhos. É possível permanecer no lar, vivendo,
comendo e dormindo, e ainda assim ser e estar ausente. Em outras palavras,
vivemos numa época em que muitos filhos são órfãos de pais vivos. Há pais
fisicamente próximos, mas emocionalmente distantes de seus filhos. A
justificativa, quase sempre, é a falta de tempo. É preciso trabalhar para
satisfazer as necessidades e os desejos deles, dizem os pais viciados no
trabalho. Sabendo disso, penso que muitos pais acreditam que podem trocar
sua presença, seus conselhos e orientações por presentes ou bens materiais,
fato que os leva a um círculo vicioso de trabalho compulsivo. Caro amigo,
tenho plena convicção de que pais que agem desta forma erram de forma
crassa. No relacionamento com seus pais, filhos precisam de atenção, de
valor, de reconhecimento.
Certa feita, um pastor me contou que, devido ao seu trabalho pastoral,
ele praticamente não tinha tempo para dedicar aos seus filhos pequenos.
Segundo ele, as demandas do ministério eram grandes demais, o que o
impedia de dar nem que fosse uma só tarde aos seus filhos. Numa segunda-
feira, o seu filho mais novo, então com dez anos, pediu-lhe que no sábado
seguinte fossem ao estádio assistir a uma partida de futebol. Ainda que a
contragosto, visto que pensava em trabalhar mais, o pai acabou aceitando o
pedido. Bem no dia do jogo, contudo, o seu telefone toca. Era um diácono
dizendo que um amigo precisava de uma cerimônia fúnebre para um
conhecido cujo pai havia falecido. O problema era que a cerimônia deveria
acontecer no mesmo horário em que ele havia combinado de sair com o
filho. (Um breve adendo meu: sim, embora nem conhecesse a pessoa e
outro pastor pudesse oficiar a cerimônia, esse pai, infelizmente, não deixou
de agir como um típico viciado no trabalho, alguém que vivia para
trabalhar, ainda que isso implicasse o prejuízo de suas relações familiares).
O pastor então conta que desmarcou com o filho naquela vez e que
priorizou o trabalho inúmeras outras vezes. A consequência da constante
ausência paterna foi que o menino cresceu longe do pai, procurando afogar
as mágoas na bebida, tornando-se assim um alcoólatra. Não é para menos,
pois crianças que crescem com pais ausentes são mais propensas a
desenvolver problemas de comportamento, como um escudo para proteger
seus sentimentos mais profundos do abandono, do medo e da insegurança.
Diante disso, será que você já percebeu que o afastamento dos seus
filhos por causa do trabalho compulsivo pode contribuir para que, num
futuro próximo, os seus meninos e meninas sejam “sequestrados” pelos
amalequitas?
Interessante que a presença paterna é tão fundamental que o próprio
Deus não permitiu que José abandonasse Maria e o Filho que estava em seu
ventre. As Escrituras nos mostram que José quis deixar Maria, mas o
Senhor lhe enviou o anjo Gabriel, que lhe disse em sonho: “Enquanto
ponderava nestas coisas, eis que lhe apareceu, em sonho, um anjo do
Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher,
porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo” (Mt 1.20). A Palavra de
Deus também nos mostra que Jesus viveu à sombra protetora de José, que,
quando necessário, protegeu seu filho de Herodes, levando-o em segurança
ao Egito, bem como o levou de volta a Nazaré, fazendo-se presente na vida
do Senhor.
Ora, se até Jesus teve um pai presente neste mundo, o que dizer de cada
um de nós? Afirmo, portanto, que o abandono paterno é uma epidemia
silenciosa que, paulatinamente, tem destruído famílias inteiras em nossas
igrejas. Quantas não são as crianças que sentem a ausência de seus pais?
Quantos não sofrem as consequências do abandono paterno? Quantos não
são aqueles que gostariam que seus pais não trabalhassem tanto, mas
dedicassem, pelo menos, um final de semana ao convívio familiar?
Não é de hoje que especialistas em comportamento infantojuvenil
entendem que os problemas decorrentes da ausência paterna se apresentam
desde muito cedo na vida das crianças, começando na pré-escola,
persistindo na educação fundamental e, claro, se agravando durante o
Ensino Médio. Seguindo esse raciocínio, as consequências dessa ausência
se mostram em resultados negativos que incluem baixo desempenho
escolar, aumento de ausência nas aulas, instabilidade emocional,
insegurança, risco e envolvimento com drogas, baixa autoestima,
agressividade familiar e a externalização em sala de aula de
comportamentos agressivos. Não é preciso ser especialista na área para
entender por qual razão esses traços surgem na criança que cresce sem um
pai presente. E digo mais: o pai que não cumpre seu papel, ausentando-se
do lar, transferindo a responsabilidade de educar, corrigir e mesmo amar
seus filhos, contribui para que desenvolvam traumas emocionais ao longo
de seu crescimento e desenvolvimento.

O terrível hábito de procurar culpados


Não sei se você já percebeu, mas os seres humanos são extremamente
voláteis, uma vez que, de acordo com as circunstâncias, podem ter os
“ânimos mudados”. Veja, por exemplo, esse episódio que ocorreu com
Davi. As Escrituras nos dizem que, depois do sequestro das mulheres e
crianças que estavam em Ziclague, “Davi muito se angustiou, pois o povo
falava de apedrejá-lo, porque todos estavam em amargura, cada um por
causa de seus filhos e de suas filhas; porém Davi se reanimou no Senhor,
seu Deus” (1Sm 30.6).
É interessante perceber que esse povo amargurado é o mesmo povo que
estava com Davi há algum tempo, tendo enfrentado ao seu lado situações
absolutamente adversas. Bastou, contudo, que os seus filhos e mulheres
fossem levados cativos pelos amalequitas, que estes tiveram seus ânimos
mudados, porquanto entenderam que Davi era o culpado por suas
desventuras.
Deixando de lado as proporções, é exatamente isso que muitos homens
fazem quando percebem que “perderam” seus filhos. Quantos pais não
culpam suas mulheres pela falta de educação do seu rebento, ou mesmo
pelo comportamento rebelde desenvolvido ao longo dos anos? Quantos não
preferem “pegar em pedras”, lançando exclusivamente sobre as suas
esposas a responsabilidade do fracasso vivenciado? Afinal, a crise de
paternidade que vivenciamos não se mostra somente na ausência masculina
dentro do lar, mas também na capacidade que o homem tem de transferir à
esposa o fracasso do casamento e do relacionamento com os filhos. Mas
homens assim não param por aí. Eles também culpam terceiros na tentativa
de esconder seus erros, fugir das consequências, reduzir os efeitos negativos
de suas ações, racionalizar comportamentos equivocados, desviar o foco do
problema e atenuar a vergonha.
Perceba que, desde a queda no jardim do Éden, o ser humano
desenvolve a arte de culpar os outros, menos a si mesmo. Adão culpou Eva
por ter comido o fruto proibido, já Eva culpou a serpente. Veja que, em vez
de assumirem o pecado, tanto Adão como Eva transferiram a
responsabilidade de seus erros para um terceiro (Gn 3.12–13). Assim como
Adão, muitos homens costumam culpar, ou mesmo lançar “pedras” em suas
esposas. Adão agiu assim quando disse que sua mulher fora a culpada por
ele ter comido o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal,
tentando de alguma forma se eximir do seu erro. Contudo, do ponto de vista
das Escrituras, é preciso entender que a responsabilidade pessoal é
intransferível, e tentar transferi-la nada mais faz senão ferir o próximo e
atrair severas consequências para a vida daqueles que assim procedem.
Mas, apesar de tantos infortúnios, o pecado original criou em nós a
tendência de não querermos ver nem admitir nossos pecados e suas
consequências, uma vez que é mais fácil jogar nossos erros nas costas dos
outros, sem assumir falhas e responsabilidades pessoais.
Pessoalmente falando, conheço alguns homens assim. Conheci um que
nunca esteve presente na vida do filho. Na verdade, ele acreditava que a
responsabilidade de educar os filhos era só da esposa e, por isso, não
dedicava uma hora sequer ao menino, a não ser, é claro, quando precisasse
brigar ou mesmo lhe dar uma lição de moral. Os anos passaram, o garoto
cresceu e com ele uma enorme revolta, levando-o a um estado deplorável de
dependência química. O pior de tudo é que esse homem não teve a mínima
hombridade de reconhecer que falhou em seu papel de pai; pelo contrário,
preferiu pegar em “pedras” culpando sua esposa pelo fracasso.
E quanto a você, leitor? Seria você um daqueles que, ao invés de
reconhecer os seus erros, prefere pegar em “pedras”? Como você lida com
seus fracassos? Você reconhece as suas falhas ou procura culpar outras
pessoas por aquilo que não deu certo?
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
1. De acordo com o texto, qual paralelo podemos fazer entre a
passagem bíblica de 1Samuel 30.1–8 com a atual situação
paternal nos lares?
2. Qual é a outra forma de abandono mais comum no mundo pós-
moderno? Qual sua suposta justificativa?
3. Cite exemplos bíblicos que demonstrem a importância da
presença paterna.
4. Como se mostram algumas das consequências causadas pela
ausência paterna?
5. Como muitos homens procedem ao perceber que “perderam”
seus filhos?
 
CAPÍTULO
TRÊS
 

Pais que Terceirizaram


a Relação com seus Filhos
 
 
Como já escrevi anteriormente,15 não acredito em famílias perfeitas,
pelo fato inequívoco de que não há ser humano perfeito. As Escrituras
declaram com brutal clareza que toda a humanidade, independentemente da
cor da pele, raça, nacionalidade, cultura e sexo, é pecadora e está destituída
da glória de Deus, e que o salário do pecado é a morte (Rm 3.23; 6.23).
Agora, ainda que saibamos que, devido à nossa natureza pecaminosa,
não é possível ter uma família perfeita, compreendemos, à luz das
Escrituras, que, por meio de Cristo, mediante os princípios contidos em sua
Palavra, podemos construir relacionamentos mais saudáveis entre pais e
filhos. As Escrituras afirmam que os pais devem instruir seus filhos a
andarem nos caminhos do Senhor. Em outras palavras, os pais precisam
ensinar àqueles que o Senhor lhes confiou as maravilhosas verdades
contidas na Bíblia.
Em Deuteronômio 6, por exemplo, o Senhor ordena os israelitas a
obedecerem aos preceitos por ele determinados. Em provérbios 22.6,
Salomão, com toda sabedoria que lhe era peculiar, afirma que devemos
instruir a criança no caminho em que deve andar, na certeza de que, quando
envelhecer, jamais se desviará dele. O reformador francês João Calvino
costumava dizer que a responsabilidade de conduzir as crianças no
Caminho do Senhor pertence efetivamente aos pais, e não à igreja.16 Para
Calvino, a igreja deveria concordar com aquilo que os pais ensinam em
casa, e não protagonizar a educação dos pequeninos.
Há, contudo, um problema que atrapalha este cenário. Com o
relativismo que hoje impera, muitos homens têm se omitido da
responsabilidade de conduzir seu casamento e seus filhos. Eu mesmo já
ouvi alguns irmãos em Cristo dizendo: “Meu papel não é ensinar a Bíblia
aos meus filhos. Isso é coisa de mulher! Minha responsabilidade é trabalhar
e dar à minha família condições de ter uma vida digna”. Certamente, a
responsabilidade de prover as necessidades dos filhos se encontra
majoritariamente sobre os ombros dos homens. Contudo, de que maneira
isso implicaria dizer que o ensino das Escrituras aos pequeninos seja coisa
exclusiva de mulher? Em que lugar da Bíblia existe essa afirmação? Em
nenhum, evidentemente. Quando os meus filhos eram pequenos, eu não
abria mão de sistematicamente conversar sobre a Palavra de Deus com eles.
Geralmente, à noite, depois do trabalho, eu ia ao quarto deles e improvisava
uma “cabana”, onde brincávamos e falávamos de coisas relacionadas à
Bíblia. Foram momentos extremamente preciosos e inesquecíveis, em que
conversávamos sobre vários personagens bíblicos, incluindo Davi, Jonas,
Jesus, além de Pedro e os demais apóstolos. Durante aquele tempo, além de
celebrarmos a Deus por meio de diálogos relacionados às Escrituras,
crescemos em companheirismo e amizade. E, devo confessar, não eram
poucas as vezes em que, olhando para a demanda de trabalho, me sentia
tentado a não lhes dedicar tempo em nossa cabana, tentação esta a que, por
vezes, infelizmente, cedi.
Com isso quero simplesmente dizer que criar filhos não é nada fácil. Por
vezes, a educação de nossas crianças demanda sacrifício, sobretudo num
mundo digitalizado — realidade que deveria alarmar os pais a serem mais
presentes, tornando-se amigos e parceiros daqueles que o Senhor lhes
confiou, ensinando-lhes a Palavra, como também dedicando-lhes tempo em
comunhão.
Há alguns anos, em um final de tarde, depois de um dia exaustivo, meu
filho mais velho, que na ocasião tinha onze anos, foi ao treino de futebol.
Contudo, antes de sair de casa, olhando em meus olhos espontaneamente,
perguntou: “Pai, quer ir me ver jogar?”. Confesso que, naquele momento,
minha vontade foi de lhe dizer que estava cansado, e que da próxima vez
poderia contar comigo. No entanto, apesar de exaurido, eu disse: “Vamos
lá!”. Meu menino abriu um enorme sorriso, e imediatamente partimos para
o local do treino. Lá chegando, sentei-me à arquibancada e, durante uma
hora aproximadamente, fiquei junto ao alambrado assistindo a uma boa
partida de futebol. Ao sair do treino, comecei a pensar na correria do dia a
dia e na agenda cheia que nos roubam momentos preciosos como aquele.
De fato, a vida moderna é uma grande correria, em que trabalho, estudo e
outras atividades ocupam quase a totalidade do nosso tempo. Em virtude
deste corre-corre desenfreado, não poucas vezes nossas famílias e filhos
sentem-se enormemente prejudicados. E, assim, diante do frenesi da vida,
fico a pensar na quantidade de crianças, pré-adolescentes e jovens que
gostariam que seus pais lhe dessem um mísero minuto de atenção.
Caro leitor, por favor, responda sinceramente: de que forma você lida
com o seu tempo? Por acaso você já se deu conta de que o fato de pais
gastarem momentos com seus filhos contribui significativamente para o
desenvolvimento deles? Você consegue entender que pais presentes na vida
e na história de seus filhos cooperam veementemente para o
desenvolvimento psicossocial destes que, em poucos anos, estarão na fase
adulta? Posso dar uma sugestão? O que acha de se contrapor ao frenesi da
vida, dedicando mais tempo aos seus filhos, investindo no relacionamento
com eles por meio da amizade, parceria e companheirismo? Perceba que os
anos passam com uma rapidez enorme, e, sem nem mesmo perceber,
perdemos preciosas oportunidades de desfrutarmos momentos ricos e
abençoados na presença daqueles que amamos. Além disso, tenho a
impressão de que se tivéssemos a consciência do quanto a existência é
efêmera e passageira, talvez pensássemos duas vezes antes de jogarmos fora
as oportunidades que Deus nos dá de nos relacionarmos saudavelmente com
os que nos cercam. Pais, filhos, cônjuges, parentes e amigos são dádivas do
Senhor em nossas vidas. Desfrutar de sua companhia significa celebrar a
amizade, valorizar o riso, além de experimentar em doses homeopáticas o
remédio de Deus para a alma cansada e ferida.
O Poeta Mário Quintana escreveu um poema intitulado O Tempo, o qual
reproduzo abaixo:
A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo...
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará”.

