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Esta obra literária é ficção. Qualquer nome, lugares, personagens e incidentes são produto da
imaginação do autor. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, eventos ou
estabelecimentos é mera coincidência.
D995m
1.ed
Dyken, Rachel van
O manual da conquista [recurso eletrônico] / Rachel van Dyken ; tradução
Débora Isidoro. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Allbook, 2020.
— Shell. — Minha voz estava calma, mas minha cabeça latejava. Estava
morrendo de fome, e a última coisa que eu queria era discutir com uma
cliente sobre por que eu estava certo e ela, errada. — Não dou a mínima se
ele está lá fora fazendo uma serenata para você com o Drake. Não o deixe
entrar.
— Mas... — Sua voz era chorosa. Droga, por que elas sempre
choramingavam? — ele está sendo tão doce!
— Os homens são sempre doces quando estão atrás de uma bunda —
resmunguei, depois farejei o ar. Droga, que tipo de perfume a Garota Lobo
usava? Era como se tivesse acabado de encontrar, no departamento de
cosméticos, uma vendedora confusa que esborrifou em mim cinco marcas
diferentes de “Sou Fácil”. — Você me paga para te ajudar a ter sucesso.
Não vai ter sucesso com ele se continuar tentando violar as regras. As
regras foram estabelecidas para te beneficiar, não para fazer mal a ele.
— Eu sei. — A voz de Shell tremeu. — É que... é difícil.
— Vai valer a pena. — Parei na vaga mais próxima do campus que
consegui encontrar, o que significava que eu ainda teria de correr 5
quilômetros para encontrar Blake na hora. — Prometo.
Ela ficou em silêncio, depois murmurou um obrigada antes de desligar.
Quebrei a regra do telefonema com Shell só porque sua mensagem me deu
a impressão de que ela estava a dois segundos de se jogar pela janela nos
braços do Barista Ciumento.
As clientes sempre argumentavam quando as coisas estavam indo bem.
Quando iam mal? Quando percebiam que o Príncipe Encantado era um
idiota? Elas choravam. Enxurradas de lágrimas. Nesses períodos, eu dava a
elas o número de alguns conselheiros no campus e deixava claro que, apesar
de lamentar, não era namorado delas. Eu me negava a ser a caixa de
ressonância quando elas começavam a se queixar de todos os homens serem
filhos de Satanás.
Desliguei o carro e atravessei o campus correndo. Encontraria Blake no
Husky Union Building. Estava morrendo de fome, por isso quebraria uma
das minhas próprias regras — ia compartilhar uma refeição com ela.
Talvez eu devesse ter levado alguns biscoitos da... como era o nome
dela, mesmo? Fechei os olhos enquanto minha mente fazia uma reprise
rápida de algumas horas atrás, quando a joguei contra a parede, ela gritou
meu nome e eu gritei...
— Marissa.
Assenti. Maldito nome difícil de lembrar. Ela me ofereceu biscoitos
novamente quando eu estava saindo, mas as garotas só faziam isso para te
convencer a voltar. Oferecer um biscoito a um homem depois do sexo é
como dizer a uma criança para fazer xixi antes de colocá-la no carro para
uma longa viagem. De repente, elas dizem Sim, eu realmente preciso ir ao
banheiro. Você planta a ideia.
Portanto, se eu tivesse aceitado o biscoito de Marissa, teria plantado a
ideia de que queria mais biscoitos dela. E a última coisa que eu precisava
era permitir que ela, ou qualquer outra garota, pensasse que eu aceitaria um
compromisso só porque gostava de doces.
Pensar nisso era suficiente para fazer todo meu corpo vibrar em alerta.
Mas comer com Blake era diferente. Não era uma pegadinha.
E com certeza não era um encontro.
Eu nunca comia com clientes. Compartilhava um café, tomava uma
cerveja, mas nunca comida. Comida significava que havia algo mais, algo
mais profundo. No minuto em que a comida era posta na mesa, era como se
todo o comportamento da garota mudasse, como se o fato de eu pagar pela
refeição significasse que eu queria comer outras coisas dela, e mais de uma
vez.
Essa regra eu aprendi da maneira mais difícil.
Lex, o filho da mãe, ainda estava traumatizado com o último encontro
há mais de um ano. Ele ainda se recusava a combinar um happy hour com
uma cliente. Era café ou água. Chocante que ele e eu quase sempre
obtivéssemos os mesmos resultados quando aceitávamos clientes. Meus
métodos eram mais brandos, comparados aos de Lex. Digamos apenas que
ele tem um jeito todo especial de seduzir.
O suor escorria pela nuca quando tirei a jaqueta de couro, a pendurei no
braço e abri a porta do HUB. Essa era Blake, lembrei. Não precisava me
preocupar com a possibilidade de ela ter expectativas mais altas por causa
de uma refeição. Ela mal suportava ficar no mesmo espaço comigo. Posso
dizer que minha índia não gostou do seu pioneiro.
Soltei um suspiro, e lá estava ela, olhando para o celular com os ombros
encolhidos, os chinelos à mostra, só que dessa vez o elástico no cabelo era
cor-de-rosa.
Eles ainda vendiam essas coisas? Ou ela só comprava essas merdas no
eBay para mexer com minha cabeça?
— Blake? — Flexionei o dedo para chamá-la. Eu queria ver como ela
caminhava em minha direção, como se aproximava dos homens. Blake deu
de ombros, enfiou o telefone no bolso fundo e frouxo do short de basquete e
se aproximou, rígida. Andando como se tivesse uma estaca na bunda.
O cabelo estava bem preso em um rabo de cavalo baixo, dando a
impressão de que sorrir faria o rosto doer.
Quando ela parou na minha frente, falei um palavrão e soltei seu cabelo.
— Ei! — Sua cabeça foi puxada para trás com a força do movimento. —
Ai!
— Não. — Segurei o elástico entre nós. — Só... não.
— Mas...
— Nunca — disse, devagar, enquanto o arremessava do dedo na direção
da lata de lixo. Errei por alguns centímetros. O que significava que alguma
pobre alma poderia descobrir aquele pequeno e triste tesouro e fazer bom
uso dele. Espero que não, pelo bem de todos; pelo bem de todos os olhos.
— Que descanse em paz.
Blake deixou cair os ombros quando um grupo de homens pisou em
cima dele.
— É a única coisa que mantém meu cabelo preso.
— Vamos encontrar outra coisa que não te deixe com cara de
protagonista de Napoleon Dynamite, ok?
Ela estreitou os olhos.
Recuei alguns passos.
— Uau. — Segurei seus ombros e me aproximei. — Seus olhos
mudaram de cor da noite para o dia?
— Não. — E os arregalou. — Por quê? — E pôs as mãos no rosto. —
Não dormi muito essa noite. Meus olhos devem estar vermelhos.
Na verdade, era o contrário. Estavam lindos, mais claros do que os tinha
visto na aula. Tinha um pouco de verde contornando a íris. Era fascinante.
— Ian? — Blake sussurrou. — Que foi?
— Nada. — Recuei e forcei uma risadinha. — Só... vamos. Sou capaz
de comer uma vaca inteira nesse momento.
Abri uma mensagem de Lex enquanto dava uma olhada na praça de
alimentação.
— Eu sei por que Gabi diz que quer te matar você o tempo todo! —
Blake gritou.
— Mais dois! — Meu peito bateu no chão, levantei, pulei no lugar
batendo palmas e abaixei de novo.
Blake estava aguentando bem. Eu nem precisava desacelerar, o que era
impressionante. Ela só reclamou uma vez quando começamos a fazer
sacrifícios por flexões-burpee, o que significa, basicamente, que você faz
burpees até perder a vontade de viver.
— Eu. — Ela aproximou o peito do chão. — Odeio. — Tentou levantar.
— Burpees.
— Mais um!
Seus braços tremiam quando ela levantou e finalmente conseguiu erguê-
los e dar um pulinho. Seu rosto lindo pingava suor. Com um sorriso largo,
ela levantou a mão para um high five.
Estava me cumprimentando?
Depois de levá-la ao inferno?
Eu bati em sua mão, depois a puxei contra o peito suado.
— Ahhh! — Ela se apoiou em mim. — Obrigada por isso. Meus
exercícios não são nada perto disso. Você não... — Ela desviou o olhar. —
Deixa para lá.
— O quê?
— Você malha assim todos os dias?
— Sim. — Joguei uma toalha para ela e olhei meu relógio. David estava
atrasado, não que eu me importasse. Tinha esquecido dele durante a
malhação na academia.
— Pode recusar. — Blake estendeu as mãos para frente. — Mas se
importaria se eu viesse algumas vezes por semana? Posso até pagar para
você, ou algo assim. Meu treinador tem insistido para eu treinar cardio
ultimamente, e acho que isso vai ajudar.
Revirei os olhos.
— Não precisa me pagar... Não sou treinador. Você só vai fazer meus
exercícios comigo. Fico entediado sozinho e, por algum motivo, Lex se
recusa a malhar comigo.
— Puxa, por que será? — Blake brincou, jogando a toalha suada no meu
rosto.
— Ei! — Eu a agarrei e joguei sobre o tatame no chão, mantendo o
corpo sobre o dela. — Está cansada?
— Exausta. — Ela riu. — Mas adoro essa sensação.
— É a melhor — disse, e senti a garganta subitamente seca quando ela
olhou para minha boca.
— Então — eu me afastei um pouco —, vou te ajudar com o
alongamento e...
Blake arregalou os olhos e inclinou a cabeça para a direita, como se
dissesse: Olha!
David caminhava em nossa direção, balançando a cabeça no ritmo do
hip hop e batucando no celular. Sempre imaginei que homens como ele
ouviam Josh Groban. Ele até parecia uma versão mais alta dele.
— Fica calma. — Segurei sua perna e a empurrei esticada em direção à
cabeça, depois coloquei o corpo sobre o dela, minhas pernas entre as dela.
