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Engenharia

Nesta seção você encontra artigos voltados para testes, processo,


modelos, documentação, entre outros

Gerenciando com o CMMI 2


Produzindo software de forma gerenciada com o modelo CMMI

De que se trata o artigo? O paralelo estabelecido com as práticas realizadas


Nesse artigo, iniciaremos uma série de análises sobre pelas empresas de software permitirá aos leitores
o modelo de maturidade CMMI, começando pelo nível compreender as vantagens do CMMI.
2 e sua capacidade de tornar os processos gerencia-
dos. Neste nível, analisaremos suas áreas de processo Resumo:
e resultados esperados, buscando um paralelo com a Esse artigo inicia uma série de análises sobre o
realidade praticada pelas empresas de software. modelo CMMI (Capability Maturity Model Inte-
gration), começando pelo seu nível 2 de matu-
Em que situação o tema é útil? ridade. Neste nível, o principal ganho obtido é a
Esse artigo é útil para todos aqueles interessa- capacidade de implantar processos gerenciados
dos em conhecer o modelo CMMI, iniciando pelo nas organizações. Esse será o principal aspecto
nível 2. Nele, mostramos em detalhes os ganhos apresentado, fazendo-se um paralelo com as or-
obtidos com o atendimento ao que é proposto ganizações que ainda não adotaram modelos de
por cada uma das áreas de processo desse nível. maturidade de software como o CMMI.

Crhistian Ghamaliel
crhistian.ti@gmail.com.br
Especialista em Processos de Software,
CMMI e MPS.BR. Bacharel em Ciências da

M
Computação, pós-graduado em Gestão uitos artigos já foram escritos como o nível 2 do CMMI pode auxiliar
de Projetos e Gestão da Tecnologia da sobre CMMI. Dentre eles, as organizações? Quais são as vantagens
Informação. Possui mais de 10 anos de vários com um enfoque em competitivas deste modelo?
experiência com Engenharia de Software.
apresentar e descrever este consagrado Para isso, primeiramente iremos co-
Já exerceu todos os papéis no ciclo de vida
de desenvolvimento de software e atual- modelo de maturidade de software. nhecer o modelo CMMI e, em seguida,
mente atua como Gerente de Melhoria de Neste artigo, também apresentaremos analisarmos os processos do nível 2 de
Processos. Implementador e Avaliador cer- o CMMI, porém o nosso enfoque será maturidade. Ao longo desta análise, fa-
tificado do MPS.BR. Tem sido responsável no nível 2, direcionado para o que rea- remos um paralelo com a realidade das
pela certificação de empresas nos modelos
lizamos diariamente nas organizações organizações, observando as vantagens
CMMI e MPS.BR. Palestrante em universi-
dades e congressos pelo Brasil, também já que desenvolvem software. Este enfoque trazidas pelo modelo. Ao final, apresen-
lecionou em faculdades de TI. busca responder às seguintes perguntas: taremos uma conclusão sobre o artigo.

