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Sinopse

Todo mundo já quis ter uma fada madrinha, certo? Bom, Viola descobre
que tem uma — ela só precisa assinar um contrato e todos os seus
sonhos e fantasias românticas se tornam realidade! O que poderia dar
errado? Que tal o detalhe que ela agora precisa competir em um jogo
perigoso contra outras mulheres para conquistar o coração de um
príncipe deslumbrante? Que comecem os jogos!
Classificação etária: 18+
Aviso de conteúdo sensível: Estupro

Livro sem Revisão


E-book Produzido por: Galatea Livros e SBD
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Livro Disponibilizado Gratuitamente! Proibida a Venda


Capítulo 1
Os poços do Inferno arrotaram e encheram a humanidade com o
cheiro pungente de ovos podres que abrigavam as brasas de Hades.
Corações sangrando.
Quantos graus está fazendo? Duzentos?
Limpo as gotas de suor da testa e respiro com dificuldade o ar úmido
que parece me sufocar como punhos carnudos agarrando a minha
garganta delicada, me observando com um deleite maligno enquanto eu
tento respirar, lutando pela minha vida.
Se esse ar podre e pesado fosse feito de carne e osso, eu estaria
tentando arrancar os seus olhos, lutando como uma gata selvagem, para
me livrar desse aperto sufocante que sinto ao redor do meu pescoço.
Não sei bem de que tipo é esse demônio almiscarado e úmido, mas
tento dar um chute na virilha dele, mesmo assim. Não adiantou, esta
criatura fantasma não se intimidou enquanto batemos contra a parede,
em uma batalha que estou perdendo rapidamente.
Mas eu não morro. O ar úmido desagradável me permite respirar um
pouco, apenas o suficiente para me manter viva e continuar passando por
essa tortura.
O gemido alto do meu ar-condicionado parece se transformar em
uma gargalhada estridente, revelando o seu verdadeiro eu, um dos vilões
dessa cena! Ele nunca teve a verdadeira intenção de esfriar a sala.
As mentiras — a traição.
Eu sou dramática?
Isso é relativo. Digamos que se você me comparar com uma pessoa da
classe alta Karen jantando em um restaurante, que acabou de receber a
conta, sem perceber que propositalmente foi cobrado a mais, então eu sou
perfeitamente normal.
Na verdade, estou meio tentada a ligar o noticiário para ver se o sol
está prestes a causar um desastre. A cidade de Nova Orleans sempre fica a
dois passos do Inferno no mês de julho.
E não adianta eu morar no último andar de uma velha casa vitoriana.
É quase como se a antiga madeira mal-assombrada tivesse um pacto com
o diabo, para reivindicar as almas que habitam essa fornalha.
Mas, eis o verdadeiro problema em questão.
Há uma coisa pior do que o inferno que flutua em torno de Nova
Orleans.
Estou segurando uma carta, uma carta dourada brilhante, veja bem,
que foi colocada por baixo da minha porta hoje de manhã. Quando ainda
estava escuro lá fora. Era cedo pra caramba, pessoal! Da última vez que
verifiquei, o serviço postal não entregava cartas às quatro da manhã por
baixo da porta das pessoas.
Por quê? Porque isso seria absurdo e não é assim que eles conduzem
os seus serviços. Eles trabalham em horários corporativos normais e
adequados.
Somente pessoas mentalmente instáveis entregam cartas às quatro da
manhã, passando-as por baixo da porta da frente, provavelmente
exalando uma respiração pesada e excitada.
Você sabe do que estou falando: perseguidores, assassinos em série,
Psicopatas.
Freddy.
A carta seria assim: Surpresa, eu estou te vendo! Algo completamente
sinistro, e isso seria o início de um filme de terror de baixo orçamento.
Eu sairia correndo, tentando fugir, e do nada tropeçaria nos meus
próprios pés, e seria brutalmente morta por um machado misterioso.
Mas não, não é o que se lê na carta, nem perto disso.
Ela irradiava luz. Por um segundo, eu achei que estava sendo
convidada para a fantástica fábrica de chocolates do Willy Wonka,
segurando o bilhete dourado.
É muito mais estranho do que isso, eu juro para você. É por causa
dessa carta que agora eu duvido de minha estabilidade mental.
Eu me balanço enquanto olho para a carta fantasmagórica que
ilumina os meus dedos e metade do meu braço. O papel é macio como
uma pena, e posso ouvir um tilintar fraco, como se você sacudisse um
sininho, bem lentamente.
Aparentemente, pessoal, a própria Fada Madrinha sentiu a
necessidade de escrever para mim e me convidar para uma grande
aventura romântica. Para conhecer um príncipe encantado escolhido
pelo destino.
Coloco a mão quente na minha testa em chamas e leio a carta
novamente, apenas para confirmar que eu entendi corretamente,
sentindo uma histeria crescer dentro de mim.
Querida Viola Del Vonsula,
Parabéns para você.
Se você estiver de pé, sugiro que se sente. Você foi escolhida aleatoriamente
para participar do aniversário de 200 anos da Fada Madrinha, Ltda.
Embora esta seja uma escolha aleatória, eu sei muito sobre você —
possivelmente mais do que você sabe sobre si mesma. Eu te vejo agora, lendo
esta carta, com uma carranca em seu lindo rostinho.
Mas fique tranquila, Viola, eu quero o melhor para você, e isso é muito
mais do que você está acostumada.
Eu sei que você viveu uma vida de medo, sem família, ficando ór ã muito
cedo. Sei que você era uma criança pobre, sofrida, que teve que crescer muito
rápido.
Mas você já foi uma sonhadora, cheia de esperança e entusiasmo, vendo a
beleza em tudo e dando à humanidade o benefício da dúvida. Na verdade,
uma garota maravilhosa por dentro e por fora.
Mas agora você chafurda na sua própria paranoia. Se misturar com a
turma errada pode ser devastador para qualquer pessoa.
Sua inocência está conduzindo você por um caminho de escuridão e
desespero, eu temo. Isso me entristece, como eu sou a Fada Madrinha, eu
desprezo uma história tão trágica.
Mas eu tenho notícias brilhantes, Viola. Eu, a Fada Madrinha, tenho uma
oferta que pode mudar a sua vida para sempre. Deus sabe que você precisa
disso. Você só pode melhorar de vida, querida menina.
Estou lhe dando a chance de encontrar o seu final feliz.
Em nome da empresa Aphrodite Ltda., estou convidando você para
competir contra quatro outras mulheres por uma oportunidade de viver feliz
para sempre.
Lembre-se de que esta oferta é uma oportunidade única na vida, cheia de
aventura, perigo e o prêmio final será o amor verdadeiro.
O amor é o segredo da vida, Viola, e pode ser seu. Por favor, pare um
momento e imagine se apaixonando por um príncipe bonito e arrojado.
Eu sei que o seu primeiro instinto é jogar esta carta fora, mas por favor,
não faça isso, querida menina. Pelo amor de Deus, esta é sua única chance de
ser feliz. Confie em mim, eu sei de tudo. Eu mencionei que as pessoas querem
te ver morta? Muito desconcertante.
Eu sou onisciente. O destino é a minha especialidade. Destino é o meu
hobby. Inferno sangrento, criança, eu sou a guardiã da emoção mais
poderosa de todas... o amor verdadeiro.
A escolha é sua.
Esta oferta vai durar até amanhã à noite, quando o relógio bater meia-
noite. Se aceitar, todos os detalhes e perguntas serão fornecidos para garantir
o entendimento completo e total.
A reunião acontecerá no bairro French Quarter com a presença de um
homem alto e charmoso, vestido de branco. Por favor, não se atrase, ou esse
sonho de princesa não passará de uma abóbora podre rolando.
Ao aceitar esta oferta, você concordará em pagar por essa experiência
entregando metade de todos os seus bem, incluindo, mas não limitando-se a:
Contas bancárias, investimentos e poupança, joias, veículos, roupas,
sapatos, eletrônicos, imóveis, animais e pertences dos seus bichinhos. Se você
falhar, todos os laços familiares serão quebrados e você ficará sozinha no
mundo. Todos os competidores viajarão para o mesmo reino; a escolha de um
Reino é aleatória, feita por uma roda giratória do destino.
Esta viagem é conhecida por causar vômitos, diarreia, náusea, tontura,
mal estar, sonolência, tremores incontroláveis, fadiga e, em casos raros,
morte.
Tudo que envolve o desafio do conto de fadas dependerá exclusivamente
do destino, e todos os aspectos serão imprevisíveis e potencialmente perigosos,
até mesmo resultando em sua morte.
Cada competidora terá sua chance na roda de fiar, onde descobrirá qual
será o seu destino nos próximos três meses do desafio.
Seja a competidora uma princesa ou uma mendiga, elas terão que fazer o
melhor para atrair os olhos e o coração do príncipe.
Boa sorte.
Fada Madrinha
Fada Madrinha, Presidente e CEO, Fada Madrinha Ltda.
— Onde os sonhos se tornam realidade.
Você entendeu o que eu quis dizer?!
Esta senhora sabe algumas coisas sobre a minha vida, e tenho certeza
de que não contei a ninguém as minhas escolhas erradas. Isso ficou
sempre entre eu, eu e eu.
E, para piorar, eu não tenho amigos e família que sintam a minha
falta caso eu suma.
Meus pais adotivos só me amavam quando chegava a hora de pedir
auxílio para o governo ou quando eles precisavam de uma babá para os
seus outros sete filhos quando eles saíam para comer alguma coisa.
Algum tempo se passou e eu fiquei ali, olhando, o meu coração estava
batendo forte com indecisão. Isso só faria sentido se o convite da carta
fosse mesmo genuíno. O que definitivamente não é. Eu ri.
Ok, Viola, não vamos pegar o ônibus para a Cidade dos Malucos ainda.
Vamos listar os fatos e analisar isso logicamente:
— Esta carta está brilhando. Isso parece impossível.
— Esta carta está brilhando e foi escrita com uma fonte cintilante e
desconhecida. Parece sobrenatural.
— A Fada Madrinha — sabe coisas que ela definitivamente não
deveria saber sobre a minha vida. Isso é muito perturbador.
— Eu ouço sons de um sininho tocando.
— Fada Madrinha Ltda, soa um pouco como Jogos Vorazes — mas
para os românticos irreparáveis.
— Eu sou uma amante secreta do filme Anastasia, não conte a
ninguém.
— Uma reunião à meia-noite para encontrar o Príncipe Encantado
pode ser um golpe.
Eu fiquei pensando sobre isso.
Se isso for uma pegadinha do malandro ou um estudo científico para
testar mulheres idiotas e ingênuas, então eu posso entrar para a
estatística. Talvez eles estejam se oferecendo para nos aconselhar? Quem
sabe eu não posso até me beneficiar com isso?
Esse poderia ser um estudo aprovado por um médico famoso! Quer
dizer, eu sempre quis receber aconselhamento, esse uma espécie de
desejo oculto, na verdade.
Eu secretamente quero que os médicos olhem para mim e me digam
se eu realmente sou psicótica porque fui maltratada durante toda a
minha vida, então nada é minha culpa, e daí nós choraríamos juntos.
Eu poderia quebrar as minhas barreiras emocionais!
Eu poderia ser enviada para uma clínica de reabilitação super
agradável, à beira-mar.
Vou fazer essa loucura, então?
Meia-noite de hoje.
Bem, fada madrinha, você pode contar comigo. Eu sou maluca o
suficiente para aparecer e representar.
Eu olhei de volta para a carta brilhante e não consegui tirar um
sorriso bobo do meu rosto.
Acabei de comprar uma passagem para a Cidade dos Malucos.
Ou uma cama macia em um centro de reabilitação.
Capítulo 2
23h34.
Eu já deveria ter saído.
Não sei bem porque estou atrasada.
Respiro fundo e olho para o meu reflexo, com uma sensação de enjoo
no estômago. Eu parecia mentalmente estável?
Eu franzo a testa e observo o meu olhar descolorido me encarando,
no espelho do meu banheiro minúsculo. Definitivamente,
provavelmente, não realmente. O que você vê quando realmente dá uma
boa olhada além do meu rosto bonito e longos cabelos negros?
Eu costumava pensar que a minha bendita aparência exótica me
levaria longe na vida, mas eu a verdade é que ela produziu efeitos
adversos. Olha, antes que você tenha uma ideia errada de mim, eu sou
grata. Sou mesmo. Eu agradeço a minha aparência à minha mãe biológica
que me deixou no orfanato de Water Crest em Houston, no Texas.
Mas, de certa forma, acho que o fato de ser bonita acabou fazendo eu
negligenciar outras áreas nas quais eu deveria ter sido forte, como o bom
senso. Ou a inteligência para viver nas ruas.
Se eu pudesse, diria para a minha versão mais jovem que se envolver
com o filho bonito de um traficante de drogas muito conhecido deveria
ser evitado custe o que custar.
Porque eles não aceitam separações muito bem. Eles querem
encontrá-la e trazê-la de volta para conversar.
23h49 — Oh não, — eu digo para mim mesma.
Meu coração começa a bater loucamente enquanto corro para pegar
minha bolsa e o iPhone. Pego a carta, que agora não brilhava mais, e
coloco na minha mochila de leopardo e faço uma oração enquanto corro
porta afora.
Eu realmente espero que a carta brilhante não tenha sido uma
invenção da minha imaginação, ou eu nunca me permitirei esquecer isso.
Vou precisar de ajuda para encontrar esse cara em oito minutos. Meu
macacão violeta diz que sou fofa e acessível, eu poderia encontrar um
cara indefeso para me acompanhar.
Felizmente, eu moro só a uma quadra do French Quarter. Devo ser
capaz de encontrar ajuda. Eu sou uma gatinha, pelo amor de Deus —
tipo, eu sou adorável.
Donzela em perigo.
5 minutos depois...
Errado.
— Com licença... — Me diz agressivamente um cara que parece ser
um vampiro, usando uma capa roxa brilhante e maquiagem excessiva.
— Ei! — Saio do caminho dele e olho pra ele como se tivesse raios
laser nos olhos. Ele terá uma morte dolorosa esta noite. Ou talvez o
carma pelo menos dê para ele uma diarreia explosiva.
Alguém deve saber de alguma coisa! Corro até um grupo de turistas
de meia-idade que parecem estar aproveitando as bebidas nos seus copos,
todos exibindo sorrisos e gargalhadas.
— Oi, vocês poderiam me ajudar?! — Tento mostrar a eles que não
sou maluca: — Preciso encontrar um homem encantador, sei que parece
estranho, mas isso faz parte de uma competição.
Eu aceno a minha mão enquanto explico, — Eu acho que ele estaria
usando um temo.
Eles passam por mim como se eu fosse louca!? Eu cerrei meus dentes,
com vergonha. Aquele homem com a câmera está usando meias brancas
com sandálias de velcro.
Um verdadeiro crime contra a humanidade.
O carma realmente terá um trabalho difícil esta noite.
Eu estou por minha conta.
Dois minutos e meio se passaram, sem sorte. Não vejo nenhuma placa
dizendo: Por aqui, senhoras malucas! Fada Madrinha Ltda.!
O que diabos eu estava pensando, achando que seria suficiente só dez
minutos para encontrar este homem misterioso? Afinal, o que tudo isso
quer dizer?
Sou uma procrastinadora horrível, sempre esperando até o último
minuto para me decidir. Gosto de pensar que isso mantém as coisas
empolgantes. Vou continuar dizendo isso a mim mesma e não entrarei
em pânico.
Estou esbarrando nas pessoas a torto e a direito e para piorar, piso em
um chiclete quente que agora faz um som pegajoso toda vez que meu
salto preto atinge o chão.
Perfeito.
Eu verifico meu telefone.
11h59
— Eu virei abóbora! — Eu grito em derrota, sentindo o fracasso
infiltrar-se em cada centímetro do meu corpo. Eu li a carta novamente, e
ela não me deu instruções claras. Filha de uma égua!
— Eu virei uma abóbora podre, — eu gemo para mim mesma.
Deixe as lágrimas caírem loucamente.
Eu estava me debulhando. Normalmente não sou tão emotiva.
Mentira.
Uma senhora que estava passando com o filho apertou o passo para
passar por mim mais rápido, como se eu pudesse estender a mão e
agarrá-lo como uma lelé da cuca!
— Oh, ótimo! — Eu saio do caminho quando eles passam. — Eu sou
uma ameaça chorona, — eu reclamo. Eu fungo, mas que tipo de mãe sai
na rua com seu filho essa hora da noite?
Sinto uma mão tocar o meu braço. Eu me viro e vejo uma ruiva alta e
adorável, o seu cabelo cortado em uma linha reta sobre os ombros.
Seu vestido branco de verão é lindo, e seu sorriso ainda mais bonito.
Ela parece uma moça bela, recatada e do lar.
— Posso te ajudar? — Eu digo, com mais raiva do que gostaria.
Não estou de bom humor, senhora.
— Reparei na carta que você está segurando. — Ela acena para o papel
que eu tinha em mãos. — Parece que nós duas estamos tendo problemas
para encontrar o Príncipe Encantado.
O quê?!
O alívio me lavou como uma cachoeira. Portanto, não sou a único
idiota que caiu nesse golpe. — E meia-noite, — eu digo, em derrota.
— Bem. — Ela começa enquanto olha ao redor das ruas
movimentadas, — Eles não podem ficar bravos se nós nos atrasarmos,
com instruções como essas. Tanto faz, isso é bobo de qualquer maneira.
Ela ri e me olha como se procurasse desesperadamente confirmar os
seus pensamentos.
E realmente, isso é bobo. — Acho que me sinto um pouco
envergonhada só de procurar por ele. A curiosidade foi maior que eu.
Ela ri e solta um grande suspiro e começa a abanar o rosto. — Eu sei, e
está tão quente esta noite. Aposto que eles estão nos filmando agora
mesmo. Provavelmente somos as únicas que apareceram.
Eu me juntei porque não havia mais nada a fazer do que rir de nós
mesmas.
Procuramos, talvez, uma câmera escondida ou um grupo de pessoas
olhando em nossa direção e apontando.
Mas o que eu não esperava era ver um homem muito bonito vestido
com um temo branco impecável. Ele estava parado não muito longe de
nós, no beco do outro lado da ma.
Nossa risada morre quando nós duas olhamos para ele, sérias.
Juro que olhei naquela direção antes, e ele não estava lá com um
sorriso brilhante direcionado para nós. É ele?!
Estou tonta e aquele formigamento na boca do estômago voltou, meu
pulso estava batendo forte.
— Você o vê também? — Eu quase não pergunto. — O homem.
— Claro que sim.
— O que nós fazemos? — Arrisco um olhar para ela, com meu pulso
martelando.
— Mandamos beijinhos para ele? Eu não faço ideia, — ela sugeriu sem
fôlego, sua voz estava vacilante.
Estou chocada demais para sorrir. Olhando de volta para o homem,
meu cérebro percebe que ele é incrivelmente bonito, parado ali com uma
mão casualmente enfiada no bolso do temo.
Ele está encostado em uma porta, apenas olhando para nós com um
sorriso divertido que é totalmente charmoso.
— Você acha que ele gostaria disso?
— Do quê?
— Que a gente mandasse beijinhos. — Ela agarra a minha mão e olha
para mim, me puxando.
— Devíamos ir até lá.
Acho que eu disse algo, mas se perdeu no ar úmido da noite.
Andar até ele não acalmaria os nossos nervos, e dá pra sentir o
nervosismo da ruivona pelo jeito que ela está agarrando minha mão, com
muita força. Ele sorri brilhantemente para mim, depois para ela. Seu
olhar pousa em mim novamente, e algo estranho cintila em seus olhos
azuis perfeitos que faz um arrepio deslizar pelas minhas costas.
— Vocês, meninas, estão atrasadas. — Sua voz é suave e adorável. Seu
cabelo loiro está penteado para trás perfeitamente e ele tem o rosto de
um príncipe.
Abro a boca para falar, mas não sai nada.
Minha mente está paralisada.
— Por favor, entrem. A fada madrinha odeia atrasos, — ele diz como
se estivéssemos falando sobre o tempo, algo completamente normal.
Ele abre a porta de madeira que dá para uma escada.
Está escuro lá em cima.
Estamos indo para um hospício? Será que os homens com uniformes
brancos são médicos que vão nos prender e nos colocar em uma sala
acolchoada e enfiar comprimidos em nossas gargantas?
— Ei, você vai nos estuprar? — Eu pergunto e fico corada.
Noção?
A ruiva empalidece ao meu lado e então olha para ele.
Eu acabei de dar a essa ideia para ele, não foi?
Mas sejamos honestas, ser estuprada por ele pode não ser tão ruim
assim. Eu poderia brincar de luta no início, mas depois me entregaria
totalmente.
Eu sou doente.
Ele vira o seu rosto chocado para mim e ri alto, mas não diz nada,
desaparecendo escada acima. — Vamos, senhoras.
Ela encolhe os ombros e segue atrás dele.
— Isso foi um sim? — Eu sussurro enquanto os sigo cegamente,
sentindo a minha pele formigar.
Ela se vira para mim enquanto subimos a escada escura. — Acho que
foi um talvez.
Aposto que posso fugir da ruiva se a merda for atirada no ventilador.
Ei, eu nunca disse que era uma pessoa nobre, essa é uma falha de
personalidade, estou trabalhando para melhorar. Nós chegamos ao topo
e ele abre uma grande porta de prata, e eu fico tensa, me preparando. Um
ar muito frio, incomum e maravilhoso nos atingiu. A visão diante de
mim rouba todo o ar dos meus pulmões.
O quê...
O quarto é espaçoso e completamente lindo, de cair o queixo. Acho
que ouvi a ruivona suspirar, colocando a mão sobre a boca.
Tudo é branco e azul celeste. Os pisos são de mármore branco
cintilante com redemoinhos cintilantes de um azul claro nos detalhes.
O teto é abobadado com pedaços de vidro cintilantes, e a área de estar
é requintada com sofás brancos ofuscantes e detalhes em safira.
A coisa toda não parece real. Respiro fundo e tento contar até dez,
mentalmente.
— Bem-vindas à Fada Madrinha Ltda., senhoras. Por favor, façam o
check-in na recepção — o Príncipe Encantado diz em uma voz cantante.
— Por favor, vão logo.
Eu olho para ele, de boca aberta. — Check-in?
Ele aponta para uma grande mesa em forma de U com uma linda
mulher sorrindo para nós.
Ela está digitando em um computador e tem um fone de ouvido, está
conversando com alguém do outro lado da linha. Ela está usando um
vestido todo branco, perfeitamente adequado para o almoço no castelo
real.
Seu cabelo dourado balança enquanto ela digita, parece que ela gosta
muito do seu trabalho.
Está rolando uma vibe assustadora de secretária assassina.
Eu percebo a minha histeria, olhando para tudo como uma ameaça
em potencial. Caminhamos até ela, e ela aponta para o papel cintilante e
a caneta, enquanto continua falando.
— Sim, elas acabaram de chegar — uh-huh, — ela faz uma pausa,
ouvindo, — é claro, eu sei que elas estão atrasadas. — Ela olha para nós
com um olhar bravo. — Vou fazer o check-in rapidamente então — eu
entendo. Vou levá-las de volta, minha senhora. Eu sei que a pontualidade
é essencial.
Ela olha para nós e força um sorriso. — Por favor, preencham os
dados e sentem lá, e depois o Encantado trará todas para a arena.
Arena?
Que diabos?
Este lugar não é grande o suficiente para isso, e eu não sou tão tonta.
Eu assino meu nome e noto que há outros cinco nomes na lista. Sete
garotas? Achei que a carta dizia cinco?
Hmm, fascinante. Eu estava criando mais expectativas para esse golpe
publicitário, confesso. Viro uma esquina e vejo cinco mulheres adoráveis
sentadas em sofás brancos, parecendo tão nervosas quanto eu.
A ruiva deu um pequeno aceno para elas, e nós nos sentamos juntas
no único sofá vazio ao lado de uma mesa de refrescos. Ok, isso é
estranho.
— O que é este lugar? — A ruiva sussurra.
Eu engulo em seco e encolho os ombros, olhando ao redor da bela
sala de estar. — Isso está ficando mais estranho a cada segundo, — eu
sussurro.
A ruivona fala com as outras garotas. — Oi. — Ela limpa a garganta,
— Meu nome é Cherie, todos vocês receberam uma carta esta manhã? —
O nome dela é Cherie, anotei mentalmente.
Todos elas acenam com a cabeça e murmuram algo que é inaudível.
Uma esnobe garota de cabelos loiros se levanta para olhar em volta,
com seus saltos cor-de-rosa estalando no mármore.
Eu digo esnobe porque ela tem aquele ar de garota má. Cabelo loiro
perfeito, corpo de Barbie, vestido curtinho rosa e uma cara de piranha
malvada que é ainda melhor do que o meu.
Ela devia ter anos de prática. Bravo.
— Meu nome é Laura Rogers. Eu tenho certeza que você já ouviu
falar do meu irmão. Luke Rogers? Ele é o arremessador do time Red
Socks. — Ela sorri, parecendo muito presunçosa.
Laura examina suas unhas e caminha pela sala, ouvindo os elogios de
todos. — Espero que tenha algo a ver com a TV.
— Eu não assisto beisebol, é tão chato, — eu falo antes de que meu
filtro defeituoso possa entrar em ação. Eu sinto a Cherie me lançar um
olhar, em seguida, um sorriso, cobrindo o sorriso com a mão.
Laura me observa e leva um tempo para me olhar de cima a baixo. Ela
levanta uma sobrancelha fina e caminha até mim, com os lábios
contraídos. Ela tem lábios muito finos, eu noto, que se achatam em uma
única linha.
— E quem é você? Uma vampira? A rainha das trevas? — Ela ri
levemente.
Isso não é nem engraçado.
Eu resisto a revirar os olhos. — Meu nome é Viola Spear, e estou aqui
por pura curiosidade, — murmuro. Não sei porque acabei de dar a ela um
sobrenome falso.
— Tanto faz, — ela diz de volta. — Não é por isso que estamos todas
aqui?
Uma garota negra que está sentada no sofá à minha frente se inclina
para frente. — Olá, sou Destiny. Este lugar me dá arrepios — é
perfeitinho demais. Alguém mais está se sentindo assim?
Ela ajusta a calça jeans e a blusa branca. Ela usa lindos sapatos
prateados, noto.
A garota ao lado de Destiny, com cabelo curto platinado, acena com a
cabeça em concordância. Ela levanta a mão.
— Eu sou a April. Estou um pouco nervosa com isso aqui. Espero que
não haja nenhum teste ou algo parecido. Não sou bom na frente de
multidões, tipo, vou ter um ataque de pânico.
— Estamos em um documentário ou cenário de um filme. — Laura
fala aborrecida com a incompetência de todas.
Uma morena alta ri. — Não vamos esquecer o quão gostoso é o Sr.
Encantado, — ela sussurra alto o suficiente para todos nós ouvirmos e
olha para o lado. — Ah, e eu sou a Ivy, ex-fuzileira naval.
Todos nós murmuramos algo sobre o seu serviço excepcional ao
nosso país.
A última garota com pele marrom clara e um coque alto levanta a
mão para se apresentar, mas o Príncipe Encantado entra.
A boca de todas se fecha e os olhos se arregalam. Meu coração bate
loucamente, como uma dançarina de sapateado bêbada que acabou de
tomar cinco latinhas de energético.
Ele sorri e coloca a mão na calça branca.
— Senhoras, estamos prontos para todas vocês entrarem na Arena,
onde todas as suas perguntas serão respondidas. Estamos um pouco
atrasados, então, por favor, não vamos deixar a Fada Madrinha esperar
nem mais um segundo.
Eu ouço uma risadinha abafada à minha esquerda.
Ele olha para todas nós. Um olhar severo cruza suas belas feições
enquanto ele nos estuda.
— Por favor, levem isso a sério. O que vocês estão prestes a ver é real.
Todas vocês foram escolhidas pela mão do Destino por uma razão, e
antes de entrar, vocês devem respirar fundo e encontrar a sua calma
interior.
Eu franzo a testa, não gosto desse papinho.
Se entrarmos em uma masmorra sexual como aquela garota de
Cinquenta Tons, estou pronta para pisotear a Laura e sair correndo se
precisar. E sério, o mais apto sobrevive, eu posso lutar como uma gata
selvagem, se for preciso.
Todas nós nos alinhamos e seguimos o Sr. Encantado através de uma
grande porta deslizante de vidro.
Ok, preciso explicar isso lentamente para que você entenda o que eu
vejo quando passo pela porta.
Entramos em uma grande área de assentos em forma de U, como algo
que você veria em uma universidade, uma sala de aula com assentos
altos.
Eu acalmo o meu coração acelerado enquanto me agarro nas costas
de uma cadeira.
O problema é...
O problema é que onde estariam um quadro-negro e uma parede, não
há nada. Não há nada atrás da grande mesa branca e do pódio.
Não, não é que não tinha nada. O que diabos estou dizendo?!
Eu acho que vou vomitar.
Atrás da mesa estava a droga do espaço externo.
Caso você não tenha entendido isso, atrás da mesa onde deveria haver
uma parede está o ESPAÇO EXTERIOR.
Estou olhando para o grande abismo negro que é o nosso universo.
Como se alguém tivesse cortado uma nave espacial ao meio e
estivéssemos no limite.
Vejo estrelas cadentes distantes, cometas e um planeta enorme que
está muito longe, de onde é possível ver a atmosfera se movendo ao seu
redor.
Ah, e há essa brisa. Posso ver pequenas mechas do meu cabelo fluindo
com a corrente de ar.
Sinto a mão de Cherie em meu braço, apertando, seus dedos ficando
brancos enquanto seu braço treme. Estou entorpecida com a dor de seu
aperto mortal.
Eu lentamente olho para cima e vejo o Sr. Encantado descendo as
escadas de mármore claro até o nível inferior, onde fica a grande mesa.
Meu Deus, há até uma maçã vermelha brilhante em cima da mesa,
como se estivéssemos na escola primária.
— Senhoras! — Nos disse com as mãos estendidas. — Por favor,
sentem-se onde quiserem.
— Eu sei que o que vocês estão vendo não parece real, mas vocês
descobrirão logo que esta sala é a menor de suas preocupações. Eu digo
isso com todo o meu coração. Sentem
Ele olha para todas na sala enquanto nos sentamos com as nossas
pernas trêmulas. Seus olhos pousam em mim por um segundo a mais do
que nas outras.
Tenho a sensação bizarra de que ele sabe algo a meu respeito, mas
estou impactada demais para pensar nisso.
— Uma bebida será distribuída para permitir que todas vocês
absorvam isso, em um estado de espírito muito mais calmo. Vocês podem
recusar se quiserem, mas eu sugiro fortemente que vocês aceitem.
Ele gesticula para que duas mulheres usando roupas brancas entrem
com bandejas e nos sirvam um pouco de refrigerante rosa, em um copo
comprido.
— Isso vai ajudar vocês, senhoras, então, por favor, bebam. Não temos
tempo para ataques de pânico ou desmaios.
Destiny está com a cabeça entre as pernas, respirando com
dificuldade, e April está sentindo a pulsação no pescoço, muito suada.
Laura fica em silêncio, com os olhos arregalados e incrédulos.
— Viola? Posso oferecer-lhe uma bebida? — Ela se abaixa para me
entregar um copo, sem nem mesmo esperar por uma resposta.
— Sim, — digo sem hesitar. Já estou ferrado, então é melhor aceitar
que dói menos.
Eu olho para a minha direita, vendo Cherie e todas as outras
engolindo o refrigerante em goles desesperados.
— Alguém tem medo de sermos estupradas? — Eu continuo, nem
mesmo tenho certeza se falei isso em voz alta. — E um medo real, gente.
Vejo uma estrela cadente distante, provavelmente a quilômetros e
quilômetros de distância, fazendo a minha respiração engasgar. Ok,
estou perdendo o controle rapidamente. Sinto o meu olho esquerdo
começar a se contorcer. De baixo para cima.
Eu engulo a bebida com sabor frutado e reprimo um arroto causado
pelo gás do refrigerante.
Bem, agora não tem mais volta. Acabei de tomar a pílula azul, e ela está
percorrendo meu sistema. Posso sentir o meu corpo zumbindo, meus
músculos relaxando.
Vou agora entrar na matrix.
Ouço o som do computador eletrônico enquanto sou sugada para
uma realidade diferente.
— Todas vocês vão se sentir mais calmas em cerca de dois minutos, —
diz ele enquanto sorri para todos nós, com os braços cruzados sobre o
peito. Seus olhos azuis brilhantes estão nos observando.
— Avisem-me quando todas sentirem que podem se concentrar e
começaremos.
Sr. Encantado se encosta na mesa e acende um charuto como se
estivesse em casa, sentado diante da lareira. Ou em um hotel sofisticado.
Eu respiro e sinto os meus nervos se acalmarem; uma onda de calor
se espalha por mim como um lento rio de lava. Respiro fundo
novamente, meus braços param de tremer e meus olhos conseguem se
focar.
OK...
OK.
Eu consigo fazer isso. Eu olho ao redor, vendo todas as outras
relaxando, sentando-se mais eretas em suas cadeiras. O que havia
naquela bebida? Eu me sinto ótima. Agora posso desfrutar dessa vista
fascinante diante de mim.
Isso é real, inacreditável. Todo esse tempo a carta era genuína.
— Tudo bem, posso ver que todas vocês estão prontas para começar.
— Ele fala com um sorriso e estende o braço para o alto. — Senhoras,
apresento a sua Fada Madrinha.
De repente, uma porta se abre e uma mulher deslumbrante passa pelo
batente. As estrelas e os planetas são apenas uma ilusão, então? Que
tecnologia incrível.
Seu vestido azul petróleo brilha e seu cabelo prateado está preso em
um coque no topo de sua cabeça. Ela parece uma celebridade dos anos
1950.
O vestido flui na cintura justa e para abaixo do joelho, como se ela
usasse anáguas. O decote que deixava os ombros de fora era elegante,
provavelmente ela era a inveja de toda dona de casa de família
tradicional.
Ela parece uma versão de Meryl Streep no filme O Diabo Veste Pr ada.
Ela parece tão intimidante.
Sua expressão enquanto ela caminha é de absoluta seriedade. Não
acredito que estou olhando para a lendária Fada Madrinha. Nossa, a
realidade é mais estranha do que a ficção.
Ainda não há sorriso no rosto dela, nenhuma saudação feliz como
tinha feito o Sr. Encantado. Ela olha para ele com uma expressão quase
satisfeita em seu rosto.
— Encantado, estamos prontos para começar? — Ela pergunta
enquanto examina a sala, com seu olhar pousado no meu.
Eu prendo a minha respiração.
Tinha alguma coisa no meu rosto?
Ela inclina a cabeça e acho que vejo um esboço de sorriso. A Fada
Madrinha olha para trás, para o Sr. Encantado, e ele dá uma piscadela
para ela e sopra um rastro de fumaça. — O palco é seu.
A Fada Madrinha acena com a cabeça e dá alguns passos em nossa
direção, com seu vestido cintilando. Ela faz uma pausa, como se estivesse
organizando os seus pensamentos.
— Preciso de toda a sua atenção.
Ninguém diz uma palavra.
Vamos agora descobrir porque estamos aqui.
— Presumo que todas leram a carta enviada a vocês esta manhã. Cada
uma de vocês foi escolhida para participar dos Desafios de Contos de
Fadas, como nossas agentes, — ela continua enquanto esperamos cada
palavra.
— Temo que, desta vez, as coisas sejam um pouco diferentes, devido a
circunstâncias infelizes.
Eu franzo a testa.
Ela respira fundo e coloca a mão na ponta do nariz.
— Tenho dirigido a Fada Madrinha Ltda, há duzentos anos, sempre
proporcionando um feliz para sempre. — Ela faz mais uma pausa, como
se estivesse tendo problemas para dizer o que quer.
Sr. Encantado dá um passo à frente, coloca a mão em seu ombro e
sussurra algo em seu ouvido. Ela balança a cabeça e sussurra algo de
volta, muito chateada.
O que está acontecendo? Eu me mexi na cadeira e dei uma olhada para
Cherie, percebendo que todas pareciam preocupadas. Cherie encolhe os
ombros e olha para os dois.
Vemos Encantado abraçá-la e a Fada Madrinha sai da sala com a mão
na boca, muito perturbada. Ele a leva até a porta, então se vira para nós e
exala.
— Desculpe-me pela demora. — Ele caminha até a mesa e se senta na
beirada.
— Eu liderarei a discussão hoje; a Fada Madrinha é muito ocupada e
tem compromissos que não pode faltar. Eu vou responder a perguntas
em breve, mas por enquanto, apenas ouçam.
Seu olhar azul pousa em mim, e depois em todas as outras.
— Se todas aqui concordarem com os termos, então vocês serão
transportadas para outro mundo, um reino.
— E sim, senhoras, nós podemos fazer isso. Existem muitas
dimensões diferentes, portanto, muitos planetas diferentes com mundos
funcionando exatamente como a Terra. Acreditem, porque é muito
verdadeiro.
Ele se posiciona atrás da mesa e começa a digitar, em seguida, acena
com as mãos no ar quando as imagens 3D são exibidas.
Em um instante, aquela visão do universo muda.
Eu suspiro.
Isso aqui é uma apresentação de Power Point muito turbinada.
Na tela 3D, digamos assim, são mostrados planetas, listados de um a
mil. A metade superior é rotulada em branco, a do meio em azul e noto
diferentes tons de vermelho na parte inferior. — Como vocês podem ver,
estes são os planetas que atualmente tem um acordo com a Fada
Madrinha Ltda. Este não é o discurso normal que damos às nossas
agentes, e por isso, peço desculpas.
— Nós precisamos de ajuda; desespero é um eufemismo aqui. A Fada
Madrinha Ltda, está prestes a fechar as portas. Esta é a melhor maneira
que posso descrever para que vocês entendam. — Vou explicar o porquê,
e vocês são o primeiro grupo a ouvir essas informações, diretamente dos
bastidores. Todo o propósito da empresa é controlar e manter a paz
dentro do universo.
— A Fada Madrinha responde a uma autoridade superior, que lhe deu
a responsabilidade de manter um certo nível de paz entre todos os
mundos.
Ele faz uma pausa enquanto olha ao redor.
— Todos os planetas estão conectados de uma maneira invisível, e
quando um deles abriga o mal, isso afeta os outros como magia negra, é
uma reação em cadeia de negatividade. Esse problema não está certo e
precisa ser administrado.
— A Fada Madrinha acredita que toda maldade pode ser curada pelo
amor; este sempre foi o seu slogan. Ela é uma mulher incrível, sempre
pensando que a redenção pode vir até para os mais corruptos.
Ele faz uma pausa e nota as nossas expressões ainda confusas.
— Precisamos manter cada planeta acima de cinquenta por cento na
relação de mal versus bem. Jamais poderemos eliminar o mal por
completo, mas podemos mantê-lo administrável com este sistema que
usamos há centenas de anos.
— Estamos falando sobre as pessoas que as habitam, suas almas
combinadas em uma porcentagem total. Se não pudermos fazer isso,
estaremos fora do mercado e um poder diferente assumirá.
Eu levanto a minha mão.
Ele olha para mim e acena com a cabeça.
Todos os olhos estão em mim. — Então, — eu limpo a minha
garganta, — estou supondo que a Fada Madrinha está fechando o
negócio porque está tendo problemas em manter o mal abaixo de
cinquenta por cento?
Estou tentando entender esse dilema complexo. Eu me envergonho,
esperando não ter feito uma pergunta estúpida.
Ele demora um pouco para responder. — Sim, estamos tendo um
problema com um planeta. Lembre-se de que cada planeta é julgado
separadamente, — continua Sr. Encantado enquanto aponta para a tela
3D.
— O último mundo no fundo é aquele em questão, aquele que está
marcado em vermelho brilhante. Como vocês podem ver, os outros
planetas acima dele estão sendo afetados por ele, começando a ficar
vermelhos também.
É
— É como uma infecção, ela se espalha a menos que possamos curá-
la, rápido.
— Eu entendo, — Laura deixa escapar em voz alta e olha em volta. —
Você quer que façamos o líder de um reino se apaixonar por uma de nós.
Para curar as suas almas malignas. Como somos romanticamente
heroicas.
Seus olhos estão iluminados de empolgação, — Então, somos como
heroínas — heroínas do amor.
— Para mudar o coração dos corruptos, — digo baixinho, ignorando a
Barbie.
— Sim. — Ele olha para nós. — Este planeta quer nos destruir. Já
tentamos três vezes e não conseguimos. Isso nunca aconteceu antes.
Todas vocês serão heroínas; mas essas não são missões fáceis.
— Serão três grupos como nós? — pergunta April, com uma cara
carrancuda.
— Correto. — Ele dá alguns passos na nossa direção e expira.
— Esta é nossa última chance, então vocês podem imaginar como a
Fada Madrinha está perturbada. Todo o trabalho da vida dela está em
jogo. Estávamos muito próximos da última missão, chegando a quarenta
por cento.
— Mas, infelizmente, isso não resolve, precisamos estar acima da
metade. O conselho das fadas é muito rígido quanto a seguir as regras
que mantêm este universo em equilíbrio.
— Nossa Fada Madrinha será substituída por outra.
— Uma fada que — não direi nenhum nome — que não acredita no
que nossa Fada Madrinha faz. A mulher é uma criatura vil e é uma das
irmãs de nossa Fada Madrinha.
— A nossa Fada Madrinha tem nome? — Destiny pergunta. — Ou
todas elas chamam-se Fadas Madrinhas?
Ele sorriu. — O nome dela é Zora, mas não fui eu quem te contou,
hein? — Ele se recosta na mesa. — A vadia da irmã dela é a Mildred. E
sim, ela é feia, exatamente como o seu nome.
Eu não consigo conter o riso. Então, nós temos uma rixa familiar
cheia de ciúmes, como acontece com muitos humanos.
Sem pressão.
Mas isso me confunde. Que conversa é essa de missões? Achei que
estávamos indo em uma aventura para encontrar o amor.
— Então, como assim vocês quase conseguiram na última missão? Ele
quase se apaixonou por uma garota na última missão? — Por alguma
razão, isso não fazia sentido para mim.
Ele ri e esfrega a nuca. — Nem mesmo perto disso. — Sr. Encantado
olha para mim e respira.
— A melhor forma que posso descrever, neste curto espaço de tempo,
é esta. Pense nisso como um videogame, e certas coisas que você faz te
dão pontos.
— Ter o governante principal se apaixonando pelos motivos certos é
como um aumento de quarenta por cento. Todo o resto dá menos
pontos. Como se livrar do bandido, resolver problemas de fome,
escravidão e mais outras coisas.
— Temos apenas três meses; isso é tudo que o destino nos permitirá
intervir. Portanto, se você decidir resolver os problemas mundiais em vez
de se apaixonar, esse é um caminho difícil de ser concluído em três
meses.
— Fora que é perigoso. Não me entendam mal; apaixonar-se também
é difícil, mas muito mais plausível, — continua ele, — e geralmente,
quando você conserta a fonte, corrige todos os problemas menores
também.
— É como uma reação em cadeia de alegria e felicidade. Portanto,
Zora acredita tanto no amor verdadeiro que conserta tudo usando-o.
Uau, isso é complicado.
É muito diferente dos filmes da Disney, mas ao mesmo tempo, é
igual.
— Então, na última missão elas tentaram consertar o mundo, não o
seu líder? — Eu pergunto, com a minha mente girando em todas as
direções diferentes.
— Elas não tiveram escolha, pois o seu líder não estava interessado
em nenhuma das mulheres que enviamos. Elas apenas tentaram fazer o
melhor com o seu tempo e tentaram ajudar Zora o melhor que podiam.
Ele olha para baixo como se estivesse perdido em pensamentos.
Laura riu e balançou a cabeça. — Esse cara é exigente, eu gosto de
homens exigentes e adoro desafios.
Sr. Encantado ergue os olhos e a encara, provavelmente tentando
descobrir se ela está falando sério.
— Eu acho que você pode dizer que ele é exigente. Tenho a sensação
de que ele está sempre conosco, sabendo algo sobre o que estamos
fazendo.
Ele se afasta da mesa e começa a bater palmas. — Esta é a hora de
falar das regras. Temos muito pouco tempo para fazer isso porque o
conselho nos deu apenas o dia de hoje para enviar outra equipe.
Acho que o ouvi soltar uns palavrões, baixinho. Sim, ele fez isso, este
Sr. Encantado não está feliz.
— Cada uma de vocês estará nas mãos do Destino.
É assim que funciona, para manter o equilíbrio, devemos seguir o que
o destino dita para nós. — Ele estende a mão e o chão vibra.
Sento-me na cadeira e vejo uma pedra — uma banheira? — surgir do
chão e, na banheira, há um líquido semelhante a um metal. Muito
curioso. O que é isso?
— É simples, senhoras, e novamente lamento que estejamos
apressando as coisas.
— Cada uma de vocês colocará suas mãos na Tigela do Destino e o
Destino determinará o que você será neste desafio. Uma princesa ou uma
plebeia.
— Isso é crucial, pois vocês não podem mudar depois que um título
for dado a você.
Meus olhos se arregalam. Então é como o chapéu do Harry Potter.
Eu ouço murmúrios por toda a sala, alguns animados e outros
preocupados. Eu mesma tenho emoções muito confusas percorrendo
meu corpo como uma multidão de lunáticos fugindo do hospício.
Mas estou principalmente... animada. Fico feliz de saber que é o
destino que escolhe, isso torna tudo mais emocionante. Porque todas nós
sabemos que todas escolheriam ser princesa. Dãããã!
— Depois de obter o seu título, falaremos brevemente sobre Delorith,
o mundo para o qual vocês estarão viajando.
— Então vocês serão capazes de mudar três coisas sobre você para
ajudá-la a enredar o coração de Apollo Augustus Garthorn.
— Vocês podem escolher mudar a aparência ou dominar uma
habilidade. Esta escolha é sua e somente sua.
— Uau, — eu sussurro. Cherie se vira para mim com os olhos
arregalados e sussurra um — ai meu Deus! — Eu sorrio e olho para trás.
Apollo Augustus Garthorn. Ele parece gostoso e poderoso, e estou tão
curiosa para ver como é esse líder. Fofo? Carinhoso? Nada demais? Sexy?
Eu pondero isso. Ele tem que ser bonitão, certo? Talvez ele não fosse,
e é por isso que nenhuma garota trabalhou duro. Porcaria. Isso seria
difícil. Talvez ele fosse engraçado. Eu poderia ser engraçada.
— Tudo bem, conversaremos mais depois dos títulos. — Ele se
levanta no momento em que Zora, a Fada Madrinha, entra. Ela parece
centrada, ao contrário de antes.
Ao lado do Sr. Encantado, ela falou: — Por favor, vamos começar, não
há como voltar atrás agora. Lá está a porta, se vocês quiserem sair. Do
contrário, não vamos perder o tempo do Destino.
Fiquei muito nervosa, quase surtei. Isso é real. Não há como voltar
atrás, não há como voltar atrás. Eu engulo e me levanto com todas as
outras, respirando nervosamente.
Bem, Viola, parece que você vai tomar a pílula azul e escapar da matrix.
Vamos nessa.
Capítulo 3
Aceito e assino o contrato oficial do Desafio do Conto de Fadas. Eu
provavelmente deveria me preocupar por não ter lido cada mínimo
detalhe, mas não tínhamos muito tempo.
Estou pálida, ai meu Deus. Sou como aquelas garotas idiotas dos
filmes de terror que correm em direção a um galpão assustador cheio de
armas em vez de ir para o único carro que funciona, para escapar.
Ei, mas eu estou dentro, baby.
Olhar ao redor da sala e observar todas as outras assinarem seus
nomes me dá nos nervos. Eu realmente espero não ter cometido o maior
erro da minha vida.
Pensamentos positivos. E talvez isso seja mesmo um grande erro,
considerando todas as outras escolhas ruins que eu já fiz na vida.
A única garota que não vai querer entrar nessa aventura conosco é
aquela mulher latina — nunca consegui saber o nome dela — que disse
que isso era um show de horrores maluco.
Uma armadilha, algo subterrâneo e ilegal, ela falava tão rápido que
era difícil entender tudo.
Será que ela tinha razão?
Estou ficando nervosa agora. Talvez ela fosse a única com algum
senso real de perigo, não acreditando neste conto de fadas. O resto de
nós deve parecer umas ovelhas estúpidas, coelhinhas ingênuas.
De repente, a vontade de fugir parece tão ruim quanto tentar não
coçar uma picada de inseto.
Era tarde demais, o Sr. Encantado estava instruindo todas a se
alinharem e começarem a próxima fase. Ou seja, a banheira do Destino.
Respirando fundo, fico repetindo para mim mesma que isso vai ser
demais e nada de terrível vai acontecer. Eu coloco um sorriso no rosto e
fico atrás da linha.
Isso vai ser ótimo.
Incrível. Nada para me preocupar!
Estou super feliz.
Estou em pânico...
Eu limpo a minha testa e fecho os punhos. A Destiny vai primeiro. Ela
parece confiante e sem medo, mas eu não acreditei nesse jogo. Estou
disposta a apostar que todas nós estamos pirando por dentro.
Ela dá alguns passos curtos até a Banheira do Destino e faz uma pausa
com as mãos, pairando sobre a substância metálica. Ela está assustada.
Não ajuda nada o fato de que o sistema solar está em exibição atrás dela.
Meu equilíbrio é ligeiramente prejudicado e sinto uma onda de tontura.
Eu poderia comparar essa sensação a tirar fotos com o estômago
vazio, enquanto usava saltos de 12 centímetros. Firme... estável...
— Vá em frente. Destiny. Isso vai demorar apenas um momentinho,
— Zora diz calmamente atrás dela. Ela colocou as mãos na substância e
engasgou. — Está congelando.
Todas nós esperamos em silêncio, nossos corações pareciam que iam
sair pelas nossas gargantas. Eu estava até com medo de respirar fundo,
pois isso poderia perturbar o Destino e dar a Destiny um papel menos
desejável.
Na tela atrás de nós, em letras em negrito, lê-se magicamente: Chef
de Cozinha do Castelo de Garthorn.
Destiny se virou e leu, dando a si mesma um momento para registrar
a informação de que, a partir de agora, ela estaria fazendo comida para
Apollo e a família real.
— Bem, — ela respira com um sorriso, — sempre dá para conquistar
um homem pela barriga!
Todos aplaudem e Zora acena com a cabeça.
— Rápido agora, próxima!
April foi a próxima, empurrando o cabelo curto atrás da orelha. —
Ok, aqui vamos nós.
A tela mostra: Chefe dos Estábulos do Castelo de Garthorn.
Todos fizeram — oh — e — ah. — Eu mordi o meu lábio; eu adoraria
ter esse trabalho, os cavalos são criaturas lindas.
Isso seria emocionante, andar a cavalo com um príncipe gostosão e
fazer amor na encosta de um penhasco enquanto o meu cabelo sopra ao
vento. Eu diria algo espirituoso, e sua risada ecoaria no ar.
Foco.
Ivy é a próxima e ri antes de tocar no líquido. — Isso é uma loucura!
Eu me sinto como o Harry Potter!
A tela mostra: Dama de Companhia da Rainha de Garthorn.
Ela não parecia muito satisfeita com isso, mas aquela posição a
colocaria bem ao lado de Apollo e sua mãe.
Ela precisa pensar fora da caixinha. Não ia transar na beira do
penhasco, mas ela poderia dar para o Apollo na cama da mãe dele. Estou
brincando.
Laura foi a próxima, e ela apenas deu um sorriso malicioso, olhando
para Ivy. Espero que ela seja a camareira. Por favor, camareira.
— Espero que isso não seja um sorteio aleatório, — ela reclama e
revira os olhos, colocando as mãos no líquido. — Porque por dentro eu
sou uma princesa, meu pai sempre me disse isso.
Ela ri alto como se tivesse contado a piada mais inteligente de todas.
E aguda e forçada. E tão constrangedor assistir isso que ninguém riu
depois.
Cherie olha para mim e vai em frente, com os dedos cruzados rezo
para que ela consiga algo decente, porque três meses é muito tempo para
ser uma escrava ou uma faxineira.
A tela dizia: Realeza de um País Estrangeiro.
Laura se vira para Sr. Encantado e a Fada Madrinha vai marchando
até eles, com os saltos estalando. — Essa é a mesma coisa que saiu para a
outra. Está quebrado?
Sr. Encantado sorri para ela, mas ele estava longe de passar alguma
segurança.
— Eu garanto que são dois papéis muito diferentes. Esses são títulos
inexplicáveis. Você obterá os detalhes mais tarde, conforme a Fada
Madrinha já explicou.
Ela me olha com as bochechas coradas. Laura estampou um sorriso
no rosto que eu tinha certeza que ia contra as leis da gravidade.
Eu sou a última.
Não. Não. NÃO.
— Venha, Viola, — Zora comanda. — Essa é a sua cor natural de
olhos? Ou você usa lentes de contato?
Todos me olham como se estivessem se perguntando a mesma coisa.
— Eles são reais. — Meus dedos formigam e a minha visão está
começando a borrar. Eu respiro instável e caminho até a banheira do
destino.
Por favor, não me torne uma faxineira de banheiros; eu não gosto de
resíduos corporais.
Eu olho para ela e digo: — Estou pronta.
Ela balança a cabeça, mas não diz nada, e seu olhar azul calmo é
assustadoramente misterioso. Eu fungo, sentindo como se eu fosse uma
criatura rara sendo exibida em um zoológico. Eu fico olhando para a
banheira cheia de metal líquido. Então, este negócio lê as mãos? Talvez seja
mais profundo do que parece? Um arrepio desliza pela minha espinha. Vai
logo.
Minhas mãos escorregam para a substância fria e, instantaneamente,
sinto sensações percorrendo meus braços, para cima e para baixo. Eu oro,
por favor, me dê algo em que eu possa trabalhar, banheira mágica. Não deixe
o carma me ferrar. Parece que demorou uma eternidade antes de ler:
Escrava do Castelo: Com um Segredo Oculto.
Meus olhos leem as palavras e o pavor se instala em mim. Ouço
sussurros ao meu redor, provavelmente expressando a sua simpatia. Uma
escrava?!
— Dá para tentar de novo? — minha voz falha. Isso não é justo.
Quero ser a chefe do Estábulo, sinto vontade de sentar no chão com os
braços cruzados e desabar.
Sr. Encantado diz, ao meu lado. — As coisas nem sempre são o que
parecem; a parte em que você precisa se concentrar é o tal do segredo
oculto. — Ele começa a bater palmas para chamar a atenção.
— Todas, por favor, fiquem quietas. Vou agora apresentar a vocês suas
parceiras para os próximos três meses, nossas Agentes Fadas Madrinhas
altamente treinadas. As AFMs.
Agentes?
— Vocês não serão lançadas em um mundo desconhecido sem
orientação.
— Vamos preparar vocês para o sucesso, não para o fracasso. Esses
mundos podem ser muito perigosos, e eu odiaria que qualquer uma de
vocês acabasse morrendo na primeira semana por comer frutas
venenosas sem saber.
Zora caminha até a borda da sala de aula, onde o espaço sideral
começa.
Agora há mais dez metros de espaço atrás da mesa branca.
E não só há uma metragem quadrada estendida, mas em pé estão
pessoas vestidas com roupas pretas do exército com — FGA — na frente.
Todas são mulheres de aparência pequena, algumas com olhos de
cores estranhas e cabelos em tons anormais. Quem são essas pessoas
estranhas? Uma delas parece uma versão pequena da Sailor Moon.
Elas são alienígenas? Meus olhos se arregalam de admiração. Ver uma
forma de vida diferente é alucinante.
Zora acena para elas, em seguida, se vira para nós, seu vestido azul
petróleo cintilando brilhantemente.
— Essas agentes irão seguir vocês por aí, disfarçadas do que for
preciso para se encaixar, elas são capazes de sofrer metamorfose.
— Elas serão o seu computador ambulante, aconselhando vocês sobre
o mundo e seus habitantes. Elas se comunicam telepática e verbalmente.
— Encantado também acompanhará vocês, senhoras, fornecendo
roupas e o essencial. A ajuda perfeita para garantir que cada uma de
vocês tenha as melhores chances de sucesso.
— E todas vocês sabem o quanto essa missão é importante para mim.
— Mas tenham em mente que todas vocês estão competindo umas
contra as outras, e a estratégia é a chave do sucesso. Elas irão ajudá-las
em sua jornada para conquistar o príncipe.
Essa fantasia passou de um filme da Disney para Missão Impossível. E
com uma dose de Survivor. Já fui longe demais. Não há como voltar atrás.
Talvez eu tenha sorte e seja colocada como a escrava de Apollo?
Um pouco de pensamento positivo nunca fez mal a ninguém.
Capítulo 4
Tudo está acontecendo muito rápido, e Encantado continua se
desculpando por isso. Eu abraço Cherie antes de nos separarmos para
seguir nossos próprios caminhos.
Continuo rezando para que ele não me leve a uma operação de tráfico
sexual, infestada de drogas.
Isso não aconteceu.
Encantado olha de volta para mim. — Como vai?
— Estou animada, — eu falei, sem energia. Acho que ficaria mais
entusiasmada se não tivesse sido escolhida para ser uma escrava. Podem
ser três meses muito longos.
Ele sorri de volta para mim. — Você está indo para um novo mundo, e
isso vale a pena. Delorith, embora infestada de maldade, é muito bonita.
Eu não posso dizer nada sobre isso.
Sala após sala em longos corredores brancos, eu paro de questionar
como tudo isso pode caber em um único edifício histórico de Nova
Orleans. De alguma forma, acho que não estamos mais no Kansas.
Nós chegamos. Nosso destino é uma grande sala com uma engenhoca
muito bizarra colocada no meio dela. Isso parece uma cápsula espacial
alienígena pronta para me transportar para um planeta louco.
— Viola, esta é a sua sala de instruções. — Ele faz uma pausa e abre
outra porta na parede oposta. Parece uma porta de espaço pressurizada.
Uma agente passa e é aquela que se parece com a Sailor Moon. — Esta
é Mort, sua guia para tudo o que você precisa.
Ele continua: — É hora de sua preparação. Sente-se por favor. — Ele
está carregando uma enorme pilha de papéis com trinta centímetros de
espessura. Ele coloca a pilha na pequena mesa de metal, no canto da sala.
— Isso é tudo que você precisa saber sobre Delorith e o seu povo.
Aqui também contém informações relevantes sobre o Apollo.
Ele acena com a mão no ar. — Você sabe — seus gostos e desgostos,
esse tipo de coisa. Loira, ruiva, morena... Se quando ele fica bêbado se
torna feliz ou agressivo.
— Se ele gosta da mãe, quantas pessoas ele matou, se houver. Boxers
ou cueca slim? E será que ele tem fetiches?
Não sei dizer se ele está falando sério, mas acho que está. — Isso é
muita informação.
— Na verdade, nem é muita, — ele sorri para mim.
Seu humor parece instável.
Ele solta umas risadas encantadoras, espanando algo de sua manga
branca perfeita.
— Não temos tempo para nada mais. Essa é toda a informação, mas
não tem como você ler antes de entrar de cabeça nesse mundo novo e
perigoso. Você deve confiar fortemente na Mort como a sua única
salvação.
Eu olho para a minha agente, sabendo que devo confirmar isso, caso
eu tenha ouvido mal. — Seu nome é Mort?
Seus olhos grandes se estreitam. — De onde eu venho, é um nome
adorável. — Ela levanta o queixo pequeno. — Humana ignorante.
Eu aceno e olho de volta para o rosto divertido de Encantado,
retomando a minha compostura. — Então, você está dizendo que estou
ferrada.
Seu rosto se ilumina. — Sim.
Eu fico olhando para ele.
— Continuando, temos trinta minutos para você se vestir e ficar
pronta. — Ele bate palmas, e a máquina no meio da sala ganha vida com
luzes brilhantes rosa e azuis.
— Você falará automaticamente a língua deles, então não se
preocupe. Mas você pode morrer neste mundo, então tem que ter muito
cuidado. — Ele se aproxima de mim e se inclina bem perto do meu rosto.
Ele cheira a desodorante masculino. Quase deu pra imaginar ele fazendo
um comercial do produto.
— Isso é importante, então preste atenção. Você tem três salva-vidas.
— Digamos que você está prestes a ser morta por um animal
selvagem, por exemplo, você pode usar o seu salva-vidas e irá
imediatamente se transportar para fora do caminho do perigo. Se você se
esquecer de usá-la, será atacada e morrerá.
— Se você usar todos os salva-vidas, na quarta vez, você será
totalmente expulsa do mundo. Não quero nenhuma desculpa. Você está
em um grande risco. — Ele ergueu a mão, — Não sou eu quem faz as
regras.
Eu engulo e aceno. — Como faço para usar um salva-vidas? — Eu
provavelmente deveria saber disso.
— E muito fácil. Você diz, 'Salva-vidas ativar! '. — Seu olhar contém
alegria.
— É só isso?
— Tem que ser uma coisa simples, não é?
Eu penso sobre isso. — Ok, digamos que eles me capturem, e eu digo
— Salva-vidas ativar — e eu desapareço. Isso não vai mexer com a cabeça
de todo mundo em volta? Tipo, que diabos? Ela simplesmente
desapareceu.
— Sim.
Eu fico olhando para ele, esperando que ele explique.
Na verdade, estou prestes a socá-lo.
— Deixe isso conosco. Este não é a nossa primeira vez, e você só usa o
salva-vidas se for mesmo morrer. Não é permitido usar em situações
menos do que mortais.
Ele pisca para mim, então caminha até a máquina, a nave de fada
alienígena. Ele se abaixou como se estivesse começando a ligar a
máquina.
— Você vai ser uma escrava, parabéns.
— Isso é horrível, — eu digo, me perguntando o que estou perdendo.
— Que tipo de escrava? Eu não vou fazer coisas sexuais contra a minha
vontade. — Isso é um beco sem saída.
Encantado olha para mim e acena com a cabeça.
— Encantado? — Eu falei
— Sim.
— Elabore melhor.
— Claro, você acha que eu iria enviá-la sem informar detalhes do seu
cargo? — Ele tem a ousadia de parecer ofendido. — Eu li o seu arquivo e
ele é fascinante.
Mort dá um passo à frente. — Eu li e já confirmei um plano de ação.
— Perfeito, Mort. Você pode entrar em detalhes assim que chegar. —
Ele se vira para mim.
— Seu cargo é simples, exceto pelo fato de que você guarda um
segredo oculto. O segredo é que você é a princesa de Galeão, que estava
há muito tempo desaparecida.
— Agora, aqui estão as chaves. Laura é a atual princesa de Galeão e
uma impostora, não a verdadeira princesa da linhagem real, mas você é.
Eu adoro quando o destino cria drama! — Ele bate palmas.
— Agora, isso não significa que Laura seja má; ela não é a culpada por
essa confusão. A culpa é da mãe traiçoeira de Laura. Você desapareceu
quando era bebê e o título passou para a sua prima, Laura.
— Isso é uma competição. Ninguém saberá desse segredo, a menos
que você o traga à luz. O que será difícil, porque Laura deve impedir que
você a exponha. As coisas podem ficar um tanto cruéis, lá fora.
— Oh, perfeito, — eu digo, olhando para os dois com admiração. —
Eu não sou apenas uma escrava, mas tenho que expor o meu direito de
nascença em três meses e fazer Apollo se apaixonar por mim?
Estou respirando com dificuldade, prestes a ficar doida.
— Sim, — ele diz e move as mãos. — Não é só você que tem
obstáculos. Cada jogadora terá os seus próprios e deverá superá-los. E
uma jornada e tanto.
— O obstáculo de Laura? Ela não é a princesa de primogenitura.
— April? Ela é uma fora da lei.
— Destiny? E uma espiã do Galeão. Hera? Deve salvar o seu irmão,
que a Rainha de Garthron quer matar.
— Cherie? Está prometida a outro príncipe de Mont Gallow.
Minha boca fica aberta. — Entendi.
— Aproveite, pode ficar difícil, mas será uma experiência que você
não vai esquecer. — Ele me estuda com uma expressão séria.
Eu concordo.
— Tudo bem, você pode escolher três coisas para mudar em você. Dê
uma olhada neste livro e estarei de volta em trinta minutos. Devo falar
com as outras senhoras.
Ele sai e me deixa examinando todas as diferentes características que
eu poderia ganhar ou mudar. Mort se senta na cadeira de metal do outro
lado da sala e examina as suas unhas pontudas. O silêncio é doloroso
enquanto eu a encaro e percebo que ela está fingindo me ignorar.
Eu limpei a minha garganta. — Alguma sugestão?
Ela olha para mim como se estivesse incomodada. — Faça uma
plástica no nariz.
— Sério?
Essa tal de Mort é tudo menos encantadora.
Ela me olha de verdade dessa vez e parece me avaliar. — Eu ganho um
bônus se ganharmos, — ela diz com naturalidade e sem emoção.
— Número um: seja uma pessoa que sabe andar a cavalo, o que
sempre vem a calhar.
— Dois: esteja na melhor forma física, para ter um corpo matador.
Para um humano, claro.
— Três: seja uma mestra no arco e flecha, você precisa saber se
defender. Parece que o seu rosto está bem e você tem seios de um
tamanho decente, então não há necessidade de mudar nada disso.
— Você é muito direta.
— Vou confirmar isso, — diz ela sem sorrir.
— Ele é um homem que gosta mais de peito de bunda? — Eu
pergunto.
— É muito difícil dizer, não tenho certeza disso neste momento. —
Ela me encara.
Certo.
Encantado finalmente retorna e nos livra da nossa conversa estranha
sobre como não devo comer nada azul neste mundo. Especialmente se
tiver manchas — isso geraria problemas intestinais graves.
Aparentemente, dá gases por semanas, o que acaba com a festa, de
acordo com Mort. Quero acrescentar que isso acaba com a festa em
qualquer universo, mas tudo bem.
Encantado bate palmas e para bem na frente ao casulo alienígena,
com as mãos na cintura.
— OK! Nem todas as mulheres entenderam os detalhes de suas
posições tão bem quanto você, mas isso já era de se esperar.
Só posso imaginar como Laura reagiu à notícia de que ela não é a
verdadeira princesa. — Estou pronta. Mort compartilhou a sua
experiência e alguns outros... fatos interessantes.
— Perfeito, venha aqui e entre no conversor, — ele ordena, e sorri
para mim.
Eu faço isso, e me sinto como um personagem do filme Alien quando
eles estão dormindo. A cápsula fecha em volta de mim e sinto uma onda
de nervosismo.
Eu ouço um som pressurizado alto e posso ver uma escrita eletrônica
na tela à minha frente. Eu ouço a voz de Encantado vindo do alto-
falante. — Tudo bem, qual é a primeira característica?
Eu vacilo por um segundo. — Aprender a andar a cavalo.
— Boa escolha, e a segunda?
— Estar em perfeita forma física.
— A queridinha das competidoras, — diz ele. — Por último?
— Mestra no arco e flecha.
— Muito esperto. Ok, apenas me dê um segundo, feche os olhos e
respire fundo.
Nem tenho tempo de perguntar se ia doer! Luzes brilhantes piscam
diante dos meus olhos e meu corpo fica quente e frio ao mesmo tempo.
Acho que gritei, mas não tenho certeza.
Solto um suspiro alto quando ouço um toque alto e luzes rosas
piscando e piscando. Antes de entrar em pânico, tudo começa a desligar,
me deixando sem fôlego.
Estou tonta. Minha pele está formigando e estranhamente quente. A
cápsula se abre e eu saio com os joelhos trêmulos, Encantado agarrando
meu braço para se apoiar.
— Esqueci de dizer que esse processo pode causar tonturas e ondas de
calor. — Ele sorri para mim e me examina. — Muito bom mesmo, aqui
está um espelho.
Enquanto tento organizar meus pensamentos confusos — Encantado
acabou de me dar uma cantada? — eu olho para o meu corpo e percebo
que estou tonificada em todos os lugares certos, e minha pele está tão lisa
e sem manchas.
Eu me olho no espelho que foi colocado na minha frente e, Santa
Maria Mãe de Deus! Eu estou incrível. Não há necessidade de usar base.
A minha pele é linda e perfeita. — Minha pele?!
Encantado acena com a cabeça e sorri para mim. — A pele perfeita é
um brinde dado pela Fada Madrinha. Está no seu contrato, não leu? —
ele ri. — Aqui na FML, falamos sério.
Eu fico olhando para ele, incrédula.
Ele está me provocando.
— Eu sinto que isso é uma trapaça, ninguém é tão gata na vida real, —
eu digo sem fôlego.
— Com licença? — ele diz e inclina a cabeça.
— Querida, esta é a Fada Madrinha Ltda. Vamos com tudo ou nem
vamos. Podemos fazer o que quisermos simplesmente porque sim.
Aproveite. Você está deslumbrante, — diz ele, apoiando o quadril na
mesa.
— Os homens são indefesos contra as nossas agentes. Precisamos
apenas de três meses para completar as missões FML. E isso não é
arrogância, é apenas um fato.
Mort bufa. — Sim. Você está muito melhor do que antes.
Eu lanço um olhar para ela.
Acho que ela apenas me insultou.
— Ok, agora gire, faltam cinco minutos!
— Cinco minutos?!
— Vocês dois são escravas que estiveram recentemente em um navio
mercante carregando sedas, que acabaram indo parar no fundo do mar.
O navio foi naufragado e destruído por piratas.
— Você está viajando para o Reino de Garthorn, onde trabalha.
Obviamente vocês duas sobreviveram. O navio de Apollo se cruzará com
a sua jangada, salvando vocês, — diz ele rapidamente.
— Jangada?
— Mort vai lhe dar mais detalhes quando você estiver lá. Não se
preocupe. Você vai ficar bem, agora gire. — Ele coloca a mão no meu
ombro.
— Girar? — Pareço em pânico até mesmo para os meus ouvidos. Não
tenho certeza se estou pronta para isso, tudo está acontecendo muito
rápido!
— Sim, é a minha parte favorita, seu vestido! — Ele faz um gesto para
que eu gire. — Onde você acha que a Cinderela conseguiu o vestido? —
ele continua, — Fada Madrinha? Não, foi meu projeto. Eu desenho todas
as roupas aqui na Fada Madrinha Ltda.
Ele sorri. — Agora gire.
Eu começo a girar, me perguntando o quão fofa a roupa de uma
escrava poderia ser. Meu corpo começa a formigar e eu inalo enquanto
um flash de luz branca me cega.
Eu olho para o espelho e estou usando um provocante vestido roxo
escuro, destruído. Uma fenda irregular expõe minha coxa, e meu busto
está rasgado, expondo meu espartilho.
Escandaloso, para dizer o mínimo. O espartilho parece empurrar
meus seios para cima, tornando-os muito tentadores, para ser sincera. —
Uma escrava usa isso? — Eu pergunto, com meu coração batendo forte.
— Não, mas em um navio naufragado, sim. O vestido de escrava real é
muito modesto e cobre tudo, inclusive o rosto. Então, esta é a sua chance
de chamar a atenção dele, e é por isso que eu coloquei você nesta
situação particular.
Ele se vira para Mort. — Você será uma escrava muito simples, nada
que chame atenção, chamará Sra. Pipper.
— Tá bom.
Em um segundo, Mort é uma pequena criatura adorável Sailor Moon,
e no momento seguinte ela é uma mulher muito esquisita. Cabelo
castanho-acinzentado e feições simples. Roupas rasgadas nos lugares
errados.
— Uau, — eu digo.
Encantado toca em seu fone de ouvido. — Sim, estamos um minuto
atrasados, sim, estou ciente, seu idiota! — Ele acena com a cabeça e olha
para mim.
— No Reino de Garthorn o seu nome é Sra. Viola Luna Stark. Você
será a Sra. Stark, uma escrava do setor 5, que está no alto, vai trabalhar
como uma empregada doméstica ou governanta.
— Aqui está a prova de que você é uma cidadã e seu empregador.
Ele me entrega um colar de bronze com um falcão e me mostra a
tatuagem no meu pulso que eu não tinha visto antes. É um símbolo
estranho que não consigo identificar, um G com inscrições estranhas.
— Essa é a marca do seu emprego no Castelo Garthorn.
— Ok, — eu digo humildemente.
— Pronto, em CINCO, QUATRO...
— Não estou pronta! — Eu entro em pânico.
OH NÃO.
— DOIS, UM!
A escuridão me engole.
Capítulo 5
Quando eu volto à consciência, fico confusa. Muitas sensações
diferentes me atingem ao mesmo tempo, causando um mau
funcionamento cerebral total.
Mas é só quando uma grande enxurrada de água cai sobre a minha
cabeça que eu realmente saio dessa névoa mental.
Oh não.
Meus olhos observam um vasto mar negro, o domínio absoluto dele
era de dobrar os joelhos. Estou tremendo, meus pulmões estão
contraídos e sinto um grito sair da minha garganta.
O som está perdido.
Nós fomos desovadas na porra de uma jangadinha, no meio do mar
mais imenso que eu já vi! Nenhuma terra à vista.
A água parece escura e monstruosa, provavelmente abrigando o
Kraken e outras lendas do mar horríveis. De vez em quando, posso sentir
vibrações profundas subindo pelo meu corpo, aumentando o meu
pânico.
Mas que inferno, o que foi isso?!
O mar furioso está encharcando o meu corpo, me fazendo ofegar
enquanto tento me segurar para salvar a minha vida. Minhas mãos estão
se agarrando nas alças convenientemente fornecidas em cima desta balsa
de merda, assim nós não escorregaremos.
Devo lembrar de agradecer ao Encantado por isso. Ora, isso é muito
parecido com um tubo na parte de trás de uma lancha, exceto pelo fato
de que, se eu cair, provavelmente vou me afogar. Sem colete salva-vidas.
Os salva-vidas funcionam se eu gritar debaixo d'água?
Eu preciso saber isso.
Esta jangada tem o tamanho de uma cama king-size. Isso não é
suficiente, acredite em mim. Mort está sibilando como um gato de rua,
tentando ao máximo ficar no meio da balsa estilhaçada, empurrando-me
perigosamente para a borda.
Que caralho!
— Mort! — Eu engulo um pouco de água sentindo a minha garganta
queimar com o sal. — Você está me empurrando, sua idiota! — Eu grito
quando uma grande onda nos deixa quase na vertical.
Eu suspiro quando a água cai sobre nós como um passeio no Splash
Mountain de um parque de diversões de quinta categoria. Não sei como
não caí. Meu corpinho ainda está agarrado, para salvar sua vida.
Eu me impressiono às vezes.
Mort guincha e agarra a madeira lascada. — EU ODEIO ÁGUA!
— Você está zuando com a minha cara, agente Mort?! — Eu olho para
ela com desdém, então a empurro violentamente para se aproximar. —
Não vou usar o meu salva-vidas nos primeiros dez minutos em que
chegarmos!
Mais ondas quebram sobre nós, forçando uma quantidade alarmante
de água do mar para dentro do meu nariz. — Caramba, isso queima! —
Eu suspiro. — Onde está esse navio do Apollo?! Vá se foder, Encantado!
Ótimo, tenho certeza de que pareço uma rata derrotada! Água saindo
do meu nariz, olhos vermelhos de ódio e sal.
Não tenho certeza se Encantado pensava que eu era imune a ondas
quebrando e a água salgada sendo violentamente forçada pelas minhas
narinas.
Mas, por pura sorte, as ondas diminuem depois de dez minutos e
posso, trêmula, ficar de joelhos para examinar o mar escuro ao meu
redor.
Esta é a primeira vez que meus pensamentos não são, VOU
MORRER! Algumas respirações me acalmam e posso processar alguns
pensamentos coerentes.
Isso é real.
Isso está acontecendo.
Não confiei nessa súbita água calma, e o pensamento de que poderia
morrer a qualquer momento me assusta muito.
Minhas botas de couro macio na altura da coxa não ajudaram em
nada, e minha saia rasgada está me fazendo escorregar como um bêbado
tentando andar sobre o gelo. O pior cenário multiplicado por cem.
Eu lentamente me sento com as pernas trêmulas e tento não surtar.
Mort faz o mesmo, provavelmente envergonhada pela sua postura nada
oficial.
O céu está tempestuoso, vejo redemoinhos de preto e cinza com
lampejos de luz. Ainda não está chovendo, mas aposto que está prestes a
derramar fogo do inferno.
Minha adrenalina está bombando, me fazendo esquecer o frio amargo
que sinto por estar encharcada.
Estou em um planeta diferente, lembro a mim mesma.
— Respira fundo, Viola, — Mort ordena, batendo os dentes.
Eu apenas olho para ela.
— Obrigada, me sinto muito melhor, — respondo com sarcasmo.
Posso sentir meus dentes começando a bater também e meus músculos
estão tremendo.
Mort parece que está digitando em um computador invisível com
uma das mãos e piscando os olhos como se tivesse a capacidade de ler no
invisível. Na verdade, ela parece ter problemas mentais. Caiu de cabeça
quando era bebê.
Ela olha para mim e acena para a frente. — Eles já nos veem.
— O que?
— O navio deles é invisível.
Meu olhar empurra para olhar na minha frente, com meu coração
batendo forte. — Onde, você pode vê-los?
— Sim, apenas o contorno negativo disso. Eles estão cerca de trinta
metros à nossa esquerda, tentando ver quem somos provavelmente antes
de se mostrarem e oferecerem ajuda.
