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ou a obra, você pode doar qualquer valor via PIX, na
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Introdução
Neste mar de poesias, eu mergulho nu e te convido a fazer o mesmo.
Submerso nos mais delirantes pensamentos, te convido a nadar comigo, e discutir sobre
mim (enquanto indivíduo), o tempo (e sua relação com a ansiedade) e sobre a sociedade
(pessoas, tabus, observações que nos rodeiam).
Esta imersão num mar de palavras, não será fácil, simples e feliz o tempo todo,
Pode nado de costa, borboleta e até nado sincronizado, mas priorize o nado de peito
(aberto).
Mergulhe fundo, pare de se acostumar somente com a superfície, se permita explorar as
profundezas, as nuances, os sonhos, as dores e cores que essa luz tão escura te traz.
Em momentos, a água é doce como a esperança, fria como o ártico, ardente como o
inferno, confusa como eu e única como você.
E depois deste banho de palavras, rimas, melodias me conte se você se sente limpo e
renovado, ou tão sujo quanto entrou.

A pandemia e o isolamento social nos tirou muitas coisas, menos a possibilidade de


pensar, compartilhar e celebrar a vida e eu espero que este livro canalize isso.

2
Reflexões sobre sí

Legenda:
Dividido por cores, cada poesia/pensamento reflete um
ou mais dos três pilares deste livro sendo: amarelo
(tempo), azul (interno), vermelho (sociedade/o outro)

TEMPO:
Aquele que tudo vê, tudo sabe. Presente, passado e
futuro, o ritmo e o grande gatilho das minhas
ansiedades.

EU, INTERNO:
Reflexões e pensamentos canalizados através da minha
vivência, olhar e sentimentos internos e profundos.

Sociedade
fruto da observação, temas, pessoas, comportamentos e
discussões sociais.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Feliz Aniversário!

Neste aniversário, eu só desejo desejar por muito mais tempo


Já que diferente de mim, o tempo só quer aquilo que ele pode ter.

Meu pedido é por mais velas, festas, música alta, bolo,


salgadinhos e gente, muita gente.

Além de muitas felicitações e mensagens clichês que nunca


mudam, mas repletas de afeto que a cada ano me afetam mais.

E mesmo que não venha a mesma gente que vinha antes, seja
pela amizade desfeita ou a vida que o tempo acabou, eu quero
festejar,

Festejar os novos amores, amizades e sonhos que o tempo


AINDA não pode me tirar.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Tu veneno
Teu "amor" é veneno que se espalha por dentro.
Em mim não há vacina que cure,
e mesmo que dure o pior já passou
A dor causada e a alma rasgada que aqui habitava cicatrizou.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Ei, Dona
Ei, dona,
O que eu quero de você não tá bolsa que você tanto esconde e
protege quando me vê passar.

E nem no caminho que você muda quando me vê na rua, na


calçada.

O que eu quero é respeito, e isso o teu dinheiro não consegue


comprar.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Moça do café

A tia do café
Que sai pra batalhar
Acorda antes do sol nascer
e depois do galo cantar

É guerreira da vida
Mas não quer guerra com ninguém
Sua batalha é pelo pão de cada dia
Que a cada dia se abstém

Pura simpatia, memória de ferro


Não esquece o nome de ninguém
Diferente das patroas
Pra elas sua presença só vale quando apenas lhes convém

Uma coisa é inegável


Seu “cafézin” agrada a todos,
Até quem não é fácil de agradar
Ele é doce como ela, mas é forte pra fazer acordar.

Já na hora da partida, no fim do seu expediente, cansada pelo dia


e como sempre sorridente
Ela volta da labuta com algo em sua mente
O carinho dos seus netos que sempre a surpreende.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Templo
Se meu corpo é meu templo,
a todo momento,
peço por tempo e
contemplação:

Cuidado e zelado,
afeto dobrado,
paciência e proteção.

Não quero visitas indesejadas,


sujeira acumulada ou depredação.
Apenas o silêncio que tudo ouve e a mais sincera adoração.

