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MERCOSUL:

Estrutura institucional e
funcionamento

Documento de Trabalho N° 02/2019

Secretaria do MERCOSUL

Junho, 2019
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Secretaria do MERCOSUL (SM)

Direção
María Fernanda Monti

Elaboração
Setor de Assessoria Técnica (SAT)
Alejandro Puglia Macaronis
Esteban Rogel Chaler
Marcus Maurer de Salles
Pablo Riera Duarte
Leonardo Pankiewicz
Ana Belén Costa

Unidade Técnica de Cooperação Internacional (UTCI)


Claudia Gimenez
Maria Noel Lopez

Setor de Apoio (SAP)


Valeria Alvarez
Anderson Morales

Secretaria do MERCOSUL
MERCOSUL: Estrutura institucional e funcionamento (DT SM N° 02/2019).
Montevidéu, 2019. 25 páginas.

Secretaria do MERCOSUL
Dr. Luis Piera, 1992, Andar I.
Montevidéu, Uruguai.
Tel.: (+598) 2412-9024
E-mail: secretaria@mercosur.int
http://www.mercosur.int

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Conteúdo

1. Antecedentes

2. Estados Partes e Associados

3. Estrutura Institucional

4. Sistema Decisório e Normativo

5. Sistema de Solução de Controvérsias

6. Conformação da União Aduaneira

7. Rumo a um Mercado Comum

8. Fundo de Convergência Estrutural

9. Parlamento

10. Secretaria

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1. ANTECEDENTES

O MERCOSUL é um processo de integração subregional que tem suas origens na


assinatura do Tratado de Assunção (TA), em 26 de março de 1991. Este acordo
foi celebrado pela República Argentina, pela República Federativa do Brasil, pela
República do Paraguai e pela República Oriental do Uruguai.

O Tratado de Assunção é um tratado-marco no qual os Estados signatários


estabelecem os objetivos, princípios e instrumentos do processo de integração;
uma estrutura organizativa; o período de aplicação, e os procedimentos de
adesão e denúncia. Baseia-se na reciprocidade de direitos e obrigações entre os
Estados Partes, seguindo os princípios de flexibilidade, gradualidade, equilíbrio e
reciprocidade.

Seu objetivo fundacional é a conformação de um Mercado Comum (MC), que


implica a livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos entre os Estados
Partes (EP), o estabelecimento de um tarifa externa comum (TEC), a adoção de
uma política comercial comum frente a terceiros, a coordenação de políticas
macroeconômicas e setoriais, e o compromisso de harmonizar as legislações nas
áreas pertinentes.

O Tratado de Assunção contém cinco anexos que estabelecem: a) um programa


automático e geral de liberalização comercial; b) um regime geral de normas de
origem; c) procedimentos de salvaguardas intrarregionais; d) uma data limite para
a adoção de um mecanismo de solução de controvérsias; e e) a criação de grupos
de trabalho para avançar na coordenação de políticas macroeconômicas e
setoriais. Os aspectos regulados nos referidos anexos estariam em vigor durante
o "período de transição", cuja finalização foi programada para 31 de dezembro
de 1994. Antes da finalização do "período de transição", os Estados Partes
deveriam acordar uma estrutura institucional definitiva dos órgãos de
administração do Mercado Comum, bem como as atribuições específicas de cada
um deles e o seu sistema de adoção de decisões.

Posteriormente, com o Protocolo de Ouro Preto (POP), de 17 de dezembro de


1994, o MERCOSUL assume a condição de organismo internacional, com
personalidade jurídica de Direito Internacional cuja titularidade é exercida pelo
Conselho do Mercado Comum (CMC). O POP, por sua vez, desenha toda a
estrutura institucional de administração do Mercado Comum.

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Embora o bloco comece com um impulso de natureza econômica e comercial, a
integração regional conseguiu aprofundar-se em outras áreas de natureza social
e cidadã, como as dimensões cultural, educativa e produtiva.

Cronologia

1991 ❖Tratado de Assunção: Criação do MERCOSUL.

1994 •Protocolo de Ouro Preto: Estrutura Institucional do MERCOSUL.

•Protocolo de Ushuaia: Compromisso Democrático.