Caro leitor, a Bíblia está cheia de textos que nos advertem a observar
com diligência o nosso tempo. Com muita propriedade, o salmista escreve:
“Tu reduzes o homem ao pó e dizes: Tornai, filhos dos homens. Pois mil
anos, aos teus olhos, são como o dia de ontem que se foi e como a vigília da
noite. Tu os arrastas na torrente, são como um sono, como a relva que
floresce de madrugada; de madrugada, viceja e floresce; à tarde, murcha e
seca [...] Pois todos os nossos dias se passam na tua ira; acabam-se os
nossos anos como um breve pensamento. Os dias da nossa vida sobem a
setenta anos ou, em havendo vigor, a oitenta; neste caso, o melhor deles é
canseira e enfado, porque tudo passa rapidamente, e nós voamos. Quem
conhece o poder da tua ira? E a tua cólera, segundo o temor que te é
devido?” (Sl 90.3–6, 9–12). Em sua epístola, Tiago nos alerta: “Vós não
sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois apenas como
neblina que aparece por instantes e logo se dissipa” (Tg 4.14). Perceba que,
neste mundo, tudo é incerto e passageiro. A vida passa com uma rapidez
enorme e numa velocidade espantosa. Por acaso você já parou para pensar
que a vida que Deus nos deu é como que um sopro diante da eternidade? De
que adianta você trabalhar feito um carvoeiro e perder momentos preciosos
junto aos que lhes são mais caros? Aproveite, portanto, o tempo que o
Senhor lhe deu e desfrute da alegria de viver em comunhão com sua
família. Recomece de alma renovada, entendendo que a vida, apesar de
curta, dura e incerta, pode nos oferecer momentos de graça, amor, alegria e
beleza.
Por fim, lembre-se de que criar filhos é muito mais do que suprir
necessidades materiais, mas significa participar, interagir, além de viver o
mundo e no mundo daqueles que tanto amamos. Tenha em mente que o pai
não pode se eximir de suas responsabilidades para com os seus. Tornar-se
alheio às necessidades da família e ignorar a educação dos filhos geram
consequências das mais variadas, as quais podem, não muitos anos depois,
produzir dificuldades e comportamentos praticamente irreversíveis nas
relações familiares.
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
1. Ensinar a Bíblia aos filhos é uma tarefa exclusiva da mulher?
Explique.
2. Cite alguns textos bíblicos que nos advertem a observar com
diligência o nosso tempo.
 
CAPÍTULO
QUATRO
 
Uma Revolta Oriunda
do Distanciamento Relacional
 
 
O distanciamento relacional é um problema sério e que precisa ser
tratado com urgência. Permita-me citar um exemplo. Outro dia, um irmão
me disse: “Pastor, não sei como esse menino se transformou nisso. Tudo
bem que, por causa do trabalho, eu não tinha muito tempo com ele, mas
meu filho foi criado na igreja, frequentava a Escola Bíblica... era tão doce
quando criança, e hoje eu o vejo extremamente revoltado. O que será que
aconteceu? Onde eu errei, pastor?”. Pensando nesse caso, é claro que não
posso ser simplista em minha resposta. Falar como se fosse algo simples
seria irresponsabilidade de minha parte. Contudo, respondendo
especificamente ao questionamento de onde ele errou, acredito que, sem
contar outros fatores, esse pai provavelmente não dedicou tempo,
comunhão e intimidade ao seu filho. Mas por que estou supondo isso?
Perceba que Provérbios 22.6 declara que devemos ensinar a criança “no”
caminho que deve andar, e não “o” caminho que deve seguir. Não
entendendo isso, muitos pais, infelizmente, pensam que o mero fato de citar
a Bíblia aos filhos norteará os seus caminhos.
A Palavra de Deus, porém, ensina que educar é muito mais do que
repetir textos ou pressupostos bíblicos. Sim, citar textos das Escrituras
lendo-os em família faz parte da educação, mas não substitui o convívio
diário, em que o pai testemunha aos filhos a aplicabilidade das verdades
contidas na Bíblia e as vive em comunhão. Do que adianta, por exemplo,
ensinar sobre honestidade, e ser desonesto? De que vale pregar sobre
paciência e longanimidade, e demonstrar-se iracundo quando o filho comete
uma “arte” qualquer?  O problema é que muitos homens, além de ausentes,
são adeptos do “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”, ditado
que, na prática, proporciona complicações das mais variadas possíveis na
vida de meninos e meninas.

Quebra de vínculos afetivos e relacionais


Certo dia, recebi o seguinte relato de um pai: “Pastor, eu não tenho
diálogo com meu filho. Parece que somos estranhos e que nos conhecemos
há poucos dias, visto que ele quase não conversa comigo e nos falta
assunto. Será que isso se deve ao fato de eu ter dedicado pouco tempo com
meu filho quando ele ainda era pequeno?”. Como já diziam os antigos:
“Caminho em que não se passa cria mato”, ou seja, quando pai e filho não
comem sal juntos, ou mesmo não gastam tempo nesse propósito, as relações
azedam. É por isso que o preço que alguns homens têm pagado por
terceirizarem a educação dos filhos é alto. Lamentavelmente, em troca de
realização pessoal e profissional, muitos têm se afastado cada vez mais dos
seus rebentos, vivendo assim uma vida de dores, tristezas e decepções. 
Certa feita, enquanto participava como preletor de uma conferência de
jovens e adolescentes numa cidade no interior do estado do Rio de Janeiro,
ouvi um adolescente, por volta dos seus dezesseis anos, dizendo a um
amigo: “Sinto tanta falta do meu pai. Ele trabalha demais! Como gostaria de
sentar ao seu lado e ouvir suas histórias”. Naquele momento, o rapaz
desnudou a alma, verbalizando o quanto sentia falta do pai.  Será possível
que os pais não percebam que o seu próprio filho pode ser como aquele
rapaz?
Esse relato me faz lembrar do notável parlamentar inglês William
Wilberforce.17 Wilberforce foi um cristão diferenciado. Apesar da enorme
responsabilidade que tinha, sempre procurava estar com os filhos. Seu amor
e deleite em estar com eles era contagiante e contrapunha-se aos hábitos da
época, em que pais de alta posição social transferiam a responsabilidade de
cuidar dos filhos para governantas. Diferentemente dos homens de negócios
de seu tempo, Wilberforce queria estar com os filhos e, na medida do
possível, fazia o maior número possível de refeições com eles e participava
de suas brincadeiras. John Piper conta que Wilberforce jogava bola de gude,
brincava de cabra-cega e apostava corrida com os meninos como se fosse
um deles.  A cumplicidade entre William e seus filhos era tão simbiótica
que nos jogos infantis as crianças o tratavam não como um adulto, mas sim
como uma delas. Eis aí um grande parlamentar inglês que, apesar das
responsabilidades e tarefas comuns ao seu ofício e trabalho, entendia o quão
importante era gastar tempo com os filhos.
Mas e quanto a você? Responda sinceramente: você entende a
importância de dedicar tempo aos seus meninos e meninas? Ou será que
você é um daqueles que, em virtude do sucesso pessoal, tem terceirizado a
família?
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
1. O que a Palavra de Deus nos ensina quanto à instrução da
criança em Provérbios 22.6?
2. Por que muitos pais têm se afastado dos seus filhos? Quais são
as consequências enfrentadas?
 
CAPÍTULO
CINCO
 
Problemas com as
Autoridades Constituídas
 
 
“O meu filho mais novo se transformou numa peste. Ele não respeita
ninguém e tem dificuldade para se submeter a qualquer autoridade,
rejeitando e enfrentando todos aqueles que tentam educá-lo e corrigi-lo” —
eis o relato que, certa vez, recebi de um irmão em Cristo, pai de três filhos.
Quando há terceirização da educação, o que costuma acontecer é uma crise
de autoridade instituída, em parte pela frustração do filho por não ter seu
pai presente.  Na verdade, a rebeldia de alguns é nada mais que um grito de
socorro da criança cujo desejo é receber atenção, carinho e tempo por parte
do pai.
A melhor maneira de corrigir esse problema é investir no
relacionamento com os filhos. Ao fazê-lo, o pai deixa de ser expectador em
sua relação familiar e se torna protagonista de uma linda e especial história.
Pais que participam da vida de seus filhos cooperam veementemente com o
seu desenvolvimento psicossocial, afetivo e espiritual. As Escrituras
relatam que a única lembrança de Salomão registrada sobre a sua infância é
o fato de seu pai ter dedicado tempo a ele, ensinando-o acerca da vida:
“Quando eu era filho em companhia de meu pai, tenro e único diante de
minha mãe, então, ele me ensinava e me dizia: Retenha o teu coração as
minhas palavras; guarda os meus mandamentos e vive” (Pv 4.3–4).

Conhecer seus filhos é fundamental


O primeiro passo que um pai deve dar na construção de relacionamentos
saudáveis com os seus filhos é criar oportunidades para conhecê-los melhor.
É preciso conhecer suas ideias, seus gostos, quem são seus melhores
amigos, como estão suas notas na escola, na faculdade, sua cor preferida, o
estilo musical de que gostam, o que os deixa nervosos, o que os faz rir, suas
frustrações, preocupações, tristezas e alegrias.  Assim, para que isso
aconteça, é indispensável aquele bate-papo gostoso, aquele momento para
passear, para assistir a um jogo de futebol, lanchar na rua, ir às compras
juntos, ao teatro, ao cinema, fazer um piquenique e outras coisas mais. 
John M. Drescher, em seu livro “Se eu Começasse Minha Família de
Novo”, afirma que, se pudesse recomeçar seus relacionamentos com os
filhos, ele gastaria mais tempo em comunhão com eles. John entendeu que
comunhão significa dar as mãos em algum projeto, conversar, compartilhar
preocupações em comum, viver e conviver. Como já escrevi em meu livro
“Seu Filho Pode ser mais Feliz”, pais precisam entender que necessitam
acompanhar de perto o filho, saber quando ele está bem e quando está mal,
precisam estar por dentro dos problemas, dúvidas e questionamentos
enfrentados (como bullying, drogas, homossexualismo, sexo e depressão),
afastando-se do individualismo e da negligência.
Diante do exposto, concluo este capítulo dizendo que não dá para
terceirizar a responsabilidade de educação dos filhos, visto que foi o próprio
Deus que a delegou aos pais: “Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no
teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua
casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. Também as
atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. E as
escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas” (Dt 6.6–9).
Nada é mais importante que a educação e criação daqueles que o Senhor
lhe confiou. Os filhos precisam de pais que os amem o suficiente para que
invistam tempo com eles, dando-lhes limites e liberdade na dose certa.
Portanto, entenda que nem carreira, nem bens materiais, nem suas
individualidades são mais importantes do que seus filhos.
Minha oração é para que o Senhor nosso Deus lhe conceda amor,
sabedoria e coragem a fim de educar seus filhos nos caminhos do Senhor.
Invista neles: esse é o seu papel e missão, e com certeza valerá a pena!
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
1. O que costuma acontecer quando a educação é terceirizada?
Qual a melhor maneira de corrigir este problema?
2. Qual é o primeiro passo que um pai deve dar na construção de
relacionamentos saudáveis com os seus filhos? O que é preciso
para isso?
CAPÍTULO
SEIS
 
O Conflito de Gerações
 
 
Vivemos num mundo de constantes mudanças, ainda mais quando se
fala de tecnologia. Devo dizer que a infância e a adolescência vivenciadas
pela minha geração são bem diferentes das dos dias de hoje. Naquela época
não tínhamos celulares, computadores, e muito menos redes sociais. O
mundo ainda não era globalizado e, justamente por isso, nossos conceitos e
visões eram diferentes das opiniões, ideias e percepções deste tempo.
Contudo, olhando para o presente, sem dúvidas, o mundo sofreu
transformações e rupturas geracionais. Nesse contexto, os mais velhos não
têm conseguido entender os jovens, e estes, por sua vez, consideram os
mais velhos desconectados com a realidade do mundo atual. Isso tudo para
dizer que vivemos numa época em que várias gerações convivem
simultaneamente e no mesmo ambiente com formações, percepções e
cosmovisões absolutamente divergentes.
Segundo a pesquisa denominada Religious Landscape Study [“Estudo do
Cenário Religioso”], feita em 2014 e realizada pelo Pew Research Center,
os Estados Unidos dividem as gerações em Geração Grandiosa (nascidos
antes de 1928), Geração Silenciosa (nascidos entre 1928 e 1945), os Baby
Boomers (nascidos entre 1946 e 1964), a Geração X (nascidos entre 1965 e
1980) e os Millennials mais velhos e mais jovens (nascidos de 1981 a
1996). Os Millennials18 também são chamados de Geração Y.
A Geração Z, que vem após a Geração Y, é a dos nascidos entre 1995 e
2010, aproximadamente (uma vez que há várias definições da Geração Z,
quanto ao ano de nascimento; boa parte da análise e conclusão se volta aos
contextos históricos de diferentes países). Segundo a Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), desde 2019, a
Geração Z compreende mais de 30% da população mundial, alcançando um
total de 2 bilhões de pessoas. Mais da metade da população mundial
pertence à Geração Y ou à Geração Z, superando de longe as proporções da
Geração X e dos Baby Boomers, com menos de 20% cada. Isso significa
que as novas gerações constituem a maioria das pessoas no mundo.
Não é à toa que o mundo, principalmente o Ocidente, experimenta um
grave conflito de gerações, visto que nunca na História tivemos em tão
pouco tempo tantas cosmovisões e percepções diferentes.  Mas vou além: o
conflito de gerações é um problema causado pelo choque entre as visões de
pessoas que nasceram em épocas distintas e têm sua relação com o
casamento, a família, o trabalho e com a vida de forma geral fortemente
influenciada pelo contexto em que foram criados.
Há quarenta anos, por exemplo, a voz do pai na família possuía muito
mais força do que hoje. Naquele tempo, em famílias estruturadas, cujos
papéis estavam bem definidos, ainda que existissem conflitos relacionais,
era possível a construção de relacionamentos familiares mais profícuos. O
que vemos hoje, no entanto, é algo completamente diferente, visto que,
devido à existência de cosmovisões distintas e porque as gerações X, Y e Z
possuem formas diferentes de enxergar a vida, encontramos uma
beligerância relacional.
Em resumo, os embates entre gerações precisam ser compreendidos à
luz da dinâmica vivida pelo indivíduo e por todos da família em conjunto,
sem que seja necessário responsabilizar determinado membro. Portanto,
diante do exposto, torna-se importante que entendamos que não existem
receitas mágicas para superar os conflitos relacionais entre pais e filhos. O
que, na verdade, devemos observar são alguns princípios práticos que, se
trabalhados de forma efetiva, poderão nos ajudar a construir uma família
mais saudável.

