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The International Classification of

Headache Disorders – 3rd ed. (2018)


ICHD-3

CLASSIFICAÇÃO
INTERNACIONAL DAS
CEFALEIAS
3ª EDIÇÃO TRADUÇÃO
COMPLETA E
REVISADA

Comitê de Classificação das Cefaleias da


Sociedade Internacional de Cefaleia

Tradução da Sociedade Brasileira de Cefaleia


com autorização da Sociedade Internacional de Cefaleia

Fernando Kowacs (Coordenador)


Djacir Dantas Pereira de Macedo
Raimundo Pereira da Silva-Néto
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CLASSIFICAÇÃO
INTERNACIONAL
DAS CEFALEIAS
3ª EDIÇÃO
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The International Classification of
Headache Disorders – 3rd ed. (2018)
ICHD-3

CLASSIFICAÇÃO
INTERNACIONAL
DAS CEFALEIAS
3ª EDIÇÃO
Comitê de Classificação das Cefaleias da
Sociedade Internacional de Cefaleia

Tradução da Sociedade Brasileira de Cefaleia


com autorização da Sociedade Internacional de Cefaleia

Fernando Kowacs (Coordenador)


Djacir Dantas Pereira de Macedo
Raimundo Pereira da Silva-Néto

SÃO PAULO • 2019


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CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS:


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(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Classificação Internacional das Cefaleias / Comitê


de Classificação das Cefaleias da Sociedade
Internacional de Cefaleia ; Fernando Kowacs
(coordenador) ; tradução Fernando Kowacs, Djacir
Dantas Pereira de Macedo, Raimundo Pereira da
Silva-Néto. -- 3. ed. -- São Paulo : Omnifarma,
2018.

“Tradução da Sociedade Brasileira de Cefaleia


com autorização da Sociedade Internacional de
Cefaleia.”
Título original: The International Classification
of Headache Disorders.
Bibliografia.
ISBN 978-85-62477-70-6

1. Cefaléias - Diagnóstico 2. Cefaléias -


Tratamento I. Comitê de Classificação das Cefaleias
da Sociedade Internacional de Cefaleia. II. Kowacs,
Fernando.

CDD-616.8491
18-21116 NLM-WL 342

Índices para catálogo sistemático:

1. Cefaléias : Neurologia : Medicina   616.8491

Maria Alice Ferreira - Bibliotecária - CRB-8/7964


TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

Comitê de Classificação das Cefaleias da Sociedade Internacional de Cefaleia

Classificação Internacional das Cefaleias, 3ª edição

Direitos autorais Traduções

A 3ª edição da Classificação Internacional das Cefaleias A Sociedade Internacional de Cefaleia permite exclusiva-
pode ser reproduzida livremente para fins científicos, edu- mente traduções integrais ou parciais da ICHD-3 para os
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CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

Primeiro Comitê de Classificação das Cefaleias Membros dos grupos de trabalho da terceira
classificação das cefaleias
Jes Olesen, Dinamarca (Presidente)
André Bes, França (falecido) Grupo de trabalho em migrânea:
Robert Kunkel, EUA
James W. Lance, Austrália J. Olesen, Dinamarca (Presidente)
Giuseppe Nappi, Itália (jes.olesen@regionh.dk)
Volker Pfaffenrath, Alemanha H. Bolay, Turquia; A. Charles, EUA; S. Evers, Alemanha;
Frank Clifford Rose, Reino Unido (falecido) M. First, EUA; A. Hershey, EUA; M. Lantéri-Minet,
Bruce S. Schoenberg, EUA (falecido) França; R. Lipton, EUA; E.A. MacGregor, Reino Unido;
Dieter Soyka, Alemanha (falecido) H.W. Schytz, Dinamarca; T. Takeshima, Japão.
Peer Tfelt-Hansen, Dinamarca (Secretário)
K. Michael A. Welch, EUA Grupo de trabalho em cefaleia do tipo tensão:
Marcia Wilkinson, Reino Unido (falecida)
L Bendtsen, Dinamarca (Presidente)
(lars.bendtsen@regionh.dk)
Segundo Comitê de Classificação das Cefaleias S. Ashina, EUA; M.T. Goicochea, Argentina; K. Hirata,
Japão; K. Holroyd, EUA; C. Lampl, Áustria; R.B. Lipton,
Jes Olesen, Dinamarca (Presidente) EUA; D.D. Mitsikostas, Grécia; J. Schoenen, Bélgica.
Marie-Germaine Bousser, França
Hans-Christoph Diener, Alemanha Grupo de trabalho em cefaleias
David Dodick, EUA trigeminoautonômicas:
Michael First, EUA
Peter J. Goadsby, Reino Unido P. Goadsby, EUA (Presidente)
Hartmut Göbel, Alemanha (peter.goadsby@kcl.ac.uk)
Miguel J.A. Lainez, Espanha C. Boes, EUA; C. Bordini, Brasil; E. Cittadini, Reino
James W. Lance, Austrália Unido; A. Cohen, Reino Unido; M. Leone, Itália; A. May,
Richard B. Lipton, EUA Alemanha; L. Newman, EUA; J-W Park, Coréia do Sul;
Giuseppe Nappi, Itália T. Rozen, EUA; E. Waldenlind, Suécia.
Fumihiko Sakai, Japão
Jean Schoenen, Bélgica Grupo de trabalho em outras cefaleias primárias:
Stephen D. Silberstein, EUA
Timothy J. Steiner, Reino Unido (Secretário) S-J. Wang, Taiwan (Presidente)
(sjwang@vghtpe.gov.tw)
A. Ducros, França; S. Evers, Alemanha; J-L. Fuh, Taiwan;
Terceiro Comitê de Classificação das Cefaleias A. Ozge, Turquia; J.A. Pareja, Espanha; J. Pascual,
Espanha; M. Peres, Brasil; W. Young, EUA; S-Y. Yu, China.
Jes Olesen, Dinamarca (Presidente)
Lars Bendtsen, Dinamarca Grupo de trabalho em cefaleia atribuída a
David Dodick, EUA trauma ou a lesão cefálica e/ou cervical:
Anne Ducros, França
Stefan Evers, Alemanha T. Schwedt, EUA (Presidente)
Michael First, EUA (Schwedt.Todd@mayo.edu)
Peter J. Goadsby, EUA / Reino Unido I. Abu-Arafeh, Reino Unido; J. Gladstone, Canadá; R.
Andrew Hershey, EUA Jensen, Dinamarca; JMA Lainez, Espanha; D. Obelieniene,
Zaza Katsarava, Alemanha Lituânia; P Sandor, Suíça; A.I. Scher, EUA.
Morris Levin, EUA
Julio Pascual, Espanha Grupo de trabalho em cefaleia atribuída a transtorno
Michael B. Russell, Noruega vascular craniano e/ou cervical:
Todd Schwedt, EUA
Timothy J. Steiner, Reino Unido (Secretário) A. Ducros, França (Presidente)
Cristina Tassorelli, Itália (a-ducros@chu.aphp.fr)
Gisela M. Terwindt, Holanda M. Arnold, Suíça; M. Dichgans, Alemanha; E. Houdart,
Maurice Vincent, Brasil França; J. Ferro, Portugal; E. Leroux, Canadá; Y-S. Li,
Shuu-Jiun Wang, Taiwan China; A. Singhal, EUA; G. Tietjen, EUA.

6
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

Grupo de trabalho em cefaleia atribuída a transtorno Grupo de trabalho em cefaleia atribuída


intracraniano não vascular: a transtorno psiquiátrico:

D.W. Dodick, EUA (Presidente) M. Vincent, Brasil (Presidente)


(Dodick.David@mayo.edu) (maurice.vincent@me.com)
S. Evers, Alemanha; D. Friedman, EUA; E Leroux, J.I. Escobar, EUA; M. First, EUA; A.E. Lake III, EUA;
Canadá; B. Mokri, EUA; J. Pascual, Espanha; M. Peres, E. Loder, EUA; F. Radat, França.
Brasil; A. Purdy, Canadá; K. Ravishankar, Índia;
W. Schievink, EUA; R. Stark, Austrália; J Vander Grupo de trabalho em lesões dolorosas dos nervos
Pluym, EUA. cranianos e outras dores faciais:

Grupo de trabalho em cefaleia atribuída Z. Katsarava, Alemanha e T. Nurmikko, Reino Unido


ao uso de uma substância ou à sua supressão: (Co-presidentes)
(zaza.katsarava@uni-due.de)
M.B. Russell, Noruega (Presidente) R. Benoliel, Israel; Giorgio Cruccu, Itália; C. Sommer,
(m.b.russell@medisin.uio.no) Alemanha; R-D Treede, Alemanha.
L. Bendtsen, Dinamarca; J-L. Fuh, Taiwana; Z.
Katsarava, Alemanha; A.V. Krymchantowski, Brasil; M. Grupo de trabalho em transtornos
Leone, Itália; K. Ravishankar, Índia; H. Tugrul Atasoy, e critérios do Apêndice:
Turquia; N.J. Wiendels, Holanda.
GM Terwindt, Holanda (Presidente)
Grupo de trabalho em cefaleia atribuída a infecção: (G.M.Terwindt@lumc.nl)

C .Tassorelli, Itália (Presidente)


(cristina.tassorelli@mondino.it)
JR Berger, EUA; E. Marchioni, Itália; V. Osipova, Rússia;
K. Ravishankar, Índia; F. Sakai, Japão; L. Savi, Itália,
Agradecimentos
Grupo de trabalho em cefaleia atribuída a transtorno
da homeostase: O trabalho do Comitê de Classificação das Cefaleias da
Sociedade Internacional de Cefaleia é financiado exclusiva-
J Pascual, Espanha (Presidente) mente pela Sociedade Internacional de Cefaleia. Não houve
(juliopascualgomez@gmail.com) patrocínio comercial para a elaboração da Classificação
M. Bigal, Brasil; C. Bordini, Brasil; J. González Internacional das Cefaleias, 3ª edição.
Menacho, Espanha; F. Mainardi, Itália; A. Özge, Turquia;
J. Pereira-Monteiro, Portugal; M. Serrano-Dueñas, Reconhecemos com gratidão o apoio de Timothy Steiner,
Equador. primeiramente pelos seus esforços como secretário honorá-
rio do Comitê de Classificação e em segundo lugar por seu
Grupo de trabalho em cefaleia ou dor facial trabalho na edição e preparo deste manuscrito.
atribuída a transtorno do crânio, pescoço, olhos,
orelhas, nariz, seios paranasais, dentes, boca ou outra
estrutura facial ou cervical:

M. Levin, EUA (Presidente)


(Morris.Levin@ucsf.edu)
R. Cady, EUA; C. Fernandez de las Peñas, Espanha;
D. Friedman, EUA; V. Guidetti, Itália; J. Lance,
Austrália; P. Svensson, Dinamarca.

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CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

Sumário
Prefácio da tradução brasileira.............................................................................................................................................. 9
Prefácio................................................................................................................................................................................ 10
Como utilizar esta classificação.......................................................................................................................................... 11
Classificação........................................................................................................................................................................ 13

Parte Um: As Cefaleias Primárias

1. Migrânea........................................................................................................................................................................ 23
2. Cefaleia do tipo tensão.................................................................................................................................................. 38
3. Cefaleias trigeminoautonômicas.................................................................................................................................... 44
4. Outras cefaleias primárias............................................................................................................................................. 50

Parte Dois: As Cefaleias Secundárias

Introdução às cefaleias secundárias..................................................................................................................................... 62

5. Cefaleia atribuída a trauma ou lesão cefálica e/ou cervical........................................................................................... 64


6. Cefaleia atribuída a transtorno vascular craniano e/ou cervical.................................................................................... 72
7. Cefaleia atribuída a transtorno intracraniano não vascular.......................................................................................... 96
8. Cefaleia atribuída ao uso de substância ou à sua supressão........................................................................................ 110
9. Cefaleia atribuída a infecção....................................................................................................................................... 124
10. Cefaleia atribuída a transtorno da homeostase............................................................................................................ 133
11. Cefaleia ou dor facial atribuída a transtorno do crânio, pescoço, olhos, orelhas, nariz, seios paranasais,
dentes, boca ou outra estrutura facial ou cervical........................................................................................................ 143
12. Cefaleia atribuída a transtorno psiquiátrico................................................................................................................. 153

Parte Três: Neuropatias Cranianas Dolorosas, Outras Dores Faciais e Outras Cefaleias

13. Lesões dolorosas dos nervos cranianos e outras dores faciais..................................................................................... 158
14. Outras cefaleias............................................................................................................................................................ 176

Apêndice

Definição de termos................................................................................................................................................................ 199

8
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

Prefácio da tradução brasileira


Esta tradução é fruto do trabalho da comissão constituída celo Valente. Agradecemos também ao Prof. Eduardo Gross-
na Assembleia Geral da Sociedade Brasileira de Cefaleia mann, pela revisão preliminar da tradução do Capítulo 11, e
(SBCe), durante o XXXVIII Congresso Brasileiro de Cefa- ao Prof. Marcos Antonio Inacio de Oliveira Filho, pela revi-
leia. À época, tínhamos em mãos uma versão rudimentar da são preliminar da tradução dos Capítulos 5 e 6. Não pode-
tradução da  ICHD-3 beta, feita por um tradutor profissio- mos deixar de mencionar a confiança em nós depositada pela
nal, que, a partir de então, passou por uma revisão item a Diretoria e pelos membros da nossa SBCe, a qual esperamos
item executada pelos três membros da comissão. Em 2017, ter honrado com o nosso trabalho.
na iminência da publicação pela IHS da versão definitiva da
terceira edição, optamos, junto com a Diretoria da SBCe,
por atualizar o texto para que já fosse publicado não mais
como versão beta, mas como ICHD-3. Ao final do processo, Fernando Kowacs (Coordenador)
contamos com o serviço de revisão e editoração da equipe Djacir Dantas Pereira de Macedo
da Omnifarma, a quem agradecemos na pessoa do Sr. Mar- Raimundo Pereira da Silva-Néto

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CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

Prefácio publicadas, tornando a ICHD-3 disponível nos principais


idiomas e em outros também. Uma versão eletrônica da
Em nome do Comitê de Classificação da Sociedade Interna- ICHD-3 beta já foi desenvolvida sob a liderança do Pro-
cional de Cefaleia, orgulho-me em apresentar a terceira edi- fessor Hartmut Göbel e será atualizada para a ICHD-3. A
ção da Classificação Internacional das Cefaleias (ICHD-3). publicação de um livro com relatos de casos está planejada,
A presente edição segue a publicação da ICHD-3 beta por meio de uma parceria entre os Professores Morris Levin
em 2013. A ideia por trás da versão beta foi promover mais e Jes Olesen. Finalmente, os Professores Timothy Steiner e
testes de campo antes da apresentação da versão final da Jes Olesen farão um cruzamento de dados entre a ICHD-3 e
ICHD-3, e isso funcionou bem. Foram publicados excelentes o ICD-11, da OMS, assim que os códigos do ICD-11 torna-
testes de campo em migrânea com aura, cefaleia em salvas, rem-se disponíveis.
hipertensão intracraniana idiopática e neuralgia do trigêmeo, Qual é, portanto, o futuro da classificação das cefaleias?
entre outros. Foi, por exemplo, documentado que os critérios A classificação deve, por princípio, ser uma disciplina con-
do Apêndice para A1.2 Migrânea com aura eram superiores servadora. Quando alterações significativas são feitas em
aos critérios para 1.2 Migrânea com aura no corpo princi- uma classificação, todos os estudos que utilizaram tais partes
pal da ICHD-3 beta, distinguindo melhor esse transtorno dos da classificação que foram modificadas precisam ser revisa-
ataques isquêmicos transitórios. Testes de campo das novas dos. Estudos avaliando fármacos de acordo com os critérios
características associadas no critério C1 para 3.1 Cefaleia em diagnósticos prévios devem, por exemplo, ser repetidos se os
salvas, rubor facial e plenitude auricular, revelaram que eles critérios diagnósticos forem submetidos a grandes modifica-
não acrescentavam à discriminação diagnóstica. Consequen- ções, pois os pacientes classificados sob o novo diagnóstico
temente, esses sintomas estão incluídos somente no Apên- serão diferentes daqueles abrangidos pelo diagnóstico prévio.
dice da ICHD-3 e requerem mais estudos. Estes são exem- Espero que a testagem ativa de campo e a análise científica
plos do processo baseado em evidências da classificação das que foram feitos para a ICHD-3 continuem permitindo que
doenças que agora sustenta todas as modificações futuras na as mudanças futuras sejam totalmente baseadas em evidên-
Classificação Internacional das Cefaleias. cias. Seguindo a tradição, a ICHD-4 será publicada somente
Uma razão que contribuiu para a versão beta foi, con- dentro de 10 a 15 anos, mas diversos testes de campo serão
forme imaginávamos, que quando a ICHD-3 fosse publi- realizados neste ínterim. Os critérios diagnósticos ICHD-II
cada incluiria códigos da Classificação Internacional das modificados para 1.3 Migrânea crônica foram publicadas no
Doenças, 11º Revisão (ICD-11), da Organização Mundial de periódico Cephalalgia; o Comitê de Classificação endossou
Saúde (OMS). Esperávamos que a ICD-11 seria finalizada essas mudanças, pedindo para que seu uso fosse imediato
em 2016, mas, infelizmente, houve atrasos longos e inespe- mesmo que não estivessem integradas na Classificação
rados que fizeram com que os códigos finais ainda não este- Internacional das Cefaleias até que a ICHD-3 beta surgisse
jam disponíveis. Portanto, precisamos publicar a ICHD-3 anos mais tarde. Um futuro comitê de classificação de cefa-
sem a sua inclusão. leias deve, da mesma forma, ser capaz de endossar e apoiar
A ICHD-3 está publicada como a primeira edição da a adoção de critérios diagnósticos novos ou revisados antes
Cephalalgia em 2018, exatamente 30 anos após a primeira da publicação da ICHD-4 quando eles forem substanciados
edição da Classificação Internacional das Cefaleias, ICHD-I, por testes de campo satisfatórios publicados na Cephalalgia.
conforme chamada por nós atualmente. Essa primeira ver- A ICHD-I promoveu a classificação das cefaleias de uma
são foi baseada principalmente na opinião de especialistas das piores classificações de doenças neurológicas à melhor
mas, no entanto, provou ser, em grande parte, válida. A ICH- delas. Nós temos mantido este momentum por 30 anos, e
D-II, publicada em 2004, incluiu uma série de mudanças a superioridade da nossa classificação tornou-se evidente
motivadas em parte pelas novas evidências e em parte pelas recentemente, em Geneva, durante o trabalho do comitê na
opiniões revisadas dos especialistas. Novas evidências cien- seção neurológica do ICD-11. Nenhuma outra disciplina
tíficas desempenharam um papel relativamente maior nas dentro da neurologia possui uma classificação sistemática
mudanças feitas na versãa ICHD-3 beta e todas as altera- com critérios diagnósticos explícitos para cada entidade
ções posteriores incluídas na ICHD-3 são baseadas em tais patológica. Eu honestamente espero que essa tradição possa
evidências. Assim sendo, a classificação das cefaleias é no ser mantida no futuro e que a cefaleia possa continuar mos-
presente e será no futuro completamente impulsionada pela trando o caminho na classificação das doenças neurológicas.
pesquisa.
Uma longa jornada que começou em 2010 terminou
com a publicação da ICHD-3, mas o presente comitê ainda
tem muito a fazer nos próximos anos. A ICHD-3 beta foi Jes Olesen
traduzida em muitos idiomas e estas traduções precisam ser Presidente
atualizadas antes que a ICHD-3 possa ser publicada nestes Comitê de Classificação das Cefaleias
idiomas. Esperamos que muitas traduções adicionais sejam Sociedade Internacional de Cefaleia

10
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

Como utilizar esta classificação de outras características. O preenchimento dos critérios


diagnósticos para 1. Migrânea, 2. Cefaleia do tipo tensão
Este extenso documento não foi idealizado para ser deco- (CTT) ou 3. Cefaleias trigeminoautonômicas (CTAs), ou
rado. Mesmo membros do Comitê de Classificação são inca- qualquer um dos seus subtipos, sempre prevalece sobre
pazes de lembrar de todo o seu conteúdo. É um documento o preenchimento dos critérios para as categorias diagnós-
que deve ser consultado várias e várias vezes. Dessa forma, ticas prováveis de cada, as quais são descritas ao final
você logo irá aprender os critérios diagnósticos para 1.1 dos respectivos grupos. Em outras palavras, um paciente
Migrânea sem aura, 1.2 Migrânea com aura, os principais cuja cefaleia preencha os critérios tanto para 1.5 Prová-
tipos dos itens 2. Cefaleia do tipo tensão (CTT), 3.1 Cefaleia vel migrânea e 2.1 Cefaleia do tipo tensão episódica
em salvas e alguns outros. O restante será sempre algo a ser infrequente deve ser codificado de acordo com o último
consultado. Na prática clínica você não necessita da classi- tipo. Não obstante, deve ser sempre considerada a possi-
ficação para os casos óbvios de migrânea ou de cefaleia do bilidade de que algumas crises de cefaleia preencham um
tipo tensão, mas ela é útil quando o diagnóstico é incerto. conjunto de critérios enquanto que outras crises preen-
Na pesquisa, a classificação é indispensável: cada paciente chem outro conjunto. Nesses casos, existem dois diag-
incluído em um projeto de pesquisa, seja um ensaio com fár- nósticos e ambos devem ser dados e codificados.
macos, seja um estudo fisiopatológico ou bioquímico, deve 6. Para receber um diagnóstico particular de cefaleia o
preencher um conjunto consensual de critérios diagnósticos. paciente deve, em muitos casos, apresentar um número
mínimo de crises daquele (ou dias com aquele) tipo de
1. Esta classificação é hierárquica, e você deve decidir cefaleia. Esse número é especificado nos critérios diag-
o quão detalhado quer que seja o seu diagnóstico: isso nósticos do tipo, subtipo e subforma da cefaleia. Além
pode variar desde apenas o nível do primeiro dígito disso, a cefaleia deve preencher um número de outros
até o quinto. Primeiramente, tem-se uma noção sobre a requisitos descritos dentro dos critérios sob tópicos dis-
qual grupo o paciente pertence. Trata-se, por exemplo, tintos em forma de letras: A, B, C, etc. Alguns tópicos
de 1. Migrânea ou 2. Cefaleia do tipo tensão (CTT) ou na forma de letras são monotéticos; ou seja, expressam
3. Cefaleias trigeminoautonômicas? A seguir, obtêm-se um requisito único. Outros tópicos em forma de letras
informações que permitam um diagnóstico mais deta- são politéticos, requerendo, por exemplo, quaisquer duas
lhado. O detalhamento desejado depende da finalidade. dentre quatro características listadas.
Na prática clínica geral, apenas diagnósticos de primeiro 7. Para algumas cefaleias, um conjunto completo de crité-
ou de segundo dígitos são habitualmente empregados, rios diagnósticos só é proporcionado no nível do primeiro
enquanto que na prática especializada e nos centros de e do segundo dígitos. Critérios diagnósticos até o terceiro
cefaleia, um diagnóstico de quarto ou quinto dígito é ou quarto dígitos e, ocasionalmente, até o quinto dígito,
apropriado. demandam então, como critério A, o preenchimento dos
2. Para a maioria dos propósitos, os pacientes recebem um critérios para os níveis um e/ou dois e, no critério B e
diagnóstico de acordo com os fenótipos de cefaleia que subsequentes, especificam os demais critérios específicos
apresentam no momento ou que tenham apresentado no a ser preenchidos.
último ano. Em genética e em alguns outros usos, a ocor- 8. A frequência das crises das cefaleias primárias varia
rência em qualquer momento da vida é utilizada. amplamente, desde crises a cada um ou dois anos até
3. Cada distinto tipo, subtipo ou subforma de cefaleia que crises diárias. A gravidade das crises também varia. A
o paciente apresenta deve ser diagnosticado e codificado ICHD-3 habitualmente não oferece uma possibilidade de
separadamente. Por exemplo, um paciente gravemente codificar de acordo com a frequência ou a gravidade das
acometido pode receber, em um centro de cefaleia, três crises, mas recomenda que tanto frequência como gravi-
diagnósticos e códigos: 1.1 Migrânea sem aura, 1.2 dade sejam especificadas em texto livre.
Migrânea com aura e 8.2 Cefaleia por uso excessivo de 9. Cefaleia primária, secundária ou ambas? Quando uma
medicamentos (MOH/CEM). cefaleia nova ocorre pela primeira vez em estreita rela-
4. Quando um paciente recebe mais de um diagnóstico, ção temporal com outro transtorno que é reconhecido
esses devem ser listados de acordo com a importância como uma causa de cefaleia, ou preenche outros crité-
atribuída pelo paciente. rios de ocorrência como consequência de tal transtorno,
5. Quando um tipo de cefaleia, em um paciente em parti- a nova cefaleia é codificada como uma cefaleia secundá-
cular, preenche dois conjuntos de critérios diagnósticos, ria, atribuída ao transtorno causal. Isso permanece ver-
então todas as outras informações disponíveis devem ser dadeiro mesmo quando a cefaleia tem características de
utilizadas para decidir qual das alternativas é o diagnós- uma cefaleia primária (migrânea, cefaleia do tipo tensão,
tico correto ou mais provável. Isso pode incluir a história cefaleia em salvas ou uma das outras cefaleias trigemi-
longitudinal da cefaleia (como e quando a cefaleia come- noautonômicas). Quando uma cefaleia primária pré-exis-
çou?), a história familiar, o efeito dos medicamentos, a tente torna-se crônica em estreita relação temporal com
relação com o período menstrual, idade, sexo e uma gama outro transtorno que é reconhecido como uma causa de

11
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

cefaleia, tanto o diagnóstico primário como o secundá- são fornecidos. No entanto, em muitos capítulos como,
rio devem ser aplicados. Quando uma cefaleia primária por exemplo, em 9. Cefaleia atribuída a infecção, há um
pré-existente torna-se significativamente pior (habitual- número quase interminável de etiologias infecciosas pos-
mente significando um aumento em duas vezes ou mais síveis. Para evitar uma lista muito longa, apenas as mais
da frequência e/ou da gravidade) em estreita relação tem- importantes são mencionadas. No exemplo, as causas
poral com tal transtorno causador, tanto o diagnóstico da mais raras são alocadas no item 9.2.3 Cefaleia atribuída
cefaleia primária como o da secundária devem ser apli- a outra infecção sistêmica. O mesmo sistema é utilizado
cados, desde que haja boa evidência de que o transtorno nos outros capítulos sobre cefaleias secundárias.
possa causar cefaleia. 14. Os critérios diagnósticos para as cefaleias secundárias
10. O último critério para quase todas as cefaleias é “Não não mais exigem a remissão ou a melhora significativa
melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3”. do transtorno causal subjacente antes que o diagnóstico
Considerar outro diagnóstico possível (o diagnóstico da cefaleia possa ser feito. Os critérios diagnósticos da
diferencial) é uma parte rotineira do processo de diag- ICHD-3 já podem ser aplicados na apresentação ou tão
nóstico clínico. Quando uma cefaleia parece preencher logo o transtorno subjacente seja confirmado. O critério
os critérios de um determinado transtorno de cefaleia, A é a presença da cefaleia; o critério B é a presença do
esse último critério é um lembrete para sempre consi- transtorno causador; e o critério C é a evidência da rela-
derar outros diagnósticos que possam melhor explicar a ção de causalidade. Em condições agudas, uma estreita
cefaleia. relação temporal entre o início da cefaleia e o início do
Isso se aplica, especialmente, à avaliação de se uma cefa- suposto transtorno causador é frequentemente suficiente
leia é secundária ou primária, e pode também ser apli- para estabelecer a relação de causalidade, enquanto que
cado a transtornos causais alternativos: por exemplo, condições menos agudas habitualmente requerem maior
uma cefaleia ocorrendo em estreita relação temporal com evidência de causalidade. Em todos os casos, o último
um acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico agudo critério deve ser aplicado como controle: “Não melhor
pode ser consequência não do AVC, mas sim da sua explicada por outro diagnóstico da ICHD-3”.
causa (p.ex. dissecção). 15. Em algumas cefaleias secundárias, 5.2 Cefaleia persis-
11. Muitos pacientes com crises de cefaleia que preenchem tente atribuída a trauma cefálico sendo um bom exemplo,
um conjunto de critérios diagnósticos explícitos também a ocorrência de tipos ou subtipos de cefaleias persistentes
têm crises que, embora similares, não satisfazem bem é reconhecida; isto é, uma cefaleia causada inicialmente
os critérios. Isso pode ser resultado de tratamento, falta por outro transtorno não entra em remissão após esse
de habilidade para evocar os sintomas de forma precisa transtorno ter desaparecido. Em tais casos, o diagnóstico
ou outros fatores. Peça ao paciente para descrever uma muda do tipo agudo (p.ex. 5.1 Cefaleia aguda atribuída a
crise típica não-tratada ou tratada sem sucesso e verifique trauma cefálico) para o tipo persistente (5.2 Cefaleia per-
se houve um número suficiente dessas para estabelecer o sistente atribuída a trauma cefálico), depois de um inter-
diagnóstico. Posteriormente, inclua as crises menos típi- valo de tempo especificado (três meses nesse exemplo).
cas quando descrever a frequência das crises. A evidência de causalidade depende do preenchimento
12. Quando há suspeita de que um paciente possui mais de prévio dos critérios para diagnóstico do tipo agudo e da
um tipo ou subtipo de cefaleia, é altamente recomendado persistência da mesma cefaleia.
que ele ou ela preencha um diário diagnóstico de cefaleia, A maioria desses diagnósticos está no Apêndice por falta
no qual as características importantes de cada episódio de de evidências da sua existência. Eles não serão aplicadas
cefaleia sejam anotadas. Foi demonstrado que um diá- habitualmente, mas estão ali para estimular a pesquisa
rio desse tipo melhora a precisão do diagnóstico, assim sobre melhores critérios para causalidade.
como permite um julgamento mais preciso do consumo 16. O Apêndice é destinado à pesquisa. Ele ajuda os cientis-
de medicamentos. O diário auxilia no julgamento sobre tas clínicos a estudar entidades órfãs para posterior inclu-
a quantidade de dois ou mais diferentes tipos ou subti- são no (ou, em alguns casos, exclusão do) corpo principal
pos de cefaleias. Finalmente, o diário ensina o paciente da classificação. A maioria dos diagnósticos e critérios
a distinguir entre diferentes cefaleias: por exemplo, diagnósticos do Apêndice ou são novos ou são alterna-
entre migrânea sem aura e cefaleia tipo do tipo tensão tivas aos critérios do corpo da classificação. Alguns são
episódica. entidades antigas ainda não suficientemente validadas;
13. Em cada capítulo sobre as cefaleias secundárias, as cau- espera-se que essas sejam eliminadas na próxima revisão
sas mais conhecidas e mais bem estabelecidas são men- da ICHD se evidências não forem produzidas.
cionadas e os critérios para as cefaleias consequentes

12
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

Classificação
Codificação da ICHD-3 Diagnóstico

1. Migrânea
1.1 Migrânea sem aura
1.2 Migrânea com aura
1.2.1 Migrânea com aura típica
1.2.1.1 Aura típica com cefaleia
1.2.1.2 Aura típica sem cefaleia
1.2.2 Migrânea com aura do tronco cerebral
1.2.3 Migrânea hemiplégica
1.2.3.1 Migrânea hemiplégica familiar (FHM)
1.2.3.1.1 Migrânea hemiplégica familiar tipo 1 (FHM1)
1.2.3.1.2 Migrânea hemiplégica familiar tipo 2 (FHM2)
1.2.3.1.3 Migrânea hemiplégica familiar tipo 3 (FHM3)
1.2.3.1.4 Migrânea hemiplégica familiar, outros loci
1.2.3.2 Migrânea hemiplégica esporádica (SHM)
1.2.4 Migrânea retiniana
1.3 Migrânea crônica
1.4 Complicações da migrânea
1.4.1 Estado migranoso
1.4.2 Aura persistente sem infarto
1.4.3 Infarto migranoso
1.4.4 Crise epiléptica desencadeada por aura migranosa
1.5 Provável migrânea
1.5.1 Provável migrânea sem aura
1.5.2 Provável migrânea com aura
1.6 Síndromes episódicas que podem estar associadas à migrânea
1.6.1 Distúrbio gastrointestinal recorrente
1.6.1.1 Síndrome dos vômitos cíclicos
1.6.1.2 Migrânea abdominal
1.6.2 Vertigem paroxística benigna
1.6.3 Torcicolo paroxístico benigno

2. Cefaleia do tipo tensão (CTT)


2.1 Cefaleia do tipo tensão episódica infrequente
2.1.1 Cefaleia do tipo tensão episódica infrequente associada a dolorimento pericraniano
2.1.2 Cefaleia do tipo tensão episódica infrequente não associada a dolorimento pericraniano
2.2 Cefaleia do tipo tensão episódica frequente
2.2.1 Cefaleia do tipo tensão episódica frequente associada a dolorimento pericraniano
2.2.2 Cefaleia do tipo tensão episódica frequente não associada a dolorimento pericraniano
2.3 Cefaleia do tipo tensão crônica
2.3.1 Cefaleia do tipo tensão crônica associada a dolorimento pericraniano
2.3.2 Cefaleia do tipo tensão crônica não associada a dolorimento pericraniano
2.4 Provável cefaleia do tipo tensão
2.4.1 Provável cefaleia do tipo tensão episódica infrequente
2.4.2 Provável cefaleia do tipo tensão episódica frequente
2.4.3 Provável cefaleia do tipo tensão crônica

3. Cefaleias trigeminoautonômicas (CTAs)


3.1 Cefaleia em salvas
3.1.1 Cefaleia em salvas episódica
3.1.2 Cefaleia em salvas crônica
3.2 Hemicrania paroxística

13
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

3.2.1 Hemicrania paroxística episódica


3.2.2 Hemicrania paroxística crônica (HPC)
3.3 Crises de cefaleia neuralgiforme unilateral breve
3.3.1 Crises de cefaleia neuralgiforme unilateral breve com hiperemia conjuntival e lacrimejamento
(SUNCT)
3.3.1.1 SUNCT episódica
3.3.1.2 SUNCT crônica
3.3.2 Crises de cefaleia neuralgiforme unilateral breve com sintomas autonômicos cranianos
(SUNA)
3.3.2.1 SUNA episódica
3.3.2.2 SUNA crônica
3.4 Hemicrania contínua
3.4.1 Hemicrania contínua, subtipo remitente
3.4.2 Hemicrania contínua, subtipo não remitente
3.5 Provável cefaleia trigeminoautonômica
3.5.1 Provável cefaleia em salvas
3.5.2 Provável hemicrania paroxística
3.5.3 Prováveis crises de cefaleia neuralgiforme unilateral breve
3.5.4 Provável hemicrania contínua

4. Outras cefaleias primárias


4.1 Cefaleia primária da tosse
4.1.1 Provável cefaleia primária da tosse
4.2 Cefaleia primária do exercício
4.2.1 Provável cefaleia primária do exercício
4.3 Cefaleia primária associada à atividade sexual
4.3.1 Provável cefaleia primária associada à atividade sexual
4.4 Cefaleia primária em trovoada
4.5 Cefaleia por estímulo frio
4.5.1 Cefaleia atribuída à aplicação externa de estímulo frio
4.5.2 Cefaleia atribuída à ingestão ou inalação de estímulo frio
4.5.3 Provável cefaleia por estímulo frio
4.5.3.1 Cefaleia provavelmente atribuída à aplicação externa de estímulo frio
4.5.3.2 Cefaleia provavelmente atribuída à ingestão ou inalação de estímulo frio
4.6 Cefaleia por pressão externa
4.6.1 Cefaleia por compressão externa
4.6.2 Cefaleia por tração externa
4.6.3 Provável cefaleia por pressão externa
4.6.3.1 Provável cefaleia por compressão externa
4.6.3.2 Provável cefaleia por tração externa
4.7 Cefaleia primária em facada
4.7.1 Provável cefaleia primária em facada
4.8 Cefaleia numular
4.8.1 Provável cefaleia numular
4.9 Cefaleia hípnica
4.9.1 Provável cefaleia hípnica
4.10 Cefaleia persistente e diária desde o início (CPDI)
4.10.1 Provável cefaleia persistente e diária desde o início

5. Cefaleia atribuída a trauma ou lesão cefálica e/ou cervical


5.1 Cefaleia aguda atribuída a lesão cefálica traumática
5.1.1 Cefaleia aguda atribuída a lesão cefálica traumática moderada ou grave
5.1.2 Cefaleia aguda atribuída a lesão cefálica traumática leve
5.2 Cefaleia persistente atribuída a lesão cefálica traumática
5.2.1 Cefaleia persistente atribuída a lesão cefálica traumática moderada ou grave

14
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

5.2.2 Cefaleia persistente atribuída a lesão cefálica traumática leve


5.3 Cefaleia aguda atribuída a lesão em chicotada
5.4 Cefaleia persistente atribuída a lesão em chicotada
5.5 Cefaleia aguda atribuída a craniotomia
5.6 Cefaleia persistente atribuída a craniotomia

6. Cefaleia atribuída a transtorno vascular craniano e/ou cervical


6.1 Cefaleia atribuída a evento isquêmico cerebral
6.1.1 Cefaleia atribuída a acidente vascular cerebral isquêmico (infarto cerebral)
6.1.1.1 Cefaleia aguda atribuída a acidente vascular cerebral isquêmico (infarto cerebral)
6.1.1.2 Cefaleia persistente atribuída a acidente vascular cerebral isquêmico prévio (infarto cerebral)
6.1.2 Cefaleia atribuída a ataque isquêmico transitório (AIT)
6.2 Cefaleia atribuída a hemorragia intracraniana não traumática
6.2.1 Cefaleia aguda atribuída a hemorragia intracerebral não traumática
6.2.2 Cefaleia aguda atribuída a hemorragia subaracnóidea (HSA) não traumática
6.2.3 Cefaleia aguda atribuída a hemorragia subdural aguda (HSDA) não traumática
6.2.4 Cefaleia persistente atribuída a hemorragia intracraniana não traumática prévia
6.2.4.1 Cefaleia persistente atribuída a hemorragia intracerebral não traumática prévia
6.2.4.2 Cefaleia persistente atribuída a hemorragia subaracnóidea não traumática prévia
6.2.4.3 Cefaleia persistente atribuída a hemorragia subdural aguda não traumática prévia
6.3 Cefaleia atribuída a malformação vascular não rota
6.3.1 Cefaleia atribuída a aneurisma sacular não roto
6.3.2 Cefaleia atribuída a malformação arteriovenosa (MAV)
6.3.3 Cefaleia atribuída a fístula arteriovenosa dural
6.3.4 Cefaleia atribuída a angioma cavernoso
6.3.5 Cefaleia atribuída a angiomatose encefalotrigeminal ou leptomeníngea (síndrome de Sturge
Weber)
6.4 Cefaleia atribuída a arterite
6.4.1 Cefaleia atribuída a arterite de células gigantes (ACG)
6.4.2 Cefaleia atribuída a angiite primária do sistema nervoso central (PACNS)
6.4.3 Cefaleia atribuída a angiite secundária do sistema nervoso central (SACNS)
6.5 Cefaleia atribuída a transtorno da artéria carótida cervical ou da artéria vertebral
6.5.1 Cefaleia ou dor facial ou cervical atribuída a dissecção da artéria carótida cervical ou da artéria
vertebral
6.5.1.1 Cefaleia ou dor facial ou cervical aguda atribuída a dissecção da artéria carótida cervical ou da
artéria vertebral
6.5.1.2 Cefaleia ou dor facial ou cervical persistente atribuída a dissecção prévia da artéria carótida
cervical ou da artéria vertebral
6.5.2 Cefaleia pós-endarterectomia
6.5.3 Cefaleia atribuída a angioplastia ou a implante de stent carotídeo ou vertebral
6.6 Cefaleia atribuída a transtorno venoso craniano
6.6.1 Cefaleia atribuída a trombose venosa cerebral (TVC)
6.6.2 Cefaleia atribuída a implante de stent em seio venoso craniano
6.7 Cefaleia atribuída a outro transtorno arterial intracraniano agudo
6.7.1 Cefaleia atribuída a um procedimento endarterial intracraniano
6.7.2 Cefaleia da angiografia
6.7.3 Cefaleia atribuída à síndrome da vasoconstrição cerebral reversível (SVCR)
6.7.3.1 Cefaleia aguda atribuída à síndrome da vasoconstrição cerebral reversível (SVCR)
6.7.3.2 Cefaleia aguda provavelmente atribuída à síndrome da vasoconstrição cerebral reversível
(SVCR)
6.7.3.3 Cefaleia persistente atribuída à síndrome da vasoconstrição cerebral reversível (SVCR) prévia
6.7.4 Cefaleia atribuída a dissecção arterial intracraniana
6.8 Cefaleia e/ou aura migrânea-símile atribuída a vasculopatia intracraniana crônica
6.8.1 Cefaleia atribuída a Arteriopatia Cerebral Autossômica Dominante com Infartos Subcorticais e
Leucoencefalopatia (CADASIL)

15
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

6.8.2 Cefaleia atribuída a encefalopatia mitocondrial, acidose lática e episódios AVC-símiles


(MELAS)
6.8.3 Cefaleia atribuída a angiopatia do tipo Moyamoya
6.8.4 Aura migrânea-símile atribuída a angiopatia amiloide cerebral
6.8.5 Cefaleia atribuída à síndrome da vasculopatia retiniana com leucoencefalopatia cerebral e
manifestações sistêmicas (RVCLSM)
6.8.6 Cefaleia atribuída a outra vasculopatia intracraniana crônica
6.9 Cefaleia atribuída a apoplexia pituitária

7. Cefaleia atribuída a transtorno intracraniano não vascular


7.1 Cefaleia atribuída a hipertensão liquórica
7.1.1 Cefaleia atribuída a hipertensão intracraniana idiopática (HII)
7.1.2 Cefaleia atribuída a hipertensão intracraniana secundária a causas metabólicas, tóxicas ou
hormonais
7.1.3 Cefaleia atribuída a hipertensão intracraniana secundária a transtorno cromossômico
7.1.4 Cefaleia atribuída a hipertensão intracraniana secundária a hidrocefalia
7.2 Cefaleia atribuída a hipotensão liquórica
7.2.1 Cefaleia pós-punção dural
7.2.2 Cefaleia por fístula liquórica
7.2.3 Cefaleia atribuída a hipotensão intracraniana espontânea
7.3 Cefaleia atribuída a doença intracraniana inflamatória não infecciosa
7.3.1 Cefaleia atribuída a neurossarcoidose
7.3.2 Cefaleia atribuída a meningite asséptica (não infecciosa)
7.3.3 Cefaleia atribuída a outra doença intracraniana inflamatória não infecciosa
7.3.4 Cefaleia atribuída a hipofisite linfocítica
7.3.5 Síndrome da cefaleia e déficits neurológicos transitórios com linfocitose do líquido
cefalorraquidiano (HaNDL)
7.4 Cefaleia atribuída a neoplasia intracraniana
7.4.1 Cefaleia atribuída a neoplasma intracraniano
7.4.1.1 Cefaleia atribuída a cisto coloide do terceiro ventrículo
7.4.2 Cefaleia atribuída a meningite carcinomatosa
7.4.3 Cefaleia atribuída a hiper ou hipossecreção hipotalâmica ou hipofisária
7.5 Cefaleia atribuída a injeção intratecal
7.6 Cefaleia atribuída a crise epiléptica
7.6.1 Cefaleia epiléptica ictal
7.6.2 Cefaleia pós-ictal
7.7 Cefaleia atribuída a malformação de Chiari tipo I (CM1)
7.8 Cefaleia atribuída a outro transtorno intracraniano não vascular

8. Cefaleia atribuída a uma substância ou à sua supressão


8.1 Cefaleia atribuída ao uso de ou à exposição a uma substância
8.1.1 Cefaleia induzida por doador de óxido nítrico (NO)
8.1.1.1 Cefaleia imediata induzida por doador de NO
8.1.1.2 Cefaleia tardia induzida por doador de NO
8.1.2 Cefaleia induzida por inibidor da fosfodiesterase
8.1.3 Cefaleia induzida por monóxido de carbono (CO)
8.1.4 Cefaleia induzida por álcool
8.1.4.1 Cefaleia imediata induzida por álcool
8.1.4.2 Cefaleia tardia induzida por álcool
8.1.5 Cefaleia induzida por cocaína
8.1.6 Cefaleia induzida por histamina
8.1.6.1 Cefaleia imediata induzida por histamina
8.1.6.2 Cefaleia tardia induzida por histamina
8.1.7 Cefaleia induzida por peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP)
8.1.7.1 Cefaleia imediata induzida por CGRP

16
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

8.1.7.2 Cefaleia tardia induzida por CGRP


8.1.8 Cefaleia atribuída a agente pressórico agudo exógeno
8.1.9 Cefaleia atribuída ao emprego ocasional de medicamento não utilizado para cefaleia
8.1.10 Cefaleia atribuída ao emprego prolongado de medicamento não utilizado para cefaleia
8.1.11 Cefaleia atribuída ao uso de ou à exposição a outra substância
8.2 Cefaleia por uso excessivo de medicamentos (MOH/CEM)
8.2.1 Cefaleia por uso excessivo de ergotamina
8.2.2 Cefaleia por uso excessivo de triptana
8.2.3 Cefaleia por uso excessivo de analgésico não opioide
8.2.3.1 Cefaleia por uso excessivo de paracetamol (acetaminofeno)
8.2.3.2 Cefaleia por uso excessivo de anti-inflamatório não esteroidal (AINE)
8.2.3.2.1 Cefaleia por uso excessivo de ácido acetilsalicílico
8.2.3.3 Cefaleia por uso excessivo de outro analgésico não opioide
8.2.4 Cefaleia por uso excessivo de opioide
8.2.5 Cefaleia por uso excessivo de combinação de analgésicos
8.2.6 Cefaleia por uso excessivo de medicamentos atribuída a múltiplas classes de medicamentos não
individualmente utilizadas em excesso
8.2.7 Cefaleia por uso excessivo de medicamentos atribuída ao uso excessivo não especificado ou não
verificado de múltiplas classes de fármacos
8.2.8 Cefaleia por uso excessivo de medicamentos atribuída a outro medicamento
8.3 Cefaleia atribuída a supressão de uma substância
8.3.1 Cefaleia por supressão de cafeína
8.3.2 Cefaleia por supressão de opioide
8.3.3 Cefaleia por supressão de estrogênio
8.3.4 Cefaleia atribuída à supressão do uso crônico de outra substância

9. Cefaleia atribuída a infecção


9.1 Cefaleia atribuída a infecção intracraniana
9.1.1 Cefaleia atribuída a meningite ou meningoencefalite bacterianas
9.1.1.1 Cefaleia aguda atribuída a meningite ou meningoencefalite bacterianas
9.1.1.2 Cefaleia crônica atribuída a meningite ou meningoencefalite bacterianas
9.1.1.3 Cefaleia persistente atribuída a meningite ou meningoencefalite bacterianas prévias
9.1.2 Cefaleia atribuída a meningite ou encefalite virais
9.1.2.1 Cefaleia atribuída a meningite viral
9.1.2.2 Cefaleia atribuída a encefalite viral
9.1.3 Cefaleia atribuída a infecção intracraniana fúngica ou outra infecção parasitária
9.1.3.1 Cefaleia aguda atribuída a infecção intracraniana fúngica ou outra infecção parasitária
9.1.3.2 Cefaleia crônica atribuída a infecção intracraniana fúngica ou outra infecção parasitária
9.1.4 Cefaleia atribuída a infecção cerebral localizada
9.2 Cefaleia atribuída a infecção sistêmica
9.2.1 Cefaleia atribuída a infecção bacteriana sistêmica
9.2.1.1 Cefaleia aguda atribuída a infecção bacteriana sistêmica
9.2.1.2 Cefaleia crônica atribuída a infecção bacteriana sistêmica
9.2.2 Cefaleia atribuída a infecção viral sistêmica
9.2.2.1 Cefaleia aguda atribuída a infecção viral sistêmica
9.2.2.2 Cefaleia crônica atribuída a infecção viral sistêmica
9.2.3 Cefaleia atribuída a outra infecção sistêmica
9.2.3.1 Cefaleia aguda atribuída a outra infecção sistêmica
9.2.3.2 Cefaleia crônica atribuída a outra infecção sistêmica

10 Cefaleia atribuída a transtorno da homeostase


10.1 Cefaleia atribuída a hipóxia e/ou hipercapnia
10.1.1 Cefaleia da altitude elevada
10.1.2 Cefaleia atribuída a viagem de avião
10.1.3 Cefaleia do mergulho

17
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

10.1.4 Cefaleia da apneia do sono


10.2 Cefaleia da diálise
10.3 Cefaleia atribuída a hipertensão arterial
10.3.1 Cefaleia atribuída a feocromocitoma
10.3.2 Cefaleia atribuída a crise hipertensiva sem encefalopatia hipertensiva
10.3.3 Cefaleia atribuída a encefalopatia hipertensiva
10.3.4 Cefaleia atribuída a pré-eclâmpsia ou eclâmpsia
10.3.5 Cefaleia atribuída a disreflexia autonômica
10.4 Cefaleia atribuída ao hipotireoidismo
10.5 Cefaleia atribuída ao jejum
10.6 Cefalalgia cardíaca
10.7 Cefaleia atribuída a outro transtorno da homeostase

11. Cefaleia ou dor facial atribuída a transtorno do crânio, pescoço, olhos, orelhas, nariz, seios
paranasais, dentes, boca ou outra estrutura facial ou cervical
11.1 Cefaleia atribuída a transtorno de osso craniano
11.2 Cefaleia atribuída a transtorno cervical
11.2.1 Cefaleia cervicogênica
11.2.2 Cefaleia atribuída a tendinite retrofaríngea
11.2.3 Cefaleia atribuída a distonia craniocervical
11.3 Cefaleia atribuída a transtorno dos olhos
11.3.1 Cefaleia atribuída a glaucoma agudo de ângulo fechado
11.3.2 Cefaleia atribuída a erro de refração
11.3.3 Cefaleia atribuída a transtorno inflamatório ocular
11.3.4 Cefaleia troclear
11.4 Cefaleia atribuída a transtorno das orelhas
11.5 Cefaleia atribuída a transtorno do nariz ou dos seios paranasais
11.5.1 Cefaleia atribuída a rinossinusite aguda
11.5.2 Cefaleia atribuída a rinossinusite crônica ou recorrente
11.6 Cefaleia atribuída a transtorno dos dentes
11.7 Cefaleia atribuída a transtorno temporomandibular (TTM)
11.8 Cefaleia ou dor facial atribuída a inflamação do ligamento estilo-hióideo
11.9 Cefaleia ou dor facial atribuída a outro transtorno do crânio, pescoço, olhos, orelhas, nariz, seios
paranasais, dentes, boca ou outra estrutura facial ou cervical

12. Cefaleia atribuída a transtorno psiquiátrico


12.1 Cefaleia atribuída a transtorno de somatização
12.2 Cefaleia atribuída a transtorno psicótico

13. Lesões dolorosas dos nervos cranianos e outras dores faciais


13.1 Dor atribuída a lesão ou doença do nervo trigêmeo
13.1.1 Neuralgia trigeminal
13.1.1.1 Neuralgia trigeminal clássica
13.1.1.1.1 Neuralgia trigeminal clássica puramente paroxística
13.1.1.1.2 Neuralgia trigeminal clássica com dor contínua concomitante
13.1.1.2. Neuralgia trigeminal secundária
13.1.1.2.1 Neuralgia trigeminal atribuída a esclerose múltipla
13.1.1.2.2 Neuralgia trigeminal atribuída a lesão expansiva
13.1.1.2.3 Neuralgia trigeminal atribuída a outra causa
13.1.1.3 Neuralgia trigeminal idiopática
13.1.1.3.1 Neuralgia trigeminal idiopática puramente paroxística
13.1.1.3.2 Neuralgia trigeminal idiopática com dor contínua concomitante
13.1.2 Neuropatia trigeminal dolorosa
13.1.2.1 Neuropatia trigeminal dolorosa atribuída ao herpes-zóster
13.1.2.2 Neuralgia pós-herpética trigeminal

18
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

13.1.2.3 Neuropatia trigeminal pós-traumática dolorosa


13.1.2.4 Neuropatia trigeminal dolorosa atribuída a outro transtorno
13.1.2.5 Neuropatia trigeminal dolorosa idiopática
13.2 Dor atribuída a lesão ou doença do nervo glossofaríngeo
13.2.1 Neuralgia glossofaríngea
13.2.1.1 Neuralgia glossofaríngea clássica
13.2.1.2 Neuralgia glossofaríngea secundária
13.2.1.3 Neuralgia glossofaríngea idiopática
13.2.2 Neuropatia glossofaríngea dolorosa
13.2.2.1 Neuropatia glossofaríngea dolorosa atribuída a causa conhecida
13.2.2.2 Neuropatia glossofaríngea dolorosa idiopática
13.3 Dor atribuída a lesão ou doença do nervo intermédio
13.3.1 Neuralgia do nervo intermédio
13.3.1.1 Neuralgia clássica do nervo intermédio
13.3.1.2 Neuralgia secundária do nervo intermédio
13.3.1.3 Neuralgia idiopática do nervo intermédio
13.3.2 Neuropatia dolorosa do nervo intermédio
13.3.2.1 Neuropatia dolorosa do nervo intermédio atribuída ao herpes-zóster
13.3.2.2 Neuralgia pós-herpética do nervo intermédio
13.3.2.3 Neuropatia dolorosa do nervo intermédio atribuída a outro transtorno
13.3.2.4 Neuropatia dolorosa idiopática do nervo intermédio
13.4 Neuralgia occipital
13.5 Síndrome pescoço-língua
13.6 Neurite óptica dolorosa
13.7 Cefaleia atribuída a paralisia isquêmica de nervo motor ocular
13.8 Síndrome de Tolosa-Hunt
13.9 Síndrome oculossimpática paratrigeminal (síndrome de Raeder)
13.10 Neuropatia oftalmoplégica dolorosa recorrente
13.11 Síndrome da ardência bucal (BMS)
13.12 Dor facial idiopática persistente
13.13 Dor neuropática central
13.13.1 Dor neuropática central atribuída a esclerose múltipla (EM)
13.13.2 Dor central pós-acidente vascular cerebral

14. Outras cefaleias


14.1 Cefaleia não classificada em outro local
14.2 Cefaleia não especificada

A. Apêndice
A1. Migrânea
A1.1 Migrânea sem aura
A1.1.1 Migrânea sem aura menstrual pura
A1.1.2 Migrânea sem aura relacionada à menstruação
A1.1.3 Migrânea sem aura não menstrual
A1.2 Migrânea com aura
A1.2.0.1 Migrânea com aura menstrual pura
A1.2.0.2 Migrânea com aura relacionada à menstruação
A1.2.0.3 Migrânea com aura não menstrual
A1.3 Migrânea crônica (critérios alternativos)
A1.3.1 Migrânea crônica com períodos livres de dor
A1.3.2 Migrânea crônica com dor contínua
A1.4 Complicações da migrânea
A1.4.5 Estado de aura migranosa
A1.4.6 Neve visual (visão granulada)

19
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

A1.6 Síndromes episódicas que podem estar associadas à migrânea


A1.6.4 Cólica infantil
A1.6.5  Hemiplegia alternante da infância
A1.6.6  Migrânea vestibular

A2. Cefaleia do tipo tensão (critérios alternativos)


A2.1 Cefaleia do tipo tensão episódica infrequente (critérios alternativos)
A2.2 Cefaleia do tipo tensão episódica frequente (critérios alternativos)
A2.3 Cefaleia do tipo tensão crônica (critérios alternativos)

A3. Cefaleias trigeminoautonômicas (TACs)


A3.1  Cefaleias em salvas (critérios alternativos)
A3.2  Hemicrania paroxística (critérios alternativos)
A3.3  Crises de cefaleia neuralgiforme unilateral breve (critérios alternativos)
A3.4  Hemicrania contínua (critérios alternativos)
A3.6  Cefaleia trigeminoautonômica não diferenciada

A4.  Outras cefaleias primárias


A4.11  Epicrania fugaz

A5.  Cefaleia atribuída a trauma ou lesão cefálica e/ou cervical


A5.1  Cefaleia aguda atribuída a lesão cefálica traumática
A5.1.1.1  Cefaleia aguda de início tardio atribuída a lesão cefálica traumática moderada ou grave
A5.1.2.1  Cefaleia aguda de início tardio atribuída a lesão cefálica traumática leve
A5.2  Cefaleia persistente atribuída a lesão cefálica traumática
A5.2.1.1 Cefaleia persistente de início tardio atribuída a lesão cefálica traumática moderada ou grave
A5.2.2.1 Cefaleia persistente de início tardio atribuída a lesão cefálica traumática leve
A5.7  Cefaleia atribuída a radiocirurgia cerebral
A5.8  Cefaleia aguda atribuída a outro trauma ou lesão cefálica e/ou cervical
A5.9  Cefaleia persistente atribuída a outro trauma ou lesão cefálica e/ou cervical

A6.  Cefaleia atribuída a transtorno vascular craniano e/ou cervical


A6.10  Cefaleia persistente atribuída a transtorno vascular craniano e/ou cervical prévios

A7.  Cefaleia atribuída a transtorno intracraniano não vascular


A7.6  Cefaleia atribuída a crise epiléptica
A7.6.3  Cefaleia pós-eletroconvulsoterapia (ECT)
A7.9  Cefaleia persistente atribuída a transtorno intracraniano não vascular prévio

A8.  Cefaleia atribuída a uma substância ou à sua supressão


A8.4  Cefaleia persistente atribuída ao uso de ou à exposição a uma substância no passado

A9.  Cefaleia atribuída a infecção


A9.1  Cefaleia atribuída a infecção intracraniana
A9.1.3.3  Cefaleia persistente atribuída a infecção intracraniana fúngica ou outra infecção parasitária prévias
A9.3  Cefaleia atribuída a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV)

A10.  Cefaleia atribuída a transtorno da homeostase


A10.7  Cefaleia e/ou dor cervical atribuída a hipotensão ortostática (postural)
A10.8  Cefaleia atribuída a outro transtorno da homeostase
A10.8.1  Cefaleia atribuída a viagem espacial
A10.8.2  Cefaleia atribuída a outro transtorno metabólico ou sistêmico
A10.9  Cefaleia persistente atribuída a transtorno da homeostase prévio

20
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

A11. Cefaleia ou dor facial atribuída a transtorno do crânio, pescoço, olhos, orelhas, nariz, seios
paranasais, dentes, boca ou outra estrutura facial ou cervical
A11.2  Cefaleia atribuída a transtorno cervical
A11.2.4  Cefaleia atribuída a radiculopatia cervical alta
A11.2.5  Cefaleia atribuída a dor miofascial cervical
A11.3  Cefaleia atribuída a transtorno dos olhos
A11.3.5  Cefaleia atribuída a heteroforia ou heterotropia
A11.5  Cefaleia atribuída a transtorno do nariz ou dos seios paranasais
A11.5.3  Cefaleia atribuída a transtorno da mucosa, septo ou conchas nasais

A12.  Cefaleia atribuída a transtorno psiquiátrico


A12.3  Cefaleia atribuída a transtorno depressivo
A12.4  Cefaleia atribuída a transtorno de ansiedade de separação
A12.5  Cefaleia atribuída a transtorno do pânico
A12.6  Cefaleia atribuída a fobia específica
A12.7  Cefaleia atribuída a transtorno de ansiedade social (fobia social)
A12.8  Cefaleia atribuída a transtorno de ansiedade generalizada
A12.9  Cefaleia atribuída a transtorno de estresse pós-traumático (TEPT)

21
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

Parte Um

AS CEFALEIAS PRIMÁRIAS
1. Migrânea

2. Cefaleia do tipo tensão

3. Cefaleias trigeminoautonômicas

4. Outras cefaleias primárias

22
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

1. Migrânea especialmente importante disso: ambos os diagnósticos


de migrânea (episódica ou crônica) e o diagnóstico 8.2
1.1 Migrânea sem aura Cefaleia por uso excessivo de medicamentos (MOH/
1.2 Migrânea com aura CEM), devem ser dados quando o uso excessivo de medi-
1.2.1 Migrânea com aura típica camentos está presente.
1.2.1.1 Aura típica com cefaleia 3. Quando uma migrânea pré-existente torna-se significa-
1.2.1.2 Aura típica sem cefaleia tivamente pior (habitualmente significando um aumento
1.2.2 Migrânea com aura do tronco cerebral de duas vezes ou mais em frequência e/ou gravidade) em
1.2.3 Migrânea hemiplégica estreita relação temporal à tal transtorno causador, tanto
1.2.3.1 Migrânea hemiplégica familiar (FHM) o diagnóstico inicial de migrânea como o diagnóstico de
1.2.3.1.1 Migrânea hemiplégica familiar do tipo 1 (FHM1) cefaleia secundária devem ser dados, contanto que haja evi-
1.2.3.1.2 Migrânea hemiplégica familiar do tipo 2 (FHM2) dência suficiente de que o transtorno pode causar cefaleia.
1.2.3.1.3 Migrânea hemiplégica familiar do tipo 3 (FHM3)
1.2.3.1.4 Migrânea hemiplégica familiar, outros loci
1.2.3.2 Migrânea hemiplégica esporádica (SHM) Introdução
1.2.4 Migrânea retiniana
1.3 Migrânea crônica A migrânea é uma cefaleia primária comum e incapacitante.
1.4 Complicações da migrânea Muitos estudos epidemiológicos têm documentado a sua ele-
1.4.1 Estado migranoso vada prevalência, bem como o seu impacto socioeconômico
1.4.2 Aura persistente sem infarto e pessoal. No estudo Global Burden of Disease Study 2010
1.4.3 Infarto migranoso (GBD2010), a migrânea foi classificada como o terceiro trans-
1.4.4 Crise epiléptica desencadeada por aura migranosa torno mais prevalente em todo o mundo. No GBD2015, ela
1.5 Provável migrânea foi classificada como a terceira causa de incapacidade tanto
1.5.1 Provável migrânea sem aura em homens como em mulheres com idade abaixo dos 50 anos.
1.5.2 Provável migrânea com aura A migrânea pode ser dividida em dois tipos principais: 1.1
1.6 Síndromes episódicas que podem estar associadas à migrânea Migrânea sem aura é uma síndrome clínica caracterizada por
1.6.1 Distúrbio gastrointestinal recorrente cefaleia com características específicas e sintomas associa-
1.6.1.1 Síndrome dos vômitos cíclicos dos; 1.2 Migrânea com aura é primariamente caracterizada
1.6.1.2 Migrânea abdominal pelos sintomas neurológicos focais transitórios que habitual-
1.6.2 Vertigem paroxística benigna mente precedem ou, às vezes, acompanham a cefaleia. Alguns
1.6.3 Torcicolo paroxístico benigno pacientes também vivenciam uma fase prodrômica, antece-
dendo em horas ou dias o aparecimento da cefaleia, e/ou uma
fase “posdrômica” após a resolução da cefaleia. Os sintomas
Codificada em outro local: Uma cefaleia semelhante à migrâ- prodrômicos e “posdrômicos” incluem hiperatividade, hipoa-
nea, secundária a outro transtorno (migrânea sintomática) tividade, depressão, apetite específico para determinados ali-
é codificada como cefaleia secundária atribuída a aquele mentos, bocejos repetidos, fadiga e rigidez e/ou dor cervical.
transtorno. Quando um paciente preenche os critérios para mais de
um tipo, subtipo ou subforma de migrânea, todos devem ser
diagnosticados e codificados. Por exemplo, um paciente que
Comentário geral tem crises frequentes com aura, mas também algumas crises
sem aura, deve ser codificado como 1.2 Migrânea com aura
Cefaleia primária, secundária ou ambas? Três regras aplicam-se a e 1.1 Migrânea sem aura. No entanto, como o critério diag-
cefaleia do tipo migrânea, de acordo com as circunstâncias. nóstico para 1.3 Migrânea crônica agrupa as crises de todos
os tipos, subtipos ou subformas, uma classificação adicional
1. Quando uma nova cefaleia com características de migrâ- é desnecessária para os subtipos episódicos de migrânea.
nea ocorre pela primeira vez em estreita relação temporal
com um outro transtorno que é uma causa reconhecida
de cefaleia ou preenche outros critérios de causalidade 1.1 Migrânea sem aura
por aquele transtorno, a nova cefaleia é classificada como
uma cefaleia secundária atribuída ao transtorno causador. Termos previamente utilizados: Enxaqueca comum; hemicrania
2. Quando uma migrânea pré-existente torna-se crônica simples.
em estreita relação temporal com tal transtorno causador,
ambos os diagnósticos de migrânea inicial e o diagnós- Descrição: Cefaleia recorrente manifestando-se em crises que
tico secundário devem ser dados. 8.2 Cefaleia por uso duram de quatro a 72 horas. As características típicas da cefa-
excessivo de medicamentos (MOH/CEM) é um exemplo leia são: localização unilateral; caráter pulsátil; intensidade

23
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

moderada ou forte; exacerbação por atividade física rotineira resolução da cefaleia, persistindo por até 48 horas; esses sin-
e associação com náusea e/ou fotofobia e fonofobia. tomas são menos bem estudados.
As crises de migrânea podem estar associadas a sintomas
Critérios diagnósticos: autonômicos cranianos e a sintomas de alodinia cutânea.
A. Ao menos cinco crises1 preenchendo os critérios de B a D Em crianças mais novas, a fotofobia e a fonofobia podem
B. Crises de cefaleia durando 4-72 horas (sem tratamento ser inferidas a partir do seu comportamento.
ou com tratamento ineficaz)2,3 Uma minoria (<10%) das mulheres tem crises de migrâ-
C. A cefaleia possui ao menos duas das seguintes nea associadas com a maioria dos seus ciclos menstruais, e
características: a maior parte destas crises é sem aura. As crises que ocor-
1. localização unilateral rem durante o período menstrual tendem a ser mais prolon-
2. caráter pulsátil gadas e acompanhadas por náusea mais intensa quando em
3. intensidade da dor moderada ou forte comparação às crises fora do período menstrual. A ICHD-3
4. exacerbada por ou levando o indivíduo a evitar ati- oferece critérios para A1.1.1 Migrânea menstrual pura sem
vidades físicas rotineiras (por exemplo: caminhar aura, A1.1.2 Migrânea sem aura relacionada ao período
ou subir escadas) menstrual e A1.1.3 Migrânea sem aura não menstrual, mas,
D. Durante a cefaleia, ao menos um dos seguintes: no Apêndice, em razão da incerteza sobre se elas devem ser
1. náusea e/ou vômito consideradas entidades distintas. Também existem critérios
2. fotofobia e fonofobia para A1.2.0.1 Migrânea menstrual pura com aura, A1.2.02
E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. Migrânea com aura relacionada ao período menstrual e
A1.2.0.3 Migrânea com aura não relacionada ao período
Notas: menstrual, para incentivar a melhor caracterização destes
1. Uma ou algumas crises de migrânea podem ser difíceis subtipos incomuns caso eles sejam entidades distintas.
de se diferenciar de crises sintomáticas semelhantes a Crises de migrânea muito frequentes são distinguidas
migrânea. Além disso, a natureza de uma única ou de como 1.3 Migrânea crônica. Quando há associação com o
algumas poucas crises pode ser de difícil compreensão. uso excessivo de medicamentos, ambos os diagnósticos, 1.3
Sendo assim, um mínimo de cinco crises é necessário. Migrânea crônica e 8.2 Cefaleia por uso excessivo de medi-
Indivíduos que, por outro lado, preenchem os critérios camentos (MOH/CEM) devem ser aplicados. A 1.1 Migrâ-
para a 1.1 Migrânea sem aura, mas tiveram menos do nea sem aura é a doença mais propensa a cronificar com o
que cinco crises, devem ser codificados como 1.5.1 Pro- uso frequente de medicamentos sintomáticos.
vável migrânea sem aura. Imagens do fluxo sanguíneo cerebral regional não
2. Quando o paciente adormece durante a crise de migrânea revelam quaisquer alterações sugestivas da depressão cor-
e acorda sem a mesma, considera-se a duração da crise tical alastrante (CSD) durante as crises de 1.1 Migrânea
como sendo até o momento do despertar. sem aura, embora alterações do fluxo sanguíneo no tronco
3. Em crianças e adolescentes (abaixo dos 18 anos), as cri- cerebral possam ocorrer, assim como alterações corticais
ses podem durar de 2 a 72 horas (as evidências para dura- secundárias à ativação dolorosa. Isto contrasta com a oligoe-
ções não tratadas de menos de 2 horas em crianças não mia alastrante patognomônica da 1.2 Migrânea com aura.
foram comprovadas). Embora a maior parte da literatura sugira que a CSD não
ocorre na 1.1 Migrânea sem aura, alguns estudos recentes
Comentários: A migrânea em crianças e adolescentes (meno- discordam disso. Além disso, tem sido sugerido que ondas
res de 18 anos) é mais frequentemente bilateral do que no gliais ou outros fenômenos corticais possam estar envolvi-
caso de adultos; a dor unilateral habitualmente surge no fim dos na 1.1 Migrânea sem aura. As moléculas mensageiras
da adolescência ou início da vida adulta. A cefaleia da migrâ- óxido nítrico (NO), serotonina (5-hidroxitriptamina; 5-HT)
nea é habitualmente frontotemporal. A cefaleia occipital em e peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP) estão
crianças é rara e demanda cautela no diagnóstico. Um sub- envolvidas. Embora essa doença tenha sido previamente
grupo de pacientes típicos apresenta dor localizada na face, considerada como primariamente vascular, a importância da
que é chamada na literatura de “migrânea facial”; não há evi- sensibilização das vias de dor e a possibilidade de que as cri-
dências de que estes indivíduos formem um subgrupo sepa- ses possam ter início no sistema nervoso central receberam
rado de pacientes com migrânea. crescente atenção nas últimas décadas. Ao mesmo tempo, a
Os sintomas prodrômicos podem começar horas ou um cicuitaria da dor na migrânea; o sistema trigeminovascular
ou dois dias antes dos outros sintomas de uma crise de migrâ- e muitos aspectos da sua neurotransmissão perifericamente
nea sem aura. Eles incluem várias combinações de fadiga, e no nucleus caudalis do nervo trigêmeo; na substância cin-
dificuldade de concentração, rigidez cervical, sensibilidade zenta mesencefálica central e no tálamo foram reconheci-
à luz e/ou som, náusea, visão borrada, bocejos e palidez. Os dos. Medicamentos agudos altamente receptor-específicos,
sintomas “posdrômicos”, mais comumente cansaço, dificul- incluindo os agonistas dos receptores 5-HT1B/D (triptanos),
dade para se concentrar e rigidez cervical, podem seguir a os agonistas do receptor 5-HT1F e os antagonistas do receptor

24
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

CGRP, têm demonstrado eficácia no tratamento agudo das Testes de campo compararam os critérios diagnósticos
crises de migrânea. Devido à sua alta especificidade rela- para 1.2 Migrânea com aura presentes no corpo principal
cionada aos receptores, seus mecanismos de ação propiciam do ICHD-3 beta com aqueles para A1.2 Migrânea com aura
uma nova compreensão sobre os mecanismos de migrânea. presentes no Apêndice. Esses últimos tiveram um melhor
Está claro, no momento, que a 1.1 Migrânea sem aura é um desempenho na distinção entre a migrânea com aura e os
transtorno neurobiológico, enquanto que estudos clínicos ataques isquêmicos transitórios. Esses agora são adotados no
e de neurociência básica continuam a avançar no conheci- ICHD-3, que não possui mais, no Apêndice, critérios para
mento sobre os mecanismos da migrânea. esse transtorno.
A aura é o complexo de sintomas neurológicos que ocorre
habitualmente antes da cefaleia da 1.2 Migrânea com aura,
1.2 Migrânea com aura mas pode começar depois que a fase de cefaleia teve início,
ou continuar durante essa fase.
Termos previamente utilizados: Enxaqueca clássica; enxaqueca A aura visual é o tipo mais comum de aura, ocorrendo
oftálmica, hemiparestésica, hemiplégica ou afásica; enxa- em mais de 90% dos pacientes com 1.2 Migrânea com aura,
queca acompanhada; enxaqueca complicada. ao menos em algumas crises. Ela frequentemente apresenta-
-se como um espectro em fortificação: uma figura de zigue-
Descrição: Crises recorrentes, com duração de minutos, de sinto- zague próxima ao ponto de fixação que pode gradualmente
mas completamente reversíveis unilaterais visuais, sensoriais espalhar-se para a direita ou esquerda e assumir uma forma
ou outros sintomas oriundos do sistema nervoso central, que lateralmente convexa com uma borda cintilante angulada,
geralmente se desenvolvem gradualmente e são habitualmente deixando um escotoma absoluto ou de graus variáveis em
seguidos por cefaleia e sintomas migranosos associados. seu rastro. Em outros casos, um escotoma sem fenômenos
positivos pode ocorrer; esse é percebido frequentemente
Critérios diagnósticos: como sendo de início agudo, mas, numa análise minuciosa,
A. Ao menos duas crises preenchendo os critérios B e C habitualmente aumenta gradativamente. Em crianças e ado-
B. Um ou mais dos seguintes sintomas de aura plenamente lescentes, ocorrem sintomas visuais bilaterais menos típicos
reversíveis: que podem representar uma aura. Uma escala visual de clas-
1. visual sificação de aura com alta especificidade e sensibilidade foi
2. sensorial desenvolvida e validada.
3. fala e/ou linguagem A seguir, em frequência estão os distúrbios sensoriais na
4. motor forma de parestesias, que se movem lentamente a partir do
5. tronco cerebral ponto de origem, afetando uma parte maior ou menor de um
6. retiniano lado do corpo, da face e/ou da língua. Sensação de dormên-
C. Ao menos três das seis seguintes características: cia pode ocorrer no seu rastro, porém a dormência também
1. ao menos um sintoma de aura alastra-se gradual- pode ser o único sintoma.
mente por ≥5 minutos Menos frequentes são os distúrbios da fala, habitual-
2. dois ou mais sintomas de aura ocorrem em sucessão mente afásicos, mas frequentemente difíceis de classificar.
3. cada sintoma de aura individual dura 5-60 minutos1 Estudos sistemáticos têm demonstrado que muitos
4. ao menos um sintoma de aura é unilateral2 pacientes com aura visual ocasionalmente têm sintomas
5. ao menos um sintoma de aura é positivo3 nas extremidades e/ou sintomas relacionados à fala. Por
6. a aura é acompanhada, ou seguida dentro de 60 outro lado, pacientes com sintomas nas extremidades e/ou
minutos, por cefaleia sintomas relacionados à fala ou à linguagem quase sempre
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. também experimentam sintomas de aura visual ao menos
durante algumas crises. Uma distinção entre migrânea com
Notas: aura visual, migrânea com aura hemiparestésica e migrânea
1. Quando, por exemplo, três sintomas ocorrerem durante a com aura de fala e/ou de linguagem é provavelmente artifi-
aura, a duração máxima é 3×60 minutos. Sintomas moto- cial e, portanto, não reconhecida nesta classificação: todas
res podem durar até 72 horas. elas são codificadas como 1.2.1 Migrânea com aura típica.
2. A afasia é sempre considerada um sintoma unilateral, já a Quando os sintomas de aura são múltiplos, eles habitual-
disartria pode ou não ser. mente seguem um ao outro em sucessão, começando pelo
3. Cintilações e sensação de agulhadas (parestesias) são sin- visual, então sensorial, então afásico; porém o contrário e
tomas positivos de aura. outras sequências já foram observados. A duração aceitável
para a maioria dos sintomas de aura é de uma hora, mas os
Comentários: Muitos pacientes que têm crises de migrânea com sintomas motores frequentemente são de duração superior.
aura também sofrem de crises sem aura; eles devem ser classifi- Pacientes com sintomas de aura surgindo do tronco
cados como 1.2 Migrânea com aura e 1.1 Migrânea sem aura. cerebral são codificados como 1.2.2 Migrânea com aura do

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CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

tronco cerebral, mas eles quase sempre apresentam sinto- mas “posdrômicos”, mais comumente sensação de cansaço
mas adicionais de aura típica. Quando a aura inclui fraqueza e exaustão, dificuldade de concentração e rigidez cervical,
motora, o transtorno deve ser classificado como 1.2.3 Migrâ- podem seguir a resolução da cefaleia, persistindo por até 48
nea hemiplégica ou uma de suas subformas. A 1.2.3 Migrâ- horas; esses são menos bem estudados.
nea hemiplégica é classificada como um subtipo separado
por causa de diferenças genéticas e patofisiológicas em rela-
ção à 1.2.1 Migrânea com aura típica. Pacientes com 1.2.3 1.2.1 Migrânea com aura típica
Migrânea hemiplégica frequentemente apresentam, adicio-
nalmente, sintomas relacionados ao tronco cerebral. Descrição: Migrânea com aura, na qual a aura consiste de sin-
Os pacientes frequentemente consideram difícil descre- tomas visuais e/ou sensoriais e/ou de fala/ linguagem, mas
ver os seus sintomas de aura; casos nos quais eles devem ser sem fraqueza motora, e é caracterizada pelo desenvolvi-
instruídos a cronometrá-los e registrá-los prospectivamente. mento gradual, duração de cada sintoma não maior do que
Depois disso, o quadro clínico torna-se mais claro. Erros uma hora, mistura de sintomas positivos e negativos e rever-
comuns são relatos incorretos de lateralização, de início súbito sibilidade plena.
ao invés de gradual e de perturbações visuais monoculares ao
invés de homônimas, assim como duração da aura e confusão Critérios diagnósticos:
entre perda sensitiva e fraqueza. Depois de uma consulta ini- A. Crises preenchendo os critérios para 1.2 Migrânea com
cial, o uso de um diário da aura pode esclarecer o diagnóstico. aura e o critério B abaixo
Algumas vezes, a migrânea com aura está associada a B. Aura com ambos os seguintes:
uma cefaleia que não preenche os critérios para 1.1 Migrânea 1. sintomas visuais, sensoriais e/ou de fala/lingua-
sem aura, mas essa ainda é considerada como uma cefaleia gem plenamente reversíveis
do tipo migrânea em função da sua relação com a aura. Em 2. ausência de sintomas motores, do tronco cerebral
outros casos, a aura migranosa pode ocorrer sem a cefaleia. ou retinianos.
Antes ou simultaneamente com o início dos sintomas da
aura, o fluxo sanguíneo cerebral regional aumenta no cór-
tex correspondente à área clinicamente afetada e, em muitos 1.2.1.1 Aura típica com cefaleia
casos, em uma área mais ampla. Uma redução do fluxo san-
guíneo geralmente se inicia posteriormente e alastra-se ante- Descrição: Migrânea com aura típica na qual a aura é acompa-
riormente, e está habitualmente acima do limiar isquêmico. nhada ou seguida dentro de 60 minutos por cefaleia com ou
Depois de uma a várias horas, uma transição gradual para sem características de migrânea.
hiperemia ocorre na mesma região. A depressão alastrante de
Leão é o mecanismo subjacente provável. Critérios diagnósticos:
As síndromes previamente definidas, migrânea com A. Crises preenchendo os critérios para 1.2.1 Migrânea
aura prolongada e migrânea com aura de início agudo, com aura típica e o critério B abaixo
foram abandonadas. Não é raro que a aura dure por mais que B. Cefaleia, com ou sem características de migrânea,
uma hora, mas, na maioria desses casos, os pacientes apre- acompanha ou segue dentro de 60 minutos.
sentam ao menos duas das outras características do critério
C. Mesmo quando a maioria das crises de um paciente não
preenche o critério C, é comum que outras crises atendam 1.2.1.2 Aura típica sem cefaleia
ao critério para um dos subtipos ou subformas reconhecidos
da 1.2 Migrânea com aura, e este deve ser o diagnóstico. Descrição: Migrânea com aura típica na qual a aura não é
Os poucos outros casos devem ser codificados como 1.5.2 acompanhada nem seguida por cefaleia de qualquer tipo.
Provável migrânea com aura, especificando a caracterís-
tica atípica (aura prolongada ou aura de início agudo) entre Critérios diagnósticos:
parênteses. O diagnóstico é habitualmente evidente depois A. Crises preenchendo os critérios para 1.2.1 Migrânea
da realização isolada de histórico detalhado, embora existam com aura típica e o critério B abaixo
mimetizadores secundários raros, incluindo dissecção carotí- B. Nenhuma cefaleia acompanha ou segue a aura dentro de
dea, malformação arteriovenosa e crise epiléptica. 60 minutos.
Os sintomas prodrômicos podem iniciar horas ou um dia
ou dois antes dos outros sintomas de uma crise de migrâ- Comentários: Em alguns pacientes, uma aura típica é sempre
nea com aura. Eles incluem diversas combinações de fadiga, seguida por cefaleia do tipo migrânea, mas muitos pacien-
dificuldade de concentração, rigidez cervical, sensibilidade tes apresentam, adicionalmente, crises com aura seguidas
à luz e ou ao som, náusea, visão borrada, bocejos e palidez. por uma cefaleia menos distinta ou até mesmo sem cefaleia.
O termo “pródromo”, que substituiu “fase premonitória” Alguns pacientes apresentam, exclusivamente, 1.2.1.2 Aura
ou “sintomas premonitórios” não inclui a aura. Os sinto- típica sem cefaleia.

26
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

Na ausência de cefaleia que preencha os critérios para 1.1 pacientes que apresentam crises com aura do tronco encefá-
Migrânea sem aura, o diagnóstico preciso de aura e a diferen- lica também relatam outras crises com aura típica e devem
ciação de seus simuladores que podem sinalizar doenças gra- ser codificados para 1.2.1 Migrânea com aura típica e 1.2.2
ves (p.ex. ataque isquêmico transitório) torna-se mais difícil e Migrânea com aura do tronco cerebral.
habitualmente requer investigação. Quando a aura ocorre pela Muitos dos sintomas listados no critério B1 podem ocor-
primeira vez após os 40 anos de idade, quando os sintomas rer com a ansiedade e a hiperventilação, e, portanto, estão
são exclusivamente negativos (p.ex. hemianopsia) ou quando sujeitos a erros de interpretação.
a aura é prolongada ou muito curta, outras causas, especial-
mente o ataque isquêmico transitório, devem ser excluídas.
1.2.3 Migrânea hemiplégica1

1.2.2 Migrânea com aura do tronco cerebral Descrição: Migrânea com aura que inclui fraqueza motora.

Termos previamente utilizados: Enxaqueca da artéria basilar; Critérios diagnósticos:


enxaqueca/migrânea basilar; enxaqueca/migrânea do tipo basilar. A. Crises preenchendo os critérios para 1.2 Migrânea com
aura e o critério B abaixo
Descrição: Migrânea com sintomas de aura claramente origi- B. Aura consistindo de ambos os seguintes:
nados no tronco cerebral, mas nenhuma fraqueza muscular. 1. fraqueza motora plenamente reversível2
2. sintomas visuais, sensoriais e ou de fala/linguagem
Critérios diagnósticos: plenamente reversíveis.
A. Crises preenchendo os critérios para 1.2 Migrânea com Notas:
aura e o critério B abaixo 1. O termo plégico significa paralisia na maior parte dos
B. Aura com ambos os seguintes: idiomas, mas, na sua maioria, as crises são caracterizadas
1. ao menos dois dos seguintes sintomas do tronco por fraqueza motora (paresia).
cerebral plenamente reversíveis: 2. Os sintomas motores habitualmente duram menos de 72
a. disartria1 horas, mas, em alguns pacientes, a fraqueza motora pode
b. vertigem2 persistir por semanas.
c. zumbido
d. hipoacusia3 Comentários: Pode ser difícil distinguir fraqueza de perda
e. diplopia4 sensorial.
f. ataxia não atribuível ao déficit sensorial
g. diminuição no nível da consciência (GCS
≤13)5 1.2.3.1 Migrânea hemiplégica familiar (FHM)
2. ausência de sintomas motores6 ou retinianos
Descrição: Migrânea com aura que inclui fraqueza motora, e
Notas: ao menos um familiar de primeiro ou segundo grau apresen-
1. A disartria deve ser distinguida da afasia. tando aura migranosa que inclui fraqueza motora.
2. A vertigem não está incluída e deve ser distinguida de
tontura. Critérios diagnósticos:
3. Este critério não é preenchido por sensações de plenitude A. Crises preenchendo os critérios para 1.2.3 Migrânea
auricular. hemiplégica
4. A diplopia não inclui (ou exclui) a visão borrada. B. Ao menos um familiar de primeiro ou segundo grau
5. O escore da Escala de Coma de Glasgow (GCS) pode ser apresentou crises preenchendo os critérios para 1.2.3
avaliado durante a admissão; alternativamente, os défi- Migrânea hemiplégica.
cits claramente descritos pelo paciente permitem uma
estimativa do GCS. Comentários: Novos dados genéticos têm permitido uma defi-
6. Quando sintomas motores estão presentes, codificar nição mais precisa da 1.2.3.1 Migrânea hemiplégica familiar
como 1.2.3 Migrânea hemiplégica. (FHM) do que era anteriormente possível. Foram identifica-
das subformas genéticas específicas: na FHM1 há mutações
Comentários: Originalmente, os termos migrânea da artéria no gene CACNA1A no cromossomo 19 (codificando para um
basilar ou migrânea basilar eram utilizados, mas, uma vez canal de cálcio); na FHM2 há mutações no gene ATP1A2
que o envolvimento da artéria basilar é improvável, o termo no cromossomo 1 (codificando para uma K/NA-ATPase); e
migrânea com aura do tronco cerebral é preferido. na FHM3 há mutações no gene SCN1A no cromossomo 2
Existem sintomas típicos de aura em adição aos sinto- (codificando para um canal de sódio). Podem haver outros
mas do tronco cerebral durante a maioria das crises. Muitos loci ainda não identificados. Quando a testagem genética é

27
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

realizada, a subforma genética (se descoberta) deve ser espe- Critérios diagnósticos:
cificada no quinto dígito. A. Crises preenchendo os critérios para 1.2.3 Migrânea
Tem sido demonstrado que a 1.2.3.1 Migrânea hemiplé- hemiplégica
gica familiar (FHM) muito frequentemente apresenta-se com B. Nenhum familiar de primeiro ou segundo grau preen-
sintomas oriundos do tronco cerebral, além dos sintomas de che os critérios para 1.2.3 Migrânea hemiplégica.
aura típica, e que a cefaleia quase sempre ocorre. Raramente,
durante as crises de FHM, podem ocorrer distúrbios da cons- Comentários: Estudos epidemiológicos têm demonstrado que
ciência (algumas vezes incluindo coma), confusão, febre e casos esporádicos ocorrem com aproximadamente a mesma
pleocitose do líquido cefalorraquidiano. prevalência que os casos familiares.
A 1.2.3.1 Migrânea hemiplégica familiar (FHM) pode As crises em 1.2.3.2 Migrânea hemiplégica esporádica
ser confundida com epilepsia e tratada (sem sucesso) como (SHM) têm as mesmas características clínicas daquelas em
tal. Crises de FHM podem ser desencadeadas por trauma- 1.2.3.1 Migrânea hemiplégica familiar (FHM). Alguns casos
tismo craniano (leve). Em aproximadamente 50% das famí- aparentemente esporádicos apresentam mutações FHM
lias com FHM, ataxia cerebelar progressiva crônica ocorre conhecidas e, em alguns desses, um familiar de primeiro ou
independentemente das crises de migrânea. segundo grau desenvolve posteriormente migrânea hemiplé-
gica, completando assim o preenchimento dos critérios para
1.2.3.1 Migrânea hemiplégica familiar (FHM) e exigindo
1.2.3.1.1 Migrânea hemiplégica familiar do tipo 1 (FHM1) uma mudança de diagnóstico.
Os casos esporádicos habitualmente requerem exames de
Critérios diagnósticos: neuroimagem e outros testes, para descartar outras causas.
A. Crises preenchendo os critérios para 1.2.3.1 Migrânea Uma punção lombar pode ser necessária para descartar 7.3.5
hemiplégica familiar (FHM) Síndrome da cefaleia e déficits neurológicos transitórios
B. Uma mutação no gene CACNA1A foi demonstrada. com linfocitose do líquido cefalorraquidiano (HanDL).

