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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS


FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL,ARQUITETURA
E URBANISMO
Departamento de Estruturas

FLAMBAGEM DE BARRAS

PROF DR. NILSON TADEU MASCIA

CAMPINAS, 2001 (REVISÃO 2017)


2

Índice
1. Introdução ........................................................................................................................... 3
2. Conceito de Estabilidade Elástica ...................................................................................... 4
3. Aplicação do conceito de estabilidade na compressão axial .............................................. 4
4. Classificação, quanto aos conceitos de cálculo, do desenvolvimento teórico de um
problema em teoria de estrutura ............................................................................................. 6
4.1. Teoria de 1ª ordem........................................................................................................... 6
4.2. Teoria de 2ª ordem........................................................................................................... 7
4.3. Teoria de 3ª ordem........................................................................................................... 7
4.4. Gráfico de F por v(x) com a utilização destes conceitos ................................................. 7
5. Determinação de Fcrit – Método do Equilíbrio.................................................................... 9
6. Carga de Flambagem para Barras Bi-articuladas ............................................................. 10
7. Outros tipos de vinculações .............................................................................................. 13
7.1. Barra engastada livre ..................................................................................................... 13
7.2. Barra engastada e articulada .......................................................................................... 13
7.3. Barra engastada – engastada .......................................................................................... 14
7.4. Relação entre as cargas de flambagem .......................................................................... 14
8. Tensão de Flambagem no Regime Elástico...................................................................... 14
8.1. Raio de Giração de uma seção transversal .................................................................... 14
8.2. Índice de Esbeltez de uma barra .................................................................................... 15
8.3. Transformação da carga de flambagem em tensão de flambagem ............................... 15
9. Exercício nº 1.................................................................................................................... 15
10. Flambagem Elástica e Plástica ....................................................................................... 17
11. Cálculo Prático da Flambagem ....................................................................................... 18
11.1. Barra de Aço e de Ferro Fundido ................................................................................ 18
11.1.1. Fórmulas de Tet Majer no regime plástico .............................................................. 18
11.2. Barras de Madeira........................................................................................................ 20
11.3. Barras de Concreto ..................................................................................................... 21
12. Influência da força cortante e da deformação axial ........................................................ 21
12.1. Força cortante ............................................................................................................. 21
12.2. Deformação axial ........................................................................................................ 22
13. Exercícios ....................................................................................................................... 23
13.1. Exercício 01 ................................................................................................................. 23
13.2. Exercício 02 ................................................................................................................. 25
13.3. Exercício 03 ................................................................................................................. 27
14. Bibliografia ..................................................................................................................... 28
ANEXO .......................................................................................................................................................... 29
3

1. Introdução

Em todas as construções, as peças componentes da estrutura devem ter geometria


adequada e definida para resistirem às ações (forças existentes e peso próprio ou prováveis,
como a ação do vento) impostas sobre elas. Desta maneira, as paredes de um reservatório de
pressão têm resistência apropriada para suportar a pressão interna; um pilar de um edifício
tem resistência para suportar as cargas das vigas; uma asa de avião deve suportar com
segurança as cargas aerodinâmicas que aparecem durante o voo ou a decolagem. Se o
material não resistir às ações, atingirá um Estado Limite Último por Ruptura.
Da mesma forma, um piso de edifício deve ser rígido para evitar uma flecha
excessiva, o que em alguns casos pode provocar fissuras no teto, tornando-se inadequado em
seu aspecto funcional (Estado Limite de Utilização). Finalmente, uma peça pode ser tão
delgada que submetida a uma ação compressiva atingirá o colapso por perda de estabilidade
(flambagem), isto é, um Estado Limite Último.
Em engenharia, todos os requisitos acima devem ser preenchidos com a máxima
habilidade e o menor custo. Neste sentido a seleção dos elementos estruturais de uma
construção se baseia nas três seguintes características:
• Resistência;
• Rigidez;
• Estabilidade.
A análise de resistência e rigidez já foram apresentadas anteriormente. Neste
momento a atenção se direciona ao estudo da estabilidade dos sistemas estruturais.
O nosso estudo começa pela análise de uma barra de diâmetro d, submetida a uma
força axial de compressão. Se esta barra, submetida à força F tiver um comprimento, l,
nenhuma questão de estabilidade apareceria, e uma força considerável poderia ser suportada
por esse membro de comprimento l. Entretanto, se a mesma barra tivesse comprimento igual
a várias vezes o diâmetro quando submetida aquela força F (ou menor), poder-se-ia tornar
lateralmente instável e entrar em colapso1 (Figura 1) da resistência do material não é
suficiente para se prever o comportamento de tal membro.
Nós próximos itens serão explanados alguns conceitos necessários para o
prosseguimento de nosso estudo.