De que maneira um pai pode atenuar o problema do conflito entre


gerações?
Seria irresponsável e simplista da minha parte afirmar que os conflitos
entre gerações se resolvem facilmente. Agora, apesar de não existir uma
“receita de bolo”, a Palavra de Deus nos traz dicas preciosas que, se
observadas, poderão auxiliar as famílias a resolverem suas divergências.
1. Seja mais presente
Lembra-se da história infantil da Chapeuzinho Vermelho? O conto
escrito por Charles Perrault é, no mínimo, intrigante. Perceba que, além do
lobo e do caçador, só encontramos mais três personagens: Chapeuzinho, sua
mãe e sua avó. É interessante notar que o conto omite a existência de um
pai. Se este havia morrido ou abandonado a casa, não sabemos. Tenho,
porém, a impressão de que a ausência paterna ocasionou certos problemas
na menina, como uma vida solta e descompromissada. A isso junta-se o
relato de que sua mãe a enviara estrada afora, loteada de lobos ferozes, que
espreitavam os viajantes na floresta a fim de devorá-los. Não bastasse isso,
a garota é incumbida da responsabilidade de levar alimentos para sua avó
que estava acamada, o que indica uma despreocupação de sua mãe tanto
com a segurança da filha quanto com a saúde da avó.
Complicado isso, não é mesmo? Como eu já disse no início deste livro,
tenho plena convicção de que a ausência paterna contribui muito para os
problemas de nossos jovens. Pais ausentes cooperam para o surgimento de
cicatrizes substanciais na vida de seus filhos e, em contrapartida, pais
presentes ajudam seus filhos a superarem os dramas e dilemas do cotidiano
com mais facilidade.
A escola onde meus filhos estudaram no Ensino Fundamental tinha uma
atividade muito interessante chamada “vivência”. Nesta estrutura, os pais
eram convidados a assistirem com os seus filhos a um dia de aula comum.
Há alguns anos, quando meu filho mais novo estava no quarto ano do
Ensino Fundamental, experimentamos momentos absolutamente especiais
participando juntos das atividades escolares, o que gerou em nós um
enorme sentimento de cumplicidade. E o que mais nos marcou foi o
momento em que participamos da aula de educação física. Na ocasião,
brincamos de bandeirinha, corremos, saltamos e, como não poderia deixar
de ser, rimos muito. Aliás, rir faz bem, e rir com os filhos faz a gente se
sentir melhor ainda. Perceba como é simples: quando se insere no mundo
dos filhos e faz deste mundo o seu mundo, o pai contribui para o bom
desenvolvimento emocional deles, estreitando a lacuna geracional. Logo,
acredito que o primeiro passo em direção a uma convergência relacional é
fazer-se presente, interagir, dialogar e criar vínculos de afetividade.
2. Tome cuidado com brigas e discussões desnecessárias
O passar dos anos e a maturidade nos ensinam que não devemos brigar
por tudo. Chegamos a um determinado momento da vida em que
entendemos que o sábio é aquele que aprende a escolher bem as suas brigas.
A experiência pastoral me mostra que não poucas vezes polemizamos
desnecessariamente com aqueles que amamos. Quantas vezes não
construímos um “cavalo de batalha” por questões banais e insignificantes?
Não é nítido que, na maioria das vezes, travar algumas “brigas ou
discussões” com os filhos, amigos ou com o cônjuge não leva a lugar
nenhum?
Deixe-me dar um exemplo com um relato pessoal. Há alguns anos,
numa quarta-feira de verão, eu e meus dois filhos, na época pré-
adolescentes, combinamos de assistir ao jogo do Fluminense no Maracanã.
Na hora marcada, rumamos em direção ao até então maior estádio do
mundo, enquanto as águas de março começavam a cair copiosamente sobre
a cidade do Rio de Janeiro. Chegamos ao estádio um pouco antes de
começar a partida, compramos os ingressos e rapidamente subimos a rampa
em direção às arquibancadas. Mal nos acomodamos e o juiz apitou dando
início à peleja. Naquele instante, percebia-se claramente nos milhares de
indivíduos que lá estavam um forte clima de euforia, onde se faziam
presentes gritos, suspiros, alegrias, abraços e reclamações. Eu tinha levado
um pequeno rádio (ainda existiam rádios de pilha) para ouvir os detalhes do
jogo, e um dos meus filhos me pediu que o deixasse acompanhar a partida
pela “latinha”. Assim fiz. No entanto, bastou emprestar o rádio para um,
que o outro imediatamente deixou-se levar pelo ciúme. Diante disso,
combinei com os meninos que cada um teria direito a ouvir por dez minutos
corridos a partida de futebol. Embora tivessem concordado, sem que eu
desse conta, os meninos começaram a discutir e brigar pela posse do rádio.
Um falava para o outro “Você ficou um minuto a mais do que eu!”, ao que o
outro replicava “Seu relógio está errado!”. De repente, ao olhar para o lado,
percebi que eles estavam discutindo asperamente, quase brigando de fato.
No mesmo instante, eu chamei a atenção dos dois falando: “Meninos, para
que brigar por tão pouco? Vocês estão perdendo o melhor do jogo!”. Bastou
eu falar isso para que ambos marejassem os olhos, mudando o tom de voz
inquisitivo.
Naquele mesmo momento, lembrei-me da Palavra de Deus, que nos
ensina a vivermos a vida cristã com maturidade, abandonando as coisas de
menino. Perceba que mesmo nós, adultos, discutimos e brigamos por ciúme
feito crianças. Quantos não deixam de desfrutar momentos preciosos com
aqueles que amam por causa de sentimentos egoístas? Consegue perceber
que, constantemente, nos comportamos como meninos, brigando e
discutindo desnecessariamente?
Por isso, penso que tanto aprender a escolher bem as nossas brigas como
discutir menos atenua as divergências, tornando o convívio mais agradável,
contribuindo para a diminuição das possíveis divergências do chamado
conflito de gerações.

3. Reconheça seus erros


É triste constatar que existem homens que se acham os donos da verdade
e, por isso, jamais admitem a possibilidade de terem cometido erros no
relacionamento com os seus filhos (sentimento em parte devido à sua visão
de mundo, a qual, por fatores diversos, diverge da visão de mundo das
gerações Y e Z). Não são poucos aqueles que, movidos pela arrogância,
tornam-se incapazes de reconhecer suas falhas e, portanto, irreconciliáveis. 
Para exemplificar, certo dia um pai me contou que havia brigado
severamente com o seu filho por chamar uma pessoa mais velha de ‘você’.
Aos olhos desse pai, seu filho de quinze anos havia cometido um grave
desatino contra uma pessoa mais velha. Sua visão de mundo destoava da
perspectiva do seu filho, que não considerava desrespeitosa a sua fala.
Lembro-me de falar com esse pai, dizendo-lhe que o rapaz não havia
errado, e que o uso dos pronomes de tratamento mudou em alguns aspectos.
Agora, remetendo ao que eu disse logo acima, aquele homem, mesmo
entendendo o argumento usado, não teve humildade para reconhecer o seu
próprio erro.
As Escrituras retratam enfaticamente que a humildade é uma qualidade
indispensável aos cristãos. Nosso Senhor, no Sermão do Monte, combateu
os valores deste mundo, dizendo: “Bem-aventurados os humildes de
espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mt 5.3). Essa afirmação de Jesus
Cristo foi um grande escândalo no século I, uma vez que o conceito social
reinante, oriundo da filosofia greco-romana, considerava desprezíveis
pessoas que valorizassem virtudes como a humildade. Tanto para os gregos
quanto para romanos, a humildade estava relacionada aos fracos, aos
débeis, doentes e incompetentes. Para a classe dominante, nunca, em
hipótese alguma, pessoas bem-sucedidas na vida deveriam cultivar valores
como simplicidade e humildade. Jesus, contudo, sendo Filho de Deus,
contestou essa premissa, afirmando categoricamente que o Reino de Deus
não é propriedade dos soberbos e arrogantes, mas pertence aos de coração
simples e singelo.
Thomas Brooks, puritano inglês do século XVII, afirmou certa vez: “Os
homens mais santos são sempre os mais humildes”. Na mesma linha,
Robert Leighton, ministro do século XVII, disse: “As melhores amizades de
Deus são homens humildes”. Em outras palavras, quanto mais próximos de
Deus estivermos, menos arrogantes seremos.
Jonathan Edwards, famoso pregador do século XVIII, costumava dizer
que um “homem verdadeiramente humilde é consciente da diminuta
extensão de seu próprio conhecimento, da grande extensão de sua
ignorância e da insignificante extensão de seu entendimento comparado
com o entendimento de Deus. Ele é consciente de sua fraqueza, de quão
pequena sua força é, e de quão pouco é capaz de fazer. Ele é consciente de
sua distância natural de Deus, de sua dependência dele, da insuficiência de
seu próprio poder e sabedoria; e de que é pelo poder de Deus que ele é
sustentado e guardado; e de que necessita da sabedoria de Deus para
conduzi-lo e guiá-lo, e de seu poder para capacitá-lo a fazer o que deve
fazer pelo Senhor”.
Na perspectiva do Reino, é importante entender que só alcançamos o
trono do Altíssimo quando descemos as escadas. A Escritura afirma que
Deus exalta os humildes e abate os soberbos. (1Pe 5.5; Mt 23.12; Tg 4.6).
Ora, o trajeto que os vencedores traçam nunca foi e nunca será o caminho
da presunção e da prepotência, mas aqueles que chegam ao final da corrida
da fé carregam consigo a marca indelével da humildade e da simplicidade.
Com tudo isso exposto, perceba: só é possível reconhecermos nossos erros
se formos humildes. 
Para citar mais um exemplo pessoal, em certa ocasião pisei feio na bola
com um dos meus filhos. Eu o julguei e o disciplinei de forma errada. Ao
descobrir que havia falhado, senti-me profundamente constrangido.
Confesso que minha vontade foi jogar o equívoco “para debaixo do tapete”
e deixar que o tempo “deletasse” minha atitude. Cristo, contudo, mediante a
sua Palavra, convenceu-me de que eu estava errado e que precisava pedir
perdão.
Caro leitor, precisamos entender, de uma vez por todas, que pais que não
reconhecem seus erros pecam contra Deus, contra os seus filhos e, mesmo
sem perceber, contribuem para o afastamento daqueles que o Senhor lhes
confiou. Portanto, seja humilde, “vista a carapuça” e, quando necessário,
peça perdão àqueles que ofendeu. Agindo assim, Deus certamente
abençoará você e toda a sua família.
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
1. Como convivem as várias gerações de hoje?
2. Segundo a pesquisa Religious Landscape Study, como os EUA
dividem as gerações? Por quê?
3. Como os embates entre gerações precisam ser compreendidos?
Quais são os princípios práticos que podem nos ajudar a
construir uma família mais saudável?
4. O que Jesus nos diz sobre a humildade? Como a afirmação de
Cristo foi recebida pelos gregos e romanos à época?
5. O que acontece quando não reconhecemos erros que
cometemos contra nossos filhos? Como evitar que isso
aconteça?
 
CAPÍTULO
SETE
 
Aprendendo a Paternidade por
meio da Relação entre Cristo e o Pai
 
 
Ser pai é muito mais do que gerar um filho, nem se limita por mera
biologia. Na verdade, a paternidade está relacionada a atitudes presenciais
em que amor, carinho e afeto se fazem notórios na relação com os filhos. É
praticamente unânime entre os estudiosos do comportamento a ideia de que
não só o papel do pai no desenvolvimento do infante como também sua
interação com a criança são fatores decisivos para a evolução emocional,
cognitiva e social dos filhos.
O problema é que, na ânsia de estabelecer parâmetros, conceitos e
pressupostos, os filhos de Adão, em sua arrogância e autossuficiência,
traços provenientes da Queda, deixaram de lado a ideia bíblica de que o
conceito de paternidade tem seu ensino maior na Trindade. Deus é trino:
Pai, Filho e Espírito Santo. Deus é um só, mas subsiste em três pessoas: o
Pai, o Filho e o Espírito Santo. Não são três emanações da mesma pessoa;
são três pessoas distintas, porém da mesma substância. O Pai não é o Filho,
nem o Filho, o Pai. O Espírito Santo não é o Pai nem o Filho. São três
pessoas coiguais, coeternas e consubstanciais, possuindo a mesma essência,
os mesmos atributos e o mesmo poder.
Esse Deus Trino, Criador dos céus e da terra, a fim de revelar o que
sente pelo seu povo, buscou nas relações humanas um sentimento que
pudesse servir de referência para o seu amor. A figura do pai, portanto,
segundo o Evangelho de Cristo, é a que foi encontrada por Deus para nos
ajudar a saber o que ele sente por nós. Na verdade, como bem afirmava o
notável teólogo canadense J.I. Packer, pai é o nome cristão para Deus.
Aliás, ouso afirmar que a intensidade do amor do Pai por Jesus nos faz ter
ideia do seu amor por nós, além de nos fazer entender de forma clara e
pedagógica qual deve ser o papel de um pai.