1.2.3.1.2 Migrânea hemiplégica familiar do tipo 2 (FHM2) 1.2.4 Migrânea retiniana

Critérios diagnósticos: Descrição: Crises repetidas de distúrbio visual monocular,


A. Crises preenchendo os critérios para 1.2.3.1 Migrânea incluindo cintilações, escotomas ou amaurose, associados a
hemiplégica familiar (FHM) cefaleia do tipo migrânea.
B. Uma mutação no gene ATP1A2 foi demonstrada.
Critérios diagnósticos:
A. Crises preenchendo o critério para 1.2 Migrânea com
1.2.3.1.3 Migrânea hemiplégica familiar do tipo 3 (FHM3) aura e o critério B a seguir
B. Aura caracterizada ambos os seguintes:
Critérios diagnósticos: 1. fenômeno visual positivo e/ou negativo, monocu-
A. Crises preenchendo os critérios para 1.2.3.1 Migrânea lar e plenamente reversível (por ex., cintilações,
hemiplégica familiar (FHM) escotomas ou amaurose) confirmado durante uma
B. Uma mutação no gene SCN1A foi demonstrada. crise por um dos ou ambos os seguintes:
a. exame clínico de campo visual
b. desenho do paciente de um defeito de campo
1.2.3.1.4 Migrânea hemiplégica familiar, outros loci monocular (feito após instrução clara)
2. ao menos dois dos seguintes:
Critérios diagnósticos: a. alastrando-se gradualmente ao longo de ≥5
A. Crises preenchendo os critérios para 1.2.3.1 Migrânea minutos
hemiplégica familiar (FHM) b. sintomas durando 5-60 minutos
B. Testagem genética demonstrou a ausência de mutação c. acompanhada, ou seguida por cefaleia dentro
nos genes CACNA1A, ATP1A2 ou SCN1A. de 60 minutos.
C. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-
3, e outras causas de amaurose fugaz foram excluídas.
1.2.3.2 Migrânea hemiplégica esporádica (SHM)
Comentários: Alguns pacientes que reclamam de distúrbio
Descrição: Migrânea com aura que inclui fraqueza motorae visual monocular apresentam, na verdade, hemianopsia.
ausência de familiares de primeiro ou segundo grau que Alguns casos sem cefaleia foram relatados, mas a migrânea
apresentam aura migranosa que inclui fraqueza motora. não pode ser determinada como a etiologia subjacente.

28
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

A 1.2.4 Migrânea retiniana é uma causa extremamente O último transtorno evolui ao longo do tempo a partir
rara de perda visual monocular transitória. Casos de perda de 1.1 Migrânea sem aura e/ou 1.2 Migrânea com aura;
visual monocular permanente associados a migrânea têm portanto, quando esses critérios A-C são preenchidos
sido descritos. São necessárias investigações apropria- por cefaleia que, sem ambiguidade, é diária e incessante
das a fim de excluir outras causas de amaurose monocular desde <24 horas após o seu primeiro início, codifique
transitória. como 4.10 Cefaleia persistente e diária desde o início.
Quando o modo de início não é lembrado ou é de outra
forma incerto, codifique como 1.3 Migrânea crônica.
1.3 Migrânea crônica 5. A causa mais comum dos sintomas sugestivos de migrâ-
nea crônica é o uso excessivo de medicamentos, con-
Descrição: Cefaleia que ocorre em 15 ou mais dias/mês por forme definido em 8.2 Cefaleia por uso excessivo de
mais que três meses, a qual, em ao menos oito dias/mês, pos- medicamentos (MOH/CEM). Cerca de 50% dos pacien-
sui as características de cefaleia migranosa. tes aparentemente com 1.3 Migrânea crônica revertem
para um tipo de migrânea episódica após a retirada do
Critérios diagnósticos: fármaco; tais pacientes são, de certo modo, erroneamente
A. Cefaleia (migrânea símile ou do tipo tensão símile1) em diagnosticados como 1.3 Migrânea crônica. Igualmente,
≥15 dias por mês por >3 meses e preenchendo os crité- muitos pacientes aparentemente fazendo uso excessivo
rios B e C medicamento não melhoram após a descontinuação do
B. Ocorrendo em um paciente que tenha apresentado ao fármaco; o diagnóstico de 8.2 Cefaleia por uso excessivo
menos cinco crises preenchendo os critérios B-D para de medicamentos (MOH/CEM) pode ser inapropriado
1.1 Migrânea sem aura e/ou os critérios B e C para 1.2 para esses (presumindo que a cronicidade induzida pelo
Migrânea com aura uso excessivo de fármacos sempre é reversível). Por
C. Em ≥8 dias/mês por >3 meses, preenchendo qualquer essas razões, e também devido à regra geral para se apli-
dos seguintes2: car todos os diagnósticos relevantes, os pacientes aten-
1. critérios C e D para 1.1 Migrânea sem aura dendo aos critérios para 1.3 Migrânea crônica e para
2. critérios B e C para 1.2 Migrânea com aura 8.2 Cefaleia por uso excessivo de medicamentos (MOH/
3. interpretada pelo paciente como sendo migrânea CEM) devem ser codificados para ambos. Após a retirada
no início e aliviada por um triptano ou derivado do do fármaco, a migrânea irá reverter para um tipo episó-
ergot dico ou permanecer crônica, e deve ser rediagnosticada
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da de acordo; no último caso, o diagnóstico para 8.2 Cefa-
ICHD-3.3-5 leia por uso excessivo de medicamentos (MOH/CEM)
pode ser revogado.
Notas:
1. A razão para destacar 1.3 Migrânea crônica dos tipos
de migrânea episódica é que é impossível distinguir 1.4 Complicações da migrânea
os episódios individuais de cefaleia em pacientes com
tais cefaleias frequentes ou contínuas. Na realidade, as Comentário: Codificar separadamente para os tipos, subtipos
características da cefaleia podem mudar não somente ou subformas de migrânea e para a complicação.
de um dia para o outro, mas até durante o mesmo dia.
Tais pacientes são extremamente difíceis de se manter
sem medicamentos para se observar a história natural da 1.4.1 Estado migranoso
cefaleia. Nessa situação, as crises com e sem aura são
ambas computadas, assim como as cefaleias migrânea- Descrição: Uma crise de migrânea debilitante durando mais
-símile e do tipo tensão-símile (mas não as cefaleias que 72 horas.
secundárias).
2. A caracterização da cefaleia frequentemente recorrente Critérios diagnósticos:
em geral requer um diário de cefaleia para registrar as A. Uma crise de cefaleia preenchendo os critérios B e C
informações sobre a dor e sintomas associados dia a dia B. Ocorrendo em um paciente com 1.1 Migrânea sem aura
por ao menos um mês. e/ou 1.2 Migrânea com aura, e típica de crises prévias,
3. Como a cefaleia do tipo tensão-símile está incluída nos exceto por sua duração e intensidade
critérios diagnósticos para 1.3 Migrânea crônica, esse C. Ambas as seguintes características:
diagnóstico exclui o diagnóstico de 2. Cefaleia do tipo 1. sem remissão por >72 horas1
tensão (CTT) ou dos seus tipos. 2. a dor e/ou sintomas associados são debilitantes2
4. A 4.10 Cefaleia persistente e diária desde o início pode D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
ter características sugestivas de 1.3 Migrânea crônica.

29
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

Notas: e típica das crises prévias, com a exceção de que um ou


1. Remissões de até 12 horas, devidas a medicamentos ou mais dos sintomas de aura persistem por >de 60 minutos1
ao sono, são aceitas. C. A neuroimagem demonstra um infarto isquêmico em
2. Casos mais brandos, não atendendo ao critério C2, são uma área relevante
codificados como 1.5.1 Provável migrânea sem aura. D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.

Comentário: Cefaleia com as características de 1.4.1 Estado Nota:


migranoso, pode frequentemente ser causada pelo uso exces- 1. Pode haver sintomas adicionais atribuídos ao infarto.
sivo de medicamentos. Quando a cefaleia, nessas circunstân-
cias, atende aos critérios de 8.2 Cefaleia por uso excessivo de Comentários: Um acidente vascular cerebral isquêmico em
medicamentos (MOH/CEM), codifique para esse transtorno um paciente que sofre de migrânea pode ser classificado
e para o tipo ou subtipo relevante de migrânea, mas não para como um infarto cerebral por outra causa coexistindo com 1.
1.4.1 Estado migranoso. Quando o uso excessivo de medi- Migrânea, infarto cerebral por outra causa apresentando-se
camentos é de duração menor do que três meses, codifique com sintomas semelhantes aos da 1.2 Migrânea com aura,
apenas para o tipo ou subtipo(s) apropriado(s) de migrânea. ou um infarto cerebral ocorrendo durante o curso de uma
crise típica de 1.2 Migrânea com aura. Somente o último
preenche os critérios para 1.4.3 Infarto migranoso.
1.4.2 Aura persistente sem infarto O 1.4.3 Infarto migranoso ocorre principalmente na cir-
culação posterior e em mulheres jovens.
Descrição: Sintomas de aura persistindo por uma semana ou Um risco duplicado de acidente vascular cerebral isquê-
mais, sem evidência de infarto em exames de neuroimagem. mico em pacientes com 1.2 Migrânea com aura tem sido
demonstrado em vários estudos de base populacional. No
Critérios diagnósticos: entanto, deve ser ressaltado que tais infartos não são infar-
A. Aura preenchendo o critério B tos migranosos. Os mecanismos do risco aumentado de aci-
B. Ocorrendo em um paciente com 1.2 Migrânea com dente vascular cerebral isquêmico em pacientes migranosos
aura e típica de auras prévias, exceto por Um ou mais permanecem obscuros; do mesmo modo, a relação entre a
sintomas de aura persistirem por ≥1 semana frequência da aura e a natureza dos sintomas de aura, deno-
C. Exames de neuroimagem não mostram evidência de tando o aumento no risco ainda é desconhecido. A maioria
infarto dos estudos tem mostrado uma falta de associação entre 1.1
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. Migrânea sem aura e acidente vascular cerebral isquêmico.

Comentários: Sintomas persistentes de aura são raros, porém


bem documentados. São frequentemente bilaterais e podem 1.4.4 Crise epiléptica desencadeada
persistir por meses ou anos. O período mínimo de uma por aura migranosa
semana no critério B é baseado na opinião de experts e deve
ser formalmente estudado. Descrição: Uma crise epiléptica desencadeada por uma crise
A investigação diagnóstica deve diferenciar 1.4.2 Aura de migrânea com aura.
persistente sem infarto de 1.4.3 Infarto migranoso, e excluir
aura sintomática devida a um infarto cerebral por outras cau- Critérios diagnósticos:
sas. Crises com aura prolongada durando menos que uma A. Uma crise preenchendo os critérios diagnósticos para
semana e que não preenchem os critérios para 1.2.1 Migrâ- um tipo de crise epiléptica, e o critério B, abaixo
nea com aura típica são codificados como 1.5.2 Provável B. Ocorrendo em um paciente com 1.2 Migrânea com
migrânea com aura. aura, durante ou dentro de uma hora após uma crise de
migrânea com aura
C. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
1.4.3 Infarto migranoso
Comentários: Migrânea e epilepsia são exemplos prototípi-
Descrição: Um ou mais sintomas de aura migranosa ocorrendo cos de transtornos cerebrais paroxísticos. Enquanto que as
em associação com uma lesão cerebral isquêmica no território cefaleias com características migranosas são vistas com uma
apropriado demonstrada por exame de neuroimagem, com iní- certa frequência no período pós-ictal epiléptico, algumas
cio durante o curso de uma crise típica de migrânea com aura. vezes uma crise epiléptica ocorre durante ou depois de uma
crise de migrânea. Esse fenômeno, algumas vezes descrito
Critérios diagnósticos: como migralepsia, é um evento raro, originalmente descrito
A. Crise de migrânea preenchendo os critérios B e C em pacientes com 1.2 Migrânea com aura. Faltam evidên-
B. Ocorrendo em um paciente com 1.2 Migrânea com aura cias de uma associação com 1.1 Migrânea sem aura.

30
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

1.5 Provável migrânea B. Não preenchendo os critérios da ICHD-3 para qualquer


outra cefaleia
Termos previamente utilizados: Distúrbio migranoso. C. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.

Codificada em outro local: A cefaleia do tipo migrânea secundá-


ria a outro transtorno (migrânea sintomática) é codificada de 1.6 Síndromes episódicas que podem
acordo com esse transtorno. estar associadas à migrânea
Descrição: Crises de cefaleia migrânea-símile para os quais Termo previamente utilizado: Síndromes periódicas da infância.
falta uma das características necessárias para preencher
todos os critérios para um tipo ou subtipo de migrânea codi- Comentários: Este grupo de transtornos ocorre em pacien-
ficados anteriormente e que não preenchem os critérios para tes que também apresentam 1.1 Migrânea sem aura ou 1.2
outra cefaleia. Migrânea com aura, ou que apresentam uma probabilidade
aumentada de desenvolver qualquer um desses transtornos.
Critérios diagnósticos: Embora historicamente observados na infância, eles também
A. Crises preenchendo todos, exceto um, os critérios A-D podem ocorrer em adultos.
para 1.1 Migrânea sem aura, ou todos, exceto um, os As condições adicionais que também podem ocorrer nes-
critérios de A-C, para 1.2 Migrânea com aura ses pacientes incluem episódios de cinetose e transtornos
B. Não preenchendo os critérios da ICHD-3 para qualquer periódicos do sono, incluindo sonambulismo, sonilóquio,
outra cefaleia terror noturno e bruxismo.
C. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.

Comentários: Ao diagnosticar uma cefaleia, as crises que 1.6.1 Distúrbio gastrointestinal recorrente
preenchem os critérios tanto para 2. Cefaleia do tipo tensão
(CTT) como para 1.5 Provável migrânea, são codificados Termos previamente utilizados: Dor abdominal crônica; dor
como a primeira, de acordo com a regra geral de que um diag- abdominal funcional; dispepsia funcional; síndrome do
nóstico definitivo prevalece sobre um diagnóstico provável. intestino irritável; síndrome da dor abdominal funcional.
No entanto, em pacientes que já possuem um diagnóstico de
migrânea e quando a questão é a contagem do número de Descrição: Crises episódicas recorrentes de dor e/ou descon-
crises que esses estão apresentando (p.ex. como uma medida forto abdominal, náusea e/ou vômito, ocorrendo infrequente-
de desfecho em um ensaio clínico), as crises que preenchem mente, de forma crônica crônica ou a intervalos previsíveis,
os critérios para 1.5 Provável migrânea devem ser contabili- que podem ter associação com a migrânea.
zadas como migrânea. A razão para isso é que crises leves de
migrânea, ou as crises tratadas precocemente, frequentemente Critérios diagnósticos:
não chegam a desenvolver todas as características necessá- A. Ao menos cinco crises com episódios distintos de dor e/
rias para um diagnóstico de crise migranosa, mas, no entanto, ou desconforto abdominal e/ou náusea e/ou vômito
respondem aos tratamentos específicos para migrânea. B. Avaliação e exame gastrointestinais normais
C. Não atribuído a outro transtorno.

1.5.1 Provável migrânea sem aura


1.6.1.1 Síndrome dos vômitos cíclicos
Critérios diagnósticos:
A. Crises preenchendo todos, exceto um, os critérios A-D Descrição: Crises episódicas recorrentes de náuseas inten-
para 1.1 Migrânea sem aura sas e vômitos, habitualmente estereotipadas no indivíduo e
B. Não preenchendo os critérios da ICHD-3 para nenhuma com episódios de distribuição temporal previsível. As cri-
outra cefaleia ses podem estar associadas a palidez e letargia. Há completo
C. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. desaparecimento dos sintomas entre as crises.

Critérios diagnósticos:
1.5.2 Provável migrânea com aura A. Ao menos cinco crises de náusea e vômitos intensos,
preenchendo os critérios B e C
Critérios diagnósticos: B. Estereotipada em um paciente específico e recorrente,
A. Crises preenchendo todos, exceto um, os critérios A-C com periodicidade previsível
para 1.2 Migrânea com aura, ou para qualquer um de C. Todos os seguintes:
seus subtipos

31
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

1. náusea e vômitos ocorrendo ao menos quatro vezes Nota:


por hora 1. Em particular, a história e o exame físico não mostram
2. as crises duram por ≥1 hora, por até 10 dias sinais de doença gastrointestinal ou renal, ou tal doença
3. as crises ocorrem com ≥1 semana de intervalo foi descartada através de investigações apropriadas.
D. Completa ausência dos sintomas entre as crises
E. Não atribuída a outro transtorno.1 Comentários: A dor de 1.6.1.2 Migrânea abdominal é sufi-
cientemente forte a ponto de interferir com as atividades diá-
Notas: rias normais.
1. Em particular, a história e o exame físico não mostram Em crianças pequenas, a presença de cefaleia é frequen-
sinais de doença gastrointestinal. temente negligenciada. Um histórico cuidadoso sobre a pre-
sença ou a ausência de cefaleia deve ser obtido e, caso seja
Comentários: A 1.6.1.1 Síndrome dos vômitos cíclicos é tipi- identificada cefaleia durante as crises, um diagnóstico de 1.1
camente uma condição episódica autolimitada que ocorre na Migrânea sem aura deve ser considerado.
infância, com períodos de total normalidade entre os episó- As crianças podem achar difícil distinguir anorexia de
dios. A natureza cíclica é a sua marca registrada e as crises náusea. A palidez é frequentemente acompanhada por olhei-
são previsíveis. ras. Em alguns pacientes, o rubor é o fenômeno vasomotor
Esse transtorno foi primeiramente incluído como uma predominante.
síndrome periódica da infância na ICHD-II. As caracterís- A maioria das crianças com migrânea abdominal desen-
ticas clínicas dessa síndrome assemelham-se àquelas encon- volverá cefaleia migranosa ao longo da vida.
tradas em associação com as cefaleias migranosas, e múlti-
plas linhas de pesquisa durante os últimos anos têm sugerido
que a 1.6.1.1 Síndrome dos vômitos cíclicos é uma condição 1.6.2 Vertigem paroxística benigna
relacionada à migrânea.
Descrição: É um transtorno caracterizado por crises breves recor-
rentes de vertigem, que ocorrem sem aviso e desaparecem espon-
1.6.1.2 Migrânea abdominal taneamente, em crianças saudáveis sob os demais aspectos.

Descrição: É um transtorno idiopático observado principal- Critérios diagnósticos:


mente em crianças, na forma de crises recorrentes de dor A. Ao menos cinco crises preenchendo os critérios B e C
abdominal moderada a forte, localizada na linha média B. Vertigem1 ocorrendo sem aviso, com intensidade
e associada a sintomas vasomotores, náusea e vômitos, máxima no seu início e desaparecendo espontanea-
durando 2-72 horas, com normalidade entre os episódios. mente após minutos a horas, sem perda da consciência
Não ocorre cefaleia durante esses episódios. C. Ao menos um dos seguintes sintomas ou sinais
associados:
Critérios diagnósticos: 1. nistagmo
A. Ao menos cinco crises de dor abdominal, preenchendo 2. ataxia
os critérios B-D 3. vômito
B. A dor possui ao menos duas das três seguintes 4. palidez
características: 5. medo
1. localização na linha média, na região periumbilical D. Exame neurológico e funções audiométricas e vestibu-
ou mal localizada lares normais entre as crises
2. qualidade dolente ou tipo “apenas dolorida” E. Não atribuída a outro transtorno.2
3. intensidade moderada ou forte
C. Ao menos dois dos quatro seguintes sintomas ou sinais Notas:
associados: 1. Crianças pequenas com vertigem podem não ser capazes
1. anorexia de descrever os sintomas vertiginosos. Nessas crianças, a
2. náusea observação de períodos episódicos de desequilíbrio, feita
3. vômito pelos pais, pode ser interpretada como vertigem.
4. palidez 2. Em particular, os tumores da fossa posterior, as crises
D. As crises duram 2-72 horas, quando não tratadas ou tra- epilépticas e os transtornos vestibulares foram excluídos.
tadas sem sucesso
E. Ausência completa de sintomas entre as crises Comentários: A relação entre 1.6.2 Vertigem paroxística
F. Não atribuída a outro transtorno.1 benigna e A1.6.6 Migrânea vestibular (ver Apêndice) pre-
cisa ser mais estudada.

32
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

1.6.3 Torcicolo paroxístico benigno GBD 2015 Disease and Injury Incidence and Prevalence Collab-
orators. Global, regional, and national incidence, prevalence,
Descrição: Episódios recorrentes de inclinação da cabeça para and years lived with disability for 310 diseases and injuries,
um lado, talvez com leve rotação, que remite espontanea- 1990–2015: a systematic analysis for the Global Burden of Dis-
mente. Essa condição ocorre em bebês e crianças pequenas, ease Study 2015. Lancet 2016; 388: 1545–1602.
com início no primeiro ano. Gelfand AA, Fullerton HJ and Goadsby PJ. Child neurology:
migraine with aura in children. Neurology 2010; 75(5): e16–e19.
Critérios diagnósticos: Goadsby PJ. Migraine pathophysiology. Headache 2005; 45(Suppl
A. Crises recorrentes1 em uma criança pequena, preen- 1): S14–S24.
chendo os critérios B e C Goadsby PJ. Recent advances in the diagnosis and management of
B. Inclinação da cabeça para qualquer lado, com ou sem migraine. BMJ 2006; 332: 25–29.
rotação leve, remitindo espontaneamente após minutos Katsarava Z, Manack A, Yoon MS, et al. Chronic migraine: classifi-
a dias cation and comparisons. Cephalalgia 2011; 31: 520–529.
C. Ao menos um dos cinco seguintes sintomas ou sinais Lipton RB, Bigal ME, Steiner TJ, et al. Classification of primary
associados: headaches. Neurology 2004; 63: 427–435.
1. palidez Martelletti P, Haimanot RT, Lainez MJ, et al. The Global Campaign
2. irritabilidade (GC) to Reduce the Burden of Headache Worldwide. The Inter-
3. mal-estar national Team for Specialist Education (ITSE). J Headache
4. vômito Pain 2005; 6: 261–263.
5. ataxia2 Silberstein SD. Migraine. Lancet 2004; 363: 381–391.
D. Exame neurológico normal entres as crises Vetvik KG, Macgregor EA, Lundqvist C, et al. Prevalence of men-
E. Não atribuída a outro transtorno.3 strual migraine: a populationbased study. Cephalalgia 2014;
34: 280–288.
Notas: Vetvik KG, Benth JS, MacGregor EA, et al. Menstrual versus
1. As crises tendem a recorrer mensalmente. non-menstrual attacks of migraine without aura in women with and
2. A ataxia é mais provável nas crianças mais velhas dentro without menstrual migraine. Cephalalgia 2015; 35: 1261–1268.
da faixa etária afetada. Vos T, Flaxman AD, Naghavi M, et al. Years lived with disability
3. O diagnóstico diferencial inclui refluxo gastroesofágico, (YLD) for 1160 sequelae of 289 diseases and injuries 1990–
distonia torcional idiopática e crise parcial complexa, 2010: a systematic analysis for the global burden of disease
mas atenção especial deve ser dada à fossa posterior e à study 2010. Lancet 2012; 380: 2163–2196.
junção craniocervical, onde lesões congênitas ou adqui-
ridas podem produzir torcicolo. 1.2  Migrânea com aura
Cao Y, Welch KM, Aurora S, et al. Functional MRIBOLD of visu-
Comentários: A cabeça da criança pode ser reconduzida à ally triggered headache in patients with migraine. Arch Neurol
posição neutra durante as crises: pode-se encontrar alguma 1999; 56: 548–554.
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37
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

2. Cefaleia do tipo tensão (CTT) dados, contanto que haja evidência de boa qualidade de
que esse transtorno pode causar cefaleia.
2.1 Cefaleia do tipo tensão episódica infrequente
2.1.1 Cefaleia do tipo tensão episódica infrequente associada a No caso da cefaleia do tipo tensão crônica associada ao
dolorimento pericraniano uso excessivo de medicamentos, frequentemente é difícil
2.1.2 Cefaleia do tipo tensão episódica infrequente não associada estabelecer uma estreita relação temporal. Portanto, ambos
a dolorimento pericraniano os diagnósticos, 2.3 Cefaleia do tipo tensão crônica e 8.2
2.2 Cefaleia do tipo tensão episódica frequente Cefaleia por uso excessivo de medicamentos (MOH/CEM)
2.2.1 Cefaleia do tipo tensão episódica frequente associada a devem ser dados em todos os casos desse tipo.
dolorimento pericraniano
2.2.2 Cefaleia do tipo tensão episódica frequente não associada a
dolorimento pericraniano Introdução
2.3 Cefaleia do tipo tensão crônica
2.3.1 Cefaleia do tipo tensão crônica associada a dolorimento A 2. Cefaleia do tipo tensão (CTT) é muito comum, com
pericraniano uma prevalência vitalícia na população geral variando entre
2.3.2 Cefaleia do tipo tensão crônica não associada a dolorimento 30% e 78% em diferentes estudos e tendo um alto impacto
pericraniano socioeconômico.
2.4 Provável cefaleia do tipo tensão Embora ela tenha sido previamente considerada como
2.4.1 Provável cefaleia do tipo tensão episódica infrequente primariamente psicogênica, vários estudos, desde a publica-
2.4.2 Provável cefaleia do tipo tensão episódica frequente ção da ICHD-I, sugerem fortemente uma base neurobioló-
2.4.3 Provável cefaleia do tipo tensão crônica gica ao menos para os subtipos mais graves da 2. Cefaleia do
tipo tensão (CTT).
Termos previamente utilizados: Cefaleia de tensão; cefaleia da A divisão de 2. Cefaleia do tipo tensão (CTT) nos tipos
contração muscular; cefaleia psicomiogênica; cefaleia do episódico e crônico, introduzida na ICHD-I, provou-se
estresse; cefaleia comum; cefaleia essencial; cefaleia idiopá- extremamente útil. Na ICHD-II, a forma episódica foi subdi-
tica; cefaleia psicogênica. vidida em um tipo infrequente, com menos de uma crise de
cefaleia por mês e em um tipo frequente. A 2.2 Cefaleia do
Codificada em outro local: Cefaleia do tipo tensão-símile tipo tensão episódica frequente pode ser associada com inca-
atribuída a outro transtorno é codificada para aquele pacidade considerável e, algumas vezes, requer tratamento
transtorno. com medicamentos caros. Em contraste, a 2.1 Cefaleia do
tipo tensão episódica infrequente, que ocorre praticamente
em toda a população, geralmente tem um impacto muito
Comentário geral pequeno no indivíduo e, na maioria das situações, não requer
atenção médica. A distinção entre 2.1 Cefaleia do tipo tensão
Cefaleia primária, secundária ou ambas? Três regras aplicam-se episódica infrequente e 2.2 Cefaleia do tipo tensão episódica
à cefaleia do tipo tensão, de acordo com as circunstâncias: frequente separa, portanto, os indivíduos que tipicamente não
necessitam de atendimento médico e evita categorizar quase
1. Quando uma nova cefaleia com características de cefa- toda a população como portadores de uma cefaleia signifi-
leia do tipo tensão ocorre pela primeira vez em estreita cativa, porém ainda assim permitindo que as suas cefaleias
relação temporal com outro transtorno que é reconhecido sejam classificadas. A 2.3 Cefaleia do tipo tensão crônica é
como uma causa de cefaleia, ou preenche outros critérios uma doença grave, que acarreta um grande declínio na qua-
de causalidade para aquele transtorno, a nova cefaleia é lidade de vida e alto grau de incapacidade.
classificada como uma cefaleia secundária atribuída a Os mecanismos exatos da 2. Cefaleia do tipo tensão
esse transtorno causador. (CTT) não são conhecidos. Mecanismos periféricos de dor
2. Quando uma cefaleia do tipo tensão pré-existente torna- mais provavelmente desempenham um papel na 2.1 Cefaleia
-se crônica em estreita relação temporal com um desses do tipo tensão episódica infrequente e na 2.2 Cefaleia do
transtornos causadores de cefaleia, tanto o diagnóstico tipo tensão episódica frequente, ao passo que mecanismos
inicial de cefaleia do tipo tensão como o diagnóstico centrais de dor desempenham um papel mais importante na
secundário devem ser dados. 2.3 Cefaleia do tipo tensão crônica. O dolorimento pericra-
3. Quando uma cefaleia do tipo tensão pré-existente torna- niano aumentado é o achado anormal mais significativo nos
-se significativamente pior (habitualmente significando pacientes com qualquer tipo de 2. Cefaleia do tipo tensão
um aumento de duas vezes ou mais na frequência e/ou (CTT): está tipicamente presente interictalmente, exacerba-
gravidade) em estreita relação temporal com um desses -se durante a cefaleia propriamente dita e aumenta com a
transtornos causais, tanto o diagnóstico inicial de cefaleia intensidade e a frequência das crises de cefaleia. O aumento
do tipo tensão como o diagnóstico secundário devem ser do dolorimento muito provavelmente é de importância pato-

38
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

fisiológica. A ICHD-II diferenciou, portanto, os pacientes 2. qualidade em pressão ou aperto (não pulsátil)
com e sem este transtorno dos músculos pericranianos, uma 3. intensidade fraca ou moderada
subdivisão mantida na ICHD-3 para estimular mais pesqui- 4. não agravada por atividade física rotineira como
sas nesta área. caminhar ou subir escadas
O dolorimento pericraniano é facilmente detectado e D. Ambos os seguintes:
registrado por meio da palpação manual. Pequenos movi- 1. ausência de náusea ou vômitos
mentos rotatórios utilizando os dedos indicador e médio, e 2. não mais que um dos seguintes: fotofobia ou
pressão firme (preferencialmente auxiliada pelo uso de um fonofobia
palpômetro), proporcionam escores de dolorimento local E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.1
de 0-3 para os músculos frontal, temporal, masseter, pteri-
góideo, esternocleidomastóideo, esplênio e trapézio. Estes Nota:
escores podem ser somados para se obter um escore de dolo- 1. Quando a cefaleia preenche o critério tanto para 1.5 Pro-
rimento total para cada paciente. Essas medidas são um guia vável migrânea como para 2.1 Cefaleia do tipo tensão
útil para o tratamento e adicionam valor e credibilidade às episódica infrequente, codificar como 2.1 Cefaleia do
explicações dadas ao paciente. tipo tensão episódica infrequente (ou como qualquer
A dificuldade diagnóstica mais frequentemente encon- subtipo para o qual os critérios são preenchidos), sob
trada entre as cefaleias primárias está na discriminação entre a regra geral de que os diagnósticos definitivos sempre
a 2. Cefaleia do tipo tensão (CTT) e formas leves da 1.1 superam os diagnósticos prováveis.
Migrânea sem aura. Isso ocorre sobretudo pelo fato de que
pacientes com cefaleias frequentes frequentemente sofrem
de ambos os transtornos. Foram sugeridos critérios diagnós- 2.1.1 Cefaleia do tipo tensão episódica infrequente
ticos mais estritos para 2. Cefaleia do tipo tensão (CTT), na associada a dolorimento pericraniano
esperança de excluir a migrânea que fenotipicamente asse-
melha-se à cefaleia do tipo tensão. Tais critérios foram pro- Critérios diagnósticos:
postos no Apêndice da ICHD-II como A2. Cefaleia do tipo A. Episódios preenchendo os critérios para 2.1 Cefaleia do
tensão. No entanto, o aumento na especificidade dos critérios tipo tensão episódica infrequente
reduz a sua sensibilidade, resultando em grandes proporções B. Dolorimento pericraniano aumentado à palpação manual.
de pacientes cujas cefaleias podem ser classificadas somente
como 2.4 Provável cefaleia do tipo tensão ou 1.5 Provável
migrânea. Ainda na falta de evidências de que tal mudança 2.1.2 Cefaleia do tipo tensão episódica infrequente
seria benéfica, estes critérios diagnósticos mais estritos não associada a dolorimento pericraniano
permanecem no Apêndice, apenas para fins de pesquisa.
O Comitê de Classificação recomenda comparações entre Critérios diagnósticos:
pacientes diagnosticados de acordo com cada conjunto de A. Crises preenchendo os critérios para 2.1 Cefaleia do
critérios, não apenas para a caracterização das características tipo tensão episódica infrequente
clínicas como também para a investigação dos mecanismos B. Sem aumento do dolorimento pericraniano.
patofisiológicos e da resposta aos tratamentos.

2.2 Cefaleia do tipo tensão


2.1 Cefaleia do tipo tensão episódica frequente
episódica infrequente
Descrição: Episódios frequentes de cefaleia tipicamente bila-
Descrição: Episódios infrequentes de cefaleia tipicamente teral, de qualidade em pressão ou aperto e de intensidade
bilateral, de qualidade em pressão ou aperto e de intensidade leve a moderada, durando de minutos a dias. A dor não piora
fraca a moderada, durando de minutos a dias. A dor não piora com a atividade física rotineira e não é associada a náusea,
com a atividade física rotineira e não está associada a náusea, apesar de que fotofobia ou fonofobia podem estar presentes.
apesar de que fotofobia ou fonofobia podem estar presentes.
Critérios diagnósticos:
Critérios diagnósticos: A. Ao menos 10 episódios de cefaleia ocorrendo em média
A. Ao menos 10 episódios de cefaleia ocorrendo em <1 em 1-14 dias/mês por >3 meses (≥12 e <180 dias por
dia/mês em média (<12 dias/ano) e preenchendo os cri- ano) e preenchendo os critérios B-D
térios B-D B. Duração de 30 minutos a sete dias
B. Duração de 30 minutos a sete dias C. Ao menos duas das quatro seguintes características:
C. Ao menos duas das quatro seguintes características: 1. localização bilateral
1. localização bilateral 2. qualidade em pressão ou aperto (não pulsátil)

39
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

3. intensidade fraca ou moderada frequentes de cefaleia tipicamente bilateral, de qualidade


4. não agravada por atividade física rotineira como em pressão ou aperto e de intensidade fraca a moderada,
caminhar ou subir escadas durando de horas a dias ou sem remissão. A dor não piora
D. Ambos os seguintes: com a atividade física rotineira, mas pode estar associada a
1. ausência de náusea ou vômitos náusea leve, fotofobia ou fonofobia.
2. fotofobia ou fonofobia (apenas uma delas pode
estar presente) Critérios diagnósticos:
E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.­1 A. Cefaleia ocorrendo em média em ≥15 dias/mês, por >3
meses (≥180 dias/ano), preenchendo os critérios B-D
Nota: B. Duração de horas a dias, ou sem remissão
1. Quando a cefaleia preenche o critério tanto para 1.5 Pro- C. Ao menos duas das quatro seguintes características:
vável migrânea como para 2.2 Cefaleia do tipo tensão 1. localização bilateral
episódica frequente, codificar como 2.2 Cefaleia do tipo 2. qualidade em pressão ou aperto (não pulsátil)
tensão episódica frequente (ou como qualquer subtipo 3. intensidade fraca ou moderada
para o qual os critérios são preenchidos), sob a regra 4. não agravada por atividade física rotineira como
geral de que os diagnósticos definitivos sempre superam caminhar ou subir escadas
os diagnósticos prováveis. D. Ambos os seguintes:
1. não mais que um dos seguintes: fotofobia, fonofo-
Comentário: A 2.2 Cefaleia do tipo tensão episódica frequente bia ou náusea leve
muitas vezes coexiste com 1.1 Migrânea sem aura. Ambos 2. ausência de náusea moderada ou intensa ou de
os transtornos precisam ser identificados, preferencialmente vômitos
através do uso de um diário diagnóstico de cefaleia, já que E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.1-3
os tratamentos de cada um diferem consideravelmente. É
importante educar os pacientes para diferenciar entre esses Notas:
tipos de cefaleia, se o seu intuito é selecionar o tratamento 1. Tanto a 2.3 Cefaleia do tipo tensão crônica como a 1.3
correto para cada uma delas, evitando o uso excessivo de Migrânea crônica requerem a presença de cefaleia em 15
medicamentos e a sua consequência adversa, a 8.2 Cefaleia ou mais dias/mês. Para 2.3 Cefaleia do tipo tensão crô-
por uso excessivo de medicamentos (MOH/CEM). nica, a cefaleia deve, em ao menos 15 dias, atender aos
critérios B-D para 2.2 Cefaleia do tipo tensão episódica
frequente. Para 1.3 Migrânea crônica, a cefaleia deve,
2.2.1 Cefaleia do tipo tensão episódica frequente em ao menos oito dias, atender aos critérios B-D para
associada a dolorimento pericraniano 1.1 Migrânea sem aura. Um paciente pode, portanto,
preencher os critérios para ambos esses diagnósticos;
Critérios diagnósticos: por exemplo, apresentando cefaleia em 25 dias/mês aten-
A. Crises preenchendo os critérios para 2.2 Cefaleia do tipo dendo aos critérios para migrânea para oito dias e para
tensão episódica frequente cefaleia do tipo tensão em 17 dias. Nestes casos, somente
B. Dolorimento pericraniano aumentado à palpação manual. o diagnóstico 1.3 Migrânea crônica deve ser dado.
2. A 2.3 Cefaleia do tipo tensão crônica desenvolve-se
ao longo do tempo a partir da 2.2 Cefaleia do tipo ten-
2.2.2 Cefaleia do tipo tensão episódica frequente não são episódica frequente; quando esses critérios A-E são
associada a dolorimento pericraniano preenchidos por uma cefaleia que, inequivocamente, é
diária e incessante desde menos de 24 horas após seu pri-
Critérios diagnósticos meiro aparecimento, codificar como 4.10 Cefaleia per-
A. Crises preenchendo os critérios para 2.2 Cefaleia do tipo sistente e diária desde o início. Quando a forma de início
tensão episódica frequente não é lembrada ou é de alguma forma incerta, codificar
B. Sem aumento do dolorimento pericraniano. como 2.3 Cefaleia do tipo tensão crônica.
3. Em muitos casos incertos, há uso excessivo de medica-
mentos. Quando esses preenchem o critério B para qual-
2.3 Cefaleia do tipo tensão crônica quer dos subtipos de 8.2 Cefaleia por uso excessivo de
medicamentos (MOH/CEM) e o critério para 2.3 Cefaleia
Codificada em outro local: 4.10 Cefaleia persistente e diária do tipo tensão crônica também é preenchido, a regra é
desde o início. codificar tanto para 2.3 Cefaleia do tipo tensão crônica
como para 8.2 Cefaleia por uso excessivo de medica-
Descrição: Transtorno que evolui a partir da cefaleia do tipo mentos (MOH/CEM). Após a retirada do(s) fármaco(s),
tensão episódica frequente, com episódios diários ou muito o diagnóstico deve ser reavaliado: não é incomum que o

40
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

critério para 2.3 Cefaleia do tipo tensão crônica não seja 2.4.2 Provável cefaleia do tipo tensão
mais preenchido, com reversão para um ou outro tipo episódica frequente
episódico. Quando o transtorno permanece crônico após
a retirada, o diagnóstico de 8.2 Cefaleia por uso exces- Critérios diagnósticos:
sivo de medicamentos (MOH/CEM) pode ser rescindido. A. Episódios de cefaleia preenchendo todos, exceto um, os
critérios A-D para 2.2 Cefaleia do tipo tensão episódica
frequente
2.3.1 Cefaleia do tipo tensão crônica associada B. Não preenchendo os critérios da ICHD-3 para qualquer
a dolorimento pericraniano outra cefaleia
C. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
Critérios diagnósticos:
A. Cefaleia preenchendo os critérios para 2.3 Cefaleia do
tipo tensão crônica 2.4.3 Provável cefaleia do tipo tensão crônica
B. Dolorimento pericraniano aumentado à palpação manual.
Critérios diagnósticos:
A. Cefaleia preenchendo todos, exceto um, os critérios
2.3.2 Cefaleia do tipo tensão crônica não associada a A-D para 2.3 Cefaleia do tipo tensão crônica
dolorimento pericraniano B. Não preenchendo os critérios da ICHD-3 para qualquer
outra cefaleia
Critérios diagnósticos: C. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
A. Cefaleia preenchendo os critérios para 2.3. Cefaleia do
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43
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

3. Cefaleias trigeminoautonômicas (CTAs) Introdução


3.1 Cefaleia em salvas Os aspectos clínicos compartilhados pelas CTAs são a cefa-
3.1.1 Cefaleia em salvas episódica leia unilateral, e, habitualmente, as manifestações autonô-
3.1.2 Cefaleia em salvas crônica micas parassimpáticas cranianas proeminentes, as quais são
3.2 Hemicrania paroxística lateralizadas e ipsilaterais à cefaleia. Estudos humanos e
3.2.1 Hemicrania paroxística episódica experimentais de imagem funcional sugerem que essas sín-
3.2.2 Hemicrania paroxística crônica (HPC) dromes ativam um reflexo trigeminoparassimpático humano
3.3 Crises de cefaleia neuralgiforme unilateral breve normal, com os sinais clínicos de disfunção simpática cra-
3.3.1 Crises de cefaleia neuralgiforme unilateral breve com niana sendo secundários.
hiperemia conjuntival e lacrimejamento (SUNCT) Aura migranosa típica pode ser observada, raramente, em
3.3.1.1 SUNCT episódica associação com as CTAs.
3.3.1.2 SUNCT crônica
3.3.2 Crises de cefaleia neuralgiforme unilateral breve com
sintomas autonômicos cranianos (SUNA) 3.1 Cefaleia em salvas
3.3.2.1 SUNA episódica
3.3.2.2 SUNA crônica Termos previamente utilizados: Neuralgia ciliar; eritromelalgia
3.4 Hemicrania contínua da cabeça; eritroprosopalgia de Bing; hemicrania angiopara-
3.4.1 Hemicrania contínua, subtipo remitente lítica; hemicrania neuralgiforme crônica; cefalalgia histamí-
3.4.2 Hemicrania contínua, subtipo não remitente nica; cefaleia de Horton; doença de Harris-Horton; neuralgia
3.5 Provável cefaleia trigeminoautonômica migranosa (de Harris), neuralgia petrosa (de Gardner); neu-
3.5.1 Provável cefaleia em salvas ralgia de Sluder; neuralgia esfenopalatina; neuralgia vidiana.
3.5.2 Provável hemicrania paroxística
3.5.3 Prováveis crises de cefaleia neuralgiforme unilateral breve Codificada em outro local: A cefaleia em salvas sintomática,
3.5.4 Provável hemicrania contínua secundária a outro transtorno, é codificada como uma cefa-
leia secundária atribuída a esse transtorno.

Comentários geral Descrição: Crises de dor estritamente unilateral, forte, a qual


é orbital, supraorbital, temporal ou ocorre em qualquer com-
Cefaleia primária, secundária ou ambas? Três regras aplicam-se à binação dessas áreas, durando 15-180 minutos e ocorrendo
cefaleia com as características de uma cefaleia trigeminoau- desde em dias alternados até oito vezes por dia. A dor está
tonômica (CTA), de acordo com as circunstâncias. associada a injeção conjuntival, lacrimejamento, congestão
nasal, rinorreia, sudorese frontal e facial, miose, ptose e/
1. Quando uma nova cefaleia com as características de ou edema palpebral, ipsilaterais à dor, e/ou a inquietude ou
uma CTA ocorre pela primeira vez em estreita relação agitação.
temporal com outro transtorno que é reconhecido como
uma causa de cefaleia, ou preenche outros critérios de Critérios diagnósticos:
causalidade por aquele transtorno, a nova cefaleia é clas- A. Ao menos cinco crises preenchendo os critérios B-D
sificada como uma cefaleia secundária atribuída a esse B. Dor forte ou muito forte unilateral, orbital, supraorbital
transtorno causador. e/ou temporal, durando 15-180 minutos (quando não
2. Quando uma CTA pré-existente se torna crônica em tratada)1
estreita relação temporal com um desses transtornos cau- C. Um dos ou ambos os seguintes:
sadores de cefaleia, tanto o diagnóstico inicial de CTA 1. ao menos um dos seguintes sintomas ou sinais,
como o diagnóstico secundário devem ser dados. ipsilaterais à cefaleia:
3. Quando uma CTA pré-existente se torna significativa- a. injeção conjuntival e/ou lacrimejamento
mente pior (habitualmente significando um aumento de b. congestão nasal e/ou rinorreia
duas vezes ou mais na frequência e/ou intensidade) em c. edema palpebral
estreita relação temporal com um desses transtornos cau- d. sudorese frontal e facial
sadores de cefaleia, tanto o diagnóstico inicial de CTA e. miose e/ou ptose
como o diagnóstico secundário devem ser dados, con- 2. sensação de inquietude ou de agitação
tanto que haja evidência de boa qualidade de que esse D. Ocorrendo com uma frequência entre uma a cada dois
transtorno pode causar cefaleia. dias e oito por dia2
E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.

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TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

Notas: Comentário: Os períodos de salvas habitualmente duram entre


1. Durante uma parte, mas menos da metade, do período duas semanas e três meses.
ativo da A3.1 Cefaleia em salvas, as crises podem ser
menos intensas e/ou de duração mais curta ou mais longa.
2. Durante uma parte, mas menos da metade, do período 3.1.2 Cefaleia em salvas crônica
ativo da 3.1 Cefaleia em salvas, as crises podem ser
menos frequentes. Descrição: Crises de cefaleia em salvas ocorrendo por um
ano ou mais, sem remissão, ou com períodos de remissão
Comentários: As crises ocorrem em séries que duram semanas durando menos de três meses.
ou meses (chamados de períodos de salvas, ou surtos), sepa-
rados por períodos de remissão que habitualmente duram Critérios diagnósticos:
meses ou anos. Cerca de 10-15% dos pacientes apresentam A. Crises preenchendo os critérios para 3.1 Cefaleia em
3.1.2 Cefaleia em salvas crônica, sem esses períodos de salvas e o critério B abaixo
remissão. Em uma série ampla com bom acompanhamento, B. Ocorrendo sem um período de remissão, ou com remis-
um quarto dos pacientes apresentou somente um único sões durando <3 meses, por ao menos um ano.
período de salvas. Estes pacientes preenchem os critérios
para e devem ser codificados como 3.1 Cefaleia em salvas. Comentário: A 3.1.2 Cefaleia em salvas crônica pode surgir de
Durante um período de salvas em 3.1.1 Cefaleia em sal- novo (previamente referida como cefaleia em salvas crônica
vas episódica, e em qualquer momento de 3.1.2 Cefaleia em primária), ou evoluir a partir da 3.1.1 Cefaleia em salvas epi-
salvas crônica, as crises ocorrem regularmente e podem ser sódica (previamente cefaleia em salvas crônica secundária).
provocadas pelo álcool, histamina ou nitroglicerina. Em alguns pacientes, a mudança ocorre de 3.1.2 Cefaleia em
A dor de 3.1 Cefaleia em salvas é máxima nas regiões salvas crônica para 3.1.1 Cefaleia em salvas episódica.
orbital, supraorbital, temporal ou em qualquer combina-
ção dessas áreas, mas pode espalhar-se para outras regiões.
Durante as piores crises, a intensidade da dor é excruciante. 3.2 Hemicrania paroxística
Os pacientes geralmente tornam-se incapazes de deitar
e, caracteristicamente, ficam andando de um lado a outro Descrição: Crises de dor estritamente unilateral, forte, a qual é
(“pacing”). A dor habitualmente recorre no mesmo lado da orbital, supraorbital, temporal ou ocorre em qualquer combi-
cabeça durante um período único de salva. nação dessas áreas, durando 2-30 minutos e ocorrendo várias
A idade de início é geralmente entre os 20 e 40 anos. Por ou muitas vezes ao dia. As crises são habitualmente associa-
razões desconhecidas, os homens são afetados com frequên- das a injeção conjuntival, lacrimejamento, congestão nasal,
cia três vezes maior que as mulheres. rinorreia, sudorese frontal e facial, miose, ptose e/ou edema
As crises agudas envolvem ativação na região da substân- palpebral, ipsilaterais à dor. Elas respondem de forma abso-
cia cinzenta hipotalâmica posterior. A 3.1 Cefaleia em salvas luta à indometacina.
pode ser autossômica dominante em cerca de 5% dos casos.
Alguns pacientes foram descritos como possuindo tanto Critérios diagnósticos:
3.1 Cefaleia em salvas e 13.1.1 Neuralgia trigeminal (algu- A. Ao menos 20 crises preenchendo os critérios B-E
mas vezes referida como síndrome cluster-tic). Eles devem B. Dor forte unilateral, orbital, supraorbital e/ou temporal,
receber ambos os diagnósticos. A importância dessa obser- durando de 2-30 minutos
vação é que ambas as condições devem ser tratadas a fim de C. Um dos ou ambos os seguintes:
que o paciente se torne livre da cefaleia. 1. ao menos um dos seguintes sintomas ou sinais,
ipsilaterais à cefaleia:
a. injeção conjuntival e/ou lacrimejamento
3.1.1 Cefaleia em salvas episódica b. congestão nasal e/ou rinorreia
c. edema palpebral
Descrição: Crises de cefaleia em salvas ocorrendo em perío- d. sudorese frontal e facial
dos que duram de sete dias a um ano, separadas por períodos e. miose e/ou ptose
livres de dor que duram ao menos três meses. 2. sensação de inquietude ou de agitação
D. Ocorrendo com uma frequência >5 por dia1
Critérios diagnósticos: E. Prevenidas de forma absoluta por doses terapêuticas de
A. Crises preenchendo os critérios para 3.1 Cefaleia em indometacina2
salvas e ocorrendo em surtos (períodos de salvas) F. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
B. Ao menos dois períodos de salvas durando de sete dias
a um ano (quando não tratadas) e separadas por perío- Notas:
dos de remissão livres de dor de ≥3 meses. 1. Durante parte, mas menos da metade, do período ativo da

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CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

3.2 Hemicrania paroxística, as crises podem ser menos das a lacrimejamento proeminente e vermelhidão do olho
frequentes. ipsilateral.
2. Em um adulto, a indometacina oral deve ser utilizada ini-
cialmente em uma dose de ao menos 150 mg ao dia e Critérios diagnósticos:
aumentada, se necessário, até 225 mg ao dia. A dose inje- A. Ao menos 20 crises preenchendo os critérios B-D
tável é de 100-200 mg. Doses de manutenção menores B. Dor cefálica unilateral moderada ou forte, com distri-
são frequentemente empregadas. buição orbital, supraorbital, temporal e/ou outra dis-
tribuição trigeminal, durando 1- 600 segundos e ocor-
Comentário: Diferentemente da cefaleia em salvas, não há rendo como estocadas únicas, séries de estocadas ou em
predominância masculina. O início ocorre habitualmente padrão de “dente de serra”
na vida adulta, apesar de que casos infantis também são C. Ao menos um dos cinco seguintes sintomas ou sinais
relatados. autonômicos cranianos, ipsilaterais à dor:
1. injeção conjuntival e/ou lacrimejamento
2. congestão nasal e/ou rinorreia
3.2.1 Hemicrania paroxística episódica 3. edema palpebral
4. sudorese frontal e facial
Descrição: Crises de hemicrania paroxística ocorrendo em 5. miose e/ou ptose
períodos que duram de sete dias a um ano, separados por D. Ocorrendo com uma frequência de ao menos uma ao
períodos sem dor durando ao menos três meses. dia1
E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
Critérios diagnósticos:
A. Crises preenchendo os critérios para 3.2 Hemicrania Nota:
paroxística e ocorrendo em surtos 1. Durante uma parte, mas menos da metade, do período
B. Ao menos dois surtos durando de sete dias a um ano ativo de 3.3 Crises de cefaleia neuralgiforme unilateral
(quando não tratada) e separados por períodos de remis- breve, as crises podem ser menos frequentes.
são sem dor de ≥3 meses.
Comentários: Crises de maior duração são caracterizadas por
múltiplas estocadas ou por um padrão de dor em “dente de
3.2.2 Hemicrania paroxística crônica (HPC) serra”.
Dois subtipos de 3.3 Crises de cefaleia neuralgiforme
Descrição: Crises de hemicrania paroxística ocorrendo por unilateral breve são reconhecidos: 3.3.1 Crises de cefaleia
mais de um ano sem remissão, ou com períodos de remissão neuralgiforme unilateral breve com hiperemia conjuntival e
durando menos de três meses. lacrimejamento (SUNCT) e 3.3.2 Crises de cefaleia neural-
giforme unilateral breve com sintomas autonômicos crania-
Critérios diagnósticos: nos (SUNA). A 3.3.1 SUNCT pode ser uma subforma de 3.3.2
A. Crises preenchendo os critérios para 3.2 Hemicrania SUNA, embora isso exija mais estudo. Entrementes, cada um
paroxística e o critério B a seguir é classificado como um subtipo distinto, descrito a seguir.
B. Ocorrendo sem um período de remissão, ou com remis- 3.3.1 SUNCT e 3.3.2 SUNA podem habitualmente ser
sões durando <3 meses, por ao menos um ano. desencadeadas sem um período refratário. Isso contrasta
com 13.1.1 Neuralgia trigeminal, a qual habitualmente pos-
Comentário: Os pacientes que preenchem os critérios tanto sui um período refratário após cada crise.
para 3.2.2 Hemicrania paroxística crônica (HPC) como para
13.1.1 Neuralgia trigeminal (às vezes chamada de síndrome
HPC-tic) devem receber ambos os diagnósticos. O seu reco- 3.3.1 Crises de cefaleia neuralgiforme unilateral
nhecimento é importante, já que ambos os transtornos reque- breve com hiperemia conjuntival e
rem tratamento. A significância patofisiológica da associação lacrimejamento (SUNCT)
ainda não é clara.
Critérios diagnósticos:
A. Crises preenchendo os critérios para 3.3 Crises de
3.3 Crises de cefaleia neuralgiforme cefaleia neuralgiforme unilateral breve e o critério B
unilateral breve abaixo
B. Ambos os seguintes, ipsilaterais à dor:
Descrição: Crises de dor cefálica estritamente unilateral, 1. injeção conjuntival
moderada ou forte, durando de segundos a minutos, ocor- 2. lacrimejamento
rendo ao menos uma vez ao dia e habitualmente associa-

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TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

Comentários: A literatura sugere que o simulador mais comum Critérios diagnósticos:


de 3.3.1 SUNCT é uma lesão na fossa posterior. A. Crises preenchendo os critérios para 3.3.2 Crises de
Têm sido descritos pacientes nos quais há sobreposição cefaleia neuralgiforme unilateral breve com sintomas
de 3.3.1 SUNCT e 13.1.1 Neuralgia trigeminal. A diferencia- autonômicos cranianos e ocorrendo em surtos
ção é complexa sob o ponto de vista clínico. Tais pacientes B. Ao menos dois surtos durando de sete dias a um ano
devem receber ambos os diagnósticos. (quando não tratada) e separados por períodos de remis-
Pacientes que apresentam tanto 3.3.1 SUNCT como 3.1 são livres de dor de ≥3 meses.
Cefaleia em salvas têm sido relatados; a significância patofi-
siológica dessa sobreposição ainda está por ser determinada.
3.3.2.2 SUNA crônica
3.3.1.1 SUNCT episódica
Descrição: Crises de SUNA ocorrendo por mais de um ano
Descrição: Crises de SUNCT ocorrendo em períodos durando sem remissão, ou com períodos de remissão durando menos
de sete dias a um ano, separados por períodos sem dor de três meses.
durando três meses ou mais.
Critérios diagnósticos:
Critérios diagnósticos: A. Crises preenchendo os critérios para 3.3.2 Crises de
A. Crises preenchendo os critérios para 3.3.1 Crises de cefaleia neuralgiforme unilateral breve com sintomas
cefaleia neuralgiforme unilateral breve com hiperemia autonômicos cranianos e o critério B abaixo
conjuntival e lacrimejamento e ocorrendo em surtos B. Ocorrendo sem um período de remissão, ou com remis-
B. Ao menos dois surtos durando de sete dias a um ano sões durando <3 meses, por ao menos 1 ano.
(quando não tratada) e separados por períodos de remis-
são sem dor de ≥3 meses.
3.4 Hemicrania contínua
3.3.1.2 SUNCT crônica Descrição: Cefaleia estritamente unilateral, persistente, asso-
ciada a injeção conjuntival, lacrimejamento, congestão nasal,
Descrição: Crises de SUNCT ocorrendo por mais de 1 ano sem rinorreia, sudorese frontal e facial, miose, ptose e/ou edema
remissão, ou com períodos de remissão com duração menor palpebral, ipsilaterais à dor, e/ou a inquietude ou agitação. A
que três meses. cefaleia é completamente sensível à indometacina.

Critérios diagnósticos: Critérios diagnósticos:


A. Crises preenchendo os critérios para 3.3.1 Crises de A. Cefaleia unilateral preenchendo os critérios B-D
cefaleia neuralgiforme unilateral breve com hiperemia B. Presente por >3 meses, com exacerbações de intensi-
conjuntival e lacrimejamento e o critério B abaixo dade moderada ou mais forte
B. Ocorrendo sem um período de remissão, ou com remis- C. Um dos ou ambos os seguintes:
sões durando <3 meses, por ao menos um ano. 1. ao menos um dos seguintes sintomas ou sinais,
ipsilaterais à cefaleia:
a. injeção conjuntival e/ou lacrimejamento
3.3.2 Crises de cefaleia neuralgiforme unilateral b. congestão nasal e/ou rinorreia
breve com sintomas autonômicos cranianos c. edema palpebral
(SUNA) d. sudorese frontal e facial
e. miose e/ou ptose
A. Crises preenchendo os critérios para 3.3 Crises de cefa- f. sensação de inquietude ou de agitação, ou
leia neuralgiforme unilateral breve e o critério B, abaixo agravamento da dor pelo movimento
B. Não mais que um dos seguintes, ipsilateral à dor: D. Responde de forma absoluta a doses terapêuticas de
1. injeção conjuntival indometacina1
2. lacrimejamento E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.

Nota:
3.3.2.1 SUNA episódica 1. Em um adulto, a indometacina oral deve utilizada inicial-
mente em uma dose de ao menos 150 mg/dia e aumen-
Descrição: Crises de SUNA ocorrendo em períodos com dura- tada, se necessário, até 225 mg/dia. A dose injetável é de
ção de sete dias a um ano, separados por períodos sem dor 100-200 mg. Doses de manutenção menores são frequen-
com duração ao menos de três meses. temente empregadas.

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CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

Comentários: Sintomas migranosos, tais como fotofobia e das características necessária para preencher todos os crité-
fonofobia, são frequentemente observados em 3.4 Hemicra- rios para qualquer dos tipos e subtipos codificados acima,
nia contínua. e que não preenchem todos os critérios para outra cefaleia.
A 3.4 Hemicrania contínua foi incluída em 3. Cefaleias
trigeminoautonômicas (CTAs) na ICHD-3 com base no fato Critérios diagnósticos:
de que a dor é tipicamente unilateral, assim como os sinto- A. Crises de cefaleia preenchendo todos os critérios, exceto
mas autonômico cranianos, quando presentes (na ICHD-II um, de A-D para 3.1 Cefaleia em salvas, de A-E para
estava em 4. Outras cefaleias primárias). 3.2 Hemicrania paroxística, de A-D para 3.3 Crises de
Estudos de imagem cerebral mostram sobreposições cefaleia neuralgiforme unilateral breve ou de A-D para
importantes entre todos os transtornos incluídos aqui, nota- 3.4 Hemicrania contínua
damente a ativação da substância cinzenta hipotalâmica B. Não preenchendo os critérios da ICHD-3 para qualquer
posterior. Adicionalmente, a resposta absoluta à indometa- outra cefaleia
cina da 3.4 Hemicrania contínua é compartilhada com a 3.2 C. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
Hemicrania paroxística.
Comentário: Os pacientes podem ser classificados como 3.5.1
Provável cefaleia em salvas, 3.5.2 Provável hemicrania
3.4.1 Hemicrania contínua, subtipo remitente paroxística, 3.5.3 Prováveis crises de cefaleia neuralgiforme
unilateral breve ou 3.5.4 Provável hemicrania contínua. Tais
Descrição: Hemicrania contínua caracterizada por uma dor pacientes ou não apresentaram um número suficiente de cri-
que não é contínua, mas é interrompida por períodos de ses típicas (p.ex. apenas um primeiro surto de cefaleia em
remissão de ao menos 24 horas de duração. salvas), ou apresentaram um número suficiente, mas não
preenchem um dos outros critérios.
Critérios diagnósticos:
A. Cefaleia preenchendo os critérios para 3.4 Hemicrania
contínua e o critério B abaixo Bibliografia
B. A cefaleia não é diária nem contínua, mas interrompida
(sem tratamento) por períodos de remissão ≥24 horas. Bahra A, May A and Goadsby PJ. Cluster headache: A prospec-
tive clinical study in 230 patients with diagnostic implications.
Comentário: A 3.4.1 Hemicrania contínua, subtipo remitente Neurology 2002; 58: 354–361.
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3.4.2 Hemicrania contínua, subtipo não remitente Boes CJ, Matharu MS and Goadsby PJ. The paroxysmal hemicra-
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Descrição: Hemicrania contínua caracterizada por dor contí- Bordini C, Antonaci F, Stovner LJ, et al. ‘‘Hemicrania continua’’: A
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TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

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49
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

4. Outras cefaleias primárias Introdução


4.1 Cefaleia primária da tosse Este capítulo inclui algumas cefaleias primárias que são
4.1.1 Provável cefaleia primária da tosse clinicamente heterogêneas. Elas estão agrupadas em qua-
4.2 Cefaleia primária do exercício tro categorias e classificadas em sequência na ICHD-3, de
4.2.1 Provável cefaleia primária do exercício acordo com isso.
4.3 Cefaleia primária associada à atividade sexual
4.3.1 Provável cefaleia primária associada à atividade sexual 1. Cefaleias associadas ao esforço físico, incluindo 4.1
4.4 Cefaleia primária em trovoada Cefaleia primária da tosse, 4.2 Cefaleia primária do
4.5 Cefaleia por estímulo frio exercício, 4.3 Cefaleia primária associada à atividade
4.5.1 Cefaleia atribuída à aplicação externa de estímulo frio sexual e 4.4 Cefaleia primária em trovoada.
4.5.2 Cefaleia atribuída à ingestão ou inalação de estímulo frio 2. Cefaleias atribuídas ao estímulo físico direto (conside-
4.5.3 Provável cefaleia por estímulo frio radas como cefaleias primárias porque decorrem de um
4.5.3.1 Cefaleia provavelmente atribuída à aplicação externa estímulo fisiológico [não danoso]), incluindo 4.5 Cefa-
de estímulo frio leia por estímulo frio e 4.6 Cefaleia por pressão externa.
4.5.3.2 Cefaleia provavelmente atribuída à ingestão ou inalação 3. Cefaleias epicranianas (i. e. dor de cabeça sobre o couro
de estímulo frio cabeludo), incluindo 4.7 Cefaleia primária em facada
4.6 Cefaleia por pressão externa e 4.8 Cefaleia numular (assim como A4.11 Epicrania
4.6.1 Cefaleia por compressão externa fugaz, no Apêndice).
4.6.2 Cefaleia por tração externa 4. Outras cefaleias primárias diversas incluindo 4.9 Cefa-
4.6.3 Provável cefaleia por pressão externa leia hípnica e 4.10 Cefaleia persistente e diária desde o
4.6.3.1 Provável cefaleia por compressão externa início (CPDI).
4.6.3.2 Provável cefaleia por tração externa
4.7 Cefaleia primária em facada A patogênese desses transtornos ainda é pouco com-
4.7.1 Provável cefaleia primária em facada preendida e os seus tratamentos são sugeridos com base em
4.8 Cefaleia numular relatos anedóticos ou em ensaios não controlados.
4.8.1 Provável cefaleia numular Cefaleias com características semelhantes a diversos des-
4.9 Cefaleia hípnica ses transtornos podem ser sintomáticas de outro transtorno
4.9.1 Provável cefaleia hípnica (i. e. cefaleias secundárias); quando se apresentam pela pri-
4.10 Cefaleia persistente e diária desde o início (CPDI) meira vez, elas demandam uma avaliação cuidadosa através
4.10.1 Provável cefaleia persistente e diária desde o início de exames de imagem e/ou outros testes apropriados. O iní-
cio de algumas destas cefaleias (p.ex., 4.2 Cefaleia primária
do exercício, 4.3 Cefaleia primária associada à atividade
Comentário geral sexual e 4.4 Cefaleia primária em trovoada) pode ser agudo,
e os pacientes afetados são, algumas vezes, avaliados em
Cefaleia primária, secundária ou ambas? Duas regras apli- departamentos de emergência. Uma investigação apropriada
cam-se a 4. Outras cefaleias primárias, de acordo com as e completa (especialmente com exames de neuroimagem) é
circunstâncias. obrigatória nestes casos.

1. Quando uma nova cefaleia com as características de


qualquer dos transtornos classificados aqui ocorre pela 4.1 Cefaleia primária da tosse
primeira vez em estreita relação temporal com outro
transtorno que é uma causa reconhecida de cefaleia, ou Termos previamente utilizados: Cefaleia benigna da tosse; cefa-
preenche outros critérios de causalidade por aquele trans- leia da manobra de Valsalva.
torno, a nova cefaleia é classificada como uma cefaleia
secundária atribuída ao transtorno causador. Descrição: Cefaleia precipitada por tosse ou outra manobra de
2. Quando uma cefaleia pré-existente com as característi- Valsalva, mas não por exercício físico prolongado, na ausên-
cas de qualquer dos transtornos classificados aqui tor- cia de qualquer transtorno intracraniano.
na-se crônica, ou significativamente pior (habitualmente
significando um aumento de duas vezes ou mais na fre- Critérios diagnósticos:
quência e/ou intensidade), em estreita relação temporal A. Ao menos dois episódios de cefaleia preenchendo os
com tal transtorno causador, tanto o diagnóstico inicial critérios B-D
de cefaleia como o diagnóstico de cefaleia secundária B. Provocada por e ocorrendo somente em associação com
devem ser dados, contanto que haja evidência de boa a tosse e/ou outra manobra de Valsalva1
qualidade de que o transtorno pode causar cefaleia. C. Início repentino2

50
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

D. Duração entre um segundo e duas horas2 D. Durando entre um segundo e duas horas
E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.3 E. Não preenchendo os critérios da ICHD-3 para qualquer
outra cefaleia
Notas: F. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
1. A cefaleia surge momentos após a tosse ou outro estímulo.
2. A cefaleia atinge seu pico quase que imediatamente,
e então diminui por vários segundos a alguns minutos 4.2 Cefaleia primária do exercício
(embora alguns pacientes experimentem cefaleia fraca a
moderada por duas horas). Termos previamente utilizados: Cefaleia primária do esforço;
3. A síndrome da cefaleia da tosse é sintomática em cerca cefaleia benigna do esforço.
de 40% dos casos, e a maioria dos pacientes em que
isso ocorre têm malformação de Arnold-Chiari tipo I. Codificada em outro local: A migrânea induzida pelo exercício
Outras causas relatadas incluem a hipotensão intracra- está codificada em 1. Migrânea, de acordo com o seu tipo
niana espontânea, doenças carotídeas ou vertebrobasila- ou subtipo.
res, tumores da fossa craniana média ou da fossa poste-
rior, cisto do mesencéfalo, impressão basilar, platibasia, Descrição: Cefaleia precipitada por qualquer forma de exercí-
hematoma subdural, aneurisma cerebral e síndrome da cio, na ausência de qualquer transtorno intracraniano.
vasoconstrição cerebral reversível. A neuroimagem diag-
nóstica desempenha um papel importante na busca por Critérios diagnósticos:
possíveis lesões ou anormalidades intracranianas. Como A. Ao menos dois episódios de cefaleia preenchendo os
os tumores sub-tentoriais respondem por mais de 50% critérios B e C
das lesões expansivas intracranianas em crianças, a cefa- B. Provocada por e ocorrendo apenas durante ou após o
leia da tosse em pacientes pediátricos deve ser conside- exercício físico extenuante
rada sintomática até que se prove o contrário. C. Durando <48 horas
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.1
Comentários: A 4.1 Cefaleia primária da tosse é uma con-
dição rara, responsável por 1% ou menos de todos os Nota:
pacientes com cefaleia que consultam clínicas neurológicas. 1. Casos sintomáticos ocorrem. Na primeira ocorrência
No entanto, uma publicação constatou que um quinto dos de uma cefaleia com essas características, é obrigatório
pacientes com tosse atendidos em uma clínica de pneumolo- excluir hemorragia subaracnóidea, dissecção arterial e
gia apresentava cefaleia da tosse. síndrome da vasoconstrição cerebral reversível.
A 4.1 Cefaleia primária da tosse é geralmente bilateral e
posterior, e afeta predominantemente pacientes com mais de Comentários: A 4.2 Cefaleia primária do exercício ocorre
40 anos de idade. Existe uma correlação significativa entre particularmente em clima quente ou altitude elevada. Subti-
a frequência da tosse e a gravidade da cefaleia. Sintomas pos como a “cefaleia dos halterofilistas”, são reconhecidas,
associados, como vertigem, náusea e anormalidades no sono mas não individualmente classificadas. Ao contrário da 4.1
foram relatados por mais de dois terços dos pacientes com Cefaleia primária da tosse, a qual pode ser desencadeada
4.1 Cefaleia primária da tosse. por sequências de esforços de curta duração (p.ex., mano-
Embora a indometacina (50-200 mg/dia) seja habitual- bras do tipo Valsalva), a 4.2 Cefaleia primária do exercício
mente eficaz no tratamento da 4.1 Cefaleia primária da habitualmente é precipitada por exercício físico extenuante
tosse, alguns casos sintomáticos foram relatados como res- prolongado.
pondendo a esse tratamento. No estudo Vågå, a cefaleia possuía um caráter pulsá-
til na maioria dos participantes com cefaleia do exercício
(nem tanto entre os adolescentes afetados, dos quais quase
4.1.1 Provável cefaleia primária da tosse a metade apresentou durações da cefaleia menores do que 5
minutos).
Critérios diagnósticos: Há relatos de prevenção em alguns pacientes pelo uso de
A. Qualquer um dos seguintes: tartarato de ergotamina. A indometacina tem sido conside-
1. um único episódio de cefaleia preenchendo os cri- rada eficaz na maioria dos casos.
térios B-D Os mecanismos patofisiológicos subjacentes à 4.2 Cefa-
2. ao menos dois episódios de cefaleia preenchendo o leia primária do exercício são desconhecidos. A maioria dos
critério B e um dos critérios C e D investigadores acredita que a sua origem é vascular, conside-
B. Provocada por e ocorrendo apenas em associação com a rando a hipótese de que a distensão venosa ou arterial, secun-
tosse, o esforço e/ou outra manobra de Valsalva dária ao exercício físico, seja o mecanismo indutor da dor. A
C. Início súbito descoberta recente de que pacientes com 4.2 Cefaleia primá-

51
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

ria do exercício apresentam prevalência significantemente E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.1,2
maior de incompetência da válvula venosa jugular interna
(70% em comparação a 20% dos controles), sugere que a Notas:
congestão venosa intracraniana causada por fluxo venoso 1. A 4.3 Cefaleia primária associada à atividade sexual
jugular retrógrado possa desempenhar um papel na patofi- não está relacionada a alteração da consciência, vômi-
siopatologia desse transtorno. tos ou sintomas visuais, sensoriais ou motores, enquanto
que a cefaleia sexual sintomática pode estar. Na pri-
meira crise de cefaleia com atividade sexual é obrigató-
4.2.1 Provável cefaleia primária do exercício rio excluir hemorragia subaracnóidea, dissecção arterial
intra e extracraniana e síndrome da vasoconstrição cere-
Critérios diagnósticos: bral reversível (SVCR).
A. Qualquer um dos seguintes: 2. As cefaleias explosivas múltiplas durante a atividade
1. um único episódio de cefaleia preenchendo os cri- sexual devem ser consideradas como 6.7.3 Cefaleia atri-
térios B e C buída a síndrome da vasoconstrição cerebral reversível
2. ao menos dois episódios de cefaleia preenchendo o (qv) até que se prove o contrário por meio de estudos
critério B, mas não o critério C angiográficos (incluindo a angiografia convencional, por
B. Provocada por e ocorrendo apenas durante ou após o ressonância magnética (RM) ou por tomografia com-
exercício físico extenuante putadorizada (TC)) ou a ultrassonografia por Doppler
C. Duração <48 horas transcraniano. É importante ressaltar que as vasocons-
D. Não preenchendo os critérios da ICHD-3 para qualquer trições podem não ser observadas no estágio inicial da
outra cefaleia SVCR; portanto, estudos de acompanhamento podem ser
E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. necessários.

Comentários: Dois subtipos (cefaleia pré-orgástica e cefaleia


4.3 Cefaleia primária associada orgástica) foram incluídas na ICHD-I e na ICHD-II, mas,
à atividade sexual desde então, estudos clínicos têm sido incapazes de distin-
gui‑las; portanto, a 4.3 Cefaleia primária associada à ati-
Termos previamente utilizados: Cefaleia benigna do sexo; cefa- vidade sexual é agora considerada uma entidade única com
leia vascular benigna do sexo; cefalalgia coital; cefaleia apresentação variável.
coital; cefaleia do ato sexual; cefalalgia orgástica; cefaleia Estudos recentes têm demonstrado que até 40% de todos
orgástica, cefaleia sexual. os casos têm um curso crônico por mais de um ano.
Alguns pacientes experimentam apenas uma crise de
Codificada em outro local: Cefaleia postural ocorrendo após o 4.3 Cefaleia primária associada à atividade sexual durante
coito deve ser codificada como 7.2.3 Cefaleia atribuída a a vida; eles devem receber o diagnóstico de 4.3.1 Provável
hipotensão intracraniana espontânea, por ser mais provavel- cefaleia primária associada à atividade sexual. Para pes-
mente resultante do vazamento de líquido cefalorraquidiano. quisa adicional sobre esse tipo de cefaleia, recomenda-se
incluir apenas pacientes com ao menos duas crises.
Descrição: Cefaleia desencadeada por atividade sexual, geral- Pesquisas epidemiológicas têm mostrado também que
mente começando como uma dor bilateral maçante conforme 4.3 Cefaleia primária associada à atividade sexual pode
a excitação sexual aumenta e repentinamente tornando-se ocorrer em qualquer idade da vida sexual ativa, é mais preva-
intensa no momento do orgasmo, na ausência de qualquer lente em homens do que em mulheres (as proporções vão de
transtorno intracraniano. 1,2:1 a 3:1), ocorre independentemente do tipo de atividade
sexual, na maioria dos casos não é acompanhada por sinto-
Critérios diagnósticos: mas autonômicos ou vegetativos, é bilateral em dois terços e
A. Ao menos dois episódios de dor cefálica e/ou cervical unilateral em um terço dos casos e é difusa ou de localização
preenchendo os critérios B-D occipital em 80% dos casos. A frequência das crises de 4.3
B. Provocada por e ocorrendo apenas durante a atividade Cefaleia primária associada à atividade sexual deve estar
sexual sempre relacionada à frequência da atividade sexual.
C. Um dos dois ou ambos os seguintes:
1. aumento da intensidade paralelo ao aumento da
excitação sexual 4.3.1 Provável cefaleia primária associada
2. intensidade explosiva e abrupta logo antes ou à atividade sexual
no momento do orgasmo
D. Durando de um minuto a 24 horas com intensidade Critérios diagnósticos:
forte e/ou até 72 horas com intensidade fraca A. Qualquer um dos seguintes:

52
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

1. um único episódio de cefaleia preenchendo os cri- feito em última instância, atingido apenas quando todas
térios B-D as causas orgânicas houverem sido comprovadamente
2. ao menos dois episódios de cefaleia preenchendo excluídas. Isso implica exame de neuroimagem normal,
o critério B e um dos dois mas não ambos os crité- incluindo os vasos cerebrais e/ou líquido cefalorraqui-
rios C-D diano normal.
B. Provocada por e ocorrendo apenas durante a atividade 2. As vasoconstrições podem não ser observadas no está-
sexual gio inicial da SVCR. Por essa razão, a provável cefaleia
C. Qualquer um dos seguintes: primária em trovoada não é um diagnóstico que deve ser
1. aumento da intensidade paralelo ao aumento da dado, mesmo que temporariamente.
excitação sexual
2. intensidade explosiva e abrupta logo antes ou no Comentário: São poucas as evidências de que a cefaleia pri-
momento do orgasmo mária em trovoada existe como um transtorno primário: a
D. Durando de um minuto a 24 horas com intensidade busca por uma causa subjacente deve ser pronta e exaustiva.
forte e/ou até 72 horas com intensidade fraca
E. Não preenchendo os critérios da ICHD-3 para qualquer
outra cefaleia 4.5 Cefaleia por estímulo frio
F. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
Descrição: Cefaleia provocada por um estímulo frio aplicado
externamente à cabeça ou ingerido ou inalado.
4.4 Cefaleia primária em trovoada
Termo previamente utilizado: Cefaleia benigna em trovoada. 4.5.1 Cefaleia atribuída à aplicação
externa de um estímulo frio
Codificada em outro local: 4.1 Cefaleia primária da tosse, 4.2
Cefaleia primária do exercício e 4.3 Cefaleia primária asso- Descrição: Cefaleia que se segue à exposição da cabeça, des-
ciada à atividade sexual podem todas apresentar-se como protegida, a um ambiente de muito baixa temperatura.
cefaleia em trovoada. Quando uma cefaleia desse tipo é atri-
buída exclusivamente a um desses desencadeantes, ela deve Critérios diagnósticos:
ser codificada de acordo com um desses tipos de cefaleia. A. Ao menos dois episódios de cefaleia aguda preen-
chendo os critérios B e C
Descrição: Cefaleia de grande intensidade com início abrupto, B. Provocada por e ocorrendo apenas durante a aplicação
mimetizando aquela da ruptura de um aneurisma cerebral, na de um estímulo frio externo à cabeça
ausência de qualquer patologia intracraniana. C. Desaparecendo dentro de 30 minutos após a remoção
do estímulo frio
Critérios diagnósticos: D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
A. Dor de cabeça forte preenchendo os critérios B e C
B. Início abrupto, atingindo a intensidade máxima em <1 Comentário: Essa cefaleia é o resultado do resfriamento
minuto externo da cabeça, como ocorre durante a exposição em
C. Durando por >5 minutos clima muito frio, mergulho em água fria ou quando rece-
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.1,2 bendo crioterapia. Alguns pacientes desenvolvem cefaleia
intensa em pontadas, de curta duração, localizada na região
Notas: frontal medial, embora a dor possa ser unilateral e temporal,
1. A cefaleia em trovoada está frequentemente associada a frontal ou retro-orbital.
transtornos vasculares intracranianos graves, particular-
mente hemorragia subaracnóidea: é obrigatório excluir
essa e uma gama de outras condições afins, incluindo 4.5.2 Cefaleia atribuída à ingestão ou
hemorragia intracerebral, trombose venosa cerebral, inalação de um estímulo frio
malformação vascular não-rota (aneurisma na maior
parte das vezes), dissecção arterial (intra e extracra- Termos previamente utilizados: Cefaleia do sorvete; cefaleia de
niana), síndrome da vasoconstrição cerebral reversível congelar o cérebro
(SVCR) e apoplexia hipofisária. Outras causas orgânicas
de cefaleia em trovoada são meningite, cisto coloide do Descrição: Dor frontal ou temporal de curta duração, a qual
terceiro ventrículo, hipotensão intracraniana espontânea pode ser intensa, induzida, em indivíduos suscetíveis, pela
e sinusite aguda (particularmente com barotrauma). 4.4 passagem de material frio (sólido, líquido ou gasoso) sobre o
Cefaleia primária em trovoada deve ser um diagnóstico palato e/ou parede faríngea posterior.

53
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

Critérios diagnósticos: 4.6.1 Cefaleia por compressão externa


A. Ao menos dois episódios de cefaleia frontal ou tempo-
ral aguda preenchendo os critérios B e C Descrição: Cefaleia resultante da compressão continuada dos
B. Provocada por e ocorrendo imediatamente após um tecidos moles pericranianos; por exemplo, por uma faixa
estímulo frio sobre o palato e/ou parede faríngea poste- apertada em volta da cabeça, chapéu, capacete, ou óculos
rior, por ingestão de alimento ou bebida frios ou inala- utilizados para natação ou mergulho, sem lesão do couro
ção de ar frio cabeludo.
C. Desaparecendo dentro de 10 minutos após a remoção
do estímulo frio Critérios diagnósticos:
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. A. Ao menos dois episódios de cefaleia preenchendo os
critérios B-D
Comentários: A 4.5.2 Cefaleia atribuída à ingestão ou ina- B. Provocada por e ocorrendo dentro de uma hora durante
lação de estímulo frio é comum na população em geral, compressão externa continuada da testa ou do couro
especialmente entre aqueles que apresentam 1. Migrânea. cabeludo
A ingestão rápida de gelo triturado é uma causa particular- C. Máxima no local da compressão externa
mente provável dessa cefaleia, mas ingerir sorvete, mesmo D. Desaparecendo dentro de uma hora após o alívio da
que lentamente, também pode provocá-la. compressão externa
A cefaleia é frontal ou temporal e, mais comumente, E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
bilateral (mas pode ser lateralizada para o lado da cefaleia
migranosa habitual nos indíviduos que apresentam cefaleia
unilateral como parte de 1. Migrânea). 4.6.2 Cefaleia por tração externa

Termo previamente utilizado: Cefaleia do rabo-de-cavalo.


4.5.3 Provável cefaleia por estímulo frio
Descrição: Cefaleia resultante da tração continuada dos teci-
Critérios diagnósticos: dos moles pericranianos, sem lesão do couro cabeludo.
A. Um único episódio de cefaleia preenchendo os critérios
BeC Critérios diagnósticos:
B. Provocada por e ocorrendo apenas durante ou imedia- A. Ao menos dois episódios de cefaleia preenchendo os
tamente após um estímulo frio aplicado externamente à critérios B-D
cabeça ou ingerido ou inalado B. Provocada por e ocorrendo apenas durante tração
C. Desaparecendo dentro de 10 minutos após a remoção externa continuada do couro cabeludo
do estímulo frio C. Máxima no local da tração
D. Não preenchendo os critérios da ICHD-3 para qualquer D. Desaparecendo dentro de uma hora após o alívio da
outra cefaleia tração
E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.

Comentário: As subformas codificáveis são 4.5.3.1 Cefaleia Comentário: A duração da cefaleia varia de acordo com a gra-
provavelmente atribuída à aplicação externa de estímulo vidade e a duração da tração externa. Embora a cefaleia seja
frio e 4.5.3.2 Cefaleia provavelmente atribuída à ingestão máxima no local da tração, ela frequentemente estende-se a
ou inalação de estímulo frio. outras áreas da cabeça.

4.6 Cefaleia por pressão externa 4.6.3 Provável cefaleia por pressão externa

Descrição: Cefaleia resultante da compressão ou tração conti- Critérios diagnósticos:


nuadas sobre os tecidos moles pericranianos. A. Qualquer um dos seguintes:
1. um único episódio de cefaleia preenchendo os cri-
Comentário: A 4.6 Cefaleia por pressão externa é uma cefa- térios B-D
leia primária porque compressão e tração são muito sutis 2. ao menos dois episódios de cefaleia preenchendo
para causar dano ao couro cabeludo; em outras palavras, são o critério B e um dos, mas não ambos, os critérios
estímulos fisiológicos. CeD
B. Provocada por e ocorrendo apenas durante compressão
externa ou tração continuadas sobre a testa e/ou couro
cabeludo

54
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

C. Máxima no local da compressão ou tração diferenciar a 4.7 Cefaleia primária em facada da 3.3 Crises
D. Desaparecendo dentro de uma hora após o alívio da de cefaleia neuralgiforme unilateral breve.
compressão ou da tração A 4.7 Cefaleia primária em facada é mais comumente
E. Não preenchendo os critérios da ICHD-3 para qualquer observada nos indivíduos com 1. Migrânea, nos quais as
outra cefaleia pontadas tendem a localizar-se na área habitualmente afetada
F. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. pelas cefaleias migranosas.