Figura 1 - Flambagem de Barras


1
Obs: Colapso = a barra muda sua configuração linear, passa a ter uma outra configuração não linear e rompe
por flexão, isto é, em Estado Limite Último.
4

2. Conceito de Estabilidade Elástica

Qualifica-se como estabilidade a propriedade do sistema (estrutura) de manter o seu


estado inicial de equilíbrio nas condições de aplicação de ações. Se um sistema não tem esta
propriedade, ele é qualificado de instável.
Definem-se dois estados de equilíbrio:
a) Equilíbrio estável: Se um sistema sofre uma pequena perturbação, depois de
eliminarmos as causas desta perturbação, o sistema volta ao seu estado inicial de
equilíbrio. Este é considerado estável.
b) Equilíbrio instável – Se um sistema sofre uma pequena perturbação, depois de
eliminarmos as causas desta perturbação, o sistema não volta ao seu estado inicial.
Este é considerado instável.

Figura 2 – Equilíbrio estável (a) e instável (c)2

Assim, alcançamos o seguinte estágio: o que acontece se o sistema passa do estado


inicial de equilíbrio (estável) para outro? É caracterizado assim a perda de estabilidade do
sistema.

3. Aplicação do conceito de estabilidade na compressão axial

Para peças de comprimento l, da mesma ordem de seu diâmetro d ou lado b, sujeito à


compressão axial, não está correto o fenômeno de perda de estabilidade. Se pensássemos em
termos de resistência, esta seria f= e num ponto A qualquer seria σ= .
F F
A A

Figura 3 – Gráfico tensão x deformação3


2
Obs: Esta análise de estabilidade está voltada para regime elástico-linear dos materiais.
3
Obs: A carga F é aplicada de O → f. Portanto pode-se analisar o gráfico da Figura 3 de O → f.
5

Para peças com comprimento várias vezes maior que o diâmetro d ou lado b, sujeita
a compressão axial, que fenômeno ocorreria?
Inicialmente a barra está num estado de equilíbrio estável. Para pequenos valores de
F, aumentados gradualmente, a coluna permanece num estado de equilíbrio estável.

Figura 4 – Barra com carga F

Durante este estágio, se retirarmos a força ou ação F, a barra ou coluna volta à sua
forma inicial de equilíbrio (equivalente à esfera da figura 2a).
Se aumentarmos ainda mais a ação F, haveria uma passagem de um estado de
equilíbrio para outro.
Por definição: carga crítica Fcr ou carga de Euler ou carga de flambagem é o valor da
carga F que provoca o fenômeno da mudança do estado de equilíbrio estável para o instável.

Figura 5 – Flambagem da barra

Colocando-se num gráfico de F por v(x), tem-se:


6

Figura 6 - Mudança de equilíbrio

Chegamos assim, ao nosso objetivo: determinar Fcr.


Para completar nosso conjunto de conceitos básicos sobre o fenômeno da
Estabilidade, temos que classificar quanto aos conceitos de cálculo o nosso problema em
Teoria de 1ª ordem, 2ª ordem e 3ª ordem.

4. Classificação, quanto aos conceitos de cálculo, do desenvolvimento


teórico de um problema em teoria de estrutura

4.1. Teoria de 1ª ordem

Esta teoria não leva em conta os deslocamentos no estudo do equilíbrio da estrutura


1
e admite ainda certas simplificações, como por exemplo, a substituição da curvatura K= da
r
linha elástica pela 2ª ordem derivada da sua equação.
Mo =Fa
-Mo -Fa
v''(x)= =
EI EI

Figura 7 – Estrutura em teoria de 1ª ordem


7

4.2. Teoria de 2ª ordem


Esta teoria leva em conta os deslocamentos no estudo do equilíbrio da estrutura e
1
considera a curvatura K= da linha elástica pela 2ª ordem derivada da sua equação.
r
Mo =F(a+v(x))
-Mo
v''(x)=
EI

Figura 8 – Estrutura em teoria de 2ª ordem

4.3. Teoria de 3ª ordem


A teoria de 3ª ordem leva em conta os deslocamentos sem simplificações, sendo
geralmente complicada para uso prático.
A equação da curvatura:
d2 v/dx2
K= 3
dv 2 2
1+   
dx

É usada no regime supercrítico.

