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A Escravidao Desejada: Santidade e Escatologia na Legenda Aurea RESUMO A Itélia urbana de meados do século XI conheceu importantes mu- dangas na sensibilidade religiosa € nus caractertsticas séicio-econdmicas da es- craviddo, fendmenos que aparecem in- terpenetrados na Legenda Aurea. As ten- sdes entre tempo histérico € tempo de salvagdo deslocavam as fronteiras entre liberdade e escraviddo: “a maior nobreza consiste em ser escravo de Deus”. Assim, nova visio sobre a santidade se refletia na escraviddo. E 0 novo significado da escraviddo aeentuava as especulacdes escatolégicas, a espera do Fim dos Tem- pos, visto como o inicio do reinado dos escravos de Deus. Hildrio Franco Jiinior* ABSTRACT In the middle of the 13th century the urban Italy knew important changes about the religious sensibility and the socio-economic characteristics of the slavery, phenomenous interdependents in the Legenda Aurea. The tensions between historical time and salvation time moved the limits between liberty and slavery: “to be a God's slave is the greatest nobility’ This new glance about holiness had re~ percussions on slavery. And the new mea- ning of slavery incresead the eschato- logical speculations, the waining for the End of Time is seen as the beginning of the reign of God's slaves. “Ndo haverd entéo mais maldigao: o trono de Deus e do Cordeiro estard na cidade, e seus escravos ali o serviréo.” (Apocalipse 22,3) A Italia do século XIII foi o placo privilegiado de varias das trans- formagées globais iniciadas duzentos anos antes. Dentre elas, uma articu- lagdo nova e interessante entre um fendmeno social (escravidao), um espi- ritual (santidade) e um mitico (escatologia). Essa relagao nos € revelada por diversas fontes, principalmente talvez pela Legenda Aurea, coletinea de narrativas hagiograficas reunidas por volta de 1260 pelo dominicano € futuro bispo de Génova, Jacopo de Varezze. Obras desse tipo se destina- vam no apenas aos pregadores mendicantes, fornecendo-thes material para seus sermées, para leitura na missa, no offcio e nos refeitérios e capitulos “Universidade de So Paulo. NUCLEO DE SAO PAULO. Rev. Bras. de Hist. 101 mondsticos, como também para leitura privada dos leigos.! Daf aLegenda Aurea ter sido considerada “o brevidrio dos leigos de média cultura”? Isso foi possfvel pelo fato de ao lado de farto material erudito - em 182 capitulos, Jacopo de Varazze faz 1186 citagdes biblicas, de autores eclesidsticos e de cronistas - existir também abundante material de origem Popular. De fato, a Legenda Aurea recorre, como nao poderia de ser pelas Suas origens € seus objetivos, a muitos exempla. Ou seja, narrativas de origem ou contetido folclérico e de “finalidade ideolégica” por ser um dos meios da cultura erudita transformar a cultura popular para servir aos seus objetivos.* Idéia que estava alids nas bases da pregaciio crista: “para os judeus, fiz-me como judeu, a fim de ganhar os ju- deus (...). Para os fracos, fiz-me fraco, a fim de ganhar os fracos. Tornei-me tudo para todos, a fim de salvar alguns a todo custo. E isto tudo eu fago por causa do evangetho, para dele me tornar participante” Idéia que estava também na base da atuagfo da Ordem Dominicana, isto €, dos Irmaos Pregadores. Como de forma geral até o século XV o culto aos santos era um dominio no qual a vox populi tinha mais importancia que as autoridades eclesidsticas,* entende-se a forte incorporagao de elementos populares na obra do frade de Varazze. Aquele texto fazia parte de um movimento mais amplo, que despontaraem meados do século XI na Itélia, o da espiritualidade voltada para a vida apostélica, com a énfase da prética crista colocada na pobreza e na pregacdo. Dessa superagao do ritualismo, do monasticismo, do ruralismo e do clericalismo, € que surgiram mesmo as Ordens Franciscana ¢ Dominicana. No entanto a propor¢do de todos aqueles in- gredientes deu-se na Legenda Aurea de forma propria, diferenciada de textos andlogos da mesma época. A mescla de dogmitica e de narrativas populares ocorreu ali de tal maneira que criou um ineg4vel cardter arcaizante,® No