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PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
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PERIGOSAS ACHERON
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Copyright © 2019 Thays M. de Lima

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens,


lugares e acontecimentos
descritos, são produtos de imaginação do autor.
Qualquer semelhança
com nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.
Capa: Layce Design
Copidesque: Equipe DB
Revisão: Carla Santos
Diagramação Digital: Layce Design

Esta obra segue as regras do Novo Acordo Ortográfico.

Todos os direitos reservados.


São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução
de qualquer parte
dessa obra, através de quaisquer meios — tangível
ou intangível — sem o
consentimento escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime
estabelecido pela lei nº. 9.610./98
e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Edição digital | Criado no Brasil.

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Nunca mais beberei.

Esse é o meu primeiro pensamento, assim que


abro os olhos.

Minha boca está tão seca que parece a porra


do deserto do Saara. Sinto a cabeça latejar, tento
me levantar para buscar um analgésico e aplacar a
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dor infernal, mas sou impedida porque algo está me


prendendo a cama.

Que porra é essa?

AI, MEU DEUS!

Alguém está me abraçando.

Será que algum maluco estuprador entrou no


meu apartamento? Não pode ser…

Com o coração quase saltando pela boca,


tateio o criado-mudo em busca dos meus óculos de
grau, mas não o acho. Droga! Onde será que eu o
deixei?

Um gemido alto, rouco, de homem toma conta


do ambiente e percebo que não saiu de mim.

Ele, seja quem for, afasta o corpo do meu. O


vulto – que é tudo o que vejo sem óculos – se senta
na cama e coça os olhos. Me levanto num pulo,
mas tropeço em algo e acabo caindo no chão.

— Quem é você? — o invasor pergunta, como


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se não soubesse a resposta.

— Eu é que pergunto! Que porra você está


fazendo no meu quarto. NA MINHA CAMA! —
Levanto-me do chão, com os punhos erguidos, caso
ele queira me atacar. O que é inútil, já que nem sei
em que direção bater.

— É aí que se engana. Essa casa é minha, e ao


que parece o invasor não sou eu. Parece que você
entrou no meu quarto enquanto eu dormia.

Olho ao redor e começo a perceber,


envergonhada, que as paredes desse quarto não são
roxas como as do meu. É tudo clarinho, quase
como neve.

Ai, merda!

Entrei em algum apartamento errado.

O que eu fiz? Como vim parar aqui?!

Minhas bochechas pegam fogo. Engulo em


seco e tento fazer a voz soar o mais doce possível.

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— Eu… Não sei como vim parar aqui… Você


pode me ajudar a achar os meus óculos? Eu não
enxergo nada sem eles.

Uma gargalhada alta ecoa pelo ambiente e


bufo de raiva. Ele está achando essa situação
engraçada? Isso é humilhante, isso sim!

— Senhorita…?

Quem usa senhorita nos dias de hoje? Decido,


por educação, não fazer esse comentário em voz
alta.

— Alice. Eu me chamo Alice.

— Eu não sei quem é você. — A voz ecoa


com repulsa. — Mas quero que dê o fora daqui.
AGORA.

A grosseria me faz estremecer, de raiva e


vergonha.

Que porra bebi ontem a ponto de parar em


uma casa estranha? Se não me lembro disso, tenho
até medo do resto…
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— Nós…?

— Nem ouse insinuar isso. Sua existência na


cama foi descoberta no momento em que acordei.

Suspiro de alívio. Graças aos céus! Pelo


menos tinha sido salva do sexo com o
desconhecido.

— Bom, me desculpa pelo ocorrido. Não


acontecerá novamente.

— Pode ter certeza. Agora verificarei a porta


todas as vezes antes de ir dormir. Caso contrário,
posso acordar com uma maluca comigo na cama,
achando que sou um estuprador.

— Eu não… — Tento me defender, mas ele


nem me dá tempo de terminar.

— Mas pensou. Sei ler bem as pessoas — ele


faz uma pausa e pega algo do chão. Estende a mão
para mim e percebo que são os meus óculos.

Coloco-os e olho para frente. Puta merda…


De onde saiu esse homem?
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Toda raiva, vergonha e humilhação vão


embora diante da visão diante de mim.

O homem é o pecado em pessoa. A barba


rente ao rosto, os lábios carnudos, os olhos escuros
penetrantes, os cabelos desalinhados… Minha
nossa senhora! Um tanquinho que faz o meu queixo
cair. É um conjunto completo, que o torna um
pedaço de mau caminho.

— Vejo que agora está enxergando.

Tiro os olhos do corpo dele e as minhas


bochechas mais uma vez incendeiam. Tento me
recompor.

— Sim, obrigada. Bom, já vou indo.

Pego a bolsa, que de alguma forma acabou


caída ao lado da cama. Coloco meu All Star
púrpura e saio dali. Mas não antes de constatar que
esse é o apartamento mais organizado que já vi na
vida. Na sala e no quarto, há poucos itens de
decoração. Tudo nesse apartamento é minimalista e
limpo, completamente diferente da minha bagunça
habitual.
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Ele coça a garganta e eu apresso o passo.

Espero nunca mais vê-lo. A humilhação de


hoje já foi o suficiente para a vida toda.

Como fui parar em seu apartamento, pelo


jeito, será uma eterna incógnita. Havia saído para
beber sozinha em um bar perto de casa, após ser
demitida, mas o que aconteceu depois? Não faço
ideia.

Só quando puxo a maçaneta e vejo o corredor


é que me dou conta de onde estou.

O destino tem um senso de humor estranho…


Porque o homem que eu desejo nunca mais ver, é o
meu novo e odiável vizinho.

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Uma semana depois…

— Então, agora você está andando como uma


fugitiva no próprio prédio só para não ter de
encontrá-lo? — Minha irmã beberica o chá,
segurando a risada. Fazia mais de uma semana que
eu não a via. Estava morrendo de saudades dela.

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Pelo menos, até ela tirar sarro de mim com essa


situação.

Aline e eu somos completamente diferentes.


Sendo a filha mais nova, sempre foi muito mimada
pelos nossos pais, parecida com uma princesinha.
Só para ter uma ideia, enquanto ela está segurando
a xícara, toda certinha, com as unhas pintadas de
nude, eu estou bebendo meu café extraforte na
caneca, com as unhas sujas de tinta.

Aline estudou moda, tem um marido, uma


filha linda e diversas vezes viajava para o exterior
com as próprias exposições. Enquanto eu fico presa
em Águas Claras, sem conseguir me manter na
porra de um emprego. Não me levem a mal, nunca
tive inveja da minha irmã. Muito pelo contrário,
fico feliz pelo fato de, pelo menos, uma de nós ser
bem-sucedida na carreira.

Apesar de tudo, sempre fomos confidentes


uma da outra. Somos como Yin e Yang, duas forças
distintas, completamente opostas, mas
complementares.

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— Line, eu enchi a cara, abri a porta do


apartamento do cara e dormi na cama dele. Invadi a
sua privacidade; para piorar, praticamente o chamei
de estuprador. Acha que eu ainda consigo olhar
para a cara dele?

Ela solta uma risadinha e inclina o corpo para


frente.

— Como ele é?

Minhas bochechas ruborizam e me lembro


daquela visão do seu corpo seminu. Os gominhos
do abdômen e o rosto sexy cheio de sono…

Line gargalha, me desviando dos


pensamentos.

— O que foi?

— Alice, fala sério! Dormir com ele foi a


melhor coisa que te aconteceu esse ano. Pelo que
me disse, esse homem é o pecado em pessoa. Está
precisando se livrar dessa tensão, isso sim. Desde
que Eduardo te deixou, para ficar com a sirigaita,
você não dorme com ninguém.
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— Eu… — Tento protestar e dizer que ela está


errada, mas seria mentira. Faz meses que durmo
sozinha, e a única forma de aliviar a tensão nesses
últimos meses tem sido com meu bom e velho
amigo vibrador.

— Entra no apartamento dele de novo, mas


dessa vez sóbria, e seduz o cara. Duvido que ele
não vá cair na sua.

— Line, eu estou fugindo do cara. FUGINDO!

— Deixa de ser dramática, Alice. Nada que


uma lingerie nesse corpinho sexy não o faça
esquecer daquela noite.

— Line, você acha que estou desesperada a


esse ponto? Nunca!

— Ainda irmã, ainda…

Balanço a cabeça, sorrindo. Pergunto a ela


como está minha sobrinha, tentando tirar o foco da
conversa sobre mim.

Line tem vinte e quatro anos, dois anos mais


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nova, mas se casou e teve uma filha antes de mim.


Nisso sempre fomos diferentes. Enquanto ela
beijava diversos carinhas em festas, eu estava
trancada no quarto, rabiscando os cadernos de
desenho que papai comprava para mim.

Lembrar dele me causa um aperto no peito.


Seu Carlos sempre foi o maior apoiador dos meus
sonhos. Quando disse que desejava estudar Artes, a
primeira coisa que ele me perguntou foi se era isso
que me faria feliz. Quando eu assenti, ele disse as
seguintes palavras: Filha, a sua felicidade é a
minha. Se é isso que quer, siga o coração. Sempre
estarei do seu lado. E ele esteve presente até dois
meses após a formatura.

Papai morreu dormindo. O coração


simplesmente parou, roubando-o da minha vida.
Não houve nada que pudéssemos fazer.

Converso mais um pouco com a minha irmã.


Logo depois nos despedimos, porque ela tinha que
ficar com a minha sobrinha. Resta-me ficar sozinha
nestes dias de tédio total, resumidas em cama,
Netflix, desenhar e comer besteiras.
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Desde a bendita ocasião em que perdi o


emprego, nada de novo acontece. Trabalhar com
tatuagens é difícil. A maioria dos estúdios já tem
gente fixa, então acabam não abrindo vagas para
novas pessoas… Pelo menos, por aqui, tem sido
assim. Sempre sonhei em abrir o próprio estúdio,
mas todo dinheiro que tenho, gasto para manter o
apartamento financiado. Line insiste para que eu o
venda, mas não consigo. Papai amava nosso
apartamento, passamos ali os melhores momentos
das nossas vidas. Como posso simplesmente me
desfazer dele?

Solto um longo suspiro, coloco os fones de


ouvido e coloco a música da Aurora, Runaway.
Tento espantar as minhas lembranças.

And I was running far away


(E eu estava correndo para muito longe)
Would I run off the world someday?
(Eu fugiria do mundo algum dia?)
Nobody knows, nobody knows
(Ninguém sabe, ninguém sabe)
And I was dancing in the rain

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(E eu estava dançando na chuva)


I felt alive and I can't complain
(Eu me senti viva e não posso reclamar)
But now take me home
(Mas agora me leve para casa)

Entro na lojinha de conveniência próximo ao


apartamento e pego um sorvete de flocos no
freezer, pago no caixa e saio. Espero o sinal abrir
para atravessar a rua. Dou alguns passos, mas
abruptamente sou puxada para trás por um par de
mãos, que me tiram do eixo. A sacola cai no chão,
junto com os fones de ouvido e celular. Na mesma
hora, uma moto passa bem rente a mim, me dando
um susto e fazendo meus cabelos voarem pelo
rosto.

Xingo alguns palavrões para o motoqueiro,


que obviamente nem me ouve. O sinal estava verde
e mesmo assim ele atravessou quase me
atropelando. Se não fosse por essa pessoa que me
puxou, estaria estirada no chão esse momento. Giro
o corpo para agradecer, mas antes que eu consiga
fazê-lo, uma voz rouca me preenche os ouvidos.
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— Você não olha para onde anda? — Puta


merda… É impossível.

O destino só pode estar de brincadeira com a


minha cara. Passei a semana inteira fugindo do meu
vizinho, e ele tinha que ser justamente o cara que
me salva de um quase atropelamento?

Fazer o quê? Diante disso, reúno toda minha


coragem, e respiro fundo.

— O sinal estava verde — retruco.

Será que algum dia ele vai me ver com


dignidade? Como fazer isso se, quando ele me vê:

A – Acabei de acordar e estou com uma puta


ressaca;

B – Quase fui atropelada e estou com os


cabelos completamente bagunçados.

— Mesmo assim, olhe para os lados. — Ele se


abaixa, pega a minha sacola, os fones de ouvido e
me entrega. — Se estivesse sem isso — aponta para
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os fones — teria escutado a moto vindo na sua


direção.

— Ele está errado e você está me


repreendendo? — Quem ele pensa que é?

— Não, estou te alertando. — Sua voz é firme.

— Quem você… — começo a falar, mas ele já


se virou e começou a andar em direção ao prédio.

Apresso os passos para ir atrás dele e, quando


o alcanço, ele começa a andar ainda mais rápido,
me deixando para trás.

Qual é o problema desse cara comigo?

Ele vai até o elevador, as portas se abrem e ele


entra. Corro na direção dele e consigo parar as
portas ao colocar as mãos no meio delas.

Entro e ele fica me olhando, como se eu fosse


um E.T..

— Quem… vo-cê… pen-sa… que é? —


Completamente ofegante, é o que consigo
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perguntar a ele. Provavelmente, estou fazendo


papel de idiota. Afinal, quem corre atrás de um
homem apenas para fazer uma pergunta dessas?

Respiro fundo, tentando normalizar a


respiração. Ele continua com os olhos em mim e
me sinto cada vez mais uma completa idiota. O
cara me salvou e estou aqui, querendo brigar com
ele. Toda a tensão das últimas semanas parece ter
me dominado. As lágrimas escorrem pela minha
face e eu me viro para esconder o rosto.

Os andares se passam e o silêncio fica


ensurdecedor dentro do elevador.

Um baque repentino faz todo o meu corpo


travar. As luzes se apagam e eu tateio o ar para me
segurar em algum lugar. O elevador sacode e grito
de pavor. Esbarro no meu vizinho e me agarro nele
como se fosse a minha salvação.

Ele nada diz, mas sinto o corpo dele tremer


junto ao meu.

— Você está bem?

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Ele permanece em silêncio.

As luzes se acendem e finalmente consigo ver


o rosto dele, molhado de suor.

— Você está bem? — volto a perguntar, mas


ele não me responde.

Alguns segundos depois, o elevador volta a


funcionar e para em nosso andar. Ele praticamente
voa para fora, entrando no próprio apartamento.

O que foi que acabou de acontecer? Será que


ele tem fobia?

Penso em ir atrás dele, mas desisto. Não


parece ser o tipo de cara que se abre para alguém.
Principalmente quando deve me achar doida e
intrometida. Pego as chaves no bolso e abro a porta
de casa.

Minhau me recebe com um miado. Me abaixo


e faço um carinho nela, pego uma colher na
cozinha e me jogo no sofá; com o sorvete que tirei
da sacola, pego uma porção generosa dele.

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Isso sim que é um dia ótimo.

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Não pense naquele dia!

O suor escorre pelas costas e tiro o terno do


corpo assim que entro no apartamento. Sinto como
se tivessem apertado o meu pescoço com toda
força, roubando-me o ar. Me sento no sofá, inclino
o corpo para frente e apoio as mãos na cabeça.

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Respiro fundo, tentando me acalmar.

Quando vejo que não tem jeito e sinto os


pensamentos irem para o mar obscuro, onde
ninguém poderá me alcançar, abro a gaveta da
mesinha de centro e pego o comprimido.

Me deito, apoio a cabeça no braço do sofá e


fecho os olhos, esperando o remédio fazer efeito,
mandar embora toda a sufocante dor que explode
em mim.

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Zapeio os canais de TV, tentando encontrar


algo para assistir enquanto como o sorvete de
flocos.

Minhau está enroscada em minha perna,


dormindo tranquilamente. Sim, para quem ainda
não entendeu, a minha gata se chama Minhau. É,

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não sou muito criativa com nomes. Isso sem contar


que ela é o primeiro animal que tive. A trouxe para
morar comigo logo após a morte do meu pai, já que
a casa estava vazia e eu me sentia extremamente
solitária. Enquanto passava por uma feira na
cidade, acabei vendo alguns animais para adoção e
Minhau estava entre eles, com aqueles olhos de
Garfield quando vê lasanha. Não me contive e a
trouxe para casa.

Passo as mãos pelo seu corpinho gordo e ela


ronrona.

Estou entediada e frustrada. Passei a manhã


inteira na rua procurando um emprego, mas os
donos dos estúdios nem ao menos olharam meu
portfólio. Todos alegavam estar com gente demais.

Desisto de tentar encontrar algo para assistir e


vou até o meu estúdio. O lugar é cheio de quadros
nas paredes que eu mesma desenhei, rascunhos
inacabados e um cheiro de tinta que me traz uma
sensação reconfortante.

Eu amo o que faço! Seja desenhar na pele, ou

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na tela, o prazer de ver as cores ganhando vida, e os


desenhos em forma, é indescritível. Quando decidi
estudar artes nem tinha em mente ser tatuadora.
Sonhava em ser uma artista como Romero Britto,
que, através das cores vibrantes, conseguia
transmitir alegria. Mas cada vez que ia ao estúdio
para fazer uma nova tatuagem e levava os meus
próprios desenhos para alguém reproduzir na minha
pele, saia de lá querendo trabalhar com aquilo,
ansiosa em marcar a vida das pessoas com o que
elas amam, que tenham significado para elas. Ver o
rosto de felicidade e satisfação de cada pessoa não
tem preço.

Durante esse tempo, já peguei muitos casos


que me emocionaram e isso faz todo o trabalho
valer a pena. Certo dia, por exemplo, uma mulher
veio até mim e sentou-se na minha frente com as
mãos trêmulas. Com o rosto banhado em lágrimas,
me pediu para que escrevesse na parte superior do
seio dela a frase: “Live in me”. Quando conseguiu
se acalmar, ela me contou que estava doente e
precisava de um coração novo ou morreria. Estava
na fila de espera há meses, já sem esperanças de
conseguir. Até que o esposo, o homem que ela
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escolheu para passar o resto dos dias, sofreu um


acidente de carro. Ele teve paralisia cerebral e,
como era doador de órgãos, fizeram um teste para
ver a compatibilidade. Assim foi feita uma doação
direta, permitindo que, desde então, aquela mulher
sem esperanças passasse a viver… com o coração
do homem que amava.

Essa triste e trágica história de amor me


emocionou de tal forma que precisei de alguns
segundos para me recompor e começar os
trabalhos.

Ele foi o fôlego de vida para ela…

Presenciar ela sorrir em meios às lágrimas ao


terminar de fazer a tatuagem foi… inexprimível.

Por isso não posso desistir, preciso continuar


fazendo o que amo.

O mais importante para mim nunca foi apenas


marcar a pele de alguém com tintas, traços e
desenhos, mas sim exprimir aquilo que existe
dentro do coração de cada um. Isso move o meu
mundo.
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Pego uma tela em branco e a coloco no


cavalete. Lembrar-me da história daquela mulher
me deixou melancólica, e isso sempre me inspira,
por mais mórbido que possa parecer. Plugo o
aparelho celular na Dock Station e coloco a música
Warrior, da Aurora. Olho para tela e deixo que a
inspiração flua livremente.

I can't recall last time I opened my eyes to see the


world as beautiful
(Não me lembro da última vez que eu abri meus
olhos para ver o mundo tão bonito)
And I built a cage to hide in
(E eu construí uma gaiola para me esconder)
I'm hiding, I'm trying to battle the night
(Eu estou escondendo, eu estou tentando
combater a noite)

Meu telefone toca bem alto e finalmente


desvio os olhos da tela. Olho para o aparelho e vejo
que estou pintando há quatro horas. É sempre
assim, eu entro em meu mundo e perco a noção das
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horas, minutos e segundos.

O aparelho continua tocando, tirando toda


minha concentração. Olho para a tela e vejo que é o
número da portaria.

— Menina Alice, como você está? — Ouço a


voz de seu Alberto do outro lado da linha. Sorrio,
ele é um senhor de meia-idade com os olhos mais
gentis que já vi.

— Bem, seu Alberto, e o senhor?

— Tirando a idade que avança a cada dia,


estou bem. — Rio, ele sempre faz drama por causa
da idade, mas é a pessoa mais ativa que conheço.
— Chegou uma encomenda para você.

Encomenda para mim? Eu não comprei nada.


Na verdade, nem posso. Mesmo que eu esteja
precisando de algumas tintas que acabaram, sem
chances de me dar esse luxo.

— Tem certeza de que é para mim?

— Sim, menina. Estou velho, mas enxergo


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muitíssimo bem.

Gargalho e desligo, lhe informando que já


estou descendo.

Nem me dou ao trabalho de trocar a camiseta


suja de tinta. Os moradores do prédio já se
acostumaram em me ver assim. Do jeito que estou,
pego o elevador e vou até a portaria, no térreo.

Antes que as portas possam se fechar uma


mão a impede. Um cheiro de menta preenche o
ambiente e vejo o vizinho, com uma calça jeans
surrada e uma camisa azul-marinho, capaz de
realçar cada músculo daquele corpo.

Céus! O que ele tem de odiável, tem de sexy.

O troglodita me olha de cima a baixo, morde


os lábios e dá um sorrisinho de canto, que revela
uma covinha no lado direito da bochecha. Mas se
engana quem pensa que é um sorriso de quem está
interessado… É de puro deboche. Mas por quê?

As portas se fecham e me sinto desconfortável


com a presença dele ali. Ajeito os óculos no rosto e
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assim que as portas se abrem corro do elevador


para a portaria, mas não sem antes ouvir uma
gargalhada rouca e vibrante.

Me viro para entender o motivo do riso, mas


as portas do elevador já haviam se fechado. Toco o
rosto para ver se não há resquícios de tinta, mas
nada encontro, então fico sem entender.

Acabo trombando com Rodrigo no meio do


caminho, meus óculos caem no chão e me abaixo
para pegá-los.

— Alice, já estava indo até o seu apartamento.


— Ah, não, essa não! Era tudo que me faltava,
encontrar com Rodrigo e estragar meu bom humor.
Rodrigo é o tipo de cara que não se manca. Já me
chamou para sair diversas vezes, e em todas as
vezes declinei o convite. Ele não é o meu tipo,
apesar de ser lindo. A forma como ele me olha…
como se quisesse me devorar, me deixa
desconfortável, e ele não faz isso apenas comigo e
sim com quase todas as mulheres do prédio. —
Tive outra reclamação sobre o som alto vindo do
seu apartamento. Nós já conversamos sobre isso, e
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chegamos a um acordo. Temos regras aqui, não


pode ouvir música na altura que quiser, Alice.

Ah, então era esse o motivo pelo qual estava


rindo de mim… Aquele canalha sabia que eu
levaria uma bronca. Com certeza havia feito a
reclamação!

Filho da mãe!

— Qual o nome dele?

— Nome de quem?

— Do meu novo vizinho.

— Isso importa?

Abro a boca para retrucar, mas paro de falar e


penso.

Por que eu gostaria de saber o nome dele


mesmo?

Balanço a cabeça negativamente. O nome nem


me importa, para mim ele continuará sendo o meu
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odiável vizinho.

— Me desculpe, isso não acontecerá


novamente.

O que estava pensando era exatamente o


oposto disso, mas se dissesse que o vizinho era um
pé no saco, e que ele – e o síndico – fossem para os
quintos dos infernos, eu provavelmente seria
advertida. Então, apenas aceito a reclamação.

Larissa e Bruna, minhas duas vizinhas que


moram juntas do outro lado, nunca reclamaram do
som. O que mais me irritou, sem sombra de
dúvidas, foi aquele sorriso de deboche ao passar
por mim. Se o som o incomodava, por que não veio
falar comigo?

Rodrigo assente e nem o espero falar mais


nada, continuo minha caminhada até a portaria.

Seu Alberto me avista e vem na minha


direção, com a encomenda nas mãos e uma sacola.

— Aqui. — Ele me entrega o pacote. Olho o


remetente e vejo que é a minha irmã. O que ela
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havia comprado?

— Obrigada, seu Alberto.

— Por nada, menina. Aqui, minha esposa foi


viajar com as irmãs, mas antes, fez aquele bolinho
de banana que você adora. — Meu estômago ronca
e eu pego a sacola da mão dele. Passei tanto tempo
pintando que não comi nada.

— Muito obrigada. — A esposa de seu


Alberto é uma cozinheira de mão cheia, sempre que
eu podia ia até o apartamento, que fica no mesmo
prédio, tomar um cafezinho com ela, Marília é uma
senhora que ama conversar, como as filhas já
haviam se casado, eram apenas os dois. — Quando
ela voltar de viagem, vou visitá-la.

— Vá sim, pelo menos assim ela alugará


menos os meus ouvidos com as fofocas. — Rio e
me despeço dele.

Ando até o elevador e começo a me lembrar


do esporro que tomei por causa do meu vizinho. A
raiva fervilha dentro de mim. O que custava falar
comigo? Ele poderia ter batido na minha porta,
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feito sinal de fumaça, ou qualquer coisa do tipo.

Chego em casa, abro a encomenda e vejo que


são tintas, de várias cores. Meus olhos se enchem
de lágrimas, Aline me conhece como ninguém, e
mesmo que eu não tivesse dito, ela sabia que estava
precisando renovar o estoque. Mando uma
mensagem lhe agradecendo e ela me responde
pedindo um quadro novo para o escritório. Rio,
essa é a minha irmã.

Volto para o meu canto com as tintas nas


mãos, louca para terminar o quadro, com o rosto
quente de tanta raiva. Vou até o meu ateliê, olho
para a pintura inacabada e nada da inspiração vir.
Bufo de raiva. Droga de vizinho que tirou toda
minha inspiração para terminar o quadro!

Pego algumas latas de cerveja na geladeira e


retorno para a frente da tela inacabada. Começo a
relaxar, mas a inspiração não volta. Pego as
latinhas do chão e as jogo no lixo.

Guardo as tintas espalhadas pela mesa em seu


devido lugar. Até que uma ideia me assalta a

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mente. Pego um papel, uma caneta, vou até a mesa


e decido escrever um recado para o meu vizinho.

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Guardo meu terno no armário e coloco uma


blusa de manga, azul-marinho, além de uma calça
jeans e o tênis casual.

Estou exausto! A investigação que assumi no


lugar de Jean está me consumindo mais do que
esperava.

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Ouço a porta do vestiário se abrindo. Felipe


entra, já tirando a farda.

— Dia difícil hoje? — Felipe me conhece


como ninguém.

— Definitivamente.

— Então… Que tal um barzinho hoje?

Passo as mãos pelos cabelos e decido que


preciso relaxar. Passei a semana inteira de mau
humor por causa desse maldito caso, que mais
parece um túnel sem saída. Definitivamente preciso
esvaziar a mente.

— Claro, vamos.

Fecho o armário, coloco minha mochila nas


costas e vou atrás dele.

Seguimos cada um com o próprio carro até o


bar. Oliver, o dono, já nos conhece. Há anos

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frequentamos o mesmo local. Gostamos do


ambiente rústico, porém aconchegante; do piso de
madeira, num tom mogno, bem como as mesas e
cadeiras. Há quadros de diversos locais espalhados
por todo ambiente. Além disso, nas estantes
próximas há duas prateleiras de madeira, fechadas
em vidro, com diversos carros de colecionadores
nelas.

Ele é um francês de meia-idade, que mesmo


tendo diversos funcionários para cumprir todas as
funções não consegue parar de trabalhar. O
avistamos no bar e nos aproximamos. O local ainda
está vazio, então há apenas algumas pessoas na
bancada, nosso local favorito.

— Bonjour — Oliver nos cumprimenta com


um sorriso no rosto assim que sentamos.

— Boa noite, Olie — Felipe e eu dissemos


juntos, começando a rir em seguida.

— Cerveja?

Assentimos e aguardamos, enquanto ele enche


nossos copos.
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Olie só serve cerveja artesanal, desde que


abriu o estabelecimento. Esta é uma das
caraterísticas mais marcantes do espaço. E assumo
que nunca havia experimentado uma cerveja tão
gostosa quanto a dele.

Ele coloca os copos quase transbordando à


nossa frente e logo bebo um gole generoso.

Sua esposa aparece atrás dele e o beija.


Mesmo após anos de casados, eles se tratam com
ternura e amor. Desvio dos olhos deles, para não
ser torturado pelas lembranças.

O casamento dos meus pais também era


assim… Sinto um aperto no peito cada vez que os
vejo, pois as recordações me invadem a mente,
atingindo-me em cheio na alma.

— Bonjour, meninos lindos — Adeline


sempre nos cumprimenta dessa forma. Olho para
ela e forço um sorriso, tentando impedir as
lembranças de me consumirem.

— Boa noite, Adeline. Como você está? —


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Felipe toma a dianteira.

— Melhor agora com essa visão maravilhosa


— ela flerta, fazendo-nos rir. — Querem comer
alguma coisa?

— Alguns frios para petiscar seria ótimo! —


A tensão aos poucos se dissolve. É impossível ficar
de mau humor ou triste ao lado dela. Adeline é a
pessoa mais alegre que já conheci.

— É pra já!

Ela beija o rosto do marido e vai até a cozinha.

Sinto uma mão me tocar as costas, subindo até


os ombros. Um cheiro adocicado preenche o
ambiente a minha volta e sei exatamente quem é.

Viro o corpo na cadeira e vejo Sara com um


vestido pink colado ao corpo e os cabelos loiros
presos no alto da cabeça.

Na maioria das vezes que venho até o bar, ela


está aqui com as amigas. Já transamos umas três
vezes. Sara é livre, desimpedida e não pede mais do
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que posso lhe oferecer. Nossa relação é apenas de


sexo, nada mais. E nenhum de nós tem problemas
com isso.

— Olha quem apareceu! — As unhas


contornam o meu pescoço, fazendo todo o corpo se
arrepiar no processo.

— Como você está?

Ela se inclina até ficar com o rosto próximo ao


meu ouvido.

— Estarei muito melhor se me encontrar daqui


a dez minutos, no banheiro.

Um sorriso toma conta do rosto dela e


concordo com a cabeça, sentindo o pau enrijecer.
Acho que preciso me aliviar mesmo… Faz tanto
tempo desde a última vez.

Viro-me para Felipe.

— Se importa se te deixar sozinho por um


tempo?

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— Não, cara, fica à vontade — ele ri, sacando


tudo.

Procuro por Olie e o vejo atendendo um casal.


A última vez em que transei no banheiro dele...
Digamos que não tenha ficado muito feliz.

— Pode ir, te dou cobertura — meu amigo


comenta, sabendo exatamente no que estava
pensando.

— Obrigado, cara.

Felipe é um dos caras mais honrados que


conheço. Casado e já com duas filhas, sempre
recusa gentilmente qualquer convite ou insinuação.
Termino de beber a cerveja e vou até o banheiro,
me encontrar com Sara.

Algum tempo depois, volto para a mesa mais


relaxado e vejo Felipe ainda conversando com Olie.
Quando eles reparam na minha presença, o dono do
bar me fita, balançando a cabeça com um olhar de
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reprovação.

— Você não tem jeito, rapaz. Quando vai


sossegar e encontrar uma garota legal? — Pelo
menos dessa vez, não foi um sermão sobre ultraje
público ao pudor… Que eu conheço bem.

Passo as mãos pelos cabelos e olho para o meu


amigo, pensando no que falar, Felipe apenas dá de
ombros, o que não me ajuda muito.

— Não estou procurando um relacionamento,


Olie…

— Isso é o que todos dizem, rapaz… Mas


quando encontram a garota certa — seus olhos se
voltam para o vidro atrás dele, onde Adeline está na
cozinha. Depois se vira para mim novamente, dessa
vez com aquele brilho no olhar, capaz de me
assustar mais que qualquer coisa na vida — tudo na
sua vida muda, mesmo que não queira.

Assinto, mesmo sem querer, apenas para


encerrar o assunto. Depois disso bebo mais um
copo de cerveja e decido encerrar a noite. Como
bebemos, decidimos deixar o carro no bar e
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rachamos um táxi na volta para casa.

As portas do elevador se abrem e sigo em


direção ao meu apartamento. Assim que coloco os
pés em casa, piso em um papel. Estranho… Não
costumo deixar nada fora do lugar. Me abaixo para
pegar o pegá-lo e vejo que é uma carta escrita a
mão.

Querido Odiável vizinho,

Eu não faço ideia do que você tem


contra mim. Talvez tenha sido por aquele
pequeno acidente que me fez passar a
noite no seu apartamento… ou talvez
apenas não vá com a minha cara mesmo!

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Droga, não acho que seja isso. Foi


realmente por causa do incidente, certo?
Apesar de que acordar com aquela visão
não foi de todo ruim…

Bom, isso não vem ao caso. O


importante é que te acho um cretino.
Todas as vezes que nos encontramos, age
como um verdadeiro ogro. Eu lhe disse
que foi um ACIDENTE! Eu tinha
acabado de perder o emprego, fui beber
para afogar as mágoas e SEM QUERER
entrei no apartamento errado.

Droga! Não era bem isso que eu


queria dizer…

Só me desculpe por ter feito aquilo.


Prometo que não acontecerá novamente.
Não que me falte vontade… Por que você
tem que ser tão sexy?!

