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pra Sti) USAT DAS LINGUAS TUL Phe LL QRING Tt Titulo original: The History of Languages: An introduction © Tore Janson, 2012 This translation is published by arrangement with Oxford University Press. Esta traducdo é publicada por acordo com a Oxford University Press. Diregao: ‘Anonéia Cusroo1 Capa e diagramacao: Tema Custooo Revisio: Kanna Mora Imagem da capa: _oR.1238F.com CIP-BRASIL. CATALOGAGAO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ J37H Janson, Tore A historia das linguas: uma introdugdo / Tore Janson ; tradugo Marcos Bagno.- 1. ed.- Sd Paulo : Parabola Editorial, 2015, ‘352 p.;23 cm (Linguagem ; 63) ‘Tradugao de:The History of Languages: An Introduction Inclui bibliografiae indice ISBN 978-85-7934-101-4 1. Linguistica - Histéria. 2. Linguagem e linguas. 3. Linguistica histérica. Titulo. Série. 15-19884 D0: 410 cou: 81" Direitos reservados & PARABOLA EDITORIAL Rua Dr. Mario Vicente, 394 - Ipiranga (04270-000 Sao Paulo, SP pax: [11] 5061-9262 | 5061-8075 | fax: [11] 2589-9263, home page: www.parabolaeditorialcom.br ‘e-mail: parabola@parabolaeditorial.com.br ‘Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reprodu= Zida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrénico ou mecbnico, incluindo fotocépia e gravacio) ou arquivada em qualquer sistema ‘ou banco de dados sem permissio da Pardbola Editorial Ltda. ISBN: 978-85-7934-101-4 © da edicdo brasileira: Pardbola Editorial, S40 Paulo, maio de 2015. 192 ‘0 ) Linguas da Europa e do mundo sta parte trata das maiores transformagoes linguisti- ES do mundo durante os tiltimos quinhentos anos. Desdobramentos politicos, migragées em larga escala ¢ macigas trocas de linguas resultaram numa expansio sem paralelo de algumas linguas europeias, as custas de ‘muitissimas linguas menores, Este capitulo narra os principais eventos ¢ suas con- sequéncias. No capitulo 13, mostra-se como e por que sociedades recém-formadas as vezes eriam formas lin- Suisticas proprias. O tema do capitulo 14 € o desapare- cimento de linguas, um processo cada vez mais comum £m nossa época. Juntos, estes capitulos descrevem como 2 Presente situacao linguistica se instalou em grandes partes do mundo. 121. O portugués no Ocidente Em 9 de margo de 1500, uma expedigao naval 7a | Pou do porto de Lisboa. © plano era repetir a faganh | de dois anos antes, quando Vasco da Gama circuna'®* Sou a Africa ¢ aleancou a india. Pedro Alvares Cabral © capitdo, estabeleceu um curso radical para o sudocs® afi de provavelmente evitar : jo atin eae teaaT eae nena Gain gamnonra Vera Cruz. De lato, potém, nha eesaye ne a ilha® Cabral e scus acompanhantes foram os primer ee xine t= l Primeiros euroy oe eo pe no Brasil peus otwgaa dos portugueses& América do Sul no fi ntramene dental. Alguns anos antes, Colombo tinha provado que havia te acide outto lado do Atlantico, © a costa sulamericana fora one sex ariniio ates que Cabal zarpase, de mod qu ce fin desvio naquela direglo para descobrir 0 que poderia haver por li, a dade nd fi © motivo principal. Na verdade, Portugal é adi Gu pernia sobre aqua terra. a Ocident,comant que ea extine ‘© navegador portugués Bartolomeu Dias tinha dobrado o Cabo goa Bsperanca em [488 e Colombo estivera nas Antilhas em 1492 ia coroa espanhola, Os lideres europeus se aperceberam de a andes acontecimentos etavam por vi pois 0 fitro comer ra uma riquda fabulosa e grandes teritériostalvez pudessem ser wemixados. Havia tanto a lucrar que a situago facilmente podria Novamente, é preciso citar 0 caso excepcional ¢ pioneiro do portugués. O rei D. Dinis decretou que a lingua nacional fosse usada oficialmente na corte ¢ recebesse o nome de “portugués, em 1297, muito antes de qualquer outro Estado europeu. Com isso, uma rica literatura em lingua portuguesa surgiu bem antes do periodo colonial. Pode-se citar, por exemplo, o livro Leal conselheir, escrito pelo rei D. Duarte (1433-1438), assim como as narrativas histéricas de Fernao Lopes (que viveu entre 1390 e 1460). (N. T) opunw op @ edouna ep sen3un 21 199 Parte V — A Europa eo mundo 200 ras conquistadas da América, as linguas nacionais europeias tomaram a dianteira desde o principio. Com poucas excecdes, as linguas amerindias foram desprezadas ou reprimidas. Ter uma lingua comum é uma carac- teristica da maioria dos Estados americanos. Atualmente, a populaco do continente americano se aproxima de uum bilho, enquanto a curopeia esta por volta de 750 milhdes. A Europa tem cerca de trinta Estados e quase o mesmo tanto de