Se nosso corpo é nosso templo


Eu imploro céu adentro, não só por mais tempo mas por
constante des(construção).
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Movimento

Da água ao vinho eu venho


Em movimento
Constantemente inconstante,
turbulento
E como o vento eu vou, sem nem saber pra onde.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

minha fé

A minha fé está nos mais profundos lugares,

Na natureza que tudo transforma;


Na mãe que zela e cuida;
Na comida que alimenta;
Nas ervas que tanto curam.

Nos textos que aquecem a alma;


E na alma que aquece o corpo;
Nas manhãs calmas de sábado;
E até no fundo do poço.

Fé de Deus/Deusa que comanda o inconsciente.


Minha fé está no caos, minha fé está na gente.

Uma fé forte, calma e potente,


que não fere, não discrimina, não mata, nem repreende
Minha fé está no amor que acolhe e surpreende.

Amém, axé, shalom saravá e que assim seja.


Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

ARREPENDIMENTO
O arrependimento é a verdade que a mentira conta pra se sentir
melhor.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Dê a CÉSAR
Se nem só do pão viverá o homem, então Sr. César viverá de
quê?
Se ele vive das migalhas que o padeiro amigo lhe dá.
O pão de cada dia, nem todo dia lhe calha de ganhar,
É da bondade de uns, e do desprezo de outros que sua alma se
alimenta.

Hoje ele tem o que comer, amanhã a dor da fome o enfrenta.


Ele não quer saber se no céu tem pão, se no inferno tem sopa.
Sua família chora, aqui, agora na terra, afoita.
Ele tem pressa, tem urgência.

Se a gente é o que a gente come, do que são os desamparados?


Sobras descartadas no lixo ou o fruto da misericórdia do aliado.
Se Daí a Cesar o que é de Cesar, então o que ele terá?
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Medo e coragem
A vida é um enorme frio na barriga
Um misto de sensações e emoções
Que rapidamente se instalam na rápida mente,
inquieta e pensante.
O medo, a angústia fazem parte da vida.
Sem o medo, a coragem exacerbada nos coloca em perigo
constante,
sem coragem nos colocamos em um estado de dormência
consciente.
Equilíbrio é a chave que abre a mente, liberta o corpo e destrava
a gente.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

O tempo e a ansiedade

O tempo vai passar!


Eu não consigo respirar
O tempo vai passar!
E eu não sei o que esperar

O tempo passa!
Será que eu vou continuar?
O tempo passa!
Como devo me comportar?

O tempo passou!
Eu não consegui superar
O tempo passou!
E eu não posso mais voltar.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

La casa de papel

Eu nunca esperei algo em troca em relação a você,


E tudo o que você tem me dado, são subtrações.
Como num roubo a banco perfeito, você retira cada valor que
tenho, e eu que de tanto roubado nem dou falta de nada, até que
me vejo vazio e oco, e você com grana o bastante para investir
em outros bens.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Ódio e amor
O ódio e o amor são dois amantes que vivem em cidades
separadas, mas que de vez em quando se visitam.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Bem-te-vi
Bem-te-vi, alí
Cantando como se fosse seu último cantar, como se sua liberdade
dependesse disso.
Na gaiola, seu futuro, no canto seu presente e na liberdade seu
passado.
Ter asas e não voar é o mesmo que ter vida e não viver.
Portanto, liberte-se de sua gaiola, seja qual for,
voe, o mais alto e o mais longe que puder
E faça o que você nasceu para fazer. Voar.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Dicotomia
Com toda minha beleza, me acho feio.
Me sinto seco, quando tão molhado
Entre o copo vazio e o corpo cheio, não sei se sou o recipiente ou
a água, que tanto transborda, mas pouco preenche.
Pois entre tantos pensamentos, minha cabeça só anda vazia.
E mesmo que rodeado de gente, sozinho.
No meu reflexo não sei se me vejo, ou se vejo quem eu quero ver.
No meio de tanta indagação e dúvida vestida de ar e respiração,
todos os dias morro um pouco sufocado.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Luz e escuridão
Estamos tão acostumados a buscar e desejar a "luz", que
podemos esquecer como lidar diante da escuridão.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Troco
Meu amor é caro mas tenho vivido de troco
Que de tão pouco mal dá pro pão
que mesmo que fermentado com amor sovado é amassado numa
mistura de receios, medos e solidão.
E o que eu recebo em troca do meu afeto?
Moedas e migalhas jogadas ao chão.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