4.4. Gráfico de F por v(x) com a utilização destes conceitos


8

Figura 9 – Gráfico de configuração de equilíbrio

Contemplando este estudo teórico é conveniente ressaltar que o fenômeno da


flambagem não é um problema de resistência, mas sim de estabilidade. Se o material que
compõe a estrutura seguisse indefinidamente a Lei de Hooke a carga poderia crescer
sensivelmente acima de Fcr sem que o equilíbrio perdesse seu caráter estável.
Exemplo: Barras de acrílico e celulóide (materiais plásticos):

Figura 10 – Gráfico tensão-deformação

Observa-se que a teoria de 2ª ordem fornece Fcr, ou seja, os problemas de Flambagem


já são testados por esta teoria em Resistência dos Materiais.

F
2
d v -M se a=0→M=0→σ=
A
=
dx2 EI  d2 v Fv
 se a≠0→ dx2 + EI =0
9

Figura 11 – Elástica da barra comprimida

5. Determinação de Fcrit – Método do Equilíbrio

Uma coluna perfeitamente reta (Figura 12), apoiada em sua extremidade, pode ser
considerada em equilíbrio estável. Se aplicarmos uma carga F, a coluna pode sofrer uma
rotação, mas não pode fletir. Na forma hachurada, tem uma posição de equilíbrio tal que, em
A, o momento de tombamento e o restaurador são:

Flsenθ=Mt
cθ=M௥

Figura 12 – Modelo para flambagem

Para θ pequeno sen θ ≅ θ, ficando assim 3 condições:


10

1) F  θ < c θ → sistema estável


2) F  θ = c θ → ponto de bifurcação do equilíbrio
3) F  θ > c θ → sistema instável

Figura 13 – Barra em equilíbrio

De 2) tem-se que:
Flθ=cθ
c
F=
l

Sendo F = Fcr a carga crítica de flambagem.

6. Carga de Flambagem para Barras Bi-articuladas

Seja a barra de seção constante inicialmente reta, mantida na sua posição deformada
por uma carga axial F. A direção das ordenadas v da elástica evidentemente será a direção da
menor rigidez contra flexão, quer dizer, o eixo central com Imin (w) da seção da barra será
perpendicular ao plano do desenho da figura.

Figura 14 – Esquema para determinação da carga crítica

Procuramos a carga F necessária para manter a elástica.


11

Da resistência dos materiais, sabe-se que:


d2 v M
=-
dx2 EI

O momento M vale:
M=Fv

Figura 15 – Cálculo do momento

Substituindo na equação procedente tem-se:


d2 v Fv
+ =0 (1)
dx2 EI

Portanto, temos a solução geral da equação diferencial que rege o problema de


flambagem:
v=C1 senKx+C2 senKx (2)

E com as condições de contorno:


x=0
Em A: 
v=0
C2 = 0 → v=C1 senKx (3)

Para se determinar o parâmetro K, derivamos 2 vezes a equação:


v=C1 senKx
dv
=KC1 cosKx
dx
2
dv
=-K2 C1 senKx (4)
dx2
Substituindo (4) em (1):
d2 v Fv 2 Fv
+ =-K C1 senKx+ =0
dx2 EI EI
Fv
-K2 v+ =0
EI
K =
2 F
EI
12

x=l
Em B:
v=0

Temos em (3):
v=0=C1 senKx

Esta condição é satisfeita quando:


C1 ≠0 e senKl=0
ou Kl=nπ, n=1,2,3,4… (se n =0, não existe F)
nπ n 2 π2
K= →K2 = 2
l l

Portanto a carga crítica vale:


F n 2 π2 n 2 π2
= →Fcr = 2 EI
EI l2 l

Chamando lcr de comprimento de flambagem e sendo lcr = 1⁄n, podemos montar a


seguinte tabela:
Caso K Fcrit Equação da elástica
a: π π

2 π
v=C 1 sen x
n=1 l l2 l
b: 2π 4π2

n=2 2
v=C1 sen x
l l l
c: 3π 9π

2

n=3 v=C1 sen x
l l2 l

E as seguintes elásticas (sendo de interesse prático apenas o tipo a).