— Eles estão perto, — eu sussurro, vendo nada além do mar sem fim.
Maluco.
— Uh-oh.
Minha cabeça vira em direção a ela. — O que 'uh-oh' significa, Mort?
— Eu grito, olhando para ela. Estou começando a tremer
incontrolavelmente agora; o vento é como gelo.
— Estou recebendo um alerta vermelho.
— Explique antes que eu te estrangule, pelo amor de Deus! — Estou
em um mundo estranho no meio do mar negro — você não pode
simplesmente dizer isso a alguém.
Não é como um código de sobrevivência ou algo assim?
Ela está visivelmente pálida. E quando eu sinto um solavanco forte
em nossa pequena jangada de merda. Algo embaixo nos atingiu com
força, me sacudindo para a esquerda. — O que é que foi isso!?
Isso não está acontecendo.
— Algo muito grande, eu diria do tamanho de uma baleia, mas
parecido com um tubarão. — Ela estava digitando em seu computador
invisível. — É mais como uma cobra. Confirmando, acho que estamos
com problemas.
— Podemos precisar usar um salva-vidas. Minha escala mostra que
isso aqui é um sete na escala de perigo. Provavelmente temos cinco
minutos. Parece que está nos cercando.
Eu apenas fico olhando para ela, com a boca aberta.
Eu não posso.
— Dê-me um segundo, esta é minha primeira missão, e estou apenas
me acostumando com este programa de computador.
— Esta é a sua primeira missão!? Programa de computador?! — Eu
grito tão alto que minha voz falha.
Só então, como mágica, o enorme navio de três andares fica visível,
cortando as águas negras como uma lâmina de prata. Isso me tira o
fôlego como se alguém literalmente me desse um soco no estômago.
Parece um navio pirata, mas é feito de metal prateado e bronze
brilhante. Este é um navio pirata que usou ecstasy e um pouco de ácido...
e talvez alguma metanfetamina misturada também. — Meu pai... — eu
paro. O navio é assustador. Posso ver as figuras a bordo subindo e
descendo no convés principal.
Supostamente, Apollo está neste navio. Posso ser a primeira a vê-lo.
Eu me pergunto se eles já me viram. Então eu me lembro que
provavelmente me pareço com uma rata afogada, e meu ânimo
desmorona.
— Viola! — Mort grita.
Eu olho para trás e vejo uma nadadeira dorsal alta circulando em
torno de nós, e eu suspiro. — Oh, merda, isso é grande pra cacete! —
Percebo que levei a minha boca suja a um nível totalmente novo.
Nós duas estamos tentando sentar no meio da balsa como se isso
fosse nos salvar. Acho que estou gritando, mas não tenho certeza. Meu
cérebro está falhando em um momento crucial. Olho de volta para o
navio e vejo homens a bordo gritando algo para nós, mas não consigo
entender. — O que estão dizendo?!
Ela pisca, depois pisca novamente. — Eles estão nos dizendo para não
movermos um músculo, ou vamos morrer — algo assim. Eles estão
baixando um pequeno barco para nos buscar, eu acho.
A coisa desliza como uma sucuri gigante, seu corpo enorme se
tornando visível no topo da água.
Oh não. Que maneira horrível de morrer
Eu preciso pensar. Tento acalmar minha respiração, para aliviar meu
corpo trêmulo. Sempre sou boa em pensar sob pressão, quando consigo
me acalmar. Eu só preciso de um momento de clareza.
Eu realmente não quero usar um salva-vidas. Não tão cedo. Isso é tão
ruim quanto estar no Show do Milhão e usar a ajuda dos universitários
logo na primeira pergunta.
— Mort, você pode me dar uma ajudinha?
— Estou tentando — Ela está digitando e piscando novamente. —
Vou te dar um arco com flechas velocidade aumentada.
Eu olho para ela, chocado. Um sorriso se espalha pelos meus lábios.
— Mort, você acabou de se redimir!
Ela olha para mim e sorri de volta. Santo Deus, acho que acabamos de
nos conectar. Felizmente, ninguém percebeu, mas agora tenho um arco
de metal preto com flechas de aparência mortal amarradas às minhas
costas.
Ainda estamos muito longe, então eu duvido da minha capacidade.
Eu sei o que devo fazer e tenho que ser rápida.
Eu me levanto, balançando a jangada para ganhar equilíbrio e ignoro
os gritos dos homens que tentam chegar até nós. De repente, isso é
incrível. Eu não precisava dos homens de Apollo porque eu sou poderosa!
O tubarão-cobra desaparece debaixo d'água por um momento e
depois volta para cima, atacando-nos.
E agora ou nunca.
Eu encaro. Esse é um FDP de aparência assustadora. Seus dentes
parecem ter trinta centímetros de comprimento e tingidos de preto.
Horrível.
— Mate o desgraçado — Mort sibila ao meu lado, me fazendo sorrir.
— Pelos meus cálculos, o seu nível de habilidade é o de um homem /
mulher de sessenta anos. Isso é quanto tempo você levaria para dominar
o seu nível atual de habilidade no arco e flecha. Você deve ser capaz de
acertá-lo.
Eu vou com tudo.
Tenho meu arco pronto e apontado. O tempo fica mais lento,
permitindo-me mirar no monstro marinho que se move rapidamente até
quase ficar parado.
Posso sentir todo o meu corpo formigar, minha mente entrando em
um estado alterado e INCRÍVEL. Mirar se toma mais fácil quando eles
mal se movem. O monstro está prestes a mergulhar novamente e,
quando ele voltar, vou atirar nele.
— Mort! Onde eu miro!?
— Entre os olhos! — Claro. Ele volta a subir, e o som da flecha
cortando o ar é como o de uma mulher distante gritando. Ou talvez fosse
Mort, não tenho certeza.
Mas eu acertei meu alvo bem no meio, fazendo o enorme monstro
marinho virar para a direita como se estivesse em choque e desaparecer
debaixo d'água.
Eu abaixo meu arco, meu corpo todo estava pulsando com a
adrenalina.
Eu fiz isso.
Mort se levanta. — Quem manda agora, vadia!? — ela grita, com
cuspe voando de sua boca, olhando para o mar negro com uma intenção
assassina.
— Shhhhh, — eu sussurro e tento suprimir minha risada. — Temos
companhia.
Ela enrubesce e sussurra perto de mim: — Não é assim que você
expressa a vitória sendo um humano?
Não tive tempo de responder, pois estou cara a cara com um homem
de aparência petrificante usando uma armadura de metal preta.
Ele parece um super-herói ou alguém do futuro. A armadura tem
luzes azuis claras percorrendo-a como o Homem de Ferro.
O homem gigante tem barba e uma enorme cicatriz branca
arranhando o lado esquerdo do rosto. Seu olhar é profundo e ameaçador.
— Você tem sorte de ser uma atiradora certeira, — sua voz rouca grita
quando ele para ao nosso lado. O pequeno barco é movido por uma fonte
desconhecida. Eu não ouço um motor. Curioso. O que eles têm aqui?
Poder de Atlantis?
— Poxa, os lipers viajam em bando, logo haverá vários deles por aqui.
— Ele estende sua grande mão enluvada para nós. — Você acabou de
atirar em uma fêmea grávida, isso não é bom.
Mais lipers?
Pegamos sua mão e saltamos para o pequeno barco no momento em
que vemos mais nadadeiras dorsais vindo em nossa direção. O homem
robusto controla o barco com uma série de botões e pequenas alavancas
interessantes.
Eu olho para trás e vejo os lipers cercando a balsa que acabamos de
deixar. Estou segura. Por enquanto. Eu olho de volta para o homem que
está dirigindo o pequeno barco e o estudo. Será que esse é o Apollo?
Eu franzo a testa. Não me sinto atraída por ele, mas ele tinha um
charme robusto. Eu não deveria ser tão vaidosa, ele provavelmente é um
ursinho de pelúcia por dentro.
— Mort, — eu sussurro. Ela olha para mim, com seu rosto pálido e o
corpo tremendo. Mort provavelmente odeia os seres humanos.
Aquele é o Apollo? Eu murmuro para ela e aceno minha cabeça em
sua direção.
Ele olha para mim e eu sorrio, corando um pouco. Droga. Ele estreita
os olhos escuros para mim, em seguida, continua a ancorar o barco ao
lado do navio enorme.
Mort me olha e faz uma careta, balançando a cabeça negativamente.
Não tenho tempo para me sentir aliviada. Eles nos puxam como se
fossemos bonecos de pano e nos forçam a subir. Minutos depois, me
encontro jogada em uma superfície dura, a água acumulando-se ao meu
redor.
Estou pingando, respirando com dificuldade e com medo de olhar
para cima. Eu sinto a tensão como uma nuvem de fumaça espessa, meus
nervos fazendo meu corpo tremer como um coelho assustado. Eu tenho
salva-vidas, eu me lembro.
Sinto Mort ao meu lado, beliscando minha perna e sussurrando para
eu gozar? Desde quando Mort é uma safada e mandona?
Eu ouço murmúrios e resmungos em todos os lugares.
— Levante-se, mulher, — o homem que nos salvou ordena e me puxa
pelo braço, me machucando.
Eu mordo meu lábio, evitando mostrar que estava com dor.
Quando eu olho por baixo do meu cabelo encharcado, percebo que
eles estão trazendo outros prisioneiros, que estão algemados no pescoço
e tornozelos. Eles parecem magros e abatidos, e hematomas marcam as
suas peles sujas.
Eu estremeço, me perguntando que tipo de inferno eles devem ter
sofrido. Mort está sozinha e logo haverá uma longa fila de nós.
Querido Deus, sou considerada uma prisioneira?
Os escravos são diferentes aqui?
Eu engulo um gemido de volta na minha garganta e me esforço para
ficar firme.
Eu recuo enquanto olho para todos os homens na minha frente, com
suas formas musculosas e corpos blindados. Em seus uniformes, há um
grande G com uma linha pontiaguda no meio. Simples, mas forte,
intimidante.
Eles não pareciam muito amigáveis. Não gostaria de jogar golfe com
eles em uma tarde de domingo. Um olhar de indiferença e desprezo
adorna as feições de todos, com os olhos aparentemente focados em
MIM.
Eu rapidamente olho para baixo e inspiro o ar, sem força. Meus seios
estão à mostra, estou toda molhada, com a roupa rasgada, graças a
Encantado, e esse é um bando de machos que provavelmente não viam
uma mulher há muito tempo.
Se o estupro estiver a caminho, ficarei feliz em usar o meu salva-vidas
sem dó nem piedade. Quando eu voltar, vou dar uma joelhada na virilha
do Encantado, e então serei feliz para sempre.
O convés do navio é maciço, com postes altos que carregam mastros
que raspam o céu, pegando o vento a cada chicote violento.
Eu olho para cima e vejo uma grande escadaria que leva a uma cabana
de vidro de três andares. Ou seja, lá como isso se chama.
Eu não gostaria de topar com este navio de guerra no mar Negro; esta
plataforma provavelmente nunca perdeu uma batalha.
Eu olho mais de perto e vejo metralhadoras com estranhas luzes de
safira brilhando dentro de um lugar onde você deveria haver canhões.
Sim, esses caras ressignificam as coisas clássicas.
Um homem alto com um rosto longo e estreito está a alguns metros
de mim com uma prancheta em mãos. Ele parece abatido e seu nariz se
contrai enquanto me encara. Meu coração para.
— Macacos me mordam, — ele diz em tom de condenação. — De
onde você é? A quem você deve lealdade?
Meus braços se movem, felizmente, mostro a ele meu colar e minha
tatuagem no pulso, e Mort faz o mesmo.
Ele olha para ela por um tempo, em seguida, olha de volta para mim
com um sorriso malicioso, os olhos viajando pelo meu corpo, lambendo
seus lábios finos.
— Muito bom, — ele sussurra. — Você estava no navio mercante do
McDon então?
Eu concordo.
— Há algum outro sobrevivente? — ele pergunta.
— Não que eu saiba.
— Mantenha os olhos baixos, escrava! — ele comanda, me fazendo
pular.
— Sua alteza não vai gostar desta notícia. — Ele se vira e fala com o
homem baixo e corpulento à sua direita.
— Eu acredito que isso é digno da atenção do Príncipe Apollo. Os
Sirona Bandits atacaram novamente, duas vezes na mesma semana. Você
irá informá-lo de que sua presença é necessária?
O homem maltrapilho se vira para olhar na direção da cabana de
vidro.
Um flash de nervosismo percorreu meu corpo como um raio.
Por que estou tão nervosa?! Eu mal olho para cima e vejo três homens
no topo da escada, e eu paro de respirar. Eles estão vindo rapidamente
em nossa direção, e posso dizer que também posso precisar de ajuda
médica.
O homem do meio é, sem dúvida, Apollo, caminhando como se fosse
um deus grego. Sempre li livros de romance, sabe, o herói arrojado sendo
comparado aos deuses gregos. Agora eu entendo completamente.
Ele emana poder e beleza. Vestido com a armadura toda preta, exceto
pela capa azul marinho com fivelas de prata em seus ombros largos.
Um arrepio lento percorre a minha espinha. Os dois homens que
estão com ele também usam a mesma cor de armadura e capa.
Deve ser um símbolo da realeza, penso vagamente.
Ele se parece com Thor, mas com um toque extra, sexy e misterioso.
Sinto meu rosto enrubescer como lava quente enquanto ele se aproxima.
Seu cativante olhar escuro se concentra em mim e apenas em mim.
Não estou acostumada com essa intensidade, meus ovários, eu acho,
explodem.
Sua pele é lindamente bronzeada, maçãs do rosto salientes e perfeitas,
e ele tem a linha da mandíbula mais deliciosa que meus olhos famintos já
viram.
Eu quero desesperadamente colocar o meu rosto no seu pescoço e
inalar, e talvez botar a língua pra brincar. Aposto que ele tem um cheiro e
um gosto gloriosos.
Ele tem lindos cabelos dourados, algumas mechas parecem
descoloridas de branco, provavelmente devido ao adorável sol que faz
amor com seus cabelos.
Você acha que estou sendo exagerada? Te garanto que não! Nunca fui
louca por meninos quando era pequena, não me interessei por ninguém
que me lembre. Eu sempre fui muito exigente.
Mas agora, estou cambaleando, totalmente fora de equilíbrio. Não
consigo nem recuperar o fôlego. O olhar quase negro de Apollo, quente
como o inferno, contrasta com o seu cabelo claro e pele bronzeada.
Ele deveria ter olhos azuis cintilantes, mas não, a escuridão profunda
de seus olhos me dá ondas de calor.
Sinto Mort esbarrar em mim.
Eu coro enquanto dou uma sacudida na minha própria mente. Estou
muito ocupada com a minha fantasia para perceber que Apollo me fez
uma pergunta. O constrangimento mancha as minhas bochechas e peito.
Apollo arqueia uma sobrancelha e olha para Ratman com a
prancheta. — A escrava fala? Ela está muda?
Meus olhos se arregalam.
Oh, ÓTIMA primeira impressão.
O homem maltrapilho engole em seco e me encara. — Sim, ela fala.
Responda à sua majestade! Como você aprendeu a atirar uma flecha
assim?! E onde você encontrou uma arma tão boa sendo apenas uma
escrava?
Meu coração está prestes a desabar. Respiro fundo e olho para o
Príncipe Apollo, desejando que a minha voz funcione. Apollo é bastante
alto, com mais de um metro e oitenta, e eu me sinto como uma
garotinha sendo repreendida.
— Fui ensinada por uma pessoa bem qualificada. Eu aprendo rápido.
Eu acho que é um dom com o qual nasci, consigo manejar o arco e flecha
mais rápido do que os outros.
Não tenho ideia se isso faz sentido. Ainda estou amaldiçoando
Encantado por não ter uma história de fundo e por me fazer parecer uma
idiota.
Apollo franze a testa, seu olhar escuro parecendo piscar enquanto ele
cruza os braços sobre o peito musculoso.
— Você está sendo vaga de propósito? Porque se você estiver, — ele
lentamente me olha de cima a baixo, — Uma noite com meus homens vai
fazer você falar.
Ele é rude, as minhas bochechas aquecem com a sua grosseria.
— Sim, estou sendo vaga.
Eu ouço Mort gemer.
Droga. Eu começo de novo rapidamente.
— Só porque sofro de amnésia, caí do cavalo alguns anos atrás e não
me lembro de quem sou ou de como me tornei boa no tiro com arco.
Parece mentira, mas essa é a verdade.
Eu quero dar um tapa na minha testa. Eu disse que era ã de
Anastasia.
— É mesmo? — Ele acena com a cabeça e se vira para outro homem.
— Peça a alguém que examine a situação dela. Se ela estiver mentindo,
sua linda cabecinha ficará bem em uma estaca. Não tenho espaço para
espiões, nem paciência.
Seu olhar brilhante me mantém prisioneira. — Ela não age nem fala
como uma escrava, o que me preocupa.
A boa notícia é que ele acha que tenho uma cabeça bonita. A má
notícia é que, se ele descobrir que estou mentindo, serei decapitada.
Preciso falar com Encantado para arrumar isso o mais rápido possível.
— Traga-as para os aposentos dos servos e coloque-as para trabalhar,
— ele faz uma pausa enquanto seus olhos se demoraram sobre o meu
corpo, senti toda a minha pele formigar.
— Dê a essas mulheres algo apropriado para vestir. Não quero que
meus homens se distraiam. — Ele se vira para sair.
Solto um longo suspiro, sem perceber que estava segurando o ar.
Isso não vai ser fácil.
Agora que vejo como é este homem, temo que esta história chegue ao
fim antes do esperado, e de um jeito ruim.
Capítulo 6
Não somos bem tratadas, e eles nos colocaram em um quarto menor
que o armário que eu tinha na minha casa. Cheira a essência de cachorro
molhado e peixe estragado que costumava ser usado para lavar o chão.
Nossos tornozelos estão algemados e estamos usando uma roupa que
caberia perfeitamente no cenário de O Conto da Aia.
Sem exagerar, usamos gorros de abas compridas para proteger o rosto
e nada menos que um manto de freira para cobrir as nossas roupas
rasgadas.
— Isso é ruim, — eu digo, agachando-me no canto. Não há espaço
para deitar ou esticar as pernas, e eles nos disseram que tínhamos sorte
de não estarmos alojadas com os outros escravos.
Bem, acho que vou concordar com essa avaliação. Eu
desesperadamente não quero estar com os outros homens fedidos e vê-
los nos encarando como se fôssemos o almoço.
Meu ego não é tão grande a ponto de não conseguir reconhecer que
isso poderia ser muito pior. Tenho uma excelente imaginação.
— O que você está fazendo? — Eu olho para Mort na penumbra.
— Conversando com Encantado. — Ela está digitando e piscando.
— No seu computador imaginário?
Ela bufa. — Não é imaginário, e sim. Encantado está sempre online,
nos acompanhando. Estou falando com ele sobre a sua história. Ele diz
que está elaborando referências para o seu caso de amnésia.
— Isso é um alívio. — Mort balança a cabeça. — Ele também te elogia
pelo raciocínio rápido de sua parte. Vai se encaixar perfeitamente no
cenário da princesa perdida.
— Sim, — eu digo inexpressiva, — Já está começando a soar como um
clássico da Disney.
Não.
— Ele está se desculpando pelo ataque do liper, — ela diz sem olhar
para mim. — E ele vai compensar você. Mas, o Encantado está dizendo
que a roupa que ele fez para você funcionou.
— Como assim?
Mort pisca para mim.
— O que isso significa? — Eu digo secamente. — Você quer dizer que
você acha que Apollo gostou de mim?
Ela ri. — Oh sim, Apollo gostou do que viu.
— Você não acha que teve algo a ver com o fato de eu estar seminua e
qualquer homem de sangue quente faria o mesmo? Não há nada de
especial sobre mim, isoladamente.
— Talvez, — ela diz.
Eu estreito meu olhar para ela.
— Mas, — ela continua, — você é uma escrava, e Encantado diz que
normalmente Apollo não mostra abertamente sinais de interesse, e não
se dirige a um escravo. Embora não tenhamos certeza disso, acho que é
um bom sinal.
— Seu guarda-roupa vai ser um obstáculo, mas nada que Encantado
não possa lidar. Ele diz que tem algumas cartas na manga.
Eu olho para o meu traje. Não tenho ideia de como vou fazer isso
funcionar sendo uma escrava. Talvez eu nunca mais tenha um vislumbre
de Apollo novamente. E se eu tiver, ele não vai me reconhecer usando
essa roupa.
Esse pensamento faz a minha barriga virar, imaginando todas as
outras garotas tendo muito tempo com ele.
Eu me mexo desconfortavelmente. — Cara, eu me pergunto o que as
garotas vão pensar quando o virem.
Babar.
Bater em seus rostos e pulando para cima e para baixo como um
personagem de desenho animado.
Mort me olha. — Eu vou admitir, para um humano, ele é muito
impressionante se você gosta do tipo macho alfa, com cabelo lindo. Eu
prefiro mais um macho beta, para ser sincera.
— Ele tem um cabelo lindo. — O loiro desbotado misturado com
mechas douradas é o sonho de todo homem da Califórnia.
Além disso, a sua bela pele não é pálida como a maioria das pessoas de
cabelos claros, que contrasta com seu cabelo, de forma tão exótica. O seu
olhar escuro animalesco me faz ter vontade de gemer.
Sinto uma onda de ciúme, me perguntando quem será a primeira a
beijá-lo. Essa seria uma experiência que nenhuma garota vai esquecer.
Um homem de seu calibre provavelmente arruína todos os outros
homens para qualquer mulher.
Eu agora sinto pelas pobres meninas daquele programa A Despedida
quando elas têm que assistir ao cara bonitão beijando todas as mulheres.
Posso dizer que sinto uma raiva genuína dele, e só o vi de relance.
Preciso me acalmar, ou isso vai ficar muito prejudicial à saúde.
— O Apollo está procurando uma companhia feminina que seja de
longo prazo? — Eu pergunto.
Mort balança a cabeça. — Vou te atualizar. Sim, o pai dele está muito
doente, quase morrendo. Muito provavelmente, Apollo será rei muito em
breve e precisa de uma rainha rapidamente, na verdade. Isso vai nos
ajudar, finalmente, temos algumas boas notícias.
— Oh, ótimo, isso provavelmente significa que todas as garotas do
reino estarão atrás dele. — A minha situação está piorando. Mais
competição era só o que me faltava.
O som da porta se abrindo nos fez pular. Os nervos passam pelo meu
corpo quando ouço vozes masculinas. A porta de metal enferrujada se
abre com um gemido, e dois homens grandes ficam parados olhando
para nós com a testa franzida.
— Levantem-se, escravas, estamos em Garthorn!
Nos próximos trinta minutos, somos empurradas pra lá e pra cá,
sendo colocados em uma longa linha de escravos de Garthorn. As
algemas do meu tornozelo quase me fazem cair, mas felizmente o guarda
grita comigo e me agarra pelo pescoço, me firmando.
Está escuro lá fora e frio, e o céu cintila com flashes ofuscantes de luz,
dando-lhe um apelo maligno. Um arrepio percorre minha espinha,
sentindo o nervosismo quebrando os meus sentidos.
Neste ponto, se eu conseguir fazer isso sem usar todos os meus salva-
vidas, já saio ganhando. A ideia de Apollo se apaixonar por mim parece
ser cada vez mais impossível.
Um homem grande está gritando algo para nós que não consigo
entender, então a fila começa a se mover mais uma vez. Estamos
descendo do navio para uma enorme ponte levadiça.
Uma grande multidão está presente no cais, juntamente com
carruagens e cavalos enormes. Poeira sobe do chão enquanto os
monstruosos garanhões negros pisam no chão, impacientemente.
Eu posso ouvir gritos e cantos, e parece o caos. Eu levanto minha
cabeça ligeiramente e vejo a cidade e o castelo distantes, e minha
respiração engasga.
Oh, uau.
Na escuridão, a cidade reflete azuis profundos e prateados, dando a
toda a paisagem uma aparência assustadora.
Neste ponto, sinto que estou ficando lelé da cuca. Garthorn parece
algo saído do Senhor dos Anéis. Edifícios elevados desaparecem nas
nuvens em forma de névoa com bordas afiadas e alguns que terminam
em longas pontas em forma de lança. Como se os prédios não fossem
feitos pelo homem, mas esculpidos em estruturas montanhosas
irregulares.
De tirar o fôlego.
Irado demais.
Arrisco um olhar para onde Apollo está com seus homens, um pouco
longe dos escravos.
Minha barriga aperta, ele parece um super-herói.
Os relâmpagos do céu escuro brilham atrás dele, dando à sua forma
poderosa um fascínio não natural. Sua capa safira balança com o vento
suave, e sua armadura negra brilhante reflete cada veia de relâmpago.
O rosto de Apollo é uma máscara de pedra, esculpida em granito,
como se ele não se importasse com o fato de as pessoas estarem gritando
seu nome. Posso ouvir as mulheres gritarem como se estivéssemos em
um show de uma boy band. Deus me defenda!
Elas estão desesperadas. Alguém deveria dizer a essas mulheres que os
homens gostam do joguinho. Não de serem perseguidos. Ele acena para
alguém na multidão, e então meu coração salta quando ele aponta para
Mort e eu.
Eu olho para onde ele aponta na multidão, e é para uma mulher de
aparência muito severa com homens parados atrás dela. Coque alto,
lábios finos, uma roupa adequada para uma governanta real do século
XVIII.
— Esse é a diretora, encarregada das servas, divisões de um a cinco.
Nós a chamamos de Diretora, muito simples. — Mort sussurra atrás de
mim.
— Encantado colocou vagas memórias de nós em seus cérebros.
Então, nossa história bate caso o Apollo resolva perguntar para esse povo,
o que parece que ele está fazendo agora.
Ela faz uma pausa. — Parece que Apollo é um humano impaciente.
Ainda bem que Encantado é um trabalhador rápido.
Não tenho certeza se devo ficar animada ou consternada porque a
primeira coisa que Apollo faz é perguntar sobre nós.
Eu mordo meu lábio enquanto a diretora severa se curva na frente de
Apollo, e eles sem dúvida estão falando sobre nós. Eu vejo a mulher olhar
em nossa direção, em seguida, de volta para Apollo, acenando com a
cabeça.
— Você deve sempre manter a sua cabeça baixa e não falar a menos
que falem com você. Nenhum contato visual, qualquer que seja, — Mort
murmura atrás de mim.
Bom saber.
Eu ouço um homem gritar e, aparentemente, Apollo deu ordens para
irmos até eles. Sinto uma pontada nas costas ao começar a andar em
direção aos que estão na base da ponte levadiça.
Meu coração está batendo tão forte que quase dói. Eu me sinto tão
fora de mim e odeio não estar no controle. Eu mantenho minha cabeça
baixa e seguro a capa para esconder as minhas mãos tremendo.
Chegamos e só consigo ver os meus pés.
Eu suspiro quando o diretor agarra meu queixo, puxando-o para
cima, e arranca meu gorro. Meu cabelo escuro virou uma massa
encaracolada selvagem, girando em todas as direções. Aparentemente,
ele secou de uma forma como se eu tivesse enfiado meu dedo em uma
tomada.
Ela está me inspecionando para ver se sou quem digo que sou. Posso
sentir os olhos em mim enquanto ela examina cada centímetro do meu
rosto, inclinando-o para a esquerda e para a direita de forma bastante
agressiva.
Ela empurra meu queixo para a direita novamente, e meu olhar se
choca com o de Apollo.
Eu não respiro.
Apollo tinha a mão sobre a boca como se estivesse pensando
seriamente, seu olhar negro está focado em mim, a intensidade de seu
olhar derrete o meu cérebro. É difícil dizer para onde exatamente ele está
olhando devido à escuridão de seus olhos, mas acho que é para o meu
cabelo.
E agora, meus olhos.
Ele está esfregando levemente o queixo enquanto seu olhar me
imobiliza.
Misericórdia.
Minhas bochechas esquentam ao ponto de ebulição, e eu olho para
longe, tentando acalmar a batida frenética do meu pulso.
Controle-se, mulher! Aposto que ele viu meu rosto ficar vermelho,
mesmo no escuro. Inferno, pelo que eu sei, o príncipe é um cara de
hábitos noturnos.
Não estou preparada para lidar com uma força como ele. Talvez as
outras tenham mais sorte, sinto-me como um cordeiro ao lado de um
leão. Os dois não podem se relacionar.
Esse pensamento me enerva.
Eu olho para trás, para a diretora, para ver se há algum
reconhecimento em seu olhar. Vamos, Encantado, faça-a lembrar! Eu
preciso sair daqui JÁ.
— Sim, a garota com amnésia de olhos descoloridos. Nível cinco, se
não me engano, — ela diz e agarra meu pulso para confirmar. — Sim, ela
é uma de nós.
Obrigado, Encantado!
O diretor inspeciona Mort e confirma que nós duas somos de
Garthorn, escravas do Setor 5.
Eu arrisco um olhar para Apollo e mordo meu lábio. Eu sou uma
covarde. Sua expressão é ilegível enquanto ele me encara, e toda essa
atenção que ele está me dando começa a gerar olhares estranhos da
multidão.
— Bem, então, — ele murmura, — Bem-vinda de volta. — Minha pele
se arrepia e ouço alarmes tocando na minha cabeça. A maneira como ele
disse não parece um — bem-vinda de volta, — mas sim um — não fique
muito confortável.
Eu ouço a risada ofegante de Mort atrás de mim enquanto somos
arrastadas para fora.
E este é apenas o primeiro dia.
Capítulo 7
Os corredores são altos e proibitivos. O artesanato gótico parece
impossível de ter sido construído por humanos, mas também não sei que
tipo de tecnologia habita este lugar.
Um arrepio percorre meu corpo e, embora eu seja uma escrava,
admito que tudo isso ainda é incrível. Sério, quando entramos em sala
após sala, eu tinha que checar pra ter certeza de que minha boca não
estava aberta.
Eu sinto que estou estrelando o meu próprio filme, e todo esse
cenário deveria ser, na verdade, feito em computador, com um gigante
chroma-key. Os complexos efeitos especiais seriam adicionados
posteriormente.
As paredes parecem feitas de material orgânico escuro que me lembra
granito ou mármore. Acho que nem uma bomba poderia destruir este
lugar. Eu tenho muitas perguntas. Minha curiosidade está bombando,
agora. Mas não sou burra o suficiente para perguntar à diretora: — Essas
paredes são fabulosas, do que são feitas?
Okay, certo.
E então, — Qual é a sua cor favorita? Eu sou uma pessoa que curte
roxo.
A diretora não me parece um tipo de mulher muito tagarela.
Com a cabeça baixa, ninguém fala — nunca.
Todos nós seguimos a diretora para começar os nossos próximos
deveres. Já trocamos os tapetes de alguns dos quartos de hóspedes e
substituímos toda a roupa de cama. Aparentemente, súditos de todos os
reinos estão vindo para as festividades de Garthorn.
Houve boatos que grandes bailes serão realizados porque o Príncipe
Apollo precisa encontrar uma noiva. Mas o último desejo do rei Augusto
é ver o seu filho mais velho casado.
Mort confirmou antes que ela acha que o declínio repentino da saúde
do Rei foi causado por algum jogo sujo, e Apollo pode ser o próximo.
Alguém quer o trono, e eu presumo que eles não querem ver o Apollo
como rei. Talvez um irmão mais novo? Um tio? É difícil dizer.
Eu não consigo descobrir muita coisa sendo uma escrava, então talvez
as outras garotas estejam tendo mais sorte. Ivy é a espiã, e eu me
pergunto que tipo de sujeira ela está descobrindo só de estar ao lado da
Rainha.
O lacaio nos alcançou em nossa farra de limpeza e correu até a
diretora. Depois de algumas palavras, ela bate palmas.
— Atenção! Os súditos da casa do Galeão acabaram de chegar,
dividam-se em duplas e cuidem das necessidades deles imediatamente!
— Ela aponta para duas garotas à minha esquerda. — Vocês duas vão
servir a rainha e a princesa imediatamente.
Galeão.
Aparentemente, eu sou a princesa perdida deles.
— Mort, — eu sussurro enquanto corremos para ajudar a família real.
— Sim?
— Estou presumindo que Encantado colocou lembranças minhas na
família do Galeão?
— Sim, e é complicado.
Passamos por alguns guardas e abaixei a cabeça, sem querer chamar a
atenção. — Como está Laura, a princesa?
— Ela não tem sangue real. A segunda Rainha do Galeão teve um caso
sem que o Rei soubesse.
Fazemos uma curva fechada e paramos, esperando até que não
houvesse mais ninguém ali. Se formos pegas conversando, presumo que
seremos castigadas.
— Continua, — eu sussurro, impaciente.
— Sua mãe Alexandria teve você com o rei, Bel De Monte, então ela
foi assassinada. Ela caiu de um penhasco e disseram que ela cometeu
suicídio.
— Eu não acho que foi isso que aconteceu, e você provavelmente
pode adivinhar o mesmo. O rei se casou novamente com a mãe de Laura,
Irena.
— Irena então teve um caso com um dos conselheiros do rei, e eu não
tenho certeza qual deles. Mas a Laura não tem sangue real.
— Eu acredito que quem se livrou da sua mãe também se livrou de
você, — Mort sussurra rapidamente e em seguida, olha ao redor.
Oh uau.
É estranho que eu sinta dor por não conhecer a minha falsa mãe?
Provavelmente isso está acontecendo porque eu nunca tive meus
próprios pais.
— Estou apostando na Rainha Irena e, se estiver certa, vou derrubar
aquela vadia. — Como aquela mulher ousa matar a minha falsa mãe?! E
me vendo para quem der o lance mais alto, sem dúvida.
— O que eles disseram que aconteceu comigo? Quantos anos?
— Você tinha quatro anos. A foto de sua família ainda está pendurada
no Castelo do Galeão.
— Como eles vão saber quem sou eu?
Estou tão confusa a essa altura.
— A cor dos seus olhos. — Mort continua: — Entre outras provas, é
como um teste de DNA. Mas você é a única pessoa a possuir olhos de
cobra além da princesa perdida de Galeão.
— Seu nome verdadeiro, se for o caso, é Ursula.
— Ursula?
— Eu escolhi, o Encantado me permitiu.
— Esse é o nome que você escolheu? — Eu pergunto horrorizada.
Ela parece genuinamente ofendida. — E um nome lindo!
— Shhh! — Eu coloco minha mão sobre a sua boca. — Você quer que
as pessoas nos ouçam? Tudo bem, é um nome adorável.
Ouvimos vozes, e então elas desaparecem novamente.
— Foi isso que aconteceu, mesmo? Ou tudo foi inventado pela Fada
Madrinha Ltda.?
Mort balança a cabeça. — Majoritariamente. A verdadeira princesa de
Galeão também possuía olhos de cobra, estranhamente, mas não
podemos usar o nome dela porque ela acabou morrendo. Então, você
pode vingar a morte dela.
— O caso de Irena acabou trazendo a Laura ao mundo, o destino
sempre garante que o Universo não será perturbado, até mesmo as
mudanças o beneficiam. Mas está tudo certo.
— Estou começando a sacar, mais ou menos.
Não admira que Encantado e a Fada Madrinha estivessem me
olhando de forma tão estranha. A cor dos meus olhos.
Mort está digitando e piscando agora. — O plano de ação que eu criei
é conseguir o DNA de Laura. Não tenho certeza como, talvez de um copo
ou guardanapo.
— Eles têm testes de DNA?
— Claro. Garthorn é muito avançado. Ninguém jamais duvidou que a
Rainha Irena traísse, levando a um filho ilegítimo. Ou se alguém sabia
tenho certeza de que foi silenciado.
Mort ainda está digitando. — Encantado acabou de dizer que todos os
jogadores estão no castelo Garthorn. Atualizar.
Uma onda de pânico me atingiu. — É melhor sairmos e focarmos nas
nossas tarefas. Isso significa que a casa de Mont Gallow acabou de chegar
e a diretora provavelmente está mais doida que uma vaca com febre
aftosa!
Mais um dia se passou.
Acho que nunca tinha trabalhado tanto na minha vida.
Na única pausa de uma hora, eu dormi pesado. Meu corpo dói e meus
pés ainda estão latejando de subir lances de escada, por horas e horas.
Não vi Apollo desde o nosso encontro no navio, assim como temia.
Avistei Cherie à distância, mas não pude dizer oi, já que eu era uma
escrava e tal. Devemos manter as nossas cabeças baixas e afastadas de
nossos superiores.
Os escravos sabem se comportar.
A inveja passa por mim ao ver o vestido que Encantado fez para ela. É
uma deslumbrante renda verde esmeralda e creme, um espetáculo.
Mas ela também está nos braços de seu futuro marido. Ele é um
sujeito bonito, mas não se compara a Apollo Augustus Garthorn, o
terceiro.
Ainda assim, ela está melhor do que eu. Eu sinto que tudo o que ela
deve fazer é dizer a Apollo que não gosta de seu noivo e quer ter um caso
com ele.
Que saco.
A minha situação é bastante desoladora.
— Levante-se! — Mort grita no meu ouvido.
— Não.
Não tenho vontade. Toda esperança está perdida para mim. Eu só
rezo para que outra pessoa consiga que Apollo não acabe ficando com a
Laura. Aff.
Mort sorri. — Temos que lavar uma bagunça que foi feita pelos cães
reais, um caos de lama e água.
Eu mal olho para ela, me perguntando se ela perdeu a cabeça,
também.
— A bagunça fica bem ao lado da sala de estar onde Laura está, e
acredito que Apollo está lá com seus irmãos.
Eu pulo da cama tão rápido que acho que reconfigurei a atração
gravitacional do planeta. Devo vê-los só por curiosidade, em minha
defesa. Nós dois caminhamos rapidamente em direção à ala principal do
castelo como se fosse uma corrida olímpica. Demoramos quinze
minutos, mas chegamos ao salão principal, a grande entrada.
O corredor é gigantesco, com tetos tão altos que mal consigo ver o
topo de seu esplendor. As pessoas estão por toda parte, servos e realeza
em uma mistura massiva.
Mantemos nossas cabeças baixas enquanto sigo Mort em direção ao
refeitório dos cachorros. O grande salão se torna mais estreito e se divide
em duas grandes salas, a sala de estar e a grande biblioteca.
Não há muitas pessoas aqui embaixo, e imediatamente vejo a bagunça
lamacenta na entrada dos fundos da cozinha real.
Meu coração começa a bater forte quando ouço risadas vindo da sala
de estar.
— Olhe daqui — sussurra Mort e balança a cabeça. — Dá para ver lá
dentro.
Eu fico de joelhos e finjo que estou limpando, junto com Mort. Não
ligue para nós, apenas pobres servas. Eu me inclino para frente e giro
levemente meu gorro de aba longa para a esquerda.
E quando vejo Apollo Augustus Garthorn.
Tenho que dizer o seu nome completo porque não o conheço direito.
Ah, tenha dó.
Mas como esse homem é bonito. Ele está vestido com um casaco todo
preto e calças pretas justas que ressaltam os músculos grossos de suas
coxas.
Eu mantenho minha boca fechada, para não babar. O estilo é muito
europeu do século XVIII, mas com o seu próprio toque futurista.
As botas elegantes de Apollo iam até os joelhos e a camisa branca
engomada estava bem justa no pescoço. A gravata parece ser tecida de
ouro puro combinando com os tons de seu cabelo.
Ele sorri para alguma coisa, e percebo que está encostado em um
grande piano preto. A cor se esvai do meu rosto quando ouço uma
adorável voz de ópera saindo da sala.
— Acho que sabemos qual talento Laura solicitou — Mort sussurra ao
meu lado, revira os olhos.
Uma bela voz.
Seu cabelo loiro está preso no alto da cabeça e ela está usando um
lindo vestido lilás.
Muito obrigado. Encantado, que bela maneira de tornar a minha vida
miserável. Apollo a está observando e eu não consigo ver a sua expressão.
Mas posso ver que Laura está fechando os olhos quando atinge uma nota
alta, me dando vontade de vomitar.
— Os seios dela também estão maiores, — Mort confirma, para
minha consternação.
Estou afundando.
— Precisamos de uma distração.
Minha cabeça vira para ela. — O quê?
Mort parece irritada. — Ohhhh. Eu odeio a agente dela, a Leenie.
Eu olho para trás e vejo a empregada simples ao lado de Laura com
um sorriso no rosto.
— Nesse ritmo, as duas vão ganhar. — Ela se levanta e me deixa,
desaparecendo na cozinha. — Mort! — Eu assobio.
Excelente.
Eu começo a esfregar o chão no caso de alguém olhar para mim,
minha mente estava envolta em uma grande confusão.
Minutos depois, Mort reaparece e joga um pedaço de carne em mim,
pedaços de bife cobrindo meu vestido cinza básico. — Que porra?! — Eu
olho para ela e franzo a testa, vendo o seu sorriso perverso.
— Confie em mim.
Fiquem em pânico. — Não. Mort! O que quer que você esteja
pensando, não! — Eu choro.
De repente, ouço cachorros, muitos deles.
Oh, pelo amor de tudo que é mais sagrado.
Acontece tão rápido que não tenho tempo de correr, três cães de caça
grandes e babados estão me pisoteando.
Eu grito. Ouço o tecido se rasgando de algum lugar na minha roupa e
escuto gritos distantes à minha esquerda. Eu estou cobrindo minha
cabeça enquanto sou esmagada por caninos hiper famintos.
Sinto uma dor aguda na perna e suspiro de agonia.
Faça parar!
Mort vai pagar
A vingança será minha.
Eu grito de novo quando de repente me sinto sendo levantada e todo
meu corpo sendo jogado fora. O pânico cresce em meu peito quando
percebo que estou sendo carregada como um saco de batatas!
Eu ouço uma voz masculina gritando algo, me deixando tensa.
Meu cabelo está emaranhado em volta da minha cabeça, me
impedindo de ver com clareza, mas eu conheço essa voz. Meu coração
salta e o medo se instala.
Segundos depois, sou despejada em algo duro, e só quando consigo
tirar o cabelo do rosto é que meu mundo entra em foco.
O rosto de Apollo está bem na minha frente, e seus olhos escuros se
arregalam quando fazemos contato. O impacto de seu olhar parece como
se alguém tivesse acertado a minha cabeça com um taco de baseball.
Eu lentamente olho ao redor para ver que ele me carregou até a
entrada dos fundos da cozinha. Estou sentada em uma mesa, o rosto de
Apollo alinhado com o meu peito.
— Você, — ele acusa. Ele olha para além de mim, para todo o pessoal
da cozinha que está paralisado de choque pelo incidente. — Todos saiam,
agora. Diga a alguém para buscar o curandeiro.
Então, Apollo vai embora!
Ele me deixa sentada aqui na mesa, e ouço vozes conversando do lado
de fora da porta. Eu não acho que meu pulso diminuiu nem mesmo um
pouco, eu continuo chocada.
O que eu devo fazer? Minhas bochechas ficam vermelhas de
vergonha. Eu estremeço e tento sair da mesa bem quando Apollo retorna.
Ele aponta para mim. — Não se mova.
Eu congelo.
Ele vem para ficar bem na minha frente por vários segundos e, em
seguida, seus braços se apoiam em cada lado meu.
Oh. Nossa. Socorro. Ele. E. Calma.
Eu engulo e tento respirar. — Obrigada por me salvar, — eu sussurro,
sem saber o que dizer.
Seu olhar escuro brilha quando a luz os atinge. Ele não diz nada
enquanto seu olhar viaja pelo meu pescoço e desce até o meu vestido
rasgado. — Você está ferida.
— Não é nada demais, — eu digo, ainda com medo de me mover.
As mãos de Apollo se movem sobre o meu vestido rasgado e o abre,
me fazendo ofegar. Minhas coxas estão expostas e as minhas meias feias
estão rasgadas. Eu vejo um corte na lateral da minha perna, mas estou
muito focada nas minhas coxas expostas.
Respiro constantemente enquanto observo Apollo olhar para mim, o
seu peito estava respirando fundo.
As palmas de sua mão passam pelo meu joelho e depois vão subindo
até minha coxa exposta, fazendo com que um exército de borboletas
voasse na boca do meu estômago.
— Sua pele é macia, perfeita, — ele diz quase para si mesmo.
Obrigado, Fada Madrinha Ltda., por isso. Muito grata por isso neste
momento, porque minhas as pernas parecem irresistíveis.
Ele levanta o seu olhar negro e um arrepio percorre a minha espinha.
— Amnésia, você disse? Pedi ao meu pessoal que investigasse mais a sua
situação e não consigo encontrar nada. O que aconteceu?
Eu encolho os ombros e olho para longe, não sendo capaz de segurar
o olhar. — Isso é o que acontece com a amnésia, você não consegue se
lembrar de nada.
— Uh-huh, — ele murmura e acena com a cabeça. Ele olha de novo
para as minhas pernas e eu posso ver sua mandíbula ficando tensa. Então
ele agarra as minhas coxas, me fazendo gritar.
Estou desamparada enquanto ele abre as minhas pernas e se coloca
entre elas, trazendo-nos muito perto. Eu não consigo respirar. Eu sinto o
seu calor, posso sentir o cheiro inebriante dele, e isso me deixa tonta.
Essa posição é escandalosa.
Mesmo para os meus padrões.
Mas eu não me movo. Eu olho para Apollo e estreito meus olhos. —
Você acha que pode abusar de mim porque eu sou uma escrava?
Arrasa, mana!
Seu rosto está a poucos centímetros do meu. — Absolutamente. Mas
você já deve saber disso por ser uma escrava, — ele murmura de volta e
joga o corpo pra cima de mim, com as mãos apertando minhas coxas.
Eu mordo meu lábio enquanto ele se inclina ainda mais perto, eu
sinto a sua respiração no meu queixo. — Talvez eu não fosse uma escrava
antes.
Apollo ri. — Acho que a gente pode garantir isso.
— Você tem tanta certeza?
— Absolutamente.
Devo entrar nessa história da princesa perdida. É hora de parar de
agir como uma escrava e encontrar um pouco de coragem. — Então me
ajude a descobrir quem eu sou. — Eu ofereço e forço um sorriso, fazendo
Apollo levantar uma sobrancelha.
— E você deveria me soltar. Já que nós dois sabemos que eu não sou
uma serva. — Eu empurro as minhas pernas e o chuto no estômago, com
força.
Isso o choca, mas posso ver algo em seu olhar negro quando um
sorriso sombrio se espalha por seus lábios. Há empolgação em seus
olhos, ou talvez algo igualmente alarmante.
Meu coração bate quando ele agarra as minhas coxas novamente,
com as mãos firmes. — Tente de novo, e eu te prendo na masmorra, —
ele sussurra e se inclina para mim, com a sua boca bem próxima ao meu
ouvido.
Uma parte de mim não consegue compreender como isso se tornou
sexual, a tensão estava crepitando. Eu o sinto agarrar meu cabelo e puxá-
lo para trás, fazendo a minha cabeça cair para trás, expondo o meu
pescoço.
Uma emoção dispara por mim quando sinto ele puxar meu cabelo
com mais força.
Seu hálito é quente, e a leve sensação de seus lábios na minha pele
desencadeia um choque por todo o meu corpo.
— Eu tomaria cuidado, querida, porque eu tenho o poder de tornar a
sua vida um inferno.
Ele se afasta de mim e caminha até a porta sem olhar para trás. Eu
fico aqui, respirando com dificuldade, e um sorriso se espalha pelo meu
rosto.
Mort merece uma medalha por isso.
Ainda tenho um sorriso bobo no rosto quando a ajuda médica chega.
Que desafio gostoso eu me meti.
Capítulo 8
Estou tendo um sonho delicioso, estrelando um certo macho alfa em
particular.
Acorde!
Foi delicioso enquanto durou. Eu nem consigo ver o Apollo dos
sonhos peladão! Ele está prestes a desabotoar a camisa quando sou
arrancada do sonho.
Acordo com guardas entrando em nosso pequeno quarto.
Eu grito enquanto eles agarram Mort e eu, nos arrastando para fora
de nossas camas como fugitivas. Eu fico alerta e uma confusão completa
me oprime.
Só quando somos levadas para uma sala escura e de dar frio na
espinha é que somos acorrentadas à parede.
— O que está acontecendo?! — Eu grito, os olhos marejados de
lágrimas. Eles estão me machucando enquanto prendem as correntes em
nossos tornozelos, empurrando-nos como bonecas de pano.
Mort sibila para eles e, de repente, os guardas riem, saindo sem
explicar o motivo para fazerem isso conosco.
Isto é ruim. O lugar tem cheiro de urina e o solo está frio e úmido.
Eu olho para Mort, respirando com dificuldade.
— O que aconteceu?! — Eu grito e olho ao redor da masmorra. Há
grades na janela minúscula e uma tigela no canto, provavelmente um
penico.
Repugnante.
Eu começo a entrar em pânico.
— Estou tentando descobrir agora, — diz ela, com os olhos apertados
de raiva. Mort começa a piscar e ela ainda consegue digitar em seu
computador invisível com a mão esquerda. Ela rosna: — Eu sabia.
— Sabia o quê? O que aconteceu? Nós fizemos algo errado?! — Eu
pergunto, impaciente.
— Sim, — ela suspira — Leenie, o agente de Laura sabia que éramos
nós e agora nosso plano está ameaçado. Acho que ela pode sentir a
paixão de Apollo por você.
Levo um segundo para cair a ficha.
— Espere, vá com calma. Você acha que o Apollo está apaixonado por
mim? E como essa masmorra nojenta está relacionada a isso?
Eu sou inteligente o suficiente para saber que ele me acha bonita, mas
apaixonado?
— Sim, ele está apaixonado desde o momento em que te viu, — ela
diz e continua digitando. — O Encantado estava cantarolando no meu
fone de ouvido e, a propósito, aquele homem tem uma voz horrível.
Então, obrigada por isso.
— Não que eu fosse estragar uma missão só para que o Encantado
calasse a boca, mas pensei nisso.
Eu levantei uma sobrancelha para ela. — Foco.
— Mas a atração de Apollo por você é um alerta vermelho para
Leenie. Ela não sabe perder; confie em mim. Quando ela joga, ela quer
sangue.
— No nosso mundo, é muito importante quando a nossa equipe
vence. Uma vitrine de talento e poder. Se eu pudesse adivinhar, diria que
isso não é bom pra gente.
— Oh, por favor, nós não fizemos nada de ruim, — eu continuo, —
pelo amor de Deus, eu fui atacada por cães! O que eles poderiam dizer
para nos colocar em apuros?
Eu sinto a minha raiva ferver.
Mort me lança um olhar seco. — Claramente, você não tem
imaginação o suficiente.
Eu não queria que a minha mente pirasse. — O que o Encantado
disse?
Mort dá de ombros e inclina a cabeça para trás, contra a parede fria.
— Ele não pode revelar essa informação confidencial sobre outro
jogador. Mas ele disse que não é um bom presságio para nós.
— Não dá para competir umas contra as outras assim, tornando as
coisas piores? Indo contra a causa da Fada Madrinha? Tipo, se o Apollo
realmente gosta de mim, isso não muda o jogo?
— Não. — Mort diz categoricamente e começa a piscar novamente.
— A Fada Madrinha Ltda, acredita que competir e levar alguém ao
seu limite produzirá a melhor versão de si mesmo — ou a pior. Eles
querem ver autenticidade.
Eu franzi a testa.
— Eles querem aquela pessoa que supera o desafio, um indivíduo
digno que tenha o que é preciso para governar ao lado de uma figura
masculina alfa. Ela deve superar obstáculos e lutar.
Ela olha para mim. — Aprendemos isso em nosso treinamento.
— Bom, caramba, se você está dizendo...
Se a Fada Madrinha Ltda, gosta da competição, eu preciso melhorar o
meu jogo. Fui uma atleta no colégio, então entendo como um pouco de
competição pode trazer à tona o super-herói que existe em você.
Nós duas ficamos tensas quando ouvimos passos descendo as escadas
de pedra, em seguida, os sons claros da porta de metal sendo
destrancada. Pego a mão de Mort e ela a aperta.
A diretora, logo ela, entra vagarosamente, seu longo vestido escuro
parecendo malévola com todas as sombras que ele projeta. Ela deve estar
aqui para me dizer em que mundo de dor estou me metendo.
— Ah, aí estão elas, — ela diz, e estou surpresa que não esteja
pingando ácido de seus lábios. Ela se parece com um lobo e é seguida por
guardas muito rudes
— O que fizemos, diretora, para merecer isso? — Eu pergunto
humildemente, de cabeça baixa.
Eu posso ouvir o farfalhar de suas saias, e ela se ajoelha na nossa
frente. — Levante a cabeça, escrava.
Sim, e sou saudada com pura repulsa pelo seu olhar escuro, seus
lábios rachados e pálidos. — Eu soube desde o momento em que te vi que
algo estava errado, mas eu simplesmente não conseguia descobrir.
— Eu tenho fontes muito respeitadas que dizem que te pegaram
várias vezes, desejando a atenção de sua graça. Só por essa razão, é por
isso que raramente mantenho escravas tão atraentes quanto você aqui no
castelo.
Ela continua falando enquanto olha ao redor da sala. — O contato
visual com a família real é proibido no nível mais alto, e isso você já deve
saber!
— Eu deveria ter percebido antes, uma linda garota sem passado? —
Ela ri, seus olhos parecendo saltar das órbitas.
— Se você é uma espiã, então será tratada de forma letal. Informarei à
Sua Graça das nossas alegações. Sua Graça é muito sensível a infiltrados,
vendo como Sua Majestade adoeceu.
— Eu não sou uma espiã...
A escuridão salpicada de nuvens turva minha visão enquanto a dor
irrompe do lado do meu rosto. Eu olho de volta para a diretora, em
estado de choque.
Ela ainda está segurando seu chicote de couro como se fosse fazer
isso de novo, e ela faz, ainda mais forte desta vez. Eu grito enquanto meu
pescoço vira com tanta força para a esquerda que sinto que ele estala.
Sinto um líquido quente escorrer do meu nariz até o queixo.
— Fale novamente sem ser perguntada, eu vou acabar com você, —
ela sibila com um sorriso.
Como se ela já não tivesse acabado comigo.
Ela se levanta, e acho que a ouvi dizer que não posso deixar este lugar
até que o Príncipe Apollo volte de seu ataque contra uns bandidos nos
arredores de Garthorn. Eu poderia ficar aqui por semanas.
A minha visão turva e minha cabeça lateja de fúria. A dor é tão grande
que me sinto entorpecida. Ouço Mort chamar o meu nome, mas não
adianta, eu desmaio.
Caio no chão leve como uma pena.
***

Já se passaram quatro dias e me sinto fraca.


Derrotada.
Com sede — morrendo de fome.
Tenho bebido apenas um pouco de uma água duvidosa e comido pão
velho para me manter viva. O solo está frio, e já faz algum tempo que
estou deitada na água turva.
Acho que ouço pingos vindo da minha esquerda, embora esteja muito
cansada para levantar a cabeça e olhar. Esta aventura da fada madrinha se
transformou em algo que eu prefiro não fazer parte.
Mas eu sou orgulhosa demais para usar um salva-vidas. Não vou dar à
Laura o tipo de satisfação que ela deseja. Estou morrendo de hipotermia
e fome, não é nada demais.
Provavelmente tenho algum vírus que peguei nessa água turva em
que estou deitado, mas não vou desistir ainda. Eu sou feita de um
material mais forte do que isso.
Mort tem feito o melhor que pode com suas habilidades de mudança
de forma, transformando-se em insetos aleatórios para ver o que está
acontecendo fora desta masmorra.
Ela se foi há horas e eu estou prestes a enlouquecer.
Eu apenas continuo imaginando cenários de vingança, pura vingança.
Talvez eu fale a verdade sobre o direito de primogenitura de Laura na
frente de todos, apontando e gritando. Eu não vejo esse plano dando
errado.
Vingança, repito para mim mesma.
Mort finalmente retorna, posso ver a pequena borboleta passar sob a
porta de metal e entrar flutuando. — Mort! — Minha voz falha.
Ela se materializa ao meu lado, com o rosto pálido e sem fôlego. —
Quase fui devorada por um gato.
— Nossa, — eu sussurro, me sentindo tonta enquanto tento me
sentar, a água pingando do meu cabelo emaranhado.
— É uma loucura lá fora, a equipe do castelo está se preparando para
um grande baile de máscaras em homenagem ao retorno seguro e à
vitória de Apollo, — Mort diz e sorri para mim.
Eu me empurro em direção a ela com uma leve explosão de energia.
— Ele voltou?! Ele voltou!
— Sim. Faz algumas horas e aconteceu de eu estar lá quando a
diretora contou a ele sobre a sua situação. O que quase me levou a ser
comida pelo gato.
— Eu não estava prestando atenção porque estava ouvindo a conversa
e não queria perder nada. — Mort parece doente de novo e estremece. —
Você sabe como os grandes felinos ficam quando você é tão pequena? —
Ela levanta os dedos para me mostrar o tamanho da borboleta que ela
era.
— Mort, — eu gemo. — O que ele disse?!
Ela está me matando aos poucos.
— Bem, ele passou pelo diretor de forma bastante agressiva e está
vindo para cá, eu acho.
— Eu tive que voar através de atalhos para chegar aqui tão rápido. Eu
estava tendo problemas com a coordenação das minhas asas, continuei
voando contra a parede.
— Eu também bati numa janela, o que realmente doeu muito. Porque
você sabe que seria ruim se ele chegasse aqui e eu ainda fosse uma
borboleta. — Ela me lança um olhar penetrante.
Eu balancei a cabeça. — Ele está vindo aqui, agora?!
Meu coração ganha vida.
Eu não sabia que eu importava tanto para ele.
Nós duas ofegamos quando a porta é aberta com força, e a figura de
Apollo preenche a porta. Meu coração para ao vê-lo. Sempre me esqueço
da força marcante que ele é.
Eu posso ver os seus olhos se arregalarem, mesmo na escuridão. Ele
caminha lentamente, seu peito subindo e descendo em um ritmo rápido.
É quando eu penso no estado em que me encontro. Estou deitada no
chão com o cabelo emaranhado por toda parte, encharcado. Parei de me
importar comigo mesma ontem ou foi anteontem?
Apollo se ajoelha ao meu lado e ergue os olhos para Mort. — Você
está machucada?
Ela balança a cabeça, não.
— Não podemos falar a mesma coisa dela — ele diz, sua mandíbula
estava tensa.
Eu mal espio para cima e vejo dois guardas entrando no correndo
junto com a diretora. Apollo se vira, e o olhar que ele dá à diretora a faz
agarrar o pano em seu pescoço.
— Solte-as agora, — ele ordena.
Eu posso ver a confusão escrita no rosto da diretora. — Sua Graça, ela
deve ser uma espiã!
— De agora em diante, você não fará nada a menos que consulte
meus conselheiros ou a mim, — ele comanda. — Eu vou decidir quais são
as intenções dela, não você. Você não tem autoridade.
Eu teria desmaiado se já não estivesse no chão, deitada na lama.
Ele olha para trás e eu sinto a sua mão tocar suavemente o hematoma
na minha bochecha. Ele está olhando para mim como se eu fosse uma
florzinha delicada que caiu na lama.
Ele me levanta do chão e eu sou levada, a minha memória vai
desaparecendo e desaparecendo.
Mas estou segura.
O calor de seu corpo aquece o meu, e eu nunca quero que ele me
solte, posso sentir o cheiro picante dele. Hum.
Quase gemo em protesto quando ele me entrega à equipe médica
para me limpar e curar as minhas feridas, mais uma vez.
Mas eu percebi que ele ficou observando até que eu estivesse fora de
vista.
Acho que isso é um bom sinal.
Capítulo 9
Sem saber, eu abri a caixa de Pandora.
O que a Apollo fez por mim nunca aconteceu antes, então, em outras
palavras, essa é uma grande notícia. Um escravo não é nada,
especialmente para o príncipe herdeiro de Garthorn.
Sinto vários olhos em mim, os criados sussurram enquanto eu passo e
me encaram, curiosos.
Estou de banho tomado, limpa, cheirando a sabão fresco, não aos
horrores da masmorra. Mas não sou ingênua a ponto de pensar que eu
não poderia voltar para lá.
Vesti o meu traje básico de escrava mais uma vez e fui conduzida a
uma biblioteca menor na ala oeste. Ninguém me explicou muito bem,
mas tudo que sei é que alguém importante queria falar comigo.
Minhas mãos estão úmidas e uma sensação de pavor me consome.
Mort não tem permissão para vir comigo, então a pequena borboleta
que voa ao meu lado é ela.
Seguro a risada, apesar da minha situação, porque a vejo voar direto
para um enorme relógio de pêndulo e bater no vidro. Não sei como ela
não percebeu, mas a prática leva à perfeição, eu acho. Eu vou ter certeza
de dizer isso a ela, e sei que ela vai ficar brava e tentar me dar uma
porrada.
Essa biblioteca é muito masculina, não é como a Biblioteca Grand
Garthorn, que é toda adornada com prata e safira.
Essa aqui é decorada com madeiras sóbrias e mármore escuro que
capta a luz brilhante e reflete na biblioteca de dois andares. Eu me
pergunto se esse é o escritório de Apollo.
Estou sentada em um sofá de couro bem grande e fui deixada aqui
sozinha. Respiro fundo e digo a mim mesma que tudo ficará bem.
Cinco minutos se passam e eu vejo Mort voar sobre a grande
escrivaninha que estava no canto. Talvez ela veja algo importante?
Ela se transforma para seu corpo humano e examina uma carta na
mesa.
— Mort! — Eu sussurro. — Você vai ser pega!
Ela ergue os olhos. — Vai ser só um segundinho, relaxe.
— Relaxar?!
— Estou vendo uma carta da Casa do Galeão, — ela fala, com os olhos
semicerrados, — E uma carta de agradecimento e menciona a perspectiva
de unir as Casas Garthorn e Galeão.
Eu me levanto.
— Para resumir, eles estão oferecendo Laura como a noiva em
potencial — Mort confirma os meus temores.
— Você acha que ele está se divertindo?
— Essa carta é a única coisa na mesa dele.
— Talvez essa não seja a mesa dele.
— É sim.
Eu respiro. — Você não sabe.
Mort franze a testa para mim. — Você conhece outro Apollo Augustus
Garthorn?
O som de passos se aproxima da porta, e Mort instantaneamente se
transforma na já conhecida borboleta branca. Sento no sofá, engulo o nó
na garganta e faço força para a minha mão parar de tremer.
Uma mulher entra, seguida por guardas vestindo trajes vermelho-
escarlate. Essas não são as cores de Garthorn, então estou supondo que
se trata de Galeão.
A senhora é mais velha, mas ainda muito bonita. Seu cabelo dourado
está preso no alto da cabeça, com uma coroa vermelha e prata. Seu
vestido elaborado flui ao redor dela como se ela fosse uma rainha egípcia
usando ouro e carmesim.
Então me dei conta.
Esta é a Rainha Irena.
Meu coração quase sai do peito.
— Perdoe-me por deixá-la esperando, — ela diz e faz um gesto para
que os seus guardas saiam.
Percebo o seu tom sarcástico, pois não sou tão burra a ponto de
pensar que uma rainha pede desculpas por alguma coisa. Especialmente
por deixar uma escrava esperando.
Meu corpo fica alerta.
Eu mantenho a cabeça baixa e a boca fechada. — Eu te chamei aqui
por pura curiosidade, — ela ri. — Eu ouvi falar desta escrava que está
criando uma grande comoção.
Eu não digo nada e mordo meu lábio, não tenho certeza onde ela quer
chegar.
Eu a ouço caminhar em minha direção enquanto se senta na cadeira à
minha frente. Suas saias ocupam quase todo o sofá. — Você pode olhar
para mim, escrava.
Eu levanto minha cabeça e olho fixamente em seus olhos frios. Eles
têm um tom de azul idêntico ao das calotas polares, desprovidas de
qualquer calor.
Posso ver as rugas ao redor de sua boca e olhos, e seu pescoço me diz
que ela provavelmente está na casa dos cinquenta.
— Posso ver que a cor dos seus olhos é chocante, — ela estreita o
olhar para mim. — Espero que você possa imaginar a minha surpresa ao
ouvir uma simples escrava possuindo olhos descoloridos.
— Por que isso é um choque, se você não se importa que eu pergunte?
— Eu pergunto baixinho e genuinamente curiosa.
Ela ri como se eu tivesse dito a coisa mais engraçada de todas. — Eu
esqueço que as escravas não sabem nada sobre as coisas do mundo.
— Bem, meu marido, o Rei do Galeão, perdeu a sua filha há muito
tempo. Dizia-se que ela era a única a possuir essa rara cor de olhos,
entendeu?
— O Rei ficou arrasado, convocando todas as bruxas e feiticeiros para
que ninguém mais possuísse aquela rara cor de olhos.
— Isso é ridículo, se você quer saber a minha opinião, mas era o que
ele queria. Essa singularidade foi guardada para a sua pobre e preciosa
filha.
— O que aconteceu com a filha dele? — Eu fico olhando para ela, me
perguntando o que a bruxa realmente fez.
— Isso não diz respeito a alguém como você. Mas, se você quer saber,
ela morreu muito jovem. Foi sequestrada no meio da noite para nunca
mais ser vista.
— Mais tarde, os seus sapatos foram encontrados à deriva no Grande
Lago do Galeão, o mesmo lago onde a mãe dela saltou para a morte. É
tudo muito trágico e um assunto muito delicado. — Ela inclinou a cabeça
para mim.
— No Galeão, muitas garotas alegaram ser a princesa desaparecida,
falsificando a cor dos olhos e tal. Algumas até mesmo resolveram
envolver as artes das trevas para mudar a cor dos olhos.
Eu penso sobre isso, observando que isso tem acontecimentos muito
semelhantes a Anastasia. Estranho, porém, que esse filme seja o meu
filme favorito da Disney.
Eu me pergunto se Anastasia é originalmente um conto da Fada
Madrinha Ltda. Vou perguntar a Mort quando tiver a chance.
— Garanto que esta é a minha cor natural de olhos. — Eu estreito
meu olhar para ela.
Rainha Irena arqueia uma sobrancelha e aperta os lábios.
— Eu também não me lembro do meu passado, já que bati a minha
cabeça, e fiquei com amnésia. — Eu sustento o olhar, para ela entender o
que eu estou sugerindo.
Parece que eu lhe dei um tapa na cara.
— Você se atreve a sugerir que você poderia ser a minha enteada?
Porque se for isso, você está ultrapassando seus limites, escrava. A
falecida filha do meu marido se foi e eu vou tornar a sua vida um inferno
se não recuar.
Ela se inclina para frente. — Vejo que você tem um rosto que alguns
homens podem achar desejável, e também posso ver agora por que você
está tentando enlaçar o Príncipe Apollo, o que eu acho ridículo.
— Na verdade, ele está interessado apenas em uma rapidinha, e por
isso eu posso dizer que você está na profissão errada. Como prostituta,
você poderia ganhar muito dinheiro. — Ela ri e alisa a saia.
— Você é muito ousada se pretende escapar da escravidão e entrar na
minha família, entendeu?
— Você não sabe o que vai te acontecer se eu souber de qualquer coisa
que tenha ver com a filha do meu marido. Fui clara, escrava? — Seu rosto
está vermelho de raiva.
Eu mantenho a minha raiva sob controle, parece que essa bruxa
precisa transar mais do que eu. Que velha mais rabugenta.
Oh, espere, ela é parte do Conselho Real.
Como poderia me esquecer disso?
— Claríssima, — eu continuo, — embora eu queira fazer um teste de
DNA se eu conseguir a aprovação da família real de Garthom, já que eu
devo obediência a eles, não a você.
— E, eu sei que o Príncipe Apollo está curioso sobre as minhas
origens também, então eu não acho que isso será um problema. Vamos
tirar a dúvida. — Eu sorrio.
— Sua Graça está com a minha filha, a Princesa Laura de Galeão. Eu
acredito que ela logo se tornará a sua rainha, então eu tomaria cuidado
com o que sai da sua boca ignorante, escrava!
— Vou ter uma palavrinha com Apollo sobre o seu pedido e expressar
o meu descontentamento. Você não vai querer ofender o Rei do Galeão e
começar uma guerra com a Casa de Garthorn, vai? Depois de sermos
aliados por tanto tempo?
Eu mantenho a minha boca fechada.
Sinuca de bico.
Ela se levanta e, antes de partir, diz: — Apollo está se apaixonando
pela minha filha e, se eu souber de qualquer ousadia sua, eu não vou ter
pena de você.
Eu respiro fundo quando ouço a porta pesada se fechando.
Mort agora está novamente em sua forma humana. — Que
chantagem. Ela está nervosa, isso é óbvio.
Eu me levanto e olho para o assento que a rainha Irena acabou de
ocupar. — Se o rei descobrir a sua infidelidade, o que acontece?
— Ela será decapitada.
Eu achava que poderia ver Apollo novamente, mas estava errada.
Mort acredita que ele está mantendo distância por causa de todos os
boatos.
Anteriormente, fui questionada pelos conselheiros de Apollo e
perguntei se poderia fazer um teste de DNA. Nunca recebi uma resposta
clara, o que foi bem desanimador. Mas pelo menos não fui colocada de
volta na masmorra.
Por enquanto, estou liberada para cumprir as minhas
responsabilidades regulares, limpar e limpar um pouco mais.
A diretora me dá os piores serviços, eu juro. Eu realmente gostaria de
dar uma surra nela. Eu ia botar umas luvas de boxe e acabar com ela.
Ando sozinha porque a diretora queria pedir Mort emprestada, e mais
outro escravo, para limpar a chaminé central. Ela não teve escolha a não
ser ir, o que me deixa nervosa por estar sozinha.
Tenho os meus salva-vidas, o que me faz sentir um pouco melhor. Eu
continuo caminhando pelo longo corredor movimentado, mantendo a
cabeça baixa.
Eu olho para cima e quase suspiro.
Apollo está conversando com o que parecem ser funcionários de alto
escalão.
Ele parece poderoso como se tivesse acabado de chegar de uma
batalha. Seu cabelo rebelde está preso em um coque masculino, mas não
de uma forma metrossexual. Como um guerreiro ninja ou um mestre
samurai.
Apollo parece estar sem fôlego e a conversa é bem acalorada. Eles
devem ter vindo de fora. Ele balança a cabeça e coloca as mãos nos
quadris enquanto olha para mim.
Eu puxo a minha cabeça para baixo e viro uma esquina o mais rápido
que posso. Meu coração está batendo forte. Não tenho certeza se ele me
viu, mas o meu coração bate forte, mesmo assim. Também não sei por
que não quero vê-lo, talvez no fundo ele me intimide a níveis loucos.
Todo o meu corpo fica tenso quando ouço alguns passos atrás de
mim; eles soam pesados e rápidos.
Viro outra esquina e, felizmente, não há ninguém, sem olhos curiosos
observando a minha fuga. Isso pareceria muito suspeito.
Enquanto caminho em um ritmo imprudente, ouço passos atrás de
mim. Eu respiro fundo.
Pode ser qualquer um.
Os passos estão mais próximos e não tenho escolha a não ser olhar
para trás. Meus olhos se arregalam quando vejo Apollo com um sorriso
no rosto.
— Anjo, não há como você me superar, — ele diz, me pega pelo
ombro e me gira.
Eu olho em seus olhos escuros, e minha barriga começa a dar
cambalhotas.
Apollo inclina a cabeça para mim enquanto seus olhos procuram o
meu rosto.
— Como você está? — ele diz de uma forma suave e muito sexy.
Sua voz é como chocolate derretido, a coisa mais quente e deliciosa
que já ouvi.
— Está bem? — Ele sorri.
Eu balanço minha cabeça e olho para longe. — Estou muito melhor,
obrigada.
— Bom, — diz ele antes de me puxar para dentro de uma sala e fechar
a porta. Não consigo me mexer ou falar quando ele coloca os braços
musculosos ao redor do meu corpo.
Ele me encara por um segundo e sorri novamente como se estivesse
genuinamente feliz em me ver. — Você é cheirosa, — ele pisca.
Esse lado infantil dele vai ser a minha ruína.
Acredite em mim, ele é mais cheiroso ainda. Eu coro e olho para
baixo. — Sim, tenho certeza de que a minha fragrância está muito
melhor agora do que da última vez que você me viu. — Ele ri. — Tentar
localizá-la com essa roupa é exaustivo. Vocês todas parecem iguais, — ele
bufa, em seguida, arranca o meu chapéu, e eu grito.
Meu cabelo preto cai nas minhas costas e os nossos olhos se chocam.
Ele estava procurando por mim, então? As minhas bochechas esquentam.
O ar muda e a luz infantil em seu olhar se transforma em algo selvagem.
Ninguém deve confiar em um olhar tão escuro, eu quase posso sentir a
sua intensidade.
Seus olhos baixam para os meus lábios, em seguida, voltam para os
meus olhos. Seu peito está subindo e descendo, e sua mandíbula está
tensa como se ele estivesse tentando se conter. — O que você está
pensando? — Eu sussurro, quase me sentindo assustada.
— Você não quer saber, anjo, — ele murmura e coloca a cabeça no
meu pescoço. Eu rapidamente inalo com o choque enquanto sinto seus
lábios quentes se moverem sobre a minha pele.
Misericórdia!
Meus olhos se fecham e minha cabeça cai para trás, incapaz de
processar o que está acontecendo. Ele está doente da cabeça?!
Ele deve tomar isso como uma luz verde porque no próximo segundo
ele me pega e está me pressionando com mais força na porta, beijando
avidamente meu pescoço e queixo.
Eu gemo e envolvo os meus braços em volta do pescoço dele,
querendo mais. Eu pressionei meu corpo contra o dele, sentindo uma
onda enorme de desejo. Isso é insano e inesperado.
O toque dos seus lábios sobre os meus faz o meu corpo pulsar como
se tivesse sido eletrocutado. A deliciosa sensação de sua boca enquanto
ela se move sobre meus lábios faz a minha cabeça girar. Seus lábios são
quentes e agressivos, tirando cada respiração que eu tenho.
— Abra, — ele murmura em minha boca.
Eu abro a boca e sua língua empurra a minha, Apollo está assumindo
este beijo com força.
Ele está me bebendo e chupando meus lábios como um homem
faminto em busca de água. Eu mal tenho tempo para respirar enquanto a
sua boca devora a minha.
Eu sinto a sua mão no meu cabelo, empurrando a minha cabeça para
mais perto de seu ataque, a sua língua mergulhando em minha boca
repetidamente.
Eu nunca na minha vida fui beijada assim. Com tanta luxúria e
paixão, um tesão infinito.
Eu suspiro ao senti-lo puxar a minha cabeça para trás pelo meu
cabelo e sua boca deixa uma trilha de beijos quentes no meu pescoço, eu
sinto seus dentes arranharem a minha pele, como se ele quisesse me
morder.
Então eu o ouço xingar, não querendo rasgar o meu vestido
conservador. Posso sentir a urgência, impaciência, irritação. Há algo
selvagem nele que me deixa mais louca que o normal.
Ele me levanta mais alto e começa a me beijar através da minha
roupa. Sua mão agarra meu seio através do tecido, fazendo meus dedos
formigarem e um gemido escapa dos meus lábios.
Isso está saindo do controle rápido demais, eu não consigo nem
pensar direito neste ponto. Meu cérebro não consegue computar o que
está acontecendo comigo.
Apollo está sussurrando coisas que eu não consigo entender por
causa de nossa respiração acelerada. Então a sua boca se fecha sobre meu
mamilo e posso sentir o calor de sua respiração através da roupa.
Frustrado, ele começa a beijar meu pescoço novamente enquanto
levanta a minha saia. Eu sinto todo o sangue latejar lá embaixo e me
sinto como um animal selvagem.
Ele geme novamente no meu pescoço quando encontra a pele das
minhas coxas. Ele se inclina, para que a sua mão livre tenha melhor
acesso.
— Anjo, — ele ofega.
Acho que gemo quando sua mão roça em mim ali. A minha roupa
ainda está atrapalhando.
Então o impensável acontece.
Vozes.
Eu posso ver a dor e a raiva em seu rosto quando ele me deixa cair,
seu peito ainda arfando. Eu ouço vozes femininas misturadas com
masculinas. E um grupo.
Não podemos ser pegos.
Apollo agarra o meu rosto antes de sair, com a sua respiração se
confundindo com a minha.
— Você é minha, anjo, — ele declara, não se importando com o que
eu tenho a dizer sobre isso. É escandaloso ouvir algo assim de Apollo,
ainda mais por eu ser uma escrava.
— Eu quero mais, — diz ele com uma piscadela perversa e depois vai
embora.
Eu coloco a mão na minha testa e respiro ofegantemente. O que
diabos aconteceu? Apollo estava a ponto de bater uma siririca pra mim,
foi isso que aconteceu. Eu mordo meu lábio para ter certeza de que não
estou sonhando de novo.
Eu quero mais, ele disse
Eu coloco a mão em meus lábios trêmulos e solto um suspiro longo.
Eu quero entrar na toca do coelho.
Capítulo 10
Essa sessão de amassos mudou tudo.
Agora nós éramos íntimos.
Santo Deus.
O negócio pegou fogo, e ainda estou com as bochechas coradas só de
lembrar.
