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Estimulação cortical: efeitos agudos sobre

variáveis
bioperacionais em jogadores armadores de
basquetebol
Estimulación cortical: efectos agudos sobre la variables bioperacionales en
jugadores armadores de baloncesto
Cortical stimulation: acute effects on variables in bioperational owners of basketball
players

Introdução

A partir da década de 70, com o início da abordagem motora alicerçada na teoria do


processamento de informações houve uma escalada de pesquisas sobre mecanismos e
processos subjacentes à aquisição de habilidades motoras, destacando-se às análises de
operações mentais que precedem o movimento, como a seleção de resposta, a programação do
movimento, a avaliação dos erros pelo sistema sensorial, entre outros1. Esta linha de raciocínio
tem promovido um incremento na performance dos atletas, visto que o entendimento e
organização das estratégias e outros eventos de performance que um bom desempenho
desportivo requer dependem de conhecimento e percepção2,3.

Da Silva e Guedes4 e Lent5 afirmam a grande potencialidade para a aprendizagem que


crianças de ambos os gêneros apresentam, principalmente durante o período precioso ou
crítico, que ocorreem torno dos primeiros 12 anos de vida.

Da Silva 1,6 referiu-se a estas potencialidades como sendo de ordem bioestrutural e


bioperacional do sistema nervoso. As diferenças entre estes compêndios existem em função da
potencialidade e tipo dos neurônios geradores das funções específicas a cada sistema. Na
verdade, essa subdivisão só se justifica para efeito de estudo, já que os dois sistemas atuam
em conjunto.

Compreende-se, sob uma perspectiva neurofuncional, que os neurônios associados à função


bioperacional são os de alta ordem cognitiva (capacidade de percepção, abstração, lógica e
mais), portanto, diretamente vinculada ao processamento mental “ativo”, enquanto que os
ligados à função bioestrutural estão associadas a valências físicas tais como força, velocidade
de deslocamento, potência muscular, flexibilidade, equilíbrio, além de outras cuja dimensão
particular é explicável através de parâmetros quantitativos1,6. Vale ressaltar que, os
parâmetros de movimento ligados ao compêndio bioestrutural são diretamente estruturados,
operacionalizados e, em parte controlados pelo sistema bioperacional.

Em contextos desportivos a bioestruturalidade se efetiva em modalidades cujo


desenvolvimento se operacionaliza sob versões de feedback em circuito mental fechado (ex.;
atletismo, natação e outros nesta linha) e a bioperacionalidade, em modalidades cuja expressão
depende de sequências rápidas de operacionalizações mentais realizadas via circuitos de
feedback aberto (ex.; basquetebol, futebol, pólo aquático e outros assim).
Em se tratando da bioperacionalidade e visando-se um esporte como o basquetebol, objeto
do presente estudo, verifica-se ser o mesmo intensamente dinâmico e aberto em termos de
feedback, dependendo a competência7,8,9 no seu “jogar”, de uma multiplicidade de variações
mentais. Como resultado, proporciona-se aos atletas autonomia e tomada de decisões10.

Uma característica peculiar ao basquetebol é ser um desporto absolutamente controlado por


tempo. O atleta organizador das jogadas de ataque (o armador), tem oito segundos para cruzar
com a bola da defesa pro ataque, vinte e quatro segundos de tempo total de posse de bola,
tempo de permanência de apenas três segundos no garrafão de ataque, cinco segundos na
retenção de bola e mais cinco segundos para cobrar uma penalidade.

Rose Jr, Tavares e Gitti11 destacam que no basquetebol há três posições específicas e
relacionadas às definições armador, lateral ou ala e pivô. Níveis diferenciados de competência
são requeridos para jogadores que ocupam estas posições, sendo que, os armadores são,
possivelmente, os que mais dependem de uma boa competência bioperacional de como, onde e
quando agir.

A potencialização cerebral por estímulos fóticos e auditivos pode ser uma forma alternativa
de treinamento mental ou neurogênico a auxiliar na maximização da performance desportiva.
Recentes estudos nesta linha12,13,14,15 estabelecem vieses que definem a adequação deste
tipo de treinamento em uma série de tarefas de aprendizagem e performance motora.

O córtex cerebral é farto de ritmos elétricos. Estes ritmos precisam de um estado adequado
de balanceamento. Tal balanceamento qualifica o cérebro para um melhor desempenho
bioperacional. Brady e Stevens16 ratificam a grande importância de um ótimo balanceamento
hemisférico para que o cérebro possa ser eficiente em suas variadas funções. Estes autores16
afirmam que a potencialização cerebral, com batidas bineurais induzidas à estruturação e
equalização da onda theta adequada à manutenção da atenção e do foco na realização de
tarefas, pode favorecer a aprendizagem e a performance. O ponto fucral dos benefícios deste
tipo de estimulação se estabelece sob o fato de ter ela a propriedade de promover uma melhor
equalização entre os hemisférios cerebrais, condição que facilita eventos de percepção,
memorização e atenção.

