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Retr Winter Const etre! SZ niversidade de Brasitia tea bra oun rue uae Five lena has "ola Costa ach gehen noun ‘ars oor era Sate Judith Butler Gayatri Chakravorty Spivak Quem canta o Estado-nacao? Lingua, politica, pertencimento ‘Trad: Vanderlei J. Zacchi Sandra Goulart Almeida Un a aap tol pate srvse oath Patt oa Aen Cxto game nm Man ou ype Seaplane ‘eens arma ts by ‘apis 207 edeto-208 Sigs te Teno (8) 0354200 peltertepedete mamate seeped pe ‘Sateen our pr ett. went ae PREFACIO Cantar a nasao, encenar a teoria critica andere. Zacchi UES) Sandra Goulart Ameide (UFMG) [No dia 14 de julho de 2015, na abertura do XI Con- ‘e530 Brasileiro de Linguistica Aplicada, em Campo Grande, ‘Mato Grosso do Sul, um indio Terena canta ohino nacional brasileiro ma sua prépria lingua, também chamada Terena. Em alguns aspector, esa & uma stuagio semelhante a que aconteceu em Los Angeles, Estados Unidos da América, em 2006. Residentesilegas foram as ruas exigit diteitos «na ocasido, hino nacional estadunidense foi cantado em espanhol. Sera que, como afirmou o presidente George W. Bush na época, o hino nacional #6 podera ser cantado em inglés? Sera caso também de afrmar que nosso hino 6 poderia ser cantado em portugués? Poderiamos ainda indagar, como o faz apropriadamente Judith Butler a quem pertencem esses hinos? ‘Prt Vanes Zc Sada Goat Almeida No caso brasileiro, pode-se dizer que se trata de uma questio identitira e de pertencimento, ji que as populagdes indigenas tém, a0 menos em tse, seus direitos garantidos pélaConstiuigto do pats. A questio do pertencimento é fun damental: nio apenas se pode perguntara quem pertence 0 ‘nino nacional, mas também a quem pertencem, ou perten- lam, asters onde hoje ae situa o Brasil hino nacional ‘€um forte simboto da invasdo europeia e do apagamento das dentidades indigenas no pais. Canto na lingua Tere significa aproprst-se dele, airmando a0 mesino tempo lo sem confitos,é preciso destacar uma identidade nacional ‘eum pertencimento étnico. ‘No caso dos manifestantes em Los Angeles, a se configura de maneira distinta, pois envolve residentes ilegais, destitutdos, portanto, de um pertencimento a um. ‘estado ede uma identidade nacional reconhecida, Cantar o Jhinoestadunidense em espanol implica uma tevindicagio ‘uma cidadania, sem negar aidentidade de origem desses rmanifestants, i que so provavelmente oriundos de paises ‘uj lingua oficial éo espanol. Mais que isso, nko se trata apenas de reivindicar um direto, nicativa comum a qual- ‘quer cidado, mas de também explicitare dar vsibildade Quem cant tate aes? 4 situago daqueles que nto tém direitos. Seria possvel, ‘enti, revindicaroditeito aos dicetos? Quem pode cantar ‘se apropriar do hino que representa emblematicamente 0 Bstade-nacto? partir dequestionamentos como esses, Judith Butler « Gayatri Chakravorty Spivak tecem pertinentes considera: tesa respeito da situagdo, nos das de hoe, dos sem-estado, ‘pessoas que por véras aates foram forcadas a deixar seus paises para viver em outras terras em que pudessem obter o status de idadios, Ae autoras,ambas residentes nos Estados Unidos, sto consideradas dols dos nomes mais representati- vos influentes no campo dos estudositeriiasecriticos na contemporaneidade. A flésofa estadunidense Judith Butler atua como professora de retircae literatura comparada na Universidade da California em Berkeley, tendo se destacado ‘em especial por sua teoria critica que questiona as cons- trupes discursivas ¢ os concetos padronizados de género, construindo uma reflexdo em torno da performatividade + dogénero, A indiana Gayatri Chalravorty Spivak, radicada ‘nos Estados Unidos, éprofesora deliteratura comparada na Universidade de Columbia ereconhecida por seus trabalhos sobre osubalterno e sua impossbilidade de falar diante do Prt Vandal Zac Sa Goat Anda silenciamento e da falta de escutaaos quaso subalterno, em ‘especial a mulher