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Evento: XXVI Seminário de Iniciação Científica

REFLEXOS PRIMITIVOS E REAÇÕES POSTURAIS EM PREMATUROS1


THE FIRST REFLEXES AND POSTURAL REACTIONS IN PREMATURE
INFANTS

Ana Paula Dos Santos2, Julia Moresco3, Simone Zeni Strassburger4


1
Trabalho de revisão de literatura sobre os reflexos primitivos e as reações posturais em bebês
pré-termos.
2
Graduanda do curso de Fisioterapia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio
Grande do Sul ? UNIJUI, e-mail: anaapaula.s@hotmail.com
3
Graduanda do curso de Fisioterapia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio
Grande do Sul ? UNIJUI, e-mail: julia_moresco07@hotmail.com
4
Fisioterapeuta, Doutora em Saúde da Criança, docente do curso de Fisioterapia na Universidade
Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUI, e-mail simone.s@unijui.edu.br

INTRODUÇÃO

Organização Mundial de Saúde (OMS) (2012) revelou que a cada ano, nascem 15 milhões de
bebês prematuros em todo o mundo, o Brasil ocupa a 10ª posição no ranking, com 279,3 mil
partos prematuros. Considera-se prematuro, ou pré-termo, crianças nascidas antes da 37ª semana
de gestação (259 dias). (PINTO, 2009) Atualmente a prematuridade, é considerada a principal
causa de morte, morbidade e incapacidade infantil no mundo (WHO, 2010).

O nascimento prematuro vem associado a uma série de fatores de risco que tornam a criança
vulnerável a atrasos e sequelas no processo de desenvolvimento, devido à sua imaturidade de
órgãos e sistemas, uma vez que não completou seu desenvolvimento intrauterino. Dentre os
fatores de risco para o desenvolvimento, destacam-se o muito baixo peso ao nascer (<1500 g),
presença de problemas respiratórios, infecções neonatais e hemorragias Peri-intraventricular, que
podem agravar o estado de saúde e prolongar o tempo de internação hospitalar da criança
(KIECHL-KOHLENDORFER et al., 2009).

A maior parte dos movimentos do recém-nascido é representada por reflexos primitivos. As


características comportamentais do neonato mostram que este está sob a dominância dos núcleos
subcorticais, os quais maturam antes do córtex. É por isto que o comportamento do lactente se
caracteriza por estes padrões primários, e alguns padrões que permanecem até idade posterior
sob a sua influência. Com a maturação crescente do córtex são inibidos estes padrões
comportamentais primários, realizando-se a evolução em direção crâniocaudal. O processo é visto
com clareza máxima através do aparecimento e desaparecimento de reflexos e reações, com a
evolução motora normal (FLEHMIG, 2002). Entre os reflexos, destacam-se: Moro, preensão
palmar, preensão plantar, Galant, marcha e reflexo tônico cervical assimétrico (RTCA). A ausência
desses reflexos em idades em que deveriam estar presentes ou a persistência desses em idade em
que deveriam ter desaparecido, poderá indicar prejuízo neurológico. (Scherzer, 2000)
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As aquisições motoras no primeiro ano de vida são marca¬dores relevantes do prognóstico do


desenvolvimento global da criança. Essa etapa é caracterizada pelo controle postural, pela
evolução das reações posturais de retificação e equilíbrio, associadas às habilidades
apendiculares, ações consideradas marcos no desenvolvimento infantil, pois ampliam as
possibilidades de exploração e interação com o ambiente (STOKES, 2000).

O desenvolvimento neurológico segue uma sequência previsível. Essa evolução permite que um
bebê após o nascimento, que possui como atividade motora essencialmente o reflexo, progrida
para a deambulação (DIAMENT et al., 2010). Na avaliação do desenvolvimento de prematuros,
recomenda-se o uso da idade corrigida nos primeiros anos de vida, para não subestimar a
capacidade do prematuro. (RESTIFFE et al., 2006)

Diante disso esta revisão teve como objetivo descrever, de acordo com os artigos publicados sobre
a temática, o comportamento dos reflexos primitivos e das reações posturais em bebês
prematuros.

METODOLOGIA

Foi realizada uma revisão de literatura, de artigos publicados nos últimos 10 anos. Para a busca
utilizou-se os seguintes descritores: prematuro, avaliação, desenvolvimento infantil. Foram
incluídos artigos completos de língua portuguesa e foram excluídos artigos incompletos que não
discorriam inteiramente sobre o tema. Os dados foram coletados por meio eletrônico, disponíveis
nas bases de dados on-line: Scielo, Medline, Capes e Pubmed.

RESULTADO E DISCUSSÕES

Foram encontrados 15 artigos completos e de acordo com os critérios, foram selecionados seis
artigos para esta revisão.

Sohn e Lee (2011) realizaram um estudo onde avaliaram os reflexos de sucção, Babinski e Moro
em recém-nascidos pré-termos e exploraram suas relações com variáveis clínicas. O reflexo de
sucção e de Babinski apresentaram uma resposta normal com maior frequência. Os recém-
nascidos que apresentaram esses reflexos também apresentaram maior idade gestacional, maior
peso e peso atual, maiores escores de Apgar, menor tempo de internação e melhores condições,
diferente do reflexo de Moro, que se mostrou com resposta anormal mais frequente, isso pode se
explicar por causa de menor tônus muscular, baixa resistência, movimentos passivos e lentidão no
braço que são frequentes em prematuros, não indicando necessariamente uma condição
patológica.

