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Leo Cunha

A poesia se faz num


pescar de olhos
Ilustrações Andrea Ebert
SAUDADE
eu pensava que à noite
o sol ia dormir
que o sol ia pra casa
que ia lá pra China
que o sol virava lua
que acabava a pilha
que punha capa preta
que a montanha engolia
que o sol também ficava
com saudade de mim.

6
F UT URO

Sabe onde fica o futuro?


Em cima da nuvem
depois do sol
além da lua
bem atrás
da curva
do céu

É pra lá que a gente vai


quando cresce
e vira adulto
astronauta
cientista
maluco

7
RUÍDO URBANO
Fecha esse vidro, menina,
senão a gente se ensopa
na tempestade de buzinas.

26
PARA SAIR DE UM LABIRINTO

deixe pelo caminho


um novelo de linha

espalhe no chão
migalhas de pão

desenhe um mapa
bem caprichado

ou simplesmente
devore as paredes

27
DESCOBERTA
Cristóvão
e Cabral
estavam
cada qual
à busca
de uma rima.

com semente?
— O que rima
com raiz?
— O que rima

sabia
(Não sei se você
a
stavam de terr
que os dois go
poesia.)
mais do que de

encontraram
Mas como não
semente
uma rima pra
raiz
nem outra para
tentaram
eles dois se con
ente
com um contin
e um país...

30
I R C O
E E C
PA N at e m ática.
de m
n h o dever
Te
b e i ra ! i g m á tica.
n
Dei bo t a r efa é
e
Ess a
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c o ! d a r ápida
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Deu b d e u ma aj
o
Precis
j e i t o! f o r m ática.
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Dei um a p e lar pr
Vou á diva.
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e u c erto! i te q ue é u
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Achei v álida.
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Deu a n u m passe
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Escap a
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amb a in
Deu s m a g ora m
e
Mas b
ane!
deu p
PALHAÇADA
O palhaço
Guarabira
só de birra
de pirraça
dá um espalho
dá um espirro
joga água
no pirralho
OS AUTORES
Arquivo da editora
Acervo do autor/

Arquivo da editora
Acervo pessoal/
LEO CUNHA é mineiro de Bocaiuva e mora em Belo
Horizonte. É casado e pai da Sofia e do André. Ele fez
faculdade de Jornalismo e Publicidade e seguiu
estudando. Fez pós-graduação em Literatura Infantil e
Juvenil e em Artes/Cinema.
Leo conta que, desde pequeno, “a poesia sempre morou”
na sua casa e, por isso, se acha uma pessoa de sorte. Ele
lembra de A arca de Noé, de Vinícius de Morais, Ou isto ANDREA EBERT nasceu em São
ou aquilo, de Cecília Meireles, e Lili inventa o mundo, de Paulo e fez faculdade de Moda. Atuou
Mario Quintana, entre tantos outros livros. Também se como produtora de moda em revistas
recorda dos disquinhos coloridos que havia na época, com e em emissoras de TV. Em 2002,
clássicos como “Chapeuzinho Vermelho” e “João e Maria”, iniciou a carreira como ilustradora em
recontados em versos pelo cantor e compositor Braguinha. agências de publicidade e design e nas
O gosto pela leitura e por histórias o acompanhou na vida principais editoras do Brasil.
adulta. Ele já escreveu mais de 60 livros, entre literatura Quando criança, ela conta que
infantil e juvenil, crônica e poesia. Também publicou contos gostava de desenhar e de brincar com
e poemas em diversas antologias (obras que reúnem quebra-cabeças, o que influenciou
textos de vários autores) e peças teatrais, além de ter algumas das ilustrações que faz até
traduzido mais de 30 livros de literatura infantil e juvenil do hoje, que são fragmentadas e cheias
inglês e do espanhol para o português. de traços e cores. Ela também gostava
Os livros de Leo Cunha receberam diversos prêmios, como de desenhar árvores, principalmente
João-de-Barro, Jabuti, Nestlé, Fundação Nacional do Livro galhos e ramos. Como tinha
Infantil e Juvenil (FNLIJ), Biblioteca Nacional, Adolfo Aizen dificuldade com a escrita, a ilustração
e Concurso Nacional de Histórias Infantis do Paraná. era uma forma de se comunicar.

O autor também escreveu peças de teatro infantil e Atualmente, Andrea mora em Lisboa,
dezenas de letras de música, em parceria com outros Portugal, e faz ilustrações para o Brasil
compositores. Atualmente, Leo dá aulas em universidades. e para países da Europa.
Sobre ilustrar livros para crianças,
Reprodução/Mar de Palha

Entre as
o que mais a encanta é o desafio de
décadas de
1960 e 1980,
“dizer e não dizer”. “A ilustração não
disquinhos pode ‘entregar o jogo’, mostrar tudo o
coloridos com que o texto está querendo falar, mas
a narração tem que ‘cochichar’ – dar pistas para
de histórias
que a gente possa entender e fazer a
infantis faziam
a alegria das nossa própria interpretação”, afirma.
crianças. Eles Neste livro, ela diz que “jogou com
eram tocados
em aparelhos
as cores onde as palavras não podem
chamados de dizer e com as formas onde os versos
vitrolas. desejam alcançar”.

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