como subaltera, est sueito Apesar de ambas as autoras se ancorarem nos estudos Iiterdrios, o trabalho desenvolvido tanto por Butler quanto por Spivak, no entantoextrapoa o campo dscplinar ao qual esto geralmente asociadase tem impacto diretoem vias reas do conbecimento.Por tris da anslive critica minuclons seo cuidado comalinguagem eo discurso que maldamm nio apenas nossos « vibrante que ambas desenvolvem, enco pensamentos, mas principalmentenoseas concep ¢ coms ‘trupées de mundo. Ni ésurpreendente, portanto, que suas rimeias falas nest livvo seam para destac a linguagem e da visada sempre critica: “Por que estamos abordando literatura comparada e stad globais juntos? (© queos estudiosos da literatura esti fazendo com os Esta- os globais? Somes, obviamente, pegs peas plavras (Quem canta Estado. nagao? apresenta uma anslize rele portincia vante de questbes contemporineas que aflgem pessoas em todo © mundo, como as nogdes de cidadania,identidade, pertencimento e exli. Guerra cvise étnicas, contitos hhumanos e militares, fome, pobreza, desastres naturais sto ‘rias as causas das migracdes em massa no século atval, Quem ante Eado apt? cujas consequénciasgeram intensos confltos nas regiGes ‘envolvdas enaquelas que recebem refugiados eimigeantes, legal ou ilegalmente. Nos das de hoje, a Europa em especial uma dessa egides «temos testemunhado com muita fre- ‘quéncia 0s confitos envolvendo multidées de vfugiados © _migrantestentando entrar naquele continente, Toda e288 ‘movimentacio, em escala global, tem contribuide também para o esmaecimento das frontaras nacionalse para odes taque do carder transitério desss fronteiras. MigragSes em ‘massa geram um processo de desteritorilizacio e reterr- torializagto que tem forte influéncia sobre as dentidades de todos os envolvides, tanto dos imigrantes quanto dos que os recebem, O que temos visto recentemente, em multos casos, 6 uma reagio a este processo de mobilidade na tentativa de restabelecerefortalecer as fronteras nacionais em termos de uma narrativa conservadora de forte cunho nacionalsta, (© Brasil, embora em menor escala, também ests entre ot Aestinos desses migrantes eas politcas adotadas em relacio a cles tém varado de acordo com as mudancas de governo ocor "ides nos limos tempos. Além das, hd o caso, ni exclusiva do Basi, dos indigenase outras minorias, como quilombo Jase sem terra, marcados por narrativasdistintas daquelas Proc» Vande J Zaccie Sandra Gola Alneila dos imigrantes, masque, em menor ou maior ra, também se inscrevem na categoria dos “destituidos’, para usar um termo recorrente neste livre. Nesse cao, a performatividade da reivindiacto por nnacdo,expondo também suas fronteitasinternas movedicas os rocessoshistéricos de confites soins, um movimento reitosacontece no interior da prépria ‘que se di, portanto, no eixo tant espacal quanto temporal Neste lio, que segue o génera de entrevista para dar As autora a possibilidade de refltirem livremente sobre os ‘temas relacionados 20 Estado-nagio, a cidadania mento, Butler e Spivak dialogam com outros pensadores, como Hannah Arendt ~e suas reflexdes sobre o estado total trio 0 Bstade-nagao—e outros estudiosos mais contempo- ineos, como Giorgio Agamben, que explora conceitos como, 12 de homo sacer. Para ofilésofo italiano, emborao homo sacer sj considerado sacro, “no é lito earifit-lo, mas quem #0 mata no serd condenado por homicdio” (2010, p. 186) (© homem sacro, na verdade,¢ineaerificivel, pois no passa pelos rituats de execusdo; assim, ests fora tant da direito Ihumano quanto do divin, Sua inteiraexisténca¢reduzida a0 ‘que Agamben chama de “vida mia’, despojada de todo dirito, Como resultado, ele e encontra “em perene relago com 0 Quem cant Eta aco? poder que o bani, [Je deve aada momento ajusta contas comeste, encontrar 0 modo de esquivélo ou de engans-lo" (2010, p.178) Agamben sebaselaem experincia radia de Aesttuizdoeexilio como as promovias plo nazismo durante Segunda Guerra Mundial, Seria ese o caso dos resdentes ‘Teais de Los Angeles? Butler entende que nem ateorzasio de Agamben nem a de Arendt sto suficientes para explorar essa questio e que, portanto 2 linguagem" necessila para sso ainda ests por ser desenvolvida, Se, como afima Gramsc, sempre que “flora, de um ‘modo ou de outro, a questao da lingua, isto significa que uma série de outros problemas esta se impondo” (2002, . 