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O desenvolvimento profissional

do professor de Matemátic
Joã Pedro da Ponte

As escolas, sujeitas ao apertadocon- çõ com que se depara; Ãalguéque se


trolo do aparelho estatal, submetidas i move em circunstânciamuito comple-
concorrênci dos mass media e deba- xas e contradit6rias. que à preciso res-
tendo-se com graves carênciade meios peitar, valorizar e, sobretudo, que à pre-
humanos e materiais, vêem-s em gran- ciso conhecer melhor.
des dificuldades para enquadrar a cres- O professor desenvolve o seu traba-
cente diversidade dos alunos que tê de lho num ambiente cada vez mais agres-
acolher, burocratizam-se e desumani- sivo - Ã facilmente posto em causa
zam-se. As dificuldades de emprego re- pelos alunos, pelos pais, pelos colegas,
sultantes da recessãecon6mica fazem pelo Ministérie pela opiniãpúblic
aumentar acompetiçãadesmotivaçà em geral. Toma muitas decis'es no seu
entre os estudantes. Agrava-se o proble- dia-a-dia, algumas das quais por vezes
ma do insucesso escolar, particularmen- em momentos bem difÃ-ceisDebate-se
te grave na disciplina de Matemitica, com uma infinidade de tarefas e pa@is
Todos parecem concordar: o profes- - educador, matemitico, produtor de
sor tem de ser chamado a desempenhar o situaçõde aprendizagem, animador
papel de protagonista. Nã à possÃ-ve pedag-gico, dinamizador de projectos,
modificar a escola contra ele ou apesar investigador, etc. Tem de saber usar uma
dele. As reformas lançadacom pressu- variedade de recursos na concepçÃde
postos ingénuo acerca da forma de rea- situaçõde aprendizagem. Conduz e
gir dos professores - os principais procura aperfeiçoaa sua actividade de
agentes que, ao fim e ao cabo, sãcha- ensino. Tudo isto requer a mobilizaçÃ
O professor à hoje mados a@-Ias em pritica-nã condu- deum saberepressup'eaadopçãode
visto como um zem aos resultados pretendidos pelos
seus promotores. A recente reforma do
quadro de valores profissionais que,
muitas vezes, nem sequer sãreconbe-
elemento-chave do sistemaeducativo portuguêsbaseadana cidos como importantes pelos pr6prios
elaboraçà de um vasto "edifÃ-cijurÃ-di professores. A valorizaçÃdo professor
processo de co"e nãnaresponsabilizaçãod agen- como profissional passa assim pelo es-
tes no terreno à disso um exemplo bem tudo do conhecimentoque informa a sua
ensino-aprendizagem. significativo. acçÃpr6tica e da forma como este co-
Mas quem à afinal o professor? nhecimento se desenvolve ao longo da
Sem a sua Para alguns, ele à basicamente um sua carreira, estudo que à necessári
participaçÃtécnicocoafunçÃde transmitir infor-
maçÃe avaliar a sua aprendizagem -
fazer tendo em conta a disciplina que ele
ensina e as condiçõ concretas em que6
empenhada à utilizando para isso uma variedade de chamado a intervir nas escolas de hoje.