Apollo sabe beijar uma mulher, isso é um fato. Isso deveria ser
estampado em todos os livros de história. O nome de Apollo deveria
estar no dicionário sob a definição de — beijo.
Ando com a cabeça baixa na longa fila de servos, apenas remoendo os
meus pensamentos. Talvez as coisas não tenham mudado para ele, mas
com certeza mudaram para mim, você não pode ser beijada por um
homem desses e não se sentir mudada para sempre.
Ele disse que eu era toda dele.
Mas ele apenas diz às mulheres o que elas querem ouvir para que
cedam? Eu não sabia. Quero acreditar que eu sou especial, mas também
não sou estúpida.
Eu sou uma escrava. Ele é o príncipe herdeiro de Garthorn. Talvez eu
seja a escrava do mês no cardápio dele. Um homem que beija tão bem
tem muita experiência. Quem sabe faz ao vivo, penso, com a voz do
Faustão na cabeça.
Eu franzo a testa enquanto viro uma esquina, imersa em
pensamentos profundos.
Mort ficou muito entusiasmada por termos dado uns amassos,
dizendo que precisávamos seguir em frente com o nosso plano de
conseguir o DNA de Laura e derrubar a Rainha Irena.
Isso provará a sua infidelidade e a traição à Casa de Galeão. Eu
gostaria de conhecer o amante dela, e poderíamos pegá-los em flagrante.
Um grande banquete está sendo realizado hoje à noite, e nós ficamos
na cozinha o dia todo. Os escravos de nível cinco serão os servidores,
para minha sorte. Eu consigo servir duzentas pessoas, isso é muito.
Eu costumava ser garçonete em um clube de strip subterrâneo, e
vamos apenas dizer que era algo muito discreto, no sigilo. A ideia não é
refletir sobre as minhas escolhas ruins na vida, mas acontece que eu não
tenho experiência em servir a essa quantidade de pessoas numa só noite.
Existem apenas cinquenta escravos no setor cinco, então faça aí as
contas. Para piorar, eu sou considerada uma escrava excêntrica, porém,
sempre estou sendo observada. Eles me tratam como se eu fosse uma
besta rara, uma humana com três olhos.
Era estranho que Apollo tivesse me dado atenção? Escravos são
considerados menos que humanos, na verdade.
Falta uma hora para o banquete de dez pratos começar, e a diretora
deixaria Hitler com inveja. Se as nossas cabeças estiverem ligeiramente
inclinadas para o lado errado, os nossos tornozelos serão chicoteados.
É uma dor pior do que dar uma topada no dedão do pé, e eu pensei
que era impossível ter uma dor pior. Eu sempre achei que nada é pior do
que dar uma topada no dedo do pé — pois bem, eu estava errada. As
chicotadas no tornozelo são piores, acredite em mim.
O pai da diretora supervisiona a equipe masculina, e não estou
brincando quando digo que ele se move na velocidade da luz. Ele deve ter
mais de cem anos, que bruxaria é essa?
Meus olhos estremecem quando o vejo pegar um guardanapo caído
do chão de mármore.
Esta cena precisa de uma trilha sonora épica enquanto a sua mão se
aproxima do guardanapo, aumentando a tensão dramática que
certamente se revelará.
As vozes do coro cantam alto conforme o clímax se aproxima e a
tensão atinge seu nível máximo.
Meus olhos se arregalam quando ele tenta agarrar e erra
completamente, produzindo um brilho de suor na minha testa. Ele tenta
mais uma vez e prontamente dá um passo para o lado esquerdo,
desequilibrado.
Ai de mim.
Eu mordo meu lábio.
Ele tenta de novo, com ódio dessa vez, mas ultrapassa o pano por um
pé, me fazendo sibilar de frustração. Que merda. Apenas pegue! Por
favor. Por favor...
A essa altura, quase vale a pena dar uma surra no tornozelo para
ajudar o pobre coitado. Essa loucura precisa parar. Eu não aguento mais
o estresse.
Bem que usar um salva-vidas agora seria bom! #prontofalei
A comoção à minha esquerda atrai a minha atenção, felizmente, os
dançarinos saem do enorme salão de jantar, terminando a sua
performance emocionante.
Eu olho melancolicamente para eles, desejando ser uma artista em
vez de uma escrava em um vestido preto feio que até uma freira negaria.
E este é o nosso lindo vestido. Pareço uma pinguim grávida.
Pelo menos eu pude encontrar com a Destiny mais cedo, ela sendo a
chefe de cozinha. Ela me disse que não teve sorte com Apollo, mas não
parecia muito preocupada com isso.
Eu me perguntei por que até a ver com o filho do açougueiro,
Antangeo. Ele é bonito, mas não no nível de Apollo, no meu ponto de
vista.
Será que se você se apaixona por outra pessoa você pode ficar aqui?
Não consegui ler as notas de rodapé do contrato, mas isso seria muito
legal. Destiny está bancando a general, dando a cada um de nós bandejas
de comida de dar água na boca para servir. Parece que ela está gostando
do poder.
Mas, realmente, não posso ser completamente ingrata pela minha
posição horrível. Tive uma sessão de amasso gostoso com o Apollo,
então...
Talvez essa coisa de escrava esteja funcionando para mim.
Os próximos trinta minutos são insanos. Eu distribuo tantos pratos
que não tenho tempo para pensar ou olhar ao meu redor. Se eu derramar
alguma coisa sobre alguém, a diretora abrirá um portal para o Inferno e
me empurrará lá para dentro.
As risadas são altas, as taças de vinho tilintam no ar e os artistas
sopram fogo pela boca.
Eu olho para cima e percebo que a enorme sala de estar é elevada, e o
espaço aberto na parte inferior é onde todos os dançarinos e performers
se apresentam.
Na seção do meio, temos a maior parte da Casa de Garthorn, depois a
Casa de Mont Gallow à direita e o Galeão à esquerda.
Bastante extravagante, a iluminação baixa faz todas as louças de
cristal brilharem e cintilarem. A música é exótica, quase tendo um toque
do Oriente Médio.
Os tetos abobadados são magníficos, não há nenhuma outra maneira
de descrever essa obra-prima de vinte andares. Há ouro e prata em todos
os lugares, nas paredes e na decoração exibindo a grande riqueza na Casa
de Garthorn. É difícil identificar as pessoas quando você tem que manter
a cabeça baixa, mas eu vejo Cherie e Laura, e morro de ciúmes delas.
Eles parecem que estão se divertindo, rindo e comendo com a realeza.
Seus vestidos de festa são lindos.
A única coisa que o Encantado fez por mim foi deixar meu cabelo
comprido, a cara bonita e o corpo hidratado. Você sabe, caso o Apollo
queira tirar o meu coque em um ataque de paixão, terei um cabelo de
aparência fantástica. Aff
Enquanto carrego o terceiro prato, sou conduzida para o meio em
direção à realeza de Garthorn.
Eu mordo o meu lábio, não querendo encontrar o Apollo assim, do
nada.
Não sei como agir agora que ele me beijou. Será que ele pensa sobre
isso? Uma sensação estranha desce pela minha espinha.
Eu o vejo agora que estou perto e gemo por dentro, tento manter a
minha cabeça baixa, mas não consigo.
Ele parece estranhamente bonito esta noite, com essa iluminação
fraca. Seus cachos platinados estão puxados para trás de uma forma
bagunçada, provavelmente fazendo todas as mulheres secretamente
jogarem as suas calcinhas nele.
Como poderia um guerreiro macho alfa ter um cabelo tão glorioso?
Porque ele é um Deus, é por isso. Ele é provavelmente o verdadeiro
Apollo sobre o qual os gregos escreveram. Não acredito que aquela
criatura me beijou outro dia.
Então, um pensamento ocorre, talvez eu tenha imaginado a coisa
toda? Eu começo a entrar em pânico, esperando não estar tão apaixonada
a ponto de fazer uma coisa dessas.
Estou carregando vinho e enchendo os copos até chegar nele e
prender a respiração.
Ele está conversando com um homem sentado à sua direita,
aparentemente em uma conversa profunda, a luz da vela tremulando
sobre os seus braços musculosos.
Sua pele bronzeada parece rica, e veias grossas e suaves enfeitam a sua
pele esticada.
Minhas mãos estão tremendo enquanto eu encho a sua taça pela
metade. Não estrague tudo, e por favor não respire, nem que isso faça o
seu coração parar. Eu faço isso, e o copo está cheio sem que uma única
gota caia na toalha de mesa prateada.
Quando me levanto, sua mão agarra o meu pulso, me impedindo de
ficar totalmente de pé.
Eu suspiro.
Seu olhar escuro encontra o meu, e eu estou perdida, tudo
desmorona.
Apollo me puxa para mais perto. — Diga-me, — ele fala no meu
ouvido com aquele sotaque que me transforma em um animal selvagem.
— E se não houver nada no menu que me interesse?
Eu respiro fundo. — Eu posso falar com a cozinheira, — eu sussurro.
— Não, eu duvido que eles tenham o que eu quero comer, — ele
murmura, seu polegar movendo-se sobre a pulsação em meu punho.
Eu olho para cima e vejo que ninguém está prestando atenção em
nós, ouço uma risada bêbada perfurando o ar. — Então, sinto muito, sua
graça, mas não tenho certeza do que você quer.
Ele estala a língua e lambe o lábio inferior. — Eu acho que você sabe
sim e eu quero isso agora. — Eu me sinto tonta e noto que ele parece
estar um pouco bêbado, com o olhar levemente fechado.
— Eu não sei, — eu minto. Eu não posso acreditar que ele está dando
em cima de mim na frente de todos. Eu poderia ser punida por isso.
Estou feliz que as luzes estejam baixas e o vinho flua como água nessa
festa. Eu não quero ser acusada de ser uma vadia pela diretora e
chicoteada mais tarde.
— Mentirosa.
— Você vai causar um problema, — eu digo desesperadamente. —
Pare.
Ele franze a testa e inclina a cabeça parecendo adorável. — Eu
acredito que você é a primeira mulher a me dizer isso.
Eu sussurro perto de seu ouvido com um sorriso, fazendo-o apertar
seu aperto em mim. — Estou feliz por ser a sua primeira nisso, agora
mantenha a compostura. — Eu me levanto para sair antes de
começarmos a receber olhares.
Ele me puxa de volta para baixo. — Quero você.
Eu respiro rapidamente, sem saber o que dizer sobre algo assim.
— Essa noite.
Meu estômago revira e me sinto tonta. — Por quê?
— Porque eu não consigo pensar em mais nada, e isso está me
deixando meio louco, — ele sibila no meu pescoço e me puxa para mais
perto.
— Eu quero lamber cada centímetro do seu corpo até que você grite o
meu nome. Eu quero você de todas as maneiras possíveis, — ele confessa
com um brilho erótico em seu olhar negro.
Não consigo dizer nada.
Meu cérebro está falhando.
Vou arder por dentro.
Alguém chama por Apollo, fazendo-o afrouxar seu controle sobre
mim.
Eu liberto meu punho e saio em disparada, o rosto quente como lava
e extremamente incomodada. Quase tropecei, mas assim que levanto os
olhos, eles se chocam com os de Laura.
Ela viu toda a conversa entre Apollo e eu.
Laura levanta uma sobrancelha e dá um gole no vinho, sorrindo para
ele. Eu não gosto desse olhar, abaixo a minha cabeça e continuo.
De alguma forma, eu chego ao fundo do salão e fico na fila com os
outros, esperando por alguém que precise de mais vinho.
Acho que desmaio, na verdade, porque uma hora se passa, mas parece
um minuto. Vozes soam distantes.
Apollo me quer.
Tipo, muito.
A quantidade de desejo em seu olhar me assusta. É estimulante.
Mort está de repente ao meu lado e me cutuca. — Isto não é bom.
Eu balanço a minha cabeça e olho para cima com uma carranca.
O Rei do Galeão, meu pai de conto de fadas, está brindando a Laura,
que está de pé, e a Apollo, que também está de pé. Estou confusa. O rei
está falando e eu estou tentando acompanhar a conversa.
Um anúncio de noivado.
Eu franzo a testa em confusão.
Apollo acabou de se oferecer para fazer coisas muito deliciosas
comigo, sabendo que ele vai ficar noivo essa noite.
A dor irrompe através de mim, confirmando os meus piores medos.
Eu não sou nada mais do que um objeto sexual para ele. Dã, demorei
para perceber!
Não sou nada mais do que uma prostituta para ele, uma escrava com
quem ele pode se divertir até se casar com Laura.
Laura vence.
Vence a Fada Madrinha.
Eu deveria recuar e deixar isso acontecer. Eu engulo o nó na minha
garganta e as lágrimas vão embora. Eu sou uma garota tão boba. — Isso
significa que a Fada Madrinha vence?
Mort mal olha para mim. — Só se for amor verdadeiro.
— Ela ganha, — murmuro.
— Isso é nobre da sua parte, mas ele não olha para ela como olha para
você.
Eu concordo. — Isso é só porque ele quer dormir comigo, depois não
vai mais me olhar assim.
Eu olho para cima e os vejo sentados juntos agora, Laura sussurrando
algo em seu ouvido. Provavelmente amando o cheiro dele, e a força do
braço duro que ela está segurando.
Apollo está olhando para baixo e acenando com a cabeça para algo
que ela está dizendo, uma expressão que é difícil de ler. Ele olha para
cima então, e o seu olhar encontra o meu.
Eu gostaria de pensar que o olhar que eu dei a ele seja capaz de
transmitir os meus pensamentos. Te odeio. Idiota. Eu não sou uma
prostituta.
Como você se atreve a me dizer essas coisas quando está noivo? Estou
recusando o seu convite para esta noite, seu asno arrogante.
Mas agora que penso sobre isso, ainda preciso expor a Rainha Irena,
ou temo que o mal não vai se curar como deveria.
Laura ainda pode ficar com Apollo, o pirralho mimado, porque ele
está morto para mim, mesmo que as minhas partes íntimas discordem.
De qualquer maneira, não cabe a eles.
Laura derramou sua taça de vinho, fazendo um barulho alto de
estilhaçamento. Ela parece chocada, em seguida, aponta para mim, como
se fosse uma serva aleatória, para limpá-la.
Sinto as minhas costas sendo cutucadas e caminho para a frente me
sentindo humilhada.
Eu mantenho a minha cabeça baixa enquanto estou diante de ambos,
ajoelhando-me diante deles para limpar a bagunça. Parece bastante
inocente, mas Laura acabou de começar uma guerra, ela vai se
arrepender.
Eu olho para cima, e nossos olhares se chocam.
Eu ignoro o olhar atento de Apollo, o que é difícil. Não quero ver seu
raciocínio patético que escolheu a Laura. E daí, se isso trará a paz ao seu
reino, eu não poderia me importar menos agora.
Laura e eu compartilhamos um pequeno vínculo especial naquele
momento, e espero que ela leia isso em alto e bom som.
O jogo começou, vadia.
Vou acabar com a sua raça.
Capítulo 11
Se eu pudesse pintar meu rosto com duas listras pretas em cada
bochecha, eu o faria. O desejo de bater no peito de alguém e berrar como
um jogador de rúgbi é intenso.
— Mort.
Ela está sentada no canto do nosso minúsculo quarto, conversando
com Encantado. — Sim, humana insuportável?
Eu respiro. — A gente vai conseguir fazer isso, né? — Eu olho para ela,
mordendo meu lábio. Por que algo me diz que essa decisão mudará tudo?
— Eu certamente espero que sim. O Encantado acha que esta é sua
chance de virar o jogo, como a Laura fez com você na noite passada.
Ela olha para mim com um pequeno sorriso e revira os olhos.
— Eu acho que o Encantado está simplesmente animado para fazer
um vestido para você, finalmente, ele disse que passou a noite toda
acordado pensando no design. Eu dei alguns toques. Acho que você vai
gostar dos sapatos que eu escolhi.
Eu sorrio como um gato que está com um pássaro amarelo na boca.
A Laura e a Rainha Irena pediram que eu não comparecesse a mais
nenhuma cerimônia real, com medo de perturbar o Rei do Galeão. A cor
dos meus olhos é ofensiva, aparentemente.
A Laura está jogando duro, mas eu sou uma rebatedora muito boa,
fico sempre de olho na bola.
Eu vou dar tudo no campo, essa noite.
Sei que você está se perguntando o que estamos tramando, e irei
abordar isso já, já. Eu disse ao Encantado para fazer o seu pior — ou seja,
o seu melhor, é claro. Já que é pra tombar, tombei, queridinhas.
Estamos trancados no nosso quarto hoje, mas estamos de boa. Tenho
uma colega de quarto que pode passar pelo buraco da fechadura e
destrancar por fora, sem ser pega pelo guarda.
Bem, Mort vai colocar valeriana concentrada na bebida dele.
Aparentemente, a essência da planta é capaz de colocar um cavalo para
dormir. Mort tem muito o que fazer, assim como eu. Se alguém falhar, o
plano vai por água abaixo.
Passamos as últimas três horas nos preparando para esse esquema. Eu
poderia ser totalmente expulsa do jogo se isso fosse executado
publicamente, ou se eu tiver que usar um salva-vidas e acabasse fora do
desafio.
Trazer um escândalo à tona é muito perigoso porque há muitas
pessoas más que precisam do segredo bem escondido.
De alguma forma, eu sinto que a Laura vai lutar até a morte /
desclassificação porque o Apollo parece deixar as mulheres
completamente malucas.
São os olhos e o cabelo dele.
Mas eu não estou lutando por Apollo, no entanto. Não é mais isso, eu
estou aqui para ajudar a Zora e a Fada Madrinha Ltda, e para derrubar
Laura com explosões a base de pó de fada.
Quando tudo isso acabar, quero parecer um daqueles maratonistas
que jogam na linha de chegada um monte de pó colorido, para
comemorar a vitória. Uma bagunça doidona, estilo Fada Madrinha.
Então eu vou encontrar um microfone em algum lugar e deixá-lo cair
enquanto uma bomba explodir atrás de mim. E sempre bom ter objetivos
elevados em uma missão arriscada como esta.
O objetivo é conseguir a taça de champanhe de Laura hoje à noite no
Real Baile de Máscaras de Garthorn.
Sim, eu disse baile de máscaras, senhoras. (Eu falo sozinha, às vezes.
Tudo bem. Sei que isso não é saudável, mas não me importo.)
Estamos nos infiltrando no sistema. Nada vai me impedir e a
vingança será minha, pois tudo o que vejo é da cor vermelha de sangue.
Só rezo para que o Encantado não tenha feito um vestido rosa para
mim. Não estou com um humor rosa, sem querer ofender a cor. E difícil
ser uma fodona em rosa claro, na minha opinião pessoal.
Mort vai então dar o copo de Laura para Destiny, que terá acesso ao
setor médico. Mort teve a chance de falar com ela esta manhã, quando eu
estava limpando banheiros. (A diretora me odeia.) Mas a Destiny é a
verdadeira infiltrada e está disposta a ajudar em nome da Fada Madrinha
Ltda.
Ela conheceu o Apollo por estar perto de sua família e diz que fará
qualquer coisa por ele, porque ele é um cara notável.
Aff
Mas se ela está nos ajudando, isso torna o meu trabalho mais fácil.
Estou tendo a impressão de que ninguém se importa com a Laura, o que,
felizmente, será a sua ruína.
— Faltam só duas horas, — Mort diz e olha para mim, se levantando.
— Eu estarei de volta em uma hora, espero. A agente da Destiny deve ter
trazido a valeriana para mim.
Sinto-me como um capitão se despedindo do meu soldado de maior
confiança. Nós duas nos olhamos nos olhos e acenamos com a cabeça. —
Não seja pega e fique longe dos gatos.
Ela me saúda e canta: — Flutue como uma borboleta, pique como
uma abelha.
***

Estou suando, andando de um lado para o outro.


Eu gostaria de ter um relógio. Essa espera não é boa para a minha
pressão arterial e está começando a se tornar um problema de saúde. Eu
sei que já passou mais de uma hora e a festa começou.
Posso ouvir a agitação e a comoção entre os criados do lado de fora da
minha porta e no andar acima de mim. Posso até sentir as vibrações
profundas da música penetrando no solo frio.
— Mort, — eu imploro com meus olhos bem fechados. — Por favor,
apareça.
Outros trinta minutos se passam e eu começo a entrar em pânico,
rezando para que nada tenha acontecido com Mort. Por que ela demora
tanto tempo? Ela foi pega? Comida por um gato? Eu não sabia o que
pensar neste momento.
Bem quando vou perder a cabeça, vejo uma borboleta branca
passando por baixo da porta.
— Mort! — Eu pulo da cama tão rápido que quase torço o meu
tornozelo.
Ela aparece e se senta no chão, sem fôlego.
Pálida.
— O que aconteceu?!
— Eu fiz isso, — ela diz entre as respirações.
— Respire fundo e me diga o que aconteceu, — tento dizer com
calma.
— Eles colocaram doze guardas vigiando a sua porta. Não tínhamos
sedação suficiente para todos eles. A Laura realmente não quer você fora,
— ela respira e inclina a cabeça para trás contra a parede.
— Então, eu tive que improvisar.
Sinto que algo sempre acontece com Mort.
— Como?
— Eu tive que picar como uma abelha.
Meus olhos se arregalaram. — Por que não pensamos nisso antes?
Isso é brilhante! Você picou todos eles?
Ela levanta a cabeça e me encarou. — Você me deve uma, humana.
Eu inclino a minha cabeça e mordo a parte de dentro bochecha, para
não sorrir. — Por quê? Foi difícil? — Eu pergunto, inocentemente.
— Eu mudei de forma para uma vespa selvagem. Elas injetam veneno,
não um ferrão, é mais como um escorpião. Os dois primeiros não foram
difíceis, mas todos começaram a me golpear e tentar me acertar com suas
armas.
— Oh.
Isso parece perigoso.
— Eu quase fui esmagada umas dez vezes, — ela sibila e me olha com
raiva.
— A única desvantagem é que temos que nos apressar, eles ficarão
desmaiados por apenas trinta minutos, — ela diz, se senta e começa a
digitar. — Estou conectada. Encantado está pronto para nossa deixa.
Eu me levanto, os nervos me fazendo tremer.
— Ok, comece a girar, o Encantado tem as coordenadas da sua
posição. Ele também diz — de nada, — isso é uma vingança para nós, já
que quase fomos comidos por aquelas coisas tubarão-baleia — Ela está
piscando e digitando rapidamente.
Eu giro e minha pele começa a esquentar e formigar, me fazendo
ofegar. Até o meu couro cabeludo está esquisito, e no momento seguinte,
um clarão branco é tudo que vejo.
Eu fico lá, respirando com dificuldade, com medo de mover um
músculo.
Socorro...
— Eu preciso de um espelho, — eu digo.
Os olhos de Mort estão arregalados enquanto ela me encara,
balançando a cabeça sem palavras. — Vou pedir ao Encantado. — No
próximo segundo, é como se a Star Trek Enterprise refletisse em um
espelho de corpo inteiro.
Eu fico na frente dele e meu queixo cai.
— Mort, — eu digo.
— Olhe para os seus sapatos, fui eu que escolhi, — ela murmura. — O
Encantado é muito bom, admito.
O que estou olhando no espelho é uma mulher que não é real, talvez
uma ilusão. Achei que Encantado poderia me colocar em vermelho ou
roxo. O que eu não esperava era ser transformada em uma Abelha
Rainha.
Renda preta e cetim amarelo.
O amarelo não é como a adorável luz do sol, mas de um tom intenso,
tipo o fogo. Como quando você tem um raro vislumbre de amarelo puro
em um rio de lava fluindo — aquele amarelo. O brilho da seda parecia
quase encantado, iluminado por dentro.
A minha cintura ficou incrivelmente pequena e meus seios estão
apertados para cima de uma forma que não parecia possível fazer sem
dez rolos de fita adesiva.
A seda amarela é como uma segunda pele no meu corpo até atingir os
meus quadris curvos e então se alargar dramaticamente.
Listras brancas e pretas enfeitam as anáguas, e até vejo uma camada
de bolinhas pretas e amarelas.
É
É além de deslumbrante tem uma pegada meio gangster, eu me sinto
parte da máfia. Minhas longas luvas pretas combinam com a meia-
máscara brilhante com penas amarelas e pretas.
Respiro fundo, amando o estilo desse inundo alternativo. Encantado
não brinca em serviço.
Meu cabelo está preso em um penteado artístico. As fivelas negras
quase se assemelham a petróleo, de tão brilhantes.
Meus lábios vermelho-sangue parecem picados por uma abelha, e
meus olhos esfumados sob a máscara fazem o meu olho dourado parecer
totalmente amarelo.
Agora eu entendi porque o Encantado escolheu amarelo.
Eu pareço um felino.
Ele também incluiu um véu curto de renda preta se eu escolher
proteger a cor dos olhos e ainda ser capaz de ver, brilhante. Isso é genial.
Eu sorrio e dou risada, olhando para Mort com olhos arregalados e
incrédulos.
— Como diabos vou usar isso?! — Já estou tremendo e nem saí da sala
ainda. Terei que me esquivar de Apollo e Laura como se fosse uma praga,
mas ei, quem tá na chuva é pra se molhar.
Mort esticou o punho e nós duas rimos.
— Flutue como uma borboleta, pique como uma abelha.
Capítulo 12
Finalmente chegamos ao último corredor que nos levará ao salão do
baile real, estamos usando os nossos mantos escuros por cima dos
vestidos. Meu coração está batendo forte e as minhas pernas estão
bambas.
Este não é o momento de ficar com medo.
— Mort, você tem certeza que as pessoas não vão perguntar quem eu
sou? Meu vestido chama a atenção, para dizer o mínimo, eu odiaria que a
guarda real fosse chamada — digo, secamente.
— Quinhentas pessoas estarão presentes nesta noite. Eu acho que
você vai ficar bem. A festa de hoje é sobre mistério, de qualquer maneira,
e acho que é meio rude perguntar o nome de alguém em um rolê desses.
— Quinhentas pessoas é gente pra caramba, — eu sussurro, com uma
carranca, aceitando que esse é um bom argumento.
Acho que vai ser mais difícil chegar perto do copo de Laura do que eu
pensei.
Eu mordo meu lábio enquanto vejo Mort tirar a sua capa e jogá-la
para o lado.
Ela está usando um vestido azul escuro que lembra um pavão, com
penas por toda parte. Não é horrível e também não é maravilhoso. Muito
neutro, como sempre.
— Poker face, — Mort diz, me incentivando a continuar andando. —
Vou dar a volta para ver se consigo ter uma visão mais clara de Laura.
— Destiny afirmou que ela é muito cuidadosa para não deixar nada
do seu DNA ser deixado por aí, provavelmente achando que o queremos
desesperadamente.
— Vou levantar meu punho quando puder ter uma visão clara dela, o
que significa que você precisa me manter sob sua visão e vice-versa.
— Você parece até um soldado de filme antigo, — digo e respiro
fundo para me acalmar. Essa noite, eu não sou eu mesma. Eu sou uma
mulher em busca de vingança.
Ninguém gosta de um valentão loiro e arrogante.
Eu lentamente tiro a minha capa, expondo o vestido deslumbrante de
ônix preto e amarelo brilhante.
Minha pele parece marfim perfeito, contrastando com meus cabelos
totalmente pretos.
Estou usando várias anáguas listradas em preto e branco. Duvido que
eu consiga encontrar minhas próprias pernas, e o espartilho é tão
apertado que deixa pouco espaço para a imaginação.
Meus seios parecem gloriosos; eles realmente parecem globos de
marfim perfeitos, se a ideia aqui fosse compará-los a alguma coisa. Tenho
orgulho das minhas duas meninas e posso falar isso sem medo de ser
feliz.
Encantado fez um trabalho fantástico, já entendi porque ele é o braço
direito de Zora. Usar o banheiro feminino será um desafio, portanto,
preciso manter a minha ingestão de champanhe em apenas uma taça.
Eu abaixo meu véu de renda preta e pego o meu leque amarelo.
Com determinação, chegamos até o portal de entrada, que é enorme.
As portas de prata devem ter dois andares de altura, nunca vi uma coisa
tão esplendorosa antes.
Multidões de pessoas se aglomeram por toda parte em todos os
diferentes tons e estilos vibrantes, em trajes de tirar o fôlego.
Nunca tive permissão para entrar no salão de baile real, e ele é
realmente uma maravilha do mundo. A iluminação é baixa e exótica, os
muitos lustres estão emitindo um brilho sensual que faz um arrepio
deslizar pela minha espinha.
Safira profunda e prata adornavam a decoração elaborada, e o piso de
mármore escuro brilhava e cintilava com a luz fraca.
Quando você entra pela primeira vez, uma enorme escada leva para o
piso do salão de baile. Uma entrada triunfal é um eufemismo aqui.
O veludo safira mais requintado está pendurado no centro das
escadas, completando a obra-prima.
Enquanto meus olhos examinavam a beleza do salão de baile, quase
me belisquei, foi incrível.
Inebriante.
A música parece tecer o seu caminho em tomo da minha alma, me
transformando em outra pessoa. A manifestação de algo aparentemente
pecaminoso que atormenta e faz cócegas em meus sentidos, esteja eu
pronta para isso ou não.
As vibrações são misteriosas e românticas, todas ao mesmo tempo.
Estou agora no topo da escada, olhando para essa fantasia, um mundo
que eu nunca pensei que existisse.
De repente sorrio, sentindo uma onda de adrenalina.
Pego meu vestido cintilante e começo a descer para o nível principal.
Um garçom bateu em um pilar à minha esquerda, o barulho de vidro
quebrando se perdeu no zumbido do salão de baile.
Talvez o amarelo do meu vestido o tenha cegado, eu penso, com um
sorriso nervoso. Isso é emocionante, um corpo magnífico que eu nunca
experimentei.
Eu olho para a minha esquerda e vejo homens com máscaras escuras
olhando boquiabertos para mim, então levanto o meu véu de renda e
pisco para eles. O queixo de um deles cai quando eu passo, e isso me
deixa bem animada.
Quando você me tira do meu traje de escrava, eu sou uma mulher
selvagem. Acho que estava com a autoestima muito baixa com essa coisa
de ser escrava, e agora me sinto livre.
Mesmo que seja apenas por essa noite.
Eu ignoro os olhares e sussurros das pessoas e procuro por Mort,
pegando uma taça de champanhe de um garçom que passava.
Eu tomo de uma vez, precisando de toda a ajuda que posso conseguir
e jogo a taça vazia nas mãos de outro garçom que passava.
Eu espio Mort, e ela balança a cabeça para mim, e então eu a perco
enquanto grupos de pessoas bloqueiam a minha visão.
É um pouco difícil de ver, mas avisto o trono na outra extremidade do
salão.
Se eu fosse apostar, Laura e Apollo estariam sentados lá. Existem
cortinas e uma luxuosa área de estar, quase como se fosse a área VIP de
uma boate.
Eu mordo meu lábio, rezando para que ela esteja ficando um pouco
bêbada e deixe o seu copo sem vigilância. Este é o cenário perfeito para
pegar Laura desprevenida, esperando que essa seja uma missão rápida
para que eu possa aproveitar o resto da noite.
Ela ainda acha que eu estou trancada, com dor de cotovelo, sem
dúvida.
Eu também quero sair do campo de visão de Apollo.
Ele não vai saber que sou eu, então duvido que vou chamar a sua
atenção por mais de um ou dois minutos. Há toneladas de mulheres aqui
e, mais importante, ele é um homem noivo agora.
Isso me dá vontade de vomitar. Enquanto desço até o nível do trono,
fico imaginando qual vestido Encantado fez para Laura.
Espero que seja um vestido marrom com uma gola alta que coça.
Pensamento positivo nunca fez mal a ninguém.
— Com licença, senhora, — uma voz masculina diz ao meu lado
enquanto eu fico imóvel. — Você é uma visão do paraíso. Por favor, dance
comigo.
Eu me viro para ver um homem de estatura média com uma máscara
de penas roxas. Sua elegância preta e roxa é atraente o suficiente, e eu
dou uma olhada rápida para a pista de dança, que por acaso fica bem na
frente do assento do trono.
Isso me dará uma bela visão de Laura, se ela estiver lá, é claro.
Perfeito.
Eu sorrio para ele e estendo a minha mão, para ele beijar.
Ele levanta seus olhos azuis até os meus e suspira. — Estávamos
tentando adivinhar a que reino você pertence, pois não me lembro de ter
visto você no banquete.
Oh, eu estava lá, limpando os seus pratos melecados.
Eu aceno a minha mão. — Havia tantas pessoas lá que você deve ter
simplesmente me esquecido.
Ele ri e coloca meu braço no dele. — Impossível.
— Oh, — eu rio, me sentindo nervosa, e olho ao redor em busca de
algum sinal de Mort.
— Você me lisonjeia, Senhor. Eu adoraria dançar com um cavalheiro
tão charmoso quanto você, — eu digo brincando, esperando soar como
uma mulher bem-educada.
Na verdade, não tenho ideia do que eu estou fazendo.
Ele parece um pouco embriagado enquanto olha para mim com as
pálpebras pesadas, seu olhar vagando para o meu peito.
— Eu serei a inveja de todos os homens aqui. Você me honra. Você
está tão linda que quase me esqueci de respirar quando te vi, — ele ri e se
inclina como se fosse me contar um segredo. — E, minha querida, não
existe nada de cavalheiro em mim. Sou apenas um lobo paciente. — Ele
me olha maliciosamente, e eu entendo perfeitamente o que ele quis
dizer.
Ele vai ter que ser muito paciente então.
Paciente para sempre.
Ele fala sobre a vasta propriedade que detém em Mont Gallow, com o
objetivo de me fazer desmaiar de inveja ou algo assim. Eu apenas aceno
com uma risada ocasional enquanto ele me leva para a pista de dança.
Meu vestido está brilhando lindamente enquanto eu giro e me
preparo.
Agora, devo dizer que eu sei dançar perfeitamente. Já está tudo
automático dentro de mim. Acho que quando eles colocam no nosso
cérebro a linguagem do local, nós também aprendemos os costumes
como dançar.
Graças a Deus, ou isso seria um momento muito estranho.
Seu estilo de dança é um pouco parecido com o clássico salão de baile,
mas com um tempero adicional. Um pouco de tango aqui e um pouco de
dança sensual ali.
Há muitas pessoas na pista de dança, mas quando começamos a
dançar uma valsa, começo a me aproximar para ver os membros VIP da
sala elevada.
Tenho apenas alguns segundos a cada volta para obter o máximo de
detalhes possível.
Com outro giro, estou perto o suficiente para ver pessoas mascaradas
conversando, bebendo e rindo.
Eu mordo meu lábio quando estou girando novamente. Nesse ritmo,
vou precisar dançar a noite toda para ter uma visão clara.
Eu giro novamente e vejo Laura em um lindo vestido lilás, é claro.
Encantador não faz nada que não seja de tirar o fôlego. Mas, vou dizer
que o meu é melhor.
Na minha humilde opinião.
Ela está andando de braço dado com um homem mascarado que
definitivamente não é Apollo, talvez um primo? Parece que ele a está
levando para a grande pista de dança.
Meu coração salta no peito quando vejo uma taça de vinho sobre uma
mesa de vidro de onde ela veio. É dela?
Eu teria que me aproximar para ver melhor. Rezei para que tivesse
batom no vidro que combinasse com o tom rosa nos lábios de Laura.
Também vejo quase todos os membros da família real descendo para
a pista de dança.
A música para.
Eu franzo a testa enquanto olho ao redor.
Todos, incluindo o meu parceiro de dança, começam a bater palmas.
Eu olho para a minha frente e vejo Laura rindo e batendo palmas, e à sua
esquerda está o magnífico Apollo Augustus Garthorn.
Eu respiro fundo, percebendo que estou tão perto, muito perto.
Acontece que estou na frente da multidão de dança por acaso, o que não
é nada ideal.
Estou com medo de que Laura me reconheça e me desmascare na
frente de todos. E com esse pensamento, tento fugir o melhor que posso,
mas sem sucesso. Isso está chamando mais atenção para mim.
Aparentemente, as famílias reais participarão de um baile, e todos
estão homenageando-as, pelo que percebi. Minha mente está em pânico.
Meus olhos atingem Apollo, que está rindo do que alguém disse. Ele
parece uma versão do Zorro com sua máscara lisa de metal e um traje
escuro.
Os botões em seu pescoço estão desabotoados, e sua camisa ondulada
nas costas está me deixando tonta. Apollo alguma vez apareceu menos do
que magnífico em algum lugar?! Provavelmente nunca em sua vida.
Eu me sinto mal pelos outros homens de aparência normal que estão
ao redor de Apollo. É como ver Jason Momoa ao lado do Didi, dos
trapalhões.
Suas coxas musculosas são bem exibidas pelas calças cinza apertadas,
mostrando cada protuberância, bem... de músculos.
Minhas bochechas esquentam, e eu xingo baixinho, desviando o
olhar.
Controle-se, Viola.
Não querendo que meu olhar fique fixado no maravilhoso pacote real,
que parecem ser bastante impressionante.
Quando eu olho para trás, todo o meu corpo congela, o olhar escuro
de Apollo está atualmente inspecionando o meu vestido amarelo com
uma expressão que não consigo ler.
É normal, digo a mim mesma, o vestido é, de fato, deslumbrante. Eu
respiro fundo e me movo, olhando para longe como se eu não
percebesse.
Eu provavelmente só chamei a atenção para o meu decote
impressionante, chega de respirações idiota. La-la-la-la, apenas mais uma
garota comum com uma costureira incrível. Nada demais aqui.
Sinto meu parceiro de dança colocar meu braço no dele como se
estivesse me reivindicando a Apollo. Ah, por favor! Eu rolo meus olhos e
lentamente olho para trás para encontrar Apollo, ainda olhando para
mim.
Ele não pode ver meus olhos, mas eu posso ver os dele, e eles estão
definitivamente focados em mim.
Ele levanta o queixo e inclina um pouco a cabeça, uma expressão um
tanto pétrea e indiferente. É tão difícil dizer o que ele está pensando por
trás daquela máscara prateada.
Estou doente de nervosismo, perguntando-me desesperadamente o
que ele está pensando. Por que diabos Encantado me colocou em um
vestido tão chamativo?! Agora estou me arrependendo de usar essa obra-
prima.
Eu preciso sair daqui, ou pelo menos cair fora da vista de Apollo antes
de estragar o meu disfarce. Eu sinto que não consigo respirar, sufocada.
Eu mentalmente me esbofeteio.
Preciso ficar calma e parar de agir desse jeito estranho. Apollo é
apenas um homem normal que gosta de admirar a beleza feminina, nada
mais. Ele está noivo, caramba. Estou exagerando, como sempre.
Eu sibilo baixinho porque a dança está começando e, para o meu
horror, é uma dança de troca de casais. Claro que é.
A música é exótica e cativante, exatamente o que eu não quero. Estou
muito grata pela luz baixa e pelas máscaras.
Laura agora está fazendo par com Apollo, ótimo. Ela parece
completamente apaixonada por ele, franzindo os lábios e ficando muito
perto.
Esta dança não é rápida, mas você muda de parceiro ao longo dela.
Eu pego a mão do meu parceiro e faço uma reverência, e ele se curva.
Dançamos e eu sinto que estou em uma espécie de zona crepuscular,
onde meu corpo está se movendo, mas meu cérebro é uma verdadeira
névoa. Eu só posso ouvir as notas sedutoras da sinfonia e o meu coração
batendo no ritmo. Devo dançar meu caminho até a borda e fazer uma
fuga limpa, sem ser detectada. Estou na zona de perigo.
Estamos trocando os casais agora e eu giro e levanto meus braços
enquanto um novo cavalheiro pega na minha mão. Isso continua
acontecendo até que eu me aproximo da borda da pista de dança,
enquanto estou girando novamente. Só mais algumas voltas e estou livre.
Eu chego até a borda e sinto uma mão forte pegar a minha e me puxar de
volta para a pista de dança, me girando com força.
Em algum lugar nas profundezas da minha mente em pânico, sei que
estou ferrada. Eu sei quem eu vou ver quando essa pirueta parar.
Olhos escuros e brilhantes olham para mim, deixando-me ver um
pouco o que ele está pensando. Meu corpo todo fica tenso e me esqueço
de respirar. Apenas aja com naturalidade, por favor.
Sinto sua mão em meus quadris, posicionada muito mais baixa do
que as mãos dos outros homens, e baixa demais para um homem noivo.
Enquanto ele me gira, seus dedos percorrem minha cintura e abaixam,
aplicando pressão aqui e ali. Parece de propósito, mas não tenho certeza.
Eu odeio essa tensão, esse pânico. Conforme eu giro, novamente, fico
cara a cara com ele, e para o meu desespero percebo que sua expressão
mudou.
Ele sabe?!
E hora de trocar de parceiro, mas ele não se move, apenas agarra
minha mão novamente e me gira.
Uhh... ele deve saber.
Apollo não mudou de parceira, e fico petrificada ao me perguntar por
quê.
Talvez seja um erro da parte dele, penso rapidamente. Não quero tirar
conclusões precipitadas, ainda. Certamente isso é tudo a minha própria
paranoia, meu pensamento demente.
De repente, sinto o calor de seu corpo contra minhas costas enquanto
sua mão me pressiona com força contra ele. Sinto cada centímetro de seu
corpo rígido contra o meu e não estamos mais dançando.
Felizmente, a pista de dança lotada e a iluminação fraca quase nos
escondem na multidão.
Meu coração bate forte no meu peito.
Eu me sinto como um ratinho sendo pego pela pata do leão.
Sua mão espalmada sobre meu estômago se move para cima,
aplicando mais pressão conforme ela sobe.
Tento me mover, mas sua mão livre agarra o tecido brilhante do meu
vestido e o puxa de volta. Ok, estou com problemas. Sirenes de alerta
estão tocando na minha cabeça, fuja agora! Alerta vermelho!
Adrenalina está fluindo em minhas veias e eu engasgo quando sinto a
sua mão sob meus seios. A boca de Apollo está quente contra minha
orelha quando ele solta meu vestido para arrancar minha máscara,
jogando-a em algum lugar à minha esquerda.
Tento me mover novamente, mas a sua mão agarra meu pescoço,
apertando apenas o suficiente para eu entrar em pânico. Seus dedos sob
meus seios se movem para cima, acariciando meu decote
impressionante.
Borboletas se espalham em meu estômago enquanto sinto esse
homem maravilhoso me acariciar com ousadia. Em outras
circunstâncias, eu seria considerada a garota mais sortuda do reino.
Ele está me provocando.
Sua boca no meu pescoço quase me faz gemer. Eu sinto seus dedos
mergulharem abaixo do meu espartilho de renda para pegar meu seio
totalmente, mas em algum lugar no fundo da minha mente, eu recupero
os meus sentidos.
Eu me viro para dar um tapa nele. Ele mal recua quando pega meu
pulso no ar. Nossos olhares se chocam.
Seu olhar escuro é duro e sua mandíbula está tensa, ele parece um
pouco maníaco. Instável. Imprevisível. Ele está respirando com
dificuldade, e posso dizer que a besta dentro dele acordou.
Apollo se move tão rápido que a única coisa que posso fazer é gritar
enquanto ele me segura com força contra ele.
Rezei para que ninguém estivesse testemunhando isso.
Sua boca sibila em meu ouvido: — Vou te dar uma vantagem de cinco
minutos.
Eu empurro minha cabeça para a dele. — Para quê? Até que você
abuse de mim? — Eu sussurrei de volta, me sentindo quase tonta com
tanta adrenalina.
Ele tira a máscara e o olhar que ele me dá faz meus joelhos tremerem.
Ele ainda está respirando com dificuldade enquanto seu olhar vagueia
sobre o meu vestido glória amarelo, e ele lambe os lábios.
Eu tremo, vendo o desejo ganhar vida em seus olhos.
— Infelizmente não, ajo. Vou lhe dar cinco minutos antes de chamar
a guarda real para te prender.
Eu suspiro. — Eles vão me matar.
Ele inclina a cabeça e ergue os cinco dedos e sussurra. — Cinco. —
Seus olhos parecem muito escuros, e o sorriso que se espalha por seus
lábios me dá vontade de gritar.
Este lado de Apollo eu nunca vi antes.
Abortar a missão!
Eu recuo e me viro para correr!
Capítulo 13
Eu corro loucamente.
Meu coração está batendo como um antigo tambor de guerra,
ecoando alto em meus ouvidos.
Eu olho para trás a tempo de ver Apollo assobiar alto e erguer o seu
braço poderoso, com os olhos escuros fixos em mim. Ele parece sinistro,
seu corpo alto chama a atenção de todos.
Isso é ruim.
Acho que grito e examino o corpo de meia dúzia de pessoas na minha
corrida louca para fora do salão de baile.
Um garçom está carregando uma bandeja de champanhe na qual
consigo a proeza de bater, espatifando vidro por toda parte.
Minha visão é como um túnel e tento correr o melhor que posso com
este vestido elaborado. Eu posso ouvir suspiros e gritos enquanto corro,
passando pelas pessoas.
Apollo nem me deu os cinco minutos que ele prometeu.
Estou chocada.
Eu o odeio com todas as minhas forças.
Passando por um longo corredor escuro, tento me lembrar de como
sair deste castelo maldito. Há uma bifurcação no corredor, então paro
sem fôlego e tento desesperadamente me lembrar.
Qual é o caminho?!
Com raiva, viro à esquerda e me forço a entrar em vários corredores e
quartos diferentes. Eu ouço o estrondo profundo dos guardas,
aumentando meu pânico.
Eu termino em uma grande despensa e faço uma pausa para
recuperar meus pensamentos e raciocínio. Foco, eu preciso operar em um
nível mental mais alto do que estou agora.
— Viola!
Eu fico tensa, então me viro para ver Mort se materializar.
— Mort! — Eu grito, com alívio fluindo através de mim. — Estamos
ferradas, ele sabe!
Ela corre até mim e começa a digitar rapidamente. — Ainda não. —
Mort continua, enquanto ela olha ao redor da sala.
— Eu estava com medo de que isso acontecesse.
Vou encontrar um transporte para nós. Mas você precisa sair daqui o
mais rápido possível, já que você é limitada apenas à sua forma humana.
— Passe por aquela porta mais distante e vire imediatamente à
esquerda, depois suba as pequenas escadas e siga à direita.
Depois de ir para a direita, escale a escadinha dos servos e entre
disfarçadamente no poço da lavanderia, vire uma curva fechada à
esquerda e depois à direita, depois outra à esquerda, mas não à esquerda.
— Desça aquele longo corredor e siga para a esquerda mais três vezes
e continue em frente. Isso deve levá-la à saída dos servos.
Dou uma olhada em Mort você está me zoando?!.
Ela exala e franze a testa.
Eu aperto os meus olhos. — Vou chegar ao andar de baixo e pular pela
maldita janela, aquela da velha biblioteca na ala leste, que mal está
ocupada. — Sei como chegar lá, penso, procurando em meu cérebro
algumas direções claras. Afinal eu limpei a chaminé ali durante dois dias
seguidos.
— Encontre-me do lado de fora da janela. É uma janela tipo balcão. —
Provavelmente essa é uma ideia horrível, mas é o melhor que consigo
pensar.
Ela morde o lábio e acena com a cabeça. — Vá rápido, se esconda nas
sombras.
Eu olho para o meu vestido amarelo cintilante. — Eu preciso de uma
capa.
— Toma a minha.
Mort saiu em forma de abelha assassina e agora estou aqui me
preparando mentalmente. A capa preta esconde meu vestido, dando-me
mais confiança.
É agora ou nunca.
Eu saio, certificando-me de ficar nas sombras. Agradeço que o castelo
esteja às escuras por ser noite. Passar por tantas portas sem ser vista por
ninguém não seria possível durante o dia.
Tenho certeza de que não respirei por uns bons três minutos
enquanto corria pela Grande Biblioteca.
Na verdade, não foi nenhum talento ninja secreto que possuo que me
levou à ala leste sem ser detectada, mas sim a mais pura sorte. Eu me
escondo nas sombras enquanto um grupo de guardas passa correndo por
mim.
Fechando os olhos, eu salto para fora do esconderijo e viro uma
esquina, então suspiro, colocando a mão sobre a boca para conter um
grito. Meu coração está batendo forte quando olho para a estátua de um
guerreiro Garthorn.
É apenas uma estátua.
Loucura.
Eu ouço vozes e todo o meu corpo enrijece. Código vermelho. De onde
estou eu posso literalmente ver a biblioteca da ala leste. Devo dar uma
corrida louca até a porta?
Antes que eu possa decidir, minhas pernas já estão correndo para a
biblioteca. É como quando você decide cruzar quando o semáforo está
amarelo, rezando para que não haja policiais por perto. É mais instinto
do que qualquer outra coisa.
Se o meu coração bater mais forte, minhas costelas quebrarão.
Ao girar a maçaneta dourada, no fundo da minha mente, percebo que
não ouço mais vozes. Fecho a porta e respiro com dificuldade, tentando
não hiperventilar. Eu quero gritar de alívio.
Eu fiz isso.
Estou respirando com dificuldade enquanto examino a sala — vazia.
Eu me empurro para fora da porta e corro para a grande janela balcão,
Mort deve estar lá agora.
Saltando no sofá, eu olho através do vidro, a vidraça embaça com a
minha respiração rápida. Enquanto meus olhos examinam, de repente eu
ouço um assobio distante.
Eu paro e faço uma careta, ouvindo.
Inclinando a minha cabeça, percebo que o som está vindo do corredor
de onde acabei de sair. À medida que o assobio assustador fica mais alto,
todo o meu corpo congela de pavor.
Os cabelinhos da minha nuca se arrepiam e minha respiração
aumenta. Parece muito calmo, muito seguro de si para todo aquele
frenesi do castelo.
Não pode ser.
Eu me levanto lentamente enquanto o assobio para bem na frente da
porta. Eu nem me movo. Eu não consigo. Estou em estado de choque
quando a porta é aberta e lá, em toda a sua glória, está Apollo.
Por tudo o que é mais sagrado -
— Aí está você, — ele diz com um sorriso que parece um pouco
selvagem. Apollo perdeu a paciência, ao que parece.
— Como você me achou? — Eu sussurro asperamente.
Ele apoia o quadril no grande piano preto e parece ofendido, seus
olhos escuros brilhando.
— Certamente, pensei que você me daria mais crédito do que isso,
anjo. — Ele estala a língua, e o seu olhar me lembra o de um animal
selvagem. Indomável. Imprevisível.
Eu apenas fico olhando para ele, com o pulso martelando no meu
pescoço. Não tenho ideia de quais são as suas intenções neste momento.
Eu me sinto como um animal acuado, se eu decidir fugir, ele me terá em
suas mandíbulas, em segundos. Então, eu fico o mais imóvel que posso.
— Não está com vontade de falar? — Ele inclina a cabeça e parece
preocupado.
— Como você sabia que eu estava aqui? — eu pergunto novamente,
dando um pequeno passo para trás.
— Eu sou como um cão de caça. Eu posso sentir o seu cheiro a um
quilômetro de distância, — ele murmura, com um brilho em seus olhos.
Ele cruza os braços, fazendo com que seus bíceps pareçam gigantescos.
Um arrepio desce pela minha espinha e eu não tenho certeza se ele
está falando sério. Mas uma parte de mim acha que ele não está
brincando.
O homem tem olhos anormalmente estranhos, o que me deixa
nervosa. Eu realmente não tenho ideia do que o Apollo é capaz.
Seu cabelo claro reflete a luz da lua. — E tenho visão noturna. Devo
avisá-la, caso você decida correr para a escuridão.
— Você é um... — Eu digo sem conseguir me conter.
E melhor ele não dizer — vampiro.
Mas Apollo ri como se eu fosse uma bobinha...
E pelo amor de tudo que é sagrado, por que a voz dele é tão sensual? E
profunda o suficiente para comandar exércitos inteiros para a batalha,
mas ainda é bonita o suficiente para seduzir qualquer mulher,
deliciosamente.
Eu cerrei meus dentes, tentando manter a compostura. Eu sinto que
vou pular para fora da minha pele. Estou desenhando em branco, e esse
cara me deixou em um nível totalmente novo de confusão.
— Tire a sua capa.
Meus olhos se arregalam. Antes de eu dizer a ele para ir para o
inferno, algo pisca à minha esquerda. Eu mal olho e vejo um arco de
prata atrás da mesa, fora do campo de visão de Apollo. Isso não estava lá
antes, o que significa que Mort está aqui! Ela só deve ter mandado
Encantado me fazer um arco.
Eu serei amaldiçoada.
Eu rapidamente olho para trás de Apollo, e ele franze a testa como se
pudesse sentir uma mudança em mim. Eu respiro algumas vezes e me
movo para o lado, em direção à flecha.
Ele se levanta do piano e dá um passo à frente. Agora. Eu
imediatamente pulo em um mergulho e pego a flecha; tudo acontece tão
rápido que me esqueço de respirar.
Estou respirando com dificuldade, pois estou apontando a flecha
diretamente para Apollo. — Não se mova, — eu falo entre as respirações.
Ele parece genuinamente chocado. Apollo levanta as mãos e um
sorriso lento se espalha por seus lábios. — Eu não esperava isso, anjo
bravo.
— Eu quero que você se afaste.
— Receio não poder fazer isso.
Eu engulo. — Vou atirar e vou lembrá-lo de que tenho uma mira
muito boa.
Ele estreita os olhos escuros e inclina a cabeça. — Eu duvido.
— Último aviso.
Apollo saca uma longa lâmina que emana uma luz de fogo. Parece
letal. Ele gira e pisca para mim. — Dispare, anjo.
Ele é louco.
Eu mordo meu lábio e aponto para a sua coxa, mas na verdade eu não
queria matá-lo. — Sinto muito, — digo enquanto deixo a flecha voar pelo
ar.
O tempo está parado.
Nunca vi um humano se mover tão rápido. Apollo salta para a
esquerda tão rapidamente que se esquiva da maldita flecha.
Dupla maldição. Impossível.
Eu disparo outro e miro em seu braço. Ele parece concentrado, uma
forma perfeita de um guerreiro ninja enquanto pega a sua lâmina e corta
a flecha ao meio.
Meus olhos se arregalam. Isso vai ser mais difícil do que eu pensava.
Meu pulso está martelando enquanto eu o observo, tão arrogante como
sempre.
Ele gira a faca novamente e sorri para mim como se estivesse pronto
para mais. — Estou começando a achar que você não é um anjo.
— Estou pegando leve com você.
Isso o faz rir. — Eu também, anjo. — Ele faz uma pausa enquanto vira
a lâmina novamente. — Eu quero essa capa.
— Só por cima do meu cadáver.
Eu sempre quis dizer isso.
— Cuidado com o que você pede, — ele murmura. No próximo
segundo ele joga a lâmina em mim, me fazendo gritar. Eu não estava
pronta para isso.
A força do arremesso é poderosa, perfurando a lateral do meu manto,
e antes que eu perceba, estou presa na parede atrás de mim. A lâmina
cravada profundamente na parede e na minha capa.
A lâmina está a centímetros da minha pele, ele poderia ter me
matado.
— Você tem sorte de eu ter uma mira muito boa, também, — ele diz e
caminha lentamente em minha direção.
Meu estômago dá uma cambalhota, tentando não notar o quão
insanamente bonito ele é. Sua camisa está desabotoada no pescoço,
mostrando a pele dourada.
Foco, mulher!
Não me escapa a ironia de que devo me tirar o manto para escapar. Eu
puxo a capa para me libertar.
Este homem é insanamente inteligente ou louco. — Você está louco,
— eu digo, decidindo expressar meus pensamentos profundos. Corro
para o outro lado da sala, com meu vestido amarelo brilhando.
— Isso depende do ponto de vista, — ele diz enquanto continua a me
seguir. — E, onde você conseguiu esse vestido?
— Eu sou talentosa.
— Tantas mentiras saem da sua linda boca, — ele murmura e estala a
língua. Apollo limpa uma mecha loira de seu rosto enquanto seu olhar
escuro consome meu corpo. Ele balança a cabeça enquanto os seus olhos
descansam no meu decote.
— Talvez eu não devesse ter removido a capa. É muito perturbador.
— Por que você acha que eu usei? — Eu pisco para ele e dou a volta na
grande mesa.
Estou provocando-o por algum motivo.
— Não é nada inteligente.
Eu fico olhando para ele.
— Vou fazer você pagar, de mais de uma maneira, — diz ele
sombriamente e continua a caminhar em minha direção, me
perseguindo lentamente.
Um arrepio percorre minha espinha e devo desviar o olhar. Os olhos
pecaminosos de Apollo serão a minha ruína. Eles são tão deliciosamente
anormais, um brilho perverso dança em suas misteriosas profundezas.
Eu continuo circulando ao redor da mesa, esperando poder chegar
perto do meu arco que eu estupidamente deixei cair, ao lado da minha
capa. Tenho que acabar com essa coisinha que está rolando aqui antes
que as coisas acabem indo para um lugar que eu não quero.
Bem, para ser honesta, que Apollo acabe me jogando na prisão.
Apollo puxa outra faca de sua bota, a prata brilhando. — Para quem
você trabalha, anjo?
Eu engulo. — Ninguém importante.
Ele levanta as sobrancelhas zombeteiramente.
— Bem, isso é um alívio.
Estou ferrada sem o meu arco, meu coração está batendo forte dentro
do peito. Eu lentamente faço meu caminho em direção a ele enquanto
ele me olha com um sorriso divertido.
Ele levanta o dedo e o balança para mim como se eu fosse uma
criança travessa. — Eu acho que não, — ele mal diz enquanto joga sua
faca em mim com alta velocidade e precisão.
Droga!
Mova-se!
Eu aperto meus olhos fechados enquanto tento me esquivar, mas ele
perfura as saias amarelas vibrantes. Eu grito de frustração enquanto
estou mais uma vez presa à parede. Estou rendida, presa como uma
idiota.
Esse cara joga uma faca com tanta força que é totalmente antinatural.
Eles alimentam esse cara com o quê? Esteroides? Esteroides no café da
manhã, almoço e jantar? Tento arrancar meu vestido, mas não adianta.
Inacreditável.
— Se você quiser fugir, pode tirar o vestido, — ele insinua,
encolhendo os ombros e inclinando a cabeça.
Eu olho para ele.
Ele ri enquanto caminha até mim, me deixando em pânico. Estou tão
ferrada. Onde está Mort? Ela foi embora? Deve ter fugido! — Você vai
chamar os guardas, então?
Apollo se ajoelha na minha frente, seus olhos viajando pelo meu
corpo como um tigre faminto. Acho que o ouvi fazer um som no fundo
da garganta, mas não tenho certeza.
Desvio o olhar porque não quero que ele veja o que o seu desejo faz
comigo. Ele é puramente erótico; só o cheiro dele está me deixando
tonta. Posso sentir o calor, sua energia pulsa como eletricidade.
Meu pulso está batendo contra meu pescoço e tento respirar
regularmente, sem sucesso. Eu sinto seu olhar em mim, e isso está me
deixando maluca.
— Você usou esse vestido para mim?
Tento mudar para uma posição diferente, puxando levemente a
minha saia novamente. Eu ouço um som rasgando para meu alívio
silencioso. — Não.
Eu suspiro quando o sinto agarrar meu cabelo, me forçando a olhar
para ele. — Tente de novo, anjo.
Ele está removendo os grampos do meu cabelo e aperta com mais
força. — Não, eu não usei este vestido para você.
Por que estou provocando-o?!
— Vou parar assim que você me contar a verdade, — ele murmura
enquanto inclina a cabeça para os meus seios, que estavam em exibição.
Ele joga a minha cabeça para trás para ter um melhor acesso ao meu
pescoço e peito. Seu hálito quente pousa sobre o meu decote, fazendo a
minha pele pegar fogo. Quando seus lábios tocam a minha pele, eu quase
desmaio.
Eu preciso de um cigarro.
Eu preciso de um caminhão de bombeiros.
Eu preciso de algo!
Ele muda de posição enquanto seu braço circunda as minhas costas,
me levantando, dando a ele uma posição melhor.
A sensação de sua boca escaldante na minha carne sensível faz com
que as minhas partes femininas ganhem vida com uma força alarmante.
Apollo geme em meus seios, e o som faz meus dedos do pé se
curvarem. Sinto tanto poder em torno dele que fico completamente
fraca, venerável. Ele provavelmente pode me quebrar como um graveto,
se quiser.
— Anjo, — ele sussurra. Ele deixa cair sua faca no chão e agarra meu
seio direito para massagear e acariciar meu espartilho.
Ele largou a faca.
Meu cérebro sussurra através do desejo acalorado. Por um segundo
fugaz, eu não me importo. A sensação de Apollo me adorando é tão
inebriante que apaga os meus pensamentos sãos.
Eu o sinto lambendo, chupando, acariciando.
Ele está perdendo o controle da maneira mais deliciosa, pois a sua
respiração está acelerada e os seus beijos estão ficando frenéticos.
Apollo respira fundo enquanto ele incontrolavelmente levanta minha
saia, na mesma hora que eu consigo encostar a mão na faca.
Oh, misericórdia.
Eu não quero que ele pare.
Mas eu pego a faca quando o sinto alcançar minhas coxas, numa
altura bastante perigosa. Minha mente está agora em fragmentos, puro
vidro estilhaçado. A minha cabeça cai para trás quando eu sinto os dedos
me esfregando lá.
Só mais um pouco... Eu mal consigo respirar; a minha pele está
pegando fogo. Os músculos do meu pescoço não estão mais
funcionando.
Eu ouço o tecido se rasgar, então a sua mão está na minha carne nua,
eu grito de prazer quando ele começa a me transformar em um animal
selvagem, cada vez que ele mete os dedos em mim.
Ele está usando os dedos como eu nunca senti antes. Não consigo
nem pensar. Eu sinto sua boca quente no meu pescoço, seios, ombros,
mandíbula e orelha enquanto ele me faz ficar mais molhada.
Ele é implacável, não me permite pensar nem por um segundo. Seus
dedos giram sobre as minhas partes mais sensíveis, me dando uma
sensação quente e latejante.
Eu o sinto sorrir em meu pescoço enquanto a pressão aumenta, e
deixo escapar um gemido, movendo meus quadris em sincronia com sua
mão.
A única coisa que posso fazer é gemer e choramingar.
Eu grito, mordendo meu lábio para acalmar a minha voz. Eu não sei
de nada. Vejo estrelas, fogos de artifício e uma bomba atômica
explodindo com a nuvem em forma de cogumelo. Depois que as ondas
de sensação do orgasmo vão embora, meu cérebro retorna ao lugar.
Santo Deus, o que acabamos de fazer? De repente, o sinto beijando
minha perna e os alertas vermelhos soam alto.
Eu fecho meus olhos, querendo tanto isso, mas eu sei que se eu deixar
e ele voltar a si, percebendo que eu tenho a sua faca na mão, eu não vou
escapar. Esta é minha única chance de pegá-lo desprevenido.
Eu o sinto apertar minhas coxas com força, e devo engolir a emoção
erótica de volta. Preciso me apressar porque se ele chegar onde quer
chegar, eu estou perdida.
Eu sinto sua língua lambendo o caminho até a minha virilha, e seu
gemido envia raios de luz pelo meu corpo.
Que raiva de tudo isso.
Eu uso a faca afiada para cortar o meu vestido preso com alfinetes e
em uma fração de segundo. Eu o sinto reagir instantaneamente, mas é
tarde demais, pois enfio a lâmina afiada em sua coxa.
Ele não vai morrer, e isso deve se curar rapidamente.
A visão em túnel se instala quando me levanto, ouvindo-o gritar em
agonia. Este é um movimento idiota, mas eu não tenho outra escolha.
Sinto muito.
Quero gritar, obrigada pela experiência incrível que acabamos de ter,
mas isso tinha tudo para dar errado. Tudo parece que estou em um
sonho agora, enquanto corro em direção à janela saliente. Câmera lenta.
De alguma forma, encontro uma coisa pesada em cima da mesa e jogo
contra a grande vidraça. Ela se quebra em um milhão de pedaços.
Estou fora agora e está chovendo muito. Tenho sangue no braço,
provavelmente da janela estilhaçada.
Eu estou tonta.
Muito desorientada.
— Viola!
Mort está correndo na minha direção, ensopada pela chuva. — Por
que demorou tanto?!
Eu não posso expor isso.
Eu olho de volta para a janela, esperando ver Apollo me amaldiçoando
até o inferno, mas eu não vejo. Tudo o que ouço é uma sirene alta. O som
estranho está tocando alto no ar noturno. — O que é isso?!
Mort enxuga a chuva dos olhos dela. — Semelhante à quando um
preso escapa!
Apollo.
Ele deve estar raivoso.
— Como vamos sair daqui? — Eu pergunto desesperadamente,
estremecendo com o estalo de um raio.
— Há muitos guardas! Não consegui encontrar nenhum cavalo!
Eu agarro seus ombros. — Você é um cavalo!
Ela parece horrorizada, — Inferno, não!
— Você tem que fazer isso!
Mort fecha os olhos e acena com a cabeça. Ela se transforma em um
poderoso cavalo cinza, e não tenho tempo para ficar impressionada.
Eu pulo nas costas dela, com a mais pura adrenalina, meu vestido não
me deixa sentir muito confiante. Mas sou super talentosa para montar a
cavalo, graças a um dos meus três desejos.
— Tudo bem, Mort! Vamos fugir dos homens de Apollo!
Eu fecho os meus olhos e invoco a fodona interior que há dentro de
mim.
Capítulo 14
Isto é loucura.
Não é bem o que eu estava imaginando quando me ofereceram a
chance única de fazer parte de um romance de conto de fadas.
Fantasia de princesa da Disney, acho que não.
Este é o maldito Coração Valente.
— Mort, espero que você seja rápida! — Eu grito ao ver o enorme
portão do castelo Garthorn aberto. A sirene alta me lembra algo de Silent
Hill.
Arrepios cobrem o meu corpo enquanto tento controlar a minha
histeria sobre a situação.
Mort nervosamente bate no chão com seus cascos enormes, saltando
para a esquerda e depois para a direita.
A chuva é implacável, tornando difícil ver com clareza durante a
noite.
Em que buraco eu me meti?!
Não tenho certeza se é o estrondo do trovão ou os cavaleiros escuros
que estão emergindo do castelo, mas sei que precisamos nos mover
rápido!
Mort parece vê-los também e dá um salto mortal, batendo no chão
com passos fortes. Estou agarrando sua crina e me abaixando, as minhas
coxas segurando forte para salvar a minha vida.
Uma parte do meu cérebro não consegue acreditar que Apollo está
passando por todo esse esforço para me trazer de volta. Existe algo que
eu não sei? Talvez eles pensem que eu levo informações valiosas de volta
para os meus superiores do mal.
Mas realmente Mort deveria receber uma medalha por isso.
Melhor agente de todos os tempos.
— Mais rápido, Mort!
Ela nos leva por uma estrada que leva ao que parece ser uma floresta
gigante.
A adrenalina está correndo em minhas veias enquanto corremos.
Arrisco um olhar para trás, meu cabelo comprido me cegando
temporariamente, mas vejo cavaleiros sombrios nos seguindo.
Eu suspiro com essa visão.
A noite parece fantasmagórica, a chuva e o trovão criam uma cena
sinistra. À medida que nos aproximamos da floresta, uma névoa cobre o
solo que reflete três luas gigantes.
Não tenho tempo para me maravilhar com o quão fantástico tudo
isso é, porque agora estamos engolfadas na densa floresta.
É escura e assustadora. As árvores altas assomam sobre nós enquanto
Mort tenta abrir seu caminho sem dar de cara com uma árvore.
Eu grito quando sou atingida no rosto por um galho molhado que
quase me joga do chão. Eu recupero o controle e fico quieta, rezando
para que meu nariz não esteja quebrado.
— Espero que você saiba para onde está indo! — A minha voz
provavelmente se perdeu na chuva e no vento.
Eu sei que Mort estava falando com Encantado mais cedo, então
talvez eles tenham um plano.
Eu vejo algo à minha esquerda e suspiro, um cavaleiro Garthorn
sombrio. — Mort! Temos companhia!
Mort atleticamente faz uma curva fechada para a esquerda, saltando
sobre uma enorme árvore caída. Eu me inclino, com a sensação de estar
flutuando no ar enquanto Mort sai em disparada como uma habilidade
chocante.
Ela aterrissa e segue em frente, encontrando um caminho amplo para
executar a sua alta velocidade.
Meu triunfo dura pouco quando vejo outro cavaleiro sombrio à nossa
direita, no meio da floresta. Ele está perto e dispara em nossa direção.
Eu olho para a minha esquerda e começo a entrar em pânico quando
vejo o outro soldado Garthorn que acabamos de deixar para trás. Nós
vamos ser encurraladas!
— Mort!
O cavaleiro à nossa esquerda está bem ao nosso lado no caminho
estreito, e arrisco um olhar para ele. Ele é rude e usa uma armadura
Garthorn, com um arco nas costas.
Eu o vejo sacar sua longa espada, e congelo, perguntando-me
descontroladamente se este é o momento de gritar — Salva-vidas ativar!
Prepare-se para o impacto.
Posso dizer que Mort vê a ameaça e se move agressivamente para a
direita.
Tenho apenas alguns segundos para mover a minha perna e sentar-
me na sela antes de Mort dar a louca no piloto. O impacto me faz perder
meu assento instável e eu caio.
Mas, pela graça de Deus, consigo agarrar a crina dela e consigo me
levantar em suas costas como um artista de circo. Eu gemo alto e uso
todos os meus músculos para recuperar a posição de cavaleira.
Estou muito grata que Mort me disse para pedir a alta habilidade em
cavalaria. Ou eu já teria usado todas as minhas três salva-vidas em
questão de cinco minutos, sem dúvida.
Eu olho para trás para ver que o piloto que estava ao nosso lado já não
está em lugar nenhum.
Mort desacelera, respirando pesadamente.
O vento e a chuva me açoitam no rosto quando paramos no meio do
caminho. Mort bate no chão e grandes lufadas de ar saem de seu nariz.
Ela me sacode, e acho que ela quer que eu saia, então eu saio.
Minhas pernas estão bambas.
E meu vestido provavelmente pesa duzentas toneladas por estar
encharcado.
Mort se materializa de volta à forma humana e está respirando tão
forte no chão que eu fico realmente preocupada.
— Mort! — Eu me ajoelho ao lado dela. — Fale comigo!
Ela respira fundo e se senta. — Tenho um alerta vermelho.
Eu começo a entrar em pânico. — Algo pior do que isso?! — Eu
balanço as minhas mãos, surtando com essa insanidade.
— Encantado é obrigado a enviar a qualquer jogador um alerta
vermelho, não importa o que aconteça, — disse ela enquanto recupera o
fôlego.
Eu olho ao redor da floresta escura e assustadora. — Onde está o
outro soldado?!
— A rainha Irena quer você morta. Ela vê a paixão de Apollo por você
e sabe que Laura nunca vai se casar com ele. Isso é o que eu e Encantado
conversamos antes.
Ela continua vendo a minha expressão atordoada, — Agora, eu
definitivamente não estou dizendo que ele está perdidamente
apaixonado por você porque nós não sabemos disso. Ele ainda pode ser
louco o suficiente para matá-la por ter mentido para ele. Ele parece
totalmente imprevisível.
Eu engulo, enxugando a chuva do meu rosto.
— Mas Irena é uma bruxa má e sabe que você é a filha perdida do Rei
do Galeão. É se sua infidelidade for descoberta, ela será executada
publicamente. Então, você vê por que ela iria querer você morta, e
rápido.
— Ok, — eu olho ao redor me sentindo assustada, — então qual é o
alerta vermelho? E por que não há ninguém ao nosso redor?
Sem me responder, ela sai correndo. — Puta merda! — Digo atrás
dela, seguindo-a, minhas saias quase me fazem tropeçar.
Paramos ao lado de um soldado inconsciente que aparentemente
bateu na árvore ao nos perseguir. Ela o vira, tira o arco e o joga para mim.
— Você vai precisar disso.
Eu olho para cima, vendo o céu refletir um roxo profundo, e o solo
estremece como se os portões do ódio se abrissem. — Me explica!
— Temos que chegar à vila de Demour, que não fica longe, mas lá
podemos nos esconder até criarmos um plano de ação. Tenho que falar
com Encantado o mais rápido possível quando chegarmos lá. — Meus
olhos se arregalam e vejo sombras escuras nas árvores ao nosso redor. —
Mort?! O que são aquelas sombras! — Eu me viro para a esquerda e
depois para a direita, a minha respiração está difícil e frenética.
Ouço galhos se quebrando e olho para Mort, que está recuando, com
os olhos arregalados.
— Não tenho certeza! Não estou logada, mas acho que eles são algum
tipo de animal muito perigoso, alguma raça de lobo trazido por Irena.
Use o seu arco e flecha!
Ao dizer isso, ela se transformou de volta no cavalo cinza, e está
andando nervosamente.
Nossa!
Que ótima situação.
Por favor, não surte.
Eu ouço um rosnado profundo que é tão baixo que quase soa como
vibrações, pois o ouvido humano provavelmente é incapaz de captar
oitavas tão profundas.
Mort se ergue nas patas traseiras e relincha alto. Eu engulo e me viro
lentamente para ver um animal do tipo lobo, exceto que não é. Não é um
lobo. E como se um lobo tivesse um bebê com um urso pardo.
Está a poucos metros de mim, os olhos brilhando amarelos e longos,
rastros de saliva caem de seus dentes em forma de faca.
Eu paro de respirar, com muito medo de me mover, pois isso pode
fazer com que ele venha atrás de mim. Ouço Mort fazendo muito
barulho, mas a criatura está agachada e se aproximando de mim.
O chão está tremendo de novo, mas estou atenta. Lentamente, tento
dar um passo para trás, mas isso só faz o ruído estranho de sua garganta
ficar mais alto.
Estou tão ferrada.
Não chore.
Seja corajosa.
Eu estou tremendo, pronta para invocar o meu salva-vidas, enquanto
ele se agacha ainda mais, esse monstro está rosnando mais alto. E isso. O
tempo para quando o vejo se aproximar de mim. Meu coração está
ecoando na minha cabeça, e a minha respiração irregular está
descontrolada. Eu pulo para trás e grito, — Salva vidas, ativ...
Uma flecha perfura a cabeça da besta direto no crânio.
Eu caio no chão em estado de choque, totalmente entorpecida.
Chocada, eu olho para a minha esquerda, vendo Apollo em uma
magnífica montaria negra com cavaleiros atrás dele.
Ele está de pé nos estribos apontado para mais três à minha direita,
atirando neles com uma habilidade que excede a minha. Seu longo
casaco preto se agita com o vento e seu rosto está duro como uma pedra,
o queixo tenso e os olhos intensos.
Eu o vejo matar mais animais enquanto grita algo por cima do ombro
para seus homens, tocando a sua placa de peito enquanto uma luz azul
pisca sob seu casaco encharcado. Ele é magnífico.
Eu assisto com admiração, sentada no chão como uma adolescente
foguenta.
É quando eu noto a bandagem em sua coxa musculosa enquanto ele
se levanta. Ele empurra o seu garanhão para a esquerda, tentando
acalmar o cavalo enorme, o cabelo preto refletindo o luar, embaixo de
uma chuva torrencial.
De repente, nossos olhares se fixam e eu respiro fundo.
Ele parece lívido.
Eu me levanto, quase caindo de novo.
Apollo se senta em sua sela e ergue o punho para impedir que seus
homens venham até mim.
Ele me encara e então olha para Mort, como se estivesse lendo minha
mente. Relâmpagos brilham atrás dele enquanto ele balança a cabeça
não.
Eu o ignoro e monto em Mort, sentindo cada músculo do meu corpo
protestar. Apollo galopa até mim, controlando o seu garanhão selvagem
com facilidade.
— Você não pode fugir de mim, anjo! — ele grita mais alto que o
barulho do vento e da chuva.
Não tenho planos agora e também duvido que consiga fugir dele. Este
homem tem habilidades loucas. Preciso pensar em algo rápido que salvará
a minha bunda gelada.
— Eu não irei para a masmorra!
Excelente.
Não estou em posição de dar ordens. Seu cabelo está preso para trás e,
estando molhado, parece muito mais escuro, dando-lhe um apelo muito
sombrio e perigoso.
Apollo na chuva, isso já é um pouco demais para o cérebro feminino
assimilar. Estou respirando com dificuldade enquanto meus olhos vão
para seus lábios e lembro como ele pode usá-los bem.
Fique quieto, coração idiota.
Apollo inclina a cabeça e um sorriso se espalha em seus lábios.
— Eu tenho escolha? Afinal, você atacou o príncipe herdeiro de
Garthorn, — ele diz e chega ainda mais parto de mim.
Oh, certo, sua coxa.
Seus olhos viajam pelo meu corpo encharcado, em seguida, voltam
para o meu rosto.
— Você precisa vir comigo ou você vai morrer aqui. E não estou
falando apenas sobre o frio. Forças do mal estão à solta, e você vai morrer
sem a minha ajuda!
— Não é isso que você quer, de qualquer maneira? Estou confusa! —
Eu grito de volta para ele, agarrando a crina de Mort ainda mais forte.
Ele é desconcertante. Primeiro, ele quer me trancar, depois me
proteger, e no próximo minuto me violar?
— Quem é você?! — ele grita, empurrando para controlar a sua
montaria.