Att.

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Vizinha do lado.

Eu deveria ficar furioso com ela por tudo que


aconteceu desde que a conheci, mas lendo essa
carta só consigo gargalhar. Pelo visto, a vizinha
tem um jeito único de ficar bêbada. Ainda sentindo
o álcool no meu corpo, decido devolver a carta.

Talvez, se eu estivesse sóbrio, eu não faria


isso… Mas neste momento nem sei onde está a
minha razão.

Vou até a escrivaninha, no escritório. Pego um


papel e uma caneta e começo a escrever.

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Ah, não! De novo não!

Minha cabeça lateja. Assim que tento abrir os


olhos, mil facas parecem furá-los. Puta merda! Bebi
demais outra vez.

Minhau sobe na cama e eu fico fazendo


carinho nela.
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Passo alguns minutos deitada e quando a


vontade de ir no banheiro aperta, me levanto
correndo, o que faz com a minha cabeça
praticamente exploda.

Minha gata me segue. É sempre assim todos


os dias de manhã: ela fica andando atrás de mim,
até que eu lhe coloque comida. Por isso faço a
vontade dela e finalmente tomo um banho, coloco
roupas confortáveis e decido fazer um café forte
para espantar a ressaca.

Abro os armários para procurar o café, e


encontro a lata vazia.

Droga! Esqueci de repor.

Pego as chaves, o celular e caminho em


direção a porta para ir ao mercado.

Vejo um papel dobrado caído no chão e me


abaixo para pegá-lo. Fecho a porta de casa e abro o
papel, lendo no caminho. Mas quase caio quando
me dou conta do conteúdo ali escrito.

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Vizinha tarada

Acho que você esqueceu algo na


minha porta ontem à noite.

P.S.: Pare de beber, faz mal ao


fígado.

Att.

Seu odiável vizinho.

Puta merda! O que eu fiz ontem à noite?

O outro papel que estava junto a carta dele cai


no chão, mas antes que eu me abaixe para pegá-lo,
uma pessoa me entrega. Olho para quem me ajudou
e sinto todo o meu rosto queimar de vergonha
quando me dou conta de quem é. Parece que a vida
adora me fazer passar vergonha na frente desse
cara.
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Olho para o vizinho, que está apenas com um


sorriso de canto.

Todo meu corpo trava, eu não consigo esboçar


reação alguma. Nossos dedos se tocam levemente
por alguns segundos enquanto ele me entrega o
papel. Todo meu corpo se arrepia com essa
proximidade. As bochechas, já vermelhas de
vergonha, ficam ainda mais quentes, se é possível.

Ele se vira para ir embora, sem dizer uma


palavra. Penso em voltar a respirar, mas antes que
ele entre no elevador, se vira para me encarar e
fala, me deixando sem chão:

— Ogro foi o apelido mais gentil que eu já


recebi. — Aponta para o papel e minhas mãos.

Saio do transe e sinto as pernas bambas.


Apoio-me na parede para não cair e vejo as portas
do elevador se fechando. O ar parece ficar rarefeito
e respiro fundo.

Que merda acabou de acontecer?

Flashes invadem a minha mente.


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Essa não!

Eu escrevi uma carta para ele! O quanto eu


bebi ao ponto de fazer isso? Por que raios ele não
parecia estar irritado e sim se divertindo com toda
situação?

Desdobro o papel e começo a ler.

Não que me falte vontade… por que você tem que


ser tão sexy?

Onde eu estava com a cabeça quando


escrevi isso? Nessa hora, desisto de ir ao mercado,
volto para o meu apartamento e me jogo no sofá.

— Dessa vez é sério, Alice. Você está


proibida de beber e pensar no odiável vizinho sexy.

Repito essa frase para mim mesma, diversas


vezes, como um mantra.

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A campainha toca e eu me sobressalto. Depois


da vergonha que passei, fiquei jogada no sofá
vendo reprises de The Voice e acabei adormecendo.

A campainha toca novamente e me levanto


para atender. Vislumbro pelo olho mágico minhas
vizinhas, Bruna e Larissa. Sorrio e abro a porta.

— Achei que vocês tivessem me abandonado.


Faz dias que vocês não aparecem.

— Dramática! Estávamos em uma missão.


Nosso chefe nos deu um manuscrito para traduzir
em questão de dias! — Larissa entra em casa e
coloca algumas sacolas na bancada.

Bruna se aproxima e me abraça.

— Como você está?

— Ainda na merda, sem conseguir arrumar


emprego. Alguns estúdios nem olham meu
portfólio.

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— Ah, amiga. — As duas se aproximam e me


abraçam. — Vai dar tudo certo. É uma ótima
profissional, logo encontrará um estúdio para
trabalhar.

— Trouxemos cachaça. Vamos beber para


afogar as mágoas!

É incrível como as duas são tão diferentes e,


ao mesmo tempo, conseguem viver tão bem juntas.

Enquanto Lari age com a razão, Bru age com a


emoção.

Minhas amigas trabalham em uma grande


editora e, como ambas estavam procurando um
lugar para morar próximo ao trabalho, decidiram
dividir um apê.

— Cachaça? Nem pensar! Se vocês


soubessem tudo que aconteceu comigo essa
semana…

— Você, recusando uma cachaça? O que


aconteceu? — Bruna se joga no sofá, enquanto
Larissa e eu a acompanhamos.
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Começo então a contar-lhes tudo. As filhas da


mãe gargalham cada vez que menciono os
acontecimentos.

— Ficamos enfurnadas dentro do escritório e


não o vimos ainda. Como ele é? — Lari começa a
trançar os cabelos vermelhos.

— Irritante!

— Sem essa, sua vaca. Pode nos contar!


Fisicamente, como ele é? — Bruna cruza as pernas
no sofá, esperando ansiosamente que eu lhe conte.

— Alto, moreno, com os cabelos negros. Um


rosto quadrado, a boca carnuda, barba rente ao
rosto e os olhos mais penetrantes que já vi. O
homem é terrivelmente sexy… É isso que vocês
queriam ouvir?

Bru se levanta rindo e vai até a cozinha.

— Eu preciso ver esse pedaço de mau


caminho!

Reviro os olhos, e sinto uma pontada de


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ciúme.

Que merda é essa?! Ele é só meu odiável


vizinho! Por que eu me importaria dela vê-lo?

— Acho que realmente preciso da cachaça.

— É para já! — Bru grita da cozinha.

— Mas, por favor, não me deixem fazer


nada… Só saiam daqui quando eu estiver sóbria ou
dormindo.

— Vamos dormir aqui, melhor assim? —


Tenho medo de fazer outra cena na frente do meu
vizinho. O cara deve me achar a pessoa mais
alcoólatra do planeta.

— Sim!

Vou até o meu Dock Station, e plugo o celular.


A voz da Taylor Swift preenche o ambiente e as
meninas soltam gritinhos de empolgação. Deixo o
som em um volume que não incomode o vizinho.

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Work, work, work, work, work, work


(Trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar,
trabalhar, trabalhar)
He said me have
(Ele me disse que eu tenho que)
Work, work, work, work, work, work
(Trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar,
trabalhar, trabalhar)
He see me doing
(Ele me vê fazendo)
Dirt, dirt, dirt, dirt, dirt, dirt!
(Sacanagem, sacanagem, sacanagem, sacanagem,
sacanagem, sacanagem)

— Vamos beber a noite toda, baby!

Lari e eu vamos até a bancada da cozinha e


ajudamos Bru a preparar as caipirinhas e alguns
petiscos. A conversa e a bebedeira renderam a noite
toda e, pela primeira vez nessa semana, me senti
melhor. As coisas não estavam boas, eu estava sem
condições de manter o apartamento, que era da
minha família, se não voltasse a trabalhar logo, mas
minhas amigas me davam força e com elas, eu me
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sentia capaz de vencer o mundo.

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Depois do fim de semana em bebedeira com


as meninas, decidi recomeçar a vida. Fiz uma
listinha de coisas para fazer, já que agora estava
com tempo de sobra. Uma delas era correr.

Até começo bem, um passo depois do outro.


Pegando velocidade e…

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Já estou arrependida antes mesmo de alcançar


um quilômetro percorrido. O peito queima e as
pernas doem. Preciso pegar o pulmão emprestado
de alguém, pois acho que o meu deu perda total.

Puta merda, por que inventei de começar logo


correndo?! Tinha tantas outras coisas para se
fazer… Como, por exemplo, ir ao cinema sozinha.

Sinto o corpo ficar dormente e tudo a minha


volta começa a escurecer. Pronto, nunca imaginei
morrer assim, estirada na calçada por causa de
alguns passos… Mas antes que desabe no chão, um
par de mãos me seguram, prendendo-me junto ao
corpo.

Fixo o olhar em meu salvador e não fico nem


um pouco surpresa quando vejo que é o vizinho. O
destino gosta de brincar comigo. Literalmente.

Ele me ajuda a sentar e oferece um pouco da


água. Bebo um gole generoso até que tudo comece
a voltar.

— Está melhor?

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— Sim, obrigada. — Passo as mãos pela testa


para tirar um pouco do suor.

— Não está acostumada a correr, né?

Rio. Esse cara realmente sabe ler bem as


pessoas.

— Não mesmo. Hoje é a primeira vez na vida


que venho até aqui só para correr. Normalmente
trago os blocos de desenho, sento próxima ao lago
e fico rabiscando para relaxar. Mas eu queria fazer
algo diferente. Recomeçar, sabe? Por isso, quis
começar a me exercitar, mas não deu muito certo…
— paro de falar para tomar fôlego. Droga! Estou
tão nervosa daquela proximidade que desato a falar
da minha vida. Seus lábios se curvam em um
pequeno sorriso. Ele deve estar adorando me ver
nervosa.

— Correr requer preparo físico e hidratação.


Onde está a sua garrafa de água?

Passo as mãos pelos cabelos, nervosa. É claro


que a idiota nem pensou nisso. Quando vê que vou
ficar de boca fechada, ele continua:
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— Você tomou café da manhã?

— Não…

— Você quer se matar em vez de se exercitar?

Olho para ele, de cara feia. Quando achei que


estava sendo gentil, lá vem a patada…

— Consegue andar?

Assinto. Ele me pega pela mão e sai andando.


Praticamente me arrastando, na verdade.

— Aonde estamos indo? — Puxo a mão da


dele, fazendo-o parar.

— Alimentar você.

— Eu não… — vou dizer que não estou com


fome, mas a barriga ronca alto o suficiente para o
meu vizinho ouvir. É nesse momento que percebo
quanto o destino ama me fazer passar vergonha.
Fico sem graça e o acompanho.

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— Você vem sempre aqui? — abro a boca


quando o silêncio começa a se tornar
desconfortável.

— Sim — é tudo que ele responde.

— Já morava em Águas Claras antes de se


mudar para o apartamento?

Acena a cabeça.

— Você trabalha?

Mais uma acenada.

As respostas sucintas começam a me irritar.

— Não sabe conversar?

— Não.

Irritada, viro-me para seguir outro caminho e


ele vem atrás de mim.

— Aonde está indo? — finalmente uma frase.

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— Para casa.

— Você precisa…

— Comer? Com você?! Dispenso, faço um


lanche quando chegar.

Nem o espero falar. Peço um Uber pelo


celular, mesmo não podendo gastar dinheiro, já que
andar de bicicleta em meu estado estava fora de
cogitação.

Abro a porta de casa e Minhau passa correndo


pelas pernas. Vai até a porta do vizinho, passa as
patinhas pela porta, na esperança de que abra.

Até minha gata quer me fazer passar


vergonha! Puta merda, espero que ele não esteja em
casa…

Coloco as sacolas no chão, perto da porta e


vou atrás da gata. Tento tirá-la de lá, mas a danada
começa a me arranhar. Sinto então o cheiro de

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bacon e entendo o motivo da gata estar tão


desesperada. Ela ama bacon, apenas o cheiro a
deixa completamente eufórica e maluca.

— Gata louca, você vai sair daqui, nem que


tenha de te arrastar!

Seguro-lhe as patas, mas ela se mexe tanto que


se solta das minhas mãos. Tento pegá-la de novo,
mas ela me machuca tão forte que chega a sangrar.
Sinto a ardência e solto alguns palavrões baixinho
para que meu vizinho não escute… Mas lógico que
ele tinha de abrir a porta, a gata aproveita a
brechinha para passar entre as pernas dele, sumindo
da minha vista.

Puta que pariu! Em outra vida, eu devo ter


feito muito mal a esse cara, porque não é normal
uma pessoa passar tantas humilhações na frente de
outra.

— Desculpe, é o maldito bacon. Ela não pode


sentir o cheiro que fica maluca. Posso entrar para
pegá-la?

Ele olha fixamente para o meu braço.


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— Você está sangrando…

Dou de ombros, apesar da ardência.

— Ela fica um pouco emotiva quando não


consegue o que quer. Coisas de gato.

Ele abre a porta e entro no apartamento.


Avisto a ingrata em frente ao fogão, sentada
calmamente como se não tivesse acabado de me
fazer passar vergonha ou me arranhado toda.

Tento chegar até ela, mas sou impedida por


meu vizinho, que me segura pelos ombros e me faz
sentar no sofá. Me levanto, mas ele balança a
cabeça negativamente.

— Primeiro vou cuidar do seu braço, depois


você pega a gata maluca.

Assinto e ele entra em uma porta, me deixando


sozinha.

Esse cara é bipolar, só pode… É gentil e ogro,


gentil e ogro, e consegue me deixar confusa com
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estas atitudes. Por ora desisto de tentar entendê-lo.

Miro com raiva a minha gata, que parece


sentir o olhar de laser na direção dela. Vira então a
cabecinha para mim e mia. Sei que é infantil, mas
rosno para ela. Minhau volta a olhar para fogão, me
ignorando completamente. Sabe que, dessa vez,
aquela cara fofa não vai me convencer.

Meu vizinho volta com uma caixa, que deduzo


ser de primeiros socorros. Abre e começa a limpar
meu braço em silêncio.

Morde os lábios enquanto limpa o ferimento.


Deve ser algo que faz sempre que está
concentrado… E o deixa sexy pra caramba.
Observo o rosto dele, já que está bem próximo a
mim. Os cílios são grossos e destacam os olhos
penetrantes. E aquele rosto quadrado?

— Puta que… — sou tirada abruptamente dos


meus devaneios e mordo os lábios para não
terminar o palavrão.

Sinto uma ardência no ferimento e vejo um


líquido vermelho escorrendo pelo braço. O local
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arde como um inferno.

— É para não inflamar.

— Está mais para me matar — murmuro, mas


ele parece ter escutado, pois os lábios levemente se
erguem para cima.

— Como você se chama? — Percebo que até


agora não sei o nome dele.

Fica em silêncio por alguns segundos e chego


a pensar que não responderá a minha pergunta.

— Benjamin — finalmente a voz sai, firme e


vibrante.

— Nome bonito — como o dono… Quase


completo.

— Obrigado.

Ele cobre o arranhão com gazes, esparadrapo e


guarda tudo novamente na caixa.

— Obrigada pelo curativo.


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Me levanto e tento pegar a gata, mas ela se


desvencilha de mim mais uma vez.

Eu taquei pedra na cruz, não é possível! Ben –


juro que já me acho íntima – passa por trás de mim,
esbarrando o corpo levemente no meu, o que faz
um arrepio me correr a espinha e as mãos suarem.
Santo Deus… O que esse homem faz comigo?

Pega então um pedaço generoso de bacon, se


abaixa, faz carinho na gata e lhe dá. Ela mia alto,
como se estivesse lhe agradecendo.

— Você já se alimentou? — Saio do transe ao


ouvi-lo.

— Não…

— Acabei de pôr a mesa. Quer tomar café?

Quero evitar dar trabalho, ainda mais depois


do ataque dessa gata maluca… Sei que há algumas
horas, eu neguei a companhia dele, mas parece tão
gentil… E a mesa está linda, posso ver dali. Fica
impossível recusar.

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— Não quero dar trabalho… — Ele


simplesmente acrescenta mais uma caneca à mesa.

— Por favor, sente-se.

Puxo a cadeira e me sento, aceitando o


convite.

Ele começa a se servir e faço o mesmo. Avisto


um pãozinho de queijo e o coloco na boca.

— Hmmm, que maravilhoso. É da padaria do


seu Alberto?

Ele beberica o café e apenas assente. Assim


voltamos a estaca zero… Como vejo que ele não
quer conversar, termino de comer e me levanto.

— Obrigada pelo café… E me desculpe mais


uma vez pela gata.

Nem o espero falar nada, pego a bichana no


colo e saio do apartamento.

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Quando avistei Alice correndo no parque, algo


dentro de mim me fez ir atrás dela. Minha vizinha
estava toda desajeitada, tropeçava inúmeras vezes e
parecia que a qualquer momento cairia… No
momento em que começou a diminuir os passos,
parei no lugar e fiquei a observando. Com os
típicos fones de ouvido, sequer reparou em mim.

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Acho que ela nunca parece reparar no ambiente em


volta, o que me deixa um pouco nervoso. Sempre
fui um cara centrado, devido ao meu trabalho.
Qualquer movimento estranho me deixa em alerta,
mas Alice vive no próprio mundo, como a
personagem do País das Maravilhas, e isso me
enlouquece.

Não sei se foi instinto, mas quando ela


começou a cair, eu já estava com ela nos braços. O
rosto dela estava pálido, os lábios no mesmo tom.
Parecia que desmaiaria a qualquer momento.

Dei-lhe então água quando reparei que nem


carregava uma consigo.

Que ela nunca praticava exercício, isso


qualquer um poderia ver apenas pelos tênis roxos,
que nem eram de corrida…

Mas por que a ajudei? O que está acontecendo


comigo?!

Desde o dia em que entrou no meu


apartamento por engano, tenho sentido uma
curiosidade enorme sobre ela. Isso é algo que
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sempre reprimi… Quando uma mulher me


despertava interesse, afastava. Mas com essa parece
algo impossível, já que está em todo lugar.

Agora estou sentado à mesa, olhando-a ir


embora e sentindo uma inquietude crescendo no
peito. O fato é que ela parece diferente de qualquer
garota que já vi. Ilumina o lugar por onde passa,
não pelos cabelos ou roupas coloridas e sim porque
o sorriso dela é demais. É como um ponto de luz no
céu nublado.

E isso me assusta pra cacete. Me faz ser


alguém que desconheço. Essa gentileza, essa
vontade de me aproximar… Não é um sentimento
que estou acostumado a ter.

Balanço a cabeça, tentando afastá-la dos


pensamentos. Tiro as coisas da mesa, guardo tudo e
lavo a louça.

Alice foi a primeira pessoa que recebi aqui


desde que me mudei…

Caralho! Meus pensamentos estão voltando de


novo para ela.
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Seco a pia e vou até a escrivaninha. Preciso


trabalhar, somente assim a mente fica livre da
vizinha de cabelos coloridos.

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Entro em casa e coloco a gata no chão, ainda


tentando colocar as ideias em ordem.

Benjamin… O nome faz jus ao dono…

Um homem com aquela beleza…

Pena que ele é tão confuso… Em um


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momento é gentil, e no outro um troglodita…

Olho para o curativo no braço. Apesar de ter


colocado remédio para não inflamar, o que fez
arder como o inferno, limpou o ferimento com tanta
delicadeza…

Alice Faria… Você está proibida de pensar no


seu vizinho!

Pego os fones, tentando abafar meus


pensamentos. Vou para o ateliê e me sento na
poltrona com o bloco de desenho e um lápis.
Alguns minutos se passam e a imaginação começa
a fluir pelas páginas enquanto a voz da Lana Del
Rey me preenche os ouvidos.

Walking through the city streets


(Andando pelas ruas da cidade)
Is it by mistake or design?
(É por engano ou vaidade?)
I feel so alone on a Friday night
(Me sinto tão sozinha em uma sexta à noite)
Can you make it feel like home if I tell you’re mine?
(Você pode fazer eu me sentir em casa se eu disser
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que você é meu?)


It’s like I told you, honey
(É como te disse, querido)

Quando termino, olho o desenho e vejo o que


acabei fazendo: um vaso de cactos, com uma
pequena flor em cima… Mesmo que esta planta
tenha espinhos, ainda assim, alguns dão lindas
flores.

Sorrio diante da mensagem do desenho,


guardo o material e me arrumo para almoçar com a
minha irmã.

Paro a bicicleta em frente à casa de Aline e


vejo minha sobrinha no balanço. Os cabelos loiros
estão soltos e completamente bagunçados,
enquanto ela agita os braços, vestida com uma
camisa do Homem de Ferro e meias do Homem-
Aranha.

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Jasmine tem apenas cinco aninhos e ama


super-heróis. No aniversário de quatro anos, a
levamos em uma loja de brinquedos para que
escolhesse um presente e foi correndo pegar um
boneco do Super-Homem e outro do Homem de
Ferro. Curiosas para saber por que ela havia os
havia escolhido, lhe perguntamos.

— Eu quero salvar o mundo dos homens


maus! — Foram as palavras dela, toda orgulhosa.

Apenas sorrimos, sem resposta.

— Tiaaaa! — Ela corre na minha direção e me


abaixo para lhe dar um abraço apertado.

— Minha pequena. — Passo as mãos pelos


cabelos dela e lhe beijo a testa antes de levantar.

— Olha! Olha! Hoje eu sou o Homem de


Ferro! — Ela estica a blusa para que eu a veja.

— E o Homem-Aranha também. — Aponto


para as meias.

Ela sorri e rodopia.


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— Eu tenho um presente para você, tia!

— Uma surpresa para mim? O que é?

Ela coloca a mão no queixinho e faz cara de


pensativa! Sorrio, minha sobrinha é uma graça.

— Vou buscar!

Ela solta uma risada gostosa, vai saltitando


para dentro de casa. A acompanho e, assim que
entro, vejo minha irmã colocando a mesa enquanto
Jasmine vai até o quarto.

Dou-lhe um abraço e me sento.

— Nossa, que cheiro bom!

Diferente de mim, Aline tem o dom e ama


cozinhar. Sempre que chegava às festas de finais de
ano, quando éramos apenas nós e papai, era ela
quem cozinhava enquanto eu ficava ajudando a
picar as coisas e depois lavar a louça. Sempre me
dizia que eu era um perigo, pois conseguia queimar
até mesmo um miojo.

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— Eu fiz feijão branco à italiana.

Sinto até água na boca.

— Deve estar uma delícia.

— Fui eu quem fiz, irmãzinha. Então é claro


que está uma delícia.

Reviro os olhos, mas sorrio, pois é verdade.


Tudo o que faz fica ótimo.

— Onde está meu cunhado? — Percebo que


ele não está em casa.

— Teve que viajar a trabalho. Aliás, queria te


pedir um favor: pode ficar com as Jas semana que
vem? Ele ainda estará viajando e a babá já avisou
que terá médico.

— Claro!

— Eu vou ficar com a tia? — Minha sobrinha


surge do quarto com um pequeno embrulho nas
mãos.

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— Sim, meu amor. A Joice precisa ir ao


médico.

— Ela está dodói, mamãe?

— Não, amor. São apenas alguns exames,


igual aos que você faz com a tia Luísa.

Ela assente e se aproxima de mim.

— Aqui, tia. Pra você.

Pego o embrulho e finjo que o chacoalho.

— O que será?

Ela solta um risinho.

Abro o pequeno embrulho e me deparo com


um par de meias da Alice no País das Maravilhas.

Rio alto. Elas sempre fazem trocadilhos sobre


o meu nome e o da personagem clássica.

— Gostou, tia? — Os olhinhos de Jasmine


brilham.
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— Eu amei, meu amor! Muito obrigada.

— Quando ela viu as meias, me pediu para


comprar. Disse que eram perfeitas pra você.

Pego as meias e as coloco. Elas são lindas!

— Agora você está igual a mim, tia!

Minha irmã sorri e termina de pôr os pratos à


mesa.

— E o vizinho? — Aline coloca a sobremesa


na mesa.

— Eba, sorvete! — Jas praticamente grita de


tanta alegria. A pequena, assim como eu, ama
sorvete de flocos.

— O que tem ele?

— Nada ainda? — Passo as mãos pelos


cabelos, pensando no que falar. Resolvo contar do
fatídico dia em que lhe enviei a carta bêbada.
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— Pelo visto, está caidinha pelo cara.

— Claro que não!

— Alice Faria, você enviou uma carta para


ele, bêbada, confessando que o acha sexy! Se não
estiver a fim dele, então nem sei o que é!

Respiro fundo.

— Ele não gosta de mim.

— Como você sabe?

— Eu apenas sei. O cara mal conversa


comigo. Eu fui correr no Parque Ecológico e
acabei…

Minha irmã ri alto.

— Você, correndo? Em todos esses anos,


nunca a vi praticar nenhum esporte.

Reviro os olhos. É verdade… Nunca fui uma


pessoa muito esportiva.

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— Enfim… Estou tentando mudar de vida…


O duro é que passei mal enquanto corria, mas ele
me socorreu. Até que foi supergentil, sabe? Mas, de
repente, começou a responder as minhas perguntas
com sons monossilábicos, por isso fui embora e o
deixei sozinho. Para piorar, cheguei em casa e ele
estava fazendo bacon… Aline, já pode imaginar o
que aquela gata maluca fez, né? Arranhou a porta
do apartamento dele e me machucou quando tentei
pegá-la. Quando o cara foi ver o que estava
acontecendo, a Minhau correu para dentro, em
disparada, e ficou lá até que ele lhe deu bacon.
Ainda cuidou do meu arranhão, me convidou para
tomar café e depois, pra variar, começou a me tratar
com se eu nem estivesse ali. Isso é frustrante!

— Respire, irmã.

Acabo despejando tudo em cima da minha


irmã. Não consigo entendê-lo, por mais que eu
tente. A gentileza me faz querer ficar próxima a ele,
mas aquela indiferença me frustra.

O que está acontecendo comigo?

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— Talvez ele tenha os próprios motivos, Ali.

Dou de ombros, pois já desisti de tentar


entendê-lo.

— Tia, o que é sexy? — Ops, acabamos


esquecendo que Jas estava à mesa, e o quanto é
curiosa.

— Uma pessoa muito bonita, Jas.

— Você diz que eu sou bonita… Então eu sou


sexy, tia?

Minha irmã gargalha e eu a fuzilo com os


olhos. A filha da mãe nem tenta me ajudar.

— Sim, meu amor, você é muito sexy.

Ela sorri com a boca lambuzada de sorvete.

Enquanto Jas brinca no quintal de bicicleta,


Line e eu estamos sentadas na espreguiçadeira,
tomando suco. O clima está fresco e o céu azul
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como o mar. Sinto vontade de pintar esse cenário,


com minha sobrinha brincando e nós ali, sentadas e
juntas no silêncio.

— Alice… está precisando de alguma coisa?


— Sei que ela está se referindo à minha atual
situação financeira.

— Ainda tenho algumas economias, Line.


Pode ficar despreocupada.

— Você sabe que pode contar comigo, não


sabe?

Assinto com os olhos lacrimejantes.

— Tenho fé de que encontrarei algo esse mês.

Não estou mentindo para ela. Ainda tenho o


valor da parcela desse mês, mas nada além disso.
Se continuar desempregada, não sei o que farei para
pagar as contas do mês que vem.

— Você é a melhor no que faz, irmã. Também


tenho fé.

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Ela estende a mão e eu a seguro. Esse contato


me faz sentir amada. Essas duas são a única família
que me resta, e até aquele momento sequer havia
percebido o quanto me sentia solitária.

Sorrio, mais leve.

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Tomo uma vitamina, pego o tênis de corrida e


saio de casa. Sem que consiga evitar, olho para a
porta da minha vizinha… Será que ela tentará
correr hoje novamente?

Por que meus pensamentos sempre estão se


voltando para ela?

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Balanço a cabeça, como se isso pudesse me


ajudar. Vou até a garagem e pego a bicicleta.

Em alguns minutos chego ao Parque


Ecológico.

Algumas pessoas correm sozinhas ou


acompanhadas. Há outras caminhando com os
animais de estimações. O dia está nublado, o que
deixa a temperatura agradável. Hoje decido ir pela
trilha verde, coloco os fones no ouvido e me
alongo. Quando termino, avisto uma pessoa com os
cabelos roxos presos no alto da cabeça, a alguns
metros de mim.

Ela também se alonga, e caralho… Através da


roupa colada consigo ver cada curva. Essa
mulher… vai me matar um dia. Sinto o pau dar
sinal de vida e desvio os olhos dela, mas só por
alguns segundos, pois não consigo parar de olhar
para a vizinha. Ela termina e bebe um pouco de
água, pelo menos hoje trouxe. Olho para os tênis e
vejo que são os mesmos. Será que ainda não
percebeu que eles não servem para correr?

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Ela começa a movimentar-se devagar, e vou


atrás dela. Pelo visto, ela teve a mesma ideia que
eu, de seguir a trilha verde que tem, em média, dois
quilômetros.

Começa bem devagar e eu acompanho o


ritmo. Fico atrás dela por alguns minutos, e vejo
uma pessoa correndo quase ao lado dela, um
homem a olhando de cima a baixo… Mas, para
variar, ela está com os fones de ouvido,
cantarolando baixinho. Sequer reparou na presença
dele. Na mesma hora, um sentimento estranho
começa a se apossar de mim.

Quando vi, já estava ao lado dela. O homem


me olha com raiva e aumenta o ritmo, nos
ultrapassando.

Chego tão próximo que ela finalmente repara


na minha presença. As sobrancelhas se arqueiam
por alguns segundos, tentando entender o que está
acontecendo. Apenas a cumprimento com a cabeça,
seguindo seu ritmo e minutos depois completamos
a trilha em silêncio.

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Vou até a minha bicicleta e ela até a dela, pois


acabamos estacionando praticamente no mesmo
lugar. Vejo um sorrisinho no rosto dela quando ela
percebe a coincidência, e sem que eu possa evitar,
começo a rir também.

Ela vai na frente e eu fico atrás dela. Como


moramos no mesmo prédio, ela não irá me achar
um perseguidor. E assim eu posso protegê-la de
qualquer perigo, já que sempre está no Mundo das
Maravilhas.

Colocamos a bicicleta no subsolo e pegamos o


elevador. Ela brinca com os dedos, parecendo estar
nervosa.

O elevador apita, anunciando que chegamos


ao nosso andar.

— Tenha um bom-dia. — Ela praticante corre


até a porta e se atrapalha um pouco ao tentar abri-
la.

Sorrio e entro em casa.

Nunca corri com ninguém. E quer saber?


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Estranhamente, eu gostei disso.

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O que diabos foi isso?!

Por que o meu coração está batendo tão


descompassadamente?

Benjamin nem parece ser o tipo de cara que se


deixa envolver. Inclusive, deixou isso bem claro
quando fugiu todas as vezes que tentei iniciar uma
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conversa civilizada…

Por que será que ele me confunde tanto?

Por que ele correu ao meu lado hoje?

Por que me senti tão bem com isso?

Por que ele sorri para mim, fazendo meu


coração perder um compasso?

Ai, quantas perguntas! Ponho a mão no peito e


sinto o bater frenético.

Meu telefone toca, fazendo-me dar um


sobressalto. Mal digo alô quando ouço a voz de
Bruna do outro lado da linha.

— Alice, pega as melhores peças do seu


portfólio e vem agora para aquela rua atrás do
shopping. Acabaram de inaugurar um megaestúdio
de tatuagem e tem uma placa dizendo que estão
contratando. Chegou o seu momento, garota!

— Cacete, vou me arrumar agora! Obrigada,


amiga. — Uma onda de ansiedade e alegria toma
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conta do meu corpo nesse momento. Tinha de dar


certo!

— Boa sorte! — ouço Lari gritar antes de


desligar.

Sorrindo, corro para me arrumar. Meu estúdio


está uma zona como sempre, mas como guardo o
portfólio em um armário separado – o único móvel
organizado na casa inteira, confesso – fica fácil
achar o que preciso.

Com a pasta na mão, vou até o quarto e coloco


uma calça jeans preta justa no corpo, a camisa da
Alice no País das Maravilhas, que, aliás, foi
presente da minha sobrinha, o par de meias que ela
me deu para dar sorte, e completo o look com uma
bota de cano alto e salto fino.

Me dou ao luxo de pedir um Uber, já que


estou tão nervosa que andar de moto nesse estado
pode ser desastroso. Vendo que o carro está
chegando, acelero assim que o elevador abre as
portas.

Avisto o veículo indicado na entrada, e já


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aceno para o motorista. Em poucos minutos, já


estamos a caminho. Quando saio do veículo algum
tempo depois e me deparo com o estúdio, minha
ansiedade e vontade de trabalhar ali só aumenta.
Ele é lindo, enorme, com a fachada rústica, um
pergolado de madeira escura com folhas
envolvendo a estrutura da frente.

Sinto as mãos suarem frio e preciso passá-las


na calça para enxugar.

Você consegue, Alice!

