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Arruda Junior et al, 2021

DOR E DESVIOS POSTURAIS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES: UMA


REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

PAIN AND POSTURAL DEVIATIONS IN CHILDREN AND ADOLESCENTS: A BIB-


LIOGRAPHIC REVIEW
Fulton Ubirajara Arruda Junior¹
Cristieli da Roza Paz¹
Rafael Leite Lopes²

¹Discentes do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário São Francisco de


Barreiras.
²Fisioterapeuta, Docente do Centro Universitário São Francisco de Barreiras.

Dados para correspondência: Centro Universitário São Francisco de Barreiras,


(UNIFASB), Avenida São Desidério, 2440, Bairro Ribeirão, CEP 47.808-180,
Barreiras-BA. Email: junior_arruda2010@hotmail.com, cristieliroza@gmail.com, ra-
fael-llopes@hotmail.com.

RESUMO

Introdução: A maior parte das alterações posturais que ocorrem em adultos têm seu
início na infância e adolescência. As dores do crescimento são episódios álgicos que
ocorrem em crianças entre quatro e dez anos de idade. Os desvios posturais no
processo de desenvolvimento da criança e do adolescente, associados com outras
disfunções, podem influenciar na execução de atividades físicas, gerar dor, sintomas
musculares como fadiga, alterações no centro de gravidade e impactos na
biomecânica corporal. Objetivo: Obter informações acerca das principais alterações
posturais e ocorrência de dor nas crianças e adolescentes, de acordo com as
características específicas da idade. Material e Método: Trata-se de uma revisão
bibliográfica, foram utilizadas as seguintes bases de dados: LILACS, SciELO e Google
Acadêmico, entre os anos de 2010 a 2020, publicados em idiomas Português e Inglês.
Resultados: A busca inicial pelos artigos identificou 4.273 estudos. Entretanto, os
estudos excluídos foram baseados na seleção pelo título e resumo, restando 63
artigos para análise aprofundada, desses, 47 foram excluídos após a leitura por não
atenderem aos critérios de seleção. Dessa forma, 16 artigos foram selecionados para
a realização da análise na íntegra e para o levantamento dos dados. Conclusão: O
desenvolvimento de alterações posturais pode iniciar-se de forma precoce, já nas
primeiras décadas de vida. A obesidade, postura inadequada, questões hormonais e
hábitos de vida são alguns elementos capazes de influenciar no surgimento de
deformidades anatômicas e posturais. Dentre as alterações mais comuns nesta fase
estão o desgaste excessivo das estruturas, encurtamento muscular, deformidades
posturais, e o surgimento da dor.

Palavras-chave: Desvio Postural, Dor, Crianças, Adolescentes.


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Revista das Ciências da Saúde e Ciências aplicadas do Oeste Baiano-Higia. 2021; 6(1): 55-70.
Arruda Junior et al, 2021

ABSTRACT

Introduction: Most postural changes that occur in adults begin in childhood and ado-
lescence. Growth pains are painful episodes that occur in children between four and
ten years of age. Postural deviations in the child and adolescent's development pro-
cess, associated with other dysfunctions, can influence the performance of physical
activities, generate pain, muscle symptoms such as fatigue, changes in the center of
gravity and impacts on body biomechanics. Objective: To obtain information about the
main postural changes and the occurrence of pain in children and adolescents, ac-
cording to specific age characteristics. Material and Method: This is a bibliographic
review, the following databases were used: LILACS, SciELO and Google Scholar, be-
tween the years 2010 to 2020, published in Portuguese and English. Results: The
initial search for articles identified 4.273 studies. However, the excluded studies were
based on selection by title and abstract, leaving 63 articles for in-depth analysis, of
these, 47 were excluded after reading because they did not meet the selection criteria.
Thus, 16 articles were selected to carry out the analysis in full and to collect the data.
Conclusion: The development of postural changes can start early, even in the first
decades of life. Obesity, inadequate posture, hormonal issues and lifestyle habits are
some elements capable of influencing the appearance of anatomical and postural de-
formities. Among the most common changes in this phase are excessive wear of struc-
tures, muscle shortening, postural deformities, and the appearance of pain.