Pai provedor
O Senhor é onipotente e governa todas as coisas mediante seu infinito
poder. O Senhor é soberano sobre tudo o que acontece na terra e na vida dos
homens. Dele vem todo o sustento para suprir as necessidades da
humanidade e de toda criação. Ele é o Deus da providência e, como o Pai
que cuida dos seus filhos, ouve as nossas orações respondendo com
bondade aos nossos clamores.
As Escrituras nos revelam que o entendimento da providência deve nos
afastar do desespero e, ao invés disso, dar-nos paciência e conforto, força e
esperança nos momentos em que as adversidades se multiplicam. A Palavra
de Deus também nos mostra que o nosso Deus e Pai é aquele que supre as
necessidades de seus filhos. Ensinando aos discípulos a oração dominical, o
nosso Senhor Jesus Cristo disse que eles deveriam orar ao Pai pedindo o
pão de cada dia (Mt 6.10–11). Ademais, no Sermão do Monte, Jesus disse
que os discípulos não deveriam andar ansiosos por coisa alguma, visto que
o Pai celeste sabe do que precisamos (Mt 6.23–34). Portanto, quando
olhamos para a relação entre Cristo e seu Pai, suas orações e respostas, bem
como seus ensinamentos, aprendemos que, assim como o nosso Pai Eterno
supre as nossas necessidades, o pai terreno deve prover aos seus filhos o
necessário para sua subsistência.

Pai amoroso
Em sua primeira epístola, João afirma que Deus é amor (1Jo 4.16); em
seu Evangelho, o discípulo amado nos mostra que Deus amou o mundo de
tal maneira que deu o seu filho unigênito para que todo aquele que nele crê,
não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3.16). A fim de ilustrar esse
sentimento, relato uma história muito interessante cujas protagonistas eram
duas moças, uma cristã e outra muçulmana: “Certo dia, ao contrário do
costume, elas começaram a conversar sobre a fé que professavam. A cristã
falava de Cristo para a amiga, e a muçulmana contrapunha os argumentos
da colega cristã fazendo apologia a Alá. Num determinado momento,
enquanto cada uma defendia a sua própria fé, a mulher que professava a fé
muçulmana foi tomada por um enorme sentimento de culpa, logo após ter
ousado dizer que amava o seu deus. Os muçulmanos creem que Alá é o
Todo-Poderoso que está sentado em seu trono e que não sente
absolutamente nada pelo ser humano, tampouco se importa com ele; logo,
ninguém pode dirigir-se a Alá como a um amigo e, muito menos,
desenvolver algum tipo de relacionamento pessoal com ele. A simples
ousadia de alguém pensar nisso ou tratá-lo como uma pessoa é considerada
blasfêmia e infidelidade ao islamismo. Segundo o Islã, aquele que age desta
maneira merece ser severamente punido”.
No Alcorão, existe uma lista de nomes que apontam para a
personalidade de Alá. Os muçulmanos têm 99 definições de quem é o seu
deus. Contudo, existem duas definições que nós cristãos usamos para Deus,
e que os muçulmanos jamais poderão usar para com Alá: Deus é Amor e
Deus é Pai. Alguns, a propósito, acreditam que a maneira mais eficaz de se
ganhar um muçulmano para Cristo é dizer-lhe que Deus revelou a si mesmo
na Bíblia como agente de amor e afirmar sua paternidade. A mensagem do
cristianismo é totalmente contrária àquilo que outras religiões pregam e
ensinam. O Deus da Bíblia está pronto a ter um relacionamento pessoal com
você, a ouvir sua criação, falar com ela e amá-la.
Oh, quão maravilhoso é conhecer o Senhor e desfrutar de seu amor e
cuidado! Como é bom saber que em Cristo e por intermédio de Cristo
tornamo-nos filhos e amigos de Deus! Que maravilha é também saber que
somos chamados a amar os nossos filhos segundo o exemplo do amor de
Deus por nós.

Pai protetor
Na oração do “Pai Nosso”, Jesus ensinou os discípulos a orarem ao Pai,
pedindo que os guardasse do mal (Mt 6.13). Sim! O que a Palavra de Deus
nos mostra é que o nosso Pai Celeste é aquele que age com providência em
nossas vidas, guardando-nos do mal. Aliás, basta olharmos para as
Escrituras que veremos inúmeros exemplos de como o Senhor livrou e
protegeu os seus filhos das investidas do adversário das nossas almas. O
Deus revelado na Bíblia é o Pai que não somente provê as nossas
necessidades, mas também nos guarda e protege do mal. Nessa perspectiva,
somos desafiados a olhar para o Senhor, entendendo que como pais terrenos
temos a obrigatoriedade de cuidar de nossos filhos, zelando por eles e os
protegendo. Com isso em mente, entendo que os pais são, de longe, o fator
mais importante na proteção da família. São eles que estão na linha de
frente. E, conforme vemos na Palavra de Deus, cabe aos pais protegê-los
dos “amalequitas” que, com ímpeto, têm se levantado contra as suas
famílias (1Sm 30.1–2).
Muitos, contudo, não compreendem a seriedade desta verdade. “Meu pai
estava sempre ocupado” costumam dizer alguns jovens que foram
“sequestrados” pelas drogas. “Ele falava muito pouco com a gente”,
afirmam moças e rapazes que se perderam no mundo da prostituição; “ele
nunca esteve presente”, diz o adolescente que cresceu apanhando de todos.
Outro dia eu soube que uma criança de apenas quatro anos disse para a sua
professora que gostaria de morrer. Ao ser questionada acerca do motivo
desse terrível desejo, a criança respondeu que não aguentava mais apanhar.
O pai do menino, ausente, nunca estava perto do garoto para protegê-lo da
violência vivenciada. Outro grave problema em nossa sociedade é a
violência doméstica. Nossas igrejas estão repletas de crianças que sofrem
todo tipo de violência por parte de seus familiares. Infelizmente, não são
poucos os meninos e meninas que vivem uma vida de horrores, sofrendo as
agruras de uma relação despótica, ditatorial e abrutalhada.
Uma reportagem da Agência Brasil mostrou os resultados de uma
pesquisa realizada pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) em parceria
com o Conselho Federal de Medicina (CFM) e o Ministério de Direitos
Humanos a respeito dos abusos e agressões sofridos por crianças e
adolescentes, na maior parte das vezes, dentro do ambiente doméstico. Diz
a reportagem:
Entre 2009 e 2014 (último ano com informações disponíveis), houve 35.855 encaminhamentos
para hospitalização e 3.296 óbitos. Como geradores, registros de violências física e psicológica
ou de tortura. Os cálculos com base nas informações do Sinan mostram que, em média, 13,5%
das notificações dos três tipos de agressão evoluem para hospitalizações. Além disso, no
período analisado, a cada dia, pelo menos uma criança ou adolescente morreu vítima de maus-
tratos. Somente em 2014, ano mais recente com dados específicos sobre esses registros, foram
7.291 internações e 808 óbitos.
Em 2017, foram notificados 53.101 casos contra meninas, ou seja, 62,2% mais do que os
registros em garotos (32.169). Em 2009, as ocorrências envolvendo somente as jovens
somaram 8.518 (61%). Em 2016, esse índice foi de 59% (41.065 ocorrências).19

Em Curitiba, estima-se que, a cada seis horas, as autoridades municipais


tomam conhecimento de pelo menos uma criança vítima de violência, abuso
sexual ou de maus tratos praticados pela própria família, em uma situação
que é classificada de emergência. No Rio de Janeiro, numa pesquisa da
Universidade Federal do Rio de Janeiro sobre ‘violência doméstica’, o tipo
mais comum de violência é a sexual (31,6%), seguida de maus tratos físicos
(27,7%), negligência (24%) e abuso psicológico (15,8%), onde na maioria
das vezes, o algoz é o pai ou padrasto.
O leitor que me acompanhou até aqui já conseguiu perceber que as
crianças possuem um lugar especial no coração de Deus, e qualquer um que
as violente está sujeito à ira do Senhor. Quando os discípulos de Jesus
tentaram impedir as crianças de irem ao Senhor, ele os repreendeu e as
recebeu alegremente dizendo: “Jesus, porém, vendo isto, indignou-se e
disse-lhes: Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis, porque dos
tais é o reino de Deus” (Mc 10.14). E, contudo, nesse mundo absorto em
pecado e maldade, uma quantidade incontável de crianças tem sido
abusadas e maltratadas. Lamentavelmente, muitas delas são vítimas de
agressões violentas e outros abusos físicos em virtude da ausência de
proteção. Todos conhecemos casos em que tios, primos, avós e mesmo
vizinhos se aproveitam sexualmente de crianças indefesas pelo simples fato
de que não há ninguém para guardá-las do homem mau.
Prezado pai, diante desta triste confusão em que crianças, adolescentes e
jovens têm sofrido ataques variados, homens que se dizem cristãos, que
amam a Deus e que desejam fazer a sua vontade precisam estar atentos a
esse papel, compreendendo que uma das missões dadas por Deus ao homem
é proteger aqueles que o Senhor lhes confiou.

Pai disciplinador
A Bíblia nos ensina que Deus corrige a quem ama da mesma forma
como um pai repreende o seu filho (Pv 3.12). A disciplina, portanto, é uma
clara evidência do amor de Deus para com seus filhos. Aqui, vale ressaltar
que ao falar sobre disciplina a Bíblia não está defendendo a ideia de um
deus mau, que deseja o sofrimento dos seus filhos, mas um Pai de amor,
que deseja ver a correção dos caminhos errados.
Em virtude do tempo que vivemos, em que boa parte da população não
gosta de ser contrariada, afirmar que Deus disciplina os filhos é quase um
acinte. Alguns chegam a confundir a correção do Senhor com um suposto
desfavor divino, em que Deus de forma despótica impõe seus caprichos às
pessoas. Visto que a disciplina é uma expressão de amor paternal e que
Deus como Pai disciplina os seus filhos, corrigindo-os e os instruindo no
caminho que devem andar, ouso afirmar que assim como Deus corrige e
instrui seus filhos, pais terrenos devem também corrigir e disciplinar seus
rebentos no temor do Senhor.
Provérbios 13.24 declara que “O que retém a vara aborrece a seu filho,
mas o que o ama, cedo, o disciplina”. Em outras palavras, disciplinar
corretamente as crianças quando são pequenas poupa problemas maiores
mais tarde. A Bíblia admoesta: “Castiga a teu filho, enquanto há esperança,
mas não te excedas a ponto de matá-lo” (Pv 19.18).
A falta de correção e de instrução traz consequências trágicas, e isso eu
ilustro a seguir. Conta-se que certa mãe tomou uma decisão: “Meu filho
nunca será reprimido. Terá total liberdade para não ser um recalcado e
inibido. Fará na vida o que bem entender. Sou contra a repressão”. Assim
sendo, o menino foi crescendo livre, solto, à vontade. Tudo quanto queria
ele recebia. E não demorou para dar trabalho: a própria mãe já o chamava
de “meu adorável danadinho”. Os vizinhos o chamavam de “peste”. Seu
apelido no bairro era “monstrengo”. E quando reclamavam das diabruras do
garoto, a mãe costumava dizer que “criança é assim mesmo, não
reprimam”. O garoto, então, cresceu libertino, porque sua mãe não o proibia
de nada, enturmou-se com o pessoal do bairro, outros adolescentes livres,
da pesada, e, quando a mãe menos suspeitava, foi chamada à polícia: seu
adorável libertino estava preso, metido com drogas, roubo de carro e
estupro. A infeliz mãe chorou amargamente. Soltou demais o seu filho e,
arrependida, disse: “Hoje entendo porque meus pais me disciplinavam
quando era menina. Filho solto dá no que não presta. A Bíblia está certa
quando diz que a criança precisa ser corrigida e disciplinada” (Pv 22.15;
29.15).
Dito isso, em primeiro lugar, preciso afirmar que disciplinar uma criança
não é feri-la, arrancar sangue, esbofeteá-la, violentá-la ou deixá-la marcada
com hematomas pelas agressões. Na verdade, os que fazem isso cometem
crimes passíveis de punição pelo rigor da lei. Em nenhuma parte da Bíblia é
possível encontrar textos que recomendem aos pais infligir abusos físicos,
emocionais ou morais sobre seus filhos. De acordo com as Escrituras,
nenhum pai ou mãe tem o direito de espancar seu filho, de tirar-lhe a
comida, promover humilhações morais, etc. Tais coisas não constituem
disciplina, mas abuso físico e emocional — uma prova inequívoca de
desequilíbrio dos pais e que precisa ser rechaçado com seriedade e
veemência.
Em segundo lugar, é fundamental entender que a disciplina é um ato de
amor. As Escrituras afirmam isso de forma clara e categórica. Trata-se de
uma expressão de afeto e cuidado paternal. A Bíblia diz em Provérbios
13.24 “O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo, o
disciplina”.
Em terceiro lugar, pais que disciplinam seus filhos quando pequenos
evitam problemas maiores mais tarde. Provérbios 19.18 diz o seguinte:
“Castiga a teu filho, enquanto há esperança, mas não te excedas a ponto de
matá-lo”.
E, por fim, corrigir e disciplinar uma criança implica levá-la à reflexão
sobre seus atos e ao arrependimento sincero. A finalidade da disciplina não
é apenas ensinar a criança a obedecer aos pais e às autoridades, mas
também permitir que ela assimile valores e princípios éticos e morais,
entendendo que estes são fundamentais a uma vida plena e saudável e a
relacionamentos construtivos.
Um exemplo bíblico de uma criança que cresceu sem a disciplina
paterna é Adonias, filho do rei Davi. As Escrituras ensinam que o seu pai
nunca o contrariou, nunca lhe perguntou “Jamais seu pai o contrariou,
dizendo: Por que procedes assim?” (1Re 1.6). Davi nunca aborreceu nem
mesmo contestou seu filho, e foi Adonias quem colheu os terríveis frutos
dessa indisciplina em sua vida adulta. Ainda que Davi tivesse boas
intenções, seu filho cresceu sem entender que na vida não se faz tudo o que
quer, nem se obtém tudo o que se deseja. Pelo contrário: mesmo um filho de
rei experimenta frustrações.
Caro leitor, a ausência de disciplina na educação dos filhos foi trágica
para Davi. O grande rei, homem segundo o coração de Deus, falhou na
educação de Adonias pelo simples fato de não o ter repreendido, ou mesmo
o disciplinado. Uma criança indisciplinada nunca aprenderá o que significa
o domínio próprio, pois sempre terá em perspectiva o seu próprio caminho.
Pais amorosos não têm um prazer mórbido na disciplina, mas a consideram
necessária pelo bem da educação de seus filhos. A verdade é clara: a
criança entregue a si mesma traz vergonha a seus pais (Pv 29.15).
Pai presente
A Pergunta 7 do Catecismo Maior de Westminster20 afirma que Deus é
“Espírito, em si e por si infinito em seu ser, glória, bem-aventurança e
perfeição; todo-suficiente, eterno, imutável, insondável, onipresente,
onipotente, onisciente, infinito em sabedoria, santidade, justiça,
misericórdia, graça e longanimidade; cheio de toda bondade e verdade (Êx
3.14, 34.6; 1Re 8.27; Sl 90.2; Is 6.3; Jr 23.24; Ml 3.6; Jo 4.24; Rm 11.33,
16.27; At 17.24, 25; Hb 4.13; Ap 4.8, 15.4)”. E, apesar de sua grandeza,
majestade e poder, esse Deus magnânimo é pessoal. Ele é um ser
individual, com autoconsciência e vontade, capaz de sentir, escolher e ter
um relacionamento recíproco com outros seres pessoais e sociais, fazendo-
se presente entre o seu povo. Deus sempre foi um Deus presente. As
Escrituras revelam o Senhor como um Deus pessoal e que se relaciona com
os seus filhos de forma paternal. Jesus, por exemplo, por diversas vezes,
disse aos discípulos “vosso Pai”, referindo-se ao modo como Deus se vê em
relação aos crentes.
Observe que o Senhor, o Todo-Poderoso, o Soberano e Excelso Deus se
vê como nosso Pai e revela nas Escrituras sua paternidade de diversas
formas, em provisão, proteção, amor, cuidado, disciplina e, claro, presença
constante. O Salmo 23, por exemplo, nos mostra que o Eterno Deus é um
Deus maravilhoso. Davi nos traz o relato de que o mesmo Senhor sobre
tudo e todos, reinando soberanamente sobre céus e terra, é também nosso
pastor, levando-nos às águas de descanso, refrigerando nossas almas,
permanecendo ao nosso lado em todos os instantes desta vida fugaz. Essa
aparente dicotomia é encantadora, visto que um Deus supremo e
magnânimo está disposto a se relacionar com seres finitos como nós,
mostrando-se presente em cada instante de nossas miseráveis vidas, seja
enquanto andamos pelo vale da sombra da morte, seja enquanto nos
sentamos à mesa do banquete.
Saiba, leitor, que esse é o Deus Soberano que se faz presente e pessoal
na vida de seus filhos, ensinando-lhes a necessidade de fazer-se presente na
vida daqueles que o Senhor nos confiou.
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
1. Defina e explique o conceito de paternidade.
2. O que aprendemos quando olhamos para a relação entre Cristo
e seu Pai?
3. De que maneira o Deus da Bíblia está pronto a ter um
relacionamento pessoal conosco? Como isso reflete em nosso
relacionamento com nossos filhos?
4. De acordo com a perspectiva bíblica de Deus como o Pai da
Providência, de que forma devemos agir como pais terrenos
para com os nossos filhos?
5. O que Provérbios nos ensina sobre a disciplina dos filhos?
6. Diga o que não é disciplina bíblica.
7. O que Deus nos ensina mediante sua paternidade sempre
presente?
 
