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CONSEQUÊNCIAS SOBRE O USO DO ANDADOR INFANTIL: UMA REVISÃO


BIBLIOGRÁFICA.

KATRIELE NERI LIMA1


MICHELE PORTO GUARNIERI 2

1- Acadêmica do 3º semestre do curso de Fisioterapia, da Faculdade São Francisco de Barreiras – FASB,


Barreiras/BA. Email:katriele_neri@hotmail.com
2- Orientadora do artigo, professora do curso de Fisioterapia 3º e 8º semestre da Faculdade São
Francisco de Barreiras – FASB, Barreiras/BA. E-mail: mi_guarnieri92@hotmail.com
INTRODUÇÃO:

Segundo (LIMA,1994) o desenvolvimento psiconeuromotor de uma criança perpassa


por inúmeras etapas, tanto da questão física, quanto da questão psicológica, sendo desta forma
uma jornada bastante segmentada e que deve ser acompanhada de uma forma rigorosa pelos
pais, família e pelo pediatra.
Em vista disso vale ressaltar que de acordo à (SACCANI,2010) as aquisições e o
incremento dos marcos motores de uma criança, ocorre em ritmos distintos e instáveis,
ocorrendo períodos onde a criança adquire muitas habilidades e outros marcados por platôs
comportamentais com grande variabilidade ainda no primeiro ano de vida.
As experiências sensório-motoras vivenciadas neste período facilitarão a aquisição da
marcha e o refinamento desses padrões que serão enriquecidos pela maturação neurológica,
especificidades da tarefa, variabilidade e complexidade do ambiente em que a criança vive9.
Desta forma, seu corpo estará se fortalecendo, treinando equilíbrio e coordenação para
realizar a transposição de todas as posturas sequenciais (SHOPFI, 2015).
Sabe-se também que essas etapas tão importantes, são ministradas e orientadas pelos
pais da criança, porém, como nós seres humanos vivemos em comunidade ocorre também uma
grande interferência de outros familiares, amigos, vizinhos e além de tudo as crenças que
permeiam o meio em que esta criança vive.
Porém cabe ressaltar que, o desejo tão aflorado do caminhar pode de fato, pular a
sequência lógica dos marcos motores que devem ser obtidos compassadamente pela criança.
De forma que quando a sequência não é seguida, pode por muitas vezes trazer algum tipo de
prejuízo como: retardo do desenvolvimento, a marcha alterada e algum tipo de atraso no andar
(CHAGAS, 2010).
Segundo alguns estudos, o processo de transição da postura de quatro apoios
(engatinhar) para uma postura bípede, é um processo evolutivo e pré-determinado
possibilitando benefícios e uma visão mais ampla do ambiente, além da liberação dos membros
superiores para manipulação e exploração de objetos, desta forma permitindo a descoberta de
um novo ambiente e novas possibilidades.
Esse estudo terá a importância de argumentar e revisar a influência desse instrumento
no desenvolvimento sensório motor tendo como como objetivo principal averiguar as
consequências do uso do andador infantil.

METODOLOGIA:

O presente artigo trata-se de uma revisão bibliográfica, fundamentado nas seguintes


plataformas: Revistas de Literatura Latino-Americana e do Caribe e Saúde (LILACS); Medical
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Literature analysis and Retrieval Sistem online (MEDLINE); além da Biblioteca Virtual de
Saúde (BVS), tendo como palavras-chave: andador infantil, desenvolvimento psicomotor,
crianças, além de ser suplementado por materiais de cunho bibliográfico e entrevistas.
Foi utilizado no decorrer do trabalho 7 artigos, 1 tese de doutorado, 1 entrevista e outros
materiais suplementares, totalizando cerca de 11 materiais para a realização deste trabalho de
forma que os critérios de inclusão no trabalho foram a disponibilidade na íntegra em língua
portuguesa e inglesa e para escolha de dados desde janeiro de 2019.

RESULTADOS E DISCUSSÃO:

Segundo a fisioterapeuta Erika Moreira (2018), os bebês nascem com as pernas


arqueadas (curvadas) que progressivamente retificam durante o período em que a criança
começa a andar entre 9 meses e 1 ano e meio de idade. Os membros inferiores (MMII) em geral,
encontram-se mais retificados (neutros) somente a partir dos 6 anos. Ou seja, a estrutura física
de um bebê ainda não consegue suportar o peso do próprio corpo. Portanto percebe-se que,
quando se coloca uma criança em um andador infantil, a criança é instigada a suportar parte do
seu peso para poder se locomover.
Desta forma, a fisioterapeuta ainda acrescenta que, os ossos e as demais estruturas ainda
estão em fase de formação, e com o uso do andador ele estará sobrecarregando a coluna e as
articulações. Ela explica que, a ordem cronológica psicomotora (física e mental) do bebê segue
a seguinte ordem natural: primeiro o rolar; depois sentar e engatinhar e por fim dar os primeiros
passos.
Acrescentando às palavras de (TOLEDO,2005) O desenvolvimento motor infantil deve
ser considerado como um processo cujas alterações seguem diferentes fases de instabilidade e
estabilidade, influenciado pelas experiências motoras e sensoriais e pelo aumento da
complexidade neural e biomecânica a ponto da criança se adaptar a diferentes tarefas, com isso,
nos primeiros trimestres da vida ocorre uma plasticidade acelerada onde grandes alterações
acontecem em um curto período de tempo.
Ressalta-se ainda que os resultados do presente estudo vem evidenciar que o andador
ainda é utilizado com grande frequência, apesar das recomendações contrárias dos profissionais
da área da saúde, estimando que 60 a 90% das crianças com idade entre 6 e 15 meses façam seu
uso por um longo período de tempo, isso principalmente porque os pais acreditam que o
aparelho contribui para a aquisição da marcha e proporciona uma maior autonomia
(CLARK,2010).
De acordo à (GARRET,2002) Em estudos anteriores, feito por meio de comparações
com crianças entre 6 e 15 meses de idade, divididas em grupos com o uso ou não do andador,
foi demonstrado que aquelas que faziam o uso, adquiriram a postura sentada e a marcha em um
período posterior em relação das que não utilizavam, lembrando que a frequência de utilização
do aparelho por dia influencia grandemente nos prejuízos.
A correta influência do tempo do uso do andador na aquisição de habilidades motoras
deve ser mais investigada considerando inclusive, faixa etária mais ampla, especialmente se
considerarmos a tendência que pode se observar de o andador poder vir a influenciar esse
desenvolvimento em idade mais avançada (15 meses).
A partir dessa idade, o uso prolongado do andador infantil poderia interferir em outras
habilidades motoras como escalar, correr ou pular (REHMANI,2010).
Outrossim, a criança com o andador, faz o mínimo exercício físico, gasta menos energia
e aprende a andar de forma errada, por muitas vezes, na ponta dos pés. Ademais por estarem
sempre com as pernas semiflexionadas, pressupõe a causar uma atrofia de grupos musculares
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do quadril e das coxas, como também o encurtamento dos tendões. Tendo como norte um estudo
irlandês expôs que, a cada 24 horas de permanência da criança em um andador, implicaria cerca
de 3,3 dias a mais para se desenvolver o andar independente. Dessa forma percebe-se a
influência exacerbada que o mesmo impõe à essas crianças.
É necessário ressaltar que quando as crianças aprendem a ficar de pé, ganham força na
musculatura além de aprender a ter controle de seu deslocamento do centro da gravidade, coisas
essas que não são possíveis com o andador.
Com o enfoque ao tratamento existe uma técnica dentro da fisioterapia que ajuda
significativamente é a técnica em que o lençol ou uma faixa larga, estimula a marcha, com o
paciente conduzindo o movimento.
Em concordância ao que foi evidenciado por (VIEIRA,2009) em seu estudo
comparativo entre crianças, concluiu-se que as crianças que fazem o uso do andador apresentam
o dobro de probabilidade de obter um atraso no início do desenvolvimento da marcha18
Contudo, Mascarelo(2015), evidenciou em um estudo realizado com 12 crianças, que as que
fizeram uso do andador evoluíram mais rapidamente com a marcha do que as crianças que não
desfrutaram do equipamento, todavia, essas crianças desenvolveram alterações no contato
inicial e apoio final do pé, além de uma inclinação do tronco, o que reflete em uma instabilidade
corporal.
Além de tudo, é imprescindível dizer que a escolha da utilização do andador, reflete no
ofuscamento de algumas etapas fundamentais para o desenvolvimento natural das crianças.
Angulo-Barroso, Wu e Urich (2008) constataram um retardo na possibilidade de engatinhar e
marchar relacionados ao uso imensamente precoce de andadores entre 4 e 6 meses de idade.
Nessa época a criança não apresenta capacidades motoras para sustentar a postura de
seu corpo e devido ao seu pequeno tamanho usa da ponta dos pés para se deslocar, gerando
compensações motoras20.
Por fim, vale salientar que o equipamento já é proibido no Brasil pela Lei nº 11.265 de
3 de janeiro de 2006 proibindo a comercialização, importação, doação e distribuição do andador
infantil.

CONCLUSÃO:

Ao final do presente estudo pôde se concluir que o aparelho de andador infantil ainda é
utilizado com grande frequência por todo o Brasil, porém, é perceptível que os pais não tem
informações necessárias sobre o uso do mesmo. Cabe ressaltar que nas evidências percebidas
do estudo, o mesmo influencia de forma significativa nas aquisições da criança principalmente
no desenvolvimento motor.
Dessa forma, com a utilização do aparelho, não ocorre o respeito às fases e limites da criança
em cada época de seu desenvolvimento e além de tudo isso, ressalta-se a importância de mais
estudos para fundamentar a ideia já explanada.

REFERÊNCIAS:

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causa-danos-a-coluna/
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