Figura 16 – Algumas elásticas


13

É interessante, novamente, salientar que as ordenadas v não podem ser determinadas


por este equacionamento matemático, necessitando-se para isto da equação exata da
curvatura K.

7. Outros tipos de vinculações

7.1. Barra engastada livre

Figura 17 – Barra engastada livre

lcr =2l
π2

௖௥ = 2
4l

7.2. Barra engastada e articulada

Figura 18 – Barra articulada-engastada


14

Tem-se:

l
lcr =
√2
4,4542
2π2

௖௥ = =
l2 l2

7.3. Barra engastada – engastada


Segue-se:
l
lcr =
2
4π2

௖௥ =
l2

Figura 19 – Barra engastada-engastada

7.4. Relação entre as cargas de flambagem


Tem-se:
1 : 1 : 2 : 4
4
Eng.-Livre Art.-Art. Art.-Eng. Eng.-Eng.

Ressalta-se que todas as fórmulas acima podem se assemelhar ao acaso fundamental,


desde que no comprimento real esteja o comprimento de flambagem lef . Este comprimento
vem a ser a distância entre os pontos de inflexão das elásticas.

8. Tensão de Flambagem no Regime Elástico

8.1. Raio de Giração de uma seção transversal


Chama-se raio de giração a seguinte relação:
15

I
i=
A

Onde:
I = Momento de inércia da seção transversal;
A = Área da seção transversal.
Ou:
I
i2 =
A

8.2. Índice de Esbeltez de uma barra


Índice de Esbeltez de uma barra é a seguinte relação:
lcr
λ=
i
2
∴λ = 2
2 lcr
i

8.3. Transformação da carga de flambagem em tensão de flambagem


Seja a tensão de flambagem igual a:
Fcr
σcr =
A
π2

∴ σcr = 2
lcr A
π2 E 2
∴ σcr = 2 i
lcr
π2 E
σcr = 2
λ

9. Exercício nº 1

Qual a relação h/b da seção transversal para que o pilar da figura ofereça a mesma
segurança contra a flambagem nas direções x e y?
16

Figura 20 – Vista e seção transversal da estrutura

Solução:

Em relação ao eixo x (em torno de x) a vinculação é engastada – livre. Portanto:


lcr,x =2l

Em relação ao eixo y (em torno de y) a vinculação é engastada-articulada. Portanto:


l
lcr,y =
√2

Para se ter a mesma segurança em relação a x e a y temos:


Pcr,x =Pcr,y
Pcr,x Pcr,y
=
A A
σcr,x =σcr,y
π2 E π 2 E
=
λx 2 λy 2
λx 2 =λy 2 →λx =λy
l
λx = cr,x
 ix
l (I)
λ = cr,y
 y i
 y
Com Esbeltez:
I
i=
A
17

bh3
Ix Ix = 12 bh3 h
ix = ;  ix = =
A A=bh 12bh √12

hb3
Iy Iy = 12 hb3 b
iy = ;  iy = =
A A=bh 12bh √12

Finalmente em (I):
2l
λx = h
h √12
 λx =λy → =2√2
l √12 b
λy =
√2 b

10. Flambagem Elástica e Plástica


Até agora estudamos a carga crítica partindo da equação da elástica:
d2 v M
=-
dx2 EI

Que é consequência da Lei de Hooke (σ=Eε.Também foram introduzidos os


conceitos sobre peças curtas, esbeltas e suas relações com a resistência/estabilidade (Teorias:
1a, 2a, ordem). Vamos agora estudar, via conceito de esbeltez, o fenômeno de flambagem.
Assim, para barras curtas, não haverá flambagem e sua carga de ruptura dependerá
apenas da resistência f do material, no caso de um material com limite de escoamento fy, este
valor condiciona a capacidade resistente.
Considerando-se barras mais longas, o valor fy deverá ser substituído por σcr < fy, que
condiciona o fenômeno flambagem.
Desta forma índice de esbeltez λ determinará se a barra é curta ou longa, e indicará o
comportamento da barra a uma força axial de compressão.
Podemos agora relacionar o gráfico tensão-deformação com o gráfico tensão-índice
de esbeltez.