CAPÍTULO
OITO
 
Os Deveres dos Pais
para com os seus Filhos
 
 
Crie seus filhos a fim de prepará-los para o mundo
Muitos pais têm errado na educação de seus filhos, pois não os criam
para o mundo, mas para si mesmos. Vivemos num tempo extremamente
complicado, em que a relação entre pais e filhos é simbiótica, quase
idolátrica. A “infantolatria” é uma grave característica dos nossos dias, uma
vez que, em nome do amor, pais colocam seus filhos no centro de tudo, fato
nítido nas atividades cotidianas desenvolvidas pela família. Assim, tornou-
se comum os filhos escolherem o que e onde comer, as músicas a serem
ouvidas, os programas e os filmes a serem assistidos e muito mais. Em
resumo, em lares onde as crianças são paparicadas, elas é que comandam o
que acontece e o que deixa de acontecer.
Outro cenário problemático é a presença precoce das crianças nas redes
sociais. Agora, lendo isso, talvez você se pergunte: mas o que isso tem a ver
com as redes sociais? Que relação existe entre a “infantolatria” e o
Facebook?
Nenhuma, respondo eu. Todavia, o Facebook denuncia a centralidade da
criança na vida da família. Ora, por favor, pare e pense. Quantos não são os
pais que, diariamente, publicam fotos enaltecendo seus pequenos reizinhos?
É claro, não existe nenhum problema em publicar fotos, contos e “causos”
protagonizados pelos pequeninos. Contudo, o que tenho visto nas redes
sociais é uma supervalorização das crianças, exaltando-as em todos os
momentos, colocando-as num patamar quase de infalibilidade. Como já diz
o nome, a “infantolatria” pode proporcionar problemas sérios aos seus
filhos. Pais que fazem dos seus rebentos pequenos reis têm dificuldade de
impor limites, de frustrar suas vontades e até mesmo, quando necessário,
exercer a disciplina, o que obviamente contribui para o impedimento da
maturação emocional da criança. Na verdade, pais que mimam seus filhos,
sem que percebam, cooperam para que eles vivam uma vida sem
“aborrecimentos”, o que efetivamente os atrapalhará na construção de
relacionamentos profícuos ao atingirem a fase adulta.
A consequência disso tudo são filhos “encastelados”, despreparados para
as demandas do cotidiano, incapazes de lidar com problemas e frustrações.
Embora a paternidade, evidentemente, signifique ser amigo, sacerdote,
parceiro, irmão e companheiro de jornada do seu filho, essa realidade não
lhe concede o direito de criá-los de forma egoísta, colocando-os num tipo
de bolha.  Cabe aos pais criar filhos para o mundo, torná-los autônomos,
libertos e capazes de viverem suas vidas longe daqueles que os geraram.
A cultura brasileira, no entanto, é possessiva quanto à criação de filhos,
mesmo porque, na cabeça de muitos pais, só pensar na possibilidade de os
filhos crescerem ou mesmo morarem longe quando atingirem a vida adulta
é um verdadeiro martírio. Nessa perspectiva, ainda que de forma
inconsciente, muitos pais têm construído invólucros afetivos cujo propósito
é ter sempre aos seus pés o filho amado. O problema é que, ao agir desta
forma, muitos pais evitam o amadurecimento dos filhos, promovendo assim
um tipo de engessamento que os impede de caminhar, crescer e frutificar.
Finalmente, embora os filhos sejam bênção, o Senhor os dá não para que os
idolatremos, mas com o fim de os prepararmos para que expressem a glória
do Senhor diante deste mundo mal.

Crie seus filhos a fim de servir ao Senhor e para a glória de Deus


Uma das características dessa geração, vencida e dominada pelo
secularismo é o desejo de não ter filhos. A chamada “Geração Millennial”,
isto é, crianças e adolescentes que viram a passagem do milênio,
adentraram a vida adulta com o sentimento de que a vida precisa ser vivida
de forma efusiva, experimentando os prazeres deste mundo, ganhando
muito dinheiro, sem, no entanto, ter de dedicar tempo aos filhos. A esse
cenário junta-se o fato de que não são poucos aqueles que afirmam não ter
filhos simplesmente porque o mundo é mau e a violência se multiplica na
cidade — afinal, seria uma temeridade colocar uma criança no mundo.
As Escrituras, porém, afirmam que os filhos são herança do Senhor (Sl
127.3). Filhos constituem a maior riqueza, ou mesmo presente, que um
casal pode receber da parte do Criador. No Salmo 127, a palavra “herança”
nos faz lembrar efetivamente da terra de Israel, um local que manava leite e
mel. Essa terra era completamente imerecida, dada pela graça. Do mesmo
modo, a palavra “galardão” não significa que merecemos os filhos ou que
Deus nos deve alguma coisa, mas quer dizer que, pela sua graça, o Eterno
nos concedeu o privilégio de sermos pais. Nossos filhos são presentes do
Senhor e estão nos planos de Deus. Em Gênesis, ele ordenou ao primeiro
casal que gerasse filhos e povoasse a terra (Gn 1.27–28). Baseado nessa
premissa, segundo o Soberano Deus, todos aqueles que geram filhos são
abençoados e cumprem a ordem do Senhor quanto à multiplicação.
Minha esposa e eu, desde que casamos, sempre desejamos filhos. Ela
engravidou com onze meses de casados. Foi a melhor coisa para nós. E o
nosso segundo filho veio um ano e meio depois do nascimento, trazendo
muitos desafios, mas também muita alegria. Outro motivo por que filhos
são bênçãos do Senhor em nossa vida é por nos lembrarem de que não
existimos para nós mesmos. Quando geramos filhos estamos afirmando que
o Criador nos fez para uma vida em que amor, afetividade e desprendimento
são partilhados.  Como bem disse Chesterton, “a coisa mais extraordinária
do mundo é um homem comum, uma mulher comum e seus filhos
comuns”.
Agora, não basta um casal cristão gerar filhos. É necessário criá-los para
a glória de Deus. Lembre-se de que a Palavra de Deus ordena que os pais
ensinem aos filhos os retos caminhos do Senhor:
“Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e
delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te.
Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. E as escreverás
nos umbrais de tua casa e nas tuas portas” (Dt 6.6–9).

Saiba também que, além do texto de Deuteronômio, sempre que se fala


em educar crianças no temor do Senhor, é comum mencionar o texto de
Provérbios 22.6: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e,
ainda quando for velho, não se desviará dele”. Essa passagem, embora
fundamental na criação de filhos, por vezes é interpretada de forma
absolutamente equivocada. Observe que a ordem dada pelo autor bíblico
não é ensinar “o” caminho, mas sim ensinar “no” caminho, nuance que faz
toda diferença. Perceba que tal diferenciação é de grande importância, pois
quem ensina o caminho apenas aponta para o destino a ser percorrido, não
se comprometendo a caminhar junto. No entanto, aquele que ensina no
caminho percorre o trajeto ao lado da criança — muito mais que demonstrar
o que deve ser feito, mas partilhar de tudo o que é
Nesse conceito, entende-se que o pai deve dar bom exemplo ao filho.
Permita-me ilustrar. Outro dia, eu soube de um pai que resolveu ensinar o
seu filho adolescente a dirigir. Num sábado à noite, o pai então disse ao
rapaz de quatorze anos: “Vamos buscar uma pizza!”. O rapaz aceitou
imediatamente, alegre, visto que o seu pai havia lhe dito que ele próprio
dirigiria o carro da família. Ao regressar da pizzaria, uma blitz da polícia
parou o carro e constatou a irregularidade. O pai, que era pastor, visando
evitar a multa, ofereceu ao policial em troca da liberação do carro a pizza
que havia comprado, e isso tudo na frente do filho. O interessante, contudo,
é que esse homem era daqueles moralistas que vivia dizendo: “Faça isso,
faça aquilo”, mas nem sempre dando um bom exemplo.
Não sei se você já percebeu, mas Jesus se utilizava do método
peripatético de ensino no processo de discipulado. O termo “peripatético” é
grego e significa “ambulante”, “itinerante”, ou mesmo “aqueles que
passeiam”, cujo método pode ser definido da seguinte maneira: “Ensinar
enquanto se caminha junto”. Trata-se de um ensino que é fruto de um
relacionamento. Na época de Jesus, se alguém almejasse se tornar aluno de
algum mestre em Israel, deveria estar disposto a segui-lo por onde ele fosse.
Assim, à medida que o mestre caminhava, o discípulo ia aprendendo com
suas histórias, parábolas e exemplos. Portanto, à luz dessa premissa, afirmo
sem titubeios que ensinar a criança no caminho que deve andar é fazer dela
um discípulo, instruindo-lhe de forma presencial o caminho da honestidade,
integridade e, acima de tudo, temor a Deus.
Visto que as Escrituras são extremamente claras, vejamos três princípios
extraídos de Deuteronômio 6.
1. Estas palavras, os mandamentos do Senhor deveriam ser inculcados
nos filhos.  No original, a expressão “inculcar” significa “ensinar
incisivamente”, ou seja, os filhos precisam receber de seus pais ensinos
sólidos daquilo que Deus declara em sua Palavra.
2. Observe também que esse é um mandamento dado à família e
prioritariamente ao pai. Era o pai o responsável por ensinar, e não outra
pessoa ou mesmo instituição. Do ponto de vista veterotestamentário, o lar
sempre foi o principal lugar de instrução e educação e, portanto, a casa era
o principal lugar de instrução naquela sociedade. Vale também ressaltar
que, no Antigo Testamento, geralmente a criança, até uns cinco anos, tinha
uma educação informal em casa, em grande parte sob a responsabilidade da
mãe, onde aprendia valores e preceitos relacionados à moral, à cultura e à
ética do seu tempo. Somente a partir dos cinco anos que um menino
passava a conviver mais com o pai, aprendendo assim o seu ofício e
profissão, embora coubesse desde sempre ao pai ensinar aos filhos a lei do
Senhor à mesa.
3. O texto também nos traz a ideia de que esse ensino deveria ultrapassar
a ideia da mesa. Observe que o escritor sagrado deixa claro que o ensino
deveria acontecer ao andar pelo caminho, ao deitar-se e ao levantar-se — o
que nos leva ao entendimento de que criar filhos é uma forma de
discipulado.
Tenhamos em mente, portanto, que ensinar a criança acerca do ser de
Deus é muito mais do que, por exemplo, levá-la à igreja. Billy Graham
costumava dizer que ir à igreja não faz da pessoa um cristão, assim como
dormir na garagem não faz dela um carro. Ensinar uma criança é muito
mais do que falar sobre Deus; é, porém, tornar-se um pai-discipulador,
fazendo-se presente, instruindo, aconselhando e, acima de tudo,
demonstrando pelo exemplo o quanto ama a Deus e está disposto a honrá-lo
acima de todas as coisas.

