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Aula 05
Aula 05
MÓDULO 1 – AULA 5
Objetivos
• Aprender a calcular as derivadas parciais de funções de várias variáveis.
Introdução
Ao longo das quatro últimas aulas você aprendeu os conceitos básicos da
teoria das funções de várias variáveis, incluindo o conceito de continuidade.
Nesta aula, iniciaremos uma nova etapa, o estudo das noções de di-
ferenciabilidade das funções de várias variáveis. Na verdade, esse assunto
ocupará todas as nossas aulas, de agora em diante.
As derivadas parciais desempenham um papel relevante nesse contexto,
especialmente do ponto de vista prático; porém, como veremos um pouco
mais adiante, não completamente decisivo. Mas estamos antecipando demais
nossa história. Tudo a seu tempo.
Seguindo a prática já rotineira, estabeleceremos os conceitos para os
casos das funções de duas e de três variáveis, observando que eles podem ser
estendidos para funções com mais variáveis.
Antes de atacarmos o nosso tema principal, no entanto, precisamos de
um novo conceito sobre conjuntos.
Conjuntos abertos
Essa noção caracterizará os domı́nios das funções que estudaremos de
agora em diante.
Intuitivamente, podemos dizer que um subconjunto do plano lR 2 ou do
espaço lR 3 é aberto se for um conjunto sem fronteiras ou bordos. Exemplos
tı́picos são
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Derivadas parciais
Exemplo 5.1
Seja H = { (x, y) ∈ lR 2 ; y ≥ 1 }. O ponto (1, 2) é um ponto interior
de H, pois o disco aberto de centro em (1, 2) e raio 1/2, por exemplo, está
contido em H. Já o ponto (2, 1) ∈ H não é ponto interior de H, pois qualquer
disco que tomarmos, com centro em (2, 1), conterá pontos do tipo (2, b), com
b < 1 e, portanto, pontos que não pertencem a H. Em outras palavras, (2, 1)
pertence a H mas não está envolvido por pontos de H. Veja a ilustração
a seguir.
1 2
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Derivadas parciais
MÓDULO 1 – AULA 5
Conjunto aberto
Exemplo 5.2
A1 = { (x, y) ∈ lR 2 ; y > 1 };
A2 = { (x, y) ∈ lR 2 ; x ̸= y };
A3 = { (x, y) ∈ lR 2 ; 0 < x < 1, 0 < y < 1 };
A4 = { (x, y) ∈ lR 2 ; (x, y) ̸= (1, 2) }.
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Derivadas parciais
Derivadas parciais
Seja f : A ⊂ lR 2 → lR uma função tal que A é um subconjunto aberto
de lR 2 , e seja (a, b) ∈ A. Então, existe um certo número r > 0, tal que, se
x ∈ (a − r, a + r), então f (x, b) está bem definida.
Assim, z = f (x, b), com x ∈ (a−r, a+r), é uma função de uma variável
O sı́mbolo ∂ é chamado e podemos, portanto, considerar a existência da derivada de tal função em
derronde, que é uma
x = a. Isto é, considere
corruptela do francês de
rond que quer dizer dê f (x, b) − f (a, b) f (a + h, b) − f (a, b)
redondo. Isso se deveu ao
lim = lim .
x→a x−a h→0 h
fato de os franceses, na
época da Revolução Se esse limite for um número real, ele será chamado derivada parcial de
Francesa, adotarem essa
forma especial de escrever a
f em relação a x, no ponto (a, b). Nesse caso, usamos as seguintes notações
letra d. Esse sı́mbolo é para representá-lo:
particularmente útil para
∂f ∂z
diferenciar a derivada parcial (a, b) = (a, b) = fx (a, b).
de uma função de várias ∂x ∂x
variáveis, em relação a
“ ∂f ” Analogamente, podemos considerar a derivada parcial de f em relação
alguma delas , da
∂x a y no ponto (a, b). Nesse caso, tomamos
derivada de uma função de
“ df ”
uma variável
dx
. f (a, y) − f (a, b) f (a, b + h) − f (a, b)
lim = lim ,
y→b y−b h→0 h
e, caso o limite seja um número, denotamos por
∂f ∂z
(a, b) = (a, b) = fy (a, b).
