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DESENVOLVIMENTO FÍSICO E

COGNITIVO DO INÍCIO DA VIDA


ADULTA E DO ADULTO JOVEM
Prof.ª. esp. Luciana Moreira Machado
Psicóloga
Quem sou eu?
Bacharel em Psicologia pela UniFacema (2022);
 Psicóloga CRP 22: 04634;
 Especialista em Docência do Ensino Superior pela FEMAF (2023);
 Especialista em Psicologia Clínica – Terapia Cognitivo
Comportamental pela CNI
(2024);
 Pós graduanda em Psicologia Social pela Faceminas;
 Pós graduanda em Psicologia Hospitalar pela Faceminas;
 Pós graduanda em avaliação Psicológica pela Faceminas;
 Pós graduanda em ABA pela Faceminas.
O início da vida adulta

Quando uma pessoa se torna adulta?

Vários marcadores podem ser utilizados para


fazer essa determinação, enquanto a maturidade
sexual chega dentro da adolescência, a maturidade
cognitiva é mais tardia.

Período de transição entre a adolescência e a


idade adulta, comumente encontrado em países
industrializados.
O início da vida adulta
 A definição de idade adulta legal varia: aos 16 anos, os
jovens podem votar e, aos 18, na maioria dos Estados norte-
americanos, podem se casar sem a autorização dos pais; de
18 a 21 anos (dependendo do Estado), eles podem firmar
contratos de união.

 Utilizando definições sociológicas, as pessoas podem ser


consideradas adultas quando são responsáveis por si mesmas
ou escolheram uma carreira, casaram-se, estabelecem um
relacionamento afetivo significativo ou iniciaram uma família.
O início da vida adulta
A maturidade psicológica depende de realizações como descobrir a própria
identidade, tornar-se independente dos pais, desenvolver um sistema de valores e
estabelecer relacionamentos.

 Critérios internos marcam a vida adulta, como o sentimento de autonomia,


autocontrole e responsabilidade pessoal – ou seja, é mais um estado de espírito do que
um evento isolado (Shanahan, Porfeli e Mortimer, 2005).

Para a maioria das pessoas leigas, entretanto, três critérios definem a idade adulta:
(1) aceitar a responsabilidade por si mesma, (2) tomar decisões independentes e (3)
tornar-se financeiramente independente (Arnett, 2006).
O início da vida adulta
Antes da metade do século XX, um homem jovem mal saído do ensino médio
normalmente procurava um emprego estável, casava e iniciava uma família. Para uma
mulher jovem, o caminho usual para a vida adulta era o casamento, que ocorria tão logo
ela encontrasse um par adequado.

A partir da década de 1950, a revolução tecnológica tornou a educação universitária ou


a formação especializada cada vez mais essencial.

 Hoje, o caminho para a vida adulta é marcado por múltiplas etapas – ingressar na
universidade, sair da casa dos pais, casar-se e ter filhos – e a ordem e o momento
dessas transições variam (Schulenberg et al., 2005).
O início da vida adulta
Alguns cientistas do desenvolvimento sugerem que, para os muitos jovens nas
sociedades industrializadas, o fim da adolescência e a fase intermediária e final da
segunda década de vida tornaram-se um período característico do curso de vida, o início
da vida adulta.

Basicamente, é um período de tempo durante o qual os jovens não são mais


adolescentes, mas ainda não se firmaram nos papéis adultos (Arnett, 2000, 2004, 2006;
Furstenberg et al., 2005).
Desenvolvimento físico

Saúde e condição física: Os adultos jovens nos


Estados Unidos geralmente desfrutam dos benefícios da
boa saúde, mas eles cada vez mais padecem de uma
série de riscos relacionados à saúde associados a estilos
de vida modernos.

Condição de saúde e questões de saúde: Durante


este período, a base para o funcionamento físico de uma
vida inteira continua a ser estabelecida. A saúde pode ser
influenciada pelos genes, mas fatores comportamentais
contribuem enormemente para a saúde e o bem-estar.
A maioria dos adultos jovens nos Estados Unidos relata que
está em boa a excelente saúde. As causas mais comuns de
limitações de atividade são a artrite e outros transtornos
musculares e esqueléticos (NCHS, 2006). Os acidentes são a
causa principal de morte para os jovens norte-americanos de 20
a 44 anos (Xu et al., 2010).

Contudo, as taxas de mortalidade para este grupo como um


todo diminuíram quase pela metade nos últimos 50 anos
(Kochanek et al., 2004; Pastor et al., 2002).
As questões de saúde desse período da vida
espelham as da adolescência; entretanto, as taxas de
ferimento, homicídio e uso de substância estão em seu
nível máximo nessa época.

