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6 Liderança e processos grupais no

Esporte

Aline Dessupoio Chaves

Introdução
Para se compreender os aspectos da liderança e dos processos grupais no esporte, é
necessário compreender os componentes de liderança, assim como reconhecer os motivos
de afiliação e de poder no esporte.

Além disso, entender que nem todo grupo pode ser considerado uma equipe, demonstra que
são necessários alguns caminhos para que de fato possamos construir um time, incluindo a
coesão grupal, que estabelece para além das metas individuais de cada atleta, um objetivo
comum aos membros.

A coesão grupal na Psicologia do Esporte é vista como algo indispensável para o sucesso
esportivo não só nas modalidades coletivas, mas nas individuais também, visto que
normalmente os treinamentos são em grupo.

Objetivos
Ao final deste capítulo, esperamos que seja capaz de:

• Definir liderança e entender seus componentes;

• Reconhecer como os motivos de afiliação e de poder interferem na liderança e no


grupo;

• Refletir sobre como um grupo se torna uma equipe;

• Compreender como se cria um clima efetivo de coesão grupal.

Esquema
6.1 Liderança no Esporte
6.2 Motivos de afiliação e de poder no Esporte
6.3 A Equipe Esportiva
6.4 Coesão Grupal no Esporte
6.5 Conclusão
6.1 Liderança no Esporte

De acordo com Rocha (1996), a palavra líder significa chefe ou dirigente de um partido, causa,
grupo, o cabeça ou condutor. Assim, o líder utiliza motivos existentes como estímulo para
alinhar os objetivos individuais ou grupais direcionando para realização da tarefa.

Gardner (1996) aponta que um bom líder tem a capacidade de fazer com que os outros façam
aquilo que não querem ou não gostem. Para tal, a liderança depende da aceitação dos
liderados, e a influência exercida sobre eles pode ter efeitos positivos ou negativos,
impactando no desempenho e nas tarefas realizadas pelos membros da equipe.

Ao longo da história, é fácil pensarmos em pessoas que foram grandes líderes, mas o difícil
mesmo é determinar quais os fatores que as tornam líderes ou pessoas de destaque e
influência em suas áreas (WEINBERG; GOULD, 2008). Os líderes apresentam uma variedade
de traços de personalidade, em que não há traços específicos que tornem um líder bem-
sucedido, apenas são reconhecidas as funções de um bom líder: otimização do processo de
interação, organização do grupo para eficácia na solução da tarefa, condução do grupo para
objetivos estabelecidos, satisfação das necessidades do mesmo.

No esporte, o papel de liderança também inclui tomar decisões, motivar os participantes,


oferecer feedback, estabelecer relações interpessoais e dirigir o grupo ou a equipe com
confiança.

A liderança efetiva é determinada pelo estabelecimento de objetivos e metas concretas,


construção de um ambiente social e psicológico favorável, instrução de valores e motivação
dos membros para que se alcance os objetivos e metas e comunicação com outros atletas
(MARTENS, 1987).

Portanto, a atuação do treinador pode direcionar a equipe a uma condição de sucesso, ou


mesmo, de fracasso (MATVEEV, 1997; VERKHOSHANSKI, 2001; BOMPA, 2002). Técnicos
que exercem uma boa liderança tentam garantir que o sucesso individual contribua para o
sucesso da equipe, que cada atleta tenha o máximo de oportunidades para alcançar um
resultado ótimo, visando não só o objetivo final, mas também a estrutura, a motivação e o
apoio cotidiano para transformar as metas em realidade.

É fato que nem todo treinador é líder, alguns ocupam apenas a função de dirigente que cuida
do planejamento, da organização e do treinamento da equipe, não se importando com os
membros da equipe, suas expectativas e motivações.

Além disso, Rúbio (1998) aponta que a liderança pode ser representada pelo líder externo, na
figura do técnico, ou pelo líder interno, representado, muitas vezes, pela figura do capitão do
time.

De qualquer forma, vale ressaltar que o técnico e o capitão desempenham papéis distintos e
complementares, precisam estar alinhados e com suas funções bem claras. Uma dupla
liderança, no entanto, não precisa necessariamente se sobrepor, mas funcionar no sentido de
coesão nas ações e atitudes.