meios de ensino e de diagn6stico. Para
impossÃ-veimaginar outros, ele à um actor cujas crençae Conhecimento Profissional
concepçõdeterminam a forma como
qualquer desempenha as suas tarefas -nem sem- Umcontributomuitoimportantepara
pre de modo muito concordante com a o estudo do conhecimento profissional
transformaçà visãdos te6ricos da educaçà nem com dos professores surge com o trabalho de
significativa no a vontade das autoridades educativas. E,
para outros, o professor à umprofissio-
Freema Elbaz (1983). Para esta autora,
trata-se de conhecimento essencialmen-
sistema educativo. iml que procura dar respostas As situa- te prdtico que resulta da integraçÃde

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saberes experienciais e saberes teórico bem a existênci do conhecimento de incluindo (a) a anális de técnicaque
(relativos & sua disciplina de ensino, ao casos (isto éo conhecimento muito de- melhor permitam concretizar certos ob-
desenvolvimento da criança& aprendi- talhado de situaç'e concretas) e do jectivos, (b) a anáiisdas práticapeda-
zagem e & teoria social) "integrados pelo conhecimento estratégic(o conheci- gógicasem termos globais, e do seu va-
professorindividualem termos de valores mentoqueinformaatomadadedecis'es). lor em relaçÃaos objectivos propostos
e crençapessoaiseorientados paraasua Defende que estes diversos tipos de co- e (c) aanálisde carizmais fundamental,
situaçÃprática (p. 5). Este conheci- nhecimento nã podem ser ensinados debruçando-ssobre os valores e pro-
mento inclui assim a perceRãde die- nas instituiç'e de formaçãmas tê de @sitos essenciais da acçÃeducativa.
rentes estilos de aprendizagem, interes- resultar da elaboraçÃpessoal dos pró Nos dois primeiros casos, os objectivos
ses, necessidades, pontos fortes e pontos prios professores. informam a reflexãsem ser necessari-
fracos dos alunos e um repertóri de Apesar de referir uma componente amentepostosemcausa; no terceirocaso,
técnicade ensino e formas de gerir a estratégicdo conhecimento, Shulman eles são própri objecto de análise
sala de aula. Inclui tambéo conheci- dÃsobretudo atençÃao conhecimento Schon (1983) distingue diversas for-
mento da estrutura social da escola e o proposicional. Ora o saber profissional mas de reflexãoreferindo-seem especi-
que esta requer para a sobrevivênci e o dosprofessoresexprime-sesobretudo na al areflexão-na-acçãoeareflexão-so
sucesso, bem como o conhecimento da acçã em primeir'ssimo lugar na prátic a-acçãA reflexão-na-acçà um
comunidade em que a escola se insere e pedagógicamas també nas restantes processo de diálog com uma situaçÃ
o que ela rejeita ou à capaz de aceitar. actividades escolares e mesmo extra- problemáticaquexige umaintervençÃ
Apoiando-senoestudo em profundidade escolares em que està envolvido. Um concreta e que se processa duma forma
docasodumaprofessoradeinglêsElbaz outro autor, Donald Schon (1983). cha- fortemente intuitiva. Trata-se de uma
considera diversas componentes do co- ma a atençÃpara a importâncido es- anáiisesemocuidadoeodistanciament
nhecimento práticoincluindo o conhe- tudo deste tipo de conhecimento, o co- de um escrutÃ-nimais rigoroso e siste-
cimento de si mesma e do contexto de nhecimento-na-acçÃque contra* ao matizado mas com ariquezada captaçÃ
ensino, o conhecimentodo conteúdodo conhecimento formal e descontextuali- vivadosmúltiplosfactoresinterveniente
desenvolvimentocurricular e do ensino, zado que constitui o essencial do saber e com as vantagens da possibilidade de
propondo um interessante modelo que escolar. O conhecimento-na-acçÃà a intervençãoimediat ligandoelementos
estrutura esse mesmo conhecimentoem componente inteligente que orienta toda racionais e afectivos. Por outro lado, a
imagens, princÃ-pioe regras práticas a actividade humana, manifestando-se reflexão-sobre-a-ucçdesenvolve-se
A importâncide se dominar bem os no saber-fazer.Nesta perspectiva,h6 um num momento posterior &própriacçã
conteúdosquseensinaédesdh6muito conhecimentoem qualquer acçÃinteli- processando-se de forma mais formali-
reconhecida. A importânciduma for- gente, ainda que ele, frutodaexperiênci zada, com apoio da linguagem e por isso
maçÃpedagógic geral L uma preocu- e da reflexãanteriores, se tenha conso- com outra possibilidade de rigor. Tem
paç mais recente, mas tambéjÃcom lidado em rotinas ou em esquemas sern- lugar, muitas vezes, apartirdediscuss'es
significativa expressãem muitos pro- automhticos. Tem uma natureza intuiti- e trocas de experiênciaentre professo-
gramas de formaçã Cabe a um outro vae muitas vezes nãLfacilmenteexpli- respreocupadoscomproblemascomuns.