Entro e sou recebida por uma atendente, que


aparenta ser bem jovem. Nos braços dela há
tatuagens de todos os tipos, desde flores à
serpentes, algumas coloridas e outras em preto e
branco. Mal me apresento e a resposta vem em um
balde de água fria.

— Infelizmente já preenchemos a vaga.

Me xingo mentalmente. Cheguei tarde


demais… Ouço o som das minhas esperanças
descendo ralo abaixo.

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Penso em agradecer antes de ir embora quando


um homem, aparentando no máximo uns quarenta
anos, sai do corredor e se aproxima.

— Boa tarde, veio agendar uma tatuagem?

Antes que eu possa responder, a atendente


explica:

— Oi, Pierre! Ela veio fazer a entrevista, mas


já informei que preenchemos a vaga.

Olho então para o tal cara, e vejo que os olhos


verdes dele me encaram, sem esboçar qualquer
emoção. Fico desconfortável diante dele e nem sei
o porquê disso.

— Trouxe o portfólio?

Aceno com a cabeça.

— Venha até a minha sala. — Tento manter


aquela sensação longe e o sigo. Afinal, preciso
desse emprego. Vou agarrar qualquer chance que
surgir.

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Passamos pelo corredor e fico admirada com o


número de salas que vejo naquele lugar. Com
certeza, esse é o maior estúdio de tatuagem que já
vi na vida. Chegamos a última porta e sinto o suor
escorrendo pelas minhas costas, devido ao
nervosismo.

Será que teria uma chance?

Peço aos céus por um milagre.

Ele abre a porta e me deparo com os


equipamentos mais modernos de tatuagem que já vi
pessoalmente, além de uma mesa em L com livros
espalhados e uma parede enorme, com fotos de
inúmeras tatuagens.

— Sente-se. — Aponta para o sofá preto, no


canto da sala. Com as pernas trêmulas vou até o
móvel e coloco o portfólio sobre a mesa de centro.
— Como você se chama?

— Alice.

— Trabalha há quanto tempo na área?

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— Cinco anos.

Ele pergunta onde já trabalhei e quanto tempo


fiquei no emprego, entre outras perguntas
relacionados ao meu currículo.

— Vejo que as tatuagens não seguem um


padrão… — Atento, ele folheia a pasta.

— Prefiro fazer tatuagens significativas. Gosto


de captar os sentimentos do cliente, e transportar
isso através dos desenhos. Cada pessoa tem desejos
e paixões diferentes, por isso é difícil seguir um
padrão. — Sinto o desconforto ir embora. Falar
sobre esta minha paixão sempre faz com que o
coração se aqueça e a felicidade me domine. Ele
sorri, mas os olhos ainda nada esboçam. Que
homem mais estranho…

— Bom, Alice… A vaga que tínhamos


disponível já foi preenchida, mas, sinceramente,
gostei do seu trabalho. Ainda temos uma sala
disponível. O que acha de trabalhar com a gente?

Fecho e abro a boca diversas vezes, sem


conseguir acreditar nas palavras.
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Eu ouvi direito?

— Você está me contratando?

Ele ri, provavelmente achando graça da minha


pergunta, mas preciso ter certeza.

— Sim, estou te contratando…

Meus olhos queimam com lágrimas não


derramadas. Me seguro.

— Obrigada, darei o melhor de mim.

— Disso não tenho dúvidas. Venha, vou levá-


la até a sala da Fernanda, para que ela pegue o seu
contato.

Pego o portfólio da mesa dele e o acompanho


mais uma vez. Voltamos pelo longo corredor e
entramos na porta de número três. Pelo visto, Pierre
tem ali um cargo grande… Isso se não for o dono.

A sala é tão grande quanto a dele, porém com


pilhas e pilhas de papéis espalhados pela grande
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mesa. Uma mulher está ali, atrás da mesa, olhando


alguns papéis. Quando ela se dá conta da nossa
presença, levanta a cabeça, ajeita os óculos no rosto
e nos fita, agitando os cabelos de mechas coloridas.

— Boa tarde, Fernanda. Essa é Alice, a nossa


nova funcionária. — A mulher o olha, confusa, mas
logo depois sorri.

— Muito prazer. — Estende uma das mãos e


eu me aproximo da mesa para cumprimentá-la.

— É ela quem cuida de tudo aqui, desde


contratações a compras de equipamentos. — Isso
explica a quantidade de papéis naquela mesa. —
Fernanda, anote o telefone dela para ela vir assinar
o contrato quando estiver pronto…

Ela pega um bloco em uma das gavetas da


mesa. Falo meu número.

— Parabéns, Alice. Amanhã mesmo iremos te


ligar informando o horário para vir assinar a
documentação. Peço que deixe os documentos
pessoais preparados.

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Sinto-me nas nuvens. Nem acredito que


consegui mesmo o emprego…

— Obrigada.

Pierre então me acompanha até a saída.

— Vejo você amanhã, Alice.

— Obrigada, Pierre.

Assim que saio do estúdio ligo para as


meninas. Mal elas atendem, começo a gritar.

— CONSEGUI! — As pessoas me olham


como se eu fosse louca.

— Eu disse! — Lari está animada do outro


lado da linha. — É a Ali? Ela conseguiu? — ouço a
Bruna ao fundo. — Eu sempre acreditei em você!
Agora vamos bebemorar!

— Vamos para um barzinho! Que horas saem


do trabalho?

— Merda, Bruna! Esqueceu que Otávio pediu


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para dobrarmos hoje?

— Aff, tinha me esquecido. Esse homem acha


que somos robôs.

— Desculpa, Alice. Podemos comemorar no


fim de semana?

— Claro. — Fico um pouco triste, mas tudo


bem.

— Precisamos desligar. Mais uma vez,


parabéns, você merece!

— Obrigada!

— Beijo na bunda! — Bruna grita antes de


desligar.

Quando desligo, estou rindo de orelha a


orelha. Tenho muito o que agradecer para as
minhas amigas. Se não fosse por elas, eu talvez
nem estaria empregada. Pego um moto táxi e volto
para casa.

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Com fones de ouvido, caminho pelo corredor


até chegar à porta do meu apartamento. Ergo o
rosto e avisto Benjamin. Diminuo o som do fone
quando o vejo me olhando de cima a baixo e rindo.
Ah, não, de novo! O que será dessa vez?

— Essa blusa combina com você.

— Obrigada. — Fico sem entender a


observação. Ele se vira para entrar no apartamento
e acabo tendo uma ideia meio louca — Quer…
tomar uma cerveja comigo? — Alice Faria, o que
você está fazendo? É claro que ele nunca aceitará.
— Acabei de passar em uma entrevista de
emprego… Ia comemorar com as minhas amigas,
mas elas ficaram presas no trabalho… — Droga,
acabo falando mais do que deveria. Benjamin tem o
dom de me deixar nervosa quando estou ao lado
dele.

Paro de falar e um vinco se forma entre as


sobrancelhas. Parece pensar por alguns segundos
— que mais parecem longas horas para mim —, e
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no momento em que espero a rejeição total do


convite, ele responde:

— Sim — pela primeira vez ouço a voz


vacilar, e um sorriso nasce em mim. Pelo visto, eu
também o deixo nervoso.

Sorrio e abro a porta do meu apartamento para


o meu odiável — nesse momento nem tanto assim
— vizinho.

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Sim? É sério que eu disse isso?

Listei mentalmente todos os motivos pelo qual


nunca deveria ter aceitado o convite.

1 – Preciso dormir;

2 – Não quero que ela entenda algo errado;


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3 – Ela mexe comigo, mesmo que odeie


admitir isso.

Mas ao ver aqueles olhinhos brilhando, louca


de vontade de comemorar o novo emprego, como
negar?

Que merda está acontecendo comigo?!

Desde quando fiquei tão mole?

— Entre. — Engulo em seco, dou um passo


para frente e esbarro nela. Todo meu corpo enrijece
ao sentir o roçar da pele. Sinto-a ficar tensa com o
nosso breve contato. Ela respira fundo e me olha.
Sequer desvio o olhar, pois um calor se apossa de
mim. Coloco uma das mãos no batente da porta,
fazendo com que fiquemos ainda mais próximos.
Sua respiração fica ofegante e sei que está nervosa.
Sorrio e me afasto, entrando de vez. Uma parte de
mim adora saber que ela reage assim diante de
minha presença.

Sento no sofá, olhando ao ambiente em volta.


Meu Deus, minha vizinha parece morar sozinha…
Mas como uma pessoa pode bagunçar um espaço
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daquele jeito?! Há roupas espalhadas pelos cantos,


desenhos inacabados na estante, tubos de tintas
espremidos e livros jogados pelo chão. Sempre fui
um cara organizado e odeio ver as coisas fora do
lugar. Nem é TOC, nem nada disso, mas gosto de
manter minhas coisas em ordem.

Olho para Alice e a vejo tirando as botas no


batente da porta. Elas a deixam tão sexy… Eu
sequer me oporia se permanecesse calçada. Vejo
então as meias e é impossível segurar o riso. Assim
como a blusa, também são da personagem e o País
das Maravilhas.

— O que foi?

Me olha confusa, provavelmente sem entender


o motivo por trás do humor.

— As meias são para combinar com a blusa?

Alice sorri e o coração palpita.

Que merda é essa?

— Foram presentes da minha sobrinha. —


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Abre a geladeira e tira algumas cervejas. Contorna


a bancada e as coloca na mesa de centro. —
Segundo ela e minha irmã, vivo no meu próprio
País das Maravilhas.

Mesmo sem conhecê-las, preciso concordar.

— E você? Tem irmãos?

Odeio responder perguntas pessoais,


principalmente sobre família.

— Não.

Ela me olha como se quisesse perguntar algo


mais, só que desiste.

Vai até um pequeno rádio que fica na estante,


liga o som e se senta quase ao meu lado.

I look and stare so deep in your eyes


(Eu olho tão profundamente em seus olhos)
I touch on you more and more every time
(Eu toco você cada vez mais e mais)
When you leave I'm begging you not to go
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(Quando você sai eu te imploro para não ir)


Call your name two or three times in a row
(Chamo seu nome duas ou três vezes)
Such a funny thing for me to try to explain
(É algo tão engraçado pra eu tentar explicar)

A música é sensual e o clima muda da água


para o vinho. Olho para ela, sentindo o desejo me
tomar e vejo que ela está do mesmo modo. Vir aqui
não foi uma boa ideia. Quero passar as mãos por
aquele corpo, mordiscar levemente os lábios antes
de saboreá-los…

Alice praticamente pula do sofá, indo até a


estante e trocando a música. Me olha com as
bochechas vermelhas, parecendo envergonhada.
Decido provocá-la.

— Por que tirou?

— Só não estou a fim de ouvi-la.

Se senta novamente e toma um gole generoso


da cerveja com as mãos trêmulas.
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— Mora sozinha? — tento relaxá-la quando


percebo que ficou tensa.

Ela pisca algumas vezes antes de me


responder.

— Sim… Éramos eu, papai e minha irmã, mas


ele morreu após a formatura e Aline se casou, então
somos apenas eu e Minhau, que, aliás, até agora
não deu as caras.

— Eu sinto muito…

Ela dá um sorriso de canto, com os olhos


brilhando.

— Tudo bem... Papai foi um homem incrível,


me apoiou em todos os meus sonhos, mesmo os
mais loucos. Esteve comigo sempre, talvez na
tentativa de suprir a ausência da nossa mãe, que
morreu quando ainda era criança. Tivemos bons
momentos juntos. Só sinto saudade, mas isso é
inevitável, certo? Como sempre dizem, é o preço
que pagamos por vivermos momentos maravilhosos
ao lado daqueles que amamos.

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Ela termina de falar com lágrimas rolando pela


face. Quando percebi, já estava com o braço
estendido, enxugando as lágrimas com as minhas
mãos. Noto que ela fica paralisada, provavelmente
surpresa com o gesto. Tiro as mãos rapidamente
quando me dou conta do que estou fazendo.

— Me desculpe… — Levanto do sofá,


deixando a cerveja na mesa de centro. — Eu
preciso ir…

— Fique. Você gosta de assistir filme? Posso


colocar um para assistirmos. — Ela sorri, mas não
chega aos seus olhos.

Alice mora sozinha… Perdeu o pai e mãe…


Ela só quer companhia. Como negar?

Sento novamente no sofá. Ela liga a TV e


coloca o catálogo disponível.

— O que gosta de assistir?

— Investigações, ação, super-heróis e


distopia.

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— Minha sobrinha ama histórias com heróis.


Podemos assistir algum, deixe-me ver…

Ela clica e passa alguns na lista.

— Esse está bom?

Esse já vi inúmeras vezes, mas nem me


importo. Assinto.

— Vou fazer uma pipoca e já volto.

Ela vai até a cozinha. Olho para a estante e


mesmo com a bagunça, consigo conhecer os gostos
dela pelos pertences espalhados. Noto alguns
mangás, livros, pinturas de flores e outras coisas
mais abstratas. Há algumas fotos. Em uma, Alice
está sorrindo abertamente com o diploma na mão e
um homem, possivelmente o pai, lhe beijando o
rosto… O brilho naquele olhar é inexplicável,
consigo ver o quanto está realizada, e o pai feliz
pela conquista. Continuo analisando as imagens,
até começar a sentir o cheiro de alguma coisa
queimando.

Olho para a cozinha e vejo uma fumaça quase


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cobrindo Alice. Me levanto num pulo.

Apago o fogo e jogo a panela na pia.

— Você está bem? — Ela assente e solta uma


gargalhada, que faz o meu susto também se
transformar em riso.

Como alguém consegue queimar uma pipoca?

— Acho que a pipoca babou, era o último


saco. — Me olha com pesar.

— Eu tenho um saco em casa, vou buscar.

Saio dali e vou até o meu apartamento.


Quando abro o armário, percebo que ainda estou
sorrindo.

Quando foi a última vez que ri tanto na


presença de uma mulher?

Nunca namorei seriamente. Meus


relacionamentos nunca duraram mais do que um
mês. Sempre fui um cara centrado, lutei pelos meus
objetivos até conquistar a carreira que desejava. Por
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isso, estudei muito. Passei intermináveis noites me


esforçando para passar em concursos. Me envolver
estava definitivamente fora dos planos. E depois da
morte do meu pai… Ver a forma como mamãe
ficou… Me fez correr de qualquer tipo de
sentimento.

Mas com ela é diferente… Me sinto


estranhamente feliz, bobo até. Isso é algo que há
muito tempo não existia em mim.

Penso em desistir, dizer para ela que preciso ir


para casa dormir, mas sinto essa necessidade de
conhecê-la, de estar em sua presença. Por isso,
antes que mude de ideia, pego a pipoca e volto para
o apartamento em passos apressados.

Assim que entro, vejo que Alice não está na


sala, sequer na cozinha.

— Alice?

— Estou no banho, já saio.

Imagens dela tomando banho me preenchem a


mente. A água escorrendo pelo corpo curvilíneo, o
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sabão dançando pelas mãos traçando cada parte do


seu corpo. Fico excitado na mesma hora.

Puta que pariu! Espero que ela não saia do


banho agora.

A fim de ocupar a mente, lavo a panela e faço


a pipoca. Em um timing perfeito, assim que termino
de colocar a manteiga derretida, Alice sai do
banheiro já vestida, apenas com uma toalha
enrolada nos cabelos.

— Desculpa te fazer esperar. Meu cabelo


estava com um cheiro horrível de fumaça.
Precisava tomar um banho.

— Não tem problema, já fiz a pipoca.

— O cheiro está maravilhoso.

O seu cheiro que é, quase acrescento.

Sentamos lado a lado no sofá e começamos a


assistir ao filme.

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O filme começa a rolar, mas não consigo


prestar atenção. Minha cabeça está no homem ao
meu lado e no coração que continua batendo em um
ritmo frenético desde que ele entrou por aquela
porta.

Essa sensação… não é um simples palpitar…

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E até estou gostando de ficar na presença dele.

Quando foi que passou de um vizinho odiável


para um…

Droga! Nem sei do que chamá-lo agora. Desde


que fez o curativo em mim e correu ao meu lado,
ele criou raízes na minha cabeça. Ben é gentil, nem
de longe é o homem rude e frio que aparenta. Acho
que é apenas uma fachada para esconder a verdade
sobre si.

Sinto algo no ombro e percebo que é Ben,


encostando ali a cabeça. Dessa vez, meu coração
capota.

— Benjamin? — o chamo duas vezes.

Acho que ele adormeceu. Minhau finalmente


aparece e sobe no meu colo. Faço carinho na
cabeça da minha gata enquanto assisto ao filme,
apreciando esse momento de contato.

Meus olhos começam a pesar e então


adormeço.

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Sinto algo sobre mim. Abro apenas um dos


olhos e vejo um braço forte me envolvendo no
minúsculo sofá. Puta merda! Ben está dormindo,
abraçado ao meu corpo. Como isso foi acontecer?

Imagens da noite passada me invadem a


mente. Pelo visto, nós dois havíamos adormecido
enquanto assistíamos ao filme.

Ben se mexe e eu fecho os olhos, para que não


perceba que já estou acordada. Quero prolongar ao
máximo esse momento. Acho que realmente estou
me sentindo solitária…

Ele se afasta e instantemente sinto falta. Solta


alguns palavrões enquanto Minhau dá um miado
nada discreto na direção dele.

— Não acorde sua dona e prometo te dar


bacon quando eu fizer — ouço Ben dizendo a
minha gata, como se ela fosse uma pessoa. A
maluca responde, como se estivesse concordando
com ele.
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Não consigo segurar o riso. Começo a


gargalhar, me sentando no sofá.

— Bom… Parece que o jogo virou, não? —


digo me referindo à forma como nos conhecemos,
meu vizinho está com os olhos arregalados e o
rosto vermelho de vergonha.

— Me desculpe… Eu não…

— Tudo bem, acontece. — Passo as mãos


pelos cabelos que estão uma bagunça. Nem preciso
me olhar no espelho para saber disso.

— Eu… preciso ir… — Ben praticamente


salta em direção a saída. Ele sai porta afora sem
que eu possa dizer qualquer coisa.

Seja lá o que for esse sentimento dentro de


mim, quero afastá-lo… Ben não parece disposto a
se envolver com ninguém, e já fui magoada demais.

Eu estou solitária, só isso.

Minhau se aninha em meu colo e fecho os


olhos, tentando não pensar em Ben, mas é
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impossível. O cheiro dele está por todo sofá.


Adormeço então novamente, já sentindo falta do
seu calor e do seu cheiro que me embalaram o
sono.

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Algumas horas depois…

Saio do estúdio sorrindo com o contrato nas


mãos. Por volta da hora do almoço, a atendente me
ligou, pedindo para que eu fosse até lá finalmente
assinar o contrato. O salário é bem mais do que eu
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esperava, sem contar a comissão que poderei


ganhar a cada tatuagem feita. Além de trabalhar
com o que eu amo, vou poder manter o
apartamento. Pierre disse que na próxima semana já
começo a trabalhar e por isso me sinto tão feliz que
pareço pisar em nuvens.

Como já está quase no horário de Bruna e


Larissa saírem do trabalho, mando uma mensagem
no nosso grupo.

Eu: Acabei de assinar o contrato. Barzinho


daqui a pouco?

Bruna: Vamos encher a cara, baby!

Larissa: Com certeza temos que comemorar. Jonas


me falou de uma cervejaria ótima, artesanal.
Podemos ir até lá experimentar.

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Eu: Fechado!

Larissa me envia o endereço e sigo até lá de


táxi. O bar não era tão perto, o que faz com que o
trajeto fique caro, espero mesmo que seja tão bom
quanto minha amiga disse que é.

Quando entro no lugar, fico encantada com o


que vejo. O ambiente é bem rústico, em um tom
mogno aconchegante. Passo os olhos pelo lugar a
fim de encontrar uma mesa vazia e acabo avistando
uma pequena mesa com cadeiras. Apresso os
passos até chegar a ela.

Assim que coloco as mãos sobre a cadeira


para me sentar, outra mão a segura. Levanto os
olhos para ver quem é, mas o cheiro é
inconfundível.

Quais eram as chances de eu encontrá-lo em


um bar longe de casa?

Pelo visto, bem altas.

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— Está me seguindo? — Ele me dá um dos


seus raros e lindos sorrisos, daqueles que fazem o
coração de qualquer pessoa dar cambalhotas

— Acho que posso lhe fazer a mesma


pergunta.

— Eu venho aqui há alguns anos e posso dizer


que nunca te vi por aqui.

— Você me pegou… É a primeira vez. — Ele


puxa a cadeira para que eu me sente. — Estou
esperando minhas amigas para comemorar o novo
emprego.

— Boa escolha, a cerveja é ótima!

Um homem alto, coberto de músculos e


tatuagens, se senta ao lado dele.

— E aí, Ben? Quem é a gatinha?

Estou pronta para lhe dizer que tenho nome e


me chamar de gatinha não é nada respeitoso
quando Ben me interrompe:

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— Olha o respeito, Ricardo. O nome dela é


Alice. E essa cadeira não é sua — pelo tom da voz
posso dizer que está bem irritado. — Então vaza.

O tal o olha feio, como se quisesse estrangulá-


lo, mas levanta e apenas se afasta, indo em direção
a outra mulher.

— Me desculpe por isso.

— Eu sei me defender, sabia?

— Sei disso… Mas aí eu perderia a


oportunidade de ser um cavalheiro.

Essa é nova… Desde quando Ben quer ser


um?

— Então, obrigada, senhor.

— Não há de quê. — Ele faz um gesto


extravagante com as mãos e eu gargalho.

— Ele é seu amigo? — Meneio a cabeça em


direção ao brutamontes.

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— Posso dizer que passa bem longe disso. —


Assinto e uma garçonete se aproxima perguntando
o que quero beber.

— Experimente a cerveja preta. Acho que


você vai gostar, é a minha preferida.

— Uma cerveja preta então. — Ela anota o


pedido e se afasta de nós.

— E você, não vai beber nada? — quando as


palavras saem da minha boca me arrependo na
mesma hora. Pareço desesperada pela companhia
dele. É claro que veio aqui encontrar com alguém,
que, aliás, não sou eu.

— Estou esperando meus amigos também. —


Ele se levanta. — Divirta-se, Alice. Boa noite.

Benjamin se afasta, indo até a bancada do bar.


Senta em um banco e toca o ombro de outro
homem, e conversam até que um senhor de meia-
idade se aproxima de ambos e os abraça.

— Que lugar lindo! Posso facilmente morar


aqui. — Bruna se senta ao meu lado. Estava tão
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entretida com Benjamin que nem percebi que


minhas amigas estavam se aproximando.

— Amiga, você moraria em qualquer barzinho


— Larissa diz, fazendo-nos rir.

Bru revira os olhos.

— Quem é o pedaço de mau caminho que saiu


daqui? — ela pergunta.

Um sentimento estranho me invade assim que


as palavras saem da boca dela.

— O vizinho — digo entredentes, irritada com


o rumo da conversa.

— Uau, como ainda não esbarrei nesse


espécime de homem? Vou até lá falar com ele.

— Bruna! — antes que possa me frear, as


palavras saem da minha boca. Minha amiga olha
para mim, rindo.

— Eu sabia! Você está a fim dele. Te vi você


babando a quilômetros de distância. Só queria
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confirmar…

— Não estou! — retruco, mas minha amiga


não parece se convencer disso.

— Até um tempo atrás, você o odiava, Alice


Faria. Hoje estavam rindo na companhia um do
outro. Se não está caidinha, minha amiga, é porque
já tombou.

Passo as mãos pelo cabelo, nervosa. Ajeito os


óculos no rosto.

— Não dá para negar, Ali. Seus olhinhos


estavam brilhando quando chegamos à mesa —
Lari comenta e eu respiro fundo.

— Eu… estou a fim dele — confesso meus


sentimentos. — Mas ele não parece a fim de um
relacionamento — acrescento antes que possam
falar alguma coisa.

— Meu amor, quem aqui está falando disso?


A palavra é SEXO CASUAL! — Bruna grita as
últimas duas palavras, fazendo com que algumas
pessoas das mesas próximas a olhem. Escondo o
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rosto nas mãos, sentindo-o esquentar de vergonha.


— Um pouco de sexo na sua vida cairia bem —
minha amiga ainda acrescenta, me deixando ainda
mais vermelha.

Eu nunca fui esse tipo de garota. Comigo essa


coisa de deixar rolar é inexistente. Toda vez que eu
me envolvo com alguém é de corpo e alma.

— Bru, deixa a Ali em paz! Nem todo mundo


é tão desapegada quanto você.

Ela revira os olhos. A garçonete se aproxima


de nós, colocando minha cerveja na mesa. Bebo um
gole generoso enquanto ela pergunta as minhas
amigas se desejam beber algo.

Puta merda! Meu vizinho tinha razão, a


cerveja daqui é maravilhosa.

— Vocês precisam beber isso!

Elas pedem a mesma bebida que a minha, e


engatam em uma conversa sobre o trabalho,
enquanto aproveito para espiar o meu vizinho.

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Mal imagino que Ben também está olhando


diretamente para mim. Meu coração perde uma
batida. Estou parecendo uma adolescente que está a
fim do carinha novo da escola.

O sorriso dele se alarga quando percebe que


estou olhando-o. A covinha que tem do lado direito
fica evidente e sinto vontade de levantar e ir até lá
lhe tocar o rosto, correr as mãos pelo corpo dele e
beijá-lo.

Meu sorriso se transforma em careta quando


vejo uma morena se aproximando. Assim que ela
chega próximo o suficiente, passa as mãos pelo
peito que tanto admiro.

O filho da mãe ainda sorri. Um sentimento


misturado com raiva, decepção e frustração me
invade. Que merda está acontecendo comigo?

— Xi, acho que alguém está com ciúmes.

— Não estou! — Bebo toda a cerveja do meu


copo, sentindo cada poro do corpo tremer de
ciúmes.

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— Vai com calma, amiga — Lari me


aconselha.

— Quero ir embora.

— Negativo, viemos até aqui comemorar.


Esquece esse vizinho.

Se não temos nada, por que me sinto assim?


Tento afastá-lo dos pensamentos. Balanço a cabeça
concordando com elas. Vim até aqui comemorar, e
é isso que farei. Peço mais uma cerveja e converso
com as minhas amigas sobre o contrato com o
estúdio.

Depois de alguns minutos tomo coragem e


olho para onde Ben estava, e não o vejo mais.
Passo os olhos pelo bar e também não o encontro.

Depois disso, minha noite fica um fiasco.


Converso com as minhas amigas, mas eu não estou
por inteiro, os pensamentos voltados para Ben e a
morena — que ele provavelmente está levando para
casa.

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Apesar de ter bebido bastante com as meninas


ontem à noite, não fiquei de ressaca. Apenas com
uma leve dor de cabeça.

Ainda deitada na cama ouço a barriga roncar.


Então crio coragem e finalmente me levanto.

Começo a preparar meu desjejum. Após cuidar


de Minhau, ouço uma discussão acalorada vindo do
lado de fora. Minha curiosidade fala mais alto e
vou até o olho mágico para tentar ver o que
acontece.

— Eu vou te denunciar para a polícia, seu


canalha! — A morena da noite anterior aponta um
dedo para o rosto de Benjamin, que está parado,
com o rosto sereno, como se nada estivesse
acontecendo.

Quando ela se acalma um pouco, Ben parece


explicar algo — que é impossível de ouvir. Ela
logo muda de expressão, os ombros agora caídos e
os olhos voltados para baixo, como se estivesse
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com vergonha de encará-lo.

Alguns minutos depois, ela vai embora e Ben


volta para dentro do próprio apartamento.

Então quer dizer que passaram a noite


juntos… Meu coração aperta.

Por que eu me importo? Ele não é nada meu.

Volto para a cozinha com uma sensação


estranha. Termino de preparar o café da manhã,
olho pela janela e vejo que o dia está ótimo para
correr e, de quebra, tirar o vizinho da cabeça.
Coloco roupas confortáveis, o tênis e saio porta
afora.

Corro apenas um quilômetro, para depois


praticamente me jogar no chão quando sinto as
bolhas dos meus pés arderem. Tiro os sapatos e
vejo que meu calcanhar está praticamente em carne
viva.

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Puta merda! Como vou voltar para casa nesse


estado?

Colocar os sapatos de volta está fora de


cogitação.

Ando lentamente, descalça, até onde deixei a


bicicleta. Coloco o tênis assassino na cestinha da
bicicleta e vou para casa.

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Eu não deveria ter me aproximado dela no bar,


eu sei… Tinha de ter ficado na minha. Mas quando
vi Ricardo olhando-a, pronto para dar o bote, foi
inevitável. Meus pés ganharam vida própria e fui
até lá antes que ele a alcançasse. Mas quem disse
que o infeliz se deu por vencido? Ainda assim
tentou se aproximar de Alice, despertando em mim

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um sentimento de posse — algo que nunca havia


experimentado antes.

Minha vizinha estava linda. O rosto angelical


coberto por mechas roxas, lábios e bochechas
levemente rosadas, a roupa contornando aquele
corpo curvilíneo… Estava com uma blusa frente
única, permitindo que visse a tatuagem enorme nas
costas dela, contendo um girassol e a frase: faça
épico.

Quantas tatuagens ela deve ter?

Imagens de locais possíveis me invadiram a


mente e eu precisei afastá-las rapidamente para não
ter uma ereção.

Quando vi que Ricardo havia desistido dela


deixei-a sozinha, mesma contra minha vontade.

Quando cheguei até a bancada, uma morena


bêbada se aproximou de mim se insinuando, mas
tudo que conseguia pensar era na minha vizinha.
Desviei os olhos de Alice por alguns segundos e
olhei para a outra garota, enquanto ela dizia algo
que sequer entendia. Sorri e gentilmente a rejeitei.
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Ela não se deu por vencida e insistiu, enquanto


atrás de mim ouvi uma conversa estranha.

— A morena está muito bêbada e o bonitão


parece não estar interessado nela. Vamos esperar
para levá-la até em casa. O que acha? — Como ela
está em cima de mim, não consigo me virar para
ver quem disse aquilo, mas, pela voz embargada,
deduzi que também estavam bêbados.

O sangue correu rápido pelas minhas veias


diante daquilo. O que aqueles homens achavam que
podiam fazer? Pensei em enchê-los de porrada, mas
aquilo em nada resolveria. Precisava então pensar
rápido. Por isso, peguei a morena e a levei para
fora. Lhe perguntei onde morava, mas se recusava a
responder. Deixá-la sozinha também estava fora de
cogitação. Por isso a levei para minha casa e com
muito custo consegui fazê-la dormir no quarto de
hóspedes antes de mergulhar, sozinho, na minha
própria cama.

Claro que quando acordei, na manhã seguinte,


não imaginava que ela faria um show na minha

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porta, me chamando de pervertido e canalha.

Expliquei então para ela o que havia


acontecido, deixando-a visivelmente constrangida.
Me agradeceu e foi embora, sem saber o que dizer.

Agora estou olhando para a TV desligada,


pensando no que fazer para extravasar o mau
humor. Levanto do sofá, olho pela janela e vejo que
o clima está bom: há nuvens espalhadas no céu,
mas não parece que choverá, então pego meus tênis
de corrida e vou até o parque.

Quando termino vou até a bicicleta e avisto


Alice indo embora com os tênis na cesta da
bicicleta. Pelo visto, eles a haviam machucado,
exatamente como imaginei que fariam. Antes de ir
para casa, um impulso me faz ir até o shopping
mais próximo e entrar na loja de sapatos.

Uma atendente loira, com lindos olhos, me


atende. Explico a ela o que desejo e ela me leva até
a seção feminina. Como não sei exatamente o
número de Alice me arrisco no mesmo número que
a minha mãe, já que ambas parecem calçar a

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mesma coisa.

Assim que avisto um tênis de corrida que acho


a cara dela, digo a vendedora que o quero. Pago e
vou para casa.

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Ouço meu despertador tocar e, pela primeira


vez em semanas, acordo com um sorriso bobo no
rosto. É hoje! Meu primeiro dia de trabalho! Estou
tão feliz!

Tomo o café da manhã ao som de Lana Del


Rey e procuro roupas e sapatos confortáveis para

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trabalhar, já que meus pés ainda estão cheios de


bolhas. Em seguida tomo um banho, me arrumo e
saio porta afora. Assim que dou o primeiro passo,
quase tropeço em um pacote. Xingando
mentalmente o infeliz que deixou aquilo por ali, me
abaixo e o pego. Vejo, surpresa, que tem o meu
nome nele.

Que estranho… Quem deixaria algo na minha


porta se temos portaria?

Será que minha irmã havia me comprado mais


tintas? Mas por que nem me avisou?

Olho a hora no celular e vejo que ainda tenho


alguns minutos sobrando. Então volto para dentro
do apartamento e abro o pacote.

Me deparo com uma caixa de sapatos. Abro e,


ao ver um par de tênis, rio. São roxos assim como
meus cabelos, com detalhes cinza. Tiro o bilhetinho
preso ao tênis, mas antes que eu o leia sei
exatamente de quem são.