148), ¢sintomaico que um grupo de imigrantes sepsis chame a atengio para lingua em que o ino nacional écan- tado, Como discutem as autoras do lio, vincular 6 hino a uma determinada lingua 6 resting anacio a uma maloria Linguistica e fazer com que o so dessa lingua majoritéria setorne o citério para o controle ea decsio sobre quem pertence ou nfo aquela nago, [ssa relagdo da linguagem com o pertencimento a uma nagio é uma questio com muitas implicagdes em varios palaes, em especial nos Estados Unidos. Embora o inglés Proc Vandel J acti Sandra Goulart Alelda soja lingua da maiora,e também dos grapos dominantes, ‘ono pais uma lingua oficial. Diversos grupos ¢ movi ‘mentos tem defendide a institu do inglés como lingua oficial dos Estados Unidos, o que se tornou conhecido como Englsh-only movement. As justificaivas para essa medida variam desde questbes econdmicas, como corta gastos of lais com tradugio, até questbes poiticas, como promover a _unidade do pats em torne de uma lingua principal. Como con- sequlncia, obviamente, todos os seus habitantes deveriam ser profcientes em inglés. Iso poderia se tornar umn fator ‘excludente, intensifcando a nogio da lingua como ctério 4e controle, é que o espanhol tem ma presenga também muito marcante no pale ses sio aspectos que tornam ainda mais signifiativa ‘eplsbdio dohino dos Estados Unidos cantado em espanol [No entanto, ato dos imigrantes ilegais implica uma trans- sgressdo que nao selimita a uma questiolinguistca, Ocupar as ruas para protesta,exigr seus dieltos¢ cantar @ ino um ato transgressive tanto quanto, pols é uma ocupagso que se assemelha a uma priticainterpretativa: "0 valor cul- tural do mesmo escrito ou da mesma rua vara segundo a utlizapio que se faz dels’, afirma Certea (1995, p. 248) Quem ante Betas? Estamos diante do que Butler chama de contradicto per- formativa. Bssas pessoas, residents ilegais de acorda com. A ei, embora proibidas de se reunirem, fazem-no mesmo assim, expondo a rua como um local de live congregasio, Assim, 0 ato de cantar ohino, continua Butler, nao apenas denota expresso de Hberdade como também reencena arua 0 decretar aliberdade de congregagio numa stuacio expli- citamente proibida pela lei, Spivak, por sua ver, lama para ‘que uma critica persstentee permanentemente vigilante ~ como ela menciona em outros textos ~eteja sempre atuando ‘para que se questionem nordes que, de outa forma, seriam consideradas naturalzadas e normatizadas, ‘Aconversa critica entre ersas dus tericas instigantes termina com um questionamento que nos leva de volta x0 {inci depois de uma viagem reflexiva por elas conduida, com "a promessa do irrealizivel um movimento duplo que sponta para uma promessa e uma possibilidade ~talvez por ‘melo de uma outra “linguagem’ -, 20 mesmo tempo em que ‘nos mostra a difculdade de ida com temas ti expinhosos ecomtroversos ers umn momento no menos complex. 3 ‘rfc Vander J Zach Sara Goulart lela EPERENCIAS AGAMBEN, Giorglo. Homo sacer: poder soberano ea vida rua I, Tradupdo de Henrique Burigo 2. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010. (CERTEAU, Michel de. A cultura no plural. Trad de Enid Abreu Dobransshy. Campinas: Papirus, 1995, (GRAMSCI, Antonio, Notas para uma introdusio a0 estado da gramética. In: GRAMSCI, Antonio. Cadernos do circere ‘Traduydo de Carlos N. Coutinho e Luis S. Henriques. Rio de Janeiro: Civilizago Brasileira, 2002. v6. p, 139-150, Por que estamos abordande literatura comparada eestados globais juntos? O que os estudiosos 4a literatura estdo fazendo com os estados globals? Somos, obviamente, pegos pelas palavras, Em que estado estamos ara fazer essas perguntas sobre 2 estados glbais? Ba quais estados nos referimos? Os estados sto locas de poder, mas ro so tudo 0 que a em termos de poder. O estado nto & sempre o Estado-nagio. Temos, por exemple, estadoe mio nacionaistemos estados de seguranca que contstam a base nacional do estado, Ent, de sada, o trmo estado pode ser issocado do termo “nagio"¢o dos podem ser aglutinados com a ajuda de um hifen; mas que papel bifen desempe nha? Serd que oifendissimula uma relagio que precisa ser ‘exposta?Serd que ele marca a existéncia de uma fusto que se deuhistoricamente? Sera que ele sugere uma fabilidade ‘no corarao da vlagso? (estado em que estamos quando fazemos essa pergunta pode ow ndo tera ver com o estado em que estamos. Assim, *Optamos port editing ete "Eos eds par manter a bbigudade do tert em ings qu por vere se term para so "eferiforma de govero oa 20 ree oli (Esta), po ours, dln cere mse ample, oo aia en ie se encntn ‘geo lpsem em determinada moments estas). (8) uh Baler Gaya Chaar Spivak como entendemos aqueles conjuntos de condigs ¢dispo- sigdesquejustificam o “estado em que estamos" (que, afinal de comtas, poderia ser um estada de espiito) a partir do “estado” em que estamos quando (ese) possums direitos de cdadania ou quando o estado funciona como wm dom- tilio provisorio para 0 nosso trabalho? Se nos detivermos ‘um instante no significado de “estados” como as “condicdes ‘em que nos encontramos", entdo parece que 0s referimos 0 préprio momento da escrita ou talves até a uma certa condigao de estarmos irrtados ou indispostos: em que tipo de estado estamos quando comecames a pensar no estado? © estado diz respeito a estruturas legais¢institucio- nais que delimitam certo terrtério (embora nem todas ‘essas estruturas pertengam a0 aparato do estado). Assim, do estado, espera-se que fornega a matriz que estabelece as ‘obrigagdes eprerrogativas da cidadania isso que configura a condigdes sob as quis estamos juridicamente atrelados, Podemos esperar, 20 mens minimamente, que o estado pressuponha modos de pertencimenta juridico, mas é que ‘estado pode ser preisamente aquilo que suspende e eli- ‘mina obrigacbes e modos de protesfo legal, oestado pode nos dear, a alguns de nds, num estado um tanto complicad, een emo stators? Podesignfcara font do no pertencimentoeatéestabelecer ese no petencimento como um ertado quae permanente. (O estado entio nos dea, com cortex, indxpostos, sonia] nada ‘menos ques completa desttuigdo do humano como tal. Essa uma nogio de desttuigdo sem recurso a quaisquer direitos ao ivel ds matureza claro que ela est certa,mas:na minha (oem ato Batata? Visto ela leva a hipatese do estado de natureza em Rousseau ‘em outros muito a série, quero dizer, muito literalmente, Acho que existem maneiras de enxerga a hipétese do estado de natureza como uma espéie de fio que proporciona uma perspectiva de uma dada sociedad, talvez atéaperspectiva ‘pela qual uma critica Aquelasociedade possa ser elaborada, [Nio tenho certeza se Rousseau, por exemplo, lguma vee pen ‘sou que sew estado de naturezatvesse existido ou devesse ter enistido. Afinal de contas, ele s6¢ colocado em pritica quando "colocamos os fatos de lado”. relevante a deta de que Rousseau no ocloca em nenhum espacoou tempo, 00 coloca em tantos lugares e tempos que fica impossvel pensar ‘em termos de coordenadas temporaise espacial estaveis. Entdo, pode ser que Arendt tome a dela muito literalmente, ‘epode ser tambéin que ela tena de faz@-lo porque no est analisando apenas a posigo intelectual associadaAhipotese lo estado de natureza, mas, defato,o efeto ea traetriahis- {rica desea doutrina quando evocads, quando as pessoas S10 Aeportadas e/ou perdem seus direitos ou so despejadas de suas cists ou mantidas como cidadas de segunda classe, vul> nerfveis ao poder do estado esem acessoa quaisquer direitos ‘ou beneficios que constitam as prerogativas da cidadania adh Bere Gaye Chakra Spa ‘De certa forma, el est intereseada no problema dodiscurso dos direitos do homem em aio, se ele tem sido efcas, se alguma ver realmente protegeualguém, [No ensalo“Decinio do Bstado-nagioeofim dos direitos do homem’, Arendt conclu que esse um diccurso aco. Voce ‘nfopode enunciso. Ese voce pudesse enunci-o, sua enun- ‘ago no poderia ser eficaz. Por isso a vos que predomina 1a primeira parte do ensalo é sardonic, cética,desiludida. ‘Mas na segunda metade do ensalo, Arendt emprega um tom declarative. Ela efetivamente redelaa os direitos do hornem ‘tenta aventurar-se por um discurso que ela acha que ser poltcamenteeficaz.O texto¢ tantoumacftica e desl) 20 Aiscursoineficaz~ i doutrna dos direitos dohomem quanto 1uma nova decarario dos direitos do homem. Ela diz multas coisas interessantes sobre o que ela acha que os humanos necessitam para sobreviver em sa humanidade. Fla diz que hh drettos dese terum larehé um dirito aos direitos — uma formulagio muito interessante, uma vee que esse primeira Aireito nao pode estar fundamentado em nenhum governo ou Insti social estabeleida no ¢ um diritopoitvo nese sentido, arece que a também direitos ao pertencimento, i direitos a uma textura socal da vida, (ur cata stared? sin como na uct abe xr enclonada acterormene ou deve aver, um dito bedade lend rte mas dvr xtc eer preset um dv mein elas quis dit instanced eco. aad declara” oar un moment etre go. tans gue ee to ppriaberdae de exesno oe dleimerpelo. sds Coe anor berdade Alter adeno pode presi a cs camo (uma das ates pdas uals fracas apo a estado da natures) mas pode ‘sire an ecko. Appia deals easton verdes berdade,mesuand que ea bere ¢ cu pode ser Sexe nec ovate ator hit Nocnano, Arndt mum poblema sional que sla querseapegera nots depertencinens lar £1951 Bis hava do deorada das vers, d Aleman Pas agra sth em Nova York. Ba chegou algun agar ee crpregaa. sae, dos mes ue nto one tam, gue olor receber x vtos como seu amie enjanin Meso sai, nt bi neu ago NUobL qualquer testemunbo peso, um momento sequr de testemunk psa no teat todo Tales evo devesse ‘estar surpresa. Hla a6 coloca uma questo: existem modos dit Bure Gaya harvey Spt depeteocnantn qu yosen srHgpesreene ral nals? Aco qu et eve er aso, pola rien 20 raconalismo¢ estan profnda een sim la qu mate ese drt ao pertenciment, pelo menos nee tio ar pnaument,O gue pderia er eve to to perenciments? Sua era so Bodo art come uma mld nsdn to sbrangnt «ela com cre quer tm estado de drt basedoem certos ios de los bumanos Stead nls ou exercendo-os?) que governe ua omunidae ples egress "eomuniade poli’ exatamente aerate ao Estado alnda uebaveada na dadeentado aca. Masui cla que nos parece dara gut ela do quer que aqul entado de Aires ea dll por uma nats um grup coal ta melora nacional af memo una noi acon Seocotado que ela quer mesmo um Estado nate seria tm Estadofierigoroeamene opto 1 naconlleme dena forma, um Bada que precise andar como tal: Para qua comunidade que quer € ot modo de perencmento ace qa favor tena gum spar nate equ tsp gee mnentento nalnalta. lao nod oque des pera vem amo Beton? ser, mas acho que ela coloca esta quest2o: como seriam os 1moddos de pertencimento no nacionalistas? Nao estou certa de que aa eativesse descrevendo a realidade como ela 6, mas sm fazendo uso da inguagem para evoca,inctare slicitar vam futuro diferente ‘Vou ler para voce s6 mals duas de suas tages. Bla tem opinides fortes sobre a situardo dos sem-estado, 0 que tor. ‘nou sua politica quase incompreensivel em 1951, e também antes, em 1944 e 1948, quando crtiou as primelras formas de sionismo politico a fundagio do estado de Israel com, base na identidade nacional eelgiosaa qual, obviamente, la considerouilegitima, la escreve Anosto de que o problema do apstrida™ er _primariamente jude fi um pretextousado ‘or todos os governoe que tentavam resol- ‘yer o problema ignorando- Nenfum