século XII generalizou-se outra prética - também nascida na Itdlia uns duzentos anos antes - que fazia parte da mesma espiritualidade, © eremitismo. Ou seja, pratica de cristios que buscavam seu crescimento espiritual pela peniténcia, pela solidao, pela pobreza, pela meditagao, pelo trabalho. Pratica que era entio “expressdo de uma nova mentalidade mais individualizada, orientada para experiéncias pessoais mais livres ¢ para a aquisigdo de uma vida religiosa intima”? Nessa linha 0 papa Inocéncio III (1198-1216), reconhecendo as necessidades e direitos dos leigos, passou a distinguirna Escritura os aperta, textos narrativos ¢ moralistas acessiveis a todos, e os profunda, exposi- gdes dogmaticas que somente o clero poderia compreender. Enfim, desde 0 século XII claramente a sensibilidade se tornava mais pessoal que comunal, interna que externae privada que publica. Isso contudo nao significava o desaparecimento de alguns elementos fortemen- te enraizados na psicologia coletiva, caso das especulagdes escatolégicas. De fato, estas formavam ao lado da pobreza evangélica e da pregagio apostélica, a triade central da religiosidade do século XIII, ortodoxa ou herética. Assim, aqueles trés elementos ndo poderiam deixar de estar pro- fundamente articulados. A revalorizagao da pobreza - além de suas 6bvias ligagdies com o desenvolvimento da vida urbana ¢ da economia monetéria* - representava uma melhor preparacao para o dia do Juizo, tanto para aque- les que a vivenciavam quanto para aqueles que praticavam a caridade cris- ta possibilitada por ela. A pregagio para as massa urbanas, mais numero- sas, mais concentradas, mais tentadas pelo pecado, mais agoniadas pela pobreza, também pretendia ser um instrumento de Salvagao.’ A expectati- va pelo Fim dos Tempos era alimentada pela pobreza ¢ pela pregagao, cujas praticas acalmavam contudo a tensdo escatoldgica, ao reaproximarem o homem de Deus."” Como aquela tripla manifestagao da nova sensibilidade religiosa ocorria pela sua propria natureza preferencialmente nas cidades, ela se revelava com mais forga na regiaio mais urbanizada do Ocidente cristao, a Itélia. Nao por acaso foram italianos Francisco de Assis e Joaquim de Fiore. E também um grande admirador deles, Dante Alighieri, crftico da- queles que se afastaram da mensagem do santo de Assis, ¢ admirador do monge calabrés, a quem considerava um grande tedlogo, contrariamente ao parecer da Igreja.'' O poeta florentino estava mesmo pessoalmente liga- do & temdtica da pobreza e da escatologia."? Diante disso tudo, nao é de se estranhar que Jacopo de Varazze, italiano e frade mendicante, incorporas- se A sua obra algumas concepgGes franciscanas e joaquimitas. Surgida no enquadramento social e mental da pobreza-pregacdo-escatologia, a Le- genda Aurea expressava e reforgava tal contexto, No momento em que ela era escrita, meados do século XIII, a es- cravidao conhecia na Itdlia, ou ao menos em Génova, modificagées inte- 103 Tessantes que nao deixavam de aparecer nos exempla e assim na Legenda Aurea, O termo sclavus que surgi naquela tegiéo em 1197, mas j4 sem Conotagao étnica e empregado num sentido juridico preciso,” acabou por volta de 1250 por prevalecer sobre servus'’. Assim, quando Jacopo de Varazze utiliza a expresso “esctavo de Deus”, parece fazé-lo no sentido tradicional, que se aplicava aos profetas da Igreja primitiva'’ ou a bispos ¢ monges'*. Porém na verdade ele desclerica'izao termo, empregando-o para 0s santos, mesmo leigos'’. E importante relembrar que na Itdlia a escravi- dao foi quase exclusivamente urbana, com o interior ¢ mesmo o litoral de Génova tendo sido pouco penetrados por ela."* Tratava-se de fenémeno que se dava nos mesmos quadros sécio-mentais da pregagiio mendicante. Enquanto entre 1239 e 1274, 31% dos escravos genoveses eram batizados, em 1274-1300, tal proporgao atingiu 58%, aumento que deve ter decorrido do maior némero de escravos Pagaos ou crist&os ortodoxos, vindos sobretudo do mar Negro e mais receptivos & catolicizagao que os escravos sarracenos.'