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do professor de Matemátic
Joã Pedro da Ponte
Educaç' e Matemitica no 31
3Âtrimestre de 1994
saberes experienciais e saberes teórico bem a existênci do conhecimento de incluindo (a) a anális de técnicaque
(relativos & sua disciplina de ensino, ao casos (isto éo conhecimento muito de- melhor permitam concretizar certos ob-
desenvolvimento da criança& aprendi- talhado de situaç'e concretas) e do jectivos, (b) a anáiisdas práticapeda-
zagem e & teoria social) "integrados pelo conhecimento estratégic(o conheci- gógicasem termos globais, e do seu va-
professorindividualem termos de valores mentoqueinformaatomadadedecis'es). lor em relaçÃaos objectivos propostos
e crençapessoaiseorientados paraasua Defende que estes diversos tipos de co- e (c) aanálisde carizmais fundamental,
situaçÃprática (p. 5). Este conheci- nhecimento nã podem ser ensinados debruçando-ssobre os valores e pro-
mento inclui assim a perceRãde die- nas instituiç'e de formaçãmas tê de @sitos essenciais da acçÃeducativa.
rentes estilos de aprendizagem, interes- resultar da elaboraçÃpessoal dos pró Nos dois primeiros casos, os objectivos
ses, necessidades, pontos fortes e pontos prios professores. informam a reflexãsem ser necessari-
fracos dos alunos e um repertóri de Apesar de referir uma componente amentepostosemcausa; no terceirocaso,
técnicade ensino e formas de gerir a estratégicdo conhecimento, Shulman eles são própri objecto de análise
sala de aula. Inclui tambéo conheci- dÃsobretudo atençÃao conhecimento Schon (1983) distingue diversas for-
mento da estrutura social da escola e o proposicional. Ora o saber profissional mas de reflexãoreferindo-seem especi-
que esta requer para a sobrevivênci e o dosprofessoresexprime-sesobretudo na al areflexão-na-acçãoeareflexão-so
sucesso, bem como o conhecimento da acçã em primeir'ssimo lugar na prátic a-acçãA reflexão-na-acçà um
comunidade em que a escola se insere e pedagógicamas també nas restantes processo de diálog com uma situaçÃ
o que ela rejeita ou à capaz de aceitar. actividades escolares e mesmo extra- problemáticaquexige umaintervençÃ
Apoiando-senoestudo em profundidade escolares em que està envolvido. Um concreta e que se processa duma forma
docasodumaprofessoradeinglêsElbaz outro autor, Donald Schon (1983). cha- fortemente intuitiva. Trata-se de uma
considera diversas componentes do co- ma a atençÃpara a importâncido es- anáiisesemocuidadoeodistanciament
nhecimento práticoincluindo o conhe- tudo deste tipo de conhecimento, o co- de um escrutÃ-nimais rigoroso e siste-
cimento de si mesma e do contexto de nhecimento-na-acçÃque contra* ao matizado mas com ariquezada captaçÃ
ensino, o conhecimentodo conteúdodo conhecimento formal e descontextuali- vivadosmúltiplosfactoresinterveniente
desenvolvimentocurricular e do ensino, zado que constitui o essencial do saber e com as vantagens da possibilidade de
propondo um interessante modelo que escolar. O conhecimento-na-acçÃà a intervençãoimediat ligandoelementos
estrutura esse mesmo conhecimentoem componente inteligente que orienta toda racionais e afectivos. Por outro lado, a
imagens, princÃ-pioe regras práticas a actividade humana, manifestando-se reflexão-sobre-a-ucçdesenvolve-se
A importâncide se dominar bem os no saber-fazer.Nesta perspectiva,h6 um num momento posterior &própriacçã
conteúdosquseensinaédesdh6muito conhecimentoem qualquer acçÃinteli- processando-se de forma mais formali-
reconhecida. A importânciduma for- gente, ainda que ele, frutodaexperiênci zada, com apoio da linguagem e por isso
maçÃpedagógic geral L uma preocu- e da reflexãanteriores, se tenha conso- com outra possibilidade de rigor. Tem
paç mais recente, mas tambéjÃcom lidado em rotinas ou em esquemas sern- lugar, muitas vezes, apartirdediscuss'es
significativa expressãem muitos pro- automhticos. Tem uma natureza intuiti- e trocas de experiênciaentre professo-
gramas de formaçã Cabe a um outro vae muitas vezes nãLfacilmenteexpli- respreocupadoscomproblemascomuns.