1998
•Declaração do MERCOSUL como Zona de Paz e livre de armas de destruição em massa.

2002 •Protocolo de Olivos: Solução de Controvérsias.

2003 •Regulamento do Protocolo de Olivos: Criação do Tribunal Permanente de Revisão.

•Criação do Fundo para a Convergência Estrutural do MERCOSUL.


2005
•Protocolo constitutivo do Parlamento do MERCOSUL.

2006 •A Venezuela adere ao MERCOSUL.

2007 •Criação do Instituto Social do MERCOSUL.

2009 •Criação do Instituto de Políticas Públicas em Direitos Humanos do MERCOSUL.

2015 •A Bolívia adere ao MERCOSUL.

•Protocolo de Cooperação e Facilitação de Investimentos Intra-MERCOSUL.


2017
•Protocolo de Contratações Públicas do MERCOSUL.

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2. ESTADOS PARTES E ASSOCIADOS

Os Estados Partes fundadores do MERCOSUL e signatários do Tratado de


Assunção são Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.

O Tratado de Assunção está aberto à adesão de outros Estados membros da


ALADI. Desta forma, em 2006, a Venezuela foi o primeiro estado latino-americano
em aderir ao tratado constitutivo. Em 2015, a Bolívia o fez.

O Protocolo de Adesão da Bolívia ao MERCOSUL encontra-se em etapa de


incorporação pelos Congressos dos Estados Partes.

Entrada de novos membros

Requisitos: ser membros da Associação Latino-Americana de Integração (ALADI)


e seguir o processo de adesão previsto na normativa interna do MERCOSUL. Os
seus principais passos são:

1. Solicitação escrita apresentada perante o CMC por meio da Presidência Pro


Tempore.

2. Aprovação unânime expressa mediante Decisão do CMC.

3. O GMC negocia as condições e termos de adesão por meio de um Grupo Ad


Hoc (representantes do aderente e dos Estados Partes) e submete os resultados
ao CMC para a sua aprovação.

4. Assinatura de um protocolo de adesão que deve ser incorporado aos


ordenamentos jurídicos internos do aderente e dos Estados Partes.

Enquanto o protocolo de adesão não estiver em vigor, o Estado aderente só tem


direito a voz nas reuniões de foros e órgãos decisórios do MERCOSUL.

Aspectos incluídos na negociação: adesão ao TA, POP e ao Protocolo de Olivos


(PO); adoção do TEC e definição do cronograma de convergência para a sua
aplicação; adesão ao ACE 18 e protocolos adicionais; adoção do acervo normativo
do MERCOSUL; adoção dos instrumentos internacionais celebrados no âmbito do
TA; incorporação aos acordos celebrados com terceiros países ou grupos de
países, e participação nas negociações externas em curso.

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Por sua vez, os membros da ALADI podem ter status de Estados Associados. Para
isso, requer-se que o MERCOSUL tenha assinado acordos de livre comércio com
eles, e que posteriormente solicite-se a condição de associado. Esta é a situação
atual de Chile, Colômbia, Equador e Peru.

Igualmente, também podem ser Estados Associados aqueles países com os quais
o MERCOSUL celebre acordos no marco do artigo 25 do Tratado de Montevidéu
1980 - TM80 - (acordos com outros Estados ou áreas de integração econômica
da América Latina). É o caso da Guiana e do Suriname.

Procedimento para adquirir a condição de Estado Associado

A solicitação para adquirir a condição de Estado Associado apresenta-se perante


o CMC, canalizando-a por intermédio da Presidência Pro Tempore (PPT). É
estabelecida a obrigatoriedade de aderir ao Protocolo de Ushuaia sobre
Compromisso Democrático no MERCOSUL, a República de Bolívia e a República
do Chile (24 de julho de 1998) e à Declaração Presidencial sobre Compromisso
Democrático no MERCOSUR (25 de junho de 1996). É facultativa a adesão a
outros tratados relativos às dimensões política, social e cidadã do MERCOSUL.