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O modelo CMMI esforços, muitas vezes heroicos, de pessoas, que na grande
CMMI, sigla para Capability Maturity Model Integration, é maioria das vezes atuam sem o apoio de nenhum processo
uma coleção de modelos que contêm melhores práticas que formalizado, bem como de nenhuma ferramenta que suporte
auxiliam as organizações a aprimorarem os seus processos. o seu árduo trabalho. Infelizmente, ainda considerável é o
Eles são desenvolvidos por membros da indústria, governo e número de organizações brasileiras, sobretudo empresas
pelo Software Engineering Institute (SEI), instituição sedia- privadas, que desenvolvem software desta maneira. As
da nos Estados Unidos. Dentre estes modelos, o CMMI for consequências são muitas vezes drásticas e desgastantes,
Development (CMMI-DEV) fornece um conjunto abrangente tanto do ponto de vista humano, quanto do financeiro e da
e integrado de diretrizes para o desenvolvimento de pro- qualidade. Trabalhar conforme esta cultura já foi responsá-
dutos e serviços. Ele aborda práticas que cobrem o ciclo de vel pelo desaparecimento de muitas empresas de software
vida do produto, desde a sua concepção até a entrega para promissoras em nosso país. Portanto, o CMMI apenas lista
o cliente. Atualmente, o CMMI-DEV está em sua versão 1.3, o nível 1 para classificar com ele as organizações que ainda
lançada em 2010. Neste artigo, utilizaremos a sigla CMMI não apresentam nenhum tipo de maturidade em seus pro-
para referenciar o CMMI-DEV, nosso foco de interesse. cessos de software.
O CMMI trata da melhoria dos processos em uma organiza- O nível 2, foco deste artigo, é designado como “Geren-
ção. Ele contém os elementos essenciais de processos efetivos ciado”. De acordo com o CMMI, quando uma organização
para uma ou mais disciplinas e descreve um caminho evolutivo atinge este nível, seus projetos são executados conforme
de processos imaturos para processos disciplinados, maduros os processos estabelecidos na organização, obedecendo
e com maior qualidade e eficácia. É fruto de um longo traba- às suas políticas organizacionais. Os profissionais desta
lho do SEI, que teve seus primeiros resultados por volta de organização possuem, além da capacidade adequada para
1988, há mais de vinte anos. Portanto, o CMMI é um modelo executar seus trabalhos, os recursos adequados para ge-
consolidado mundialmente, fruto de um extenso trabalho de rarem produtos controlados. Além disso, os projetos são
pesquisa de boas práticas de engenharia de software, serviços planejados, controlados e revistos com os stakeholders (veja
e aquisições. a Nota 1). Uma área responsável pela qualidade examina
O CMMI utiliza o conceito de níveis para descrever um constantemente a aderência dos projetos aos processos esta-
caminho evolutivo recomendado para uma organização que belecidos. A disciplina do processo refletida pelo nível 2 aju-
quer melhorar os processos que utiliza para desenvolver da a garantir que as práticas estabelecidas sejam mantidas
produtos ou serviços. Este caminho evolutivo é apresen- em momentos de stress. Também neste nível, os status dos
tado de duas formas: pela representação contínua e pela produtos de trabalho são visíveis para a gestão em pontos
representação por níveis de maturidade. Na representação definidos (por exemplo, em milestones ou na finalização de
contínua, o foco são os “níveis de capacidade”; na repre- tarefas maiores); compromissos são estabelecidos entre os
sentação por níveis, são os “níveis de maturidade”. Neste stakeholders e são revistos sempre que necessário; os produtos
artigo iremos utilizar como base a representação por níveis de trabalho são apropriadamente controlados; e por fim, os
de maturidade. produtos e serviços satisfazem suas descrições de processos,
Os níveis do CMMI ganham uma denominação numérica normas e procedimentos especificados.
e vão do 1 ao 5. Cada nível recebe também uma designação
que informa a sua principal característica, conforme ilustrado Nota 1: Stakeholders
pela Figura 1.
É o termo utilizado para designar todos os interessados nos resultados de um projeto. Portanto,
abrange a equipe do projeto, a organização que o mantém, as organizações que o contratam e,
de forma mais abrangente, os elementos da sociedade que serão afetados por ele.

É fácil visualizar, portanto, que no nível 2 a organização


consegue muito mais controle sobre os seus projetos e obtém
muito mais vantagens daquilo que faz. Existe menor chance
do aparecimento de problemas decorrentes da desorgani-
zação, da falta de método e de informação, e a relação entre
os membros da equipe dos projetos e destes com os clientes
Figura 1. /ÓWFJTEP$..*FEFTJHOBÎÜFTEFNBUVSJEBEF melhora muito do ponto de vista do fluxo das informações e
da cadeia produtiva.
Dentre eles, o nível 1 não é atingível pelo CMMI, ou seja, Exploraremos os demais níveis em próximos artigos, com-
o SEI não disponibiliza uma certificação neste nível, pelo pondo desta forma um pequeno estudo de análise do CMMI,
simples fato de ele significar a ausência de qualquer matu- sempre realizando um paralelo com a realidade das empresas
ridade dos processos de uma organização. Neste nível, os de software. Na próxima seção, apresentaremos uma visão
sucessos de uma organização são conseguidos através de geral das áreas de processo do nível 2.