Basicamente, era uma posição do Kama Sutra, mas vestidos e sem final
feliz. Droga.
Balançando a cabeça, Blake fechou os olhos e soltou um pequeno
gemido.
— Ai, isso dói.
— Desculpa. — Meus dedos se atrapalharam quando deslizaram da
panturrilha até a coxa. — Caramba, você é firme. — Seus músculos
tremiam sob meus dedos enquanto eu os massageava lentamente.
— Isso. — Ela suspirou. — Bem. Aí.
Apertei um pouco mais, depois comecei a alongar sua perna até
estarmos quase peito a peito. Ela arqueou as costas quando minha mão
encontrou o nó.
— Desculpa. — Fiz uma careta e continuei massageando.
— É uma delícia. — O nó relaxou, e eu fui para a próxima perna dela.
— Ahhh. — Ela quase gozou no tatame.
— O treinador não ajuda vocês com isso? — perguntei, tentando manter
as mãos focadas em realmente alongá-la, em vez de passar dos músculos
para partes que não precisavam de alongamento.
— Ele me apalpou três vezes — ela resmungou. — Acho que leva o
trabalho dele para o lado... pessoal.
— Chute nas bolas, da próxima vez. Depois ponha a culpa nos seus
reflexos incríveis. — Empurrei com mais força sentado sobre sua perna,
levantando a outra acima da cabeça. Meu corpo estava realmente gostando
do alongamento, mas não porque aliviava a tensão. Na verdade, aumentava,
e roupas de ginástica não eram muito discretas. Ela só precisava olhar para
baixo para ver como eu estava animado para ajudá-la de todas as maneiras
possíveis, dia e noite, noite e dia.
— Blake? — Uma voz profunda interrompeu nossa sessão de
alongamento. Olhei para cima e sorri para David, o tipo de sorriso que um
homem dá quando sabe que o outro está com ciúmes e não pode fazer nada.
— Ah, oi. — Blake se apoiou nos cotovelos enquanto eu abaixava sua
perna. — Não tinha te visto aí, David.
— Você parece... — Ele apontou para o corpo dela e engoliu em seco,
os olhos expressando um interesse óbvio.
— Esgotada — ela disse. E começou a rir segurando minha mão. — Ian
sabe como me fazer trabalhar.
Quase gargalhei ao ver a raiva que passou pelo rosto de David. Como eu
me atrevia a tocar na amiga dele? Só para irritá-lo, beijei a mão dela e
pisquei.
David se aproximou de nós.
— Se quiser alguma ajuda... na academia, pode falar comigo.
— Oh. — Blake olhou para mim e para David. — Muito legal da sua
parte, mas...
— Acho que estou cuidando de tudo, David. — Ri como se insinuasse
alguma coisa.
— Bem, a oferta está de pé. — David se afastou lentamente. — Foi
ótimo te ver, Blake. Você está… muito bem.
E olhou para os seios dela.
O que, por sua vez, fez todos os homens em um raio de 80 quilômetros
compartilharem de sua admiração.
— Obrigada!
Quase gemi quando ela alongou os ombros, fazendo o peito se projetar
um pouco. Minha mão tremeu, junto com meu pau.
— Hum. — O pobre David parecia pronto para engolir a língua
enquanto movia as mãos para a frente do corpo e assentia. — Até mais.
O idiota estava escondendo a genitália.
Ele foi imediatamente para o supino e fez quase cem na barra. Sério,
cara? O sofrimento seria terrível se ele não fizesse um aquecimento pelo
menos.
Mas o Gigante Bobão era mais ardiloso do que eu esperava. Não fingiu
que não estávamos olhando. Sabia que estaríamos.
Gigante Bobão manhoso e alegre. Fiz uma careta quando ele começou a
levantar os quase cem como se não fosse grande coisa. Ele ficou de pé, com
o peito inflado, e olhou para nós como se dissesse: “Ah, ainda estão aí?
Olha isto”.
Ele acrescentou mais quinze quilos.
Tive de admitir. Ele era um idiota, mas era um idiota forte.
— Uau. — Blake respirou fundo.
Olhei para ela e vi os olhos arregalados acompanhando os movimentos
dele. Ah, não.
Rangendo os dentes, quase a agarrei ali mesmo. Ela estava mesmo
impressionada com esse idiota? A linha entre pessoal e profissional estava
desaparecendo diante dos meus olhos, porque tudo que eu queria era
empurrá-la contra a parede e mergulhar nela.
Vivia uma situação que nunca tinha enfrentado antes. Uma situação em
que a garota e o cara naquela interação natural de sou homem, olha como
estou rugindo — ah, meu Deus, olha como você é forte, realmente fazia
meu peito doer.
Tinha dito a Blake que, se fosse necessário, eu a beijaria.
De repente, isso se tornou extremamente necessário.
Era uma declaração.
Sem permitir que meu cérebro oferecesse as razões lógicas para essa ser
uma má ideia, me inclinei para Blake e a beijei.
No minuto em que nossas bocas se encontraram, ela arfou.
Esperava que ela se fechasse completamente, o que me fez virá-la de
costas para David, para que ela não nos denunciasse. Em vez disso, ela
colocou os braços em volta do meu pescoço, e colou o corpo ao meu.
E abriu a boca.
Seu sabor era de café e canela. Puta merda. Alguém devia fazer um
chiclete com essa mistura.
Invadi sua boca, mergulhei, saqueei, basicamente plantei minha
bandeira e a saudei, sempre passando as mãos em suas costas, apertando a
pele, desejando que o calor entre nossos corpos chamuscasse as roupas para
que eu não precisasse perder tempo as arrancando de seu corpo.
Suas mãos agarraram meu cabelo quando inclinei a cabeça para o outro
lado, provocando sua boca. Fazendo amor com os lábios.
Um barulho alto ecoou.
Nós nos afastamos.
— Desculpa — David chamou do outro lado da sala de musculação. —
Derrubei o peso.
Desculpa meu ovo.
Tanto faz. Eu não me importava. Porque eu era o cara que estava com a
garota.
Não que ela fosse minha.
Ou que não seria dele em alguns dias.
Merda.
— Isso foi — Blake mergulhou no meu peito enquanto eu a envolvia
com um braço — um ótimo primeiro beijo.
Droga! Eu estava estragando tudo. Eu fui o primeiro beijo dela? Eu? O
prostituto declarado? O cara que ela estava pagando? Não era por mim que
ela estava apaixonada.
E isso foi como um coice.
Ela se guardava para alguém importante, enquanto eu nunca me guardei
para ninguém.
O pensamento me atormentou durante toda a caminhada até meu carro.
SHELL SENTOU PERTO DE MIM E FINGIU ESTUDAR A CAFETERI
toques de mão aqui, olhares demorados ali, e uma caneta caindo
estrategicamente, para dar a impressão de que eu olhava para a frente de sua
blusa.
E, bum, como num passe de mágica, o Barista Ciumento apareceu. Tom.
Merda, eu odiava o Tom. Não por ele ser um babaca, mas porque se
recusava a ir além da fase autoritária do “eu sei o que é melhor para você”.
E isso estava começando a me irritar de verdade. Era a última fase, aquela
em que o cara deixava de ser protetor e passava a fazer besteira de verdade.
Shell não merecia esse limbo. Tinha feito um ótimo trabalho, e se ele
não conseguia ver a mulher que ela era, nós dois, ela e eu, deveríamos ter
uma conversa bem franca, e só fiz isso com uma cliente em toda minha
carreira. Não queria que virasse hábito.
Além do mais, quanto mais cedo eu terminasse com a Shell, mais cedo
poderia...
Franzi a testa. O quê? Terminar com a Blake? Era isso que eu queria?
Mastiguei o canudinho do smoothie até ele não prestar para mais nada.
— Querem mais alguma coisa? — Tom nos ofereceu. Ele sempre falava
no plural, mas ignorava completamente minha existência e mantinha os
olhos castanhos e preguiçosos cravados em Shell.
— Na verdade — ela bocejou, alongando os braços sobre a cabeça e,
como instruí, massageando a nuca —, queria saber se você não trabalha
como massagista nas horas vagas.
Perfeito. O texto foi dado com precisão, como ensaiamos, o que era um
sucesso, considerando que, nas quatro primeiras vezes que tentou comigo,
ela gaguejou e quase gritou “massagista”, depois roncou no meio de uma
risada nervosa. Escondi o sorriso atrás da caneta enquanto anotava mais
umas bobagens sobre ética nos negócios. Eu percebi a ironia, pode
acreditar.
Tom sorriu, radiante.
— Não, mas sou bom com as mãos, mesmo assim.
Olhei para as mãos de aparência fraca. Duvido, mas duvido muito, cara.
Tinha certeza de que, se pudesse dar uma sacudida no mundo de Shell com
aquelas mãos, o mais provável era que ela elaborasse mentalmente a lista de
compras enquanto ele se esforçava para provocar alguma reação.
Tom tocou o pescoço dela e começou a massagear, enquanto Shell
olhava para mim por entre os cílios longos e movia os lábios para formar
Oba!
Fingi estar concentrado demais no meu estudo para notar.
Tom chegou mais perto dela, colou o peito em suas costas. Depois se
inclinou para frente e sussurrou:
— Vou limpar sua agenda.
— Limpar? — ela repetiu, surpresa. — Não entendi.
— Olha para ele. — Sabia que o “ele”, nesse caso, era eu. — Estou em
cima de você, e ele nem se incomoda.
Verdade. Eu me incomodava mais com a câimbra na mão de tanto
escrever e com a dor nas costas de ficar debruçado em cima do livro.
— Shhh — Shell protestou. — Ele é muito legal, depois que você o
conhece de verdade, é...
Hora do show.
— Shell — falei com tom duro. — Vamos embora.