Keywords: Postural deviation, Pain, Children, Adolescents.

INTRODUÇÃO

No Brasil o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8.069, de 1990,


classifica como criança o indivíduo até os 12 anos de idade incompletos, e determina
como adolescência dos 12 aos 18 anos de idade. Não obstante, a Organização
Mundial da Saúde classifica a adolescência como a fase que compreende dos 10 aos
19 anos, iniciando-se quando o indivíduo começa a passar pelos processos de
transformações corporais da puberdade até o seu crescimento e desenvolvimento
social completo1.
A maior parte das alterações posturais que ocorrem em adultos têm seu início
na infância e adolescência. O processo de crescimento é um evento significativo
dessa fase, caracterizado por transformações anátomo-fisiológicas. Em virtude das
transformações denotadas, o sistema musculoesquelético passa por um processo de
vulnerabilidade e, em consequência disso, avaliar se há desvios posturais é
adequado2.

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Aos sete anos as crianças assumem uma postura mais ereta, os membros
inferiores são mais longos que o tórax, ocorre o aumento da força muscular e da
coordenação motora. A capacidade de execução de movimentos complexos nesta
fase é determinada pelo treinamento à medida que amadurecem, além de fatores
como capacidade genética herdada, oportunidade e interesse. O corpo se prepara
para puberdade, o hipotálamo e a hipófise mudam a sua sensibilidade aumentando a
produção de gonadotrofina. Algumas crianças ainda têm seus órgãos sexuais
imaturos, pois esta maturação depende de outros fatores, dentre eles a etnia e a
origem geográfica das crianças3.
O crescimento e maturação são processos concomitantes, porém, distintos. O
crescimento refere-se às transformações relacionadas ao tamanho das estruturas,
enquanto a maturação é o processo de desenvolvimento dos sistemas. Dois
acontecimentos marcam a transição da infância para a adolescência, o estirão de
crescimento e a puberdade. O estirão de crescimento é o aumento frenético da
estatura e massa corporal, já a puberdade é o período em que os órgãos sexuais
tornam-se maduros e funcionais. Tais eventos sofrem influências hormonais, o que
não ocorre na infância. A testosterona é responsável pelo crescimento dos meninos e
a progesterona das meninas, de forma que esta maturação é diferente em cada sexo.
As meninas iniciam este processo cerca de dois anos antes que os meninos4.
A liberação de hormônios durante a maturação sexual influencia diretamente a
maturação biológica, fato este que explica o crescimento e ganho de massa corporal
diferentes em cada sexo. As mudanças na estatura das meninas ou estirão de
crescimento ocorre em torno dos nove anos, já nos meninos, aos 11 anos onde ocorre
o pico de velocidade de altura (PVA), considerado o pico de crescimento, aos 14 anos
nos meninos e aos 12 anos em meninas. Estas diferenças hormonais fazem com que
ocorram os dimorfismos sexuais, que influenciam nas práticas de atividades físicas e
motoras. O PVA começa a reduzir-se, e a velocidade do crescimento diminui até a
sua conclusão, em meninas aos 16 anos e aos 18 em meninos4.
O equilíbrio entre os seguimentos corporais proporciona a sustentação do
corpo e prepara o organismo para o movimento, na adolescência, devido ao início da
puberdade essas posturas sofrem alterações assim como o sistema
musculoesquelético. Uma postura adequada auxilia na distribuição do esforço

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realizado pela coluna neste período de crescimento acelerado, entretanto, as