Crie meninos para ser homens e respeitar as mulheres


Não são poucos os homens que tratam muito mal suas esposas, e não são
raras as vezes que se ouve uma mulher dizer “Meu marido é grosso e
insensível. Quando pergunto alguma coisa, se não está de bom humor, já me
responde com uma “patada”. Sinceramente, estou decepcionada e frustrada
com o rumo que o meu casamento tomou. Poxa vida, quando nos
conhecemos, ele era doce, amável e romântico, costumava me presentear,
vivia me elogiando e dizia que eu era muito importante em sua vida. Não
bastasse isso, ele era um homem temente e fiel a Deus. Hoje, ele não vai
mais à igreja, me chama de burra e diz que eu não sirvo para nada. Às
vezes, acho que eu me casei com um monstro insensível”.
É lamentável perceber que se tornou comum encontrarmos maridos
desrespeitando suas esposas, tratando-as como coisas, desprezando-as,
humilhando-as, jogando-as fora como objetos descartáveis. E outro
problema tão horrível quanto é que muitos homens não somente agem
assim, mas acabam ensinando os seus filhos a se comportarem da mesma
forma com as mulheres que talvez conheçam ou com quem possivelmente
se relacionem.
A Bíblia, no entanto, é contra isso, demonstrando que cabe ao pai a
responsabilidade de ensinar seus filhos a tratar bem as mulheres, com
dignidade, valor e consideração. E, assim, entendendo a seriedade do
assunto trago dez dicas preciosas que ajudarão os pais a criarem homens
que respeitem as mulheres.
1. Ensine o seu filho a tratar as meninas de forma respeitosa,
fazendo-o entender que elas não devem ser consideradas um
simples objeto, algo “descartável”.
2. Ensine o seu filho a tratar as meninas com educação, carinho e
afetividade.
3. Ensine o seu filho a proteger as meninas. As Escrituras nos
mostram essa necessidade de forma extremamente clara, levando-
nos a entender que homens precisam proteger suas mulheres.
4. Ensine o seu filho a amar as meninas tratando-as com amor
sacrificial. Assim, ao casarem-se, poderão colocar em prática o
ensino bíblico de que maridos devem amar suas esposas assim
como Cristo amou sua igreja.
5. Ensine o seu filho a ouvir as meninas, bem como seus conselhos,
suas dicas e considerações.
6. Ensine o seu filho a ser parceiro das meninas, levando-o a entender
a importância da vida comum do lar, assim como companheiros de
sonhos, objetivos e quimeras.
7. Ensine o seu filho a valorizar as meninas, como também suas
profissões, formações acadêmicas e muito mais.
8. Ensine o seu filho a tratar as meninas como seres de igual valor.
Diante de Deus, homens e mulheres são iguais em dignidade e, do
ponto de vista bíblico, o marido não é superior à sua esposa.
Homens e mulheres se complementam, possuem funções diferentes
na igreja, na família e na sociedade, mas, diante de Deus, são iguais
em valor e dignidade.
9. Ensine o seu filho a servir às meninas, tratando-as com
consideração e respeito.
10. Ensine o seu filho a se relacionar com as meninas para a glória de
Deus.

Crie meninas para serem mulheres piedosas


Não é preciso ser especialista em feminilidade para perceber que as
mulheres também experimentam uma severa crise comportamental. Basta
olharmos para boa parte das adolescentes e jovens que chegaremos à triste
conclusão de que muitas moças se perderam em seus caminhos.
Evidentemente, não posso ser simplista em minha afirmação. Na minha
perspectiva, contudo, entendo que esse fator se deve à ausência paterna.
Percebo que a convivência de uma menina com a figura do pai contribui
com o desenvolvimento saudável tanto da criança como da adolescente. Em
contrapartida, é inegável o fato de que a ausência paterna ou mesmo atos de
negligência, omissão, insuficiência, autoritarismo, abuso e violência sexual
contribuem de forma significativa para sentimentos de insegurança, baixa
autoestima e dificuldade de estabelecer relacionamentos amorosos, além de
agressividade, desregramento sexual e depressão.
O que acabo de dizer me faz lembrar da triste história de uma moça que
conheci. Maria (nome fictício), apesar de ser uma moça bonita, carregava as
marcas de alguém com baixa autoestima, insegurança e autodepreciação.
Esse sentimento, na verdade, se devia a uma péssima imagem que ela tinha
quanto à figura masculina. Maria fora abandonada pelo pai muito cedo, fato
que contribuiu para os terríveis sentimentos que nutria quanto a quem ela
própria era, bem como à sua importância. Por isso, Maria costumava dizer:
“Não confio nos homens. Eles só se relacionam comigo porque querem
sexo”. Para piorar a situação Maria chegou a se prostituir durante um
tempo, procurando nos homens o suprimento da carência afetiva que lhe
consumia a alma. Graças a Deus a situação de Maria não ficou assim. Essa
jovem, apesar de tudo, foi salva por Cristo, largando assim a prostituição,
experimentando, por conseguinte, uma nova vida.
Outro caso semelhante aconteceu com Joana (nome fictício). Assim
como Maria, Joana também foi abandonada pelo pai, que nunca mais a
procurou. Este não fez nenhum esforço para manter a convivência com a
filha após o fim do seu relacionamento conjugal. Não bastasse isso, a mãe
de Joana se casou novamente, desta vez com um homem que
costumeiramente abusava sexualmente da triste menina. As consequências
foram as piores possíveis. Joana cresceu com ódio do pai e de todos os
homens com os quais se relacionou. Tanto Maria como Joana por inúmeras
vezes questionaram: “Onde Deus estava quando passei pelos piores
momentos da minha vida?”. 
Em inúmeros casos (embora eu não esteja generalizando), muitas moças
desenvolvem uma imagem deturpada de Deus, de seu cuidado e paternidade
devido à péssima experiência que tiveram com seus pais. O oposto,
contudo, também é verdadeiro. Conheço muitas meninas que, mediante um
relacionamento saudável com seus pais cristãos, desenvolveram uma boa
imagem de Deus, visão esta que contribuiu para uma vida piedosa.
À luz da Palavra de Deus, portanto, entendo que a presença paterna é
fundamental ao desenvolvimento tanto de meninos como de meninas. Pais
presentes na educação de suas filhas, cujo atos e atitudes focam em
cuidado, amor e proteção, contribuem significativamente para o
desenvolvimento emocional, afetivo e social de suas meninas. Além disso,
pais que cuidam da vida espiritual de suas filhas, ensinando-lhes a Palavra,
bem como valores cristãos, cooperam para a construção de uma imagem de
Deus plenamente saudável no coração de cada uma delas. Ademais, penso
também que pais que interagem no mundo de suas filhas são instrumentos
de Deus para a plantação do Evangelho em seus corações.
Crie filhos por meio do exemplo
Você provavelmente já ouviu alguém dizendo: “Faça o que eu digo, mas
não faça o que eu faço”. Complicado, não? Uma vez que isso não funciona,
ainda mais quando se trata da educação dos filhos. Não adianta, por
exemplo um pai dizer ao filho que não minta, porque mentir é feio, e
quando o telefone toca em casa, pedir para dizer que ele não está — uma
prática mais comum do que a gente imagina. Quantos não são os pais cujo
comportamento em muito difere daquilo que pregam?
Para ilustrar este ponto, conto a história de um adolescente relatando que
seu pai não era nada daquilo que aparentava ser na igreja. Segundo o rapaz,
o pai, que na igreja era amável e conjugava o “evangeliquês” com
propriedade, em casa era um “animal”. Para esse jovem, o cristianismo era
falso, visto que seu pai vivia uma vida absorta em hipocrisia.
É uma utopia acreditar que os filhos aprendem somente com a palavra
de seus pais. Nossos filhos nos observam continuamente, procurando ver se
aquilo que defendemos em nossas prédicas e discursos coadunam com
nossos exemplos. O ser humano, desde pequeno, observa e segue exemplos,
procurando imitar as atitudes dos pais, irmãos ou mesmo avós com quem
convivem. Nessa perspectiva, extremamente antenadas, as crianças vão
observando seus pais, vendo se de fato estão vivendo aquilo que defendem.
Há pouco soube de uma história em que uma criança de cinco anos disse
para um amigo de seu pai que ele era chato. O pai, ao ouvir isso do menino,
o repreendeu, dizendo: “Que é isso, filho, fulano de tal é uma pessoa muito
legal”. A criança, ao ouvir a fala de seu pai, replicou: “Ué, pai, você mesmo
já disse que ele era chato!”. Perceba que, embora ensinar os filhos por meio
das palavras seja muito importante, ensiná-los mediante o exemplo é,
também, de máxima importância. Por favor, pare, pense e responda: O que
adianta pregar mansidão e ser irascível? De que serve proclamar
honestidade combatendo a corrupção dos políticos e subornar o guarda de
trânsito? 
Portanto, ser um bom exemplo para os filhos não é tarefa fácil, mas
essencial para que eles possam ter referências importantes na vida. Tal
como o apóstolo Paulo, devemos ser imitadores de Cristo para que os filhos
imitem o Senhor por meio do nosso exemplo (1Co 11.1).

Não ouse criar seus filhos sem oração


Os puritanos costumavam dizer que fazer a obra de Deus sem oração é
estultícia. Salvo as suas proporções, ouso afirmar que tentar criar filhos sem
oração é um tiro no pé. Afinal, o que seria de nós sem a oração? E o pior é
que muitos cristãos provam não acreditar nisso, uma vez que agem como se
não necessitassem da oração.
Vez por outra ouço por parte de alguns cristãos a desculpa de que eles
não têm tempo suficiente para orar. Pessoas assim costumam afirmar que,
em virtude da complexidade da agenda, bem como da correria do dia a dia,
não possuem a menor condição de passarem momentos em comunhão com
o Senhor em oração. Já perdi a conta de quantas vezes alguém não chegou
ao meu gabinete pastoral dizendo “Pastor, eu trabalho e estudo demais,
tenho obrigações em casa, com minha família e meus filhos. É triste dizer,
mas não tenho tempo para orar”. Inclusive, alguns chegam mesmo a dizer:
“Pastor, tempo eu até tenho, mas não tenho um lugar tranquilo para buscar
o Senhor em oração. Minha casa é minúscula e com gente demais morando
lá”. Unindo a esses relatos, há alguns anos conheci um pastor que morava
num apartamento bem pequeno. Por causa do barulho das crianças, da
demanda de trabalho da esposa e da presença de outros familiares em casa,
ele não conseguia dedicar tempo à oração. Certa feita, angustiado pela falta
de comunhão com Deus, este pastor teve a brilhante ideia de entrar no
guarda-roupa de seu quarto e lá conversar com o Senhor. Que ideia
brilhante, não é verdade? Ele possuía todas as desculpas possíveis para não
orar, mas preferiu superar os obstáculos e buscar o Senhor em oração.
Leitor, e quanto a você, como tem lidado com a oração? Acaso ela é
prioridade em sua vida ou será que, como na vida de muitos, você tem dado
escusas por uma vida desprovida de comunhão com o Senhor?  Você ora
por seus filhos? Você dedica tempo à intercessão? As Escrituras nos trazem
vários exemplos de pais que comumente oravam pelos seus filhos. Em
Gênesis 17.18, o Patriarca Abraão intercedeu pelo seu filho Ismael: “Disse
Abraão a Deus: Tomara que viva Ismael diante de ti”. Davi rogou pela vida
do seu filho: “Buscou Davi a Deus pela criança; jejuou Davi e, vindo,
passou a noite prostrado em terra” (2Sm 12.16); intercedeu também por
Salomão: “E a Salomão, meu filho, dá coração íntegro para guardar os
teus mandamentos, os teus testemunhos e os teus estatutos, fazendo tudo
para edificar este palácio para o qual providenciei” (1Cr 29.19). Jó,
diariamente, clamava ao Eterno por seus filhos: “Decorrido o turno de dias
de seus banquetes, chamava Jó a seus filhos e os santificava; levantava-se
de madrugada e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles, pois
dizia: Talvez tenham pecado os meus filhos e blasfemado contra Deus em
seu coração. Assim o fazia Jó continuamente” (Jó 1.5). No Novo
Testamento, encontramos relatos de um pai que clamou pelo filho
endemoninhado: “Senhor, compadece-te de meu filho, porque é lunático e
sofre muito; pois muitas vezes cai no fogo e outras muitas, na água” (Mt
17.15); e de um chefe da sinagoga, que clamou a Jesus que curasse sua
filha: “Eis que se chegou a ele um dos principais da sinagoga, chamado
Jairo, e, vendo-o, prostrou-se a seus pés e insistentemente lhe suplicou:
Minha filhinha está à morte; vem, impõe as mãos sobre ela, para que seja
salva, e viverá” (Mc 5.22–23).
Que exemplos maravilhosos, não é mesmo?
Caro leitor, uma das maiores e melhores coisas que os pais podem fazer
por seus filhos é orar por eles. Sem a menor sombra de dúvidas, precisamos
clamar ao Senhor pelos nossos filhos, rogando ao Senhor que os abençoe,
que os livre do mal, e para que tenham uma profunda e consistente
experiência de conversão a Cristo.
Definitivamente, os pais precisam entender que necessitam investir
tempo orando por seus filhos, intercedendo a favor dessa geração, na
expectativa de que o Senhor ouça os nossos clamores, mudando a história
de milhares de adolescentes e jovens presos e escravizados ao pecado.
Para relatar um pouco da minha experiência pessoal, conto de quando
fui com minha esposa ao shopping. Ao chegar, fiquei impressionado com o
número de adolescentes presentes nas galerias. Na ocasião era possível
perceber pela roupa, linguagem, penteados e interesses as mais variadas
tribos, em que punks, metaleiros, pagodeiros, patricinhas, mauricinhos,
emos, skatistas, góticos, surfistas entre outros mais se encontravam
reunidos. Percebi também que meninos e meninas, com idade variando
entre treze e dezessete anos, relacionavam-se afetivamente uns com outros.
Nessas relações, beijos, carinhos e toques se faziam percebidos. Pude
também notar suas conversas, sorrisos e inquietações, e constatar o quão
desafiador é evangelizar as mais variadas tribos de adolescentes. Para
aumentar a minha inquietação quanto aos adolescentes, fiquei sabendo que
uma das primeiras causas de morte entre eles é o suicídio. O centro de
controle de doenças nos Estados Unidos informou que o suicídio já é a
terceira causa de morte entre adolescentes, vindo antes os acidentes e os
homicídios, e isto em populações de jovens entre quinze e vinte e quatro
anos. E o que é ainda mais assombroso: o suicídio já é a quarta principal
causa de morte entre crianças e adolescentes, entre dez e quatorze anos. 
Em outra situação, eu estava na bela cidade de Porto Seguro, na Bahia,
quando, numa noite, minha esposa e eu ouvimos o diálogo de algumas
adolescentes: “Hoje estou DNA”. Instigados pela curiosidade em saber o
que significava DNA no vocabulário adolescente, diminuímos o passo e
ouvimos a outra dizer: “Isso mesmo. Dia e Noite Alcoolizadas”. “Vamos
beber muito”, replicou uma terceira. Confesso que fiquei chocado com o
discurso, até porque as meninas não tinham mais do que dezesseis anos e
estavam dispostas a beber até cair.
Sim, vivemos dias difíceis em nosso país. Nossa sociedade encontra-se
absolutamente deteriorada, nossas famílias perdidas e sem rumo, nossos
adolescentes e jovens sem perspectivas e referências. Infelizmente, a
sociedade brasileira encontra-se envolvida em um estilo de vida que se
contrapõe aos princípios da lei de Deus. Os padrões de moralidade parecem
não mais existir, a forma de se medir felicidade e sucesso difere daquela
encontrada na Palavra de Deus. O objetivo de vida do ser humano não é a
glorificação do nome do Senhor, e sim a busca desenfreada pela satisfação
pessoal, ainda que para isso seja necessário desconstruir conceitos e
princípios, jogando-os definitivamente na lata do lixo.
Isso posto, permita-me dar-lhe um conselho: não desista de seus filhos,
nem de orar por eles. Não desista de crer que Deus pode mudar a sua vida,
ainda que seja miserável. Lute pelos seus filhos, ore por eles. Não descanse
até vê-los salvos. Talvez alguns ainda estejam perdidos envolvidos com
drogas, álcool, bem como todo tipo de pecado. Derrame-se aos pés do
Senhor e não saia de lá até que você triunfe pela fé.
Creia que, em Cristo, podemos trazer nossos filhos ao Senhor pela
oração. Faça isso e você possivelmente verá o milagre na vida daqueles que
tanto ama.
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
1. Quais são os dois problemas de nosso tempo sobre a relação
entre pais e filhos identificados pelo autor? Quais suas
consequências?
2. Quais são algumas das justificativas apresentadas por essa
geração acerca da concepção de filhos? Como a Escritura
argumenta contra isso?
3. Como podemos criar nossos filhos para a glória de Deus? Cite
algumas passagens das Escrituras que nos ensinam a esse
respeito.
4. O que significa o termo peripatético? Como ele se relaciona ao
ensino das crianças?
5. Liste os três princípios extraídos de Deuteronômio 6 e resuma-
os com suas palavras.
6. Qual a importância do exemplo e da oração na criação de
filhos?
 