Comentário: As subformas codificáveis são 4.6.3.1 Provável


cefaleia por compressão externa e 4.6.3.2 Provável cefaleia 4.7.1 Provável cefaleia primária em facada
por tração externa.
Critérios diagnósticos:
A. Dor cefálica ocorrendo espontaneamente como uma
4.7 Cefaleia primária em facada pontada única ou uma série de pontadas
B. Somente dois dos seguintes:
Termos previamente utilizados: Dor do furador de gelo; “jabs 1. cada pontada dura até alguns poucos segundos
and jolts”; síndrome da agulha no olho; oftalmodinia perió- 2. as pontadas recorrem com frequência irregular, de
dica; dor cefálica aguda breve. uma a várias por dia
3. sem sintomas autonômicos cranianos
Descrição: Pontadas de dor na cabeça, transitórias e localiza- C. Não preenchendo os critérios da ICHD-3 para qualquer
das, que ocorrem espontaneamente na ausência de doença outra cefaleia
orgânica das estruturas subjacentes ou dos nervos cranianos. D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.

Critérios diagnósticos:
A. Dor cefálica ocorrendo espontaneamente como uma 4.8 Cefaleia numular
pontada única ou uma série de pontadas e preenchendo
os critérios B e C Termo previamente utilizado: Cefaleia em forma de moeda.
B. Cada pontada dura até alguns poucos segundos1
C. As pontadas recorrem com frequência irregular, de uma Descrição: Dor de duração altamente variável, mas frequen-
a várias por dia2 temente crônica, em uma pequena área circunscrita do
D. Sem sintomas autonômicos cranianos couro cabeludo e na ausência de qualquer lesão estrutural
E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. subjacente.

Notas: Critérios diagnósticos:


1. Estudos mostram que 80% das pontadas duram 3 segun- A. Dor cefálica contínua ou intermitente preenchendo o
dos ou menos; ocasionalmente, as pontadas duram de critério B
10-120 segundos. B. Sentida exclusivamente em uma área do couro cabe-
2. A frequência das crises geralmente é baixa, com uma ludo, com todas as quatro seguintes características:
ou algumas poucas por dia. Em casos raros, as pontadas 1. contorno bem delimitado
ocorrem repetitivamente ao longo de dias, e há um relato 2. tamanho e formato fixos
de status com duração de uma semana. 3. circular ou elíptica
4. 1-6 cm de diâmetro
Comentários: Testes de campo confirmaram a validade desses C. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.1
critérios diagnósticos para 4.7 Cefaleia primária em facada.
Eles permitem o diagnóstico da maioria das cefaleias pri- Nota:
márias caracterizadas por dor em pontadas, que não foram 1. Outras causas, especialmente as lesões estruturais e der-
classificadas na ICHD-II. matológicas, foram excluídas através da história, exame
A 4.7 Cefaleia primária em facada envolve regiões extra- físico e investigações apropriadas.
trigeminais em 70% dos casos. Ela pode mover-se de uma
área à outra, tanto no mesmo hemicrânio como no oposto: Comentários: A área dolorosa pode estar localizada em qual-
em apenas um terço dos pacientes ela tem uma localização quer parte do couro cabeludo, mas habitualmente localiza-se
fixa. Quando as pontadas são estritamente localizadas em na região parietal. Raramente, a 4.8 Cefaleia numular é bi ou
uma área, devem ser excluídas as alterações estruturais nessa multifocal, sendo que cada área sintomática retém todas as
localização e na distribuição do nervo craniano afetado. características da cefaleia numular.
Alguns pacientes apresentam sintomas associados, mas A intensidade da dor habitualmente é leve a moderada,
isso não inclui sintomas autonômicos cranianos. Isso ajuda a mas ocasionalmente pode ser forte. Sobrepostas à dor de

55
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

fundo, exacerbações espontâneas ou desencadeadas podem de medicamentos; transtornos intracranianos também


ocorrer. devem ser excluídos. No entanto, a presença da síndrome
A duração é altamente variável: em até 75% dos casos da apneia do sono não necessariamente exclui o diagnós-
publicados, o transtorno foi crônico (presente por mais de tico de 4.9 Cefaleia hípnica.
três meses), mas casos com durações de segundos, minutos,
horas ou dias também têm sido relatados. Comentários: Um estudo recente sugeriu que esses critérios,
A área afetada comumente apresenta combinações variá- introduzidos na ICHD-3 beta, são mais sensíveis para 4.9
veis de hipoestesia, disestesia, parestesia, alodinia e/ou Cefaleia hípnica do que aqueles da ICHD-II.
hipersensibilidade. A 4.9 Cefaleia hípnica começa habitualmente depois dos
50 anos de idade, mas pode ocorrer em pessoas mais jovens.
A dor é costumeiramente leve a moderada, porém dor
4.8.1 Provável cefaleia numular forte é relatada por um quinto dos pacientes. A dor é bilateral
em cerca de dois terços dos casos. As crises habitualmente
Critérios diagnósticos: duram de 15 a 180 minutos, porém durações maiores têm
A. Dor cefálica contínua ou intermitente preenchendo o sido descritas.
critério B A maioria dos casos é persistente, com cefaleias diárias
B. Sentida exclusivamente em uma área do couro cabeludo, ou quase diárias, porém um subtipo episódico (em <15 dias/
com apenas três das quatro seguintes características: mês) pode ocorrer.
1. contorno bem delimitado Embora tenha sido considerado que as características da
2. tamanho e formato fixos 4.9 Cefaleia hípnica eram habitualmente do tipo tensão-sí-
3. circular ou elíptica miles, estudos recentes descobriram que os pacientes podiam
4. 1-6 cm de diâmetro apresentar-se com características migranosas e que alguns
C. Não preenchendo os critérios da ICHD-3 para qualquer deles apresentavam náusea durante as crises.
outra cefaleia O início da 4.9 Cefaleia hípnica não está relacionado ao
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. estágio do sono. Um estudo recente de imagem por ressonân-
cia magnética (RM) mostrou redução do volume da substância
cinzenta hipotalâmica em pacientes com 4.9 Cefaleia hípnica.
4.9 Cefaleia hípnica O lítio, a cafeína, a melatonina e a indometacina têm sido
tratamentos efetivos em vários casos relatados.
Termos previamente utilizados: Síndrome da cefaleia hípnica;
cefaleia “do despertador”.
4.9.1 Provável cefaleia hípnica
Descrição: Crises de cefaleia frequentemente recorrentes
desenvolvendo-se apenas durante o sono, causando o des- Critérios diagnósticos:
pertar e durando por até 4 horas, sem sintomas associados A. Crises recorrentes de cefaleia preenchendo os critérios
característicos e não atribuídas a outra patologia. BeC
B. Desenvolvendo-se apenas durante o sono, e provocando
Critérios diagnósticos: o despertar
A. Crises recorrentes de cefaleia preenchendo os critérios C. Apenas dois dos seguintes:
B-E 1. ocorrendo em ≥10 dias/mês por >3 meses
B. Desenvolvendo-se apenas durante o sono, e provocando 2. durando de 15 minutos até 4 horas após o despertar
o despertar 3. sem sintomas autonômicos cranianos ou inquietude
C. Ocorrendo em ≥10 dias/mês por >3 meses D. Não preenchendo os critérios da ICHD-3 para qualquer
D. Durando de 15 minutos até 4 horas após o despertar outra cefaleia
E. Sem sintomas autonômicos cranianos ou inquietude E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
F. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.1,2

Notas: 4.10 Cefaleia persistente e diária


1. A distinção em relação a um dos tipos ou subtipos de desde o início (CPDI)
3. Cefaleias trigeminoautonômicas, especialmente a 3.1
Cefaleia em salvas, é necessária para o manejo efetivo. Termos previamente utilizados: Cefaleia crônica de início
2. Outras possíveis causas de cefaleia desenvolvendo-se agudo; cefaleia crônica de novo.
durante o sono e causando o despertar devem ser des-
cartadas, com atenção especial sendo dada à apneia do Descrição: Cefaleia persistente, diária desde o seu início, o
sono, hipertensão noturna, hipoglicemia e uso excessivo qual é claramente lembrado. A dor não possui traços caracte-

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TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

rísticos e pode ser migrânea-símile, do tipo tensão-símile, ou tado, que tipicamente desaparece sem tratamento dentro
possuir elementos de ambas. de alguns meses, e um subtipo refratário, que é resistente a
regimes agressivos de tratamento. Esses não são codificados
Critérios diagnósticos: separadamente.
A. Cefaleia persistente preenchendo os critérios B e C
B. Início distinto e claramente lembrado, com a dor tor- 4.10.1 Provável cefaleia persistente e
nando-se contínua e sem remissão dentro de 24 horas diária desde o início
C. Presente por >3 meses
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.1-4 Critérios diagnósticos:
A. Cefaleia persistente preenchendo os critérios B e C
Notas: B. Início distinto e claramente lembrado, com a dor tor-
1. A 4.10 Cefaleia persistente e diária desde o início (CPDI) nando-se contínua e sem remissão dentro de 24 horas
é única, na medida em que a cefaleia é diária desde o seu C. Presente por ≤3 meses
início e torna-se muito rapidamente sem remissão, ocor- D. Não preenchendo os critérios da ICHD-3 para qualquer
rendo tipicamente em indivíduos sem uma história de outra cefaleia
cefaleia prévia. Os pacientes com esse transtorno inva- E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
riavelmente lembram e podem descrever precisamente
um início assim; se eles não podem fazê-lo, outro diag-
nóstico deve ser feito. No entanto, pacientes com cefaleia Bibliografia
prévia (1. Migrânea ou 2. Cefaleia do tipo tensão (CTT))
não são excluídos desse diagnóstico, mas eles não devem 4.1  Cefaleia primária da tosse
descrever um aumento da frequência da cefaleia antes do Chen PK, Fuh JL and Wang SJ. Cough headache: a study of 83 con-
seu início. Do mesmo modo, pacientes com cefaleia pré- secutive patients. Cephalalgia 2009; 29: 1079–1085.
via não devem descrever exacerbação associada com ou Chen YY, Lirng JF, Fuh JL, et al. Primary cough headache is asso-
seguida por uso excessivo de medicamentos. ciated with posterior fossa crowdedness: a morphometric MRI
2. A 4.10 Cefaleia persistente e diária desde o início (CPDI) study. Cephalalgia 2004; 24: 694–699.
pode ter características sugestivas tanto de 1. Migrânea Cohen ME and Duffner PK (eds). Brain tumors in children. Princi-
como de 2. Cefaleia do tipo tensão (CTT). Mesmo que ples of diagnosis and treatment. New York: Raven Press, 1994.
os critérios para 1.3 Migrânea crônica e/ou 2.3 Cefaleia Cutrer FM and Boes CJ. Cough, exertional, and sex headaches.
do tipo tensão crônica também possam ser preenchidos, Neurol Clin 2004; 22: 133–149.
o diagnóstico padrão é 4.10 Cefaleia persistente e diária Ozge C, Atiş S, Ozge A, et al. Cough headache: frequency, charac-
desde o início (CPDI), sempre que os critérios para esse teristics and the relationship with the characteristics of cough.
transtorno forem preenchidos. Por outro lado, quando os Eur J Pain 2005; 9: 383–388.
critérios para 4.10 Cefaleia persistente e diária desde o Pascual J. Primary cough headache. Curr Pain Headache Rep
início (CPDI) e 3.4 Hemicrania contínua são preenchi- 2005; 9: 272–276.
dos, esse último é o diagnóstico padrão. Pascual J, González-Mandly A, Martín R, et al. Headaches precip-
3. O uso de fármacos abortivos pode exceder os limi- itated by cough, prolonged exercise or sexual activity: a pro-
tes definidos como causadores de 8.2 Cefaleia por uso spective etiological and clinical study. J Headache Pain 2008;
excessivo de medicamentos (MOH/CEM). Em tais casos, 9: 259–266.
o diagnóstico de 4.10 Cefaleia persistente e diária desde Pascual J, Iglesias F, Oterino A, et al. Cough, exertional, and sexual
o início (CPDI) não pode ser feito, a menos que o início headaches: an analysis of 72 benign and symptomatic cases.
da cefaleia diária preceda claramente o uso excessivo de Neurology 1996; 46: 1520–1524.
medicamentos. Quando isso ocorrer, devem ser dados Perini F and Toso V. Benign cough ‘‘cluster’’ headache.Cephalalgia
ambos os diagnósticos, 4.10 Cefaleia persistente e diária 1998; 18: 493–494.
desde o início (CPDI) e 8.2 Cefaleia por uso excessivo de Raskin NH. The cough headache syndrome: treatment. Neurology
medicamentos (MOH/CEM). 1995; 45: 1784.
4. Em todos os casos, outras cefaleias secundárias, como
5.1 Cefaleia aguda atribuída a lesão cefálica traumá- 4.2  Cefaleia primária do exercício
tica, 7.1 Cefaleia atribuída a hipertensão liquórica e Buzzi MG, Formisano R, Colonnese C, et al. Chiari-associated
7.2 Cefaleia atribuída a hipotensão liquórica devem ser exertional, cough and sneeze headache responsive to medical
excluídas através de investigação apropriada. therapy. Headache 2003; 43: 404–406.
Chen SP, Fuh JL, Lu SR, et al. Exertional headache: a survey of
Comentário: A 4.10 Cefaleia persistente e diária desde o 1963 adolescents. Cephalalgia 2009; 29: 401–407.
início (CPDI) possui dois subtipos: um subtipo autolimi- Doepp F, Valdueza JM and Schreiber SJ. Incompetence of internal

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60
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

Parte Dois

AS CEFALEIAS SECUNDÁRIAS
5. Cefaleia atribuída a trauma ou lesão cefálica e/ou cervical

6. Cefaleia atribuída a transtorno vascular craniano e/ou cervical

7. Cefaleia atribuída a transtorno intracraniano não vascular

8. Cefaleia atribuída a uma substância ou à sua supressão

9. Cefaleia atribuída a infecção

10. Cefaleia atribuída a transtorno da homeostase

11. Cefaleia ou dor facial atribuída a transtorno do crânio, pescoço, olhos, orelhas,
nariz, seios paranasais, dentes, boca ou outra estrutura facial ou cervical

12. Cefaleia atribuída a transtorno psiquiátrico

61
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

Introdução às cefaleias secundárias Critérios diagnósticos gerais para


cefaleias secundárias:
Quando um paciente apresenta cefaleia pela primeira vez,
ou um novo tipo de cefaleia, e, ao mesmo tempo, desen- A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
volve um tumor cerebral, é correto concluir que a cefaleia B. Outro transtorno cientificamente documentado como
é secundária ao tumor. Tais pacientes devem receber apenas capaz de causar cefaleia foi diagnosticado1
um diagnóstico para a cefaleia – 7.4 Cefaleia atribuída a C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
neoplasia intracraniana (ou um de seus subtipos) – mesmo dois dos seguintes2:
quando a cefaleia, sob o aspecto fenomenológico, pareça ser 1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal
migrânea, cefaleia do tipo tensão ou cefaleia em salvas. Em com o início do transtorno causal presumido
outras palavras, uma cefaleia de novo, ocorrendo simulta- 2. um ou dois dos seguintes:
neamente a outro transtorno reconhecidamente capaz de cau- a. cefaleia piorou, significativamente, em paralelo
sá-la, é sempre diagnosticada como secundária. com a piora do transtorno causal presumido
A situação é diferente quando o paciente apresentou pre- b. cefaleia melhorou, significativamente, em
viamente um tipo de cefaleia primária que piora em estreita paralelo com a melhora do transtorno causal
relação temporal com a ocorrência de outro transtorno. presumido
Existem três possíveis explicações para essa piora: que ela 3. a cefaleia possui características típicas para o
é uma coincidência; que ela é um agravamento da cefaleia transtorno causal3
primária, causalmente relacionada ao outro transtorno; que 4. existem outras evidências de causalidade4
ela representa uma nova cefaleia, novamente causalmente D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
relacionada ao outro transtorno. As regras gerais para atri-
buição desenvolvidas na ICHD-II permitiam um ou dois Notas:
diagnósticos nessas circunstâncias, mas baseavam-se no jul- 1. Como a cefaleia é extremamente prevalente, ela pode
gamento. Elas foram modificadas na ICHD-3 beta para que ocorrer simultaneamente a outro transtorno por acaso e
fossem menos sujeitas a interpretação e estas modificações sem relação causal. Logo, uma cefaleia secundária pode
foram mantidas. ser diagnosticada em definitivo apenas quando existe
sólida evidência proveniente de estudos científicos publi-
1. Quando uma cefaleia nova ocorre pela primeira vez em cados de que o transtorno especificado no critério B é
estreita relação temporal com outro transtorno que é capaz de causar cefaleia. As evidências científicas podem
reconhecidamente capaz de causar cefaleia, ou preenche vir de grandes estudos clínicos observando estreita rela-
outros critérios de causalidade para aquele transtorno, a ção temporal entre o transtorno e o desfecho da cefaleia
nova cefaleia é codificada como uma cefaleia secundá- depois do tratamento do transtorno, ou de estudos meno-
ria atribuída ao transtorno causal. Isso permanece ver- res utilizando métodos de imagem, exames laboratoriais
dadeiro mesmo quando a cefaleia possui as característi- ou outros exames paraclínicos, mesmo se esses não
cas de uma cefaleia primária (migrânea, cefaleia do tipo forem prontamente disponíveis para o médico que uti-
tensão, cefaleia em salvas ou uma das outras cefaleias lizará esses critérios para fazer diagnósticos. Em outras
trigeminoautonômicas). palavras, métodos de estudo que não são úteis no uso
2. Quando uma cefaleia primária pré-existente torna-se crô- rotineiro dos critérios diagnósticos podem, no entanto,
nica ou significativamente pior (geralmente significando ser úteis para estabelecer relações causais gerais como
um aumento de duas vezes na sua frequência e/ou gra- a base do critério B. Ao longo da ICHD-3, por outro
vidade) em estreita relação temporal com tal transtorno lado, os critérios diagnósticos restringem-se à informa-
causal, tanto o diagnóstico primário como o secundário ção razoavelmente disponível para o médico que está
devem ser dados, contanto que existam boas evidências fazendo o diagnóstico em uma situação clínica típica.
de que o transtorno pode causar cefaleia. 2. Os critérios gerais requerem a presença de ao menos duas
características comprobatórias distintas, e permitem até
A ICHD-II padronizou o formato dos critérios diagnós- quatro tipos de evidência, conforme estabelecido. Nem
ticos para as cefaleias secundárias, porém isso não ocorreu todos esses quatro tipos são apropriados para todos os
sem problemas. Uma revisão foi adotada na ICHD-3 beta e transtornos, e nem todos os quatro precisam ser parte dos
também foi mantida: critérios específicos para uma cefaleia secundária espe-
cífica, quando esse é o caso. Existem algumas poucas
cefaleias secundárias para as quais a evidência de causa-
lidade depende fortemente do início em estreita relação
temporal com a causa presumida. São exemplos disso os
subtipos de 7.2 Cefaleia atribuída a hipotensão liquó-
rica, a qual é habitualmente – mas não invariavelmente –

62
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

ortostática, sendo então que essa característica não pode 4. Isso deve ser especificado (se apropriado) para cada cefa-
ser considerada confiável como um critério diagnóstico. leia secundária. Um exemplo desse tipo de evidência é a
Em tais casos, o critério D é de particular importância. concordância entre o local da cefaleia e a localização de
3. Um exemplo é o início muito repentino (em trovoada) da um transtorno causal presumido. Outros são as variações
cefaleia em 6.2.2 Cefaleia aguda atribuída a hemorra- em paralelo entre as características da cefaleia (como a
gia subaracnóidea não traumática. As características (se intensidade) e os marcadores de atividade do transtorno
há alguma) devem ser especificadas para cada cefaleia causal presumido (p.ex. alterações de neuroimagem ou
secundária. em outras medições laboratoriais [como a velocidade de
hemossedimentação em 6.4.1 Cefaleia atribuída a arte-
rite de células gigantes]).

63
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

5. Cefaleia atribuída a trauma ou 5. Cefaleia atribuída a trauma ou lesão cefálica e/ou cer-
lesão cefálica e/ou cervical vical de outros tipos de cefaleia; na maioria das vezes esses
assemelham-se a 2. Cefaleia do tipo tensão (CTT) ou 1.
5.1 Cefaleia aguda atribuída a lesão cefálica traumática Migrânea. Sendo assim, o seu diagnóstico é amplamente
5.1.1 Cefaleia aguda atribuída a lesão cefálica traumática dependente da estreita relação temporal entre o trauma ou
moderada ou grave a lesão e o início da cefaleia. Em consonância com aqueles
5.1.2 Cefaleia aguda atribuída a lesão cefálica traumática leve da ICHD‑II, os critérios diagnósticos da ICHD-3 para todos
5.2 Cefaleia persistente atribuída a lesão cefálica traumática os tipos de 5. Cefaleia atribuída a trauma ou lesão cefálica
5.2.1 Cefaleia persistente atribuída a lesão cefálica traumática e/ou cervical requerem que a cefaleia seja relatada como
moderada ou grave tendo desenvolvido-se dentro de sete dias a partir do trauma
5.2.2 Cefaleia persistente atribuída a lesão cefálica ou da lesão, ou dentro de sete dias após o trauma ou dano, ou
traumática leve dentro de sete dias após o paciente recobrar a capacidade de
5.3 Cefaleia aguda atribuída a lesão em chicotada perceber e relatar a dor. Embora este intervalo de sete dias
5.4 Cefaleia persistente atribuída a lesão em chicotada seja um tanto arbitrário e que alguns especialistas argumen-
5.5 Cefaleia aguda atribuída a craniotomia tem que a cefaleia pode surgir após um intervalo mais longo
5.6 Cefaleia persistente atribuída a craniotomia em uma minoria de pacientes, não há, atualmente, evidência
suficiente a fim de mudar este requisito. Encoraja-se a reali-
zação de pesquisas que testem os critérios diagnósticos para
Comentário geral A5.1.1.1 Cefaleia aguda de início tardio atribuída a lesão
cefálica traumática moderada ou grave e A5.1.2.1 Cefaleia
Cefaleia primária, secundária ou ambas? As regras gerais para aguda de início tardio atribuída a lesão cefálica traumática
atribuição a outro transtorno aplicam-se a 5. Cefaleia atri- leve (veja o Apêndice).
buída a trauma ou lesão cefálica e/ou cervical. A cefaleia pode surgir como um sintoma isolado após um
trauma ou uma lesão ou como um de uma constelação de
1. Quando uma cefaleia ocorre pela primeira vez em estreita sintomas, habitualmente incluindo tontura, fadiga, redução
relação temporal com um trauma ou lesão cefálica e/ou da capacidade de concentração, lentidão psicomotora, pro-
cervical, ela é codificada como uma cefaleia secundária blemas de memória discretos, insônia, ansiedade, alterações
atribuída ao trauma ou a lesão. Isso permanece verda- da personalidade e irritabilidade. Quando vários destes sin-
deiro quando a nova cefaleia possui as características tomas surgem após um trauma cefálico, pode-se considerar
de qualquer uma das cefaleias primárias classificadas na que o paciente apresenta uma síndrome pós-concussão.
Parte Um da ICHD-3. A patogênese de 5. Cefaleia atribuída a trauma ou lesão
2. Quando uma cefaleia pré-existente, com as caracte- cefálica e/ou cervical é frequentemente obscura. Vários
rísticas de uma cefaleia primária, torna-se crônica, ou fatores que podem contribuir para o seu surgimento incluem
piora significativamente (significando habitualmente um – mas não estão limitados a – lesão axonal, alterações no
aumento de duas ou mais vezes na sua frequência e/ou metabolismo cerebral, neuroinflamação, alterações na
gravidade) em estreita relação temporal com esse trauma hemodinâmica cerebral, predisposição genética subjacente,
ou lesão, tanto o diagnóstico inicial de cefaleia como o psicopatologia e a expectativa do paciente em desenvolver
diagnóstico de 5. Cefaleia atribuída a trauma ou lesão cefaleia após um trauma cefálico. Uma pesquisa recente, uti-
cefálica e/ou cervical (ou um dos seus tipos ou subtipos) lizando modalidades avançadas de neuroimagem, sugere um
devem ser dados, contanto que existam boas evidências potencial para detectar anormalidades cerebrais funcionais,
de que o transtorno pode causar cefaleia. estruturais e metabólicas após traumas menores os quais não
são detectáveis por meio dos testes diagnósticos convencio-
nais. Distúrbios do sono, distúrbios do humor e estressores,
Introdução psicossociais e outros, pós-traumáticos podem, plausivel-
mente, influenciar o surgimento e a perpetuação da cefaleia.
Os tipos da 5. Cefaleia atribuída a trauma ou lesão cefá- O uso excessivo de medicamentos abortivos para cefaleia
lica e/ou cervical estão entre as cefaleias secundárias mais pode contribuir para a persistência da mesma após trauma
comuns. Durante os primeiros três meses a partir do início cefálico através do desenvolvimento de 8.2 Cefaleia por
eles são considerados agudos; se eles continuam além desse uso excessivo de medicamentos (MOH/CEM). Os clínicos
período são denominados persistentes. Esse período de devem considerar esta possibilidade sempre que uma cefa-
tempo é consistente com os critérios diagnósticos da ICHD- leia pós-traumática persiste além da fase inicial pós-trauma.
‑II, embora o termo persistente tenha sido adotado no lugar Fatores de risco para o desenvolvimento de 5. Cefaleia
de crônico(a). atribuída a trauma ou lesão cefálica e/ou cervical podem
Não existem características específicas de cefaleia incluir um histórico prévio de cefaleia, lesões de menor
que reconhecidamente permitam diferenciar os tipos de gravidade, sexo feminino e a presença de transtornos psi-

64
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

quiátricos comórbidos. A associação entre traumas cefá- D. Qualquer um dos seguintes:


licos repetitivos e o desenvolvimento de cefaleia deve ser 1. a cefaleia desapareceu dentro de três meses após o
melhor investigada. Ainda é amplamente debatido o grau em seu início
que uma expectativa do paciente quanto ao surgimento de 2. a cefaleia ainda não desapareceu, mas ainda não se
cefaleia após lesão cefálica e o litígio referente a tal cefa- passaram três meses desde o seu início
leia promovem o seu desenvolvimento e a sua persistência. E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
A maioria das evidências sugere que a simulação é um fator
em apenas uma pequena minoria dos pacientes. Nota:
É reconhecido que alguns pacientes desenvolvem 1. Lesão cefálica traumática é definida como uma lesão
cefaleia após um trauma cefálico de menor gravidade – tão estrutural ou funcional resultante da ação de forças exter-
pouco significativo que não preenche os critérios mesmo nas sobre a cabeça. Isso inclui um impacto entre a cabeça
para lesão cerebral traumática leve. Essas cefaleias podem e um objeto, penetração da cabeça por um corpo estra-
começar após um único trauma ou depois de impactos míni- nho, forças geradas por estouros ou explosões e outras
mos repetitivos na cabeça (p.ex., jogadores de rugby ou de forças ainda a ser definidas.
futebol americano). No entanto, a cefaleia que ocorre devido
a traumas cefálicos mínimos ainda não foi adequadamente Comentário: A condição de que a cefaleia deve ser descrita
estudada, portanto, os dados são insuficientes para apoiar como tendo se desenvolvido dentro de sete dias é algo arbi-
o seu reconhecimento e inclusão na ICHD-3. A pesquisa trária (veja a “Introdução”, acima). Comparado a intervalos
em cefaleia consequente a trauma cefálico mínimo, talvez mais longos, um intervalo de sete dias gera critérios diagnós-
guiada pelos critérios diagnósticos para A5.8 Cefaleia aguda ticos com maior especificidade para 5.1 Cefaleia aguda atri-
atribuída a outro trauma ou lesão cefálica e/ou cervical e buída a lesão cefálica traumática (i.e., evidência mais forte
A5.9 Cefaleia persistente atribuída a outro trauma ou lesão de causalidade), mas também uma perda de sensibilidade
cefálica e/ou cervical, é encorajada. correspondente. Mais pesquisas são necessárias sobre se
A 5. Cefaleia atribuída a trauma ou lesão cefálica e/ou um intervalo diferente poderia ou não ser mais apropriado.
cervical também é relatada em crianças, embora com menor Enquanto isso, os critérios do Apêndice para A5.1.1.1 Cefa-
frequência do que em adultos. As apresentações clínicas dos leia aguda de início tardio atribuída a lesão cefálica trau-
tipos são similares em crianças e adultos, e os critérios diag- mática moderada ou grave e A5.1.2.1 Cefaleia aguda de iní-
nósticos em criança são os mesmos. cio tardio atribuída a lesão cefálica traumática leve podem
ser utilizados quando o intervalo entre a lesão e o início da
cefaleia é maior que sete dias.
5.1 Cefaleia aguda atribuída a
lesão cefálica traumática
5.1.1 Cefaleia aguda atribuída a lesão cefálica
Codificadas em outro local: Trauma como resultado de movi- traumática moderada ou grave
mentos de aceleração/desaceleração da cabeça, com flexão/
extensão do pescoço é classificado como lesão em chicotada. Critérios diagnósticos:
A cefaleia aguda atribuída a tal trauma é codificada como 5.3 A. Cefaleia preenchendo os critérios para 5.1 Cefaleia
Cefaleia aguda atribuída a lesão em chicotada. A cefaleia aguda atribuída a lesão cefálica traumática
aguda atribuída a craniotomia cirúrgica realizada por outras B. Lesão cefálica associada a ao menos um dos seguintes:
razões que não lesão cefálica traumática é codificada como 1. perda da consciência por >30 minutos
5.5 Cefaleia aguda atribuída a craniotomia. 2. escore da Escala de Coma de Glasgow <13
3. amnésia pós-traumática durando >24 horas1
Descrição: Cefaleia causada por lesão cefálica traumática, 4. alteração no nível de percepção por >24 horas
com duração menor que três meses. 5. evidência, por exames de imagem, de uma lesão
cefálica traumática, como fratura de crânio,
Critérios diagnósticos: hemorragia intracraniana e/ou contusão cerebral.
A. Qualquer cefaleia preenchendo os critérios C e D
B. Ocorreu lesão cefálica traumática1 Nota:
C. A cefaleia é relatada como tendo se desenvolvido den- 1. A duração da amnésia pós-traumática é definida como o
tro de sete dias após um dos seguintes: tempo entre o trauma cefálico e a retomada da evocação
1. a lesão cefálica contínua normal dos eventos.
2. a recuperação da consciência após a lesão cefálica
3. interrupção do uso de medicamento(s) que redu-
z(em) a habilidade de perceber ou relatar a cefaleia
após a lesão cefálica

65
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

5.1.2 Cefaleia aguda atribuída a lesão cefálica como 5.4 Cefaleia persistente atribuída a lesão em chico-
traumática leve tada. A cefaleia persistente atribuída a craniotomia cirúrgica
realizada por outras razões que não lesão cefálica traumá-
Critérios diagnósticos: tica é codificada como 5.6 Cefaleia persistente atribuída a
A. Cefaleia preenchendo os critérios para 5.1 Cefaleia craniotomia.
aguda atribuída a lesão cefálica traumática
B. Lesão cefálica preenchendo ambos os seguintes: Descrição: Cefaleia causada por lesão cefálica traumática,
1. sem associação com qualquer dos seguintes: com duração maior que três meses.
a. perda da consciência por >30 minutos
b. escore da Escala de Coma de Glasgow <13 Critérios diagnósticos:
c. amnésia pós-traumática durando >24 horas1 A. Qualquer cefaleia preenchendo os critérios C e D
d. alteração no nível de percepção por >24 horas B. Ocorreu lesão cefálica traumática1
e. evidência, por exames de imagem, de uma C. A cefaleia é relatada como tendo se desenvolvido den-
lesão cefálica traumática, como fratura de tro de sete dias após um dos seguintes:
crânio, hemorragia intracraniana e/ou contu- 1. a lesão cefálica
são cerebral 2. a recuperação da consciência após a lesão cefálica
2. associada a um ou mais dos seguintes sintomas e/ 3. interrupção do uso de medicamento(s) que
ou sinais: reduz(em) a habilidade de perceber ou relatar a
a. confusão, desorientação ou consciência dimi- cefaleia após a lesão cefálica
nuída, transitórias D. A cefaleia persiste por >3 meses depois do seu início
b. perda da memória relativa a eventos imedia- E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.2
tamente prévios ou posteriores ao trauma
c. dois ou mais dos seguintes sintomas sugesti- Nota:
vos de lesão cerebral traumática leve: 1. A lesão cefálica traumática é definida como uma lesão
i. náusea estrutural ou funcional resultante da ação de forças exter-
ii. vômitos nas sobre a cabeça. Isso inclui um impacto entre a cabeça
iii. distúrbios visuais e um objeto, penetração da cabeça por um corpo estra-
iv. tontura e/ou vertigem nho, forças geradas por estouros ou explosões, e outras
v. desequilíbrio postural e/ou da marcha forças ainda a ser definidas.
vi. memória e/ou concentração prejudicadas. 2. Quando a cefaleia decorrente de lesão cefálica se torna
persistente, a possibilidade de 8.2 Cefaleia por uso
Nota: excessivo de medicamentos (MOH/CEM) precisa ser
1. A duração da amnésia pós-traumática é definida como o considerada.
tempo entre o trauma cefálico e a retomada da evocação
contínua normal dos eventos. Comentários: A condição de que a cefaleia deve ser descrita
como tendo se desenvolvido dentro de sete dias é algo arbi-
Comentário: Os critérios diagnósticos para lesão cefálica trau- trária (veja a “Introdução”, acima). Comparado a intervalos
mática leve e aqueles para lesão cefálica traumática mode- mais longos, um intervalo de sete dias gera critérios diagnós-
rada ou grave permitem uma variabilidade substancial na ticos com maior especificidade para 5.2 Cefaleia persistente
gravidade da lesão classificada em cada categoria. Isso tem atribuída a lesão cefálica traumática (i.e., evidência mais
levado alguns especialistas a sugerir a inclusão de categorias forte de causalidade), mas também uma perda de sensibili-
adicionais: cefaleia atribuída a lesão cefálica traumática dade correspondente. Mais pesquisas são necessárias sobre
muito leve e cefaleia atribuída a lesão cefálica traumática se um intervalo diferente poderia ou não ser mais apropriado.
muito grave. As evidencias existentes são insuficientes para Enquanto isso, os critérios do Apêndice para A5.2.1.1 Cefa-
adicionar essas categorias no presente, porém estudos futu- leia persistente de início tardio atribuída a lesão cefálica
ros devem investigar a utilidade de fazê-lo. traumática moderada ou grave e A5.2.2.1 Cefaleia persis-
tente de início tardio atribuída a lesão cefálica traumática
leve podem ser utilizados quando o intervalo entre a lesão e
5.2 Cefaleia persistente atribuída a o início da cefaleia é maior que sete dias.
lesão cefálica traumática Para haver consistência com os critérios diagnósticos
para cefaleia pós-traumática crônica da ICHD-II e com o
Codificada em outro local: Trauma como resultado de movi- intervalo de tempo utilizado no diagnóstico de outras cefa-
mentos de aceleração/desaceleração da cabeça, com flexão/ leias secundárias, três meses é o intervalo de tempo além do
extensão do pescoço é classificado como lesão em chico- qual uma cefaleia atribuída a uma lesão ou trauma cefálico
tada. A cefaleia persistente atribuída a tal trauma é codificada é considerada persistente. Pesquisa adicional é necessária a

66
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

fim de investigar se intervalos mais curtos ou mais longos Nota:


podem ser apropriadamente adotados. 1. A duração da amnésia pós-traumática é definida como o
tempo entre o trauma cefálico e a retomada da evocação
contínua normal dos eventos.
5.2.1 Cefaleia persistente atribuída a lesão cefálica
traumática moderada ou grave
5.3 Cefaleia aguda atribuída a
Critérios diagnósticos: lesão em chicotada1
A. Cefaleia preenchendo os critérios para 5.2 Cefaleia per-
sistente atribuída a lesão cefálica traumática Descrição: Cefaleia causada por lesão em chicotada, com
B. Lesão cefálica associada a ao menos um dos seguintes: duração de menos que três meses.
1. perda da consciência por >30 minutos
2. escore da Escala de Coma de Glasgow < 13 Critérios diagnósticos:
3. amnésia pós-traumática por >24 horas1 A. Qualquer cefaleia preenchendo os critérios C e D
4. alteração no nível de percepção por >24 horas B. Ocorreu lesão em chicotada1, associada temporalmente
5. evidência, por exames de imagem, de uma lesão a dor cervical e/ou cefaleia
cefálica traumática, como fratura de crânio, he­ C. A cefaleia desenvolveu-se dentro de sete dias após a
morragia intracraniana e/ou contusão cerebral. lesão em chicotada
D. Qualquer um dos seguintes:
Nota: 1. a cefaleia desapareceu dentro de três meses após o
1. A duração da amnésia pós-traumática é definida como o seu início
tempo entre o trauma cefálico e a retomada da evocação 2. a cefaleia ainda não desapareceu, porém ainda não
contínua normal dos eventos. se passaram três meses desde o seu início
E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.

5.2.2 Cefaleia persistente atribuída a Nota:


lesão cefálica traumática leve 1. A lesão em chicotada é definida como movimentos de
aceleração/desaceleração da cabeça, repentinos e inade-
Critérios diagnósticos: quadamente restringidos, com flexão/extensão cervical.
A. Cefaleia preenchendo os critérios para 5.2 Cefaleia per- A lesão em chicotada pode ocorrer após tanto forças de
sistente atribuída a lesão cefálica traumática alto impacto como de baixo impacto.
B. Lesão cefálica preenchendo ambos os seguintes:
1. sem associação com qualquer dos seguintes: Comentários: A lesão em chicotada ocorre mais comumente
a. perda da consciência por >30 minutos no contexto de um acidente com veículo motorizado.
b. escore da Escala de Coma de Glasgow <13 A 5.3 Cefaleia aguda atribuída a lesão em chicotada
c. amnésia pós-traumática durando >24 horas1 pode ocorrer como um sintoma isolado ou com uma cons-
d. alteração no nível de percepção por >24 horas telação de outros sintomas que se relacionam ao pescoço,
e. evidência, por exames de imagem, de uma assim como sintomas somáticos extracervicais, neurossen-
lesão cefálica traumática, como fratura de soriais, comportamentais, cognitivos e/ou de humor. A lesão
crânio, hemorragia intracraniana e/ou contu- em chicotada, em si, pode ser classificada de acordo com
são cerebral a gravidade da apresentação clínica, utilizando um sistema
2. associada a um ou mais dos seguintes sintomas e/ como aquele apresentado pela Quebec Task Force on Whi-
ou sinais: plash-Associated Disorders.
a. confusão, desorientação ou consciência dimi-
nuída, transitórias
b. perda da memória relativa a eventos imedia- 5.4 Cefaleia persistente atribuída a
tamente prévios ou posteriores ao trauma lesão em chicotada
c. dois ou mais dos seguintes sintomas sugesti-
vos de lesão cerebral traumática leve: Descrição: Cefaleia causada por lesão em chicotada, com
i. náusea duração maior que três meses.
ii. vômitos
iii. distúrbios visuais Critérios diagnósticos:
iv. tontura e/ou vertigem A. Qualquer cefaleia preenchendo os critérios C e D
v. desequilíbrio postural e/ou da marcha B. Ocorreu lesão em chicotada1, associada temporalmente
vi. memória e/ou concentração prejudicadas. a dor cervical e/ou cefaleia

67
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

C. A cefaleia desenvolveu-se dentro de sete dias após a tidos a craniotomia cirúrgica. Na maioria dos casos, ela
lesão em chicotada começa dentro dos primeiros dias após a craniotomia e se
D. A cefaleia persiste por >3 meses após o seu início desaparece dentro do período pós-operatório agudo. Ela é
E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.2 mais comum após cirurgias da base do crânio em compara-
ção a outros locais.
Nota: Embora a dor de 5.5 Cefaleia aguda atribuída a cranio-
1. A lesão em chicotada é definida como movimentos de tomia seja frequentemente sentida como máxima no local da
aceleração/desaceleração da cabeça, repentinos e inade- craniotomia, ela pode ser mais difusa e assemelhar-se a cefa-
quadamente restringidos, com flexão/extensão cervical. leia do tipo tensão ou a migrânea.
A lesão em chicotada pode ocorrer após tanto forças de
alto impacto como de baixo impacto.
2. Quando a cefaleia após lesão em chicotada torna-se per- 5.6 Cefaleia persistente atribuída
sistente, a possibilidade de 8.2 Cefaleia por uso excessivo a craniotomia
de medicamentos (MOH/CEM) precisa ser considerada.
Descrição: Cefaleia causada por craniotomia cirúrgica, com
duração maior que 3 meses.
5.5 Cefaleia aguda atribuída a craniotomia
Critérios diagnósticos:
Descrição: Cefaleia causada por craniotomia cirúrgica, com A. Qualquer cefaleia preenchendo os critérios C e D
duração menor que três meses. B. Craniotomia cirúrgica1 foi realizada
C. A cefaleia é descrita como tendo se desenvolvido dentro
Critérios diagnósticos: de sete dias após um dos seguintes:
A. Qualquer cefaleia preenchendo os critérios C e D 1. a craniotomia
B. Craniotomia cirúrgica1 foi realizada 2. a recuperação da consciência após a craniotomia
C. A cefaleia é descrita como tendo se desenvolvido dentro 3. descontinuação de medicamento(s) que prejudi-
de sete dias após um dos seguintes: cam a habilidade de perceber ou relatar cefaleia
1. a craniotomia após a craniotomia
2. a recuperação da consciência após a craniotomia D. A cefaleia persiste por mais de 3 meses após a craniotomia
3. descontinuação de medicamento(s) que prejudi- E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.1,2
cam a habilidade de perceber ou relatar cefaleia
após a craniotomia Notas:
D. Qualquer um dos seguintes: 1. Quando a craniotomia foi realizada após e por causa
1. a cefaleia desapareceu dentro de três meses após o de uma lesão traumática cefálica, codifique como 5.2.1
seu início Cefaleia persistente atribuída a lesão cefálica traumá-
2. a cefaleia ainda não desapareceu, porém ainda não tica moderada ou grave.
se passaram três meses desde o seu início. 2. Quando a cefaleia após craniotomia torna-se persistente,
E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.1,2 a possibilidade de 8.2 Cefaleia por uso excessivo de
medicamentos (MOH/CEM) precisa ser considerada.
Notas:
1. Quando a craniotomia foi realizada após e por causa Comentários: Cerca de um quarto dos pacientes que desen-
de uma lesão traumática cefálica, codifique como 5.1.1 volvem 5.5 Cefaleia aguda atribuída a craniotomia acabam
Cefaleia aguda atribuída a lesão cefálica traumática sofrendo de 5.6 Cefaleia persistente atribuída a craniotomia.
moderada ou grave.
2. A exclusão de outras cefaleias secundárias que podem
ocorrer após craniotomia é necessária antes de atribuir-se Bibliografia
o diagnóstico de 5.5 Cefaleia aguda atribuída a cranio-
tomia. Embora existam inúmeras potenciais etiologias de Traumatic Brain Injury (TBI) Task Force for the US Department
cefaleia após uma craniotomia, devem ser consideradas of the Army. Report to the Surgeon General, https://www.hsdl.
em especial a cefaleia cervicogênica (como resultado do org/?view&did=482727 (2008, accessed 19 September 2017).
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Comentários: A 5.5 Cefaleia aguda atribuída a craniotomia Neurosurg Psychiatr 2012; 83: 870–876.
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71
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

6. Cefaleia atribuída a transtorno 6.6.2 Cefaleia atribuída a implante de stent em seio venoso
vascular craniano e/ou cervical craniano
6.7 Cefaleia atribuída a outro transtorno arterial intracraniano
6.1 Cefaleia atribuída a evento isquêmico cerebral agudo
6.1.1 Cefaleia atribuída a acidente vascular cerebral isquêmico 6.7.1 Cefaleia atribuída a um procedimento endarterial
(infarto cerebral) intracraniano
6.1.1.1 Cefaleia aguda atribuída a acidente vascular cerebral 6.7.2 Cefaleia da angiografia
isquêmico (infarto cerebral) 6.7.3 Cefaleia atribuída à síndrome da vasoconstrição cerebral
6.1.1.2 Cefaleia persistente atribuída a acidente vascular reversível (SVCR)
cerebral isquêmico prévio (infarto cerebral) 6.7.3.1 Cefaleia aguda atribuída à síndrome da vasoconstrição
6.1.2 Cefaleia atribuída a ataque isquêmico transitório (AIT) cerebral reversível (SVCR)
6.2 Cefaleia atribuída a hemorragia intracraniana não traumática 6.7.3.2 Cefaleia aguda provavelmente atribuída à síndrome da
6.2.1 Cefaleia aguda atribuída a hemorragia intracerebral não vasoconstrição cerebral reversível (SVCR)
traumática 6.7.3.3 Cefaleia persistente atribuída à síndrome da
6.2.2 Cefaleia aguda atribuída a hemorragia subaracnóidea vasoconstrição cerebral reversível (SVCR) prévia
(HSA) não traumática 6.7.4 Cefaleia atribuída a dissecção arterial intracraniana
6.2.3 Cefaleia aguda atribuída a hemorragia subdural aguda 6.8 Cefaleia e/ou aura migrânea-símile atribuída a vasculopatia
(HSDA) não traumática intracraniana crônica
6.2.4 Cefaleia persistente atribuída a hemorragia intracraniana 6.8.1 Cefaleia atribuída a Arteriopatia Cerebral
não traumática prévia Autossômica Dominante com Infartos Subcorticais e
6.2.4.1 Cefaleia persistente atribuída a hemorragia Leucoencefalopatia (CADASIL)
intracerebral não traumática prévia 6.8.2 Cefaleia atribuída a encefalopatia mitocondrial, acidose
6.2.4.2 Cefaleia persistente atribuída a hemorragia lática e episódios AVC-símiles (MELAS)
subaracnóidea não traumática prévia 6.8.3 Cefaleia atribuída a angiopatia do tipo Moyamoya
6.2.4.3 Cefaleia persistente atribuída a hemorragia subdural 6.8.4 Aura migrânea-símile atribuída a angiopatia amiloide
aguda não traumática prévia cerebral
6.3 Cefaleia atribuída a malformação vascular não rota 6.8.5 Cefaleia atribuída à síndrome da vasculopatia retiniana
6.3.1 Cefaleia atribuída a aneurisma sacular não roto com leucoencefalopatia cerebral e manifestações
6.3.2 Cefaleia atribuída a malformação arteriovenosa (MAV) sistêmicas (RVCLSM)
6.3.3 Cefaleia atribuída a fístula arteriovenosa dural 6.8.6 Cefaleia atribuída a outra vasculopatia intracraniana
6.3.4 Cefaleia atribuída a angioma cavernoso crônica
6.3.5 Cefaleia atribuída a angiomatose encefalotrigeminal ou 6.9 Cefaleia atribuída a apoplexia pituitária
leptomeníngea (síndrome de Sturge Weber)
6.4 Cefaleia atribuída a arterite
6.4.1 Cefaleia atribuída a arterite de células gigantes (ACG) Comentário geral
6.4.2 Cefaleia atribuída a angiite primária do sistema nervoso
central (PACNS) Cefaleia primária ou secundária ou ambas? As regras gerais para
6.4.3 Cefaleia atribuída a angiite secundária do sistema nervoso atribuição a outro transtorno aplicam-se a 6. Cefaleia atri-
central (SACNS) buída a transtorno vascular craniano e/ou cervical.
6.5 Cefaleia atribuída a transtorno da artéria carótida cervical ou
da artéria vertebral 1. Quando uma cefaleia nova ocorre pela primeira vez em
6.5.1 Cefaleia ou dor facial ou cervical atribuída a dissecção da estreita relação temporal com um transtorno vascular
artéria carótida cervical ou da artéria vertebral craniano ou cervical, ela é codificada como uma cefaleia
6.5.1.1 Cefaleia ou dor facial ou cervical aguda atribuída a secundária atribuída a esse transtorno. Isso permanece
dissecção da artéria carótida cervical ou da artéria verdadeiro quando a nova cefaleia possui as caracterís-
vertebral ticas de qualquer uma das cefaleias primárias classifi-
6.5.1.2 Cefaleia ou dor facial ou cervical persistente atribuída cadas na Parte Um da ICHD-3. Essa regra aplica-se de
a dissecção prévia da artéria carótida cervical ou da forma semelhante a novos sintomas semelhantes a aura
artéria vertebral migranosa ocorrendo pela primeira vez em estreita rela-
6.5.2 Cefaleia pós-endarterectomia ção temporal com um transtorno vascular craniano ou
6.5.3 Cefaleia atribuída a angioplastia ou a implante de stent cervical.
carotídeo ou vertebral 2. Quando uma cefaleia pré-existente, com as caracte-
6.6 Cefaleia atribuída a transtorno venoso craniano rísticas de uma cefaleia primária, torna-se crônica, ou
6.6.1 Cefaleia atribuída a trombose venosa cerebral (TVC) piora significativamente (significando habitualmente um

72
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

aumento de duas ou mais vezes na frequência e/ou gra- b) a cefaleia melhorou, significativamente, em
vidade) em estreita relação temporal com um transtorno paralelo com a melhora do transtorno vascu-
vascular craniano ou cervical, tanto o diagnóstico inicial lar craniano e/ou cervical
da cefaleia como o diagnóstico de 6. Cefaleia atribuída 3. a cefaleia possui características típicas para o
a transtorno vascular craniano e/ou cervical (ou um dos transtorno vascular craniano e/ou cervical
seus subtipos) devem ser dados, contanto que haja evi- 4. existe outra evidência de causalidade
dência de boa qualidade de que o transtorno pode causar D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
cefaleia.

6.1 Cefaleia atribuída a evento isquêmico


Introdução cerebral
O diagnóstico da cefaleia e a sua ligação causal é fácil na 6.1.1 Cefaleia atribuída a acidente vascular cerebral
maioria das condições vasculares listadas a seguir, porque isquêmico (infarto cerebral)
a cefaleia apresenta-se tanto agudamente como associada a
sinais neurológicos e também porque com frequência desa- 6.1.1.1 Cefaleia aguda atribuída a acidente vascular
parece rapidamente. Portanto, a estreita relação temporal cerebral isquêmico (infarto cerebral)
entre a cefaleia e esses sinais neurológicos é crucial para o
estabelecimento da relação causal. Descrição: Cefaleia nova e habitualmente de início agudo,
Em muitas dessas condições, como o acidente vascular causada por acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico e
isquêmico ou hemorrágico, a cefaleia é ofuscada por sinais associada a sinais neurológicos focais do AVC. Ela é muito
focais e/ou por transtornos da consciência. Em outras, como raramente a característica de apresentação ou uma caracte-
a hemorragia subaracnóidea, a cefaleia é habitualmente o rística proeminente do AVC. Habitualmente possui um curso
sintoma proeminente. Em várias outras condições que podem autolimitado.
causar tanto cefaleia como acidente vascular cerebral, tais
como dissecções, trombose venosa cerebral, arterite de célu- Critérios diagnósticos:
las gigantes e angiite do sistema nervoso central, a cefaleia A. Qualquer cefaleia nova preenchendo os critérios C e D
frequentemente é um sintoma de alerta inicial. É crucial, por- B. Um acidente vascular cerebral isquêmico foi diagnos­
tanto, reconhecer a associação da cefaleia com esses trans- ticado
tornos, com o intuito de diagnosticar corretamente a doença C. Evidência de causalidade demonstrada por um dos ou
vascular subjacente e iniciar o tratamento apropriado logo ambos os seguintes:
que possível, prevenindo assim consequências neurológicas 1. a cefaleia desenvolveu-se em muito estreita rela-
potencialmente devastadoras. ção temporal com outros sintomas e/ou sinais clí-
Todas essas condições podem ocorrer em pacientes previa- nicos de acidente vascular cerebral isquêmico, ou
mente acometidos por qualquer tipo de cefaleia primária. Um levou ao diagnóstico de acidente vascular cerebral
indício que aponta para uma condição vascular subjacente é o isquêmico
início, habitualmente súbito, de uma cefaleia nova, até então 2. a cefaleia melhorou, significativamente, em para-
desconhecida pelo paciente. Sempre que isso ocorre, as condi- lelo com a estabilização ou melhora de outros
ções vasculares devem ser pesquisadas com urgência. sintomas ou sinais clínicos ou radiológicos do aci-
Para cefaleia atribuída a qualquer um dos transtornos dente vascular cerebral isquêmico.
vasculares citados aqui, os critérios diagnósticos incluem, D. Qualquer um dos seguintes:
sempre que possível: 1. a cefaleia desapareceu dentro de três meses1
2. a cefaleia ainda não desapareceu, porém ainda não
A. Cefaleia preenchendo o critério C se passaram três meses1
B. Um transtorno vascular craniano e/ou cervical, reconhe- E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
cidamente capaz de causar cefaleia, foi demonstrado
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos Nota:
dois dos seguintes: 1. Os três meses devem ser contabilizados a partir da estabi-
1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal lização, seja ela espontânea ou através de tratamento, do
com o início de um transtorno vascular craniano e/ acidente vascular cerebral isquêmico, e não desde o seu
ou cervical início.
2. um dos ou ambos os seguintes:
a) a cefaleia piorou, significativamente, em Comentário: A 6.1.1.1 Cefaleia aguda atribuída a acidente
paralelo com a piora do transtorno vascular vascular cerebral isquêmico (infarto cerebral) é acompa-
craniano e/ou cervical nhada por sinais neurológicos focais e/ou alterações na cons-

73
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

ciência, as quais na maioria das vezes permitem a sua fácil tório (AIT) e acompanhada pelos sinais focais transitórios de
diferenciação das cefaleias primárias. Ela é habitualmente início abrupto de um AIT. Dura menos que 24 horas.
de intensidade moderada e não possui características espe-
cíficas. Ela pode ser ipsilateral ao acidente vascular cerebral Critérios diagnósticos:
ou bilateral. Em raros casos, um acidente vascular cerebral A. Qualquer cefaleia nova preenchendo o critério C
isquêmico agudo - notadamente um infarto embólico cerebe- B. Um ataque isquêmico transitório (AIT) foi diagnosticado
lar ou supratentorial - pode apresentar-se com uma cefaleia C. Evidência de causalidade demonstrada por ambos os
abrupta isolada (até mesmo em trovoada). seguintes:
A cefaleia acompanha o acidente vascular cerebral isquê- 1. a cefaleia desenvolveu-se simultaneamente a outros
mico em até um terço dos casos; ela é mais frequente em aci- sintomas e/ou sinais clínicos de AIT
dentes vasculares do território basilar do que do carotídeo. 2. a cefaleia desaparece dentro de 24 horas
Ela é de pouco valor prático no estabelecimento da etiolo- D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da
gia do acidente vascular, com a exceção de que a cefaleia é ICHD-3.1,2
muito raramente associada a infartos lacunares.
A cefaleia é, entretanto, extremamente comum nos trans- Notas:
tornos agudos da parede arterial que podem levar ao acidente 1. Pode ser particularmente difícil o diagnóstico diferencial
vascular cerebral isquêmico, tais como a dissecção arterial entre 6.1.2 Cefaleia atribuída a ataque isquêmico tran-
ou a síndrome da vasoconstrição cerebral reversível. Nessas sitório (AIT) e uma crise de 1.2 Migrânea com aura. O
últimas condições, a cefaleia pode ser diretamente causada modo de início é crucial: o déficit focal é tipicamente
pelas lesões da parede arterial e pode preceder o acidente repentino no AIT e mais frequentemente progressivo na
vascular cerebral isquêmico; portanto, é mais corretamente aura migranosa. Além disso, fenômenos positivos (p.ex.,
codificada para o transtorno da parede arterial. escotoma cintilante) são muito mais comuns na aura
migranosa do que no AIT, enquanto que os fenômenos
negativos são mais habituais no AIT.
6.1.1.2 Cefaleia persistente atribuída a 2. A coincidência de um AIT típico nos demais aspectos
acidente vascular cerebral isquêmico e cefaleia intensa deve desencadear a busca por alguns
(infarto cerebral) prévio transtornos arteriais que podem induzir cefaleia intensa
de forma direta (dissecção arterial, entre outros).
Descrição: Cefaleia causada por acidente vascular cerebral
isquêmico e que persiste por mais de três meses após a esta- Comentários: Um ataque isquêmico transitório (AIT) é um
bilização do acidente vascular. episódio transitório de disfunção neurológica causado por
isquemia focal cerebral ou retiniana, sem evidência clínica,
Critérios diagnósticos: de imagem ou outra de infarto cerebral ou retiniano agudo.
A. Cefaleia previamente diagnosticada como 6.1.1.1 Os sintomas de um AIT tipicamente, mas não invariavel-
Cefaleia aguda atribuída a acidente vascular cerebral mente, duram menos de uma hora.
isquêmico (infarto cerebral) e preenchendo o critério C Embora mais comum com AITs do território basilar do
B. O acidente vascular cerebral isquêmico estabilizou, que do território carotídeo, a cefaleia é muito raramente um
espontaneamente ou através de tratamento sintoma proeminente do AIT.
C. A cefaleia persiste por >3 meses após a estabilização do
acidente vascular cerebral isquêmico
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. 6.2 Cefaleia atribuída a hemorragia
intracraniana não traumática
Comentários: Alguns estudos têm documentado cefaleias
atendendo ao critério para 6.1.1.2 Cefaleia persistente atri- Codificada em outro local: A cefaleia atribuída a hemorragia
buída a acidente vascular cerebral isquêmico (infarto cere- intracerebral e/ou subaracnóidea traumática ou a hematoma
bral) prévio. Pesquisas que identifiquem os fatores de risco traumático intracerebral, subdural ou epidural é codificada
para tais cefaleias persistentes são necessárias; um histórico como 5.1.1 Cefaleia aguda atribuída a lesão cefálica trau-
de 1. Migrânea pode desempenhar um papel, assim como mática moderada ou grave ou 5.2.1 Cefaleia persistente
ansiedade/depressão. atribuída a lesão cefálica traumática moderada ou grave.

Descrição: Cefaleia causada por hemorragia intracraniana


6.1.2 Cefaleia atribuída a ataque isquêmico não traumática, habitualmente com um início repentino (até
transitório (AIT) mesmo em trovoada). Dependendo do tipo de hemorragia,
ela pode ser isolada ou associada a déficits neurológicos
Descrição: Cefaleia causada por um ataque isquêmico transi- focais.

74
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

6.2.1 Cefaleia aguda atribuída a hemorragia 6.2.2 Cefaleia aguda atribuída a hemorragia
intracerebral não traumática subaracnóidea (HSA) não traumática

Descrição: Cefaleia nova e habitualmente de início agudo cau- Codificada em outro local: A hemorragia subaracnóidea (HSA)
sada por hemorragia intracerebral não traumática, associada não traumática é distinta da hemorragia subaracnóidea não
a sinais neurológicos focais da hemorragia intracerebral. Ela traumática da convexidade (HSAc). Este último transtorno
pode, raramente, ser a característica proeminente e de apre- pode apresentar-se com características clínicas e radiológicas
sentação da hemorragia intracerebral não traumática. altamente variáveis, de acordo com as suas diversas causas
subjacentes, as quais incluem a síndrome da vasoconstrição
Critérios diagnósticos: cerebral reversível (SVCR), angiopatia amiloide cerebral
A. Qualquer cefaleia nova preenchendo os critérios C e D (AAC), endocardite e trombose venosa cerebral. Os pacien-
B. Hemorragia intracerebral (HIC)1, na ausência de trauma tes com crises aura-símiles, HSAc e AAC devem ser codifi-
cefálico, foi diagnosticada cados como 6.8.4 Aura migrânea-símile atribuída a angio-
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos patia amiloide cerebral. Pacientes com cefaleia, HSAc e
dois dos seguintes: SVCR, devem ser codificados como 6.7.3 Cefaleia atribuída
1. a cefaleia desenvolveu-se em estreita relação tem- à síndrome da vasoconstrição cerebral reversível (SVCR).
poral com outros sintomas e/ou sinais clínicos de
HIC, ou levou ao diagnóstico de HIC Descrição: Cefaleia causada por hemorragia subaracnóidea
2. a cefaleia melhorou, significativamente, em para- (HSA) não traumática, tipicamente intensa e repentina em
lelo com a estabilização ou melhora de outros de seu início, atingindo o seu pico em segundos (cefaleia em
outros sintomas ou sinais clínicos ou radiológicos trovoada) ou em minutos. Pode ser o único sintoma da HSA
de HIC não traumática.
3. a cefaleia tem ao menos uma das três seguintes
características: Critérios diagnósticos:
a) início repentino ou em trovoada A. Qualquer cefaleia nova preenchendo os critérios C e D
b) máxima no dia após o seu início B. Hemorragia subaracnóidea (HSA), na ausência de
c) situada de acordo com o local da hemorragia trauma cefálico, foi diagnosticada
D. Qualquer um dos seguintes: C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
1. a cefaleia desapareceu dentro de três meses2 dois dos seguintes:
2. a cefaleia ainda não desapareceu, porém ainda não 1. a cefaleia desenvolveu-se em estreita relação tem-
se passaram três meses2 poral com outros sintomas e/ou sinais clínicos de
E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. HSA, ou levou ao diagnóstico de HSA
2. a cefaleia melhorou, significativamente, em para-
Notas: lelo com a estabilização ou melhora de outros sin-
1. Através do uso, o termo intracerebral é considerado tomas ou sinais clínicos ou radiológicos da HSA
nesse contexto de forma a incluir intracerebelar. 3. a cefaleia teve início súbito ou em trovoada
2. Os três meses devem ser contabilizados a partir da estabi- D. Qualquer um dos seguintes:
lização da hemorragia intracerebral, espontânea ou atra- 1. a cefaleia desapareceu dentro de três meses1
vés de tratamento, e não desde o seu início. 2. a cefaleia não desapareceu, porém ainda não se
passaram três meses1
Comentários: A 6.2.1 Cefaleia aguda atribuída a hemorragia E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da
intracerebral não traumática é mais frequentemente o resul- ICHD-3.2,3
tado de sangue subaracnóide e compressão local do que de
hipertensão intracraniana. Ela pode apresentar-se, ocasional- Notas:
mente, como cefaleia em trovoada. 1. Os três meses devem ser contabilizados a partir da estabi-
A cefaleia é mais comum e mais intensa nos acidentes lização da hemorragia subaracnóidea (HSA), espontânea
vasculares cerebrais hemorrágicos do que nos isquêmicos. ou através de tratamento, e não desde o seu início.
Quando ocorre no início do acidente vascular cerebral (AVC), 2. O diagnóstico da HSA é confirmado por tomografia com-
a cefaleia é associada a um risco superior de mortalidade pre- putadorizada (TC) não contrastada: a sensibilidade é pró-
coce na hemorragia intracerebral, mas não no AVC isquêmico. xima a 99% nas primeiras seis horas após o início, 98%
A cefaleia é geralmente ofuscada por déficits focais ou às 12 horas e 93% às 24 horas desde o início do quadro
coma, mas ela pode ser a característica precoce proeminente (porém caindo para 50% aos sete dias). Quando os resul-
de algumas hemorragias intracerebrais, especialmente da tados da TC não são suficientes para o diagnóstico, a pun-
hemorragia cerebelar, a qual pode requerer descompressão ção lombar é essencial: a xantocromia está presente em
cirúrgica de emergência. todos os casos com HSA aneurismática, quando o líquido

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CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

cefalorraquidiano (LCR) é coletado entre 12 horas e em trovoada) ou em minutos. Ela é habitualmente acompa-
duas semanas após o início dos sintomas e analisado por nhada ou seguida rapidamente por sinais focais e diminuição
espectrofotometria. A ressonância magnética não está da consciência.
indicada como teste diagnóstico inicial para HSA; no
entanto, as imagens ponderadas em FLAIR (fluid-atte- Critérios diagnósticos:
nuated inversion recovery) e em T2 gradiente-eco podem A. Qualquer cefaleia nova preenchendo os critérios C e D
ser úteis quando a TC for normal e o LCR anormal. B. Hemorragia subdural aguda (HSDA), na ausência de
3. Na presença de hemorragia subaracnóidea não traumá- trauma cefálico, foi diagnosticada.
tica da convexidade, a idade avançada, disfunção sen- C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
sorial e motora, episódios estereotipados aura-símiles e dois dos seguintes:
ausência de cefaleia significativa sugerem a angiopatia 1. a cefaleia desenvolveu-se em estreita relação tem-
amiloide cerebral como causa subjacente. Por outro lado, poral com outros sintomas e/ou sinais clínicos de
menos idade e cefaleia recorrente em trovoada apontam HSDA, ou levou ao diagnóstico de HSDA
para a síndrome da vasoconstrição cerebral reversível. 2. um dos ou ambos os seguintes:
a) a cefaleia piorou, significativamente, em
Comentários: A hemorragia subaracnóidea não traumática para­lelo com a piora da HSDA
(HSA) é uma das causas mais comuns de cefaleia persistente, b) a cefaleia melhorou, significativamente, em
intensa e incapacitante de início abrupto (cefaleia em trovoada) paralelo com a melhora de outros sintomas
e é uma condição grave (a taxa de mortalidade é de 40-50%, ou sinais clínicos ou radiológicos da HSDA
com 10-20% dos pacientes morrendo antes de chegar ao hos- 3. a cefaleia possui uma das ou ambas as seguintes
pital; 50% dos sobreviventes permanecem incapacitados). características:
A 6.2.2 Cefaleia aguda atribuída a hemorragia subarac- a) início repentino ou em trovoada
nóidea (HSA) não traumática pode, não obstante, ser mode- b) situada de acordo com o local da hemorragia
rada e sem quaisquer sinais associados. O início abrupto é a D. Qualquer um dos seguintes:
característica-chave. Em conformidade com isso, qualquer 1. a cefaleia desapareceu dentro de três meses1
paciente com cefaleia de início abrupto ou cefaleia em tro- 2. a cefaleia ainda não desapareceu, porém ainda não
voada deve ser avaliado para HSA. se passaram três meses1
O diagnóstico tardio frequentemente leva a um desfecho E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
catastrófico: a HSA é uma emergência neurointervencionista.
No entanto, um erro diagnóstico inicial ocorre em 25 a 50% Nota:
dos pacientes, sendo a migrânea o diagnóstico errôneo mais 1. Os três meses devem ser contabilizados a partir da esta-
comum. As razões mais comuns para o erro diagnóstico são bilização da hemorragia subdural aguda, espontânea ou
a falha na obtenção de exames de neuroimagem apropriados através de tratamento, e não desde o seu início.
ou a sua má interpretação, ou a falha em realizar a punção
lombar nos casos em que ela é necessária. Comentários: A hemorragia subdural aguda (HSDA) não trau-
Após o diagnóstico de HSA, o próximo passo urgente mática sem outra hemorragia intracraniana (“HSDA pura”) é
consiste em identificar um aneurisma roto (80% dos casos rara. Ela representa uma condição de ameaça à vida e é uma
de HSA espontânea resultam de aneurismas saculares rotos). emergência neurocirúrgica.
Nos pacientes que recebem inicialmente um um diagnóstico O sangramento pode ser de origem arterial ou venosa.
errado e nos quais a HSA é tardiamente identificada, quando As causas relatadas incluem ruptura “espontânea” de artéria
os sintomas ocorrem novamente alguns dias mais tarde, fre- cortical, ruptura de aneurisma, malformações arterioveno-
quentemente não há aneurisma e nenhuma causa identificável sas e fístulas arteriovenosas durais, tumores ou metástases,
para a HSA. coagulopatias, doença de Moyamoya, trombose venosa cere-
bral e hipotensão intracraniana. Casos isolados ou pequenas
séries têm sido relatados principalmente por neurocirurgiões.
6.2.3 Cefaleia aguda atribuída a hemorragia A cefaleia é descrita em 25-100% dos casos, dependendo da
subdural aguda (HSDA) não traumática série e da causa subjacente. A cefaleia isolada pode ser o sinal
de apresentação porém habitualmente ela está associada a ou
Codificada em outro local: A maioria dos casos de hemorragia é seguida por uma rápida deterioração neurológica.
subdural aguda ocorre após trauma cefálico; a cefaleia, em
tais casos, deve ser codificada de acordo.
6.2.4 Cefaleia persistente atribuída a hemorragia
Descrição: Cefaleia causada por hemorragia subdural aguda intracraniana não traumática prévia
não traumática (HSDA), tipicamente intensa e repentina,
atingindo a sua intensidade máxima em segundos (cefaleia Descrição: Cefaleia causada por hemorragia intracraniana não

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TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

traumática e persistindo por mais de três meses após a esta- 1. a cefaleia desenvolveu-se em estreita relação tem-
bilização da hemorragia. poral com outros sintomas e/ou sinais clínicos
de aneurisma sacular não roto, ou levou ao seu
Critérios diagnósticos: diagnóstico
A. Cefaleia previamente diagnosticada como 6.2.1 Cefa- 2. um dos ou ambos os seguintes:
leia aguda atribuída a hemorragia intracerebral não a) a cefaleia piorou, significativamente, em
traumática, 6.2.2 Cefaleia aguda atribuída a hemor- paralelo com outros sintomas ou sinais clíni-
ragia subaracnóidea (HSA) não traumática, ou 6.2.3 cos ou radiológicos de crescimento do aneu-
Cefaleia aguda atribuída a hemorragia subdural aguda risma sacular
(HSDA) não traumática e preenchendo o critério C b) a cefaleia desapareceu após o tratamento do
B. A hemorragia intracraniana (de qualquer tipo) estabili- aneurisma sacular
zou, espontaneamente ou através de tratamento 3. um dos ou ambos os seguintes:
C. A cefaleia tem persistido por >3 meses após a estabili- a) a cefaleia tem início repentino ou em trovoada
zação da hemorragia intracraniana b) a cefaleia está associada a uma paralisia dolo-
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. rosa do terceiro nervo craniano
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da
Comentários: Alguns estudos têm documentado cefaleias ICHD-3.1
atendendo aos critérios para 6.2.4 Cefaleia persistente atri-
buída a hemorragia intracraniana não traumática prévia. Nota:
Pesquisas são necessárias para que sejam identificados os 1. Hemorragia intracraniana e síndrome da vasoconstrição
fatores de risco para tal cefaleia persistente; histórico prévio cerebral reversível, em particular, foram excluídas atra-
de 1. Migrânea pode desempenhar um papel, assim como vés de investigação apropriada.
ansiedade/depressão.
As subformas codificáveis são 6.2.4.1 Cefaleia persis- Comentários: A cefaleia é relatada por aproximadamente um
tente atribuída a hemorragia intracerebral não traumática quinto dos pacientes com aneurisma cerebral não roto, mas o
prévia, 6.2.4.2 Cefaleia persistente atribuída a hemorragia quanto essa relação é incidental ou causal ainda é um assunto
subaracnóidea não traumática prévia e 6.2.4.3 Cefaleia per- a ser resolvido.
sistente atribuída a hemorragia subdural aguda não trau- A 6.3.1 Cefaleia atribuída a aneurisma sacular não roto
mática prévia. não possui, habitualmente, características específicas. Qual-
quer cefaleia de início recente pode revelar um aneurisma
sacular sintomático, mas não roto. Uma variedade clássica é
6.3 Cefaleia atribuída a malformação a paralisia aguda do terceiro nervo craniano com dor retro-
vascular não rota ‑orbital e uma pupila dilatada, indicando um aneurisma da
artéria cerebral comunicante posterior ou da porção final da
Codificada em outro local: Uma cefaleia nova atribuída a malfor- artéria carótida. Tal paralisia dolorosa do terceiro nervo cra-
mação vascular rota é codificada como 6.2.1 Cefaleia aguda niano é uma emergência, sinalizando a ruptura iminente ou o
atribuída a hemorragia intracerebral não traumática ou 6.2.2 aumento progressivo da malformação arterial.
Cefaleia aguda atribuída a hemorragia subaracnóidea (HSA) Diversos estudos retrospectivos têm demonstrado o
não traumática ou, raramente, como 6.2.3 Cefaleia aguda atri- relato, por cerca da metade dos pacientes com hemorragia
buída a hemorragia subdural aguda (HSDA) não traumática. subaracnóidea aneurismática, da ocorrência de uma cefaleia
repentina e intensa, dentro do período de quatro semanas pre-
Descrição: Cefaleia secundária a uma malformação vascular cedente ao diagnóstico de ruptura aneurismática. Desconsi-
intracraniana não rota (ocorrendo sem hemorragia). Depen- derando a possibilidade de vieses relacionados à lembrança,
dendo do tipo de malformação, a cefaleia pode ter um curso isso sugere que essas cefaleias são devidas a um aumento
crônico, com crises recorrentes mimetizando cefaleias pri- repentino da malformação arterial (cefaleia sentinela) ou a
márias episódicas, ou um curso agudo e autolimitado. uma hemorragia subaracnóidea leve, que não é diagnosti-
cada como tal (vazamento de aviso/warning leak). As provas
da existência das cefaleias sentinelas ainda são poucas. Além
6.3.1 Cefaleia atribuída a aneurisma sacular não roto disso, o termo vazamento de aviso não deve ser usado, porque
um vazamento indica uma hemorragia subaracnóidea. Dado
Critérios diagnósticos: que ao menos um em cada três pacientes com hemorragia
A. Qualquer cefaleia nova preenchendo o critério C subaracnóidea aneurismática é inicialmente diagnosticado
B. Um aneurisma sacular não roto foi diagnosticado erroneamente, e dados os riscos de ressangramento, pacien-
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos tes com cefaleias intensas repentinas devem ser submetidos
dois dos seguintes: a uma investigação completa, incluindo exames de imagem

77
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

cerebral, análise do LCR e angiografia cerebral (angiorresso- C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
nância ou angiotomografia computadorizada). dois dos seguintes:
1. a cefaleia desenvolveu-se em estreita relação tem-
poral com outros sintomas e/ou sinais clínicos de
6.3.2 Cefaleia atribuída a malformação FAVD ou levou ao diagnóstico de FAVD
arteriovenosa (MAV) 2. um dos ou ambos os seguintes:
a) a cefaleia piorou, significativamente, em
Critérios diagnósticos: paralelo com outros sintomas ou sinais clíni-
A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C cos ou radiológicos do crescimento da FAVD
B. Uma malformação arteriovenosa (MAV) foi b) a cefaleia desapareceu ou melhorou, signi-
diagnosticada ficativamente, após o tratamento efetivo da
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos FAVD
dois dos seguintes: 3. ao menos um dos seguintes:
1. a cefaleia desenvolveu-se em estreita relação tem- a) a cefaleia é acompanhada de tinido pulsátil
poral com outros sintomas e/ou sinais clínicos de b) a cefaleia é acompanhada por oftalmoplegia
MAV, ou levou à descoberta de uma MAV c) a cefaleia é tanto progressiva como pior pela
2. um dos ou ambos os seguintes: manhã e/ou durante a tosse e/ou ao curvar-se
a) a cefaleia piorou, significativamente, em 4. a cefaleia situa-se no local da FAVD
paralelo com um crescimento da MAV D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da
b) a cefaleia desapareceu ou melhorou, signi- ICHD-3.1
ficativamente, em paralelo como tratamento
efetivo de uma MAV Nota:
3. a cefaleia situa-se no local da MAV 1. Hemorragia intracerebral e trombose venosa cerebral,
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da em particular, foram excluídas através de investigação
ICHD-3.1 apropriada.

Nota: Comentário: Faltam estudos dedicados a 6.3.3 Cefaleia


1. Hemorragia intracraniana, em particular, foi excluída atribuída a fístula arteriovenosa dural. Um tinido pulsátil
através de investigação apropriada. doloroso pode ser um sintoma de apresentação, assim como
cefaleia com características de hipertensão intracraniana,
Comentário: Têm sido relatados casos destacando a associação como resultado de uma redução do escoamento venoso e,
de MAV com diferentes tipos de 3. Cefaleias trigeminoauto- algumas vezes, de uma trombose de seio venoso. As fístulas
nômicas (CTA), incluindo 3.1 Cefaleia em salvas, 3.2.2 Hemi- carotidocavernosas podem apresentar-se como oftalmople-
crania paroxística crônica (HPC) e 3.3.1 Crises de cefaleia gia dolorosa.
neuralgiforme unilateral breve com hiperemia conjuntival e
lacrimejamento (SUNCT), mas esses casos possuíam caracte-
rísticas atípicas. Não há evidências de boa qualidade quanto à 6.3.4 Cefaleia atribuída a angioma cavernoso
relação entre MAV e essas cefaleias primárias.
A 1.2 Migrânea com aura tem sido relatada em até 58% Codificada em outro local: A cefaleia atribuída a hemorragia
das mulheres com MAV. Um forte argumento em favor de uma cerebral ou a convulsão secundária a angioma cavernoso é
relação causal é a correlação esmagadora entre o lado da cefa- codificada como 6.2.1 Cefaleia aguda atribuída a hemorra-
leia, ou da aura e o lado da MAV. Há, então, uma forte suges- gia intracerebral não traumática ou 7.6 Cefaleia atribuída
tão de que uma MAV possa causar crises de migrânea com a crise epiléptica.
aura (migrânea sintomática). Contudo, em uma grande série
de MAVs, as características de apresentação frequentemente Critérios diagnósticos:
incluíram epilepsia ou déficits focais com ou sem hemorragia, A. Qualquer cefaleia nova preenchendo o critério C
e sintomas migrânea-símiles muito mais raramente. B. Um angioma cavernoso foi diagnosticado
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
dois dos seguintes:
6.3.3 Cefaleia atribuída a fístula arteriovenosa dural 1. a cefaleia desenvolveu-se em estreita relação tem-
poral com outros sintomas ou sinais clínicos de
Critérios diagnósticos: angioma cavernoso, ou levou à sua descoberta
A. Qualquer cefaleia nova preenchendo o critério C 2. um dos ou ambos os seguintes:
B. Uma fístula arteriovenosa dural (FAVD) foi a) a cefaleia piorou, significativamente, em
diagnosticada paralelo com outros sintomas ou sinais clíni­

78
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

cos ou radiológicos de crescimento do an­gio­ somática em mosaico no gene GNAQ (proteína de ligação
­ma cavernoso ao nucleotídeo guanina, polipeptídeo Q).
b) a cefaleia desapareceu ou melhorou, signifi­ A 6.3.5 Cefaleia atribuída a angiomatose encefalotrige-
cativamente, após a remoção do angioma minal ou leptomeníngea (síndrome de Sturge Weber) é pouco
cavernoso documentada. Mais de 90% dos casos da síndrome de Sturge
3. a cefaleia situa-se no local do angioma cavernoso Weber apresentam crises epilépticas, e metade relata cefa-
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da leia pós-crises, a qual deve ser codificada de acordo. Relatos
ICHD-3.1 isolados sugerem que a angiomatose encefalotrigeminal ou
leptomeníngea pode ser causa de migrânea sintomática, par-
Nota: ticularmente de crises com auras prolongadas e/ou motoras
1. Hemorragia intracerebral, em particular, foi excluída (possivelmente relacionadas a oligoemia crônica).
através de investigação apropriada.

Comentários: Os angiomas cavernosos são cada vez mais 6.4 Cefaleia atribuída a arterite
reconhecidos por RM. Relatos de caso isolados sugerem que
alguns angiomas cavernosos podem desencadear crises cefa- Descrição: Cefaleia causada por e sintomática de uma infla-
leia em salvas-símiles, SUNCT-símiles ou migrânea-símiles. mação das artérias cervicais, cranianas e/ou cerebrais. A
No entanto, ainda não existe um estudo satisfatório dedicado cefaleia pode ser o único sintoma da arterite.
a 6.3.4 Cefaleia atribuída a angioma cavernoso.
Em uma série de 126 pacientes sintomáticos com angiomas Critérios diagnósticos:
cavernosos e mutações KRIT1, somente 4% relataram cefaleia A. Qualquer cefaleia nova preenchendo o critério C
como um sintoma de apresentação. Por outro lado, a cefaleia B. Uma arterite foi diagnosticada
é habitualmente relatada como uma consequência de hemor- C. Evidência de causalidade demonstrada por um dos ou
ragia cerebral ou de crises epilépticas, as quais são as duas ambos os seguintes:
principais manifestações dos angiomas cavernosos; tal cefa- 1. a cefaleia desenvolveu-se em estreita relação tem-
leia deve ser codificada de acordo com qualquer uma dessas. poral com outros sintomas e/ou sinais clínicos do
início da arterite, ou levou ao diagnóstico de arterite
2. um dos ou ambos os seguintes:
6.3.5 Cefaleia atribuída a angiomatose a) a cefaleia piorou, significativamente, em
encefalotrigeminal ou leptomeníngea para­lelo com a piora da arterite
(síndrome de Sturge Weber) b) a cefaleia melhorou, significativamente, em
paralelo com a melhora da arterite
Codificada em outro local: A cefaleia atribuída a crise epiléptica D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
secundária à síndrome de Sturge Weber é codificada como
7.6 Cefaleia atribuída a crise epiléptica.
6.4.1 Cefaleia atribuída a arterite de
Critérios diagnósticos: células gigantes (ACG)
A. Qualquer cefaleia nova preenchendo o critério C
B. Um angioma facial está presente, junto à evidência de Termo previamente utilizado: Cefaleia atribuída a arterite
neuroimagem de angioma meníngeo ipsilateral a ele temporal.
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
dois dos seguintes: Descrição: Cefaleia causada por e sintomática de arterite de
1. a cefaleia desenvolveu-se em estreita relação tem- células gigantes (ACG). A cefaleia pode ser o único sintoma
poral com outros sintomas e/ou sinais clínicos e/ou da ACG, uma doença associada de forma muito evidente a
evidência de imagem de angioma meníngeo cefaleia. As características da cefaleia são variáveis.
2. a cefaleia piorou, significativamente, em paralelo
com outros sintomas ou sinais clínicos ou radioló- Critérios diagnósticos:
gicos de crescimento do angioma meníngeo A. Qualquer cefaleia nova preenchendo o critério C
3. a cefaleia é migrânea-símile, tanto bilateral como B. Arterite de células gigantes (ACG) foi diagnosticada
situada no local do angioma, e associada a aura C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
contralateral ao local do angioma dois dos seguintes:
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. 1. a cefaleia desenvolveu-se em estreita relação tem-
poral com outros sintomas e/ou sinais clínicos ou
Comentário: A síndrome de Sturge Weber ocorre exclusi- biológicos do início da ACG ou levou ao diagnós-
vamente de forma esporádica, resultando de uma mutação tico da ACG

79
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

2. um dos ou ambos os seguintes: do início de PACNS, ou levou ao diagnóstico de


a) a cefaleia piorou, significativamente, em PACNS
paralelo com a piora da ACG 2. um dos ou ambos os seguintes:
b) a cefaleia desapareceu ou melhorou, signifi- a) a cefaleia piorou, significativamente, em
cativamente, dentro de três dias de tratamento paralelo com a piora da PACNS
com altas doses de esteroides b) a cefaleia melhorou significativamente em
3. a cefaleia está associada a dolorimento do couro paralelo com a melhora da PACNS resul-
cabeludo e/ou claudicação mandibular tante do tratamento com esteróides e/ou
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. imunossupressores
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da
Comentários: De todas as arterites e doenças vasculares do ICHD-3.1
colágeno, a arterite de células gigantes (ACG) é a doença
mais claramente associada a cefaleia, a qual é resultado da Nota:
inflamação das artérias cranianas, em especial dos ramos da 1. Infecção do sistema nervoso central, neoplasia do SNC
artéria carótida externa. A variabilidade das características e a síndrome da vasoconstrição cerebral reversível,
de 6.4.1 Cefaleia atribuída a arterite de células gigantes em particular, foram excluídas através de investigação
(ACG) e dos outros sintomas de ACG (polimialgia reumá- apropriada.
tica, claudicação mandibular) é tamanha, que qualquer cefa-
leia persistente recente em um paciente com mais de 60 anos Comentários: A cefaleia é o sintoma dominante da angiite do
de idade deve sugerir ACG e levar a uma investigação diag- SNC (tanto primária como secundária). Está presente em
nóstica apropriada. 50-80% dos casos, conforme o método diagnóstico utilizado,
Crises repetidas recentes de amaurose fugaz associadas a respectivamente a angiografia e histologia. Ainda assim, ela
cefaleia são fortemente sugestivas de ACG e devem levar à não tem características específicas e é, portanto, de pouco
investigação urgente. O maior risco é o de cegueira devido a valor diagnóstico, até que outros sinais estejam presentes,
neuropatia óptica isquêmica anterior, a qual pode ser preve- tais como déficits focais, crises epilépticas, cognição alte-
nida através do tratamento imediato com esteróides; o inter- rada ou transtornos da consciência. No entanto, a ausên-
valo de tempo entre a perda visual em um olho e no outro cia simultânea de cefaleia e de pleocitose liquórica torna a
é habitualmente menor que uma semana. Os pacientes com angiite do SNC improvável.
ACG também estão sob risco de eventos isquêmicos cere- A angiite primária do sistema nervoso central (PACNS)
brais e de demência. pode apresentar-se com achados angiográficos bastante
O diagnóstico histológico pode ser difícil, porque a arté- semelhantes àqueles da síndrome da vasoconstrição cere-
ria temporal pode parecer não envolvida em algumas áreas bral reversível (SVCR), incluindo a estenose multifocal das
(lesões intercaladas), apontando para a a necessidade de sec- artérias intracranianas; as cefaleias em trovoada recorrentes
cionamento seriado. devem sugerir um diagnóstico de SVCR e não de PACNS.
A patogênese de 6.4.2 Cefaleia atribuída a angiite pri-
mária do sistema nervoso central (PACNS) é multifato-
6.4.2 Cefaleia atribuída a angiite primária do rial: inflamação, acidente vascular cerebral (isquêmico ou
sistema nervoso central (PACNS) hemorrágico), pressão intracraniana elevada e/ou hemorra-
gia subaracnóidea.
Termos previamente utilizados: Cefaleia atribuída a angiite iso- O efeito do tratamento é bem menos dramático que
lada do SNC ou angiite granulomatosa do SNC. na 6.4.1 Cefaleia atribuída a arterite de células gigantes
(ACG). A angiite primária do SNC com comprovação histo-
Descrição: Cefaleia causada por e sintomática de angiite pri- lógica permanece uma condição grave e não raramente letal.
mária do sistema nervoso central (PACNS). A cefaleia é
o sintoma dominante deste transtorno, porém não possui
características específicas. 6.4.3 Cefaleia atribuída a angiite secundária
do sistema nervoso central (SACNS)
Critérios diagnósticos:
A. Qualquer cefaleia nova preenchendo o critério C Descrição: Cefaleia causada por e sintomática de angiite
B. Angiite primária do sistema nervoso central (PACNS) secundária do sistema nervoso central. A cefaleia é o sintoma
foi diagnosticada dominante deste transtorno, porém não possui características
C. Evidência de causalidade demonstrada por um dos ou específicas.
ambos os seguintes:
1. a cefaleia desenvolveu-se em estreita relação tem- Critérios diagnósticos:
poral com outros sintomas e/ou sinais clínicos A. Qualquer cefaleia nova preenchendo o critério C

80
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

B. Angiite secundária do sistema nervoso central (SACNS) intervenção cirúrgica ou radiológica foi realizada em
(angiite do SNC na presença de angiite sistêmica) foi uma artéria cervical
diagnosticada C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
C. Evidência de causalidade demonstrada por um dos ou dois dos seguintes:
ambos os seguintes: 1. a dor desenvolveu-se em estreita relação temporal
1. a cefaleia desenvolveu-se em estreita relação tem- com outros sinais locais de transtorno arterial cer-
poral com outros sintomas e/ou sinais clínicos do vical ou levou ao diagnóstico de transtorno arterial
início da SACNS cervical
2. um dos ou ambos os seguintes 2. um dos ou ambos os seguintes:
a) a cefaleia piorou significativamente em para- a) a dor piorou significativamente em paralelo
lelo com a piora da angiite sistêmica com outros sintomas da lesão arterial cervical
b) a cefaleia melhorou significativamente em b) a dor melhorou significativamente ou desapa-
paralelo com a melhora da angiite sistêmica receu dentro de um mês após o seu início
resultante do tratamento com esteróides e/ou 3. a dor é unilateral e ipsilateral à artéria cervical
imunossupressores afetada
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.