alterações posturais impossibilitam esse equilíbrio, gerando o estresse das
estruturas5.
Em algumas pesquisas realizadas, verificou-se que os desvios posturais tem
associação com as dores musculoesqueléticas em crianças e adolescentes. Em três
países, respectivamente, no continente Asiático, Europeu e Americano, apontaram
estimativas entre 31% a 65% de crianças e adolescentes que apresentaram dores nas
costas6. Uma das principais causas relacionadas com a sintomatologia da dor na
coluna em crianças e adolescentes são os hábitos de vida7.
No que concerne à neurofisiologia da dor, há uma sequência de estímulos que
iniciam esse fenômeno. São nas terminações nervosas das fibras nociceptivas Ad e
C que estão localizados os receptores da dor e, quando ocorre alteração, há o disparo
do potencial de ação8.
Estímulos agressivos naturalmente térmicos, químicos ou mecânicos, poderão
ser transmitidos ao Sistema Nervoso Central e caracterizado como dor pelo córtex
cerebral. As fibras Ad são mielinizadas e as fibras C não são e o estímulo de dor é
potencializado em velocidades distintas, sendo que nas fibras Ad o estímulo é
transmitido rapidamente, já nas fibras C, o estímulo doloroso é mais lento8.
As dores do crescimento são episódios álgicos que ocorrem em crianças entre
quatro e dez anos de idade, o surgimento é súbito, majoritariamente noturno, após a
realização de exercícios físicos e que cessam após repouso e sono adequado.
Menciona-se que a sua etiologia se dá por fadiga muscular, independente de sexo,
raça e nível social, sendo mais recorrente em crianças sedentárias. A dor do
crescimento não está associada a nenhuma outra patologia, não há deficiência na
marcha, sem diminuição de mobilidade articular, e os exames radiológicos e
laboratoriais apresentam-se normais9.
O corpo humano tem a capacidade de alinhamento que envolve uma série de
interações entre os ossos, articulações, músculos, sistema nervoso central e periférico
para manter e alinhar um corpo no espaço10. Partindo desse princípio, existem os
padrões posturais em que o corpo é capaz de se adaptar, sendo eles: posição neutra
da cabeça sem inclinação; coluna cervical ligeiramente convexa, ombros sem
protrusão e retração; escápulas alinhadas; coluna torácica com leve convexidade
posterior; coluna lombar com leve convexidade anterior; cristas ilíacas alinhadas;
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quadril em posição neutra; joelhos alinhados e em posição neutra; e tornozelos em


posição neutra11.
Os desvios posturais podem ser definidos por uma assimetria corporal, oriunda
de uma postura inadequada adquirida que afeta as articulações, e de origem genética,
sendo os principais: hiperlordose lombar, hipercifose dorsal e escoliose12.
Os desvios posturais no processo de desenvolvimento da criança e do
adolescente, associados com outras disfunções, podem influenciar na execução de
atividades físicas, gerar dor, sintomas musculares como fadiga, alterações no centro
de gravidade e impactos na biomecânica corporal13.
Sendo assim, o presente estudo tem como objetivo obter informações acerca
das principais alterações posturais e ocorrência de dor em crianças e adolescentes,
de acordo com as características específicas da idade.

MATERIAL E MÉTODO

O estudo trata-se de uma revisão bibliográfica, foram utilizadas as seguintes


bases de dados: Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde
(LILACS), Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Google Acadêmico, onde
foram definidos e catalogados diversos artigos, monografias, teses e dissertações
sobre o tema do estudo. Foi optado por estas bases de dados e biblioteca por entender
que abrangeram a temática abordada.
As buscas dos artigos foram feitas em junho de 2020, com as seguintes
palavras-chave: Desvios Posturais em Crianças; Dor Postural em Crianças; Ado-
lescência Definições Critérios; Definição de Adolescência. Dos seguintes descritores:
Dor, Criança e Alterações Posturais em português e Ache, Children e Postural
Changes em inglês.
Dos artigos pesquisados, foram encontrados 4.273, dentre eles, verificou-se
que 16 artigos atenderam aos critérios de inclusão, sendo selecionados a partir de
buscas nas bases de dados LILACS, SciELO e Google Acadêmico entre os anos de
2010 a 2020, publicados em idiomas Português e Inglês, relacionados diretamente
com o objeto de estudo, estando coerente à questão norteadora do estudo e aos
objetivos do mesmo. Como critérios de exclusão, foram descartados os artigos que
não apresentaram a versão completa nas bases de dados e nas bibliotecas
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pesquisadas, bem como publicações em idiomas como: Francês, Alemão, Espanhol


e ainda artigos que apesar de pesquisados com as mesmas palavras-chave, não
abordaram a temática em questão.
A análise dos artigos selecionados foi desempenhada por dois avaliadores que
em seguida, examinaram os títulos e os resumos. Após essa seleção, foram
realizadas as leituras dos artigos na íntegra, inspecionando se os artigos atenderam
aos critérios de inclusão propostos no estudo. Sendo excluídos os artigos que não
atenderam aos requisitos para inclusão e artigos irrelevantes para o estudo. Caso
houvesse discordância entre eles, um terceiro avaliador seria contatado.