CAPÍTULO
NOVE
 
Uma Palavra de Esperança
 
 
Talvez você tenha chegado ao final deste livro com a nítida sensação de
que, infelizmente, no seu relacionamento com o seu filho você cometeu
muito mais erros do que acertos. Talvez o sentimento reinante em seu
coração seja de desânimo e abatimento, visto que, do ponto de vista
humano, não existem possibilidades de reverter os erros do passado, ou
mesmo de reencontrar o filho que se perdeu. É possível que as nuvens da
incerteza assolem sua alma e coração de forma impiedosa, levando-o a um
profundo estado de ansiedade e depressão.
Diante disto, quero incentivá-lo a nutrir o coração de esperança, bem
como da certeza de que o Senhor de forma soberana controla todas as
coisas. Por acaso você já se deu conta de que o Deus a quem servimos
nunca nos desampara? Já percebeu que o Senhor se faz presente em todos
os momentos da nossa vida, sustentando-nos com sua destra fiel? É
indispensável que entendamos que a vida nos proporciona momentos em
que a fé dá lugar ao desânimo e o vigor cede espaço à desesperança. São em
ocasiões como estas que precisamos tomar como exemplo as atitudes de
homens de Deus como Abraão e erguer os nossos olhos ao céu, na
expectativa de ouvir a Palavra do Senhor: “Então, conduziu-o até fora e
disse: Olha para os céus e conta as estrelas, se é que o podes. E lhe disse:
Será assim a tua posteridade” (Gn 15.5).
Você consegue observar as estrelas à noite? Será possível, mesmo diante
da escuridão que o cerca, enxergar as promessas e o cuidado de Deus?
Como diz a canção, “peregrinamos por montes e vales”, mas Cristo
prometeu que jamais nos desampararia; antes, estaria conosco até a
consumação dos séculos. Amém.
 
CONCLUSÃO
 
 
Deus criou a família. As Escrituras afirmam categoricamente que foi o
Senhor quem instituiu as relações familiares. Cada relação existente nessa
instituição foi pensada, elaborada e determinada pelo Criador. Ele é o Pai da
família. O Rei dos reis ama essa linda estrutura. Eu acredito na família,
acredito na conversão dos pais aos filhos e dos filhos aos pais.
Eu acredito no perdão, no amor sem barganha, na gargalhada
apaixonada, na mesa farta de sorrisos e brincadeiras, nas lágrimas de
companheirismo, nos abraços e afagos de quem vive para amar. Acredito no
diálogo entre pais e filhos, nos encontros em volta da mesa, onde a Palavra
de Deus é ensinada e compartilhada, nas lembranças e sonhos que povoam
o coração, no carinho, no beijo, no respeito entre pais e filhos.
Prezado amigo, num tempo de severa crise de paternidade, nosso país
está repleto de famílias que choram a perda dos seus filhos para as drogas.
Contudo, em cada canto dessa imensa nação, existe um número incontável
de lares que foram impactados pelo Evangelho da Salvação Eterna, fazendo
com que os que neles vivem experimentem de fato o aprendizado da santa
Palavra de Deus, a qual é lâmpada para os pés daqueles que por anos a fio
andaram em meio às trevas e escuridão.
Isto posto, minha expectativa é que o livro “Paternidade em Crise” possa
ajudá-lo na árdua, porém doce missão de amar, corrigir e discipular seus
filhos. Assim, rogo ao Eterno que lhe conceda sabedoria do alto, ajudando-
o a edificar lares abençoados e felizes.
Lembre-se de que uma relação familiar saudável terá, por consequência,
filhos maduros e bem ajustados. Ademais, não esqueça que filhos que
crescem em um lar onde o temor ao Senhor, o respeito e a afetividade se
fazem presentes dificilmente se afastarão do caminho aprendido. Portanto,
continue cultivando em sua casa as sementes do Evangelho, oferecendo aos
seus filhos limites, disciplina, afeto e amor, e colha, portanto, no futuro, a
alegria de ter uma família servindo ao Senhor.
Renato Vargens
 
APÊNDICE
 
Sugestão de filmes que tratam de
aspectos de uma paternidade saudável
 
 
Tenho um filho que é cineasta e com ele aprendi que o cinema tem a
capacidade de moldar culturalmente a sociedade, influenciando-a seja para
o bem, seja para o mal. Na verdade, o cinema pode ser uma grande escola
diferenciada, daquelas que a gente entra na infância e não tem mais hora
para deixar. É aquele tipo de entretenimento que tem nos munido de filmes
com temáticas diversas que, além de divertirem, acompanham o nosso
amadurecimento nos ajudando a refletir sobre os dilemas da vida.
Há pouco tempo, eu e minha esposa revimos em nossa casa o filme
“Procurando Nemo”. Nemo é um pequeno peixe-palhaço que,
repentinamente, é sequestrado do coral onde vive por um mergulhador e
passa a viver em um aquário. Decidido a encontrá-lo, seu tímido pai,
Melvin, sai em sua busca, enfrentando tubarões, águas-vivas e problemas
dos mais diversos.
A animação nos mostra que Melvin, mesmo diante de seus medos e
limitações, não mede esforços para recuperar seu filho, até porque, para o
pai do desobediente peixinho, nada é mais importante do que o regresso de
seu rebento ao lar.
À luz desta pequena história, fico a pensar em inúmeros pais que pelos
motivos mais diversos desistiram de seus filhos. Pais que, em virtude da
rebeldia de uns, da desobediência de outros, ou mesmo por suas falhas
pessoais abandonaram na estrada da vida aqueles que o Senhor lhes
confiou.
Caro leitor, pais amam de verdade, por mais complicado que seja não
desistem de seus “meninos”. Pais apaixonados não abdicam do privilégio de
tê-los ao seu lado, e, mesmo que estes os decepcionem andando por
caminhos tortuosos, continuam esperançosos em reavê-los. Pais que amam
lutam por seus filhos, “enfrentam tubarões”, ultrapassam limites, vencem
sentimentos, na certeza de que, no final da história, será possível voltar a
sorrir.
E, assim como na história de “Procurando Nemo”, podemos aprender
preciosas lições com outras histórias relatadas no cinema. Por isso, creio
que a lista de filmes a seguir pode ser extremamente útil tanto na construção
de uma paternidade saudável quanto para refletirmos a respeito, focando em
virtudes e valores indispensáveis aos pais.
A Vida é Bela

Direção: Roberto Benigni


Roteiro: Roberto Benigni e Vincenzo Cerami
Ano de lançamento: 1997
Sinopse: O riso nos salva. Ver o outro lado das coisas, o lado surrealista e
divertido, ajuda quem não quer ser pisado e esmigalhado como um graveto,
ajuda a resistir à noite, mesmo que longa, longuíssima. A frase resume o
singelo propósito por trás da história que o cineasta Roberto Benigni, 52,
co-autor, diretor e ator de “A Vida é Bela”, quer contar.
A fantástica saga do livreiro Guido Orefice e de como ele conseguiu, por
meio da imaginação e da fantasia, transformar os horrores da rotina de um
campo de concentração nazista em regras de uma gincana, pelo menos aos
olhos do filho de seis anos, conquistou crítica e público com seu espírito
leve, porém crítico, e a coragem de fazer uma comédia para falar do que foi
o maior drama do século 20: o Holocausto.
O filme traz o contraste entre a vontade de ser feliz e a monstruosidade
dos acontecimentos que circundam os personagens, na Itália da Segunda
Guerra Mundial.
Para fazer “A Vida é Bela”, além de Charles Chaplin, uma influência
confessa constante, Benigni se inspirou também no que escreveu Leon
Trotsky, um dos artífices do socialismo russo, em seu exílio no México.
Foragido de seu país, recluso numa terra estranha e sob a ameaça de ser
morto a qualquer momento, Trotsky, em dado momento, contempla a
mulher no jardim e escreve que, apesar de tudo, a vida é bela e digna de ser
vivida.
É esse otimismo incansável que impregna a história de Guido e de sua
família do começo ao fim e a torna, como seu diretor disse, um hino ao fato
de sermos condenados a amar poeticamente a vida porque ela é bela.
(Fonte: DVDTECA (FOLHA))

A Noviça Rebelde

Direção: Robert Wise


Roteiro: Ernest Lehman e Oscar Hammerstein II
Ano de lançamento: 1965
Sinopse: No final da década de 1930, na Áustria, quando o pesadelo nazista
estava prestes a se instaurar no país, uma noviça (Julie Andrews) que vive
em um convento mas não consegue seguir as rígidas normas de conduta das
religiosas, vai trabalhar como governanta na casa do capitão Von Trapp
(Christopher Plummer), que tem sete filhos, viúvo e os educa como se
fizessem parte de um regimento. Sua chegada modifica drasticamente o
padrão da família, trazendo alegria novamente ao lar da família Von Trapp e
conquistando o carinho e o respeito das crianças. Mas ela termina se
apaixonando pelo capitão, que está comprometido com uma rica baronesa.
(Fonte: Adoro Cinema)

Procurando Nemo

Direção: Andrew Stanton e Lee Unkrich (co-diretor)


Roteiro: Andrew Stanton, Bob Peterson e
  David Reynolds
Ano de lançamento: 2003
Sinopse: Procurando Nemo é o quinto filme de animação computadorizada
produzido pela Pixar Animation Studios e distribuído pela Walt Disney
Pictures lançado em 30 de maio de 2003 nos Estados Unidos e em 4 de
julho de 2003 no Brasil, o filme foi vencedor do Oscar de melhor filme de
animação, e indicado aos prêmios de melhor trilha sonora original, melhor
edição de som e melhor roteiro original.
A animação, completamente em 3D, traz também as tradicionais
referências dos filmes anteriores da Pixar, como um mundo onde os peixes
e outros seres marinhos vivem numa sociedade semelhante à dos seres
humanos. As primeiras pesquisas para produção do filme começaram em
1997, seis anos antes, portanto, de sua finalização. A história de Nemo e
Marlin recebeu grande inspiração dos relacionamentos dos diretores com
seus próprios filhos. A narrativa era ambientada na grande barreira de coral,
na austrália; para dar maior realidade e autenticidade, as vozes originais dos
dubladores eram de atores australianos e que tinham pelo menos uma
característica semelhante à sua personagem. (Fonte: FANDOM)