Comentários: A cefaleia é o sintoma dominante da angiite do


SNC (tanto primária como secundária). Está presente em 6.5.1 Cefaleia ou dor facial ou cervical atribuída a
50-80% dos casos, conforme o método diagnóstico utilizado, dissecção da artéria carótida cervical ou da
angiografia e histologia, respectivamente. Ainda assim, ela artéria vertebral
não tem características específicas e é, portanto, de pouco
valor diagnóstico, até que outros sinais estejam presentes, 6.5.1.1 Cefaleia ou dor facial ou cervical aguda
tais como déficits focais, crises epilépticas, cognição alte- atribuída a dissecção da artéria carótida
rada ou transtornos da consciência. No entanto, a ausên- cervical ou da artéria vertebral
cia simultânea de cefaleia e de pleocitose liquórica torna a
angiite do SNC improvável. Descrição: Cefaleia e/ou dor na face e/ou cervical causada por
A dificuldade aqui é dobrada: 1) diagnosticar angiite do dissecção de uma artéria carótida cervical ou vertebral. A dor
SNC em um paciente que sabidamente apresenta uma das é habitualmente ipsilateral ao vaso dissecado e geralmente
muitas condições que podem causar angiite; 2) identificar tem um início repentino (até mesmo em trovoada). Ela pode
a condição subjacente (inflamatória, infecciosa, maligna, permanecer isolada ou ser um sintoma de aviso precedendo
tóxica) em um paciente que se apresenta com angiite do SNC. um acidente vascular cerebral isquêmico.
A patogênese de 6.4.3 Cefaleia atribuída a angiite
secundária do sistema nervoso central (SACNS) é multifa- Critérios diagnósticos:
torial: inflamação, acidente vascular cerebral (isquêmico ou A. Qualquer cefaleia e/ou dor facial ou cervical nova
hemorrágico), pressão intracraniana elevada e/ou hemorra- preenchendo os critérios C e D
gia subaracnóidea. B. Dissecção da carótida cervical ou vertebral foi
diagnosticada
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
6.5 Cefaleia atribuída a transtorno dois dos seguintes:
da artéria carótida cervical ou da 1. a dor desenvolveu-se em estreita relação temporal
com outros sinais de dissecção arterial cervical ou
artéria vertebral levou ao seu diagnóstico
2. um dos ou ambos os seguintes:
Descrição: Cefaleia e/ou dor na face e/ou no pescoço causada a) a dor piorou significativamente em paralelo
por lesões não inflamatórias afetando as artérias carótidas com outros sinais da dissecção da artéria
cervicais e/ou vertebrais. A dor habitualmente term um início cervical
repentino (até mesmo em trovoada). Ela pode permanecer b) a dor melhorou significativamente ou desapa-
isolada ou ser um sintoma de aviso precedendo os déficits receu dentro de um mês após o seu início
focais de um acidente vascular cerebral isquêmico. 3. um dos ou ambos os seguintes:
a) a dor é intensa e contínua por dias ou mais
Critérios diagnósticos: b) a dor precede sinais de isquemia aguda reti-
A. Qualquer cefaleia nova e/ou dor facial ou cervical niana e/ou cerebral
preenchendo o critério C 4. a dor é unilateral e ipsilateral à artéria cervical
B. Uma lesão arterial cervical foi demonstrada, ou uma afetada

81
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

D. Um dos seguintes: cervical ou da artéria vertebral e persistindo por mais de três


1. a cefaleia desapareceu dentro de três meses1 meses após a estabilização da dissecção.
2. a cefaleia ainda não desapareceu, porém ainda não
se passaram três meses1 Critérios diagnósticos:
E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. A. Cefaleia previamente diagnosticada como 6.5.1.1 Cefa-
leia ou dor facial ou cervical aguda atribuída a dissec-
Nota: ção da artéria carótida cervical ou da artéria vertebral
1. Os três meses devem ser contabilizados desde a estabili- e preenchendo o critério C
zação, espontânea ou através de tratamento, e não desde B. A dissecção já estabilizou, espontaneamente ou através
o início da dissecção arterial cervical. de tratamento
C. A cefaleia persiste por >3 meses após estabilização da
Comentários: A cefaleia com ou sem dor cervical pode ser a dissecção
única manifestação da dissecção arterial cervical. Ela é, de D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
longe, o sintoma mais frequente (55-100% dos casos) e tam-
bém o sintoma inaugural mais comum (33-86% dos casos) Comentário: Poucos estudos documentaram cefaleias aten-
desse transtorno. dendo os critérios para 6.5.1.2 Cefaleia ou dor facial ou
A 6.5.1.1 Cefaleia ou dor facial ou cervical aguda atri- cervical persistente atribuída a dissecção prévia da arté-
buída a dissecção da artéria carótida cervical ou da arté- ria carótida cervical ou da artéria vertebral. Pesquisas que
ria vertebral é habitualmente unilateral (ipsilateral à artéria identifiquem os fatores de risco para tal cefaleia persistente
dissecada), intensa e persistente (por uma média de quatro são necessárias; uma história prévia de 1. Migrânea pode
dias). Ela não tem, contudo, um padrão específico constante desempenhar um papel, assim como ansiedade/depressão.
e pode, algumas vezes, ser bastante ardilosa, mimetizando
outras cefaleias como 1. Migrânea, 3.1 Cefaleia em salvas
ou 4.4 Cefaleia primária em trovoada. Sinais associados (de 6.5.2 Cefaleia pós-endarterectomia
isquemia cerebral ou retiniana e sinais locais) são comuns:
uma síndrome de Horner dolorosa, tinido doloroso de iní- Descrição: Cefaleia causada pelo procedimento cirúrgico de
cio súbito ou paralisia dolorosa do XII nervo são fortemente endarterectomia carotídea. A dor também pode envolver o
sugestivos de dissecção da artéria carótida. pescoço e a face. Ela pode permanecer isolada ou ser um
A dissecção de artéria cervical pode estar associada a dis- sintoma de alerta precedendo os déficits focais de acidente
secção de artéria intracraniana, a qual é uma causa potencial vascular cerebral (na maior parte das vezes hemorrágico).
de hemorragia subaracnóidea. A 6.7.4 Cefaleia atribuída a
dissecção arterial intracraniana pode estar presente soman- Critérios diagnósticos:
do-se à 6.5.1.1 Cefaleia ou dor facial ou cervical aguda atri- A. Qualquer cefaleia nova preenchendo o critério C
buída a dissecção da artéria carótida cervical ou da artéria B. Uma endarterectomia carotídea foi realizada
vertebral. C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
A 6.5.1.1 Cefaleia ou dor facial ou cervical aguda atri- dois dos seguintes:
buída a dissecção da artéria carótida cervical ou da artéria 1. a cefaleia desenvolve-se dentro de uma semana
vertebral habitualmente precede o início de sinais isquêmicos após a endarterectomia carotídea
e, portanto, requer diagnóstico e tratamentos precoces. O diag- 2. a cefaleia desaparece dentro de um mês após a
nóstico é baseado na RM cervical com supressão de gordura, endarterectomia carotídea
duplex scannning, angiorressonância e/ou angiotomografia 3. ambos os seguintes:
computadorizada e, em casos duvidosos, angiografia conven- a) a cefaleia é unilateral, no lado da endarterec-
cional. Vários destes métodos diagnósticos são comumente tomia carotídea
necessários, uma vez que qualquer um deles pode ser normal. b) a cefaleia possui uma das três seguintes carac-
Não há ensaios randomizados sobre o tratamento, mas terísticas distintas1:
há um consenso em favor da heparina seguida por varfarina i. dor leve e difusa
durante três a seis meses, de acordo com qualidade da recu- ii. dor cefaleia em salvas-símile, ocorrendo
peração arterial. uma ou duas vezes ao dia, em crises
durando de duas a três horas
iii. dor intensa pulsátil
6.5.1.2 Cefaleia ou dor facial ou cervical persistente D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da
atribuída a dissecção prévia da artéria carótida ICHD-3.2
cervical ou da artéria vertebral
Notas:
Descrição: Cefaleia causada por dissecção da artéria carótida 1. Três subformas de 6.5.2 Cefaleia pós-endarterectomia

82
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

têm sido descritas, mas não estão codificadas separa­ Em uma série de 64 pacientes que foram submetidos a
damente: implante de stent carotídeo, cefaleia ocorreu em um terço,
a) uma cefaleia difusa, leve e isolada ocorrendo nos geralmente dentro de dez minutos após o procedimento,
primeiros dias após a cirurgia sendo ela leve, ipsilateral, frontotemporal e em pressão;
b) uma dor cefaleia em salvas-símile, que dura de duas desaparecendo em dez minutos, na maior parte das vezes.
a três horas, ocorrendo uma ou duas vezes ao dia Por outro lado, dados sobre 6.5.3 Cefaleia atribuída a
c) dor pulsante e intensa unilateral ocorrendo três angioplastia ou a implante de stent carotídeo ou vertebral
dias após a cirurgia continuam escassos. A cefaleia não é mencionada em gran-
2. Dissecção arterial, em particular, foi excluída através de des estudos comparando o implante de stent carotídeo e a
investigação apropriada. endarterectomia.
A 6.5.3 Cefaleia atribuída a angioplastia ou a implante
Comentário: Das três subformas de 6.5.2 Cefaleia pós-endar- de stent carotídeo ou vertebral tem sido relatada como parte
terectomia, a primeira e mais frequente (até 60% dos casos) é da rara síndrome da hiperperfusão.
uma condição benigna autolimitada, enquanto que a segunda
(relatada em até 38% dos casos) desaparece em aproxima-
damente duas semanas. A terceira subforma é parte da rara 6.6 Cefaleia atribuída a transtorno
síndrome de hiperperfusão, frequentemente precedendo um venoso craniano
aumento da pressão arterial e o início de crises epilépticas ou
déficits neurológicos no ou por volta do sétimo dia. O trata- 6.6.1 Cefaleia atribuída a trombose venosa
mento urgente faz-se necessário, uma vez que esses sintomas cerebral (TVC)
podem prenunciar uma hemorragia cerebral.
Descrição: Cefaleia causada por trombose venosa cerebral
(TVC). Ela não possui características específicas: é na maio-
6.5.3 Cefaleia atribuída a angioplastia ou a ria das vezes difusa, progressiva e intensa, mas pode ser
implante de stent carotídeo ou vertebral unilateral e repentina (até mesmo em trovoada), ou leve, e,
algumas vezes, é migrânea-símile.
Descrição: Cefaleia causada por procedimentos endovascu-
lares de angioplastia cervical e/ou implante de stent. A dor Critérios diagnósticos:
também pode envolver o pescoço e a face. Ela pode per- A. Qualquer cefaleia nova preenchendo o critério C
manecer isolada ou ser um sintoma de alerta precedendo os B. Trombose venosa cerebral (TVC) foi diagnosticada
déficits focais de acidente vascular cerebral (na maior parte C. Evidência de causalidade demonstrada por ambos os
das vezes hemorrágico). seguintes:
1. a cefaleia desenvolveu-se em estreita relação tem-
Critérios diagnósticos: poral com outros sintomas e/ou sinais clínicos de
A. Qualquer cefaleia nova preenchendo o critério C TVC, ou levou ao diagnóstico de TVC
B. Uma angioplastia ou implante de stent carotídeo ou ver- 2. um dos ou ambos os seguintes:
tebral foi realizado a) a cefaleia piorou significativamente em para-
C. Evidência de causalidade demonstrada por todos os lelo com sinais clínicos ou radiológicos de
seguintes: extensão da TVC
1. a cefaleia desenvolveu-se dentro de uma semana b) a cefaleia melhorou significativamente ou
após a angioplastia e/ou implante de stent desapareceu após a melhora da TVC
2. a cefaleia desapareceu dentro de um mês após a D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
angioplastia e/ou implante de stent
3. a cefaleia é no mesmo lado da angioplastia e/ou Comentários: A cefaleia é, de longe, o sintoma mais frequente
implante de stent de trombose venosa cerebral (TVC), presente em 80-90%
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da dos casos, e também o mais frequente sintoma inaugural.
ICHD-3.1 A 6.6.1 Cefaleia atribuída a trombose venosa cerebral
(TVC) não tem características específicas, mas mais frequen-
Nota: temente é difusa, progressiva e intensa e associada a outros
1. Dissecção arterial, em particular, foi excluída através de sinais de hipertensão intracraniana. Ela pode também ser
investigação apropriada. unilateral e repentina, e as vezes muito enganosa, mimeti-
zando a 1.1 Migrânea sem aura, 1.2 Migrânea com aura, 3.1
Comentários: A angioplastia e/ou o implante de stent carotí- Cefaleia em salvas, 3.4 Hemicrania contínua, 4.4 Cefaleia
deo e vertebral são realizados para tratar a estenose arterial primária em trovoada, 7.2 Cefaleia atribuída a hipotensão
cervical. liquórica ou 6.2.2 Cefaleia aguda atribuída a hemorragia

83
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

subaracnóidea (HSA) não traumática (TVC pode ser uma 6.7 Cefaleia atribuída a outro transtorno
causa de HSA). arterial intracraniano agudo
A cefaleia pode ser a única manifestação de TVC, mas
em mais de 90% dos casos ela está associada a sinais focais 6.7.1 Cefaleia atribuída a um procedimento
(déficits neurológicos ou crises epilépticas) e/ou sinais de endarterial intracraniano
hipertensão intracraniana, encefalopatia subaguda ou sín-
drome do seio cavernoso. Descrição: Cefaleia unilateral diretamente causada direta-
Dada a ausência de características específicas de 6.6.1 mente por um procedimento endarterial intracraniano, ipsi-
Cefaleia atribuída a trombose venosa cerebral (TVC), qual- lateral ao procedimento e durando menos de 24 horas.
quer cefaleia recente e persistente deve levantar suspeita,
especialmente na presença de uma condição pró-trombó- Critérios diagnósticos:
tica subjacente. O diagnóstico é baseado em exames de A. Qualquer cefaleia nova preenchendo o critério C
neuroimagem (RM com imagens ponderadas em T2* mais B. Um procedimento endarterial intracraniano foi
angiorressonância, ou TC mais angiotomografia computado- realizado1
rizada, e angiografia intra-arterial nos casos duvidosos). O C Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
.

tratamento deve ser iniciado tão logo quanto possível e inclui três dos seguintes:
o tratamento sintomático, heparina seguida por ao menos 6 1. a cefaleia desenvolveu-se dentro de uma semana
meses de anticoagulação oral e, quando indicado, tratamento após o procedimento
da causa subjacente. 2. a cefaleia desapareceu dentro de um mês após o
procedimento
3. a cefaleia é ipsilateral ao procedimento, ou bilateral
6.6.2 Cefaleia atribuída a implante de stent 4. a cefaleia possui um do seguintes grupos de
em seio venoso craniano características2:
a) forte, ocorrendo abruptamente dentro de
Descrição: Cefaleia unilateral causada por e no mesmo lado de segundos após o procedimento e durando < 1
um stent de seio venoso craniano. hora
b) moderada a intensa, desenvolvendo-se dentro
Critérios diagnósticos: de horas após o procedimento e durando >24
A. Cefaleia nova unilateral preenchendo o critério C horas
B. Um implante de stent venoso craniano ou jugular foi c) ocorrendo em um paciente com 1. Migrânea
realizado e possuindo as características de 1.1 Migrâ-
C. Evidência de causalidade demonstrada por todos os nea sem aura ou 1.2 Migrânea com aura
seguintes: D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da
1. a cefaleia desenvolveu-se dentro de uma semana ICHD-3.3
após o implante do stent
2. a cefaleia desapareceu dentro de três meses após o Notas:
implante do stent 1. Por exemplo, angioplastia, embolização ou colocação de
3. a cefaleia é ipsilateral a o implante do stent stent.
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da 2. Há três subformas reconhecidas (mas não codificadas
ICHD-3.1 separadamente) de 6.7.1 Cefaleia atribuída a um proce-
dimento endarterial intracraniano:
Nota: a) uma subforma muito específica foi relatada após
1. A trombose venosa dentro do próprio stent, em particular, a insuflação do balão ou a embolização de uma
foi excluída. MAV ou aneurisma: dor intensa, localizada de
acordo com a artéria envolvida, desenvolvendo-se
Comentários: Durante a última década, o implante de stent na abruptamente dentro de alguns segundos após o
estenose do seio lateral tem sido utilizado para tratar a hiper- procedimento e desaparecendo rapidamente.
tensão intracraniana idiopática. b) cefaleia desenvolvendo-se de horas a um dia após
Dados sobre 6.6.2 Cefaleia atribuída a implante de o procedimento e durando alguns dias
stent em seio venoso craniano são escassos. Em uma série c) uma crise de migrânea, ocorrendo em um indiví-
de 21 pacientes com implante de stent para o tratamento duo que portador de 1. Migrânea e desencadeada
da hipertensão intracraniana idiopática, dez pacientes pelo procedimento endarterial intracraniano; essa
apresentaram “cefaleias do stent”, diferindo daquelas experi- é seguida, algumas vezes, por cefaleia intermitente
mentadas antes do tratamento, localizadas na região do stent, recorrente durante várias semanas (nesses casos,
na região da mastoide, e durando cerca de três semanas. o paciente deve ter ambos os diagnósticos: o tipo

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TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

ou subtipo apropriado de 1. Migrânea e 6.7.1 6.7.3 Cefaleia atribuída à síndrome da


Cefaleia atribuída a um procedimento endarterial vasoconstrição cerebral reversível (SVCR)
intracraniano).
3. Em particular, dissecção arterial e ruptura arterial foram 6.7.3.1 Cefaleia aguda atribuída à síndrome da
excluídas através de investigação apropriada. vasoconstrição cerebral reversível (SVCR)

Descrição: Cefaleia causada pela síndrome da vasoconstrição


6.7.2 Cefaleia da angiografia cerebral reversível, tipicamente cefaleia em trovoada, recor-
rendo ao longo de uma a duas semanas, frequentemente desen-
Descrição: Cefaleia diretamente causada por angiografia cadeada por atividade sexual, esforço físico, manobras de
cerebral. Valsava e/ou emoção. A cefaleia pode permanecer como o sin-
toma único da SVCR ou ser um sintoma de aviso precedendo
Critérios diagnósticos: um acidente vascular cerebral hemorrágico ou isquêmico.
A. Qualquer cefaleia nova preenchendo o critério C
B. Uma angiografia intra-arterial carotídea ou vertebral foi Critérios diagnósticos:
realizada A. Qualquer cefaleia nova preenchendo o critério C
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos B. Síndrome da vasoconstrição cerebral reversível (SVCR)
dois dos seguintes: foi diagnosticada
1. a cefaleia desenvolveu-se durante ou dentro de 24 C. Evidência de causalidade demonstrada por um dos ou
horas após a angiografia ambos os seguintes:
2. a cefaleia desapareceu dentro de 72 horas após a 1. a cefaleia, com ou sem déficits focais e/ou crises
angiografia epilépticas, levou a angiografia (com aparência em
3. a cefaleia possui um dos seguintes grupos de “rosário de contas”) e ao diagnóstico de SVCR
características1: 2. a cefaleia tem uma das ou ambas as seguintes
a) desenvolvendo-se durante a injeção do con- características:
traste e durando < 1 hora a) início em trovoada
b) desenvolvendo-se poucas horas após a angio- b) é desencadeada por atividade sexual, esforço
grafia e durando >24 horas físico, manobras de Valsava, emoção, banho
c) ocorreu em um paciente com 1. Migrânea e e/ou ducha
possuindo as características de 1.1 Migrânea c) presente ou recorrente durante ≤ 1 mês após
sem aura ou 1.2 Migrânea com aura o seu início, sem nova cefaleia significativa
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. após >1 mês.
D. Um dos seguintes:
Nota: 1. a cefaleia desapareceu dentro de três meses após o
1. Existem três subformas reconhecidas (mas não separada- seu início
mente codificadas) de 6.7.2 Cefaleia da angiografia. 2. a cefaleia ainda não desapareceu, porém ainda não
a) ocorrendo durante a angiografia e estreitamente se passaram três meses desde o seu início
relacionada à injeção do contraste E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da
b) ocorrendo mais tarde, mas dentro de 24 horas ICHD-3.1
(ambas estas subformas são mais comuns em
pacientes com um histórico de cefaleia primária, Nota:
mas são distintamente diferentes da cefaleia pri- 1. A hemorragia subaracnóidea aneurismática, em particu-
mária em caráter) lar, foi excluída através de investigação apropriada.
c) uma crise de migrânea, ocorrendo em um indivíduo
que tem: 1. Migrânea e desencadeada por angio- Comentários: A síndrome da vasoconstrição cerebral rever-
grafia (nesses casos, o paciente deve ter ambos os sível (SVCR) é uma condição pouco compreendida, carac-
diagnósticos: o tipo ou subtipo apropriado de 1. terizada clinicamente por cefaleias difusas intensas que são
Migrânea e 6.7.2 Cefaleia da angiografia). tipicamente do tipo em trovoada, simulando hemorragia
subaracnóidea aneurismática.
Comentário: A angiografia contrastada é contraindicada em A SVCR é a causa mais frequente de cefaleia em tro-
pacientes acometidos por qualquer subforma de 1.2.3 Migrâ- voada com recorrência ao longo de alguns dias ou semanas.
nea hemiplégica, pois pode desencadear uma crise potencial- Raramente, 6.7.3.1 Cefaleia aguda atribuída à síndrome da
mente fatal, com hemiplegia prolongada e coma. vasoconstrição cerebral reversível (SVCR) pode iniciar de
outras maneiras: pode progredir rapidamente ao longo de
algumas horas ou mais vagarosamente ao longo de dias.

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CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

Grandes séries de pacientes com SVCR confirmada têm a) início em trovoada e atingindo o seu pico em
demonstrado que até 75% apresentam-se com a cefaleia < 1 minuto
como sintoma único, porém a condição pode estar associada b) intensidade forte
a déficits neurológicos focais flutuantes e, algumas vezes, a c) durando ≥5 minutos
convulsões. A 6.7.3.1 Cefaleia aguda atribuída à síndrome 2. ao menos uma cefaleia em trovoada foi desenca-
da vasoconstrição cerebral reversível (SVCR) pode ser um deada por um dos seguintes:
sintoma de alerta precedendo um acidente vascular cerebral a) atividade sexual (logo antes ou durante o
hemorrágico ou isquêmico. A cefaleia está ausente em uma orgasmo)
minoria dos casos de SVCR. b) esforço físico
A angiografia na SVCR é, por definição, anormal, com c) manobra Valsava-símile
segmentos de constrição e dilatação arterial intercalados d) emoção
(aparência em “rosário de contas” ou se “cordão de salsi- e) banho e/ou ducha
chas”). No entanto, a angiografia por RM, TC e até mesmo f) curvar-se
por cateter pode ser normal durante a primeira semana após 3. nenhuma nova cefaleia em trovoada ou outra cefa-
o início do quadro clínico. Pacientes com cefaleia em tro- leia significativa ocorre >1 mês após o início
voada recorrente e um angiograma normal, mas preenchendo D. Um dos seguintes:
todos os outros critérios para SVCR, devem ser considerados 1. a cefaleia desapareceu dentro de três meses após o
como tendo 6.7.3.2 Cefaleia aguda provavelmente atribuída seu início
à síndrome da vasoconstrição cerebral reversível (SVCR). A 2. a cefaleia ainda não desapareceu, mas três meses
RM cerebral é anormal em 30 a 80% dos casos, mostrando ainda não se passaram desde o seu início
vários padrões de lesão, incluindo hemorragias intracrania- E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da
nas (subaracnóideas da convexidade, intracerebralis e/ou ICHD-3.1
subdurais), infartos cerebrais e/ou edema cerebral correspon-
dendo à “síndrome da encefalopatia reversível posterior”. Nota:
Ao menos a metade dos casos de SVCR são secundá- 1. A hemorragia subaracnóidea aneurismática, em particu-
rios, principalmente puerperais e/ou atribuíveis à expo- lar, foi excluída através de investigação apropriada.
sição a substâncias vasoativas, incluindo drogas ilícitas,
simpatomiméticos alfa e drogas serotonérgicas. A doença é Comentário: A ICHD-3 geralmente não propõe critérios para
autolimitada a um a três meses, com o desaparecimento das cefaleias secundárias prováveis. No entanto, as anormalida-
anormalidades arteriais (daí o “reversível”) e, quase sem- des arteriais da SVCR podem ser de difícil demonstração.
pre, resolução da cefaleia. No entanto, acidentes vasculares Para ser detectados, alguns casos de SVCR precisam de
cerebrais resultantes da SVCR podem produzir comprometi- repetidas angiografias, por TC ou RM, durante duas a três
mento permanente. semanas após o início da cefaleia; outros, de uma angiografia
convencional invasiva. Em pacientes que apresentam cefa-
leias em trovoada recorrentes, com desencadeantes, típicas
6.7.3.2 Cefaleia aguda provavelmente de SVCR, durante um período de menos de um mês, porém
atribuída à síndrome da vasoconstrição com angiografia cerebral inicial normal, e nos quais outra
cerebral reversível (SVCR) causa das cefaleias foi excluída através de investigação apro-
priada, um diagnóstico de 6.7.3.2 Cefaleia provavelmente
Descrição: Cefaleia típica da síndrome da vasoconstrição atribuída à síndrome da vasoconstrição cerebral reversível
cerebral reversível (SVCR), a saber, cefaleia em trovoada, (SVCR) pode ser feito.
recorrendo durante uma a duas semanas e desencadeada
por atividade sexual, esforço físico, manobras de Valsava
e/ou emoção, porém o típico padrão arterial intracraniano 6.7.3.3 Cefaleia persistente atribuída à
em “rosário de contas” da SVCR não foi demonstrado pela síndrome da vasoconstrição cerebral
angiografia cerebral. reversível (SVCR) prévia

Critérios diagnósticos: Descrição: Cefaleia causada por síndrome da vasoconstrição


A. Qualquer cefaleia nova preenchendo o critério C cerebral reversível e persistente por mais de três meses após
B. Há suspeita de síndrome da vasoconstrição cerebral o seu início.
reversível (SVCR), mas a angiografia cerebral é normal
C. Probabilidade de causalidade demonstrada por todos os Critérios diagnósticos:
seguintes: A. Cefaleia previamente diagnosticada como 6.7.3.1 Cefa-
1. ao menos duas cefaleias dentro do período de um leia aguda atribuída à síndrome da vasoconstrição
mês, com todas as três seguintes características: cerebral reversível (SVCR) e preenchendo o critério C

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TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

B. Normalização das artérias cerebrais, demonstrada por 6.8 Cefaleia e/ou aura migrânea-símile
angiografia de seguimento direta ou indireta, dentro de atribuída a vasculopatia
três meses após o início da SVCR
C. A cefaleia persiste por >3 meses após o seu início intracraniana crônica
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
6.8.1 Cefaleia atribuída a Arteriopatia Cerebral
Comentário: Alguns estudos documentaram cefaleias aten- Autossômica Dominante com Infartos
dendo aos critérios para 6.7.3.3 Cefaleia persistente atri- Subcorticais e Leucoencefalopatia (CADASIL)
buída à síndrome da vasoconstrição cerebral reversível
(SVCR) prévia. Mais pesquisas são necessárias para que se Descrição: Cefaleia recorrente em crises que lembram 1.2
identifiquem os fatores de risco para tal cefaleia persistente; Migrânea com aura, exceto por uma frequência incomum
um histórico prévio de 1. Migrânea pode desempenhar um de aura prolongada, causada por arteriopatia cerebral autos-
papel, assim como a ansiedade/depressão. sômica dominante com infartos subcorticais e leucoencefa-
lopatia (CADASIL). Está associada às outras características
clínica de CADASIL ou, frequentemente, é o seu primeiro
6.7.4 Cefaleia atribuída a dissecção sintoma.
arterial intracraniana
Critérios diagnósticos:
Descrição: Cefaleia causada pela dissecção de uma artéria A. Crises recorrentes de migrânea com aura típica, hemi-
intracraniana. A dor é, na maioria das vezes unilateral, ipsila- plégica ou prolongada, preenchendo o critério C
teral ao vaso dissecado e geralmente tem um início repentino B. Arteriopatia cerebral autossômica dominante com
(até mesmo em trovoada). Ela pode permanecer isolada ou infartos subcorticais e leucoencefalopatia (CADASIL)
ser um sintoma de alerta precedendo uma hemorragia suba- foi demonstrada1
racnóidea ou um acidente vascular cerebral. C. Um dos ou ambos os seguintes:
1. a migrânea com aura foi a primeira manifestação
Critérios diagnósticos: clínica do CADASIL
A. Qualquer cefaleia nova preenchendo o critério C 2. as crises de migrânea com aura melhoram ou ces-
B. Dissecção arterial intracraniana foi diagnosticada sam quando outra manifestação do CADASIL (por
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos ex., AVC isquêmico, distúrbios do humor e ou dis-
dois dos seguintes: função cognitiva) surgem e pioram
1. a cefaleia desenvolveu-se em estreita relação tem- D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
poral com outros sintomas e/ou sinais clínicos de
dissecção arterial intracraniana, ou levou ao seu Nota:
diagnóstico 1. O diagnóstico é feito através da triagem para mutações
2. a cefaleia desaparece dentro de um mês após o seu NOTCH3, por uma simples biópsia cutânea com imuno-
início coloração de anticorpos NOTCH3, ou com microscópio
3. a cefaleia apresenta uma das ou ambas as seguintes eletrônico para avaliar a presença de material osmiofílico
características: granular extracelular dentro da camada média arterial.
a) início repentino ou em trovoada
b) intensidade forte Comentários: A arteriopatia cerebral autossômica dominante
4. a cefaleia é unilateral e ipsilateral à dissecção com infartos subcorticais e leucoencefalopatia (CADASIL)
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. é uma doença autossômica dominante, com alguns casos
esporádicos, que envolve as células musculares lisas na
Comentários: A dissecção pode afetar qualquer artéria intra- camada média das pequenas artérias do cérebro. Ela deve-se
craniana e pode induzir a hemorragia subaracnóidea, infartos a mutações do gene NOTCH-3.
isquêmicos, compressão de estruturas adjacentes ou, menos A CADASIL é caracterizada clinicamente por pequenos
comumente, hemorragia intracerebral. Em asiáticos, a dis- infartos profundos recorrentes, demência subcortical, dis-
secção arterial intracraniana é mais frequente que a dissec- túrbios do humor e, em um terço dos casos, por crises típi-
ção arterial cervical. cas de 1.2 Migrânea com aura, exceto por uma frequência
A cefaleia aguda frequentemente é o sintoma de apresen- incomum de aura prolongada. Em tais casos, essas são habi-
tação e pode ser o único sintoma desse transtorno. tualmente o primeiro sintoma da doença, surgindo em uma
idade média de 30 anos, cerca de 15 anos antes dos acidentes
vasculares cerebrais isquêmicos e 20-30 anos antes do óbito.
A RM é sempre anormal, com alterações marcadas da
substância branca nas imagens ponderadas em T2.

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CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

6.8.2 Cefaleia atribuída a encefalopatia poral com outros sintomas e/ou sinais clínicos e/ou
mitocondrial, acidose lática e episódios evidência por imagem de angiopatia do tipo Moya-
AVC-símiles (MELAS) moya, ou levou à sua descoberta
2. um dos ou ambos os seguintes:
Descrição: Cefaleia – a qual tanto pode ser recorrente em cri- a) a cefaleia piorou significativamente em para-
ses migrânea-símiles, como um sintoma de apresentação dos lelo com outros sintomas e/ou sinais clínicos
episódios AVC-símiles – causada por e associada às outras e/ou radiológicos de piora da angiopatia do
características clínicas da encefalopatia mitocondrial, aci- tipo Moyamoya
dose lática e episódios AVC-símiles (MELAS). b) a cefaleia melhorou significativamente após
cirurgia de revascularização
Critérios diagnósticos: D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
A. Crises recorrentes de cefaleia preenchendo o critério C
B. Uma anormalidade genética mitocondrial associada a Comentários: A angiopatia do tipo Moyamoya é caracterizada
encefalopatia mitocondrial, acidose lática e episódios pelo estreitamento progressivo bilateral e oclusão da porção
AVC-símiles (MELAS) foi demonstrada intracraniana das artérias carótida interna, cerebral média
C. Um dos ou ambos os seguintes: e cerebral anterior. Diversos genes de suscetibilidade foram
1. crises recorrentes de migrânea, com ou sem aura identificados ou localizados para a angiopatia do tipo Moya-
2. cefaleia aguda precedendo ou associada a déficits moya. Em alguns outros pacientes, ela está associada a outras
neurológicos focais e/ou crises epilépticas condições (anemia falciforme, síndrome de Down e radiotera-
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. pia, entre outras) e é referida como síndrome de Moyamoya.
A angiopatia do tipo Moyamoya habitualmente apresen-
Comentários: A encefalopatia mitocondrial, acidose lática e ta-se no início da infância ou adolescência com AVC isquê-
episódios AVC-símiles (MELAS) é um transtorno mitocon- mico ou hemorrágico que pode causar cefaleia aguda. Afora
drial geneticamente heterogêneo, com um fenótipo clínico esses eventos vasculares agudos, a cefaleia é altamente
variável, incluindo características de envolvimento do sis- comum tanto em crianças como em adultos com angiopa-
tema nervoso central (crises epilépticas, hemiparesia, hemia- tia do tipo Moyamoya, fenotipicamente mais comumente
nopsia, cegueira cortical, surdez neurossensorial e/ou vômi- lembrando a 1.1 Migrânea sem aura, 1.2 Migrânea com
tos episódicos). A cefaleia é frequente na MELAS, tanto na aura, 1.2.3 Migrânea hemiplégica ou 2. Cefaleia do tipo
forma de crises recorrentes migrânea- símiles, como também tensão; crises cefaleia em salvas-símiles têm sido relatados
como o sintoma de apresentação de episódios do tipo AVC. raramente.
A alta frequência das crises migrânea-símiles como parte A cirurgia de revascularização tem efeitos variáveis sobre
da MELAS levou à hipótese de que mutações mitocondriais a cefaleia na angiopatia do tipo Moyamoya, com melhora em
exerceriam um papel na migrânea com aura, porém a muta- alguns pacientes, persistência em outros e uma cefaleia pós-
ção 3243 não foi detectada em dois grupos de indivíduos ‑operatória nova em outro subgrupo.
com 1.2 Migrânea com aura. Outras mutações ainda não
detectadas podem exercer um papel tanto na migrânea como
no acidente vascular cerebral isquêmico, já que as crises de 6.8.4 Aura migrânea-símile atribuída a
migrânea, principalmente com aura, também ocorrem em angiopatia amiloide cerebral
outros transtornos mitocondriais.
Descrição: Crises de aura migrânea-símile de início tardio,
sem cefaleia ou com cefaleia fraca, também denominadas
6.8.3 Cefaleia atribuída a angiopatia de “amyloid spells”, causadas por e associadas às outras
do tipo Moyamoya características clínicas da angiopatia amiloide cerebral, fre-
quentemente em um cenário de hemorragia subaracnóidea
Descrição: Cefaleia crônica recorrente, que pode ser migrâ- da convexidade.
nea-símile, causada por e associada às outras características
da angiopatia do tipo Moyamoya. Critérios diagnósticos:
A. Novas crises de aura migrânea-símiles, com ou sem
Critérios diagnósticos: cefaleia fraca, preenchendo o critério C
A. Cefaleia recorrente preenchendo o critério C B. Evidências por neuroimagem ou biópsia cerebral de
B. Evidências por neuroimagem da angiopatia do tipo angiopatia amiloide cerebral (AAC)
Moyamoya C. Evidência de causalidade demonstrada por um ou mais
C. Evidência de causalidade demonstrada por ambos os dos seguintes:
seguintes: 1. a aura desenvolveu-se em estreita relação temporal
1. a cefaleia desenvolveu-se em estreita relação tem- com outros sintomas e/ou sinais clínicos de AAC,

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TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

ou levou ao seu diagnóstico Comentário: A síndrome da vasculopatia retiniana com


2. a aura piorou significativamente em paralelo com leucoencefalopatia cerebral e manifestações sistêmicas
sinais clínicos e/ou radiológicos de piora da AAC (RVCLSM) é uma doença dos pequenos vasos, sistêmica,
3. início após os 50 anos de idade autossômica dominante, causada por mutações do tipo fra-
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da me-shift na região C-terminal do TREX1. Ela é clinicamente
ICHD-3.1 caracterizada por déficits neurológicos focais, comprometi-
mento cognitivo, distúrbios psiquiátricos, crises epilépticas,
Nota: manifestações sistêmicas variadas e, ao menos na metade
1. As sequências de RM sensíveis ao sangue são impor- dos casos, por crises migrânea-símiles. Outras manifestações
tantes no diagnóstico da angiopatia amiloide cerebral clínicas são o comprometimento visual pela retinopatia vas-
e devem ser realizadas em qualquer paciente com aura cular e o declínio neurológico e a morte prematura em fun-
migrânea-símile de início tardio. ção de lesões progressivas com realce na substância branca
cerebral. O espectro clínico também inclui função hepática
Comentários: A angiopatia amiloide cerebral (AAC) é um e renal comprometidas, anemia algumas vezes associada a
transtorno dos pequenos vasos associada a deposição pro- sangramento gastrointestinal e hipertensão. Em pacientes
gressiva de amiloide nas paredes dos vasos corticais e lepto- mais jovens, nos quais a RM cerebral pode ser normal, as
meníngeos. As formas esporádicas são mais comuns que as manifestações clínicas incluem fenômeno de Raynaud leve
formas familiares herdadas. (54%), migrânea (especialmente sem aura: 42%) e distúrbios
A AAC é uma causa maior de hemorragia intracerebral psiquiátricos (23%). O diagnóstico, em tais casos, pode ser
sintomática lobar, episódios neurológicos focais transitórios suspeitado a partir da história familiar.
nos idosos e comprometimento cognitivo. Os episódios neu-
rológicos focais transitórios incluem tanto sintomas posi-
tivos aura migranosa-símiles (parestesias alastrantes e/ou 6.8.6 Cefaleia atribuída a outra vasculopatia
fenômenos visuais positivos) como sintomas neurológicos intracraniana crônica
negativos do tipo AIT, e podem ser causados por siderose
cortical superficial ou por hemorragia subaracnóidea da con- Descrição: Crises migrânea-símiles, com ou sem aura, causa-
vexidade. Esses episódios estão associados a um elevado das por e ocorrendo como parte das manifestações clínicas
risco precoce de hemorragia intracerebral sintomática. de uma vasculopatia intracraniana crônica, genética ou não
genética, que não aquelas descritas acima.

6.8.5 Cefaleia atribuída à síndrome da vasculopatia Critérios diagnósticos:


retiniana com leucoencefalopatia cerebral e A. Crises migrânea-símiles recorrentes, com ou sem aura,
manifestações sistêmicas (RVCLSM) preenchendo o critério C
B. Uma vasculopatia intracraniana crônica, genética ou
Descrição: Cefaleia recorrente na forma de crises migrânea- não genética, foi demonstrada
-símiles, especialmente sem aura, causada pela síndrome C. As crises migrânea-símiles são secundárias a e parte das
da vasculopatia retiniana com leucoencefalopatia cerebral e manifestações clínicas da vasculopatia intracraniana
manifestações sistêmicas (RVCLSM). Ela pode estar asso- crônica
ciada às outras características clínicas de RVCLSM ou ser a D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
sua primeira manifestação clínica.
Comentários: Crises migrânea-símiles recorrentes têm sido
Critérios diagnósticos: relatadas como parte das manifestações clínicas da hemipa-
A. Crises migrânea-símiles recorrentes, com ou sem aura, resia, tortuosidade arterial retiniana e leucoencefalopatia
preenchendo o critério C infantil hereditária autossômica dominante (HIHRATL),
B. A síndrome da vasculopatia retiniana com leucoencefa- uma condição devida a mutações COL4A1. Apenas algumas
lopatia cerebral e manifestações sistêmicas (RVCLSM) poucas famílias com esse transtorno foram relatadas. Por
foi demonstrada1 causa das outras manifestações graves, essas crises migrâ-
C. As crises migrânea-símiles são secundárias a e parte das

nea-símiles não foram sistematicamente investigadas na
manifestações clínicas da síndrome HIHRATL, mas elas parecem lembrar, basicamente, a 1.2
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. Migrânea com aura.
Todas as demais vasculopatias intracranianas crônicas
Nota: genéticas e não genéticas raras podem, potencialmente, cau-
1. O diagnóstico é feito por testagem genética para as muta- sar crises migrânea-símiles.
ções TREX1.

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CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

6.9 Cefaleia atribuída a apoplexia pituitária Portenoy RK, Abissi CJ, Lipton RB, et al. Headache in cerebrovas-
cular disease. Stroke 1984; 15: 1009–1012.
Descrição: Cefaleia causada por apoplexia pituitária, habi- Schwedt TJ and Dodick DW. Thunderclap stroke: embolic cere-
tualmente com início repentino (até mesmo em trovoada) bellar infarcts presenting as thunderclap headache. Headache
e intensidade forte, e acompanhada desde o início, ou mais 2006; 46: 520–522.
tarde, por sintomas visuais e/ou hipopituitarismo. Verdelho A, Ferro JM, Melo T, et al. Headache in acute stroke. A
prospective study in the first 8 days. Cephalalgia 2008; 28:
Critérios diagnósticos: 346–354.
A. Qualquer cefaleia nova preenchendo o critério C
B. Um infarto pituitário hemorrágico agudo foi diagnos­ 6.1.2 Cefaleia atribuída a ataque isquêmico transitório (AIT)
ticado Caplan LR. Migraine and vertebrobasilar ischemia. Neurology
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos 1991; 41: 55–61.
dois dos seguintes: Ferro JM, Costa I, Melo TP, et al. Headache associated with tran-
1. a cefaleia desenvolveu-se em estreita relação tem- sient ischemic attacks. Headache 1995; 35: 544–548.
poral com outros sintomas e/ou sinais clínicos de Fisher CM. Migraine accompaniments versus arteriosclerotic isch-
apoplexia pituitária, ou levou ao diagnóstico de emia. Trans Am Neurol Assoc 1968; 93: 211–213.
apoplexia pituitária Fisher CM. Cerebral ischemia: Less familiar types. Clin Neurosurg
2. um dos ou ambos os seguintes: 1971; 18: 267–336.
a) a cefaleia piorou, significativamente, em Fisher CM. Late-life migraine accompaniments as a cause of unex-
paralelo com outros sintomas e/ou sinais clí- plained transient ischemic attacks. Can J Med Sci 1980; 7:
nicos da apoplexia pituitária 9–17.
b) a cefaleia melhorou, significativamente, em Martsen BH, Sorensen PS and Marquardsen J. Transient ischemic
paralelo com outros sintomas e/ou sinais clí- attacks in young patients: a thromboembolic or migrainous
nicos de melhora da apoplexia pituitária manifestation? A ten-year follow-up of 46 patients. J Neurol
3. a cefaleia é forte e de início repentino ou em Neurosurg Psychiat 1990; 53: 1029–1033.
trovoada
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. 6.2.1 Cefaleia aguda atribuída a hemorragia intracerebral não
traumática
Comentários: A rara síndrome clínica da apoplexia pituitária Abadie V, Jacquin A, Daubail B, et al. Prevalence and prognostic
é uma condição aguda, potencialmente fatal. Ela é uma das value of headache on early mortality in acute stroke: the Dijon
causas de hemorragia subaracnóidea não aneurismática. Stroke Registry. Cephalalgia 2014; 34: 887–894.
Também é uma das causas de cefaleia em trovoada. A Ferro JM, Melo TP and Guerreiro M. Headaches in intracerebral
maioria dos casos ocorre como a primeira apresentação do hemorrhage survivors. Neurology 1998; 50: 203–207.
rápido aumento dos macroadenomas pituitários não funcio- Jensen TS and Gorrelick PB. Headache associated with stroke and
nantes, em função de hemorragia e/ou infarto. intracranial hematoma. In: Olesen J, Tfelt-Hansen P and Welch
A RM é mais sensível que a TC para detectar patologia KMA (eds) The headaches, 2nd edition. Philadelphia: Lippin-
intrasselar. cott Williams & Wilkins, 2000, pp.781–787.
Melo TP, Pinto AN and Ferro JM. Headache in intracerebral hema-
tomas. Neurology 1996; 47: 494–500.
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95
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

7. Cefaleia atribuída a transtorno aumento de duas ou mais vezes na frequência e/ou gra-
intracraniano não vascular vidade) em estreita relação temporal com um transtorno
intracraniano não vascular, tanto o diagnóstico inicial da
7.1 Cefaleia atribuída a hipertensão liquórica cefaleia como o diagnóstico de 7. Cefaleia atribuída a
7.1.1 Cefaleia atribuída a hipertensão intracraniana idiopática transtorno intracraniano não vascular (ou um dos seus
(HII) subtipos) devem ser dados, contanto que haja evidên-
7.1.2 Cefaleia atribuída a hipertensão intracraniana secundária a cia de boa qualidade de que o transtorno pode causar
causas metabólicas, tóxicas ou hormonais cefaleia.
7.1.3 Cefaleia atribuída a hipertensão intracraniana secundária a
transtorno cromossômico
7.1.4 Cefaleia atribuída a hipertensão intracraniana secundária a Introdução
hidrocefalia
7.2 Cefaleia atribuída a hipotensão liquórica Neste capítulo, as cefaleias são atribuídas a alterações na
7.2.1 Cefaleia pós-punção dural pressão intracraniana. Tanto a pressão aumentada como
7.2.2 Cefaleia por fístula liquórica a pressão diminuída do líquido cefalorraquidiano (LCR)
7.2.3 Cefaleia atribuída a hipotensão intracraniana espontânea podem levar à cefaleia. Outras causas de cefaleia aqui incluí-
7.3 Cefaleia atribuída a doença intracraniana inflamatória não in- das são as doenças inflamatórias não infecciosas, as neo-
fecciosa plasias intracranianas, as crises epilépticas, condições raras
7.3.1 Cefaleia atribuída a neurossarcoidose como injeções intratecais e a malformação de Chiari do tipo
7.3.2 Cefaleia atribuída a meningite asséptica (não infecciosa) I, além de outros transtornos intracranianos não vasculares.
7.3.3 Cefaleia atribuída a outra doença intracraniana inflamató- Há poucos estudos epidemiológicos sobre esses tipos de
ria não infecciosa cefaleia, em comparação com aqueles relacionados às cefa-
7.3.4 Cefaleia atribuída a hipofisite linfocítica leias primárias. Ensaios controlados sobre tratamento, por
7.3.5 Síndrome da cefaleia e déficits neurológicos transitórios sua vez, são quase inexistentes.
com linfocitose do líquido cefalorraquidiano (HaNDL) Para cefaleia atribuída a qualquer dos transtornos intra-
7.4 Cefaleia atribuída a neoplasia intracraniana cranianos não vasculares listados aqui, os critérios diagnós-
7.4.1 Cefaleia atribuída a neoplasma intracraniano ticos incluem, sempre que possível:
7.4.1.1 Cefaleia atribuída a cisto coloide do terceiro ventrículo
7.4.2 Cefaleia atribuída a meningite carcinomatosa A. Cefaleia preenchendo o critério C
7.4.3 Cefaleia atribuída a hiper ou hipossecreção hipotalâmica B. Um transtorno intracraniano não vascular, reconhecida-
ou hipofisária mente capaz de causar cefaleia, foi diagnosticado
7.5 Cefaleia atribuída a injeção intratecal C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
7.6 Cefaleia atribuída a crise epiléptica dois dos seguintes:
7.6.1 Cefaleia epiléptica ictal 1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal
7.6.2 Cefaleia pós-ictal com o início do transtorno intracraniano não vas-
7.7 Cefaleia atribuída a malformação de Chiari tipo I (CM1) cular ou levou à sua descoberta
7.8 Cefaleia atribuída a outro transtorno intracraniano não vascular 2. um dos ou ambos os seguintes:
a) a cefaleia piorou, significativamente, em
paralelo com a piora do transtorno intracra-
Comentário geral niano não vascular
b) a cefaleia melhorou, significativamente, em
Cefaleia primária ou secundária ou ambas? As regras gerais para paralelo com a melhora do transtorno intra-
atribuição a outro transtorno aplicam-se a 7. Cefaleia atri- craniano não vascular
buída a transtorno intracraniano não vascular. 3. a cefaleia possui características típicas para o
transtorno intracraniano não vascular
1. Quando uma cefaleia nova ocorre pela primeira vez em 4. existe outra evidência de causalidade
estreita relação temporal com um transtorno intracra- A. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
niano não vascular, ela é codificada como uma cefaleia
secundária atribuída a esse transtorno. Isso permanece A cefaleia que persiste por mais de um mês após o tra-
verdadeiro quando a nova cefaleia possui as característi- tamento bem-sucedido ou a resolução espontânea do trans-
cas de qualquer uma das cefaleias primárias classificadas torno intracraniano habitualmente tem outros mecanismos. A
na Parte Um da ICHD-3. cefaleia que persiste por mais de três meses após o tratamento
2. Quando uma cefaleia pré-existente, com as caracte- ou a remissão de transtornos intracranianos está definida no
rísticas de uma cefaleia primária, torna-se crônica, ou Apêndice, para fins de pesquisa. Tal cefaleia existe, mas tem
piora significativamente (significando habitualmente um sido pouco estudada; as inserções no Apêndice estão volta-

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TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

das a estimular a pesquisa adicional sobre tais cefaleias e os do aumento da pressão do LCR; a cefaleia deve então ser
seus mecanismos. recodificada de acordo com o seu subtipo específico.

7.1 Cefaleia atribuída a hipertensão liquórica 7.1.1 Cefaleia atribuída a hipertensão intracraniana
idiopática (HII)
Codificada em outro local: A cefaleia atribuída a pressão intra-
craniana aumentada ou hidrocefalia - secundárias a um neo- Termos previamente utilizados: Cefaleia atribuída a hipertensão
plasma intracraniano - é codificada como 7.4.1 Cefaleia atri- intracraniana benigna (HIB); pseudotumor cerebri; hidrop-
buída a neoplasma intracraniano. sia meníngea; meningite serosa.

Descrição: Cefaleia causada pela pressão aumentada do Descrição: Cefaleia nova, ou piora significativa de uma cefa-
líquido cefalorraquidiano (LCR), habitualmente acompa- leia pré-existente, causada por e acompanhada de outros sin-
nhada por outros sintomas e/ou sinais clínicos de hipertensão tomas e/ou sinais clínicos e/ou de neuroimagem de hiperten-
intracraniana. são intracraniana idiopática (HII), com características típicas
sugestivas de HII.
Critérios diagnósticos:
A. Cefaleia nova, ou piora significativa1 de uma cefaleia Critérios diagnósticos:
pré-existente, preenchendo o critério C A. Cefaleia nova, ou uma piora significativa1 de uma cefa-
B. Hipertensão intracraniana foi diagnosticada, com leia pré-existente, preenchendo o critério C
ambos os seguintes: B. Ambos os seguintes:
1. a pressão liquórica excede 250 mm LCR (ou 280 1. hipertensão intracraniana idiopática (HII) foi
mm LCR em crianças obesas)2 diagnosticada2
2.
composição normal do LCR 2. a pressão do líquido cefalorraquidiano (LCR)

C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos excede 250 mm LCR (ou 280 mm LCR em crian-
dois dos seguintes: ças obesas)3
1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal C. Um dos ou ambos os seguintes:
com a hipertensão intracraniana, ou levou à sua 1. a cefaleia desenvolveu-se, ou piorou significativa-
descoberta mente1, em relação temporal com a HII, ou levou à
2. a cefaleia é aliviada através da redução da hiper- sua descoberta
tensão intracraniana 2. a cefaleia é acompanhada por um dos ou ambos os
3. papiledema seguintes:
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.3 a) tinido pulsátil
b) papiledema4
Notas: D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.5,6
1. “Piora significativa” implica em um aumento de duas ou
mais vezes na frequência e/ou gravidade, de acordo com Notas:
a regra geral sobre a distinção das cefaleias secundárias 1. “Piora significativa” implica em um aumento de duas ou
das primárias. mais vezes na frequência e/ou gravidade, de acordo com
2. Para propósitos diagnósticos, a pressão do LCR deve a regra geral sobre a distinção das cefaleias secundárias
ser medida na ausência de tratamento voltado a redu- das primárias.
zir a pressão intracraniana. A pressão do LCR deve ser 2. A HII deve ser diagnosticada com cautela naqueles com
medida através de punção lombar realizada na posição status mental alterado.
de decúbito lateral, sem sedativos, ou por monitoramento 3. Para propósitos diagnósticos, a pressão do LCR deve
epidural ou intraventricular. Como a pressão do LCR ser medida na ausência de tratamento voltado a redu-
varia durante o curso do dia, uma única medida pode zir a pressão intracraniana. A pressão do LCR deve ser
não ser indicativa da pressão média do LCR ao longo de medida através de punção lombar realizada na posição
24 horas: o monitoramento prolongado da pressão lom- de decúbito lateral, sem sedativos, ou por monitoramento
bar ou intraventricular pode ser necessário nos casos de epidural ou intraventricular. Como a pressão do LCR
incerteza diagnóstica. varia durante o curso do dia, uma única medida pode
3. Neoplasma intracraniano foi excluído. não ser indicativa da pressão média do LCR ao longo de
24 horas: o monitoramento prolongado da pressão lom-
Comentário: A 7.1 Cefaleia atribuída a hipertensão liquórica bar ou intraventricular pode ser necessário nos casos de
é um tipo de cefaleia. O diagnóstico, quando feito, deve ser incerteza diagnóstica.
somente temporário, dependendo da determinação da causa 4. O papiledema deve ser distinguido do pseudopapiledema

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CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

ou do edema do disco óptico. A maioria dos pacientes buída a hipertensão liquórica e o critério C (a seguir)
com HII tem papiledema, e a HII deve ser diagnosticada B. A hipertensão intracraniana foi atribuída a um trans-
com cautela nos pacientes sem este sinal. torno metabólico, tóxico ou hormonal1
5. A 7.1.1 Cefaleia atribuída a hipertensão intracraniana C. Evidência de causalidade demonstrada por um dos ou
idiopática (HII) pode mimetizar as cefaleias primárias, ambos os seguintes:
especialmente 1.3 Migrânea crônica e 2.3 Cefaleia do 1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal
tipo tensão; por outro lado, esses transtornos frequente- com o aumento da pressão do LCR, ou levou à sua
mente coexistem com a HII. descoberta
6. A 8.2 Cefaleia por uso excessivo de medicamentos deve 2. um dos ou ambos os seguintes:
ser excluída em pacientes sem papiledema, paralisia abdu- a) a cefaleia piorou, significativamente, em
cente ou sinais de neuroimagem característicos de HII. paralelo com o aumento da pressão do LCR
b) a cefaleia melhorou, significativamente, em
Comentários: A hipertensão intracraniana idiopática (HII) paralelo com a redução da pressão do LCR
ocorre mais frequentemente em mulheres obesas em idade D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
fértil (que são também as mais propensas a serem diagnosti-
cadas erroneamente com HII). Nota:
A 7.1.1 Cefaleia atribuída a hipertensão intracraniana 1. As potenciais causas metabólicas, tóxicas ou hormo-
idiopática (HII) não tem características específicas, e frequen- nais de hipertensão intracraniana incluem a insuficiência
temente assemelha-se a 1. Migrânea ou 2. Cefaleia do tipo ten- hepática aguda, insuficiência renal, hipercarbia, crise
são. A ocorrência diária não é um requisito para o diagnóstico. hipertensiva aguda, síndrome hepatocerebral de Reye,
O alívio da cefaleia após a remoção do líquido cefalorra- trombose dos seios venosos cerebrais, insuficiência car-
quidiano (LCR) apóia o diagnóstico, mas não é, em si, diag- díaca direita, uma variedade de substâncias (incluindo o
nóstico: ele pode ser observado em pacientes com outros hormônio da tireoide como reposição em crianças, ácido
tipos de cefaleia (sensibilidade de 72% e especificidade de all-trans retinoico, retinoides, tetraciclinas e clordecona),
77% para 7.1.1 Cefaleia atribuída a hipertensão intracra- toxicidade da vitamina A e supressão de corticosteroide.
niana idiopática (HII)).
Achados de neuroimagem consistentes com o diag- Comentário: A remoção do agente instigador ou o tratamento
nóstico de HII incluem a sela túrcica vazia, a distensão do do transtorno causal subjacente podem não ser suficientes
espaço subaracnóideo perióptico, o achatamento da esclera para normalizar a pressão intracraniana elevada; um trata-
posterior, a protrusão da papila do nervo óptico para dentro mento adicional é frequentemente necessário para aliviar a
do vítreo e a estenose dos seios venosos transversos. cefaleia e outros sintomas e, mais importante, para prevenir
a perda visual.

7.1.2 Cefaleia atribuída a hipertensão intracraniana


secundária a causas metabólicas, tóxicas ou 7.1.3 Cefaleia atribuída a hipertensão intracraniana
hormonais secundária a transtorno cromossômico

Codificada em outro local: A cefaleia atribuída a hipertensão Descrição: Cefaleia nova, ou piora significativa de uma cefa-
intracraniana resultante de trauma craniano, transtorno vas- leia pré-existente, causada por hipertensão intracraniana
cular ou infecção intracraniana é codificada para qualquer secundária a um transtorno cromossômico e acompanhada
desses que seja a causa. A cefaleia atribuída a pressão intra- por outros sintomas e/ou sinais clínicos e/ou de neuroima-
craniana elevada ocorrendo como efeito adverso de um gem tanto de hipertensão craniana como do transtorno cro-
medicamento é codificada como 8.1.10 Cefaleia atribuída mossômico subjacente.
ao emprego prolongado de medicamento não utilizado para
cefaleia. Critérios diagnósticos:
A. Cefaleia nova, ou uma piora significativa1 de uma cefa-
Descrição: Cefaleia causada por hipertensão intracraniana leia pré-existente, preenchendo os critérios para 7.1
secundária a qualquer um de uma variedade de transtornos Cefaleia atribuída a hipertensão liquórica e o critério
sistêmicos e acompanhada por outros sintomas e/ou sinais C abaixo
clínicos e/ou de neuroimagem tanto da hipertensão intracra- B. A hipertensão intracraniana foi atribuída a um trans-
niana como do transtorno causal subjacente. Ela geralmente torno cromossômico2
desaparece com a resolução do transtorno sistêmico. C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
dois dos seguintes:
Critérios diagnósticos: 1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal
A. Cefaleia preenchendo os critérios para 7.1 Cefaleia atri- com a hipertensão intracraniana, ou levou à sua

98
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

descoberta 7.2 Cefaleia atribuída a hipotensão


2. a cefaleia é aliviada pela redução da hipertensão liquórica
intracraniana
3. papiledema Descrição: Cefaleia ortostática causada por baixa pressão do
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. líquido cefalorraquidiano (LCR) (tanto espontânea como
secundária), ou vazamento de LCR, habitualmente acompa-
Notas: nhada por dor cervical, tinido, alterações auditivas, fotofobia
1. “Piora significativa” implica em um aumento de duas ou e/ou náusea. Ela desaparece após a normalização da pressão
mais vezes na frequência e/ou gravidade, de acordo com liquórica ou a interrupção bem-sucedida do vazamento de
a regra geral sobre a distinção das cefaleias secundárias LCR.
das primárias.
2. Os transtornos cromossômicos associados com hiperten- Critérios diagnósticos:
são intracraniana incluem a síndrome de Turner e a sín- A. Qualquer cefaleia1 preenchendo o critério C
drome de Down. B. Qualquer um dos ou ambos os seguintes:
1. pressão baixa do líquido cefalorraquidiano (LCR)
(<60 mm LCR)
7.1.4 Cefaleia atribuída a hipertensão intracraniana 2. evidência de vazamento de LCR em exame de
secundária a hidrocefalia imagem2
C. A cefaleia desenvolveu-se em relação temporal com a
Descrição: Cefaleia nova, ou piora significativa de uma cefa- hipotensão liquórica ou com o vazamento de LCR, ou
leia pré-existente, causada por hipertensão intracraniana levou à sua descoberta3
secundária a hidrocefalia e acompanhada por outros sinto- D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
mas e/ou sinais clínicos de pressão liquórica aumentada ou
hidrocefalia. Notas:
1. A 7.2 Cefaleia atribuída a hipotensão liquórica é habi-
Critérios diagnósticos: tualmente, mas não invariavelmente, ortostática. A cefa-
A. Cefaleia nova, ou piora significativa1 de uma cefaleia leia que piora significativamente logo após o indivíduo
pré-existente, preenchendo os critérios para 7.1 Cefa- sentar-se ereto ou levantar-se e/ou melhora após ele dei-
leia atribuída a hipertensão liquórica e o critério C tar-se na horizontal é provavelmente causada por hipo-
abaixo tensão liquórica, mas isto não pode ser considerado como
B. Hipertensão intracraniana foi atribuída à hidrocefalia um critério diagnóstico.
C. Evidência de causalidade demonstrada por um dos ou 2. Imagem cerebral demonstrando queda do cérebro (brain
ambos os seguintes: sagging) ou realce paquimeníngeo, ou imagens da coluna
1. a cefaleia desenvolveu-se, ou piorou significati- vertebral (por RM, TC ou mielografia de subtração digi-
vamente1, em relação temporal com o desenvolvi- tal) demonstrando LCR extradural.
mento ou piora da pressão aumentada do LCR, ou 3. A evidência de causalidade pode depender do início em
levou à sua descoberta relação temporal com a causa presumida, juntamente
2. um dos ou ambos os seguintes: com a exclusão de outros diagnósticos.
a) a cefaleia piorou, significativamente, em
paralelo com a piora da hidrocefalia
b) a cefaleia melhorou, significativamente, em 7.2.1 Cefaleia pós-punção dural
paralelo com a melhora da hidrocefalia
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. Termo previamente utilizado: Cefaleia pós-punção lombar.

Nota: Descrição: Cefaleia que ocorre dentro de cinco dias após uma
1. “Piora significativa” implica em um aumento de duas ou punção lombar, causada por vazamento de líquido cefalor-
mais vezes na frequência e/ou gravidade, de acordo com raquidiano através da punção dural. Ela é habitualmente
a regra geral sobre a distinção das cefaleias secundárias acompanhada por rigidez cervical e/ou sintomas auditi-
das primárias. vos subjetivos. Ela desaparece espontaneamente dentro de
duas semanas ou após o fechamento do vazamento com um
Comentário: A hidrocefalia de pressão normal habitualmente “emplastro” lombar (lumbar patch) epidural autólogo.
não causa cefaleia; ocasionalmente é relatada cefaleia fraca,
em peso. Critérios diagnósticos:
A. Cefaleia preenchendo os critérios para 7.2 Cefaleia atri-
buída a hipotensão liquórica e o critério C (a seguir)

99
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

B. Uma punção dural foi realizada Notas:


C. A cefaleia desenvolveu-se dentro de cinco dias após a 1. A 7.2.3 Cefaleia atribuída a hipotensão intracraniana
punção dural espontânea não pode ser diagnosticada em um paciente
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. que tenha sido submetido a uma punção dural no mês
precedente.
Comentário: 2. A punção dural para medir diretamente a pressão do LCR
1. Fatores de risco independentes para 7.2.1 Cefaleia pós- não é necessária em pacientes com sinais positivos de
‑punção dural têm sido recentemente demonstrados: vazamento na RM, como realce dural com contraste.
gênero feminino, idade entre 31 e 50 anos, histórico
prévio de 7.2.1 Cefaleia pós-punção dural e orientação Comentários: O vazamento espontâneo de líquido cefalorra-
do bisel da agulha perpendicular ao eixo longitudinal da quidiano (LCR) tem sido associado a transtornos hereditá-
coluna espinhal no momento da punção dural. rios do tecido conjuntivo. Pacientes com vazamento liquó-
rico devem ser avaliados para anormalidades vasculares ou
do tecido conjuntivo.
7.2.2 Cefaleia por fístula liquórica Embora haja um componente postural claro na maioria
dos casos de 7.2.3 Cefaleia atribuída a hipotensão intracra-
Descrição: Cefaleia ortostática que ocorre após um proce- niana espontânea, ele pode não ser tão dramático ou imediato
dimento ou trauma que tenha causado um vazamento per- como em 7.2.1 Cefaleia pós-punção dural. Portanto, a 7.2.3
sistente de líquido cefalorraquidiano (LCR), resultando em Cefaleia atribuída a hipotensão intracraniana espontânea
pressão intracraniana reduzida. Ela desaparece após o fecha- pode ocorrer imediatamente ou dentro de alguns segundos
mento bem-sucedido do vazamento de LCR. após o indivíduo assumir a posição ortostática e desaparecer
rapidamente (dentro de um minuto) após deitar-se na posição
Critérios diagnósticos: horizontal, lembrando a 7.2.1 Cefaleia pós-punção dural, ou
A. Cefaleia preenchendo os critérios para 7.2 Cefaleia pode apresentar uma resposta tardia à alteração postural,
atribuída a hipotensão liquórica, e o critério C abaixo piorando depois de minutos ou horas na posição vertical e
B. Um procedimento foi realizado ou ocorreu um trauma, melhorando, mas não necessariamente desaparecendo, após
reconhecidamente capazes de, eventualmente, causar minutos ou horas na posição horizontal. A natureza ortostá-
vazamento persistente de LCR (fístula liquórica) tica da cefaleia, no seu início, deve ser buscada ao se obter a
C. A cefaleia desenvolveu-se em relação temporal com o história do paciente, visto que esta característica pode tornar-
procedimento ou com o trauma -‑se muito menos óbvia ao longo do tempo.
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. Em pacientes com cefaleia ortostática típica e sem uma
causa aparente, e após a exclusão da síndrome da taquicardia
ortostática postural (POTS), é razoável na prática clínica a
7.2.3 Cefaleia atribuída a hipotensão intracraniana aplicação de um “emplastro” de sangue epidural (ESE) lom-
espontânea bar autólogo. Enquanto os ESEs são frequentemente efetivos
em vedar os vazamentos de LCR, a resposta a um ESE único
Termos previamente utilizados: Cefaleia atribuída a hipotensão pode não ser permanente, e o alívio completo dos sintomas
liquórica espontânea ou hipotensão intracraniana primária; pode não ser atingido até que dois ou mais ESEs tenham
cefaleia por baixo volume liquórico; cefaleia hipoliquorreica. sido realizados. Entretanto, algum grau de melhora susten-
tada, durando mais do que alguns dias, é geralmente espe-
Descrição: Cefaleia ortostática causada por pressão reduzida rada. Em alguns casos, a melhora sustentada não pode ser
do líquido cefalorraquidiano (LCR) de origem espontânea. atingida com ESEs direcionados ao local do vazamento e/ou
Ela é habitualmente acompanhada por rigidez cervical e sin- ESEs lombares não direcionados, e uma intervenção cirúr-
tomas auditivos subjetivos. Ela desaparece após a normaliza- gica pode fazer-se necessária.
ção da pressão do LCR. Não está claro que todos os pacientes com 7.2.3 Cefaleia
atribuída a hipotensão intracraniana espontânea possuem
Critérios diagnósticos: um vazamento de LCR ativo, apesar de um histórico persua-
A. Cefaleia preenchendo os critérios para 7.2 Cefaleia sivo ou de sinais de imagem cerebral compatíveis com um
atribuída a hipotensão liquórica e o critério C abaixo vazamento de LCR. O transtorno subjacente pode ser baixo
B. Ausência de procedimento ou trauma reconhecida- volume de LCR. Um histórico de aumento trivial na pressão
mente capaz de causar vazamento de LCR1 intracraniana (p.ex. tosse vigorosa) é algumas vezes obtido.
C. A cefaleia desenvolveu-se em relação temporal com a A cefaleia postural tem sido relatada após o coito: tal
hipotensão liquórica ou com o vazamento de LCR, ou cefaleia deve ser codificada como 7.2.3 Cefaleia atribuída a
levou à sua descoberta2 hipotensão intracraniana espontânea, porque é mais prova-
D.
Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. velmente devida a um vazamento de LCR.

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TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

7.3 Cefaleia atribuída a doença 7.3.2 Cefaleia atribuída a meningite asséptica


intracraniana inflamatória não infecciosa (não infecciosa)

Descrição: Cefaleia na presença de doença intracraniana infla- Descrição: Cefaleia causada por meningite asséptica, asso-
matória não infecciosa, habitualmente com pleocitose linfo- ciada a outros sintomas e/ou sinais clínicos de irritação
cítica no líquido cefalorraquidiano. Ela desaparece após a meníngea. Ela desaparece após a resolução da meningite.
resolução do transtorno inflamatório.
Critérios diagnósticos:
Critérios diagnósticos: A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C B. Meningite asséptica foi diagnosticada através do exame
B. Uma doença inflamatória não infecciosa, reconhecida- do líquido cefalorraquidiano (LCR)1
mente capaz de causar cefaleia, foi diagnosticada C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
C. Evidência de causalidade demonstrada por um dos ou dois dos seguintes:
ambos os seguintes: 1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal
1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal com o início da meningite asséptica, ou levou à
com o início da doença inflamatória não infecciosa sua descoberta
2. a cefaleia piorou, significativamente, em paralelo 2. um dos ou ambos os seguintes:
com a piora da doença inflamatória não infecciosa a) a cefaleia piorou, significativamente, em
3. a cefaleia melhorou, significativamente, em para- paralelo com a piora da meningite asséptica
lelo com a melhora da doença inflamatória não b) a cefaleia melhorou, significativamente, em
infecciosa paralelo com a melhora da meningite asséptica
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. 3. a cefaleia é acompanhada por outros sintomas e/ou
sinais clínicos de inflamação meníngea, incluindo
rigidez cervical (meningismo) e/ou fotofobia
7.3.1 Cefaleia atribuída a neurossarcoidose D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.

Descrição: Cefaleia causada por e associada a outros sintomas Nota:


e sinais de neurossarcoidose. 1. Em pacientes com meningite asséptica, o LCR mostra
pleocitose linfocítica, proteínas levemente elevadas e
Critérios diagnósticos: glicose normal, na ausência de organismos infecciosos.
A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
B. Neurossarcoidose foi diagnosticada Comentário: A meningite asséptica pode ocorrer após a expo-
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos sição a certas drogas, incluindo ibuprofeno ou outros AINEs,
dois dos seguintes: imunoglobulinas, penicilina ou trimetoprima e injeções e/ou
1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal insuflações intratecais.
com o início da neurossarcoidose
2. um dos ou ambos os seguintes:
a) a cefaleia piorou, significativamente, em 7.3.3 Cefaleia atribuída a outra doença
paralelo com a piora da neurossarcoidose intracraniana inflamatória não infecciosa
b) a cefaleia melhorou, significativamente, em
paralelo com a melhora da neurossarcoidose Descrição: Cefaleia causada por – mas não geralmente um sin-
3. a cefaleia é acompanhada por uma ou mais parali- toma proeminente ou de apresentação de – qualquer uma de
sias de nervos cranianos uma variedade de transtornos autoimunes, e associada a outros
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. sintomas e/ou sinais clínicos do transtorno causal. Ela desapa-
rece após o tratamento bem-sucedido do transtorno autoimune.
Comentário: Outras manifestações de neurossarcoidose
incluem meningite asséptica, lesões de nervos cranianos, Critérios diagnósticos:
lesão(ões) expansiva(s) intracraniana(s) na RM cerebral, A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
lesões focais inflamatórias periventriculares e/ou lesões com B. Uma doença inflamatória não infecciosa, reconhecida-
efeito de massa e realce homogêneo em exame de RM do mente capaz de causar cefaleia, que não uma das descri-
cérebro ou da medula, confirmadas através de biópsia como tas acima, foi diagnosticada1
sendo granulomas não caseosos. C. Evidência de causalidade demonstrada por um ou mais
dos seguintes:
1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal
com o início da doença inflamatória não infecciosa

101
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

2. a cefaleia piorou, significativamente, em paralelo hemiparestesia, hemiparesia e/ou disfasia, mas apenas rara-
com a piora da doença inflamatória não infecciosa mente sintomas visuais positivos, durando várias horas. Há
3. a cefaleia melhorou, significativamente, em paralelo pleocitose linfocítica do líquido cefalorraquidiano. O trans-
com a melhora da doença inflamatória não infecciosa torno desaparece espontaneamente dentro de três meses.
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
Critérios diagnósticos:
Nota: A. Episódios de cefaleia migrânea-símiles preenchendo os
1. A cefaleia pode ser causalmente associada a – mas não é critérios B e C1
habitualmente um sintoma proeminente ou de apresenta- B. Ambos os seguintes:
ção de – encefalomielite desmielinizante aguda (ADEM), 1. acompanhada ou brevemente precedida pelo início
lúpus eritematoso sistêmico (LES), síndrome de Behçet e de ao menos um dos seguintes déficits neurológi-
outras síndromes autoimunes sistêmicas ou focais (p.ex. cos transitórios, durando > 4 horas
encefalite límbica). a) hemiparestesia
b) disfasia
c) hemiparesia
7.3.4 Cefaleia atribuída a hipofisite linfocítica 2. associada a pleocitose linfocítica do líquido cefa-
lorraquidiano (LCR) (>15 leucócitos por µl), com
Descrição: Cefaleia causada por hipofisite linfocítica, asso- estudos etiológicos negativos
ciada a aumento da hipófise e, em metade dos casos, a hiper- C. Evidência de causalidade demonstrada por um dos ou
prolactinemia. Ela desaparece após o tratamento bem-suce- ambos os seguintes:
dido da hipofisite linfocítica. 1. a cefaleia e os déficits neurológicos transitórios
desenvolveram-se ou pioraram significativamente
Critérios diagnósticos: em relação temporal com o início ou com a piora
A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C da pleocitose linfocítica do LCR, ou levaram à sua
B. Hipofisite linfocítica foi diagnosticada descoberta
C. Evidência de causalidade demonstrada por um ou mais 2. a cefaleia e os déficits neurológicos transitórios
dos seguintes: melhoraram significativamente em paralelo com a
1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal melhora da pleocitose linfocítica do LCR
com o início da hipofisite linfocítica D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.2
2. a cefaleia piorou, significativamente, em paralelo
com a piora da hipofisite linfocítica Notas:
3. a cefaleia melhorou, significativamente, em para- 1. A maioria dos pacientes com essa síndrome não têm his-
lelo com a melhora da hipofisite linfocítica tórico prévio de migrânea.
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. 2. Outros diagnósticos que podem compartilhar algumas
de suas características clínicas incluem a 1.2.3 Migrânea
Comentários: A hipofisite linfocítica está associada a aumento hemiplégica, embora as mutações do gene CACNA1A,
da hipófise e realce homogêneo do contraste na RM cerebral. causas da 1.2.3.1.1 Migrânea hemiplégica familiar tipo 1
É acompanhada por hiperprolactinemia em 50% dos casos, (FHM1), foram excluídos em vários pacientes com 7.3.5
ou, em 20% dos casos, por autoanticorpos contra a proteína Síndrome da cefaleia e déficits neurológicos transitórios
do citosol hipofisário. com linfocitose do líquido cefalorraquidiano (HaNDL).
O transtorno desenvolve-se tipicamente ao fim da gesta- Também a ser excluídos estão a neuroborreliose, neuros-
ção ou durante o período pós-parto, mas também pode ocor- sífilis, neurobrucelose, micoplasma, aracnoidite granulo-
rer em homens. matosa e neoplásica, encefalite e vasculite do SNC.

Comentários: O quadro clínico de 7.3.5 Síndrome da cefaleia e


déficits neurológicos transitórios com linfocitose do líquido
7.3.5 Síndrome da cefaleia e déficits neurológicos cefalorraquidiano (HaNDL) é de 1-12 episódios distintos de
transitórios com linfocitose do líquido déficits neurológicos transitórios acompanhados ou seguidos
cefalorraquidiano (HaNDL) por cefaleia moderada a forte. A maioria dos episódios dura
horas, mas alguns podem durar mais de 24 horas. As manifes-
Termos previamente utilizados: Migrânea com pleocitose cere- tações neurológicas incluem sintomas sensoriais em cerca de
broespinhal; pseudomigrânea com pleocitose linfocítica. três quartos dos casos, afasia em dois terços e déficits motores
em pouco mais da metade. Sintomas visuais similares aos de
Descrição: Episódios migrânea-símiles (tipicamente de um uma aura migranosa são relativamente incomuns (menos de
a doze), acompanhados por déficits neurológicos incluindo 20% dos casos). A síndrome desaparece dentro de três meses.

102
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

Além da linfocitose liquórica (até 760 células/µl), há C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
hiperproteinorraquia (até 250 mg/dl) em mais de 90% dos dois dos seguintes:
casos e hipertensão liquórica (até 400 mm de LCR) em mais 1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal
de 50% dos casos. A presença de um pródromo viral em ao com o desenvolvimento do neoplasma, ou levou à
menos um quarto dos casos levantou a possibilidade de pato- sua descoberta
gênese autoimune na 7.3.5 Síndrome da cefaleia e déficits 2. um dos ou ambos os seguintes:
neurológicos transitórios com linfocitose do líquido cefalor- a) a cefaleia piorou, significativamente, em
raquidiano (HaNDL). Uma descrição recente de anticorpos paralelo com a piora do neoplasma
para uma subunidade do canal de cálcio voltagem-depen- b) a cefaleia melhorou, significativamente, em
dente tipo T CACNA1H, no soro de dois pacientes com esse relação temporal com o tratamento bem-su-
transtorno, corrobora essa visão. cedido do neoplasma
O papiledema está ocasionalmente presente. Exames de 3. a cefaleia possui ao menos uma das quatro seguin-
TC e RM de rotina (com ou sem contraste intravenoso) e tes características:
angiografia são invariavelmente normais quando realizados a) progressiva
no período interictal, mas os exames de imagem realizados b) piora pela manhã e/ou no decúbito
durante um episódio podem demonstrar atraso da perfusão c) agravada por manobras do tipo Valsalva
cerebral, sem aumento das alterações na imagem ponderada d) acompanhada por náusea e/ou vômito
em difusão, e estreitamento de artérias cerebrais. Além disso, D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
edema da substância cinzenta e realce dos sulcos foram des-
critos em um único paciente. Os estudos microbiológicos Comentários: A prevalência da cefaleia em pacientes com tumo-
têm sido uniformemente normais. Os exames de eletroence- res intracranianos varia de 32% a 71%. A probabilidade de
falografia (EEG) e de tomografia computadorizada por emis- cefaleia é maior nos pacientes jovens (incluindo as crianças),
são de fóton único (SPECT) podem mostrar áreas anormais naqueles com um histórico de cefaleia primária, e com o rápido
localizadas, consistentes com os déficits neurológicos focais. crescimento do tumor ou localização na fossa posterior ou na
linha média. Um baixo limiar para investigação é sugerido em
qualquer pacientes com histórico atual ou prévio de câncer.
7.4 Cefaleia atribuída a neoplasia Não há características patognomônicas da 7.4.1 Cefaleia
intracraniana atribuída a neoplasma intracraniano, embora a progressão ou
deterioração seja um ponto-chave. Os outros sintomas sugesti-
Descrição: Cefaleia causada por neoplasia intracraniana. vos (forte, pior pela manhã e associação a náusea e vômito) não
são uma tríade clássica; eles são mais prováveis no contexto
Critérios diagnósticos: da hipertensão intracraniana e com tumores da fossa posterior.
A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C A cefaleia não é necessariamente ipsilateral ao tumor.
B. Neoplasia intracraniana foi diagnosticada Massas adjacentes ao crânio ou à dura-máter tendem a ser
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos mais associadas a cefaleias ipsilaterais, mas a hipertensão
um dos seguintes: intracraniana produz uma cefaleia mais difusa. A cefaleia
1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal com causada por um tumor cerebral raramente permanece como
a neoplasia intracraniana, ou levou à sua descoberta sintoma único: a cefaleia isolada ocorre em 2-16% dos
2. a cefaleia piorou, significativamente, em paralelo pacientes, porém os déficits neurológicos e as crises epilép-
com a piora da neoplasia intracraniana ticas são comuns.
3. a cefaleia melhorou, significativamente, em rela-
ção temporal com o tratamento bem-sucedido da
neoplasia intracraniana 7.4.1.1 Cefaleia atribuída a cisto coloide
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. do terceiro ventrículo

Descrição: Cefaleia causada por um cisto coloide do terceiro


7.4.1 Cefaleia atribuída a neoplasma intracraniano ventrículo, apresentando-se muito caracteristicamente na
forma de crises recorrentes com início em trovoada, frequen-
Descrição: Cefaleia causada por um ou mais tumores intracra- temente desencadeadas por mudança postural ou por mano-
nianos com efeito de massa. bra do tipo Valsalva e associada a redução do nível ou perda
da consciência.
Critérios diagnósticos:
A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C Critérios diagnósticos:
B. Um neoplasma intracraniano, com efeito de massa, foi A. Cefaleia preenchendo o critério C
demonstrado B. Cisto coloide do terceiro ventrículo foi demonstrado

103
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

C. Evidência de causalidade demonstrada por ambos os 7.4.3 Cefaleia atribuída a hiper ou hipossecreção
seguintes: hipotalâmica ou hipofisária
1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal
com o desenvolvimento do cisto coloide, ou levou Descrição: Cefaleia causada por um adenoma hipofisário e por
à sua descoberta hiper ou hipossecreção hipotalâmica ou hipofisária, habitual-
2. um dos ou ambos os seguintes: mente acompanhada por transtorno da regulação da tempe-
a) a cefaleia é recorrente, com início em tro- ratura, estado emocional anormal e/ou sede ou apetite altera-
voada e acompanhada por redução do nível dos. Ela desaparece depois do tratamento bem-sucedido do
ou perda da consciência transtorno subjacente.
b) a cefaleia melhorou, significativamente, ou
desapareceu, em relação temporal com o tra- Critérios diagnósticos:
tamento bem-sucedido do cisto coloide A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. B. Hiper ou hipossecreção hipotalâmica ou hipofisária
associada a adenoma hipofisário foi demonstrada1
Comentários: A vasta maioria dos cistos coloides do terceiro C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
ventrículo são descobertos incidentalmente, tendo sido dois dos seguintes:
assintomáticos. Não obstante, sua posição imediatamente 1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal
adjacente ao forâmen de Monro pode, ocasionalmente, resul- com o início da hiper ou hipossecreção hipotalâ-
tar em uma hidrocefalia obstrutiva repentina, causando cefa- mica ou hipofisária
leia com início em trovoada e redução do nível ou perda da 2. um dos ou ambos os seguintes:
consciência. Essa apresentação altamente característica deve a) a cefaleia piorou, significativamente, em
levar ao rápido diagnóstico. paralelo com a piora da hiper ou hipossecre-
7.4.1.1 Cefaleia atribuída a cisto coloide do terceiro ven- ção hipotalâmica ou hipofisária
trículo sinaliza uma emergência que põe em risco a vida do b) a cefaleia melhorou, significativamente, em
paciente. paralelo com a melhora da hiper ou hiposse-
creção hipotalâmica ou hipofisária
3. a cefaleia está associada a ao menos um dos
7.4.2 Cefaleia atribuída a meningite carcinomatosa seguintes:
a) transtorno da regulação da temperatura
Descrição: Cefaleia causada por meningite carcinomatosa, b) estado emocional anormal
habitualmente acompanhada por sinais de encefalopatia e/ou c) sede e/ou apetite alterados
paralisias de nervos cranianos. D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.

Critérios diagnósticos: Nota:


A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C 1. Incluindo a hipersecreção de prolactina, hormônio do
B. Meningite carcinomatosa (na presença de neoplasia sis- crescimento (GH) e/ou hormônio adrenocorticotrófico
têmica reconhecidamente associada a meningite carci- (ACTH).
nomatosa) foi demonstrada
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
dois dos seguintes: 7.5 Cefaleia atribuída a injeção intratecal
1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal com
o desenvolvimento da meningite carcinomatosa Descrição: Cefaleia sentida tanto em postura ereta como em
2. um dos ou ambos os seguintes: decúbito, causada por e ocorrendo dentro de quatro dias após
a) a cefaleia piorou, significativamente, em para- uma injeção intratecal e desaparecendo dentro de 14 dias.
lelo com a piora da meningite carcinomatosa
b) a cefaleia melhorou, significativamente, Critérios diagnósticos:
em paralelo com a melhora da meningite A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
carcinomatosa B. Uma injeção intratecal foi administrada
3. a cefaleia está associada a paralisias de nervos cra- C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
nianos e/ou encefalopatia dois dos seguintes:
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. 1. a cefaleia desenvolveu-se dentro de quatro dias
após a injeção intratecal1
2. a cefaleia melhorou, significativamente, dentro de
14 dias após a injeção intratecal2
3. sinais de irritação meníngea

104
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. 7.6.1 Cefaleia epiléptica ictal

Notas: Termo previamente utilizado: Cefaleia ictal.


