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com

Sono e Atlético
Desempenho
Impactos no desempenho físico, desempenho
mental, risco e recuperação de lesões e saúde
mental
Jonathan Charesta,b,Michael A. Grandner,Doutorado, MTRc,*

PALAVRAS-CHAVE

- Sono - Esporte - Insônia - Desempenho

PONTOS CHAVE

- O sono insuficiente e a má qualidade do sono são prevalentes entre os atletas, potencialmente devido às demandas de
tempo, exigências físicas e necessidades de desenvolvimento.
- Os distúrbios do sono entre os atletas têm impactos adversos no desempenho físico, no desempenho mental,
no risco e na recuperação de lesões, na saúde médica e na saúde mental.
- Foi demonstrado que as intervenções no sono entre atletas melhoram a força física e a velocidade, o
desempenho cognitivo e o tempo de reação, a saúde mental e outros domínios.
- As organizações desportivas devem incorporar programas de promoção da saúde do sono a nível individual, de equipa
e de sistema.

INTRODUÇÃO como apneia do sono. Por exemplo, de acordo com

Escopo do problema
Nos últimos anos, tem havido uma atenção crescente à
importância do sono e ao seu papel essencial no
desempenho atlético, na cognição, na saúde e no bem-
estar mental. Muitos desses estudos examinam atletas
de elite (por exemplo, atletas olímpicos, profissionais e/
ou jogadores recrutados para seleções nacionais e
universitárias) e alguns enfocam atletas em geral.
Apesar de todos os esforços despendidos, por qualquer
definição, numerosos atletas ainda apresentam sono
inadequado.1–3Em comparação com os não atletas, os
atletas tendem a dormir menos, em média.4Além disso,
a qualidade do sono dos atletas parece inferior à dos
seus pares não atletas.5–7Além disso, foi sugerido que
certos tipos de atletas são mais propensos a desenvolver
dificuldades de sono, tais como
George e colegas8e Albuquerque e colegas,9Os
jogadores da National Football League (NFL) apresentam
taxas mais elevadas de apneia obstrutiva do sono, que
têm tremendos impactos deletérios na saúde e na
sonolência diurna. Há evidências crescentes de que o
sono insatisfatório é um bom preditor de lesões e, mais
importante, de concussão.10
Declarações de posição
Recentemente, o Comité Olímpico Internacional (COI)
abordou, pela primeira vez, o sono como um dos principais
contribuintes para o desempenho atlético e como uma
característica fundamental da saúde mental dos atletas.11,12
Além disso, a Associação Nacional de Atletismo Universitário
(NCAA)13–17incluíram a saúde do sono como parte de seus
estudos publicados sobre saúde mental
sleep.theclinics.com

aDepartamento de Psicologia, Universite Laval, Quebec City, Quebec, Canadá;bCentro para Sono e Desempenho
Humano, #106, 51 Sunpark Drive Southeast, Calgary, Alberta T2X 3V4, Canadá;cDepartamento de Psiquiatria,
Universidade do Arizona, 1501 North Campbell Avenue, PO Box 245002, Tucson, AZ 8524-5002, EUA
* Autor correspondente.
Endereço de email:grandner@gmail.com

Clínica Médica do Sono 15 (2020) 41–57 https://doi.org/10.1016/

j.jsmc.2019.11.005 1556-407X/20/- 2019 Elsevier Inc. Todos os
direitos reservados.
42 Charest e Grandner
Melhores Práticas18bem como sua declaração de posição
oficial publicada mais recentemente sobre a importância
da saúde do sono para estudantes atletas.18Estas
declarações de posição da NCAA e do COI representam a
maior consciência da importância da saúde do sono
entre as organizações de atletas de elite. Ambos os
documentos foram o resultado de uma revisão da
literatura, do processo Delphi de construção iterativa de
consenso e de revisão subsequente, após revisões
exaustivas da literatura disponível.
O documento do COI sobre saúde mental11considera
a saúde do sono em termos de suficiência (ou seja, pelo
menos 7 horas para adultos), alinhamento circadiano
adequado, boa qualidade geral percebida do sono e
ausência de distúrbios do sono, incluindo distúrbio de
insônia e apnéia do sono. O documento recomenda que
estas dimensões do sono sejam consideradas
importantes para a saúde mental, bem como para a
saúde física e o funcionamento. Além disso, o
documento recomenda educação, avaliação e rastreio
adequados e tratamento utilizando estratégias baseadas
em evidências – tendo em conta que alguns tratamentos
podem ter um impacto na segurança e/ou no
desempenho.
O documento da NCAA enfocou o sono como um aspecto
importante da saúde, do desempenho e do funcionamento
mental em estudantes atletas universitários.18
Ele aborda muitas barreiras identificadas ao sono,
incluindo demandas de tempo acadêmico, atlético e
social. Da mesma forma, este documento define a
saúde do sono em termos de duração (pelo menos 7
horas em adultos), tempo, qualidade geral e
ausência de distúrbios, incluindo insónia e apneia do
sono. Também é dada especial atenção ao papel do
cansaço, fadiga e/ou sonolência como consequências
da perda e/ou distúrbios do sono. A NCAA faz 5
recomendações neste documento:
1. Realizar anualmente uma pesquisa de demanda de tempo dos
atletas universitários.
2. Garantir que a tecnologia do sono do consumidor, se usada,
esteja em conformidade com a Lei de Responsabilidade e
Portabilidade de Seguros de Saúde e com as leis da Lei de
Direitos Educacionais e Privacidade da Família.
3. Incorporar a triagem do sono no exame pré-
participação.
4. Fornecer aos atletas universitários educação sobre o
sono baseada em evidências que inclua (1)
informações sobre as melhores práticas de sono, (2)
informações sobre o papel do sono na otimização do
desempenho atlético e acadêmico e no bem-estar
geral, e (3) estratégias para lidar com as barreiras do
sono.
5. Fornecer aos treinadores educação sobre o sono baseada
em evidências que inclua (1) informações sobre as
melhores práticas de sono, (2) informações sobre o papel
do sono na otimização atlética e acadêmica
desempenho e bem-estar geral e (3) estratégias
para ajudar a otimizar o sono do atleta
universitário.
Estes esforços recomendam especificamente que seja
fornecida educação relacionada com o sono, que as
dificuldades e distúrbios do sono sejam avaliados e
rastreados rotineiramente e que a promoção da saúde
do sono seja um objectivo dos programas de atletismo.
EPIDEMIOLOGIA DE DISTÚRBIOS DO SONO EM
ATLETAS
Prevalência de sono insuficiente
A duração insuficiente do sono pode ter impacto no
metabolismo, na função endócrina e nos resultados
atléticos e cognitivos e, além disso, aumentar o esforço
percebido durante o exercício.19–21Quando os atletas são
comparados com os não-atletas, eles tendem a dormir
cada vez menos eficientemente. Leeder e colegas4
comparou os hábitos de 47 atletas de elite durante um
período de 4 dias com um grupo de não atletas, usando
actigrafia; as idades dos participantes não foram
informadas, mas os grupos foram pareados por idade e
sexo. Em média, os atletas dormiram 6,55 horas
- 0,43 horas versus 7,11 horas - 0,25 horas nos
não atletas (P5.27). Eles relataram, no entanto,
menor eficiência do sono (80,6 horas – 6,4 horas
vs 88,7 horas – 3,6 horas;P<0,05), maior tempo
passado na cama (8h07 - 0h20 vs 8h36 - 0,53
horas;P<0,05), acordar após o início do sono (0:50
horas - 0:16 horas vs 1:17 horas - 0:31 horas;P
<0,05), latência para início do sono (5,0 horas
- 2,5 horas vs 18,2 horas - 16,5 horas;P<0,05) e
fragmentação do sono (29,8 horas - 9,0 horas vs
36,0 horas - 12,4 horas;P<0,05) em atletas. Além
disso, Lastella e colegas22relataram duração
insuficiente do sono entre os atletas, com média
de 6,8 horas. Sargent e colegas23,24
também relataram que ao longo de 14 noites avaliadas
com actigrafia, os atletas registraram uma média de 6,5
horas de sono por noite.
Tomados em conjunto, estes estudos investigaram
um total de 241 atletas de elite e, documentados
actigraficamente, determinaram durações de sono de
aproximadamente 6,5 horas na maioria dos casos.
Recentemente, Mah e colegas25indicaram que 39,1% dos
atletas relataram sono insuficiente (<7 horas) por
autorrelato. E, entre uma grande amostra de atletas
universitários nos Estados Unidos (N58312), Turner e
colegas26relataram que o número médio de noites por
semana em que os atletas achavam que não dormiam o
suficiente era de 3,8.
Prevalência de má qualidade do sono
Hoshikawa e colegas27investigou a qualidade do
sono de 817 atletas de elite japoneses
 Sono, desempenho atlético e saúde mental 43