Enquanto os brancos e asiáticos estão mais


propensos a terem uma boa saúde, os afro-americanos
e ameríndios tem o pior prognóstico e os latinos estão
em uma posição intermediária.
No início da vida adulta, os jovens geralmente são excluídos de
muitos programas de serviço social como o Medicaid, os programas do
State Children’s Health Insurance ou os sistemas de apoio dentro do
sistema escolar.

Adultos emergentes e jovens têm a mais alta taxa de pobreza e o


nível mais baixo de seguro-saúde de qualquer faixa etária, e com
frequência não têm acesso regular a tratamento de saúde (Callahan e
Cooper, 2005; Park et al., 2006).

No Brasil, temos o SUS, programas de serviço à população e


SUAS.
O número de jovens que não estudavam nem estavam ocupados foi de 10,9
milhões em 2022, o que corresponde a 22,3% das pessoas de 15 a 29 anos de
idade. Do total, as mulheres de cor ou raça preta ou parda representavam 4,7
milhões (43,3%), enquanto as brancas formavam menos da metade desse
montante: 2,2 milhões (20,1%). Outros 2,7 milhões (24,3%) eram homens pretos
ou pardos e 1,2 milhão (11,4%) eram homens brancos. Os dados são da Síntese
de Indicadores Sociais, divulgada hoje pelo IBGE.

Por nesta fase não existir a rede de apoio que tinham na adolescência, são
mais propensos a terem comportamentos autodestrutivos desenfreados à medida
em que a idade adulta vai se estabelecendo.
Influências genéticas na saúde

O mapeamento do genoma humano está possibilitando aos


cientistas descobrir as raízes genéticas de muitos distúrbios, da
obesidade a certos tipos de câncer, e problemas de saúde mental
(como alcoolismo e depressão).

Os cientistas também descobriram um componente genético


no HIV/AIDS (Gonzalez et al., 2005).
Influências genéticas na saúde
Embora alguma medida de colesterol seja necessária para um funcionamento
ótimo, uma dieta pouco saudável em conjunto com uma propensão genética pode levar
a um nível elevado de colesterol e aumentar o risco de doença cardíaca coronariana
(Verschuren et al., 1995).

Assim como a doença cardíaca relacionada ao colesterol, a maioria das doenças


envolve tanto a hereditariedade como o ambiente.
Influências genéticas na saúde

Em um estudo, a probabilidade de uma pessoa desenvolver sintomas de


depressão foi prevista por uma variante genética que é altamente afetada por
influências ambientais, tais como uma família apoiadora (S. E. Taylor et al., 2006).
Influências comportamentais na saúde e na condição
física
A associação entre comportamento e saúde ilustra as inter-relações entre
aspectos físicos, cognitivos e emocionais do desenvolvimento. O que as
pessoas sabem sobre saúde afeta o que elas fazem, e o que elas fazem afeta
como elas se sentem.

 A personalidade, as emoções e o
ambiente social frequentemente pesam
mais do que aquilo que as pessoas
sabem que devem fazer e levam a
comportamentos não saudáveis.
Dieta e nutrição
O ditado “Você é o que você come” resume a
importância da nutrição para a saúde física e mental. O
que as pessoas comem afeta sua aparência, como se
sentem e a probabilidade de adoecer e mesmo de morrer.

Estima-se que 365 mil adultos norte-americanos


morrem a cada ano de causas relacionadas à má nutrição
e à falta de atividade física (Mokdad et al., 2005).
Dieta e nutrição

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda uma dieta no estilo


“mediterrâneo” rica em frutas, vegetais, grãos integrais e gorduras insaturadas. por
exemplo, pessoas que se alimentam com essa dieta tendem a viver em geral vidas mais
saudáveis (Boffeta et al., 2010).
Obesidade/sobrepeso

Em geral, a tendência mundial indica que a obesidade


está em ascensão, com uma taxa de prevalência média de
aproximadamente 10 a 15%.

Nos Estados Unidos, o homem ou a mulher médios


estão mais de 10,8 kg mais pesados do que no início da
década de 1960, mas somente cerca de 2,54 cm mais altos.
Cerca de 34% dos homens e mulheres com 20 anos ou
mais eram obesos em 2007-2008.
Com foco na comilança desenfreada,
vídeos de 'Mukbang' viram exemplo de
distúrbio na relação com a comida
Obesidade/sobrepeso
Mas como se explica a epidemia da obesidade?