Levantei e comecei a recolher minhas coisas.
— E se ela não quiser ir com você? — Tom cruzou os braços, como eu
esperava, e sua postura protetora era reveladora. Encoste a mão nela, e
arranco sua cabeça. Ou, nesse caso, ele organizaria um sarau de poesia e
usaria as palavras, porque violência não é nada legal. Paz mundial. Salvem
as baleias. Leite de soja. Ponto final.
— Shell. — Franzi a testa. — Qual é?
Ela se levantou, apesar das pernas trêmulas.
— Ian, tudo bem, temos que ir e...
— Shell! — Tom a agarrou pelo cotovelo e a puxou para o círculo
protetor de seus braços. — Ele é seu parceiro de estudos, não seu
namorado.
— Na verdade... — Fiz uma careta.
O rosto de Tom adquiriu um tom estranho de roxo.
— Não mais.
— Não mais o quê? — Droga, minhas costas estavam doendo. Por que
os homens sempre demoraram tanto para fazer sua declaração de posse?
Arar a terra, fincar a bandeira e cantar o hino da vitória.
Ele olhava para mim e para Shell, de um para o outro.
E então, a raiva desapareceu. Lá vem. Em três, dois, um.
— Shell. — Tom a segurou pelos ombros e a virou de frente para ele. —
Eu gosto de você. Sempre gostei de você.
Graças a Deus, uma confissão!
— Lembra quando você sempre pedia café, mas nunca experimentava
misturar um pouco de leite e mel?
E essa era minha deixa para cair fora. Alguém me salve do discurso
“descobri que sempre foi você”.
Ela assentiu, e seus olhos se encheram de lágrimas.
— E aquela vez que ficou até muito tarde, dormiu em cima do livro, eu
te acordei, e você disse...
— Só mais uma xícara!
Os dois riram juntos.
Puta merda, fingir que estava furioso era difícil, quando eu estava a um
passo de uma dor de cabeça e eles viajavam pela estrada das lembranças
românticas.
— Ele nem te conhece como eu. — Tom a puxou para mais perto,
movendo as mãos sobre as dela como se os dedos tentassem acasalar com
suas palmas. — Termina com ele.
Isso. Por favor. Pelo amor de Deus. Termina comigo.
Tenho de admitir, Shell fingiu estar dividida quando abaixou a cabeça e,
bem devagar, disse:
— Ian, acho melhor você ir.
Vi o triunfo passar pela expressão de Tom.
A vitória pulsava em meu peito.
E assim, Tom vencia o último round... O último round era sempre do
cara, a menos que o programa de computador dissesse que ele era um
completo idiota. Mas até agora, o programa era infalível, sempre nos ajudou
a distinguir os vencedores dos perdedores. E por mais que Tom me irritasse,
eu sabia que, no fundo, ele gostava da Shell de verdade, e se eles
conseguissem superar os próximos meses, provavelmente se casariam em
um ano, mais ou menos. Os dois eram calouros imaturos, egoístas, e fazia
sentido que tivessem demorado um pouco para superar suas inseguranças e
se entenderem.
Seis dias.
E Shell tinha seu homem.
— Se é isso que você quer — falei para ela, e guardei os livros dentro da
bolsa a tiracolo —, não vou ficar no seu caminho. Só não esquece, eu vou
estar aqui quando esse babaca te dispensar, e ele... — Olhei para ele de
cima, desafiante. — Ele vai.
— Você precisa ir embora. — Ele a segurou com mais força, com uma
fúria possessiva nos olhos. — Agora.
E pronto.
Ciúme era uma coisa; salvá-la era outra. Mas no minuto em que o olhar
dele passava da salvação para a admissão, e finalmente entrava no terreno
da posse? Bem, eu podia dar parabéns ao casal pelo relacionamento.
Projetei tudo da melhor maneira possível. Plantei as sementes, molhei e
esperei que crescessem.
A menos que um incêndio queimasse toda a lavoura, elas ficariam bem.
Mais uma cliente satisfeita.
Passei por ele e entrei rapidamente no carro, liguei o motor e saí do
estacionamento, tudo isso para mostrar como estava ofendido por ele ter
invadido meu território.
Ouvi a notificação de mensagem quando parei no semáforo.
Duas horas depois, finalmente saí da casa de Blake, limpo e pronto para
ir encontrar Vivian no HUB. Era nosso segundo encontro, e eu explicaria a
agenda para ver se era conveniente para ela. Esperava que dar uma olhada
no cara por quem ela se interessava me ajudasse a avaliar quanto tempo ele
levaria para percorrer os estágios.
Vivian estava no Subway, roendo as unhas e encarando um dos
funcionários. Ele era meio baixinho, usava uma viseira da lanchonete virada
para trás e dizia “yo” mais vezes do que qualquer pessoa deveria dizer em
um período de cinco minutos.
— Yo — provoquei, e sentei na frente dela.
— Ele nem sabe meu nome — ela resmungou.
Ignorei.
— Já saiu da casa dos seus pais?
Atenta ao rapaz, ela assentiu e continuou falando comigo sem fazer
contato visual, o que me causava arrepios.
— Fui morar com uma boa amiga perto do campus. Até cortei o cabelo.
— Estou vendo. — E também tinha descoberto batom vermelho e todas
as maneiras de pintar os dentes por não saber usá-lo. — Vivian...
Ela continuava olhando para John.
Muito bem. Ela queria chamar a atenção dele? Eu ia cuidar disso.
— Sua vadia! — Levantei e joguei a cadeira no chão. Alunos assustados
olharam para nós. — Não acredito que dormiu com ele! Na minha festa? Na
minha casa! Na minha cama!
Boquiaberta, Vivian olhou para mim, depois para a fila silenciosa do
Subway. A arte do sanduíche oficialmente interrompida.
— Ian, o que está fazendo? — ela murmurou.
— Terminando com você. O que acha que estou fazendo? Você dormiu
com meu irmão! — Eu nem tinha irmão. — Na minha festa de aniversário!
— Meu aniversário era em novembro. — O quê? Achou que eu não ia
descobrir?
Lágrimas encheram seus olhos.
— Ian... — Elas começaram a correr pelo rosto.
— Ei, cara. — John se aproximou e tocou meu braço.
— Não toque em mim! — Eu me afastei.
— Calma, yo, fica frio. — Ele ofereceu um sorriso calmo. — É só que a
Vivian aqui... — eu sabia que ele sabia o nome dela — parece bem
assustada. E o que quer que tenha acontecido, não é legal resolver na frente
de uma plateia.
— Sabe o que mais não é legal? — Eu fumegava. — Ela! — Apontei
para Vivian. — Me fazer gostar tanto que queria até perdoá-la por ter feito o
impensável. Ela é... — Desviei o olhar. — Ela é linda.
John olhou para Vivian. Rezei para ela ficar de boca fechada, porque o
batom vermelho nos dentes faria o oposto de atrai-lo. Por outro lado, talvez
ele gostasse do estrago.
— Sim, ela é — disse.
Eu sabia o que ele via, a garota comum com um pouco de batom
vermelho. O rosto ainda corado dava a impressão de boca mais carnuda. Os
olhos muito abertos pareciam enormes, e o novo corte de cabelo dava a ela
um ar de quem tinha acabado de fazer sexo, o que, é claro, me deu a ideia
brilhante.
Não era só ciúme que fazia um homem entrar em ação.
Era o simples fato de outro homem ter descoberto um tesouro que
passava diante dele há anos, e para o qual ele nunca deu atenção.
Todos os homens queriam ser o primeiro.
Queríamos ser Cristóvão Colombo, Lewis e Clark... você entendeu.
Ele seria sempre o segundo, depois de mim. Era o que pensava. O que
significava que se esforçaria duas vezes mais para apagar a lembrança do
primeiro na vida dela.
Puxa, eu era brilhante.
— Olha só. — Passei a mão na cabeça tentando parecer estressado. —
Viv, podemos conversar lá fora?
Ela assentiu e levantou devagar. Fiquei feliz por ver que ela tinha
seguido meu conselho e se vestia de acordo com sua idade. Jeans skinny e
regata preta faziam parecer que tinha mais de doze anos.
— Ei. — John segurou o braço de Vivian e cochichou alguma coisa no
ouvido dela. Ela assentiu, abaixou a cabeça e saiu comigo.
Assim que saímos, eu a levei para o banco e a fiz sentar.
— Isso foi...
— Shh. — Levei o dedo aos lábios. — Espera uns minutos. Ele deve
estar olhando para cá, e se começarmos a conversar agora, vai parecer que
estamos resolvendo as coisas. Se ficarmos em silêncio, vamos parecer... um
caso perdido. E é essa impressão que temos que dar.
Vivian assentiu e até cruzou os braços.
Depois de cinco minutos, olhei para ela.
— Desculpa por ter te constrangido.
Ela deu de ombros, depois sorriu.
— Ele quer me encontrar quando sair do trabalho. Disse que tinha traído
a namorada no ensino médio e sabia como era ruim sentir culpa por uma
coisa que é totalmente sua responsabilidade.
— Hum... interessante. Isso não estava no arquivo dele, o que significa,
basicamente, que sou mais brilhante do que tinha notado.
Ela chegou mais perto de mim.
— Não, não. — Dei risada e me afastei um pouco. — De agora em
diante, vamos nos tratar com frieza, vamos nos manter afastados. Ainda
meio juntos, mas... só pelas aparências.
— Certo. — Ela juntou as mãos sobre as pernas. — Vou encontrar com
ele, então?
— Sim, é claro. Reclama bastante, fala que não é verdade, porque não é,
mas que eu me recuso a acreditar em você porque tenho dificuldade para
confiar nos outros. Diz para ele que acabou, praticamente, o que é frustrante
para você, porque eu fui o melhor sexo da sua vida.
— Quê? — Ela ficou vermelha. — Não posso dizer isso.