— Eu sou a princesa perdida do Galeão! Olhe para a cor dos meus
olhos, pelo amor de Deus!
Eu e minha boca grande.
Uma afirmação como essa poderia me deixar na corda bamba, mas
quem se importa?
Eu espero. Ele me ouviu? Seus olhos estão apertados e ele me encara
como se eu tivesse duas cabeças e cinco seios.
Eu engulo, esperando que ele fale alguma coisa, mas ele não fala nada,
então o pavor se instala. Ele não deve acreditar em mim e pensa que eu
sou uma maluca. Eu não escolhi exatamente a melhor hora para contar
isso a ele, eu entendo!
O solo estremece abruptamente e Apollo olha para a esquerda. —
Temos que sair daqui agora!
Ele vira seu garanhão e grita ordens para seus homens, em seguida, se
vira para mim, estendendo a sua mão enluvada para mim. — Venha
comigo!
Não sou idiota o suficiente para dizer não a isso.
Eu vou para alcançá-lo, mas tudo que posso ver é uma luz branca que
me cega. O estalo do relâmpago é tão forte que meus ouvidos estão
zumbindo.
Isso assusta Mort, e ela sai em uma corrida louca, tentando fugir do
barulho dos relâmpagos.
— Mort! — Eu grito: — Acalme-se! Pare!
Eu tento me manter estável, rezando para não cair em direção à
minha morte. Não tenho ideia para onde ela está indo, e nem sei se
Apollo está me seguindo.
Eu ouço gritos atrás de mim, acho que é a voz dele. Eu olho para trás
e o vejo bem atrás de nós enquanto outro flash de luz quase me cega.
Sua montaria empurra Mort para o lado, abrindo espaço para o
garanhão de Apollo galopar ao nosso lado.
Ele se levanta nos estribos e se inclina para agarrar a crina de Mort —
algo que parece extremamente perigoso.
Apollo puxa Mort com força mudando sua direção, o que quase faz
Apollo bater em uma árvore, se ele não tivesse empurrado o seu cavalo
para a esquerda.
Depois de alguns momentos aterrorizantes, Mort para e eu quase
grito de alívio.
Meus olhos se ajustam e vejo que estamos na beira do penhasco.
Tipo, certo bem na borda, começo a ofegar. A minha situação está
cada vez pior e pior!
— Ah Merda! — Eu grito sem parar. — Mort, volte devagar, pelo amor
de Deus!
Enquanto Mort lentamente recua, pedaços do penhasco começam a
se quebrar e cair.
— Desça do cavalo!
Eu olho para trás e vejo Apollo e seus homens. Ele se destaca na
frente, não se aproximando, cerca de seis metros de distância.
— Você está em uma saliência que não pode suportar o seu peso! —
ele grita, com as mãos para cima. Ele tira o seu grande sobretudo
revelando a sua camisa preta ondulada do baile de máscaras.
— Desça desse maldito cavalo agora! — Ele lentamente avança.
Eu aceno, cuidadosamente me afastando de Mort. Sussurro: —
Podemos fazer isso, apenas recue devagar.
— Suavemente! — Eu ouço a voz em pânico de Apollo.
Estou fora da beirada e saio de cima de Mort na ponta dos pés, mal
respirando. Seja um penhasco forte, eu imploro. Eu engulo e olho para
trás, para Mort.
— Lentamente... é fácil faz isso. — Ela dá um passo para trás e é
quando eu ouço o estalo, e tudo acontece muito rápido.
A borda do penhasco se quebra e eu pulo.
Eu caio na nova borda do penhasco, mas quando olho para trás,
percebo que Mort não teve tanta sorte. — Mort! — Eu grito e sinto meus
olhos se encherem de horror. — Mort!
Não.
Não.
Ela é legal.
Meu corpo está tremendo. Minha mente está funcionando mal.
Claro, ela está bem. Ela é uma maldita agente! Tenho certeza que ela teve
um excelente treinamento.
— Anjo!
Aparentemente, Apollo grita meu nome há algum tempo. Eu olho
para ele e o vejo de joelhos, o rosto pálido.
— Foco! Você deve descer do penhasco agora. Não posso ir buscar
você porque sou muito pesado! Você tem que vir agora antes de outro
golpe de raio! — ele faz um gesto com as mãos, como se eu fosse burra.
Apollo parece petrificado.
Através da névoa da minha mente, estou emocionada. Eu olho para
seu rosto encharcado de chuva e vejo que ele sente um medo genuíno
por mim, e eu quase diria que ele está a dois segundos de um surto
completo.
Terei que refletir sobre isso mais tarde, decido, enquanto olho para o
penhasco irregular em que estou deitada.
— Ah merda.
Se eu cair, posso pedir pelo meu salva-vidas, mas Apollo não sabe
disso. Daí o terror absoluto gravado em suas feições.
— Engatinhe!
Eu aceno e lentamente começo a rastejar, e posso sentir o penhasco
rachando. Eu olho para cima, o coração está batendo forte. — Está
rachando!
Oh não.
O peito de Apollo está pesado e parece que ele entrou em um estado
de foco extremo. Ele se levanta e grita com seus homens, e vejo quando
eles trazem para ele uma corda verde.
Apollo se move tão rápido que quase tira a minha mente do fato de
que estarei no ar em questão de segundos. Ele pega a sua flecha, que está
amarrada à corda, mira na floresta e atira.
Ele está conversando com seus homens enquanto enrola um cinto em
volta de seus quadris e prende a corda nele.
Sinto outra rachadura e agora posso vê-la na superfície. — Apollo! —
Eu grito.
Eu olho para cima para ver Apollo correndo na minha direção quando
a borda cede com o meu peso. Tento me mover, mas não adianta, o
penhasco é muito frágil.
Eu grito, agarrando nada além do ar, vendo a borda da montanha
lentamente se tornando fora do meu alcance.
Segundos parecem minutos enquanto eu caio, procurando por
qualquer sinal de esperança.
Então, vejo Apollo mergulhar do penhasco atrás de mim e, em
questão de instantes, sinto seu corpo colidir com o meu. Eu sinto seus
braços em volta de mim e agarro-o desesperadamente, minhas pernas
envolvendo em torno dele.
A corda cedeu um pouco, mas nada para diminuir a dor que Apollo
deve ter sentido quando a corda ficou rígida, impedindo-nos de cair.
Paramos bruscamente com um solavanco. Eu o ouço gritar e gemer
de dor enquanto tenta obter um controle melhor sobre mim.
— Enrole suas pernas em volta da minha cintura!
Estou agarrado a ele o melhor que posso com a minhas saias de um
milhão de quilos.
— Filha da puta! Não é de admirar que o penhasco tenha quebrado!
— Apollo sibila enquanto agarra a corda com as duas mãos nos firmando
em pé. Os músculos do braço estão salientes e as veias do pescoço saltam
com o esforço.
— Tire essa merda de saia!
— Como?!
— Minha faca, — ele sai, — na fivela do meu cinto. — Eu alcanço a
frente de sua calça e tato seu cinto chegando perigosamente perto de sua
masculinidade.
Eu tenho uma mente suja, mesmo quando estou prestes a morrer,
aparentemente.
Eu encontro a faca e a puxo tão rápido que faço Apollo suspirar de
medo. Seus olhos escuros encontram os meus, apenas a alguns
centímetros um do outro.
— Tenha um pouco mais de cuidado, — ele se esforça para obter uma
melhor aderência, — Fique calma.
Se eu desmaiar, nós dois estaremos mortos.
Tento não sorrir e começo a rasgar a minha saia com uma das mãos,
me esfaqueando no processo. — Puta que pa...
Apollo arranca a faca da minha mão e corta alguns cordões nas costas,
e minhas saias caem, o peso escorrega das minhas pernas enquanto
Apollo me segura.
Eu fico com as meias finas pretas esfarrapadas e uma calcinha
minúscula. Meu coração ainda está batendo de forma irregular. Claro,
Apollo é muito bom em remover roupas femininas.
Acho que agora não é hora de ser puritana.
Eu o ouço gemer de alívio com a liberação de peso. Ele usa a parede
de rocha para ajudá-lo a subir, aos poucos. — Você nunca disse onde
comprou esse seu vestido, — ele sussurra em meu ouvido.
Meus braços estão enrolados firmemente em volta do seu pescoço,
pressionados contra ele o mais perto que alguém pode chegar. Ainda não
consigo acreditar que ele simplesmente mergulhou de um penhasco para
me salvar. — Eu terei que te matar se eu contar.
Ei. Essa é uma frase clássica.
Sem julgamento, ele nunca ouviu isso antes.
Ele ri, e posso sentir seu hálito quente em mim. — Você afirma ser a
princesa Ursula? Essa é a sua reivindicação.
Ele grunhe enquanto nos puxa para cima.
— Sim.
— Isso muda tudo.
Eu olho para ele. — Você não vai me jogar na masmorra? — 'Não.
'Então vai me levar pra onde?’
— Pro meu quarto.
Capítulo 15
Este é o meu momento Cinderela.
Sou a filha perdida de Galeão.
Não demorou muito para que fizessem exames de sangue e
provassem que eu tenho sangue do rei, meu pai.
Eu me pergunto se eu teria me poupado de tanta dor se tivesse tocado
no assunto no começo. Talvez sim, talvez não.
Estou me sentindo um pouco entorpecida agora.
Você deve entender que eu nunca tive uma família antes, sendo uma
ór ã. Portanto, conhecer o Rei foi muita coisa para absorver
emocionalmente.
Eu entendo que ele não é meu pai biológico, mas essa experiência é
muito real para mim.
Ele chorou, lágrimas de alegria caíram de seus olhos castanhos
enquanto ele procurava o meu rosto e me abraçava. Dizendo que me
pareço com minha mãe, que tenho a sua bela alma e olhos.
O meu coração ficou apertado. Nunca vi alguém me olhar assim
antes, e isso me faz querer mais desse carinho. É assim que é ter um pai
amoroso?
O rei Alistair Zorne Lowthe, do Galeão, é meu pai.
E, Laura é minha meia-irmã má.
Eu sorrio.
Que tal isso, megera?
Mort me informou que Irena está furiosa e tenho certeza de que
Laura não deve estar diferente. Agora, estamos pau a pau.
Mas a rainha Irena não sabe que eu estou ciente de seu caso e precisa
continuar assim. Laura sabe que eu sei. Isso me dará um pouco de
vantagem.
Chantagem, se você quiser.
É tão bom estar no topo do jogo pelo menos uma vez. Eu olho ao
redor do meu lindo quarto e não posso acreditar, respirando fundo.
O quarto é deslumbrante. Uma câmara digna de uma princesa, não de
uma escrava.
A grande cama de dossel consistia nas cores rosa e cetim creme. Há
flores por toda parte, fazendo o quarto cheirar a paraíso.
Uma grande janela com deck está à minha esquerda e uma
penteadeira que pode ser feita de prata pura à minha direita.
Fui banhada em água com perfume de lavanda e tive meu cabelo
penteado por quatro criados. Estou recebendo um digno tratamento real.
Pude trazer Mort comigo como a minha empregada pessoal, meu pai
não me deixou esquecer que terei tudo o que eu quiser.
— Ursula!
Eu me viro ao ouvir a voz melodiosa de Mort e sorrio. — Acho que
vou me acostumar com esse nome eventualmente.
— Eu pensei que estávamos perdidas, lá na floresta, mas Apollo está
provando que quando ele está focado, nada mais importa.
— Você deveria ter visto a indignação no rosto de Irena quando eles
estavam fazendo o exame de sangue, — ela diz e olha ao redor da bela
sala.
Sento-me na beira da cama, a seda rosa brilhando à luz do sol. — Eu
imagino, o que significa que ela pode tentar se livrar de mim de uma vez
por todas.
Mort se senta ao meu lado e suspira. — Que cama confortável.
Eu me deito. — Eu sei. E o paraíso.
— Nada de colchão irregular.
— Ou percevejos.
Mort grunhe. — Ou manhãs geladas tentando fazer xixi naquele
balde que não parava de tombar. — Nós duas ficamos em silêncio, os
pensamentos passando por nossas cabeças.
— Apollo cancelou o seu noivado?
Mort me olha. — Os banners da festa ainda estão hasteados, então
acho que não.
— Isso é confuso.
— Aposto que todo mundo sabe que ele é obcecado por você. Nunca
um príncipe herdeiro enviou um grupo real em busca de uma mera serva.
E você o esfaqueou e não foi enforcada por isso.
— Mas você é uma princesa agora, então não vejo problema em ele
mudar de ideia. Ele estaria apenas trocando de irmãs.
— Então, ele não é obrigado a cumprir a sua palavra?
— Você sabe, — Mort se senta, — Não tenho certeza, na verdade. —
Ela começa a digitar e piscar com a testa franzida. — Eu provavelmente
deveria descobrir.
Eu também me sento.
— Oh, — ela diz, carrancuda. — Encantado diz — bom trabalho, —
por falar nisso, mas ele está me dizendo que um noivado como esse é
muito sério.
— Romper isso significaria uma desonra para Laura e sua família,
mesmo que vocês sejam da mesma família. — Ela me olha e solta um
suspiro.
— Merda. Isso pode complicar as coisas novamente.
Um passo para frente e dois para trás.
— A menos que você possa provar que a Laura não tem sangue real,
— diz Mort. — Então isso seria motivo para romper o noivado.
Eu me levanto e olho para fora da porta da varanda, caminhando para
o sol quente. — Bem, isso significa que ainda precisamos do DNA dela.
Droga.
— Você pode tentar dizer a Apollo que acha que Irena está tendo um
caso, — sugere Mort.
— Mas como eu saberia disso? Não tem como. Não posso
simplesmente dizer que eu acho isso porque ela parece uma prostituta.
— Eu dou a Mort um olhar penetrante.
Mort dá de ombros e fica ao meu lado. — Podemos ficar de olho nela
e ver de quem ela gosta, eu tenho estado muito focada em Laura. — Eu
concordo. Hoje à noite, eles estão dando um baile em minha
homenagem, o Rei do Galeão está radiante e quer comemorar.
Eu não o culpo, pois não é todo dia que a sua filha morta volta do
túmulo. Uma princesa, nada menos.
Devo admitir que vai ser estranho ver Apollo com Laura.
Encontrar Laura e Irena será meio bizarro, mas é algo de que vou
gostar. Recusei-me a vê-las antes, dizendo que estava muito emocionada
e precisava ir aos poucos.
Não posso recusar essa noite.
Hoje, tenho que ser a Princesa Ursula de Galeão. Passei o dia inteiro
visitando a família real da Casa do Galeão, aproximando-me de meus
parentes perdidos. Foi agradável; todos me olhavam como se eu fosse um
fantasma.
E realmente, como cheguei aqui é mais estranho do que ser um
fantasma. O que os olhos não veem o coração não sente. Eu acho.
— Nada de vestido amarelo, por favor, acho que essa cor me dá azar,
— digo com uma careta, imaginando-me correndo pela floresta com ele.
Mort está digitando enquanto estou parada, pronto para girar como a
Cinderela.
— Encantado diz que acha que você vai adorar este vestido, feito para
uma princesa.
— E, ele também acrescenta, aquele vestido amarelo salvou a sua vida.
Porque deixou o Apollo louco, então ele quer que você se desculpe — diz
Mort e olha para mim.
— Ele pode me ouvir?
— Quando estou conectada, sim.
Eu mordi meu lábio. — Desculpe, Encantado! — Eu penso por um
segundo, — Apollo parecia amá-lo. — Visões de nós dois naquela
biblioteca iluminam o meu cérebro como uma fogueira.
Minhas bochechas esquentam, apenas o pensamento de Apollo me dá
ondas de calor. Sua pele dourada e lábios pecaminosos. Mas os olhos dele
são uma droga e, uma vez que eles o possuam, você está perdido.
— Você, — ela digita mais, — pode girar agora. — Eu me viro e
suspiro, nunca me acostumando com a sensação de formigamento. Meu
couro cabeludo estava quente e meu corpo zumbia. Depois do flash de
luz branca, ainda estou respirando com dificuldade. Isso foi rápido.
Eu olho para baixo e respiro fundo.
Mort diz: — Isso pode deixar Apollo um pouco desconfortável, se é
que você me entende.
Dou uma olhada para ela, em seguida, vou até o espelho de corpo
inteiro.
Oh, nossa, Encantado me deu uma bela chance de novo. Estou com
um vestido cintilante cor de pérola, do tom quase igual à minha pele.
Se você me visse de longe, poderia pensar que eu estava sem camisa,
exceto pelo esplendor perolado.
Isso me lembra uma opala brilhante.
E além de deslumbrante.
Meus seios parecem notáveis no espartilho justo e as mangas
compridas são transparentes, de tecido cintilante.
Pareço uma deusa, ou um anjo, talvez.
O vestido flui na cintura como uma cascata de brilhos arejados.
Quase me fascina, tanta beleza. Cada movimento que faço eu brilho
como um diamante raro.
Nesse vestido eu sinto que as flores vão desabrochar por onde eu
ando, é tão encantador. Meu cabelo brilhante está trançado e caindo nas
minhas costas como uma princesa de conto de fadas.
— Encantado diz que seu silêncio é tudo de que ele precisa. — Mort
se levanta e sorri. — Isso deve ser interessante; só falta pegar uma pipoca.
Estão prestes a anunciar o meu nome. Todos finalmente verão a
princesa perdida revelada e estou muito nervosa, as palmas das mãos
estão suando. Acho que poderiam fazer comigo o remake do filme Rua
das Ilusões.
Eu respiro trêmula quando vejo o rei, meu pai, pronto para me
escoltar, descendo a grande escadaria. Ele vem até mim e pega na minha
mão, com lágrimas nos olhos.
— Você se parece com a sua mãe, — ele diz, com um sotaque áspero.
O rei é um homem bonito, mas um pouco rude.
Ele está enfeitado com a sua elegância dourada, o cabelo grisalho está
penteado para trás perfeitamente, para caber em sua coroa de rubi. Seus
olhos são do tipo que enrugam nas laterais quando ele sorri.
— Obrigada, Sua Alteza. — Eu faço uma reverência, tentando não
cair.
— Ursula, minha querida, por favor, me chame de pai. — Suas mãos
grandes agarram as minhas novamente, os olhos arregalados de emoção.
Eu engulo o nó na minha garganta.
Não chore.
Não faça isso.
— Claro, pai. — Eu sorrio para ele e ele ri.
— Boa menina! — Ele coloca meu braço no dele e me leva até a
entrada. — Agora, quero que todos vejam a minha linda filha, que voltou
para mim! — Meu coração salta quando ouço alguém anunciar a minha
chegada no salão de baile lotado. Meu primeiro pensamento é Apollo. Ele
estaria nas mãos de Laura, o maldito casal feliz.
Tento controlar o meu ciúme, e sinto um gosto de ácido na minha
boca. Ela ainda tem tempo para conquistá-lo, e ele não se importa que a
sua mãe a tenha traído porque a ama.
Sinto-me doente.
Meu pai se inclina em meu ouvido.
— O primo de Apollo, Tarren Somon de Garthorn, irá acompanhá-la
ao salão de baile. Um bom sujeito que possui três grandes propriedades
na região oeste. Sua mãe e eu passamos nossa lua de mel em West Lyth
Falis.
Seus olhos brilham de orgulho e nós caminhamos.
Eu olho para ele e sorrio.
Já tá querendo me arrumar marido?
Mas só tenho um mês e meio! E, há esse cara chamado Apollo que eu
tenho que superar...
Chegamos no topo da escada, e o antes movimentado salão de baile
se acalma. O silêncio é tão mortal que você pode ouvir um alfinete cair —
e a minha respiração rápida, claro.
— Não fique nervosa, — ele sussurra e dá um tapinha no meu braço,
como um bom pai.
Eu aceno e começo a minha descida com ele, um degrau de mármore
de cada vez. Há muito mais pessoas aqui do que eu imaginava.
Meu vestido brilha ainda mais no escuro salão de baile, me dando
vontade de me beliscar para ver se é verdade. Para ter certeza de que não
estou tendo alucinações. Tudo é tão romântico, como saído de um conto
de fadas infantil.
É então que vejo a família real Garthorn alinhada ao pé da escada
para me cumprimentar, em homenagem a sua aliança. Todos estão
olhando para mim com admiração e sorrisos em seus rostos, exceto uma
pessoa.
Meu coração afunda no peito.
Apollo está absolutamente impressionante, como sempre.
Eu olho para ele por apenas um momento, mas eu observo tudo como
um animal faminto.
Ele está todo vestido de preto e branco, nítido e elegante. Suas calças
pretas abraçam as suas coxas e o casaco preto está esticado sobre seu
torso musculoso.
Ele tem algum tipo de armadura brilhante por baixo que intensifica
seu apelo de super-herói. A gravata totalmente branca contrasta com a
sua pele bronzeada, e seu cabelo de anjo está preso para trás.
Meus joelhos quase se dobram, e posso sentir meu pai me apertar um
pouco mais forte para me firmar.
Eu fico zonza.
Além de Apollo, não posso dizer quem mais está lá, meu cérebro está
me dando apenas descrições vagas.
Mas o que eu sei é que todos estão olhando para mim exceto ele, pois
ele está olhando para a frente. Estou no meio da escada e posso dizer que
a sua mandíbula está rígida, como se ele estivesse apertando, rangendo
os dentes.
Seu olhar me atinge com força, e eu me sinto imediatamente como se
estivesse, mia.
Desvio o olhar por um segundo para recuperar a compostura, mas
ainda posso sentir a minha pele formigando. Eu levemente olho para
trás, e ele está quase franzindo a testa, mas não muito.
É
É sempre muito intenso quando o seu olhar escuro viaja do meu
corpo até o meu rosto.
Um arrepio desce pelas minhas costas e explode no meu estômago
quando vejo seu queixo cair ligeiramente. Esse olhar faria uma freira ter
acessos de tesão.
Um homem de repente ganha minha atenção quando dá um passo à
frente e se curva na minha frente. Estou respirando com dificuldade
quando percebo que este deve ser o seu primo Tarren.
Ele é bonito.
Cabelo e olhos escuros, mas uma irritação surge em mim quando
começo a o comparar a Apollo, imediatamente. Não sinto a mesma
atração erótica que sinto com Apollo.
E, eu sinto o Apollo. Sua energia, seu magnetismo, mesmo quando
não estou olhando para ele.
A minha pele formiga porque posso sentir seus olhos escuros em
mim, não porque o homem diante de mim está olhando para mim como
se eu fosse a coisa mais bonita que ele já viu.
Ele beija a minha mão e eu sorrio para ser educada, respirando fundo.
E faço uma reverência, sentindo os cabelos da minha nuca se
arrepiarem. Se eu fosse apostar, apostaria que Apollo não está feliz com
isso porque quase posso sentir a tensão se intensificar.
Mas eu não posso me importar muito com isso. Ele está noivo. Repito
isso para mim mesma, para não desmoronar.
Tarren está se apresentando a todos na fila enquanto eu sorrio e
aceno com a cabeça, me sentindo um pouco sobrecarregada por ser o
centro das atenções.
Quando ele chega a Apollo, nossos olhares se chocam novamente, e
eu não consigo dizer o que ele está pensando. Seu olhar brilha, é a única
indicação que recebo de que ele é uma pessoa real e não uma estátua.
Ele se curva sem dizer uma palavra.
Eu franzo a testa ligeiramente, querendo dar um tapa na cara dele por
não cancelar o noivado e me levar para o altar. Como se fosse minha culpa
ele estar noivo...
Ele inclina a cabeça ligeiramente, como se pudesse ouvir os meus
pensamentos perturbados. Eu percebo algo em seu olhar agora, uma
emoção. Que coisa.
Não consigo olhar para ele por muito tempo, pois sou conduzida para
a área de estar real.
Caminhamos por uma multidão de convidados e ignoramos os seus
olhares e sussurros.
— Você é ainda mais impressionante do que dizem os rumores, — diz
Tarren enquanto nos sentamos em assentos luxuosos, minutos depois.
— E pensar que você era a filha perdida de Galeão o tempo todo. Uma
escrava, que coisa mais surpreendente. Quando a minha tia, a Rainha,
me contou a história, admito que não acreditei.
Você nem faz ideia.
— Sim, é uma história e tanto, — eu mal digo, tentando esconder a
minha mão trêmula enquanto olho para o enxame de convidados. Eu
preciso me recompor.
Ele se inclina mais perto de mim. — Vim até aqui por causa do
noivado de Apollo, sabe. — Ele faz uma pausa enquanto segue meu olhar.
— Eles parecem se encaixar muito bem, pelo menos por fora. Nunca
pensei que veria o dia em que ele pediria alguém em casamento, fiquei
totalmente chocado. A princesa Laura de Galeão é muito agradável aos
olhos.
— Tenho certeza de que esse noivado ajudará nossos reinos a
permanecerem em paz. Ninguém quer ser inimigo da Casa do Galeão,
pois somos muito brutais, respeitamos a nossa ancestralidade.
Ele ri para si mesmo e leva um momento para tomar um gole de sua
bebida. — Mas, estranhamente, há um boato de que Apollo perdeu a
cabeça por causa de você. — Eu o sinto olhando para mim, em dúvida.
Eu endureço um pouco e olho para ele. — Boatos são só boatos.
Ele sorri e agarra a minha mão, passando os dedos pelo meu punho e
começa a fazer cócegas lentamente. Eu deixei, olhando para ele com
desconfiança. Ele olha para mim, estudando meu rosto.
— Eu nunca acredito em boatos, mas não posso deixar de me
desconfiar desse aqui, que até parece história romântica. A bela escrava
que chama a atenção do príncipe e por acaso é uma princesa?
Ele estala a língua. — Esse é um boato em que vale a pena acreditar.
Eu rio da sua expressão séria.
Isso só pode fazer parte da Fada Madrinha Ltda.
Ele se endireita e acena com o queixo para Laura e as mulheres com
quem ela estava caminhando.
Ela não fará contato visual comigo, e acho que sei por quê. Ela pode
ter o noivado, mas eu tenho o interesse de Apollo. Por enquanto, pelo
menos.
Sei com certeza que Laura ainda não desistiu, posso dizer pela
determinação em seus olhos quando está com Apollo — pendurada em
seu braço, olhares sedutores sempre que ele lhe dá atenção.
— Você acha que vocês duas vão ser amigas, agora que são irmãs?
Eu bufo, fazendo-o sorrir largamente.
Eu provavelmente não deveria ser tão abertamente odiosa.
Ele suspira. — Eu não culpo você.
Eu olho para ele, enquanto bebo meu champanhe. — Você é muito
observador.
Tarren se endireita e olha para mim. — Eu sou um escritor, minha
senhora. Eu tenho que ser. — Ele finge pensar e pisca para mim.
— Está no meu sangue. Quando Apollo e eu éramos mais jovens, ele
sempre me obrigava a negociar. Bem, você sabe, para convencer os
cozinheiros a nos dar bolos e chocolates extras. Esse tipo de coisas.
— Sempre consegui ler as pessoas muito bem e quase sempre isso
funcionou para meu benefício.
Eu sorrio, pensando nos dois garotos se metendo em problemas.
— Apollo sempre pareceu inocente, e eu nem tanto. Eu tive que dar
duro na vida pra conseguir tudo, enquanto Apollo apenas teve que sorrir.
— Ele ri novamente.
Tarren ajusta a sua gravata branca, seus ombros largos são
semelhantes aos de Apollo. Dá para ver que os dois são parentes.
— Bem, você desenvolveu habilidades para a vida toda, ao que parece,
— eu digo e tomo um gole, decidindo que gosto de Tarren.
— Eu sempre digo isso a mim mesmo, — ele sorri.
Eu ri.
Ele olha para mim e eu sinto minhas bochechas esquentarem
enquanto seus olhos viajam sobre mim.
— Eu conheço Apollo, e posso ver por que você o deixou obcecado.
Ele sempre gostou das mulheres morenas e misteriosas.
— E do que você gosta?
Ele inclina a cabeça. — Temos os mesmos gostos, o que nos levou a
muitas brigas por causa de rabos de saia na adolescência.
Eu penso por um segundo.
Tentando compreender Tarren e seus motivos. Ele inclina a cabeça no
meu pescoço, os lábios mal roçando minha pele, me deixando tensa.
— Se Apollo é um idiota por não ver o que está em jogo aqui, permita-
me cortejá-la. Eu, pelo menos, não sou idiota e posso tentar apagar tudo
o que meu primo idiota fez com você.
Duvido, mas estou lisonjeada.
Tarren é bonito, mas não no nível de Apollo.
Agora, não grite comigo ainda, eu entendo que nem tudo se trata de
aparência. Mas também me sinto viva quando estou perto de Apollo, com
uma eletricidade correndo pelo meu corpo e alma. Eu não sinto isso com
Tarren.
É difícil de explicar, mas eu me ilumino apenas pensando em Apollo.
Estou muito mal e essa febre não vai passar tão cedo.
— Tarren.
Todo o meu corpo enrijece.
Tarren afasta a cabeça do meu pescoço e sorri para Apollo. Era um
sorriso que você veria estampado na cara de um lobo.
— Apollo! — Ele se levanta e bate palmas. — Parabéns pelo noivado,
primo! Ela é deslumbrante, realmente.
A expressão de Apollo poderia ter transformado a própria Medusa em
pedra. Eu engulo seco, observando os dois em uma batalha silenciosa.
Acho que a presença de Tarren aqui pode ser a loucura de que eu
precisava para virar o jogo.
Eu bebo meu champanhe e me levanto, colocando meu braço no de
Tarren. Vale tudo, e eu posso jogar muito sujo quando quero alguma
coisa.
O olhar raivoso que Apollo disparou para minha mão no braço de
Tarren, foi o sinal que eu precisava.
Nunca afirmei ser uma boa pessoa.
Me processa, queridinho.
Capítulo 16
Eu preciso de uma bebida.
Tarren e Apollo se encaram com uma tensão tão densa que você
quase pode sentir as vibrações intensas entre eles.
Apollo se mexe enquanto sorri, olhando para a minha mão no braço
de Tarren e depois para mim. — Ursula, não é?
Eu respiro firme. — Sim, Vossa Graça, Princesa Ursula. — Eu sorrio o
mais falsamente possível.
— Perdoe-me por ser tão informal, — diz ele educadamente, mas seus
olhos são duros como aço. O homem está mega furioso, posso ver as
profundezas escuras de seu olhar me prendendo como agulhas.
— Princesa Ursula.
Tarren coloca a sua mão sobre a minha e olha para mim. — Devo
dizer que esse vestido que você está usando faz você parecer mais uma
deusa do que uma mera princesa.
Eu sorrio para ele como se fosse o elogio mais inteligente que já ouvi.
— São os seus olhos, — murmuro, — Você me lisonjeia.
Puts.
Eu pareço tão falsa até mesmo para os meus ouvidos, acho que devo
suavizar o sorriso. — Lorde Tar...
— Por favor, me chame de Tarren.
Eu ignoro o leve revirar de olhos de Apollo e inclino a minha cabeça
lindamente. — Tarren, — eu digo com vigor. — Gostaria de dançar? —
Ele coloca a mão no coração e ri. — Linda e corajosa? — Ele olha para
mim e se inclina.
— Vamos deixar Apollo e sua adorável noiva ficarem a sós aqui em
cima, — ele diz e acena com a cabeça para Laura, que está olhando para a
sua taça de champanhe a alguns metros de distância.
Seu vestido rosa é quase semelhante a uma flor murcha, como seu
comportamento azedo.
Eu não a culpo, e Apollo parece estar em uma missão diferente esta
noite, não está ligando muito para impressionar a noiva solitária. Uma
mulher ignorada é pior do que uma fera faminta e furiosa.
Eu acabei de inventar isso.
Palavras de sabedoria de Viola, também conhecida como Princesa
Ursula.
Apollo faz um som, estende a mão e agarra o meu braço, me
assustando. Apollo olha para sua mão em meu pulso, quase tão chocado
quanto eu.
— Tarren é o pior dançarino dessa porra de planeta. — Ele lançou um
olhar assassino para Tarren.
— Permita-me levar você. É o mínimo que posso fazer depois do que
aconteceu.
Tarren estala a língua. — Que linguagem mais suja você decide usar
na frente da Princesa de Galeão.
O olhar negro de Apollo parece piscar anormalmente.
— Cuidado, primo, — ele sibila. — Atenção. Ela vai te mastigar e
depois cuspir. — E com essa declaração carregada, ele se vira para sair,
deixando um arrepio frio em seu rastro.
Eu não percebi que estou prendendo a respiração até que eu soltei o
ar, meu pulso martelando. Eu olho para a expressão intensa de Tarren.
— Ele é o quê? — Eu deixo escapar.
Tarren expira e olha para mim, e parece uma eternidade antes de
dizer: — Venha comigo.
Tenho certeza de que estou quebrando todas as regras de boas
princesas, mas o sigo enquanto a curiosidade me domina.
Ele pega a minha mão e me leva para fora do salão de baile, pelos
jardins reais e para a ala oeste do castelo.
— Onde estamos indo?
Ele olha para mim. — Para a biblioteca.
Eu franzi a testa.
Na verdade, acho que nunca estive na biblioteca real, sendo uma
escrava, nunca tive permissão. Caminhamos por corredores longos e
altos, e o único som que ouço é o farfalhar de minhas saias extravagantes
e de meus saltos.
Finalmente, entramos em uma biblioteca de três andares e
respiramos fundo. Livros até onde a vista alcança, ao que parece, e pilares
maciços acentuando a arquitetura brilhante.
Isso aqui é um museu, não uma biblioteca.
— Aqui, — sua voz ecoa pelas paredes altas.
Sigo em frente até ficar cara a cara com uma parede alta, cheia de
retratos enormes. Eles são surpreendentes em detalhes e mostram a
linha real da família. — Oh, uau, — murmuro.
Tarren acena com a cabeça. — Esta é a família real da Casa de
Garthorn e algumas outras. — Ele aponta para uma foto alta de um
homem com uma capa escura e uma coroa de safira na mão. Seus olhos
são de um verde brilhante e a longa barba como a neve dá a ele um apelo
de mago.
— Quem é ele?
— Ele é a lenda de Garthorn.
Eu olho para ele, pedindo uma explicação.
Tarren leva um momento para olhar para ele. — Ele foi o início do
governo da família Garthorn séculos atrás, uma bênção e uma maldição.
— Como dizem as lendas, nosso ancestral Garthorn fez um acordo
com um poderoso feiticeiro. Dizia-se que Aloin Xadalf era tão poderoso
que podia conceder tudo o que o coração desejasse, se quisesse muito.
— Então, Hayden Garthorn, um mero camponês na época, o
procurou na escuridão da noite. Ele implorou a Xadalf que concedesse à
sua família riquezas além de sua imaginação.
— Ele faria qualquer coisa por isso, e Xadalf viu seu desejo intenso. —
Tarren olha para mim.
— Isso é verdade?
— Se for, — ele abre os braços para mostrar o castelo, —
definitivamente funcionou, hein? Mas, a lenda também diz que com esse
grande presente veio uma grande responsabilidade, sempre tem uma
pegadinha.
— Aloin Xadalf não faz nada de graça ou sem sentido.
Eu engulo.
— Todo primogênito herdará o poder da besta, ou pelo menos é o que
diz a lenda. Grande poder irá correr pelo sangue desta criança e
apodrecê-la por dentro, se isso não for tratado com cuidado.
— Agora, esse poder será uma bênção ou uma maldição para o rei
escolhido, o próximo da fila. A criança deve superar essa escuridão para
se manter... — ele balança as mãos novamente — ... vivo.
— Uma vez que a besta interior for domesticada, ela florescerá em um
grande poder que apenas um rei deve possuir.
Eu olho de volta para a foto e percebo o sorriso malicioso no rosto de
Aloin. — Então, você está dizendo que todo rei aqui em cima teve essa
maldição?
Tarren dá de ombros. — Essa seria uma avaliação correta, visto que
ainda estamos todos aqui.
— E todos eles tiveram que superar a besta interior? — Estou
tentando entender.
— Bem, sim. Uma vez que o líder nato se transforma em uma luz
positiva, acho que isso quebra a maldição para aquela geração.
— É por isso que cada primogênito é cuidado com o máximo de zelo.
Ensinando-lhes a diferenciar o certo do errado, preparando-os para
superar as trevas. Nossa herança Garthorn depende disso. — A Bela e a
Fera, pessoal?
— Interessante, — murmuro. — Então, o Apollo é o próximo da fila.
— Sim, — ele diz e olha para mim.
Eu respiro. — E ele não está indo muito bem, não é?
— Não.
Eu olho para ele, me sentindo quase em pânico. Agora eu entendo por
que este mundo está no alerta vermelho da Fada Madrinha.
— Não é culpa de Apollo em si, acredito que ao longo das gerações os
ensinamentos foram sendo subestimados. Esqueceram os princípios
básicos e o que poderia estar em jogo.
— Agora o Rei está doente, e temo que Apollo não esteja pronto.
— Por muito tempo, essa lenda foi mantida em segredo, mas temo
que não seja mais assim. Cada reino sabe o que vai acontecer quando
Apollo finalmente tiver um herdeiro.
— A criança será poderosa, assim como Apollo é.
A criança pode ser boa ou má e, infelizmente, há muitas pessoas
desagradáveis que amariam ter a sua semente real.
— Elas querem o filho dele, — digo para mim mesma.
— Correto. É por isso que quase caí da cadeira quando soube do
noivado. Isso é um passo e tanto, e todo mundo sabe disso.
— Sua esposa deve ser pura de coração, sem más intenções, ou isso
será a queda de Garthorn.
Eu vejo agora porque esse noivado é um grande negócio. — Isso é
muita informação para absorver.
Ele inclina a cabeça para mim. — Eu teria pensado que isso era de
conhecimento comum agora. Na verdade, estou chocado por você não
ter ouvido falar disso. Normalmente, os escravos sabem de tudo, apesar
de sua posição
Sim.
Teria sido bom se Encantado tivesse me contado sobre esse pequeno
boato. Mort provavelmente está se perguntando onde diabos eu estou.
— Nós temos que destruir esse noivado, — eu digo e olho para ele.
Ele olha para mim. — Temos?
Tento pensar rápido. — Eu não recebo boas vibrações da Rainha do
Galeão.
— Rainha Irena? — ele pergunta. — Ela sempre foi adorável comigo,
mas não estou por perto o suficiente para ter certeza.
— E apenas um palpite. Acho que vale a pena investigar. Quero dizer,
isso é sério!
Estou em pânico. Não quero que uma pobre criança inocente seja
tomada e transformada em um monstro, especialmente o filho de Apollo.
O menino inocente provavelmente teria cabelos loiros cacheados e a
pele dourada como o pai.
Meu coração aperta com esse pensamento.
Ele ri. — Sim, eu concordo, mas eu gosto da Casa do Galeão. Eles
sempre foram justos e leais. Estou surpreso que você não goste da sua
família recém-descoberta.
Não gosto da esposa vadia do meu pai...
Mas o meu pai está ótimo.
— Meu pai parece um grande homem, mas é apenas da sua esposa
que eu desconfio. Normalmente sou uma boa juíza de caráter.
Na verdade, isso é mentira. Eu sou a pior juíza de caráter.
Eu provavelmente deixaria um serial killer entrar em minha casa
porque ele apenas precisava usar o telefone. Afinal, o seu carro quebrou.
Eu provavelmente ignoraria a sua camisa de flanela e jeans manchados de
sangue. Quem sou eu para julgar?
Ele acena com a cabeça e me encara. — Bem, que bom que ele não vai
se casar com ela, mas com a sua meia-irmã.
Eu mordi meu lábio. — Verdade, mas você sabe que Irena pode ter
muita influência sobre a filha.
Não gosto da Laura, mas não a acho má, ela só quer ganhar Apollo.
Tecnicamente, estamos todas no mesmo time, mas temo que Laura não
seja ousada o suficiente para enfrentar Irena.
Realmente, porém, Laura deveria denunciar sua própria mãe como
uma fraude para o bem da Fada Madrinha Ltda.
Mas Laura é vaidosa, e se ela fizesse isso, automaticamente ela não
seria mais uma princesa. Eu preciso encontrar a Ivy. Ela pode ter alguma
ideia de quem é o amante da Rainha Irena, sendo uma espiã.
— Então, você vê porque eu provoco Apollo.
Isso me tirou dos meus pensamentos. — Não entendi.
— Eu estou bem com o casamento de Apollo com Laura, se é isso que
ele quer. Mas tenho um palpite de que ele sente algo mais profundo por
você, — diz ele e estende a mão para tocar uma mecha preta sedosa do
meu cabelo.
— Você é bastante atraente, dá água na boca, na verdade. E, para não
soar muito precipitado, eu adoraria uma chance de conquistar seu
coração se Apollo escolher ficar com a Laura.
Eu coro, não tenho certeza do que dizer.
— Estou provocando Apollo até deixá-lo com ciúme, esperando que
ele tome a decisão certa no final.
— Apollo é uma pessoa muito altruísta, apesar de sua posição
privilegiada. Portanto, casando-se com uma mulher, ele faz o bem para o
reino. Bem, estou supondo.
— Apollo sempre se certificou de que minha família fosse bem
cuidada e, por isso, tenho uma dívida com ele. Ele não vai me deixar
retribuir ou simplesmente agradecer.
— Ele cuida da família, mesmo extensa, sem elogios. Então, esta é à
minha maneira silenciosa de dizer obrigado, mesmo que ele não veja
agora!
Ele suspira enquanto seus olhos viajam sobre mim.
— Ele vai ficar me devendo uma grande depois disso, no entanto.
Estou mostrando a ele um pouco de amor próprio, esperando que no
final ele veja o que eu estava tentando realizar.
— Apollo precisa mudar o seu coração para se livrar da besta interior,
e só o amor verdadeiro pode fazer isso.
Levei um segundo para recuperar meus pensamentos. — Você acha
que ele me ama?
— Eu não sei, mas ele está agindo de forma muito fora do
personagem. — Ele olha de volta para a família real em exibição. —
Permita-me levá-la em um passeio de carruagem amanhã de manhã,
como se eu estivesse cortejando você.
— Mas você não está.
Ele limpa a mão no rosto enquanto geme. — Eu gostaria de estar,
minha senhora, eu gostaria de estar. Como eu disse, se Apollo escolher
errado, por favor, me dê uma chance de ganhar seu coração de verdade.
— Ele parece muito sério.
Eu sorrio para ele. — Claro.
Seus belos traços se iluminam. — Perfeito. Plano A: deixar Apollo
maluco de ciúmes. Plano B: se tudo falhar, eu sou seu.
Eu rio, apesar desse papo absurdo. — Concordo.
Nós rimos juntos, como se fôssemos crianças.
— Primo, — surgiu uma voz estrondosa.
Nós dois ficamos tensos.
Eu me viro para ver Apollo encostado no batente da entrada.
Sua camisa está desabotoada no pescoço e o seu cabelo está
desgrenhado como se ele estivesse passado as mãos por ele como um
louco. Para ser franca, ele parece bêbado.
— Apollo! — Tarren grita e pisca para mim, parecendo um pouco
nervoso. — Já estava de saída, tenho um compromisso. Você acha que
pode acompanhar a princesa Ursula de volta ao salão de baile?
Apollo inclina a cabeça e ri. — Tenho certeza de que posso
administrar isso.
— Excelente. — Tarren se move para sair. — Até amanhã de manhã.
— Ele se curva e beija a minha mão.
Parecia uma eternidade assistir Tarren partir, cada passo demora mil
anos. Agora, estou aqui sozinha com Apollo, ele está me olhando com
uma expressão que não consigo decifrar, mas ainda me faz estremecer.
— Você gosta dele? — ele pergunta, de repente.
Eu olho para baixo e depois para cima. — Isso não é da sua conta. —
Ele se afasta da porta e caminha em minha direção, me fazendo recuar.
Minha pulsação salta quando sinto as minhas costas baterem na parede
atrás de mim.
— Você está tentando me deixar com ciúmes? — ele pergunta e para
bem na minha frente.
— Esse pensamento nunca me ocorreu, acho Tarren charmoso e
bonito. — Eu levanto meu queixo.
Espero que ele não tenha conseguido ver a pulsação em meu pescoço.
Apollo desvia o olhar e depois volta para mim com um sorriso. —
Você está brincando?
— Não, e é rude que você pense assim.
O olhar escuro de Apollo baixou para o meu pescoço, em seguida,
para o meu decote. — Tarren não saberia o que fazer com uma mulher
como você.
Eu ri. — Oh, sério, e você sabe? Você é extremamente arrogante.
Está ficando quente aqui?
— Eu mal teria que tocar em você para te fazer pegar fogo, — ele
murmura, seu olhar negro devorando o meu corpo.
Eu respiro firme. — Você está apenas provando o fato de que tem um
ego enorme?
— Você acha que estou blefando?
Já estou com calor e ele nem me tocou ainda.
Não, eu não acho que você está blefando.
Eu corro para fora de seu alcance, parando atrás da grande mesa
como uma lunática.
— O que você está fazendo? — ele pergunta com uma careta.
— Mantendo a distância de um braço entre nós. — Ele ri como se
soubesse o porquê e me agracia com um olhar que faria qualquer mulher
em idade fértil desmaiar.
Seu cabelo bagunçado e sua bela pele dourada exposta estão me
deixando tonta. Eu só quero inalar o seu cheiro e beijar seu queixo liso.
E talvez, desabotoar sua camisa e beijar todo o caminho até a fivela do
cinto e...
Minhas bochechas estão vermelhas.
Controle-se.
Eu balancei a cabeça. — Você está noivo, Apollo. Não podemos ser um
casal quando você está prometido a outra, e você sabe disso, — eu digo.
Estou sem fôlego? Não consigo obter oxigênio suficiente.
— Eu posso fazer o que eu quiser, — ele diz e caminha em minha
direção.
— Eu não sei nada sobre você.
Ele levanta uma sobrancelha e fica na frente da mesa. — O que você
gostaria de saber?
— Qual é a tua cor preferida?
Apollo inclina a cabeça. — Eu respondo se você me der alguma coisa
em troca
Eu estreito meus olhos.
— Você deve desfazer um botão para cada pergunta. — Ele encolhe os
ombros como se isso não fosse grande coisa.
— Eu não preciso saber a sua cor favorita, mesmo — eu atirei de
volta.
— Vou tirar as suas roupas de qualquer maneira, então é melhor você
aproveitar e lançar algumas perguntas. A minha cor favorita é verde. —
Ele balança a mão em minha direção. — Desabotoe ou remova algo.
Eu rio, nunca tinha visto um homem mais arrogante em minha vida.
Eu penso por um segundo e mordo meu lábio. Vou jogar esse jogo por
um curto período de tempo, não o suficiente para me meter em
problemas.
Bom, isso tem cara de que vai dar errado.
Eu pego um grande grampo do meu cabelo, e a metade de cima cai
pelas minhas costas. Meu cabelo é comprido, chegando até a minha
bunda; Sempre tive orgulho disso.
— Isso mesmo, — ele geme enquanto seus olhos parecem ganhar
vida, me deixando nervosa. É como preparar carne fresca na frente de
um leão faminto. Pelo jeito que ele está olhando para mim, me sinto nua.
— Sua vez.
Ele sorri largamente. — Adoraria jogar. O que você ainda está
escondendo?
Eu rolo meus olhos. — Tente novamente.
Ele se inclina contra um grande sofá de couro e pensa. — Há quanto
tempo você consegue se lembrar da sua vida?
Eu paro e pondero sobre isso. Na minha vida real, minhas memórias
começam tarde por algum motivo, talvez eu tenha tido algum trauma?
Mas minha memória mais antiga é de cerca de seis anos, e não sei por
quê.
Não consigo me lembrar de minha mãe ou de qualquer coisa a ver
com meus anos mais jovens. Provavelmente não é grande coisa, mas me
incomoda o fato de eu não me lembrar de nada de quando tinha quatro
ou cinco anos.
— Anjo?
— Oh, — eu rio, — Eu não consigo me lembrar de muito, apenas da
minha época como uma escrava. Talvez a memória volte para mim algum
dia.
— Talvez, — diz ele desconfiado.
— Tire algo, — eu ordeno. Provavelmente, muito provavelmente, isso
não é uma boa ideia, meu cérebro avisa, mas não estou ouvindo no
momento. Por favor, deixe uma mensagem após o biüüiiiiip.
Apollo se endireita e, com um movimento rápido, tira a camisa. Ele
está usando uma armadura preta apertada que abraça cada ondulação e
protuberância de seu torso.
Eu engulo. Ele é incrivelmente bonito, como se o Brad Pitt e o Jared
Leto pudessem se unir e criar o novo homem perfeito.
Ele está sorrindo novamente. — Sua vez, anjo.
Eu lambo meus lábios, minha boca seca. — Qual é a tua memória
favorita de infância?
Seus olhos se arregalam. — Memória de infância?
Eu sorrio. — Sim, Apollo. Você já foi um garotinho feliz, não foi?
Ele se inclina para trás, contra o sofá, seus músculos saltam quando
ele cruza os braços.
— Minha mãe adoeceu quando eu tinha cerca de 12 anos. Então, meu
pai e eu partimos em uma jornada épica para encontrar a flor rara que só
floresce no topo do monte Union.
— Éramos só nós dois, sem guardas. Acampamos sob as estrelas
abertas, cozinhamos comida na fogueira e ele compartilhou histórias de
nossos ancestrais.
— Foi a melhor aventura para um rapaz experimentar, algo em que eu
não pensava há muito tempo. — Ele encara seus pés como se estivesse
revivendo a preciosa memória.
— Quanto tempo?
— Demoramos sete dias, e minha mãe voltou à sua plena saúde, —
diz ele e olha para mim. — Tire duas coisas, minha senhora.
— Duas?!
Ele sorri, e quase posso ver o menino travesso que ele costumava ser.
— Você fez duas perguntas. — Eu bufo, fazendo-o rir. Se ele não fosse tão
insanamente sexy, eu diria a ele para ir para o inferno, mas vendo como
as minhas partes íntimas são afetadas por ele, eu obedecerei.
— Eu preciso de ajuda.
Apollo pula e está atrás de mim mais rápido do que posso processar o
que estou fazendo. Sinto seus dedos na minha nuca e fecho os olhos.
Eu o sinto desabotoar um, depois dois.
— Você é tão linda que mal consigo pensar quando estou perto de
você, — ele sussurra em minha pele.
Uma parte de mim não tem certeza se estou mentalmente pronta
para ouvir Apollo falar dessa maneira. Isso me bagunça.
— Eu sinto que você me infectou com algo que eu não posso limpar.
Por mais que tente lutar contra isso, não consigo. Está me deixando
louco. Eu nem me reconheço.
Eu engulo.
Ele está falando sério? Ou apenas dizendo o que eu quero ouvir?
— Cancele o noivado, então.
— Feito.
Eu me viro, olhando para seu rosto bonito.
— Feito?
— Feito.
Eu respiro. — Você está cancelando o noivado?
— Eu quero você, e se é assim que eu consigo, então eu o farei, — ele
admite, dando um passo à frente. — Eu serei amaldiçoado se eu deixar
meu primo ter o que é meu. Eu quero ser egoísta pelo menos uma vez.
— Mas eu não sou sua.
Devo dar uma de princesa Jasmine? Eu não sou um prêmio a ser ganho!
— Ainda não, anjo, mas você será.
Uma emoção sobe pela minha espinha e minha pele se inflama. De
alguma forma, não posso discordar dele, e meu cérebro está sugerindo
uma dança sexy com essa imagem de Apollo. Devo confiar nele?
Engane-me uma vez, que vergonha. Engane-me duas vezes, que
vergonha.
Enganar-me uma terceira vez? Ele não tem culpa.
Pronto, pronto.
Capítulo 17
— Você cancela o casamento, e depois? — Eu olho para trás,
tremendo enquanto a ponta de seus dedos passa pelo meu pescoço.
— Então sou um homem livre para fazer o que quiser, — diz ele e
continua a desabotoar meu vestido.
Eu me viro completamente, sentindo o ar frio no meu pescoço e nas
costas. — Isso vai causar uma comoção incrível. — Estou me certificando
de que ele está doido, antes de começar a confiar nele.
Apollo passa a mão pelos seus cabelos cacheados e respira fundo. Ele
parece distante como se sua mente estivesse em outro lugar. — Estou
ciente disso.
Eu franzo a testa. — E você está bem com isso? — Ele olha para mim,
e posso ver uma batalha interna acontecendo, como momentos antes de
alguém pular de um penhasco em direção a um lago profundo.
— Acho que não dou a mínima. — Ele sorri para mim e inclina a
cabeça.
— Pelo amor de Deus, esse vestido que você está usando é
simplesmente deslumbrante, eu me encontro completamente
hipnotizado. Sei que as nossas costureiras nunca fizeram algo tão
notável. A sua empregada fez isso?
Eu engulo. — Sim, ela tem muito talento.
Ele acena com a cabeça, seu olhar escuro vendo muito.
Estou nervosa, de repente. Parece que ele ainda está desconfiado de
mim. Eu não posso culpá-lo, o vestido realmente parece que é feito de
mágica, vamos ser honestos.
Talvez eu tenha que dizer a Encantado para diminuir um pouco o
tom.
Não tenho ideia de quais são as intenções de Apollo agora, pensei que
tinha, mas agora estou me questionando. Eu sinto que ele está me
provocando ou tentando me prender.
Juro que eu pensei que ele queria uma trepada rápida, mas agora não
tenho certeza.
— Você está se perguntando o que estou pensando? — Ele sorri e se
encosta na parede casualmente.
Eu mordo meu lábio, tentando ignorar o quão gostoso ele é. — Eu
diria que estou curiosa.
Ele levanta o dedo. — 1. Eu quero você nua. — Ele levanta dois dedos.
— Dois. Eu quero que você me diga quem diabos você é.
Eu fico olhando para ele.
— Não importa a ordem, — ele sorri novamente.
— Eu sou uma princesa agora, você não pode me ameaçar como
antes, — eu sibilo, e estreito meus olhos.
— Eu posso, se você quiser ser a minha esposa.
Isso me pegou de surpresa, acho que estou de boca aberta. — Como
é?
Parece que ele está se divertindo muito. — Quero saber com quem eu
vou casar, acho que isso é compreensível.
— Você nem sabe se eu quero me casar com você! — Acho que meu
rosto está vermelho. — Você é ainda mais arrogante do que eu pensava!
Eu quero me casar com você, mas esse não é o ponto!
Ele ri. — Você fica gloriosa quando está bravo.
Eu respiro fundo, uma respiração calmante. — Eu não estou brava,
estou apenas chocada com o quão nariz empinado você é.
Ele levanta uma sobrancelha. — Eu sou muito... — ele faz uma pausa
como se estivesse pensando na palavra certa, — observador. Você me
quer, anjo.
Eu rolo meus olhos. — Sim, você é muito bonito—
— Obrigado, — ele diz, sorrindo.
— Eu não terminei, — digo, — Sei que você é bonito, mas isso não
significa que quero me casar com um idiota superconfiante.
Opa.
Eu fecho a minha boca.
Ele parece magoado, de uma forma zombeteira. — Bem, então... O
que é que você quer em um marido, por favor, esclareça.
— Inteligente, engraçado, compassivo, — faço uma pausa com um
sorriso, — Humilde.
— Você acha que eu não sou humilde?
Eu faço uma pausa. — Na verdade, não tenho certeza, mas quando eu
estou por perto, não é, não.
Ele se aproxima de mim e levanta meu queixo.
Seu olhar escuro está brilhando na luz fraca. — Isso é porque eu não
sou.
Eu franzo a testa.
— Ou talvez eu apenas goste de ver você perder o controle, — diz ele
com uma piscadela.
— Você me insulta, então?
Ele faz uma cara de culpado. — Não vou confirmar nem negar.
Eu luto contra um sorriso.
Ele é charmoso com todo esse ato inocente que minhas defesas
começam a cair. Ele está me provocando da maneira mais viciante.
— Podemos continuar o nosso jogo?
Eu ri. — Por que você me quer como esposa?
Apollo caminha até o sofá e se senta, seu corpo grande ocupando a
maior parte dele.
— Por que eu quero você? Essa é uma pergunta complexa. — Ele
inclina a cabeça enquanto me olha de cima a baixo.
— Porque você é diferente das outras. Misteriosa, apaixonada, com os
olhos mais sedutores que já vi.
— Eu sei que você tem segredos, que há mais em você do que você
está revelando, mas eu ainda quero você como minha esposa.
Ele faz uma pausa e sorri. — Sempre quero o melhor. Só porque sou o
melhor em tudo, e isso nunca vai mudar. Preciso de uma mulher que me
acompanhe em todos os sentidos.
— Você está me provocando.
Seus olhos estão iluminados com malícia. Eu tento encará-lo, não
querendo ser pega na sua armadilha. — Eu sei.
Ele se senta no sofá. — Você precisa de ajuda para se despir?
Eu mordo meu lábio para não sorrir. — Não.
Ele geme. — Depressa, mulher.
Sento-me no sofá em frente a ele e subo minhas saias cintilantes. Ele
observa minhas mãos como se eu estivesse desativando uma bomba.
Exponho minhas coxas onde aparecem as minhas meias de renda e
acho que o ouvi dizer alguma coisa.
— Divino.
Eu levanto uma sobrancelha, meu pulso pulando.
— Deixe-me ajudar, — ele sugere com um tom áspero.
Eu acho que aceno.
Apollo está na minha frente antes que eu possa piscar. Seu grande
corpo agora está separando minhas pernas e ele está ajoelhado entre
minhas coxas.
— Eu acho que você está trapaceando, — eu digo sem fôlego. Seu
cabelo platinado está em uma desordem selvagem e seus olhos anormais
são letais. Uma mistura perigosa para a libido feminina.
Ele está tão perto que posso sentir o cheiro selvagem dele, o calor de
seu corpo está quase me queimando. Eu respiro trêmula, e em algum
lugar no fundo da minha mente, eu sei que isso é xeque-mate.
Eu respiro fundo quando sinto seus lábios no meu pescoço,
mandíbula e depois no meu decote. Minha cabeça cai para trás e parece
que vou para uma época e lugar diferentes — um lugar onde apenas um
intenso prazer é sentido.
Apollo agarra a minha nuca e sua boca quente atiça a minha
agressivamente. Eu não recuo e sinto cada movimento de sua língua na
minha boca.
Ele tem um gosto delicioso, como vinho tinto escuro — nossas bocas
se moldam e se movem em uma dança sedutora que me tira do eixo. Eu o
ouço gemer em minha boca enquanto me puxa para mais perto dele.
— Camisa! — Eu me afasto e grito antes que sua boca queime uma
trilha no meu pescoço. — Tire sua camisa.
Eu o ouço rir.
— Tão mandona, — ele sussurra. — Você me deve uma pergunta,
anjo, — ele respira em meu pescoço enquanto a sua língua gira em torno
do meu decote.
Eu mal consigo pensar, muito menos responder a uma pergunta.
Se eu não soubesse melhor, diria que ele está se aproveitando de mim.
— De onde você veio? — ele sussurra em meu ouvido. — Diga-me,
anjo. — Sua mão segue até minha coxa e aperta a minha bunda com
força, me pedindo para responder. — Eu quero a verdade.
— Eu sou a princesa perdida, agora me beije, — eu gemo.
Eu sinto seu olhar em mim e me recuso a olhar para ele, ou ele vai ver
que estou cheia de mentiras. Eu sinto sua mão se movendo, e eu suspiro
quando ele me toca lá. Eu suspiro quando sinto seus lábios de volta no
meu pescoço.
Ele começa a me masturbar como se ele fizesse isso para viver. Seus
dedos estão profundamente dentro de mim, e novamente ele me
pressiona. — Diga-me de onde você veio, — diz ele com força, sua
respiração áspera está queimando a minha pele.
Eu mal o ouço enquanto meu corpo zumbe com sensações tão
intensas que eu acho que ele está usando algum tipo de magia negra.
Nenhum homem consegue ser tão bom com as mãos, certo!? Achava
que esse tipo de coisa só acontecia em livros de romance.
— De onde você é?
Eu sinto a pressão aumentar e meus pensamentos estão
desconectados, eu nem tenho certeza de onde estou, neste momento. Eu
sinto a língua de Apollo no meu pescoço enquanto sua mão faz magia em
mim, e isso parece funcionar.
Vou ter um orgasmo parecido a uma bomba atômica, senhoras e
senhores. Não fique com ciúmes.
Mas então.
Ele para.
Como ele ousa?!
— De onde você é, anjo?!
— O que isso importa?! Eu estou aqui agora! — Eu aperto minha boca
fechada, minha respiração ainda áspera e irregular.
— O que isso importa?! Acho que importa muito, — diz ele, seu olhar
parecendo mudar. Uma onda de medo rompe a névoa de luxúria.
Tento me mover, mas ele me mantém no lugar.
— Responda.
Eu levanto meu queixo, — Afaste-se de mim.
Ele sorri, mas está frio.
— Você vai me dizer se eu fizer isso?
Ele inclina sua cabeça loira para baixo e lambe minha panturrilha
através da minha meia de renda, levantando a minha perna. Minha
respiração falha, e eu sinto sua língua quente acariciando seu caminho
até minha perna. Eu não o impeço. Eu não consigo.
— Eu sei o que você está fazendo! — Eu ofego de prazer. — Não vai
funcionar!
Pode funcionar.
— Veremos, — ele respira na parte interna da minha coxa. — Você é
deliciosa.
Acho que grito quando sinto sua boca lá embaixo e deixe-me dizer, a
língua dele é melhor do que os dedos, isso algo que eu não pensei que
fosse possível.
O ABC é para amadores, porque este homem está lambendo em
diferentes línguas antigas, hieróglifos egípcios perdidos.
Não.
Não vou aguentar muito.
Este homem vai me matar desta vez.
O prazer explode dentro do meu corpo e sou transportada para uma
nova dimensão. Luzes e fogos de artificio explodem em minha barriga e
fico mole como uma boneca de pano.
Ele é incrível — não há como negar que provavelmente é bom em
tudo o que faz.
— Diga-me.
— Eu não posso, — eu mal movo minha boca.
Meus olhos se abriram. Eu sou uma idiota, idiota! Eu basicamente
disse a ele que não sou o que pareço pela minha resposta idiota— Não
posso!?
Por que eu não poderia ter dito, não posso porque não há nada para
contar!? Mas foi do jeito que eu disse como se eu quisesse..., mas não
consegui!
— Você admite que está escondendo algo, então? — Ele está olhando
para mim, seu peito subindo e descendo.
— Não, isso significa que não posso porque não há nada para contar.
Vale a pena experimentar.
— Mentirosa.
Eu empurro as minhas pernas para longe, mas ele me agarra
novamente. Ele lambe os lábios e inclina a cabeça, — Meu anjinho, você
não vai a lugar nenhum.
— Você nem sempre consegue o que quer, Apollo, — eu digo, ainda
saindo do meu barato.
Ele ri. — Oh, sim, eu posso.
— Como?
Não sei por que perguntei isso.
— Eu não vou me casar com você até que você me diga quem você é.
Preciso de toda a honestidade e acho que você sabe por quê. Ou serei
forçado a escolher outra. — Ele não estava mais sorrindo.
Isto não é justo.
Preciso falar com Mort.
Não acho que sou capaz de dizer a Apollo que sou uma agente da
Fada Madrinha Ltda. E, se o fizesse, acho que ele me trancaria em um
hospício.
— Então, suponho que você não vai tirar a sua camisa, — eu digo com
um beicinho.
Ele me lançou um olhar que não consegui decifrar, mas foi um olhar
intenso.
— Se você me disser quem você é; vou fazer valer a pena. — Ele se
inclina para trás claramente para me mostrar seu pacote insano saliente
através de sua calça preta. Eu engulo em seco.
Isso não é justo.
Acho que estou tendo ondas de calor. Seriam os primeiros sinais de
um derrame?
Apollo, nu em toda a sua glória, é tudo.
Acho que perdi minha voz.
Ele se ajusta com um sorriso malicioso. — Diga-me, anjo, e eu sou
seu.
Eu sou seu ele repete.
Eu sinto raiva.
Eu nem sei o que dizer a ele para não me meter em problemas. Eu
aperto meus olhos e mordo meu lábio, tirando sangue. Posso sentir o
gosto de cobre na minha boca.
Eu o quero tanto que dói, e não há nada que eu possa fazer a respeito.
Eu sinto seus lábios nos meus, fazendo meus olhos se abrirem. — Não
tire sangue, anjo, apenas me diga. Você pode confiar em mim. Eu quero
você tanto quanto você me quer, — ele sussurra em minha boca.
Sento-me e ele enlaça os braços em volta da minha cintura, quase
com medo de que eu fuja. — Eu preciso de tempo, — eu sussurro.
Ele está respirando profundamente. — Você está com medo de me
dizer?
Eu fico olhando para ele.
— Você está em apuros? — Seu tom está ficando forte.
— Não.
— Você é contra a Casa de Garthorn ou é a nosso favor? — ele
pergunta com cuidado.
Ele está realmente procurando respostas, embora eu não o culpe nem
um pouco.
— Eu não sou contra ninguém.
Ele franze a testa. — Então por que não me diz? '
Eu desviei o olhar. — Eu só preciso de tempo, Apollo.
Eu sinto sua energia; ele está se segurando. — Tudo bem. Mas não
cancelarei o noivado até que você confie em mim. A mulher com quem
eu me casar não terá nenhum segredo para mim.
Eu me encolho.
Não se case com Laura, então.
— Apollo, — eu digo. Ele se levanta e eu olho para ele. — Eu sou
inofensiva, se isso significa alguma coisa.
Ele bufa. — Eu serei o juiz disso, anjo.
— Você está indo embora?
Ele caminha até a porta e olha por cima do ombro, ajustando a calça e
o cabelo.
— Se eu ficar aqui por mais tempo, não poderei manter a compostura.
Diga à sua costureira para ter misericórdia de mim.
E com isso, ele foi embora.
Bom, que merda.
Não se importe comigo enquanto eu choro até dormir esta noite. Eu
me sento e bato no queixo, é hora de encontrar Mort e descobrir essa
história de fundo. Preciso saber as minhas opções antes de poder jogar as
cartas.
Apollo não vai parar, ele vai me pressionar por respostas novamente, e
eu não tenho certeza se sou forte o suficiente para suportar suas táticas
de sedução.
É hora de colocar uma calcinha de mulher adulta.
Bem, daquelas que são sexy e confortáveis ao mesmo tempo. Você
sabe, aqueles que fazem suas nádegas parecerem ótimas sem parecer
muito vulgar. Tipo, sei lá, aquele shortinho da Mulher Maravilha da
Marvel.
Sim, esse.
Capítulo 18
— Sua vadia!
Eu acordo com um copo sendo jogado na minha cabeceira. A batida
vibra através de meus pensamentos desconectados enquanto eu acordo,
com o coração batendo forte.
Mort saiu do meu quarto ontem à noite, dizendo que ela precisava
falar com Encantado sobre a minha terrível situação. Então, eu não
tenho ninguém ao meu redor para me proteger dessa maluca.
'Laura! O que diabos você está...
Um grande vaso é arremessado na minha cama não me acertando por
pouco, e se espatifando em um milhão de pedaços. — Sua puta!
Sentei na cama e estendi meus braços. — Laura acalme-se, o que
aconteceu?! — Eu pergunto, fazendo-a rir histericamente.
— Eu o amo! Você não! — ela grita, seu vestido de mirtilo não elogia
as suas feições coradas.
— Você está bagunçando a minha vida! Eu sou uma princesa aqui
prestes a se casar com o homem dos meus sonhos! A minha outra vida
em casa foi uma droga e não vou deixar você tirar isso de mim!
Uma empregada entra correndo e acho que é a agente dela. Laura
parece um touro pronto para atacar ao menor sinal de movimento.
— Laura, — diz a sua agente, — venha comigo e vamos traçar um
plano.
— Um plano?! — Eu pergunto enquanto olho de Laura para a sua
agente. — Alguém pode me dizer o que está acontecendo?!
Laura inspira e expira ruidosamente, ajustando o vestido e o cabelo.
— Eu sei o que você fez com Apollo na noite passada, ele é um
homem comprometido! Eu ganhei, Viola! Vamos nos casar e você está
bagunçando tudo!
Ela dá passos em minha direção. — Estamos apaixonados e não
preciso de você tentando nos separar!
— Laura, esta é uma competição de três meses! Estamos quase no
nosso último mês aqui! Só porque você tem um noivado não significa
nada, — digo cuidadosamente por entre os dentes.
Ela balança a cabeça. — Eu conheço os homens, ele está apaixonado
por mim. Mas os homens são todos de sangue quente e quando você se
exibe na frente dele, ele segue os seus instintos animais! Qualquer
homem faria isso!
— Você é apenas uma prostituta! A Fada Madrinha Ltda, precisa parar
de contratar vagabundas porque elas podem arruinar todas as missões!
— Quaisquer palavras doces que ele possa dizer para conseguir
arrancar a sua calcinha são mentiras! E por isso que ele não retirou o
pedido de casamento! Você só é boa o suficiente para transar, não para
amar!
Ela está adquirindo um tom alarmante de roxo.
Estou ficando chateada agora.
Seu ego está ultrapassando os limites.
Mort entra correndo na sala e encara Laura e depois a outra agente.
— Leenie. Encantado diz que isso é uma violação do código B-5. — Mort
encara a agente. — Você deveria saber disso.
— Laura, se você não conseguir se conter, será expulsa do jogo. Esta é
uma competição e se você não puder lidar com isso, você pode usar todos
os seus salva-vidas e sair de Delorith.
Mort sorri. — Você não pode, em nenhuma circunstância, trazer a
Fada Madrinha para uma discussão acalorada. Encantado diz que isso é
um aviso.
Mort olha para a agente. — Leenie, você precisa se conectar e
Encantado terá uma palavrinha com você.
Ela sibila para Mort e sai.
Laura está massacrando Mort em pedaços com seu olhar mortal.
— Claro, — ela range, saindo do quarto. A risada borbulha de sua
garganta enquanto ela olha para mim.
— Se isso é competição, então eu sou o seu pior pesadelo, — ela
ameaça. — Se você não desistir do meu noivo, então vou fazer da sua vida
um inferno.
— Laura, — Mort avisa.
— Adeus, Viola, tenho um passeio adorável de carruagem com o MEU
noivo agora de manhã. — Ela sorri. — Ele me encontrou e me presenteou
com lindas flores. Fico chocada com o quão lindo este mundo é, tão
diferente do nosso. Foi tudo muito romântico, até fico corada de pensar
nisso.
— Ele é tão forte e bonito e quando ele me beijou eu senti uma
corrente elétrica entre nós. Eu realmente acho que ele está tentando ir
devagar, para fazer direito.
— Estamos realmente começando a nos conhecer antes de focar na
conexão física. Acho que no próximo mês levaremos o relacionamento
para o próximo nível.
Ela ri como se estivesse revivendo a felicidade. — Então, eu sinto
muito pelo drama que eu causei, mas eu só quero te avisar que ele só te
vê pelo seu corpo, como qualquer homem de sangue quente faria.
— Ele quer mais de mim, e eu não quero que você se machuque,
apesar de eu não gostar de você. Os homens dizem qualquer coisa para
arrancar as saias de uma mulher. E apenas um jogo para eles, não
significa nada.
Minha boca está aberta.
Mort vai até ela. — Saia.
Laura balança a cabeça e tira a poeira de sua manga estufada.
— Preste atenção ao meu aviso, Viola, — ela sussurra e para na porta.
— Seios são apenas seios e uma vagina é apenas isso, mas o coração é
muito mais.
Depois que ela vai embora, um silêncio ensurdecedor nos envolve.
Mort suspira. — Que frase de impacto mais tosca.
— Eu sei, — eu digo enquanto franzo a testa. — Seios são apenas
seios? E quanto à vagina?
Mort sorri. — Acho que ela disse que o coração é mais do que uma
vagina.
Nós duas demos uma boa risada, então deitamos na cama. Eu olho
para Mort e expiro.
— Laura comentou algumas coisas que estão me incomodando.
Mort morde o lábio. — Você confia nela? Ela está claramente
ameaçada.
— Eles vão dar um passeio de carruagem?
Mort se senta e começa a digitar.
— Eu posso ver se a Leenie fez o login. Ela não tem que registrar as
atividades, mas algumas anotam tudo no sistema para esfregar o seu
progresso no rosto das outras agentes. Estou disposta a apostar que ela
vai registrar isso.
Mort fica em silêncio por mais alguns segundos e, em seguida, — Sim,
vão dar um passeio de carruagem.
— Aquele idiota!
O que o Apollo está fazendo?!
Mort me olha maliciosamente. — Tarren não disse que queria dar um
passeio de carruagem com você esta manhã? Apollo pode estar tentando
chantageá-lo para revelar o seu segredo. É apenas um palpite.
Eu sorrio. — Chantagem? Acho que ele quer me provocar e me deixar
com ciúme para que eu conte tudo a ele. E sim, Tarren disse isso.
Mort digita mais. — Encantado diz que você não tem permissão para
falar sobre a Fada Madrinha Ltda, até o fim.
— O quê? — Eu olho para ela.
— Normalmente não divulgamos essas informações até o final, mas
essa é uma situação única.
— No final dos três meses, contamos a verdade ao homem em
questão. E no último dia, se ele vier atrás de você, é uma prova de seu
amor e de que vocês serão felizes para sempre. Se ele não o fizer,
falharemos.
— Não podemos ter mentiras no final, então sempre revelamos tudo.
— Mort me olha.
— Espere, então no passado, isso já funcionou? Você disse ao príncipe
que a mulher por quem ele se apaixonou é de um planeta diferente? E ele
ficou de boa com isso? — Eu pergunto sem acreditar. E uma receita para
o desastre.
— Na maioria dos casos, funcionou perfeitamente e, em outros casos,
foi um pouco mais difícil. Mas, quando o homem realmente ama a
mulher, ele não se importa de onde ela vem e é assim que sabemos que é
o verdadeiro amor.
Ela se levanta e vai até a janela.
— Huh, — é tudo que eu digo.
— Sim, então você vai contar a ele eventualmente, mas não agora, —
ela diz, ainda olhando pela grande janela saliente.
— Com certeza está um dia bonito hoje. Um ótimo dia para deixar
Apollo Augustus Garthorn mortinho de ciúmes. Aquele idiota.
Eu sorrio para Mort.
Apollo vai levar Laura para um passeio de carruagem? Não tenho
certeza do que ele está tentando fazer, mas sei que não vou cair no jogo
do ciúme sem uma batalha.
Aqui é olho por olho, dente por dente.
— Mort, envie uma mensagem para Tarren. Eu adoraria fazer um
passeio de carruagem.
***

— Encantado, faça o seu pior.


Mort está digitando e balançando a cabeça enquanto come uma
cheesecake, as migalhas vão caindo enquanto ela digita.
— Encantado diz que tem um traje de equitação deslumbrante que
construiu para você. — Ela engole dolorosamente. — Eu ajudei com o
chapéu.
— Incrível, — eu digo e aceno para a sua boca. — Beba alguma coisa,
parece que você vai engasgar.
— Sim, isso está um pouco seco. — As feições simples de Mort se
contorcem em algo pensativo.
— Eu tinha certeza de que era o cheesecake novo, mas agora que
estou pensando melhor, posso ter pegado isso da bandeja do lixo. O
destino geralmente aperfeiçoa essas coisas; o bolo que ela fez outro dia
estava fora deste mundo.
Ela encolhe os ombros e dá a última mordida, parecendo um esquilo.
— Ok, você sabe o que fazer, gire.
Estou animada, é como um jogo de fantasia para seduzir um príncipe
incrivelmente gostoso.
Só que esta é a vida real e não há garantia de que o príncipe me amará
no final. Não há garantia de que tudo funcionará como um filme
romântico. Mas, como a maioria das garotas, quero que meu conto de
fadas termine e estou disposta a sair da minha zona de conforto para
isso.
Eu giro e sinto aquele formigamento familiar percorrendo meu corpo,
com muita excitação.
Mort andava recebendo muitos tecidos em seus aposentos, as
perguntas estavam sendo feitas sobre os vestidos deslumbrantes que ela
aparentemente estava fazendo.
Então, ela tinha que tornar isso crível, apenas sendo exclusivo para
mim, ela diria. Tenho certeza de que Apollo estará investigando qualquer
coisa a respeito de mim, tentando encontrar um buraco em meu enredo
perfeito.
Eu olho no espelho de corpo inteiro e respiro fundo. Eu
provavelmente poderia fazer isso a cada segundo e sempre ficar chocada.
Encantado é um mestre no que faz, pura e simplesmente.
Estou com o traje de montaria mais bonito e apertado que já vi.
Meu casaco sob medida é cor de creme, um tecido brilhante quase
como seda, mas resistente. Minhas saias longas também são de um creme
cintilante, elegantes e requintadas.
Mas o que trouxe um ar de romance foram os toques de renda
vermelha brilhante. Os dois tecidos juntos formam um casal
deslumbrante, se destacando.
As minhas luvas de renda vermelha são lindas de morrer e o meu
espartilho escarlate profundo sob o casaco de montaria fará Apollo
perder a cabeça.
Eu sorrio.
Meus olhos sombreados pareciam brilhar sob a aba larga do chapéu
vermelho-sangue com um grande laço creme, impecavelmente inclinado
para o lado. Eu pareço a Madame Viola, a esposa da máfia de Sin-City.