com o Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh Prevalência de preferências e perturbações

(PSQI), mostrando que 28% dos participantes circadianas
apresentaram pontuação superior a 5, sugerindo má
Dados que exploram o cronótipo entre a população em
qualidade do sono. Mah e colegas25relataram que
geral sugerem que aproximadamente 25% são do tipo
42,2% dos 629 atletas daquele estudo apresentaram
matutino, 50% são do tipo intermediário e
má qualidade do sono, também utilizando o PSQI.
aproximadamente 25% são do tipo noturno.30Poucos
Em 2019, Turner e colegas26examinaram dados de
estudos exploraram a distribuição do cronotipo entre
8.312 estudantes atletas universitários e descobriram
atletas. Dois estudos2,31indicaram que 51% dos atletas
que 19,8% relataram que “dificuldades para dormir”
foram classificados como matutinos, 40% como
foram particularmente “traumáticas ou difíceis de
intermediários e apenas 9% foram classificados como
lidar” nos últimos 12 meses e que 21,8% relataram
vespertinos. Um estudo examinou atletas em cadeiras
extrema dificuldade em adormecer pelo menos 3
de rodas e o outro examinou atletas em idade escolar e
noites por semana. Bleyer e colegas5relataram que
pode não ser representativo da população de atletas de
38% de seus 452 participantes relataram sono
elite. Lastella e colegas32investigaram 114 atletas de elite
insatisfatório. Resultados de um estudo realizado
emergentes de 5 esportes diferentes. Seus resultados
entre jogadores de elite de rugby e críquete (n5175)
indicaram que 28% eram do tipo matutino, 65% eram do
mostraram que 50% da pontuação do PSQI de seus
tipo intermediário e apenas 6% eram do tipo vespertino,
participantes foi superior a 5 e que 9% obtiveram
apoiando descobertas anteriores de que os atletas
pontuação superior a 10.3Tsunoda e colegas7
tendem a praticar e se destacar em esportes que
relataram as pontuações do PSQI de 14 atletas de
correspondam ao seu cronótipo.33
basquete em cadeira de rodas (média55,8 - 3,0) e
Os ritmos circadianos podem influenciar variações no
compararam seus resultados com 103 não-atletas da
desempenho, dependendo da hora do dia e dos horários
população em geral (média54,51 - 2,14).
típicos de treino, o que em última análise pode afetar o
Independentemente do tempo total de sono, os
desempenho competitivo.34Quando os atletas
atletas em cadeira de rodas relataram menor
experimentam perturbações nos seus ambientes ou
qualidade e eficiência do sono do que os não-atletas
rotinas, como viagens noturnas, mudanças repetitivas
pareados.
de fuso horário, treinos noturnos ou competições
Em uma coorte de 317 atletas dos Jogos Olímpicos
noturnas, os ritmos circadianos endógenos e os padrões
de Verão de 2016, no Rio de Janeiro, de 11 esportes
normais de sono podem estar fora de sincronia.35,36Tais
diferentes, a má qualidade do sono (avaliada pelo
perturbações nos padrões circadianos e de sono podem
PSQI) foi prevalente em mais de 50% dos atletas após
aumentar a pressão homeostática e, assim, influenciar a
os Jogos Olímpicos.28Esta pesquisa recapitula os
regulação das emoções, a temperatura corporal e a
resultados anteriores com uma coorte semelhante,
circulação da melatonina e causar um aumento
na qual até 83% dos atletas atingem o ponto de
significativo na latência do sono.37
corte, indicando sono insatisfatório.29A maior
O comportamento de sono/vigília dos atletas é muitas
proporção com pontuação superior a 5 ocorreu antes
vezes regido pelos seus horários de treino.38Portanto, o
das Olimpíadas e a menor foi registrada nos jogos.
papel do cronótipo entre os atletas pode interagir com
Consequentemente, independentemente do tipo de
um cronograma de treinamento e deve ser considerado
desporto, estes resultados evidenciam a prevalência
para otimizar o treinamento e o desempenho34
de má qualidade do sono entre os atletas.
e reduzir a prevalência de distúrbios
cronobiológicos.
Prevalência de sonolência diurna
Prevalência de distúrbios do sono
Poucos estudos examinaram a prevalência de fadiga
geral e/ou sonolência entre atletas. Turner e colegas Insônia
26relataram que 60,9% dos atletas universitários Gupta e colegas39demonstraram que a relação entre a
relatam que se sentem “cansados, arrastados ou participação em esportes de elite e a sintomatologia da
sonolentos durante o dia” pelo menos 3 dias por insônia é pouco sistematizada. A deficiência diurna –
semana (conforme medido por autorrelato). Além uma parte fundamental do diagnóstico de insônia –
disso, 32,75% desses estudantes atletas pode refletir uma ampla variedade de experiências,
universitários relataram incapacidade de manter a incluindo fadiga, flutuação emocional e desempenho
vigília pelo menos 3 vezes por semana (por psicomotor e/ou neuropsicológico, que são importantes
autorrelato). Mah e colegas25relataram que 51% dos para atletas de elite. Dada esta sensibilidade particular
estudantes atletas em seu estudo relataram ao comprometimento do desempenho e aos altos níveis
pontuações altas (10) na Escala de Sonolência de de sonolência (o que não é comum na insônia), surgem
Epworth. Estas descobertas indicam altos níveis de alguns desafios na avaliação da insônia entre a elite
sonolência em atletas de elite.
44 Charest e Grandner
atletas. Os modelos tradicionais de insônia podem
discriminar mal a insônia per se nesta população não
tradicional.40As exigências multifacetadas do desporto de
elite, incluindo um elevado nível de volume de treino,41,42
ansiedade pré-competição,22,38,43e desafios
circadianos (jet lag)44todos podem predispor e
precipitar distúrbios do sono, levando ou
facilitando a sintomatologia da insônia.
Dada a ausência de um questionário de sono
validado especificamente para atletas antes da
criação do Athlete Sleep Screening Questionnaire
(ASSQ),45é difícil indicar com precisão a prevalência
da insônia em atletas de elite. A revisão sistemática
conduzida por Gupta e colegas,39
entretanto, relataram que as queixas de distúrbios do
sono variam de 13% a 70% dos atletas e que, em geral,
em média, 26% dos atletas pontuaram
significativamente para sintomas de insônia usando o
Índice de Gravidade da Insônia e o PSQI. Apesar da
popularidade destes dois questionários, nenhum deles é
especificamente validado numa população de atletas de
elite. Atletas de elite são selecionados principalmente