À Procura da Felicidade

Direção: Gabriele Muccino


Roteiro: Steven Conrad
Ano de lançamento: 2006
Sinopse: Christopher Gardner é um vendedor e pai de família, que acaba se
separando da esposa e tendo que cuidar sozinho do filho de 5 anos. Para dar
uma vida melhor ao seu filho, ele consegue um estágio em uma importante
corretora de seguros, mas o cargo não é remunerado. Ele espera que ao final
do programa seja efetivado, mas sua vida financeira desmorona e eles
acabam despejados. Mesmo dormindo em abrigos ou qualquer lugar que
sirva como refúgio, ele não perde as esperanças que dias melhores virão.
(Fonte: Cineclick (UOL))

A Guerra do Amanhã

Direção: Chris McKay


Roteiro: Zach Dean
Ano de lançamento: 2021
Sinopse: Em “A Guerra do Amanhã”, a humanidade está perdendo uma
batalha global contra uma espécie mortal de alienígenas em 2051. Para
garantir a sobrevivência dos humanos, soldados e civis do presente são
transportados para o futuro e se juntam à luta, entre eles Dan Forester
(Chris Pratt), um pai de família determinado a salvar o mundo. (Fonte:
Adoro Cinema)
O Milagre Azul

Direção: Julio Quintana


Roteiro: Julio Quintana e Chris Dowling
Ano de lançamento: 2021
Sinopse: Em Milagre Azul, um grupo de crianças órfãs corre o risco de
ficar sem um lugar para morar quando sua instituição é ameaçada de fechar
por falta de verba. Então, elas e o diretor se juntam a um rabugento
marinheiro (Dennis Quaid) para entrar em uma competição de pesca. Se
ganharem, podem usar o prêmio para salvar o orfanato. (Fonte: Adoro
Cinema)

O Patriota

Direção: Roland Emmerich


Roteiro: Robert Rodat
Ano de lançamento: 2000
Sinopse: O Patriota conta a história de Benjamin Martin (Mel Gibson), um
herói de guerra que renunciou à luta para viver em paz com sua família.
Entretanto, quando os ingleses levam a guerra da independência americana
para dentro de sua casa, Benjamin não vê outra saída a não ser pegar nas
armas novamente. Desta vez, acompanhado por seu filho idealista Gabriel
(Heath Ledger), ele precisa liderar uma brava rebelião em uma batalha
contra o implacável e equipado exército britânico. (Fonte: Observatório da
TV (UOL))

Homens de Coragem

Direção: Joseph Kosinski


Roteiro: Ken Nolan, Eric Warren Singer
Ano de lançamento: 2017
Sinopse: Um incêndio gigantesco na região do Arizona levou a um
verdadeiro combate com os mais experientes bombeiros da região. E para
superar o desafio, todo esforço será necessário. (Fonte: Papo de Cinema)
Pais e Filhas

Direção: Gabriele Muccino


Roteiro: Brad Desch
Ano de lançamento: 2016
Sinopse: Em Pais e Filhas, Jake Davis (Russell Crowe), um novelista
mentalmente instável, tenta criar sozinho a filha de cinco anos. Vinte anos
depois, Katie (Amanda Seyfried) tenta entender sua complicada infância
cuidando de crianças com problemas psicológicos. Não recomendado para
menores de 14 anos. (Fonte: Adoro Cinema)

Corajosos

Direção: Alex Kendrick


Roteiro: Alex Kendrick e Stephen Kendrick
Ano de lançamento: 2011
Sinopse: Os policiais Adam (Alex Kendrick), Nathan (Ken Bevel), Shane
(Kevin Downes) e David (Ben Davies) enfrentam diariamente nas ruas os
maiores desafios de suas vidas e a dedicação deles é reconhecida por suas
chefias. Mas se no cumprimento dessa tarefa eles não deixam dúvidas
quanto à competência em cuidar da sociedade, em casa, o mesmo não pode
ser dito porque eles estão falhando no papel de pais e maridos. E quando
algo inesperado acontece, é preciso tomar uma decisão que mudará suas
vidas. (Fonte: Adoro Cinema)

O Dia Depois de Amanhã

Direção: Roland Emmerich


Roteiro: Roland Emmerich e Jeffrey Nachmanoff
Ano de lançamento: 2004
Sinopse: A Terra sofre alterações climáticas que modificam drasticamente a
vida da humanidade. Com o norte se resfriando cada vez mais e passando
por uma nova era glacial, milhões de sobreviventes rumam para o sul.
Porém o paleoclimatologista Jack Hall (Dennis Quaid) segue o caminho
inverso e parte para Nova York, já que acredita que seu filho Sam (Jake
Gyllenhaal) ainda está vivo. (Fonte: Adoro Cinema)

À Prova de Fogo

Direção: Alex Kendrick


Roteiro: Alex Kendrick e Stephen Kendrick
Ano de lançamento: 2008
Sinopse: No trabalho o bombeiro Caleb Holt (Kirk Cameron) é um
profissional que cumpre com todos os princípios, sendo um deles nunca
deixar um companheiro para trás numa situação de perigo. Já em sua casa,
ao lado da esposa Catherine (Erin Bethea), as coisas são bem diferentes.
Caleb é um marido ausente e depois de sete anos de união o relacionamento
está chegando ao fim. O pai de Caleb pede então que ele inicie uma
experiência de 40 dias, denominada “O desafio do amor”, na tentativa de
salvar o casamento. (Fonte: Adoro Cinema)

O Impossível

Direção: Juan Antonio Bayona


Roteiro: Sergio G. Sánchez
Ano de lançamento: 2008
Sinopse: O casal Maria (Naomi Watts) e Henry (Ewan McGregor) está
aproveitando as férias de inverno na Tailândia junto com os três filhos
pequenos. Mas na manhã de 26 de dezembro de 2004, enquanto curtiam
aquele paraíso após uma linda noite de Natal, um tsunami de proporções
devastadoras atinge o local, arrastando tudo o que encontra pela frente.
Separados em dois grupos, a mãe e o filho mais velho vão enfrentar
situações desesperadoras para se manterem vivos, enquanto em algum outro
lugar, o pai e as duas crianças menores não têm a menor ideia se os outros
dois estão vivos. É quando eles começam a viver uma trágica lição de vida,
movida pela esperança do reencontro e misturando os mais diversos
sentimentos. (Fonte: Adoro Cinema)
A Creche do Papai

Direção: Steve Carr


Roteiro: Geoff Rodkey
Ano de lançamento: 2002
Sinopse: Phil (Jeff Garlin) e Charlie (Eddie Murphy) ficaram
desempregados recentemente. Como não têm dinheiro para pagar a creche
de seus filhos, são obrigados a retirá-los dela e cuidar deles até que
arranjem um novo serviço. É quando eles têm uma ideia para ganhar
dinheiro: criar uma instituição que cuida de crianças enquanto seus pais
trabalham. A dupla coloca o plano em prática e, devido aos métodos pouco
convencionais que usam ao cuidar das crianças, acabam ficando famosos e
gerando o ódio de seus concorrentes. (Fonte: Adoro Cinema)
 
notas

1 Augustus Nicodemus Lopes. “Respostas a Argumentos Usados a favor da Ordenação de


Mulheres”. Tempora Mores. Disponível em: http://tempora-mores.blogspot.com/2014/01/respostas-
argumentos-usados-em-favor-da.html. Acesso em: 7 jul. 2021.
2 Antonio Gramsci (1891–1937) foi um ativista político, jornalista e intelectual italiano, um dos
fundadores do Partido Comunista da Itália.
3 Renato Vargens. Masculinidade em Crise (São José dos Campos: Fiel, 2020).
4 Opinião Critica. “Procuradora que disse que filho não pertence à família critica a Lava Jato”.
Disponível em: https://www.opiniaocritica.com.br/politica/procuradora-que-disse-que-filho-nao-
pertence-a-familia-critica-a-lava-jato/. Acesso em: 7 jul. 2021. 
5 Life Site News. “Germany Jails Eight Christian Fathers for Removing Children from Sex-Ed
Class”. Disponível em: https://www.lifesitenews.com/news/germany-jails-eight-christian-fathers-for-
removing-children-from-sex-ed-cla/. Acesso em: 7 jul. 2021.
6 ZENIT. “Noruega: casal perde a custódia dos filhos por serem ‘muito cristãos’”. Disponível em:
https://pt.zenit.org/articles/noruega-casal-perde-a-custodia-dos-filhos-por-serem-muito-cristaos/.
Acesso em: 7. jul. 2021.
7 Conexão Política. “Família cristã russa se refugia na Polônia após Suécia entregar suas filhas à
família muçulmana libanesa”. Disponível em: https://www.conexaopolitica.com.br/mundo/familia-
crista-russa-se-refugia-na-polonia-apos-suecia-entregar-suas-filhas-a-familia-muculmana-libanesa/.
Acesso em: 7 jul. 2021.
8 Observador. “Filhos do Estado, não!”. Disponível em: https://observador.pt/opiniao/filhos-do-
estado-nao/. Acesso em: 7 jul. 2021.
9 Karl Marx (1818–1883) foi um filósofo e revolucionário socialista alemão. Criou as bases da
doutrina comunista, onde criticou o capitalismo. Sua filosofia exerceu influência em várias áreas do
conhecimento, tais como Sociologia, Política, Direito e Economia.
10 Friedrich Engels (1820–1895) foi um filósofo social e político alemão. Teve papel de destaque no
desenvolvimento do marxismo. Colaborador e amigo de Karl Marx
11 Karl Marx; Friedrich Engels. O Manifesto Comunista.
12 Karl Marx; Friedrich Engels. O Manifesto Comunista.
13 CLAUDIA. “Ser workaholic é péssimo para você mesmo e para todos em volta”. Disponível em:
https://claudia.abril.com.br/carreira/ser-workaholic-e-pessimo-para-voce-mesmo-e-para-todos-em-
volta/. Acesso em: 7 jul. 2021.
14 “Workaholic” é o profissional que não consegue se afastar do trabalho, literalmente. Ele passa
muito tempo, após o expediente, realizando as suas atividades, levando para casa serviço, além de
ocupar o seu tempo livre com as demandas do expediente.
15 Renato Vargens. Sua Família pode ser mais Feliz. (São Paulo: Ágape, 2012).
16 Renato Vargens. Seu Filho pode ser mais Feliz (Editora Scriptura).
17 John Piper. A Maravilhosa Graça na Vida de William Wilberforce (Editora Tempo de Colheita).
18 Lausanne Movement. “The Millenials”. Disponível em:
https://www.lausanne.org/content/lga/2014-11/the-millennials/. Acesso em: 7. jul. 2021.
19 Agência Brasil. “Brasil registra diariamente 233 agressões a crianças e adolescentes”. Disponível
em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2019-12/brasil-registra-diariamente-
233-agressoes-criancas-e-adolescentes/. Acesso em: 7 jul. 2021.
20 De acordo com o site da Igreja Presbiteriana das Águas, “O Catecismo Maior de Westminster foi
produzido por um grupo de 121 teólogos ingleses e escoceses reunidos entre os anos de 1643–1649
na abadia de Westminster, em Londres, Inglaterra. Ele é composto de 196 questões, e expõe o
conteúdo da Confissão de Fé de Westminster, em um sistema de perguntas e respostas. O Catecismo
Maior, junto com a Confissão de Fé e o Breve Catecismo de Westminster compõem símbolos de fé
das igrejas presbiterianas ao redor do mundo”. Disponível em:
https://www.igrejadasaguas.org.br/catecismo-de-maior-westminster/. Acesso em: 7 jul. 2021.
 

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* Nas palavras de Franklin Ferreira em coautoria com Alan Myatt, nas p. 248–249 de sua Teologia
Sistemática (São Paulo: Vida Nova, 2008):
 
“Ao responder às feministas, notamos que tanto o Antigo Testamento quanto o Novo Testamento
usam o gênero masculino quando se referem a Deus. Uma das muitas analogias usadas é a analogia
paterna.69 Isto seria um indício de que Deus é do gênero masculino? Alister McGrath escreve:
 
‘Falar em Deus como pai é dizer que o papel do pai no antigo Israel permite compreendermos melhor
a natureza de Deus. Isso não significa dizer que Deus seja do gênero masculino. Nem a sexualidade
masculina, nem a sexualidade feminina devem ser atribuídas a Deus. Pois a sexualidade é um
atributo que pertence à ordem da criação, sendo inadmissível aceitar uma correspondência direta
entre esse tipo de polaridade (homem/mulher), conforme se observa na criação, e o Deus criador.
 
Na verdade, o Antigo Testamento evita atribuir funções sexuais a Deus, devido à ocorrência de fortes
traços pagãos nesses tipos de associações. Os cultos à fertilidade dos cananeus davam ênfase às
funções sexuais tanto dos deuses quanto das deusas; portanto, o Antigo Testamento recusa-se a
endossar a ideia de que o gênero ou a sexualidade de Deus seja uma questão importante’.
 
Assim, para McGrath, qualquer tentativa de atribuir sexualidade a Deus representa uma volta ao
paganismo. Ele continua: ‘Não há a menor necessidade de trazer de volta as ideias pagãs dos deuses e
deusas para resgatar a noção de que Deus não é nem masculino nem feminino; essas ideias já estão
potencialmente presentes, se não forem negligenciadas, na teologia cristã’.70
 
Na verdade, existem imagens maternais de Deus na Escritura. Deus é revelado como uma mãe-
pássaro (Rt 2.12; Sl 17.8; Mt 23.37), uma mãe-ursa que luta para proteger seus ursinhos (Os 13.8) e
como uma mãe que consola seus filhos (Is 66.13). A presença de imagens paternais e maternais é
evidência que apoia a conclusão de McGrath. Deus transcende as categorias do gênero humano. Não
obstante, em lugar nenhum a Bíblia chama Deus de ‘mãe’. Portanto, o título ‘mãe’ não deve ser
próprio para se falar da pessoa de Deus. Podemos reconhecer a plenitude da riqueza das imagens
bíblicas de Deus, sem ir além da linguagem que a própria Bíblia emprega ao descrevê-lo”. (N. do.
Ed.)
 

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