De acordo com a Decisão CMC N° 18/04 aprovada pelo Conselho do Mercado


Comum, os Estados Associados podem:

- Participar em caráter de convidados nas reuniões do MERCOSUL para


tratar temas de interesse comum (seja por convite do órgão ou por
solicitação aceita).
- Negociar acordos no âmbito dos foros da estrutura institucional nos
quais participem.
- Aderir a Acordos anteriormente subscritos no âmbito do MERCOSUL,
sempre que houver interesse de ambas as partes.

Atualmente, o mapa dos Estados Partes e Associados do MERCOSUL é o seguinte:

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3. ESTRUTURA INSTITUCIONAL

A estrutura institucional do MERCOSUL foi definida pelo Tratado de Assunção


(1991) e logo modificada pelo Protocolo de Ouro Preto (1994).

Atualmente, o MERCOSUL tem uma estrutura institucional de caráter


intergovernamental composta por órgãos decisórios, que são os que têm a
capacidade de aprovar as normas do MERCOSUL e órgãos que realizam funções
de consulta e assessoramento, bem como foros técnicos para negociar o amplo
espectro temático que abrange a integração. Devido ao caráter
intergovernamental do processo, a tomada de decisões encontra-se em mãos de
funcionários do governo, motivo pelo qual não existe uma burocracia autônoma
das administrações nacionais. Os órgãos e foros encontram-se integrados pelas
seções nacionais de cada Estado Parte em suas áreas de competência.

O POP prevê três órgãos de natureza decisória: o Conselho do Mercado Comum


(CMC), o Grupo Mercado Comum (GMC) e a Comissão de Comércio do
MERCOSUL (CCM). Destes três órgãos decisórios dependem um conjunto de
foros subordinados de diferente natureza e temas. Todos os órgãos reúnem-se
de forma periódica.

O organograma completo e atualizado do MERCOSUL está disponível na página


oficial do MERCOSUL.

Conselho do Mercado Comum (CMC)

O Conselho do Mercado Comum é o órgão superior do MERCOSUL ao qual


compete a condução política do processo de integração e a tomada de decisões
para assegurar o cumprimento dos objetivos estabelecidos pelo Tratado de
Assunção e para alcançar a constituição final do mercado comum.

Está integrado pelos Ministros das Relações Exteriores; e pelos Ministros de


Economia, ou seus equivalentes dos Estados Partes. Reúne-se todas as vezes que
estimar conveniente, devendo fazê-lo pelo menos uma vez por semestre com a
participação dos Presidentes dos Estados Partes.

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Para o cumprimento de suas funções, o CMC conta com órgãos ou foros
dependentes a saber: a Comissão de Representantes Permanentes do
MERCOSUL, Reuniões de Ministros, Grupos de Alto Nível, Grupo Mercado
Comum, entre outros.

Pronuncia-se mediante Decisões, que são obrigatórias para os Estados Partes.

Grupo Mercado Comum (GMC)

O Grupo Mercado Comum é o órgão executivo do MERCOSUL e é responsável


por supervisionar o trabalho técnico requerido para promover o processo de
integração. O GMC também pode negociar acordos com terceiros países, grupos
de países e organismos internacionais, por delegação expressa do CMC. Está
integrado por membros titulares e membros alternos por país, designados pelos
respectivos Governos, entre os quais devem estar, obrigatoriamente,
representantes dos Ministérios das Relações Exteriores, dos Ministérios de
Economia (ou equivalentes) e dos Bancos Centrais.

Reúne-se ordinária ou extraordinariamente. As reuniões ordinárias realizam-se de


forma alternada no Estado Parte que detém a Presidência, em datas a convir, pelo
menos, uma vez a cada três meses. As reuniões extraordinárias realizam-se a
qualquer momento, por solicitação de qualquer Estado Parte, em lugar a convir.