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Jogue o tênis assassino fora.

Att.

Odiável Vizinho.

Sorrio por ter usado o apelido que lhe dei


naquela primeira carta.

Meu coração bate freneticamente.

Como posso me deixar afetar tanto por aquele


homem?

E pior: por que tem de ser tão confuso em suas


atitudes? Deixa tênis lindos na minha porta, mas
leva outras mulheres para o quarto?

Deixo o presente de lado e desisto de tentar


entendê-lo, por ora.

Vou até o estacionamento e finalmente, depois


de uma semana, subo na minha branquinha. Coloco
o capacete e saio do subsolo.
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Sinto o vento sob minha pele e um sorriso


involuntário nasce em meu rosto. Até algumas
semanas atrás, como podia imaginar que isso
aconteceria?

Estaciono em frente ao estúdio e entro,


sentindo a ansiedade em cada poro do meu corpo.
Pierre, que estava falando com Laís, a atendente,
me recebe com um sorriso assim que me vê.

— Seja bem-vinda!

— Obrigada.

— Venha, vou lhe mostrar a sua sala. — O


sigo pelo amplo corredor.

Ele abre a porta e fico encantada com o que


vejo. O lugar é menor que aquele onde ele trabalha,
mas já é bem maior do que imaginava. E os
equipamentos? Tinha alguns ali que nunca havia
visto pessoalmente, só em vídeos da internet.

— A sala é sua, e pode decorar como quiser.


— Ele está sendo tão gentil comigo que a sensação
estranha que senti ao vê-lo pela primeira vez se
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desfaz.

— Muito obrigada!

No meu último emprego sequer tinha uma sala


própria. Era apenas um cômodo amplo, com
divisórias que nem chegavam ao teto. Só de ter um
espaço meu já era mais do que suficiente.

— Venha, vou lhe apresentar aos outros


tatuadores.

Deixo minha bolsa na sala e o sigo. Passamos


de sala em sala, onde me apresenta a quase todos os
tatuadores. Me explica que, como trabalhamos aos
sábados, e às vezes aos domingos, quando temos
clientes marcados, temos uma folga na semana, por
isso nem todos estão ali naquele momento.

Ele me apresenta a uma morena alta, com o


corpo todo malhado e coberto de tatuagens
abstratas. Também um homem de meia-idade com
os cabelos completamente grisalhos com topete,
vestindo preto dos pés à cabeça e alguns piercings
no rosto e um homem que aparenta ter no máximo
trinta anos, careca, com um braço e uma perna
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fechados de desenhos coloridos, os outros dois


tatuadores estão de folga, então eu provavelmente
só os verei amanhã.

— Tem uma cliente agendada para você após


o almoço. — Tento conter a empolgação, mas acho
que fica claro o quanto estou animada. — Ela ainda
não é nossa cliente, por isso espero que você
consiga conquistá-la, sem pressão. — Acabo rindo.

— Vou dar o meu melhor.

Pierre assente.

— Bom, fique à vontade.

— Obrigada.

Vou até a minha sala e fico parada um tempo


no batente da porta, admirando o meu espaço de
trabalho. Quando estudei Artes, sabia que poderia
passar dificuldades… Afinal, não é uma formação
tão valorizada quanto deveria em nosso país. Mas
nunca desisti. Fiz cursos de especializações, passei
intermináveis noites treinando meus traços, senti
dores em todo o corpo, persisti mesmo que o
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mundo parecesse me sabotar, nem por um segundo


optei pelo caminho mais fácil.

Vivemos apenas uma vez, isso é um fato. A


vida é como um sopro, um piscar de olhos, um
respirar. Tudo pode se esvair, e por isso quero
passar cada dia fazendo o que amo. Cansada, mas
realizada por isso.

Caminho até onde deixei a bolsa e coloco ali


itens que trouxe de casa: meu bloco de desenhos, os
portfólios, dois cactos e a foto com meu pai, no dia
da formatura.

Pego o porta-retratos e passo a mão pelo vidro


frio, desejando poder tocar assim no rosto dele.
Lágrimas me preenchem os olhos e engulo o choro,
pois sei que ele não gostaria de me ver aos prantos
nesse dia. Onde quer que ele esteja, está feliz pela
filha, e isso me basta.

A hora passou voando. Quando percebi, já


estava na hora do almoço. Como estava livre na
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parte da manhã, fiquei apenas rabiscando em meu


caderno e nem vi a hora passar.

Ouço uma batida na porta.

— Entre.

Laís entra na sala e se senta ao meu lado no


sofá.

— Como está sendo o primeiro dia?

— Ansiosa para receber a minha primeira


cliente.

— Pelo que Pierre me disse, sei que se sairá


bem. — Sorrio. Ela é tão gentil! — Quer ir almoçar
comigo? Tem um restaurante japonês ótimo do
outro lado da rua.

— Claro! Vamos.

— O estúdio tem outras filiais? — o assunto


surgiu enquanto voltávamos para o estúdio.
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— No momento não, mas Pierre tem planos


para que isso aconteça.

— Ele é o dono?

Ela apenas assente enquanto digita algo no


celular. Enquanto comíamos, conversamos sobre
artes dos mais variados tipos. Descobri que, assim
como eu, ela é apaixonada por Romero Britto,
gosta de K-Pop e é viciada em cultura asiática.

— Obrigada pela companhia — comento,


sinceramente, assim que chegamos ao estúdio.

— Por nada.

Volto para a sala e alguns minutos depois uma


mulher com, no máximo, um metro e sessenta entra
na sala.

— Boa tarde, eu tenho um horário marcado


com você.

— Carla, certo? Sente-se, fique à vontade.

— Obrigada.
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Como percebo que ela está um pouco nervosa,


lhe ofereço um pouco de água.

— Tem algum desenho em especial que queira


tatuar? — volto a indagar após ela terminar de
beber.

— Na verdade, não… Eu quero fazer qualquer


coisa em cima de uma queimadura que tenho há
alguns anos.

— Tatuagens sobre queimaduras costumam


doer muito.

— Estou ciente, mas eu aguento. — Ela


entrelaça as mãos trêmulas e, pelo olhar cheio de
dor, sei que há algo por trás dessa cicatriz. Algo
doloroso o suficiente para que ela queira cobrir.

— Quer conversar um pouco? Antes de


vermos o que podemos desenhar? Quer me contar o
que gerou a queimadura?

Ela assente, após alguns segundos


ponderando.

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— Eu… me queimei… Na verdade, meu


marido me queimou com um ferro acima do meu
peito. — Lágrimas transbordam dos olhos dela e
meu coração se parte em vários pedaços ao ver o
quanto ainda está ferida. Não fisicamente, mas
emocionalmente. — Ele achou que eu estava o
traindo, mas era coisa da cabeça dele. Então
arrancou minha blusa e me queimou, várias vezes.
Assim que pude, o denunciei e nos separamos. Mas
o que ele fez comigo deixou cicatrizes, sabe? Me
recuso a olhar para elas e me lembrar de tudo
aquilo. — Ela fecha os olhos como se estivesse
revivendo aquele momento. Me aproximo dela e
tomo liberdade de segurar-lhe as mãos. — Me
desculpe, Alice… Você tentou me deixar
confortável e acabei desabafando.

— Sem problemas… Às vezes, tudo que


precisamos é de alguém para nos ouvir.

Ela me dá um meio sorriso.

Deixo-a então livre para me contar o que


quiser.

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— Esses são meus portfólios. — Aponto para


a mesa de centro à nossa frente. — Escolha alguns
que mais goste.

Ela seleciona algumas flores e alguns


pássaros. A inspiração corre livre pela mente diante
dos desenhos escolhidos por ela, unindo-se à
história.

— Bom… Acho que sei o que podemos tatuar.


Vou passar a tarde esboçando para você, e se quiser
podemos marcar amanhã para ver o desenho… Se
gostar, podemos começar.

— Combinado então. — Ela se levanta. —


Muito obrigada, Alice.

A acompanho até a porta e me despeço dela.

Volto para o sofá com meu bloco de desenhos


e alguns lápis. Começo a rabiscar e, quando
termino, fico feliz com o resultado.

Uma fênix, que segundo a mitologia grega


representa a força, a imortalidade e o renascimento.
Uma ave com uma força sobre-humana, que
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renasce das próprias cinzas.

Acrescento alguns lírios do vale que


representam a volta da felicidade e fico admirando
o desenho por alguns minutos. São poucas as
ocasiões em que os clientes permitem que o
tatuador seja livre para criar algo. Normalmente,
eles já vêm com algo em mente e fazemos apenas
algumas modificações, então ter a chance de criar
algo do zero é indescritível.

Uma batida na porta me tira dos devaneios. É


Laís, quem coloca apenas a cabeça na porta.

— Alice, já estamos fechando. — Olho a hora


no celular e vejo que já está bem tarde. Fiquei tão
imersa no desenho que esqueci-me totalmente da
hora.

— Já estou de saindo, obrigada.

Guardo minhas coisas na bolsa e saio porta


afora.

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A caminho de casa começo a sentir uma dor


desconfortável no ombro por ter ficado tanto tempo
desenhando. Decido passar na farmácia para
comprar um relaxante muscular. Estaciono a moto
em frente e entro.

Peço a atendente o que quero e quando me


viro para ir ao caixa ouço uma voz rouca e
arrastada.

— Gazes e esparadrapos, por favor.

Me viro e vejo Ben com cara de poucos


amigos.

— Benjamin…

Ele me olha de cima a baixo.

— Alice.

Fico nervosa na presença dele. Antes que eu


possa falar algo, a atendente lhe entrega o que
pediu. Ele vai até o caixa, e o sigo.

Percebo, assustada, que a camisa do meu


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vizinho está suja de sangue.

— Você está sangrando…

— É, eu sei… Acabei caindo.

— Você precisa ir ao hospital.

— Não é nada de mais… São só alguns


arranhões.

Ele paga as coisas e sai da farmácia.

Nem tenho tempo de lhe agradecer sobre o


tênis.

Quando saio da farmácia, não o vejo em lugar


nenhum. Subo na moto e vou para casa.

Depois de tomar um analgésico e trocar de


roupa, saio do meu apartamento e vou até a porta
de Ben. Ando de um lado para o outro parecendo
uma menininha prestes a convidar o carinha bonito
para o baile da escola ou qualquer coisa do tipo,
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tentando criar coragem para tocar a campainha.


Havia ficado preocupada com ele. Sei que evitou
conversar comigo na farmácia, mas, enquanto não o
visse bem, ficaria inquieta.

A porta se abre antes que decida se toco ou


não a campainha.

— Entre, senão vai acabar fazendo um buraco


na minha porta.

Fico paralisada quando vejo que ele apareceu


sem camisa, revelando toda aquela masculinidade,
me deixando completamente vermelha dos pés à
cabeça.

— Eu… — tento formar uma frase coerente,


mas diante dessa visão fica difícil.

— Você pode me ajudar a colocar o curativo?


— antes que eu consiga dizer qualquer coisa, ele
vem com essa. Só me resta assentir e segui-lo até o
sofá, onde está a caixa de primeiros socorros e os
itens que comprou na farmácia.

Os arranhões não são tão profundos para levar


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pontos, mas cobrem uma parte significativa das


costas. Por isso parte da camisa estava com sangue.
Limpo o ferimento e ouço os gemidos contidos.
Vejo algumas cicatrizes espalhadas pela área,
algumas pequenas e outras grandes. Não sei por
que, passo a ponta do dedo em uma delas e ele solta
um longo suspiro. Penso em perguntar o porquê de
tantas cicatrizes, mas tenho certeza de que irá me
ignorar.

Olho para o líquido vermelho que jogou em


mim da última vez e aplico sobre o machucado.

— Puta que… — rio enquanto ele vira a


cabeça, tentando saber o que estou fazendo. Apenas
mostro o remédio.

— É para não inflamar — repito as mesmas


palavras que ouvi naquele dia.

— Sua pequena diabinha. — Olho para ele,


chocada, mas acabo caindo na gargalhada.

Aplico a gaze e o esparadrapo.

— Prontinho, Ben.
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— Ben? Estamos bem íntimos, hein? —


droga, acabei deixando escapar o novo apelido.

— Melhor que odiável vizinho… — Dou de


ombros e ele sorri.

Ele vai até o quarto, rindo, e volta vestindo


uma camisa. Que pena…

Um silêncio desconfortável toma conta da sala


quando se senta ao meu lado novamente.

— Por que comprou o tênis para mim? — A


curiosidade me vence.

Ben passa as mãos pelos cabelos. Fico em


silêncio por alguns segundos, à espera.

— Os seus nunca foram apropriados para


correr.

Penso em retrucar, dizer que nem precisava,


mas foi um presente sincero e parece que realmente
estava preocupado com o meu bem-estar.

— Obrigada, são a minha cara.


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— Eu pensei em você assim que os vi. — Ele


me dá um daqueles meios sorrisos e meu coração
capota.

Ben, não seja tão gentil assim… porque fica


difícil resistir aos seus encantos.

Lembro-me da morena daquela noite e, antes


que possa frear as palavras, elas saem da minha
boca.

— Parece que você irritou a morena naquele


dia…

Ele apenas sorri, o que me deixa bem irritada.

Nem me importo de parecer ciumenta ou


qualquer coisa do tipo. Como não me responde, me
viro para ir embora. Acho que vir aqui foi uma
péssima ideia.

— Já vou indo. Mais uma vez, obrigada pelo


tênis.

Ele me segura pelo braço, me fazendo encará-


lo.
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Ben me leva até o sofá e me explica tudo que


aconteceu naquele dia. Ao saber a verdade, e como
o tinha julgado errado, fico envergonhada. Fico
pensando, inclusive, porque tinha me frustrado
tanto com aquilo… Afinal, ele não é nada meu.

Ele se aproxima de mim no sofá, o corpo tão


próximo do meu, que consigo sentir o calor da pele.
Coloca uma mecha de cabelos, que acabou saindo
do coque atrás da minha orelha, o que causa
pequenos arrepios em mim.

Olho para aquele rosto e meu olhar é atraído


para a deliciosa boca daquele homem. O vejo
morder o lábio inferior e eu, mesmo sem querer,
repito o gesto.

— Você quer me beijar, tanto quanto eu


quero? — mal consigo acreditar na sua pergunta.
Meu vizinho, o odiável vizinho, quer mesmo me
beijar?

Levanto os olhos e direciono o olhar para ele,


esperando minha resposta. Apenas assisto, pois não
consigo pronunciar uma palavra sem gaguejar.

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Suas mãos seguram o meu rosto, fazendo todo


meu corpo vibrar de expectativa. Me olha por
alguns segundos, como se quisesse ter certeza da
resposta.

— Me beije — consigo dizer.

Ele não espera nem mais um segundo. Me


toma os lábios com uma urgência tão grande, como
se não aguentasse esperar nem mais um segundo.
Suas mãos passeiam pelos meus cabelos enquanto
me beija. Tomo a liberdade e passo as mãos pelo
peito musculoso.

Céus! Esse homem é uma perdição! Consigo


seguir cada músculo do corpo rígido.

Ele mordisca o meu lábio e solto um gemido.


A língua explora cada canto da boca, e nunca em
toda minha vida experimentei um beijo tão erótico.

Seus lábios se afastam dos meus e percebo que


a respiração está tão ofegante quanto a minha.

— Eu… preciso descansar.

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Pisco diversas vezes tentando sair da nuvem


de luxúria.

— Já vou indo.

Levanto do sofá e quase tropeço em meus


próprios pés.

Apresso meus passos e saio dali. Bato a porta


e me apoio nela, sentindo meu coração bater
rapidamente. Toco meus lábios ainda sem acreditar
no que acabou de acontecer.

Ah, meu Deus! Eu beijei o meu vizinho!

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Tento me concentrar na pilha de processos


diante de mim, mas não consigo. As imagens de
Alice me preenchem a mente. O momento em que
ela me pediu para que eu a beijasse, a respiração
ofegante quando interrompi o contato, os lábios
rosados em que me perdi…

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Porra… Eu não posso me desconcentrar


assim! Essa investigação é importante demais para
ficar pensando em outras coisas.

— Benjamin, o Dom quer falar com você. —


Felipe adentra a sala.

— Já estou indo. Obrigado.

Deixo de lado os processos e caminho até a


sala do meu superior.

Dom é um homem de meia-idade com um


humor oscilante. Desde que entrei na corporação,
ele é o delegado, tomando conta dali com punhos
de aço e olhos de águia. Esse é um dos cargos que
almejo um dia estar, apesar de gostar de estar em
campo como agente da Polícia Federal.

Estudei muito para conquistar meu objetivo.


Formei-me com prestígio em Direito, para
conseguir passar no concurso, uma vez que você só
é aceito se tiver nível superior. No começo, queria
deixar o meu pai orgulhoso, visto que ele já foi
agente por alguns anos e passou pelas três classes,
até chegar a especial e se tornar delegado.
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Meu pai morreu após comandar uma operação


para apreensão de tráfegos de drogas, armas e
lavagem de dinheiro. Era uma missão minuciosa, o
grupo investigado era um dos maiores do Brasil,
chegando a atuar em diversos estados. Toda vez
que estávamos prestes a achá-los, eles sumiam
como se nunca tivessem existido.

Eu ainda não faço ideia de como descobriram


quem estava na frente das investigações, pois meu
pai ficava fora das operações de campo. A questão
é que armaram uma emboscada um dia, quando
voltávamos para casa. Eu consegui sair ileso, mas
ele perdeu a vida. Desde então cada ato meu é um
dever para com o país e meu pai. Ainda não
conseguimos pegá-los. Dom sabe disso e tenta me
manter afastado das investigações, pois estou
envolvido demais emocionalmente com o caso. Eu
entendo o posicionamento dele, mas isso me deixa
frustrado.

Entro na sala e o encontro com seus óculos


redondos, olhado algo no computador.

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— Bom dia. — Ao me ouvir, ele levanta os


olhos, tira os óculos e me encara.

— Sente-se. Já leu os relatórios da


investigação que fiz da Ceilândia?

Explico para ele que ainda estou analisando o


relatório.

— Ótimo! Assim que o fizer, conduziremos


uma operação para ir até o local.

— Até o final do dia lhe encaminharei todas as


informações.

— Ficarei no aguardo, pode ir.

Assinto e saio da sua sala. Sento novamente na


frente dos processos e tento me concentrar.

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Como um beijo pode ser tão intenso?

Como me deixei afetar tanto por ele e por


aquele toque?

— Alice, você está bem?

Desde o momento em que deixei o


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apartamento dele penso nos nossos lábios se


tocando, as suas mãos sobre o meu rosto,
acariciando, fazendo-me aproximar dele…

— Alice?

Sinto algo esquentar minha mão e vejo que


acabei derramado café nela enquanto pensava no
meu vizinho.

Merda!

Preciso tirá-lo da cabeça. Como posso


trabalhar assim?

Abro a torneira e lavo as mãos, pelo menos o


café não estava quente o suficiente para queimá-las,
solto um suspiro de alívio. Laís me entrega um
pedaço de papel toalha.

— Está tudo bem?

— Sim, só estou um pouco distraída hoje.

— A Carla estará aqui daqui a alguns minutos.

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— Eu sei. Obrigada por me lembrar.

Volto para a minha sala e me sento no sofá,


com o desenho que criei para ela. Rabisco desenhos
aleatórios no meu caderno enquanto a espero.
Alguns minutos depois, Carla entra na sala, dessa
vez parecendo mais relaxada.

— Aqui está o desenho — apresento após nos


cumprimentarmos. — Se não gostar, ou quiser
fazer alguma modificação, fique à vontade para me
dizer. Fiz alguns decalques para vermos como vai
ficar.

A fitei e a emoção que vi refletida no olhar


dela me disse que desenhei exatamente aquilo que
precisava.

— A fênix eu acho que já sabe o que significa.


As flores do campo representam a volta da
felicidade…

Ela enxuga uma lágrima que acaba caindo do


olho.

— Esse desenho significa muito para mim,


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Alice. Eu de fato estou renascendo das cinzas e


correndo em busca de ser feliz. Muito obrigada, de
coração.

Meu peito se aquece diante daquelas palavras.


Seguro as lágrimas para que elas não caiam.

— Quando podemos começar? — A


empolgação é visível no olhar dela.

— Hoje mesmo, se você quiser. Mas como


será em cima de uma queimadura, faremos várias
sessões, porque, além do desenho ter muito
detalhes, o faremos em um local delicado e será
bem doloroso, como havia lhe dito antes.

— Sem problemas.

— Então podemos começar? — Estou louca


para experimentar meus novos brinquedos.

Faz algum tempo que não tatuo, e a ideia de


recomeçar é excitante. Acomodo Carla na cadeira
reclinável, coloco as luvas e começo o trabalho.

Tive que parar diversas vezes, pois era visível


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o quanto estava dolorido para ela. Já havia tatuado


mulheres com queimaduras, no meu antigo estúdio.
Luís, o proprietário, na semana do Dia das
Mulheres, disponibilizou um número de vagas
gratuitas para aquelas que tinham cicatrizes na pele
e queriam cobri-las. Algumas tinham histórias
difíceis de esquecer. Eu nada perguntava, as
deixava livres para conversarem sobre o que
quisessem durante as sessões. Mas só de saber que
muitas delas estavam ali por causa dos
companheiros, os homens que escolheram passar o
resto das vidas, foi doloroso. Chegava em casa e
chorava por cada uma delas, pela dor que via
refletida nos olhares.

Carla me pediu desculpas inúmeras vezes, mas


lhe expliquei que era assim mesmo. Orientei-a que
realmente me falasse quando a dor se tornasse
insuportável.

Quando completo a primeira sessão vejo que


está quase na hora de fechar o estúdio. Me despeço
de Carla e esterilizo os equipamentos, marcando
uma próxima sessão para continuarmos o trabalho.

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Pego a bolsa e vou para casa. Sobre a moto,


com o vento batendo sobre a pele, lembro-me do
meu vizinho.

Como irei encará-lo após o beijo?

Tenho medo dos sentimentos em relação a ele.


Ben nem parece ser o tipo de cara que deseja se
envolver e assumo que não sou o tipo de garota que
tem casos. O fato de eu ter gostado e não conseguir
esquecê-lo é algo que me assusta pra cacete.

Um carro passa raspando no meu lado, o que


me faz soltar alguns palavrões. Por ora, o que
preciso é me concentrar no trânsito.

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O sangue corre agitado nas minhas veias, me


deixando alerta. Sempre funciona assim, a cada
missão. A tensão de realizar algo bom, de fazer
justiça em um país.

— Agentes, a equipe está se aproximando do


local. Preparem-se — ouço a voz saindo do rádio.

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— Entendido! — Felipe é quem responde,


com o aparelho na mão.

Depois de analisar o relatório de Dom sobre


uma rede que traficava armas na Ceilândia,
conseguimos a data da próxima chegada de
material, fomos enviados para efetuar a busca e
apreensão em flagrante. Investigamos esse grupo
por quase um ano, e revisamos etapa por etapa para
não termos erro. Com uma média de dois meses,
eles recebiam o carregamento em um galpão na
periferia. Já tínhamos fotos do lugar e dos supostos
envolvidos. Faltava apenas enquadrá-los.

Dom estava confiante que dessa vez seríamos


bem-sucedidos.

Entramos na área em cinco grupos, passando


por ruas escuras e estreitas. Chegamos até o galpão
e no separamos para revistar o local, que estava
silencioso até demais.

Droga, não acredito que vamos voltar sem


nada!

Quando seguro meu rádio transmissor para


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informar que o local designado para eu revistar não


tem nada, ouço um tiro, seguido de uma dor na
perna.

Puta que pariu! Fui atingido.

Me jogo no chão, e uma queimação parece me


tomar toda a extensão até a coxa.

— Agente ferido! — ouço a voz de Felipe ao


se aproximar. — Você está bem, cara?

Antes que eu consiga responder, outros tiros


começam a soar pelo ambiente. Me escoro atrás do
carro, tentando ajudar meus colegas de trabalho no
fogo cruzado.

Tento me apoiar, me manter de pé, mas tudo


começa a rodar à minha volta. De repente, a visão
escurece.

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— Tia, você pode assistir ao filme do Thor


comigo? — minha sobrinha começa a falar assim
que me sento no sofá. Havia esquecido
completamente que minha irmã havia me pedido
para cuidar da Jas hoje. Ainda bem que o estúdio
está fechado. Segundo Laís, pelo menos uma vez
ao mês é feita uma limpeza completa nele,

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inclusive com produtos químicos, evitando o


mínimo risco de contaminação ou algo do tipo.
Então todos os funcionários ganham folga nessa
data.

— Claro, meu amor. — Bagunço os cabelos


dela e coloco o filme pedido.

Pelo visto, nem mesmo a pequena é capaz de


resistir ao charme do herói viking. Já perdi a conta
de quantas vezes assistimos esse filme.

Enquanto as imagens passam diante de mim, a


mente começa a vagar até Ben. Desde que nos
beijamos, ele sumiu. Isso já faz cinco dias… Fui até
o parque correr no mesmo horário que ele
costumava ir, e nada. Bati na porta do apartamento
dele e ninguém atendeu. Será que eu fiz algo de
errado para ele sumir? Isso já está me consumindo.
Quando eu menos espero, minha cabeça está
pensando nele!

“Talvez esteja te evitando de propósito,


Alice!”, essa mentezinha traidora rebate e sinto o
coração despencar do peito. Quase consigo

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visualizar os caquinhos espalhados no chão.

Antes do filme acabar vejo que Jas


adormeceu. Pego uma coberta e a cubro, para logo
em seguida ir ao meu estúdio pintar um pouco.
Quem sabe assim Ben se manda dos meus
pensamentos.

As horas se passam e não consigo produzir


absolutamente nada. Cansada, volto para a sala e
vejo minha sobrinha sentada, coçando os olhinhos.

— Dorminhoca. — Ela me dá um sorriso,


ainda meio sonolenta.

Preparo a vitamina favorita dela e lhe entrego.


Quando volto para a sala, ouço alguns barulhos
vindo do lado de fora. Será que é Benjamin?

Corro até o olho mágico e o vejo de cadeira de


rodas, com um homem o empurrando.

Meu Deus, o que houve com ele?!

O nervosismo fala mais alto que tudo e abro a


porta, indo até ele.
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— O que aconteceu? — Ele me olha e passa


as mãos pelo cabelo.

— Ele… — o outro homem começa a falar,


mas Ben o interrompe.

— Sofri um assalto e tomei um tiro na perna.


Nada de mais, pode ficar tranquila. Preciso apenas
ficar de repouso e logo estarei novo em folha.

Antes que eu o enchesse de perguntas, minha


sobrinha me chama e se aproxima. Olha para Ben e
pergunta, inocente:

— Você é o vizinho sexy? — Os dois homens


caem na gargalhada e todo meu nervosismo se
transforma em constrangimento. Preciso me
lembrar de não falar certas coisas perto dela.

— Acho que posso ser sim. — Ele dá uma


piscadinha para ela, que logo sorri.

Puta merda! Estou ferrada!

O amigo dele, ou pelo menos eu acho que seja,


abre a porta e empurra Ben para dentro do
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apartamento. Eu os sigo e Jas vem logo atrás.

— Ai, meu Deus! — ela grita assim que entra


na casa e me assusto.

— O que houve? — Fico preocupada


enquanto Ben olha para nós, confuso. Ela corre até
uma estante como se a sua vida dependesse disso.

— Tia, ele tem o boneco do Homem-Aranha,


do Homem de Ferro, Homem Formiga… AI, MEU
DEUS! ELE TEM O BONECO DO THOR! — a
pequena grita e solta pulinhos de empolgação. Nem
havia me dado conta da estante de vidro próxima a
janela, repleta de bonecos. Jas coloca as mãozinhas
no vidro da estante e a seguro antes que quebre
alguma coisa.

— Você gosta de super-heróis? — Ben chama


a atenção dela, enquanto o outro apenas observa.

— Gosto só dos super-heróis! Os vilões são


feios!

— São mesmo!

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— Como você se chama? — o amigo dele


tenta socializar enquanto Ben e Jas engatam uma
conversa animada.

— Alice.

— Prazer, eu me chamo Felipe. Posso falar


com você um instante?

— Claro. — O sigo até a cozinha.

— Nosso amigão ali não pode fazer esforço


com a perna e precisa de alguém para cuidar dele,
mesmo que negue isso. Eu preciso ir para casa
cuidar da minha esposa e dos meus filhos, portanto
ia te perguntar se pode ficar com ele.

— É claro!

— Eu ia deixá-lo e vir vê-lo manhã, mas me


sinto desconfortável em deixá-lo sozinho.

— Sem problemas. Eu cuido dele.

— Obrigado. — Pega uma caneta e um papel


da bancada e anota um número. — Aqui está o meu
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celular. Qualquer coisa, não hesite em me ligar. Eu


já vou indo. Foi um prazer, Alice. — Voltamos
para a sala e ouvimos os dois discutindo como duas
crianças.

— O Superman é mais forte que o Batman! —


Jas parece empolgada em defender a própria
opinião.

— O Batman derrota o Superman fácil com a


kryptonita!

— Ele não tem poderes! — a pequena rebate.

— Mas ele é inteligente! — Ben parece uma


criança emburrada e eu só tenho vontade de rir.

— Desculpa interromper a discussão


acalorada, mas preciso ir. Ben, a Alice vai cuidar
de você… — Meu vizinho faz menção de protestar,
mas seu amigo o interrompe: — Sabe que precisa
de cuidados, não pode forçar a perna. Alice vai te
ajudar e ponto final.

Ben o olha como se pudesse matá-lo. O outro


apenas ri e sai do apartamento.
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— Você vai botar fogo na minha casa? — Ele


tenta parecer sério, mas começa a rir.

— Talvez. — Dou de ombros.

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Mesmo que não queira, me sinto bem com a


presença dela aqui em casa. Mesmo que tente me
manter longe, quero estar ao lado dessa vizinha
desastrada e linda.

— Tio… — a sobrinha dela sussurra. Me


aproximo dela no sofá e logo coloca as duas

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mãozinhas em forma de concha para falar no meu


ouvido. Provavelmente querendo evitar que a tia
ouça da cozinha. — Se deixar ela na sua cozinha
vamos ter intoxicação alimentar! — Gargalho alto
sem conseguir me conter. — Ela mal consegue
fazer arroz sem queimar ou salgar. Pelo amor de
Deus, nos salve! — Com isso, a risada só aumenta.

— Do que estão rindo? — Alice pergunta da


cozinha.

— O tio disse que vai comprar pizza pra


gente. Né? — me chamar assim é íntimo demais,
mas estranhamente gosto disso.

— Sim… Eu disse. — Melhor confiar na


pequena, pois já vi o que Alice consegue fazer com
a pipoca. Sabe-se lá Deus de quantas formas pode
destruir o arroz.

— Ah… Mas eu já lavei o arroz…

— Pode deixar na geladeira.

Ouvimos então o barulho das coisas sendo


guardadas.
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— Salvos pela pizza! — A pequena me


cutuca.

Rio baixinho e faço o pedido pelo celular.

Depois de comermos, Jasmine capotou no


sofá. Alice a cobriu com uma manta e nos sentamos
no outro móvel, em um silêncio desconfortável.

— Eu… — ela parece nervosa, as mãos


entrelaçadas sem conseguir me encarar. Sei que
deseja falar do beijo, mas não sabe como, assim
como eu. Como posso lhe dizer que aquele contato
mexeu comigo mais do que gostaria de admitir? E
que mesmo que ele tenha causado sensações novas
para mim, ainda assim prefiro fugir de qualquer
tipo de relacionamento?

Nesse instante, o telefone dela toca e quase


pula do sofá de susto.

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Alice

Ah, eu quero falar do beijo, dizer o quanto


gostei, mas cadê as palavras?! As danadas não
saem. É nessa hora que meu telefone toca. Vejo que
é a minha irmã.

— Oi, Line.

— Alice, estou em frente ao seu apartamento


para pegar a Jas. Onde vocês estão?

— No vizinho…

— VOCÊ ESTÁ ONDE?

— Eu estou no vizinho — sussurro para que


Benjamin não me ouça.

— AI, MEU DEUS! VOCÊS NÃO


RESPEITAM NEM UMA CRIANÇA!

— Nada disso, sua maluca! Ben, minha irmã


veio pegar a Jas. Tudo bem ela entrar? — Afinal, a
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casa é dele.

— Claro, sem problemas.

— Já estou indo, Line. — Desligo o telefone e


caminho até a porta.

Saio do apartamento e vejo ela na minha porta.

— Você e seu vizinho…

— Pode parar, Line. Tudo bem… Nós nos


beijamos, mas foi só, Ben está machucado e estou
lá para ajudá-lo. — Abro a porta do meu
apartamento para pegar a mochila de Jas.

— Corta essa, Alice. Só se você está o


ajudando no banho, porque fazendo comida…

Dou um tapa na minha irmã.

— Ai! Eu só estou brincando. — Dou a


mochila de Jas para ela.

