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Uma Visão Geral da Futura Norma ISO/IEC 15504 para

Avaliação de Processos de Software


Alessandra Anacleto1, Christiane Gresse von Wangenheim1, Clenio F. Salviano2 e
Rafael Savi1
1
Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) – Centro de Eduação São José
São José – SC – Brasil
2
Centro de Pesquisas Renato Archer (CenPRA)
Campinas – SP - Brasil
{ale,gresse,savi}@sj.univali.br, clenio.salviano@cenpra.com.br

Introdução
Hoje, o software tornou-se um dos componentes mais críticos de qualquer produto e serviço.
Todos os setores da nossa sociedade são afetados e influenciados pela introdução do software e
soluções baseadas em software. Com isso, muitas empresas de software estão enfrentando
problemas no que se refere à qualidade de seus produtos e ao cumprimento de prazos e
orçamentos. Portanto, identificar as áreas problemáticas e estabelecer ações sistemáticas de
melhoria são atividades vitais para o sucesso de uma empresa em longo prazo. Como a melhoria
da qualidade do produto final é tipicamente atingida pela melhoria do próprio processo produtivo,
a melhoria dos processos de software é um dos principais objetivos da indústria de software. A
partir do desafio de definir como melhorar o processo de software e disponibilizar meios para a
certificação da capacidade de processos de software foram definidos vários modelos, p.ex., a
série da Norma ISO 9000, CMM/CMMI1, TickIt, entre outros. Estes modelos definem o perfil
ideal de um processo, p.ex., o conjunto mínimo de requisitos que um processo deve satisfazer
para ser qualificado em um determinado nível. Entretanto, a avaliação dos efeitos produzidos por
esses modelos de avaliação é complicada, pois foram desenvolvidos para um tipo de produto
específico, principalmente, visando grandes empresas de software, ou para qualquer domínio,
complicando a sua adaptação ao setor de software. Outro problema é o grande número de
modelos disponíveis. Além disso, a falta de dados empíricos sobre os impactos dos modelos para
a qualidade do produto final, gerou muitas críticas e incertezas.
Futura Norma ISO/IEC 15504
Neste contexto, nos últimos anos, a ISO em conjunto com a comunidade internacional através do
projeto SPICE (Software Process Improvement and Capability dEtermination) e no Brasil
representado pelo Grupo de Estudos da ABNT CB-21/SC-10: Subcomitê de Software CE-
21:1001.4: Avaliação dos Processos de Software, vem desenvolvendo um modelo único, mais
abrangente que os modelos existentes, como o CMM, e mais específico que a Norma ISO 9001.
A futura Norma ISO/IEC 15504 [ISO 2003] presta-se à realização de avaliações dos processos
de software com dois objetivos:
· melhoria dos processos: gerando um perfil dos processos, identificando os pontos fracos e
fortes, que serão utilizados para a elaboração de um plano de melhorias;

1
Atualmente, o modelo CMM está sendo substituído pelo CMMI, o qual é disponibilizado em duas
versões: CMMI-em estágio, basicamente uma evolução do CMM e CMMI-contínuo, que é conforme à
ISO 15504 [SEI 2003].
· determinação da capacidade dos processos: viabilizando a avaliação de um fornecedor em
potencial, obtendo o seu perfil de capacidade.
Este modelo pode ser utilizado tanto por contratantes/compradores para determinar a capacidade
dos processos de software de um fornecedor, quanto por um fornecedor para determinar a
capacidade dos próprios processos e/ou identificar oportunidades e prioridades para melhoria dos
processos de software. A ISO/IEC 15504 oferece uma abordagem de avaliação padronizada,
provendo uma base comum para a descrição dos resultados de uma avaliação e permite a
comparação (até um certo nível) de avaliações baseadas em modelos e métodos diferentes, mas
compatíveis. Atualmente, esta futura norma está publicada como um relatório técnico da
ISO/IEC com previsão de ser publicada como norma ainda em 2003.
Como funciona a ISO/IEC 15504?
A ISO/IEC 15504 define um modelo bidimensional que descreve os processos e os níveis de
capacidade utilizados em um processo de avaliação:
• a dimensão de processos define os processos a serem avaliados;
• a dimensão de capacidade define um modelo de medição que permite determinar a
capacidade de um processo para atingir os seus propósitos gerando os resultados.
A dimensão de processo é fornecida por um modelo de referência de processo externo, que define
um conjunto universal de processos fundamentais. Este modelo de referência deve ser detalhado
em um modelo de avaliação de processo, para ser utilizado em uma avaliação. Atualmente, um
modelo de referência de processo no domínio de software é a ISO 12207 Amd., e um modelo de
avaliação, baseado na ISO/IEC 12207 é o definido na ISO/IEC 15504-5. Neste modelo
apresentado pela 15504, 48 processos são agrupados em cinco categorias de acordo com o tipo
de atividade que executam: Cliente-Fornecedor, Engenharia, Suporte, Gerência, e Organização.
Desta forma a 15504 possibilita a seleção de um subconjunto de processos chave da organização
direcionando a avaliação às características e necessidades específicas de uma empresa. No
modelo de referência, cada processo é descrito basicamente pelo propósito e características que
indiquem uma implementação do processo com sucesso, incluindo práticas bases e possíveis
produtos de entrada e saída.
A segunda dimensão, de capacidade dos processos, contém nove atributos de processo que são
agrupados em seis níveis de capacidade, os quais definem uma escala ordinal de capacidade que
são aplicáveis em todos os processos selecionados (vide Figura 1-a).
Figura
5 1-b: Exemplo de perfil dos processos:
fornecimento, ger. de projetos, construção de
4
sw e suporte.
3