A Decisão CMC N° 24/14 estabeleceu a estrutura atual dependente do Grupo


Mercado Comum e os critérios gerais que orientam a Criação de futuros órgãos
que ficarem compreendidos sob a sua órbita. Neste sentido, determinou que a
estrutura do GMC está integrada pelas seguintes categorias de órgãos: Grupos
(órgãos que exercem atribuições específicas próprias do funcionamento do
GMC), Subgrupos de Trabalho (âmbito técnico permanente de negociação para
a coordenação de políticas públicas e o desenvolvimento de políticas comuns da
agenda do processo de integração), Grupos Ad Hoc (órgãos criados para cumprir
um mandato específico no prazo previsto em sua norma de Criação) e Reuniões
Especializadas (órgãos criados com caráter permanente para desenvolver
políticas relacionadas com o processo de integração em áreas temáticas
específicas, ou para assistir ao GMC no cumprimento das suas funções e
atribuições). Estes órgãos podem ter a sua própria estrutura interna, que deve
estar integrada por Comissões e Subcomitês.

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Os Ministérios das Relações Exteriores de cada país exercem a coordenação
nacional do GMC. A referida função está sob responsabilidade de um
Coordenador Nacional, a quem corresponde também a coordenação em nível
interno dos temas relativos ao MERCOSUL com o resto dos Ministérios e
organismos nacionais envolvidos no processo de integração, a fim de definir a
posição nacional nas negociações. Também, é função do Coordenador Nacional
orientar e supervisionar as tarefas das seções nacionais dos órgãos e foros
dependentes.

O Grupo Mercado Comum pronuncia-se mediante Resoluções, que são


obrigatórias para os Estados Partes.

Comissão de Comércio do MERCOSUL (CCM)

Para a Comissão de Comércio do MERCOSUL, órgão encarregado de assistir o


Grupo Mercado Comum, compete-lhe zelar pela aplicação dos instrumentos de
política comercial comum, bem como realizar o acompanhamento e revisar os
temas e assuntos relacionados com as políticas comerciais comuns, com o
Comércio intra-MERCOSUL e com terceiros países.

Está integrada por membros titulares e membros alternos por Estado Parte e é
coordenada pelos Ministérios das Relações Exteriores. Reúne-se pelo menos uma
vez ao mês ou sempre que for solicitado pelo Grupo Mercado Comum ou por
qualquer um dos Estados Partes.

A Comissão de Comércio do MERCOSUL conta com a presença de órgãos ou


foros dependentes, denominados “Comitês Técnicos”, para o cumprimento das
suas tarefas.

Pronuncia-se mediante Diretrizes, que são obrigatórias para os Estados Partes.

Presidência Pro Tempore

Os órgãos e foros do MERCOSUL, que são integrados com delegações dos


Estados Partes, são coordenados por uma Presidência Pro Tempore que é
exercida, por um período de seis meses, por rotação dos Estados Partes, em

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ordem alfabética, seguindo a presidência do Conselho do Mercado Comum (POP,
Artigo 5°).

O exercício da presidência implica a condução em coordenação com os demais


Estados Partes de todos os temas da agenda do MERCOSUL, bem como a
organização e coordenação de todas as reuniões.

A imagem seguinte mostra o país em exercício da Presidência Pro Tempore do


MERCOSUL atualmente, bem como os órgãos decisórios:

Coordenação Nacional dos órgãos e foros do MERCOSUL

Cada Estado Parte deve designar um Coordenador Nacional titular e um alterno


para cada órgão e foro do MERCOSUL, que deverão ser funcionários
governamentais das respectivas áreas de competência.

Evolução da estrutura institucional (1991-2018)

Até dezembro de 2018, a estrutura institucional do MERCOSUL contava com 99


foros dependentes diretamente do CMC (29), do GMC (57) e da CCM (9).

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Além dos órgãos dependentes dos órgãos decisórios, o POP define outros órgãos
que compõem a estrutura institucional, de natureza representativa e consultiva,
como a Comissão Parlamentar Conjunta, substituída posteriormente pelo
Parlamento do MERCOSUL, e pelo Foro Consultivo Econômico e Social; ou de
natureza de apoio técnico e administrativo, como a Secretaria do MERCOSUL.

Atualmente, também funcionam outros órgãos auxiliares de caráter permanente,


como o Tribunal Permanente de Revisão (TPR), o Parlamento do MERCOSUL
(PARLASUL), o Instituto Social do MERCOSUL (ISM), o Instituto de Políticas
Públicas em Direitos Humanos do MERCOSUL (IPPDDHH).