Os neurônios envolvidos numa atividade complexa ou de alta demanda cognitiva produzem


oscilações sincronizadas de duas maneiras distintas. Isto é, eles podem obter as informações de
um relógio central, compartilhando com este em termo de ritmo, e/ou distribuir a função de
marcador de tempo (do ritmo) entre eles, excitando ou inibindo um ao outro. Bear, Connors &
Paradiso17 definem que o primeiro mecanismo é análogo a um regente de uma banda, com
cada músico tocando em um tempo preciso, mas de acordo com a batida da batuta. O segundo
mecanismo é mais sutil, porque o ritmo surge do comportamento, a princípio isolado dos
próprios neurônios corticais, passando a coletivo à medida que os mesmos ritmicamente se
ajustam.

Ordenando-se os pressupostos teóricos inerentes à neurofisiologia do comportamento motor


humano e as evidências oriundas dos efeitos benéficos da estimulação cerebral sobre a
aprendizagem e performance motriz, a presente pesquisa foi destinada à verificação da
probabilidade teórica de ocorrência destes efeitos, sobre algumas variáveis bioperacionais em
jovens armadores de basquetebol.
Materiais e métodos

Amostra

A amostra deste estudo foi composta por seis jogadores de basquetebol do


gênero masculino, todos armadores, considerados por seus técnicos como
exímios desportistas nesta posição específica, pertencentes à rede de ensino
básico, na cidade de Campos dos Goytacazes, todos federados e participantes
ativos no Campeonato Estadual do Rio de Janeiro de 2008. Os atletas, com
idade média de (13,5±1 anos) foram voluntários neste estudo e seus
responsáveis assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, onde
constava toda a metodologia empregada. Os procedimentos experimentais
foram executados dentro das normas éticas previstas na Resolução nº. 196 de
10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde. A coleta de dados foi
precedida da solicitação de autorização do Comitê de Ética da Universidade
Castelo Branco-RJ, protocolo 0164/2008UCB/VREPGPE/COMEP.

Instrumentação

Para avaliar os efeitos da estimulação cortical sobre os componentes da


bioperacionalidade foram aplicados os seguintes testes: para medir
coordenação entre os movimentos de tronco, membros inferiores e superiores;
1º Teste de Equilíbrio do Flamingo18, para medir o equilíbrio estático geral; 2º
Teste de Salto de Percepção Cinestésica19, para medir a percepção cinestésica
e o 3º. Teste de tempo de reação motriz, através de um software MAT LAB 5.3.
(The math works®, Inc.)20,2, instalado em um computador portátil (lap top)
marca Amazon com um processador Pentium 1.70 GHz e Windows XP. Para a
estimulação cortical, foi utilizado um aparelho eletrônico computadorizado
denominado Sirius, (brain machine), fabricado pela Mindplace®12, composto
por um óculos escuro, com quatro leds na face interna de cada lente, um fone
de ouvido estéreo e um microprocessador onde é possível determinar
especificamente a faixa de onda cerebral que se quer treinar o indivíduo.

Procedimentos

Os testes foram aplicados antes e após a estimulação cerebral e foram feitos


os seguintes procedimentos: os atletas após chegarem ao local dos testes
foram instruídos sobre as tarefas a serem cumpridas. Os armadores estudados
foram estimulados imediatamente após a realização dos pré-testes por meio de
uma intervenção com o aparelho de estimulação áudio visual simultânea,
durante um tempo total de 10 minutos de duração em uma sala (departamento
de basquetebol), com o objetivo de evitar qualquer tipo de perturbação.
Trabalhou-se a onda beta na frequência de 15 hz durante os primeiros 5 min e
30 hz por mais 5 min. Esta variação da frequência teve por objetivo, verificar a
adaptação da amostra a uma mudança no ritmo e na intensidade da
excitabilidade neural.

Análise estatística
Os dados oriundos dos procedimentos descritos acima foram analisados no
programaSPSS® Statistics 17.0 for Windowns, para a qual foram utilizadas
ferramentas descritivas média, desvio padrão, mínimo e máximo. Para a
verificação de normalidade dos dados, os escores de cada variável observada
neste estudo foram analisados pelo teste Shapiro-Wilk (SW)21. Enquanto que
para a estatística inferencial utilizou-se um instrumento paramétrico, teste “t”
sobre amostras pareadas, admitindo-se um “p” referência no valor <0.05.

Resultados

Conforme os dados apresentados na Tabela 1 verificou-se que as estimativas de p-valor para


o SW, estão acima de 0,05, logo as variáveis seguem a distribuição normal.

A Tabela 2, logo abaixo, mostra os resultados dos escores obtidos pelo grupo de armadores
de basquetebol selecionados para esse estudo. Os dados se referem às condições antes da
estimulação cerebral (pré-testes) e depois da mesma (pós-testes).

Na Tabela 3 são apresentados os dados inferências que podem ser feitos relativos aos testes
bioperacionais, antes da estimulação cerebral (pré-testes) e depois da mesma (pós-testes) nos
atletas armadores de basquetebol. Das inferências realizadas nos testes bioperacionais nos
momentos pré e pós-testes, somente na T2 percepção cinestésica, verificou-se diferença
significativa entre as comparações (p<0,05).