— Fizemos as coisas ao contrário. Normalmente, desperto ciúmes neles
primeiro, depois eles oferecem um ombro para chorar quando as coisas vão
mal. Mas mudamos a ordem. Diz para ele que está aborrecida porque vai
sentir minha falta na cama. Diz que eu era incrível. Diz que grita meu nome
à noite, mas acorda sozinha.
— Não acreditamos que estamos tendo essa conversa. — Ela começou a
balançar para frente e para trás, olhando para mim e para o gramado, ainda
com o rosto vermelho. — Não posso... dizer essas coisas.
— Pode. — Verifiquei o telefone. — E vai. E quando isso acabar, você
vai embora, diz que está exausta, que não tem dormido bem. Ele vai pedir
seu telefone. Pode dar. Ele vai mandar uma mensagem de boa noite. Não
responda antes das três da manhã. Ele vai responder, pode acreditar. E
quando ele responder e perguntar por que está acordada, diga que está
agitada.
Dei uma olhada no histórico de John. Eles tinham mais ou menos 80%
de chance de match. Isto é, se ele parasse de enrolar durante as aulas,
terminasse os trabalhos e os entregasse no prazo determinado. Vivian era
muito estudiosa.
— Tem alguma prova nos próximos dias?
— Sim, biologia.
— Ótimo. Ele faz essa matéria também, não?
Ela assentiu.
— Diz para ele que a única coisa que te faz esquecer de tudo é estudar...
e ele vai se oferecer para estudar com você. Espera um dia, depois aceita a
oferta. Manda uma mensagem para mim assim que ele entrar na casa, e eu
vou mandar uma mensagem para você enquanto estiverem estudando, para
parecer distraída. Ria de algumas mensagens, depois suspire e feche o livro
com um movimento irritado. Ele vai dizer que você merece coisa melhor e
vai perguntar se já pensou em se envolver com outra pessoa. E aí é
especialmente importante que você preste atenção a cada palavra minha.
— Isso está acontecendo depressa demais. — Ela ofegava como se fosse
desmaiar.
Ah, que bom, mais uma hiperventilando. Eu não tinha tempo para essa
merda hoje. Blake sairia do treino de vôlei em breve, e eu tinha planos para
aquela boca, aquelas pernas... para cada parte dela.
— Você quer o cara, não quer?
— Quero.
— Ótimo, então, diz a ele que nunca esteve com mais ninguém. Diga a
ele que só beijou...?
Fiquei esperando a resposta.
— Dois caras.
Ótimo, ela estava pegando o jeito.
— Maravilha. O primeiro foi no ensino médio? — Era um chute.
Ela confirmou balançando a cabeça e deu de ombros.
— Bom, os dois foram no ensino médio. Não fiquei com ninguém desde
que vim para a faculdade.
— Lamento.
— Pais superprotetores. Eles controlam tudo. Às vezes, é mais fácil
aceitar e fazer como eles querem.
— Você saiu de casa. Agora está tudo bem, não?
— Sim. — Ela se animou. — Entendi, dois caras, e depois? Como vou
saber se beijo bem? E se não for boa o bastante?
A garota tinha razão.
Levantei um dedo.
— Aguenta aí.
Liguei para o Lex. Ele atendeu no primeiro toque.
— Fala que vai passar pela fonte em poucos segundos.
— Encontro você já.
— Preciso de você.
— Beleza.
Ele desligou.
Vivian franziu a testa quando Lex contornou a fonte e se aproximou de
nós. Eu adorava ver como as garotas reagiam a ele. Lex tinha o corpo de um
jogador de futebol, mas o cérebro de um... sei lá, de um gênio mau? Era
quase como se ele soubesse exatamente que substâncias circulavam no
corpo das garotas quando ele sorria, como se soubesse a pressão exata que
devia aplicar a cada beijo para provocar uma explosão.
Verdade. No passado, houve momentos em que quis matá-lo e dissecar
seu cérebro bizarro. Agora era só interessante de olhar.
— Chamou? — Ele pôs as mãos nos bolsos.
Acenei com a cabeça para Vivian.
— Ela precisa saber como conquistar um cara com um beijo especial.
— É para já. — Ele deixou a mochila no chão. — Vai ser aqui mesmo?
Olhei em volta.
— Sim, mas é melhor ir mais para o meio das árvores para o John não
ver.
Ele puxou Vivian pela mão e a levou para as árvores, depois apoiou as
mãos em seus ombros.
— Pronta?
— Espera. — Ela olhou para nós dois e sussurrou: — O que está
acontecendo?
— O primeiro dia do resto de sua vida — Lex anunciou, sério. —
Encara como educação sexual, mas... melhor.
— Já sei sobre os pássaros e as abelhas.
Lex riu e olhou para ela, incrédulo.
— Aposto que sabe.
— Quem é você? — ela perguntou com as mãos na cintura.
— A segunda metade desse inteiro. — Lex apontou para mim.
— Você é gay?
Ele a puxou para perto.
— Se esfrega em mim e vai descobrir, gatinha.
Revirei os olhos.
— Viv, o Lex vai te ensinar a beijar. Eu não posso, porque... — Bom,
tecnicamente, podia. Eu só... não queria. Sentia que estava traindo, mesmo
sendo só um trabalho. Merda, talvez as strippers sentissem a mesma coisa
todas as noites.
— Ele ganhou uma vagina — Lex explicou. — Além do mais, ele pode
ter mais experiência, pode até ser melhor que eu na cama, não sei, não
temos uma pesquisa recente, mas isso? Isso aqui é minha especialidade.
Então segura a onda, docinho, porque vou mudar sua vida.
— A pesquisa foi forjada — argumentei.
Lex encostou a boca na dela, depois recuou.
— Antes de beijar de novo, vou lamber o lábio. Note que eu disse
lamber, não lambuzar. Uma lambida de leve, só para os lábios
escorregarem. E depois, só uma provocação de leve. — Ele lambeu o lábio
e a beijou de novo, dessa vez se demorando um pouco no lábio inferior
dela, antes de beijar outra vez. Então, a língua apareceu e encontrou a
entrada da boca, antes de ele recuar.
Ela estava de olhos fechados, e se inclinou para frente quando Lex
voltou a falar.
— Quando sentir a pressão exata, ponha as mãos na cintura dele. Nunca
deixe as mãos caídas, não puxe a cabeça dele, só toque de leve os bíceps,
quase como se tentasse se controlar. Entendeu?
Vivian não parecia confiante, mas assentiu, se inclinou e beijou Lex.
Quando terminou, ela deu um passo para trás e esperou.
— Bom.
Lex franziu a testa.
— Hesite um pouco mais, talvez, e toque pelo menos um ponto erótico
do meu corpo.
— Ponto erótico? — Vivian franziu a testa.
Lex suspirou como se ensinasse matemática a um aluno do primeiro
ano.
— Peito, pau, quadril, cotovelos, ombros, coxa. Mas nesse caso, já vetei
abaixo da cintura, então toca meu cotovelo. Ou, se quiser ser mais atrevida,
pode tocar a coxa.
— A coxa. Certo, vamos sentar, então?
Lex gemeu.
— Cara, sério, não tenho tempo para isso.
Interferi.
— Viv, se estiver em pé, toca o bíceps. Assim. — Eu a abracei. — E se
estiverem sentados, sim, toca a coxa dele de leve. Mas não aperta. Toca
como se fosse uma flor, não como se agarrasse uma bola de redução de
stress.
— Flores, sim, bolas, não. Entendi.
Lex deu risada.
— Ok, meu trabalho aqui acabou. Divirtam-se, crianças.
Ele se afastou, assobiando, seguido pelos olhares de algumas garotas.
— Acha que entendeu? — Cruzei os braços. — Porque seu tempo está
acabando, e tenho coisas para fazer.
— Sim. — Se ela assentisse mais uma vez, a cabeça ia cair do pescoço.
— Para de balançar a cabeça, chega de respostas curtas. Responda
sempre com frases completas. Você não tem mais quinze anos. E não
balance a cabeça, ou ele não vai ouvir sua voz. E ele precisa ouvir sua voz.
Queremos que isso o torture quando ele estiver na cama. Sozinho.
Entendeu?
Ela balançou a cabeça uma vez, parou e respondeu:
— Sim, entendi.
— Boa menina. Você tem meu número. Falamos por mensagem.
Andei até meu carro. Ia me atrasar para o jantar, mas isso não tinha
importância. Só queria ver Blake.
Eu nem precisava de sexo.
O que significava que alguma coisa estava muito errada comigo.
— ACHO QUE DEVIA FINGIR UMA GRIPE — FALEI ENQUANTO B
quarto, se arrumando para o jantar com David. Eu a atrasei o quanto pude.
Primeiro no chuveiro, depois antes de ela se vestir. E agora, enquanto ela
calçava os sapatos, eu só conseguia pensar nela usando aqueles saltos
comigo, nua. — Pensando bem... usa isso para mim hoje à noite?
Blake riu e ficou em pé.
— Como estou?
Suspirei e fechei os olhos.
— Linda.
— Você nem olhou.
— Porque olhar para você me deixa furioso. Lembro que ele vai olhar
para você, e cada vez que penso nele naquele lugar com você, quero cortar
a mão que ele usa para arremessar a bola e enterrar no quintal da Gabs.
— Bem gráfico.
— Você nem imagina... — cheguei perto dela — o quanto posso ser
gráfico. Quer um exemplo? Tenho vários. — Mordi seu lábio e puxei a alça
do vestido preto, beijando o local onde ela havia estado sobre o ombro e
tentando abaixá-la ainda mais.
— Ah, não. — Blake apontou um dedo para mim. — Pensa assim:
quanto antes eu sair com ele e contar como estou feliz com você, mais cedo
podemos esquecer essa história com o David. Além do mais, como já disse,
ele é meu amigo.