dos estaditas se apercebia de que a solugio de Hitler par o problem jadsico~primeir, reduit ox jade lemes ama minors nfo apt bo ean aad plo adr de Arndt pra reer ttl, Optmos plo ters semen” nest io pores ‘epri, polcament ldo, ao tem o mesmo peo da dea do] fetado UT) st Jud Bure Gaya Chloe Sak 2 -econhecida na Aleman; depois, epultlos como aptridas, Snalments,reagrapo emtodos os lugares em que pasassem a et dirpara evils aos campos de exerminio ~ era uma eloguente demonstraio parso resto do mundo de como realmente iqu Aa" todos os problemas relatives is moras ‘apitrdas, Depois da guerra, vu-se que a ‘quest judas, consierada a Una ingo- ‘vel fl realmenteeslvida por meio de um tert eoloninad e depois conqeitado = sat iso no resale o problema gral das ‘minorias nem dos apitidas. Plo contri, como em vtualmente todos os outros evn tos de nosso seul eas uma ver, 61951), a solugio da questiojudaiea meramente produziu uma nova categoria de efuglads, te dabes, crecentando cerca de 700 mil 800 mi peesoa ao mero dos que mt tim Estado nem distr. [ voct vai se interessar por esta passogem, Gayate: Bo que aconteceu na Palestina, em tersité- Ho manor eem termot de poucs centenae de hares de pessoas, foi epetido depois anda em larg eels, envaivendo mito rues Jehoment, Desde o watads de par ue cata etdomate? 41919 61920, os efuglados os apteidar ‘ttm se apegce como uma malo a todos (8 Betadosractrmettabeleridos, criados & sagem do Estado-nagao™ ‘sp1vax, Eu anotei uma pergunta nas margens desc texto: fo que ela quer dizer exataments? O que aconteceu na Palestina com centenas de milhares de pessoas repetiu-se na india envolvendo muitos millses? ‘questao do que eu. Mas imagino que ela esteja se reerindo 06 movimentos populacionais que aconteceram como con- sequéncia das independénclas Bem, voctesté bem mais apta a esclarecer essa ‘SPIVAK. Aparticio? orien, Pode sr. SPIVAK. Continue "ARENDT, Hannah. Origen do ttle, Tete de Roberto Raposo, Sto Paso: Compania das Letra, 1989p. 525, Jude Baer Gaya Charaorty Sak BOTLER. Faia comegar Ihe falar sobre as les de proprie dade que foram aprovadas em lerael de 1948 a 1953 e que insitucionalisaram alguns furtos de propriedade em nome de uma lel administrativa, maslsto va ter que aguardar outa cocatso,Poucas pessoas querem de fato ouvir sobre so, Mas, Finalmente, aqui vac vé que Arendt na verdade entende que ‘0 Eatado-nac inclu a condo dos que esto sem-estado. Cero Betado-nasi0. ‘que ela fosse se contrapor critica dos sem-estado com um ter os sentestadoVoct poderia esperar pelo presenea do estado, masndo ¢ bem iso que acontece, Anal de contas, o ensaio se refere 20" do Bstado-nagio" B éo quecla est delarando, em certo sentido. Outraspala- ‘vas aparecem para tomar seu lugar, is wezes“Tederagio" as vezes “comunidade politica’ O ato de declarar nto faz ‘com que isso acontega, mas faz parte do process discursivo de comoyar algo novo; é uma indue20, uma initagdo, uma soleitapo, Se seu dscurso seré eficaz ou nio ¢ 0 que tem _gerado algumas apostas,Ent8o, por in, quero refletie sobre ‘odiscurto eficar como, em certos tipos de dscursopalitco, assergbes¢ declaragbesconstituem certo tipo de aposta Isso tem um efeito sobre os pronomes que Arendt usa la alega que eos sres humanos podem agir juntos ~ algo, ‘Quem canta Bato mc? {que ela teoriza no contexto da revolugao ~, iso #6 pode acontecer se agirem juntos como um “nés' Ede fato, seh algum agenclamento que éefeivo, 26 pode sero agencia- ‘mento do nds". Pode-se entender que texto tena efetuado 2 transformagio do “eu” para o "n6s", uma transformagio ‘que certamente nfo & suficiente como aio efcaz, mas que preenche uma de suas condigSes minima, la escreve, porexemplo, que nossa vida politic basela- -se na suposio de que podemos prodirigualdade através a onganizagio, porque o homem pode agir sobre o mundo ‘comum emudé-loe construe juntamente com os seus gua, ‘somente com seus iguas"” Entdo "homem’ aqui nao éum_ individu mas uma seu de todos ede igualade, «ana as stages so pré-condicbes para a mudanga eparaa cons- trugto de todos pos de agenciamento. Ese ess assim cha- ‘mado homem 0 tipo deser que pode agi, mudareconstruit alge apenas com seus iguais,ento suas aches individuals serio boas somente quando, ese, condigbes de gualdadeforem ins ‘itudas, Bn outras paras sa ago individual deve er uma ago qu ej, acima de tudo, uma agio que procuteinstituiea © ARENDT, Hannah. Ovgens do etaltareme,Taducte de Roberts apo. Sk aula Compe dae Leta, 1962». 