— A pequena capotou no sofá dele. Você vai


entrar e pegá-la, mas pelo amor de Deus não me
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envergonhe. Já não basta a sua filha o chamando de


vizinho sexy. É sério, você precisar colocar um
durex na boca dessa criança.

— A Jas falou isso? Essa é minha filha! —


Resisto a vontade de lhe dar outro tapa.

— Vamos!

Fecho a porta do meu apartamento e seguimos


até o de Ben. Minha irmã entra, mas trava na porta
quando o vê. Acho que não esperava que fosse tão
bonito.

— Oi… — é tudo que a maluca consegue


dizer, com os olhos vidrados nele, praticamente
babando.

— Ben, essa é minha irmã. — Ele se levanta,


resmungando um pouco, por causa da dor.

— Não precisa levantar… Eu só… vim buscar


a Jas.

— Tudo bem… Fique à vontade. Quer beber


algo?
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— Não, obrigada.

Ela vai até onde Jas está e a pega no colo. A


pequena boceja e coça os olhinhos, despertando.

— Mamãe. — Minha irmã a beija. — Já


vamos?

— Sim, meu amor.

— Deixa eu falar com o tio.

Minha irmã a coloca no chão e eu rio. Ela sobe


no sofá onde Ben está e sussurra algo no ouvido
dele. Nós observamos a cena, curiosas sobre o que
conversaram. Ben ri e minha sobrinha também.
Essa imagem causa uma palpitação no meu
coração, tão íntima e bonita que eu quero desenhá-
la e guardá-la para sempre.

Ai, meu Deus… Quando foi que eu deixei que


meus sentimentos crescerem tanto?

— Mamãe, no fim de semana o tio me


convidou para ver o filme do Thor com ele. Né,
tio?
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— Eu convidei, é? — Essa criança…

— Sim, tio. Esqueceu?

— Verdade. Temos um encontro no sábado,


certo?

— Sim! — Minha sobrinha e o seu enorme


poder de persuasão.

— Vamos, Jas.

Minha sobrinha se aproxima de mim, me


dando um beijo e um abraço apertados. Ela faz o
mesmo com Ben, que parece um pouco surpreso
com o gesto. Pelo visto parece que Jas fez um novo
amigo.

Elas saem e me sento no sofá, mas dessa vez


longe dele.

— Você precisa de algo?

— Não… Está tudo bem… Pode ir descansar.

Ainda quero conversar sobre o beijo, mas pelo


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visto só eu. Então apenas me levanto para ir


embora.

— Amanhã cedo eu volto. Já tomou todos os


remédios de hoje, né?

— Alice… Para de achar que precisa cuidar de


mim…

— Eu sei… Mas eu quero — apenas digo e


saio do apartamento, indo para o meu com o
coração aos pulos.

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Vejo Alice saindo do apartamento e sinto o


coração inquieto dentro do peito.

Merda! O que está acontecendo comigo?!

Tê-la em minha casa com a sobrinha me fez


querer algo mais… Mas como posso querer algo
assim?
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Não posso deixá-la passar pelo mesmo que


minha mãe, nem permitir que outra pessoa sofra
daquela forma. Sei da minha profissão e os riscos
que vem com ela, por isso é impossível ser egoísta
e arrastar alguém para a minha vida nesse
momento.

Meu telefone toca e vejo que é o número da


minha mãe.

— Filho, como você está? — nem consigo


dizer alô.

Felipe acabou dando com a língua nos dentes


e contou a ela que fui baleado durante uma missão.
Mamãe, é claro, ficou histérica e teve que ficar no
hospital para receber um calmante. Tive de
convencê-la que já estava bem quando saí do
hospital, pois ela queria ficar no meu apartamento.
Sabia que aquilo me sufocaria, por isso disse a ela
que Felipe cuidaria de mim. Mesmo assim, ela liga
a todo instante para saber como eu estou. Nem
posso culpá-la por isso. Afinal, ela perdeu meu pai
por causa desse emprego.

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— Eu estou bem, mãe.

— Tem certeza de que não quer minha


companhia?

— Tenho mãe. Eu estou bem, vou dormir


agora.

— Já tomou os remédios?

— Sim.

Ela começa a falar que devo ficar de repouso


absoluto, tomar meus remédios na hora certa, entre
outras coisas, até que finalmente consigo desligar.

Pego as muletas atrás do sofá e vou para o


quarto. Deito na cama ainda com o coração
inquieto, desejando certa companhia…

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Carregando as sacolas da padaria nas mãos,


tento apertar o botão para chamar o elevador.
Alguns segundos depois as portas se abrem e dona
Marília, a esposa do seu Alberto, o porteiro, sai
com um chapéu extravagante cor-de-rosa e roupas
combinando.

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— Minha menina! Que saudade!

— Dona Marília, como foi a viagem?

— Maravilhosa! Tanto homem bonito… Um


colírio para os olhos!

— Deixa seu Alberto saber disso!

Sei que é apenas brincadeira, pois dona


Marília é apaixonada pelo marido.

— Esse é o nosso segredinho… — rimos uma


para a outra.

— Meu táxi já está me esperando. Mas à noite


vou na sua casa. Vou levar aquele bolinho que você
tanto ama e colocaremos as fofocas em dia.

— Oba! Esperarei ansiosa.

Entro no elevador e sigo para o apartamento


de Ben. A ansiedade começa a tomar conta de mim
só em saber que irei vê-lo. Meu coração fica desse
jeito, parecendo um tambor. Ontem à noite acabei
confessando que desejo cuidar dele, apesar de
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quase soltar que anseio bem mais do que isso. Mas


não é o momento certo e nem acho que sinta o
mesmo que eu, por isso tive de me segurar.

Toco a campainha e depois de alguns minutos


Ben abre para mim, se apoiando nas muletas.

— Trouxe o café da manhã. — Mostro as


sacolas para ele assim que me deixa entrar. —
Acordou há muito tempo? — Coloco as coisas na
bancada.

— Não. Os remédios me deixam sonolento.


Levantei agora para fazer o café.

— Sabe que não pode fazer esforço.

— Eu só ia passar o café. — Parece uma


criança emburrada se sentando no sofá.

— Onde estão as canecas?

— Primeira gaveta à esquerda.

Ben liga a TV e coloca no jornal, enquanto


arrumo a mesa com o que comprei e faço um café.
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Aproveito para espiá-lo enquanto está concentrado


no jornal. Como pode ser tão lindo? Seus cabelos
estão desgrenhados, deixando-o ainda mais sexy, se
isso for possível. A camiseta deixa à mostra os
músculos…

— Alice? — ele me chama e percebo que


fiquei tempo demais o encarando.

— Está pronto. — Finalmente saio dos meus


devaneios.

Ele caminha lentamente até a mesa e se senta.

— Você adora essa padaria, né?

— Sim, desde que vim morar no prédio.

— Faz muito tempo?

— Tem uns sete anos. Esse apartamento era o


sonho de papai.

Ele assente enquanto come um pãozinho de


queijo.

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— Não vai trabalhar hoje? — para alguém que


evita conversar, Ben está fazendo perguntas demais
em um dia só.

— Só vou terminar aqui e já vou. De moto é


rapidinho.

— Usa moto-táxi? — Será que é tão difícil


imaginar uma mulher pilotando?

— Não, eu tenho uma. — Ele se engasga com


o café. — Está tudo bem?

Ele balança a cabeça, assentindo. Não sei se


acredito…

— Deve ser uma imagem e tanto… — fala tão


baixo que mal consigo escutá-lo. Meu rosto
esquenta na mesma hora, enquanto ele morde os
lábios e passa a língua neles em seguida. Puta
merda! Eu definitivamente preciso transar!

Termino de beber e lavo a caneca. Sinto os


olhos de Ben sobre mim, mas fico sem coragem de
encará-lo. Pelo visto, não sou a única a ter
pensamentos eróticos.
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— Já vou indo… Mais tarde passo aqui —


tento soar casual, apesar da minha frequência
cardíaca ter aumentado consideravelmente.

Saio dali em passos largos, indo para o meu


apartamento. Vou direto para o chuveiro tomar um
banho frio para tentar me acalmar, mas quem disse
que adianta? O calor em meu ventre continua. Ben
está causando-me uma sensação que nunca nenhum
homem despertou em mim.

Passo as mãos pelo corpo, desejando que


fossem as dele. Fazer isso é novo para mim…
Seguro meus seios e o imagino sendo chupados,
mordiscados por aquela boca sexy. A mão vai até o
meu sexo e o preencho com um dedo, imaginando
aquele homem me beijando a boca, descendo até a
barriga… Coloco mais um e me apoio na parede do
boxe enquanto os movimento, aumentando o ritmo,
imaginando meu vizinho me tomando toda. O
clímax toma conta de mim e respiro rápido,
tentando me acalmar.

Eu estou fodida!

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Benjamin

Puta merda! Eu estou duro, completamente


duro. Imaginá-la em cima de uma moto é demais
para mim. Espero que ela não tenha percebido o
volume na minha bermuda.

Isso está se tornando insuportável! Mal


consigo parar de pensar na vizinha, na minha cama,
no meu sofá, na bancada da cozinha… Em cima de
mim.

Caralho!

Como estou sozinho em casa, seguro o pau e


começo a movimentá-lo, imaginando-a como deve
ficar gostosa, em cima da sua moto… Nua.

Rapidamente eu gozo, como um adolescente


na puberdade.

É, eu estou muito fodido!


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Me jogo no sofá, sentindo cada parte do meu


corpo doer. Fiquei praticamente na mesma posição
o dia todo, fazendo tatuagens. Me levanto, ou
melhor, me arrasto até o banheiro e tomo um banho
quente. Sinto, para minha alegria, os músculos
relaxarem na mesma hora.

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Coloco um short sem calcinha e uma blusa


confortável. Me jogo no sofá com um meu pote de
sorvete sabor flocos em uma mão, antes de ir para a
casa de Ben. Minhau sobe ao lado e acaricio seu
corpinho gorducho.

Alguns minutos depois a campainha toca. Pelo


olho mágico vejo que é dona Marília.

Ela entra, se sentindo em casa como sempre.


Coloca uma sacola na mesa de centro e abre a
vasilha. Na mesma hora sinto o cheiro de bolo de
fubá.

— Nossa, como senti falta disso…

Ela sorri. Adora que elogiem a sua comida.

— Menina, eu trouxe um bolinho para o


vizinho novo. Você já o viu? É tão bonito quanto
dizem? — Meu rosto esquenta na mesma hora.

— Eu… acho que sim.

— Que carinha é essa? Não me diga que você


e ele…
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— Não…

— Ah, você pode até tentar me enganar! Vai,


me conta tudo…

É o que faço, do início ao fim. Ela ri diversas


vezes enquanto quase me escondo de tanta
vergonha.

— Precisamos ver esse pedaço de mau


caminho agora mesmo! — Ela se levanta.

— Está bem.

Ela sai do meu apartamento, indo em direção


ao de Ben.

Toco a campainha e ele abre apenas de short,


deixando exposto aquele corpo escultural. Dona
Marília solta um gritinho de animação e ele fica
vermelho na mesma hora.

— Eu vou… colocar uma camisa. Fiquem à


vontade.

— Minha Nossa Senhora! Estou com calor,


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menina. Muito calor — rio, mas me sinto da mesma


forma. Ben tem esse efeito: faz as pessoas
incendiarem.

Meu vizinho volta alguns segundos depois,


mancando, mas dessa vez vestindo uma camiseta,
para nossa tristeza.

— Essa é dona Marília. Ela mora no 108…

— Vim dar as boas-vindas ao vizinho novo.


Trouxe um bolinho de fubá. Espero que você
goste… — ela me interrompe e desata a falar. Ben
a acompanha, rindo e assentindo.

Ela conta toda as aventuras de suas viagens e


ele ouve tudo, atentamente.

— Vou fazer um café. — Caminho até a


cozinha, deixando os dois sozinhos enquanto isso.
Levo as xícaras para a mesa de centro, junto com
alguns pratinhos. Marília nos serve o bolo e fecho
os olhos, praticamente gemendo quando provo o
primeiro pedaço. Assumo que nunca comi algo tão
gostoso…

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— Que delicia! Assim vou ficar mal-


acostumado.

— Meu amor… Ficarei feliz em te deixar


assim. Só não conte para o meu marido. — Pisca
para ele. Ben quase se engasga. — Já vou indo. —
Faço menção de me levantar para acompanhá-la até
a porta, mas ela me impede. — Nem precisa se
levantar, querida. Estou velha, mas sei o caminho
de casa. Foi um prazer, Benjamin.

— O prazer foi todo meu. — Ele segura a mão


da senhora e a beija.

Dona Marília solta um risinho, pisca para mim


e sai em direção a porta.

— Farei alguma coisa para você jantar. —


Pego as canecas sujas e as levo para a pia.

— Não precisa, daqui a pouco eu faço.

— Mas você não pode…

— Estou muito melhor. Fique tranquila.

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— Você é tão cabeça-dura. Eu só queria


cuidar de você — acabo soltando e me repreendo
internamente. Fiz de novo.

Ele fecha os olhos e fica em silêncio alguns


segundos.

— Você pode ir agora. Nunca pedi para que


cuidasse de mim — meu coração se parte em mil
pedaços ao ouvir seu comentário grosseiro.

— Você… é tão odiável — fico morrendo de


raiva.

— Diz de novo.

Eu repito, cheia de desprezo.

— Puta que pariu! — ele xinga e se aproxima


de mim, os olhos completamente negros. Me encara
como se fosse o caçador e eu a presa.

— Quer saber? Eu te quero, Alice. Na cama,


sob mim, gemendo enquanto fala o meu nome.
Cansei de lutar contra isso. Quero te ouvir me
chamar de odiável após ter tido vários orgasmos.
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Tô de saco de cheio de me segurar perto de você.


— Ben me surpreende, aproximando nossos
corpos. O calor da pele dele me faz incendiar.
Estamos tão próximos que consigo sentir a ereção
na minha coxa. O vizinho traça o contorno do meu
rosto com os dedos e se aproxima dos meus lábios
sem tocá-los, os olhos fixos nos meus, sem desviar.
Tremo de ansiedade. — Mas não posso oferecer
mais que isso. É apenas sexo, sem compromisso…
Se não aceitar os termos, vou me afastar de você
agora.

Uma parte de mim deseja rejeitá-lo, pois não


sou o tipo de garota para noites de sexo casual…
Mas outra parte de mim se incendeia, sente todo
meu corpo vibrar e queimar apenas pelo toque. Isso
faz com que eu nem pense: o puxo para mais perto,
tomo a boca dele e a invado com a língua. Ele
retribui com uma fome desesperada, assim como
eu. É como se mal aguentasse esperar um segundo
que fosse. Mordisca meus lábios e gemo contra
aquela boca deliciosa. As mãos vão até a minha
coxa, puxando-me para mais perto dele. As
entrelaço na cintura firme e ele me leva até a cama.

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— A sua perna…

— Está ótima. — Cala minha boca com um


beijo incrivelmente erótico.

O corpo paira sobre o meu enquanto tiro a


blusa lentamente, revelando os seios. Ben passa a
língua nos lábios, como se ansiasse por um
banquete, e toma um deles na boca enquanto a mão
brinca com o outro. Isso é muito melhor do que
imaginei. Seguro os cabelos dele e gemo baixinho,
pressionando a cabeça dele contra o colo enquanto
a língua brinca com os mamilos. Ele os solta de
repente, me deixando com vontade de mais. Os
lábios brincam, subindo e descendo do pescoço a
barriga, fazendo labaredas tomarem conta de mim.

Ben me faz sentar na cama e desfaz o meu


coque, deixando os cabelos caírem sobre os
ombros.

— Eu adoro eles assim. Te deixam sexy.

Rio e tomo aquela boca que nunca canso de


beijar. Tiro a camisa e ele meu short, me deixando
nua.
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— É sério que você veio até a minha casa sem


calcinha? Estava tentando me testar?

Se me olhar no espelho agora, tenho certeza de


que estou vermelha da cabeça aos pés.

— Eu não costumo usar calcinha em casa. —


Na verdade, nunca uso. Adoro usar shorts e calças
sem nada por baixo.

— Safada!

— Ei, não vim até aqui para te seduzir. Eu


estava preocupada com você e dona Marília queria
conhecê-lo.

— Sei… — Antes que eu possa retrucar, ele


me deita novamente e abre as minhas pernas,
trilhando um caminho pelas coxas até o meu centro,
e quando o toma solto um pequeno gritinho de
surpresa.

Ah, essa língua sabe como se movimentar! Me


faz ter sensações que nunca experimentei antes, é
claro que já tive sexo oral antes, mas na mesma
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intensidade que esse? Nunca! Me contorço,


sentindo um turbilhão de sensações. Explodo,
sentindo todo meu corpo relaxar.

Puta merda! Esse homem… Antes que possa


me recuperar do orgasmo, ele tira a cueca
revelando um membro completamente ereto, me
deixando boquiaberta. Ben parece ter sido
esculpido de tão lindo e sexy que é. Meu vizinho
abre a gaveta do criado-mudo, pega uma camisinha
e a coloca.

— Agora eu vou te foder bem devagar,


Alice… — Coloca o membro em mim e eu o sinto
me preencher por completo. — Tão gostosa…

Gemo baixinho, tentando me conter, mas é


impossível. Ben está me torturando tirando e
colocando o pênis lentamente em mim. Me remexo
embaixo dele, querendo mais.

— Quer ser fodida mais rápido, Alice?

— Por favor… — praticamente imploro.

Essa tortura está me matando.


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— Por favor o quê, Alice?

— Mais rápido… — cedo.

— Seu desejo é uma ordem.

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Olho para Alice na minha cama e sinto uma


sensação estranha no peito. Não era para ela estar
aqui, onde nenhuma outra mulher passou a noite
após o sexo. Isso elevava as coisas para um nível
que fugia.

Mas Alice estava exausta e me faltou coragem

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para acordá-la, muito menos sair do lado dela, após


ter adormecido e colado o corpo, entrelaçado ao
meu.

Nunca achei que ela fosse aceitar as minhas


condições, mas assim que nossos lábios se tocaram,
tive a certeza de que estava muito enrascado.

Ela se mexe lentamente na cama, despertando.


Fico admirando-a por alguns segundos, o lençol
que lhe cobria o corpo agora cobre apenas parte da
barriga, deixando à mostra os seios e pernas.

Puta merda… Essa mulher ainda vai me


matar!

Alice abre os olhos, e parece confusa por


alguns minutos. Pisca algumas vezes e, quando
percebe que está nua, cobre o corpo, como se
estivesse envergonhada.

Gargalho e ela me olha com o rosto


ruborizado.

— Bom dia!

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— Dia… eu preciso ir…

Ela pega as roupas espalhadas pelo quarto,


veste e sai da minha casa como um foguete,
segurando o lençol sem que eu possa sequer falar
algo.

Melhor assim, não? Não era isso que eu


queria?

Sexo sem compromisso?

Mas se era, por que me sinto tão


decepcionado?

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Ai, meu Deus! Eu realmente fiz isso! Sexo


casual…

COM O MEU VIZINHO!

— Alguém se deu bem essa noite. — A voz de


Bruna me faz pular de susto ao sair da casa do Ben.

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Fuzilo-a com o olhar enquanto minhas amigas


correm na minha direção.

— Acho que você esqueceu de devolver isso


aí. — Minha amiga aponta para mim e me dou
conta de que ainda estou meio que enrolada no
lençol. Ben deve achar que sou maluca, com
certeza!

— Ali, você realmente transou com ele? —


Lari sussurra.

— Olha a cara de quem foi bem comida… —


Tapo a boca de Bruna com a mão e as levo para
minha casa.

— Conta tudo! — Entramos e só então explico


para as duas o que aconteceu na noite passada,
deixando-as completamente eufóricas.

— Finalmente alguém resolveu aproveitar os


benefícios do sexo casual.

— Não era bem isso que eu tinha em mente,


Bru… Mas, pela primeira vez na vida, me joguei de
cabeça sem pensar nas consequências.
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— E gostou? — agora é Lari quem pergunta.

Balanço a cabeça, assentindo. A noite foi


maravilhosa! Nunca achei que pudesse sentir tanto
prazer. O duro é que tenho sentimentos por ele… E
isso me assusta pra cacete, porque sei que não serei
correspondida. Para ele é apenas sexo, por isso que
quando acordei fugi, sem coragem para encará-lo.
Nem faço ideia de como serão as coisas daqui para
frente.

— Bru, estamos atrasadas… — Lari olha no


relógio.

— Merda!

— Vamos passar aqui mais tarde.

Me despeço das minhas amigas e me arrumo


para ir ao trabalho. Tento tirar as cenas da noite
passada da mente, mas é praticamente impossível.
Sinto como se ele estivesse impregnado em cada
parte do meu corpo.

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Estaciono a moto em frente ao estúdio e o


celular vibra no meu bolso. Vejo que é uma
mensagem da minha irmã e decido respondê-la
assim que me sentar. Guardo o aparelho e continuo
a andar, mas sinto um esbarrão que quase me faz
cair. Levanto os olhos e vejo um homem de meia-
idade com alguns fios grisalhos, vestindo preto dos
pés à cabeça. Nas mãos há anéis de diversos tipos e
o sapato brilha tanto que parece recém-saído da
loja. Sinto uma sensação estranha ao olhá-lo.

— Me desculpe — o sotaque é tão carregado


que mal consigo identificar de onde é.

— Tudo bem… — Ele se afasta. Olho para


trás e o vejo entrando em uma BMW.

Decido afastar a sensação estranha e entro.


Laís parece distraída, mexendo no celular. Lhe dou
bom dia e ela apenas assente, sem nem me olhar. O
estúdio está completamente vazio. Olho para o meu
relógio a fim de conferir se não cheguei cedo
demais, mas vejo que estou no horário certo.

Vou até a minha sala, me sento no sofá e

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mando uma mensagem para a curiosa da minha


irmã, contando tudo o que aconteceu na noite
passada.

E assim começa mais um dia.

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Duas semanas depois…

— O que você está fazendo aqui? — Felipe se


levanta assim que entro na sala.

— Vim trabalhar. — Jogo minha bolsa no sofá


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e me sento.

— Você ainda está de licença, seu maluco!


Perdeu a cabeça?

— Foi só um tiro. Quantos desses já tomamos


e seguimos com a vida? Não aguento mais ficar em
casa e estou completamente recuperado.

Eu já estava enlouquecendo dentro de casa.


Não conseguia para de pensar na minha vizinha
que, aliás, sumiu desde a noite em que ficamos
juntos. E eu, que nem um bobo, fiquei esperando
Alice bater na minha porta, porque eu não tive
coragem de ir até ela. Pois é, fui eu quem
determinei os termos, e me ferrei. Sabe por quê? Eu
a queria de novo na minha casa, gemendo meu
nome enquanto eu a fodia gostoso.

O pior é que ando tão besta que sinto falta até


da sobrinha que só vi apenas uma vez. É claro que
o filme no sábado retrasado com a pequena nem
rolou, o que eu deveria achar ótimo, pois seria
íntimo demais… Mas eu até fiquei esperando elas
aparecerem. Para falar a verdade, é a primeira vez

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na minha vida que começo a me sentir solitário. E


isso está me fazendo mal.

— Benjamin — Dom me chama. Me levanto,


saindo dos devaneios.

— Fala…

— Você ainda está de licença. O que está


fazendo aqui?

— Já estou recuperado, quero voltar a


trabalhar.

— Vocês ainda vão me enlouquecer, isso sim!


Não vou conseguir te mandar para casa, não é
mesmo? — Nego com a cabeça. — Tá bom, pode
trabalhar. Mas, enquanto estiver de licença, está
proibido de participar de qualquer missão. Vai
trabalhar internamente e sem discussão!

Eu sabia que ele falaria isso, mas sem


problemas. Melhor ocupar a mente com o trabalho
do que em casa pensando na minha vizinha.

Assinto e ele passa as mãos pelos cabelos,


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voltando para a sala.

— Felipe, sobre a missão em Ceilândia:


descobriu por que deu errado?

— Acho que tem alguém de dentro vazando


informações. Tínhamos tudo planejado, não tinha
como dar errado, mas de alguma forma eles sabiam
que íamos até lá... Até conversei com Dom sobre
isso, mas sabe como é: uma investigação interna
não é algo fácil de se fazer. Mas ele disse que
pensará em um modo.

Havia pensado a mesma coisa. Não é a


primeira vez que uma missão dessas dava errado…

— O que tem aí para mim? — Ele me


apresenta um caso de crimes cibernéticos. O ajudo
nas pesquisas, grato pela distração.

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Coloco o macarrão no fogo e decido tomar um


banho para relaxar. Faz duas semanas que evito ver
o Ben. Assumo que estou sem coragem… Porque
não sei como agir depois daquela noite. Nem fui
perguntar se estava bem. Queria encontrá-lo, mas
não fazia ideia de como iria encará-lo.

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Abro o chuveiro e deixo a água quente


percorrer todo meu corpo. Lavo os cabelos e
aproveito para fazer a depilação sem pressa…
Distrair a cabeça dos pensamentos que me rondam.
Perco a noção do tempo, mergulhada no barulho do
chuveiro e no cheiro de sabonete. Quando termino,
me enrolo na toalha e caminho até o quarto. Sinto
um cheiro estranho no ar, olho pela porta do
corredor e vejo que há uma fumaça escura tomando
conta do apartamento.

Puta merda! O macarrão!

Fiquei tanto tempo no banho que me esqueci


completamente dele!

Alguém bate na porta freneticamente. Espero


que não seja o síndico reclamando da fumaça.

— Alice! Se você não abrir a porta, eu vou


arrombar!

Merda, é a voz de Ben.

— Alice!

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Ouço-o xingando diversas vezes. Sem pensar,


abro a porta antes que ele a arrombe antes de correr
para o fogão.

Merda! Mil vezes merda!

O fogo tomou toda a panela. Nem tem como


eu pegá-la e jogá-la na pia.

Antes que eu consiga pensar em qualquer


outra coisa, Ben apaga o fogo com o extintor.

De onde ele tirou isso?

Nem pergunto, fico apenas grata por ele ter


apagado o fogo. Se não estivesse aqui, estaria
perdida.

— Você está bem? Machucada? — Suas


grandes mãos me seguram, fazendo com que eu o
olhe.

— Eu… Estou bem, acho.

Ele fecha os olhos e solta um longo suspiro.


Quando os abre vejo que está realmente
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preocupado comigo. Sem me conter, toco a face


dele, querendo tirar essa expressão do seu rosto.

E ele, sem hesitar, me puxa para si.

— O que você está fazendo comigo, Alice? —


sei que está se perguntando aquilo, mas respondo:

— O mesmo que faz comigo, Benjamin.

Ele passa as mãos pelos meus cabelos e


continuamos abraçados. Inalo seu cheiro, que me
acende e percebo o quanto senti falta dele. É
inegável, estou perdidamente apaixonada pelo meu
vizinho. Constar isso me faz perder o ar e o coração
disparar em um ritmo frenético.

Ele me solta e, dessa vez, vejo apenas o


desejo. Só agora me dou conta de que estou
vestindo apenas uma toalha, e mais nada.

— Eu preciso de você… — nem o espero


terminar.

Colo a boca na dele e entrelaço as pernas na


sua cintura, sentindo algo crescer junto de mim. Ele
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me segura pela bunda e a toalha fica esquecida na


cozinha.

— Onde é o seu quarto?

— Segunda porta — o oriento entre beijos.

Ele me carrega no colo até lá e me sinto a


mulher mais desejada do mundo.

Delicadamente, Ben me coloca na cama e tira


toda a roupa, mostrando todo seu corpo delicioso e
rígido – em todas as partes certas – que não me
canso de olhar.

Nossa Senhora! Que vontade de lambê-lo


todinho.

E é o que pretendo fazer. Fico de quatro e


engatinho na cama até me aproximar dele. Seguro
seu pau e o coloco na minha boca, matando a
minha sede de uma só vez. Ele solta um gemido
alto quando eu o chupo inteiro, passando a língua
por fim na cabeça rosada e úmida.

— Caralho… Essa boquinha vai me


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enlouquecer, mulher!

Continuo a chupá-lo, movimentando os dedos


por toda a extensão, acompanhando com o ritmo
dos lábios, enquanto ele me segura pelos cabelos.
Sinto que está próximo a gozar, pois os gemidos
aumentam. Eu nunca fiz isso na minha vida, mas
este homem me faz sentir confiante o suficiente
para perder completamente a vergonha. Dá um
grito rouco e tenta me impedir de continuar, mas
não consigo parar. Ben aumenta a pressão contra a
minha nuca e geme, alto, sem pudor. Levanto os
olhos e o vejo morder os lábios de um jeito sexy,
que me deixa ainda mais excitada.

— Puta que… — Sinto o líquido quente com


um gosto salgado na minha boca. Ao contrário do
que imaginava, não desperdiço nenhuma gota.
Engulo tudo e continuo sugando, até vê-lo perder as
forças.

Mas essa fraqueza dura instantes, pois Ben


logo me segura pelos ombros e faz com que eu
deite na beirada da cama, deixando minhas pernas
de fora, livres para fazer o que quiser. Ele então se
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ajoelha. Passa as mãos por ela, as lambe e morde as


minhas coxas, me tirando o fôlego. E antes que eu
consiga pensar, a língua dele me invade com
precisão, me fazendo arquear as costas, e utilizar
todas as minhas forças para não gemer bem alto.
Ele afasta a boca e introduz um dedo, e dessa vez
não consigo me conter.

— Ben…

— Tão molhadinha… Para mim.

— Por favor — imploro para que ele continue.

— Por favor o quê, Alice?

Eu sei que dois podem jogar esse jogo…


Aquele safado parece gostar de me ouvir implorar.
Portanto, deixo a timidez de lado e digo, sem
enrolação:

— Me fode… agora.

Ele me dá aquele sorriso e mete com força.

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Quando senti o cheiro de algo queimando pelo


corredor nem pensei duas vezes, fui ver o que
estava acontecendo. E ao ver a fumaça saindo pela
fresta da porta de Alice, bati diversas vezes,
começando a me preocupar. O fato de ninguém
atender só piorou a situação. Fui então até o fim do
corredor, onde ficava um extintor e bati com toda a

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força. Estava disposto a arrombar a entrada, caso


ela demorasse.

É a segunda vez na vida que senti esse medo


desesperador por alguém. Quando apaguei o fogo a
puxei para os meus braços, querendo protegê-la do
mundo, foi impossível conseguir conter meus
sentimentos. Quando o medo foi embora restou
apenas o desejo… Agora estou na cama dela,
segurando-a nos braços, enquanto ela passa as
mãos pelo meu peito.

— Você tem tantas cicatrizes…

Sabia que em algum momento Alice faria


alguma pergunta sobre elas.

Seguro-lhe a mão e a beijo nos dedos,


tentando distraí-la. Utilizar a minha profissão para
servir ao meu país, para mim é uma honra. Já perdi
a noção de quantas vezes solucionamos problemas,
impedimos esquemas e ataques. Mas desde a morte
do meu pai tenho medo de que alguém acabe se
machucando por mim.

Tentando afastar as lembranças, me levanto da


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cama para ir para casa.

— Tenho que ir…

Visto a calça e o meu distintivo cai no chão.


Merda, me esqueci de guardá-lo! Antes que eu
consiga pegá-lo, Alice o faz.

— Você é… da Polícia Federal?

Vai ser impossível esconder isso dela depois


disso. Me sento na cama e ela faz o mesmo, com o
distintivo na mão.

— Sim… Sou agente da Polícia Federal há


alguns anos. As cicatrizes que você viu são de
algumas missões que cumpri.

— Você livra as pessoas dos bandidos, faz a


lei ser cumprida. É o bem vencendo o mal… Isso é
algo para ser celebrado. Por que esconde isso das
pessoas? De mim?

— Eu não quero que os outros sofram


quaisquer perigos por isso. Você não tem ideia de
como esses bandidos são, matam por qualquer
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desculpa, sem piedade alguma. Ter alguma ligação


comigo te coloca na linha de perigo.

— É por isso que foge de qualquer


envolvimento? É por isso que é apenas sexo? — A
dor nos olhos dela… me faz querer estender as
mãos e tocá-la, mas me contenho.

Fecho os olhos com força.

Não, não é só isso, Alice… Tenho medo de que


outra pessoa sofra como minha mãe sofreu.
Ninguém merece passar por isso.

Mas nada digo. Tenho medo de que ela tente


me convencer do contrário. Sinto-me tão envolvido
com ela que já deixei de ser dono dos meus atos.

— Sim, você precisa ficar longe de mim,


Alice. Para o seu próprio bem.

Levanto da cama, visto a camisa e saio dali,


mas sem o meu coração, pois este ficou ali, ao lado
dela.

Deito no sofá e as lembranças que tanto tentei


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reprimir vem com força, fazendo-me perder o ar.

Anos atrás...

— Mãe, o papai já saiu de casa?

— Sim, filho. Daqui a pouco ele está aí — ela


responde do outro lado da linha.