QUERIDO, PRESIDENTE
"Querido" presidente que se faz de inocente, mas no fundo a
gente sente que é puro ódio e rancor.

"Querido presidente" que com tanta gente crente, que esperava


um imponente e recebeu um ditador.

"Querido" presidente, se diz gente como a gente, mas pune e


repreende gente da minha cor.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Existência
Das leis de Newton ao mito de Platão
Lúdico e lógica se encontram pra lutar
E fazer ecoar mais uma questão.
Que de tempos em tempos vem a tona
E nos jogam a lona dessa vasta imensidão.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Cantar e cantar e cantar


Eu canto porque eu sinto
Sinto muito se você não consegue cantar
Os males aqui já não habitam
E eu não ligo se as notas não estão em seu devido lugar
desde que o meu coração esteja, vou continuar.

O mesmo canto que sai da minha boca já saiu da voz dos meus
ancestrais.
Por isso eu canto, por mim e por aqueles que não podem cantar
mais.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Seremos
Nós seremos o passado que o nosso futuro tentará consertar.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Na sua estante

Igual aos livros empoeirados na sua estante,


eu me vejo, lá
No canto, esquecido
Desejando ser lido e desvendado
Coleção por coleção.
Como um clássico, às vezes falado, mas nunca lembrado
Sonhando em ao menos virar de decoração.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

O gato comeu?
Cadê o racismo que estava aqui?

Será que está na classe da professora que nunca chama a Joana


pra ser sua assistente?

Será que está no diploma que nunca deu emprego pro João.

Ou na bolsa que é escondida quando o Zé passa?

Na constante abordagem policial que Nando recebe ao fazer


entrega?

Ou nas humilhações que Carolina Maria sofre da patroa?

Ou no quadro de funcionários da empresa que apoia a


diversidade mas que não contrata ninguém preto além do
porteiro?

Cadê o racismo que estava aqui?

Bom. Talvez ele nunca tenha desaparecido...


Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Solitude ou solidão?
Me sinto só, mesmo aglomerado.
De todas as vozes que tenho escutado, nenhuma consegue
comunicar.

E se eu gritar, ninguém ouve. Nem eu.


E por pior que pareça, tenho gostado.

Solitude ou solidão?
Solitude e solidão!

Eu, só eu
Uma taça de vinho, um som ambiente eu sigo comigo, carente e
contente.

Eu canto alto, eu rio de mim e choro.


Rejeito meus auto conselhos e relato os arrependimentos.

Eu mesmo.

Solitude ou solidão?
Solitude e solidão!

Eu sou tudo o que tenho, e tenho muito.


E não é errado querer mais.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Tempo, tempo, tempo


Brigando com o tempo
E buscando um momento que talvez nunca chegará

O vinho fino esperando a companhia especial


A roupa guardada para o corpo ideal

A viagem inesquecível que você se esqueceu de marcar


E o eu te amo impactante que talvez ninguém ouvirá

Tempo tempo tempo, quanto tempo o tempo têm


Será o tempo do agora ?
Ou o tempo que me convém?
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Mercado negro
Quem te conhece que te compre, mas tu tá valendo quanto?
Pois pra uns eu valho mais e pra outros nem valor eu tenho.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Múltiplos
Se a vida é cheia de escolhas, caminhos e opções eu me abstenho
de fazê-las.
Para quê ser um, se posso ser múltiplos (e este não é um papo
sobre bipolaridade, ou múltiplas personalidades), digo.
Porque raios temos que ser rotulados, seguir determinada postura
e comportamento se agimos e reagimos de maneiras
diferentemente a cada situação (este não é um papo sobre
rebeldia), digo.
Somos complexos demais para ser aquele algo ou aquele alguém,
nessa narrativa, eu quero ser muito mais que o mocinho ou o
vilão, eu quero ser narrador, o alívio cômico, o protagonista, ou
coadjuvante, o público que assiste e até o crítico se der vontade
Precisamos entender nosso papel e lugar no mundo, e não se
limitar apenas a ele.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