Ucha (1999) aponta que, caso o capitão do time seja mais respeitado pelos demais do que o
técnico, precisa haver uma discussão de funções e organização da equipe para que não se
desenvolva uma rivalidade capaz de empobrecer a capacidade do time, na medida que ficam
duas pessoas tentando estabelecer seu poder frente aos liderados. Ademais, é negativa a
ausência de líderes, o que pode indicar a demasiada autoridade do técnico ou atitude
dependente por parte dos atletas.
Com o objetivo de desenvolvimento de líderes, Costa et al. (2017) fazem as seguintes
recomendações:

• permitir, com regularidade, a participação dos alunos e atletas na preparação e na condução


dos treinos;

• saber identificar até que ponto se deve conduzir uma tarefa e até que ponto se pode delegá-
la aos atletas;

• identificar as falhas quando a condução das atividades estiver sob responsabilidade de um


aluno ou atleta;

• conversar separadamente com cada liderado sobre suas falhas e procurar desenvolver
atividades que o ajudem a corrigi-las.

Assim, a liderança pode ser representada por funções formais (treinador, capitão), em que
cada um desses papéis carrega expectativas associadas específicas e, geralmente, os
indivíduos são treinados ou recrutados para preencher papéis específicos. O ala no
basquetebol, o levantador no voleibol, o goleiro no hóquei e outras posições formais têm
papéis de desempenho específicos em uma equipe. E, ainda, por funções informais, que
surgem do funcionamento da equipe, de interações entre os membros do grupo, seu grau de
influência nas equipes varia, com base no tipo de equipe, em seu histórico de vitórias e
derrotas e em outras variáveis situacionais. Como, por exemplo aquele que exerce uma
influência negativa sobre os demais, causando efeitos prejudiciais no funcionamento de um
time.

Tanto o líder formal, quanto o informal, precisam trazer para a equipe uma influencia positiva
que acarreta o bom funcionamento do time. Esse aspecto precisa é relevante e precisa ser
observado no cotidiano.

Um estudo de Visek et al (2015), com 147 jovens, apontou aquilo que os atletas mais esperam
de um bom treinador: 1º) respeito e incentivo; 2º) modelo positivo; 3º) comunicação clara; 4º)
conhecimento do esporte; 5º) bom ouvinte. Esse resultado demonstra, que a função do técnico
vai além do seu conhecimento a cerca do treinamento esportivo, mas os aspectos atitudinais
são relevantes para a formação do jovem atleta.

Gardner (1995) aponta que muitas pessoas influentes e líderes possuem inteligência
interpessoal e habilidades em comunicação social, isto inclui carisma e empatia, paciência e
serenidade, e a capacidade de ouvir o outro, corroborando com o que foi apontado pelos
atletas no estudo de Visek et al (2015).

Em linhas gerais, Martens (1987) aponta quatro componentes de liderança, a saber:

- Qualidades do líder, como por exemplo, integridade, flexibilidade, lealdade, confiança,


responsabilidade, franqueza, preparação, desenvoltura, autodisciplina e paciência;

- Fatores circunstanciais, como a finalidade da tarefa, o tamanho da equipe, a disponibilidade


e tempo, além da tradição das lideranças nas situações antecessoras;

- Características dos seguidores, relacionadas as especificidades dos atletas e/ou praticantes


de determinado grupo ou ambiente esportivo;

- Estilos e tipos de liderança, em que se destacam os líderes laissez-faire, paternalista,


autocrático e democrático.
Nesse contexto, a maioria dos técnicos, no contexto esportivo, assume determinado estilo de
liderança. Entre os diversos estilos, a literatura não aponta o melhor modelo, mas que o líder
deverá encontrar uma forma de intervenção que ajude os atletas a alcançarem o seu potencial
máximo.

Além disso, Samulski (2002) salienta que a maneira de liderar deve respeitar o nível de
maturidade do liderado, no sentido de incentivar a realização da tarefa com qualidade e
agilidade, mantendo-o motivado ao longo da aprendizagem e do treinamento.