autor, Lee Shulman (1986). o méritde citávepelos seus detentores - o que Em qualquer caso, a reflexãparte
chamar a atençÃpara a importâncide toma a sua transmissãparticularmente sempre do confronto duma prátic com
um terceiro domÃ-niode algum modo a problemhtica -mas nãà por isso me- um quadro de referênci teórico que
meio caminho entre aqueles dois: o co- nos decisivo na prátic profissional. pode ser uma reapreciaçÃdos objecti-
nhecimento diaiÃ-ctic do conteúdo que vos inicialmentefixados ou umconfronto
apresenta como a capacidade de com- Reflexã com outras perspectivas e valores. Por
preensãprofunda das matériade en- isso à tã essencial a explicitaçÃde
sino, permitindo encontrar as maneiras A resoluçÃdos conflitos que cons- objectivos, propósito e intenç'e ine-
mais adequadas de as apresentar aos tantemente surgem na actividade de rentes, por exemplo, & prátic duma
alunos de modo a facilitar a aprendiza- qualquerprofessorpodeprocessar-sepor metodologia de projecto. E tambépor
gem.Esteconhecimentocompreendepor duas formas fundamentais: por acomo- isso 6 tã importante o contacto com
isso, nas suas palavras, "as formas mais daçÃou por reflexãoNo primeiro caso, múltipla fontes de informaçÃ- li-
útei de representaçÃdas ideias, as procura-se a soluçÃmais simples e vros, revistas, outros professores ou
analogias mais importantes, as ilustra- imediata para o conflito. No segundo mesmo parceiros exteriores ao sistema
çõe exemplos, explicaçijee demons- caso, procura-se vê-l de diversos ân educativo - que podem proporcionar
traç'esnuma palavra, a forma de repre- gulos, analisando-o & luz de uma ou contactosestimulantes,potenciadoresde
sentar e formular a matéripara a tomar vária perspectivas tLoricas, pesam-se novas perspectivas de análise
compreensÃ-vel(p. 9). Este autor nãse os próe os contras de diversas soluç'e A reflexãpermite uma progressiva
limita a estudar o conhecimento de na- e sÃentãse toma uma decisãoA refle- explicitaçÃ(econsequenteconsciencia-
tureza proposicional mas sublinha tam- xãpode desenvolver-se avárionÃ-veis lizaçã do conhecimento-na-acçã Ao

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mesmo tempo, conduz ?i identificaçà de a desenvolver. O desenvolvimento pro- da introduçÃde inovaçõno sistema
quadros teóricorelevantes para a anáii fissional 6 assim uma perspectiva em educativo. Uma inovaçÃbem sucedida
se de situaçõpráticasUm professor que se reconhece a necessidade de cres- traduz-se numa alteqãnos materiais
reflexivovive permanentementenumci- cimento e de aqnisiç'ediversas, pro- cumculares, prática educativas, con-
cio, da prátice da teoria ?i reflexãopara cesso em que se atribui ao própri pro- cepçõ e conhecimentodos professores
voltar de novo ?i teoria e ?i práticaA fessor o papel de sujeito fundamental. eporissoenvolvenecessariamentealgu-
teoria 6 fundamental para um a l q a - Diversos factores contribuiram para ma aprendizagem. O desenvolvimento
mento de perspectivas e para indicar aemergênciadestanovavisÃdo pmfes- das inovaçõ deve estar por isso ligado
Unhas condutoras da reflexãoA prátic sor como profissional em permanente a uma s6rie de componentes formais
permite o envolvimento activo do pró desenvolvimento. Em primeiro lugar, (quase sempre cursos práticose infor-
prio pmfessor, proporcionando uma ex- mudançacrescentes nas condiçõso- mais (trocas de experiênciasde desen-
periênciconcreta a partir da qual 6pos- ciais, arrastando mudançano sistema volvimento profissional. Numa segunda
sÃ-vereflectir. Areflexãestimula novos educativo (nos objectivos da educaçã fase, deixa-se de pensar apenas na intro-
interesses, chama a atençÃpara novas nos currÃ-culosnos alunos, no própri du@o desta ou aquela inovaçÃparticu-
quest'es e possibilita uma práticmais conceito de escola). Em segundo lugar, lar, passando-se a considerar o "profes-
segura, mais consciente e mais mudançanateoria educacional, pmpor- sor total" e a "escola total". Ou seja,
enriquecida (figura 1). cionando novas orientaçõ didácticae passa-se a dar atençÃespecial a aspec-
tos como o propósit do
professor, o professor
como pessoa, o contexto
real em que os professo-
res trabalham e a cultura
do ensino.
