1) Delimitar o objeto da inquirição – O que é religião?
a) O objeto é complexo, porque é ambíguo i. A atividade de Sócrates é religião, ou o taoísmo ou o budismo? ii. O que é o mínimo comum entre todas as diversas tradições, de modo que a chamemos todas de religião
b) Palavra religião: tem sua raiz em religar – o traço comum entre
todas as tradições é que todas possuem mitos, símbolos ou doutrinas segundo as quais o ser humano, de algum modo, está intrinsecamente ligado à realidades que transcendem o plano terrestre (e de algum modo ele se esquece ou rompe essa ligação) i. A religião serve para religar isso que foi rompido ii. Ser humano é uma encruzilhada entre dois planos: Plano terrestre, que pode ser modificado Plano celeste, que modifica o ser humano iii. A religião nunca esteve ausente na humanidade. Nunca houve sociedade sem religião – a religião, pois, é universal, sempre esteja junto ao ser humano iv. Todas as religiões se dizem necessárias – dizem: você precisa disso e não pode viver sem isso, pois, do contrário, sua vida não será completa v. De onde vem essa alegação de necessidade? Concepção de que a natureza não frustra o Toda tendência ou inclinação natural tem um fim próprio natural e existente o Necessidade religião surge de algumas necessidade presentes: inclinações que não são satisfeitas por outras coisas. Derivam de três conceitos possíveis para o ser humano e impossíveis para outros animais: Conceito de Absoluto – primeiro ente de que tudo depende, absoluto (solto de, independente) Conceito de Justiça – isso é justo, ou injusto? Conceito de Morte, cessação definitiva de toda atividade corpórea
c) Três conceitos geram os três tipos de instintos ou inclinações
religiosas: i. A curiosidade intelectual; ii. O Amor pelo Bem; iii. Temor do Sofrimento Qualquer pessoa que pratica religião, pratica-o por cada uma dessas três coisas, ou por duas ou três coisas misturadas A religião existe para satisfazer os anseios humanos desses três motivos
d) Os traços comuns derivam justamente desses três conceitos.
i. O que é esse plano que transcende essa plano terrestre? A religião vai te esclarecer sobre esse plano e irá te falar que vai te conduzir para esse plano do Absoluto, onde não há injustiça nem morte ii. Toda religião dispõe de um caminho/via para uma experiência do que é o outro mundo Existe um órgão espiritual que percebe essa experiência do outro mundo, e que deve ser desenvolvido para perceber o outro plano iii. Todas as religiões vão fazer uso do discurso simbólico – utilizarão símbolos para explicar essa universo transcendente Aprender a interpretar os símbolos das religiões
2) Símbolo para explicar o que é a religião:
a) Um anel, no qual está engastada uma joia. A parte fundamental e essencial da religião é lapidar essa joia (o órgão espiritual que existe no ser humano) i. Ao lapidar a joia, suas capacidade intrínsecas aparecem, diferente da joia bruta ii. A via espiritual é a arte de lapidar a joia espiritual a. Percepção clara do que é o outro mundo b. Como no Mito da Caverna do Platão: o mundo real é o órgão espiritual percebendo o plano do transcendente iii. Lapidar essa joia não é suficiente para a via espiritual: além de acordar esse órgão espiritual, deve ter meios para, quando essa órgão adormeça, o sujeito aja de modo eficaz nesse mundo Deve criar um engaste perfeito para criar a joia no anel
iv. O círculo do anel e o engaste são o conjunto de atributos que
o sujeito deve ter para não parar de ter contato com a joia, com a percepção do transcendente – é o meio de ligação
3) Toda religião dispõe de uma doutrina formal para explicar a
experiência mística a) Essa doutrina é um elemento para a inteligência discursiva 4) Além da doutrina, quando esta não é suficiente, há o senso do sagrado a) Consiste em: o fato de estar confuso não invalida a experiência mística, só mostra que ele mesmo não está no nível da experiência (não consegue captar). Eu é que sou uma ilusão, estou abaixo da experiência mística, e não ela mesma i. São os dois suportes da inteligência humana em relação ao plano do transcendente