O líder laissez-faire estabelece poucas ou nenhuma relação entre ele e seus seguidores, e
assim, o grupo facilmente se desintegra pela indefinição e insegurança na identidade grupal,
além de surgirem conflitos que nunca são resolvidos em tempo hábil, visto que não toma
iniciativa alguma, não coordena, não dirige e não assume a responsabilidade.

O líder paternalista, ao invés do domínio, utiliza-se do assistencialismo, concentrando em sua


pessoa toda a situação de execução e solução, ou seja, tudo deve passar por ele. Acredita
que para alcançar resultados de excelência, um ambiente agradável e uma relação
harmoniosa precisam existir entre toda a equipe. Nesse sentido, ele prioriza o indivíduo e suas
emoções, e não suas atividades e resultados, construindo relações mais fraternais.

O líder autocrático está focado apenas nas tarefas, e não se preocupam com seus liderados
e nem suas com necessidade, pois os mesmos não têm oportunidade de participar das
discussões e dar opiniões sobre as realizações da tarefa, fazendo com que haja maior nível
da liderados insatisfeitos. É um estilo que concentra o poder de decisão, um ditador
autossuficiente, que não promove outras lideranças nem estimula iniciativas dentro do grupo.

E, o líder democrático estabelece e possibilita as inter-relações, promovendo as iniciativas, a


participação e cooperação. Ele se preocupa com as condições e necessidades de seus
liderados, e distribui de maneira organizada o poder de decisão e facilita a comunicação e
integração do grupo, que passa a ficar mais coeso, obtendo maior nível de satisfação de seus
liderados. Há autores que estabelecem a denominação de líder apenas ao modelo
democrático, generalizando os outros com o termo de “dirigentes” (PONDER, 2010).

Ponder (2010) salienta, ainda, que para que a liderança possa obter resultados positivos o
líder não pode estar apenas preocupado com a tarefa ou o resultado, mas deve considerar as
necessidades dos membros da equipe, através de relações abertas, calorosas e amigáveis,
evidenciando o valor que cada um tem dentro do grupo, aceitando opiniões e mostrando a
confiança com os mesmos, sendo acessível a todos.

Algumas características básicas na forma de agir e visualizar a equipe são determinantes na


liderança, como: a capacidade de influenciar e tomar decisões, a aplicação usual de técnicas
de motivação e feedback, treinos bem elaborados e explicados para os atletas, bem como a
boa comunicação e o espírito de participação ativa de todos os componentes.

Gomes et al. (2012) aponta a necessidade de os treinadores ajustarem os seus


comportamentos de acordo com os atletas que orientam, uma vez que a divisão competitiva
e o sexo dos praticantes implicaram discrepâncias na avaliação do exercício da liderança,
bem como na coesão e satisfação manifestada pelos atletas na prática esportiva.

Ademais, o treinador eficaz resulta de uma combinação entre aquilo que ele é como pessoa
(objetivos pessoais e profissionais, disponibilidade para ajudar os outros, etc.), o tipo de
atletas que orienta (sexo, idade, preferências pessoais, etc.) e o contexto no qual exerce as
suas funções (modalidade coletiva ou individual, divisão competitiva, etc.).
Gioldasis (2016) cita que treinadores devem fornecer aos seus jogadores alto nível de
instruções técnicas e táticas, assim como motivação, incentivo, coesão, autoeficácia e
satisfação, de modo a cobrir as necessidades psicológicas deles.

O modelo multidimensional de liderança aplicada nos esportes (CHELLADURAI, 1990) é uma


das perspectivas atuais de conceituação de liderança esportiva, devido à especificidade para
situações atléticas e esportivas. Nesse modelo, os desempenhos ideais e a satisfação do
grupo e dos membros deste são obtidos quando os comportamentos requeridos, preferidos e
reais de um líder são consistentes e adequados ao grupo, às suas necessidades,
características e objetivos coletivos que os identificam como equipe.