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4. SISTEMA DECISÓRIO E NORMATIVO

O MERCOSUL é um processo de integração de caráter intergovernamental, onde


cada Estado Parte tem um voto, e as decisões devem ser tomadas por consenso,
e com a presença de todos os Estados Partes. O Tratado de Assunção estabeleceu
o princípio de consenso como o único procedimento para a tomada de decisões
em todos os aspectos relacionados com o processo de integração.

O ordenamento jurídico do MERCOSUL compõe-se de dois tipos de normas: os


Tratados Internacionais e as normas derivadas (normativa MERCOSUL).

a) Tratados internacionais (Protocolos e Acordos): a sua validade depende do


que cada instrumento estabelecer, respeitando os princípios consagrados no
direito internacional. O papel de depositário no MERCOSUL é cumprido pela
República do Paraguai.
b) Normativa MERCOSUL (Decisões, Resoluções, Diretrizes): são aprovadas pelos
órgãos decisórios do bloco. Uma vez negociadas e aprovadas as normas pelos
órgãos decisórios do bloco, estas são obrigatórias; e, quando for necessário,
deverão ser incorporadas aos ordenamentos jurídicos nacionais mediante os
procedimentos previstos pela legislação de cada país.

A maioria das normas do MERCOSUL têm vigência simultânea nos Estados Partes.

Processo de entrada em vigor das normas emanadas de órgãos decisórios

No órgão decisório aprova-se a norma por consenso.


Cada Estado Parte incorpora-a a seu ordenamento jurídico nacional (decreto, lei
etc.). Cada Estado Parte notifica à Secretaria do MERCOSUL a incorporação.
Uma vez que todos os Estados Partes informaram a incorporação, a Secretaria
comunica o fato.
A norma entra em vigor simultaneamente 30 dias após a comunicação efetuada
pela Secretaria.

Exceções
1) normas que regulamentem aspectos internos do funcionamento do
MERCOSUL; e
2) normas cujo conteúdo já se encontra regulado no ordenamento jurídico
interno de algum Estado, em tal caso o Estado informa à Secretaria a existência
da norma nacional em questão.

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5. SISTEMA DE SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS

O sistema de solução de controvérsias em vigor está regulamentado pelo


Protocolo de Olivos, assinado em 18 de fevereiro de 2002 e em vigor desde 1º de
janeiro de 2004. O Protocolo de Olivos estabelece a criação do Tribunal
Permanente de Revisão (TPR), cuja sede está na cidade de Assunção.

O TPR está composto por árbitros permanentes, um por cada Estado Parte, com
seus respectivos alternos, e por um quinto árbitro, nacional de um dos Estados
Partes, escolhido por unanimidade; caso não for possível, por sorteio.

Quando na controvérsia participam dois Estados, o TPR integra-se com três


membros, um nacional de cada parte na controvérsia, e o terceiro escolhido por
sorteio. Quando na controvérsia participam mais de dois Estados Partes, o TPR
funciona com a totalidade de seus membros.

O TPR pode atuar como tribunal de alçada perante os laudos proferidos por um
Tribunal Arbitral Ad Hoc (TAAH) ou como primeira e única instância, em cujo caso,
seu laudo não será passível de recurso de revisão.

O sistema atual aplica-se a:

1) controvérsias entre Estados Partes;

2) reclamações de particulares, que acessam indiretamente o sistema,


apresentando-as perante o Estado de sua residência habitual ou sede de
negócios; e;

3) opiniões consultivas, que são pronunciamentos jurídicos fundados com caráter


não vinculante e tampouco obrigatório, realizadas pelo TPR, com respeito à
interpretação e à aplicação das normas MERCOSUL a um caso concreto. Podem
ser solicitadas pelos órgãos decisórios do MERCOSUL, pelo PARLASUL e pelos
Tribunais de Justiça dos Estados Partes.

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6. CONFORMAÇÃO DA UNIÃO ADUANEIRA

O processo de conformação da União Aduaneira foi desenvolvido a partir de dois


grandes âmbitos, a saber: a) a eliminação das tarifas e restrições ao Comércio
recíproco e b) a adoção de uma tarifa externa comum (TEC) e de uma política
comercial comum com terceiros mercados.