Assim que entrei na corporação comprei um


apartamento no mesmo bairro que os meus pais,
mamãe queria que eu continuasse morando com
eles, mas já era hora de eu ter minha própria vida.

Como meu carro estava no conserto e nós


morávamos perto – além de trabalharmos na
mesma corporação –, nos últimos dias ele me dava
carona. Além de me ajudar bastante, íamos
colocando o assunto em dia. Sempre nos demos
muito bem e quem nos conhecia, comentava que
parecíamos amigos conversando.

Nessa hora, a campainha toca e vejo pelo olho


mágico que é o meu velho. Abro a porta com o
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telefone ainda na orelha para que ele entre.

— Ele já chegou aqui, mãe. Obrigado.

Desligo o telefone e o guardo no bolso. Lhe


dou um abraço e pergunto:

— Já tomou café?

— Não… — Normalmente tomava apenas uma


xícara de café assim que chegava na corporação.

— Trouxe pão. Ainda temos tempo: vamos


tomar café que saco vazio não para em pé, filho.

Rindo, eu arrumo a mesa.

— Quando você e mamãe vão viajar? — Todo


ano eles viajavam nas férias. Dessa vez, eles
decidiram fazer um cruzeiro.

— Daqui a duas semanas. Sua mãe está


eufórica, só pensa nessa viagem. — Ele beberica
um gole de café e eu começo a rir. Como se ele
também não ficasse empolgado.

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Mamãe amava planejar tudo. Imaginava o


quanto deveria estar animada só em organizar
aquilo… Era o tipo de pessoa que arrumava a
mala quase um mês antes de qualquer viagem.

Terminamos de tomar café e fomos para o


elevador. Estávamos rindo quando ele parou em
um andar abaixo do nosso e três homens vestindo
preto da cabeça aos pés entraram, os rostos
ocultos por toucas ninjas. Mal tivemos tempo de
reagir.

— É esse velho que está fodendo a nossa


operação. — Um deles aponta para o meu pai,
segurando a arma.

Instintivamente sacamos as nossas armas. O


clima fica tenso naquele espaço tão pequeno. Eles
prendendo a porta, gritando para que nos
rendêssemos, enquanto os mantemos na mira.
Quando percebem que nenhum de nós baixará a
guarda, um deles aponta o revólver para a cabeça
do meu pai.

— Eu mandei soltar!

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Meu pai o faz, talvez na tentativa de nos


proteger… Mas eu permaneço, apontando para a
mão do homem que está mirando na nossa direção.
Disparo sem hesitar e, quando percebo, os outros
homens estão olhando apenas para o meu pai, que
sangra.

— Seu filho da…

A arma foi apontada apenas para uma


direção agora: a minha.

— Deixem-no em paz. É a mim que vocês


querem — ouço meu pai dizer.

A única coisa que vejo é o anel de ouro rosé


em seu dedo. O desenho parecia de um gavião
estilizado, algo que nunca vi. Outro tiro é
disparado, sinto o meu abdômen pegar fogo,
explodir em dor e tudo desaparece.

O suor escorre pelo meu corpo e a respiração


fica pesada. Sinto como se ainda estivesse naquele
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elevador deitado, sem poder me mover para ajudar


o meu pai.

Vou até o banheiro, abro o chuveiro e deixo a


água gelada entorpecer a dor.

Foi uma decisão sábia deixá-la, tenho de


acreditar nisso. Não posso sequer imaginar como
seria se alguém fizesse algum mal a Alice por
minha causa. Nunca fui delegado, nem fico na
frente das investigações como meu pai, mas sinto
medo. Por ela e por mim.

Mesmo assim, cada parte do meu ser anseia


por aquela mulher. Passei tanto tempo fugindo
desse sentimento que só me dei conta que estava
perdidamente apaixonado quando tive de
abandoná-la.

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Agente da Polícia Federal… Puta merda!

Isso explica as cicatrizes pelo corpo, o


machucado… O tiro que havia dito que levou ao
ser assaltado provavelmente também era uma
mentira.

Tudo isso para me proteger… O que vi nos


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olhos dele é o mesmo que vejo refletido nos meus


quando me olho no espelho. Estou apaixonada por
ele, perdidamente e loucamente a fim do meu
vizinho.

Depois do choque e da sensação de solidão ao


vê-lo partir, só consigo imaginá-lo de farda. PUTA
MERDA! Com certeza deve ser uma visão e
tanto… Homens de farda deveriam ser proibidos!

Pare com esses pensamentos agora, Alice!

Minhau sobe na cama e a acaricio.

— Eu estou ficando louca, Minhau? O que eu


faço com esse homem?!

Ela ronrona quando faço carinho na sua


barriga. A que ponto cheguei? Agora vou perguntar
as coisas à minha gata? Preciso falar com as minhas
amigas, isso sim.

Mando uma mensagem no nosso grupo e peço


para elas passarem aqui em casa quando voltarem
do trabalho.

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Tomo um banho e me recuso a arrumar a


cama, onde há pouco tempo Ben estava deitado.

— Que carinha é essa? — Lari pergunta assim


que entra em casa.

— Trouxe cerveja! — Bru grita, entrando


atrás de Lari.

As abraço e elas se sentam no sofá. Pego os


copos da prateleira e coloco na mesa de centro.

— O que nosso vizinho sexy fez dessa vez? —


Bru enche os nossos copos.

— Descobri o porquê dele não querer nenhum


tipo de relacionamento.

— Ele é garoto de programa? Casado?


Procurado pela polícia? — Bru me enche de
perguntas e eu rio.

Bebo um gole da cerveja, prolongando o

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silêncio, deixando-as ainda mais curiosas.

— Deixa de ser ruim e conta logo! — Lari


pede.

— Ele não é procurado… Ele é da polícia.


Ben é agente federal e acha que me mantendo longe
dele me mantém segura. O que é irracional, pois
uma profissão não impede ninguém de levar uma
vida normal. Algo me diz que vai além disso.

— Puta merda! Aquele pedaço de mau


caminho vestido de farda…

Rio, pois voltei a pensar na mesma coisa…

— Isso não vem ao caso — minto, sentindo o


rosto esquentar. — Eu não sei o que fazer. Estou de
mãos atadas.

— Se é isso que realmente deseja, tente


conversar com ele. Faça-o entender que essa
decisão quem deve tomar é você e não ele. —
Larissa tem razão. Mas quem garante que ele não
tentará me afastar?

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— Nada que um chá de calcinha bem dado


não resolva. — Bruna nos faz gargalhar.

Termino de beber a cerveja e pergunto:

— Mudando de assunto… E vocês? Nenhum


carinha em vista?

— Amiga! Você sabe que sou livre, leve e


desimpedida, Deus me livre me amarrar a homem!

— Bru, você não tem jeito! Sabe que o Murilo


é apaixonado por você e fica aí fazendo o coitado
de gato e sapato — Lari a alfineta.

— Não tenho culpa se ele gostou do meu chá,


amiga!

— Ainda o Murilo? — Bru ficou com ele ano


passado, quando o rapaz entrou na editora – e
outras vezes, mas minha amiga sempre foi desse
jeito. Já tentamos convencê-la a ter um encontro
com ele, conhecê-lo melhor, mas foge de
relacionamentos.

— Eu disse! Quem bebe daqui, nunca mais


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esquece!

— Coitado! — Larissa faz uma cara de pena e


Bru apenas pisca para ela, rindo.

— E você, Lari? — Ela quase engasga com a


cerveja. Minha amiga ruboriza na mesma hora e,
pela carinha, sei que conheceu alguém.

— Ele é bem… digamos… complicado…

— Vai falar que é policial também!

— Ele é dançarino em uma boate para


mulheres!

— O QUÊ? Como você conheceu o gogo boy?


Conta tudo!

Pelo visto, Lari estava guardando segredo até


da Bruna.

— Lembra a despedida de solteiro da Carla?


Aquela que, aliás, você não pôde ir porque estava
ocupada demais com o Guilherme? — Bru revira
os olhos e eu rio, louca para saber o desfecho dessa
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história. — Eu estava bêbada demais e vomitei no


cara todinho, enquanto ele dançava na minha
frente. Acabei sujando meus sapatos, a roupa… E
ele, mesmo sujo, me ajudou a limpar. Só que o
homem era um pedacinho do céu, graças a Deus eu
carrego meu kit de higiene e aproveitei para
escovar os dentes. Depois que voltou do vestiário
com as roupas normais, eu pulei em cima do cara.
Ele ficou chocado, mas me beijou mesmo assim.
Depois ele me disse que nunca ficava com alguém
na boate, e bom eu fui uma exceção. Ainda estamos
nos conhecendo. Fomos jantar fora e ele foi
supergentil, me tratou como uma rainha…

— Espera! Você o quê? Vomitou no cara?! E


mesmo assim, ele te beijou e ainda te levou para
sair? Se ele não está a fim de você, minha amiga,
ele é louco com certeza!

Eu estou rindo tanto da situação que minha


barriga dói. Parece que nós duas temos um radar
para achar carinhas sexys enquanto estamos
bêbadas.

Ela nos dá um sorriso sem graça, com o rosto


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completamente vermelho.

Bruna consegue convencer Larissa a nos


contar mais sobre o carinha, mas acabo não
prestando atenção. Meus pensamentos estavam
voltados para o meu vizinho, relembrando a
primeira vez que eu o vi.

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— Temos uma pista! Finalmente, porra! —


Felipe grita da mesa, analisando uma pilha de
processos.

— Do quê? — Me aproximo dele, assim como


alguns de nossos outros colegas.

— Da maior quadrilha do país, meu amigo!


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Da maior quadrilha!

Estamos há meses em um beco sem saída. Não


importa o quanto planejamos, nunca conseguimos
pegá-los. Essa quadrilha abria redes pelo país para
fazer a lavagem de dinheiro. Era um esquema
muito bem armado e organizado. Encontrar pistas
sobre eles era sempre uma tarefa difícil, uma vez
que os estabelecimentos tinham o alvará de
funcionamento, bem como toda as documentações
necessárias – tudo falso, é claro, mas tão bem feito
que ninguém desconfiava – e recebem cargas de
drogas e armas em diversos galpões, raramente
fazendo uso do mesmo para não desconfiarmos.

— Quando começamos a operação? — Estou


louco para voltar à ativa. Passei tempo demais no
escritório por causa do maldito tiro. Ficava
trancado na porra do escritório, pensando na minha
vizinha.

Nunca quis tanto estar ao lado de alguém, mas


o que posso fazer com isso?

Não posso, simples assim.

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— Precisamos começar a coletar as provas,


para emitirmos um mandato de busca e apreensão.
Dom vai distribuir as tarefas. — Felipe me tira dos
devaneios.

Assinto e tento me concentrar no trabalho. É


só o que posso fazer.

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— Alice… — ouço minha irmã me chamando.

— Xi, mamãe! Ela está no mundo das


maravilhas.

Saio dos devaneios e volto ao planeta Terra.


Dou um sorriso sem graça, bebendo um gole de
café. Ela me olha, como se estivesse me analisando.
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— Jas, você pode brincar no quarto enquanto


converso com sua tia?

Minha sobrinha assente e toca no meu braço,


me fazendo olhar para ela.

— Te amo, titia. — Bagunço os cabelos loiros


e beijo a pontinha do seu nariz. Ela solta uma
risadinha gostosa.

— Também te amo, Pequena.

Jas pega a boneca da cadeira e vai para o


quarto. É incrível como as crianças parecem saber
quando precisamos de um pouco de amor…

— Me conta, o que anda te atormentando?

Solto um longo suspiro, tentando acalmar o


meu coração, mas a grande verdade é que
simplesmente não consigo. O fato é que Ben tem
fugido de mim. Não o vejo mais chegando em casa,
nem correndo no Parque Ecológico. É tudo muito
louco… Estou apaixonada perdidamente por um
homem que mora ao meu lado, mas parece do outro
lado do mundo, porque nem ao menos sei o número
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do telefone dele. É como se eu o conhecesse,


desconhecendo...

Eu ando tão frustrada com a situação que só


vou de casa para o trabalho e vice-versa, sem saber
o que fazer para mudar isso. Então, quando minha
irmã me ligou para eu tomar café da manhã com
elas no fim de semana, fiquei grata pela distração.
Mas o duro é que nem mesmo aqui consigo
esquecê-lo.

— Me sinto péssima, Line. Faz semanas que


não o vejo, ele simplesmente tem fugido de mim.
Será que o tempo que passamos juntos foi
insignificante? Será que só fui mais uma?

Minha irmã segura a minha mão por cima da


mesa, tentando me acalmar.

— Eu acho que seu vizinho só precisa de um


tempo, Alice. Talvez tudo isso seja novo para ele…
Pelo que me contou, o cara te afastou porque gosta
de você, certo? Quer te proteger. Talvez esteja em
conflito com os próprios sentimentos.

— Espero que sim.


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Depois de conversar por horas a fio com ela,


decidi vir para casa maratonar alguns filmes. Me
sinto um pouco melhor, pois conversar com a
minha irmã e brincar com a pequena sempre me faz
bem.

Assim que chego à porta do apartamento, vejo


uma senhora apoiada na parede, próxima a entrada
de Ben. Parecia estar passando mal, por isso me
apresso para chegar até ela. Quem sabe está
precisando de alguma ajuda?

— Você está bem? — O rosto dela está pálido


e a respiração ofegante demais.

Ela balança a cabeça, dizendo que não. Então


pego as bolsas em uma mão e a ajudo entrar com a
outra. Faço-a se sentar no sofá e lhe dou um copo
de água.

Ela procura algo entre os próprios pertences.


Pega uma cartela de comprimidos. Tira um e toma
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com a água.

Enquanto se acalma, eu a analiso melhor. A


senhora tem os cabelos escuros, cortados estilo
chanel, os olhos exatamente como os de Ben… A
diferença é que os dela tem uma tristeza que me
causa um aperto no peito.

Será que é a mãe dele? Ou apenas estou


vendo o meu vizinho em todos os lugares onde vou?

— Desculpe… Eu tenho pressão alta e acabei


me esquecendo de tomar o remédio antes de sair de
casa. Ainda bem que sempre carrego uma cartela na
bolsa. — Ela me dá um sorriso como se sentisse
envergonhada.

— Não tem problema. Já se sente melhor?

— Sim, muito obrigada!

— Imagina, a senhora pode ficar à vontade.

— Depois disso, acho que não precisamos de


formalidades, minha querida. Como sempre digo, a
Senhora está no céu…
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Fico sem graça, mas tento deixar a


formalidade de lado.

— Como você se chama?

— Luciana, e você?

— Alice.

— Nome bonito. — Dessa vez, ela me dá um


sorriso acolhedor.

— A senhora é a mãe de Benjamin? — Não


consigo conter a curiosidade.

— Sim! Como descobriu?

— Os olhos de vocês são idênticos.

— Todos dizem isso, é a única coisa que ele


puxou de mim. Ben é a cara do pai. Você é amiga
do meu filho?

Meu rosto esquenta na mesma hora.

— S-Sim… — consigo dizer.


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— Por que acho que vai além disso? — Tenho


certeza de que se eu me olhar no espelho nesse
momento me verei num tom vermelho cereja. Ela
solta um risinho. — Desculpa, não queria deixá-la
constrangida, meu filho não é amigo de muitas
pessoas, principalmente de mulheres. — Sorrio,
apesar de ainda permanecer sem graça.

Nesse momento o telefone dela toca e fico


grata pela distração.

— Oi, filho… Sim… Estou aqui… Na casa da


sua vizinha.

Ela desliga e me analisa, com olhos curiosos.

A campainha toca e me levanto para atender,


com o coração aos pulos. Sei exatamente quem está
do outro lado da porta. Ergo as mãos trêmulas e
giro a maçaneta, me deparo com Ben de costas. Ele
se vira e o meu coração salta, descontrolado. Ele
está com os cabelos completamente desalinhados,
com uma blusa azul-marinho – que, aliás, deve ser
a cor favorita dele –, capaz de marcar cada um dos
músculos, além de uma calça jeans justa.

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— Oi — consigo dizer.

Os olhos me fitam e me sinto completamente


exposta diante dele.

— Oi — a voz rouca e arrastada demonstra


que está tão inquieto com a situação quanto eu. —
Eu… vim buscar minha mãe.

— Entre… — Saio do batente da porta e o


deixo passar. Ele deixa um rastro de perfume
quando vai na direção dela. Fecho os olhos,
sentindo saudades daquele cheiro sobre o meu
corpo.

Droga! Meus sentimentos estão me


consumindo cada dia mais. A cada segundo fica
mais difícil disfarçar o quanto eu gosto desse ogro.

— Filho! Que saudades. — Luciana se levanta


e o abraça, enquanto Ben a beija no rosto e lhe
acaricia o cabelo. Ver o amor deles me faz
instantaneamente sentir falta de quando a minha
família era completa, quando ninguém fazia falta…
Respiro fundo para conter as lágrimas que insistem
em cair.
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— O que está fazendo aqui? — pergunta para


ela assim que a livra do abraço.

Ela explica o que aconteceu.

— Mãe! A senhora sabe que não pode


esquecer do remédio…

— Eu sei, filho. Por isso ando com uma


cartela na bolsa. Sabe como é a idade, a gente
esquece tudo… Sorte que a sua namorada me
encontrou. Ela foi muito gentil e me ajudou…

— Ele não…

— Ela não…

Acabamos dizendo ao mesmo tempo, fazendo-


a rir, como se entendesse exatamente como
estávamos nos sentindo.

— Obrigado, Alice. Já estamos indo — Ben se


apressa em dizer, nos dando as costas.

— Obrigada, minha querida. Nos vemos em


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breve. — Ela se aproxima e me abraça. — Cuide


bem do meu menino — sussurra no meu ouvido.

Mãe tem sexto sentido, só pode. Que outra


explicação para o que acabou de acontecer? Lógico
que Luciana sabe que eu gosto do filho dela.

— Pode deixar — respondo baixinho e sorrio


para ela.

— Vamos, mãe! — Ben pega as bolsas dela e


sai apartamento afora.

Assim que fecho a porta, me jogo no sofá com


o coração descompassado. Minhau dá o ar da graça,
se deitando em cima da minha barriga.

Eu estou enlouquecendo, só pode… Cada dia


que passa fica mais difícil controlar meus
sentimentos. Faço carinho na gata e fecho os olhos,
tentando pensar no que fazer para convencer meu
vizinho de que podemos ter um relacionamento de
verdade.

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Algumas horas antes...

A adrenalina corre nas minhas veias.


Independente de quantas vezes eu faça isso, a
sensação é sempre a mesma: ótima. Adoro essa
parte do meu trabalho, onde coloco escutas e entro
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sem ser notado. Modéstia à parte, esse é um dos


meus talentos. Apesar de estar nervoso, não deixo
transparecer quando entro no estabelecimento.

Uma jovem com os cabelos coloridos me


recebe com um sorriso.

— Boa tarde! Em que posso lhe ajudar?

— Quero fazer um orçamento.

Ela sorri, me olhando de cima a baixo.

— Tem algum tatuador de sua preferência?

— Eu marquei o horário por telefone com


David.

— Ah, ok.

Tudo estava correndo bem até agora. Felipe


havia se encarregado de garantir que eu fosse
atendido pelo nosso suspeito, para colocarmos as
escutas na sala dele. Segundo as informações
levantadas pela equipe, o tal do David é uma das
pessoas envolvidas com a quadrilha.
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— Me passa seus dados, por favor?

Pego a identidade falsa na carteira e entrego a


ela, que logo preenche o que precisa no
computador.

— Sente-se, por favor. Vou informar a ele que


você chegou.

Enquanto ela some no amplo corredor,


observo o ambiente à minha volta. Além de mim,
naquele momento, há apenas mais uma pessoa na
recepção. É um jovem com os braços e as pernas
cobertos de tatuagens, com fones de ouvido e os
pés sobre um pufe, completamente alheio a
qualquer coisa em volta.

Antes que possa descobrir algo mais, a jovem


volta e pede para que eu a acompanhe.

Entro algum tempo depois em uma das salas e


sou recebido por David. Careca, em seus braços há
várias tatuagens coloridas, a maior parte de vilões
de quadrinhos, ele está no sofá arrumando algumas
pastas sobre a mesa. O reconheço pela foto dos
arquivos.
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— Aceita um café ou água? — a jovem


pergunta.

— Uma água está ótimo.

Ela sai da sala, nos deixando a sós.

— Como você se chama?

— Murilo — digo o nome que consta na


identidade falsa.

— Prazer. Tem algo em mente?

— Queria tatuar a data de nascimento do meu


pai em números romanos — essa parte é verdade.

— Ah, sim… Já fez alguma tatuagem antes?

— Não, é a primeira.

Laís entra na sala, me entrega a água e sai


quando ouve o telefone da recepção tocar.

David vai até a mesa dele e volta com um


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bloco de papel e uma caneta na mão. Enquanto faz


isso, deixo sem querer o copo cair das minhas
mãos, a fim de ter a oportunidade de distraí-lo para
espalhar as escutas. Se isso não desse certo teria
que pensar em outra forma.

— Me desculpe! — Faço uma cara de


desespero.

— Não tem problema. Vou chamar a Laís para


secar.

Bingo! Assinto, continuando a atuação e o


espero sair da sala. Me levanto num pulo e coloco
algumas escutas em pontos estratégicos, onde ele
não possa ver.

Quando finalmente volta, com Laís à tiracolo,


já estou de volta ao meu lugar, olhando o portfólio
espalhado pela mesa.

— Anote a data para mim, por favor. Vou


fazer alguns decalques e na próxima semana você
volta para fazermos. Pode ser? — Ele me entrega o
bloco que ficou sobre a mesa.

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— Claro. — Sorrio. Tudo estava indo bem.

Dessa vez daria certo! Tinha que dar…

Eu farei o que for preciso para prendê-los. E


se minhas teorias estiverem corretas, essa quadrilha
é ligada à morte do meu pai. Então finalmente
poderei fazer justiça.

Dom me atribuiu esse caso sem saber que isso


poderia me levar à última peça que faltava nesse
crime que me atormenta a existência. Afinal, esse
era um dos casos que trabalhava quando foi morto.
É um tiro no escuro e só espero estar certo, no final
das contas.

Tomo um banho gelado para acalmar a


adrenalina que ainda corre nas minhas veias.
Normalmente eu daria um jeito nisso com um
corpo quente de alguma mulher sobre o meu, mas
depois que conheci Alice parece impossível tocar
outra sem pensar nela.

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Então apenas aceitei o fato: estou apaixonado


pela minha vizinha.

Fecho o chuveiro, me seco e coloco a minha


blusa azul-marinho favorita, além de uma calça
jeans justa.

Vou até a mesa a faço um relatório da


operação de hoje. Quando termino percebo que já
estamos na troca de turno. Olho para o relógio e
vejo a hora.

Droga! Já passou das seis da tarde e me


esqueci completamente que mamãe virá jantar
comigo hoje.

Me despeço dos meus colegas e vou para casa.

Assim que chego em casa vejo que não há


nenhuma mensagem nem ligação dela. Estou uma
hora atrasado e nada dela dar notícias? Isso está
estranho… Mamãe é a pessoa mais pontual que
conheço. Deve ter acontecido alguma coisa. Por
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isso, antes que eu comece a me desesperar, ligo


para ela.

— Mãe, está tudo bem? Onde a senhora está?

— Oi filho… Sim… Estou aqui… Na casa da


sua vizinha.

Puta merda! Como ela foi parar na casa de


Alice?

Em poucos minutos estou apertando a


campainha da casa dela. Passo as mãos pelos
cabelos, tentando conter a ansiedade.

O que está acontecendo comigo?!

Respiro fundo, tentando me acalmar.

Ouço o barulho da porta se abrir e a vejo…


Alice, com o rosto corado. Está linda, vestindo uma
blusa com várias manchas de tinta, o short curto
que deixa à mostra aquelas lindas pernas, os
cabelos amarrados no topo da cabeça. No rosto, os
óculos enormes a deixam ainda mais sexy.

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Quando entro, mamãe me explica o que


aconteceu e a repreendo. Ela ainda vai me deixar
louco de preocupação. Aí tudo piora quando ela
insinua que Alice é minha namorada… Será que
Alice havia lhe dito algo?

— Ela não…

— Ele não…

E assim o momento constrangedor piora


enquanto ela cai na risada.

Essa é minha mãe: vive dizendo o que pensa.

Me despeço de qualquer jeito antes que ela


solte mais alguma.

Ela abraça Alice como se fosse uma amiga e


lhe sussurra algo no ouvido. A minha vizinha
responde, mas pela distância que estou não consigo
ouvi-las. O que será?

— Vamos, mãe — insisto antes que ela


marque meu casamento e dê o nome de nossos
filhos.
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Quando chegamos ao meu apartamento,


coloco as bolsas na bancada e olho para ela.
Mamãe está com um enorme sorriso no rosto, um
que não vejo desde a morte do meu pai. Vê-la
assim faz com que eu me emocione.

— Qual o motivo de tanta felicidade? —


pergunto apesar de já saber a resposta.

— Meu filho finalmente encontrou alguém! —


quero repreendê-la, mas simplesmente não consigo.

— Ela é só uma amiga — minto para tentar


fugir do assunto.

— Os olhinhos dela dizem mais do que isso,


mas tudo bem! Não vou te encher! Vamos preparar
o jantar.

— Vamos cozinhar o que hoje? — Tiro as


coisas da sacola que ela trouxe.

— Camarão na moranga.

Agora sou eu quem abre um enorme sorriso.


Mamãe sabe que esse é um dos meus pratos
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favoritos. Eu normalmente só o como com ela, ou


em algum restaurante, pois além de ser trabalhoso,
sou solitário. Então prefiro fazer comidas rápidas.

Lavo as mãos e coloco o avental. Fico a


observando enquanto cozinhamos juntos. Ela
parece mais relaxada e alegre hoje. Sei a tristeza
que ela carrega, e isso é evidente no olhar. Apesar
do brilho que há neles hoje, e isso basta…

— Como anda o clube do livro? — Já disse


que minha mãe ama organizar coisas, certo? Ela
criou um clube do livro no condomínio onde mora,
e toda semana ela e algumas mulheres se reúnem
para contar o que andam lendo e trocar dicas de
livros enquanto bebem chá. Após a morte do meu
pai tentei de todas as maneiras distraí-la, mas nada
parecia ajudá-la, até que entrei em uma livraria e
levei comigo alguns títulos para ela. Desde então
mamãe se tornou uma leitora assídua, e resolveu
criar esse clube.

— Bem, meu filho! Essa semana conhecemos


cada Highlander!

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— Rai… O quê?

— Highlander, Benjamin. Os homens da


Terras Altas. Histórias medievais, romances
históricos, coisas do tipo…

Balanço a cabeça, rindo.

— E você está bem?

Ela olha para mim com aqueles olhos azuis


como os meus, junto a eles o brilho das lágrimas
não derramadas.

— Cada dia um pouco melhor — a resposta é


a mesma de todas as vezes.

Seguro a mão dela, que fecha os olhos. Eu sei


o quanto tem se esforçado para seguir em frente,
mas também imagino o quanto aquilo ainda é
doloroso. Se a ausência do meu pai dói em mim
todos os dias, nem posso imaginar como é para ela.
Os dois foram amigos de infância, namoraram na
adolescência e quando chegaram a idade adulta se
casaram. Foram raras as vezes em que os vi
brigando, pois sempre se tratavam com muito amor
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e carinho. Para ela, perdê-lo era como perder a si


mesma.

— Vá tomar um banho que eu termino o


jantar. — Ela enxuga uma lágrima que escorre na
bochecha e assinto, lhe dando um tempo a sós.

Coloco roupas confortáveis e vou até a


cozinha, sendo guiado pelo cheiro – que, aliás, está
de matar.

— Mãe, que…

Paro de falar quando vejo Alice colocando a


mesa ao lado dela. As duas estão sorrindo, com a
mesma cumplicidade que vi horas antes.

— Filho! Convidei Alice para jantar conosco.

Olho para a minha vizinha, seu sorriso se


transforma em uma careta e ela ajeita a armação
dos óculos no rosto, um gesto que sempre faz
quando está nervosa.

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— Você vai comer o melhor camarão na


moranga da vida — brinco um pouco para tentar
deixá-la mais à vontade.

Por mais que eu deva ficar longe dela,


simplesmente não consigo.

— Tenho certeza de que será melhor que a


minha lasanha queimada. — Minha mãe solta uma
gargalhada ao ouvir aquilo, eu fico paralisado no
lugar, sem saber descrever meu sentimento. Faz
anos que não ouço esse som. Meus olhos se
enchem de lágrimas e as duas olham para mim
como se eu fosse um E.T..

Vou até a fogão e as ajudo a colocar a mesa,


para evitar perguntas.

Assim que nos sentamos, mamãe começa a


perguntar a Alice sobre a sua vida e vejo-a
responder tudo, muito à vontade e sorridente. Vê-
las juntas me traz uma sensação de paz e felicidade
ainda inéditas até aquele momento.

O jantar termina e lavo a louça, enquanto as


duas conversam confortavelmente no sofá.
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— Já vou indo, filho. — Mamãe se levanta e


coloca a bolsa no ombro. — Foi um prazer
conhecê-la, Alice.

Elas se abraçam e me aproximo delas para me


despedir também. Espero-a se despedir de Alice e
abraço. Ao se aconchegar em mim, minha mãe
sussurra no meu ouvido, enquanto Alice está
olhando minha estante com a coleção de super-
heróis que a sobrinha tanto gostou.

— Sei que você está receoso por causa do seu


pai e do meu sofrimento, mas eu não trocaria meus
dias com ele por nada nessa vida, nem um segundo.
— Meus olhos lacrimejam e eu engulo o choro. —
Seja feliz, filho… — E assim ela vai embora, me
deixando a sós com Alice.

A linda vizinha me olha e ajeita os óculos no


rosto mais uma vez.

— Eu já vou indo também… Obrigada pelo


jantar. — Vai em direção à porta com o semblante
derrotado.

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A dor em seus olhos é tão nítida que causa um


aperto no meu peito. Saber que eu causei isso a ela
me deixa ainda mais frustrado.

Eu a amo tanto que dói. Esse sentimento me


faz pensar se realmente posso deixar tudo para trás
e viver isso.

— Alice… Espere! — Seguro a mão dela,


fazendo-a virar-se para mim. — Eu sinto muito…
Eu…

Ela toca o meu rosto com as mãos trêmulas,


enquanto engulo em seco.

— Preciso te contar a verdade…

— Foi o seu pai, Ben… Eu sei… Vi a dor nos


olhos da sua mãe. Você tem medo que eu carregue
a mesma dor que ela, se algo te acontecer.

Solto um longo suspiro e a levo até o sofá.


Crio coragem e começo:

— Meu pai era delegado quando foi morto. O


mataram por causa de uma das suas investigações.
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Eu estava com ele naquele dia… — Respiro,


tentando acalmar meu coração e reprimir as
imagens daquele dia — Minha mãe nunca se
recuperou. A gargalhada que ouviu hoje dela… Eu
não ouvia há anos. A dor que ela carrega é ainda
maior, que transparece no olhar… A vi passar
meses trancada em casa, sem sair para nada. Como
poderia deixar que ficasse assim? Só de pensar que
algo pode acontecer comigo e deixá-la nesse
estado… fico assustado pra cacete! Isso é algo que
eu reprimi a vida inteira, só que agora perdi o
controle…

Sem esperar que termine, ela me segura pela


mão e me olha, como se pudesse enxergar através
de mim.

— Acontece que você não tem escolha, Ben.


Ficando comigo ou não, se algo acontecer com
você sofrerei da mesma forma, pois já está
enraizado na minha alma, no meu coração. Eu
preciso de você…

— Eu… — nem sequer tenho tempo de falar


algo, pois ela me cala com beijo arrebatador,
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repleto de sentimento e saudade.

Seguro-a pela cintura e a coloco no meu colo.


Tiro seus óculos e beijo cada pedaço daquele rosto
tão apaixonante.

— Eu amo você, Alice… Céus! Amo mais do


que posso expressar — sinto alívio ao dizer as
palavras que tenho guardadas em mim.

Ela parece espantada. Me encara com os olhos


arregalados, mas logo depois oferece um sorriso
lindo.

— Meus óculos. — O entrego a ela. — Agora


fala mais uma vez. Quero ver o seu rosto
nitidamente enquanto diz isso para mim.

— Amo você, Alice… Mais do que posso


expressar.

— Eu também te amo, Ben. Agora me beije.

— Seu desejo é uma ordem. — O faço como


se não houvesse amanhã.

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Desperto sentindo algo pesado a minha volta.


Abro os olhos e me deparo com o braço de Ben me
envolvendo. Me lembro de tudo que aconteceu e
um sorriso se apossa dos meus lábios.

Céus! Será que isso é mesmo real?

Cutuco o braço dele, sentindo-o. É mesmo de


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verdade.

Puta merda!

— Bom dia — a voz rouca me tira dos


devaneios.