Figura 21 – Gráficos tensão versus deformação ou esbeltez


18

Vemos à relação do comportamento da barra nos dois gráficos:


σ-ε σcrit - λ
O → A: Regime Elástico T → S : Carga Crítica de Euler ou de
Flambagem
A → C: Regime Plástico S → R: Flambagem Plástica
C → : Escoamento R → Q: Não há Flambagem
Escoamento
O diagrama σ por ε é determinado a partir de ensaios em laboratório.

Observações a respeito dos gráficos σ por ε e σcr por λ


É de extrema importância que os gráficos σ por ε e σcr por λ não sejam de uma única
barra, mas sim de um número mínimo de barras de diferentes comprimentos. Assim no ponto
S haverá uma coluna A que será a de menor comprimento (de um certo material) que flambará
elasticamente. Uma outra com λ menor não flambará no regime de proporcionalidade do
material.
Então, uma coluna flambada com uma tensão de flambagem que não excede fo, será
uma flambagem é elástica. Se σcr > fo a flambagem será plástica ou não ocorrerá flambagem
(σcr = fy).

Uma importante observação diz respeito ao trecho 


AC no ponto B, onde à vista de
inúmeros resultados de ensaios em laboratório e de ajustes de curvas pode-se utilizar a
seguinte expressão para fórmula de flambagem:
π2 Et
σcr = 2
λ

Onde Et é o módulo de elasticidade tangente, a nova rigidez da barra à flexão (EI),


passa para Et I e o nível de tensão aumenta. Para informações complementares pode-se
consultar a teoria módulo duplo no livro de Popov, p. 502).

11. Cálculo Prático da Flambagem

Neste item são apresentadas algumas aplicações com o objetivo de uma revisão de
caráter histórico de flambagem.

11.1. Barra de Aço e de Ferro Fundido

11.1.1. Fórmulas de Tet Majer no regime plástico


• Para Aço 37 (Aço de Baixa Resistência) segue a DIN 17100 ST 37:
0<λ → resistência ao escoamento
60≤λ≤100 → σcr =2891-8,175λ (kgf/cm2 )
λ>100 → fórmula de Euler

• Para Aço 52: (Aço de Alta Resistência) segue a DIN 17100 ST 52:
0<λ → resistência ao escoamento: fy
60≤λ≤100 → σcr =5891-38,17λ (kgf/cm2 )
19

• Ferro fundido:
0≤λ≤80 → σcr =770-120 λ+0,53 λ2
0>80 →Fórmula de Euler (kgf/cm2 )

Em algumas normas de Engenharia, como a norma de estruturas metálicas (NB 14/68


até 1986) e a de estruturas de madeira (NB 11/NBR 7190) é utilizada a tensão admissível
para se dimensionarem as peças.
Denomina-se tensão admissível a σcr na flambagem, a tensão σcr dividida por um
coeficiente de segurança γ. Assim:
σcr
σ
=
cr
γ

A NB 14/68 fixa a tensão admissível de flambagem como sendo:


2
λ≤105 → σ=1200-0,023λ
cr (kgf/cm2 )

Para λ>105:
10,363×10-3
σ
cr=
λ2

A comparação entre as equações de Euler e a acima para λ > 105 (regime elástico):
π2 E
σcr λ2
γ= = -3 =2
σ
cr 10,363×10
λ2

Sendo E = 2,1x106 kgf/cm2=2,1x104 kN/cm2.


No regime plástico, não podemos tirar conclusões apenas para λ=0 e
σ=1200
cr kgf/cm2 (12 kN/cm2 ). Como o aço CA-24 (hoje é utilizado o CA - 25) tem limite
de escoamento igual a 2400 kgf/cm2 (ou 2500 kgf/cm2=25 kN/cm2), o coeficiente de
segurança é 2 ou próximo. Na figura 22a é apresentado o gráfico de σcrit por λ de uma CA-
25. Entre os tipos de aço fabricados no Brasil, aponta-se: ASMT A 36 (fy = 25 kgf/mm2) AR
35-CORTEN C (fy = 42 kgf/mm2)

Figura 22 - Gráfico de tensão por esbeltez


20

11.2. Barras de Madeira

A NB 11 (NBR 7190), para o cálculo de estruturas de madeira, fixa as seguintes


recomendações:
• Ponto A:
λ≤40 → 
σ=σ
cr c (peças curtas)

• Ponto B:
1 λ-40
40<λ≤λ0 → σ=σ
cr c 1- ×
(peças intermediárias)
3 λ0 -40

• Ponto C:
2 λ0 2
λ≥λ0 → 
σcr= σc (peças longas)
3 λ

Ressalta-se que λmax=140.