535 uct lore Gaya Chakrvorty Sak ‘gualdade de forma que possa se tornar uma aro plural ter, assim, uma chance dese tornarpoliticamenteefca. Essa nogto de homem nao define aspectose proprie- dades apriori de um individu, mas, na verdade, designa uma relagio de igualdade entre seres. B uma espécie de reivindleagto ontolégica a0 mesmo tempo em que constitu ‘uma arpirario politica (como ontolégica, nio ¢ pela razio langada), Para lhe dara compreensio de como poderfamos funcionar como reivinicadores da igualdade ou da condigio 4e igualdade, vou me voltar, por um instante, para ohino nacional dos stados Unidos cantado em espankol Peo des- calpas se estiver me estendendo, pois voct, sem dvida, tem muitas coisas pata dizer, pelo menos é 0 que espero. ‘SPIVAK. Pode se estender 0 quanto quiser. BUTLER, Nos ultimos anos, a perspectiva de dicitosresi- <éncia legal e, em sltima instancia, a cidadania tem sido ebatida no Congresso dos Estados Unidos, ¢ repetidas _venestemos a impressio de que uma propostaesténa im néncia de seraprovada. Na primeira metade de 2006, mani- festagBes de rua por parte de residentesiegasirromperam Quem cane Bade ses? em vias cldades da Calfria, mas mals dastiamente sa regito de Los Angeles. hina nacional dot Estados ‘Unidos fl cantado em epanhol asim come ohne do Mexico. Aemerginca do “nuestro hymno” introduin 0 interesante problema da plraidade da ago do “os” € do “nos”: quem ete hin pertencet Se Hsermos & pergunta:o que consti um modo de pertencimento no clonalsta ouconranaconalis?, nto teemoe de falar sobre otlegt,ecspero que Gayatel ofa. Adecaaco _ lo apenas relvindic © hino, «assim fz reivindicas08e “com eae a diets depose, mas tamblm a modos de ppertencimento, pois quem esti incluide nesse nds"? Afinal, ‘cm espankl om certera onde" que canta: ‘causa alguma coisa 3s nossas nogbes de nagdo eas nossas nogdes de igualdade, Nao se trata apenas do fato de que -muitas pessoas cantaram juntas ~0 que é verdade ~, mas também de que cantar é um ato plural, uma articulagdo 4de pluralidade. Se, como afirmou Bush na época, © hino nacional s6 pode ser cantado em inglés, entio a nagio est 1 Again cores em enna nna, Agute nas pssgens segues, ‘ptames por manter at ctage em ean tl wap tertoem ing) Jude Barer Gaya Chaeaory Spa | daramente restrita 2 uma maioralingustica,¢a lingua se ‘toma uma das maneiras de fazer valer um controle baseado ‘em critéros de quem tem dreto a pertencimento ou ndo, | Nas palavras de Arendt, esse seriao momento em que uma ‘maloria nacional procura defini a nage de acordo com seus _proprios parimetrose até mesmo cria ou poliia normas de exclusio para decidir quem pode exercer a iberdade, ‘que esse exerccio depende de certos atos de linguagem, [Nao se trata apenas de um problema de inclusto de uma idea jd existente de nado, mas de igualdade, sem a qualo “ndo" nfo ¢ pronuncidvel. Bt, quando lemos nos muros ‘cartazes a favor da legalizagio de imigrantesilga somos a América’, eouvimos imigrantes legals declararem née nas ruas “il pueblo unido jamés sera vencido”, poems ras ‘tear 0s termos retéricos por meio dos quais « nagao est reiterada, mas de maneiras no autorizadas ~ ou pelo Serre neat dead certeza vern &tona na recusa de se ouvir ohino cantado em) cespanhol, mas nfo torna o hino menos cantivel nesta ou ‘em qualquer outra lingua. E claro que se pode suspeitar de tudo isso. Afinal de contas, nio se trata simplesmente da expressio de um novo se (Quem canta sada? nacional? Sera que é um nacionalismo suspeite, ou ser “que ele defatofratura “née” de tal forma que ndo poess ser apropriado por nenhum nacionalismo em particlar com base nessa fratura? ssa é uma questio em abertoparaaqual nto ‘tenho uma resposta, No melo dessehino nacional, wvimos as palavras “somos equales: somos iguas.