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estrutura, componentes e abordagens, de modo a fornecer um e processo e terceirização, além do conceito de “constelações”

contexto claro para os níveis de maturidade 4 e 5 que serão na arquitetura do modelo, que permite a sua expansão para
mapeados neste artigo. outros focos, tais como aquisições e entrega de serviços.

Figura 7. #--) )NTEGRA¥ÎODOS-ODELOS#--

Figura 6. 0ROGRAMA3&ONTE2/#(!  Definição e objetivos do modelo


O CMMI (Capability Maturity Model Integration) é um mo-
delo de maturidade de melhoria de processos para desenvol-
Histórico do modelo vimento de produtos e serviços. (CMMI, 2006). Seu principal
Em 1991, o Software Engineering Institute (SEI), da Univer- propósito é fornecer diretrizes baseadas nas melhores práticas
sidade Carnegie Mellon (EUA), criou o SW-CMM (Capability voltadas para atividades de desenvolvimento e manutenção,
Maturity Model para Software) a partir de uma encomenda abrangendo todo o ciclo de vida do produto, desde a concepção,
feita pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos. desenvolvimento, aquisição até a entrega e manutenção. As
Esse modelo foi criado focando o processo de engenharia de abordagens do CMMI envolvem a avaliação da maturidade
software na proposta de melhoria contínua, trazendo discipli- da organização ou a capacitação das suas áreas de processo,
na e controle no desenvolvimento e manutenção do software o estabelecimento de prioridades e a implementação de ações
(BARTIÉ, 2002). Desta forma, passou a servir como uma das de melhorias (FERNANDES, 2008).
principais referências de modelo de qualidade para o mercado
de empresas de software. Estrutura do modelo
Com o passar do tempo, observou-se que variações aplicáveis Visão Geral
a outras disciplinas, tais como engenharia de sistemas, aquisi- O modelo possui duas abordagens: contínua e por estágios,
ção de software, gestão e desenvolvimento de mão-de-obra e permitindo à organização optar pela mais adequada a seu
desenvolvimento integrado de produtos e processos, surgiram contexto. Atendendo a requisitos de “componentização”,
de acordo com as diferentes necessidades das organizações. a versão 1.2 do CMMI apresenta tais abordagens reuni-
Como cada um destes modelos possuía a sua própria arqui- das em um mesmo documento, dentro do escopo de cada
tetura e abordagem de implementação, a sua utilização por constelação.
organizações que possuíam processos integrados envolvendo Uma constelação é uma coleção de componentes do CMMI
várias destas disciplinas tornou-se difícil devido aos altos que compreende um modelo, seus materiais de treinamento
custos de treinamento, avaliação e ações de melhoria. e documentos relacionados à avaliação para uma área de in-
Diante deste cenário, o CMMI (Capability Maturity Model teresse. “Adições” podem ser usadas para expandir constela-
Integration) foi criado pelo SEI em 2002 como um modelo evo- ções com conteúdos específicos adicionais. Atualmente, três
lutivo em relação aos vários CMMs, com o objetivo de combinar constelações são suportadas pela versão 1.2 do CMMI:
as suas várias disciplinas em uma estrutura única, flexível e • CMMI for Development (CMMI-DEV) – fornece diretivas
componentizada (Figura 7), que pudesse ser utilizada de forma para monitoração, medição e gerenciamento de processos de
integrada por organizações que demandavam processos de desenvolvimento. Pode ser estendido através da adição para o
melhoria em âmbito corporativo (FERNANDES, 2008). Desenvolvimento Integrado de Produto e Processo (IPPD);
A versão 1.2 do CMMI foi publicada pelo SEI em agosto de • CMMI for Services (CMMI-SVC) – fornece diretivas para
2006, trazendo um conjunto de melhorias e simplificações em entrega de serviços dentro das organizações e para clientes
relação à versão anterior. Com o documento CMMI for Deve- externos;
lopment (CMMI para Desenvolvimento), houve a unificação • CMMI for Acquisition (CMMI-ACQ) – fornece diretivas
do tratamento das disciplinas de engenharia de software, en- para suporte às decisões relacionadas à aquisição de produtos
genharia de sistemas, desenvolvimento integrado de produto e serviços.