σ
Figura 23 – Gráfico cr x λ para a madeira

Outra observação é que:


2
fo = σc =σ

cr
3

E:
1ൗ
π2 E 2 3π2 E 2
-= σc →λ0 = 
4λ2 3 8σc

Ressalta que o coeficiente de segurança (γ) para peças de madeira solicitas à


compressão é igual a 4.
Alguns valores de λ0 , E e σc para madeira:
21

σc E λ0
53,5 kgf/cm2 109.300 kgf/cm2
Pinho do Paraná 87
(0,535 kN/cm2) (1093 kN/cm2)
85 kgf/cm2 94.100 kgf/cm2
Peroba Rosa 64
(0,85 kN/cm2) (941 kN/cm2)
133 kgf/cm2 165.000 kgf/cm2
Eucalipto Citriodora 68
(1,33 kN/cm2) (1650 kN/cm2)

11.3. Barras de Concreto


No curso de Concreto, o estudo da flambagem terá atenção especial, dispensando-se,
neste momento, qualquer outra consideração além das aqui apresentadas.

12. Influência da força cortante e da deformação axial

12.1. Força cortante

Vamos analisar agora a influência da força cortante V, no cálculo da carga de


flambagem. Então:
d2 y 1 M 1 dv
=- M+M v =- +c
dx2 EI EI GA dx

Lembrando-se:
dy
= γm
dx
dy τm
=
dx G
v
dy = dx
AG

E:
dy v d2 y 1 dv
=c → 2 =c
dx AG dx GA dx

Portanto:
d2 y M 1 dv
=c +c
dx2 EI GA dx

Com M = y×P e:
1
c=c
GA
d2 y P 1 Pd ଶ
= - y + ̅
dx2 EI GA dx2

Daí:
22

EI d2 y P
2
+ y=0
dx 1-c'P

Que é a mesma equação de barra articulada-articulada:


Pcr π2 EI
=Pcr = 2
1-c'Pcr I

Daí:
π2 EI
Pcr =β
I2
Com:
1 1
β=
π2 EI
= 2
1+c' 2 1+π2 c E  i
I G I

Considerando-se uma seção T:


=2

8
= 
 3 →   !"çã# $ é ! ≅ 0,5%
 
= 100
 

12.2. Deformação axial


Vamos agora quantificar o efeito da deformação axial na carga de flambagem.

Figura 24 - Elemento ds da barra

O encurtamento da barra:
F
ε0 =
EA
1 dφ
ds(1-ε0 )=Rdφ→ =
R ds(1-ε0 )
AB=ds(1-ε0 -ε)=(R+y)dφ

Entretanto:
dφ ε M
= =
ds y EI
1 dφ M
R ds(1-ε0 ) EI(1-ε0 )
= =
23

Figura 25 - Flexão na barra

A equação da linha elástica fica:


d2 y M
EI(1-ε0 )
2
=-
dx

Para o caso engastado-livre:


Fcosθ
ε0 = (θ≅0°)
EA

Daí:
π2 EI 1
4l2 1-ε0
Fcr =

Que é praticamente a fórmula sem considerações de ε0, pois se obtém na prática ε0


aproximadamente 0,001.

13. Exercícios

13.1. Exercício 01
σ
Um certo material segue o diagrama cr x λ indicado. Calcular Fcr para a coluna da

2 2
figura abaixo. E = 13.000 kN/cm (1.300.000 kgf/cm ).
24

Figura 26 - Dados do exercício

Solução:

a) Cálculo das características geométricas

A=48 cm4
1×12×2+2(5×2×6)
Ycg = =3cm
22×6+(12×2)
Zcg =0cm

Momentos Principais de Inércia


Seção simétrica → x, y os eixos principais de inércia.
2×63 12×23
Iz =2× % +2×6×2 & +
2
+2×12×22 =272 cm4
12 12
6×23 2×123
Iy =2× % +2×6×52 & + =896 cm4
12 12
Imin =Iz =272 cm4

b) Barra articulada-articulada
lcr =250 cm

c) Cálculo do coeficiente de segurança adotado


Imin 272
imin = = =2,38 cm
A 48

≅105
lcr 250
λmax = =
imin 2,38

σcr x λ.
Ressalta-se que este cálculo foi feito para se posicionar segundo o diagrama 
De acordo com o diagrama, para valores λ ≥ 80:
25