autor, Lee Shulman (1986). o méritde citávepelos seus detentores - o que Em qualquer caso, a reflexãparte
chamar a atençÃpara a importâncide toma a sua transmissãparticularmente sempre do confronto duma prátic com
um terceiro domÃ-niode algum modo a problemhtica -mas nãà por isso me- um quadro de referênci teórico que
meio caminho entre aqueles dois: o co- nos decisivo na prátic profissional. pode ser uma reapreciaçÃdos objecti-
nhecimento diaiÃ-ctic do conteúdo que vos inicialmentefixados ou umconfronto
apresenta como a capacidade de com- Reflexã com outras perspectivas e valores. Por
preensãprofunda das matériade en- isso à tã essencial a explicitaçÃde
sino, permitindo encontrar as maneiras A resoluçÃdos conflitos que cons- objectivos, propósito e intenç'e ine-
mais adequadas de as apresentar aos tantemente surgem na actividade de rentes, por exemplo, & prátic duma
alunos de modo a facilitar a aprendiza- qualquerprofessorpodeprocessar-sepor metodologia de projecto. E tambépor
gem.Esteconhecimentocompreendepor duas formas fundamentais: por acomo- isso 6 tã importante o contacto com
isso, nas suas palavras, "as formas mais daçÃou por reflexãoNo primeiro caso, múltipla fontes de informaçÃ- li-
útei de representaçÃdas ideias, as procura-se a soluçÃmais simples e vros, revistas, outros professores ou
analogias mais importantes, as ilustra- imediata para o conflito. No segundo mesmo parceiros exteriores ao sistema
çõe exemplos, explicaçijee demons- caso, procura-se vê-l de diversos ân educativo - que podem proporcionar
traç'esnuma palavra, a forma de repre- gulos, analisando-o & luz de uma ou contactosestimulantes,potenciadoresde
sentar e formular a matéripara a tomar vária perspectivas tLoricas, pesam-se novas perspectivas de análise
compreensÃ-vel(p. 9). Este autor nãse os próe os contras de diversas soluç'e A reflexãpermite uma progressiva
limita a estudar o conhecimento de na- e sÃentãse toma uma decisãoA refle- explicitaçÃ(econsequenteconsciencia-
tureza proposicional mas sublinha tam- xãpode desenvolver-se avárionÃ-veis lizaçã do conhecimento-na-acçã Ao
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mesmo tempo, conduz ?i identificaçà de a desenvolver. O desenvolvimento pro- da introduçÃde inovaçõno sistema
quadros teóricorelevantes para a anáii fissional 6 assim uma perspectiva em educativo. Uma inovaçÃbem sucedida
se de situaçõpráticasUm professor que se reconhece a necessidade de cres- traduz-se numa alteqãnos materiais
reflexivovive permanentementenumci- cimento e de aqnisiç'ediversas, pro- cumculares, prática educativas, con-
cio, da prátice da teoria ?i reflexãopara cesso em que se atribui ao própri pro- cepçõ e conhecimentodos professores
voltar de novo ?i teoria e ?i práticaA fessor o papel de sujeito fundamental. eporissoenvolvenecessariamentealgu-
teoria 6 fundamental para um a l q a - Diversos factores contribuiram para ma aprendizagem. O desenvolvimento
mento de perspectivas e para indicar aemergênciadestanovavisÃdo pmfes- das inovaçõ deve estar por isso ligado
Unhas condutoras da reflexãoA prátic sor como profissional em permanente a uma s6rie de componentes formais
permite o envolvimento activo do pró desenvolvimento. Em primeiro lugar, (quase sempre cursos práticose infor-
prio pmfessor, proporcionando uma ex- mudançacrescentes nas condiçõso- mais (trocas de experiênciasde desen-
periênciconcreta a partir da qual 6pos- ciais, arrastando mudançano sistema volvimento profissional. Numa segunda
sÃ-vereflectir. Areflexãestimula novos educativo (nos objectivos da educaçã fase, deixa-se de pensar apenas na intro-
interesses, chama a atençÃpara novas nos currÃ-culosnos alunos, no própri du@o desta ou aquela inovaçÃparticu-
quest'es e possibilita uma práticmais conceito de escola). Em segundo lugar, lar, passando-se a considerar o "profes-
segura, mais consciente e mais mudançanateoria educacional, pmpor- sor total" e a "escola total". Ou seja,
enriquecida (figura 1). cionando novas orientaçõ didácticae passa-se a dar atençÃespecial a aspec-
tos como o propósit do
professor, o professor
como pessoa, o contexto
real em que os professo-
res trabalham e a cultura
do ensino.
O desenvolvimento
profissional dos profes-
sores diz respeito aos di-
versos domÃ-nioonde se
exerce a sua acçã As-
sim, h6 a considerar a
pr6tica lectiva e as res-
tantes actividades pro-
fissionais, dentro e fora
da escola, incluindo a
colaboraçÃcom os co-
legas, projectos de esco-
Ia, actividades e pmjec-
Kg. 1
tos de âmbitodisciplina
A reflexãestabelecendouma ligago entre a prátic e a teoria
e interdisciplinar e parti-
cipaçÃem movimentos profissionais.