— Eu nunca teria escolhido essas cores sozinha, — digo.
Mort balança a cabeça e fica ao meu lado.
— Se você deixar Encantado fazer o trabalho dele, você será a bela do
baile. Pelo que ouvi, Laura tem a mania de dizer a Encantado como quer
os seus vestidos. Não estou surpresa, — ela continua com um olhar
aguçado.
— Você não pode dizer a um artista o que fazer, eles não prosperam
presos em caixinhas.
— Você acabou de inventar isso?
— Sim. — Ela olha para mim. — Parecia melhor na minha cabeça.
Eu concordo.
Uma batida na porta me deixa tensa. Mort corre e abre as grandes
portas duplas e encontra uma carta endereçada a mim, o lacaio a
entregou.
Tento arrancá-la das suas mãos, mas ela sai correndo do caminho,
abrindo-a. — Mort! Que coisa feia!
— É uma carta de Tarren dizendo que vocês vão passear hoje junto
com Apollo e Laura, — ela diz antes que eu pegue a carta.
— Encontro duplo? Perfeito! — Eu rio e dou um tapinha em Mort. —
O que Laura está vestindo?
Mort revirou os olhos. — Eu vi, não é tão bom quanto o seu! Ela fez
Encantado fazer para ela um traje de montaria azul-bebê e rosa, parece
bonito, mas é bem exagerado. O seu é sexy, o dela é bonito.
— Você acha que é isso que ela está tentando fazer? Parecer
respeitável? Não sacana? — Eu pergunto. O meu não é exatamente
sacana, mas vou dizer que vai fazer o sangue dele latejar.
Mort ri. — Desde quando beleza conquista um homem? Eu acho que
você terá todos os homens em um raio de 160 quilômetros tentando a
chamar sua atenção.
— Laura não está jogando direito as cartas, não temos um ano para
conquistá-lo, mas um mês!
— Com certeza?
— As loiras não se divertem mais, isso é um mito.
— Obrigada, Mort.
— De nada, humana.
Eu poderia muito bem ser uma rainha, pensando em todo o bafafá
que causei.
Assim que saí do meu quarto, fui seguida por seis guardas e cinco
criadas, incluindo Mort. Todos os olhos estavam sempre em mim, e eu
vagamente me pergunto se isso foi obra da rainha Irena.
Que seja.
Eu parecia uma assassina com a minha roupa de montaria e ia fazer o
papel de sedutora, apesar de Laura.
Ando com a cabeça erguida e desço a enorme escadaria enquanto
puxo metade das minhas saias cintilantes para cima.
Ao contornar um grande pilar ao redor da escada, de repente vejo
dois incríveis espécimes de homens na parte inferior.
Eu me sinto um pouco tonta quando vejo a magnífica figura de Apollo
entrar em foco.
Porém, não me demoro e concentro a minha atenção em Tarren, que
está bonito em trajes de montaria cinza-claro. Eu sinto a minha pele
formigar quando me aproximo deles e meu coração falha com cada
respiração instável.
Por que sempre faço isso quando o Apollo está presente?
Posso ver os olhos de Tarren se arregalarem quando seu olhar
percorre meu corpo. Mais um nocauteado, Encantado!
Ouço a voz de Laura e não consigo olhar ainda, apenas me concentro
em Tarren. Se eu olhar para Apollo, posso fazer papel de boba e gaguejar
ou algo assim.
Eu iria gritar, FAÇA AMOR COMIGO! Em um tom de homem das
cavernas. Devo evitar isso a todo custo.
Eu ouço Apollo murmurar gentilezas com Laura e meu sorriso apenas
se alarga quando eu olho para Tarren. Ele pega a minha luva escarlate e
leva seus lábios a ela.
— Você está de cair o queixo, — diz ele com uma piscadela.
Não posso dizer nada, sentindo os olhos em nós.
— Irmã, — ouço Laura dizer atrás de mim.
Preciso de tudo que tenho em meu corpo para virar minha cabeça em
sua direção.
Sorria, idiota.
Forço um sorriso e vejo os olhos azuis inocentes de Laura. Ela está
pendurada no braço de Apollo como se eles fossem amantes desde
sempre.
Apollo está ligeiramente encostado na parede, parecendo divertido,
um fantasma de um sorriso malicioso pairando em suas belas feições.
Puxa, ele é sexy.
Não há outra maneira de descrevê-lo com sua arrogância e postura. A
expressão em seu rosto sussurra me conte os seus segredos e tudo isso para
anjo...
Seu lindo cabelo está preso para trás, exceto por alguns fios cacheados
tentadores, e seu olhar escuro e proibido me queima. Eu sinto a sua
intensidade enquanto seu olhar abaixa, varrendo meu corpo.
Minhas bochechas esquentam quando eu olho para os olhos estreitos
de Laura. — Irmã.
— Que lindo traje de montar, — diz ela, — mas me pergunto se é
prático. — Ela ri levemente, mas posso ver o ciúme em seus olhos.
Tarren diz enquanto toca o tecido apertado em meu braço. —
Impressionante, parece muito resistente. — Ele puxa o material de
brincadeira.
Eu rio e bato em sua mão, — Meu Senhor, você vai rasgá-lo!
— Se rasgar tão facilmente, terei de agradecer pessoalmente à
costureira. — Ele pisca para mim, o significado fica bem entendido.
— Vamos antes que Tarren se envergonhe mais, — é o tom contido de
Apollo.
Tarren ri enquanto todos nós saímos para ver uma magnífica
carruagem aberta, digna de um rei. Prata e safira adornam a carruagem
com luzes brilhantes.
A adrenalina começa a bombear quando vejo os seis cavalos pretos
batendo os cascos em antecipação.
— Acho que a noite passada correu bem? — Tarren sussurra em meu
ouvido.
Eu levemente olho para ele enquanto Apollo ajuda Laura a subir.
Tento não corar sob seu olhar. — Na verdade, não tenho certeza.
— Bem, — ele acena para o motorista enquanto ele passa, — só
pergunto porque encontrei Apollo bêbado às quatro da manhã, batendo
na minha porta.
Meus olhos se arregalam. — Você está brincando, — eu assobio.
— Não, ele estava louco, para dizer o mínimo. E ameaçou que se eu
tocasse em você ele cortaria minha língua. Foi tudo muito charmoso.
— Então, me faz pensar se você é realmente tão boa e se eu deveria
arriscar ter a minha língua cortada por você.
Eu fico olhando para ele.
— Vou aceitar o seu silêncio para que tenha corrido muito bem. —
Ele continua com um sussurro: — A propósito, Apollo nunca fez isso.
Arrasou. — Apollo pula da carruagem, seu traje preto dando-lhe um
apelo sinistro, como o vilão em vez de o herói. Sua mão enluvada de
preto incita Tarren a se apressar.
— Você está esperando que eu te ajude a subir, Tarren?
Ele ri: — Achei que você nunca perguntaria.
Apollo revira os olhos e olha para mim.
Seus olhos.
O vento sopra em seus cabelos e a luz do sol beija a lateral de seu
rosto, perfeitamente. Ele é um deus grego em carne e osso. É quase difícil
apontar para onde ele está olhando devido aos seus olhos escuros que me
fazem tremer.
Suas pálpebras abaixam e depois levantam com uma ligeira inclinação
para a cabeça.
— Pronto, anjo? — ele mal fala, quase não o escuto. Acho que li seus
lábios mais do que o ouvi.
Eu ando até ele e sinto o ar ao nosso redor rachar e faiscar. Desvio o
olhar e finjo ser indiferente. — Por favor. Vossa Graça, não preciso de sua
ajuda.
Ele tem um cheiro delicioso.
Um almíscar selvagem que leva as mulheres à loucura.
— Por favor, permita-me, seria uma honra, — diz ele, sua voz como
mel derretido.
Eu olho para o rosto contraído de Laura.
— Se apresse, querida irmã, acho que você já roubou bastante tempo
do meu noivo, — ela ri, mas seus olhos são afiados como uma faca.
Eu levanto uma sobrancelha para Apollo, e ele me encontra com uma
expressão que acho difícil de interpretar. — Claro, eu não gostaria de
tomar muito tempo.
Apollo agarra minha mão, e é áspera. Ele me levanta e eu sinto sua
outra mão muito baixa nas minhas costas. Bem, na minha bunda,
tecnicamente falando.
Lanço um olhar assassino e vislumbro um toque de humor antes que
ele se sente ao lado de Laura. Ele pega a mão dela, dá um tapinha e diz
algo para ela, fazendo-a rir.
Não vai ser divertido?
Eu mantenho meus olhos longe de Apollo e me concentro em Tarren,
que parece estar se divertindo muito. Tarren agarra minha mão e a beija
também de forma zombeteira.
— Eles não formam um casal tão esplêndido? Estou muito feliz em
ver o famoso Apollo finalmente se estabelecer.
Eu quase me encolho.
Eu rio e olho para os dois e sorrio meu melhor sorriso felino. Esse
sorriso é algo em que trabalhei por muito tempo. Apollo se senta um
pouco mais reto, parecendo que adoraria me estrangular.
— Sim, deslumbrante, — eu digo com doçura. Tenho certeza de que
isso fará Apollo vomitar mais tarde.
Laura sorri e agarra o braço musculoso de Apollo através de seu
casaco preto justo. — A aparência não importa para mim. E o interior
que importa.
A boca de Tarren cai aberta. — Palavras mais verdadeiras nunca foram
ditas, minha querida. — Eu seguro um sorriso. E aqui eu pensei que
Laura seria uma competição, ela não sabe como conquistar um homem?
Embora ela esteja certa em seu pensamento, exprimindo em voz alta
fica um pouco forçado demais. Acho que muitas coisas emocionais
parecem assustar os homens.
Só de observar os casais ao longo da minha vida, o homem sempre se
volta para aquela que é difícil de pegar. Laura se beneficiaria em não ser
tão submissa com ele. Essa é apenas a minha opinião, no entanto.
Mas não serei eu quem vou dizer isso.
A grande carruagem dá uma guinada para a frente e um sorriso
verdadeiro se espalha pelo meu rosto. — Podemos ir mais rápido? —
Pergunto a Tarren com um sorriso tímido. Aposto que esses cavalos
correm muito.
— Gosta do perigo? — veio a voz de Apollo. Eu sempre esqueço que
ele tem uma audição anormal.
Eu olho para ele. — Eu gosto de ir rápido.
Apollo inclina a cabeça e lambe os lábios, quase me fazendo corar. —
Vou manter isso em mente, — ele diz.
Laura franze a testa para ele. — Eu também gostaria de ir rápido, pois
sou uma grande cavaleira.
Então, Laura também tem o talento para andar a cavalo. Eu registro
mentalmente o que sei, ela tem uma bela voz, seios fartos e sabe andar a
cavalo. Muito bem, Laura.
Apollo olha para ela. — Não confio no motorista. Eu vou assumir e
mostrar a vocês um pouco de velocidade.
— Apollo não confia em ninguém, — diz Tarren com naturalidade.
O olhar de Apollo pisca para o meu. — Eu não tenho escolha.
Tarren acena com a cabeça.
Laura se inclina para ele. — Você pode confiar em mim.
Meus olhos se arregalam.
Aparentemente, a sua agente não disse a ela que ela terá que contar a
verdade a Apollo no final de tudo isso. Ela vai se arrepender dessas
palavras mais tarde. Bem, se ela ganhar, claro.
A mandíbula de Apollo aperta, mas não diz nada.
Depois de cerca de uma hora andando pela cidade, percebo que este
lugar saiu de um sonho ou de uma fantasia. É como a beleza da Europa
combinada com algum tipo de poder sobrenatural.
Devo admitir, há uma certa escuridão que cerca este lugar. Mas fico
surpresa quando paramos em um enorme labirinto em um cemitério /
jardim. Levanto-me para ver melhor, os túmulos enormes acima do solo
são espetaculares e me lembram os famosos túmulos de Nova Orleans.
— O cemitério real de Garthorn, — diz Tarren.
— Isso é um labirinto? — Eu pergunto com admiração, minha boca
aberta. Parece ter alguns quilômetros de comprimento! Vinhas verdes
imponentes e paredes de jardins verticais fazem uma exibição notável.
Apollo se levanta para ajudar Laura a descer.
— Sim, tem séculos.
Os olhos de Laura estão arregalados. — Vamos entrar no labirinto?
Apollo sorri. — Claro.
Eu deixo Apollo me ajudar a descer atrás de Laura, e meus olhos se
fixam no enorme labirinto em toda a sua glória. — Vamos em pares?
Apollo sorri para mim. — Sozinhos.
Capítulo 19
Tarren assobia, parecendo um lobo com seu sorriso largo. — Uma
competição até o fim?
Eu olho para Tarren e ele parece emocionado, mas tenho uma
sensação inquietante. Algo sobre Apollo parece estranho para mim.
Laura está carrancuda como sempre, e Apollo se inclina contra a
carruagem, aparentemente imerso em pensamentos.
O que está acontecendo na mente dele?
Ele está olhando para mim com uma expressão de pálpebras pesadas.
Eu sinto que ele está sempre me despindo com aqueles olhos predadores.
Olhos pecaminosos. Um verdadeiro crime contra a natureza, pois
ninguém deve exercer tal poder com um único olhar.
Sendo completamente honesta com você.
Mas, realmente, preciso parar de corar toda vez que nossos olhos se
encontram, por amor a tudo que é mais sagrado.
É difícil porque sempre parece que ele está tendo pensamentos muito
perversos, o brilho escuro e o seu sorriso não são inocentes, acredite em
mim. E é a maneira como ele inclina a cabeça e lambe levemente o lábio
inferior.
Quer dizer, fala sério.
Talvez se eu o imaginar com uma barriga de cerveja e queixo duplo.
Não.
Ainda é gostoso.
— Mulheres contra homens, — Apollo diz de repente, ganhando a
atenção de todos.
Eu respiro trêmula e abano meu rosto. Ele precisa parar de olhar para
mim como se eu fosse a sua próxima refeição. Laura pode me apunhalar
durante o sono esta noite, mais de cem feridas em um frenesi louco de
punhaladas. Menina doida. Ela está se esforçando para não parecer
irritada, mas as suas bochechas estão vermelhas. — Temos que nos
separar? — Laura geme, fazendo Apollo quebrar o seu olhar para mim.
Apollo sorri para ela e ela vacila, as mãos dando nós nas saias.
Uhhhh.
Odeio quando ele sorri assim, na verdade me sinto mal por Laura.
Vítima inocente. Parece que Laura acabou de dizer que o ama e que quer
ter filhos com ele.
— Você não está pronta para um joguinho Laura? — ele pergunta e a
mantém prisioneira com aquele olhar sombrio.
Eu tive que morder meu lábio e olhar para o outro lado, oh, ele é bom.
Apollo sabe o que está fazendo, ela tem o controle de tudo.
Tudo o que ele precisava fazer é mostrar um pouco de atenção a ela e
ela fará tudo o que ele quiser. E como um inseto voando em direção à luz
ofuscante apenas para levar um choque brutal até a morte.
Ela parece confusa. — Bem, na verdade sou muito competitiva.
Apollo a encara. — Você é, mesmo?
Ela ri e coloca uma mão estranha no quadril, provavelmente não
acostumada com tanta atenção de Apollo. — Oh sim, sempre fui.
Tarren a salva dando um passo à frente, a expressão em seu rosto é de
puro alívio.
— Perfeito, Apollo. Quais são as regras para esta pequena competição
tortuosa?
— Simples. — Ele encolhe os ombros. — Damos às mulheres uma
vantagem inicial.
— Parece fácil, — diz Tarren com um sorriso malicioso. — Se
pegarmos as garotas, ganhamos um beijo?
Laura dá uma risadinha. — Eu gosto dessa ideia.
Enquanto isso, o olhar de Apollo está preso ao de Tarren e não parece
nada bom.
Tarren está zombando dele e fico emocionado ao ver que Apollo está
agindo de forma tão possessiva sobre mim. Aposto mil dólares que essa
rixa silenciosa não tem nada a ver com a Laura.
— Eu acho que é justo, — Apollo diz cuidadosamente e ainda
mantém Tarren prisioneiro.
Tarren sustenta seu olhar com um aceno de cabeça. — Perfeito.
Eu limpo minha garganta, tentando quebrar essa energia do macho
alfa. — Então temos que entrar por lá? — Eu aponto para a entrada da
parede de pedra maciça com videiras crescidas.
Laura me encara, tira o casaco e o joga no chão. — Não temos que
ficar juntas, não é?
Apollo desamarra a gravata como se estivesse se preparando para uma
perseguição. — Você pode fazer o que quiser, minha querida.
Eu a vejo me lançar um olhar antes de caminhar para a entrada. —
Que vença a melhor dama, então.
Meu coração começa a bater forte quando vejo Apollo tirar seu casaco
preto e começar a arregaçar as mangas da sua camisa branca, expondo
seus antebraços musculosos. — Eu vou te dar vinte minutos, — ele diz
em um tom ofegante. Desvio o olhar e ando até a entrada, me sentindo
um pouco ameaçada. É emocionante e um pouco assustador. As minhas
partes íntimas estão se comportando como lunáticas fugitivas em uma
tempestade elétrica.
Eu espio de volta, e ele murmura, — Corra rápido, anjo.
Eu olho para ele, e ele levanta uma sobrancelha arrogante. — Talvez
eu deixe Tarren me pegar, — digo em uma provocação estúpida e me viro
rápido, não querendo ver a sua expressão.
Um arrepio percorre as minhas costas, mas me recuso a olhar para
Apollo.
Com o coração acelerado, olho para Laura. — Preparada?
Ela olha para trás e sorri. — Não me siga. — E ela dispara para a
entrada, virando uma curva fechada à direita.
Ouço a risada de Tarren enquanto corro pela entrada na direção
oposta. Estou correndo às cegas, que maldição vai ser se é Laura ganhar
de mim Só espero que ir nessa direção não acabe com as minhas chances.
As paredes estão altas com vegetação crescida em todos os lugares.
Imediatamente sou transportada para as antigas ruínas maias do México.
Muitas pedras e gravuras estranhas entalhadas nas paredes.
O pânico me atinge.
Alguém poderia realmente se perder neste lugar.
Eu continuo correndo, virando à esquerda e à direita sem pausa. Pulei
uma grande rachadura no chão de pedra e mantive meu ritmo.
O pensamento de que Apollo logo estará no meu encalço me faz ir
mais rápido. Eu odiaria ver aquele sorriso arrogante em seu rosto.
Eu não quero que ele me pegue.
Eu quero pegá-lo.
Respirando com dificuldade, paro e penso. Apollo é
sobrenaturalmente forte e inteligente e provavelmente conhece este
labirinto de cor. — Merda, — murmuro. Ele vai me pegar. Não há como
eu ser mais esperta que ele em seu território, muito menos aqui.
Eu olho ao meu redor, tentando pensar rápido.
Aqui está uma ideia. Sempre fui uma atriz e tanto e provavelmente
poderia me livrar do corredor da morte com uma conversa. Eu ando até a
parede de pedra e pego uma videira, testando sua robustez. — Oh merda,
— eu digo enquanto tento quebrar uma. Provavelmente são mais fortes
do que uma corda, o que me deu uma ideia brilhante.
Uma emoção sobe pela minha espinha enquanto eu traço um plano
em minha cabeça. Isso é estúpido ou muito inteligente, embora eu ache
que sei qual é. Inteligente, duh.
Eu faço um trabalho rápido nas vinhas, preparando uma pequena
pilha bonita.
Sim.
Vou conter Apollo, me divertir um pouco e fazer uma pausa. Vou
terminar e ser mais esperta que o incrível Apollo. Nada pode dar errado.
Eu tenho tudo planejado.
Últimas palavras gloriosas? Não. Eu vi o olhar carnal de Apollo.
Ele está com tesão e incomodado.
Fora do eixo.
Eu escondo as vinhas debaixo de mim, assim.
Você provavelmente está se perguntando o que diabos eu planejei.
Não descobri tudo, mas vou fingir que meu pulso está preso nas
trepadeiras.
Estou deitada de lado e espero pelo que parece uma eternidade. Eu
grito no ar como se estivesse com dor e sei que ele está perto. Eu quase
posso sentir isso.
Há uma pedra do meu lado e um pedaço de pau cutucando a minha
bunda. E melhor ele se apressar.
Estou nervosa agora, meu pulso martela.
Isso não funcionará.
Sim, vai!
Fico tensa quando ouço algo atrás de mim e não consigo evitar
prender a respiração.
— O que temos aqui? — A voz de Apollo é suave e baixa.
— Limpe o sorriso do seu rosto e me jogue uma faca, meu pulso está
preso, — eu digo como se estivesse chateada. Eu deveria ser nomeada
para um Grammy.
— Prendeu — ele diz, com confusão envolvendo sua voz. Eu o ouço se
aproximar e sinto seu joelho ao meu lado. — Deixe-me ver, — ele ri.
— Não, eu só quero me libertar — eu atiro de volta.
— Oh, me perdoe, sua Alteza, — ele está rindo agora, comprando
completamente a minha infeliz circunstância. — Não se corte.
Eu alcanço atrás de mim com uma mão livre. — Obrigado.
— E pensar que a princesa Laura ainda está abrindo caminho pelo
labirinto ilesa. Acho que perdi uma aposta aqui, — provoca. — Eu pensei
que você a teria destruído.
Eu cerro meus dentes.
Apenas espere, amigo.
— Chega mais perto. Estou tendo problemas. — Pego as vinhas com
minha mão oculta. — Ai! — E assim, eu pulo e coloco sua lâmina em seu
pescoço. Ele está contra a parede respirando com dificuldade enquanto a
sua própria faca pressiona seu pescoço.
Eu não posso acreditar que funcionou. Eu realmente não posso! Eu rio,
tirando um pouco de sangue dos meus movimentos desajeitados. Merda.
— Anjo, você tem cinco segundos para abaixar a lâmina, — ele avisa.
— Eu dou as ordens! — Eu grito, entrando no papel, me sentindo um
pouco maluca. — Mãos atrás das costas, agora!
Ele me encara e o faz, erguendo as mãos e depois colocando-as atrás
das costas. Eu trabalho rápido nas vinhas, amarrando um nó militar
impressionante que uma stripper que curtia muito sadomasoquismo me
ensinou.
Longa história. Acho que ela está na prisão agora, depois de ser
processada por escravidão ou algo assim. Super pesado.
Eu dou um passo para trás e rio, batendo palmas. — Agora, vou
terminar sem você estar lá para me impedir!
— Sua pequena atrevida, — ele sussurra.
Seus músculos flexionam enquanto ele tenta quebrar as vinhas com
uma série de movimentos agressivos. Percebo que ele está realmente se
esforçando para se libertar e isso me deixa nervosa.
As veias em seu pescoço estão aparecendo enquanto ele exala,
tentando novamente com mais força.
Eu preciso distraí-lo rápido.
— Eu sou gata.
Ele levanta a cabeça para me ver desabotoando lentamente minha
jaqueta creme de montaria. Seu olhar escuro se torna animalesco
enquanto ele sorri levemente. — É melhor você torcer para que eu não
consiga me libertar, anjo.
Eu engulo enquanto meu coração bate forte e continuo a tirar meu
casaco, revelando meu espartilho vermelho sexy. — Tenho um caminho
longo pela frente e estou com calor, me perdoe.
— Vou mandar alguém atrás de você quando eu chegar ao fim. Não se
preocupe, querido Príncipe.
O olhar de Apollo se alarga quando ele vê meu espartilho totalmente.
Eu olho para baixo e mordo meu lábio.
As costas e as laterais são transparentes, maldito seja. Cacete,
Encantado! Ele me fez um espartilho muito escandaloso. Meus seios
estão empurrados para cima e pareço uma megera pronta para seduzir.
Eu queria me divertir um pouco, não queria? E estimulante ter esse
poder sobre ele, esse homem semelhante a um deus está à minha mercê.
Eu ando até ele lentamente e tiro meu chapéu e jogo de lado, em
seguida, tiro meus grampos de cabelo um por um. Meus cabelos
brilhantes caem nas minhas costas gloriosamente, e eu dou a ele um
sorriso muito felino.
Eu sei exatamente o que estou fazendo agora, vamos ver se ele gosta.
Ele fecha os olhos e diz algo.
Eu paro bem na frente dele, a pele formigando e a adrenalina batendo
forte. — Você quer que eu toque em você, Apollo?
— Não, — veio sua voz rouca.
Eu estalo minha língua. — Que pena. — Minha mão está tremendo
quando começa a desabotoar a sua camisa branca imaculada e sua
armadura, abrindo o zíper da engenhoca.
Meu Deus, ele é glorioso, sua pele dourada parece granito, mas é
macia como seda. Eu passo minha mão sobre seus peitorais grandes e
sobre seus mamilos tensos, vendo-o suar.
Eu lambo meus lábios e o ouço gemer, o som profundo e carnal.
— Desamarre-me, — ele sussurra asperamente.
Eu respiro instavelmente. — Não.
Ele ri e tenta novamente quebrar as amarras, quase me assustando.
Nesse ritmo, ele fará o impossível e quebrará as malditas vinhas.
Eu me inclino para ele novamente e respiro em seu pescoço e quase
gemo. Ele cheira tão bem, selvagem, indomado, sensual. Ele inclina a
cabeça para trás e não posso deixar de saboreá-lo.
Eu o sinto ainda tentando quebrar as amarras, mas eu não me
importo, eu só quero sentir o sabor dele por apenas um segundo. Quer
dizer, isso é justo.
Eu chupo seu pescoço e ouço um ronco em sua garganta, me
estimulando. Beijo seu peito, sobre cada ondulação profunda e mergulho
delicioso.
Seu abdômen é uma coisa de fora deste mundo, e eu lambo cada
gominho acentuado até chegar às calças. Eu olho para cima, e ele está
respirando com dificuldade, seu peito enorme subindo e descendo
rapidamente.
Os olhos de Apollo estão fechados com força, como se ele estivesse
com dor, mas eu sei que não é isso.
Eu me levanto e sussurro em seu ouvido, minha língua o lambendo.
— Você parece desconfortável. — Minha mão o toca através de sua calça
apertada, e ele geme novamente, abrindo os olhos.
— Desamarre-me, — ele mal diz.
Eu engulo, nunca vendo tanto desejo no olhar de alguém. Alguns fios
de cabelo estão em seu rosto e ele está respirando com dificuldade.
— Vou mandar alguém de volta para buscá-lo, — digo, sentindo como
se tivesse cutucado o Leão, indo um pouco longe demais desta vez.
Ele ri.
Eu franzo a testa.
— Eu tenho que ir embora, obrigada por ser um bom esportista, — eu
digo e tropeço um pouco em uma pedra. Estou perdendo meu controle
firme aqui.
— É isso mesmo?
Pego minha jaqueta e a visto com as mãos trêmulas. — Sim.
— Você faz meu pau ficar mais duro do que o aço e vai me deixar
aqui?
Eu coro.
Fui muito ousada, até me choquei.
Ele estala a língua desta vez. — Não vai acontecer, anjo. — Ele
lentamente levanta as mãos, revelando as videiras quebradas sobre os
pulsos vermelhos raivosos.
Ai droga...
Eu recuo lentamente. — Eu entendo que você está bravo e quero me
desculpar.
Ele ri enquanto esfrega os pulsos. Apollo parece alto e poderoso,
parado ali, olhando para mim.
— Eu não estou bravo, anjo, muito pelo contrário. Na verdade, acho
que nunca fiquei mais excitado em toda a minha vida.
Eu fico olhando para ele com a minha boca aberta. Seus lábios
estavam nos meus, e eu nem mesmo o vi se mover. Estou esmagada
contra a parede de pedra atrás de mim, ambos os braços mantidos sobre
a cabeça por sua mão. Estou cercada por ele, ele está em toda parte.
Apollo me levanta, e minhas pernas estão enroladas em sua cintura
enquanto ele se esfrega em mim. Sua boca quente chupa meu pescoço
enquanto sinto sua mão livre agarrar o meu seio, moldando-o de forma
agressiva.
Não sei onde ele termina e onde eu começo.
Ele está gemendo meu nome, e eu nem sei o que está saindo da
minha boca. Gritos, suspiros, respirações apressadas?
— Você me quer, anjo?! — Ele sussurra no meu ouvido enquanto seus
quadris rolam nos meus.
Eu o sinto me agarrando aqui e ali, rasgando coisas. De alguma forma,
a camisa dele está no chão e a minha também, isso é absolutamente
louco. Meu cérebro está funcionando em surtos, como uma tela preta.
Tudo o que posso registrar é sua boca na minha pele, sua ereção dura
empurrando contra a minha vulva, prazer intenso, meus gritos, pele com
pele e flashes de nós dois emaranhados juntos.
Nunca senti tanta paixão frenética antes, eu já li sobre isso, mas
nunca experimentei. Sua boca está em toda parte, beijando, chupando e
lambendo. Minha cabeça cai para trás enquanto eu coço suas costas,
mordo seu ombro e ofego seu nome.
— Eu quero você agora, — ele sussurra. — Por favor.
— Sim, — eu gemo. — Agora!
Eu vagamente o sinto fazendo algo com suas calças, e então minha
mão está em seu membro duro. Santo Deus... Eu o ouço sibilar e dizer
coisas que não consigo entender ou escutar enquanto exploro seu
esplendor aveludado.
Meu Deus, talvez isso não caiba em mim, eu penso.
— Vai caber, — ele sorri no meu pescoço.
Mas meus pensamentos estão dispersos enquanto meus braços
envolvem seu pescoço com força. Ele me penetra repetidamente.
Eu suspiro, e o resto é história, ele me joga no esquecimento, não
diminuindo a velocidade nem por um segundo. E uma paixão pura e
crua, nossos corpos se movendo como um só.
Meu cérebro está pegando fogo quando chego ao clímax pela terceira
ou quarta vez? Eu perdi a conta. Eu o sinto gozar, e ambos os nossos
corpos ficam flácidos, exaustos. Parecia um redemoinho e eu quero mais.
Esta foi a experiência mais erótica da minha vida.
Juro.
A testa de Apollo está apoiada na minha enquanto tentamos
recuperar o fôlego. Eu o sinto sorrir mesmo sem poder ver, e ele me
abaixa no chão.
— Você me enfeitiçou, — ele respira. — Como vou ser o mesmo
depois disso?
Ainda não caiu a ficha do que acabamos de fazer enquanto ele arruma
meu espartilho e minha saia. — Apollo, — eu sussurro, um pouco tonta,
sonhadora na verdade. Apollo é incrível e tudo que eu quero é mais dele.
Ele levanta meu queixo, olhos escuros brilhando para mim. — Você
diz meu nome assim e eu te colocarei contra esta parede novamente.
— Algo está tocando a minha perna.
Ele franze a testa.
Nós dois olhamos para baixo e vemos uma cobra preta enrolada em
meu tornozelo. Os olhos de Apollo se arregalam e todo o seu corpo fica
tenso. — Não se mova. Fique quieta. — Ele sibila.
O pânico me atinge com força.
— Se você se mexer, morre.
— Apollo, — eu choramingo.
— Diga-me uma coisa, anjo. Alguém quer você morta? — ele
pergunta, seu corpo ainda como uma estátua.
— Por quê? — Eu seguro as lágrimas.
Eu odeio cobras!
Sua mandíbula se tenciona. — Bem, porque esta cobra é
extremamente rara e não é bem uma cobra. É uma máquina e alguém a
enviou para te matar. Agora, deixe-me perguntar novamente. Alguém
quer você morta?
Eu olho para baixo e depois para cima inocentemente, — Agora que
você mencionou... talvez?
Capítulo 20
A mandíbula de Apollo está tensa enquanto ele xinga a si mesmo. Eu
posso ver a confusão em suas feições enquanto ele olha para mim. — Em
que mundo de dor estou me metendo, anjo? — ele pergunta com os
dentes cerrados.
Meu cérebro está tentando rapidamente juntar as peças.
— Não se mova e feche os olhos, — Apollo sibila enquanto a cobra de
metal preta se enrola em volta do meu tornozelo.
— É uma bomba? — Eu pergunto enquanto meu corpo treme de
medo. Respirando fundo para me acalmar, eu me esforço para ficar
quieta.
— Não. É um rastreador, mas também morde como uma cobra,
emitindo um veneno mortal. Se o veneno não o matar, a dor certamente
o fará.
Ela examinará seu olho para confirmar o alvo, portanto, mantenha-os
fechados.
— Agora, — ele respira fundo, — quem você irritou? Esse tipo de
tecnologia é ilegal, o que me preocupa. Isso é coisa pesada, proibida.
Eu cerrei meus dentes, me perguntando o que posso dizer a ele que
não me causará problemas. Rainha Irena? Laura armou para mim hoje?
Ela estava com raiva de mim esta manhã, dizendo que ela seria o meu
pior pesadelo.
— Merda, — ele geme.
— O que?!
— Temos companhia. — Eu sinto sua mão na minha cintura apertar.
— Mantenha os olhos fechados.
Eu ouço passos à minha esquerda, e o medo se infiltra em todos os
poros. Posso sentir Apollo ficar tenso ao meu redor e ouvi-lo sacando
uma faca. Isto não é bom.
— Apollo, — eu sussurro em questão. — Sinto muito, — digo, sem
saber o que mais fazer. Estou em pânico.
Uma voz que nunca ouvi antes fala. — Bem, isso é surpreendente,
para dizer o mínimo.
Apollo muda ligeiramente. — Presumo que você já saiba qual é a
ofensa grave que está cometendo à Casa de Garthorn e à Casa de Galeão.
Vou pegar leve com você se você desligar a máquina mortífera.
Eu ouço risos.
— Quem te mandou? — Apollo rosna. — O grande Apollo de
Garthorn, à minha mercê. Estou realmente surpreso por ter pego você
desprevenido. Porém, — ele faz uma pausa, — eu não culpo você, ela é
bastante perturbadora.
— Desligue a máquina.
— Receio não receber ordens suas, — diz ele com facilidade.
Eu ouço Apollo amaldiçoar. — Quem diabos te enviou?
— Infelizmente, eu não estou aqui por você, mas pela impostora na
sua frente. Parece que a Casa de Garthorn foi infiltrada. Comprometida,
eu diria.
— E pelo que parece, ela tem você enrolado em seu dedo mindinho.
Estou impressionado.
Posso sentir o olhar questionador de Apollo sobre mim.
— Não dê ouvidos a ele, Apollo, — eu sussurro com meus olhos
fechados.
De repente, ouço um grito distante e sei, sem dúvida, que é Laura.
Alarmes na minha cabeça começam a soar. Ela não é tão boa atriz. Esse
foi um grito produzido por medo puro e autêntico.
A adrenalina começa a bater na minha corrente sanguínea, se Laura
está gritando, então isso é pior do que eu pensava. Eu estava prestes a
dizer a Apollo que Laura armou tudo por ciúme, mas agora estou
confusa.
O que está acontecendo?!
— Quem me enviou não é da sua conta, Apollo. Estou aqui apenas
pelas mulheres e iremos embora, — foi o pedido firme do homem. —
Apollo, isto é, pelo seu bem.
— Pelo meu bem? — Apollo pergunta com escárnio; sua voz é
sombria e ameaçadora. — Muito atencioso da sua parte. Vou me lembrar
quando derramar o seu sangue.
— Ela pode abrir os olhos, eu já desativei, — disse a voz do homem.
Eu os abro bem quando sinto a reação de Apollo.
— Não! — Apollo grita, mas é tarde demais.
Apollo, com reflexos rápidos, agarra a cobra antes que suas presas
afundem no meu tornozelo, mas elas para perfuram o antebraço de
Apollo.
— Apollo!
Eu sou uma idiota!
Ele joga a cobra trinta metros longe e vejo dois pontos vermelhos se
formando. O sangue escorre deles enquanto Apollo cai de joelhos com
um suspiro, agarrando o ferimento.
Isso é tudo minha culpa!
— Apollo! — Eu grito enquanto as lágrimas escorrem pelo meu rosto.
Não, isso não está acontecendo! Não está acontecendo...
Ele vai morrer.
Isso. Não. Está. Acontecendo.
Vejo homens me cercando, mas tudo que posso ver é a angústia no
rosto de Apollo.
— Apollo!
Ele olha para mim, olhos escuros brilhando. Eu vejo sua dor quando
ele diz: — Anjo, você quer me dizer alguma coisa antes que eles te levem?
— Posso ver as veias de seu pescoço salientes.
Sinto um braço forte me arrastar e digo: — Apollo, me perdoe! A
Rainha Irena! Ela é uma bruxa!
A escuridão me domina.
Minha cabeça.
Corações sangrando.
Eu rolo para a esquerda e sinto as minhas têmporas latejarem.
— Você está acordada, humano? — Eu ouço Mort ao meu lado,
momentos depois.
— Ela está acordando, e pelo que posso dizer pela varredura corporal,
ela vai ficar bem. Clavícula fraturada, aqueles brutos, mas isso vai se
curar. — Laura está com um braço quebrado, mas Leenie disse que ela vai
ficar bem também. Ela colocou o braço de Laura de volta há algumas
horas.
Abro os olhos para ver Mort digitando e piscando.
— Uh-huh. Certo, eu também pensei. Isso é ruim, mas pode ser
corrigido. Bem, gosto de ser positiva na maior parte do tempo.
— Mort, — eu digo.
Ela olha para mim e expira. — Finalmente! Ela está acordada. Falo
com você em um segundo.
— O que aconteceu? — Digo e tento me sentar sentindo dor no
ombro.
Observo meus arredores e vejo que estou em um minúsculo quarto de
dormir. Estou em uma cápsula espacial? Parece muito preocupante, com
todo o metal brilhante e linhas inclinadas.
Eu me firmo e me concentro, examinando a minha mente.
Oh...
Merda...
— Apollo! — Eu grito, sentindo o medo se infiltrar em cada osso do
meu corpo.
— Mort, o que está acontecendo?! Onde estamos e onde está Apollo?
Por que eu abri meus olhos?! Eu sou uma idiota! Foi apenas por instinto,
eu não estava pensando direito! Foi um movimento amador.
Mort coloca a mão na minha perna. — Pronto, pronto. — Ela
continua: — Muito provavelmente eles teriam dominado vocês de
qualquer maneira, eles tinham algumas armas bem grandes que eu vi.
— Apollo é bom, mas não acho que ele seja à prova de balas. Então,
algumas coisas são como são.
A Casa do Galeão está em guerra com a Casa de Garthorn.
Minha boca se abre, meu coração pulando em alta velocidade. —
Como é que é? — Eu sussurro.
— Apollo está em seu leito de morte, e há muitas acusações neste
momento. — Mort balança a cabeça.
— O quê?! — Eu grito, minha voz falhando. — Mort, é melhor você
explicar antes que eu surte.
Meu coração está batendo tão rápido que me sinto tonta.
— Apollo está muito doente, envenenado e tal, uma coisa terrível.
Não consigo obter muitos detalhes porque é contra o código T-9, posso
apenas obter informações básicas.
— Apollo e Tarren foram culpados pelo rapto da Princesa do Galeão.
Apollo, quando ainda estava consciente, cuspiu na cara da Rainha Irena e
a xingou.
— Isso não foi bom para o rei, e ele jurou que, se suas filhas não
fossem devolvidas, ele teria a cabeça de Apollo. Naturalmente, a Casa de
Garthorn está defendendo a honra de seu futuro rei.
— Não, — eu sussurro.
— Oh sim, isso é apenas a ponta do iceberg. Então a Rainha riu como
uma daquelas bruxas malvadas e disse para não se preocupar. O veneno
vai matá-lo.
— Nós temos que fazer alguma coisa!
Mort balança a cabeça. — Bem, isso é complicado, porque você está
atualmente sendo mantida como refém para ser vendida como uma
escrava.
A cor se esvai do meu rosto.
— Eu sei. Encantado está fora de si.
— Vendida como escrava? — Eu chio. — Escravidão sexual?
— Provavelmente.
— Mort, eu não serei uma escrava sexual, — eu sibilo, com lágrimas
nos meus olhos.
— Você pode sair do jogo se desejar, mas nunca mais verá a Apollo. —
Mort me lança um olhar triste e encolhe os ombros. — Eu disse que há
sangue ruim aqui.
— Será que Apollo morrerá?
Mort está digitando novamente. — É difícil dizer. Apollo parece um
sujeito que não desiste facilmente, então acho que há uma chance de
sobreviver.
— Eu acho que a vingança pode ser a força que ele precisa para
continuar vivo, pelo que eu ouvi, Apollo nunca mostrou tanta fúria.
— Alguns temem que a besta dentro dele o supere pela quantidade de
raiva doentia que ele estava exibindo.
Ela balançou a cabeça. — Muito poder para um mero humano se você
me perguntar. Vou receber uma atualização sobre a saúde dele em breve.
— Eu aperto meus olhos. — Não há nada que Encantado possa fazer? —
Eu pergunto, rezando para que haja algo, qualquer coisa.
— Ele está trabalhando nisso.
Ouvimos vozes e Mort salta e se transforma na borboleta em
segundos. A grande trava se abre com um som de sucção e um homem
entra. O homem é alto e surpreendentemente, não tão feio quanto eu
imaginei. Ele tem cabelo preto escuro e barba, argolas de prata nas
orelhas. Ele está vestido com uma bela roupa preta e uma grande arma
na cintura.
Seus olhos castanhos chocolate me examinam e eu fico tensa.
— Então, você é a mulher que colocou dois reinos em conflito, — ele
diz e se senta ao meu lado na pequena cama.
— Não, — eu digo enquanto me sinto tremer. — Quando você pega
uma princesa, esse tipo de coisa acontece, ou ninguém te disse isso antes
de você decidir nos raptar?
Ele ri, — Língua afiada. — Ele sorri para mim e eu estremeço. — Eu
teria esbofeteado você com aquele comentário, mas eu preciso que você
esteja na sua melhor forma, eu tenho alguns clientes interessados. Muito
excitante.
— A Rainha Irena pagou você para fazer isso? Por que raptar também
a sua própria filha, então
Ele parecia estar pensando de forma zombeteira.
— Rainha Irena, você disse? Aquela cadela inútil tinha um trabalho a
fazer e fodeu tudo. Bem..., — ele pisca para mim, — acho a culpa é toda
sua.
Eu respiro, tentando deslizar de volta na cama. — Como eu estraguei
os seus planos? Se é que eu posso saber?
— Bem, vamos apenas dizer que a princesa Laura deveria se casar
com Apollo, e esse era o único trabalho de Irena.
— Você deveria ter sido morta há muito tempo, quando Apollo estava
aparentemente mostrando interesse em você. Qualquer distração deveria
ser resolvida imediatamente por Irena.
— A princesa Laura parecia que seria facilmente manipulada pelo
controle da mente, dando-me todo o poder sobre ela.
— Claro, Apollo seria morto depois que o filho deles nascesse, mas
agora isso não pode acontecer por sua causa. Agora, tomaremos
Garthorn pela força, em vez de uma maneira legal.
— Apollo está morrendo, como você vai tomar o filho dele? — Eu
pergunto, fervendo.
Sua mandíbula se flexiona e ele parece estar controlando a sua raiva.
— Estou trabalhando nessa parte. Ele nunca deveria ser mordido, era
para ter sido você — ele me surpreende gritando, seu rosto ficando
vermelho.
Eu recuo. — Qual é o ponto se ele morrer?
— Eu posso me beneficiar de muita coisa assumindo o controle de
Garthorn.
— Eu sou o herdeiro legítimo, na verdade. A família Garthorn roubou
esta terra da minha família há muito tempo, e agora estou tomando de
volta, — diz ele com um sorriso e um simples encolher de ombros.
— Quem é você?
— Um cara poderoso, tenha isso em mente. — Ele pisca para mim.
Um homem entrou correndo, claramente sem fôlego. — Meu Senhor?
O homem suspira de frustração. — Fala.
— Acabei de receber a notícia de que Apollo perdeu tudo, meu
Senhor.
— Porra! — ele grita e esmurra a parede com tanta força que faz um
buraco.
— Não! — Eu grito. — Apollo está morto!?
Isso não é possível!
Lágrimas caem pelo meu rosto enquanto eu tento me controlar.
— Meu Senhor, ele ainda está vivo, mas em estado de coma. Pode
levar meses antes que ele acorde, se é que ele vai acordar, — diz ele, com
uma expressão contida.
O homem esfrega a mão no rosto e se vira para ele. — Nosso plano
ainda é o mesmo, e se ele acordar, será um bônus. Tudo o que precisamos
é do esperma dele, não do cérebro.
Eu não percebi que estava chorando até que ele me pegou pelo
pescoço, me dizendo para calar a boca. Acho que ele me deu um tapa,
mas não tenho certeza.
Parece que o meu mundo acabou de desmoronar, e é tudo culpa
minha. Ele foi mordido por minha causa.
Nem sinto dor quando sou jogada longe, como uma boneca de pano.
É como vozes falando quando você está debaixo d'água, as lágrimas
fazendo a minha visão parecer que estou realmente afundando em um
abismo escuro.
O que foi que eu fiz?
Capítulo 21
Faz quanto tempo?
Três dias ou quatro? Certamente não foram cinco.
Eu descanso a minha cabeça na parte de trás da parede de aço e sinto
cada solavanco da estrada.
Meu pouco tempo como uma princesa mimada acabou, parece que o
destino realmente quer que eu seja uma escrava.
Minhas mãos estão amarradas atrás das costas e minha boca está
amordaçada porque eu não parava de gritar a plenos pulmões, como uma
lunática.
Agora me arrependo disso, sinto que estou sufocando com esse pano
sujo, só Deus sabe onde isso esteve. Estou suada e exausta.
Eu olho em volta da minha prisão de metal e amaldiçoo como sou
azarada. Posso dizer que estamos em algum lugar tropical, a umidade faz
eu me sentir como se estivesse enrolada em um cobertor úmido e
abafado.
Estou mentalmente entorpecida, desde que fui levada.
Eu me sinto derrotada.
Não sei que tipo de transporte essas pessoas estão usando, mas,
aparentemente, não estamos mais no Kansas. Demorou três dias de voo
para chegar a este lugar esquecido por Deus.
A tecnologia deles é bastante bizarra, fantástica na verdade. Mas não
estou com vontade de admirar nada, meu cérebro está rejeitando tudo
que possa me deixar um pouco feliz.
Eu realmente não sei o que me mantém aqui.
A expectativa de que Apollo vai sair do coma?
Já se passaram quatro dias e quase nenhum progresso aconteceu, a
atividade cerebral de Apollo está em declínio total de acordo com a
atualização de Ivy, que está no castelo. Ele logo estará em status
vegetativo.
Mort está fazendo um reconhecimento, tentando descobrir todas as
informações que ela pode, traçando um plano de fuga com a ajuda de
Encantado.
Aparentemente, Laura está no mesmo estado que eu, duas princesas
do Galeão em leilão no mercado negro. Somos as galinhas dos ovos de
ouro, aparentemente.
Enquanto isso, a Fada Madrinha Ltda, está tendo um pequeno surto,
a queda repentina de Apollo não está apenas bagunçando os meus
sonhos, mas os dela também.
Eu aperto meus olhos e afasto as lágrimas. Temos mais três semanas
de missão e o Apollo está em um coma terrível! Ele pode nem se lembrar
de mim se acordar.
Eu bato meus pés e dou um gemido abafado enquanto tento não
ativar meu reflexo de vômito. Mal posso esperar para voltar e expor
aquela vadia da Irena.
Sinto meu corpo pular e cair enquanto sou puxada para a esquerda.
Estamos dando meia-volta e diminuindo a velocidade, provavelmente
chegando ao nosso destino de condenação.
O comandante principal, Baulk Sel, me informou que participarei de
rituais de beleza para aumentar o meu valor no mercado. O grande leilão
acontece em três dias e há muito a ser feito.
Meu olho roxo está se curando bem e a minha clavícula quebrada vai
sarar.
Mort disse que este leilão é um grande negócio, como as Olimpíadas
do tráfico sexual. Só de pensar nisso me dá náuseas.
Onde está o cavaleiro salvador quando você precisa dele? Porque o
meu está em coma.
A porta da minha pequena prisão sobre rodas se abre e eu ouço
homens gritando, me fazendo estremecer.
Estou sendo arrastada para fora e, quando a luz do sol ofuscante me
atinge, rapidamente observo tudo ao meu redor.
Homens com armas de aparência desagradável estão por toda parte,
mas o que não espero ver é o complexo mais impressionante à beira-mar.
E como o sonho de um traficante de drogas, possuir um palácio digno de
um rei.
Minha frequência cardíaca está acelerada. Esse vai ser um pesadelo
horrível.
Há muita riqueza e dinheiro aqui, e algo me diz que tudo isso está
fora do radar, ou seja, ninguém fiscaliza nada por aqui, se é que você me
entende.
Eu me pergunto se este planeta tem a sua própria versão das almas
contaminadas das trevas dos illuminati.
O pano é puxado para fora da minha boca e jogado de lado por um
dos homens de preto. Eu engulo e tusso, a minha boca está parecendo
um deserto.
Eu olho para a minha esquerda e vejo Laura sendo puxada para fora
de um compartimento de aparência semelhante, tenho a impressão que
ela se sente exatamente como eu.
Meus olhos se arregalam quando vejo uma longa fila de mulheres que
estão acorrentadas e sendo conduzidas para o complexo.
Os guardas parecem ser bizarramente grandes, com máscaras pretas
de aparência assustadora.
Eu tremo, o medo está tomando conta do meu corpo. Normalmente
não sou uma pessoa nervosa, mas esses caras são bastante perturbadores.
Um se aproximou de mim e parecia que a pele sob a máscara estava
queimada. Todo vermelho e zangado.
Eu tenho os meus salva-vidas, eu me lembro e respiro fundo.
— Mova-se, princesa! — um homem grita atrás de mim, me fazendo
pular.
Estou caminhando agora, seguindo a longa fila de mulheres quando a
tristeza toma conta de mim. Algumas dessas mulheres são jovens, muito
jovens. Eles não podem se dar ao luxo de ter salva-vidas; esta é a vida real
delas.
Talvez, pelo menos, Encantado possa me dar uma granada para eu
jogar em uma sala cheia desses bastardos ricos e malvados.
Somos levadas para a grande entrada de mármore e conduzidas por
vários corredores altos.
É quando descemos cerca de seis lances de escada que fico realmente
assustada. Para onde quer que você olhe, há detalhes em mármore ou
dourado, dando a este lugar exótico uma sensação de imensa riqueza.
Eu engulo enquanto sou jogada em uma sala surpreendentemente
linda justamente com Laura, lógico. Mas ei. é melhor estar mal
acompanhada do que sozinha.
Acho que regurgitei com aquele pensamento horrível. Laura vai
demorar para se acostumar.
Eu rapidamente examino a sala que tem várias, eu vou chamá-los,
estações de beleza, muito parecidas com um spa. Uma grande banheira
de hidromassagem na extremidade direita da sala, ocupando muito
espaço.
Muitas camas estranhas com cremes, lama e máscaras e uma estação
enorme para cabelo e maquiagem.
Eu respiro. Eles vão nos deixar agradáveis para a colheita, como um
pônei de exibição.
Ouço Laura soluçar e olho para ela. Ela também está examinando a
sala, os braços cruzados sobre o corpo como se estivesse se segurando.
— Nós vamos sair daqui, — eu digo baixinho.
Ela me olha. — Como?
— Bem, eu, pelo menos, não quero ser vendida para um velho
rabugento com um fetiche por chicotes e correntes.
— Cinquenta Tons só é gostoso porque o cara é um bilionário
atraente. Caso contrário, seria uma história importante para o Linha
Direta intitulada. — Pervertido Nojento à solta.
Eu vejo a sua boca se contorcer.
Ela grunhe. — Nós podemos simplesmente usar os nossos salva-vidas.
Esta não é a vida real, você sabe.
— Talvez não, mas há mulheres aqui para quem isso é muito real.
Talvez nós possamos ajudá-las, — eu digo e me jogo em um sofá creme,
tentando ser o mais positiva possível.
Ela revira os olhos e enxuga uma lágrima. — Que belo felizes para
sempre. Apollo vai morrer e não há nada que possamos fazer a respeito.
Oba, Fada Madrinha Ltda. — Ela acena com as mãos, zombeteiramente.
Eu olho para baixo e não digo nada, a dor bombando em meu peito.
Nesse momento, Mort e Leenie se transformam na nossa frente. Eu pulo
e espero que eles falem, com o coração batendo forte.
Mort e Leenie conversam ao mesmo tempo, então as duas se olham
com raiva. Leenie levanta a mão e fala, fazendo Mort revirar os olhos.
— Não temos muito tempo, então precisamos repassar algumas
coisas cruciais...
— Podemos ter um jeito de escapar e, — Mort faz uma pausa com um
sorriso, — uma maneira de salvar Apollo!
Eu suspiro. — Sério?!
Os olhos de Laura se arregalaram.
Leenie arruma seu cabelo preto em um coque baixo.
— Teremos três grandes compradores potenciais no leilão que vai
acontecer em três dias. Vocês precisam chamar a atenção de um deles em
particular, pois ele tem ligações importantes com alguns dos mais
famosos curandeiros do reino.
— Um curandeiro que pode tirar todo o veneno do sangue de Apollo
e salvar a sua vida. Encantado fornecerá o pagamento por isso, fica na
conta da empresa. Ele acabou de receber autorização para fazer isso.
Mort parece aliviada e diz, — Graças a Deus por isso, o Encantado
teve que mexer uns pauzinhos.
— Este homem é mais velho, mas é podre de rico, e tem um castelo
no Norte, próximo a Mont Gallow. Ele se chama Lord Eltson, de Oria. O
grande curandeiro mora no castelo dele e se chama Merva, o Grande. —
Ela faz uma pausa.
— Ele ama uma mulher que saiba encenar e dançar. Ele é um grande
pervertido, infelizmente. Viola, você já trabalhou em uma boate, certo?
Laura levanta uma sobrancelha e me olha.
— Ei, — eu levanto a mão, — Eu nunca fui uma stripper, Mort! — Eu
lanço a ela um olhar duro, repreendendo-a pelo má escolha de palavras.
— Mas, eu sempre observei as strippers e costumava treinar alguns
passinhos. Só por uma questão de malhar, porém, agora até que veio bem
a calhar. — Por que meu rosto está ficando vermelho? Eu não fiz nada de
errado!
— Certo, — diz Laura.
Eu franzo a testa para ela, essa grande puritana.
— Vou tentar descobrir o que ele gosta com mais detalhes, mas agora
você deve focar em ser uma dançarina sexy, — diz Leenie, muito séria.
Laura e eu rimos com o jeito que ela disse, dançarina sexy, com o seu
sotaque estranho. Laura para de repente, como se percebesse que era
absurdo nós duas acharmos a mesma coisa engraçada.
— Só porque eu não sou uma stripper não significa que eu não saiba
dançar, — Laura diz ligeiramente ofendida, olhando para as suas unhas.
Ela está falando sério?
— Terei prazer em deixar você dançar para o velho nojento, — eu rio.
— Vocês duas vão dançar, assim as nossas chances aumentam, —
Leenie diz e caminha até a janela.
Mort se balança em um canto e começa a piscar. — Ok, próximo
assunto, o homem que devemos evitar. Bem, devemos evitar a todos os
outros, mas este, em particular, é a maior competição de Lord Eltson.
Sem falar que eles não se dão bem.
— Ele é perigoso e controla a maior parte do mercado negro. Ele
atende pelo nome de Black Siron, e é um humano horrível pelo que
pesquisei.
— Então, nós temos que fazer Eltson ganhar do Black Siron. Será
complicado, mas não impossível. Espero que pelo menos uma de vocês
seduza o Eltson porque o Black Siron geralmente só compra uma fêmea
nessa faixa de preço, — diz Mort enquanto digita.
— Não posso simplesmente me oferecer de graça para Eltson? — Eu
pergunto, me sentindo esperançosa de que possamos contornar essa
coisa de leilão.
Mort balança a cabeça. — Você está sendo vendida por dinheiro.
— Oh, certo. — Eu respiro trêmula, lá vamos nós de novo.
Não é um momento glamoroso.
— Você tem certeza de que esse curandeiro vai ajudar o Apollo? — Eu
pergunto.
Mort suspira. — E a nossa única esperança.
Meu cabelo está puxado, lavado, hidratado, pintado, perfumado e eu
perdi a noção do tempo após o banho de lama. Agora devo seguir para o
setor 3 para depilar o meu corpo todo, até o meu fíofó.
Estou tão empolgada quanto um boi indo para o abatedouro.
Eu queria dar um murro na senhora gorda que ficava batendo na
minha cabeça sempre que podia. Dizendo que eu não estava dançando
corretamente e inclinando a cabeça o suficiente, o que era mentira. Ela
só queria um motivo para me bater.
Terei que falar com Encantado sobre como podemos acabar com este
lugar horrível, já vi uma garota ser arrastada porque ela não queria expor
os seus seios para o comandante.
Eu passo por uma grande janela com vista para o oceano e suspiro.
Laura vem para ficar ao meu lado, com a mesma expressão de
preocupação.
Há um enorme navio negro ancorado e, quando digo que é enorme,
eu estou falando sério. Parece um navio pirata possuído pelo espírito
marombeiro, que deixaria Freddy Krueger com medo de embarcar.
Freddy diria: — Foda-se essa merda. — O navio é intimidante nesse
ponto.
Eu tremo.
— Você acha que este é o navio do Black Siron? Mort disse que ele
está chegando hoje com alguns outros.
Ela acena com a cabeça. — Leenie me mostrou o símbolo dele, que é
um corvo preto ou algo assim.
A grande bandeira desse navio é definitivamente algum tipo de
pássaro preto. — Eu acho que podemos apostar nossas fichas — eu
sussurro.
— Eltson já tinha chegado.
Eu respiro fundo. — Aula de dança esta noite de novo, me dá vontade
de vomitar.
— Eu também, — concorda Laura.
— É ele? — Eu aponto.
Laura olha para trás e depois para a janela com os olhos semicerrados.
— Oh, querido Senhor, — ela geme.
Ela está certa. Vejo o Black Siron sendo saudado por toda uma frota
de pessoas como se ele fosse um rei. Ele é alto e musculoso, tem os
ombros largos do que a maioria dos homens — exceto Apollo.
Merda. Ele não parece um homem fácil de enrolar; o seu traje preto
lhe dá uma aparência assustadora.
Eu até diria que ele é excepcionalmente bonito, exceto pelo rosto, que
está meio coberto por uma máscara preta, tipo a do Zorro.
Posso ver o seu cabelo preto e pele bronzeada devido ao pescoço
aberto. Eu imediatamente me sinto mal. Este homem é tudo o que é
poder.
Só rezo para que ele não goste de mim, eu aposto que ele é
implacável. Um homem mau com aparência do próprio diabo não pode
ser coisa boa.
Eu só queria ter uma espingarda.
Sair daqui como se eu fosse o Rambo.
— Eu estou muito nervosa, — sussurra Laura.
— Ainda temos os nossos salva-vidas.
Ela balança a cabeça e bufa. — Apollo está apaixonado por você.
Eu olho para ela em choque.
Ela suspira e revira os olhos. — Todos podem ver, até eu, — ela olha
para mim e dá de ombros. — É a vida. — Laura foi derrotada, seu ego
gigante parece estar esvaziado.
Ainda não tenho palavras para responder.
Laura sorri fracamente e se afasta.
O que acabou de acontecer aqui?
Sinto uma pontada de tristeza por Laura naquele momento, ao ver
tanta vulnerabilidade em seus olhos azuis.
Eu olho pela janela novamente e vejo o Siron sendo conduzido para
dentro do complexo com o passo de um homem que consegue tudo o
que quer.
Um arrepio desce pela minha espinha.
Esta missão está ficando cada vez mais difícil.
Capítulo 22
Ok, então, estou bronzeada.
Eu deitei em uma cama de bronzeamento artificial, e não estou
brincando, eu saí de lá uma linda deusa dourada. Acho que nunca estive
tão gata em toda a minha vida. Agora parece até que eu acabei de voltar
de férias na praia, juro.
Aparentemente, a pele bronzeada está em alta aqui. Os homens mais
velhos adoram, eu acho.
Eu olho pela janela novamente e vejo o Siron sendo conduzido para
dentro do complexo com o passo de um homem que consegue tudo o
que quer.
Um arrepio desce pela minha espinha.
Esta missão está ficando cada vez mais difícil.
Ok, então, estou bronzeada.
Eu deitei em uma cama de bronzeamento artificial, e não estou
brincando, eu saí de lá uma linda deusa dourada. Acho que nunca estive
tão gata em toda a minha vida. Agora parece até que eu acabei de voltar
de férias na praia, juro.
Aparentemente, a pele bronzeada está em alta aqui. Os homens mais
velhos adoram, eu acho. A bile sobe na minha garganta enquanto
imagino os velhos pervertidos ficando excitados.
Eu suspiro enquanto me olho no espelho.
Eu pareço gostosa e é uma pena que eu esteja indo a leilão, em vez de
estar de férias em algum lugar, me exibindo para o meu homem.
E o homem que quero impressionar não se importa com a cor da
minha pele, porque no momento ele nem consegue acordar.
— Faça o aquecimento! — A saliva de Brena, o Ogro, voa na minha
cara.
Que hobbit infernal. Estou convencida de que ela estava no set de O
Senhor dos Anéis. Ela tem mais verrugas do que uma rã-touro.
Eu dou a ela um sorriso do tipo — eu-vou-cortar-a-sua-garganta-se-
tiver-achance — e vou para onde todas as mulheres estão enfileiradas,
esperando por sua vez de atrair os compradores. Ou serem mortas,
vamos ser sinceras, né?
Eu ouço algumas risadas e franzo a testa, confusa, quando vejo um
grupo de garotas espiando o grande palco redondo, através das cortinas.
Eles perderam a cabeça?
Pode ser. Este é tudo menos um bom momento, e eu realmente me
sinto mal. Eu vi algumas garotas chorando histericamente antes, quando
foram compradas pelo maior lance.
No mínimo, tentarei destruir esse lugar. O Encantado disse que isso
precisa ser interrompido para inclinar a escala acima de cinquenta por
cento nos gráficos da Fada Madrinha. Este antro de escravidão está fora
de controle, claramente.
Eu agarro um poste e preguiçosamente giro em torno dele, desejando
estar em outro lugar. Esta fantasia rapidamente tornou-se um pesadelo.
Todas nós parecemos garotas de programa em nossos escandalosos trajes
de dançarina do ventre, usando várias joias e pulseiras.
Eu me olho no espelho e me encolho.
Tentei escolher a roupa mais discreta, mas acho que aconteceu
justamente o contrário.
Havia toneladas de cores e tecidos vibrantes, então optei pela cor
bege claro. Tentei encontrar a cor mais feia, mas quando coloquei, deu a
impressão de estar completamente nua.
O tecido é cintilante e transparente em alguns lugares, acentuando
meu corpo bronzeado perfeitamente. A maldita coisa é linda, para meu
horror absoluto.
Tentei trocar, mas o Ogro humano não deixou. — Você terá todos
eles fazendo lances por você, — diz Laura atrás de mim.
Eu olho para trás e espio a sua escolha de roupa. Seda azul celeste, fica
muito bonita com seu cabelo loiro.
— Com licença. Você parece uma princesa inocente. Acho que
homens como este preferem esse tipo de aparência.
Ela se encolhe. — Merda. Talvez o vermelho fosse uma escolha
melhor.
— Bem, devemos ter uma boa aparência, certo? Precisamos fazer com
que Eltson ofereça um lance por nós. — Eu respiro e sinto o medo me
dominar.
Ela está rindo e eu levanto uma sobrancelha.
— Parece que você está nua.
Tento não rir e cobrir a boca com a mão.
— Isso é transparente? — Laura encosta de leve na minha roupa,
ainda rindo.
Eu fecho meus olhos e estremeço. — A essa altura, eu já não tenho
certeza. Eu acho que essa cor é chamada de bege sem-vergonha.
— Pelo menos as partes principais ainda são um mistério, — ela está
rindo ainda mais agora.
Estou rindo agora e balanço minha cabeça. — E eu pensei que estava
escolhendo um lookinho modesto. A gente só se ferra.
— Bem, apenas não abra as pernas. — Isso a enviou para outro frenesi
de gargalhadas enquanto ela segurava o estômago.
Eu limpo uma lágrima. — Oh, ri mesmo da minha desgraça. Você
parece uma bailarina pudica que precisa ser levada para o lado negro dos
peidos do vovô, — eu digo.
Estamos rindo tanto, e nem tenho certeza se as coisas que estamos
dizendo são engraçadas. Na verdade, não acho que sejam. Acho que nós
duas perdemos a cabeça.
— Silêncio!
Nós fechamos nossas bocas e ouço Laura bufando em meio a sua
risada abafada. Brenda parece uma verdadeira assassina, então penso
rápido.
— Perdoe-nos, isso tudo é muito opressor. — Cai na real. Eu preciso
tirar esse sorriso estúpido do meu rosto antes de levar um soco no nariz.
A bufada de Laura não está ajudando.
Ela rosna: — A princesa loira é a próxima, você vai em dez minutos.
Não quero saber de risadinhas, ou haverá punições, — Ela olha para nós
duas e depois sai.
Isso é preocupante, na verdade.
Laura respira fundo e olha para mim. — Talvez esse seja o fim do jogo
para mim. Se o Eltson não me escolher, não há razão para eu ficar aqui
como um escrava.
Eu olho para baixo — Você pode estar errada sobre o Apollo.
— Eu não estou, — ela encolhe os ombros.
Isso é estranho, mas estou me sentindo muito deprimida com a ideia
de ela ir embora. Nos últimos dias, vi outro lado de Laura. Ela é muito
mal compreendida e nunca lhe dei uma chance antes.
Eu olho para longe, desejando que as minhas lágrimas parem, meus
olhos estão até com cãibras. Eu sinto seus braços me envolverem
enquanto as lágrimas escorrem pelo meu rosto. Eu a abraço de volta e
não digo nada, uma amizade se forma, um vínculo que nunca pode ser
quebrado.
E difícil explicar o sentimento de perda e solidão com a ideia de sua
partida.
Eu ouço Laura fungar, e ela solta um sorriso fraco.
— Seja forte, o Apollo vale a pena.
Eu aceno, enxugando meus olhos. — Nada será em vão, desde que
você arrase lá fora, — brinco e tento me recompor.
Ela revira os olhos e sorri. — Claro, depois que eu for embora vocês
vão ficar com saudades.
Eu ri.
Ela ri fracamente.
Então eu a vejo saindo. Eu respiro trêmula e percebo que a vida de
Apollo depende disso, e eu preciso dar o meu melhor desempenho, não
importa o quão horrorizada eu esteja.
Fecho os olhos e rezo para que Eltson escolha Laura, porque
realmente não quero vê-la ir embora ainda. Nunca tive uma amiga de
verdade em toda a minha vida e encontrei uma no lugar menos provável.
Eu caminho até onde está o palco e espio pelas cortinas como as
outras garotas estavam fazendo antes. Eu tremo, esperando que cada
homem aqui tenha uma morte horrível.
Laura está dançando graciosamente, mas um pouco rígida,
provavelmente porque está nervosa. Meu coração está com ela, com
todas essas mulheres. Estou vendo os lances chegarem e respiro fundo.
Meus olhos examinam os compartimentos secretos onde os
compradores faziam seus atos sombrios. Isso me lembra do filme Busca
Implacável, exceto pelo fato de que parece mais um circo, com toda essa
dança e tal.
Eu vejo a cabine de licitação de Eltson; ele está vestido de azul real
dos pés à cabeça. O homem está até sendo abanado por escravos que
provavelmente acabou de comprar. Repugnante. Ele parece muito
interessado em Laura, porém, está sussurrando muito para seus
conselheiros e apontando.
Um lance está disponível.
Ele deu um lance nela!
Eu quase grito de alegria, mas mantenho a minha boca fechada.
Humilha, mana! Faremos com que ele pague mais tarde, mas por
enquanto, esta é uma ótima notícia.
Vejo Laura se abaixar e depois se levantar como um cachorrinho bem
treinado. Minha boca fica aberta, Laura conseguiu! Acho que a nossa
sorte está mudando.
Ela se vira levemente em direção à cortina onde estou e pisca! Quase
rio alto, isso não tem preço. Fez meu dia, minha semana. Eu não posso
acreditar que ela fez isso, e surpreendentemente ela ainda está sorrindo,
como se fosse uma coisa boa.
Ela não vai para casa ainda.
Ela é escoltada para fora do palco até o seu lance mais alto, Eltson. Eu
fecho meus olhos, agradecendo ao meu anjo da guarda.
Agora, se eu conseguir que Eltson faça um lance por mim, não vou
ficar sozinha. Eu examino as cabines de licitação e estou assumindo que
os que estão nos níveis mais baixos são os maiores apostadores.
O estande de Black Siron é todo prateado e vermelho, com homens
sentados ao seu redor. Eu aperto os olhos, vendo-o casualmente
reclinado em sua cadeira como se ele não estivesse prestes a destruir a
vida de alguém.
— Tomara que ele me escolha, — diz uma garota à minha esquerda.
Eu nem sabia que ela estava parada ali. — Como é?
— O Black Siron. Eu o vi de perto e quase desmaiei, nunca vi um
homem tão sexy, — ela diz calmamente.
— Ele poderia bater em você até você virar uma poça de sangue.
Ela olha para baixo. — Talvez ele não seja assim
Eu franzo a testa para ela. Mas que escolha ela tinha? Eu acho que se
eu estivesse escolhendo o menor de dois males, talvez eu gostaria que ele
me escolhesse também.
Eu olho para trás e percebo que mesmo à distância ele parece muito
talentoso no departamento da aparência.
Eu posso ver as tatuagens escuras que vão do seu peito até os dois
braços. Os anéis e brincos de prata brilhantes refletiam a luz fraca,
fazendo-o parecer um senhor das trevas do reino inferior.
Me faz pensar por que um homem como ele precisa comprar uma
mulher. Eu diria que todas cairiam aos pés dele.
Talvez ele apenas goste da ideia de possuir alguém, o que me deixa
doente.
Recebo uma cotovelada nas costas. — Sua vez!
Vamos nessa.
Tento esmagar as borboletas que voam em meu estômago e saio,
vendo olhos em mim por toda a parte.
Estou descalça, meus pés deslizando na superfície lisa do palco
redondo. É muito maior do que parecia e muito mais intimidante. A
música sedutora começa com tons fortes de violino e suaves notas de
piano que se combinam romanticamente.
Eu fecho meus olhos e respiro fundo.
Isto é para você, Apollo.
Eu começo com meus quadris, em seguida, deixo meus braços e mãos
fluírem enquanto giro uma vez, depois duas.
Sinto uma tristeza nos meus movimentos, a cada balanço do meu
corpo posso sentir o peso do mundo. Já dá para ouvir os lances, mas
continuo dançando até que os meus cinco minutos acabem. Eu encontro
o mastro e o agarro com precisão. Eu me viro como uma bailarina
sedutora, os dedos apontados graciosamente. Não estou dançando
vulgarmente, mas com belas linhas, habilmente elegantes.
Eu subo no mastro e giro para baixo enquanto as minhas pernas se
dividem como se eu fosse uma patinadora do gelo experiente, girando
com graça. (E antes que você se preocupe, estou usando uma calcinha de
seda. Não estou expondo as minhas valiosas mercadorias a esses
capangas).
Fico surpresa em ver o quão fluida estou dançando, apesar da minha
situação.
Eu jogo minha cabeça para trás enquanto giro novamente, e acontece
que vejo Black Siron de pé, o que quase me faz cair do mastro. Ele está
dando um lance em mim?!
Merda.
Eu olho para Eltson e ele também está de pé, e então me dou conta de
que os dois estão em uma guerra de lances.
Meu coração bate mais forte, rezando para que Eltson não desista.
Preciso manter o interesse dele, eu não faço nenhum bem ao Apollo se
for comprada pelo Black Siron.
Danço com mais potência, giro um pouco mais rápido, arqueio
minhas costas e viro meu cabelo com um pouco mais de paixão.
Quando paro, estou suada e sem fôlego.
Sinto olhos e sussurros em todos os lugares.
Eles provavelmente estão se perguntando por que estou dançando
com tanto vigor. Eu mantenho a minha cabeça baixa, sem ser capaz de
olhar para esses monstros. O leilão ainda está em andamento e a
barulheira fica cada vez mais alta.
Eu olho para cima com uma careta e vejo Black Siron com os braços
cruzados sobre o peito em uma postura poderosa.
Ele dá outro lance e todo o lugar se acalma. Eu olho ao redor em
dúvida, ainda respirando com dificuldade. Então me dou conta de que o
homem horrível deu um lance insano com o qual ninguém quer
competir.
Eltson fica furioso e sai imediatamente, enquanto os seus
conselheiros o seguem. Eu começo a entrar em pânico, quase como se eu
fosse uma cerva assustado pego pelos tigres.
Espere, não é isso que deveria acontecer!
Não sei o que me domina, mas saio do palco e corro como uma louca.
Não sei para onde estou indo, mas não demoro muito para ser pega
pelos capangas de Black Siron. Estou chutando e gritando enquanto eles
me prendem, as mãos mais uma vez sendo amarradas nas minhas costas.
Lágrimas de raiva surgiram.
Preciso falar com Mort e Encantado para me tirar dessa o mais rápido
possível.
Agora ou nunca.
Eu olho para cima novamente e suspiro, Black Siron está parado bem
na minha frente e todo o meu corpo fica tenso. Ele é alto e musculoso
como Apollo, o que me deixa muito nervosa.
Ele vai me dar um tapa? Eu recuo quando ele levanta a mão, mas tudo
o que ele faz é alisar o cabelo do meu rosto.
Meu coração está batendo forte enquanto eu o observo, me
preparando para qualquer coisa.
Seu cabelo preto é longo e seus olhos ainda mais escuros me olham
através de sua máscara. É difícil distinguir s suas características faciais,
mas presumo que sejam bonitas.
Sua mandíbula lisa e lábios são as únicas características que posso ver.
O homem é como um deus das trevas, todo cheio de poder e controle.
Um arrepio desce pela minha espinha enquanto ele continua a me olhar
com intensidade.
Ele acena para o homem parado atrás de mim, que entrega a Black
Siron uma caneta e papel, me deixando curiosa.
O que está acontecendo? Siron começa a escrever e, depois de alguns
segundos, entrega o papel para eu ler. Eu franzo a testa enquanto a
minha mão trêmula pega o papel. Que estranho.
Eu fiz o meu dever de casa antes de vir para cá, pequenina.
Apollo terá que passar por cima do meu cadáver para chegar até você.
Você é minha.
Quanto mais cedo você perceber isso, mais fácil será.
Embora pareça que o Apollo não chegará tão cedo.
Eu engulo e olho para cima em confusão. Ele não pode falar?! Que
estranho.
Eu olho para ele e me inclino para frente, ignorando o fato de que ele
cheira muito bem. Vou admitir, ele provavelmente usa um perfume
absurdamente caro.
— Apollo se recuperará e virá me buscar.
Ele ri, o som ofegante faz a minha pele formigar. Eu o observo,
também notando que ouvi um som quando ele riu. Então ele não é
mudo?
Siron acena com a mão e eu sou levada imediatamente. Meus chutes
e gritos não fazem nada além de me exaurir, e então eu percebo que
estou sendo levada para o seu navio fantasma sombrio.
Algo me diz que isso está prestes a ficar turbulento.
É melhor eu colocar mentalmente o cinto de segurança.
Capítulo 23
Estou amarrado a um poste de aço no convés inferior do navio do
submundo. Eu não ficaria surpreso se Hades residisse em algum lugar
deste enorme navio.
O céu está escuro e zangado, exatamente igual ao navio em que estou.
O vento aumentou e atualmente está soprando meu cabelo preto em
volta do rosto da maneira mais irritante.
A água me deixa nervosa, escura e monstruosa como se estivesse viva,
com fome de almas humanas para devorar.
Olha, eu sei que isso parece ruim, mas, com toda a honestidade,
ninguém me tocou e nem falou comigo desde que eu cheguei aqui. É a
coisa mais estranha.
Eu até tenho uma capa escura em volta dos meus ombros para
proteger meu corpo escandaloso de olhares masculinos famintos.
Isso poderia ser muito pior.
Estou vendo homens correndo por toda parte, fazendo isso e aquilo
como se o diabo estivesse atrás deles. O que quer que eles estejam
planejando, eles estão com pressa, e isso me deixa ansiosa para saber o
que é.
Espero que uma tempestade não esteja se aproximando e que eles
estejam tentando se preparar para ela.
— Princesa, o Black Siron pergunta se você gostaria de ficar mais
confortável?
Eu recuo quando olho para um homem pequeno com olhos azuis
gentis. Ele está vestido de preto e tem uma mancha escura sobre um dos
olhos.
Esta é uma pergunta capciosa? Tipo, se eu disser que sim, serei jogada
no mar negro com os porcos-homens-tubarões. Os tais Lipers, como são
chamados.
— Eu não quero te machucar, minha senhora.
Mas que palhaçada é essa?!
Eu respiro, tentando avaliar a sua bondade.
— Eu gostaria de ser desamarrada, — digo humildemente, em
seguida, recuo quando ele se move em minha direção. Fico tensa
enquanto ele tira uma faca de sua bota e corta as minhas amarras com
rápida eficiência.