— Exatamente. E você dorme com um amigo todas as noites.
— Ian, confia em mim. É você que eu quero. Não ele.
Foi nesse momento que eu percebi que ela me dominava de um jeito
bem perturbador, porque, pela primeira vez em anos, eu me sentia inseguro.
Com medo de nosso relacionamento ser muito recente e de ela escolher o
que era confortável.
Com medo de ela se acomodar.
Mas o que me fazia melhor que David?
Merda. E se ela estivesse se acomodando comigo, não com ele? E se eu
a estivesse protegendo? E se...
E é por isso que homens como eu não devem namorar nunca, porque
homens como eu pensam demais. Homens como eu ajudam as mulheres a
conquistar homens como David. Eu sabia exatamente o que ele faria para
encantá-la. Sabia exatamente como ele responderia a cada risada, cada
suspiro. Droga. Era como mandá-la para a batalha desarmada. Ela não
estava preparada para a batalha, não quando David tinha contra mim uma
barricada de lembranças da infância.
Eu devia ter estudado mais os resultados de compatibilidade que Lex
havia me dado. Pelo menos assim eu saberia quem era o melhor homem,
apesar de a simples possibilidade de poder ser ele fazer meu peito se
comprimir de raiva.
Se ela tivesse de ser dele, seria.
Mas ela estava comigo.
— Ian? — Blake acenou na frente do meu rosto. — Tudo bem?
— Vai. — Bufei. — Não vou te levar de carro como o namorado maluco
que não confia na garota que tem. É sério, vai. Eu, hum, te vejo mais tarde?
— Sim. — Ela franziu a testa. — Passo na sua casa na volta. Tudo bem?
— É claro. — Forcei um sorriso e a beijei no rosto. — Só não deixa ele
te tocar. Em lugar nenhum. Nem nas costas, porque isso significa que ele
está pensando em passar a mão na sua bunda.
— Prometo. — Ela levantou a mão. — Vai ver um filme, relaxa. Faz um
trabalho da faculdade.
Como se eu quisesse estudar estatística enquanto ele olhava para o
vestido dela e a imaginava nua. Nem pensar.
— Boa ideia.
— Confia em mim?
— Sim.
Ela me deixou no quarto, pensando em como eu tinha deixado de ser um
cara confiante em todas as áreas da vida para ser um cara que se perguntava
se tinha cometido um tremendo erro de julgamento ao decidir dar uma
chance a ela. Porque, no minuto em que você entra em um relacionamento,
entra de verdade, passa a ter a possibilidade de falhar.
E eu não falhava.
Por isso me esforcei tanto depois da lesão. Também por isso não corria
riscos, por isso não namorava. Adorava as mulheres. Adorava. E gostava
imensamente de sexo.
Mas sexo sempre foi só sexo.
E agora estava associado a Blake.
Merda.
Primeira coisa da lista: abrir aquela maldita pasta, estudar as estatísticas,
examinar olhar as dificuldades e tomar uma decisão, mesmo que isso me
matasse. Além do mais, o quanto poderia ser ruim? Eu não era um cara
horrível, e as coisas iam muito bem com Blake. Tinha certeza de que o
programa nos daria uma alta porcentagem de match. Talvez até mais que
90%.
Mas como poderia continuar com ela se soubesse que estávamos
condenados ao fracasso? Mesmo gostando dela?
Essa ideia me assombrou durante todo o caminho até em casa.
LEX DEIXOU OS RESULTADOS NA SALA DE ESTAR, ONDE COSTUMA
jantar estava vazia, exceto por algumas pilhas de pastas e o sempre presente
MacBook Pro do Lex.
Puxei uma das cadeiras de metal e sentei, sem desviar os olhos das
pastas. Merda, não era nenhum resultado de teste de paternidade. Era só um
número.
Um número que me diria de uma vez por todas se eu era o acomodado
ou que acomodava.
Porcaria.
Batuquei com os dedos na mesa, depois falei um palavrão, empurrei a
cadeira e levantei, debrucei sobre o laptop e continuei olhando, mas
hesitando. Para que isso serviria? Se estava errado, se ela combinava mais
com o David... se realmente gostava dela, eu desistiria, certo? Por que ia
querer magoá-la? Tinha criado a Cupidos S.A. exatamente para pessoas
como ela.
Para proteger essas garotas de homens como eu, jogadores. Era isso
mesmo que estava acontecendo agora?
— Ai, merda.
Eu estava virando uma garota, pensava em todos os desfechos possíveis,
analisava cada ângulo da situação. Basicamente, eu era o Lex com peitos.
— E aí, vai ler ou não vai? — A voz de Lex me fez desviar o olhar do
laptop, falar outro palavrão e quase derrubar o computador.
— Ainda não decidi. — Cruzei os braços. — O que está fazendo em
casa?
— Eu moro aqui. A menos que me ponha para fora, o que é bem
possível, depois dessa leitura.
— Tão ruim assim? — As pastas debochavam de mim com todo seu
brilhantismo organizacional. Havia uma aba para cada cliente, e eu vi meu
nome. Não precisava ter visto meu nome.
— Ruim nível duas doses de uísque. — Lex foi para a cozinha, abriu e
fechou portas de armário, e de repente ele voltou e pôs um copo na minha
mão, depois puxou a pasta com o nome “Ian Hunter”.
— Dá uma olhada — disse. — Não diga que eu não avisei. Mas se
ajudar, eu topo.
— Como isso pode ajudar? — Esvaziei o copo de uma vez só e fiz uma
careta quando o líquido desceu como fogo pela garganta. — Traz a garrafa.
Lex me deu a pasta, pegou o copo e voltou à cozinha. A pasta era
grossa, e segurá-la me fez pensar em todas as coisas horríveis que já fiz
com as mulheres. Não conseguia acreditar que o amigo que morava comigo
mantinha um registro atualizado, para o caso de eu decidir ser idiota o
bastante para me apaixonar por alguém.
— Fala a verdade — pedi quando Lex voltou com a garrafa e um copo
cheio. Ignorei o copo e peguei a garrafa antes que ele pudesse discutir. —
Registrou toda essa merda porque sabia que um dia eu ia atravessar a
fronteira para a Compromissolândia? Ou só estava cuidando das nossas
clientes?
— Estranho. Porque parece que está me perguntando se isso é pessoal
ou só negócios.
— E todas as aulas de ética nos negócios de repente giram na minha
cabeça. Obrigado.
Lex fez uma careta e arrancou a garrafa da minha mão.
— Para ser honesto, fiz isso pelas clientes, porque, no fim da história,
tudo isso é por elas, não por nós. Eu registrei suas informações assim que vi
as coisas começarem a mudar entre você Blake. Assim que notei a
permanência.
— Como é que é?
— Não se faz de idiota. Não combina com você. Permanência. Você
sempre ficava onde ela estava. Você se inclinava. Cada músculo de seu
corpo enrijecia quando ela entrava em um ambiente, você cerrava os
punhos quando David aparecia, e seus olhos faziam aquela coisa estranha
de fechar um pouco, como se você estivesse tentando se concentrar, ou
fazer o trabalho de estatística em sua cabeça, quando, na verdade, estava
fazendo tudo que podia para não matar o filho da mãe azarado para quem
estava olhando. — Lex virou a garrafa e bebeu um gole enorme.
— Isso é um elogio, Lex, mas se você fosse mulher, só o conhecimento
que tem sobre mim já seria considerado tendência para o stalking.
— E eu não sei? — Ele riu. — Sou um gênio, não dá para evitar. Minha
bênção, minha maldição.
— Isso. — Senti uma dor de cabeça se anunciando no latejar entre as
têmporas. — Tudo bem, é como um Band-Aid. Vou arrancar de uma vez e
olhar.
— Posso ler com minha voz sexy, se achar melhor.
— Você tem uma voz sexy? Sério? — Dei risada, peguei a garrafa de
volta e bebi um gole menor dessa vez.
— Tenho, uma das minhas conquistas disse isso hoje de manhã, mas
acho que ela só queria me convencer a voltar para a cama em vez sair pela
janela porque minha casa estava alagando.
Olhei em volta.
— Uau, sim, entendo, é muita água. Ainda bem que temos seguro.
— Foi exatamente o que eu disse.
— Você é um filho da mãe. Sabe disso, não sabe?
— Disse o cara cujo cachorro morreu quantas vezes no ano passado?
— Não mais que dez. É totalmente diferente.
— Cara, você mata cachorros imaginários. Eu, pelo menos, invento uma
desculpa sobre um desastre doméstico muito provável.
— Tudo bem. — Levantei as mãos. — Não vou discutir com você. Só
vou ler, processar, e depois... — suspirei profundamente — ficar bêbado.
— Vai firme. — Lex levantou. — Mas deixa para beber mais depois de
ler e entender completamente os cálculos, está bem?
Assenti e empurrei a garrafa para longe. Tinha tomado uns dois goles no
gargalo, talvez, nada digno de nota, mas, mesmo assim, talvez eu quisesse
sair para dar uma volta depois, sabe, jogar o carro de um precipício.
A primeira página não era tão ruim.
Mas só tinha meu nome, idade, altura e peso. Merda, não me
surpreenderia se Lex tivesse o número do meu seguro também.
A página seguinte tinha as informações de Blake, tudo que eu já sabia.
E a terceira tinha nossos resultados.
O match dela com David estava na casa dos 80%. Eu tinha decorado o
número. A porcaria da barra do gráfico estava gravada na minha cabeça
como um pesadelo que voltava cada vez que eu fechava os olhos.
Cinquenta.
O número era assustador. Nosso match estava na casa dos cinquenta por
centro. Atordoado, continuei lendo.
Pontuei abaixo da média nas seguintes áreas: capacidade de
comprometimento e histórico de relacionamento, e acima da média em
promiscuidade sexual.
Engoli o nó gigantesco na garganta e continuei lendo.