Em outro estudo observou-se também que a média de desaparecimento dos reflexos de preensão
palmar, RTCA e Moro encontravam-se fora da faixa de normalidade, persistindo em idades em que
deveriam estar ausentes, porém apresentaram as reações posturais em idade muito próxima da
idade de desenvolvimento considerada normal. Observaram que na medida em que o tônus
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muscular do bebê foi sendo modulados com a idade os reflexos primitivos deixaram de aparecer,
assim como na medida em que o tônus muscular do bebê foi sendo moduladas com a idade as
reações posturais começaram a ser observadas. Ainda o estudo ressalta a necessidade de
identificar precocemente os sinais de atrasos do desenvolvimento de bebês vulneráveis do ponto
de vista biológico, possibilitando o encaminhamento e a realização de um programa de
intervenção precoce (Urzêda et al., 2009)

Formiga et al., 2010 realizaram um estudo onde foram avaliadas 10 crianças nascidas pré-termo,
de ambos os sexos, dos 4 aos 8 meses de Idade corrigida. Cada criança foi avaliada três vezes pela
escala motora infantil de Alberta AIMS (Alberta Infant Motor Scale. Foram possíveis detectar que
40% das crianças apresentaram desenvolvimento motor atrasado entre os 4 e 6 meses de idade
corrigida, na passagem do 7º para o 8 º mês, essa proporção reduziu-se para 30%, considerando o
maior atraso de desenvolvimento a habilidade de sentar. Observou-se que houve melhora nas
habilidades motoras das crianças no decorrer do desenvolvimento, podendo estar relacionada à
maturação dos sistemas orgânicos e ganho ponderal da criança, associados a fatores de influência
ambiental.

Volpi et al., (2010) realizaram um estudo sobre as aquisições motoras com 143 lactentes
prematuros de muito baixo peso, e verificaram que em média, todas as habilidades motoras foram
alcançadas no prazo previsto para a idade corrigida, e, mesmo na idade cronológica, várias
habilidades estiveram presentes no limite esperado, sendo que o controle de cabeça, o rastejar e o
engatinhar foram obtidos mais tardiamente. Também se observou que na idade corrigida os
prematuros pequenos para a idade gestacional adquiriram mais tardiamente todas as habilidades,
comparados aos adequados para a idade gestacional.

Em um estudo com 20 prematuros de baixo peso, foram avaliados tônus muscular, as atitudes,
posturas e aquisições motoras pertinentes à idade dos três aos vinte e quatro meses de idade
corrigida. As principais alterações encontradas durante o pe¬ríodo de acompanhamento
demonstraram atraso nas aquisições das posturas e habilidades rolar, sentar, engatinhar, e
ortostatismo. O pico de incidência das alterações ocorreu entre os seis e nove meses de idade
corrigida, correspondendo ao período de maior exigência das aquisições de postu¬ras
antigravitacionais. Concluem que uma criança prematura de extremo baixo peso pode apresentar
atrasos ou prejuízos – transitórios e/ou permanentes – em seu desenvolvimento, necessi¬tando de
experiências sensório-motoras adequadas para dar oportunidade ao pleno desempenho de suas
habilidades. (Freitas et al., 2010)

De acordo com Oliveira et al, (2011) crianças nascidas com menor peso e menor idade gestacional
mostraram pior desempenho motor, demonstrando que a variável peso ao nascimento tem uma
repercussão importante no prognóstico futuro de bebês e deve ser um dos principais critérios de
elegibilidade para a classificação de bebês de risco. Assim como no estudo de Sampaio (2015)
onde verificou que o comportamento motor de lactentes prematuros de Muito Baixo Peso foi
inferior ao de lactentes prematuros de Baixo Peso, sugerindo que a variável “peso ao nascimento”
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tem uma repercussão importante no desenvolvimento motor de lactentes prematuros,


principalmente no ganho do controle cervical e na habilidade de sentar-se independente,
mostrando que esses atrasos podem ser mais nítidos em idades mais avançadas.

CONCLUSÃO

Ao final desta revisão, foi ressaltado pelos autores dos artigos o quão é importante o
acompanhamento adequado de neonatos pré-termo, principalmente no primeiro ano de vida.
Ressaltam ainda que o baixo peso, assim como fatores de influência ambiental podem ser
indicativos para a presença de alterações nos reflexos primitivos e no atraso do desenvolvimento
de habilidades posturais O reconhecimento precoce de alterações no neurodesenvolvimento
propicia a inclusão da criança em programas específicos de intervenção, minimizando os riscos de
disfunções irreversíveis e melhorando a sua qualidade de vida. Contudo, encontrou-se dificuldade
em referencial teórico que aborda avaliação especifica de reflexos primitivos e das reações
posturais em prematuros. Sugerem-se novos estudos que abordem esta temática.

Palavras-chave: prematuro, desenvolvimento neuropsicomotor, avaliação.

Keywords: premature, neuropsychomotor development, evaluation.

REFERÊNCIAS

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Paulo: Atheneu, 2002.

FREITAS M; KERNKRAUT, A.M ; GUERRERO SMA, AKOPIAN STG, MURAKAMI SH, MADASCHI
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multiprofissional. Einstein. v. 8, n.2, p. 180-6, 2010.

KIECHL-KOHLENDORFER U, RALSER E, PUPP Peglow U, REITER G, TRAWÖGER R. Adverse


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OLIVEIRA GE, MAGALHÃES LC, SALMELA LFT. Relação entre muito baixo peso ao
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SAMPAIO, T.F, NOGUEIRA, K.G, PONTES, T.B , TOLEDO, A.M . Comportamento motor de
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