Não percebi que estava prendendo a respiração até que ele se afastou.
Eu esfrego meus punhos e aceno para ele.
— Obrigada.
Ele faz uma reverência.
Eu fico olhando para ele, sem saber o que dizer. — E agora?
Ele se vira e grita algo para alguns homens, em seguida, olha para
mim.
— Você pode se sentar aqui contanto que fique fora do caminho de
nossos homens. Quando você estiver se sentindo cansada, venha me
encontrar, e eu mostrarei o seu quarto.
— Meu quarto?
— Sim, estamos preparando para você, — ele inclina a cabeça para
mim. — Mestre Siron quer que você se sinta muito confortável.
— Ah, jura por Deus? — digo, meio que só para mim mesma.
— Dê uma chance a ele, princesa. — E com isso ele sai para cuidar de
outros assuntos mais importantes, tenho certeza.
Acho que a minha boca está aberta. Eu olho ao redor do convés, e
nenhum homem neste navio sequer olhou na minha direção. E como se
eu fosse invisível.
Levanto e humildemente faço meu caminho para a lateral da
embarcação e olho para a borda.
Posso sentir o cheiro do sal da água e da névoa que o vento traz.
Estamos no alto e no meio do nada. Quilômetros de águas negras.
Uma onda de nervosismo percorre meu corpo e eu me sinto mal.
Esse cara Siron está tentando me conquistar? Por que ele faria isso? A
menos que ele queira baixar a minha guarda para tirar vantagem de mim,
me fazendo pagar por ser tão ingênua.
Eu esfrego a mão no meu rosto, há uma confusão nublando o meu
cérebro. Preciso falar com Mort rápido e descobrir o que diabos está
acontecendo aqui.
Não estou fazendo nenhum bem a Apollo por estar na nave de Siron.
Só tenho mais um mês na missão, pelo amor de Deus!
Com isso, me propus a encontrar aquele velho e dizer a ele que
adoraria ir para o meu quarto, longe de toda essa loucura.
Quase sou atropelada por vários homens, eles estão gritando comigo
para tirar minha — bunda doce — do caminho. Acho que ouvi — tetas de
açúcar — de alguém à minha esquerda, mas não tenho certeza.
Eu vou até o convés superior, que é enorme, e encontro a plataforma
de navegação principal. Estou tremendo, mas tento disfarçar. Estou
muito fora da minha zona de conforto aqui.
A vida começa quando a sua zona de conforto termina eu me lembro.
Controle-se, mulher.
A alma quase sai do meu corpo. E ele. Siron está lá, todo vestido de
preto, com o rosto quase coberto. Ele é uma figura imponente,
assustadora como o inferno.
Minha frequência cardíaca vai a milhão, embora eu me force a agir
com calma. Quero recuar devagar, mas ele já me viu.
Merda vezes merda.
Ele para o que está fazendo para me encarar, e um exército de
arrepios se espalha pela minha pele. O homem é intimidante.
Ele faz alguns movimentos com as mãos para um homem parado ao
seu redor, e ele vem em minha direção, seu sobretudo preto está
balançando atrás dele com o vento.
Meu coração está batendo tão forte que acho que vou desmaiar na
frente de todos. Eu respiro fundo quando ele para na minha frente,
decido olhar para baixo, não querendo fazer contato visual com alguém
como ele.
Eu sinto sua mão tocar meu queixo e levantá-lo para encontrar o seu
olhar negro. Posso dizer que seus olhos estão procurando o meu rosto, e
tudo que posso fazer é olhar para trás.
— O que você quer comigo? — Eu deixo escapar, incapaz de ficar em
silêncio. Eu empurro meu queixo de sua mão com um desafio recém-
descoberto.
Calma, gata.
Ele sorri e depois olha para o oceano, por cima do navio. Eu só posso
ver seus lábios, e eu admito que eles são lindos, os dentes brancos
também. Apenas uma observação, ele é um pouco misterioso.
Siron então puxa um bloco de notas e escreve por alguns segundos,
em seguida, devolve para mim.
Eu pego com dedos trêmulos e leio.
Você conhece a linguagem de sinais?
Eu olho para cima e respondo com tons cortados.
— Não.
Ele acena com a cabeça e pega o papel para escrever novamente.
Então você terá que ter paciência comigo.
Eu vejo, então aceno para ele. Acho que ele não consegue falar, o que
é estranho, porque pensei tê-lo ouvido rir. Será que ele só consegue fazer
pequenos sons?
Ele me mostra outra nota.
Você está procurando pelo seu quarto? Ou por mim?
— Quarto. — Eu digo muito rápido. Ele tem uma caligrafia adorável,
muito estranha para um indivíduo cruel. Mas esses caras não parecem
ignorantes, na verdade, muito pelo contrário.
— Por que você está sendo, — faço uma pausa, — legal comigo? —
Digo em voz alta como se ele fosse retardado. Eu estremeço e mordo
meu lábio.
Ele está inexpressivo enquanto escreve, então me entrega o bilhete.
Minha pequena dançarina, eu posso ouvir bem a sua linda voz.
Eu coro. Claro que pode, eu sei que sou uma idiota.
— Desculpa, — eu digo timidamente.
Ele me observa por alguns segundos enervantes, depois escreve
novamente e me entrega o papel. Você é linda, e eu sou legal com as coisas
lindas.
Eu tento não rolar os olhos. Foi difícil porque eles queriam
desaparecer por trás do crânio como se eu estivesse possuída. — Sorte a
minha.
Ele leva alguns segundos para responder, então me entrega o papel.
Você parece ingrata. Você gostaria que eu a amarrasse na minha cama,
então? Ou talvez você possa dançar para mim mais tarde?
Eu respiro enquanto leio.
— Não, não sou ingrata. Obrigada por ser gentil. — Estou respirando
com dificuldade e em pânico, preciso pensar direito. É melhor ficar na
maciota, porque isso pode virar contra mim de uma hora para a outra.
Acho que o vejo sorrir, mas passou tão rápido que posso estar vendo
coisas. Eu respiro novamente.
— Posso ir para o meu quarto? — Eu preciso ficar longe dele
IMEDIATAMENTE.
Eu o vejo me estudando e isso me dá arrepios. Esse cara tem um olhar
muito penetrante que parece destruir qualquer sensação de calma. Eu só
quero pular fora da minha pele. Eu preciso de um quartinho de lexotan,
imediatamente.
Ele escreve e vira o papel para que eu possa ver. Vou pedir a Marcus que
lhe mostre seus aposentos. Vou buscar você para jantar em algumas horas.
QUERO a sua companhia.
Eu engulo e aceno. Misericórdia, ele escreveu QUERO em maiúsculas
e isso faz o meu coração palpitar.
Ele se vira e assobia alto por entre os dentes e chama a atenção de
todos. Uma rápida linguagem de sinais acontece, e o homem mais velho
com quem conversei antes acena com a cabeça e vem correndo para
mim.
— Claro, Sua Graça. — Ele se curva para Siron e depois se vira para
mim. — Por aqui, princesa.
Eu sou levada para fora da plataforma, sentindo seu olhar fixo em
mim. Eu não gosto disso. Está rolando rápido demais.
Preciso sair deste barco o quanto antes. Siron está sendo legal agora,
mas por quanto tempo? Posso sentir o seu desejo pegando fogo. Estou
ficando sem tempo.
— Marcus, não é?
— Sim, princesa. Você pode me seguir até o seu quarto.
Eu o sigo dentro da grande cabine do barco e por muitos corredores
até que paramos em uma porta de metal, com luzes amarelas. Eu me viro
para ele e mordo meu lábio.
— Você pode me ajudar?
Sua cabeça virou na minha direção, em estado de choque.
— Você é do Siron agora. Ele moverá o Céu e o Inferno para mantê-la.
É melhor você aceitar o seu destino.
Eu aperto meus olhos, com força. — Eu não posso! — Eu baixo minha
voz e olho ao redor. — Não posso, estou apaixonada por outro. Pelo
Príncipe Apollo de Garthorn!
Ele abre a porta e me deixa passar, com lágrimas de raiva nublando
meus olhos. Ele dá um suspiro pesado e para na porta.
— Sinto muito. Seu vestido para esta noite está pendurado no
guarda-roupa. Por favor, não perturbe o Siron. Isso seria uma péssima
ideia. Mantenha-o do seu lado, princesa.
Ele fecha a porta e eu começo a bater na parede de metal
repetidamente.
Com respirações irregulares, eu olho ao redor da bela câmara e cerro
os dentes. É tudo adornado com amarelo e cinza, muito feminino, com
rendas e tecidos de cetim.
Há muita riqueza aqui, especialmente para ser um quarto dentro de
um navio pirata assustador.
Isso poderia ser muito pior. Eu tento me animar.
Um movimento chamou minha atenção quando vi uma borboleta
branca. — Mort! — Eu assobio.
Ela se transforma na minha frente e cai na cama, parecendo exausta.
— Eu estava perdida. Isso é tudo que você precisa saber. — Ela respira
fundo: — Temos muito o que conversar.
Eu me sento ao lado dela e aceno. — Estou na merda, não estou?
Mort me olha com o cenho franzido. — Você está cagada? Acho que
não, — ela murmura, em seguida, olha para a parte de trás da minha
roupa.
É
Eu fecho os olhos. — É uma expressão. Mort. Significa que estou com
problemas.
— Oh, — ela concorda, — Sim, você está na merda. Portanto,
devemos abordar algumas coisas. Apollo ainda está em coma e o tempo
dele está se esgotando, ele pode morrer a qualquer momento. — Eu
suspiro e fecho os olhos. — Que pesadelo. — Eu posso sentir a dor no
meu peito, não quero perdê-lo. Comecei a me apaixonar por ele, essa é a
verdade. Ele não pode morrer, ele simplesmente não pode!
— Sim, bem, Encantado está pirando porque o Siron é alguém com
quem ele não contava. Siron está planejando ultrapassar o navio de
Eltson.
— O quê?!
— Se isso acontecer, a Laura não alcançará o curandeiro a tempo e
Apollo morrerá, — ela diz e olha para baixo.
Ficamos sentadas em silêncio. É por isso que todos os membros da
tripulação estão correndo como galinhas com as cabeças cortadas, eles
estão se preparando para a batalha.
— Mort, Apollo não pode morrer. E minha culpa que ele foi mordido.
— Eu não consigo lidar com essa verdade.
— Você pode persuadir o Siron a não a atacar o navio de Eltson? Ele
planejam dar o bote amanhã de manhã.
Eu pondero. — Vou jantar com o monstro esta noite. — Eu olho para
Mort.
— O que você sabe sobre ele? Talvez eu consiga algo quando eu falar
com ele essa noite. Bem, ele não pode falar, ele é mudo. Isso é tudo que
eu sei. — Mort está digitando. — Sim, eu vi isso. Estranho porque nem
sempre ele foi assim, pelos dados que eu consigo acessar. Acho que ele
está doente, na verdade, ele anda tendo que se sentar de exaustão, está
descansando muito.
— Huh, — eu digo sussurrando.
— Encantado não tem certeza do que aconteceu com ele, talvez algo a
ver com todas as suas batalhas. Cordas vocais removidas, talvez? A
tortura por esses lados é sinistra.
Eu me encolho.
— Eu me pergunto, — Mort diz com uma carranca, — Você acha que
Siron está querendo lutar com o Eltson para obter acesso ao curandeiro
também? O homem parece estar precisando. — Meus olhos brilham e eu
me sento mais reta. — Isso seria uma bênção disfarçada! Eu posso
investigar mais essa noite. Se não, talvez eu possa até convencê-lo de que
ele precisa ver esse homem.
— É tudo o que temos neste momento. — Mort vai até o guarda-
roupa e o abre. Ela assobia e tira um vestido dourado, digno de uma
rainha egípcia. — Não é tão bom quanto os de Encantado, mas esse cara
Siron não é mão de vaca.
Eu respiro trêmula enquanto meus olhos olham para o tecido
cintilante. Parece que tenho que dar uma de atriz, mais uma vez.
Isso é tudo para você, Apollo.
Capítulo 24
— Você está gata, mas o Encantado está ajustando a área da bunda, —
Mort diz enquanto ela me faz girar.
— O quê!? — Eu grito. — Eu não quero que esse cara fique secando a
minha bunda! Os meus seios já estão expostos, me deixando muito
desconfortável.
Eu olho para a minha bunda e parece boa. O que o Encantado está
tentando fazer? Me levar ao estupro?!
— O Encantado é meio ruim das ideias. Ele não me diz tudo o que
pensa. Então, às vezes eu sou tão ignorante quanto você. Acabei de
aprender a confiar nele, — diz Mort enquanto encolhe os ombros.
Eu fecho meus olhos por alguns segundos e aceno com a cabeça. — Se
eu tiver que usar um salva-vidas por causa disso, vou dar uma joelhada
nas bolas dele.
Mort ri e bufa.
Começo a girar e sentir o material apertar em alguns lugares, me
deixando nervosa.
O tecido dourado é um longo vestido de noite, como se via
antigamente em Hollywood, mas mais medieval.
O decote profundo é minha maior preocupação. Minha bunda agora
está em exibição e meus seios são apresentados como se eu fosse uma
obra de arte. E também posso sentir que meu cabelo está menos crespo e
mais domado.
Coisas do Encantado.
Ouço uma batida na porta e Mort desaparece em um piscar de olhos.
Eu corro para pegar a minha capa escura e colocá-la antes que eles abram
a porta.
— Princesa, o Mestre Siron aguarda a sua presença.
Eu aceno para um homem corpulento e o sigo por mais corredores
até que finalmente chegamos a uma grande sala de jantar.
O corredor de jantar é frio e árido, há metal em todos os lugares com
linhas nítidas e luzes amarelas piscando pelo chão. Não é feio, muito pelo
contrário, mas é extremamente intimidante.
Esta nave é muito assustadora por fora, mas muito semelhante a uma
nave espacial por dentro. Estranho.
Uma longa mesa de aço brilha no meio da sala, com dois talheres em
uma extremidade.
Um garçom sai carregando o que presumo ser uma garrafa de vinho
tinto. Ele faz um gesto para que eu me sente no momento em que a porta
se abre novamente e Siron entra, me fazendo congelar.
Ele tem uma bengala preta na qual está colocando a maior parte de
seu peso.
Ele enxota o garçom e, em instantes, somos os únicos que restam na
sala.
Ele está impecável em roupas finas pretas e usa uma máscara ainda
mais elegante. Eu me pergunto por que ele usa uma máscara. Talvez ele
tenha cicatrizes horríveis das batalhas.
Seus ombros puxam com força o smoking preto e elegante. Posso ver
o seu cabelo escuro bem penteado para trás e não posso negar que o
homem é bonito que dói.
Esse vai ser o meu único comentário sobre isso.
Ele provavelmente tem um ego do tamanho deste navio e um coração
negro para preencher o seu grande corpo. Percebo que estou parada aqui
olhando para ele como uma lunática.
Ele tira a mão do bolso e puxa uma cadeira para mim.
Eu tremo, sem querer me aproximar dele. Mas nada é pior do que
mostrar o seu medo na frente de um homem, então levanto meu queixo
e caminho em sua direção.
Vou me sentar, mas sinto sua mão quando ele me para. Ela repousa
sobre meus ombros, tirando o grande sobretudo. Eu fico tensa,
esquecendo que estou usando aquela maldita coisa. Maldição dupla.
Sinto o casaco escorregar e não faço contato visual, mas rapidamente
me sento, ignorando o nervosismo.
Siron se senta à minha esquerda e eu fico olhando para a frente,
mordendo o lábio. Ele encosta a bengala na mesa e se recosta na cadeira.
Preciso de uma estratégia, mas o meu cérebro não está funcionando
na velocidade que deveria.
Sinto que ele está me olhando, mas não vou olhar. Ele se move,
inclinando-se para nos servir uma grande taça de vinho tinto, o som
ecoando pela sala silenciosa.
Tudo bem. Eu pego a taça e viro o vinho de uma vez, sem ligar para o
que ele vai pensar. A minha situação não pode ficar pior, então eu mereço
me embebedar um pouco.
Coloco a taça na mesa, resistindo à amargura, e olho para ele. Eu vejo
seus lábios formarem um leve sorriso quando ele se inclina para encher a
minha taça, nunca tirando seu olhar de mim.
Posso sentir o vinho se acumulando em minha barriga vazia e
percorrendo todo o meu corpo. Eu relaxo e sinto um pouco menos de
medo.
Siron pega um bloco de notas e começa a escrever. Ele olha para mim
e me mostra a sua forma de falar.
Não tenha tanto medo de mim, pequena dançarina. Relaxe.
Eu bufo. — Você já se olhou no espelho? — O vinho está me deixando
muito corajosa. — Você é muito... intimidante.
Ele balança a cabeça e escreve novamente.
Apollo também é um homem mais velho, qual é o problema?
Apenas a mera menção de Apollo faz meu estômago apertar.
— Apollo é um homem honrado, é muito diferente. Você tem uma
reputação muito sombria. Você arruína a vida das mulheres
sequestrando-as ou comprando-as como objetos. É nojento.
Cuidado, Viola.
Siron inclina a cabeça para mim e sorri, exibindo dentes brancos e
regulares. Ele olha para baixo e se inclina para beber seu vinho em um só
gole. Ele escreve em um rabisco bagunçado, quase zangado.
Não tenho como negar isso. A propósito, você é de tirar o fôlego. Eu sabia
que essa cor faria você parecer uma rainha. Eu quero que você dance para
mim novamente.
Eu mordo meu lábio e estreito meus olhos para ele.
— Você está me punindo por ser ingrata? Sinto muito, — eu faço uma
pausa enquanto respiro nervosamente, — eu sou geniosa.
Eu ouço uma risada ofegante e estremeço, incapaz de pará-la. Não
tenho certeza do que estou fazendo.
Quer dizer, ele parece um Zorro sexy anabolizado, admito, mas ele é
uma criatura do mal que me dá arrepios.
Ele escreve novamente e desliza o papel para mim, seu olhar brilhante
me observando.
Eu gosto do gênio, mas gostaria de prová-lo em vez de testemunhá-lo.
Eu engulo, sem saber o que dizer sobre isso. Preciso virar o jogo
rápido ou ele vai me querer de sobremesa.
— Por que você não pode falar?
Ele parece chocado, então se recosta na cadeira e me estuda antes de
escrever. Siron me entrega o papel quando me inclino para ver.
Que curiosa você é. Não posso falar porque tive as cordas vocais
danificadas em batalha.
E eu uso uma máscara porque quero manter a minha identidade um
mistério. Isso me manteve seguro até agora, minha pequena dançarina.
Agora, onde estávamos?
Tento ignorar a sua energia sexual, que está me cutucando
mentalmente. — Você já pensou em ver um curandeiro? — Sinto que há
mais coisas que ele não está me contando quando olho para sua bengala.
Ele encolhe os ombros.
Eu escolho as minhas palavras com cuidado. — Eu queria que Eltson
desse o lance mais alto por mim porque eu queria encontrar o grande
Curandeiro. Merva, o Grande.
— Eu pensei que talvez ele pudesse curar Apollo antes que de você dar
o lance mais alto. Talvez você também queira procurá-lo?
Eu levemente olho para ele, para avaliar a sua reação.
Ele se inclina para frente e começa a escrever, olhando para mim.
Depois de alguns segundos, ele empurra o papel para mim.
Você o ama? Porque se você amar, eu terei que matá-lo.
Eu suspiro. Meu coração está batendo forte, eu não esperava essa
reação.
Ele está escrevendo novamente e, finalmente, desliza o papel para
mim.
Eu posso ver a maneira como você reage a mim, pequena dançarina. Eu
sou muito observador, nem adianta tentar evitar. Seus olhos de cobra dilatam
quando você olha para mim, e posso ouvir a sua pulsação martelando contra
a sua pele lisa.
Eu sei o que aconteceria se eu tocasse em você. Como se fosse uma deixa,
a minha frequência cardíaca aumenta e minhas bochechas ficam
vermelhas. Quero arrancar os olhos dele, estou com tanta raiva.
— Posso sair? — Eu sussurro, asperamente.
Nesse momento, a porta se abre e começam a servir comida. Não
estou com fome, e a ideia deste homem pensando que estou atraída por
ele fisicamente é insana.
Ele provavelmente pensa que toda mulher tem essa reação a ele, e isso
me deixa com ódio. Eu olho para o meu prato, bife e vegetais. O cheiro é
bom, mas estou com tanta raiva que meu estômago está ficando enjoado.
Siron faz sinal para eu comer.
Eu fico olhando para ele.
Ele está escrevendo, em seguida, desliza o papel para mim, seu olhar
continua firme em mim.
Coma ou eu mesmo alimentarei você com a comida.
As pessoas enlouquecem por aqui? Meu dedo médio está se
contorcendo, mas eu tento controlar o desejo insano e pego meu garfo,
apunhalando um brócolis. Eu dou uma mordida, então olho para ele.
Ele está observando a minha boca e um leve sorriso aparece em seus
lábios perfeitos. Ele está escrevendo novamente com um sorriso
malicioso no rosto.
Eu quero ver seus olhos quando eu alimentar você. Estou curioso.
Eu engulo com uma careta. Tá maluco?
Ele está cortando um pedaço de bife e puxa a cadeira para trás, me
deixando alarmada.
Eu imediatamente entro em pânico quando ele desliza a sua cadeira
para mais perto de mim e puxa a minha cadeira com o pé, em sua
direção. Agora, estou bem na frente dele, praticamente entre suas pernas.
Eu não consigo respirar, e ele se inclina para frente, dando-me uma visão
muito próxima dele.
Não posso deixar de notar que tem um cheiro ao mesmo tempo forte
e selvagem.
Ele rapidamente pega o bloco de notas com a mão livre e rabisca nele.
Abra a boca.
Eu mal abro a minha boca, e seu olhar parece estar em chamas. A
intensidade deste homem está me machucando em muitos níveis.
Ele sorri enquanto coloca o bife em meus lábios e cutuca a minha
boca ainda mais, esfregando levemente a carne salgada sobre meus
lábios, antes de dar para mim.
Ele se recosta agora e me observa com aqueles olhos negros.
Por que me sinto violada?
— O que você está tentando provar? — Eu assobio. Eu preciso que ele
recue e me dê espaço; estar tão perto dele está me deixando louca.
— Eu acho que é posso dizer que você me perturba. Provavelmente
como a maioria das pessoas quando estão perto de você.
Siron apenas que ele me observa como se pudesse ver algo que a
maioria não consegue. Eu não gosto disso, nem tenho certeza do que ele
é de verdade.
Ele se senta, trazendo seu grande corpo ainda mais para perto, pega o
seu bloquinho e começa a escrever. Ele faz uma pausa e olha para mim,
seu olhar está se movendo sobre meu corpo, então vai até a minhas
pernas, que estão entre as suas coxas musculosas.
Apenas respire, digo a mim mesma.
Ele começa a escrever novamente e me entrega o papel. Pego com as
mãos trêmulas e vejo que isso não passa despercebido. Parece que nada
passa despercebido por esse cara.
Você gostou da sua refeição. Seus olhos são muito reveladores, minha
dançarina, e obtive a resposta que estava procurando. Desejo a você uma boa
noite.
Eu franzo a testa para ele enquanto ele me observa ler a nota.
Siron ri, o som ofegante, inclinando levemente a cabeça.
Eu cerro os dentes e ignoro como a sua boca fica quando ele sorri.
Pare com isso.
Ele agarra a minha mão e a leva à boca, seus lábios quentes
persistindo na minha pele enquanto ele fecha os olhos.
Estou tensa e mordo meu lábio, observando-o respirar em minha pele
como se eu fosse uma espécie de deusa. Não tenho certeza de como
analisar este homem.
Ele de repente se levanta e se inclina sobre mim para pegar o bloco de
notas e rabiscar nele antes de se virar para sair, com sua bengala.
Estou tão confusa.
Depois que ele sai, eu apenas fico sentada em silêncio, tentando
processar as minhas emoções. Eu olho para a nota que ele deixou e leio.
Não fique tão triste por me ver partir divirta-se.
Ele está brincando, certo?!
Ele acha que estou com tesão por ele?
Eu fico lá sentada envolta em uma fúria silenciosa, aquele homem é
um doente mental. Ou ele está completamente delirando. O que ele viu
nos meus olhos? Raiva? Ele confundiu isso com luxúria ou desejo? Espero
que não.
Provavelmente não vou dormir muito bem essa noite.
— Diga-me o que está incomodando você, humana?
Eu me visto com um vestido de aparência medieval que é marrom
chocolate e renda creme. Muito bonito, na verdade, o espartilho é um
pouco apertado para os meus seios, mas se ajusta bem o suficiente para
que Encantado não precise fazer retoques.
Eu começo a trançar o meu cabelo, pensativa.
Siron acertou direitinho, ou a sua última prisioneira era exatamente
do meu tamanho. Eu me pergunto quantas mulheres usaram este vestido
antes de mim. Já posso sentir a minha raiva fervendo.
— Humana?
Eu olho para ela. — Desculpe, esse cara Siron está me dando nos
nervos.
Mort balança a cabeça. — Ele também me deixou muito curiosa. Acho
que ele está muito doente, ouvi alguns membros da tripulação dizerem
que ele estava envolvido com uma bruxa. E, quando ele terminou com
ela, ela o amaldiçoou com um vírus mortal.
Eu franzir a testa. — Mesmo? — Eu penso sobre isso. — Eu posso
realmente ver isso acontecendo, ele é um típico boy gato, porém lixo.
— Sim, ele é um humano muito atraente, como Apollo.
Eu lanço um olhar para ela. — Não o compare a Apollo.
Ela ri e levanta as mãos.
— Ok, acalme-se. Acho que Black Siron está procurando pelo
curandeiro. Encantado acha que vai manter Eltson como refém em troca
do poder de cura.
— Isso é perfeito, — eu digo. — Então, como vamos levar o
curandeiro de volta para Apollo?
Um pensamento acabou de me ocorrer; não perguntei sobre ele hoje.
— Como está Apollo?
Mort suspira. — Igual. Encantado obteve autorização para pagar ao
curandeiro o que ele pediu. Provavelmente pagamento em sangue virgem
e chifres de unicórnios.
Eu concordo. — Nós podemos fazer isso Mort, podemos salvá-lo.
— Certo, podemos sim.
Eu saio para o convés principal e passo algumas horas tomando
banho de sol. Ninguém me incomoda, e estou apenas respeitando as
ordens do Black Siron.
Há homens pescando, e não posso deixar de ficar intrigada com seus
artifícios. Talvez seja puro tédio, mas eu queria tentar.
Aproximo-me de um homem grande que parece ter um arco, mas está
preso a outras redes e dispositivos de metal. — É fácil?
Ele faz uma pausa e se vira para olhar para mim. Sua barba ruiva e
olhos azuis me lembram um elfo escocês. Eu vejo seus olhos olharem
para o convés superior, provavelmente procurando pelo diretor. Saco.
— Moça, se você pegar um peixe, eu dançarei para você.
Eu ouço algumas risadinhas atrás de mim e um sorriso. —
Combinado.
Ele ergue os olhos novamente e encolhe os ombros.
— Se você está aqui, pode muito bem botar a mão na massa. Temos
muitas bocas para alimentar nesta equipe, então vai nessa garota.
Ele pisca para mim e me entrega a sua grande engenhoca de pesca
que cheira a peixe morto.
Estranho. Até mesmo os escoceses deste mundo agem de um jeito
estranho. Universos paralelos, espelhando-se.
— Estou morrendo de tédio. Vai ser legal.
A hora seguinte consistiu em eu — não — pegar qualquer peixe. Isso é
difícil, não é como atirar flechas. Soltei um grunhido de frustração e bati
o Pé-
Eu culpo meu gênio teimoso pela minha incapacidade de ter
paciência. Não conseguiria desarmar uma bomba. Eu ficaria chateada e
acabaria dando uma cabeçada na bomba e estourando a minha própria
cabeça.
Tento de novo e ouço risos quando atiro o anzol, apenas para ele
espirrar lamentavelmente nas águas do mar negro. — Você está de
brincadeira?
A risada morre e ouço alguém se aproximando. Eu amaldiçoo porque
sei o que é esse som, uma bengala.
Não me viro, mas tento de novo. O que ele vai fazer? Me jogar no
mar? Eu faço uma pausa, ele bem que seria capaz. Eu abaixo meu arco de
pesca e me viro para olhar para a sua figura imponente.
Eu respiro um pouco, só porque nunca o vi neste estado de nudez e,
no sentido geral, como qualquer mulher, isso me deixou ligeiramente
chocada.
Mas foi rápido, estamos falando de uma fração de segundo. Eu ainda
posso ver apenas a sua boca, mas ele está vestindo uma camisa preta
desabotoada e ondulada, expondo seu peito dourado.
Eu bufo, claro, ele é super malhado, com um ego desses, não teria
outra.
Eu me pergunto se ele usa máscara porque se acha feio, exceto pela
boca, é claro. Isso é meio triste. Boy camarão, arranca a cabeça e come o
resto? Isso seria um verdadeiro crime, se você quer saber.
Ele inclina a cabeça para mim, me lembrando que estou apenas
olhando para ele como se estivesse impressionada com o corpo gostoso
dele. Por favor, não se iluda. Zorro. — O Black Siron precisa de algo de
mim?
Isso é blefe.
Apenas blefe.
Ele acena para a minha vara de pescar e balança a mão para eu
continuar fazendo o que estava fazendo. É difícil dizer com a sua máscara
enorme, mas acho que vejo diversão em seu olhar.
Huh, então o bastardo malvado tem senso de humor. Que doce.
Eu bufo novamente e tento pegar um peixe e falho mais uma vez. O
vento salgado está me atrapalhando, me dando vontade de quebrar este
dispositivo de pesca de merda.
Eu cerro os dentes e ergo o arco novamente, e é quando o sinto atrás
de mim. Eu congelo.
Eu sinto seu braço vir ao meu redor e guiar meus braços para uma
posição diferente, muito gentilmente. Então eu sinto as suas mãos baixas
em meus quadris, aplicando pressão para me fazer jogar o peso do meu
corpo para o outro lado.
Meu coração está batendo forte e posso sentir a sua respiração no
meu pescoço quando ele aponta para uma trava de metal.
Eu não entendo, então ele se inclina para mim para alcançar a trava e
a vira, fazendo com que ela trave. Meus olhos se arregalam. Não admira
que eu não tivesse nenhum poder. Uma onda de adrenalina bate em mim
e eu retomo a pontaria.
Ele vem para ficar ao meu lado, aponta para as ondas e olha para
mim. Ele está me sinalizando para esperar. Ele então aponta para o céu e
de volta para as ondas, dizendo-me para olhar... mais de perto?
— Você quer que eu olhe mais de perto?
Ele inclina a cabeça, sim. Ele faz um movimento de peixe com a mão e
aponta para as ondas, depois para o céu. Em seguida, balança a cabeça
que não, não é bom.
— O quê? — Eu pergunto ficando frustrada. — Não tem peixe agora?
Ele acena com a cabeça sim, com um sorriso.
Eu luto contra um sorriso também, ele demonstrando um peixe foi
apenas ligeiramente engraçado.
Ele faz um gesto para eu atirar de qualquer maneira com um encolher
de ombros. Eu respiro novamente e aponto quando o vejo se mover para
ficar ao meu lado, tocando meus quadris novamente.
Eu ajusto meu pé quando meu pulso começa a martelar no meu
pescoço como um assassino de filme de terror tosco tentando arrombar a
porta. Siron aponta para a trava da qual quase me esqueci e eu a viro, me
dando força. Sou uma especialista em pontaria, lembro, e miro nas
ondas.
Eu atiro um arpão com precisão, e ele perfura a água como uma bala.
Eu grito e salto para cima e para baixo como se tivesse doze anos, e
acabado de conseguir ingressos para o show da Taylor Swift. Eu paro
imediatamente e posso sentir o meu rosto ficar vermelho e os olhos dele
estavam fixos em mim. Incrível.
Mas eu olho para Siron e o vejo rindo junto com o grande bruto
ruivo.
— Siron, nunca vi ninguém ficar tão animado para pescar, — o ruivo
berra. — Talvez você devesse mostrar a ela mais algumas tarefas para
fazer!
Ela se empolga com pouca coisa. — Ele pisca para Siron.
Eu rolo meus olhos e jogo o arco de pesca no homem ruivo. —
Obrigada por NÃO me mostrar a trava do arco.
Siron sinaliza para o homem e ele acena com a cabeça, fugindo antes
que eu possa socá-lo no rosto.
Eu olho de volta para o pirata escuro e o vejo puxar um bloco de
notas. Então, ele mantém um à mão para o caso de precisar falar comigo.
Siron apoia sua bengala em um mastro e começa a escrever, o vento
faz a sua camisa esvoaçar.
Apenas uma observação.
Ele olha para mim e me mostra o bilhete.
Amanhã posso mostrar-lhe como apanhar um peixe dos grandes. Não vou
jantar com você essa noite. Tenho muito para o que me preparar, meus
homens precisam de mim.
Eu leio e aceno, então não estarei na presença dessa sanguessuga esta
noite. Perfeito, que presente dos céus.
— Você não precisa se preocupar comigo, posso conseguir que outra
pessoa me mostre. Eu poderia muito bem ser útil por aqui. — Ele se
aproxima de mim e eu fico tensa. Siron balança a cabeça não e começa a
escrever novamente, mais rápido desta vez. Ele me mostra o bilhete.
Eu serei o único a te mostrar, pequena dançarina. Não permitirei que
meus homens sejam distraídos pelos seus encantos inocentes. Entendido?
Posso sentir a sua energia negativa, ele é muito sério. — Claro.
Ele faz uma reverência na minha frente, e seus olhos deslizam
lentamente sobre o meu corpo antes que ele saia com a sua bengala. Eu
tremo, sentindo como se ele me tocasse quando, claramente, ele não o
fez.
Tenho a sensação de que não vou dormir bem essa noite, de novo.
Capítulo 25
Aparentemente, Eltson está tentando nos ultrapassar.
Mas isso não vai acontecer, Mort diz que a nave de Black Siron é
muito mais rápida. Estou super feliz; essa experiência não foi nada ruim.
Muito pelo contrário, estranhamente.
Eu achei que tinha sido comprada por algum cartel obscuro de
escravidão sexual, mas fui tratada como ouro aqui.
É muito confuso porque estou aqui relaxando como uma rainha na
minha cama chique, ouvindo Mort mascar suas balas de goma coloridas.
Não é um som agradável. Muito assobio e respingos.
— Onde você arranjou isso?
Ela olha para mim de sua mesa, no canto de nossa pequena sala. —
Encantado.
— Ele te dá doces assim, aleatoriamente? — Eu pergunto com cara de
dúvida.
Ela revira os olhos. — Não é aleatoriamente, apenas quando ele se
sente mal. Mais cedo, quando eu estava explorando, peguei o caminho
errado e fui pega em uma sala onde não deveria estar.
Eu me sento e fico olhando para ela. — Que sala?
— Não é nada demais.
— Bem, isso justifica as balas de goma.
Ela encolhe os ombros, me ignorando.
— Apenas me diga, estou morrendo de tédio.
Ela suspira como se eu fosse irritante. De repente, Mort parece que
está revivendo algo vil, seu rosto perde um pouco de cor.
— A sala do penico. O homem fechou a porta e eu não pude escapar.
Eu só tive que ficar esperando até que ele terminasse com seus...
negócios.
Eu estava rindo antes mesmo que meu cérebro pudesse processar o
que ela disse.
— Não é engraçado, humana, — Mort sibila, com as bochechas
vermelhas.
Eu caio contra a cama, seu rosto zangado me fazendo rir ainda mais.
— Coma as suas balas de goma, você merece, — eu bufo no meu
travesseiro.
Mort mastiga enquanto me encara. — Falando sério agora, já se
passaram três dias desde que você viu Siron pela última vez?
Eu limpo meus olhos e penso nisso. — Achei que fosse mais tempo do
que isso, mas sim.
Ela parece pensativa. — Por que todo mundo está à beira da morte?
— Você acha que ele está à beira da morte?
Mort coloca mais balas em sua boca.
— Pode ser, aquela ex-namorada deve ter ficado muito brava com ele,
e fez uma maldição desagradável. Os homens no navio estão com medo
de que ela comece a ir atrás deles.
— Mas não seria incrível se aquele idiota do Siron morresse? Você
estaria livre se ele o fizesse, tornando mais fácil voltar para Apollo.
Eu mastigo meu lábio. — Sim, — eu digo e respiro fundo. Eu me
levanto, pronta para sair do quarto, me sentindo muito claustrofóbica de
repente.
— Mort, já volto e, por favor, olhe por onde voa, amiga.
Quase posso ouvi-la revirando os olhos.
Estou vagando sem rumo, para nenhum lugar em particular, apenas
deixando o meu coração liderar o caminho.
Eu rio, meu coração não é confiável, ele tende a me colocar em
muitos problemas.
Eu me pergunto por que Siron não me procurou?
Eu pensei que tinha sido comprada como um objeto sexual. Não que
eu esteja reclamando, mas tudo é confuso demais.
Talvez o homem esteja muito doente, ele pode estar morto agora, vai
saber. Provavelmente é o que ele merece. Todas as suas más ações devem
ter se voltado contra ele.
O que é feito no escuro é sempre trazido à luz, ou assim as garotas da
boate sempre afirmavam. Eu também acredito nelas, elas sempre diziam
isso com muita seriedade.
Mas isso não me impediu de vagar por corredores pelos quais nunca
passei antes. Um dos meus muitos defeitos sempre será a curiosidade.
É por isso que assinei o contrato da Fada Madrinha em primeiro
lugar; eu não poderia morrer nesta vida sem ver o que ia acontecer.
Acho que já faz uma hora que estou vagando sem rumo. Por que eu
quero encontrá-lo? Não tenho certeza; é só curiosidade, estou supondo.
Eu volto para a biblioteca, se você quiser chamar assim. Será?
É um dos cômodos mais aconchegantes, o que significa que os sofás
não são de metal. Eles têm almofadas de veludo preto, o que é muito
melhor do que o frio do aço cutucando a sua bunda.
Pego um livro aleatório da estante e me jogo, olhando para a capa. É
uma espécie de dicionário que parece incrivelmente enfadonho, não
tenho certeza se tenho paciência suficiente para isso.
Tenho preguiça de me levantar e procurar outro, a minha mente e
meu corpo estão exaustos.
Minha cabeça cai para trás, contra a almofada, pensando
profundamente. É uma loucura pensar onde comecei nessa história e
onde estou agora.
Que viagem maluca, por falta de palavras melhores. Este não foi o
filme da Disney que imaginei.
É quando eu ouço a sua bengala e, por uma fração de segundo, fico
animada — não, fico surpresa.
Não é excitação, é o meu tédio que me faz ter pensamentos malucos.
Eu me acalmo e respiro fundo enquanto espero.
Eu o ouço fazer uma pausa enquanto entra na sala, provavelmente me
vendo. Ele não queria me ver? Estranho.
— Eu posso ir embora, — eu digo, sentindo a sua presença atrás de
mim.
Ele entra na sala, então eu o vejo enquanto ele se senta bem na minha
frente. Ele está vestindo uma camisa preta justa que o faz parecer maior
do que a própria vida, o vilão sombrio.
Desvio o olhar por um segundo, não querendo que meu cérebro vá
para lugares que eu não quero.
— Eu estava saindo.
Siron se inclina para frente e agarra meu livro da minha mão com
uma carranca.
E agora? — Acabei de escolher um livro aleatório.
Ele sorri levemente e se levanta, caminhando com sua bengala até a
estante. Passando os dedos longos por alguns romances, ele encontra
aquele que está procurando.
Siron caminha de volta para mim e se senta no mesmo sofá que eu,
jogando o livro no meu colo. Eu engulo, não esperando que ele se sente
ao meu lado. — O que é isso? Como escravizar as pessoas?
Sua expressão não muda quando eu olho para ele.
Tento não sorrir, mas é difícil. Eu fecho meus olhos enquanto luto
contra o sorriso que ameaça a minha dignidade.
Pela capa deste livro, é obviamente um romance e, em algum lugar
dentro de mim, não posso acreditar nesse gesto doce. Eu respiro firme
enquanto olho para ele.
— Obrigada, esse parece muito melhor. — Droga sorrio para ele e
pergunto: — É seu?
Seus olhos brilham quando ele tira um bloco de notas do bolso. Por
que até isso parece cativante? Preciso sair deste navio e ficar longe dele o
mais rápido possível. Estou perdendo a minha cabeça. Será febre de
navegante?
Ele escreve, depois olha para trás, me mostrando.
Por favor, não diga a ninguém. Isso vai me arruinar
Eu rio alto. Santa Mãe de Deus, esse pirata cruel está brincando
comigo. — De quem é realmente? — Provavelmente um de seus muitos
livros de escravas.
Ele escreve novamente, em seguida, suspira enquanto me devolve o
bilhete. E da esposa do meu chef E extremamente irritante para um
indivíduo cruel ter esse tipo de material blasfemo. Eu rio de novo e não
consigo tirar o sorriso do meu rosto. Desvio o olhar porque ele está me
encarando como se quisesse me dissecar ou algo assim.
Eu posso sentir o cheiro dele e não é algo que eu queira comentar,
esse cheiro fresco não é nada inovador.
Toneladas de homens tomam banho regularmente e usam sabonete
de cheiro bom, parabéns, você não é nojento. Não vou te dar biscoito.
Prefiro revirar os olhos.
Ele me entrega uma nota e eu olho para ela.
Minha dançarina, você estava procurando por mim?
Minhas bochechas esquentam e tento disfarçar. — Não! — Eu olho
novamente para seus olhos estreitos.
— Bem, eu só estava um pouco curiosa sobre a sua saúde, já que você
está no comando aqui. Quero saber como será o meu futuro.
Eu olho para ele e então para seus lábios carnudos; que cor bonita.
Quer dizer, eles parecem saudáveis, não são frios e azulados como se ele
fosse uma pessoa morta. Eles têm uma bela tonalidade rosa...
Eu olho para longe, sentindo como se estivesse na zona do perigo. Eu
aperto meus olhos, dizendo a mim mesma para agir como uma pessoa
normal. Por favor, seja normal.
— Então, como está a sua saúde? — Eu pergunto, em seguida, olho
para ele com uma expressão normal, espero. Meus olhos podem estar
muito arregalados, embora seja difícil dizer.
Olá, eu estou toda descompensada. E você?
Ele inclina a cabeça para mim como se estivesse me estudando. Eu
odeio quando ele faz isso, como se estivesse tentando ver a minha alma.
Ele se inclina para trás no sofá, exibindo a sua cintura larga — nada
parecido com um deus grego.
Siron finalmente começa a escrever e então coloca a nota bem na
parte superior da minha coxa.
Eu fico olhando para a nota em meu lindo vestido esmeralda com
forro dourado. Foi trazido para mim hoje, e eu me pergunto se ele o
escolheu ou se foi apenas uma coisa aleatória. Provavelmente aleatório.
Eu sinto que está quente aqui; meus hormônios devem estar todos
exaustos. Nada que três margaritas não resolvessem. Pronto, falei.
Olhei em volta me perguntando se eles tinham tequila nessa
embarcação.
Foco.
Pego o bilhete e leio. Minha saúde não é da sua conta. Eu vejo que você
está um pouco pálida, espero que não fique enjoada. Se você estiver se
sentindo mal, a minha equipe estará aqui para ajudá-la.
Mas você deve ficar feliz em saber que vou libertá-la assim que chegarmos
à costa.
Minha cabeça vira em direção a ele em estado de choque.
Ele apenas me encara, com os olhos escuros brilhando.
— Por quê? — Não queria parecer tão chateado, porque não estou.
Isso não poderia ter funcionado com mais perfeição.
Eu aceno e sorrio, me sentindo um pouco perdida. O que está me
deixando nervosa? Por que meu peito está apertado?
Ele está escrevendo, e eu o observo, as tatuagens escuras estão
enfeitando a sua pele dourada, camisa preta justa, máscara do Zorro e
cabelo preto brilhante.
Eu suspiro.
Eu só preciso ver Apollo novamente. Quase sinto lágrimas brotando
em meus olhos, a minha confusão é tão frustrante.
Se eu fosse psicóloga, provavelmente diria que a queda repentina de
Apollo me impactou emocionalmente e isso é normal. Sentimentos de
apego são esperados. É assim que você está lidando com esse trauma
repentino.
Eu olho para ele e percebo que ele está observando a minha batalha
interna acontecendo.
Ele lentamente me entrega a nota e eu olho.
~ Eu vejo tanta tristeza em seus lindos olhos. Isso é por causa do
Apollo? Você não gosta do meu presente de liberdade para você?
Eu respiro instavelmente. — Honestamente? — Sussurro: — Não sei.
Por favor, não chore.
Ele me entrega outra nota. Se você o ama, vá até ele.
Eu olho para ele com raiva. — Por que você é tão legal? Eu pensei que
você fosse esse monstro temido!
Por que estou gritando?! Estou perdendo a cabeça e não sei por quê.
Chegou a hora de pirar na batatinha?! É só o que me faltava!
Ele olha para baixo e começa a escrever, parando a cada poucos
segundos como se estivesse sem palavras.
Eu respiro fundo novamente e percebo que posso estar tendo um
ataque de pânico. Toda essa experiência é coisa demais para absorver.
Em primeiro lugar, estou neste planeta estranho tentando fazer
Apollo se apaixonar por mim, então BOOM ele está quase morto.
Então eu sou sequestrada e em seguida e sou comprada por esse bofe
mega-sexy que está se tornando o maior ursinho de pelúcia fofinho!
Merda, lágrimas estão escorrendo pelo meu rosto. Eu odeio isso.
Eu o sinto agarrar meu braço e me puxar em sua direção, meu
pequeno corpo está agora em seu grande colo. Eu paro de chorar, nunca
estive tão perto dele antes.
Posso sentir o calor de seu corpo e os músculos duros sob mim e isso
me deixa tonta.
A culpa me preenche instantaneamente.
Estou traindo Apollo, pensei, que está agonizando em seu leito de
morte!
Siron me agarra e me puxa para ele, a minha cabeça acariciando seu
pescoço liso. Eu sinto mais lágrimas escorrendo pelo meu rosto enquanto
os seus braços me envolvem com força.
Sinto sua energia me engolfar totalmente e nunca quero que ele me
solte. Insanidade absoluta.
Eu não posso fazer isso.
Isso é bastante errado em vários níveis.
Eu me afasto e tento sair de seus braços, mas ele me segura. Eu olho
para ele, e ele me entrega um bilhete, seu olhar escuro é intenso.
Diga-me o que magoa você?
— Eu não posso, — eu soluço.
Ele inclina a cabeça e solta um suspiro.
— Por que você está sendo legal comigo? Por que você parece
diferente? Por que você não é mau e cruel? Você não está fazendo sentido
para mim agora, — eu gemo, miserável.
Ele se ajusta, para que possa puxar seu bloco de notas para escrever.
Ele está escrevendo rápido e olhando para mim de vez em quando. Eu
gostaria de poder ver sob a máscara.
Siron me mostra o bilhete.
Ainda posso ser tudo o que você pergunta, mas as circunstâncias
mudaram. Estou morrendo, pequena dançarina, e talvez queira fazer algo
certo pelo menos uma vez.
— O quê?! Por que todo homem que eu gosto resolve morrer! — Eu
grito. — O que diabos está acontecendo!?
Seus olhos se arregalam.
Eu aperto a minha boca com força, o coração batendo forte. Acabei de
admitir que eu gostava dele? Merda.
Eu o empurro e saio correndo da sala como uma lunática. Maluca de
pedra.
E o prêmio de melhor atuação insana vai para Viola!
Aplaudida de pé.
Preciso de terapia, de um psiquiatra, ou talvez me internar mesmo no
hospício. Tenho certeza que eles têm um desses aqui. A insanidade é
comum entre os humanos em todos os lugares.
Não tenho certeza de como voltei para o meu quarto sem ter um
colapso mental no corredor para que todos pudessem testemunhar.
Eu deito na minha cama e grito contra o meu travesseiro, chutando e
socando o colchão macio. Então as lágrimas vêm, lentas e brutais, como
brasas mornas.
Eu preciso me recompor, eu nunca fui tão emocional antes.
— Onde você esteve?! — Mort está repentinamente na sala. — O
navio de Eltson está ganhando velocidade e se aproximando rápido!
Eu me levanto e fungo, enxugando meus olhos rapidamente.
— Você está chorando?
— Não.
Ela bufa. — Parece que você está, mas de qualquer maneira, Laura
estava no navio e aparentemente não teve o tempo de lazer que nós
tivemos.
O homem Eltson é um verdadeiro cuzão, aparentemente. Ela teve que
usar um salva-vidas.
— Ela está bem? — Eu pergunto, preocupada. Acho que nem todo
sequestrador é como o Black Siron. Eu fecho os olhos com força não se
atrevei a chorar, sua prostituta barata.
Eu tenho o costume de me xingar para voltar aos eixos, está provado
que funciona, ou pelo menos foi o que a stripper chefe do clube me disse.
Eu me sacudo e levanto, respirando fundo para me acalmar.
Eu estou calma.
Não, eu não estou.
Sim, estou.
Não.
Sim.
Não.
— Humana? Você está bem? — Mort pergunta com uma sobrancelha
levantada.
— Mort, — eu respiro fundo e aperto os dentes. — Como está o
Apollo?
Ela franze a testa, — Eu acho que está igual, nenhuma nova
atualização foi registrada.
Eu aceno e tento refazer a trança do meu cabelo, esse é o primeiro
passo para me recompor. — Então o que fazemos agora?
— Podemos subir e ver o pau comer até que digam algo diferente, eu
acho. Você precisa dizer a Siron que precisamos salvar a outra princesa.
— Laura precisa estar fora de perigo ou ela pode ser expulsa do jogo.
Pessoalmente falando, acho que ela superou isso.
— Eltson veio até ela completamente nu, querendo jogar jogos de
tortura — daí ela usou o salva-vidas.
Eu tremo. — Isso é ruim.
Mort balança a cabeça.
Respiro fundo e termino de arrumar o meu cabelo. — Ok, estou
subindo.
Já posso ouvir gritos e berros. Eu vou até o convés superior e vejo o
caos total, canhões sendo carregados, homens com armas de aparência
perigosa apontadas e prontas.
Eu ouço um som ensurdecedor e percebo que estamos em combate.
Meu coração está batendo forte enquanto tento localizar um arco.
Posso atirar melhor do que qualquer pessoa neste navio — bem, exceto
por um arco de pesca que nunca consegui aprender a manejar.
Preciso pensar rápido e com foco, não permitindo que as emoções
comandem as minhas ações.
Corro até o montanhês ruivo, sem lembrar de seu nome.
— Eu preciso de um arco!
Ele me olha como se eu tivesse perdido a cabeça. — Vá para baixo,
moça, você está louca!?
— Eu posso atirar!
Ele me empurra para fora do caminho e grita ordens para os outros
homens. Maldição.
Eu olho para cima e vejo Siron gritando comandos enquanto carrega
uma longa lâmina mortal no convés acima de mim, sem nenhuma
bengala à vista. Eu me pergunto se ele está sofrendo por se esforçar tanto
assim.
Como se ele pudesse sentir o meu olhar, nossos olhares se chocam e
posso sentir seu pânico como uma tonelada de tijolos. Como uma
criança apanhada com a mão tirando a cobertura do bolo de aniversário.
Vou refletir sobre isso mais tarde, mas agora, ele está vindo até mim,
saltando sobre isso e aquilo como um atleta experiente, correndo para a
linha de chegada. Nenhum sinal de que ele está incapacitado.
Ele está acenando com o braço para eu descer do convés como um
louco, ele para na minha frente, totalmente sem fôlego. Seu grande peito
se movendo para cima e para baixo enquanto seu olhar escuro me
queima.
— Eu preciso de um arco! Posso atirar melhor do que qualquer um
aqui! — Eu grito sobre outro estrondo alto. Acho que a minha orelha
direita está zumbindo.
Ele fecha os olhos e balança a cabeça não.
— Siron, confie em mim!
Ele está ficando com raiva e balança a cabeça não novamente e aponta
para a porta, ou ele vai me carregar. Demonstrando que ele vai me pegar
e me colocar em cima do ombro. Ele está em contagem regressiva de
cinco como se eu fosse uma criança me deixando maluca.
— Não se atreva! — Em segundos, sou lançada sobre seu ombro,
minha bunda exposta no ar. Tento chutar e gritar, mas é um esforço
perdido.
Ele me coloca na biblioteca, me deixando cair no sofá. Meu cabelo
está cobrindo meu rosto, então não posso vê-lo através da bagunça
pesada do meu cabelo.
— Siron! — Eu grito em meio a lágrimas de raiva.
Eu o sinto puxando meu cabelo do meu rosto até que eu o veja. Ele
agarra meu rosto em suas mãos e seus lábios descem nos meus.
Eu estou congelada.
Senti o impacto até os dedos dos pés, meu coração em pedaços
repentinos.
Ele se afasta abruptamente, e levo minha mão aos lábios para tentar
sentir o contato.
Ele me beijou.
Siron fecha os olhos como se estivesse com raiva e me deixa lá no sofá
com meus pensamentos erráticos.
Não tenho certeza de quanto tempo fiquei ali sentado até ouvir Mort
gritando meu nome.
— Viola! Qual é o seu problema?! — Mort grita.
Eu olho para ela, meu eu durão finalmente emergindo após longos
pensamentos de confusão e autocomiseração. — Eu preciso de uma
ajuda Mort, pare com todas as besteiras! Eu sei que tenho agido de forma
estranha.
Ela leva um segundo e diz: — Estamos sendo dominadas. Siron está
ferido e temo que o nosso plano vá para o beleléu! Isso só vai diminuir as
nossas chances.
Eu me levanto e estendo a mão, pensativa.
— Dê-me um maldito arco e flecha.
Os olhos de Mort se arregalam. Então ela sorri, digitando.
— Fico feliz em ter você de volta, humana.
Capítulo 26
— Mort. — Eu digo enquanto subimos em direção ao convés inferior.
— Eu preciso que você se transforme em um homem estranho, para o
caso de eu precisar de ajuda. Esta vai ser uma cena triunfal ao estilo
Rambo.
Eu amarro os meus arcos e equipamentos em mim e coloco uma faca
na minha bota, para garantir. Uma forte explosão sacode violentamente
o navio, fazendo-me bater contra a parede. — Merda!
— O que foi é isso? — Mort pergunta, agora com mais de um metro e
oitenta de altura como um homem robusto.
Meus olhos se arregalam quando vejo sua aparência violenta. —
Perfeito, Mort, impressionante. — Eu paro com um sorriso enquanto
olho para suas calças, não sendo capaz de evitar a minha imaturidade. —
Isso... parece estranho?
— Mas o que parece estranho?
— Você sabe... — Eu aceno para suas calças com uma piscadela de
olhos arregalados.
— Não entendi.
— Você está falando sério? Você não sabe do que estou falando?
Porque às vezes eu não tenho certeza se você está brincando, — eu digo
com aborrecimento.
— Brincando sobre o quê?
Eu fico olhando para ela. — Um pênis, Mort. Um pênis masculino, —
eu grito.
O homem de Mort se contorce de surpresa e depois de nojo. — Eu
não tenho um pênis humano, que coisa mais nojenta.
Uma gargalhada me escapa. — O quê?! — Eu cubro minha boca para
não cair na risada. — O que você tem aí então?!
Mort parece chateada, me fazendo rir ainda mais. — Eu ainda tenho
uma vagina, humana.
Meus olhos se arregalam, até quase saltarem para fora. — Mort, — eu
respiro, — você acabou de se transformar na mulher mais horrível da
história.
Mort tenta ficar com raiva, mas não está funcionando, o riso borbulha
de sua garganta, parecendo muito masculina. Nós duas temos um
momento de pura risada até que outra explosão balança o navio, nos
trazendo de volta à nossa situação urgente.
— Ok, — eu digo, ficando muito séria. — Cubra-me, homem-mulher
feia.
— Vamos nessa.
Assim que saímos, vejo o quão feia a situação está.
Os homens de Eltson estão por toda parte, com os dois navios lado a
lado. Felizmente, os homens de Eltson estão usando azul, o que os torna
um alvo fácil.
Eu olho para o convés superior e vejo Siron lutando com o
montanhês, em menor número. Siron está sangrando em um braço e
lutando com o outro. Ele não vai durar muito assim, não com a sua saúde
em rápido declínio.
Espere, a mamãe está vindo.
— O Encantado melhorou seu foco, gratuitamente. Ele disse que você
ia... fazer chover?! — Mort grita atrás de mim, olhando para o céu. — Eu
não acho que você tem a capacidade de fazer chover!?
— Oh, sim eu tenho. — Sorrindo, fecho meus olhos e sinto correntes
elétricas fluindo por mim como um rio de lava. Posso ouvir meu coração
batendo forte enquanto respiro para me acalmar, a adrenalina
bombeando.
Abro os olhos e tudo está se movendo em um tempo mais lento.
Todas as cores são silenciadas, exceto para as menores dicas e destaques.
Miro no homem que Siron está lutando no momento com um sorriso
sombrio.
Minha flecha voa como um grito enche a noite. Morto, direto no
coração. Não tenho tempo para ver o choque no rosto de Siron. Eu atiro
uma, duas, três, quatro, cinco, seis flechas em segundos, todas atingindo
seu alvo.
Eu começo a andar, e meus olhos focam em uma explosão, a nuvem
em forma de cogumelo lentamente subindo para o céu de forma quase
linda.
Vejo homens investindo contra mim, mas eles estão se movendo tão
devagar que é ridículo. Eu levanto meu arco para eles e acerto cada um
deles com precisão letal.
Minha frequência cardíaca está aumentando, as batidas se tomando
mais altas e mais fortes quanto mais eu fico assim. Estou ficando sem
energia rapidamente.
Eu atiro flechas no inimigo desavisado, atingindo mais e mais
homens, o choque aparecendo em seus rostos quando as flechas os
empalam.
Eu respiro lenta e laboriosamente. Aparentemente, só posso fazer isso
por um curto período antes de sentir vontade de morrer. Eu olho para
trás, para Siron, e todos estão me olhando com expressões horrorizadas.
Siron provavelmente está se perguntando o que diabos eu sou, assim
como Apollo fez. Eu levanto meu arco e perfuro mais alguns homens
antes de cair de joelhos em tontura.
Minha cabeça está girando em um tornado de luzes e cores. Agora eu
sei o que é tomar uma garrafa de vodca barata com o estômago vazio.
Os sons voltam em tempo real enquanto eu gemo de joelhos.
Não vomite, por favor.
Outra explosão soa à minha esquerda, fazendo meu cérebro explodir.
Devo continuar.
Eu lentamente me levanto e tiro mais flechas, mas desta vez não
tenho o meu poder de câmera lenta. Não importa, ainda sou uma
atiradora incrível.
Sinto Mort agarrar o meu braço e me empurrar para a esquerda com
tanta força que quase caio de joelhos. Meus olhos se arregalam, quase fui
apunhalada por uma espada balançando.
Huh.
— Humana! Controle o seu juízo, — Mort sibila enquanto nos
escondemos atrás de uma parede de metal.
— Estou bem, — digo, com a cabeça latejando.
— Seu arco está quebrado.
Eu olho para baixo e amaldiçoo. — Oh, certo, merda.
Os traços viris de Mort se transformam em surpresa e ela olha para o
canto. — Bom tiro, acho que você deu aos homens de Siron uma
vantagem. O inimigo está fugindo!
— Mesmo?! — Eu digo, animada que isso funcionou. — Você pode ver
a Laura no outro navio?
Mort está digitando por alguns segundos. — Ela está no convés sendo
mantida em cativeiro, afirma, — ela diz e olha para mim.
— Eu posso atirar.
Mort me puxa para a direita e aponta: — Pronto, você a vê?
Demoro um segundo, mas sim, eu vejo. Laura está chorando, com
uma longa lâmina em seu pescoço enquanto Siron e seus homens se
aproximam lentamente. Não é bom, é melhor ela estar pronta para gritar
pelo seu salva-vidas se necessário.
— Ele vai cortar a garganta dela.
— Então é melhor você mirar.
Sem pensar muito, saio para o campo aberto e puxo meu arco de volta
à capacidade total. Solto um suspiro lento e acalmo meu corpo enquanto
me aproximo de seu captor. Ela está longe, é um tiro arriscado.
— Atire — Mort sibila.
— Não posso, não tenho um tiro certeiro. Isso não é uma arma de
fogo, Mort. — Estou suando, o homem está gritando com os homens de
Siron em um idioma diferente enquanto empurra Laura. — Porra.
— Podemos ficar atrás dele?
Eu abaixo o arco e aceno. — Dessa maneira.
— Oh, nada bom, — eu assobio, com suor escorrendo pela minha
testa. Sem pensar por mais nenhum segundo, eu atiro uma flecha muito
longe à sua esquerda, errando meu alvo completamente.
— Você errou! — A boca de Mort está aberta.
Eu sei. Mas isso o fez mover-se com o choque, foi só uma isca. Desvio.
Agora tenho uma visão clara de seu peito e atiro.
A surpresa em seu rosto quando a flecha de prata penetrou em seu
peito, a centímetros do ombro de Laura, não tem preço. Porém, eu não
acho que ele vai economizar dinheiro agora, porque ele está morto.
O corpo de homem de Mort me abraça. — Você conseguiu!
Eu sorrio. Siron agarra Laura, que está gritando histericamente,
segurando seu pescoço ensanguentado. Mas nós conseguimos!
Eu largo meu arco e corro em direção a eles, até as escadas para o
convés superior. Os homens de Siron estão levando a tripulação restante
em cativeiro enquanto falamos.
Assim que estou à vista, a maioria da tripulação faz uma pausa e se
vira para me olhar com admiração ou horror. Talvez pensando que sou
uma bruxa ou algo assim, embora eu não os culpe.
— Laura!
Em meio aos soluços, ela desvia o rosto de Siron e me vê. — Irmã? —
Ela pergunta humildemente, com os olhos inchados. Quando ela vê que
sou eu, ela empurra Siron para me abraçar.
— Você está bem?!
Laura soluça e limpa o nariz. — Sim, graças a Deus você deu um tiro
certeiro. Por que diabos você demorou tanto?
Eu fico olhando para ela.
Ela ri e me dá outro abraço. — Brincadeira, bom trabalho.
Siron está nos observando com a testa franzida.
Laura fica rígida. — Inferno, — ela sussurra. — Eu esqueci dele.
Precisamos nos preocupar?
Eu olho para ela e balanço minha cabeça. — Não.
Ela franze a testa para mim, com dúvida.
Não posso responder enquanto Siron se aproxima de nós com os
braços cruzados sobre o peito, o bíceps ainda parecendo gravemente
ferido. Posso ver Laura olhando para ele de cima a baixo com
curiosidade, provavelmente.
Ele sinaliza para seus homens, que levam Laura, os homens
garantindo a ela que não pretendem fazer mal. Ela olha para mim
aterrorizada, mas eu aceno que está tudo bem.
Eu fico com Siron me olhando fixamente.
Eu mexo na minha saia enquanto meu coração bate. Devo quebrar o
silêncio, — Eu disse que era um boa atiradora.
Ele solta um suspiro alto e esfrega a mão no pescoço.
O montanhês ruivo se aproxima de nós.
— Siron, eu nunca vi uma mulher atirar assim, — ele diz e me olha. —
Você está pensando o que eu estou pensando? — Seu olhar avaliador não
é amigável. Siron sinaliza para ele e o montanhês não gosta do que está
sendo dito, saindo com uma praga em voz alta, lançando-me um olhar
furioso.
Siron olha para mim com a mesma expressão dolorida nos olhos. Não
consigo ver seu rosto, mas posso assumir que ele não está nada satisfeito.
Ele acena para que eu ande com um movimento rápido de seu pescoço.
— Para onde?
Ele agarra a minha mão e me puxa com bastante violência, essa é a
primeira vez que fico com um pouco de medo perto dele.
Ele me leva por longos corredores e acho que vamos para a biblioteca
novamente, mas ele faz uma curva fechada à esquerda em uma sala
menor. Ele fecha a porta e eu recosto contra uma mesa, sem saber o que
está acontecendo.
— O que você está fazendo?
Ele apenas me encara, respirando pesadamente.
— Eu não vou te dizer nada, — eu digo, sabendo o que ele quer saber.
Estou brincando com fogo aqui, ele poderia mudar de atitude em uma
fração de segundo.
Eu me preparo, disposta a usar um salva-vidas. Eu deveria manter a
minha boca fechada.
Sua mandíbula aperta enquanto seu olhar escuro me queima. Posso
sentir a sua energia, ele está se segurando, as veias em seu pescoço estão
inchando.
— Eu não quero fazer nenhum mal, — eu sussurro.
Ele vira a cabeça como se não pudesse suportar a visão de mim, sua
linguagem corporal mal segurando o que quer que ele esteja segurando.
Siron olha para mim e pega seu bloco de notas, rabiscando palavras. Ele
me entrega o bilhete e eu o pego com dedos trêmulos.
Sinto pena de Apollo. Essas mentiras vêm dos lábios de um anjo.
— Eu não estou mentindo. Mas posso entender a sua desconfiança. —
Eu engulo, percebendo que pareço uma assassina treinada.
Ele está escrevendo novamente, então me entrega o papel.
Esteja avisada. Você será vigiada de perto agora. Até o momento em que
eu te liberar. Fique quieta se você sabe o que é bom para você. Você tem sorte
de eu não te prender.
Ele se vira para sair.
— Eu salvei a sua vida!
Eu mordi meu lábio.
Ele se vira tão rápido que eu ofego, a mão dele está na minha garganta
enquanto estou agora contra a parede. Seus lábios estão próximos ao
meu ouvido, e eu o ouço sussurrar: — É por isso que você ainda está viva.
Siron me deixou lá.
Eu ainda estou tremendo.
Eu me abraço, sentindo um vazio por dentro.
Ele usou sua voz, e o sussurro áspero me afetou profundamente. O
homem me odeia, isso é claro. Quando ele me beijou antes, deve ter sido
apenas por causa da confusão.
Eu toco meus lábios.
E melhor assim.
Capítulo 27
Laura esfrega a testa e pragueja. — Eu não confio no Siron, nem em
ninguém neste mundo. Como sabemos que vamos conseguir falar com
este suposto curandeiro a tempo de salvar o Apollo?
Eu fungo e não digo nada. Nós duas deitamos na minha cama como
rainhas, trancadas em nossos quartos desde o ataque.
Pelo que seus homens dizem, devemos chegar ao continente amanhã,
que então ele levará o curandeiro como prisioneiro. Siron ainda tem
esperança, não tenho certeza qual é o tipo de magia negra que o está
matando, mas talvez dê certo.
Encantado já confirmou que Apollo seria curado por esse mago. Tudo
o que devemos fazer é pegá-lo sozinho e comprar as suas habilidades de
cura, ou algo do tipo.
Não estou no estado mental certo desde que Siron entrou na minha
vida — bem, desde que ele forçou-se a entrar na minha vida. Eu só tenho
mais três semanas na missão.
Isso não é muito.
Mal posso esperar para deixar este lugar e ver Apollo novamente,
vivo. Eu só preciso vê-lo mais uma vez e logo, meu coração dói só de
pensar nele. Toda essa bagunça é minha culpa e eu devo consertá-la.
Preciso me afastar da energia de Siron porque ele está sugando toda a
minha vida. Não precisamos nos preocupar com uma fuga porque Siron
disse que me libertaria — que nos libertaria.
— Ele vai nos libertar.
Eu posso sentir seus olhos em mim. — Você realmente acredita nessa
porcaria? Dizem que ele é um homem extremamente mau. — Ela se
senta. — Você o viu sem a máscara? Ele é zuado? Super feio? Deformado?
— Não, ele nunca tira a máscara, mas duvido que seja deformado.
— É uma pena que ele não tire, — ela murmura e cai para trás.
— Por quê?
Laura ri e olha para mim. — É uma pena para nós, né? Esse homem é
absolutamente sexy. — Ela acena com a mão e lambe os lábios. — Eles
não fazem homens assim no nosso mundo.
Tento não sorrir. Eles não fazem homens como Apollo em nosso
mundo. — Eu nem reparei. — Eu ouço Mort bufar no canto e a ignoro, a
Mort não sabe de nada.
— Okay, certo. Você já está na presença dele há algum tempo. Ele é
sexy tipo o Jason Momoa, mas melhor. Ele não é um ator, mas é um cara
real, sabe?
— Mas você vê, eu sempre me apaixono pelo bad boy. Meu problema
na vida real é exatamente esse, e agora eu só preciso de um bom menino.
Eu preciso de ajuda para começar a acertar a mão.
— Sim, — eu digo, entediada com este tópico.
Ela olha para Leenie, que está fingindo dormir, mais com um olho
sempre se abrindo. — Leenie, posso ter um caso de uma única noite com
o sexy Siron? Não é contra as regras, certo?
— Pode ser, — Leenie dá de ombros.
Mort ri.
O rosto de Laura se ilumina e olha para mim. — E você tem certeza
que esse cara não é o que parece? Eu não quero ter que usar um salva-
vidas novamente se ele começar a me bater ou algo assim.
Não estou brava.
Não.
Eu me sinto bem.
— Sim, mas ele não pode falar. — Ou, pelo menos, não acho que ele
possa. Ele sussurrou em meu ouvido, mas acho que foi porque eu o irritei
muito. O homem me odeia, isso é fato agora.
Laura deveria dormir com ele sim, aposto que ele é muito bom na
cama. Não incrível, mas bom o suficiente para valer a pena.
— Ele não pode falar, hein? Por que será que eu acho isso ainda mais
sexy? Aposto que ele tem expressões matadoras então, faz umas caras de
deixar cair a calcinha. Talvez eu consiga fazer com que ele tire a máscara.
— Não acho que seja uma boa ideia, — digo, de frente para ela.
— Por quê? Você vai ficar com o gostoso do Apollo.
Eu demoro um segundo para responder. Por quê? — Porque se você
transar com ele e ele decidir que gosta de você, ele não vai querer deixar
você ir embora, e precisamos ser liberadas.
— Não, você que precisa. — Ela parece pensativa. — Leenie, se eu me
apaixonar, poderei ficar? Mesmo que não seja pelo Apollo? Porque essa
vadia daqui o levou. — Ela pisca para mim.
Leenie abre um olho e acena com a cabeça. — Na verdade, você pode
sim, se o objetivo principal for alcançado. Se o objetivo principal for
alcançado, tudo é possível.
— Mesmo?!
— Mesmo? — Eu digo, chocada, sentando-me.
— Interessante. — Laura parece que roubou as joias da coroa. Ela
olha para mim.
— O quê? — ela diz com uma risada. — Ele é gostoso, e por que não
salvar dois homens ao mesmo tempo? A Fada Madrinha Ltda, vai nos
amar.
— Se ele estiver a fim de você, vai nessa.
Ela ri, parecendo ofendida.
— Você está me dizendo que ele não tentou falar com você nenhuma
vez? Quero dizer, ele pagou uma grana preta por você, o que é bem
estranho.
— Também é estranho que ele nem mesmo tenha chegado a dar uns
amassos. Então, talvez ele não goste de você como ele pensava.
Touché.
— Ele está doente, Laura, felizmente. Eu não quero trair Apollo só
porque esse cara tem um abdômen bonito. O Apollo também tem, que
saudade. Duvido que seja o médico receitou isso para acabar com a
maldição dele. Sexo selvagem é uma medicação quando você está
morrendo? — Eu digo, inexpressiva.
Ah, sim, e ele pensa que sou uma assassina treinada e não confia em
mim, essa é a real. Nem se eu contasse que sou apenas uma Agente do
Amor da Disney. Pois é, acho que ele não vai acreditar.
— Certo. — Ela parece pensativa. — Vale a pena tentar, eu acho, —
ela diz com um olhar felino. — Meu tempo aqui está quase acabando e eu
quero tirar algo positivo disso.
— Ele me vê como uma ameaça por causa daquele pequeno e
agradável incidente de arco e flecha insano.
— Isso foi impressionante, não o culpe. Pode ter sido um pouco
demais para ficar fora do radar. — Ela me olha. — Eu teria ficado tão
chateada se você atirasse em mim, amiga. — Ela levanta uma
sobrancelha. — Que tiro arriscado.
— Sim, — eu digo e me levanto da cama exuberante. — Para a sua
sorte o Encantado me tornou uma fodona das flechas.
Laura se vira e suspira. — Eu posso cantar como um anjo, mas
ninguém dá a mínima pra isso. Definitivamente isso não me fez
conquistar o Apollo.
Mort ri muito disso. — Anjo cantarolante.
Laura olha para Mort. — A sua agente é estranha.
— Estranha é eufemismo, — digo baixinho.
A porta se abre e Mort e Leenie desaparecem em um piscar de olhos.
Há muitos homens nos dizendo o que fazer, eles estão me tratando
de forma diferente de antes. Eles me olham como se eu fosse uma
alienígena, bem, acho que sou mesmo. Eu entendo.
Não há mais o Sr. Siron Bonzinho e Fofinho, eu acho. Na verdade,
estou feliz, quero que ele me trate mesmo como lixo. Assim ele me ajuda
a sacudir essa coisa estranha que sinto por ele, essa curiosidade.
Não é nada mais do que isso e, em algum nível, acho que eu sinto isso
porque ele me lembra o Apollo. Acho que é a arrogância, a dominação
masculina que é quase irresistível para qualquer mulher.
Nada mais do que uma reação biológica.
Dizem que podemos ir ao convés um pouco antes do jantar para
comemorar as boas novas.
A boa notícia é que eles estão em contato com Merva, o Grande, e ele
concordou com os termos de Siron sobre a libertação de Eltson. Seus
homens estão sendo mantidos em cativeiro em algum lugar nos níveis
mais baixos do navio.
Pela primeira vez, estou animada.
Eu vou ver o Apollo em breve.
Ele não está morto e eu posso salvá-lo. Eu sorrio, e Laura me vê e
revira os olhos, dizendo que sou muito piegas. Não tenho certeza de
como ela sabia que eu estava pensando em Apollo, mas tanto faz.
Eu olho para o meu vestido marrom e respiro fundo. Não quero me
destacar nos vestidos de cores vivas que estavam disponíveis. Meu cabelo
está em um coque baixo e eu tentei ao máximo cobrir meu decote, mas
não consegui.
Os vestidos são feitos para mostrar os atributos femininos, sem
dúvida. Eu olho para Laura e sorrio, ela está usando um vestido rosa e
parece radiante. Bom, deixe ela se divertir.
Não preciso dos trabalhos de Encantado novamente até que Apollo
esteja melhor.
E, eu não quero ver o Siron ou chamar mais atenção para mim. E hora
de colocar as minhas prioridades em jogo. A Fada Madrinha Ltda,
depende de mim e apenas de mim.
Somos conduzidas ao convés superior para tomar ar fresco, para
contemplar a beleza sombria do mar aberto. E assustador e
impressionante ao mesmo tempo.
O vento chicoteia os minúsculos cabelos do meu coque apertado
enquanto descanso minhas mãos na grade de metal. Fechando os olhos,
respiro fundo, o ar salgado refresca a minha alma.
Essa experiência é realmente incrível, não importa o que aconteça.
Posso ouvir Laura rindo e isso me faz sorrir. Ela se transformou em
outra pessoa, e estou feliz por ela ser minha amiga agora. É uma loucura
como as coisas podem mudar rápido aqui.
Espero que ela encontre o que está procurando. Talvez eles a deixem
ficar se Apollo for salvo? Talvez todas tenham a opção de ficar, se assim o
desejarem. Terei que perguntar a Mort sobre isso mais tarde.
Vejo grandes ondas até onde a vista alcança, o enorme navio se move
para cima e para baixo a cada colisão forte. Eu me viro e vejo a tripulação
limpando o navio da batalha recente, o derramamento de sangue sendo
lavado como se nunca tivesse acontecido.
Eu matei homens aqui.
Um arrepio desce pelas minhas costas. Não pense nisso, eles eram
homens maus.
Laura está gostando de ver os homens sem camisa enquanto eles
trabalham para se limpar e limpar o navio. Posso dizer por sua risada
estridente que ela está animada.
Eu congelo.
Siron está sentado em uma cadeira alta, enquanto ele está removendo
sua camisa preta rasgada para revelar um bíceps ensanguentado e outra
pedaço de carne protuberante.
Meus alarmes sobem a níveis perigosos. Todos esses homens são
construídos como deuses? O que eles dão para os bebês aqui, pelo amor
de Justin Timberlake e de todos os outros gatos que eu conheço.
É como se seus músculos fossem feitos de titânio, à prova de balas.
Ótima genética.
Eu olho para as suas tatuagens escuras e cabelos negros e respiro
fundo. Pena que ele é um pirata, uma alma desagradável.
Eu desviei o olhar, não querendo chamar atenção para mim.
É a última coisa que eu preciso.
Eu preciso sair deste maldito navio. Eu fecho meus olhos novamente
e apenas acalmo a minha respiração. Não tenho certeza de quanto tempo
estou parada aqui olhando para o mar quando sinto uma presença ao
meu lado. Não olho porque sei quem é.
Corações sangrando.