* Estes dados extrafdos da documentacao notarial, sao reforgados pela insisténcia da Legenda Aurea em relatar conversées, muitas vezes coletivas, realizadas pelos santos.” Aquele texto nao estaria hessas passagens (além de louvar mais uma vez os santos) instigando os nao catdlicos da sociedade genovesa & conversdio? Reforga essa hipétese a estimativa que fala para a segunda metade do século XII -e que nao deve (er se alterado significativamente algumas décadas depois - nos escravos constituindo-se ainda em 10% da populagao genovesa."! Aquela pregagao preocupada com os escravos nio cristdos estava, de acordo com a religiosidade da época, mais voltada para as questdes fntimas do que para as formais. Retomava-se a idéia de Jodo Criséstomo - a0 que parece bem conhecido por Jacopo de Varazze, que o cita 28 vezes - de que a escravidio do corpo nao é grave se hé liberdade da alma.” Na verdade tal concepeio partia da idéia apostdlica de que “quem comete pecado € esctavo do pecado”:”* o verdadeiro escravo, ainda que juridica- mente livre, é o pecador. Daf que, invertendo a proposigao, os escravos do pecado ao se libertarem tornam-se “escravos da justiga”.** Por isso Santo Agostinho - depois da Biblia a principal autoridade para Jacopo de Varazze, que faz 92 citagdes dele - considera a escravidio uma justa imposigao feita ao pecador, ainda que Deus tenha.criado o homem para dominar os seres irracionais mas nfo seus semelhantes. Ora, 0 vicio do dominio também € pecado, e pode escravizar 0 se- nhor de escravos.”* O homem rico é escravo de suas tiquezas e acaba por ser “escravo do Diabo”.** daf um rico arrependido ter mandado que seus 104 escravos 0 vendessem como escravo.”” Logo, mais do que a dominagao ou a submissao externa, importa a pureza espiritual. Uma das caracteristicas da santidade para a Idade Média Central era a humildade, que se revelava especialmente na execugdo de trabalhos vis, degradantes, sobretudo quan- do feitos por elementos de alta estirpe.™ Por isso Sao Domingos pensa em se vender como escravo para salvar um homem que por causa da pobreza se tornara herege.” Nessa linha € que a expressao “escravo de Deus” apa- rece na Legenda Aurea para designar 0 santo, aquele que venceu 0 peca- do, da mesma forma que Jesus recebera aquele titulo por ter servido aos outros ao expiar com seu softimento os pecados da humanidade™, Explicitamente, um “escravo de Cristo” é um “santo”, palavra que significa “limpo de pecado”."' Em fungdo disso, o poder de realizar mila- gres nao converte um homem em santo, apenas revela que ele 0 67 A expresso “escravo de Deus” aparece com esse sentido nas histérias de santos importantes para a religiosidade expressada por Jacopo de Varazze: na de Sao Bento, fundador do monasticismo ocidental, sete vezes;™ na de Sao Pedro martir, dominicano como o autor da Legenda Aurea, trés ve- zes;* na de Sio Domingos. fundador da Ordem a que ele pertencia, cator- ze vezes;* na de Sao Bernardo, cujo misticismo estava na base da sensibi- lidade do século XIII, 27 vezes;"’ na de Sao Francisco, figura central da pobreza evangélica da época, 26 vezes.* E interessante que na Legenda Aurea servos e escravos aparecam sobretudo nas narrativas de santos antigos, nas quais so vistos como ob- jetos.” Nas vidas de santos recentes e nos episédios historicamente mais prdéximos ao autor, eles recebem um tratamento diferente, Por exemplo, a senhora de um escravo que morreu afogado promete que ce Si0 Domingos © ressuscitar, ela faré uma peregrinagiio e dard liberdade aquele escravo,”” sinal de certa afetividade em relagao a ele. Um escravo que perogrinara a0 sepulcro de Sio Marcos sem permissio do amo, nao foi punido por este gragas & prote¢ao recebida do santo, sinal de igualdade na distribuigdo dos favores divinos.*! Novas realidades sociais, novas realidades espirituais. De fato, a concepgio de santidade se transformava. Até 0 século Xela era uma questo de predestinagao, com a nobreza de sangue sendo vista como uma predisposi¢ao natural & santidade.” Assim, os santos im- portavam aos leigos sobretudo por seus poderes, nao por suas virtudes.” A pobreza era vista como castigo divino, com a riqueza sendo sizal de elei- go ao permitir se fazer doacdes e se dar esmolas. O século XIII, apesar de tudo, nao rompeu completamente com isso. Como Michael Goodich mos- trou, 60% dos 518 santos do século XIII tem sua origem social indicada 105 pelas hagiografias. Daqueles de proveniéncia conhecida, siio nobres 69% na Buropa do norte, 48% nos Pafses Baixos, 67% na Italia. Mesmo consi- derando a totalidade daqueles santos, portanto também os de origem social desconhecida, temos um porcentual nobiliérquico que se mantém alto: 38%, 34%, 40% respectivamente.