linguas nacionais, cada uma falada por, no minimo, alguns milhdes de pessoas. O nimero de Estados na América é quase o mesmo (e incluirmos as Antilhas), mas existem s6 trés grandes linguas e apenas sete com mais de alguns milhdes de falantes: espanhol, inglés, portugués, quichua, aimara, guaranie fran- és. Poucas outras linguas gozam de um estatuto oficial: o holandés no Suriname e o haitiano no Haiti, Assim, a Europa tem cerca de trinta linguas nacionais, a América, na pratica, tem trés, com uma populagao maior. Nao é uma expli- cacao suficiente a de que trés paises europeus invadiram a América, pois invasdes ¢ migragdes mais antigas raramente tiveram resultado semelhante. Mas os europeus eram bastante numerosos em relacao aos habitantes originais ¢ estes foram severamente dizimados por doen- gas epidémicas trazidas da Europa, enquanto os europeus se multi- plicaram por meio de uma taxa de reprodugio inabitualmente eleva- da. Além disso, eles ndo desenvolveram novas formas de lingua que se desviassem das linguas originais europeias: isso ocorreu em outros lugares, como veremos, mas quase nada no continente americano. A lingua escrita e as escolas existiram desde 0 inicio ¢ os vinculos com as linguas curopeias eram fortes o bastante para impedir divisdes. Por esses motivos, a situagdo linguistica da América fragmemtago para se tornar muito homogénea. Embora as trés grandes linguas se mantivessem em contato com as Tinguas-maes da Europa, é claro que algumas diferencas se desen- volveram entre o uso americano ¢ 0 europeu, A mais importante delas diz respeito & pronincia, Um estadunidense € um brasileiro nao fala como um portu; dialetais bem moderadas ¢, de fato, mudou de uma grande 140 fala como um inglés, igués. Mas essas so diferengas as variantes nem sempre podem set facilmente classificadas como americanas us, europeias. Por exemplo, na Prontincia padrao do inglés americano, ouve-se um som r no final das palavras como four (“quatro”) e father (: pai”), mas na promincia padrio britanica esse som nao existe. No ent ANt0, © F est presente em varios ~ apa 12.1: artes do mundo onde tréslinguas europeias s3o amplamente usadas. tos das ilhas britanicas, enquanto esta ausente em alguns dialetos Goleste dos Estados Unidos. Também existem, obviamente, algumas di- |ferencas bem marcadas, por exemplo na grafia ¢ no vocabulrio, mas to geral as linguas americanas conservaram sua identidade com suas oe curopeias*. 124, Portugal e o resto do mundo Para Pedro Alvares Cabral, a visita ao Brasil foi de fato s6 um des- vio, pois sua missio principal era estabelecer relagbes comerciais com a india. Ele foi bem-sucedido, ¢ outros seguiram seus pasos. Por todo 0 século XVI os portugueses controlaram os mares desde Gibraltar até a China, viajando entre numerosos portos € entrepostos. 7 Exists, no emtanto, uma diferenga muito marcada entre o portugués brasileiro, © epanholamericano e o inglés dos Estados Unidos ¢ sua relagio com as linguas europess dz origem. A stuagao sociolinguistica do Brasil no periodo colonial fi bem peculiar com felacdo§ dos outros paises nascidos da colonizagio. Muitos pesquisadores conteTPOrsn=os i tm demonstrado que as diferencas entre o portugués brasileiro eo portugués aryPeO T= teredizem fondtca cao lxic, mas se apresentam nos nves mas prfunds, moro tis dositema da lingua, a pono de ser posivelconsiderarquese watade cossAAES tiene. caus principal desea iferengas fio atens contato do portguts So eS crease tis pes sate: ame venga rem = ale __Populagio até o inicio do século XX. (N. T) puns op @ edosng ep sensuyy 21 2 Parte V ~ A Europe eo mundo 202 Em algumas areas, os portugueses também se apossaram de exten- sas faixas de terra ao longo das costas. Trés dessas Areas foram coldnias portuguesas durante muito tempo, mas hoje sdo Estados africanos inde- pendentes: Guiné-Bissau, Angola e Mocambique. Nesses trés paises, a lingua portuguesa ainda tem uma posi¢aio muito forte. Mesmo assim, a situagao é bastante diferente da do Brasil. Nos paises africanos, o por- tugués nunca se tornou a primeira lingua de mais do que uma pequena porcentagem da populagiio, e a maioria das pessoas ainda fala uma das diversas linguas existentes antes da chegada dos portugueses. Os portugueses decerto se comportaram na Africa mais ou menos ‘como na América, mas as condigdes nao cram as mesmas. A populacao foi um fator chave. Havia mais gente na Africa, ao menos com relagio & terra disponivel para a lavoura. Além disso, os afticanos nao sucum- bbiram as epidemias como se deu com os