Especialistas apontam para um aumento do hábito


de comer fora de hora (Zizza, Siega-Riz e Popkin,
2001), disponibilidade de comidas rápidas de baixo
custo, porções fartas, dietas ricas em gorduras,
tecnologias que poupam mão de obra, incluindo
alimentos altamente processados, e ocupações
recreativas sedentárias, tais como televisão e
computadores (Harvard Medical School, 2004c; Pereira Conheça a história do médico com obe
sidade mórbida que se tornou refém do
et al., 2005; Young e Nestle, 2002). próprio corpo
Obesidade/sobrepeso
A obesidade pode levar à depressão, e vice versa
(Markowitz, Friedman e Arent, 2008). Ela também acarreta
riscos de hipertensão arterial, doença cardíaca, AVC, diabetes,
cálculos biliares, artrite e outros problemas musculares e
esqueléticos, e alguns tipos de câncer, além de diminuir a
qualidade e o tempo de vida

Mudanças no estilo de vida (mudança da dieta mais exercício) ou tratamentos


medicamentosos sustentaram as metas de perda de peso por dois anos ou mais
(Powell, Calvin e Calvin, 2007), mas para muitas pessoas é difícil manter essas
perdas por períodos mais longos.
Obesidade/sobrepeso
A quantidade de comida que as pessoas consomem não é
apenas um produto de quanta fome elas têm. As escolhas
alimentares também são afetadas por sugestões ambientais.

Quanto trabalho você tem para conseguir sua comida também


importa. Secretárias que receberam uma caixa de bombons em
suas mesas em vez de terem de andar meros 2 metros para pegá-
los consumiram 48% mais bombons (Painter, Wansink e
Hieggelke, 2002).
 Muitos estados estão instituindo impostos adicionais sobre alimentos
considerados não saudáveis (Brody, 2010). Também, algumas pessoas estão
defendendo a indicação clara da quantidade de calorias em lanchonetes e
cafeterias, um processo que foi implementado na cidade de Nova York com
um grau de sucesso moderado (Rabin, 2009).
Transtornos da alimentação
Embora comer demais e engordar seja a questão nutricional mais comum, os
transtornos da alimentação que se focalizam em tentativas de manter um peso baixo
também são um problema em muitos países, especialmente nos países
desenvolvidos como os Estados Unidos (Makino, Tsuboi e Dennerstein, 2004).

 De modo geral, as taxas de prevalência de transtornos da alimentação ao longo


da vida são baixas, algo entre 0,3 e 0,6%, mas ainda representam uma quantidade
substancial de dor e sofrimento, especialmente porque muitos dos que sofrem de
transtornos da alimentação não procuram tratamento
Transtornos da alimentação
Embora as terapias cognitivo-comportamentais tenham
obtido algum sucesso no tratamento de transtornos da
alimentação, as taxas são baixas (Wilson, Grilo e Vitousek,
2007). Os transtornos da alimentação mais comuns são
anorexia nervosa e bulimia nervosa.

Anorexia nervosa
Bulimia nervosa

Transtorno de compulsão alimentar


Estudo de caso
Bia é uma jovem de 19 anos, solteira, irmã mais velha de uma menina de 7 anos.
Procura atendimento por ter baixa autoestima, sofrer com isso, e acabar se
boicotando quando chamada para fazer trabalhos. Ela é modelo, viaja por vários
países do mundo, morou muito tempo no exterior, e voltou por estar se sentindo mal,
e por acreditar que não merecia estar tendo aquela oportunidade.
Num primeiro momento, Bia se mostrou comunicativa, extrovertida, porém,
chorou muito durante toda a primeira sessão. Usava roupas largas, falou que sua
mãe a xingava, dizendo que ela tinha jogado fora a oportunidade da vida, e queria
muito fazer os atendimentos, os quais seriam custeados por uma madrinha que
morava em outra cidade. Admitia que passava longos períodos sem comer, por
acreditar que precisava emagrecer mais.
Relata como motivo para sua consulta, o fato de “não aguentar mais se sentir
como se sentia”. Falava que a vida era um peso, que tudo era muito difícil, que se
achava sempre pior que as outras pessoas, e que pela sua insegurança perdeu vários
trabalhos, pois os abandonava. Porém, depois alguma pessoa responsável pelas
contratações, vinha lhe dizer que ela teria feito muito melhor o trabalho, do que a
pessoa que a substituiu. Isso a desesperava.
Bia afirmou que morou até os 14 anos com sua avó, pois a mãe trabalhava muito e
havia delegado a função de mãe para a avó, tanto que chamava as duas de mãe. Bia
recorda que a avó desde que ela era pequena, falava-lhe que ela tinha que comer
pouco, pois “gente gorda era infeliz”.
Tem recordações de que quando estava junto com a mãe e esta ia escolher uma
roupa, sempre provava várias peças, não escolhia nenhuma pois dizia que nenhuma
estava boa, e acabava ficando em casa, chorando por não se achar bonita. Afirma que
além da avó, a mãe também sempre foi muito exigente com ela. Seu pai era carinhoso,
mas não a perdoava por ter voltado do exterior e ter desistido dos seus sonhos. Não
acreditavam que ela estava doente e só queriam que ela voltasse a “trazer dinheiro para
casa”.
Ao conhecer a história de Bia, ficou evidente que ela teve problemas com peso e
imagem corporal desde criança. Sua avó a obrigava a comer pouco, e sua mãe a
xingava, pois dizia que tinha perdido o seu corpo juvenil, após a gravidez de Bia, e
neste sentido, Bia se desenvolveu se sentido culpada pela insatisfação corporal da
mãe.
Após tantas críticas, Bia foi diminuindo a ingestão alimentar de modo a ficar
exageradamente magra. Chegou a pesar 32kg para seus 1,69m de altura. Seu
corpo doía e apresentara alguns desmaios. Ao emagrecer passou a ser elogiada
por sua avó, a qual afirmava que estava num peso ideal, mesmo que Bia estivesse
com peso equivalente a um quadro de desnutrição.