# preciso parar € refletir:seré que esse ato de fala ~ que nto apenas decara audaciosamente a igualdade do nés, mas também exige uma traduglo a ser compreendlida~ ndoinstaura a tarefa da tradocdo no corago da nado? Uma certadistincia ou fissura tornz sea condicio de possbilidade da igualdade, o que quer dizer que a igualdade nio ¢ uma questio de se estender ou amplificar a homogeneidade da nact.E dato questo poderia, ser nada mais que um pluralismo que, como sabemes,rins- ‘aura & homogeneldade somente depots que uma pequena complexidade ¢inclulda no conjunto, Mas e considerarmos {sso tanto um ato plural quanto um discurso em traduelo, centdo me parece que testertunhamos pelo menos duas con- Aigbes que operam no apenas na afrmagio da igualdade, ‘mas também no eneticio da liberdade, Tanto as ontologias do individualismo bral quanto as ideas de uma lingua em ‘comum sio confiscadas em favor de uma coletividade que Jud Baler Gayats Chaser Spivak ‘pass aexercer ua Mberdade em uma lingua ou conjunto de Unga para as qualsdiferencae tradusio si iredutives Gostarla de sugerir que nem Agamben nem Arendt podem de fatoteoriar sobre esse ato particular do cantare (que ainda temos de desenvolverlinguager que precisamos _par tal so enwoeria amb epensar certs nos de "democraciasensat, de aticulaghoestéticana efera pol sica€0 que se chama de ‘piblico’. ‘Certamente, ess cantar acontece na ua, mas arua também ‘std exposta como um lugar onde aqueles que nfo si livres ‘para se reunir podem fan#Lolivemente, Na minha opiniao, ‘6 exatamente esse o tipo de contradiao performativa que ‘onduz no ao impasse, mas a formas de insurgéncia, pois a ‘questo fo simplesmentestuar a misica na rua mas por ‘a rua como o local para lie congregarso. Nese estigio, 2 msica pode ser entendida nao apenas como a expressio da Tiberdade ou oansto pela emancipassoemborasja,eviden- ‘temente, amas as coisas, mas também como areconfigura «oda rua com paleo, encenando a iberdade de congregasio cexatamente onde, e quando, ela ¢expliitamenteprobida por lei, see 6 um tipo de politica performativa com certeza, na ‘qual fazer a reivindicago para se tornar egal é exatamente ea ea relagdo ent @ Quemeaneo Baad? ‘que éiegal, ela € feita mesmo assim e exatamente como sum desfio Ie pela qual se exge o reconhecimento, Deveros coneluir que aqueles que reivindicam isso, que exercem esses direitos, que exigem e comecam a estabelecer as condigSes para certo tipo de reconhecimento que depenile da igualdade estdo agindo inutilmente ou no podem ser autorizadoe ou no podem ser veconhecidos? Ou devemos rnotar que, embora ndo tenham nenhum direito por let de se reunir pacficamente, pois esse é um dos direitos que _gostariam de ter como cidadios, eles o fazer mesmoassim? les nfo tém nenhurm dretoiberdade de expresso pore, embora estejam falando ivemente, exatamente para exgiro Alieito de se expressa ivremente. Bes esto exerendo esses direitos, que nto quer dizer que os cbterdo™ A demanda momento incipient da revindcaio de dito, su ne cleo, mas nem "goa poemos omar valumbrare que Arend ater dizer quando fala sobre o direito aos direitos. Esse primeiro dieito nunca seria autorizado por qualquer estado, mesmo que foste uma petit para autorizacio.O segundo conjunto de ditito eto of direitos que seriam autorizados poralguma cexpécie de norma jurdica. Mas me parece que o dreito aos eco possi poder de a Jude Bere Gyate Chabaory Sake iets, com énfaseno pret, anda nfo ext garantido por 1ei,mas tampouco “natural”, Exclu de toda lgaidade ele

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