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As áreas de processo do nível 2 Esclarecidos estes conceitos, vamos analisar detalhadamente


Cada nível do CMMI é composto por um conjunto de áreas de cada uma das áreas de processo do nível 2, começando pela
processos que, sendo todas seguidas, fornecem à organização a Gestão de Requisitos.
maturidade e capacidade esperadas por aquele nível. A Figura 2
apresenta as áreas de processos que constituem o nível 2. Gestão de Requisitos
Requisitos é a chave para o sucesso de todo projeto de
software. Por isso, requisitos bem elicitados e claramente
especificados são um excelente começo para um software de
qualidade e que satisfaça aos seus clientes. Da mesma forma,
requisitos mal compreendidos e pobremente especificados
são fontes de grandes riscos de retrabalho e mudanças des-
controladas no desenvolvimento. Várias organizações ainda
não deram a devida atenção a esta área, motivo pelo qual têm
experimentado as mais diversas dificuldades em seus ciclos
Figura 2. «SFBTEF1SPDFTTPEPOÓWFMEP$..* de vida de desenvolvimento de software, onde muitas vezes
a causa aparente é a falta de gestão ou questões técnicas de
Uma área de processo do CMMI é um conjunto de práti- desenvolvimento, quando na verdade reside em requisitos mal
cas relacionadas em uma área que, quando implementadas especificados e pobremente descritos.
coletivamente, satisfazem um conjunto de metas considera- De acordo com o CMMI, o objetivo da área de processo
das importantes para a tomada de melhoria nessa área. Por Gestão de Requisitos é “fornecer subsídios para gerenciar
exemplo, a área de processo Gestão de Requisitos traz um os requisitos dos produtos e componentes de produto do
conjunto de práticas que orientam para a melhoria na área projeto e identificar inconsistências entre esses requisitos
de Requisitos. O nível 2 é composto por áreas de processos e os planos e produtos de trabalho do projeto”. Portanto,
consideradas fundamentais para uma engenharia de software o foco desta área de processo está em gerenciar requisitos
realizada com qualidade e controle. Daí a sua designação ser e identificar inconsistências entre requisitos e os planos e
“gerenciado”. Sem implementar tais áreas, uma organização produtos do projeto.
não conseguirá atingir os níveis de maturidade mais altos As práticas específicas (veja a Nota 2) desta área de processo
propostos pelo modelo. são as seguintes:
Cada área de processo possui um objetivo, metas específicas SG 1 Gerenciar Requisitos
da área e metas genéricas, que abrangem todas as áreas de pro- SP 1.1 Obter Entendimento dos Requisitos
cesso. Estas metas constituem as boas práticas de engenharia SP 1.2 Obter Comprometimento com os Requisitos
de software mencionadas no início deste artigo. SP 1.3 Gerenciar Mudanças nos Requisitos
Muitas empresas interessadas em adotar o CMMI têm dúvida SP 1.4 Manter Rastreabilidade Bidirecional dos Requisitos
sobre o propósito deste modelo. Se ele determina o quê deve SP 1.5 Identificar Inconsistências entre Produtos de Trabalho e
ser feito e como deve ser feito. Primeiramente, diríamos que Requisitos
o CMMI recomenda, não determina. Mesmo em situações em
que uma organização está sendo avaliada em algum nível do Nota 2: Práticas específicas
modelo, a postura do avaliador é sempre a de quem recomenda
Toda área de processo do CMMI possui suas práticas específicas (specific practices, abreviadas
as boas práticas. Obviamente, se a organização não atender às
por “SP”), que são as atividades esperadas para satisfazer as metas específicas (specific goals,
recomendações, não conseguirá sua certificação, mas poderá
abreviadas por “SG”) daquela área de processo.
continuar melhorando o seu processo até obtê-la.
Segundo, o CMMI informa o que espera que seja praticado
em cada área de processo, mas não se prende ao como isso Dentre elas, podemos destacar a prática SP 1.2, referente
será feito. Para o nível 2, se a organização utiliza planilhas, e ao comprometimento com os requisitos. É muito comum as
não um sistema gerencial, de maneira geral isso não afetará a empresas que desenvolvem software não se lembrarem de
sua avaliação final. Se ela desenvolve em Java, e não em .NET, obter este comprometimento, o que dá margem para altera-
também não importa, e assim por diante. Naturalmente, em ções descontroladas dos requisitos. Por isso, a necessidade
se tratando de níveis mais altos, como o 4 e o 5, a utilização de implantar-se também a prática SP 1.3, para gerenciar estas
de algumas ferramentas é essencial, como um banco de dados mudanças. Mudanças não controladas de requisitos podem
para o armazenamento de medições e um sistema gerencial causar o naufrágio de um projeto.
para os projetos da organização. Mas mesmo nestes níveis não Por fim, podemos destacar a rastreabilidade bidirecional
há determinação específica do CMMI dando detalhes sobre dos requisitos (SP 1.4), uma técnica que consiste em associar
estas ferramentas. os componentes de projeto e produto com os requisitos que
Estruturado desta forma, o CMMI torna-se, portanto, um mo- lhe deram origem. Esta é a técnica mais útil para a análise de
delo, um guia para as boas práticas da engenharia de software. impacto de mudanças de requisitos.