0
Fornecimento Gerência de Construção de Suporte
projetos SW

Figura 1-a: Dimensão de capacidade X dimensão de


processo

Esta escala de capacidade representa a evolução da capacidade do processo implementado, desde


o não alcance do propósito do processo até o nível de otimização contínua. A 15504 define um
framework de medição, o qual fornece um esquema para a caracterização da capacidade de um
processo com respeito aos nove atributos de processo. Cada atributo define um aspecto particular
da capacidade do processo. Assim, durante a avaliação é observado qual o grau de atendimento a
cada atributo de processo para definição do nível de capacidade. O resultado de uma avaliação
inclui o conjunto de perfis de processo para todos os processos avaliados (vide Figura 1-b).
Como fazer uma avaliação em uma empresa?
Para executar uma avaliação, uma organização deve escolher um avaliador capacitado, um
modelo de processo compatível e um processo de avaliação. Entre outras decisões, também deve
ser selecionado um subconjunto de processos e seus respectivos níveis de capacidade, alinhado
com os objetivos de negócio da empresa. Dentro do contexto da melhoria de processos, a
avaliação significa a caracterização das práticas correntes de uma unidade organizacional em
termos da capacidade dos processos selecionados. A análise dos resultados é feita em relação às
necessidades de negócio da organização, identificando os aspectos positivos e negativos, e os
riscos associados aos processos. Isto leva a determinar se os processos estão atingindo
efetivamente seus objetivos e a identificar causas da baixa qualidade, alto custo ou tempo
excessivo, indicando a priorização na melhoria dos processos.
Comparação da ISO/IEC 15504 com outros modelos de avaliação de processos
A 15504 define um modelo de avaliação de processos de software e baseia-se nas melhores
características de vários modelos de processos existentes, tais como: CMM, Trillium e Bootstrap,
além das Normas ISO 9001/9000-3 e ISO/IEC 12207. Cada um destes modelos pode ser
considerado compatível com esta futura norma. Com isso, percebe-se uma das grandes vantagens
da futura Norma ISO/IEC 15504 que é a integração dos padrões já existentes, além disso, a
futura norma tem se mostrado mais flexível e mais facilmente adaptável às características e
necessidades de uma empresa específica.