Para a eliminação dos gravames internos, o MERCOSUL acordou o Programa de


Liberalização Comercial, para eliminar as tarifas recíprocas em um prazo de
quatro anos mediante reduções tarifárias progressivas, lineares e automáticas,
contemplando algumas exceções transitórias. Também foram projetados
mecanismos para a eliminação das restrições não tarifárias, que se atualizam
permanentemente.

Em 1995 adota-se o Regime de Adequação Final à União Aduaneira, mecanismo


por meio do qual eliminou-se a totalidade das tarifas residuais para a Argentina
e para o Brasil no ano 1999; e para o Uruguai e para o Paraguai no ano 2000.

Atualmente, os únicos bens que estão excluídos do livre comércio são o açúcar,
produto sobre o qual os Estados podem aplicar uma tarifa no comércio intrazona;
e os bens do setor automotor, que se comercializam sob o amparo de acordos
bilaterais.

Em 1994, o MERCOSUL adotou uma tarifa externa comum (TEC) para a


importação de produtos originários de terceiros países. Até esse momento, cada
um dos Estados Parte contava com uma tarifa nacional, pelo qual foi acordado
um procedimento de convergência, ascendente ou descendente, linear e
automático para o TEC.

Não obstante e em virtude das diferenças e necessidades das estruturas


produtivas dos países membros, o TEC tem exceções na sua aplicação. Entre elas,
destacam-se dois grupos:

Nos casos de bens de capital e de informática e telecomunicações, acordou-se


que os eles convergissem ao TEC em prazos mais extensos. Esta situação continua
atualmente.

Também, previu-se que os Estados Parte pudessem manter tarifas diferentes para
um grupo limitado de produtos, mediante as listas nacionais de excepções ao

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TEC, também vigentes atualmente. A quantidade de produtos suscetíveis de
serem incluídos nas listas varia conforme o tamanho relativo dos Estados Partes.

Em 1994, também se acordou o Regime de Origem do MERCOSUL (ROM), que


estabelece os critérios para determinar se os produtos são originários dos Estados
Parte e, portanto, beneficiários da dedução tarifária. No caso dos produtos
elaborados utilizando materiais de terceiros estados, o ROM considera que são
originários se é produzido um salto de partida ou o valor dos insumos importados
não exceder 40% do valor FOB da nova mercadoria. O ROM ao interior do
MERCOSUL continua vigente em virtude das exceções ao TEC antes assinaladas.

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7. RUMO A UM MERCADO COMUM

Um mercado comum implica a livre circulação de bens, serviços e fatores


produtivos.

Para isso e para facilitar a livre circulação de bens no espaço ampliado, em 2004,
o MERCOSUL adotou um programa de trabalho tendente à eliminação da dupla
cobrança do TEC, o que implica que uma mercadoria proveniente de terceiros
mercados, que é importada em um dos Estados Parte e que, eventualmente e por
diversos motivos, deve ser reexportada a outro Estado Parte, volta a estar sujeita
ao pagamento das tarifas de importação.

Desde 2004, existe a livre circulação de bens com TEC de 0% ou preferência de


100% outorgada por todos os Estados Parte a produtos de terceiros países com
os quais o MERCOSUL tenha negociado um acordo comercial. Neste âmbito,
permite-se que estes produtos sejam incorporados a processos produtivos nas
mesmas condições que os insumos nacionais, por efeito do cumprimento do
ROM.

Em 1997, aprovou-se o Protocolo de Montevidéu para o Comércio de Serviços,


acordo baseado no AGCS, da Organização Mundial do Comércio, que estabelece
um programa de trabalho para a liberalização gradual do Comércio de serviços e
a regra de Nação Mais Favorecida, pela qual os Estados Partes devem estender
aos demais membros as concessões que outorgarem a terceiros países.

Em 2017, foi adotado o Protocolo de Cooperação e Facilitação de Investimentos,


destinado a facilitar as operações de investimento, consagrando compromissos
de transparência, intercâmbio de informação em relação com oportunidades de
negócio. O protocolo estabelece a figura do Ponto Focal Nacional ou
Ombudsman, cujas principais responsabilidades consistem em prestar apoio aos
investimentos dos outros Estados Partes em seu território e prevenir diferenças
em matéria de investimentos.