não apenas com base na predisposição fisiológica, mas
também em atributos psicológicos.46,47É possível que
traços de personalidade que incluam foco no sucesso
(por exemplo, perfeccionismo) também possam
predispor um atleta de elite à insônia.48Além disso, as
exigências dos desportos de elite, incluindo uma elevada
frequência, intensidade e volume de atividade e desafios
de programação,23,42juntamente com a ansiedade pré-
competição43e jetlag/viagem,49,50todos podem levar um
indivíduo a dificuldades de sono. Dado que estes
desafios são incomuns entre a população em geral e a
relação entre fatores de risco e sono pode ser
fundamentalmente diferente neste grupo (por exemplo,
distribuição da massa muscular), ferramentas não
validadas especificamente em populações atléticas
devem ser utilizadas com certa cautela.
Apnéia do sono
A prevalência da apneia do sono pode ser alta em certos
tipos de esportes, como esportes de força, potência e
alto contato, onde os atletas geralmente apresentam
grande massa corporal e circunferência do pescoço.3,51,52
Na NFL e na National Hockey League, dois esportes de
alta velocidade e alto contato, um índice de massa
corporal elevado e uma grande circunferência do
pescoço são considerados ativos de proteção, tornando
os atletas menos propensos a lesões.3Infelizmente,
essas características corporais específicas também
predispõem esses atletas a um risco aumentado de
apneia obstrutiva do sono (AOS).52–54Dois estudos
realizados entre jogadores da NFL ilustraram que
jogadores com essas características físicas específicas
pareciam ter maior incidência de AOS.8,55Além disso, em
linha com estudos anteriores sobre futebol, Dobrosielski
e colegas56ilustrou que
aproximadamente 8% dos jogadores de futebol da
Divisão I da NCAA corriam risco de OSA. Além disso, em
jogadores profissionais de hóquei, a AOS estava
presente em aproximadamente 10% dos atletas.57É
relatado que, na maioria dos casos, a gravidade da AOS
foi leve, mas mesmo a AOS leve pode causar distúrbios
graves no sono,58potencialmente tendo um impacto no
desempenho atlético.
Outros distúrbios
Poucos estudos foram realizados sobre a síndrome das
pernas inquietas (SPI) entre atletas. Os resultados de um
estudo que avaliou uma população de corredores indicam
que a prevalência é sugerida em aproximadamente 13%.59
Entre jogadores de hóquei, a prevalência é sugerida em
aproximadamente 5%57; finalmente, numa amostra de
jogadores de rugby, nenhum participante relatou SPI,
mas 12% relataram movimentos periódicos dos
membros (MPM).60Esses dois estudos mostraram que
distúrbios do sono, como SPI e PLMs, são relativamente
comuns entre atletas de elite de diversos esportes.
IMPACTO DO SONO NO
DESEMPENHO FÍSICO
Os efeitos adversos da restrição do sono no
desempenho atlético têm sido documentados há muitos
anos, incluindo efeitos cardiorrespiratórios e
psicomotores, que requerem um desempenho
sustentado e estável ao longo do tempo.61–65Mougin65
observaram 7 participantes em cicloergômetro, em um
estudo que incluiu um aquecimento de 10 minutos e
depois um exercício constante de 20 minutos
correspondente a 75% do consumo máximo de oxigênio
pré-determinado e foi seguido por um exercício de
intensidade aumentada até a exaustão. Isso foi feito
juntamente com a restrição do sono (3 horas de vigília
no meio da noite). Neste estudo, as demandas
fisiológicas foram significativamente maiores durante o
esforço submáximo em comparação com uma noite
basal (10h30).PMàs 7:00SOU).65A frequência cardíaca foi
significativamente maior quando medida após 9 minutos
(167,1 bpm - 2,0 vs 171,3 bpm - 2,5) e após 20 minutos
(176,0 bpm - 2,6 vs 179,1 bpm - 2,4). Além disso, a
ventilação (141,0 bpm - 5,7 vs 157,5 bpm - 6,4) e a
frequência respiratória (43,0 bpm - 1,6 vs 44,7 bpm - 1,7)
foram alteradas após uma restrição de sono em
comparação com o valor basal. Da mesma forma, essas
mesmas variáveis foram significativamente maiores
após a condição de restrição de sono ao realizar um
teste ergométrico graduado, até a exaustão, enquanto o
volume de consumo máximo de oxigênio (VO2máx)
diminuiu. O acúmulo de lactato também foi maior no
nono minuto (P<0,01), no vigésimo minuto (P<0,05) do
exercício de potência constante e no exercício máximo
 Sono, desempenho atlético e saúde mental
(P<0,05) após restrição de sono. Estes resultados de
Mougin65demonstraram elegantemente que após uma
restrição de sono, o desempenho físico exige uma
demanda fisiológica maior, levando o atleta à exaustão
mais rápido do que deveria. Num estudo separado, no
entanto, não houve alteração significativa na potência
média ou máxima em testes anaeróbicos após 3 horas
da manhã.SOUhora de dormir em comparação com 10:30
PMhora de dormir.66Estudos subsequentes de Mougin
mostraram que após restrição de sono de 4 horas, a taxa
máxima de trabalho desenvolvida pelos participantes foi
reduzida em 15 W para ciclistas em um exercício de 30
minutos a 75% da potência máxima.67De acordo com
alguns dos resultados anteriores as potências média e
máxima de um teste anaeróbio diminuem entre os
estudantes68jogadores de futebol,69e judocas70após uma
única restrição de sono de 4 horas. O raciocínio por trás
da diminuição da resistência ao exercício é a alteração
das vias aeróbicas64ou na mudança perceptiva
(impressão de um esforço mais longo), pois os aspectos
fisiológicos permanecem predominantemente
inalterados.62,63O aumento do esforço percebido
acompanhado de uma redução na potência gerada
apoia a teoria da fadiga neuromuscular,71
possivelmente indicando uma combinação de resposta
do sistema nervoso central e teoria neural de
dormir.62,72,73
Outros estudos também demonstraram impactos adversos da
restrição do sono na potência anaeróbica dos atletas,74
precisão do serviço de tênis,75força isométrica,76e níveis
de cortisol.77Além disso, a distância média percorrida
por corredores de elite diminui (6.224–6.037 milhas) em
um exercício em esteira (30 minutos) em seu próprio
ritmo.78Skein e colegas79relataram tempos médios de
sprint mais baixos, concentração reduzida de glicogênio
nos músculos e diminuição da força e ativação durante
um teste de força isométrica após uma privação total de
sono de 30 horas, com 10 atletas de esportes coletivos,
em comparação com 8 horas normais de sono. Os
desportos de esforço submáximo, como a corrida,