O desenvolvimento
profissional dos profes-
sores diz respeito aos di-
versos domÃ-nioonde se
exerce a sua acçã As-
sim, h6 a considerar a
pr6tica lectiva e as res-
tantes actividades pro-
fissionais, dentro e fora
da escola, incluindo a
colaboraçÃcom os co-
legas, projectos de esco-
Ia, actividades e pmjec-
Kg. 1
tos de âmbitodisciplina
A reflexãestabelecendouma ligago entre a prátic e a teoria
e interdisciplinar e parti-
cipaçÃem movimentos profissionais.
~esenvolvimentoProfissional novas perspectivas para fundamentar a Mas h6 igualmente que ter presente o
acçÃdo pmfessor. E, finalmente, mu- caráctefundamental do auto-conheci-
O professor esià longe de ser um dançana própri visã do papel do mentodoprofessor e dodesenvolvimen-
profissional acabado e amadurecido no professor, reconhecendo-se agoramuito to dos seus recursos e capacidades pró
momento em que recebe a sua babilita- melhor a complexidade e dificuldade da prias - ou seja, a dimensãdo desen-
çà profissional. Os conhecimentos e sua funçã volvimento do professor como pessoa.
competênciaadquiridos antes e durante Apesardeser umaideiarelativamente Odesenvolvimentopmfissionalpode
a sua formaçÃinicial sã manifesta- nova, o desenvolvimentoprofissionaldos seguir diversas esh-atégiasEm especial,
mente insuficientes para o exercÃ-cidas professores j6 tem alguma históriaAs- sobressai a via dos projectos profissio-
suas funçõ ao longo de toda a carreira. sim, por exemplo, Fullan e Hargreves nais, ao lado de outras actividades que
Por outro lado, o pmfessor nãpode ser (1992) distinguem dois penodos na in- envolvem uma atitude de procura pmfis-
visto como um mero receptáculde for- vestigaça neste domÃ-nidesde 1975. sional que remetem para uma práticde
maçÃ-pelo contráriodeve ser enca- Numa primeira fase, a que estes autores autoquestionamento-reconhecendo e
rado como um ser humano com chamam o perÃ-od"focado nas inova- experimentando materiais e recursos,
potencialidades e necessidades diversas, ções analisa-se arelaçÃentre o desen- estudando e investigando em tomo de
que importa descobrir, valorizar e ajudar volvimento dos professores e o sucesso saberes constituÃ-dosrelativos tanto a

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conteúdode ensinocomo aquest'es de imporlâncida didáctic mas de a levar tirar partido dos recursos disponÃ-veis
ordem pedagógica a contemplar de pleno direito as proble- incluindo os instrumentos tecnológicos
O desenvolvimento profissional de- máticados professores, como quest'es O professor de Matemátic à em certa
pende de diversas condiç'eque se refe- com umalógic própriadeixando de ver medida um especialista cumcular.