™ No entanto as transformagGes globais de entéo nio deixavam de afetar a forma de se encarar a santidade. Sabemos que nos séculos XIII ¢ XIV cresceu a proporgao de nomes de santos adotados pelos cidadaos de Génova e outros locais,* 0 que talvez refletisse uma certa desaristocra- tizagdo que se verificava na origem dos santos. Ademais, no seio do pro- cesso de maior monarquizagio ¢ dogmatizacao da Igreja, os critérios de canonizagao passaram a ser melhor definidos, ainda que mutaveis. No caso do século XIII tratava-se sobretudo de uma santidade evangélica, ligada aos mendicantes. De forma geral, a énfase passava a estar na vida dos santos ¢ no tanto nos poderes miraculosos de suas reliquias.“° Para Jean-Claude Schmitt,” entre os séculos XII e XV a “fabrica de santos” apresentou quatro tragos bdsicos: produzir santos de existéncia recente e comprovada, de meméria bem individualizada; maior proporgo de mulheres dentro do contexto geral de “feminilizagao da linguagem reli- giosa”; nova concepgio do sobrenatural, ligada a valores subjetivos do individuo, distinguindo-se quatro nogdes proximas, milagre, maravilhoso, magia e sacramento; transformacées na visdo do Além e das relagdes com ‘0 mortos, dos quais os santos sio uma minoria privilegiada. Estas consi- deragdes, interessantes ¢ de maneira geral validas para o perfodo aborda- do pelo autor, ndo se aplicam contudo totalmente a Legenda Aurea. No que diz respeito ao primeiro ponto, porque a obra de Jacopo de Varazze estava ligada & hagiografia tradicional, e 14 aparecem apenas seis santos dos séculos XII-XIII.“ No que diz respeito 4 feminilizagao, en- quanto Goodich listou 27,9% entre santas oficiais ou nio,”’ na Legenda Aurea elas somam apenas 20%, ou menos. Quanto A concepgio de so- brenatural € 4 visio do Além, secundérias para os objetivos deste traba- Tho, aquele texto € ambfguo, incorporando posturas novas ao lado de ou- tras tradicionais. Transpondo a andlise de Peter Brown, que compara a telac4o cristaos-santos com a relagdo de patrocfnio na sociedade romana dos séculos IV-V," podemos talvez pensar nas relacées entre a comunida- de cristi € os santos no século XIII, como ligadas as novas condigdes s6cio-econémicas. O leque mais amplo destas condigdes tornava o santo, de fato, na expressiio de Murray, um ser “socialmente anffbio”. Ele as- sim aparece na Legenda Aurea, mas sem negar, em fungdo de seu cardter 106 arcaizante, a mentalidade contratualista do dom e contradom, tipica da sociedade agréria medieval. Quanto 4 expectativa pelo Fim dos Tempos, sempre presente na mentalidade crista, ela foi acentuada pelo contexto de urbanizagio da Eu- ropa medieval. Com o ressurgimento e desenvolvimento das cidades, a sociedade ocidental, ainda essencialmente agréria, passou a enfatizar o carater negativo delas. As cidades eram vistas como opostas ao jardim do Eden, como criagdes de Caim, como continuadoras das depravadas Sodoma ¢ Gomorra, como seguidoras da pecaminosa e orgulhosa Babildnia. Nas cidades, as preocupagées escatolégicas estavam ligadas as dificuldades do jogo politico, tanto interno (potentes contra minores) quanto externo (con- tra outras cidades ou contra os poderes imperial e papal). Tais preocupa- gGes eram ali realgadas por uma nova concep¢ao de tempo, mais dindmico ¢ linear, que apontava inevitavelmente para a aproximagao do Juizo Final. Anova concep¢ao do Purgatério, formalizada em fins do século X1e que merece duas longas mengdes na Legenda Aurea, expressavae reforgava aquele novo contexto sdcio-espiritual. Aquela concepgiio linear do tempo despertava a consciéncia hist6- rica, fendmeno verificado na Itélia desde o século XII. Como resultante