ALVO
Alvo alvejado
O sangue no uniforme lavado com alvejante
Avante o medo,
diante e constante.
De hoje e ontem e do trauma que alvejou a alma
Que já não é mais tão limpa como antes.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

O vazio
O que seria o vazio, se não a ausência de algo
Para o copo, o vazio é a ausência de líquido
Para o pulmão, a ausência de ar
Para o ódio, ausência de amor
E para mim o vazio e a ausência de você.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Anseios do tempo
Preocupado com o futuro, se viverei por muito tempo ou por
pouco.
O aqui e agora perde a vida lentamente.

Pois o tempo é caro e eu que já estou endividado faço as contas.


É pensando muito que me pego de cabeça vazia,

E minha mãe que já dizia que mente vazia é oficina do


angustiado.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

O canto
Pelos cantos, eu canto
Cada nota em seu devido lugar
No tom, o dom,
do ré mi fá.
A voz, rasgada,
não mais calada
Traduz minha alma em cantarolar.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Metáfora das plantas

Eu gosto da metáfora das plantas.


Da forma como elas só crescem se alimentadas ,
De como suas vidas podem ser simples e complexas na mesma
medida
Diversa, broto, árvore, aquática, urbana, selvagem e plural.
Do vaso na janela, nas ruas e vielas, no mato ou sob os mortos.
Apenas água e luz,
Às vezes uma conversa sem resposta
Outras, o movimento guiado pela brisa,
Mas sempre ali, às vezes dependentes de ajuda, outras livres e
selvagens.
Todas precisam de luz, do sol que alimenta ou da noite que
desabrocha.
Fotossíntese-se você também, germine, balance sob o vento,
cresça, troque de vaso e nunca se esqueça de se alimentar de luz e
beber água regularmente.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Novos ancestrais
Reverenciamos nossos ancestrais, sem perceber que um dia
seremos ancestrais de alguém.
Se você consegue entender de onde veio, tem maiores chances de
saber para onde vai.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Dona Ilma
Ilma, a minha avó
A mulher, das ervas, da oração, do canto, da cor,
do dia, da noite, brilhava como luz e aquecia como o sol.
Ela trazia em si vontade de viver, de ir, vir e ver o mundo que
acontecia ao seu redor.
Era grande demais para uma cidade pequena e que mesmo
pequena amava grande.
Brigava e amava na mesma medida.
Entre afetos e desafetos que carregava na memória e em sua
trajetória, ela é a minha história que iniciou ao seu nascer e que
ainda vive mesmo depois de morrer.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Como é?

Como é?
Como é ter um propósito?
Como é crescer sem medo de não ser bom o bastante?
Como é não ser rejeitado por sua identidade, por seus afetos?
Como é ter comida na mesa todos os dias?
Como é ser bem visto, bem quisto?
Como é andar na rua sem olhares suspeitos?
Como não ser seguido por seguranças nas lojas?
Como é não saber sua origem, sua árvore genealógica?
Como é, ter que andar com documentos para não ser confundido
na rua?
Como é não questionar sua capacidade ou sua beleza?
Como é que é?
Como?
É?
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Guiné

O sonho de ir a Guiné e deixar a vida guinar


O rumo que nunca esqueci e a casa que irei visitar
Um abraço a mãe África de que um dia eu parti, e que anseia teu
filho voltar.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