Eu respondo, passando as mãos pelos cabelos


dele, completamente bagunçados. Ben fecha os
olhos, apreciando meu toque.

— Estou sonhando? — sussurro.

— Quer repetir a noite passada para vermos se


é mesmo real?

E tem dúvida?!

Balanço a cabeça, assentindo, e ele sobe em


cima de mim. Sinto a ereção e, na mesma hora, a
umidade entre as coxas cresce. Ele roça a barba no
meu pescoço e mordisca minha orelha. Seus lábios
passeiam dela até a boca. Entrelaço as pernas na
cintura dele e o aproximo ainda mais.

— Você vai me matar, Alice!


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— Digo o mesmo, odiável vizinho. — Ele


arregala os olhos e solta uma linda gargalhada.

Quero guardar para sempre esse momento,


nunca o vi tão relaxado assim.

— Ainda sou odiável? — Me beija o pescoço


enquanto gemo baixinho.

— Nesse momento? Nem tanto.

Benjamin

Cantarolo baixinho enquanto troco as roupas


pelo uniforme.

— Acho que alguém viu o passarinho verde


— Felipe entra no vestiário já arrumado.

Balanço a cabeça, rindo.

— Sério? Você só vai rir? Vai me dizer que


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você e a sua vizinha finalmente…?

As imagens da noite passada tomam conta da


mente e outro sorriso, involuntário, brota no meu
rosto.

— Eu sabia! Barzinho mais tarde? Quero


saber tudo!

— Claro!

— Não vão chamar mais ninguém? — Ricardo


entra no vestiário, curioso.

Permaneço quieto, porque não consigo gostar


desse cara. Algo nele me deixa inquieto, traz uma
sensação estranha… O fato dele ter dado em cima
de Alice e de todas as outras mulheres que eu
conheci me deixa furioso. Ele as olha como se
fossem pedaços de carne e não algo precioso.

— Desculpa, cara… Programa de casal —


Felipe brinca enquanto termino de me vestir em
silêncio. Meu amigo também não vai com a cara
dele.

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— Vamos! Dom daqui a pouco estará à nossa


procura — chamo Felipe assim que coloco a arma
no coldre.

— Conseguimos obter informações


importantes sobre a quadrilha — o chefe nos
informa assim que nos acomodamos na sala. — As
escutas que colocou nos deram informações
relevantes para conduzirmos a próxima operação e
pegá-los com a mão na massa. Ainda não podemos
emitir um mandado de prisão para eles somente
com o que conseguimos das escutas. Mas vamos
continuar a vigiá-los. E tentar pegá-los em
fragrante.

Um sorriso se apossa dos meus lábios.

Finalmente, porra!

— Quando podemos começar a planejar a


próxima missão? — Já fico ansioso para
começarmos.

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— Somente no próximo mês. Já sabemos que


eles descarregam as cargas em galpões, mas a
lavagem de dinheiro é feita no estúdio. Eles são
espertos, se encontram lá uma vez por mês. É
quando o chefão aparece para recolher a grana.
Estou confiando essa missão a vocês dois, para
ficarem à frente das investigações. Tudo isso é
confidencial, pois ainda estamos investigando se há
um informante entre nós.

— E como sabe que não somos nós? — Felipe


joga a pergunta no ar, com curiosidade. Eu me fiz a
mesma pergunta, mas estava sem coragem de
perguntar.

— Vocês já foram investigados. Estão limpos.

— E eu achando que você confiava na gente


— Felipe brinca, descontraindo a tensão do clima.

— Aqui não confiamos em ninguém, filho.


Apesar disso, acredito em vocês. São os meus
melhores agentes… Agora vamos colocar a mão na
massa! Nada de baixar a guarda, fiquem espertos.

Assentimos e saímos dali com a cabeça cheia


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de conjecturas.

— Você estava com medo, certo? Por causa


do seu pai? — Felipe pergunta assim que termino
de lhe contar tudo que aconteceu entre mim e
Alice.

Assinto… Na verdade, ainda sinto medo.

— Como encara isso tão bem? — comento,


preocupado. — Não tem medo que sua esposa e
filhos corram riscos?

— Sinto isso todos os dias, amigão… Eu não


saberia viver sem eles, nem por um segundo.
Minha família é a minha razão de viver e, por isso,
todos os dias eu luto para voltar vivo para casa,
porque eles movem o meu mundo. Mas são
também o motivo que faço isso: para lhes oferecer
um futuro melhor, mais justo. Pode parecer
ideologia, mas se cada um fizer a própria parte,
conseguimos provocar grandes mudanças.

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Eu já havia conversado com Felipe sobre


diversas coisas, mas nunca sobre a nossa profissão
e a pressão por ela exercida. Ouvi-lo falando dessa
forma me faz sentir o mesmo. Quero viver cada dia,
lutar sempre por Alice e minha mãe.

— Obrigado por compartilhar isso comigo.

— Isso não é nada, amigo. Estou aqui para


isso. Seja feliz, Benjamin, você merece.

Meus olhos lacrimejam e bebo um gole da


minha cerveja para disfarçar.

Não vai ser fácil, mas vou lutar todos os dias


por elas e por mim. O medo sempre vai existir, mas
não vou mais deixá-lo conduzir minha vida.

Não mais.

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Desperto quando ouço a campainha tocar.


Ainda sonolenta, olho para o relógio na mesa de
cabeceira e vejo que ainda tenho meia hora para
dormir. Quem será a essa hora?!

Levanto da cama, coloco meus óculos e


prendo os cabelos para tentar domá-los, mas é

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inútil.

Olho pelo olho mágico e vejo que é o Ben.

Ah, merda… Eu estou terrível! Como posso


deixá-lo entrar e me ver assim?

— Me dá cinco minutos? — Nem abro a


porta. Ele solta uma gargalhada.

— Claro, quando estiver pronta venha até


minha casa.

Corro para o banheiro e dou um jeito nos


cabelos. Já o meu rosto amassado… Bom, não há
maquiagem que dê um jeito nele. Portanto, só
escovo os dentes e troco de roupa.

Vou até lá e vejo que a porta está aberta. Entro


e me deparo com uma mesa de café da manhã de
dar água na boca.

Quando ele me vê se aproxima.

— Senti sua falta — sussurra no meu ouvido,


me envolvendo com os braços.
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— Eu também. — Inalo aquele cheiro que me


deixa louca, ainda abraçada a ele.

Ele me solta e me segura pela mão, guiando-


me até a mesa.

— Comprei algumas coisas para tomarmos


café.

— Assim vou ficar mal-acostumada. — Me


sento. Ele ri e coloca uma xícara fumegante de café
diante de mim.

— Você tem planos para o jantar?

— Não. — Ele parece tão diferente. Sei lá,


apaixonado… Será que ainda estou sonhando?

— Vamos a um encontro hoje?

Meu coração dispara ao ouvir aquilo.

— Claro. Hoje eu saio do trabalho às dezoito


horas. Que horas?

— Às vinte está bom?


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— Ótimo! — Começo a comer e ele comenta:

— Ah, sabia que ainda não tenho o seu


número, minha namorada?

Quase engasgo a ouvir a última palavra… Isso


é real, minha gente? Namorada. Quer dizer que
estamos assumindo mesmo a coisa? Será que algum
dia me acostumarei com isso?

Pego o telefone no bolso e dou para ele ligar,


assim salva o número. Ele digita algo no meu
celular e me entrega.

— Pronto. — Olho para a tela e vejo que ele


digitou “querido vizinho” com um emoji de
coração ao lado do contato. — Acho que odiável
não se encaixa mais, né?

Começo a rir.

— Não mesmo.

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— Pelo amor de Deus, me salvem! Eu não


tenho nada para vestir no encontro com Ben! —
Ligo para as minhas amigas após tirar todas as
roupas do armário, vesti-las e constatar que nada
serve.

— Que horas vão sair?

— Às oito.

— Você consegue sair na hora do almoço?


Tem um shopping aí perto. Podemos ir juntas
comprar um vestido para matar o vizinho — Bru
sugere do outro lado da linha.

— Consigo. Está combinado então.

— Beijos, amiga! — Lari grita junto no viva


voz antes de desligarem.

Me arrumo para ir ao trabalho. Arrumar a


bagunça que fiz com as roupas vai ter de ficar para
depois.

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Querido vizinho <3: Ansioso para nosso encontro


mais tarde!

Vejo a mensagem de Ben e sorrio feito boba.


Quem diria que hoje eu estaria indo a um encontro
com meu namorado e vizinho terrivelmente sexy?

Eu: Mal posso esperar!

Volto a me concentrar no trabalho. Pela


manhã continuei a tatuagem de Carla, e já
estávamos quase finalizando. Logo depois chegou a
hora do almoço e fui até o shopping para encontrar
as meninas. Esperei por elas na praça de
alimentação por alguns minutos até aparecerem.
Depois fomos à caça de um vestido perfeito.

— Ai, meu Deus! Esse vai matar o vizinho! —


Lari diz assim que provo o quinto vestido.

Dessa vez escolheram um preto com um


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decote em V na parte de trás, nem comprido, nem


curto. O tamanho é perfeito e valorizou cada curva
no meu corpo. Olho para o espelho mais uma vez e
me sinto sexy pela primeira vez em muito tempo.

— É esse! Você precisa levá-lo! — Bruna me


faz dar uma volta com ele.

Sorrio e aceno em concordância. Coloco


novamente minhas roupas e pago pelo vestido.

— Obrigada, amigas. Não sei o que seria de


mim sem vocês!

— Ah, eu sei… Iria de calça jeans, uma blusa


qualquer e seu All Star roxo.

Rio, sabendo que ela tem toda razão.

— Arrasa, amiga. Depois nos conte tudo! —


Lari me abraça.

— Transe bastante, amiga, por nós duas que


trabalharemos até tarde com nosso chefe
insuportável.

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Fico vermelha na mesma hora, mas acabo


rindo. Bruna não tem jeito. Abraço-as e me despeço
para voltar ao trabalho.

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Toco a campainha de Alice às oito da noite.


Ela abre a porta, com um vestido preto que parece
abraçar cada uma das curvas daquele corpo. Usa
ainda botas de salto alto, os cabelos soltos,
levemente ondulados nas pontas, em contraste com
as mechas roxas.

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Céus! Essa mulher quer me matar.

— Você está linda! — A beijo sem resistir.

O contato se aprofunda e subo as mãos pelas


coxas dela até chegar na calcinha. Sinto a umidade
nos meus dedos quando a penetro, gemendo no
meu ouvido enquanto a beijo no pescoço. Alice
roça o corpo no meu pau por cima da calça e quase
explodo. Pareço um adolescente na puberdade…

— Você vai me matar — sussurro. — É


melhor irmos ou não vou conseguir te soltar.

Ela ri e ajeita o vestido. A seguro pela mão e


pegamos o elevador em direção ao estacionamento
no subsolo.

Alice

Ainda estou com o coração acelerado quando


entro no veículo. Benjamin está mais sexy que
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nunca com uma camisa social verde que destaca os


olhos, além de uma calça justa que faz ver cada
detalhe, capaz de me povoar a imaginação.

— Para onde vamos? — Tento disfarçar o


quanto estou ansiosa para o nosso encontro.

— Para um restaurante de culinária italiana.

— Eu amo uma boa massa!

— Nunca fui lá, mas Felipe me disse que é


ótimo o lugar.

Ben me pergunta como foi o meu dia e eu lhe


conto sobre Carla e a busca pelo vestido.

— Você pode vestir o que quiser, mas assumo


que tenho uma quedinha pelo seu All Star… Menos
quando você o usa para correr, é claro. Mas a
verdade é que fica sexy de qualquer jeito.

— Obrigada. — Fico envergonhada diante


daquele olhar malicioso. Como resistir a isso?

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O trajeto até o restaurante durou menos de


meia hora. Nesse meio tempo, Ben me contou um
pouco sobre o que fazia no trabalho e lhe contei
sobre o meu.

Assim que chegamos ao restaurante fico


encantada com o local. A fachada é repleta de
plantas nas janelas e luzes, deixando-a
completamente iluminada.

Assim que entramos, me deparo com um


ambiente de fazer o queixo cair. Rústico, porém
elegante. Passamos por algumas mesas e vamos até
o meio do espaço, passando por portas duplas de
madeira, em uma área mais reservada com apenas
algumas mesas. Há, inclusive, um chafariz no meio
do restaurante com pequenos lustres em formato de
gaiolas, iluminando o ambiente.

— Boa noite, sejam bem-vindos! Mesa para


dois? — um senhor pergunta se aproximando de
nós, com um discreto sorriso.

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— Sim. Já fiz a reserva por telefone.

— Como o senhor se chama?

— Benjamin Furtado.

O homem olha no tablet por um momento e


depois nos conduz à mesa mais próxima do
chafariz.

— Esse lugar é lindo! — Não consigo parar de


olhar para todos os lados.

— Fico feliz que tenha gostado. — Ele me


sorri daquele jeito que me deixa sem graça e de
pernas bambas.

— Aqui está o cardápio… — Me sinto


naqueles filmes românticos dos anos 80. —
Recomendamos Pesce da Vinci, um dos pratos
mais pedidos pelos nossos clientes. Consiste em
filé de peixe branco ao molho de camarão e
champanhe, servido com risoto de maçã verde.

— Aceito a sua sugestão — Ben já se


pronuncia.
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— Pode ser dois então — falo, pensando em


como aquele prato deve ser delicioso. O garçom se
afasta, pedindo licença.

Estou ainda vendo cada detalhe daquele


restaurante, quando sinto o olhar de Ben me
queimar, tamanha a intensidade com que me
encara.

— O que houve?

— Só estou feliz. Nunca imaginei, nem em


meus sonhos mais distantes, que algum dia estaria
em um jantar romântico com a mulher da minha
vida.

Meus olhos se enchem de lágrimas e pisco


diversas vezes para evitar que elas caiam.

— Te amo, Benjamin Furtado.

— Amo você, Alice Faria… Mais do que pode


imaginar.

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— Não vejo a hora de tirar o seu vestido —


Ben confidencia assim que entramos no carro, já
indo para casa. O jantar foi perfeito, e nunca tive
um encontro tão romântico quanto o proporcionado
por ele. Sorrio, sem ver a hora de chegar em casa e
amá-lo de todas as formas possíveis.

Rio e toco a coxa dele.

— Não me provoque, mulher! — O sorriso


aumenta e subo as mãos até chegar no seu pau.
Começo a massageá-lo de forma provocante. —
Alice Faria! Assim causarei um acidente. — Tiro a
mão e lhe dou um casto beijo na bochecha.

— Vamos logo para casa, homem.

Ele ri e continua dirigindo.

— Sua casa ou na minha? — assim que


chegamos até o andar do nosso prédio é a primeira
coisa que indago.

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— Só quero estar dentro de você.

Abro a porta de casa. Ben me pega no colo e


entrelaço as pernas na cintura dele. Sinto a sua
ereção e gemo baixinho em seu ouvido, o
provocando. Ele me carrega até a cama e me coloca
em meio aos lençóis. Me inclino para tirar as botas,
mas Ben me faz parar.

— Quero você com elas. Tem noção do


quanto fica sexy assim? Venho sonhando com elas
desde quando comemoramos seu novo emprego.

Rio enquanto paro de tirá-las. Levanto da


cama, me aproximo dele, tirando-lhe a camisa.

— Quando vai me deixar tatuar esse corpinho


sexy? — Toco a barriga e subo as mãos até o peito,
sinto seu corpo se arrepiar com o meu toque.

— Não sei se consigo me controlar com você


me tatuando.

Rio e o beijo. Me afasto e tiro o meu vestido,


ficando apenas de calcinha.

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— Caralho! — Ele toca meus seios e logo se


inclina, chupando um deles. — Tão gostosa. — A
mão brinca com o mamilo e sinto meu corpo entrar
em combustão.

Ele afasta a calcinha e me preenche com um


dedo… Assim não vou aguentar muito tempo. Ben
me morde a orelha e tremo, próxima de ter um
orgasmo.

— Quero senti-la gozando quando eu estiver


dentro de você.

Gemo com aquela tortura e ele apenas ri, se


afastando de mim.

Tiro a calça e a cueca dele de uma só vez.


Vejo a ereção e a umidade entre as minhas coxas só
aumenta – se é que isso seja possível. Passo a
língua nos lábios, querendo senti-lo em mim. Me
inclino e o coloco na boca, fazendo-o gemer na
mesma hora, me segurando pelos cabelos.
Enquanto isso, me movimento para cima e para
baixo, sugando-o.

— Levanta, senão será impossível me


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controlar. Quero estar dentro de você, agora!

Ele me faz deitar na cama e tira a calcinha, os


lábios venerando cada pedaço do meu corpo
enquanto gemo a cada toque. Ele me preenche,
finalmente, e me sinto completa e amada, como
nunca antes.

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— Levanta essa bunda sexy. Vamos correr um


pouco! — Ben me cutuca na cama. Abro os olhos e
vejo meu namorado com o braço apoiado no
colchão, me olhando intensamente.

— Não podemos ficar um pouco mais? — Me


aninho em seu corpo.

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A noite passada foi maravilhosa. Depois do


jantar, Ben me amou de todas as formas
possíveis… Só de pensar, eu quero mais.

— Não me tente, mulher. Preciso me


exercitar.

— Nem dez minutinhos?

Ele solta uma gargalhada e começa a me beijar


lentamente, fazendo valer a pena cada segundo dos
dez minutos.

— Você sabia que é quase um crime se


alongar assim? — diante do seu comentário o faço
um pouco mais, apenas para provocá-lo.

— Não sabia, agente Benjamin — sussurro de


forma que apenas ele possa ouvir.

Antes que responda, começo a correr,


deixando-o para trás. Logo ele me alcança e dá um
tapinha na minha bunda, me fazendo gritar,

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desprevenida.

— Seu atrevido! — Corro atrás dele e subo


nas suas costas.

Ele me gira, fazendo com que fique tonta.


Algumas pessoas passam por nós correndo e nos
olham como se fôssemos malucos.

Beijo o rosto dele e desço.

— Vem, vizinho… Vamos nos exercitar.

— Com ou sem roupa? — Prefiro ficar quieta


do que colocar em prática as ideias que passam pela
minha cabeça. Nesse momento, eu me sinto feliz.
Espero que nada surja para estragar isso.

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Algumas semanas depois...

Nunca imaginei viver um amor como o dos


meus pais. Sempre tive medo desse tipo de
sentimento, mas com Alice nunca hesito: quero
passar cada segundo da vida ao lado dela. Tenho
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feito do fato de acordar ao lado dela um hábito.


Hoje dormimos no seu apartamento e, antes mesmo
de me despedir, já sinto a falta que ela me faz.

Deixo-a descansar mais um pouco enquanto


preparo o nosso desjejum. Alguns minutos depois,
sinto as mãos delicadas dela sobre mim, ao me
abraçar por trás.

— Que cheiro delicioso. — Viro-me e lhe


beijo no pescoço.

— Não tanto quanto o seu — sussurro.

— Tarado! — Ela me dá um tapinha e a solto,


sorrindo.

— Vem, me ajude a colocar as coisas na mesa.

Ela arruma tudo enquanto termino de fritar os


ovos. Pego as torradas recém-feitas e coloco em um
prato. Quando está tudo pronto nos sentamos e
começamos a comer.

— Posso te buscar no seu trabalho hoje? — É


uma vergonha o fato de que eu nem sei onde ela
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trabalha. Estamos juntos há algumas semanas e por


causa das investigações eu nunca consegui sair
antes dela, imerso em burocracia. Como essa
semana está mais tranquilo, aproveitarei para
compensar isso.

— Claro. Vou te passar no celular.

Sentada, ela digita algo e me fita. Segundos


depois, o meu aparelho toca. Sorrindo, ela volta a
comer enquanto verifico o endereço. É nessa hora
que quase caio da cadeira, em choque.

Não pode ser! Como Alice pode trabalhar


justamente no estúdio que estamos investigando?!

— O que houve? Ficou pálido de repente.

— Esse estúdio… — Merda! Nem posso falar,


pois ferraria com toda a operação. Como posso lhe
contar que o lugar está sendo investigado? E se ela
fizer parte? Não, por Deus! Isso está proibido de
acontecer. Ela conseguiu o emprego há pouco
tempo. Mas e se já estiver envolvida? Preciso
conversar com Dom e ver a ficha de Alice. — Acho
que já estive lá. Você trabalha na sexta?
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Ela havia me dito que trabalhava perto do


shopping, mas há mais de três estúdios por ali.
Nunca iria associá-la ao alvo da operação. No dia
mencionado, o lugar seria o palco principal da
distribuição de dinheiro e alvo deles. Ou seja, se ela
estivesse lá entraria automaticamente na lista de
suspeitos.

Merda!

— Não, estou de folga. O estúdio tem uma


regra de ficar fechado uma vez por mês para uma
limpeza geral. Por quê?

— Nada… — Ah, então era assim que eles


faziam com os funcionários. Assumo que essa
resposta me deu certo alívio. Mas isso ainda não
provava nada. — Eu… Eu preciso ir. Só peço fique
em casa na sexta, ok? Não me importa o que
aconteça, fique em casa. — Dava para ver
claramente o quanto ela está confusa. Acho que
pensa que estou doido.

— O que houve, Ben? Você está me


assustando.
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— Nada… Acho que estarei de folga,


podemos marcar algo. Ou quem sabe te fazer uma
surpresa — minto e tento sorrir. Beijo-a na
tentativa de descontrair. Tenho de distraí-la,
inventar qualquer desculpa, menos a verdade.

— Preciso ir, já estou atrasado. Te amo.

— Também te amo — ela me responde de


volta, e vejo tanta sinceridade naqueles olhos. Ela
não está envolvida, eu sei… Alice jamais me trairia
assim, ela sabe quem eu sou, conhece meu trabalho,
mas mesmo assim… O silêncio nessa hora é uma
das minhas tarefas para que essa missão seja bem-
sucedida.

Saio da casa dela e vou até o trabalho, pedindo


a Deus para que ela se mantenha longe disso tudo.

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Após deixar Alice, vim direto para a


Corporação. Deixo a bolsa na cadeira e chamo
Felipe para irmos até a sala de Dom. Preciso contar
a eles sobre Alice.

— Tudo pronto para a operação? — Dom


pergunta assim que entramos na sala.

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— Sim, já selecionamos as equipes de apoio


— Felipe começa a passar as informações.

— Dom, preciso te contar uma coisa… — crio


coragem e começo. — A minha namorada… Ela
trabalha nesse estúdio.

— Você contou a ela sobre a operação? — ele


me interrompe, ressabiado.

— Nunca o faria. Só demorei para ligar os


fatos porque foi outra equipe que investigou os
funcionários. Como nosso relacionamento é recente
e o emprego dela no local também, não fazia
ideia…

— Já olhou o relatório do quadro de


funcionários?

— Ainda não, queria te contar primeiro.

— Espere um pouco que tenho uma cópia


comigo. — Dom vai até um armário, digita o
código e pega uma pasta, me entregando.

Olho atentamente cada funcionário até chegar


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em Alice. Analiso tudo duas vezes para me


certificar de que estou vendo certo. Finalmente
consigo voltar a respirar.

— Ela não está envolvida — declaro e Felipe


solta um suspiro de alívio na mesma hora.

— E se ela contou para alguém lá dentro que


namora um agente da Polícia Federal? — Felipe
indaga, reforçando uma pergunta que eu mesmo já
tinha me feito.

— Alice é reservada. Já lhe perguntei uma vez


e ela me disse que apenas Bruna e Larissa, que são
suas amigas de longa data, sabem disso. Além da
irmã, é claro.

— Mesmo se tivesse contado para alguém,


isso não a colocaria em perigo. Eles são confiantes
demais para achar que, pelo fato de uma
funcionária namorar um agente, a operação poderia
ser desmembrada. Se desconfiassem de algo assim,
ela já teria sido demitida.

Balançamos a cabeça em concordância.

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— Bom, fiquem atentos, a operação é amanhã.


Continuem sendo minuciosos. Essa operação pode
ser uma das mais importantes na vida de vocês.

Assentimos e saímos da sala. Volto para a


minha mesa e tento me concentrar no trabalho. Mas
o fato de Alice estar no meio de tudo isso me deixa
inquieto. Peço aos céus que tudo dê certo.

Como prometido, vou buscar Alice no


trabalho. Fico no carro para evitar ser reconhecido
pela atendente. Só então ali, sentado, penso que
poderia ter cruzado com ela aquele dia e meu
disfarce ter ido por água abaixo. É, acho que tive
muita sorte…

— Por que não entrou? — Alice comenta


assim que entra no carro.

— Desculpa, estava em uma ligação


importante do trabalho.

Ela sorri e me beija.


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— Quer tomar um sorvete antes de irmos para


casa?

— Com certeza! — Os olhinhos dela brilham.


Acho que nunca vi alguém gostar tanto de sorvete
quanto ela. — Ah, céus! Eu tenho o melhor
namorado do mundo!

Rio e começo a dirigir, a levando até uma


sorveteria próxima.

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Acordo sentindo Alice se aninhando ao meu


corpo. Sorrio e lhe beijo os cabelos.

— Bom dia!

— Dia!

— Você está me deixando mal-acostumado,


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sabia? Não consigo mais dormir sem você. —


Acaricio o seu rosto, que não me canso de olhar.

— Digo o mesmo, vizinho!

— Ah, que tal chamarmos minha mãe, sua


irmã e sobrinha para jantarmos juntos qualquer dia
desses?

— Jas vai ficar louca. Ela sempre pergunta


pelo tio dos super-heróis.

— Semana que vem então?

— Combinado!

— Bom, agora preciso ir trabalhar. Hoje é seu


dia de folga, né? — pergunto casualmente.

— Sim, acho que vou visitar minha irmã.


Achei que você fosse folgar hoje também… — Ela
me olha, séria, e engulo em seco. Pensei que ela
tinha esquecido. Odeio mentir para Alice, e manter
isso me irrita.

— Não consegui. — Evito encará-la. —


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Temos uma operação importante hoje — opto pela


meia verdade.

— Esqueci que tenho comigo um homem da


lei. Por falar nisso, quando vai vestir a farda para
mim? Tenho sonhado com isso. — Passa as mãos
pelo meu peito de forma sedutora e apenas rio.

— Vou pensar no seu caso, safadinha. — Ela


solta uma risadinha e a beijo muitas vezes mais.

— Tenho que ir. Te amo.

— Amo você.

Visto-me e vou para casa com o coração


pesado, a inquietude me apertando o peito, a
sensação de que as coisas vão dar errado insistem
em ficar, o medo me consome a cada segundo.

“Hoje é o dia de folga dela, Ben! Alice não


estará lá. Quando isso passar, você poderá lhe
contar a verdade”, reflito internamente, esperando
que esteja certo.

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Visto o uniforme, pego a arma e coloco no


coldre, olho para o relógio e vejo a hora: faltam
cinco horas para a operação. O tempo parece se
arrastar, me deixando ainda mais inquieto.

Felipe entra no vestiário e se aproxima.

— Vai ficar tudo bem, cara. Nada vai


acontecer com a sua garota.

— Mas será que ela vai me perdoar por omitir


isso dela? Alice ficou tão feliz quando conseguiu o
emprego lá. Imagina quando souber que era
fachada para uma central do crime organizado?
Que ela corria perigo diariamente e nunca lhe disse
nada?

— Ela te ama, Benjamin. Sabe que tem coisas


que não pode falar.

— Espero que sim — quero acreditar nas


palavras dele.

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— Vocês vão cercar pela frente, enquanto e


Felipe e eu entraremos por trás — coordeno a
equipe da outra corporação que Dom havia
chamado para nos ajudar. Com medo de que as
informações vazassem novamente, Dom decidiu
atribuí-los para evitar erros.

Eles assentem e ficam na frente, enquanto nós


e mais alguns agentes seguimos até os fundos.

— Suspeita entrando pela porta da frente —


ouço o anúncio no rádio.

Olho para Felipe e balanço a cabeça,


apontando para a porta. Ele faz um gesto com a
mão chamando a equipe para nos seguir.

— Equipe um entrando — Felipe diz no rádio.

Arrombo a porta e passamos por um amplo


corredor até chegar a única sala que está com a luz
acesa.

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— Polícia federal! Deitem no chão agora! —


anuncio assim que entramos na sala.

Há várias pessoas reunidas ali, em volta de


uma mesa redonda. Avisto notas e mais notas de
dinheiro, embalagens de drogas, entorpecentes,
armas e cadernos.

A atendente de cabelos coloridos se assusta


comigo e se levanta, dando um passo para trás. Já
os outros olham como se não estivessem
acreditando que aquilo estava acontecendo.

No meio das pessoas avisto Ricardo.

Puta merda! Eu sabia que esse cara não era


coisa boa. Era ele quem estava vazando as
informações!

Desvio os olhos dele e olho para o homem


todo de preto. Vejo então o anel — o mesmo que o
homem que matou meu pai usava. Na verdade, tem
pelo menos quatro pessoas com ele. A raiva me
consome e me sinto sufocar.

Eu tinha razão nas minhas suspeitas! Aquilo


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os ligava à quadrilha que matou o meu pai. Ricardo


sempre esteve envolvido…

— DEITEM NO CHÃO AGORA! — Felipe


grita.

Ninguém obedece. Um homem com os


cabelos grisalhos e roupa toda preta faz um
movimento que me deixa alerta. Me aproximo a
tempo de vê-lo pegar a arma na mesa. Os outros
fazem o mesmo.

— Abaixem a arma agora mesmo!

— Nem fodendo! Vocês não vão sair daqui


vivos!

Atiro nele, e o ombro começa a sangrar. A


arma cai no chão e a troca de tiros começa.

Ouço um grito feminino e sei exatamente de


quem ele é.

Meu coração para na mesma hora.

A distração é perfeita e David consegue me


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acertar no colete e no braço.

E como se meu pesadelo se tornasse realidade,


Alice aparece, carregada por um desconhecido. Ele
tem uma arma apontada para a cabeça dela…

O que diabos ela está fazendo aqui?! Ela não


ia para a casa da irmã?!

— Se afastem ou ela morre.

Felipe me olha, aterrorizado. Eles não sabem


que ela é minha namorada, mas se aproveitaram do
fato de ter alguém que pudesse ser usada como
escudo no local.

Nem todos os anos de treinamento me


prepararam para esse momento. Parece impossível
raciocinar.

Alice me olha em choque, como se não


acreditasse que estou bem ali, diante dela. Os olhos
estão cheios de lágrimas e eu quero ir até ela,
abraçá-la e dizer que tudo vai ficar bem.

A queimação no meu braço aumenta e a vista


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começa a escurecer. Alice chora e grita,


desesperada.

Coloco a mão no braço, na inútil esperança de


fazer o sangue parar. O reforço que estava do lado
de fora chega e outra troca de tiros começa. Alice
consegue se soltar e abaixa em um canto, mas não
desvia os olhos de mim. Felipe me dá cobertura.

— Vá até Alice… A proteja — consigo dizer.

Seguro a arma e consigo disparar no homem


de cabelos grisalhos. Ele cai no chão agonizando…
É a última coisa que vejo antes de cair em um mar
profundo de escuridão.

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Algumas horas antes...

Aproveito o dia de folga para dar uma faxina


no apartamento. Ligo o Dock Station e a voz de
Jacob Lee preenche o ambiente.

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If I could speak to the breeze


(Se eu pudesse falar com a brisa)
What would she teach?
(O que ela ensinaria?)
I'd ask politely for peace
(Eu pediria educadamente por paz)
Or some guidance at least
(Ou alguma orientação pelo menos)
Perhaps she'd tell me to leave
(Talvez ela me dissesse pra sair)
Conceal the secrets in the air that I breathe
(Escondesse os segredos no ar que eu respiro)

Paro apenas para fazer o almoço e, quando


termino, vejo que já são quase seis horas da tarde.
Tomo um banho e verifico minha bolsa antes de
sair de casa. Havia comprado um boneco do
Homem-Aranha para Jas em uma lojinha perto do
trabalho. Sabia que ela amaria aquilo.

Tiro tudo da bolsa, mas não o encontro.


Droga, devo ter esquecido no trabalho.

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Como o estúdio é no caminho para a casa da


minha irmã, decido passar por lá e, se estiver
aberto, já o pego. Como a tal equipe de limpeza
deve estar por lá, acredito que esteja aberto.

Vou até o subsolo e pego a moto. Quando


chego na porta do estúdio, vejo que há uma luz
vinda de dentro. Testo a maçaneta e vejo que não
está trancada. Aliviada, entro. Olho para os lados,
mas não vejo ninguém. Estranhando aquilo, vou em
direção a primeira luz acesa que vejo.

Será que o pessoal já havia terminado o


trabalho e estava descansando na outra sala?

Passo pelo corredor e, antes que eu chegue,


ouço um barulho de tiro. O que está acontecendo?
Dou um grito involuntário quando outros estouros
soam para todos os lados. Tento voltar, mas me
deparo com um homem desconhecido, com os
braços cobertos de tatuagem e a cabeça raspada.
Ele me puxa de repente, levando-me para dentro da
sala, apontando uma arma para a minha cabeça.