O modelo multidimensional demonstra que o desempenho motor e a satisfação dos atletas


dependem de três tipos de comportamento do líder: requerido, real e preferido. As
características circunstanciais, as características do técnico e as características dos
indivíduos são antecedentes que afetam o comportamento consistente do líder. Desse modo,
se o líder tem comportamentos adequados em situações particulares e estes se ajustam às
preferências dos membros do grupo, eles atingirão seu melhor desempenho e se sentirão
satisfeitos.

De modo geral, o treinador deve ser flexível na sua forma de agir, pois seu estilo de liderança
deve se adequar aos liderados. Dependendo do nível esportivo dos atletas, de questões
culturais, da personalidade, entre outros, um estilo pode ser mais adequado do que outro. E
essa condução assertiva da equipe é de suma importância para o alcance de melhores
resultados e que todo o processo leve em consideração o ser humano antes do atleta.

<ABRIR BOX SAIBA MAIS>

O psicólogo Rodrigo Scialfa Falcão, especialista em Psicologia do Esporte e Psicoterapeuta,


apresenta diferentes tipos de lideranças no esporte e o papel dos treinadores para os grupos.
Autor do site www.psicologianoesporte.com.br

https://www.youtube.com/watch?v=cYIJEV_kams

Rodrigo ainda salienta que um bom técnico transforma grupos de atletas em equipes, ou seja,
desenvolve a coesão e o respeito acima das individualidades, entendendo, que quando as
individualidades são consideradas e podem ser desenvolvidas, a equipe só tem a ganhar
atingindo todo o seu potencial. Saber liderar também é ensinar liderança, desenvolver um
ambiente confiável e ter preocupação com o lado humano de seus comandados.

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6.2 Motivos de afiliação e de poder no Esporte


Considerando o aspecto de liderança no ambiente esportivo, também devemos compreender
os motivos de afiliação e de poder existentes no contexto esportivo.

O motivo de afiliação pode ser entendido como necessidade de contato e identificação de um


indivíduo com seus iguais (WINTERSTEIN, 2003). Relacionado a questões de convívio e de
relacionamento grupal e coletivo, que permitem aos integrantes de determinada equipe se
reconhecerem como tais, satisfazendo a necessidade ou motivo de contato social.

A afiliação é definida por Murray (1978, p. 28) como “uma preocupação num ou mais
caracteres suscetíveis de estabelecer, manter ou restaurar, em qualquer momento, uma
relação afetiva com outra pessoa. Essa relação é descrita de maneira mais adequada pela
palavra amizade.” Essa afetividade permite que ocorra a identificação, o contato e o
reconhecimento do grupo ao membro e vice-versa.

A partir disso se cria a chamada identidade coletiva ou identidade grupal, relacionado a um


certo padrão ou identidade no grupo que caracteriza e define este grupo, gerando coesão,
identificação e reconhecimento como entidade coletiva. Neste sentido, os membros se
reconhecem e depositam seus interesses pessoais, na busca de metas se unem e se
relacionam, assim as ações são coletivas e os objetivos traçados em conjunto.

Em contrapartida o poder pode ser entendido como um motivo ou uma necessidade de


exercer influência ou de se impor diante de outro indivíduo.

De acordo com Winterstein (2003, p.79), o poder é entendido como “a capacidade de


influenciar ou dirigir o comportamento de outros mediante sugestão, sedução, persuasão ou
comando, fazendo assim com que outros façam algo sob influência”.

Para que existam relações de poder, estabelece-se uma hierarquia coletiva, na qual os
seguidores acatam e são influenciados pelas decisões, pelos atos e comportamentos de um
ou mais líderes instituídos no grupo. Essas relações de poder têm fontes diversas, segundo
Heckhausen (1980): punição ou recompensa; coação ou obrigação; poder legítimo ou
delegado; poder de exemplo ou modelo reforçador; poder de experto, devido a determinados
conhecimentos ou habilidades; poder informativo e tecnológico; e, confiança e poder
conquistado por relacionamento interpessoal.

O domínio de uma pessoa em relação a outra é determinado pela capacidade carismática


exercida pelo dominador, que tende a ser idealizado e imitado pelos demais, pois é ele quem
possui conhecimento, competência e capacidade para perceber, instruir e aconselhar as
habilidades necessárias na prática desportiva (MACHADO, 2006).