12 Engenharia de Software Magazine - Seis Sigma e CMMI


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Componentes do Modelo - Áreas de Processo Relacionadas: lista referências a áreas de


Os componentes do modelo se agrupam em três categorias processo relacionadas e reflete as relações de alto nível entre
que indicam como interpretá-los: as áreas de processo.
• Componentes requeridos: descreve o que uma organização
deve realizar para satisfazer uma área de processo. Devem • Metas Específicas: são metas relacionadas a uma deter-
ser visivelmente implementados nos processos de uma orga- minada área de processo, que descrevem o que deve ser
nização. Os componentes requeridos no CMMI são as metas realizado para assegurar que esta esteja definitivamente
específicas e as metas genéricas. A satisfação das metas é implementada;
utilizada em avaliações como base para determinar se uma • Metas Genéricas: se denominam “genéricas” porque a mes-
área de processo foi realizada e satisfeita; ma declaração da meta se aplica a múltiplas áreas de processo.
• Componentes esperados: descreve o que uma organização Descreve as características que devem estar presentes para
pode implementar para realizar um componente requerido. institucionalizar os processos que implementam uma área
Orientam os que implementam melhorias ou executam ava- de processo;
liações. Incluem as práticas específicas e as práticas genéricas. • Práticas Específicas: descreve as atividades consideradas
Antes que os objetivos possam ser considerados satisfeitos, as importantes para alcançar uma meta específica associada.
práticas tal como descritas ou práticas aceitáveis alternativas Subcomponentes informativos:
a elas, deverão estar presentes nos processos planejados e - Produtos de Trabalho Típicos: lista exemplos de resultados
implementados da organização; de uma prática específica.
• Componentes informativos: proporciona detalhes que aju- - Subpráticas: descrições detalhadas que proporcionam uma
dam as organizações a começar a pensar em como se aproximar orientação para interpretar e implantar uma prática específica
dos componentes requeridos e esperados. As sub-práticas, os ou genérica.
produtos de trabalho típicos, ampliações, a elaboração das
práticas genéricas, os títulos de metas e práticas, as anotações • Práticas Genéricas: se denominam “genéricas” porque a
de metas e práticas, e as referências são exemplos de compo- mesma prática se aplica a múltiplas áreas de processo. Descreve
nentes informativos do modelo. as atividades consideradas importantes para alcançar uma
meta genérica associada.
A Figura 8 representa esquematicamente os componentes Subcomponentes informativos:
e seus relacionamentos. A descrição de cada componente é - Elaboração de Práticas Genéricas: proporciona um guia
feita em seguida. sobre como a prática genérica deveria aplicar-se de forma
exclusiva à área de processo.

• Componentes Informativos de Suporte: informação adicio-


nal necessária para descrever um conceito. São eles:
- Notas: pode proporcionar detalhes, fundamentação teórica
ou premissas/restrições relacionadas ao componente;
- Exemplos: texto ou lista provendo um ou mais exemplos
para esclarecer um conceito ou atividade descrita;
- Ampliações: nota ou exemplo relevante para uma disciplina
particular. As disciplinas cobertas neste modelo são Engenha-
ria de Hardware, Engenharia de Sistemas e Engenharia de
Software. Cada amplificação é rotulada com um cabeçalho
que indica à qual disciplina se aplica;
- Referências: indicação para informação adicional ou mais
detalhada em áreas de processo relacionadas.

Figura 8. #OMPONENTESDA%STRUTURADO#--)&ONTE!DAPTA¥ÎO Abordagens de Implementação


#--)  Como mencionado anteriormente, o CMMI possui duas abor-
dagens. Para desenvolvimento deste artigo, utilizamos como base
• Áreas de Processo: é um grupo de práticas relacionadas que, a abordagem de implantação por estágios, devido à sua grande
quando implementadas coletivamente, satisfazem um grupo de aderência no mercado e maior proximidade com os demais mo-
objetivos considerados importantes para uma determinada área. delos CMMI que também utilizam níveis de maturidade para
Subcomponentes informativos: mensurar a qualidade dos processos organizacionais. Dessa
- Objetivo: descreve a finalidade da área de processo; maneira, daremos a esta representação um foco especial.
- Notas introdutórias: descreve os principais conceitos com- Objetivamente, podemos descrever as abordagens da se-
preendidos pela área de processo; guinte maneira:

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• Abordagem contínua: permite que a organização selecione Níveis de Maturidade
uma área de processo (ou um grupo de áreas de processo) Para dar suporte àqueles que utilizam a abordagem por es-
e melhore os processos relacionados. Essa representação tágios, todos os modelos CMMI trazem níveis de maturidade
utiliza seis níveis de capacidade (numerados de 0 a 5) para em seu desenho e conteúdo (Figura 10).
caracterizar melhorias relativas a uma área de processo Um nível de maturidade pode ser considerado um degrau
individual; evolucionário para a melhoria do processo organizacional
• Abordagem por estágios: utiliza grupos pré-definidos de como um todo e consistem em práticas específicas e genéricas
áreas de processo (PAs) para definir um caminho de melho- que integram um conjunto predefinido de áreas de processo. O
ria para uma organização. Este caminho é caracterizado por cumprimento das metas específicas e genéricas correspondentes
cinco níveis de maturidade (numerados de 1 a 5). Cada nível a estas áreas de processo é um pré-requisito para o alcance do
de maturidade contém uma série de áreas de processo que nível de maturidade correspondente (FERNANDES, 2008).
caracteriza diferentes condutas organizacionais.

A Figura 9 ilustra a estrutura de ambas as abordagens evi-


denciando suas diferenças: níveis de capacidade x níveis de
maturidade.

Figura 10. .ÓVEISDE-ATURIDADEDO#--)&ONTE!DAPTA¥ÎO#)43 

A seguir são descritas as principais características de cada nível


de maturidade e as áreas de processo pertencentes aos mesmos.
Como o foco deste trabalho é relacionar as práticas do modelo
de qualidade Seis Sigma com os altos níveis de maturidade do
CMMI, os níveis 4 e 5 serão expostos de forma mais detalhada
nos próximos capítulos.
• Nível 1 – Inicial:
É o nível de maturidade mais baixo. Em geral, as organizações
desse nível têm processos imprevisíveis que são pobremente
controlados e reativos. Nesse nível de maturidade os processos
são normalmente “ad hoc” e caóticos. A organização geralmente
não fornece um ambiente estável.
Áreas de Processo: Não há.
Figura 9. %STRUTURASDASABORDAGENSCONTÓNUAEPORESTÉGIOS&ONTE
• Nível 2 – Gerenciado:
!DAPTA¥ÎO#--) 
Neste nível, o foco é o gerenciamento básico de projetos da or-
A Tabela 2 faz uma comparação entre os seis níveis de ca- ganização, proporcionando-lhes a garantia de que os requisitos
pacidade e os cinco de maturidade. Como se pode observar, o são gerenciados, planejados, executados, medidos e controlados.
ponto de início é diferente para as duas implementações, visto Quando essas práticas são adequadas, os projetos são executados
que não há nível 0 para a abordagem por estágios. e controlados de acordo com o planejado.
Áreas de Processo: Gestão de Requisitos (REQM), Planejamento
Níveis de Capacidade da Abordagem Níveis de Maturidade da do Projeto (PP), Controle e Monitoração do Projeto (PMC), Gestão
Nível
Contínua Abordagem por Estágios do Acordo com o Fornecedor (SAM), Medição e Análise (MA),
Nível 0 Incompleto --- Garantia da Qualidade de Processo e do Produto (PPQA) e Gestão
Nível 1 Executado Inicial da Configuração (CM).
• Nível 3 – Definido:
Nível 2 Gerenciado Gerenciado
Neste nível, processos são bem caracterizados, compreendidos e
Nível 3 Definido Definido
descritos em padrões, procedimentos, ferramentas e métodos. O
Nível 4 Gerenciado Quantitativamente Gerenciado Quantitativamente conjunto de processos padrão da organização, que é a base para
Nível 5 Otimizado Otimizado o nível 3 de maturidade, é estabelecido e melhorado ao longo do
Tabela 2.#OMPARA¥ÎODOSNÓVEISDECAPACIDADEEMATURIDADE&ONTE tempo. Esses processos padronizados são usados para estabelecer
!DAPTA¥ÎO#--)  consistência em toda a organização. Todos os projetos utilizam

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uma versão de um desses processos padrão adaptando-a às suas


características especificas.
Áreas de Processo: Desenvolvimento de Requisitos (RD), Solução
Técnica (TS), Integração do Produto (PI), Verificação (VER), Vali-
dação (VAL), Foco no Processo Organizacional (OPF), Definição
do Processo Organizacional (OPD), Treinamento Organizacional
(OT), Gestão Integrada do Projeto (IPM), Gestão de Riscos (RSKM),
Análise de Decisões e Resolução (DAR).