O coração dispara.

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Será que entrei no meio de um assalto?

Olho melhor para o cômodo e vejo armas,


drogas, um monte de policiais armados espalhados
por ali, e outras pessoas do estúdio. Pisco diversas
vezes para ver se estou certa: é mesmo Benjamin
que está ali do outro lado, com o revólver em
punho ou apenas fruto da minha imaginação?

O que ele está fazendo aqui?

Não consigo discernir as coisas, tamanha a


tensão. Vejo o seu olhar na minha direção e o medo
estampado. Vejo então que aquilo é real, e
podemos não sair vivos daqui. Logo agora que
estava dando tudo certo! Gritos são dados, sou
jogada de um lado para o outro, mas sou solta em
algum momento. Me viro na direção dele, para
mostrar que estou bem em meio à bagunça e perco
o chão ao ver um disparo acertá-lo e eu grito
tentando me soltar.

Por Deus, que ele não morra!

Choro desesperadamente.

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Isso não pode estar acontecendo!

A sala se enche com outros policiais e Ben


atira em um dos homens que está próximo a mim.
Os outros se distraem e me abaixo em um canto,
tentando me proteger dos disparos, mas sem
desviar os olhos dele. Meu namorado começa a
piscar rápido e vejo que está perdendo a
consciência. Grito, desesperada, por ajuda. Fala
algo para o amigo que vi na casa dele aquela vez,
carregando a cadeira, que logo para na minha frente
na tentativa de me proteger.

Ben desmaia e meu mundo cai junto. Me deito


no chão e vejo outros homens caídos. Pelo menos
dois policiais, sem ser ele, sangram. Desesperada,
coloco as mãos no ouvido, como se pudesse abafar
a dor que me consome.

A equipe de policiais consegue render toda


quadrilha, e só então consigo ir até Ben.

— Agente Furtado, Ferraz e Moraes feridos!


— o amigo de Ben fala pelo comunicador.

— Não morra! Eu te proíbo de morrer,


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Benjamin! — Seguro a mão dele, com as lágrimas


banhando o meu rosto.

Faço uma prece silenciosa para que o homem


da minha vida sobreviva.

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— Titia, deixa o Batman com ele para acordar


logo — a primeira coisa que ouço é uma voz de
criança ressoar bem longe. Onde estou?

Sinto o corpo inteiro doer. Tento focar, abrir


os olhos, mas minhas pálpebras parecem pesar
toneladas. Sinto alguém segurando minha mão e a

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aperto com toda a força que tenho.

— Ele está acordando! Aline, chame o


médico! — ouço a voz de Alice.

A cabeça lateja, tento abrir os olhos mais uma


vez e tudo parece embaçado. Penso em levar as
mãos até os olhos, mas o meu braço queima.

As imagens da operação me vêm à mente de


uma vez. Alice sendo ameaçada, o medo de perdê-
la, o tiro… Será que ela está bem?

— A-Alice… — consigo dizer.

A visão começa a ficar mais nítida e vejo


minha namorada com os olhos cheios de lágrimas.

— Meu amor… Estou aqui… — ela chora


copiosamente.

— Você… está bem? — Estou desesperado


para saber se nada aconteceu.

— Sim, estou.

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— Me desculpa, Alice, por não ter lhe contado


sobre a operação…

— Nem pensa nisso, apenas volte para mim,


meu odiável vizinho — ouço-a dizer e então volto
para o mar profundo de escuridão.

Alice

Entro no quarto onde a mãe de Ben ficou


hospitalizada e a vejo dormindo com um acesso em
um dos braços, ela ficou tão nervosa com a situação
em que o filho se encontrava que teve que ser
internada, sua pressão subiu tanto que achávamos
que ela não iria suportar. Mas, graças a céus, ela
recebeu todo tratamento a tempo e agora só estava
em observação.

Sento na cadeira ao seu lado e ela lentamente


abre os olhos.

— Como ele... está? — consegue perguntar


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com a voz rouca.

Seguro sua mão para acalmá-la.

— Ele está bem, já abriu os olhos e falou


comigo, logo, logo, ele estará novinho em folha.

Ela solta um longo suspiro fechando os olhos.


Passo as mãos pelos seus cabelos e então adormece
novamente.

Ouço uma batida na porta e me levanto para


ver quem é.

— Podemos conversar? — o amigo de Ben


pergunta.

Assinto e saio do quarto deixando a mãe de


Ben descansando.

Caminhamos até a cafeteria e pedimos um


expresso no balcão. Com as xícaras na mão, nos
sentamos em uma das mesas.

— Alice, eu sei que Ben vai querer ter essa


conversa com você, mas não posso te deixar no
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escuro. Deve estar se perguntando um monte de


coisas. — Assinto e ele continua: — Ben só
descobriu que era o estúdio que você trabalhava
alguns dias antes da operação, pois não foi nossa
equipe que levantou a ficha dos funcionários. Ele
queria te contar, mas não podia. Estamos atrás
dessa quadrilha há anos e, pelo que averiguamos
hoje, o pai dele foi morto por eles. Nem mesmo as
equipes que estavam lá eram da nossa corporação,
pois o nosso superior desconfiava que alguém
estava vazando informações. O que de fato
estava… Lembra do Ricardo, aquele homem que
Ben viu dando em cima de você no bar? — Como
esquecer aquele cara inconveniente? Apenas
assinto, com as ideias se encaixando aos poucos na
minha cabeça. — Pois é. O cara trabalhava para
eles, passando todas as informações. Por isso nunca
conseguíamos pegá-los.

— Entendi agora a curiosidade dele pela


minha folga — tudo passa a fazer sentido.

— Sim. Ele tinha medo de que você estivesse


no local. Nós sabíamos que não estava envolvida,
então o risco de sua presença era quase nulo…
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Mas, infelizmente, você apareceu…

— Fui buscar um brinquedo que havia


comprado para Jas e tinha esquecido lá…

— Não o culpe, Alice. Aquele cara te ama


mais do que a si mesmo.

Dou um sorriso com os olhos cheios de


lágrimas. Em nenhum momento o culpei. Sei que
Ben não fez por mal. Aquele é o trabalho dele, eu
apenas deveria ter cumprido o que ele pediu. Mas
como podia desconfiar que trabalhava literalmente
na sede secreta de um filme de gângsteres?

— Obrigada, Felipe. Eu também o amo…


Mais que tudo nessa vida.

— Não precisa agradecer.

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Desperto e vejo a sobrinha de Alice brincando


com alguns bonecos perto da minha cama. Alice
está esparramada na poltrona.

— Jas…

— O tio acordou! — Jas a cutuca, e ela logo


desperta.
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— Ben… Como está se sentindo? — Se


aproxima, com os olhos brilhando.

— Com um pouco de dor, mas bem. — Ergo o


braço saudável e lhe toco o rosto. — Me perdoa
Alice… Eu não queria te colocar em perigo…

— Pare agora mesmo de se culpar ou me


afastar, ok? Felipe me contou tudo, Ben. Sei que
não podia me contar. Seu chefe também esteve aqui
e me explicou os motivos. Inclusive, me pediu
desculpas.

Pensei mesmo em me afastar dela, deixá-la


fora de perigo, mas simplesmente é impossível me
manter longe dela. Preciso de Alice mais do que
tudo na vida.

— Dom te pediu desculpas?! — O meu


superior jamais fazia isso.

— Sim.

— Aquele velho é imprevisível — rio e faço


Alice se sentar na minha cama. — Você não me
culpa? — Eu tenho tido até pesadelos com isso, o
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medo de que ela se afaste tem me aterrorizado.

— Não, Ben. Nem um pouco. Eu só estava no


lugar e na hora errados. A única preocupação que
resta é que precisarei de outro emprego — ela
confessa.

— Por que você e os outros tatuadores não


formam uma sociedade? — Vinha pensando nisso,
em uma solução para ela continuar a vida. Com o
fechamento daquele lugar, muitos outros tatuadores
serão dispensados.

— Não é tão simples assim… Nem temos


tanta intimidade. Trabalhamos no mesmo ambiente,
mas mal temos tempo de jogar conversa fora,
estávamos sempre ocupados.

— Mas se fosse simples, que graça teria?

— Vou pensar no assunto. — Ela me beija e


sua sobrinha solta um gritinho e tampa os olhos.

— Mãe! Eles estão se beijando! — a pequena


grita assim que abre a porta do quarto. A irmã dela
entra, rindo.
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— Que feio vocês! Não respeitam nem uma


criança.

Alice revira os olhos e todos nós rimos.

— Aliás, há algo que eu queria te falar. Você


ainda está me devendo vestir a farda para mim…
Agora que vi com meus próprios olhos o quanto
você fica sexy com ela, quero tê-lo vestindo-a em
um momento exclusivo — ela sussurra e tudo
parece de volta ao normal.

— Não me deixe duro no quarto de hospital,


mulher. — Ela ri descaradamente e se inclina para
me beijar mais uma vez.

— Como minha mãe está? — pergunto


quando percebo que ela ainda não havia vindo me
visitar, conhecendo-a como eu a conheço posso
dizer que ela colocou todos no hospital em estado
de nervos.

— Ela teve que ser internada. Quando soube


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da sua situação, a pressão dela subiu, mas ela está


bem, logo mais o médico irá liberá-la para vir te ver
— Alice diz quando faço menção de me levantar.
— Nem pense em se levantar dessa cama,
Benjamin, eu estou cuidando dela, está tudo bem,
sua mãe só está descansando agora.

Não consigo nem imaginar como ela deve ter


ficado. Após a morte do meu pai, mamãe sempre
teve medo de que algo me acontecesse também.

— Oi, gente. Alice, posso conversar com meu


amigão aqui? — Felipe entra no quarto me tirando
dos meus pensamentos.

— Claro, vou aproveitar e passar em casa para


pegar algumas roupas. Quer alguma coisa, Ben?

— Uma comida decente seria ótimo.

— Vou ver o que consigo fazer.

— Tia, pelo amor de Deus, não cozinhe.


Assim vai matar o tio de vez! — a sobrinha solta
uma pérola e ninguém se contém.

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— Eu não sei o que faço com você, garota —


Alice bagunça os cabelos dela.

Ela se aproxima de mim, se despede e sai com


a irmã e a sobrinha.

— E aí? O que está rolando?

— Ricardo foi indiciado por formação de


quadrilha, tráfico de drogas, armas e organização
criminosa. Confessou que vazava todas as nossas
operações. Acho que da cadeia ele não sai tão cedo.
Muito menos o restante da quadrilha… Todos
foram levados para a penitenciária de alta
segurança.

— E o chefão?

— Roberto Hernández tem nacionalidade


mexicana e trazia drogas e armas de lá para o
Brasil, lavando o dinheiro através dos
estabelecimentos. Foi ele quem mandou matar o
seu pai. Será extraditado para o país de origem.

— Finalmente, porra — solto um longo


suspiro e meus olhos se enchem de lágrimas.
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— A justiça foi feita, meu amigo.

— Obrigado, Felipe.

— Não precisa me agradecer, companheiro.


— Ele também está visivelmente emocionado.

Quando meu pai morreu, foi ele quem ouviu


meus lamentos e começou a investigar comigo a
morte do meu pai quando mais ninguém ligava. Eu
nunca o agradeci devidamente por isso, eu não sei
se teria aguentado as pontas sem ele.

— Eu acho que vou tirar férias — confesso.

— Tira sim. Vai curtir com a sua garota.


Aliás, falando nela… Você tem sorte, pois aquela
garota te ama mais do que tudo.

— Eu sei… Pois sinto o mesmo.

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Algumas semanas depois...

— Aline, me dê alguma coisa para fazer, pelo


amor de Deus! — Ando de um lado para outro
enquanto a minha irmã ri. Hoje estou nervosa.
Minha família e a de Ben vão se encontrar pela
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primeira vez em um almoço aqui em casa – é claro


que quando estávamos no hospital nos
encontramos, mas essa vez não conta, pois
estávamos aflitos com a situação de Benjamin e
mal conversamos. Como não ficar uma pilha de
nervos?

— Você está doida? Não quero correr o risco


de queimar nada!

Reviro os olhos. Ela é tão dramática!

— Eu posso cortar qualquer coisa, pelo


menos? — Ela balança a cabeça.

— Pique três cebolas então.

— Isso é maldade! Você sabe que meus olhos


são sensíveis.

— Quem pediu para ajudar?

Resmungo baixinho e corto as cebolas. Alguns


minutos depois, Ben chega com a mãe dele.

— O cheiro está delicioso! — ela elogia


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enquanto Ben me beija, ele cumprimenta minha


irmã e se senta com Jas e o meu cunhado para ver o
filme de super-heróis na televisão.

— Como a senhora está? — pergunto


enquanto ela me abraça.

— Bem e você? — Pelo olhar vejo que está


realmente bem. Ainda transparece dor, mas há algo
a mais neles: esperança. Acho que ter o capítulo da
morte do marido encerrado já a ajudou um pouco
mais.

Ben havia me dito o quanto estava feliz pelo


nosso namoro, e o como isso estava fazendo bem a
ela.

— Você já conheceu a minha irmã no hospital,


então nem preciso apresentá-las. Sinta-se em casa.

— Obrigada, querida. Vocês querem ajuda?

— Não precisa. Já estou quase acabando. Aqui


a senhora é visita — minha irmã brinca e eu
concordo.

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— Quero te mostrar uma coisa — digo a mãe


de Ben. — Venha comigo. — Seguro a mão dela e
a levo para o meu estúdio. Paro na porta. — Ben,
vem aqui um minuto?

Ele já havia visto o presente que havia


preparado para a mãe dele, e ficou tão tocado que
chorou. Espero que Luciana também goste. Meu
namorado levanta do sofá e nos acompanha.

Paro diante dos quadros que eu havia pintado.

— A senhora já sabe que eu sou tatuadora,


mas de vez em quando me aventuro em pintar
quadros. Ben havia me dado uma foto do seu
Marcos e decidi fazer um quadro para lhe dar de
presente. Sei que o seu aniversário é só semana que
vem, mas queria lhe presentear logo.

— Ah, minha querida!

Levanto a lençol que estava cobrindo a pintura


e a revelo. Fico observando a expressão dela, os
olhos se arregalam e depois se enchem de lágrimas,
enquanto coloca a mão na boca.

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Desenhei os dois, um olhando para o outro,


com uma tulipa no meio – Ben havia me dito que o
pai dele sempre dava tulipas para a mãe nos
aniversários.

A mãe de Ben se aproxima do quadro e o toca,


como se quisesse encontrar o marido ali. Nem
posso imaginar a dor que carrega, mas sei o que é
sentir saudade daqueles que amamos.

— Eu amei, querida. Muito obrigada. — A


voz embargada consegue se fazer ouvir.

Me aproximo dela e a abraço. Ben faz a


mesma coisa e ficamos ali, unidos, no meio do
estúdio.

— Vocês não imaginam o quanto de felicidade


me trazem por estarem juntos. Ver o meu filho
amar e ser amado não tem preço. Me sinto bem,
como há muito tempo não acontecia — se abre
assim que nos soltamos do abraço coletivo.

Sorrimos.

A vida não é fácil. Cada dia estamos


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propensos a perder aqueles que amamos. Por isso,


devemos nos permitir enquanto ainda há tempo. A
cada dia, em cada amanhecer, onde cada segundo é
tempo de amar, agora e novamente.

Olho para Ben, que me retribuiu o gesto como


se estivéssemos conectados. Eu não poderia estar
mais feliz, pois meu coração enfim encontrou um
lar para fazer morada.

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Três anos depois...

— Está doendo — Ben reclama pela milésima


vez. — Alice! Por Deus, mulher!

Rio e deixo a agulha de lado. Tiro uma das


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luvas e acaricio a barriga, que começa a aparecer.

— Filha, não ouça seu papai chorão. — Ouço-


o respirar fundo, levanto os olhos e o vejo com cara
de poucos amigos.

— Filha, papai não é chorão! É a mamãe que


está judiando dele. — Ben alisa minha barriga por
cima da blusa. Reviro os olhos e ele me olha. —
Por que eu achei que deixá-la me tatuar seria uma
boa ideia?

— Porque você é o meu primeiro cliente no


estúdio novo, e já estava na hora de marcarmos
esse corpinho sexy!

Após a operação de Ben no estúdio em que eu


trabalhava, me juntei com os outros tatuadores para
montar algo. Minha irmã me emprestou um pouco
de dinheiro e abrimos o nosso próprio estúdio. Com
todo o processo, acabamos criando laços e tivemos
uma sociedade proveitosa, mas com o passar do
tempo comecei a sonhar mais alto. Por isso, quando
tive dinheiro suficiente, decidi abrir meu próprio
estúdio.

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Ainda tinha alguns meses até a nossa filha


nascer para organizar tudo. Eu já tinha clientela
fixa e não via a hora de recebê-los naquele espaço.

Quando descobri que estava grávida no meio


do processo de abrir este lugar, quase caí para trás.
Assumo que por um momento pensei em desistir de
tudo, mas Ben me deu todo apoio para continuar.

Acabei contratando uma outra tatuadora para


me ajudar. Com traços finos e sensíveis, me
apaixonei pelo seu portfólio assim que o vi. Com
ela por ali, sabia que podia entrar tranquilamente na
licença-maternidade.

— Você não está me tatuando, e sim


torturando!

— Foi você quem escolheu ter o desenho


abstrato de uma águia na costela! Eu avisei que
doía… Para quem está tatuando o símbolo de força
e coragem, você está frouxo demais.

Ele me fuzila com o olhar.

— Vamos terminar em outra sessão, então. —


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Tiro a outra luva.

— Graças a Deus, pois você como tatuadora é


uma ótima torturadora.

Rio e me levanto. Faço o curativo e, por fim, o


empurro para a porta.

— Vamos para casa.

Benjamin

Abro a porta da nossa casa e sorrio. Acho que


nunca vou me cansar de dizer isso… Nossa casa.
Eu a comprei logo depois que me tornei delegado.
Foi aberto o concurso, estudei, fiz a prova e passei.
Dom se aproveitou disso para finalmente se
aposentar, me deixando em seu lugar.

Antes disso, Alice e eu já estávamos morando


juntos. Meu apartamento estava ficando vazio e
abandonado, pois eu só ficava no dela, então,
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depois de muito pensar, Alice decidiu vender o dela


e eu o meu. Demorou um tempo para ela tomar essa
decisão por causa do pai, mas Aline a convenceu de
que ele só queria o melhor para ambas, e ficaria
muito mais feliz se ela morasse em uma casa com
um lindo quintal do que em um apartamento
apertado.

Só havia uma coisa que ainda faltava: não


havia a pedido em casamento. Nem havíamos
conversado sobre isso, na verdade. Mas hoje decidi
fazer uma surpresa para ela. Não vejo a hora de vê-
la vestida de noiva.

— Vem aqui, minha torturadora. — Pego-a no


colo com cuidado para não tocar na tatuagem e
tomo seus lábios. Mordisco-os e ela geme contra
minha boca, me fazendo ficar completamente duro.
Coloco-a na bancada da nossa cozinha e tiro a blusa
dela, deixando à mostra aqueles lindos seios que
começavam a ficar maiores e tentadores. — Puta
merda, eles parecem cada dia mais deliciosos. —
Passo a língua nos lábios, louco para senti-los
dentro da minha boca.

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— Privilégios da gravidez.

Chupo-os e ela geme, agarrando meus cabelos.

Céus, acho que nunca irei me saciar dessa


mulher. Pego-a no colo novamente e a levo para a
nossa cama, para amá-la de todas as formas
possíveis.

Frito algumas fatias de bacon e passo o café.


Minhau sente o cheiro e se enrosca na minha perna
me olhando com os olhos do Gato de Botas. Rio e
me abaixo para lhe fazer carinho.

— Sua pança está enorme, se sua mãe souber


que eu lhe dei bacon de novo ela nos expulsa de
casa.

Ela mia como se entendesse cada palavra que


estou falando e tenta subir no meu colo.

— Só dessa vez, hein.

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Esfrio um pedaço e lhe dou. Ela rapidamente o


leva para a sua cama e começa a comer.

Alice entra na cozinha e me olha com os olhos


semicerrados.

— Você deu bacon de novo para ela?

Rio e passo as mãos pelos cabelos.

— Eu não resisto, ela me olha com os olhos


tão tristonhos...

Alice balança a cabeça em reprovação e a


abraço beijando o seu pescoço.

— Vista um vestido sexy. Vamos sair — digo


para distraí-la.

— Você nunca se sacia, homem?

— Sabe que não — rio e me levanto da cama.


Beijo os lábios dela, que me puxa novamente para
si.

— Eu que sou insaciável, né? — Ela ri. —


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Vamos, não quero me atrasar.

— Para onde? — Ela está curiosa.

— Segredo.

— Isso não se faz com uma pessoa como eu.


— Apenas rio e saio do quarto.

— Benjamin — ouço-a gritar algum tempo


depois. Me aproximo e ela sai do quarto com um
vestido roxo, assim como seus cabelos, com uma
fenda na lateral da coxa até os pés, moldando-lhe o
corpo, deixando evidente a barriguinha já saliente.
Olho para os pés e vejo, claro, o novo All Star roxo
de cano alto que havia lhe dado de presente.

— Você está linda! — Ela sorri e me olha. Me


aproximo dela e beijo levemente seus lábios.

— Também não está nada mau. — Balanço a


cabeça rindo e pego as chaves do carro.

— Vamos.

Estaciono o carro em frente ao restaurante que


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havíamos vindo no nosso primeiro encontro. Vejo


os olhos de Alice brilharem em reconhecimento.

— Nossa! Faz tanto tempo que viemos aqui…

Seguro a mão e a levo para dentro. Passamos


por uma parte com diversas pessoas e vamos até
onde havíamos ficado da primeira vez. Consegui o
espaço mais reservado para fazer a surpresa para
ela.

Ela olha para todas as pessoas que reuni ali e


vejo seu semblante ficar confuso. Havia convidado
suas amigas, a família, algumas pessoas que
trabalharam com ela no antigo estúdio, minha mãe
e amigos.

Levo-a até o chafariz e me ajoelho. Ouço as


pessoas gritando e batendo palmas, Alice me olha
com os olhos cheios de lágrimas.

— Amor, quero dar o próximo passo da nossa


união, fazendo de você a minha esposa, para amar,
respeitar e cuidar, de você e da nossa filha, pelo
resto da minha vida. Você aceita se casar comigo?

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O rosto está banhado com lágrimas e meu


coração se enche de tanto amor.

— Diz logo que aceita, mulher, senão eu caso


com ele! — ouço Bruna gritar e Alice ri da amiga.

Depois de intermináveis segundos, ela me dá a


mão e coloco a aliança de ouro branco, com uma
pequena pedra roxa no dedo dela.

— É lindo! Te amo, Benjamin. — Ela olha


para as amigas e mostra a aliança. — Esse homem
já é meu, sua safada.

Elas riem, enquanto me levanto e tomo seus


lábios nos meus.

Me afasto dela e as pessoas nos felicitam. Jas


se aproxima de mim, colocando as mãos na cintura.

— Agora você é oficialmente meu tio, né?

— Sim, pequena. — Bagunço-lhe os cabelos.


Mesmo sem essa formalidade, já a considerava
minha sobrinha.

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— Sabe o que isso quer dizer, né? — Olho


para ela, confuso. — Sua coleção de bonecos
também é minha agora. — Rio e a pego no colo. —
Tio, me põe no chão, eu já estou muito grande para
isso!

— Mas não grande para brincar com meus


bonecos?

— Você já viu sua idade para brincar com


eles?

Não há como argumentar com essa criança. A


coloco no chão e ela logo vai até a tia, enquanto
minha mãe se aproxima e me abraça.

— Seu pai está muito orgulhoso de você. Sabe


disso, né? — Balanço a cabeça assentindo. — Após
a morte dele, eu não via mais sentido na vida, mas
você me deu forças para continuar lutando. Sei que,
às vezes, eu sucumbia a dor, em alguns momentos
eu mesma achei que não fosse aguentar. Mas
quando me dei conta de que havia um pedaço dele
aqui, do nosso amor na Terra, voltei a viver. Ver a
sua felicidade, filho, é o que me deixa feliz. Desejo

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que viva um amor lindo, e que me dê muitos netos.


— Rio e a abraço novamente. Meus olhos se
enchem de lágrimas e dessa vez não consigo contê-
las.

— Obrigado, mãe.

Alice se aproxima de nós e ela estende uma


pequena caixinha para minha noiva.

— Meu amado esposo me deu esse presente


no dia do nosso casamento, e hoje eu estou
passando para você. — Alice abre a caixa e se
depara com uma pulseira de prata, com um
pequeno pingente de uma tulipa.

— Eu não posso aceitar… — Ela sabe o


quanto isso deve significar para minha mãe.

— Eu guardei todos esses anos para dar à


esposa do meu filho. Alice, aceite, por favor.

— Obrigada — ela tem a voz embargada ao


agradecer. As mulheres da minha vida se abraçam.
Sorrio. Se me perguntassem anos atrás como eu
imaginava minha vida no futuro, eu jamais diria
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que seria desse jeito.

O amor não é fácil. Alice e eu temos nossas


diferenças e, às vezes, brigamos, mas todos os dias
aprendemos a nos amar de formas diferentes.
Relacionar-se é perdoar, aprender e cuidar. E eu
não poderia estar mais feliz do que já estou.

FIM.

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Se você chegou até aqui, meu primeiro


agradecimento é para você, espero que tenha se
divertido tanto quanto eu me diverti escrevendo!

Esse livro não existiria sem ajuda dos


profissionais que estão sempre embarcando comigo
em cada jornada: Danilo Barbosa, muito obrigada
por cuidar desse livro com tanto carinho, Carla
Fernanda, obrigada por cada detalhe e cada
conselho e a Layce Design obrigada por sempre
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cuidar das minhas capas e diagramações!

Às minhas amigas Bruna e Larissa, obrigada


por amarem nosso vizinho antes mesmo da história
ganhar vida. Amo vocês!

À minha família e ao meu namorado que estão


me apoiando em cada sonho.

Às minhas parceiras, que embarcam comigo


em cada jornada! Vocês são anjinhos na terra, sou
muito grata a cada uma de vocês!

Quero agradecer a Deus por ter me cuidado de


mim ao longo dessa caminhada, não foi fácil,
muitas das vezes as crises de ansiedade vieram e
me faziam querer desistir, mas cada vez que eu
olhava para o alto eu sabia que alguém estava
comigo.

Se você tem um sonho, não desista, não deixe


que o medo e a ansiedade te afastem desse sonho,
persista, eu e Deus estaremos na torcida por você!

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Thays M. de Lima tem 23 anos e vive no Rio


de Janeiro. Geminiana e dramática assumida, é
apaixonada por new adults, dramas asiáticos e
clichês.

Formada em Engenharia Civil, também é


apaixonada pela literatura, motivo pelo qual há
quatro anos criou um canal no Youtube.

Com uma rotina bem agitada, divide o tempo


entre a escrita, trabalho e o blog.
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Autora de O que resta de mim, Livie & Téo,


Sofia & Gabriel, Apenas essa noite e da antologia
Blogueiras.com.

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O que resta de mim


Série Flores, Flor-de-lis – VOL. 1

Disponível em e-Book
Compre aqui!

Com a intenção de superar seus traumas,


Gabriela deixou São Paulo para tentar um
recomeço no Rio de Janeiro. Seu objetivo era
apenas iniciar seus estudos em uma das maiores
universidades da cidade e tocar sua vida de alguma
forma.
Guilherme é avesso a compromissos, mas nem
sempre foi assim. Aos 12 anos, ele fora tirado da
vida que conhecia deixando para trás uma promessa
não cumprida.
Enquanto Gabriela quer ficar longe de
encrenca, Guilherme é a definição de encrenca.
Contudo, ele é único que consegue enxergar
através de seus olhos. E isso a aterroriza, porque ela
pensou ter deixado seu passado para trás, mas na
verdade ele estava bem à sua frente.
Quando o amor e um passado repleto de
feridas andam juntos resta apenas uma escolha...

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O que resta de mim


Depois da verdade
Série Flores, Flor-de-lis – VOL. 2

Disponível em e-Book
Compre aqui!

Após o passado repleto de mágoas e feridas,


Gabriela finalmente consegue tocar a sua vida ao
lado do namorado e ter o seu tão sonhado
recomeço. Mas uma infeliz surpresa surge trazendo
à tona antigos fantasmas.
Ao lado de Guilherme, ela descobre que há
muito mais em seu passado do que possa imaginar
e isso colocará o relacionamento dos dois à prova.
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Será o amor capaz de superar todos os


segredos e mentiras?

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Livie e Téo
Disponível em e-Book
Compre aqui!

Há dois anos, Téo nutre uma paixão platônica


por sua melhor amiga Livie, mas ela nem se dá
conta disso, pois namora o garoto mais popular da
faculdade e o vê apenas como seu amigo
inseparável.
Como se não bastasse isso, Téo vem de uma
família pobre, mas nunca desanimou diante das
dificuldades. Lutou com muita perseverança,
coragem e determinação, principalmente para ser
alguém na vida. Com muito esforço e dedicação,
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conseguiu entrar em primeiro lugar numa das


maiores faculdades públicas da cidade.
Completamente o oposto de Livie, que é filha
do prefeito e tem o mundo aos seus pés. No
entanto, a jovem nem imagina que sua vida mudará
drasticamente devido a um evento inusitado, que
colocará a amizade entre eles à prova.
Será que a amizade — e quem sabe o amor —
é capaz de uni-los diante das adversidades?

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Sofia & Gabriel


Disponível em e-Book
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Gabriel nunca foi o típico cara que acreditava


em destino, almas gêmeas e outros conceitos tolos,
aqueles que as pessoas dizem que estão escritas nas
estrelas. Paixões como a dos livros não existe, para
ele. Professor universitário, sempre caminhou pelo
caminho do racional, daquilo que pode ver, sentir e
notar – e descartar, se assim for necessário.
Mas de repente ele se vê apaixonado por
Sofia, a irmã do melhor amigo. Alguém que
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conhece desde pequena e sempre admirou, como


exemplo de força e coragem. E agora, vendo como
a menina se tornou mulher, o danado do coração
lhe deu uma rasteira, despertando sentimentos que
lhe dão mais questionamentos do que respostas.
Sofia, ao contrário, sempre gostou de Gabriel,
mas nunca pensou que os olhos dele um dia
poderiam pairar sobre ela… Pelo menos não como
desejava. Disposta a ser a melhor amiga, sempre
escondeu os medos e dúvidas quando o quesito é o
coração.
Será que chegou a hora de dar o próximo
passo?
Depois de emocionar as leitoras em Livie &
Téo, Thays M. de Lima traz a vida dois
personagens lindos e cheios de emoção, que
mereciam ter a própria história.

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Blogueiras.com
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Oito histórias. Oito protagonistas. Uma paixão


em comum: blogar!
Nas páginas desse livro, você conhecerá oito
garotas diferentes com um sonho em comum. Seja
falando de livros, música, comportamento ou
viagem, tudo o que elas querem é compartilhar
interesses e fazer novos amigos. No caminho,
contudo, elas descobrirão que a blogosfera tem
muito mais a oferecer. Embarque com elas nessa
aventura e viva o sonho intensamente. Bárbara,
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Amanda, Mafalda, Valentina, Lilia, Helena, Aline e


Clara vão te surpreender.

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Apenas essa noite


Disponível em e-Book
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Dois corações destroçados. Uma viagem


inesperada.

É possível encontrar o amor quando o resto


parece perdido?

Luna acaba de perder a mãe. Agora, sem ter ao


lado o maior apoio de sua vida, a jovem encontra-
se perdida, em meio a dor e a saudade, sem
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imaginar o que o futuro a reserva. Por isso decide


fazer a mesma viagem que fazia com ela todos os
anos, para Santiago da Compostela. Espera
transformar essa jornada pela Espanha em um ritual
de despedida, trazendo um pouco de paz para o seu
coração.

E é lá que ela encontra Adrian, um homem


que usa o trabalho para espantar a culpa que lhe
assombra, e a solidão que lhe sufoca aos poucos.
Obrigado a fazer essa viagem pela irmã, que disse
que aquela viagem mudaria a vida dele, o
empresário fica todo desconfiado ao conhecer a
moça que carrega o sorriso no rosto e a chuva nos
olhos, e que pede que ele a acompanhe naquela
jornada.

Será que ambos imaginam o quanto aquela


viagem os mudará? E que ajudar a curar as dores
do outro é um modo de sanar as suas próprias
feridas?

Thays M. de Lima, autora conhecida por obras


como O que resta de mim nos apresenta uma
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história de dor, amor e redenção, nos mostrando


como é difícil superar as nossas próprias culpas…
Mesmo quando o amor bate a nossa porta.

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futuros leitores. Obrigada!

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Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
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Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
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Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Epílogo
Agradecimentos
Sobre a autora
Outras obras
Contato

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