rem sobretudo ao própri sujeito, ao seu a pAtica profissional como mero terreno Em terceiro lugar,<surgea dinâmic
contexto institucional e aos recursos de aplicaçÃdos resultados e perspecti- das situaçõde aprendizagem, onde
disponÃ-veisincluindo recursos huma- vas elaboradas pelas teorias educativas. sobressai a comunicaçÃe o discurso na
nos e materiais (interiores e exteriores i sala de aula e toda a problemátic da
escola). BastarÃreferir, mais uma vez, o Didhctica e desenvolvimento avaliação-tan da aprendizagem como
papel determinante que cada professor profissional da sua própri actividade. O professor Ã
tem no seu própri desenvolvimento o agente directo da acçÃeducativa.
profissional e a importâncide se con- Neste contexto, qual o papel da di- A didáctic desempenha um papel
jugarem condiç'e institucionais e re- dáctic no desenvolvimento profis- fundamental como instrumento de ori-
cursos adequados para que este desen- sional? entaçãajudando a conceber as situa-
volvimento possaterlugaremcondiç'e A didáctic constitui uma áre ç'ede aprendizagem. Mas à tamMm o
favoráveis integradora transversal, articulando instrumentoprivilegiadodeanáliseiden-
A ideia do desenvolvimento profis- contributosda psicologia, da sociologia, tificando quest'es, sugerindo altemati-
sional conduz naturalmente a pensar de da epistemologia, do pensamento edu- vas.
modo completamente diferente toda a cacional, etc., mobilizando-os para a Os professores, como quaisquer ou-
problemáticda formaçã AtÃaqui esta reflexã sobre a prátic pedagógic do tros profissionais, tê os seus quadros
tem sido perspectivada em termos de própri professor. Ela pressup'e uma de referênci próprios construÃ-dode
cursos, de maior ou menor duraçã or- análisdos processos de construçÃdos forma a fundamentar e justificar de for-
ganizados em tomo de temas, de modo a saberes em cada áre curricular, discu- ma tanto quanto possÃ-veconsistente e
colmatar as numerosas "deficiências"d tindo a natureza das actividades de "econÓmica"a suaspráticasOcontacto
professor em conhecimentos relativos a aprendizagem, os processos de pensa- com outros quadros de referênci pro-
conteúdos a matériapedagógicasou mentoeas inter-relaç'esentreosdiverso porcionado por excurs'es pelos mais
de ordem puramente instrumental. h- intervenientes no acto educativo. diversos domÃ-niosproporcionaum maior
domina a lógic "escolar", em tudo se- Assim,adidácticalongedesereduzir lequedeescolhaseestimulaosurgimento
melhante i que vigora no sistema a um mero repositóri de métodoe de inquietaçõecriando as condiç'e
educativo formal. técnicade ensino, constitui o enqua- para, se for caso disso, uma mudançde
Doravante 6 necessáricriar disposi- dramento teóric fundamental emque se valores e concepç'eeducativas condu-
tivosecontextos-combasenas própria situam os quadros de referênciadacçà zindo a novas práticasCabe i didáctic
escolas mas com múltiplardcaç6e do professor. Toda a sua actuaçÃcom fornecer os instrumentos teórico e as
para o exterior -que levem o professor os alunos pressupõ uma perspectiva metodologias para orientar e sistemati-
a uma atitude consequente de investi- didhctica,explÃ-citaouimplÃ-citÉaparti zar todo este processo.