Machado (2006) ainda destaca que muitos sentimentos são desencadeados por essa relação,
como o alívio, a segurança e a raiva. O atleta respeita e aceita o comando de seu técnico e,
algumas vezes, pode, inclusive, sacrificar sua individualidade e autonomia em prol da
proteção do grupo social em que convive, pois acredita que este possui um conhecimento
aprimorado daquilo a que se propõe passar, ou em alguns casos, pode sentir raiva por não
aceitarem essa situação de dominação e anulação de sua identidade.

Sendo assim, fica evidente a correlação entre liderança e poder, posto que os dois aspectos
são diretamente entrelaçados e relacionados a questões de influências, quer seja por
sugestão, quer seja por carisma, persuasão verbal e comando, imposição ou ordem direta.

Sobre a relação técnico e atleta, podemos, portanto, considerar que o técnico poderá
influenciar tanto positiva quanto negativamente seus liderados de acordo com suas atitudes e
sua personalidade.

Por fim, ao compreendermos os motivos de afiliação e de poder, conseguiremos identificar de


fato como ocorrem as relações entre técnicos e atletas, a partir da:

- Influência por conhecimentos, informações, habilidades do treinador, confiança e afinidades;

- Influência de modelo reforçador, identificação do atleta com algum aspecto comportamental


do técnico;

- Influência de algum colega por meio de força física, habilidades, carisma, confiança,
convívio;

- Influência da hierarquia institucional, representada pela administração, coordenadores,


direção;

- Influência dos pais, em relação a respeito, confiança, conhecimentos e habilidades ou até


mesmo por poder legitimado;

- Entre outras.

6.3 A Equipe Esportiva


A maioria das atividades esportivas, mesmo nos chamados esportes individuais, requer
grupos ou equipes, além disso, uma competição quase sempre envolve mais de uma pessoa,
o que demonstra a necessidade de entendimento das questões relacionais.

Para compreender a dinâmica existente dentro de uma equipe esportiva é necessário


identificar as relações entre os indivíduos, os atletas e o técnico, em condições e
circunstâncias particulares, considerando os fatores individuais e coletivos e forças sociais de
natureza interna e externa estão presentes no êxito das equipes.

Assim, podemos entender como equipe, no âmbito do esporte, como um grupo de pessoas
que devem interagir para realizar objetivos em comum, formando, assim, um time.

Carron e Spink (1993) definem a equipe esportiva como um conjunto de indivíduos que
possuem uma identidade coletiva, partilham um destino comum, desenvolvem padrões
estruturais de comunicação, manifestam interdependência pessoal e de tarefa, além de
atração interpessoal recíproca, consideram a si próprios constituintes de um grupo e, ainda,
possuem metas e objetivos individuais, mas também comuns.

De acordo com Machado (2006), existe uma necessidade de se entender o funcionamento do


grupo no esporte devido a sua influência nos resultados. Os grupos esportivos trazem
particularidades que devem ser conhecidas pelo profissional que com eles atua. Sendo assim,
Pichón (2005) afirma que um grupo não é o mero somatório de indivíduos, mas ele se constitui
como uma nova entidade, com um funcionamento específico, comportando-se como uma
totalidade.

Weinberg e Gould (2008, p. 171) definem equipe como “qualquer grupo de pessoas que
devem interagir entre si para realizar objetivos comuns”.

A Psicologia do Esporte classifica as equipes esportivas em dois tipos, a interativa e a


coparticipativa. Sendo a interativa, caracterizada pelo fato do sucesso do time depende do
esforço combinado de todos os membros, muito representada pelas modalidades coletivas
como futebol, handebol e basquete. Já a coparticipativa, depende dos esforços individuais,
visto que o êxito da equipe será a partir da soma dos resultados de cada atleta, exemplificada
por modalidades como a ginástica artística e o atletismo.

