Você está na página 1de 2

1

Eu tive essa ideia para um livro outro dia. Mas não sei escrever um romance, ou qualquer
outra coisa. Deve ser pela falta de prática e estimulo da educação brasileira somado ao uso
excessivo de celular. Mas de qualquer forma, preciso ao menos descrever a ideia. Ela é boa. Na
minha cabeça ela é genial. Mas ela é boa.

A história é sobre essa mina, branca, classe média. Vida boa. Pai e mãe dentro de casa, férias
na praia todo ano etc. Ela está andando na rua, indo para casa, ouvindo uma música ruim
qualquer quando começa a ferver de raiva. Entenda, ela é muito gostosa, tem um bundão e
tudo mais, usa aquelas calças jeans apertadas, blusão descolado e vans preto. Tem lá seus 19
anos. Homem fica doido, sabe. Homem é nojento. Mas essa mina, que ainda não dei um nome
na verdade, passa por dois caras papeando de bobeira na rua, eles a olham de cima a baixo.
São dois velhos, feios que só.... Ela sente uma repulsa que sobe do estômago a boca em
questão de segundos. Ignora e segue em frente. Anda mais uns 100 metros e tem mais um
babaca no boteco fazendo a mesma coisa. Essa cena se repete umas mil vezes a sua vida
inteira (e de todas as mulheres brasileiras), até que na porta de casa, pelo reflexo da porta, ela
vê mais um infeliz olhando descaradamente sua bunda. Ela não se aguenta, aquele acumulo de
ódio guardado em seu peito explode e ela solta “tá olhando o que, babaca? ”. Pronto. O cara,
um quarentão bem metido a machão, usando óculos espelhado azul (no Brasil, só um
tremendo imbecil usa uns desses), volta e cospe na cara dela, a chama de vadia e vai embora
simplesmente porque o seu irmão mais velho abre a janela. Sabe se lá o que teria acontecido
se não fosse por... outro homem.

Depois disso, conta alguma cena dela fodida, chorando rios de dores no banheiro escondida,
ou qualquer merda dramática que adolescentes fazem e, em seguida, entra cenas de
flashbacks interessantes. Acontece que, essa mina tem uns parafusos a menos. Desde criança,
ela teve lá seus problemas. Nada lhe aconteceu. Nada de estupro, pai alcoólatra que a batia ou
qualquer merda que filmes costumam dizer de gente fodida. Não, essa mina nasceu fodida
mesmo. Exemplo disso é seu irmão perfeitamente normal. Tão normal que chega a ser
estranho, mas essa é outra história. Aqui, temos apenas uma mina que aos 8 matou um gato.
Aos 13 empurrou uma outra mina da escada, de propósito. Com 15 e sem muito amigos, fazia
lá suas loucuras escondidas. Ela era taxada de gênio na escola, tirava só notão. Mas todos a
achavam bem estranha, não era muito de papo furado e só sabia falar de livros que ninguém
nunca leu e histórias que ninguém nunca ouviu. Além de ter uma obsessão quase que irritante
em teorias conspiratórias. Sua beleza atraia ratos, mas sua personalidade os espantavam em
segundos. Não era de propósito, não escolhera essa vida e nem a solidão, muito menos os
problemas que viriam depois. Ela era assim, simplesmente. Se isso aqui fosse um desenho
japonês, eu diria que ela é aquela renegada que veio ao mundo para mudar o rumo da história
e salvar pessoas de uma forma extremamente contraditória e um tanto suspeita. De fato, ela é
o herói da minha história. Mas por algum motivo não consigo lhe dar um nome. Então a partir
de agora, vou referencia-la com letra maiúscula.

Depois eu enrolaria, diria umas duas páginas talvez, contando como a infância Dela foi
conturbada, por Ela ser completamente... psicopata, eu ousaria dizer. Ou algo assim. Sei lá. Eu
não sou nenhuma psicóloga, ou especialista em distúrbios da mente ou qualquer porra, mas a
Mina com certeza tinha algum.

O que é realmente importante aqui é isto: o pai da Mina era do exército, aposentado agora (se
psicopatia for hereditária está explicado). O cara tem tanta arma em casa que eu diria até que
ele tem ligação com tráfico. Mas é apenas uma impressão. O cara era tranquilo, sujeitinho de
bem. Zé, como é conhecido, também treinou muito bem os filhos. Uma espingarda na mão de
crianças é errado. A não ser que seja apenas um pai ensinando autodefesa, afinal, vivemos em
mundo muito complicado, cheio de orgias com focas, homens usando vestido e mulher
trabalhando. Uma loucura, ele diria. No intuito de proteger suas crias, principalmente após a
garotinha do papai vir ao mundo, artes marciais no lugar de balé e uma pistola no lugar de
uma bola de futebol eram sua metodologia educacional. Muito eficaz. Tirando isso, era um
bom pai, daqueles em que a criança não pode aumentar 1 grau a temperatura corporal que já
estava ele na fila do SUS todo preocupado. Sempre ia nos recitais de fim de ano e
apresentações escolares. Ajudava nos deveres de casa... paizão, sabe como é. E não, eu não
acredito que a Mina é do jeito que é por essas influências. Hoje em dia com esses videogames
cheios de violência, o que é um karatê afinal? Nada.

2.

Lá no topo do morro, tem um quarto e sala, com um banheiro e 7 pessoas morando. Uma
delas é Sara F. menina preta do cabelo black power. Vinte e três anos de dor e sofrimento.
Sangue nos ói e amô no coração. Desce todo dia 13km para pegar o ônibus que demora uma
eternidade só para chegar na faculdade de ciências humanas atrasada e tomar pau. Mas tudo
bem, a primeira de sua família a entrar na faculdade. Já é um puta marco. Trabalha desde cedo
no restaurante da tia. As vezes recebe, as vezes só ajuda. Mas tudo bem. O que traz felicidade
são as pequenas conquistas, coisa que não falta na vida de Sara.

Você também pode gostar