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Planejamento de Projeto e Monitoramento e Controle de escopo. É muito comum vermos orçamentos que incluem ape-
Projeto nas despesas de pessoal (homem/hora) e não levam em conta
É desnecessário destacar a importância da gestão de projetos outras despesas, tais como: aquisição de hardware específico,
para as organizações de qualquer natureza, dentre elas as que licenças de software, viagens, cursos, etc. Essa omissão terá
produzem software, pois inúmeros artigos e livros já foram impacto imediato nas margens financeiras do projeto, muitas
escritos a esse respeito. Atualmente é senso comum saber que vezes catastrófico. Por sua vez, o cronograma é o reflexo do
as técnicas de gestão de projetos são essenciais para a condução escopo com as restrições de orçamento. Um ponto importante
das empreitadas cada vez mais complexas nas organizações. a destacar é: todo cronograma deve ir até o nível mais deta-
Porém, colocar em prática tais técnicas tem sido um desafio lhado de tarefas. Se houver tarefas a executar e que não estão
constante para muitas delas. Neste sentido, as duas áreas de no cronograma, surge o risco de desvio das estimativas de
processo do nível 2 referentes à gestão de projetos possuem esforço, prazo e custo do projeto.
um ótimo roteiro do caminho a seguir. A prática SP 2.2 trata da identificação dos riscos do projeto.
De acordo com o CMMI, o objetivo da área de processo Pla- Eis uma área em que as organizações brasileiras têm muito
nejamento de Projeto é “fornecer subsídios para estabelecer ainda o que aprender e praticar! Riscos são constantemente
e manter planos visando definir as atividades de projeto”. O ignorados nos projetos de TI! Quando muito, são planejados,
objetivo da área de processo Monitoramento e Controle de mas muito raramente acompanhados. O CMMI dá a atenção
Projeto é “fornecer subsídios para proporcionar visibilidade devida aos riscos de projetos, já no seu nível 2.
do progresso do projeto, de forma que ações corretivas apro- A prática SP 2.7 determina o estabelecimento do plano do pro-
priadas possam ser implementadas quando o desempenho jeto. Pode parecer óbvio, mas não é, pois ainda há organizações
do projeto desviar significativamente do plano”. Portanto, o que resumem o plano a um cronograma. É importantíssima a
CMMI confirma as duas práticas fundamentais da gestão de elaboração de um plano de projeto nos moldes indicados pelo
projetos: o planejamento e o controle. Muitos profissionais in- PMBOK, podendo ser adaptado à cultura da organização. Além
cumbidos de gerenciar projetos são bons em planejamento, mas disso, devemos ter ciência de que o termo “plano do projeto”
displicentes no controle. Outros planejam superficialmente e não se resume a apenas um documento, mas a um conjunto