• Nível 4 – Gerenciado Quantitativamente:


A gestão quantitativa baseada em medições e indicadores cobre,
de forma integrada, todo o conjunto de processos organizacionais,
assim como os projetos e respectivos produtos, como instrumento
de suporte para o atendimento dos objetivos de desempenho de
processo e de qualidade. Os projetos e seus produtos assim como
o processo organizacional, são controlados estatisticamente.
Áreas de Processo:
- Desempenho do Processo Organizacional (OPP) – Tem por
objetivos: estabelecer e manter uma visão quantitativa do de- Figura 11. Os Níveis de Maturidade e suas Áreas de Processo
sempenho dos processos padrões, e prover modelos e baselines
de desempenho, visando melhorar a gestão dos projetos através Benefícios do Modelo
de métricas de processo e produto. A utilização do modelo CMMI inclui uma série de bene-
- Gestão Quantitativa do Projeto (QPM) – Tem por objetivo geren- fícios significativos e quantificáveis para a organização
ciar quantitativamente (através de métricas) o processo definido que o utiliza na melhoria de seus processos e podem ser
do projeto, visando o alcance dos objetivos preestabelecidos de categorizados e resumidos por: custo, prazo, produtivi-
desempenho de qualidade e processo. dade, qualidade, satisfação dos clientes e Retorno sobre o
Investimento (ROI – Return on Investment).
• Nível 5 – Otimizado: Em 2006, o SEI publicou um relatório técnico (Perfor-
Neste nível, os processos são continuamente aperfeiçoados com mance Results of CMMI - Based Process Improvement)
base em um entendimento quantitativo no qual a variação de um apresentando dados quantitativos de 35 organizações,
processo existe devido às interações, normais e presumidas, entre entre elas grandes empresas com mais de uma organiza-
seus componentes. Esse nível de maturidade tem como objetivo ção constituinte (SEI, 2006). Os esforços no processo de
a melhoria contínua do processo. melhoria dessas organizações incluem tanto pequenas
Áreas de Processo: como grandes unidades organizacionais que atuam em
- Inovação e Desenvolvimento Organizacional (OID) – Tem por uma variedade de setores e domínios do mercado. Foram
objetivo selecionar e implantar melhorias incrementais e inova- aplicadas as práticas do modelo CMMI para engenharia
ções nos processos e nas tecnologias que promovam, quantitati- de software, engenharia de sistemas, e outras disciplinas
vamente, o aumento da habilidade da organização para cumprir de engenharia. Enquanto a maioria dos resultados vem
os seus objetivos de desempenho de processos e qualidade. de organizações de maior maturidade, melhorias notáveis
- Análise e Resolução de Causas (CAR) – Tem por objetivo também foram alcançadas pelas organizações de menor
identificar causas de defeitos e outros problemas e tomar ações maturidade. Todas as organizações no relatório explici-
corretivas para prevenir a sua ocorrência futura. tamente atribuem suas realizações a orientação fornecida
pelo CMMI.
A Figura 11 representa de forma resumida, os níveis de maturi- A Tabela 3 resume a média percentual de melhorias nas
dade, seus principais focos e áreas de processo envolvidas. cinco categorias apresentadas.

Categoria Percentual Médio Exemplos


Custo Redução de 34% Redução dos custos de retrabalho, remoção de defeitos, overhead de projetos.
Prazo Melhoria de 50% Redução do número de dias de atraso de aproximadamente 50 para menos de 10.
Produtividade Aumento de 61% Aumento na quantidade de linhas de código por pessoa/dia, aumento do número de releases de software liberados por ano.
Qualidade Aumento de 48% Redução dos defeitos encontrados e das requisições de mudança no sistema em ambiente de produção.
Satisfação dos Clientes Aumento de 14% Aumento em 55% comparado ao SW-CMM nível 2 e 10% comparado ao nível 5.
Retorno sobre o Investimento 4,0 : 1 Retorno de 5:1 em relação às horas investidas em atividades de qualidade.

Tabela 3. "ENEFÓCIOS1UANTITATIVOSDA5TILIZA¥ÎODO#--)&ONTE!DAPTA¥ÎO3%) 

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