Em matéria de movimento de pessoas físicas, aprovaram-se diferentes normas,


entre as quais destaca-se o Acordo de Residência para nacionais dos Estados
Partes do MERCOSUL, que permite que os nacionais de um Estado Parte possam
residir em outro Estado Parte na medida em que carecerem de antecedentes
penais. As pessoas que obtiverem a residência têm direito a entrar, sair, circular e

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permanecer no território do Estado receptor, a exercer qualquer atividade por
conta própria ou alheia, à reunião familiar e à igualdade de direitos civis.

Finalmente, em 2017, assinou-se o Protocolo de Contratações Públicas do


MERCOSUL com o objetivo de reduzir os custos do setor público e gerar
oportunidades para o setor privado, pela importância que tem, tanto o Estado
como as entidades que dele dependem, como demandante de diversos insumos
necessários para o cumprimento de suas funções.

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8. FUNDO DE CONVERGÊNCIA ESTRUTURAL

Com o objetivo de reduzir as assimetrias regionais, criou-se o Fundo de


Convergência Estrutural do MERCOSUL (FOCEM), (Decisão CMC N° 45/04). O
objetivo do FOCEM é o financiamento de programas destinados a: 1) promover
a convergência estrutural; 2) desenvolver a competitividade; e 3) promover a
coesão social, em particular das economias menores e regiões menos
desenvolvidas, e 4) apoiar o funcionamento da estrutura institucional e o
fortalecimento do processo de integração.

O FOCEM é um mecanismo de financiamento solidário, baseado em um sistema


assimétrico tanto para as contribuições como para a distribuição de recursos
entre os Estados Partes. O montante é de mais de 127 milhões de dólares anuais.
Assim, busca-se financiar projetos que promovam a competitividade, a coesão
social e a redução de assimetrias.

Em 2015, o Conselho Mercado Comum aprovou a continuidade do Fundo por 10


anos adicionais mediante a Decisão CMC N° 22/15.

Os Estados Partes apresentam seus projetos à Comissão de Representantes


Permanentes de MERCOSUL (CRPM) em qualquer momento do ano. A CRPM,
prévio parecer técnico, decide pela elegibilidade dos projetos para a sua
aprovação pelo Conselho Mercado Comum.

A Unidade Técnica FOCEM, no âmbito da Secretaria do MERCOSUL, é a instância


técnica criada com o objetivo de avaliar e acompanhar à execução dos projetos
financiados.

Os projetos FOCEM aprovados até a hoje são distribuídos da seguinte maneira:

Total Aprovados %
PROGRAMA I – Convergência Estrutural 25 917.222.044 91,26%
PROGRAMA II – Desenvolvimento da Competitividade 10 45.999.477 4,58%
PROGRAMA III - Coesão Social 8 40.444.802 4,02%
PROGRAMA IV – Fortalecimento Institucional 6 1.357.824 0,14%
49 1.005.024.147

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Os projetos aprovados até a data alcançam mais de US$ 1.000 milhões, sendo
63% e 27% dos projetos destinados ao Paraguai e ao Uruguai, respectivamente,
o que está alinhado com o objetivo do Fundo, de redução de assimetrias, com
ênfase nos países de menor desenvolvimento econômico relativo do bloco.

Destaca-se a realização de projetos de saneamento, água potável, reabilitação e


construção de rodovias, construção de redes elétricas e instalação de estações de
alta tensão, melhora e ampliação de locais escolares e reabilitação de vias férreas,
entre outros.

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9. PARLAMENTO

Em 2005, criou-se o Parlamento do MERCOSUL (PARLASUL) que substituiu à


Comissão Parlamentar Conjunta. Trata-se de um órgão unicameral e de
representação cidadã que incorpora a perspectiva parlamentar ao processo de
integração.

A composição inicial do Parlamento foi de 18 parlamentares por país, designados


pelos respectivos Congressos Nacionais. O Acordo Político de 2009 estabelece
normas para que os Estados Partes sejam representados, a partir de eleições
diretas, de acordo com o critério demográfico. Seguindo esse critério, o
organismo terá a seguinte composição: Argentina 43; Brasil 75; Paraguai 18;
Uruguai 18 e Venezuela 33.