podem ser mais provavelmente afetados pela privação
total de sono do que os desportos de esforço máximo,
como o levantamento de peso, porque requerem mais
tempo e, portanto, têm um impacto negativo na
perceção do esforço ao longo do tempo, talvez devido à
maior demanda fisiológica necessária.65Após a restrição
do sono, a percepção de esforço aumenta
exponencialmente aumentando o tempo de conclusão
do teste.78As diferenças nos resultados da contração
muscular (ativação voluntária), entretanto,
provavelmente podem ser explicadas pela sensibilidade
e precisão do equipamento eletromiográfico utilizado.
Por exemplo, estudos anteriores provavelmente foram
limitados neste aspecto ao contrário de estudos recentes
devido ao avanço tecnológico dos equipamentos.79,80
Resumindo,
45
embora os efeitos da privação de sono no exercício não
sejam completamente compreendidos, muitos
resultados convergentes implicam efeitos adversos da
privação de sono no desempenho atlético.
Além disso, o equilíbrio do substrato energético
parece vulnerável à privação de sono. Por exemplo, uma
privação de sono de 30 horas em comparação com uma
oportunidade de sono de 8 horas demonstrou a
incapacidade do corpo humano de recuperar totalmente
(24 horas) o glicogênio muscular em uma população
atlética, como mostrado pela concentração de glicogênio
muscular antes do exercício (310 mmol *kg1dw
- 67 mmol*kg1dw vs 209 mmol*kg1dw
- 60 mmol*kg1dw).79A ingestão inadequada de glicose
prejudicaria a capacidade dos atletas de competir por
longos períodos, porque a falta de glicogênio reduz a
função muscular e a resistência atlética.81,82Parece que
um grande desequilíbrio energético leva a uma
deterioração na produção de energia aeróbica e
anaeróbica quando a atividade é mantida durante vários
dias e o sono é reduzido.83–87Períodos prolongados de
privação de sono estão associados ao aumento da
atividade do sistema nervoso simpático e à diminuição
da atividade do sistema nervoso parassimpático, bem
como à alteração da sensibilidade barorreflexa
espontânea durante testes de vigilância em adultos
saudáveis.88Como os distúrbios do equilíbrio simpático e
parassimpático estão associados ao overtraining,89é
possível que estes distúrbios do sistema nervoso
autônomo após a privação de sono possam promover o
desenvolvimento de um estado de overtraining em
atletas.82,90Apesar desses distúrbios do sistema nervoso
vários estudos relataram que a privação do sono tem
impacto mínimo nas variáveis cardiorrespiratórias
durante o exercício62,66,91em oposição à descoberta
anterior de Mougin e colegas.65As diferenças
provavelmente são mais atribuíveis aos protocolos
administrados e ao modo de exercício utilizado (corrida,
ciclismo e tempo de exaustão) ao longo destes
diferentes estudos. Além desses resultados, não houve
efeitos significativos na função cardiorrespiratória ou
termorreguladora em atletas, apesar da redução da
distância percorrida por 30 minutos em esteira após a
privação de sono.78Oliver78levantaram a hipótese de que
os efeitos mínimos na função cardiorrespiratória
poderiam ser devidos à influência do esforço percebido
durante os estágios finais do exercício prolongado de
alta intensidade (descrito anteriormente).
IMPACTO DO SONO NO RISCO DE LESÕES E NA
RECUPERAÇÃO
Sono e concussões
Estima-se que cerca de 3,8 milhões de concussões
sejam sofridas anualmente nos Estados Unidos
durante esportes competitivos.92Lamentavelmente,
46 Charest e Grandner
aproximadamente 50% das concussões podem não ser
relatadas.92Cerca de 1 milhão de estudantes atletas
relataram ter sofrido 2 ou mais concussões durante um
período de 12 meses.93Um estudo indicou que 40% dos
atletas com concussão relataram que seus treinadores
não estavam cientes dos sintomas.94
Além disso, sugere-se que os atletas envolvidos em desportos
coletivos têm um risco significativamente maior de sofrer uma ou
mais concussões do que os atletas de desportos individuais.93
O sono pode desempenhar um papel importante
como fator de risco para concussões. Os participantes
receberam questionários de triagem do sono e foram
acompanhados durante um período de 1 ano. Os
preditores de concussões incidentes incluíram insônia
clinicamente moderada a grave (risco relativo [RR] 3,13;
IC 95%, 1,320–7,424; P5.015) e sonolência diurna
excessiva (RR 2,856; IC 95%, 0,681–11,977;P5.037), em
um estudo com 190 atletas da NCAA,10e esses fatores de
risco superaram os fatores de risco mais tradicionais
(por exemplo, esporte de alto risco e histórico de
concussões) como preditores.
O sono pós-concussão também é importante.
Recentemente, uma meta-análise relatou que
distúrbios do sono foram relatados após uma
concussão em aproximadamente 50% das vezes.95Os
distúrbios do sono mais comuns relatados após uma
concussão são sonolência diurna e insônia, 50% e
25%, respectivamente.96Além disso, os distúrbios do
sono podem contribuir de forma proeminente para
exacerbar características comórbidas de depressão,
fadiga e dor após uma concussão.95e piorar a
recuperação porque as funções recuperativas
normais do sono são alteradas.97
O retorno à cognição inicial e aos sintomas auto-
relatados são prioridades fundamentais que podem ser
adotadas para garantir a segurança dos jogadores.98,99
Foi demonstrado, no entanto, que os atletas que
dormiram menos de 7 horas na noite anterior ao teste
teriam um desempenho pior.100Considerando que a
decisão de permitir que um jogador volte a jogar resulta
de uma comparação entre o desempenho pré-concussão
e pós-concussão, é necessária uma linha de base
neurocognitiva válida. Nesse sentido, o sono deve ser
monitorizado ao longo do ano para obter um
desempenho neurocognitivo adequado e, portanto, uma
linha de base válida. Além disso, a diferença na
apresentação sintomática após uma concussão é
altamente divergente entre atletas masculinos e
femininos.101Isto destaca a lacuna existente entre o tipo
de atleta e a consideração que deve ser direcionada para
uma avaliação inicial individualizada para melhor
detectar a sintomatologia de uma concussão.
A concussão, independentemente da gravidade, é
uma lesão cerebral, e os atletas com suspeita de tal
lesão devem ser monitorados cuidadosamente.102,103
Um aumento na conscientização levou diretamente a um
maior interesse nos sintomas pós-concussão.104,105