RESULTADOS

A busca inicial pelos artigos identificou 4.273 estudos. Entretanto, os estudos


excluídos foram baseados na seleção pelo título e resumo, restando 63 artigos para
análise aprofundada, desses, 47 foram excluídos após a leitura por não atenderem
aos critérios de seleção.
Dessa forma, 16 artigos foram selecionados para a realização da análise na
íntegra e para o levantamento dos dados. Os resultados obtidos dos artigos
catalogados através do levantamento de literatura estão descritos e apresentados no
quadro 1.
Quadro 1- Análise descritiva dos estudos incluídos segundo autor e ano, tipo de estudo, amostra e
resultados encontrados.

AUITORES E TIPO DE ESTUDO AMOSTRA RESULTADOS ENCONTRADOS


ANO

Arias, Silva e Estudo descritivo, 97 crianças, de No presente estudo, ficou evidente


Camargo, 2013. 13 prospectivo, de ambos os sexos, que as sobrecargas no peso da
corte seccional. dos períodos mochila foram em 87 crianças, e
matutino e em apenas 10, o peso foi normal.
vespertino. Sintomas de dor foram
apresentados em apenas 5,7%,
sendo que todas apresentaram o
peso da mochila inadequado ou
IMC inadequado.

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Batistão et al. Estudo Transversal 288 alunos de O estudo indicou que ficaram
2016. 14 ambos os sexos da evidentes alterações nos seguintes
1ª à 8ª série de uma itens: anteriorização da cabeça
escola pública. 53,5%; elevação do ombro 74,3%;
assimetria entre as cristas ilíacas
51,7%; joelhos valgos 43,1%;
hipercifose torácica 30,2%;
hiperlordose lombar 37,2% e
66,3% de escápulas aladas.

Brandalize e Leite, Revisão 18 artigos sobre dor Quantificando este estudo, 55%
2010. 15 Bibliográfica e/ou alterações das crianças com excesso de peso
posturais em apresentavam joelhos valgos.
crianças e Há algumas hipóteses na relação
adolescentes com entre dor músculo-esquelética e
sobrepeso e obesidade, como o peso nas
obesidade. articulações, o próprio joelho valgo,
podendo apresentar dor no joelho.

Bueno e Rech, Estudo Transversal 864 estudantes de Os desvios posturais identificados


2012. 16 ambos do sexos, foram de 16,6% para hipercifose
entre 8 a 15 anos dorsal, 27,9% para hiperlordose
foram avaliados. lombar e 33,2% para atitude
escoliótica. O sexo feminino
apresentou 47% de chances
menores de relação ao sexo
masculino de ter hipercifose dorsal.
Somente 20 crianças (2,3%) não
apresentaram nenhum tipo de
desvio postural

Foltran, et al. Estudo analítico 392 estudantes Um programa educacional aos


2011. 17 transversal entre 9 a 16 anos, de cuidados com a coluna vertebral foi
4ª a 8ª série foram adotado. Realizado através de
avaliados. instruções orais e práticas sobre os
hábitos a avaliação foi feita através
de questionários. Contribuindo
para o aumento do nível de
conhecimento da postura correta,
móveis adequados e manuseio do
material escolar.

Graup, Bergmann Estudo transversal 1455 adolescentes A prevalência de dor lombar nos
e Bergmann, entre 10 a 17 anos adolescentes avaliados foi de
2014. 7 foram avaliados. 16,1%. O sexo masculino
apresentou prevalência de 10,5% e
o feminino de 21,6%.
Além disso, 26,7% dos avaliados
apresentam excesso de peso e
que 64,2% passam mais de três

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horas por dia em atividades


sedentárias.