π2 E
σ
cr =
γλ2

Para λ = 80:
π2 ×13000
5=
γ×802
γ=4,0

d) Cálculo de Fcrഥ
π2 EA π2 ×13000×48

Fcr = =
γλ2 4,0×1052

F cr =139,6 kN

13.2. Exercício 02
Dimensionar a barra AB de seção circular, para que o sistema estrutural resista à
máxima carga F possível de ser aplicada. A barra CD tem seção 6 cm x 6 cm. Observação:
Utilizar as fórmulas da NB 14. As barras AB e CD são e aço com
σ =1200kgf/cm2 (ou 12kN/cm2 ).

Figura 27 - Sistema Estrutural

Solução:

Para se dimensionar a barra AB é necessário se conhecer a força que atua na mesma.


Desta forma valemos do seguinte esquema estático:
' Mc =N1 ×a-2×F×a=0

' Fv =0→N2 =-4F


26

Figura 28 - Esquema Estático

a) Cálculo da carga admissível N2


6×63
I= =108 cm4
12
I 108
i= = =1,73 cm
A 36

A barra CD é engastada livre, onde se apoia a viga AE, portanto:


lcr =2l=300 cm
lcr 300
λ= = =173,2
i 1,73

De acordo com a NB 14:


λ > 105:
10363000
σ
cr = =345,45kgf/cm2 =3,46 kN/cm2
173,22
σcr ×A→N2ത =3,46×36=124,56 kN
N=

b) Dimensionamento da barra AB
Sendo:
N2ത =124,56 kN
Logo:
N1ത =62,28 kN
F=31,14 kN

Como a barra AB é de aço, com seção transversal circular e submetida à força de


tração, vem:
N1 62,28
σ= →12=
A πD 2
4
D=2,57 cm
27

13.3. Exercício 03
O escoramento da vala esquematizada é feito com madeira da espécie Peroba Rosa.
Sabendo-se que as peças disponíveis para as escoras são de 6 cm x 12 cm, escolher a mais
conveniente. E (Peroba Rosa) = 942,5 kN / cm2. σc =0,85 kN/cm2 .

Figura 29 - Dados para exercício (Dimensões em cm)

Solução:

A ideia da solução do problema é determinar a carga axial e a partir desta verificar


qual suporta tal carga sem romper.

a) Esforço em uma escora genérica

Figura 30 - Esquema de Cálculo


2×200
F= ( +2×300) ×200×10-4 =16 kN
↑ ↑ ↑
2

triângulo retângulo faixa ≡ planta


28

b) Análise dos perfis disponíveis

Figura 31 - Seção transversal

Para articulado-articular, segundo a NB11 (NBR 7190)


lcr =l
Imin hb3 b
imin =  =  =
A 12bh √12

≅64
3 E 3 942,5
λmax = π2 = π2
8 σcത 8 0,85

b.1) Seção 6 cm x 12 cm
π2 E π2 ×942,5
σ

cr = = 2 =0,17kN/cm
2
4λ 4×115,47
2

F cr = σ
cr×A=0,17×6×12=12,24 kN<F

Como a carga admissível é menor do que a atuante esta peça com esta seção não
poderá ser utilizada.

b.2) Seção 6 cm x 12 cm
λ=115,47>λ0 →peça longa
σcrഥ =0,17kN/cm2
cr=0,17×6×16=16,32 kN
F
cr>F →OK!
F

Com esta peça e esta seção é possível a escora suportar tal esforço.

14. Bibliografia
FEDOSIEV, V. Resistência dos Materiais. Edição Lopes da Silva. 1977
POPOV, E. P. Introdução à Mecânica dos Materiais. Ed. Edgar Blücher. 1978.
SCHIEL, F. Introdução à Resistência dos Materiais. Harper & Row do Brasil. 1984.
SILVA JR, J. F. S. Resistência dos Materiais. Ed. Ao Livro Técnico S.A. 1972.
29

ANEXO

Barra engastada – livre

d2 y M
=- (1)
dx2 EI
M0 -yF+M=0
M=yF-M0
M=yF-Fδ (2)

(2) em (1):
d2 y Fy Fδ
= -
dx2 EI EI
d2 y
=-K2 y+K2 δ
dx2
d2 y 2
2
+K y=K2 δ (3)
dx
Sendo (3) uma Equação Diferencial não homogênea.