Discussão

A análise destes dados revelou interação entre momentos pré e pós-estimulação cerebral dos
indivíduos do grupo. Contudo, ao observar a Tabela 3 pode-se constatar que somente a
variável bioperacional percepção cinestésica (T2) apresentou resultado estatísticamente
significativo (p<0.05).

Estes resultados vêm a corroborar com os resultados significativos obtidos em outros


estudos sobre performance e treinamento mental com esta mesma metodologia de estimulação
cortical 13,14,29,30.

Apesar dos estudos citados não apontarem a percepção cinestésica e sua otimização sob
efeito da estimulação cerebral no incremento da performance e da aprendizagem, alguns
autores9,22,23,24, estudiosos no assunto afirmam que esta competência é de suma
importância ao ótimo desempenho em desportos de contato corporal, principalmente naqueles
como o basquetebol e o futebol em que a bola aparece como mais um fator de demanda
bioperacional.

Nos jogos com bola, em especial o basquetebol, a percepção cinestésica é uma das
competências que mais se destaca, pois se trata da habilidade de usar a coordenação motora
(grossa ou fina) no controle dos movimentos do corpo, na resolução de problemas e na criação
de movimentos e na manipulação de objetos com destreza e extrema competência; em relação
ao seu próprio corpo, em relação ao objeto (bola) e as demandas do ambiente onde acontece o
jogo25. Esta forma de inteligência também é considerada uma das mais importantes para
atletas, sejam eles praticantes de desportos individuais e coletivos, com contato corporal ou
não26,27. Contudo, nos desportos de contato corporal esta forma de inteligência parece ser
mais presente e determinante para uma boa performance28,9,23.
Em estudo realizado por Okazaki et al26, alguns resultados ficaram evidenciados e
apontaram para os jogadores armadores como os que são os que mais utilizam as técnicas de
dribles e passes. A aprendizagem e a ótima execução desses fundamentos dependem de uma
ótima percepção cinestésica, como por exemplo, nas antecipações e execução dos dribles sem
a o uso da percepção visual. Também são os esses jogadores que apresentam o maior número
de posses, “roubos” e perdas de bola, além de serem os jogadores que mais utilizam à técnica
de arremesso de bandeja, de drible e que executam o maior número de passes no jogo.

Alguns autores como Saad23, Weiss et al25, Okazaki et al26 e Oliveira, Beltrão e Silva28
afirmam que indivíduos considerados exímios atletas, excelentes em suas performances nas
situações de jogo, são normalmente, aqueles que se destacam por suas capacidades de
entendimento (competência cognitiva) de aonde, como e quando utilizar exatamente as
técnicas inerentes à performance de um jogo específico.

Neste contexto, o armador de uma equipe de basquetebol, por suas atribuições é o jogador
que deveria reunir os mais altos níveis de aproveitamento dos componentes da
bioperacionalidade, em especial da percepção cinestésica e do tempo de reação motriz.
Portanto é plausível afirmar que o treinamento mental ou bioperacional, por meio da
estimulação cortical, pode ser um grande diferencial na aquisição de uma habilidade motora e
na melhora da performance cognitiva do atleta, já que esta forma de treinamento se ocupa de
aspectos de lógica, abstração e percepção, além de regular as resultantes da produção
bioestrutural1,6.

Através do bombardeio contínuo da retina e do núcleo olivar, os estímulos, ao penetrarem


no tálamo impõem ao córtex um padrão que é caracterizado por uma faixa de onda,
condicionando o cérebro a ser mais eficiente em uma habilidade de cunho bioperacional29,30.

Em recente estudo feito por Calomeni et al15 sobre os efeitos da potencialização cerebral,
via estimulação fótica e auditiva, também ficou demonstrada a eficácia no auxílio da
aprendizagem por meio da melhora na atenção e na concentração de criança hiperativa. Estes
dados são sustentados por Neto et al31 em que enfatizam o acompanhamento e intervenções
por parte dos profissionais de Educação Física no desenvolvimento mental/motor na melhoria
das tarefas escolares.

Pode-se citar ainda, os resultados obtidos pela equipe de boliche do Brasil, nos Jogos
Panamericanos de 2007 como mais uma forma de avalizar esta forma de treinamento para a
melhora da performance de atletas, em especial, atletas praticantes de desportos com
demandas específicas do compêndio bioperacional14. Os atletas da seleção brasileira de Boliche
utilizaram a estimulação cerebral (áudio visual) como forma de treinamento, inclusive, minutos
antes de começarem suas competições e obtiveram onze medalhas durante os Jogos.

Conclusão

Por esses e por outros resultados encontrados e citados neste estudo, pode-se apontar o
treinamento mental (bioperacional), via estimulação fótica e auditiva, como um promissor
diferencial na performance e na aprendizagem de atletas, diretamente ou por meios auxiliares,
como na melhoria da atenção e da concentração, por exemplo.
Pesquisas semelhantes, mas com amostras diferenciadas, podem servir de sugestão para
futuros estudos que objetivem o aprofundamento nesta linha de treinamento.

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