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Argumentos a favor das cotas raciais

Dívida histórica, racismo e desigualdade são alguns dos argumentos a favor das cotas
para negros e pardos.
Publicado por Érica Caetano
O Brasil é um dos países mais miscigenados do mundo. Contudo, ainda há diferenças
nítidas no que diz respeito à questão racial, pois ainda é muito difícil encontrarmos
negros e pardos vivendo em situação igualitária com brancos.
A Lei nº 12.711, conhecida também como Lei de Cotas, foi aprovada em 2012. Com
ela, todas as instituições de ensino superior federais do país precisaram,
obrigatoriamente, reservar parte de suas vagas para alunos oriundos de escolas
públicas, de baixa renda, e negros, pardos e índios.
Dentre os objetivos da criação da Lei de Cotas está o de introduzir e diminuir a
desigualdade entre brancos e negros no país. A reserva de vagas começou em 12,5%,
nos vestibulares para ingresso em 2013, e subiu gradativamente até chegar aos 50%,
em 2016.
A Universidade de Brasília (UnB) foi a primeira instituição federal a aprovar cotas para
minorias étnicas e raciais e a primeira instituição brasileira a aprovar cotas
exclusivamente para negros.
Muito se fala sobre a importância de ser a favor dessa política pública, mas poucos
sabem sobre o quão amplo este debate é.
O Super Vestibular conversou com o presidente da Comissão de Heteroidentificação
da Universidade Federal de Goiás (UFG), Pedro Cruz, que nos explicou mais sobre a
necessidade das cotas raciais, sobre a importância e também insuficiência da Lei
12.711.
Por que as cotas são importantes?
Para Pedro Cruz, a Lei de Cotas é, sem dúvida, uma política pública muito importante
implementada no país, mas não é o suficiente. A lei ainda não conseguiu fazer a
reparação histórica pela qual ela foi criada, por isso, há a necessidade de
permanência.
Cruz ainda lembra que a existência dessa Lei se deve a agitação feita pelos
movimentos sociais, mais especificamente pelo movimento negro, e que também
refletiu muito na elaboração da nova Constituição, em 1988. 
“Obviamente entendemos também que o ideal seria que ela não existisse e que
todas as pessoas de fato fossem respeitadas de forma igualitária, já que somos
seres humanos iguais, mas infelizmente isso não é verdade em nosso país. O
racismo é muito perpetuado aqui no Brasil”. 
Abaixo alguns argumentos favoráveis às cotas raciais:
1)    Oportunidades diferentes
O abismo existente entre escolas públicas e particulares fornecem, claramente,
oportunidades distintas a estudantes de classes sociais diferentes. 
Sem as cotas para os estudantes de classes sociais menos favorecidas, as cadeiras
nas melhores universidades continuarão sendo conquistadas por candidatos com
melhor estabilidade financeira. O ideal seria qualificar o ensino público, mas isso
levaria décadas. 
2)    Dívida histórica
Chamamos de dívida histórica elementos como a escravidão e a exploração, que
fizeram parte do passado histórico do nosso país e que acentuaram questões de
desigualdades, deixando de lado a justiça contra momentos de abusos.
Por conta desse fator, se vê a necessidade de políticas afirmativas em favor de
populações subalternizadas, com objetivo de resgatar injustiças passadas e dissolvê-
las.
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O objetivo compreende a reparação das desigualdades práticas da vida cidadã e
das instituições, permitindo a atuação democrática das partes da sociedade, em
completo respeito às suas diferenças.
Além da dívida histórica que o país tem com os afrodescendentes por anos de
exploração, a Lei de Cotas também veio para minimizar as diferenças raciais e
socioeconômicas que sempre existiram no Brasil. 
3)    Sociedade brasileira racista
Infelizmente, o racismo ainda é um problema estrutural do Brasil. O racismo mata
e exclui, colocando à margem da sociedade um conjunto muito grande de pessoas. 
De acordo com Pedro, as prisões são um exemplo de racismo estrutural no Brasil.
“Quem é que está lá [prisão] em sua grande maioria? Quem é que está excluído do
mercado de trabalho quando nós olhamos para os postos de comando das
empresas?”, indaga.
“Os negros não estão nos espaços de representação na sociedade. A gente olha
para o Congresso Nacional e são poucas pessoas negras naquela comunidade.
Essa é a atual representação da sociedade brasileira”. 
O presidente da comissão reforça que é preciso que existam esses mecanismos não
para sanar o problema, pois estes são de âmbito social, mas como uma forma de
amenizar os impactos e ações promovidas pelo racismo, seja ele social, que é quando
a sociedade vai excluindo automaticamente o negro, seja também pelo racismo
institucional, que é reproduzido pelas nossas instituições do estado e que marca, por
exemplo, a questão da violência pelo braço armado. 
Para ele, a Lei deve sim ser revista, até pelo fato de a mesma possuir falhas, mas que
ela seja aperfeiçoada e não banida. “Ainda há muito o que se fazer para consolidar
essas políticas, mas temos muitas instituições empenhadas nesta luta”.
Permanência do estudante negro com cotas na universidade
Nas universidades públicas, o trabalho das comissões de heteroidentificação se
estende durante toda a vida universitária do estudante. Além disso, existe o Fórum
Nacional de Efetivação das Cotas, que discute constantemente o que deve ser
aperfeiçoado na política de ações afirmativas.
Existe um mito de que os estudantes cotistas não conseguem acompanhar os demais
estudantes e abandonam o curso. Na verdade, a evasão do aluno cotista é baixa.
“Isso mostra que faltava somente a oportunidade. Eles [cotistas] têm a visão de que se
me deram a oportunidade, vão aproveitar até o último minuto”, finaliza Pedro Cruz.
Em 2012, as vagas das universidades públicas eram ocupadas por apenas 37% de
pessoas negras e pardas, enquanto elas representam 55% da população. Em menos
de 10 anos da Lei de Cotas, pretos e pardos já são 51% dos estudantes no ensino
superior público.
As mulheres na capa