Devido a volta para sua cidade, Bia passou a ajudar seu pai no trabalho,
porém, estava insatisfeita. Voltou à escola, mas evita os colegas, pois pensa que
eles sempre “falam mal dela”.

Tem pouco contato social, pois acredita que não seria aceita, então seu
cotidiano resume-se a ficar em casa, estudar e trabalhar. Em grande parte das
sessões, relatou que não aguentava mais se sentir dessa forma, oscilando entre
não se sentir capaz, se achar feia e gorda, além da culpa por não ter atingido o
plano de seus pais.
De maneira geral, sente-se isolada, com pensamentos “Ninguém me convida
para nada, ninguém gostaria de ter uma amiga como eu”, sem se dar conta de que
convites existiam, mas ela os recusava. Atribuía todo seu isolamento ao peso
corporal.
Nas consultas, Bia se declara como reconhecendo a necessidade de ajuda visto
que não aguenta mais ter a preocupação com comida e com magreza. Se culpa
excessivamente pelo fato de ter abandonado a carreira de modelo e ter deixado de
trazer dinheiro para casa.
Bia preencheu um Diário de Imagem Corporal, como dado complementar à
entrevista, bem como, durante as sessões, preencheu o BSQ, para avaliação da
insatisfação da imagem corporal. Bia apresentou 145 pontos, demonstrando intensa
insatisfação com a imagem corporal.
Dados relevantes da história
Avó rígida, com bastante cobrança em relação ao corpo

 Mãe com baixa autoestima em relação ao corpo

 Falta de reforços positivos/poucos amigos

 Baixa rede social de apoio

 Preocupação excessiva com magreza.


Crenças central e intermediárias

Central: Não tenho valor nenhum

Intermediárias: Não aguento ser assim (Atitude)


- Se eu engordar, não terei amigos (Suposição)
- Tenho que ser magra (Regra)
- Tenho que ajudar meus pais (Regra)
- Se eu for gorda, meus colegas falarão mal de mim (Suposição)
- É horrível ser assim (Atitude)
Estratégias compensatórias
 Fuga de novas possibilidades

 Não ter uma vida social ativa, já que se irrita e pensa que não gostam
dela

 Jejum
Estratégias de tratamento
Critérios diagnósticos Anorexia Nervosa
 A. Restrição da ingesta calórica em relação às necessidades, levando a um peso
corporal significativamente baixo no contexto de idade, gênero, trajetória do
desenvolvimento e saúde física. Peso significativamente baixo é definido como um
peso inferior ao peso mínimo normal ou, no caso de crianças e adolescentes, menor
do que o minimamente esperado.

 B. Medo intenso de ganhar peso ou de engordar, ou comportamento persistente que


interfere no ganho de peso, mesmo estando com peso significativamente baixo.

 C. Perturbação no modo como o próprio peso ou a forma corporal são vivenciados,


influência indevida do peso ou da forma corporal na autoavaliação ou ausência
persistente de reconhecimento da gravidade do baixo peso corporal atual.
Referências
ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIÁTRICA et al. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de
transtornos mentais . Artmed Editora, 2014.

BERGER, K. S. O Desenvolvimento da Pessoa da Infância à Terceira Idade (5ª edição). 2001.

BROERING, Camilla Volpato; SCHERER, Alessandra. UM ESTUDO DE CASO DE ANOREXIA


NERVOSA: desafios e possibilidades na terapia cognitivo-comportamental. Psicologia e Saúde em
debate, v. 8, n. 1, p. 409-421, 2022.

PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artmed, 2009.

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Um em cada cinco brasileiros


com 15 a 29 anos não estudava e nem estava ocupado em 2022. editora Estatísticas Sociais, 2023.

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