povos americanos, sem diivida porque as doencas da Europa nao eram totalmente novas no continente africano. Nao houve oportunidade para uma nova populaco se multi- plicar rapidamente, Assim, 0 portugués na América se transformou em lingua materna, mas na Africa se tornou uma lingua colonial. Essa lingua é usada pelos agentes de um poder colonial para governar a colénia ¢, frequentemen- te, adquire uma posicio importante nas escolas, na administracao e na economia em geral. Pode conservar essa posic3o mesmo depois que a co- Tonia conquista sua independéncia politica, Nas ex-colnias portuguesas da Africa, 0 portugués ainda é a lingua oficial, a lingua do ensino nas escolas ¢ a principal lingua para contatos internacionais, Na Asia, 0s portugueses nao ocuparam nenhuma grande area, em- bora fosse este 0 primeiro alvo de sua expansio, fortificados ¢ alguns deles permaneceram portugueses até o final do sé- culo XX. Linguisticamente falando, no foram de grande importancia. No entanto, 0 resultado global do periodo de conquistas de Portu- gal foi que, em poucos séculos, 0 Portugués foi transformado, de uma lingua exclusivamente curopeia, falada talvez por um milhao de pessoas, numa das grandes linguas do mundo, lingua materna de pelo menos 220 milles de pessoas. Em termos numétcos, iso é compardvel ao modo como 0 latim se difundiu na Antiguidade e na Idade Média, Entretanto, Portugal fi ap loniais europeias — e nem de longe a mais Adquiriram entrepostos 'enas uma das poténcias Co- bem-sucedida, i | ' | Parte V — A Europa e 0 mundo 204 12.6. O que aconteceu? Quando 0s europeus abriram seu caminho através dos mares rumo outros paises, isso também representou o inicio de grandes reveses no destino das linguas do mundo. Hoje. quinhentos anos depois. esta muito claro que aquelas viagens além-mar marearam o principio do fim para todas as muitas linguas pequenas e o ponto de partida para a era das grandes linguas, Antes da agricultura — até cerca de dez mil anos atris —, as Pessoas viviam em grupos bem pequenos. ¢ poucas linguas ‘para nio dizer nenhuma) eram faladas por mais de alguns milhares de pessoas. Através de uma série de eventos parcialmente recapitulados neste li- vro. grandes linguas surgiram em conjungio com grandes unidades politicas em partes da Europa, Africa ¢ Asia. A América ¢ a Austral nao foram submetidas a esse desenvolvimento; mas nos iiltimos sécu- tos. os europeus transferiram sua agricultura, parte de sua populagio € algumas de suas linguas para aquelas partes do mundo. As pequenas Tinguas originais desapareceram ou estio desaparecendo, ¢ algumas linguas europeias se tornaram extremamente grandes. mameros de falantes. Nos tiltimos cinco séculos tem havido um acclerado crescimento da populaco mundial. Isso é determinante sob varios aspectos. Signi fica. entre outras coisas, que praticamente todas falantes. As excegdes sio principalmente comunidades de coletores © cacadores. Ni pulaco nao significou em si mesmo uma s linguas: ela foi provocada pelas invasdes, Meio milénio atris, havia Sevcnsde wetenta teller tit ca Scio w cen tn tic linguas Principais. Hoje so 750 milhées, mas as linguas principais so tantas quanto cram antes; de fato, sio praticamente as mesmas, No continent€ americano, a populagao cresceu em ritmo semelhante, de cerca de cin- uenta milhdes para quase um bilho, Mas havia mil nguas ou mais bi quinhentos anos ¢ hoje sio trés as maiores, Contudo, ia em termos de Sas linguas ganharam Pequenas linguas usadas por ‘0 entanto, 0 aumento da po- mudanga da proporgio entre tissimo tempo. Muitas das pequenas lin, do norte cederam lugar a grandes lingu: até alguns milhoes de falantes. Lingu: iguas da Asia, Europa ¢ Attica 'as com centenas de milhares OU ‘as com muitissimos falantes, ce ges ou mais, sio um fenémeno relativamente recente, © chings fer Outras que atingiram esse eas densamente povoadas, , Oulrora muito difundido; © inglés, o espanhol, o por- wu esse nivel varios séculos atras, As ae sio: algumas linguas asidticas de r amar sto: alg fare vy o hindi, o bengali c 0 japonés; o érabe no ncinanie “ .guas de expansio mais recentes como e lin gs € 0 FUSS. ‘v8 principal tendéncia, Portanto, durante o iltimo milénio, foi a de algumas linguas se tornarem muito grandes, re : enquanto as pequenas de- ciam, Essa tendéncia prossegue, ¢ voltaremos a ela. Antes, porém, saparecia um capitulo sobre como novas linguas foram criadas, inclusive nos temo iltimos séculos. puns op @ edosng ep sendurr zt 205

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