TUIUTÍ
Estrada de cor cobre,
que cobre esse motor de pó
Cubra o horizonte desta vasta vista
que ao passar deixa o passado pra trás e cobra o futuro sem dó.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Será o fim
Meu mundo prestes a acabar
eu saio pra caminhar
Pra sentir a brisa no ar
Ouvir os pássaros cantar
Deixar meu corpo respirar

Na tentativa de me sentir a salvo outra vez


Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Revenge
A vingança é um prato que se come cru
E a fome não tá nem aí pra isso.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Love of my life
Às vezes nós lutamos para encontrar o amor das nossas vidas,
sem entender que também é importante ser amor da vida de
alguém.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

PUTA
Olha ela! nas ruas, nas vielas
É invisível pro estado, mas onde passa chama atenção,
De salto alto na mão, retornando da labuta
Alguns lhe chamam de velha louca, outros lhe chamam de puta
Certeza é, sol ou chuva ela vai pra luta
E nesta batalha já feriu tanto quanto foi ferida
foi assim que criou suas crias, e se fez vivida
No começo não havia conforto, não havia comida
Só tinha um corpo e uma coragem perdida
Quarenta anos de rua, sessenta de vida
Tão dona de si, que aí de quem ousar questionar suas condutas.
Ela é velha, ela luta, ela é puta.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

BUSCA
Dicionarizando coisas, pessoas sentimentos
buscando por significados que ainda nem nomes possuem
A frente do tempo, e atrás de si
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

EMPATIA
Empatia é o sentir na pele, em que algumas peles sentem mais
que as outras.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

O medo do medo
Qual é o medo que o medo tem?
Escuro, altura, morte?
Medo da coragem?
O medo também chora e tem angústia?
Tenho medo só de pensar...
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Consciência negra

Dia da consciência negra


E eu não quero falar:
Não quero falar da dor dos meus ancestrais
Tão pouco das mortes dos telejornais
Não quero falar das injustiças que já vi
Nem dos nãos que nas entrevistas de emprego já ouvi
Não quero falar da senhora que muda de calçada quando me vê
E nem da garota que esconde a bolsa quando passa do meu lado
(que vale bem menos que a minha)
Não quero falar do cara que me confunde com empregado do bar
mas que nas redes sociais se proclama aliado.

Eu só não quero falar


Mas não significa que eu não quero ser ouvido.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Reconstrução
Juntando os pedaços,
colando os cacos,
Tentando por mais uma vez,
dar uma chance pra vida,
Ser menos dolorida, mais colorida
E para que seja vivida um dia de cada vez.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

SUA PELE
Sua pele queima quando repousa sobre meu peito,
As marcas em seu pescoço revelam o quão forte e voraz é o
nosso amar,
O suor, que escorre lentamente
só não é mais devagar que o tempo que congela
e queima na minha mais recente memória ardente.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

No changes
E de tanto querer fazer algo para mudar o mundo
acabei não fazendo nada.
Porque a gente só pode salvar o mundo, se a gente se salvar primeiro .
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Questionando “amor”

O que amar significa pra você? O que amar custa pra você?

Para alguns, amar custa paciência, custa entrega, e para outros


custa a vida.

Porque o amor de uns curam e de outros "destroem"?

Amar hoje, não foi igual a amar no passado e nem será igual a
amar no futuro.

Porque o amor de uns curam e de outros "destroem"?

O amor é tão complexo, que deveria ter um dicionário só pra ele,


e mesmo assim cada um que lesse, veria um significado
diferente.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Espelho espelho meu!