∂y ∂y
Exemplo 5.3
Vamos calcular a derivada parcial da função f (x, y) = sen xy, em
relação a x, no ponto (a, b).
∂f f (a + h, b) − f (a, b)
(a, b) = lim =
∂x h→0 h
sen (a + h)b − sen ab
= lim =
h→0 h
sen ab cos hb + cos ab sen hb − sen ab
= lim =
h→0 h
sen ah (cos hb − 1) + sen hb cos ab
= lim .
h→0 h
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Derivadas parciais
MÓDULO 1 – AULA 5
cos hb − 1 sen hb
Observe que lim = 0 e lim = b. Assim,
h→0 h h→0 h
∂f ! sen ah (cos hb − 1) sen hb "
(a, b) = lim + cos ab =
∂x h→0 h h
= b cos ab.
∂f
(x, y) = y cos xy.
∂x
∂f ∂f
As funções ,
∂x ∂y
Seja z = f (x, y) uma função definida num subconjunto aberto A de lR 2 .
Suponha que f admita derivadas parciais, em relação a x e a y, em todos os
∂f
pontos (x, y) ∈ A. Nesse caso, obtemos duas funções, denotadas por e
∂x
∂f ∂z ∂z
, definidas em A. As notações e também são muito usadas para
∂y ∂x ∂y
representar essas funções.
∂w ∂w ∂w
De maneira análoga, se w = g(x, y, z), usamos , e para
∂x ∂y ∂z
denotar as respectivas funções obtidas pela derivação parcial, no caso das
funções de três variáveis.
Exemplo 5.4
Seja
f (x, y, z) = xy 2 + z sen xyz.
∂f ∂f ∂f
Esta função está definida no espaço lR 3 . Vamos calcular , e .
∂x ∂y ∂z
Isto é, queremos calcular as derivadas parciais de f . Podemos fazer isso di-
retamente, usando as regras de derivação aprendidas no Cálculo I. Basta que
derivemos em relação à variável indicada, considerando as outras variáveis
como constantes.
∂f
(x, y, z) = y 2 + yz 2 cos xyz.
∂x
Veja que usamos a Regra da Cadeia na segunda parcela.
∂f
(x, y, z) = 2xy + xz 2 cos xyz.
∂y
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Derivadas parciais
∂f
(x, y, z) = sen xyz + xyz cos xyz.
∂z
No caso da derivada em relação a z, a derivada da primeira parcela
é nula, pois é constante em relação a z. A derivada da segunda parcela é
calculada com a Regra do Produto de duas funções: z × sen xyz.
Exercı́cio 1
∂f ∂f
Calcule (x, y) e (1, −1), onde f (x, y) = 3x sen (x + y).
∂x ∂y
Há situações em que o cálculo da derivada parcial requer a definição.
Veja mais um exemplo.
Exemplo 5.5
⎧ ' (
⎪
⎪ 1
⎪
⎪ 2 2
(x, y) ̸= (0, 0)
⎨ (x + y ) sen x2 + y 2 , se
Seja f (x, y) = .
⎪
⎪
⎪
⎪
⎩ 0, se (x, y) = (0, 0)
∂f ∂f
Vamos verificar que (0, 0) = 0 e (0, 0) = 0.
∂x ∂y
Note que a função não se altera se trocarmos a ordem das variáveis:
) *
f (x, y) = f (y, x) . Isso significa que, caso a função admita alguma das
derivadas parciais em (0, 0), a primeira igualdade já estará estabelecida. Por-
tanto, basta calcular, digamos,
∂f f (h, 0) − f (0, 0)
(0, 0) = lim =
∂x h→0
'h (
1
h2 sen −0 ' (
h2 1
= lim = lim h sen = 0,
h→0 h h→0 h2
' (
1
pois lim h = 0 e a função g(x) = sen , definida em lR − { 0 },
h→0 x2
é limitada.
∂f ∂f
Concluı́mos, então, que (0, 0) = 0 e (0, 0) = 0.