Eu vejo suas grandes mãos bronzeadas agarrando o corrimão como
eu, enquanto eu ainda olho para a frente. Por que esse homem está me
procurando? Posso dizer que ele está olhando para mim, a minha pele
está formigando e me sinto quase nua, exposta.
Eu cerro os dentes e olho para a minha direita enquanto nossos
olhares se chocam, o olhar negro me perfurando. Eu gostaria de poder
ver o seu rosto. E muito frustrante.
Ele se aproxima de mim, deixando o meu corpo tenso.
Acho que estou olhando para ele.
Siron inclina a cabeça e puxa o seu bloco de notas. Ele escreve
enquanto olha para mim e me entrega o bilhete. Sentiu minha falta? Diz.
Se eu senti a sua falta?! Muito arrogante, e eu achei que estávamos
brigados? — Não. — Eu olho para longe.
Sei que ele está escrevendo de novo e gostaria que minha pele parasse
de zumbir. Ele me entrega um bilhete e eu pego, embora não queira.
Mentirosa.
Eu viro minha cabeça em sua direção. — Mentirosa? — Eu ignoro o
leve sorriso em seus lábios. Ele está usando uma armadura, graças a
Deus, e não está com o peito nu. Ele está flertando comigo? Tentando
fazer as pazes? Que estranho.
— Você está me provocando? Por quê?
Eu vejo seus olhos baixando para os meus seios e minhas bochechas
esquentam. Ele nem mesmo está escondendo. Desvio o olhar e ignoro
que seu cabelo preto está trançado nas costas, como um guerreiro tribal.
Não está nada gostoso.
Não.
Eu o sinto me cutucar novamente com uma nota e eu o agarro.
Você quer a mim ou ao Apollo? A escolha é sua, escolha com sabedoria.
Eu quase suspiro. Eu olho para ele e ele está sério, o sorriso se foi.
Meu coração está batendo forte no meu peito, por que ele me
perguntaria isso?
Ele sabe a minha resposta, ele sabe que eu não gosto dele assim! Ele
pensa que sou uma espiã ou algo assim e ainda está me perguntando
isso?
Posso sentir minhas bochechas esquentando e minha raiva
aumentando. Ele me entrega outra nota e eu olho para baixo, não
querendo pegar.
Siron o coloca em minha mão e eu olho para ele, o peito subindo e
descendo.
Seus olhos têm fogo quando você olha para mim.
Eu respiro devagar. — Sim, têm mesmo. — Faço uma pausa: —
Porque estou com raiva o tempo todo. — Eu recuo. — Apollo, eu escolho
Apollo. — Eu me viro e saio, isso é ridículo. A raiva dentro de mim está à
beira de ferver, tamanha a audácia desse homem. Primeiro, ele diz que
posso ir e agora está perguntando se eu quero ficar.
Eu nem sei o que fazer com isso. Estou confusa.
Eu estou caminhando.
Onde diabos estou indo? Olho ao redor do corredor que acabei de
entrar e xinguei. Estou perdida. Por quanto tempo estive andando, com
raiva?
Eu olho para trás e ele está bem atrás de mim, me fazendo ofegar. Eu
recuo contra a parede de metal e levanto minhas mãos.
— O que você quer de mim? — Acho que essa é uma pergunta idiota,
já que ele me comprou por motivos sexuais, mas sinto que há algo mais
profundo aqui.
Ele está escrevendo, parecendo chateado, sua mandíbula está tensa.
Pego o papel com dedos trêmulos.
Eu quero a verdade, pequena dançarina, e vou beijar você para obtê-la. Eu
quero provar a você que você está em negação.
Eu não acho que meu coração poderia bater mais forte, e me preparo
enquanto ele me agarra pela cintura.
Fique fria, fique fria..
Não sinta o cheiro limpo dele, ignore o quão exótico ele parece.
Como o gelo se sente se quando é engolfado pelas chamas? Acho que eles
sabem que é o fim deles.
Estou sendo jogada no fogo enquanto ainda estou viva.
Suas mãos estão aplicando pressão em meus quadris enquanto ele me
puxa para mais perto, meus seios agora estão pressionados em seu peito
duro. Eu me sinto tonta e tudo que posso ver são seus lábios perfeitos.
— Não me beije, — eu sussurro, sentindo meus olhos lacrimejarem.
Ele se inclina em meu ouvido e eu estremeço. — Então diga aos seus
olhos para pararem de implorar, — ele mal sussurra.
Eu aperto meus olhos fechados.
Seus lábios estão agora no meu pescoço e eu gemo, ou suspiro, ou
expresso meu desgosto? Sei lá.
Eu sinto meu corpo zumbir, formigar, um calor se espalha em minhas
partes baixas enquanto a sua língua me prova. Tento não fazer barulho,
mas as minhas cordas vocais não estão se comunicando com o meu
cérebro.
No momento em que seus lábios encostam nos meus, eu me entrego.
Ele está me devorando quase a ponto de eu não conseguir respirar, sua
língua mergulha na minha boca e eu estou à sua mercê.
Eu não consigo desgrudar dele; nossas bocas estão lutando em uma
dança acalorada e perigosa. Estou quebrando as regras, mas o meu corpo
não para. Eu não consigo parar. Eu não posso.
Eu quero ele. Ele me parece familiar, embora eu não tenha visto todo o
seu rosto, não o conheço há muito tempo, mas não consigo conter esse
desejo. É quase como se eu já conhecesse a sua boca.
Estamos perdendo o controle.
Eu posso sentir o seu desejo mudar, e agora ele se tornou
desesperado, frenético, selvagem. Estou pressionada com força contra a
parede enquanto sua boca se afasta dos meus lábios inchados.
Ele abre uma trilha no meu pescoço, me fazendo agarrá-lo com mais
força. Estou ofegante, agarrando seu cabelo escuro, tentando segurar em
qualquer coisa que eu possa tocar.
Sua boca está no meu decote, puxando-me para me saborear melhor.
Oh, misericórdia. O homem é cheio paixão e está quase me
assustando com isso. Nossos corações estão batendo juntos, nossa
respiração é curta e rápida.
Pego sua máscara e a arranco, querendo vê-lo por inteiro.
Ele me agarra tão rápido e me vira de costas, me deixando de frente
para a parede. Eu posso sentir a dureza dele e o calor vindo de seu corpo.
Má jogada.
— Você não tem permissão. — Veio seu sussurro áspero.
Eu o ouço se movendo enquanto um braço me apoia na parede. Ele
deve estar colocando a máscara de novo, o que me deixa lívida.
— Por que não posso te ver? Eu não me importo se você está com
medo, — eu assobio.
Siron me vira de volta, e ele está respirando com dificuldade, seu
grande peito subindo e descendo. Ele está escrevendo agora, e eu espero
pacientemente, tentando fazer com que minhas ondas cerebrais voltem a
sincronizar.
O que eu fiz? Eu realmente traí Apollo desta vez, não é? Isso me deixa
com vontade de vomitar.
Há algo em Siron que me atrai, algo seguro e familiar.
Estúpido, eu sei.
Ele me entrega o papel.
Você nega o que sente, agora?
Eu sinto meus olhos doerem e eu olho para longe. — Sim, — eu
sussurro.
Eu posso ouvir um chiado vindo de sua boca, e então ele escreve
novamente. Ele me entrega o papel depois de alguns segundos, e eu pego,
temendo o que diz.
Achei que você diria isso. Para quem você trabalha? Diz.
Eu olho para ele. — Tire sua máscara e eu direi a você.
Direi?
Eu posso ter mentido.
Ele apenas me encara, fecha os olhos e aperta a mandíbula.
— Por que você não me mostra? — Eu pergunto, engolindo o nó na
minha garganta.
Ele pega o bilhete na minha mão e escreve no verso. Ele me entrega a
nota e eu leio, meu coração vai sair pela minha garganta.
O que Apollo pensará quando descobrir que seu coração não é mais dele?
Que você está apaixonada por outro homem?
— Vá para o inferno.
Ele inclina a cabeça para mim e estala a língua. Ele está escrevendo, e
eu mal consigo ficar aqui parada e assistir, eu teria dado um tapa nele se
ele não estivesse usando uma máscara.
Não estou apaixonada por Siron. Bastardo arrogante.
Ele me entrega a nota com um sorriso. Vejo você no jantar, guarde um
pouco desse fogo para mais tarde. Estou morrendo de fome.
— Nem nos seus sonhos, — eu assobio.
Sempre quis dizer isso.
Ele se vira para mim e pisca, e então vai embora. Notei que ele está
mancando e parece estar muito cansado.
Eu não me importo. Eu me pergunto se a nossa pequena sessão de
amassos o machucou, fazendo-me sentir um pouco menos culpada.
Solto um grito e bato o pé, cerrando os punhos. Eu simplesmente
coloquei fogo no celeiro desta vez e joguei um pouco de gasolina, só para
garantir.
Fecho meus olhos, imaginando o que direi a Apollo. Não diga nada a
ele?
Sinto muito, Apollo, eu estava um pouco confusa com o Black Siron e isso
não significava nada. Pode ter havido um pequeno movimento de língua,
mas é só isso. O quê? Oh? O que é isso? Você me odeia? Perfeito.
Isso não vai acabar bem.
Como o Apollo vai querer alguém como eu depois de descobrir? Ele
ficará arrasado, repensando o que quer que sinta por mim.
— Viola!
É Laura, me fazendo relaxar um pouco. Ela se aproxima de mim com
os olhos arregalados. Eu franzo a testa para ela.
— Está tudo bem?
Ela me encara e ri. — Eu não posso acreditar nisso. — Ela balança a
cabeça. — Black Siron está apaixonado por você e você também gosta
dele! Como diabos você conseguiu isso? — Eu fico pálida. — Eu não sei
do que você está falando, — eu digo desajeitadamente, com o coração
batendo forte.
Laura coloca as mãos na cintura. — Você está em apuros, senhora.
Eu fecho meus olhos com força. — Merda, — eu assobio.
— O Encantado sabe?
— Acho que não, mas e agora? Eu poderia ter destruído nossa missão,
— digo, sentindo-me mal. — Você teve o Apollo. Olha, eu entendo que
esse cara é muito gostoso, mas você tinha o Apollo. Como você se
apaixonou por um homem mau? — Seus olhos estavam arregalados e
incrédulos.
— Não sei, — sussurro, — não acho que me apaixonei por ele, ainda
amo o Apollo.
— Garota, você não pode ter os dois, isso não funciona assim, — ela
diz e estala a língua e balança a cabeça.
— As coisas são diferentes com o Siron, e eu não consigo descobrir
exatamente como, — eu gemo na miséria. — Ele me lembra o Apollo, se
você quiser saber a verdade.
Laura franze a testa para mim e morde o lábio.
— Eles definitivamente não são iguais. Talvez no sentido físico, eu
acho. Ambos têm tipos físicos muito semelhantes, agora que eu parei
para pensar. Mas esse cara nem consegue falar! Com que língua ele falou
com você?
Ela levanta o dedo. — Pega esse trocadilho!
— Eu não sei, Laura, — eu lamento. — O que nós vamos fazer?
— Bem, esteja preparada porque o Senhor Encantado vai ficar com
tanta raiva a ponto de comer a sua bunda com areia.
— Você acha que eles têm tequila nesse navio? — Eu realmente
preciso saber.
— Espero que tenham.
Capítulo 28
— Encantado já sabe. — Mort sorri e faz uma bola com o chiclete. Eu
nem quero saber o que ela fez para merecer aquele chiclete.
Laura me olha com o cenho franzido. Eu olho para Mort e respiro
fundo, tentando encontrar a minha calma interior. — Você está me
dizendo que o Encantado já sabe sobre o meu... pequeno triângulo
amoroso?
Inferno.
Mort levanta o dedo dela e olha para nós duas. — E quem é que não
sabia? — Ela bufa e se recosta na cadeira. — Lennie, você sabia, né?
— Sim.
Mort acena com a cabeça para a minha expressão chocada. —
Encantado me disse para confiar nele e ficar fora disso. — Ela ri e
examina as suas unhas lisas. — Somos agentes treinadas, nós sabemos
tudo. Nada passa despercebido por mim.
Leenie faz uma careta para Mort. — Eu pensei que o Encantado
tivesse te contado?
Os olhos de Mort se arregalaram e ela bufou. — Não.
Lennie a nivela com uma expressão SOMBRIA.
Eu fecho meus olhos. — O que o Encantado disse? — Preciso de
palavras de sabedoria, algum tipo de sinal sobre o que devo fazer. Há
muita testosterona masculina no ar, meu cérebro está funcionando mal.
— Espera. — Mort se senta. — Deixa eu perguntar. — Ela está
digitando e piscando, carrancuda.
— Olá, aqui é Mort. Sim, eu sei que você sabe que sou eu. Uh-huh,
certo. Bem, ela está realmente confusa e muito fora de controle neste
momento.
— Ei, — eu digo irritada. — Eu não estou fora de controle Mort.
Ou talvez eu esteja. Pode ser. Provavelmente.
Ainda não encontrei aquela tequila.
— Certo. — Mort está digitando e acenando com a cabeça.
— O que ele está dizendo? — Laura pergunta. — Que sexo a três não
é permitido? — ela ri.
Eu rolo meus olhos.
Certo?
— Bem. — Mort olha para mim, — O Encantado diz apenas vá com o
fluxo, faça o que parece certo.
Isso fez Laura rir ainda mais.
— Faça o que parece certo? — Eu repito.
Mort dá de ombros. — Sim, ele disse que poderia ajudar a tirar a
máscara de Siron. Talvez ele seja muito feio e isso ajude na sua decisão.
— Isso é a cara do Encantado.
Mort encolhe os ombros novamente. — Foi ideia minha.
Lennie também está digitando. — Ok, vamos chegar à terra em breve,
daqui umas duas horas. Vamos falar com o curandeiro e decidir o que
fazer a partir daí.
Todas nós concordamos.
Laura franze a testa e cai de volta na cama. — Agora que você
conquistou os dois homens alfa gostosos, como é que eu vou transar?
Muito egoísta da sua parte.
Respiro fundo e saio para o grande deck; meu estômago está dando
nós. Laura subiu há cerca de uma hora e nossas agentes também foram
embora, para explorar a área em busca de qualquer perigo iminente.
Meus nervos me mantiveram aqui embaixo, sentindo como se
estivesse me afogando. Ainda tenho meu dilema e sinto a culpa me
comendo viva, rasgando minha alma pedaço por pedaço.
Como eu podia fazer isso com o Apollo?
Eu tremo.
Sou uma pessoa horrível, não sou digna de seu amor. Devo contar a
Apollo o que fiz e sei que isso vai partir o coração dele. Ele ficará confuso
e com raiva, magoado.
Meus olhos começam a ficar com cãibras e respiro fundo, não
querendo ceder às minhas emoções. Agora, preciso ser forte e curar
Apollo, ele merece. Então podemos resolver essa confusão em que me
meti.
Meu cabelo preto está trançado nas minhas costas, exceto por
algumas mechas que Laura me ajudou a deixar para fora, casualmente.
Meu vestido é lindo, verde claro e branco. Muito medieval com um
toque do século XXI, o estilo aqui é de tirar o fôlego.
Encantado ajustou o busto, para meu horror, é a última coisa de que
preciso agora. As vezes não tenho certeza do que Encantado está
pensando, ele não pode jogar nos dois lados aqui.
Mas estou muito exausta emocionalmente para resistir, vou deixá-lo
fazer o que ele quiser. Eu já estou no fundo do poço.
Eu sorrio. Laura tem me apoiado tanto, e eu não poderia imaginar
fazer isso sem ela. Há muitos homens bonitos e guerreiros neste navio
em que ela está O-Paraíso-da-Laura, como ela diz.
Um cara com tapa-olho e barba grande parece estar chamando a sua
atenção.
Ele é muito viril, não sei como ela pode ver o seu rosto com todos
aqueles pelos faciais. Eu posso dizer que seu corpo é perfeito, como
muitos dos homens aqui... sem citar nenhum nome. Aham.
Mas Laura está rindo, sendo ela mesma. Completamente diferente de
quando ela chegou. Posso ver por que o homem parece estar apaixonado
por ela. Que bom para ela. Pelo menos alguém aqui não está destruída
emocionalmente.
Se eu conseguir reconquistar Apollo, talvez a Laura possa ficar aqui
com ele?
Mesmo que o homem seja um assassino.
Eu olho para baixo com pavor. As chances de Apollo me aceitar de
volta são mínimas, quase nulas.
Eu cerro os dentes e caminho, acenando para alguns homens. O
enorme deck está cheio de guerreiros que parecem piratas correndo aqui
e ali, provavelmente se preparando para atracar.
Eu caminho até a grade e, ao longe, posso ver uma grande montanha.
Eu respiro trêmula e rezo para que tudo corra como o planejado.
Finalmente estamos aqui.
Eu olho para a minha esquerda e vejo Siron no convés superior como
uma criatura divina. A pele bronzeada com sua trança negra como um
guerreiro tribal cheio de tatuagens.
Seus braços estão expostos, mostrando os seus bíceps em musculosos.
Acho que se ele batesse palmas, ele criaria um terremoto com o impacto.
Ele está vestindo uma armadura preta com armas amarradas a ele,
fazendo parecer perigoso, poderoso, anormalmente... atraente.
— Pare, — eu sibilo para mim mesma.
Desvio o olhar e já posso sentir que ele me notou, os cabelos da
minha nuca estão arrepiados. Eu tremo, meu corpo zumbindo com
ansiedade.
Todas essas não são boas reações para confiar a Apollo. Eu mordo
meu lábio e cerro os dentes.
Por que Siron é tão... qual é a palavra que estou procurando? Como
Apollo. Posso sentir qualidades muito semelhantes neles, e é por isso que
acho que estou tendo problemas.
Eu fico rígida e o sinto atrás de mim.
Meu corpo todo formigando.
— É isso, você pode ser curado e então você vai me soltar, — eu digo,
tentando soar o mais indiferente possível.
Eu sinto sua mão na minha cintura enquanto ele me vira. Eu olho em
todos os lugares, menos em seu rosto, não querendo pular bem no olho
do furacão ainda.
Meu Deus, o homem cheira bem, tão bem. E como um perfume
selvagem que pode fazer o cérebro de uma mulher funcionar mal.
Eu olho para cima e fico tensa. Ele parece tão selvagem, seu olhar
escuro me prendendo enquanto ele começa a escrever.
Ele me entrega o bilhete.
Você está linda.
Eu queria dar um tapa nele. E por isso que estou confusa, confusa,
sexualmente frustrada. Sim, muito frustrada. Ele é muito bom, muito
gentil!
Ele deve saber o que está fazendo, posso ver no brilho de seu olhar.
Siron sabe o que está fazendo comigo e provavelmente não vai parar tão
cedo.
— Obrigada. E parece que você está se sentindo... bem.
Ele sorri e olha por cima da amurada para a terra que se aproxima.
Não tinha visto Siron o dia todo ontem, eu pensei que íamos jantar,
mas isso nunca aconteceu.
Achei que era porque ele estava ficando muito doente e fisicamente
não conseguia. Mas ele parece bem agora, me confundindo um pouco.
— Você ainda vai me deixar ir?
Siron olha para mim e solta um suspiro. Ele começa a escrever e
lentamente me entrega o papel. Pego o jornal como se não me
importasse. Meh.
Você acha que o Apollo vai te querer de volta após saber da traição? Você
gostaria que eu a levasse para baixo novamente para lembrá-la de que você é
minha?
Eu levanto o meu queixo e ignoro os nervos estalando pelo meu
corpo.
— Eu estava apenas projetando o que sinto por Apollo em você. É
porque eu sinto falta dele.
Isso foi frio.
Eu posso ver que ele não gostou, sua mandíbula ficou tensa. Ele leva
um minuto, então pega outro papel e começa a escrever.
Que seja. Eu vou libertar você.
Mordi meu lábio e olhei para ele, não esperando por isso. —
Obrigada, — eu sussurro.
Ele ri para si mesmo e se curva em minha direção.
Por que ele achou isso engraçado?
— Você está sendo sincero?
Ele concorda.
Siron inclina a cabeça e escreve mais, depois me entrega o papel.
Eu não minto, minha dançarina.
— O que é tão engraçado então?
Ele encolhe os ombros, fazendo os músculos de seus braços
flexionarem. Siron começa a escrever, sem pressa, surge um sorriso em
seus lábios perfeitos enquanto finalmente me entrega o bilhete. Seus
olhos parecem me queimar nessa hora.
Eu posso sentir, quase provar o quão excitada você fica quando chega
perto de mim. Seus olhos dilatam e sua respiração aumenta, sem mencionar
que posso ver os seus mamilos duros sempre que estou por perto.
Está exigindo muito controle da minha parte não consumir a paixão que
vejo em seus olhos. Mas vou honrar a mentira que você diz a si mesma, volte
para Apollo, se é que ele vai aceitar você de volta.
Eu respiro fundo e minhas bochechas esquentam como se a minha
cabeça estivesse pronta para explodir em chamas. Quer falar, mas não sai
nada. Eu posso ver o sorriso em seus lábios enquanto seu olhar baixa
para meus seios e eu me sinto nua instantaneamente. Estou tremendo
com uma emoção que não consigo descrever. Raiva, confusão, desejo,
culpa...
Ele se inclina me deixando tensa, estou congelada. Sinto seu hálito
quente quando ele sussurra em meu ouvido: — Avise-me se mudar de
ideia.
Siron se vira e assobia, alertando a todos que chegamos. Ele se foi.
Minha visão está se transformando em um túnel.
Vejo corpos se movendo ao meu redor, mas não consigo pensar com
clareza. Estou tão ferrada porque sei que vou sofrer, não importa qual
dos dois homens eu escolher.
Vou sair perdendo, de qualquer jeito.
Muito trágico.
Capítulo 29
— Fique esperta, — ouço um homem falar atrás de mim.
Eu observo entorpecida enquanto estamos ancorados, e os homens de
Siron partem para capturar o grande curandeiro.
Este pesadelo está quase acabando, eu continuo dizendo a mim mesma.
A vida de Eltson depende disso, um resgate digno pela ajuda de seu
milagreiro pessoal. Ainda era perigoso pelo que Mort estava me contando
antes de chegarmos em terra.
Tive uma sensação de nervosismo na boca do estômago.
Aparentemente, ficaríamos na ilha de Mora Veil. É uma ilha muito
pequena, mas muito rica e fora do radar.
É como um destino de férias, pelo que me disseram. Um destino para
os corruptos, um lugar para limpar uma alma suja. A riqueza de Eltson é
vasta, já que ele comprou para ele uma ilha e um castelo imponente.
Respiro fundo e olho ao redor da ilha tropical. Ainda não me sinto
bem, mas pode ser apenas a minha própria culpa nublando os meus
instintos. Terei que enfrentar Apollo em breve, e estou fugindo disso
como o diabo foge da cruz.
Minhas pernas estão bambas, ainda sentindo o oceano balançando
sob meus pés. Uma onda de tontura turva a minha visão antes que eu
possa me endireitar.
Parece passar uma eternidade antes que carruagens e cavalos venham
nos buscar. As enormes carruagens têm luzes amarelas brilhantes ao
redor, como uma carruagem espacial do futuro.
E realmente incrível ver a tecnologia de outro mundo tão diferente da
nossa.
Eu respiro novamente enquanto meus olhos observam a paisagem. A
praia era deslumbrante e as altas montanhas ao longe me lembravam do
Monte Olimpo.
Casa dos deuses gregos.
Como Apollo.
— Vamos, — Laura diz ao meu lado e sobe um pouco a barra de seu
vestido azul claro. — Antes que alguma tribo perversa surja das árvores
para nos matar.
Sério.
— O resgate funcionou, então? — Eu olho para Laura. Siron saiu
cerca de uma hora antes de todo inundo, então quem sabe o que está
acontecendo agora. Acho que eles fizeram um acordo, então?
— Eu não tenho ideia, eu acho que sim, — ela diz enquanto somos
conduzidas a uma carruagem de pelúcia.
A viagem é acidentada, deixando meu estômago ainda mais enjoado
do que já está.
— Eu realmente gosto dele.
Eu olho para ela e franzo a testa, levando um momento para meu
cérebro funcionar. — Quem?
Ela sorri, parecendo um felino. — Bem, se você não percebeu, tenho
andado com uma certa pessoa.
Meus olhos brilham enquanto eu penso. — O homem peludo?
Ela cai na gargalhada. — Eu gosto disso, e posso dizer que ele é muito
bonito sob todos aqueles pelos faciais masculinos. Ele beija muito bem.
Eu apenas fico olhando para ela. — Beija?
— Garota, você não é a única que pode se divertir por aqui.
Eu rio, colocando a mão sobre minha boca. Pelo menos alguém está
se dando bem aqui, pena que o barbudo não era o príncipe em questão.
Tenho certeza de que Laura não se apaixonaria por dois homens ao
mesmo tempo. Que pesadelo.
— Qual o nome dele?
— Ele não vai me dizer.
— O quê? Por quê? — Ela encolhe os ombros e ri. — Ele disse que me
diria em breve.
Bem, isso é estranho. — Por que diabos ele esconderia isso de você?
— Acho que ele está apenas sendo misterioso.
Eu levanto uma sobrancelha. — Um pirata cruel?
Sendo romanticamente misterioso?
Ela franziu a testa para mim.
— Isso é, — eu paro com um sorriso, — um pouco fora do
personagem. Mas, quem sou eu pra julgar? — Eu suspiro e olho pela
janela. — Eu não aceitaria nenhum conselho meu.
Faça o oposto de tudo que eu digo ou faço.
Silêncio. — Bem, eu realmente achei estranho.
Eu olho pra ela. — Tenho certeza de que não é nada.
— Pode ser alguma coisa.
Ótimo, agora estou deixando-a paranoica.
Laura se inclina para a frente. — Na verdade, acho que todo esse papo
do Siron ser um pirata implacável é besteira.
Ela continua com um olhar aguçado. — Temos sido tratados como
rainhas, Viola. Supõe-se que este homem é temido pelo mundo todo.
— Eu sei.
— Não faz sentido.
Eu concordo. — Precisamos falar com Mort e Leenie.
— Concordo.
— Outra coisa, — eu digo, — O que você acha que todas as outras
garotas estão fazendo enquanto o Apollo está em coma? — Até mesmo
dizer isso me deixa triste, a culpa está preenchendo meus pensamentos.
— Provavelmente se apaixonando por outros homens... transando. Eu
não sei. — Ela encolhe os ombros.
Eu aceno com uma risada.
— A Destiny gosta do filho daquele açougueiro, — eu lembro.
— Ele é um tesão. Eu o vi.
Eu aceno e olho para fora da janela novamente.
Laura morde o lábio. — Você acha que ele é um bandido horrível, e é
por isso que ele não me diz seu nome? Será que ele matou centenas de
homens inocentes?
Eu fico olhando para ela. — E possível. Mas ele te trata bem?
Ela acena com a cabeça.
— Então eu não sei. Você vai ter que perguntar, eu acho, arrancar isso
dele, pelo menos ele pode falar, — eu digo e sorrio para ela.
Ela ri. — Uma pequena vitória.
Chegamos ao grande palácio de pedra branca e detalhes em ouro;
grandes pilares enfeitam a entrada. Como tudo, é deslumbrante.
Homens conduzem um punhado de nós a uma linda sala de estar
com homens que não reconheço.
O homem viril de Laura, sem nome, caminha até os homens
estrangeiros em trajes elegantes em branco e ouro.
Eles estão falando em um idioma que não entendo. Mas eles estão
apertando as mãos e conversando como se se conhecessem há muito
tempo.
Laura e eu sentamos no sofá e esperamos pacientemente.
Meu coração está martelando no peito.
Eu só preciso chegar ao curandeiro e voltar para Apollo antes que seja
tarde demais. Eu tenho esse senso insano de urgência.
Eu nem sei se Apollo ainda está vivo. Eu sinto uma onda de pânico
com esse pensamento, fazendo com que meu estômago dê uma
cambalhota.
Pensamento positivo.
Parece uma eternidade quando finalmente somos levadas a uma sala
para nos refrescarmos. Preciso saber se Siron teve sucesso em ser curado.
Eu preciso daquele remédio para ontem.
— Mort na área. — Ela está de repente ao nosso lado, dando o maior
susto na Laura.
Eu me levanto da cama macia. — Mort! Me atualize.
— Então, eu acho que tudo vai como o planejado. Pelo que ouvi, Siron
já recebeu a primeira rodada de tratamentos para s suas doenças. Ele
deve ficar saudável, de acordo com o Encantado.
Ela continua: — Você precisa rastreá-lo, precisamos daquela cura para
Apollo, ou vamos perdê-lo. Não temos tempo a perder.
Posso sentir a minha pulsação martelando no pescoço. — Onde ele
está?
Mort sorri. — Me siga.
***

Eu sigo a pequena borboleta branca por longos corredores.


Estamos nos esgueirando, embora ninguém nos tenha dito que não
poderíamos deixar o quarto em que nos colocaram. Eu só queria ter
certeza de que não serei apreendida e levada de volta. Preciso falar com
Siron desesperadamente.
— Depressa, Mort, — eu assobio. As borboletas não são o inseto mais
rápido, é bastante frustrante esperar que Mort decida que caminho
seguir.
Finalmente paramos em frente a uma grande porta e Mort não voa
mais longe. Deve ser isso. — Por aqui?
Mort aparece na minha frente. — Seja rápida.
Encantado me disse que esta é a ala de recuperação e spa. É por esta
porta à sua esquerda.
Mort se foi.
Eu fecho meus olhos e rezo para que Siron seja razoável.
Por favor, deixe ele me ajudar.
Eu atravesso a porta e sinto cheiro de terra. Não é desagradável, só
falta aquela música indiana típica de spa.
Eu atravesso e vejo uma abertura à minha esquerda, uma pequena
sala com uma entrada em arco. A sala está cheia de vapor, quase como
uma sauna úmida, mas não tão intensa.
Eu ando devagar, com cautela. Odiaria invadir esta sala e dar de cara
com homens estranhos, ao invés do Siron. Eu tremo, isso seria muito
estranho.
Ops, não foi aqui que parei meu carro eu diria, e fugi.
Eu respiro fundo enquanto me aproximo lentamente. E então que
vejo o Siron deitado em uma cama com apenas uma toalha cobrindo a
sua cintura fina.
Meu rosto aquece instantaneamente.
Isso pode ser uma má ideia, e eu deveria apenas ter esperado até que
ele estivesse se sentindo melhor. Eu vou voltar e pensar melhor. Não seja
covarde.
Espero que ele não esteja morto.
Eu ando até ele lentamente e percebo que sua cor profunda de pele
parece muito saudável. Seu peito nu brilhando com as gotas de água
como cristal, fazem a minha boca secar.
Percebo que ele ainda está usando a sua máscara preta, o que me
deixa chocada. Eu me pergunto se ele alguma vez a tira? Que estranho,
talvez ele tenha várias cicatrizes.
O lento subir e descer de seu peito me garante que ele está vivendo e
respirando. Não é uma estátua grega sendo esculpida.
Cada ondulação e queda de seu músculo parece uma obra de arte,
perfeitamente lisa e dura ao mesmo tempo.
Eu mordo meu lábio enquanto encaro a sua boca perfeita.
Instantaneamente pego a sua máscara, sabendo que esta pode ser minha
única chance.
Só uma espiada.
Sua mão agarra a minha, me fazendo gritar. Ele se senta tão rápido
que mal posso perceber como ele me fez ficar embaixo dele.
Meu coração está batendo tão forte que acho que terei um ataque
cardíaco a qualquer momento. — Siron, — eu respiro, — Me solte.
Posso ver que seus olhos quase parecem confusos enquanto ele me
encara.
— Ursula?
Eu franzo a testa.
Ele está respirando com dificuldade enquanto seu olhar escuro me
fixa.
A pressão e o calor de seu corpo estão dificultando o foco. — Sim.
Embora você geralmente não me chame assim?
Eu posso dizer que ele está carrancudo, seu peito subindo e descendo
rapidamente.
Tento me mover, mas ele não se move. Respirando lentamente, tento
ficar calma, mantendo meu nível de voz. — Eu realmente espero que este
curandeiro não tenha feito nada estranho com você.
— De que diabos você está falando? — ele sibila.
Imediatamente fico alarmada.
Isto não é bom.
— Siron, — digo gentilmente, — deixe-me ir, você está me
machucando.
— Você tem dois segundos para me dizer o que está acontecendo,
anjo, — ele diz em uma voz suave.
Eu conheço essa voz.
Meu coração está batendo forte no meu pescoço, me sinto tonta. —
Do que você acabou de me chamar?
Outra voz atrás de nós comanda. — Parte. Saia de cima dela.
Siron se enrijece e olha para trás.
O homem é o pirata barbudo e peludo. Ele agora está parado bem ao
nosso lado, gentilmente tirando os pulsos de Siron dos meus. — Pronto,
tranquilo.
Estou prestes a surtar a qualquer segundo, mas mantenho a calma até
ser libertada. — O que está acontecendo? — Eu sussurro, tremendo.
O barbudo suspira alto. — É bom ver você de novo, minha senhora.
Perdoe-me por todo o engano nesse disfarce.
Meus olhos se arregalam, a voz atingindo minha memória. Não é
mais rude, mas suave e elegante. Ele tira o tapa-olho e minha respiração
aumenta enquanto tento registrar algo coerente.
— Tarren, ao seu serviço.
Eu fico pálida. — O quê? — Eu mal digo.
Ele parece muito arrependido ao acenar para Siron. — Parece que
nosso príncipe voltou à realidade, — ele murmura baixinho. — Tire a
máscara.
Eu mal posso ouvir por causa do barulho em meus ouvidos. Siron
olha para mim e algo pisca em seu olhar enquanto ele tira a máscara.
Eu grito.
Porque estou olhando para Apollo.
Pelo amor de Deus.
Eu desmaio, eu acho, porque tudo fica felizmente escuro.
Capítulo 30
Um milagre ou a pior decepção?
— Como, — eu sussurro.
Os olhos de Laura estão arregalados, quase salientes quando ela
abraça os joelhos. — Nossa.
Estou deitada em uma cama macia com Mort, Leenie e Laura
olhando para mim.
Respiro devagar, tentando diminuir a minha frequência cardíaca.
Quando o vi, foi como um choque para o meu sistema, a minha alma
deixou meu corpo por uma fração de segundo, em seguida, voltou.
— O Encantado sabia o tempo todo? — Eu pergunto a Mort.
Mort olha para Leenie. — Eu acredito que sim.
— Por que diabos ele não disse nada, Mort? — Sento-me, sentindo-
me quase traída, magoada, estúpida.
Mort parece inocente enquanto ela engole visivelmente. — Não sei,
mas se eu fosse adivinhar, acho que teria a ver com as regras da Fada
Madrinha.
— A menos que você descubra por si mesma, o Encantado pode
apenas cutucar você. Ele não pode em nenhuma circunstância interferir
com o Destino. Encantado não pode lhe dar informações como esta, a
menos que você descubra por si mesma.
— Incrível, — eu digo e cerro os dentes. — Esse tempo todo era o
Apollo, que vergonha.
Laura balança a cabeça e estala a língua. — Mas ele parecia tão
diferente com aquele cabelo escuro e roupa de menino mau. Acho que a
máscara apenas deu a ilusão de ser outra pessoa.
— Quer dizer, em retrospectiva, eu posso ver agora. Mesmo tipo de
corpo e arrogância, suponho.
— E eu acho que ele ainda tinha aqueles olhos pretos estranhos, mas
eu só pensei que era porque ele era mau ou algo assim. E, geralmente, as
pessoas de pele morena têm olhos escuros.
Ela me olha com um encolher de ombros. — Eu não sabia, Viola. Não
se sinta mal. Seus olhos viram o que você queria que eles vissem, e você
viu um assassino cruel. — Ela suspira e dá um tapinha na minha perna.
— Eu deveria saber, — eu admito. Eu deveria saber que eram os
lábios, as mãos, o corpo e a alma de Apollo, mas não sabia. Isso me fez
sentir horrível e confusa.
Respirando fundo para me acalmar, olho para as minhas mãos. Eu
estava tão obcecada em voltar para Apollo que perdi a coisa mais óbvia
bem na minha frente.
Minha culpa obscureceu o que era tão aparente.
Laura bufa. — Você não foi a única que foi enganado.
— Tarren, — eu digo.
Mort também bufa. — Esse foi um ótimo disfarce. Eu não tinha nem
ideia, ele era muito cabeludo. — Os olhos de Mort estão arregalados
quando ela olha para Leenie. — Você sabia?
— Não. — Ela corta, parecendo entediada. — Não me importei o
suficiente para notar. — Laura bufa, puxando seu longo cabelo loiro para
o lado. — Não tenho certeza se estou brava ou não, não consigo decidir.
Uma batida na porta nos deixou tensas.
Mort e Leenie sumiram em um piscar de olhos.
Laura se levanta para ir até a porta e eu prendo a respiração.
Não tenho certeza se estou pronta para ver Apollo ainda. Preciso
colocar meus sentimentos e emoções em ordem. Não quero vê-lo quando
estou uma bagunça emocional.
Eu fico tensa quando a porta se abre revelando Tarren, limpo e
barbeado, o alívio toma conta de mim. Ele está bonito, o mesmo Tarren
arrojado que pensei ser um pirata rude.
Não consigo ver o rosto de Laura, mas posso dizer que algo está se
passando entre eles. Meu coração está pulando no meu peito. Ele está
dizendo algo para ela, algo que não consigo entender. Porém, não é da
minha conta.
Eu me viro e finjo examinar as minhas unhas.
Eu mataria por uma manicure.
Eu espreito por cima do meu ombro e os vejo se abraçando, a cabeça
dela enterrada em seu pescoço. Naquele momento eu sorrio, um calor se
espalha por mim como mel.
Laura pensou que estava se apaixonando por um pirata cruel quando
era o nobre Tarren disfarçado.
Estou muito feliz por Laura porque, na verdade, estava um pouco
nervosa com o fato de o pirata implacável ser seu amante.
O destino sabe o que está fazendo.
Esse cenário provavelmente nunca se repetiria em um milhão de
anos.
Tarren levanta a cabeça e olha para mim e eu prendo a respiração. —
Tarren, — eu digo.
Ele pega a mão de Laura e a leva até onde estou, sem tirar o olhar de
mim. Tarren se senta na cadeira ao lado da cama e inala. Quando ele
inclina a cabeça para mim, ele me lembra de Apollo.
— Você está bem? — ele pergunta.
Eu fico olhando para ele.
Tarren acena com a cabeça. — Apollo está curado, — ele diz com
cuidado, e olha para Laura, em seguida, de volta para mim.
— Essa é uma ótima notícia, — eu respiro, minhas mãos torcendo
meu vestido verde pálido. Não importa o que eu esteja sentindo, são
notícias maravilhosas. Parece que um peso foi tirado dos meus ombros.
— Deixe-me esclarecer algumas coisas para você. Apollo é um homem
muito forte, dificilmente seria derrubado pelo veneno de um robô. Mas
isso o afetou mentalmente, profundamente, na verdade. — Ele fez uma
pausa.
— Quando vocês dois foram levadas, Apollo estava extremamente
doente, mas ainda era capaz de viver por pura teimosia. Descobrimos o
engano de Irena e exigimos que ela nos contasse o que estava
acontecendo.
— Foi nesse ponto que Apollo começou a dar sinais de não ser ele
mesmo.
— O veneno, — eu digo.
Tarren acena com a cabeça. — Ele ficava sombrio, sem se lembrar do
que fez Blecautes aconteciam, assustando a todos.
— Foi quando eu soube que estávamos correndo contra o relógio.
Apollo não teria um colapso físico primeiro, mas sim mental. A besta
dentro dele estava emergindo.
— Nossa, — Laura murmura. — Isso realmente faz sentido. Sempre
achei que o Apollo era diferente, sobrenaturalmente estranho até. — Ela
me lançou um olhar. — No bom sentido.
Tento não sorrir.
Tarren se recosta na cadeira. — Sim, estávamos todos muito
nervosos, sem saber quanto tempo tínhamos. Então, fingimos o coma de
Apollo e elaboramos um plano para resgatar vocês duas. — Não
queríamos que ninguém pensasse que o Apollo viria atrás de você, —
continua ele, — aconselhei que Apollo ficasse fora disso, por ser tão
imprevisível, mas ele não estava aceitando.
— Nós interceptamos o navio de Black Siron e fechamos um bom
negócio com eles. Resgate de um rei, para nos deixar ir como eles e não
soar o alarme, em poucas palavras.
Ele sorri, — Eu ainda não consigo acreditar que fomos capazes de
fazer isso em tão pouco tempo. Apollo queria ser o Siron, não querendo
que ninguém mais tivesse você.
— A mente dele não entendia que tudo isso era um estratagema, uma
farsa. Era quase como se ele não tivesse compreendido, sua consciência
não estava funcionando corretamente. Ele se perderia na trama como se
fosse real.
— Ele se lembrava das coisas, mas no momento seguinte se esquecia.
Então ele perdeu a voz um pouco antes de chegarmos a você e foi quando
sua mente deu uma guinada perigosa.
— O veneno estava tomando conta dele com o passar do tempo. Ele
estava competindo consigo mesmo, sem perceber que era Apollo e vice-
versa.
Estou atordoada, não sei o que dizer. Não sei o que eu estava
pensando, mas não era isso. Honestamente, neste mundo estranho, eu
não sabia o que diabos estava acontecendo.
— Está começando a fazer mais sentido. Mas, por que você
simplesmente não me contou? — Meu coração se compadeceu de Apollo,
percebendo agora o quão difícil deve ter sido. Ele ainda veio atrás de
mim, embora estivesse muito doente, da pior maneira.
— Ele me fez prometer que não faria isso, ele não queria que você
soubesse o quão confuso ele era.
E, na época, pensei que seria melhor se você não soubesse de nada até
que ele estivesse curado.
— Eu tinha certeza que você iria evitá-lo como uma praga, mas eu
estava errado, eu acho. Vocês dois são sempre atraídos um pelo outro.
Posso sentir o meu rosto esquentar. — Sim, bem, ele não era
exatamente o assassino malvado que pensei que fosse.
Isso porque ele era o Apollo.
Revirando os olhos.
— Sim, ele voltaria e ser o Apollo ocasionalmente. Ele estava com
tanta raiva que você estava se apaixonando por Siron. Ele tinha ciúme de
si mesmo, em certo sentido.
Tarren me olha nos olhos.
— Tive que ser eu a acalmá-lo, não era fácil. Recebi uma soco na cara,
daí o tapa-olho. Ele era uma besta, incapaz de processar que você beijaria
outro homem.
— Isso não é justo, — eu sussurro.
— Isso é manipulação, — a voz de Laura está zangada. —
Definitivamente, não é culpa dela.
Tarren ergueu as mãos. — Senhoras, Apollo não era ele mesmo. Eu
percebo isso, e agora ele também.
Eu engulo, me perguntando como Apollo deve ter recebido a notícia.
— Ele se lembrou de tudo?
— Sim.
Merda.
— Eu preciso vê-lo, — eu digo. Ele balança a cabeça, em seguida, olha
para baixo como se não soubesse o que dizer.
— O quê? — Meu coração palpita.
— Ele ainda precisa se recuperar.
Posso ver Laura olhando para mim.
— Ele ainda está doente? — Eu pergunto.
Tarren olha para mim. — Ele está zangado com você.
Eu suspiro, minha pele fica quente. — Por quê?
Mas então eu sabia o que Tarren diria.
— Ele acredita que você é a causa desse engano e ele me disse para
dizer que não quer nada com você, — ele começa rapidamente e meu
suspiro, — até que você confesse.
— Ele disse que seu engano quase custou a vida dele e dos cidadãos de
Garthorn. — O rosto de Tarren fica vermelho, — Ele está muito zangado,
tanto que me mandou aqui em vez de vir ele mesmo.
Minha boca está aberta. — Esse merdinha.
Os olhos de Tarren se arregalam.
— Aquele diabo arrogante não pode vir e me contar pessoalmente? —
Eu digo a mim mesma, enquanto meu sangue ferve.
Tarren olha para Laura em busca de ajuda, mas ela apenas levanta o
queixo.
Cumplicidade de irmãs.
Eu me levanto. — Onde ele está?
— Isso não é sábio, minha senhora.
Laura caminha até Tarren, lenta e firmemente. — Diga a ela onde ele
está. Esta não é a sua batalha, Tarren.
Ele exala e olha para mim, então, finalmente diz, — Ele tem sido um
pé no saco real. Vá buscá-lo então, — ele pisca para mim.
Eu luto contra um sorriso. Apollo não terá um acesso de raiva depois
de tudo que passei. Tenho um plano para colocar aquele menino de
joelhos.
— Mort.
— Sim humana.
Estou andando rápido para os aposentos de Apollo depois das
instruções que Tarren me deu. Eu estou fora de mim. — Precisamos
parar para um pit stop, código vermelho.
Ela está tentando me acompanhar enquanto caminha. — Código
vermelho? — Estou feliz que Eltson esteja tratando o Exército Real de
Garthorn de braços abertos. Mais três navios Garthorn chegaram hoje,
isso seria o suficiente para fazer qualquer um cagar nas calças.
Os homens de Eltson não têm escolha, eles precisam ser muito
hospitaleiros. — Eu preciso do Encantado. — Principalmente depois do
conhecimento do comércio sexual.
— Pegue a porta na sua próxima direita.
Entramos em uma pequena sala de estar, agradecidas por estar vazia.
Estou respirando com dificuldade, a adrenalina batendo forte em minhas
veias. — Eu preciso de um vestido matador — ou roupas íntimas
matadoras — seja o que for.
Ela está digitando e piscando mais rápido do que o normal. — Oh. Eu
tenho uma atualização.
— O quê? — Eu digo, impaciente. Eu só preciso ver Apollo, agora.
— Apollo está participando de uma festa agora, ele não está em seu
quarto. — Mort me olha. — É algo que Eltson fez para manter os
membros da realeza de Garthorn felizes até que eles partissem ao
amanhecer.
— O quê?! — Eu grito.
Mort ainda está digitando. — Encantado disse para você ir à festa. Aja
como se você não estivesse lá para vê-lo, jogue seu jogo de gato e rato e
depois mate-o.
Eu sorrio de repente. — Encantado, seu cachorro sujo. — Eu respiro.
— A Laura vai?
Mort revira os olhos, — Não, acho que ela está acasalando com
Tarren.
— Nojento, — eu digo. — Não se chama acasalamento, Mort. Ela está
fazendo amor, namorando, transando, são todos termos bons para usar.
Ela franze a testa. — Mamíferos na Terra, acasalam. Eu li.
— Sim, mas isso é só para animais, Mort.
Ela me encara.
— Não importa, apenas diga a Encantado para me fazer um vestido
matador. Eu posso participar da festa? — Tento não entrar em pânico.
— Oh, sim, há uma tonelada de mulheres aqui, você viu como este
lugar é grande? — ela pergunta enquanto digita.
Oh perfeito.
Aposto que elas estão ficando doidinhas com o Apollo.
Eu fecho meus olhos e amaldiçoo. Por que me sinto tão em pânico?
Acho que só preciso vê-lo e falar com ele para ter certeza de que estamos
bem. Puxa, pareço uma idiota apaixonada.
— Encantado já tem um vestido vermelho em estoque que quer usar,
só precisa ajustar ao seu tamanho. Ele precisa de cinco minutos, ele tem
dez pessoas trabalhando horas extras nisso. — Mort confirma.
— Incrível, — eu digo, andando ao redor. — Depressa, depressa, —
digo para mim mesma.
— Oh! Eu tenho algo para você.
Eu olho para Mort com uma sobrancelha levantada. — Bem, é da
Laura.
— O quê?
Duas grandes bebidas aparecem em sua mão. — Bebida de tequila —
de Encantado, a pedido de Laura.
Eu rio, cobrindo a minha boca, me sentindo tão tocada.
— Isso é incrível, — eu digo e pego uma, olhando para o copo como
se fosse o Santo Graal. — Eu realmente precisava disso, — eu rio. O gosto
é incrível, uma margarita refrescante.
Eu ouço um som de engasgo.
— Isso tem um gosto muito ruim, — diz Mort com uma careta e põe a
bebida na mesa com um calafrio.
— É delicioso, Mort, — eu ronrono enquanto bebo mais, sentindo seu
calor calmante. — Tem álcool, é provavelmente o que você não está
gostando.
Não quero ver Mort bêbada agora.
Eu preciso dela.
Bebendo a minha adorável margarita, eu espero. Amando que me
sinta tão mais calma, o estresse se foi como o vento. Obrigada, Laura. —
Preparar?
Mort digita mais, depois acena com a cabeça. — Preparar.
Giro como a Cinderela, já conheço o procedimento.
Meu vestido verde se transforma em um vestido de baile em uma cor
rubi deslumbrante. Eu suspiro, minhas mãos sentindo o tecido de cetim
que parecia ter saído do fogo do inferno puro.
— Oh, — murmuro enquanto sinto o decote em V mergulhando e a
cintura apertada. O rico tecido flui nos quadris como rubis brilhantes.
Mort começa a bater palmas.
Eu sinto meu cabelo e posso dizer que Encantado fez um penteado
digno de uma rainha. — Espelho, — eu respiro.
Mort me mostra um espelho de mão e eu rio, cobrindo minha boca.
Estou deslumbrante, o rubi dos meus lábios combina perfeitamente com
o meu vestido.
Eu sou a sedução em pessoa. Meu cabelo negro é brilhante e
empilhado no alto da minha cabeça, acentuando elegantemente meu
longo pescoço.
— Diga a Encantado que isso é incrível. — Eu olho para a minha pele
macia, minhas maçãs do rosto salientes destacadas por um blush escuro.
Meu delineador é clássicos e sensual, fazendo meu olhar descolorido
parecer brilhar.
Eu me sinto tortuosa, astuta, confiante, sexy.
— Pronto. Agora vá buscá-lo! Ponha fim a essa missão. Ninguém mais
aguenta o Encantado. — Mort me acena com a cabeça, como um
soldado.
Se isso não funcionar, nada funcionará.
Antes de sair, eu olho para trás. — Quando posso contar a ele, Mort?
Mort suspira. — Não até a décima segunda hora do dia antes do fim
da missão. Uma semana e meia.
Eu aperto meus olhos. — Isso vai ser um problema.
Mort não disse nada e saí com o coração pesado.
Eu ando sozinha, minhas saias de rubi fluindo ao meu redor a cada
passo cuidadoso. Os corredores estão mal iluminados, criando um efeito
estranho, eu estremeço. Eu posso ouvir meus saltos vermelhos e minha
respiração profunda, o coração batendo forte.
Isso pode ser ruim ou bom. Uma onda de nervosismo passa por mim
quando me aproximo da sala grande.
Não é tão grande quanto um salão de baile, mas ainda é grande o
suficiente para acomodar cem pessoas. Parece mais íntimo. A luz é muito
baixa, romântica até misteriosa.
É perfeito.
Eu entro e sinto os pelos da minha pele se arrepiarem. Os olhos estão
em mim, meu corpo formiga e meu estômago aperta. Eu respiro e passo
entre a multidão.
Estou aqui apenas para tomar uma bebida, digo a mim mesma. Um
garçom vem até mim quando chego ao outro lado da sala, perguntando
se eu gostaria de champanhe.
Eu digo, sim.
A minha visão fica turva. Pessoas aglomeram-se em todos os lugares,
mulheres em lindos vestidos e homens em suas melhores roupas.
Eu me sinto desesperada, com uma tristeza me dominando. Eu tomo
um gole e finjo não sentir nada, me perguntando se Apollo está mesmo
aqui. Tomara que ele não tenha decidido ir embora.
Eu começo a examinar a sala, precisando saber se estou perdendo
meu tempo. Em todos os lugares que examino secretamente, não vejo
Apollo e é aí que começo a duvidar da minha decisão de vir aqui.
Eu evito os avanços dos homens e faço vou até uma área de jardim ao
ar livre, para sentir o ar tropical entrando.
Eu congelo.
Eu fico na porta e vejo a forma magnífica de Apollo virada para longe
de mim.
Suas mãos estão apoiadas na grade da varanda com a cabeça baixa. Ele
parece muito chateado e provavelmente eu sei por quê.
Eu não deveria sentir uma emoção feliz por ele não estar se
divertindo com mais de vinte mulheres ao seu redor. Rezo para que ele
esteja na mesma agonia que eu.
Como se ele pudesse me sentir, ele lentamente se vira e a expressão
em seu rosto quando ele me vê é nada menos do que choque.
Descrença.
Algo cru e intenso pisca em seu olhar profundo. Meus joelhos querem
ceder, o impacto total de vê-lo sem a sua máscara me faz querer gemer,
desmaiar, abanar o meu rosto corado.
Apollo é lindo. Seu cabelo ainda está escuro, mas mais curto, em um
coque masculino bagunçado e sexy pra cacete. Um cacho solto escapou
dos confins indisciplinados.
Ele é uma beleza sombria.
Letal em muitos níveis.
Posso ver a sua pele e um pouco da parte superior do peito; sua
camisa escura sendo desfeita de uma forma quase bagunçada. Tipo, ele
nem dava a mínima para a sua aparência.
O que é ainda mais sexy na minha opinião, sem mencionar que sua
camisa está frouxa em seus quadris, mostrando a suas coxas poderosas e
a maravilhosa protuberância.
Desvio o olhar para tentar recuperar meu juízo.
Respire.
Não hiperventile.
Quando olho para trás, noto que ele está me observando como se eu
fosse uma presa. O fogo em seus olhos é quase antinatural.
Ele se empurra para fora da varanda e caminha até mim lentamente,
como um predador à espreita. Seu peito está subindo e descendo, e posso
ver as veias em seu pescoço, a mandíbula tensa.
Eu engulo e olho para ele, incrivelmente nervosa.
Ele para a alguns centímetros de mim, e eu não consigo desviar o
olhar, embora tente. Estou tremendo, meus sentidos estão acelerados.
Sinto meus olhos ardem de emoção e faço um pequeno som.
Seu olhar cintilante passa pelo meu rosto, pelos meus lábios, e então
desce para os meus seios inchados. Ele está respirando com dificuldade.
A tensão é tão densa que quase posso sentir o gosto e engasgar com ela.
Apollo pega a minha mão e gentilmente a leva aos lábios quentes, os
olhos fixos nos meus. Eu respiro fundo quando sinto sua língua girar no
meu pulso.
Ele beija cada dedo tão suavemente que pensei que poderia morrer de
tortura. A iluminação fraca em seu rosto lhe dá um apelo perverso,
perigoso.
Este homem é capaz de coisas muito ruins, coisas perversas.
— Dance comigo, — ele sussurra.
Eu não tenho voz.
Ele inclina a cabeça e pega minha mão, me puxando. Apollo me puxa
para a pista de dança mal iluminada que está muito lotada.
Mas eu não vi mais ninguém.
Uma harmonia semelhante à Sonata ao Luar soou alto no ar,
intensificando a nossa química intangível. O som era sensual,
transformando, manifestando algo bastante poderoso.
Sua mão na parte inferior das minhas costas me pressiona contra ele,
sua boca quente encosta no meu longo pescoço, mal tocando a sua
língua lá. Estamos nos movendo, balançando lentamente, graciosamente,
enquanto ele beija meu ombro. Meus olhos se fecham e um gemido
escapa dos meus lábios.
Não há necessidade de palavras.
Eu posso ouvi-lo alto e claro.
Apollo me gira, e suas mãos estão em todos os lugares que não
deveriam estar em uma dança elegante.
Eu pego um vislumbre de seus olhos na luz fraca e uma emoção
explode em meu corpo.
Ele tem um sorriso sombrio brincando em seus lábios enquanto seus
movimentos se tornam mais exigentes. Ele me puxa contra seu corpo e
me aperta agressivamente.
Felizmente, sou uma grande dançarina e me adapto a ele, sentindo a
paixão, o desejo obscuro queimando-o.
Eu vagamente percebo que Apollo é um dançarino brilhante,
dançarino sexy.
Seus lábios trilham um caminho ardente pelo meu pescoço até o vale
entre meus seios, lambendo e sugando suavemente. Eu o sinto sorrir e
ondas de calor sobem pela minha barriga.
Ele me puxa de volta e nós giramos juntos, sua mão inferior
pressionando e moldando minha bunda. Mais fios de cabelo caem pelo
rosto de Apollo, tornando-o mais sexy do que nunca.
Estou fumegando, brasas ardentes.
Com um sopro de ar sou capaz de arder em chamas
Seus lábios estão no meu pescoço, meu corpo pressionando o seu de
forma mais escandalosa. Posso sentir os músculos rígidos sob suas roupas
e o calor de seu corpo.
Ele se inclina para trás e agarra o meu rosto com sua mão calejada.
Ele me encara com uma intensidade que me tira o fôlego. Seus lábios
esmagam os meus, e ele geme.
Esse beijo é diferente, é mais profundo.
Eu sinto uma lágrima escorrer pela minha bochecha enquanto a sua
boca devora a minha. Eu mal consigo recuperar o fôlego, porque ele está
me beijando tão furiosamente. E quase como se o beijo estivesse me
punindo, me machucando.
Nós paramos de dançar no meio da pista de dança, as minhas mãos
cobrindo seu rosto enquanto nos beijamos, nossos lábios se derramando
um no outro. O chão desmorona, a realidade desmorona.
Ele é tudo para mim, eu percebo.
Apollo se abaixa e me pega, ainda movendo seus lábios sobre os meus.
Ele me segura perto e sussurra em meu ouvido, — quero um baile
particular.
Calafrios explodem por todo o meu corpo e eu mal consigo respirar.
Ele me leva embora, não me deixando escapar de seu aperto.
Eu sorrio em seu pescoço. Parece que os anos trabalhando em uma
boate vão valer a pena.
Pela primeira vez, agradeço às minhas escolhas de vida ruim.
Capítulo 31
Eu fico olhando para ele, e ele me encara.
Minha pulsação está martelando contra o meu pescoço, minha
respiração está superficial e rápida. Ele me carregou para sua suíte
master, e há uma cama enorme no meio do quarto mal iluminado, eu
noto através da névoa que preenchia o meu olhar.
O que está acontecendo?
Isso pode ir por água abaixo se ele começar a me fazer perguntas, a
névoa de luxúria pode se dissipar e abrir caminho para dúvidas.
— Quem fez o seu vestido? — sua voz é rouca e quente.
As perguntas temidas.
Mas o vestido é matador.
Eu também posso jogar duro, não vou deixar isso degringolar.
Sorrindo, inclino a minha cabeça para ele como ele sempre faz comigo.
Posso ser tímida e tentadora da mesma forma que ele, a sedução pode
surgir de muitas maneiras.
Posso senti-lo erguendo algumas paredes que irei derrubar. E hora de
sair da minha zona de conforto.
— Você gostou? — Eu pergunto o mais inocentemente possível,
fazendo uma ligeira rotação para ele.
— Acho que o vermelho é uma cor confiável.
Ele me observa, quase sem saber como interpretar a minha mudança
repentina de humor. — Você está confiante, então? — Sua voz é suave e
áspera ao mesmo tempo.
Eu dou uma risada gutural. — Oh, muito, — eu ronrono.
Ele fecha os olhos por um momento e me imobiliza. — Você sabe por
que estou chateado.
Eu ainda posso ouvir a música através das paredes, seu quarto é muito
próximo ao Salão Principal.
— Pare com as perguntas e dance comigo, — eu digo com um sorriso
que eu sei que fez os homens no passado fazerem coisas estúpidas.
Eu começo a balançar meus quadris, o champanhe me dando alguns
movimentos ousados. Eu fecho meus olhos, agradecendo às minhas
escolhas por ter um ritmo perfeito.
Eu começo a cantarolar uma música que NÃO é deste mundo, apenas
para aumentar a alegria.
Que música? Close, do Nick Jonas.
Música da boa.
Tenho uma voz decente e mal estou pronunciando a melodia. Eu me
pergunto se este mundo já ouviu algo próximo à música pop.
— O que você está cantando? — ele pergunta, em voz baixa, com os
olhos negros brilhando. Ele provavelmente nunca ouviu esse estilo de
música.
E sedutor.
Eu rio e encolho os ombros. — Você gostou? — Eu consigo segurar
uma melodia bem, eu realmente me impressiono. Se ele duvidava que eu
fosse deste mundo, isso poderia confirmar.
Eu me estico e começo a tirar os grampos do meu cabelo, ainda
balançando com a minha música imaginária. Meu cabelo brilhante cai
pelas minhas costas, e eu o sacudo antes de começar o meu canto
sedutor, cantarolando.
Apollo parece estar com tesão e em chamas.
Seu peito está subindo e descendo, a boca ligeiramente aberta.
Eu sorrio e encontro os olhos dele, cambaleando.
Apollo passou a mão pelo rosto como se não soubesse o que fazer
consigo mesmo. Seu olhar viajando para as minhas pernas. O homem
está no limite. Apenas mais alguns empurrões e ele é meu. Eu cantarolo
enquanto caminho até a enorme cama de dossel. Eu testo a robustez das
colunas e as considero confiáveis.
Eu canto de repente e olho para ele e lhe dou um sorriso de gato. Isso
é muito divertido, seduzir o homem mais sexy do mundo.
— Você está tentando me seduzir? — ele pergunta, limpando a boca.
Eu mordo meu lábio e agarro o mastro, balançando casualmente em
torno dele. — Eu nunca pensaria isso. — Isso me faz sorrir para ele, e ele
está claramente desconfortável, da melhor maneira.
Está funcionando melhor do que eu pensava e acabei de começar.
A adrenalina bate em minhas veias com a sua expressão predatória
enquanto ele me olha, suas mãos agarrando uma cômoda, os nós dos
dedos brancos. Isso só vai segurá-lo por algum tempo, eu sorrio para
mim mesma.
Encantado fez um bom trabalho, posso sentir as cintas-ligas debaixo
do meu vestido, o que não acho que seja costume aqui. Acho que o
Encantado apostou em um estilo terrestre para derrubar Apollo.
— Não vai funcionar, — a sua voz está rouca. — Eu quero que você
me diga quem diabos você é.
Não está funcionando?
Eu quase dou uma risadinha.
Homem tolo.
Este vestido de baile é grande demais para rebolar no polidance. A
minha mão se move lentamente sobre meus seios e desce até a minha
cintura, circulando em volta das minhas costas. Duvido que as garotas
sejam tão ousadas aqui, nunca.
Apollo fez um barulho áspero, mas eu o ignoro deliciosamente, sem
voltar depois disso. Ele não viu nada ainda, estou prestes a abalar seu
mundo. Não estou usando sutiã, então dançarei de topless com a minha
calcinha fio-dental e cinta-liga.
Meu pulso está batendo tão rápido que mal consigo me ouvir pensar.
O que é bom, sem pensar, apenas agir.
Eu começo a abrir o zíper do meu vestido e abro meus olhos,
travando-os com os dele, ligeiramente lambendo meus lábios de rubi. Ele
me lança um olhar de advertência, não faça isso. Eu não paro e ele dá um
passo lento em minha direção, como se quisesse me assustar e parar. —
Anjo, — ele sibila, implora. — Não faça isso.
Sem chance.
Eu me viro e deixo o vestido cair no chão, saindo dele, dando a ele
uma visão do meu bumbum amplo e tonificado. Eu me curvo e posso
ouvir sua inspiração aguda enquanto saio dos limites do vestido.
Eu me viro sedutoramente, meu cabelo comprido tocando minha
bunda. Eu começo a mover minha mão sobre minha pele sensível,
sentindo como se estivesse prestes a pegar fogo. Os momentos passam
enquanto eu respiro constantemente.
Minhas ligas são vermelho rubi com meias arrastão pretas brilhantes.
Toma essa. Elas são mais atrevidas do que eu pensava, não sendo capaz de
vê-las antes disso. Eu só podia senti-las.
Não se encolha agora.
Foi como se o tempo tivesse parado, as batidas do coração passassem.
Cubro meus seios e me viro lentamente, apoiando-me na cabeceira da
cama atrás de mim, movendo-me hipnoticamente.
A mão de Apollo está cobrindo sua boca como se ele estivesse
congelado, sem mover um músculo.
A única maneira de saber que ele não é uma estátua é por causa do
movimento de seu peito, ele parece que está prestes a hiperventilar.
Tão emocionante!
Ele deixa cair a mão, deixando sua boca aberta.
O olhar brilhante de Apollo encontra o meu e um sorriso sombrio de
repente se espalha em seus lábios.
Minha pele formiga e meu estômago aperta em resposta. Eu abaixo
em meus movimentos, em seguida, subo novamente, pressionando
novamente o mastro.
— Solte os braços, agora, — Ele ordena em um sussurro áspero,
lambendo os lábios.
Eu mordo meu lábio, notando que a protuberância em sua calça
cresceu três vezes de tamanho.
Xeque-mate Apollo.
Eu abaixo as mãos, dando a ele uma visão completa dos meus
gloriosos seios durinhos. Meus mamilos estão tensos e minha pele está
em chamas, corada.
Eu me movo antes que Apollo possa me atacar, não sendo capaz de
olhá-lo nos olhos ainda, posso sentir a sua energia aumentando, me
deixando um pouco apreensiva.
Eu agarro o mastro e subo, movendo e balançando meus quadris,
então deslizo para baixo, espalhando minhas pernas. Sou muito flexível e
ágil, algo que tenho certeza que está chocando Apollo.
Uma jogada ousada, de fato.
Eu ia dançar mais para ele, mas em um instante, estou presa à parede,
com as mãos na cabeça.
Eu suspiro quando o sinto devorar meu pescoço, em seguida, meus
seios, puxando-me para dar-lhe melhor acesso. Eu gemo, grito, ofego, me
contorço enquanto ele chupa meus mamilos.
Ele está à procura de vingança.
Meus pulsos estão presos acima de mim e estou à sua mercê.
Ele finalmente solta minhas mãos e agarra minha bunda, esfregando-
se contra mim enquanto ele me chupa e me beija em todos os lugares
que pode. Meu pescoço, queixo, ombro, lóbulo da orelha então me
levanta novamente para torturar meus seios.
Ele é uma tempestade, mal me dando tempo para reagir ou respirar.
Estou gemendo seu nome, então desesperadamente agarro sua camisa.
— Tira! — Eu ofego.
Seu olhar escuro sorri enquanto ele tira a camisa com um puxão
violento.
Santo Deus.
Apollo é como um super-herói, flexionando e torneando os músculos.
Pele sobre pele, meus seios estão pressionados contra seu peito
musculoso. A sensação é avassaladora, especialmente quando posso
senti-lo rasgando a minha calcinha ao meio com um sorriso sombrio.
O calor na minha xoxota está pegando fogo, e minha mente está em
um delicioso atordoamento quando eu sinto sua mão começar a
trabalhar lá.
Eu gozo tão forte e rápido que grito, e ele mal me tocou, pelo amor de
Deus. Este homem é sensual demais para eu aguentar. Uma mera
pequena humana contra uma criatura semelhante a Deus. As minhas
partes baixas estão atordoadas e confusas, como se estivessem acordado
em um lugar estranho, com ressaca, depois de uma festa louca.
Eu o ouço rir e o som é a coisa mais quente que eu já ouvi. — Vou
torturá-la a noite toda, — ele ameaça em meu ouvido, enviando um
calafrio instantâneo pela minha espinha. — Você quer?
— Sim, — eu respiro.
Ele dá um tapa na minha bunda, em seguida, me joga na cama apenas
para saltar sobre mim, pegando as minhas pernas e abrindo-as
agressivamente.
Eu não deveria estar surpresa com tanto tesão dele, devo tê-lo
deixado louco por essa quantidade de paixão acalorada.
Eu me sento e nossos lábios colidem, sua boca dominando a minha.
Sua língua se emaranha na minha, e posso sentir seus dentes, mordendo
e sugando em um frenesi de fogo. Estou com falta de ar.
Ele joga a minha cabeça para trás puxando meu cabelo, beijando meu
pescoço, mordendo e lambendo, chupando.
Eu suspiro, sentindo o suor pontilhando meu corpo.
Eu nunca estive com um homem que soubesse fazer um décimo do
que Apollo está fazendo. O apetite sexual desse homem é humilhante.
Eu agarro as suas calças querendo tudo dele, desesperadamente. Ele
rosna no meu ouvido e me deixa tirar as suas calças freneticamente.
Meus olhos se arregalam quando as suas calças são removidas, Apollo
em toda a sua glória. Adônis, anormalmente glorioso. Sua ereção é
enorme e está pronta.
Estou hipnotizada por um momento enquanto o vejo em meu olhar
faminto. Eu me inclino e lentamente agarro o comprimento quente dele,
vendo-o sibilar de alegria.
— Chega, anjo, — ele grasna e me puxa de cima dele, me prendendo
na cama novamente. Apollo é uma criatura dominante e extremamente
sensual.
Muito sensual inebriante.
Ele se move, e sua boca me devora lá embaixo e me leva a muitos
clímax que eu mal posso suportar.
Estou gritando por misericórdia, mas ele não para. Estou atordoada,
as sensações tomam conta da minha mente e alma.
Eu sinto que corri uma maratona.
Seus lábios estão nos meus novamente, mas seu toque é macio desta
vez, macio e amoroso. Emocionante.
Eu o sinto, seu coração e alma e eu preciso de tudo isso. De jeito
nenhum vou me afastar dele, eu fui afetada para sempre.
— Apollo, — eu respiro.
Eu sinto tanta emoção.
Apollo olha para mim enquanto me penetra, me fazendo ofegar. Ele
me come forte e rápido, apoiando-se em mim enquanto mete em um
ritmo delicioso.
Não achei que caberia, mas parece que me encaixo nele
perfeitamente. Depois daquele momento, tudo que consigo lembrar é
dele me beijando enquanto meu mundo se transforma em uma fogueira.
Com cada impulso de seus quadris, estou sendo cada vez mais
reivindicada por ele.
Estou girando de prazer quando o sinto tenso, se derramando dentro
de mim. Nós dois estamos exaustos, e ele cai em cima de mim,
respirando com dificuldade, beijando meu pescoço, segurando meu
rosto.
— Estou me apaixonando por você, — digo, com o coração acelerado.
Ele fica tenso e levanta para olhar para mim, olhos escuros são
intensos. — Se apaixonando? — ele pergunta com um sorriso infantil
repentino. Ele estala a língua.
Eu apenas fico olhando para ele, mordendo meu lábio.
Ele suspira e se levanta para olhar para mim. — Depois da segunda
rodada é melhor você saber que me ama.
O tom sombrio em seu olhar prometia que coisas impertinentes
viriam.
Capítulo 32
Eu acordo com os lábios dele nos meus.
É tão bom.
Mas o beijo apaixonado do qual estou participando no momento fica
desleixado e molhado. É agressivo e totalmente alarmante.
Acordei com dificuldade e encontrei um cachorro grande em cima de
mim, lambendo meu rosto.
'Ahh!
Eu grito quando o canino pula da cama e desaparece em uma porta
aberta à minha esquerda. Meu coração está batendo rápido enquanto
estou sentada lá, tentando juntar as peças do meu cérebro.
Eu estava namorando um cachorro, não Apollo. Acho que vi esse
cenário em um filme uma vez e tenho a sorte de vivenciá-lo na vida real.
Isso simplesmente não aconteceu. Vou levar essa experiência para o
túmulo.
Limpo minha boca, me encolhendo.
Olhando ao meu lado, posso ver que o local está vazio... vazio.
Eu olho ao redor da sala e estremeço, flashes da noite passada piscam
em minha memória. Pernas entrelaçadas, suadas, beijos quentes,
gemidos, unhas arranhando, minhas mãos presas acima da minha
cabeça, a cabeça de Apollo entre minhas pernas.
Meu rosto esquenta.
Colocando minha mão na minha testa, eu me abano.
Aquela foi uma noite que entrará para a história. Quantas vezes
fizemos sexo? Quatro? Cinco?
Apollo era implacável, sua resistência sobrepujando a minha. Eu o
imagino agora, nu com seu corpo dourado sobre o meu. Eu sorrio como
uma colegial, sentindo um frio na boca do estômago.
— O que você pensa sobre?
Eu pulo, vendo Apollo na porta. Cabelo molhado, cachos escuros
penteados para trás e uma toalha pendurada em seus quadris. Santa...
mãe... de... Deus.
Olhos escuros intensos, seu bíceps tatuado parecendo pecador. Ele
parece travesso, aquele cara que toda mãe de família diz para a filha
evitar a todo custo.
Apollo depois de um banho deveria ser proibido.
Eu engulo.
Eu gosto... quero fazer sexo, agora.
É meu pensamento inteligente.
Seu olhar baixa para meus seios e eu me lembro que ainda estou nua,
exceto pelas minhas ligas. Eu puxo os lençóis enrugados e coro
furiosamente.
Eu preciso de um espelho. Devo parecer a garota de O Exorcista,
cabelos emaranhados, olhos manchados de rímel. Eu amaldiçoo e
encolho os ombros, rezando para parecer meio decente.
— Eu estava pensando... você viu um cachorro?
Olhando para trás, Apollo acena com a cabeça. — Sim, ele saiu com a
minha camisa, não tenho certeza de como ele entrou aqui.
Cachorro esperto.
Eu rio e nossos olhos se chocam.
Eu não fiquei com um cachorro.
Ele não sabe de nada.
Apollo se aproxima de mim e se senta na cama, seu grande corpo tão
perto do meu. Eu posso sentir o cheiro limpo dele e isso está me
deixando selvagem por dentro. Fique calma. Fique calma.
— Nós precisamos conversar.
Eu suspiro e seguro o lençol contra mim, me sentindo muito
vulnerável. — Sim nós precisamos. — Eu olho para baixo, não tenho
certeza de como lidar com isso.
Apollo levanta meu queixo com a mão me fazendo olhar para ele. —
Quem é você, anjo? Vamos começar por aí.
— Quantos dias até estarmos de volta a Garthorn?
Ele franze a testa. — Cinco.
— Eu vou te dizer em oito dias, por favor, me dê um pouco mais de
tempo, — eu imploro, vendo a flexão de sua mandíbula.
Ele expele um suspiro. — Você está em apuros? Estamos lidando com
Irena e sua bruxaria, ela será julgada no próximo mês.
O alívio passa por mim. — Notícias maravilhosas. Mas não, e não sou
uma ameaça, e não acho que estou com problemas.
Regras absurdas.
Ele se levanta e se senta mais na minha frente. — Então por que você
não pode me dizer agora? — Eu fecho os olhos. — Você vai entender
quando eu te contar, é muito complicado. — Eu mordo meu lábio, — Tão
complicado, mas você tem que apenas confiar em mim.
Quando abro os olhos, Apollo está me estudando, vendo através de
mim. Ele olha para baixo e suspira.
— Oito dias e nada mais, se essa for a minha única opção. — Ele
estende a mão para mim e me puxa para mais perto, as mãos nas minhas
coxas. Seus dedos brincam com a liga sob o lençol e ele olha para mim.
— Onde você arranjou isso aqui? — sua voz está mais baixa.
Eu respiro. — De onde eu venho, — digo com cuidado, — os homens
realmente gostam dessas coisas, chama-se cinta-liga.
— De onde você é, você está me dando pequenas dicas?
Eu coro. — Sim.
— Os homens gostam disso, você diz? Os homens viram você nisto?
— Seu olhar é sério, sem piscar.
— Não. No geral.
Posso ver o músculo de seu antebraço relaxar. Apollo não parece ser
do tipo que compartilha, ele é mais daquele estilo, toque minha mulher,
e eu cortarei sua garganta.
A mão de Apollo está massageando lentamente minha coxa. — Por
falar em outros homens, você se apaixonou por Siron.
— Que era você, — eu aponto.
— Você não sabia disso.
— Aparentemente, nem você, — eu digo. — Como você está se
sentindo?
— Estou bem, — diz ele. — Qual dos dois você escolheria?
Isso o está realmente incomodando, eu posso dizer.
Eu expiro um suspiro. — Ambos.
Ele levanta uma sobrancelha. — Me perturba que você daria seu
coração para outra pessoa.
— Apollo, era você. Se você viesse para mim em disfarces diferentes,
provavelmente eu iria me apaixonar por cada um deles, — eu admito. —
Você é irresistível para mim.
Isso pareceu funcionar. Apollo me empurra para baixo na cama e se
inclina sobre mim, seu cabelo molhado fazendo cócegas no meu ombro.
Parece mais claro, como se a tinta estivesse saindo.
O peso de seu corpo faz a minha pele formigar, o calor de seu corpo
me engolfando.
— Eu sei que você não é daqui eu sabia disso há muito tempo. — Seus
lábios beijam meu ombro. — Eu quero me importar, ficar com raiva,
exigir que você me diga agora. Mas acho que não me importo como
deveria. Estou quase temendo isso.
— Você está com medo disso?
— Não quero que me diga algo que afete o que sinto por você, — ele
admite.
Eu engulo, rezando para que ele seja compreensivo, ou ficarei
arrasada. Pela primeira vez, estou tendo pensamentos de pânico de que
ele não aceitará o que tenho a dizer com facilidade. Isso me assusta.
— Porque eu nunca me senti assim por uma mulher, foi como se eu
fosse atingido por um raio quando eu vi você. Tentei lutar, mas não
consegui. — Ele me olha com um sorriso malicioso. — Não consegui tirar
os olhos do seu vestido rasgado naquele primeiro dia; sua pele estava
molhada e pude ver seus mamilos através do material.