5) Não basta que a inteligência mantenha um contato com o
transcendente mesmo que a experiência passou, porque ainda há a vontade a) O tempo todo o ser humano está querendo algo. A vontade humana opera constantemente, logo, é preciso que essa vontade não esqueça a experiência do transcendente i. Que a vontade queira a experiência do transcendente e seu objeto ii. Ninguém quer algo sem possui-lo em medida mínima iii. A vontade pressupõe uma dose mínima inicial (toda vontade é vontade de aumento, de crescimento). Logo, é preciso que a religião tenha para o sujeito algumas ações que dê essa dose mínima para o sujeito b) Isso são os ritos: atividades que o sujeito opera de modo a receber uma dose mínima daquilo que ele quer no plano transcendente i. É preciso que, mesmo nesse plano terrestre, ele participe do plano celeste na sua vontade por meio dos ritos, na vida cotidiana ii. O rito é a operação de um símbolo: é um símbolo operando iii. Um símbolo é um rito cristalizado, e um rito é um símbolo vivenciado iv. O rito tem uma validade intrínseca: retidão simbólica + beleza e bondades intrínsecas do objeto v. Carneiro: símbolo da mansidão sacrificial (recordar da atitude que eles mesmos tem que ter em relação a Deus)
Em princípio, a via mística só depende de você
querer a via mística o tempo todo – isso que todas as técnicas dizem respeito Lapidar o anel: ornar para que Deus coloque a via mística, a joia
vi. Todo rito é feito para muitos (bondade) – rito serve de
recordação para bondade, que tem apelo direito para a vontade humana
6) Além da vontade e da inteligência, há os sentimentos – que nós não
controlamos – e, por causa disso, existem os mandamentos a) Independente dos seus sentimentos, você fará tal coisa 7) Existem seis elementos das religiões: i. Doutrina; - inteligência ii. Senso do sagrado; - inteligência iii. Bondade - vontade iv. Beleza do rito - vontade v. Mandamentos positivos - sentimentos vi. Mandamentos negativos – sentimentos
8) Como avaliar a religião:
a) Quais são as vias que essa religião oferece? (despertar a joia) b) Qual é a doutrina? c) Quais são os ritos? d) Quais são os mandamentos? 9) Como entender uma religião distante de nós? Tal como aprende uma língua distante de nós a) Pela relação das palavras com as coisas: capta o sentido das palavras numa língua desconhecida
b) Para compreender a “graça”, no cristianismo, existe o “carma”
no budismo. Se toma cada um dos dois conceitos, não tem nenhuma relação: porque uma coisa é que Deus te dá gratuitamente, a graça, e o outro é uma relação de causa e efeito i. Por que existe o conceito de graça no cristianismo? ii. Por que existe o conceito de carma no budismo? iii. Verificar o conjunto da doutrina O conceito de carma é muito mais parecido do que eu pensava, porque eles têm funções semelhantes O entendimento das religiões nunca pode ser feito por conceitos isolados o A religião é única, exclusiva, é uma característica de toda perfeição terrestre – possui uma unicidade, de modo que exclui outras, a perfeição formal de uma exclui a perfeição formal de outra o Os elementos característicos de uma religião se diferenciam de outra, toda possui componentes formais inadmissíveis em outra
10) Provas extrínsecas ou secundárias da religião:
a) Santidade; b) Milagres; c) Arte Sacra/Sagrada Toda religião vai dizer que é uma iniciativa do transcendente, tanto que toda religião é de tempo imemorial 11) Para entender cada religião, deve-se colocar no lugar do fiel daquela religião em uma postura imaginal a) Justamente por elas serem tão diferentes, excludente e únicas, que é necessário colocar-se no lugar imaginal de cada uma – não existe essa coisa de sincretismo, impossível ser muçulmano e cristão, p. ex. b) É diferente entender as doutrinas das religiões e as próprias religiões, tal como entender a ciência daquela profissão e a profissão em si mesma