disso, despontou ali forte expectativa escatolégica, presente nas rafzes de varias manifestagdes heréticas ¢ de movimentos penitenciais. Foi na cha- mada Grande Aleluia de 1233 - conjunto de preces pela paz e de atos de peniténcia estimulados pelos pregadores - que apareceu em Mildo o dominicano Pedro de Verona, que tendo sido morto por hereges tornou-se conhecido como Pedro Martir, personagem que seria depois objeto de um dos mais longos capitulos da Legenda Aurea. Naquela atmosfera de ten- so social ¢ apocaliptica, o Fim dos Tempos era visto como algo positivo, caso os homens estivessem adequadamente preparados para isso, tarefa que mendicantes e hereges se auto-atribufam. Antecipando e tangenciando algumas das idéias destes grupos, 0 cisterciense Joaquim de Fiore acreditava que a verdade historica surgisse por ctapas, ao contrario de Santo Agostinho, para quem ela aparecera de uma vez por todas em um tinico evento, a Encamagao.5” Na concepgio do abade de Fiore, cada etapa histérica ligava-se a uma pessoa da Trindade e terminava com um Anticristo. A Idade do Deus Pai ou do Antigo Testa- mento foi a da lei, encerrada pelo Anticristo do tipo tirano. A do Cristo ou da graga seria fechada com o Anticristo correspondent a sétima cabega e ao sétimo selo do Apocalipse. A Terceira Era que entéo comega, a do Espirito Santo ou do amor, seria a do homem espiritualizado, contemplativo, 107 ado Reino dos Santos que se prolongard até chegarem as hordas de Gog ¢ Magog, simbolos do ditimo Anticristo. E entao que ocorrerio 0 Segundo Advento de Cristo e 0 Jufzo Final. Portanto o tradicional Milénio carre- gado de valores materiais era substitufdo na concep¢So joaquimita por uma existéncia espiritualizada, ¢ o Imperador dos Ultimos Dias deixava de ter sentido.* De certa forma os episédios escatolégicos, miticos por exceléncia, ficavam desmitologizados nessa versio, No entanto apés a morte do abade calabrés surgiu uma imensa literatura joaquimita apécrifa, cheia de inter- Pretagdes prdprias que se revelariam muito influentes,® e nas quais predo- minavam componentes miticos. O curioso fenémeno conhecido por Cruza- da das Criangas, no comego do século XIII, ao qual Jacopo de Varazze faz referéncia em outra obra,“ encontrava-se na encruzilhada de todos aque- les sentimentos: exaltagao da pobreza e da crianga na nova piedade popu- lar, pregacdo eloqiiente dos lideres, expectativa escatolégica joaquimita que via nos “simples” os escolhidos para difundir o Evangelho.*! O fim do movimento, com a escravizacao de algumas centenas de criancas pelos mugulmanos, reforgou a identidade psicolégica entre santos ¢ escravos. Jojo Beleth, citado 21 vezes na Legenda Aurea, lembrava em fins do sé- culo XII que os Santos Inocentes morreram por Cristo,” analogia aplicada depois aos cruzados infantis, com toda a carga apocaliptica do evento, forte naquele século XIII de imitagao do Jesus menino e do Jesus pobre.? Outro exemplo interessante daquela atmosfcra espiritual, é a lenda de Santo Aleixo. Membro da nobreza, ele abandonou a esposa no dia do casamento, sem consuméa-lo, doou seus bens ¢ passou dezessete anos “ser- vindo a Deus como mendigo”. Casualmente de volta a sua terra, pede ao Pai, que nao o reconhece ¢ a quem ele nao se identifica, que o acolha como peregrino, passando a viver entre os escravos domésticos da casa, insulta- do c maltratado por eles durante dezessete anos, até sua morte. Portanto, de um lado desconsideragao pelos sentimentos materno, paterno e conju- gal; de outro, pobreza, castidade, caridade, ascetismo e humildade. Nao por acaso esta lenda hagiogréfica oriental dos séculos V ou VI, que apare- ce no Ocidente em fins do século X,® teve sucesso nos séculos XI-XIII quando surgiram muitas versdes latinas e em Ifnguas vulgares,* Aquele novo ideal religioso que na sua realizagio maxima, com 0 franciscanismo, permanecia mondstico, na lenda de Santo Aleixo era so- bretudo laico.