depois precisam controlar arduamente o projeto, para evitar de documentos, tais como declaração do escopo, estimativas,
os vários riscos adicionados. plano de riscos, plano de comunicação, plano de custos, etc.
Como essas duas áreas de processo possuem muitas Daí a importância de desenvolver-se a cultura de uma docu-
práticas específicas, vamos destacar aquelas que considera- mentação rica, que estabeleça com clareza o que será feito, por
mos principais, iniciando pelas práticas da área de processo quem, como, quando e quanto custará.
Planejamento de Projeto: Por fim, a prática SP 3.2 diz respeito ao estabelecimento de
SG 1 Estabelecer Estimativas um comprometimento com o plano do projeto. Segundo o
SP 1.1 Estimar o Escopo do Projeto CMMI, para estabelecer um projeto viável, deve-se obter o
SP 1.4 Estimar o Esforço e Custo comprometimento das partes interessadas relevantes e conci-
liar as diferenças entre os recursos estimados e os disponíveis.
SG 2 Elaborar um Plano de Projeto Sem este consenso sobre o plano, muitos dissabores poderão
SP 2.1 Estabelecer Orçamento e Cronograma ser experimentados, tanto por parte de quem contrata quanto
SP 2.2 Identificar Riscos do Projeto de quem é contratado, pois falsas expectativas são criadas em
SP 2.7 Estabelecer o Plano do Projeto torno de uma visão equivocada do projeto.
Vamos agora analisar algumas práticas que destacamos da
SG 3 Obter Comprometimento com o Plano área de processo Monitoramento e Controle do Projeto:
SP 3.2 Conciliar Carga de Trabalho e Recursos SG 1 Monitorar o Projeto em Relação ao Plano
SP 1.1 Monitorar os Parâmetros de Planejamento do Projeto
As práticas SP 1.1 e SP 1.4 tratam de duas atividades fun- SP 1.3 Monitorar Riscos do Projeto
damentais para o sucesso de todo projeto: as estimativas de SP 1.5 Monitorar o Envolvimento das Partes Interessadas
escopo, esforço e custo. Segundo o PMBOK, o escopo do projeto SP 1.6 Conduzir Revisões de Progresso
define o trabalho que deve ser realizado para entregar um
produto com as características e funções especificadas. Por SG 2 Gerenciar Ações Corretivas até sua Conclusão
isso, um escopo mal estimado significa um projeto sem norte SP 2.1 Analisar Questões Críticas
e sem destino certo. Neste cenário, é muito comum a execução SP 2.2 Implementar Ações Corretivas
de trabalhos não previstos, muitas vezes com a ocorrência de SP 2.3 Gerenciar Ações Corretivas
horas-extras, onerando os custos do projeto e reduzindo as
suas margens financeiras. As práticas SP 1.1 a SP 1.6 dizem respeito ao monitoramento
A prática SP 2.1 estabelece as questões do orçamento e crono- do projeto. Da mesma forma que dissemos em relação aos
grama. O orçamento de um projeto diz respeito aos recursos riscos, o plano de um projeto não pode estacionar no seu
financeiros que estão disponíveis para a execução do seu planejamento, mas deve ser continuamente monitorado, pois