1. A cefaleia habitualmente desenvolve-se dentro de quatro
dias após a injeção intratecal e está presente em ambas as Descrição: Cefaleia causada por e ocorrendo durante uma crise
posturas, ereta e em decúbito. epiléptica parcial, ipsilateral à descarga epiléptica e desapa-
2. Quando a cefaleia persiste por mais de 14 dias, diag- recendo imediatamente ou logo após o término da crise.
nósticos alternativos devem ser considerados, tais como
7.2.2 Cefaleia por fístula liquórica, meningite ou doença Critérios diagnósticos:
leptomeníngea. A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
B. O paciente está apresentando uma crise epiléptica parcial
C. Evidência de causalidade demonstrada por ambos os
7.6 Cefaleia atribuída a crise epiléptica seguintes:
1. a cefaleia desenvolveu-se simultaneamente ao iní-
Codificada em outro local: Quando a cefaleia migrânea-símile – cio da crise parcial
ou outra – e epilepsia são ambas partes de um transtorno 2. um dos ou ambos os seguintes:
cerebral específico (p.ex. MELAS), a cefaleia é codificada a) a cefaleia é ipsilateral à descarga ictal
para aquele transtorno. Quando uma crise epiléptica ocorre b) a cefaleia melhorou, significativamente, ou
durante ou imediatamente após uma aura de migrânea, ela desapareceu imediatamente após o término
é codificada como 1.4.4 Crise epiléptica desencadeada por da crise parcial
aura migranosa. D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.

Descrição: Cefaleia causada por uma crise epiléptica, ocor- Comentários: A 7.6.1 Cefaleia epiléptica ictal pode ser seguida
rendo durante e/ou após a crise e desaparecendo espontanea- por outras manifestações epilépticas (motoras, sensoriais ou
mente dentro de horas ou de até três dias. autonômicas).
Esta condição deve ser diferenciada da cefaleia epilép-
Critérios diagnósticos: tica ictal “pura” ou “isolada” ocorrendo como a manifesta-
A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C ção epiléptica única e exigindo um diagnóstico diferencial de
B. O paciente está apresentando ou apresentou recente- outros tipos de cefaleia.
mente uma crise epiléptica A “hemicrania epiléptica” (se confirmada sua existência)
C. Evidência de causalidade demonstrada por ambos os é uma rara variante de 7.6.1 Cefaleia epiléptica ictal carac-
seguintes: terizada por localização ipsilateral à cefaleia e paroxismos
1. a cefaleia desenvolveu-se simultaneamente ao ou ictais no EEG.
logo após o início da crise epiléptica
2. a cefaleia desapareceu espontaneamente após o
término da crise epiléptica 7.6.2 Cefaleia pós-ictal
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
Descrição: Cefaleia causada por e ocorrendo dentro de três
Comentário: Relatos bem documentados apoiam o reconhe- horas após uma crise epiléptica, e desaparecendo esponta-
cimento dos subtipos 7.6.1 Cefaleia epiléptica ictal e 7.6.2 neamente dentro de 72 horas após o término da crise.
Cefaleia pós-ictal, de acordo com a sua associação temporal
à crise epiléptica. Critérios diagnósticos:
Uma cefaleia pré-ictal também tem sido descrita. Em um A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
pequeno estudo de 11 pacientes com epilepsia focal intratá- B. O paciente apresentou recentemente uma crise epilép-
vel, uma cefaleia frontotemporal foi ipsilateral ao foco em tica parcial ou generalizada
nove pacientes com epilepsia do lobo temporal (ELT) e con- C. Evidência de causalidade demonstrada por ambos os
tralateral em um paciente com ELT e um com epilepsia do seguintes:
lobo frontal. São necessários mais estudos para estabelecer 1. a cefaleia desenvolveu-se dentro de três horas após
a existência da cefaleia pré-ictal e para determinar a sua pre- o término da crise epiléptica
valência e as suas características clínicas em pacientes com 2. a cefaleia desapareceu dentro de 72 horas após o
epilepsia parcial e generalizada. A cefaleia pré-ictal também término da crise epiléptica
deve ser distinguida da 1.4.4 Crise epiléptica desencadeada D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
por aura migranosa.
Comentário: A 7.6.2 Cefaleia pós-ictal ocorre em mais de
40% dos pacientes que apresentam tanto epilepsia do lobo

105
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

temporal como epilepsia do lobo frontal, e em até 60% dos apresentar-se com cefaleia relacionada à tosse ou outra
pacientes com epilepsia do lobo occipital. Ela ocorre mais manobra do tipo Valsalva, e são corretamente codificados
frequentemente após crises tônico-clônicas generalizadas do tanto como 7.1.1 Cefaleia atribuída a hipertensão intra-
que após outros tipos de crises. craniana idiopática quanto como 7.2.3 Cefaleia atri-
buída a hipotensão intracraniana espontânea. Portanto,
a pressão liquórica anormal deve ser excluída em todos
7.7 Cefaleia atribuída a malformação de os pacientes que se apresentam com cefaleia e CM1.
Chiari tipo I (CM1)
Comentários: A 7.7 Cefaleia atribuída a malformação de
Descrição: Cefaleia causada por malformação de Chiari tipo Chiari tipo I (CM1) é com frequência descritivamente similar
I, habitualmente occipital ou suboccipital, de curta duração à 4.1 Cefaleia primária da tosse, com a exceção de, às vezes,
(menos de 5 minutos) e provocada por tosse ou outras mano- ter duração mais longa (minutos no lugar de segundos).
bras do tipo Valsalva. Ela desaparece após o tratamento bem- Estudos de prevalência demonstraram herniação tonsilar
-sucedido da malformação de Chiari. de ao menos 5mm em 0,24-3,6% da população, com a preva-
lência decrescendo com o avançar da idade.
Critérios diagnósticos: O contexto clínico da CM1 é importante, já que muitos
A. Cefaleia preenchendo o critério C destes pacientes podem ser assintomáticos. Existem dados
B. Malformação de Chiari tipo I (CM1) foi demonstrada1 conflitantes sobre o grau da herniação e a gravidade da cefa-
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos leia associada e o nível de incapacidade: os pacientes podem
dois dos seguintes: exibir sintomas “tipo Chiari” com herniação tonsilar cerebe-
1. um dos ou ambos os seguintes: lar mínima, enquanto outros podem ser assintomáticos com
a) a cefaleia desenvolveu-se em relação tempo- grandes herniações.
ral com a CM1 ou levou à sua descoberta Esses critérios para 7.7 Cefaleia atribuída a malforma-
b) a cefaleia desapareceu dentro de três meses ção de Chiari tipo I (CM1) exigem validação: são necessá-
após o tratamento bem-sucedido da CM1 rios estudos prospectivos com desfechos cirúrgicos e não
2. a cefaleia apresenta uma ou mais das três seguintes cirúrgicos de longo prazo. Enquanto isso, a rígida adesão
características: tanto aos critérios clínicos como radiológicos é recomendada
a) precipitada por tosse ou outra manobra do ao se considerar a intervenção cirúrgica, para evitar um pro-
tipo Valsalva cedimento desnecessário, com potencial de morbidade cirúr-
b) localização occipital ou suboccipital gica significativo. Dados atuais sugerem que, em pacientes
c) duração < 5 minutos cuidadosamente selecionados, cefaleias associadas à tosse,
3. a cefaleia está associada a outros sintomas e/ou mais do que as cefaleias sem precipitantes do tipo Valsalva –
sinais clínicos de disfunção do tronco cerebral, e as cefaleias occipitais, mais do que as não occipitais – são
cerebelar, dos nervos cranianos inferiores e/ou da responsivas à intervenção cirúrgica.
medula espinhal cervical2 Novos dados que estão surgindo sugerem uma relação
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.3 entre obesidade e probabilidade de cefaleia na CM1; este
achado requer pesquisa adicional, especialmente sob o ponto
Notas: de vista do tratamento.
1. O diagnóstico de malformação de Chiari tipo I (CM1)
por RM requer um rebaixamento caudal das tonsilas
cerebelares de 5 mm ou um rebaixamento caudal das ton- 7.8 Cefaleia atribuída a outro transtorno
silas cerebelares de 3 mm somado à ocupação excessiva intracraniano não vascular
(crowding) do espaço subaracnóideo na junção cranio-
cervical, como evidenciado pela compressão dos espa- Descrição: Cefaleia causada por um transtorno intracraniano
ços liquóricos posteriores e laterais ao cerebelo, ou pela não vascular diferente dos descritos acima.
altura reduzida da região supra-occipital, ou pela inclina-
ção aumentada do tentório, ou pela angulação do bulbo. Critérios diagnósticos:
2. Quase todos (95%) os pacientes com CM1 relatam uma A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
constelação de cinco ou mais sintomas distintos. B. Um transtorno intracraniano não vascular reconhecida-
3. Pacientes com pressão liquórica alterada, tanto aumen- mente capaz de causar cefaleia, diferente dos descritos
tada como na hipertensão intracraniana idiopática acima, foi demonstrado
(HII) como reduzida como na hipotensão intracraniana C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
espontânea secundária a um vazamento de LCR, podem dois dos seguintes:
demonstrar evidência na RM de rebaixamento tonsi- 1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal
lar secundário e CM1. Esses pacientes também podem com o transtorno intracraniano não vascular

106
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

2. um dos ou ambos os seguintes: 7.2.3 Cefaleia atribuída a hipotensão intracraniana


a) a cefaleia desenvolveu-se, ou piorou signi- espontânea
ficativamente, em paralelo com a piora do Mea E, Chiapparini L, Savoiardo M, et al. Application of IHS cri-
transtorno intracraniano não vascular teria to headache attributed to spontaneous intracranial hypo-
b) a cefaleia melhorou, significativamente, em tension in a large population. Cephalalgia 2009; 29: 418–422.
paralelo com a melhora do transtorno intra- Reinstein E, Pariani M, Bannykh S, et al. Connective tissue spectrum
craniano não vascular abnormalities associated with spontaneous cerebrospinal fluid
3. a cefaleia tem características típicas para o trans- leaks: a prospective study. Eur J Hum Genet 2013; 21: 386–390.
torno intracraniano não vascular Schievink WI. Spontaneous spinal cerebrospinal fluid leaks and
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109
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

8. Cefaleia atribuída a uma Codificadas em outro local:


substância ou à sua supressão
7.1.2 Cefaleia atribuída a hipertensão intracraniana secun-
8.1 Cefaleia atribuída ao uso de ou à exposição a uma substância dária a causas metabólicas, tóxicas ou hormonais; 7.3.2
8.1.1 Cefaleia induzida por doador de óxido nítrico (NO) Cefaleia atribuída a meningite asséptica (não infecciosa).
8.1.1.1 Cefaleia imediata induzida por doador de NO
8.1.1.2 Cefaleia tardia induzida por doador de NO
8.1.2 Cefaleia induzida por inibidor da fosfodiesterase Comentário geral
8.1.3 Cefaleia induzida por monóxido de carbono (CO)
8.1.4 Cefaleia induzida por álcool Primária, secundária ou ambas? As regras gerais para atribui-
8.1.4.1 Cefaleia imediata induzida por álcool ção a outro transtorno aplicam-se com alguma adaptação a
8.1.4.2 Cefaleia tardia induzida por álcool 8. Cefaleia atribuída a uma substância ou à sua supressão.
8.1.5 Cefaleia induzida por cocaína
8.1.6 Cefaleia induzida por histamina 1. Quando uma cefaleia nova ocorre pela primeira vez em
8.1.6.1 Cefaleia imediata induzida por histamina estreita relação temporal com a exposição a ou com a
8.1.6.2 Cefaleia tardia induzida por histamina supressão de uma substância, ela é codificada como uma
8.1.7 Cefaleia induzida por peptídeo relacionado ao gene da cefaleia secundária atribuída à exposição a uma subs-
calcitonina (CGRP) tância ou à sua supressão. Isto permanece verdadeiro
8.1.7.1 Cefaleia imediata induzida por CGRP quando a nova cefaleia possui as características de qual-
8.1.7.2 Cefaleia tardia induzida por CGRP quer uma das cefaleias primárias classificadas na Parte
8.1.8 Cefaleia atribuída a agente pressórico agudo exógeno Um da ICHD-3.
8.1.9 Cefaleia atribuída ao emprego ocasional de medicamento 2. Quando uma cefaleia pré-existente, com as caracte-
não utilizado para cefaleia rísticas de uma cefaleia primária, torna-se crônica ou
8.1.10 Cefaleia atribuída ao emprego prolongado de medica- piora significativamente (significando habitualmente um
mento não utilizado para cefaleia aumento de duas ou mais vezes na sua frequência e/ou
8.1.11 Cefaleia atribuída ao uso de ou à exposição a outra gravidade) em estreita relação temporal com a exposi-
substância ção a uma substância ou com a sua supressão, tanto o
8.2 Cefaleia por uso excessivo de medicamentos (MOH/CEM) diagnóstico inicial de cefaleia como o diagnóstico de 8.
8.2.1 Cefaleia por uso excessivo de ergotamina Cefaleia atribuída a uma substância ou à sua supressão
8.2.2 Cefaleia por uso excessivo de triptana (ou um dos seus tipos ou subtipos) devem ser dados, con-
8.2.3 Cefaleia por uso excessivo de analgésico não opioide tanto que existam boas evidências de que a exposição a
8.2.3.1 Cefaleia por uso excessivo de paracetamol esta substância ou a sua supressão podem causar cefaleia.
(acetaminofeno) 3. Certas subformas de cefaleia atribuídas à exposição a
8.2.3.2 Cefaleia por uso excessivo de anti-inflamatório uma substância farmacológica ativa ocorrem algumas
não esteroidal (AINE) horas após a exposição e somente em um paciente com
8.2.3.2.1 Cefaleia por uso excessivo de ácido acetilsalicílico uma cefaleia primária, fenomenologicamente asseme-
8.2.3.3 Cefaleia por uso excessivo de outro analgésico não lhando-se ao tipo da cefaleia primária. Presume-se que
opioide elas são mecanisticamente distintas, respondendo a um
8.2.4 Cefaleia por uso excessivo de opioide estímulo não fisiológico e são, portanto, consideradas
8.2.5 Cefaleia por uso excessivo de combinação de analgésicos secundárias. Os diagnósticos devem ser dados tanto para
8.2.6 Cefaleia por uso excessivo de medicamentos atribuída a a cefaleia primária como para a subforma apropriada de
múltiplas classes de medicamentos não individualmente 8.1 Cefaleia atribuída ao uso de ou à exposição a uma
utilizadas em excesso substância.
8.2.7 Cefaleia por uso excessivo de medicamentos atribuída ao
uso excessivo não especificado ou não verificado de múlti-
plas classes de fármacos Introdução
8.2.8 Cefaleia por uso excessivo de medicamentos atribuída a
outro medicamento Os indivíduos com 1. Migrânea são fisiológica e, talvez,
8.3 Cefaleia atribuída a supressão de uma substância psicologicamente hiper-responsivos a uma variedade de
8.3.1 Cefaleia por supressão de cafeína estímulos internos e externos. Álcool, alimentos e aditivos
8.3.2 Cefaleia por supressão de opioide alimentares, além da ingestão e da supressão de fármacos,
8.3.3 Cefaleia por supressão de estrogênio todos foram relatados como provocadores ou ativadores da
8.3.4 Cefaleia atribuída à supressão do uso crônico de outra migrânea em indivíduos suscetíveis.
substância Associações entre cefaleia e substâncias são frequente-
mente anedóticas, muitas baseadas em relatos de reações

110
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

farmacológicas adversas. O fato de haver associação com talmente para estudar a relação entre efeitos de fármacos e
cefaleia não constitui prova de uma relação causal, nem eli- cefaleia. Em alguns casos, por exemplo os doadores de óxido
mina a necessidade de considerar outras etiologias. Uma vez nítrico (NO), esses estudos têm levado a um entendimento
que eventos comuns acontecem comumente, uma associação mais profundo do envolvimento dos mecanismos de neuro-
entre cefaleia e a exposição a uma substância pode ser mera transmissão nas cefaleias primárias.
coincidência. A cefaleia pode ocorrer ao acaso. A cefaleia Em geral, as pessoas com 1. Migrânea são muito mais
pode ser o sintoma de uma doença sistêmica, e medicamen- suscetíveis a essas cefaleias do que os outros indivíduos, e
tos administrados para tratar tal condição serão associados o mesmo pode ser verdade para pessoas com 2. Cefaleia do
à cefaleia. Em ensaios com fármacos para o tratamento da tipo tensão ou 3.1 Cefaleia em salvas. Várias substâncias,
migrânea aguda, a cefaleia e os sintomas associados, parti- como os doadores de NO e a histamina, induzem uma cefa-
cularmente, são listados como reações adversas ao medica- leia imediata tanto em voluntários normais como em migra-
mento, a despeito de serem sintomas do transtorno tratado e nosos. No entanto, está claro atualmente que as pessoas que
não um resultado do tratamento. Alguns transtornos podem apresentam cefaleias primárias também podem desenvolver
predispor à cefaleia associada a fármacos: isoladamente, uma cefaleia tardia, de uma a várias horas após a substância
nem o fármaco, nem a condição produziriam a cefaleia. ter sido eliminada do sangue.
Os critérios gerais para as cefaleias aqui listadas são: O conhecimento dos potenciais efeitos de indução de
cefaleia por parte de substâncias em uso clínico é impor-
A. Cefaleia preenchendo o critério C tante, a fim de classificar essas substâncias de forma apro-
B. Ocorreu uso, exposição ou supressão de uma substância priada. Combinações como álcool e dissulfiram podem cau-
sabidamente capaz de causar cefaleia sar cefaleia, enquanto que esses agentes, individualmente,
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos podem não o fazer.
dois dos seguintes: Paradoxalmente, a cefaleia experimentada pela maioria
1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal das pessoas após a ingestão de grande quantidade de álcool
com o uso, exposição ou supressão da substância. pode ser um fator positivo, uma vez que ela encoraja a que
2. qualquer um dos seguintes: se evite o seu uso excessivo.
a) a cefaleia melhorou significativamente ou As substâncias que causam cefaleia através dos seus efei-
desapareceu em estreita relação temporal tos tóxicos, tais como o monóxido de carbono, não podem
com a interrupção do uso ou da exposição à ser estudadas de modo experimental. A relação causal entre
substância exposição e cefaleia deve, portanto, ser demonstrada em
b) a cefaleia melhorou significativamente ou casos clínicos nos quais a substância tenha sido utilizada aci-
desapareceu dentro de um período definido dentalmente ou em uma tentativa de suicídio.
após a supressão da substância
3. a cefaleia possui as características típicas do uso,
exposição ou supressão da substância 8.1.1 Cefaleia induzida por doador de óxido nítrico (NO)
4. há outra evidência de causalidade
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. Descrição: Cefaleia causada, imediatamente ou após alguma
demora, pela exposição aguda a um doador de óxido nítrico.
Ela desaparece espontaneamente.
8.1 Cefaleia atribuída ao uso de ou à
exposição a uma substância Comentários: A 8.1.1 Cefaleia induzida por doador de óxido
nítrico (NO) é tipicamente frontotemporal e pulsátil. Todos
Descrição: Cefaleia causada pelo uso de ou exposição a uma os doadores de NO (p.ex. nitrato de amila, tetranitrato de
substância, com início imediato ou dentro de horas. eritritil, tetranitrato de pentaeritritol, trinitrato de gliceril
(GTN), mono- ou dinitrato de isossorbida, nitroprussiato de
Comentários: A 8.1 Cefaleia atribuída ao uso de ou à exposi- sódio, hexanitrato de manitol) podem causar uma cefaleia
ção a uma substância pode ser um efeito indesejado de uma desse subtipo.
substância em uso terapêutico normal ou em estudos experi- O GTN induz cefaleia imediata na maioria das pessoas
mentais, ou causada por uma substância tóxica. normais, mas também pode causar uma cefaleia tardia em
A cefaleia como efeito colateral tem sido registrada com indivíduos com 1. Migrânea que preenchem os critérios
muitos fármacos, meramente refletindo, muitas vezes, a sua diagnósticos para 1.1 Migrânea sem aura. Em indivíduos
alta prevalência. Somente quando ocorre mais frequente- com 2.3 Cefaleia do tipo tensão crônica, tem sido demons-
mente após o uso de uma substância ativa do que após o uso trado que o GTN induz uma cefaleia tardia que tem as carac-
de placebo, em ensaios duplo cegos controlados, a cefaleia terísticas de 2. Cefaleia do tipo tensão (o efeito naqueles
pode ser considerada um efeito colateral verdadeiro. O deli- com 2.1 Cefaleia do tipo tensão episódica infrequente ou 2.2
neamento duplo-cego pode também ser utilizado experimen- Cefaleia do tipo tensão episódica frequente é desconhecido).

111
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

Estas cefaleias tardias ocorrem, em média, cinco a seis horas Nota:


após a exposição. Pessoas com 3.1 Cefaleia em salvas desen- 1. Fenomenologicamente, a 8.1.1.2 Cefaleia tardia indu-
volvem cefaleia tardia apenas durante os períodos de salva: o zida por doador de NO assemelha-se ao tipo primário de
GTN habitualmente induz uma crise de cefaleia em salvas de cefaleia do paciente, mas é considerada como secundá-
uma a duas horas pós o seu uso. ria, atribuída ao fármaco. O paciente deve ser codificado
A cefaleia é um efeito colateral do uso terapêutico da tanto para a cefaleia primária como para 8.1.1.2 Cefaleia
nitroglicerina. Com o uso crônico, a tolerância desenvolve- tardia induzida por doador de NO.
-se dentro de uma semana, e a cefaleia induzida por GTN
desaparece, na maioria dos pacientes, dentro desse período. Comentário: Embora a 8.1.1.2 Cefaleia tardia induzida por
Outros doadores de NO utilizados terapeuticamente tam- doador de NO ocorra somente em um indivíduo afetado por
bém podem causar cefaleia. O mononitrato de isossorbida uma cefaleia primária e fenomenologicamente se assemelhe
foi objeto de um estudo formal duplo-cego controlado por àquela cefaleia, presume-se que possui mecanismo diferente
placebo, e causa uma cefaleia de duração muito maior que o
GTN, devido à sua liberação lenta de NO.
8.1.2 Cefaleia induzida por inibidor da fosfodiesterase

8.1.1.1 Cefaleia imediata induzida por doador de NO Descrição: Cefaleia causada pela ingestão de um inibidor da
fosfodiesterase (PDE), desaparecendo espontaneamente
Termos previamente utilizados: Cefaleia da nitroglicerina; cefa- dentro de 72 horas.
leia da dinamite; cefaleia do cachorro-quente.
Critérios diagnósticos:
Critérios diagnósticos: A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C B. Um inibidor da fosfodiesterase foi ingerido
B. Ocorreu a absorção de um doador de óxido nítrico (NO) C. Evidência de causalidade demonstrada por todos os
C. Evidência de causalidade demonstrada por todos os seguintes:
seguintes: 1. a cefaleia desenvolveu-se dentro de 5 horas após a
1. a cefaleia desenvolveu-se dentro de uma hora após ingestão do inibidor da fosfodiesterase
a absorção do doador de NO 2. a cefaleia desapareceu dentro de 72 horas após o
2. a cefaleia desapareceu dentro de uma hora após o seu início
término da liberação de NO 3. a cefaleia possui ao menos uma das quatro seguin-
3. a cefaleia possui ao menos uma das quatro seguin- tes características:
tes características: a) bilateral
a) bilateral b) intensidade fraca a moderada
b) intensidade fraca a moderada c) qualidade pulsátil
c) qualidade pulsátil d) agravada por atividade física
d) agravada por atividade física D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
Comentário: As fosfodiesterases (PDEs) são enzimas que
decompõem o GMPc e o AMPc. Os inibidores da PDE-5,
8.1.1.2 Cefaleia tardia induzida por doador de NO sildenafil e dipiridamol, aumentam os níveis de GMPc e/
ou AMPc. A cefaleia resultante é habitualmente análoga à
Critérios diagnósticos: cefaleia do tipo tensão, mas em pessoas com 1. Migrânea
A. Cefaleia, em uma pessoa afetada por uma cefaleia pri- (as quais devem ser avisadas sobre esse efeito colateral), ela
mária e com as características daquele tipo de cefaleia, possui as características de 1.1 Migrânea sem aura.
preenchendo o critério C
B. Ocorreu a absorção de um doador de óxido nítrico (NO)
C. Evidência de causalidade demonstrada por ambos os 8.1.3 Cefaleia induzida por monóxido de carbono (CO)
seguintes:
1. a cefaleia desenvolveu-se dentro de 2-12 horas Termo previamente utilizado: Cefaleia dos trabalhadores de
após a exposição ao doador de NO e depois que o depósitos.
NO foi eliminado da corrente sanguínea
2. a cefaleia desapareceu dentro de 72 horas após a Descrição: Cefaleia causada pela exposição ao monóxido
exposição de carbono, desaparecendo espontaneamente dentro de 72
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.1 horas após a eliminação desse.

112
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

Critérios diagnósticos: álcool. A dose efetiva de álcool necessária para causar a pri-
A. Cefaleia bilateral preenchendo o critério C meira é variável: em pessoas que apresentam 1. Migrânea,
B. Ocorreu exposição a monóxido de carbono (CO) ela pode ser algumas vezes muito pequena, enquanto que em
C. Evidência de causalidade demonstrada por todos os outros momentos elas podem tolerar álcool no mesmo nível
seguintes: que os não migranosos.
1. a cefaleia desenvolveu-se dentro de 12 horas após
a exposição ao CO
2. a intensidade da cefaleia varia de acordo com a 8.1.4.2 Cefaleia tardia induzida por álcool
gravidade da intoxicação por CO
3. a cefaleia desapareceu dentro de 72 horas após a Termo previamente utilizado: Cefaleia da ressaca.
eliminação do CO
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. Descrição: Cefaleia causada, depois de um atraso de horas,
pela ingestão de álcool (habitualmente na forma de bebidas
Comentários: Tipicamente, níveis de carboxihemoglobina de alcoólicas). Ela desaparece espontaneamente dentro de 72
10% a 20% causam uma cefaleia leve, sem sintomas gas- horas.
trointestinais ou neurológicos; níveis de 20% a 30% causam
uma cefaleia pulsátil moderada e irritabilidade; e níveis de Critérios diagnósticos:
30% a 40% causam uma cefaleia forte, com náusea, vômi- A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
tos e visão borrada. Em níveis acima de 40%, habitual- B. Foi ingerido álcool
mente a cefaleia não é uma queixa, devido à alteração na C. Evidência de causalidade demonstrada por todos os
consciência. seguintes:
Não há bons estudos sobre os efeitos de longo prazo da 1. a cefaleia desenvolveu-se dentro de 5-12 horas
intoxicação por CO sobre a cefaleia, mas há alguma evidên- após a ingestão de álcool
cia acerca de cefaleia crônica pós-intoxicação por CO. 2. a cefaleia desapareceu dentro de 72 horas após o
seu início
3. a cefaleia possui ao menos uma das três seguintes
8.1.4 Cefaleia induzida por álcool características:
a) bilateral
Descrição: Cefaleia causada, imediatamente ou após alguma b) qualidade pulsátil
demora, pela ingestão de álcool (habitualmente na forma de c) agravada por atividade física
bebidas alcoólicas). Ela desaparece espontaneamente. D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.

Comentário: A 8.1.4.2 Cefaleia tardia induzida por álcool é


8.1.4.1 Cefaleia imediata induzida por álcool uma das cefaleias secundárias mais comuns. Se a cefaleia
tardia é um efeito tóxico - ou uma manifestação de meca-
Termo previamente utilizado: Cefaleia do coquetel. nismos similares àqueles da 8.1.1.2 Cefaleia tardia induzida
por doador de NO - é uma questão não resolvida.
Critérios diagnósticos:
A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
B. Foi ingerido álcool 8.1.5 Cefaleia induzida por cocaína
C. Evidência de causalidade demonstrada por todos os
seguintes: Descrição: Cefaleia que se desenvolve dentro de uma hora e
1. a cefaleia desenvolveu-se dentro de três horas após causada pela administração de cocaína por qualquer via. Ela
a ingestão de álcool desaparece espontaneamente dentro de 72 horas
2. a cefaleia desapareceu dentro de 72 horas após a
interrupção da ingestão de álcool Critérios diagnósticos:
3. a cefaleia possui ao menos uma das três seguintes A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
características: B. Cocaína foi administrada por qualquer via
a) bilateral C. Evidência de causalidade demonstrada por todos os
b) qualidade pulsátil seguintes:
c) agravada por atividade física 1. a cefaleia desenvolveu-se dentro de uma hora após
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. a administração da cocaína
2. a cefaleia desapareceu dentro de 72 horas após a
Comentário: A 8.1.4.1 Cefaleia imediata induzida por álcool administração da cocaína
é bem mais rara do que a 8.1.4.2 Cefaleia tardia induzida por 3. a cefaleia possui ao menos uma das quatro seguin-

113
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

tes características: 8.1.6.2 Cefaleia tardia induzida por histamina


a) bilateral
b) intensidade fraca a moderada Critérios diagnósticos:
c) qualidade pulsátil A. Cefaleia, em uma pessoa afetada por uma cefaleia pri-
d) agravada por atividade física mária e com as características daquele tipo de cefaleia,
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. preenchendo o critério C
B. Foi administrada histamina
Comentário: As principais vias de administração da cocaína C. Evidência de causalidade demonstrada por ambos os
são a oral (“mascar”), intranasal (“cafungar”), intravenosa seguintes:
(“pico”) e inalação (fumar). 1. a cefaleia desenvolveu-se dentro de 2-12 horas
após a administração da histamina
2. a cefaleia desapareceu dentro de 72 horas após a
8.1.6 Cefaleia induzida por histamina administração da histamina
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da
Descrição: Cefaleia causada, imediatamente ou após alguma ICHD-3.1
demora, pela exposição aguda à histamina. Ela desaparece
espontaneamente. Nota:
1. Fenomenologicamente, a 8.1.6.2 Cefaleia tardia indu-
Comentários: A histamina tem um efeito similar quando zida por histamina assemelha-se ao tipo de cefaleia pri-
administrada por via subcutânea, inalatória ou intravenosa. mária do paciente, mas é considerada como secundária,
O mecanismo é mediado primariamente via receptor H1 e é atribuída ao fármaco. O paciente deve ser codificado
quase completamente bloqueado pela mepiramina. tanto para a cefaleia primária como para 8.1.6.2 Cefaleia
A histamina causa uma cefaleia imediata na maioria das tardia induzida por histamina.
pessoas, mas também pode causar uma cefaleia tardia em
pessoas com 1. Migrânea, a qual preenche os critérios diag- Comentário: Embora a 8.1.6.2 Cefaleia tardia induzida por
nósticos para 1.1 Migrânea sem aura. Em pessoas com 2. histamina ocorra somente em um indivíduo afetado por
Cefaleia do tipo tensão, a histamina pode induzir uma cefa- uma cefaleia primária e fenomenologicamente se assemelhe
leia tardia a qual possui as características daquele transtorno. àquela cefaleia, presume-se que possui mecanismo diferente.
Essas cefaleias tardias ocorrem, em média, cinco a seis horas
após a exposição. As pessoas com 3.1 Cefaleia em salvas
desenvolvem cefaleia tardia com as características daquele 8.1.7 Cefaleia induzida por peptídeo relacionado ao
transtorno somente durante os períodos de salva, habitual- gene da calcitonina (CGRP)
mente uma a duas horas após a exposição.
Descrição: Cefaleia causada, imediatamente ou após
alguma demora, pela exposição aguda ao peptídeo rela-
8.1.6.1 Cefaleia imediata induzida por histamina cionado ao gene da calcitonina (CGRP). Ela desaparece
espontaneamente.
Critérios diagnósticos:
A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C Comentários: O peptídeo relacionado ao gene da calcitonina
B. Foi administrada histamina (CGRP), administrado por infusão, causa uma cefaleia ime-
C. Evidência de causalidade demonstrada por todos os diata. Ele pode também causar uma cefaleia tardia em pes-
seguintes: soas com 1. Migrânea, em média cinco a seis horas após a
1. a cefaleia desenvolveu-se dentro de uma hora após exposição, a qual preenche os critérios diagnósticos para 1.1
a absorção da histamina Migrânea sem aura.
2. a cefaleia desapareceu dentro de uma hora após o Um crescente número de antagonistas do receptor de
termino da absorção da histamina CGRP têm sido identificados como efetivos no tratamento
3. a cefaleia possui ao menos uma das quatro seguin- agudo da migrânea.
tes características:
a) bilateral
b) intensidade fraca a moderada 8.1.7.1 Cefaleia imediata induzida por CGRP
c) qualidade pulsátil
d) agravada por atividade física Critérios diagnósticos:
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C

114
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

B. Foi administrado peptídeo relacionado ao gene da calci- Critérios diagnósticos:


tonina (CGRP) A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
C. Evidência de causalidade demonstrada por todos os B. Um aumento agudo da pressão arterial ocorreu após a
seguintes: administração de um agente pressórico exógeno
1. a cefaleia desenvolveu-se dentro de uma hora após C. Evidência de causalidade demonstrada por ambos os
a absorção do CGRP seguintes:
2. a cefaleia desapareceu dentro de uma hora após o 1. a cefaleia ocorreu dentro de uma hora após a admi-
término da absorção do CGRP nistração do agente pressórico
3. a cefaleia possui ao menos uma das quatro seguin- 2. a cefaleia desapareceu dentro de 72 horas após o
tes características: término da administração do agente pressórico
a) bilateral D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
b) intensidade fraca a moderada
c) qualidade pulsátil
d) agravada por atividade física 8.1.9 Cefaleia atribuída ao emprego ocasional de
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. medicamento não utilizado para cefaleia

Descrição: Cefaleia ocorrendo como um evento adverso


8.1.7.2 Cefaleia tardia induzida por CGRP agudo após o uso ocasional de um medicamento utilizado
com outros fins que não o tratamento de cefaleia.
Critérios diagnósticos:
A. Cefaleia, em uma pessoa afetada por 1. Migrânea, e Critérios diagnósticos:
com as características dessa cefaleia, preenchendo o A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
critério C. B. Uma ou mais doses de medicamento foram ingeridas
B. Foi administrado o peptídeo relacionado ao gene da cal- com outros fins que não o tratamento de cefaleia
citonina (CGRP) C. Evidência de causalidade demonstrada por ambos os
C. Evidência de causalidade demonstrada por ambos os seguintes:
seguintes: 1. a cefaleia desenvolveu-se dentro de minutos a
1. a cefaleia desenvolveu-se dentro de 2-12 horas horas após o uso
após a administração do CGRP 2. a cefaleia desapareceu dentro de 72 horas após o
2. a cefaleia desapareceu dentro de 72 horas após o término do uso
término da administração do CGRP D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.1
Comentários: A 8.1.9 Cefaleia atribuída ao emprego ocasio-
Nota: nal de medicamento não utilizado para cefaleia tem sido
1. Fenomenologicamente, a 8.1.7.2 Cefaleia tardia induzida relatada com um evento adverso após o uso de muitos fár-
por CGRP assemelha-se à migrânea, mas é considerada macos. Os seguintes são os mais comumente incriminados:
como secundária, atribuída ao fármaco. O paciente deve atropina, digitálicos, dissulfiram, hidralazina, imipramina,
ser codificado tanto para o tipo ou subtipo apropriado de nicotina, nifedipino, nimodipino, sildenafila.
1. Migrânea e para 8.1.7.2 Cefaleia tardia induzida por As características da cefaleia não estão muito bem defi-
CGRP. nidas na literatura e provavelmente dependem do fármaco,
mas na maioria dos casos a cefaleia é dolente, contínua,
Comentário: Embora a 8.1.7.2 Cefaleia tardia induzida por difusa e de intensidade moderada a forte.
CGRP ocorra somente em um indivíduo afetado por 1.
Migrânea e fenomenologicamente se assemelhe a esse tipo
de cefaleia, presume-se que possui mecanismo diferente. 8.1.10 Cefaleia atribuída ao emprego prolongado de
medicamento não utilizado para cefaleia

8.1.8 Cefaleia atribuída a agente pressórico Codificadas em outro local: A cefaleia que se desenvolve como
agudo exógeno uma complicação do uso excessivo de longo prazo de medi-
cação para tratamento agudo de cefaleia por um indivíduo
Descrição: Cefaleia ocorrendo durante e causada por aumento com cefaleia codificada como 8.2 Cefaleia por uso excessivo
agudo da pressão arterial induzido por um agente pressórico de medicamentos ou um dos seus subtipos.
exógeno. A cefaleia que ocorre durante uma pausa no uso de con-
traceptivos orais combinados é codificada como 8.3.3 Cefa-
leia por supressão de estrogênio.

115
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

Descrição: Cefaleia que se desenvolve como um evento ocorre apenas durante a pausa no uso do contraceptivo oral
adverso durante o uso prolongado de um medicamento utili- combinado é codificada como 8.3.3 Cefaleia por supressão
zado para outros fins que não o tratamento de cefaleia. Não é de estrogênio.
necessariamente reversível. De outro modo, a 8.1.10 Cefaleia atribuída ao emprego
prolongado de medicamento não utilizado para cefaleia pode
Critérios diagnósticos: ser devida a um efeito farmacológico direto da medicação,
A. Cefaleia presente em ≥15 dias/mês e preenchendo o cri- tal como vasoconstrição produzindo hipertensão maligna, ou
tério C a um efeito secundário tal como hipertensão intracraniana
B. Ocorreu o uso prolongado de um medicamento para induzida por fármaco. Essa última é uma complicação reco-
outros fins que não o tratamento de cefaleia nhecida do uso prolongado dos esteroides anabólicos, amio-
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos darona, carbonato de lítio, ácido nalidíxico, terapia de repo-
dois dos seguintes: sição hormonal tireoideia, tetraciclina e minociclina.
1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal
com o início do uso do medicamento
2. um ou mais dos seguintes: 8.1.11 Cefaleia atribuída ao uso de ou à exposição a
a) a cefaleia piorou significativamente após um outra substância
aumento da dose do medicamento
b) a cefaleia melhorou significativamente ou Descrição: Cefaleia que ocorre durante ou logo após o, e é cau-
desapareceu após a redução da dose do sada pelo, uso ou exposição a uma substância diferente das
medicamento descritas acima, incluindo substâncias herbáceas, animais,
c) a cefaleia desapareceu após a interrupção do ou outras substâncias orgânicas ou inorgânicas prescritas por
medicamento médicos ou não médicos, com fins medicinais, embora não
d) o medicamento é reconhecidamente capaz de licenciadas como produtos medicinais.
causar cefaleia, ao menos em algumas pes-
soas, durante o uso prolongado Critérios diagnósticos:
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
B. Ocorreu exposição a uma substância diferente das des-
Comentários: A dosagem e a duração do uso ou da exposi- critas acima
ção prolongada que podem resultar em cefaleia variam de C. Evidência de causalidade demonstrada por ambos os
medicamento para medicamento. Do mesmo modo, o tempo seguintes:
necessário para o desaparecimento dessa também varia – 1. a cefaleia desenvolveu-se dentro de 12 horas após
quando o efeito é reversível. a exposição
Os hormônios exógenos, habitualmente utilizados para 2. a cefaleia desapareceu dentro de 72 horas após a
contracepção ou como terapia de reposição hormonal, não exposição
são medicamentos para cefaleia; assim sendo, a 8.1.10 Cefa- D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
leia atribuída ao emprego prolongado de medicamento
não utilizado para cefaleia agora engloba a cefaleia que se Comentários: A 8.1.11 Cefaleia atribuída ao uso de ou à
desenvolve como um efeito adverso durante a terapia hormo- exposição a outra substância inclui a cefaleia causada por
nal (previamente codificada como 8.1.12 Cefaleia atribuída substâncias herbáceas, animais ou outras, orgânicas ou inor-
a hormônio exógeno). O uso regular dos hormônios exóge- gânicas, prescritas por médicos ou não médicos com fins
nos pode estar associado a um aumento na frequência ou ao medicinais, embora não licenciadas como produtos medici-
surgimento de uma cefaleia semelhante à migrânea ou de nais. Ela tem sido relatada após a exposição a várias outras
outra cefaleia. A regra geral é aplicada, de modo que, quando substâncias orgânicas e inorgânicas. As seguintes substân-
ocorre pela primeira vez em estreita relação temporal com cias são as mais comumente incriminadas:
o uso regular de hormônios exógenos, uma cefaleia é codi-
ficada como 8.1.10 Cefaleia atribuída ao emprego prolon- Compostos inorgânicos:
gado de medicamento não utilizado para cefaleia. Quando arsênico, borato, bromato, clorato, cobre, iodo, chumbo,
uma cefaleia pré-existente, com as características de uma lítio, mercúrio, cloridrato de tolazolina.
cefaleia primária, torna-se crônica ou significativamente Compostos orgânicos:
pior (geralmente significando um aumento de duas vezes na anilina, bálsamo, cânfora, dissulfeto de carbono, tetraclo-
sua frequência e/ou gravidade), em estreita relação temporal reto de carbono, clordecona, EDTA, heptacloro, sulfeto
com o uso regular de hormônios exógenos, tanto o diagnós- de hidrogênio, querosene, álcoois de cadeia longa, álcool
tico inicial da cefaleia como o diagnóstico de 8.1.10 Cefaleia metílico, brometo de metila, cloreto de metila, iodo metí-
atribuída ao emprego prolongado de medicamento não utili- lico, naftaleno, compostos organofosforados (paration,
zado para cefaleia devem ser dados. Contudo, a cefaleia que piretrinas).

116
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

As características da 8.1.11 Cefaleia atribuída ao uso de combinação de analgésicos, e não de acordo com cada
ou à exposição a outra substância não são bem definidas um dos componentes da combinação de analgésicos.
na literatura e quase certamente variam conforme o agente. 2. Pacientes que utilizam múltiplos fármacos para o trata-
Na maioria dos casos, ela é maçante, difusa, contínua e de mento agudo ou sintomático de cefaleia podem fazê-lo
intensidade moderada a forte. de uma maneira que constitui uso excessivo mesmo que
nenhum fármaco individual ou classe de fármacos esteja
sendo utilizado em excesso. Tais pacientes devem ser
8.2 Cefaleia por uso excessivo de codificados como 8.2.6 Cefaleia por uso excessivo de
medicamentos (MOH/CEM) medicamentos atribuída a múltiplas classes de medica-
mentos não individualmente utilizadas em excesso.
Termos previamente utilizados: Cefaleia induzida por fármacos, 3. Pacientes que claramente estão utilizando em excesso
cefaleia por uso inadequado de medicamentos, cefaleia de múltiplos fármacos para o tratamento agudo ou sinto-
rebote. mático de cefaleia, mas não são capazes de fornecer um
relato adequado dos seus nomes e/ou quantidades, são
Codificadas em outro local: Pacientes com uma cefaleia pri- classificados como 8.2.7 Cefaleia por uso excessivo de
mária pré-existente que desenvolvem, em associação com medicamentos atribuída ao uso excessivo não especifi-
o uso excessivo de medicamentos, um novo tipo de cefa- cado ou não verificado de múltiplas classes de fármacos
leia ou uma piora significativa da sua cefaleia pré-existente até que informações mais precisas estejam disponíveis.
que, em qualquer um dos casos, preenche os critérios para Em quase todos os casos, isso requer acompanhamento
8.2 Cefaleia por uso excessivo de medicamentos (ou um através de um diário.
dos seus subtipos), devem receber tanto esse diagnóstico
como o diagnóstico da cefaleia pré-existente. Os pacientes Comentários: A 8.2 Cefaleia por uso excessivo de medicamen-
que preenchem os critérios tanto para 1.3 Migrânea crônica tos é uma interação entre um agente terapêutico utilizado
como para 8.2 Cefaleia por uso excessivo de medicamentos excessivamente e um paciente suscetível. Entre aqueles com
devem receber ambos os diagnósticos. um diagnóstico prévio de cefaleia primária, a maioria tem 1.
Migrânea ou 2. Cefaleia do tipo tensão (ou ambas); somente
Descrição: Cefaleia ocorrendo em 15 ou mais dias/mês em um uma pequena minoria tem outras cefaleias primárias como
paciente com uma cefaleia primária pré-existente e que se 3.1.2 Cefaleia em salvas crônica ou 4.10 Cefaleia persis-
desenvolve como uma consequência do uso excessivo regu- tente e diária desde o início.
lar de medicamentos sintomáticos ou agudos para cefaleia O diagnóstico de 8.2 Cefaleia por uso excessivo de medi-
(em 10 ou mais ou 15 ou mais dias/mês, dependendo do camentos é de extrema importância clínica. Evidências epi-
medicamento) por mais de três meses. Habitualmente, mas demiológicas oriundas de muitos países indicam que mais da
não invariavelmente, desaparece após a interrupção do uso metade dos indivíduos com cefaleia em 15 ou mais dias/mês
excessivo. apresentam 8.2 Cefaleia por uso excessivo de medicamentos.
As evidências clínicas mostram que a maioria dos pacientes
Critérios diagnósticos: com esse transtorno melhora após a descontinuação do medi-
A. Cefaleia ocorrendo em ≥15 dias/mês em um paciente camento em uso excessivo, assim como também melhora a
com uma cefaleia pré-existente sua resposta ao tratamento preventivo. O simples aconselha-
B. Uso excessivo regular por >3 meses de um ou mais fár- mento sobre as causas e as consequências da 8.2 Cefaleia
macos que podem ser ingeridos para o tratamento sinto- por uso excessivo de medicamentos é parte essencial do seu
mático e/ou agudo de cefaleia1-3 manejo e pode ser fornecido com sucesso no cuidado pri-
C. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. mário. Um folheto explicativo frequentemente é tudo o que
é preciso para prevenir ou descontinuar o uso excessivo de
Notas: medicamentos. A prevenção é especialmente importante no
1. Os pacientes devem ser codificados para um ou mais caso dos pacientes propensos à cefaleia frequente.
subtipos de 8.2 Cefaleia por uso excessivo de medica- O comportamento de alguns pacientes com 8.2 Cefaleia
mentos de acordo com o(s) medicamento(s) específico(s) por uso excessivo de medicamentos é similar àquele visto
usado(s) em excesso e os critérios para cada um deles em outras dependências químicas, e o escore na Escala de
abaixo. Por exemplo, um paciente que preenche os crité- Gravidade de Dependência (SDS) é um preditor significativo
rios para 8.2.2 Cefaleia por uso excessivo de triptana e do uso excessivo de medicamentos entre os pacientes com
os critérios para uma das subformas de 8.2.3 Cefaleia por cefaleia.
uso excessivo de analgésico não opioide deve receber Abaixo, nos critérios para os vários subtipos, o número
ambos os códigos. A exceção ocorre com pacientes que especificado de dias de uso de medicamento considerado
usam em excesso combinações de analgésicos, os quais como constituindo uso excessivo é baseado em opinião de
são codificados como 8.2.5 Cefaleia por uso excessivo de especialistas mais do que em evidência formal.

117
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

É reconhecido que estudos transversais populacionais Comentário: O uso excessivo de triptanas por indivíduos com
estimando a prevalência de 8.2 Cefaleia por uso excessivo 1.1 Migrânea sem aura ou 1.2 Migrânea com aura pode
de medicamentos podem registrar, em participantes, a coe- aumentar a frequência das crises para aquela da 1.3 Migrâ-
xistência de cefaleia em ³15 dias/mês e o uso excessivo nea crônica. Evidências sugerem que isso ocorre mais cedo
de fármacos para o tratamento agudo e/ou sintomático da com o uso excessivo de triptanas do que com o uso excessivo
cefaleia, mas raramente são capazes de coletar informações de ergotamina.
sobre cefaleias prévias, duração da cefaleia atual ou do uso
excessivo de medicamentos, e/ou que possa apoiar uma
presunção de causalidade. Em consequência, qualquer um 8.2.3 Cefaleia por uso excessivo de analgésico
ou ambos os critérios A e B podem não ser completamente não opioide
preenchidos. Desde que os critérios não sejam preenchidos
para outro diagnóstico da ICHD-3, tais casos devem ser des- Descrição: Cefaleia ocorrendo em 15 ou mais dias/mês em um
critos como provável cefaleia por uso excessivo de medi- paciente com uma cefaleia primária pré-existente e desen-
camentos (pMOH), embora a ICHD-3 não proporcione um volvendo-se como consequência do uso regular de um ou
código para tal. mais analgésicos não opioides em 15 ou mais dias/mês por
mais de três meses. Habitualmente, mas não invariavel-
mente, desaparece após o uso excessivo ser interrompido.
8.2.1 Cefaleia por uso excessivo de ergotamina
Comentário: Um paciente que preenche os critérios para mais
Descrição: Cefaleia ocorrendo em 15 ou mais dias/mês em um de uma das subformas de 8.2.3 Cefaleia por uso excessivo
paciente com uma cefaleia primária pré-existente e desen- de analgésico não opioide deve receber todos os códigos
volvendo-se como consequência do uso regular de ergo- aplicáveis.
tamina em 10 ou mais dias/mês, por mais de três meses. Muitos pacientes usam mais de um analgésico não
Habitualmente, mas não invariavelmente, desaparece após a opioide: um exemplo comum é o paracetamol (acetamino-
interrupção do uso excessivo. feno) e um anti-inflamatório não esteroidal (AINE). Para os
propósitos da ICHD-3, todos os analgésicos não opioides são
Critérios diagnósticos: considerados como uma única classe; portanto, um paciente
A. Cefaleia preenchendo os critérios para 8.2 Cefaleia por que utiliza mais de um analgésico não opioide cumulativa-
uso excessivo de medicamentos mente, mas não qualquer droga única, em 15 ou mais dias/
B. Ingestão regular de ergotamina em ≥10 dias/mês, por mês, é codificado como 8.2.3 Cefaleia por uso excessivo
>3 meses. de analgésico não opioide (com os fármacos individuais
especificados individualmente entre parênteses) e não 8.2.6
Comentários: A biodisponibilidade dos ergóticos é tão variá- Cefaleia por uso excessivo de medicamentos atribuída a
vel que não é possível definir uma dose mínima. múltiplas classes de medicamentos não individualmente uti-
lizadas em excesso.

8.2.2 Cefaleia por uso excessivo de triptana


8.2.3.1 Cefaleia por uso excessivo de paracetamol
Descrição: Cefaleia ocorrendo em 15 ou mais dias/mês em (acetaminofeno)
um paciente com cefaleia primária pré-existente e desenvol-
vendo-se como consequência de uso regular de uma ou mais Critérios diagnósticos:
triptanas em 10 ou mais dias/mês por mais de três meses. A. Cefaleia preenchendo os critérios para 8.2 Cefaleia por
Habitualmente, mas não invariavelmente, desaparece após o uso excessivo de medicamentos
uso excessivo ser interrompido. B. Ingestão regular de paracetamol em ≥15 dias/mês, por
>3 meses.
Critérios diagnósticos:
A. Cefaleia preenchendo os critérios para 8.2 Cefaleia por
uso excessivo de medicamentos 8.2.3.2 Cefaleia por uso excessivo de anti-
B. Ingestão regular de uma ou mais triptanas,1 em qualquer inflamatório não esteroidal (AINE)
formulação, em ≥10 dias/mês, por >3 meses.
Codificada em outro local: O ácido acetilsalicílico é um fármaco
Nota: anti-inflamatório não esteroidal (AINE), mas possui uma ati-
1. A(s) triptana(s) será(ão) habitualmente especificada(s) vidade outra, única. Consequentemente, a 8.2.3.2.1 Cefaleia
entre parênteses. por uso excessivo de ácido acetilsalicílico é codificada como
uma subforma separada.

118
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

Critérios diagnósticos: 8.2.5 Cefaleia por uso excessivo de combinação


A. Cefaleia preenchendo os critérios para 8.2 Cefaleia por de analgésicos1
uso excessivo de medicamentos
B. Ingestão regular de um ou mais fármacos anti-inflama- Critérios diagnósticos:
tórios não esteroidais (AINEs)1 (outros que não o ácido A. Cefaleia preenchendo os critérios para 8.2 Cefaleia por
acetilsalicílico) em ≥15 dias/mês, por >3 meses. uso excessivo de medicamentos
B. Ingestão regular de um ou mais medicamentos analgé-
Nota: sicos combinados1,2 em ≥10 dias/mês, por >3 meses.
1. O(s) AINE(s) deve(m) ser especificado(s) entre
parênteses. Notas:
1. O termo combinação de analgésicos é usado especifica-
mente para formulações que combinam fármacos de duas
8.2.3.2.1 Cefaleia por uso excessivo de ácido acetilsalicílico ou mais classes, cada um deles com efeito analgésico
(p.ex. paracetamol e codeína) ou agindo como adjuvantes
Critérios diagnósticos: (p.ex. cafeína). As formulações que combinam somente
A. Cefaleia preenchendo os critérios para 8.2 Cefaleia por dois analgésicos não opioides (tais como ácido acetilsali-
uso excessivo de medicamentos cílico e paracetamol), sem um adjuvante, não são consi-
B. Ingestão regular de ácido acetilsalicílico em ≥15 dias/ deradas combinações de analgésicos, já que, para os pro-
mês, por >3 meses. pósitos da ICHD-3, ambas as drogas pertencem à mesma
classe.
Comentário: O ácido acetilsalicílico é um anti-inflamatório 2. A(s) combinação(ões) de analgésicos deve(m) ser espe-
não esteroidal (AINE), possui uma atividade outra, única. cificada(s) entre parênteses.
Consequentemente, a 8.2.3.2.1 Cefaleia por uso excessivo
de ácido acetilsalicílico é codificada como uma subforma Comentários: Muitas combinações de analgésicos são comer-
separada. cializadas. Elas tendem a ser amplamente utilizadas por pes-
soas com cefaleia e estão muito comumente implicadas na
8.2 Cefaleia por uso excessivo de medicamentos. Por essa
8.2.3.3 Cefaleia por uso excessivo de outro razão, a 8.2.5 Cefaleia por uso excessivo de combinação de
analgésico não opioide analgésicos possui uma codificação separada.
As combinações de analgésicos mais comumente utiliza-
Critérios diagnósticos: das em excesso são aquelas que combinam analgésicos não
A. Cefaleia preenchendo os critérios para 8.2 Cefaleia por opioides com opioides, butalbital e/ou cafeína.
uso excessivo de medicamentos
B. Ingestão regular de um analgésico não opioide outro
que o paracetamol ou os fármacos anti-inflamatórios 8.2.6 Cefaleia por uso excessivo de medicamentos
não esteroidais (incluindo o ácido acetilsalicílico) em atribuída a múltiplas classes de medicamentos
≥15 dias/mês, por >3 meses. não individualmente utilizadas em excesso

Critérios diagnósticos:
8.2.4 Cefaleia por uso excessivo de opioide A. Cefaleia preenchendo os critérios para 8.2 Cefaleia por
uso excessivo de medicamentos
Critérios diagnósticos: B. Ingestão regular de qualquer combinação de ergota-
A. Cefaleia preenchendo os critérios para 8.2 Cefaleia por mina, triptanas, analgésicos não opioides e/ou opioi-
uso excessivo de medicamentos des1, em um total de ≥10 dias/mês, por >3 meses, sem
B. Ingestão regular de um ou mais opioides1 em ≥10 dias/ uso excessivo de qualquer fármaco individual ou cate-
mês, por >3 meses. goria farmacológica de forma isolada.2

Nota: Notas:
1. O(s) opioide(s) deve ser especificado(s) entre parênteses. 1. Os fármacos ou classes de fármacos devem ser especifi-
cados entre parênteses.
Comentário: Estudos prospectivos indicam que os pacientes 2. Sem uso excessivo de qualquer fármaco individual ou
que fazem uso excessivo de opioides apresentam a maior categoria farmacológica de forma isolada significa que o
taxa de recidiva após o tratamento de supressão. critério B não foi preenchido para qualquer dos subtipos
específicos de 8.2.1 a 8.2.5.

119
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

8.2.7 Cefaleia por uso excessivo de medicamentos espontaneamente dentro de sete dias na ausência de consumo
atribuída ao uso excessivo não especificado ou adicional.
não verificado de múltiplas classes de fármacos
Critérios diagnósticos:
Critérios diagnósticos: A. Cefaleia preenchendo o critério C
A. Cefaleia preenchendo os critérios para 8.2 Cefaleia por B. Consumo de cafeína de >200 mg/dia por >2 semanas, o
uso excessivo de medicamentos qual foi interrompido ou atrasado
B. Ambos os seguintes: C. Evidência de causalidade demonstrada por ambos os
1. ingestão regular de qualquer combinação de ergo- seguintes:
tamina, triptanas, analgésicos não opioides e/ou 1. a cefaleia desenvolveu-se dentro de 24 horas após
opioides por um total de ≥10 dias/mês, por >3 a última ingestão de cafeína
meses 2. um dos ou ambos os seguintes:
2. a identidade, quantidade e/ou padrão de uso ou uso a) a cefaleia é aliviada dentro de uma hora pela
excessivo dessas classes de fármacos não pode ser ingestão de 100 mg de cafeína
estabelecida de forma confiável. b) a cefaleia desapareceu dentro de sete dias
após a supressão total da cafeína
Comentário: Pacientes que claramente estão utilizando em D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
excesso múltiplos medicamentos para o tratamento agudo ou
sintomático de cefaleia, mas não são capazes de fornecer um
relato adequado de qual, quando ou quanto, são encontra- 8.3.2 Cefaleia por supressão de opioide
dos não infrequentemente. Embora um registro prospectivo
em um diário, ao longo de várias semanas, possa fornecer a Descrição: Cefaleia que se desenvolve dentro de 24 horas após
informação, também retardaria a supressão das substâncias - o consumo diário de opioide(s) por mais de três meses, o
a qual é evidentemente necessária. qual foi interrompido. Ela desaparece espontaneamente den-
tro de 7 dias, na ausência de consumo adicional.

8.2.8 Cefaleia por uso excessivo de medicamentos Critérios diagnósticos:


atribuída a outro medicamento A. Cefaleia preenchendo o critério C
B. Ingestão diária de opioide por >3 meses, a qual foi
Critérios diagnósticos: interrompida
A. Cefaleia preenchendo os critérios para 8.2 Cefaleia por C. Evidência de causalidade demonstrada por ambos os
uso excessivo de medicamentos seguintes:
B. Uso excessivo regular, em ≥10 dias/mês, por >3 meses, 1. a cefaleia desenvolveu-se dentro de 24 horas após
de um ou mais medicamentos diferentes daqueles des- a última ingestão de opioide
critos acima,1 ingeridos para o tratamento agudo ou sin- 2. a cefaleia desapareceu dentro de sete dias após a
tomático de cefaleia. supressão total do opioide
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
Nota:
1. O(s) medicamento(s) deve(m) ser especificado(s) entre
parênteses. 8.3.3 Cefaleia por supressão de estrogênio

Descrição: Cefaleia ou migrânea que se desenvolve dentro


8.3 Cefaleia atribuída a supressão de uma de cinco dias após o consumo diário de estrogênio exógeno
substância por três semanas ou mais, o qual foi interrompido (habitual-
mente durante o período de pausa da contracepção oral com-
Descrição: Cefaleia ocorrendo após e causada pela interrup- binada ou após um curso de reposição ou suplementação de
ção do uso de ou exposição a um medicamento ou a outra estrogênio). Ela desaparece espontaneamente dentro de três
substância que durou por semanas ou meses. dias, na ausência de consumo adicional.

Critérios diagnósticos:
8.3.1 Cefaleia por supressão de cafeína A. Cefaleia ou migrânea preenchendo o critério C
B. Uso diário de estrogênio exógeno por ≥3 semanas, o
Descrição: Cefaleia que se desenvolve dentro de 24 horas após qual tenha sido interrompido
o consumo regular de cafeína excedendo 200 mg/dia por C. Evidência de causalidade demonstrada por ambos os
mais de duas semanas, o qual foi interrompido. Desaparece seguintes:

120
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

1. a cefaleia ou migrânea desenvolveu-se dentro de of cilostazol in human volunteers. Cephalalgia 2006; 26:
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2. a cefaleia ou migrânea desapareceu dentro de três Bonnet GF and Nepveux P. Migraine due to tyramine. Sem Hop
dias após o seu início 1971; 47: 2441–2445.
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. Brewerton TD, Murphy DL, Lesem MD, et al. Headache responses
following m-chlorophenylpiperazine in bulimics and controls.
Comentário: A supressão de estrogênio depois da interrup- Headache 1992; 32: 217–222.
ção de um curso de estrogênio exógeno (tal como durante Cleophas TJ, Niemeyer MG, van der Wall EE, et al. Nitrate-induced
o período da pausa da contracepção oral combinada ou após headache in patients with stable angina pectoris: beneficial
um curso de reposição ou suplementação de estrogênio) effect of starting on a low dose. Angiology 1996; 47: 679–685.
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Descrição: Cefaleia ocorrendo após e causada pela interrupção headache in polysubstance abusers. Headache 1991; 31: 17–19.
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B. Ingestão diária de uma substância diferente daquelas El-Mallakh RS. Marijuana and migraine. Headache 1987; 27:
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C. Evidência de causalidade demonstrada por ambos os El-Mallakh RS, Kranzler HR and Kamanitz JR. Headaches and
seguintes: psychoactive substance use. Headache 1991; 31: 584–587.
1. a cefaleia desenvolveu-se em estreita relação tem- Fanciullacci M, Alessandri M, Figini M, et al. Increase in plasma
poral com a supressão do uso da substância calcitonin gene-related peptide from the extracerebral circula-
2. a cefaleia desapareceu dentro de três meses após a tion during nitroglycerin-induced cluster headache attack. Pain
supressão total do uso da substância 1995; 60: 119–123.
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. Forbes HS, Cobb S and Fremont-Smith F. Cerebral edema and
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Comentários: Tem sido sugerido, mas sem evidência sufi- Psychiatry 1924; 11: 164.
ciente, que a supressão do uso crônico das seguintes substân- Ghose K and Carrol JD. Mechanisms of tyramineinduced migraine:
cias pode causar cefaleia: corticosteroides, antidepressivos similarities with dopamine and interactions with disulfiram and
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123
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

9. Cefaleia atribuída a infecção 1. Quando uma cefaleia nova ocorre pela primeira vez em
estreita relação temporal com uma infecção, ela é codi-
9.1 Cefaleia atribuída a infecção intracraniana ficada como uma cefaleia secundária atribuída àquela
9.1.1 Cefaleia atribuída a meningite ou meningoencefalite infecção. Isso permanece verdadeiro quando a nova cefa-
bacterianas leia possui as características de qualquer uma das cefa-
9.1.1.1 Cefaleia aguda atribuída a meningite ou meningoence- leias primárias classificadas na Parte Um da ICHD-3.
falite bacterianas 2. Quando uma cefaleia pré-existente, com as caracte-
9.1.1.2 Cefaleia crônica atribuída a meningite ou meningoen- rísticas de uma cefaleia primária, torna-se crônica ou
cefalite bacterianas piora significativamente (significando habitualmente um
9.1.1.3 Cefaleia persistente atribuída a meningite ou menin- aumento de duas ou mais vezes na sua frequência e/ou
goencefalite bacterianas prévias gravidade), em estreita relação temporal com uma infec-
9.1.2 Cefaleia atribuída a meningite ou encefalite virais ção, tanto o diagnóstico inicial de cefaleia como o diag-
9.1.2.1 Cefaleia atribuída a meningite viral nóstico de 9. Cefaleia atribuída a infecção (ou um dos
9.1.2.2 Cefaleia atribuída a encefalite viral seus tipos ou subtipos) devem ser dados, contanto que
9.1.3 Cefaleia atribuída a infecção intracraniana fúngica ou outra haja evidência de boa qualidade de que o transtorno pode
infecção parasitária causar cefaleia.
9.1.3.1 Cefaleia aguda atribuída a infecção intracraniana
fúngica ou outra infecção parasitária Aguda, crônica ou persistente? A 9. Cefaleia atribuída a infecção
9.1.3.2 Cefaleia crônica atribuída a infecção intracraniana fún- é habitualmente a consequência de uma infecção ativa, desa-
gica ou outra infecção parasitária parecendo dentro de três meses após a erradicação da infec-
9.1.4 Cefaleia atribuída a infecção cerebral localizada ção. Em alguns casos, dependendo do agente patogênico,
9.2 Cefaleia atribuída a infecção sistêmica a infecção não pode ser tratada efetivamente e permanece
9.2.1 Cefaleia atribuída a infecção bacteriana sistêmica ativa. A cefaleia pode não ceder nesses casos porque a causa
9.2.1.1 Cefaleia aguda atribuída a infecção bacteriana sistêmica permanece presente; depois de três meses, tanto a infecção
9.2.1.2 Cefaleia crônica atribuída a infecção bacteriana sistêmica como a cefaleia passam a ser referidas como crônicas.
9.2.2 Cefaleia atribuída a infecção viral sistêmica Em outros casos, mais raros, a infecção desaparece ou é
9.2.2.1 Cefaleia aguda atribuída a infecção viral sistêmica erradicada, porém a cefaleia não desaparece; depois de três
9.2.2.2 Cefaleia crônica atribuída a infecção viral sistêmica meses, tal cefaleia é denominada persistente (em consonân-
9.2.3 Cefaleia atribuída a outra infecção sistêmica cia com outras cefaleias secundárias).
9.2.3.1 Cefaleia aguda atribuída a outra infecção sistêmica Do mesmo modo, subformas de cefaleia agudas e crô-
9.2.3.2 Cefaleia crônica atribuída a outra infecção sistêmica nicas atribuídas a infecção ativa ou recente foram definidas,
em contraste, em alguns casos, com as subformas persisten-
tes de cefaleia pós-infecciosa (veja, por exemplo, 9.1.1.1
Codificadas em outro local: Cefaleia aguda atribuída a meningite ou meningoencefalite
bacterianas, 9.1.1.2 Cefaleia crônica atribuída a meningite
Cefaleias atribuídas a infecções extracranianas da cabeça ou meningoencefalite bacterianas e 9.1.1.3 Cefaleia persis-
(tais como infecções dos ouvidos, olhos e seios paranasais) tente atribuída a meningite ou meningoencefalite bacteria-
são classificadas como tipos ou subtipos de 11. Cefaleia ou nas prévias). O objetivo é distinguir e manter separados dois
dor facial atribuída a transtorno do crânio, pescoço, olhos, mecanismos causais provavelmente diferentes e duas dife-
orelhas, nariz, seios paranasais, dentes, boca ou outra estru- rentes abordagens para o manejo.
tura facial ou cervical.

Introdução
Comentários gerais
A cefaleia é um acompanhamento comum de infecções virais
A tríade de cefaleia, febre e náusea/vômitos é altamente sistêmicas como a gripe (influenza). Também é comum na
sugestiva de 9. Cefaleia atribuída a infecção. A probabi- sepse. Mais raramente, pode acompanhar outras infecções
lidade aumenta quando letargia e convulsões também são sistêmicas.
parte do quadro clínico. Em infecções intracranianas, a cefaleia é habitualmente
o primeiro e o mais frequente sintoma encontrado. A ocor-
Cefaleia primária, secundária ou ambas? As regras gerais para rência de um novo tipo de cefaleia que é difusa e associada a
atribuição a outro transtorno aplicam-se a 9. Cefaleia atri- sinais neurológicos focais e/ou estado mental alterado e sen-
buída a infecção. sação geral de doença e/ou febre devem direcionar a atenção
no sentido de uma infecção intracraniana, mesmo na ausên-
cia de rigidez nucal.

124
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

Infelizmente não há bons estudos prospectivos sobre as 1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal
cefaleias associadas a infecção intracraniana; quando faltam com o início da meningite bacteriana ou menin-
evidências, os critérios diagnósticos para alguns dos subtipos goencefalite bacteriana
de 9.1 Cefaleia atribuída a infecção intracraniana são ao 2. a cefaleia piorou significativamente em paralelo
menos parcialmente dependentes de consenso de experts, com a piora da meningite bacteriana ou da menin-
incluindo as visões de experts em neuroinfecção. goencefalite bacteriana
Os critérios gerais para este capítulo, adotados tanto 3. a cefaleia melhorou significativamente em para-
quanto possível, são os seguintes: lelo com a melhora da meningite bacteriana ou da
meningoencefalite bacteriana
A. Cefaleia preenchendo o critério C 4. a cefaleia possui uma das ou ambas as seguintes
B. Uma infecção, ou sequela de uma infecção, reconheci- características:
damente capaz de causar cefaleia, foi diagnosticada a) holocraniana
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos b) localizada na região nucal e associada a rigi-
dois dos seguintes: dez cervical
1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
com o início da infecção
2. um dos ou ambos os seguintes: Comentários: A cefaleia é o sintoma mais comum e pode ser
a) a cefaleia piorou significativamente em para- o primeiro sintoma dessas infecções. Deve-se suspeitar de
lelo com a piora da infecção 9.1.1 Cefaleia atribuída a meningite ou meningoencefalite
b) a cefaleia melhorou significativamente ou bacterianas sempre que a cefaleia estiver associada a febre,
desapareceu em paralelo com a melhora ou a estado metal alterado (incluindo vigilância prejudicada),
resolução da infecção déficits neurológicos focais ou crises epilépticas generaliza-
c) a cefaleia possui as características típicas para das. No caso da encefalite, os déficits associados incluem
a infecção distúrbios da fala ou da audição, visão dupla, perda da sen-
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. sibilidade em algumas partes do corpo, fraqueza muscular,
paralisia parcial nos braços e nas pernas, alucinações, alte-
rações da personalidade, capacidade de julgamento prejudi-
9.1 Cefaleia atribuída a infecção cada, perda da consciência, demência grave repentina e/ou
intracraniana perda de memória.
Não obstante, na maioria dos casos de infecção bacte-
Descrição: Cefaleia de duração variável - e persistente, em riana intracraniana é extremamente difícil distinguir o envol-
raros casos - causada por uma infecção intracraniana bacte- vimento puramente meníngeo do envolvimento puramente
riana, viral, fúngica ou outra infecção parasitária ou por uma encefálico. Além disso, essa distinção não leva a diferentes
sequela de qualquer uma dessas. abordagens da avaliação ou da escolha do tratamento. Sendo
assim, a cefaleia atribuída a meningite bacteriana e a cefaleia
atribuída a encefalite bacteriana são incluídas em uma única
9.1.1 Cefaleia atribuída a meningite ou entidade em 9.1.1 Cefaleia atribuída a meningite ou menin-
meningoencefalite bacterianas goencefalite bacterianas.
Diversas bactérias podem causar meningite e/ou encefa-
Descrição: Cefaleia de duração variável causada por menin- lite, incluindo Streptococcus pneumoniae, Neisseria menin-
gite ou meningoencefalite bacterianas. Pode desenvolver-se gitidis e Listeria monocytogenes. O background imunoló-
em um contexto de sintomas semelhantes aos de uma gripe gico é muito importante, pois a imunossupressão (devido ao
leve. É tipicamente aguda e associada a rigidez cervical, náu- HIV ou a tratamentos imunossupressivos crônicos pós-trans-
sea, febre e alterações do estado mental e/ou outros sintomas plante ou outros) influencia os perfis clínicos, biológicos e
e/ou sinais neurológicos. Na maioria dos casos, ela desapa- de suscetibilidade.
rece uma vez que a infecção tenha sido erradicada, mas, rara- A estimulação direta dos terminais sensoriais localiza-
mente, torna-se persistente. dos nas meninges, pela infecção bacteriana, causa o início
da cefaleia. Produtos bacterianos (toxinas), mediadores de
Critérios diagnósticos: inflamação como bradicinina, prostaglandinas e citocinas e
A. Cefaleia de qualquer duração preenchendo o critério C outros agentes liberados pela inflamação não somente cau-
B. Meningite bacteriana ou meningoencefalite bacteriana sam dor diretamente, mas também induzem sensibilização a
foi diagnosticada dor e liberação de neuropeptídeos. No caso da encefalite, a
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos pressão intracraniana aumentada também pode ter um papel
dois dos seguintes: como causa da cefaleia.

125
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

Na maioria dos casos, a cefaleia entra em remissão com a 9.1.2 Cefaleia atribuída a meningite ou encefalite
resolução da infecção. No entanto, a infecção pode permane- virais
cer ativa por meses, levando a uma cefaleia crônica. Em uma
minoria dos casos, a cefaleia persiste por mais de três meses Descrição: Cefaleia causada por meningite viral ou encefalite
após a resolução da infecção causal. Três subformas distin- viral, tipicamente com rigidez cervical e febre e variavel-
tas de 9.1.1 Cefaleia atribuída a meningite ou meningoen- mente associada, de acordo com a extensão da infecção, a
cefalite bacterianas são portanto descritas abaixo, porque a sintomas e/ou sinais neurológicos, incluindo alterações do
patofisiologia e o tratamento são diferentes, dependendo da estado mental.
infecção ter sido completamente erradicada ou permanecer
ativa. Critérios diagnósticos:
A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
B. Meningite viral ou encefalite viral foi diagnosticada
9.1.1.1 Cefaleia aguda atribuída a meningite ou C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
meningoencefalite bacterianas dois dos seguintes:
1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal
Critérios diagnósticos: com o início da meningite viral ou da encefalite
A. Cefaleia preenchendo os critérios para 9.1.1 Cefaleia viral
atribuída a meningite ou meningoencefalite bacteria- 2. a cefaleia piorou significativamente em paralelo
nas e o critério C abaixo com a piora da meningite viral ou da encefalite
B. A cefaleia tem estado presente por <3 meses. viral
3. a cefaleia melhorou significativamente em para-
lelo com a melhora da meningite viral ou da ence-
9.1.1.2 Cefaleia crônica atribuída a meningite ou falite viral
meningoencefalite bacterianas 4. a cefaleia possui uma das ou ambas as seguintes
características:
Critérios diagnósticos: a) holocraniana
A. Cefaleia preenchendo os critérios para 9.1.1 Cefaleia b) localizada na região nucal e associada a rigi-
atribuída a meningite ou meningoencefalite bacteria- dez cervical
nas e o critério C abaixo D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
B. A meningite bacteriana ou a meningoencefalite bacte-
riana permanece ativa1 ou desapareceu dentro dos últi- Comentários: Deve-se suspeitar de 9.1.2 Cefaleia atribuída a
mos três meses meningite ou encefalite virais sempre que a cefaleia estiver
C. A cefaleia tem estado presente por >3 meses. associada a febre, rigidez cervical, sensibilidade à luz e náu-
sea e/ou vômitos.
Nota: Enquanto os enterovírus respondem pela maioria dos
1. Demonstrado por realce focal ou multifocal pelo con- casos de 9.1.2 Cefaleia atribuída a meningite ou encefa-
traste na IRM e/ou persistência de pleocitose no líquido lite virais, uma variedade de outros agentes virais podem
cefalorraquidiano (LCR) com ou sem evidência de dano também ser responsáveis: arbovírus, poliovírus, ecovírus,
à barreira hematoencefálica. coxsackievírus, herpes simples, varicela zoster, adenovírus,
caxumba e outros. A reação em cadeia da polimerase (PCR)
no líquido cefalorraquidiano (LCR) dá o diagnóstico especí-
9.1.1.3 Cefaleia persistente atribuída a meningite ou fico na maioria dos casos. Uma PCR positiva no LCR para
meningoencefalite bacterianas prévias o vírus herpes simples (HSV) tipo 1 ou 2 e a sorologia para
o DNA dos vírus HSV-1 e HSV-2 presumem o diagnóstico
Critérios diagnósticos: de encefalite por herpes simples. Em alguns casos, a PCR no
A. Cefaleia preenchendo previamente os critérios para LCR é positiva para o vírus herpes humano (HHV) do tipo
9.1.1 Cefaleia atribuída a meningite ou meningoence- 6 ou 7. Tem sido documentado que a sensibilidade da PCR é
falite bacterianas e preenchendo o critério C abaixo reduzida em mais da metade quando o teste é realizado uma
B. A meningite bacteriana ou a meningoencefalite bacte- semana após o início dos sintomas, causando falsos negati-
riana já desapareceu vos. Quando a PCR realizada após uma semana é negativa,
C. A cefaleia tem persistido por >3 meses após a resolu- o diagnóstico pode ser feito com base em uma alteração na
ção da meningite bacteriana ou da meningoencefalite relação anticorpos LCR/anticorpos sangue.
bacteriana Assim como com a infecção bacteriana intracraniana,
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. pode ser difícil em uma infecção viral distinguir o envol-
vimento puramente das meninges do envolvimento pura-

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TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

mente do encéfalo. Estabelecer e manter essa distinção é , 9.1.3 Cefaleia atribuída a infecção intracraniana
no entanto, importante, porque as duas condições diferem no fúngica ou outra infecção parasitária
que concerne ao prognóstico, sendo a perspectiva pior com o
envolvimento encefálico. Por essa razão, critérios separados Descrição: Cefaleia de duração variável causada por uma
são dados para 9.1.2.1 Cefaleia atribuída a meningite viral e infecção intracraniana, fúngica ou por outra infecção para-
9.1.2.2 Cefaleia atribuída a encefalite viral. sitária. Ela é habitualmente observada em um contexto de
Também diferentemente de 9.1.1 Cefaleia atribuída a imunossupressão congênita ou adquirida. Na maioria dos
meningite ou meningoencefalite bacterianas, uma subforma casos, ela desaparece uma vez que a infecção tenha sido erra-
pós-infecciosa persistente de 9.1.2 Cefaleia atribuída a dicada; raramente, torna-se persistente.
meningite ou encefalite virais não possui embasamento em
evidências e, por isso, não foi contemplada. Critérios diagnósticos:
A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
B. Uma infecção intracraniana fúngica ou outra infecção
9.1.2.1 Cefaleia atribuída a meningite viral parasitária foi diagnosticada
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
Critérios diagnósticos: dois dos seguintes:
A. Cefaleia preenchendo os critérios para 9.1.2 Cefaleia 1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal
atribuída a meningite ou encefalite virais com o início da infecção intracraniana fúngica ou
B. A neuroimagem mostra exclusivamente o realce das outra infecção parasitária
leptomeninges. 2. a cefaleia piorou significativamente em paralelo
com a piora da infecção intracraniana intracra-
niana fúngica ou outra infecção parasitária
9.1.2.2 Cefaleia atribuída a encefalite viral 3. a cefaleia melhorou significativamente em para-
lelo com a melhora da infecção intracraniana fún-
Critérios diagnósticos: gica ou outra infecção parasitária
A. Cefaleia preenchendo os critérios para 9.1.2 Cefaleia 4. a cefaleia desenvolve-se progressivamente1 e pos-
atribuída a meningite ou encefalite virais sui uma das ou ambas as seguintes características:
B. Um dos ou ambos os seguintes: a) holocraniana
1. a neuroimagem mostra edema cerebral difuso ou b) localizada na região nucal e associada a rigi-
multifocal1 dez cervical
2. ao menos um dos seguintes: D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.2
a) estado mental alterado
b) déficits neurológicos focais Notas:
c) crises epilépticas. 1. Os sintomas clínicos tendem a evoluir ao longo de sema-
nas, em paralelo com o nível da imunossupressão.
Nota: 2. O diagnóstico precoce é melhor realizado por TC ou RM.
1. Pode também haver realce leptomeníngeo associado.
Comentários: Deve-se suspeitar de 9.1.3 Cefaleia atribuída a
Comentários: A dor é habitualmente difusa, com o foco nas infecção intracraniana fúngica ou outra infecção parasitá-
áreas frontais e/ou retro-orbitais, intensa ou extremamente ria sempre que a cefaleia em um indivíduo imunocomprome-
intensa, de natureza latejante ou em pressão. tido está associada a febre, estado mental progressivamente
A 9.1.2.2 Cefaleia atribuída a encefalite viral deve ser alterado (incluindo vigilância prejudicada) e/ou déficits neu-
suspeitada sempre que a cefaleia estiver associada a estado rológicos focais múltiplos de intensidade progressivamente
mental alterado (incluindo vigilância prejudicada), déficits maior, e a neuroimagem mostra realce das leptomeninges e/
neurológicos focais e/ou crises epilépticas. Outros déficits ou edema cerebral difuso.
neurológicos comumente associados são os distúrbios da Os fungos que podem causar meningite e/ou encefalite
fala ou da audição, visão dupla, perda da sensibilidade em incluem Candida, Aspergillus e Cryptococcus neoformans; e
algumas partes do corpo, fraqueza muscular, paralisia parcial dentre os parasitas encontra-se o toxoplasma. Além da cultura
dos braços e pernas, ataxia, alucinações, alterações da perso- do líquido cefalorraquidiano (LCR) e investigações de PCR
nalidade e perda da consciência e/ou da memória. no LCR, outros testes do LCR e do sangue incluem a detecção
direta (detecção citológica, visualização microscópica, cultura
e identificação de elementos fúngicos nos materiais biológicos
sob observação) e indireta (identificação de um antígeno ou
outro elemento da cápsula) do patógeno. No caso da aspergi-
lose, o antígeno galactomanana pode ser detectado em fluídos

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CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

biológicos (soro, líquido de lavagem broncoalveolar ou LCR). rológico(s) focal(is) e/ou estado mental alterado (incluindo
Em outras infecções fúngicas sistêmicas, a 1,3-β-D-glucana vigilância prejudicada).
sérica pode auxiliar o diagnóstico. O teste com tinta nanquim
permite a coloração da cápsula do criptococo. Critérios diagnósticos:
As infecções fúngicas e parasitárias das meninges ou do A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
encéfalo são quase exclusivamente observadas nos pacientes B. Uma infecção cerebral localizada foi demonstrada por
imunodeprimidos ou nos idosos. Mais especificamente, os neuroimagem e/ou análise de espécime
seguintes grupos encontram-se em risco: C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
dois dos seguintes:
1) pessoas com neutropenia significativa (<500 neutrófilos/ 1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal
mm3) com o desenvolvimento da infecção cerebral ou
2) pessoas que sofreram enxerto alogênico de células tronco levou à sua descoberta
3) pessoas em terapia esteroidal crônica (prednisona 0,3 2. a cefaleia piorou significativamente em paralelo
mg/kg/dia, ou equivalente, por mais de três semanas) com a deterioração da infecção cerebral locali-
4) pessoas com tratamento em andamento ou recente (den- zada, mostrada por qualquer um dos seguintes:
tro dos últimos 90 dias) com fármacos imunossupres- a) piora de outros sintomas e/ou sinais clínicos
sores (ciclosporina, bloqueadores de TNF, anticorpos oriundos da infecção cerebral localizada
monoclonais, análogos de nucleosídeos) b) evidência de aumento (ou de ruptura, no caso
5) pessoas com imunodeficiência hereditária grave. de abscesso cerebral) da infecção cerebral
localizada
Uma subforma pós-infecciosa persistente de 9.1.3 Cefa- 3. a cefaleia melhorou significativamente em para-
leia atribuída a infecção intracraniana fúngica ou outra lelo com a melhora da infecção cerebral localizada
infecção parasitária ocorre, mas não é bem documentada na 4. a cefaleia possui ao menos uma das quatro seguin-
literatura; ela consta somente no Apêndice, como A9.1.3.3 tes características:
Cefaleia persistente atribuída a infecção intracraniana fún- a) aumento gradual da intensidade, ao longo
gica ou outra infecção parasitária prévias. de várias horas ou dias, para moderada ou
intensa
b) agravada por esforço ou outra manobra de
9.1.3.1 Cefaleia aguda atribuída a infecção Valsalva
intracraniana fúngica ou outra infecção c) acompanhada por febre, náusea e/ou vômito
parasitária d) unilateral e ipsilateral à infecção cerebral
localizada
Critérios diagnósticos: D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
A. Cefaleia preenchendo os critérios para 9.1.3 Cefaleia
atribuída a infecção intracraniana fúngica ou outra Comentários: Os abscessos cerebrais são habitualmente cau-
infecção parasitária e o critério B abaixo sados por bactérias anaeróbias ou, algumas vezes, bactérias
B. A cefaleia tem estado presente por <3 meses. mistas, frequentemente incluindo estreptococos anaeróbios
ou bacteroides. Os estafilococos são comuns após trauma
craniano, neurocirurgia ou endocardite. As enterobactérias
9.1.3.2 Cefaleia crônica atribuída a infecção são comuns nas infecções crônicas da orelha. Os fungos
intracraniana fúngica ou outra infecção (p.ex., Aspergillus) e os protozoários (p.ex., Toxoplasma
parasitária gondii, particularmente nos pacientes infectados com HIV)
podem causar abscessos.
Critérios diagnósticos: O empiema subdural é frequentemente secundário a sinu-
A. Cefaleia preenchendo os critérios para 9.1.3 Cefaleia site ou a otite média. Também pode ser uma complicação da
atribuída a infecção intracraniana fúngica ou outra meningite.
parasitária e o critério B abaixo Os granulomas cerebrais têm sido associados a cisticer-
B. A cefaleia tem estado presente por >3 meses. cose, sarcoidose, toxoplasmose e aspergilose.
Os mecanismos causando 9.1.4 Cefaleia atribuída a
infecção cerebral localizada incluem a compressão direta,
9.1.4 Cefaleia atribuída a infecção cerebral localizada irritação das estruturas meníngeas e/ou arteriais, pressão
intracraniana aumentada e febre. A cefaleia atribuída a
Descrição: Cefaleia causada por abscesso cerebral, empiema empiema subdural é particularmente associada a febre e a
subdural, granuloma infeccioso ou outra lesão infecciosa sintomas e/ou sinais clínicos de irritação meníngea e de pres-
localizada, habitualmente associada a febre, déficit(s) neu- são intracraniana aumentada.