“ Daf as aspiragées populares milenaristas que ela reflete,” Enfim, trata-se da historia de um senhor de escravos que, exatamente pela rentincia dessa condig&o, torma-se um escravo do Senhor. Quebrava-se a 108 relago bilateral, contratual, feudal, entre homem e Deus: o bom cristdo deixa de ser vassalo e se torna escravo, se entrega totalmente ao Senhor. Por isso os lagos humanos, sociais, néo importam. O desprezo de Aleixo pelo sofrimento de mae, pai e esposa, revela a concretizacao total da escravizagao a Deus. Contudo Jacopo de Varazze nao endossou claramente as concep- gGes escatolégicas joaquimitas. Em parte porque em 1215 algumas delas tinham sido condenadas pelo Concilio de Latrao, e em 1255 havia uma comissio encarregada de estudar as idéias de Geraldo Borgo San Donino, um franciscano que tirara conclus6es radicais da obra de Joaquim de Fiore. Em parte porque o cardter arcaico da suma hagiogréfica do dominicano genovés preferia o mito a teologia. E verdade que em algumas passagens ele adotou a visio escatoldgica oficial.” Mas 0 que predomina naLegenda Aurea como recurso de pregago, como fator de conversao, é 0 medo ao Jufzo Final.”' Conversio que visava sobretudo os hereges, de acordo alias com as préprias origens da Ordem Dominicana. Dai porque um dominicano martirizado por hereges alguns anos antes, foi considerado por Jacopo de Varazze um santo superior a muitos outros.” O papel dos pregadores era portanto essencial naquele contexto de proximidade do Milénio: dentre as imposturas do Anticristo, estava a difu- sao de falsas interpretagGes das Escrituras.” Isso tudo explica que as here- sias tenham sido uma preocupagao constante na Legenda Aurea, ainda que de forma geral aparegam ali de maneira indiferenciada, como se fos- sem um mal idéntico e recorrente.™ A conversdo dos hereges era tarefa essencial, podendo transformé-los de “escravos do Diabo” em “seres li- vres”.” Neste quadro 0 recurso aos exempla era natural, pois 0 Concilio de Latrio ao estabelecer a confissao individual auricular pelo menos uma vez por ano para cada cristio, valorizava a memoria, a histéria recente. Ou seja, os exempla objetivavam a conversao imediata do individuo, para que essc tempo presente pudesse remeté-lo corretamente ao tempo futuro, quer dizer, para que pudesse permitir a Salvagio no tempo escatoldgico que se avizinhava. Os exempla colocavam-se na dialética entre 0 tempo hist6rico eo tempo da salvagao, uma das maiores tenses dos séculos XT- XII. Alain Boureau pensa mesmo que o sucesso da Legenda Aurea esta- va, dentre outros fatores, no equilfbrio entre “a serenidade da certeza providencialista e a inquietude escatolégica”. Naquele texto toda conduta humana se coloca entre méritos ¢ pecados, oposigao mais escatolégica que moral,” portanto mais mftica que dogmatica. Desgostoso com a humani- 109 dade, em certo momento Deus pensou em instalar o Juizo, mas resolveu adia-lo gragas ao aparecimento de Domingos e Francisco:”* estes santos contribufram assim para o prolongamento dos tempos, mas como adeptos da pregagao e da pobreza trabalharam também pelo Fim dos Tempos. Nao por acaso, a tiltima vida de santo na Legenda Aurea termina falando do tempo presente, da tiranizac4o do poder temporal, do fortalecimento da heresia, da vacdncia do trono imperial decorrente da deposigio de Frederico TI, que para alguns seria o Anticristo, para outros 0 Messias.” Apés a morte de Frederico, em 1250, portanto no momento da reda- gio da Legenda Aurea, a atmosfera apocaliptica se intensificou ainda mais, De um lado em fungao da crenga popular de que o imperador nao morrera, © que estaria oculto em uma montanha (o Kyffhduser na Alemanha ou 0 Etna na Sicilia"), esperando messianicamente 0 momento de voltar. De outro lado, devido as tradigdes apécrif'as que se desenvolviam a partir das idgias de Joaquim de Fiore, acreditava-se que o ano de 1260 inauguraria uma nova, ¢ tiltima, fase na histéria humana.™' Foi nesse enquadramento hist6rico que o discurso escatolégico da Legenda Aurea, com suas fontes eruditas e folcléricas, atribuiu & escravidio e a santidade novos significa- dos. Aproximou os dois conceitos. E nessa perspectiva, fez do Fim dos ‘Tempos a eterna ¢ doce prisao dos escravos de Deus. NOTAS ' PHILIPPART, G. Les légendiers lasing et autres manuscrits hagivgraphiques. Turmhout, Brepols, 1977. p. 112-117; BOUREAU, A. La légende drée. Le systeme narratif de Jacques de Voragine Paris, Cerf, 1984. p. 24-25. ® STICCO, M. Giacomo da Varazze. Enciclopedia cattolica. Florenga, Sansoni, VI v., 1951. p. 332, * SCHMITT, J.C. Présentation, In; Précher d'exemples. 