mentoprofissionalao longode todaasua dela que cada professor selecciona ob-
carreira. à a ele que cabe decidir quando jectivos, organiza actividades, formu- Conclusã
e comoquerestudardeterminadoassunto Ia critério de avaliaçãdetermina pro-
ouenvolver-senesteou naqueleprojecto. cedimentos de actuaçÃpara cada tipo A vida profissional do professor
Assim, aquestãnã6 a de proporcionar de circunstâncias move-se entre duas tens'es contraditóri
estes ou aqueles saberes formalizados O contributo do saber didácticpara as: (a) a do investimento profissional,
nem como promovera mudançadasuas o desenvolvimento profissional implica que toma iniciativa na procura de solu-
concepç'e e prática para um quadro desde logo a valorizaçÃda reflexã çõpara os problemas com que se de-
que lhes à totalmente alheio. Trata-se, sobre o que à fazer Matem4tica. o que fronta na prátic docente e (b) a da rei-
isso sim, de lhes estimular uma reflexã constitui o seu processo de criaçÃe vindicaçioque protesta por ter de exe-
sobreoseu posicionamento profissional, aplicaçã a sua relaçÃcom a realidade cutar decisõeem que nãfoi ouvido e
tomando uma nova postura de iniciativa extra-matemAtica. Todo o professor de reclama as condiç'e de trabalho e os
no equacionar e resolver os problemas Matemhtica épelo menos em parte, um recursos necessásio das autoridades
que se colocam no seu dia a dia docente. matemhtico. escolasesedacomunidadeondese insere.
O desenvolvimento profissional dos Em segundo lugar, ressalta a nature- A cultura profissional dos profes-
professores à uma questãque entrou na za das actividades de aprendizagem e a sores de Matemátic - em Portugal
ordem do dia -como se evidencia pela sua articulaçà com os objectivos para o como em muitos outros paÃ-se-tem
publicaçÃdas Normas Profissionais do ensino da disciplina. Todoo professor de muitos aspectos contraditóriosUm pro-
Professor de Matemdtica do NCTM Matemáticaum construtorde situaç'e fessor 6 simultaneamente um educador,
(199111994). Nãse trata de diminuir a deaprendizagem que conhece o modode (continua na pág 20)

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do exterior. Ele 6, ao mesmo tempo, um Conclusã diferentes tipos de modalidades de for-
lugar de produçÃde prática e um maçÃpossÃ-veissem nenhuma exclu-
lugar de produ@Ã- de conhecimentos No quadro de uma evoluçÃten- sãonem desvalorizaçã nomeadamen-
sobre essas pr6ticas. dencial do mundo do trabalho e da for- te das vertentes disciplinar e didáctica
As dimensõecolectiva e social do maçÃde adultos, tambéao nÃ-vedos O professor de Matemitica precisa,
estabelecimentode ensino fazem apelo a sistemas escolares o contexto de traba- sem dúvidade saber Matemátice co-
um conjunto de saberes profissionais lho, ou seja, o estabelecimento de ensi- nhecer o JoãoMas precisa, também de
muito mais amplo que os tradicionais no, surge como a unidade de referência conhecer, intervire interagirnocontexto
saberes disciplinares. Por outro lado, a na definiçà de polÃ-ticade formaçÃde social e organizacional em que o Joãe
construçÃde uma acçÃeducativa sin- professores. os outros aprendem. E essa a questão
gular e globalizada, ao nÃ-vede cada E neste quadro que ganha sentido e
estabelecimento, materializada num pertinênci o desenvolvimentode práti Referência
projecto educativo, induz novos tipos de cas de formaçÃcontÃ-nu"centrada na
priticas profissionais, que favorecem a escola". A possibilidade de articular ou CanárioR. (1993).O professore a produç2
construçãodaautonomiaprofission dos fazer coincidir um espaço-trabalhcom de inovaç'esColdguio Educagã e Soci-
atufe,4,pp. 97-121.
docentes e a sua progressiva libertaçà um espaço-formaçà que permite CanárioR. (1994).Centros de formaçÃdas
de tutelas, associadas ? sua
i vertente de perspectivar processos ecológico de associaç'ede escolas: que futuro?. In:
"funcionários" mudançaem que escolas e professores Amiguinho, A. e CanárioR., (Orgs.).Es-
O estabelecimentodeensino aparece mudam em simultâneo colas e mudançao papel dos centros de
assim estreitamente associado a dois A perspectivada formaçà "centrada formaçü Lisboa: Educa.
aspectos essenciais de uma redefiniçà na escola" corresponde h tentativa de Hirschh0rn.M. (1993).~'éredesenseignants
da profissãdocente: a especificidade construir situaçõde formaçÃ"por Paris: PUF.
