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Mostra de Práticas de Psicologia na Pandemia

Nome da autora: Camila Incau


Instituição de origem: SPDM afiliados
Título da Comunicação Oral: UM CORPO DE AFETO: OS INVESTIMENTOS
MULTIPROFISSIONAIS EM PACIENTES EM ESTADO GRAVE
Eixo 1: Prestação de serviços essenciais presencial.
Introdução
O referido trabalho é resultado das práticas integrativas desenvolvidas no
período de 3 meses em um Hospital público de grande porte localizado na cidade de São
Paulo. O público atendido eram usuários das mais variadas idades que utilizam o
Sistema Único de Saúde e que apresentaram agravos devido ao COVID.
À vista da vulnerabilidade da equipe e dos usuários internados, foram
desenvolvidas práticas que buscaram auxiliar nas questões emocionais que não eram
expressas. As atividades de meditação com a equipe visaram a diminuição da angustia e
da ansiedade fomentada pelas frequentes perdas dos pacientes internados. Trabalhou-se
os sentimentos de impotência e de frustração ocasionados pela situação. O que antes não
poderia emergir devido ao recalcamento dos mal estares foram surgindo lentamente.
A temida fragilidade tornou-se um tema que trouxe o corpo do trabalhador para
o real. As defesas primarias, defesas para as situações de desprazer, puderam tomar
outra via. Neste sentido, as práticas possibilitaram que os colaboradores acordaram o
corpo adormecido, fosse por estresse ou por medicações.
A observação do próprio corpo por meio da meditação guiada auxiliou na
denominação de incômodos corporais gerados pelas longas jornadas e a alta exigência
consigo mesmo. Observou-se o desenvolvimento de cuidados de si que estavam
ofuscados pelo momento de pandemia.
Com os pacientes internados, foram desenvolvidas práticas de investimentos
afetivos por meio de áudios e vídeos com os familiares. Mesmo nos pacientes
entubados, eram realizadas conversas diárias que tentavam dar voz as agitações
motoras. O corpo que antes recebia apenas os cuidados físicos começou a receber um
outro olhar. A equipe que antes tinha receio de investir afetivamente no corpo, começou
a informar os procedimentos que seriam realizados. O corpo deixou de ser um objeto
distante e passou a ter uma história, um contorno.
Freud (1915) aponta a importância do investimento em objetos externos e
quando há a perda desses objetos, que o luto seja o processo de retomada dos
investimentos projetados. Nesse sentido, os colaboradores ao investirem nos próprios
corpos puderam investir no externo, compreendendo que em algum momento aquele
afeto retornaria por meio da elaboração do luto da perda do paciente. O vazio tomou
sentido quando a dor poderia ser ressignificada nas meditações e nos encontros diários
em equipe.
Finalizo com a observação da importância da criação de espaços de fala e
reflexão, pois neles cada sujeito tem a possibilidade, dentro da sua singularidade, de
denominar os incômodos que atravessam o corpo em algum momento. Assim, a
vinculação do afeto com o corpo emergiu como nova forma de ser e estar no espaço
hospitalar.
Objetivo
Poder-se-á vislumbrar como objetivo principal deste trabalho o compartilhamento de
práticas humanizadas no ambiente hospitalar perante ao cenário de pandemia por causa
do novo corona vírus.
Metodologia
A escuta sensível e empática foi o método utilizado para o desenvolvimento do trabalho
multiprofissional. Além disso, a abordagem psicanalítica guiou a ética deste trabalho.
Considerações finais
A sensibilização da equipe para próprio corpo possibilitou um novo olhar ao corpo do
paciente internado em estado grave. Os profissionais puderam lidar, dentro do possível,
de forma mais real com a finitude e a impotência que nos perpassa em nossas práticas
diárias. Desta forma, a acolhida em equipe, com uma rede de afeto multiprofissional,
proporcionou que os afetos recalcados pudessem ser ressignificados no ambiente
hospital.

Referências
FREUD, S. [1914-1916] Luto e Melancolia. Ed. Standard brasileira das Obras
Psicológicas Completas de S. Freud. Vol. XIV. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

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