Dois meses.
Nosso programa deu até uma linha do tempo da morte do
relacionamento.
Empurrei os papéis para o lado. Não precisava ler mais. Mas a
curiosidade era uma desgraça, e eu voltei a ler.
Não brinca.
Fechei a pasta e olhei o relógio.
Ela estava fora há uma hora. E eu estava em casa, a caminho de me
embebedar e sentir pena de mim por causa de uns números idiotas.
Sem pensar, peguei as chaves e fui para a porta.
— Ah, não, nem pensar. — A voz de Lex ecoou no corredor.
— Eu dirijo. Tomei uma dose. E você... sei lá quantas foram. Onde
vamos?
Eu me recusava a responder.
— Ah, legal, uma emboscada, então? Divertido. Eu topo.
— Não tem nenhum trabalho da faculdade para fazer? — Passei por ele
e peguei a jaqueta. — Nada?
Ele ficou sério.
— Não.
— Que foi? Você nunca fica em casa em um quinta-feira à noite. Em
noite nenhuma, na verdade. O que aconteceu?
— Nada. — A resposta foi rápida, e ele encaixou a mandíbula como se
tentasse trincar uma fileira inteira de dentes. — Desencana.
— Tudo bem. — Minha cabeça latejava. — E vamos ao U Village. Ele a
levou para jantar no Pasta and Co.
Lex riu, depois ficou sério.
— Sério? Pasta and Co?
— Nem todo mundo é especialista em sedução, graças a Deus.
— Massa. Pior comida para um encontro, depois de costelinhas.
— De novo, graças a Deus por isso.
Lex parou na porta.
— Acha mesmo que isso é uma boa ideia? Por mais que eu seja contra
qualquer tipo de relacionamento em que você pendure a capa e se
comprometa com uma pessoa, espionar a garota pode acabar mal.
— Super-heróis não espionam. Nós... verificamos.
— E como o vilão do seu herói, eu simplesmente invadiria, então quem
sou eu para criticar?
— Exatamente.
NÃO SENTI QUE ESPIONAR ERA ERRADO QUANDO NOS APROXIMA
como se tentássemos encontrar um banco.
— No canto mais afastado — Lex falou ao abaixar os binóculos. — Ela
está de frente para ele, não na frente, mas de lado. O filho da mãe pode ter
alguma habilidade, afinal. Quer ver?
— Não. — Eu olhava para frente. — A última coisa que quero é ver
como ele está sentado perto dela, ou se está derrubando o guardanapo
estrategicamente no chão para poder ter uma desculpa para puxar a cadeira
para mais perto.
— É assustador quanto você conhece o gênero masculino.
— Derrubar o guardanapo?
— É.
— Puxar a cadeira?
— Sim, caramba.
— Merda. — Esfreguei os olhos. Minha visão estava turva por causa da
dor de cabeça. — Ele vai se inclinar e dizer que não a ouve bem por causa
do barulho das pessoas. Vai puxar a cadeira de novo até encostar a coxa na
dela, até poder tocar sua perna nua. Melhor zona erógena para um encontro.
Lex ficou em silêncio. Depois disse:
— Você devia escrever um livro. Ele está mais sério, parece se
desculpar... Puxou a cadeira de novo, mas não consigo enxergar embaixo da
mesa.
— Está tocando nela. É claro que está.
— Não tire conclusões.
— Afinal errei alguma até agora? — Perdi a paciência.
Lex não respondeu, e eu ainda não tinha coragem de olhar. Olhar era a
gota d’água, uma traição. Eu disse que confiava nela, e usar Lex servia para
cumprir minha promessa. Mais ou menos.
— Então, Super-Homem, o que fazemos agora? — Lex perguntou
depois de alguns segundos de silêncio.
Meu celular vibrou.
Era uma mensagem de Blake.
Estranhando, abri a mensagem e senti o corpo todo ficar tenso.
— Lex?
Fiquei olhando para o telefone, sentindo a raiva me dominar e pensando
em arrebentar o telefone no painel.
— Eles já comeram?
— Tem pão em cima da mesa... mas nada de prato principal. Não,
espera. — Ele observou em silêncio. — O garçom se aproximou, mas
David o dispensou.
Respondi a mensagem de Blake.
— Não tem bebida suficiente para você ficar bêbado, essa é a má notícia
— Lex anunciou enquanto eu olhava para o balcão da cozinha, dominado
por uma mistura de raiva, decepção e, para ser bem honesto, muita tristeza.
Com a tristeza, eu me recusava a lidar.
Porque lidar com a tristeza significava viver o luto, e isso era bobagem.
Por que eu choraria a perda de alguém que quase nem tive?
Mas raiva? Com isso eu podia lidar. Como alguém como eu se mete
nessa situação? Sim, estávamos condenados ao fracasso. Tudo bem, essa
parte eu entendi, mas por que me enganar?
— Como é? — Lex serviu uísque no meu copo e sentou do outro lado
do balcão.
— Hum, ter o coração partido? Sei lá, Lex. É uma coceira, como uma
pena enfiada na bunda. Mas que porra, fala sério, cara!
— Estou perguntando como é estar do outro lado. Ser o que é rejeitado,
mesmo sendo a melhor opção.
— Ah, para. Você viu os números.
— É. Os números. Não me diz que acredita nessa merda. Sim, nossa
empresa se baseia nisso, tudo bem. E sim, funciona, na maior parte das
vezes. Mas nunca leva em conta a química. Sabe disso, não sabe? Um
computador não faz isso.
— E no dia que fizer...
— Sim, estaremos ferrados, porque os robôs terão dominado o mundo.
Para sua sorte, eu vou comandar a conquista e guardar um lugar na nave-
mãe. — Ele revirou os olhos. — Sério, não acredito que estou tendo essa
conversa de mulherzinha com você, mas não existe equação matemática
para a química. Nenhuma. Não dá para forçar, e não dá para prever. Ela e
David podem parecer bons no papel, mas ele a acende? Os sorrisos dele
fazem a Blake querer morrer por dentro? O beijo... derrete a calcinha? Não
é isso que as garotas falam?
Levantei a mão, como uma placa de pare.
— Se vai usar expressões como “derreter a calcinha”, acho que
precisamos de mais álcool, Lex.
— Finge que eu sou uma garota.
— Melhor não. Nesse momento, estou odiando todas as mulheres, e sou
bem capaz de fazer alguma coisa idiota, como te beijar no meio de uma
confusão hormonal, depois ter um ataque de raiva e tentar quebrar a garrafa
na sua cabeça.
— Primeiro, não me beija. Isso vai estragar nossa amizade. — Ele
levantou um dedo, depois outro. — Segundo, nós dois gostamos de garotas,
e acho que nem preciso dizer que o estágio experimental acabou quando eu
fui aprovado em Inglês 101. — Mais um dedo. — E terceiro, se bater na
minha cabeça com uma garrafa, ou mesmo com um travesseiro, vou te
derrubar como fiz no sexto ano, quando você contou para a Amanda que
todo o metal na minha boca fazia os aliens me enxergarem do espaço.
— Você quer que eu fale? — Ri amargurado. — Sobre como é ver uma
garota com quem você acabou de transar beijando outro cara? Ou garota de
quem você gosta mentir para você? Isso? — Também fui levantando um
dedo de cada vez à medida que fazia minha lista. — É horrível. Quero
matar o David. Quero que ela sofra tanto quanto eu estou sofrendo. Quero
que a dor no meio do meu peito diminua para eu poder respirar. Quero bater
a porta na cara dela, depois pedir desculpas, abraçá-la e implorar para ela
me escolher. — Olhei para minha mão com todos os dedos estendidos,
depois a sacudi como se, assim, pudesse eliminar os itens da lista. — Quero
tantas coisas, e estou tão confuso, que acho que minha única alternativa é
me afogar no uísque que, aparentemente, nem é suficiente. Essa é a
verdade.
Lex ficou em silêncio.
O relógio da cozinha fazia um barulho que me irritava ainda mais.
— Bem — Lex pigarreou —, você tem duas opções. Contar para ela que
a viu e resolver tudo cara a cara, ou só... desistir dela sem nenhuma
explicação. Uma delas é mais fácil para você, e a outra é difícil para os
dois. Pense nisso, e não cometa o engano de ser dramático. Não esqueça,
nós temos um pau.
— Não sei não, acho que ela acabou de arrancar o meu, e achou
divertido.
— Foi seu coração, não seu pau. Você sabe qual é a diferença, para de
ser idiota e toma esse uísque.
— Só tem duas gotas. Será que se eu bater os calcanhares e fechar os
olhos, elas viram duas garrafas?
— Se fizer isso, vou te chamar de mulherzinha de novo.
Com um suspiro frustrado, virei a garrafa e joguei no lixo, depois tirei o
celular do bolso.
Sete chamadas perdidas.
Todas da Blake.
— Qual vai ser?
— Eu sou do tipo que conserta — falei. — Vou consertar tudo isso.
Ainda temos um contrato, mas de acordo com o acerto que fizemos na
última seção, se ele a convidasse para sair e a beijasse, o contrato estaria
cumprido. — Olhei para o laptop. — Pode encerrar.
— Hum. — Lex levantou. — Tem certeza de que é uma boa ideia?
— O quê? — Fiquei furioso. — Era isso que ela queria desde o começo,
e foi o que aconteceu. Encerra a porra do contrato, manda a cobrança e
deleta as informações da minha agenda. Tenho que ir encontrar Vivian de
manhã, e na próxima semana tenho cliente nova.
— Ian, pensa bem. Se a ignorar, vai correr o risco de...