E quando só o espelho não basta?
No reflexo já não sei mais se me vejo.
A figura nítida que eu costumava ver foi substituída, roubada.
Agora um ser pálido, apático, obscuro tomou conta do que antes era alguém
vivido e voraz
E daí, não sei se o que vejo é o que sou ou o que fui
Mas tenho certeza de que é alguém que eu não quero ser.
nem que pra isso eu precise quebrar esse espelho.
Afinal, não há azar maior que uma vida cheia de infelicidade e breu.
E daqui há sete anos, eu quebro o próximo!
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Piloto automático

Estamos tão acostumados com a caos que esquecemos de contemplar


o silêncio
Nos preocupamos com as doenças, mas não agradecemos a saúde.
Matamos a fome, mas não vivemos a saciedade.
Caminhamos sem contemplar o céu, exceto para saber se haverá
chuva.
Conversamos sem olhar nos olhos
Percebemos o mau odor, mas não sentimos o perfume das flores
Ouvimos a música sem saber o significado da letra
Sorrimos e/ou acenamos somente por educação
Doamos para manter a consciência limpa.
Damos o like sem nem ter curtido de fato.
Às vezes colocamos a vida no piloto automático, sem perceber que a
felicidade pode estar nos detalhes que ignoramos, na saúde do corpo,
no perfume das rosas, no formato engraçado das nuvens, na canção de
amor, no vídeo fofinho do Instagram, no olhar do outro.
Deixar se guiar é bom mas conduzir plenamente a própria vida pode
ser REVOLUCIONÁRIO

Intergalático
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Nosso amor é intergaláctico


Infinito, inexplorado
Cheio de vida como a terra e ao mesmo tempo inabitável como Marte
Nossos corpos celestes se atraem como o núcleo atômico
O movimento perfeito
E nossa vidas se encontram e desencontram
e mesmo viajando na velocidade da luz conseguimos contemplar as estrelas
Somos o brilho da Lua e o calor do Sol
Que de longe iluminam mas que de perto queimam a nossa pele.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

ZUMBILÂNDIA
Entorpecido, veia saltada olhos roxos e pupilas dilatadas,
na esquina nos bares os zumbis sem lares
passam na madrugada, quem são eles, não são nada?
Feche o olho, finja não ver, hoje é eles, amanhã é você!
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

O pedido

Quer causar comigo?


Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

O tempo do tempo

Nos momentos de sorte ou na hora da morte


Tudo tem seu tempo pra acontecer
Seja pra nascer ou pra morrer tudo tem uma hora
Até o choro do bebê e o último suspiro da senhora
Afinal quanto tempo o tempo tem até que ele acabe?
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Artista
Se eu fosse um pincel, te pintaria de amor
Cores vívidas, vivas e cheias de vida
Cores conhecidas e até as inexploradas
tons sobre tons e óleo sobre tela
Uma obra pra artista nenhum botar defeito.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Meritocracia
Se meritocracia realmente existisse, eu seria um poeta milionário.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Vacinas, pílulas, ervas, afeto e


tempo
Ardem, doem, sangram
Algumas passam, outras voltam
Dores invisíveis, feridas que não cicatrizam
Há quem diga não sentir dor, há quem apenas sinta
Há dores silenciosas que não podem ser diagnosticadas,
outras, expostas, mas que ninguém quer ver
Estamos todos doentes, quando não do corpo, do coração.
E cabe ao tempo nos curar.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Lágrimas
No canto da calçada um garoto chorava
Sozinho, suspirava e tremia
"Nada como um dia após o outro" a si mesmo repetia
Quem passasse e o visse, ria e zombava
Mal sabiam eles o bem que aquele choro lhe fazia.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

#KKKRY

Redes sociais, que pescam gente


Cardume de telas
Sorrisos atraentes
Vida boa, sem rumores
Fingindo humores
Horrores
que além dos "amores"
E dos seus seguidores
Que ignoram suas cores e ocultam suas dores
Para serem alguém, que nem te segue de volta.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

SOMA

Hoje, nós somos a soma de tudo o que já foi tirado de nós.


Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

EU, VOCÊ, NÓS E O MUNDO


Às vezes me pego pensando
Sobre Eu, você, nós e o mundo
Milhares de pensamentos atordoados em frações de segundos
E de tanto pensar e pensar eu esqueço de tudo
Esqueço de mim, de você, de nós e esqueço do mundo.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Assustado
O futuro assusta.
E com ele a certeza de que tudo pode acontecer,
inclusive nada.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

A viagem
A tua poesia me faz querer viajar
A mente vagando nesse mundão
E os pés fincados nesse mesmo lugar.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Força da natureza
Como a força selvagem da natureza teu amor invade.
Os galhos que cercam a propriedade abandonada,
expulsam os vestígios de civilização que ali havia.
Quebrando os vidros das janelas
Umedecendo o ar
Sob o chão e até o teto
Árvores entrelaçadas, num movimento só.
Fazendo frestas de luz, que iluminam toda a propriedade que já
não existe mais
Concreto e clorofila tornam-se um
Florescendo, florescente, verdejante
E aos poucos, o verde toma conta do lar/corpo abandonado.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Reprovado
Caneta anota a certa questão
Que certa ou não
Soluciona a nota
E eu todo dia questionado me ponho à prova mesmo sabendo que
certo ou não eu zero na tua avaliação.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Res(pirar)
A beleza singular que mesmo única,
Na cidade turbulenta e cinza nem é tão apreciada quanto no campo calmo de
vista resplandecente.
A pausa pra respirar
E a respiração pra pausar
Respiração é urgente e eficaz,
Neste mundo de loucura que pede muito e pede mais.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Chão de barro
Lágrimas que caem sob o chão seco
Encharcam e umedecem o solo tão hostil
Não serve pra regar nem pra florear
Apenas barro e solidão.

,
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

CULPA/MÉRITO

Eu me visto de culpa.
Por não ter o emprego dos sonhos.
Por não ser o filho perfeito.
Por não ter a família ideal e principalmente saber que nunca terei
uma.
Por não ter o celular do momento.
Por não ter ganho o carro de presente de formatura.
Ou até mesmo, por não conseguir pagar por uma formatura.
Por sair frustrado das reuniões de negócio.
Por não ser convidado pras festas influentes.
Por sair frustrado de cada entrevista de emprego, e por ver que
não tem ninguém igual a mim por lá.
E por falar em culpa, será que eu realmente sou culpado? Porque
modéstia a parte, nos últimos todos os anos da minha vida, tenho
me ocupado, estudado, me privado até de sonhar fora da caixa,
para apenas ter o mínimo do que me prometeram.
Eles disseram, sobre merecimento e sabe. Eu acreditei.
A minha culpa está no cabide, com um alvo no meio, e eu quero
trocar. Quem se habilita?
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Eu quero viver
Eu canto porque quero ser melodia
Eu grito porque quero ser ruído
Eu choro porque quero ser gotas salgadas
Eu rio porque quero ser gargalhada
Eu rebolo porque quero ser carnaval
E eu vivo porque quero viver.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Dualidade e dicotomia
Um dia de sol, pode ser tão frio quanto as sobras esquecidas na
geladeira.
Se engana quem acha que clareza não é sinônimo de escuridão, e
que o copo meio vazio e meio cheio, são tão um para o outro
quanto é a cura para a doença.
É sobre dualidade, dicotomia
Os opostos se atraem, tanto quanto traem? Eu te pergunto.
Os sinônimos, antônimos, equivalentes e contrários.
Confusos e entendíveis.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Bom dia, flor do dia


Deitado, pela manhã ouço a vida despertar,
assustadoramente vivaz,
encaro como um convite,
escancaro a janela e deixo o vento frio com o resquício da noite
mas aquecido pelo furor da manhã me abraçar lentamente e me
sinto conectado.
Não é sempre que me sinto assim, mas hoje, hoje serei dia, serei
tarde, serei noite. Dia calmo, claro reluzente, tarde quente e noite
adentro, só esperando por mais um despertar.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

Penso logo insisto


Penso logo insisto
insisto em pensar
nas dores e amores que perdi
e nas coisas que ainda vou encontrar
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

O iluminado
Iluminando é aquele que consegue enxergar mesmo através da
escuridão.
Diário de uma quarentena: Textos de Jefferson Rozeno

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