~esenvolvimentoProfissional novas perspectivas para fundamentar a Mas h6 igualmente que ter presente o
acçÃdo pmfessor. E, finalmente, mu- caráctefundamental do auto-conheci-
O professor esià longe de ser um dançana própri visã do papel do mentodoprofessor e dodesenvolvimen-
profissional acabado e amadurecido no professor, reconhecendo-se agoramuito to dos seus recursos e capacidades pró
momento em que recebe a sua babilita- melhor a complexidade e dificuldade da prias - ou seja, a dimensãdo desen-
çà profissional. Os conhecimentos e sua funçã volvimento do professor como pessoa.
competênciaadquiridos antes e durante Apesardeser umaideiarelativamente Odesenvolvimentopmfissionalpode
a sua formaçÃinicial sã manifesta- nova, o desenvolvimentoprofissionaldos seguir diversas esh-atégiasEm especial,
mente insuficientes para o exercÃ-cidas professores j6 tem alguma históriaAs- sobressai a via dos projectos profissio-
suas funçõ ao longo de toda a carreira. sim, por exemplo, Fullan e Hargreves nais, ao lado de outras actividades que
Por outro lado, o pmfessor nãpode ser (1992) distinguem dois penodos na in- envolvem uma atitude de procura pmfis-
visto como um mero receptáculde for- vestigaça neste domÃ-nidesde 1975. sional que remetem para uma práticde
maçÃ-pelo contráriodeve ser enca- Numa primeira fase, a que estes autores autoquestionamento-reconhecendo e
rado como um ser humano com chamam o perÃ-od"focado nas inova- experimentando materiais e recursos,
potencialidades e necessidades diversas, ções analisa-se arelaçÃentre o desen- estudando e investigando em tomo de
que importa descobrir, valorizar e ajudar volvimento dos professores e o sucesso saberes constituÃ-dosrelativos tanto a
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do exterior. Ele 6, ao mesmo tempo, um Conclusã diferentes tipos de modalidades de for-
lugar de produçÃde prática e um maçÃpossÃ-veissem nenhuma exclu-
lugar de produ@Ã- de conhecimentos No quadro de uma evoluçÃten- sãonem desvalorizaçã nomeadamen-
sobre essas pr6ticas. dencial do mundo do trabalho e da for- te das vertentes disciplinar e didáctica
As dimensõecolectiva e social do maçÃde adultos, tambéao nÃ-vedos O professor de Matemitica precisa,
estabelecimentode ensino fazem apelo a sistemas escolares o contexto de traba- sem dúvidade saber Matemátice co-
um conjunto de saberes profissionais lho, ou seja, o estabelecimento de ensi- nhecer o JoãoMas precisa, também de
muito mais amplo que os tradicionais no, surge como a unidade de referência conhecer, intervire interagirnocontexto
saberes disciplinares. Por outro lado, a na definiçà de polÃ-ticade formaçÃde social e organizacional em que o Joãe
construçÃde uma acçÃeducativa sin- professores. os outros aprendem. E essa a questão
gular e globalizada, ao nÃ-vede cada E neste quadro que ganha sentido e
estabelecimento, materializada num pertinênci o desenvolvimentode práti Referência
projecto educativo, induz novos tipos de cas de formaçÃcontÃ-nu"centrada na
priticas profissionais, que favorecem a escola". A possibilidade de articular ou CanárioR. (1993).O professore a produç2
construçãodaautonomiaprofission dos fazer coincidir um espaço-trabalhcom de inovaç'esColdguio Educagã e Soci-
atufe,4,pp. 97-121.
docentes e a sua progressiva libertaçà um espaço-formaçà que permite CanárioR. (1994).Centros de formaçÃdas
de tutelas, associadas ? sua
i vertente de perspectivar processos ecológico de associaç'ede escolas: que futuro?. In:
"funcionários" mudançaem que escolas e professores Amiguinho, A. e CanárioR., (Orgs.).Es-
O estabelecimentodeensino aparece mudam em simultâneo colas e mudançao papel dos centros de
assim estreitamente associado a dois A perspectivada formaçà "centrada formaçü Lisboa: Educa.
aspectos essenciais de uma redefiniçà na escola" corresponde h tentativa de Hirschh0rn.M. (1993).~'éredesenseignants
da profissãdocente: a especificidade construir situaçõde formaçÃ"por Paris: PUF.
Reich, R. (1993). O trabalho das naçüe
dos seus saberes e o seu grau de auto- medida", superandorelaçõ de exterio- Lisboa: Quetzal.
nomia. Este processo de construçà ridade, relativamente apessoasecontex-
identitári 6, no essencial um percurso tos. Deveserentendidacomoumaesira- Rui Canári
formativo. tégi com uma funçà estruturante dos Universidade de Lisboa