Figura 32 - Elástica barra engastada – livre: Momento em x

Solução:
y=yh +yp
yh =C1 senKx+C2 cosKx (4)
yp =Ax2 +Bx+C
* y'p =2Ax+B
y''p =2A

Em (3):
2A+K2 (Ax2 +Bx+C)=K2 δ
30

A=0; B=0; C=δ→yp =δ

Solução:
y=C1 senKx+δ (5)

Condições de Contorno:
→0=C2 +δ→C2 =-δ
x=0
1a +
y=0
Giro em (0) é 0 y' =KC1 cosKx+δKsenKx=0
2a , x=0 → C1 cos0°=0
y=0 C1 =0
a x=1→ y=-δcosKx+δ
3 +
y=δ δ=-δcosK1+δ
δcosK1=0
δ≠0, cos K1=0
π
K1= +nπ;n=0,1,2…
2

Quando n=0, que é a 1ª situação que nos interessa:


π
K1=
2
π F π2 π2 EI
K= → = 2 →Fcr = 2
2l EI 4l 4l

Barra engastada-articulada

d2 y M
=- (1)
dx2 EI
H௫ -yF+M=0
M=yF-Hx (2)

Figura 33 - Elástica barra engastada-articulada: momento em x

(2) em (1)
31

d2 y -Fy H
= + -
dx2 EI EI

Chamando:
F
K 2=
EI
Vem:
d2 y 2 Hx
+K y= (3)
dx2 EI

Que é uma equação diferencial não homogênea. Assim:

y=yh +yp
yh =C1 senKx+C2 cosKx
yp =Ax2 +Bx+C
* y'p =2Ax+B
y''p =2A

Em (3):
.
2A+K2 (Ax2 +Bx+C)= -


H H x
A=0; C=0; B= 2 →yp = EI 2 (4)
EIK K

Condições de contorno:
x=l
1a + →C2 =0
y'=0
H
 y'=KC1 cosKx+ =0
 Giro no engaste EIK2
2a x=l →
 y'=0 H
 C1 =-
 3
EIK cosKl
a x=1→ -
H H
senKl+ l
3 +
y=δ EIK cosKl
3
EIK2

tg K1=Kl (solução gráfica)


daí: Kl=4,454
32

Figura 34 - Solução gráfica

4,454
K=
l
4,454 2 π2
Fcr = ( ) EI≅2 2 EI
l l
Com:
l
lcr =
√2

Barra Engastada-Engastada

Solução Prática
A barra, seu engastamento e os apoios são simétricos em relação ao eixo horizontal
(1-1) que passa por (C). Esta simetria leva à condição da cortante em (C) ser nula, e as
componentes horizontais também.
A parte AC deve ser simétrica em relação ao ponto D, e desse modo em (D) o
momento fletor é nulo. Vale também esta consideração para parte CF. Ainda sabemos que o
momento fletor é nulo nas articulações de uma barra bi-articulada. Portanto a solução do
problema é determinar Fcr de uma barra bi-articulada de comprimento l/2 (Figura 35c).
Assim:
4π2 EI
Fcr = 2
l
33

Figura 35 – Esquemas da solução prática

Solução Matemática

Figura 36 - Elástica e momento

M=M0 -Fv
d2 v
EI 2 =-Fv+M0
dx
d2 v F M0
+ v=
dx2 EI EI

Solução particular:
M0
vp =
F
2 F
K=
EI
vh =A1 cosKx+B1 senKx → solução homogênea
v=vh +vp → solução geral
34

Condições de contorno:
M0
→C2 =-
x=0
1a 
v=0 F
a x=0
2  →C1 KcosKx-C2 senKx=0
v'=0
M0
C1 =0→v=C2 cosKx+
F
M M
→-
x=l 0 0
3a  cosKl+ =0
v'=0 F F
M0
(1-cosKl)=0
F
cosKl=1

Daí:
Kl=n2π
n2 4π2
K2 = 2
l
n = 0,1, ...
Para n=1:
4π2 EI
Fcr =
l2
M0 K

x=l
4a  senKl=0
v'=0 F
senKl=0
Kl=nπ→n=2
(3a )

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