Em julho de 2015, com a decisão que posiciona a Bolívia como membro em


processo de adesão ao MERCOSUL, este país passa a integrar o PARLASUL com
direito a voz e participação, sem direito a voto. No momento em que se completar
a sua adesão plena, passará a contar com 18 parlamentares no organismo.

O PARLASUL tem um regulamento interno que prevê dez sessões plenárias por
ano, na sede em Montevidéu, ou, por solicitação, no território de qualquer Estado
Parte.

O PARLASUL tem dez comissões permanentes para o exercício legislativo em


temáticas específicas. As comissões exercem a função de apreciação da matéria
legislativa relacionada à temática à que se vinculam e estão compostas por 14
parlamentares cada uma.

A instância de maior representação do PARLASUL é a Sessão Plenária, na qual são


decididos os atos formais com o respaldo da legitimidade que define a
competência legislativa deste organismo.

Atos do PARLASUL
Pareceres: opiniões emitidas pelo Parlamento sobre normas enviadas pelo
CMC antes da sua aprovação legislativa em um ou mais Estados Partes.
Projetos de Normas: são proposições normativas apresentadas para
consideração do CMC.

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Anteprojetos de Normas: são proposições que têm como objetivo a
harmonização das legislações dos Estados Partes, são dirigidas aos Paramentos
Nacionais para a sua eventual consideração.
Declarações: manifestações do PARLASUL sobre qualquer assunto de interesse
público
Recomendações: indicações gerais dirigidas aos órgãos decisórios do
MERCOSUL.
Relatórios: estudos sobre temas específicos, realizados por uma ou mais
comissões permanentes ou temporárias, aprovados pelo Plenário.
Disposições: são normas gerais, de caráter administrativas, que dispõem sobre
a organização interna do PARLASUL.
Solicitação de Opiniões Consultivas: O PARLASUL poderá solicitar opiniões
consultivas ao Tribunal Permanente de Revisão.

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10. SECRETARIA

O Tratado de Assunção de 1991 previa a Criação de uma Secretaria Administrativa


(SAM) com sede na cidade de Montevidéu, que teria entre as sus principais
funções a custódia de documentos e apoio ao Grupo Mercado Comum.

Posteriormente, no ano 1994, o Protocolo de Ouro Preto incluiu a SAM na


Estrutura Institucional do bloco, como órgão de apoio operacional, responsável
pela prestação de serviços aos demais órgãos do MERCOSUL.

Em dezembro de 1996, o MERCOSUL assinou com a República Oriental do


Uruguai o Acordo-Sede para o Funcionamento da SAM, aprovado pela Decisão
CMC Nº 04/96, que foi posteriormente incorporado ao direito interno da
República Oriental do Uruguai pela Lei Nº 16.829, de 29 de maio de 1997.

Em 2002, os Estados Parte decidiram avançar na transformação da SAM em uma


Secretaria Técnica, passado a utilizar a denominação: “Secretaria do MERCOSUL
(SM)”.

A SM conta com uma equipe própria de funcionários internacionais, selecionados


mediante concursos públicos internacionais, dentre os cidadãos nacionais dos
Estados Partes.

Atualmente, a SM está composta por uma Direção, uma Coordenação e cinco


setores (Administração; Apoio; Assessoria Técnica; Tecnologia da Informação;
Normativa e Documentação).

Igualmente, com a ampliação da agenda temática do MERCOSUL e a


consequente evolução da estrutura institucional, a SM foi assumindo um novo
conjunto de funções. Nesse sentido, foram criadas no âmbito da Secretaria do
MERCOSUL distintas Unidades Técnicas, a saber:

❖ Unidade Técnica de Estatísticas de Comércio Exterior (UTECEM),


❖ Unidade Técnica de Cooperação Internacional (UTCI),
❖ Unidade de Comunicação e Informação do MERCOSUL (UCIM),
❖ Unidade de Apoio à Participação Social (UPS),
❖ Unidade Técnica FOCEM (UTF).

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A imagem seguinte mostra o organograma da Secretaria do MERCOSUL:

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