— De quê? — gritei. — De ela ir embora para sempre? Já foi. Ela
escolheu. Passou as últimas 48 horas na minha cama, e mesmo assim beijou
o cara! Ela beijou o cara, Lex. Seria melhor se tivesse dormido com ele. —
Ele sabia tão bem quanto eu como um beijo podia ser íntimo. Sexo podia
ser casual, mas um beijo? Nunca era. Milhares de pensamento levavam a
beijos, milhões de sensações aconteciam durante um, e o beijo era a única
preliminar que se repetia na cabeça das mulheres, mais que sexo, na maioria
das vezes, por muitos anos.
Você lembra de cada momento daquele primeiro beijo com alguém.
A primeira vez que fez sexo? Na maioria das vezes, é constrangedor,
não notável, embaraçoso, e nem é suficientemente bom.
Mas um beijo ficava na memória para sempre.
E sempre havia um motivo para ele.
— Ian, vou perguntar mais uma vez. Tem certeza?
— Deleta o arquivo, Lex. Tecnicamente, ainda sou seu chefe, certo? —
Era um golpe baixo. Éramos sócios, mas minha participação na empresa era
ligeiramente maior, 60%. Eu sabia que o comentário magoava.
Ele reagiu, furioso, como se fosse me dar um soco na cara.
— Sim.
— Então faz o que estou dizendo.
Deixei Lex na sala e subi a escada pisando firme. Quando estava na
metade dela, a campainha soou.
Lex foi abrir a porta.
— O Ian está? — Blake perguntou.
Parei na escada, nas sombras, e fiquei ouvindo.
— Não — Lex mentiu. — Blake, é melhor você ir embora.
— Não! — ela gritou. — Não posso. Ele não entende o que acha que
viu. Eu só... preciso explicar.
— Muito bem. — Lex cruzou os braços e ficou parado no meio da
porta. — Explica para mim. Por que estava beijando outro cara?
Ela ficou em silêncio por alguns segundos. Depois disse:
— Preciso conversar com Ian sobre isso.
— Vai ser difícil. Mas eu estou aqui. É falar ou ir embora, não dou a
mínima.
— Ele me beijou!
— Essa é velha. E você também beijou. Perdi algum detalhe importante
de como você o empurrou, chutou as bolas dele, gritou?
— Eu... empurrei... depois de um tempo.
— E hesitou. Isso não é uma indicação sobre você, ou sobre o que pensa
do meu melhor amigo. O mesmo melhor amigo que vai querer desistir do
negócio mais lucrativo que vi em décadas, tudo por causa de uma garota
que não sabe nem se vestir sem a ajuda dele, mas achou que podia ter coisa
melhor e traiu.
Eu segurava o corrimão com tanta força, que minha mão doía. Estava
dividido entre a vontade de defendê-la e a de gritar com ela, como Lex
fazia.
— Coisa melhor? — Ela riu. — O David? Você é maluco?
— Deve estar orgulhosa. A única garota que derrubou Ian Hunter, e nem
ficou com ele. Só deixou o cara de lado assim que o crush da infância olhou
para o seu lado. Acha que o David ia te dar alguma atenção se o Ian não
tivesse te colocado no radar dele? Acha que ele se importa com você agora?
— Somos amigos. Só isso.
— E você e Ian eram... o quê?
— Namorados! Estávamos namorando!
— Você beijou outro cara. Isso significa que o que tinha com Ian
acabou. Pode esperar a conclusão do contrato amanhã cedo. Estou cansado
de falar com você e, honestamente, acho que é uma vadia. Pronto. Falei. Vai
chorar no seu travesseiro e se queixar de como os homens são horríveis.
Melhor ainda, aposto que David adoraria te confortar. Abre as pernas para
ele. A conversa aqui acabou.
Ouvi a batida da porta.
Perplexo, esperei Lex me dizer alguma coisa, mas ele estava em
silêncio, um silêncio assustador, quando deu alguns passos na frente da
porta e chutou a parede.
— Ouviu isso? — ele perguntou com voz rouca.
— Não dava para não ouvir.
— Não tive a intenção de dizer que ela era vadia. Acabei empolgando.
— De repente, Lex levantou a cabeça e sorriu. — Pode me agradecer mais
tarde.
— Como assim, agradecer mais tarde?
— Nunca pensou em por que se dá tão bem nos encontros? — Ele deu
de ombros. — Por que sempre deixei você treinar as clientes na arte da
sedução, enquanto eu só trabalho com técnicas de beijo e rompimentos?
— Não, mas tenho a sensação de que vai revelar algum talento oculto.
— A dor diminuía quando eu não pensava na voz dela, em como parecia
triste.
— Minha especialidade? Rompimentos. Queria mesmo conversar com
você sobre isso, mas... acho que podemos acrescentar esse serviço ao
catálogo da Cupidos S.A. Ajudamos as pessoas a romper relacionamentos,
também podemos ajudá-las a reatar. Se ela gosta mesmo de você, vai voltar
em três, dois, um...
Alguém bateu na porta.
Lex levantou as sobrancelhas, depois abriu a porta.
— Não falei para você ir embora?
— Só... — Blake empurrou o peito de Lex — para de falar por dois
segundos, para eu poder me explicar sem ter que me defender. Diz para o
Ian que eu volto. E se ele não atender o telefone, vou pular a janela. E se
estiver trancada, vou quebrar a vidraça com minha mochila, ou alguma
coisa igualmente pesada. Não vou parar até ele me ouvir. E acho... — Ela
ficou em silêncio. Estava chorando? — Acho que amo o Ian.
Meu mundo parou de girar.
Caí no chão, quase rolei pela escada enquanto esperava Lex dizer
alguma coisa.
— Boa resposta. Entramos em contato. — E ele bateu a porta na cara
dela.
Depois olhou para mim com um sorriso vaidoso e disse:
— Eu falei.
MINHA CAMA TINHA O CHEIRO DA BLAKE, O QUE ERA IRÔNICO, JÁ
cheiro fazia com a memória. Por isso só usava determinadas fragrâncias
perto das clientes, certas colônias, criando o vínculo, mas garantindo que
essa ligação não fosse tão forte a ponto de elas se sentirem mais
apaixonadas por mim do que pelo homem que queriam conquistar. Eu
precisava ganhar a confiança delas, mas não seu apego emocional.
Nunca, nem em meu sonho mais louco, imaginei que isso me atingiria,
que os papéis se inverteriam e eu teria de dormir em uma combinação
infernal de lavanda e shampoo com perfume de baunilha, com o corpo tão
tenso, que tinha medo até da fricção com o lençol enquanto sonhasse com
ela.
Ela disse que me amava.
Eu não sabia se acreditava.
Todo mundo me amava, ou pensava me amar.
E amor não significava aceitar o beijo de outro homem ou, pior,
corresponder.
Gemendo, bati no travesseiro ao meu lado, depois o afofei, e acabei
paralisado pela nuvem de lavanda e baunilha.
— Droga. — Saí da cama e olhei para o relógio. Seis da manhã, melhor
horário para ir malhar, principalmente porque sabia que David já teria saído
da academia quando eu chegasse. Não tinha certeza de que não daria uma
surra nele, se tivesse essa chance. No mínimo, oferecia ajuda no supino só
para deixar o peso cair sobre o peito dele... ou sobre o pescoço.
Bom saber que estava pensando em assassinato.
Uma visão dos braços dele em torno do corpo de Blake me fez cerrar os
punhos. Sim. Valeria a pena, só para ver a cara de desespero do filho da
mãe.
— Mais dois — disse DJ, amigo do David, tocando de leve a barra
enquanto David, com um gemido monstruoso, empurrava o peso para cima.
— Mais um!
David quase ergueu as pernas do chão.
Todo o time de basquete era incapaz de levantar peso corretamente? Ou
só o David? Ele parecia usar todas as células do corpo para tentar levantar a
barra. Eu adoraria se o idiota deixasse escapar um peido e alguém postasse
no Twitter. Ah, as hashtags que eu inventaria. Já estava irritado por David
ter saído da programação para malhar no meu horário, mas tudo bem.
Voltei às minhas flexões e ouvi mais gritos perto dele.
— Boa, boa — dizia DJ. Ouvi o som de tapas nas costas e,
provavelmente, na bunda.
Tinha notado essa parte dos esportes organizados — a cultura, o jeito
como musculação e treino acabavam sendo quase uma religião. Não era
saudável, e era uma das coisas que me fazia sentir grato por ter seguido um
caminho diferente, embora não fosse o caminho que eu teria escolhido para
mim no início.
Terminei a última flexão e caí no tatame, esperando a respiração voltar
ao normal, a frequência cardíaca baixar, e estava ali quando vi o par de
chinelos surgir diante dos meus olhos.
Adidas 1992 preto e branco, número 36.
Lentamente, levantei a cabeça, depois sentei no tatame.
— Sim? — Mantive um tom irritado, seco. Não era difícil, já que estava
exausto do treino e extremamente bravo. Com ou sem amor, ela beijou
outro cara.
Traição era traição.
Ponto final.
O cabelo ondulado de Blake estava preso em um rabo de cavalo, e ela
usava óculos de armação preta. Eu nem sabia que ela usava óculos. Uma
boa porção de abdômen estava à mostra, cortesia do short de basquete e do
sutiã esportivo cor de rosa.
Podia bem imaginar quantos homens nesse momento aumentavam a
carga de peso para impressioná-la, sem saber que ela não era do tipo que se
impressionava com isso. Eu sabia.
Atletas entendiam essas coisas, especialmente quando mal conseguiam
tirar a barra do apoio.
— Blake! — David gritou do outro lado da academia.
Rangi os dentes e tentei não perder a cabeça. O que ela estava fazendo
aqui?
— Escuta. — Blake ignorou David e se inclinou, baixando o tom de
voz. — Preciso falar com você em particular.
— Não recebeu meu e-mail? — Levantei de repente e enxuguei o
pescoço com uma toalha. — Assunto encerrado.
— Não mesmo. — Seus lábios tremeram, e ela tocou meu braço. — Ian,
te amo. Desculpa pelo beijo, eu posso explicar. Não teve a ver com você.