Nos grupos interativos, existe uma maior relevância em relação à coesão em busca deum
resultado satisfatório, já que as performances dos membros da equipe são interdependentes.
Embora, para se garantir um clima motivacional entre os atletas, a coesão grupal sempre será
importante, seja na equipe interativa ou na coparticipativa.
Para o desenvolvimento de um grupo é importante que se crie uma estrutura, que começa a
surgir desde o primeiro momento, a partir da interação entre os membros, como eles se
percebem e como esperam que sejam percebidos, e a partir de então, o papel de cada um
começa a ser estabelecido, assim como as normas de funcionamento do grupo.

Sendo assim, a evolução do grupo para uma equipe perpassa por algumas etapas (RÚBIO,
2003; WEINBERG; GOULD, 2008):

1) Formação: é o momento de estruturação do grupo e de familiarização entre seus


membros. Através de questões como “Quem somos? Quais são os objetivos deste grupo? Me
interessa pertencer a este grupo?” estabelecem-se as semelhanças entre os participantes.
Quando acontecem as primeiras interações e o estabelecimento de relações entre os
integrantes;

2) Agitação: nesta etapa há a expressão das diferenças, sendo a existência de conflitos


considerada como uma fase normal da evolução grupal. Comumente percebe-se certa
resistência ao líder que está se constituindo, podendo haver conflitos entre os integrantes e
com as lideranças;

3) Normalização: é estabelecida a identidade grupal e são instituídas as normas e regras


(nem sempre explícitas), ao passo que se observam atitudes de solidariedade e cooperação
entre os membros. Momento que são estabelecidas as funções de cada um e o grupo já é
entendido enquanto unidade e identidade;

4) Atuação: momento de realização da tarefa que pressupõe a existência da equipe, os


integrantes canalizam sua energia e esforços para o sucesso da equipe. É o desempenho do
grupo enquanto equipe, literalmente.

Rúbio (2003), afirma que um grupo, ao assumir características de uma equipe esportiva,
encontra-se unido e com muita proximidade gerada pelo contato físico ao longo de um extenso
período de convivência advindo dos treinos e períodos de concentrações. E, muitas vezes, a
identidade grupal pode ser representada por camisetas, rituais, campo de jogo próprio e
objetivos claros para obter características próprias.

Além disso, os integrantes de uma equipe precisam se conhecerem uns aos outros,
desenvolverem ajuda mútua, comunicarem-se efetivamente, resolverem conflitos
imediatamente e ser responsável para que as relações sejam de fato amigáveis.

Lewin (1977) salienta que a interdependência entre seus membros é que determina a
essência de um grupo, e não a semelhança ou a diferença entre eles. Uma mudança no
estado de qualquer subparte modifica o estado de todas as subpartes, caracterizando o grupo
como um todo dinâmico.

Embora a maioria dos estudos seja a cerca dos aspectos positivos e potenciais da formação
de um grupo e sobre seu desempenho ou produtividade, Buys (1978) cita alguns fatores
negativos em relação ao pertencimento a um grupo: a ociosidade social, o autoengano (“nós
contra eles”), a conformidade, a suspensão do pensamento crítico e dependência excessiva
da opinião do grupo, e a perda do sentido da própria identidade.

Sendo assim, imprescindível que cada membro reconheça seu papel, minimizando as
diferenças de prestígio dentro de uma equipe (atleta titular e reserva, por exemplo), e que seja
enfatizado que o sucesso da equipe depende da contribuição de cada indivíduo.

Aceitar o papel a desempenhar depende, na maioria das vezes, de quatro condições: a


oportunidade de usar habilidades ou competências especiais; o feedback e reconhecimento
do papel; a importância do papel e autonomia (oportunidade de trabalhar
independentemente). Desta forma, quando as responsabilidades atletas são entendidas como
contribuições importantes para o sucesso da equipe, eles ficam mais dispostos a aceitar e a
desempenhar seus papéis.

<ABRIR BOX SAIBA MAIS>

O vídeo a seguir é uma aula da disciplina “Psicologia da Atividades Física e do Esporte” do


Instituto de Educação Física e Esportes da Universidade Federal do Ceará, ministrada pelo
Prof. Dr. Leonardo Nepomuceno, sobre Processos Grupais e Equipes Esportivas.

https://www.youtube.com/watch?v=OGo2h295SxU

Aproveite as explicações para se aprofundar ainda mais nesta temática.