CMM/ CMMI-contínuo ISO 9000 ISO 15504


CMMI-em estágio
Aplicabilidade Desenvolvimento de Desenvolvimento de Genérica Genérica (embora
Software Software tenha foco principal
no desenvolvimento
de software)
Norma Não Não Sim A ser publicada em
2003
Estrutura/ Em estágio/por Em estágio/por Absoluta/por unidade Em estágio/por
Flexibilidade unidade processo organizacional processo
organizacional
Foco Aspectos técnicos e de Aspectos técnicos e de Habilidade de controle Aspectos técnicos e de
engenharia, gerência engenharia, gerência e garantia da engenharia,
de projetos de projetos qualidade dos gerenciamento e
produtos/serviços organizacionais
Órgão de SEI – Software SEI – Software ISO Projeto SPICE / ISO
desenvolvimento Engineering Institute Engineering Institute
Projeto de Pesquisa: 15504MPE
Como qualquer empresa, também as micro e pequenas empresas (MPEs)2 de software têm
problemas com o seu processo de desenvolvimento o que prejudica a sua competitividade e
produtividade, comprometendo o seu desenvolvimento, a qualidade de seus produtos e até mesmo
sua sobrevivência. Este é um grande problema da atualidade no setor de software do Brasil, já
que as MPEs têm se destacado no cenário nacional nas últimas décadas somando
aproximadamente 70% do setor de informática brasileiro [MCT01]. Em se tratando da melhoria
de processos de software, estas empresas enfrentam ainda mais problemas. Isso porque, em geral,
estas empresas apresentam uma certa deficiência organizacional e administrativa devido à
informalidade de seus processos e à escassez de recursos, tanto financeiros como humanos,
passíveis de serem aplicados na área de gestão organizacional e organização do processo de
produção de software. Além disso, os modelos de avaliação de processos foram desenvolvidos
com foco principal em grandes empresas. Podemos observar que só 7% das MPEs brasileiras de
software foram certificadas (ISO 9001, ISO 9002, ou CMM) em 1999. Com isso, o problema
principal é a falta de uma norma ou modelo que viabilize a avaliação e a melhoria dos processos
de software com foco específico nas necessidades e características de MPEs, exigindo um
esforço, tempo e experiência reduzidos.
Visando viabilizar a aplicação da futura norma ISO/IEC 15504 também em MPEs de software
brasileiras, está sendo desenvolvida uma metodologia de avaliação de processos, adaptada para o
contexto de MPEs de software, no projeto de pesquisa 15504MPE3 [LQPS 2003], pelo LQPS-
UNIVALI em parceria com o CenPRA e o Centro GeNESS. Neste contexto está sendo
desenvolvido um método que adapta a 15504 às características e limitações específicas de MPEs
de software. Permitindo assim, a consolidação de uma base para a melhoria da qualidade e
produtividade dos processos de software em MPEs brasileiras, visando atingir padrões
internacionais de qualidade e produtividade e vantagens competitivas nos mercados internos e
externos.
O projeto 15504MPE iniciou em Fevereiro de 2003 com duração prevista para dois anos. Nesta
primeira fase foram realizados 4 estudos de casos iniciais, em que a 15504 foi aplicada em MPEs
na Grande Florianópolis, com o objetivo de ganhar experiências práticas sobre avaliação de
processos com a 15504 neste tipo de empresas. Com base nestas avaliações, já se iniciou o
desenvolvimento de um método para avaliação de processos em MPEs de software. Estão
previstos novos estudos de casos em MPEs para o fim do ano 2003, quando será conduzida uma
primeira validação do método em desenvolvimento. Para a realização destes estudos estamos
procurando parceiros continuamente. Então, se a sua empresa é uma micro ou pequena empresa
de software e você tem interesse em participar na aplicação da 15504, entre em contato conosco.
(http://www.grupoqs.geness.ufsc.br/convite_empresas_spice.php)
O projeto é coordenado pelo Laboratório de Qualidade e Produtividade de Software (LQPS)
(http://lqps.sj.univali.br), da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), que vem atuando na
adaptação de técnicas inovadoras nas áreas de melhoria de processos, gerência de projetos,
modelagem de processos, medição e gestão de conhecimento para MPEs de software desde 2001.
Desde o início, o LQPS coopera com o grupo de Qualidade de Software (grupoQS)
(http://www.grupoqs.geness.ufsc.br) da incubadora Centro GeNESS, a qual foi criada em 1998

2
De acordo com a Pesquisa Nacional de Qualidade e Produtividade no Setor de Software Brasileiro
[MCT 2001], são consideradas micro empresas as que têm numa faixa de 1 a 9 empregados e pequenas
empresas de 10 a 49 empregados.
3
O projeto de pesquisa está sendo realizado com o apoio do CNPq, uma entidade do Governo Brasileiro
voltada ao desenvolvimento científico e tecnológico.
como pré-incubadora de empresas de software e serviços em informática no Programa
SOFTEX/Genesis envolvendo alunos da UFSC e da UNIVALI. No início de 2003, o LQPS,
começou uma parceria com o Centro de Pesquisas Renato Archer (CenPRA)
(http://www.cenpra.gov.br), instituição do Ministério da Ciência e Tecnologia, que atua há 20
anos junto à comunidade realizando uma variada gama de atividades tecnológicas, incluindo na
área de Melhoria de Processos de Software para o desenvolvimento deste projeto.

Referências:
International Organization for Standardization (2003), ISO/IEC 15504: Information Technology – Process
Assessment, Part 1 to Part 5, ISO/IEC International Standard, 2003-2005 (em desenvolvimento)
Laboratório de Qualidade e Produtividade de Software (2003) “Metodologia para Avaliação e Melhoria da
Qualidade dos Processos de Software de Micro e Pequenas Empresas Baseada na Futura Norma ISO/IEC 15504
(SPICE)”. http://lqps.sj.univali.br/subpaginas/projetos/15504MPE/15504MPE.htm
Ministério de Ciência e Tecnologia (2001) “Pesquisa Nacional de Qualidade e Produtividade no Setor de Software
Brasileiro”, Brasil, 2001.
Software Engineering Institute (2003) “Capability Maturity Modelo for Software – SW-CMM”.
http://www.sei.cmu.edu/cmm

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