Graup, Santos e Estudo descritivo 288 adolescentes Os alunos apresentaram


Moro, 2010. 18 transversal (156 do sexo prevalência de dor lombar em
masculino e 132 do 49,6%, sendo que o sexo feminino
feminino), na faixa apresentou 53% e o sexo
etária dos 15 aos 18 masculino apresentou 46,2%.
anos. Quadros de dor lombar foram mais
notórios no sexo feminino (55,8%
de retificação e 72,7% de
hiperlordose).

Melo et al. 2011. Estudo descritivo Foram avaliados 44 A escoliose foi a alteração mais
19
escolares com presente com 84,1% dos
deficiência auditiva estudantes do sexo masculino.
entre 7-17 anos, 22 A hipercifose torácica com 68,2%
do sexo feminino e no sexo masculino.
22 do sexo A hiperlordose teve aspecto maior
masculino. no sexo feminino.
O sexo masculino apresentou dor
em 45% e o sexo feminino 27% do
quadro álgico.

Melo et al. 2012. Estudo analítico, Foi avaliada a As alterações posturais na coluna
20
observacional de postura da coluna vertebral foram em 100% em
corte transversal vertebral de 44 surdos e 84,1% em ouvintes. A
escolares com escoliose foi a alteração mais
perda auditiva e 44 constatada com 84,1% em surdos
escolares ouvintes, e em ouvintes 59,1%. Seguida pela
de ambos os hipercifose torácica, em surdos
gêneros. com 68,2% e em ouvintes com
45,5%.
A hiperlordose lombar em surdos
29,5%; ouvintes 27,3%.

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Pereira et al. Pesquisa de campo 262 escolares de A presença de dor


2013. 21 com delineamento seis a 12 anos. musculoesquelética foi em 51,1%
transversal e caráter Realizado com dos estudantes. 38,93% dos
exploratório questionário e estudantes apontaram dor em
avaliação postural. apenas uma região, 9,16% em
duas regiões, 1,53% em três
regiões, 1,15% em quatro regiões
e 0,38% em cinco regiões.
A dor nas pernas foram
acometidas em 50 estudantes,
coluna em 46, braços em 27,
ombros em 26, pés em 15, mãos
em 12, pescoço em 3 e áreas não
especificas em 3.

Rebolho, et al. Estudo transversal O estudo ocorreu O estudo constatou que houve
2011. 22 com 120 escolares, uma prevalência de dores nas
de 7 a 11 anos. costas em 60,8% dos estudantes.
A dor músculo esquelética foi de:
33,6% nas costas, 30,3% na nuca,
22% nos ombros, 21,7% nos
braços, mãos/punhos 17,5%, 5,9%
nádegas, 11,7 nas coxas, 19,3%
nos joelhos, 21,8 nas pernas e
28,6% nos pés. Com
predominância maior no sexo
masculino.

Sampaio et al. Estudo transversal Os sujeitos foram Neste estudo, notou-se que 57,8%
2016. 23 com caráter 83 estudantes de 8 apresentaram alterações posturais
descritivo e a 12 anos. como: anteriorização da cabeça,
abordagem analítica ombros enrolados, hipercifose
dorsal e dor.
Em relação da dor e alteração
postural, existe uma associação de
5% nas turmas do 3° ao 5° ano.

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Silva et al. 2011. Estudo transversal 51 jovens, de ambos Os meninos obesos tiveram
24
comparativo os sexos, obesos e alterações no joelho 81,2% e na
não-obesos. cabeça 87,5%. Nos ombros 37,5%.
As meninas apresentaram
alterações nos ombros de 81,2% e
no joelho 43,7%. As meninas
obesas apresentaram joelho valgo
43,7% e as não obesas protrusão
de ombro de 56,2%.
Os meninos obesos apresentaram
dor na coluna 28%, nos joelhos
17% e nos ombros 16% e os não
obesos nos joelhos, costas e
ombro 33,3% e peitoral e cervical
22,2%.
As meninas obesas apresentaram
dor na coluna e joelho 27% e as
não obesas apresentaram dor na
coluna de 33,3%.