A pesquisa apontou especificamente que a
continuação dos sintomas de sono insatisfatório
após uma concussão foi um preditor confiável de
recuperação prolongada.106–108Além disso, Kostyun e
colegas109demonstraram que durante a recuperação,
adolescentes que relataram maior distúrbio do sono
tiveram pior desempenho em testes neurocognitivos.
Sono insuficiente como fator de risco para lesões
Os atletas pretendem atingir o desempenho máximo
durante o maior tempo possível, dadas as carreiras
tipicamente curtas e com grandes riscos. Um estudo online
com estudantes adolescentes (12-18 anos) relatou que os
estudantes que dormiam menos de 8,1 horas por noite
tinham 1,7 vezes mais probabilidade de sofrer uma lesão do
que os seus pares que dormiam mais de 8,1 horas.110,111
Além disso, o mesmo estudo também indicou que, para cada
série adicional na escola, os alunos tinham 1,4 vezes mais
probabilidade de sofrer uma lesão. Em conjunto, a duração
insuficiente do sono pode aumentar o risco de lesões. Além
disso, a soma de anos de dívida de sono (acumulada) pode
desempenhar um papel nos resultados de risco de lesões.
A nutrição desempenha um papel fundamental na
recuperação e prevenção de lesões,29,112–114e nutrição
e sono têm uma relação bidirecional.115–119Existe
associação entre o número de horas dormidas e as
categorias de consumo de nutrientes da dieta.117
Além disso, os indivíduos que dormem mais tarde
tendem a consumir uma porcentagem maior de
carboidratos, gorduras e proteínas do que a média das
pessoas que dormem.120Por outro lado, algumas
categorias de nutrientes podem ter um efeito positivo
no sono, como as cerejas e os kiwis, que se acredita
reduzirem o número de despertares e aumentarem o
tempo de sono.121Embora o conhecimento nutricional
seja considerado elevado entre os atletas122os dados são
escassos sobre o número de atletas que seguem suas
dietas regularmente, e isso pode ser afetado pela falta
de sono, que influencia a ingestão de alimentos.123
Adolescentes que dormiam menos de 8 horas por
noite tinham maior probabilidade de sofrer lesões124
em comparação com estudantes que dormem mais
de 8 horas. Estes resultados estão de acordo com as
conclusões de Milewski e colegas.111Isto é
interessante dado que os resultados são replicados
numa população de atletas. Além disso, Von Rosen e
colegas124descobriram que a ingestão recomendada
de frutas, vegetais e peixes não foi atendida por 20%,
39% e 43% dos atletas, respectivamente. Portanto, a
hipótese do efeito combinado do sono deficiente e
da má nutrição precisa ser mais explorada para
melhor compreender os mecanismos subjacentes às
lesões nos atletas.
 Sono, desempenho atlético e saúde mental
Além disso, a falta de sono e a má qualidade do sono
agravam os sintomas de depressão e ansiedade,125
o que também pode aumentar o risco de lesões. Em um
estudo com 958 atletas, 40,6% sofreram lesões de
diversas naturezas.126Na pré-temporada, 28,8% dos 958
atletas inscritos neste estudo relataram sintomas de
ansiedade e 21,7% relataram sintomas depressivos.
Aqueles com sintomas de ansiedade tinham 2,3 vezes
mais probabilidade de ter sofrido uma lesão.126Dada a
forte associação entre sono insatisfatório, ansiedade e
sintomas de depressão,127,128pode-se especular que o
sono insuficiente pode levar indiretamente a uma lesão.
Sono e recuperação insuficientes
A má qualidade e a privação do sono prejudicam as
funções cerebrais que afetam uma ampla gama de
funções cognitivas,129que pode direta ou indiretamente
facilitar a recuperação de esforço mental e/ou lesão
física. Além disso, indivíduos privados de sono podem
aumentar a ingestão de alimentos não saudáveis, o que
acaba por prejudicar a reposição de glicogénio e a
síntese proteica,130que são críticos para a recuperação
dos atletas. Além disso, o sono prejudicado afeta
diretamente a liberação do hormônio do crescimento e
altera a secreção de cortisol,67tendo um impacto na
recuperação do exercício e do estresse. A privação do
sono também aumenta as citocinas pró-inflamatórias,
como os níveis de interleucina 6 e proteína C reativa, que
são agentes facilitadores da dor,131em última análise,
afetando o sistema imunológico; dificulta a recuperação
e reparação muscular de danos sofridos em treinos de
alta intensidade; e leva a um desequilíbrio do sistema
nervoso autônomo.132,133Além disso, os atletas que
sentem a necessidade de ultrapassar os limites das suas
capacidades podem tender a desenvolver padrões de
sono deficientes, aumentando as suas probabilidades de
doença (ou seja, sintomas médicos), e isto tem um
impacto no seu desempenho e recuperação.84
IMPACTO DO SONO NO
DESEMPENHO MENTAL E COGNITIVO
Vigilância e Tempo de Reação
Foi demonstrado que a restrição do sono tem um
impacto negativo na atenção e nos tempos de
reação.134–137Além disso, foi demonstrado que os
tempos de reação são afetados negativamente após
apenas uma noite de privação completa de sono.74
A extensão do sono, por outro lado, demonstrou
melhorar os tempos de reação em 15% e também
melhorar a sonolência diurna objetiva,138em um estudo
com estudantes atletas. Mah e colegas,139prolongou o
sono de um time de basquete universitário durante um
período de 5 a 7 semanas. O tempo total médio de sono
aumentou de 7,50 horas para 10,25 horas de sono nesse
período. Estudantes atletas melhoraram
47
suas pontuações de tempo de reação (P<0,001) nas sessões
de testes matinais e noturnas. Dado que os atletas muitas
vezes experimentam pelo menos uma restrição ligeira do
sono (especialmente durante períodos intensos de treino ou
competição), a gestão do sono torna-se uma prioridade para
maximizar o tempo de reacção. Consistente com as
descobertas sobre a extensão do sono, há evidências de que
o sono pode ser armazenado para otimizar a vigilância e o
tempo de reação.140–142
Função Executiva e Tomada de Decisão
As funções executivas são um dos pilares do
desempenho atlético.143,144Estes incluem os mais altos
níveis de pensamento necessários para conceber uma
estratégia, tomar uma decisão rápida, demonstrar
flexibilidade cognitiva e gerir a priorização da atenção. O
sono profundo/sono de ondas lentas parece ter
diferentes funções restauradoras tanto no nível
neurofisiológico quanto no fenomenológico. O sono
profundo parece ter um impacto benéfico no córtex pré-
frontal, o que também tem um impacto positivo nas