∂x ∂y
Exemplo 5.6
⎧
⎪
⎪ x3 + 2y 2
⎪
⎨ x2 + y 2 , se (x, y) ̸= (0, 0)
Seja f (x, y) = .
⎪
⎪
⎪
⎩ 0, se (x, y) = (0, 0)
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Derivadas parciais
MÓDULO 1 – AULA 5
∂f
Esse exemplo nos reserva uma surpresa. Vamos calcular (0, 0).
∂x
∂f f (h, 0) − f (0, 0)
(0, 0) = lim =
∂x h→0 h
h3
2
−0
= lim h = lim 1 = 1.
h→0 h h→0
No entanto,
∂f f (0, h) − f (0, 0)
(0, 0) = lim =
∂y h→0 h
3h2
2
−0 2
= lim h = lim .
h→0 h h→0 h
2
Como a função g(x) = , definida em lR − { 0 }, não admite limite
x
quando x → 0, dizemos que a função f não admite derivada parcial em
relação a y no ponto (0, 0).
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Derivadas parciais
x
x y
Chegamos ao fim da aula. Aqui está uma série de exercı́cios para você
colocar em prática os conceitos e técnicas que aprendeu.
Exercı́cios
Exercı́cio 1
∂f ∂f
Calcule (x, y) e (1, −1), onde f (x, y) = 3x sen (x + y).
∂x ∂y
Solução:
∂f
(x, y) = 3 sen (x + y) + 3x cos(x + y).
∂x
∂f ∂f
(x, y) = 3x cos(x + y) =⇒ (1, −1) = 3.
∂y ∂y
Exercı́cio 2
Em cada um dos seguintes exercı́cios, calcule a derivada parcial indi-
cada.
∂f ∂f
a) f (x, y) = 2xy + y 2 ; (x, y), (x, y).
∂x ∂y
∂f ∂f ∂f
b) f (x, y, z) = 2xy(1 − 3xz)2 ; , , .
∂x ∂y ∂z
+x, ∂z ∂z
c) z = x ln ; , .
y ∂x ∂y
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Derivadas parciais
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-
d) x = 1 + x2 + y 2 + z 2 ; wx , wz , wy (0, 0, 0).
∂f
e) f (u, v) = uv − u2 + v 2 ; , fv (0, −1).
∂u
∂g ∂g
f) g(r, θ) = r cos θ + r sen θ; , .
∂r ∂θ
y ∂z ∂z
g) z = arctg ; , .
x ∂x ∂y
∂f ∂f ∂f
h) f (x, y, z) = (x + y) ex−y+2z ; , , .
∂x ∂y ∂z
∂f ∂f
i) f (u, v) = u2 arcsen v; , .
∂u ∂v
Exercı́cio 3
-
Seja f (x, y) = ln x2 + y 2 .
a) Mostre que Dom(f ) é um conjunto aberto.
b) Determine a curva de nı́vel 0.
∂f ∂f
c) Verifique que x +y = 1.
∂x ∂y
Exercı́cio 4
y
Seja f (x, y, z) = . Verifique que
x2 + y2 + z2
x fx + y fy + z fz = −f.
Exercı́cio 5 ⎧
⎪
⎪ x2 y
⎪
⎨ x2 + y 2 , se (x, y) ̸= (0, 0)
Seja f (x, y) = .
⎪
⎪
⎪
⎩ 0, se (x, y) = (0, 0)
∂f ∂f
Calcule e . (Veja que você deverá usar as regras de derivação
∂x ∂y
∂f ∂f
para calcular (x, y) e (x, y), no caso de (x, y) ̸= (0, 0), e a definição
∂x ∂y
∂f ∂f
de derivada parcial num ponto especı́fico para calcular (0, 0) e (0, 0)).
∂x ∂y
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Derivadas parciais
∂u ∂v ∂u ∂v
= e = −
∂x ∂y ∂y ∂x
são, respectivamente, a parte real e a parte complexa de uma função dife-
renciável (num sentido complexo) de uma variável complexa.
Exercı́cio 6
Mostre que cada par de funções de duas variáveis a seguir satisfaz as
Equações de Cauchy-Riemann.
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