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TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

9.2 Cefaleia atribuída a infecção sistêmica 1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal


com o início da infecção bacteriana sistêmica
Codificada em outro local: A cefaleia atribuída a meningite ou 2. a cefaleia piorou significativamente em paralelo
encefalite acompanhando uma infecção sistêmica deve ser com a piora da infecção bacteriana sistêmica
codificada de acordo como 9.1 Cefaleia atribuída a infecção 3. a cefaleia melhorou significativamente ou desapa-
intracraniana. receu em paralelo com a melhora ou resolução da
infecção bacteriana sistêmica
Descrição: Cefaleia de duração variável causada por infecção 4. a cefaleia possui uma das ou ambas as seguintes
sistêmica, habitualmente acompanhada por outros sintomas características:
e/ou sinais clínicos da infecção. a) dor difusa
b) intensidade moderada ou forte
Comentários: A cefaleia nas infecções sistêmicas é habitual- D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
mente um sintoma relativamente pouco notado e que não
auxilia o diagnóstico. Essas condições são na sua maioria
dominadas por febre, mal-estar geral e outros sintomas sistê- 9.2.1.1 Cefaleia aguda atribuída a infecção
micos. No entanto, algumas infecções sistêmicas, particular- bacteriana sistêmica
mente a gripe (influenza), têm a cefaleia como um sintoma
proeminente, junto com a febre e outros. Quando a infec- Critérios diagnósticos:
ção sistêmica é acompanhada por meningite ou encefalite, A. Cefaleia preenchendo os critérios para 9.2.1 Cefaleia
qualquer cefaleia atribuída à infecção deve ser codificada atribuída a infecção bacteriana sistêmica e o critério B
para esses transtornos, como um subtipo ou subforma de 9.1 abaixo
Cefaleia atribuída a infecção intracraniana. B. A cefaleia tem estado presente por <3 meses.
Nas doenças infecciosas, a cefaleia comumente coexiste
com a febre e pode ser dependente dela; mas a cefaleia tam-
bém pode ocorrer na ausência da febre. A natureza exata des- 9.2.1.2 Cefaleia crônica atribuída a infecção
ses mecanismos permanece por ser investigada. Enquanto bacteriana sistêmica
isso, a grande variabilidade na sua propensão de causar
cefaleia indica que as infecções sistêmicas não têm esse Critérios diagnósticos:
efeito simplesmente através da febre e de elementos piróge- A. Cefaleia preenchendo os critérios para 9.2.1 Cefaleia
nos exógenos ou endógenos. Os mecanismos causadores da atribuída a infecção bacteriana sistêmica e o critério B
cefaleia incluem efeitos diretos dos próprios microorganis- abaixo
mos. Várias células estão provavelmente envolvidas (micró- B. A cefaleia tem estado presente por >3 meses.
glia ativada e macrófagos monocíticos, astrócitos ativados e
células endoteliais e da barreira hematoencefálica), junto a
vários mediadores imunoinflamatórios (citocinas, glutamato, 9.2.2 Cefaleia atribuída a infecção viral sistêmica
sistema COX-2/PGE2, sistema NO–iNOS e sistema de espé-
cies reativas de oxigênio). Descrição: Cefaleia causada por e ocorrendo em associação
a outros sintomas e/ou sinais clínicos de uma infecção viral
sistêmica, na ausência de meningite ou encefalite.
9.2.1 Cefaleia atribuída a infecção bacteriana
sistêmica Critérios diagnósticos:
A. Cefaleia de qualquer duração, preenchendo o critério C
Descrição: Cefaleia causada por e ocorrendo em associa- B. Ambos os seguintes:
ção a outros sintomas e/ou sinais clínicos de uma infec- 1. uma infecção viral sistêmica foi diagnosticada
ção bacteriana sistêmica, na ausência de meningite ou 2. nenhuma evidência de envolvimento meningítico
meningoencefalite. ou encefalítico
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
Critérios diagnósticos: dois dos seguintes:
A. Cefaleia de qualquer duração preenchendo o critério C 1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal
B. Ambos os seguintes: com o início da infecção viral sistêmica
1. uma infecção bacteriana sistêmica foi diagnosticada 2. a cefaleia piorou significativamente em paralelo
2. nenhuma evidência de envolvimento meningítico com a piora da infecção viral sistêmica
ou meningoencefalítico 3. a cefaleia melhorou significativamente ou desapa-
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos receu em paralelo com a melhora ou resolução da
dois dos seguintes: infecção viral sistêmica

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CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

4. a cefaleia possui uma das ou ambas as seguintes Comentários: Esse é um grupo heterogêneo e mal definido
características: de infecções sistêmicas, mais frequentemente observadas
a) dor difusa em paciente imunossuprimidos ou em áreas geográficas
b) intensidade moderada ou forte específicas.
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. Os fungos mais comumente envolvidos são os fungos
patogênicos (Cryptococcus neoformans, Histoplasma cap-
sulatum e Coccidioides immitis) e os fungos oportunistas
9.2.2.1 Cefaleia aguda atribuída a infecção viral (espécies de Candida, espécies de Aspergillus e outros).
sistêmica Dentre os protozoários, as infestações por Pneumocystis
carinii e Toxoplasma gondii podem estar associadas a cefa-
Critérios diagnósticos: leia. Cefaleia também tem sido relatada em associação ao
A. Cefaleia preenchendo os critérios para 9.2.2 Cefaleia nematódeo Strongyloides stercoralis.
atribuída a infecção viral sistêmica e o critério B abaixo
B. A cefaleia tem estado presente por <3 meses.
9.2.3.1 Cefaleia aguda atribuída a outra infecção
sistêmica
9.2.2.2 Cefaleia crônica atribuída a infecção viral
sistêmica Critérios diagnósticos:
A. Cefaleia preenchendo os critérios para 9.2.3 Cefaleia
Critérios diagnósticos: atribuída a outra infecção sistêmica e o critério B
A. Cefaleia preenchendo os critérios para 9.2.2 Cefaleia abaixo
atribuída a infecção viral sistêmica e o critério C abaixo B. A cefaleia tem estado presente por <3 meses.
B. A infecção viral sistêmica permanece ativa ou desapa-
receu dentro dos últimos três meses
C. A cefaleia tem estado presente por >3 meses. 9.2.3.2 Cefaleia crônica atribuída a outra infecção
sistêmica

9.2.3 Cefaleia atribuída a outra infecção sistêmica Critérios diagnósticos:


A. Cefaleia preenchendo os critérios para 9.2.3 Cefaleia
Descrição: Cefaleia causada por e ocorrendo em associação a atribuída a outra infecção sistêmica e o critério B
outros sintomas e/ou sinais clínicos de uma infecção fúngica abaixo
sistêmica ou infestação por protozoários ou outros parasitas, B. A cefaleia tem estado presente por >3 meses.
na ausência de meningite ou meningoencefalite.

Critérios diagnósticos:
A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C Bibliografia
B. Ambos os seguintes:
1. uma infecção fúngica sistêmica ou infestação por 9.1 Cefaleia atribuída a infecção intracraniana
protozoários ou outros parasitas foi diagnosticada Marchioni E, Tavazzi E, Bono G, et al. Headache attributed to
2. nenhuma evidência de envolvimento meningítico infection: observations on the IHS classification (ICHD-II).
ou meningoencefalítico Cephalalgia 2006; 26: 1427–1433.
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos Solomon T, Michael BD, Smoth PE, et al. Management of sus-
dois dos seguintes: pected viral encephalitis in adults – Association of British Neu-
1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal rologists and British Infection Association National Guidelines.
com o início da infecção ou infestação sistêmica J Infect 2012; 64: 347–373.
2. a cefaleia piorou significativamente em paralelo
com a piora da infecção ou infestação sistêmica 9.1.1 Cefaleia atribuída a meningite ou
3. a cefaleia melhorou significativamente em paralelo meningoencefalite bacterianas
com a melhora da infecção ou infestação sistêmica Bohr V, Hansen B, Kjersen H, et al. Sequelae from bacterial men-
4. a cefaleia possui uma das ou ambas as seguintes ingitis and their relation to the clinical condition during acute
características: illness, based on 667 questionnaire returns. Part II of a three
a) dor difusa part series. J Infect 1983; 7: 102–110.
b) intensidade moderada ou forte Brooks RG, Licitra CM and Peacock MG. Encephalitis caused by
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. Coxiella burnetii. Ann Neurol 1986; 20: 91–93.

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132
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

10. Cefaleia atribuída a transtorno Introdução


da homeostase
Os mecanismos por trás da causalidade dos diferentes tipos
10.1 Cefaleia atribuída a hipóxia e/ou hipercapnia de 10. Cefaleia atribuída a transtorno da homeostase são
10.1.1 Cefaleia da altitude elevada variados. Contudo, é possível estabelecer critérios diagnós-
10.1.2 Cefaleia atribuída a viagem de avião ticos gerais, aplicáveis na maioria dos casos, como segue:
10.1.3 Cefaleia do mergulho
10.1.4 Cefaleia da apneia do sono A. Cefaleia preenchendo o critério C
10.2 Cefaleia da diálise B. Um transtorno da homeostase reconhecidamente capaz
10.3 Cefaleia atribuída a hipertensão arterial de causar cefaleia foi diagnosticado
10.3.1 Cefaleia atribuída a feocromocitoma C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
10.3.2 Cefaleia atribuída a crise hipertensiva sem encefalopatia dois dos seguintes:
hipertensiva 1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal
10.3.3 Cefaleia atribuída a encefalopatia hipertensiva com o início do transtorno da homeostase
10.3.4 Cefaleia atribuída a pré-eclâmpsia ou eclâmpsia 2. um dos ou ambos os seguintes:
10.3.5 Cefaleia atribuída a disreflexia autonômica a) a cefaleia piorou significativamente em para-
10.4 Cefaleia atribuída ao hipotireoidismo lelo com a piora do transtorno da homeostase
10.5 Cefaleia atribuída ao jejum b) a cefaleia melhorou significativamente após a
10.6 Cefalalgia cardíaca resolução do transtorno da homeostase
10.7 Cefaleia atribuída a outro transtorno da homeostase 3. a cefaleia possui características típicas para o
transtorno da homeostase
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
Codificada em outro local
7.1.2 Cefaleia atribuída a hipertensão intracraniana secun- 10.1 Cefaleia atribuída a hipóxia
dária a causas metabólicas, tóxicas ou hormonais. e/ou hipercapnia
Descrição: Cefaleia causada pela hipóxia e/ou hipercapnia
Comentário geral e ocorrendo em condições de exposição a uma delas ou a
ambas.
Primária, secundária ou ambas? As regras gerais para atribui-
ção a outro transtorno aplicam-se a 10. Cefaleia atribuída a Critérios diagnósticos:
transtorno da homeostase. A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
B. Exposição a condições de hipóxia e/ou hipercapnia
1. Quando uma cefaleia nova ocorre pela primeira vez em C. Evidência de causalidade demonstrada por um dos ou
estreita relação temporal com um transtorno da homeos- ambos os seguintes:
tase, ela é codificada como uma cefaleia secundária 1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal
atribuída àquele transtorno. Isso permanece verdadeiro com a exposição
quando a nova cefaleia possui as características de qual- 2. um dos ou ambos os seguintes:
quer uma das cefaleias primárias classificadas na Parte a) a cefaleia piorou significativamente em para-
Um da ICHD-3. lelo com a exposição crescente à hipóxia e/ou
2. Quando uma cefaleia pré-existente, com as caracte- hipercapnia
rísticas de uma cefaleia primária torna-se crônica ou b) a cefaleia melhorou significativamente em
piora significativamente (significando habitualmente paralelo com a melhora na hipóxia e/ou
um aumento de duas vezes ou mais na sua frequência hipercapnia
e/ou gravidade) em estreita relação temporal com um D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
transtorno da homeostase, tanto o diagnóstico inicial de
cefaleia como o diagnóstico de 10. Cefaleia atribuída a
transtorno da homeostase (ou um dos seus tipos ou sub- 10.1.1 Cefaleia da altitude elevada
tipos) devem ser dados, contanto que haja evidência de
boa qualidade de que o transtorno pode causar cefaleia. Descrição: Cefaleia, habitualmente bilateral e agravada pelo
esforço, causada por ascensão acima de 2500 metros. Ela
desaparece espontaneamente dentro de 24 horas após a
descida.

133
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

Critérios diagnósticos: C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos


A. Cefaleia preenchendo o critério C dois dos seguintes:
B. Ocorreu subida a altitude acima de 2500 metros 1. a cefaleia desenvolveu-se durante uma voo de avião
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos 2. um dos ou ambos os seguintes:
dois dos seguintes: a) a cefaleia piorou em relação temporal com a
1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal subida do avião após a decolagem e/ou a des-
com a ascensão cida antes do pouso
2. um dos ou ambos os seguintes: b) a cefaleia melhorou espontaneamente dentro
a) a cefaleia piorou significativamente em para- de 30 minutos após a subida ou a descida do
lelo com a ascensão contínua avião estarem concluídas
b) a cefaleia desapareceu dentro de 24 horas 3. a cefaleia é forte, com ao menos duas das três
após a descida abaixo dos 2500 metros seguintes características:
3. a cefaleia tem ao menos duas das três seguintes a) localização unilateral1
características: b) localização orbitofrontal2
a) localização bilateral c) qualidade em golpe ou facada3
b) intensidade fraca ou moderada D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.4
c) agravada por esforço, movimento, prensa
abdominal, tosse e/ou curvar-se Notas:
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. 1. A mudança de lado entre diferentes voos ocorre em cerca
de 10% dos casos.
Comentários: A 10.1.1 Cefaleia da altitude elevada é uma 2. O alastramento parietal pode ocorrer.
complicação frequente da ascensão à altitude, ocorrendo em 3. Pulsação (latejamento) também pode ser observada.
mais de 30% dos montanhistas. Os fatores de risco incluem 4. A sinusopatia, em particular, deve ser excluída.
um histórico de 1. Migrânea, baixa saturação de oxigênio
arterial, alto grau percebido de esforço, restrições no fluxo Comentários: Um levantamento escandinavo recente indi-
venoso e baixa ingestão de fluídos (<2 litros em 24 horas). cou que até 8,3% dos viajantes aéreos experimentam 10.1.2
A maioria dos casos de 10.1.1 Cefaleia da altitude ele- Cefaleia atribuída a viagem de avião. Ela ocorre durante o
vada responde a analgésicos simples, como o paracetamol pouso em mais de 90% dos casos.
(acetaminofeno) ou ibuprofeno. No entanto, o mal agudo da Os sintomas acompanhantes são relatados em até 30%
montanha consiste de cefaleia ao menos moderada combi- dos casos. Os mais frequentes são inquietação e lacrimeja-
nada com um ou mais dos seguintes sintomas: náusea, ano- mento unilateral; outros sintomas parassimpáticos localiza-
rexia, fadiga, fotofobia, tontura e distúrbios do sono. A ace- dos, náusea ou foto/fonofobia, têm sido descritos em menos
tazolamida (125 mg, duas ou três vezes ao dia) e esteroides de 5% dos casos.
podem reduzir a suscetibilidade ao mal agudo da montanha. Uma proporção de indivíduos experimentando a 10.1.2
Outras estratégias preventivas incluem dois dias de aclima- Cefaleia atribuída a viagem de avião relatam uma cefaleia
tação antes do engajamento em esforços extenuantes em alti- semelhante durante mergulho livre (com snorkel) e/ou des-
tudes elevadas, ingestão liberal de fluídos e evitar o álcool. cida rápida de montanha, sugerindo que essas cefaleias são
Morar em altitudes acima de 1000 metros aumenta não devidas ao desequilíbrio entre as pressões intra sinusal e
somente a prevalência, mas também a gravidade dos sinto- externa do ar.
mas de 1. Migrânea. Os mecanismos são desconhecidos e
provavelmente não relacionados àqueles de 10.1.1 Cefaleia
da altitude elevada. 10.1.3   Cefaleia do mergulho

Codificadas em outros locais: 1. Migrânea, 2. Cefaleia do tipo


10.1.2   Cefaleia atribuída a viagem de avião tensão, 4.2 Cefaleia primária do exercício, 4.5 Cefaleia
por estímulo frio, 4.6.1 Cefaleia por compressão externa e
Descrição: Cefaleia, frequentemente forte, habitualmente uni- 11.2.1 Cefaleia cervicogênica podem ocorrer durante um
lateral e periocular e sem sintomas autonômicos, ocorrendo mergulho. Nesses casos, o mergulho deve ser considerado
durante e causada por viagem de avião. Ela desaparece após mais um fator precipitante do que a causa, e, de acordo com
o pouso. isso, a cefaleia deve ser codificada para esses transtornos.
É sabido que o mergulho é uma causa de dissecção das
Critérios diagnósticos: artérias carótida ou vertebrais cervicais. A cefaleia que ocorre
A. Ao menos dois episódios de cefaleia preenchendo o como resultado deve ser codificada como 6.5.1.1 Cefaleia ou
critério C dor facial ou cervical aguda atribuída a dissecção da artéria
B. O paciente está viajando de avião carótida cervical ou da artéria vertebral.

134
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

Descrição: Cefaleia causada por mergulho a uma profundi- A 10.1.3 Cefaleia do mergulho habitualmente intensifi-
dade maior que 10 metros, ocorrendo durante o mergulho ca-se durante a fase de descompressão do mergulho ou na
mas frequentemente intensificada na volta à superfície, na volta à superfície.
ausência de doença da descompressão. É habitualmente
acompanhada por sintomas de intoxicação por dióxido de
carbono (CO2). Ela desaparece rapidamente com oxigênio 10.1.4   Cefaleia da apneia do sono
ou espontaneamente, se esse não é dado, dentro de três dias
após o fim do mergulho. Descrição: Cefaleia matinal, habitualmente bilateral e com
duração de menos de quatro horas, causada por apneia do
Critérios diagnósticos: sono. O transtorno desaparece com o tratamento bem suce-
A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C dido da apneia do sono.
B. Ambos os seguintes:
1. o paciente está mergulhando a uma profundidade > Critérios diagnósticos:
10 metros A. Cefaleia presente no despertar após o sono e preen-
2. não há evidência da doença da descompressão chendo o critério C
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos B. Apneia do sono, com índice de apneia-hipopneia ≥5, foi
um dos seguintes: diagnosticada1
1. a cefaleia desenvolveu-se durante o mergulho C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
2. um dos ou ambos os seguintes: dois dos seguintes:
a) a cefaleia piorou com a continuação do 1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal
mergulho com o início da apneia do sono
b) qualquer um dos seguintes: 2. um dos ou ambos os seguintes:
i. a cefaleia desapareceu espontaneamente a) a cefaleia piorou em paralelo com a piora da
dentro de três dias após a conclusão do apneia do sono
mergulho b) a cefaleia melhorou significativamente
ii. a cefaleia remitiu dentro de 1 hora após ou entrou em remissão em paralelo com a
o tratamento com oxigênio a 100% melhora ou resolução da apneia do sono
3. ao menos um dos seguintes sintomas de intoxica- 3. a cefaleia possui ao menos uma das três seguintes
ção por CO2: características:
a) confusão mental a) repete-se em ≥15 dias por mês
b) tontura b) todos os seguintes:
c) incoordenação motora i. localização bilateral
d) dispneia ii. qualidade em pressão
e) rubor facial iii. não acompanhada por náusea, fotofobia
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. ou fonofobia
c) desaparece dentro de 4 horas
Comentário: Há evidências de que a hipercapnia, na ausência D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.2
de hipoxia, está associada à cefaleia. A hipercapnia (pressão
arterial de CO2 >50 mmHg) é sabidamente capaz de causar Notas:
o relaxamento do músculo liso cerebrovascular, levando à 1. O índice de apneia-hipopneia é calculado dividindo o
vasodilatação intracraniana e ao aumento da pressão intra- número de eventos apneicos pelo número de horas de
craniana. O melhor exemplo clínico de cefaleia atribuída à sono (5-15/hora = leve; 15-30/hora = moderado; >30/
hipercapnia é a 10.1.3 Cefaleia do mergulho. O dióxido de hora = grave).
carbono (CO2) pode acumular-se em um mergulhador que 2. Um diagnóstico definitivo requer uma polissonografia de
intencionalmente prende a sua respiração intermitentemente noite inteira.
(“skip breathing”), em uma tentativa errônea de economi-
zar o ar, ou realiza respirações superficiais para minimizar Comentários: A 10.1.4 Cefaleia da apneia do sono parece ser
as variações de flutuação nas passagens estreitas de um nau- menos frequente e de duração mais longa do que se acredi-
frágio ou de uma caverna. Os mergulhadores também podem tava previamente. Embora a cefaleia matinal seja significati-
hipoventilar inadvertidamente quando uma roupa de mergu- vamente mais comum em pacientes com apneia do sono do
lho ou um colete flutuador muito justos restringe a expansão que na população em geral, a cefaleia presente ao despertar
da parede torácica, ou quando a ventilação é inadequada em é um sintoma inespecífico que ocorre em uma variedade de
resposta ao esforço físico. O exercício extenuante eleva a cefaleias primárias e secundárias, em outras doenças respira-
taxa de produção de CO2 em mais de 10 vezes, resultando em tórias relacionadas ao sono que não a apneia do sono (p.ex.
uma elevação transitória da pCO2 para >60 mmHg. síndrome de Pickwick, doença pulmonar obstrutiva crônica)

135
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

e em outros transtornos primários do sono, como a síndrome Critérios diagnósticos:


dos movimentos periódicos das pernas durante o sono. A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
Não está claro o quanto o mecanismo de 10.1.4 Cefaleia B. Hipertensão, com pressão sistólica ≥180 mmHg e/ou
da apneia do sono está relacionada à hipoxia, hipercapnia ou pressão diastólica ≥120 mmHg, foi demonstrada
alteração do sono. C. Evidência de causalidade demonstrada por um dos ou
ambos os seguintes:
1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal
10.2   Cefaleia da diálise com o início da hipertensão
2. um dos ou ambos os seguintes:
Descrição: Cefaleia sem características específicas, ocorrendo a) a cefaleia piorou significativamente em para-
durante e causada pela hemodiálise. Ela desaparece espon- lelo com a piora da hipertensão
taneamente dentro de 72 horas após o término da sessão de b) a cefaleia melhorou significativamente em
hemodiálise. paralelo com a melhora da hipertensão
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
Critérios diagnósticos:
A. Ao menos três episódios de cefaleia aguda preenchendo Comentários: A hipertensão arterial crônica leve (140-159/90-
o critério C 99 mmHg) ou moderada (160-179/100-109 mmHg) não
B. O paciente está em hemodiálise parece causar cefaleia. O quanto a hipertensão arterial
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos moderada predispõe à cefaleia permanece controverso, mas
dois dos seguintes: há alguma evidência de que ela o faz.
1. cada cefaleia desenvolveu-se durante uma sessão A monitorização ambulatorial da pressão arterial em
de hemodiálise pacientes com hipertensão leve e moderada não demonstrou
2. um dos ou ambos os seguintes: qualquer relação convincente entre as flutuações da pressão
a) cada cefaleia piorou durante a sessão de diálise arterial ao longo de um período de 24 horas e a presença ou
b) cada cefaleia desapareceu dentro de 72 horas ausência de cefaleia.
após o término da sessão de diálise
3. os episódios de cefaleia cessam por completo após
o transplante renal bem sucedido e o encerramento 10.3.1   Cefaleia atribuída a feocromocitoma
da hemodiálise
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.1 Codificada em outro local: Quando encefalopatia hipertensiva
está presente, a cefaleia é codificada como 10.3.3 Cefaleia
Nota: A cafeína é rapidamente removida pela diálise: a 8.3.1 atribuída a encefalopatia hipertensiva. Quando o diagnós-
Cefaleia por supressão de cafeína deve ser considerada em tico de feocromocitoma ainda não foi feito, e a encefalopatia
pacientes que consomem grandes quantidades de cafeína. hipertensiva não está presente, os pacientes podem preen-
cher os critérios diagnósticos para 10.3.2 Cefaleia atribuída
Comentários: A 10.2 Cefaleia da diálise ocorre comumente a crise hipertensiva sem encefalopatia hipertensiva.
em associação com hipotensão e com a síndrome do desequi-
líbrio dialítico. Essa síndrome pode começar como cefaleia Descrição: Crises de cefaleia, habitualmente forte e de curta
e então progredir para obnubilação e, finalmente, coma, com duração (menos de uma hora) e acompanhada por sudo-
ou sem convulsões. Ela é relativamente rara e pode ser pre- rese, palpitações, palidez e/ou ansiedade, causadas por
venida pela modificação dos parâmetros dialíticos. feocromocitoma.
Variações nos níveis de ureia, sódio e magnésio e na
pressão arterial e peso corporal podem ser fatores de risco Critérios diagnósticos:
para o desenvolvimento de 10.2 Cefaleia da diálise. A. Episódios de cefaleia de curta duração, isolados e recor-
rentes, preenchendo o critério C
B. Feocromocitoma foi demonstrado
10.3   Cefaleia atribuída a C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
  hipertensão arterial dois dos seguintes:
1. os episódios de cefaleia começaram em relação
Descrição: Cefaleia, frequentemente bilateral e pulsátil, cau- temporal com o desenvolvimento do feocromoci-
sada pela hipertensão arterial, habitualmente durante uma toma ou levaram à sua descoberta
elevação aguda da pressão sistólica (para ≥180 mmHg) e/ou 2. um dos ou ambos os seguintes:
diastólica (para ≥120 mmHg). Ela desaparece após a norma- a) os episódios individuais de cefaleia desenvol-
lização da pressão arterial. vem-se em relação temporal com elevações
abruptas da pressão arterial

136
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

b) os episódios individuais de cefaleia desapare- 1. a cefaleia desenvolveu-se durante a crise


cem em relação temporal com a normalização hipertensiva
da pressão arterial 2. um dos ou ambos os seguintes:
3. a cefaleia é acompanhada por ao menos um dos a) a cefaleia piorou significativamente em para-
seguintes: lelo com a hipertensão crescente
a) sudorese b) a cefaleia melhorou significativamente ou
b) palpitações desapareceu em paralelo com a melhora ou a
c) ansiedade resolução da crise hipertensiva
d) palidez 3. a cefaleia possui ao menos uma das três seguintes
4. os episódios de cefaleia desaparecem inteiramente características:
após a remoção do feocromocitoma a) localização bilateral
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.1 b) qualidade pulsátil
c) precipitada por atividade física
Nota: D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
1. O diagnóstico de feocromocitoma é estabelecido pela
demonstração da excreção aumentada de catecolaminas Nota:
ou dos seus metabólitos e pode habitualmente ser con- 1. Uma crise hipertensiva é definida como uma eleva-
firmado pela análise de uma única amostra de urina de ção paroxística na pressão arterial sistólica (para ≥180
24 horas coletada quando o paciente está hipertenso ou mmHg) e/ou diastólica (para ≥120 mmHg).
sintomático.
Comentário: A hipertensão paroxística pode ocorrer em
Comentários: A 10.3.1 Cefaleia atribuída a feocromocitoma associação com a falência dos reflexos dos barorrecepto-
ocorre como uma cefaleia paroxística, em 51-80% dos res (após endarterectomia carotídea ou subsequentemente a
pacientes com feocromocitoma. irradiação cervical) ou em pacientes com tumores de células
A 10.3.1 Cefaleia atribuída a feocromocitoma é frequen- enterocromafins.
temente de intensidade forte, frontal ou occipital e habitual-
mente descrita como de qualidade tanto pulsátil como cons-
tante. Uma característica importante é a sua curta duração: 10.3.3   Cefaleia atribuída a encefalopatia
menos de 15 minutos em 50% dos pacientes e menos de  hipertensiva
uma hora em 70% deles. Características associadas incluem
apreensão e/ou ansiedade, frequentemente com uma sensa- Descrição: Cefaleia, habitualmente bilateral e pulsátil, causada
ção de morte iminente, tremor, distúrbios visuais, dor abdo- pela elevação persistente da pressão arterial para 180/120
minal ou torácica, náusea, vômitos e, ocasionalmente, pares- mmHg ou mais e acompanhada por sintomas de encefalopa-
tesia. A face pode empalidecer ou ruborizar durante a crise. tia tais como confusão, letargia, distúrbios visuais ou convul-
sões. Ela melhora após a normalização da pressão arterial.

10.3.2   Cefaleia atribuída a crise hipertensiva Critérios diagnósticos:


  sem encefalopatia hipertensiva A. Cefaleia preenchendo o critério C
B. Encefalopatia hipertensiva foi diagnosticada
Codificada em outro local: 10.3.1 Cefaleia atribuída a C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
feocromocitoma. dois dos seguintes:
1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal
Descrição: Cefaleia, habitualmente bilateral e pulsátil, cau- com o início da encefalopatia hipertensiva
sada por uma elevação paroxística de hipertensão arterial 2. um dos ou ambos os seguintes:
(sistólica ≥180 mmHg e/ou diastólica ≥120 mmHg). Ela a) a cefaleia piorou significativamente em para-
desaparece após a normalização da pressão arterial. lelo com a piora da encefalopatia hipertensiva
b) a cefaleia melhorou significativamente ou
Critérios diagnósticos: desapareceu em paralelo com a melhora ou
A. Cefaleia preenchendo o critério C resolução da encefalopatia hipertensiva
B. Ambos os seguintes: 3. a cefaleia possui ao menos duas das três seguintes
1. Uma crise hipertensiva1 está ocorrendo características:
2. não há características clínicas ou outra evidência a) dor difusa
de encefalopatia hipertensiva b) qualidade pulsátil
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos c) agravada pela atividade física
dois dos seguintes: D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.

137
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

Comentários: A encefalopatia hipertensiva apresenta-se com c) agravada pela atividade física


uma elevação persistente da pressão arterial para ≥180/120 D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
mmHg e ao menos dois dos seguintes: confusão, rebaixa-
mento da consciência, distúrbios visuais - incluindo cegueira Comentários: A pré-eclâmpsia e a eclâmpsia parecem envol-
- e convulsões. Considera-se que ocorre quando a vasocons- ver uma forte resposta inflamatória materna, com ampla ati-
trição cerebrovascular compensatória não consegue mais vidade imunológica sistêmica. A placenta parece ser essen-
prevenir a hiperperfusão cerebral à medida que a pressão cial para o seu desenvolvimento, embora relatos de casos
arterial sobe. Conforme a autorregulação cerebral normal indiquem que a eclâmpsia pode ocorrer tanto no puerpério
do fluxo sanguíneo é suplantada, aumenta a permeabili- como na gravidez.
dade endotelial e o edema cerebral ocorre. Na RM, isto é A pré-eclâmpsia e a eclâmpsia são transtornos multis-
frequentemente mais proeminente na substância branca sistêmicos com formas variadas. O seu diagnóstico requer
parietooccipital. hipertensão (>140/90 mmHg) documentada em duas medi-
Embora a encefalopatia hipertensiva em pacientes com ções da pressão arterial feitas com ao menos quatro horas
hipertensão arterial crônica seja habitualmente acompa- de intervalo ou uma elevação na pressão diastólica de ≥15
nhada por uma pressão arterial diastólica de >120 mmHg e mmHg ou na pressão sistólica de ≥30 mmHg, em combina-
por retinopatia hipertensiva grau III ou IV (classificação de ção com uma excreção de proteína urinária >0,3 g/24 horas.
Keith-Wagener-Barker), indivíduos previamente normoten- Além disso, podem ocorrer edema tissular, trombocitopenia
sos podem desenvolver sinais de encefalopatia com pressões e anormalidades na função hepática.
arteriais tão baixas quanto 160/100 mmHg. A retinopatia
hipertensiva pode não estar presente no momento da apre-
sentação clínica. 10.3.5   Cefaleia atribuída a disreflexia autonômica
Qualquer causa de hipertensão pode levar à encefalopa-
tia hipertensiva. A cefaleia atribuída a encefalopatia hiper- Descrição: Cefaleia forte e latejante, com início súbito, em
tensiva deve ser codificada como 10.3.3 Cefaleia atribuída pacientes com lesão na medula espinhal e disreflexia auto-
a encefalopatia hipertensiva, independentemente da causa nômica. Essa última, a qual pode representar uma ameaça
subjacente. à vida, manifesta-se como uma elevação paroxística da
pressão arterial, entre outros sintomas e sinais clínicos, e é
frequentemente desencadeada por irritação da bexiga ou do
10.3.4   Cefaleia atribuída a pré-eclâmpsia intestino (por infecção, distensão ou impactação).
  ou eclâmpsia
Critérios diagnósticos:
Descrição: Cefaleia, habitualmente bilateral e pulsátil, ocor- A. Cefaleia, de início repentino, preenchendo o critério C
rendo em mulheres durante a gestação ou puerpério imediato B. Presença de lesão na medula espinhal e disreflexia auto-
com pré-eclâmpsia ou eclâmpsia. Ela desaparece após a nômica documentada por uma elevação paroxística da
resolução da pré-eclâmpsia ou eclâmpsia. pressão sistólica de ≥30 mmHg e/ou da pressão diastó-
lica de ≥20 mmHg, acima da linha de base
Critérios diagnósticos: C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
A. Cefaleia, em uma mulher que está grávida ou no dois dos seguintes:
puerpério (até 4 semanas pós-parto), preenchendo o cri- 1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal
tério C com a elevação da pressão arterial
B. Pré-eclâmpsia ou eclâmpsia foi diagnosticada 2. um dos ou ambos os seguintes:
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos a) a cefaleia piorou significativamente em para-
dois dos seguintes: lelo com o aumento da pressão arterial
1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal b) a cefaleia melhorou significativamente em
com o início da pré-eclâmpsia ou eclâmpsia paralelo com a redução da pressão arterial
2. um dos ou ambos os seguintes: 3. a cefaleia possui ao menos duas das quatro seguin-
a) a cefaleia piorou significativamente em para- tes características:
lelo com a piora da pré-eclâmpsia ou eclâmpsia a) intensidade forte
b) a cefaleia melhorou significativamente ou b) qualidade pulsátil, latejante
desapareceu em paralelo com a melhora ou c) acompanhada por diaforese acima do nível da
resolução da pré-eclâmpsia ou eclâmpsia lesão na medula espinhal
3. a cefaleia possui ao menos duas das três seguintes b) desencadeada por reflexos vesicais ou
características: intestinais
a) localização bilateral D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
b) qualidade pulsátil

138
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

Comentários: O tempo para o início da disreflexia autonômica Conquanto a 10.4 Cefaleia atribuída ao hipotireoidismo
pós-lesão medular espinhal é variável e tem sido relatado não seja entendida como associada a náusea ou vômitos,
como de 4 dias a 15 anos. um estudo recente descobriu que pacientes com hipotireoi-
Dado que a disreflexia autonômica pode ser uma condi- dismo podem apresentar-se com cefaleia pulsátil, episódica
ção que coloca em risco a vida do paciente, o seu imediato e unilateral, acompanhada por náusea e/ou vômito. A metade
reconhecimento e tratamento adequado são críticos. Tipica- dos pacientes estudados tinha um histórico de 1. Migrânea,
mente, a 10.3.5 Cefaleia atribuída a disreflexia autonômica é portanto a importância desses resultados não é clara e eles
uma cefaleia forte e de início súbito, acompanhada por vários requerem confirmação em estudos futuros.
outros sintomas e sinais clínicos, incluindo pressão arterial
elevada, frequência cardíaca alterada e diaforese acima do
nível da lesão na medula espinhal. Estes são desencadeados 10.5   Cefaleia atribuída ao jejum
por estímulos nocivos ou não nocivos, habitualmente de ori-
gem visceral (distensão da bexiga, infecção do trato urinário, Codificada em outro local: Um episódio de migrânea desenca-
distensão ou impactação intestinal, procedimentos urológi- deado por jejum é codificado como 1. Migrânea ou um dos
cos, úlcera gástrica e outros), mas algumas vezes somática seus tipos.
(úlceras de pressão, unha encravada, queimaduras, trauma
ou procedimentos invasivos cirúrgicos ou diagnósticos). Descrição: Cefaleia não pulsátil e difusa, habitualmente fraca
a moderada, ocorrendo durante e causada por jejum de ao
menos oito horas. Ela alivia após a alimentação.
10.4   Cefaleia atribuída ao hipotireoidismo
Critérios diagnósticos:
Codificada em outro local: Na presença do hipotireoidismo, a A. Cefaleia difusa, não preenchendo os critérios para 1.
cefaleia também pode ser uma manifestação de um adenoma Migrânea ou qualquer dos seus tipos, mas preenchendo
pituitário, codificada como 7.4.3 Cefaleia atribuída a hiper o critério C, abaixo
ou hipossecreção hipotalâmica ou hipofisária. B. O paciente está em jejum por ≥8 horas
C. Evidência de causalidade demonstrada por ambos os
Descrição: Cefaleia, habitualmente bilateral e não pulsátil, ocor- seguintes:
rendo em pacientes com hipotireoidismo e entrando em remis- 1. a cefaleia desenvolveu-se durante o jejum
são após a normalização dos níveis dos hormônios da tireoide. 2. a cefaleia melhorou significativamente após a
alimentação
Critérios diagnósticos: D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.1
A. Cefaleia preenchendo o critério C
B. Hipotireoidismo foi demonstrado Nota: A 10.5 Cefaleia atribuída ao jejum é tipicamente
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos difusa, não pulsátil e de intensidade fraca a moderada. Nos
dois dos seguintes: pacientes com uma história prévia de 1. Migrânea, a cefa-
1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal leia durante o jejum pode assemelhar-se a 1.1 Migrânea sem
com o início do hipotireoidismo ou levou à sua aura e deve ser codificada de acordo (o jejum sendo um fator
descoberta precipitante), quando os critérios para esse transtorno são
2. um dos ou ambos os seguintes: preenchidos.
a) a cefaleia piorou significativamente em para-
lelo com a piora do hipotireoidismo Comentários: A 10.5 Cefaleia atribuída ao jejum é significa-
b) a cefaleia melhorou significativamente ou tivamente mais comum em indivíduos que têm um histórico
desapareceu em paralelo com a melhora ou de cefaleia primária.
resolução do hipotireoidismo A probabilidade da cefaleia desenvolver-se como resul-
3. a cefaleia possui uma das ou ambas as seguintes tado do jejum aumenta com a duração do mesmo. No entanto,
características: a 10.5 Cefaleia atribuída ao jejum não parece estar relacio-
a) localização bilateral nada à duração do sono, retirada de cafeína ou hipoglicemia.
b) constante ao longo do tempo Embora a cefaleia possa ocorrer sob condições de disfunção
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. cerebral induzida pela hipoglicemia, não há evidência con-
clusiva a apoiar uma associação causal. A 10.5 Cefaleia atri-
Comentários: Tem sido estimado que aproximadamente buída ao jejum pode ocorrer na ausência da hipoglicemia, a
30% dos pacientes com hipotireoidismo sofrem de 10.4 hipoglicemia induzida pela insulina não precipita a cefaleia
Cefaleia atribuída ao hipotireoidismo. O seu mecanismo é em indivíduos migranosos e a cefaleia não é uma queixa de
incerto. Há uma preponderância nas mulheres e, frequente- pacientes que se apresentam no departamento de emergência
mente, um histórico de migrânea. com hipoglicemia sintomática.

139
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

10.6   Cefalalgia cardíaca Critérios diagnósticos:


A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
Descrição: Cefaleia migrânea-símile, habitualmente, mas B. Um transtorno da homeostase diferente dos descritos
nem sempre, agravada pelo exercício, ocorrendo durante acima e reconhecidamente capaz de causar cefaleia foi
um episódio de isquemia miocárdica. Ela é aliviada pela diagnosticado
nitroglicerina. C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
um dos seguintes:
Critérios diagnósticos: 1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal
A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C com o início do transtorno da homeostase
B. Isquemia miocárdica aguda foi demonstrada 2. a cefaleia piorou significativamente em paralelo
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos com a piora do transtorno da homeostase
dois dos seguintes: 3. a cefaleia melhorou significativamente ou desapa-
1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal receu em paralelo com a melhora ou resolução do
com o início da isquemia miocárdica aguda transtorno da homeostase
2. um dos ou ambos os seguintes: D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
a) a cefaleia piorou significativamente em para-
lelo com a piora da isquemia miocárdica Comentários: Embora relações entre cefaleia e uma variedade
b) a cefaleia melhorou significativamente ou de doenças sistêmicas e metabólicas tenham sido propostas,
desapareceu em paralelo com a melhora ou uma avaliação sistemática dessas relações não foi feita e há
resolução da isquemia miocárdica evidência insuficiente para a construção de critérios diagnós-
3. a cefaleia possui ao menos duas das quatro seguin- ticos operacionais.
tes características:
a) intensidade moderada ou forte
b) acompanhada por náusea Bibliografia
c) não acompanhada por fotofobia ou fonofobia
d) agravada pelo esforço Bigal ME and Gladstone J. The metabolic headaches. Curr Pain
4. a cefaleia é aliviada pela nitroglicerina ou derivados Headache Rep 2008; 12: 292–295.
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
10.1.1 Cefaleia da altitude elevada
Comentários: O diagnóstico deve incluir a documentação cui- Appenzeller O. Altitude headache. Headache 1972; 12: 126–129.
dadosa da cefaleia e da isquemia cardíaca simultânea durante Arngrim N, Schytz HW, Hauge MK, et al. Carbon monoxide may
o teste de esteira ou a cintilografia miocárdica de estresse. be an important molecule in migraine and other headaches.
No entanto, 10.6 Cefalalgia cardíaca ocorrendo durante o Cephalalgia 2014; 34: 1169–1180.
repouso tem sido relatada. Burtscher M, Mairer K, Wille M, et al. Risk factors for high-altitude
A falha em reconhecer e corretamente diagnosticar a 10.6 headache in mountaineers. Cephalalgia 2011; 31: 706–711.
Cefalalgia cardíaca pode ter consequências graves. Logo, Clarke C. Acute mountain sickness: medical problems associated
distinguir esse transtorno de 1.1 Migrânea sem aura é de with acute and subacute exposure to hypobaric hypoxia. Post-
importância crucial, particularmente porque os medicamen- grad Med J 2006; 82: 748–753.
tos vasoconstritores (p.ex. triptanas, ergóticos) são indica- Ginsberg MD. Carbon monoxide intoxication: clinical features,
dos no tratamento da migrânea mas contraindicados para os neuropathology and mechanisms of injury. J Toxicol Clin Toxi-
pacientes com doença cardíaca isquêmica. Ambos os trans- col 1985; 23: 281–288.
tornos podem produzir dor de cabeça forte acompanhada Heckerling PS, Leikiin JB, Maturen A, et al. Predictors of occult
por náusea, e ambos podem ser desencadeados pelo esforço. carbon monoxide poisoning in patients with headache and diz-
Uma cefaleia semelhante à migrânea pode ser desencadeada ziness. Ann Intern Med 1987; 107: 174–176.
por um tratamento para angina, como a nitroglicerina. Jafarian S, Gorouhi F and Lotfi J. Reverse association between
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10.7   Cefaleia atribuída a outro Linde M, Edvinsson L, Manandhar K, et al. Migraine associated
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142
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

11. Cefaleia ou dor facial atribuída a cefaleia, ela é codificada como uma cefaleia secundária
transtorno do crânio, pescoço, olhos, atribuída àquele transtorno. Isso permanece verdadeiro
quando a nova cefaleia possui as características de qual-
orelhas, nariz, seios paranasais, quer uma das cefaleias primárias classificadas na Parte
dentes, boca ou outra estrutura Um da ICHD-3.
facial ou cervical 2. Quando uma cefaleia pré-existente, com as caracte-
rísticas de uma cefaleia primária, torna-se crônica ou
11.1 Cefaleia atribuída a transtorno de osso craniano piora significativamente (significando habitualmente um
11.2 Cefaleia atribuída a transtorno cervical aumento de duas ou mais vezes na sua frequência e/ou
11.2.1 Cefaleia cervicogênica gravidade) em estreita relação temporal com um trans-
11.2.2 Cefaleia atribuída a tendinite retrofaríngea torno craniano, cervical, facial, dos olhos, orelhas, nariz,
11.2.3 Cefaleia atribuída a distonia craniocervical seios paranasais, dentes ou boca, tanto o diagnóstico ini-
11.3 Cefaleia atribuída a transtorno dos olhos cial de cefaleia como o diagnóstico de 11. Cefaleia ou
11.3.1 Cefaleia atribuída a glaucoma agudo de ângulo fechado dor facial atribuída a transtorno do crânio, pescoço,
11.3.2 Cefaleia atribuída a erro de refração olhos, orelhas, nariz, seios paranasais, dentes, boca ou
11.3.3 Cefaleia atribuída a transtorno inflamatório ocular\ outra estrutura facial ou cervical (ou um dos seus sub-
11.3.4 Cefaleia troclear tipos) devem ser dados, contanto que haja evidência de
11.4 Cefaleia atribuída a transtorno das orelhas boa qualidade de que o transtorno pode causar cefaleia.
11.5 Cefaleia atribuída a transtorno do nariz ou dos seios paranasais
11.5.1 Cefaleia atribuída a rinossinusite aguda
11.5.2 Cefaleia atribuída a rinossinusite crônica ou recorrente Introdução
11.6 Cefaleia atribuída a transtorno dos dentes
11.7 Cefaleia atribuída a transtorno temporomandibular (TTM) Os transtornos da coluna cervical e de outras estruturas do
11.8 Cefaleia ou dor facial atribuída a inflamação do ligamento pescoço e da cabeça têm sido considerados como causas
estilo-hióideo comuns de cefaleia, já que muitas cefaleias parecem origi-
11.9 Cefaleia ou dor facial atribuída a outro transtorno do crânio, nar-se das regiões cervical, nucal ou occipital ou são lá loca-
pescoço, olhos, orelhas, nariz, seios paranasais, dentes, boca lizadas. Alterações degenerativas da coluna cervical podem
ou outra estrutura facial ou cervical ser encontradas em praticamente todas as pessoas com mais
de 40 anos de idade. Entretanto, estudos controlados de gran-
des proporções têm mostrado que essas alterações são igual-
Codificadas em outro local mente disseminadas entre os indivíduos com e os indivíduos
sem cefaleia. Portanto, a espondilose ou a osteocondrose não
Cefaleias que são causadas por trauma cefálico ou cervical são uma explicação conclusiva para a cefaleia associada.
são classificadas em 5. Cefaleia atribuída a trauma ou lesão Uma situação similar aplica-se a outros transtornos muito
cefálica e/ou cervical. Isso é verdadeiro em particular para frequentes: sinusite crônica, transtornos temporomandibula-
a cefaleia pós-chicotada, apesar da possibilidade provável res e erros de refração dos olhos.
dessas cefaleias serem atribuíveis a uma patologia localizada Sem critérios específicos, seria possível classificar pra-
no pescoço. ticamente qualquer tipo de cefaleia como 11. Cefaleia ou
As cefaleias neuralgiformes que se manifestam com dor dor facial atribuída a transtorno do crânio, pescoço, olhos,
facial, cervical e/ou cefálica são classificadas em 13. Lesões orelhas, nariz, seios paranasais, dentes, boca ou outra estru-
dolorosas dos nervos cranianos e outras dores faciais. tura facial ou cervical. Não é suficiente meramente listar as
manifestações das cefaleias para defini-las, uma vez que
essas não são manifestações peculiares. O propósito dos cri-
Comentário geral térios neste capítulo não é descrever as cefaleias em todas
os seus possíveis subtipos e subformas, mas estabelecer
Cefaleia primária, secundária ou ambas? As regras gerais para relações causais específicas entre cefaleias e dor facial e os
atribuição a outro transtorno aplicam-se a 11. Cefaleia ou transtornos do crânio, pescoço, olhos, orelhas, nariz, seios
dor facial atribuída a transtorno do crânio, pescoço, olhos, paranasais, dentes, boca ou outra estrutura facial ou cervical,
orelhas, nariz, seios paranasais, dentes, boca ou outra estru- quando essas existirem. Por essa razão foi necessário identi-
tura facial ou cervical. ficar critérios operacionais específicos rigorosos para a cefa-
leia cervicogênica e outras causas de cefaleia descritas neste
1. Quando uma cefaleia nova ocorre pela primeira vez em capítulo. Não é possível aqui levar em conta testes diagnós-
estreita relação temporal com um transtorno craniano, ticos que não são confirmados ou cujos critérios de qualidade
cervical, facial, dos olhos, orelhas, nariz, seios parana- não tenham sido investigados. Em vez disso, o objetivo é
sais, dentes ou boca reconhecidamente capaz de causar motivar o desenvolvimento de testes operacionais confiáveis

143
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

e válidos, para estabelecer relações causais específicas entre exceções são a osteomielite, o mieloma múltiplo e a doença
as cefaleias e os transtornos craniocervicais. de Paget. Lesões da mastoide e petrosite também podem
Por essas razões, e devido à variedade de transtornos causar cefaleia.
causais abordados neste capítulo, é difícil descrever um con-
junto geral de critérios para cefaleia e/ou dor facial atribuí-
dos a eles. No entanto, na maioria dos casos existe conformi- 11.2   Cefaleia atribuída a transtorno
dade com os seguintes:  cervical
A. Cefaleia ou dor facial preenchendo o critério C Codificada em outro local: A cefaleia causada por trauma cervi-
B. Evidência clínica, laboratorial e/ou de imagem de um cal é classificada em 5. Cefaleia atribuída a trauma ou lesão
transtorno ou lesão do crânio, pescoço, olhos, orelhas, cefálica e/ou cervical ou um dos seus tipos.
nariz, seios paranasais, dentes, boca ou outra estrutura
facial ou cervical reconhecidamente capaz de causar Descrição: Cefaleia causada por um transtorno não traumático
cefaleia envolvendo qualquer estrutura do pescoço, incluindo ele-
C. Evidência de que a dor pode ser atribuída ao transtorno mentos ósseos, musculares e outros tecidos moles.
ou lesão
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
11.2.1  Cefaleia cervicogênica

11.1   Cefaleia atribuída a transtorno Codificadas em outro local: Cefaleia associada de forma causal
  de osso craniano com fontes cervicais de dor miofascial (pontos-gatilho mio-
fasciais) pode, quando preenche outros critérios, ser codi-
Codificada em outro local: A cefaleia causada por trauma cra- ficada como 2.1.1 Cefaleia do tipo tensão episódica infre-
niano é classificada em 5. Cefaleia atribuída a trauma ou quente associada a dolorimento pericraniano, 2.2.1 Cefaleia
lesão cefálica e/ou cervical ou um de seus tipos. do tipo tensão episódica frequente associada a dolorimento
pericraniano ou 2.3.1 Cefaleia do tipo tensão crônica asso-
Descrição: Cefaleia causada por um transtorno não traumático ciada a dolorimento pericraniano. A A11.2.5 Cefaleia atri-
ou uma lesão não traumática dos ossos cranianos. buída a dor miofascial cervical é um diagnóstico do Apên-
dice aguardando evidências de que esse tipo de cefaleia seja
Critérios diagnósticos: mais estreitamente relacionada a outras cefaleias cervico-
A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C gênicas do que a 2. Cefaleia do tipo tensão. Claramente,
B. Evidência clínica, laboratorial e/ou de imagem de um existem muitos casos nos quais há superposição dessas duas
transtorno ou lesão dos ossos cranianos reconhecida- categorias, para os quais o diagnóstico pode ser desafiador.
mente capaz de causar cefaleia
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos Descrição: Cefaleia causada por um transtorno da coluna cer-
dois dos seguintes: vical e dos seus componentes ósseos, discais e/ou elemen-
1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal tos de tecidos moles, acompanhada habitualmente, mas não
com o início do transtorno de osso craniano ou invariavelmente, por dor cervical.
apresentação da lesão
2. um dos ou ambos os seguintes: Critérios diagnósticos:
a) a cefaleia piorou significativamente em para- A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
lelo com a piora do transtorno ósseo craniano B. Evidência clínica e/ou de imagem1 de um transtorno ou
ou lesão óssea craniana lesão na coluna cervical ou nos tecidos moles do pes-
b) a cefaleia melhorou significativamente em coço, reconhecidamente capaz de causar cefaleia2
paralelo com a melhora do transtorno ósseo C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
craniano ou lesão óssea craniana dois dos seguintes:
3. a cefaleia é exacerbada por pressão aplicada à 1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal
lesão óssea craniana com o início do transtorno cervical ou apresenta-
4. cefaleia está localizada na área da lesão óssea ção da lesão
craniana 2. a cefaleia melhorou significativamente ou desapa-
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. receu em paralelo com a melhora ou desapareci-
mento do transtorno ou lesão cervical
Comentário: A maioria dos transtornos do crânio (p.ex. anor- 3. a amplitude de movimento cervical está reduzida e
malidades congênitas, fraturas, tumores, metástases) não a cefaleia é piorada significativamente por mano-
são habitualmente acompanhados por cefaleia. Importantes bras provocativas

144
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

4. a cefaleia é abolida após o bloqueio diagnóstico brais em níveis da coluna cervical alta
de uma estrutura cervical ou do seu suprimento C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
nervoso dois dos seguintes:
d. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.3-5 1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal
com o início da tendinite retrofaríngea ou levou à
Notas: sua descoberta
1. Achados de imagem na coluna cervical alta são comuns 2. um dos ou ambos os seguintes:
em pacientes sem cefaleia; eles são evidência sugestiva, a) a cefaleia piorou significativamente em
mas não firme, de causalidade. paralelo com a progressão da tendinite
2. Os tumores, fraturas, infecções e a artrite reumatoide da retrofaríngea
coluna cervical alta não foram formalmente validados b) a cefaleia melhorou significativamente ou
como causas de cefaleia, mas são aceitos como preen- desapareceu em paralelo com a melhora ou
chedores do critério B em casos individuais. A espondi- resolução da tendinite retrofaríngea
lose e a osteocondrite cervicais podem ou não ser causas 3. a cefaleia piora significativamente com a extensão
válidas preenchendo o critério B, novamente dependendo do pescoço, rotação da cabeça e/ou deglutição1
do caso individual. 4. há dolorimento sobre os processos espinhosos das
3. Quando a dor miofascial cervical é a causa, a cefaleia três vértebras cervicais superiores2
deve provavelmente ser codificada como 2. Cefaleia do D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.3
tipo tensão; entretanto, aguardando-se novas evidências,
o diagnóstico alternativo de A11.2.5 Cefaleia atribuída a Notas:
dor miofascial cervical está no Apêndice. 1. Embora a retroflexão do pescoço mais consistentemente
4. A cefaleia causada por radiculopatia cervical alta tem agrave a dor, o mesmo também ocorre habitualmente
sido postulada e, considerando a agora bem compreen- com a rotação da cabeça e a deglutição.
dida convergência entre as nocicepções cervical alta e 2. Os tecidos sobre os processos transversos das três vérte-
trigeminal, essa é uma causa lógica de cefaleia. Depen- bras superiores estão habitualmente sensíveis à palpação.
dendo de evidências futuras, esse diagnóstico está no 3. A dissecção alta da artéria carótida (ou outra lesão na ou
Apêndice como A11.2.4 Cefaleia atribuída a radiculo- envolvendo a artéria carótida) deve ser excluída antes
patia cervical alta. que o diagnóstico de 11.2.2 Cefaleia atribuída a tendinite
5. Características que tendem a distinguir 11.2.1 Cefaleia retrofaríngea seja confirmado.
cervicogênica de 1. Migrânea e 2. Cefaleia do tipo ten-
são incluem: dor com lateralidade fixa; provocação da Comentários: A temperatura corporal e a velocidade de
cefaleia típica através da digitopressão sobre os músculos hemossedimentação (VHS) estão habitualmente elevadas na
cervicais e da movimentação da cabeça; irradiação da dor tendinite retrofaríngea.
no sentido posterior para anterior. No entanto, embora A calcificação em tecidos pré-vertebrais é melhor visua-
essas possam ser características de 11.2.1 Cefaleia cervi- lizada na TC ou RM, mas radiografias simples do pescoço
cogênica, elas não são peculiares a esse transtorno e não também podem demonstrá-las. Em diversos casos, um mate-
necessariamente definem relações causais. Característi- rial cálcico amorfo tem sido aspirado dos tecidos pré-verte-
cas migranosas como náusea, vômitos e foto/fonofobia brais edemaciados.
podem estar presentes junto com a 11.2.1 Cefaleia cervi-
cogênica, embora em um nível habitualmente menor que
em 1. Migrânea, e podem diferenciar alguns casos da 2. 11.2.3  Cefaleia atribuída a distonia craniocervical
Cefaleia do tipo tensão.
Descrição: Cefaleia causada por distonia envolvendo os mús-
culos cervicais, com movimentos anormais ou postura defei-
11.2.2  Cefaleia atribuída a tendinite retrofaríngea tuosa do pescoço e/ou da cabeça devidos a hiperatividade
muscular.
Descrição: Cefaleia causada por inflamação ou calcificação
nos tecidos moles retrofaríngeos, habitualmente ocasionada Critérios diagnósticos:
pelo alongamento ou compressão dos músculos pré-verte- A. Dor no pescoço e na região posterior da cabeça, preen-
brais cervicais altos. chendo o critério C
B. Distonia craniocervical é demonstrada por movimentos
Critérios diagnósticos: anormais ou postura defeituosa cervical e/ou cefálica
A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C devidos a hiperatividade muscular
B. Tendinite retrofaríngea foi demonstrada através de evi- C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
dência de inchaço anormal dos tecidos moles pré-verte- dois dos seguintes:

145
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

1. a dor desenvolveu-se em relação temporal com o mmHg, o risco de perda visual permanente aumenta drama-
início da distonia craniocervical ticamente, o que torna essencial o diagnóstico precoce.
2. a dor piorou significativamente em paralelo com a
progressão da distonia craniocervical
3. a cefaleia melhorou significativamente ou desapa- 11.3.2  Cefaleia atribuída a erro de refração
receu em paralelo com a melhora ou resolução da
distonia craniocervical Descrição: Cefaleia causada por erro(s) de refração, habitual-
4. a localização da dor corresponde à localização mente sintomática após tarefas visuais prolongadas.
do(s) músculo(s) distônico(s)
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. Critérios diagnósticos:
A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
Comentários: As distonias focais da cabeça e do pescoço B. Erro(s) de refração não corrigido(s) ou mal corrigido(s)
acompanhadas por 11.2.3 Cefaleia atribuída a distonia cra- em um dos ou ambos os olhos
niocervical são a distonia faríngea, o torcicolo espasmódico, C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
a distonia mandibular, a distonia lingual e uma combinação dois dos seguintes:
de distonias cranianas e cervicais (distonia craniocervical 1. a cefaleia desenvolveu-se e/ou piorou significa-
segmentar). tivamente em relação temporal com o início ou
A dor é presumivelmente causada por contração muscu- piora do(s) erro(s) de refração
lar local e alterações secundárias na sensibilização. 2. a cefaleia melhorou significativamente após a cor-
reção do(s) erro(s) de refração
3. a cefaleia é agravada por tarefas visuais prolonga-
11.3  Cefaleia atribuída a transtorno dos olhos das, em um ângulo ou distância no qual a visão
está prejudicada
Descrição: Cefaleia causada por um transtorno envolvendo 4. a cefaleia melhora significativamente quando a
um dos ou ambos os olhos. tarefa visual é descontinuada
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.

11.3.1  Cefaleia atribuída a glaucoma agudo Comentários: A maioria dos pacientes com 11.3.2 Cefaleia
  de ângulo fechado atribuída a erro de refração buscarão o conselho de um
oftalmologista.
Descrição: Cefaleia, habitualmente unilateral, causada por Embora os erros de refração causem cefaleia muito
glaucoma agudo de ângulo fechado e associada a outros sin- menos comumente do que habitualmente se acredita, há evi-
tomas e sinais clínicos desse transtorno. dências apontando para isso em crianças, assim como um
número de casos corroborativos em adultos.
Critérios diagnósticos:
A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
B. Glaucoma agudo de ângulo fechado foi diagnosticado, 11.3.3  Cefaleia atribuída a transtorno
com comprovação da pressão intraocular aumentada   inflamatório ocular
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
dois dos seguintes: Descrição: Cefaleia causada por condições inflamatórias
1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal oculares, tais como a irite, uveíte, esclerite ou conjunti-
com o início do glaucoma vite e associada a outros sintomas e sinais clínicos desse
2. a cefaleia piorou significativamente em paralelo transtorno.
com a progressão do glaucoma
3. a cefaleia melhorou significativamente ou desapa- Critérios diagnósticos:
receu em paralelo com a melhora ou resolução do A. Cefaleia periorbital e dor ocular preenchendo o critério C
glaucoma B. Evidência clínica, laboratorial e/ou de imagem de uma
4. a localização da dor inclui o olho afetado doença inflamatória ocular reconhecidamente capaz de
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. causar cefaleia1
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
Comentários: O glaucoma agudo de ângulo fechado habitual- dois dos seguintes:
mente causa dor ocular e/ou periorbital, perda da acuidade 1. cefaleia desenvolveu-se em relação temporal com
visual (borramento da visão), injeção e edema conjuntival, o início do transtorno ocular
náusea e vômitos. 2. um dos ou ambos os seguintes:
Quando a pressão intraocular eleva-se acima de 30 a) a cefaleia piorou significativamente parale-

146
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

lamente com a piora da doença inflamatória 1. dor ocular unilateral


ocular 2. a cefaleia é exacerbada por movimentos do olho1
b) a cefaleia melhorou significativamente ou 3. a cefaleia é significativamente melhorada pela
desapareceu com a melhora ou resolução da injeção de agente anestésico local ou esteroide na
doença inflamatória ocular região peritroclear
3. um dos ou ambos os seguintes: 4. a cefaleia é localizada e ipsilateral à tróclea
a) a cefaleia melhora significativamente com implicada
a aplicação tópica de um agente anestésico D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
local no olho
b) a cefaleia é agravada por pressão aplicada Nota:
sobre o olho 1. Em especial os movimentos verticais.
4. no caso de doença inflamatória ocular unilateral, a
cefaleia é localizada e ipsilateral a ela2 Comentários: A trocleíte, definida como inflamação da tróclea
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. e/ou da bainha do músculo oblíquo superior, pode levar a dor
ocular e cefaleia frontal que são agravadas por movimentos
Notas: oculares envolvendo o músculo oblíquo superior. Embora
1. As doenças inflamatórias oculares reconhecidamente não seja comum, também não é rara, e deve ser considerada
capazes de causar cefaleia incluem a irite, uveíte, ciclite, quando da avaliação de dor cefálica periorbital unilateral.
esclerite, coroidite, conjuntivite e inflamação da córnea. A trocleíte pode também desencadear um episódio de
2. Devido à sobreposição e à convergência do campo nocicep- migrânea em pacientes com 1. Migrânea, o qual deve ser
tivo (levando à referência complexa da dor), qualquer fonte codificado de acordo com o seu tipo ou subtipo.
ocular de dor pode causar cefaleia em qualquer região. No A 11.3.4 Cefaleia troclear pode ser provocada pela
entanto, quando a doença inflamatória ocular é unilateral, a leitura.
cefaleia é provavelmente localizada e ipsilateral.

Comentário: A inflamação ocular assume muitas formas e 11.4  Cefaleia atribuída a transtorno
pode ser classificada variadamente pelo local anatômico   das orelhas
(p.ex. irite, ciclite, coroidite), pelo curso (i.e. agudo, suba-
gudo e crônico), pela causa presumida (p.ex. agentes infec- Descrição: Cefaleia causada por um transtorno inflamatório,
ciosos endógenos ou exógenos, relacionada ao cristalino, neoplásico ou outro, de uma ou ambas as orelhas e associada
traumática) ou pelo tipo de inflamação (granulomatosa, não a outros sintomas e/ou sinais clínicos desse transtorno.
granulomatosa).
Critérios diagnósticos:
A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
11.3.4  Cefaleia troclear B. Evidência clínica, laboratorial e/ou de imagem de um
transtorno infeccioso, neoplásico ou outro transtorno
Termos previamente utilizados: Cefaleia atribuída a trocleíte. irritativo ou lesão de uma das ou ambas as orelhas,
Um transtorno não inflamatório associado a disfunção reconhecidamente capaz de causar cefaleia
troclear, chamado de cefaleia troclear primária, produz dor C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
nas regiões troclear e temporoparietal que piora com a supra- dois dos seguintes:
dução do olho. É diagnosticada e tratada de modo similar à 1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal
trocleíte e, portanto, incluída na 11.3.4 Cefaleia troclear. com o início do transtorno da orelha ou apresenta-
ção da lesão na orelha
Descrição: Cefaleia de localização habitualmente frontal e/ 2. um dos ou ambos os seguintes:
ou periorbital, com ou sem dor ocular, causada por inflama- a) a cefaleia piorou significativamente em para-
ção ou disfunção peritroclear. É frequentemente exacerbada lelo com a piora ou progressão do transtorno
pelos movimentos oculares. ou lesão da orelha
b) a cefaleia melhorou significativamente ou
Critérios diagnósticos: desapareceu em paralelo com a melhora ou
A. Cefaleia periorbital e/ou frontal preenchendo o critério C resolução do transtorno ou lesão da orelha
B. Evidência clínica e/ou de imagem de inflamação ou dis- 3. a cefaleia é exacerbada por pressão aplicada sobre
função troclear, incluindo sensibilidade à palpação da a(s) orelha(s) ou estruturas periauriculares afetada(s)
tróclea na órbita superomedial. 4. no caso de um transtorno ou lesão auricular unila-
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos teral, a cefaleia é localizada e ipsilateral a ele
dois dos seguintes:

147
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. terísticas diagnósticas de rinossinusite aguda auxiliam a
diferenciar essas condições.
Comentário: Devido à sobreposição e à convergência do
campo nociceptivo nas vias nociceptivas da cabeça e do pes- Comentários: A dor resultante de patologia na mucosa nasal ou
coço, parece claro que um transtorno ou uma lesão dolorosa em estruturas relacionadas é habitualmente percebida como
da orelha podem causar cefaleia. É altamente improvável frontal ou facial, mas pode ser referida mais posteriormente.
que a cefaleia em tais condições possa ocorrer na ausência de Simplesmente encontrar alterações patológicas de rinossinu-
dor auricular, a manifestação típica de patologia otológica. site aguda em exames de imagem, correlacionadas à descri-
ção da dor feita pelo paciente, não é suficiente para assegurar
o diagnóstico de 11.5.1 Cefaleia atribuída a rinossinusite
11.5  Cefaleia atribuída a transtorno aguda. A resposta terapêutica à anestesia local é uma evidên-
  do nariz ou dos seios paranasais cia persuasiva, mas pode também não ser patognomônica.
Um episódio de 1. Migrânea pode ser desencadeado ou
Termo previamente utilizado: O termo “cefaleia sinusal” é desa- exacerbado por patologia nasal ou sinusal.
tualizado porque tem sido aplicado tanto para cefaleias pri-
márias como para cefaleias supostamente atribuíveis a várias
condições envolvendo as estruturas nasais ou sinusais. 11.5.2  Cefaleia atribuída a rinossinusite crônica
  ou recorrente
Descrição: Cefaleia causada por um transtorno do nariz e/
ou dos seios paranasais e associada a outros sintomas e/ou Descrição: Cefaleia causada por um transtorno crônico infec-
sinais clínicos desse transtorno. cioso ou inflamatório dos seios paranasais e associada a
outros sintomas e/ou sinais clínicos desse transtorno.

11.5.1  Cefaleia atribuída a rinossinusite aguda Critérios diagnósticos:


A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
Descrição: Cefaleia causada por rinossinusite aguda e asso- B. Evidência clínica, de endoscopia nasal e/ou de imagem,
ciada a outros sintomas e/ou sinais clínicos desse transtorno. de infecção ou outro processo inflamatório, atual ou
passado, nos seios paranasais
Critérios diagnósticos: C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C dois dos seguintes:
B. Evidência clínica, de endoscopia nasal e/ou de imagem, 1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal
de rinossinusite aguda com o início da rinossinusite crônica
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos 2. a cefaleia aumenta e diminui em paralelo com o
dois dos seguintes: grau de congestão sinusal e outros sintomas de
1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal rinossinusite crônica
com o início da rinossinusite 3. a cefaleia é exacerbada por pressão aplicada sobre
2. um dos ou ambos os seguintes: os seios paranasais
a) a cefaleia piorou significativamente em para- 4. no caso de uma rinossinusite unilateral, a cefaleia
lelo com a piora da rinossinusite é localizada e ipsilateral a ela
b) a cefaleia melhorou significativamente ou D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
desapareceu em paralelo com a melhora ou
resolução da rinossinusite Comentário: Tem sido controverso o quanto a patologia sinusal
3. a cefaleia é exacerbada por pressão aplicada sobre crônica pode produzir cefaleia persistente. Estudos recentes
os seios paranasais parecem apoiar essa relação de causalidade. No entanto, alte-
4. no caso de uma rinossinusite unilateral, a cefaleia rações patológicas correlacionadas com a descrição da dor
é localizada e ipsilateral a ela feita pelo paciente, observadas por imagem ou endoscopia, não
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.1 são por si só suficientes para assegurar o diagnóstico de 11.5.2
Cefaleia atribuída a rinossinusite crônica ou recorrente.
Nota:
1. A 1. Migrânea e a 2. Cefaleia do tipo tensão podem ser
confundidas com 11.5.1 Cefaleia atribuída a rinossinu- 11.6  Cefaleia atribuída a transtorno
site aguda devido à similaridade na localização da cefa- dos dentes
leia e, no caso da migrânea, devido aos sintomas autonô-
micos nasais comumente concomitantes. A presença ou a Descrição: Cefaleia causada por um transtorno envolvendo os
ausência de corrimento nasal purulento e/ou outras carac- dentes.

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TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

Critérios diagnósticos: 1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal


A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C com o início do transtorno temporomandibular ou
B. Evidência clínica e/ou de imagem de um transtorno ou levou à sua descoberta
lesão de um ou mais dentes, reconhecidamente capaz de 2. a cefaleia é agravada pela movimentação mandi-
causar cefaleia bular, função mandibular (p.ex. mastigação) e/ou
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos parafunção mandibular (p.ex. bruxismo)
dois dos seguintes: 3. a cefaleia é provocada no exame físico pela palpa-
1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal ção do músculo temporal e/ou pela movimentação
com o início do transtorno ou apresentação da passiva da mandíbula
lesão D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.2
2. um dos ou ambos os seguintes:
a) a cefaleia piorou significativamente em para- Notas:
lelo com a piora ou progressão do transtorno 1. Habitualmente localizada na região temporal, em um ou
ou lesão nos dois lados.
b) a cefaleia melhorou significativamente ou 2. Existe alguma sobreposição entre 11.7 Cefaleia atri-
desapareceu em paralelo com a melhora ou buída a transtorno temporomandibular (TTM) surgindo
resolução do transtorno ou lesão da tensão muscular e 2. Cefaleia do tipo tensão. Quando
3. a cefaleia é exacerbada pela palpação, sondagem o diagnóstico de TTM é incerto, a cefaleia deve ser codi-
ou pressão aplicada ao dente ou aos dentes afetados ficada como 2. Cefaleia do tipo tensão ou um dos seus
4. no caso de um transtorno ou lesão unilateral, a tipos ou subtipos (presumivelmente com dolorimento
cefaleia é localizada e ipsilateral a ele muscular pericraniano).
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
Comentários: A 11.7 Cefaleia atribuída a transtorno temporo-
Comentário: Os transtornos dos dentes habitualmente causam mandibular (TTM) é habitualmente mais proeminente na(s)
dor de dente e/ou dor facial, mas podem irradiar a dor para região(ões) temporal(is), área(s) pré-auricular(es) da face e/
a cabeça. As causas mais comuns de 11.6 Cefaleia atribuída ou no(s) músculo(s) masseter(es). Ela pode ser unilateral,
a transtorno dos dentes são as infecções ou abcessos endo- mas é provável que seja bilateral quando a patologia sub-
dônticos ou periodontais, ou irritação traumática, tal como jacente envolve ambas as regiões temporomandibulares. A
a pericoronite ao redor de um dente do siso inferior parcial- irradiação da dor para a face é comum; depois da odontalgia,
mente exteriorizado. a TTM é a causa mais comum de dor facial.
Os geradores da dor incluem deslocamentos de disco,
osteoartrite, doença degenerativa e/ou hipermobilidade arti-
11.7  Cefaleia atribuída a transtorno cular e dor miofascial regional.
  temporomandibular (TTM) O diagnóstico de TTM pode ser difícil, com alguma con-
trovérsia a respeito da importância relativa das evidências
Codificado em outro local: Outra doença da mandíbula que não clínicas e radiográficas. É recomendado o uso dos critérios
o transtorno temporomandibular, tal como neoplasia mandi- diagnósticos desenvolvidos pelo International RDC/TMD
bular, osteomielite ou fratura, gera dor localizada que pode Consortium Network e pelo Grupo de Interesse Especial em
irradiar para a face e para a cabeça, mas raramente cefaleia Dor Orofacial.
isolada. Quando a cefaleia ocorre em tais casos, codifique
como 11.9 Cefaleia ou dor facial atribuída a outro trans-
torno do crânio, pescoço, olhos, orelhas, nariz, seios para- 11.8  Cefaleia ou dor facial atribuída a
nasais, dentes, boca ou outra estrutura facial ou cervical.   inflamação do ligamento estilo-hióideo
Descrição: Cefaleia causada por um transtorno envolvendo Termo previamente utilizado: Síndrome de Eagle.
estruturas da região temporomandibular.
Descrição: Cefaleia unilateral, com dor cervical, faríngea e/ou
Critérios diagnósticos: facial, causada por inflamação do ligamento estilo-hióideo
A. Qualquer cefaleia1 preenchendo o critério C e habitualmente provocada ou exacerbada pela rotação da
B. Evidência clínica de um processo patológico doloroso cabeça.
afetando elementos da articulação temporomandibular,
músculos da mastigação e/ou estruturas associadas em Critérios diagnósticos:
um ou ambos os lados A. Qualquer dor cefálica, cervical, faríngea e/ou facial
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos preenchendo o critério C1
dois dos seguintes:

149
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

B. Evidência radiológica de ligamento estilo-hióideo cal- 4. a cefaleia e/ou dor facial está localizada de acordo
cificado ou alongado com o local da lesão
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
dois dos seguintes:
1. a dor é provocada ou exacerbada pela palpação
digital do ligamento estilo-hióideo Bibliografia
2. a dor é provocada ou exacerbada pela rotação da
cabeça 11.1 Cefaleia atribuída a transtorno de osso craniano
3. a dor é melhorada significativamente pela injeção Bhatoe HS and Deshpande GU. Primary cranial Ewing’s sarcoma.
de um agente anestésico local junto ao ligamento Br J Neurosurg 1998; 12: 165–169.
estilo-hióideo, ou pela estiloidectomia Hayashi T, Kuroshima Y, Yoshida K, et al. Primary osteosarcoma
4. a dor é ipsilateral ao ligamento estilo-hióideo of the sphenoid bone with extensive periosteal extension – case
inflamado report. Neurol Med Chir (Tokyo) 2000; 40: 419–422.
d. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. Scherer A, Engelbrecht V, Nawatny J, et al. MRI of the cerebel-
lopontine angle in patients with cleidocranial dysostosis. Rofo
Nota: 2001; 173: 315–318.
1. A 11.8 Cefaleia ou dor facial atribuída a inflamação
do ligamento estilo-hióideo é habitualmente percebida 11.2.1 Cefaleia cervicogênica
na orofaringe, pescoço e/ou face, mas alguns pacientes Antonaci F, Fredriksen TA and Sjaastad O.Cervicogenic headache:
apresentam uma cefaleia mais difusa. clinical presentation, diagnostic criteria, and differential diag-
nosis. Curr Pain Headache Rep 2001; 5: 387–392.
Antonaci F, Ghirmai S, Bono G, et al. Cervicogenic headache: eval-
11.9  Cefaleia ou dor facial atribuída a uation of the original diagnostic criteria.Cephalalgia 2001; 21:
  outro transtorno do crânio, pescoço, 573–583.
Bogduk N. Headache and the neck. In: Goadsby PJ and Silberstein
  olhos, orelhas, nariz, seios paranasais, SD (eds) Headache. Boston: Butterworth-Heinemann, 1997,
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  ou cervical Bogduk N. Cervicogenic headache: anatomic basis and patho-
physiologic mechanisms. Curr Pain Headache Rep 2001; 5:
Descrição: Cefaleia e/ou dor facial causada por um transtorno 382–386.
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Critérios diagnósticos: Rheumatol 2000; 18(2 Suppl 19): S16–S18.
A. Qualquer cefaleia e/ou dor facial preenchendo o critério Göbel H and Edmeads JG. Disorders of the skull and cervical
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lhas, nariz, seios paranasais, dentes, boca ou outra estru- Wilkins, 2000, pp.891–898.
tura facial ou cervical não descrita acima, mas reconhe- Knackstedt H, Bansevicius D and Aaseth K, et al. Cervicogenic
cidamente capaz de causar cefaleia, foi diagnosticado headache in the general population: the Akershus study of
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos chronic headache. Cephalalgia 2010; 30: 1468–1476.
dois dos seguintes: Lance JW and Anthony M. Neck-tongue syndrome on sudden
1. cefaleia e/ou dor facial desenvolveu-se em relação turning of the head. J Neurol Neurosurg Psychiatry 1980; 43:
temporal com o início do transtorno ou apresenta- 97–101.
ção da lesão Leone M, D’Amico D, Grazzi L, et al. Cervicogenic headache: a criti-
2. um dos ou ambos os seguintes: cal review of the current diagnostic criteria. Pain 1998; 78: 1–5.
a) cefaleia e/ou dor facial piorou significativa- Leone M, D’Amico D, Moschiano F, et al. Possible identification of
mente em paralelo com a progressão do trans- cervicogenic headache among patients with migraine: an analy-
torno ou lesão sis of 374 headaches. Headache 1995; 35: 461–464.
b) a cefaleia e/ou dor facial melhorou significa- Lord SM and Bogduk N. The cervical synovial joints as sources of
tivamente ou desapareceu em paralelo com a post-traumatic headache. J Musculoskelet Pain 1996; 4: 81–94.
melhora ou resolução do transtorno ou lesão Lord S, Barnsley L, Wallis B, et al. Third occipital headache: a
3. a cefaleia e/ou dor facial é exacerbada pela pressão prevalence study. J Neurol Neurosurg Psychiatry 1994; 57:
aplicada sobre a lesão 1187–1190.

150
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

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11.5 Cefaleia atribuída a transtorno do nariz ou dos
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152
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

12. Cefaleia atribuída a transtorno Introdução


psiquiátrico
As evidências apoiando causas psiquiátricas de cefaleia per-
12.1 Cefaleia atribuída a transtorno de somatização manecem escassas. Assim, as categorias diagnósticas nesta
12.2 Cefaleia atribuída a transtorno psicótico seção da classificação são limitadas àqueles poucos casos
nos quais uma cefaleia ocorre no contexto e como uma con-
sequência direta de uma condição psiquiátrica conhecida por
Codificadas em outro lugar: ser manifestada sintomaticamente por cefaleia.
Os critérios diagnósticos devem ser suficientemente res-
Cefaleia atribuída a transtorno por uso de substância (p.ex. tritivos para não incluir casos falsos positivos, porém devem
dependência), cefaleia atribuída a supressão de substância, estabelecer um limiar suficientemente baixo para incluir
cefaleia atribuída a intoxicação aguda e cefaleia atribuída a maioria dos pacientes afetados. Na grande maioria dos
ao uso excessivo de medicamentos são todas codificadas em casos de 12. Cefaleia atribuída a transtorno psiquiátrico, o
8. Cefaleia atribuída a uma substância ou à sua supressão. diagnóstico é baseado mais na avaliação pessoal das histó-
rias clínicas e dos exames físicos do que em biomarcadores
diagnósticos objetivos.
Comentário geral As cefaleias podem, evidentemente, ocorrer em asso-
ciação com transtornos psiquiátricos sem que haja qualquer
Cefaleia primária, secundária ou ambas? As cefaleias são conexão causal. As cefaleias ocorrem coincidentemente
comuns, como também o são os transtornos psiquiátricos. com uma variedade de transtornos psiquiátricos, incluindo
Sendo assim, a comorbidade frequente, gerada apenas pelo transtornos depressivos (transtornos depressivos maiores,
acaso, é esperada. No entanto, uma relação de causalidade como episódio único ou episódios recorrentes e transtorno
pode existir entre uma cefaleia nova ou que piora signifi- depressivo persistente), transtornos de ansiedade (transtorno
cativamente e um transtorno psiquiátrico. As regras gerais de ansiedade de separação, transtorno do pânico, transtorno
para atribuição a outro transtorno aplicam-se à 12. Cefaleia de ansiedade social e transtorno de ansiedade generalizada)
atribuída a transtorno psiquiátrico, com alguma adaptação. e transtornos relacionados a trauma ou estresse (transtorno
1. Quando uma cefaleia nova ocorre pela primeira vez em reativo de vinculação, transtorno de estresse agudo, trans-
estreita relação temporal com um transtorno psiquiátrico, torno de estresse pós-traumático, transtorno de ajustamento).
e a causalidade é confirmada, a cefaleia é codificada como Em tais casos, quando não há evidência de relação causal,
uma cefaleia secundária atribuída a esse transtorno. Isso tanto um diagnóstico da cefaleia como um diagnóstico
permanece verdadeiro mesmo quando a nova cefaleia psiquiátrico, em separado, devem ser feitos.
possui as características de qualquer uma das cefaleias Não obstante, dados epidemiológicos demonstram que
primárias classificadas na Parte Um da ICHD-3. cefaleia e transtornos psiquiátricos ocorrem em comorbi-
2. Quando uma cefaleia pré-existente, com as caracterís- dade mais frequentemente do que seria esperado pelo simples
ticas de uma cefaleia primária, piora significativamente acaso. Fatores subjacentes comuns podem causar ou predispor
(habitualmente significando um aumento de duas vezes a ambos os tipos de transtornos; alternativamente, ou também,
ou mais na frequência e/ou intensidade) em estreita rela- fatores confundidores podem levar a uma superestimação da
ção temporal com um transtorno psiquiátrico, e a cau- comorbidade (p.ex. pacientes que têm um diagnóstico são
salidade é confirmada, tanto o diagnóstico inicial da mais propensos a ser diagnosticados com outras condições
cefaleia como o diagnóstico de 12. Cefaleia atribuída a simplesmente porque eles recebem um maior escrutínio
transtorno psiquiátrico (ou um dos seus tipos) devem ser médico). Associações causais genuínas também são possíveis,
dados, contanto que haja evidência de boa qualidade de com a cefaleia causando o transtorno psiquiátrico, o transtorno
que esse transtorno pode causar cefaleia. psiquiátrico causando a cefaleia, ou uma influência recíproca
3. Quando, em qualquer um dos casos, uma relação cau- (bidirecional) entre a cefaleia e o transtorno psiquiátrico.
sal não pode ser confirmada, a cefaleia primária pré- Nesse contexto, embora seja sugerido que a cefaleia que
-existente e o transtorno psiquiátrico são diagnosticados ocorre exclusivamente em associação com alguns transtor-
separadamente. nos psiquiátricos comuns, tais como transtornos depressi-
vos, transtornos de ansiedade e transtornos relacionados
Cefaleia crônica atribuída a um transtorno psiquiátrico, ao trauma/estresse, possa ser atribuída a esses transtornos,
e que persiste após resolução desse, ainda não foi descrita. algumas incertezas permanecem devido à relativa falta de
evidências de causalidade. Os critérios para cefaleias atri-
buídas a esses e a todos – menos dois – transtornos psiquiá-
tricos permanecem no Apêndice. Esclarecimentos adicionais
acerca dos mecanismos subjacentes a essas associações cau-
sais são necessários para conclusões mais robustas.

153
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

As evidências sugerem que a presença de um transtorno vômito que não durante a gravidez, diarreia e/
psiquiátrico comórbido tende a agravar o curso de 1. Migrâ- ou intolerância a vários alimentos distintos)
nea e/ou 2. Cefaleia do tipo tensão, aumentando a frequência c) ao menos um sintoma sexual, com exceção de
e a intensidade da cefaleia e/ou tornando-a menos responsiva dor (p.ex. indiferença sexual, disfunção erétil
ao tratamento. Sendo assim, a identificação e o tratamento de ou ejaculatória, ciclos menstruais irregulares,
qualquer condição psiquiátrica comórbida é importante para sangramento menstrual excessivo e/ou vômi-
o manejo apropriado dessas cefaleias. Em crianças e adoles- tos ao longo da gravidez)
centes, as cefaleias primárias (1. Migrânea, 2.2 Cefaleia do d) ao menos um sintoma pseudoneurológico não
tipo tensão episódica frequente e, em especial, a 2.3 Cefaleia limitado a dor (p.ex. sintomas de conversão
do tipo tensão crônica) são frequentemente comórbidas com como coordenação ou equilíbrio prejudica-
transtornos psiquiátricos. Transtornos do sono, transtorno dos, paralisia ou fraqueza localizada, difi-
de estresse pós-traumático (TEPT), transtorno de ansie- culdade para engolir ou sensação de caroço/
dade social (fobia escolar), transtorno do déficit de atenção/ massa na garganta, afonia, retenção urinária,
hiperatividade (TDAH), transtorno de conduta, transtorno alucinações, perda do tato ou da nocicepção,
de aprendizagem, enurese, encoprese e transtorno de tiques visão dupla, cegueira, surdez, convulsões,
devem ser cuidadosamente procurados e tratados quando sintomas dissociativos como amnésia e/ou
encontrados, considerando a sua carga negativa em relação à perda da consciência que não desmaio)
incapacidade e ao prognóstico da cefaleia pediátrica. C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
Para verificar se uma cefaleia deve ou não ser atribuída um dos seguintes:
a um transtorno psiquiátrico, é necessário inicialmente 1. a cefaleia desenvolveu-se ou piorou significativa-
determinar se existe ou não um transtorno psiquiátrico mente na intensidade em paralelo com a progres-
concomitante. Recomenda-se inquirir a todos os pacientes são de outros sintomas somáticos atribuídos ao
com cefaleia sobre os sintomas de transtornos psiquiátricos transtorno de somatização
comumente comórbidos, como os transtornos depressivos 2. a cefaleia, constante ou remitente, acompanha no
e de ansiedade. Quando há suspeita de que um transtorno tempo a flutuação de outros sintomas somáticos
psiquiátrico é uma possível causa da cefaleia, uma avaliação atribuídos ao transtorno de somatização
por psiquiatra ou psicólogo experiente é recomendada. 3. a cefaleia desapareceu em paralelo com a remissão
de outros sintomas somáticos atribuídos ao trans-
torno de somatização
12.1   Cefaleia atribuída a transtorno D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
  de somatização1
Nota:
Descrição: Cefaleia ocorrendo como parte da apresentação 1. É digno de nota que o transtorno de somatização per se
sintomática de um transtorno de somatização. não está incluído na quinta edição do Manual Diagnós-
tico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), a
Critérios diagnósticos: última revisão do manual de diagnóstico da Associação
A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C Americana de Psiquiatria, publicada em 2013; ele foi
B. Um diagnóstico de transtorno de somatização1 foi feito, substituído pela categoria Transtorno de Sintomas Somá-
caracterizado por ambos os seguintes: ticos, caracterizado por um ou mais sintomas somáticos
1. história de múltiplos sintomas físicos iniciando associados a pensamentos desproporcionais e persisten-
antes da idade de 30 anos, os quais não foram tes sobre a seriedade dos próprios sintomas, um nível
totalmente explicados por uma condição médica persistentemente alto de ansiedade a respeito da saúde ou
conhecida ou, em tendo havido uma condição dos sintomas e/ou tempo e energia excessivos dedicados
médica relacionada, ultrapassam o que seria espe- a esses sintomas ou preocupações com a saúde. Dada a
rado pela história, exame físico ou resultados enorme heterogeneidade dessa categoria (p.ex. ela inclui
laboratoriais tanto indivíduos com cefaleias que apresentam preocu-
2. durante o curso do transtorno, todos os seguintes: pações desproporcionais sobre a gravidade da cefaleia,
a) ao menos quatro sintomas dolorosos em/ como casos clássicos de transtorno de somatização com
durante quatro diferentes locais ou funções um padrão de múltiplos sintomas somáticos ao longo da
(p.ex. cabeça, peito, dorso, abdômen, articu- vida, incluindo cefaleia), foi decidido que seria possível
lações, extremidades e/ou reto, e/ou durante a atribuir esse diagnóstico somente quando a cefaleia fosse
menstruação, relação sexual e/ou micção) parte de um padrão mais amplo de múltiplas queixas
b) ao menos dois sintomas gastrointestinais, com somáticas. Desse modo, a ICHD-3 continua a referir-se à
exceção de dor (p.ex. náusea, meteorismo, definição de transtorno de somatização do DSM-IV.