Reich, R. (1993). O trabalho das naçüe
dos seus saberes e o seu grau de auto- medida", superandorelaçõ de exterio- Lisboa: Quetzal.
nomia. Este processo de construçà ridade, relativamente apessoasecontex-
identitári 6, no essencial um percurso tos. Deveserentendidacomoumaesira- Rui Canári
formativo. tégi com uma funçà estruturante dos Universidade de Lisboa

(continuacãda pág 12)


um matemátice um funcionáripúbli Qual a responsabilidade do grupo de conjunto com outros colegas. As condi-
co, sendo por vezes esta últim a sua Matemátic da escola na discussãdos çõestã por isso a amadurecer para
caracterÃ-sticmais marcante. A profis- problemas do insucesso na disciplina? que se entre numa nova era no que res-
sãadmite nãsÃpessoas com as mais E na definiçã concretizaçà de projec- peita ao perfil profissional do professor
diversas origens académicacomo pes- tos educativos? de Matemática
soas sem nenhuma preparaçÃeduca- Que critério se devem tomar em consi-
cional. Pior ainda, admite que se esteja deraçà na selecçà de um livro de texto? Referência
apenas de passagem ou se encare o ensi- Oque se esperadum delegadode grupo?
Elbaz. F. (1983). Teacher Thinktng: A Study
nocomo umaactividadea tempo parcial, Como pode cada professor formular o of Practical Knowledge. London: C m m
que se acumula com outras ocupaçõe seu própri projecto de desenvolvimento Helm.
Aceita-se que os professores provisório profissional? Fullan, M.,& Hargreves. A. (1992).Teacher
que sãchamados a suprir carênci de * Como pode articular esse seu projecto Development and Educational Change. In
profissionaisqualificados trabalhem sem com a vida da escola? M. Fullan, & A. Hargreves (Ed.), Teacher
um mÃ-nim de apoio e de supervisão Fruto do trabalho das instituiçõ de DevelopmentandEducational Change (pp.
Oeste modo, nã6 de estranhar a ine- formaçÃe, muito principalmente, da 1-9). London: The Falmer Press.
NCTM (199111994). Normas Profissionais
xistênci de valores profissionais bem actividade das associaç'eprofissionais para o Ensino da Matemdtica (TraduçÃ
demarcados. Sobre quest'es básica na -com destaque para a APM -, tem-se da APM). Lisboa: APM.
vida profissional obtêm-scomfrequên registado nos último anos uma signifi- Schon, D. A. (1983). The Reflective
cia respostas ambÃ-guae contraditórias cativa evoluçÃnas concepç'espriti- Practioner: How Professionals Think in
Que actuaçÃse espera dum professor cas, atitudese valoresprofissionais. Exis- Action. Aldershot Hants: Avebury.
perante um aluno desinteressado? te um interesse pela actualizaçÃpeda- Shulman. L. S. (1986). Those Who Un-
comos se deve envolver os pais na vida da gógic e reconhece-se a importãncida derstand: KnowledgeGrowthinTeaching.
Educational Researcher, 15 (2). 4-14.
escola? E no acompanhamento escolar formaçà contÃ-nuavaloriza-se apartici-
dos filhos? paçÃem projectos, as trocas de experi-
Que tipo de materiais se espera que o ênciasa disponibl'dade para a interven- JoãPedro da Ponte
professor produza para as suas aulas? çÃdentro da escola e para o trabalho Universidade de Lisboa

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