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Leiden, Brill, 1984. p. 967, "Legenda, caps. 27, 30, 49, 56, 57, 63, 96, 100, 101, 102, 113, 115, 117, 120, 123, 125, 131, 147, 149, 150, 153, 155, 162, 168, 172 € 174. Por outrolado, aexpressfio aparece ainda no sentido antigo, de“fiel”, de “cristo”: caps. 38, 39, 41,45, 46, 49, 56, 57, 59, 68, 84, 85, 89, 90, 94, 96,97, 117, 119, 120, 123, 131, 136, 140, 141, 159, 161, 165, 166, 168, 169¢ 171, ef 0 uso bfblico, por exemplo Ap 2,20; 7,3; 19,2.5;22.3.6. “HERS, op cit,,p. 101-103. "BALARD, M. Remarques sur les esclaves a Génes dans la seconde moitié du XIN sidcle. Mélanges d'archéologie et histoire de l’Ecole Francaise de Rome, 60, 1968. p. 647. * Legenda, caps.2, 3, 5, 8,9, 12, 19, 23, 24, 26, 36, 42, 43, 44, 45, 46, 47, 49, 52, 58, 59, 63, 65, ‘71, 74, TS, 77, 79, 86, 89, 90, 93, 97, 99, 100, 102, 107, 110, 113, 115, 116, 117, 118, 121, 123, 124, 129, 132, 136, 139, 140, 142, 153, 157, 158, 159, 161, 166, 169, 170, 172¢ 180. Isto é, de 160 vidas de santos narradas, pouco mais de 40% delas (e virias mais de uma vez) fazem referencia 0 papel de evangelizadores daqueles personagens. *'VERLINDEN, op. cit., p. 446. ® JOAOCRISOSTOMO. Homiliae XLIV in Epistolara primum ad Corinthios. XIX, PG 61, c0l.154. Jo 8,34, of. them 2 Pe 2,19. Rm 6,17. °*SANTO AGOSTINHO. De Civitate Dei. XIX, 15, PL 41, col. 643-644, Além das razies sociais que levaram A aboligao da servidaofescravidiio em Bolona em 1256-1257 (ORTALLI, G. La famille a Bologneau XIII sidcle. Entre la realité des groupes inférieurs et 1a mentalité des classes dominan- tes, In: Famille et parenté. p. 205-223), talvez a idéia agostiniana, difundida pelos pregadores, também tenha tido alguma influéncia naquela decisio. * Legenda, cap.9, 3, p. 58. Idem, 27, 2, p. 127-128. o*MURRAY, A. Razin y sociedad en lu Edad Media, (trad.) Madrid, Taurus, 1982. p. 421-424. * Legenda, cap.113, p. 466-483 Mt 12,15-21; Me 10,45; of. 1s 421-4552, 13; “Legenda, cap. 162, p. 718-728, cap. 73, p. "Idem, cap. 73, p. 331 “A Legenda Aurea utiliza quase indiferentemente servus Domini, servus Dei, vir Dei, servus Christie servus Altissimi. 12. 36. 1 “Idem, cap. 49, itens |, 3, 6 (duas vezes), 7, 8€ 17 “Idem, cap. 63, itens 3 ¢ 4 (duas vezes). “Idem, cap. 113, p. 468 (duas vezes), 472, 473, 474 (quatro vezes), 475 (duas vezes), 476, 477, 479 (duas vezes), “Idem, cap. 120, p. 528, 530, 532 (duas vezes), 533 (cinco veves), 534 (duas veres), 535 (quatro vvezes), 536 (cinco vezes), 537 (cinco vezes), 538 (duas vezes), “Idem, cap. 149, p. 663 (duas veres), 664 (duas vezes), 665 (quatro vezes), 666 (seis vezes), 668, 669 (trés vezes), 670 ¢ 671 (quatro vezes), “Idem, cap, 59, 76 € 93. “Idem, cap. 113, p. 480. “Idem, cap. 59, 5, p. 269. VAUCHEZ, Beata stitps, p.397-399 e 404. MURRAY, op cit. p. 367-372 ¢ 439-445, conside- rando 0s 71 santos do periodo 900-1500 citados no The Oxford Dictionary of the Christian Church, cconclui que 66% deles eram nobrese 12% (ja inclufdos naqueles) de familias reais, “VAUCHEZ. La spiritualité. p.27-38. “GOODICH, M. Vita perfecta: the ideal of sainthood in the thirteenth century. Stuttgact, Anton Hiersemann, 1982. p. 34-47. “KEDAR, BZ, Noms de saints ct mentalité populaire a Genes, au XIV sicle. Le Mayen Age. 73, 1967. p. 431-446, “VAUCHEZ, A. L'influence des modéles hagiographiques sur les représentations de la sainteté, dans les proces de canonisation (XINI-XVV siécles). In: Hagiographies, cultures et sociétés, 1V-XII sidctles, Paris, Etudes Augustiniennes, 1981. p.586;GOODICH, op.it. p. 34-47 “SCHMITT, J-C. La fabrique des saints. Annales £ S.C. 39, 1984. p, 286-300, “Legenda, caps. 11, 63, 113, 120, 149. 