Fiquei confusa.
— Não brinca! — respondi com uma gargalhada vazia. — Olha só, você
fez um grande favor a nós dois.
— Ah, é? — Foi sua vez de se irritar e cruzar os braços, o que levantou
seus seios e deu a qualquer um que estivesse por perto material para horas
de fantasias sexuais.
— É. — Puxei os braços dela e os segurei junto do corpo. Melhor assim.
— Nosso índice projetado de sucesso... não era bom. Então, a menos que
queira arriscar com 50% de chance... — Dei de ombros e acenei com a
cabeça para David, que se aproximava — melhor ficar com o que sempre
quis.
Como pude não perceber que ele andava de um jeito esquisito? Linhas
retas, amigo, linhas retas.
Blake estreitou os olhos.
— Isso tudo mudou. Você sabe.
— É o sexo — expliquei. — Acontece uma reação química que te liga
emocionalmente a uma pessoa quando você transa com ela. Espera alguns
dias, vai passar. Para mim também.
— Ian. — A voz dela soou mais aflita. — Estou dizendo que te amo, e
você está me dispensando. Não gosta de mim? Nem um pouquinho?
Sim. Gostava muito. E nesse momento, independentemente do que ela
dissesse, do que sentisse por mim, eu sabia que teria de fazer a escolha por
ela.
Porque não valia a pena correr o risco. Ela valia a pena, sem dúvida.
Mas eu? De jeito nenhum.
Era horrível não acreditar em mim mesmo, mas e se eu a magoasse? E
se, nessa situação, eu fosse o Jerry da vida dela, o marido da minha irmã? O
homem com quem ela se acomodaria, para depois, dez anos mais tarde,
ainda suspirar por outro?
— Ian? — Seus olhos estavam cheios de lágrimas.
— Vai. Seu namorado está esperando.
— Meu namorado está na minha frente.
— Não mais — sussurrei, olhando pela última vez para aquela boca,
aqueles olhos. Tive de desviar o olhar. — Seja feliz.
— Você é?
— O quê?
David estava cada vez mais perto de nós.
— Feliz?
— Isso importa? — David passou um braço em torno de Blake e tentou
beijá-la.
— Para mim, sim.
— Ian! — David estendeu a mão livre. — Bom te ver, cara.
Olhei para a mão dele, depois o encarei, ignorando abertamente a oferta
de amizade, porque ele só queria o aperto de mão da vitória. O que dizia: ei,
sinto muito por você ter perdido, filho da mãe patético, mas leva um prêmio
de consolação pelo esforço. Sem ressentimentos, certo? Ah, sim... foi você
que ensinou a ela aquela coisa de arquear o corpo na cama? Valeu, cara.
Muito obrigado.
— Porra — resmunguei, e fingi meu melhor sorriso. — A gente se vê. E
David?
Incrível. Ele continuava sorrindo.
— Sim?
— Cuida bem dela.
— Ah. — Ele beijou a cabeça de Blake. — Já cuidei. Ontem à noite.
Blake estreitou os olhos.
E antes que eu percebesse o que ia fazer, enfiei a mão na cara dele.
Algumas vezes.
— Ian! — Blake gritou, enquanto braços fortes envolviam meu peito e
me puxavam de cima do corpo de David, no chão. Tentei voltar para cima
dele.
— Cara. — DJ me segurou com mais força. — Para com isso, irmão.
Para.
— Seu desgraçado! — gritei. — Se desrespeitar ela de novo desse jeito,
eu te mato!
David exibiu os dentes cobertos de sangue.
— Era brincadeira. — E tocou o nariz, que já começava a ficar roxo. —
Caramba, irmão, aprende a brincar.
Brincadeira? Quem brincava sobre ter transado com uma garota na
frente dela? A culpa comprimiu meu peito, porque, sério, quantas vezes fiz
a mesma coisa?
— Ian — Blake me chamou.
Eu não conseguia nem olhar para ela.
Resmungando um palavrão, saí da sala de musculação seguido por
olhares horrorizados e curiosos.
— Ian! — Blake me alcançou e segurou meu braço. — Não é o que está
pensando.
— Fala. — Eu nem reconhecia mais minha voz. — Foi antes ou depois?
— O quê?
— Você falou para o Lex que me ama... foi antes ou depois de ter
trepado com ele?
— Nunca! — Blake me empurrou. — É sério? Como passou do beijo
para o sexo?
— Não sei, me diz você. Basicamente, eu te ensinei esse caminho.
— Inacreditável! — Ela me empurrou com mais força. — Eu falo que te
amo, e você não só me empurra para ele, como me acusa de ter dormido
com ele?
— Era o que você queria.
Meu rosto ardeu com o tapa.
— Acabou? — perguntou, e passei por ela.
— Sim. Acabei. — Ela voltou para a sala de musculação, e eu continuei
a caminhada da vergonha até meu carro.
Engraçado, algumas semanas atrás, o que acabou de acontecer teria sido
o cenário perfeito para o cara finalmente notar a garota. Nem eu teria
conseguido criar um final tão bom.
O único problema?
Não era ficção.
Não era armação.
Era a vida.
Quem inventou essa história de “se você ama, deixe ir”, nunca esteve
apaixonado. Sim, era exatamente isso que eu estava fazendo.
Deixando ela ir.
Para o melhor homem.
Que, pela primeira na vida eu percebia, não era eu.
— IAN! ESTÁ OUVINDO? A GENTE SE BEIJOU. FOI INCRÍVEL...
Porra, mesmo que tivesse sido o pior beijo da vida, ainda teria sido
incrível, porque quando você está apaixonado ou gosta de verdade de
alguém, consegue justificar quase tudo.
Ah, claro que ele tem hálito de café. Trabalha no Starbucks! Ele bebe
café!
Ian, seu bobo. Não, ele bateu os dentes nos meus de propósito!
Ele disse que queria ficar comigo há anos. Anos! Dá para aguentar isso?
Não, não dá. Por favor, para de falar.
Ou a minha favorita: Ele diz que mais saliva deixa tudo melhor, porque
boca seca acaba com o sexo oral. Juro.
É isso aí, e as bolas caem se você não transa antes dos quarenta.
Não, sério. Procura coisa melhor.
— Ian! — Vivian estalou os dedos na minha frente. — Depois do beijo,
como faço para ele continuar interessado?
Sério, eu precisava pensar em uma certa garota que, nesse momento,
caminhava de mãos dadas com um certo cara a caminho do HUB.
— Você... — Enlouquecido pela imagem, segurei a mão de Vivian. —
Bom, um beijo é legal, mas é o segundo que diz ao cara que não foi ilusão.
Dessa vez, deixa ele te beijar, mas dá uns sinais misturados. Não pode ser
tão fácil.
— Entendi. Sento mais longe dele, talvez?
David riu de alguma coisa que Blake falou. Ela vestia jeans e camiseta
curta que deixava à mostra a pele bronzeada.
— Ian! — Vivian gemeu.
— Isso. — Sem pensar, puxei Vivian para o meu colo, bloqueando a
imagem de David e Blake. — Brinca com ele, e quando ele se aproximar,
você recua, desse jeito. — Eu me inclinei, ela recuou e sorriu.
Eu me sentia oco. Vazio.
— Bom trabalho, Vivian. O beijo tem que ser divertido, depois pode
ficar apaixonado. Mas sem muita pegação... isso não cabe no segundo beijo,
nem no terceiro. Faça ele esperar. Quando vão se encontrar de novo?
— Bom. — Vivian se mexeu no meu colo. Que bunda ossuda! Alguém
devia dar uns biscoitos para a garota. Gosto do corpo feminino, mas come,
pelo amor de Deus. — Vamos estudar hoje à noite.
— Lugar público. Depois pode ir beber alguma coisa, diz para ele
relaxar um pouco.
— Entendi. — Vivian se mexeu de novo.
Blake e David já deviam ter desaparecido.
— É isso aí. — Botei Vivian no chão e fiquei em pé justamente quando
David e Blake olharam para mim. Sua boca sugeria que ele a tinha beijado.
Mas ela não parecia satisfeita. Não, estava furiosa.
Não precisa me agradecer por ter realizado seu maior desejo, princesa.
Agora para de me encarar.
— Cliente antiga? — Vivian acenou para eles com a cabeça.
— Mais ou menos. — Peguei o celular. — Manda uma mensagem para
mim com sua localização hoje à noite, e eu vou estar por perto para ter
certeza de que não vai precisar de um cupido.
— Você leva seu trabalho a sério, não é?
David me mostrou o dedo do meio por trás de Blake. Eu sabia que o
filho da mãe tinha alguma coisa errada!
— Você nem imagina.
— Obrigada, Ian. — Vivian se afastou, e eu prometi a mim mesmo que
cortaria os cabos do freio do carro de David quando Blake não estivesse no
banco do passageiro. Nunca faria mal a ela. Mas o David? Queria arrancar
cada membro de seu corpo.
Abraços, RVD.
PASSIONFLIX PRESENTS “THE MATCHMAKER’S PLAYBOOK”
A 12 HELPFUL HANDS PRODUCTION
NICK BATEMAN CAITLIN CARVER TYLER JOHNSON JUSTENE ALPERT
CASTING BY LINDSAY CHAG CSA PRODUCTION DESIGN BY ROBERT WISE
EDITED BY MARGIE GOODSPEED DIRECTOR OF PHOTOGRAPHY DENIS MALONEY ASC
EXECUTIVE PRODUCERS TOSCA MUSK JINA PANEBIANCO JOANY KANE AND RACHEL VAN
DYKEN
PRODUCED BY DUREYSHEVAR WRITTEN BY JOANY KANE
BASED ON THE BOOK “THE MATCHMAKER’S PLAYBOOK” BY RACHEL VAN DYKEN
DIRECTED BY TOSCA MUSK
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