Souza Junior et Estudo transversal e 670 escolares de 11 No presente estudo, as alterações


al. 2011. 25 analítico a 19 anos, de ambos posturais foram verificadas em
os sexos. 6,9% para assimetria de ombro,
7,8% para assimetria do ilíaco e
8,8% para desvio lateral da coluna.
2,4% dos estudantes
apresentaram gibosidade dorsal à
direita.
A escoliose esteve mais presente
no sexo feminino com 1,34%
ocorrendo na faixa etária abaixo
dos 17 anos, entretanto, não foi
encontrada relação da escoliose
com sexo, idade, peso, altura, IMC.

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Valle, Noll e Estudo exploratório A avaliação foram 65,8% dos estudantes referiram
Candotti, 2016. 6 descritivo em 76 escolares da dor nas costas.
6ª e 8ª séries, Dor em 60,4% nos que assistem
utilizando um TV.
questionário. Em 69,7% para os que dormem
entre 0 a 7 horas, de 59,4% entre 8
a 9 horas e de 100% para 10 horas.
Em 67,1% para os que sentam de
forma inadequada, de forma
adequada,33,3%.
Na frente do computador 75% com
postura adequada, 64,8% com
postura inadequada relataram dor.
Sedentários em 57,1%, e em ativos
66,7%.
64% sentem dor ao conduzir a
mochila de forma correta e 7% de
forma inadequada relataram dor.

Vieira et al. 2015. Estudo O estudo é O estudo identificou o efeito do


26 semiexperimental composto por 40 PEP Programa de Educação
escolares. Postural nos alunos e comparou a
avaliação postural nas AVD´s
antes e depois do programa.
Os estudantes tiveram uma
melhora na postura ao sentar e
carregar a mochila escolar. O
estudo ainda denota que houve
melhoras em pegar objetos ao
chão e ao conduzir algum objeto.

Fonte: Do autor, 2020

DISCUSSÃO

Silva et al.24, comparam as complicações ortopédicas com o aumento abrupto


do peso, atribuindo maiores alterações nas articulações dos joelhos e rotações
internas no quadril à sobrecarga do peso corporal. A coluna vertebral sofre com o
excesso de peso, que comprime os discos intervertebrais provocando uma redução
acentuada no espaço. Para o ajuste mais confortável da postura corporal, o obeso
passa a fazer compensações, ocasionando a lordose lombar.
Brandalize e Leite15, por sua vez, afirmam que as alterações posturais em
obesos infantis são claras, pois provocam um aumento da lordose lombar com cifose
dorsal compensatória, levando a anteriorização da cabeça. Nos membros inferiores,

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podem ocorrer a anteroversão pélvica com associação da rotação do quadril, e