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<ABRIR BOX AGORA É A SUA VEZ>

“Para a Psicologia, um grupo não é o mero somatório de indivíduos, mas ele se constitui como
uma nova entidade, com um funcionamento específico, comportando-se como uma totalidade”
(PICHÓN, 2005). Comente esta passagem do texto.

1) Qual a diferença entre a equipe integrativa e a coparticipativa?


2) Através de exemplos cite as etapas de evolução de um grupo para a preparação esportiva.
3) Leia o artigo abaixo e faça um texto relacionando-o com o que foi lido na apostila e com
sua experiência como técnico/professor ou atleta.

http://citrus.uspnet.usp.br/eef/uploads/arquivo/v12%20n2%20artigo4.pdf

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6.4 Coesão Grupal no Esporte

A coesão esportiva e as relações interpessoais são algumas das características que podem
influenciar na qualidade de vida e performance do atleta e da equipe.

Para Carron et al. (1985), a coesão de grupo pode ser entendida como um processo dinâmico
que tem como objetivo favorecer a união de uma equipe para o alcance de seus objetivos e a
satisfação das necessidades afetivas de seus membros, além de uma distinção entre o
indivíduo e o grupo.

Carron e Spink (1993) definem a equipe esportiva como um conjunto de indivíduos que:
possuem uma identidade coletiva; partilham um destino comum; desenvolvem padrões
estruturais de comunicação; manifestam interdependência pessoal e de tarefa, e atração
interpessoal recíproca; consideram a si próprios constituintes de um grupo; possuem as
mesmas metas e objetivos.

Desse modo, a coesão é importante não só para a dimensão coletiva, contribuindo para a
autoidentificação do grupo como uma totalidade e para o grau de união de uma equipe
(JOWETT; CHAUNDY, 2004); mas, também para a dimensão individual, influenciando a forma
como cada atleta satisfaz suas necessidades pessoais e busca seus objetivos (EYS et al.,
2009).

A coesão grupal pode ser entendida em relação ao seu aspecto social e em relação à tarefa.
No esporte, um objetivo comum seria vencer um campeonato, o que, em parte, depende do
esforço coordenado da equipe ou do trabalho em equipe. A coesão social é definida pelo grau
de afetividade existente entre os membros de uma equipe, enquanto a coesão para a tarefa
é determinada pelo nível de cooperação e de atração interpessoal entre os membros da
equipe a fim de alcançar um objetivo comum. Em uma aula de ginástica, por exemplo, um
objetivo comum é melhorar o nível de força, e a adesão ao exercício aumenta
proporcionalmente à coesão do grupo (SPINK; CARRON, 1992).

Isso demonstra que são muitos fatores relacionados à razão para um grupo se unir,
enfatizando que a coesão grupal é multidimensional, é uma combinação de dimensões de
tarefa e sociais. Além disso, por ser dinâmica, pode mudar com o tempo, é instrumental, visto
que os grupos são formados com um determinado proposito, e é afetiva, a medida em que as
interações sociais dos membros produzem sentimentos entre os membros do grupo

Carron et al. (2002), propuseram que os componentes sociais e de tarefa da equipe podem
ser compreendidos em função da atração individual e das percepções de integração em
relação à equipe, compostas por:

- Atração individual para o grupo-tarefa: consiste nos sentimentos que o atleta apresenta em
relação à equipe e também em seu envolvimento pessoal com as tarefas do grupo, a
produtividade, as metas e os objetivos;

- Atração individual para o grupo-social: abrange o envolvimento pessoal, a interação social


com o grupo, além do sentimento de aceitação de cada atleta pelo grupo;

- Integração no grupo-tarefa: relacionada à similaridade, ou seja, à ideia de que todos os


atletas compartilham objetivos semelhantes em torno das tarefas do grupo e que essas metas
devem se converter na meta da equipe;

- Integração grupo-social: referente a sentimentos de similaridade e proximidade de toda a


equipe em torno da unidade social, ou seja, à importância das relações afetivas construídas
entre os membros da equipe fora das competições.