1) Neusa Santos Souza (Ciências da Saúde)

2) Rita de Cássia dos Anjos (Ciências Exatas e da Terra)

3) Enedina Alves Marques (Engenharias)

4) Katemari Rosa (Multidisciplinar)

5) Simone Maria Evaristo (Ciências Biológicas)

6) Sueli Carneiro (Ciências Humanas)

7) Nilma Bentes (Ciências Agrárias)

8) Luiza Bairros (Ciências Sociais Aplicadas)

9) Conceição Evaristo (Linguística, Letras e Artes).


DESIGUALDADE RACIAL NO BRASIL: CONTEXTO HISTÓRICO E LEGAL
A história do negro no Brasil inicia no período da escravidão, com o tráfico negreiro,
período colonial em que os portugueses trouxeram os negros para serem escravos no país. O
Brasil foi um dos últimos países do mundo a abolir a escravidão que ocorreu com a Lei 3.353
em 13 de maio de 1888, com a assinatura da Lei Áurea, onde os escravos conseguiram a
liberdade, mas não conseguiram se livrar da discriminação racial e a exclusão.
Embora os negros estivessem livres, não tiveram condições de integração social,
econômica e educacional, pois, os negros que moravam no campo vieram para as cidades, já
que não possuíam terras, e essa situação gerou exclusão e muitos ficaram à margem da
sociedade. Sem educação, sem abrigo, sem terra e sem condições materiais para
sobrevivência, acabou surgindo à marginalização. De acordo com Munanga (1996), mesmo
após a abolição, os negros ainda levaram por muitos anos o estigma da escravidão: A Lei
3.353 de 13 de maio de 1888, que deu por extinta a escravidão, não trouxe para os ex-
escravos negros e seus descendentes a plena cidadania. Após a abolição, das senzalas, as
populações negras partiram para as margens. Isso ocorre tanto no sentido físico quanto social.
De acordo com Carneiro (2003), a desigualdade entre os brancos e negros é muito
presente desde a escravidão: O negro e o mestiço dificilmente conseguiam igualar-se ao
homem branco. O "mundo da senzala" sempre esteve muito distante do "mundo da casa
grande". Para alcançar pequenas regalias, fosse como escravo ou como homem livre, os
descendentes de negros precisavam ocultar ou disfarçar seus traços de africanidade, já que o
homem branco era apresentado como padrão de beleza e de moral. (CARNEIRO, 2003, p.15).
Por volta de 1920 e 1930, a elite brasileira começou a entender a miscigenação de forma
positiva, pois o país começava a “branquear” de forma mais expressiva, e população negra
começava a diminuir em relação à branca. Mesmo o Brasil sendo um dos últimos a abolir a
escravidão, foi um dos primeiros a declarar democracia racial. A democracia racial surgiu no
Brasil, devido à existência da grande mistura racial. No entanto, essa condição velava a
discriminação, e procurava apresentar que todos possuíam direitos iguais.
No entanto, a elite brasileira entendia que as origens negras impediriam o
desenvolvimento e progresso do país. Para quem tem olhos de ver, basta um giro pelos
shoppings ou restaurantes frequentados pela elite em qualquer centro urbano do país para
constatar a exclusão social dos negros, que, no entanto, estão muitíssimos “bem
representados” em outros espaços menos glamorosos, como os presídios e as favelas.
(SARMENTO, 2008, p.61). Percebe–se que a desigualdade social e econômica dos negros
com relação ao branco no período pós-abolição, ainda é presente na sociedade, mantendo o
preconceito racial.
Conhecida como Estatuto da Igualdade Racial, em 20 de julho de 2010, a promulgação
da Lei n° 12.228, estabelece a garantia da população negra à efetivação da igualdade de
oportunidades e a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos, visando o
combate à discriminação e outras formas de intolerância étnica. Portanto, essas medidas são
importantes para garantir a todos o pleno exercício dos direitos civis, políticos, sociais,
econômicos e culturais.
As mulheres na capa

1) Neusa Santos Souza (Ciências da Saúde)

2) Rita de Cássia dos Anjos (Ciências Exatas e da Terra)

3) Enedina Alves Marques (Engenharias)

4) Katemari Rosa (Multidisciplinar)

5) Simone Maria Evaristo (Ciências Biológicas)

6) Sueli Carneiro (Ciências Humanas)

7) Nilma Bentes (Ciências Agrárias)

8) Luiza Bairros (Ciências Sociais Aplicadas)

9) Conceição Evaristo (Linguística, Letras e Artes).

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