aumento da probabilidade das crianças com sobrepeso apresentarem o pé plano
como consequências do joelho valgo. Devido às sobrecargas e o mau alinhamento
nas articulações, as dores são mais referidas nessas estruturas.
Sampaio et al.23, evidenciaram que 57,8% dos alunos apresentaram alterações
posturais, em todas as séries, os alunos apresentaram alterações posturais ou dor ao
desempenhar funções escolares, com alterações como hipercifose, hiperlordose,
escoliose e retificação. Com relação à dor, os alunos da quarta série apresentaram
55% do predomínio da dor. O estudo não notou diferenças no rendimento escolar
entre os alunos que referiram dor e alterações posturais para os alunos que não
referiram.
Bueno e Rech16 observaram que somente 2,3% das crianças e adolescentes
entre oito e 15 anos participantes do seu estudo não apresentaram desvios posturais.
Em um comparativo entre as idades, constatou-se que entre oito e 12 anos a
possibilidade de se desenvolver hiperlordose lombar é três vezes maior, em contra
partida, esses indivíduos manifestam 52% a menos de chance de desenvolverem
hipercifose dorsal do que os sujeitos entre 13 e 15 anos.
Graup, Bergmann e Bergmann7, em seu estudo sobre dor lombar inespecífica
em adolescentes entre 10 e 17 anos, evidenciaram que o grupo feminino teve um
maior número de participantes que tiveram relato positivo, 21,6%, enquanto do sexo
masculino foram apenas 10,5% dos avaliados os que relataram dor lombar, tais fatos
podem ser justificados devido às características anatomofuncionais e alterações
hormonais características de cada sexo. Dentre as hipóteses levantadas está a idade,
concluiu-se que a incidência de dor aumenta de acordo com o aumento da idade.
Outros fatores podem influenciar no surgimento da dor lombar, dentre eles o nível de
atividades físicas, sedentarismo, flexibilidade, força e resistência muscular.
Pereira et al.21, reforçam que é durante a infância e adolescência que ocorrem
as principais alterações musculoesqueléticas, sendo assim as disfunções ocorridas
nestas fases podem ter consequências irreversíveis na vida adulta. Em seu estudo,
evidenciaram que 51,1% dos participantes relataram algum tipo de dor
musculoesquelética, dentre estas as mais citadas foram a dor na coluna e nas pernas.
Não houve associação entre dor e desvios posturais, no entanto foi destacado que os
participantes do sexo feminino relataram maior incidência de dor do que o sexo
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oposto, fato que segundo os autores, pode ser explicado por fatores hormonais, e por
uma questão cultural, onde os homens sentem-se constrangidos ao referirem-se à
dor.
Graup, Santos e Moro18, em seu estudo, investigaram a presença de alterações
posturais na coluna lombar e seus fatores associados, os dados encontrados reforçam
a maior prevalência de dor lombar no sexo feminino. Os participantes atribuíram a dor
lombar à prática de atividades vigorosas e permanecer na posição sentada por muito
tempo. Em relação às alterações posturais o grupo masculino apresentou um maior
percentual, sendo a retificação da coluna lombar a alteração mais comum, os mesmos
apresentaram um índice menor de dor. As participantes do sexo feminino
apresentaram a hiperlordose lombar como principal alteração.
Arias, Silva e Camargo13 alegam que o tempo de exposição é determinante
com relação à dor, em seu estudo realizado com crianças entre seis e oito anos, notou-
se que uma minoria de crianças referiu sentir dor, apesar do peso excessivo da
mochila. Desta forma fica explícito que indivíduos com pouca idade podem não
apresentar indícios de disfunções causados pela sobrecarga, apesar de ser evidente
que a mochila com peso superior a 10% do peso corporal é prejudicial ao sistema
musculoesquelético.
Valle, Noll e Candotti6, por sua vez, ressaltam que os hábitos de vida
influenciam diretamente na incidência da dor e desenvolvimento de disfunções
posturais. Assistir televisão ou utilizar o computador por mais de duas horas
diariamente, por diversas vezes adotando posturas incorretas, somado ao fato de que
as crianças passam em média cinco horas por dia sentadas durante o período escolar,
que geralmente dura oito anos consecutivos. Por fim, até mesmo hábitos como manter
o sono desregulado, com horas de descanso reduzidas são capazes de provocar
desordens no desenvolvimento.

CONCLUSÃO

Tendo em vista as especificidades no desenvolvimento e maturação de


sistemas em crianças e adolescentes, as mudanças anatômicas, fisiológicas e
estruturais são processos delicados pelos quais o organismo se prepara para a vida
adulta.
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Sendo assim a suscetibilidade às alterações posturais são maiores nesta fase


de transição, as estruturas não se apresentam completamente consolidadas e
diversos fatores como a obesidade, postura inadequada, questões hormonais e os
hábitos de vida são alguns elementos capazes de influenciar no surgimento de
deformidades anatômicas e posturais, pois quando ocorridas o organismo tem a
necessidade de fazer adaptaçoes nas suas estruturas para transpor tais adversidades
durante o seu desenvolvimento.
O desenvolvimento de alterações posturais pode iniciar-se de forma precoce,
já nas primeiras décadas de vida. Dentre as alterações mais comuns nesta fase estão
o desgaste excessivo das estruturas, encurtamento muscular, deformidades
posturais, e o surgimento da dor.
Sugere-se que tais informações sejam consideradas como fatores relevantes
durante a avaliação para o rastreamento de alterações no desenvolvimento do
sistema osteomuscular de crianças e adolescentes.

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