154
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

Comentário: O transtorno de somatização é caracterizado por ria e o paciente deve receber o diagnóstico psiquiátrico
uma combinação de múltiplos sintomas angustiantes e de adicional de transtorno delirante, tipo somático.
uma resposta mal adaptativa ou excessiva a esses sintomas
ou a preocupações associadas à saúde. Os sintomas incluem Comentário: Delírios são crenças fixas falsas, baseadas em
problemas ou disfunções gástricos e/ou intestinais, lom- inferências incorretas sobre a realidade, que são firmemente
balgia, dor nos braços, pernas ou articulações, cefaleias, sustentadas pelo paciente, apesar de evidências óbvias em
dor torácica e/ou dispneia, tontura, sensação de cansaço e/ contrário. Eles podem envolver uma falsa crença de que uma
ou de baixa energia e transtornos do sono. O sofrimento do condição médica grave (p.ex. tumor cerebral ou aneurisma)
paciente é autêntico, tenha uma explicação médica ou não. está presente e causa a cefaleia, apesar das provas repetidas
Os pacientes tipicamente apresentam angústia e um alto e tranquilizações apropriadas e competentes de que tal con-
nível de comprometimento funcional. Os sintomas podem ou dição médica não está presente. O conteúdo do delírio pode
não acompanhar transtornos médicos gerais ou psiquiátricos ser mais bizarro, tal como a ideia de um transmissor sendo
diagnosticados. Pode haver um alto nível de utilização de implantado cirurgicamente na cabeça do paciente e causando
cuidado médico, o qual raramente alivia as preocupações do a cefaleia.
paciente. Do ponto de vista do clínico, muitos desses pacien-
tes parecem não responder aos tratamentos, e novas inter-
venções ou terapias podem apenas exacerbar os sintomas Bibliografia
apresentados ou levar a novos efeitos colaterais e complica-
ções. Alguns pacientes sentem que a sua avaliação médica e Allet JL and Allet RE. Somatoform disorders in neurological prac-
o seu tratamento foram inadequados. tice. Curr Opin Psychiatry 2006; 19: 413–420.
Borkum JM. Chronic headaches and the neurobiology of somatiza-
tion. Curr Pain Headache Rep 2010; 14: 55–61.
12.2   Cefaleia atribuída a Canestri P, Galli F, Guidetti V, et al. Chronic daily headache in chil-
  transtorno psicótico dren and adolescents: a two years follow-up. Cephalalgia 2001;
21: 288.
Descrição: Cefaleia como uma manifestação de delírio cujo Curioso EP, Young WB, Shecter AL, et al. Psychiatric comorbidity
conteúdo envolve um mecanismo que o paciente acredita predicts outcome in chronic daily headache patients. Neurology
explicar a cefaleia (p.ex. a cefaleia é o resultado de um dis- 1999; 52(Suppl 2): A471.
positivo implantado na sua cabeça por alienígenas). Gambini O, Islam L, Demartini B, et al. Psychiatric issues in patients
with headaches. Neurol Sci 2010; 31(Suppl 1): S111–S113.
Critérios diagnósticos: Guidetti V, Galli F, Fabrizi P, et al. Headache and psychiatric
A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C comorbidity: clinical aspects and outcome in an 8-year fol-
B. Presença de delírio cujo conteúdo envolve um meca- low-up study. Cephalalgia 1998; 18: 455–462.
nismo que explicaria a cefaleia1 Hung CI, Liu CY, Cheng YT, et al. Migraine: a missing link between
C. Evidência de causalidade demonstrada por um dos ou somatic symptoms and major depressive disorder. J Affect
ambos os seguintes: Disord 2009; 117: 108–115.
1. a cefaleia surgiu com ou após o início do delírio, Lake A. Behavioral and nonpharmacologic treatments of headache.
ou levou ao seu diagnóstico Med Clin North Am 2001; 85: 1055–1075.
2. a cefaleia desapareceu após a remissão do delírio Lake AE 3rd, Rains JC, Penzien DB, et al. Headache and psychi-
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.2 atric comorbidity: historical context, research relevance, and
clinical implications. Headache 2005; 45: 493–506.
Notas: Maizels M and Burchette R. Somatic symptoms in headache
1. Por exemplo: o paciente acredita que um dispositivo foi patients: the influence of headache diagnosis, frequency, and
implantado na sua cabeça, o qual está causando a cefa- comorbidity. Headache 2004; 44: 983–993.
leia, ou que ele tem um tumor cerebral causando a cefa- Marazzitti D, Toni C, Pedri S, et al. Prevalence of headache syn-
leia, a despeito de provas irrefutáveis do contrário. dromes in panic disorder. Int Clin Psychopharmacol 1999; 14:
2. Quando um paciente inicialmente desenvolve uma cefa- 247–251.
leia (p.ex. uma das cefaleias primárias classificadas na Mitsikostas DD and Thomas AM. Comorbidity of headache and
Parte Um da ICHD-3) e então desenvolve uma expli- depressive disorders. Cephalalgia 1999; 19: 211–217.
cação delirante para a cefaleia, tal como ela sendo o Nicholson RA. Chronic headache: the role of the psychologist.
resultado de um tumor cerebral, apesar de não haver evi- Curr Pain Headache Rep 2010; 14: 47–54.
dência médica a apoiar essa crença, a cefaleia pode não Pakalnis A, Greenberg G, Drake ME, et al. Pediatric migraine pro-
ser atribuída ao transtorno psiquiátrico; em vez disso, phylaxis with divalproex. J Child Neurol 2001; 16: 731–734.
a cefaleia deve ser codificada com uma cefaleia primá- Radat F. [Psychopathology and headache]. Rev Neurol (Paris)
2000; 156(Suppl 4): 4S62–67.

155
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

Radat F and Swendsen J. Psychiatric comorbidity in migraine: a Smitherman TA and Baskin SM. Headache secondary to psychiatric
review. Cephalalgia 2005; 25: 165–178. disorders. Curr Pain Headache Rep 2008; 12: 305–310.
Radat F, Milowska D and Valade D. Headaches secondary to psy- Voigt K, Nagel A, Meyer B, et al. Towards positive diagnostic crite-
chiatric disorders (HSPD): a retrospective study of 87 patients. ria: a systematic review of somatoform disorder diagnoses and
Headache 2011; 51: 789–795. suggestions for future classification. J Psychosom Res 2010;
Radat F, Sakh D, Lutz G, et al. Psychiatric comorbidity is related 68: 403–414.
to headache induced by chronic substance use in migraineurs. Yutzy S. Somatoform disorders. In: Tasman A, Kay J and Lieber-
Headache 1999; 39: 477–480. man JA (eds) Psychiatry, 2nd edition. Chichester: John Wiley
and Sons, 2003, pp.1419–1420.

156
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

Parte Três

NEUROPATIAS CRANIANAS DOLOROSAS,


OUTRAS DORES FACIAIS E OUTRAS CEFALEIAS
13. Lesões dolorosas dos nervos cranianos e outras dores faciais

14. Outras cefaleias

157
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

13. Lesões dolorosas dos nervos 13.9   Síndrome oculossimpática paratrigeminal (síndrome
cranianos e outras dores faciais   de Raeder)
13.10   Neuropatia oftalmoplégica dolorosa recorrente
13.1 Dor atribuída a lesão ou a doença do nervo trigêmeo 13.11   Síndrome da ardência bucal (BMS)
13.1.1 Neuralgia trigeminal 13.12   Dor facial idiopática persistente
13.1.1.1  Neuralgia trigeminal clássica 13.13   Dor neuropática central
13.1.1.1.1 Neuralgia trigeminal clássica puramente 13.13.1 Dor neuropática central atribuída a esclerose
paroxística múltipla (EM)
13.1.1.1.2 Neuralgia trigeminal clássica com dor contínua 13.13.2 Dor central pós-acidente vascular cerebral
concomitante
13.1.1.2  Neuralgia trigeminal secundária
13.1.1.2.1 Neuralgia trigeminal atribuída a esclerose múltipla Introdução
13.1.1.2.2 Neuralgia trigeminal atribuída a lesão expansiva
13.1.1.2.3 Neuralgia trigeminal atribuída a outra causa Este capítulo estabelece um sistema de classificação para
13.1.1.3  Neuralgia trigeminal idiopática lesões dolorosas dos nervos cranianos e outras dores faciais
13.1.1.3.1 Neuralgia trigeminal idiopática puramente baseado em um consenso entre a Sociedade Internacional de
paroxística Cefaleia (IHS) e a Associação Internacional para o Estudo
13.1.1.3.2 Neuralgia trigeminal idiopática com dor contínua da Dor (IASP).
concomitante A nosologia existente sobre dores dos nervos cranianos
13.1.2 Neuropatia trigeminal dolorosa não retrata de modo integral as diferenças sutis entre várias
13.1.2.1  Neuropatia trigeminal dolorosa atribuída ao condições. No entanto, ao invés de abandonar muitos termos
  herpes-zóster diagnósticos estabelecidos há muito tempo, esta classificação
13.1.2.2  Neuralgia pós-herpética trigeminal manteve-os, fornecendo definições detalhadas para os diag-
13.1.2.3  Neuropatia trigeminal pós-traumática dolorosa nósticos diferenciais e os seus tipos, subtipos e subformas.
13.1.2.4  Neuropatia trigeminal dolorosa atribuída a outro Fibras aferentes nos nervos trigêmeo, intermédio, glos-
 transtorno sofaríngeo, e vago, em adição às raízes cervicais altas via
13.1.2.5  Neuropatia trigeminal dolorosa idiopática nervos occipitais, transmitem o input nociceptivo às vias
13.2 Dor atribuída a lesão ou doença do nervo glossofaríngeo centrais localizadas no tronco cerebral e às áreas cerebrais
13.2.1 Neuralgia glossofaríngea que processam a nocicepção e a dor na cabeça e no pescoço.
13.2.1.1  Neuralgia glossofaríngea clássica O cérebro percebe a dor na área inervada.
13.2.1.2  Neuralgia glossofaríngea secundária A dor pode manifestar-se em qualquer uma de muitas
13.2.1.3  Neuralgia glossofaríngea idiopática formas distintas que se acredita refletirem diferenças nos
13.2.2 Neuropatia glossofaríngea dolorosa mecanismos patofisiológicos neurais, ainda que os detalhes
13.2.2.1  Neuropatia glossofaríngea dolorosa atribuída a não sejam bem conhecidos. O que é sabido é que as dores
  causa conhecida faciais neuropáticas podem ser classificadas com base nas
13.2.2.2  Neuropatia glossofaríngea dolorosa idiopática suas características clínicas distintas e na sua etiologia. No
13.3 Dor atribuída a lesão ou doença do nervo intermédio centro desse conceito está a determinação clínica inicial do
13.3.1 Neuralgia do nervo intermédio principal grupo diagnóstico dentro do qual a dor do paciente
13.3.1.1  Neuralgia clássica do nervo intermédio melhor se encaixa, seguida pelas investigações etiológicas
13.3.1.2  Neuralgia secundária do nervo intermédio para tipos e subtipos diagnósticos e pela tomada de decisão
13.3.1.3  Neuralgia idiopática do nervo intermédio terapêutica.
13.3.2 Neuropatia dolorosa do nervo intermédio
13.3.2.1  Neuropatia dolorosa do nervo intermédio atribuída Há vários eixos de classificação.
  ao herpes-zóster a) Sindromologia: neuralgia ou neuropatia
13.3.2.2  Neuralgia pós-herpética do nervo intermédio A divisão entre, por exemplo, neuralgia trigeminal e neu-
13.3.2.3  Neuropatia dolorosa do nervo intermédio atribuída ropatia trigeminal deve ser vista como uma forma pragmática
  a outro transtorno de distinguir condições nas quais as apresentações clínicas e
13.3.2.4  Neuropatia dolorosa idiopática do nervo intermédio as abordagens terapêuticas diferem, enquanto as duas condi-
13.4 Neuralgia occipital ções não podem ser classificadas com base na patologia ou
13.5 Síndrome pescoço-língua na patofisiologia atualmente conhecidas. O mesmo aplica-se
13.6 Neurite óptica dolorosa às condições dolorosas associadas aos nervos glossofaríngeo
13.7 Cefaleia atribuída a paralisia isquêmica de nervo motor e intermédio.
ocular Uma importante causa de dor relacionada a um nervo
13.8 Síndrome de Tolosa-Hunt craniano é o herpes-zóster. Apesar do fato que a dor trige-
minal que ocorre após o herpes-zóster provavelmente leva

158
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

a diferentes tipos de alteração patológica nas vias trigemi- C. Precipitada por estímulos inócuos na distribuição trige-
nais (i. e. tipo “nociceptor irritável” versus “deaferentação”), minal afetada4
os dados disponíveis são muito limitados para classificá-los D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
como neuralgia versus neuropatia. Assim sendo, o bem esta-
belecido termo neuralgia pós-herpética está mantido. Notas:
b) Localização: dor neuropática central ou periférica 1. Em alguns pacientes, a dor pode irradiar para outra
Uma lesão ou ativação indevida destes nervos (dor neu- divisão, mas permanence restrita aos dermátomos
ropática periférica), ou das suas vias centrais (dor neuropá- trigeminais.
tica central), causa dor neuropática na face. 2. A duração pode mudar ao longo do tempo, com os paro-
c) Etiologia: clássica, idiopática ou secundária xismos tornando-se mais prolongados. Uma minoria de
A causa de uma dor neuropática pode ser clara, assim pacientes relatará crises durando predominantemente >2
como a infecção pelo vírus varicela-zóster ou uma anor- minutos.
malidade estrutural (p.ex. placa de esclerose múltipla) 3. A dor pode tornar-se mais grave com o passar do tempo.
demonstrada por imagem: tal dor é denominada secundária 4. Algumas crises podem ser - ou parecer ser - espontâneas,
e atribuída a essa causa. Em outros casos, nenhuma causa é mas deve haver um histórico ou achado de dor provocada
aparente (denominada idiopática). por estímulo inócuo para que esse critério seja atendido.
Para as neuralgias trigeminal, glossofaríngea e do nervo Idealmente, o clínico que conduz o exame deve tentar
intermédio, o termo clássica é reservado para os casos nos confirmar a história replicando o fenômeno do desenca-
quais a imagem ou a cirurgia tenham revelado compressão deamento. No entanto, isso pode nem sempre ser possí-
vascular do respectivo nervo. Estritamente falando, as neu- vel, devido à recusa do paciente, localização anatômica
ralgias clássicas são secundárias (à compressão neurovascu- incômoda do gatilho e/ou outros fatores.
lar), mas é benéfico separá-las de outras causas com base nas
opções terapêuticas mais amplas e na patofisiologia nervosa Comentários: O diagnóstico de 13.1.1 Neuralgia trigeminal
potencialmente diferente. deve ser estabelecido clinicamente. As investigações são
delineadas com a intenção de identificar uma causa provável.
Afora o fenômeno do desencadeamento, a maioria dos
13.1   Dor atribuída a lesão ou doença pacientes com 13.1.1 Neuralgia trigeminal não demonstra
  do nervo trigêmeo anormalidades sensoriais dentro da distribuição trigeminal,
a menos que métodos avançados sejam empregados (p.ex.
teste sensorial quantitativo). Entretanto, em alguns, o exame
13.1.1 Neuralgia trigeminal neurológico clínico pode apontar déficits sensoriais, os quais
devem levar a investigações de neuroimagem para explorar
Descrição: Um transtorno caracterizado por dores similares a uma causa possível. O diagnóstico de subformas tais como
choques elétricos, breves, unilaterais e recorrentes, de início 13.1.1.1 Neuralgia trigeminal clássica, 13.1.1.2 Neuralgia
e término abruptos, limitadas à distribuição de uma ou mais trigeminal secundária ou 13.1.1.3 Neuralgia trigeminal
divisões do nervo trigêmeo e desencadeadas por estímulos idiopática é então possível.
inócuos. Pode desenvolver-se sem causa aparente ou ser o Quando muito intensa, a dor frequentemente sus-
resultado de outro transtorno diagnosticado. Adicionalmente, cita a contração dos músculos da face no lado afetado (tic
pode haver dor contínua concomitante, de intensidade mode- douloureux).
rada, dentro da(s) área(s) de distribuição da(s) divisão(ões) Sintomas autonômicos leves, como lacrimejamento e/ou
do nervo afetado. vermelhidão do olho ipsilateral, podem estar presentes.
Após um paroxismo doloroso, habitualmente há
Termos previamente utilizados: Tic douloureux, neuralgia trige- um período refratário durante o qual a dor não pode ser
minal primária. desencadeada.

Critérios diagnósticos:
A. Paroxismos recorrentes de dor facial unilateral na(s) 13.1.1.1 Neuralgia trigeminal clássica
distribuição(ões) de uma ou mais divisões do nervo tri-
gêmeo, sem irradiação além1 e preenchendo os critérios Descrição: Neuralgia trigeminal desenvolvendo-se sem causa
BeC aparente outra que a compressão neurovascular.
B. A dor possui todas as seguintes características:
1. duração de uma fração de segundo a dois minutos2 Critérios diagnósticos:
2. intensidade forte3 A. Paroxismos recorrentes de dor facial unilateral preen-
3. qualidade em choque elétrico, disparo, facada ou chendo os critérios para 13.1.1 Neuralgia trigeminal
aguda

159
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

B. Demonstração, na RM ou durante cirurgia, de compres- cialmente, à farmacoterapia (especialmente carbamazepina


são neurovascular (não simplesmente contato), com ou oxcarbazepina).
alterações morfológicas1 na raiz do nervo trigêmeo.

Nota: 13.1.1.1.2   Neuralgia trigeminal clássica com dor contínua


1. Tipicamente atrofia ou deslocamento.  concomitante

Comentários: A atrofia e/ou deslocamento da raiz do nervo Termos previamente utilizados: Neuralgia trigeminal atípica;
em função da compressão neurovascular têm associação neuralgia trigeminal tipo 2.
independente com os sinais e sintomas de 13.1.1 Neuralgia
trigeminal. Quando essas alterações anatômicas estão pre- Descrição: Neuralgia trigeminal clássica com dor facial per-
sentes, a condição é diagnosticada como 13.1.1.1 Neuralgia sistente de fundo.
trigeminal clássica.
O local comum de compressão neurovascular é na zona Critérios diagnósticos:
de entrada da raiz, com a compressão por uma artéria sendo A. Paroxismos recorrentes de dor facial unilateral preen-
mais claramente associada aos sintomas do que a compres- chendo os critérios para 13.1.1.1 Neuralgia trigeminal
são por uma veia. Técnicas de RM para medir o volume e a clássica
área transversal da raiz estão disponíveis. Alterações atrófi- B. Dor contínua ou quase contínua concomitante, entre as
cas podem incluir desmielinização, perda neuronal, altera- crises, na distribuição trigeminal afetada.
ções na microvasculatura e outras alterações morfológicas.
Enquanto os mecanismos exatos sobre como as mudanças Comentário: A sensibilização periférica ou central pode ser
atróficas no nervo trigêmeo contribuem para a geração da responsável pela dor contínua.
dor, algumas evidências sugerem que, quando presente no
período pré-operatório, elas predizem um bom desfecho pós-
-descompressão microvascular. 13.1.1.2 Neuropatia trigeminal secundária
Muitos pacientes com 13.1.1.1 Neuralgia trigeminal
clássica têm um início da dor passível de lembrança. Descrição: Neuralgia trigeminal causada por uma doença sub-
A 13.1.1.1 Neuralgia trigeminal clássica surge habi- jacente. O exame clínico demonstra alterações sensoriais em
tualmente na segunda ou na terceira divisão. A dor, rara- uma proporção significativa destes pacientes.
mente, ocorre bilateralmente (mais sequencialmente do que
concomitantemente). Critérios diagnósticos:
A 13.1.1.1 Neuralgia trigeminal clássica pode ser pre- A. Paroxismos recorrentes de dor facial unilateral preen-
cedida por um período de dor contínua atípica chamada na chendo o critério para 13.1.1 Neuralgia trigeminal, seja
literatura de pré-neuralgia trigeminal. puramente paroxística ou associada a dor contínua ou
Entre os paroxismos, a maioria dos pacientes são assinto- quase contínua concomitante
máticos. Na subforma 13.1.1.1.2 Neuralgia trigeminal clás- B. Uma doença subjacente, reconhecidamente capaz de
sica com dor contínua concomitante há, na área afetada, uma causar a neuralgia e que a explica, foi demonstrada1
dor de fundo prolongada. C. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.2

Notas:
13.1.1.1.1   Neuralgia trigeminal clássica puramente 1. Tumores no ângulo cerebelopontino, malformação arte-
 paroxística riovenosa e esclerose múltipla são causas reconhecidas.
2. A RM é melhor equipada para detectar uma causa sub-
Descrição: Neuralgia trigeminal clássica sem dor facial per- jacente para 13.1.1.2 Neuralgia trigeminal secundária.
sistente de fundo. Outras investigações podem incluir o registro neurofisio-
lógico dos reflexos trigeminais e os potenciais evocados
Critérios diagnósticos: trigeminais, adequados para pacientes que não podem ser
A. Paroxismos recorrentes de dor facial unilateral preen- submetidos a RM.
chendo os critérios para 13.1.1.1 Neuralgia trigeminal
clássica
B. Ausência de dor facial persistente entre as crises na dis- 13.1.1.2.1   Neuralgia trigeminal atribuída a esclerose
tribuição trigeminal afetada.  múltipla

Comentário: A 13.1.1.1.1 Neuralgia trigeminal clássica pura- Codificada em outro local: 13.13.1 Dor neuropática central atri-
mente paroxística é habitualmente responsiva, ao menos ini- buída a esclerose múltipla (EM).

160
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

Descrição: Neuralgia trigeminal causada por uma ou mais 1. uma lesão expansiva em contato com o nervo tri-
placas de esclerose múltipla (EM) na ponte ou na zona de gêmeo afetado foi demonstrada
entrada da raiz do nervo trigêmeo e associada a outros sin- 2. a dor desenvolveu-se após a identificação da lesão
tomas e/ou sinais clínicos ou achados laboratoriais de EM. ou levou à sua descoberta
C. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
Critérios diagnósticos:
A. Paroxismos recorrentes de dor facial unilateral preen- Comentário: Pacientes com 13.1.1.2.2 Neuralgia trigeminal
chendo os critérios para 13.1.1 Neuralgia trigeminal atribuída a lesão expansiva podem ou não ter sinais senso-
B. Ambos os seguintes: riais clinicamente detectáveis, enquanto que testes eletrofi-
1. esclerose múltipla (EM) foi diagnosticada siológicos do tipo reflexos trigeminais do tronco encefálico
2. uma placa de EM na zona de entrada da raiz trige- demonstram anormalidades em quase todos os casos.
minal ou na ponte afetando os aferentes primários
intrapontinos foi demonstrada por RM, ou a sua
presença é sugerida por estudos eletrofisiológi- 13.1.1.2.3   Neuralgia trigeminal atribuída a outra causa
cos de rotina1 demonstrando deficiência das vias
trigeminais Descrição: Neuralgia trigeminal causada por uma doença sub-
C. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. jacente que não as descritas acima.

Nota: Critérios diagnósticos:


1. Reflexo do piscamento ou potenciais evocados A. Paroxismos recorrentes de dor facial unilateral preen-
trigeminais. chendo os critérios para 13.1.1 Neuralgia trigeminal,
tanto puramente paroxística como associada a dor con-
Comentários: A 13.1.1.2.1 Neuralgia trigeminal atribuída a tínua ou quase contínua concomitante, mas não neces-
esclerose múltipla ocorre em 2-5% dos pacientes com escle- sariamente unilateral
rose múltipla (EM), algumas vezes bilateralmente. Por outro B. Ambos os seguintes:
lado, a EM é detectada somente em 2-4% dos casos de 13.1.1 1. um transtorno que não os descritos acima, mas
Neuralgia trigeminal. Os sintomas da neuralgia trigeminal reconhecidamente capaz de causar neuralgia trige-
raramente são uma característica de apresentação da EM. minal, foi diagnosticado1
A lesão na ponte afeta os terminais centrais intrapontinos 2. a dor desenvolveu-se após o início do transtorno
dos aferentes trigeminais que se projetam para os núcleos ou levou à sua descoberta
trigeminais no tronco encefálico. Lesões pontinas afetando C. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
os neurônios de segunda ordem do trato trigeminotalâmico
habitualmente levam a dor não paroxística e/ou a diseste- Nota:
sias e devem ser classificadas como 13.13.1 Dor neuropática 1. Deformidade óssea da base do crânio, doença do tecido
central atribuída a esclerose múltipla (EM). conjuntivo, malformação arteriovenosa, fistula arteriove-
Alguns pacientes com EM são identificados como porta- nosa dural e causas genéticas de neuropatia ou de hipe-
dores de compressão neurovascular da raiz trigeminal. Acre- rexcitabilidade dos nervos são causas reconhecidas.
dita-se que a EM aumenta a suscetibilidade da raiz do nervo
aos efeitos da compressão, levando mais prontamente aos
paroxismos dolorosos. 13.1.1.3 Neuralgia trigeminal idiopática
Pacientes com 13.1.1.2.1 Neuralgia trigeminal atribuída
a esclerose múltipla se beneficiam menos das intervenções Descrição: Neuralgia trigeminal sem anormalidades significa-
farmacológicas e cirúrgicas do que aqueles com 13.1.1.1 tivas demonstradas por testes eletrofisiológicos ou por RM.
Neuralgia trigeminal clássica.
Critérios diagnósticos:
A. Paroxismos recorrentes de dor facial unilateral preen-
13.1.1.2.2   Neuralgia trigeminal atribuída a lesão expansiva chendo os critérios para 13.1.1 Neuralgia trigeminal,
tanto puramente paroxística como associada a dor con-
Descrição: Neuralgia trigeminal causada por contato entre o tínua ou quase contínua concomitante
nervo trigêmeo afetado e uma lesão expansiva. B. Nem a 13.1.1.1 Neuralgia trigeminal clássica ou a
13.1.1.2 Neuralgia trigeminal secundária foram con-
Critérios diagnósticos: firmadas através de investigação adequada, incluindo
A. Paroxismos recorrentes de dor facial unilateral preen- testes eletrofisiológicos e RM1
chendo os critérios para 13.1.1 Neuralgia trigeminal C. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
B. Ambos os seguintes:

161
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

Nota: três meses, na(s) distribuição(ões) de um ou mais ramos do


1. O contato entre um vaso sanguíneo e o nervo e/ou raiz nervo trigêmeo, causada por e associada a outros sintomas e/
nervosa trigeminal é um achado comum nos exames de ou sinais clínicos de herpes-zóster agudo.
neuroimagem de indivíduos saudáveis. Quando tal con-
tato é encontrado na presença de 13.1.1 Neuralgia tri- Critérios diagnósticos:
geminal, mas sem evidência de alterações morfológicas A. Dor facial unilateral na(s) distribuição(ões) de um ou
(p.ex. atrofia ou deslocamento) na raiz do nervo, os crité- mais ramos do nervo trigêmeo, durando <3 meses
rios para 13.1.1.1 Neuralgia trigeminal clássica não são B. Um dos ou ambos os seguintes:
preenchidos, e a condição é considerada idiopática. 1. erupção herpética ocorreu na mesma distribuição
trigeminal
2. o vírus varicela-zóster (VZV) foi detectado no
13.1.1.3.1   Neuralgia trigeminal idiopática puramente líquido cefalorraquidiano (LCR) por reação em
 paroxística cadeia de polimerase (PCR)
3. ensaio por imunofluorescência direta para o antí-
Critérios diagnósticos: geno do VZV, ou ensaio por PCR para o DNA do
A. Paroxismos recorrentes de dor facial unilateral preen- VZV, é positivo em células obtidas da base das
chendo os critérios para 13.1.1.3 Neuralgia trigeminal lesões
idiopática C. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
B, Ausência de dor entre as crises, na distribuição trigemi-
nal afetada. Comentários: O herpes-zóster afeta o gânglio trigeminal em
10-15% dos casos, com a divisão oftálmica sendo acometida
em algo como 80% dos pacientes. Raramente, a dor não é
13.1.1.3.2   Neuralgia trigeminal idiopática com dor seguida por uma erupção ou rash (zoster sine herpete). O
  contínua concomitante diagnóstico em tais casos é confirmado através da detecção,
pela reação em cadeia de polimerase, do DNA do vírus vari-
Critérios diagnósticos: cela-zóster no líquido cefalorraquidiano.
A. Paroxismos recorrentes de dor facial unilateral preen- A 13.1.2.1 Neuropatia trigeminal dolorosa atribuída ao
chendo os critérios para 13.1.1.3 Neuralgia trigeminal herpes-zóster é habitualmente em queimação, facada/dis-
idiopática paro, formigamento ou dolente, e acompanhada por alodinia
B. Dor contínua ou quase contínua concomitante, entre as cutânea.
crises, na distribuição trigeminal afetada. O herpes oftálmico pode estar associado a paralisias do
III, IV e/ou VI nervos cranianos.
O herpes-zóster é comum em pacientes imunocompro-
13.1.2  Neuropatia trigeminal dolorosa metidos, ocorrendo em cerca de 10% daqueles com linfoma
e 25% dos pacientes com doença de Hodgkin.
Descrição: Dor facial na(s) distribuição(ões) de um ou mais
ramos do nervo trigêmeo causada por outro transtorno e
indicativo de dano neural. A dor primária é habitualmente 13.1.2.2 Neuralgia pós-herpética trigeminal
contínua ou quase contínua, e comumente descrita como em
queimação ou aperto, ou comparada a agulhadas. Paroxis- Termo previamente utilizado: Neuropatia trigeminal pós-her­
mos dolorosos breves superimpostos podem ocorrer, mas pética
esses não são o tipo de dor predominante. Essa combina-
ção distingue a neuropatia trigeminal dolorosa dos subtipos Descrição: Dor facial unilateral persistindo ou recorrendo por
de neuralgia trigeminal. Há déficits sensoriais clinicamente ao menos três meses, na(s) distribuição(ões) de um ou mais
detectáveis na distribuição trigeminal e a alodinia mecânica ramos do nervo trigêmeo, com alterações sensoriais variá-
e a hiperalgesia ao frio são comuns, preenchendo os critérios veis, causada pelo herpes-zóster.
da IASP para dor neuropática. Como regra, as áreas alodíni-
cas são muito maiores do que as zonas-gatilho puntiformes Critérios diagnósticos:
puntiformes presentes na neuralgia trigeminal. A. Dor facial unilateral na(s) distribuição(ões) de um ou
mais ramos do nervo trigêmeo, persistindo ou recor-
rendo por >3 meses e preenchendo o critério C
13.1.2.1 Neuropatia trigeminal dolorosa atribuída ao B. O herpes-zóster afetou o mesmo ramo (ou ramos) do
herpes-zóster nervo trigêmeo
C. A dor desenvolveu-se em relação temporal com a infec-
Descrição: Dor facial unilateral com duração de menos de ção pelo herpes-zóster1

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TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. 1. a dor é localizada na(s) distribuição(ões) do(s)
nervo(s) trigêmeo(s) afetado(s) pelo evento
Nota: traumático
1. Habitualmente, a dor ter-se-á desenvolvido enquanto o 2. a dor desenvolveu-se <6 meses após o evento
rash ainda estava ativo, mas, ocasionalmente, depois, traumático
após a cura desse. Em tais casos, cicatrizes pálidas ou D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
levemente arroxeadas podem estar presentes como
sequela da erupção herpética. Nota:
1. O evento traumático pode ser mecânico, químico, tér-
Comentários: Apesar do nome consagrado, a neuralgia pós- mico ou causado por radiação. Procedimentos neuroabla-
-herpética é, na verdade, uma neuropatia ou neuronopa- tivos para neuralgia trigeminal, direcionados ao gânglio
tia: alterações anatomopatológicas significativas têm sido ou à raiz nervosa trigeminal, podem resultar em dor neu-
demonstradas no nervo, no gânglio e na raiz do nervo. Em ropática envolvendo uma ou mais das divisões trigemi-
13.1.2.2 Neuralgia pós-herpética trigeminal também há evi- nais; isso deve ser considerado como pós-traumático e
dências de inflamação estendendo-se para para o interior do codificado aqui.
complexo trigeminal do tronco encefálico.
A ocorrência de neuralgia pós-herpética seguindo-se ao Comentário: A duração da dor varia amplamente, de paroxís-
herpes-zóster agudo é mais provável nos idosos. tica a constante, podendo ser mista.
A primeira divisão do nervo trigêmeo é a mais comu- Especificamente após uma lesão pós-ganglionar indu-
mente afetada na 13.1.2.2 Neuralgia pós-herpética trigemi- zida por radiação, a neuropatia pode surgir após mais de três
nal, mas a segunda e a terceira divisões também podem ser meses.
envolvidas. A 13.1.2.3 Neuropatia trigeminal pós-traumática dolo-
A dor da neuralgia pós-herpética ocorre, tipicamente, em rosa posterior a procedimentos neuroablativos direcionados
queimação e prurido - o último algumas vezes muito proe- ao gânglio ou à raiz nervosa trigeminal pode coexistir com a
minente e extremamente incômodo. Também tipicamente, os 13.1.1 Neuralgia trigeminal, se a última recidivar.
pacientes com neuralgia pós-herpética demonstram um claro
déficit sensorial e alodinia mecânica evocada pelo estímulo
com pincel (brush-evoked) na distribuição trigeminal envol- 13.1.2.4   Neuropatia trigeminal dolorosa atribuída a
vida. Muitos pacientes, no entanto, demonstram pouca perda   outro transtorno
sensorial, e, ao invés disso, apresentam respostas aumenta-
das ao (s) estímulos térmico e/ou puntiforme. Descrição: Dor facial ou oral, unilateral ou bilateral, na(s)
distribuição(ões) de um ou mais ramo(s) do nervo trigêmeo,
causada por um transtorno que não os descritos acima, com
13.1.2.3   Neuropatia trigeminal pós-traumática outros sintomas e/ou sinais clínicos de disfunção do nervo
 dolorosa trigêmeo.

Termo previamente utilizado: Anestesia dolorosa. Critérios diagnósticos:


A. Dor facial unilateral ou bilateral na(s) distribuição(ões)
Descrição: Dor facial ou oral, unilateral ou bilateral, depois de de um dos ou ambos os nervo(s) trigêmeos(s) e preen-
e causada por trauma sofrido pelo(s) nervo(s) trigêmeo(s), chendo o critério C
com outros sintomas e/ou sinais clínicos de disfunção do B. Um transtorno, que não os descritos acima, mas reco-
nervo trigêmeo. nhecidamente capaz de causar neuropatia trigeminal
dolorosa com sinais clinicamente evidentes positivos
Critérios diagnósticos: (hiperalgesia, alodinia) e/ou negativos (hipoestesia,
A. Dor facial e/ou oral na(s) distribuição(ões) de um dos hipoalgesia) de disfunção do nervo trigêmeo, e afetando
ou de ambos os nervos trigêmeos e preenchendo o cri- um dos ou ambos os nervos trigêmeos, foi diagnosticado
tério C C. Evidência de causalidade demonstrada por ambos os
B. Histórico de um evento traumático identificável1 rela- seguintes:
cionado ao(s) nervo(s) trigêmeo(s), com sinais clini- 1. a dor está localizada na(s) distribuição(ões) do(s)
camente evidentes positivos (hiperalgesia, alodinia) e/ nervo(s) trigêmeo(s) afetada(s) pelo transtorno
ou negativos (hipoestesia, hipoalgesia) de disfunção do 2. a dor desenvolveu-se após o início do transtorno
nervo trigêmeo ou levou à sua descoberta
C. Evidência de causalidade demonstrada por ambos os D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
seguintes:

163
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

Comentários: A neuropatia trigeminal dolorosa pode desen- B. A dor possui todas as seguintes características:
volver-se secundariamente à esclerose múltipla, a uma lesão 1. dura de uns poucos segundos a dois minutos
expansiva ou a uma doença sistêmica, com somente as 2. intensidade forte
características clínicas (tipo da dor espontânea, dor evocada 3. qualidade em choque elétrico, disparo, facada ou
e presença de déficits sensoriais) permitindo a distinção entre aguda
13.1.1.2 Neuralgia trigeminal secundária e 13.1.2 Neuropa- 4. precipitada pela deglutição, tosse, fala ou bocejo
tia trigeminal dolorosa. C. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
A 13.1.2 Neuropatia trigeminal dolorosa causada por
uma doença do tecido conjuntivo ou por transtornos heredi- Nota:
tários é habitualmente bilateral, mas pode começar assime- 1. Na parte posterior da língua, fossa tonsilar, faringe ou
tricamente e, ocasionalmente, apresentar-se com dor paro- ângulo da mandíbula e/ou na orelha.
xística superimposta à dor de fundo. Ao final, os pacientes
desenvolverão déficits sensoriais bilaterais e dor contínua, o Comentários: A 13.2.1 Neuralgia glossofaríngea pode ocorrer
que esclarece o diagnóstico. A RM é normal, mas os reflexos junto com a 13.1.1 Neuralgia trigeminal.
trigeminais são invariavelmente retardados ou ausentes. O nervo laríngeo superior é um ramo do nervo vago. A
neuralgia do nervo laríngeo superior apresenta-se de forma
similar, em sua localização, à 13.2.1 Neuralgia glossofarín-
13.1.2.5   Neuropatia trigeminal dolorosa idiopática gea e pode ser difícil, em bases clínicas, distinguí-la dessa.
Exames de imagem podem demonstrar compressão neu-
Descrição: Dor unilateral ou bilateral na(s) distribuição(ões) rovascular do nervo glossofaríngeo.
de um ou mais ramo(s) do(s) nervo(s) trigêmeo(s), indicativa Antes do desenvolvimento de 13.2.1 Neuralgia glosso-
de dano neural, porém de etiologia desconhecida. faríngea, sensações desagradáveis podem ser sentidas nas
áreas afetadas, por um período de semanas até diversos
Critérios diagnósticos: meses.
A. Dor facial unilateral ou bilateral na(s) distribuição(ões) A dor de 13.2.1 Neuralgia glossofaríngea pode irradiar
de um dos ou ambos os nervo(s) trigêmeo(s) e preen- até envolver o olho, nariz, queixo ou ombro. Pode ser grave
chendo o critério B o suficiente para que os pacientes percam peso. Em casos
B. Sinais clinicamente evidentes positivos (hiperalgesia, raros, as crises de dor estão associados a sintomas vagais
alodinia) e/ou negativos (hipoestesia, hipoalgesia) de tais como tosse, rouquidão, síncope e/ou bradicardia. Alguns
disfunção do nervo trigêmeo autores propõem que se distinga entre as subformas faríngea,
C. Nenhuma causa foi identificada otálgica e vagal da neuralgia e têm sugerido utilizar o termo
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. neuralgia vagoglossofaríngea quando a dor é acompanhada
por assistolia, convulsões e síncope.
O exame clínico habitualmente falha em demonstrar alte-
13.2   Dor atribuída a lesão ou doença do rações sensoriais na distribuição do nervo, porém, se déficits
  nervo glossofaríngeo sensoriais leves são encontrados, eles não invalidam o diag-
nóstico. Alterações maiores, ou um reflexo nauseoso redu-
zido/ausente, devem levar à investigação etiológica.
13.2.1   Neuralgia glossofaríngea A 13.2.1 Neuralgia glossofaríngea é habitualmente res-
ponsiva, ao menos inicialmente, à farmacoterapia (em espe-
Termo previamente utilizado: Neuralgia vagoglossofaríngea. cial carbamazepina ou oxcarbazepina). Tem sido sugerido
que a aplicação de anestésico local na tonsila e na parede
Descrição: Um transtorno caracterizado por dor aguda, breve faríngea pode prevenir as crises por algumas horas.
e unilateral, abrupta quanto ao início e ao término, nas dis-
tribuições não somente do nervo glossofaríngeo, mas tam-
bém dos ramos auricular e e faríngeo no nervo vago. A dor 13.2.1.1   Neuralgia glossofaríngea clássica
é sentida na orelha, na base da língua, na fossa tonsilar e/ou
abaixo do ângulo da mandíbula. Ela é comumente provocada Descrição: Neuralgia glossofaríngea desenvolvendo-se sem
pelos atos de deglutir, falar ou tossir e pode remitir e recidi- causa aparente outra que a compressão neurovascular.
var do mesmo modo que a neuralgia do trigêmeo.
Critérios diagnósticos:
Critérios diagnósticos: A. Paroxismos recorrentes de dor unilateral preenchendo
A. Crises paroxísticas recorrentes de dor unilateral na dis- os critérios para 13.2.1 Neuralgia glossofaríngea
tribuição do nervo glossofaríngeo1 e preenchendo o cri- B. Demonstração na RM, ou durante cirurgia, de compres-
tério B são neurovascular da raiz do nervo glossofaríngeo.

164
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

13.2.1.2   Neuralgia glossofaríngea secundária do nervo glossofaríngeo e causada por outro transtorno
identificado.
Descrição: Neuralgia glossofaríngea causada por uma doença
subjacente. Critérios diagnósticos:
A. Dor contínua ou quase contínua unilateral1 na distribui-
Critérios diagnósticos: ção do nervo glossofaríngeo e preenchendo o critério C
A. Paroxismos recorrentes de dor unilateral preenchendo B. Um transtorno reconhecidamente capaz de causar neu-
os critérios para 13.2.1 Neuralgia glossofaríngea ropatia glossofaríngea dolorosa foi diagnosticado2
B. Foi demonstrada uma doença subjacente, reconhecida- C. Evidência de causalidade demonstrada por ambos os
mente capaz de causar, e explicando, a neuralgia.1 seguintes:
1. a dor é ipsilateral ao nervo glossofaríngeo afetado
Nota: pelo transtorno
1. Há relatos individuais de 13.2.1.2 Neuralgia glossofarín- 2. a dor desenvolveu-se após o início do transtorno
gea secundária causada por trauma cervical, esclerose ou levou à sua descoberta
múltipla, tumores tonsilares ou regionais, tumores do D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
ângulo cerebelopontino e malformação de Arnold-Chiari.
Notas:
1. Paroxismos breves podem estar superimpostos, mas não
13.2.1.3   Neuralgia glossofaríngea idiopática são o tipo de dor predominante.
2. Tumores no ângulo cerebelopontino e dano iatrogênico
Descrição: Neuralgia glossofaríngea sem evidência tanto durante procedimentos têm sido relatados como causa-
de compressão neurovascular como de doença causal dores de neuropatia glossofaríngea dolorosa.
subjacente.

Critérios diagnósticos: 13.2.2.2   Neuropatia glossofaríngea dolorosa idiopática


A. Paroxismos recorrentes de dor unilateral preenchendo
os critérios para 13.2.1 Neuralgia glossofaríngea Descrição: Dor contínua ou quase contínua unilateral, com ou
B. As investigações não encontraram nem compressão sem paroxismos breves superimpostos, na distribuição do
neurovascular nem um doença subjacente reconhecida- nervo glossofaríngeo e de etiologia desconhecida.
mente capaz de causar 13.2.1.2 Neuralgia glossofarín-
gea secundária Critérios diagnósticos:
C. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. A. Dor unilateral continua ou quase continua1 na distribui-
ção do nervo glossofaríngeo
B. Nenhuma causa foi identificada
13.2.2   Neuropatia glossofaríngea dolorosa C. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.

Descrição: Dor na distribuição do nervo glossofaríngeo (parte Nota:


posterior da língua, fossa tonsilar, faringe e/ou embaixo do 1. Paroxismos breves podem estar superimpostos, mas não
ângulo da mandíbula). Além disso, a dor é comumente per- são o tipo de dor predominante.
cebida na orelha ipsilateral. A dor primária é habitualmente
contínua ou quase contínua e comumente descrita como em
queimação ou aperto ou comparada a agulhadas. Paroxismos 13.3 Dor atribuída a lesão ou doença do
breves podem estar superimpostos, mas eles não são o tipo nervo intermédio
de dor predominante. Essa combinação distingue a neuropa-
tia glossofaríngea dolorosa das subformas de 13.2.1 Neural-
gia glossofaríngea. Déficits sensoriais podem estar presentes 13.3.1   Neuralgia do nervo intermédio
na parte posterior ipsilateral da língua e da fossa tonsilar, e o
reflexo nauseoso pode estar fraco ou ausente. Termo previamente utilizado: Neuralgia geniculada.

Descrição: Um transtorno raro caracterizado por paroxismos


13.2.2.1   Neuropatia glossofaríngea dolorosa atribuída breves de dor sentidos profundamente no canal auditivo,
  a causa conhecida algumas vezes irradiando-se para a região parieto-occipital.
Na vasta maioria dos casos, é encontrada compressão vas-
Descrição: Dor contínua ou quase contínua unilateral, com cular no ato cirúrgico, ocasionalmente com uma aracnóide
ou sem paroxismos breves superimpostos, na distribuição espessada, mas ela pode desenvolver-se sem causa aparente

165
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

ou como complicação do herpes-zóster ou, muito raramente, B. Foi demonstrada uma doença subjacente, reconhecida-
da esclerose múltipla ou de um tumor. Ela é provocada pela mente capaz de causar, e explicando, a neuralgia.1
estimulação de uma área de gatilho na parede posterior do
canal auditivo e/ou região periauricular. Nota:
1. Há relatos individuais de 13.3.1.2 Neuralgia secundária
Critérios diagnósticos: do nervo intermédio causada por esclerose múltipla ou
A. Crises paroxísticas de dor unilateral na distribuição do tumor. Nesse último caso, os déficits neurológicos oriun-
nervo intermédio1 e preenchendo o critério B dos do dano a outros nervos em estreita proximidade ten-
B. A dor possui todas as seguintes características: dem a dominar a apresentação clínica. O herpes-zóster
1. duração de alguns segundos a minutos tipicamente leva, habitualmente, a 13.3.2.1 Neuropatia
2. intensidade forte dolorosa do nervo intermédio atribuída ao herpes-zós-
3. qualidade em disparo, facada ou aguda ter em vez de 13.3.1.2 Neuralgia secundária do nervo
4. precipitada pela estimulação de uma área de gati- intermédio.
lho na parede posterior do canal auditivo e/ou região
periauricular
C. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.2 13.3.1.3  Neuralgia idiopática do nervo intermédio

Notas: Descrição: Neuralgia do nervo intermédio sem evidência tanto


1. A dor é localizada no canal auditivo, na orelha, na região de compressão neurovascular como de uma doença subja-
do processo mastoide e ocasionalmente do palato mole e cente causal.
pode algumas vezes irradiar-se para a região temporal ou
para o ângulo da mandíbula. Critérios diagnósticos:
2. Em vista da inervação complexa e sobreposta da orelha A. Paroxismos recorrentes de dor unilateral preenchendo
externa, derivada dos nervos trigêmeo (auriculotempo- os critérios para 13.3.1 Neuralgia do nervo intermédio
ral), facial (nervo intermédio), glossofaríngeo, vago e B. As investigações não encontraram nem compressão
segunda raiz cervical, a atribuição de neuralgias a um neurovascular nem uma doença subjacente reconheci-
único nervo pode não ser fácil nesta região do corpo damente capaz de causar 13.3.1.2 Neuralgia secundária
quando um contato neurovascular específico não pode do nervo intermédio
ser visualizado. C. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.

Comentário: Transtornos do lacrimejamento, salivação e/ou


paladar algumas vezes acompanham a dor da 13.3.1 Neural- 13.3.2   Neuropatia dolorosa do nervo intermédio
gia do nervo intermédio.
Descrição: Dor na(s) distribuição(ões) do(s) nervo(s) inter-
médio(s) (canal auditivo, orelha ou região do processo mas-
13.3.1.1  Neuralgia clássica do nervo intermédio toide), habitualmente descrita pelo paciente como maçante,
na profundidade da orelha e contínua ou quase contínua.
Descrição: Neuralgia do nervo intermédio desenvolvendo-se Breves paroxismos podem estar superimpostos, mas eles não
sem causa aparente outra que a compressão neurovascular. são o tipo de dor predominante. Esta combinação distingue
a neuropatia dolorosa do nervo intermédio das subformas de
Critérios diagnósticos: 13.3.1 Neuralgia do nervo intermédio. Déficits sensoriais,
A. Paroxismos recorrentes de dor unilateral preenchendo habitualmente leves, podem estar presentes no canal audi-
os critérios para 13.3.1 Neuralgia do nervo intermédio tivo, na orelha ou na pele que recobre o processo mastoide.
B. Demonstração, na RM ou durante cirurgia, de compres-
são neurovascular da raiz do nervo intermédio.
13.3.2.1   Neuropatia dolorosa do nervo intermédio
  atribuída ao herpes-zóster
13.3.1.2  Neuralgia secundária do nervo intermédio
Termo previamente utilizado: A 13.3.2.1 Neuropatia dolorosa
Descrição: Neuralgia do nervo intermédio causada por uma do nervo intermédio atribuída ao herpes-zóster associada a
doença subjacente. paresia facial é conhecida como síndrome de Ramsay Hunt.

Critérios diagnósticos: Descrição: Dor contínua ou quase contínua unilateral, com ou


A. Paroxismos recorrentes de dor unilateral preenchendo sem paroxismos breves superimpostos, na distribuição do
os critérios para 13.3.1 Neuralgia do nervo intermédio nervo intermédio e sentida profundamente no canal auditivo,

166
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

causada pela infecção do nervo intermédio por herpes-zóster Critérios diagnósticos:


e comumente associada a paresia facial e outros sintomas A. Dor unilateral na distribuição do nervo intermédio,1
e/ou sinais clínicos da infecção ou das suas consequências. persistindo ou recorrendo por >3 meses e preenchendo
o critério C
Critérios diagnósticos: B. Ocorreu infecção do nervo intermédio por herpes-zóster
A. Dor contínua ou quase contínua unilateral1 na distribui- C. A dor desenvolveu-se em relação temporal com a infec-
ção do nervo intermédio2 e preenchendo o critério C ção por herpes-zóster2
B. Um ou mais dos seguintes: D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
1. erupção herpética ocorreu na distribuição do nervo
intermédio3 Notas:
2. o vírus da varicela-zóster (VZV) foi detectado no 1. No canal auditivo, orelha e/ou região do processo
líquido cefalorraquidiano (LCR) por reação em mastoide.
cadeia da polimerase (PCR) 2. Habitualmente, a dor ter-se-á desenvolvido enquanto a
3. ensaio por imunofluorescência direta para o antí- infecção ainda estava ativa, mas, ocasionalmente, depois
geno do VZV, ou ensaio por PCR para o DNA do disso.
VZV, é positivo em células obtidas da base das
lesões
C. A dor desenvolveu-se em relação temporal com o 13.3.2.3   Neuropatia dolorosa do nervo intermédio
herpes-zóster4   atribuída a outro transtorno
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.5
Descrição: Dor contínua ou quase contínua unilateral, com ou
Notas: sem paroxismos breves superimpostos, na distribuição no
1. Paroxismos breves podem estar superimpostos, mas não nervo intermédio e causada por um transtorno outro que não
são o tipo de dor predominante. a infecção por herpes-zóster. Pode haver outros sintomas e/
2. No canal auditivo, orelha e/ou região do processo ou sinais clínicos do transtorno causal.
mastoide.
3. Devido à disseminação viral, outros nervos cranianos Critérios diagnósticos:
podem vir a ser afetados. A. Dor contínua ou quase contínua unilateral1 na distribui-
4. A dor pode preceder a erupção herpética. ção do nervo intermédio,2 preenchendo o critério C
5. O diagnóstico é confirmado clinicamente nos estágios B. Um transtorno afetando o nervo intermédio, outro que
agudos através da detecção de vesículas na membrana a infecção por herpes-zóster mas reconhecidamente
timpânica, canal auditivo, orelha e/ou na pele que reco- capaz de causar neuropatia dolorosa do nervo intermé-
bre o processo mastoide. Elas também podem ser obser- dio, foi diagnosticado3
vadas no terço anterior da língua, atingido pelo vírus via C. A dor desenvolveu-se após o início do transtorno ou
nervo corda do tímpano, ou no palato duro, suprido por levou à sua descoberta
um ramo remanescente vestigial do nervo facial. D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.

Comentários: Outros nervos cranianos (VIII, IX, X, XI) tam- Notas:


bém podem ser afetados, levando a acúfeno, perda auditiva, 1. Paroxismos breves podem estar superimpostos, mas não
vertigem, náusea, rouquidão e disfagia. são o tipo de dor predominante.
Apesar de pouco ser sabido sobre o curso natural de 2. No canal auditivo, orelha e/ou região do processo
13.3.2.1 Neuropatia dolorosa do nervo intermédio atribuída mastoide.
ao herpes-zóster, a dor pode permanecer por mais de três 3. A 13.3.2 Neuropatia dolorosa do nervo intermédio tem
meses; ela deve ser então classificada como 13.3.2.2 Neural- sido descrita raramente em pacientes com tumores faciais
gia pós-herpética do nervo intermédio. ou lesão do gânglio geniculado.

13.3.2.2   Neuralgia pós-herpética do nervo intermédio 13.3.2.4   Neuropatia dolorosa idiopática do


  nervo intermédio
Descrição: Dor unilateral persistindo ou recorrendo por ao
menos três meses na distribuição do nervo intermédio, sen- Descrição: Dor contínua ou quase contínua unilateral, com ou
tida profundamente no canal auditivo, causada pela infecção sem paroxismos breves superimpostos, na(s) distribuição(-
do nervo intermédio por herpes-zóster. ções) do nervo intermédio e de etiologia desconhecida.

167
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

Critérios diagnósticos: acompanhada por sensação e/ou postura anormal da língua


1. Dor na(s) distribuição(ões) do nervo intermédio1 em um ipsilateral.
ou ambos os lados
2. Nenhuma causa foi identificada Critérios diagnósticos:
3. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. A. Ao menos dois episódios preenchendo os critérios B-D
B. Dor unilateral aguda ou em facada1 na parte alta do pes-
Nota: coço e/ou região occipital com simultânea sensação e/
1. No canal auditivo, orelha e/ou região do processo ou postura anormal da língua ipsilateral
mastoide. C. Precipitada pela rotação repentina do pescoço
D. Duração de segundos a diversos minutos
E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
13.4   Neuralgia occipital
Nota:
Descrição: Dor paroxística, em disparo ou em facada, unilate- 1. Pode haver ou não disestesia simultânea.
ral ou bilateral, na parte posterior do couro cabeludo, na(s)
distribuição(ões) dos nervos occipitais maior, menor e/ou Comentário: Um estudo recente descreveu esta condição em
terceiro, algumas vezes acompanhada por redução da sensi- detalhes, justificando a sua promoção do Apêndice (onde ela
bilidade ou disestesia na área afetada e habitualmente asso- apareceu na ICHD-3 beta).
ciada a dolorimento sobre o(s) nervo(s) envolvido(s).

Critérios diagnósticos: 13.6   Neurite óptica dolorosa


A. Dor unilateral ou bilateral na(s) distribuição (ões) dos
nervos occipitais maior, menor e/ou terceiro e preen- Termo previamente utilizado: Neurite retrobulbar.
chendo os critérios B-D
B. A dor possui ao menos duas das três seguintes Descrição: Dor atrás de um dos ou ambos os olhos causada por
características: desmielinização do(s) nervo(s) óptico(s) e acompanhada por
1. recorrendo em crises paroxísticas durando de pou- diminuição da visão central.
cos segundos a minutos
2. intensidade forte Critérios diagnósticos:
3. qualidade em disparo, facada ou aguda A. Dor unilateral ou bilateral retro-orbital, orbital, frontal
C. A dor está associada a ambos os seguintes: e/ou temporal preenchendo o critério C
1. disestesia e/ou alodinia aparentes durante a esti- B. Evidência clínica, eletrofisiológica, de imagem e/ou
mulação inócua do couro cabeludo e/ou cabelo laboratorial confirmando neurite óptica1
2. um dos ou ambos os seguintes: C. Evidência de causalidade demonstrada por ambos os
a) dolorimento sobre os ramos nervosos afetados seguintes:
b) pontos-gatilho na emergência do nervo occi- 1. a dor desenvolveu-se em relação temporal com a
pital maior ou na distribuição de C2 neurite óptica
D. A dor é aliviada temporariamente pelo bloqueio anesté- 2. a dor é agravada pela movimentação ocular
sico do(s) nervo(s) afetado(s) D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
Nota:
Comentários: A dor da 13.4 Neuralgia occipital pode atingir a 1. A RM realçada por gadolínio mostra o realce do nervo
área fronto-orbital, através das conexões interneuronais tri- óptico em 90% dos casos de 13.6 Neurite óptica dolorosa.
geminocervicais nos núcleos espinhais do trigêmeo.
A 13.4 Neuralgia occipital deve ser distinguida da dor Comentários: Séries clínicas relatam que a prevalência de dor
occipital referida proveniente das articulações atlantoaxial na neurite óptica é de cerca de 90%. A dor pode preceder o
ou zigapofisárias superiores ou de pontos-gatilho sensíveis prejuízo visual.
nos músculos do pescoço ou nas suas inserções. A 13.6 Neurite óptica dolorosa frequentemente é uma
manifestação da esclerose múltipla.

13.5   Síndrome pescoço-língua


13.7   Cefaleia atribuída a paralisia
Descrição: Dor occipital e/ou cervical alta de início imediato,   isquêmica de nervo motor ocular
unilateral, do tipo aguda ou em facada e habitualmente forte,
ocasionada por movimento rotatório e repentino da cabeça e Descrição: Dor frontal e/ou periorbital unilateral causada

168
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

por e associada a outros sintomas e/ou sinais clínicos de ou VIII. A inervação simpática da pupila é ocasionalmente
paresia isquêmica do(s) nervo(s) craniano(s) III, IV e/ou V afetada.
ipsilateral(is). O acompanhamento cuidadoso é necessário para excluir
outras causas de oftalmoplegia dolorosa, tais como tumores,
Critérios diagnósticos: vasculite, meningite basal, sarcoidose ou diabetes mellitus.
A. Cefaleia frontal e/ou periorbital unilateral preenchendo A dor e a paresia da 13.8 Síndrome de Tolosa-Hunt
o critério C desaparecem quando essa é adequadamente tratada com
B. Evidência clínica e de imagem confirmando uma para- corticosteroides.
lisia isquêmica de nervo motor ocular1
C. Evidência de causalidade demonstrada por ambos os
seguintes: 13.9   Síndrome oculossimpática
1. a cefaleia é ipsilateral à paralisia de nervo motor paratrigeminal (síndrome de Raeder)
2. cefaleia desenvolveu-se em relação temporal com
a paralisia de nervo motor Descrição: Dor unilateral e constante, na distribuição da divi-
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. são oftálmica do nervo trigêmeo, algumas vezes estendendo-
-se à divisão maxilar, acompanhada por síndrome de Horner
Nota: ipsilateral e causada por um transtorno na fossa craniana
1. A 13.7 Cefaleia atribuída a paralisia isquêmica de nervo média ou da artéria carótida.
motor ocular pode ocorrer prévia ou simultaneamente ao
início da diplopia. Critérios diagnósticos:
A. Cefaleia unilateral e constante preenchendo o critério C
Comentário: A maioria das paralisias dos nervos motores ocu- B. Síndrome de Horner unilateral, com evidência por
lares são dolorosas, independentemente da presença ou da exame de imagem de uma doença subjacente na fossa
ausência de diabetes. A dor é mais frequente nos pacientes craniana média ou na artéria carótida ipsilateral
com paralisias do III nervo, menos frequente naqueles com C. Evidência de causalidade demonstrada por ambos os
paresia do VI nervo e menos ainda nos casos de paresia do seguintes:
IV nervo. 1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal
com o início do transtorno subjacente ou levou à
sua descoberta
13.8   Síndrome de Tolosa-Hunt 2. a cefaleia apresenta uma das ou ambas as seguintes
características:
Descrição: Dor orbital ou periorbital unilateral associada a a) localizada na distribuição da divisão oftál-
paresia de um ou mais dentre os nervos cranianos III, IV e/ mica do nervo trigêmeo, com ou sem irradia-
ou VI, causada por uma inflamação granulomatosa no seio ção para a divisão maxilar
cavernoso, fissura orbital superior ou órbita. b) agravada pela movimentação ocular
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
Critérios diagnósticos:
A. Cefaleia orbital ou periorbital unilateral preenchendo o Comentário: A descrição original da 13.9 Síndrome oculos-
critério C simpática paratrigeminal (síndrome de Raeder) é conside-
B. Ambos os seguintes: rada um exemplo clássico da metodologia clínicoanatômica
1. inflamação granulomatosa do seio cavernoso, fis- do início do século XX e foi útil porque o envolvimento de
sura orbital superior ou órbita, demonstrada por fibras simpáticas oculopupilares indicava uma lesão da fossa
RM ou biópsia craniana média. É muito debatido se o termo síndrome de
2. paresia de um ou mais dentre os nervos cranianos Raeder deve ser utilizado atualmente, mas a síndrome de
III, IV e/ou VI ipsilateral(is) Horner dolorosa ainda é considerada por alguns autores
C. Evidência de causalidade demonstrada por ambos os como sendo uma indicação útil, em termos diagnósticos, de
seguintes: uma lesão na fossa craniana média ou de dissecção da artéria
1. a cefaleia é ipsilateral à inflamação granulomatosa carótida.
2. a cefaleia precedeu a paresia do(s) nervo(s) III, IV
e/ou VI por ≤2 semanas, ou desenvolveu-se com ela
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. 13.10   Neuropatia oftalmoplégica dolorosa
 recorrente
Comentários: Alguns casos relatados de 13.8 Síndrome de
Tolosa-Hunt tiveram envolvimento adicional do V nervo Termo previamente utilizado: Migrânea oftalmoplégica (esse
(comumente da primeira divisão) ou dos nervos óptico, VII termo antigo e inapropriado foi rejeitado, pois essa sín-

169
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

drome não é migranosa, mas sim uma neuropatia dolorosa Há um alto predomínio de mulheres na menopausa, e
recorrente). alguns estudos demostram transtornos psicossociais e psi-
quiátricos comórbidos. Investigações laboratoriais e de ima-
Descrição: Crises repetidas de paresia de um ou mais ner- gem cerebral têm indicado alterações nos sistemas nervosos
vos cranianos oculares (comumente o III), com cefaleia central e periférico.
ipsilateral. É tema de debate o quanto a síndrome da ardência bucal
secundária atribuída a um transtorno local (candidíase,
Critérios diagnósticos: líquen plano, hipossalivação) ou sistêmico (induzida por
A. Ao menos duas crises preenchendo o critério B medicação, anemia, deficiências de vitamina B12 ou ácido
B. Ambos os seguintes: fólico, síndrome de Sjögren, diabetes) deve ser considerada
1. cefaleia unilateral como uma entidade individual. As evidências atuais não jus-
2. paresia ipsilateral de um, dois ou todos os três ner- tificam a sua inclusão nem mesmo no Apêndice.
vos motores oculares1
C. Lesão orbital, parasselar ou da fossa posterior foi
excluída através de investigação apropriada 13.12   Dor facial idiopática persistente
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
Termo previamente utilizado: Dor facial atípica.
Nota:
1. Alguns dados sugerem que a cefaleia pode desenvolver- Descrição: Dor facial e/ou oral persistente, com apresentações
-se até 14 dias antes da paresia motora ocular. variáveis porém recorrendo diariamente por mais de duas
horas/dia, por mais de três meses, na ausência de déficit neu-
Comentários: O realce com gadolínio ou o espessamento do rológico clínico.
nervo podem ser demonstrados utilizando a RM.
O tratamento com corticosteroides é benéfico em alguns Critérios diagnósticos:
pacientes. A. Dor facial e/ou oral preenchendo os critérios B e C
B. Recorrendo diariamente por >2 horas/dia por >3 meses
C. A dor possui ambas as seguintes características:
13.11   Síndrome da ardência bucal (BMS) 1. pobremente localizada e não seguindo a distribui-
ção de um nervo periférico
Termos previamente utilizados: Estomatodinia, ou, quando limi- 2. qualidade maçante, dolente ou incômoda
tada à lingua, glossodinia. D. O exame clínico neurológico é normal
E. Causa dentária foi excluída através de investigação
Descrição: Uma sensação intraoral disestésica ou em quei- apropriada
mação, recorrendo diariamente por mais de duas horas/dia F. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
por mais de três meses, sem lesões causais clinicamente
evidentes. Comentários: Uma grande variedade de palavras é utilizada
pelos pacientes para descrever o caráter da 13.12 Dor facial
Critérios diagnósticos: idiopática persistente, mas ela é mais frequentemente des-
A. Dor oral1 preenchendo os critérios B e C crita como maçante, irritante ou dolorida, tanto profunda
B. Recorrendo diariamente por >2 horas/dia por >3 meses como superficial. Ela pode ter exacerbações agudas e é agra-
C. A dor possui ambas as seguintes características: vada pelo estresse. Com o tempo, ela pode alastrar-se para
1. qualidade em queimação2 uma área mais ampla da região craniocervical.
2. sentida superficialmente na mucosa oral Pacientes com 13.12 Dor facial idiopática persistente
D. A mucosa oral é de aparência normal e o exame clínico, são predominantemente do sexo feminino.
incluindo a testagem da sensibilidade, é normal A 13.12 Dor facial idiopática persistente pode ser
E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. comórbida com outras condições relacionadas a dor, como
dor disseminada crônica e síndrome do intestino irritável.
Notas: Somado a isso, ela apresenta-se com altos níveis de comor-
1. A dor é habitualmente bilateral; o local mais comum é a bidade psiquiátrica e incapacidade psicossocial.
ponta da língua. A 13.12 Dor facial idiopática persistente pode originar-
2. A intensidade da dor flutua. -se de uma intervenção ou lesão menor na face, maxilas, den-
tes ou gengivas, mas persiste após a cura do evento nocivo
Comentários: Secura subjetiva da boca, disestesia e alteração inicial, sem qualquer causa local demonstrável. No entanto,
do paladar podem estar presentes. testes psicofísicos ou neurofisiológicos podem demonstrar
anormalidades sensoriais. Parece existir um contínuo entre

170
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

13.12 Dor facial idiopática persistente induzida por trauma 13.13.2   Dor central pós-acidente vascular cerebral
não significativo e 13.1.2.3 Neuropatia trigeminal pós-trau-
mática dolorosa causada obviamente por um dano significa- Descrição: Dor facial e/ou cefálica, habitualmente unilateral,
tivo inflingido aos nervos periféricos. com apresentações variáveis envolvendo partes da região
O termo odontalgia atípica tem sido aplicado a uma dor craniocervical ou toda ela e associada a comprometimento
contínua em um ou mais dentes ou em um alvéolo dentário, da sensibilidade, ocorrendo dentro de seis meses após e cau-
após extração, na ausência de qualquer causa dentária habi- sada por um acidente vascular cerebral. Não é explicável por
tual. Isso é considerado como sendo um subtipo de 13.12 Dor uma lesão do nervo trigêmeo periférico ou de outros nervos
facial idiopática persistente, embora seja mais localizada, a cranianos ou cervicais.
idade média de início seja menor e haja um maior equilíbrio
entre os sexos. Baseado na história de trauma, a odontalgia Critérios diagnósticos:
atípica também pode ser uma subforma de 13.1.2.3 Neuropa- A. Dor facial e/ou cefálica preenchendo o critério C
tia trigeminal pós-traumática dolorosa. Esses subtipos/sub- B. Um acidente vascular isquêmico ou hemorrágico
formas, se existem, não têm sido suficientemente estudados ocorreu
para que sejam propostos critérios diagnósticos. C. Evidência de causalidade demonstrada por ambos os
seguintes:
1. a dor desenvolveu-se dentro de seis meses após o
13.13   Dor neuropática central acidente vascular
2. exame de imagem1 demostrou uma lesão vascular
Descrição: Dor craniocervical unilateral ou bilateral de origem em local apropriado
central, com apresentação variável, com ou sem alterações D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
sensoriais. Dependendo da causa, ela pode ser constante ou
remitente e recidivante. Nota:
1. Habitualmente RM.

13.13.1   Dor neuropática central atribuída a Comentários: A 13.13.2 Dor central pós-acidente vascular
  esclerose múltipla (EM) cerebral é atribuída a uma lesão das projeções ascendentes
dos núcleos trigeminais. As vias espinotalâmicas cervicais
Descrição: Dor craniocervical unilateral ou bilateral com e o processamento cortical também podem desempenhar
apresentação variada, com ou sem alterações sensoriais, atri- papéis significativos. Os sintomas, portanto, podem envolver
buída a uma lesão desmielinizante das conexões ascendentes também o tronco e os membros do lado afetado.
centrais do nervo trigêmeo, em uma pessoa com esclerose A dor craniocervical após uma lesão talâmica é parte de
múltipla. Ela comumente remite e recidiva. uma hemissíndrome. Com lesões bulbares laterais, a dor
hemifacial pode ocorrer de forma isolada, mas ela é mais
Critérios diagnósticos: frequentemente acompanhada por hemidisestesia cruzada.
A. Dor facial e/ou cefálica preenchendo o critério C1
B. Esclerose múltipla (EM) foi diagnosticada, com
demonstração por RM de uma lesão desmielinizante Bibliografia
no tronco cerebral ou nas projeções ascendentes dos
núcleos trigeminais 13.1.1 Neuralgia trigeminal
C. A dor desenvolveu-se em relação temporal com a lesão Benoliel R, Eliav E and Sharav Y. Self-reports of painrelated awak-
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175
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

14. Outras cefaleias Comentário: Diversas novas cefaleias foram descritas no


período entre a primeira edição da Classificação Internacio-
14.1 Cefaleia não classificada em outro local nal das Cefaleias e esta terceira edição. Antecipa-se que há
14.2 Cefaleia não especificada mais entidades ainda por serem descritas. Tais cefaleias, até
que classificadas, devem ser codificadas como 14.1 Cefaleia
não classificada em outro local.
Introdução
Para tornar esta classificação completa existem, em casos 14.2 Cefaleia não especificada
apropriados, subcategorias para condições que preenchem
todos os critérios para transtornos específicos, exceto um Termos previamente utilizados: Cefaleia não classificável.
deles. Ainda assim pode haver cefaleias que não se encaixam
em nenhum dos capítulos existentes, porque estão sendo des- Critérios diagnósticos:
critas pela primeira vez, ou porque, simplesmente, não há A. A cefaleia está ou esteve presente
informações suficientes disponíveis. Este capítulo é desti- B. Não há informação suficiente disponível para classificar
nado a esses tipos ou subtipos de cefaleias. a cefaleia em qualquer nível desta classificação.

Comentário: Também é perceptível que um diagnóstico deve


14.1 Cefaleia não classificada em outro local ser feito em um grande número de pacientes onde muito
pouca informação está disponível, permitindo somente
Termo previamente utilizado: Cefaleia não classificável. afirmar que eles apresentam cefaleia, mas não qual tipo de
cefaleia. Tais pacientes são codificados como 14.2 Cefaleia
Critérios diagnósticos: não especificada. Este código, no entanto, nunca deve ser
A. Cefaleia com características peculiares sugerindo que é utilizado como uma desculpa para não reunir informação
uma entidade diagnóstica única detalhada sobre uma cefaleia, quando tal informação estiver
B. A cefaleia não preenche os critérios para qualquer das disponível. Ele deve ser utilizado apenas em situações nas
cefaleias descritas previamente. quais a informação não pode ser obtida porque o paciente
está morto, incapacitado de comunicar-se ou indisponível.

176
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

A. APÊNDICE
A1. Migrânea

A2. Cefaleia do tipo tensão (critérios alternativos)

A3. Cefaleias trigeminoautonômicas (CTAs)

A4. Outras cefaleias primárias

A5. Cefaleia atribuída a trauma ou lesão cefálica e/ou cervical

A6. Cefaleia atribuída a transtorno vascular craniano e/ou cervical

A7. Cefaleia atribuída a transtorno intracraniano não vascular

A8. Cefaleia atribuída a uma substância ou à sua supressão

A9. Cefaleia atribuída a infecção

A10. Cefaleia atribuída a transtorno da homeostase

A11. Cefaleia ou dor facial atribuída a transtorno do crânio, pescoço, olhos, orelhas,
nariz, seios paranasais, dentes, boca ou outra estrutura facial ou cervical

A12. Cefaleia atribuída a transtorno psiquiátrico

177
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

A. Apêndice
A1. Migrânea
A1.1  Migrânea sem aura
A1.1.1  Migrânea sem aura menstrual pura
A1.1.2  Migrânea sem aura relacionada à menstruação
A1.1.3  Migrânea sem aura não menstrual
A1.2  Migrânea com aura
A1.2.0.1  Migrânea com aura menstrual pura
A1.2.0.2  Migrânea com aura relacionada à menstruação
A1.2.0.3  Migrânea com aura não menstrual
A1.3 Migrânea crônica (critérios alternativos)
A1.3.1  Migrânea crônica com períodos livres de dor
A1.3.2  Migrânea crônica com dor contínua
A1.4 Complicações da migrânea
A1.4.5  Estado de aura migranosa
A1.4.6  Neve visual (visão granulada)
A1.6  Síndromes episódicas que podem estar associadas à migrânea
A1.6.4  Cólica infantil
A1.6.5  Hemiplegia alternante da infância
A1.6.6  Migrânea vestibular
A2.  Cefaleia do tipo tensão (critérios alternativos)
A2.1  Cefaleia do tipo tensão episódica infrequente (critérios alternativos)
A2.2  Cefaleia do tipo tensão episódica frequente (critérios alternativos)
A2.3  Cefaleia do tipo tensão crônica (critérios alternativos)
A3.  Cefaleias trigeminoautonômicas (TACs)
A3.1  Cefaleias em salvas (critérios alternativos)
A3.2  Hemicrania paroxística (critérios alternativos)
A3.3  Crises de cefaleia neuralgiforme unilateral breve (critérios alternativos)
A3.4  Hemicrania contínua (critérios alternativos)
A3.6  Cefaleia trigeminoautonômica não diferenciada
A4.  Outras cefaleias primárias
A4.11  Epicrania fugaz
A5.  Cefaleia atribuída a trauma ou lesão cefálica e/ou cervical
A5.1  Cefaleia aguda atribuída a lesão cefálica traumática
A5.1.1.1  Cefaleia aguda de início tardio atribuída a lesão cefálica traumática moderada ou grave
A5.1.2.1  Cefaleia aguda de início tardio atribuída a lesão cefálica traumática leve
A5.2  Cefaleia persistente atribuída a lesão cefálica traumática
A5.2.1.1 Cefaleia persistente de início tardio atribuída a lesão cefálica traumática moderada ou grave
A5.2.2.1 Cefaleia persistente de início tardio atribuída a lesão cefálica traumática leve
A5.7  Cefaleia atribuída a radiocirurgia cerebral
A5.8  Cefaleia aguda atribuída a outro trauma ou lesão cefálica e/ou cervical
A5.9  Cefaleia persistente atribuída a outro trauma ou lesão cefálica e/ou cervical
A6.  Cefaleia atribuída a transtorno vascular craniano e/ou cervical
A6.10  Cefaleia persistente atribuída a transtorno vascular craniano e/ou cervical prévios
A7.  Cefaleia atribuída a transtorno intracraniano não vascular
A7.6  Cefaleia atribuída a crise epiléptica
A7.6.3  Cefaleia pós-eletroconvulsoterapia (ECT)
A7.9  Cefaleia persistente atribuída a transtorno intracraniano não vascular prévio
A8.  Cefaleia atribuída a uma substância ou à sua supressão
A8.4  Cefaleia persistente atribuída ao uso de ou à exposição a uma substância no passado
A9.  Cefaleia atribuída a infecção
A9.1  Cefaleia atribuída a infecção intracraniana
A9.1.3.3  Cefaleia persistente atribuída a infecção intracraniana fúngica ou outra infecção parasitária prévias
A9.3  Cefaleia atribuída a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV)

178
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

A10.  Cefaleia atribuída a transtorno da homeostase


A10.7  Cefaleia e/ou dor cervical atribuída a hipotensão ortostática (postural)
A10.8  Cefaleia atribuída a outro transtorno da homeostase
A10.8.1  Cefaleia atribuída a viagem espacial
A10.8.2  Cefaleia atribuída a outro transtorno metabólico ou sistêmico
A10.9  Cefaleia persistente atribuída a transtorno da homeostase prévio
A11.  Cefaleia ou dor facial atribuída a transtorno do crânio, pescoço, olhos, orelhas, nariz, seios paranasais, dentes, boca ou outra
estrutura facial ou cervical
A11.2  Cefaleia atribuída a transtorno cervical
A11.2.4  Cefaleia atribuída a radiculopatia cervical alta
A11.2.5  Cefaleia atribuída a dor miofascial cervical
A11.3  Cefaleia atribuída a transtorno dos olhos
A11.3.5  Cefaleia atribuída a heteroforia ou heterotropia
A11.5  Cefaleia atribuída a transtorno do nariz ou dos seios paranasais
A11.5.3  Cefaleia atribuída a transtorno da mucosa, septo ou conchas nasais
A12.  Cefaleia atribuída a transtorno psiquiátrico
A12.3  Cefaleia atribuída a transtorno depressivo
A12.4  Cefaleia atribuída a transtorno de ansiedade de separação
A12.5  Cefaleia atribuída a transtorno do pânico
A12.6  Cefaleia atribuída a fobia específica
A12.7  Cefaleia atribuída a transtorno de ansiedade social (fobia social)
A12.8  Cefaleia atribuída a transtorno de ansiedade generalizada
A12.9  Cefaleia atribuída a transtorno de estresse pós-traumático (TEPT)

179
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

Introdução transtornos ora presentes no Apêndice transferir-se-ão para o


corpo principal da classificação na próxima revisão.
Um Apêndice foi adicionado, pela primeira vez, à segunda Em alguns locais, o Apêndice apresenta conjuntos alter-
edição da Classificação Internacional das Cefaleias (ICH- nativos de critérios diagnósticos em relação aos do corpo
D-II). Ele possuía vários propósitos, os quais são mantidos principal da classificação. Novamente, isso ocorre porque
na ICHD-3. a experiência clínica e uma certa quantidade de evidências
A finalidade primária do Apêndice é apresentar crité- publicadas sugerem que os critérios alternativos possam
rios de pesquisa para uma série de novas entidades que ser preferíveis, mas o Comitê ainda não sente ainda que
não foram suficientemente validadas através de pesquisas as evidências são suficientes para modificar a classificação
conduzidas até o momento. A experiência dos experts do principal.
Comitê de Classificação e publicações de qualidade variável Por fim, o Apêndice é utilizado como um primeiro
sugerem que ainda há várias entidades diagnósticas que se passo na eliminação de transtornos historicamente incluídos
acredita serem reais, mas para as quais devem ser apresen- como entidades diagnósticas nas edições prévias da ICHD,
tadas melhores evidências científicas antes que possam ser mas para os quais ainda não foram publicadas evidências
formalmente aceitas. Sendo assim, como aconteceu entre a suficientes.
ICHD-II, ICHD-3 beta e a ICHD-3, antecipa-se que alguns

180
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

A1. Migrânea A1.1.3  Migrânea sem aura não menstrual

A1.1  Migrânea sem aura Critérios diagnósticos:


A. Crises, em uma mulher que está menstruando,1 preen-
A1.1.1  Migrânea sem aura menstrual pura chendo os critérios para 1.1 Migrânea sem aura e o cri-
tério B abaixo
Critérios diagnósticos: B. Não preenchendo o critério B para A1.1.1 Migrânea
A. Crises, em uma mulher que está menstruando,1 preen- sem aura menstrual pura ou A1.1.2 Migrânea sem aura
chendo os critérios para 1.1 Migrânea sem aura e o cri- relacionada à menstruação.
tério B abaixo
B. Ocorrendo exclusivamente no dia 1 ± 2 (i.e. dias –2 a Nota:
+3)2 da menstruação,1 em ao menos dois de três ciclos 1. Para os propósitos da ICHD-3, a menstruação é conside-
menstruais e em nenhum outro momento do ciclo.3 rada como sendo o sangramento endometrial resultante
do ciclo menstrual normal ou da supressão de proges-
Notas: tógenos exógenos, como na utilização de contraceptivos
1. Para os propósitos da ICHD-3, a menstruação é conside- orais combinados ou na terapia de reposição hormonal
rada como sendo o sangramento endometrial resultante cíclica.
do ciclo menstrual normal ou da supressão de proges-
tógenos exógenos, como na utilização de contraceptivos Comentários: Essa subclassificação de 1.1 Migrânea sem aura
orais combinados ou na terapia de reposição hormonal é claramente aplicável apenas a mulheres que menstruam,
cíclica. como definido acima.
2. O primeiro dia da menstruação é o dia 1 e o dia prece- As crises de migrânea menstrual são na maior parte das
dente é o dia –1; não há dia 0. vezes sem aura. A importância de se distinguir entre A1.1.1
3. Para fins de pesquisa, recomenda-se a realização de um Migrânea sem aura menstrual pura de A1.1.2 Migrânea sem
diário prospectivo, mas isso não é mandatório para o aura relacionada à menstruação é que a profilaxia hormonal
diagnóstico clínico de A1.1.1 Migrânea sem aura mens- tem maior probabilidade de ser eficaz para a primeira.
trual pura. Muitas mulheres relatam de forma supervalorizada uma
associação entre as crises e a menstruação; para propósitos
de pesquisa são necessárias, para confirmar o diagnóstico,
A1.1.2  Migrânea sem aura relacionada à menstruação evidências documentadas em diário, registradas prospectiva-
mente por no mínimo três ciclos.
Critérios diagnósticos: O(s) mecanismo(s) da migrânea pode(m) ser diferente(s)
A. Crises, em uma mulher que está menstruando,1 preen- com o sangramento endometrial resultando do ciclo mens-
chendo os critérios para 1.1 Migrânea sem aura e o cri- trual normal e o sangramento devido à supressão de proges-
tério B abaixo tógenos exógenos (como ocorre com a contracepção oral
B. Ocorrendo exclusivamente no dia 1 ± 2 (i.e. dias –2 a combinada e a terapia de reposição hormonal cíclica). Por
+3)2 da menstruação,1 em ao menos dois de três ciclos exemplo, o ciclo menstrual endógeno resulta de alterações
menstruais e, adicionalmente, em outros momentos do hormonais complexas no eixo hipotalâmico-pituitário-ova-
ciclo.3 riano resultando na ovulação, a qual é suprimida pelo uso de
contraceptivos orais combinados. Sendo assim, as pesquisas
Notas: devem separar essas subpopulações, mesmo que os critérios
1. Para os propósitos da ICHD-3, a menstruação é conside- diagnósticos não o façam. As estratégias de manejo também
rada como sendo o sangramento endometrial resultante podem diferir para essas subpopulações.
do ciclo menstrual normal ou da supressão de proges- Existe alguma evidência de que as crises de migrânea
tógenos exógenos, como na utilização de contraceptivos menstrual, ao menos em algumas mulheres, resultam da
orais combinados ou na terapia de reposição hormonal supressão do estrogênio, embora outras alterações hormo-
cíclica. nais e bioquímicas nesse ponto do ciclo possam também ser
2. O primeiro dia da menstruação é o dia 1 e o dia prece- relevantes. Quando a migrânea menstrual pura ou a migrânea
dente é o dia –1; não há dia 0. relacionada à menstruação é considerada como associada à
3. Para fins de pesquisa, recomenda-se a realização de um supressão de estrogênio exógeno, ambos os códigos A1.1.1
diário prospectivo, mas isso não é mandatório para o Migrânea sem aura menstrual pura ou A1.1.2 Migrânea sem
diagnóstico clínico de A1.1.2 Migrânea sem aura rela- aura relacionada à menstruação e 8.3.3 Cefaleia por supres-
cionada à menstruação. são de estrogênio, devem ser utilizados.
A relação com a menstruação pode modificar-se ao longo
da vida reprodutiva de uma mulher.