168, “GOODICH. op.cit. p.218-241. “Legenda, caps. 4, 7, 24, 29, 39, 43, 48, 56, 62, 66, 76, 83, 84, 91, 92, 93, 95, 96, 98, 105, 127, 139, 142, 150, 151, 152, 157, 158, 168, 169, 172 € 173. Mas sc considerdssemos as festas em que 4s santas aparecem sovinhas, sem dividir a data com companheiros masculinos, a proporgiio cairia para 16,8%. “BROWN, P. The rise and function of the Holy Man in Late Antiquity. In: Society and the Holy in Late Antiquity. Londres, Faber and Faber, 1982. p. 148-151 SMURRAY, op. cit., p. 417-424. “FRANCO JUNIOR, H.A Idade Média, nascimento do Ocidente. Sio Paulo, Brasiliense, 5.ed. 1994. p. 164-168. “Legenda, caps. 0e 163; LE GOFF, J. La naissance du Purgatoire. Paris, Gallimard, 1981. p. 177-316, SSCHENU, M.-D, Conscience de l'histoire et théologie. In: Théologie au douziéme siécle. Paris, Vein, 3, ed., 1976. p. 82-89; L’évell de la conscience dans la civilisation médiévale. Montreal- Paris, Institute d'Etudes Médievales-Vrin, 1969. “Legenda, cap. 63, p.277-291; KANTOROWICZ, E. L'empereur Frédéric I. (tead.) Patis, Gallimard, 1987. p. 363-365. "De Civitate Dei. XU, 13 ¢ XVIII, 45-46, PL Al, col. 361-362 € 608. SJOAQUIM DE FIORE. Enchiridion super Apocalypsim, ed. E.K. Burger, Toronto, Pontifical Institute of Mediaeval Studies, 1986, 112 ‘EMMERSON, R.K. Antichrist in the Middle Ages. Manchester, Manchester University Press, 1981. p. 60-61. “WEST, D.C. eS. ZIMBARS-SWARTZ. Joachim of Fiore. A study in spiritual perception and history. Bloomington, Indiana University Press, 1983. p.99. “ Cronaca di Genova, in Rerum italicarum seriptores. ed. L. Muratori, 28 ¥., Milo, 1723-1751, IX v., p. 45-46, citada por ALPHANDERY, P.c A. DUPRONT. La Chrétienté et'idée de Croisade. 2v., Paris, Albin Michel, I'v,, 1954-1959. p. 123. © ALPHANDERY e DUPRONT. op cit, Ilv, p.135-148; ALPHANDERY, P Lescroisades enfants, Revue de l'histoire des religions. 73, 1916. p. 279-280; MUNRO, D.C. The children’s crusade. The American Historical Review. 19, 1913-1914, p. 516-524, © Rationale divinorum officiorum. 70, PL 202, col. 77. ALPHANDERY, op it. p. 274-279. “Legenda, cap. 94, p. 403-406. “STEBBINS, CE. Les origines de la légende de Saint Alexis, Revue Belge de Philologie et d'Histoire. $1, 1973, p. 498 ¢ 505 STOREY, C. An annotated bibliography and guide to Alexis studies (La vie de Saint Alexis). Genebra, Droz, 1987. “GIEYSZTOR, A. La légende de Saint Alexis en Occident: un idéal de pauvresé. In: MOLLAT, op.cit.,1¥..p. 137, “GYORGY, J. Hagiographie hetérodoxe. Acta Ethnographica Academiae Scientiarum Hungaricae, 11, 1962. p. 383: € evidente que a escatologia cristé nfo chegou ase impor is massas popolares, cujas aspiragdes dirigem-se sem cessar para uina nova erae jamais para o fim do mundo no sentido judaico-cristdo do termo”, VOLPE, G. Movimenti religiosie sette ereticali nella socteta italiana, secoli XI-XIV. Florenga, Sansoni, reed. 1972. p. 117-119; WEST eZIMDARS-SWARTZ, op cit.,p. 5-6. "Legenda, caps. 31, S4€ 145, 2, of. De Civitate Dei, XX, 7-30, PL 41, col. 666-708, * Idem, caps. 13; 119, 2.45 1215 (31, 6; 153 ¢ 182. Idem, cap. 63, 8, p. 284-285. ™{dem, cap. 1, p. 1-12. ™BOUREAU, op cit... 188, * Legenda, cap. 149, p. 662-674. "LE GOFF, J. Le temps de Pexemplum. In: L'imaginaire médiéval. Paris, Gallimard, 1985, p 101-102, **BOUREAU, op.cit.,p. 254e 153. Legenda, cap. 13, p. 470. Idem, cap. 181, p. 844; KANTOROWICZ, op. cit, p. 548-549 “Ema substituiu Avalon como Jocal de repouso de Artur, na releitura que os normandos fizeram ‘daquele mito ao ocuparem a Sicilia em fins do século XI (GRAF, A., Arti nell’Etna. In: Miti, leggende e superstizioni del Media Evo. Milo, Mondadori, reed.1984. p, 321-338). Como suces- sor e descendente da dinastia normanda, Frederico foi logo assimilado a Artur pelos seus siditos insulares, e imaginou-se o Etaa como seu refiigio. Para seus stiditos alemies, ele seria depois con- fundido com oav6, Frederico Barba Ruiva, personagem que também possufa forte faceta messiéinica ee milenarista, e por isso imaginou-se que ele estava escondido em Kyffhiiuser: FRANCO JUNIOR, H. As utopias medievais. Sio Paulo, Brasiliense, 1992, p. 69-75, "Joaquim de Fiore niio chegou a explicitar aquela data como inicio da Idade do Espirito Santo, porém cla foi posteriormente assim interpretada: WEST e ZIMDARS-SWARTZ, op.cit., p. 102 113

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