funções dirigidas por esta região cerebral.145,146A
priorização ou controle inibitório garante o controle da
concentração, atenção e pensamentos do atleta e
suprime as distrações cognitivas e comportamentais
externas e internas.147,148A flexibilidade cognitiva é vital
para os atletas, garantindo eficiência e adaptação nas
mudanças de tarefas.147,149A adaptação é fundamental
no atletismo; evita que os atletas tomem decisões
erradas ou arriscadas, e esse controle inibitório está
altamente ligado à privação de sono.150,151
Esses estudos ressaltam os efeitos deletérios da falta
de sono nas funções executivas. Dormir pouco pode
alterar a capacidade de um atleta de tomar uma decisão
boa versus uma decisão arriscada em uma fração de
segundo, durante um jogo ou evento. A cafeína tem sido
sugerida como uma contramedida para proteger contra
os efeitos da tomada de riscos ou da má tomada de
decisões.152Foi demonstrado, entretanto, que a cafeína
não substitui uma boa noite de sono para essas funções.
75,153–155
Aprendizagem e Memória
Aprender novas habilidades é crucial para todo atleta. As
raízes das consolidações da memória são encontradas no
sono.72,156–158A capacidade de recordar informações159
é inevitavelmente de interesse para os atletas. Por exemplo,
a NFL exige ênfase no manual, e a capacidade de relembrar
jogadas complexas é essencial para a participação no
futebol. Além disso, sabe-se que o aprendizado e o
aprimoramento de uma habilidade motora continuam 24
horas após o treinamento.160Em adultos jovens saudáveis, o
sono de estágio 2 de movimento ocular não rápido (NREM)
normalmente representa aproximadamente 45% a 55% do
tempo total de sono.161Foi demonstrado que a duração do
estágio 2 do sono (NREM) é
48 Charest e Grandner
fortemente correlacionado com a consolidação das
habilidades motoras.162–164Indiscutivelmente, o período de
sono após a aprendizagem de uma nova habilidade é crucial,
e foi demonstrado que a restrição do sono pode ter um
impacto adverso na consolidação da memória.165
Embora seja verdade até certo ponto que a prática
leva à perfeição, os resultados de vários estudos
indicaram que o sono após a aprendizagem melhora
significativamente o desempenho, em relação à privação
de sono.166–168Então talvez o sono seja perfeito. Além
disso, a restrição do sono também tem impacto negativo
no desempenho acadêmico dos estudantes atletas.16956
alunos foram designados para passar 5 ou 9 horas na
cama por 14 dias consecutivos, nos quais os
participantes tiveram que estudar para o Exame de
Registro de Pós-Graduação. Os resultados mostraram
que o grupo com restrição de sono foi significativamente
impactado na recordação de itens concentrados, o que é
fundamental para o sucesso acadêmico.
Outro grupo de atletas de elite, os estudantes-atletas,
precisam estar preparados não apenas para suas competições,
mas também para os estudos acadêmicos. Turner e colegas26
descobriram que a dificuldade geral de dormir, a insônia
inicial, o cansaço diurno, a sonolência diurna e o sono
insuficiente estavam associados à diminuição do
desempenho acadêmico entre estudantes atletas. É
parcialmente responsabilidade do treinador orientar os
alunos atletas para que estejam prontos para qualquer
tipo de teste, seja atlético ou acadêmico. Em última
análise, a avaliação regular do sono pode fornecer
informações cruciais para os treinadores e atletas.170
Além disso, ter uma ideia clara de como um atleta
dorme pode ajudar o médico especialista da equipe a
prevenir lesões, como concussões.10
Criatividade e Pensamento
Através do sono, a teoria da consolidação sugere que a
aprendizagem e a consolidação da memória beneficiam
a criatividade.171A relação entre sono e criatividade
decorre da influência direta do sono na aprendizagem e
na formação de novos conceitos, ideias, soluções e, em
última análise, na génese da criatividade.172Foi
demonstrado que o sono de movimento rápido dos
olhos (REM) pode melhorar a resolução criativa de
problemas.173Sono REM, de acordo com Cai e colegas,173
criatividade aprimorada para itens que são preparados
antes de dormir em mais de 40%. Outro estudo mostrou
que o estágio 1 do sono estava associado à fluência e
flexibilidade, e o sono de ondas lentas e o sono REM
estavam associados à originalidade e à medida global da
criatividade figurativa.174Além disso, num estudo do
Remote Associates Test, os participantes enfrentaram
diferentes níveis de dificuldade e os problemas não
resolvidos foram apresentados novamente após um
período de sono suficiente, vigília ou nenhum atraso.175
O grupo do sono resolveu um número maior
de itens difíceis do Teste de Associados Remotos do que
os outros grupos. Estas descobertas sugerem que o
sono facilita o pensamento criativo para problemas mais
difíceis. A resolução criativa de problemas é essencial
para atletas de elite. Durante cada jogo e cada
competição, os atletas de elite enfrentam decisões que
podem melhorar ou diminuir as suas chances de vitória.
Portanto, é essencial investigar como o sono pode
melhorar a resolução de problemas dentro de um ambiente
repleto de distrações, aliado à rapidez de
execução, que é mais típica de atletas de elite do
que de não atletas.
IMPACTO DO SONO NA SAÚDE MENTAL
Estudos anteriores apontaram associações
bidirecionais entre sono, estressores diários e mau
humor.176,177Além disso, a má qualidade do sono e a
curta duração do sono foram significativamente
associadas a interferências cognitivas relacionadas
ao estresse no dia seguinte, como a experiência de
pensamentos intrusivos, indesejados, fora da tarefa
e potencialmente ruminados.128Além disso, foram
encontradas associações na direção oposta, como
interferências estressantes e cognitivas ao longo do
dia, que levariam a dormir mais cedo e acordar mais
cedo.128
A prevalência de sintomas de ansiedade em atletas
adultos varia de 7,1% a 26%.178,179Estudantes atletas
relatam taxas mais altas de ansiedade, até 37%.126,180
Em um estudo de Lastella e colegas,181,18221% dos
atletas relataram que a ansiedade foi o principal
motivo para acordarem durante a noite. Além disso,
Savis e colegas,183relataram, entre estudantes
atletas, menor qualidade do sono na noite anterior à
competição. Os estudantes atletas relataram que a
principal razão para a dificuldade em dormir era a