181
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

A1.2  Migrânea com aura A1.2.0.3  Migrânea com aura não menstrual

A1.2.0.1  Migrânea com aura menstrual pura Critérios diagnósticos:


A. Crises, em uma mulher que está menstruando,1 preen-
Critérios diagnósticos: chendo os critérios para 1.2 Migrânea com aura e o cri-
A. Crises, em uma mulher que está menstruando,1 preen- tério B abaixo
chendo os critérios para 1.2 Migrânea com aura e o cri- B. Não preenchendo o critério B para A1.2.0.1 Migrânea
tério B abaixo com aura menstrual pura ou A1.2.0.2 Migrânea com
B. Ocorrendo exclusivamente no dia 1 ± 2 (i.e. dias –2 a aura relacionada à menstruação.
+3)2 da menstruação,1 em ao menos dois de três ciclos
menstruais e em nenhum outro momento do ciclo.3 Notas:
1. Para os propósitos da ICHD-3, a menstruação é conside-
Notas: rada como sendo o sangramento endometrial resultante
1. Para os propósitos da ICHD-3, a menstruação é conside- do ciclo menstrual normal ou da supressão de progestóge-
rada como sendo o sangramento endometrial resultante nos exógenos, como na utilização de contraceptivos orais
do ciclo menstrual normal ou da supressão de proges- combinados ou na terapia de reposição hormonal cíclica.
tógenos exógenos, como na utilização de contraceptivos
orais combinados ou na terapia de reposição hormonal Comentários: Essa subclassificação de 1.2 Migrânea com aura
cíclica. é claramente aplicável apenas a mulheres que menstruam,
2. O primeiro dia da menstruação é o dia 1 e o dia prece- como definido acima.
dente é o dia –1; não há dia 0. As crises de migrânea menstrual são na maior parte das
3. Para fins de pesquisa, recomenda-se a realização de vezes sem aura. Esses critérios para A1.2.0.1 Migrânea com
um diário prospectivo, mas isso não é mandatório para aura menstrual pura e A1.2.0.2 Migrânea com aura relacio-
o diagnóstico clínico de A1.2.0.1 Migrânea com aura nada à menstruação, estão incluídos para permitir que essas
menstrual pura. subformas incomuns sejam melhor caracterizadas. Os crité-
rios para A1.2.0.3 Migrânea com aura não menstrual estão
incluídos para completar.
A1.2.0.2  Migrânea com aura relacionada à menstruação Muitas mulheres relatam de forma supervalorizada uma
associação entre as crises de migrânea e a menstruação; para
Critérios diagnósticos: propósitos de pesquisa são necessárias, para confirmar o
A. Crises, em uma mulher que está menstruando,1 preen- diagnóstico, evidências documentadas em diário, registradas
chendo os critérios para 1.2 Migrânea com aura e o cri- prospectivamente por no mínimo três ciclos.
tério B abaixo O(s) mecanismo(s) da migrânea pode(m) ser diferente(s)
B. Ocorrendo no dia 1 ± 2 (i.e. dias –2 a +3)2 da mens- com o sangramento endometrial resultando do ciclo mens-
truação,1 em ao menos dois de três ciclos menstruais e, trual normal e o sangramento devido à supressão de proges-
adicionalmente, em outros momentos do ciclo.3 tógenos exógenos (como ocorre com a contracepção oral
combinada e a terapia de reposição hormonal cíclica). Por
Notas: exemplo, o ciclo menstrual endógeno resulta de alterações
1. Para os propósitos da ICHD-3, a menstruação é conside- hormonais complexas no eixo hipotalâmico-pituitário-ova-
rada como sendo o sangramento endometrial resultante riano resultando na ovulação, a qual é suprimida pelo uso de
do ciclo menstrual normal ou da supressão de proges- contraceptivos orais combinados. Sendo assim, as pesquisas
tógenos exógenos, como na utilização de contraceptivos devem separar essas subpopulações, mesmo que os critérios
orais combinados ou na terapia de reposição hormonal diagnósticos não o façam.
cíclica.
2. O primeiro dia da menstruação é o dia 1 e o dia prece-
dente é o dia –1; não há dia 0. A1.3  Migrânea crônica (critérios alternativos)
3. Para fins de pesquisa, recomenda-se a realização de um
diário prospectivo, mas isso não é mandatório para o Critérios diagnósticos alternativos:
diagnóstico clínico de A1.2.0.2 Migrânea com aura rela- A. Cefaleia (migrânea-símile ou do tipo tensão-símile) em
cionada à menstruação. ≥15 dias/mês por >3 meses e preenchendo os critérios
BeC
B. Ocorrendo em um paciente que tenha apresentado ao
menos cinco crises preenchendo os critérios B-D para
1.1 Migrânea sem aura e/ou os critérios B e C para 1.2
Migrânea com aura

182
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

C. Em ≥8 dias/mês por >3 meses preenchendo qualquer C. Os sintomas não são consistentes com aura visual
dos seguintes: migranosa típica4
1. critérios C e D para 1.1 Migrânea sem aura D. Os sintomas não são melhor explicados por outro
2. critérios B e C para 1.2 Migrânea com aura transtorno5
3. critérios A e B para 1.5 Provável migrânea
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. Notas:
1. Os pacientes comparam a neve visual à estática da tele-
visão (“neve de televisão”). Os pontos são habitualmente
A1.3.1  Migrânea crônica com períodos livres de dor pretos ou cinzentos em um fundo branco e cinzentos ou
brancos em um fundo preto, mas também são relatados
Critérios diagnósticos: pontos transparentes, pontos intermitentes brancos e pon-
A. Cefaleia preenchendo os critérios para 1.3 Migrânea tos coloridos.
crônica e o critério B abaixo 2. A palinopsia pode apresentar-se como pós-imagens
B. Interrompida por períodos livres de dor de >3 horas em visuais e/ou rastros de objetos em movimento. As pós-
≥5 dias/mês, os quais não são atribuídos a tratamento -imagens visuais são diferentes das pós-imagens retinia-
medicamentoso. nas, as quais ocorrem somente após o olhar fixo para uma
imagem de alto contraste, e são de cor complementar.
3. Esses fenômenos, decorrentes da estrutura do próprio
A1.3.2  Migrânea crônica com dor contínua sistema visual, incluem imagens flutuantes em ambos
os olhos, excessivo fenômeno entóptico do campo azul
Critérios diagnósticos: (incontáveis pequenos pontos ou anéis cinzentos/bran-
A. Cefaleia preenchendo os critérios para 1.3 Migrânea cos/pretos disparando por sobre o campo visual de ambos
crônica e o critério B abaixo os olhos ao olhar para superfícies brilhantes homogêneas
B. Não interrompida por períodos livres de dor de >3 horas tais como o céu azul), autoiluminação do olho (ondas
em ≥5 dias/mês, a não ser que esses sejam atribuídos a ou nuvens coloridas percebidas ao fechar os olhos no
tratamento medicamentoso. escuro) e fotopsia espontânea (flashes brilhantes de luz).
4. Conforme descrito em 1.2.1 Migrânea com aura típica.
5. Exames oftalmológicos normais (acuidade visual cor-
A1.4  Complicações da migrânea rigida, fundoscopia com dilatação pupilar, exame do
campo visual e eletrorretinografia) e ausência de con-
A1.4.5  Estado de aura migranosa sumo de drogas psicotrópicas.

Critérios diagnósticos: Comentários: A A1.4.6 Neve visual é uma nova inclusão no


A. Migrânea preenchendo os critérios para 1.2 Migrânea Apêndice da ICHD-3. Ela pode não ser, por si só, parte do
com aura ou um dos seus subtipos espectro da migrânea, porém parece ser epidemiologica-
B. Ao menos três auras ocorrem durante um período de mente associada com a 1.2 Migrânea com aura. Pesquisas
três dias. adicionais são necessárias sobre o quanto esses transtornos
compartilham os mecanismos patofisiológicos que causam
Comentário: Outros transtornos neurológicos, incluindo a sín- os sintomas visuais, mas, por ora, aventa-se a hipótese da
drome da vasoconstrição cerebral reversível, síndrome da hiperexcitabilidade cortical exercer um papel em ambos.
encefalopatia reversível posterior e dissecção arterial devem Pacientes com 1. Migrânea têm uma prevalência aumentada
ser excluídas através de investigação apropriada. de palinopsia e sensibilidade visual aumentada fora das cri-
ses: a A1.4.6 Neve visual apresenta tanto a palinopsia como
a fotofobia. Pacientes com A1.4.6 Neve visual e 1. Migrânea
A1.4.6  Neve visual comórbida têm mais frequentemente palinopsia, fotopsia
espontânea, fotofobia, nictalopia e tinito que aqueles sem
Critérios diagnósticos: migrânea comórbida.
A. Minúsculos pontos contínuos e dinâmicos, presentes Duas outras razões apoiam a inclusão de A1.4.6 Neve
por todo o campo visual1, persistindo por >3 meses visual na ICHD-3. Primeiramente, ela cria conscientização
B. Sintomas visuais adicionais de ao menos dois dos qua- sobre essa condição e ajuda os médicos a reconhecê-la. Os
tro seguintes tipos: pacientes que se queixam da neve visual como sintoma fre-
1. palinopsia2 quentemente têm (um histórico de) 1. Migrânea; os médicos
2. fenômenos entópticos realçados3 não cientes da existência da A1.4.6 Neve visual podem inter-
3. fotofobia pretar erroneamente os seus sintomas como aura visual per-
4. visão noturna prejudicada (nictalopia) sistente. Segundo, em um argumento semelhante aplicado à

183
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

pesquisa, estudos futuros sobre sintomas visuais persistentes Nota:


precisam de grupos de estudos homogêneos; a inclusão dos 1. Como crises tônicas (tonic spells), postura distônica,
critérios para a A1.4.6 Neve visual torna claro aos pesquisa- movimentos coreoatetoides, nistagmo ou outras anorma-
dores como esse transtorno é definido atualmente. lidades motoras oculares e/ou distúrbios autonômicos.

Comentário: Esse é um transtorno neurodegenerativo hetero-


A1.6  Síndromes episódicas que podem gêneo. Uma relação com a migrânea é sugerida sobre bases
  estar associadas à migrânea clínicas. A possibilidade dele ser uma forma não usual de epi-
lepsia não pode ser descartada. Mutações no gene ATP1A3
A1.6.4  Cólica infantil (que codifica a subunidade sódio-potássio [Na+/K+] ATPase
a3) são provavelmente responsáveis por ao menos 70% dos
Descrição: Choro excessivo e frequente em um bebê que casos.
parece, nos demais aspectos, saudável e bem alimentado.

A1.6.6  Migrânea vestibular


Critérios diagnósticos:
A. Episódios recorrentes de irritabilidade, inquietação ou Termos previamente utilizados: Vertigem/tontura associada a
choro, do nascimento até os quatro meses de idade, migrânea; vestibulopatia relacionada a migrânea, vertigem
preenchendo o critério B migranosa.
B. Ambos os seguintes:
1. os episódios duram por ≥3 horas/dia Critérios diagnósticos:
2. os episódios ocorrem em ≥3 dias/semana por ≥3 A. Ao menos cinco episódios preenchendo os critérios C e D
semanas B. História atual ou prévia de 1.1 Migrânea sem aura ou
C. Não atribuída a outro transtorno.1 1.2 Migrânea com aura1
C. Sintomas vestibulares2 de intensidade moderada ou
Nota: forte,3 durando entre cinco minutos e 72 horas4
1. Em particular, a falha de desenvolvimento (failure to D. Ao menos metade dos episódios estão associados a ao
thrive) foi excluída. menos uma das três seguintes características migranosas5:
1. cefaleia com ao menos duas das quatro seguintes
Comentários: A cólica infantil afeta um em cada cinco bebês. características:
As crianças com cólica têm uma maior probabilidade de a) localização unilateral
desenvolver 1.1 Migrânea sem aura ou 1.2 Migrânea com b) qualidade pulsátil
aura em uma fase posterior da vida. Tem sido constatado c) intensidade moderada ou forte
que mães com 1. Migrânea têm uma probabilidade 2,5 vezes d) agravamento por atividade física de rotina
maior de ter crianças com cólica do que mães sem esse diag- 2. fotofobia e fonofobia
nóstico. Para pais com 1. Migrânea, a probabilidade de uma 3. aura visual
criança com cólica aumenta em duas vezes. E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3
ou por outro transtorno vestibular.6

A1.6.5  Hemiplegia alternante da infância Notas:


1. Codificar também para o diagnóstico de migrânea
Descrição: Crises infantis de hemiplegia envolvendo cada lado subjacente.
alternadamente, associadas a uma encefalopatia progressiva, 2. Sintomas vestibulares, conforme definido pela Classi-
outros fenômenos paroxísticos e prejuízo mental. ficação Internacional dos Transtornos Vestibulares da
Bárány Society e qualificando-se para um diagnóstico
Critérios diagnósticos: de A1.6.6 Migrânea vestibular, incluem:
A. Crises recorrentes de hemiplegia alternando entre os a) vertigem espontânea:
dois lados do corpo e preenchendo o critério B i. vertigem interna (uma falsa sensação de
B. Início antes da idade de 18 meses automovimentação)
C. Ao menos um outro fenômeno paroxístico1 associado aos ii. vertigem externa (uma falsa sensação de que
surtos de hemiplegia ou ocorrendo independentemente a cena visual circundante está girando ou
D. Evidência de déficit(s) mental(is) e/ou neurológico(s) fluindo)
E. Não atribuída a outro transtorno. b) vertigem posicional, ocorrendo após uma mudança
de posição da cabeça
c) vertigem induzida visualmente, desencadeada

184
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

por um estímulo visual complexo ou amplo em ria dos pacientes com A1.6.6 Migrânea vestibular sentem a
movimento sua vertigem no intervalo de tempo de 5-60 minutos como
d) vertigem induzida pela movimentação da cabeça, definido para um sintoma de aura. Um número ainda menor
ocorrendo durante a movimentação da cabeça têm a sua vertigem imediatamente antes da cefaleia iniciar,
e) tontura com náusea induzida pela movimentação como requerido para 1.2.1.1 Aura típica com cefaleia. Logo,
da cabeça (a tontura é caracterizada por uma sen- episódios de A1.6.6 Migrânea vestibular não podem ser con-
sação de orientação espacial perturbada; outras siderados como auras migranosas.
formas de tontura não são atualmente incluídas na Embora a vertigem seja relatada por mais de 60% dos
classificação da migrânea vestibular). pacientes com 1.2.2 Migrânea com aura do tronco cerebral,
3. Os sintomas vestibulares são graduados como modera- a ICHD-3 requer, para esse diagnóstico, ao menos dois sin-
dos quando interferem com mas não impedem as ati- tomas relacionados ao tronco cerebral em adição aos sinto-
vidades cotidianas e como fortes quando as atividades mas visuais, sensoriais ou disfásicos da aura. Menos de 10%
cotidianas não podem ser mantidas. dos pacientes com A1.6.6 Migrânea vestibular preenchem
4. A duração dos episódios é altamente variável. Cerca esses critérios. Portanto, A1.6.6 Migrânea vestibular e 1.2.2
de 30% dos pacientes têm episódios com duração de Migrânea com aura do tronco cerebral não são sinônimos,
minutos, 30% têm crises por horas e outros 30% têm apesar de pacientes isolados poderem preencher os critérios
crises ao longo de vários dias. Os 10% restantes têm diagnósticos para ambos os transtornos.
crises durando segundos apenas, as quais tendem a Relação com a vertigem paroxística benigna
ocorrer repetidamente durante a movimentação da Enquanto que a A1.6.6 Migrânea vestibular pode iniciar
cabeça, estimulação visual ou após mudanças de posi- em qualquer idade, a ICHD-3 reconhece especificamente um
ção da cabeça. Nesses pacientes, a duração do episódio transtorno da infância, a 1.6.2 Vertigem paroxística benigna.
é definida como o período total durante o qual as cri- O diagnóstico requer cinco episódios de vertigem, ocorrendo
ses breves recorrem. Na outra extremidade do espectro, sem aviso e desaparecendo espontaneamente após minutos a
há pacientes que podem levar quatro semanas para se horas. Entre os episódios, o exame neurológico, a audiome-
recuperar completamente de um episódio. No entanto, tria, as funções vestibulares e o EEG devem ser normais. Uma
o episódio central raramente excede 72 horas. cefaleia pulsátil unilateral pode ocorrer durante as crises, mas
5. Um sintoma é suficiente durante um episódio isolado. não é um critério mandatório. A 1.6.2 Vertigem paroxística
Diferentes sintomas podem ocorrer durante diferentes benigna é considerada como uma das síndromes precursoras
episódios. Os sintomas associados podem ocorrer antes, da migrânea. Portanto, cefaleias migranosas prévias não são
durante ou após os sintomas vestibulares. requeridas para o diagnóstico. Como a classificação da A1.6.6
6. A história e o exame físico do paciente não sugerem Migrânea vestibular não envolve qualquer limite de idade, o
outro transtorno vestibular ou tal transtorno foi consi- diagnóstico pode ser aplicado em crianças quando os respec-
derado, mas excluído por investigação apropriada ou tal tivos critérios são preenchidos, porém devem receber ambos
transtorno está presente como uma condição comórbida, esses diagnósticos apenas crianças com diferentes tipos de cri-
mas os episódios podem ser claramente identificados. ses de vertigem (p.ex. episódios breves de menos de 5 minutos
Crises de migrânea podem ser induzidas por estimula- e outros mais duradouros, de mais de 5 minutos).
ção vestibular. Portanto, o diagnóstico diferencial deve Sobreposição com a doença de Ménière
incluir outros transtornos vestibulares complicados por A 1. Migrânea é mais comum em pacientes com a doença
crises de migrânea superimpostas. de Ménière do que em controles saudáveis. Muitos pacien-
tes com características tanto da doença de Ménière como da
Comentários: Uma prevalência surpreendentemente elevada A1.6.6 Migrânea vestibular têm sido relatados. Na realidade,
de A1.6.6 Migrânea vestibular de 10,3% foi recentemente migrânea e doença de Ménière podem ser herdadas como um
descrita entre os pacientes com migrânea em departamentos agrupamento (cluster) de sintomas. Perda da audição, tinito e
de neurologia chineses. pressão auricular flutuantes podem ocorrer na A1.6.6 Migrâ-
Outros sintomas nea vestibular, porém a perda auditiva não progride a níveis
Sintomas auditivos transitórios, náusea, vômitos, pros- profundos. Similarmente, cefaleias migranosas, fotofobia e
tração e suscetibilidade à cinetose podem estar associados à até auras migranosas são comuns durante crises de Ménière.
A1.6.6 Migrânea vestibular. No entanto, como eles também A relação patofisiológica entre a A1.6.6 Migrânea vestibular
podem ocorrer com vários outros transtornos vestibulares, e a doença de Ménière permanece incerta. No primeiro ano
não são incluídos como critérios diagnósticos. após o início dos sintomas, a diferenciação entre elas pode
Relação com a aura da migrânea e com a migrânea ser desafiadora, já que a doença de Ménière pode ser monos-
com aura do tronco cerebral sintomática, com apenas sintomas vestibulares nos estágios
Tanto a aura da migrânea como a migrânea com aura iniciais da doença.
do tronco cerebral (anteriormente: migrânea do tipo basi- Quando os critérios para doença de Ménière são preen-
lar) são termos definidos pela ICHD-3. Apenas uma mino- chidos, particularmente a perda auditiva, documentada por

185
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

audiometria, a doença de Ménière deve ser diagnosticada, Neuhauser H, Radtke A, von Brevern M, et al. Migrainous vertigo:
mesmo quando sintomas de migrânea ocorrem durante as prevalence and impact on quality of life. Neurology 2006; 67:
crises vestibulares. Apenas devem ser diagnosticados com 1028–1033.
ambos os transtornos os pacientes que apresentam dois tipos Oh AK, Lee H, Jen JC, et al. Familial benign recurrent vertigo. Am
diferentes de crises, uma preenchendo os critérios para A1.6.6 J Med Genet 2001; 100: 287–291.
Migrânea vestibular e a outra para doença de Ménière. Uma Perenboom M, Zamanipoor Najafabadi A, Zielman R, et al. Visual
futura revisão da ICHD pode incluir uma síndrome de sobre- sensitivity is more enhanced in migraineurs with aura than
posição migrânea vestibular/doença de Ménière. in migraineurs without aura. Cephalalgia 2015; 35(Suppl):
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Li D, Christensen AF and Olesen J. Field-testing of the ICHD-3 Cefaleia do tipo tensão episódica frequente, A2.3 Cefaleia
beta/proposed ICD-11 diagnostic criteria for migraine with do tipo tensão crônica. Eles definem uma síndrome central
aura. Cephalalgia 2015; 35: 748–756. de cefaleia do tipo tensão. Em outras palavras, esses critérios
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symptoms and chronic subjective dizziness in patients with A. Episódios, ou cefaleia, preenchendo o critério A para
Ménière’s disease, vestibular migraine and Ménière’s disease [qualquer uma de 2.1 Cefaleia do tipo tensão episódica
with concomitant vestibular migraine. Otol Neurotol 2012; 33: infrequente, 2.2 Cefaleia do tipo tensão episódica fre-
1235–1244. quente ou 2.3 Cefaleia do tipo tensão crônica] e os cri-
Neuhauser H, Leopold M, von Brevern M, et al. The interrelations térios B-D abaixo
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56: 436–441. B para [qualquer uma de 2.1 Cefaleia do tipo tensão

186
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

episódica infrequente, 2.2 Cefaleia do tipo tensão epi- Comentário: As opiniões estão divididas sobre a inclusão
sódica frequente ou 2.3 Cefaleia do tipo tensão crônica] de (e) e (f) no critério C1. Os experts do grupo de trabalho
C. A cefaleia possui ao menos três das quatro seguintes acreditam que ela melhora a sensibilidade sem que haja uma
características: perda significativa da especificidade, mas testes de campo
1. localização bilateral formais não confirmaram isso.
2. qualidade em pressão/aperto (não pulsátil)
3. intensidade fraca ou moderada
4. não agravada por atividade física rotineira como A3.2  Hemicrania paroxística
caminhar ou subir escadas   (critérios alternativos)
D. Ausência de náusea, vômitos, fotofobia ou fonofobia
E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. Critérios diagnósticos alternativos:
A. Ao menos 20 crises preenchendo os critérios B-E
B. Dor forte unilateral, orbital, supraorbital e/ou temporal,
Bibliografia durando de 2-30 minutos
C. Um dos ou ambos os seguintes:
Chu MK, Cho SJ, Kim JM, et al. Field testing the alternative criteria 1. ao menos um dos seguintes sintomas ou sinais,
for tension-type headache proposed in the third beta edition of the ipsilaterais à cefaleia:
international classification of headache disorders: results from a) injeção conjuntival e/ou lacrimejamento
the Korean headache-sleep study. J Headache Pain 2014; 15: 28. b) congestão nasal e/ou rinorreia
c) edema palpebral
d) sudorese frontal e facial
A3. Cefaleias trigeminoautonômicas e) rubor frontal e facial
(CTAs) f) sensação de plenitude auricular
g) miose e/ou ptose
2. sensação de inquietude ou agitação
A3.1 Cefaleia em salvas D. Ocorrendo com uma frequência >5 por dia1
(critérios alternativos) E. Prevenidas de forma absoluta por doses terapêuticas de
indometacina2
Critérios diagnósticos alternativos: F. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
A. Ao menos cinco crises preenchendo os critérios B-D
B. Dor forte ou muito forte unilateral, orbital, supraorbital Notas:
e/ou temporal, durando 15 –180 minutos (quando não 1. Durante uma parte, mas menos da metade, do período
tratada)1 ativo da A3.2 Hemicrania paroxística, as crises podem
C. Um dos ou ambos os seguintes: ser menos frequentes.
1. ao menos um dos seguintes sintomas ou sinais, 2. Em um adulto, a indometacina oral deve ser utilizada ini-
ipsilaterais à cefaleia: cialmente em uma dose de ao menos 150 mg ao dia e
a) injeção conjuntival e/ou lacrimejamento aumentada, se necessário, até 225 mg ao dia. A dose inje-
b) congestão nasal e/ou rinorreia tável é de 100–200 mg. Doses de manutenção menores
c) edema palpebral são frequentemente empregadas.
d) sudorese frontal e facial
e) rubor frontal e facial Comentários: As opiniões estão divididas sobre a inclusão
f) sensação de plenitude auricular de (e) e (f) no critério C1. Os experts do grupo de trabalho
g) miose e/ou ptose acreditam que ela melhora a sensibilidade sem que haja uma
2. sensação de inquietude ou agitação perda significativa da especificidade, mas não foram reali-
D. Ocorrendo com uma frequência entre uma a cada dois zados testes de campo formais para apoiar a mudança nos
dias e oito por dia critérios.
E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.

Notas: A3.3  Crises de cefaleia neuralgiforme


1. Durante uma parte, mas menos da metade, do período   unilateral breve (critérios alternativos)
ativo da A3.1 Cefaleia em salvas, as crises podem ser
menos intensas e/ou de duração mais curta ou mais longa. Critérios diagnósticos alternativos:
2. Durante uma parte, mas menos da metade, do período A. Ao menos 20 crises preenchendo os critérios B–D
ativo da A3.1 Cefaleia em salvas, as crises podem ser B. Dor cefálica unilateral moderada ou forte, com distri-
menos frequentes. buição orbital, supraorbital, temporal e/ou outra dis-

187
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

tribuição trigeminal, durando 1- 600 segundos e ocor- tável é de 100 –200 mg. Doses de manutenção menores
rendo como estocadas únicas, séries de estocadas ou em são frequentemente empregadas
padrão de “dente de serra”
C. Ao menos um dos seguintes sintomas ou sinais autonô- Comentários: As opiniões estão divididas sobre a inclusão
micos cranianos, ipsilaterais à dor: de (e) e (f) no critério C1. Os experts do grupo de trabalho
1. injeção conjuntival e/ou lacrimejamento acreditam que ela melhora a sensibilidade sem que haja uma
2. congestão nasal e/ou rinorreia perda significativa da especificidade, mas não foram reali-
3. edema palpebral zados testes de campo formais para apoiar a mudança nos
4. sudorese frontal e facial critérios.
5. rubor frontal e facial
6. sensação de plenitude auricular
7. miose e/ou ptose A3.6  Cefaleia trigeminoautonômica
D. Ocorrendo com uma frequência de ao menos uma ao   não diferenciada
dia1
E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. Descrição: Uma cefaleia trigeminoautonômica-símile ocor-
rendo em crianças e adolescentes com características do
Nota: transtorno não totalmente desenvolvidas.
1. Durante uma parte, mas menos da metade, do período
ativo da A3.3 Crises de cefaleia neuralgiforme unilateral Comentários: O desenvolvimento incompleto do cérebro
breve, as crises podem ser menos frequentes. pode alterar a apresentação das cefaleias trigeminoautonô-
mica (CTAs). Pacientes codificados como A3.6 Cefaleia
Comentários: As opiniões estão divididas sobre a inclusão de trigeminoautonômica não diferenciada seriam, tipicamente,
C5 e C6. Os experts do grupo de trabalho acreditam que ela crianças ou adolescentes cujas cefaleias possuem caracte-
melhora a sensibilidade sem que haja uma perda significativa rísticas fortemente sugestivas de uma CTA, porém mista e
da especificidade, mas não foram realizados testes de campo incompleta; por exemplo, eles podem ter crises lateralizadas
formais para apoiar a mudança nos critérios. de cefaleia durando 30 minutos com características autonô-
micas, mas sem as respostas esperadas à indometacina, ao
oxigênio ou às triptanas.
A3.4  Hemicrania contínua Estudos longitudinais são necessários para a melhor
  (critérios alternativos) compreensão dessas apresentações e como forma de propor
critérios para o seu diagnóstico.
Critérios diagnósticos alternativos:
A. Cefaleia unilateral preenchendo os critérios B-D
B. Presente por >3 meses, com exacerbações de intensi- Bibliografia
dade moderada ou mais forte
C. Um dos ou ambos os seguintes: De Coo IF, Wilbrink LA, Haan J, et al. Evaluation of the new
1. ao menos um dos seguintes sintomas ou sinais, ICHD-III beta cluster headache criteria. Cephalalgia 2016; 36:
ipsilaterais à cefaleia: 547–551.
a) injeção conjuntival e/ou lacrimejamento
b) congestão nasal e/ou rinorreia
c) edema palpebral A4. Outras cefaleias primárias
d) sudorese frontal e facial
e) rubor frontal e facial A4.11  Epicrania fugaz
f) sensação de plenitude auricular
g) miose e/ou ptose Descrição: Paroxismos breves de dor cefálica, com qualidade
2. sensação de inquietude ou agitação, ou agrava- em facada, descrevendo uma trajetória linear ou em zigue-
mento da dor pelo movimento -zague através da superfície de um hemicrânio.
D. Responde de forma absoluta a doses terapêuticas de
indometacina1 Critérios diagnósticos:
E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. A. Crises recorrentes de dor cefálica em facada, durando 1
–10 segundos e preenchendo o critério B
Nota: B. Dor movendo-se em uma trajetória linear ou em zigue-
1. Em um adulto, a indometacina oral deve ser utilizada ini- -zague através da superfície de um hemicrânio, come-
cialmente em uma dose de ao menos 150 mg ao dia e çando e terminando em distribuições de diferentes
aumentada, se necessário, até 225 mg ao dia. A dose inje- nervos

188
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

C. Não melhor explicada por outro diagnóstico da A5. Cefaleia atribuída a trauma ou lesão
ICHD-3.1 cefálica e/ou cervical
Nota:
1. Uma lesão estrutural deve ser excluída através da histó- A5.1  Cefaleia aguda atribuída a
ria, exame físico e, quando apropriado, por investigação.   lesão cefálica traumática
Comentários: Pacientes com A4.11 Epicrania fugaz descre- Comentário: A condição atual de que a cefaleia deve iniciar
vem a sua experiência dolorosa em termos da trajetória da (ou ser descrita como tendo iniciado) dentro de sete dias
dor entre dois pontos distantes na superfície da cabeça, com após a lesão cefálica (ou a ciência da lesão) é algo arbitrá-
a movimentação do início até o final levando apenas alguns ria. Alguns dados sugerem que a cefaleia pode iniciar após
segundos. Essa topografia dinâmica é um atributo carac- um intervalo mais longo. Nos critérios diagnósticos sugeri-
terístico que diferencia a A4.11 Epicrania fugaz de outras dos que seguem, o intervalo de tempo máximo entre a lesão
cefaleias epicranianas e neuralgias. Os pontos de início e tér- cefálica e o início da cefaleia é estabelecido em três meses,
mino permanecem constantes em cada paciente, com a dor mas presume-se que as cefaleias que se originam em estreita
movendo-se no sentido anterior a partir de uma área hemi- proximidade temporal com a lesão são mais provavelmente
craniana posterior em direção ao olho ipsilateral ou ao nariz, atribuídas de forma acurada a ela. Os estudos futuros devem
porém a irradiação no sentido posterior também é possível, continuar a investigar a utilidade desses e de critérios diag-
de uma área frontal ou periorbital para a região occipital. Em nósticos alternativos para A5.1 Cefaleia aguda atribuída a
todos os casos, a dor é estritamente unilateral, embora alguns lesão cefálica traumática, que permitem que a cefaleia inicie
pacientes tenham mudança de lado. além de sete dias e até três meses após a lesão.
Ao fim das crises, sinais autonômicos ipsilaterais, como
lacrimejamento, injeção conjuntival e/ou rinorreia podem
ocorrer. A5.1.1.1  Cefaleia aguda de início tardio atribuída a
Apesar das crises serem na maior parte das vezes espon-     lesão cefálica traumática moderada ou grave
tâneas, elas podem ocasionalmente ser desencadeadas pelo
toque no ponto de início, o qual pode permanecer sensível Critérios diagnósticos:
entre as crises. A. Qualquer cefaleia preenchendo os critérios C e D
B. Ocorreu lesão cefálica traumática, associada a ao menos
um dos seguintes:
Bibliografia 1. perda da consciência por >30 minutos
2. escore da Escala de Coma de Glasgow (ECG) <13
Cuadrado ML, Gómez-Vicente L, Porta-Etessam J, et al. Paroxys- 3. amnésia pós-traumática durando >24 horas
mal head pain with backward radiation. Will epicrania fugax go 4. alteração no nível de percepção por >24 horas
in the opposite direction? J Headache Pain 2010; 11: 75–78. 5. evidência, por exames de imagem, de uma lesão
Cuadrado ML, Guerrero AL and Pareja JA. Epicrania fugax. Curr cefálica traumática, como fratura de crânio,
Pain Headache Rep 2016; 20: 21. hemorragia intracraniana e/ou contusão cerebral
Guerrero AL, Cuadrado ML, Porta-Etessam J, et al. Epicrania C. A cefaleia é descrita como tendo desenvolvido-se entre
fugax: ten new cases and therapeutic results. Headache 2010; sete dias e três meses após todos os seguintes:
50: 451–458. 1. a lesão cefálica
Herrero-Velázquez S, Guerrero-Peral ÁL, Mulero P, et al. Epicrania 2. a recuperação da consciência após a lesão cefálica
fugax: the clinical characteristics of a series of 18 patients. Rev (quando aplicável)
Neurol 2011; 53: 531–537. 3. interrupção do uso de medicamento(s) que reduz a
Mulero P, Guerrero AL, Herrero-Velázquez S, et al. Epicrania fugax habilidade de perceber ou relatar a cefaleia após a
with backward radiation: clinical characteristics of nine new lesão cefálica) (quando aplicável)
cases. J Headache Pain 2011; 12: 535–539. D. Qualquer um dos seguintes:
Pareja JA, Álvarez M and Montojo T. Epicrania fugax with back- 1. a cefaleia desapareceu dentro de três meses após o
ward radiation. J Headache Pain 2012; 13: 175. seu início
Pareja JA, Cuadrado ML, Fernández-de-las-Peñas C, et al. Epicra- 2. a cefaleia ainda não desapareceu, mas ainda não se
nia fugax: an ultrabrief paroxysmal epicranial pain. Cephalalgia passaram três meses desde o seu início
2008; 28: 257–263. E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.

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CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

A5.1.2.1  Cefaleia aguda de início tardio atribuída ridos que seguem, o intervalo de tempo máximo entre a
    a lesão cefálica traumática leve lesão cefálica e o início da cefaleia é estabelecido em três
meses, mas presume-se que as cefaleias que se originam em
Critérios diagnósticos: estreita proximidade temporal com a lesão são mais pro-
A. Qualquer cefaleia preenchendo os critérios C e D vavelmente atribuídas de forma acurada a ela. Os estudos
B. Ocorreu lesão cefálica traumática, preenchendo ambos futuros devem continuar a investigar a utilidade desses e de
os seguintes: critérios diagnósticos alternativos para A5.2 Cefaleia persis-
1. não associada a nenhum dos seguintes: tente atribuída a lesão cefálica traumática, que permitem
a) perda da consciência por >30 minutos que a cefaleia inicie além de sete dias e até três meses após
b) escore da Escala de Coma de Glasgow (ECG) a lesão.
<13
c) amnésia pós-traumática durando >24 horas
d) alteração no nível de percepção por >24 horas A5.2.1.1  Cefaleia persistente de início tardio
e) evidência, por exames de imagem, de uma     atribuída a lesão cefálica traumática
lesão cefálica traumática, como fratura de    moderada ou grave
crânio, hemorragia intracraniana e/ou contu-
são cerebral Critérios diagnósticos:
2. associada, imediatamente após a lesão cefálica, a A. Qualquer cefaleia preenchendo os critérios C e D
um ou mais dos seguintes sintomas e/ou sinais: B. Ocorreu lesão cefálica traumática, associada a ao menos
a) confusão, desorientação ou consciência dimi- um dos seguintes:
nuída, transitórias 1. perda da consciência por >30 minutos
b) perda da memória relativa a eventos imedia- 2. escore da Escala de Coma de Glasgow (ECG) <13
tamente prévios ou posteriores ao trauma 3. amnésia pós-traumática durando >24 horas
c) dois ou mais outros sintomas sugestivos de 4. alteração no nível de percepção por >24 horas
lesão cerebral traumática leve: 5. evidência, por exames de imagem, de uma lesão
i. náusea cefálica traumática, como fratura de crânio,
ii. vômitos hemorragia intracraniana e/ou contusão cerebral
iii. distúrbios visuais C. A cefaleia é descrita como tendo desenvolvido-se entre
iv. tontura e/ou vertigem sete dias e três meses após todos os seguintes:
v. desequilíbrio postural e/ou da marcha 1. a lesão cefálica
vi. memória e/ou concentração prejudicadas 2. a recuperação da consciência após a lesão cefálica
C. A cefaleia é descrita como tendo desenvolvido-se entre (quando aplicável)
sete dias e três meses após todos os seguintes: 3. interrupção do uso de medicamento(s) que reduz a
1. a lesão cefálica habilidade de perceber ou relatar a cefaleia após a
2. a recuperação da consciência após a lesão cefálica lesão cefálica) (quando aplicável)
(quando aplicável) D. A cefaleia persiste por >3 meses após o seu início
3. interrupção do uso de medicamento(s) que reduz a E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
habilidade de perceber ou relatar a cefaleia após a
lesão cefálica) (quando aplicável)
D. Qualquer um dos seguintes: A5.2.2.1  Cefaleia persistente de início tardio atribuída
1. a cefaleia desapareceu dentro de três meses após o     a lesão cefálica traumática leve
seu início
2. a cefaleia persiste, mas ainda não se passaram três Critérios diagnósticos:
meses desde o seu início A. Qualquer cefaleia preenchendo os critérios C e D
E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. B. Lesão cefálica traumática ocorreu, preenchendo ambos
os seguintes:
1. não associada a nenhum dos seguintes:
A5.2  Cefaleia persistente atribuída a a) perda da consciência por >30 minutos
  lesão cefálica traumática b) Escala de Coma de Glasgow (ECG) <13
c) amnésia pós-traumática por >24 horas
Comentário: A condição atual de que a cefaleia deve iniciar d) alteração do nível da consciência por >24
(ou ser descrita como tendo iniciado) dentro de sete dias horas
após a lesão cefálica (ou a ciência da lesão) é algo arbitrá- e) evidência, por exame de imagem, de uma
ria. Alguns dados sugerem que a cefaleia pode iniciar após lesão cefálica traumática tal como hemorra-
um intervalo mais longo. Nos critérios diagnósticos suge- gia intracraniana e/ou contusão cerebral

190
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

2. associada, imediatamente após a lesão cefálica, a existe como uma entidade e, se existe, como ela está relacio-
um ou mais dos seguintes sintomas e/ou sinais: nada ao tipo e ao local da lesão que está sendo irradiada e/ou
a) confusão, desorientação ou alteração da cons- a dose e o campo de irradiação empregados.
ciência, transitórias
b) perda da memória para eventos imediata-
mente anteriores ou posteriores à lesão A5.8  Cefaleia aguda atribuída a outro
c) dois ou mais outros sintomas sugestivos de   trauma ou lesão cefálica e/ou cervical
lesão cerebral traumática leve
i. náusea Critérios diagnósticos:
ii. vômitos A. Qualquer cefaleia preenchendo os critérios C e D
iii. distúrbios visuais B. Ocorreu trauma ou lesão cefálica e/ou cervical de um
iv. tontura e/ou vertigem tipo não descrito acima
v. desequilíbrio postural e/ou da marcha C. Evidência de causalidade demonstrada por um dos ou
v i. memória e/ou concentração ambos os seguintes:
prejudicadas 1. a cefaleia desenvolveu-se em estreita relação tem-
C. A cefaleia é relatada como tendo se desenvolvido entre poral com o trauma ou lesão
sete dias e três meses após todos os seguintes: 2. existe outra evidência de causalidade pelo trauma
1. a lesão cefálica ou pela lesão
2. a recuperação da consciência após a lesão cefálica D. Qualquer um dos seguintes:
(quando aplicável) 1. a cefaleia desapareceu dentro de três meses após o
3. a interrupção do(s) medicamento(s) que prejudi- trauma ou a lesão
cam a habilidade para sentir ou relatar a cefaleia 2. a cefaleia persiste, mas ainda não se passaram três
após a lesão cefálica (quando aplicável) meses desde o seu início
D. A cefaleia persiste por >3 meses após o seu início E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.

A5.9  Cefaleia persistente atribuída a outro


A5.7  Cefaleia atribuída a   trauma ou lesão cefálica e/ou cervical
  radiocirurgia cerebral
Critérios diagnósticos:
Critérios diagnósticos: A. Qualquer cefaleia preenchendo os critérios C e D
A. Qualquer cefaleia nova preenchendo o critério C B. Ocorreu trauma ou lesão cefálica e/ou cervical de um
B. Foi realizada radiocirurgia cerebral tipo não descrito acima
C. Evidência de causalidade demonstrada por ambos os C. Evidência de causalidade demonstrada por um dos ou
seguintes: ambos os seguintes:
1. a cefaleia desenvolveu-se dentro de sete dias após 1. a cefaleia desenvolveu-se em estreita relação tem-
a radiocirurgia poral com o trauma ou lesão
2. a cefaleia desapareceu dentro de três meses após a 2. existe outra evidência de causalidade pelo trauma
radiocirurgia ou pela lesão
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. D. A cefaleia persiste por >3 meses após o seu início
E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
Comentário: Embora cefaleia de novo tenha sido descrita após
radiocirurgia, a maioria dos estudos não proporciona descri-
ções detalhadas das suas características clínicas, nem tam- Bibliografia
pouco é habitualmente claro o quanto a cefaleia ocorrendo
após radiocirurgia representa uma exacerbação de uma cefa- Lucas S, Hoffman JM, Bell KR, et al. Characterization of headache
leia subjacente ou uma cefaleia nova. Nos casos nos quais after traumatic brain injury. Cephalalgia 2012; 32: 600–606.
uma história prévia de cefaleia não estava presente, a sín- Lucas S, Hoffman JM, Bell KR, et al. A prospective study of prev-
drome de cefaleia foi de curta duração, ocorreu mais de um alence and characterization of headache following mild trau-
ano após o procedimento e assemelhou-se a migrânea ou a matic brain injury. Cephalalgia 2014; 34: 93–102.
cefaleia em trovoada. Logo, as relações causais entre essas Olesen J. Problem areas in the International Classification of
cefaleias e os procedimentos radiocirúrgicos que as precede- Headache Disorders, 3rd edition (beta). Cephalalgia 2014; 34:
ram foram altamente duvidosas. Estudos prospectivos cui- 1193–1199.
dadosamente controlados são necessários para determinar o Theeler BJ and Erickson JC. Post-traumatic headaches: time for a
quanto a A5.7 Cefaleia atribuída a radiocirurgia cerebral revised classification? Cephalalgia 2012; 32: 589–591.

191
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

Theeler BJ, Flynn FG and Erickson JC. Headaches after concussion Comentários: Descrições claras de cefaleia associada a eletro-
in US soldiers returning from Iraq or Afghanistan. Headache convulsoterapia são esparsas. Em um estudo comparativo
2010; 50: 1262–1272. com cegamento simples com eletriptana e paracetamol, 20
Theeler B, Lucas S, Riechers RG, et al. Post-traumatic headaches in de 72 pacientes (28%) reclamaram de cefaleias, mas essas
civilians and military personnel: a comparative, clinical review. não foram bem caracterizadas (somente a localização e a
Headache 2013; 53: 881–900. qualidade da dor foram avaliadas).
Os dados publicados não são adequados para definir ope-
racionalmente a A7.6.3 Cefaleia pós-eletroconvulsoterapia
A6. Cefaleia atribuída a transtorno (ECT), e não tem havido estudos de validação desses crité-
vascular craniano e/ou cervical rios propostos desde que a ICHD-3 beta foi publicada.

A6.10  Cefaleia persistente atribuída a A7.9  Cefaleia persistente atribuída


   transtorno vascular craniano e/ou   a transtorno intracraniano não
  cervical prévios   vascular prévio
A. Cefaleia previamente diagnosticada como 6. Cefaleia
atribuída a transtorno vascular craniano e/ou cervical Critérios diagnósticos:
ou um dos seus tipos, subtipos ou subformas e preen- A. Cefaleia previamente diagnosticada como 7. Cefaleia
chendo o critério C atribuída a transtorno intracraniano não vascular
B. O transtorno vascular craniano ou cervical causador ou um dos seus tipos, subtipos ou subformas e preen-
da cefaleia foi efetivamente tratado ou desapareceu chendo o critério C
espontaneamente B. O transtorno intracraniano não vascular causador
C. A cefaleia tem persistido por >3 meses após o trata- da cefaleia foi efetivamente tratado ou desapareceu
mento efetivo ou a remissão espontânea do transtorno espontaneamente
vascular C. A cefaleia persistiu por >3 meses após o tratamento efe-
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. tivo ou remissão espontânea do transtorno não vascular
E. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
Comentário: A A6.10 Cefaleia persistente atribuída a trans-
torno vascular craniano e/ou cervical prévios é mal docu- Comentário: É sabido, a partir da experiência clínica, que uma
mentada; se ela existe, pesquisas são necessárias para esta- cefaleia persistente pode ocorrer após um transtorno intracra-
belecer melhores critérios para causalidade. niano não vascular prévio (e resolvido); até certo ponto, tal
cefaleia tem sido demonstrada após 7.1.1 Cefaleia atribuída
a hipertensão intracraniana idiopática e 7.2.3 Cefaleia atri-
A7. Cefaleia atribuída a transtorno buída a hipotensão intracraniana espontânea. No entanto, a
intracraniano não vascular A7.9 Cefaleia persistente atribuída a transtorno intracraniano
não vascular prévio é mal documentada. Pesquisas são neces-
sárias para estabelecer melhores critérios para causalidade.
A7.6  Cefaleia atribuída a crise epiléptica
A7.6.3  Cefaleia pós-eletroconvulsoterapia (ECT) Bibliografia
Critérios diagnósticos: Belcastro V, Striano P, Kasteleijn-Nolst Trenité DGA, et al. Migra-
A. Cefaleia recorrente preenchendo o critério C lepsy, hemicrania epileptica, post-ictal headache and ‘‘ictal epi-
B. Um curso de eletroconvulsoterapia (ECT) foi leptic headache’’: a proposal for terminology and classification
administrado revision. J Headache Pain 2011; 12: 289–294.
C. Evidência de causalidade demonstrada por todos os Canuet L, Ishii R, Iwase M, et al. Cephalic auras of supplementary
seguintes: motor area origin: an ictal MEG and SAM(g2) study. Epilepsy
1. a cefaleia desenvolveu-se após ≥50% das sessões Behav 2008; 13: 570–574.
de ECT Dinwiddie SH, Huo D and Gottlieb O. The course of myalgia and
2. cada cefaleia desenvolveu-se dentro de quatro headache after electroconvulsive therapy. J ECT 2010; 26:
horas após a ECT 116–120.
3. cada cefaleia desapareceu dentro de 72 horas após Kertesz DP, Trabekin O and Vanetik MS. Headache treatment after
a ECT electroconvulsive treatment: a single-blinded trial comparator
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. between eletriptan and paracetamol. J ECT 2015; 31: 105–109.

192
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

Mendez MF, Doss RC, Taylor JL, et al. Relationship of seizure vari- C. A cefaleia persistiu por >3 meses após a resolução
ables to personality disorders in epilepsy. J Neuropsychiatry da infecção intracraniana fúngica ou outra infecção
Clin Neurosci 1993; 5: 283–286. parasitária
Parisi P, Striano P, Kasteleijn-Nolst Trenité DGA, et al. ‘Ictal epi- D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-
leptic headache’: recent concepts for new classification criteria. 3, e hidrocefalia foi excluída por neuroimagem.
Cephalalgia 2012; 32: 723–724.
Schweder LJ, Wahlund B, Bergsholm P, et al. Questionnaire study
about the practice of electroconvulsive therapy in Norway. A9.3  Cefaleia atribuída a infecção
J ECT 2011; 27: 296–299.   pelo vírus da imunodeficiência
Siegel AM, Williamson PD, Roberts DW, et al. Localized pain asso-
ciated with seizures originating in the parietal lobe. Epilepsia   humana (HIV)
1999; 40: 845–855.
Young GB and Blume WT. Painful epileptic seizures. Brain 1983; Classificada em outro local: A cefaleia ocorrendo em pacientes
106: 537–554. com infecção por HIV, mas causada por uma infecção opor-
tunista específica, deve ser codificada de acordo com essa
última. A cefaleia causada pelo uso de drogas antirretrovi-
A8. Cefaleia atribuída a uma rais deve ser codificada como 8.1.10 Cefaleia atribuída ao
substância ou à sua supressão emprego prolongado de medicamento não utilizado para
cefaleia.

A8.4  Cefaleia persistente atribuída ao uso Critérios diagnósticos:


  de ou à exposição a uma substância A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
B. Ambos os seguintes:
  no passado 1. foi demonstrada infecção sistêmica pelo HIV
2. outra infecção sistêmica e/ou intracraniana ativa
Codificada em outro local: foi excluída
8.2 Cefaleia por uso excessivo de medicamentos C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
dois dos seguintes:
Critérios diagnósticos: 1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal
A. Cefaleia previamente diagnosticada como 8.1 Cefaleia com o início da infecção pelo HIV
atribuída ao uso de ou à exposição a uma substância ou 2. a cefaleia desenvolveu-se ou piorou significativa-
um dos seus subtipos e preenchendo o critério C mente em relação temporal com a piora da infec-
B. O uso de ou a exposição à substância cessou ção pelo HIV, conforme indicado pela contagem
C. A cefaleia persistiu por >3 meses após a exposição ter das células CD4 e/ou pela carga viral
cessado 3. a cefaleia melhorou significativamente em para-
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. lelo com a melhora da infecção pelo HIV, con-
forme indicado pela contagem das células CD4 e/
ou pela carga viral
A9. Cefaleia atribuída a infecção D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.

A9.1  Cefaleia atribuída a infecção Comentários: O racional para separar A9.3 Cefaleia atribuída
 intracraniana a infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) das
cefaleias atribuídas a outras infecções é triplo:
A9.1.3.3  Cefaleia persistente atribuída a a) a infecção pelo HIV sempre é tanto sistêmica como
    infecção intracraniana fúngica ou dentro do sistema nervoso central
    outra infecção parasitária prévias b) a infecção no sistema nervoso central pode progredir
independentemente da infecção sistêmica
Critérios diagnósticos: c) a infecção pelo HIV ainda não é curável
A. Cefaleia preenchendo previamente os critérios para
9.1.3 Cefaleia atribuída a infecção intracraniana fún- A cefaleia é relatada por mais da metade das pessoas
gica ou outra infecção parasitária e preenchendo o cri- infectadas pelo HIV/síndrome da imunodeficiência adqui-
tério C rida (SIDA) e pode ser parte da sintomatologia tanto da
B. Infecção intracraniana fúngica ou outra infecção parasi- infecção aguda como da infecção crônica pelo HIV (atra-
tária resolvida vés de meningite asséptica e mecanismos similares). Mesmo
assim, a A9.3 Cefaleia atribuída a infecção pelo vírus da

193
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

imunodeficiência humana (HIV) permanece no Apêndice A10. Cefaleia atribuída a transtorno


por ser extremamente difícil distinguir a cefaleia puramente da homeostase
atribuída à infecção pelo HIV das cefaleias semelhantes às
cefaleias primárias relatadas pela maioria dos pacientes com
HIV. A aplicação desses critérios em estudos prospectivos A10.7 Cefaleia e/ou dor cervical atribuída a
pode proporcionar evidências mais conclusivas. hipotensão ortostática (postural)
Na maioria dos casos, a A9.3 Cefaleia atribuída a infec-
ção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) é dolente Descrição: Dor, na maior parte das vezes na região posterior
e bilateral, ou possui as características de uma cefaleia pri- do pescoço mas algumas vezes alastrando-se superiormente
mária (1. Migrânea ou 2. Cefaleia do tipo tensão). A inten- para a região occipital (distribuição “em cabide”), atribuída
sidade, a frequência e a incapacidade atribuída à cefaleia a hipotensão postural e desenvolvendo-se apenas na postura
parecem estar associadas à gravidade da infecção pelo HIV, ereta.
conforme indicado pela contagem das células CD4 e/ou pela
carga viral, mas não com a duração da infecção pelo HIV ou Critérios diagnósticos:
com o número de medicamentos antirretrovirais prescritos. A. Cefaleia preenchendo o critério C
Apenas uma minoria dos pacientes com HIV têm cefa- B. Hipotensão ortostática (postural) foi demonstrada
leia atribuível a infecções oportunistas, provavelmente como C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
consequência da disponibilidade da terapia antirretroviral dois dos seguintes:
altamente ativa. 1. a cefaleia desenvolve-se exclusivamente durante a
Durante a infecção pelo HIV, meningite e/ou encefalite postura ereta
secundárias associadas a infecções oportunistas ou neopla- 2. a cefaleia melhora espontaneamente na posição
sias podem desenvolver-se. As infecções intracranianas mais horizontal
comuns associadas à infecção pelo HIV e causando cefaleia 3. a cefaleia localiza-se, na maioria das vezes, na
são a toxoplamose e a meningite criptococótica. A cefaleia nuca, irradiando-se algumas vezes superiormente
ocorrendo em pacientes com infecção pelo HIV, mas atribuí- para a região occipital (distribuição “em cabide”)
das a uma infecção oportunista específica, devem ser codifi- D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
cadas para aquela infecção.
As drogas antirretrovirais também podem causar cefa- Comentário: Quando especificamente inquiridos, 75% dos
leia. Nesses casos, a cefaleia deve ser codificada como 8.1.10 pacientes com hipotensão ortostática relataram dor cervical.
Cefaleia atribuída ao emprego prolongado de medicamento
não utilizado para cefaleia.
A10.8  Cefaleia atribuída a
   outro transtorno da homeostase
Bibliografia
A10.8.1  Cefaleia atribuída a viagem espacial
Berger JR. Pearls: neurologic complications of HIV/
AIDS. Semin Neurol 2010; 30: 66–70. Descrição: Cefaleia não-específica causada por viagem no
Brew BJ and Miller J. Human immunodeficiency virus- espaço. A maioria dos episódios de cefaleia não estão asso-
related headache. Neurology 1993; 43: 1098–1100. ciados a sintomas de cinetose espacial.
Denning DW. The neurological features of HIV infec-
tion. Biomed Pharmacother 1988; 42: 11–14. Critérios diagnósticos:
Evers S, Wibbeke B, Reichelt D, et al. The impact of A. Qualquer cefaleia nova preenchendo o critério C
HIV infection on primary headache. Unexpected findings B. O indivíduo viajou através do espaço
from retrospective, cross-sectional, and prospective analy- C. Evidência de causalidade demonstrada por ambos os
ses. Pain 2000; 85: 191–200. seguintes:
Hollander H and Strimgari S. Human immunodeficiency 1. a cefaleia ocorreu exclusivamente durante uma
virus-associated meningitis. Clinical course and correlations. viagem espacial
Am J Med 1987; 83: 813–816. 2. a cefaleia melhorou espontaneamente no retorno à
Kirkland KE, Kirkland K, Many WJ Jr, et al. Headache terra
among patients with HIV disease: prevalence, characteris- D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
tics, and associations. Headache 2011; 52: 455–466.
Comentário: Dos 16 homens e uma mulher astronautas que
participaram em um levantamento, 12 (71%) relataram ao
menos um episódio de cefaleia experimentado enquanto no
espaço, sendo que não sofriam de cefaleia quando em terra.

194
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

A10.8.2  Cefaleia atribuída a outro A11. Cefaleia ou dor facial atribuída a


   transtorno metabólico ou sistêmico transtorno do crânio, pescoço,
Cefaleias atribuídas aos seguintes transtornos podem ocorrer, mas olhos, orelhas, nariz, seios
não estão suficientemente validadas: anemia, insuficiência adre- paranasais, dentes, boca ou outra
nocortical, deficiência mineralocorticoide, hiperaldostero- estrutura facial ou cervical
nismo, policitemia, síndrome de hiperviscosidade, púrpura
trombocitopênica trombótica, plasmaférese, síndrome dos
anticorpos anticardiolipina, doença de Cushing, hipona- A11.2  Cefaleia atribuída a
tremia, hipertireoidismo, hiperglicemia, hipercalcemia,   transtorno cervical
lúpus eritematoso sistêmico, síndrome da fadiga crônica,
fibromialgia. A11.2.4  Cefaleia atribuída a radiculopatia
  cervical alta
Estudos prospectivos bem controlados são necessários
para definir mais claramente a incidência e as características Critérios diagnósticos:
das cefaleias que ocorrem em associação a esses transtornos. A. Dor cefálica e/ou cervical preenchendo o critério C
Em cada caso, somente aqueles pacientes que preenchem B. Evidência clínica, eletrodiagnóstica ou radiológica de
critérios solidamente estabelecidos para os referidos trans- radiculopatia C2 ou C3
tornos devem ser avaliados. C. Evidência de causalidade demonstrada por ambos os
seguintes:
1. ao menos dois dos seguintes:
A10.9  Cefaleia persistente atribuída a a) a dor desenvolveu-se em relação temporal
   transtorno da homeostase prévio com o início da radiculopatia ou levou à sua
descoberta
Critérios diagnósticos: b) a dor melhorou significativamente ou piorou
A. Cefaleia previamente diagnosticada como 10. Cefaleia significativamente em paralelo com a melhora
atribuída a transtorno da homeostase e preenchendo o ou com a piora da radiculopatia
critério C c) a dor é temporariamente abolida pela aneste-
B. O transtorno da homeostase causador da cefaleia foi efi- sia local da raiz nervosa relevante
cientemente tratado ou desapareceu espontaneamente 2. a cefaleia é ipsilateral à radiculopatia
C. A cefaleia persistiu por >3 meses após o tratamen- D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
toefetivo ou a remissão espontânea do transtorno da
homeostase Comentário: A dor habitualmente é posterior, mas pode irra-
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. diar-se para regiões mais anteriores. Dores lancinantes fre-
quentemente ocorrem em uma das áreas supridas pelas raízes
cervicais altas em um ou em ambos os lados, habitualmente
Bibliografia nas regiões occipital, retroauricular ou cervical posterior alta.

Cariga P, Ahmed S, Mathias CJ, et al. The prevalence and asso-


ciation of neck (coat-hanger) pain and orthostatic (postural) A11.2.5  Cefaleia atribuída a dor miofascial cervical
hypotension in human spinal cord injury. Spinal Cord 2002; 40:
77–82. Criterios diagnósticos:
Mathias CJ, Mallipeddi R and Bleasdale-Barr K. Symptoms associ- A. Dor cefálica e/ou cervical preenchendo o critério C
ated with orthostatic hypotension in pure autonomic failure and B. Foi demonstrada uma fonte de dor miofascial nos mús-
multiple system atrophy. J Neurol 1999; 246: 893–898. culos cervicais, incluindo pontos-gatilho reprodutíveis
Vein AA, Koppen H, Haan J, et al. Space headache: a new second- C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
ary headache. Cephalalgia 2009; 29: 683–686. dois dos seguintes:
1. um dos ou ambos os seguintes:
a) a dor desenvolveu-se em relação temporal
com o início do transtorno doloroso miofas-
cial cervical
b) a cefaleia melhorou significativamente em
paralelo com a melhora do transtorno dolo-
roso miofascial cervical

195
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

c) a pressão sobre os músculos cervicais impli- A11.5  Cefaleia atribuída a transtorno


cados faz surgir dolorimento    do nariz ou dos seios paranasais
2. a dor é temporariamente abolida por injeções de
anestésico local nos pontos-gatilho ou por massa-
gem dos pontos-gatilho A11.5.3  Cefaleia atribuída a transtorno da
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.    mucosa, septo ou conchas nasais

Comentário: A dor miofascial e a sua relação com os assim Critérios diagnósticos:


chamados “pontos-gatilho” é controversa. Tem sido difícil A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
demonstrar de modo consistente os supostos pontos-gatilho, B. Evidência clínica, por endoscopia nasal e/ou por ima-
e a resposta ao tratamento varia. gem, de um processo hipertrófico ou inflamatório den-
tro da cavidade nasal1
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos
A11.3  Cefaleia atribuída a transtorno dois dos seguintes:
  dos olhos 1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal
com o início da lesão intranasal ou levou à sua
A11.3.5  Cefaleia atribuída a heteroforia descoberta
  ou heterotropia 2. a cefaleia melhorou significativamente ou piorou
significativamente em paralelo com a melhora
Descrição: Cefaleia causada por estrabismo latente ou per- (com ou sem tratamento) ou piora da lesão nasal
sistente, habitualmente ocorrendo após tarefas visuais 3. a cefaleia melhorou significativamente após a
prolongadas. anestesia local da mucosa na região da lesão
4. a cefaleia é ipsilateral ao local da lesão
Critérios diagnósticos: D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
A. Cefaleia preenchendo o critério C
B. Foi identificada heteroforia ou heterotropia, com ao Nota:
menos um dos seguintes sintomas: 1. São exemplos a concha bolhosa e o esporão do septo
1. visão borrada nasal.
2. diplopia
3. dificuldade em mudar o foco de perto para longe e/
ou vice-versa A12. Cefaleia atribuída a transtorno
C. Evidência de causalidade demonstrada por ao menos psiquiátrico
dois dos seguintes:
1. a cefaleia desenvolveu-se em relação temporal
com o início da heteroforia e/ou heterotropia ou Introdução
levou à sua descoberta As cefaleias são comumente associadas a vários transtornos
2. a cefaleia melhorou significativamente após a cor- psiquiátricos, mas faltam, na maioria dos casos, evidências
reção da heteroforia e/ou heterotropia de uma relação causal. Na vasta maioria dos casos, provavel-
3. a cefaleia é agravada por tarefas visuais sustentadas mente, a cefaleia associada a esses transtornos reflete etio-
4. a cefaleia é aliviada pelo fechamento de um olho e/ logias ou fatores de risco subjacentes em comum, mais do
ou pela descontinuação da tarefa visual que uma relação causal. Entretanto, para fazer qualquer um
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. dos diagnósticos listados abaixo, deve ser estabelecida uma
relação causal entre a cefaleia e o transtorno psiquiátrico em
Comentários: Há um certo número de casos que apóiam a questão. Então, a cefaleia ou se desenvolve simultaneamente
A11.3.5 Cefaleia atribuída a heteroforia ou heterotropia, ao transtorno psiquiátrico ou piora significativamente depois
mas, a parte disso, há pouca evidência para essa causa de que o transtorno psiquiátrico torna-se evidente.
cefaleia. Ela foi, portanto, transferida para o Apêndice, Biomarcadores definidos e a comprovação clínica da
aguardando estudos mais formais. causalidade da cefaleia são difíceis de obter, e o diagnós-
Pacientes com A11.3.5 Cefaleia atribuída a heteroforia tico será frequentemente de exclusão. Por exemplo, em uma
ou heterotropia, se ela existe, têm maior probabilidade de criança com transtorno de ansiedade de separação, a cefa-
buscar o aconselhamento de um oftalmologista. leia deve ser atribuída a esse transtorno apenas naqueles
casos nos quais ela ocorre exclusivamente no contexto de
uma separação real ou prenunciada, sem qualquer explica-
ção melhor. Similarmente, em um adulto com transtorno do
pânico, a cefaleia somente deve ser atribuída ao transtorno

196
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

naqueles casos nos quais ela ocorre exclusivamente como um A12.5  Cefaleia atribuída a transtorno
dos sintomas de uma crise de pânico.   do pânico
Os seguintes critérios são oferecidos como conjuntos de
critérios candidatos definidos para facilitar a pesquisa sobre Critérios diagnósticos:
as possíveis relações causais entre certos transtornos psiquiá- A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
tricos e cefaleia. Não é recomendado que eles sejam utiliza- B. Crises de pânico inesperadas e recorrentes, preenchendo
dos rotineiramente na prática clínica para descrever associa- os critérios do DSM-5 para transtorno do pânico
ções entre cefaleia e transtornos psiquiátricos comórbidos. C. A cefaleia ocorre exclusivamente durante as crises de
pânico
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
A12.3  Cefaleia atribuída a
  transtorno depressivo
A12.6  Cefaleia atribuída a fobia específica
Critérios diagnósticos:
A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C Critérios diagnósticos:
B. Foi diagnosticado transtorno depressivo maior (episó- A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
dio único ou recorrente) ou transtorno depressivo per- B. Foi diagnosticada uma fobia específica, de acordo com
sistente, de acordo com os critérios do DSM-5 os critérios do DSM-5
C. A cefaleia ocorre exclusivamente durante os episódios C. A cefaleia ocorre exclusivamente quando o paciente
depressivos é exposto ou está prevendo a exposição ao estímulo
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. fóbico
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
Comentário: Muitos antidepressivos, especialmente os anti-
depressivos tricíclicos, são efetivos contra transtornos de Comentário: Fobias específicas tipicamente duram seis meses
cefaleia, mesmo quando a depressão não está presente. Isso ou mais, causando sofrimento clinicamente significativo e/
torna difícil determinar o quanto a remissão ou a melhora de ou prejuízo nas áreas de funcionamento social, ocupacional
uma cefaleia associada a depressão e tratada com um anti- e/ou em outras áreas importantes.
depressivo tricíclico é, de fato, evidência de causalidade. A
remissão da cefaleia é mais sugestiva de uma causa psiquiá-
trica quando um transtorno depressivo maior melhora sob A12.7  Cefaleia atribuída a transtorno
tratamento com outro tipo de antidepressivo cuja menor efe-    de ansiedade social (fobia social)
tividade no tratamento da cefaleia foi demonstrada.
Critérios diagnósticos:
A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
A12.4  Cefaleia atribuída a transtorno B. Foi diagnosticado transtorno de ansiedade social (fobia
   de ansiedade de separação social), de acordo com os critérios do DSM-5
C. A cefaleia ocorre exclusivamente quando o paciente é
Critérios diagnósticos: exposto ou está prevendo a exposição a situações sociais
A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3.
B. Foi diagnosticado transtorno de ansiedade de separa-
ção, de acordo com os critérios do DSM-5 Comentários: No transtorno de ansiedade social (fobia social),
C. A cefaleia ocorre exclusivamente no contexto de uma há medo ou ansiedade marcados em relação a uma ou mais
separação, real ou prenunciada, do lar ou de figuras situações sociais nas quais o indivíduo é exposto a um pos-
importantes de apego sível escrutínio por parte de outros. O medo ou ansiedade
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. é desproporcional à ameaça real imposta por uma situação
social. Exemplos incluem interações sociais (p.ex. manter
Comentário: O transtorno de ansiedade de separação é per- uma conversa), ser observado (p.ex. comendo ou bebendo)
sistente, tipicamente durando ao menos seis meses, embora ou fazer alguma apresentação em público (p.ex. palestrar).
uma duração mais curta possa ser consistente com os crité- A pessoa teme que ele ou ela irá demonstrar sintomas de
rios diagnósticos nos casos de início agudo ou exacerbação ansiedade ou agir de um modo que fará com que seja ava-
de sintomas graves (p.ex. recusa escolar ou incapacidade liado negativamente (p.ex. ser humilhado, envergonhado ou
completa de separar-se de casa ou de figuras de apego). O rejeitado) ou que ofenderá os outros. Nas crianças, o medo
transtorno causa sofrimento clinicamente significativo e/ou ou a ansiedade podem ser expressados através de choro, bir-
prejuízo nas áreas de funcionamento social, acadêmica, ocu- ras, “congelamento”, agarrar-se a algo ou alguém, retração
pacional e/ou em outras áreas importantes. ou fracasso em falar durante situações sociais.

197
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

O transtorno é persistente, tipicamente durando seis A12.9  Cefaleia atribuída a transtorno de


meses ou mais.    estresse pós-traumático (TEPT)
Critérios diagnósticos:
A12.8  Cefaleia atribuída a transtorno A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C
   de ansiedade generalizada B. Foi diagnosticado transtorno de estresse pós-traumático
(TEPT), de acordo com os critérios do DSM-5
Critérios diagnósticos: C. A cefaleia desenvolveu-se pela primeira vez após a
A. Qualquer cefaleia preenchendo o critério C exposição ao estressor traumático e ocorre exclusiva-
B. Foi diagnosticado transtorno de ansiedade generali- mente no contexto de outros sintomas de TEPT1
zada, de acordo com os critérios do DSM-5 D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da
C. A cefaleia ocorre somente durante os períodos de ICHD-3.2
ansiedade
D. Não melhor explicada por outro diagnóstico da ICHD-3. Notas:
1. Por exemplo, a cefaleia ocorre imediatamente após a
Comentário: Pacientes com transtorno de ansiedade genera- exposição a fatores que lembram o trauma.
lizada apresentam ansiedade e preocupação (expectativa 2. Em particular, A12.3 Cefaleia atribuída a transtorno
apreensiva) excessivas sobre dois (ou mais) domínios de depressivo.
atividades ou eventos (p.ex. dificuldades relacionadas a
família, saúde, finanças, escola/trabalho) em mais da metade Comentários: A exposição a morte, lesão grave ou violação
dos dias, por três meses ou mais. Os sintomas podem incluir sexual, reais ou na forma de ameaça, pode ocorrer direta-
inquietação ou sentimento de excitação, tensão ou nervo- mente pela vivência do evento, ou pode ocorrer indireta-
sismo, e tensão muscular. Os comportamentos associados a mente: por testemunhar o evento; por tomar conhecimento
esse transtorno incluem a evitação de atividades ou even- de que o evento ocorreu com um membro família ou amigo
tos com desfechos possivelmente negativos, o investimento próximos; por vivenciar uma exposição repetida ou extrema
marcado de tempo e esforço na preparação para atividades a detalhes aversivos do evento (p.ex. socorristas coletando
ou eventos com desfechos possivelmente negativos, a pro- despojos humanos; policiais expostos repetidamente a deta-
crastinação marcada no comportamento ou tomada de deci- lhes sobre abuso infantil). Isso não se aplica à exposição
sões devido a preocupações, e a repetida busca por tranquili- através de meios eletrônicos, televisão, filmes ou fotografias,
zação devido a preocupações. a menos que essa exposição esteja relacionada ao trabalho.
Dada a alta taxa de depressão comórbida ao transtorno
de estresse pós-traumático (TEPT), o diagnóstico de A12.9
Cefaleia atribuída a transtorno de estresse pós-traumático
deve ser reservado para os pacientes cuja cefaleia não é expli-
cada por uma depressão comórbida (i.e. casos de cefaleia
atribuída a TEPT em pacientes sem depressão comórbida).

198
TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

Definição de termos cefaleias trigeminoautonômicas são a exceção: nesses trans-


tornos, crônico não é utilizado até que o transtorno esteja
Alodinia: Sensação de desconforto ou dor (ver adiante) sem remissão por mais de um ano.
surgindo a partir de um estímulo que normalmente não seria Dias de cefaleia: Número de dias durante um período de
suficiente para ter este efeito. Ela é diferente da hiperalgesia observação (habitualmente um mês) afetado por cefaleia em
(ver adiante). qualquer parte ou durante o dia inteiro.
Anorexia: Falta de apetite e aversão por comida de inten- Dolorimento: Sensação aumentada de desconforto ou dor
sidade leve. causada por pressão direta, como aquela aplicada durante a
Atribuído a: Este termo, na ICHD-3, descreve a relação palpação.
entre uma cefaleia secundária (ver adiante) e o transtorno Dor: De acordo com a definição da IASP: uma expe-
que se acredita ser o seu causador. É necessário o preenchi- riência sensorial e emocional desagradável associada a dano
mento de critérios estabelecendo um nível reconhecido de tecidual real ou potencial aos tecidos, ou descrita com as
evidência de causalidade. características de tais danos (ver também: Dor neuropática,
Aura: Sintomas precoces de uma crise de migrânea com Dor neuropática central e Dor neuropática periférica).
aura, considerados como sendo manifestações de uma dis- Dor facial: Dor abaixo da linha orbitomeatal, anterior ao
função cerebral focal. A aura tipicamente dura 20-30 minu- pavilhão auricular e acima do pescoço.
tos e precede a cefaleia (ver adiante). Ver também: Sintomas Dor neuropática: Dor (ver anteriormente) causada por
neurológicos focais, Sintomas premonitórios, Pródromo, uma lesão ou doença do sistema nervoso somatossensorial
Sintomas de alerta). central ou periférico.
Cefaleia nova: Qualquer tipo, subtipo ou subforma de Dor neuropática central: Dor (ver anteriormente) cau-
cefaleia (ver anteriormente) da qual o paciente não sofria sada por lesão ou doença do sistema nervoso somatossenso-
previamente. rial central (ver também Dor neuropática).
Cefaleia primária (transtorno): Cefaleia, ou um trans- Dor neuropática periférica: Dor (ver anteriormente) cau-
torno de cefaleia, não causada por ou atribuída a outro trans- sada por uma lesão ou doença do sistema nervoso somatos-
torno. É distinguida do transtorno de cefaleia secundária (ver sensorial periférico (veja também Dor neuropática).
adiante). Dor referida: Dor (ver anteriormente) percebida em uma
Cefaleia secundária (transtorno): A cefaleia, ou um área diferente daquela onde surge a nocicepção.
transtorno de cefaleia, causada por outro transtorno subja- Duração da crise: O tempo decorrente do início ao tér-
cente. Na ICHD-3, as cefaleias secundárias são atribuídas ao mino de uma crise de cefaleia (ou dor) (ver anteriormente)
transtorno causal. As cefaleias secundárias são distinguidas preenchendo os critérios para um tipo ou subtipo particular
das cefaleias primárias (ver anteriormente). Uma cefaleia de cefaleia. Após crises de migrânea ou de cefaleia em sal-
secundária pode ter as características de uma cefaleia pri- vas pode persistir uma cefaleia de baixa intensidade, não
mária, mas ainda preencher os critérios de causalidade por pulsátil e sem sintomas acompanhantes, porém essa não é
outro transtorno. parte da crise e não é incluída na sua duração. Se o paciente
Cefaleia: dor (ver adiante) localizada na cabeça, acima adormece durante uma crise e acorda aliviado, a duração é
da linha orbitomeatal e/ou da linha nucal superior. considerada até a hora do despertar. Se uma crise de migrâ-
Cintilação: Alucinações visuais que são brilhantes e flu- nea é aliviada com sucesso por medicação, mas os sintomas
tuam em intensidade, frequentemente a aproximadamente recorrem dentro de 48 horas, isso pode representar uma reci-
8-10 ciclos/segundo. Elas são típicas da aura da migrânea diva da mesma crise ou uma nova crise. É necessário discer-
(ver anteriormente). nimento para fazer a distinção (ver também Frequência das
Crise de cefaleia (ou dor): cefaleia (ou dor) (ver adiante) crises).
que se desenvolve, permanece em um certo nível por minu- Em pressão/em aperto: Dor (ver anteriormente) de cará-
tos, horas ou dias e diminui até desaparecer completamente. ter constante, frequentemente comparada a uma faixa aper-
Crise de cefaleia em salvas: Um episódio de dor contí- tada em torno da cabeça.
nua durando 15-180 minutos. Episódico(a): Recorrendo e remitindo em um padrão de
Crônico(a): Na terminologia da dor, crônico denota crises de cefaleia (ou dor) (ver anteriormente) regular ou irre-
longa duração, especificamente por um período maior que gular, de duração constante ou variável. Através do longo uso
três meses. Na terminologia da cefaleia, esse significado é o termo adquiriu significado especial no contexto da cefaleia
mantido para as cefaleias secundárias (notadamente aquelas em salvas episódica, referindo-se à ocorrência de períodos
atribuídas a infecção), nas quais o próprio transtorno causa- de salvas (ver adiante) separados por períodos de remissão
dor é crônico. Nesse uso, crônico diferencia-se de persistente de salvas (ver adiante) mais do que a crises. Acepção seme-
(ver adiante). Para cefaleias primárias que são mais comu- lhante tem sido adotada para a hemicrania paroxística e para
mente episódicas (ver adiante), crônico é utilizado sempre as crises de cefaleia neuralgiforme unilateral breve.
que as crises de cefaleia (ver anteriormente) ocorrem em Erro de refração (ou refrativo): Miopia, hipermetropia
mais dias que não, por um período superior a três meses. As ou astigmatismo.

199
CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DAS CEFALEIAS – 3ª EDIÇÃO

Escotoma: Perda de parte(s) do campo visual de um Latejante: Sinônimo de pulsátil (ver adiante).
ou de ambos os olhos. Os escotomas podem ser absolutos Linha em zigue-zague: sinônimo para espectro em forti-
(ausência de visão) ou relativos (visão obscurecida ou redu- ficação (ver anteriormente).
zida). Na migrânea, os escotomas são homônimos. Músculos pericranianos: Músculos cervicais e occipi-
Espectro em fortificação: Distúrbio visual angulado, tais, músculos da mastigação, músculos faciais da mímica
arqueado e de crescimento gradual, típico da aura visual e da fala, e músculos da orelha interna (tensor do tímpano,
migranosa, a qual pode ser colorida ou em preto e branco. estapédio).
Estímulos pontuais: Estímulos aplicados a pontos discre- Não suficientemente validado(a): De validade duvidosa
tos sobre a pele. como entidade diagnóstica, a julgar pela experiência dos
Estrabismo: Alinhamento anormal de um ou ambos os membros do comitê de classificação e/ou pela controvérsia
olhos. na literatura.
Fenômenos entópticos realçados: Perturbações visuais Neuralgia: Dor (ver anteriormente) na(s) distribuição(-
que surgem da estrutura do próprio sistema visual, incluindo ções) de um ou mais nervos, presumidamente devida a uma
excessivas moscas volantes em ambos os olhos, fenômenos disfunção ou lesão daquelas estruturas neurais. O uso cor-
entópticos do campo azul excessivos (incontáveis pequenos riqueiro tem implicado uma qualidade paroxística ou lan-
pontos cinzas/brancos/pretos ou anéis surgindo no campo cinante (ver anteriormente), porém o termo neuralgia não
visual de ambos os olhos quando se olha para superfícies deve ser reservado para dores paroxísticas.
brilhantes homogêneas como o céu azul), autoiluminação Neurite: Um caso especial de neuropatia (ver adiante); o
do olho (ondas coloridas ou nuvens percebidas ao fechar os termo é reservado agora a processos inflamatórios que afe-
olhos no escuro) e fotopsia espontânea (flashes brilhantes de tam os nervos.
luz). Neuroimagem: Tomografia computadorizada (TC), ima-
Fonofobia: Hipersensibilidade aos sons, mesmo em gem por ressonância magnética (RM), tomografia por emis-
níveis normais, habitualmente levando à sua evitação. são de pósitrons (PET), tomografia computadorizada por
Fotofobia: Hipersensibilidade à luz, mesmo em níveis emissão de fóton único (SPECT) ou cintilografia, incluindo
normais, habitualmente levando à sua evitação. modalidades funcionais, quando aplicáveis, habitualmente
Frequência das crises: A taxa de ocorrência das crises do encéfalo.
de cefaleia (ou dor) (ver anteriormente) por um período de Neuropatia: Um transtorno funcional ou alteração pato-
tempo (habitualmente um mês). O alívio bem-sucedido de lógica em um ou mais nervos (em um nervo: mononeuro-
uma crise de migrânea com medicação pode ser seguido por patia; em vários nervos: mononeuropatia múltipla; quando
recorrência dentro de 48 horas. O Guidelines for Controlled difusa e bilateral: polineuropatia). O termo neuropatia não
Trials of Drugs in Migraine: Third Edition, da Sociedade tem a intenção de cobrir neurapraxia, neurotmese, axonot-
Internacional de Cefaleia, recomenda, como solução prática, mese, secção de um nervo, distúrbios de um nervo causados
especialmente para se diferenciar crises registradas em diário por impacto transitório, como uma pancada; estiramento ou
no mês precedente, contar como crises individuais somente descarga epiléptica (o termo neurogênica aplica-se à dor atri-
aquelas separadas por ao menos 48 horas livres de dor. buída a tais perturbações temporárias).
Heteroforia: Estrabismo latente. Nictalopia: Visão noturna prejudicada.
Heterotropia: Estrabismo manifesto. Palinopsia: Perturbações visuais na forma de pós-ima-
Hiperalgesia: Percepção aumentada em resposta a um gens e/ou imagens fantasmas de objetos em movimento
estímulo presumidamente doloroso. A hiperalgesia é dife- (para se diferenciar de pós-imagens retinianas, as quais
rente da alodinia (ver anteriormente), a qual surge de um ocorrem, em cor complementar, após fitar uma imagem de
estímulo não presumidamente doloroso. alto contraste).
Hipoalgesia: Percepção diminuída em resposta a um Período de remissão de salvas: O período de tempo
estímulo presumidamente doloroso. durante o qual as crises param de ocorrer espontaneamente
Intensidade da dor: Nível de dor (ver adiante), habitual- e não podem ser induzidas por álcool ou nitroglicerina. Para
mente registrada em uma escala numérica de quatro pontos ser considerada uma remissão, o período livre de crises deve
(0-3), equivalente a dor nula, fraca, moderada e forte, ou em ser maior que três meses.
uma escala analógica visual (comumente 10cm). Ela tam- Período de salva: O período de tempo durante o qual as
bém pode ser registrada em uma escala de graduação verbal crises de cefaleia em salvas ocorrem de forma regular e ao
expressa nos termos das suas consequências funcionais: 0, menos uma vez em dias alternados (também chamado de
sem dor; 1, dor fraca, não interfere com as atividades habi- crise de salvas)
tuais; 2, dor moderada, inibe, mas não impede totalmente as Período refratário: O período de tempo após a resolução
atividades habituais; 3, dor forte, impede todas as atividades. de uma crise de dor (ver anteriormente) durante o qual uma
Lancinante: Caráter de dor (ver anteriormente) de curta crise adicional não pode ser desencadeada.
duração, similar a um choque elétrico, ao longo da distribui- Persistente: Esse termo, utilizado no contexto de deter-
ção de uma raiz ou de um nervo. minadas cefaleias secundárias, descreve a cefaleia, ini-

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TRADUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CEFALEIA

cialmente aguda e causada por outro transtorno, que não mais frequentes são a náusea, os vômitos, a fotofobia e a
desaparece dentro de um intervalo de tempo especificado fonofobia.
(habitualmente três meses) depois que o transtorno desa- Sintomas de aviso: Termo utilizado previamente tanto
pareceu. Em muitos desses casos, a cefaleia é reconhecida para a aura (ver anteriormente) como para os sintomas pre-
como um subtipo ou subforma distinta, com evidência de monitórios (ver adiante), sendo, portanto, ambíguo. Não
causalidade dependendo do preenchimento precoce dos cri- deve ser utilizado.
térios para o diagnóstico do tipo agudo, e da persistência da Sintomas neurológicos focais: Sintomas de um distúrbio
mesma cefaleia. encefálico focal (habitualmente cerebral), tais como os que
Pontada de dor: Dor (ver anteriormente) súbita durando ocorrem na aura de migrânea (ver anteriormente).
um minuto ou menos (habitualmente um segundo ou menos). Sintomas premonitórios: Esse termo tem sido utilizado
“Pósdromo”: Uma fase sintomática, durando até 48 com diferentes significados, frequentemente como um sinô-
horas, depois da resolução da dor nas crises de migrânea com nimo de pródromo (ver anteriormente) mas também, de
ou sem aura. Entre os sintomas “posdrômicos” frequentes forma menos específica e algo ambígua, para uma variedade
estão sentir-se cansado ou exausto, dificuldade de concentra- de sintomas que se acredita que prenunciam (mas são possi-
ção e rigidez cervical. velmente a fase inicial de) uma crise de migrânea. É melhor
Pródromo: Uma fase sintomática, durando até 48 horas, que o termo seja evitado.
ocorrendo antes do início da dor, na migrânea sem aura, Substância: Qualquer dos seguintes: substâncias químicas
ou antes da aura, na migrânea com aura. Entre os sintomas orgânicas ou inorgânicas; alimento ou aditivo; bebida alcoó-
prodrômicos comuns estão a fadiga, o humor exaltado ou lica; gás ou vapor; droga, medicamento ou substância her-
deprimido, fome inusitada e ânsia (craving, “fissura”) por bácea, animal ou outra substância administrada com intuito
determinados alimentos. medicinal, embora não licenciada como um produto medicinal.
Pulsátil: Caracterizado por intensificações rítmicas em Supressão: Interrupção do uso de ou da exposição -
sincronia com os batimentos cardíacos; latejante. com duração de semanas ou meses - a um medicamento ou
Região nucal: Aspecto dorsal (posterior) da porção supe- outra substância. O termo engloba, mas não se limitado a, a
rior do pescoço, incluindo a região de inserção dos músculos supressão terapêutica (cessação) da medicação no contexto
cervicais no crânio. da cefaleia por uso excessivo de medicamentos.
Relação temporal estreita: Esse termo descreve a relação Termo previamente utilizado: Um termo diagnóstico que
entre um transtorno orgânico e a cefaleia. Relações tempo- foi utilizado previamente com significado similar ou idêntico
rais específicas podem ser conhecidas para transtornos de ao termo classificado ou é incluído dentro desse. Os termos
início agudo onde a relação causa-efeito é provável, mas utilizados previamente são muitas vezes ambíguos e/ou têm
frequentemente não foram suficientemente estudadas. Para sido empregados diferentemente em diferentes países.
transtornos crônicos, tanto a relação temporal como a causa- Unilateral: No lado direito ou esquerdo, não cruzando
lidade são frequentemente muito difíceis de determinar. a linha média. A cefaleia unilateral não necessariamente
Resolução: Remissão completa de todos os sintomas e de envolve todo o lado direito ou esquerdo da cabeça, mas pode
outras evidências clínicas de doença ou de um processo de ser apenas frontal, temporal ou occipital. Quando usado para
doença (tal como uma crise de cefaleia [ver anteriormente]). distúrbios sensoriais ou motores da aura migranosa, o termo
Sintomas acompanhantes: Sintomas que tipicamente inclui hemidistribuição completa ou parcial.
acompanham, em vez de preceder ou seguir, a cefaleia. Na Vasoespasmo: constrição de artéria ou arteríolas em grau
migrânea, por exemplo, os sintomas de acompanhamento suficiente para reduzir a perfusão tissular.

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