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planejar significa estabelecer estimativas (de escopo, prazo, produtos de trabalho formalmente revisados e acordados, que
esforço, custo, riscos, equipe, complexidade, etc.) e sabemos servem como base para desenvolvimentos a partir de então”.
que estimativas não são 100% precisas, por mais experiente Por isso compreendemos a baseline como sendo uma “foto”
que seja aquele que as estabeleceu. Portanto, é fundamental do projeto e seus produtos em um momento considerado im-
acompanhar o projeto em relação ao que foi planejado e realizar portante no ciclo de vida do projeto e do produto. A baseline
as ações corretivas necessárias. nos dá recursos de resgatarmos esse conjunto de produtos
As práticas SP 2.1 a SP 2.3 tratam das ações corretivas. É de trabalho arquivado nos pontos importantes e mantidos
comum encontrarmos Gerentes de Projeto que, ao encontra- tais quais eram naquele momento. Neste contexto, os itens
rem desvios do plano na execução do projeto, simplesmente de configuração são os produtos de trabalho ou conjuntos
re-planejam o projeto para aquela nova realidade. Tal prática é de produtos que participam de uma baseline. Baseline é um
um equívoco! Desvios devem ser corrigidos da melhor forma conceito poderoso da gestão de configuração, que ajuda a
possível, por isso a importância do estabelecimento de ações reduzir os riscos de projeto e adiciona muita consistência aos
corretivas e o seu acompanhamento até o fim. Replanejamentos seus produtos de trabalho.
dizem respeito a mudanças de escopo, o que está em outro As práticas SP 2.1 e SP 2.2 tratam do controle de mudanças,
contexto. um assunto extremamente crítico em qualquer projeto de sof-
tware. Segundo Fred Brooks (1986), os softwares estão sujeitos
Gestão de Configuração a solicitações de mudanças muito mais frequentemente do que
Atualmente, trabalhar sem gestão de configuração é prati- outros produtos ditos concretos, tais como carros, edifícios e
camente impossível. Ao construírem sistemas cada vez mais eletrônicos. Isso porque o software, sendo um produto flexível,
complexos, as organizações se veem diante de uma infinidade ou seja, que pode ser modificado muito mais facilmente do
de arquivos referentes a código-fonte, modelos, requisitos e que outros produtos, dá aos seus clientes uma falsa impressão
documentação de projeto, dentre outros. Como não bastasse de que é fácil de ser modificado. Por este motivo, controlar e
essa complexidade, todo esse universo de arquivos é modifi- gerenciar mudanças são uma prática vital para a saúde dos
cado continuamente ao longo do projeto. Caso a organização projetos. Como dito anteriormente, mudanças descontroladas
não aplique técnicas e ferramentas de gestão de configuração, podem ser a causa de insucesso de uma enorme parcela de
muitos desses arquivos podem ser perdidos, bem como todo projetos que não dão certo.
o histórico de modificações realizado. Por fim, um aspecto elegante desta área de processos é que
Aliadas às técnicas propostas pelo CMMI, existem no mer- ela contém em si uma prática específica de auditoria (SP 3.2),
cado algumas excelentes ferramentas para gestão de configu- visando garantir que todo o sistema de gestão de configuração
ração, com destaque para o Subversion (SVN). esteja funcionando conforme o esperado.
De acordo com o CMMI, o objetivo da área de processo Gestão
de Configuração é “fornecer subsídios para estabelecer e man- Medição e Análise
ter a integridade dos produtos de trabalho, utilizando iden- A máxima “Você não pode controlar o que não pode medir”,
tificação de configuração, controle de configuração, balanço cunhada pelo autor americano Tom DeMarco, é uma das
das atividades de configuração e auditorias de configuração”. mais famosas e repetidas na engenharia de software. Ela dá a
Discutiremos estas técnicas a partir das práticas específicas dimensão exata da importância da área de processo Medição
desta área de processo, que estão listadas a seguir: e Análise.
SG 1 Estabelecer Baselines Para controlar eficientemente qualquer aspecto da engenharia
SP 1.1 Identificar Itens de Configuração de software é preciso conhecê-lo em detalhes, e isso só é possí-
SP 1.2 Estabelecer um Sistema de Gestão de Configuração vel através da atividade de medição e análise. Muitas organi-
SP 1.3 Criar ou Liberar Baselines zações ainda desenvolvem software sem coletar nem analisar
nenhum tipo de medição sobre as atividades realizadas e os
SG 2 Acompanhar e Controlar Mudanças produtos gerados pelas suas equipes. Infelizmente, essa é uma
SP 2.1 Acompanhar Solicitações de Mudança forma muito eficiente de inserir grandes riscos aos projetos e
SP 2.2 Controlar Itens de Configuração produtos. E, ao contrário do que muitas delas imaginam, medir
e analisar são práticas acessíveis a qualquer organização, desde
SG 3 Estabelecer Integridade que seja especificado um processo para isso.
SP 3.1 Estabelecer Registros de Gestão de Configuração De acordo com o CMMI, o objetivo da área de processo
SP 3.2 Executar Auditorias de Configuração Medição e Análise é “fornecer subsídios para desenvolver e
manter uma capacidade de medição utilizada para dar suporte
As práticas SP 1.1 a SP 1.3 dizem respeito ao conceito de itens às necessidades de informação para gestão”. Portanto, esta
de configuração e baselines. O conceito de baselines é muito área de processo suporta diretamente as áreas de processo de
confundido e pobremente compreendido pelas organizações gestão, daí a sua importância vital.
pouco familiarizadas com a gestão de configuração. O CMMI Discutiremos a seguir as práticas específicas desta área de
define baseline como sendo um “conjunto de especificações ou processo:

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SG 1 Alinhar Atividades de Medição e Análise Informação – Avaliação de Processos). A partir daí, o MPS.BR
SP 1.1 Estabelecer Objetivos de Medição passa a ser também amplamente adotado pelas organizações
SP 1.2 Especificar Medidas brasileiras.
SP 1.3 Especificar Procedimentos de Coleta e Armazena- Portanto, esse é o cenário de valorização da qualidade no
mento de Brasil, que vem sendo ampliado a cada ano. Organizações
Dados compradoras de software, tanto públicas quanto privadas, têm
SP 1.4 Especificar Procedimento de Análise demandado cada vez mais certificações de qualidade das suas
empresas fornecedoras. Assim, não ser capaz de comprovar
SG 2 Fornecer Resultados de Medição sua própria qualidade é uma grande perda competitiva para
SP 2.1 Coletar Dados Resultantes de Medição qualquer empresa de software. Neste sentido, o nível 2 do
SP 2.2 Analisar Dados Resultantes de Medição CMMI fornece um excelente processo de qualidade, através
SP 2.3 Armazenar Dados e Resultados de sua área de processo Garantia da Qualidade de Processo
SP 2.4 Comunicar Resultados e Produto.
De acordo com o CMMI, o objetivo dessa área é “fornecer visi-
As práticas SP 1.1 a SP 1.4 são referentes à especificação do bilidade para a equipe e gerência sobre os processos e produtos
modelo de medição da organização. Este modelo deverá ser de trabalho associados”. Ou seja, o foco desta área é na garantia
composto de medidas (ou métricas), que devem ser especifi- interna da qualidade, que irá refletir-se consequentemente na
cadas de acordo com os objetivos estratégicos da organização. percepção da qualidade pelos clientes.
Por exemplo, uma medida do tipo “Quantidade de versões Vejamos as práticas específicas desta área:
intermediárias geradas” pode não significar nada caso a or- SG 1 Avaliar Objetivamente Processos e Produtos de
ganização só se interesse pelas versões finais. Trabalho
A especificação das medidas deverá ir além de seu nome e SP 1.1 Avaliar Objetivamente os Processos
descrição. Deverá conter detalhes sobre a forma de coletá-las, SP 1.2 Avaliar Objetivamente Produtos de Trabalho
onde encontrar os seus dados e onde armazenar o resultado
final da medição, além de valores de referência para o que SG 2 Fornecer Visibilidade
está sendo medido. Se nos depararmos com uma medição de SP 2.1 Comu n ica r e Asseg u ra r a Solução de Não
20 horas, coletada para a métrica “Número de horas médio de Conformidades
especificação em projetos”, não saberemos muito bem se este SP 2.2 Estabelecer Registros
valor é bom ou ruim se não tivermos um valor de referência
especificado para ele. Da mesma forma, esse valor poderá ser A prática SP 1.1 trata da avaliação objetiva dos processos. Es-
visto como muito bom para uma organização que estabeleceu tão presentes aí dois conceitos importantes. Primeiro, o termo
como referência o valor de 40 horas e um tanto preocupante “avaliação objetiva”. Objetividade em avaliações de qualidade
para outra que estabeleceu o valor de 15 horas. Portanto, não significa que critérios devem ser claramente definidos, para
existem medidas certas ou erradas, nem valores bons ou ruins, que as avaliações não se tornem subjetivas, prejudicando o
tudo depende das especificações e dos objetivos estratégicos objetivo maior, que é fornecer a visibilidade sobre os processos
da organização que especifica tais medidas. e produtos de trabalho. Segundo, trata-se de uma avaliação de
As demais práticas, SP 2.1 a SP 2.4, tratam da execução do processos. Isso significa “avaliar objetivamente os processos
modelo de medições especificado. O CMMI propõe o ciclo selecionados em relação às descrições de processo, padrões e
básico de medições: coletar, analisar, armazenar e comunicar. procedimentos aplicáveis”, segundo o CMMI. As organizações
Dificilmente um processo de medições executará um ciclo que ainda estão se iniciando na implantação de processos de
muito diferente desse. qualidade podem dar-se por satisfeitas em avaliar apenas
processos, esquecendo-se ou ignorando o conceito de avaliação
Garantia da Qualidade de Processo e Produto de produtos, que veremos na prática seguinte.
O termo “qualidade” passou a ser muito referenciado no A prática SP 1.2 complementa a SP 1.1 fornecendo orientações
Brasil a partir da década de noventa, com a popularização para a avaliação de produtos de trabalho. Um produto de
da norma ISO 9001 e sua adoção por praticamente todos os trabalho é tudo aquilo que é produzido pelas atividades de
setores da indústria brasileira, incluindo o setor de softwa- um processo. Portanto, abrange toda a documentação gerada,
re. Pouco depois, o CMMI começa a ser considerado como tanto de projeto quanto de requisitos, arquitetura, testes, etc.
modelo de referência de qualidade de processos, até atingir E este é o ponto chave: os produtos são mais visíveis para os
a ampla adoção atual nas empresas de software brasileiras. clientes do que o processo. Por isso, essa prática não pode
Nesse meio tempo, surge o MPS.BR (Melhoria de Processo do ser ignorada nem praticada superficialmente. Obviamente, a
Software Brasileiro), um modelo nacional alternativo ao CMMI garantia do processo não possui menor importância, pois é
e plenamente compatível com ele, e também com as normas o processo que gera os produtos. O que pretendemos alertar
ISO 12207 (Engenharia de Software e Sistemas – Processos aqui é a boa prática de conduzir estes dois tipos de avaliação
de Ciclo de Vida de Software) e ISO 15504 (Tecnologia da paralelamente.