Além disso, Carron et al. (1985) desenvolveram um modelo conceitual para desenvolvimento
de coesão grupal nas equipes esportivas, composto por fatores ambientais, fatores pessoais,
fatores de liderança, fatores de equipe. Esses fatores quando alinhados auxiliarão no alcance
tanto dos resultados do grupo quanto nos resultados individuais.

- Fatores ambientais: referem-se às forças normativas que mantêm um grupo unido, incluindo
responsabilidade contratual e orientação organizacional, como por exemplo, jogadores estão
sob contrato de empresário e regulamentos que especificam o tempo de jogo mínimo em um
programa esportivo juvenil, respectivamente. Aspectos como idade, proximidade, requisitos
de qualificação, nível de competição e tamanho de um grupo, são importantes para o
desenvolvimento do grupo.

- Fatores pessoais: concernem às características individuais dos membros do grupo,


classificados em três categorias: atributos demográficos (como semelhança dos membros,
sexo), cognições e motivos (como atribuições de responsabilidade, ansiedade) e
comportamento (como adesão, ociosidade social).
- Fatores de liderança: reportam os estilos de liderança, ao comportamento dos líderes e a
personalidade do treinador e dos atletas, ou seja, se essa relação entre líder e liderados é
saudável ou representam uma luta de poder.

- Fatores de equipe: relacionam-se às características da tarefa de grupo (esportes individuais


e coletivos), normas de produtividade do grupo, desejo de sucesso do grupo, papéis do grupo,
posição do grupo e estabilidade da equipe. As experiências compartilhadas, sejam de
sucessos ou de fracassos, são importantes para o desenvolvimento e a manutenção da
coesão, pois unificam uma equipe para combater a ameaça das equipes oponentes (Brawley,
1990).

Importante salientar que a unidade da equipe não é apenas responsabilidade do técnico, mas
os membros do grupo também podem promover a coesão da equipe.

Neste sentido, devem ser incentivadas ações como: promover comunicação efetiva, valorizar
as funções individuais para o sucesso da equipe, desenvolver orgulho dentro das
subunidades, estabelecer metas de equipe desafiadoras, encorajar a identidade da equipe,
evitar a formação de pequenos grupos, e evitar rotatividade dos integrantes.

<ABRIR BOX SAIBA MAIS>

O vídeo a seguir mostra como os treinadores podem promover a coesão grupal no esporte, a
partir da fala do Dr. Christen, do The Sports Doc Minute.

https://www.youtube.com/watch?v=HDgTExBBBW0

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6.5 Conclusão

Ao longo do capítulo apresentamos os aspectos da liderança e da coesão grupal como


requisitos importantes para se alcançar o rendimento esportivo.

Reforçamos a importância de se analisar as formas de liderança do treinador, visto que,


quanto mais efetiva for à liderança exercida por ele em relação aos seus atletas, maior será
a coesão, melhor será a distribuição e compreensão das funções específicas, maior será a
capacidade de superação de obstáculos e o estabelecimento de metas comuns ficará mais
claro.

Por fim, aproveite as leituras e as atividades recomendadas para uma melhor compreensão e
aprofundamento deste conteúdo.

Até o próximo capítulo!


Resumo
Este capítulo apresenta aos alunos aspectos da liderança no esporte, seus componentes e
estilos, como o processo de influenciar as atividades de indivíduos ou grupos para a
consecução de um objetivo numa dada situação.

Sendo assim, o papel do técnico como de facilitador para o desempenho dos liderados. No
esporte, essa função inclui processos de tomada de decisão, técnicas motivacionais, dar
feedback, estabelecer relações interpessoais e comandar a equipe com confiança.

É certo que o papel do líder esportivo será então buscar estratégias para tornar a vida do
grupo harmoniosa e atingir o estado de coesão grupal, a partir de relações de afiliação e de
poder que respeitem o atleta enquanto indivíduo e vice-versa.

Referências
BOMPA, T. Periodização: teoria e metodologia do treinamento. 4. ed. São Paulo: Phorte,
2002.
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