— Lembro-me de quase me esquecer de como falar, o que nunca
aconteceu. Isso correu em meus ouvidos quando você me deu seu
primeiro olhar desafiador. Eu queria provar aquele fogo.
Sua língua gira na minha pele e abaixa sua voz, — Eu queria tanto te
foder que até doía. Acho que sonhei com você todas as noites desde
então, nua na minha cama, assim. Achei que estava perdendo minha
sanidade.
— Foi tão estranho para mim, foi como se você tivesse me
envenenado. E você é a única cura. — Ele fez uma pausa para chupar a
minha pele. — Você não colocou um feitiço em mim, não é?
Acho que ele está realmente perguntando, o que me faz rir. — Não, eu
não coloquei.
Embora a minha costureira esteja certa. Estou surtando por dentro,
com as coisas que ele está dizendo.
Eu não fazia ideia. Acho que Encantado estava certo quando disse que
Apollo gostou do traje de naufrágio.
Apollo admitir isso para mim torna tudo tão real. Nós dois estamos
profundamente envolvidos. Tenho tanta emoção dentro de mim que me
assusta.
Ele move o lençol e sua grande mão está na minha barriga lisa,
massageando lentamente. Eu realmente gostaria de ter um espelho
agora. Estou me sentindo um pouco constrangida no momento. Porém,
quando ele olha para mim, é como se eu fosse a mulher mais bonita do
planeta.
Eu sinto a sua mão perto da parte inferior do meu seio, deixando-me
tensa, a pele formigando. — Eu quero você, anjo.
— Eu também quero você, — eu mal digo.
Apollo inclina a cabeça para mim e respira fundo, seu peito
musculoso subindo. — Eu quero você como minha esposa.
Ele segura meu seio pesado, apertando-o. — Sim, — eu gemo, foi
tudo o que pude dizer.
Apollo geme enquanto belisca meu mamilo. — Você é tão linda.
Nunca vi uma mulher balançando em um mastro como você. Eu quero
mais.
Abro os olhos e olho para ele, respirando com dificuldade enquanto
ele massageia meus seios. — Tem certeza de que pode lidar com isso? —
Eu ofego.
Ele aperta meu mamilo com força.
Eu grito e pulo, rindo, movendo-me para o outro lado da cama. —
Fique longe, não consigo pensar quando você faz isso.
Apollo sorri e ajusta a sua toalha. — Você está nua. Não consigo tirar
isso da minha cabeça.
— Você me pediu em casamento, concentre-se, — digo com uma
risada.
— Eu acredito que você já sabia disso, anjo. Quero me casar com você
em oito dias, — diz ele.
O medo toma conta de mim.
Depois que eu contar a ele.
Apollo inclina a cabeça. — O que você acha?
Tento acalmar meus nervos. — Perfeito, — eu sussurro.
— Eu não quero perder você, — ele agarra minhas pernas com um
movimento e me puxa de volta para ele. Eu suspiro quando ele me
imobiliza novamente.
— Quando eu era Siron, pensei que tinha te perdido para outro
homem. Isso me fez ir para lugares escuros. Nunca mais quero sentir
isso.
— Bem. — Eu digo, amando o cheiro dele, sua pele dourada tão
tentadora. — Contanto que você não planeje ser outra pessoa de novo,
isso não deveria acontecer.
Sua cabeça se inclina e beija meu pescoço como se ele não pudesse
evitar.
— Você vai fazer algo sobre o comércio do sexo?
Ele se inclina e acena com a cabeça. — É um negócio pesado, mas
quando voltarmos, reunirei nossos aliados para derrubá-los. — Galeão
queria guerrear conosco até que descobrissem sobre a traição de Irena a
seu pai. Eles vão querer tirar quem sequestrou as suas filhas, você pode
ter a minha palavra sobre isso.
Fechei meus olhos, vendo todas aquelas garotas inocentes. —
Obrigada Senhor.
Em um segundo, os lençóis são arrancados de mim e Apollo cobre
meu corpo com o dele. — Apollo! — Eu grito, rindo. Minhas pernas estão
abertas, enroladas em sua cintura. Pele com pele, se você me entende.
Meu rosto esquenta.
Ele geme, esfregando os quadris.
Meu corpo se inflama.
— Eu não me canso de você. Mas, eu tenho que comer alguma coisa,
agora; estou com fome, — ele murmura. — Morrendo de fome, na
verdade.
— Você está com fome? — Eu pergunto, confusa. Tivemos muita
atividade durante toda a noite, sem alimentação. Apollo é um homem
grande.
— Sim, morto de fome. — Ele se inclina para trás e sorri. Apollo de
repente agarra minhas coxas, puxando-as sobre seus ombros. Sua cabeça
está entre as minhas pernas, eu mal tive tempo de assimilar.
Eu suspiro, sacudindo de prazer. Parece surreal, a minha visão
escurece enquanto sinto sua boca escaldante me devorar.
Devemos sair ao amanhecer.
Acho que podemos chegar um pouco atrasados hoje.
Capítulo 33
Saímos há alguns dias. A jornada é sempre longa quando se tem um
véu de culpa pairando.
O medo penetra em cada poro do meu corpo.
Estes são os últimos dias — tudo já está quase acabando.
Estou feliz e sorrindo por fora, mas por dentro estou gritando. Sinto-
me enjoada, o nervosismo está tomando-me como refém. Não consigo
dormir e quase não consigo comer, sentindo a minha condenação se
aproximando.
Apollo parece muito feliz.
Tenho certeza de que as escalas no radar da Fada Madrinha estão
acima de cinquenta por cento agora. O mal está acabando, as pessoas
estão começando a prosperar, o manto do caos foi levantado com a
captura de Irena e seu exército das trevas.
Será que o Apollo ainda vai me querer?
Essa é a questão.
Eu fechos meus olhos, com força e respiro constantemente. Quero
dizer, outros homens no passado aceitaram bem a informação das missão
secreta e viveram felizes parei sempre. Apollo pode fazer o mesmo.
Acho que ele aceitará bem o suficiente, mas não tenho certeza. Apollo
podia se sentir enganado, traído em certo sentido, como se o meu amor
fosse apenas uma atuação.
Espero que não. Ele pode nem acreditar em mim. Tenho certeza de
que a Fada Madrinha Ltda, terá que me dar algo para provar a ele que eu
sou quem digo que sou, e não uma lunática.
Eu olho para o oceano enquanto nos aproximamos da terra à frente.
Sinto braços em volta da minha cintura, me deixando tensa, então
suspiro quando sinto seus lábios no meu pescoço. — Por que você está
tão carrancuda? — Apollo sussurra.
Eu sorrio, escondendo meu pânico interior. — Nada, estou apenas
feliz por sair deste navio.
— Você está nervosa?
Eu olho para ele. — Por quê?
— Nosso anúncio de noivado será feito em dois dias, — diz ele com
um olhar aguçado. Apollo funga em meu pescoço, me inspirando.
Eu engulo.
Ele vai dar a festa de noivado no mesmo dia em que vou contar meu
grande segredo. Por que ele faria isso? Só me pressiona ainda mais.
Talvez Encantado tenha um jeito gentil de dizer a ele que sete
mulheres de outro planeta estão aqui, e foram enviadas na esperança de
ganhar o seu coração obscuro e rebelde, para que você não estragasse tudo
para o resto do universo.
Sim.
Tenho certeza que ele vai aceitar isso bem.
— Diga-me, anjo.
Eu balanço a minha cabeça e forço uma risada, me virando para
encará-lo. — Não há nada de errado, — murmuro e fico na ponta dos pés
para beijá-lo. Humm. Ele é delicioso, cheira a ar fresco e sabonete.
Ele me beija de volta e morde levemente meu lábio, sorrindo para
mim. — Sabe, você pode apenas me contar o seu segredo agora. Você está
me deixando com medo de ser alguma coisa que eu não vou gostar.
Eu respiro fundo. — Eu não posso te dizer ainda — Sim, eu estou
ciente. Você continua dizendo isso, mas também está toda séria comigo
desde que zarpamos. Dói ver a agonia em seus olhos.
Eu fecho meus olhos e forço um sorriso. — Só espero que você seja
compreensivo.
Ele inclina a cabeça para mim. — Você diz que não quer me
machucar. Você diz que veio em paz e que não representa nenhum dano
físico a ninguém. Então, por que eu não seria compreensivo? Quão ruim
pode ser?
— Bem... é um pouco bizarro.
Apollo levanta uma sobrancelha e parece pensativo. — Você tem algo
bizarro para me dizer? — Ele está sorrindo agora.
— Você foi criada por lobos? Você é realmente uma fada mística? —
Ele me encara com um olhar severo. — Você já foi um homem?
Meus olhos se arregalam em choque. — Não! — Eu bato em seu
bíceps.
Ele está rindo e encolhe os ombros. — Você está me fazendo pensar
no pior.
— Não, eu sou mulher desde que nasci.
Essa é a única coisa da qual tenho certeza neste momento.
Ele me agarra, e logo suas mãos estão alisando a minha bunda. — Oh,
eu sei que você é mulher, anjo. Só estou brincando com você.
Eu gemo quando ele me beija novamente, os lábios quentes
movendo-se sobre os meus, olhos escuros brilhando. Ele se afasta e me
dá um tapinha no nariz.
— Eu tenho que ir. Eu vou te encontrar mais tarde, seu pai quer vê-la
imediatamente. Não consigo imaginar por quê, — diz ele com uma
piscadela.
Puxa, ele é tão bonito.
Eu o vejo sair com uma sensação de mal estar.
Lá vamos nós.
Sou saudada como se fosse uma celebridade.
Meu pai me abraça e chora, dizendo que sente muito por Irena. Sou
escoltada por toneladas de guardas como se carregasse as joias da coroa.
Para ser honesta, é tudo um borrão, só consigo pensar em como vou
contar a Apollo. Eu tento me acolher, me sentindo perdida.
Isso é perfeito demais.
Esta é uma verdadeira fantasia que virou realidade.
A calmaria antes da tempestade. Essa frase me assusta, porque eu sei
que é verdade. Tudo isso pode desabar em alguns dias.
Não posso me permitir ser feliz até saber que Apollo ficará bem
comigo, mesmo eu sendo uma agente da Fada Madrinha Ltda.
Eu chego ao meu lindo quarto e tomo um susto.
Encantado
— Encantado, — eu respiro.
Mort aparece repentinamente ao lado dele.
Ele parece impecável, usando um terno listrado perfeitamente
ajustado. Claro, Encantado teria roupas da moda, o homem é tudo o que
há de mais elegante e o melhor estilista de roupas de todo o Universo.
— Respire.
Eu respiro e não digo nada, chocada ao vê-lo aqui.
Ele se encosta na parede com a mão descansando elegantemente no
bolso, como se estivesse em um anúncio da Armani.
— Este é o seu briefing — Fim do Jogo, — e estou feliz em dizer que o
fizemos. A fada madrinha está emocionada, ela sabia o tempo todo que
você ia ganhar. — Ele aponta para mim.
Eu franzir a testa. — Como? E ainda não acabou.
Ele sorri e acho que seus dentes brilham. — Verdade, você ainda tem
mais um obstáculo.
Como ela sabia que você era a escolhida? Pela sua rara cor de olhos.
Ele acena com a cabeça para a cadeira ao lado da janela. — Acho
melhor você sentar.
O medo se instala.
Vindo de Encantado, isso nunca é bom.
Eu encontro a cadeira e me sento, entorpecida.
Encantado olha para Mort e depois de volta para mim. — Você é a
filha perdida de Galeão.
Eu bufo. — Sim, acho que sei disso agora.
Ele balança a cabeça. — Não, a real.
Eu fico olhando para ele.
Eu rio e sorrio. Esse cara.
Encantado sorri também. — Estou falando sério.
— Espere, — eu levanto. — Do que você está falando?
— Sente.
Eu sento, com o pânico crescendo em meu peito.
— Isso é muito raro. Só aconteceu uma vez antes, na verdade, mas
nossa fada madrinha soube imediatamente.
Ele continua: — Você caiu através de um portal quando era criança,
feito pelas artes negras de Irena. E o destino a trouxe de volta ao seu
devido lugar, isso bastante incrível se você me perguntar. Este trabalho
nunca para de me surpreender.
Estou respirando com dificuldade.
Sem chance.
Não é possível.
— Você não é da Terra, mas daqui mesmo, a sua suposta mãe sem
coração nunca te abandonou no Texas, você foi erroneamente banida, —
diz ele. — Você foi encontrada pelo corpo de bombeiros e depois viveu
um tempo em lares adotivos.
— Eu não acredito nisso.
— Eu tenho o seu DNA. Seu pai biológico é o Rei do Galeão. Não
precisamos fingir nada. — Ele joga alguns papéis na mesa, com uma
piscadela. — Leia se quiser.
— Você poderia ter falsificado.
Ele ri. — Não há razão para falsificá-lo, não haveria razão para
mentirmos. — Ele se encosta na parede. — Acredite em mim, não tenho
tempo para inventar cenários falsos como este. Não é isso que
pretendemos, e acho que você sabe disso.
Eu olho para os papéis que confirmam a minha histeria. — Como?
— Irena deveria apenas ter matado você. — Ele sorri: — Que bom que
ela não fez isso, mas parece que o destino tinha outros planos para você.
Você estava destinada a voltar.
Mort diz: — Por essa eu não esperava.
Isso significa que o rei é meu pai de verdade.
A emoção arde em meus olhos, não tenho certeza de como lidar com
essa informação. Eu tenho uma família? A palavra família é tão estranha
para mim, eu nunca tive uma. Sinto uma lágrima escorrer pela minha
bochecha.
— Eu não consigo acreditar.
Estou tonta.
Encantado acena com a cabeça. — Você é um garota durona, vai
superar isso. — Ele pisca para mim: — Esta é uma notícia muito boa para
você, alguém sem família agora tem uma de verdade. — Encantado sorri
e se aproxima de mim.
— E agora temos que falar sobre o seu último dia aqui, não tenho
muito tempo, pois devo ver todas as outras garotas ainda hoje. Se você
conquistar o coração de Apollo no final, as outras mulheres terão a opção
de ficar ou ir.
— É o nosso pequeno agradecimento pela participação deles. É uma
surpresa no final para elas, sacou? Elas não sabem disso até que eu fale
com eles.
Eu limpo outra lágrima, sentindo como se estivesse na zona do
crepúsculo. — Há muita responsabilidade nas minhas costas, então.
— Muita, então não bagunce.
Eu pisco para ele.
— Todas as competidoras se encontrarão ao amanhecer na costa sul.
A propósito, isso não é negociável. Nosso navio Fada Madrinha partirá
após o amanhecer, daqui aproximadamente sete horas.
— Todas as competidoras estarão a bordo, incluindo você. A única
maneira de você escapar é com o Apollo vindo atrás de você. — Ele
continua: — Se ele chegar tarde demais, a magia termina. Fim de jogo.
Eu engulo, sentindo meus nervos dispararem. — Como eu vou
convencê-lo?
Ele balança a cabeça e puxa algo de uma caixa de veludo azul. — Isso é
chamado de — Colar Místico.
Encantado ergueu o colar mais lindo que já vi. É um colar de coração
de diamante, com um grande centro de cristal de cobalto. Ela cintila e
brilha como água tropical sob a luz do sol.
— É lindo, — eu respiro.
— Agora você faz parte da equipe da Fada Madrinha, querida, o que é
uma grande honra. Este colar é o seu presente para vencer a competição,
se você conseguir convencer o Apollo, é claro. Você deve usá-lo com
orgulho.
Este medalhão nunca pode ser quebrado e permite que você entre em
contato com a Fada Madrinha Ltda, se for necessário.
— Vocês ainda mantém contato com todos as vencedoras?
— Sim, gostamos muito das nossas queridas. Vocês tem um
relacionamento duradouro conosco.
Somos uma família aqui e nunca abandonamos ninguém.
— Eu mencionei que temos uma festa de Natal matadora para a qual
todas as vencedoras são convidadas?
— Embora no ano passado a elfa do Papai Noel Sexy tenha posto fogo
no vestido da Cinderela. Não é brincadeira. Os elfos não podem beber
uísque, eles soltam fogo pela boca, ao que parece.
Meus olhos se arregalam, em choque.
Inacreditável.
Eu balancei a minha cabeça. — Como isso me ajuda com Apollo, esse
colar?
— Quando chegar a hora certa, deixe-o tocar nisso, — continua
Encantado, — Isso lhe dará uma visão muito real de quem somos e de
que você está dizendo a verdade.
— É uma visão muito convincente e ele não vai duvidar de você.
Eu mordo meu lábio, em seguida, aceno com a cabeça e pego o colar
de Encantado. Ele brilha e cintila. O peso me faz sentir como se fosse se
despedaçar se eu o deixar cair. Ele me ajuda a prendê-lo no pescoço.
— Tenho fé que Apollo virá atrás de você.
Eu rezo para que ele esteja certo.
— Caso contrário, estaremos todos fora do mercado.
Capítulo 34
É isso.
É aqui que tudo vai começar ou terminar.
— Encantado diz que este será o último vestido que ele fará para você,
— Mort diz enquanto ela digita e pisca. — Ele também diz que foi uma
honra.
Meu vestido de noivado.
Pego o colar místico que está pendurado no pescoço e o aperto.
Finalmente chegou a hora, devo ser escoltada em breve.
April, Destiny, Ivy e Laura vieram até mim mais cedo me desejando
boa sorte. Todas eles encontraram um lar aqui, exceto Cherie, mas tudo
bem. Ela teve o melhor momento de sua vida, aparentemente, não se
arrepende de nada.
Não vi a April durante toda a minha jornada aqui, sendo uma escrava
e tal. Mas quando eu a vi, ela parecia selvagem e livre, muito diferente de
quando eu a Conheci, a pequena duende-fadinha tímida.
Ela ficou tão feliz por mim, dizendo que era para ser assim.
Encantado tinha contado a elas sobre eu ser daqui o tempo todo, a
verdadeira princesa perdida.
Este lugar é onde tudo começou para mim, o destino me trouxe de
volta.
E Destiny está apaixonada por um homem muito bonito e parece
feliz.
Ivy também passou a adorar aqui. Eu esqueci que as meninas estavam
todas vivendo as suas experiências aqui também, eu não sou a única que
saiu por cima.
É por isso que preciso conquistar o Apollo hoje.
— Diga a Encantado que a honra é minha.
Uma pontada de tristeza me invade. Sentirei falta dele, especialmente
de Mort. Eu me sacudo, não querendo pensar nisso ainda.
Eu começo a girar, sem precisar que Mort me diga. Minha pele
formiga e brilhos cintilam ao meu redor.
Isso nunca deixa de ser excitante, enquanto eu suspiro, sentindo a
pele quente.
Eu olho para baixo e apenas fico olhando. Agora estou vestida de azul
Cinderela, um vestido cintilante que deve ter ser ainda mais lindo que o
da princesa da Disney. Minhas mãos tocam o tecido mágico e eu suspiro,
me sentindo uma deusa.
É lindo, como tudo o que Encantado faz. O decote tomara-que-caia
me expõe o suficiente para seduzir sem perder o charme.
Eu toco meu cabelo. As mechas negras giram e giram em minhas
costas, brilhando como se estivessem encantadas. — Espelho, — eu
respiro.
Mort está segurando um espelho na minha frente e eu respiro fundo.
— Encantado realmente quer que você tenha a melhor chance, —
Mort sorri.
Eu olho para ela e levanto uma sobrancelha. — O pior é que eu devo
tudo a ele, vou confessar. Se isso não funcionar, nada teria funcionado.
Eu toco meus lábios carnudos, um tom nude brilhante. Meus cílios
são pretos como fuligem, contrastando com uma sombra perolada. Eu
pareço angelical.
— Eu não acho que você pode ficar mais bonita do que isso, — ela
concorda.
— Obrigada, Mort.
— Sem problemas, humana.
De repente, a abraço, fazendo Mort suspirar. Seu corpo rígido relaxa
lentamente, então me abraça de volta com um aperto forte. Nós ficamos
ali abraçadas antes de eu me afastar.
Posso sentir meus olhos doerem de lágrimas, mas vou engoli-las. Não
posso dizer nada a ela ou vou chorar, e acho que ela sabe disso.
Ela acena para mim, então eu me viro para sair quando ouço uma
batida na minha porta.
Eles estão aqui para me escoltar até o salão de baile, onde me
encontrarei com Apollo. O anúncio já foi feito esta manhã.
Posso ver que os olhos dos guardas se arregalam ao me ver, o que me
dá um pouco mais de confiança.
A longa caminhada até o salão de baile parece durar uma eternidade.
Minhas saias balançam e brilham enquanto caminho, tentando acalmar a
minha respiração.
Viro a última esquina quando vejo Apollo conversando com um
grupo de homens, de costas para mim. Seu cabelo está de volta ao seu
esplendor platinado normal, cachos escapando no rosto.
Ele está vestido com roupas elegantes de Garthorn, medalhas e faixas
de azul cobalto em cima de um temo preto austero. Meu coração bate
forte o tempo todo. A beleza desse homem sempre me fará refém.
Ele se vira, com uma risada brincando em seus lábios.
Apollo me vê e minha respiração engata.
O sorriso em seus lábios lentamente desaparece enquanto seu olhar
escuro me devora. Então nossos olhares se chocam e eu estou perdida,
estou nadando no abismo escuro que é seus olhos.
Sua boca se abre e a inclinação de sua cabeça faz meu estômago
torcer.
Ele caminha até mim, nunca tirando seu olhar escuro de mim.
Agarrando minha mão, Apollo a beija como se fosse a primeira vez que
estivéssemos fazendo contato.
Meu coração se contrai, a sensação de seu toque gentil me destrói.
— Você, minha querida, parece uma deusa. Esse é o seu segredo,
então? — ele pergunta em voz baixa.
Eu fecho meus olhos e aceno. — Exatamente.
— Do jeito que você está esta noite, eu realmente não tenho certeza
se você está falando sério ou não.
Ele me puxa para perto, onde posso sentir o calor de seu corpo. —
Você me hipnotiza. Acho que é difícil respirar quando estou perto de
você. Eu sinto que você não é real.
Não é real.
Eu me encolho.
— Posso te contar meu segredo agora? — Eu sussurro, precisando
tirar isso do meu peito.
— Depois de uma dança e champanhe, não há pressa, anjo, — Apollo
insiste enquanto puxa meu braço sem esperar por uma resposta.
Entramos no salão de baile e todos batem palmas. Eu sorrio, à beira
de um ataque de pânico. Apenas deixo Apollo me conduzir, rezando para
não cair e morrer de insuficiência cardíaca.
Que tensão.
Dançamos enquanto todos nos observam com admiração. Ele me gira
em torno do salão de baile gótico, a sensação de suas mãos em mim faz
todo o resto desaparecer por uma fração de segundo.
Meu vestido brilha e cintila como diamantes na luz fraca. Finalmente,
a dança acabou. Eu sinto que tudo aconteceu em um piscar de olhos.
Talvez eu não esteja pronta.
Não importa se eu não estou pronta, deve acontecer.
Está na hora.
Apollo está me levando para os jardins, o ar fresco da noite está
beijando meu rosto corado. Cada batimento cardíaco está ecoando em
minha mente, meus dedos ficam dormentes.
Sento-me em um banco de pedra enquanto ele anda como se não
pudesse ficar parado.
— Tudo bem, que coisas estranhas você vai me dizer?
Meu coração está batendo forte enquanto respiro constantemente. É
hora de arrancar a bandagem.
— Eu não sou daqui. — Eu digo.
Apollo olha de lado para mim, em seguida, levanta uma sobrancelha.
— Eu deduzi isso, anjo.
Eu concordo. — Certo. Bem, eu não sou deste planeta.
— Como é que é?
— Eu não sou deste planeta, Apollo. Fui enviada aqui em uma missão
com cinco outras meninas, uma missão que envolveu você, — deixo
escapar, e coro. Isso pode não ter soado do melhor jeito.
Ele apenas me encara com uma careta você está louca.
— Eu sei o que você está pensando—
— Não, não precisa, confie em mim.
Posso sentir sua raiva começar a aumentar.
— Eu expliquei muito mal, mas você não me deixou terminar.
Apollo solta um suspiro. — Eu provavelmente poderia concordar com
essa avaliação.
Ele continua erguendo a mão, me silenciando. — Você é de outro
planeta? Você está tentando me fazer de idiota? Depois de tudo o que nós
passamos?
— Não! — Eu grito, me levantando. — Eu sou de um planeta
diferente, se chama Terra. Você queria a maldita verdade e aqui está!
— Terra? Então, você não é Ursula, a princesa perdida do Galeão? —
Ele pergunta, o peito subindo e descendo.
— Bem, na verdade sou sim, — eu começo rapidamente, — Preste
atenção, porque só vai ficar mais complicado. Irena me baniu e me jogou
por portal quando eu tinha quatro anos e eu acabei pousando no planeta
chamado Terra.
— É por isso que nunca tive uma lembrança da minha infância. Eu
não sabia disso até alguns dias atrás.
Ele ri.
Eu também rio, mas de uma forma mais insana.
O colar místico.
Vamos lá. — Apollo, — eu digo através de sua risada. — Toque nisto,
você entenderá o que estou tentando lhe dizer.
— Você quer que eu toque no seu colar brilhante? — Ele ri
novamente. — E aqui eu pensei que você ia me dizer a verdade, não
alguma história insana de viagem no tempo.
— Toque nisso.
Estou começando a entrar em pânico.
A mandíbula de Apollo fica tensa e ele caminha lentamente até mim,
sem humor. — O que você está tentando fazer comigo?
Eu pego sua mão e coloco no meu cristal e instantaneamente os olhos
de Apollo ficam vidrados e fecham como se alguém tivesse colocado um
feitiço nele.
Eu fico lá com meu pulso martelando como uma dançarina do fogo.
Eu mantenho sua mão no meu colar enquanto vejo seus globos oculares
se movendo sob suas pálpebras.
Eu fecho meus olhos e imploro, imploro que isso funcione.
Por favor.
Não tenho certeza de quanto tempo se passou, mas quando ele abre
os olhos, vejo o choque total. Ele está respirando com dificuldade,
puxando sua mão para longe de mim.
— Eu posso entender..., — ele faz uma pausa como se estivesse
recuperando o fôlego, — Por que você teve problemas para explicar isso.
Eu sinto lágrimas em meus olhos. — Você está bravo comigo?
Ele ri e olha para o céu como se procurasse ajuda divina. — Estou
zangado com você? Não tenho certeza de como responder a isso.
— O que está passando pela sua cabeça?
— Aquele cara, Encantado, é muito estranho, nós dois podemos
concordar com isso, — Apollo diz mais para si mesmo. — Eu não posso
acreditar que eles enviaram três frotas para tentar me prender.
— Por favor, não fique com raiva.
Apollo olha para mim e não consegue dizer como isso vai correr. —
Você vai embora amanhã de manhã? Com as outras meninas?
O medo invade todos os poros. — Se você não me quiser, então sim,
— eu sussurro.
Apollo passa a mão pelo rosto. — Agora os vestidos fazem todo o
sentido. — Ele me lança um olhar rude. — Ele faz isso perfeitamente.
Sinto uma lágrima escorrer pela minha bochecha.
— Tem alguma coisa verdadeira sobre você?
Eu fungo, sentindo como se o estivesse perdendo. — Sim, todo o
resto.
Apollo acena com a cabeça e fica quieto.
— Eu te amo, Apollo, — eu sussurro.
Eu posso vê-lo tenso com isso. — Você é paga para dizer isso, anjo? —
ele olha para mim, há dor em seu olhar.
— Absolutamente não, Apollo. Não somos forçadas a nos apaixonar, a
escolha é nossa. Você também não é forçado.
— Sem a Fada Madrinha Ltda., eu nunca teria conhecido você, eu
nunca teria sabido o que estava perdendo. Quando digo que te amo, isso
vem do coração, do fundo da minha alma.
— O destino me trouxe até aqui, e eu sou grata, — eu digo e enxugo
uma lágrima. — Eu nasci aqui, Apollo, esta é a minha casa. Durante toda
a minha vida me senti deslocada e nunca soube por que, e finalmente
estou de volta onde tudo começou.
Apollo ergue os olhos para o céu e expira.
— Diga alguma coisa, — eu sussurro.
— Quanto tempo eu tenho?
Eu aperto meus olhos fechados. — Até o amanhecer. Na costa sul.
— E a Laura?
— Ela também vai embora. — Eu continuo: — Sem o nosso
compromisso, ninguém vai se beneficiar.
Apollo olha para mim, os braços cruzados sobre o grande peito. —
Mas ela tem que contar a ele também?
— Não é obrigatório. Só eu. Pelo visto.
— Tarren deve saber.
Eu limpo outra lágrima. Parece que não consigo mais controlá-las. —
Tenho certeza que ela vai.
— Ou eu vou.
Eu apenas fico olhando para ele. — Você me ama, Apollo?
— Não tenho certeza se posso responder a isso, — ele admite em voz
baixa. — Eu vou sair e esfriar a cabeça. Por favor, entre e aproveite a festa.
Ele se vira para sair.
— Apollo! — Mais lágrimas escorrem pelo meu rosto.
Ele se vira para me olhar com dor nos olhos.
— Você virá para me buscar amanhã?
— O tempo dirá, anjo.
E ele me deixou lá, chorando incontrolavelmente. Eu sei de uma
coisa, não vou pregar o olho esta noite.
Meu pior medo se tornou realidade. Mas o que é que eu esperava? Eu
não sabia exatamente quanto o Encantado revelou a ele pelo colar
místico. E coisa demais digerir.
Só espero que Apollo não tome a pior decisão de sua vida porque não
há uma segunda chance. Eu amo Apollo Augustus Garthorn. Ele deve ver
que também me ama, apesar de tudo.
Em apenas doze horas.
Capítulo 35
Apenas uma escolha será possível no final de tudo.
— Você está pronta?
Eu olho para Mort na escuridão da manhã. — Acho que vou vomitar,
para ser sincera. — Estou com uma capa escura, meu cabelo preso nas
costas. Meus nervos estão me deixando doente.
Mort respira fundo. — Não importa o que aconteça hoje... fizemos o
nosso melhor. — Ela me dá um tapinha no ombro. — Pronto, pronto.
Eu sorrio para ela.
— Mort, vou sentir muito a sua falta. — Digo com um suspiro: —
Sempre que vir uma borboleta branca, pensarei em você. — Eu sorrio
com os olhos lacrimejantes.
Mort enxuga uma lágrima. — Isso me emociona.
Eu ri.
Ela funga e eu a pego pelo braço, abraçando-a. — Vamos, — beijo sua
cabeça e nós duas caminhamos em direção à Costa Sul.
Eu saio e vejo todas as meninas em capas escuras, cada uma delas
entrando em uma carruagem. O ar está pesado, a tensão é densa, a
incerteza paira sobre nós.
Tenho certeza de que a Fada Madrinha Ltda, está fornecendo esse
transporte. Na lateral dos veículos, vejo o brasão da marca.
Laura vem até mim, com o rosto pálido. — Como vai?
Eu encolho os ombros, estremecendo com o ar fresco da manhã. — O
melhor que posso.
— Eu tenho um mau pressentimento.
Meu estômago embrulha. — Por quê?! — Posso sentir a tempestade
chegando, se formando instantaneamente, como um raio no meu
coração.
Laura me puxa para uma carruagem ainda não ocupada. Nós duas
entramos e fechamos a porta, deixando-nos na escuridão do luar. —
Tarren acabou de me terminar comigo.
Eu engulo, me sentindo mal. — E?
Ela começa de novo: — Apollo não era ele mesmo na noite passada,
de acordo com Tarren. Ele ficou destruído e contou tudo a Tarren.
Tarren veio ao meu quarto exigindo respostas, muito chateado. — Ela
continua: — Apollo, não acho que ele esteja totalmente curado ainda,
algo está errado.
— Do veneno?
Claro, do veneno.
Algo que eu causei.
Laura funga. — Sim, o processo de recuperação não ocorre da noite
para o dia.
— Eu não estou entendendo.
Nada do que a Laura diz faz sentido
É melhor começar a fazer sentido pra caralho antes que eu surte. Eu
respiro, me ordenando a me acalmar.
— Apollo estava extremamente magoado e com raiva na noite
passada e até as primeiras horas da manhã, eu acho. Tarren está muito
preocupado por ele não estar pensando com clareza.
Eu olho para as minhas mãos fechadas sobre a minha capa.
— Ele não virá, — eu sussurro.
A ficha caiu como uma tonelada de tijolos. Laura me encara, depois
olha pela janela, sem palavras.
— Ele não virá, — eu digo mais alto.
Eu posso ver as lágrimas escorrendo pelo rosto dela. — Eu tive que
dizer adeus a Tarren. — Ela inspira. — Isso me matou, Viola. — Sua voz
está trêmula.
— Apollo. O Tarren pode ajudar?
Ela olha para mim e encolhe os ombros. — Tarren disse que Apollo
está loucamente apaixonado por você, e é por isso que o cérebro dele está
tendo dificuldade em processar isso. Bem, por causa do estado mental
em que ele estava.
— Então, quando ele ficou bêbado, é como se seu cérebro estivesse
em curto-circuito.
— Precisamos voltar, Laura, — digo em pânico. — Quando Apollo
perceber o que fez, ele nunca se perdoará.
— Ele ainda pode aparecer, — ela diz, com um pequeno sorriso.
Eu balancei a minha cabeça. — Quando Apollo fica assim, ele está
determinado.
— Ele ainda pode aparecer.
— Temos que voltar, — minha voz falha. — Isso não pode ser o fim.
Não deixe isso ser o fim.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto.
— Não podemos voltar.
— Tem certeza?
Laura enxuga o rosto e acena com a cabeça. — Eu já tentei.
Nossa carruagem para.
Já estamos aqui?!
A porta se abre e Mort e Leenie estão lá.
— Temos que ir, — Mort sorri. — Tenho certeza que tudo vai dar
certo. Está quase amanhecendo.
Eu saio e sinto que estou me movendo em câmera lenta. Sons e
detalhes mal estão sendo registrados em minha mente.
Eu vejo quando Encantado caminhando em minha direção em seu
longo casaco de lã balançando ao vento.
Eu posso ver as outras garotas sendo conduzidas para um navio no
estilo de conto de fadas. A sua madeira dourada e branca confere-lhe
uma elegância encantadora. Não estou com vontade de apreciar isso.
Eu não quero entrar nesse navio.
Encantado se aproxima de mim, parecendo um galã de reality show,
me dizendo que esta será a última rosa distribuída.
Encantado olha para mim. — Como você está, garota?
Eu não digo nada, sentindo minhas emoções a ponto de
transbordarem.
Ele olha para o relógio, em seguida, olha na direção do castelo, como
se Apollo fosse aparecer a qualquer minuto. Eu não pude olhar.
— Sabe, as outras garotas realmente fizeram um trabalho incrível em
derrubar as forças do mal de Irena. Acredito que April e Ivy estavam no
seu último salva-vidas. — Ele continua enquanto encara a distância.
— Eu não pensei que elas pudessem fazer isso, mas fizeram.
— Por que você está me contando isso?
— Porque..., — ele faz uma pausa, — se Apollo por algum acaso não
aparecer, a balança ainda está no limite para que a Fada Madrinha Ltda,
tenha que fechar as portas.
Eu olho para ele. — É uma notícia maravilhosa, — eu sussurro,
falando sério. — Você acha que Apollo não está vindo, então? — Eu posso
sentir pequenos pedaços do meu mundo caindo.
O cabelo loiro de Encantado balançou com o vento enquanto ele
ficava quieto. — Ele só tem dez minutos antes de eu colocar você no
navio.
— Dez minutos, — eu respiro. — Isso não é o suficiente! Ele não vai
se perdoar. Encantado!
O rosto de Encantado é duro como pedra enquanto ele olha para o
castelo. — Eu gostaria de ter uma resposta para você, você fez o seu
melhor. Isso é tudo que você pode fazer.
— Encantado! — Eu grito, sentindo que isso está se tornando muito
real. — Não é bom o suficiente. Você vai me deixar ir até ele? Ele está fora
de si nesse exato momento.
— Eu sei disso, o que torna tudo extremamente injusto. Não sou eu
quem faz as regras e uma vez que o navio partir, acabou. Tive medo de
que isso acontecesse e tentei ganhar mais tempo, o conselho negou o
meu pedido, — admite.
— Não, — eu digo.
Pequenos pedaços de mim estão se desintegrando.
Indo com o vento.
Eu sou a garota no final da novela que não fica com o bonitão.
— Eu não vou embora sem ele, Encantado, — eu digo a ele,
implorando com os olhos. Ele não pode ver como estou sofrendo?! Ele
deve fazer alguma coisa!
Encantado não diz nada e olha na direção do castelo. — Infelizmente,
isso é impossível.
Eu olho para o navio e vejo as meninas em lágrimas, se abraçando.
Isso não está acontecendo.
— Sinto muito.
— Não! — Eu grito. Eu me viro para olhar para o castelo imponente à
distância. — Apollo! Maldito! — Limpo as lágrimas quentes que
escorrem pelo meu rosto. — Apollo!
Sinto Encantado me puxando.
— Me solte! — Tento afastá-lo de mim: — Não vou embora sem ele!
Ele me puxa para seu abraço, sendo surpreendentemente forte. Seus
braços parecem me levar para o abismo. Eu olho em seus olhos, com a
visão turva.
— Eu nasci aqui, por que não posso ficar? — Tento essa tática
desesperadamente. — Eu não quero que isso seja o fim.
— Não importa, sinto muito. — Eu posso ver a dor em sua expressão.
— Encantado, não posso deixá-lo.
Ele olha para cima e na direção do Castelo de Garthorn e fecha os
olhos, flexionando a mandíbula. — Se você não vier comigo, você será
transferida. Eu sinto muitíssimo.
Estou chorando, delirando de dor.
Posso sentir Mort me abraçando por trás e isso me faz chorar mais.
Sinto Encantado me pegar no colo e simplesmente enterro meu rosto
em seu casaco de lã, sem querer respirar mais uma vez.
Entorpecida, pego meu colar místico e o arranco do pescoço,
jogando-o longe. Talvez Apollo o encontre e perceba o erro que cometeu.
Apollo Augustus Garthorn, o Quinto, acaba de cometer o maior erro
de sua vida.
Nova Orleans.
O som do coração partido é de completo silêncio.
Meu banheiro está cheio de vapor do banho quente que estou
tomando. Uma semana se passou e parece uma vida inteira, a dor está
sempre presente. Uma memória distante que mais parece um sonho, um
pesadelo.
Eu lentamente levanto a minha perna para fora da banheira cheia de
vapor e pétalas de rosas vermelhas. Sim, pétalas de rosa, que apropriado.
Minha pele é lisa e perfeita. Mas quem se importa? Eu não. Nada mais
importa para mim.
Pequenas gotas de água caem da minha perna quebrando o som do
silêncio.
Pinga, pinga, pinga.
A Fada Madrinha oferece terapia para as competidoras que perdem.
Eu rio rudemente.
Dá um tempo.
Vou ficar neste banho pelo resto da minha vida. Eu deslizo sob a água
cheia de rosas, sentindo-me leve, tranquila. Eu só quero ficar assim para
sempre, sem existir.
Meus olhos têm cãibras, mas não tenho mais lágrimas, estou apenas
entorpecida.
Eu me perguntei o que Apollo pensou quando voltou a si. Ele estava
arrasado como eu? Ele nunca vai se perdoar?
O que ele fez quando veio para a Costa Sul e viu que e eu parti? Ele
chorou? Gritou? Ou ele não se importou nem um pouco, grato por eu ter
partido?
Nunca saberei, infelizmente.
Eu vou até a superfície da água, com falta de ar.
Uma batida na porta me faz pular.
Ainda estou esperando que a pessoa vá embora enquanto ignoro.
Pode ser a Laura, ela disse que ia trazer pizza e sorvete. Ela está tão
magoada quanto eu.
A batida novamente.
Droga, essa pessoa deve saber que estou em casa. Se for a Laura, ela
não vai embora até eu abrir a porta. Amaldiçoando, eu saio do meu
banho sereno de depressão.
Pego meu manto preto e ouço a batida, um pouco mais forte dessa
vez. Tento secar o cabelo com a toalha.
— Tô indo! — Eu grito, irritada.
Estou ensopando todo o banheiro.
Saio do banheiro e atravesso a minha sala de estar, com a água
pingando de minhas pernas. Eu esperava que não fosse o carteiro ou
proprietário do meu apartamento.
Eu destranco a porta e abro.
Eu grito, minha mão sobre minha boca.
Eu estou congelada.
Estou olhando para um homem que se parece com Apollo. Um
humano divino está atualmente parado na minha frente. Ele está
vestindo uma jaqueta de couro justa e jeans apertados escuros que
mostram a sua forma musculosa.
Estou confusa.
Acho que preciso de terapia, afinal.
— Anjo, — ele respira em uma voz rouca.
Eu não consigo me mover.
— Como? — Eu mal digo. Estou alucinando?!
Ele mostra meu colar místico.
— Apollo, — acho que digo.
Seu cabelo loiro está preso para trás e seu olhar escuro me queima. —
Posso entrar?
— Entrar?
Estou atordoada.
Ele inclina a cabeça. — Sim, eu adoraria entrar. Tive que mover o Céu
e o Inferno para chegar aqui, — ele sorri para mim e isso faz meu cérebro
funcionar mal. — Então, estou entrando, quer você goste ou não.
A alegria explode dentro do meu peito, tanta sensação e descrença. —
Você foi assaltado no caminho para cá? — meus olhos estão arregalados,
provavelmente esbugalhados.
Ele levanta uma sobrancelha, seu olhar negro movendo-se sobre mim.
— Posso te tocar?
— Sim, — eu digo.
De repente, estou em seu grande abraço, seu cheiro masculino me
deixando tonta. Lágrimas correm pelo meu rosto, estou chorando e não
consigo parar.
— Eu sinto muito, anjo, — eu o ouço sussurrar em meu cabelo
molhado.
— Eu não me importo, você está aqui agora, — eu respiro em seu
pescoço. — Eu não sei como, mas você está aqui, — eu soluço.
Ele se levanta para olhar para mim, com olhos lacrimejantes, me
afetando profundamente.
— Eu te amo com todas as minhas forças e não vou a lugar nenhum.
— Suas mãos grandes estão no meu rosto, enxugando as lágrimas. —
Lamento ter demorado tanto, mas eu consegui.
Agora sei a verdadeira definição de felicidade.
De amor verdadeiro.
Capítulo 36
Ele está aqui, realmente aqui.
Em Nova Orleans.
— Apollo, — eu sussurro enquanto ele segura meu rosto, seu olhar
penetrante fazendo a minha pele formigar.
— Viola? E isso? — Ele sorri para mim.
— Anjo, — eu rio. — Eu gosto de anjo.
Ele acena com um sorriso sexy e olha ao redor da sala pela primeira
vez, levantando uma sobrancelha. Depois de alguns minutos, ele passa a
mão pelo meu rosto liso.
— Seus aposentos me dão ansiedade, admito.
Meus olhos se arregalam e eu rio. — O quê? Por quê? — Eu olho ao
redor da sala também.
Apollo me deixa e vai para minha pequena sala de estar, com sofás
florais vermelhos e brancos. Ele estava desajeitado, mas fofo, e me coro
de felicidade.
Ele é tão gigantesco que faz a sala parecer ainda menor, é quase
cômico. Ele exala e olha de volta para mim, com aquele olhar negro que
vê além das coisas.
— Eu poderia ter arrebentado a fechadura da sua porta com um
chute. Esse lugar não é seguro para uma garota que se parece com você.
— Ele continua olhando com as mãos nos quadris, sua jaqueta de couro
preta puxando seus bíceps grossos.
— Há um homem morando no primeiro andar desta casa, você está
ciente disso?
— A maioria dos homens não tem a constituição de um super-herói.
— Eu rolo meus olhos. — E sim, ele é inofensivo. Um verdadeiro
cavalheiro, — eu digo em minha voz adequada, ainda em choque por ele
estar na minha pequena sala de estar.
Eu esqueci o quão lindo ele é. Bem, eu não esqueci, eu só estava
querendo apagar a imagem dele para poder seguir em frente.
Ele inclina a cabeça para mim. — Cavalheiros não existem. Apenas
lobos pacientes, lembre-se disso.
I!
Eu rio disso. — Então, você não é um cavalheiro?
Seu olhar se estreita em mim. — Acho que você sabe a resposta para
isso, anjo.
Arrepios cobrem meu corpo e coloco meu robe, sentindo uma onda
de nervosismo. — Como você chegou aqui?
Ele caminha até mim e agarra minha mão, me puxando para o sofá.
Ele se senta e ocupa todo o assento.
Mas isso não importou porque ele me puxou para seu colo, e eu
percebi que ainda estou molhada e nua sob o manto preto.
Eu rapidamente trago minhas pernas para o lado, corando. Eu não
acho que ele notou, porém, e eu sento nele como uma princesa. Apenas
uma semana se passou e me sinto fora do meu eixo com ele.
E como se Thor decidisse aparecer e tomar chá comigo no meu sofá.
Muito antinatural. Sinto que estou sem fôlego, ainda em estado de
surpresa. Em seu mundo era diferente, mas aqui na Terra ele parece mais
super-herói do que nunca. Fora de lugar.
Eu mordo meu lábio, não posso acreditar que alguém como ele está
apaixonado por mim. Quer dizer, eu ainda tenho meus dons físicos da
Fada Madrinha, mas não consigo evitar o quão nervosa estou.
Eu estou bem.
Aja normalmente. — Então, como você chegou aqui?
— Você está molhada e cheira a rosas, — ele diz, enquanto posso
sentir sua mão traçando círculos em meu quadril.
Eu respiro, dizendo a mim mesma para não jogar o robe fora e dizer a
ele para me comer. Para baixo, garoto, para baixo. — Eu estava no banho
quando você bateu na porta.
Meu banho de depressão e rosas vermelhas.
A expressão de Apollo não muda enquanto ele olha levemente na
direção do banheiro. Um silêncio tenso paira entre nós e eu limpo minha
garganta.
— Então, como você chegou aqui? — Minha voz soa mais alta?
— Você estava no banho?
— Sim, — eu mal digo.
Ele se mexe sob mim, me fazendo agarrar seus ombros. — Você está
tentando me dizer que está nua?
Acho que meu rosto fica vermelho cereja e eu sorrio. — Bem, eu não
tomei banho de roupa.
Apollo acena com a cabeça, então sorri, olhando para baixo. — Sinto
muito, anjo. Vou tentar me concentrar, — ele murmura.
— Eu senti tanto a sua falta, senti saudades de tudo em você. Você
deve ter ficado tão magoada comigo. — Ele olha para mim e meu coração
aperta.
— Por que você não veio?
— Eu me convenci de que você estava mentindo quando eu estava
bêbado. Olhando para trás, não acredito que fui capaz de fazer isso.
Admito que fiquei magoado com o que vi quando toquei em seu colar e
simplesmente perdi a cabeça.
— Eu não pensei que você estava indo embora mesmo, para mim era
só um blefe. Eu apenas pensei que era mais uma de suas grandes histórias
malucas, sei lá. Eu fui um completo idiota, um babaca, — ele admite,
tencionando a mandíbula.
— O Tarren veio correndo naquela manhã gritando comigo, mas
mesmo assim eu ainda não acreditei. Ele disse que você e Laura tinham
ido embora para sempre.
Ele falou, depois de um suspiro, — Lembro-me de estar lá quando a
ficha caiu. Eu apostei no seu blefe e perdi. Ordenei ao exército de
Garthorn que vasculhasse todo o território para ter certeza de que você
não estava tentando escapar de mim.
— Por mais que isso não faça sentido porque você disse que me
amava. Depois de dois dias, comecei a entrar em pânico e fui para a Costa
Sul. Eu fui lá e caí de joelhos, orando por um milagre.
Senti meus olhos arderem ao ouvi-lo.
— Meu joelho bateu no seu colar, aquele treco mágico que você me
fez tocar. Então, eu agarrei e segurei com força, perguntando se alguém
me ouviu, devo ter implorado por horas.
Inclinei-me para ele, beijando a sua pele quente, inalando seu
pescoço. Meu coração latejando. — E depois?
Apollo passou os braços em volta de mim com mais força, o cheiro de
seu perfume e sua jaqueta de couro deveriam ser engarrafados e
vendidos.
— Fui transportado para a sede da Fada Madrinha Ltda.
— Uau, — eu respiro.
Eu posso senti-lo sorrir. — Eu tive que ficar na frente do Júri
Universal, muito além da Fada Madrinha Ltda., e defender a minha
causa. Demorou três dias antes de eles tomarem a decisão de me deixar
vir buscá-la.
— O que você disse a eles? — eu sussurro, com admiração.
Ele olhou para mim. — Que esta é uma mulher sem a qual não posso
viver, e que daria a minha vida por ela se fosse necessário. E falei que a
culpa era minha, eu que estraguei tudo.
— Eu disse a eles que você nasceu em Delorith e eles estariam
cometendo uma grave injustiça. O tribunal durou três dias, foi brutal,
mas valeu a pena.
Apollo olhou para mim. — Todas as garotas agora têm a chance de
voltar se assim o desejarem, o Encantado me garantiu isso.
Eu limpo uma lágrima e procuro pelos seus olhos. — Não acredito
que você fez tudo isso por mim, estou tão feliz, — rio, — A Laura vai
pirar.
Apollo instantaneamente se inclina e me beija com força, as mãos
segurando meu rosto. O gosto de seus lábios faz um enxame de
borboletas voar em meu estômago. Sua boca é quente e apaixonada.
— Delicioso, — ele geme na minha boca e aprofunda o beijo,
colocando a língua. Ele é uma droga viciante, um beijador incrível.
— Devemos ir imediatamente para o escritório da Fada Madrinha
Ltda, — ele respira entre os lábios, — eles enfatizaram que o tempo é
essencial.
Ele molda sua boca na minha com uma ação mais selvagem da língua.
Este homem pode fazer coisas surpreendentes com a língua, eu me
lembro bem.
— Fui aconselhado a não tocar em você até que voltássemos, — ele
sorri contra a minha boca, — Mas você está nua, então...
Eu grito quando Apollo me pega e me carrega para a parede, fazendo
minhas pernas envolverem seus quadris.
A adrenalina está batendo forte em minhas veias quando sinto sua
boca sugando com força o meu pescoço, suas mãos sob meu roupão,
agarrando minha bunda.
Minhas mãos estão em seu glorioso cabelo platinado, há cachos por
toda parte. Sexy pra caralho.
Ele levanta a cabeça e o seu olhar escuro e apaixonado me deixa sem
fôlego.
Eu sou a garota mais sortuda do universo.
Ele me toca lá, e eu fecho meus olhos em êxtase, meu mundo girando.
— Olhe para mim, — ele geme e lambe os lábios, com os olhos
escuros brilhando. Apollo sorri quando eu olho para ele enquanto seus
dedos agora estão profundamente dentro de mim, movendo-se com
precisão, o ritmo acelerando.
Não consigo nem pensar em palavras, a minha mente está confusa. —
Eu vou fazer você gritar, anjo.
E cara, eu acho que o pobre Johnny lá embaixo vai ter que pegar os
protetores de ouvido. Explosões disparam em meu corpo, estou em
combustão.
Ele arranca meu robe, felizmente porque estou com tanto calor que
posso desmaiar. — Apollo, — eu imploro por mais, e eu quero agora.
Eu sinto sua boca em todos os lugares, sua mão abrindo o zíper de sua
calça me deixa animada. Ele me pressiona com mais força contra a
parede quando sinto seu comprimento quente entrar em mim com um
movimento rápido. Eu suspiro e seguro. MEU DEUS.
Eu nem mesmo reconheço a minha própria voz, ele agora está
metendo em mim tão rápido que eu mal posso registrar nada além de um
prazer alucinante. Eu apenas aguento firme, movendo meus quadris com
os dele.
Eu sinto a sua boca em meus seios, pescoço, ombro, queixo e lábios. É
como um redemoinho, estamos pegando fogo.
Não sei onde ele começa e eu termino. Já ouvi isso antes e agora
entendo perfeitamente.
Há algo tão erótico sobre eu estar completamente nua e ele
totalmente vestido. Eu o ouço sussurrar asperamente em meu pescoço
enquanto ele mete com mais força. Palavras carinhosas saem de seus
lábios e meu coração está cheio.
E então acontece.
Meus ovários explodem.
Brincadeira, mas nós dois gozamos juntos, e isso é magnífico.
Sinto uma forte onda de tontura quando Apollo me abaixa no chão,
beijando meu cabelo. — Te amo anjo.
Minhas pernas estão tremendo e meu cérebro acelerando, mas eu o
ouço dizer:
— Espere até eu te levar de volta para casa, vou te comer até você
cansar, — Apollo diz em uma voz rouca cheia de promessas sombrias.
— Agora, vamos vesti-la e deixá-la pronta antes que a Fada Madrinha
nos transforme em ratos. — Ele faz uma pausa. — Ela realmente disse
isso... e ela não estava sorrindo.
Eu ri. Eu o amo.
Capítulo 37
Suspiro enquanto observo Apollo do meu quarto, sentado no meu
sofá floral, imerso em pensamentos.
Ele tirou o casaco de couro devido ao clima quente e agora está
vestindo um outro, cinza carvão, com decote em V, que mostra seu torso
musculoso.
As tatuagens são visíveis em seus braços e parte superior do peito, me
fazendo estremecer.
Eu me pergunto o que está acontecendo em sua cabeça, aquela bela
careta em seu rosto me faz pensar. Esse olhar distante me deixa curiosa.
— Um centavo pelos seus pensamentos?
Ele olha para mim e seus olhos ficam redondos como pires. — Onde
está o resto de suas roupas? — Eu olho para o meu short jeans curto com
cintura alta, combinado com uma blusa branca de ombro largo. Uma
menina normal. Mas isso deve ser um choque para Apollo vindo de um
mundo muito formal.
Ele se levanta, com os olhos me devorando. — Este mundo eu não
vou entender. Isso deixa muito pouco para a imaginação.
Eu ri. — No que você estava pensando?
— Em você.
Eu franzo a testa. — Coisa boa ou ruim?
— Vamos caminhar e conversar, — ele pisca para mim, batendo na
minha bunda quando eu passo por ele. — Eu não posso acreditar que os
homens neste mundo são capazes de se segurar com suas mulheres
vestindo essas coisas. Quase consigo ver a sua bunda nisso.
Eu o sinto me agarrar lá, aparentemente incapaz de manter suas mãos
longe de mim, me fazendo rir.
— É apenas o estilo, as pessoas aqui estão acostumadas, — digo e olho
para trás, vendo-o ainda olhando meu corpo por trás, como se eu
estivesse nua. — Então, o que você estava pensando?
Nós saímos nas ruas movimentadas e eu me viro novamente para
esperar que ele me alcance. Ele está caminhando lentamente de
propósito. — Apollo?
Ele me olha confuso, me fazendo rir de novo. Esses shorts parecem
tê-lo perplexo. — Eu perguntei sobre o que você estava pensando?
Apollo sorri e agarra minha mão, levando-a aos lábios.
— Eu queria saber se você ficará feliz comigo ou se sentirá falta deste
lugar maluco. — Os olhos de Apollo se arregalaram quando um cara com
um moicano verde passa em uma coleira de cachorro e roupas góticas.
Eu rio em seu braço musculoso; seu rosto não tem preço.
— Apollo, ficarei muito feliz com você, pode confiar em mim. Eu sei
que tivemos nossos problemas, mas não tenho mais nada a esconder.
— Honestamente, — beijo seu ombro quente, nunca querendo soltar,
— Eu não me importo onde estou, contanto que esteja com você.
Ele olha para mim, um cacho louro se soltando. — Chega de segredos
entre nós, anjo.
— Concordo, — eu puxo seu braço para que ele se incline, beijando
seus lábios macios. Hum. — As pessoas estão tirando uma foto sua, — eu
rio em sua boca.
Ele olha para cima e pode ver alguns telefones com câmera apontados
para nós.
— Eles provavelmente pensam que você é alguma celebridade ou um
modelo fitness, — eu digo e agarro seu braço com mais força. Ele é meu,
senhoras.
Apollo olha para mim. — Tenho certeza de que você com esses shorts
está causando confusão. Estou tendo dificuldade em observar esses
homens olhando para suas pernas sem perder a paciência.
Eu sorrio, eu discordo.
Apollo é estranhamente gostoso, não é preciso ser um gênio para
perceber isso. — Onde estamos indo?
— Por aqui.
Eu vacilo um pouco. É onde tudo começou.
Quando Cherie e eu vimos Encantado pela primeira vez ali com seu
sorriso divertido. Esse dia mudou para sempre a minha vida.
Eu olho para a minha esquerda e vejo a Sra. Martinez, a Senhora
Burrito, e eu congelo. O desejo me atinge.
Essa mulher faz os melhores burritos de todo o Universo, eu juro. Ela
carrega uma grande caixa térmica cheia de burritos de chilli verde
quentinhos e embrulhados em papel alumínio.
— Apollo! — Eu digo, arrastando seu braço comigo, encarando-o. —
Você já comeu um burrito?! — Eu preciso conter a minha excitação. Eu
olho para ele, puxando-o com mais força.
Ele parece confuso enquanto me segue.
Estou prestes a abalar seu mundo.
Nós caminhamos até ela e eu digo: — Sra. Martinez!
Ela olha para nós e um largo sorriso se espalha em seu rosto, as rugas
suavizando seus olhos escuros. — Minha Viola, estava me perguntando o
que aconteceu com você! — Ela me deu um abraço apertado.
Depois de alguns momentos, seus olhos desviam para Apollo e eles se
arregalam. Ela diz algo em espanhol e ri, dando uma cotovelada na
minha lateral, me dando uma piscadela.
Apollo levanta uma sobrancelha para mim enquanto eu olho para ela.
— Ele, — digo em voz alta, apontando para Apollo, — nunca comeu um
burrito!
Eu digo isso como se fosse um pecado quebrado nos Dez
Mandamentos.
Ela fez o sinal da cruz no peito e murmurou algo baixinho. Ela
imediatamente abre o refrigerador e uma nuvem de deliciosos vapores
sobe seguida do cheiro perfeito da melhor comida mexicana.
Minha boca saliva e eu sorrio com a expressão curiosa de Apollo, seus
olhos anormais brilhando com alegria.
Apollo é um menino crescido, aposto que ele pode aguentar um
pouco de comida apimentada.
Tentei pagar, mas ela acenou com a mão, dando a nós dois um pesado
burrito embrulhado. Agradeço e dou um beijo nela, sabendo que esta
seria a última vez que comeria um de seus burritos.
Eu olho para Apollo enquanto caminhamos em direção à porta da
Fada Madrinha Ltda, e paramos. — Abra assim e dê uma mordida, —
ordeno, fazendo o mesmo.
— Estamos muito atrasados, mas isso cheira muito bem, — diz ele e
dá uma grande mordida.
Depois de alguns segundos prendendo a respiração, esperando por
qualquer reação que me dissesse que esta é a melhor comida que ele já
comeu. Ele fecha os olhos com uma expressão de felicidade.
— Que porra é essa? — ele diz enquanto cobre a boca.
Eu dou uma mordida, sinto a pimenta verde quente correndo pela
minha boca como uma tempestade de êxtase. — Não é demais?!
— É insano.
— Fora deste mundo.
— Feitiçaria.
— Eu poderia ter um orgasmo.
Apollo acena com a cabeça. — Eu não vou te julgar por isso.
— Oh meu Deus, você comeu um pedaço de carne com queijo? — Eu
choramingo.
Ele não diz nada enquanto termina sua última mordida e limpa a
boca. — Isso foi maravilhoso, obrigado. — Ele parece perplexo.
Eu rio e dou a ele minha última metade, que ele aceita de bom grado
e com entusiasmo. Nós dois ficamos lá limpando nossos rostos e eu rolo
de rir, inclinando-me para dar um beijo nele. Ele me abraça com força,
suas mãos vagando sobre mim.
— É melhor irmos, — eu digo, me sentindo animada.
— Primeiro as damas, — ele segura a porta aberta, sua mão ainda
agarrando a minha como se ele não quisesse soltar.
Subimos a escada e abrimos a porta de metal para ver o mesmo
escritório elegante que vi pela primeira vez e me lembro como se tivesse
sido ontem.
Aplausos e mais aplausos explodiram quando entramos, vendo Laura
e o resto das meninas que queriam voltar.
Laura corre até mim e me abraça, então contando a Apollo sobre o
tempo que ele demorou. Olho além de Laura para ver Encantado, Mort,
Leenie e a Fada Madrinha, todos olhando para nós.
Meu coração se contrai. Achei que nunca mais os veria.
A sala se acalma.
Zora se aproxima de nós com um vestido branco estilo anos 1950 e eu
engulo seco, nervosa. Ela está linda com seu rosto perfeito e um coque
alto.
— Vocês dois estão brincando com fogo, atrasadinhos, — ela
condena, levantando a sobrancelha.
Eu fecho meus olhos, sabendo que é minha culpa. Vou deixar de fora
o incidente fumegante do apartamento, eles não podem provar o nosso
crime.
— Eu sinto muito. A culpa é minha, vi a Sra. Martinez lá fora e pensei
em comer um burrito apenas uma última vez.
Os olhos de Zora se arregalam quando ela agarra o colar em seu
pescoço, olhando de volta para Encantado. — Sra. Martinez.
Encantado solta um suspiro e verifica o relógio, parecendo
preocupado. Todos trocam olhares, me confundindo. Eu me mexo
desconfortavelmente quando olho para Apollo.
Zora dá de ombros para Encantado. — Eu poderia comer um burrito
de frango antes de ir para o sétimo portão.
— Nem sempre precisamos ser pontuais, — concorda Encantado,
enquanto todos no escritório concordam com entusiasmo.
Eu coloco a mão sobre a boca para conter minha diversão e alívio por
não estar em apuros. Acho que todo mundo é apaixonado pelos burritos
mágicos.
Eu ouço Laura à minha esquerda. — Eu quero um pra viagem,
Encantado, por favor.
— Eu concordo, — diz Mort.
— Tudo bem, vamos fazer isso rápido! — Encantado diz e tira um
bloco de notas: — Pedidos, por favor! Fale agora ou cale-se para sempre.
— Encantado aponta para Apollo. — Você quer outro, garotão? — Apollo
me olha com um sorriso divertido. — Dê-me dois, acho que preciso pegar
um de volta e estudá-lo para fazer uma clonagem em Delorith.
Encantado acena com a cabeça. — Nunca é um dia normal na Fada
Madrinha Ltda., com certeza.
Na sala de instruções.
Eu direi adeus à Terra para sempre, e isso não me incomoda porque
estou olhando nos olhos mais sedutores, aqueles olhos-escuros. Apollo
anda ao meu redor e aperta o colar místico em volta do meu pescoço.
Encantado se aproxima de mim com um sorriso. — Eu posso fazer
seu vestido de casamento, minha querida, será uma honra. E me avise
quando estiver grávida, eu sou muito bom em fazer roupinhas de bebê.
Eu abraço Encantado com força, sabendo que ele é uma pessoa tão
especial.
Apollo e eu não usamos nenhuma proteção, então a ideia de que eu
poderia estar grávida poderia ser muito verdadeira. Uma onda de alegria
me percorre quando penso em ter um filho lindo, com cachos loiros
saltitantes.
Eu olho para Apollo e posso ver que ele pode estar tendo
pensamentos semelhantes.
Ele aperta minha mão e eu sinto um friozinho no peito.
Este é um feliz para sempre.
Eu sinto meus olhos vidrados.
— Eu nunca vi duas pessoas brilhando tanto quanto vocês dois, —
Encantado ri. — Sentiremos saudades de todos, mas fiquem tranquilos,
todos nós nos reunimos na festa anual de Natal da Fada Madrinha.
— Pense nisso como uma festa de Natal da empresa, você sempre fará
parte da nossa família. E sim, nós celebramos o Natal.
— Todo mundo tem algo em comum, acredite em mim. Todo mundo
precisa ser salvo. O grandalhão lá de cima gosta muito de nós, — ele
pisca.
— Eu não posso esperar, — eu digo, sentindo Apollo esfregando meu
pulso. Eu olho para Apollo, — Vocês tem Natal em Delorith?
— Sim, — ele move a cabeça para o lado, — Mas o nome é um pouco
diferente.
Encantado acena com a cabeça. — Não é o Dia do Salvador?
— Sim. — Apollo concorda.
— Existem alguns mundos que não comemoram, mas a maioria sim,
de qualquer maneira. — Ele bate palmas.
— Quando vocês dois estiverem prontos, entrem no casulo e
pressionem o botão azul. Vou me despedir de vocês dois e esperar até o
dia em que nos encontraremos novamente.
Quando ele sai, eu olho para o meu adorável vestido verde pálido e
sorrio para Apollo. — E isso.
— É isso, anjo.
Eu franzo a testa para ele. — Como está a sua cabeça? Você está se
sentindo bem?
— Eu vou ficar bem. — Ele beija minha testa.
— Devo estar de volta à saúde plena, só sinto dores de cabeça
ocasionalmente. Chega de pensamentos confusos, eu fiz mais um
tratamento antes de vir, e estou me sentindo de volta ao normal.
— Eu sinto muitíssimo.
Ele ri. — Anjo, eu morreria por você. — Fecho meus olhos com essa
frase de impacto, em seguida, sinto seus lábios nos meus, o beijo se
tornando apaixonado enquanto sua boca se move sobre a minha. Eu
levanto a minha cabeça, — Tarren vai ficar tão feliz quando souber que a
Laura está voltando.
— Sim, isso salvará o nosso relacionamento. Ele ficou arrasado, —
admite Apollo.
— Estou grávida? — Eu pego sua mão e coloco na minha barriga.
— Eu espero que sim, mas se não, você estará em breve, — ele diz
com um brilho escuro no olhar. Eu rio enquanto entramos no casulo.
Eu respiro e pego sua mão. — Vamos apertar o botão juntos.
— Eu amo você.
Ele agarra meu queixo e me beija enquanto nós dois apertamos o
botão.
— Isso, meus amigos, é um verdadeiro feliz para sempre, — diz a Fada
Madrinha com uma piscadela e uma generosa mordida em seu burrito.
O FIM.
Capítulo 38
— Laura, sua prostituta gorda! — Eu digo enquanto gesticulo. —
Espere por mim! — Eu posso ouvi-la rindo enquanto ela se vira para
mim, sua grande barriga envolta em um verde esmeralda brilhante.
Ela me olha com uma sobrancelha levantada. — Se você começar a ter
contrações de tanto balançar e gritar, o Apollo ficará muito chateado.
Eu aceno minha mão. — Pode parar.
Sim, nós duas estamos grávidas de oito meses, e não não foi
planejado. Porém, estou duas semanas à frente dela.
É por isso que quase não consegui ir à festa de Natal da Fada
Madrinha. Acabamos de chegar e os homens foram ver se penduramos as
nossas capas. Estou usando um vestido profundo escarlate com
diamantes brilhantes sob o meu busto. É uma peça impressionante com a
qual Apollo me surpreendeu. Meu cabelo negro está preso no alto da
cabeça com grampos brilhantes.
— Espere, — eu faço uma pausa, sem fôlego e sorrio para as pessoas
que passam com seus chapéus de rena. — Ok, podemos ir agora.
— Uau, este lugar é enorme, — diz ela com admiração. — E tão
festivo.
A sede da Fada Madrinha é um espetáculo para ver. Não tenho certeza
de quão grande é este lugar, vendo como fomos transportados para cá e,
sim, era seguro para o bebê.
Eu posso ouvir música de Natal alta vindo do salão principal e parece
uma versão rock. A decoração de Natal em prata e azul está em todos os
lugares, fazendo com que o grande lugar pareça um paraíso de inverno.
Tudo parece cintilar e brilhar, como saído de uma fantasia. Há
toneladas de pessoas bonitas aqui, elfos correndo por toda parte,
garçonetes vestidas de bonecos de neve safadas.
E eu pareço um búfalo.
— Você está deslumbrante, — Apollo sussurra em meu ouvido,
parecendo ler a minha mente.
Eu me viro para ver Apollo parecendo insanamente bonito em seu
smoking preto feito por Encantado. Ele queria experimentar algumas
roupas novas e Apollo é um modelo tão bom. Este homem é a fantasia de
toda mulher. Seu glorioso cabelo está amarrado para trás, apesar de eu
querer soltá-lo. Deixe-me dizer uma coisa, quando o cabelo dele está
solto, sinto ondas de calor instantâneas.
Seus olhos escuros brilham para mim, sua expressão faz meu corpo
formigar.
— E você, senhor, está bonito, — eu digo, sorrindo para ele.
Ele revira os olhos. — Diga-me algo que eu não sei.
Eu bato em seu braço e rio. — Engraçado.
Apollo pisca para mim. — Como você está se sentindo? — suas mãos
grandes alisando minha barriga. — Ela está chutando?
— Estou me sentindo bem, — digo e pego suas mãos para sentir mais
na parte de baixo da minha barriga. — Aqui, você sente isso?
Apollo olha para baixo enquanto espera por um chute, então sorri
para mim. — Ela será uma pessoa mal-humorada, como a mãe.
Eu rio enquanto ele se inclina para me beijar, enchendo meu coração.
O ano passado foi maravilhoso para ele, ele é realmente um homem
incrível.
Demorei um pouco para me acostumar a morar em um castelo e ser
chamada de Rainha de Garthorn. Mas a minha coisa favorita na minha
nova vida é minha família e amigos, algo que eu nunca tive antes.
Estou emocionada, me sentindo muito sortuda. Eu sei que é uma
coisa piegas, mas mal posso esperar para passar o resto da minha vida
com ele, para ver nossos filhos crescerem e se desenvolverem. Porém, não
tenho certeza do que diremos quando nos perguntarem como nos
conhecemos. Esse pode ser o nosso segredinho.
Tarren caminha até nós e dá um tapinha nas costas de Apollo,
parecendo elegante também. — Acabei de ver pessoas com pele verde, me
assustando muito no banheiro.
Apollo levanta uma sobrancelha. — Minha esposa me assustou muito
na noite passada com a pele verde, no banheiro. — Ele me lança um olhar
penetrante.
Eu rolo meus olhos. — Era uma máscara facial.
Laura agarra meus braços e aponta para o grande salão. — Olha lá o
Encantado e a Zora.
Eu olho através da multidão de pessoas e vejo Encantado em um
smoking branco e azul e um chapéu de Papai Noel, parecendo perfeito,
rindo do que alguém disse. Aproveitando a festa.
Todos nós entramos no corredor e vemos uma árvore de Natal
gigante do tamanho de um prédio de dois andares. Era de tirar o fôlego,
cintilante de azul e prata com pequenos detalhes em roxo. A música
festiva ecoa e as risadas ressoam no ar.
Um garçom veio até nós com um smoking branco e um chapéu de
Papai Noel. — Posso te oferecer alguns desses?
O que são esses?
Todos nós nos inclinamos e olhamos para a bandeja que carregava o
que parecia ser cocô de bebê sobre um biscoito.
Eu cubro meu nariz, com a náusea nadando em minha barriga. Todos
nós recusamos educadamente enquanto tento colocar meu estômago no
controle.
Apollo me lança um olhar de pena.
— Há muita comida lá na frente. Vou buscar alguma coisa para você,
— ele oferece.
— Não, eu estou bem. — Apollo balança a cabeça, com um sorriso
puxando a sua boca. — De jeito nenhum, anjo, eu sei como você fica
quando está com fome e isso me assusta.
Tarren estava ouvindo, ambos concordando que as mulheres grávidas
precisam se empanturrar, aparentemente. Laura diz, — Vamos encontrar
um lugar para sentar antes que meus tornozelos inchem.
Eu aceno, gingando até uma tonelada de belas mesas com cadeiras
brancas brilhantes. Encontramos uma mesa vazia e sentamos, suspirando
de alívio.
— Olhe para este lugar, é enorme! — Eu digo e rio.
— Olhe para todas essas pessoas gostosas, — diz ela, olhando em
volta com um olhar fixo. — Eu me pergunto se todas essas pessoas já
estiveram em missões.
— Aposto que muitas delas estiveram.
A voz de Encantado nos surpreende: — Aqui estão as minhas duas
grávidas!
— Encantado! — Nós duas dizemos e tentamos nos levantar.
— Não, não! — Ele ri. — Fiquem sentadas. Não quero nenhum bebê
nascendo aqui esta noite, estou usando o meu terno favorito.
Eu e Laura trocamos olhares sim, certo.
Ele se senta à mesa e é todo sorrisos. — Eu não posso acreditar que
vocês duas estão tendo grávidas ao mesmo tempo e as duas vão ter
meninas, que incrível.
Nós duas rimos e concordamos.
— Bem, antes de vocês saírem, tenho presentes para vocês duas, —
diz Encantado.
— Isso é tão legal! Este lugar é incrível, a propósito, — eu digo,
falando sério.
— Não é? — ele concorda e chama um garçom para pegar outra
bebida.
— Onde está Mort, eu tenho que dizer oi para ela, — eu pergunto,
olhando ao redor.
— Oh, — Encantado suspira e aponta para o palco no final do
corredor.
— Ela esteve no karaokê a noite toda.
Aparentemente, está bêbada de champanhe, ela realmente gosta das
bolhas. Tive que ouvir tudo sobre as bolhas por vinte minutos. — Ele
parece aflito.
Eu coloco a mão sobre a boca para abafar uma risada. — Ela está
cantando para alguém?
Vejo Mort parecida com sua fofa Sailor Moon e usando uma espécie
de chapéu grande do Grinch que está prestes a cair. Oh céus.
— Sim, — Encantado confirma enquanto ele olha na direção dela. —
Acho que é o Phil da contabilidade.
— Eu acho que ele parece desconfortável, — diz Laura com uma
sobrancelha levantada.
— Provavelmente, vou agarrá-la em um minuto, — Encantado ri. —
Lá vem ela.
Mort chega até nós com um grande sorriso e champanhe na mão, o
chapéu ficou caído pelo caminho em algum lugar. — Minha humana! —
ela balbucia e envolve seus braços em volta de mim.
— Mort! — Eu rio, — Você arrasou naquele palco!
— Sim, acabei de dar tudo o que o público queria. — Ela tropeça para
a esquerda.
— Sente-se, Mort, — Encantado diz.
— Eu já volto, tenho que dizer a Phil como me sinto. — Então ela se
foi da mesma forma que chegou.
Encantado estremece. — Ela vai se arrepender disso, ela despreza
aquele cara.
Eu ri. Típico da Mort.
Nesse momento, Apollo e Tarren vêm com pratos de comida como se
pesássemos cem quilos. Agora que penso sobre isso, talvez a gente pese
mesmo. Mas quem se importa, tudo parece e cheira delicioso.
Encantado se levanta e aperta a mão dos homens.
— Obrigado, espero que um pouco disso seja para você? — Eu sorrio
enquanto Apollo se senta ao meu lado.
— Só um pouco, — ele pisca.
Encantado toma um gole de sua bebida. — Vou deixar vocês
comerem, tenho que me preparar para a nossa próxima missão.
Dou uma mordida no camarão com bacon sem culpa. — Qual é esta
missão?
Encantado se inclina para frente. — Uma difícil.
Na verdade, é tão difícil que acabamos de obter a informação que, se
falharmos, ninguém nos ajudará.
Apollo estala a língua. — Sinto pena do homem em questão.
Eu o chuto por baixo da mesa. — Por quê? Ele é super mal?
— Não é isso. É bastante complicado. Estou lidando com uma raça de
pessoas que se consideram superiores, — diz ele com outro gole.
— Você não pode simplesmente tornar as agentes da sua raça, então?
— Não, porque esse é o problema. A Fada Madrinha acha que eles
precisam ser colocados em seus lugares por um humano. Seu ego precisa
ser alterado.
— Eles têm toda essa coisa de Jogos Vorazes acontecendo lá que
precisa ser consertada.
— Jogos Vorazes? — Laura franze a testa. — Eu adoro aquele filme.
— Não se você estiver dentro dele, — diz Encantado. — Estou com
medo de que muitos salva-vidas sejam usados para completar a missão.
— Estou pedindo mais, mas não sei se o conselho vai concordar, —
ele continua enquanto pega um pouco de camarão do meu prato.
— Eu vou encontrar uma garota pessoalmente. Eu preciso de uma
garota que não desista e tenha um ego igual ao deles. Eu posso jogar uma
carta selvagem com a escolha do destino. Então isso é divertido, — diz
ele, mastigando.
Laura ri. — Encontre uma celebridade.
— Certo, — ele balança a cabeça, apontando para ela. — Só preciso
encontrar uma que esteja disposta a fazer isso e tenho uma semana para
conseguir. — Ele aponta para o camarão. — Essas são legítimas.
— Mas é emocionante, — digo, desejando poder receber atualizações
sobre a missão. — Você vai me dizer como foi?
— Claro, — Encantado pisca e se levanta. — Não se esqueça de tirar
fotos na cabine de fotos engraçadas. — Ele se curva e sai com pressa.
Apollo beija meu pescoço. — Eu odiaria ter o emprego dele.
Eu olho para ele. — Mas acho que ele adora.
Só espero que quem quer que ele escolha saiba no que ela está se
metendo.
E uma viagem maluca.
Mas, ah, vale a pena.
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