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Através das práticas SP 2.1 e SP 2.2, a área de qualidade de • Aumento da visibilidade de seus processos de software e na
uma organização reporta os achados da qualidade, ou seja, as percepção de qualidade por parte de seus clientes;
chamadas não-conformidades, para os interessados, que são • Ampliação de sua capacidade de concorrência, com a adoção
os gerentes de projeto e suas equipes e os níveis superiores de um modelo referência de mercado;
de gestão. Além disso, garantem que as não-conformidades • Estabelecimento de um processo gerenciado e visível, prepa-
sejam resolvidas. Para atingir esse objetivo, é necessária a rando a organização para alçar patamares maiores de maturi-
geração de relatórios claros e detalhados sobre o estado dos dade, com a adoção dos próximos níveis do CMMI.
processos e produtos de trabalho. Estes relatórios devem
ser divulgados para todos os interessados. Além disso, não- Nos próximos artigos, continuaremos a analisar os níveis do
conformidades que não são resolvidas no prazo estabelecido CMMI, dando destaque ao nível 3 e sua capacidade de tornar
devem ser escalonadas para os níveis superiores de gestão, o processo organizacional definido.
para que sejam sanadas.
Links
Gestão de Contrato com Fornecedores Site oficial do CMMI
Neste artigo, não abordaremos esta área de processo pois http://www.sei.cmu.edu/cmmi/index.cfm
desejamos explorá-la detalhadamente em um próximo ar-
Documentação oficial do CMMI-DEV, v. 1.3
tigo, dada a sua importância no cenário atual do mercado http://www.sei.cmu.edu/reports/10tr033.pdf
brasileiro.
Site oficial do MPS.BR
http://www.softex.br/mpsbr/_home/default.asp
Conclusão
Neste artigo fornecemos uma visão geral sobre o modelo PMBOK Guide no site do PMI
CMMI, seus principais conceitos e sua estrutura em níveis http://www.pmi.org/PMBOK-Guide-and-Standards.aspx
de maturidade. Analisamos mais detalhadamente o nível 2,
Link para o artigo “No Silver Bullet: Essence and Accidents of Software Engineering”
cujo foco é fornecer um conjunto de áreas de processo, prá- http://www.cs.nott.ac.uk/~cah/G51ISS/Documents/NoSilverBullet.html
ticas específicas e genéricas que permitam às organizações
estabelecerem um processo gerenciado. Na visão deste artigo, Livro oficial do CMMI
CHRISSIS,M.B.; KONRAD,M.D.; SHRUM,S.CMMI for Development:Guidelines for Process Integration
a adoção do nível 2 do CMMI fornece às organizações as se- and Product Improvement, Third Edition. Addison-Wesley Professional, 2011. 688 p.
guintes vantagens:
• Utilização de um conjunto de áreas de processo que estabele-
Dê seu feedback sobre esta edição! Feedback
eu
cem os fundamentos essenciais para a produção de softwares

s

com a qualidade cada vez mais exigida pelo mercado; A Engenharia de Software Magazine tem que ser feita ao seu gosto.

sobre e
• Adoção de boas práticas consagradas no mercado mundial Para isso, precisamos saber o que você, leitor, acha da revista!

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de produção de software; Dê seu voto sobre este artigo, através do link:
• Redução dos problemas típicos na produção de software, as-
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sociados a organizações imaturas em processos de software;

Edição 47 - Engenharia de Software Magazine 45

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