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CHAMADA PARA PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS CIENTÍFICOS ENTREVISTAS,

RESENHAS, TRADUÇÕES

DOSSIÊ TEMÁTICO:

TEMA: NARRATIVAS DO CÁRCERE, CLAUSTROSOFIA, E ESTADO DE


EXCEÇÃO

Alegorias claustrosóficas é uma expressão utilizada pelo filósofo Roberto Vecchi


(2015) para se referir à relação entre a experiência carcerária e a atividade intelectual em
contextos de exceção, sobretudo, na condição de prisão política. Para o filósofo, o cárcere
pode ser o produtor de um saber peculiar, um modulador do pensamento em condições
especiais. Ressalta-se que a reflexão de Vecchi é inspirada na produção literária e
filosófica de importantes personalidades como Antonio Gramsci, a partir de seus relatos
acerca de sua experiência de prisão, em Quaderni Del cárcere (1948), escritos entre 1926
e 1937, quando esteve preso pela ditadura fascista na Itália. Segundo Vecchi, a coação das
dimensões do tempo e do espaço – um tempo enorme, corpulento como o define
Gramsci, mas não infinito, e um espaço exíguo, augusto, cerrado – influenciaria o sujeito
interpretativo, assim como afetaria as representações ou a elaboração que decorrem do
aprisionamento, como se a subtração se tornasse, pelo contrário, a potência de uma
condição forçadamente isolada, excepcional (VECCHI, 2015, p. 208). Nesse caso, o
estudo da claustrosofia volta-se, em princípio, para a ótica do testemunho do cárcere.
Vecchi discute sobre o paradoxo do confinamento carcerário: “De fato, será que a prisão
preserva e alimenta uma relação especial com o pensamento? A experiência do cárcere
como comunica com uma especulação crítica e, sobretudo, é possível individuar uma
espécie de pensamento do cárcere?” (VECCHI, 2015, p. 208). A literatura do cárcere, um
gênero ainda em construção, potencializa suas possibilidades mediante a perspectiva
claustrosófica, pois pode abranger as mais variadas narrativas em gêneros diversos de
expressão, como romances, bilhetes, cartas, anotações, todo escopo literário que tenha
relação com a produção de um saber, que evoca a existência e resistência de um
pensamento que surge da ou na cela, mas está para além dela, ecoando as vozes que
denunciam o autoritarismo, a violência, a tortura e a injustiça.
Para o filósofo e jurista também italiano Giorgio Agamben (1942...) o paradigma
das sociedades em que vivemos se apresenta na forma do campo de concentração,
operando em permanente estado de exceção produzindo vidas nuas, descartáveis,
matáveis. Para o filósofo “O campo é o espaço que se abre quando o estado de exceção
começa a se tornar a regra”. (AGAMBEN, 2015, p. 42). Compreender a estrutura
jurídico-politica constitutiva dos campos de concentração é para Agamben exigência
inadiável para a compreensão dos pavorosos acontecimentos que ali ocorreram.
O permanente estado de exceção que conforma o campo como paradigma das
sociedades contemporâneas em que estamos inseridos se caracteriza pelo ininterrupto
funcionamento da máquina política, jurídica e econômica. Sob tais condições, perdemos o
sentido da política, que desde sempre se apresentou como a arte da palavra, do discurso,
da negociação em torno da manutenção do espaço público e dos bens públicos
fundamentais à vida em comunidade, em sociedade. Reduzida a decisões eficazes de
interesses privados sobre a dimensão pública, carecemos de experiências verdadeiras
experiências políticas. Por seu turno a máquina jurídica multiplica os processos, as
jurisprudências, as regras, as normas de proteção a vida. Em contrapartida vivenciamos
em meio a uma guerra civil generalizada em que vida é violentada e morta
cotidianamente. A máquina econômica se tornou transcendente, financeirizada,
especulativa. Capturou a vida nas operações de crédito e débito. Retirada do uso comum,
economia administra a vida e a morte dos habitantes do campo, refugos humanos,
descartáveis, matáveis como condição de funcionamento do sistema, do campo.
Sob tais pressupostos, na medida em que somos cotidianamente privados de fazer
experiências que potencializam o pensamento, os afetos, a vida, nos encontramos
paradigmaticamente na condição de prisioneiros do campo, “independentemente dos
crimes que são cometidos ali e qualquer que seja a sua denominação e topografia
específica.” (P. 45). Portanto, para Agamben trata-se de paralisarmos a máquina política,
jurídica e econômica que opera ininterruptamente produzindo o estado de exceção e no
interior a vida nua. Assim, é tarefa da política que vem, do direito que vem, da economia
que devolver a política, o direito, a economia ao uso comum. Trata-se de devolver aos
seres humanos a possibilidade de fazer experienciais vitais, de fazer experiências com a
potência do pensamento, de experimentar a amizade como condição política de devolver
o mundo ao uso comum.
É a partir das contribuições dos filósofos italianos Roberto Vecchi e de Giorgio
Agamben sobre o estado de exceção que a Revista Profanações propõe este dossiê,
intitulado: Narrativas do cárcere, claustrosofia, e estado de exceção.
A proposta desse dossiê é convidar estudiosos de ambos filósofos para ampliar a
massa crítica de sua influência nas na Literatura, na Filosofia, na Política, no Direito, na
Ética e em campos correlatos. Serão aceitos artigos que utilizem um deles ou ambos, seja
como aplicação analítica em objetos literários, políticos, jurídicos e culturais, seja como
cotejo do pensamento dos dois filósofos.
PRAZOS DE SUBMISSÃO E PUBLICAÇÃO E OUTRAS INFORMAÇÕES

a) O prazo final para submissão dos artigos ao dossiê é 30/08/2023.

b) Previsão de publicação: 28 de Fevereiro 2024

c) Os artigos submetidos ao dossiê devem seguir as orientações da Revista Profanações,


disponível nas Diretrizes para Autores no link:
http://www.periodicos.unc.br/index.php/prof

d) É importante na submissão do artigo informar o editor que o referido artigo vincula-se


ao dossiê:

e) No momento da escolha de Seção, quando submeter o artigo, selecionar a opção:


Narrativas do cárcere, claustrosofia, e estado de exceção..

Editores responsáveis:

- Profa. Dra. Viviane Dantas Moraes (Universidade Federal do Maranhão – UFMA)

- Profa. Dra. Tânia Maria Sarmento-Pantoja (Universidade Federal do Pará – UFPA)

- Prof. Dr. Sandro Luiz Bazzanella – Universidade do Contestado – UnC SC

Referências

AGAMBEN, Giorgio. Meios sem fim: notas sobre a política. Tradução Davi Pessoa
Carneiro. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015

16 de Maio de 2023.

Dra. Viviane Dantas Moraes


Dra. Tânia Maria Sarmento-Pantoja
Dr. Sandro Luiz Bazzanella – UNC – SC

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