ansiedade e que isso afetava muito o seu
desempenho no dia seguinte.128,184,185Além disso,
Davene186relataram que estar continuamente em um
novo ambiente de sono exacerbava a ansiedade,
tendo assim um impacto negativo no sono e,
portanto, no desempenho.
Os atletas que não dormem o suficiente apresentam
consistentemente taxas mais elevadas de ansiedade,
levando a uma maior dificuldade em lidar com novos
desafios ambientais e factores de stress, um componente
chave do desempenho de todos os atletas.184,185Mais estudos
são necessários para esclarecer esta relação bidirecional em
atletas, a fim de desenvolver planos de ação apropriados e
estratégias adaptativas para otimizar o desempenho.
INTERVENÇÕES A NÍVEL DE EQUIPA
Promovendo uma cultura de sono saudável
Priorizar o sono nas rotinas de preparação e
recuperação dos atletas não é uma tarefa fácil. Há um
 Sono, desempenho atlético e saúde mental
atitude onipresente na sociedade em relação ao
sono, apresentada onde ser capaz de tolerar sono
insuficiente é um sinal de força mental e uma
medalha de honra.187Essa atitude pode influenciar
jovens atletas de elite que buscam atingir o mais alto
nível de desempenho em seus respectivos esportes.
Para contrariar esta situação, as equipas podem
promover uma cultura de sono saudável como um
melhorador do desempenho. Isto inclui abraçar a
ideia de que o sono é essencial para o desempenho
atlético e a recuperação e contrariar a percepção de
que dormir o suficiente deve produzir um
sentimento de culpa. Vários atletas de alto nível já
discutiram publicamente a importância do sono na
sua preparação e recuperação.188Infelizmente, os
hábitos destes atletas ainda não são a norma e, em
toda a literatura e cultura desportiva, o sono ainda
não é uma prioridade entre atletas de elite e
desportos coletivos profissionais, embora isso possa
estar a mudar.
Triagem sistemática de problemas de sono
A triagem sistemática de problemas de sono é necessária
para compreender a extensão de um problema, identificar
áreas que precisam de melhorias e identificar indivíduos em
risco de problemas de sono.18Idealmente, as equipes
precisam examinar os atletas no início da temporada e fazer
o acompanhamento com uma avaliação prospectiva do
sono. Os desafios incluem a integração das avaliações do
sono nos programas existentes, as decisões sobre quais
ferramentas utilizar, a implementação da avaliação do sono
em vários momentos e estratégias para avaliar os distúrbios
do sono. Além disso, o desenvolvimento de relações
colaborativas com prestadores de serviços de sono deve ser
uma prioridade.189,190
Até o momento, apenas um questionário de sono foi
validado em atletas, o ASSQ.45Outra ferramenta
promissora é o Questionário Comportamental do Sono
do Atleta,191que aborda principalmente o mau
comportamento do sono.
Tratamento de distúrbios do sono
Para tratar distúrbios do sono entre atletas de elite, é
essencial um exame adequado do sono. Diferentes tipos
de atletas podem ser suscetíveis de maneiras diferentes
a certos tipos de distúrbios do sono. Por exemplo, os
jogadores de futebol americano podem ter uma maior
prevalência de apneia do sono devido aos seus atributos
físicos,192,193e os nadadores podem ter problemas de
ritmo circadiano devido aos seus horários de treinos
precoces.42
As equipes de medicina esportiva devem ser instruídas
sobre como diagnosticar e tratar distúrbios do sono e
encaminhar para especialistas do sono quando apropriado,
194e a educação sobre distúrbios do sono deve ser fornecida
tanto aos atletas como ao pessoal.18Além disso,
49
o especialista em medicina desportiva também deve ser o
fornecedor e promotor de um bom comportamento de sono
e dos seus efeitos benéficos no desempenho atlético e
académico.
Quando são identificados distúrbios do sono, devem
ser aplicados tratamentos apropriados baseados em
evidências, assim como em não atletas,11,18incluindo
terapia de pressão positiva nas vias aéreas e aparelhos
orais para apnéia do sono e terapia cognitivo-
comportamental para insônia. Às vezes, porém, os
tratamentos baseados em evidências para distúrbios do
sono em atletas podem ser problemáticos. Por exemplo,
medicamentos sedativos podem ser clinicamente
indicados, mas podem impedir o desempenho atlético, e
alguns tratamentos empiricamente comprovados
podem, na verdade, ser substâncias proibidas no
desporto.11Por esta razão, os prestadores clínicos
podem precisar de ser sensíveis a estas questões e
considerar se os tratamentos sedativos prejudicam o
desempenho ou se os tratamentos estimulantes são
restringidos porque melhoram o desempenho.
Gerenciando programações de treinamento e viagens
A relação entre cargas de treinamento, tempo, intensidade,
sono e desempenho é provavelmente complexa e não
totalmente compreendida. Um aumento na carga e na
intensidade do treinamento, e uma diminuição nas horas de
sono, estão associados ao aumento do risco de lesões.195
Portanto, treinar de forma mais eficiente pode ser preferível
a treinar mais ou mais intensamente. Isto seria mais
preferível ao acúmulo de carga de treinamento sem uma
recuperação proveitosa, acompanhada de diminuição do
desempenho e necessidade de um período prolongado de
recuperação.196,197
RESUMO E DIREÇÕES FUTURAS
A saúde do sono é uma consideração importante para o
desempenho atlético. Os atletas correm alto risco de
duração insuficiente do sono (ou seja, menos de 7 a 8 horas
por noite), má qualidade do sono (por exemplo, dificuldade
em iniciar ou manter o sono ou outras dificuldades de sono),
sonolência diurna e fadiga, horários de sono abaixo do ideal
(por exemplo, muito cedo ou muito tarde), horários de sono
irregulares e distúrbios do sono e circadianos
(especialmente insônia e apneia do sono). Estas questões,
individualmente e em combinação, provavelmente têm um
impacto no desempenho atlético através de vários domínios.
A perda e/ou má qualidade do sono podem prejudicar a
força muscular, a velocidade e outros aspectos do
desempenho físico. Problemas de sono também podem
aumentar o risco de concussões e outras lesões e prejudicar
a recuperação após lesões. O desempenho cognitivo
também é impactado em vários domínios, incluindo
vigilância, aprendizagem e memória, tomada de decisões e
criatividade. O sono também desempenha papéis
importantes na saúde mental, que é
50 Charest e Grandner

Figura 1.Relações entre saúde do sono

MÁ SAÚDE DO SONO ATLÉTICO PREJUDICIAL e desempenho atlético.
DURAÇÃO INSUFICIENTE DO SONO
DESEMPENHO
FORÇA E VELOCIDADE MUSCULAR
MÁ QUALIDADE DE SONO

LESÕES E RISCO DE CONCUSSÃO

FADIGA E SONOLÊNCIA
TEMPO DE REAÇÃO E VIGILÂNCIA

TEMPO DE SONO ABAIXO DO IDEAL

TOMADA DE DECISÕES E CRIATIVIDADE

HORÁRIOS IRREGULARES DE SONO

APRENDIZAGEM E MEMÓRIA

TRANSTORNOS DO SONO E CIRCADIANOS

SAÚDE MENTAL

importante não apenas para o desempenho atlético, DIVULGAÇÃO

mas também para o bem-estar dos atletas em geral.
O Dr. MA Grandner recebeu bolsas da Jazz
Figura 1descreve um resumo dessas descobertas. Estas
Pharmaceuticals, National Institutes of Health,
relações começaram a ser formalmente incorporadas
Nexalin Technology e Kemin Foods. Desempenhou
nas organizações de atletismo, com declarações de
atividades de consultoria para Fitbit, Natrol, Casper,
posição oficial que abordam a saúde do sono publicadas
Curaegis, Thrive, Pharmavite, SPV, Night-Food e
pela NCAA e pelo COI.11,18
Merck. Este trabalho foi apoiado por R01MD011600 e
São necessárias muitas pesquisas futuras sobre o sono
uma bolsa de inovação da National Collegiate
em atletas. Isto ocorre porque os atletas representam um
Athletics Association.
grupo diversificado de indivíduos, e a maioria dos estudos
em atletas são pequenos, confinados a uma única equipe e/
REFERÊNCIAS
ou esporte, e incluem abordagens de medição
inconsistentes. Em particular, não está claro qual é a melhor 1.Lucidi F, Lombardo C, Russo PM, et al. Queixas de
estratégia para avaliar os parâmetros do sono em atletas, e sono em atletas olímpicos e recreativos italianos.
provavelmente pode depender de fatores intrínsecos ao J Clin Sport Psychol 2007;1(2):121–9.
desporto ou atividade. Além disso, não se sabe se as 2.Samuels C. Sono, recuperação e desempenho: a nova
abordagens padrão devem ser adaptadas. Também faltam fronteira no atletismo de alto desempenho. Neurol
ensaios sobre intervenções do sono que se pensa terem um Clínica 2008;26(1):169–80.
impacto positivo no sono e ainda há um número insuficiente 3.Swinbourne R, Gill N, Vaile J, et al. Prevalência de fatores
de estudos que descrevem como melhorar o sono pode de risco de má qualidade do sono, sonolência e apneia
melhorar o desempenho. Apesar disso, existe um grande e obstrutiva do sono em atletas. Eur J Sport Sci
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claramente a saúde do sono como um factor importante no 4.Leeder J, Glaister M, Pizzoferro K, et al. Duração e
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tem implicações significativas para a saúde, o 5.Bleyer F, Barbosa D, Andrade R, et al. Sono e queixas
desempenho atlético, o desempenho académico e muito musculoesqueléticas em atletas de elite de Santa
mais, dada a influência que cada atleta tem na Catarina. Rev dor São Paulo 2015;16(2): 102–8.
população em geral como modelo. Isto não só
proporcionará uma oportunidade para explorar um 6.Bonnet MH, Arand DL. Hiperexcitação e insônia:
aspecto crucial da saúde mental e física, mas também estado da ciência. SleepMedRev 2010;14(1):9–15.
abrirá caminho para novas intervenções na área do 7.Tsunoda K, Hotta K, Mutsuzaki H, et al. Estado do sono em
bem-estar mental. Rastrear o sono por meio de jogadores masculinos de basquete em cadeira de rodas de
questionários, wearables e outros dispositivos objetivos uma seleção japonesa. J Distúrbio do Sono em 2015; 4(4):1–
é promissor, mas ainda restam muitos pontos de 4.
interrogação. É, portanto, crucial desenvolver 8.George CF, Kab V, Kab P, et al. Sono e respiração em
estratégias para mitigar as dificuldades do sono, não só jogadores profissionais de futebol. Sleep Med
para o desempenho físico, mas também para o bem- 2003;4(4):317–25.
estar mental, o que exigirá dados adicionais para uma 9.Albuquerque FN, Kuniyoshi FHS, Calvin AD, et al.
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